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A MODERNIDADE EM VINÍCIUS DE MORAES

Andréia Franciele PEREIRA (Unipar)

ISBN: 978-85-99680-05-6

REFERÊNCIA:

PEREIRA, Andréia Franciele. A modernidade em


Vinícius de Moraes. In: CELLI – COLÓQUIO DE
ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3,
2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 160-168.

INTRODUÇÃO

Há muitas contradições quando se fala sobre as características da modernidade.


Estas oposições entre ideologias existem desde que se iniciou a criação de obras que
refutavam os moldes clássicos de produção artística e que buscava na ideologia do
novo, como critério estético da arte, uma auto firmação do seu tempo sobre o tempo
passado.
As concepções sobre o belo, o herói, a estruturação do texto literário, também
sofreram mudanças. Uma das maiores características da modernidade quanto à beleza é
que essa passa a ser encontrada naquilo que é novo, o novo simboliza o belo. Quanto ao
herói, este não mais se encontra glamouroso, em pompas e cheio de honras como os
heróis das epopéias clássicas, e sim em meio ao povo. A massa populacional, por sua
luta diária, é vista como o herói moderno.
Estas concepções teóricas foram extraídas de dois livros, um de Walter
Benjamin e outro de Antoine Compagnon, os quais elaboraram um discurso cujo tema é
a modernidade e os elementos que dela fazem parte.
Acreditando-se que esses traços da modernidade podem ser encontrados na obra
de Vinícius de Moraes, já que esta foi criada em um período no qual tanto a arte quanto
a sociedade sofreram algumas mudanças, e como a obra muitas vezes está ligada ao
meio em que foi criada, e também devido à relevância que o poeta tem para com a
cultura e a arte no Brasil, entende-se que esta escolhe é permissível.
Os poemas foram analisados de maneira tal que se relacionassem com a teoria
aplicada, assim caracterizando-os como pertencentes à modernidade, por vários fatores
estudados posteriormente a análise.
Antoine Compagnon, em “Os cinco paradoxos da Modernidade”, estudou a
modernidade sob o ponto de vista de cinco paradoxos, os quais podem ser revistos e
analisados nas obras artísticas chamadas modernas, bem como os traços de modernidade
vistos por Walter Benjamin, em “Charles Baudelaire: um lírico no auge do

