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Giovanni Seabra

(Organizador)

Educação ambiental:
natureza, biodiversidade e sociedade

Ituiutaba, MG

2017
© Giovanni Seabra (Org.), 2017.
Arte Gráfica e editoração: Alex David Silva de Assis, Claudia Neu, Gabriel de Paiva Cavalcante
Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva, Loester Figueirôa de França Filho e Maria
Imaculada de Andrade Morais.
Editor: Anderson Pereira Portuguez
Arte da capa: Gabriel de Paiva Cavalcante

Contatos:
www.cnea.com
ambiental.gs@gmail.com

Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos

Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade / Giovanni Seabra


(Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2017. 1.703p.

ISBN: 978-85-68066-55-3

1. Educação Ambiental; 2. Biodiversidade; 3. Sociedade


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de


responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à Editora


Barlavento e aos organizadores da obra.
APRESENTAÇÃO
Educação Ambiental - Natureza, Biodiversidade e Sociedade

Água, Terra, Fogo e Ar são os pilares de sustentação do V Congresso Nacional de Educação


Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia, realizados, simultaneamente, no período de
9 a 12 de outubro de 2017, na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.
Apoiados no tema geral Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas
brasileiros, os eventos reuniram 800 congressistas, cujos trabalhos apresentados foram publicados
em cinco livros, com distintos temas versando sobre a sociedade e o meio ambiente.
Os quatro elementos fazem parte e sustentam a vida no Planeta desde a sua origem. A água
mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e perpetuação
das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as terras
continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares. O fogo é a fonte de energia criadora
da Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que existe no Universo; é responsável pela germinação das
plantas e o suprimento alimentar do mundo animal. O ar oxigena o espaço vital renovando os
lugares e perpetuando a biodiversidade.
Distintas civilizações e grupos sociais cultuam os quatro elementos como base de equilíbrio
do ser. O elemento Água está associado à bioquímica, ás emoções e os sentimentos; o elemento
Terra oferece ao corpo a matéria composta de substâncias minerais; o elemento Fogo governa a
energia, a intuição e o poder; o elemento Ar é condutor das energias sutis que elevam o ser humano
à esfera espiritual.
Os riscos ambientais são intrínsecos à ocupação humana de áreas ambientalmente frágeis, a
exemplo das zonas costeiras, das várzeas fluviais, morros e barreiras. O conceito de
sociobiodiversidade remete ao convívio harmônico entre a sociedade e a natureza, envolvendo o
saber ambiental tradicional, possibilitando a redução dos riscos e impactos ambientais. Nesta
perspectiva, os artigos reunidos na presente obra abordam temas atuais diversos como Biogeografia,
Biodiversidade, mudanças climáticas e geoecologia das paisagens, patrimônio cultural e o saber
ambiental.

Giovanni Seabra
Sumário
Biogeografia e Biodiversidade.......................................................................................................16
OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NA SUSTENTABILIDADE DOS BIOMAS
BRASILEIROS .............................................................................................................................. 17

PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADAS NO AQUÁRIO PARAÍBA PARA


AMBIENTES MARINHO E COSTEIRO ..................................................................................... 30

ASPECTOS FLORÍSTICOS E IMPLICAÇÕES ECOLÓGICAS DAS COMUNIDADES DE


MACRÓFITAS AQUÁTICAS DE RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO .................................. 42

REGISTRO DE QUATRO NOVAS OCORRÊNCIAS DE CERAMBYCIDEOS EM CAJUEIRO


NO BRASIL................................................................................................................................... 54

ESTUDANDO O CERRADO POR MEIO DE ATIVIDADES INVESTIGATIVAS.................. 61

AVIFAUNA DA FAZENDA ALVORADA: UM GUIA INTRODUTÓRIO À ORNITOLOGIA


REGIONAL ................................................................................................................................... 71

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O TRABALHO ESCOLAR COM PLANTAS MEDICINAIS E


AROMÁTICAS COMO MARCADOR DA IDENTIDADE DA COMUNIDADE LOCAL ...... 81

GRAU DE INFESTAÇÃO DA MOSCA-DA-VERRUGA EM CLONES DE CAJUEIRO-ANÃO


CONSORCIADOS COM FRUTEIRAS ........................................................................................ 92

COLEOPTERAS DE IMPORTÂNCIA FORENCE: UMA REVISÃO DE LITERATURA -


PARAÍBA .................................................................................................................................... 101

DIAGNÓSTICO E REVITALIZAÇÃO DA PALMA FORRAGEIRA NO CARIRI


PARAIBANO .............................................................................................................................. 110

BIOGEOGRAFIAS DO SUL: UMA REFLEXÃO SOBRE A BIOGEOGRAFIA CULTURAL A


PARTIR DA ECOLOGIA DE SABERES .................................................................................. 123

CARACTERIZAÇÃO FISIONÔMICA DAS FORMAÇÕES E SUBFORMAÇÕES VEGETAIS


DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC. ........................................................... 136

INTERFERÊNCIA DA CAPRINOCULTURA EXTENSIVA NA FAUNA SILVESTRE EM


UM PARQUE NACIONAL ........................................................................................................ 146

GRANDES BIOMAS BRASILEIROS: EFEITOS DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS


SOBRE OS ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE DAS PROPRIEDADES RURAIS ............ 157
ESTUDO BIOGEOGRÁFICO DOS FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PRESIDENTE
PRUDENTE-SP ........................................................................................................................... 169

RÉPTEIS NO AGRESTE DA PARAÍBA, BRASIL: LEVANTAMENTO E PERCEPÇÃO POR


MORADORES DE COMUNIDADES TRADICIONAIS .......................................................... 182

MUSEALIZAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DE INSETOS


AQUÁTICOS............................................................................................................................... 194

DIVERSIDADE DE SAMAMBAIAS E LICÓFITAS NO PARQUE ESTADUAL SÍTIO


FUNDÃO, GEOPARK ARARIPE, CRATO, CEARÁ, BRASIL............................................... 207

INSETOS VISITANTES FLORAIS DE Croton heliotropiifolius KUNTH (EUPHORBIACEAE)


EM ÁREA DE CAATINGA NO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL ..................................... 214

CONHECIMENTO DE USO DA Jatropha gossypiifolia L. EM FEIRAS LIVRES DO BREJO


PARAIBANO .............................................................................................................................. 226

MAMÍFEROS DE UMA ÁREA DE CAATINGA EM PERNAMBUCO, BRASIL: NOVAS


PERSPECTIVAS NO LEVANTAMENTO DE FAUNA ........................................................... 234

USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE DE


CÓRREGO NO MUNICÍPIO DE APODI – RN......................................................................... 246

BIOMORFOMETRIA E HISTOLOGIA DO MARISCO PEDRA (ANOMALOCARDIA


FLEXUOSA) DO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE.............................................. 257

RESQUÍCIOS DE MATA ATLÂNTICA NO MÉDIO CURSO DO RIO TIJUCO EM


ITUIUTABA (MG): UMA ANÁLISE BIOGEOGRÁFICA....................................................... 268

IMPORTÂNCIA DE POLINIZADORES NA CULTURA DO FEIJÃO CAUPI ...................... 277

COLEÇÃO DIDÁTICA HERPETOLÓGICA DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO -


CAMPUS MATA NORTE .......................................................................................................... 288

Geoecologia das Paisagens .........................................................................................................298


ABORDAGEM DIALÉTICO-MATERIALISTA NO ESTUDO DA DINÂMICA DOS
TERRAÇOS FLUVIAIS .............................................................................................................. 299

CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA BACIA DO IPOJUCA ENTRE OS


MUNICÍPIOS DE SÃO CAETANO E GRAVATÁ (PE) ............................................................ 307

RESSIGNIFICAÇÃO DA PAISAGEM: UM OLHAR ACERCA DO NATURAL NA VILA DE


DOIS RIOS – ILHA GRANDE, RJ. ............................................................................................ 320
O ESTUDO DA PAISAGEM COMO FERRAMENTA DE GERENCIAMENTO DOS
RECURSOS HÍDRICOS: UM ESTUDO DE CASO NA BACIA DO RIBEIRÃO MELCHIOR
...................................................................................................................................................... 333

EXPLORAÇÃO MINERAL E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS: ANÁLISE


ECODINÂMICA DE PAISAGEM NO NORTE DA BAHIA .................................................... 346

O PALEODESERTO DE XIQUE-XIQUE-BAHIA: ABORDAGENS TEÓRICAS E


ASPECTOS PEDOLÓGICOS ..................................................................................................... 361

USO DOS RECURSOS NATURAIS E PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS NO PERCURSO


VITÓRIA DA CONQUISTA – MUCUGÊ - BA ........................................................................ 374

ALAGOAS O CAPITAL NATURAL E AS MODIFICAÇÕES NO MEIO AMBIENTE. ....... 387

A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA E AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO A PARTIR


MINERAÇÃO ............................................................................................................................. 398

Mudanças Climáticas, Natureza e Sociedade .........................................................................410


ANÁLISE DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS DO AR EM CIDADES BRASILEIRAS SOB
O ENFOQUE DO AQUECIMENTO GLOBAL (1960-2010) .................................................... 411

PODER, PRECISÃO E RESPOSTA DE TESTES CLÁSSICOS DE HOMOCEDASTICIDADE:


APLICAÇÃO À SÉRIES TEMPORAIS DE PRECIPITAÇÃO PLUVIAL DO SEMIÁRIDO
POTIGUAR ................................................................................................................................. 426

EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE INSETOS


AQUÁTICOS ENDÊMICOS DE REGIÕES FRIAS .................................................................. 437

ANÁLISE DA COBERTURA VEGETAL EM ANOS DE EVENTOS PLUVIOMÉTRICOS


EXTREMOS EM SÃO JOÃO DO CARIRI – PB ....................................................................... 449

VULNERABILIDADES MORFOCLIMÁTICAS NO BIOMA AMAZÔNIA NO ESTADO DO


MARANHÃO: ORIENTAÇÕES AO ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
REGIONAL ................................................................................................................................. 461

BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO CURSO DO RIO PARAÍBA E SUA TENDÊNCIA


PLUVIOMÉTRICA ..................................................................................................................... 473

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E ÁREAS SUSCETÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO


ANTRÓPICA NO MUNICÍPIO SERGIPANO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA ........... 486
CABACEIRAS – PB E SUAS VARIABILIDADES DE TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO
...................................................................................................................................................... 499

VARIABILIDADE DAS TEMPERATURAS EXTREMAS E MÉDIA DO AR E DO


ENTORNO DA LAGOA PARNAGUÁ...................................................................................... 513

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO PLUVIOMÉTRICO DO ESTADO DE SERGIPE


USANDO DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADES ............................................................ 526

Planejamento e Gestão de Áreas Protegidas ...........................................................................539


ARÉAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – APA ANÁLISE E REFLEXÕES NO TERRITÓRIO
BRASILEIRO .............................................................................................................................. 540

O CÂNION DO RIO POTI UM PATRIMÔNIO CULTURAL A SER PRESERVADO:


OBSERVAÇÕES DE UMA AULA DE CAMPO ...................................................................... 549

AÇÕES FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE ZOOBOTÂNICO


ARRUDA CÂMARA-JP: PARCERIA UFPB/BICA.................................................................. 560

REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL DE VISITANTES DE UM PARQUE ZOOBOTÂNICO 572

AVALIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA INCIDÊNCIA DE FOCOS DE CALOR E


RELAÇÃO COM INCÊNDIOS FLORESTAIS NA RESERVA DA BIOSFERA DA SERRA
DO ESPINHAÇO ........................................................................................................................ 585

O USO DE GEOTECNOLOGIAS LIVRES NO MONITORAMENTO DE ÁREAS


PROTEGIDAS ............................................................................................................................. 596

ATIVIDADES AO AR LIVRE E CONECTIVIDADE COM A NATUREZA NO JARDIM


BOTÂNICO BENJAMIN MARANHÃO – JOÃO PESSOA/PB ............................................... 607

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE UNIDADE DE


CONSERVAÇÃO FEDERAL NA AMAZÔNIA: O CASO DA FLORESTA NACIONAL DO
TAPIRAPÉ - AQUIRI ................................................................................................................. 617

AS CONSEQUÊNCIAS DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS EM TRILHAS


INTERPRETATIVAS ................................................................................................................... 627

GESTÃO DO PARQUE ESTADUAL DAS CARNAÚBAS: UMA PROPOSTA DE USO


PÚBLICO NA GEODIVERSIDADE DA CAATINGA CEARENSE ....................................... 639

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .............. 651

EFETIVIDADE DA GESTÃO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DO CUIÁ ............... 662


UNIDADE DE CONSERVAÇÃO RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL, SERGIPE:
POSSIBILIDADES E DESAFIOS .............................................................................................. 672

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: POR UMA CONSTRUÇÃO


IDENTITÁRIA LOCAL .............................................................................................................. 682

CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICO-AMBIENTAIS E OCIOECONÔMICOS DO


CARIRI PARAIBANO: O CASO DA RPPN FAZENDA ALMAS ........................................... 693

AUDITORIA AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO PARA O PARQUE


ESTADUAL MARINHO DE AREIA VERMELHA – PB ......................................................... 705

A REDEFINIÇÃO DO ESPAÇO NATURAL PARA O LÚDICO: A INTERAÇÃO


ECOTURISMO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
NATURAL TENDO AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL -
RPPNs COMO ELEMENTO MEDIADOR ................................................................................ 715

CONTRIBUIÇÕES DA PECUÁRIA PARA A CONSERVAÇÃO DA APA DO IBIRAPUITÃ,


BIOMA PAMPA.......................................................................................................................... 726

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A CONSERVAÇÃO DE NASCENTES DO RIO COCÓ,


RIO PACOTI E RIACHO IPUÇABA ......................................................................................... 737

ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA REBIO TINGUÁ,


XERÉM, DUQUE DE CAXIAS - RJ, ESTUDO DE CASO ...................................................... 747

ROTEIROS TEMÁTICOS PARA A RESERVA ECOLÓGICA DA MATINHA:


RESULTADOS DE UM TRABALHO DE EXTENSÃO ........................................................... 757

O ETNOCONHECIMENTO DOS PESCADORES ARTESANAIS DA RESERVA DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO ................. 764

Riscos, Impactos e Desastres Naturais ......................................................................................776


LAGOA DO APODI: HISTÓRIA DE UM POVO ..................................................................... 777

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DE UM ALAMBIQUE EM CAICÓ – RN .... 789

ANÁLISE DA EXTRAÇÃO DE MINÉRIOS EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BA:


SUBSÍDIOS AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL ................................................................. 798

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO


DA UFCG .................................................................................................................................... 810
GESTÃO AMBIENTAL E O PROCESSO EDUCATIVO NÃO FORMAL: O CASO DOS
IMPACTOS AMBIENTAIS DO ÓLEO DE COZINHA EM SISTEMAS DE ESGOTAMENTO
SANITÁRIO ................................................................................................................................ 823

ESTUDO DE CASO: ANÁLISE AMBIENTAL DA IMPLANTAÇÃO DE ABATEDOURO NO


MUNICIPIO DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN........................................................ 835

OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS CAUSADOS PELA A INDÚSTRIA EXTRATIVA


MINERAL DO PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE .................................................................... 843

CÁLCULO DO RISCO DE INCÊNDIO: O CASO DA SERRA DO CABRAL EM SIMÃO


DIAS – SE .................................................................................................................................... 856

VISÃO SOCIOAMBIENTAL DOS MORADORES DAS VILAS PRODUTIVAS RURAIS DA


TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE
PIRANHAS-PB ........................................................................................................................... 865

CRIANÇAS E VIVÊNCIAS EM TEMPO DE CHEIA AMAZÔNICA EM BARREIRINHA /


AM ............................................................................................................................................... 875

IMPACTOS DA AÇÃO ANTRÓPICA SOBRE O RIO IPANEMA NOS MUNICÍPIOS DE


ÁGUAS BELAS – PE E POÇO DAS TRINCHEIRAS – AL..................................................... 885

A PERCEPÇÃO SOCIAMBIENTAL E IDENTIDADE CULTURAL EM ÁREA DE RISCO


EM CAMPINA GRANDE/ PB.................................................................................................... 897

IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM PAISAGENS


PERIFÉRICAS DA ZONA SUL DA CIDADE DO RECIFE-PE ............................................... 908

PROPOSIÇÃO DE METODOLOGIAS PARA ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM


OBRAS DE CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DE RODOVIAS .............................................. 918

IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS EM TALUDES DAS


RODOVIAS QUE LIGAM MOSSORÓ (RN) A QUIXERÉ (CE) ............................................. 929

IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DAS ATIVIDADES DO COMPLEXO INDUSTRIAL


PORTUÁRIO DE SUAPE – PE: UM FOCO NA ILHA DE TATUOCA .................................. 939

IMPACTOS DA AÇÃO ANTRÓPICA SOBRE O RIO CANAPI ............................................. 948

ELABORAÇÃO DA CARTA DE FRAGILIDADE AMBIENTAL NATURAL À EROSÃO DE


SOLOS PARA TURMALINA, MINAS GERAIS, BRASIL ...................................................... 957

IMPACTOS DA EXTRAÇÃO DE CACTÁCEAS EM REGIÕES SERRANAS DO


SEMIÁRIDO BRASILEIRO ....................................................................................................... 969
AVALIAÇÃO QUALI-QUANTITATIVA DOS RISCOS AMBIENTAIS NO ATERRO
SANITÁRIO DE CAMPINA GRANDE - PB ............................................................................ 980

MICROALGAS COMO FERRAMENTA COMPLEMENTAR DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


NA EJA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................................. 990

AVALIAÇÃO DE RISCOS GEOAMBIENTAIS E ELETROMAGNÉTICOS EM LINHAS DE


TRANSMISSÃO LOCALIZADAS NO AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO:
SUBSÍDIOS PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................... 1000

CHUVAS EXTREMAS E SEUS IMPACTOS EM UBERLÂNDIA-MG: A QUESTÃO DO


PLANEJAMENTO URBANO E DA VULNERABILIDADE ................................................. 1012

ANÁLISE DE TOXICIDADE EM Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) NO ESTUÁRIO


DO RIO PARAÍBA DO NORTE, REGIÃO DE BAYEUX, PB .............................................. 1025

USO E CONSEQUÊNCIAS DOS AGROTÓXICOS UTILIZADOS PELOS PEQUENOS


PRODUTORES DE TOMATE DOS MUNICÍPIOS DE FARIAS BRITO E VÁRZEA ALEGRE,
CEARÁ, BRASIL ...................................................................................................................... 1036

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ESTUDO TOXICOLÓGICO DE FOLHAS DE Piptadenia


stipulacea (BENTH.) DUCKE ................................................................................................... 1046

ANÁLISE DE RISCO À POLUIÇÃO DE FONTES HÍDRICAS POR HIDROCARBONETOS


EM JOÃO PESSOA ESTADO DA PARAÍBA - BRASIL ....................................................... 1053

SUSCETIBILIDADE DE ENCOSTAS: BREVE ANÁLISE DA ÁREA OCUPADA ÀS


MARGENS DO CÓRREGO DA LAGOA EM ITUIUTABA (MG)........................................ 1060

OCUPAÇÃO URBANA EM ÁREA DE DUNAS NO LOTEAMENTO ÁGUA DAS FONTES,


SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN .................................................................................. 1074

OS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO CRÍTICO-REFLEXIVA E CONTRIBUIÇÕES PARA


PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAIS: NOTAS TEÓRICAS PARA
O DEBATE. ............................................................................................................................... 1084

O DESMATAMENTO DA MATA CILIAR NA ÁREA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


CUBATÃO DO NORTE (JOINVILLE- SC) ............................................................................ 1096

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO RIO TRACUNHAÉM, BOM JARDIM-PE, VISANDO A


COMPREENSÃO DA REALIDADE LOCAL E CAUSAS DA DEGRADAÇÃO DESSE
CORPO HÍDRICO ..................................................................................................................... 1107
ASSOREAMENTO, DESASSOREAMENTO E DESATERRO DO AÇUDE MAMÃO EM
EQUADOR / RN ....................................................................................................................... 1119

Políticas Públicas, Projetos e Ações........................................................................................ 1125


PROJETOS E AÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO DA TRAJETÓRIA
DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E COERÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA ... 1126

JOÃO PESSOA SUSTENTÁVEL: CONSTRUINDO UMA REDE DE CIDADANIA COM A


UNIVERSIDADE ...................................................................................................................... 1141

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA QUÊ? .............................................................................. 1149

SISTEMA DE LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS EM GERAL NÃO PERIGOSAS


NOS PROGRAMAS MUNICIPAIS DE COLETA SELETIVA DAS CAPITAIS
NORDESTINAS: REALIDADE OU UTOPIA? ....................................................................... 1159

TEORIAS E PRÁTICAS EDUCATIVO-AMBIENTAIS SOBRE O CULTIVO DE


HORTALIÇAS NA ESCOLA RURAL DE BOA VISTA – PB ............................................... 1174

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (LEI 12.305/2010) E SUA


APLICABILIDADE NO MUNICÍPIO DE BACABAL – MA................................................. 1183

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEGURANÇA FERROVIÁRIA: UMA


ABORDAGEM PRÁTICA EM ESCOLAS LINDEIRAS ........................................................ 1192

USO DE COLEÇÕES DIDÁTICAS NOS ESTUDOS DE ZOOLOGIA NO ENSINO


FUNDAMENTAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA .......................................................... 1203

O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL E ANÁLISE DA EFETIVIDADE DO


EIA PARA CONTENÇÃO DA EROSÃO NA PRAIA DO SEIXAS E NA FALÉSIA DE CABO
BRANCO EM JOÃO PESSOA - PB ......................................................................................... 1211

PRODUÇÃO, INOVAÇÃO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DA INDÚSTRIA DE


ALIMENTOS NO ESTADO DA PARAÍBA ............................................................................ 1223

CONFLITOS AMBIENTAIS RELACIONADOS AO USO DA ÁGUA NO CANAL DA


REDENÇÃO EM SOUSA - PB................................................................................................. 1237

GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA ............. 1250

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO


SUPERIOR SOB A PERSPECTIVA DA AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA (A3P) ........................................................................................................................ 1261
PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PELO JORNALISMO EM PARCERIA COM A
GEOGRAFIA NA PRESERVAÇÃO DE BACIA HIDROGRÁFICA ONDE SE LOCALIZA
UMA FAVELA.......................................................................................................................... 1273

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS PARA MUNICÍPIOS DE MÉDIO E PEQUENO PORTE


– REFLEXÕES À LUZ DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................. 1282

AS QUESTÕES AMBIENTAIS NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM,


1998-2016) ................................................................................................................................. 1294

PENSANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DA


CIDADE DE MOSSORÓ/RN ................................................................................................... 1306

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA CONSTRUÇÃO


ENTRE ALUNOS...................................................................................................................... 1320

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DIÁLOGO COM COMUNIDADES RIBEIRINHAS: A


SUSTENTABILIDADE EM QUESTÃO .................................................................................. 1328

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MÉTODO ALTERNATIVO PARA A MITIGAÇÃO DE


ATROPELAMENTO DE FAUNA NA FERROVIA ................................................................ 1337

NEM TUDO É LIXO: PRÁTICAS DE ADAPTAÇÃO À POLÍTICA NACIONAL DE


RESÍDUOS SÓLIDOS .............................................................................................................. 1348

PRESERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA: META ESTRATÉGICA DA POLÍTICA


AMBIENTAL MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA ................................................................... 1358

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: APLICAÇÃO DA ANÁLISE EXERGÉTICA PARA UM


SECADOR POR BOMBA DE CALOR .................................................................................... 1370

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SANEAMENTO BÁSICO EM CIDADES DO AMAZONAS


E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO ............................................................................................... 1383

MEIO AMBIENTE COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES DA REDE


PÚBLICA ESTADUAL DE SERGIPE ..................................................................................... 1395

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS AO TURISMO NO BREJO PARAIBANO .............. 1408

PROJETO CULTIVANDO IDEIAS, A SUSTENTABILIDADE GOTA A GOTA ................ 1420

Movimentos Sociais, Legislação e Direito Ambiental ......................................................... 1431


VENCENDO DESAFIOS: MUNDO CORPORATIVO E SUSTENTABILIDADE ............... 1444
REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE
UMA ASSOCIAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA - PB ......................................... 1455

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO AGENTE MOBILIZADOR E INTERVENTOR NO


PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE SUSTENTÁVEL ................... 1468

NOVAS PRÁTICAS TURÍSTICAS ‗SUSTENTÁVEIS‘: DISCUTINDO O TURISMO


COMUNITÁRIO ....................................................................................................................... 1478

BRINCADEIRA DE CURUMIM, LIXO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FRAGMENTOS DE


UMA EXPERIÊNCIA NA ALDEIA INDÍGENA ACARÁ-MIRIM-PA ................................. 1490

PRONERA EMANCIPANDO JOVENS CAMPONESES NO SEMIÁRIDO PARAIBANO


ATRAVÉS DO RESIDÊNCIA JOVEM ................................................................................... 1495

CURSO DE DIREITO E TEMÁTICA AMBIENTAL: ENFOQUE DADO À


SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................ 1505

O MANGUEZAL DE TODOS OS POVOS - A OCEANOGRAFIA SOCIAL E A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL NO EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS
COSTEIRAS .............................................................................................................................. 1432

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE UMA ASSOCIAÇÃO DO INTERIOR


POTIGUAR: PERFIL E CONDIÇÕES DE VIDA ................................................................... 1517

AGRICULTURA FAMILIAR E ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL: UM ESTUDO


NO MUNICÍPIO DE REMÍGIO-PB ......................................................................................... 1530

AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A GESTÃO DO PROJETO DE


ASSENTAMENTO AGROEXTRATIVISTA SÃO FRANCISCO .......................................... 1538

OLHAR DE UMA COMUNIDADE TRADICIONAL DO SEMIÁRIDO SOBRE PRÁTICAS


DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL LOCAL ................................................................................ 1550

ECOVILA ARCA VERDE, UM CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE ................... 1562

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE INDÍGENA POTIGUARA DA ALDEIA


MONTE-MÓR DE RIO TINTO-PB.......................................................................................... 1573

CARAVANA: UMA METODOLOGIA TRANSFORMADORA A PARTIR DE UMA


EXPERIÊNCIA NO AGRESTE DE PERNAMBUCO ............................................................. 1584

REALIDADE E DESAFIOS DA VIDA NO SEMIÁRIDO: COMUNIDADE BOA VISTA EM


SANTANA DO MATOS/RN .................................................................................................... 1591
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MEIO AMBIENTE, HÁBITOS ALIMENTARES SAUDÁVEIS,
SAÚDE E CIDADANIA ........................................................................................................... 1603

Patrimônio Cultural e o Saber Ambiental............................................................................ 1614


OS VAQUEIROS E AS PEGADAS /DERRUBADAS DE BOIS NO CARIRÍ NORDESTINO
.................................................................................................................................................... 1615

O POLO CULTURAL DA ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CARUARU COMO


MODELO DE PROTEÇÃO DAS ATIVIDADES CULTURAIS TRADICIONAIS ............... 1628

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O CONHECIMENTO E PERCEPÇÃO DO


AMBIENTE NO ÂMBITO DA UFMA - CAMPUS DE PINHEIRO ...................................... 1638

SABERES AMBIENTAIS DEMOCRATIZADOS: UMA PROPOSTA DE AULA


INTEGRADORA E INCLUSIVA ............................................................................................. 1649

PERCEPÇÃO DE JOVENS ESCOLARES SOBRE A ATIVIDADE CERAMISTA


TRADICIONAL E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE UNIÃO
DOS PALMARES, ALAGOAS ................................................................................................ 1658

HEROÍNAS DO TEJUCUPAPO: EM BUSCA DO RECONHECIMENTO E DE PLENA


AUTONOMIA SOCIAL............................................................................................................ 1668

A Economia Solidária nos Arranjos Produtivos Locais ..................................................... 1682


SISTEMA DE REPRODUÇÃO E CRIAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS COM
MATERIAIS ALTERNATIVOS .............................................................................................. 1683

ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA: PERFIL DOS CONSUMIDORES DA FEIRA DE PRODUTOS


ORGÂNICOS DE AREIA, PB .................................................................................................. 1693
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Biogeografia e Biodiversidade

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 16


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA NA SUSTENTABILIDADE DOS BIOMAS


BRASILEIROS

Giovanni SEABRA
Doutor em Geografia, Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba
gioseabra@gmail.com

RESUMO
Os processos naturais que governam o planeta Terra, desde a sua origem, são movidos pelos quatro
elementos da natureza, a Água, a Terra, o Fogo e o Ar. A depender do momento, uns influenciam mais
e outros menos. A história geológica da vida é marcada por mudanças ambientais, desastres naturais e
extinções de animais e vegetais. O período geológico atual, denominado antropoceno, é caracterizado
pelo desaparecimento de extraordinário número de espécies. Todavia, o extermínio de animais e
vegetais é compensado pelo surgimento de novos seres e variedades. Paisagens e ecossistemas são
conceitos amplos inseridos numa macrounidade territorial designada ―bioma‖. As ações antrópicas
somadas aos cataclismas naturais provocam catástrofes de dimensões imensuráveis, resultando no
colapso dos ecossistemas e prejuízos materiais irreparáveis para biodiversidade e as sociedades
humanas. O presente artigo aborda a importância dos quatro elementos na sustentabilidade dos biomas
do Brasil e os mecanismos federais para a preservação do patrimônio natural e cultural do País.
Palavras-Chave: Bioma, Paisagem, Ecossistema, Brasil.
ABSTRACT
The natural processes that govern the planet Earth from its origin are driven by the four elements of
nature, Water, Earth, Fire and Air. Depending on the moment, some influence more and others less.
The geological history of life is marked by environmental changes, natural disasters and extinctions of
animals and plants. The current geological period, called anthropocene, is characterized by the
disappearance of an extraordinary number of species. However, the extermination of animals and
plants is offset by the emergence of new beings and varieties. Landscapes and ecosystems are broad
concepts embedded in a territorial macro-unit called biome. Anthropogenic actions coupled with
natural cataclysms cause catastrophes of immeasurable size, resulting in the collapse of ecosystems and
irreparable material damage to biodiversity and human societies. This article discusses the importance
of the four elements in the sustainability of the biomes of Brazil and the federal mechanisms for the
preservation of the natural and cultural patrimony of the Country.
Keywords: Biome, Landscape, Ecosystem, Brazil.1. Os quatro elementos da natureza

1. OS QUATRO ELEMENTOS

Os quatro elementos da natureza fazem parte e sustentam a vida no planeta Terra desde a sua
origem. A água mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e
perpetuação das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as
terras continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares, armazenando colossais

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suprimentos e água. O fogo é a fonte de energia criadora da Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que
existe no Universo; é responsável pela renovação dos ecossistemas, germinação das plantas e o
suprimento alimentar do mundo vegetal e animal. O ar guarda imensos reservatórios de água e energia,
oxigena o espaço vital e transporta as sementes, perpetuando a biodiversidade.
A dinâmica da natureza é regulada mediante mecanismos homeostáticos que exercem o controle
sobre o surgimento e evolução da vida no Planeta.
Distintas civilizações cultuam ritos e mitos, associando os quatro elementos como base de
equilíbrio do ser e dele com o ambiente em que vive. Todavia, as intervenções humanas no meio
ecológico criam disfunções nos processos naturais, gerando instabilidade ambiental, provocando
mudanças climáticas, acentuando os desastres, afetando os biomas e pondo em risco a biodiversidade e
o próprio Homem.
Quanto aos benefícios econômicos, os superávits financeiros são alcançados em curto prazo, ao
passo que os passivos ambientais e ecológicos são deixados como herança para as gerações atuais e
futuras, sem que possam ser amortizados, pois é impossível a restauração da natureza uma vez perdida.

2. ORIGEM, EVOLUÇÃO E EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES

A origem da Terra, e o consequente aparecimento da vida, resultaram de uma combinação de


fatores vinculados aos quatro elementos da natureza. Desde os primórdios da vida na Terra, havia 3,5
bilhões de anos AP, a história geológica é marcada por mudanças ambientais, desastres naturais e
extinções de animais e vegetais. Na dinâmica da natureza, o desaparecimento de espécies, ecossistemas
e biomas, é compensado pelo surgimento de novos seres e arranjos ecossistêmicos. As hecatombes
ocorrem com periodicidade geológica e são ocasionadas por diversos fatores físicos, como quedas de
meteoros, erupções vulcânicas, terremotos, tsunamis e furacões. Os mecanismos que movem a
dinâmica terrestre são impulsionados pela Água, a Terra, o Fogo e o Ar.
Eventos catastróficos pretéritos determinaram o desaparecimento de espécies que dominavam
os ambientes oceânicos, como os trilobites1.As cinco grandes extinções conhecidas ocorreram no
Ordoviciano (440 milhões de anos AP); Devoniano (365 milhões de anos AP); Permiano (245 milhões
de anos AP); Triássico (210 milhões de anos AP) e Cretácio (66 milhões de anos), (WILSON, 1994).
Em alguns desses desastres globais quase toda a vida na Terra desapareceu. Todavia, há um consenso
entre os estudiosos que a grande maioria dos seres vivos desapareceu em decorrência das mudanças
climáticas em longo prazo (WILSON, op. Cit.). À medida que animais e vegetais eram extintos, pouco

1
Trilobites são artrópodes marinhos que viveram durante o Paleozóico (542-251 Ma AP), reunidos em cerca de 15.000
espécies, e dominaram o mundo por milhões de anos.

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a pouco foram sendo substituídos ou evoluíam para outras espécies atuais, inclusive o Homem, cujos
registros fósseis e inscrições rupestres remontam a 2 milhões de anos AP.
No Quaternário, iniciado havia2 milhões de anos AP, a alternância de períodos glaciais e
interglaciais provocou mudanças ambientais globais e a extinção de um número incalculável da vida
terrestre e aquática. No Pleistoceno, houve combinação de fenômenos naturais, como o resfriamento da
temperatura global, o soerguimento da cordilheira dos Andes e a mudança nos cursos dos rios. Tais
eventos, combinados às intervenções humanas, ocasionaram ondas de devastação e o consequente
extermínio de inúmeras espécies da fauna e flora.
No período geológico atual, denominado antropoceno2, a degradação do meio ambiente e a
aniquilação de espécies da fauna e flora seguem a passos acelerados. Embora muitas espécies botânicas
e animais pleistocênicos sobrevivam nos dias atuais, um número incalculável de outras formas de vida
foi eliminado pelo Homem nos últimos 15.000 anos.
O Relatório do IPCC 2013 registra que o aumento da temperatura global em 0,8º, nos últimos
cem anos, é decorrente, sobretudo, da produção de gases de efeito estufa - CO². Consequentemente, as
sociedades humanas convivem hodiernamente com catástrofes naturais, associadas ao efeito estufa,
como furacões, tsunamis, secas e tempestades, em diferentes regiões do globo terrestre. No período
Antropoceno, a degradação ambiental é reflexo da força destrutiva das intervenções antrópicas sobre o
meio ambiente, impulsionada pelo modelo econômico globalizado baseado no consumismo compulsivo
dos recursos naturais.
Ao degradar o meio ambiente de modo irreversível o homem aniquilou várias espécies animais
e vegetais expondo, a si próprio, riscos permanentes de extinção. A elevação do nível do mar nos
últimos cem anos ameaça submergir extensas áreas litorâneas nos Estados Unidos, Brasil, Holanda,
Inglaterra, e insulares, como as ilhas Maldivas3, só para citar algumas. Consequentemente, são
esperados mais de 40 milhões de refugiados ambientais nos próximos anos.
Por outro lado, o simples fato de os seres vivos existirem, por si só justifica a sua preservação
dos reinos animal e vegetal. Obra da criação divina, os seres animados e inanimados são envolvidos em
energias sutis imersas no âmbito do inexplicável para a inteligência humana e não detectados pelos
mais aguçados sensores tecnológicos.

2
Antropoceno é um termo criado pelo Nobel de Química, Paul Crutzen (1995), referindo-se ao período iniciado com o
deflagrar da Revolução Industrial, em 1750, e que perdura até o presente, marcado pelas interferências humanas sobre as
mudanças ambientais.
3
A República das Maldivas é um arquipélago formado por 1200 ilhas e atóis no oceano Índico. Como o ponto mais alto das
ilhas está a menos de três metros acima do nível do mar, o país deve desaparecer nos próximos anos em decorrência da
elevação do nível dos oceanos.

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3. A TEIA DA VIDA

Na intrincada Teia da Vida, cada espécie animal ou vegetal mantém associações vitais com
outros seres vivos e o ambiente circundante. O cenário onde as relações ambientais e interespecíficas se
processam no espaço físico global está montado nas esferas da água, da terra, do fogo e do ar. Os
desequilíbrios ecológicos surgem quando os componentes da natureza são alterados, reduzidos ou
eliminados.
Enquanto os fenômenos naturais são cíclicos, envolvendo alternâncias regionais, as ações
antrópicas são pontuais, cuja soma das áreas degradadas abrange grandes extensões de terras, ares e
mares, provocando efeitos globais perversos e irreversíveis em sua geodiversidade, biodiversidade e no
equilíbrio dinâmico.
Na sociedade de consumo global a questão ambiental requer uma visão sistêmica, holística e
cósmica do universo, envolvendo a compreensão dialética das relações entre os componentes naturais,
sociais, econômicos e culturais que integram o meio ambiente. Contudo, no mundo pós-moderno a
concepção ambiental é mecanicista, antropocêntrica, e fundamentada no egoísmo e ambição humanos.
A paisagem consiste num espaço físico, contendo um sistema de recursos naturais, cujos
componentes estão integrados às sociedades, constituindo o binômio inseparável sociedade/natureza.
Os ecossistemas são organizados sistemicamente segundo os componentes bióticos, abióticos e
socioeconômicos. Por isso, a conservação ambiental diz respeito à biodiversidade, à geodiversidade e
ao modo de produção e formas de povoamento humano.
Natureza é sinônimo de biodiversidade, que é entendida como a variedade existente entre os
organismos vivos e as complexidades ecológicas a eles associadas. A teoria da Evolução Natural,
proposta por Charles Darwin, aponta para uma origem comum das espécies. Grosso modo, uma única
célula originou milhões de espécies animais, vegetais e protistas encontrados nos diversos ambientes
morfoclimáticos da Terra. Para controlar excedentes populacionais de uma determinada espécie, a
natureza incentiva a competição entre elas e impõe controles homeostáticos a todas as formas de vida.
Epidemias, guerras, fomes e desastres naturais são mecanismos de controle populacional.

4. OS BIOMAS DO BRASIL

O bioma (bio = vida + Omã = grupo ou massa) é um agrupamento botânico de fisionomia


homogênea, associada à fauna, que compreende territórios extensos e cuja existência é determinada
pelo macroclima regional. Os biomas brasileiros abrigam cerca dois milhões de espécies vegetais e
animais, sendo conhecidas aproximadamente 850 mil espécies animais. Esse número é acrescido de

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750 novas espécies catalogadas a cada ano. Estimativas mundiais, combinando plantas e fungos,
asseguram que a biodiversidade brasileira corresponde a 15% da diversidade mundial. (LEWINSOHN
& PRADO, 2005, apud FORZZA Et all, 2010).
O Brasil possui uma área de 8.514.877 km², cuja maior parte se encontra entre o trópico de
Capricórnio e a linha do Equador (5º16‘N - 33º45‘S). Em 2004, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) delimitou os biomas brasileiros, na escala de 1:5.000.000, distinguindo seis
macrounidades fitoclimáticas, cujas áreas ocupam os seguintes percentuais do território brasileiro:
Amazônia (49,29%), a Caatinga (9,92%), o Cerrado (23,92%), a Mata Atlântica (13,04%), o Pampa
(2,07%) e o Pantanal (1,76%), (IBGE 2010). Existem também os ambientes ecossistêmicos de
transição, de exceção e os refúgios ecológicos, continentais e insulares, como os manguezais, na região
litorânea do país, as dunas e a zona dos Cocais4, no estado do Maranhão.
Os biomas brasileiros são distintos nos aspectos físico-naturais, étnico-culturais e nas
características econômicas, contendo cada um deles modos de viver peculiares. Nos domínios
morfoclimáticos e fitogeográficos são explorados uma infinidade de produtos econômicos, nos setores
do extrativismo mineral e vegetal, massas hídricas, agricultura, pecuária e produção industrial,
provocando sensíveis alterações no equilíbrio ecodinâmico dos biomas.
O Bioma Amazônia abrange o Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Guiana, Guiana
Francesa, Suriname e Venezuela. No Brasil, a floresta Amazônica ocupa 3,7 milhões de km², nos
estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins.
Maior bosque úmido da Terra e drenado por uma infinidade de rios e canais fluviais, 17% do
Bioma Amazônico é protegido por unidades de conservação e áreas de preservação equivalentes.
Habitado por 40% das espécies tropicais do Planeta e 30% das aves, a floresta abriga uma grande
diversidade de ecossistemas, como matas de terra firme, bosques inundados, várzeas, igapós, campos
abertos e cerrados. O Bioma contém cerca de 16.000 espécies botânicas, das quais 227 são dominantes,
como a castanheira-do-brasil5 (Bertholletia excelsa), a seringueira, o cacau, o guaraná e o açaí.
A castanheira é uma das árvores mais representativas da Amazônia; um só indivíduo da planta
compreende um ecossistema formado por mais de 3.000 espécies animais. A cotia (Dasyprocta aguti),
mamífero roedor, mantém em sua dieta as sementes da castanheira, e, por isso, é um dos principais
vetores de disseminação e dispersão da planta. Todavia, não obstante a sua importância ecológica e
econômica, a árvore majestosa está em processo de extinção no Brasil, sendo removida para construção

4
A Zona de Cocais é uma floresta homogênea da palmeira babaçu, encontrada na Região Amazônica do estado do
Maranhão.
5
A Castanheira do Brasil, ou Castanheira do Pará, é uma das espécies arbóreas mais altas da Amazônia, podendo alcançar a
altura de 60 metros.

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de barragens, estradas e extração da madeira. Entre os animais destacam-se o pirarucu (Arapaima


gigas), maior peixe de água doce do mundo, a sucuri (Eunectes murinus) e a onça pintada (Panthera
onca).
A civilização amazônica evoluiu numa mescla dos povos indígenas com os migrantes
nordestinos, originando os caboclos6, cuja economia tradicional era baseada no extrativismo dos
recursos da floresta, como a borracha, a castanha e o guaraná, e pescados. Posteriormente, foram
introduzidos na Região Amazônica a extração mineral, a exploração madeireira, a pecuária e o
agronegócio. A mina de ferro Carajás, no Pará, é o exemplo mais expressivo da degradação ambiental
amazônica. A exploração do minério abriu uma cratera na floresta com dez quilômetros de extensão e
centenas de metros de profundidade, podendo ser avistada pelos tripulantes de vôos siderais. Os
números são gigantescos: a produção anual de ferro atinge 220 milhões de toneladas transportados em
estradas de ferro, com extensão de 890 quilômetros, até o porto de Ponta da Madeira, no Maranhão.
São dez comboios diários, cada um contendo 320 vagões, totalizando uma carga de 640 mil toneladas
do minério por dia.
Milhares de embarcações singram centenas de rios transportando pessoas, mercadorias,
minérios e combustível, propiciando a integração entre a cultura indígena e cabocla, através da floresta,
da biodiversidade, do folclore e da culinária regional baseada nos pescados de água doce. A extração de
minérios e os núcleos populacionais ribeirinhos descartam efluentes contaminados e os resíduos sólidos
nos mananciais hídricos, comprometendo a qualidade das águas para consumo humano. O cenário
ambiental é agravado com a construção de represas hidrelétricas, abertura de rodovias, introdução de
pastagens e instalação de cidades superpopulosas, como Manaus (3 milhões de habitantes) e Belém (2,5
milhões de habitantes).
Um aspecto importante na Floresta Amazônica é a existência de grupos indígenas isolados,
mantendo muito pouco ou nenhum contato com o homem civilizado. Estima-se que há entre 50 e 100
tribos nessas condições na Amazônia, cujo isolamento é precário e alguns grupos são constante e
severamente assediados pelo homem civilizado.
A Amazônia detém o maior território de áreas silvestres protegidas do Brasil, especialmente nos
parques nacionais, como o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (3,8 milhões ha), o Parque
Nacional da Amazônia (2,2 milhões ha) e o Parque Nacional do Jaú (864 mil ha). Todavia, a limitação
de recursos financeiros e de funcionários impede a eficiente fiscalização das áreas protegidas, bem
como o controle e manejo das funções ecossistêmicas.

6
Tipos étnicos mesclados entre brancos e índios.

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O Bioma Caatinga7 abrange 844.453², correspondendo à região semiárida do Brasil. Na


Caatinga estão catalogadas mais de 1000 espécies da flora, 178 espécies de mamíferos, 591 de aves,
177 de répteis, 79 de anfíbios, 241 de peixes e 221 abelhas (CONSELHO NACIONAL DA RESERVA
DA CAATINGA, 2004). Cerca de 28 milhões de pessoas vivem na região, a maioria carente e
dependente dos recursos do Bioma para sobreviver. A biodiversidade da caatinga ampara diversas
atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos
farmacêutico, cosméticos, químico e de alimentos. A agricultura irrigada destinada à produção de frutas
é uma atividade consolidada nas últimas décadas. Porém, a irrigação dos pomares exige grandes
quantidades de água exigindo custos elevados para implantação dos sistemas hídricos. Por outro lado,
as atividades minerais e os criatórios animais tradicionais de bovinos, ovinos e caprinos são causadores
de severos danos ambientais.
A devastação da caatinga se expandiu como um rastro de pólvora, atingindo 46% do Bioma e
alastrando-se por milhares de quilômetros, gerando áreas desérticas e em processo de desertificação.
Ainda ocupando um território reduzido, compreendendo 7,5% do Bioma, as áreas protegidas estão em
processo de expansão. Em 2009 foi inaugurado o Monumento Natural do Rio São Francisco, com 27
mil hectares, e, em 2010, houve ampliação do Parque Nacional Serra das Confusões em 300 mil
hectares, somando 823.435 hectares. Em 2012 o governo federal inaugurou o Parque Nacional da
Furna Feia (RN), com 8.500 hectares, todavia seguindo sem plano de manejo.
Na região semiárida brasileira floresceu a Civilização do Couro, cujo cenário é constituído por
bosques secos e campos de pedras, fazendas de gado, sítios com produção agropecuária familiar e as
pequenas cidades e povoados, habitados por populações tradicionais. Ao apresentar alternativas
econômicas para o Semiárido, o Turismo Sertanejo impulsiona a cadeia produtiva regional e local, com
ênfase nos atrativos turísticos, mantendo as características naturais e culturais da paisagem sertaneja e,
ao mesmo tempo, fortalecendo a autoestima das comunidades locais (SEABRA, 2007).
Segunda maior região biogeográfica do Brasil, o Bioma Cerrado se estende por uma área de
2.045.064 km², ocupando os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e o Distrito Federal. É uma unidade ecológica de clima tropical
semiúmido, com duas estações bem definidas, contendo uma enorme biodiversidade vegetal e animal.
A estação seca favorece os incêndios florestais espontâneos que atuam no controle de espécies animais
e vegetais e rebrota das plantas. Todavia, o desmatamento acelerado provocado pelo avanço das

7
A Caatinga, cujo significado na língua indígena tupi é mata branca, é um bioma exclusivamente brasileiro, caracterizado
pela ocorrência de clima semiárido, com longas estações secas e predominância de vegetação xerófita.

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fronteiras agrícolas para cultivo de grãos e pastagens tem ocasionado desequilíbrios no Bioma,
refletindo no empobrecimento dos solos e escassez da água.
O Parque Nacional de Brasília, o Parque Nacional das Emas, o Parque Nacional da Chapada dos
Guimarães e o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros são importantes áreas silvestres protegidas e
destinos turísticos consagrados do Bioma Cerrado.
No Parque Nacional das Emas ocorre o espetacular fenômeno da bioluminescência, quando os
vaga-lumes ocupam as perfurações superficiais dos termiteiros para depositar os ovos. Nas primeiras
chuvas, após a eclosão dos ovos, as larvas emitem luzes durante a noite atraindo pequenos insetos para
a dieta alimentar, que andam e sobrevoam os cupinzeiros.
A inauguração de Brasília, a capital do Brasil, em 1960, provocou mudanças radicais na
paisagem do cerrado, com consequências marcantes nos aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais.
O modelo econômico baseado na mineração e monoculturas de grãos, e cana-de-açúcar, agrava a
erosão e perda de fertilidade dos solos.
O Bioma Mata Atlântica está distribuído na zona costeira do Brasil, ocupando originalmente
uma área de 1.110.182 km², distribuída por 17 Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São
Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas,
Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, e Piauí.
O Bioma possui 20 mil espécies vegetais, sendo 8 mil delas endêmicas. Em relação à fauna, os
levantamentos registram 849 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e
cerca de 350 espécies de peixes (BRASIL/MMA, 2016).
Decorridos 500 anos de devastação a ferro e fogo (DEAN, 1996), restam apenas 7% da floresta
original. Segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica (2016), publicado pela
Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o
desmatamento da Mata Atlântica nos últimos 30 anos alcançou quase dois milhões de hectares. A área
desmatada equivale a 12,4 vezes a cidade de São Paulo, cuja população estimada em 2015 era de 12
milhões de habitantes (IBGE, 2016). O maior período de devastação ocorreu entre 1985-2000 e, após
um curto intervalo, a devastação florestal foi retomada a passos acelerados nos últimos anos.
Na zona costeira do Brasil, após a derrubada da mata no período colonial, a região Nordeste e a
região Sudeste foram ocupadas, respectivamente, pelas culturas da cana-de-açúcar e café. A
substituição da mata por monoculturas, pastagens, cidades e industrias segue nos dias atuais pondo em
risco as poucas áreas protegidas. Na região sul a exploração predatória da Mata Atlântica devastou o
ecossistema da Floresta das Araucárias devido ao valor comercial do pinheiro-do-paraná (Araucária

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angustifólia). Os remanescentes da Mata Atlântica são encontrados principalmente nas serras do Mar e
da Mantiqueira, nas regiões Sul e Sudeste, de relevo acidentado e chuvas orográficas.
O pau-brasil (Caesalpina echnata) é uma árvore típica explorada intensamente desde os tempos
coloniais, motivo pelo qual o território brasileiro era então denominado Terra Brasilis, vinculando o
nome do país à exploração da madeira de cor avermelhada como brasa. Mogno, Peroba, Jacarandá e
outras madeiras de lei sofreram exploração intensiva, restando poucos exemplares em áreas de difícil
acesso, como escarpas das elevações.
Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica tem
importância vital para os 120 milhões de habitantes que vivem em seu domínio. Os bosques regulam o
fluxo dos mananciais hídricos, asseguram a fertilidade do solo, controlam o equilíbrio climático e
protegem as escarpas e encostas das serras.
Em contrapartida, o contingente demográfico aumenta a pressão sobre os recursos naturais, a
biodiversidade, e acentua a escassez de água. Dados registram que 269 espécies de animais e 88 de
aves endêmicas da Mata Atlântica sofrem ameaças de extinção.
O Bioma Pampa ocupa uma superfície de 175.000 km², correspondendo à metade do estado do
Rio Grande do Sul. O relevo é suavemente ondulado, colinoso e recoberto de gramíneas. Nas áreas
úmidas litorâneas, se encontram os ecossistemas alagados apelidados regionalmente de banhados. O
tipo humano gaúcho e o churrasco constituem patrimônio regional e os principais atrativos turísticos no
cenário pampeano.
Práticas agrícolas inadequadas provocaram a exaustão do solo em grandes extensões de terras,
sobressaindo-se a abertura de voçorocas e a arenização, fenômeno semelhante à desertificação.
O Bioma do Pantanal é um ambiente de transição entre o Cerrado, no Brasil Central, o Chaco,
na Bolívia, e a região Amazônica, ao norte, correspondendo à bacia do alto rio Paraguai. Nas porções
mais altas da bacia hidrográfica e no planalto, predominam formações vegetais abertas, tais como
campos limpos, campos sujos, cerrados e florestas úmidas vinculadas, principalmente, ao tipo de solo e
fatores climáticos.
Nos diferentes ecossistemas estão catalogadas 80 espécies de mamíferos, 50 de répteis, 263 de
peixes e 650 de aves. Vários animais estão ameaçados de extinção, como a onça pintada, o tamanduá-
bandeira e a arara-azul.

5. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – SNUC

A conservação da natureza é conceitualmente delimitada através da legislação ambiental e


definição das categorias de unidades de conservação, cujo conceito é assim definido:
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Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com


características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000).

Entretanto, para atender aos interesses econômicos, houve mudanças significativas nos
objetivos dos parques nacionais e outras categorias de áreas protegidas. A administração está sendo
transferida gradativamente para as organizações não governamentais – ONGs, e serviços ao setor
privado, através de convênios e contratos.
A Lei 9.985, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (BRASIL,
2000), tem como objetivo compatibilizar o uso dos recursos naturais com a preservação do patrimônio
natural e cultural. O SNUC é constituído pelo conjunto de unidades de conservação federais, estaduais
e municipais, com a função de manter a diversidade biológica, resguardando as espécies ameaçadas de
extinção; promover o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais; proteger os monumentos
geológicos, geomorfológicos, espeleológicos, arqueológicos, paleontológicos e culturais; proteger as
comunidades tradicionais; e promover a educação ambiental, a recreação em contato com a natureza e
o turismo ecológico (BRASIL, op. Cit.).
Numa tentativa de adaptar a conservação da natureza à economia mundializada o Sistema
Nacional de Conservação manteve algumas áreas protegidas já existentes e criou novas categorias de
unidades de conservação, reunidas em dois grupos:

 Unidades de Proteção Integral - Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque


Nacional, Monumento Natural, e Refúgio da Vida Silvestre;
 Unidades de Uso Sustentável – Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante
Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna,
Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Existem atualmente 71 parques nacionais no Brasil, na grande maioria apresentando problemas


relacionados ao cumprimento dos objetivos propostos no ato de sua criação, como a inexistência de
planos de manejo. Mesmo que elaborados, os planos de manejo aplicados de forma precária e ineficaz.
O número de parques é considerável, como também o correspondente à área ocupada, aproximando-se
de 15% relativos à extensão territorial do País. Todavia, as unidades de conservação de uso restrito
convivem com problemas diversos, como a manutenção da propriedade e empreendimentos privados,
invasões, conflitos de terras, rodovias e veículos cruzando áreas protegidas, residências, hotéis e
pousadas, incêndios criminosos, exploração de madeiras e minerais, caça predatória, pastoreio, e o
turismo massificado (SEABRA, 2001).

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Em 2007, o Governo Federal criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade


– ICMbio. O órgão destina-se à execução da Política Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, relativas ao uso sustentável dos recursos naturais, apoio ao extrativismo e às populações
tradicionais, além do incentivo a programas de pesquisa e proteção da biodiversidade. O Instituto Chico
Mendes incumbe-se de viabilizar a administração das unidades de conservação de uso restrito,
mediante convênios assinados com o terceiro setor e licitações direcionadas às empresas prestadoras de
serviço e operadoras de turismo.
Na concepção holística da paisagem a conservação da natureza envolve tanto os atributos
naturais como os povos e a cultura tradicionais, sendo imperativa a preservação não somente dos
ecossistemas naturais, mas também dos valores culturais sistemicamente inseridos nas unidades de
conservação (Seabra, 1998). Os bens imateriais correspondem aos povos indígenas e os grupos
tradicionais de base familiar - extrativistas, pescadores, agricultores e mineiros. Há uma tendência em
nível mundial para conservação da biodiversidade como um todo, mantendo nas áreas protegidas e do
entorno os grupos sociais locais. Cerca de 80% dos parques nacionais existentes no mundo mantêm
residentes dentro dos seus limites (TERBORGH, 2002). A maior parte são projetos integrados de
conservação e desenvolvimento (ICDP), iniciativas de conservação baseadas em comunidades (CBC),
manejo comunitário e vida selvagem (CWM).
A gestão participativa encerra a idéia de empoderamento, entendido como o processo no qual as
pessoas, adquirem maior controle sobre suas vidas e os meios de produção, de modo a assegurar
melhor qualidade de vida para o grupo social. Os benefícios obtidos pelas comunidades com o uso
sustentável dos recursos naturais são evidentes. Todavia, quando as áreas protegidas são implantadas,
os moradores são incorporadas para o desempenho de funções simples, na maioria das vezes como
assistentes de pesquisas, mateiros e guias.
Contraditoriamente aos objetivos da conservação da natureza e ao princípio do uso sustentável
dos recursos naturais, em 2002, o site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA publicou
matéria intitulada Parques Nacionais: oportunidade de negócios, oferecendo os Parques Nacionais do
Brasil como mercadoria para exploração das empresas de turismo. Alguns parques foram licitados e
operam os serviços através de concessões às empresas, como o Parque Nacional de Iguaçu, o Parque
Nacional da Tijuca, o Parque Nacional de Itatiaia, o Parque Nacional de Brasília e o Parque Nacional
do Caparaó. Essas áreas protegidas de proteção integral possuem diversos atrativos turísticos com
valores agregados, principalmente ligados à hotelaria, transporte, e os chamados esportes de aventura,
como canoagem, montanhismo, rapel, espeleologia, ciclismo e motociclismo. Estão disponíveis
também passeios de helicópteros, automóveis, ônibus e barcos.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 27


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Com a mercantilização das reservas naturais, a gestão compartilhada perde sentido.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 29


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADAS NO AQUÁRIO PARAÍBA PARA


AMBIENTES MARINHO E COSTEIRO

Karina MASSEI
Doutoranda do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPB
karina.massei@gmail.com

RESUMO
Os ambientes marinho e costeiro da costa brasileira vem sendo explorados e tornaram-se, em alguns
casos, vitais para a sobrevivência de famílias, uma vez que estes ambientes promovem oportunidades
para atividades econômicas e sociais, a exemplo da pesca, aquicultura, exploração de recursos
minerais, etc. Estes espaços, devido a beleza cênica e paisagística, pela fauna e flora associadas, são
considerados atrativos para o desenvolvimento de atividades recreativas, turísticas e de contemplação
da natureza (BRASIL, 1994). Entretanto, apesar de toda sua importância, os ambientes marinho e
costeiro vêm sofrendo um rápido processo de degradaçãoprovocada diretamente pela ação
antropogênica. Diante deste quadro, a Educação AmbientalMarinha e Costeira tem um papel
fundamental para a consolidação do desenvolvimento sustentável, seja através da sensibilização,
orientaçãoe minimização dos problemas ambientais, ou mesmo através de práticas ambientais que
preservem todas as formas de vida e promovam a organização social e comunitária. Os aquários são
inaugurados em todo o mundo, dada à atração e fascínio que exercem sobre a população em geral e por
serem ferramentas para a Educação Ambiental e o turismo. Ciente dessa potencialidade, o Aquário
Paraíba, oferece uma gama de oportunidades práticas para todos os visitantes, considerando as
premissas da Estratégia de Zoológicos e Aquários para promover a Educação para Sustentabilidade
(WAZA, 2010). Cada vez mais, percebe-se que estas instituições possuem um papel chave na
conscientização e capacidade de influenciar comportamentos e valores do público, pois após a visita,
verificou-se que os visitantes saem com maior conhecimento sobre os organismos marinhos e os
ambientes marinho e costeiro,sensibilizados sobre seu papel na natureza e sobre a importância da
preservação ambiental para a conservação da vida.
Palavras chave: Práticas de Educação Ambiental, Aquário Paraíba, Ambientes Marinho e Costeiro.
ABSTRACT
The coastal and marine environments of the Brazilian coast have been exploited and have become, in
some cases, vital for the survival of families, since these environments promote opportunities for
economic and social activities, such as fishing, aquaculture, exploitation of resources minerals, etc.
These spaces, due to scenic and scenic beauty, by the associated flora and fauna, are considered
attractive for the development of recreational, tourist and nature contemplation activities (BRAZIL,
1994). However, for all their importance, the marine and coastal environments are undergoing a rapid
process of degradation directly provoked by anthropogenic action. In this context, Marine and Coastal
Environmental Education have a fundamental role to play in consolidating sustainable development,
either through awareness-raising, guidance and minimization of environmental problems, or even
through environmental practices that preserve all life forms and promote the organization social and
community life. The aquariums are inaugurated all over the world, given the attraction and fascination
they have over the general population and because they are tools for Environmental Education and
tourism. Aware of this potential, the Paraíba Aquarium offers a range of practical opportunities for all

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

visitors, considering the premises of the Zoo and Aquarium Strategy to promote Education for
Sustainability (WAZA, 2010). Increasingly, these institutions have a key role in awareness and ability
to influence behavior and values of the public, because after the visit, visitors were found to be more
knowledgeable about marine organisms and the marine and coastal regions, sensitized about their role
in nature and the importance of environmental preservation for the conservation of life.
Key words: Environmental Education Practices, Paraiba Aquarium, Marine and Coastal Environments.

