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Instituições Metodistas de Educação), Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta
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Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima
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dado crédito ao autor original e à Universidade Metodista de São Paulo. É vedada a
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Bacharelado em
Teologia
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UMESP
31 Hermenêutica Bíblica I
37 Hermenêutica Bíblica II
Literatura
e Contexto
Histórico do AT - I
Objetivos
Abordar o aspecto literário do Antigo Testamento no
contexto do começo do letramento no antigo Israel. As-
sim, as narrativas canônicas não são apenas textos religi-
osos, mas também instrução para a vida diária do povo.
Palavras-chave:
Antigo Testamento; literatura; escolas.
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Os meios produtores do Antigo Testamento
As civilizações do antigo Oriente Próximo tiveram seus centros de cultura em seu próprio
território: as cortes dos reis e príncipes ou os grandes santuários.
A cultura não permanecia no lugar de origem, mas percorria as rotas das caravanas e chegava
a toda parte. Com os objetos manuais ou de arte, chegavam também as formas de pensar e de
viver, especialmente com as obras literárias. Essas obras eram possibilitadas pela vida privilegiada
dos escribas. Produziam-se documentos administrativos e textos para propósitos de educação e
instrução.
Desde o início, o rei e seus familiares usufruíam das escriturações. O rei, não raro, encorajava
a produção de relatos favoráveis aos seus feitos. No entanto, havia profetas ligados a escribas ou
à escola escribal, como Jeremias (36.4), Isaías (8.16; 30.8), Oséias (14.9) e Habacuque (2.2).
Desde os primórdios, o Egito desenvolveu a literatura sapiencial por meio de instruções
ou ensinamentos e também com pequenos poemas. Nas instruções, um rei dirige-se ao príncipe
herdeiro, principalmente em época de instabilidade social, política e cultural; um aristocrata dirige-se
a seu filho; um escriba dirige-se a seu sucessor; todo aluno ou discípulo é chamado de “filho”. Em
alguns poemas, abordam-se os grandes temas que preocupam o ser humano de todos os tempos:
os males da vida presente, as dúvidas perante o que há depois da morte etc.
A Mesopotâmia influenciou literariamente o antigo Israel, fazendo-se presente em todas
as suas instituições, particularmente no Primeiro Testamento. Há dois poemas de cerca de 1500 a
1200 a.C. – “Poema do justo que sofre” e “Diálogo de sofredor com seu amigo” – que têm muitas
semelhanças com o Livro de Jó.
A própria tradição da Bíblia sugere que a sabedoria – fruto da produção de conhecimento
– vem do Oriente (cf. Jó 1.3 e Mateus 2.1-2). Exemplos desse tipo de literatura:
a) Epopeia de Gilgamesh, relato sobre a origem do mundo, que se dá às margens do rio
Eufrates; composto por volta do século XVII a.C., conta a história do antigo rei mesopotâmico
Gilgamesh de Uruk e sua busca pelo segredo da imortalidade, em que o tempo não é contado
nem em dias nem em semanas, mas em séculos e milênios. A grande diferença em relação
ao relato da Bíblia hebraica é que o mundo não é criado a partir do nada.
b) Enuma elish (“Quando no alto”), poema acádio com mais de mil versos sobre a
criação; composto por volta do século XIV a.C.
c) O relato do “Dilúvio” pertence à 11ª tabuinha da Epopeia de Gilgamesh.
O escriba e a escrituração se desenvolveram conforme as necessidades de uma elite dirigente
(entre 1 e 5 por cento da população) que vivia nos centros urbanos. A vida dos escribas ficava sob
as ordens daquela aristocracia, pois eles trabalhavam como funcionários e burocratas a serviço
do governo; portanto, era improvável que eles elevassem a voz ou protestassem em seus textos
contra alguma injustiça ou abuso do poder.
O clã serviu de contexto ao desenvolvimento e transmissão da sabedoria popular, com
transmissão oral através do mnemon, ancião ou líder da comunidade local, enquanto o palácio e
o santuário são as sedes do letramento e da escrituração (cf. Provérbios 25.1).
O antigo Israel registra a presença do escriba oficial pela primeira vez no “palácio” de Davi.
Entre os comandantes de bandos e guarnições e o encarregado de trabalhos escravos estava o
escriba (2Samuel 20.23-25), certamente usufruindo da burocracia da cidade-Estado de Jerusalém
recém-conquistada. Um dos grandes anais é a “narrativa da sucessão do trono” (2Samuel 9–20;
1Reis 1–2), onde é relatado como Salomão, embora não fosse o filho mais velho e sucessor óbvio
de Davi, conseguiu subir ao trono através dos acordos políticos do palácio.
Com relação ao antigo Israel, a cultura religiosa, através da experiência fundante do êxodo
e do compromisso com a aliança, está no contexto dos escritos que foram canonizados. O escriba
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e intelectual israelita mais famoso é Esdras (cf. Esdras 7.10-11).
1. A escola
As escolas eram instituições reais que, já no III milênio a.C., funcionavam em toda a região
da Mesopotâmia e do Egito. Existiam também escolas na Síria, pois de Biblos o alfabeto passou à
Grécia e, da Grécia, a Roma.
No campo das sociedades sem escrita, a etnologia mostrou que qualquer interpretação ou
escrituração de uma tradição oral é uma obra nova, uma apropriação da tradição no interesse
daquele que a interpreta e de seu público.
A passar para a escrita é possível ver que determinada história ou tradição tinha várias
versões, tais como:
a) o nome do sogro de Moisés (Reuel, Êxodo 2.18; Jetro, Ex 4.18; Hobab, Juízes 4.11);
b) a filiação de um homem chamado Dishon, ora ele é filho, ora ele é bisneto de Seir
(Gênesis 36.21 e 36.25);
c) a filiação da rainha Atalia, ora ela é filha de ‘Omri e irmã de Acab (2Reis 8.26), ora
ela é neta de ‘Omri e filha de Acab (2Reis 8.18).
O intelecto era internacional no antigo Oriente Próximo (1Reis 5.10-11; Provérbios 30.1; 31.1; Jó
1.1). Na escola ensinava-se o letramento e a escrituração, além do comportamento público ideal
visando a estabilidade social. Primeiro temos um “cânon educativo” ligado a uma escola pública,
no caso de Israel ligado à escola do templo de Jerusalém; esses mesmos textos são vinculados a
um “cânon bíblico”.
O antigo Israel adaptou a escola segundo as suas necessidades, ou seja, a serviço do rei e da
aristocracia. Nesse sentido, fala-se de escolas reais ou escolas da corte, sustentadas pelo palácio.
Essas escolas existiram especialmente no tempo de Salomão e do rei Ezequias (cf. a tradição
sapiencial: Provérbios 22.17; 24.23; 25.1).
Exemplo de textos escolares no Primeiro Testamento com similares na Mesopotâmia e no Egito;
portanto, convergem várias correntes do saber no antigo Oriente Próximo:
Gênesis 1 e 6–8; Levítico 11: cosmologia e uma zoologia;
Gênesis 2–4: uma antropologia;
Gênesis 5: lista dos patriarcas (ou “árvore genealógica”);
Gênesis 10: uma geografia “universal” (ou lista de povos e impérios);
Oséias 14.9: um assentimento às dificuldades gramaticais encontradas em um determinado texto.
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2. O palácio
Está comprovado que no palácio produziam-se muitas canções. Epopeias dos cantores da
nobreza da Grécia pré-clássica estão, certamente em parte, compiladas entre os séculos VIII-VII a.C.
na Ilíada e na Odisseia de Homero.
No antigo Israel, muitas canções foram compiladas no Livro dos Justos (cf. Josué 10.12-13;
2Samuel 1.17-28) e no Livro das Guerras de Yhwh (Números 21.14-15).
Sem dúvida, o registro e a transmissão de informação ligada ao rei eram realizados com a
anuência do palácio, ainda que fosse um oráculo profético posteriormente canonizado (cf. Isaías
7.4-9, 14-16).
Produzia-se também no palácio anais com conteúdo forense (cf. a conclusão de uma legislação
palaciana da época de Davi em 1Samuel 30.25; e a narração de um julgamento presidido pelo rei,
em 1Reis 3.16-28) e com dados administrativos (cf. 1Reis 4.20-28).
Às vezes, em meio aos relatos de exaltação pela aliança da divindade com o rei, escapava algum
dado desabonador, como em 1Reis 9.15: “E esta é a causa do trabalho escravo que impôs o rei
Salomão para edificar a casa de Yhwh, e a casa dele, e o Milo, e a muralha de Jerusalém, e Hazor,
e Megido, e Gezer” [2Crônicas 8.7-10 é uma revisão de 1Reis 9.15].
Uma das prerrogativas do rei no antigo Oriente Próximo era codificar leis (legislações ou
constituições nacionais). No antigo Israel, as leis eram prerrogativas divinas; portanto, a tarefa do
legislador, seja Moisés, seja o rei, era subscrevê-las. Exemplos de códigos legais:
a) Código da Aliança (Êxodo 20.22–23.19 [23]);
b) Código Deuteronômico (Deuteronômio 12–26);
c) Código de Santidade (Levítico 17–26 [27]).
3. O templo
Ao lado de relatos envolvendo a própria vida do povo – em alguns casos históricos, em outros
em forma de mitologia –, os sacerdotes do templo produziram ritos como elementos do conhecimento
(cf. Levítico 1–7), além de calendários litúrgicos. Exemplo de calendários:
a) Êxodo 23.14-19;
b) Êxodo 34.18-26;
c) Levítico 23.4-43;
d) Deuteronômio 16.1-16.
Alguns cânticos do Templo de Jerusalém entraram no Saltério, como as “liturgias de entradas
no santuário” (Salmos 15; 24), liturgia de acolhimento (Salmo 133), liturgia de aclamação (Salmo 134),
leitura de penitência ou confissão (Salmo 118.25) e leitura de consolação (Salmo 118.26).
Entre outras coisas, os sacerdotes tinham a atribuição de transmitir recomendações pertinentes
à medicina e à natureza: identificar a enfermidade que causava impureza (cf. Levítico 13–14), que
animais são adequados para o consumo e para o sacrifício (cf. Levítico 11; Deuteronômio 14.3-21).
4. As bibliotecas
Conhecemos bem as tradições escritas, mas antes delas existiu apenas a tradição oral. Antes
que os sábios compilassem as tradições israelitas em coleções que chegaram até nós, ou que se
perderam, a sabedoria correu de boca em boca. O Qohelet é um dos exemplos de transmissão de
conhecimento e de pesquisador, numa época (entre o período persa e a expansão da cultura grega)
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em que os judeus já contavam com bibliotecas:
Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.
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Módulo
Literatura
e Contexto
Histórico do AT -II
Objetivos
Estudar a formação da história deuteronomista,
o maior conjunto literário canônico do
antigo Israel. Apresentaremos os livros não
como produção religiosa isolada, mas como
demonstração de coerência redacional entre o
Pentateuco e os Livros Proféticos.
Palavras-chave:
Antigo Testamento; livros históricos; antigo
Israel.
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A história deuteronomista
O livro do Deuteronômio conclui a primeira parte do Primeiro Testamento e, ao mesmo
tempo, serve de ponto de partida para os livros chamados “históricos”.
Ao fazer menção à entrada iminente dos israelitas na terra de Canaan, o livro liga-se com o
livro de Josué, que relata a travessia do Jordão. Por isso, alguns pesquisadores têm considerado o
livro de Josué como o verdadeiro final da primeira parte do Primeiro Testamento (um Hexateuco,
em vez de Pentateuco).
A abertura do livro dos Juízes é lida como a transgressão das advertências do Deuteronômio
(Dt 6.12-15). De modo semelhante, Deuteronômio 6.15 e 28.63 anunciam a deportação para longe
da terra prometida como sanção extrema pela desobediência do povo. É o que acontece no fim
do livro de 2Reis: “E assim foi Judah deportado para longe de sua terra” (2Reis 25.21). Vínculos
como este são reforçados pelo estilo e pelo vocabulário assemelhados entre os livros históricos e
o Deuteronômio.
Ao narrar a história de Israel, cujo final termina com a catástrofe da destruição de Jerusalém
e seu templo e captura do povo pelo império babilônico, o “deuteronomista” alude ao fato de que
isso não ocorre por fraqueza de Javé, que teria sido vencido pelos deuses do império; ao contrário,
é o próprio Javé quem pune o seu povo.
Há indícios de uma revisão ou conclusão da obra na época do exílio:
a) perspectiva de um exilado na Babilônia → a ideia expressa na oração de Salomão
deve ser feita “na direção de Jerusalém e do templo” (1Reis 8.48);
b) perspectiva de quem teria ficado na terra de Canaan → “e assim foi Judah deportado
para longe de sua terra” (2Reis 25.21).
Josué
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1 e 3–4, “corrigindo” a história paralela dos espiões em Números 13–14: ao contrário do livro dos
Números, no livro de Josué tudo termina bem graças à intervenção de uma mulher estrangeira.
Na segunda parte, Josué 13–19 contêm listas e documentos territoriais diversos e apresenta a
instalação das tribos da Tranjordânia.
Josué 20–21 enumera as cidades de refúgio e as cidades levíticas.
Josué 21.43-45 parece apresentar uma primeira conclusão do livro insistindo no fato de que todas
as promessas feitas por Deus estão cumpridas.
O capítulo 22 trata das tribos transjordanianas: elas podem construir um santuário desde que não
realizem culto sacrifical no local.
O livro apresenta dois discursos conclusivos com perspectivas diferentes:
a) Josué 23 prediz a perda da terra em caso de desobediência do povo;
b) Josué 24 resume toda a história dos patriarcas até a conquista, como quem conclui
uma era.
Note-se que, em paralelo com o livro do Deuteronômio ou, por extensão, o Pentateuco, o livro de
Josué termina com a morte de seu protagonista (Dt 34.1-8 = Js 24.29-30).
Juízes
O livro dos Juízes localiza-se cronologicamente entre a conquista e a monarquia. É uma época em
que “cada um fazia o que parecia bom aos seus olhos”.
Há informações sobre personagens guerreiros e chefes carismáticos engajados em conflitos ter-
ritoriais.
Inexistem especificidade territorial e sequência ou organização temporal.
Inexistem patriarca, rei, profeta, centralidade político-social e cúltica.
O nome “Juízes” traduz o termo hebraico šāpāṭ, que significa “julgar” ou “governar”. Com exceção
de Deborah (Jz 4.4), nenhum personagem desempenha uma função de juiz no sentido jurídico.
Exceção feita ao resumo de Juízes 2.16-18 (“Javé suscitou juízes”), ninguém traz o título de “juiz”
no livro, exceto exatamente Javé (Jz 11.27).
Certo número de personagens se diz que “julgam” (šāpāṭ) ou que “salvam” (yāšār) a terra.
a) há “salvadores” que libertam sua tribo em um período de opressão: Otniel (Jz 3.9),
Ehud (Jz 3.15), Shamgar (Jz 3.31), Gideon (Jz 6.14,37; 8.22), Tola (Jz 10.1) e Sansão (Jz 13.5);
b) há personagens cuja atividade é definida pelo verbo “julgar”: Otniel (Jz 3.10), Deborah
(Jz 4.4), Tola (Jz 10.2), Iair (Jz 10.3), Jefté (Jz 12.7), Iibsan (Jz 12.8-9), Elon (Jz 12.11), Abdon (Jz
12.13-14) e Sansão (Jz 15.20; 16.31).
