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Márcio André Lopes Cavalcante

Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base
em peculiaridades do caso concreto: EDcl no REsp 1.340.444-RS; REsp 1.330.279-BA; REsp 1.218.605-PR; REsp
1.207.103-SP; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
 Existência de cadáver em decomposição em reservatório de água.

SERVIDORES PÚBLICOS
 Inaplicabilidade do direito à recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor público estadual.

PENSÃO POR MORTE (LEI 8.112/90)


 Pessoa designada que receberá a pensão não precisa ter sido inscrita nos assentos funcionais do servidor.

DIREITO CIVIL
CONTRATO DE SEGURO
 Via adequada para cobrança de indenização fundada em contrato de seguro de automóvel.

INTERDIÇÃO
 Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo MP.

ALIMENTOS
 São irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC).
 Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da pensão alimentícia.

DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
 Inocorrência de dano moral pela simples presença de corpo estranho em refrigerante.

PRÁTICAS ABUSIVAS
 Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in re ipsa.

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES


 Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
 Possibilidade de cumprimento imediato de medida socioeducativa imposta na sentença.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AÇÃO RESCISÓRIA
 Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


PROCESSO CAUTELAR
 Ação cautelar de exibição de documentos bancários.
 Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore

PENHORA
 Possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios.

EXECUÇÃO FISCAL
 Dispensabilidade da indicação do RG, CPF ou CNPJ do devedor.

EMBARGOS DE TERCEIRO
 Embargos de terceiro não servem para impugnar decisão se o fundamento invocado pelo autor não é a posse, mas
sim unicamente a propriedade.

INTERDIÇÃO
 Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo MP.

DIREITO PENAL
USO DE DOCUMENTO FALSO
 Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso.

AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTUPRO


 Ação penal no caso de crime praticado contra vítima que estava temporariamente vulnerável.

CÓDIGO DE TRÂNSITO
 Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta negligente, imprudente ou imperita que
ocasionou a morte da vítima.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PROVAS
 Compartilhamento de provas em razão de acordo internacional de cooperação.

EMENDATIO LIBELLI
 Momento processual em que deve ser realizado.

RECURSOS
 Manutenção do regime inicial fixado, mas com fundamentação diversa.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


COMPETÊNCIA
 Desacato praticado por militar de folga contra militar em serviço em local estranho à administração militar

DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
 Correção monetária do valor do IR incidente sobre verbas recebidas acumuladamente em ação trabalhista.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PERÍODO DE GRAÇA
 Comprovação da situação de desemprego para prorrogação do período de graça.

PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO


 Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício previdenciário na via judicial.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


DIREITO ADMINISTRATIVO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO


Existência de cadáver em decomposição em reservatório de água

Foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um dos reservatórios de água que


abastece uma cidade.
Determinado consumidor ajuizou ação de indenização contra a empresa pública
concessionária do serviço de água e o STJ entendeu que ela deveria ser condenada a reparar os
danos morais sofridos pelo cliente.
Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária decorrente de
falha do dever de efetiva vigilância do reservatório de água.
Além disso, restou caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral,
quando a Companhia não garantiu a qualidade da água distribuída à população.
O dano moral, no caso, é in re ipsa, ou seja, o resultado danoso é presumido.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.492.710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação:


No Município de São Francisco/MG, foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um dos
reservatórios de água que abastece a cidade.
Até que o cadáver fosse encontrado, a água fornecida para o consumo da população local encontrava-se
contaminada.
Ao saber do ocorrido, João, morador da cidade, ajuizou ação de indenização por danos morais contra a
companhia de água do Estado (uma empresa pública prestadora de serviços públicos).

O que o STJ decidiu? O cliente tem direito de ser indenizado?


SIM. O consumidor tem direito à reparação por danos morais.
Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária decorrente de falha do
dever de efetiva vigilância do reservatório de água.
Ainda que se alegue que foram observadas todas as medidas cabíveis para a manutenção da segurança do
local, fato é que ele foi invadido, e o reservatório passível de violação quando nele foi deixado um cadáver
humano.
Além disso, restou caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral, quando a
concessionária não garantiu a qualidade da água distribuída à população, porquanto inegável que, se o
corpo estava em decomposição, a água ficou por determinado período contaminada.
Outrossim, é inegável, diante de tal fato, a ocorrência de afronta à dignidade da pessoa humana,
consistente no asco, angústia, humilhação, impotência da pessoa que toma ciência que consumiu água
contaminada por cadáver em avançado estágio de decomposição. Tais sentimentos não podem ser
confundidos com o mero dissabor cotidiano.
Ainda que assim não fosse, há que se reconhecer a ocorrência de dano moral in re ipsa, o qual dispensa
comprovação do prejuízo extrapatrimonial, sendo suficiente a prova da ocorrência de ato ilegal, uma vez
que o resultado danoso é presumido.
A título de curiosidade: a indenização foi fixada em R$ 3 mil.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


SERVIDORES PÚBLICOS
Inaplicabilidade do direito à recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor público estadual

Importante!!!
Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I,
da Lei 8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do
estado for omisso acerca desse direito.
Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos
servidores públicos estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou
municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal
situação não gera o aumento de gastos. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90
sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja
legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se
justificava para proteção da unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da
CF/88).
No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho
constitucional.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

RECONDUÇÃO
O que é recondução?
A Lei n. 8.112/90 prevê, em seu art. 29, duas hipóteses de recondução. Confira:
Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II - reintegração do anterior ocupante.
Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro,
observado o disposto no art. 30.

Para este julgado, nos interessa o inciso I. Veja um exemplo:


João, servidor estável do INSS, é aprovado no concurso de Delegado de Polícia Federal e pede vacância,
assumindo o cargo de Delegado. No entanto, ao final do estágio probatório, ele é considerado inabilitado
(inapto) para o cargo de Delegado. Nesse caso, João poderá voltar ao seu antigo cargo de servidor do INSS.
Obs: apesar de o inciso I falar em inabilitação em estágio probatório, a jurisprudência entende que é
possível utilizar a vacância também no caso em que o servidor desiste de continuar no estágio probatório
do novo cargo por não ter se adaptado à função. Nessa hipótese, ele poderá pedir para ser reconduzido ao
cargo que ocupava anteriormente. Assim, João não precisa esperar terminar o estágio probatório de
Delegado Federal; se ele não se acostumou e quiser voltar, não tem problema; isso será uma recondução
do inciso I.

RECONDUÇÃO E AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM LEGISLAÇÃO ESTADUAL


Imagine a seguinte situação hipotética:
João era analista do Tribunal de Justiça, concursado e já estável.
Foi aprovado no concurso de Delegado de Polícia e tomou posse.
Após dois meses no cargo de Delegado, percebeu que não tinha perfil para a função e, portanto, requereu
sua exoneração.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Além disso, pediu também a recondução para o antigo cargo de analista judiciário.
O pedido foi indeferido sob o argumento de que não existe, nem na lei dos servidores do TJ nem no
Estatuto dos Servidores Públicos Estaduais, a previsão de recondução.
O ex-servidor impetrou, então, mandado de segurança argumentando que, em razão da omissão na
legislação estadual, deveria ser realizada a analogia, aplicando-se o art. 20, § 2º e o art. 29, I, da Lei Federal
n. 8.112/90, que tratam sobre a recondução.

O pedido do impetrante foi aceito pelo STJ? Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível
aplicar a Lei n. 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei n.
8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do Estado for omisso
acerca desse direito.

Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei n. 8.112/90, aos
servidores públicos estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou municipal, sobre
direito de cunho constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal situação não gere o aumento de
gastos. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei n. 8.112/90 sobre licença para acompanhamento de
cônjuge a determinado servidor estadual cuja legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu
que a analogia se justificava para a proteção da unidade familiar, valor protegido constitucionalmente
(art. 226 da CF/88).

No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho constitucional.

PENSÃO POR MORTE (LEI 8.112/90)


Pessoa designada que receberá a pensão
não precisa ter sido inscrita nos assentos funcionais do servidor

Para fins de concessão da pensão por morte de servidor público federal, a designação do
beneficiário nos assentos funcionais do servidor é prescindível se a vontade do instituidor em
eleger o dependente como beneficiário da pensão houver sido comprovada por outros meios
idôneos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.486.261-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/11/2014 (Info 553).

Pensão por morte


O art. 215 do Estatuto dos Servidores Públicos federais (Lei nº 8.112/90) prevê o pagamento de pensão
por morte aos dependentes dos agentes públicos falecidos.

Pessoa designada
Segundo a redação original do art. 217, II, “d”, da Lei n. 8.112/90, o servidor público federal que falecesse
poderia deixar uma pensão por morte para uma pessoa por ele designada, até 21 anos ou inválida, e que
vivesse sob sua dependência. Veja:
Art. 217. São beneficiários das pensões:
II - temporária:
(...)
d) a pessoa designada que viva na dependência econômica do servidor, até 21 (vinte e um) anos, ou, se
inválida, enquanto durar a invalidez.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Para que a pessoa receba a pensão por morte do art. 217, II, “d”, é imprescindível que o servidor, antes
de morrer, tenha deixado expressamente registrado o seu nome no departamento de pessoal do
órgão/entidade?
NÃO. A designação do beneficiário nos assentos funcionais do servidor é prescindível (dispensável) se a
vontade do instituidor em eleger o dependente como beneficiário da pensão houver sido comprovada por
outros meios idôneos. Em outras palavras, mesmo que o servidor morra sem ter deixado expressamente
registrado que aquela pessoa era sua dependente, ainda assim será possível que ela receba a pensão por
morte, desde que prove essa condição por outros meios admitidos em direito (ex: testemunhas, contas
pagas em favor da pessoa etc., declarações do colégio etc.).

Atenção: MP 664/2014.
No dia 30 de dezembro de 2014 foi publicada a MP 664/2014, promovendo importantes alterações na
pensão por morte do Regime Próprio dos Servidores Públicos federais (Lei n. 8.112/90).
Uma das mudanças buscadas pela MP foi a de acabar com a possibilidade de ser concedida pensão para
“pessoa designada que viva na dependência econômica do servidor”.
Até o momento, a MP não foi votada. Se for aprovada, a discussão acima perde importância.

DIREITO CIVIL

CONTRATO DE SEGURO
Via adequada para cobrança de indenização fundada em contrato de seguro de automóvel

A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de


automóvel é a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva).
Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de seguro de
automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).
Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por
meio de ação de execução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

O que é o contrato de seguro?


No contrato de seguro, “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (art. 757 do CC).
Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa física ou jurídica (chamada de “segurada”) paga
uma quantia denominada de “prêmio” para que uma pessoa jurídica (“seguradora”) assuma determinado
risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de “sinistro”), a seguradora deverá fornecer à segurada
uma quantia previamente estipulada (indenização).
Ex.: João celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$
100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil
a título de indenização para o segurado.

Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro


 Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte.
 Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex.: morte.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


 Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os
riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for
o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.
 Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago
depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva
em consideração os riscos cobertos.
 Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro).

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação:


João contratou um seguro para seu veículo.
Determinado dia, seu carro foi furtado.
A seguradora criou embaraços para efetuar o pagamento, razão pela qual o advogado de João ajuizou
ação de execução contra a seguradora, apontando o contrato de seguro como título executivo
extrajudicial.

O advogado de João agiu corretamente? A via adequada para cobrar indenização securitária é a ação de
execução?
NÃO. A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel é
a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva).

Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de seguro de automóvel não
se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).

Somente a lei pode prescrever quais são os títulos executivos, fixando-lhes as características formais
peculiares. Desse modo, apenas os documentos descritos pelo legislador, seja em códigos ou em leis
especiais, é que são dotados de força executiva, não podendo as partes convencionarem a respeito.

Logo, para o seguro de automóveis, na ocorrência de danos causados em acidente de veículo, a ação a ser
proposta é, necessariamente, a cognitiva (ação de conhecimento), sob o rito sumário (art. 275, II, “e”, do
CPC), uma vez que este contrato de seguro é destituído de executividade e as situações nele envolvidas
comumente não se enquadram no conceito de obrigação líquida, certa e exigível, sendo imprescindível,
portanto, nessa hipótese, a prévia condenação do devedor e a constituição de título judicial.

Existe algum contrato de seguro que seja título executivo?


SIM. Os contratos de seguro de VIDA, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são títulos
executivos extrajudiciais:
Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:
III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

Logo, para a cobrança de indenização decorrente de seguro de vida, é possível utilizar a ação de execução.
O legislador optou por elencar somente o contrato de seguro de vida como título executivo extrajudicial,
justificando a sua escolha na ausência de caráter indenizatório do referido seguro, ou seja, o seu valor
carece de limitação, sendo de responsabilidade do segurador o valor do seguro por ele coberto, uma vez
que existe dívida líquida e certa.
Em outras palavras, a pessoa contrata o seguinte: se eu morrer, deverá ser pago XX mil reais às pessoas
que indiquei. Há, portanto, uma dívida líquida e certa.
Os seguros de dano e de automóveis, por outro lado, possuem índole indenizatória, de modo que a
indenização a ser paga pela seguradora deverá ser no exato valor do prejuízo sofrido pelo beneficiário, a
fim de não gerar enriquecimento do segurado, mas apenas a reposição do que ele perdeu, nos limites do
montante segurado. Ex: o carro, no momento em que foi furtado, custava R$ 30 mil; logo, esse valor
deverá ser pago ao beneficiário. Ocorre que isso não é líquido e certo, podendo ser discutido na ação.
Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7
“(...) É de se verificar, assim, que o contrato de seguro tem eficácia executiva tão-somente quando o
objeto segurado é a pessoa humana. Nas hipóteses em que o objeto segurado seja uma coisa, caberá ao
beneficiário do contrato de seguro valer-se do processo cognitivo para fazer valer sua pretensão. Assim,
por exemplo, nos seguros que têm por objeto um veículo qualquer, a indenização devida pela seguradora
em razão de acidente que o envolva será exigível através de 'ação de conhecimento' pelo procedimento
sumário (art. 275, II, e, do CPC).” (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. II, Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 18ª ed., 2010, p. 194)

Veja o quadro-comparativo:
SEGURO DE VEÍCULOS SEGURO DE VIDA
Não é título executivo extrajudicial. É título executivo extrajudicial.
Deve ser cobrado por meio de ação de Pode ser cobrado por meio de ação executiva.
conhecimento de rito sumário.

INTERDIÇÃO
Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo MP

Importante!!!
A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de
ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC.
Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial por
meio de uma ação de interdição.
É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando?
• Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide
(curador especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.
• Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de
curador à lide porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art.
1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Curatela
Em regra, se a pessoa for maior de 18 anos, ela é plenamente capaz e está habilitada à prática de todos os
atos da vida civil (art. 5º do CC).
No entanto, existem determinadas pessoas que, mesmo sendo maiores, não possuem capacidade jurídica
plena e não podem exercer alguns atos patrimoniais da vida civil sozinhos, necessitando da assistência ou
representação de terceiros.
Para resguardar os direitos de tais pessoas, o Direito Civil previu uma proteção jurídica chamada de “curatela”.

Mas o que vem a ser a curatela?


A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do qual ele
assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade,
possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC.
Por conta disso, o curatelado só poderá praticar certos atos patrimoniais se for assistido ou representado
pelo curador.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Tutela x Curatela
TUTELA CURATELA
Instrumento jurídico para proteger a criança ou Instrumento jurídico voltado para a proteção de
adolescente que não goza da proteção do poder uma pessoa maior de 18 anos que, apesar de
familiar em virtude da morte, ausência ou adulto, possui uma incapacidade prevista no CC.
destituição de seus pais.
A tutela é uma espécie de colocação da criança ou
adolescente em família substituta.

Obs.: Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald apontam situação excepcional em que seria possível a
nomeação de curador a um menor de 18 anos. Trata-se da hipótese de um menor, relativamente incapaz
(entre os dezesseis e os dezoito anos de idade), que sofre de alguma patologia psíquica. De ordinário, em
se tratando de relativamente incapaz, deveria estar assistido pelo tutor, praticando os atos conjuntamente
com ele. Todavia, considerado o seu estado psíquico, não lhe será possível a prática de qualquer ato,
mesmo assistido, impondo-se-lhe a interdição, para nomeação de um curador, que continuará lhe
assistindo mesmo após os dezoito anos de idade. (Curso de Direito Civil. Famílias. Vol. 6., Salvador:
Juspodivm, 2014, p. 902).
Apesar do registro dessa ponderação feita pela genial dupla de autores, vale ressaltar que o tema não é
pacífico e há outros doutrinadores que defendem que, mesmo nesse caso, haveria tutela, por envolver
menor de 18 anos, e não curatela.