INTRODUÇÃO

Um dos fatores limitantes para a utilização sustentável dos recursos naturais dos ambientes
marinho e costeiro é a falta de consciência e conhecimento sobre os aspectos ambientais. É essencial,
portanto, que se procure elevar a consciência ambiental e conhecimentos de gestão na sociedade
através do incremento da comunicação, diálogo e campanhas de conscientização com vista a se obter
resultados positivos.
Os aquários e zoológicos de visitação, ao longo dos anosforam se transformando, não apenas
como espaços de caráter expositivo, mas como locais de excelência para promoção de lazer e
entretenimento, incorporando caráter de comunicação e sensibilização voltados à educação ambiental,
pesquisa e conservação da biodiversidade.
Segundo a Associação Européia de Zoológicos e Aquários (EAZA), os aquários e zoológicos
são considerados espaços educadores dos mais efetivos do planeta. Cerca de 700 milhões de pessoas, o
que corresponde a 10% da população mundial, visitam estas instituições anualmente (JENSEN, 2015).
Através da Estratégia Mundial dos Zoos e Aquários para a Conservação -WZACS -, documento
elaborado pela Associação Mundial de Zoos e Aquários intitulado ―Construindo um Futuro paraa Vida
Selvagem‖ -, define que os zoológicos e aquários estão numa posição única: a de realizar a conservação
de uma forma genuinamente integrada, uma vez que para muitos visitantes possibilitam o primeiro
contacto com a Natureza, servem como incubadoras dos conservacionistas de amanhã. Além disso,
através da investigação sobre a biodiversidade e suas interações, realizam campanhas de sensibilização
sendo fundamental para fazer o público perceber a importância da Natureza, tanto estética como
utilitária (WAZA, 2005) .
Ciente dessa potencialidade, o Aquário Paraíba, único empreendimento desta natureza no
Estado da Paraíba, abriuà visitação em janeiro de 2016, sendo que seus sócios fundadores, de origem
paraibana, perceberam a necessidade de solidificar seus esforços de preservação e uso sustentável dos
ambientes marinho e costeiro da região, possibilitando aos visitantes compreender melhor estes biomas,
além de sua fauna e flora associadas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Desde a sua abertura, o Aquário Paraíba - seguro de que observar e aprender diretamente com
as espécies aumenta, consideravelmente, o apreço pela vida selvagem e a vontade de preservar a
natureza -, implantou um programa de Práticas de Educação Ambiental, possibilitando a sensibilização,
a aprendizagem e a construção de maneiras alternativas de relação entre o ser humano e o meio
ambiente de forma integrada.
Para a elaboração das Práticas de Educação Ambiental para Ambientes Marinho e Costeiro no
Aquário Paraíba foram considerados alguns conceitos, fundamentos teóricos, legislações, práticas que
nortearam a elaboração e implantação das atividades.

OS AMBIENTES MARINHO E COSTEIRO E O AQUÁRIO PARAÍBA

Os ambientes marinho e costeiro da costa brasileira, incluindo as ilhas, estuários, manguezais,


praias e ambientes recifais, vem sendo explorados e tornaram-se, em alguns casos, vitais para a
sobrevivência de famílias, contribuindo para a receita de cidades (DEBEUS & CRISPIM, 2008). Esta
exploração deve-se ao fato destes ambientes promoverem oportunidades para atividades econômicas e
sociais, além de representarem inúmeros benefícios ambientais, conforme descritos os quatro principais
pelo Manual de Ecossistemas Marinhos (REDE BIOMAR, 2016):

1. são ecossistemas produtivos que abrigam muitas espécies (especialmente peixes e lagostas)
usadas na alimentação humana;
2. muitas vezes protegem a costa contra a ação destrutiva das ondas, formando uma barreira onde
as ondas param;
3. por sua altíssima biodiversidade, são fonte de pesquisa em substâncias usadas pela indústria,
como para a fabricação de remédios, filtros solares e outras.alguns destes a proteção do litoral,
berçário e desenvolvimento de espécies, local de alimentação, entre outros; e,
4. além da pesca, são geradores de emprego e renda por serem apreciados para turismo e lazer.

No litoral do estado da Paraíba, os ambientes recifais costeiros são considerados de fácil


acesso, uma vez que encontram-se localizados próximos aos centros urbanos e com distâncias inferior a
1 km da área de praia, possibilitando o trajeto através de pequenas embarcações, a nado e até mesmo a
pé. Pela proximidade com a costa, estes ambientes têm sido alvo de um processo de degradação, seja
pelo descarte de esgotos irregulares, pela atividade de pesca predatória ou pelo turismo desordenado.
O Aquário Paraíba, encontra-se localizado na Praia do Seixas (João Pessoa/PB). A Praia do
Seixas possui cerca de 900 m de extensão, e na sua extensão é possível contemplar o ambiente recifal

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do Seixas (durante os dias em que a maré encontra-se mais baixa) – e o marco paisagístico mais
importante da zona costeira do Estado da Paraíba, a Falésia do Cabo Branco (Figura 1), considerada
como o ponto mais oriental das Américas.
Embora a falésia seja considerada um dos pólos turísticos de maior visitação do Estado, é
também retratada nos mais diversos canais midiáticos pelo processo erosivo em que se encontra há
anos (Figura 2), sendo então motivo de estudos e debates políticos. No entanto, até o presente momento
não foi feito nenhuma intervenção efetiva, o que acaba por intensificar essa discussão.

Figura 1. Imagem da vista da Falésia do Cabo Branco através dos Recifes do Seixas (João Pessoa / PB).
Fonte: Karina Massei (2017).

Figura 2. Imagem da vista da Falésia do Cabo Branco Figura 3. Erosão nos bares em frente aos recifes do
através dos Recifes do Seixas (João Pessoa / PB). Seixas. Fonte: Karina Massei (2016).
Fonte: https://www.clickpb.com.br (2016).

É fato que as informações oriundas dos meios midiáticos, não explicam de fato os processos
ecológicos e sim, dedicam-se mais a enfatizar os problemas políticos e de licenças ambientais. Nas
proximidades da falésia, na área praial, observa-se nitidamente processos erosivos (Figura 3) devido ao
impacto antrópico.
Assim, a Educação Ambiental (EA) adquire cada vez mais uma importância fundamental para
que as sociedades humanas assumam novas posturas com relação à natureza em todo o mundo, uma

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

vez possui arsenal conceitual e prático para que se modifiquem os hábitos predadores e consumistas da
sociedade capitalista (PEDRINI et al, 2010).
Conforme descreve Seabra (2016): ―A Educação Ambiental, por sua vez, é um processo
que engloba um esforço planificado, envolvendo os diversos setores da sociedade e todos os
níveis de ensino. De natureza multi e transdisciplinar a EA pode servir como um instrumento eficaz
das políticas públicas para o meio ambiente, cumprindo papel fundamental na conservação da
sociobiodiversidade e preservação das funções ecológicas do ambiente em que vivemos (SEABRA,
2016).‖

MARCO LEGAL E CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E O PROCESSO


DE IMPLANTAÇÃO

Como marco legal e conceitual da Educação Ambiental conta-se, principalmente, com dois
documentos: a Lei nº. 9.795/99, que cria a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA
(BRASIL, 1999), como orientação político-jurídica e como condutor das linhas de ação; e o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado pela
sociedade civil planetária em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio 92), como sua base de princípios. Este documento, além de firmar com forte
ênfase o caráter crítico, político e emancipatório da Educação Ambiental, ganha destaque em função da
mudança de acento do ideário desenvolvimentista: a noção de sociedades sustentáveis.
No âmbito nacional, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério de Educação – na década de
90 -, potencializaram as políticas e implementaram o Programa Nacional de Educação Ambiental –
ProNEA (BRASIL, 1992) em todas as unidades federativas do país, contribuindo para o enraizamento
e fortalecimento da EA na grade curricular das instituições de ensino, assim como fomentaram a
criação e consolidação das Comissões Interinstitucionais Estaduais de Educação Ambiental – CIEAs e
Redes de EA. Desta forma, sejam os programas, projetos e ações devem ser implementados com a
ampla participação da sociedade, envolvendo atores para além dos setores educacionais, estreitando a
relação escola-comunidade e o enraizamento da educação ambiental nos sistemas de ensino.

AQUÁRIO PARAÍBA: HISTÓRICO, LEGISLAÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS

Considerando o período de instalação e seguindo os trâmites legais, onde o processo de


licenciamento da infra-estrutura segue determinados requisitos, o Aquário Paraíba seguiu a Instrução
Normativa 07/2015 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA - que

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enquadra o empreendimento na categoria descritiva 20.25 (BRASIL, 2015) tendo como finalidade a
criação e exploração econômica de fauna exótica e fauna silvestre – jardim zoológico e aquários de
visitação.
O processo de implantação teve uma duração de aproximadamente 4 anos, sendo aberto ao
público em janeiro/2016. Desde a base estrutural, o Aquário Paraíba procurou implantar práticas
sustentáveis (telhas de material reciclado, sistema para captação de água da chuva, reaproveitamento
da concha do bivalve utilizado pelas marisqueiras, sendo esta aplicada na base de todos os recintos e
nos jardins), integração com a comunidade do entorno (no caso, os pescadores e suas famílias) para a
busca de um sentimento de pertencimento em relação ao espaço, retratando as artes de pesca utilizadas
na região, os festejos de cunho religioso; e, decoração cenográfica que trouxesse ao visitante um pouco
do costume e saber local, de integração, almejando tornar o aquário um centro de referência marinha.
Além da agregação da comunidade do entorno neste processo, houve através de convênio
estabelecido entre o Instituto Federal da Paraíba (IFPB, Campus Cabedelo), estágios para os cursos de
Técnico em Meio Ambiente e Técnico em Recursos Pesqueiros, sendo selecionados alguns técnicos
após o término do estágio, integrando a equipe até o presente momento.
Como objetivo principal do Aquário Paraíba é dar a conhecer os organismos marinhos e os
biomas marinho e costeiro, as espécies foram coletadas e transportadas, mediante autorização do órgão
ambiental, tendo o envolvimento de pescadores locais cadastrados para tal. Considerando que este
espaço é para agregar valores, todas as espécies presentes nos recintos do aquário estão identificadas
não só pelo nome científico, mas também pelo nome comumente utilizado pelos pescadores.
Buscando a troca de experiências acerca de práticas socioambientais, o Aquário Paraíba aderiu
ao Projeto Salas Verdes, coordenado pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério do
Meio Ambiente (DEA/MMA) proporcionando a democratização da informação ambiental de modo a
possibilitar uma reflexão e construção do pensamento/ação ambiental (BRASIL, 2017).
Além disso, o Aquário Paraíba é membro convidado da Comissão Interinstitucional de
Educação Ambiental do Estado, instituída através do Decreto Nº 36.156/2015 (PARAÍBA, 2015). A
instituição da Comissão visa ainda fomentar parcerias entre instituições governamentais, não-
governamentais, instituições educacionais, empresas, entidades de classe, lideranças comunitárias e
demais entidades que realizam atividades de EA.
Desta forma, procura-se proporcionar ao público em geral e aos parceiros, um conhecimento
baseado na pesquisa, educação ambiental e conservação, propiciando a gestão compartilhada entre os
sistemas de ensino e de meio ambiente, com práticas integradas entre a educação formal e não-formal.

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PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO AQUÁRIO PARAÍBA

As Práticas Ambientais foram elaboradas objetivando aos visitantes em geral:

 gerar conhecimento aos visitantes acerca dos recursos naturais presentes nos biomas
marinho e costeiro e de seus serviços ecossistêmicos;
 sensibilizá-los e elevar a consciência ambiental acerca dos efeitos das mudanças climáticas,
sobre os impactos ambientais naturais e antrópicos ocorrentes nos biomas marinho e
costeiro a nível local e global;
 valorizar a participação dos mesmos na mitigação de problemas resultantes da utilização
insustentável dos recursos naturais, marinhos e costeiros; e,
 compreender a necessidade de mudar hábitos, uma vez que todos somos biodiversidade e
co-responsáveis pela utilização dos recursos naturais.
As Práticas de Educação Ambiental foram categorizadas e descritas conforme citadas abaixo:

I – Atividade de Sensibilização Ambiental

São mensagens de sensibilização, através de material impresso expostos em diferentes espaços


(circuito de visitação, área de recreação, auditório, etc.) de acesso ao visitante com informações para
sensibilizar e informar o público sobre questões ambientais e sustentabilidade. Como as mensagens
visam a sensibilização para a melhoria da qualidade do ambiente, nenhum material desta natureza é
distribuído fora do Aquário Paraíba (exemplo: em atividades de limpeza de praia, não é utilizada
nenhuma forma de panfletagem, evitando assim o aumento dos resíduos neste ambiente).

Figura 4. Vitrine sobre os Detritos Marinhos Figura 5. Recinto dos Tubarões com informações
(Aquário Paraíba). acerca da espécie e sobre os impactos que estão
Fonte: Karina Massei (2016). expostos.

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Fonte: Karina Massei (2016).

II – Atividades com Participação Passiva do Público

São consideradas atividades em programas de natureza midiática (tv, rádio, revistas, jornais e
redes sociais) - com ou sem a participação do público - com conteúdo informativo, sobre a importância
de preservar o meio ambiente dando sugestões aos ouvintes sobre formas de comportamento
ambientalmente corretas, atividades sobre temas ambientais que apelem à participação dos ouvintes,
telespectadores, entre outros. Neste caso também se enquadram exposições, projeções de vídeos e/ou
reportagens sobre o ambiente marinho e costeiro, conferências, rodas de conversas, etc.

Figura 6. Vídeo sobre a Biodiversidade Marinha no Figura 7. Reportagem acerca da ação comunitária
auditório Aquário Paraíba. sobre Meio Ambiente em parceria com a EMEF
Fonte: Karina Massei (2016). Ana Cristina Rolin Machado.
Fonte: Acervo Aquário Paraíba (2016).

III – Atividades com Participação Ativa do Público

São consideradas ações, atividades, projetos, etc., com participação ativa do público-alvo
realizados em parceria com escolas ou instituições de ensino, entidades locais, organizações não-
governamentais (Ongs), entre outras. Estão enquadradas as visitas guiadas, trilhas ecológicas, gincanas
com temáticas ambientais e comemoração de datas alusivas ambientais, sendo acompanhados e
orientados por um monitor/técnico qualificado que transmita informações de natureza ambiental.

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Figura 8. Comemoração do Dia do Meio Ambiente Figura 9. Trilha ecológica costeira com paradas em
em parceria com o Batalhão da Polícia Ambiental. pontos estratégicos.
Fonte: Acervo Aquário Paraíba (2016). Fonte: Acervo Aquário Paraíba (2016).

IV – Atividades com Efeito Multiplicador

São consideradas atividades de formação e capacitação, que permitam ao público-alvo adquirir


conhecimentos e competências para que possa posteriormente, como elemento multiplicador,
desenvolver outras atividades. Estão enquadradas nesta categoria os cursos de formação sobre
ambiente, dirigidos a professores, técnicos, monitores de colônias de férias, responsáveis e membros de
Ongs, ou outras pessoas que, possam desenvolver posteriormente mais atividades que promovam a
participação das populações na melhoria da qualidade ambiental.

Figura 10. Formação para os estagiários do IFPB. Figura 11. Curso sobre Resgate, Reabilitação e
Fonte: Acervo Aquário Paraíba (2016). Reintrodução de Animais Marinhos.
Fonte: Acervo Aquário Paraíba (2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o período de 21/jan à 31/julho (6 meses), o Aquário Paraíba recebeu cerca de 24 mil
visitantes, sendo aplicadas Práticas de Educação Ambiental das quatro categorias, aumentando
significativamente as atividades após os primeiros meses de abertura. Foi observado que além do

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público em geral (visitantes oriundos da Paraíba e de outros Estados), foram identificados grupos
específicos, conforme Gráfico 1.

100
Escolas
80
Ensino Superior
60
Idosos
40
20 Escoteiros

0 Necessidades Especiais
Visitas Guiadas
(Acompanhada por Monitor)

Gráfico 1. Práticas de Educação Ambiental acompanhadas por monitores para grupos específicos.

Foram realizadas 93 visitas guiadas, servindo de indicador como busca de informação de


natureza ambiental e neste caso, pelos biomas marinho e costeiro destes grupos regionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental desenvolvida em aquários e zoológicos constitui um importante


instrumento para a formação crítica sobre os problemas ambientais e conservação das espécies. De
acordo com Primack e Rodrigues (2001) é essencial que a população mundial perceba mais do que o
lado romântico das idéias preservacionistas, compreendendo como as perturbações ambientais podem
atingir na prática, cada indivíduo e suas gerações.
A estratégia que o Aquário Paraíba adotou, conforme as premissas da World Association
of Zoos and Aquariums - WAZA, tem sido eficaz, uma vez que - diretamente ou indiretamente -, o
fato de expor apenas espécies regionais, tem conseguido familiarizar os visitantes com os organismos
aquáticos distribuídos nos biomas marinho e costeiro, elucidando sobre sua biologia, hábitos
alimentares e reprodutivos, curiosidades e estado de conservação (se a espécie encontra-se na lista de
espécies ameaçadas) ou ainda, encontra-se citada dentro das instruções normativas, como exemplo,
época de defeso no caso de alguns crustáceos.
Além disso, conforme outras instituições de mesma natureza comprovaram, verificou-se neste
caso o Aquário Paraíba, o efeito positivo na veiculação de conhecimento, uma vez que há uma carência
de grande parte da população de informações sobre conservação, preservação, proteção e vivências
educativas. Além disso, são espaços de inclusão, contextualizando aspectos ambientais de forma lúdica

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

e divertida, exautando nos visitantes diferentes emoções.


Com isso, foi possível verificar no Aquário Paraíba, mesmo num curto espaço de tempo, que
estas instituições possuem um papel chave na conscientização e capacidade de influenciar
comportamentos e valores do público, pois após a visita, observou-se que os visitantes saem com maior
conhecimento e simpatia sobre seu papel na natureza e sobre a importância da preservação ambiental
para a conservação da vida.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 41


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ASPECTOS FLORÍSTICOS E IMPLICAÇÕES ECOLÓGICAS DAS COMUNIDADES DE


MACRÓFITAS AQUÁTICAS DE RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO

Andréa Sampaio DIAS


Doutoranda em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente – IBot
andreas.dias@yahoo.com.br
Fernanda Custódio CAVALCANTE
Mestre em Bioprospeção Molecular da URCA
fernanda.custodio@ifma.edu.br
Karla Jaqueline do NASCIMENTO
Mestre em Bioprospeção Molecular da URCA
karla_j.nascimento@hotmail.com
Anne Jussara RANGEL
Mestre em Bioprospeção Molecular da URCA
annerangel20@hotmail.com

RESUMO
Os inventários florísticos e identificações taxonômicas são primordiais para a obtenção de dados da
flora aquática e essenciais no desenvolvimento de diversos estudos que busquem identificar as
características e padrões de diversidade e distribuição das macrófitas aquáticas. Com o presente estudo,
objetivou-se realizar o levantamento florístico de macrófitas aquáticas no reservatório Rosário em
Lavras da Mangabeira, Ceará. Para isso, coletas foram realizadas mensalmente em um período de um
ano em três diferentes pontos do reservatório: Adutora (P1), Açude de Dão (P2) e Riacho de Quinco
(P3). Para a amostragem, a área definida correspondeu a cinco metros das margens e ao interior do
corpo hídrico, uma profundidade máxima de dois metros. Foram identificadas 13 espécies distribuídas
em 12 famílias, sendo a família mais representativa Ceratophylaceae. A forma biológica mais comum
foi a submersa com cinco espécies, flutuantes, emergentes e anfíbias corresponderam a apenas três
espécies cada uma. Os resultados mostraram que quanto à riqueza de espécies os pontos dois (P2) e três
(P3) se equipararam com um total de 10 espécies, enquanto que o ponto um (P1) apresentou apenas
cinco espécies. O Açude de Dão e Riacho de Quinco foram os pontos que exibiram maior similaridade
florística no reservatório.
Palavras – Chave: ecossistema aquático, levantamento florístico, Rosário, macrófitas aquáticas.
ABSTRACT
Floristic inventories and taxonomic identifications are essential to obtain data of aquatic flora and
essential in the development of several studies that seek to identify the characteristics and patterns of
diversity and distribution of aquatic macrophytes. With the present study aimed to survey the flora of
aquatic weeds in the Rosário reservoir in Lavras da Mangabeira, Ceará. For this, samples were
collected monthly over a period of one year in three different points on the reservoir: Adutora (P1),
Açude de Dão (P2) and Riacho de Quinco (P3). For sampling, the area defined corresponded to five
meters from the banks and the interior of the body of water to a maximum depth of two meters deep.
We identified 13 species belonging to 12 families, being the most representative family

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Ceratophylaceae. The most common organic form was submerged with five species, floating, emergent
and amphibious corresponded to only three species each. The results showed that for species richness
points two (P2) and three (P3) were equated with a total of 10 species while the point one had only five
species. The Açude de Dão and Riacho de Quinco were the points that exhibited greater floristic
similarity in the reservoir.
Keywords: aquatic ecosystem, floristic survey, Rosario, aquatic macrophytes.

INTRODUÇÃO

Os estudos direcionados para as comunidades de macrófitas aquáticas em ecossistemas de água


doce foram por muito tempo negligenciados, um dos fatores que contribuíram para isso foi o fato de
que os primeiros estudos em ambientes límnicos voltaram-se a lagos de grandes profundidades nos
quais o fitoplâncton exibia a maior representatividade na produção primária e biomassa (ESTEVES,
1998). Com o reconhecimento de que a maior parte dos ecossistemas aquáticos continentais no mundo
eram rasos e com grandes áreas litorâneas, houve uma aumento na quantidade de estudos voltados à
tais ambientes e às comunidades de macrófitas neles presentes, que passaram a ser vistas como
organismos de relevante contribuição à dinâmica destes ecossistemas (WETZEL, 2001).
No Brasil, os estudos que se referem à riqueza florística das macrófitas aquáticas iniciaram-se
com Hoehne (1948) em ambientes aquáticos do Estado de São Paulo seguido de Black (1950) na
Amazônia, Pedralli et al. (1993) em Minas Gerais, Esteves (1998), Pott e Cervi (1999), Pott e Pott
(2000) no Pantanal, Bove et al. (2003) para o Rio de Janeiro e Thomaz e Bini (2003) para diferentes
regiões. Na região Nordeste podemos destacar algumas importantes contribuições por meio de
levantamentos florísticos e taxonômicos tais como, os trabalhos de Matias, Amado e Nunes (2003),
França et al. (2003), Neves et al. (2006), Fernandes et al. (2008), Lima et al. (2009), Sobral-Leite et al.
(2010), Lima et al. (2011) e Fernandes, Matias e Rocha (2013).
Embora sejam reconhecidas as contribuições ecológicas das macrófitas aquáticas aos diferentes
ecossistemas aquáticos, pesquisas que priorizem o levantamento da diversidade desta comunidade e sua
distribuição temporal e espacial são ainda escassas no que se refere a reservatórios (LIMA et al., 2011).
Entretanto, é conhecido que as diferentes características físicas como o tamanho da zona litorânea e
profundidade dos reservatórios juntamente com fatores ambientais de distribuição de nutrientes e luz,
constituem-se como principais fatores responsáveis pelos padrões de colonização e distribuição de
macrófitas aquáticas (ESTEVES, 2011). Sendo assim, é perceptível a necessidade constante de
pesquisas que busquem relacionar estas constatações e desta forma, os estudos de caráter florístico e
taxonômico representam o primeiro passo para auxiliar nas futuras pesquisas que contribuam no

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conhecimento de quais fatores ambientais e físicos são relacionados ou influenciam os padrões


ecológicos e distribucionais deste grupo nos reservatórios.
Em vista disso, objetivou-se com o presente estudo caracterizar floristicamente as comunidades
de macrófitas aquáticas presentes em um reservatório destinado ao abastecimento público no Estado do
Ceará, contribuindo para o conhecimento da flora aquática local e facilitando estudos posteriores.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado no Reservatório Rosário (06°46.753‘S, e 038°57.979‘O) situado no


Município de Lavras da Mangabeira, Estado do Ceará (Figura 1).
O reservatório está inserido na Sub-bacia Hidrográfica do Salgado e apresenta capacidade de
acumulação de 47.210.000 m³ de água destacando-se como o terceiro reservatório de maior vazão desta
bacia. A prioridade de uso está direcionada ao abastecimento público e dessedentação animal (SRH,
2013).

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Figura 1: Localização do reservatório Rosário. Fontes: IPECE, 2007; Google Earth, 2012; Primária.

As características geomorfológicas e ambientais nas quais o Rosário encontra-se inserido, são


semelhantes com as descritas para o semiárido cearense tais como, a inserção em grande parte no
embasamento cristalino, presença de solos rasos e regime pluviométrico irregular. A média de
precipitação anual é de 941 mm nos quais os meses de fevereiro e março destacam-se como os de
maior pluviosidade. As temperaturas médias encontram-se entre 26°C e 28°C (IPECE, 2006).

Levantamento florístico e identificação do material coletado

As expedições foram realizadas mensalmente em três pontos: Adutora (P1: 6° 53.362'S, 39°
5.011'O), Açude de Dão (P2: 6° 53‘ 829‖ S, 39° 05‘ 205‖ O) e Riacho de Quinco (P3: 6° 54.274'S, 39°
5.875'O) (Figura 2), no período de maio de 2012 à abril de 2013, compreendendo dois períodos
sazonais para a região, a estação seca (junho à dezembro) e a estação chuvosa (fevereiro à maio) de
acordo com a Funceme (2013). A coleta das macrófitas aquáticas para o levantamento florístico foi

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feita em uma área de cinco metros ao longo das margens e das margens ao interior do corpo hídrico em
uma profundidade de aproximadamente 2 m. Foram coletados cinco exemplares de cada espécime
sendo as macrófitas não enraizadas coletadas manualmente, enquanto as demais, utilizando-se tesoura
de poda. O deslocamento dentro do corpo hídrico foi realizado em barco de alumínio modelo Squalux
600 com 6 metros movido a motor de poupa de 25 HP, cedido pela Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos - COGERH.
Após coletado, o material composto por indivíduos férteis ou não, foi acondicionado em
bandejas contendo água do ambiente e envolto em sacos plásticos, criando dessa forma um microclima
para garantir a conservação do material durante o transporte até o laboratório. No Laboratório de
Botânica os indivíduos coletados foram devidamente herborizados. Parte do material foi encaminhado
à especialista e após identificação, o material foi incorporado ao acervo do Herbário Caririense
Dárdano de Andrade-Lima da Universidade Regional do Cariri - URCA e do Herbário Prisco Bezerra
da Universidade Federal do Ceará - UFC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento florístico indicou para o reservatório Rosário, a presença de 13 espécies


pertencentes a 12 gêneros distribuídos em 12 famílias (Tabela 1). Destas 12 famílias, há 11
Angiospermas, uma Pteridófita e uma Alga macroscópica.

Tabela 1 - Espécies encontradas no açude Rosário no período de maio de 2012 à abril de 2013. Continuação...
Famílias/Espécies Nome popular C.B. P1 P2 P3
ASLIMATACEAE
Echinodorus subalatus (Mart.) Griseb EM x

CHAROPHYCEAE
Chara rusbyana Howe S.F x x x
CERATOPHYLLACEAE
Ceratophyllum demersum Lowden rabo de raposa S.L x

Ceratophyllum submersum L. S.L x


CLEOMACEAE
Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. flor d‘água ANF X x
CYPERACEAE
Cyperus sp. barba de bode ANF X x
Tabela 1 - Espécies encontradas no açude Rosário no período de maio de 2012 à abril de 2013. Conclusão.
Famílias/Espécies Nome popular C.B. P1 P2 P3

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COMBRETACEAE
mufumbo do rio,
Combretum lanceolatum Pohl. ex Eichl. ANF x
cacho de ouro x
MENYANTACEAE
coração
flutuante,
Nymphoides indica (L.) Kuntze estrela-branca, F.F. x x
soldanela
d‘água.
NYMPHAEACEAE
Nymphaea lasiophylla Mart. & Zucc. lírio d‘água F.F. x x

ONAGRACEAE
Ludwigia helminthorrhiza (Mart.) H. Hara EM x x

POLYGONACEAE
Polygonum hispidum Kunth fumo bravo EM x x x

POTAMOGETONACEAE
Potamogeton pusillus L. S.L x
PONTEDERIACEAE
Hydrothrix gardneri Hook. F. S.F x
SALVINACEAE
Salvinia oblongifolia Mart. F.L x x

EM: emergente, S.F: submersa fixa, S.L: submersa livre, ANF: anfíbia, F.F: flutuante fixa F.L: flutuante livre.
Fonte: Pedralli (2003).

Os pontos P2 e P3 foram os mais representativos em relação ao número de famílias amostradas


(10 famílias em cada ponto). A família com maior riqueza de espécies foi Ceratophyllaceae, com duas
espécies (Ceratophyllum demersum e C. submersum). As demais contribuíram com apenas um gênero.
Apenas as famílias Charophyceae e Polygonaceae foram comuns aos três pontos amostrais (Figura 2).

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Figura 2: Macrófitas aquáticas comuns aos 3 pontos amostrais (P1, P2 e P3) do reservatório Rosário. A- Chara
rusbyana; B e C- Polygonum hispidum (hábito e inflorescência, respectivamente).
Fontes: Primária.

O gênero mais representativo no levantamento foi Ceratophyllum com duas espécies


distribuídas nos pontos dois e três. A representatividade deste gênero pode estar relacionada às
características morfológicas e reprodutivas tais como os apêndices dos frutos que permitem se fixar à
vegetação e substrato, a dispersão do pólen pela corrente d‘água, dentre outros que permitem uma
rápida e eficaz dispersão. Além disso, as espécies desse gênero servem de alimento para aves
migratórias que contribuem efetivamente na dispersão das espécies (SOUZA, 2012).
Os pontos P2 e P3 apresentaram maior riqueza de espécies (10 espécies cada um) em relação ao
P1 (cinco espécies). As espécies Chara rusbyana (macroalga) e Polygonum hispidum (angiosperma)
destacaram-se por terem sido comuns aos três pontos. Picelli-Vicentim, Bicudo e Bueno (2004)
afirmam que Chara rusbyana é um grupo bastante antigo na Terra apresentando registros fósseis, são
exclusivamente de água doce ocorrendo algumas raras espécies em água salobra e apresentam uma
distribuição ampla no Brasil. A distribuição desta espécie no corpo hídrico pode se dá desde alguns
centímetros até dois metros de profundidade o que justifica a presença da mesma em todos os pontos
analisados, uma vez que a profundidade máxima considerada foi de até dois metros.
As espécies do gênero Polygonum são bastante comuns em áreas alagáveis e margens de rios no
Brasil e em outros países da América Latina, algumas comportando-se como espécies invasoras
(SOUSA, 2008). Melo (1996) caracteriza Polygonum hispidum como ervas de até 1 metro que ocorrem
nas margens de diferentes ambientes aquáticos do Norte e Nordeste sendo bem distribuída no Estado da
Bahia.
Algumas espécies de Polygonum podem indicar a perca da qualidade da água para diversos
usos. Da mesma forma, as espécies Ceratophyllum demersum e Cyperus sp. presentes neste
levantamento, são relatadas por Pedralli (2003), como indicadoras do processo de eutrofização de
águas superficiais em especial de usinas hidrelétricas. Ceratophyllum demersum é uma espécie nativa,
no entanto não é endêmica do Brasil da mesma forma que Ceratophyllum submersum, de acordo com a
lista de espécies da flora do Brasil. Ambas apresentam distribuição cosmopolita, no entanto não há
registros anteriores de sua presença na região Nordeste. O fato de elas aparecerem no reservatório
Rosário pode ser atribuído à sua ampla distribuição, assim como as suas características reprodutivas
como ganchos de aderência de seus frutos (SOUZA, 2012).
A similaridade florística entre as áreas estudadas demonstram que o ponto 2 e 3 são os de
maior similaridade, este fato pode ter sido influenciado por características bióticas e abióticas

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semelhantes tais como tipo de reprodução e adaptações morfológicas das macrófitas, pH da água,
disponibilidade luminosa e ação dos ventos durante o período compreendido da colonização à
estabilização das espécies demonstrado por Araújo et al. ( 2012).
De acordo com a classificação biológica proposta por Esteves (1998) e Pedralli (2003) que
diferenciam as macrófitas aquáticas quanto a seus tipos biológicos em: emergentes, submersas fixas,
submersas livres, anfíbias, flutuantes fixas e flutuantes livres, podemos destacar que as macrófitas
submersas apresentaram um maior número de representantes, um total de cinco indivíduos (C.
demersum, C. submersum, C. rusbyana, H. gardneri, P. pusillus).
As formas emergentes foram representadas por P. hispidum, a mais representativa em todo o
período de coleta o que corrobora com os resultados de Lima et al. (2011) para o Estado de
Pernambuco, e L. helminthorrhiza que apresentou uma colonização tardia próxima às margens do
ponto 2 no açude Rosário semelhante ao descrito por Pitelli (2006) para o reservatório de Santana no
Estado de São Paulo. Rocha e Martins (2011) apontam que as espécies emergentes podem ser
encontradas com facilidade nos ambientes que apresentam sinais de assoreamento e eutrofização,
condições chave para promover uma rápida reprodução e dispersão.
Em se tratando das espécies flutuantes foram registradas: N. lasiophylla e N. indica como
flutuantes fixas e S. oblongifolia como flutuantes livres. Esteves (1998) e Pott e Pott (2000) atribuem a
predominância destas espécies à concentração de nutrientes no ambiente aquático, em especial
nitrogênio e fósforo.
A análise dos dados obtidos com este estudo florístico e o pequeno número de trabalhos com
semelhança florística aos pontos aqui estudados revelam uma diversidade considerável e peculiar de
macrófitas aquáticas para o reservatório Rosário no Estado do Ceará. Tal fato pode estar relacionado a
alterações das propriedades da água nos pontos avaliados devido a entrada de uma carga superior de
nutrientes provinda de atividades agrícolas desenvolvidas próximas ao corpo hídrico, pode estar
relacionado, também, a fatores ambientais como direção dos ventos e índices de precipitação, assim,
como também a facilidade de propagação das espécies, promovida por atributos morfofuncionais que
facilitam sua distribuição.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REGISTRO DE QUATRO NOVAS OCORRÊNCIAS DE CERAMBYCIDEOS EM


CAJUEIRO NO BRASIL

Antonio Lindemberg Martins MESQUITA


Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
lindemberg.mesquita@embrapa.com
Gabriel Teles Portela POLICARPO
Graduando do Curso de Tecnologia em Gestão da Qualidade da UFC
gabrielpolicarpo@yahoo.com.br
José Emilson CARDOSO
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
jose-emilson.cardoso@embrapa.br
Maria do Socorro Cavalcante de Souza MOTA
Engenheira Agrônoma, Analista, Embrapa Agroindústria Tropical
socorro.mota@embrapa.br

RESUMO
Na classe Insecta, as espécies que atacam o cajueiro, no Brasil, estão distribuídas em oito ordens
consideradas de importância agrícola, sendo a ordem Coleoptera a que apresenta o maior número de
espécies fitófagas, atualmente com um total de 34 registros, distribuídos em 10 famílias de hábitos
bastante variados. A família Cerambycidae é a mais numerosa e está representada por nove espécies. O
presente estudo objetivou registrar, pela primeira vez, a ocorrência de quatro espécies de Cerambycidae
associadas ao cajueiro. As espécies foram coletadas diretamente das plantas de cajueiro por ocasião de
inspeções de campo. As identificações das espécies foram feitas por taxonomistas do Departamento de
Zoologia da Universidade Federal do Paraná, ou por comparação com insetos existentes na coleção
entomológica da Embrapa Agroindústria Tropical onde os espécimes estão depositados. As espécies
constatadas foram: Dorcacerus barbatus (Olivier, 1790), Trachyderes thoracicus (Olivier, 1790),
Callipogon armillatus (Linné, 1767) e Oncideres limpida (Bates, 1865). Com esses quatro novos
registros de cerambydeos associados ao cajueiro, o numero de coleópteros passa de 34 para 38 espécies
e o de cerambycideos passa de 9 para 13 espécies. Apenas a espécie C.armillatus é considerada como
um herbívoro decompositor, e as outras três espécies são fitófagas e se alimentam no interior de ramos
ou galhos (brocas), de folhas ou do pedúnculo (pseudofruto).
Palavras-chaves: Anacardium occidentale, Coleoptera, Cerambycidae, habito alimentar.
ABSTRACT
In the Class Insecta, the species that attack the cashew nut trees in Brazil are distributed in eight orders
considered to be of agricultural importance, with Coleoptera having the highest number of
phytophagous species, with a total of 34 records, distributed in 10 families, showing quite variable
habits. The Cerambycidae family is the most numerous and is represented by nine species. The present
study aimed to record, for the first time, the occurrence of four species of Cerambycidae associated
with cashew nut trees in Brazil. The species were collected directly from the cashew plants during field
inspections. The species identifications were made by taxonomists of the Department of Zoology of the

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Federal University of Parana State (Brazil), or by comparison with insects from the entomological
collection of Embrapa Agroindústria Tropical, where the specimens are deposited. The species found
were: Dorcacerus barbatus (Olivier, 1790), Trachyderes thoracicus (Olivier, 1790), Callipogon
armillatus (Linné, 1767) and Oncideres limpida (Bates, 1865). With these four new records of
Cerambycidae, the number of coleopterans increases from 34 to 38 species and cerambycide from 9 to
13 species. Only the species C. armillatus is considered as a decomposing herbivore, and the other
three species are phytophagous and feed inside shoots or branches (borers), leaf or pseudofruit eaters.
Key-words: Anacardium occidentale, Coleoptera, Cerambycidae, feed habits.

INTRODUÇÃO

No Brasil, o cajueiro (Anacardium occidentale L.) é atacado em todos os órgãos da planta por
mais de uma centena de insetos e ácaros. Na classe Insecta, as espécies que atacam o cajueiro estão
distribuídas em oito ordens consideradas de importância agrícola, sendo a ordem Coleoptera a que
apresenta o maior número de espécies fitófagas, atualmente com um total de 34 registros, distribuídos
em 10 famílias de hábitos bastante variados (MESQUITA e BRAGA SOBRINHO, 2013). A família
Cerambycidae é a mais numerosa e está representada por nove espécies (Tabela I).

Espécies de Cerambycidae Órgão atacado


Nyssicus quadrinus Bates, 1870 Tronco e galho
Trachyderes rufipes Fabricius, 1787 Frutos
Trachyderes rufipes ab. Fulvipennis Dupont,1838 Frutos
Trachyderes striatus Fabricius, 1787 Frutos
Trachyderes succintus Linné, 1758 Tronco e galho
Oncideres spp. Tronco e galho
Oncideres ulcerosa Germar, 1824 Tronco e galho
Oncideres dejeaniThomson, 1868 Galho
Oncideres saga Dalman, 1823 Galho
Tabela I – Espécies da família Cerambycidae registradas no Brasil
associadas a diferentes órgãos do cajueiro.

A maior parte dos besouros da família Cerambycidae é facilmente reconhecida pelo aspecto
geral do corpo, principalmente pelo tamanho das antenas que, geralmente, são tão ou mais longas que o
corpo, principalmente nos machos. Os élitros, comumente, são bem desenvolvidos e não raro
espinhosos no ápice (TRIPLEHORN e JOHNSON, 2013).
As larvas são alongadas, cilíndricas, esbranquiçadas e apresentam cabeça arredondada, tórax
apresentando o protórax mais desenvolvido que o meso e o metatórax e, em geral, mais fortemente
esclerosado na parte dorsal (Figura I). Algumas larvas são providas de pernas curtas e rudimentares,
porém a maioria é ápoda (COSTA LIMA, 1955).

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Figura I. Larva de Cerambycidae (Foto: A.L.M. Mesquita)

As nove espécies de cerambicídeos registrados no cajueiro pertencem a três gêneros distintos


(Tabela I). As larvas são brocas de tronco e ramos e os adultos alimentam-se de frutos (BLEICHER e
MELO, 1996; SILVA et al., 1968). Apesar de algumas espécies terem sido citadas como associadas ao
fruto, muito provavelmente, pelo hábito alimentar, de fato estariam associadas ao pseudofruto.
Embora exista um elevado número de insetos já associados ao cajueiro, outras espécies
herbívoras têm atacado a cultura (MESQUITA, et al., 1998; MESQUITA, et al., 2011). Portanto, o
presente estudo objetivou registrar, pela primeira vez, a ocorrência de quatro espécies de Cerambycidae
associadas ao cajueiro.

METODOLOGIA

As espécies a seguir apresentadas foram coletadas diretamente das plantas de cajueiro por
ocasião de inspeções de campo. Os insetos coletados na fase larval foram criados no Laboratório de
Entomologia da Embrapa Agroindústria Tropical até a transformação em adultos. Os espécimes adultos
obtidos foram alfinetados, etiquetados e postos para secar em estufa conforme as recomendações
contidas em Triplehorn e Johnson (2013). As identificações das espécies Callipogon armillatus (Linné,
1767) e Oncideres limpida (Bates, 1865) foram feitas por taxonomistas do Departamento de Zoologia
da Universidade Federal do Paraná, enquanto que as outras duas foram feitas por comparação com
insetos existentes na coleção entomológica da Embrapa Agroindústria Tropical onde os espécimes
estão depositados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Novos registros de Cerambycídeos em cajueiro no Brasil

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1. Dorcacerus barbatus (Olivier, 1790) – São besouros que medem, aproximadamente, 30 mm


de comprimento, de coloração marrom; tarsos, peças bucais e bordos internos dos élitros amarelos.
Possuem um tufo de pelos também amarelos na inserção de cada antena (Figura II). Esta espécie foi
observada no Piauí, Ceará e Pernambuco, alimentando–se, principalmente, de folhas novas ricas em
antocianinas. O ciclo biológico dessa espécie é de aproximadamente um ano e apresenta outros
hospedeiros como a goiabeira e jabuticabeira (GARCIA et al., 1992, GALLO et al., 2002).

Figura II. Dorcacerus barbatus em folhas novas de cajueiro (Foto: A. L. M. Mesquita)

2. Trachyderes thoracicus (Olivier, 1790) – Os adultos medem cerca de 34 mm de comprimento


por 12 mm de largura. Apresentam coloração geral verde-escura e região inferior do corpo castanho-
escuro, coberta de pelos alaranjados; antenas longas com 11 artículos. As pernas são robustas, de
coloração preta e com fêmures dilatados. Esta espécie ataca goiabeira, abacateiro e outras espécies de
plantas (GALLO et al., 2002).
Em cajueiro, as espécies do gênero do Trachyderes são citadas como broca de ramos ou tronco
(BLEICHER e MELO, 1996), porém, sem grande expressão econômica. O ataque ocorre
preferencialmente em ramos e é caraterizado pela formação de uma massa formada de resina e
serragem que pode ser observada externamente (Figura III). No interior do ramo, encontra-se uma
galeria bem definida direcionada de cima para baixo no sentido do maior diâmetro do ramo ou tronco,
impedindo a translocação da seiva e provocando a morte do ramo (Figura IV). Além de atacar a parte
lenhosa dos ramos, os adultos danificam os pedúnculos reduzindo sua qualidade, impedindo a sua
comercialização para caju de mesa (Figura V). Este hábito alimentar de adultos de T. thoracicus foi
observado nos Estados do Ceará e Piauí.

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Figura III. Ataque de larva de Figura IV. Galeria com presença Figura V. Adulto de
cerambicídeo em ramos de de larva de cerambicídeo em ramo Trachyderes thoracicus
cajueiro com exsudação de de cajueiro. danificando pseudofruto do
resina (Foto: A. L. M. Mesquita) cajueiro.
(Foto: A. L. M. Mesquita) (Foto: A. L. M. Mesquita)

3. Callipogon armillatus (Linné, 1767) – Os adultos apresentam cabeça, antenas, tórax e pernas
pretas e élitros avermelhados. O protórax apresenta uma serra formada de quatros espinhos agudos da
mesma coloração do tórax (Figura VI). Adultos provenientes de larvas coletadas em campo e criadas
em laboratório chegaram a medir de 80 a 90 mm de comprimento. Larvas dessa espécie (Figura VII)
foram coletadas em troncos de plantas de cajueiros recém-mortas e em estado avançado de
decomposição (Figura VIII). Esta situação foi constatada nos Estados do Ceará e Pernambuco. Por se
tratar de uma espécie considerada, dentro da rede de recursos alimentares de Coleóptera, como um
herbívoro decompositor (MARINONI, 2001), não causa danos para a exploração comercial do
cajueiro.

Figura VI. Adulto de Callipogon Figura VII. Larva de Callipogon Figura VIII. Cajueiros
armillatus. armillatus. senescentes infestados por
(Foto: A. L. M. Mesquita) (Foto: A. L. M. Mesquita) Callipogon armillatus.
Foto: A. L. M. Mesquita)

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4. Oncideres limpida (Bates, 1865) – são insetos com tamanho que varia de 11 a 17 mm e
apresentam corpo e antenas pubescentes. O comprimento das antenas chega a ter o dobro do tamanho
do corpo (Figura IX). Essa espécie compõe o grupo de besouros conhecidos como ―serradores‖ ou
―serra pau‖. Os adultos, tanto machos como fêmeas, serram galhos e troncos com até 100 mm de
diâmetro (Figura X) o que pode levar vários dias. As fêmeas depositam seus ovos nas incisões das
madeiras recém-cortadas, sob a casca, ricas em seiva, podendo colocar até dezenas de ovos em um
mesmo ramo (Figura XI). Após a eclosão, as larvas alimentam-se do lenho periodicamente umedecido
pela chuva. Assim, esse comportamento sugere que, em locais úmidos, a infestação pode ser mais
intensa do que em locais secos. As larvas dessa espécie apresentam uma placa calcária rígida e branca
na parte distal do primeiro segmento do corpo.

Figura IX. Adulto de Oncideres. Figura X. Ramos de cajueiro serrados Figura XI. Incisões para posturas
(Foto: J. E. Cardoso) por Oncideres. em ramo decepado.
(Foto: A. L. M. Mesquita (Foto: A. L. M. Mesquita)

O ciclo evolutivo completo deste inseto varia de seis a doze meses e essa espécie também ataca
a algarobeira (Prosopis juliflora Griseb) (GALLO et al., 2002).

CONCLUSÕES

Com esses quatro novos registros de cerambycideos associados ao cajueiro, o número de


coleópteros passa de 34 para 38 espécies e o de cerambycideos passa de 9 para 13 espécies. Das quatro
novas ocorrências, apenas a espécie Callipogon armillatus é considerada como um herbívoro
decompositor, pois se alimenta de cajueiros em estado de decomposição. As outras três espécies são
fitófagas e se alimentam no interior de ramos ou galhos (brocas), de folhas ou do pedúnculo
(pseudofruto).

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BLEICHER, E.; MELO, Q. M. S. Artrópodes associados ao cajueiro no Brasil. 2ª. ed. Fortaleza:
Embrapa Agroindústria Tropical, 1996. 35p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Documentos, 9).

COSTA LIMA, A. Insetos do Brasil – coleópteros. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia,
1955. Tomo 9, Capítulo 29, 289 p.

GALLO, D.; NAKANO, O.; NETO, S. S.; CARVALHO, R. P. L.; BAPTISTA, G. C.; FILHO, E. B.;
PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.;VENDRAMIN, J. D.; MARCHINI, L.C.
Manual de Entomologia Agrícola. Piracicaba: 2002. FEALQ, 2002. 920 p.

GARCIA, A. H.; SILVA, V. L. da; PEREIRA, E. A. Flutuação populacional de Dorcacerus barbatus


(Oliver, 1970) Coleoptera: Cerambycidae em pomar de jabuticabeira. Anais da Escola de
Agronomia.e Veterinária, v. 21/22, n.1, p. 17-25, jan./dez. 1992. Disponível em:
<https://www.revistas.ufg.br/pat/article/view/2599/2581>. Acesso em: 15 nov. 2016.

MARINONI, R. C. Os grupos tróficos em Coleoptera. Revista Brasileira de Zoologia, v. 18, n. 1, p.


205-224, 2001.

MESQUITA, A. L. M., BECKER, V. O., BRAGA SOBRINHO, R. Taxonomic identication of


lepidopterous species of cashew plant in Brazil. Anais da Sociedade de Entomologia do Brasil, v.
27, n. 4, p. 655-656, 1998.

MESQUITA, A. L. M.; BRAGA SOBRINHO, R. Pragas do cajueiro. In: ARAÚJO, J.P. de (Ed.).
Agronegócio caju: práticas e inovações. Brasília, DF: Embrapa, 2013. p.195-215.

MESQUITA, A. L .M. CAVALCANTI, J. J. V.; BRAGA SOBRINHO, R.; CARDOSO, J. E. Método


de captura e recomendação de controle em função do horário de voo do escaravelho Hilarianus
sp., em cajueiro. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2011. 3 p. (Embrapa Agroindústria
Tropical. Comunicado técnico, 167).

SILVA, A. G. A.; GONÇALVES, C. R.; GALVÃO, D. M.; GONÇALVES, A. J. L.; GOMES, J.;
SILVA, M. N.; SIMONI, L. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil: seus
parasitas e predadores. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1968. 622 p.

TRIPLEHORN, C.A.; JOHNSON, N. F. Estudos dos insetos. 7. Ed. São Paulo: Cenage Learning,
2013. 809 p.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ESTUDANDO O CERRADO POR MEIO DE ATIVIDADES INVESTIGATIVAS

Nayara Borges de Oliveira CORRÊA


Mestranda do PPG PPEC
matnayaraborges@hotmail.com
Brenda Letícia SENA
Mestranda do PPG PPEC
brendaleticia28@hotmail.com
Robson Lopes CARDOSO
Professor da rede básica de ensino
robson_lopes_cardoso@hotmail.com
Lilia Aparecida de OLIVEIRA
Mestranda do PPG PPEC
lilia.oliveirapa@gmail.com

RESUMO
A utilização de metodologias diversificadas para o ensino de maneira a suscitar a contextualização e
envolver o aluno para o estudo é um trabalho não muito simples para o professor. O ensino sobre o
bioma cerrado envolve conteúdos intrincados que precisam ser aprimorados de modo a promover a
aprendizagem efetiva, e ainda colaborar para o desenvolvimento da consciência ambiental. O trabalho
foi dividido em quatro etapas sendo que essas contemplaram: o levantamento do conhecimento prévio
dos alunos utilizando a ferramenta do desenho, realização de palestras, visita monitorada e elaboração e
exposição de materiais sobre o Cerrado na escola. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi
verificar como as atividades investigativas podem contribuir para o ensino do bioma cerrado na rede
básica de ensino sendo os alunos das 1ª e 2ª séries do ensino médio da rede pública da cidade de
Jaranápolis-GO. A primeira etapa do trabalho consistiu no levantamento do conhecimento prévio dos
alunos utilizando a ferramenta do desenho, seguida da à realização de uma palestra sobre o bioma do
Cerrado, uma visita investigativa a uma área verde situada nas proximidades do distrito, conhecida
popularmente como Serra de Jaranápolis, a quarta atividade consistiu na organização e catalogação dos
materiais coletados durante a visita e após a confecção esses materiais foram expostos no corredor
principal da escola e apresentados ao público escolar.
Palavras-Chaves: Metodologias diversificadas. Bioma. Visita Monitorada.
ABSTRACT
The use of diversified methodologies for teaching in order to stimulate the contextualization and to
involve the student in the study is not a simple task for the teacher. Teaching about the cerrado biome
involves intricate content that needs to be improved in order to promote effective learning, and also
contribute to the development of environmental awareness. The work was divided in four stages and
these included: the prior knowledge of students using the drawing tool, lectures, monitored visit and
elaboration and exhibition of materials about the Cerrado in the school. In this context, the objective of
the present study was to verify how the research activities can contribute to the teaching of the biome
Cerrado in the basic network of education, being the students of the 1st and 2nd high school in the
public network of the city of Jaranápolis-GO. The first stage of the work consisted in surveying the

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students' previous knowledge using the drawing tool, followed by a lecture on the Cerrado biome, an
investigative visit to a green area located near the district, popularly known as Serra de Jaranápolis, the
fourth activity consisted in the organization and cataloging of the materials collected during the visit
and after the preparation, these materials were exhibited in the main corridor of the school and
presented to the school public.
Keywords: Diversified methodologies. Biome. Monitored visit.

INTRODUÇÃO
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais (PCN, 1998) o tema
sobre biomas possui como uns de seus objetivos a capacidade de estimar a vida em sua diversidade e a
defesa dos ambientes. Assinalar as condições e a diversidade de vida no planeta Terra em diversos
espaços, especialmente nos ecossistemas brasileiros, para que o aluno ganhe continuamente a
habilidade de entender tais fenômenos (PCN, 1998).
Os PCN destacam ainda a importância de o aluno conhecer sobre o ambiente onde ele reside
como forma fundamental à sua cidadania. Além disso, é de suma importância que os alunos possam
entrar em contato direto com o que estão estudando, de maneira que o ensino dos ambientes não se
torne apenas teórico. As observações diretas, as entrevistas, os trabalhos de campo e os diferentes
trabalhos práticos são atividades principais (PCN, 2007).
Segundo Azevedo (2004) o ensino por investigação é uma das maneiras de se concretizar uma
aprendizagem efetiva. Através dele o aluno tem a oportunidade de ser agente ativo na construção do
conhecimento, e o professor deve ser o mediador, devendo ser capaz de problematizar e levar o aluno a
pensar, a elaborar hipóteses e a resolver problemas. O professor tende a assumir uma responsabilidade
maior ao aplicar este tipo de metodologia, assim como assegura Berbel (2012), porém ele ganha uma
maior prestígio de relevância, o que ajuda na motivação e participação do aluno nas aulas, além de
colaborar para o desenvolvimento de sua autonomia.
O Cerrado é formado por diferentes paisagens naturais que, por sua vez, constituem uma rica
biodiversidade. É de grande importância dentro do âmbito escolar abordar o tema Cerrado em toda sua
amplitude, incluindo a vegetação, o clima, solo, água, relevo, fauna, flora além da sua importância
como produto histórico, um território apropriado e disputado por atores sociais e capitalistas (PELA;
MENDONÇA, 2010).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) o Cerrado pode ser caracterizado como o
segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2 representando 22% do
território nacional (MMA). O bioma abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal.

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Além de ser considerado o ―Berço das Águas‖, pois em seu domínio se nascem as três principais bacias
hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), revelando seu alto
potencial aquífero o que contribui significativamente para sua vasta biodiversidade (MMA).
No Cerrado são descritos onze tipos fitofisionômicos gerais. As formações florestais (que
incluem os subtipos: Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão), as formações savânicas
(Cerrado stricto sensu, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e as formações campestres (Campo
Sujo, Campo Rupestre e Campo Limpo) (BRASIL, 2007).
A fauna é representada por diversos mamíferos, anfíbios, répteis, aves, sendo que muito deles
estão ameaçados de extinção (NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL, 2016). Já a flora possui uma rica
diversidade biológica, sendo que frutos, sementes, cascas, troncos são explorados de forma medicinal,
gastronômico e artesanal. O Cerrado é considerado um Hotspot, uma área de priorização para a
conservação já que sofre constantemente a ação antrópica, por meio de queimadas, atividades agrícolas
e a agropecuária que reduz a biodiversidade de espécies (AGUIAR; CAMARGO, 2004).
Dentro dessa perspectiva o objetivo do presente trabalho consistiu verificar como as atividades
investigativas podem contribuir para o ensino do bioma cerrado na rede básica de ensino.

METODOLOGIA

Caracterização do local

A pesquisa foi realizada entre os meses de maio e junho, em uma escola da rede estadual de
ensino localizada no distrito de Jaranápolis, município de Pirenópolis, Goiás. O Distrito de Jaranápolis
fica a 33 km de Pirenópolis as margens da BR 153 (Belém-Brasília), possui população de
aproximadamente 2000 habitantes. Sua infra-estrutura é dotada de instrumentos sociais que resultam
em uma boa qualidade de vida. A principal atividade financeira é a agropecuária e comércio. É uma
comunidade formada em sua maioria por cidadãos da classe média a baixa.

Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos participantes da pesquisa foram os alunos das 1ª e 2ª série do Ensino Médio do


Colégio Estadual Jarbas Jayme, turno matutino.

Coleta e análise dos dados

Para coleta utilizamos a ferramenta desenho, além da observação do comportamento, participação,


interesse e das opiniões dos alunos durante o desenvolver das atividades. Para analisar os dados obtidos

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a partir dos desenhos optamos por uma análise qualitativa, bem como a participação, o interesse e as
opiniões.