Há personagens que nem “salvam” nem “julgam”, como Iael (Jz 4–5) e Abimélekh (Jz 9). Por outro
lado, Samuel pertence à época dos juízes, pois se diz que ele “foi juiz de Israel” (1Sm 7.15) e “sal-
vador” ao lado de Ierubaal, Bedan e Jefté (1Sm 12.11).
Há consenso entre os pesquisadores quanto:
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a) Juízes 1.1–3.6: dupla introdução;
b) Juízes 3.7–16.31: corpo do texto;
c) Juízes 21.25: conclusão redacional.
A nova geração abandona Javé (Jz 2.11-19). Eis o motivo do fracasso diante dos nativos com relação
à tomada da terra.
O registro contra a monarquia: a fábula de Iotâm (Jz 9.8-20).
O refrão pró-monarquia: “Naquele tempo, não havia rei em Israel...” (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25).
1–2 Samuel
A Septuaginta preserva uma tradição de interpretação que reúne 1–2Samuel em uma única coletânea
com 1–2Reis, um grande conjunto editorial chamado Reino onde constam I–IVReis. Por seu lado, na
Vulgata um grande conjunto editorial chamado Incipit liber Samuhelis reúne I–IISamuel–III–IVReis.
Segundo Ernst Sellin e Georg Fohrer, só em 1448 a Bíblia hebraica imprime a edição com a divisão
em 1–2Samuel e 1–2Reis.
A atribuição autoral a Samuel provém da tradição massorética (entre os séculos X-XI d.C., ou seja,
na Idade Média).
Distingue-se duas grandes seções no livro:
a) 1Samuel 1–15;
b) 1Samuel 16–2Samuel 24.
A mudança de uma seção a outra é marcada pelo contraste entre 1Samuel 15 e 1Samuel 16.1-3:
1Samuel 15 termina com a rejeição definitiva de Saul por Javé, enquanto 1Samuel 16.1-3 introduz
a narração sobre a escolha de Davi para substituir Saul.
Questão literária: a arca estava em Quiriat-Iearim (1Sm 7.1a) ou em Baalim de Judah (2Sm
6.2)?
Questão literária: antecipando todas as narrativas sobre as atividades reais de Davi, 2Samuel
5.4,5 diverge quanto ao tempo de reinado de Davi: no v. 4, reinou 40 anos; no v. 5, reinou
40 anos e 6 meses.
O segundo livro de Samuel apresenta Davi como fundador do culto (2Sm 6), depois fundador de
uma dinastia (2Sm 7), a seguir de um império (2Sm 8).
Sobre o rei e a monarquia, cf. a sequência 1Samuel 8.10ss.; 10.19ss.; 12.13ss.
1–2 Reis
A divisão de Reis em dois livros vem da Septuaginta e foi introduzida nos manuscritos hebraicos a
partir do século XV d.C. (fins da Idade Média). 1–2Reis são os últimos livros dos “profetas anteriores”.
O livro relata toda a história das monarquias israelita e judaica desde o reinado de Salomão, que
sucede Davi, o fundador do trono eterno de Jerusalém (2Sm 7; Sl 2; 89), até sua destruição em
587 a.C.
Em 2Reis 25, o livro se encerra com a narração da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor (2Rs
25.8-17) e o exílio da população, quer em Babilônia (2Rs 25.18-21), quer no Egito (2Rs 25.22-26).
A última informação indica que o fim do templo e do Estado não significa, contudo, o fim da família
real (2Rs 25.27-30) → Leia-se Ezequiel 4.2; 9.1-6; 11.1-5.
Uma divisão possível:
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a) 1Reis 1–11: o reino unido sob Salomão;
b) 1Reis 12–2Reis 17: história de Israel e de Judah até a conquista de Samaria;
c) 2Reis 18–25: história de Judah até sua queda.
Após a divisão, os reis são apresentados sob uma avaliação a partir de um modelo. Para alguns reis
há informações em anais (2Rs 14.23-29; 15.1-7,8-12,13-16,17-22,23-26,27-31,32-38 etc.).
A sucessão dos reis é pontuada pela intervenção de profetas “pré-literários”, exceto Isaías (2Rs
18–20) e Jonas ben Amitai em 2Reis 14.25 (cujo nome é retomado pelo autor do livro de Jonas):
Aías de Shilô (1Rs 11.19-40; 14.1-18), Miqueias ben Yimlah (1Rs 22.5-28), Elias (1Rs 17–19; 21; 2Rs
1–2), Eliseu (1Rs 19.19-21; 2Rs 2–9; 13.14-21), Hulda (2Rs 22.14-20). Na maioria das vezes, eles
anunciam a perda parcial ou total da realeza, prenunciando a queda de Israel e de Judah.
Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.
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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo
Literatura e
Contexto Histórico
do AT -III
Objetivos
Abordar o aspecto literário dos livros proféticos,
formação e contextos, com o objetivo de
possibilitar introdutoriamente o conhecimento
do processo redacional e do ambiente profético
do antigo Israel.
Palavras-chave:
Antigo Testamento; profetas e profetismo;
sociedade.
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Os livros proféticos
Isaías
As dimensões extraordinariamente grandes do livro, a diversidade de seus temas e a riqueza de
formas linguísticas com que eles foram elaborados, mas sobretudo as importantes divergências
de conteúdo e forma que se manifestam nele, levaram a pesquisa crítica a dividir o livro canônico
de Isaías em três grandes partes:
a) Proto-Isaías: Is 1–39;
b) Dêutero-Isaías: Is 40–55;
c) Trito-Isaías: Is 56–66.
O nome do próprio Isaías (= Javé é nossa salvação) encontra-se dezesseis vezes no livro, que por
sua vez possui esse nome no cânon bíblico. Três vezes ele pode ser encontrado em títulos (Is 1.1;
2.1; 13.1). As demais ocorrências aparecem nos relatos de terceiros (7.3; 20.2,3; 37.2,5,6,21; 38.1,4,21;
39.3.5.8). O livro pode ser subdividido em:
a) Cap. 1 → Is 1.1: “Visão de Isaías, filho de Amôs, que ele viu a respeito de Judah e de
Jerusalém”;
b) Cap. 2–12 → Is 2.1: “A palavra que Isaías, filho de Amôs, viu a respeito de Judah e de
Jerusalém”;
[Is 1–12 → autoria incontestável]
c) Cap. 13–23 → Is 13.1: “Proclamação sobre Babilônia, o que viu Isaías, filho de Amôs”
(coletânea de “proclamações”: Is 13.1; 15.1; 17.1; 19.1; 21.1,11,13; 22.1; 23.1; cf. 14.28; 30.6);
d) Cap. 24–27 → conjunto redacional sem os elementos “proclamação” e “ai”;
e) Cap. 28–35 → conjunto redacional estruturado por “ais” (Is 28.1; 29.1,15; 30.1; 31.1; 33.1);
[28–32 → autoria incontestável]
f) Cap. 36–39 → conjunto redacional transmitido também em 2Rs 18.13,17–20.19, com
exceção da oração de Is 38.9-20;
g) Cap. 40–66 → Is 40.1-2: “Meu povo”.
A primeira visão panorâmica confirma o profundo corte após o relato dos capítulos 36–39.
Nos textos, a partir do capítulo 40, o nome Isaías não é mais mencionado. Também os nomes dos
reis de Judah citados em Is 1.1, cuja menção em Is 1–39 insinua uma ordem cronológica dos textos
(Ozias: 6.1; Iotâm: 7.1; Acaz: 7.1,3,10,12; 14.28; Ezequias: 36.1; etc.). A menção aos reis conclui-se
com o discurso de Ezequias no capítulo 39.8. Os reis judaítas citados são da segunda metade do
século VIII a.C.
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Jeremias
O livro do profeta Jeremias, que depois do Saltério é o escrito mais volumoso do Primeiro
Testamento, apresenta-se, na transmissão do texto, em dois formatos significativamente diferentes.
Em Jr 1.1, o complexo título com referências cronológicas qualifica as “palavras de Jeremias”
enquanto palavra de Javé e acentua duas datas primordiais (= Jr 25.3):
a) 627 a.C. → o tempo de reinado de Josias a partir do 13º ano;
b) 586 a.C. → a época da dominação babilônica sob Joaquim até a destruição de Jerusalém
sob Sedecias.
Jeremias é o “profeta para as nações” (Jr 1.5). Jeremias é designado explicitamente como “o profeta”
ao menos 27 vezes. Em nenhum outro livro aparecem com frequência comparável as formas
nominais e verbais de “profeta” (95 vezes) e “profetizar” (40 vezes).
As nações tornam-se destinatárias da sentença de punição contra Judah/Israel (Jr 9.24-25; 25.9-11;
30.11; 36.1). As nações servem como instrumentos para o juízo de Javé sobre a Babilônia (Jr 25.14;
27.7; 50–51). Mas também é proclamada salvação para os vizinhos de Israel (Jr 12.14-17).
A subjugação das nações por Nabucodonosor, que cabe a Jeremias anunciar, documentará o domínio
universal de Javé (Jr 27–28); a reflexão fundamental sobre a soberania de Javé para construir ou
demolir, plantar ou arruinar é desenvolvida no trato com as nações (Jr 18.1-17).
No trecho 1.11-15, a observação de um ramo de amendoeira, cuja designação em hebraico soa
como “árvore sentinela”, leva à intuição de que Javé vigia sobre o cumprimento de sua palavra.
Em Jr 18.1-17, o oleiro e sua maneira de desfazer uma peça malformada e recomeçá-la tornam-se
objeto de visualização da soberania de Javé no trato com o seu “material”.
Em Jr 24.1-10, são exemplificados para Jeremias dois cestos com figos de qualidades bem distintas
como figuras dos judaítas corrompidos e sob Sedecias e dos deportados para a Babilônia, nos
quais Javé se compraz.
No livro do profeta Jeremias há várias confissões: Jr 11.18–12.6; 15.10-21; 17.12-18; 18.19-23; 20.7-18.
Ezequiel
O livro do profeta Ezequiel é, com raras exceções (Ez 1.3 e 24.24), redigido na primeira pessoa do
singular e se apresenta como a memória do profeta.
Ezequiel relata as revelações divinas que teria recebido pouco tempo antes e depois da captura
de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C.
Segundo a cronologia do livro, essas revelações ocorrem em 592 a.C., isto é, no quinto ano da
deportação do rei Joiaquin (Ez 1.2), e vão até 572 a.C. (Ez 40.1), ou mesmo 570 a.C. (Ez 29.17), data
da última revelação textualizada de Ezequiel.
O livro pode ser dividido em duas grandes partes: a primeira parte é Ez 1–32, tendo seu ponto corte
com o anúncio da destruição de Jerusalém por um sobrevivente aos deportados na Babilônia (Ez
33.21-22), cumprindo assim a realização dos oráculos contra Israel; a segunda parte é Ez 33–48, com
a destruição de Jerusalém em 587 a.C., a profecia torna-se de restauração para os sobreviventes
(Ez 34–48).
a) uma parte dos oráculos relatados por Ezequiel se dá no contexto de visões grandiosas da
divindade e de sua corte celestial → Ez 1–3; 8.11; 37.1-14; 40.48;
b) outra parte dos oráculos se dá no contexto de experiências extáticas que implicam um
deslocamento físico ou espiritual do profeta → Ez 3.12-15; 8.1-3,7,14,16; 11.1,24; 37.1-2;
c) a “fórmula do mensageiro”, característica do livro, é “Aconteceu a mim uma palavra de
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Javé”. Mas há outras fórmulas, tais como “a mão do Senhor esteve sobre mim”, “assim fala
o Senhor Deus”, “oráculo do Senhor Deus”, “eu, o Senhor, falei”, ou ainda “conhecereis que
eu sou o Senhor”;
d) o oráculo divino começa sempre citando uma palavra do povo para entregar uma instrução
que retoma e corrige sistematicamente essa palavra → Ez 11.2-12,14-21; 12.21-25,26-28;
18.1-4,19-20,25-32; 20.32-38; 33.10-11,17-20,23-29,30-33; 37.1-14;
e) numerosos oráculos são dirigidos sob a forma de atos simbólicos que o profeta deve
realizar, seguidos de seu significado → Ez 3.24-27; 4.1–5.4; 6.11; 12.1-20; 21.11-17,23-28;
24.15-23; 33.10-11,17,20; 37.15-20;
f) as visões são seguidas quase sempre pelos atos simbólicos: Ez 1–3→3.24-27 e 4.1–5.4;
8–11→12.1-20; 37.1-14→37.15-20.
Numerosos oráculos são apresentados sob a forma de alegorias, com linguagem metafórica tirada
do reino animal ou vegetal: Ez 15; 16; 17; 19; 21.1-10; 22.17-22; 23; 24.1-14; 26.15-21; 27; 28.11-19;
31; 32.
A diversidade linguística é vista nos “enigmas” (Ez 17.2), parábolas (Ez 17.2; 21.5; 24.3), lamentações
fúnebres (Ez 19.1,14; 26.17; 27.2,32; 28.12; 32.2).
Como já foi aludido, a datação do livro é direcionada para o ano 592 a.C. (Ez 1.2). Ezequiel é descrito
como profeta exclusivo da golah de Joiaquin. A terra de Israel é apresentada como totalmente
devastada.
Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.
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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo
Literatura e
Contexto Histórico
do AT -IV
Objetivos
Abordar de forma sumária a terceira parte do
Antigo Testamento em conexão com o cânon
da Bíblia hebraica, para possibilitar a apreensão
entre os últimos livros judaicos e a conclusão
da redação canônica.
Palavras-chave:
Antigo Testamento; Escritos; cânon.
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Os Escritos: esboço sumário
Para que alguém se torne sábio, ele precisa do saber adequado e precisa ser capaz de lidar de
modo correto com esse saber. A sabedoria está interessada no saber certo a respeito da vida. Para
ela está em jogo aprender, praticar e passar adiante o saber viver, a arte de viver.
Todas as ordens singulares são, segundo o ensinamento da sabedoria mesopotâmica, egípcia e
israelita antiga, elementos de uma ordem abrangente do mundo e da criação, em vista da qual a
divindade organizou o mundo.
Principais correntes da sabedoria do antigo Israel:
a) sabedoria clânica (“sabedoria popular”) → a guardiã crítica e sensível dos ideais de
solidariedade e justiça para todos, contrário à sociedade de classes das capitais Samaria e
Jerusalém;
b) sabedoria palaciano-citadina (“sabedoria de escolas”) → educação e formação dos filhos
do rei e dos funcionários; seus ideais estão apontados para a estabilização da ordem estatal
vigente e giram em torno de lealdade, riqueza, fruição da vida e honra (trecho de doutrina
sapiencial egípcia no livro dos Provérbios 22.17–23.11);
c) sabedoria teologizada → começa no período pós-exílico a interpretação da sabedoria
como um mistério inerente à criação e à história; finalmente, a sabedoria é personificada.
Então, a arte do viver não é mais uma realização da razão prática, e sim uma dádiva divina.
A sabedoria transforma-se em sabedoria da revelação (ex.: Pv 8.22-31);
d) sabedoria teologizada templar → teologia sapiencial pós-exílica que considera a Torah de
Israel como a maior e verdadeira dádiva divina da sabedoria.
O vocábulo “cânon” vem do grego kanôn, “cana, vara”, que assume, em sentido figurado o sentido
de “tábua, regra, norma” (Gl 6.16; 2Co 10.13,15). Trata-se, na origem, de um empréstimo das línguas
semíticas (hebraico qanêh, “tronco, ramo”). Todavia, foi apenas no século IV que Atanásio, em sua
Carta de Páscoa do ano 367, impôs o termo “cânon” para designar a lista dos livros inspirados
reconhecidos pela Igreja. Desde então, o vocábulo passou a designar a lista dos livros reconhecidos
e depois os próprios livros.