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capitalismo”, na obra de Baudelaire. Assim, alguns trabalhos de Vinícius de Moraes,
tendo em vista sua relevância para a arte literária e musical, serão analisados neste
trabalho a fim de verificar as marcas da modernidade apresentadas pelos teóricos acima
citados.
Neste trabalho serão utilizados dois destes paradoxos sendo que o primeiro
refere-se à tradição moderna do novo. Sabendo-se que um dos objetivos dos modernos
era a ruptura com o que era tido como clássico, tradicional, juntamente com a busca
pela originalidade, é possível afirmar que ao se tornar comum tal objetivo e este ser
passado de uma geração a outra, o mesmo tornou-se contraditório.
A visão do progresso, também presente nessa tradição moderna, simbolizava um
desenvolvimento contínuo, através do aprimoramento, assim o trabalho era
desenvolvido em uma velocidade superior ao que era antes, já que quanto mais rápido
se aperfeiçoasse mais rápido chegaria o retorno do trabalho. Além disso, as revoluções
industriais propiciaram ao mundo maior velocidade na produção de mercadorias, assim
as sociedades sofreram alterações não só materiais como também ideológicas.
Ainda há que se ver as contradições na idéia de modernidade, como, por
exemplo, para Baudelaire, o qual repudiava a idéia de progresso, e que via na paixão
pelo novo, um caminho para a decadência, pois estava fadado a criar seu próprio fim,
que foi o que aconteceu quando se criou a tradição moderna do novo. No entanto, a
noção de modernidade que predominou foi aquela relacionada com a ruptura com o
clássico e com a busca incansável pelo original através da novidade.
Assim como os primeiros modernos, Baudelaire procurava o novo no próprio
presente, sendo então compassível com a idéia de moderno de Hans Robert Jauss, citado
por Compagnon: “Modernus designa não o que é novo, mas o que é presente, atual,
contemporâneo daquele que fala” (1996:17). Desta maneira, é possível verificar já duas
marcas da modernidade, uma que busca o novo na arte, captando-o em seu próprio
presente e outra que busca o novo com um pensamento futuro, poderíamos aí citar as
Vanguardas Européias do começo do século XX, aqui sendo possível afirmar que “os
contemporâneos não estão preparados para acolher a arte do presente. O artista deve, pois,
esperar que o futuro confirme suas intuições e lhe faça justiça ”. (COMPAGNON, 1996:23).
Compagnon (1996:28/9) aponta alguns traços da modernidade constatados por
Baudelaire nas obras de Guys, que seriam o não-acabado: devido à velocidade do
mundo o artista se vê na obrigação de criar suas obras na mesma rapidez, não dando à
obra o devido cuidado e esmero necessários, dando a impressão de uma obra não
completa. É o que Baudelaire chama de “um esboço perfeito”. O fragmentário: a arte
pinta, capta impressões rápidas da vida, tornando a arte mnemônica, mas que por serem
assim acabam não absorvendo os detalhes da maneira como se deveria e não dando a
devida importância para cada um deles.
Ainda há a insignificância, que seria uma conseqüência dos dois primeiros
traços, o sentido se perde e a unidade de texto de fragmenta, tornando possível dar a
cada parte, separadamente, um sentido e ao mesmo tempo juntando as partes não criar
sentindo algum. É o que acontece graças ao fragmentário e ao não-acabado. A obra
torna-se aberta à criação de sentido, quem o fará será o leitor, ou receptor. Por fim, a
autonomia: a modernidade dá a arte uma liberdade de autocrítica, é a própria obra que
fornece os modelos, critérios e regras.
Outro ponto que Compagnon mostra dentro deste paradoxo é a relação da arte
com a vida moderna. Esta é aquela que proporciona o desenvolvimento daquela,
afirmando isso quando diz que “a vida moderna é um meio e não um fim da arte” (1996:35).

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Assim fazendo com que parte da tradição moderna seja constantemente recorrer à
cultura popular para se renovar, para então livrar-se das marcas que se lhe tornaram
costumeiras.
O outro paradoxo trata da perca da glória do novo e da massificação da arte,
intitulada arte pop. O autor afirma que a realização do ideal moderno de unir a cultura
de massa e a cultura de elite em uma só cultura só foi possível com a própria morte da
arte. Qualquer objeto passa a ser elevado a categoria de objeto de arte, desde que haja
uma aceitação por parte do público consumidor, dos museus, colecionadores, enfim, do
mercado. A arte tornou-se mercadoria.
Para isso foi necessário desmistificar o processo de criação da arte e eliminar a
“aura de gênio” do artista, para então dar lugar á um processo de fabricação manual, no
qual ao artista é um artesão que escolhe o que produzirá, estes produtos não possuem
um valor de uso e o mercado decidirá se se trata de uma obra de arte ou não. Outro fator
que ajudou a massificação da arte foi a reprodução em série e a fotografia. Ambas
contribuíram para a propagação da arte e de obras de arte, tornando possível o acesso a
maior parte das pessoas.
A partir disso, então é possível afirmar que “a obra de arte é a repetição simples e
ilimitada de uma imagem pertencente à mídia ” (COMPAGNON, 1996:95), fazendo com
que esta se torne o grande divulgador da arte. Outra característica da arte pop é a
sublimação do artista, levando como critério de arte a própria pessoa, de tal modo uma
obra qualquer que levasse a assinatura de um artista já renomado, reconhecido como
célebre, ganharia destaque, transformando o artista e não o objeto em obra de arte.
Saindo da arte pop, o autor faz um percurso pela França e o seu Novo Romance, que
uma das maiores características modernas consiste no usa da língua falada por toda a
narração, além disso, ele não lutava por rupturas, nem buscava o engrandecimento
futuro como as vanguardas.
No texto de Benjamin as marcas da modernidade foram analisadas e levantadas
a partir da obra de Charles Baudelaire. Mas mesmo Baudelaire apresentava-se tão
contraditório quanto os paradoxos descritos por Compagnon. Se por hora ela afirmava
que a arte deveria apresentar-se separada da utilidade, em outro momento defendia a
arte pela arte.
Benjamin mostra que Baudelaire acreditava que a imagem do artista estava
associada a imagem de um herói. E que o labor da arte estava ligado à luta de um
esgrimista, o artista deve travar uma luta pela construção e apuração da obra, pela
lapidação, contra si mesmo. A esta afirmação, Benjamin cita Baudelaire: “O espectador
saboreia o esforço; sorve o suor” (1989:67). Para tanto é necessário que haja dedicação e
tempo na elaboração da obra de arte, esclarecendo então que o tempo em que um
flâneur gastava nas ruas e na investigação da multidão, nada mais era do que parte do
trabalho de criação, e não apenas um trânsito despropositado e erradio.
Aqui adentra-se à duas visões sobre a forma da escrita moderna. Para
Baudelaire, era nos temas em que se encontrava a modernidade, a inovação, mas
mantendo as formas clássicas, como o verso, o ritmo, como pode ser constatado em seu
livro “As flores do mal”. Já para Rimbaud, tudo deveria adquirir novos moldes, não só o
tema como também a escrita, ele recusava violentamente o antigo: “as invenções do
desconhecido exigem formas novas” (COMPAGNON, 1996, 16).
Ainda sobre essa teoria de Baudelaire Compagnon afirma: “o exemplo da
antigüidade se limita à construção; a substância e a inspiração são assuntos da modernidade”
(1996:80). Porém o próprio Baudelaire abriu mão da forma clássica, e cede espaço aos

