O presente trabalho tem como objetivo analisar as recentes
jurisprudências acerca da proteção ao salários e hipóteses que ensejam a rescisão indireta do contrato de trabalho. Assim, é importante relatar os fatos da análise de fatos concretos. Na decisão do TRT, tendo como Relator: JOSE OTAVIO DE SOUZA FERREIRA, e foi publicado em 08/01/2019: O reclamante ingressou com reclamação trabalhista em face da impetrante, que a reclamada "vem descumprindo as obrigações contratuais e legais", visto que, a partir de junho de 2018, "passou a atrasar e parcelar, de forma reiterada, o pagamento dos salários", além de não efetuar o depósito do FGTS por, aproximadamente, 42 meses. Destacou que a segunda parcela do 13o salário 2017 somente foi paga em 22.05.2018 e que a partir de 2018 o adiantamento salarial, que era pago até o dia 20 de cada mês, está sendo pago no início do mês seguinte. Em razão de tais fatos, postulou a concessão de tutela de urgência, com o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho e a expedição de alvarás para o levantamento do FGTS e encaminhamento do seguro- desemprego. A decisão foi deferida para declarar o contrato de trabalho extinto, vejamos:
" RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
(...). Não obstante entenda que o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho demande dilação probatória e a estrita observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, no presente caso, a tutela de urgência foi deferida após a apresentação de defesa pela impetrante e juntada de documentos. Assim, verifico que ficou evidenciada a probabilidade de direito do litisconsorte, nos termos do disposto no artigo 300 do CPC/2015. Isso porque ficou incontroverso o atraso no pagamento dos salários, a partir de junho de 2018 (referente ao mês de maio de 2018), e a ausência de depósitos do FGTS. Ao contrário do que alega a impetrante, a incidência da multa prevista no Precedente Normativo n. 72 da SDC do E. TST ocorre já no primeiro dia de atraso, contudo, sequer tal multa é discutida nos autos principais. Por essas razões, provados os atos faltosos que autorizam a rescisão indireta do contrato de trabalho (CLT, art. 483, d), dou por satisfeitos os requisitos da probabilidade do direito e também o e, nos termos do artigo periculum in mora 300, § 2º do CPC, DEFIRO, a tutela para declarar o contrato de trabalho extinto, por culpa da reclamada, na data da publicação desta decisão e, por consequência, determino que a reclamada proceda, a baixa na CTPS do reclamante, considerando como data de saída a data da publicação desta decisão, e, ainda, forneça-lhe as guias para sacar o FGTS e habilitar-se junto ao programa de seguro- desemprego, no prazo de 10 (dez) dias corridos, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00, nos termos do artigo 497 c.c. o artigo 536, § 1º, ambos do CPC.(...)." (TRT-15 - MS: 00084323920185150000 0008432- 39.2018.5.15.0000, Relator: JOSE OTAVIO DE SOUZA FERREIRA, 2ª Seção de Dissídios Individuais, Data de Publicação: 08/01/2019)
Assim sendo, comprovados os atrasos no pagamento dos salários e a
ausência de depósitos do FGTS, é descumprida obrigação contratual, à luz das previsões contidas no art. 459 da CLT e no art. 15 da Lei 8.036/90, uma vez que o reclamante não pode ser obrigado a permanecer vinculado ao contrato de trabalho, sujeitando-se a atrasos no pagamento dos salários e nos depósitos do FGTS. Outro caso para análise, trata-se da reclamação trabalhista, a qual a reclamante pretende que seja reconhecida a rescisão indireta do contrato de trabalho, ao argumento de que os depósitos do FGTS não eram efetuados regularmente; que a reclamada procedia à entrega do vale-transporte em montante insuficiente. A falta empregatícia apta a ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho deve ser de tal gravidade que inviabilize o prosseguimento da prestação de serviços. A utilização de mais de 20% do salário da empregada para custear o deslocamento que deveria ser pago pela empregadora torna inviável a continuidade do contrato de trabalho, autorizando sua rescisão indireta, nos termos do artigo 483, alínea d, da CLT. Já decidiu no mesmo sentido o TST, verbis:
"RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
FALTAS AO TRABALHO EM RAZÃO DO NÃO FORNECIMENTO DO VALE TRANSPORTE. Trata-se de controvérsia a respeito do motivo das faltas da autora ao trabalho, se teriam decorrido da ausência de fornecimento de vale-transporte (o que autorizaria a rescisão indireta de seu pacto laboral) ou da desídia da empregada (configuradora de justa causa). Na hipótese, o Regional, examinando os elementos de prova coligidos aos autos, concluiu que a autora apenas deixou de comparecer ao trabalho em razão de a reclamada não ter providenciado os vales-transportes de forma adequada. A Corte a quo consignou que,"embora a ré tenha disponibilizado em algumas oportunidades tal benesse, não houve o crédito dos valores no cartão definitivo da autora, impedindo-a de comparecer ao seu posto de trabalho sem que precisasse retirar tais valores de sua remuneração". Destacou que" não foi colacionada qualquer prova documental demonstrando eventual crédito dos vales-transportes da autora em seu cartão definitivo ". A rescisão indireta como é sabido, é a faculdade de