Origem e formação
Na Bíblia, a Escritura Sacra não é preexistente, mas ela surge a partir do livro do Êxodo (cf. Êxodo
17.14; 24.4; 34.27-28; Números 33.2; Deuteronômio 31.9). O Primeiro Testamento sabe assim, pelo
menos, que Israel não tinha desde o início uma religião do livro. A Lei foi dada e anotada só sob
Moisés; os patriarcas do Gênesis ainda não conheciam Lei alguma. A Lei mosaica, no entanto,
segundo a apresentação veterotestamentária, foi logo esquecida, ressurgindo só sob o governo
de Josias, em meio ao trabalho de construção do templo (2Reis 22–23). Devido às catástrofes de
Jerusalém e Judá, ela acabou por ser novamente esquecida e só voltou a ser reintroduzida sob
Esdras, em meados do século V a.C., em Judá.
No Primeiro Testamento, a concepção de uma Escritura Sacra encontra-se só em textos
comparativamente raros e tardios. Que, por exemplo, à própria Torah pode e deve advir uma forma
de veneração cultual mostra-se claramente em Neemias 8.5-8, um texto cuja datação dificilmente
pode ser anterior aos séculos III e II a.C., em função de sua proximidade com o culto sinagogal.
“Esdras abriu o livro à vista de todo o povo – pois ele se encontrava acima de todo o povo. Quando
ele o abriu, todo o povo se pôs de pé. Então Esdras bendisse a Yhwh, o grande Deus; todo o povo,
com as mãos erguidas, respondeu: ‘Amen! Amen!’, e depois se inclinaram e prostraram diante de
Yhwh, com o rosto em terra. E Josué, Bani, Setebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita,
Azarias, Jozabad, Hanan, Falaías e os levitas explicavam a Lei ao povo, enquanto o povo permanecia
em seu lugar. E eles leram no livro da Lei de Deus, explicando trecho por trecho e levando à
compreensão; e podia-se compreender o que era lido” (Ne 8.5-8).
Conteúdo e estrutura
Em geral se considera que a Torah foi declarada encerrada antes do fim da época persa, entre 400
e 330 a.C., enquanto a edição dos Nebiim sob sua forma atual (com a coordenação dos Profetas
anteriores e dos Profetas posteriores) se situaria por volta do ano 200 a.C., ou seja, no fim da época
ptolemaica na Palestina. Quanto aos Ketubim, formariam uma coleção mais aberta; o encerramento
dessa coleção foi decidido no fim do século I d.C., no contexto da emergência do judaísmo rabínico
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no “Concílio de Yabneh”.
Na época de Yabneh, conforme a literatura rabínica, apenas alguns livros pertencentes aos Ketubim
foram objeto de contestação: o Cântico dos Cânticos, Qohelet (Eclesiastes), Ester e, pelo menos
uma vez, Provérbios. Essa última coleção já foi chamada de “Salmos” (cf. Lc 24.44) e de “outros
livros” (cf. o prólogo do livro Sirácida, v. 2 e 10).
Após a destruição do Templo em 70 d.C., o encerramento de toda a “Bíblia” teria tido por objetivo
pôr um termo aos acréscimos da literatura religiosa judaica de tipo pseudepigráfica e fechar a porta
à entrada de escritos considerados heréticos, especialmente os de tendência apocalíptica ou cristã.
A partir dessa época, dever-se-ia falar de um cânon veterotestamentário. Antes de 70 d.C. havia
um conjunto de escritos autoritativos que circulava sob a designação coletiva “a Lei e os Profetas”
ou “Moisés e os Profetas”, mas ainda nenhum cânon no sentido de uma lista concluída de escritos
obrigatórios, que estivessem assegurados em sua delimitação textual e classificados em três partes:
Torah, Neviim, Ketuvim (Lei, Profetas, Escritos).
Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p
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Universidade Metodista de São Paulo
Literatura e Contexto Histórico
do Antigo Testamento
Módulo
Hermenêutica
Bíblica I
Objetivos:
Apresentar os conceitos que ajudam na
compreensão da história da hermenêutica
bíblica, assim como apresentar uma definição
de hermenêutica.
Discorrer sobre as principais correntes
hermenêuticas no decorrer da história e suas
contribuições para o estudo da Bíblia.
Palavras chaves:
Hermenêutica Bíblica; método; Bíblia;
interpretação.
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Texto Base
Estudar Teologia é debruçar-se sobre textos, uma vez que a Teologia é a ciência centrada no
texto. Deste modo, se faz necessário o conhecimento de alguns métodos de interpretação que darão
clareza ao texto e fará emergir um significado, tanto do contexto que foi escrito, quanto para o/a
leitor/a em sua realidade. Neste sentido a Hermenêutica Bíblica se propõe a apresentar métodos
de interpretação para leitura e análise do texto bíblico, a fim de demonstrar eixos pelos quais o
texto pode ser lido. Neste sentido, podemos compreender que “a hermenêutica bíblica trabalha
com textos que passaram por uma longa trajetória de criação, interpretação e reelaboração”.1
Há que se levar em consideração que a hermenêutica tem diante de si três aspectos que fazem
parte do texto:
A autoria do texto no seu lugar de origem; o texto como produção de sentidos para uma de-
terminada época; e o leitor como receptor do texto, que não tem vínculo com o autor/a, mas que
precisa dele para ressignificar a mensagem para os seus dias.
Para uma melhor compreensão do significado de Hermenêutica, a partir de agora, vamos
conceituar o termo e abordar um pouco a história da transmissão do texto bíblico a partir das
hermenêuticas existentes em cada época.
1. Definição de Hermenêutica
Hermenêutica é a arte de interpretar. A origem desta palavra está no verbo grego hermeneuein
que significa traduzir, interpretar. Presente nos textos clássicos da filosofia grega, o termo
hermenêutica aparece no Organon de Aristóteles como unidade que merece um tratado
próprio: Peri hermeneias. Da interpretação. Ou seja, Aristóteles demonstrou a importância
da interpretação do texto ao escrever um tratado sobre o tema em sua época.
32
Universidade Metodista de São Paulo
A etimologia da palavra Hermenêutica, também tem sua origem na palavra grega hermeios com
referência ao sacerdote do oráculo de Delfos e o mensageiro-alado Hermes. A função de Hermes
não se restringe a proclamação da mensagem, mas ele tem como tarefa torná-la compreensíveis,
ou seja, ele deve interpretá-las. No mundo grego, Hermes está associado à descoberta da lingua-
gem e da escrita, neste sentido observamos sua estreita ligação com os instrumentos da razão
para chegar ao significado das coisas e as mediações para uma boa comunicação.
Assim sendo, podemos observar que a hermenêutica tem como objeto de análise os discursos
realizados ao longo da história, no caso da história bíblica, considerando as dinâmicas próprias da
produção e abrangência da recepção das mensagens.
Para uma melhor compreensão dos discursos e das interpretações feitas ao longo da histó-
ria, vamos no deter sobre os processos hermenêuticos, como forma de se conhecer melhor o
texto, em várias etapas da produção de sentido da religião cristã. Vejamos alguns métodos de
interpretação:
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Outra escola de interpretação conhecida na época de Jesus é a escola de Shammai, que faz
uma leitura mais conservadora do texto, apesar de reconhecer mais, por exemplo, os direitos da
mulher e a validade de seu testemunho.
A exegese da Patrística priorizou o método alegórico, no qual o verdadeiro sentido jaz sob o
significado literal da Escritura.
2
Cf. PIRES, Carlos Alberto. O que é hermenêutica. p. 24-25.
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Universidade Metodista de São Paulo
O intérprete deve possuir fé cristã autêntica
O Antigo Testamento é documento cristão porque Cristo está retratado nele do prin-
cípio ao fim.
Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto
o significado que ele, expositor, quer lhe dar.
Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versículos que o
cercam.
• Lutero (1483-1546 d.C.), para ele interpretação da Bíblia é feita através da fé e iluminada
pelo Espírito Santo. Neste sentido, as Escrituras devem determinar o que a Igreja ensina.
Por isso o método que vigorava era o sentido literal e cristocêntrico do texto (o AT e o NT
apontam para Cristo). Mesmo sendo uma leitura literal, ele dizia que era necessário consi-
derar a história, a gramática e o contexto.
• Calvino (1509-1564 d.C.) diz que a alegoria é uma “artimanha de Satanás para obscurecer o
sentido da Escritura”. Assim, ele não partilhava da idéia de que Cristo deve ser encontrado
em toda a Escritura, e ainda deve-se deixar o autor dizer o que ele de fato diz.
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1.5 Exegese de Pós-Reforma
4. Considerações finais
Como podemos observar a Teologia tem contribuições significativas a dar às discussões não
só sobre interpretação bíblica, mas também sobre hermenêutica em geral. Para Martim Buber, o
que o cristianismo dá ao mundo é a hermenêutica, isto porque o que se conhece do cristianismo
são interpretações feitas ao longo da história.
Vale a pena salientar que o/a intérprete é limitado pelo tempo, espaço, geografia e língua, no que
concerne a intepretação da Bíblia, assim sendo há que se levar em consideração a importância dos
métodos exegéticos para se fazer Hermenêutica Bíblica, ou seja, para se interpretar o texto bíblico.
Bibliografia
BARRERA, J. Trebolle. Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã: introdução à história da Bíblia. Pe-
trópolis: Vozes, 1994.
CROATTO, Severino. Hermenêutica bíblica. São Paulo: Paulinas, 1985.
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação bíblica.
São Paulo: Vida, 2001.
VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto? Interpretação bíblica: os enfoques
contemporâneos. São Paulo: Vida, 2005.
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Universidade Metodista de São Paulo
Literatura e Contexto Histórico
do Antigo Testamento
Módulo
Hermenêutica
Bíblica II
Objetivos:
Levar os/as alunos/as analisarem com
maior profundidade a relação entre o Antigo
Testamento e o Novo Testamento.
Palavras-chave:
Hermenêutica/interpretação; Palavra de
Deus, Tora/lei/ensino divino e cânon bíblico.
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A relação entre Antigo e Novo Testamento
Apesar dos grandes estudiosos da Bíblia sustentarem que a teologia cristã tem que ser vista
e interpretada à luz do Antigo Testamento, a prática das igrejas mostra o contrário. Pretendemos
abordar este atraente e desafiador tema que a Igreja Cristã enfrentou, ao longo de dois milênios,
e continua enfrentando nos dias de hoje.
Paira sobre o povo cristão uma inquietante pergunta: Como se lê e interpreta o Novo Testa-
mento frente ao Antigo Testamento? Há muito detalhes que estão na base desta questão: (1) A
Igreja Cristã canonizou, como Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento e o Novo Testamento; (2) É,
praticamente, impossível conhecer o Novo Testamento sem conhecer o Antigo Testamento. Por-
tanto, não se deve aproximar deste tema com emoção e superficialidade.
Para analisar esta questão, vamos iniciar nossa análise com duas afirmações de dois estudiosos
da Bíblia. Eles são sérios defensores do cânon bíblico, e condenam a idéia de que Deus se revelou
de modo progressivo ao longo da história bíblica.
A Igreja Cristã, ao longo de sua história, “reconhece que o Antigo e o Novo Testamento,
juntos, representam a fonte original e o fundamento da verdade cristã, a serviço de
Jesus Cristo, e que o AT e NT estão mutuamente abertos um ao outro” (Rolf P. Knierim,
A interpretação do AT, São Bernardo do Campo: Editeo, 1990, p.63).
A constatação do problema.
O biblista alemão, Frank Crusemann, procura discutir este tema levantando a seguinte questão:
“Até que ponto a teologia cristã pode ser veterotestamentária?” Para ele, a origem desse conflito
encontra-se no segundo século da Era Cristã, quando Marcião levantou uma histórica controvérsia
sobre a validade do AT para a Igreja Cristã. Para Crusemann, o Deus do AT seria um outro deus,
inimigo do Deus cristão (conforme Antonius H. Gunneweg, Hermenêutica do Antigo Testamento,
São Leopoldo: Editora Sinodal, 2003, p. 131).
Evidentemente que essa crise teológica já existia, antes de Marcião. Ele apenas a aprofundou e
a tornou público. O agravante desse conflito aconteceu logo em seguida: Suas teses foram consi-
deradas heréticas pelos Pais da Igreja, em Roma, no ano 144 dC. A condenação de Marcião, pelos
tribunais eclesiásticos, não eliminou a discussão em torno da importância do AT em relação ao NT.
O preconceito para com o AT continuou sem a agressividade dos marcionitas, mas intenso e
sutil. Seguiu uma aparente paz na convivência entre cristãos judeus e cristãos de outras nacio-
nalidades, caracterizada como enganosa. Isso fica claro que muitas doutrinas cristãs, através de
concílios, são substanciadas apenas de modo neotestamentário.
A dúvida sempre esteve presente na vida das igrejas cristãs: “Pode a teologia da Igreja Cristã ser
veterotestamentária?” Essa dúvida tem uma razão de ser: Ela nasce do medo de perder o elemento
autêntico e próprio da mensagem cristã. Este receio gera desconfiança entre o povo cristão, ainda
que de forma oculta. Este medo faz sugerir que o significado do AT para a fé cristã é e deve ser
limitado. Diante disso, parte do povo cristão interpreta e confessa através do argumento que o NT
conduz intensamente a revelação maior da Bíblia, nos níveis lingüístico e no de conteúdo teológico.
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Universidade Metodista de São Paulo
Argumentando em favor de uma nova hermenêutica bíblica.
Entre tantos exegetas e teólogos cristãos, Martin Lutero representa um marco. Como professor
de Bíblia, no século XVI de nossa era cristã, ele elaborou uma marcante tradução da Bíblia para a
língua alemã. Todavia, o decisivo, em toda sua obra, não foi a tradução, mas a motivação para ler
e compreender as Escrituras, proporcionando ao leitor/a a vontade de ir às raízes do testemunho
bíblico. Ao contrário da Igreja Primitiva, que privilegiava a leitura dos Evangelhos, Lutero incentivava
uma leitura que busca o fio condutor da história da salvação.
Inspirado na obra de Lutero, Dietrich Bonhoeffer, morto pelos nazistas em 1945, argumentou
em favor da importância do AT para o NT. Não desprezando o evento-eixo, Jesus Cristo, ele enten-
deu que a Igreja Cristã e a teologia tornaram-se mais cristãs quando redescobriram o valor do AT
para a fé. Bonhoeffer é considerado um mártir cristão. Foi ele que formulou algumas afirmações
dirigidas aos que vêem o AT com certo preconceito.
Novos céus e nova terra: “Apenas quando se ama a vida e a terra de modo tal que
com elas tudo parece perdido e no fim pode-se crer na ressurreição dos mortos e num
novo mundo”. Com efeito, criarei novos céus e nova terra... (Is 65,17; conforme 11,2-10).
Os teus mortos tornarão a viver; Os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós
os que habitais o pó... (Is 26,19); E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão,
uns para a vida eterna e outros para o opróbrio... (Dn 12,2).