Hipóteses em que ocorre a curatela


Segundo o art. 1.767 do CC, estão sujeitos à curatela as seguintes pessoas:
I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os
atos da vida civil;
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V - os pródigos.

Como é instituída a curatela?


Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial, de jurisdição
voluntária, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186 do CPC.
Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição.

Legitimados
A ação de interdição deve ser promovida:
I - pelos pais ou tutores;
II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente;
III - pelo Ministério Público.

Situações em que o MP poderá ajuizar a ação de interdição


O Ministério Público só promoverá interdição:
I - em caso de doença mental grave (independentemente dos demais legitimados); ou
II - em qualquer outro caso de incapacidade, se não existirem outros legitimados (pais, tutores, cônjuge ou
parente) ou, existindo, eles ficarem inertes ou se não puderem propor a ação (por serem incapazes).

Dessa forma, o MP só propõe a ação de interdição em caso de doença mental grave ou se nenhum dos
outros legitimados propuser.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


(Promotor MP/PE 2014 FCC) O Ministério Público só poderá propor a ação de interdição no caso de
anomalia psíquica do interditando. (ERRADO).

Petição inicial
Na petição inicial da ação de interdição, o interessado (requerente) provará a sua legitimidade,
especificará os fatos que revelam a anomalia psíquica e assinalará a incapacidade do interditando para
reger a sua pessoa e administrar os seus bens.

Citação
O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinará,
interrogando-o minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que lhe parecer necessário
para ajuizar do seu estado mental.

Impugnação ao pedido (defesa do suposto incapaz)


O interditando tem o direito de provar que pode gerir a sua própria vida, administrar seus bens e exercer
sua profissão.
Justamente por isso, o CPC prevê que o interditando poderá impugnar o pedido de interdição,
apresentando uma espécie de defesa (art. 1.182).
Essa impugnação deverá ser protocolizada dentro do prazo de 5 dias contados da audiência de
interrogatório.

Defensor do suposto incapaz


Como o interditando, em tese, sofre de uma enfermidade, a legislação prevê que, se a ação de interdição
for proposta pelo MP, o juiz deverá nomear um defensor (curador especial) ao interditando, que irá fazer a
sua defesa em juízo. Isso está previsto previsto no art. 1.770 do CC e no art. 1.179 do CPC:
Art. 1.770. Nos casos em que a interdição for promovida pelo Ministério Público, o juiz nomeará defensor
ao suposto incapaz; nos demais casos o Ministério Público será o defensor.

Art. 1.179. Quando a interdição for requerida pelo órgão do Ministério Público, o juiz nomeará ao
interditando curador à lide (art. 9º).

(Promotor MP/PE 2014 FCC) O juiz nomeará curador à lide ao interditando, quando a interdição for
requerida pelo Ministério Público. (CERTO)

Quais são os poderes do curador especial? O que ele faz no processo?


O curador especial exerce um múnus público.
Sua função é a de defender o réu em juízo naquele processo.
Possui os mesmos poderes processuais que uma “parte”, podendo oferecer as diversas defesas
(contestação, exceção, impugnação etc.), produzir provas e interpor recursos.
Obviamente, o curador especial não pode dispor do direito do réu (não pode, por exemplo, reconhecer a
procedência do pedido), sendo nulo qualquer ato nesse sentido.

Função institucional da Defensoria Pública


Segundo o art. 4º, XVI, da LC 80/94, uma das funções institucionais da Defensoria Pública é a de exercer a
curadoria especial nos casos previstos em lei.

Marinoni e Mitidiero defendem que, se existir Defensoria Pública na comarca ou subseção judiciária, o
curador especial deverá ser obrigatoriamente o Defensor Público. Se não houver, o juízo terá liberdade
para nomear o curador especial (Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT,
2008, p. 105).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Importante: a atuação da Defensoria Pública como curadora especial não exige que o réu seja
hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art. 9º, entende-se que o réu ostenta hipossuficiência
jurídica, sendo, portanto, necessária a atuação da Defensoria Pública.
Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado que não seja o MP, será necessária a
nomeação de curador especial?
NÃO. Nas ações de interdição não ajuizadas pelo MP, a função de defensor do interditando deverá ser
exercida pelo próprio órgão ministerial, não sendo necessária, portanto, nomeação de curador à lide.
A designação de curador especial tem por pressuposto a presença do conflito de interesses entre o
incapaz e o responsável pela defesa de seus interesses no processo judicial.
Assim, na hipótese de encontrar-se o MP e o suposto incapaz em polos opostos da ação, há intrínseco
conflito de interesses a exigir a nomeação ao interditando de curador à lide, nos termos do art. 1.179 do
CPC, que se reporta ao art. 9º do mesmo Código. Todavia, proposta a ação pelos demais legitimados,
caberá ao MP a defesa dos interesses do interditando, fiscalizando a regularidade do processo,
requerendo provas e outras diligências que entender pertinentes ao esclarecimento da incapacidade e, ao
final, impugnar ou não o pedido de interdição, motivo pelo qual não se faz cabível a nomeação de curador
especial para defender, exatamente, os mesmos interesses pelos quais zela o MP.
A atuação do MP como defensor do interditando, nos casos em que não é o autor da ação, decorre da lei
(art. 1.182, § 1º, do CPC e art. 1.770 do CC) e se dá em defesa de direitos individuais indisponíveis, função
compatível com as suas funções institucionais (art. 127 da CF).

Resumindo:
 Ação de interdição proposta pelo MP: o juiz deverá nomear curador à lide (curador especial);
 Ação de interdição proposta por outro legitimado: não é necessária a nomeação de curador à lide
porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando.

Obs: não confundir o curador do interditando, que é nomeado ao final, caso a ação seja julgada procedente
(art. 1.183, parágrafo único do CPC), com o curador à lide (curador especial), que é designado logo no início da
ação (art. 1.179). Apesar do nome ser parecido, são figuras completamente diferentes. O curador à lide é um
instituto processual, que só existe enquanto perdurar o processo. O curador do interditando é uma figura de
direito material, que vai surgir caso a ação de interdição seja julgada procedente.

ALIMENTOS
Renúncia aos alimentos feita durante a vigência da união estável não perdura se houve fato
superveniente que reduziu a capacidade de trabalho de um dos conviventes

Importante!!!
Um homem e uma mulher, na época em que conviviam juntos em união estável, fizeram uma
declaração, por escritura pública, afirmando que, em caso de dissolução da união, nenhum dos dois
iria pleitear pensão alimentícia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos.
O STJ decidiu que, mesmo com essa renúncia, seria possível que a ex-convivente pedisse e tivesse
direito aos alimentos na hipótese em que, após essa renúncia, ela tenha sido acometida de uma
moléstia grave, que reduziu sua capacidade laboral, comprometendo sua situação financeira.
São irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC).
É válida e eficaz a renúncia manifestada no momento do acordo de separação judicial ou de
divórcio. No entanto, por outro lado, não pode ser admitida a renúncia feita durante a vigência
da união estável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.233-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Imagine a seguinte situação adaptada:
João e Maria viviam em união estável, cada um trabalhava e mantinha um bom padrão de renda.
Em determinado momento do relacionamento, o casal decidiu fazer uma escritura pública reconhecendo
que viviam em união estável e fixando as regras patrimoniais que deveriam vigorar nesta união.
Uma das regras fixadas era que, em caso de dissolução da união estável, nem João nem Maria iriam
pleitear pensão alimentícia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos.
Alguns anos depois, quando ainda viviam juntos, Maria foi acometida por um câncer de pulmão, que a
obrigou a fazer altos gastos, ao mesmo tempo em que teve sua capacidade de trabalho reduzida.
O relacionamento chegou ao fim e, Maria, ainda em tratamento, pleiteou pensão alimentícia a ser paga
por João.
O ex-companheiro defendeu-se, alegando que Maria renunciou expressamente a esse direito, sendo essa
renúncia válida e eficaz.

Maria terá direito aos alimentos?


SIM. O STJ decidiu que ela terá direito aos alimentos. A escritura pública em que o casal renunciou à
prestação de alimentos não perdura em virtude da superveniente necessidade de um dos companheiros.
A doença acarretou à mulher redução considerável de sua capacidade de trabalho, comprometendo, ainda
que temporariamente, sua situação financeira. No momento da ruptura da sociedade conjugal, a situação
que antes lhe permitia renunciar aos alimentos já não existia.
A assistência material mútua constitui tanto um direito como um dever para ambos, e tal direito não é
passível de renúncia durante a relação conjugal, pois tem previsão expressa na lei.
Em outras palavras, são irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC).
Nas exatas palavras do Ministro Raul Araújo:
“Ante o princípio da irrenunciabilidade dos alimentos, decorrente do dever de mútua assistência
expressamente previsto nos dispositivos legais, não se pode ter como válida disposição que implique
renúncia aos alimentos na constância da união, pois esses, como dito, são irrenunciáveis”.

Atenção para não confundir:


 É válida e eficaz a renúncia manifestada no momento do acordo de separação judicial ou de divórcio.
 No entanto, por outro lado, não pode ser admitida a renúncia feita durante a vigência da união estável.

ALIMENTOS
Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da pensão alimentícia

Tema polêmico!
ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAÇÃO E VERBAS EVENTUAIS
RECEBIDAS PELO DEVEDOR
As parcelas percebidas a título de PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS integram a base
de cálculo da pensão alimentícia quando esta é fixada em percentual sobre os rendimentos,
salvo se houve disposição transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, se a pensão
alimentícia foi fixada em percentual (ex: 30% sobre os rendimentos), no mês que o devedor
receber participação nos lucros da empresa, o percentual incidirá sobre tal valor.

ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NÃO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE


VERBAS EVENTUAIS PELO DEVEDOR
O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras (eventuais) não compõem
a base de cálculo da pensão alimentícia quando esta é estabelecida em valor fixo, salvo se
houver disposição transacional ou judicial em sentido contrário.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo (ex: 10 mil reais, 5
salários-mínimos etc.), o alimentando não tem direito a receber, com base naquele título
judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo
alimentante e ali não previstos. Assim, o credor não terá direito a qualquer acréscimo no valor
da pensão quando o devedor receber no mês um abono, comissão por produtividade, 13º
salário, participação nos lucros etc.

AVISO PRÉVIO
O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve disposição
transacional ou judicial em sentido contrário.
Assim, não importa que a pensão tenha sido fixada em valor fixo ou percentual variável, o
aviso prévio não interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

SITUAÇÃO 1
ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAÇÃO E VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO
DEVEDOR

Imagine a seguinte situação hipotética:


Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai,
Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa.
O juiz, por meio de decisão interlocutória, de ofício, deferiu a tutela antecipada, concedendo alimentos
provisórios ao menor à razão de 30% sobre os valores líquidos percebidos por Fausto, incidentes, inclusive,
sobre ganhos eventuais (abono, participação nos lucros e gratificações), que devem ser descontados
diretamente da folha de pagamento do genitor.

Fausto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste caso?
Agravo de instrumento (art. 522 do CPC).

O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício?


SIM. Trata-se de uma das hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de ofício. Esta
previsão está implícita no art. 4º da Lei nº 5.478/68:
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor,
salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre verbas esporádicas,
eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do trabalhador, tendo natureza indenizatória e
que não integram os rendimentos do alimentante, tais como adicionais, abonos, participação nos lucros e
gratificações.

O que o STJ entende sobre o tema? As verbas de caráter eventual (ex: horas extras) influenciam no valor
da obrigação, aumentando o quantum da pensão alimentícia nos meses em que o devedor receber
parcelas extras? Em suma, toda vez que o devedor receber mais (por qualquer motivo), o valor da
pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais?

1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM


Em regra, os alimentos provisórios fixados em O valor recebido pelo alimentante a título de
percentual sobre os rendimentos líquidos do horas extras, mesmo que não habituais, embora
alimentante não abrangem as verbas que não não ostente caráter salarial para efeitos de
façam parte da sua remuneração habitual. apuração de outros benefícios trabalhistas, é

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Se a necessidade do alimentando está verba de natureza remuneratória e integra a base
plenamente satisfeita, o valor dos alimentos não de cálculo para a incidência dos alimentos fixados
deverá ser majorado pelo simples fato do em percentual sobre os rendimentos líquidos do
alimentante ter tido um incremento em sua devedor.
renda. Se, ao contrário, o quantum dos alimentos STJ. 4ª Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis
estava abaixo das necessidades do credor, caso Felipe Salomão, julgado em 25/06/2013 (não
haja um aumento nas possibilidades do devedor, divulgado em Info).
o valor dos alimentos terá que ser aumentado.
Em outras palavras, mesmo que o alimentante Desde que não haja disposição transacional ou
receba mais naquele mês, o valor dos alimentos judicial em sentido contrário, as parcelas
não será aumentado se o quantum pago já for percebidas a título de participação nos lucros e
suficiente para atender as necessidades do resultados integram a base de cálculo da pensão
alimentando. alimentícia quando esta é fixada em percentual
STJ. 3ª Turma. REsp 1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy sobre os rendimentos.
Andrighi, julgado em 16/4/2013 (Info 519). STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis
É a posição também de boa parte da doutrina, Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info
como Arnaldo Rizzardo e Yussef Said Cahali. 553).

O tema, no entanto, é polêmico e não deveria ser cobrado em uma prova objetiva. No entanto, como tudo
é possível, caso seja exigido, marque a alternativa que espelha o último julgado divulgado em Informativo,
ou seja, a conclusão que está exposta em amarelo no início desta explicação.
Caso haja alguma novidade, você será informado no site.

AVISO PRÉVIO
O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve disposição transacional
ou judicial em sentido contrário.
Assim, não importa que a pensão tenha sido fixada em valor fixo ou percentual variável, o aviso prévio
NÃO interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia.
O aviso prévio é parcela de caráter excepcional, razão pela qual não deve incidir no cálculo da pensão
alimentícia, salvo se houver disposição transacional ou judicial em sentido contrário.
A jurisprudência do STJ é uníssona no sentido de que a verba indenizatória não se inclui na base de cálculo
da pensão alimentícia.

SITUAÇÃO 2
ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NÃO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS
PELO DEVEDOR

Imagine a seguinte situação hipotética:


Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai,
Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa.
O juiz proferiu sentença condenando o genitor a pagar alimentos no valor de 2 salários mínimos.

É possível a fixação de pensão alimentícia em percentual ou número de salários mínimos?


SIM, é possível. Este é o entendimento pacífico do STJ (REsp 1025769/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 24/08/2010).

Se Fausto, em determinado mês, receber gratificações extras em seu trabalho, o valor pago a título de
pensão deverá ser aumentado (exs: abono, comissão por produtividade, 13º salário, participação nos
lucros)?

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


NÃO. No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo, a ser pago em
periodicidade mensal, o alimentando não tem direito a receber, com base naquele título judicial,
quaisquer acréscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos.

Para o STJ, na hipótese de alimentos arbitrados em valor fixo, eventuais flutuações dos rendimentos do
alimentante, para cima ou para baixo, ou mesmo sua supressão, não são aptas a alterar o quantum
devido, razão pela qual o recebimento de parcelas trabalhistas a título de 13º, férias e outras verbas da
mesma natureza não tem o condão de influenciar a dívida consolidada, sob pena de alterar o binômio
inicial (necessidade/possibilidade) considerado para a determinação do montante fixo.

Enfim, se o magistrado sentenciante arbitrou os alimentos em valor fixo à luz das circunstâncias do caso
concreto, há de se presumir que esse foi o método por ele considerado como o mais adequado à
satisfação do binômio necessidade/possibilidade.

Ressalvas:
 Não é comum acontecer, mas o juiz, na decisão que fixou os alimentos, pode ter feito uma ressalva,
incluindo o 13º salário e outras verbas eventuais. Ex: o pai irá pagar 2 salários mínimos todos os
meses, mais 20% do 13º salário e outras verbas extras. Nesse caso, é óbvio, o devedor terá que pagar
tais valores, mas porque isso ficou expressamente previsto.
 O alimentando, mesmo sendo condenado a pagar um valor fixo, poderá combinar com o credor, de
pagar uma parte das verbas eventuais que receber. Se houve essa disposição transacional, a quantia
também será devida.

