Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
RESUMO
Este artigo discute os direitos fundamentais das vítimas no processo
penal e o seu reconhecimento como sujeito do processo, tendo como
marco a teoria procedimentalista, revisitada pelas críticas de Marramao
e de Eligio Resta. Assim, o presente artigo inicia demonstrando a
!"#$%&'!() !'#'& *!+',- .*/0#'*!+&0 1)/0#2'&3'*/ !/)&3'4-(*#+!()#/3'
e a necessidade de se reconhecer direitos fundamentais das vítimas.
No segundo item, discute justamente o ocultamento pelo qual a vítima
de crimes se encontrava e a necessidade de seu reconhecimento. Por
5+2'#(#"/3#'&3'#)-#/3'"/+/)!3'!'6&33/7/"/*#*!3'*#'#)-#$%&'*#'8.)/+#'
no processo penal.
Palavras-chave: Vítima. Direitos fundamentais. Garantias no processo
penal.
* Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2003); mestre em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2000); graduada em Direito
pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997). Atualmente é professora adjunta III da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; professora da Universidade Federal de
9- &': !)&'!'+!+7 &'*#';&+/33%&'*#';&& *!(#$%&'*!'<6! 4!/$&#+!()&'*!':!33&#"'*!'
=.8!"'>-6! /& '?;#6!3@A';&()#)&B'C#8/#(!7# &3D7# &3+#0E#*&A0&+A7
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 309
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
ABSTRACT
This paper discusses the fundamental rights of victims in criminal
proceedings and recognition as a subject of the proceedings, with
the March proceduralist theory, revisited by critics of Marramao and
Eligio Resta. Thus, this article starts showing the relationship between
the legal system and democratic fundamental rights and the need to
recognize the fundamental rights victims. The second item discussed
was precisely the neglect of victims of crimes and was in need of
recognition. Finally, it analyzes the current performance limits and
possibilities of the victim in criminal proceedings.
Keywords: Victim. Fundamental rights. Guarantees in criminal
proceedings.
INTRODUÇÃO
9'6#(& #+#'#)-#"'*&'*/ !/)&'+-(*/#"'0&()/(-#'8! /50#(*&'3--
0!33/8#3'8/&"#$F!3'*!'*/ !/)&3'4-(*#+!()#/3A'>!'#/(*#'(%&'3!'#6#G&-'
#'"!+7 #($#'*&'E&"&0#-3)&2'/(0"-!+H3!'&-) &3'#)#I-!3'/()! (#0/&(#/3'
aos direitos humanos, como na Chechenia, Iugoslávia, Ruanda, Angola
e, agora, em 2011, chega a primavera árabe, que é uma tentativa de
insurgência contra os governos autoritários dos países islâmicos, de
0&(&)#$%&'6#0.50#'+#3'*!'G #(*!' !6! 0-33%&'!+' #J%&'*&'(K+! &'
de pessoas em busca de democracia e reconhecimento de direitos
fundamentais.
=!33!'0&()!L)&'+-(*/#"2'+#3'I-!')!+'3!' !C!)/*&'(&'M #3/"2'6& '
exemplo, o movimento para revisão dos limites da Lei de Anistia, na
luta por reconhecimento das terras indígenas, nas políticas públicas de
gênero, ganha relevo o movimento vitimológico e os direitos das vítimas.
Em especial, deve-se destacar que a leis processuais brasileiras
)N+2'*!3*!'&'5(#"'*#'*O0#*#'*!'PQ'*&'3O0-"&'6#33#*&2'3!'6 !&0-6#*&'
0&+'#'5G- #'*#'8.)/+#'(&'6 &0!33&'6!(#"A'R+'!36!0/#"2'0#7!'*!3)#0# '
as leis referentes aos Juizados Especiais Criminais e as leis da reforma
parcial do processo penal de 2008. Admite-se, assim, o início de uma
tentativa de reconhecimento da vítima como sujeito de direitos e legi-
timada a participar do processo penal, por um lado, e destinatária de
6&".)/0#3'6K7"/0#3'!36!0.50#32'6& '&-) &'"#*&A
310 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 311
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
312 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 313
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
314 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 315
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
316 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 317
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
318 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
&' I-#"' 6 !)!(*/#' &' 5+' *#3' */30 /+/(#$F!3' !L/3)!()!3' (&' X+7/)&' *#'
!*-0#$%&2'*&') #7#"E&'!'*&3'*/ !/)&3'6&".)/0&32'*!(&+/(#*&3'6!"&'#-)& '
*!' */ !/)&3' 4& +#/3B' b<' !)\ /0#' *#' /+6"#()#$%&' *!' */ !/)&3' 4& +#/3'
6 &0- #8#'3!6# # '&'+#/3'6&33.8!"'#'#I-/3/$%&'*!'3)#)-3'*#'/*!()/*#*!'