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poemas em prosa. E formula uma teoria para estes: “Deveria ser musical, mas sem ritmo ou
rima; bastante flexível e resistente para se adaptar às emoções líricas da alma, às ondulações do
devaneio, aos choques da consciência”. (BENJAMIN, 1989:69).
Tendo então nos temas a grande marca da modernidade para Baudelaire, abre-se
espaço então para a observação dos mesmos. Um dos mais expressivos é a multidão.
Ela surge como uma das características mais marcantes da modernidade, tanto para a
arte quando para a sociedade. As cidades cresceram e com ela sua população. A
aglomeração de pessoas criou algo como um ser gigante, de forma uniforme e ritmo
desconcertante. As pessoas são obrigadas a conviver umas com as outras, amontoadas
nos ônibus (outra inovação proporcionada pelo progresso), sem a necessidade de se
envolverem, mesmo porque suas obrigações diárias não lhes permitiam maiores
contatos umas com as outras.
Este ser bizarro proporcionou um interessante ponto de investigação para os
artistas, que se dispunham à observar a multidão e nela encontrar outros temas, como o
herói da modernidade. Sendo ela própria uma marca muito profunda em grandes obras
de arte, como as de Edgar Allan Poe. Um mesmo tema sob perspectivas distintas, para
Poe um esconderijo para seus criminosos em seus contos policiais; para Baudelaire um
refúgio, como em seu poema “A uma Passante”.
Da massa da cidade grande são retirados alguns personagens que são tratados
como modernos também. Como, por exemplo, o trapeiro, o coletor de lixo, que se
entrega ao vinho na busca de sonhos de glória, se refugiando na embriagues de sua vida
decadente. O flâneur, o observador da multidão, muitos deles eram literatos, se vê
muitas vezes como o trapeiro, pois “cada um deles se encontrava, num protesto mais ou
menos surdo contra a sociedade, diante de um amanhã mais ou menos precário” (BENJAMIN,
1996:17). Ou ainda quando compara o andar da flânerie com o do trapeiro: “é o passo do
poeta que erra pela cidade à cata de rimas; deve ser também o passo do trapeiro que, a todo
instante, se detém no caminho para recolher o lixo em que tropeça ”. (BENJAMIN, 1989:79).
Então surge a figura do herói moderno. “O herói é o verdadeiro objeto da
modernidade” (BENJAMIN, 1989:73). Baudelaire reconhece esse herói moderno no
trabalhador, que luta por sua sobrevivência na cidade, sofrendo as injúrias que a vida lhe
apregoa e que se refugia no vinho para ganhar forças e sonhar. “Aquilo que o trabalhador
assalariado executa no labor diário não é nada menos do que o que, na antigüidade, trazia glória
e aplauso ao gladiador”. (BENJAMIN, 1989: 74). Distanciando-se desta maneira do herói
clássico, que era revestido de um heroísmo pomposo e glorificante, o poeta busca no
povo e na escória da sociedade tanto seus temas heróicos quanto o próprio herói.
Devido à extensão da obra artística de Vinícius de Moraes foram selecionados
apenas alguns textos1 para se fazer esta análise quanto a presença de elementos
modernos em sua obra. A relevância do prestígio deste poeta e compositor são já
inegáveis, não sendo necessário entrar no mérito da questão neste trabalho. Assim,
partir-se-á para os textos para análise.
Assim como foi citado acima, Baudelaire acreditava que a forma dos poemas
modernos deveria permanecer por conta da Antigüidade. Os sonetos marcaram
profundamente a obra de Vinícius de Moraes, e neles é possível se encontrar este molde
baudelairiano de poema, sendo um dos mais conhecidos o “Soneto de Fidelidade”.
Quanto ao tema, é lírico romântico, não seguindo então a teoria citada. Mas que mesmo
assim, não deixa de se encaixar no perfil de arte moderna, se se pensar sobre a arte pop,