Resumindo:
O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras não compõem a base de cálculo da
pensão alimentícia quando esta é estabelecida em valor fixo, salvo se houver disposição transacional ou
judicial em sentido contrário.

PENSÃO EM VALOR FIXO X PENSÃO EM PERCENTUAL SOBRE REMUNERAÇÃO LÍQUIDA


Na prática forense, ao orientar um cliente, ou no momento de uma prova, é importante estar atento para
a diferença entre as duas situações.

Se o alimentante, em determinado mês, receber gratificações extras em seu trabalho, o valor pago a
título de pensão deverá ser aumentado?
 Se os alimentos foram arbitrados em valor fixo: NÃO.
 Se os alimentos foram arbitrados em percentual sobre a remuneração: há divergência, conforme
exposto no quadro acimab.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO


Inocorrência de dano moral pela simples presença de corpo estranho em refrigerante

Atualize o Info 537-STJ


A simples aquisição de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem que haja a
ingestão do produto, não é circunstância apta, por si só, a provocar dano moral indenizável.
Obs: existe precedente em sentido contrário, mas o que prevalece é que não há dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação:


João comprou uma garrafa de refrigerante e, antes de abri-la, constatou que havia uma pequena lagartixa
em seu interior.
Diante disso, ajuizou ação de indenização por danos morais contra a fabricante.
A ré, dentre outros argumentos, afirmou que não houve dano moral porque o consumidor nem abriu a
garrafa e não chegou a ingerir o produto.

Há direito à indenização por dano moral nesse caso?


Trata-se de tema polêmico, havendo decisões nos dois sentidos:
SIM NÃO
A aquisição de produto de gênero alimentício A simples aquisição de refrigerante contendo
(refrigerante) que tinha em seu interior um corpo inseto no interior da embalagem, sem que haja a
estranho, expondo o consumidor a risco concreto ingestão do produto, não é circunstância apta, por
de lesão à sua saúde e segurança, dá direito à si só, a provocar dano moral indenizável.
compensação por dano moral mesmo não tendo A fim de evitar o enriquecimento sem causa,
havido a ingestão de seu conteúdo. prevalece no STJ o entendimento de que a simples
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.304-SP, Rel. Min. Nancy aquisição do produto danificado, uma garrafa de
Andrighi, julgado em 11/3/2014 (Info 537). refrigerante contendo um objeto estranho no seu
interior, sem que se tenha ingerido o seu
conteúdo, não revela o sofrimento capaz de
ensejar indenização por danos morais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014
(Info 553).
Qual posição prevalece?
A segunda, ou seja, a de que não gera dano moral.
Assim, não se configura o dano moral quando ausente a ingestão do produto considerado impróprio para
o consumo, em virtude da presença de objeto estranho no seu interior, por não extrapolar o âmbito
individual que justifique a litigiosidade, porquanto atendida a expectativa do consumidor em sua
dimensão plural.
Para o STJ, a tecnologia utilizada nas embalagens dos refrigerantes é padronizada e guarda, na essência, os
mesmos atributos e as mesmas qualidades no mundo inteiro.
Desse modo, não existe um sistemático defeito de segurança capaz de colocar em risco a incolumidade da
sociedade de consumo, a culminar no desrespeito à dignidade da pessoa humana, no desprezo à saúde
pública e no descaso com a segurança alimentar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


PRÁTICAS ABUSIVAS
Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in re ipsa

Importante!!!
Configura dano moral coletivo in re ipsa a realização de venda casada por operadora de
telefonia.
A prática de venda casada por parte de operadora de telefonia é capaz de romper com os
limites da tolerância. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas
vantagens - no caso, o comércio de linha telefônica com valores mais interessantes do que a de
seus concorrentes - e de outro, impõe-lhe a obrigação de aquisição de um aparelho telefônico
por ela comercializado, realiza prática comercial apta a causar sensação de repulsa coletiva a
ato intolerável, tanto que encontra proibição expressa em lei.
Afastar, da espécie, o dano moral difuso, é fazer tábula rasa da proibição elencada no art. 39, I,
do CDC e, por via reflexa, legitimar práticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos
do consumidor.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.397.870-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação:


Determinada companhia de celular estava impondo a aquisição de aparelho telefônico aos consumidores
que demonstrassem interesse em adquirir o serviço de telefonia.
Em outras palavras, a pessoa só conseguia comprar o chip e assinar os seus serviços de telefonia se
também já adquirissem o aparelho de celular na loja da operadora.
Diante desse fato, o Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública contra a concessionária, pedindo
a sua condenação por danos morais coletivos.

Houve alguma prática abusiva por parte da empresa?


SIM. A situação narrada configura a chamada “venda casada”, que é reputada como prática comercial
abusiva pelo art. 39, I, do CDC:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

Qual é a natureza do direito discutido na referida ACP?


O direito metaindividual tutelado na espécie enquadra-se na categoria de direitos difusos, isto é, tem
natureza indivisível e possui titulares indeterminados, que são ligados por circunstâncias de fato, o que
permite asseverar ser esse extensível à toda a coletividade.

O que é dano moral coletivo?


“O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma comunidade, isto é, a violação de direito
transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do ponto de vista jurídico, de forma
a envolver não apenas a dor psíquica, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade, pois o dano é,
na verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de uma pessoa.” (Min. Mauro
Campbell Marques).

Toda vez que são violados direitos dos consumidores haverá dano moral coletivo?
NÃO. O STJ entende que não é qualquer atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar
dano moral difuso (dano moral coletivo). É necessário que esse ato ilícito seja de razoável significância e
desborde os limites da tolerabilidade. Deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos,

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intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva (STJ. 3ª Turma. REsp
1.221.756/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 02/02/2012).

É devida a condenação por dano moral coletivo no presente caso?


SIM. O STJ decidiu que configura dano moral coletivo in re ipsa a realização de venda casada por
operadora de telefonia.
A prática de venda casada por parte de operadora de telefonia é capaz de romper com os limites da
tolerância. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas vantagens - no caso, o
comércio de linha telefônica com valores mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro,
impõe-lhe a obrigação de aquisição de um aparelho telefônico por ela comercializado, realiza prática
comercial apta a causar sensação de repulsa coletiva a ato intolerável, tão intolerável que encontra
proibição expressa em lei.
Afastar, da espécie, o dano moral difuso, é fazer tábula rasa da proibição elencada no art. 39, I, do CDC e,
por via reflexa, legitimar práticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor.

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES


Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore

Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por
consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema Crediscore, é
necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita
ferramenta de scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na disponibilização
das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

O que é Cresdiscore?
“Credit scoring”, também chamado de “crediscore” é um sistema ou método utilizado para analisar se será
concedido ou não crédito ao consumidor que pedir a concessão de um empréstimo ou financiamento.
No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de fórmulas matemáticas,
nas quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a profissão, a finalidade da obtenção do
crédito etc. Tais variáveis são utilizadas nas fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da
estatística, atribui-se uma espécie de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto
maior a nota, menor seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e, consequentemente,
mais fácil para ele conseguir a liberação.
Algumas das informações que são consideradas como variáveis na fórmula matemática do “credit
scoring”: idade, sexo, estado civil, profissão, renda, número de dependentes, endereço, histórico de outros
créditos que pediu etc.
Com base em estudos estatísticos, concluiu-se que pessoas de determinado sexo, profissão, estado civil,
idade etc. são mais ou menos inadimplentes. Logo, se o consumidor está incluído nos critérios
considerados como de “bom pagador”, ele recebe uma pontuação maior.

O “credit scoring” pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliação do risco de concessão de crédito?
SIM. O STJ entendeu que essa prática comercial é LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º,
I, da Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos
bancos de dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os limites
estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima
transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011;
STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 551).

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação:


João tentou fazer um crediário em uma loja e esta, após consultar o nome do cliente no Crediscore da
Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas), negou a concessão do crédito.
Insatisfeito, João voltou para casa, entrou no site da CDL e no campo chamado “fale conosco” pediu para
saber qual seria a sua pontuação no Crediscore e a metodologia que eles utilizam.
A CDL respondeu que esse pedido, por envolver dados pessoais, só poderia ser atendido se fosse feito
pessoalmente com a identificação do requerente.
João não concordou e ajuizou ação cautelar de exibição de documentos contra a CDL requerendo fosse
disponibilizado extrato contendo sua pontuação e os critérios utilizados pelas lojas no Crediscore.
A CDL contestou a ação afirmando que falta interesse de agir na demanda.

O pedido de João deve ser aceito? Existe interesse de agir no caso concreto?
NÃO. O STJ decidiu que, para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos
ajuizada por consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema Crediscore,
é necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita ferramenta de
scoring; e
b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na disponibilização das
informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.

Em nosso exemplo, o consumidor comprovou que existiu recusa na concessão do crédito em virtude da
pontuação que ele recebeu no Crediscore. No entanto, não houve resistência em fornecer as informações
requeridas pelo consumidor. Apenas exigiu-se que ele fizesse o pedido pessoalmente, o que não
caracteriza recusa.

Além de saber a sua pontuação, o consumidor tem direito de saber qual foi a metodologia utilizada no
cálculo?
NÃO. O consumidor terá direito de saber a sua pontuação e as informações pessoais utilizadas. No
entanto, nem o consumidor nem ninguém terá direito de saber a metodologia de cálculo, ou seja, qual foi
a fórmula matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. Isso porque essa fórmula é
fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade empresarial (art. 5º, IV, da Lei n.
12.414⁄2011: ..."resguardado o segredo empresarial”).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 551).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


ECA

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Possibilidade de cumprimento imediato de medida socioeducativa imposta na sentença

Tema polêmico!
Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida socioeducativa de internação deverá
ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?
1ª corrente: apenas no efeito devolutivo, impondo-se ao adolescente infrator o cumprimento
imediato da medida socioeducativa (STJ. 6ª Turma. HC 301.135/SP).
2ª corrente: com a revogação do art. 198, VI, do ECA, as apelações interpostas contra sentenças
menoristas devem ser recebidas, em regra, no duplo efeito, com exceção da hipótese prevista
no art. 520, VII, do CPC, o qual dispõe que os apelos interpostos contra sentenças que
confirmam a antecipação dos efeitos da tutela são recebidos apenas no efeito devolutivo (STJ.
6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA).
STJ. 6ª Turma. HC 301.135-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014.

No caso de apuração de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC?


Depende. Aplica-se:
 o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença);
 o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA).

Resumindo:
1ª opção: normas do ECA.
Na falta de normas específicas:
 CPP: para regular o processo de conhecimento.
 CPC: para regular o sistema recursal.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


João, adolescente, praticou ato infracional equiparado a roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II, do CP).
O magistrado proferiu sentença aplicando-lhe medida socioeducativa de internação.
A defesa interpôs recurso de apelação.
O juiz recebeu a apelação apenas no seu efeito devolutivo (ou seja, não recebeu no efeito suspensivo).
Como o recurso não suspendeu a sentença, isso significa que, na prática, o adolescente deverá aguardar
no centro de internação o julgamento da apelação. Em outros termos, foi negado ao adolescente o direito
de recorrer em liberdade.

A decisão do juiz foi acertada? Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida
socioeducativa de internação deverá ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?
SIM NÃO
Nos processos decorrentes da prática de atos Existem inúmeras decisões em sentido contrário,
infracionais, em regra, a apelação interposta ou seja, afirmando que, depois da Lei n.
contra a sentença que aplicou internação deverá 12.010/2009 ter revogado o inciso VI do art. 198
ser recebida apenas no efeito devolutivo, do ECA, a regra agora é que os recursos sejam
impondo-se ao adolescente infrator o recebidos nos efeitos devolutivo e suspensivo.
cumprimento imediato da medida socioeducativa. Confira:

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


Apesar de a Lei n. 12.010/2009 ter revogado o (...) Com a revogação do art. 198, VI, do Estatuto
inciso VI do art. 198 do ECA, que conferia apenas o da Criança e do Adolescente, as apelações
efeito devolutivo ao recebimento dos recursos, interpostas contra sentenças menoristas devem
continua a viger o disposto no art. 215 do ECA, ser recebidas no duplo efeito, com exceção da
que determina o seguinte: hipótese prevista no art. 520, VII, do Código de
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo Processo Civil, o qual dispõe que os apelos
aos recursos, para evitar dano irreparável à parte. interpostos contra sentenças que confirmam a
antecipação dos efeitos da tutela são recebidos
Ora, se o art. 215 afirma que o juiz poderá conferir apenas no efeito devolutivo. (...)
efeito suspensivo, isso significa que os recursos (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min.
possuem, em regra, apenas efeito devolutivo, Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014)
inclusive contra sentença que acolhe a
representação do Ministério Público e impõe (...) A Lei n.º 12.010/2009 revogou o art. 198 do
medida socioeducativa ao adolescente infrator. Estatuto da Criança e do Adolescente, que previa a
regra geral segundo a qual a interposição da
Os processos envolvendo aplicação de medidas apelação geraria apenas o efeito devolutivo. Com
socioeducativas estão alicerçados em o advento da Lei n.º 12.010/2009, adotou-se a
fundamentos diferentes. regra do art. 520 do Código de Processo Civil, pelo
No processo penal, as regras têm por objetivo, qual o recurso de apelação detém tanto o efeito
fundamentalmente, proteger o acusado contra devolutivo quanto o suspensivo.
ingerências abusivas do Estado em sua liberdade. 3. Em regra, não se admite mais a execução
A pena criminal é uma punição e o princípio da provisória de decisão menorista impugnada por
presunção de não culpabilidade é levado ao intermédio de apelação. Dentre os casos que
extremo. comportam exceção à referida regra, verifica-se a
Por outro lado, a medida socieducativa não hipótese de superveniência da interposição de
representa punição, sendo um mecanismo de recurso apelatório em face de sentença que
proteção do adolescente e da sociedade, aplicou medida socioeducativa de internação,
possuindo natureza pedagócia e ressocializadora. após o deferimento de medida cautelar
Por essas razões, para o STJ, a imediata execução consistente em internação provisória, nos termos
da sentença que aplica medida socioeducativa não do art. 520, do Código de Processo Civil. (...)
ofende o princípio da não culpabilidade (art. 5°, (STJ. 5ª Turma. RHC 41.359/MG, Rel. Min. Laurita
LVII, da CF/88). Vaz, julgado em 12/11/2013).
Condicionar a execução da medida socioeducativa
ao trânsito em julgado da sentença que acolhe a
representação seria um obstáculo ao escopo
ressocializador da intervenção estatal, além de
permitir que o adolescente permaneça em
situação de risco, exposto aos mesmos fatores que
o levaram à prática infracional.
STJ. 6ª Turma. HC 301.135-SP, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553).

Dica de ordem prática:


Em provas e na prática forense, se o Promotor de Justiça entende que o adolescente não tem direito de
aguardar o julgamento em liberdade, ele deverá, nas “alegações finais” (memoriais), pedir que o juiz, na
sentença, conceda uma medida cautelar de internação, demonstrando a existência do fumus boni iuris e
do periculum in mora. Se o magistrado fizer isso, a apelação contra a sentença deverá ser recebida no
efeito apenas devolutivo, conforme determina o art. 520, VII, do CPC.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

INTIMAÇÃO
Publicação de intimação com erro na grafia do sobrenome do advogado

Importante!!!
NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma letra ao
sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o número do
processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência de erro
idêntico nas intimações anteriores, houve observância aos prazos processuais passados, de
modo a demonstrar que o erro gráfico não impediu a exata identificação do processo.
O entendimento do STJ é no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome do
advogado, aliado à possibilidade de se identificar o processo por outros elementos, como o seu
número e o nome da parte, não enseja a nulidade da publicação do ato processual.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.356.168-RS, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min.
Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014 (Info 553).

CONCEITO DE INTIMAÇÃO
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe
de fazer alguma coisa (art. 234 do CPC).