sexual e garantir a igualdade de chances de concorrência por emprego,
*/6"&+#2'3#"1 /&2'3)#)-3'3&0/#"2'/(C-N(0/#'!'6&*! '6K7"/0&c'?S<MRW-
MAS, 1997, v. II, p. 162).
=&'!()#()&2'#'&7)!($%&'*!'*/ !/)&3'4& +#/3'/+6-(E#'#'(!0!33/*#-
*!'*!'6&".)/0#3'!36!0/#/3'*!'6 &)!$%&2'/+6"!+!()#*#3'6!"&'R3)#*&'>&0/#"2'
principalmente nas áreas relativas ao trabalho e à família. Como ressalta
&'#-)& B'b=!33!')! !(&2'#'"!G/3"#$%&'4!+/(/3)#'3!G-/-'&'6 &G #+#'*&'
R3)#*&'>&0/#"2'I-!'8/3#'6 &+&8! '#'!I-/6# #$%&',- .*/0#'*#'+-"E! '
#) #8O3'*#'0&+6!(3#$%&'*!'6 !,-.J&3'*!'(#)- !J#'3&0/#"'&-'7/&"\G/0#c
(HABERMAS, 1997, v. II, p. 163). Essas medidas paternalistas, que
/+6"!+!()#8#+'6&".)/0#3'6 &)!)/8#32'0&+&'#3' !"#)/8#3'T'G!3)#$%&'!'T'
maternidade, em sua maioria, geraram resultados contrários, aumen-
)#(*&'&'(.8!"'*!'3!G !G#$%&2'*#(*&'& /G!+'#'4!(^+!(&3'3&0/#/32'0&+&'
&'*#'b4!+/(/J#$%&'*#'6&7 !J#cA'
O movimento feminista, a partir da década de 70, passou a criticar
esses programas paternalistas, que impediam discussões públicas dos
afetados pela questão (HABERMAS, 1997).
;#7!'#I-/' !33#")# '#'/+6& )X(0/#'*#*#'T'6# )/0/6#$%&'*&3'#4!)#-
*&3'(#3'G# #()/#3'*!'#-)&*!)! +/(#$%&'*!'*/ !/)&3'4-(*#+!()#/32'I-!'3!'
amoldam ao conteúdo procedimentalista do direito que busca conjugar
autonomia privada e autonomia cidadã como um todo indivisível.
Portanto, o estabelecimento de direitos fundamentais depende
*!'-+#'6# )/0/6#$%&'*&3'#4!)#*&3'(&'6 &0!33&'*!'*/30-33%&'!'4& +#$%&'
de opinião e vontade, e somente podem ser garantidos se a autonomia
pública que lhes complementa puder ser exercida.
A Vitimologia se localiza, historicamente, com seus primeiros
sérios questionamentos a respeito da vítima a partir da Segunda
k-! #'V-(*/#"2'6#"0&'*#'8/)/+/J#$%&'*&'6&8&',-*!-'6!"&'E&"&0#-3)&2'
e principalmente da década de 70, com o movimento feminista e, no
âmbito do Direito Penal, do movimento abolicionista. Nesse contexto,
*!5(!H3!'&'0&(0!/)&'!3) /)&'*!'8.)/+#'*!'-+'*!"/)&'&-2'6& '&-) &'"#*&2'
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 319
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
320 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 321
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
322 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 323
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
324 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
<&' *!4!(*! ' #' 6&33/7/"/*#*!' *!' !#"/J#$%&' *!' !L#+!' G!(O)/0&'
sem consentimento do acusado, tendo como base a regra do art. 232 do
;\*/G&';/8/"'!'*&'-3&'*#'6&(*! #$%&'?6 &6& 0/&(#"/*#*!@2':#0!""/'*!'