1
Os poemas foram retirados do site oficial do poeta Vinícius de Moraes.
http://www.viniciusdemoraes.com.br

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que uma das características estéticas observadas para elevar um objeto à obra de arte era
que o mesmo tivesse sido criado por um artista já renomado.
Desta maneira, tanto este soneto, quanto os outros de cunho lírico romântico de
Vinícius de Moraes encaixam-se como modernos, por um lado pela forma pregada por
Baudelaire e por outro por sua introdução no meio artístico e aceitação do público e da
mídia graças ao renome de seu criador e à massificação da arte. Sendo que um dos
motivos que auxiliaram na repercussão da obra escrita de Vinícius de Moraes, foi o fato
de ele também ter sido compositor de Bossa Nova, o que auxiliou na divulgação de sua
imagem e trabalho.
Porém, há um soneto, não tão conhecido que se encaixaria na teoria de
Baudelaire, é o soneto “Mário”:

Mário

Entre meditabundo e solonento


Sobre a fofa delícia da almofada
Ele vai perseguindo na jornada
Através o Ottocento e o Novecento

Não o tires dali que dá pancada


Todo o resto pra ele é sofrimento
Vai colhendo da flor do pensamento
Toda a filosofia desejada

Só abandona voluntário o élan


Para o banho de poço da manhã
"Mens sana..." disse François Leblon

E às vezes, Carnaval, cai na folia


E passeia porrado pela orgia
Sob o signo pagão do deus Mammon.

Nele, a forma clássica alia-se a uma temática moderna, contemporânea ao poeta.


O anônimo sujeito que, assim como o trapeiro de Baudelaire procurava na taverna e no
vinho, procura na folia do Carnaval um alento, um lugar de sonhos e alegria para fugir
da sua vida de sofrimento.
Ainda sobre a forma, há poemas de Vinícius de Moraes que também se ajustam
ao pensamento de Rimbaud, quando este fala que a forma do poema moderno também
deveria ser nova. É o caso de “A última elegia (V)”. Há dentre os seus versos, uma
ruptura com o versejar tradicional:

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[...]
the wa
t
e
r

Am I p a Spider?
i
Am I p a Mirror?
e
Am I s an X Ray?

No, I’m the Three Musketeers


rolled in a Romeo.
Vírus [...]

O poema “A mulher que passa”, de Vinícius de Moraes faz uma alusão ao


poema “ A uma passante”, de Baudelaire. Ambos tratam de uma figura feminina que
transita, pode-se dizer em meio à multidão, despercebida dos olhares de um observador
que não deixa passar a bela impressão que lhes causa sua figura. E que tanto em um
poema quanto em outro, figura um amor a primeira vista, mas que não se concretiza
porque o ser desejado não permanece. Assim termina o poema de Vinícius de Moraes:
“E tem raízes como a fumaça.”
Outro poema, “Os inconsoláveis”, de Vinícius de Moraes, trata ainda mais
claramente do tema da multidão.

