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RIO DE JANEIRO
2016
FACULDADE DE SÃO BENTO DO RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO
2016
AMANCIO. Danielle de Souza Neto. A LEI Nº 10.639/2003 E A RELIGIÃO AFRO-
BRASILEIRA: NUMA PROPOSTA HISTÓRICA E CULTURAL EDUCACIONAL. Rio
de Janeiro: FSB/RJ, 2016.
40 páginas
Agradeço à Deus, em primeiro lugar, por me permitir chegar até aqui na luta em prol da
justiça social e disseminação da cultura afro-brasileira nas redes educacionais de ensino.
Também, aproveito para agradecer enormemente a dedicação e confiança da minha mãe
Abigail que nunca me deixa desisti dos meus ideais, a minha filha Sophia Victória minha
fonte de inspiração, meu marido Glaucio e a todos os amigos e parentes que me incentivaram
de alguma forma para a concretização deste trabalho, em especial amigo Anderson
Rodrigues e a Mãe Palmira de Oya.
.
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua
origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a
amar.
Nelson Mandela
RESUMO
Esta monografia tem como principal objetivo apresentar o estudo da cultura afro-brasileira
nas escolas abordando o debate em torno de suas perspectivas e desafios como forma de
efetivar a valorização do patrimônio histórico-cultural e religioso afro-brasileiro. O tema
concerne na implantação da Lei nº 10.639/2003 que instituiu o ensino obrigatório da história
e da cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas de Educação Básica no Brasil.
Tem, portanto, como finalidade reparar danos cometidos, durante muitos anos, contra uma
parcela da população que se viu excluída de um processo histórico e que observou, com o
passar do tempo, um discurso prejudicialmente hegemônico que promoveu no Brasil uma
onda de preconceito, racismo, discriminação e intolerância acerca da cultura africana. Assim,
o debate do ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira, especialmente no ensino
fundamental e no ensino médio, tem como perspectiva promover a igualdade entre as etnias
nos currículos e nas práticas pedagógicas utilizando como instrumento as inúmeras
expressões culturais que traduzem os vínculos das populações negras brasileiras com as
práticas culturais africanas. Esta monografia, no entanto, traz elucidações a respeito da
religiosidade afro-brasileira como forma de expressão cultural africana. Assim sendo, o
estudo da religião de matriz africana se demarca na compreensão dos costumes iorubás
trabalhados dentro do culto e da prática religiosa, a partir dos ensinamentos da cosmogonia
dos mitos das divindades iorubanas e suas filosofias. Deste modo, busca-se investigar como
o terreiro de candomblé de um espaço direcionado aos cultos dos orixás, se transformou num
espaço de transmissão de saberes que por meio da oralidade e da prática comunitária de
divisões de tarefas se tornou um instrumento disseminador de diversos valores para a
sociedade brasileira. Portanto, ao analisar a valorização dos mitos africanos, sua história,
cultura, filosofia e religiosidade, como meio de resgatar a identidade afro-brasileira, procura-
se problematizar as questões de preconceitos e intolerâncias, na tentativa de almejar uma
nova configuração da realidade pautada em princípios de equidade.
This paper aims to present the study of African-Brazilian culture in schools addressing the
debate on their perspectives and challenges as a way to carry out the development of the
historical-cultural and religious African-Brazilian heritage. The theme concerns the
implementation of Law nº. 10.639/2003 instituted the compulsory teaching of history and
African culture and African-Brazilian in all schools of basic education in Brazil. Is therefore
intended to repair committed damage for many years, against a portion of the population that
saw excluded from a historical process and observed, over time, a detrimentally hegemonic
discourse which promoted in Brazil a wave of prejudice, racism, discrimination and
intolerance about the African culture. So the debate the teaching of history and African
culture and African-Brazilian, especially in elementary school and in high school, has the
perspective to promote equality between the ethnic groups in the curriculum and in teaching
practices using as a tool the many cultural expressions that translate the bonds of Brazilian
black populations with African cultural practices. This paper, however, brings clarifications
regarding the African-Brazilian religion as a form of African cultural expression. Therefore,
the study of African-based religion marks the understanding of Yoruba customs worked
within the worship and religious practice, from the cosmogony of the teachings of the myths
of the Yoruba deities and their philosophies. Thus, it seeks to investigate how the yard of
Candomblé a space directed to the worship of deities, became a knowledge transmission
space through orality and community practice of task divisions became a disseminator
instrument of various values for Brazilian society. Therefore, when analyzing the
enhancement of African myths, its history, culture, philosophy and religion as a means to
rescue the African-Brazilian identity, looking to problematize the issues of prejudice and
intolerance, trying to aim for a new configuration of guided reality on principles of equity.