DIFERENÇAS ENTRE CITAÇÃO E INTIMAÇÃO


CITAÇÃO INTIMAÇÃO
É dirigida ao réu ou ao interessado. É dirigida a qualquer das partes, seus advogados,
auxiliares da justiça (peritos, depositários,
testemunhas) ou a terceiros, a quem cumpre
realizar determinado ato no processo.
Tem por finalidade dar ciência ao réu da Tem por finalidade dar ciência a alguém dos atos e
existência do processo, permitindo que apresente termos do processo, para que faça ou deixe de
sua resposta à demanda proposta. fazer alguma coisa.
Em regra, a citação deve ser feita pessoalmente Em regra, a intimação é feita para o advogado das
ao réu (ou ao seu representante, em caso de partes, mediante publicação na imprensa oficial,
incapacidade ou ao seu procurador). salvo quando a lei exigir que seja pessoal.

FORMAS PELAS QUAIS PODE SER REALIZADA A INTIMAÇÃO


a) Publicação no Diário Oficial:
Em todas as capitais, e também nas comarcas onde houver Imprensa Oficial, a intimação pode ocorrer
mediante publicação no Diário Oficial.
Vale ressaltar que o Diário Oficial pode ser eletrônico (publicado somente pela internet).
É indispensável, sob pena de nulidade, que, quando for publicada a intimação, constem os nomes das
partes e de seus advogados, de forma a permitir a identificação.

b) Correios (via postal)


Não dispondo a lei de outro modo, as intimações serão feitas às partes, aos seus representantes legais e
aos advogados pelo correio ou, se presentes em cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe de secretaria
(art. 238 do CPC).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


c) Mandado (oficial de justiça)
A intimação por meio de oficial de justiça somente será feita quando frustrada a realização pelo correio
(art. 239 do CPC).

d) Edital
Não foi prevista expressamente pelo legislador, mas tem sido admitida nas hipóteses em que a pessoa a
ser intimada não puder ser identificada ou localizada.

e) Vista dos autos


No caso do Ministério Público, a Lei determina que a intimação pessoal deve ocorrer através da entrega
dos autos com vista (art. 41, IV, da Lei n. 8.625/93).
No caso da Defensoria Pública, a Lei afirma que a intimação pessoal através da entrega dos autos com
vista somente ocorrerá quando necessário (arts. 44, I, 89, I e 128, I, da Lei Complementar 80/94).

f) Meio eletrônico
As intimações podem ser feitas de forma eletrônica, conforme regulado em lei própria (art. 237, parágrafo
único, CPC). A Lei n. 11.419/2006 dispõe sobre o assunto.

INTIMAÇÃO PELO DIÁRIO OFICIAL E NOME DOS ADVOGADOS E DAS PARTES


A intimação pelo Diário Oficial deve conter os nomes dos advogados e das partes
O art. 236 do CPC, ao tratar sobre a intimação pelo Diário Oficial, prevê a seguinte regra:
§ 1º É indispensável, sob pena de nulidade, que da publicação constem os nomes das partes e de seus
advogados, suficientes para sua identificação.

O que acontece, no entanto, se a publicação for feita com erro no nome do advogado e este perder o
prazo para a prática do ato?
O STJ entende que, nesses casos, deve ser analisado se o mencionado erro era grave a ponto de impedir
que o advogado identificasse que se tratava do processo que patrocina.
Assim, não se deve declarar a nulidade da publicação de acórdão do qual conste, com grafia incorreta, o
nome do advogado se o erro é insignificante (troca de apenas uma letra) e é possível identificar o feito
pelo exato nome das partes e número do processo (STJ. Corte Especial. AgRg nos EDcl nos EAREsp
140.898/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 02/10/2013).

Imagine o seguinte caso concreto:


A sentença foi publicada com o patronímico do advogado errado.
O erro ocorreu pelo acréscimo de apenas uma letra, “n”, no sobrenome do causídico: constou na
publicação “Monreau” e o correto seria “Moreau”.
Vale ressaltar que o prenome do advogado estava correto, assim como também estavam certos o número
do processo e os nomes das partes. O único erro era essa letra “n” a mais.
Importante também destacar que nas outras publicações anteriores, o sobrenome do advogado havia sido
escrito da mesma forma (errada), ou seja, com um “n” a mais. Apesar disso, todos os prazos anteriores
foram cumpridos tempestivamente. Somente agora no final, na publicação da sentença, o causídico
deixou passar o prazo para a apelação.

Diante da perda do prazo para o recurso, o advogado suscitou a nulidade da intimação realizada, nos
termos do § 1º do art. 236 do CPC, pedindo a republicação e a devolução do prazo recursal. O pleito do
causídico foi aceito pelo STJ?
NÃO. Segundo decidiu a Corte Especial do STJ, NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão
do acréscimo de uma letra ao sobrenome do advogado, no caso em que o seu prenome, o nome das
partes e o número do processo foram cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


de erro idêntico nas intimações anteriores, houve observância aos prazos processuais passados, de modo
a demonstrar que o erro gráfico não impediu a exata identificação do processo.
Reafirmou-se o entendimento da Corte no sentido de que o erro insignificante na grafia do nome do
advogado não enseja a nulidade da publicação do ato processual se for possível identificar o processo por
meio de outros elementos, como o seu número e o nome da parte.

AÇÃO RESCISÓRIA
Prorrogação do termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória

Importante!!!
Que dia ocorre o trânsito em julgado?
O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao último dia do prazo para o
recurso em tese cabível.

Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos da ação rescisória?


O prazo de 2 anos começa a ser contado do exato dia em que ocorre o trânsito em julgado.
O termo "a quo" para o ajuizamento da ação rescisória coincide com a data do trânsito em
julgado da decisão rescindenda.
Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ação rescisória começa a correr
da data do trânsito em julgado da sentença rescindenda, incluindo-se-lhe no cômputo o dia do
começo.

Se o último dia do prazo da rescisória for sábado, domingo ou feriado, haverá prorrogação para
o primeiro dia útil subsequente?
SIM. O termo final do prazo para o ajuizamento da ação rescisória, embora decadencial,
prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente se recair em dia de não funcionamento da
secretaria do Juízo competente.
STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 19/11/2014
(recurso repetitivo) (Info 553).

CONCEITO
Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado.

NATUREZA JURÍDICA
A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal externo).
Atenção: a ação rescisória NÃO é um recurso. O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência
do processo (enquanto este ainda não acabou). A ação rescisória, por sua vez, somente pode ser proposta
quando há trânsito em julgado, ou seja, quando o processo já se encerrou.

COMPETÊNCIA
A ação rescisória é sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular).
Quem julga a rescisória é sempre o próprio tribunal que proferiu a decisão rescindenda.

PRAZO
A ação rescisória possui prazo decadencial de 2 anos, contados do dia do trânsito em julgado da decisão:
CPC/Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em
julgado da decisão.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Que dia ocorre o trânsito em julgado?
Só há trânsito em julgado quando não mais couber qualquer recurso.
Assim, o trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao último dia do prazo para o
recurso em tese cabível contra a última decisão proferida na causa.
Ex: o TJ publicou o acórdão em 01/02; em tese, contra essa decisão, caberia RE e REsp, cujo prazo é de 15
dias; logo, as partes tinham até o dia 16/02 para interpor o recurso; imagine que não houve recurso; isso
significa que o trânsito em julgado ocorreu no dia 17/02, ou seja, no dia imediatamente seguinte
(subsequente) ao último dia do prazo para o recurso em tese cabível.

Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos previsto no art. 495? Ele se inicia no dia do trânsito em julgado
ou no dia seguinte ao trânsito em julgado? Ex: o acórdão transitou em julgado no dia 17/02. O prazo
para a rescisória começa a ser contado no dia 17/02 ou em 18/02?
O prazo de 2 anos começa a ser contado do exato dia em que ocorre o trânsito em julgado (em nosso
exemplo, no dia 17/02).
Dito de outro modo, o prazo decadencial para a propositura de ação rescisória começa a correr da data do
trânsito em julgado da sentença rescindenda, incluindo-se-lhe no cômputo o dia do começo.
Obs: existem julgados do próprio STJ em sentido contrário, mas o precedente mais recente da Corte
Especial foi no sentido de que o prazo se inicia no dia do trânsito em julgado.

Como é contado o prazo de 2 anos? Conta-se dia a dia?


NÃO. Se o prazo é fixado em anos, aplica-se a regra do § 2º do art. 132 do Código Civil:
§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar
exata correspondência.

Assim, se a lei prevê prazos em anos, eles não serão contados dia após dia, mas sim ano após ano,
terminando no mesmo dia (numeral) em que começou, acrescido dos anos respectivos.

Ex: se o prazo de 2 anos começou a correr no dia 17/02/2011 (data do trânsito), a ação rescisória poderá
ser proposta até o dia 17/02/2013 (este será o último dia possível).

E se o último dia do prazo for sábado, domingo ou feriado? Haverá prorrogação para o primeiro dia útil
subsequente?
SIM. O STJ entende que, se o termo final do prazo para ajuizamento da ação rescisória recair em dia não
útil, ele deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil subsequente.
Em nosso exemplo, 17/02/2013 era um domingo. Logo, como se trata de um dia não-útil, a parte poderia
ajuizar a ação rescisória até o dia 18/02/2013 (segunda-feira).

Mas o prazo para a ação rescisória não é decadencial? Eu havia aprendido que o prazo decadencial não
se suspende, não se interrompe nem se prorroga...
É verdade. Trata-se de prazo decadencial, mas apesar disso, o STJ afirmou que nesse caso específico ele se
prorroga sim.
O STJ entende que deve ser aplicado ao prazo de ajuizamento da ação rescisória a regra geral do art. 184,
§ 1º, do CPC, com o objetivo de atender aos princípios da razoabilidade, efetividade e instrumentalidade,
evitando que se subtraia da parte a plenitude do prazo a ela legalmente concedido.
§ 1º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o vencimento cair em feriado ou em dia em
que:
I - for determinado o fechamento do fórum;
II - o expediente forense for encerrado antes da hora normal.

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PROCESSO CAUTELAR
Ação cautelar de exibição de documentos bancários

A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de


documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando
a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio
pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do
serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em
10/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, há mais de 40 anos, possui uma conta-poupança na Caixa Econômica Federal.
Um advogado afirmou que ele teria direito de receber uma quantia da CEF. Isso porque, segundo o
profissional, durante alguns planos econômicos (Planos Collor, Bresser e Verão), a atualização dos valores
depositados em sua poupança teria sido feita de forma incorreta (a menor). Tal situação ficou conhecida
como “expurgos inflacionários dos depósitos em cadernetas de poupança”.
João foi orientado a pedir da CEF os extratos bancários relativos à sua conta-poupança referentes aos anos
de 1987 a 1991 para que isso fosse analisado e posteriormente ele pudesse cobrar tais valores.
O correntista pagou as tarifas bancárias necessárias para que os extratos fossem entregues, mas, mesmo
assim, o gerente da agência recusou-se a receber e protocolizar o pedido.
Diante disso, João fez uma notificação extrajudicial exigindo os extratos, porém também não foi atendido.

O que João poderá fazer?


É cabível a propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de
documentos) como medida preparatória a fim de instruir futura ação principal (cobrança os expurgos
inflacionários).
Para isso, basta que ele demonstre:
 a existência de relação jurídica com o banco, ou seja, que é correntista;
 o prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável; e
 o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade
monetária (tarifas bancárias).
Esse tema foi decidido pelo STJ em sede de recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese:
“A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de
documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a
demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à
instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme
previsão contratual e normatização da autoridade monetária.”

PROCESSO CAUTELAR
Requisitos para a propositura de ação de exibição de documentos relativos ao Crediscore

Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por
consumidor com o objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema Crediscore, é
necessário que o requerente comprove:
a) que a recusa do crédito se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita
ferramenta de scoring; e

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


b) que tenha havido resistência da instituição responsável pelo sistema na disponibilização
das informações requeridas pelo consumidor em prazo razoável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).

Vide comentários ao julgado em Direito do Consumidor.

TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS


Contrato de seguro de automóveis não é titulo executivo extrajudicial

A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de


automóvel é a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva).
Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de seguro de
automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC).
Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por
meio de ação de execução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Vide comentários ao julgado em Direito Civil.

PENHORA
Possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios

Importante!!!
Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e,
portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art.
649, IV, do CPC.
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal
ou absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que
seriam razoáveis para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza
alimentar (finalidade de sustento) e passa a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas
uma parte desse valor para o advogado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é advogado e possui dívidas de tributos federais, tendo sido, inclusive, proposta uma execução fiscal
contra ele pela União.
A Procuradoria da Fazenda Nacional, que cobra judicialmente as dívidas da União, soube que João irá
receber vultosa quantia de honorários advocatícios em outro processo onde lá ele atua como advogado.
Diante disso, formulou requerimento pedindo a penhora, no rosto dos autos, dos honorários que João irá
receber.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27


Os honorários advocatícios podem ser penhorados?
Em regra não. Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado
e, portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV,
do CPC:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões,
pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3º deste artigo;

Por que se falou “em regra”? Existe possibilidade de se penhorar a verba dos honorários?
SIM. O STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou absoluta. Em
determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis para
sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa
a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.

Veja precedente nesse sentido:


(...) 1. É firme nesta Corte Superior o entendimento que reconhece a natureza alimentar dos honorários
advocatícios e a impossibilidade de penhora sobre verba alimentar, em face do disposto no art. 649, IV, do CPC.
2. Contudo, a garantia de impenhorabilidade assegurada na regra processual referida não deve ser
interpretada de forma gramatical e abstrata, podendo ter aplicação mitigada em certas circunstâncias,
como sucede com crédito de natureza alimentar de elevada soma, que permite antever-se que o próprio
titular da verba pecuniária destinará parte dela para o atendimento de gastos supérfluos, e não,
exclusivamente, para o suporte de necessidades fundamentais.
3. Não viola a garantia assegurada ao titular de verba de natureza alimentar a afetação de parcela menor
de montante maior, desde que o percentual afetado se mostre insuscetível de comprometer o sustento do
favorecido e de sua família e que a afetação vise à satisfação de legítimo crédito de terceiro, representado
por título executivo.
4. Sopesando criteriosamente as circunstâncias de cada caso concreto, poderá o julgador admitir,
excepcionalmente, a penhora de parte menor da verba alimentar maior sem agredir a garantia desta em
seu núcleo essencial. (...)
(STJ. 4ª Turma. REsp 1356404/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 04/06/2013)

A título de curiosidade, no caso concreto, o advogado iria receber parcela de honorários no valor
aproximado de R$ 400 mil. Foi determinado que o advogado pudesse ficar com R$ 15 mil dessa quantia,
sendo autorizada a penhora do restante.

EXECUÇÃO FISCAL
Dispensabilidade da indicação do RG, CPF ou CNPJ do devedor

O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o argumento de que
não houve indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada. Isso porque tais informações não
são exigidas pelo art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF).
O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico) exige que a parte autora informe o
CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta norma específica e
aquela norma geral.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28


Assim, em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta
de indicação do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa física ou jurídica), visto tratar-se
de requisito não previsto no art. 6º da Lei 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade,
ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre frente à exigência contida no
art. 15 da Lei 11.419/06.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgados em 12/11/2014
(recurso repetitivo) (Info 553).

Imagine a seguinte situação:


Determinado Município ajuizou execução fiscal contra João, devedor de IPTU, apontando o nome e o
endereço do devedor.
O juiz indeferiu a petição inicial da execução alegando que a Fazenda Pública não indicou o CPF ou o RG do
executado, o que violaria o art. 15 da Lei n. 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico):
Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a parte deverá informar, ao distribuir a
petição inicial de qualquer ação judicial, o número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas, conforme o
caso, perante a Secretaria da Receita Federal.

Agiu corretamente o magistrado?


NÃO. O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o argumento de que não
houve indicação do CPF ou RG da parte executada.
O mesmo raciocínio vale para o caso de a executada ser uma pessoa jurídica. Não pode o magistrado
indeferir a petição inicial sob a alegação de que falta a indicação do CNPJ da empresa devedora.
O art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF), que trata sobre os requisitos da petição inicial na execução fiscal, não
exige que o exequente faça a indicação de RG, CPF ou CNPJ do executado. Confira:
Art. 6º - A petição inicial indicará apenas:
I - o Juiz a quem é dirigida;
II - o pedido; e
III - o requerimento para a citação.