Torá/lei e graça: “Apenas quando se deixa a lei de Deus valer sobre si próprio pode-se
também falar uma vez de graça”. A Torá, no AT, é definida como ensino divino. O Salmo
19 a define como restauradora da vida e doadora de sabedoria às pessoas humildes;
ela traz alegria ao coração, ilumina os olhos e é considerada tão doce como o favo
de mel (v.7-10). Enfim, o salmista definia a Torá como um instrumento de graça. Das
profundezas clamo a ti, Javé; Senhor, ouve o meu grito! Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido por graça... (Sl 130,1-2).
Ira e perdão: “Apenas quando a ira e a vingança de Deus contra seus inimigos perma-
necem como realidade válida, então algo do perdão e do amor ao inimigo pode tocar
nosso coração”. O perdão torna-se mais vivo e necessário na comunidade quando a
ira de Deus volta-se contra o malfeitor. Javé! Javé! Deus de ternura e de piedade, lento
para a cólera, rico em graça e em fidelidade... (Ex 34,6-7). Por trás da pregação de Jesus
– “amarás o teu próximo... Amai os vossos inimigos” (Mt 5,43-44) estão as instruções
de Levítico: Não andarás caluniando entre teu povo; Não levantarás contra a vida de teu
vizinho ... Não odiarás o teu irmão, em teu coração; Certamente tu repreenderás o teu
compatriota (Lv 19,16-17). Portanto, Jesus se serve do conteúdo da Torá para instruir
os contemporâneos.
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Conclusão
Por trás de todo preconceito para com o AT está uma leitura equivocada. É certo afirmar que a
Bíblia é Palavra de Deus, contudo, ela também tem palavras dos homens. No capítulo 28 do livro
de Jeremias, encontramos um exemplo disso. Há um diálogo acirrado entre dois profetas: Jeremias
e Hananias. Ambos reivindicam que têm a autoridade de Deus, mas o verso 17 diz que somente
Jeremias tinha autorização para tal.
Os grandes temas do AT não estão em contradição com os do NT. A renovação de toda criação,
a disciplina como sinal da graça e a supremacia do perdão sobre a ira estão presentes tanto no AT
como no NT. A vida boa e feliz prevalece sobre toda a Bíblia derrotando toda maldade que tenta
desestruturar a vida no mundo.
Bibliografia
MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. Petrópolis: Editora Vozes.
GUNNEWEG, Antonius H.,Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo: Editora
Sinodal.
CROATTO, J. Severino. Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Edições Paulinas.
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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História
Módulo
História do
cristianismo antigo
e Medieval I
Objetivos:
Identificar os pressupostos, a
metodologia e as principais tarefas de
uma história do cristianismo;
Analisar as origens, a formação e
o desenvolvimento das primeiras
comunidades cristãs no contexto das
sociedades palestinenses e greco-
romanas.
Palavras-chave:
História, movimento de Jesus,
cristianismo judaico, cristianismo
gentílico.
www.metodista.br/ead
Cristianismo e história
Não há dúvidas de que, como escreveu Marc Bloch, “o cristianismo é uma religião de historiadores”
a fé não se fundamenta em narrativas legendárias ocorridas em esferas distantes do convívio humano.
Antes, o contrário! Os acontecimentos relatados nas Escrituras judaicas e cristãs estão inseridos na
trama de encontros e desencontros, de alianças e conflitos, de acordos de paz e tempos de guerra,
que constituem o cotidiano das sociedades humanas. Daí a preocupação constante em registrar os
eventos, buscando discernir o seu sentido de acordo com o que se supunha ser a vontade divina.
Eusébio de Cesaréia
Apesar da importância dada à história pelas comunidades
Imagem 1
cristãs, somente no século IV, apareceu uma obra intitulada
História Eclesiástica, isto é, da Igreja, escrita pelo então bispo de
Cesaréia, Eusébio (c. 263-339). É claro que o seu empenho teve
precedentes, como por exemplo, o livro de Atos dos Apóstolos
no Novo Testamento. Porém, o que distingue a obra de Eusébio
de todas as iniciativas anteriores é a sua visão abrangente, o seu
respeito pelas fontes, isto é, pelos documentos que cita abundan-
temente, e o seu esforço por acompanhar o padrão rigoroso dos
historiadores gregos, mas sem deixar de lado a racionalidade
teológica cristã. Muito do que sabemos sobre os três primeiros
Eusébio de Cesaréia
séculos do cristianismo devemos a ele. Talvez, com algumas
alterações, o propósito que estabeleceu nos primeiros parágrafos de sua obra pudesse ainda hoje ser
aceito, se não totalmente, ao menos em parte (cf. HE, I, 1, 1-2). De fato, o seu estilo, o seu programa,
e mesmo as suas conclusões, têm encontrado, ao longo do tempo, muitos seguidores. Portanto, não
é causal que Eusébio de Cesaréia seja lembrado como “pai” da história da Igreja e que muitos autores
falem até mesmo da existência de uma tradição eusebiana nos estudos da história do cristianismo.
Contudo, não podemos silenciar as críticas que lhe são feitas.
Tradição crítico-profética
Eusébio reflete o momento vivido pelos cristãos no século IV quando o Império Romano deixa de
perseguir e passa a favorecer progressivamente a Igreja. Assim, ele estrutura a sua exposição acerca
do passado cristão a partir da aliança que surge entre o Estado e a igreja e, por isso, privilegia os que
estão no poder. A sua visão está centralizada na Igreja como instituição, identificada principalmente
com os seus líderes, cuja mera sucessão garante a fidelidade à doutrina dos apóstolos. Judeus, gentios
e hereges, isto é, todos que não se ajustam à grande igreja que está se formando, são considerados
inimigos. Os leigos, as mulheres, os pobres, e todas as pessoas que ousam protestar, são ofuscados
pelo brilho das “grandes personalidades”, sejam bispos ou teólogos. Entretanto, sempre houve
correntes que não aceitaram essa interpretação e procuraram
reviver a memória radical de Jesus, que acolheu aqueles que a
sociedade de seu tempo marginalizou e excluiu.
Não há neutralidade!
Logo se vê que fazer história, inclusive história do cristianismo,
O cristianismo é uma
não é uma tarefa neutra. As nossas opções, os nossos compromissos, religião de historiadores
o nosso lugar social sempre interferem na maneira como Marc Bloch
interpretamos os acontecimentos. Hoje há uma expressiva
tendência de romper com a tradição eusebiana, ressaltando a
Igreja como comunidade, composta por homens e mulheres
42
Universidade Metodista de São Paulo
comuns; chamando a atenção para todo o povo, e não apenas para sua liderança; reconhecendo
que, desde as suas origens, o cristianismo é um fenômeno plural e, conseqüentemente, recusando
estabelecer um padrão normativo entre as diferenças; situando a presença cristã no contexto social,
ao qual influencia e do qual recebe influências; enfim, destacando menos as grandes construções
dogmáticas e mais a vivência cristã no enfrentamento das questões do dia-a-dia (trabalho, lazer,
sexo, família, educação, justiça, relação com o mundo da cultura e da política). Nada disto substitui,
é verdade, o rigor do método; e todo aquele que examina a história do movimento cristão não pode
ceder à sua imaginação em detrimento da análise apurada dos documentos que lhe dão acesso, de
alguma forma, aos fatos sob investigação. Por sua vez, é preciso ter consciência de que suas escolhas
no presente e seus projetos para o futuro condicionam a leitura que faz do passado. Não é isso que
torna o estudo da história tão intrigante quanto fascinante?
O movimento de Jesus
Já é hora de perguntarmos sobre as origens
cristãs. A resposta é simples e complexa ao
mesmo tempo. Simples, porque remete à figura _________________________________________
histórica de Jesus de Nazaré, o qual, supõe-se,
é bem conhecido por nós. Complexa, porque _________________________________________
tudo o que sabemos dele procede quase que
exclusivamente dos evangelhos canônicos, ou seja, _________________________________________
do círculo de seguidores direta e pessoalmente
_________________________________________
comprometidos com sua mensagem. As fontes
extrabíblicas, como Flávio Josefo e Fílon de _________________________________________
Alexandria, importantes para se conhecer o
seu meio social, são de pouca ajuda quando _________________________________________
se buscam informações sobre sua trajetória.
_________________________________________
O mesmo se pode dizer das fontes romanas.
É difícil até mesmo estabelecer com precisão _________________________________________
uma cronologia, considerando que o chamado
“calendário cristão” que assinalou o nascimento _________________________________________
de Cristo como marco zero só foi proposto no
século VI e, com certeza, não sem equívocos. De _________________________________________
todo modo, há certo consenso em reconhecer
_________________________________________
que Jesus iniciou o seu ministério após a prisão de
João, o Batista, a quem a literatura cristã considera _________________________________________
como seu precursor. Estima-se que Jesus tivesse
cerca de 30 anos quando recebeu o batismo e deu _________________________________________
início à carreira de pregador itinerante e profeta.
_________________________________________
De acordo com os primeiros evangelhos, a vida
pública de Jesus teria durado pouco mais de um _________________________________________
ano. Já para João, ela se estendeu por três anos,
pelo menos. No centro de sua pregação, estava o _________________________________________
anúncio do reino de Deus, que incluía uma radical
transformação da ordem social vigente. É certo _________________________________________
que Jesus evitou os caminhos oficiais. Boa parte
_________________________________________
de sua vida transcorreu na conflitiva região da
Galiléia, onde as esperanças messiânicas eram tão _________________________________________
intensas quanto a exploração social e a pobreza.
Não tardou para que a identificação de Jesus com _________________________________________
os impuros, os pobres, as mulheres e as crianças,
_________________________________________
aliada às suas duras críticas aos dirigentes (cf. Mt
43
www.metodista.br/ead
23), despertasse a fúria da elite política
e religiosa, que ardilosamente tramou a sua
morte. A sua crucificação dispersou os seus
discípulos que, no entanto, renascem fortalecidos
anunciando a sua ressurreição como prova de que É difícil até mesmo estabelecer
ele era o Messias esperado. A partir daí, tem-se com precisão uma cronologia,
a formação das primeiras comunidades cristãs, considerando que o chamado
a difusão da pregação nos limites do Império
Romano e além dele, e o início do processo, que
“calendário cristão” que assinalou
segue até os nossos dias, buscando responder o nascimento de Cristo como
à pergunta “quem foi mesmo Jesus, chamado o marco zero só foi proposto no
Cristo?”. século VI
Nascimento da Igreja
São poucas as informações sobre as primeiras
comunidades. Nossas únicas fontes são
praticamente Atos dos Apóstolos e Eusébio de Referências de imagens
Cesaréia. Há indicações de que a comunidade de Imagem 2: http://upload.wikimedia.org/
Jerusalém cresceu rapidamente, incluindo tanto wikipedia/pt/6/66/Eusebio.jpg.
os judeus da diáspora, quanto naturais da Galiléia Acesso em 12’Jun’06.
e da Judéia. O nome “igreja” foi logo adotado,
e expressa a convicção de que os discípulos
constituíam o verdadeiro Israel. No entanto, até esse momento os seguidores de Cristo eram vistos
como mais um partido judaico ao lado de outros, como os saduceus e fariseus. A perseguição levou
à dispersão da primeira comunidade e ao anúncio da pregação do Evangelho, não só além dos
seus limites geográficos iniciais, mas para populações não alcançadas pelo judaísmo. Sem dúvida,
a passagem do contexto judaico palestinense para o helenista urbano foi um passo decisivo para a
história do cristianismo. Ao aderir à fé cristã, o apóstolo Paulo contribuiu decisivamente para que as
tendências universalistas fossem vitoriosas sobre as correntes judaizantes. Com as revoltas judaicas
dos anos 70 e 135, o cristianismo judaico entrou em ocaso e basicamente apenas o cristianismo
gentílico sobreviveu. Em todo o caso, a relevância dessa primeira expressão da fé cristã se torna
evidente quando se pondera que ela se tornou fonte e manancial de onde brotam o ensino e a
prática que ainda hoje orientam as igrejas.
Referências
CESARÉIA, EUSÉBIO DE. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000.
GONZÁLEZ, JUSTO L. A Nova Geografia da História. In: Wesley para a América Latina Hoje. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2003, p. 93-104.
HOORNAERT, EDUARDO. O Movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994.
SIMON, M.; BENOIT, A. Judaísmo e cristianismo antigo. São Paulo: Pioneira- Edusp, 1987.
44
Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História
Módulo
História do
Cristianismos
Antigo e Medieval II
Prof. Dr. José Carlos de Souza
Objetivos:
Distinguir os principais desafios
externos e internos enfrentados pelas
comunidades cristãs até o início do
século IV;
Avaliar o processo de mudanças
então ocorridas no sentido da
institucionalização do movimento cristão.
Palavras-chave:
Perseguição, apologistas, gnosticismo,
catolicismo antigo, cânon, credo, bispos.
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Ambiente hostil
No final do primeiro século, já havia comunidades cristãs
espalhadas por quase todo o Império, em particular na província
da Ásia. Porém, as relações dos cristãos com a sociedade ao seu As relações dos
redor eram tensas, manifestando-se, muitas vezes, sob a forma de cristãos com a
violenta perseguição. sociedade ao seu
Muitos boatos populares distorcendo o sentido de práticas redor eram tensas
cristãs legítimas alimentavam o ódio nutrido pelo público em
geral. Atenágoras, em sua veemente Petição a favor dos cristãos,
faz uma síntese desses rumores: “São três as acusações que se propagam contra nós: o ateísmo, os
convites de Tiestes, e as uniões edípicas”. Em outras palavras, os cristãos eram considerados ateus,
pois não participavam das cerimônias religiosas nas cidades e recusavam os seus deuses; canibais,
pois, numa refeição sacramental, comiam a carne e bebiam o sangue do seu Senhor, o que, segundo a
imaginação de quem não era cristão, implicava um ritual macabro em que crianças eram sacrificadas;
e incestuosos, pois se reuniam à noite para orgias e bebedeiras, e assim davam plena vazão a paixões
descontroladas entre “irmãos” e “irmãs”. Com certeza, o simples conhecimento da vida exemplar dos
cristãos seria suficiente para desfazer essas falsas impressões.
Perseguições
O pior de tudo é que tais opiniões justificavam as perseguições movidas pelo Estado. A essa
altura, é preciso desfazer um equívoco muito comum: supor que as comunidades cristãs foram
implacavelmente caçadas pelas autoridades romanas em toda a extensão do Império e durante todo
tempo até o seu reconhecimento como religião lícita no ano de 313. Na verdade, a intensidade, a
extensão, as motivações e as formas da perseguição se diversificaram conforme as circunstâncias,
além do que se alternaram com prolongados períodos de paz. A perseguição de Nero, no ano 64,
por exemplo, esteve limitada à cidade de Roma. No final do primeiro século, com Domiciano, entre
as vítimas estavam não apenas os cristãos de Roma, mas também as comunidades da Ásia Menor,
como testemunha o livro do Apocalipse. Já no segundo século, prevaleceu a política definida na
correspondência entre Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, e o Imperador Trajano: ser cristão é
crime punível com a pena da morte, porém o processo só é instaurado mediante acusação. Em sua
apologia, Tertuliano denunciou a incoerência dessa decisão: “Oh sentença necessariamente confusa!
Nega-se a buscá-los como a inocentes; e manda castigá-los, como culpados”. Apenas com Décio,
em meados do século terceiro, e com Diocleciano, no início do quarto, a perseguição alcança todos
os limites do Império.