Os inconsoláveis

Desesperados vamos pelos caminhos desertos


Sem lágrimas nos olhos
Desesperados buscamos constelações no céu enorme
E em tudo, a escuridão.
Quem nos levará à claridade
Quem nos arrancará da visão a treva imóvel
E falará da aurora prometida?
Procuramos em vão na multidão que segue
Um olhar que encoraje nosso olhar
Mas todos procuramos olhos esperançosos
E ninguém os encontra.
Aos que vêm a nós cheios de angústia
Mostramos a chaga interior sangrando angústias
E eles lá se vão sofrendo mais.
Aos que vamos em busca de alegria
Mostramos a tristeza de nós mesmos
E eles sofrem, que eles são os infelizes
Que eles são os sem-consolo...

Quando virá o fim da noite


Para as almas que sofrem no silêncio?
Por que roubar assim a claridade
Aos pássaros da luz?
Por que fechar assim o espaço eterno

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Às águias gigantescas?
Por que encadear assim à terra
Espíritos que são do imensamente alto?

Ei-la que vai, a procissão das almas


Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento
Andando pela infinita planície que leva ao desconhecido
As bocas dolorosas não cantam
Porque os olhos parados não vêem.
Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo
Tudo neles é a negação do anjo... ...são os Inconsoláveis.

– Águias acorrentadas pelos pés.

Aqui o poeta chama as pessoas que se deixam levar pelo movimento uniforme
da massa são tratados como “os sem-consolo”. E assim como a multidão de Baudelaire,
eles também passam inertes uns aos outros, versos 26/7/8. O narrador desta multidão
pode ser visto como o flâneur, que procura, sem alcançar seu objetivo, um olhar que lhe
alimente a esperança.
Nos versos “Ei-la que vai, a procissão das almas/ Sem gritos, sem prantos, cheia
do silêncio do sofrimento”, há mais uma demonstração da prostração das pessoas da
multidão, que apesar de possuírem sentimentos, não compartilham umas com as outras
suas angústias, e passam sem gritos, sem se relacionarem de alguma maneira.
Por fim, chega-se a figura do herói. Como foi citado acima, o herói moderno,
para Baudelaire, é aquele encontrado em meio à multidão, é o trabalhador que
diariamente luta por sua sobrevivência. Em Vinícius de Moraes esse herói encontra-se
descrito no poema “O Operário em Construção”.
Este poema traz a descrição da vida de um operário que toma consciência de sua
importância para a sociedade e juntamente sobre seu sofrimento e toda injustiça
acometida aos trabalhadores, que constroem os edifícios e não têm reconhecido o seu
trabalho e que assim seguem para ter seu pão, trocando sua mão-de-obra pelo alimento,
sem maiores recompensas. Os trabalhadores que têm em seus corpos as marcas do seu
trabalho.
Este operário passa a enxergar a poesia presente em sua vida e então se insurge
contra o patrão. Com isso ele começa a sofrer, injustamente, agressões e repreensões,
mas não muda sua postura. O patrão, sem compreender a razão, oferece regalias ao
operário para ele lhe dizer o motivo da rebelião, mas ele não aceita, por entender que
aquilo que lhe fora oferecido já lhe pertencia, dentro de sua poesia.
O operário sente-se só, mas ouve a voz de outros operários que “morreram por
outros que viverão”, fazendo uma alusão a uma possível greve trabalhista findada com
agressões físicas e morte. E então uma esperança tomou posso de seu ser, e que apesar
de terminar pobre e esquecido, deixou de ser mais uma máquina ordenada e
programada, para se tornar um homem que é capaz de crescer, que não está findada a
sua construção, seu desenvolvimento.
Neste poema, o herói, sofre as amarguras e injustiças aplicadas aos trabalhadores
que por não terem outra opção se sujeitam a isso para poder sobreviver, mas que a um
certo ponto, ele passa a compreender essa situação e tenta mudá-la. Não consegue,
porém sente-se mais vivo e capaz de levar uma vida menos decadente. Ao chamar o
operário de “operário em construção” o poeta também sugere uma idéia de progresso,