1 INTRODUÇÃO 09
4 CONCLUSÃO 35
REFERÊNCIAS 36
ANEXO 39
9
1 INTRODUÇÃO
É notório que o ensino da história e da cultura africana nas escolas brasileiras tem
passado por inúmeras dificuldades no que diz respeito a sua aplicabilidade de forma
contundente. Isso ocorre, principalmente, em função dos valores de vida padronizados e do
desconhecimento sobre o assunto. Optando-se, portanto, pelo silêncio perante o obscuro. O que,
no geral, propicia o aumento da discriminação étnica, social e religiosa nas escolas. Esse ritual
pedagógico, que ignora as relações raciais estabelecidas no espaço escolar, pode comprometer
o desempenho e o desenvolvimento da personalidade de crianças e jovens negros, bem como
contribuir para a formação de crianças e adolescentes brancos com um sentimento de
"superioridade".
Assim, o estudo da história e da cultura afro-brasileira, bem como suas manifestações
culturais encontra nas religiões de matriz africana subsídios importantes da identidade dos
africanos e afrodescendentes e, através delas, um movimento de resistência contra o escravismo
cruel e a dominação dos europeus, no passado e, mais atualmente, contra a discriminação, o
racismo e a intolerância. Assim sendo, os aspectos da formação da identidade histórica e
cultural da população brasileira são ligados também às religiões de matriz africana. No passado,
as moradias de africanos nas cidades e no campo eram também lugares de práticas religiosas
que muito colaboraram para a criação de consciências coletivas manifestadas por meio de
revoltas, de ações de resistência e de libertação do povo negro. As religiões afro-brasileiras,
como por exemplo o candomblé, fazem parte da ação da consciência social assimilada de forma
significativa por movimentos negros na atualidade, encontrando-se inseridas na consciência
política existente na história da população afro-brasileira.
Logo, o candomblé é considerado parte do patrimônio cultural, material e imaterial,
do povo brasileiro, de tal maneira que está integrado na formação histórico-social que deve ser
apresentada de forma elucidativa pela educação brasileira. Ao se almejar fazer uma escola
democrática e inclusiva, é imprescindível trabalhar a parte da cultura africana e afro-brasileira
que se refere a manifestação religiosa, para quebrar os estereótipos cristalizados no senso
comum que afetam implícita e explicitamente a religião e seu grupo de adeptos. Trabalhar o
candomblé, seus valores, cosmogonias, mitologias, cantos e contos (ítans1) em sala de aula
1
A palavra nagô ìtàn designa não só qualquer tipo de conto, mas também essencialmente os ìtàn àtowódówó,
histórias, mitos, transmitidos oralmente de uma geração a outra, particularmente pelos babaláwo, sacerdotes do
oráculo de Ifá. Os ìtàn-Ifá estão compreendidos nos 256 "volumes" ou signos chamados Odú, divididos em
"capítulos" denominados ese. (SANTOS, 1984, p.54)
10
pode ser um ponto de partida para desconstruir velhos conceitos, revelar a importância das
religiões afro-brasileiras para a constituição dos universos cultural, filosófico e religioso do país
e reconhecer a identidade cultural dos afrodescendentes brasileiros.
Portanto, exercitar a pratica da Lei nº 10.639/03 e levar os ensinamentos éticos do
candomblé e a sua história para o cotidiano escolar propicia aos alunos a percepção da história
dos afrodescendentes e suas lutas no Brasil, como viés de saída do sistema escravista para
defesa de sua identidade étnica. Ressignificar a história do candomblé numa perspectiva de
manifestação cultural, logo um instrumento de resistência da afrobrasilidade é uns dos
primeiros passos para combater os preconceitos em torno de uma população marginalizada que
usou de várias estratégias para vencer sua condição provocada por instituições “dominantes”,
como o Estado e a Igreja Católica e, assim, resguardar sua cultura e sustentar o elo com o
continente africano e sua história.
11
2
Etimologicamente raça significa em italiano razza que veio do latim ratio dando origem as palavras sorte,
categoria e espécie. (MUNANGA, 2004, p. 17)
13
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e difusão
das manifestações culturais.
§1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.
§2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação
para os diferentes segmentos étnicos nacionais. (Ibid.)
Portanto, mais uma vez, o artigo 242, inciso 1º, contempla o ensino da História do
Brasil com as contribuições das diferentes etnias na formação do povo brasileiro: “Art. 242 -
§1º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e
etnias para a formação do povo brasileiro” (Ibid.).