Etapas da pesquisa

A primeira etapa consistiu no levantamento do conhecimento prévio dos alunos utilizando a


ferramenta do desenho, sendo solicitado que representassem componentes do Bioma Cerrado por meio
de desenhos. Sendo ao todo 18 alunos que participaram da avaliação prévia com a temática voltada aos
conhecimentos sobre o bioma com a finalidade de investigar os possíveis entendimentos e perspectivas
sobre o Cerrado.
A segunda etapa foi à realização de uma palestra para os alunos da 1ª e 2ª série do Ensino
Médio sobre o bioma do Cerrado, ressaltando suas principais características como o clima, fauna e
flora, importância ecológica, espécies endêmicas e em risco de extinção e a importância da
preservação, os principais danos que o bioma vem sofrendo com a intervenção humana. Após o
término da palestra foi feito um debate para discutir sobre as medidas que devem ser tomadas para se
preservação deste bioma.
A terceira etapa consistiu em uma visita investigativa a uma área verde situada nas
proximidades do distrito, conhecida popularmente como Serra de Jaranápolis. Essa atividade teve como
intuito investigar os impactos ambientais causados pela ação antrópica no local bem como identificar as
características morfológicas da vegetação e a topografia da região. Ao longo da trilha os alunos tinham
como objetivo fotografar e coletar elementos da flora, como folhas, frutos entre outros. Na parte final
os alunos participaram de um debate sobre a importância da conservação do bioma e da vivência
ambiental.
Na quarta etapa foi feita a organização e catalogação dos materiais coletados durante a visita a
Serra de Jaranápolis, além de pesquisas sobre os frutos do cerrado mostrando suas utilizações e
propriedades, sobre as características gerais do bioma bem como suas peculiaridades e curiosidades.
Para exporem as informações obtidas os alunos elaboraram cartazes sobre a fauna, flora do bioma e os
demais assuntos pesquisados. Após a confecção esses materiais foram expostos no corredor principal
da escola e apresentados ao público escolar, incluindo alunos, professores, equipe gestora e
administrativa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ao analisar os desenhos na primeira atividade, os alunos demonstraram uma percepção do


Cerrado poética e distorcida, com desenhos caracterizando cenários floridos, e árvores com muitas
folhas e ramos e de copas espaçosas e elementos que demonstram a concordância e estabilidade entre a
natureza e o ser humano. No que se refere à fauna a maioria dos alunos ilustraram vacas e galinhas que
não são espécies nativas do bioma, mas sim de interesse comercial inseridas no contexto natural.
Poucas espécies silvestres do bioma foram ilustradas. Muitos alunos não sabiam do que se tratava um
bioma, e também desconheciam o bioma da região que residem. Constatamos isso devido ao alto índice
de alunos que escreveram na folha que não sabiam o que era um bioma e que representaram
corretamente as características morfológicas do Cerrado, mas não sabiam o nome desse bioma.
Notamos, portanto, que o desenho foi uma ferramenta eficiente para levantar o conhecimento
prévio dos alunos, uma vez que essa metodologia permite que o aluno tenha liberdade de transcrever o
seu conhecimento de forma livre e espontânea, sem causar constrangimentos e deixa o aluno mais
desprendido.
Segundo Garrido e Meirelles (2014), a demonstração de ideias utilizando ilustrações por
desenhos admite a apreensão de um conhecimento, sem que seja essencial a expressão verbal.
Metodologia esta que vem sendo usada repetidamente de forma a permitir à criança, traduzir por meio
do seu desenho tanto elementos do dia a dia, como do seu inconsciente, o que talvez não fosse
alcançado através da expressão verbal (escrita ou oral).
O conteúdo da palestra destacou as principais características do cerrado como o clima, fauna e
flora, a importância ecológica, as espécies endêmicas e em risco de extinção, a importância da
preservação e os principais danos que vem sofrendo pelo homem. A diversidade de temas abordados
possibilitou a participação ativa dos alunos, uma vez que ficaram curiosos e interessados com as
imagens e animações utilizadas. Ao longo da abordagem dos assuntos, os alunos faziam suas
intervenções, esclareceram suas dúvidas e também opinaram sobre algumas medidas que devem ser
tomadas para evitar as constantes agressões ao bioma.
É importante ressaltar que a palestra aprofundou o foco no levantamento bibliográfico sobre as
espécies endêmicas que estão em risco de extinção e a importância da preservação desse bioma e dos
seus recursos hídricos de forma a subsidiar o enriquecimento do processo educativo sobre o meio
ambiente que permita cumprir adequadamente o currículo do ensino de Ciências e Biologia nessa área
de ensino.
Os alunos interagiram com os palestrantes e ficaram interessados ao decorrer da apresentação,
sempre questionando e exemplificado. As imagens e vídeos projetados com o auxílio do retroprojetor
deixaram a palestra mais atrativa e dinâmica. No tema de estudo Pereira & Freitas (2013, p.8) ressalta

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―que o retroprojetor surgiu para auxiliar a exposição do conteúdo e sistematizar as apresentações em


um modo visual mais atrativo. O uso de retroprojetor deve ser bem planejado, tendo-o como um
recurso de apoio à comunicação‖.
A palestra teve resultado positivo no processo ensino aprendizagem, especialmente no que
tange a importância da preservação do bioma Cerrado, uma vez aguçou o sentido de investigar soluções
que contribuíssem para minimizar os danos causados pelo homem nesse ambiente. A palestra também
teve o intuito de promover uma melhor compreensão do contexto socioambiental ao quais os alunos
estão inseridos.
Dentre os pontos debatidos ao final da palestra, podemos citar:
I) Uma das fundamentais causas da degradação do Cerrado foi à ampliação da agricultura brasileira, em
que as atividades agropecuárias passaram a ocupar em ampla escala os espaços antes pertencentes ao
domínio natural em questão. Tal processo foi, em grande parte, provocado pelos progressos no que diz
respeito às distintas técnicas de cultivo, de maneira especial a partir dos processos de correção dos
solos ácidos do Cerrado, antes pouco adequados à inclusão de monoculturas.
II) através de reflexão foi possível concluir que deve ser reconhecida a necessidade de preservação do
bioma, dos animais que o habitam, da mata ciliar e da recuperação de áreas degradadas, como, por
exemplo, o replantio de plantas nativas;
III) A expansão do cerrado não deve ser de forma desordenada sem poupar os limites naturais, como
matas ciliares ou áreas de grande precisão de conservação, espaço de habitat de várias espécies de
animais e plantas.
III) A expansão do cerrado não deve ser de forma desordenada sem poupar os limites naturais, como
matas ciliares ou áreas de grande precisão de conservação, espaço de habitat de várias espécies de
animais e plantas.
IV) O bioma Cerrado é muito importante e é imprescindível que os programas de conservação de suas
áreas sejam impulsionados, uma vez que alguns dados indicam que, caso o grau de destruição atual seja
sustentado, esse importante bioma logo conhecerá o seu fim.
V) muitos desafios ainda devem ser superados para que se tenham as condições necessárias para a
adequada preservação do cerrado e de seus recursos, o que deve ser uma preocupação frequente de toda
a sociedade.
Baseada na participação e colocações dos alunos possível notar que a palestra além de ampliar e
desmitificar o conhecimento dos alunos sobre o bioma Cerrado, aguçou o senso de análise e de
criticidade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na terceira etapa os alunos foram levados até o local do início da subida para o morro e ao
iniciar a caminhada tiveram a oportunidade de conhecer as espécies do cerrado, bem como passar em
uma nascente e também conhecer um pouco mais sobre a importância e preservação de espécies
nativas. Ao ter o contato direto com a natureza os alunos puderam sentir e interagir com o local, algo
que muitos deles ainda não tinham conhecimento. Foi explicado passo a passo tos elementos da fauna e
flora, além das características gerais do Cerrado que puderam ser exemplificadas com o próprio
ambiente.
De acordo com Marandino, Selles e Ferreira (2009), visitar vários ecossistemas, ambientes e
habitats característicos de determinados organismos pode proporcionar uma relação mais direta com
esse conhecimento, além de proporcionar melhor entendimento das metodologias utilizadas para o
entendimento do ambiente natural.
A visita dos alunos ao morro foi uma oportunidade de vivenciar o bioma de forma real, pois
eles tiveram a chance de manter contato com a natureza e de sanar várias dúvidas sobre seus
comportamentos ante a conservação da natureza e dos recursos naturais, com isso muitos ampliaram
sua visão sobre o que é o meio ambiente. Ao conhecer o morro eles perceberam o quanto é importante
ter a educação voltada para a questão ambiental e despertar uma consciência ambiental no quotidiano
podendo levar isso a diante.
Com a visita pôde-se notar que os alunos que ali estavam já tinham algum conhecimento sobre
o bioma Cerrado, provenientes da palestra. Algo interessante para se ter conhecimento, pois a escola
visa preparar seus alunos para serem mais conscientes em relação ao meio ambiente. É importante
destacar a preocupação que os alunos mostraram com relação à preservação do Cerrado, pois próximo a
uma mina os alunos encontram sacos plásticos, e imediatamente se prontificaram em recolhê-los, pois
estavam conscientes das consequências que aquele objeto traria ao ambiente o que leva a entender que
os alunos já estão mudando seus modos perante a natureza.
Ao retornar da caminhada ao morro foi explicado aos estudantes sobre a importância de se
refletir sobre a preservação e conservação do meio ambiente que é uma obrigação de todos, onde cada
indivíduo tem a oportunidade e o dever de fazer a sua parte, pensando nas futuras gerações e nas da
atualidade.
Como a exposição dos materiais foi colocada em um local estratégico todos que passavam
ficavam curiosos para ler os cartazes e manipular os exemplares expostos. Os frutos e sementes
expostos foram: o jatobá, castanha do baru, casca de barbatimão, pau terra, são caetano do cerrado,
faveira entre outros. Durante a passagem os alunos manusearam, e ao ser explicado sobre sua
importância ficaram bem curiosos, já que muitos nunca tinham visto os frutos. Além dos nomes

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científicos de cada um, os alunos se atentaram em expor a importância medicinal, culinária e valor
nutricional desses exemplares do Cerrado por meio de cartazes, bem como os nomes e figuras dos
principais componentes da fauna do Cerrado.
Segundo Santos e Zampero (2012) ―O ambiente escolar nos permite disseminar informações
importantes para demonstrar a importância das espécies na cultura e na preservação dos Cerrados,
formando cidadãos mais conscientes e conhecedores da cultura na região.‖ Esse tipo de atividade,
exposição de espécimes do Cerrado no ambiente escolar é muito importante para trabalhar a
importância de preservação do Cerrado e espécies com risco de extinção, além de mostrar a
importância nutricional e fitoterápica que a flora desse ecossistema representa.
Para os mesmos autores Soares e Zampero (2009) ―A utilização dos frutos na culinária e na
indústria caseira é tradicional entre os habitantes dos cerrados brasileiros. Além do consumo in natura,
são várias as receitas que podem ser apreciadas com sabor dessas frutas, com destaque para os doces,
sorvetes, geléias e licores‖. Após encerramento da exposição alguns alunos levaram as sementes para
suas residências com o intuito de produzir mudas pela plantação das sementes e posteriormente doar
para alguns interessados que surgir.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento deste trabalho proporcionou a edificação de conhecimentos de uma forma


ativa, através da qual os alunos passaram de espectadores a participantes ativos no processo de ensino
aprendizagem, interagindo com o ambiente, com os professores e colegas, procurando indagar os temas
levantados em sala de aula e no campo visitado. Através da participação dos alunos durante a palestra
em sala de aula e durante a visita monitorada foi possível confirmar a edificação do conhecimento.
Por meio do empenho dos alunos durante a realização do trabalho foi possível perceber que
as atividades investigativas levam à maior compreensão, tendo em vista que os alunos relacionam o que
é teoria com o que é visto na realidade. Nesse sentido é possível afirmar que atividades diversificadas
como visitas monitoradas complementam o processo do conhecimento, nesse caso os estudantes
puderam perceber características do Bioma Cerrado, bem como o tipo de vegetação predominante.
Diante de todos os resultados apresentados nas diferentes etapas, percebeu-se que o trabalho em equipe
promove um maior envolvimento dos alunos colaborando para a realização do projeto elaborado.

AGRADECIMENTOS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Pró Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Estadual de Goiás (UEG), pelo


apoio financeiro em nome do Auxílio Eventos. E ao Mestrado Profissional em Ensino de Ciências
(PPEC/UEG) por viabilizar a oportunidade.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVIFAUNA DA FAZENDA ALVORADA: UM GUIA INTRODUTÓRIO À


ORNITOLOGIA REGIONAL

Bruna Dias PONTES


Graduada em Ciências Biológicas (UFPI)
brunadp.bio@gmail.com
Daniel Pires COUTINHO
Mestre em Zoologia (UFPB)
dpcoutinho@ufpi.edu.br
Victor LEANDRO-SILVA
Graduando do Curso em Ciências Biologias da UFRPE
leo.silva.vls@gmail.com
Alex Sobrinho DA ROCHA
Especialista em Ecologia – Graduado em Ciências Biológicas (UFPI)
alexbiologo.bj.ufpi@hotmail.com

RESUMO
Atualmente a relação entre Meio Ambiente e Educação assume um papel importante e desafiador,
demandando a necessidade de novas metodologias que possibilitem uma melhor e maior aprendizagem.
Neste contexto, foi elaborado um Guia Ornitológico Ilustrado da Fazenda Experimental Alvorada do
Gurgueia, com o objetivo de servir como material complementar para a realização de atividades de
campo de observação de aves. Para a construção do material foi realizado um levantamento da avifauna
da região, onde se registrou 50 espécies diferentes de aves através da observação direta e captura com
redes de neblina. O Guia foi organizado em pranchas contendo foto(s) da ave, a classificação
taxonômica e informações básicas sobre os aspectos biológicos e ecológicos das famílias, bem como
das espécies de aves registradas. O material confeccionado foi utilizado em uma atividade de campo
com alunos do ensino médio do Colégio Técnico de Bom Jesus, onde estes tiveram a oportunidade de
observar as aves, captura-las e identifica-las utilizando o guia. Baseado no relato dos alunos o material
atingiu o objetivo, tendo em vista que eles conseguiram identificar as espécies. Durante a realização da
atividade prática pode-se perceber o envolvimento dos alunos não só pela busca de conhecimento sobre
as aves, como também a importância delas para a natureza e consequentemente sua conservação.
Palavras – chaves: Aves, Conservação, Educação
ABSTRACT
Currently the relationship between environment and education plays an important and challenging role,
requiring the need for new techniques that enable better and greater learning. In this context, it
designed Ornithological Illustrated Guide of the Experimental Farm Alvorada do Gurguéia, in order to
serve as a supplementary material for carrying out bird watching field activities. For the construction
material was a survey of birds in the area, where he registered 50 different species of birds through
direct observation and trapping with mist nets. The Guide is organized into boards containing photo(s)
of the bird, the taxonomic classification and basic information about the biological and ecological
aspects of the families as well as the recorded bird species. The made material was used in a field of

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activity with high school students from the Technical College of Bom Jesus, where they had the
opportunity to observe the birds, catching and identifies them using the guide. Based on student
reporting the material reached the goal, given that they were able to identify the species. During the
course of practical activity can be seen student involvement not only by the pursuit of knowledge about
birds, as well as their importance for nature and therefore their conservation.
Keywords: Birds, Conservation, Education

INTRODUÇÃO

O Brasil é detentor de uma megadiversidade faunística, principalmente quando se refere à


diversidade das aves (MARINI e GARCIA, 2005). Atualmente, ele ocupa o segundo lugar quando se
compara a riqueza da avifauna na América do Sul, superado apenas pela Colômbia. A diversidade
encontrada em seu território corresponde à metade das espécies neotropicais e quase 1/6 de todas as
espécies de aves do mundo. O Brasil também é o país com o maior número de novas espécies descritas
na última década, fazendo deste um dos locais mais atrativos para investimentos em conservação da
biodiversidade (PIACENTINI et al, 2015).
As aves são o grupo mais bem conhecido de vertebrados terrestres, cuja observação e
identificação é facilitada, principalmente, pela vocalização e coloração, que as tornam bastantes
distintas na natureza (MARINI e GARCIA, 2005). Esses animais possuem algumas adaptações, como,
por exemplo, em seus hábitos alimentares, sendo classificados como frugívoros, granívoros,
insetívoros, nectarívoros, carnívoros, piscívoros, detritívoros ou necrófagos, e onívoros. Além disso, as
aves são essenciais para a manutenção do equilíbrio ecológico de uma área ou fragmento, pois atuam
como dispersores de sementes (FRANCISCO e GALETTI, 2002), agentes polinizadores, reguladores
de populações e ainda são bioindicadores de conservação (BARBOSA, 1999).
Um dos fatores mais impactantes na ecologia desses animais é a intervenção humana nos
ambientes naturais, como os desmatamentos e as queimadas, que afetam diretamente as aves que
habitam seus ecossistemas, resultando em consequências que variam desde benéficas à maléficas. Para
as espécies que habitam áreas abertas, a principal vantagem é a migração destas para novas regiões,
permitindo a sua dispersão. Já aves características de áreas fechadas, a alteração do ambiente pode
levar até a sua extinção (MARINI e GARCIA, 2005).
Dentre os estados da região nordeste, o Piauí se destaca por apresentar uma ornitologia valiosa,
apesar de pouco conhecida e abordada em trabalhos científicos. Dos raros trabalhos ornitológicos feitos
no Estado, os mais relevantes são os levantamentos realizados nas Unidades de Conservação de

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Uruçuí-Una, Parque Nacional da Serra da Capivara, Parque Nacional da Serra das Confusões e na Serra
Vermelha (SILVA, 2009).
A região do Vale do Gurguéia, onde estão incluídos os municípios de Bom Jesus e Alvorada do
Gurgueia, está localizada no centro do mosaico formado por essas Unidades de Conservação, o que a
transforma em uma região de extrema importância para o ecossistema local. Portanto, o
desenvolvimento de trabalhos de levantamento de biodiversidade que levem ao conhecimento da
avifauna dessa região é imperativo para entender o seu papel no funcionamento do ecossistema e
montar estratégias que busquem a conservação tanto da fauna como da flora locais (SILVA, 2009).
Atividade de campo em Ciências/Biologia é toda atividade que envolve o deslocamento dos
alunos para um ambiente diferente dos espaços de estudo contidos na sala de aula (FERNANDES,
2007). As atividades de campo permitem o contato direto com o meio ambiente, possibilitando que o
estudante se envolva e interaja com a natureza. Assim, além de estimular a curiosidade e aguçar os
sentidos, a atividade possibilita a interface entre teoria e prática (DE FRUTOS, 1996). Carbonell
(2002), afirma que a mente tem a capacidade de aprender e reter melhor as informações quando o corpo
interage de maneira ativa com o meio que o cerca. Além disso, esse tipo de atividade permite que o
aluno se sinta parte do seu ensino, como um elemento ativo e não um mero receptor de conhecimento
(DE FRUTOS, 1996).
Atualmente, a ornitologia vem sendo utilizada como uma das ferramentas didáticas com ótimos
resultados dentro do processo de educação ambiental. No início dos levantamentos faunísticos, a coleta
de espécimes de aves foi tida como a base do estudo desses animais no mundo, ainda que outras
técnicas de pesquisa tenham ganhado espaço a partir da segunda metade do século XX. Foi com a
execução das coletas e taxidermia de aves no Brasil que foi possível se entender parte das nuances
envolvidas nessas atividades e sua importância para a construção do conhecimento ornitológico no país
(PIACENTINI et al., 2010).
Os levantamentos da Ornitofauna não se restringem apenas às finalidades científicas, mas
também a momentos lúdicos, como a observação de pássaros, hábito muito difundido nos países norte
americanos e da Europa. A atividade tange a sensibilização ambiental, trazendo para perto do
observador a rotina e comportamento das aves (EFE, 1999).
No Brasil, esta prática pedagógica é pouco difundida, com raras iniciativas, vindas
principalmente de biólogos e ornitólogos. Porém, ela pode ser utilizada como ferramenta didática para
a educação, em especial a Educação Ambiental, pois apresenta caráter lúdico, prático, não conteudista,
sensorial e experimental, oferecendo inúmeras possibilidades para ministrar conteúdos e avaliar as
atitudes dos alunos a respeito da relação homem-natureza (EFFTING, 2007).

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Objetivou-se com esse trabalho a construção de um Guia Ilustrado de Aves para uso na
Educação ambiental, com o intuito de propiciar o contato dos alunos com esses animais e assim
sensibiliza-los da importância das aves para a natureza e biodiversidade e consequentemente
proporcionar os valores de pertencimento e afinidade com os seres vivos que lhes cercam.

METODOLOGIA

O presente estudo foi desenvolvido na Fazenda Experimental Alvorada do Gurguéia (FAEAG)


que é um órgão complementar com atribuições de ensino, pesquisa e extensão, ligado ao Campus
Professora Cinobelina Elvas (CPCE) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A FAEAG possui uma
área física de 400 ha, com sede no município de Alvorada do Gurguéia na região Sul do Estado do
Piauí e está situada às margens da rodovia federal BR 135, com coordenadas limítrofes 8º23‘09,82‖ de
latitude sul e 43º50‘56,97‖ longitude oeste, 8º22‘37,84‖ de longitude sul e 43º50‘35,19‖ de latitude
oeste. A FAEAG está inserida em uma região com características de zona de transição entre dois
importantes biomas brasileiros, o Cerrado e a Caatinga.
As amostras foram feitas nos meses de maio, julho, setembro, novembro e dezembro,
totalizando 5 expedições: duas na estação chuvosa (maio e dezembro) e três na estação seca (julho,
setembro e novembro). Cada expedição teve uma duração de 4 dias. Os métodos empregados para a
obtenção dos dados constituíram-se de abertura de redes de neblina e observação direta. As redes de
neblina apresentavam as seguintes dimensões: 10m de comprimento; 3m de altura e malha de 13mm.
Em cada expedição foram instaladas 10 redes, perfazendo um total de 100m de transecto linear, para a
execução das coletas. Estas redes foram estendidas em 5 pontos distintos da fazenda (um ponto por
expedição) com o intuito de abranger o máximo de hábitats diferentes, ou seja, pontos com fisionomias
vegetais diferentes. A abertura destas ocorreram antes do amanhecer, permanecendo assim por
aproximadamente quatro horas, não ultrapassando o horário das 10:00h da manhã.
Durante o tempo de coleta, as redes eram revisadas a cada 15 minutos, independentemente do
tempo de retirada das aves, a fim de não causar estresse aos animais. No fim de cada expedição um
total de 16 horas/redes foi atingido, somando ao final um total de 80 horas de captura. Ao coletar as
aves das redes, as mesmas eram armazenadas individualmente em sacos de tecido. Logo depois foram
feitas fotografias dos mais diversos ângulos do animal para uma posterior avaliação.
Todas as identificações foram realizadas utilizando o ―GUIA DE CAMPO AVIS BRASILIS –
Avifauna Brasileira‖ de Tomas Sigrist (2009). Ao fim da avaliação as aves foram soltas em local
próximo ao de sua captura.

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Para a observação direta foi utilizado um binóculo convencional com lentes 10x40 (Kodak) e
uma câmera fotográfica semiprofissional (NIKON D90) com teleobjetiva (Sigma 70-300 mm). As
visualizações foram feitas pela manhã, logo após a abertura das redes, no fim da tarde e no decorrer da
noite. Os registros fotográficos das aves serviram para a confecção do ―Guia Ornitológico Ilustrado‖
para a identificação de aves com posterior utilização em uma atividade de campo.
Para as aves listadas e não fotografadas na FAEAG, foram adquiridas fotografias com
pesquisadores de outras regiões, onde as referidas espécies também são encontradas, e esse material foi
adicionado ao guia.
Entre os dias 10 e 11 de dezembro do ano de 2015 foi realizada uma atividade de campo que
teve a participação de 04 alunos do Colégio Técnico de Bom Jesus. Nessa atividade os alunos foram
levados ao campo, para que realizassem a montagem das redes. No primeiro dia eles foram instruídos
sobre como realizar as atividades além de esclarecidos através de uma pequena aula sobre a
importância das aves para o meio ambiente e sua conservação. No dia seguinte (11/12) os alunos foram
levados ao campo as 04:30h da manhã para que realizassem a abertura das redes. Os alunos puderam
observar as aves na rede, a retirada das mesmas e em seguida auxiliaram na realização da morfometria,
fotografias e identificação das espécies utilizando o guia.
Por volta de 09h as redes foram desmontadas e os alunos se dirigiram ao alojamento, onde
responderam um questionário avaliando a experiência de campo e eficiência do guia. Este possuía 4
questões abertas, onde os alunos puderam relatar a experiência de campo, expor suas opiniões bem
como suas emoções, além de avaliaram o guia e sua utilidade no desenvolvimento desse tipo de
atividades.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Levantamento Ornitológico:

Neste estudo foram levantadas 50 espécies de aves. Dentre estas, estavam presentes
representantes de 12 ordens, 23 famílias e 47 gêneros. De todas as aves encontradas, 15 espécies foram
registradas pela metodologia de observação direta e 35 através de capturas com o uso de redes de
neblina. Das 23 famílias constatadas no estudo, nove são pertencentes à ordem Passeriformes e 14 a
outras ordens. Tendo em mente a diversidade de espécies encontrada, assim como o esforço e tempo
amostral, os resultados obtidos corroboram com os dados verificados em estudos anteriores, feitos em
regiões próximas à área de estudo, como na Estação Ecológica de Uruçui-Una, Parque Nacional da

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Serra da Capivara, Parque Nacional da Serra das Confusões e Serra Vermelha (ZAHER, 2001;
OLMOS E ALBANO, 2012; SILVEIRA E SANTOS, 2012; SANTOS et al., 2012).

Guia Ilustrado de Identificação de Aves

A partir dos dados do levantamento ornitológico, foi confeccionado um guia ilustrado com
linguagem acessível a alunos de ensino fundamental e médio. O Guia é composto por 50 pranchas, e
em cada uma delas é possível observar: foto (s) da ave, a classificação taxonômica e informações
básicas sobre os aspectos biológicos e ecológicos das famílias, bem como das espécies de aves
encontradas na FAEAG (Figura 1).

FIGURA 1: Guia Ilustrado Ornitológico de Aves (A) – Prancha contendo informações básicas da família. (B)
Prancha contendo informações básicas da espécie.

Ação de Educação Ambiental

Na concepção do estudo, foi estipulada para a atividade de campo uma quantidade de


participantes em torno de 30 alunos. Porém, durante a execução da mesma, alguns fatores interferiram,
principalmente o fato desta não fazer parte diretamente das avaliações escolares, ou seja, não atribuiria
nota. Isso fez com que o interesse dos alunos diminuísse e, consequentemente, a quantidade de alunos
reduzisse vertiginosamente para quatro alunos participantes.
Essa observação é discordante da maioria dos trabalhos que abordam o tema, pois estes afirmam
que as atividades de campo por si só já tendem a aumentar o interesse do aluno (VIVEIRO E DINIZ,
2009). No decorrer da atividade de campo, os alunos foram convidados a terem um contato direto com
as aves. Essa metodologia frequentemente aguça a curiosidade dos alunos (LANZ, 1990). Nesse
momento, pode-se observar que os alunos detinham um conhecimento prévio a respeito das espécies
que ocorrem na região, pois não só conheciam algumas características morfológicas como também seus
nomes populares.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Além disso, as sensibilizações dos alunos pela beleza das aves também auxiliaram no aumento
do interesse dos alunos pelo tema proposto, fato observado anteriormente em outros trabalhos (SILVA
E MAMEDE, 2005). Durante a explanação da aula teórica e a execução da aula prática os alunos
participaram ativamente, sempre fazendo perguntas sobre as espécies, sua importância e contribuição
para o meio ambiente. Resultado também obtido por Oliveira, Antunes e Soares (2012), durante a
execução de projeto de observação de aves como ferramenta didática.
Quando questionados sobre a maneira como enxergavam as aves antes das atividades
realizadas, todos os alunos, em algum momento, afirmaram que já caçaram esses animais, seja por
meio de baladeiras, estilingues ou armadilhas conhecidas como ―arapucas‖, com o objetivo de utiliza-
los na alimentação ou cria-los em gaiolas. Afirmaram ainda que esta prática ainda é muito frequente em
suas cidades de origem, característica que também foi vista em outros trabalhos que relatam que a
cultura do bodoque, estilingue ou baladeira como brincadeiras ainda é muito presente e difundida no
país, principalmente em zonas rurais (COSTA, 2007), realidade que vem sendo mudada por iniciativas
como esta.
No final da atividade prática os alunos retornaram ao alojamento, onde foram propostos a
responder um questionário que avaliou a atividade de campo e eficiência do guia. Todos os alunos
relataram que gostaram da atividade campo, que práticas como essas são importantes para que os
alunos aprofundem seus conhecimentos sobre a ornitologia regional, bem como a importância desses
animais para a natureza. Relataram ainda que gostariam que essas atividades, que unem a teoria com a
prática fossem mais frequentes, pois facilita o aprendizado.
Benetti (2002) afirma que essas atividades em ambientes diferentes da sala de aula apresentam-
se atrativas e mais dinâmicas. Reforçando esse conceito, ao serem indagados para opinarem sobre a
qualidade das atividades de campo, de uma maneira geral, os alunos relataram que as mesmas são mais
atrativas, mais dinâmicas e prendem mais a atenção do aluno, pois quando os temas são vistos somente
em sala de aula, podem parecer ser desinteressantes e monótonos, mas quando existe a vivência prática,
tanto a fixação do conteúdo como a identificação com o tema são inevitáveis (CARBONELL, 2002)
Por fim, ao serem questionados quanto ao material didático (Guia), ocorreu uma unanimidade nas
respostas.
Todos reconheceram que o Guia ajudou de maneira ímpar tanto na identificação das aves,
quanto na obtenção de informações sobre a avifauna regional. Comentaram que o material atingiu o
objetivo, que eles conseguiram identificar as aves baseados nas imagens e explicações do guia, que as
informações estavam expostas de maneira simples e de fácil entendimento. Também disseram que
preferem o material na forma digital, para que possam utilizar no celular ou tablet, pois as imagens

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ficam nítidas, podendo utilizar a função zoom, o que facilita na identificação da ave. Refletiram ainda
sobre a questão ambiental, pois o uso do Guia na versão digital proporciona, além de uma economia
financeira, uma redução no consumo dos recursos naturais envolvidos na impressão, culminando na
confirmação da eficácia do Guia na educação ambiental e na preservação da avifauna regional
(VIVIERO E DINIZ, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização de atividades extraclasse dentro de processo de ensino é uma metodologia bastante


utilizada e alcança ótimos resultados. Nesse sentido, a observação de aves vem se transformando em
uma alternativa inovadora para o ensino, principalmente para a Educação Ambiental. Os guias
ilustrados têm papel central na aplicação desse método, auxiliando de maneira direta o processo de
ensino e tornando-o mais dinâmico e atraente. A principal limitação do uso desse tipo de material é que
a maioria deles não aborda espécies regionais, principal diferencial desta proposta.
Assim, o Guia Ornitológico Ilustrado da Fazenda Experimental Alvorada do Gurgueia foi
montado com fotografias de espécies de aves encontradas na região. Como visto nos resultados, o guia
utilizado supriu a necessidade de material complementar para atividades de campo com aves. Além
disso, o guia teve um impacto positivo na geração do conhecimento sobre as aves e, devido a seu
caráter dinâmico, prático e interativo, expandiu de maneira peculiar o interesse e o entusiasmo dos
alunos durante a atividade de campo.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 80


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O TRABALHO ESCOLAR COM PLANTAS


MEDICINAIS E AROMÁTICAS COMO MARCADOR DA IDENTIDADE DA
COMUNIDADE LOCAL

Carla Juny Soares AZEVEDO


Mestre em Geografia UFSM - Escola Estadual Dr. Walter Jobim - Santa Maria/RS
carlajunysaz@gmail.com

RESUMO
Relata-se aqui, atividade com enfoque na utilização das plantas medicinais e aromáticas como caminho
de busca de aspectos da identidade e da memória da comunidade local. Tal enfoque vem sendo
desenvolvido por docentes da Escola Estadual Dr. Walter Jobim, Santa Maria – RS, no âmbito do
Projeto de Educação Ambiental e em face da necessidade de se abordar a ética do cuidado, frente aos
problemas de mau uso dos espaços e dos bens da escola. O contexto de parcela significativa de alunos é
de desemprego dos familiares, moradias em áreas irregulares e vulnerabilidade social. Desenvolvemos
atividades a partir de dois eixos: a) diálogo com a comunidade escolar com enfoque na ética do
cuidado; b) valorização do espaço de influência da escola. A abordagem consiste em buscar conhecer
histórias de curas e benzeduras bem como a realização de uma série de práticas educativas, dentre elas
a construção de mandala de ervas aromáticas, a produção de sal aromático para a cozinha da escola e
assim, estabelecendo relações entre os saberes comunitários e o escolar.
Palavras-chaves: Educação Ambiental. Contexto Social. Identidade. Plantas Medicinais E Aromáticas.
ABSTRACT
On this paper, it is reported the activity with focus on the use of medicinal and aromatic plants as a path
of search for aspects of the identity and memory of the local community. Such approach has been
developed by teachers of the Dr. Walter Jobim State School, of Santa Maria – RS, on the extent of the
Environmental Education Project and in face of the need of approaching the ethics of care, towards the
problems of bad use of the school's spaces and assets. The social context of a meaningful part of the
students is of unemployment of some member of the family, residence in irregular areas and social
vulnerability. We have developed activities based on two cores: a) dialogue with the school community
with focus on the ethics of care; b) increase in value of the space of influence of the school. The
approach consists in looking to acknowledge stories of healings and blessings as well as the
accomplishment of a series of educational practices, among them the construction of aromatic herb
mandalas, the production of aromatic salt for the school‘s kitchen and, this way, to establish relations
between the school and communitary knowledges.
Key Words: Environmental Educacion. Social Context. Identity. Medicinal and Aromatic Plants.

INTRODUÇÃO

O meio ambiente não é apenas um produto natural, mas uma realidade reproduzida a partir das
relações moldadas pela sociedade, dentro da lógica capitalista da divisão social do trabalho, da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

propriedade da terra, dos meios e das técnicas de produção e das classes sociais. Ao considerar essa
realidade, Quintas (1999) alerta que não é possível fazer Educação Ambiental focalizando apenas a
natureza, sem abordar as condições da sociedade que ocupa aquele espaço físico. Para esse autor, o
estudo das interações entre sociedade e natureza precisa ser acompanhado do reconhecimento de que
existem condições desiguais entre os diferentes grupos sociais.
De acordo com Guimarães (1991) vivemos uma Crise Ecoambiental, cujos componentes
encontram-se na incongruência entre os componentes ecológico (escassez de recursos), ambiental
(escassez de depósitos contamináveis) e ecopolítico. De acordo com o autor, este último trata do
sistema de poder, reflete o sentido das nossas instituições e orientação sociopolíticas repercutindo na
vida social, na distribuição dos recursos, nos hábitos e valores sociais. De onde partem os problemas e
onde se deve buscar as soluções.
Na visão de Boff (1999) a crise vivenciada pela sociedade é também uma crise do humano que
teria perdido a capacidade de ter cuidado em todos os âmbitos das relações:

Hoje, na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa de cuidado em toda parte. Suas
ressonâncias negativas se mostram pela má qualidade de vida, pela penalização da maioria
empobrecida da humanidade, pela degradação ecológica e pela exploração exacerbada da
violência. Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que
prevaleça em todas as relações! O cuidado salvará a vida, fará justiça ao empobrecido e
resgatará a Terra como pátria e mátria de todos (BOFF, 1999, p. 191).

O artigo 5º, inciso V da Lei 9.975/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental
declara que um dos objetivos da Educação Ambiental é promover uma sociedade ambientalmente
equilibrada, fundada no princípio da democracia e da justiça social. A escola pública, na condição de
espaço democrático, atende uma parcela expressiva da população cujas carências (das mais diferentes
ordens) ultrapassam, muitas vezes, a possiblidade de nós educadores contribuirmos atuando no âmbito
restrito do conteúdo de nossas disciplinas. Tal condição evidencia que a concretização de uma escola
que realize a ―ética do cuidado‖, proposta por Boff (1999), depende em parte, da construção de
metodologias que propiciem a revisão dos conceitos que as crianças, os jovens e seus familiares trazem
de si próprios e de seu lugar de vivência, dando sentido à valorização da identidade cultural dessas
comunidades.
Neste sentido, construir novos parâmetros de relacionamento que incorporem valores e respeito
à diversidade e aos saberes tradicionais tais como os que propõe Boff (1999) são formas concretas de
harmonizarmos nossa convivência com o Planeta. Assim, compreende-se que conhecer o contexto de
onde provêm os alunos da escola e identificar as principais características de ordem social, histórica,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

cultural e política desses territórios é uma forma de respeito e um caminho na identificação dos valores
que marcam a identidade da comunidade com a qual trabalhamos.

Contexto

O contexto no qual está inserida a população da área de influência da Escola Estadual Dr.
Walter Jobim apresenta um importante contraste entre a beleza natural e paisagística, a riqueza dos
elementos históricos dessa paisagem e o acúmulo dos problemas socioambientais do seu entorno.
A escola localiza-se no bairro Itararé, setor nordeste da cidade de Santa Maria/RS. É um bairro
tradicional da cidade, com localização geográfica privilegiada em função da presença de significativos
elementos arquitetônicos, de valor histórico que contam a origem do bairro e da ferrovia (1900), bem
como sobre a chegada dos primeiros imigrantes europeus. Acontecimentos que tiveram grande
influência no desenvolvimento da cidade. O bairro Itararé avizinha-se ao bairro Campestre (de onde
também, provêm parte expressiva de seu alunado) e à barragem do rio Vacacaí-Mirim (DNOS/
Departamento Nacional de Obras e Saneamento) de onde se retira 60% da água que abastece a cidade.
A barragem e o Morro do Cechella são alguns dos aspectos mais notáveis da paisagem natural dessa
região emoldurada por morros que acompanham o rebordo do Planalto Meridional. Tais morros
apresentam-se densamente cobertos por formações florestais, características do Bioma Mata Atlântica.
O Morro do Cechella apresenta em seu flanco leste a ocupação conhecida como Vila Nossa
Senhora Aparecida; a norte, a Vila Canário e a sul, a Vila Burguer. Em todas essas territorialidades
moram famílias que são atendidas pela escola. Dentre todas, apenas os moradores da Vila Burguer
possuem a escritura dos terrenos ocupados. As demais, ainda encontram-se em situação de
irregularidade fundiária. Pode-se considerar a irregularidade fundiária dessas vilas como um aspecto
definidor de muitos processos da vida cotidiana das famílias moradoras desse lugar, como as
dificuldades diárias concretas que surgem em função da infra-estrutura urbana incompleta (falta de
saneamento básico, calçamento e iluminação pública). Essa realidade que por si é violenta gera efeitos
difusos tanto na vida prática, quanto nas relações simbólicas, pois submete o ser humano a condições
indignas e desiguais propícias à produção de estigma e preconceito dos quais essas populações são
alvo.
A Montanha Russa, nome de um parque que ali existiu nas primeiras décadas do século XX, é
constituída pelas territorialidades, mencionadas acima: Vila Nossa Senhora Aparecida e Vila Burguer.
E também, pela vila mais estruturada do ponto de vista do acesso aos serviços urbanos: a Vila Pércio
Reis. Esta apresenta um significativo potencial social e organizativo materializado pela existência de
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

inúmeras instituições religiosas ou associativas (cada qual com princípios e finalidades próprias)
constituindo a partir delas territorialidades variadas. De modo que estes são os principais lugares ou
territórios de onde provêm o alunado da Escola Estadual Dr. Walter Jobim.

1º Momento: Levantamento das Temáticas

Levantamentos realizados com os professores e com os funcionários apontaram como as


principais dificuldades de nossa escola e da comunidade:

 a fraca interlocução com a comunidade como vêm sendo constatada durante a promoção de
festas organizadas pela escola, quando comparece um número pouco expressivo de familiares;
 os constantes problemas de mau uso dos espaços e dos bens da escola e a necessidade de
abordar de forma ampla a recorrência de tais problemas, bem como a prática do bullying e as
constantes brigas entre alunos.

Tais problemas têm suscitado a necessidade de refletir a respeito da realidade de parte


significativa das famílias atendidas em nossa escola e também impulsionado um grupo de professoras a
buscar suporte teórico que embase as ações pedagógicas. Assim, ao afirmar que os problemas
comportamentais e sociais devem ser tratados ―antes‖ que se possa começar a tarefa de ensinar Fullan e
Hargreaves (2000) demonstram reconhecer não apenas o grau de importância das dimensões política e
social da educação: mas, a própria multidimensionalidade da existência e sua capacidade ontológica
Martins (2007) de mobilizar diferentes áreas do conhecimento.
O trabalho escolar quando referenciado na realidade impõe o que Morin (2007) chama de
reagrupamento dos saberes e o trato com o pensamento complexo: ―Ele é capaz de contextualizar e
globalizar, mas pode, ao mesmo tempo reconhecer o que é singular e concreto‖ (MORIN, 2007, p.76).
Assim, à medida em que a comunidade escolar se engaja no estudo da realidade em busca de torná-la
compreensível produz uma educação viva porque: ―A ação é o reino concreto e às vezes, vital da
complexidade‖ (MORIN, 2007, p.81). Essa concepção de educação produz uma outra relação ensino-
aprendizagem, professor-aluno e escola-comunidade justamente porque requer um trabalho que só pode
ser realizado em equipe.
Portanto, envolvendo o pensar colaborativo, o professor como mediador, o aluno como agente
de sua aprendizagem e os saberes do cotidiano comunitário como valores culturais. Assim esses
saberes passam a ser entendidos como expressão da identidade local que como construção social são

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

importantes elos entre os indivíduos e o espaço dando o sentimento de pertença a um lugar. (Di Meo.
G.; Bulón, p, 2007).

2º Momento: Planejamentos

Nesse sentido, algumas ações educativas passaram a ser planejadas, como caminhos para
operacionalizar as soluções necessárias. Neste momento foram identificadas duas frentes de trabalho:

 Uma, que visa dialogar com os alunos sobre a escola que queremos e sobre as ações que se
fazem necessárias para aproximarmos a nossa escola desse ideal. A partir desse eixo vimos
realizando práticas de sensibilização, tais como excursões e práticas associadas à ética do
cuidado que compreendem a organização de mutirões de limpeza, o ajardinamento, o plantio de
ervas medicinais e aromáticas, a realização de oficinas de práticas sustentáveis e de mídias com
multiletramento, entre outras atividades.
 Outra que visa aproximar a escola das questões da comunidade, buscando conhecer os
problemas desses sujeitos, suas necessidades, seus saberes, suas habilidades, artes e sonhos.
Neste sentido, procuramos conhecer aspectos das diferentes territorialidades onde vivem nossos
alunos. Por essa razão, trabalhar na escola a articulação dos saberes escolares e comunitários
numa perspectiva cultural e identitária convoca as narrativas das pessoas desse lugar, bem como
a historicidade e as questões políticas e relacionadas à cidadania.

3º Momento: Ação Pedagógica

A fim de relacionar os saberes comunitários com os conhecimentos escolares traçamos algumas


linhas de diálogo com os moradores, lideranças locais e alunos. Dentre elas, utilizamos:

• Trabalho de campo, a partir de uma visita aos moradores que vivem nas proximidades da
Barragem do DNOS (Rio Vacacaí-Mirim) e do Morro do Cechella.
• Diagnóstico socioambiental que nos informa sobre problemas e potencialidades que as famílias
identificam no bairro
• Entrevistas com as lideranças locais
• Olhar periférico (alunos fotografam e/ou filmam aspectos de seu cotidiano)
• Palestra e apresentação de documentário sobre curas e ervas.

Assim, práticas educativas concretas de valorização do espaço escolar e de identificação dos


valores constitutivos da identidade dos territórios de onde provêm os alunos atendidos pela escola vem

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

acontecendo de forma espiralar (planejamento, ação e re-planejamento). Aqui, interessa-nos apresentar


o relato do trabalho com as plantas medicinais e aromáticas iniciado com a apresentação do
documentário mencionado acima.

Relato da prática pedagógica voltada á abordagem das plantas medicinais e aromáticas

Tema: Curas e Ervas. Público: 5 turmas do Ensino Fundamental – séries finais.

 Apresentação do documentário intitulado ―Benzedores e Conhecedores das ervas medicinais:


por onde passa a memória da cidade‖.
 Diálogo das autoras da pesquisa Maria de Fátima Vieira Marques e Ceres Teixeira de Paula
com os alunos. Com o auxílio dos professores: Luiz Carlos Tonetto e Maria das Graças Siqueira
(Setor Pedagógico da 8ª Coordenadoria de Educação).

O vídeo resulta de um estudo que identifica o Bairro Campestre Menino Deus - entorno da
escola – como o que apresenta o maior número de benzedeiras e curandeiros da cidade. Ao longo do
vídeo, alguns alunos reconheciam alguns dos entrevistados. Após a apresentação do vídeo: Alunos
foram solicitados a escrever e a apresentar suas opiniões a respeito do que aprendem em casa sobre as
curas e as ervas medicinais. Foram ressaltados os valores que são resgatados com a prática desses
saberes como a oralidade, a vida comunitária, a solidariedade, a ancestralidade, a historicidade, etc.

 Aula de Geografia: Apresentação do vídeo: Biomas

Aula em power-point – Biomas do mundo. Estudo dos biomas brasileiros através de jogo de
fichas (construído pela professora), com reconhecimento da importância de cada um, inclusive da Mata
Atlântica.

 Construção da Mandala de Ervas Medicinais e Aromáticas:

Orientação e execução: prof. Luiz Carlos Tonetto (8ª Coordenadoria de Educação). Professoras
participantes: Bruna Ar Ab (inglês), Carmem Castro Fernandes (história) e Richelle Campestrini
(artes).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figuras 1 e 2: Alunos trabalhando na construção da Mandala de Ervas.

A atividade iniciou-se com a identificação da área onde seria construída a Mandala de Ervas. A
turma foi dividida em vários grupos de trabalho: 1- responsável por retirar e trazer a terra; 2-
responsável pela limpeza/capina da área de entorno; 3- responsável por demarcar o solo onde seria
construída a Mandala, fazendo sulcos com a pá. 4- responsável pelas ferramentas: buscar, lavar e
guardar. A atividade aconteceu num clima de alegria e de boa disposição. O grupo encarregado de
buscar a terra foi além de sua atribuição, pois quando abriu a porta que dá acesso à área de fundos da
escola, deparou-se com um ambiente que há muito não era frequentado. Havia pedaços de espuma
espalhado pelo chão, bem como outros resíduos e entulhos que foram pacientemente recolhidos e
colocados em sacos de lixo. Esse pequeno mutirão foi inspiração para que outros acontecessem,
organizados pela própria direção. Alunos, professores e funcionários zelando pela escola em atividade
de mutirão foi uma das primeiras conquistas do planejamento pautado na ética do cuidado.

 Retomando os estudos em sala de aula:

Problematização: Você acredita no poder de cura das rezas e das plantas medicinais? Já foi
benzido alguma vez? A que se pode atribuir o preconceito em relação a esses saberes tradicionais?
Nesta aula os alunos foram incentivados a contar experiências vivenciadas por eles ou por
familiares e a refletir sobre quem produz esses saberes? E como eles estão enraizados na memória das
famílias, de grupos étnicos, no bairro, na cidade e no país. Que ao valorizar saberes que estão presentes
em nossa comunidade, reelaboramos nossa autoestima e fortalecemos nosso senso de identidade e de
pertencimento a um lugar.

 Atividade: Alunos construíram um questionário e entrevistaram moradoras da comunidade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figuras 3 e 4: Alunos entrevistando moradores da comunidade local.

1-Você ou sua família tem o costume de utilizar ervas/plantas medicinais para curar? 2- Que
plantas medicinais ou aromáticas a família cultiva? 3- Quais são as mais utilizadas pela família? Para
que tipo de curas? 4-Acredita em benzeduras? 5-Aplica benzeduras? 6-Já recebeu algum tipo de
benzedura? Com que finalidade? Teve resultado?

 Na sala de informática:
Os alunos realizaram pesquisa sobre os seguintes assuntos: O que é fitoterapia? Formas usadas?
Argumentos a favor? Argumentos contra? Posição do Ministério da Saúde em relação à implementação
da fitoterapia na rede do SUS. Pesquisaram também, sobre a posição do Conselho Federal de Medicina
(CFM), que ainda não reconhece o tratamento fitoterápico apesar de ele já ser adotado por mais de 12
estados. A partir dessas posições pode-se discutir com os alunos a respeito da noção de conflito de
interesse. Coletaram também, material noticiando a regulamentação do trabalho de benzedeiras, por
algumas prefeituras. Como a matéria que informa que ―benzedeiras são consideradas profissionais da
saúde, no Paraná‖.
E ainda:
Realizaram pesquisa sobre os problemas de saúde causados pelo excesso de sódio na
alimentação. Para reduzir o sal sem perder o sabor dos alimentos foram incentivados a participar de
uma oficina para fabricação do sal de ervas aromáticas.

 Oficina para fabricação do sal de ervas aromáticas:


Os alunos foram convidados a identificar as plantas aromáticas pelo aroma de cada uma:
alecrim, hortelã, manjericão, manjerona, orégano, tomilho e sálvia;
E também a identificar em revistas e livros as propriedades dessas plantas aromáticas;
Em seguida, os alunos foram incentivados a plantar as mudas, no espaço da mandala;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dois meses depois, as plantas foram colhidas, lavadas e dependuradas, na cozinha, para
secagem;
Depois de secas as ervas foram trituradas em liquidificador e misturadas ao sal marinho;
Assim, ficou pronto o tempero para as refeições servidas na merenda escolar.

AEeducação Ambiental, as práticas integradoras e a ética do cuidado

Sabe-se que a escola é o lugar da socialização; aliás, de acordo com alguns autores essa seria a
principal tarefa da escola. Atividades que integram os alunos em torno de tarefas comuns são alguns
dos esforços que temos realizado através da proposição de oficinas de educação ambiental. Estamos
formando uma equipe de professores no trabalho escolar, mas ainda enfrentamos muitas dificuldades
para nos reunir no sentido de planejar, de avaliar e de sistematizar as atividades pedagógicas. Contudo,
continuamos desafiando tais dificuldades por acreditar que esse caminho poderá transformar nossa
escola num espaço de pertencimento à toda a comunidade escolar. Tais atividades possibilitam a
interação entre os jovens, a troca de ideias e a colaboração. Nesses momentos os alunos defendem seus
pontos de vista, convivem com outros colegas, divertem-se e fazem amigos. Tais atividades geram
coleguismo e espírito solidário. Há que se compreender que o ensino restrito à sala de aula, produz
justamente o contrário.
De acordo com (ABRAMOVAY, M, 2002: 35) o não favorecimento da relação entre os colegas
impede a aproximação de outros colegas, contribui para a formação de panelinhas, não desenvolve a
empatia e nem a solidariedade. Isso produz desconforto e desconfiança impedindo a construção de
laços afetivos entre os jovens e entre esses e a escola.
De acordo com o documento da UNESCO sobre a violência na escola, este fenômeno social
precisa ser pensado de forma multidimensional. Figuram dentre as modalidades: os ataques aos bens
materiais da escola e os atos de bullying (tão presentes em nossas salas de aula).
Defende-se nesse documento, que tais acontecimentos devem ser tratados sob a perspectiva da
garantia dos direitos e da qualidade da educação. Concepção que amplia o campo de atuação dos
educadores na escola contemporânea. O que tem propiciado aos educadores lidar com dimensões da
relação ensino-aprendizagem que ainda são pouco reconhecidas como atribuição do professor. De um
modo geral temos sido resistentes em conservar a prática de ensino restrita à sala de aula, ainda que no
dia-a-dia lidemos com as evidências do quão tem sido inócua diante dessa realidade.
Com base nas reflexões realizadas por Boff (1999) pode-se compreender que o cuidado é antes
de tudo, uma expressão de amor e de apreço que assumimos por nós mesmos, pelo outro, pela escola da
qual fazemos parte, pela casa na qual habitamos, pelo lugar onde moramos e pelos ambientes que
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

frequentamos. O cuidado é um dos pressupostos fundantes da Educação Ambiental e a escola é o lugar,


por excelência, do cultivo desse valor a partir do diálogo e da prática exemplar.
Neste sentido, espera-se que a escola seja, também, o lugar de onde se irradiam práticas
inovadoras, surgidas das necessidades cotidianas cujo diagnóstico realizado coletivamente, identifica os
obstáculos à concretização dos ideais mais elevados de uma relação saudável das pessoas entre si e com
o meio ambiente. Contudo, muitos de nós ainda não compreendemos a interação com a comunidade
escolar, como algo inerente à natureza do trabalho educativo. Não compreendemos sequer,
determinadas abordagens educativas. Continuamos acreditando que a boa aula é a que ocorre em sala
de aula, de modo que nosso rigoroso senso disciplinar soa o alarme cada vez que presenciamos um
professor ocupando outros espaços da escola, transitando pelos corredores em direção aos pátios com
seus alunos - mesmo sob o argumento de tais práticas estarem associadas a projetos fundamentados e
inscritos no texto do Projeto Político Pedagógico da escola.
Então, ainda temos um longo percurso para internalizar esses valores à nossa prática educativa.
Isso porque a ―ética do cuidado‖ está inscrita num paradigma de educação, que em nossas escolas,
ainda continua constrito ao campo do discurso. Para adotar tais valores, precisamos transformar nossa
visão de mundo e para isso será necessário reconhecermos a necessidade de nos instrumentarmos
teórica e metodologicamente. Então, teremos mais clareza quanto aos fundamentos da educação e
assim, estaremos mais habilitados para assumir posições e para fazer escolhas mais conscientes e
qualificadas, trazendo a dimensão do ―cuidar‖ para o cerne dos nossos atos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aqui, relatamos algumas dinâmicas realizadas com os alunos, com enfoque nas plantas
medicinais e aromáticas e seu emprego para prevenção, curas e benzeduras. Esse trabalho ocorre no
âmbito do Projeto de Educação Ambiental visando propiciar a realização de práticas educativas
calcadas na ética do cuidado e na valorização da identidade cultural e da memória da comunidade local,
perante uma situação de estragos dos bens materiais da escola e de situações de violência entre alunos.
Esclarecemos que o trabalho realizado até o momento não esgota o assunto, nem traz a solução para o
caso; apenas contribui para o processo à medida que ilumina a questão com novos indícios e
informações que servirão de base para o planejamento das próximas ações.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Benzedores e Conhecedores de Ervas Medicinais: Por onde passa a memória da cidade. Direção e
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DVD.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GRAU DE INFESTAÇÃO DA MOSCA-DA-VERRUGA EM CLONES DE CAJUEIRO-


ANÃO CONSORCIADOS COM FRUTEIRAS

Daniel Lima Verde da SILVA


Engenheiro Agrônomo, Mestrando Ciências Naturais UERN
daniellimaverde@yahoo.com.br
Antonio Lindemberg Martins MESQUITA
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
lindemberg.mesquita@embrapa.br
Gabriel Teles Portela POLICARPO
Graduando do Curso de Tecnologia em Gestão da Qualidade da UFC
gabrielpolicarpo@yahoo.com.br
Fabio Rodrigues de MIRANDA
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
fabio.miranda@embrapa.br

RESUMO
O cajueiro Anacardium occidentale é uma fruteira de origem brasileira, sendo a região Nordeste
responsável por cerca de 97% da produção nacional de caju, com destaque para os estados do Ceará,
Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão. Dentre as mais de uma centena de espécies de artrópodes
fitófagos que atacam o cajueiro, a mosca-das-galhas ou da verruga (Stenodiplosis sp., Dip:
Cecidomyiidae) figura como uma praga importante nos viveiros de produção de mudas ou no campo,
durante o período de lançamento de folhas novas pelas plantas. Este trabalho teve por objetivo avaliar o
grau de infestação da mosca-da-verruga nos clones de cajueiro-anão CCP 76, BRS 226, BRS 189, em
condições de campo, consorciados com três fruteiras diferentes, no Campo Experimental da Embrapa
Agroindústria Tropical, no município de Pacajus-CE, Brasil. A avaliação do ataque nos três genótipos
foi baseada em um sistema que preconiza o uso de notas que variaram de um a cinco, quando se
constatou na planta, o sintoma típico de ataque conhecido como verruga ou galha. Os clones de
cajueiro estavam dispostos em quatro blocos onde cada clone estava consorciado com banana, melancia
e mamão, além do tratamento testemunha onde não havia consórcio com fruteira (solteiro). Foram
feitas duas avaliações consecutivas dos cajueiros atacados, com intervalos de 20 dias entre as
avaliações, em plantas fertirrigadas, com aproximadamente um ano de idade. Observou-se que os
clones de cajueiro consorciados com banana e melão, apresentaram graus de infestação superiores aos
dos clones consorciados com melancia e solteiros. O clone BRS 226 foi o que apresentou o maior grau
de infestação da praga, seguido dos clones BRS 189 e CCP 76. Conclui-se que o grau de infestação da
mosca-da-verruga ocorreu com maior intensidade nos cajueiros consorciados com banana e mamão e
que o clone BRS 226 apresentou maior suscetibilidade ao ataque da praga.
Palavras-chave: Anacardium occidentale, Stenodiplosis, mosca-das-galhas, suscetibilidade.
ABSTRACT
The cashew Anacardium occidentale is a fruit of Brazilian origin, being the Northeast region
responsible for about 97% of the national cashew production, highlighting the states of Ceará, Rio
Grande do Norte, Piauí and Maranhão. Among the more than a hundred species of phytophagous

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arthropods that attack cashew trees, the gecko fly (Stenodiplosis sp., Dip: Cecidomyiidae) appears as
an important pest in nurseries producing seedlings or in the field during The period of release of new
leaves by the plants. The objective of this study was to evaluate the degree of infestation of the wart-fly
in the clones of CCP 76, BRS 226, BRS 189, under field conditions, intercropped with three different
fruit trees in the Experimental Field of Embrapa Agroindústria Tropical, in the municipality of Pacajus-
CE, Brazil. The evaluation of the attack in the three genotypes was based on a system that recommends
the use of notes that ranged from one to five when the typical attack symptom known as wart or gall.
The cashew clones were arranged in four blocks where each clone was consorted with banana,
watermelon and papaya, in addition to the control treatment where there was no consortium with fruit
(single). Two consecutive evaluations of the cashew trees were carried out, with intervals of 20 days
between evaluations, in fertigated plants, with approximately one year of age. It was observed that the
cashew clones consorted with banana and melon presented higher degrees of infestation than the clones
consorted with watermelon and singles. BRS 226 clone showed the highest degree of pest infestation,
followed by BRS 189 and CCP 76 clones. It was concluded that the degree of infestation of the wart fly
occurred with greater intensity in the banana and papaya intercropped cashew trees and that the BRS
226 clone showed greater susceptibility to the pest attack.
Key words: Anacardium occidentale, Stenodiplosis, fly-galls, susceptibility.

INTRODUÇÃO

A cajucultura é uma das atividades mais importantes do Nordeste, com grande expressão social
e econômica, se destacando principalmente nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. No ano
de 2016 a produção de castanha de caju, calculada pelo IBGE, foi de 215,9 mil toneladas, com um
aumento de 106,7% em relação à colheita de 2015, de 104,4 toneladas (IBGE, 2016). O Ceará está no
topo do ranking, com uma área plantada de 407.455 ha (MESQUITA; BRAGA SOBRINHO, 2013).
Apesar da importância socioeconômica, a cajucultura nordestina vem atravessando um período
de graves oscilações de produtividade (IBGE, 2016). A baixa produtividade dos pomares de caju
observada atualmente é resultante do pouco uso de clones selecionados e de processos inadequados de
manejo da planta, do solo e de manejo fitossanitário. As doenças e pragas do cajueiro, além de
causarem mais de 30% de perdas na produção e danos à qualidade dos produtos (amêndoa e
pedúnculo), reduzem também a vida útil dos pomares (CARDOSO et al., 2013; MESQUITA; BRAGA
SOBRINHO, 2013).
A escolha de genótipos resistentes é de grande interesse para o manejo de pragas, reduzindo a
utilização de agrotóxicos e para a sustentabilidade da produção agrícola e do meio ambiente. Deve-se
levar em conta o menor custo, qualidade, adaptações aos diferentes agroecossistemas e resistência a
pragas. Assim, quando uma cultivar é recomendada para plantio comercial, significa que ela
demonstrou vantagens comparativas, em ensaios de competição apropriados e com delineamentos
estatísticos definidos pela pesquisa. (LARA et al., 2004; GONÇALVES et al, 2009).