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de aperfeiçoamento, no qual o operário, ainda não construído, pode se moldar
desenvolvendo-se e melhorando sua vida.
Sobre o trabalho minucioso pregado por Baudelaire à obra artística, Vinícius
será citado quanto à sua composição musical. Ele próprio relatou sobre a dificuldade em
escrever uma letra, como a da música “Chega de Saudade”, pela “estrutura melódica cheia
de idas e vindas”, Castro (1190:168). Sendo que no mesmo livro é mencionado que para
escrever as letras compostas com Baden Powell, ambos passaram confinados durante
três meses em um apartamento, dedicando-se exclusivamente à composição.
Entendendo-se que o mesmo labor deveria ser empregado na produção de toda sua obra.
Assim, verificaram-se vários elementos citados por Baudelaire, encontrados no
livro de Walter Benjamin sobre os elementos presentes nas obras artísticas da
modernidade, sendo correto, então afirmar que, pelo menos parte da obra de Vinícius de
Moraes pode ser concebida como moderna.
Quanto aos elementos do livro de Antoine Compagnon, pode-se dizer que a
mídia proporcionou a Vinícius de Moraes que sua obra fosse conhecida não apenas no
cunho musical, mas também literário, tendo em vista seu prestígio perante o público. E
quanto a tradição moderna, percebe-se que o poeta não está engajado na defesa pelo
novo, mas nem por isso deixa de usar aquilo que lhe é proporcionado para criar sua
poesia.

CONCLUSÃO

Foram levantadas as informações sobre os elementos da modernidade, segundo


os teóricos Walter Benjamin e Antoine Compagnon, dentre eles a forma de produção
dos textos literários, os temas, as circunstâncias não textuais que implicam na aceitação
de um trabalho como sendo artístico ou não e as transformações que ocorreram para que
se criasse a idéia do progresso e do novo, aquele como evolução da arte e este como
elemento estético da mesma.
Logo após a análise destes elementos dentro da obra de Vinícius de Moraes,
através de alguns de seus poemas, é possível concluir que a mesma possui
características para ser encaixada como obra moderna.
A luta do esgrimista, que simboliza o esmero com o fazer literário, proposta por
Baudelaire, é comprovado na obra musical de Vinícius de Moraes, o qual afirmou, ele
mesmo, a dificuldade na elaboração das letras das músicas, além de sua dedicação
exclusiva dada aos momentos de composição.
Tanto pela temática, relativa ao tempo do poeta, como, por exemplo, o carnaval
e a multidão da cidade grande e seus conflitos, como pelas formas do poema, tanto
respeitando o verso clássico, Baudelaire defendia o uso da estrutura clássica nos poemas
modernos, quanto pela quebra deste mesmo verso, como pode se encontrado no poema
“A última elegia (V)”.
Além disso, constatou-se a presença da imagem do herói moderno em um dos
poemas, “Operário em Construção”, o qual participa da massa de trabalhadores que se
sujeita às injustiças cometidas contra eles, mas que assim seguem para poder ter um
meio de sobrevivência. Com a diferença que o herói de Vinícius de Moraes chegou a
tomar consciência de sua situação decadente, e que apesar de se rebelar contra isso, não
conseguiu mudar seu quadro social, no entanto, transformou-se e adquiriu o saber para
encontrar poesia em sua vida e entender sua importância na sociedade.

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Assim, sendo possível também encontrar a idéia de progresso dentro do poema
“Operário em Construção”, já que o trabalhador passa, ou seja, evolui, progride de
operário construído, para operário em construção. Ou seja, aquele que pode, com o
aperfeiçoamento ao longo de um certo tempo, evolui, progredir ainda mais, pois eles
está em construção.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São


Paulo: Brasiliense, 1989. (Obras escolhidas, 3)

CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da Bossa Nova. São


Paulo: Companhia das Letras, 1990.

COMPAGNON, Antonie. Os cinco paradoxos da Modernidade. Tradução de


Cleonice P. Mourão, Consuelo F. Santiago e Eunice D. Galéry. Belo Horizonte: UFMG,
1996.

http://www.viniciusdemoraes.com.br . Acesso em: 05/03/2007

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