Princípio da especialidade
Diante da diferença entre a Lei n. 6.830/80 e a Lei n. 11.419/2006, o STJ entendeu que deveria
prevalecer a LEF, já que se trata de norma especial, que prevalece sobre a norma geral.

Orientação procedimental
Outro argumento exposto foi o de que art. 15 da Lei n. 11.419/06 não criou um requisito processual para
a formulação da petição inicial, mas apenas estabeleceu uma orientação procedimental voltada para
facilitar a identificação das partes.
Somente a Lei 6.830/80 pode trazer os requisitos formais para a composição da petição do processo fiscal.

Novo CPC
O novo CPC exige que a qualificação das partes venha acompanhada da indicação do CPF/CNPJ, mas há a
ressalva de que a petição inicial pode ser recebida apesar da ausência de algumas informações.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29


EMBARGOS DE TERCEIRO
Embargos de terceiro não servem para impugnar decisão se o fundamento invocado pelo autor
não é a posse, mas sim, unicamente, a propriedade

O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com
fundamento no direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão transitada em
julgado proferida em ação de reintegração de posse, da qual não participou, e na qual nem
sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

O que são os embargos de terceiro?


Os embargos de terceiro são...
- uma ação de conhecimento
- com rito especial sumário,
- por meio da qual uma pessoa objetiva livrar um bem do qual tenha posse (como senhor/proprietário
ou possuidor),
- bem este que está sofrendo ou na iminência de sofrer
- uma constrição judicial (exs: penhora, arresto, sequestro etc.)

Relembrado esse conceito, imagine a seguinte situação hipotética:


Pedro morava em um sítio e de lá foi esbulhado por Antônio.
Diante disso, Pedro ajuizou ação de reintegração de posse, que foi julgada procedente, tendo havido o
trânsito em julgado dessa decisão.
Vale ressaltar que nessa ação de reintegração de posse decidiu-se tão somente a posse, não tendo havido
qualquer discussão sobre qual dos dois seria o proprietário do imóvel em questão.
Algum tempo depois de ter havido o trânsito em julgado, João ajuizou embargos de terceiro contra Pedro
e Antônio alegando que nenhum dos dois tinha direito sobre o imóvel, considerando que ele seria o real
proprietário do bem, conforme registrado no cartório de registro de imóveis.

O pedido de João tem fundamento jurídico? Ele tem legitimidade para ajuizar essa ação?
NÃO. O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com fundamento no
direito de propriedade, embargos de terceiro contra decisão transitada em julgado proferida em ação de
reintegração de posse, da qual não participou, e na qual nem sequer foi aventada discussão em torno da
titularidade do domínio.
O embargante, na via estreita dos embargos de terceiro, não buscou apenas discutir se o bem deveria ou
não ser objeto de constrição/apreensão. Seu objetivo foi tornar mais complexa a discussão material
inicialmente travada, alegando que o domínio e, consequentemente, a posse do imóvel, não seria nem do
autor nem do réu, mas sua, por força do direito de propriedade.
Ora, na demanda originária nem sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio.
Ademais, o propósito dos embargos é a liberação do bem que foi objeto de equivocada constrição judicial,
e não impugnar ato judicial que determinou, com base em decisão transitada em julgado, a reintegração
do bem objeto da discussão à parte vitoriosa na demanda, sem nem sequer poder ser afirmada a
existência de melhor posse em relação à parte vencedora.
Os embargos de terceiro têm cognição limitada e discutem apenas se o embargante tem melhor posse ou,
ainda, nas hipóteses do art. 1.047, que não se enquadram na presente situação.

Mas e, então, o que deveria João fazer para defender o seu direito?
Ele deveria ajuizar ação petitória (ex: ação reinvidicatória) contra o vencedor da ação de reintegração de
posse (no caso, Pedro). Nesta demanda, aí sim, poderia ser discutido o seu direito de propriedade.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30


INTERDIÇÃO
Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo MP

Importante!!!
A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de
ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC.
Para que a curatela seja instituída é necessária a instauração de um processo judicial por meio
de uma ação de interdição.
É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando?
• Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide
(curador especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.
• Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de
curador à lide porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art.
1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Vide comentários ao julgado em Direito Civil.

DIREITO PENAL

AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTUPRO


Ação penal no caso de crime praticado contra vítima que estava temporariamente vulnerável

O art. 225 do CP prevê que, nos crimes sexuais, em regra, a ação penal é condicionada à
representação.
Existem duas exceções previstas no parágrafo único:
1) Se a vítima é menor de 18 anos: INCONDICIONADA.
2) Se a vítima é pessoa vulnerável: INCONDICIONADA.

A interpretação que deve ser dada a esse parágrafo único é a de que, em relação à vítima
possuidora de incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos,
a ação penal seria sempre incondicionada. Mas, em se tratando de pessoa incapaz de oferecer
resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, a ação penal permanece
condicionada à representação da vítima.
Assim, procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime de estupro
praticado contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido anteriormente
agredida, era incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos
libidinosos.
STJ. 6ª Turma. HC 276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação hipotética:


“A”, mulher de 20 anos, sem qualquer enfermidade ou deficiência mental, estava andando em uma rua
deserta quando levou uma “gravata” aplicada por “L”, vindo a desmaiar em virtude do golpe.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31


Desfalecida, no chão, “A” foi estuprada por “L”, não tendo oferecido qualquer resistência, considerando
que estava desacordada.
“A” não ofereceu representação contra “L”.
O Ministério Público denunciou o agente por estupro de vulnerável (art. 217-A, § 1º) alegando que a
vítima, em virtude do golpe sofrido, não podia oferecer resistência:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência.

No interrogatório, ocorrido mais de seis meses após a autoria ter sido descoberta, o acusado confessou a
prática do delito.
Em memoriais, o MP pediu a condenação do réu.
A defesa, por seu turno, alegou uma única tese: o delito praticado pelo réu é crime de ação penal pública
CONDICIONADA à representação (art. 225 do CP). Como não houve representação no prazo de 6 meses
(art. 38 do CPP), houve decadência, que é causa de extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP).
O juiz julgou extinta a punibilidade e o MP recorreu alegando que o estupro de vulnerável (art. 217-A) é
sempre crime de ação penal pública incondicionada por causa do parágrafo único do art. 225 do CP.

O STJ concordou com a tese do MP ou da defesa?


Da defesa.

A ação penal nos crimes sexuais é regida pelo art. 225 do CP:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

REGRA (caput): ação penal CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO.

EXCEÇÕES (parágrafo único):


1) Vítima menor de 18 anos: INCONDICIONADA.
2) Vítima vulnerável: INCONDICIONADA.

O estupro de vulnerável (art. 217-A) é sempre crime de ação penal pública incondicionada por causa do
parágrafo único do art. 225 do CP? A expressão “pessoa vulnerável” empregada pelo parágrafo único é
o mesmo conceito de “vulnerável” do art. 217-A do CP?
NÃO. Para a 6ª Turma do STJ, a “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único é somente aquela que
possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos.
Se a pessoa é incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não
pode ser considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225 do CP, de forma que a ação
penal permanece sendo condicionada à representação da vítima.

Vamos comparar as situações:


1) Se a vítima é pessoa permanentemente 2) Se a vítima está apenas temporariamente
vulnerável. Ex: vulnerável em razão de doença vulnerável. Ex: encontra-se desmaiada.
mental.
- Enquadra-se no conceito de vulnerável do art. - Enquadra-se no conceito de vulnerável do art.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 32


217-A do CP. 217-A do CP.
- Amolda-se na definição do parágrafo único do - NÃO se amolda na definição do parágrafo
art. 225 do CP. único do art. 225 do CP.
- O crime será de ação pública incondicionada. - O crime será de ação pública CONDICIONADA.

Veja o que disse o Min. Sebastião Reis Júnior:


“(...) a vulnerabilidade detectada apenas nos instantes em que ocorreram os atos libidinosos não é capaz,
por si só, de atrair a incidência do dispositivo legal em questão (art. 225, parágrafo único, do CP).
Com isso, afasta-se a interpretação no sentido de que qualquer crime de estupro de vulnerável seria de
ação penal pública incondicionada, preservando-se o sentido da redação do caput do art. 225 do Código
Penal.”

Em nosso exemplo, a vítima estava desmaiada. Embora tenha sido considerada incapaz de oferecer
resistência na ocasião da prática dos atos libidinosos, não pode ser considerada pessoa vulnerável para os
fins do parágrafo único do art. 225 do CP. Logo, a ação penal era condicionada à representação.

Obs.: cuidado com esse julgado porque a conclusão exposta vai de encontro ao que preconiza a doutrina.
Fique atento em como a questão de prova é formulada. Não é possível antever se esse entendimento irá
prevalecer no próprio STJ, mas qualquer novidade você será alertado.

USO DE DOCUMENTO FALSO


Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso

Importante!!!
É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da
confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da
materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a
realização do referido exame.
O crime de uso de documento falso se consuma com a simples utilização de documento
comprovadamente falso, dada a sua natureza de delito formal.
STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do
TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi parado em uma blitz de trânsito e apresentou à autoridade uma carteira de habilitação falsa.
Os policiais que fizeram a abordagem consultaram no sistema do DETRAN o número da habilitação
apresentada e constataram que o documento era falsificado porque não constava no banco de dados do
órgão de trânsito.
Indagado sobre o fato, o condutor confessou que adquiriu a CNH de uma pessoa que não sabia o nome,
sem fazer qualquer exame, somente pagando a quantia de R$ 250.
João foi denunciado e, na instrução, os policiais confirmaram os fatos e o réu confessou a prática do delito,
tendo o réu sido condenado pela prática de uso de documento falso (art. 304 do CP).
A defesa recorreu, contudo, alegando que não foi realizado exame pericial no documento, de forma que
não seria possível a condenação, conforme determina o art. 158 do CPP:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 33


A tese foi aceita pelo STJ?
NÃO. O STJ decidiu que é possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP)
com fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da confissão do
acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da materialidade do crime,
especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização do referido exame.

Mas e o art. 158 do CPP?


A regra do art. 158 do CPP continua válida, mas ela não é absoluta.
Assim, no caso de uso de documento falso, não será obrigatória a realização de perícia no documento
quando, através de outros meios de prova, a sua falsidade puder ser comprovada (STJ. 5ª Turma. AgRg no
AREsp. 78.480/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11⁄12⁄2012).

Cuidado em provas objetivas


Muitas vezes, o candidato, quanto mais estuda, mais começa a se atrapalhar em provas objetivas porque
passa a tentar encontrar erros e exceções nas alternativas, sendo que o examinador está querendo saber
apenas a regra geral. Digo isso porque o art. 158 do CPP continua válido e consiste na regra geral. Assim,
se for cobrado na prova a sua transcrição literal, tal assertiva estará correta. Veja os seguintes exemplos:
 (Juiz TJ/PR 2013) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, podendo supri-lo a confissão do acusado. (ERRADO)
 (Promotor MP/AL 2012) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. (CERTO)
 (Agente PF CESPE 2014) A confissão do acusado suprirá o exame de corpo de delito, quando a infração
deixar vestígios, mas não for possível fazê-lo de modo direto. (ERRADO)

Essas três alternativas acima foram baseadas na regra geral (art. 158 do CPP). Veja que elas não falam em
exceção, mitigação etc. Logo, não caiam na tentação de imaginar que existem exceções ao que o
enunciado da questão objetiva disse. Ele não falou em exceção, de forma que você não pode considerá-la
no momento de julgar se o item está correto ou não. Se o enunciado não fala na exceção, nem utiliza
palavras como “sempre” e “nunca”, o que vale é a regra geral.

Por outro lado, veja essa outra assertiva:


 (Juiz Federal TRF2 2013) No crime de uso de documento falso, pode-se prescindir da prova pericial,
desde que o ilícito seja comprovado por outros meios de prova. (CERTO)

CÓDIGO DE TRÂNSITO
Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta negligente, imprudente
ou imperita que ocasionou a morte da vítima

É inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de veículo


automotor (art. 302 da Lei n. 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta
negligente, imperita ou imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a
simples menção de que o suposto autor estava na direção do veículo no momento do acidente.
STJ. 6ª Turma. HC 305.194-PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

É inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302
da Lei n. 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta negligente, imperita ou
imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção de que o suposto

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 34


autor estava na direção do veículo no momento do acidente. Isso porque é ilegítima a persecução criminal
quando, comparando-se o tipo penal apontado na denúncia com a conduta atribuída ao denunciado, não
se verificar o preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP, necessários ao exercício do contraditório e
da ampla defesa.
Não se pode esquecer que o homicídio culposo se perfaz com a ação imprudente, negligente ou imperita
do agente, modalidades de culpa que devem ser descritas na inicial acusatória, sob pena de se punir a
mera conduta de envolver-se em acidente de trânsito, algo irrelevante para o Direito Penal. A imputação,
sem a observância dessas formalidades, representa a imposição de indevido ônus do processo ao suposto
autor, ante a ausência da descrição de todos os elementos necessários à responsabilização penal
decorrente da morte da vítima. Configura, ademais, responsabilização penal objetiva, derivada da mera
morte de alguém, em razão de acidente causado na direção de veículo automotor.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROVAS
Compartilhamento de provas em razão de acordo internacional de cooperação

Atenção! Concursos federais


Não há ilegalidade na utilização, em processo penal em curso no Brasil, de informações
compartilhadas por força de acordo internacional de cooperação em matéria penal e oriundas
de quebra de sigilo bancário determinada por autoridade estrangeira, com respaldo no
ordenamento jurídico de seu país, para a apuração de outros fatos criminosos lá ocorridos,
ainda que não haja prévia decisão da justiça brasileira autorizando a quebra do sigilo.
Em outras palavras, o STJ julgou válida a utilização, em processo penal no Brasil, de
informações bancárias sigilosas obtidas pela Justiça dos EUA e trazidas para o processo aqui
por força do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT).
STJ. 5ª Turma. HC 231.633-PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi condenado pelo juiz federal pela prática de gestão fraudulenta (art. 4º da Lei n. 7.492/86) e
lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei n. 9.613/98).
Durante a instrução, o juiz autorizou que fossem juntadas aos autos informações bancárias sigilosas do réu
obtidas nos Estados Unidos. Tal documentação veio aos autos por força de pedido de cooperação
judiciária internacional baseado no Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT) existente
entre o Brasil e os EUA.
Na sentença, o magistrado fundamentou a condenação com base nessas provas emprestadas.
A defesa alegou que foi ilegal a utilização de informações bancárias sigilosas do condenado, obtidas nos
EUA, sem que houvesse prévia decisão da justiça brasileira autorizando a quebra do sigilo. Isso porque
teria havido ofensa aos arts. 1º e 10 da LC n. 105⁄2001.

O STJ aceitou a tese da defesa?


NÃO. Não há ilegalidade na utilização, em processo penal em curso no Brasil, de informações
compartilhadas por força de acordo internacional de cooperação em matéria penal e oriundas de quebra
de sigilo bancário determinada por autoridade estrangeira, com respaldo no ordenamento jurídico de seu
país, para a apuração de outros fatos criminosos lá ocorridos, ainda que não haja prévia decisão da justiça
brasileira autorizando a quebra do sigilo.
Em matéria penal, deve-se adotar, em regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 35


pátria o processo e os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou
outras normas internacionais a que o país tenha aderido, nos termos dos arts. 1º do CPP e 5º, caput, do
CP. Tem-se, assim, que a competência internacional é regulada ou pelo direito internacional ou pelas
regras internas de determinado país, tendo por fontes os costumes, os tratados normativos e outras
regras de direito internacional. Dessa forma, se a juntada da documentação aos autos se deu por força de
pedido de cooperação judiciária internacional baseado no Acordo de Assistência Judiciária em Matéria
Penal (MLAT), tendo sido apresentada devidamente certificada, de modo a se comprovar a autenticidade e
a regularidade na sua obtenção, não há que se falar em ilegalidade no compartilhamento das provas
oriundas da quebra do sigilo bancário realizada em outro país.