46
Universidade Metodista de São Paulo
Mártires
É impossível precisar o número de mártires. Pensou-se em
200 mil, embora hoje há quem considere que 10 mil é ainda uma
estimativa elevada. Em todo o caso, a memória cristã conserva O que faz o mártir
muitos nomes de homens e mulheres, como Inácio de Antioquia,
Policarpo de Esmirna, Justino, Blandina, Perpétua e Felicidade, entre
não é a pena, mas
outros, que selaram com sangue o seu testemunho de fé. Aqui a causa!
vale a máxima de Santo Agostinho: “O que faz o mártir não é a Santo Agostinho
pena, mas a causa!”E a causa, naquela época, era o estilo de vida
inspirado pelo evangelho, de solidariedade e justiça, de comunhão
e oposição às forças que semeavam a morte e a destruição.
Apologistas
Nesse contexto, era urgente que os cristãos
oferecessem respostas à altura dos seus críticos. _________________________________________
Estava em jogo a própria sobrevivência das
_________________________________________
comunidades. À tarefa de defender e apresentar
a fé cristã ao público pagão, dedicaram-se os _________________________________________
autores cristãos conhecidos como apologistas.
Entre os gregos se destacam Aristides e _________________________________________
Atenágoras, ambos de Atenas, Taciano, o Sírio,
Hermas, Teófilo, o autor da Carta a Diogneto _________________________________________
e, sobretudo, Justino Mártir e Orígenes de _________________________________________
Alexandria; entre os latinos, Tertuliano e Minúcio
Felix. É certo que os apologistas não conseguiram _________________________________________
mudar a opinião pública, porém reforçaram a
convicção dos cristãos acerca da nobreza da sua _________________________________________
causa. Ademais, o seu empenho em dialogar com
_________________________________________
a cultura helênica e expor a fé para os “pagãos”,
fazendo uso de conceitos filosóficos, favoreceu _________________________________________
o desenvolvimento da teologia.
_________________________________________
_________________________________________
A resposta das Igrejas
Vários pensadores cristãos se mobilizaram para _________________________________________
contestar os pregadores gnósticos, com destaque
_________________________________________
para Irineu (c. 135-203) e Tertuliano (c. 155-220).
Nesse embate, as comunidades cristãs acabaram _________________________________________
assumindo formas mais institucionalizadas e
menos espontâneas, definindo padrões de _________________________________________
crença, de culto e de organização mais rígidos.
_________________________________________
Como escreveu o historiador alemão Heussi: “Por
volta do ano 50, pertencia à igreja quem tivesse _________________________________________
recebido o batismo e o Espírito Santo e atribuísse
a Jesus o nome de Senhor. Já por volta de 180, _________________________________________
membro da igreja era aquele que aceitasse a
regra de fé (credo), o cânon do Novo Testamento _________________________________________
e a autoridade dos bispos” (WALKER. 1967, v. 1,
_________________________________________
p. 88). Foi Inácio de Antioquia quem usou pela
primeira vez, em sua Carta aos Esmirnenses _________________________________________
(8.2), a expressão “Igreja Católica”, ou Universal,
em oposição aos inúmeros grupos gnósticos _________________________________________
espalhados pelo Império. E, de fato, o catolicismo
_________________________________________
antigo corresponde exatamente a esse período
de comunidades mais bem estruturadas. O tempo _________________________________________
dos apóstolos já havia passado definitivamente!
Referências
Bettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste-Simpósio, 1998.
Hoornaert, EDUARDO. A memória do povo cristão. Uma História da Igreja nos três primeiros
séculos. Petrópolis: Vozes, 1986.
Walker, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 1967, v. 1.
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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História
Módulo
História do
Cristianismo antigo
e Medieval III
Objetivos:
Discernir qual o sentido das
mudanças em processo no
movimento cristão durante o século
quarto, quando se estabeleceu a
aliança entre Igreja e Estado;
Investigar como os arranjos sociais
e políticos afetaram a vida e a
missão da Igreja nos séculos IV e V.
Palavras-chave:
Era constantiniana, aliança entre
Igreja e Estado, donatismo,
movimento monástico, concílios
ecumênicos, doutores da Igreja.
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Era constantiniana
Nada teve efeitos tão duradouros na história do movimento
cristão quanto a ascensão de Constantino ao poder. Após sua vitória
na Ponte Múlvia, supostamente com a bênção do Deus cristão, ele
...após derrotar o se apressou em assinar, em 313, junto com Licínio, que governava
seu rival e assumir a parte oriental do Império, o famoso Edito de Milão, assegurando
o controle total do a todos os súditos, inclusive os cristãos, a plena liberdade de culto.
Estado, Constantino Finalmente, após derrotar o seu rival e assumir o controle total do
Estado, Constantino passou a favorecer gradualmente os cristãos.
passou a favorecer Pela primeira vez desde a sua origem, a Igreja, equiparada às
gradualmente os demais religiões do Império, foi reconhecida como corporação de
cristãos. direito público, com os bispos gozando de um status similar ao dos
senadores. O clero obtém privilégios e isenções. As propriedades,
confiscadas durante a última perseguição, são restituídas e se
constroem, com recursos públicos, novos edifícios consagrados para o culto, as assim chamadas
basílicas. Tornou-se comum o emprego de símbolos cristãos nos selos e nas moedas romanas. O dia
de culto dos cristãos logo é declarado dia de descanso. Pouco a pouco, aprova-se uma legislação que
inibe práticas pagãs, como a magia e a consulta às entranhas de animais. O prestígio social da Igreja
organizada não pára de crescer, sepultando totalmente o seu passado de minoria odiada e perseguida.
Mudanças internas
Não apenas as condições exteriores da Igreja se modificaram, como tiveram um forte impacto,
tanto sobre as práticas quanto sobre a própria consciência das comunidades cristãs. O
grande número de pessoas que afluíam às igrejas, seja por conversão real ou por adesão
interessada, atenuou as exigências e o tempo da catequese, gerando uma vivência
cristã superficial que convivia pacificamente com resquícios da
religiosidade mágica pré-cristã. A ordem interna da Igreja também
Os bispos não são mais se estabiliza imitando o modelo imperial. O clero, diferencia-se e se
vistos como ministros, distancia dos leigos por suas vestimentas, pela pompa e tratamento
isto é, servidores, e sim, que recebem, e, sobretudo, pela concepção de poder sacerdotal
como dignitários que que justifica sua autoridade. Os bispos não são mais vistos como
ministros, isto é, servidores, e sim, como dignitários que devem
devem ser honrados e ser honrados e obedecidos. Impõe-se igualmente uma estrita
obedecidos hierarquia com os bispos das grandes metrópoles subjugando as
sés menores. Tudo isso se reflete no culto que assimila a influência
do protocolo da corte, com a introdução de procissão, coros e
veneração das relíquias dos mártires.
Legitimação do Estado
Sendo a Igreja favorecida dessa forma pelo poder do Estado, é compreensível que não poucos
cristãos o vissem como expressão da providência divina. Eusébio de Cesaréia chega a saudar
Constantino como amigo de Deus e uma espécie de novo Moisés (HE, X, 9, 2), porém nada fala acerca
de sua conduta reprovável do ponto de vista da ética cristã, como a condenação à morte de sua
esposa, filho mais velho e outros familiares. Convém lembrar que Constantino só recebeu o batismo
em 337, pouco antes de sua morte. De todo jeito, a aliança que vai se construindo entre Igreja e
Estado subtrai da mensagem cristã a sua virtude profética e a leva a legitimar incondicionalmente
o exercício do poder. Por outro lado, torna a Igreja refém do Estado que sempre interfere em seus
assuntos internos, quando julga que seus interesses estão envolvidos. A propósito, é interessante
verificar como o imaginário cristão passa a representar, em função dessa aliança, a figura de Cristo.
50
Universidade Metodista de São Paulo
As imagens do rabi da Galiléia, ou do profeta messiânico, ou ainda do servo sofredor, desaparecem
por completo e cedem lugar à do Rei universal que, soberano, dirige todas as coisas. Obviamente,
essas mudanças não ocorreram da noite para o dia, nem sem tensões. Aliás, o processo, iniciado
por Constantino, atingiu o seu ápice com Teodósio, que reconheceu, em 380, o cristianismo como
religião oficial do Império. Doravante, a oposição à Igreja se transforma em crime contra o Estado.
Assim, de perseguidos, os cristãos passam a ser perseguidores, inclusive daqueles que, professando
a mesma fé em Cristo, não se submetem às novas condições.
Protestos
A resistência se fez tanto de forma aberta como velada. Entre os primeiros estão os donatistas
que, logo após a subida de Constantino ao poder, protestam, no Norte da África, contra
a ordenação de bispos considerados traditores, isto é, que fraquejaram durante a última
onda de perseguição. Para eles, os sacramentos
celebrados por tais ministros, considerados
indignos, não eram considerados válidos. Logo
identificado com as aspirações das populações _________________________________________
locais, exploradas pelas classes latinizadas, o
donatismo vai dirigir a sua crítica ao consórcio _________________________________________
espúrio entre a Igreja e as forças imperiais. Entre
os que se opõem indiretamente a essa aliança _________________________________________
está o movimento monástico, que surge ainda no
_________________________________________
final do terceiro século. Numa época em que a
grande maioria dos cristãos se deixa seduzir pela _________________________________________
ambição das riquezas, do prestígio e do poder,
os monges apregoam uma vida de pobreza e _________________________________________
simplicidade, em comunidades ou em lugares
_________________________________________
ermos como os desertos ou as montanhas,
onde a dependência da graça divina é sua única _________________________________________
segurança. Sem posicionar-se frontalmente
contra o sistema, essa era uma forma alternativa _________________________________________
de viver as exigências do evangelho naqueles
tempos conturbados. _________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Imagem 1
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Concílio de Nicéia
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www.metodista.br/ead
Efervescência teológica
Esse período, marcado pelas grandes controvérsias teológicas em torno da doutrina trinitária e
da cristologia, também foi palco dos primeiros concílios ecumênicos. Era a primeira vez que bispos
de diferentes partes do mundo, reuniam-se para debater assuntos que afligiam as igrejas. O primeiro
Concílio, convocado por Constantino, aconteceu em Nicéia, em 325, e rejeitou as idéias de um Ário, um
presbítero da igreja em Alexandria que negava a divindade de Cristo. O Concílio de Constantinopla,
em 381, reafirmou a fé na Trindade, sustentando igualmente que o Espírito é Deus. Os Concílios de
Éfeso, em 431, e de Calcedônia, em 451, definiram que, em Cristo, havia duas naturezas unidas numa
só pessoa, sendo ele, portanto, plenamente Deus e plenamente humano. Infelizmente, nem sempre
o consenso era alcançado e a ambigüidade da linguagem filosófica empregada deixava margem
para novos conflitos que sedimentaram as divisões.
Doutores da Igreja
Provavelmente em função de tantos desafios, mudanças e debates, floresceu uma geração de
escritores cristãos que marcaram decisivamente os rumos do cristianismo tanto no Oriente como no
Ocidente e que foram honrados como o título de doutores. Na impossibilidade de fazer uma lista
completa, apenas mencionamos, entre os orientais, Efrém, o Sírio (306-373); entre os gregos, Atanásio
(295-373), João Crisóstomo (354-407), Basílio de Cesaréia (330-379), Gregório de Nissa (335-394) e
Gregório de Nazianzo (330-390); e, entre os latinos, Ambrósio de Milão (333-397), Jerônimo (347-
420), Agostinho (354-430) e Gregório Magno (540-604). Sem a contribuição deles, o cristianismo
não seria o que é!
Referências de imagens
Iimagem 1: http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/3/31/Nicaea_icon.jpg.
Acesso em 21’Jun’06.
Referências
COMBY, JEAN. Para Ler a História da Igreja I Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 2001.
DREHER MARTIN N. A igreja no império romano. São Leopoldo: Sinodal, 1993. (Col. História
da Igreja, v. 1).
GONZÁLEZ, JUSTO L. A era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1980. ( Col. E até aos Confins da
Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo, v. 2).
PIERINI, FRANCO. A idade antiga. São Paulo: Paulus, 1998. (Col. Curso de História da Igreja I).
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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História
Módulo
História do
cristianismo antigo
e Medieval IV
Objetivos:
Traçar um panorama geral dos
principais fatos e elementos que
caracterizam o movimento cristão no
período medieval;
Indicar como o desenvolvimento
institucional da cristandade medieval
e a discussão teológica se desenrolam
entre muitos conflitos.
Palavras-chave:
Povos germânicos, islamismo,
cruzadas, papado, cristandade,
monasticismo, escolástica.
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Um período intermediário?
Em nossa última etapa, vamos abordar o que se convencionou
chamar de Idade Média. É um largo período, praticamente dez
séculos, que separam, conforme a visão tradicional, a Antiguidade Os bispos não são mais
e a Renascença. É usual fixar seus limites entre os anos de 476, vistos como ministros,
quando Odoacro invade Roma e põe fim ao Império Romano no
Ocidente, e de 1453, quando os turcos otomanos conquistam
isto é, servidores, e sim,
Constantinopla decretando o ocaso do Império Bizantino. Contudo, como dignitários que
não há consenso quanto a tal proposta. Não apenas estes marcos devem ser honrados e
cronológicos são debatidos, mas o próprio conceito de Idade obedecidos
Média é questionado. De fato, quando os humanistas do século
XVI forjaram esse conceito, deram-lhe uma conotação fortemente
negativa. A época medieval seria apenas um hiato entre duas etapas realmente essenciais,
a Antiguidade greco-romana e a era moderna. Hoje não se admite mais um juízo tão
categórico quanto este. Realmente, muito do que constitui a civilização européia e a
cultura no Ocidente encontra suas raízes na Idade Média e, ademais, um milênio de história está
carregado de altos e baixos, de esplendor e de crises, e não comporta, em hipótese alguma, qualquer
generalização. Também por essa razão, os parágrafos a seguir pretendem apenas destacar alguns
aspectos que devem ser aprofundados em nosso estudo.
Os povos germânicos
Imagem 1
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Universidade Metodista de São Paulo
Surgimento do Islamismo
Em segundo lugar, situa-se o nascimento, as conquistas políticas e a difusão da religião muçulmana.
O profeta Mohamed (570-632), apregoando o mais absoluto monoteísmo, unifica as tribos árabes
e dá origem à última das grandes religiões mundiais. Após a sua morte, vários califas ampliam o
domínio árabe em direção tanto ao Oriente quanto ao Ocidente. Egito, Síria, Pérsia, mas também
todo o Norte da África e a Península Ibérica – domínios onde, antes, prevalecia a presença cristã
–, submetem-se aos novos senhores. O isolamento do antigo Império Romano no Oriente agora é
completo, culminando com a separação definitiva das Igrejas Ocidental e Oriental no ano 1054. Na
Europa, o avanço do Islã só não é maior porque é contido pelos francos em 732, na batalha de Poitiers.
Aliás, boa parte da história medieval registra os encontros e desencontros entre os dois mundos,
cristão e muçulmano. Disto fazem parte as lutas pela reconquista da Península Ibérica, que chegam
ao seu termo somente em 1492, quando Granada, o último reduto ocupado pelos muçulmanos, é
retomada; e as cruzadas que, a partir de 1095, procuram, em vão, retomar o controle da denominada
Terra Santa. No geral, as suas conseqüências foram desastrosas.