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O consórcio com cultivos agrícolas tradicionais é uma das melhores formas de aproveitar ao
máximo os insumos agrícolas, os recursos naturais disponíveis, diminuir os custos de implantação e
manutenção de plantios comerciais bem como uma fonte de renda na entressafra do caju, reduzindo a
sazonalidade da mão-de-obra utilizada nas regiões produtoras e elevar a oferta de alimentos no estado
(MARTINOTO et al, 2012).
Insetos do gênero Stenodiplosis, conhecido como verruga-das-folhas, galhas ou cecídias,
atacam o cajueiro na época de lançamento das folhas novas, com nítida preferência pelas folhas
arroxeadas, ricas em antocinina. A fêmea faz postura no tecido vegetal, provocando o surgimento do
sintoma característico do ataque, que é a formação de ―verrugas‖ dispersas no limbo foliar, onde vivem
as larvas. A praga pode causar perdas significativas em pomares comerciais de produção de castanha e
pedúnculo, bem como, em jardins clonais que visam a produção de propágulos vegetativo e para
produção de mudas. (SILVA et al, 2016).
A cajucultura se mostra como uma das principais atividades econômicas do Nordeste, levando
renda e mão de obra principalmente para agricultura familiar. A observação dos hábitos, preferência,
índice de infestação e clones utilizados servem como subsídio para implantação do manejo adequado
para controle de pragas. A partir do exposto, o presente trabalho tem como objetivo, investigar Graus
de Infestação da Stenodiplosis sp. em diferentes clones de cajueiro anão cultivados em condição de
campo, consorciados com fruteiras.

METODOLOGIA

O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da EMBRAPA AGROINDÚSTRIA


TROPICAL, localizada no município de Pacajus/Ceará, (4°11‘26,62‖S, 38°29‘50,78‖O) no período de
Agosto de 2016 à Julho de 2017.
Foram avaliados Clones de cajueiro anão precoce CCP 76, BRS 226, BRS 189 em consórcio
intercalar com bananeiras Prata Catarina Solo, mamoeiro Hawaí Sun Risa, melancia Cream Son Sweet
e solteiro como testemunha. Utilizou-se o espaçamento de 8 m x 4 m em uma área total de 1,5 ha. As
mudas de cajueiro possuíam idade de 4 meses antes do plantio e tiveram origem do viveiro da
EMBRAPA (Figura I).

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Figura I. Clones de cajueiro cultivados em consórcio com bananeira, Pacajus, Ceará.


A ocorrência de Stenodiplosis sp nos diferentes genótipos foi avaliada por meio de duas
observações entre o período de Abril a julho de 2017. Em cada planta (Figura II), avaliou-se o nível de
ataque nas folhas, utilizando uma escala adaptada de notas (BLEICHER et al., 2002).

Figura II. Clones de cajueiro apresentando sintomas de verrugose, Pacajus, Ceará.

A escala de notas variou de 0 a 5 nas plantas, em função da proliferação de tecidos, formando


uma pequena galha ou cecídia no formato de uma verruga: 0 = sem verruga; 1 = presença de algumas
folhas com verrugas; 2 = verrugas de forma generalizada em todas as folhas; 3 = verrugas de forma
generalizada em todas as folhas e início de necrosamento; 4 = verrugas de forma generalizada em todas
as folhas, necrosamento generalizado; 5 = necrosamento generalizado e queda de folhas.
Posteriormente às avaliações de notas, determinou-se o grau de infestação seguindo metodologia de
Kasper (1965).

( )
GI =

Onde:

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GI: Grau de infestação.


n: nota da escala de cada planta observada.
f: frequência das notas do total de plantas observadas.
Z: valor numérico da nota máxima na escala, igual a cinco (5)
N: total de plantas observadas.
O arranjo experimental utilizado foi de blocos ao acaso, num arranjo fatorial de 4x3 (3 fruteiras
+ testemunha e 3 clones de caju) com 4 repetições, sendo os consórcios o tratamento e os clones as
parcelas. Cada parcela era composta por 8 plantas, totalizando 384 plantas.

Os valores dos Graus de Infestação atribuídos às plantas foram transformados para √ e


submetidas à análise de variância, com médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa SAS versão 7.7.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios dos graus de infestação dos clones BRS 226, BRS 189 e CCP 76 das duas
avaliações efetuadas e atribuídas em função dos níveis de ataques das mosca-da-verruga para as três
fruteiras e a testemunha (solteiro) estão apresentados na Figura III. Observa-se que houve diferença
significativa entre os genótipos testados, sendo o clone BRS 226 o mais atacado, com um grau de
infestação de 25,85 %. Os clones BRS 189 e CCP 76 tiveram graus de infestação semelhantes entre si.
Estes resultados mostram que o clone BRS 226 apresentou maior suscetibilidade ao ataque da praga.

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Figura III. Média de duas avaliações dos graus de infestação (%) da mosca-da-verruga em três clones de
cajueiro-anão consorciados com três fruteiras. Colunas com a mesma letra não diferem significativamente entre
si pelo teste de Tukey (p=0,05). Pacajus, CE, 2017.

Do ponto de vista prático, o grau de infestação utilizado serve de base para a tomada de decisão
para adoção ou não de medidas de controle da praga. Considerando as recomendações de BLEICHER
et al. (2002) e MESQUITA et al.( 2006), nas quais o nível de infestação de 25% representa o nível de
ação ou controle para a mosca-da-verruga, observando os dados representados na Figura III, apenas o
clone BRS 226 apresentou um grau de infestação que, teoricamente, justificaria a adoção de medidas
de controle da praga, pois se encontra no limiar da recomendação. Contudo, as bases para decisão de
controle, especificamente, os níveis de ação e danos são informações importantes que objetivam, dentre
outros aspectos, a economia para o produtor, a preocupação com o meio ambiente, a sociedade, a
preservação da atividade agrícola, bem como, o uso racional das táticas de controle (TORRES e
MARQUES, 2000). Entretanto, no Brasil, não existe produto químico registrado para controle da
mosca-da-verruga em cajueiro (AGROFIT, 2016).
Considerando a média dos graus de infestação dos três clones, o consórcio com bananeira
favoreceu um ataque da praga significativamente maior que os demais, com uma média de 36,97%. O
consórcio com o mamoeiro também apresentou um grau de infestação significativamente maior que o
consórcio com a cultura da melancia e o cajueiro solteiro (testemunha), os quais são estatisticamente
iguais entre si (Figura IV). As mais altas infestações para a bananeira e mamoeiro talvez estejam
relacionadas com os níveis de sombreamento que as culturas proporcionam, os quais foram em ordem
decrescente para a bananeira e mamoeiro. A melancia, uma cucurbitácea, por ser rasteira e de ciclo
curto, é semelhante à testemunha, ou seja, não proporciona nenhum sombreamento ao cajueiro,
apresentando níveis semelhantes ao da testemunha.

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Figura IV – Média de duas avaliações dos graus de infestação (%) da mosca-da-verruga de três clones de
cajueiro-anão consorciados com três fruteiras e a testemunha (solteiro). Colunas com a mesma letra não diferem
significativamente entre si pelo teste de Tukey (p=0,05). Pacajus, CE, 2017.

As médias dos graus de infestação dos três clones para os quatro tratamentos testados para as
duas avaliações (AV1 e AV2) estão representados na Figura V, podendo observar que, ao longo do
período de avaliação, a mosca-da-verruga aumentou em todos os tratamentos e clones, atingindo níveis
populacionais significativamente maiores na segunda avaliação, sendo observadas, nesse período,
colônias em todos os estágios do ciclo biológico da praga.

60
50,87 B
50
Grau de Infestação (%)

40 38,62 B

30
24,58 A

20 17,87 B
14,96 A
12,67 B
10
5,71 A
4,70 A

0
Média AV1 Média AV2
Média das avaliações 1 e 2
Banana Mamão Melancia Solteiro
Figura V – Média dos graus de infestação (%) da mosca-da-verruga de três clones de cajueiro-anão consorciados com três
fruteiras e a testemunha (solteiro) para as duas avaliações realizadas (AV1 e AV2). Colunas com letra diferente para a
mesma cultura entre as AV1 e AV2 diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (p=0,05). Pacajus, CE, 2017.

CONCLUSÕES

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Conclui-se que o grau de infestação da mosca-da-verruga ocorreu com maior intensidade nos
cajueiros consorciados com banana e mamão e que o clone BRS 226 apresentou maior suscetibilidade
ao ataque da praga. Ao longo do período de avaliação, a mosca-da-verruga aumentou em todos os
tratamentos e clones, atingindo níveis populacionais significativamente maiores na segunda avaliação.

REFERÊNCIAS

AGROFIT. 2003. Disponível em:<


http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 15 agosto
2016.

BLEICHER, E.; MELO, Q.M.S; FURTADO, I.P.; RODRIGUES, S.M.M. Técnicas de amostragem
para as principais pragas. In: MELO, Q.M.S. (Ed.) Caju: fitossanidade. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, cap. 2, p.35-40. (Frutos do
Brasil, 26), 2002.

CARDOSO, J. E.; VIANA, F. M. P.; FREIRE, F. C. O.; MARTINS, M. V. V. Doenças do cajueiro. In:
ARAÚJO, J. P. de (Ed.). Agronegócio caju: práticas e inovações. Brasília, DF: Embrapa, p.217-
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA, Sistema IBGE de Recuperação


Automática - SIDRA. IBGE: Disponível em: <
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/prevsaf/default.asp?t=1&z=t&o=26&u2=1&u3=1&u4=1&u1=1
> Acesso em 19 jul. 2016.

LARA, F.M.; CORBO,A.; FIGUEIRA, L.K.; STEIN, P.C. Resistência de genótipos de batata ao
pulgão. Horticultura Brasileira, v.22, n.4, p.7754-779, 2004.

MARTINOTO, F.; MARTINOTO, C.; COELHO, M.F.B.; AZAVEDO, R.A.B.; ALBUQUERQUE,


M.C.F. Sobrevivência e crescimento inicial de espécies arbóreas nativas do cerrado em consórcio
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MESQUITA, A. L. M.; BRAGA SOBRINHO, R.; OLIVEIRA, V. H.; ANDRADE, A.P.S. de.
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 99


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MESQUITA, A.L.M.; BRAGA SOBRINHO, R. Pragas do cajueiro. In; ARAÚJO, J.P. de (Ed.).
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SILVA, M.N.C., MESQUITA, A.L.M., MOTA, M.S.C.S., TAVARES, V.P.C. Preferência da Verruga
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KASPER, H. Erosterungen zur Prufung von Fungiziden im Obstbaum. Pflansenschutznachrichten.


Bayer, 11.18, p.83-92, 1965.

TORRES, J.B.; MARQUES, E.J. Tomada de decisão: um desafio para p manejo integrado de pragas.
In: Semana De Fitossanidade Desafios do Manejo Integrado de Pragas e Doenças, Recife. Palestras
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 100


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COLEOPTERAS DE IMPORTÂNCIA FORENCE: UMA REVISÃO


DE LITERATURA - PARAÍBA

Dayse Pereira do NASCIMENTO


Mestranda do curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
Dayse.pereira@cear.ufpb.br
Monica CARVALHO
Professora do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB, Orientadora
monica@cear.ufpb.br8

RESUMO
Entomologia forense é o estudo biológico dos insetos e outros artrópodes que possuem interesse em
investigações criminais, contribuindo na investigação criminal, principalmente nas investigações de
morte violenta. As diferentes espécies de insetos e artrópodes que ocorrem na sucessão cadavérica
variam também de acordo com a região geográfica, sendo algumas endêmicas, por isso a importâncias
de estudos realizados nas diferentes regiões. Este trabalho teve como objetivo fazer um levantamento
das espécies de coleópteras associados a carcaça de porco Sus Scrofa L. de interesse forense presente
no Estado da Paraíba.
ABSTRACT
Forensic entomology is the biological study of insects and other arthropods who are interested in
criminal investigations, contributing to criminal investigations, especially in investigations of violent
death. The different species of insects and arthropods that occur in cadaveric succession also vary
according to the geographic region, some of which are endemic, and therefore the importance of
studies carried out in the different regions. This work had as objective to survey the species of
coleoptera associated with the pig carcass Sus Scrofa L. of forensic interest present in the State of
Paraíba.
Palavras-chave: Entomologia forense, Coleoptera, Insetos necrófagos.

1. INTRODUÇÃO
Os insetos estão amplamente distribuídos e podem ser encontrados em quase todos os lugares e
por isso podem fazer uso de diversos recursos para alimentação, podendo serem atraído por cadáveres
em decomposição tanto para alimentação como para reprodução (CATTS & GOFF, 1992; SMITH,
1986).
A entomologia forense é o estudo dos insetos que possuem interesse forense, contribuindo na
investigação criminal, principalmente nas investigações de morte violenta (OLIVEIRA-COSTA, 2011).

8
Monica CARVALHO, Orientadora, Professora do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB.
monica@cear.ufpb.br

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 101


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Quando a medicina legal não tem recursos aplicáveis para elucidar um crime, a presença ou ausência
de insetos em uma carcaça em decomposição e seu estágio de desenvolvimento passa a ser uma das
principais fontes de dados para determinação do intervalo pós morte (IPM) e outras informações
relacionadas ao crime (e.g., onde ocorreu a morte, quando ocorreu a morte e se a morte foi violenta ou
natural) (ANTON et al., 2011; OLIVEIRA-COSTA, 2013).
Uma das dificuldades mais complexas enfrentadas pelos peritos é a cronologia da morte, sendo
essencial conhecer a hora da morte do indivíduo, para as investigações policiais e assim saber por onde
andou e com quem a vítima esteve antes de vim a óbito (BALTAZAR, et al., 2011)
Por meio das evidencias entomológicas é possível estabelecer uma estimativa do IPM mesmo
após várias semanas. Aplicando-se técnicas da medicina-legal, esses dados possuem uma precisão de
apenas três dias após a morte. As informações fornecidas pela entomologia forense são baseadas nas
etapas do ciclo de vida dos insetos, na biologia e nos hábitos de cada espécie encontrada no cadáver
(PUJOL-LUZ et al., 2008).
Após a morte, a carcaça torna-se um substrato orgânico que passa a ser usado como fonte de
proteína, local de reprodução e para o desenvolvimento de fases imaturas de diversos tipos de
artrópodes, acelerando o processo de decomposição cadavérica (MARCOLINO, 2013). As diferentes
espécies de artrópodes que ocorrem na sucessão cadavérica variam também de acordo com a região
geográfica, sendo algumas endêmicas. Tais informações são relevantes, pois podem indicar o local
onde a vítima foi morta (GOMES et al., 2010).
Um modelo de decomposição animal que se aproxima a dos corpos humanos é o porco
doméstico, sendo bastante utilizado em estudos de decomposição (MISE; ALMEIDA; MOURA, 2007).
Segundo Oliveira-Costa (2012), a ordem Coleoptera é a segunda maior ordem de insetos que
colonizam cadáveres, encontrando-se em estágios mais avançados e secos do processo de
decomposição. O levantamento da coleopterofauna cadavérica é útil para estudos de entomologia
forense, favorecendo o conhecimento das espécies colonizadoras de carcaça.
A Entomologia Forense tem avançado no Brasil, mas ainda existem lacunas importantes no
conhecimento (e.g., taxonomia, biologia e ecologia dos principais grupos de moscas e besouros
necrófagos) e falta integração entre os entomologistas e a polícia judiciária (PUJOL-LUZ; ARANTES;
CONSTANTINO, 2008).
Este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das espécies de coleópteras associados
a carcaça de porco Sus Scrofa L. de interesse forense presente no Estado da Paraíba. Tendo como
importância reunir neste trabalho as espécies de coleópteras de maior interesse forense já registradas na
Paraíba.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma busca sistemática de artigos científicos publicados entre janeiro de 2012 a
março de 2017, executada nas bases de dados do Periódicos CAPES, por meio dos descritores:
Entomofauna cadavérica, Coleóptera de interesse forense, assim como seus sinônimos e
correspondentes na língua Inglesa.

Critérios de Inclusão

Foram incluídos estudos experimentais sobre o levantamento da entomofauna cadavérica no


Estado da Paraíba, com a utilização de carcaças de porcos, Sus scrofa Linnaeus. Foram selecionados
estudos publicados em língua inglesa ou portuguesa.

Critérios de Exclusão

Foram excluídos da revisão bibliográfica artigos que abordavam o levantamento da


entomofauna cadavérica, mas que não utilizaram carcaças de porcos, Sus scrofa Linnaeus no Estado da
Paraíba.

Análise

Inicialmente, foi realizada uma triagem a partir da análise dos títulos e resumos localizados na
busca. Posteriormente, todos os estudos que se apresentaram pertinentes ao tema foram obtidos na
íntegra e analisados separadamente. Ao fim, os artigos analisados e selecionados, seguindo os critérios
de inclusão e exclusão estabelecidos, foram incluídos na sistematização dos dados. As listas de
referências de todos os artigos elegíveis foram consultadas, na tentativa de encontrar novos estudos
para esta revisão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a triagem pela leitura dos títulos e resumos, 15 estudos foram considerados
potencialmente elegíveis e lidos na íntegra. Ao término das análises, quatro artigos preencheram todos
os critérios de inclusão para o estudo: Santos et al. (2012), Marcolino (2013), Dal-Bó (2013), Braga
(2014).
Os estudos selecionados foram publicados entre os anos de 2012 e 2016, e todos foram
realizados no estado da Paraíba. Os estudos tiveram em comum o levantamento dos coleópteras

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associados a carcaça e utilizaram como atrativo para os insetos a carcaça de porco, Sus scrofa,
Linnaeus.

Dermertes Peruvianus Laporte (Coleoptera, Dermestidae): Primeiro Registro para o Nordeste do


Brasil

Santos et al. (2012) realizou um levantamento da entomofauna associada a carcaças de porcos,


Sus scrofa Linnaeus, durante os meses de outubro de 2010 (estação seca) e fevereiro de 2011 (estação
chuvosa). Este estudo foi realizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Almas, São
José dos Cordeiros, Paraíba, Brasil. A reserva está situada a uma altitude de 650 m. A vegetação
característica varia de uma Caatinga arbórea aberta à densa.
Durante o experimento foram coletados três indivíduos adultos de D. peruvianus (Figura 1). Os
indivíduos foram coletados apenas na estação chuvosa e somente no sexto e no sétimo dia após a
morte, durante a transição do estágio coliquativo de decomposição para o estágio de decomposição
avançada. As médias dos fatores abióticos registradas nesse período foram: T (°C) 25,7 ± 0,6, UR (%)
69,8 ± 3,5 e precipitação (mm) 0,1 ± 0,1. Este foi o primeiro registro de D. peruvianus para a região
Nordeste do Brasil e para o bioma Caatinga.

Figura 1: Habitus de Dermestes peruvianus Laporte: A. Vista dorsal. B. Vista lateral. C. Vista ventral.
Escalas = 1,0 mm. Fonte: Santos et al. (2012).

Segundo Santos et al. (2012) é importante ressaltar que D. peruvianus e D. maculatus, devido
aos seus hábitos necrófagos e frequência em carcaças e cadáveres, são consideradas de interesse
forense para o Brasil. Porém, as duas espécies apresentam taxas de desenvolvimento distintas. Tendo
fundamental importância a correta identificação taxonômica para a utilização desses insetos na
estimativa do IPM no escopo da Entomologia Forense.

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Dermestes Maculatus Degeer (Coleoptera, Dermestidae) Associado a Carcaças Expostas de Sus


Scrofa L. em uma Área Situada em Microrregião do Sertão Paraibano

Marcolino (2013) realizou um estudo na Fazenda Tamanduá, município de Santa Terezinha,


Paraíba. O objetivo foi monitorar os espécimes de Dermestes maculatus DeGeer (Coleoptera,
Dermestidae), associado a carcaças de porcos Sus scrofa Linnaeus. As coletas foram realizadas no
período de 30 dias das estações seca e chuvosa em 2012, entre 09 e 11 horas. Durante o experimento
também foram coletados fatores abióticos: temperatura e umidades.
Segundo Marcolino (2013) o processo de decomposição da carcaça foi acelerado nas duas
estações. Na estação chuvosa este fato ocorreu provavelmente devido a insolação direta sobre a
carcaça. Na estação seca também foi acelerado, devido aos fatores sazonais do local. As mudanças
mais notórias ocorreram na carcaça durante os primeiros setes dias - nos vinte e três dias seguintes não
houve mudanças significativas no processo de decomposição.
Foram realizadas estimativas dos coeficientes de correlação de Spearman (r) para os fatores
abióticos de temperatura e umidade relativa com a espécie Dermestes maculatusos. Os valores de
probabilidade (p) estão na Tabela 1 e indicam que a correlação foi significativa entre as variáveis
analisadas (MARCOLINO, 2013). As Tabelas 1 e 2 mostram a correlação de Spearman (r) dos fatores
abióticos com a espécie Dermestes maculatus, onde r é a correlação e p é a significância.

Tabela 1: Correlação de Spearman entre os fatores abióticos e a espécie Dermestes maculatus. Coletados na
estação chuvosa, 2012.
Fonte: Marcolino (2013).

Tabela 2: Correlação de Spearman (r) entre os fatores abióticos e a espécie Dermestes maculatus. Coletados
nos meses de julho/ agosto, 2012.
Fonte: Marcolino (2013).
Marcolino (2013) concluiu que a presença, abundância e sucessão de D. maculatus associado a
carcaça suíno em microrregião do Estado da Paraíba foram divergentes da maioria dos estudos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

realizados no Brasil, principalmente no nordeste brasileiro. Sendo assim, existe a necessidade de


realizar futuros estudos concentrados em D. maculatus e nos fatores abióticos. Mostrando-se
promissores ferramentas forenses para a região.

Besouros (Coleoptera) Associados a Carcaças de Sus Scrofa Linnaeus em Área de Restinga na


Paraíba

Dal-Bó (2013) realizou um levantamento dos besouros associados a carcaças em decomposição.


As coletas foram realizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape,
município de Rio Tinto, Paraíba. A área é um ecossistema de restinga, onde se caracteriza pela
vegetação rasteira, gramíneas, moitas espessas, árvores de pequeno porte e sofre influência dulcícola e
marinha (THOMAS & BARBOSA, 2008). Foram utilizadas quarto carcaças de porcos Sus scrofa,
Linnaeus: duas para estação chuvosa e duas para estação seca no ano de 2012. Na coleta dos besouros
foram utilizadas armadilhas tipo Shannon, pitfalls e coletas em bandeja. Para cada estação foi montada
uma armadilha-controle, onde não foi colocada carcaça, para avaliar se a presença dos insetos estava
mesmo relacionada à presença da carcaça (isca).
No estudo foram catalogadas seis famílias de coleópteras e quinze espécies de coleópteras,
distribuidas nas fases de decomposição: Fresco (F), Gasoso (G), Coliquativa (C), Pós-deterioração
(DP), como mostra a Tabela 3.

Tabela 3: Abundância dos besouros coletados na estação chuvosa (12/03/2012 a 27/03/2012) e estação seca
(08/11/2012a 23/11/2012), associados às fases de decomposição cadavérica.
Fonte: Dal-Bó (2013).

Dal-Bó (2013) concluiu que a fauna de coleópteros associada a carcaça em ambiente de restinga
diferiu dos demais estudos. Sendo os besouros indicados como potencial forense para este estudo foram
Dermestes maculatus, por procriarem na carcaça e Necrobia rufipes, por ter sido presenciada a cópula.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Também possuindo importância forense Hypocaccus Sp. e Bledius fernandezi por apresentar registro
restrito a ambientes de duna e praia. Para as espécies acima citadas e as de maior abundancia propõem-
se estudos de biologia mais aprofundados, para assim obter informações que sejam úteis na solução de
casos em Entomologia Forense na região.

Coleópteros Associados a Carcaças Expostas de Suínos (Sus Scrofa L. 1758) em Barra de


Mamanguape, Rio Tinto, Paraíba.

Braga (2014) realizou um estudo com o objetivo de estudar a coleopterofauna associada a


carcaças de porcos Sus scrofa L. de modo a associar as fases de decomposição. As coletas foram
realizadas na Barra de Mamanguape, Rio Tinto no Estado da Paraíba, nos períodos de 30 dias sendo
janeiro e fevereiro (estação seca) e julho e agosto (estação chuvosa) no ano de 2012. Para a captura dos
coleópteras foram utilizadas carcaças de porcos para atrair os insetos necrófagos, oito armadilhas tipo
pit-falls e armadilhas tipo bandeja com maravalhas.
Durante o trabalho de Braga (2014) foram coletados 491 coleópteros pertencente a 13 famílias,
estando incluídos 4 espécimes cuja identificação foi inconclusiva. A espécie mais abundante foi
Histeridae com 107 indivíduos, seguida de Tenebrionidae com 90 indivíduos e Staphylinidae com 87
indivíduos totalizando 57,8% dos besouros coletados (Tabela 4).

Tabela 4: Famílias de Coleópteras capturadas nas duas estações de coleta em experimento na Barra de
Mamanguape, Rio Tinto, Paraíba, 2012.

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Após a identificação dos coleópteros coletados nas estações seca e chuvosa, 90,8%
corresponderam a famílias consideradas de importância forense, utilizando a classificação de Smith
(1986). Dentre estas famílias forense, Histeridae, Tenebrionidae, Staphylinidae, Nitidulidae e
Scarabaeidae foram as mais representativas e juntas somaram 94,4% da amostra.
Ao final do trabalho Braga (2014), afirma que a composição da coleopterofauna cadavérica da
Barra de Mamanguape, litoral norte da Paraíba, mostrou-se divergente dos demais trabalhos realizados
no Brasil. Entre outros aspectos, ao Alencar a espécie Alphitobius diaperius (Panzer, 1797)
(Tenebrionidade) como uma das espécies mais expressivas, o que reforça a importância de estudos
locais para uma consolidação adequada da Entomologia Forense na região.

4. COMENTÁRIOS FINAIS

Este trabalho realizou uma revisão de literatura considerando estudos realizados na Paraíba,
focando no levantamento da fauna de coleópteros necrófagos atraídos por carcaças de porcos Sus
scrofa, Linnaeus.
A pesquisa bibliográfica resultou em 15 estudos potencialmente elegíveis, que foram lidos na
íntegra. Ao final das análises, quatro artigos preencheram os critérios de inclusão para o estudo. Estes
foram publicados entre 2012 e 2016, e realizados no estado da Paraíba. Os estudos tiveram em comum
o levantamento dos coleópteras associados a carcaça e utilizaram como atrativo para os insetos a
carcaça de porco, Sus scrofa, Linnaeus.

5. AGRADECIMENTOS

A autora agradece a Universidade Federal da Paraíba pela bolsa da CAPES, e ao apoio do


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Bolsa de Produtividade em
Pesquisa, nº 303199/2015-6).

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALTAZAR, F. N.; CAVALLARI, M. L.; CARVALHO, E.; TOLEZANO, J. E.; MUÑOZ, D. R.


Entomologia forense e saúde pública: relevância e aplicabilidade. Bepa, São Paulo, v. 8(87). P. 14-
25. 2011.

ATTS, E. P. & GOFF, M. L. 1992. Forensic entomology in criminal investigations. Annual Review of
Entomology 37: 253-272.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 108


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DAL-BÓ, D. Besouros (Coleoptera) associados a carcaças de Sus scrofa Linnaeus em área de resting
na Paraíba. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Paraíba -UFPB/CCEN. 2013

GOMES, G.; DESUÓ, I. C.; MORLIN, J. J. JR.; MURAKAMI, A. S. N. & GOMES, L. 2010. Insetos,
entomologia e ciência forense. In Gomes, L. Entomologia forense: novas tendências e tecnologias
criminais, 1º ed Rio de Janeiro. Cap. 1, p. 17-86.

MARCOLINO, Z. L. Dermestes maculatus DeGeer (Coleoptera, Dermestidae) associado a carcaças


expostas de Sus scrofa L. em uma área situada em microrregião do Sertão paraibano. Trabalho de
conclusão de curso (Graduação em Ciências Biológicas) Universidade Estadual da Paraíba -UEPB.
2013.

MISE, Kleber Makoto; ALMEIDA, Lúcia Massitti de; MOURA, Maurício Osvaldo. Levantamento da
fauna de Coleoptera que habita a carcaça de Sus Scrofa L., em Curitiba, Paraná, Revista Brasileira
de Entomologia, V. 51, n. 3, p. 358-368, 2007.

OLIVEIRA-COSTA, J. Entomologia forense: quando os insetos são vestígios. 3 ed. Campinas:


Millennium. p.39-42; 257. 2011.OLIVEIRA-COSTA, J.; OLIVEIRA-AZEVEDO, G. C.; BASTOS,
C. S.; DIAS, J. P. S.; OLIVEIRA, R. G. Coleopterofauna frequente em carcaça de porco doméstico
– Sus scrofa – Linnaeus no Rio de Janeiro. Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15,
edição especial, p. 39 – 41.

OLIVEIRA-COSTA, J. Insetos ―Peritos‖: a Entomologia Forense no Brasil. (1ª ed.). Campinas,


Millennium, xvi. 487p. 2013.

PUJOL-LUZ, J. R.; ARANTES, L. C.; CONSTANTINO, R. 2008. Cem anos da Entomologia Forense
no Brasil (1908-2008) Revista Brasileira de Entomologia, 52: 485-492.

SANTOS, W. E., Alves, A. C. F., & Creão-Duarte. A. J., 2012, ―Dermestes peruvianus Laporte
(Coleoptera, Dermestidae): Primeiro Registro Para o Nordeste do Brasil‖, EntomoBrasilis, 5 (3):
253-254. e-ISSN 1983-0572.

SMITH, K. G. V. 1986. A manual of forensic entomology. Ithaca, NY, Cornell University Press, 205p.

THOMAS, W. W.& BARBOSA, M. R. 2008. Natural vegetation types in the Atlantic coastal forest of
Northeastern Brazil, p. 6-20 In: Thomas, w. w. The Atlantic coastal forest of Northeastern Brazil.
New York, The New Botanical Garden Press, p.xii-586.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DIAGNÓSTICO E REVITALIZAÇÃO DA PALMA FORRAGEIRA NO CARIRI


PARAIBANO

Hermes Alves de ALMEIDA


Profo Dr, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB
hermes_almeida@uol.com.br
Ivandro de Oliveira PINTO
Profo MS, Secretaria de Educação do Estado da Paraíba

RESUMO
A palma forrageira é o principal alimento do rebanho bovino na microrregião do cariri paraibano. No
entanto, a cochonilha do carmim (Dactylopius opuntiae) vem dizimando de forma arrasadora as
plantações de palma na maioria dos municípios desse recorte geográfico. A revitalização da palma
forrageira é uma política publica para o semiárido nordestino. Diante disto, procurou-se diagnosticar as
áreas com palma forrageira tradicional e a potencialidade para a revitalização, com variedades
resistentes a essa praga, na principal bacia leiteira do cariri oriental da Paraíba, representada pelos
municípios de Boqueirão e Caturité, sendo essas determinações os objetivos principais deste trabalho.
O recorte espacial foi de dez fazendas, para cada município, e os procedimentos metodológicos
consistiram na aplicação de questionários estruturados, entrevista semi-estruturada e observações in
loco, com perguntas que contemplava a produção dessa forrageira e o desenvolvimento da atividade
pecuária. Os principais resultados mostraram que: a alimentação do rebanho bovino, caprino e ovino,
limita-se, basicamente, a palma forrageira. A presença da cochonilha do carmim ocorreu entre meados
de 2009 e 2010 e dizimou os palmais de forma muito rápida. Sem a palma forrageira, não há como
manter o rebanho (patrimônio). O efeito devastador da cochonilha do carmim supera o da seca e,
portanto, inviabiliza a pecuária no semiárido paraibano. Assim sendo, há necessidade de revitalizar o
cultivo da palma forrageira, por ser a principal fonte de alimento para o rebanho bovino, caprino e
ovino do cariri paraibano.
Palavras-chave: alimentação animal. Cactácea forrageira. Cochonilha do carmim.
ABSTRACT
The spineless cactus is the main food of the cattle herd in the micro region of Cariri Paraiba. However,
cochineal carmine (Dactylopius opuntiae) comes in devastating form decimating palm plantations in
most municipalities that geographical region. The revitalization of the spineless cactus is a public
policy for the semi-arid northeast. Given this, it was necessary to diagnose the areas with traditional
forage cactus and the potential of revitalization, with varieties resistant to this pest, the main producer
of milk eastern Paraiba cariri, represented by the municipalities of Boqueirão and Caturité, being those
determinations the objectives principal of this work. The spatial area was ten farms for each
municipality and the methodological procedures consisted of applying structured questionnaires, semi -
structured interviews and observations on the spot with questions which included the production of
forage cactus and the development of this activity. The main results showed that: the feeding of cattle,
goats and sheep, limited basically spineless cactus. The presence of cochineal carmine occurred
between mid-2009 and 2010 and the decimation of the spineless cactus was very fast. Without the
spineless cactus, there is no way to keep the flock (patrimony). The devastating effect of cochineal
carmine exceeds the dry and thus prevents the livestock in semi-arid Paraiba. Therefore, there is need

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

to revitalize the cultivation of forage cactus, being the main food source for cattle, goats and sheep of
Paraiba cariri.
Keywords: Animal feed. Forage cetaceous. Cochineal carmine.

INTRODUÇÃO

A palma forrageira (Opuntia fícus indica L. Mill) é uma cactácea exótica, com mais de 1400
espécies e 120 gêneros conhecidos e ocupa um habitat terrestre epifítico e rupícola (HOFFMANN,
1995; SOUZA e LORENZI, 2005). É originária do México, onde se utiliza na culinária, desde a época
do Império Asteca, na agroindústria, na produção de corantes, cosméticos, dentre outros. No semiárido
nordestino, ela usada na alimentação de bovinos, ovinos e caprinos a fim de mitigar a escassez de
forragem, especialmente, no período de secas.
No Brasil há duas as espécies do gênero Opuntia ficus-indica (L) Mill, palma gigante, e a
Nopalea cochenillífera Salm-Dyck (palma doce), ambas não contém espinhos. As características
genéticas de rusticidade, de resistente à seca e elevada eficiência de uso da água propiciam a
adaptabilidade ao ambiente semiárido que, se associam a boa aceitabilidade de consumo pelos bovinos
(SILVA et al., 2010). No entanto, a palma gigante é mais cultivada nas áreas semiáridas e a palma
miúda, nas zonas mais úmidas e onde os solos são mais ricos em nutrientes (LOPES, 2012).
Por ser uma forrageira resistente à seca, ela é a única que persevera nos longos períodos de
estiagens e, portanto, a que garante a manutenção do rebanho, por ser, praticamente, a única forragem
disponível nessas épocas e a que se mantém nutritiva (ARAÚJO FILHO, 1977, NUNES, 2011),
podendo, ainda, ser usada sob a forma de farelo (BARBERA, 2001).
Incentivar o cultivo da palma forrageira é uma estratégia que visa o desenvolvimento da
agropecuária nordestina. No entanto, a produção das variedades tradicionais dessa palmácea está
seriamente ou completamente comprometida, haja vista a incidência de uma praga, denominada de
cochonilha do carmim (Dactylopius Opuntiae).
As cochonilhas do carmim (Dactylopius coccus) são insetos que sugam as raquetes da palma
forrageira inoculando toxinas. Esse processo resulta no enfraquecimento das plantas, provoca o
amarelecimento e a queda dos cladódios. Quando o índice de infestação alto (severo) e se não for
adotada medida de controle, a área infestada é praticamente dizimada (CAVALCANTI et al., 2001).
A incidência dessa praga, na microrregião do cariri paraibano, foi detectada a partir de 2000,
quando os plantios de palmas foram infestados e dizimados e, com a falta de alimento, o obrigou os

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

produtores a venda do rebanho, especialmente, por que as áreas plantadas eram, na maioria, do gênero
Opuntia que tem alta suscetibilidade a essa praga (LOPES e COSTA, 2010).
O avanço da cochonilha na Paraíba ocorreu em plantios da variedade gigante e em diversos
municípios, principalmente, nos das microrregiões geográficas do Cariri Ocidental e Oriental do estado
da Paraíba (LOPES, 2012). Devido ao seu grande poder de disseminação e destruição, essa praga vem
causando danos severos e irreversíveis e com consequências socioeconômicas gravíssimas, nessas
microrregiões, onde a atividade leiteira é extremamente dependente dessa forrageira, para alimentar os
rebanhos, e a principal atividade geradora de renda.
A opção de cultivar a palma forrageira requer, atualmente, a escolha de variedades resistentes à
cochonilha do carmim. A devastação do cultivo da palma na Paraíba é preocupante e o nível de
infestação chega a 100%, em determinadas localidades. Na bacia leiteria dos municípios de Caturité e
Boqueirão, estima-se que os prejuízos sejam superiores a um milhão de reais, o que compromete toda
atividade da pecuária dessas localidades (LOPES, 2012).
Diante disto, surgiu o programa de revitalização do cultivo da palma tradicional, que consiste na
substituição por variedade de palma resistentes à cochonilha do carmim. Essa alternativa tecnologia
tem sido a esperança para a continuidade da pecuária, caprinocultura e ovinocultura, bases do
desenvolvimento rural sustentável no semiárido paraibano.
O programa de revitalização da palma forrageira tem contribuído de forma gradativa e lenta,
distribuindo raquetes das variedades Miúda (Nopalea cochinillifera) e Orelha de elefante (Opuntia sp.)
por serem mais produtivas e resistência à cochonilha do carmim e as de melhor valor nutritivo
(CAVALCANTI et al., 2001).
Diante disto houve a necessidade de se fazer um diagnóstico da palma forrageira e do processo
de revitalização, com novas variedades resistentes a cochonilha do carmim, na bacia leiteira da
microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba (Boqueirão e Caturité), sendo essas as determinações o
objetivo do trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de abrangência deste trabalho contemplou vinte (20) fazendas, localizadas na bacia
leiteira da microrregião do Cariri Oriental do Estado da Paraíba, sendo dez no município de Caturité
(7º25‘20‘‘ S; 36º01‘41‘‘W) e dez em Boqueirão (7º29‘75‘‘ S, 36º07‘87‘‘ W).
As 10 (dez) fazendas de Caturité e as dez de Boqueirão, localizam-se nos sítios Malhada da
Panela e Salgadino, as quais foram georeferenciadas, utilizando-se GPS e imagens de satélites Google
Earth, e os moradores, totalizando-se, 22 e 19 famílias, entrevistados, respectivamente.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As entrevistas foram feitas aplicando-se questionários estruturados, entrevista semi-estruturada


e observações in loco, com perguntas relacionadas aos indicadores de desenvolvimento local, com base
no item palma forrageira, tais como: áreas plantadas com palma tradicional e com variedades
resistentes a cochonilha do Carmim (revitalizadas), a forma/procedimento de acesso, área plantada,
dentre outras.
As entrevistas foram realizadas com os responsáveis, produtores e/ou técnicos envolvido nas
atividades rurais, especificamente, na cultura da palma forrageira, incluindo-se o programa de
revitalização dessa cactácea, por materiais mais resistentes, a cochonilha do carmim.
Os dados foram coletados de forma quantitativa e/ou qualitativa. Os procedimentos de análises dos
dados (estatísticos) constaram de vários recursos técnicos de pesquisa, tais como: entrevistas, visitas in loco,
registros fotográficos e consultas a fontes bibliográficas (mapas, livros, periódicos, dentre outros). A análise
estatística foi primordial para compreensão do estudo proposto.
Os cálculos e as análises estatísticas realizadas no presente trabalho, como também, as confecções
de gráficos, quadros e tabelas foram feitas utilizando-se a planilha Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De um modo geral, a alimentação dos bovinos, caprinos e ovinos no semiárido paraibano


limita-se, basicamente, a palma forrageira, principalmente, nos períodos prolongados de estiagens.
Sabe-se, entretanto, que o uso de outros tipos de forragens, a não ser o pasto natural e na época mais
úmida, são pouco aproveitadas, uma vez que não é habitual a prática de cultivar outros tipos de
forrageiras, no período chuvoso, e armazená-las em silos trincheiras, por exemplo. Como a maior parte
do ano é seco, não há pasto nativo, por isso o custo para manter o rebanho se eleva, em virtude da
necessidade de aquisição de rações para alimentar o rebanho. Como o cenário sem a palma forrageira, a
situação complica-se ainda mais.
Embora a palma forrageira tenha uma extraordinária capacidade de produção, nas condições
climáticas do semiárido nordestino, ela não deve ser usada como única fonte de alimento, devido o seu
baixo conteúdo de matéria seca, fibra e proteína bruta, comparada com outros alimentos volumosos. No
entanto, a palma é praticamente a única forragem para alimentar o seu rebanho no período de seca.
Nas Figuras 1 e 2 são apresentadas as Frequências relativa (Fr) dos extratos de áreas, com
palma forrageira, em 10 fazendas, de Caturité e em Boqueirão.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

35

30 Caturité, PB

25

20
Fr(%)

15

10

0
1a5 6 a10 11 a 20 21 a 30 >30
áreas (ha)
Figura 1. Frequência relativa (Fr) do tamanho das áreas com a palma forrageira, em 10 fazendas de Caturité,PB

60

50 Boqueirão

40
Fr(%)

30

20

10

0
1 a5 6 a10 21 a 30 >30
áreas (ha)
Figura 2. Frequência relativa (Fr) do tamanho das áreas com a palma forrageira, em 10 fazendas de Boqueirão,
PB.

Observa-se que os extratos de áreas com o cultivo da palma diferem entre si, com plantios
maiores em Boqueirão, onde metade das fazendas tem área maior que 30 hectares, contra 30 % das de
Caturité.
A palma, variedade gigante, é conhecida como graúda, azeda ou santa, tem um perfil mais ereto,
crescimento vertical pouco frondoso e caule menos ramificado.
Como pode ser observados nas Figuras 3 e 4 há uma predominância dessa espécie Opuntia fícus
indics, nas duas localidades, com uma pequena diferença percentual de 10,0 %, para mais, quando se
compara as áreas de Caturité com as de Boqueirão.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

60
50 variedade gigante 50
50

40 Boqueirão
Fr(%)

30

20

10

0
1a5 6 a 20
áreas (ha)
Figura 3. Frequência relativa (Fr) de áreas cultivadas com a variedade de palma gigante, em 10 fazendas, em
Caturité, PB
70
60 variedade gigante
60

50
Caturite
40
40
Fr(%)

30

20

10

0
1a5 6 a 20
áreas (ha)
Figura 4. Frequência relativa (Fr) de áreas cultivadas com a variedade de palma gigante, em 10 fazendas, em
Boqueirão, PB.

Com relação aos percentuais de áreas infectadas com a cochonilha do carmim, contata-se que
são assustadores haja vista que o percentual de infestação é de 100 %. Os proprietários relataram que o
surgimento da cochonilha do carmim teve inicio entre meados de 2009 e 2010, mas a dizimação dos
palmais ocorre de forma muito rápida. Sem ter essa forrageira para alimentar o rebanho, a única saída
para comprar ração (farelo de soja, torta de algodão, palma de outras áreas do estado, entre outros) era
vender parte do plantel, ou seja, vendiam-se alguns animais a fim de manter outros.
A descapitalização e a perda patrimonial dos produtores são alarmantes, haja vista que os
pequenos produtores têm maior dificuldade de responder os impactos causados pela cochonilha do

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carmim, por não ter recursos. Para esse seguimento de produtores, em especial, não há como manter o
seu rebanho e/ou a sua atividade produtiva, sem a palma forrageira.
Os técnicos da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA) relatam que a
cochonilha do carmim já dizimou mais de 90% dos palmais na Paraíba. Os prejuízos são incalculáveis
para a pecuária e estima-se que os prejuízos ultrapassam 600 milhões de reais.
Quando os produtores foram questionados sobre o atual cenário do Cariri e, em especial, o dos
municípios pesquisados, 100% responderam que é crítica. Esses relatos confirmam os de LOPES
(2012) de que o avanço da cochonilha do carmim, na Paraíba, se deu em plantios da variedade gigante
que predominam nas microrregiões geográficas do Cariri Ocidental e Oriental (Figuras 3 e 4).
Perguntas feitas aos produtores, relacionando-se o efeito da cochonilha do carmim como o da
seca, as respostas foram quase unânimes: o efeito da cochonilha é muito mais destruidor do que o da
seca. A comparação feita por eles é que possível conviver com a seca, mas com palma, por que a palma
é o único alimento do gado nesse período.
Com relação ao programa de revitalização da palma, com variedades mais resistentes a
cochonilha, 40,0 % dos agricultores entrevistados de Boqueirão respondeu que fizera o plantio com as
variedades resistentes recomendadas, enquanto 60,0 % ainda não plantaram, mas existe a pretensão de
fazê-lo.
As políticas públicas instituídas para amenizar a situação crítica pela qual vem passando a
maioria dos produtores rurais tanto de Caturité como de Boqueirão, em virtude das perdas do
patrimônio e produção de leite e derivados, precisam ser aceleradas e mais efetivas a fim de
reestruturar a economia local, mediante a distribuição, plantio e assistência técnica das novas
variedades da palma resistentes à praga.
A cochonilha do carmim já dizimou quase todos os palmais no estado da Paraíba, só na área de
concentração da pesquisa as perdas alcançam quase 100% (LOPES, 2012). Assim como em outros
estados do nordeste, na Paraíba, a cochonilha já chegou em 81 dos 223 municípios. O INSA implantou
26 projetos pilotos, em 13 microrregiões e 26 municípios do estado da Paraíba, para revitalizar a palma,
com variedades resistentes a cochonilha, como mostra a Figura 5.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5. Projeto de revitalização da palma forrageira em Caturité/PB. Fonte: Instituto Nacional do Semiárido
(INSA). Acesso: www.insa.gov.br.

Outra ação do INSA foi a de organizar junto às prefeituras dos respectivos municípios, (Caturité
e Boqueirão) o gabinete da palma, organização em parceria com a sociedade civil organizada, para
fomentar a implantação das espécies resistentes.
Em 2012 foram projetados e implantados campos experimentais de pesquisas para a produção
das variedades resistentes, sendo um localizado no sítio Campos da Ema, em Caturité (Figura 6), e o
outro em Boqueirão, com a finalidade de estudar a adaptação das variedades plantadas e distribuir as
mudas para os agricultores.

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Figura 6. Campo de multiplicação da palma forrageira resistente à cochonilha do carmim no Campo de Emas,
Caturité, PB.

Cada município, onde tem os campos de plantio, recebe um hectare de palma, o projeto é
articulado com o apoio do gabinete da palma municipal, com o apoio de representantes da secretaria
municipal, da EMATER, da associação de produtores rurais, do sindicato rural.
Além disso, os campos de plantio são cultivados de forma consorciada com outras leguminosas
que podem ser ofertadas aos animais como a leucena (Leuceana leucocephala), gliricídia (Gliricídia
sepium), algodão (Gossypium L.) das espécies mocó e seda, contribuindo também para uma maior
diversidade ambiental, assim como fornecimento de novas alternativas de alimentação para os
rebanhos.
O impulso na formulação e execução do desenvolvimento deve ser originado das respectivas
comunidades, descartando a ideia de que a comunidade de pequena escala só pode atingir o
desenvolvimento por intermédio de outras regiões de maior nível de desenvolvimento. Nesse caso a
inclusão de atores locais no processo é uma forma de fiscalização e execução das políticas instituídas
de cima para baixo.
Quando os produtores foram questionados se eles conheciam as novas variedades, 100%
afirmaram que sim, porém alguns relataram a dificuldade de acesso a esse material ou por não terem
condições financeiras ou, até mesmo, por não saber aonde adquirir as raquetes resistentes à cochonilha
do carmim.
Os pequenos produtores de Caturité, cerca de 70% dos entrevistados já adotaram essa nova
tecnologia, fazendo a opção, principalmente, pela variedade orelha de elefante mexicana e Bahia, nas
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unidades pesquisadas o total em hectares chega próximo a 26 hectares. Os 30% que ainda não
plantaram relatam dificuldades financeira, segundo eles um caminhão de raquetes pode chegar a 5 mil
reais e muitos não tem condições de comprar.
No entanto, há alguns relatos na pesquisa sobre a baixa produtividade das novas variedades,
principalmente, a palma orelha de elefante mexicana e a palma doce. Na avaliação de um produtor (E):
―Essa palma nova não rende muito com a convencional, o manejo tem sido o mesmo, mas as plantas
são pouco resistentes à seca e a perda é grande, uma média de 30% do plantio‖. Uma outra produtora
(F) relata que existem dificuldades para cultivar as novas variedades. Disse que plantou em janeiro de
2013, mas a maioria não resistiu à seca, que essa palma não presta, tem muito espinho e necessita-se de
irrigação. Como se fazer irrigação, se não há água suficiente se quer para beber.
O quantitativo do diagnostico feito, com relação ao programa de revitalização, revela que
embora os dois municípios já possuírem plantios com novas variedades, as áreas são bem inferiores às
destinadas antes ao cultivo da palma tradicional. Os plantios ainda são recentes, têm entre um a dois
anos e, por isso, as novas variedades ainda estão em fase de testes.
Dos que plantaram a nova variedade não há registro de manejo adequado à cultura, os
produtores alegam a falta de assistência técnica e cerca de 30% dos pecuaristas ainda não ofertou ao
gado, por ser um plantio recente não foi feito ainda o primeiro corte. Embora, houve relato de que
alguns animais rejeitam a variedade orelha de elefante mexicana, em virtude da grande quantidade de
espinhos e do odor forte que ela exala.
Contabilizou-se que no município de Caturité, as áreas revitalizadas com palma ( 15,5 ha) com
as variedades Opuntia tuna (L) Mill- orelha de elefante africana são de aproximadamente 4 hectares, da
variedade conhecida por Palma Sertânea ou baiana ―Nopalea cochinillifera Salm-Dick‖ de 7 hectares, a
―Opuntia tuna (L) Mill‖, orelha de elefante mexicana 4,5 hectares.
Com relação ao município de Boqueirão, a revitalização foi um pouco menor ( 6 ha), sendo da
02 hectares com Opuntia tuna (L) Mill- orelha de elefante africana, 2,5 ha da variedade Palma Sertânea
ou baiana ―Nopalea cochinillifera Salm-Dick‖ e 1,5 hectares da ―Opuntia tuna (L) Mill‖, orelha de
elefante mexicana.
È importante destacar a redução drástica da área plantada com a palma forrageira em ambos os
municípios. As novas variedades estão sendo uma alternativa importante, mesmo com as dificuldades
de acesso a elas, seja por questões de ordem financeira ou por falta de iniciativas governamentais.
Mesmo assim, os pecuaristas encaram com otimismo os novos plantios. Sem a palma, os pecuaristas
tiveram que procurar alternativa, para poder alimentar o rebanho, sendo a mais usada foi a do silo

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trincheira e/ou da estocagem de forragens. Nas propriedades que adotaram essa prática, comprovou-se
que a situação não é tão critica.
Para entender a percepção dos criadores sobre a importância da palma na alimentação dos
rebanhos, foi perguntado se a palma era importante para alimentar os animais; 70% disseram que era
extremamente importante. Nota-se, entretanto, que é inegável a importância da palma forrageira na
alimentação dos rebanhos.
Destaca-se, ainda, que o pecuarista do semiárido não explora os diferentes subprodutos da
palma, seja ele para fins de alimentação humana, na medicina, na indústria de cosméticos ou na
produção de aditivos naturais. Esses subprodutos representam uma fonte de receita na propriedade, que
não está aproveitada, o que concorda com os resultados de SÁENZ et al., (2004).
Dessa forma, os subprodutos da palma forrageira são potencias fonte de renda a mais nas
propriedades. No entanto, ela ainda é marginalizada como alimento que só serve para alimentar o
rebanho de gado, caprinos e ovinos, nas épocas de seca, visão essa deturpada, ou seja, a palma é o
―ouro verde do cariri‖.
Do diagnostico realizado, com relação à revitalização da palma forrageira, constata-se que o
programa requer uma atuação mais efetiva de políticas públicas e de assistência técnica. Os resultados
oriundos dos questionários e entrevistas, nas comunidades estudadas, Malhada da Panela, em Caturité,
e Salgadinho, em Boqueirão, revelaram vulnerabilidade em vários aspectos (econômico, social,
educacional, etc.). No entanto, o avanço e/ou a infestação dessa praga contribuiu de forma decisiva no
seguimento agropecuário do cariri paraibano, por que sem a palma forrageira haverá uma
desarticulação produtiva do patrimônio e da produção de leite e derivados.

CONCLUSÕES

A alimentação do rebanho bovino, caprino e ovino, especialmente, nos prolongados períodos de


estiagens, no semiárido paraibano, limita-se, basicamente, a palma forrageira.
Outros tipos de forragens produzidas durante o período chuvoso não são armazenadas em forma
de silagem. Assim sendo, para alimentar o rebanho há necessidade de aquisição de ração que além de
elevar os custos da produção, é insuficiente sem a palma forrageira.
A incidência da cochonilha do carmim ocorreu entre meados de 2009 e 2010 e a dizimação dos
palmais foi muito rápida. Sem a palma forrageira, a única saída foi a de vender parte do rebanho para
alimentar a outra, comprando-se ração (farelo de soja, torta de algodão, palma de outras áreas do
estado, entre outros).

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O efeito devastador da cochonilha do carmim é bem maior que o do fenômeno da seca. Por isso,
a revitalização da cultura, por variedades resistentes a cochonilha do carmim, é a única esperança para
continuá-la com a agropecuária no Cariri Oriental da Paraíba.
O programa de revitalização da palma, com variedades mais resistentes a cochonilha, atende
uma pequena parcela de produtores e a opção, principalmente, é pelas variedades orelha de elefante
mexicana e Bahia. As áreas de palma plantadas com variedades resistentes cochonilha do carmim são
bem menores que as tradicionais.
Os plantios das variedades resistentes à cochonilha do carmim são recentes, têm entre um a dois
anos e estão em fase de testes. Mesmo assim, alguns produtores relatam baixa produtividade,
principalmente, à da orelha de elefante mexicana e a doce, além de não resistir à seca e por ter muito
espinho.

REFERENCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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BIOGEOGRAFIAS DO SUL: UMA REFLEXÃO SOBRE A BIOGEOGRAFIA CULTURAL


A PARTIR DA ECOLOGIA DE SABERES9

Ivan de Matos e SILVA JUNIOR


Mestre em Geografia, Instituto Federal da Bahia
ivan.matos@ifba.edu.br
Rosiléia Oliveira de ALMEIDA
Doutora em Educação, Universidade Federal da Bahia
roalmeida@ufba.br

RESUMO
Compreender a produção do saber biogeográfico como construção humana, intercultural, histórica e
epistemologicamente comprometida com projetos de mundo, ajuda a sublinhar a ocorrência de
biogeografias para além da fronteira científica. Ao mesmo tempo, versá-la enquanto saber científico,
apoiado na noção de ciência enquanto atividade humana (FOUREZ, 1995), pautada em valores e
formas específicas de relação com o mundo, é admitir que a ciência não é neutra, e que, ao reconhecer
o mundo como algo externo, povoado de dados a serem descobertos e formatados pelas leis, assume a
tarefa de identificar as causalidades nas regularidades e variações de distribuição da biodiversidade.
Diante desse quadro de suposta superioridade epistemológica do saber científico biogeográfico e da
necessidade de abordagens que assinalem a diversidade epistemológica do mundo (SANTOS;
MENESES, 2010), o presente artigo traz uma reflexão teórica acerca das contribuições da
interculturalidade crítica (CANDAU, 2008) e sua filiação às Epistemologias do Sul, no processo de
decolonização epistêmica no ensino de biogeografia, bem como os desafios para o ensino de
biogeografias na educação superior. As Epistemologias do Sul, campo de estudos proposto por
Boaventura de Sousa Santos e amplamente difundido por colaboradores que compartilham dessa
abordagem (QUIJANO, 2010; NUNES, 2010), retoma o debate sobre o processo de invisibilização do
contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento, implementado pela
epistemologia dominante, ao passo que apresenta as reverberações desse processo na produção do
conhecimento, estabelecendo as bases que tornam perceptíveis outras formas de saber historicamente
subalternizadas. Dentre alguns resultados, identificou-se a potencialidade das Epistemologias do Sul
em por em prática a ecologia de saberes, em outras palavras, abrindo diferentes itinerários que
convirjam para o ensino e a pesquisa de biogeografias culturais.
Palavras-chave: Ciência. Biogeografia. Ecologia de saberes. Epistemologias do Sul. Decolonização
epistêmica.
ABSTRACT
Understanding the production of biogeographical knowledge as a human construction, which is
interculturally, historically and epistemologically compromised with world projects, helps underline the
occurrence of biogeographies beyond the scientific boundaries. At the same time, treating it as a
scientific knowledge, based upon the notion of science as a human activity (FOUREZ,1995) regulated
according to a set of specific values and ways of relating to the world, is admitting that science is not

9
O presente artigo é resultado dos estudos e pesquisas em andamento, em nível de doutoramento, no Programa de Pós-
graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências(UFBA/UEFS).

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neutral, and in the act of recognizing the world as something external, full of data to be discovered and
organized by the laws, it takes on the task of identifying the causalities within the regularities and
variations of biodiversity distribution. In the face of this epistemological context of supposed
superiority of the scientific biogeographical knowledge and the necessity of approaches that signal the
epistemological diversity of the world (SANTOS; MENEZES, 2010), the present article brings a
theoretical reflexion about the critical intercultural contributions (CANDAU, 2008) and their
affiliations to southern epistemologies, in the epistemic decolonial process in the teaching of
biogeography, as well as the challenges faced by the teaching of biogeographies in higher education.
The Southern Epistemologies, studies proposed by Boaventura de Sousa Santos and widely divulged by
collaborators that share that approach (QUIJANO; 2010, NUNES, 2010), recover the debate about the
invisiblization process of the cultural and political context of production and reproduction of
knowledge implemented by the dominant epistemology, as it presents at once the reverberations of that
process within the production of knowledge, establishing the foundations that allow the perception of
other ways of knowing that were historically subalternized. It was identified, among some results, the
potentiality of Southern Epistemologies to put into practice an ecology of knowledges, opening
different itineraries that converge towards the teaching and research of cultural biogeographies.
Key-words: Science. Biogeography. Ecology of knowledges. Southern epistemologies. Epistemic
decolonization.