Todos esses ordenamentos jurídicos atendem o ciclo de propostas levantadas desde a
década de 1950, quando os temas sobre racismo, preconceito e discriminação racial foram
condenados legalmente pela Lei nº 1.390 de 03 de julho de 1951, conhecida como a Lei Afonso
Arinos que buscou efetivar a igualdade de tratamento e de direitos iguais a todos os cidadãos
brasileiros. (CRUZ, 2014, p. 11) A partir de tal dispositivo legal, qualquer prática de
discriminação racial seria categorizada como contravenção penal. Todavia, tais situações de
14
preconceito de raça e de tantas outras não foram extintas na nossa sociedade, tendo por isso, de
serem asseguradas no artigo 5º, inciso 62: “o racismo é uma prática de crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
Assim, após os anos 80 do século XX ocorreram vários avanços que promoveu a
política educacional voltada para a afirmação da diversidade cultural e da concretização de uma
educação das relações étnico-raciais nas escolas. No ano de 1995 o Movimento Negro trava um
debate com governo federal para a instauração de políticas de reparação e reconhecimento da
história e cultura afro-brasileira e africana como um dos percussores da história desse país, bem
como medidas de combate ao racismo e a discriminação racial. A apelação não foi atendida
pelo governo federal, apesar disso, essa discussão trouxe importantes avanços, pois o
Movimento Negro conseguiu desmascarar a ideologia de branqueamento que sustentava a ideia
de democracia racial brasileira e a sociedade passou a reconhecer que vivemos em um país
racista (SILVA, 2012, p. 108).
A partir de 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais agregaram vários temas
transversais e, aqui especificamente o relativo à diversidade cultural. Portanto, os PCNs para o
ensino e para a formação discente, destaca dentre eles:
questionamentos, frente as relações étnico-raciais, que foram sustentadas por muitos anos
baseadas em preconceitos e discriminações direcionados aos grupos negros estereotipados e
marginalizados pela sociedade brasileira. Enfim, é descolonizar olhares e pensamentos em
relação as folclorizações que ainda permeiam o imaginário popular cultural afro-brasileiro e,
consequentemente, produzir nas instituições educacionais uma nova relação entre os diferentes
grupos étnico-raciais (BRASIL, 2004.).
Henry Giroux
Nesta direção, a Lei nº 10.639/2003, objetiva incluir nos currículos escolares uma
atitude a ser desenvolvida em relação à pluralidade cultural, promover a redução de
preconceitos e discriminações e uma maior contextualização e compreensão da produção das
diferenças culturais brasileiras. Neste universo multicultural da educação que visa promover
debates em torno dos contextos socioculturais, se faz necessário identificar os princípios
norteadores educacionais para promoção da democracia em um mundo marcado pela
globalização e o pluralismo cultural. Nesta perspectiva multiculturalista educacional, Vera
Maria Candau dialoga com diversos autores especializados nesta temática como Peter McLaren
que no seu livro Multiculturalismo Crítico (2000) define “quatro grandes tendências de
educação multicultural. São elas: multiculturalismo conservador ou empresarial,
multiculturalismo humanista liberal, multiculturalismo liberal de esquerda e multiculturalismo
crítico e de resistência” (Ibid.).
Assim, o multiculturalismo conservador ou empresarial segundo McLaren são as
diferentes formas de visões coloniais de europeus e norte-americanos têm em relação aos povos
colonizados encarados como escravos, serviçais, etc. Tais paradigmas são pautados em teorias
evolucionistas que justificaram, por muito tempo, as práticas nefastas das políticas imperialistas
reforçando a ideia de supremacia branca (Ibid.). Ainda, de acordo com o autor, “tal postura
retrata a África como um continente selvagem e bárbaro, ocupado pelas mais inferiores das
criaturas, que eram privadas das graças salvadoras da civilização ocidental” (MCLAREN,
2000, p. 111). Resumindo, era necessário assimilar a todos à ordem social dominante. “Um pré-
requisito para juntar-se à turma é desnudar-se, desradicar-se e despir-se de sua própria cultura”
(Ibid.).
Já, a concepção do multiculturalismo humanista liberal parte da afirmação da
igualdade intelectual natural entre as pessoas de diferentes populações raciais. Esta
universalização cognitiva permite a competição igualitária entre as raças em uma sociedade
capitalista (CAPUTO, 2012, p. 251). Porém, para McLaren esse humanismo liberal
etnocêntrico privilegia somente a camada dominante da sociedade, tornado-se assim, um
opressor universal.
É claro que importava o que a professora pensava. Importava o que todos pensavam.