MLAT
Na prática diária da Justiça Federal, é muito comum a utilização de provas emprestadas da Justiça norte-
americana, por força de um acordo celebrado entre o Brasil e os EUA e que ficou conhecido pela sua sigla (MLAT).
Em inglês, MLAT significa “Mutual Legal Assistance Treaty” e consiste em um acordo bilateral por meio do
qual os EUA e o Brasil se comprometem a prestar auxílio jurídico direto em matéria processual. O MLAT foi
a forma encontrada para desburocratizar e tornar mais célere e fácil a cooperação jurídica internacional,
que antes era feita apenas por meio de cartas rogatórias que, no entanto, são caras e demoradas.
As cartas rogatórias demoram mais para serem cumpridas porque exigem maiores formalidades e, para
serem enviadas e recebidas, precisam passar pelos canais diplomáticos de cada país. No Brasil, para serem
cumpridas, precisam ainda da autorização do STJ.
O MLAT, por sua vez, é um instrumento de Auxílio Direto, permitindo que o pedido de auxílio seja
formulado diretamente pelo juiz de 1ª instância, sendo desnecessário o juízo prévio de delibação do STJ. A
tramitação desses pedidos é coordenada pela Autoridade Central brasileira designada em cada tratado
firmado, conforme explica o Manual de Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça editado
em 2012 (www.portal.mj.gov.br).
O MLAT entre o Brasil e os EUA foi assinado em 1997, mas promulgado apenas em 2001, por meio do
Decreto n. 3.810/2001.
Por meio desse acordo, as partes (Brasil e EUA) se obrigam a prestar assistência mútua, em matéria de
investigação, inquérito, ação penal, prevenção de crimes e processos relacionados a delitos de natureza
criminal. A assistência incluirá: a) tomada de depoimentos ou declarações de pessoas; b) fornecimento de
documentos, registros e bens; c) localização ou identificação de pessoas (físicas ou jurídicas) ou bens; d)
entrega de documentos; e) transferência de pessoas sob custódia para prestar depoimento ou outros fins;
f) execução de pedidos de busca e apreensão; g) assistência em procedimentos relacionados a
imobilização e confisco de bens, restituição, cobrança de multas; e h) qualquer outra forma de assistência
não proibida pelas leis do Estado Requerido.
Os EUA mantêm acordos semelhantes com diversos outros países do mundo.

EMENDATIO LIBELLI
Momento processual em que deve ser realizados

Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ, é a sentença o momento processual


oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do CPP.
Vale destacar, contudo, que existe importante corrente doutrinária e jurisprudencial que
afirma ser possível, excepcionalmente, a correção do enquadramento típico logo no ato de
recebimento da denúncia ou queixa em dois casos:
• para beneficiar o réu; ou
• para permitir a correta fixação da competência ou do procedimento a ser adotado.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 36


Neste informativo, foi noticiado julgado do STJ no qual se decidiu que o juiz pode, mesmo antes
da sentença, proceder à correta adequação típica dos fatos narrados na denúncia para
viabilizar, desde logo, o reconhecimento de direitos do réu caracterizados como temas de
ordem pública decorrentes da reclassificação do crime.
STJ. 6ª Turma. HC 241.206-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

OFERECIMENTO DA DENÚNCIA OU QUEIXA (ART. 41 DO CPP)


O Ministério Público ou o querelante, ao oferecer a denúncia ou a queixa, deverá:
- fazer a qualificação do acusado (nome, nacionalidade, estado civil, profissão, endereço);
- expor o fato criminoso, com todas as suas circunstâncias (ex: no dia 10/10/2010, às 10h, na rua 10, do
Bairro Parque 10, na cidade de Manaus/AM, o acusado subtraiu para si um relógio, marca X..., de
propriedade da vítima X..., agindo com destreza, uma vez que...);
- classificar qual foi o crime narrado (ex: diante disso, o denunciado praticou o crime de furto qualificado
mediante destreza, delito previsto no art. 155, § 4º, II, do Código Penal);
- arrolar testemunhas (se necessário).

POSTURAS DO JUIZ DIANTE DA DENÚNCIA OU QUEIXA


 REJEITAR a denúncia ou queixa, nos casos do art. 395 do CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

 RECEBER a denúncia ou queixa caso não se verifique nenhuma das hipóteses do art. 395.

JUIZ DISCORDA DA CLASSIFICAÇÃO DO CRIME


Se o magistrado entender que a classificação do crime feita na denúncia ou queixa foi incorreta, ele
poderá receber a peça, alterando, contudo, a capitulação jurídica dos fatos? (ex: juiz considera que, pela
narrativa dos fatos, não houve furto, mas sim roubo).

NÃO. Segundo a jurisprudência majoritária do STF e do STJ é a sentença o momento processual oportuno
para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do CPP. Veja:

(...) A emendatio libelli e a mutatio libelli - previstas, respectivamente, nos arts. 383 e 384 do Código de
Processo Penal - são institutos de que o Juiz pode valer-se quando da prolação da sentença. Não há
previsão legal para utilização destes em momento anterior da instrução. Precedentes.
STJ. 5ª Turma. HC 213.043/MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/08/2013.
....
(...) De acordo com reiterados precedentes desta Corte, o momento adequado para o julgador utilizar-se
da emendatio libelli, nos termos do artigo 383 do Código de Processo Penal, é quando da prolação da
sentença e não anteriormente no momento do recebimento da denúncia. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1417555/CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 04/11/2014.
....
(...) Não é lícito ao Juiz, no ato de recebimento da denúncia, quando faz apenas juízo de admissibilidade da
acusação, conferir definição jurídica aos fatos narrados na peça acusatória. Poderá fazê-lo adequadamente
no momento da prolação da sentença, ocasião em que poderá haver a emendatio libelli ou a mutatio
libelli, se a instrução criminal assim o indicar.
STF. 1ª Turma. HC 87.324-SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/04/2007. No mesmo sentido, mais
recentemente: HC 111445/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 16/4/2013 (Info 702).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 37


Vale destacar, contudo, que existe importante corrente doutrinária e jurisprudencial que afirma ser
possível, excepcionalmente, a correção do enquadramento típico logo no ato de recebimento da denúncia
ou queixa em dois casos:
 para beneficiar o réu; ou
 para permitir a correta fixação da competência ou do procedimento a ser adotado.

Nesse sentido: Antônio Scarance Fernandes, citado por Renato Brasileiro (Curso de Processo Penal. Niterói:
Impetus, 2013) e Fernando da Costa Tourinho Filho (Código de Processo Penal Comentado. 14ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 1046).

Recentemente, assim decidiram o STJ e o STF:


O juiz pode, mesmo antes da sentença, proceder à correta adequação típica dos fatos narrados na
denúncia para viabilizar, desde logo, o reconhecimento de direitos do réu caracterizados como temas de
ordem pública decorrentes da reclassificação do crime. (STJ. 6ª Turma. HC 241.206/SP, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 11/11/2014. Info 553)
......
(...) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é a sentença o momento processual oportuno
para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do Código de Processo Penal.
2. Tal posicionamento comporta relativização – hipótese em que admissível juízo desclassificatório prévio
–, em caso de erro de direito, quando a qualificação jurídica do crime imputado repercute na definição da
competência. Precedente. (...)
STF. 1ª Turma. HC 115831, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/10/2013.

Outros julgados adotando essa tese: STJ. 5ª Turma. HC 103.763/MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
17/02/2009; STF. 1ª Turma. HC 89686, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 12/06/2007.

Ex.: MP denuncia o réu por furto qualificado (art. 155, § 4º, II do CP). O juiz, analisando a denúncia, percebe
que, pelos fatos narrados, aquela conduta se amolda ao tipo do estelionato (art. 171, caput, do CP). Nesse
caso, o magistrado poderia, ao receber a denúncia, desde já fazer a desclassificação para estelionato, ao
invés de aguardar pela sentença, porque isso possibilitará que o acusado tenha direito à suspensão
condicional do processo, cabível no caso de estelionato (cuja pena mínima é igual a 1 ano), mas impossível
na hipótese de furto qualificado (pena mínima de 2 anos).

É importante conhecer a posição acima explicada para ser mencionada em provas práticas e orais da
Defensoria Pública. Em provas objetivas, deve-se adotar o entendimento majoritário. Veja: (DPE/MA 2011
– CESPE) É lícito ao juiz, no ato de recebimento da denúncia, conferir definição jurídica aos fatos narrados na
peça acusatória diversa da atribuída pelo MP, podendo, ainda, fazê-lo no momento da prolação da sentença,
ocasião em que poderá haver emendatio libelli ou mutatio libelli. (ERRADO)

RECURSOS
Manutenção do regime inicial fixado, mas com fundamentação diversa

O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, não está impedido de manter a


sentença condenatória recorrida com base em fundamentação distinta da utilizada em
primeira instância, desde que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a
extensão cognitiva da sentença impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem.
Isso não viola o princípio do non reformatio in pejus.
STJ. 6ª Turma. HC 302.488-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/11/2014 (Info 553).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 38


SITUAÇÃO 1
Imagine a seguinte situação hipotética:
O juiz decretou a prisão preventiva de João.
A defesa impetrou habeas corpus alegando que a decisão não foi devidamente fundamentada.
O TJ, ao julgar o habeas corpus, supriu o vício formal da decisão do juízo singular, para acrescentar
fundamentos que demonstram a necessidade concreta de uma prisão preventiva.

O Tribunal poderia ter feito isso?


NÃO. O STJ entende que novos argumentos trazidos no julgamento do habeas corpus pelo Tribunal para
tentar justificar a prisão provisória não servem para suprir a fundamentação deficiente adotada pelo juiz
em 1º grau, sob pena de, em uma ação que é concebida para a tutela da liberdade humana (habeas
corpus), legitimar-se o vício que existia contra o réu
STJ. 6ª Turma. RHC 45.748/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/05/2014.

SITUAÇÃO 2
Imagine a seguinte situação hipotética:
João foi condenado à pena de 6 anos de reclusão.
O juiz, na sentença, aplicou o regime inicial fechado utilizando como fundamento o argumento “X”.
A defesa interpôs apelação questionando o regime aplicado.
O TJ manteve o regime inicial fechado, mas com base em fundamentação “Y”, ou seja, diferente da
utilizada pelo magistrado.

O Tribunal poderia ter feito isso?


SIM. O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, não está impedido de manter a sentença
condenatória recorrida com base em fundamentação distinta da utilizada em primeira instância, desde
que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a extensão cognitiva da sentença
impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem.

Isso não viola o princípio da proibição da “reformatio in pejus”?


NÃO. O princípio da “non reformatio in pejus” não proíbe que, em recurso contra sentença condenatória,
possa o órgão de jurisdição superior, no exercício de sua competência funcional, agregar fundamentos à
sentença recorrida, quer para aclarar-lhe a compreensão, quer para conferir-lhe melhor justificação.
Assim, não há impedimento de que, sem agravamento da situação penal do réu, o Tribunal, a quem se
devolveu o conhecimento da causa por força de recurso exclusivo da defesa, possa emitir sua própria e
mais apurada fundamentação sobre as questões jurídicas ampla e dialeticamente debatidas no juízo a quo,
objeto da sentença impugnada.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 39


DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA
Desacato praticado por militar de folga contra militar
em serviço em local estranho à administração militar

Compete à Justiça Comum Estadual (e não à Justiça Militar Estadual) processar e julgar suposto
crime de desacato praticado por policial militar de folga contra policial militar de serviço em
local estranho à administração militar.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.320.129-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/11/2014 (Info 553).

Compete à Justiça Comum Estadual – e não à Justiça Militar Estadual – processar e julgar suposto crime de
desacato praticado por policial militar de folga contra policial militar de serviço em local estranho à
administração militar. Isso porque essa situação não se enquadra em nenhuma daquelas previstas no art.
9º, II, do CPM.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA
Correção monetária do valor do IR incidente sobre
verbas recebidas acumuladamente em ação trabalhista

Até a data da retenção na fonte, a correção do IR apurado e em valores originais deve ser feita
sobre a totalidade da verba acumulada e pelo mesmo fator de atualização monetária dos
valores recebidos acumuladamente, sendo que, em ação trabalhista, o critério utilizado para
tanto é o Fator de Atualização e Conversão dos Débitos Trabalhistas (FACDT). Essa sistemática
não implica violação do art. 13 da Lei 9.065/1995, do art. 61, § 3º, da Lei 9.430/1996, dos arts.
8º, I, e 39, § 4º, da Lei 9.250/1995, uma vez que se refere à equalização das bases de cálculo do
imposto de renda apuradas pelo regime de competência e pelo regime de caixa e não à mora,
seja do contribuinte, seja do Fisco. Ressalte-se que a taxa SELIC, como índice único de correção
monetária do indébito, incidirá somente após a data da retenção indevida.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.470.720-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em
10/12/2014 (Info 553).

Trata-se de assunto muito específico e mais ligado ao setor de cálculos, sendo improvável que seja exigido
na maioria dos concursos essencialmente jurídicos.
Se for cobrado, será exigido do candidato apenas o conhecimento da conclusão do julgado acima exposta.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 40


IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS
Produtos importados estão sujeitos à nova incidência de IPI na operação de revenda

Mudança de entendimento!
Atualize o Info 535-STJ
Houve importação do produto de procedência estrangeira e, no momento do desembaraço,
ocorreu a incidência do IPI. Será possível nova cobrança do tributo quando ele sair do
estabelecimento do importador para ser vendido?
• Regra: NÃO.
• Exceção: será possível nova cobrança do tributo se, entre o desembaraço aduaneiro e a saída
do estabelecimento do importador, o produto tiver sido objeto de uma das formas de
industrialização.
Em síntese: havendo incidência do IPI no desembaraço aduaneiro de produto de procedência
estrangeira (art. 46, I, do CTN), não é possível nova cobrança do tributo na saída do produto do
estabelecimento do importador (arts. 46, II, e 51, parágrafo único, do CTN), salvo se, entre o
desembaraço aduaneiro e a saída do estabelecimento do importador, o produto tiver sido
objeto de uma das formas de industrialização (art. 46, parágrafo único, do CTN).
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.411.749-PR, Rel. originário Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Ari
Pargendler, julgado em 11/6/2014 (Info 553).

IPI
IPI é a sigla para Imposto sobre Produtos Industrializados.
Trata-se de um tributo federal e que incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados.
O IPI foi instituído por meio da Lei nº 4.502/64.

Fato gerador do IPI


Segundo o art. 46 do CTN, o IPI possui três fatos geradores:
I — o desembaraço aduaneiro do produto industrializado, quando de procedência estrangeira;
II — a saída do produto industrializado do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial;
III — a arrematação do produto industrializado, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.

Situação 1. Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


Determinada empresa importa produtos prontos e acabados para o consumo para revendê-los no Brasil.
Ao importar os produtos e realizar o desembaraço aduaneiro, a empresa realizou o fato gerador e teve
que pagar o IPI, conforme previsto no art. 46, I, do CTN:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:
I — o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;

Ao revender esses produtos, a Receita Federal cobrou novamente o IPI da empresa, desta vez com base no
art. 46, II, do CTN:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:
II — a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo 51;

A tributação feita foi correta? É possível a nova incidência do IPI no momento da saída do produto? O IPI
pode ser exigido na revenda de produtos importados?
NÃO. O STJ decidiu que, havendo incidência do IPI no desembaraço aduaneiro de produto de procedência
estrangeira (art. 46, I, do CTN), não é possível nova cobrança do tributo na saída do produto do
estabelecimento do importador (arts. 46, II, e 51, parágrafo único, do CTN). Não pode haver nova
incidência por causa da regra prevista no parágrafo único do art. 46:

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 41


Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se industrializado o produto que tenha sido
submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.

Segundo ressaltou o STJ, a norma do parágrafo único do art. 46 do CTN constitui a essência do fato
gerador do IPI. A teor dela, o tributo não incide sobre o acréscimo embutido em cada um dos estágios da
circulação de produtos industrializados. O IPI incide apenas sobre o montante que, na operação tributada,
tenha resultado da industrialização, assim considerada qualquer operação que importe na alteração da
natureza, funcionamento, utilização, acabamento ou apresentação do produto. Em outras palavras, depois
do desembaraço aduaneiro, só pode incidir novo IPI se tiver havido processo de industrialização (e não
simples e pura revenda).

Se fôssemos pensar de forma contrária, os fatos geradores do IPI e do ICMS acabariam sendo iguais nesse
caso, incidindo pela mera comercialização.