INTRODUÇÃO

Pode aparentar certa trivialidade admitir a ciência e, sobretudo, o saber científico biogeográfico
como um constructo humano, uma vez que sua produção nunca fora pensada para além desse domínio.
Ao mesmo tempo, tal assertiva abre duas possibilidades de tratamento: uma científica e a outra,
intercultural. A primeira forma de tratamento diz respeito às ciências e seus compromissos
epistemológicos e históricos que ajudam a pensar de forma ampla e contextualizada a produção desse
saber que recebeu a alcunha de biogeografia. Num segundo tratamento e complementar ao primeiro, a
dimensão intercultural sugere abordagens que apontam a diversidade de saberes e, portanto, a
multiplicidade de relações com o saber biogeográfico, que extrapolam as fronteiras da ciência e que
convivem, sobretudo, no espaço da Universidade. Contudo, tal espaço, ao legitimar a ciência como
leitura única do mundo, não cumpre sua condição intrínseca de espaço intercultural, que congrega uma
comunidade diversa de professores, estudantes, gestores e técnicos, que partilham diferentes relações
com o saber e distintos repertórios de significação. A despeito dos avanços nos debates e nos estudos
que buscam uma aproximação com a perspectiva da interculturalidade, pouco tem sido feito na
construção de abordagens e metodologias que assegurem propostas curriculares de biogeografia que
atendam o estatuto do pluralismo cultural. Embora alguns projetos político-pedagógicos de cursos
explicitem formalmente seu compromisso com uma formação histórico-crítica e plural, os ementários,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

os programas, bem como a docência cotidiana validam outras formas de relação com o saber,
referendadas no cientificismo.
Na geografia física, especialmente na proposta curricular de biogeografia, essa ausência de
abordagens interculturais é amplamente percebida, ainda que se admitam algumas iniciativas e
potencialidades de tratamento nessa seara intercultural. No campo da biogeografia cultural é possível
descortinar outra formulação teórico-metodológica que problematiza a biogeografia no campo cultural,
especialmente sob a inspiração no conceito de Epistemologias do Sul, formulado e amplamente
divulgado por Boaventura de Sousa Santos. Tal conceito assinala o debate sobre o processo de
invisibilização do contexto cultural e político da produção e reprodução do conhecimento,
implementado pela epistemologia dominante, ao passo que apresenta as reverberações desse processo
na produção do conhecimento, lançando as bases que tornam visíveis outras formas de saber
historicamente subalternizadas (SANTOS; MENESES, 2010).
A incorporação das contextualidades, das intencionalidades, dos valores e das visões de mundo
subjacentes à ciência e demais formas de saber instaura-se, nesse sentido, em uma compreensão
epistemológica ampliada de um processo de humanização da biogeografia, na medida em que enaltece
seu estatuto de saber eminentemente sociocultural e historicamente comprometido com os interesses de
quem o produz. Tal empreendimento sugere a inclusão, na agenda da docência em biogeografia, dos
aportes epistemológicos e históricos que ajudam a refletir a produção do saber biogeográfico, como
projeto curricular que versa, por sua vez, sobre formas diversas de projeto de sujeito, de sociedade e,
portanto, de mundo.

BIOGEOGRAFIA E BIOGEOGRAFIA CULTURAL SOB O OLHAR DA CIÊNCIA

Assumir uma proposta curricular no ensino de biogeografia claramente alicerçada em


epistemologias para além do domínio científico, não remete à superação deste domínio e de suas
formulações teóricas e metodológicas, mas sublinha a condição de um currículo que deve ser plural, de
modo que não enalteça qualquer que seja a forma de saber, mas convoque as diferentes formas de
conhecimento em suas mais diversas bases explicativas. As abordagens dessa natureza, que ressaltam a
retomada da biogeografia cultural no ensino superior, partindo da compreensão da biogeografia sob
olhares das culturas que a produzem, sugere a ampliação do escopo de abordagem nessa seara de
trabalho que qualifica a interculturalidade como condição sine qua non de projetos curriculares em
biogeografia que instaurem um processo permanente de decolonização do saber (SANTOS, 2010) e de
suas colonialidades (QUIJANO, 2010) ainda presentes na didática do ensino superior. Nessa
perspectiva enaltecedora da dialogicidade, a superação da ciência não se sustentaria, dada a
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

compreensão que não deve haver supressão de saberes, sob pena de obliterar narrativas fundantes que
ajudam a pensar a história da produção dos saberes, que se dá, por sua vez, de forma multifacetada e
complexa. Desse modo, diferente da proposta de supressão, o que se reivindica é a inviabilização da
superioridade epistemológica da ciência que se autoproclamou como detentora de verdade. Desse
modo, o presente texto pretende realizar uma reflexão que aponta para a interculturalidade e, portanto,
para o diálogo de diversas epistemologias, ao passo que faz uma incursão na biogeografia como saber
sociocultural, trazendo os desafios de implementação dessa compreensão e das interseções subjacentes
à abordagem da interculturalidade no ensino superior de geografia.
A literatura científica, especialmente no ramo ambiental e socioambiental, vem a um bom
tempo examinando os efeitos da ação humana sobre a natureza e, por extensão, à biodiversidade,
anunciando um conceito e uma linha de investigação que coloca os seres humanos como fator
biogeográfico capaz tanto de ampliar quanto de reduzir as fronteiras da natureza (FIGUEIRÓ, 2015).
Essa linha de investigação, que recebeu a alcunha de biogeografia cultural, foi proposta por Simmons e
Meaza. Na obra ―Biogeography natural and cultural‖, Simmons traz considerações teóricas e de
práticas de pesquisa que ele identificou até o final da década de 1970 e que se traduziam tanto sob um
viés natural quanto cultural, sendo que esta última não poderia prescindir da primeira, uma vez que, em
um exame que busca, na análise da paisagem, reconhecer, descrever e explicar os componentes
antropogênicos e seus efeitos sobre a biogeografia, o conhecimento do funcionamento da rede de
interações bióticas e abióticas se faziam indispensáveis. O ineditismo da abordagem cultural na
biogeografia está no esforço de delimitação de um ramo de estudo que possa dar conta do
protagonismo humano como fator biogeográfico como qualquer outro, embora sua ação assuma escalas
nunca vistas na história da Terra, a ponto dos cientistas, especialmente das ciências da Terra,
anunciarem a inclusão de uma nova era geológica, comumente conhecida por Antropoceno.
A biogeografia cultural, inspirada pelos estudos que assinalam hoje o Antropoceno como mais
uma era geológica, tem sido requisitada a responder e a propor alternativas que venham atenuar as
reverberações adversas sobre os sistemas vivos. O estudo dessas condições adversas sobre a
biodiversidade encontra na biogeografia, especialmente em sua vertente cultural, a possibilidade de
pesquisas nesse sentido, por vezes, desconhecida pelos profissionais das ciências ambientais. Talvez o
fato dos estudos ambientais se constituírem num imenso guarda-chuva capaz de abrigar diferentes
ramos das ciências, não apenas aqueles que recebem ou reivindicam a alcunha de ambiental, esteja por
traz da invisibilização de um conhecimento que frequentemente abriga conceitos e técnicas de outras
áreas (ROCHA, 2011), encontrando-se, por sua vez, pulverizado nas demais ciências afins. As
inúmeras indagações que buscam delimitar sobre o que se entende por biogeografia e a que se propõe

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

seu estudo esbarram no esforço epistemológico de filiá-la à geografia ou biologia, a ponto de assinalar
a possibilidade de delimitação epistêmica que pudesse aferir uma biogeografia para biólogos e uma
biogeografia para geógrafos (SIQUEIRA, 2012).
Desse modo, a comunidade científica em Biogeografia tem incorporado e compartilhado formas
específicas de interpretar o fenômeno da espacialidade da vida animal e vegetal, tendo como foco os
fatores físicos nos processos biogeográficos e como as diversas formas de vida respondem a essa
dinâmica físico-natural, em diferentes escalas espaço-temporais. Além dessa abordagem físico-natural,
tem-se resgatado, desde as últimas décadas do século XX, uma linha de estudo científico, que não é
nova, mas, dada à instauração de um novo período geológico, o Antropoceno, emerge com a
necessidade de se incorporar o ser humano como fator biogeográfico. A esse campo que atribui às
sociedades humanas aspecto fundante no redesenho dos padrões biogeográficos atuais se convencionou
chamar de biogeografia cultural. Tal linha de estudo não abandona a perspectiva físico-natural, mas
incorpora as causas e as consequências das derivações antropogênicas nos padrões distributivos da
biodiversidade (FIGUEIRÓ, 2015). No entanto, reconhece-se que tanto a chamada biogeografia natural
quanto a biogeografia cultural não são problematizadas para além da cultura científica e, portanto, não
faz deslocamentos discursivos de saberes para uma educação intercultural.
Assim, a recuperação do conceito de biogeografia cultural não pretende apenas reforçar a
dualidade entre o que se qualificou como natural e cultural, mas compreender o estado atual dessa
abordagem, sobretudo, enfatizando o ineditismo de sua revisitação numa abordagem intercultural. Na
formulação teórica de Simmons, uma análise em biogeografia cultural só faria sentido ou seria possível
mediante conhecimento da biogeografia natural, uma vez que o desconhecimento dos processos
naturais que operam no mundo vivo em sua interação com o ambiente físico inviabilizariam uma
análise mais adequada de como o ser humano interfere nesses sistemas biogeográficos. Tal pensamento
seria traduzido no seguinte questionamento: como analisar o peso do ser humano nos sistemas
naturais, mediante desconhecimento dos seus elementos e sua dinâmica? Ao desconhecê-los, como
avaliá-los a partir das pressões de uso que o ser humano impõe na geografia da vida? No entanto, é
possível reconhecer outros empreendimentos analíticos que ajudaram a ampliar o conceito de
biogeografia cultural, tanto a partir de uma leitura política da biodiversidade, como foi bem explorado
por Orbange Ormaetxea (1985), quanto por meio de estudos que assinalam relações entre a diversidade
cultural e a biodiversidade, na análise das relações de povos de matriz indígena em espaços florestais,
estudada por Cunha e colaboradores (2000). Inclusive, foi recentemente divulgada uma pesquisa que
assinala o papel de comunidades indígenas pré-colombianas na domesticação e distribuição de espécies
da flora amazônica (LEVIS et al., 2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Essa diversidade de olhares conceituais sobre o que pode ser qualificado como biogeografia
cultural é fruto de formas específicas de relação com o mundo, partindo-se da compreensão de que
―todo conhecimento científico-natural é científico-social‖ (SANTOS, 2010, p. 61) e, sobretudo,
cultural. Sendo, portanto, produto social, tal ciência apoia-se em tipos e formas específicas de relação
com o saber, produzidas por ações intencionais, o que sugere a ideia de que ―toda a experiência social
produz e reproduz conhecimento e, ao fazê-lo, pressupõe uma ou várias epistemologias. Epistemologia
é toda a noção ou ideia, refletida ou não, sobre as condições do que conta como conhecimento válido‖
(SANTOS; MENESES, 2010, p. 15).

A BIOGEOGRAFIA CULTURAL NO CONTEXTO DA ECOLOGIA DE SABERES

O tema da (de)colonização epistêmica remete a determinados aspectos da história que ajudam a


pensar sobre o processo de colonialidade do saber (QUIJANO, 2010), por entender que ele se insere no
processo histórico colonizador, em suas matrizes de engendramento e sustentação que criaram
condições de obliteração de saberes nas terras conquistadas. Essa pretensa universalidade, que já
compunha o processo colonizador, reduzia tudo ao domínio do civilizado e, portanto, daquele que
possui cultura. Desse modo, aos povos conquistados não se vislumbrava outra alternativa que não fosse
pela conversão ou catequização, pensada para garantir o processo de colonização, ao mesmo tempo que
se instituiu, desde cedo, a obliteração de inúmeros povos, tanto pela violência física quanto pela
sujeição epistêmica, negando as culturas locais. Essa sujeição de saberes, também chamada de
epistemicídio (SANTOS, 2010b), constitui como uma das estratégias da colonialidade apostada na
ciência e no seu projeto de redução da diferença ao universal, prescrito pelas nações centrais.
A modernidade como colonialidade epistêmica tem como fundamento a pretensão de uma
racionalidade universal, monocultural e de uma humanidade eurocentrada, que fomentou um processo
histórico de obliteração de outras epistemologias. Esse processo de supressão de saberes ganha corpo
com a ausência de debates na formação inicial e continuada de professores, sendo um dos grandes
desafios não apenas teórico, mas, sobretudo, no campo metodológico. O modelo de universidade que se
tem é historicamente colonial, curricularmente pensado para modelos eurocêntricos, pautados em
ideias, conceitos e categorias do pensamento colonial, que abrigam intencionalidades e projetos de um
mundo universal à moda europeia e norte-americana. A Universidade, ao assumir a ciência como
parâmetro de leitura do mundo, tem contribuído para o processo de invisibilização de inúmeras
experiências, que são reproduzidas, por sua vez, em condições de subalternidade nos espaços
acadêmicos. Tal fato demarca que tais saberes só podem ser estudados fora da universidade,
especialmente nos espaços em que se encontram comunidades que compartilham outras formas de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

habitar a Terra. A proposta da decolonização do saber nas instituições de ensino superior subjaz um
tencionamento no âmbito curricular, uma vez que uma universidade não se constitui como uma
proposta isenta de intencionalidades. O surgimento das universidades se deu a partir de uma lógica
monocultural e de um processo de colonização epistêmica da ciência, que se consolidou não apenas no
seu âmbito, mas também por todo o aparato institucional de outros setores da sociedade.
Do ponto de vista da epistemologia e da história, é possível reconhecer que a compreensão do
que se entende por biogeografia nem sempre foi a mesma, uma vez que, sendo um empreendimento
humano, o conhecimento científico biogeográfico passou for reformulações e refinamentos de ideias
que se sustentaram nos mais diversos aportes teóricos. Ao se admitir a Biogeografia na condição de
conhecimento científico, reconhece-se também que os aportes teórico-conceituais que a definem como
saber científico são tributários dos saberes que foram e são invisibilizados pela história; saberes
tradicionais que a formaram e que, no processo de apropriação, foram qualificados como científicos, a
partir de um tratamento sistemático e racional da ocorrência geográfica dos agrupamentos vivos.
Reconhecendo esse fato histórico de obliteração epistêmica de saberes, os estudos recentes apontam a
problemática da colonialidade enquanto projeto de invisibilização de outras formas de habitar a Terra,
ao mesmo tempo em que aposta na decolonialidade como estratégia de reconhecimento e
empoderamento de outras maneiras de ver, sentir e estar no mundo, numa postura de diálogo de
saberes, em que as diferenças sejam problematizadas horizontalmente, e, portanto, em que não se
instituam gradações hierárquicas que assinalem distinções entre superior e inferior. É a partir da
ecologia de saberes que a colonialidade é revisitada, na medida em que reivindica a superação da
hierarquização, e, portanto, questiona a posição especial do conhecimento científico no pensamento
social.
Assim, as epistemologias do Sul abrigam uma infinidade de experiências que foram e são
invisibilizadas, qualificadas, por sua vez, sob o domínio daquilo que se costuma nomear como
subdesenvolvimento, e, portanto, às características de atrasado e ininteligível. As únicas experiências
levadas em conta nessa ciranda do capital estavam circunscritas ao raio antropocêntrico da lógica do
progresso, apoiada na apropriação privada da natureza de forma unilateral e predatória.
Na ciência moderna, a construção histórica da noção de natureza se deu sob aquilo que se opõe
a ela, ou seja, na noção de cultura. Tal dualidade epistêmica, que encontra na ciência sua expressão
mais fidedigna por aquilo que se convencionou chamar de ciência natural e ciência social, ajuda a
compreender o processo de construção do conhecimento no ensino superior. Inclusive em espaços
qualificados sob os auspícios de superioridade, nada menos trivial que associá-la à ciência sob o prisma
de estatuto de conhecimento válido.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O projeto da decolonização configura-se como algo necessário, como forma de superar


verticalidades epistêmicas impostas aos diversos povos do mundo. A negação da hegemonia científica
configura-se como primeiro passo para a sociologia das emergências, já que historicamente a produção
do saber acadêmico-universitário se deu por matrizes epistemológicas e ontológicas que instituíram
uma sociologia das ausências (SANTOS, 2010b), tornando residuais as inúmeras formas de
experiências de diversos povos do mundo. Esse pensamento intenta estabelecer ações de reparação de
várias ordens, sobretudo para além das matrizes africanas e indígenas.
O termo biogeografias do Sul pode sugerir, numa primeira aproximação, que tal formulação
teórica esteja associada à diversidade da ocorrência da vida animal e vegetal em nosso planeta,
especialmente nas terras emersas (continentes e ilhas) abaixo da linha do Equador. Embora se admita a
diversidade de sua ocorrência no Sul geográfico, expresso altitudinal quanto latitudinalmente, bem
como do ponto de vista da maritimidade e da continentalidade, dentre outros fatores climáticos, a
diversidade aqui assinalada e problematizada apresenta-se em sua vertente epistemológica. Desse
modo, ao explicar a ocorrência da vida tanto ao Norte quanto ao Sul Global, a ciência biogeográfica
precisa apoiar-se em pressupostos epistemológicos que orientem e, portanto, conduzam suas práticas de
pesquisa a determinadas formas de explicação/compreensão do mundo vivo em sua espacialização. A
título de exemplificação, algo frequentemente empregado por seus praticantes é aa adjetivação dos
conceitos de padrão, modelo e sistema ao qualificativo biogeográfico. O emprego desses conceitos
sinaliza um modus operandi da ciência biogeográfica em interpretar, conceber e analisar o mundo vivo
em sua organização espacial. De forma sumarizada, os conceitos de padrão, modelo e sistema, numa
análise biogeográfica, compartilham do entendimento de uma natureza que é externa, sendo possível
alcançá-la, quantificá-la e conduzi-la a uma modelagem que expressa regularidade, um funcionamento
captado, inclusive, em sua variabilidade.
Além disso, a diversidade de biogeografias no âmbito da ciência é amplamente conhecida e
reconhecida por seus praticantes, expressa por uma infinidade de conceituações e aportes teórico-
metodológicos de vários ramos científicos. A despeito do reconhecimento de sua diversidade na
ciência, amplamente conhecida por seus praticantes, a formulação teórica que rotulamos aqui como
biogeografias do Sul, corresponde a uma linha de investigação que se preocupa em problematizar as
inúmeras formas de compreensão da espacialidade animal e vegetal, advindas de povos originários ou
tradicionais, bem como a tradução intercultural (SANTOS, 2010a) entre estes saberes e os
conhecimentos científicos, numa perspectiva da ecologia de saberes.
Como é usual o emprego de terminologias científicas no tratamento das análises biogeográficas,
a possibilidade de pensar em outras formas de explicar o mundo vivo em sua espacialidade para além

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

da ciência pode gerar incompreensões e dúvidas, uma vez que, inevitavelmente, existirá um esforço de
tentar compreender tais formas de compreensão do mundo vivo em sua espacialidade pelo exercício da
comparação. Nesse exercício de comparação, o foco será, inevitavelmente, identificar características,
em suas formas de compreensão, que se assemelham com os praticados pela ciência, captando do outro
saber aquilo que se enquadra na prática científica, desperdiçando qualquer forma ou experiência que
não se enquadre nesse domínio. Embora se admita a necessidade do esforço teórico em identificar no
outro aspectos que se aproximam do que se institui na ciência, é esperado que não se invisibilize
experiências que ajudam a compor o repertório cultural de comunidades tradicionais, uma vez que é
possível identificar, na literatura antropológica, estudos em que a distinção natureza/cultura não faz o
menor sentido (DESCOLA, 2016), o que exigiria, portanto, o esforço de captar outras formas de
explicação do mundo vivo que não se enquadram, portanto, numa concepção de natureza como recurso
ou externalidade.
Na biogeografia em especial, campo multidisciplinar que estuda a geografia animal e vegetal,
esse panorama abissal da produção do conhecimento apresenta-se em versão agudizada. Desse modo, a
proposta das biogeografias do Sul, inspirada nas epistemologias do Sul (SANTOS, 2010) intenta
visibilizar experiências que foram subalternizadas e produzidas como inexistentes na retórica das
práticas de ensino e pesquisa em biogeografia. Desse modo, embora as biogeografias do Sul filiem-se,
explicitamente, aos estudos e pesquisas no campo do interculturalismo crítico, abrigam outras
experiências que assinalam outras formas de habitar o mundo para além das distinções entre natureza e
cultura. Ao examinar a biogeografia e sua produção nos domínios do ensino superior, frequentemente
ofertada por cursos de geografia e biologia do país, a dualidade natureza e cultura assume sua versão
mais emblemática, expressa por epistemologia de cariz cientificista. Não poderia ser diferente, uma vez
que o ensino de biogeografia esteve epistemologicamente comprometido pelos regimes abissais de
produção do conhecimento (SANTOS, 2010a). Um regime abissal de produção de conhecimento em
biogeografia, que se atesta nos espaços acadêmico-científicos, é aquele que comunga da ideia de
natureza como externalidade, dotada de processos que podem ser expressos de forma estatística e
modelarmente em infográficos e recursos geotecnológicos. Desse modo, não seria apressado afirmar e
até mesmo acusar a biogeografia como um tipo de conhecimento que reproduz o modo de pensar que
aufere a ciência como única forma de interpretar o mundo, numa condição em que, ao assumir uma
postura que reforça as diferenças verticais, nega-se as diferenças horizontais; o que confirma a filiação
da biogeografia ao pensamento abissal, uma vez que, oblitera qualquer experiência para além do
território da ciência, reforçando assim um processo de invisibilizações e de hierarquização entre
saberes. Portanto, discorrer a biogeografia nessa perspectiva abissal é descortinar a epistemologia e as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

inúmeras teorias e conceitos que ajudaram a assentar aquilo que é biogeográfico do que não é. Como
forma de superar essas diferenças verticais por um processo de horizontalização das diferenças, uma
biogeografia pós-abissal sugere a condução de estudos e pesquisas que instituem a diversidade
epistemológica do mundo, como condição de retratação e empoderamento de saberes que foram e são
subalternizados na história da produção do conhecimento, o que sugere a visibilização de biogeografias
indígenas, quilombolas, dentre outras.
Propor ou construir, de forma colaborativa, um projeto de uma biogeografia informada pela
decolonialidade epistêmica demanda, a priori, um exercício individual de abertura à diversidade, não
apenas reconhecendo-a, mas tornando-a como um hábito cotidiano na prática do ensino e da pesquisa.
Não se trata de um exercício que venha obliterar o que se sabe ou pratica na ciência biogeográfica, mas
pondo-a em causa e em diálogo com outras formas de saber e saber fazer. Uma construção coletiva de
currículos decoloniais em biogeografia não se faz em curto prazo, uma vez que as raízes do
pensamento abissal têm historicidade e se fazem presentes ainda hoje. O diálogo de saberes que busca
transformar as diferenças verticais em diferenças horizontais põe em causa a legitimação de qualquer
forma de conhecimento que se autorize como universal e mais completo. É na perspectiva dessa
construção no plano das horizontalidades que a ecologia de saberes se institui como instrumento
epistemológico de superação das verticalidades traduzidas nos currículos atualmente implementados no
quadro da educação universitária. Reforçando esse enaltecimento ao diálogo de saberes na biogeografia
e, portanto, uma agenda de pesquisa em biogeografias do Sul, Gomes adverte que,

A Biogeografia Cultural deve ir além do caminho traçado pela Biogeografia tradicional, por sua
vez, caracterizada pela descrição e distribuição de seres vivos na superfície da Terra como se os
mesmos estivessem nos interiores da redoma da Biosfera. Nesse sentido, a Biogeografia
Cultural, mais do que uma ciência ou disciplina, deve se constituir em um espaço para a
convergência de olhares complexos, de olhares biogeográficos. Uma vez que o olhar é feito de
cultura, a Biosfera é, assim, uma representação dada por uma cultura humana. Olhares que vão
além das fronteiras da Geografia. Nesse olhar cabem os saberes dos raizeiros, agrônomos,
agricultores familiares, economistas, poetas, benzedeiras, geógrafos, pedagogos, indígenas e
tantos outros. Campos amplos, porque os saberes sobre a vida são diversos e biodiversos e sua
distribuição não se explica somente com os limitados instrumentos da ciência moderna. É
preciso caminhar rumo a uma ecologia de saberes. Promover um encontro de ciências, um
diálogo de saberes biogeográficos ganha um potencial transformador, emancipatório, a caminho
da libertação dos saberes e dos sujeitos do conhecimento – sujeitos do mundo (GOMES, 2008,
p. 220-221).

Numa ecologia de saberes, as metodologias são construídas de forma coletiva e não se


configura ou pelo menos não se espera que sejam qualificadas como metodologias de intervenção, pois
pode sugerir uma imposição. Desse modo, não se trata de uma investigação que se pretende ser
universal, na medida em que se faz com e não sobre uma determinada realidade. Nessa tarefa, a
tradução intercultural configura-se como instrumento que fomenta inteligibilidade entre as diferentes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

formas de conhecimento, promovendo a justiça cognitiva global. Propostas de construção coletiva


dessa forma visam superar hermenêuticas sob a lógica do que seria conhecimento superior e seu
oposto. Dado o estatuto da diversidade como condição sine qua non para a interculturalidade
(CANDAU, 2009; SANTIAGO et al., 2013), uma questão merece um esclarecimento: por que o
ambiente acadêmico incorporou a Biogeografia sob o prisma da diversidade de concepções da ciência e
não enalteceu a visibilidade à diversidade de olhares de outros agrupamentos humanos, sobretudo
tradicionais? Tal questão não pode ser respondida sob a égide de uma ciência como detentora da
verdade, como conhecimento qualificado digno de confiabilidade. A resposta está circunscrita nas
relações de poder que ostentaram o prisma cientificista como condição de superiorioridade
epistemológica na produção do conhecimento sobre o mundo, o que sugere a necessidade de novas
abordagens em Biogeografia que apontem para o pluralismo epistemológico enquanto pluralismo
cultural e, portanto, considerem a diversidade de concepções e formas de conceber a espacialidade da
biodiversidade. Ao mesmo tempo, sugere-se, no âmbito de uma educação intercultural, a retomada das
―reflexões sobre a concepção de cultura, de alteridade, de identidade, de articulação com as relações de
poder, de articulação contraditória com a igualdade social, entre outros aspectos‖ ( CAVALCANTI,
2012, p. 70) e argumenta-se sobre a necessidade de explorar o conceito de cultura, como ―conjunto de
práticas, de instituições, de características, de hábitos, de comportamentos que compõe um processo de
construção e reconstrução de sentidos por diferentes grupos e pessoas‖ (CAVALCANTI, 2012, p. 70).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esforço epistemológico que alinha as relações entre biogeografia, ciência e interculturalidade


faz-se necessário no atual contexto em que surgem inúmeros debates e produções acadêmicas na
perspectiva intercultural, embora tal perspectiva da diversidade apenas encontre lugar na biogeografia
tão somente na diferenciação de linhas e abordagens de estudo na ciência. Desse modo, situar a
produção do saber biogeográfico como construção humana, intercultural, histórica e
epistemologicamente comprometida com projetos de mundo, ajuda a compreender a possibilidade de
ocorrências de biogeografias para além da ciência. Assim, a proposta de diálogo de saberes pode
auxiliar na revisão das atuais metodologias de ensino em Biogeografia, assumindo, sobretudo, a
condição da convivência com epistemologias e saberes práticos que constituíram originalmente os
fundamentos do pensamento biogeográfico. Isso sugere o fomento de uma agenda de pesquisa que
incorpore a dimensão epistemológica nas aulas de biogeografia, ao mesmo tempo que sublinhe
abordagens que visibilizem outras formas de saberes, sobretudo os saberes tradicionais, sob uma
abordagem intercultural.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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FIGUEIRÓ, A S. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo: Oficina de Textos,


2015.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CARACTERIZAÇÃO FISIONÔMICA DAS FORMAÇÕES E SUBFORMAÇÕES


VEGETAIS DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS – SC.

Yasmim Rizzolli Fontana dos SANTOS


Graduanda do Curso de Geografia da UDESC
yasmimfontana.geo@gmail.com
Jairo VALDATI
Professor do Departamento de Geografia da UDESC
javaldati@hotmail.com
Maria Carolina Villaça GOMES
Professora do Departamento de Geografia da UDESC
mcarolvg@hotmail.com
Felipe Guntin RODRIGUEZ
Graduado em Geografia na UDESC
fguntin@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho é caracterizar as fitofisionomias das formações e subformações vegetais
encontradas na Lagoinha do Leste. A área de estudo está inserida numa Unidade de Conservação
Municipal, em de Florianópolis – SC. Por meio de referências bibliográficas, com destaque ao Manual
Técnico da Vegetação Brasileira do IBGE, e apoiado no mapa hipsométrico e no perfil topográfico da
área de estudo, realizou-se a descrição da vegetação do local. Constatou-se a existência das Formações
Pioneiras, representadas pelas Comunidades Aluvias e a Restinga, além da Floresta Ombrófila Densa,
com as subformações de Terras Baixas e Submontana. Este estudo evidencia a importância da
Lagoinha do Leste como Unidade de Conservação não somente pela sua beleza cênica, mas sim pela
diversidades de ambientes geomórficos ocupados por distintas formações vegetais.
Palavras-chave: Formações Vegetais. Fitofisionomias. Mata Atlântica. Lagoinha do Leste.
Florianópolis
ABSTRACT
The aim of this paper is characterize the phytophysiognomy of the vegetal formations and sub-
formations found in the Lagoinha do Leste. The study area is inside of a Municipal Conservation Unit,
in Florianópolis – SC. Through bibliographic references, highlighting the Technical Manual of
Brazilian Vegetation of IBGE, and based in the hypsometric map and topographic profile of the study
area, the local vegetation was described. It was verified the existence of Pioneer Formations,
represented by Alluvial Communities and Sand Dune Vegetation, in addition of Dense Ombrophilous
Forest, with the Low Lands and Sub-mountain sub-formations. This research shows the importance of
the Lagoinha do Leste as Conservation Unit, not only by it scenic beauty of the landscape, but for the
diversity of geomorphic environments inhabited by distinct vegetal formations.
Keywords: Vegetal formation. Phytophysiognomy. Atlantic Florest. Lagoinha do Leste. Florianópolis.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A cobertura vegetal é um importante elemento na análise sistêmica da paisagem. Neste sentido,


Bertand (1971) considera a vegetação como síntese do meio físico ao abordar o conceito de paisagem
enquanto categoria de análise. No entanto, para que a vegetação cumpra este papel, é preciso que esta
seja minimamente representativa das condições naturais do ambiente. Nesse sentido, Unidades de
Conservação representam uma unidade de análise adequada para estudos com esta finalidade.
O recorte espacial da pesquisa pertence ao Parque Municipal da Lagoinha do Leste, localizado
no sudeste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, distrito do Pântano do Sul. O parque
é uma Unidade de Conservação (UC) Municipal, possui 789,6 hectares de extensão, no entanto, a área
de estudo, doravante chamada de Lagoinha do Leste, abrange a praia de mesmo nome e o seu sistema
de drenagem, que engloba os morros que circundam a laguna e formam a enseada, como se observa na
Figura 1.
O presente trabalho tem como objetivo caracterizar as formações e subformações vegetais do
Parque Municipal da Lagoinha do Leste, Florianópolis – SC. Este trabalho é um dos resultados do
projeto de pesquisa ―Aplicação da Cartografia Geomorfológica à valorização de recursos
geomorfológicos em Unidades de Conservação‖.
A vegetação da área de estudo, bem como de todo o Estado de Santa Catarina, pertence ao
bioma Mata Atlântica, sendo identificadas localmente, as Formações Pioneiras, de ambientes lagunares
e as de ambientes praiais, bem como a Floresta Ombrófila Densa, com suas subformações ao longo das
encostas.

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Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo


Fonte: elaborado por Felipe G. Rodriguez e Yasmim R. F. dos Santos, 2016.

O Parque da Lagoinha do Leste foi criado com o intuito de preservar a fauna, flora e o
manancial hídrico do local, além da sua paisagem natural. Desde 2015 pesquisadores da UDESC vem
aprofundando os estudos sobre a Lagoinha do Leste, visando valorizar seu potencial como patrimônio
natural, por meio da sua diversidade abiótica e biótica. Este trabalho, além de apresentar a vegetação do
local, pretende acentuar o valor educacional e geoturístico da área por meio deste aspecto.

A CARACTERIZAÇÃO FITOFISIONÔMICA

As características fisionômico-ecológicas compreendem o principal critério utilizado para


caracterizar as formações vegetais da Lagoinha do Leste.
Esta pesquisa se desenvolveu a partir de referências bibliográficas, em especial o Manual
Técnico da Vegetação Brasileira do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012). Tal
fonte bibliográfica caracteriza a vegetação do bioma Mata Atlântica de acordo com suas características

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fisionômico-ecológicas. Ressalta-se também o trabalho de Bresolin (1979), que, apoiando-se em


exemplos da Lagoinha do Leste, descreve minuciosamente a Restinga da Ilha de Santa Catarina.
Além disso, foi elaborado mapa hipsométrico, os perfis topográficos e trabalhos de campo para
observação dos aspectos fisionômicos e registros fotográficos. Apoiado nestes materiais e na
bibliografia mencionada, caracterizou-se a vegetação da Lagoinha do Leste, distinguindo as formações
e subformações vegetais.
O mapa de localização foi gerado a partir da ortofoto digital georreferenciada da Ilha de Santa
Catarina, com resolução espacial de 0,39m, base para o delineamento da área de estudo. Já para a
elaboração do mapa hipsométrico foi utilizado o Modelo Digital de Terreno (MDT) com precisão
altimétrica de 1m. O conjunto de classes altimétricas se diferencia por cores. Adotaram-se os
intervalos de classes de 1 metro para as áreas da planície e de 50 a 100 metros para as áreas de encosta.
Este procedimento evidencia as áreas de planície em detrimento das áreas de encostas.
Tendo como base o mapa hipsométrico, foram traçados os segmentos A‘ – A‘‘ e B‘ – B‘', sendo
que o primeiro parte do início do compartimento praial até o topo do morro mais alto da Lagoinha do
Leste, e, o segundo, do compartimento praial até o sopé da encosta. As distâncias das respectivas linhas
foram utilizadas para gerar o perfil topográfico da Figura 6.

LAGOINHA DO LESTE: FORMAÇÕES E SUBFORMAÇÕES VEGETAIS

No Parque Municipal da Lagoinha do Leste são encontradas duas formações vegetais: as


Formações Pioneiras (Formações Edáficas de Primeira Ocupação) e a Floresta Ombrófila Densa,
ambas pertencentes ao bioma Mata Atlântica. Há dois grandes grupos de vegetação deste bioma - a
Primária e a Secundária.
No que se refere à Primária, esta consiste em uma cobertura vegetal intocada desde sua
existência, ou seja, desde sua primeira colonização no solo. A Secundária corresponde à vegetação
regenerada, ocorrendo em áreas onde a vegetação primária é retirada por ações antrópicas10, e que suas
características fisionômico-ecológicas nunca serão iguais às Primárias (IBGE, 2012). Para atingir o
estágio nomeado secundário, ocorre a sucessão vegetal, em um processo sequencial de espécies,
indicadoras do grau de desenvolvimento daquela comunidade vegetal. De acordo com o IBGE (2012),
a sucessão ocorre nas seguintes etapas:
1) Pioneira: fase inicial sugere uma ―regressão ecológica‖, em face de ser colonizada por

10
A vegetação primária pode ser retirada por processos naturais, no entanto, o termo vegetação secundária é reservado para
a vegetação após a interferência de ações antrópicas (IBGE, 2012).

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hemicriptófitos11 pioneiros de famílias bastante primitivas;


2) Capoeirinha: este estágio já apresenta hemicriptófitos graminóides, caméfitos12 rosulados e
nanofanerófitos13 de baixo porte;
3) Capoeira rala: vegetação mais desenvolvida, também apresenta poucas caméfitas herbáceas
e muitas plantas lenhosas de baixo porte;
4) Capoeira propriamente dita: vegetação complexa, dominada por microfanerófitos com até 5
m;
5) Capoeirão: esta fase, dominada por mesofanerófitos que ultrapassam 15 m de altura, é um
estágio eminentemente lenhoso, sem plantas emergentes, mas bastante uniforme quanto à
altura de seus elementos dominantes.
As Formações Pioneiras14, no caso da Lagoinha do Leste, são representadas pela Restinga e
Comunidades Aluviais. A cobertura vegetal das planícies aluviais é adaptada ao solo pantanoso, que se
estabelece durante e após o período de cheias dos rios, lagos ou lagunas, sendo três os gêneros
específicos deste ambiente: Typha e Cyperus e Juncus (IBGE, 2012). Na Lagoinha do Leste, este tipo
de vegetação é adjacente à laguna, correspondendo aos depósitos aluvias (Figura 2).

Figura 2 – Comunidades Aluviais


Fonte: Yasmim R. F. dos Santos, 2016.

A Restinga é um tipo de vegetação pioneira de ambiente praial, ou seja, áreas de influência


marinha. As espécies que a compõe são adaptadas à escassez de nutrientes do solo arenoso e à baixa
coesão do mesmo. Tem como principal característica a presença de espécies com raízes numerosas e
profundas, determinantes para a sua fixação nas camadas mais estabilizadas das dunas (BRESOLIN,

11
De acordo com a classificação de Raunkiaer, são espécies que se encontram no nível do solo.
12
Na classificação de Raunkiaer, caméfitas são plantas que ficam entre na superfície e até 25cm acima do solo.
13
Na classificação de Raunkiaer, os Fanerófitos são plantas lenhosas de altura mínima de 0,25m. Estas se apresentam de
dois tipos de aspectos ecoedáficos, o normal climático e raquítico oligotróficos, subdivididos conforme a altura média:
Macrofanerófitos, espécies de alto porte, 30m a 50m de altura; Mesofanerófitos, espécies de médio porte, 20m a 30m;
Microfanerófitos, de pequeno porte, entre 5m a 20m; Nanofanerófitos, plantas ―anãs‖, 0,25m a 5m.
14
São estas o Manguezal, a Restinga e as Comunidades Aluviais, de acordo com o IBGE (2012).

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1979). Ademais, são resistentes à alta exposição à luz e ventos, e evidentemente, à quantidade de sal
(BRESOLIN, 1979).
Em pesquisa realizada na restinga da Ilha de Santa Catarina, Bresolin (1979) pôde constatar que
a mesma é dividida em três faixas: (i) Dunas (zona praial, entra contato direto com a água do mar); (ii)
Dunas móveis e semi-fixas; e (iii) Dunas fixas. O referido autor ainda observou que, na Ante-duna,
foram identificadas as espécies Paspalum vaginatum (grama-de-praia), Ipomea pes-caprae (batateira-
da-praia) e Hydrocotyle bonariensis (acariçoba) (BRESOLIN, 1979). Nas Dunas móveis ou semi-fixas,
por sua vez, ocorrem a Remirea marítima (pinheirinho-de-praia), sendo esta uma espécie de grande
importância para Lagoinha do Leste do ponto de vista fitofisionômico. Ocorrem, secundariamente, as
espécies Spartina ciliata e Scaevola plumeri.
Por fim, nas Dunas fixas (Figura 3), o material já apresenta um acúmulo de matéria orgânica, no
entanto, não em quantidade suficiente para suprir uma cobertura de maior porte, predominando
espécies de porte arbustivo, como Erythroxylum cuspidifolium (cocon), Aeschrion crenata (pau-
amargo) e Maba inconstans (caqui-da-praia) (BRESOLIN, 1979).

Figura 3 – Vegetação de dunas fixas


Fonte: Yasmim R. F. dos Santos, 2016.

A Floresta Ombrófila Densa é subdividida conforme a faixa latitudinal e hipsometria. Foram


divididas em 3 faixas latitudinais: de 4º Norte a 16º Sul, de 16º a 24 º Sul e de 24 º a 32 º Sul. Há cinco
subformações pela altitude, são elas: Aluvial, estão próximas a corpos d‘águas e em terraços aluviais;
Terras Baixas, entre 5m e 30m; Submontana, 30m a 400m; Montana, 400m a 1000m; e Altomontana,
acima de 1000m (IBGE, 2012).
A Lagoinha do Leste está na faixa ―24º e 32º Sul‖, a altitude do relevo está representada na
Figura 4. De acordo com IBGE (2012), a hipsometria indicaria a extensão de determinadas
subformações da Floresta Ombrófila Densa, tais como a de Terras Baixas (5m a 30m) e a Submontana
(30 a 400m).

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Figura 4 – Mapa Hipsométrico da Lagoinha do Leste


Fonte: elaborado por Felipe Guntin Rodriguez, 2015.

A subformação Terras Baixas ocorre da Amazônia até o Rio Grande do Sul, sendo que, a partir
do Rio de Janeiro até o Sul, é encontrada em terrenos quaternários, nas planícies formadas pela erosão
das serras costeiras ou enseadas marítimas, predominando as espécies Calophyllum brasiliense
(guanandi) e Ficus organensis (IBGE, 2012). A subformação Submontana consiste na vegetação de
encostas (Figura 5) e na área estudada encontra-se no estágio capoeirão, sendo observada as espécies:
Clusia criuva (mangue-de-formiga), Coussapoa schottii (figueira-do-brejo) e Guapira opposita (maria-
mole) (COURA NETO; KLEIN, 1991).
No compartimento praial, verifica-se a restinga Ante-dunas, seguida pela restinga de Dunas
móveis ou semi-fixas. A primeira é de porte baixo e de baixa densidade, notando-se faixas de areia
entre ela. Já nas encostas, destaca-se o predomínio da formação Submontana da Floresta Ombrófila
Densa, com porte arbóreo e alta densidade.

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Figura 5 – Observa-se, no primeiro plano, a Restinga Ante-dunas, e, em segundo, a restinga de dunas móveis ou
semi-fixas em dunas fixas. e formação Submontana nas cotas altimétricas mais elevadas.
Fonte: Yasmim R. F. dos Santos, 2016.

Ressalta-se que a vegetação encontra-se predominantemente no estágio de sucessão arbóreo-


florestal ou capoeirão, não se constatando remanescentes da primária, embora Coura Neto e Klein
(1991) mencionem a existência de pequenos núcleos de vegetação primária nas encostas próximas à
Lagoinha do Leste. No entanto, não se pode afirmar sua ocorrência na área de estudo em função da
escala por eles utilizadas no mapeamento da vegetação (1:50.000). Além disso, vale destacar a
presença de espécies exóticas, como o Pinus elliottii, que são remanescentes de antiga ocupação
antrópica da área.
Quando analisada a distribuição ao longo do perfil topográfico (Figura 6), pôde-se observar que
diferentes subformações ocorrem na mesma faixa altimétrica, como a Floresta Ombrófila Densa, a
Restinga arbórea e a Restinga. Portanto, acredita-se que esta distribuição esteja ligada tanto às
condições morfodinâmicas como edáficas destes ambientes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 6 – Perfil topográfico da Lagoinha do Leste


Fonte: elaborado por Felipe Guntin Rodriguez, 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi caracterizar as formações e subformações vegetais do Parque


Municipal da Lagoinha do Leste, Florianópolis – SC. Acredita-se que a fisionomia da vegetação
representa um importante indicador biótico da dinâmica do meio físico, respondendo à atuação dos
processos morfodinâmicos e das condições edáficas.
A Lagoinha do Leste foi designada como Unidade de Conservação em virtude da sua beleza
cênica, a qual tem a vegetação uma de suas principais componentes. No entanto, a ampla visitação
turística se justifica pela componente cênica relacionada ao meio físico, tal como a praia, os depósitos
marinhos, as dunas e pelos paredões e encostas íngremes.
A utilização de perfis topográficos para representação da distribuição das subformações é uma
etapa preliminar para identificação dos ambientes geomorfológicos existentes nesta Unidade de
Conservação. Destaca-se que ainda podem ser representados os diferentes estágios da sucessão vegetal,
haja visto o predomínio de cobertura vegetal secundária.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A biodiversidade florística do Parque Municipal da Lagoinha do Leste evidencia sua


geodiversidade, decorrente de processos morfodinâmicos associados a diferentes agentes geológico-
geomorfológicos. Portanto, o reconhecimento destes é determinante, uma vez que é a sua manutenção
que assegura a sucessão vegetal e a existência do patrimônio biológico da Lagoinha do Leste. Além
disso, a identificação e caracterização dos ambientes geomorfológicos a partir da fitofisionomia podem
fornecer as bases para o desenvolvimento de ações de geoconservação, garantindo que os componentes
abióticos da paisagem mantenham seu valor intrínseco, cultural, estético, econômico, funcional e
científico/educacional.
Trabalhos futuros poderão investigar as características dos materiais nos quais estas diferentes
subformações se assentam, buscando compreender as interações entre a cobertura pedológica e as
subformações vegetais, levando-se em conta os diferentes estágios de sucessão vegetal.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTERFERÊNCIA DA CAPRINOCULTURA EXTENSIVA NA FAUNA SILVESTRE EM


UM PARQUE NACIONAL

Jean Carlos Dantas de OLIVEIRA


Pesquisador, Doutorando em Ciência Animal UFERSA
jeancarlosdo@hotmail.com
Louize NASCIMENTO
Pesquisadora, Bacharela em Gestão Ambiental UERN
louizenascimento@live.com
Rogério Taygra de Vasconcelos FERNANDES
Professor Assistente, Doutorando em Ciência Animal UFERSA
rogerio.taygra@ufersa.edu.br
Orientador: Jônnata Fernandes de OLIVEIRA
Pesquisador (PNPD/CAPES) - UERN, Doutor em Ciência Animal UFERSA
jonnata_bio@hotmail.com

RESUMO
No Parque Nacional do Catimbau (Pernambuco), as altas populações de caprinos pastam em conjunto,
utilizando como um dos recursos preferidos os frutos de Syagrus coronata (Arecaceae), que também é
utilizado por insetos coleópteros e punarés (Thrichomys spp.). O objetivo do trabalho foi verificar se os
caprinos, ao se alimentarem desses frutos, interferem na utilização desse recurso pelos coleópteros e
punarés. Foram amostradas sementes sob a copa de S. coronata, distante 10 metros das plantas
parentais e nos chiqueiros de bode. O tipo de predação foi determinado da seguinte forma: pequenas
incisões como predação por insetos, marcas de dentes como predação por punarés e remoção total do
mesocarpo como consumo por caprinos. No total foram coletadas 900 sementes, sendo todas
consumidas pelos caprinos. Pode-se inferir que, conforme a retirada dos frutos e o seu transporte no
trato digestório para os chiqueiros, os caprinos interferem na utilização deste recurso alimentar tanto
pelos punarés quanto pelos coleópteros o que pode afetar a alimentação e o ciclo reprodutivo destas
espécies.
Palavras-chave: Caprinos, Parque Nacional do Catimbau, Predação.
ABSTRACT
In the Catimbau National Park (Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco), high populations of goat
graze together, using as one of the preferred resources the fruits of Syagrus coronata (Arecaceae),
which is also used by Coleoptera insects and punarés (Thrichomys spp.). The objective of this work
was to verify if goats fed on these fruits interfere with the use of this food by Coleoptera and punarés.
Seeds were sampled under the crown of S. coronata, 10 meters away from parental plants and in goat
pens. The type of predation was determined as follows: small incisions such as predation by insects,
tooth marks such as predation by punarés and total removal of the mesocarp as consumption by goats.
In total, 900 seeds were collected, all of which were consumed by goats. It can be inferred that,
according to the removal of the fruits and their transport in the digestive tract for piglets, the goats

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interfere in the use of this food by both the punarés and the Coleoptera which can affect the feeding and
the reproductive cycle of these species.
Keywords: Goats, Parque Nacional do Catimbau, Predation.

INTRODUÇÃO

No reino animal existem os consumidores de vegetais (herbívoros), que se alimentam de


diferentes partes da planta como folhas, frutos, pólen e sementes. Esses animais tendem a especializar-
se em determinado órgão da planta (MORRIS, 2009), sendo que aqueles que consomem principalmente
as sementes são granívoras (HULME e BENKMAN, 2002), e podem exercer um papel ecológico de
predadores e dispersores de sementes. Esses indivíduos são vertebrados ou invertebrados, podendo
consumir a semente antes da dispersão, quando elas ainda se encontram presas à planta mãe (predação
pré-dispersão) ou depois de sua dispersão (predação pós-dispersão). Entre os predadores pré-dispersão
e pós-dispersão observam-se várias ordens de insetos, mamíferos como roedores e veados, aves, entre
outros (JANZEN 1971; HULME e KOLLMANN, 2005).
Nas áreas do Bioma Caatinga um dos principais consumidores de sementes são os caprinos,
animais domésticos introduzidos pelo homem na região desde a época que o Brasil ainda era colônia. O
rebanho desses animais na região semiárida do Nordeste está estimado em 8,3 milhões de cabeças
(ARAÚJO, 2004). A caprinocultura é uma das principais atividades econômicas dessa região,
desempenhando importante função socioeconômica, gerando renda e fonte de proteína animal para as
populações de baixa renda (GIRÃO et al., 2004), sendo a venda de animais vivos ou de sua pele uma
fonte de renda adicional (MEDEIROS et al., 1994).
Nessa região a caprinocultura é desenvolvida em um sistema extensivo, na qual os animais são
soltos, sem divisões de pastos, permitindo que vários rebanhos pastem em conjunto (LEAL et al.,
2003), utilizando como recurso forrageiro a vegetação nativa (ITALIANO e ARAÚJO NETO, 2002).
Durante a estação chuvosa, esses animais se alimentam do estrato herbáceo e, na estação seca, quando
o estrado herbáceo não está mais presente, alimentam-se de folhas, frutos, sementes, casca de árvores e
arbustos, obtidos no chão ou até dois metros de altura na vegetação (MEDEIROS et al., 2000, LEAL et
al., 2003). Devido ao intenso pastejo pelos caprinos, o estrato herbáceo pode ser altamente impactado.
No Parque Nacional do Catimbau, localizado em uma área de Caatinga no estado de
Pernambuco, os caprinos (sem raça definida) utilizam como um dos recursos preferidos os frutos de
Syagrus coronata (Arecaceae), palmeira endêmica do nordeste conhecida como ouricuri ou licuri
(DRUMONT, 2007). Os caprinos ingerem os frutos dessa planta, consomem o mesocarpo e regurgitam

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a semente (RUFINO et al., 2008), principalmente quando estão descansando nos chiqueiros de bode. É
importante salientar que os frutos do licuri também são utilizados por pequenos mamíferos nativos,
como os punarés, Thrichomys spp. (Rodentia), que se alimentam da amêndoa (ANDREAZZI et al.,
2009) e por algumas espécies de coleópteros (Bruchidae e Curculionidae), que utilizam o fruto como
recurso alimentar e parte do seu ciclo de vida (COSTA NETO, 2004).
Dessa forma, considerando a alta população de caprinos no Parque Nacional do Catimbau
(Pernambuco) e o elevado consumo de frutos de Syagrus coronata, este estudo analisou a interferência
da presença dos caprinos no consumo desse recurso pelos coleópteros e punarés. A hipótese é de que os
caprinos, ao consumirem os frutos, interferem na utilização das sementes pelos insetos e punarés, o que
pode afetar a alimentação e o ciclo reprodutivo destas espécies.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi desenvolvido em março de 2012 no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco


(Figura 1). O clima da região é semiárido, com temperatura média de 25 °C e índice pluviométrico
entre 700-1100 mm (ITEP, 2006). A vegetação local é heterogênea, com predominância de vegetação
típica da Caatinga (RODAL et al., 1998). No parque foram selecionadas áreas com presença de licuris
e chiqueiros de bode (instalações rústicas, cercado de varas e de chão batido), ambientes alterados pelo
pastoreio e pisoteio excessivo realizado pelos caprinos, localizadas próximo ao Sítio Serra Branca
(8°54‘23‖S e 37°24‘89‖W), na trilha da igrejinha (8°29‘33‖S e 37°15‘6‖O) e no chapadão (8°35‘49‖S
e 37°14‘88‖ W).

Espécie-alvo

Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Arecaceae) é uma espécie de palmeira com ampla ocorrência
em áreas de Caatinga e que pode atingir 10 m de altura (SIQUEIRA-FILHO, 2009). Essa palmeira
floresce e frutifica o ano todo (CREPALDI et al., 2001), sendo o fruto uma importante fonte alimentar,
utilizado por pequenos mamíferos, como os punarés (Thrichomys spp.), por coleópteros (Bruchidae e
Curculionidae) e por caprinos (sem raça definida) (ROCHA, 2009).

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Figura 1 - Localização do Parque Nacional do Vale do Catimbau (PARNA Catimbau), em Pernambuco


(Adaptado de SOUSA et al., 2013).

Coleta e análise de dados

Para verificar a utilização dos frutos de licuri por caprinos, coleópteros e punarés foram
amostradas sementes em três pontos: (1) sob a copa da palmeira S. coronata, (2) a 10 metros de
distância da planta mãe e (3) em chiqueiros de bodes. Para escolha dos indivíduos de S. coronata,
primeiro foram selecionados 10 chiqueiros de bode e escolhidos 30 indivíduos da espécie, com
localização próxima a estes chiqueiros. Esses 30 indivíduos foram selecionados para o ponto sob a copa
e, a partir deles, foi traçado uma linha de 10 metros para coleta de sementes. Nas três áreas, o solo foi
peneirado e as sementes retiradas ao acaso.
Em cada chiqueiro foram selecionadas três áreas e retiradas, aleatoriamente, em cada área, as 10
primeiras sementes encontradas (n = 300). Sob a copa de cada licuri, foram amostradas 10 sementes
(n= 300). E, retirou-se, 10 sementes em áreas distante 10 m de cada planta (n = 300). Os frutos e as
sementes de licuri foram analisados visualmente para determinar o tipo de predação. O tipo de
consumo foi determinado da seguinte forma: (1) Predação por insetos: pequenas incisões realizadas no
endocarpo (ZIDKO, 2002); (2) Predação por punarés: marcas de dentes no endocarpo; (3) Consumo
por caprinos: remoção total do mesocarpo (LEAL IRS, comunicação pessoal).
Para avaliar se existe diferença na quantidade de sementes predadas, os dados foram
transformados primeiramente em frequência. Para avaliar a quantidade de sementes predadas pelos
coleópteros nos diferentes locais foi utilizada ANOVA de um critério. Para testar se existe diferença na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

quantidade de sementes predadas pelos punarés nos diferentes locais, como ocorreu baixa taxa de
predação, foi utilizado o teste de Qui-Quadrado.
A predação de sementes, por diferentes consumidores em cada local (1 - sob a copa da
palmeira; 2 - a 10 metros de distância da planta mãe; 3 - em chiqueiros de bodes) foram utilizados
separadamente para testar a autocorrelação espacial utilizando uma função de autocorrelação. Uma
autocorrelação predominantemente igual à zero significa dados aleatórios (periodicidades aparecem
como picos). Essa função detecta os intervalos de distância, entre unidades amostrais, que a variável
observada possui autocorrelação espacial. Essa análise foi realizada no programa PAST (versão 3.12).

RESULTADOS

A maior taxa de consumo de frutos, nos três locais amostrados, ocorreu pelos caprinos, onde
todas as unidades coletadas tiveram o mesocarpo consumido por esses indivíduos. Os coleópteros
consumiram principalmente as sementes sob a copa dos licuris (n = 117), com uma predação
intermediária na distância de 10 metros (n = 56) e uma menor predação nos chiqueiros dos caprinos (n
= 9) (GL 2; F= 44,18; p =0.000003). Os punarés consumiram mais sementes distantes da planta (n =
30), sem diferença significativa entre as sementes predadas sob os licuris (n = 6) e nos chiqueiros (n =
1), observa-se uma menor predação nestes dois locais (GL 2; F= 40,64; p = 0.000001; Figura 2).

Figura 2 - Proporção de sementes predadas de Syagrus coronata por coleópteros e punarés. Sob a copa, distante
10 metros da planta e nos chiqueiros de bode, no Parque Nacional do Vale do Catimbau, em Pernambuco. Letras
iguais indicam que não há diferenças estatísticas entre as áreas de predação.

As análises de autocorrelação não evidenciaram dependência na predação entre os locais, pois


para todas as localidades que as sementes foram coletadas, não houve correlações significativas (Figura
3). Naturalmente, os valores de correlação tendem a ser menores nos maiores intervalos devido ao

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pequeno número de pares testados, ou seja, a probabilidade de detecção de autocorrelação espacial


torna-se baixa quando poucas unidades amostrais são consideradas (MUNARI et al., 2005).

a b

c d

e f

Figura 3 - Testes de autocorrelação espacial para a proporção de sementes predadas de indivíduos de Syagrus
coronata por coleópteros: (a) sob a copa de S. coronata, (b) distante 10 metros da planta e (c) nos chiqueiros de
bode; e por punarés: (d) sob a copa de S. coronata, (e) distante 10 metros da planta e (f) nos chiqueiros de bode,

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no Parque Nacional do Vale do Catimbau, em Pernambuco. As linhas tracejadas indicam o intervalo de


confiança (95%).

DISCUSSÃO

A predominância no consumo de frutos de Syagrus coronata pelos caprinos no Parque Nacional


do Catimbau (PE), e a constatação da menor taxa de predação pelos coleópteros e pelos punarés nos
chiqueiros de bodes, indicam que os caprinos podem interferir na alimentação e no ciclo reprodutivo
destes animais silvestres. Essa interferência pode provocar a exclusão de algum desses organismos da
fauna local, uma vez, que a persistência dos animais na comunidade é mantida principalmente pela
oferta desse recurso alimentar.
A maior predação de sementes sob a copa de S. coronata pelos coleópteros pode ser explicada
porque muitos destes insetos são atraídos pelas flores e frutos (ZIDKO, 2002), onde perfuram o
endocarpo e depositam seus ovos, e quando adultos, perfuram a semente e saem, deixando as marcas
das incisões (CARLA, 2009). No entanto, a retirada dos frutos pelos caprinos faz com que os insetos
não sejam mais atraídos, utilizando assim com menor frequência esses recursos, o que pode afetar a sua
alimentação e reprodução. É importante salientar que as larvas nas sementes presentes nos chiqueiros
de bode estavam mortas, possivelmente associadas ao fato das sementes passarem pelo trato digestório
dos caprinos, e o suco gástrico pode ter provocado a morte das larvas dos insetos, interferindo assim no
ciclo reprodutivo destes.
Os punarés utilizaram principalmente as sementes em locais distantes das plantas que, pode se
dar pelo fato de ser uma espécie altamente cinegética, isto é, sofre bastante com a pressão de caça
(CRUZ, 2005). Considerando que os locais das coletas não são ambientes de Caatinga preservada, por
ter perdido parte da cobertura vegetal devido ao pastoreio e pisoteio excessivo realizado pelos caprinos,
os punarés podem coletar as sementes próximas à planta mãe e dispersá-la para áreas distantes da
planta parental, que possuem abrigos que os punarés utilizam como refúgio para forragear e evitar
predadores. Além disso, a presença elevada de caprinos sob a copa dos licurizeiros e a retirada das
sementes e transporte para os chiqueiros, são fatores que podem influenciar negativamente a utilização
dos frutos pelos punarés.
As sementes são estruturas extremamente importantes aos vegetais, pois garantem a
permanência e dispersão das espécies no ambiente, e a predação das mesmas pode afetar diretamente o
número de sementes que serão dispersas no ambiente e a sua viabilidade (germinação) (OROZCO-
ALMANZA et al., 2003; SCHELIN et al., 2004; SZENTESI 2006; KOLB et al., 2007). Neste
contexto, o grande consumo das sementes de S. coronata pelos caprinos pode ser considerado como um

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fator negativo para a palmeira, porque os animais consomem os frutos e regurgitam as sementes nos
chiqueiros. As sementes são retiradas junto com o esterco dos animais, que normalmente é
comercializado para as áreas de agricultura irrigada, e as plântulas que germinarem são eliminadas nas
capinas (CAVALCANTI et al., 2009), influenciando, dessa forma, diretamente na dinâmica de
colonização de S. coronata e, consequentemente, na sua distribuição espacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, a atividade de caprinocultura no sistema extensivo nas regiões semiáridas no
Nordeste brasileiro, pode desencadear impactos sobre a fauna e flora das comunidades locais.
Considerando que estes três grupos de animais (caprinos, coleópteros e punarés) avaliados no Parque
Nacional do Catimbau (PE) podem pastar em conjunto e consumir uma quantidade elevada de frutos e
sementes de S. coronata. Sendo que a retirada dos frutos de licuris da planta, e o transporte das
sementes no trato digestório dos caprinos para os chiqueiros, interferem na utilização deste recurso
alimentar tanto pelos coleópteros quanto pelos punarés, corroborando a nossa hipótese inicial de que os
caprinos interferem na utilização das sementes de S. coronata pelos insetos e punarés.