Quanto mais ela dizia que minha religião era ruim, mais eu tinha vergonha da
religião que eu amava e amo. E não era só isso. Eu tinha vergonha do meu cabelo,
me sentia mal por ser negra. O preconceito machuca em tudo. O racismo engloba
tudo. Hoje as coisas mudaram e digo com firmeza e o máximo de orgulho: Sou Ekedi,
negra, tenho cabelo crespo e sou percussionista! Quando me assumo do candomblé,
assumo minha cor, meu cabelo, minha raça. Meu problema hoje é tirar a química que
eu usava no meu cabelo na adolescência, quando eu queria que ele fosse liso. Hoje
assumo meu cabelo crespo, a música que gosto, os grupos que gosto, a dança que
gosto, a religião que tenho. (CAPUTO, 2012, p. 263)
Desse modo, a autora nos convida a recontextualizar nossas práticas diante dos
desafios levantados pela educação intercultural. Assim, observa-se que a Lei nº 10.639/03 está
inserida no projeto da interculturalidade ao buscar manter um diálogo com as diferentes etnias
que representam o Estado brasileiro, sobretudo resgatar as origens histórico-culturais de matriz
africana e sua importância para formação sociocultural nacional. Logo, pautada no
reconhecimento do direito à diferença e a luta contra todas as formas de discriminação e
desigualdade social, tanto a interculturalidade quando a Lei nº 10.639/03 tenta promover
relações dialógicas e igualitárias entre pessoas e grupos que pertencem a universo culturais
diferentes, trabalhando os conflitos inerentes a esta realidade (Ibid.). Portanto, a Lei nº
10.639/03 numa visão multiculturalista da Educação têm por finalidade promover uma relação
democrática entre os diversos grupos envolvidos dentro de uma sociedade heterogênea para a
promoção da solidariedade e o combate contra opressão social hegemônica. Logo, Candau
enumera os critérios básicos para se promover processos educativos na forma da Lei em uma
perspectiva intercultural. São eles:
1) O ponto de partida dever ser uma perspectiva em que a educação é vista como
prática social em íntima relação com as diferentes dinâmicas presentes numa
sociedade concreta. A educação intercultural é sempre histórica e socialmente situada.
3) A educação intercultural não pode ser reduzida a algumas situações e/ou atividades
realizadas em momentos específicos ou por determinadas áreas curriculares, nem
focalizar sua atenção exclusivamente em determinados grupos sociais. Trata-se de um
enfoque global que deve afetar a cultura escolar e a cultura da escola como um todo,
a todos os atores e todas as dimensões do processo educativo, assim como a cada uma
das escolas e ao sistema de ensino como um todo.
3
Esta parte está baseada no artigo Interculturalidade e Educação Escolar. In: Candau, V.M. Reinventar a escola.
Rio de Janeiro, 2000.
22
4
O termo corresponde aos sudaneses os quais englobam os grupos originários da África Ocidental e que viviam
em territórios hoje denominados de Nigéria, Benin (ex-Daomé) e Togo. São, entre outros, os iorubás ou nagôs
(subdivididos em queto, ijexá, egbá, etc.), os jejes (ewe ou fon) e os fanti-achanti. Entre os sudaneses também
vieram algumas nações islamizadas como os haussás, tapas, peuls, fulas e mandingas. Essas populações se
concentraram mais na região açucareira da Bahia e de Pernambuco, e sua entrada no Brasil ocorreu sobretudo
em meados do século XVII, durando até meados do século XIX. (SILVA, 2005, p. 26-28)
23
Esse aspecto é de extrema relevância, pois percebemos que a cultura ocidental como
todo não tem uma clara compreensão do conceito de Deus. Ou ainda, está tão enraizada por
uma filosofia catequizante da crença judaico-cristã que simbolizam muitas crenças a cultos a
seres malévolos (Ibid.). Na verdade, temos que perceber que o conceito de Deus não é um
monopólio da sociedade ocidental tradicional. Deus está presente em toda parte, ou seja, em
qualquer religião. Porém, devido a essa crença é que algumas denominações religiosas
ocidentais (neopentecostais) se julgam possuir o privilégio exclusivo da personalidade de Deus
com argumentos do tipo "meu Deus é único e verdadeiro", sendo por isso superior. Enquanto
isso, menosprezam ou "demonizam" as demais religiões, classificando-as de "falsas crenças" e
"falsos deuses", ou seja, inexistentes ou mesmo inferiores. São essas pequenas falhas que geram
os fundamentalismos religiosos, a fortificação da intolerância religiosa e a discriminação racial
no nosso país e no mundo de forma geral.
Para compreendermos um pouco esse exclusivismo do monoteísmo judaico-cristão,
no qual é predominantemente forte na crença da maioria dos povos cristãos ocidentais, se faz
necessário observar a explanação de Paul Veyne em sua obra Quando o nosso mundo se tornou
cristão, onde o autor parte da concepção de Javé como Deus único do povo hebreu (monoteísta)
procedente de concepções de crenças politeístas sobre a existência de outros deuses,
classificados num primeiro momento de inferiores. Javé não nega a existência de outros deuses.
Segundo Veyne, o profeta Miqueias por volta de 730 declarou: “todos os povos caminham cada
24
um em nome de seus deuses, quanto a nós, caminhamos em nome de Javé, nosso Deus”
(VEYNE, 2011, p. 247).