“Pretender que para o importador⁄comerciante sejam dois os fatos geradores da tributação pelo IPI fere a
lógica da especialidade, pois há uma regra própria para a importação, que é a da tributação no momento
do desembaraço aduaneiro. Na condição de revendedor da mercadoria importada, esse contribuinte
realiza mera atividade comercial, que não se assemelha a qualquer processo de industrialização.” (Min.
Napoleão Nunes Maia Filho).

Situação 2. Imagine agora a situação ligeiramente diferente:


Determinada empresa importa produtos, sobre eles aplica um processo de industrialização e depois os
revende no Brasil.
Ao importar os produtos e realizar o desembaraço aduaneiro, a empresa realizou o fato gerador e teve
que pagar o IPI, conforme previsto no art. 46, I, do CTN.
Ao revender esses produtos (depois de terem sido objeto de industrialização), a Receita Federal cobrou
novamente o IPI da empresa, desta vez com base no art. 46, II, do CTN.

A tributação feita foi correta? É possível a nova incidência do IPI no momento da saída do produto?
SIM, neste caso a tributação foi correta. Isso porque os produtos, após terem sido importados, foram
novamente modificados/aperfeiçoados por meio de um processo de industrialização, de forma que se
amoldaram no parágrafo único do art. 46, que transcrevo novamente:
Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se industrializado o produto que tenha sido
submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.

Logo, podemos concluir que os incisos I e II do caput do art. 46 do CTN são, a princípio, excludentes, salvo
se, entre o desembaraço aduaneiro e a saída do estabelecimento do importador, o produto tiver sido
objeto de uma das formas de industrialização.

Dessa forma, no caso de produto importado, o fato gerador do IPI é o desembaraço aduaneiro. A hipótese
definida no inciso II do art. 46 do CTN (saída do estabelecimento) só incidirá se o produto alienígena sofreu
algum processo de industrialização antes da comercialização.

Resumindo:
Houve importação do produto de procedência estrangeira e, no momento do desembaraço, ocorreu a
incidência do IPI. Será possível nova cobrança do tributo quando ele sair do estabelecimento do
importador para ser vendido?
 Regra: NÃO.
 Exceção: será possível nova cobrança do tributo se, entre o desembaraço aduaneiro e a saída do
estabelecimento do importador, o produto tiver sido objeto de uma das formas de industrialização
(art. 46, parágrafo único, do CTN).

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 42


DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PERÍODO DE GRAÇA
Comprovação da situação de desemprego para prorrogação do período de graça

Importante!!!
O § 2º do art. 15 da Lei 8.213/91 prevê que o período de graça do segurado será acrescido de
12 meses se ele estiver desempregado e comprovar essa situação “pelo registro no órgão
próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social”.

A situação de desemprego do segurado pode ser provada por outros meios?


SIM. O registro no órgão próprio do MTE não é o único meio de prova admissível para que o
segurado desempregado comprove a situação de desemprego para a prorrogação do período
de graça, sendo admitidas outras provas, como a testemunhal.

O simples fato de não haver anotação na CTPS do segurado é prova suficiente de que ele estava
desempregado para fins do § 2º do art. 15?
NÃO. A ausência de anotação laboral na CTPS do indivíduo não é suficiente para comprovar a
sua situação de desemprego. Isso porque pode ser que ele tenha trabalhado em alguma
atividade remunerada na informalidade, não tendo assinado carteira.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.338.295-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

CARÁTER CONTRIBUTIVO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL


A Previdência Social possui caráter contributivo (art. 201 da CF/88). Isso significa que o segurado, para ter
direito ao benefício previdenciário, precisa, antes do evento, estar filiado ao regime previdenciário e
pagando as contribuições previdenciárias.
Em palavras simples, em regra, para ter direito ao benefício previdenciário, o segurado precisa estar
pagando as contribuições para a Previdência Social.

FILIAÇÃO DO SEGURADO
Para que o indivíduo possa ser considerado segurado, é necessário que ele seja filiado à Previdência Social.
Filiação é a relação jurídica que se estabelece entre o indivíduo e o INSS, fazendo com que o primeiro se
torne segurado da Previdência Social e passe a ter direitos (ex: auxílio-doença, aposentadoria) e
obrigações (ex.: pagamento das contribuições previdenciárias).

Como e quando é feita a filiação?


Segurados OBRIGATÓRIOS Segurados FACULTATIVOS
Em regra, a filiação é automática e decorre do Ocorre quando o indivíduo efetua a sua inscrição
simples fato de o indivíduo ter iniciado uma (cadastramento) no RGPS e efetua o pagamento
atividade laborativa remunerada. da primeira contribuição previdenciária.

Obs.: no caso do contribuinte individual que


trabalhe por conta própria (ex: microempresário),
para ser filiado ao RGPS, ele mesmo precisará
fazer o recolhimento (pagamento) das
contribuições previdenciárias, já que não presta
serviços a nenhum empregador.
Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 43
PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO E PERÍODO DE GRAÇA
Vimos acima que, em regra, o segurado obrigatório filia-se ao RGPS com o início de uma atividade
laborativa remunerada. Ao começar a ter uma atividade remunerada, antes que ele receba o salário, a
fonte pagadora já irá descontar um valor a título de contribuição previdenciária e repassá-la ao INSS.
No caso do contribuinte individual que trabalhe por conta própria, ele é quem deverá fazer o pagamento
das contribuições previdenciárias.

Se o segurado deixa de realizar atividade laborativa remunerada (ex: é demitido) ou deixa de pagar a
contribuição previdenciária (no caso do contribuinte individual), ele irá perder a qualidade de segurado, ou
seja, deixará de ser segurado da Previdência Social e não mais terá direito aos benefícios previdenciários.

Vale ressaltar que essa perda não é imediata, ou seja, no mesmo dia em que for demitido ou deixar de
pagar a contribuição previdenciária.

O art. 15 da Lei nº 8.213/91 prevê que a pessoa, mesmo sem estar pagando as contribuições
previdenciárias, continuará sendo segurada do INSS por um tempo, que é chamado de “período de graça”.

A palavra “graça” significa favor dispensado a alguém, presente, dádiva, algo grátis.

Período de graça é, portanto, um tempo previsto na lei em que o indivíduo continua sendo segurado do
INSS mesmo sem estar pagando contribuição previdenciária. É uma forma de ajudar a pessoa que pode
estar momentaneamente desempregada ou, por razões de adversidade, impossibilitada de recolher a
contribuição previdenciária.

A hipótese mais comum é a do indivíduo que estava trabalhando e ficou desempregado. Ao sair do
emprego, ele parou de pagar contribuição previdenciária. Se não houvesse o período de graça, ele
perderia imediatamente a qualidade de segurado. No entanto, o inciso II do art. 15 prevê um período de
presente, de graça, no qual ele continuará sendo segurado mesmo sem pagar. Confira:
Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
II – até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade
remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;
(...)
§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago
mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de
segurado.

Durante o período de graça, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social (§ 3º
do art. 15). Da mesma forma, durante o período de graça, os dependentes do segurado também
permanecem com os mesmos direitos.

Passado o período de graça sem que o indivíduo volte a pagar as contribuições previdenciárias, ele perde a
condição de segurado e seus dependentes também deixam de gozar da proteção da Previdência Social.

PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE GRAÇA


Assim, em regra, a pessoa, mesmo depois de deixar de trabalhar, terá um período de graça de 12 meses
(inciso II) ou de 24 meses (§ 1º).
A Lei, no entanto, previu a possibilidade de se aumentar (prorrogar) esse prazo. Veja o que diz o § 2º do
art. 15:

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 44


§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado,
desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social.

Dessa forma, se a pessoa for até o Ministério do Trabalho e comprovar que continua desempregada, ela
terá um bônus de mais 12 meses no seu período de graça.

Repare que o § 2º afirma que, para ter essa prorrogação, o segurado precisa comprovar o desemprego
pelo registro no Ministério do Trabalho. No entanto, os advogados previdenciários e a DPU começaram a
questionar o rigor dessa exigência dizendo que não seria justo que a situação de desemprego só pudesse
ser provada por meio desse registro. Afirmou-se que o segurado é parte hipossuficiente, que não conhece
a lei, não sabe que tinha que ir até o Ministério do Trabalho, entre outros argumentos. Enfim, começaram
a pedir que essa regra fosse flexibilizada.

O STJ aceitou essa tese? É possível flexibilizar a regra do § 2º do art. 15 da Lei n. 8.213/91? A situação
de desemprego do segurado, para que ele tenha direito à prorrogação do prazo de carência, pode ser
provada por outros meios além do registro no Ministério do Trabalho?
SIM. O STJ consagrou o entendimento de que o registro no órgão próprio do MTE não é o único meio de prova
admissível para que o segurado desempregado comprove a situação de desemprego para a prorrogação do
período de graça. Ex: prova testemunhal ouvida em juízo na ação que pede o benefício previdenciário.
O precedente mais importante no STJ sobre o tema é o Pet 7.115/PR, 3ª Seção. Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, julgado em 10/03/2010.
Se quiser demonstrar que sabe mesmo tudo sobre o tema em sua prova, você pode citar ainda a posição
sumulada da TNU:
Súmula 27-TNU: A ausência de registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a comprovação
do desemprego por outros meios admitidos em Direito.

A defesa dos segurados, no entanto, quis avançar um pouco mais e sustentou o seguinte raciocínio: todas
as vezes que a pessoa trabalha, esse vínculo fica registrado na Carteira de Trabalho (CTPS). Logo, se, nesse
período, não houver nenhum registro de emprego na CTPS da pessoa, isso significa que ela estava
desempregada, possuindo, portanto, direito à prorrogação do período de graça.

O STJ aceitou essa segunda tese? O simples fato de não haver anotação na CTPS do segurado é prova
suficiente de que ele estava desempregado para fins do § 2º do art. 15?
NÃO. A ausência de anotação laboral na CTPS do indivíduo não é suficiente para comprovar a sua situação
de desemprego. Isso porque pode ser que ele tenha trabalhado em alguma atividade remunerada na
informalidade, não tendo assinado carteira. Ex: camelô, vendedor de frutas, diarista etc.

Resumindo:
A ausência de registros na CTPS, só por si, não é suficiente para comprovar a situação de desemprego da
parte autora, admitindo-se, no entanto, que tal demonstração possa ser efetivada por outros meios de
prova que não o registro perante o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, como a testemunhal.

Informativo 553-STJ (11/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 45


PROCESSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL PREVIDENCIÁRIO
Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício
previdenciário na via judicial

A 1ª Seção do STJ, em julgamento sob a sistemática do recurso repetitivo, aderiu ao


entendimento do STF firmado no RE 631.240-MG, no qual a Corte decidiu que:
Em regra, o segurado/dependente somente pode propor a ação pleiteando a concessão do
benefício previdenciário se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao
INSS e este foi negado.
Assim, para que se proponha a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário, é
preciso que, antes, tenha ocorrido uma das três situações abaixo:
1) o interessado requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS
(total ou parcialmente);
2) o interessado requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão
em um prazo máximo de 45 dias;
3) o interessado não requereu administrativamente o benefício, mas é notório que, sobre esse
tema, o INSS tem posição contrária ao pedido feito pelo segurado.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.369.834-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 24/9/2014 (recurso
repetitivo) (Info 553).
STF. Plenário. RE 631240/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/8/2014 (repercussão geral)
(Info 756).

A grande maioria das ações propostas contra o INSS objetivando benefícios previdenciários é de
competência dos Juizados Especiais Federais (JEF).

No JEF, em 1ª instância, o autor não precisa de advogado e não paga custas.

Diante disso, é muito comum que o segurado, sem ter antes requerido administrativamente o benefício
previdenciário em um dos postos do INSS, opte por já ajuizar diretamente no JEF uma ação pedindo a
concessão da aposentadoria, por exemplo.

A prática acima explicada é admitida? O segurado ou dependente pode ingressar com a ação judicial
pleiteando a prestação previdenciária mesmo sem ter feito previamente requerimento administrativo no INSS?
NÃO. Em regra, o segurado/dependente somente pode propor ação pleiteando a concessão do benefício
previdenciário se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao INSS e este foi negado.

Caso seja ajuizada a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo e sem que este pedido
tenha sido indeferido, deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse de
agir, considerando que havia a possibilidade de o pedido ter sido atendido pelo INSS na via administrativa.

Para o STF, a exigência de que seja feito prévio requerimento administrativo NÃO viola o princípio da
inafastabilidade da jurisdição. O art. 5º, XXXV, da CF/88 estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Ora, se não houve pedido administrativo anterior e negativa
por parte do INSS no prazo legal, não está caracterizada nenhuma lesão ou ameaça de direito.

Em seu voto, o Min. Relator Luís Roberto Barroso afirmou:


“Não há como caracterizar lesão ou ameaça de direito sem que tenha havido um prévio requerimento do
segurado. O INSS não tem o dever de conceder o benefício de ofício. Para que a parte possa alegar que seu
direito foi desrespeitado é preciso que o segurado vá ao INSS e apresente seu pedido”.

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Para que proponha a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário, é preciso que, antes, tenha
ocorrido uma das três situações abaixo:

1) o interessado requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou
parcialmente);

2) o interessado requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo
máximo de 45 dias;

3) o interessado não requereu administrativamente o benefício, mas é notório que, sobre essa matéria, o
INSS tem reiterada posição contrária ao pedido feito pelo segurado. É o caso das situações em que a
matéria está pacificada no âmbito da autarquia por meio de instrução normativa ou súmula
administrativa. Ex.: existe uma instrução normativa do INSS proibindo a renúncia à aposentadoria e,
consequentemente, vedando a desaposentação. Logo, o segurado poderá ajuizar a ação pedindo a
desaposentação mesmo que não tenha feito prévio requerimento administrativo.

No procedimento administrativo realizado no INSS, se o requerimento do benefício previdenciário é


negado, existe a possibilidade de o interessado interpor recurso administrativo contra essa decisão.
Antes de ajuizar a ação judicial, o segurado precisa interpor esse recurso administrativo e aguardar o
seu julgamento? Em outras palavras, é necessário que o interessado esgote todas as instâncias
administrativas para ajuizar a ação?
NÃO. A exigência do prévio requerimento administrativo não significa o exaurimento de todas as
instâncias administrativas. Em suma, o interessado não precisa recorrer administrativamente antes de
ajuizar a ação.
Assim, negado o benefício, não há impedimento ao segurado para que ingresse no Judiciário antes que
eventual recurso seja examinado pelo INSS.

A exigência do prévio requerimento administrativo vale tanto para os casos em que a parte quer a concessão
inicial do benefício, como também para as hipóteses de revisão do benefício que já é recebido?
NÃO. O STF afirmou que a exigência de prévio requerimento administrativo só existe para as ações que
buscam a concessão inicial do benefício.
Em regra, para a propositura de ação pleiteando a revisão do benefício, não se exige o prévio
requerimento administrativo.

Como funciona o caso de ação judicial pedindo a REVISÃO de benefício previdenciário?


EM REGRA:
NÃO há necessidade de prévio requerimento administrativo para que o segurado ingresse judicialmente
com pedido de REVISÃO de benefício previdenciário já recebido. Isso porque se o INSS já examinou a
situação daquele segurado e forneceu o benefício naqueles moldes, essa é a posição oficial da autarquia.
Além disso, se a Administração Pública mudar de entendimento sobre alguma interpretação jurídica da
legislação previdenciária, ela tem o dever de fazer a revisão de todos os benefícios de ofício. Ex.: o INSS
muda seu posicionamento administrativo e passa a entender que as pessoas que se aposentaram até
determinado ano têm direito a um cálculo diferenciado. A autarquia deverá aplicar, de ofício, esse novo
cálculo para todos os que estiverem na mesma situação. Se não fizer isso, já estará violando o direito do
segurado, podendo ele ajuizar a ação, sem prévio pedido de revisão administrativa.

EXCEÇÃO:
Antes de ajuizar a ação pedindo a revisão do benefício previdenciário, o segurado precisará formular
requerimento administrativo se essa revisão é baseada em novos fatos que não haviam sido examinados
pelo INSS.