AGRADECIMENTOS

À UFPE, UNIVASF, CRAD e CEPAN pelo apoio logístico e financeiro. Aos


organizadores/professores (Inara Leal, Felipe Melo e Marcelo Tabarelli) e aos monitores (José
Domingos, Edgard Silva, Fernanda Maria e Danielle Gomes) do V Curso de Ecologia e Conservação
da Caatinga pelas valiosas contribuições durante o curso do orientador do trabalho.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 156


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GRANDES BIOMAS BRASILEIROS: EFEITOS DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS


SOBRE OS ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE DAS PROPRIEDADES RURAIS

João Abílio DINIZ


Professor Doutor do Instituto Federal de Rondônia – IFRO
joao.diniz@ifro.edu.br
Audrey Souza SILVA
Estudante de Agropecuária do Instituto Federal de Rondônia – IFRO
Henrique Gonçalves SILVA
Estudante de Agropecuária do Instituto Federal de Rondônia – IFRO
Guilherme Rodrigues CASTOR
Estudante de Agropecuária do Instituto Federal de Rondônia – IFRO

RESUMO
O presente teve com objetivo realizar uma expedição pelos maiores berços de vida do Brasil para
diagnosticar os efeitos das explorações agrícolas sobre os índices de sustentabilidade das propriedades
rurais tendo como foco avaliar a qualidade ambiental dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata
Atlântica. Foram visitados 13 municípios em dois Estados do Brasil, Paraíba e Rondônia, fazendo-se
observações técnicas, sociais e econômicas de campo e amostragens de solos para análises físicas e
químicas em áreas de matas em regenerações, monocultivos de pastagens e monocultivos de milharais
de 109 propriedades rurais, classificando-as quanto aos índices de sustentabilidade em sustentáveis,
sustentabilidades ameaçadas, sustentabilidades comprometidas, insustentáveis e seriamente
insustentáveis. No geral, os indicadores físicos e químicos, assim como os índices de sustentabilidade
revelaram sinais de preocupações com o uso do solo nos quatro biomas pesquisados, mostrando haver
uma necessidade urgente de serem tomadas providências administrativas no sentido de melhorar as
condições evidenciadas nos ecossistemas. Nem sempre os índices de sustentabilidade das propriedades
rurais estiveram diretamente relacionados aos atributos físicos e químicos do solo verificados nas
explorações agrícolas, mas sim as condições técnicas, econômicas e sociais comprovando a
necessidade de melhorias nestes três aspectos de forma indissociável para obtenção da maior qualidade
ambiental.
Palavras-chave: ecossistema; monocultivo; mata em regeneração.

ABSTRACT
The purpose of the present study was to carry out an expedition through the largest cradles of life in
Brazil to diagnose the effects of farms on the sustainability indexes of rural properties, focusing on the
environmental quality of the Amazon, Savanna, Caatinga and Atlantic Forest biomes. 13 municipalities
were visited in two states of Brazil, Paraíba and Rondônia, making technical, social and economic field
observations and soil sampling for physical and chemical analyzes in forest areas in regeneration,
monoculture of pasture and monoculture of 109 The sustainability indexes on sustainable, threatened
sustainability, sustainable, unsustainable and seriously unsustainable sustainability. Overall, physical
and chemical indicators as well as sustainability indices revealed signs of land use concerns in the four
biomes surveyed, showing that there is an urgent need to take administrative measures to improve the

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evidenced conditions in ecosystems. Not always the sustainability indexes of rural properties were
directly related to the physical and chemical attributes of the soil verified in farms, but the technical,
economic and social conditions proving the need for improvements in these three aspects in an
inseparable way to obtain the highest environmental quality.
Keywords: ecosystem; monoculture; forest regeneration.

INTRODUÇÃO

Dos seis biomas do Brasil quatro se destacam pelas grandezas físicas e biodiversidades,
abrigando diferentes tipos de recursos naturais. Amazonas, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica
representam 96,1% do território nacional, estando presentes nas cinco regiões brasileiras, refletindo por
estas razões, sem desmerecimento aos biomas Pampa (2,1%) e Pantanal (1,8%) muito bem a realidade
dos domínios naturais do país (IBGE/MMA, 2004).
O fato da cultura brasileira não levar em conta as diferenças naturais existentes nos berços de
vida nacionais tem causados alguns transtornos à preservação e conservação dos biomas, percebendo-
se claramente práticas frequentes de violências dos seres humanos nestes ecossistemas, sejam pelas
ações desrespeitosas as suas especificidades e potencialidades ou, até mesmo, as suas fragilidades
(Poletto, 2017).
Desde a época da colonização e das capitanias hereditárias que as terras brasileiras não têm uma
distribuição racional fundamentada na sustentabilidade das povoações e dos seus recursos naturais.
Várias fronteiras agrícolas surgiram sem a menor observância dos critérios técnicos preconizados pelas
pesquisas científicas, prevalecendo em muitos casos vontades políticas inconsistentes e inconsequentes
em detrimento do adequado planejamento e da preservação ambiental.
Neste contexto pode-se destacar a colonização da Amazônia e do Cerrado, fronteiras agrícolas
ocupadas nas últimas décadas por adoções de técnicas bastante questionáveis e mais recentemente a
região conhecida como MATOPIBA, área que envolve os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia que, embora não seja propriamente um bioma, passa por um processo semelhante de ocupação e
exploração dos seus recursos naturais.
A qualidade de vida dos biomas pode ser avaliada por atributos físicos e químicos do solo
(Carneiro et al., 2009; Guariz et al., 2009; Silveira et al., 2010); por índices de sustentabilidade das
propriedades rurais (Melo, 1999; Souza et al., 2001; Lopes et al., 2009) ou pela análise conjunta e
combinada de todos estes fatores (Diniz & Pereira, 2015; Diniz et al., 2015; Diniz et al., 2016).
Apesar das suas diversidades os biomas por suas especificidades, potencialidades e fragilidades
muito se assemelham, sendo possível fazer mensurações dos mesmos em amostragens regionalizadas.

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Assim, por exemplo, situações peculiares a Mata Atlântica e Caatinga na Paraíba, bem como as
evidenciadas na Amazônia e no Cerrado de Rondônia podem perfeitamente serem extrapoladas para
outros Estados do Brasil que tenham também estes domínios naturais.
Nesta linha de raciocínio foi feita uma expedição pelos maiores berços de vida do Brasil,
considerando-se para fins desta pesquisa os efeitos das principais explorações agrícolas praticadas sobre os
índices de sustentabilidade das propriedades rurais visando-se diagnosticar a qualidade ambiental dos
biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi conduzida nos Estados da Paraíba e Rondônia, regiões Nordeste e Norte do
Brasil, mais precisamente nos municípios paraibanos de Itaporanga, Boa Ventura, Diamante, Ibiara,
Areia, Pilões e Alagoa Grandes (Figura 1) e rondonienses de Ariquemes, Alto Paraíso, Rio Crespo,
Cujubim, Vilhena e Colorado do Oeste (Figura 2), considerando-se as condições edafo-climáticas e
vegetativas de cada área agrícola para diagnosticar e caracterizar as propriedades rurais nos biomas
Caatinga, Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado.

Figura 1. Localização dos municípios e áreas amostradas nos dois biomas da Paraíba.

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A B

Figura 2. Localização dos municípios e áreas amostradas nos dois biomas de Rondônia
(A - Amazônia e B - Cerrado).

Aleatoriamente foram diagnosticadas 37 propriedades rurais no bioma Caatinga, 36 na Mata


Atlântica, 24 na Amazônia e 12 no Cerrado, no período de julho de 2012 a agosto de 2016, aceitando-
se no trabalho de pesquisa somente os imóveis que tivessem em comum Mata em Regeneração - MR,
Monocultivo de Pastagenm - MP e Monocultivo de Milho – MM com pelo menos cinco anos de
explorações.
O tamanho da amostra foi definido pela técnica probabilística sugerida por Fonseca e Martins
(1996), conforme equação:
n = Z2 pq N
d2 (N-1) + Z2 pq
Para determinação do tamanho da amostra considerou-se o preconizado por Lopes et al. (2009),
atribuindo-se erro amostral (d) de 10% de probabilidade, desvio padrão (Z) de 1,645 em um universo
de 1.300 propriedades rurais com potencialidades de serem pesquisadas (N), com percentuais dos
elementos de amostras favoráveis (p) e desfavoráveis (q) de 50% para cada.
Nas observações foram considerados dados regionais fornecidos pelas Empresas de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMATER-PB e EMATER-RO), indicando a existência média de 13.000

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propriedades rurais nos 13 municípios pesquisados, possuindo em 10% deste quantitativo os três tipos
de explorações desejáveis (mata em regeneração, pastagens e milharais) com mais de cinco anos de
monocultivos, resultando o tamanho da amostra de 65 imóveis.
Todos os elementos componentes da população possíveis de compor a amostragem foram
aceitos, admitindo-se probabilidade igual e diferente de zero. Dada à disponibilidade de tempo e
voluntariedade de agricultores, para efeito de maior confiabilidade e margem de segurança à pesquisa
foram aumentados 44 imóveis no tamanho da amostra, passando de 65 para 109 propriedades
avaliadas.
Em cada propriedade foram coletadas três amostras compostas de solo, obtidas de dez amostras
simples em áreas de matas em regenerações, pastagens e milharais. Os solos destas explorações foram
avaliados quanto ao teor de matéria orgânica, quanto às propriedades físicas (densidade e umidade do
solo) e quanto às propriedades químicas (pH, carbono orgânico, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,
magnésio, hidrogênio, alumínio e sódio).
As amostragens foram efetuadas à profundidade de 0 - 0,20 m em propriedades rurais
georeferenciadas, seguindo-se para caracterizações físicas e químicas o tradicional Manual de Métodos
de Análise de Solo (Embrapa, 1997).
Adotou-se a metodologia de Vasconcelos e Torres Filho (1994), aceita por outros pesquisadores
(Melo, 1999; Carneiro Neto et al, 2008; Diniz & Pereira, 2015) para determinações dos índices de
sustentabilidade (IS), considerando-se variações de 0 a 1, classificando-se as propriedades rurais em:
Sustentável (IS > 0,80), Sustentabilidade Ameaçada (0,60 < IS ≤ 0,80), Sustentabilidade Comprometida
(0,40 < IS ≤ 0,60), Insustentável (0,20 < IS ≤ 0,40) e Seriamente Insustentável (IS ≤ 0,20).
Os resultados obtidos foram submetidos à estatística descritiva, fazendo-se análises de variância
e de componentes principais e de agrupamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atributos físicos e químicos em função dos biomas

Os resultados obtidos das análises de solos revelaram principalmente nos biomas Amazônia e
Cerrado sinais de limitações físicas e químicas (Figura 1). Na parte física, os valores relativamente
altos de densidades de solo, até mesmo em áreas de matas em regenerações indicaram sintomas de
compactações. Na parte química, pH e teores de nutrientes baixos comprovaram que o uso irracional
destes ecossistemas tem contribuído significativamente para elevar a acidez e diminuir a fertilidade do
solo.

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Figura 1: Coletas de amostras de solos para análises laboratoriais.

O surpreendente fato de que até mesmo em ambientes rondonienses de matas em regenerações,


tanto no Cerrado como na própria Amazônia, revelando indicadores físicos e químicos não satisfatórios
provam que esta recuperação demanda tempo e que os produtores rurais além das poucas condições
técnicas, culturais e econômicas têm abandonado estas áreas deixando-as encapoeirarem por conta das
limitações destes solos.
Em ambientes paraibanos, as limitações físicas e químicas dos solos foram mais severas na
Mata Atlântica do que na Caatinga. Nestes biomas, os monocultivos de milho e pastagem têm
acontecido preferencialmente nas áreas de qualidade do solo ligeiramente superiores quando
comparados às matas em regenerações (Diniz & Pereira, 2015).
Salvo raras exceções, em todos os biomas as densidades de solo tiveram valores médios
normalmente acima de 1,2 g.cm-3 indicando sinais de ações antrópicas indevidas e de consequentes
preocupações no tocante a compactação. Para Camargo & Alleoni (1997) tal situação indica sintomas
de degradações do solo com possibilidade inclusive de compactação e/ou adensamento.
Em países como Dinamarca e Alemanha ações governamentais punitivas são realizadas quando
constatadas situações desta natureza. Na Alemanha, por exemplo, agricultores que não praticam o
manejo correto do solo recebem penalizações previstas em leis ambientais (Horn & Herner, 2008), o
que poderia também dependendo da reincidência e gravidade da degradação ser aplicado em outros
países, inclusive no Brasil.

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Às vezes medidas punitivas tornam-se necessárias, principalmente quando se pensa no bem


maior da coletividade e do ecossistema. Punições têm acontecido com excelentes resultados em outras
áreas da agropecuária brasileira como, por exemplo, para aqueles que não fazem a vacinação contra a
febre aftosa e brucelose em bovinos ou que transportam animais e vegetais sem o devido
licenciamento. Por que não para os que usam indevidamente os recursos naturais dos biomas?
No geral, ficou evidente que os atributos físicos e químicos além de serem influenciados pelas
condições edafo-climáticas naturais dos biomas foram impactados também por ações antrópicas ao
longo das explorações agrícolas realizadas. Por estas razões, para que os fatores físicos e químicos
sejam sempre favoráveis os biomas devem ser utilizados de forma responsável, assegurando-se a
sustentabilidade ambiental desejada por todos.

Índices de sustentabilidade das propriedades rurais em função dos biomas

Pode-se observar na Tabela 1 que os índices de sustentabilidade das propriedades rurais nos
biomas variaram em suas classificações de sustentabilidades ameaçadas a comprometidas, o que sugere
a necessidade de se trabalhar o adequado gerenciamento das especificidades, potencialidades e
fragilidades das mesmas em benefício da preservação e conservação ambiental dos ecossistemas
brasileiros de Rondônia, independentemente de ser no Cerrado ou na Amazônia.

Tabela 1. Diagnóstico dos índices de sustentabilidade com ranks e respectivas classificações das propriedades
rurais pesquisadas nos biomas de Rondônia.
Propriedade Índice de Sustentabilidade Rank Classificação
Rural Amazônia Cerrado Amazônia Cerrado Amazônia Cerrado
1 0,59 0,70 14º 1º SC SA
2 0,69 0,52 5º 7º SA SC
3 0,59 0,52 15º 8º SC SC
4 0,59 0,50 13º 9º SC SC
5 0,54 0,44 17º 10º SC SC
6 0,54 0,58 18º 6º SC SC
7 0,45 0,62 23º 4º SC SA
8 0,59 0,61 12º 5º SC SA
9 0,57 0,42 16º 11º SC SC
10 0,50 0,42 21º 12º SC SC
11 0,72 0,68 2º 2º SA SA
12 0,61 0,68 11º 3º SA SA
13 0,71 3º SA
14 0,66 7º SA
15 0,70 4º SA
16 0,78 1º SA
17 0,64 8º SA
18 0,64 9º SA
19 0,62 10º SA
20 0,41 24º SC
21 0,53 19º SC
22 0,67 6º SA

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23 0,52 20º SC
24 0,49 22º SC
Legenda: S-Sustentável; SA-Sustentabilidade Ameaçada; SC-Sustentabilidade Comprometida; I-Insustentável;
SI-Seriamente Insustentável.

Comportamento semelhante pode-se observar na Tabela 2, com o agravante de ter sido


identificado tanto no bioma Caatinga como na Mata Atlântica propriedades rurais classificadas como
insustentáveis (0,20 < IS ≤ 0,40), o que torna-se ainda mais preocupante os índices obtidos.
A ocupação e exploração agrícola da Paraíba por ser mais antiga do que a de Rondônia
certamente comprovam o relacionamento direto da idade de colonização com os índices de
sustentabilidades, sinalizando que com o passar do tempo de uso dos recursos naturais dos biomas a
situação ambiental dos ecossistemas tendam a piorar.
Como o processo de colonização de Rondônia ainda seja recente, torna-se oportuno trabalhar
com mais intensidade a conscientização dos agricultores no sentido de minimizar malefícios maiores
como os observados na Paraíba. Porém, antes disto aspectos técnicos, econômicos e sociais precisam
ser melhorados (Diniz et al., 2016).
Melhorias nos níveis educacionais das famílias rurais, associadas aos incentivos econômicos e
técnicos, refletindo positivamente no uso adequado dos recursos naturais das propriedades rurais
podem tornar os ecossistemas sustentáveis. Assim, os índices de sustentabilidade podem chegar a
valores maiores do que os observados nesta pesquisa desde que haja um maior empenho governamental
com o apoio de toda a sociedade no sentido de atenuar estas diferenças existentes.

Tabela 2. Diagnóstico dos índices de sustentabilidade com ranks e respectivas classificações das propriedades
rurais pesquisadas nos biomas da Paraíba.
Propriedade Índice de Sustentabilidade Rank Classificação
Rural Caatinga Mata Atlântica Caatinga Mata Atlântica Caatinga Mata Atlântica
1 0,36 0,52 24º 11º I SC
2 0,29 0,68 28º 2º I SA
3 0,36 0,54 25º 10º I SC
4 0,29 0,56 29º 9º I SC
5 0,36 0,68 26º 1º I SA
6 0,40 0,68 22º 3º I SA
7 0,54 0,43 14º 12º SC SC
8 0,70 0,29 3º 30º SA I
9 0,28 0,60 35º 6º I SC
10 0,66 0,29 4º 29º SA I
11 0,71 0,38 1º 18º SA I
12 0,38 0,40 23º 16º I I
13 0,58 0,35 11º 23º SC I
14 0,28 0,56 34º 8º I SC
15 0,70 0,43 2º 13º SA SC
16 0,28 0,41 33º 14º I SC
17 0,58 0,41 10º 15º SC SC
18 0,53 0,37 15º 19º SC I
19 0,28 0,29 37º 31º I I

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20 0,48 0,65 16º 4º SC SA


21 0,58 0,31 9º 25º SC I
22 0,36 0,29 27º 32º I I
23 0,52 0,31 13º 26º SC I
24 0,28 0,63 36º 5º I SA
25 0,28 0,29 32º 34º I I
26 0,59 0,29 7º 33º SC I
27 0,28 0,31 31º 27º I I
28 0,40 0,31 21º 28º I I
29 0,59 0,28 6º 35º SC I
30 0,57 0,36 12º 20º SC I
31 0,28 0,36 30º 21º I I
32 0,40 0,40 20º 17º I I
33 0,40 0,36 19º 22º I I
34 0,59 0,33 5º 24º SC I
35 0,58 0,57 8º 7º SC SC
36 0,40 0,28 18º 36º I I
37 0,42 17º SC
Legenda: S-Sustentável; SA-Sustentabilidade Ameaçada; SC-Sustentabilidade Comprometida; I-Insustentável;
SI-Seriamente Insustentável.

Apesar de não terem sido diagnosticadas nos biomas pesquisados propriedades rurais
seriamente insustentáveis presumem-se haver a necessidade de se adotar medidas racionais de
explorações agrícolas associadas ao melhoramento de aspectos técnicos, econômicos e sociais capazes
de transformar esta realidade em algo sustentável, pois nenhuma delas foi enquadrada ainda como
sustentável (IS > 0,80).
Percebe-se pela Tabela 3 a inexistência de propriedades rurais sustentáveis em todos os biomas
pesquisados, porém observa-se que o maior número destas encontra-se concentrada na faixa de
sustentabilidade comprometida a ameaçada, indicando que se medidas preventivas e administrativas
forem adotadas em tempo hábil melhorias possam ocorrer em tais classificações rumo ao desejável que
seria a sustentabilidade (IS > 0,80). Para Diniz et al. (2015) isto pode ser alcançado investindo-se em
melhorias dos aspectos técnicos, econômicos e sociais.

Tabela 3. Classificação das propriedades rurais em função dos índices de sustentabilidade (IS) e das atividades
agrícolas nos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
Classificação Intervalos Número de Propriedades Rurais
Amazônia Cerrado Caatinga Mata Atlântica
S IS > 0,80 0 0 0 0
SA 0,60 < IS ≤ 0,80 11 5 4 5
SC 0,40 < IS ≤ 0,60 13 7 13 10
I 0,20 < IS ≤ 0,40 0 0 20 21
SI IS ≤ 0,20 0 0 0 0
Total 24 12 37 36
Legenda: S-Sustentável; SA-Sustentabilidade Ameaçada; SC-Sustentabilidade Comprometida; I-Insustentável;
SI-Seriamente Insustentável.

Interação dos atributos físico e químicos com os índices de sustentabilidade em função dos biomas

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Como se pode observar nas Tabelas 1 e 2 nem sempre os índices de sustentabilidade das
propriedades rurais mantiveram uma relação direta com os atributos físicos e químicos do solo,
encontrando-se inclusive imóveis próximos da sustentabilidade desejável (IS > 0,80) com limitações
deste tipo.
A expectativa era que as propriedades rurais com melhores indicadores físicos e químicos
tivessem índices de sustentabilidade superiores, mas além disto torna-se necessário avanços nos
aspectos econômicos e sociais para que esta situação seja consolidada confirmando a sustentabilidade
desejável (IS > 0,80).
O favorecimento de fatores sociais como melhor nível educacional, assim como dos aspectos
econômicos como disponibilidade e aplicabilidade de estruturas físicas e insumos agrícolas racionais
melhoram sensivelmente os índices de sustentabilidade das propriedades rurais.
Em algumas situações as condições sociais e econômicas foram determinantes nas
classificações das propriedades rurais, compensando eventuais falhas técnicas e de manejos como
ausências de correções da acidez e da baixa fertilidade do solo. No entanto, isto não confirma que a
parte técnica possa ser menosprezada e controlada por fatores econômicos e sociais favoráveis.
Na realidade, a gestão dos recursos naturais torna-se indispensável à sustentabilidade ambiental
(Masera et al, 1999; Vasconcelos &Torres Filho,1994). Naturalmente se os investimentos forem
efetuados proporcionalmente, promovendo melhorias não somente nas condições econômicas e sociais,
mas também nas técnicas as possibilidades de incrementos de propriedades rurais com índices de
sustentabilidade favoráveis tenderão a serem mais significativas do que as verificadas.

CONCLUSÕES

As condições técnicas, econômicas e sociais precisam ser melhoradas de forma indissociáveis


para que os índices de sustentabilidade das propriedades rurais sejam satisfatórios.
Independentemente da exploração agrícola adotada, mata em regeneração, monocultivo de
pastagem ou monocultivo de milho, os manejos dos recursos naturais dos biomas Amazônia, Cerrado,
Caatinga e Mata Atlântica precisam ser adequados para evitar possíveis degradações e
insustentabilidades ambientais.
Medidas administrativas devem ser tomadas urgentemente para o atingimento de melhorias na
qualidade do solo e nos índices de sustentabilidade das propriedades rurais, tornando-se indispensável à
gestão dos recursos naturais dos biomas brasileiros.

AGRADECIMENTOS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Agradecemos aos Produtores Rurais e as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural da


Paraíba e de Rondônia, bem como ao Instituto Federal de Rondônia pelo o apoio e incentivo na
concretização desta pesquisa.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 168


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ESTUDO BIOGEOGRÁFICO DOS FRAGMENTOS FLORESTAIS DE PRESIDENTE


PRUDENTE-SP

João Baccarin Xisto PAES


Pós-graduando do curso de Mestrado Profissional em Geografia da FCT/UNESP
joaobaccarin@gmail.com
Jose Mariano Caccia GOUVEIA
Prof. Dr. do Departamento de Geografia da FCT/UNEP
caccia@fct.unesp.br

RESUMO
Localizado na região do Pontal do Paranapanema, no oeste do estado de São Paulo, o município de
Presidente Prudente (Figura 01), encontra-se entre a latitude 22º 07‘ 04‘‘ Sul e a longitude 51º 22‘ 57‘‘
Oeste, possui 560.637 km² de área total pertencente ao município e uma população estimada, no ano de
2016, de 223.749 habitantes. O Pontal do Paranapanema apresenta fitofisionomias associadas aos
Biomas Mata Atlântica, Cerrado e as faixas de transição entre eles. No município de Presidente
Prudente, o território era originalmente recoberto por Floresta Estacional Semidecidual, com formações
ciliares (Aluviais) e Submontanas e devido ao processo de ocupação e apropriação das terras, resultou-
se na supressão quase total da cobertura vegetal, restando atualmente um pequeno percentual, restrito a
poucos, pequenos e dispersos fragmentos que representam 12,98% de toda sua extensão territorial total,
com 72.776 km² de área total desses fragmentos. Desse modo, nosso objetivo principal deste trabalho é
utilizar de disciplinas da Geografia, sobretudo a Biogeografia, para buscarmos uma melhor
compreensão sobre a importância e potencial de expansão desses fragmentos florestais ainda existentes
no Pontal do Paranapanema. Para tanto, partiremos de uma análise do município de Presidente
Prudente-SP, por representar muito bem a realidade dessa região e apresentar características similares
ao restante dela, servindo como base para uma análise da qualidade ambiental dos fragmentos florestais
remanescentes na região do Pontal do Paranapanema-SP e os diferentes usos da terra adotados, com
especial atenção para as práticas do agrohidronegócio canavieiro.
Palavras-chave: Biogeografia; Fragmentos Florestais; Agrohidronegócio canavieiro.

ABSTRACT
Located in the region of Pontal do Paranapanema, in the west of the state of São Paulo, the
municipality of Presidente Prudente (Figure 01), lies between latitude 22º 07 '04' 'South and longitude
51º 22' 57 '' West, has a total area of 560,637 km² belonging to the municipality and an estimated
population, in the year 2016, of 223,749 inhabitants. The Pontal do Paranapanema presents
phytophysiognomies associated to the Atlantic Forest Biomes, Cerrado and the transition bands
between them. In the municipality of Presidente Prudente, the territory was originally covered by
Semideciduous Seasonal Forest, with ciliary formations (Alluvial) and Submontane, and due to the
process of occupation and appropriation of the lands, resulted in the almost total suppression of the
vegetal cover, remaining a small restricted to a few, small and dispersed fragments that represent
12.98% of its total territorial extension, with 72,776 km ² of total area of these fragments. Thus, our
main objective of this work is to use Geography disciplines, especially Biogeography, to seek a better
understanding of the importance and potential of expansion of these forest fragments still existing in
Pontal do Paranapanema. To do so, we will start from an analysis of the municipality of Presidente
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Prudente-SP, as it represents very well the reality of this region and presents characteristics similar to
the rest of it, serving as a basis for an analysis of the environmental quality of the remaining forest
fragments in the region of Pontal do Paranapanema -SP and the different uses of land adopted, with
special attention to the practices of Agrohydro business.
Key-words: Biogeography; Forest fragments; Agrohydro business.

INTRODUÇÃO

Localizado no oeste do estado de São Paulo, na região do Pontal do Paranapanema, o município


de Presidente Prudente (Figura 01), encontra-se entre a latitude 22º 07‘ 04‘‘ Sul e longitude 51º 22‘
57‘‘ Oeste, possui 560.637 km² de área total pertencente ao município e uma população estimada, no
ano de 2016, de 223.749 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
– IBGE, 2017).

Figura 01. Mapa de localização do município de Presidente Prudnte-SP.


Fonte: Mapa geomorfológico semidetalhado do município de Presidente Prudente-SP, 2016.

Inserido na Unidade Morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná e na Unidade


Morfoescultural do Planalto Ocidental Paulista, o município de Presidente Prudente ―caracteriza-se por

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formas de relevo geradas por processos erosivos como colinas amplas de topos convexos e topos
tabulares‖ (ATLAS AMBIENTAL ESCOLAR DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP, 2017).
No município, as altitudes predominantes variam de 350 a 450 metros, sendo que o ponto mais
elevado é de 505 metros e o de menor altitude é de 288 metros. Quanto a declividade do município, há
um predomínio ―aquelas inferiores a 6% e entre 6 e 12%, correspondendo, respectivamente, a 32 e 45%
[...] declividades entre 12 a 20%, correspondem a 21% [...] declividades entre 20 e 30% ocupam apenas
2% da área total e as declividades acima de 30% raramente ocorrem, ocupando menos de 1%‖ (ATLAS
AMBIENTAL ESCOLAR DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP, 2017). De acordo com Embrapa
(2006), os solos encontrados no município são Argissolos e Latossolos.
Conforme apresentado por Amorim e Monteiro (2011), o município apresenta um clima tropical
continental, com duas estações definidas, sendo um período mais quente, de verão/outono, com
temperaturas médias das máximas entre 27ºC e 29ºC, muito chuvoso, com 150 e 200 mm mensais e um
período de invernos amenos, com temperaturas médias das mínimas entre 16ºC e 18ºC, e menos
úmidos, com chuvas mensais entre 20 e 50 mm.
O município encontra-se em duas Unidades Hidrográficas de Gerenciamento de Recursos
Hídricos – UGRHI‘s, e é representado pelos Comitês da Bacia Hidrográfica dos Rios Aguapeí e Peixe
(UGRHI 2015 e 21) e do Pontal do Paranapanema (UGRHI 22). De acordo com o Sistema Integrado de
Gerenciamento de Recursos Hídricos – SigRH (2017) do estado de São Paulo, a UGRHI do Rio do
Peixe possui uma área de drenagem de 10.769 km² ecom uma população de 444.290 habitantes. As
principais atividades econômicas nas áreas urbanizadas são os setores de serviços e comércio, com
exceção de Marília, por ser considerado um pólo regional e concentrar grande parte das atividades
industriais, sobretudo no segmento alimentício. Nas áreas rurais há um predomínio da pecuária, com
forte expansão do agrohidronegócio canavieiro.
A UGRHI do Pontal do Paranapanema apresenta uma área de drenagem de 12.395 km² e tem
como principais rios o Rio Santo Anastácio/afluentes, Rio Paranapanema/afluentes e Rio
Paraná/afluentes. Na UGRHI há um ―elevado grau de mecanização da agricultura, notadamente nas
culturas de cana-de-açúcar. Há também agroindústrias representadas pelos frigoríficos, indústrias
alimentícias, de óleos e gorduras vegetais e atividades relacionadas ao setor de serviço‖ (SIGRH,
2017), sobretudo em Presidente Prudente.
A respeito da vegetação, o Pontal do Paranapanema apresenta fitofisionomias associadas aos
Biomas Mata Atlântica, Cerrado e as faixas de transição entre eles. Esses Biomas foram amplamente

15
O município de Presidente Prudente não se estende até a UGRHI 20, porém o Comitê é formado pelas duas Unidades
Hidrográficas.

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devastados a nível nacional, e atualmente configuram-se como dois dos vinte e cinco hotspots16 de
biodiversidade do mundo (MAYERS et al, 2000). No município de Presidente Prudente, o território era
originalmente recoberto por Floresta Estacional Semidecidual, com formações ciliares (Aluviais) e
Submontanas e devido ao processo de ocupação e apropriação das terras, que iniciou com a ―extração
de madeira, depois, a cultura cafeeira e algodoeira, a pecuária e, mais recentemente, o cultivo de cana
de açúcar em grandes extensões‖ (GOUVEIA e PAES, 2017), resultou na supressão quase total da
cobertura vegetal, ―restando atualmente um pequeno percentual, restrito a poucos, pequenos e dispersos
fragmentos‖ (idem) que representam 12,98% de toda sua extensão territorial total, com 72.776 km² de
área total desses fragmentos. As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são geralmente
interrompidas e ―sobreviveram até o presente por restrições à sua supressão impostas pela legislação
ambiental federal‖ (ibidem). Ademais,

Salienta-se que, tais fragmentos sofrem ameaças de diversas ordens, dentre as quais se
destacam: incêndios, quando da utilização de queimadas para a renovação de pastos ou colheita
da cana de açúcar; pisoteio ou consumo de plântulas e rebrotos arbóreos pelo gado que por eles
transita livremente; por atos de vandalismo; pela coleta de espécimes para ornamentação ou
fabricação de artesanato; pela prática da caça e da pesca predatória; pela deposição de entulho e
resíduos em seu interior; e, colonização por espécies exóticas invasoras agressivas, entre outros
fatores. (GOUVEIA e PAES, 2017)

Desse modo, nosso objetivo principal deste trabalho é utilizar de disciplinas da Geografia,
sobretudo a Biogeografia, para buscarmos uma melhor compreensão sobre a importância e potencial de
expansão desses fragmentos florestais ainda existentes no Pontal do Paranapanema, onde
levantamentos preliminares apontam que aspectos tais como o tamanho, quantidade e qualidade dos
fragmentos remanescentes estão diretamente associados ao tipo de uso do solo adotado na área de
entorno, como as áreas de pastagens e de cultivo intensivo de cana de açúcar. Para tanto, partiremos de
uma análise do município de Presidente Prudente-SP, por representar muito bem a realidade dessa
região e apresentar características similares ao restante dela, servindo como base para uma análise da
qualidade ambiental dos fragmentos florestais remanescentes na região do Pontal do Paranapanema-SP
e os diferentes usos da terra adotados, com especial atenção para as práticas do agrohidronegócio
canavieiro.

METODOLOGIA

Evidentemente, toda a pesquisa – desde momentos preliminares ao seu desenvolvimento -,


apoia-se no levantamento, triagem, leitura, e análise de informações e dados bibliográficos e

16
De acordo com Mayers et al (2000), para que um bioma se enquadre como hotspot é necessário ter perdido no mínimo
70% de sua vegetação original/primária e conter no mínimo 1.500 espécies endêmicas.

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historiográficos sobre a temática do trabalho. Ademais, sua proposta é subsidiada por métodos e
técnicas já consagrados nas pesquisas geográficas, utilizando-se, portanto daquelas aplicadas pela
Biogeografia, Pedologia, Climatologia, Geomorfologia, Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto,
além de utilizar de métodos e técnicas de outras áreas da ciência, como a Biologia, Ecologia, dentre
outras. Desse modo, foram levantados, analisados e selecionados o material bibliográfico sobre os
temas: Biogeografia, Biogeografia de Ilhas, Degradação Ambiental, Sucessão Ecológica e Legislação
Ambiental, além do histórico de uso e ocupação do município de Presidente Prudente e do Pontal do
Paranapanema, com acompanhamento do uso atual, permitindo assim, estabelecer relação deste com o
processo de regeneração/deterioração destas áreas. Além disso, partiu-se para o levantamento, seleção,
elaboração e análise dos materiais cartográficos e fotografias aéreas, em escala regional (Pontal do
Paranapanema) e local (Presidente Prudente), para posteriormente utilizar e analisar tais informações
no software ArcGIS®.
Com os dados preparados, efetuou-se a análise dos fragmentos florestais com o plug-in Patch
Analyst, uma extensão para o software ArcGIS®, desenvolvido pelo Spatial Ecology Program (2017)
do Centre for Northern Forest Ecosystem Research – CNFER, que tem como objetivo realizar algumas
métricas da paisagem, mas por se tratar de um programa mais simples em relação a outros, como o
Fragstats17 por exemplo, ele trabalha com seis categorias gerais de estatísticas. São elas: métricas de
área; métricas de tamanho e densidade das manchas; métricas de borda; métricas de forma; métricas de
diversidade; e, métricas de núcleo/área.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir do ―Mapa de Uso e Cobertura da Terra de Presidente Prudente – 2013‖ (Figura 02)
foram identificados e quantificados os fragmentos de cobertura arbórea existentes no município. Com
isso, foi possível elaborar alguns produtos cartográficos derivados e estabelecer um diagnóstico
preliminar da qualidade e função ecológica desses fragmentos florestais a partir da avaliação de
atributos tais como: tamanho dos fragmentos; forma (design) dos fragmentos; e, distância
(conectividade) entre os fragmentos.

17
Fragstats é um software de computador projetado para calcular uma ampla variedade de métricas da paisagem. Sua
primeira versão foi lançada durante o ano de 1995 e foi desenvolvido pelo Dr. McGarigal e Barbara Marks, da Oregon
State University. Atualmente, o software encontra-se na quarta versão, apresentando a mesma funcionalidade que a
versão anterior, com algumas alterações, como por exemplo, uma nova interface de usuário que reflete a reformulação do
modelo de arquitetura, suporte para os formatos adicionais, uma variedade de amostragem para análise da paisagem,
entre outros (UMASS LADSCAPE ECOLOGY LAB, 2017).

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Diante disso, foi possível constatar que as áreas ainda recobertas por fragmentos florestais
apresentam um conjunto de pequenos fragmentos dispersos pelo município, e, quando presentes,
constituem-se em fragmentos de matas ciliares em Áreas de Preservação Permanente (APPs) sendo
geralmente interrompidos, como boa parte dos fragmentos existentes no município.

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Figura 02. Mapa de Uso e Cobertura da Terra no município de Presidente Prudente-SP.


Fonte: Atlas Ambiental Escolar de Presidente Prudente-SP, 2017.

Através do ―Mapa de Fragmentos de cobertura vegetal arbórea de Presidente Prudente-SP‖


(Figura 03), constatou-se que mais de 40% dos fragmentos analisados apresentaram área de no máximo
10 hectares e do total analisado, 90% apresentam dimensões menores que 50 hectares. Desse total de
315 fragmentos analisados, apenas três se destacam em tamanho, indicando maior biodiversidade e
melhores dinâmicas nos fluxos de energia e matéria, sendo eles: a "Mata do Furquim", "Cidade da
Criança" e o "Fragmento da Usina", medindo 113, 98,8 e 91,2 hectares, respectivamente.

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Figura 02. Mapa de Uso e Cobertura da Terra no município de Presidente Prudente-SP.


Fonte: Atlas Ambiental Escolar de Presidente Prudente-SP, 2017.

Quanto ao formato (desenho) dos fragmentos existentes, em Biogeografia temos um conceito


chamado ―Efeito de Borda‖ que, em síntese, afirma que todo fragmento florestal ou área de
preservação tende a se deteriorar a partir de seus limites externos. Essa deterioração ocorre por conta de
diversas pressões, tais como excesso de insolação, ventos, perda de umidade, entrada de espécies

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invasoras nocivas, etc. Assim, quanto mais irregular a forma um fragmento, maior a sua
vulnerabilidade e a velocidade com que se deteriora
Desse modo, o efeito de borda será tanto menor quanto mais próxima de um círculo for a forma
do fragmento em estudo. Para estabelecer um índice que permita avaliar a qualidade dos fragmentos em
relação ao desenho de cada um, adotou-se o conceito de ―Índice de Circularidade‖. Com isso,
constatou-se que aproximadamente 70% dos fragmentos possuem formato estreito e alongado, também
indicando maior fragilidade ao efeito de borda e, portanto, à sua continua degradação e perda de
importância ecológica.
Outro aspecto que indica a gravidade do atual quadro ambiental no tocante aos seus fragmentos
arbóreos refere-se à baixa conectividade entre eles. A interrupção e o distanciamento entre eles
evidenciam restrições à circulação da fauna e também limitações à realização de fluxos gênicos seja
entre animais ou vegetais. Sabe-se que a riqueza biológica diminui com o aumento do isolamento dos
fragmentos, onde os fragmentos mais distantes entre si tendem a ter menores taxas de colonização por
estarem mais distantes de fontes colonizadoras, como os fragmentos de maiores dimensões. Sabe-se
também que essas possibilidades de conexão entre fragmentos são diferenciadas em função de cada
espécie, das diferentes capacidades de dispersão destas, e do tipo de uso e cobertura da terra no entorno
do fragmento. Uma área de pastagens pode, para algumas espécies, representar menor limitação à
dispersão e/ou isolamento que áreas de cultivo intensivo de cana de açúcar, de plantio homogêneo de
eucaliptos, ou de ocupação urbana de alta densidade. No caso de Presidente Prudente, muitos desses
fragmentos estão isolados, como podemos observar no mapa dos Fragmentos de cobertura vegetal
arbórea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto das bacias hidrográficas, um bom indicador para a avaliação do nível de


degradação ambiental constitui-se nas matas ripárias, onde a importância ambiental dessas formações
vegetais manifesta-se em diversos níveis, conforme apontam Lima & Zakia (2000), Souza et al (2005),
e Chaves & Klein (2009), que pautam numerosos aspectos relacionados ao importante papel
desempenhado pelas matas ripárias, dentre os quais destacam-se: a importância botânica; importância
ecológica; e, importância hidrológica. Todos esses aspectos relacionados findam por explicitar também
uma Importância Social significativa das zonas ripárias. Dentre os aspectos sociais associados às matas
ciliares podem-se citar os ganhos com o abastecimento de água de qualidade e seus efeitos sobre a
saúde pública; a maior disponibilidade do recurso para a irrigação e consumo urbano; a redução de
perdas humanas e materiais com inundações, entre outros. Tais ganhos são ainda maiores ao
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

considerarmos as populações tradicionais que, além dos aspectos citados, obtêm boa parte de sua
sobrevivência no usufruto dos recursos dessas áreas para a obtenção de alimentos, e para a produção de
remédios, utensílios e artesanato.
Mesmo diante de todos os aspectos positivos relacionados, que justificam a necessidade e a
importância na preservação dos fragmentos florestais, constata-se o expressivo grau de degradação e
sua fragilidade no município de Presidente Prudente, indicando-nos que é preciso adotar práticas, com
extrema urgência, para recuperarmos as funções ecológicas e as qualidades ambientais desses
fragmentos. Portanto, é extremamente necessário que se adotem ações, como políticas públicas, que
incentivem a preservação dessas áreas, assim como a recuperação delas ao longo de toda a rede
hidrográfica do município, buscando a qualidade ambiental que esses fragmentos proporciona e desse
modo, concretizar a melhoria não apenas da qualidade e quantidade de recursos indispensáveis à
qualidade de vida e da geração de renda, como também o aumento da biodiversidade, indispensável à
realização dos fluxos de energia e matéria que sustentam a vida no planeta.

AGRADECIMENTOS

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo fomento no Projeto
Temático ―Mapeamento e Análise do Território do Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do
Paranapanema – São Paulo – Brasil: relações de trabalho, conflitos e formas de uso da terra e da água,
e a saúde ambiental‖, processo 2012/23959-9 e ao CETAS – Centro de Estudos do Trabalho,
Ambiente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RÉPTEIS NO AGRESTE DA PARAÍBA, BRASIL: LEVANTAMENTO E PERCEPÇÃO


POR MORADORES DE COMUNIDADES TRADICIONAIS

Joel Maciel Pereira CORDEIRO


Aluno de Doutorado em Agronomia, UFPB
joelmpcordeiro@yahoo.com.br
Carlos Antônio Belarmino ALVES
Professor do Departamento de Geografia, Centro de Ciências Humanas, UEPB
c_belarminoalves@hotmail.com

RESUMO
Os répteis estão entre os grupos mais diversos e adaptados do globo terrestre, sendo o Brasil um dos
seus principais centros de diversidade. Para o Estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil, estudos que
discutam a diversidade da fauna de répteis são pouco discutidos na literatura. Aliada a este fator, muitas
espécies de répteis são perseguidas e abatidas por retaliação ao ataque às pessoas e animais domésticos
ou mesmo por questões religiosas, causando problemas ambientais significativos a este grupo de
animais. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo descrever as espécies de répteis existentes
nos municípios de Sertãozinho e Serra da Raiz, Agreste do Estado da Paraíba, Brasil, além de
investigar a percepção dos mesmos por moradores de comunidades rurais destes municípios. Foram
registradas 21 espécies de répteis, sendo as serpentes representadas por 11 espécies, os lagartos
obtiveram 08 registros, enquanto os quelônios e anfisbenas (cobra-de-duas-cabeças) foram
representadas por 01 espécie. Todas as espécies de serpentes e anfisbena foram percebidas como
―animais venenosos, que oferecem riscos de ataque às pessoas‖. Os lagartos apresentaram percepções
diversas, e incluíram espécies cinegéticas, medicinais, útil por se alimentar de insetos ou cobras e
espécies venenosas. O grupo dos quelônios era percebido como espécie alimentícia, mas também
causadora de incômodos a pescadores. Os principais motivos de perseguição e abate a estes animais
estão geralmente relacionadas a três causas principais: retaliação ao ataque de pessoas e animais
domésticos; questões relacionadas à religiosidade; e uso cinegético destes animais.
Palavras-chave: Fauna nativa, Serpentes, Lagartos, Conhecimento popular, Nordeste.
ABSTRACT
Reptiles are among the most diverse and adapted groups of the terrestrial globe. Brazil is one of the
main centers of diversity. For the State of Paraíba, Northeastern Brazilian, studies that discuss the
diversity of reptile fauna are scarce in the literature. The species of these animals are persecuted and
slaughtered by retaliation for attacking people and domestic animals or even for religious reasons,
causing significant environmental problems for this group of animals. The present work aims to
describe the species of reptiles in the municipalities of Sertãozinho (Canafístula community) and Serra
da Raiz (Boa Ventura community), Agreste of Paraíba, Brazil, as well as to investigate the perception
of reptiles by residents of rural communities in these municipalities. Twenty-one species of reptiles
were recorded, with snakes represented by 11 species; lizards obtained 08 records; while chelonians
and amphisbaenas were represented by 01 species. All species of snakes and amphisbaena were
perceived as "venomous animals, which offer risks of attacking people". The lizards presented diverse
perceptions, and included cynegetic activity, medicinal, useful for feeding of insects or snakes, and
venomous species. The group of the chelonians was perceived as a food species, but also causing pests

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to fishermen. The main reasons for persecution and slaughter of these animals are generally related to
three main causes: retaliation to the attack of people and domestic animals; issues related to religiosity;
and game use of these animals.
Keywords: Native fauna; Snake; Lizards; Traditional knowledge; Northeast.

INTRODUÇÃO

Os répteis estão entre os principais grupos ecológicos e evolutivos do planeta, sendo capazes de
colonizar diversos ecossistemas, incluindo os ambientes mais hostis e mais instáveis da Terra
(PINCHEIRA-DONOSO et al., 2013). Estima-se que existam cerca de 9.500 espécies de répteis, sendo
o segundo maior grupo entre os tetrápodes em diversidade, ficando atrás apenas das aves em número de
espécies (PINCHEIRA-DONOSO et al., 2013). O Brasil é o terceiro país no mundo em diversidade de
répteis, sendo listadas 773 espécies, com mais de um terço destas considerada endêmica do país
(MARTINS & MOLINA, 2008; COSTA & BÉRNILS, 2015).
Apesar de sua diversidade, várias espécies de répteis estão ameaçadas de extinção em diversas
regiões do Brasil, sobretudo pela destruição de habitats, uma vez que a maioria dos répteis é
especialista em ocupar determinado ecossistema e não conseguem sobreviver em ambientes alterados,
como pastos, plantações ou florestas monoespecíficas (plantações de eucalipto, pinheiros, etc.)
(RODRIGUES, 2005; MARTINS & MOLINA, 2008). Aliado a estes fatores aparecem ainda à
perseguição para consumo de carne e ovos (jacarés e tartarugas) ou mesmo perseguições por questões
de religiosidade e retaliação ao ataque de pessoas e criações domésticas (RODRIGUES, 2005;
FERNANDES-FERREIRA et al., 2011).
Uma ferramenta importante para a adoção de estratégias conservacionistas consiste na análise
da percepção dos moradores locais sobre a fauna nativa (MATEUS et al., 2011; BARBOSA &
AGUIAR, 2015). Por meio destas informações é possível reconhecer as espécies mais perseguidas pela
caça ou comércio ilegal, aquelas mais conservadas (espécies úteis ou respeitadas pelas comunidades),
além daquelas indiferentes (espécies sem utilidades na cultura local). Para a fauna de répteis tais
estudos geralmente revelam percepções como ameaças às pessoas e animais domésticos, mas também
são citados como de uso cinegético, na medicina tradicional ou para fins místico-religiosos (ALVES et
al., 2009; FERNANDES-FERREIRA et al., 2011; BARBOSA & AGUIAR, 2015; FIGUEIREDO &
BARROS, 2016; ARAÚJO & LUNA, 2017).
Levantamentos sobre a fauna de répteis em diversas regiões do Nordeste do Brasil vêm
aumentando recentemente (GUEDES, 2012; CAVALCANTI et al., 2014; PEDROSA et al., 2014;
MAGALHÃES et al., 2015). Todavia, para a Paraíba os estudos sobre estes grupos de animais são

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pouco discutidos na literatura (SANTANA et al., 2008; ARAÚJO & LUNA, 2017), limitando o
conhecimento sobre a diversidade e distribuição das espécies existente no Estado. Desta forma, o
presente trabalho objetiva descrever as espécies de répteis ocorrentes nos municípios de Sertãozinho e
Serra da Raiz, Agreste do Estado da Paraíba, além de analisar a percepção destes animais por
moradores de comunidades rurais que habitam estes municípios.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo - O levantamento da fauna de répteis foi realizado nos municípios de Serra da
Raiz (comunidade de Boa Ventura) e Sertãozinho (Comunidade de Canafístula), localizados no Agreste
do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. O clima na região é do tipo As‘ quente e úmido com chuvas
de outono-inverno, apresentando temperatura média de 25°C e precipitações entre 800 e 1000mm
anuais; a cobertura vegetal corresponde ao Agreste Sublitorâneo (transição Mata Atlântica - Caatinga),
formado por vegetação do tipo Floresta Estacional Decidual; o relevo apresenta-se com topografia
suave a ondulada, formada por vertentes convexas e altitude média de 160 metros; o solo predominante
é do tipo Podzólicos Vermelho Amarelo com acumulação de argila no horizonte B (FELICIANO &
MELO, 2003).
Amostragem - Foram realizadas observações diretas no período de 2013 a 2017 em diferentes
ambientes das comunidades citadas, como interior de matas, áreas ciliares (riachos, açudes, lagoas),
afloramentos rochosos, pedregulhos e áreas de entulho nas proximidades de moradias. O registro dos
répteis foi realizado por meio de visualização direta e relatos de moradores locais. A identificação das
espécies foi baseada em bibliografia especializada (RODRIGUES, 2003; GUEDES, 2012;
CAVALCANTI et al., 2014; PEDROSA et al., 2014). A organização taxonômica foi estabelecida
conforme Costa e Bérnils (2015). O nome popular das espécies foi descrita conforme relato de
moradores locais. Espécies registradas exclusivamente por relato de moradores e cujas informações
foram insuficientes para a identificação taxonômica foram classificadas apenas como
―indeterminadas‖.
Percepção da fauna de répteis pelos moradores locais - Foram realizadas entrevistas juntos aos
moradores das comunidades de Boa Ventura (Serra da Raiz, PB) e Canafístula (Sertãozinho, PB) no
período de maio a julho de 2017. As informações sobre a percepção da fauna de répteis foram
estabelecidas por meio de questionários semiestruturados, complementado com diálogos e conversas
informais (HUNTINGTON, 2000). No total, 38 pessoas foram entrevistadas, sendo 64% do sexo
masculino e 36% do sexo feminino, com idades variando entre 26 a 76 anos. A maioria são agricultores
ou aposentados, com baixos níveis de escolaridade (fundamental incompleto), residentes por um
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período que variava entre 08 a 60 anos nestas comunidades. Nas entrevistas foram apresentadas as
espécies de répteis registradas, descrevendo seu nome popular e apresentando fotografias das mesmas
(FERNANDES-FERREIRA et al., 2011). Nos questionários foi investigada a percepção da fauna de
répteis pelos moradores locais, investigando os valores positivos e negativos, assim como questões
relacionadas à perseguição, preservação e importância ecológica (ARAÚJO & LUNA, 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 21 espécies de répteis distribuídas em 13 famílias (Tabela 1, Figura 1). As


serpentes foram representadas por 11 espécies (52,4%), enquanto os lagartos obtiveram oito registros
(38%), e os quelônios e anfisbenas foram representados por uma única espécie (4,7% cada uma). Entre
as espécies registradas, três serpentes permaneceram indeterminadas, e uma espécie de anfisbenas
(cobra-de-duas-cabeças) foi registrada apenas ao nível de gênero (Amphisbaena sp.).

ORDEM/Família/Espécie Nome popular Percepção


TESTUDINES
Chelidae
Mesoclemmys tuberculata (Lüderwaldt, Cágado Alimentício; Incômodo a
1926) pescadores
SQUAMATA
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia (Moreau de Briba, Lagartixa de Útil por se alimentar de insetos
Jonnès, 1818) parede
Mabuyidae
Mabuya heathi Schmidt & Inger, 1951 Calango que vira Venenoso; "Transforma-se em
cobra cobra"
Iguanidae
Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão Alimentício
Polychrotidae
Polychrus acutirostris Spix, 1825 Papa-vento Venenoso
Tropiduridae
Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Lagartixa Útil por se alimentar de insetos
Tropidurus semitaeniatus (Spix, 1825) Lagartixa de lajeiro -

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Teiidae
Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758) Calango, Bico-doce -
Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, Tivaçu, Tejú, Alimentício; Medicinal; Útil por
1839) Tejuaçú matar cobras; Risco de ataque a
criações domésticas
Amphisbaenidae
Amphisbaena sp. Cobra de duas Venenoso; Risco de ataque a
cabeças; pessoas
Cobra-cega
Boidae
Boa constrictor Linnaeus, 1758 Salamanta-boi Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Epicrates assisi Machado, 1945 Salamanta Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Colubridae
Leptophis ahaetulla (Linnaeus, 1758) Cobra cipó Venenoso; Risco de ataque a
pessoas
Dipsadidae
Philodryas olfersii (Lichtenstein, 1823) Cobra verde Venenoso; Risco de ataque a
pessoas
Philodryas nattereri Steindachner, 1870 Cobra corre-campo Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Pseudoboa nigra (Duméril, Bibron and Cobra preta Venenoso; Espécie mística
Dumeril, 1854)
Elapidae
Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron & Cobra coral Venenoso; Risco de ataque a
Duméril, 1854 pessoas e criações domésticas
Viperidae
Crotalus durissus Linnaeus, 1758 Cascavel Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Indeterminado
Indet. 1 Cobra-rainha Venenoso; Risco de ataque a

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pessoas e criações domésticas


Indet. 2 Cobra papa-ovo Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Indet. 3 Cobra-de-chumbo Venenoso; Risco de ataque a
pessoas e criações domésticas
Tabela 1. Lista de espécies de répteis registrados nos municípios de Sertãozinho e Serra da Raiz, Agreste do Estado da
Paraíba, Brasil e seus respectivos nomes populares e percepção por parte dos moradores das comunidades rurais
entrevistados.

Em relação à percepção da fauna de répteis pelos moradores das comunidades rurais de


Canafístula (Sertãozinho) e Boa Ventura (Serra da Raiz) verifica-se que a maioria das espécies é vista
como ―venenosa‖ (66,7%) e ―oferece risco de ataque a pessoas e criações domésticas‖ (52,3%). As
espécies de uso cinegético foram representadas por 03 espécies (14,2%), as de representações místico-
culturais foram representadas por 01 espécie (4,7%), enquanto 01 espécie foi citada como de uso
medicinal (4,7%). As espécies consideradas ―úteis por se alimentarem de insetos‖ ou por ―úteis por
matar e/ou comer cobras‖ foram representadas por 04 espécies (19,4%) (Tabela 1). Os principais
motivos de perseguição às espécies de répteis nas comunidades rurais pesquisadas estão geralmente
relacionados a três motivos principais: retaliação ao ataque a pessoas e criações domésticas; questões
relacionadas à religiosidade; e caça para alimentação. A seguir, são listados os principais grupos e suas
respectivas percepções.
Quelônios - Foi registrada uma única espécie de quelônio, conhecida popularmente como
―cágado‖ (Mesoclemmys tuberculata). Esta espécie é distribuída especialmente no Nordeste do Brasil,
pelo bioma Caatinga, ocupando áreas de açudes, lagoas e riachos (RODRIGUES, 2003). Além da
alimentação, outra parte das citações de percepção para Mesoclemmys tuberculata corresponde em
incômodos por ser um animal indesejado aos pescadores, podendo causar danos a redes de pesca ou
anzóis. Aliada a este fato, existe ainda crenças e superstições populares sobre esta espécie: ―O cágado
dar azar na pescaria. Se você pegar ele, não pega mais peixe nenhum‖; ―Quando você pega um
cágado tem que matar ele, porque ele engole o anzol‖. Embora esta espécie não represente uma
ameaça às pessoas, estas práticas e percepções referentes à mesma são conflituosas, merecendo
cuidados conservacionistas na área pesquisada.