No primeiro momento da história religiosa do povo hebreu, para que não se perdesse
a concepção monoteísta de Javé, tais deuses estrangeiros foram classificados como anjos do
Senhor (os eloim), abaixo de Javé e este, passou a ser o Deus verdadeiro, o incomparável, o
único, o superior, dando sentido ao monoteísmo judaico que teve como base religiosa uma
motivação política, pois monolatria e/ou patriotismo sempre foram nomenclaturas de sentido
próximo. Assim, Israel chega ao monoteísmo e a um universalismo, onde Javé ser torna o Deus
mais forte, enquanto os outros deuses são rotulados como inexistentes, pedaços de pau e pedra
e por volta do ano 500 a. C. Javé se tornou o deus do universo (Ibid.). Concluindo, pois, que
os povos iorubás creem que os orixás não podem existir independentes de Olódùnmarè. Para
estes as divindades são como seres espirituais e intermediários entre o homem e o Ser Supremo.
Assim, podemos compará-los aos anjos de Deus (os eloim), que são os intermediários do Javé,
de acordo com os conceitos cristãos.
Voltando aos ìtàn da gênese nagô, de acordo com a tradição oral, contam que a
representação do universo que engloba a unidade que constitui o àiyé e o òrun é simbolizada
por uma cabaça formada de duas metades unidas, a metade inferior representando o àiyé, a
metade superior o òrun,
. e contendo em seu interior uma série de elementos fundantes do
universo. Dá-se o nome igbá-odù ou igbádù (SANTOS, 1984, p. 58). A história oral nos
informa que nos primórdios existia nada além de ar; Olòrun
. . era uma massa infinita de ar;
quando começou a mover-se lentamente, a respirar, uma parte do ar transformou-se em massa
de água, originando Òrisànlá,
. o grande Òrisà-Funfun,
. òrìsà
. do branco. O ar e as águas
moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama. Dessa lama
originou-se uma bolha ou montículo, primeira matéria dotada de forma, um rochedo
avermelhado e lamacento. Olòrun
. . admirou essa forma e soprou ar divino (òfurufú) sobre o
montículo, insuflando-lhe seu hálito (èmí) e dando-lhe vida. Essa forma, a primeira dotada de
existência individual, um rochedo de laterita, era Èsú, ou melhor o proto- Èsú, Èsú Yangí (Ibid.).
Assim, da relação entre o ar e a terra, passou a existir Odùduwà (JAGUN, 2015, p. 97).
Em relação a divindade Odùduwà existem divergências nos mitos e textos litúrgicos
nagôs. Em um dos ìtan sobre Odùduwà, este é correspondido por Òsàlá,
. conhecido igualmente
com o nome de Obàtálà
. e Odùduwà. Respectivamente, princípio masculino e princípio
feminino do grupo dos òrìsà funfun, do branco (SANTOS, 1984, p. 59). Assim, os seres divinos
são representados simbolicamente pela cabaça ritual - o igbá-odù - que representa o universo,
25
Porém, de acordo com Pierre Verger em sua obra Orixá o autor sentenciou
definitivamente a controvérsia em relação a figura de Odùduwà como divindade feminina.
Assim, o autor relata:
Precisamos falar aqui das extravagantes teorias do Padre Baudin e dos seus
compiladores, encabeçados pelo Tenente-Coronel A. E. Ellis, sobre as relações
existentes entre Obàtálà
. e Odùduwà. Mal informado e dotado de uma imaginação
fértil, o reverendo padre expôs no seu livro sobre as religiões de Porto Novo (que não
é um país iorubá) informações erradas, às quais nos referimos nos capítulos sobre
Xangô e Iemanjá. O Padre Baudin feminiliza Odùduwà para fazer dele a
companheira de Obàtálà (ignorando que este papel era desempenhado por Yemòwo).
Fechou esse casal Obàtálà- Odùduwà (formado por dois machos) numa cabaça e
construiu, partindo desta afirmação inexata, um sistema dualista, recuperado com
proveito por posteriores estruturalistas, onde Obàtálà
. (macho) é tudo o que está em
cima e Odùduwà (pseudofêmea), tido o que está embaixo; Obàtálà é o espírito,
Odùduwà a matéria; Obàtálà é o firmamento e Odùduwà é a terra. (...) Mas,
insistimos, eles correspondem ao casal Òrìsàálá e Yemowo, e não Obàtálà . e
Odùduwà. (VERGER, 2002, p. 258)
5
Versão extraída do livro Orí: a cabeça como divindade - história, cultura, filosofia e religiosidade africana de
JAGUN, 2015, p. 98-100.
26
com sua prudência, caminhasse cuidadosamente e verificasse se a terra estava segura e firme.
Aí, sim, Odùduwà pisou no mundo. Sua primeira pegada foi chamada de esè
. . ntàiyè Odùduwà.