O papado
Outro aspecto significativo que diferencia a Igreja Antiga da
Medieval é a centralidade do papado. Se, no catolicismo antigo e Outro aspecto
na Igreja imperial, conforme foram analisados anteriormente, os
significativo que
bispos eram figuras fundamentais, na Idade Média, a instituição
do papado é incontestável. Inúmeros fatores explicam esse diferencia a Igreja
desdobramento, porém, é mais importante observar como a Antiga da Medieval
autoridade do papa foi sendo gradualmente admitida no Ocidente é a centralidade do
(no Oriente, o Patriarca de Constantinopla não só jamais aceitou a papado.
sua interferência, como também reivindicou, para si próprio, uma
jurisdição universal). De qualquer modo, foi apenas no século
V, com a crise política e administrativa gerada pelo avanço dos germânicos, que amadureceram
as condições para o aparecimento do papado. Nesse sentido, o título de primeiro papa deve ser
atribuído a Leão Magno, que esteve à frente da Igreja nos anos 440-461, embora nem sempre os
seus sucessores atingissem o mesmo desempenho. Independentemente disso, a história medieval
está marcada pelos conflitos entre os poderes políticos e os papas, cujas pretensões parecem não
ter medida. O auge da influência papal se alcançou no pontificado de Inocêncio III (1198-1216) que
afirmou: “Do mesmo modo que a lua recebe sua luz do sol, assim também o poder real recebe da
autoridade pontifical o esplendor de sua dignidade”. A história subseqüente, no entanto,
mostra uma instituição progressivamente desgastada pelo surgimento dos estados
nacionais, pela ascensão do espírito leigo, pelo chamado Cativeiro Babilônico da Igreja,
quando o papado, submetido à coroa francesa, foi transferido para
Avignon (1309-1377), pelo Grande Cisma (1378-1417), quando
Do mesmo modo que dois e até três papas reclamavam o primado na direção da Igreja,
a lua recebe sua luz enfim, pelas críticas que circulavam por toda a sociedade. Essa
do sol, assim também decadência já prenunciava o final de uma época.
o poder real recebe da
autoridade pontifical
Cristandade
o esplendor de sua
A importância da instituição eclesiástica e do papado nesse
dignidade
período corresponde ao que muitos autores denominam com
Inocêncio III o termo cristandade, o qual descreve um modo de relação de
intensa cooperação e aliança entre sociedade, Estado e Igreja. A
religião modela todas as instituições e sanciona as relações sociais,
recebendo, em troca, benefícios e proteção das autoridades A vida
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religiosa e o ideal monástico estão presentes durante todo o tempo e em toda a parte, adaptando-
se às condições em mudança constante, como comprova o florescimento das ordens mendicantes
dos franciscanos (1209) e dos dominicanos (1216). Mesmo a contestação contra o sistema social
assume a forma religiosa, com destaque para os valdenses e os cátaros no século XII, violentamente
reprimidos pela Inquisição.
Escolástica
Por último, é preciso assinalar o desenvolvimento extraordinário da discussão teológica especialmente
vinculada às escolas e às universidades, sobretudo a partir do século XIII. A introdução da argumentação
filosófica, em particular das idéias de Aristóteles, trouxe precisão e revolucionou o modo de se fazer
teologia, ainda que a maioria dos teólogos pretendesse apenas sistematizar a herança recebida
do passado. As obras de pensadores como Santo Anselmo, Pedro Abelardo, Pedro Lombardo, São
Boaventura, Alexandre Magno, Tomás de Aquino, Duns Scotus e William de Ockham, têm sido publicadas
e o seu estudo, ainda hoje, é considerado indispensável.
Referências de imagens
Imagem 1: http://www.lib.utexas.edu/maps/historical/shepherd/byzantine_empire_1265.jpg.
Acesso em 18’Jun’06.
Referências
DREHER, MARTIN N. A Igreja no mundo medieval. São Leopoldo: Sinodal, 1994. (Col. História
da Igreja v. 2)
IRVIN, DALE T. ; Sunquist, Scott W. História do movimento cristão mundial. São Paulo: Paulus,
2004. (Volume I: do cristianismo primitivo a 1453)
PIERINI, FRANCO. A idade média. São Paulo: Paulus, 1997. (Col. Curso de História da Igreja II).
VAUCHEZ, ANDRÉ. A Espiritualidade na idade média ocidental (Séculos VIII a XIII). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo
Teologia Sistemática:
Introdução à
Teologia - I
Objetivos:
Nesta unidade buscaremos
compreender o que é teologia e
como ela nasce e se desenvolve ao
longo da história do pensamento
cristão.
Palavras-chave:
Fé cristã; razão; cristandade;
itinerário histórico; hermenêutico;
linguagem; interpretação.
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Introdução
O que é a teologia? Como ela nasce e se desenvolve enquanto disciplina que envolve uma atividade
racional capaz de elaborar um método satisfatório de pensar a partir da experiência da fé cristã frente à
condição humana e sua realidade? A fim de oferecer respostas adequadas a estas perguntas, sugerimos
uma breve introdução fenomenológica sobre o “como” se dá, na prática, o labor (o fazer) teológico
enquanto atividade humana na busca de um melhor entendimento do amor de Deus revelado ao ser-
humano e a toda criação.
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www.metodista.br/ead
podemos dizer com Bruno Forte que “A teologia nasce, pois, na história, mas não se reduz a ela:
assumindo-a, interpreta-a e orienta-a no encontro transformante com a Palavra, que por sua vez vem
habitar as palavras dos homens” (FORTE B. 1991, p. 128). É nesta tensão entre revelação e reflexão que
a teologia nasce, cresce e se desenvolve como tarefa importante para se compreender a vontade e o
amor de Deus no cotidiano.
Referências
BOFF, C. TEORIA DO MÉTODO TEOLÓGICO. PETRÓPOLIS: VOZES, 1998.
BRAATEN, C. E.; JENSON, R. W. (ED). DOGMÁTICA CRISTÃ. V. 1. SÃO LEOPOLDO: SINODAL, 1990.
FORTE, B. A TEOLOGIA COMO COMPANHIA: MEMÓRIA E PROFECIA. SÃO PAULO: PAULINAS, 1991.
LIBANIO, J. B.; MURAD, A. INTRODUÇÃO A TEOLOGIA: PERFIL, ENFOQUES, TAREFAS. SÃO PAULO: LOYOLA, 1996.
NOGUEIRA, H. A. TEOLOGIA E RACIONALIDADE: UM ESTUDO A PARTIR DO CONCEITO DE RAZÃO ONTOLÓGICA EM
PAUL TILLICH. 2000. 88 F. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO) –UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO
PAULO, SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2000.
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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo
Teologia Sistemática:
Introdução à
Teologia - II
Objetivos:
Conhecer a etimologia da expressão
“teologia”. Reconhecer os limites e
possibilidades do método e verificar
como os dados da revelação
podem ser organizados na teologia
sistemática.
Palavras-chave:
Apologético; dogmática; revelação;
explicação; círculo hermenêutico;
ciências da religião.
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Introdução
É importante ressaltar em nossa breve reflexão o papel fundamental da teologia sistemática na
transmissão dos conteúdos da revelação na história e como a Igreja desenvolve a tarefa de tornar
compreensível tal conteúdo incorporando os dados da teologia exegética (o significado de textos
bíblicos específicos), teologia bíblica (exposição da mensagem doutrinária no seu contexto histórico)
e teologia histórica (organização da reflexão teológica ao longo da história eclesiástica) ao apresentar
uma explicação adequada do conteúdo da fé e esperança cristã no amor de Deus.
No parágrafo anterior estão implícitos dois pontos elementares na compreensão da tarefa
sistematizadora da teologia. O primeiro deles diz respeito à própria condição do intérprete dos dados
da revelação, ou seja, daquele(a) que se propõe a elaborar a reflexão teológica. Em outras palavras,
não fazemos teologia de um lugar qualquer ou simplesmente por mera curiosidade ou interesse
epistemológico. O(A) teólogo(a) precisa estar consciente do seu compromisso existencial e do modo
como lida com as fontes da teologia. Nas palavras de Paul Tillich, é preciso estar envolvido no círculo
hermenêutico onde a própria experiência espiritual, a valorização de determinada tradição cristã e o
nível de compromisso pessoal tornam-se fatores decisivos. Em segundo lugar, a teologia sistemática é
uma tarefa da Igreja enquanto dogmática (afirmação dos conteúdos doutrinários centrais da fé cristã e
da longa tradição cristã na transmissão destes mesmos conteúdos) e, ainda, um exercício apologético
(comunicação dos dados da revelação de um modo adequado ao contexto e uma defesa contra os
ataques, desvios e equívocos que se levantam e se opõem em relação ao anúncio e comunicação
do evangelho dentro e fora da Igreja). Deste modo não estamos falando de uma tarefa simples, mas
complexa em sua natureza e necessariamente dialética (dialogal) na manutenção criativa entre duas
funções indispensáveis na teologia sistemática.
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Referências
BOFF, C. TEORIA DO MÉTODO TEOLÓGICO. PETRÓPOLIS: VOZES, 1998.
BRAATEN, C. E.; JENSON, R. W. (ED). DOGMÁTICA CRISTÃ. V. 1. SÃO LEOPOLDO: SINODAL, 1990.
FORTE, B. A TEOLOGIA COMO COMPANHIA: MEMÓRIA E PROFECIA. SÃO PAULO: PAULINAS, 1991.
LIBANIO, J. B.; MURAD, A. INTRODUÇÃO A TEOLOGIA: PERFIL, ENFOQUES, TAREFAS. SÃO PAULO: LOYOLA, 1996.
NOGUEIRA, H. A. TEOLOGIA E RACIONALIDADE: UM ESTUDO A PARTIR DO CONCEITO DE RAZÃO ONTOLÓGICA EM
PAUL TILLICH. 2000. 88 F. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO) –UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO
PAULO, SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2000.
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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Introdução
às regras da
comunicação
científica I
Profa. Ms. Elizangela A. Soares
Objetivos
Introduzir o tema do conhecimento científico.
Apresentar os métodos para a pesquisa científica
e a metodologia como estudo dos métodos.
Palavras-chave:
conhecimento, método, metodologia, pesquisa
www.metodista.br/ead
Considerações iniciais
O conhecimento que adquirimos e acumulamos acerca do mundo, dos seres e das coisas é
o primeiro responsável pela subsistência da humanidade ao longo das épocas e nos mais variados
ambientes. Todo conhecimento é produzido a partir de contextos específicos que refletem as
demandas de uma determinada situação histórica. Por essa razão é que o conhecimento está
sempre em processo de construção, pois mudam-se os contextos e com eles as demandas.
Mas o que é conhecimento?
A resposta para essa pergunta é não simples e nem consensual. Ela variará de acordo com
o pano de fundo da indagação: se pensarmos a questão a partir de um lugar filosófico, a resposta
provavelmente será diferente se a pensarmos a partir das ciências aplicadas, que lidam com
problemas práticos. No entanto, guardados os limites, talvez possamos dizer que o conhecimento
seja o resultado de um conjunto de operações mentais, nem sempre conscientes, alimentadas pelas
experiências da vida cotidiana e pelo estudo.
Os tipos de conhecimento
A definição do que seja o conhecimento, a pergunta pelo que de fato sabemos, a reflexão
sobre a sua natureza, suas fontes e seus limites são temas da chamada teoria do conhecimento
ou epistemologia, ramo do conhecimento filosófico ao qual se dedicaram filósofos como Platão,
Descartes, Kant e Zeller, entre outros. É nesse campo de estudos que encontramos duas escolas
de pensamento que disputam o melhor e mais importante meio para se chegar ao conhecimento:
a escola racionalista e a escola empirista. Para a primeira, a razão tem destaque nesse processo.
Para a última, o protagonismo é assumido pela experiência.
Qualquer que seja a definição, ocorre que não existe apenas um tipo ou apenas uma forma
de conhecimento. Por exemplo, naquele de tipo filosófico, a própria epistemologia lista três formas
fundamentais, dando especial atenção à primeira: o saber que (eu sei que Roma foi um império),
o saber como (eu sei dirigir um carro) e o conhecimento por familiaridade (eu conheço/estou
familiarizado com os meus colegas). No entanto, há também tipos não filosóficos de conhecimento,
a saber, o teológico ou religioso, o empírico ou senso comum e o científico.
Conhecimento empírico é aquele adquirido por meio das experiências circunstanciais do
dia a dia e se encontra no campo da consciência coletiva. É o que, grosso modo, chamamos de
senso comum, de interpretação da ordem aparente da realidade, sem preocupação ou intenção
de compreender os fenômenos. Isso significa que o conhecimento empírico não está submetido
aos critérios da ciência, ou seja, ele não depende de comprovações para existir, mas “está aí”, por
assim dizer. É do conhecimento atribuído ao senso comum que surgem as generalizações pouco
ou nada apreciadas no campo científico. Mas isso não quer dizer que ele seja sem valor, afinal é
uma forma elementar do conhecimento humano.
O conhecimento teológico ou religioso é aquele originado das experiências de fé e deriva a
verdade de um ser divino e da sua revelação na história. Isso não significa, no entanto, que se trate
de um conhecimento irracional, uma vez que o conhecimento acerca da divindade, além da fé, é
também intermediado pela razão, conforme veremos ao longo do curso.
[...] a Teologia é uma ciência de fé. [...] Seu método tem como ponto de partida princípios,
considerados como postulados axiomas funcionais, dos quais procedem as deduções ou ainda
a caracterização de seus objetos abstratos por intermédio da descrição de suas propriedades.
[...] Por isso, a Teologia enquanto ciência de fé é uma sabedoria de fé, porque elabora o diálogo
da fé com a razão explicitando que as verdades da fé não surgem de acontecimentos mágicos
e isentos de historicidade. Ao contrário, elas surgem da compreensão racional dos fenômenos
oriundos do ser humano e da natureza. No entanto, a razão que explicita as verdades da fé é
iluminada pela própria fé para que a racionalidade seja sempre aberta ao novum, oriundo do
próprio mistério da fé (GONÇALVES, 2008, p. 96).
66
Universidade Metodista de São Paulo
Finalmente, o conhecimento cientifico, que resulta da investigação criteriosa, ordenada e
metódica acerca de um determinado objeto. Ele não se pretende como um conhecimento definitivo
ou último, pois novas informações, descobertas ou o surgimento de novas tecnologias podem
fazer com que o saber tido como verdade em uma época seja considerado obsoleto ou mesmo
equivocado em outra. Isso implica que o conhecimento científico requer constante reavaliação
dos seus resultados.
Esse conhecimento parte da identificação de problemas e da formulação de hipóteses que
visem a respondê-los. A verificação de uma hipótese se dá por meio do emprego de um método
científico, que é o conjunto das regras aplicáveis aos procedimentos de uma determinada pesquisa.
A metodologia científica
Metodologia científica é o estudo dos métodos, os quais conferem alicerces lógicos à
investigação e possibilitam uma aproximação impessoal em relação ao objeto de estudos. São
cinco os métodos desenvolvidos para a construção do conhecimento científico:
67
www.metodista.br/ead
Método hipotético-dedutivo: consiste na eliminação de erros para a solução de
um determinado problema. Para isso, hipóteses e conjecturas são formuladas.
As hipóteses são testadas exaustivamente com a finalidade de verificar a sua
validade. Esse teste é chamado de falseamento, uma tentativa de mostrá-las como
falsas, refutáveis (eliminação de erros). As hipóteses verdadeiras ― e com elas as
conjecturas ― serão aquelas que resistirem às tentativas de falseamento.
Mas o que métodos e metodologia de pesquisa têm a ver conosco, estudantes de teologia?
Conforme Paulo Sérgio L. Gonçalves, citado anteriormente, “Teologia é uma ciência de fé” e, como
toda ciência, demanda um conjunto de regras para estudos que a tornem comunicável do ponto
de vista científico. É dessa necessidade de comunicação que surgem as pesquisas em teologia, cujo
ambiente por excelência é o acadêmico, que se caracteriza como espaço privilegiado de debates
e construção do saber formal.