o empregado romper com o pacto laboral por justo motivo, quando o empregador comete uma das faltas elencadas no artigo 483 da CLT. Em conformidade com a jurisprudência desta Corte, o descumprimento de obrigações essenciais do contrato de trabalho, tal como a ausência de regularidade no pagamento do vale-transporte, consubstancia justificativa suficientemente grave para configurar a culpa do empregador, a ensejar a rescisão indireta do pacto laboral, nos termos do artigo 483, alínea d, da CLT. Na hipótese, de acordo com as premissas fáticas descritas pela Corte a quo, ficou registrado que a empresa comprovadamente não cumpriu corretamente as suas obrigações contratuais, na medida em que deixou de fornecer o vale-transporte à trabalhadora. Assim, ao contrário do alegado pela reclamada, não ficou evidenciada a ocorrência de faltas injustificadas da reclamante ao trabalho a ensejar a invocada justa causa para a rescisão contratual. Portanto, qualquer tentativa de reverter a decisão do Regional, quanto ao reconhecimento da rescisão indireta do pacto laboral, demandaria inequivocamente o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, procedimento vedado nesta Corte superior, nos termos em que estabelece a Súmula nº 126 do Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de instrumento desprovido. (grifou-se, AIRR - 1701- 95.2013.5.09.0088, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 08/03/2017, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/03/2017)
A insuficiência na entrega do vale-transporte justifica a ruptura do
contrato por falta empresarial. Não é necessária a cumulação de violações às obrigações patronais para rescisão indireta.
"RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
FALTAS AO TRABALHO EM RAZÃO DO NÃO FORNECIMENTO DO VALE TRANSPORTE. (...)No caso em análise, muito embora a empregadora apenas deixasse de prover parte dos valores do vale-transporte, sua omissão comprometeu mais de 20% do salário da reclamante, que precisava complementar o montante necessário ao custeio do transporte para ida e vinda de casa ao trabalho. A conduta da empregadora revela-se grave em razão da imposição de gastos elevados em comparação com a remuneração fixada. Dá-se provimento ao apelo, para reconhecer a rescisão indireta do contrato de trabalho, em 06/09/17, último dia de prestação de serviços, e condenar a reclamada ao pagamento do aviso prévio de 30 dias e de sua projeção em férias proporcionais acrescidas do terço constitucional e gratificação natalina proporcional, e multa de 40% do FGTS. Observe-se a incidência dos reflexos do adicional noturno no aviso prévio e multa de 40% do FGTS. Após seu trânsito em julgado, esta decisão valerá como alvará para levantamento dos valores depositados na conta vinculada.m(TRT-2 10018732220175020202 SP, Relator: ROVIRSO APARECIDO BOLDO, 8ª Turma - Cadeira 1, Data de Publicação: 13/09/2018)
RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL
PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. FALTA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. ATRASO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. Predomina na atual jurisprudência desta Corte Superior o entendimento de que a reiterada ausência ou a insuficiência do recolhimento dos valores devidos a título de FGTS, assim como a falta ou o atraso no pagamento dos salários, constituem faltas graves, capazes de justificar a rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do art. 483, d, da CLT. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST - RR: 69173520145120018, Data de Julgamento: 18/04/2018, Data de Publicação: DEJT 27/04/2018)
RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO PAGAMENTO DE
SALÁRIOS. O reiterado atraso no pagamento dos salários de justifica a rescisão indireta do contrato de trabalho, pela incidência do art. 483, d, da CLT. Recurso ordinário provido. EQUIPARAÇÃO SALARIAL. Caso em que constatada a identidade nas funções desempenhadas pelo reclamante e o paradigma indicado, sem que a reclamado provasse o fato impeditivo de direito alegado. Recurso ordinário provido. (TRT-4 - RO: 00209326820165040662, Data de Julgamento: 26/10/2018, 11ª Turma)
RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO PAGAMENTO DO
SALÁRIO. CARACTERIZAÇÃO. O não pagamento de salário ou habitual pagamento com atraso inviabilizam a continuidade da relação de emprego, pois esse é o meio de subsistência da empregada, que é a parte hipossuficiente do contrato de trabalho, ficando caracterizada a falta grave da empregadora ,prevista no artigo 483, alínea d, da CLT. (TRT-1 - RO: 01005809420175010226 RJ, Relator: ALVARO LUIZ CARVALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 24/04/2018, Gabinete do Desembargador Alvaro Luiz Carvalho Moreira, Data de Publicação: 22/05/2018)
Portanto, diante da análise feita predomina na atual jurisprudência o
entendimento de que a reiterada ausência ou a insuficiência do recolhimento dos valores devidos a título de FGTS, assim como a falta ou o atraso no pagamento dos salários, constituem faltas graves, capazes de justificar a rescisão indireta do contrato de trabalho, nos termos do art. 483, d, da CLT.
Aluna: Hanna Brenda Barbosa Orsano.
Professora: Cristiane Adad.
Pós-graduação em Trabalho e Previdenciário – ALEPI.