Odùduwà fundou desta forma a cidade de Ilé Ifè,
. o berço da civilização iorubá, o
umbigo do Universo, que se espalhou para o resto do mundo. Só depois disso Obàtálà .
despertou. Atônito, foi a Olòrun
. . e este, após repreendê-lo, delegou-lhe a tarefa consoladora de
criar os seres vivos. Obàtálà
. criou os homens, as mulheres, as árvores, os peixes e tudo que
habita a Terra. Mas entre Obàtálà
. e Odùduwà surgiu uma rixa. Olòrun,
. . com sua sabedoria, fez
mostrar que os dois eram de fundamental importância para a Criação, e a sobrevivência do
mundo dependeria da harmonia entre ambos. Olòrun
. . convenceu-os, assim, a celebrar um
acordo (Odù Ifá Ìwòrì-Òbèrè) e chamou Obàtálà
. para sentar-se à sua direita (òtún)
. e Odùduwà
para sentar-se à sua esquerda (òsì). Instituiu, assim, a possibilidade de equilíbrio e de
convivência harmônica entre os dois. (...) Para representar a gênese e o útero primordial, os
iorubás utilizaram o igbá-odù ou igbádù: uma cabaça pintada de branco, cortada
horizontalmente ao meio em duas metades que devem manter-se sempre unidas, trazendo em
seu interior quatro pequenos recipientes de casca da noz do coco cortado ao meio, contendo,
cada qual, um elemento que simboliza os três sangues do àse. 6: o efun
. (branco), o osùn
(vermelho), o wájì (preto) e ainda erè
. . (lama - matéria prima do homem). Esses elementos
significam também os quatro Odù principais: Èjì Ogbè, Òyèkú Méjì, Ìwòrì Méjì e Òdí Méjì.
Separar as duas metades de igbádù significa a própria destruição do mundo. Assim, portanto, a
parte de cima de igbádù representa Obàtálà,
. e a parte de baixo, Odùduwà. (JAGUN, 2015, p.
98-100.)
6
Vide Os Nàgô e a morte de Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 41-42.
29
costumes ou nas religiões, descortinar a história dos afro-brasileiros nas instituições escolares
é oferecer possibilidades de identificação e incentivar a construção de um conhecimento sobre
o que é "ser negro" e sua contribuição no espaço histórico-cultural brasileiro. Desta forma, as
novas diretrizes curriculares têm como objetivo contemplar a "riqueza cultural" negra que se
faz presente no comportamento do povo brasileiro, combatendo a descaracterização de seus
valores e um discurso hegemônico de inferioridade. Portanto, veremos alguns costumes,
provérbios, mitos e tradições que revelam o universo sociocultural e religioso dos iorubás e,
consequentemente, dos candomblecistas brasileiros e, como tais costumes e valores podem ser
abordados nas escolas como forma de atender as expectativas em torno da Lei nº 10.639/03.
Neste sentido, as histórias míticas mantêm as tradições do pensamento africano que
são consideradas práticas educacionais que chamam atenção para os princípios responsáveis
por inserir as crianças e os jovens na própria história de suas vidas cotidianas. Assim, para o
africano a oralidade se configura na orientação para a vida. “A palavra é vida, é ação, é jeito de
aprender e de ensinar” (MACHADO, 2015, p.3). Contar mitos faz parte da tradicional educação
das crianças africanas, que mesmo antes de ir às escolas, estudam os acontecimentos do
passado, as histórias de sua comunidade, onde aprendem a respeitar os valores de convivência
e solidariedade grupal. Abaixo, segue alguns princípios basilares da educação nagô transmitidas
através dos mitos africanos:
Assim, como exemplo dos mitos que são vivenciados, inspirados em valores e
compartilhados como patrimônios da herança ancestral, temos:
obviamente. Os filhos colheram os últimos suspiros do ancião que deixou como maior
bem o sentido da união que fortalecem as famílias7.
Portanto, a relação entre o homem africano e a palavra é muito intensa, ao passo de ser
tornar sagrada. Conforme Regiane Augusto de Mattos, em História e cultura afro-brasileira
(2007), para as comunidades africanas, a oralidade têm um sentido ímpar acerca da vida, do
homem e do universo social em que vive. Ou seja, a palavra é de origem divina. “A fala é um
dom, não podendo ser utilizada de forma imprudente, leviana, de qualquer jeito ou sem critério.
Ela tem o poder de criar, mas também o de conservar e destruir. Uma única palavra pode causar
uma guerra ou proporcionar a paz” (MATTOS, 2007, p. 19).
Assim, o papel dos griots8 ou contadores de histórias exercidos pelos anciões africanos
é de fundamental importância para disseminação dos valores e dos conhecimentos sobre a moral
e a ética, o papel do homem no universo, o respeito ao meio ambiente, respeito aos mais velhos,
a figura da mulher e a existência dos vivos e dos mortos. Na África tradicional, os griots ou
Doma são considerados os guardiões dos segredos da gênese cósmica e das ciências da vida e
mestre de si mesmo (BÂ, 1982, p.186). Na verdade, o Doma é conhecedor de todas as histórias
que circundam a esfera social do clã. Antes de iniciar as histórias, ele evoca os ancestrais com
todo respeito, dizendo-lhes o que pretende falar com seus ouvintes. Quando se trata de
transmitir conhecimentos para jovens e crianças, ele o faz considerando os conhecimentos mais
antigos. O conhecimento considerado é o conhecimento dos ancestrais e está expresso nos mitos
criados para uma educação que pode durar toda a vida (MACHADO, 2015, p. 5). Tudo é
ensinado, contado em forma de narrativas, em forma de histórias míticas.