9"/8!/ #'#(#"/3#'&'0#3&'#0/+#2'!L#")#(*&'#'0& !$%&'*#'*!0/3%&'*&'>ja'B
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 325
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
326 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 327
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
328 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 329
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
330 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
CONCLUSÕES
A necessidade de reconhecer os direitos fundamentais decorre
da cooriginalidade com a soberania cidadã, de modo que o reconheci-
mento de direitos fundamentais e democracia são indissociáveis. Os
direitos fundamentais decorrem do reconhecimento de todos como
3-,!/)&'*!'*/ !/)&32'3-,!/)&3'/G-#/3'!+'3-#3'*/4! !($#32'I-!'3!' !0&(E!-
cem direitos jurados em conjunto entre irmãos.
Assim, os direitos fundamentais da vítima não são apenas de
natureza patrimonial ou assistencial, como admitidos em perspectivas
"/7! #/3'!'3&0/#/32'+#3'3/+'*/ !/)&'T'6# )/0/6#$%&2'G# #()/(*&H"E!'#-)&-
nomia pública e autonomia privada de forma cooriginária. A partici-
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 331
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
NOTAS
[' =!33!'3!()/*&2'6&*!H3!'/*!()/50# '#'q!/'(m'[YAioQwYQQ_2'I-!'6 !8N'& G#(/J#$%&'*&3'z-/J#*&3'
R36!0/#/3'*!'n/&"N(0/#'U&+O3)/0#'!'6&".)/0#3'!36!0.50#3'#33/3)!(0/#/3'#/(*#'(%&'!4!)/8#*#3'
em âmbito nacional ou estadual.
Y' 9';\*/G&'*!': &0!33&':!(#"2'!+'3-#'6 &6&3/$%&'& /G/(#"2') #)#'#'8.)/+#'#6!(#3'#'6# )/ '*!'
3!-'/()! !33!'6#) /+&(/#"'*!'8! '3!-3'*#(&3'6#) /+&(/#/3' !3)#- #*&32'0&+&'3!'3-#'#)-#$%&'
4&33!'!L0"-3/8#+!()!'(&'3!()/*&'*!'&7)! '-+').)-"&'!L!0-)/8&'6# #'/(G !33# '0&+'#' !6# #$%&'
do dano na esfera civil.
3 Sobre a crítica ao uso do princípio da proporcionalidade, ver Cattoni de Oliveira (2007) e
Cattoni de Oliveira e Pedron (2010).
o' 9'6!*/*&'6 !)!(*/#'#-)& /J#$%&'6# #'!8/)# '#'6 &*-$%&'*!'6 &8#'/".0/)#2'6& '+!/&'*#'#--
)& /J#$%&',-*/0/#"'*!'-+#'*#3'3!G-/()!3'*/"/GN(0/#3'&-'&' !0&"E/+!()&'*#'6"#0!()#2'*!'5&3'
*!'0#7!"&'*#'0 /#($#2'&-'0&"!)#'*!'0O"-"#3'*#'+-0&3#'7-0#"'&-'*!'3#(G-!2'6# #'3!' !#"/J# '&'
!L#+!'*!'U=<'#'6# )/ '*#'0&+6# #$%&'0&+'&'+#)! /#"'G!(O)/0&'&4! )#*&'6!"&3'#G!()!3'*!'
polícia, delegados da Policia Federal e detentos presos na referida carceragem da Policia
Federal.
REFERÊNCIAS
BARROS, Flaviane. A participação da vítima no processo penal. Rio
de Janeiro: Lúmen Juris, 2008.
~~~~~~A' U/ !/)&' *#3' 8.)/+#3' !' 3-#' 6# )/0/6#$%&' (&' 6 &0!33&' 6!(#"B' #'
#(1"/3!'*&':q>'[l_wYQQP'#'6# )/ '*!'-+#'/()! 6 !)#$%&'0&(3)/)-0/&(#"A'
In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.); CARVALHO, Luis
332 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013
A vítima de crimes e seus direitos fundamentais:
seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo
Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013 333
FLAVIANE DE MAGALHÃES BARROS
334 Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 13, p. 309-334, jan./jun. 2013