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A grande luta da cultura ética antiga contra o domínio dos afetos sobre o
indivíduo foi – sem que o conceito de estranhamento em quanto tal
houvesse entrado na vida intelectual da humanidade – objetivamente uma
defesa sócio-moral contra este (Lukács, 1981: 587).
Esta luta no plano interior, no plano dos afetos, é, deveras, um dos aspectos decisivos do problema
ético:
Sobre o caráter prático da luta contra os estranhamentos, Lukács (1981: 612) é enfático:
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Na Ontologia do ser social, Lukács considera como ideológicos os mais diversos fenômenos relacionados ao
agir e fazer-se do homem no plano social. Neste sentido, ideologia não é sinônimo de falsa consciência, mas
veículo ideal da práxis orientado ao enfrentamento dos conflitos que nela irrompem e se propagam. Vale
dizer, “as formas ideológicas são instrumentos pelos quais são conscientizados e enfrentados os problemas
que preenchem a cotidianidade” (Lukács. 1981: 446). Sobre este assunto consulte-se o elucidativo ensaio de
Ester Vaisman – A ideologia e sua determinação ontológica – na Revista Ensaio 17/18. São Paulo: ed. Ensaio,
1989.
Pode acontecer, assim, que pessoas singulares estejam em condições de
penetrar a nível teórico a essência deste fenômeno, mas que permaneçam
estranhados na sua conduta de vida, e que, antes, em certas circunstâncias,
aprofundem ainda mais o seu estranhamento. Isso se verifica porque todo
momento subjetivo do estranhamento pode ser superado somente mediante
posições práticas corretas do indivíduo em questão, com as quais muda em
termos efetivos, práticos, o próprio modo de reagir aos fatos sociais, a
própria atitude diante da sua conduta de vida e da dos outros homens.
O capítulo final da Ontologia pode ser lido, sob esta perspectiva, como um
momento antecipatório da Ética apenas esboçada e referida, já que nele o nervo da
tematização é um fenômeno fortemente centrado nas vidas individuais, ainda que sua base e
seja social. Convém, na verdade, não esquecer que para Lukács, os indivíduos são sempre
sociais, o problema, a seu ver, está na forma específica, singular, como cada um efetiva sua
própria sociabilidade.
Na Estética, Lukács se expressa com muita clareza a respeito das formas
fundamentais de conduta e de envolvimento dos indivíduos com o mundo. Sua crítica,
como sempre, recai sobre os falsos extremos - a acomodação acrítica e o retraimento em si
mesmo, a revolta introspectiva. No seu ver, é preciso ter claro
que o desenvolvimento real da personalidade humana só é possível no
mundo, em ininterrupta interação com ele, que tanto aquele que tende a se
fechar em si, quanto aquele que se entrega a seu meio e se adapta a ele
incondicionalmente, acaba se transformando em um ser espiritualmente
mutilado (Lukács, 1982: 468-469).
Para tanto, há que forjar um espírito aguerrido, resistente e determinado. E mais uma vez,
fica patente o aspecto moral da luta contras as forças que destituem e desfiguram a
personalidade.
O impulso para uma completude no plano humano vive de forma mais ou
menos consciente na maior parte dos homens, contanto que a estrutura
social de seu tempo não os tenha desfigurado interiormente a ponto de
fazê-los sentir a própria desfiguração como condição imprescindível de
toda existência. Entretanto, este impulso e a capacidade para torná-lo
efetivo é muito variável entre as pessoas, sejam elas de uma mesma época
ou classe. A luta pela realização efetiva se estende em uma escala que vai
da revolta impotente até uma adptação cega - e inclusive autocomplacente
- a um dos falsos extremos (Lukács, 1982: 469).
BIBLIOGRAFIA:
VAISMAN, Ester, A ideologia e sua determinação ontológica in Revista Ensaio 17/18. São
Paulo: ed. Ensaio, 1989.