7
Mito adaptado por Vanda Machado e Carlos Petrovich, para capacitação de educadores da Secretaria Municipal
de Lençóis com a ONG Grão de Luz Griô.
8
Os griots ou animadores públicos também são tradicionalistas responsáveis pela história, música, poesia e contos.
Existem griots músicos, tocadores de instrumentos, compositores e cantores, os griots embaixadores, mediadores
em caso de desentendimento entre as famílias, e os griots historiadores, poetas, genealogistas (que trabalham a
árvore genealógica, origem das famílias) este são contadores de histórias. (MATTOS, 2007, p. 19)
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Desta maneira, o mito é capaz de criar uma relação respeitosa entre o indivíduo e a
natureza e com o mundo do qual faz parte. O mito traz em sua essência o valor significativo de
aprendizagem sobre a vida. Portanto, vale apresentar o mito da "Transformação da Conquén"
do qual busca valorizar a relação do homem frente a comunidade da qual faz parte e se
relaciona.
Era uma vez, no início do mundo, quando todos os bichos falavam. Os bichos, as
árvores e as pessoas. Todos procuravam se comunicar e se entender do melhor jeito possível.
Sendo assim, muita coisa podia ser resolvida com uma boa conversa. No princípio do mundo,
era uma vez uma conquén que vivia ciscando e olhando apenas para o que fazia, sem se envolver
com ninguém. Passava o dia todinho a reclamar: Tô fraco! Tô fraco! Tô fraco. A sua cor era
cinzenta e não tinha graça nenhuma. Pobre conquén, nada de novo acontecia na sua vida. E
cada dia ela estava mais insatisfeita. Ela ficava cada dia mais zangada.
Certo dia, ela mesmo compreendeu que estava demais. Era necessário transformar
aquela situação. A conquén, então, lembrou que ali perto morava um oluwo. O oluwo era uma
pessoa que vivia dando conselhos a todos que o procuravam. Ela resolveu ir procurá-lo também,
para receber orientação sobre o que estava acontecendo em sua vida. Ela vivia muito nervosa.
De longe, ouviam-se seus gritos: Tô fraco! Tô fraco! Tô fraco. O oluwo a recebeu. Depois de
ouvir atentamente as suas queixas, falou pausadamente: Todo seu problema é este seu jeito
horrível de tratar as pessoas. O meu conselho é que você mude os seus hábitos e suas atitudes
imediatamente. Tratar bem as pessoas traz alegria e bem-estar. Preste atenção às pessoas,
principalmente àquelas que você encontra pela primeira vez. Vou lhe ensinar umas palavras
mágicas. Você vai ver como tudo vai se transformar. A conquén estava muito mal mesmo,
pensava e gritava: eu quero me transformar. Eu vou mudar. Eu vou mudar. Agradecida, deu um
punhado de kauri (búzios) ao oluwo e partiu.
Já na manhã seguinte, quando despertou, foi olhando para a cajazeira e
cumprimentando-a: kaaró. A cajazeira espantada respondeu: kaaró ô! Mais adiante, ela
encontrou dois patinhos que estavam no seu caminho. Ela falou antes de passar entre eles: agô!
Eles deram passagem à nova amiga, respondendo como de costume: agô ya. Um grupo de
conquéns passou apressado para o trabalho e ela desejou simpaticamente: Ku ixé! O grupo todo
agradeceu em coro: Adupé ô! Na verdade, aquele dia parecia completamente diferente de todos
os dias de sua vida. Ela parou um pouco, já no caminho de casa. Era noite, todos a olhavam
como se a vissem pela primeira vez. Ela foi logo cumprimentando a turma, com a maior
cortesia: Kaalé! Todos responderam: Kaalé ô! Depois de um pouquinho de prosa, na hora da
despedida, a conquén falou com alegria: Adolá! E todos responderam em coro: Adolá ô!
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Foi tanta transformação que, no dia seguinte, ela encontrou um velhinho que
caminhava bem devagar na sua frente. O velhinho era Oxalá. Acostumada a não dar atenção às
pessoas, nem o reconheceu. Mas ela tratou Oxalá com ternura e educação. De tudo que ela
trazia consigo entregou para o velho Oxalá. Imagine como Oxalá ficou contente em receber
tanta atenção da conquén. Foi aí que, para demonstrar seu agrado, ele tirou de sua bolsa um pó
mágico e pintou a conquén todinha com umas bolinhas brancas. E pegou um montinho de barro
e colocou no cocuruto da conquén. Assim, ela ficou marcada para sempre como um bicho da
predileção de Oxalá. A partir daquele dia, todos buscavam a sua companhia e conversavam
muito com ela. E sempre se despediam com muita alegria. E percebeu-se que todas as conquéns
do mundo apareceram com um pitombinho na cabeça e as pintinhas brancas dadas por Oxalá9.