Referências
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GONÇALVES, Paulo Sérgio Lopes. A sustentabilidade à luz da hermenêutica teológica da
ecologia. In: SOTER (org.). 21º Congresso Anual da Sociedade de Teologia e Ciências da
Religião ― SOTER. São Paulo: Paulinas (Edição digital ― ebook), 2008, p. 86-108. Disponível
em: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp-content/uploads/2009/08/
LivroDigital.pdf#page=86>. Acesso em: 04 abr. 2014.
LAKATOS, Eva. Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
O’BRIEN, Dan. Introdução à teoria do conhecimento. Lisboa: Gradiva, 2013.
RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para cursos de graduação e pós-graduação. 3.
ed. São Paulo: Loyola, 2005.
68
Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Introdução
às regras da
comunicação
científica II
Profa. Ms. Elizangela A. Soares
Objetivos
Introduzir o tema da comunicação científica.
Apresentar o método analítico para
a leitura de textos.
Apresentar os elementos essenciais para a
elaboração de um texto/trabalho acadêmico.
Palavras-chave:
comunicação científica, leitura,
trabalho acadêmico
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Considerações iniciais
No capítulo anterior conversamos um pouco sobre o conhecimento, observamos que ele
não é de um tipo apenas e que está em constante processo de construção e de revisão de acordo
com as demandas das épocas.
Vimos também que o conhecimento científico é aquele construído planejadamente, a partir
da detecção de problemas e com base em um conjunto de regras (os métodos) que lhe servem
de embasamento lógico e linha-guia.
Os estudos teológicos também se beneficiam dos métodos científicos para a construção
do seu saber específico, requerendo um exercício racional, associado à fé, para a reflexão acerca
do divino e suas manifestações na história. Dito de outra maneira, a teologia lança mão de um
conjunto instrumental para tornar acessíveis os conteúdos da fé.
A desobediência a qualquer um desses interditos conduz a dois crimes: para o não reconheci-
mento da autoria, há o crime de plágio; para o não registro das fontes, há o crime de falsidade
argumentativa. [...] Para quem os infringe, não há espaço na comunidade acadêmica. A sentença
é a exclusão absoluta (DINIZ, 2008, p. 1).
O plágio (emprego de material intelectual de terceiros sem identificação de autoria ou fonte)
não é tolerado nos círculos acadêmicos. Assim sendo, se desejamos realizar e tornar públicos os
resultados de uma pesquisa, é necessário termos em mente a importância de creditar autores e
fontes empregados na formulação dos nossos argumentos.
análise textual: trata-se de uma visão panorâmica da obra na qual devem ser
destacados os seus elementos mais importantes e buscados esclarecimentos para
informações, fontes e conceitos com os quais o autor trabalha, mas que o leitor
não esteja familiarizado.
síntese: nesse ponto o leitor reelabora a mensagem do autor a partir de uma re-
flexão própria e de conhecimentos prévios que tenha acumulado.
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www.metodista.br/ead
A revisão de literatura feita com base no método de leitura analítica resultará em uma dis-
cussão consistente e consciente dos textos (livros e artigos) selecionados como referencial teórico
para um estudo, apresentando diálogo entre as ideias dos autores e as ponderações do leitor.
O processo de escrita do trabalho acadêmico
A escrita do trabalho acadêmico em si precisa observar normas técnicas que são parte das
regras da comunicação científica. No caso do Brasil, essas normas são definidas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e regulam desde a apresentação do texto (aspectos ligados à
formatação, tais como espaçamento, paginação, sistema de chamada de citações, etc.) até a forma
de registro das fontes (aspectos ligados à ordem e formatação de elementos para identificação
de uma obra).
Além disso, o trabalho acadêmico precisa ser construído de forma lógica, com começo, meio
e fim ― em outras palavras, com introdução, desenvolvimento e conclusão.
Por mais estranho que pareça, é recomendável que o trabalho seja iniciado pelo seu desen-
volvimento, cuja finalidade é expor, explicar e discutir ideias, bem como apresentar argumentos.
Em geral isso é feito com o recurso a obras que tratam do tema, tarefa favorecida pela leitura
analítica desses textos.
O próximo passo é registrar as conclusões a que se chegou com o desenvolvimento do estudo.
Aqui se resume a argumentação, responde-se aos objetivos apresentados no início do trabalho e
sintetiza-se o conhecimento originado da pesquisa, bem como as possibilidades de continuidade
e desdobramentos da mesma. No caso dos trabalhos na área de teologia, as conclusões também
devem trazer uma proposta ou sugestão de aplicação prática para a vida cotidiana.
Depois do desenvolvimento e da conclusão se redige a introdução, que é o item por meio do
qual se faz uma exposição das linhas gerais do trabalho, mas sem oferecer conclusões. Por isso ela
é deixada para o final, quando o autor ou autora já sabe os caminhos pelos quais percorreu e tem
condições de apresentá-los com mais clareza. A introdução deve ser construída com a intenção de
cativar a atenção e o interesse do leitor e nela devem ser apresentados os objetivos da pesquisa
e os métodos empregados para alcançá-los, além da razão do estudo ( justificativa), o referencial
teórico e os limites ou recortes estabelecidos para o tratamento do tema.
Por fim, elabora-se a lista de referências bibliográficas, que é a coleção das obras efetivamente
consultadas para a construção do trabalho. As referências bibliográficas devem ser organizadas de
acordo com as normas da ABNT, geralmente disponíveis nos manuais dos cursos.
Outros elementos serão requeridos dos trabalhos acadêmicos de acordo suas especificidades.
Por exemplo, um artigo não conterá todos os aspectos de um trabalho monográfico. Contudo,
introdução, desenvolvimento e conclusão são elementos comuns a todos os tipos de trabalhos
acadêmicos e devem ser tecidos pensando no leitor, ou seja, na formulação de um texto coerente,
bem argumentado e claro que permita ao leitor seguir o nosso raciocínio e caminhar conosco, os
autores e autoras.
Referências
AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produção científica: passos práticos para a produção
de trabalhos acadêmicos. 13. ed. São Paulo: United Press, 2012.
DINIZ, Débora. A ética e o ethos da comunicação científica. Série Anis, n. 55, p. 1-3, jun.
2008. Disponível em: <http://www.anis.org.br/serie/artigos/sa55_diniz_comunicacaocientifica.
pdf>. Acesso em: 05 abr. 2014.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez
Editora, 2007.
YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.
72
Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Temas básicos
em comunicação
Objetivos:
Introduzir elementos básicos da teoria da
comunicação que devem ser aplicados
à reflexão da prática pastoral, como o
conceito da comunicação, o valor da
linguagem, os tipos de comunicação e o
processo da comunicação;
Abordar o tema da comunicação sob
uma perspectiva teológica, a partir
dos princípios da comunhão, da
solidariedade e do diálogo.
Palavras-chave:
Comunicação, linguagem,
mídia, religião.
www.metodista.br/ead
Comunicação é elemento-chave na ação pastoral. Afinal, um pastor ou pastora ou uma liderança
leiga que atua em igrejas ou qualquer outro agrupamento do campo religioso lida com pessoas;
relaciona-se com um público. Saber comunicar bem, desenvolvendo boas relações interpessoais e
liderança de qualidade e disseminando mensagens que sejam bem recebidas por seu público-alvo,
por meio de uso correto e eficaz da palavra, é requisito fundamental na ação pastoral clériga ou leiga.
Nesta primeira unidade de estudos, vamos buscar na teoria da comunicação alguns conceitos
que nos ajudam a compreender elementos muito importantes na prática pastoral e que envolvem
o ato de comunicar.
74
Universidade Metodista de São Paulo
precisam de que se abram vagas de empregos
para eles” ; “Arrume este quarto, menina, parece
uma favela!”. Com estas reflexões, levantamos
a necessidade de interpretarmos criticamente a
nossa linguagem e a transformarmos para que _________________________________________
ela adquira uma dimensão mais inclusiva. Com
a nossa linguagem podemos ser excludentes e _________________________________________
reforçar preconceitos e discriminações, ainda
que de forma inconsciente. Claro! É assim que a _________________________________________
ideologia funciona. _________________________________________
_________________________________________
O processo da comunicação
_________________________________________
A partir da compreensão das formas de
comunicar e de construção da linguagem, _________________________________________
podemos identificar tipos de comunicação
(intrapessoal, interpessoal e social) e o processo _________________________________________
como esta comunicação acontece. “Alguém
emite uma mensagem para alguém” seria a _________________________________________
concepção básica desse processo. No entanto,
_________________________________________
outros elementos se fazem necessários para uma
compreensão mais profunda do processo que _________________________________________
envolve o ato de comunicar: em que contexto
acontece o processo? qual é o repertório utilizado _________________________________________
nesta comunicação? como a mensagem foi
_________________________________________
articulada? (a codificação); qual é o meio utilizado
para fazer a mensagem chegar ao receptor? _________________________________________
(o canal); como a mensagem é recebida? (a
decodificação); há problemas que envolvem o _________________________________________
ato de comunicar? (o ruído); qual é o retorno
oferecido pelo receptor? (o feedback). Se a _________________________________________
comunicação é desenvolvida na perspectiva
_________________________________________
da comunhão, do diálogo e da interação, esses
elementos devem ser levados em conta, em toda _________________________________________
a sua complexidade.
_________________________________________
75
www.metodista.br/ead
de comunicar. O ser humano é comunicação, por
isso precisa do outro. Sem o outro o ser humano
não é. O contrário disso é comunicação aparente,
superficial, ou mesmo incomunicação, como
preferem alguns. A ação pastoral que leva em conta _________________________________________
esses aspectos não se concentra nem se esgota na
palavra, nem nos gestos, nem nas imagens, e busca, _________________________________________
acima de tudo, o desejo de Deus, de que sua Criação
experimente o diálogo e a comunhão. _________________________________________
_________________________________________
Meios de comunicação e religião _________________________________________
Um dos grandes fenômenos no Brasil de
_________________________________________
hoje é a intensa presença dos grupos religiosos
nos meios de comunicação eletrônicos. Desde _________________________________________
o advento da eletrônica no século XIX, as
diferentes igrejas já procuraram colocar a mídia _________________________________________
a seu serviço. Não pode restar dúvida de que
a presença nos meios de comunicação é hoje, _________________________________________
na era da eletrônica, importante para qualquer
_________________________________________
grupo social, religioso ou não, que queira tornar
públicas suas propostas e mensagens. Porém, _________________________________________
o desafio que se coloca aos cristãos e cristãs
de hoje, em especial no Brasil, é responder à _________________________________________
pergunta: Para que estar presente na mídia? Com
_________________________________________
quais valores e objetivos? O aprofundamento
dessa reflexão é importante para pensar uma
ação pastoral comprometida com a dimensão
teológica da comunicação que está exposta acima.
Referências
BORDENAVE, JUAN E. DÍAZ. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1991.(Col. Primeiros Passos).
Bibliografia complementar
ASSMANN, HUGO. A Igreja eletrônica e seu impacto na América Latina. Petropólis: Vozes, 1986.
BABIN, PIERRE. A era da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1989.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. O crescimento do marketing evangélico no Brasil – resultado da
inserção da doutrina neoliberal no discurso religioso das igrejas evangélicas. Comunicação &
Política. Rio de Janeiro: Cebela, n.s., v. VI, n. 2 e 3, p. 63-133.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. A influência da ideologia neoliberal na religiosidade evangélica.
Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 7, n. 10, p. 9-30, 2002.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. A vida e a missão da Igreja Metodista (1987-1997): uma tentativa
de avaliação. In: CASTRO, Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma nova
Igreja: dons e ministérios em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001.
DIEZ, FELICÍSIMO MARTINEZ. Teologia da Comunicação. São Paulo: Paulinas, 1997.
KELLNER, DOUGLAS. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno
e o pós moderno. Bauru: Edusc, 2001.
MORAN, JOSÉ MANUEL. Mudanças na comunicação pessoal. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2000.
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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Técnicas básicas de
expressão oral
Objetivos:
Fornecer orientações aos estudantes sobre
técnicas de comunicação oral com vistas
a uma comunicação eficaz, com ênfase no
volume, no tom, no gestual e na pronúncia;
Identificar e indicar correção para os erros
comuns de vocabulário no processo de
comunicação oral.
Palavras-chave:
Comunicação verbal oral, comunicação não-
verbal, pronúncia, vocabulário.
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Uma das formas de comunicação mais utilizadas na ação pastoral é a expressão oral. Vamos nos
dedicar nesta etapa a este tema e é bom ressaltarmos, desde já, que expressão oral não significa
apenas falar, exprimir corretamente e articuladamente as palavras por meio da voz mas um conjunto
de formas combinadas.
A pronúncia
Outro elemento importante na expressão oral é o cuidado com
a pronúncia. Uma boa pronúncia das palavras implica em usar a
Quem se preocupa
acentuação tônica correta e na atenção às terminações como o “r”
e o “s”. Quem se preocupa em pronunciar bem as palavras e frases, em pronunciar bem as
cuida também da velocidade da exposição oral: pessoas que falam palavras e frases, cuida
muito rápido muitas vezes atropelam-se nas palavras, o que causa também da velocidade
sérios ruídos na comunicação. Por outro lado, uma fala lenta e da exposição oral
muito pausada, cansa os ouvintes. É preciso equilibrar a velocidade.
Há exercícios de pronúncia que são realizados freqüentemente
por todos os profissionais que têm a fala como ferramenta e podem ser utilizados na
prática pastoral. Da mesma forma há cuidados físicos a serem tomados: com
o aparelho fonador, a respiração e com a ingestão de alimentos e líquidos
apropriados para estimularem um bom uso da voz.
_________________________________________
Base fundamental
Além de tudo isso que merece a nossa _________________________________________
atenção para uma boa apresentação em público,
_________________________________________
há três elementos fundamentais e que estão na
base de qualquer técnica de expressão oral: _________________________________________
• Não falar sem conhecer o assunto.
Nesse caso, já se começa com _________________________________________
insegurança. Ao receber um convite _________________________________________
para falar para um determinado
grupo sobre determinado tema _________________________________________
e não se dominar o assunto, é
melhor recusar o convite do que _________________________________________
sofrer as conseqüências da decisão
_________________________________________
de aceitar.
• Não falar sem ter um mínimo de _________________________________________
informação sobre os ouvintes.
Mesmo dominando-se um tema, _________________________________________
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• ele não deve ser apresentado da mesma forma para contextos e públicos diferentes. O
conhecimento do nível intelectual do público, do nível do conhecimento do assunto, da
faixa etária e do gênero predominantes são essenciais para uma comunicação eficaz.
• Cuidar da apresentação visual. A vestimenta é importante instrumento de comunicação
não-verbal: ela pode dizer muito de quem se apresenta em público e, de acordo com o
contexto da apresentação, pode contribuir para captar a atenção dos/as ouvintes para
o assunto ou criar rejeição.
Na ação pastoral, respeitabilidade e credibilidade são requisitos básicos para um líder,
o que exige uma apresentação visual que expresse asseio, sobriedade e elegância, sem
exageros para mais ou para menos. Combinação
de cores, comprimento de mangas, calças
compridas e saias merecem atenção redobrada.
Para os homens, o cuidado com a cor das _________________________________________
meias, das gravatas e com o corte do cabelo
e da barba é importante. Para as mulheres,
_________________________________________
evitar decotes, acessórios grandes (brincos e _________________________________________
colares) e maquiagem carregada é fundamental.