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Figura 1. Espécies de répteis registrados nos municípios de Sertãozinho e Serra da Raiz, Agreste do Estado da
Paraíba, Brasil. A - Hemidactylus mabouia; B - Iguana iguana; C - Mabuya heathi; D - Ameiva ameiva; E -

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Tropidurus hispidus; F - T. semitaeniatus; G - Tupinambis merianae; H - Leptophis ahaetulla; I - Philodryas


olfersii; J - P. nattereri; K - Oxyrhopus trigeminus.
Lagartos - Nas comunidades objeto de estudo foram registradas 08 espécies de lagartos. Duas
espécies (Hemidactylus mabouia e Tropidurus hispidus) foram consideradas pelos moradores locais
como úteis por se alimentarem de insetos. Outras duas espécies (Brasiliscincus heathi e Polychrus
acutirostris) foram consideradas venenosas e perigosas. Se referindo ao B. heathi alguns moradores
relatam que ―se o papa-vento morder, a pessoa morre seca como ele‖. Essa percepção pode ser
decorrente do comportamento agressivo desta espécie quando se sente ameaçado, abrindo sua boca,
tentando morder quem o perturba. Para a espécie B. heathi os moradores têm a percepção que esta
espécie se ―transforam em cobra‖: ―O calango-que-vira-cobra quando cresce vira cobra e tem o
mesmo veneno da cobra‖. Essa percepção pode ser justificada pelo fato de algumas espécies como o
lagarto Ophiodes striatus (Spix, 1824) ser semelhante a uma serpente e possuir as mesmas feições do
B. heathi. Além disso, muitas espécies de Mabuyidae apresentam cauda longa e pernas curtas, o que dá
a feição de carácter intermediário entre um lagarto e uma serpente (ver, por exemplo, MAGALHÃES
et al., 2015).
Duas espécies de lagartos foram mencionadas como de uso alimentício, o camaleão (Iguana
iguana iguana) e o tivaçú (Tupinambis merianae). Estas espécies estão entre os principais lagartos
consumidos no Brasil (FITZGERALD, 1994), especialmente em determinadas comunidades
tradicionais no semiárido nordestino (MENDONÇA et al., 2011; BARBOSA & AGUIAR, 2015) e em
populações indígenas na Amazônia (FIGUEIREDO & BARROS, 2016). A principal justificativa para a
obtenção destes animais para consumo relaciona-se ao tamanho corporal e pela facilidade na obtenção
dos mesmos (BARBOSA & AGUIAR, 2015; FIGUEIREDO & BARROS, 2016). Além do uso
cinegético, o T. merianae aparece mencionado como medicinal: ―A banha do tivaçú serve de remédio‖,
―Serve para inflamação, mordida de cobra, pra sará ferida‖. Esta mesma espécie é percebida como um
animal útil por matar cobras. Em contrapartida, nas comunidades rurais a espécie também é vista como
uma ameaça de ataque a criações domésticas, especialmente ovos e filhotes de aves. O uso cinegético,
medicinal e a percepção como ameaça a criações domésticas descrevem a necessidade de cuidados
conservacionistas na área pesquisada, especialmente em relação à T. merianae.
Duas outras espécies de lagartos, Tropidurus semitaeniatus e Ameiva ameiva ameiva, não
obtiveram citações de uso, sendo considerados, assim, como indiferentes. A primeira espécie é
encontrada especialmente em afloramentos rochosos, distantes das residências, sendo, em muitos casos,
não reconhecida pelos moradores entrevistados ou mesmo confundida com T. hispidus. A espécie A.
ameiva ameiva, por outro lado, é comum de ser vistos em proximidades de moradias. Entretanto, os

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moradores relatam percepções indiferentes quanto à espécie: ―Não faz mal‖, ―Não serve de nada não,
mas os gatos às vezes comem ele‖, ―Ele é bonito nos terreiros‖.
Anfisbena - Uma espécie de cobra-de-duas-cabeças foi citada pelos moradores das comunidades
rurais entrevistadas como existente na região (cinco citações), embora os dados de campo não tenham
confirmado sua ocorrência. A descrição da espécie é referida como ―Uma cobra amarelada, sem rabo,
grossa, e dura de matar‖, ―Ela anda pra frente e pra trás‖. Estas descrições confirmam se tratar de um
exemplar da família Amphisbaenidae, mas possível de ser identificada apenas ao nível de gênero
(Amphisbaena sp.). A mesma é percebida como animal venenoso, com risco de ataque as pessoas.
Sobre a espécie ser percebida como um animal venenoso, Mateus et al. (2011) justifica a aparência
física do mesmo com uma serpente, ou mesmo pela forte mordida conciliada com a microbiota da
cavidade oral destes animais que leva a uma cicatrização demorada da ferida. Por esses animais
habitarem preferencialmente as camadas do subsolo e serem pouco visualizados, as informações sobre
distribuição geográfica e situação atual de conservação são incipientes, necessitando de mais estudos
para melhor entender esse grupo (MARTINS & MOLINA, 2008).
Serpentes - As serpentes foram representadas por 11 espécies. Destas, três permaneceram com
identificação indeterminadas pela falta de registros em campo e pela insuficiência das informações dos
informantes. Todas as espécies de serpentes foram mencionadas como ―venenosas, que oferecem risco
de ataque as pessoas‖, mesmo aquelas não-peçonhentas, como Boa constrictor constrictor (Salamanta-
boi), Epicrates assisi (Salamanta) e principalmente Oxyrhopus trigeminus (Cobra-coral). A maioria das
espécies também foi percebida como animais que oferecem risco de ataque a animais domésticos, seja
por serem predadores de ovos e filhotes de aves, ou por poderem picar e envenenar criações maiores,
como bovino, caprinos e equinos. Para Fernandes-Ferreira et al. (2011) a maioria das serpentes
consideradas peçonhentas pelas pessoas não possuem potencial venômico letal ao ser humano, mesmo
assim, esta forma de percepção leva a uma justificativa para o abate indiscriminado desses animais,
causando graves problemas ambientais e de saúde pública.
Além da perseguição por retaliação ao ataque de pessoas e animais domésticos, no ambiente de
pesquisa as serpentes também são abatidas por questões relacionadas à religiosidade: ―As cobra são
inimiga dos homem, tem na Bíblia‖. Ainda foi mencionada uma tradição místico-religiosa citada por
alguns informantes que ―Quem matar três cobras na semana santa alcança uma graça‖. O principal
motivo de perseguição das serpentes por questões religiosas está ligado à passagem bíblica do livro do
Gênesis, onde descreve que a serpente foi condenada por Deus a ter sua cabeça esmagada pelos
homens. Desta forma, criou-se uma aversão à serpente como se a mesma fosse uma representação
maligna, devendo ser abatida (FERNANDES-FERREIRA et al., 2011).

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Entre as serpentes, a cobra-preta (Pseudoboa nigra) foi mencionada como espécie útil por se
alimentar de outras cobras, além de ser mencionada como espécie místico-cultural. Segundo os
moradores entrevistados, ―A cobra-preta vigia quando tem menino novo em casa. De noite, ela desce
da telha e mama na mulher, e para a criança não acordar ela bota o rabo na boca dela‖. Esta forma
de percepção quanto a esta espécie também aparece descrita em outras regiões do Nordeste brasileiro
(FERNANDES-FERREIRA et al., 2011; FOERSTER et al., 2013). Não se sabe ao certo os motivos
que levam a esta crença popular, mas provavelmente deve estar ligada a um líquido espesso branco
expelido pela serpente quando a mesma tem sua cabeça esmagada (FERNANDES-FERREIRA et al.,
2011).
De qualquer forma, as práticas e percepções referentes às serpentes nas comunidades estudadas
são conflituosas, merecendo cuidados conservacionistas na área pesquisada, especialmente relacionada
à educação ambiental envolvendo os moradores locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fauna de répteis nos municípios de Sertãozinho e Serra da Raiz, Agreste do Estado da


Paraíba, apresenta considerável diversidade, sendo representada por 21 espécies, sendo 11 serpentes, 08
lagartos, 01 quelônio e 01 anfisbena. Os moradores das comunidades de Boa Ventura (Serra da Raiz) e
Canafístula (Sertãozinho) possuem amplo conhecimento e percepção sobre estas espécies de répteis,
seja em relação à sua identificação por características morfológicas ou sua utilização e ameaças aos
seres humanos e animais domésticos.
Embora a maioria das espécies seja percebida como ―animais perigosos, venenosos, que
oferecem riscos de ataques às pessoas e animais domésticos‖, outros usos como erradicação de insetos,
matar outras serpentes, uso alimentício e medicinal, ou mesmo a inserção de algumas espécies no
contexto místico-cultural destas comunidades também revela uma percepção de utilidade para estes
grupos de animais.
Observa-se, contudo, que as espécies de répteis que habitam o Agreste do estado da Paraíba,
assim como em outras regiões do semiárido nordestino, carecem de cuidados conservacionistas e de
manejo adequado. O registro de conhecimento e percepção deste grupo de animais por comunidades
tradicionais constitui uma importante ferramenta para subsidiar sua sustentabilidade e garantir a
conservação destas espécies nos ecossistemas naturais no Nordeste do Brasil.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MUSEALIZAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE DE INSETOS AQUÁTICOS

Juliana Simião FERREIRA


Docente Doutora em Ecologia, UEG
julianalimno@gmail.com
Fernanda Gonçalves de SOUSA
Mestranda em Biodiversidade Animal, UFG
fernandags.bio@gmail.com
Gabriela de Souza CRISTINO
Graduanda em Ciências Biológicas da UEG
gabycristino11@gmail.com
Daniela Oliveira de ALMEIDA
Bióloga pela UEG
daniela_olyveira@hotmail.com

RESUMO
A popularização da biodiversidade aquática de insetos é de fundamental importância para a sua
conservação e do seu habitat. Assim, a musealização da coleção e a produção de atividades lúdicas e
artefatos educativos auxiliam na popularização desses grupos poucos conhecidos. Desta forma, o
objetivo desse trabalho foi sistematizar e catalogar a coleção de insetos aquáticos das ordens
Hemiptera, Megaloptera e Plecoptera, divulgá-la na coleção virtual do Portal do Cerrado, elaborar e
testar materiais educativos para o ensino de ciências. A avalição das atividades lúdicas foi realizada por
testes quantitativos e qualitativos com alunos do ensino fundamental. Foram catalogados e
identificados taxonomicamente ao nível de gênero 2.692 indivíduos da coleção de Insetos Aquáticos do
Laboratório de Pesquisa Ecológica e Educação Científica. Além da catalogação dos insetos para
musealização da coleção, os materiais educativos também foram utilizados para popularizar o
conhecimento sobre insetos aquáticos sendo importantes ferramentas pedagógicas que auxiliam no
processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Coleções Científicas, Museus Virtuais e Ensino de Ciências.
ABSTRACT
The popularization of aquatic biodiversity of insects is of fundamental importance for their
conservation and of their habitat. Thus, the musealization of the collection and the production of play
activities and educational artifacts help in the popularization of these little known groups. In this way,
the objective of this work was to systematize and catalog the collection of aquatic insects of the orders
Hemiptera, Megaloptera and Plecoptera, disseminate it in the virtual collection of the Portal of the
Cerrado, elaborate and test educational materials for teaching science. The evaluation of play activities
was performed by quantitative and qualitative tests with elementary school students. 2692 individuals
were cataloged and taxonomically identified at the gender level of the collection of Aquatic Insects of
the Laboratory of Ecological Research and Scientific Education. In addition to the cataloging of insects

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for museum collection, educational materials were also used to popularize knowledge about aquatic
insects, being important pedagogical tools that aid in the teaching-learning process.
Key-words: Environmental Education, Scientific Collections, Virtual Museums and Science Teaching.

INTRODUÇÃO

Os insetos aquáticos são invertebrados aquáticos que vivem pelo menos uma parte de seu ciclo
de vida na água. Eles possuem grande importância para o equilíbrio dos ambientes aquáticos por
participarem da ciclagem de nutrientes e fazerem parte de complexas teias alimentares (HAMADA et
al., 2014; MERRITT & CUMMINS, 1995). Os insetos aquáticos estão distribuídos em 11 ordens
(Collembola, Ephemeroptera, Odonata, Plecoptera, Hemiptera, Coleoptera, Megaloptera, Neuroptera,
Trichoptera, Diptera e Lepidoptera) com diferentes adaptações às diversas condições dos hábitats
aquáticos e substratos (HAMADA et al., 2014).
Segundo Allan e Castilho (2007), a biodiversidade dos organismos aquáticos em determinados
habitats depende do grau de compatibilidade de suas características com o ambiente. Assim, alguns
táxons são mais sensíveis que outros por necessitarem de condições específicas para sua sobrevivência,
como por exemplo um ambiente mais preservado (HAMADA et al., 2014; MERRITT & CUMMINS,
1995). Por essa característica os insetos aquáticos são usados em monitoramentos da integridade de
ecossistemas aquáticos sendo assim considerados bioindicadores da qualidade ambiental (MOULTON,
1998).
Muitos desses organismos não são conhecidos popularmente, o que dificulta ações de
conservação e de educação ambiental. Portanto, acreditamos que a divulgação do conhecimento
científico pode ser uma das estratégias para auxiliar na conservação da biodiversidade pela
aproximação de crianças do conhecimento ecológico e assim, gerar uma maior compreensão, por
exemplo, dos efeitos gerados pelas alterações antrópicas sobre a biodiversidade (ANGELINI et al.,
2011). Alguns estudos têm mostrado que a educação científico-ambiental pode contribuir muito para
uma formação ecológica mais consistente, que pode gerar mudança de comportamento e percepção
sobre os atuais problemas ambientais, inclusive em relação a ambientes aquáticos (ANGELINI et al.,
2011; SANTOS et al.,2011).
A educação para a biodiversidade pode contribuir para uma compreensão de processos
ecológicos de perda de espécies causados por ações antrópicas, que segundo Marandino e Monaco
(2007) perpassa a apreciação e contemplação da natureza numa dimensão estética e alcança uma
compreensão mais intelectual. Para as autoras, as atuais discussões sobre educação para a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

biodiversidade consideram também a percepção de que o ser humano interage ativamente no processo
evolutivo, tanto na esfera natural como na criação de ambientes alterados. Assim, a educação para
biodiversidade não pode, hoje, prescindir da dimensão conservacionista. É necessário, também, o
aprofundamento em questões científicas que subsidiem a ação humana sobre a natureza.
Para tanto, são necessários materiais adequados para abordar assuntos específicos e pouco
trabalhados em aulas práticas no ensino de ciências, tanto na escola como em ambientes não formais.
Sabe-se que há uma constante discussão entre os profissionais da educação sobre como motivar os
alunos a aprender, com desenvolvimento de metodologias aplicadas na prática de ensino (MOURÃO et
al., 2008). Fazer com que o aluno se interesse pela aprendizagem é uma tarefa difícil, no qual o
professor deve refletir constantemente as questões, dificuldades, interesses e possibilidades da sua
prática. Segundo Corpe e Mota (2014), quando o aluno vivencia uma prática pedagógica que não
possui nenhuma relação com seu cotidiano, pouco se interessa pelo assunto, o que ocasiona um déficit
de conhecimentos por não perceber o sentido daquilo que está sendo ensinado. No entanto, quando se
trabalha de forma interativa e participativa a aprendizagem aumenta de forma significativa, permitindo
a assimilação da teoria com a prática.
Desta forma, esse trabalhotem como objetivo a musealização e popularização da biodiversidade
de insetos aquáticos por meio de sistematização da coleção científica e didática, elaboração e teste de
materiais educativos de insetos aquáticos e impactos ambientais como instrumentos para popularização
do conhecimento sobre insetos aquáticos como bioindicadores.

METODOLOGIA

Sistematização da coleção de insetos aquáticos

A catalogação da coleção consistiu em acondicionar as amostras em frascos com tampa e


batoque em álcool 70° além de organizar as amostras por nível de ordem. Os espécimes das ordens
Plecoptera, Megaloptera e Hemiptera foram identificados até o nível de gênero e depositados na
coleção de Insetos Aquáticos do LAB-PEEC. Também foram selecionados alguns exemplares de cada
táxon para a exposição e atividades de educação científica do LAB-PEC.

Elaboração dos materiais pedagógicos sobre insetos aquáticos

Foram confeccionados diferentes recursos didáticos como modelos de insetos aquáticos nas
fases imatura e adulta, assim como maquetes representando efeito de impactos ambientais, ciclo de
vida dos insetos e jogos (tabuleiro, cruzadinha, caça-palavras, crioptograma e labirinto) com folha de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

resposta como auxílio para os professores, além de instruções para os alunos. Todos esses materiais
podem ser utilizados em atividades de educação científica em ambientes formais e não formais de
ensino.
Para a musealização da coleção, foram disponibilizados jogos e atividades no Portal Virtual do
Cerrado, no Espaço do Estudante e do Professor. ―O Portal virtual da biodiversidade do Cerrado‖, é um
projeto apoiado pela chamada ―Espaços científicos-culturais‖ do Edital n° 64 MCT/ CNPq/ SECIS/
FAPs e tem como objetivo catalogar e divulgar as coleções científicas de diferentes grupos
taxonômicos do Cerrado. A criação desse portal é um meio de divulgação de informações sobre a
biodiversidade do Cerrado voltado para o público de ensino médio e fundamental.Os materiais
elaborados para o museu virtual instigam o raciocínio lógico e auxiliam na aquisição de conhecimento
sobre esses animais pelos alunos, além de ser um suporte para professores, com roteiros de aula com
instruções e respostas para consulta.

Avaliação dos materiais didáticos

Para avaliar a eficácia do material didático produzido,foi aplicadauma palestra interativacom os


artefatos e os jogos sobre o tema abordado para alunos do sétimo ano do ensino fundamental de uma
escola estadual de Anápolis, Goiás. Essa série foi escolhida devido ao seu conteúdo estar relacionado
com o conteúdo proposto nas atividades. Questionários semi-estruturados, de 10 questões,foram
aplicados antes e depoisdas atividades com perguntas relacionadas à biodiversidade aquática e
impactos ambientais. Desta forma, obtivemos informações sobre o nível de conhecimento antes das
atividades e o nível de aprendizagem dos alunos sobre as informações transmitidas durante as
atividades.
A atividade foi desenvolvida para um total de 69 alunos. Foram aplicados palestra interativae
jogospara 35 alunos e somente palestra interativa para 34 alunos, além dos questionários (pré e pós)
para ambas as turmas. As palestras tiveram a duração de 50 minutos (uma aula) e o momento dos
jogos, uma hora e 40 minutos (duas aulas). As análises dos dados consistem em uma avaliação
qualitativa com observação do comportamento dos alunos participantes, e quantitativa avaliando a
equivalência do nível de conhecimento dos dois grupos antes das atividades e a diferença das respostas
dos questionários antes e depois das atividades, por meio do teste t (student) pareado utilizando o
programa Statistic 7.0®(STATSOFT, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Sistematização da coleção de insetos aquáticos

Foram catalogados 2.692indivíduos das ordens Hemiptera, Megaloptera e Plecoptera da coleção


de Insetos Aquáticos do LAB-PEEC, com identificação taxonômica dos organismos ao nível de
gênero.Da ordem Hemiptera, foram identificados 508 insetos de 11 famílias e 17 genêros. Os
Megaloptera foram encontrados 133 indivíduospertencentes a uma família e dois gêneros. Da ordem
Plecoptera, foram identificados 2.051 espécimes de duas famílias, distribuídos em quatro gêneros
(Tabela 1).
As coleções biológicas são importantes registros de biodiversidade e segundo Cartaxana et al.
(2014) são ―sistemas de referência‖ para a Ciência. A documentação da diversidade dos seres vivos
gera dados importantes, não só para a musealização da coleção, mas como fonte de informação para a
conservação e preservação dos recursos naturais (CARTAXANA et al., 2014), podendo ser subisídio
para outros estudos, pesquisas e divulgação científicas.

Tabela 1: Abundâncias dos insetos identificados das ordens Hemiptera, Megaloptera e Plecoptera
depositados na coleção de Insetos Aquáticos do LAB-PEEC, da Universidade Estadual de Goiás.
ND: não determinado.
Ordem Família Gênero Abundância
Hemiptera Belostomatidae Belostoma 2
Lethocerus 2
Corixidae Tenagobia 1
Gelastocoridae Gelastocoris 1
Gerridae Tropobates 1
Hebridae Hebrus 1
Lipogomphus 4
Mesoveliidae ND 8
Naucoridae Ambrysus 24
Cryphocricos 46
Limnocoris 168
Pelocoris 19
Nepidae Curicta 1
Notonectidae Martarega 1
Notonecta 2
Pleidae Neoplea 9
Veliidae Rhagovelia 218
Megaloptera Chloronia 6
Corydalus 127
Plecoptera Perlidae Anacroneuria 1.957
Macrogynoplax 5
Kempnyia 22
Gripoterygidae Tupiperla 67
Total 2.692

Materiais pedagógicos sobre insetos aquáticos

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Além da catalogação dos insetos para musealização da coleção, os materiais virtuais educativos
(Figura 1)e os artefatos educativos (Figura 2)também serão utilizados para popularizar o conhecimento
sobre insetos aquáticos. Cada atividade refere-se a um tema distinto sobre o grupo estudado. Esses
materiais consistem em jogos de: caça-palavras que foca no conceito de sistemática e taxonomia bem
como a posição taxonômica em que as ordens estão localizadas;criptograma sobre o hábito dos insetos;
caça-palavras com perguntas sobre a morfologia dos insetos; um labirinto destacando os insetos
bioindicadores por serem sensíveis a qualidade ambiental; cruzadinha sobre impactos ambientais; ejogo
de tabuleiro com cartas, com o tema em características gerais dos insetos aquáticos. Todos os materiais
didáticos possuem folha de resposta como auxílio para os professores além de instruções de como
jogar.
Os artefatos consistem em duas maquetes de rio, representando as comunidades de ambientes
íntegros e de ambientes degradados; esquemas com os ciclos de desenvolvimento dos insetos
(homometábolo, hemimetábolo e holometábolo). Também foram criados treze modelos didáticos de
insetos aquáticos de biscuit, representantes de larvas e adultos das ordens Ephemeroptera, Odonata,
Plecoptera, Orthoptera, Coleoptera, Megaloptera, Hymenoptera, Trichoptera, Lepidoptera, Diptera,
Neuroptera, Blathodea e Hemiptera (Figura 2). Todas as atividades reforçam a importância da mata
ciliar para a manutenção da integridade biótica no rio e os caracteres principais que distingue cada
ordem. Desta forma, espera-se que esses materiais elaborados sejam aplicados no ensino de Ciências
nas escolas públicas e privadas, visto que eles demostraram eficiência no ensino e na construção de
aprendizagem.

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A B C

D E

F G

Figura 1. Jogos sobre insetos aquáticos disponíveis no Portal Virtual da Biodiversidade. A) Caça palavras:
insetos aquáticos. B) Criptograma: habito dos insetos aquáticos. C) Caça-palavras: morfologia dos insetos. D)
Labirinto: bioindicadores. E) Cruzadinha: impactos ambientais. F) Tabuleiro: Insetos aquáticos. G) Cartas
usadas para jogar o tabuleiro.

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C D E

F G H

I J

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Figura 2: Artefatos educativos. A) Maquete do lago preservado. B) Maquete do lago com mata ciliar degradada.
Ciclos de vida dos insetos aquáticos: C)Homometábulo; D) Hemimetábolo; E)Holometábolo. Representações
didáticas de insetos das ordens:F) Coleoptera;G) Diptera; H) Ephemeroptera; I) Hemiptera; e J) Plecoptera.

Avaliação dos materiais didáticos

A aplicação de modelos didáticos para o ensino sobre insetos aquáticos para a série de 7° ano do
ensino fundamental, teve boa receptividade por parte dos educandos. Os alunos, desde o início se
mostraram bastante curiosos, demonstraram entusiasmo com o desenvolvimento do trabalho. Houve
alguns questionamentos durante a aula em relação a alguns termos mais científicos e curiosidade a
respeito dos insetos aquáticos, gerando um diálogo bastante produtivo. Também foi verificado que os
alunos ficaram entusiasmados com o uso do material que foi confeccionado em tamanho grande, com
riqueza de detalhes da morfologia dos insetos aquáticos e rios com ambiente poluído e preservado.
Na avaliação quantitativa do uso dos materiais didáticos, os alunos demostraram um
conhecimento prévio similar sobre insetos aquáticos (t= 1,79; p= 0,07; Figura 3A).A maioria dos
estudantes citou no começo da palestra apenas o mosquito da dengue e libélulas como insetos
conhecidos, porém não sabiam a importância deles na cadeia trófica, a sua biodiversidade ou outras
informações taxônomicas.
Outro ponto bastante relevante foi a aplicação do jogo de tabuleiro, no qual os alunos ficaram
muito interessados. Durante a aplicação foi observado que os alunos haviam prestado atenção na aula e
assimilado informações como características morfologicas, ciclos de vida, importância e curiosidades
sobre os insetos aquáticos ao responderem as perguntas elaboradas para o jogo. Notou-se participação
ativa dos componentes de cada grupo, por outro lado ficou claro o melhor desempenho de alguns
grupos. Desta forma, podemos notar que o jogo necessita de um trabalho prévio do professor, é
necessário que ocorra uma aula onde todos os conceitos são abordados e discutidos para só assim
trabalhar com este recurso.
Os alunos que jogaram e participaram da palestra interativa tiveram maior rendimento no
questionário depois das atividades (t= 6,67; p<0,05; Figura 3B). O uso de recursos não convencionais
na educação tem demostrado eficácia na construção de conhecimento pelos alunos. Os jogos
pedagógicos, por exemplo, auxiliam na aprendizagem ao construir um contexto de motivação e auto-
confiança para o aluno, instigando os estudantes a aprenderem mais para obter sucesso no jogo
(SILVEIRA&BARONE, 1998). Além disso, as atividades lúdicas despertam e exercem habilidades
intelectuais e afetivas como criatividade, imaginação, trabalho em equipe e socialização, estimulando a
vida social da criança e do adolescente (DINELLO, 2004; RODRIGUES, 2001).

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Durante a atividade era notável o trabalho em equipe dos alunos, que ajudavam os colegas na
realização das atividades. Esse companherismo também refletiu no jogo favorito da maioria dos alunos,
o tabuleiro, um jogo em grupo. Eles se divertiram e davam dicas para os colegas, torcendo para a sorte
de não ficar rodadas sem jogar e concentrados para acertar a pergunta da carta.
No entanto, não só as atividades lúdicas foram importantes para esse resultado, mas a palestra
interativa também. Os alunos que participaram somente da palestra interativa tiveram rendimento ao
responder o questionário similar aos que participaram da palestra e dos jogos (t=-1.93; p=0.057; Figura
3C). O resultado obtido pode ser explicado pela efetividade de aulas dinâmicas com uso de materiais
didáticos atrativos que contribuem para uma maior interação dos estudantes durante a aula.

A B

Figura 3. Diagrama das médias obtidas nos questionários aplicados. A) pré teste sem jogos e pré teste com jogos;
B) pré teste com jogos e pós teste com jogos e C) pós teste sem jogos e pós teste com jogos.

Portanto, as atividades lúdicas são importantes ferramentas pedagógicas que auxiliam no


processo de ensino-aprendizagem. Os alunos aprendem o conteúdo de uma forma descontraída e
divertida, estimulando o desenvolvimento intelectual para a formação da criança e do adolescente

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(SILVEIRA&BARONE, 1998). Assim, o uso de jogos simples podem facilitar o professor em


conteúdos extensos e muitas vezes de difícil compreensão dos alunos (RODRIGUES, 2001). Além
disso, essa atividade específica auxilia na divulgação científica e desmistifica a visão dos alunos de
associar insetos aquáticos somente como propagador de doenças. Os estudantes comprovaram que a
diversidade de insetos aquáticos não se resume em mosquito da dengue e libélulas, mas em milhares de
espécies com peculariedades e de fundamental importância para o equilíbrio ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os museus virtuais contribuem para a produção de conhecimento e a divulgação da Ciência.


Assim, a catalogação, divulgação e socialização da coleção de insetos aquáticos do LAB-PEEC no
Portal Virtual do Cerrado é de grande relevância para a popularização e musealização desses
organismos aquáticos. Além disso, as atividades lúdicas e os jogos despertam a curiosidade, o
raciocínio lógico e aumentam o conhecimento sobre os insetos aquáticos, um grupo pouco abordado
nas escolas mas de fundamental importância para o equilíbrio dos ambientes aquáticos. Tais materiais
também podem ser utilizados como apoio para alunos e professores. Portanto, o conteúdo do Portal e os
artefatos educativos serão subsídio não só para a pesquisa, mas também para o ensino de Ciências nas
escolas públicas e privadas.

AGRADECIMENTOS

Nós agradecemos à UEG pelo apoio financeiro, por meio do "Programa Auxílio Eventos (Pró-
Eventos)" e pela bolsa de Iniciação Científica.

REFERÊNCIAS

ALLAN, J.D. & CASTILLO, M.M.Stream ecology: structure and function of running waters, 2nd ed.,
XIV, 436p, 2007.

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conservation. Nature & Conservation, v. 9, n.1,p. 1-5, 2011.

CARTAXANA A, MARÇAL A, CARVALHO D. O papel das coleções de história natural no estudo


e conservação de invertebrados.Ecologia, 7, 15-21. 2014.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 204


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CORPE, F. P.; MOTA, E. F. Utilização de modelos didáticos no ensino-aprendizado em imunologia.


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DINELLO, R. Os jogos e as ludotecas. Santa Maria: Pallotti, 2004.

FRANÇA, J. S., & CALLISTO, M. Coleção de macroinvertebrados bentônicos: ferramenta para o


conhecimento da biodiversidade em ecossistemas aquáticos continentais. Neotropical Biology and
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HENRIQUES, R. Museus virtuais e cibermuseus: a internet e os museus. Humanidades e tecnologias


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MAGALHÃES, C.; SANTOS, J.L.C. & SALEM, J.I. Automação de coleções biológicas e informações
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MOULTON, T. P. Saúde e integração do ecossistema e o papel dos insetos aquáticos. In:


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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DIVERSIDADE DE SAMAMBAIAS E LICÓFITAS NO PARQUE ESTADUAL SÍTIO


FUNDÃO, GEOPARK ARARIPE, CRATO, CEARÁ, BRASIL

Karla Karen de BRITO


Graduada em Ciências Biológicas da URCA
britto.kk@hotmail.com
Maraiza Gregorio de OLIVEIRA
Graduanda em Ciências Biológicas da URCA
maraaiza0104@hotmail.com
Eliete Lima de Paula ZÁRATE
Professora Associada Doutora do Curso de Ciências Biológicas da UFPB
lilazarat@hotmail.com
Sírleis Rodrigues LACERDA
Professora Doutora do Curso de Ciências Biológicas da URCA
sirleisl@terra.com.br

RESUMO
O presente trabalho analisa o fenômeno de antropização na diversidade das samambaias e licófitas no
Sítio Fundão localizada no Geopark Araripe, município de Crato, estado do Ceará, Brasil. Os dados
foram obtidos principalmente através de coletas, como também através de levantamento bibliográfico e
nos Herbários Caririense Dárdano de Andrade-Lima (HCDAL/URCA), Lauro Xavier (JPB/UFPB) e
Prisco Bezerra (EAC/UFC), sobre as samambaias e licófitas da região. As coletas foram realizadas
mensalmente entre novembro de 2012 e maio de 2013, seguindo trilhas existentes, interior de matas
fechadas, margens de rios e locais abertos. Os espécimes coletados foram depositados nos referidos
Herbários. Foram registradas cinco espécies distribuídas em três famílias e cinco gêneros de
samambaias, e pelo grupo das licófitas com apenas uma espécie. Os exemplares de samambaias e
licófitas presentes e os seus aspectos ecológicos observados refletem a variedade de microhabitats nas
áreas estudadas, o que pode ser um indicativo das condições de conservação da área estudada.
Palavras-chaves: Geopark Araripe, Diversidade, Crato, florística, pteridófitas.
ABSTRACT
The present work analyzes the anthropization phenomenon in the diversity of the ferns and lyófitas in
the Fundão Site located in AraripeGeopark, municipality of Crato, state of Ceará, Brazil. The data were
obtained mainly through collections, as well as through a bibliographical survey and in the
CaririenseDárdano de Andrade-Lima (HCDAL / URCA), Lauro Xavier (JPB / UFPB) and
PriscoBezerra (EAC / UFC) herbariums on the ferns and Lyophies of the region. The collections were
carried out monthly between November 2012 and May 2013, following existing trails, inside of closed
forests, river banks and open sites. The collected specimens were deposited in said Herbariums. Five
species were recorded in three families and five genera of ferns, and by the group of lyophytes with one
species. The specimens of ferns and lyophytes present and their observed ecological aspects reflect the
variety of microhabitats in the studied areas, which may be indicative of the conservation conditions of
the studied area.
Keywords: AraripeGeopark, Diversity, Crato, floristic, pteridophytes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Estudos realizados sobre a filogenia das plantas vasculares sem sementes separam as mesmas
em dois grupos: o das licófitas, que corresponde às famílias Selaginellaceae, Lycopodiaceae e
Isoetaceae, e o outro das monilófitas, constituído pelas demais famílias entre as samambaias, além de
Equisetaceae e Psilotaceae (KENRICK & CRANE, 1997). Compreendem cerca de 13.000 espécies no
mundo, estimando-se mais de 1.200 licófitas (JUDD et al., 2002) e até 11.500 de monilófitas (PRYER
et al., 2004), destas, cerca de 30% ocorrem no Brasil. São registradas em vários habitats, desde o nível
do mar até quase o limite da vegetação altimontana nas regiões tropicais, englobando regiões de
Caatingas, Cerrado, Mata atlântica, Manguezais, Planícies Amazônicas, como exemplos para a
América do Sul (MMA, 2005).
A conservação das espécies de pteridófitas é escassa no Brasil, e o rápido processo de
destruição de habitats especiais permite estimar que um grande número de espécies possa estar
ameaçado ou em risco (Windisch 2002)
A necessidade de conservar as espécies de pteridófitas pode ser justificada pelo fato de que o
homem e o conjunto dos animais precisam do reino vegetal para sobreviver (Salvo 1990). Dessa forma
o presente trabalho é um estudo pioneiro sobre a composição florística e os aspectos ecológicos de
samambaias e licófitas no Sítio Fundão, Geopark Araripe, como uma contribuição para o conhecimento
da flora da região e do Estado do Ceará, com abordagens taxonômicas e comentários de hábito, formas
de vida, ambiente preferencial e distribuição geográfica das espécies.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de Estudo

O Geopark Araripe situa-se ao sul do estado do Ceará, Nordeste do Brasil, nos municípios de
Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri. É o primeiro
Geoparque do continente americano, criado em 2006, com uma área de 3.796 km². Apresenta
delimitações com grande valor científico, histórico, cultural e ambiental, com importantes dados sobre
as formas de vida do passado (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2012). O maior destaque na sua
paisagem é representado pela Chapada do Araripe, que cobre uma superfície com aproximadamente
180 km de comprimento (leste-oeste) e largura variável entre 30 e 50 km, compreendendo o extremo
sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí. Possui altitude entre 850 e 1.000 m,
representada por uma vegetação bastante diversificada, dentro dos domínios de cerrado, caatinga,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

carrasco, cerradão e alguns vestígios de Floresta Atlântica, em áreas de encosta, com grande parte em
áreas de unidades de conservação (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2012).
O Parque Estadual do Sítio Fundão localiza-se na Chapada do Araripe, é uma importante
Unidade de Conservação do Cariri Cearense, com aproximadamente 93,54 hectares de mata nativa,
com espécies remanescentes da Floresta Atlântica, além de representantes dos biomas Cerrado e
Caatinga, constituindo uma das mais ricas biodiversidades da região (GOVERNO DO ESTADO DO
CEARÁ, 2012).

Amostragem e Análise dos Dados

Os dados foram obtidos através de coletas mensais entre novembro de 2012 e maio de 2013, em
locais que apresentavam ambientes preferenciais para a ocorrência das samambaias e licófitas,
seguindo trilhas já existentes, bordas de rios e interior de matas fechadas, além de áreas mais abertas.
Os espécimes coletados foram herborizados seguindo a metodologia padrão (MORI et al. 1989) e a
identificação dos táxons e das características ecológicas foram realizadas através de bibliografias
especializadas e auxílio de especialistas. Foi realizado levantamento bibliográfico sobre as samambaias
e licófitas da região e consultas no Herbário Caririense Dárdano de Andrade Lima (HCDAL) da
Universidade Regional do Cariri, Herbário Prisco Bezerra (EAC) da Universidade Federal do Ceará e
Herbário Lauro Xavier (JPB) da Universidade Federal da Paraíba. O material testemunho foi
depositado na coleção dos herbários HCDAL e JPB.
A circunscrição adotada para as famílias de samambaias foi baseada em Smith et al. (2006) e
para as licófitas Kramer & Green (1990), como também os nomes dos autores dos táxons foram
abreviados seguindo o trabalho de Pichi-Sermoli (1996).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A flora de plantas vasculares sem sementes da área estudada esteve representada por seis
espécies distribuídas em uma licófita, e cinco espécies de samambaias, distribuídas em três famílias e
cinco gêneros (Tabela 1).
Tabela 1 – Lista de famílias e espécies de Samambaias e Licófitas coletadas no Parque Estadual
Sítio Fundão, localizado no estado do Ceará/Brasil.
Família/Espécies Coletor/Herbário
LYCOPHYTA
SELAGINELLACEAE
Selaginella erythropus (Mart.) Spring. BRITO, K. K, 10 (JPB)
MONILÓFITA

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 209


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LYGODIACEAE
Lygodium venustumSw. BRITO, K. K, 14 (JPB)
PTERIDACEAE
Adiantum deflectens Mart. BRITO, K. K, 9 (HCDAL)
Pityrogramma calomelanos Link. BRITO, K. K, 3 (HCDAL)
THELYPTERIDACEAE
Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching. BRITO, K. K, 1 (HCDAL)
Thelypteris dentata (Forsk.) E. St. John BRITO, K. K, 2 (HCDAL)

Analisando a composição florística e comparando com outras floras de pteridófitas de estados


nordestinos, podemos observar que existe cerca de 400 espécies na região nordeste do Brasil, sendo o
estado do Pernambuco o que apresenta o maior numero de estudos desenvolvidos (BARROS, LIRA e
SILVA, 1988).
Para o estado do Ceará, os dados mais antigos publicados sobre a flora pteridofítica estão nos
trabalhos de Braga (1951), onde o autor fez um apanhado de todas as referencias sobre ocorrência
desses vegetais no estado, assinalando 94 espécies, além de Brade (1940) que listou 67 espécies para a
serra de Baturité, como também Paula (1993), no levantamento sobre as pteridófitas da mesma área,
registrou 93 espécies, o que ampliou os dados do autor acima referido e Paula-Zárate et al. (1997),
apresentaram um estudo preliminar sobre a flora pteridofítica do Ceará, onde registrou a ocorrência de
102 espécies para todo o estado, ressaltando mais uma vez a maior diversidade nas serras úmidas
cearenses.
Como se observa, essas são as únicas referencias que se tem, até o momento, sobre a flora de
pteridófitas da Região. Assim, os dados apresentados neste trabalho comprovam a ocorrência de muitos
elementos em área de vegetação diferenciada das serras úmidas e secas do estado, ampliando as áreas
de coletas.
O número de espécies aqui registradas para a área de estudo, revela-se pouco representativa,
pois este número indica uma baixa diversidade quando comparada com dados publicados sobre as
pteridófitas cearenses (Brade, 1940; Braga, 1951; Paula, 1993).
Na área estudada do Geopark Araripe, entre as seis espécies, as famílias mais representadas
foram Pteridaceae e Thelypteridaceae ambas com duas espécies.
O predomínio de espécies terrestres em relação às demais foi constatado em outro estudo de
áreas florestais úmidas no Ceará (PAULA-ZÁRATE et al 2007). Em especial sobre a família
Lygodiaceae, o seu baixo número de registro em algumas das áreas deve está relacionado ao intenso
grau de influência antrópica, observada durante as coletas no Sítio Fundão.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 210


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Alguns estudos assinalam os fatores abióticos tais como, clima, latitude, longitude e altitude
como influenciadores diretos na ocorrência e distribuição das samambaias e licófitas.
Entre os habitats registrados para as espécies na área estudada no Geopark, destacam-se uma
predominância de terrestre de solo, com quatro espécies exclusivas, e duas espécies epífitas.
As famílias que são predominantemente de hábito herbáceo são Selaginellaceae, Pteridaceae e
Thelypteridaceae.
Esses dados são semelhantes aos mostrados por Sehnem (1975) para as filicíneas da região Sul
do Brasil, onde a grande maioria das espécies referidas é de hábito herbáceo.
As samambaias e licófitas ocorrem em vários tipos de habitats, desde o nível do mar até quase o
limite da vegetação altimontana nas regiões tropicais, englobando situações sub-desérticas como nas
caatingas, ambientes salobros como nos manguezais, florestais pluviais tropicais como na planície
amazônica, ou pluviais de encosta (WINDISCH, 1990).
Os ambientes do sertão cearense, em que a vegetação característica é a das Caatingas, são tão
pouco característicos para samambaias e licófitas e mesmo como semi-áridos para essas plantas, que no
passado foram cobertos por florestas, fato referido por Coimbra-Filho e Câmara (1996), quando
comentaram que entre as alterações fito-fisionômicas ocorridas no Nordeste, a mais significativa foi a
destruição quase total de grande extensão das matas regionais, fator de equilíbrio ecológico ambiental,
hoje completamente desestabilizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A degradação apresentada no Parque Estadual Sítio Fundão é um grave problema ambiental


decorrente das relações conflitantes homem x natureza, que torna o ambiente cada vez mais fragilizado.
A alteração do ambiente natural para a instalação das necessidades humanas leva a prejuízos
significativos, em relação à perda das espécies de fauna e flora. A exposição do solo devido ao
desmatamento desequilibra o ecossistema existente naquela área. A retirada da cobertura vegetal pode
levar a perda total de espécie da fauna e flora ameaçadas ou já em extinção, e espécies endêmicas,
empobrecendo a diversidade biológica da região.
Apesar das medidas para a proteção e preservação dessa Unidade de conservação estar sendo
tomadas, através de iniciativas de comprometimento de algumas Universidades que vem
desenvolvendo pesquisas no local, a fim de tentar garantir a recuperação das áreas degradadas. É
preciso estimular as mudança nas práticas e atitudes e a formação de novos hábitos com relação à
utilização dos recursos naturais favorecendo a reflexão sobre a responsabilidade ética de nossa espécie

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 211


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

e o próprio planeta como um todo, auxiliando para que a sociedade possua um ambiente sustentável
garantindo a vida do planeta.
Com o levantamento realizado de espécies de Samambaias e Licófitas, foi observado poucas
ocorrências, devido ao local que foi bastante alterado, e com um impacto ambiental muito drástico.
Fazer o levantamento das espécies é de importante valor, para a recuperação de uma área antropizada,
onde pode-se observar se ouve ou não um desequilíbrio.

REFERÊNCIAS

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Pernambuco, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 21, p. 47-84, 1988.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 213


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INSETOS VISITANTES FLORAIS DE Croton heliotropiifolius KUNTH


(EUPHORBIACEAE) EM ÁREA DE CAATINGA NO CEARÁ, NORDESTE DO BRASIL

Michelle de Oliveira GUIMARÃES-BRASIL


Instituto Federal do Rio Grande do Norte
michelle.guimaraes@ifrn.edu.br
Mayson Antônio de Queiroz CASTRO
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
maysonaquino@hotmail.com
Jânia Silmaria Pereira de ALMEIDA
silmaria1945@hotmail.com
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Eduardo Alves de SOUZA
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
eduardo-braz97@hotmail.com

RESUMO:
Este trabalho teve como objetivo identificar os insetos visitantes florais de Croton heliotropiifolius
(Euphorbiaceae) em área de Caatinga no estado do Ceará, Nordeste do Brasil. As coletas de dados
foram realizadas durante o mês de abril de 2016 em planta adulta de Croton heliotropiifolius no
período de floração, com observações no decorrer de dez dias consecutivos, entre os horários das 7h00
às 17h10. Foram observados 562 indivíduos, distribuídos em 12 famílias. As abelhas (Apoidea)
constituíram o grupo mais observado, tendo apresentado uma diversidade de espécies que
compreenderam comportamentos solitário e eussocial. A família com o maior número de espécies
coletadas foi Apidae, destacando-se as espécies Apis mellifera, Melitoma cf. ipomoerum e
Caenonomada sp. As inflorescências de C. heliotropiifolius tiveram ainda visitas de moscas
(Muscoidea), destacando-se a espécie Palpada solenis (Syrphidae), o segundo visitante mais frequente,
e de vespas (Vespoidea), tendo como principal representante o vespídeo Brachygastra lecheguana. A
diversidade de visitantes florais levantada sugere uma importância da espécie C. heliotropiifolius na
oferta de recursos alimentares para insetos na região do semiárido cearense.
Palavras-chave: Entomofauna, Abelhas, Moscas-das flores, Recursos florais, Caatinga.
ABSTRACT:
The objective of this work was to identify the floral visitor insects of Croton heliotropiifolius
(Euphorbiaceae) in the Caatinga area in the state of Ceará, Northeast Brazil. Data were collected during
the month of April 2016 in an adult plant of Croton heliotropiifolius during the flowering period, with
observations during ten consecutive days, between of 7:00 a.m. to 5:00 p.m. A total of 562 individuals
were observed, distributed in 12 families. Bees (Apoidea) were the most observed group, presenting a
diversity of species presenting solitary and eusocial behaviour. The family with the highest number of
species collected was Apidae, especially Apis mellifera, Melitoma cf. ipomoerum and Caenonomada
sp. The inflorescences of C. heliotropiifolius were also visited by flies (Muscoidea), especially species
of Palpada solenis (Syrphidae), the second most frequent visitor, and wasps (Vespoidea), with

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Brachygastra milkguana as its main representative. The diversity of floral visitors raised suggests an
importance of the species C. heliotropiifolius in the supply of food resources for insects in the semi-
arid region of Ceará.
Keywords: Entomofauna, Bees, Flower flies, Floral resources, Caatinga.

INTRODUÇÃO

Visitantes florais são animais que buscam, nas flores, recursos para si e suas crias, podendo ser
categorizados como visitantes esporádicos, frequentes, oportunistas, pilhadores, generalistas ou
especialistas (ALVES-DOS-SANTOS et al., 2016). Essas visitas tornam-se relações mutualísticas
quando proporcionam benefícios para os envolvidos, como a polinização das plantas e obtenção de
recursos florais pelo visitante (GULLAN e CRANSTON, 2012).
As abelhas são apontadas como os visitantes florais mais importantes da natureza e principais
polinizadores em áreas naturais e agrícolas (IMPERATRIZ-FONSECA e NUNES-SILVA, 2010;
OLIVEIRA, 2015), sendo responsabilizadas pela polinização de cerca de 80% das plantas com flores
(KWAPONG et al., 2010), de aproximadamente 73% das plantas cultivadas e utilizadas na alimentação
humana (FREITAS e SILVA, 2015) e de até 90% das plantas nativas brasileiras (KERR, 1999). Dessa
maneira, as abelhas representam um dos organismos de maior importância na manutenção da
biodiversidade botânica nos diferentes biomas terrestres (BIESMEIJER et al., 2006; RICKETTS et al.,
2008; POTTS et al., 2010), uma vez que atuam diretamente na base da cadeia alimentar.
No bioma Caatinga, temos reconhecidas cerca de 187 espécies de abelhas sociais e solitárias
nativas, pertencentes a 77 gêneros (ZANELLA, 2000; ZANELLA e MARTINS, 2008), ambas
nidificando, em sua maioria, nas cavidades pré-existentes das espécies arbóreas dessa região
(MARTINS et al., 2004; CARVALHO et al., 2014).
A vegetação da Caatinga, situada na região tropical semiárida, apresenta uma grande
diversidade espacial de fisionomias, como consequência dos ciclos hidrológicos, resultando em uma
ampla diversidade de formações vegetais, desde coberturas arbustivas abertas a arbóreas relativamente
fechadas (ZANELLA, 2003).
Um dos gêneros botânicos presentes neste bioma é o Croton L. (Euphorbiaceae), que
compreende uma variedade de espécies endêmicas das áreas de Caatinga e são extremamente eficazes
na produção de óleos essenciais, permitindo serem utilizadas por seu potencial fitoterápico (COSTA,
2011), principalmente na medicina popular (ROCHA, 2015); como também compondo a diversidade
de plantas apícolas da região (OLIVEIRA-JÚNIOR et al., 2008). As espécies desse gênero têm
despertado o interesse da indústria de fármacos, pela descoberta de diversos componentes químicos, a

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exemplos dos terpenóides, flavonoides, alcaloides, polinfenois e taninos (RANDAU et al., 2004;
SCALDAFERRI, 2013; OLIVEIRA, 2014; ROCHA, 2015).
Dentre essas espécies, encontra-se Croton heliotropiifolius, reconhecida popularmente como
velame, que é um arbusto monoico, apresentando porte pequeno a médio (variando de 0,70 a 2,5 m) e
flores dispostas em inflorescências (SILVA et al., 2009; HURBATH et al., 2016). Localmente adaptada
ao Nordeste do Brasil (LUCENA, 2000; LUCENA e ALVES, 2010), o velame fornece recursos florais
para diversas espécies de abelhas, podendo seu néctar proporcionar um mel claro e bastante aromático
(OLIVEIRA et al., 2013; SOUSA et al., 2016).
Nessa perspectiva, o presente trabalho teve como objetivo identificar a diversidade e a
abundância dos insetos visitantes florais de C. heliotropiifolius, bem como suas frequências de
visitação e recursos coletados, no município de Ererê, estado do Ceará, Nordeste do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado durante o mês de abril de 2016, na zona rural do município de Ererê (6°
01‘ 55‘‘ S; 38° 20‘ 55‘‘ W e altitude de 230,5 m), situado na mesorregião do Vale do Jaguaribe,
interior do estado do Ceará, apresentando um clima semiárido (Bsh), seguindo classificação de
Köppen, com temperaturas médias anuais variando entre 26 e 28 °C. A pluviosidade média anual do
município é de 1097,3 mm, com período chuvoso compreendendo os meses de janeiro a abril (IPECE,
2010).
As coletas de dados foram realizadas em uma planta adulta de velame (Croton heliotropiifolius)
que se encontrava em período de floração. As observações sucederam-se no período de dez dias
consecutivos, nos horários das 7h00 às 17h10, totalizando 110 observações.
Os visitantes florais foram observados durante os dez primeiros minutos de cada hora, sendo
verificada a diversidade de espécies, o número total de indivíduos, a frequência de visitação e o
material coletado (néctar e/ou pólen). Em seguida, os espécimes foram capturados com o auxílio de
uma rede entomológica, sacrificados em uma câmera mortífera contendo acetato de etila e transferidos
para potes plásticos identificados com hora, data e local de coleta.
O material amostrado foi conduzido para laboratório do Instituto Federal do Rio Grande do
Norte (IFRN), campus de Pau dos Ferros, onde os visitantes foram montados em alfinetes
entomológicos, secados em estufa a 40 °C durante 24 horas e devidamente etiquetados. A identificação
taxonômica de todo o material foi realizada por especialista do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA).

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Os dados foram organizados e analisados com auxílio do Microsoft Excel 15.0 (Office 2013). A
representação da frequência relativa das visitas foi determinada pela quantidade de indivíduos de uma
determinada espécie pelo número total de espécimes colhidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram observados 562 indivíduos, distribuídos em 12 famílias (Tabela 1). A família com o
maior número de espécies coletadas foi Apidae, apresentando maior abundância de indivíduos e o
visitante floral mais frequente: a abelha Apis mellifera (27,22%). O segundo visitante mais abundante
nas inflorescências foi a espécie Palpada solenis (13,16%), pertencente à família Syrphidae, cujos
representantes são conhecidos popularmente como moscas-das-flores e identificados em estudos
anteriores como os principais polinizadores de espécies de Croton (PASSOS e SAZIMA, 1995;
PASSOS, 1995). Os resultados também apresentaram outras seis espécies de abelhas pertencentes às
famílias Apidae, Colletidae e Megachilidae, quatro espécies de vespas das famílias Crabonidae,
Pompilidae e Vespidae, seis espécies de moscas (Asilidae, Bombyliidae, Sarcophagidae, Syrphidae e
Tachinidae) e um indivíduo (0,17%) de libélula da família Cordulegastridae.

Tabela 1 – Frequência de espécies visitantes florais do velame (Croton heliotropiifolius) no município de Ererê,
Ceará, Nordeste do Brasil, 2016.
Número de
Espécies Família Frequência
indivíduos
Apis mellifera Apidae 153 27,22%
Brachygastra lecheguana Vespidae 40 7,11%
Caenonomada sp. Apidae 50 8,89%
Eulonchopria sp. Colletidae 2 0,35%
Libélula Cordulegastridae 1 0,17%
Megachile sp. Megachilidae 20 3,55%
Melitoma cf. ipomoerum Apidae 51 9,07%
Melitomella murihirta Apidae 31 5,51%
Mosca sp. 1 Tachinidae 24 4,27%
Mosca sp. 2 Sarcophagidae 1 0,17%
Mosca sp. 3 Bombyliidae 60 10,77%
Palpada cônica Syrphidae 4 0,71%
Palpada solenis Syrphidae 74 13,16%
Papaverellus aureocingulatus Asilidae 19 3,38%
Pepsis decorata Pompilidae 1 0,17%
Trigona spinipes Apidae 19 3,38%
Vespa sp. 1 Crabonidae 7 1,24%
Vespa sp. 2 Crabonidae 5 0,88%
Total 562 100%

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A abelha Apis mellifera, em razão de sua ampla distribuição e hábitos generalistas de coleta de
recursos florais, apresentou-se como o visitante mais frequente (27,22%) (Tabela 1), coletando néctar e
pólen (Tabela 2), o que corrobora com diversos estudos de composição de insetos visitantes florais e
fontes alimentares utilizadas pela espécie em plantas da Caatinga (CARVALHO e MARCHINI, 1999;
AGUIAR, 2003; MACHADO e LOPES, 2008; RODARTE et al., 2008; MATOS et al., 2014;
NASCIMENTO et al., 2014; COSTA et al., 2015).
Caenonomada sp. foi a segunda espécie de abelha mais frequente (8,89%) (Tabela 1), sendo
observada coletando néctar e pólen (Tabela 2). Abelha desse mesmo gênero (C. unicalcarata),
endêmica da Caatinga nordestina, foi registrada em visitas a espécies de Asteraceae, Caesalpiniaceae,
Loasaceae, Rubiaceae, Steculiaceae e Oxalidaceae na região Seridó do estado do Rio Grande do Norte
(ZANELLA, 2002).
As espécies Melitoma cf. ipomoerum (9,07%) e Melitomella murihirta (5,51%) (Tabela1)
apresentaram uma frequência representativa de indivíduos na coleta de néctar e pólen (Tabela 2),
porém, notam-se poucos registros dessas abelhas para as áreas de Caatinga (ZANELLA, 2003;
BATATA-FILHO et al., 2007). Foi observada apenas uma espécie de Megachile sp. (3,55%) coletando
ambos os recursos florais disponíveis (néctar e pólen) (Tabela 2), muito embora a família Megachilidae
apresente a segunda maior diversidade de espécies na região (ZANELLA, 2000).
A abelha Eulonchopria sp. (0,35%) (Tabela 1) forrageou apenas por pólen (Tabela 2) e foi
pouco representativa em número de indivíduos (Tabelas 1), a julgar pelos poucos registros de abelhas
desse gênero (MARTINS, 1994) e pela baixa diversidade de espécies de Colletidae nas Caatingas
(ZANELLA, 2000). Apesar da espécie eussocial Trigona spinipes apresentar expressiva abundância
como visitante floral em diversas espécies de plantas na região semiárida (MACHADO; LOPES,
2008), a frequência observada neste estudo foi menos pronunciada (3,38%) (Tabela 1), coletando
apenas néctar (Tabela 2).
As moscas (Muscoidea) apresentaram seis espécies visitantes florais, das quais destaca-se
Palpada solenis (13,16%) (Tabela 1) na coleta de néctar (Tabela 2), tendo espécies do mesmo gênero
confirmadas em outros estudos como principais polinizadores em duas espécies de Croton (PASSOS,
1995) e como visitantes florais dominantes em plantas de outras famílias botânicas (MORALES e
KÖHLER, 2006; 2009). Observou-se, ainda, a espécie Palpada conica coletando néctar (Tabela 2),
contudo, em uma menor frequência (0,71%) (Tabela 1).
A mosca sp. 3 (Bombyliidae), conhecida popularmente como mosca-abelha, coletou apenas
néctar (Tabela 2) e apresentou-se como o terceiro visitante mais frequente (10,77%) (Tabela 1),
resultado atribuído à sua ampla distribuição pelas regiões semiáridas (HULL, 1873) e pelos hábitos

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alimentares dos adultos dessas espécies que coletam néctar e pólen, podendo contribuir com a
polinização em diversas espécies de plantas (LAMAS e YAMAGUCHI, 2017). Foram observadas
visitas de mais duas espécies de moscas (sp. 1 e 2), uma pertencente à família Tachinidae (4,27%),
vista forrageando néctar e pólen, e a segunda, da família Sarcophagidae (0,17%) (Tabela 1), da qual foi
observada apenas um indivíduo coletando néctar (Tabela 2). A espécie Papaverellus aureocingulatus
(Asilidae) foi vista forrageando apenas néctar (Tabela 2), com frequência de visitação de 3,38%
(Tabela 1).
Visualizam-se quatro espécies de vespas (Vespoidea) nas inflorescências, todas apresentando
apenas comportamento forrageiro de néctar (Tabela 2). A espécie de Vespoidea mais presente foi
Brachygastra lecheguana (7,11%) (Tabela 1), observada em frequências semelhantes em outras áreas
de Caatinga (AGUIAR e SANTOS, 2007; ELISEI et al., 2017), além de ter sido verificada como
polinizadora importante para espécies de ocorrência na região Nordeste, a exemplo de Ziziphus
joazeiro (Rhamnaceae) (NADIA et al., 2007) e Anacardium occidentale (Anacardiaceae) (FLORES,
2012). Foram observadas outras duas espécies de vespas (sp. 1 e 2), pertencentes à família Crabonidae,
com frequências de visitação de 1,24% e 0,88%, respectivamente; e, ainda, um indivíduo da espécie
Pepsis decorata (0,17%) (Tabela 1).