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Ex.: a aposentadoria foi concedida pelo INSS sem que o segurado tenha apresentado à autarquia
determinado comprovante de que ele trabalhou durante cinco anos em condições insalubres. Após já
estar aposentado, o segurado encontrou esse documento. Caso esse tempo seja computado, o valor dos
proventos será aumentado. Antes de ajuizar a ação pedindo a revisão da aposentadoria, o segurado
deverá formular pedido administrativo ao INSS, considerando que é necessária a apreciação dessa matéria
de fato, que não poderia ter sido feita de ofício pela autarquia.

QUADRO RESUMO:

AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

CONCESSÃO de benefício previdenciário

Para que a ação judicial proposta seja conhecida, é necessário que fique comprovado que:
a) o autor requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou
parcialmente);
b) o autor requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo
máximo de 45 dias;
c) o benefício pleiteado trata de matéria sobre a qual o INSS tem posição manifestamente contrária
ao pedido feito pelo segurado.

Vale ressaltar que o STJ, em julgamento ocorrido após a decisão do STF acima explicada, reconheceu
a existência de uma quarta exceção à regra geral:
d) pode ser ajuizada a ação judicial pedindo o benefício quando o autor comprova que o INSS se
recusou a receber o requerimento administrativo apresentado, ou seja, a autarquia nem examinou
o pedido administrativo porque o servidor não aceitou sequer dar regular processamento ao pedido
de benefício (STJ. 2ª Turma. REsp 1.488.940-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
18/11/2014. Info 552).

Logo, EM REGRA, é indispensável o prévio requerimento administrativo do benefício no INSS.

Obs.: não é necessário o esgotamento da via administrativa (o segurado não precisa interpor
recurso administrativo contra a negativa do pedido).

REVISÃO de benefício previdenciário

REGRA: NÃO há necessidade de prévio requerimento administrativo.

EXCEÇÃO: será necessário prévio requerimento administrativo se o pedido envolver apreciação de


matéria de fato.

Desdobramentos da decisão do STF


O STF fixou que a regra deve ser a exigência do prévio requerimento administrativo. No voto, o Min. Luís
Roberto Barroso fez menção à existência de exceção no caso de o INSS ter posição manifestamente
contrária ao pedido do segurado.
É possível, no entanto, que, com o tempo, outras exceções acabem sendo aceitas pela jurisprudência.
Exemplo: em diversos Municípios do interior da Amazônia não existe posto de atendimento do INSS. Em
tais casos, me parece ser possível o ajuizamento da ação pleiteando o benefício previdenciário mesmo
sem prévio requerimento administrativo. Isso porque não é razoável exigir que a parte viaje para outra

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cidade, algumas vezes bem distante, para dar entrada no pedido junto ao INSS. A simples ausência de
posto de atendimento na localidade já representa uma violação ao direito do segurado aos benefícios
previdenciários, podendo ele, por consequência lógica, valer-se do Poder Judiciário.

Modulação dos efeitos


Antes do julgamento do STF, inúmeras ações foram propostas sem prévio requerimento administrativo.
Tais processos estavam sobrestados aguardando a decisão do Supremo em sede de repercussão geral. Isso
porque o STF poderia decidir que o prévio requerimento não era necessário, situação em que essas ações
poderiam continuar tramitando normalmente. De outro modo, o Supremo poderia decidir, como
efetivamente o fez, que o prévio requerimento é, em regra, indispensável.

Agora que o STF finalmente decidiu o tema, indaga-se: o que fazer com os inúmeros processos
sobrestados nos quais o autor propôs a ação sem ter requerido previamente o benefício junto ao INSS?
Eles deverão ser extintos por falta de interesse de agir ou poderão voltar a tramitar normalmente?
O STF modulou os efeitos de sua decisão e definiu três regras de transição a serem aplicadas aos processos
judiciais sobrestados que envolvem pedidos de concessão de benefício ao INSS nos quais não houve
requerimento administrativo prévio.

Se a ação foi proposta em um juizado itinerante, mesmo não tendo havido prévio
requerimento administrativo, o curso do processo deve ser retomado e prosseguir
1ª regra:
normalmente (não será extinto sem resolução do mérito). Isso porque os juizados
Juizado itinerante.
itinerantes ocorrem, basicamente, em lugares onde não há agência do INSS, de
forma que não seria razoável exigir do autor prévio requerimento administrativo.

Se a ação foi proposta sem prévio requerimento administrativo, mas o INSS já


apresentou contestação de mérito, o processo também deverá prosseguir
2ª regra: normalmente (não será extinto). Isso porque o fato de o INSS ter contestado e de
INSS apresentou ter refutado o mérito da pretensão demonstra que há resistência ao pedido (a
contestação de autarquia não concorda com o pleito), de forma que existe interesse de agir por
mérito. parte do autor.
Se a contestação não enfrentou o mérito, mas apenas questões processuais, a
situação irá se enquadrar na 3ª regra.

Se a ação foi ajuizada sem prévio requerimento, não se trata de juizado itinerante
e o INSS não apresentou contestação de mérito, o processo deverá continuar
sobrestado (suspenso) e o juiz /Tribunal deverá tomar as seguintes providências:
O autor será intimado para que, no prazo de 30 dias, dê entrada em
requerimento administrativo junto ao INSS pedindo o benefício que está sendo
3ª regra: pleiteado na via judicial.
Demais casos não A partir daí, o INSS terá o prazo de até 90 dias para se manifestar.
enquadrados nas
situações • Caso negue o benefício, a ação judicial continuará normalmente, uma vez que
anteriores. ficou demonstrado o interesse de agir.
• Caso o benefício seja concedido administrativamente, o processo judicial será
extinto.
• Caso o autor não dê entrada no requerimento administrativo no prazo de 30
dias, o processo também será extinto.

Se o benefício for concedido (seja administrativamente, seja pela via judicial), a data

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do início da aquisição do benefício deverá retroagir à data em que teve início o
processo judicial. Em outras palavras, a DIB será a data em que foi ajuizada a ação,
devendo o INSS ser condenado a pagar as parcelas retroativamente a esse dia.

Vale esclarecer, mais uma vez, que essas três regras acima valem para os processos que estavam
sobrestados aguardando a decisão do STF. Para as novas ações que forem propostas após a decisão do
STF, a regra é a necessidade de que tenha havido prévio requerimento. Em caso de sua ausência, haverá
extinção sem resolução do mérito, salvo se o benefício pleiteado tratar de matéria sobre a qual o INSS
tenha posição manifestamente contrária ao pedido feito pelo segurado.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) É possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei 8.112/1990
a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do estado for omisso acerca
desse direito. ( )
2) A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel é a
ação de conhecimento sob o rito sumário. ( )
3) O contrato de seguro de vida não é título executivo extrajudicial, devendo ser cobrada a indenização
securitária por meio de ação de conhecimento sob o rito sumário. ( )
4) Nas ações de interdição não ajuizadas pelo MP, a função de defensor do interditando deverá ser exercida
pelo próprio órgão ministerial, não sendo necessária, portanto, nomeação de curador à lide. ( )
5) São irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC). ( )
6) É válida e eficaz a renúncia manifestada no momento do acordo de separação judicial ou de divórcio. ( )
7) Não há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma letra ao sobrenome
do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o número do processo foram
cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência de erro idêntico nas intimações
anteriores, houve observância aos prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro
gráfico não impediu a exata identificação do processo. ( )
8) O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente subsequente ao último dia do prazo para o recurso
em tese cabível. ( )
9) O termo “a quo” para o ajuizamento da ação rescisória coincide com a data do trânsito em julgado da
decisão rescindenda. ( )
10) O termo final do prazo para o ajuizamento da ação rescisória, embora decadencial, prorroga-se para o
primeiro dia útil subsequente, se recair em dia de não funcionamento da secretaria do Juízo
competente. ( )
11) Se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis
para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento)
e passa a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado. ( )
12) O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, não está impedido de manter a sentença
condenatória recorrida com base em fundamentação distinta da utilizada em primeira instância, desde
que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a extensão cognitiva da sentença
impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem. ( )
13) A ausência de registros na CTPS, só por si, não é suficiente para comprovar a situação de desemprego
da parte autora, admitindo-se, no entanto, que tal demonstração possa ser efetivada por outros meios
de prova que não o registro perante o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, como a
testemunhal. ( )

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14) A concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se
caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se
excedido o prazo legal para sua análise. Dessa forma, exige-se do segurado o exaurimento das vias
administrativas. ( )
15) Segundo decidiu recentemente o STF, exige-se prévio requerimento administrativo para que o
segurado proponha ação judicial pleiteando a revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício
previdenciário anteriormente concedido. ( )

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. C 5. C 6. C 7. C 8. C 9. C 10. C 11. C 12. C 13. C 14. E 15. E

JULGADOS NÃO COMENTADOS


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NECESSIDADE DE NOVA INTIMAÇÃO NA HIPÓTESE DE ADIAMENTO DE
JULGAMENTO DE PROCESSO INCLUÍDO EM PAUTA.
No âmbito do STJ, na hipótese em que o julgamento do processo tenha sido adiado por mais de três
sessões, faz-se necessária nova intimação das partes por meio de publicação de pauta de julgamento.
De fato, a sistemática anteriormente seguida no âmbito da Corte Especial do STJ era no sentido de que, uma vez
incluído em pauta o processo, não se fazia necessária nova publicação e intimação das partes,
independentemente do número de sessões pendentes do respectivo julgamento. No entanto, esse quadro deve
ser revisto, uma vez que se trata de uma daquelas situações em que o STJ não se deve guiar pelo procedimento
de outros tribunais. Ao contrário, deve dar o bom exemplo. Há que se fazer o certo. E o certo é assegurar a
ampla defesa, o contraditório e a segurança jurídica. E mais, não se pode desconsiderar que este é um Tribunal
nacional, um Tribunal de superposição, onde atuam advogados que vêm dos extremos mais remotos do nosso
País. Nesse sentido, causa intensa preocupação a situação dos advogados que se deslocam a Brasília, com
despesas custeadas por seus clientes, que, frequentemente, são pessoas humildes e somente podem arcar com
a passagem de seus procuradores uma única vez, sem conseguir suportar com os custos da segunda, terceira e,
muito menos, quarta e quinta viagens. Ademais, no processo civil brasileiro, a surpresa e o ônus financeiro
excessivo são incompatíveis com o due process e com os pressupostos do Estado de Direito que é, antes de
tudo, Social. Dessa forma, o estabelecimento de um limite de 3 (três) sessões para dispensa de nova publicação
é um início, um limiar para a retificação da omissão até hoje verificada, sem prejuízo de a questão ser deliberada
oportunamente mediante reforma do Regimento Interno.
EDcl no REsp 1.340.444-RS, Rel. originário Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. Herman
Benjamin, julgado em 29/5/2014, DJe 2/12/2014.

DIREITO ADMINISTRATIVO. NÃO OBRIGATORIEDADE DE CONTRATAÇÃO DE NUTRICIONISTAS E DE


REGISTRO EM CONSELHOS DE NUTRIÇÃO.
Bares, restaurantes e similares não são obrigados a se registrarem em Conselhos de Nutrição nem a
contratarem nutricionistas.
Segundo entendimento do STJ, o critério determinante para a necessidade de registro em conselho de
fiscalização do exercício profissional, bem como da necessidade de contratação de responsável técnico, é a
atividade básica exercida pela empresa ou a natureza dos serviços por ela prestados. O serviço prestado por
bares e restaurantes encontra-se associado ao comércio de alimentos e bebidas, além do oferecimento à
população de verdadeiras opções de lazer e entretenimento, como apresentações musicais e de dança,
transmissão televisiva, entre outros. Da interpretação da legislação que regula o tema (art. 10 da Lei 6.839/1980;
art. 15, parágrafo único, da Lei 6.583/1978; art. 18 do Decreto 84.444/1980), não se pode aferir que a atividade
básica que bares, restaurantes e similares desempenham esteja ligada à fabricação de alimentos destinados ao
consumo humano. A atividade que tais estabelecimentos desempenham tampouco se aproxima do conceito de
saúde versado na legislação trazida a lume, não se imiscuindo aí preocupação relativa à área de nutrição e
dietética, mas sim conceitos voltados à arte culinária e à gastronomia, associados, não raras vezes, a outras
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formas de expressão cultural. Muito embora haja liberalidade na contratação de técnicos em nutrição em tais
estabelecimentos, tal prática não pode ser entendida como exigência, principalmente porque não há previsão
legal nesse sentido. De outro norte, é certo que a atividade desempenhada por bares e restaurantes já se
encontra submetida ao controle e fiscalização do Estado, no exercício de seu poder de polícia, notadamente
através da atuação da vigilância sanitária, responsável por tomar medidas preventivas em termos de saúde
pública, atestando as boas condições de funcionamento dos estabelecimentos, inclusive no que concerne à
higiene e preparação de gêneros alimentícios. Assim, o acompanhamento de profissional de nutrição, embora
aconselhável, não se mostra estritamente obrigatório nesses casos.
REsp 1.330.279-BA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/11/2014.

DIREITO CIVIL. AÇÃO DEMOLITÓRIA E PRAZO DECADENCIAL.


O prazo decadencial de ano e dia para a propositura da ação demolitória previsto no art. 576 do CC/1916
não tem aplicação quando a construção controvertida uma escada tiver sido edificada integralmente em
terreno alheio.
De plano, importante esclarecer que o prazo decadencial para propositura de ação demolitória previsto no
art. 576 do CC/1916 tem incidência apenas nas situações em que a construção controvertida é erigida no
imóvel contíguo e embaraça, de qualquer modo, a propriedade vizinha. A construção de uma escada
integralmente em terreno alheio não se amolda ao comando do art. 576 do CC/1916, visto que não há,
nesse caso, construção em terreno vizinho de forma suspensa que possa ser equiparada a uma janela,
sacada, terraço ou goteira. Ademais, segundo a doutrina, o prazo decadencial previsto no art. 576 tem
aplicação limitada às espécies nele mencionadas. Desse modo, em outros casos, que refogem àquelas
espécies expressamente tratadas, é possível ajuizar utilmente a ação demolitória ainda que escoado o
prazo de ano e dia da obra lesiva, aplicando-se os prazos prescricionais gerais.
REsp 1.218.605-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014.

DIREITO CIVIL. INEFICÁCIA DE DISPOSIÇÃO TESTAMENTÁRIA QUE NÃO AFASTA O PRÊMIO DO TESTAMENTEIRO.
A perda de finalidade de testamento – elaborado apenas para que os bens imóveis herdados pelos filhos
do testador fossem gravados com cláusula de incomunicabilidade – não ocasiona a perda do direito do
testamenteiro de receber um prêmio pelo exercício de seu encargo (art. 1.987 do CC/2002) caso a
execução da disposição testamentária só tenha sido obstada em razão de omissão do próprio testador
que, após a vigência do novo Código Civil, deixou de aditar o testamento para indicar a justa causa da
restrição imposta (art. 1.848 c/c art. 2.042 do CC/2002).
Com a vigência do CC/2002, passou-se a exigir a indicação de justa causa para que o testador imponha cláusula
de incomunicabilidade sobre os bens da legítima, tendo sido concedido o prazo de 1 (um) ano após a entrada
em vigor do Código para que fosse feito o aditamento (art. 1.848 c/c art. 2.042 do CC/2002), o que não foi
observado, no caso, pelo testador. A despeito de a ineficácia da referida cláusula afetar todo o testamento, não
há que se falar em afastamento do pagamento do prêmio ao testamenteiro, a pretexto de que a sua atuação no
feito teria sido singela, uma vez que o maior ou menor esforço no cumprimento das disposições testamentárias
deve ser considerado apenas como critério para a fixação da vintena, que poderá variar entre o mínimo de 1% e
o máximo de 5% sobre a herança líquida (art. 1.987 do CC/2002), mas não para ensejar a sua supressão. Na
hipótese, a fiel execução da disposição testamentária foi obstada pela própria inação do disponente ante a
exigência da lei, razão pela qual não pode ser atribuída ao testamenteiro nenhuma responsabilidade por seu
descumprimento. Ademais, cabe ressaltar que a perda do direito ao prêmio só é admitida, excepcionalmente,
em caso de sua remoção, nas situações previstas em lei (art. 1.989 do CC/2002 e art. 1.140, I e II, do CPC).
REsp 1.207.103-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/12/2014.

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