Assim, Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido enfatiza o poder da palavra e a
importância do diálogo exercido entre os agrupamentos sociais para uma aprendizagem
significativa. Aprender a dizer a palavra, por meio de histórias, fábulas e mitos, vai muito além
de passar conhecimentos prévios a respeito dos costumes e valores do clã, pode se transformar
em um instrumento de emancipação e resistência de uma classe oprimida e silenciada, por uma
elite dominante, que por unanimidade, monopoliza a palavra, ou seja, mantêm como padrão
cultural seus costumes e valores tradicionais, dando-lhes poder político e econômico perante a
sociedade da qual domina hierarquicamente. Como aponta Fiori “a prática da liberdade só
encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de,
reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica”
(FREIRE, 1996, p. 9).
Ora, o que vemos no sistema educacional vigente brasileiro é uma universalização dos
currículos e conteúdos programáticos (educação bancária10) que teimam em valorizar histórias
da elite socialmente pré-estabelecida, construída as margens de acontecimentos e fatos heroicos
que retomam as grandes personalidades do continente europeu, branco e cristianizado,
relegando as demais culturas afro-brasileiras o obscurantismo. Criticamente, observamos um
fracasso na prática da Lei nº 10.639/03 no espaço escolar, pois além do despreparo do corpo
docente e seu desconhecimento em relação a história e a cultura africana, temos como agravante
uma sociedade racista que oculta com grande fervor as manifestações culturais negras como
forma de tolher a libertação política-social dessa camada oprimida historicamente. Portanto, é
9
Texto extraído de Mitos afro-brasileiros e vivências educacionais de Vanda Machado, 2015, p. 8-9.
10
Segundo Paulo Freire entende-se por educação bancária aquela que a educação tem o ato de depositar, de
transferir valores e conhecimentos padronizados como modelos a serem seguidos pela sociedade oprimida.
(FREIRE, 1996, p. 59)
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necessário que haja uma mobilização radical frente a aplicabilidade de forma contundente da
Lei nº 10.639/03 nas escolas brasileiras, pois o racismo e a intolerância devem ser banidas da
nossa história urgentemente. Precisamos, divulgar os mitos e as histórias africanas nas
instituições educacionais, para que todos tomem consciência que o afrodescendente também
produz histórias e filosofias de vida e, almejam contribuir a partir de suas referências éticas a
construção de um Brasil com mais equidade e justiça social. Nas palavras de Freire (1996):
Para finalizar tal debate, segue abaixo os valores filosóficos, pedagógicos, religiosos e
culturais do universo iorubá transcritos dos poemas sobre educação e honra e respeito aos pais
e aos mais velhos. Vamos conhecê-los:
Educação e Honra:
11
Poema extraído do livro Orí: a cabeça como divindade - história, cultura, filosofia e religiosidade africana de
Márcio de Jagun, 2015, p. 133-134.
Versão de COUTO DE ALMEIDA, Maria Inez. Cultura Iorubá - costumes e tradições. Rio de Janeiro: Dialogarts,
2006.
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Portanto, vemos que a educação e a honra são bens patrimoniais da cultura iorubá.
Assim, Olá bàbà ni ìmú yan gbéndeke - é a honra do pai que permite ao filho caminhar com
orgulho. A honra é, então, um bem quase hereditário. Um homem desonrado não conseguirá
transmitir esses princípios à sua prole e criará uma descendência inteira sem honra (JAGUN,
2015, p. 134). Assim como, em relação ao respeito aos pais e ao mais velhos é de extrema
importância, pois os pais e os anciões são a primeira e mais significativa referência ancestral,
devendo os mais jovens tratá-los com carinho, gratidão e verdadeira devoção (Ibid.).
12
Poema extraído do livro Orí: a cabeça como divindade - história, cultura, filosofia e religiosidade africana de
Márcio de Jagun, 2015, p. 133-134. (IFÁ DIVINATION POETRY, WANDE ABIMBOLA)
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4 CONCLUSÃO
13
BRASIL. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das
Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, 2009, p. 75.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus: mitologia primitiva. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos terreiros - e como a escola se relaciona com crianças
de candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação n. 23, 2003.
JAGUN, Márcio de. Orí: a cabeça como divindade - história, cultura, filosofia e religiosidade
africana. Rio de Janeiro: Litteris, 2015.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007.
MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade
e etnia. Niterói: EdUFF, 2004.
Prandi, Reginaldo. Segredos guardados: orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção. São Paulo: Selo
Negro, 2005.
TELLES, Edward Eric. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de
Janeiro: Relume Dumará: Fundação Ford, 2003.
ANEXO
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ANEXO 1