Esses itens aqui mencionados podem, com _________________________________________
uso incorreto, transformar-se no objeto de
atenção da audiência, deixando o conteúdo, _________________________________________
que deve ser o destaque, em último plano. Um
_________________________________________
modelo para quem se apresenta em público em
igrejas, grupos religiosos e similares é o visual _________________________________________
de apresentadores/as dos principais telejornais
– buscam respeitabilidade e credibilidade e _________________________________________
para tal expõem-se com um visual sóbrio e
elegante. Claro que há situações no contexto
_________________________________________
da ação pastoral que expressam informalidade _________________________________________
e não exigem visual formal e sóbrio, o que não
descarta as indicações acima, pois mesmo na _________________________________________
informalidade, lideranças religiosas precisam de
credibilidade e respeitabilidade. _________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Referências
CÂMARA JR, J. MATTOSO. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986
POLITO, REINALDO. Assim é que se fala. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2004
HALLIDAY, TEREZA LÚCIA. O que é retórica. São Paulo: Brasiliense, 1990. Coleção Primeiros Passos.
PROFESSOR REINALDO POLITO (Como Falar em Público): http://www.polito.com.br
FALAR EM PÚBLICO: http://www.falarempublico.com.br/
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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Metodologia Científica I
Técnicas básicas de
expressão
e escrita
Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha
Objetivos:
Fornecer orientações aos estudantes
sobre técnicas de comunicação escrita
com vistas a uma comunicação eficaz,
com ênfase nos elementos básicos que
compõem um texto;
Identificar e indicar correção para os
erros comuns de redação para um
bom uso da língua escrita.
Palavras-chave:
Comunicação verbal escrita, redação,
língua portuguesa
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Uma liderança religiosa, clériga ou leiga, precisa muitas vezes da comunicação escrita em suas
atividades. É freqüentemente demandada a redação de uma carta ou ofício, de material para um
informativo da comunidade ou um artigo ou texto, solicitado muitas vezes por um veículo da localidade
onde atua. O que importa é que quem escreve tem de escrever bem e corretamente, se deseja uma
comunicação eficaz e obter credibilidade e respeitabilidade com o seu trabalho.
Na expressão oral, podemos muitas vezes disfarçar um erro ou mesmo apostar que tal deslize cairá
no esquecimento dos/as ouvintes (o que nunca deve servir de desculpa para que se cometam erros
freqüentes). Na expressão escrita, no entanto, é impossível disfarçar ou apostar no esquecimento: o
material redigido estará sob os olhos de alguém que terá a chance de ler, reler, ler uma terceira vez
e ainda mostrar a outras pessoas.
Portanto, nesta terceira unidade de estudos, vamos nos dedicar ao estudo das noções básicas
para se elaborar textos, inclusive os acadêmicos que serão solicitados pelos professores do Curso
de Teologia. Vamos ainda listar alguns erros comuns de redação e fornecer orientações básicas para
um bom uso da língua escrita.
Banco de imagens
Tipo e forma do texto
Um princípio básico de redação é que
o tipo de texto determina a forma do texto.
Na universidade, por exemplo, os tipos de
textos mais comuns que professores/as e
estudantes desenvolvem são: monografias,
papers, fichamentos, resumos, resenhas, ensaios.
Já na ação pastoral, os mais comuns são as cartas,
os ofícios, as reflexões/meditações, os artigos, os
estudos, os relatórios, os projetos. Cada contexto
tem o próprio público-alvo e o repertório
(vocabulário) que lhe é adequado. Portanto, ao se
redigir um texto é preciso começar com algumas
perguntas: por que e para quem vou escrever?
Qual vai ser o formato do meu texto?
Redação de uma carta ou ofício
O roteiro
Um texto deve ter início, meio e fim e ser redigido com objetividade, sem rodeios (redundâncias).
Para se alcançar este objetivo, uma ação importante é listar os principais tópicos a serem abordados
no texto como ponto de partida para organizar as idéias. Essa pequena providência inicial pode
simplificar o trabalho de redigir. Um roteiro deve conter: assunto, introdução, desenvolvimento e
conclusão.
O título
O título é o cartão de visitas do texto: ele deve resumir o assunto para o/a leitor/a. Quem lê o
título deve ser capaz de entender sobre o quê trata o texto. Um bom título atrai leitores/as. Exemplos:
Em seus passos que faria Jesus; A mosca azul. Já um título ruim pode revelar um
trabalho ruim ou mesmo esconder um bom trabalho. Exemplos: O encontro; Relatório
final. Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana.
Importante: o título é o último elemento a ser redigido em um
O título é o cartão texto porque ele deve refletir o que está escrito (resumir) e não o
de visitas do texto. que vai ser escrito. Começar pelo título é redigir com problemas,
pois o processo pode ficar “engessado” desde o início.
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Universidade Metodista de São Paulo
Abertura
É um elemento importante do texto que serve para prender o/a leitor/a. Em qualquer texto, o
mais importante é o primeiro parágrafo; no primeiro parágrafo, a primeira frase; na primeira frase,
as primeiras palavras. O segundo parágrafo deve ser a continuação do primeiro com a finalidade de
introduzir o texto e criar no/a leitor/a o desejo de continuar a leitura. A abertura deve conter de dois
a três parágrafos em textos longos e um parágrafo em textos curtos.
Intertítulos
São usados para auxiliar a leitura do texto e torná-lo mais
agradável e menos pesado. É recomendável colocar intertítulos a
Intertítulos:
cada 20 linhas de um texto curto e a cada cinco a sete parágrafos
de um texto longo. O primeiro intertítulo deve, preferencialmente, São usados para
vir logo após a abertura (como recomendamos, ela deve ocupar auxiliar a leitura
os dois primeiros parágrafos). O intertítulo pode ser apenas uma do texto e torná-lo
palavra, uma locução ou mesmo uma frase. Evite apenas que seja mais agradável e
longo, para que a linha não se quebre em duas.
menos pesado.
Parágrafos
Existem para indicar que uma idéia foi exposta e outra será iniciada dentro do mesmo assunto, é,
portanto, uma unidade de pensamento, e serve para facilitar a leitura. Não devem ser tão curtos nem
tão longos. Para um texto longo (acadêmico, por exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a
oito linhas cheias de um texto digitado em papel A4. Para um texto curto (carta ou reflexão pastoral, por
exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a cinco linhas cheias de um texto digitado
em papel A4. Interligue um ao outro de acordo com o roteiro, mas cuidado: expressões de
ligação devem ser usadas com moderação. Evite
usar uma em cada parágrafo para estabelecer as
conexões. Ao usar, varie as expressões para que
_________________________________________ não fiquem repetitivas. Exemplos de expressões
de ligação de frases e parágrafos: Portanto,
_________________________________________ Entretanto, Não obstante, Nesse caso, Conforme
mencionado anteriormente [acima], Conforme
_________________________________________
visto anteriormente [acima].
_________________________________________
_________________________________________ Frases
_________________________________________ Devem ter uma característica básica: clareza.
Para redigir com clareza, é preciso pensar com
_________________________________________ clareza, em seguida, colocar as idéias na ordem
direta, ou seja, na velha fórmula que sempre facilita
_________________________________________ a redação: sujeito + verbo + complemento. As
frases devem ser curtas. O ponto deve ser usado
_________________________________________
à vontade. Pontos encurtam frases. Facilitam a
_________________________________________ compreensão. Já as vírgulas não devem ser usadas
em excesso, pois provocam confusão e cansaço.
_________________________________________ Quando bem empregadas, contribuem para dar
clareza, precisão e elegância ao texto. Só se deve
_________________________________________ usar palavras necessárias, precisas, específicas,
_________________________________________ concisas, simples. Não se deve dizer nem mais
nem menos do que se quer dizer.
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Conclusão
Funciona como fechamento do que foi dito
anteriormente. Como a Abertura, deve ter dois ou
três parágrafos em textos longos e um parágrafo
_________________________________________ em textos curtos.
_________________________________________
Providência imprescindível
_________________________________________
Para um texto estar bem apresentado, é
_________________________________________ preciso que quem redigiu faça uma leitura do que
produziu. Para isso recomenda-se uma leitura e
_________________________________________ três releituras ao final do trabalho: na primeira,
checam-se os conteúdos; na segunda, os erros
_________________________________________
de digitação e grafia; na terceira, eliminam-se
_________________________________________ as repetições; na quarta, corta-se tudo o que for
desnecessário.
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Referências
CÂMARA JR, J. MATTOSO. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA: http://www.planalto.gov.br/legisla.htm
NOVO MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S. PAULO: http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/
manual_introducao.htm
NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA: http://www2.uol.com.br/linguaportuguesa/
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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral
Módulo
Metodologia Científica II
Comunicação eficaz na
celebração
comunitária da fé
Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha
Objetivos:
Orientar os estudantes sobre princípios
e técnicas para uma comunicação
eficaz nos momentos de celebração
comunitária da fé (liturgias);
Introduzir elementos básicos para
a elaboração de uma liturgia e na
pregação da Palavra (sermão) em
momentos de celebração comunitária
da fé com ênfase na comunicação oral
Palavras-chave:
Liturgia, homilética, comunicação
verbal oral.
www.metodista.br/ead
Um dos espaços de maior atuação do pastor e da pastora, e de muitas lideranças leigas, são os
momentos de celebração comunitária da fé, na tradição católico-romana denominados “missas”, e
na tradição evangélica, denominados “cultos”. É um momento que exige, especialmente, uma boa
expressão oral, que, como já estudamos, não significa apenas falar corretamente, mas também
desenvolver eficazmente a comunicação do ponto de vista não-verbal.
Clareza do sentido
Banco de imagens
Para estudarmos técnicas de comunicação
nos momentos de celebração da fé, é preciso
primeiro termos clareza do sentido desses
momentos. O culto ou a missa para ser fiel à
tradição bíblica e teológica dos/as cristãos/ãs tem
de ser: (1) centralizado na presença de Deus; (2)
fundamentado na Palavra de Deus; (3) afirmação
da vida comunitária; (4) oportunidade de
experiência de renovação de vidas; (5) dinâmico
e participativo; (6) um convite à participação na
missão de Deus. Depois, é preciso ter clareza do
sentido do espaço do culto/da missa, o local de
reuniões regulares da comunidade para celebrar a
sua fé. Na tradição cristã, esse espaço é composto
de três elementos: (1) o altar (de onde atuam
os/as celebrantes) – espaço de orientação; (2) o Momentos de celebração comunitária da fé
atrium ou a nave (onde estão localizados/as os/
as participantes) – espaço de missão; (3) o decoro (a ornamentação/decoração) – espaço de beleza.
É preciso ter também clareza sobre o que se realiza no culto e na missa, e, com isso, recorrer ao
sentido do termo liturgia. Esta palavra vem do grego leiturgia que quer dizer “serviço”, “trabalho do
povo”. Na prática cristã, liturgia quer dizer o serviço que prestamos a Deus e ao próximo por meio de
palavras, gestos, símbolos e ritos. Por isso, liturgia é o serviço cúltico a Deus prestado pela comunidade
quando se reúne para celebrar a sua fé. É a liturgia que dá significado e coerência à reunião dos/
as fiéis. Na tradição cristã, a inspiração para os momentos litúrgicos vem do texto de Isaías 6 1-8:
adoração (v. 3-4); confissão (v. 5-7); louvor e ação de graças (pelo amor e pelo perdão e por todas as
bênçãos alcançadas); edificação (ênfase no caráter profético da comunidade; a Palavra); intercessão
(apresentação dos sofrimentos, das dores e das necessidades); envio (v. 8).
Linguagens
No culto/missa são várias as linguagens desenvolvidas. A linguagem falada é normalmente
trabalhada na direção/orientação da liturgia; na pregação da Palavra (sermão/homilia/meditação); na
realização dos rituais (eucaristia, batismos, outros); nas orações em voz audível; nas leituras bíblicas
e outras leituras audíveis; nos anúncios; nas comunicações diversas; nas palavras de saudação; nos
depoimentos e testemunhos. Utilizar as técnicas de expressão oral que estudamos é imprescindível
para uma boa comunicação nesses momentos.
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Universidade Metodista de São Paulo
A linguagem visual é geralmente desenvolvida
em dois formatos: visual simbólica, por meio
das cores, dos ícones, dos objetos, dos gestos;
visual ilustrativa, por meio da decoração, dos
_________________________________________ audiovisuais, dos cartazes, das coreografias. O
espaço do culto/missa, como já mencionamos,
_________________________________________ tem um sentido, portanto, tem uma linguagem.
No altar fica a mesa fixa, podendo também ser
_________________________________________ móvel, destinada à celebração eucarística. É o
_________________________________________ espaço mais importante da comunidade de fé,
de onde atuam os celebrantes (pastores/padres/
_________________________________________ sacerdotes) e de onde se renova o sacrifício
redentor de Cristo. O que se coloca no altar
_________________________________________ representa, portanto, o que é mais importante
para a tradição de uma comunidade de fé.
_________________________________________
A localização dos objetos no altar também tem
_________________________________________ uma mensagem sobre como o grupo crê. Em
alguns templos, por exemplo, vamos encontrar
_________________________________________
o púlpito (espaço de onde se faz a pregação
_________________________________________ da Palavra) no centro do altar e a mesa da
eucaristia, atrás dele ou ao lado, o que significa
_________________________________________ que a pregação da Palavra é o mais importante
no momento celebrativo. Em outros, já vamos
encontrar a mesa no centro e o púlpito ao lado
dela ou mesmo fora do altar, o que indica que a eucaristia é o momento mais significativo para
a celebração da fé. Em algumas comunidades, podemos perceber a localização de instrumentos
musicais no altar ao lado da mesa da eucaristia e do púlpito, o que comunica que a música tem tanta
importância religiosa quanto a eucaristia e a pregação da palavra.
Vale ressaltar que a linguagem visual, mais do que as palavras, provoca sentimentos e motiva
atitudes. Estudos no campo da psicologia demonstram que uma pessoa memoriza: 10 a 15% do que
ouve; 30 a 35% do que vê; 50 a 60% do que ouve e vê ao mesmo tempo. Portanto, a utilização de
recursos visuais aliados aos orais contribuirá para uma comunicação mais eficaz no culto.
A linguagem musical aparece nos momentos de celebração da fé por meio da música instrumental
e da música cantada coletivamente ou por meio de apresentações. Para que a música comunique
bem, é preciso distribuir as canções pela liturgia, atribuindo-lhes sentido e coerência com cada
momento proposto.
Na liturgia, há também a linguagem do silêncio. É importante lembrarmos que o silêncio é forma
de comunicação de muitas culturas, inclusive a judaico-cristã. Nessa tradição, o silêncio existe para:
interiorizar o que se ouve ou a experiência vivida, valorizar a audição (ouvir), intensificar a expressão
(pausa, ruptura que chama a atenção para alguma coisa), simbolizar respeito. Ele pode acontecer: nos
atos de confissão/contrição; antes das orações comunitárias; depois de leituras bíblicas
e mensagens; depois da eucaristia.
Referências
ROMERO, PEDRO. Comunicação e Vida Comunitária. São Paulo: Paulinas, 2002. (Col. Carisma
e Missão).
TEIXEIRA, NEREU DE CASTRO. Comunicação na Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003.
VV.AA. Mosaico Apoio Pastoral São Bernardo do Campo: Editeo, Ano 12, n. 31. jun./ago. 2004.
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