Tabela 2 – Recursos florais coletados pelas espécies de visitantes florais do velame (Croton heliotropiifolius), no
município de Ererê, Ceará, Nordeste do Brasil, 2016.
Espécies Néctar Pólen
Apis mellifera 86 67
Brachygastra lecheguana 40 -
Caenonomada sp. 25 25
Eulonchopria sp. 2 -
Libélula 1 -
Megachile sp. 10 10
Melitoma cf. ipomoerum 26 25
Melitomella murihirta 18 13
Mosca sp. 1 22 2
Mosca sp. 2 1 -
Mosca sp. 3 60 -
Palpada conica 4 -
Palpada solenis 74 -
Papaverellus aureocingulatus 19 -
Pepsis decorata 1 -
Trigona spinipes 19 -
Vespa sp. 1 7 -
Vespa sp. 2 5 -
Total 420 142

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CONCLUSÕES

A espécie C. heliotropiifolius apresentou-se como importante fornecedora de recursos


alimentares para a fauna de insetos na região, principalmente para a melissofauna, denotando a
importância de seu cultivo em áreas de criação e conservação de abelhas. Recomenda-se a continuidade
dos estudos com a espécie C. heliotropiifolius, com o intuito de compreender sua biologia floral e seus
principais polinizadores em área de Caatinga no estado do Ceará.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONHECIMENTO DE USO DA Jatropha gossypiifolia L. EM FEIRAS


LIVRES DO BREJO PARAIBANO

Natan Medeiros GUERRA


Engenheiro Agrônomo
ntnguerra@gmail.com
Maria da Conceição Gonçalves MACÊDO
Médica Veterinária
conceicaogmacedo@gmail.com
Mayara Gonçalves de CARVALHO
Médica Veterinária
mmayara11@hotmail.com
Anne Evelyne Franco de SOUZA
Farmacêutica
anneevy8@hotmail.com

RESUMO
A utilização de plantas medicinais faz parte da cultura popular, estando intimamente relacionada ao
conhecimento empírico, é difundida pela população de geração em geração ao longo de anos. Seu uso
tem se destacado nos últimos anos, resultado de uma nova consciência ecológica, buscando minimizar
os efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos. O presente estudo etnobotânico teve como objetivo
ampliar os conhecimentos sobre a utilização da Jatropha gossypiifolia L. em seu uso medicinal nos
municípios de Alagoa Grande, Areia, Guarabira e Solânea, estado da Paraíba. A pesquisa de opinião
contou com uma amostra de 250 informantes, foram aplicados questionários durante a realização da
feira livre de cada cidade, onde os entrevistados afirmaram utilizar a J. gossypiifolia para diversas
finalidades entre elas as mais citadas foram, cicatrizante e antidoto.
Palavras–chaves: Etnobotânica, Fitoterápico, Cicatrização
ABSTRACT
The use of medicinal plants is part of popular culture, being closely related to empirical knowledge, is
widespread by the population from generation to generation over the years. Its use has been highlighted
in recent years, the result of a new ecological awareness, seeking to minimize the side effects of
synthetic drugs. The objective of this ethnobotanical study was to increase knowledge about the use of
Jatropha gossypiifolia L. in its medicinal use in the municipalities of Alagoa Grande, Areia, Guarabira
and Solânea, state of Paraíba. The opinion survey had a sample of 250 informants, questionnaires were
applied during the free fair of each city, where the interviewees affirmed to use J. gossypiifolia for
several purposes among them the most cited were, cicatrizante and antidote.
Key-words: Ethnobotany, Phytotherapic, Healing

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 226


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A fitoterapia baseia-se na utilização de plantas medicinais, que produzem princípios ativos


capaz de alterar o funcionamento de órgãos e sistemas restaurando seu equilíbrio e homeostasia nas
enfermidades (FERRO, 2008). Seu uso com finalidade terapêutica, está fortemente relacionado a
evolução da humanidade, apresentando grande importância voltada a aspectos medicinais e culturais
(MADDEN, 1964).
A substituição dos medicamentos sintéticos, por medicamentos naturais proporciona o
surgimento de uma nova consciência ecológica buscando equilíbrio entre o homem e o meio, trazendo
assim efeitos mínimos de toxicidade nos medicamentos substituídos pela fitoterapia, garantida e testada
pelos chás através dos séculos (BALBACH et al., 1993).
A espécie Jatropha gossypiifolia L. conhecida popularmente como pinhão roxo, possui folhas e
frutos com propriedades medicinais, bastante utilizada na medicina popular como; agente anti-
inflamatório de aplicação local, anti-hipertensivo e antirreumático, entre outras (CORRÊA, 1984;
FRANÇA, 1992). Alguns desses usos vem sendo analisados quimicamente e farmacologicamente,
podendo destacar a recente demonstração de um significativo potencial hipotensor do extrato etanólico
dessa espécie (ABREU et al., 2003).
Trabalhos etnobiológicos em seu aspecto medicinal, tem como principal objetivo investigar a
relação entre as pessoas e o uso das plantas medicinais afim que esses conhecimentos possam ser
utilizados em benefícios para a população (ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002). Nesse contexto
estudos relacionados a medicina popular apresentam conhecimentos importantes acerca do uso de
plantas medicinais, proporcionando uma alternativa para diversos tratamentos, assim como uma gama
de informações e esclarecimentos a ciência.
O presente trabalho tem como objetivo ampliar os conhecimentos acerca da utilização da
Jatropha gossypiifolia L. na medicina popular de forma geral, enfatizando citações com finalidade
cicatrizante, citada nas feiras livres dos municípios de Alagoa Grande, Areia, Guarabira e Solânea,
estado da Paraíba, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

A coleta da planta para identificação foi realizada na cidade de Alagoa Grande, localizada no
brejo paraibano. Identificada como Jatropha gossypiifolia L. por profissionais especialistas da área e
incorporada no Herbário Jaime Coêlho de Moraes (EAN) da Universidade Federal da Paraíba, no
Centro de Ciências Agrárias sob o número de tombo 19927.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 227


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As informações etnobotânicas foram adquiridas no período de junho de 2014 a fevereiro de


2015, sendo desenvolvido através de formulários aplicados a população durante a realização da feira
livre das cidades de Alagoa Grande, Areia, Guarabira e Solânea, localizadas na região do brejo
paraibano (Figura IC:\Users\Giovanni\Downloads\Mapa Areia Alagoa Grande Solanea Guarabira.png).

Figura I. Localização geográfica das cidades de Alagoa Grande, Areia, Guarabira e Solânea, localizadas na
região do brejo paraibano.

Nesse âmbito, a pesquisa exploratório-descritiva englobou dois componentes, estudo


etnobotânico e pesquisa de opinião. A população participante dessa pesquisa constituiu-se de 250
informantes entre homens e mulheres maiores de 18 anos. Para cada informante foi explicado a
importância do trabalho convidando-o a colaborar com a pesquisa, tendo assim o direito de escolher
participarem ou não bem como desistir caso desejassem, sendo todos esclarecidos previamente sobre o
objetivo do estudo. Para obtenção dos dados optou-se por uso de questionário semi-estruturado,
abrangendo questões socioeconômicas assim como também especificas referentes ao conhecimento e
uso da J. gossypiifolia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 228


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na cidade de Alagoa Grande 54% dos entrevistados eram homens com faixa etária entre 18 e 90
anos, apresentando nível de escolaridade entre analfabetos e com ensino superior completo. Grande
parte dos entrevistados residem na zona urbana correspondendo a 64%. Dentre os entrevistados 93%
afirmaram conhecer a espécie entre esses 8% afirmaram ser usada como antídoto, 6% no alívio da
cefaleia, 53% como cicatrizante, 1% na produção de azeite, 2% no alívio da febre, 4% usado em
ferimento, 45% fins mágico religioso (mal olhado), 3% usado no tratamento de vermelhidão de pés e
tornozelos, 1% como purgante, 1% como removedor de verrugas e 14% dos entrevistados afirmaram
conhecer a espécie e não saber sua utilização.
Com relação a existência de contraindicações de seu uso 21% não sabem, 48% afirmam não
apresentar e 15% afirmam apresentar.
Na cidade de Areia 60% dos entrevistados eram homens com faixa etária entre 18 e 63 anos,
apresentando nível de escolaridade entre analfabeto e ensino superior completo, onde grande parte dos
entrevistados residem na zona rural correspondendo a 54%. Dentre os entrevistados 76% afirmaram
conhecer a espécie entre esses 5,26% afirmaram ser usado como antidoto, 2,63% no combate do chulé,
26,32% como cicatrizante, 2,63% doença de olho, 7,89% no alívio da cefaleia, 5,26% para alívio da
dor de dente, 2,63% para inchaço nas pernas, 23,68% fins mágico religioso (mal olhado), 2,63% como
removedor de verrugas, 26,32% afirmaram não saber sua utilização e 15,79% afirmam não ter eficácia
como planta medicinal.
Com relação a existência de contraindicação 6,98% afirmaram apresentar, 16,28% não sabem e
34,88% afirmaram não apresentar.
Na cidade de Guarabira 60% dos entrevistados eram do sexo masculino, com faixa etária entre
18 e 72 anos, apresentando nível de escolaridade entre analfabeto e ensino superior completo, onde
grande parte dos entrevistados reside na zona urbana representando 86%. Entre os entrevistados 86%
afirmam conhecer a espécie entre esses 4,65% afirmam ser utilizado na prevenção do Acidente
Vascular Cerebral (AVC), 58,14% como cicatrizante, 2,33% tratamento da diarreia, 2,33% para alívio
da dor de dente, 2,33% no alívio de dores em geral, 2,33% no alívio da febre, 2,33% no tratamento de
fístula bucal, 2,33% no tratamento de impinges, 2,33% inflamações diversas, 2,33% insuficiência renal,
51,16% fins mágico religioso (mal olhado), 2,33% como antídoto e 2,33% alopecia.
Com relação a existência de contraindicações de seu uso 23,26% afirmaram apresentar, 51,16%
afirmaram não apresentar e 6,98% não sabem.
Na cidade de Solânea 58% dos entrevistados eram homens com faixa etária entre 18 a 78 anos,
apresentado nível de escolaridade entre analfabeto e ensino superior completo, onde grande parte dos
entrevistados residem na zona urbana representando 72%. Entre os entrevistados 66% afirmam

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 229


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

conhecer a espécie entre esses 12% afirmam ser utilizado na prevenção do Acidente Vascular Cerebral
(AVC), 45% como cicatrizante, 3% raiva canina, 3% catarata, 24% mal olhado, 6% fins mágico
religioso (catimbó), 3% corte cavidade oral, 3% doença cardíaca, 3% dor de dente, 3% dores em geral,
6% dor de cabeça, 6% inflamação em geral, 6% inchaço, 3% hemostasia, 3% como antidoto, 3%
queimadura, 3% tratamento de vermelhidão dos pés e 3% desconhece sua utilização para fins
medicinais.
Com relação a existência de contraindicações de seu uso 12% afirmaram apresentar, 21%
afirmaram não apresentar e 24% não sabem.
A espécie Jatropha gossypiifolia L. é largamente utilizada tradicionalmente pela população,
sendo registrados diversos finalidades, como magico-religioso, medicinal, ornamentação e construção
(ALBUQUERQUE et al., 2009; ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002; DE ALBUQUERQUE et al.,
2007a, 2007b).
Notavelmente a espécie J. gossypiifolia é amplamente conhecida pela população das cidades
estudas, estando seu uso com finalidade medicinal o mais citado, dando ênfase a sua finalidade
cicatrizante. Corroborando com os resultados encontrados com plantas medicinais da Caatinga, no qual
está registrada com usos medicinal cicatrizante (DE ALBUQUERQUE et al., 2007a).
A J. gossypiifolia vem sendo usada na medicina popular com diferentes fins terapêuticos, como
reumatismo, úlceras, hidropsias, hipertensão, cicatrização de feridas e purgativo (HENDRIKS e
MASTBOOM, 1990; BIOMDO-SIMÕES et al., 2000; BIOMDO-SIMÕES et al., 2002) corroborando
com o presente estudo, em que registrou-se citações de usos medicinais, mencionados pelos
informantes, como: antídoto, alívio da cefaleia, cicatrizante, alívio da febre, usado em ferimento,
tratamento de vermelhidão de pés e tornozelos, como purgante e removedor de verrugas. BIOMDO-
SIMÕES et al., (2000) afirma que o diterpene macrocíclico Jtrophone foi isolado da raiz da planta e
identificado como um inibidor do crescimento tumoral. Afirmando assim o poder terapêutico da
espécie Jatropha sp. podendo a mesma ser utilizada para diversas finalidades.
O presente estudo apresentou destaque nas citações de uso cicatrizante, estudos realizados
envolvendo outras Euphorbiaceas demonstraram a presença de princípios cicatrizantes em diferentes
espécies do gênero (MIRANDA, 1976; BRITO et al., 1999). Assim como também demostra citações de
uso da Jatropha sp. com finalidade terapêutica no tratamento de feridas (PILLA et al., 2006), no
entanto a espécie Jatropha gossypiifolia L. conhecida e citada pela maioria dos entrevistados, vem
sendo usada como tratamento de ferimentos cutâneos em humanos e em animais, fazendo assim parte
da cultura popular estando presente nos quintais, se apresenta assim como um tratamento acessível a
todos os níveis econômicos de uma população.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 230


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O presente estudo registrou citações de uso com fins místicos e medicinais semelhantes ao
estudo realizado no município de São Mamede, semiárido paraibano, onde foram registradas citações
de usos para a espécie Jatropha mollissima (Pohl.) Baill. (Pinhão brabo), com finalidade medicinal e
mágico-religioso (GUERRA et al., 2012). Estudos realizados para levantamento das plantas medicinais
utilizadas por moradores de uma comunidade no município do Congo, semiárido paraibano também
registraram citações de uso para o pinhão brabo, mencionados pelos informantes com finalidade
medicinal e veterinária. (CARVALHO et al., 2012), demonstrando ser uma espécie conhecida e
utilizada amplamente no estado da Paraíba com finalidade medicinal.
A Jatropha multifida L. é citada como tratamento em lesões, envenenamento e outras
consequências de causas externas em pesquisa realizada no estado de Santa Catarina (GIRALDI &
HANAZAKI, 2010). Resultado semelhante encontrado no nosso trabalho realizado em cidades
localizadas na região do Nordeste brasileiro, demonstrando assim o amplo conhecimento e uso da
espécie Jatropha em diferentes regiões do país, apontando a grande importância da mesma para
finalidade terapêutica.
A Jatropha gossypiifolia L. se apresenta assim como uma planta medicinal, popularmente
conhecida e utilizada corriqueiramente por famílias residentes na zona urbana como também na zona
rural, tratando-se de um conhecimento trazido de geração em geração.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a espécie Jatropha gossypiifolia L é amplamente utilizada tendo diversos fins
terapêuticos entre os quais se destacam a utilização como cicatrizante, antidoto, alívio da cefaleia e no
tratamento de ferimentos cutâneos. Fazendo necessário maiores estudos para aumento do conhecimento
acerca da espécie no meio científico.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 233


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MAMÍFEROS DE UMA ÁREA DE CAATINGA EM PERNAMBUCO, BRASIL: NOVAS


PERSPECTIVAS NO LEVANTAMENTO DE FAUNA

Rogerio Ferreira de OLIVEIRA


Colaborador da Coleção Didática de Zoologia CDZ/UPE Campus Garanhuns
biologorogerio87@gmail.com
Leandro da Rocha VIEIRA
Colaborador da Coleção Didática de Zoologia CDZ/UPE Campus Garanhuns
leandrorochabiologia@hotmail.com
Alexandre Gomes Teixeira VIEIRA
Colaborador da Coleção Didática de Zoologia CDZ/UPE Campus Garanhuns
teixeira_história@live.com
Marina de Sá Leitão Câmara de ARAÚJO
Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (UPE) Campus Garanhuns
marina.araujo@upe.br

RESUMO
Ainda são poucos os estudos sobre a mastofauna da Caatinga, bioma onde o homem mantém estreita
relação com os mamíferos. Dessa forma, este trabalho objetiva listar a mastofauna em uma área de
Caatinga em Caetés no limite entre o Agreste e o Sertão do estado de Pernambuco, além da descrição
dos vestígios considerados subsídios na identificação da mastofauna local. A área de estudo, o vale do
São José, Caetés, está situada na transição entre o Agreste e o Sertão pernambucano e sofre influência
das formações de Brejos de Altitude. Para execução deste trabalho foram realizadas incursões a campo
no período de setembro de 2012 a dezembro de 2015 para registro fotográfico das espécies e de
vestígios da mastofauna. Até o momento foram listadas na área de estudo 30 espécies de mamíferos
distribuídas em oito ordens, 19 famílias e 28 gêneros. Essa grande diversidade está relacionada às
características biogeográficas específicas dessa localidade. Os fatores descritos demandam estudos que
relacionem os padrões locais à distribuição dos mamíferos no Vale do São José e entorno. Com isso,
fica clara a importância desse estudo para o conhecimento dos mamíferos da área estuda e da Caatinga
como um todo.
Palavras-chave: Mastofauna; Semiárido; Vale do São José; Vestígios.
ABSTRACT
There are still few studies on the mammals of the Caatinga biome were conducted. In this environment,
humans typically maintains a close relationship with the mastofauna, threatening these animals. Thus,
this work we aims to list the mastofauna in São José Valley, inserted on an area of Caatinga in Caetés
municipality from Pernambuco state. In addition, we provided subsidies in the identification of the
local mastofauna through of the mammals traces. The study area is located in the transition between
Agreste and Sertão Pernambuco and is influenced by the Brejos de Altitude formations. Field trips
were carried out in the period from September 2012 to December 2015, we recorded data from species
photographies and mammals traces. We recorded 30 species belonging to eight orders, 19 families and
28 genera. This great richness is related to the specific biogeographic characteristics of this locality.

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The factors described require further studies that relate the local patterns to the distribution of these
animals in the São José Valley and surrounding areas. With this, it is clear the importance of this study
for the knowledge of the mammals of the Caatinga.
Keywords: Mastofauna; Semi-arid; São José Valley; Mammals traces

INTRODUÇÃO

A maior parte dos estudos sobre a mastofauna da Caatinga se detém a indivíduos de pequeno
porte como roedores, marsupiais e morcegos, com destaque aqui para as obras de Silva (2007), Geise et
al. (2010), Rocha (2010), Carmignotto et al. (2012) e Soares (2012). Em geral, não existem trabalhos
profundos sobre a fauna de médio e grande porte, sobretudo para o estado de Pernambuco. Merecem
destaque entre os trabalhos sobre a mastofauna da Caatinga o de Oliveira et al. (2003), onde foram
citados de forma ampla e com maior abrangência de grupos para todo o bioma, inclusive nos
municípios de Garanhuns, Buíque, Ibimirim e Floresta, que estão próximos ao município de Caetés e
apresentam uma mastofauna muito similar. Sousa et al. (2004) também divulgaram lista de espécies
para Buíque, Floresta e Lagoa do Ouro, todas elas com influência de Brejos de Altitude em
Pernambuco. Além de outras áreas terem sido inventariadas, não há nada de específico sobre os
mamíferos do Agreste pernambucano.
Dessa forma, este trabalho tem como objetivo geral inventariar os mamíferos em uma área de
Caatinga no município de Caetés, limite entre o Agreste e o Sertão do estado de Pernambuco. E como
objetivos específicos, (1) descrever os vestígios deixados por algumas espécies da mastofauna local,
considerados subsídios em sua identificação e (2), acrescentar informações ecológicas referentes aos
mamíferos do local e do bioma Caatinga, evidenciando questões envolvendo a preservação e os riscos
que a mastofauna enfrenta na área de estudo.

METODOLOGIA

O município de Caetés – PE está localizado na porção meridional do planalto da Borborema a


cerca de 250 km da capital, Recife, e à 18 km da cidade de Garanhuns. A sede do município está
localizada nas coordenadas 08°46‘22‘‘ S e 36°37‘22‘‘ O, sendo a área total do município 329 km²
(IBGE, 2010). Está situado na região Agreste de Pernambuco, numa área de transição com o Sertão.A
área de estudo, o vale do riacho São José, compreende mais de 12.500 hectares (Fig. 1) e tem início na
comunidade rural de Várzea dos Bois, na zona rural de Caetés(08°46‘20‘‘ S e 36°40‘55‘‘ O), se
estendendo até a divisa com os municípios de Pedra, Paranatama, e Venturosa. Também é uma

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importante área de Caatinga dentro do município de Caetés abrigando grande diversidade de fauna e
flora desse bioma (VIEIRA et al., 2014).

FIGURA 1 – Mapa com pontos amostrados na área do vale do riacho São José. Fonte: VIEIRA, A.G.T. (2015).

Para execução deste trabalho foram realizadas incursões quinzenais a campo no período de
setembro de 2012 a dezembro de 2016 para registro fotográfico de indivíduos vivos e de vestígios da
mastofauna local (Figs. 2, 3, 4, e 5). Foram realizados ensaios fotográficos de indivíduos na natureza
(Fig. 6), bem como de pegadas, pelos, fezes, trilhas, presença de tocas, restos de alimentos e cadáveres,
encontrados ocasionalmente ou cedidos por caçadores da área (Figs. 3 e 4). O método de análise desses
vestígios seguiu o proposto por Becker e Dalponte (1991), Cruz et al. (2005), Berlinck e Lima (2007),
Carvalho Junior e Luz (2008), Moro-Rios et al. (2008) e Penido e Zanzini (2012) como subsídios na
identificação de mamíferos. Complementando esses métodos, para identificação da mastofauna foram
consideradas as vocalizações (CARVALHO JUNIOR e LUZ, 2008), ranhuras (em madeira ou
cupinzeiro), trilhas e odores (almíscares) deixados por algumas espécies. As evidenciadas supracitadas
caracterizam importantes vestígios para constatar sua presença conjuntamente as demais evidências.
Durante a execução do trabalho, houve doação de indivíduos de espécies listadas nesse trabalho,
sobretudo, de pequenos roedores e marsupiais, mortos pelos populares ou por animais domésticos,
como gatos Felis catus Linnaeus, 1758 e cães Canis lupus familiaris Linnaeus, 1758. Os mesmos
foram tombados como materiais testemunho. As espécies de morcego aqui listadas foram encontradas
durante as incursões a campo ou cedidos por populares, os mesmos são prontamente exterminados
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devido ao temor da população, embora apenas Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) apresente
hábitos hematófagos. Todos os exemplares encontrados ou cedidos pela população foram tombados e
depositados na Coleção Didática de Zoologia da Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns.
Para a identificação das espécies houve ajuda de um especialista e foram consultadas as listagens dos
trabalhos de Oliveira et al. (2003), Sousa et al. (2004), Cruz et al. (2005), Reis et al. (2006),Silva
(2007), Astúa (2011), Carmignotto et al. (2012) e Sousa (2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas no vale do São José 30 espécies de mamíferos distribuídas em oito ordens, 19
famílias e 28 gêneros (Tabela 1).

TABELA 1 – Espécies da mastofauna do vale do riacho São José, Caetés – PE


Nomes científicos Nomes populares na área de estudo
Carnivora
Canidae

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa


Felidae

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-pintado


Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Gato-açu
Puma yagouaroundi (E. Geoffroy Saint-Hilaire, 1803) Gato-mourisco
Mephitidae

Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) Cambambá


Mustelidae

Eira barbara (Linnaeus, 1758) Papa-mel


Galictis cuja (Molina, 1782) Furão
Procyonidae

Procyon cancrivorus (G.[Baron] Cuvier, 1798) Guará


Cingulata
Dasypodidae

Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-galinha


Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-peba
Didelphimorphia

Didelphidae

Didelphis albiventris (Lund, 1841) Cassaco


Gracilinanus agilis (Burmeister, 1854) Catita
Monodelphis domestica (Wagner, 1842) Catita
Lagomorpha
Leporidae

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Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) Coelho

Pilosa

Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá

Primatas

Cebidae
Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) Soim

Chiroptera
Carolliinae

Carolia perspicilata (Linnaeus, 1758) Morcego


Desmodontinae

Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) Morcego-vampiro


Glossophaginae

Glossophaga soricina (Pallas, 1766)


Morcego
Molossidae
Molossus molossus (Pallas, 1766) Morcego
Stenodermatinae
Artibeus planirostris (Spix, 1823) Morcego
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810) Morcego

Vespertilionidae
Myotis sp. Morcego
Rodentia
Cavidae
Galea spixii (Wagler, 1831) Preá
Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Mocó
Cricetidae
Oligoryzomys stramineus (Bonvicino e Weksler, 1998) Catito
Rhipidomys sp. (Tschudi, 1845) Nova-seita
Rhipidomys aff. Mastacalis (Lund, 1841) Rato-branco
Wiedomys pyrrhorhinos (Wied Neuwied, 1821) Rato-de-fava
Echimyidae
Thrichomys apereoides (Lund, 1839) Punaré

A maior parte dos mamíferos existentes no bioma Caatinga pode ser encontrada em outros
biomas brasileiros como na Floresta Atlântica e Cerrado (CARMIGNOTTO et al., 2012). Porém,
existem casos específicos de endemismo como K. rupestris e W. pyrrhorhinos (Geise et al., 2010).
Além disso, Cruz et al. (2005) e Moro-Rios et al. (2008) defendem que a ocorrência de determinados
mamíferos no ambiente, por vezes, mostra-se como excelente indicador de qualidade ambiental. Na

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área de estudo o homem mantém uma forte e estreita relação com algumas espécies de mamíferos,
sendo a captura destes para a alimentação (D.novemcinctus e E.sexcinctus), criação com ceva para
engorda (E.sexcinctus), criação de filhotes e adultos como animais de estimação (C. jacchus) e de
comercialização de suas peles (Leopardus tigrinus, L. pardalis e Puma yagouaroundi). Mendonça et al.
(2015) ressaltam que a relação entre os seres humanos e a fauna é antiga, bem como a dependência de
recursos faunísticos, de forma que, no semiárido nordestino essa prática se mostra comum, sobretudo
nos períodos de grandes secas.

FIGURA 2 – Exemplos de interação dos seres humanos com as espécies da mastofauna local: 1 –E. sexcinctus
em processo de ―ceva‖ para engorda após captura; 2 –C. jacchus sendo alimentados por moradora da região; 3 –
L. tigrinus sendo criado como animal doméstico; 4 –G. cuja engaiolado após atacar criações domésticas. Fonte:
Acervo do grupo de pesquisa Vale do São José (2015).

A fauna dessa região é composta por espécies típicas da Caatinga, e de outras comuns nas
formações de Brejo de Altitude. Em relação às espécies listadas no presente trabalho, destacam-se os
roedores e morcegos, compondo o maior número de indivíduos por espécie e o maior número de
espécies por ordem, corroborando com Oliveira et al. (2003), Sousa et al. (2004), Cruz et al. (2005),
nesses estudos, cerca de metade das espécies era de quirópteros. Nessa área as espécies estão sujeitas à
caça cinegética e a outras práticas antrópicas, corroborando com Cruz et al. (2005), Moro-Rios et al.
(2008), Vasconcelos Neto et al. (2012) e Mendonça et al. (2015). Essas práticas levaram ao
desaparecimento de mamíferos dessa área no passado, entretanto, é notado o reaparecimento de
espécies, a exemplo de L. pardalis, que teria desaparecido à cerca de 30 anos (comunicação pessoal).
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As espécies foram observadas tanto na estação seca quanto na chuvosa, Cruz et al. (2005) e
Dias et al. (2014) afirmam que devido aos solos úmidos, é possível encontrar maior quantidade de
pegadas de mamíferos, corroborando com o presente estudo. Com a abundância de alimentos é comum
que muitas espécies de mamíferos encontrem nessa estação condições para reprodução, a exemplo dos
carnívoros: P. cancrivorus, L. tigrinus e P. yaguorondy e C. thous. De modo geral, a presença de
carnívoros em determinado hábitat pode ser considerada como indicador da qualidade ambiental e a
presença de oito espécies dessa ordem na área de estudo é superior ao descrito por Cruz et al. (2005) no
Sertão pernambucano e igual ao encontrado por Dias et al. (2014) no estado de Sergipe.

FIGURA 3- Evidências forenses de algumas espécies de mamíferos encontradas na área de estudo ou cedidas
pelos moradores locais: 1 – Crânio de C. thous; 2 – Carcaça de E. sexcinctus; 3 – Carcaça de D. novemcinctus; 4
– Esqueleto de K. rupestris; 5 – Pelagem de T. tetradactila; 6 - Pelagem de L. pardalis; 7 – Pelagem de P.
yagouaroundi; 8 – Pelagem de L. tigrinus; 9 – Ranhuras de T. tetradactila em cupinzeiro; 10 – Fezes de T.
tetradactila; 11 – Fezes de C. thous; 12 – Fezes de P. yagouaroundi sobrepostas em fezes de K. rupestris. Fonte:
OLIVEIRA, R.F.; TEIXEIRA, G.S.S.; VIEIRA, A.G.T

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 240


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FIGURA 4- Pegadas de indivíduos da mastofauna do vale do riacho São José: 1 –G. cuja; 2 – L. tigrinus; 3 – E.
barbara; 4 – K. rupestris; 5 – P. cancrivorus; 6 – L. pardalis. Fonte: OLIVEIRA, R.F.; TEIXEIRA,
G.S.S.;VIEIRA, A.G.T.

Os felídeos têm necessidade de uma grande área de caça, de modo que Dias et al. (2014),
apontam este grupo como o mais ameaçado pelas atividades humanas. Devido à sua natureza predatória
e ao seu porte elevado em relação aos demais predadores, pelo valor comercial de suas peles, além da
apreciação de sua carne pelos moradores locais, são intensamente caçados, como constatado por
Vasconcelos Neto et al. (2012) e Mendonça et al. (2015), sobre a caça na Caatinga Paraibana.
A redução e fragmentação de áreas com vegetação primária levou ao desaparecimento de
algumas espécies da área, a exemplo do Quati Nasua nasua. Já o extermínio preventivo, levou ao
desaparecimento de L. pardalis. O P. concolor foi assiduamente caçado por predar rebanhos
domésticos ou causar medo à população local como evidenciado por Cruz et al. (2005), Vasconcelos
Neto et al.(2012) e Mendonça et al. (2015). Além desses, Tayassu tajacu e Manzana sp.foram caçados
até a extinção devido à apreciação de sua carne. Inclusive muitos desses animais deram nome a
comunidades rurais existentes no entorno do Vale, como Baixa do Caititu (8°45'29.27"S, 36°44'53.69"
O) e Quati (8°48'42.95"S, 36°43'14.43"O) que são nomes de duas comunidades rurais dessa área.
Apesar da diversidade de mamíferos divulgada em áreas de Caatinga, como as listagens da
mastofauna do PARNA Serra das Confusões, realizada por Henrique et al. (2007) e a de Geise et al.
(2010), para os pequenos mamíferos do PARNA Catimbau, os mesmos não apresentam distinção em
termos de diversidade de espécies em relação à mastofauna listada para o vale do São José.

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FIGURA5- Indivíduos vivos de algumas espécies da mastofauna do vale do riacho São José : 1 –K. rupestris; 2 –
Rhipidomys sp.; 3 –M. domestica; 4 –T. apereoides; 5 –S. brasiliensis; 6 –C. jacchus; 7 –D. albiventris; 8 –W. pyrrhorhinos;
9 - E. sexcinctus. Fonte: OLIVEIRA, R.F.; TEIXEIRA, G.S.S.;VIEIRA, A.G.T.

Em relação às funções ecológicas exercidas pelos mamíferos locais, espécies das ordens
Rodentia e Chiroptera possuem importante função enquanto polinizadores e dispersores de sementes.
Além das ordens citadas, outras espécies como C. jacchus, D. albiventris, E. sexcinctus e C. thous
também são importantes nessas funções ecológicas. Foram registradas durante as observações da
mastofauna, fezes dos animais supracitados contendo sementes de cactos, e de outras espécies frutíferas
como a Eugenia uvalha Cambess., Solanum aculeatissimum Jacq., Psidiun sp1., Psidium sp2., Ziziphus
joazeiro Mart., Sideroxylon obtusifolium, Roem. & Schult., Spondias tuberosa Arruda e o Syagrus
coronata (Mart.) Becc. Durante as observações noturnas da mastofauna, por vezes foram avistados
pequenos roedores se alimentando de flores e frutos de Cereus jamacaru DC., devido ao instinto arisco
desses animais, não foi possível fazer o registro fotográfico do fenômeno. Também foram observadas
em flores de cactos e de árvores nativas, espécies de morcegos nectarívoros, porém, devido à distância,
a rapidez e a baixa luminosidade, o registro e a identificação dessas espécies não foi possível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No vale do riacho São José ocorre considerável diversidade de mamíferos, a qual sofre com as
constantes ações antrópicas, sendo que a expansão das moradias nas áreas rurais e o espaço que estas
requerem, acabam criando uma competição entre moradores e mastofauna. Entretanto, o vale ainda é

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 242


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uma importante área com ocorrência de mamíferos do bioma Caatinga apresentando condições
favoráveis para sua sobrevivência. Sabendo da importância e fragilidade da Caatinga, tornam-se
necessários estudos mais criteriosos, sobretudo da fauna de pequenos mamíferos, morcegos, roedores e
marsupiais. Nesse trabalho foi evidenciada a importância dos vestígios deixados pelos mamíferos
como subsídios para sua identificação. Espera-se que esses vestígios aqui expostos também venham a
contribuir para a identificação de mamíferos em outras áreas do bioma Caatinga. O presente estudo
incrementa informações referentes ao vale do riacho São José, uma área de Caatinga ainda pouco
estudada. As informações aqui expostas, podem ajudar a entender o dinamismo e as peculiaridades da
diversidade de mamíferos da Caatinga, propondo ainda, novas perspectivas metodológicas em estudos
que visem o levantamento mastofaunístico de áreas desse bioma. Devemos enfatizar a necessidade de
estudos específicos em relação às diversas ordens de mamíferos encontrados nessa área, que objetivem
esclarecer sua diversidade e importância ecológica em escala local, possibilitando a conservação da
biodiversidade e dos recursos naturais.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer às valorosas contribuições do Professor Luiz Augustinho Menezes da


Silva da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro Acadêmico de Vitória (CAV) e à André
Felipe de Araújo Lira, doutorando do Programa de Pós-graduação em Biologia Animal da PPGBA-
UFPE.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 245


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE DE


CÓRREGO NO MUNICÍPIO DE APODI – RN

Ronimeire Torres da SILVA


Doutoranda em Agronomia da UFPB
ronimeiretorres@hotmail.com
Raiane Torres da SILVA
Graduanda no Curso de Enfermagem da UERN
raianetorressilva@hotmail.com
Rusiane da Silva TORRES
Graduanda no Curso de História da UERN
rusianehistoria@gmail.com
Antonio Caubí Marcolino TORRES
Professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino do RN
caubitorres@hotmail.com

RESUMO
O uso de plantas medicinais como forma de tratar certas doenças ainda é uma prática muito utilizada,
principalmente em comunidades rurais. As partes da planta e a forma como essas são usadas muitas
vezes causam problemas, devido à falta de informação por parte da população. O objetivo do trabalho
foi fazer um levantamento sobre quais plantas medicinais são usadas na Comunidade de Córrego
Município de Apodi, RN. Para isso foi feito uma entrevista com 15 moradores, totalizando 10% da
população que reside na comunidade, a escolha foi realizada através de sorteio. A entrevista ocorreu
em duas partes, na primeira foi feito um levantamento socioeconômico, e a segunda constou de
perguntas sobre o uso de plantas medicinais, focando na planta usada, parte utilizada, formas de uso e
quais doenças são tratadas. Em seguida os dados foram tabulados no Excel 2007. Dos 15 entrevistados,
80% são do sexo feminino, justificada pelo fato da renda da comunidade advim da agricultura e
provavelmente no momento da entrevista os homens estavam no campo. O número de membros da
família varia de 1 até 10. A parte da planta mais utilizada são as folhas, sendo o chá o modo de preparo
preferido por ser a forma mais prática e de fácil manuseio. Os moradores fazem o uso de plantas
medicinais no tratamento principalmente de gripe e dor de cabeça. A família botânica de maior citação
e maior número de plantas foi a Lamiaceae, por ser nessa família que se incluem plantas como hortelã
e erva cidreira, que são comumente usadas na forma de chás. Conclui-se que na comunidade de
Córrego a tradição de usar plantas medicinais no tratamento de certas doenças continua viva até os
tempos atuais, mesmo que o acesso aos serviços de saúde estejam mais fáceis.
Palavras Chave: Comunidade Rural; Etnobotânica e Medicina Popular.
ABSTRACT
The use of medicinal plants as a way to treat certain diseases is still a widely used practice, especially
in rural communities. The parts of the plant and the way they are used often cause problems due to the
lack of information on the part of the population. The objective of the work was to make a survey about
which medicinal plants are used in the Community of Córrego Municipality of Apodi, RN. For that, an

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interview was made with 15 residents, totaling 10% of the population that resides in the community,
the choice was made through a lottery. The interview took place in two parts, the first was a
socioeconomic survey, and the second consisted of questions about the use of medicinal plants,
focusing on the plant used, part used, ways of use and which diseases are treated. The data were then
tabulated in Excel 2007. Of the 15 interviewees, 80% are female, justified by the fact that the income
from the farming community and probably at the time of the interview the men were in the field. The
number of family members varies from 1 to 10. The most commonly used part of the plant is the
leaves, with tea being the preferred preparation because it is the most practical and easy to handle. The
residents make use of medicinal plants in the treatment mainly of flu and headache. The botanic family
with the highest number of plants was Lamiaceae, because in this family they include plants such as
mint and lemon grass, which are commonly used in the form of tea. It is concluded that in the
community of Córrego the tradition of using medicinal plants in the treatment of certain diseases
continues to live even today, even if access to health services is easier.
Key words: Rural Community; Ethnobotany and Popular Medicine.

INTRODUÇÃO

Plantas medicinais é qualquer órgão vegetal, que podem ser utilizada de varias formas e
exercem algum tipo de ação farmacológica. A sua utilização sejam como remédios ou como alimentos,
é tão antiga quanto à história da humanidade. Desde os primórdios que se utilizam dos recursos
naturais para conseguir sobreviver (DI STASI 2007; BORGES 2010; VANINI, 2009).

O conhecimento sobre as plantas medicinais sempre tem acompanhado a evolução do homem


através dos tempos. Remotas civilizações primitivas se aperceberam da existência, ao lado das
plantas comestíveis, de outras dotadas de maior ou menor toxicidade que, ao serem
experimentadas no combate às doenças, revelaram, embora empiricamente, o seu potencial
curativo. Toda essa informação foi sendo, de início, transmitida oralmente às gerações
posteriores e depois, com o aparecimento da escrita, passou a ser compilada e guardada como
um tesouro precioso. (ARAÚJO et al., 2007, p. 45)

Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 80% da população mundial faz o uso de
plantas medicinais (OMS, 2016). O alto custo dos fármacos industrializados, seguido das dificuldades
de parte da população em conseguir atendimento médico somado a facilidade de se conseguir os
produtos de origem natural contribuem para o aumento da utilização das plantas como recurso
medicinal (BADKE et al., 2012).

O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza, muitas vezes, o único recurso terapêutico
de muitas comunidades e grupos étnicos. As observações populares sobre o uso e a eficácia de
plantas medicinais de todo mundo, mantém em voga a prática do consumo de fitoterápicos,
tonando válidas as informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos
(MACIEL et al., 2002, p. 429).

Assim se faz necessário à ampliação de estudos relacionados às plantas com efeitos medicinais
como etnobotânicos e etnofarmacológicos, para aumentar a quantidade de informações sobre essas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

plantas, pois os conhecimentos técnicos asseguram qualidade, eficácia e segurança do uso das mesmas
(ARNOUS et al., 2005).
O uso de plantas medicinais nas comunidades rurais é forte devido a influencia dos moradores
que nela residem, cada um carrega consigo uma herança cultural sobre a utilização dessas plantas, as
alegações de uso, as formas de preparo e a administração do ―remédio‖, e esse uso é importante por três
implicações: resgate do patrimônio cultural e tradicional, assegurando a sobrevivência e perpetuação
desse conhecimento para as futuras gerações; otimização dos usos populares correntes, com o
desenvolvimento de remédios caseiros de baixo custo e a organização dos conhecimentos tradicionais
de maneira a utilizá-los em processos de desenvolvimento tecnológico (AMOROZO, 1996;
ELISABETSKY, 2001).
O resgate dos conhecimentos sobre as plantas medicinais e das suas técnicas terapêuticas é
muito importante, pois é uma forma de deixar registrado para as futuras gerações. À medida que a
relação com a terra se moderniza e o contato com centros urbanos aumenta a transmissão do
conhecimento sofre alterações (PILLA et al. 2006).
O uso de plantas medicinais possuem várias vantagens, tais como baixa ocorrência de efeitos
colaterais negativos, redução no custo do tratamento e aumento do conhecimento da pessoa sobre a sua
doença (BEVILAQUA et al., 2007).
O uso de plantas medicinais também possuem suas desvantagens, muitos dos ―remédios
caseiros‖ são ingeridos pela população sem se saber ao certo sobre suas contraindicações, reações
adversas, interrupção do tratamento e o uso na gravidez e lactação. E que por se tratar de um recurso
natural trás para a população a ideia errada de que as plantas medicinais não contém toxinas e não
possui contraindicação, por isso a importância de mais estudos sobre o assunto (BELLO et al., 2002).
Diante do exposto acima o objetivo do trabalho foi realizar o levantamento das espécies de
plantas medicinais usadas pelos moradores da Comunidade de Córrego, Município de Apodi, RN.
METODOLOGIA
A área de estudo foi a comunidade de Córrego, localizada há 10 quilômetros da sede do
município de Apodi -RN que está localizado na parte oeste da sede do município, distante 364 km de
Natal e 10 km de Apodi, limita-se com as comunidade rurais de ao norte: Sítio Pau Ferro; Sul: Sítio
Urbano; leste: Sítio Largo e ao Oeste: Sítio Lagoa Amarela (TORRES, 1998).
A atividade econômica dos homens é voltada para a agricultura de sequeiro com o plantio
principalmente das culturas de feijão, milho e sorgo. A cajucultura e a apicultura ganhou destaque nos
últimos anos devido a criação da COOPAPI (Cooperativa Potiguar de Desenvolvimento Rural
Sustentável) e da AMPC (Associação dos Mini Produtores do Córrego), porém devido a estiagem nos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

últimos 5 anos que enfrenta o município a atividade econômica da comunidade está comprometida. As
mulheres são as principais responsáveis pelos serviços domésticos e a confecção de vasoura e trança
feitas da palha da carnaúba, que é cortada pelos homens geralmente no período de agosto a janeiro,
sendo essa outra fonte de renda na comunidade.
Antes da escolha dos entrevistados foi feito um levantamento junto com as agentes de saúde
local para saber o número de família que residem atualmente na comunidade. Em seguida foram
sorteadas 15 famílias que representam 10 % do total de moradores da comunidade que é 150.
A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com base em formulários
padronizados composta de duas partes, na primeira foi feito um levantamento socioeconômico, e a
segunda constou de perguntas sobre o uso de plantas medicinais pelo entrevistado, focando na planta
usada, parte utilizada, formas de uso e qual doença é geralmente tratada. As informações sobre o
conhecimento a respeito das espécies medicinais foram obtidas após a leitura e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Logo após foi feito a classificação botânica com família e nome científico das plantas citadas
pelos entrevistados. Em seguida os dados foram tabulados no Excel 2007.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A entrevista se deu com 80% dos do sexo feminino e 20% do sexo masculino (Tabela 1),
diferindo dos resultados encontrados por Lanini et al. (2009) em pesquisa realizada em Diadema - SP
constatou que 65 % dos entrevistados são do sexo masculino. Esse resultado pode ser atribuído a fonte
de renda que prevalece na comunidade, constatou-se que 73% dos entrevistados são agricultores e que
provavelmente no momento das entrevistas estavam no campo.
Mais da metade dos entrevistados possuem idade superior aos 60 anos (53%) (Tabela 1).
Corroborando com os resultados observados por Battisti et al. (2013) em seu levantamento sobre o uso
de plantas medicinais utilizadas pelos moradores do município Palmeira das Missões no RS,
concluíram que 67% dos entrevistados eram idosos. Nota-se que as gerações mais antigas conservam o
conhecimento tradicional da utilização de plantas medicinais para o tratamento de doenças, e que à
medida que os anos passam, os mais velhos tendem a entender mais sobre o assunto e esses
conhecimentos são passados para as gerações seguintes (AMOROZO, 1996).
Com relação ao estado civil dos entrevistados 60% são casados, com o número de pessoas
morando em casa variando de 0 a 10 filhos, 53% relataram possuir de 3 a 7 pessoas dentro de casa,
incluindo filhos, irmãos, cunhados. Enquanto que 27% disseram ter entre 7 e 10 (Tabela 1). Mostrando

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

que nas comunidades rurais ainda possuem famílias numerosas, mesmo que em uma porcentagem
pequena.
Quanto ao nível de escolaridade, 73% dos entrevistados têm apenas o ensino fundamental, e
somente 13% tem o ensino superior completo, esse resultado assemelha-se ao encontrado por Cordeiro
(2008) que em seu levantamento sobre o uso de plantas medicinais em comunidades rurais na Zona da
Mata Pernambucana, constataram que 87% dos entrevistados concluíram o ensino fundamental ou são
analfabetos, porém segundo alguns autores, o grau de escolaridade não seria um fator de forte
influencia no uso de plantas medicinais. Pilla et al (2006) estudando uma comunidade localizada no
município Mogi-Mirin, SP encontraram entrevistados com diferentes graus de escolaridade e que
também fazem o uso de plantas medicinais.
Marodin e Baptista (2002) e Fuck et al. (2005) relataram a relação da baixa renda com o uso de
plantas medicinais, fato observado no presente trabalho, a renda mensal dos entrevistados variou de até
um salário mínimo (73%) a três salários mínimos (13%).
Tabela 1: Perfil socioeconômico dos moradores da comunidade de Córrego (Apodi, RN).
Sexo Porcentagem
Feminino 80%
Masculino 20%
Profissão Porcentagem
Agricultor 73%
Professor 7%
Outros* 20%
Idade Porcentagem
Até 30 anos 13%
31 - 45 anos 7%
46 - 60 anos 27%
Acima de 60 anos 56%
Estado civil Porcentagem
Casado 60%
Solteiro 13%
Separado 7%
Viúvo 20%
Número de membros em casa Porcentagem
2 6%
de 2 – 4 7%
de 4 – 7 7%
de 7 – 10 53%
Acima de 10 27%

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Escolaridade Porcentagem
Ensino Fundamental Incompleto 73%
Ensino Fundamental Completo 7%
Ensino Médio Incompleto 0%
Ensino Médio Completo 0%
Ensino Superior Incompleto 7%
Ensino Superior Completo 13%
Renda Porcentagem
1 salário 73%
1 a 2 salários 13%
Acima de 2 salários 13%
*Técnica de enfermagem, funcionário público municipal, auxiliar de serviços gerais.

A parte da planta comumente utilizada pelos moradores da comunidade rural são às folhas (97,
56%), esse resultado corroboram com os encontrados por Carvalho et al. (2013) na comunidade da
várzea, Garanhuns - PE. Essa prática pode está atribuída ao fato de que o uso acentuado de folhas não
impede o desenvolvido e a reprodução normal das plantas após sua retirada, como acontece com outras
partes da planta (MARTIN, 1995), assim como a abundância e facilidade de uso das folhas, em
detrimento de outras partes da planta (SANTOS et al., 2008). Em seguida foram citadas as cascas (65,
85%), porém alguns entrevistados relataram que a frequente retirada das cascas podem causar
problemas no desenvolvimento da planta, necessitando assim de um período para que a mesma se
recupere antes da próxima retirada (Tabela 2).
Várias são as formas de utilização das plantas medicinais. Entre as formas citadas o chá obteve
95,12% da preferência dos entrevistados (Tabela 2), diferindo dos resultados encontrados por Pilla et
al. (2006) no distrito de Martin Francisco, Município de Mogi- Mirim, SP que foi a decocção a forma
de uso mais frequente. A preferência pelo uso na forma de chás também foi relatados por outros Santos
et al. (2013) no município de milagres no Ceará. Essa preferência pelos chás se dar pela forma rápida e
fácil do preparo, como também pelo fato de alguns dos entrevistados relatarem que ingerem o mesmo
com algum tipo de remédio industrializado, porém nenhum entrevistado relatou desconfiança na
eficácia no uso das plantas medicinais.
Das doenças citadas pelos entrevistados a gripe obteve 24 citações, seguida pela dor de cabeça
(15 citações). Os entrevistados enfatizaram serem essas as doenças mais comuns e mais fáceis de serem
tratadas através do uso de plantas medicinais (Tabela 2). Corroborando com os resultados obtidos por
Cunha et al. (2011) estudando uma área de assentamento rural no município de Anastácio, Mato
Grosso do Sul. Na sequencia foram relatadas os problemas intestinais e cicatrização que também são
tratadas com o uso de plantas. Abreu (2000) relata em seu trabalho realizado com os quilombolas
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Mimbó (Amarante, Piauí) que as doenças relacionadas ao aparelho reprodutor feminino são as mais
citadas. Já as doenças relacionadas ao sistema digestivo, seguido pelo respiratório foram as mais
citadas pelos moradores do distrito de Martim Francisco, município de Mogi-Mirim, SP (Pilla et al.,
2006) e no município de Cocal, PI (Chaves, 2005).
Algumas doenças foram citadas apenas uma vez, essas não entraram na tabela, são elas: Falta de
apetite, fraqueza, úlcera no estômago, dor de dente, enjoou, tosse, indisposição, câncer de próstata,
pancada e calvície.
É de suma importância à classificação botânica das espécies medicinais com nome científico e
família, pois através desta classificação é possível fazer um estudo mais aprofundado sobre as
características das plantas citadas. Dentre as famílias botânicas, as que tiveram maior número de
citações foram: Lamiaceae com 25 citações e 7 espécies: Hortelã (Mentha x piperita L.) Erva Cidreira
(Melissa officinalis L.), Mangerona (Origanum majorana L.) Jaramataia (Vitex gardneriana L.)
Malvarisco (Malvaviscus arboreus), Betônica (Stachys officinalis L.) e Boldo (Peumus boldus).
Rutaceae 13 citações e 3 espécies Laranjeira (Citrus sinensis L.); Limoeiro (Citrus × limon) e Arruda
(Ruta graveolens L.) e Fabaceae com 8 citações e 3 espécies Tamarindo (Tamarindus indica L.), Pata
de Vaca (Bauhinia forficata) e Cumarú (Dipteryx odorata) (Tabela 2). Resultados semelhantes foram
encontrados por Carvalho et al. (2013) na qual os moradores da comunidade de Várzea, Garanhuns -
PE também relataram ser a Lamiaceae a família mais utilizada. Isso se dar devido sua composição ser
na grande maioria as ervas utilizadas para o preparo de chás. As espécies da família Lamiaceae
apresentam importantes compostos biossintetizados pelo metabolismo secundário, dentre os quais estão
os óleos essenciais (LIMA e CARDOSO, 2007).

Tabela 2: Uso de plantas medicinais pelos moradores do Córrego Apodi, RN


Parte da planta utilizada Porcentagem (%)
Folhas 97%
Cascas 65%
Frutos 29%
Raízes 19%
Sementes 4%
Formas de Utilização Porcentagem (%)
Chá 97%
Decocção 39%
Cozimento 31%
Lambedor 19%
Maceração 9%
Outros* 17%

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Doenças Tratadas Número de citações


Gripe 24 vezes
Dor de cabeça 15 vezes
Probelmas intestinais 10 vezes
Cicatrização 8 vezes
Garganta inflamada 7 vezes
Pedra nos rins 7 vezes
Vermes 6 vezes
Inflamações 5 vezes
Rouquiça 4 vezes
Problemas de pressão 3 vezes
Insônia 2 vezes
Nervosismo 2 vezes
Infecção 2 vezes
Febre 2 vezes
Plantas utilizadas Número de citações
Lamiaceae 25 Vezes
Rutaceae 15 Vezes
Fabaceae 12 Vezes
Anacardeaceae 10 Vezes
Convulvaleaceae 9 Vezes
Euphorbiaceae 8 Vezes
Myrtaceae 8 Vezes
Piperáceae 8 Vezes
Punicaceae 6 Vezes
Rosáceae 5 Vezes
Curcubetaceae 4 Vezes
Outras** 3 Vezes
*Mastigação, suco e gargarejo. **Outras famílias botânicas: Chenopodiaceae; Compositae; Liliaceae; Poaceae; Aliaceae;
Bignoniaceae. Ambas citadas somente 3 vezes.

Na área de estudo, foram citadas algumas espécies medicinais consideradas tóxicas, como a
arruda (Ruta graveolens L.) e a babosa (Aloe vera L.). Em pesquisas com plantas medicinais utilizadas
no Município de Ipê - RS Ritter et al. (2002) as identificaram como espécies toxicas e que requerem
cuidados, essas podem causar irritações gastrointestinais se usadas em doses elevadas.
Vale ressaltar que uma planta pode torna-se tóxica para o organismo a qualquer momento, isso
depende da dosagem, forma de uso, mistura com outras plantas ou medicamentos industrializados,
como também a frequência de uso (DUTRA, 2009). Essa falta de conhecimento sobre a toxidade,
dosagem, quantidade da planta no preparo do remédio pode levar a sérios problemas, como a redução
da eficácia ou até mesmo reações adversas (OLIVEIRA e MENINI NETO, 2012).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se que a comunidade do Córrego, Apodi, RN possui como fonte de renda a


agricultura, com renda mensal de até um salário mínimo. Os moradores guardam a tradição de usar
plantas medicinais na cura de muitas doenças, sendo utilizada uma grande diversidade de planta. Essa
tradição vem passando de geração a geração. As folhas na forma de chá são mais utilizadas para o
tratamento de gripe e dor de cabeça. A família Lamiaceae é a mais representativa em número de
espécies utilizadas como medicinais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BIOMORFOMETRIA E HISTOLOGIA DO MARISCO PEDRA (ANOMALOCARDIA


FLEXUOSA) DO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE18

Tainá Maria Santos da SILVA


Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia - UFPE
taina_mariaa@hotmail.com
Maria Isabel de Assis LIMA
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia - UFPE
isabellima878@gmail.com
Anneliese Gonçalves Costa MARINHO
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia - UFPE
anneliesecosta7@gmail.com
Johnvekson Hermínio RODRIGUES
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Morfotecnologia – UFPE
johnvekson.rodrigues@gmail.com

RESUMO
O conhecimento tradicional é o saber, as informações e as práticas das comunidades. O manguezal é
um ecossistema muito importante para a manutenção e conservação da biodiversidade e economia. O
marisco pedra é uma espécie bastante encontrada nesse ecossistema, possui grande importância
econômica especialmente no âmbito alimentício. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi
realizar uma análise biomorfométrica e histológica de indivíduos da espécie Anomalocardia flexuosa
coletados em dois bancos de areia do estuário do Rio Paraíba. Os indivíduos foram coletados em dois
bancos de areia do estuário do Rio Paraíba do Norte, 90 para cada banco de areia (30 para cada
tamanho P,M,G), um mais próximo à cidade (croa da Cidade) e outro mais distante (croa de Portinho).
As relações biomorfométricas das conchas foram medidas com auxílio de um paquímetro (mm), e os
valores de biomassa (g) utilizou-se uma balança, após isso foi realizada a análise histológica das
gônadas dos indivíduos. Foi possível observar uma diferença significativa nos tamanhos dos mariscos
de cada grupo (P>M>G), a biomassa do corpo mole dos mariscos equivale a mais ou menos 10% do
peso total. Os indivíduos coletados na croa da Cidade apresentaram relações biomorfométricas maiores
que os indivíduos coletados na croa de Portinho. Verificou-se que os animais coletados nas duas croas,
tanto a de Portinho quanto a da Cidade, no grupo grande (G) já apresentavam ter alcançado a
maturidade sexual, possuindo sexo definido e em plena atividade reprodutiva, animais do grupo Médio
(M) apresentavam ter alcançado a maturidade sexual possuindo sexo definido, porém não em atividade
reprodutiva e animais do grupo pequeno (P) não foi possível identificar o tipo de sexo e, portanto,
também não apresentaram atividade reprodutiva. Dessa forma, a visão das marisqueiras está correta,
pois essa separação durante a coleta não compromete o recrutamento das populações no ecossistema.
Palavras chave: Marisco, estuário, croas.

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Pesquisa realizada na disciplina de Etnobiologia do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), orientada pelo professor Dr° Gilberto Gonçalves Rodrigues.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ABSTRACT
Traditional knowledge is the knowledge, information and practices of communities. The mangrove is a
very important ecosystem for the maintenance, conservation of biodiversity and economy. The shellfish
stone is a species found in this ecosystem, has great economic importance especially in the food field.
In view of the above, the objective of the present study was to perform a biomorphometric and
histological analysis of individuals of the species Anomalocardia flexuosa collected in two sand banks
of the Paraíba River estuary. The individuals were collected in two sand banks of the Paraíba do Norte
River estuary, 90 for each sand bank (30 for each size P, M, G), one closer to the city (city) and one
more distant ( Croa de Portinho). The biomorphometric relationships of the shells were measured using
a pachymeter (mm), and the biomass values (g) were weighed, after which the histological analysis of
the gonads of the individuals was performed. It was possible to observe a significant difference in the
sizes of the shellfish of each group (P> M> G), the biomass of the shellfish body is equivalent to more
or less 10% of the total weight. The individuals collected in the city of the city had greater
biomorphometric relationships than the individuals collected in the Portinho district. It was verified that
the animals collected in the two groups, both Portinho and the City, in the large group (G) had already
reached sexual maturity, having defined sex and in full reproductive activity, Presented sexual maturity
having defined sex, but not in reproductive activity and animals of the small group (P), it was not
possible to identify the type of sex and, therefore, also did not present reproductive activity. Thus, the
view of the shellfish farmers is correct, since this separation during collection does not compromise the
recruitment of populations in the ecosystem.
Keywords: Seafood, estuary, croas.

INTRODUÇÃO

Para entender as formas de utilização dos recursos naturais pelas comunidades tradicionais, é
importante conhecer todo um conjunto de crenças, saberes, mitos e ritos, que configuram o modo de
vida daquela comunidade, pois estão profundamente associadas com a organização cultural. Posey
(1980) colocou sobre a importância dos conhecimentos de povos tradicionais:―[...] os povos
tradicionais (índios, caboclos, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas) possuem vasta experiência na
utilização e conservação da diversidade biológica e ecológica que está, atualmente, sendo destruída‖
O conhecimento ecológico local assim como as comunidades, são dinâmicos e muito diversos,
que vêm se construindo e sendo adaptado ao decorrer do tempo, e são passados de forma oral. O
conhecimento ecológico local são todos os conceitos, que vão desde as variações nas interpretações de
um termo ecológico que se refere aos fatores bióticos e abióticos, a cultura, e também a questão da
definição sobre a tradicionalidade dos que a possui (CUNHA; ALMEIDA, 2000).
O manguezal é um ambiente característico de regiões tropicais e subtropicais, um ecossistema
de mudança entre os ambientes terrestre e marinho, local que ocorre o encontro de águas de rios com a
água do mar. Os manguezais têm funções fundamentais como a manutenção da qualidade da água e
abastecimento da produção primária para o entorno e conservação da biodiversidade. Os manguezais

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são como berçários, uma área onde as espécies de interesse comercial e artesanal encontram refúgio
(BENFIELD et al., 2005). Esse ecossistema possui uma importância econômica, pois fornece sustento
às populações ribeirinhas, através da coleta de animais como peixes, crustáceos e moluscos (destacando
a ostra, sururu e marisco como maiores capturas em estuários e manguezais no Brasil). Entre as pessoas
que utilizam esses recursos, estão às mulheres de pescadores, conhecidas na região como marisqueiras,
por coletarem mariscos para completar a renda familiar ou até mesmo como fonte única de renda.
Anomalocardia flexuosa (Linnaeus, 1767) é um molusco bivalve, pertencente à família
Veneridae, sua ocorrência abrange as Índias Ocidentais (nas Antilhas), no Uruguai e no Brasil é
amplamente distribuído ao longo de todo litoral, principalmente em enseadas, baías e estuários (RIOS,
1994). Ocupam áreas protegidas da ação de ondas e de correnteza, tanto na porção entremarés como no
infralitoral raso, onde se enterra de forma superficial no substrato lodoso ou arenoso-lodoso (RIOS,
1994; BOEHS, 2004).
Possui vários nomes populares, dentre eles destacam-se: ―berbigão‖, ―vôngole‖, ―maçunim‖ e
―chumbinho‖, ―papa fumo‖, ―sarnambi‖ (BOEHS, 2008). E apresentam sinonímias Anomalocardia
rugosa (Schumacher de 1817), Anomalocardia brasiliana (Gmelin 1817), Venus flexuosa (Linnaeus,
1767), Venus brasiliana (Gmelin, 1791) e Venus punctifera (GB Sowerby II de 1853).
No Brasil, as espécies dessa classe possuem uma grande importância econômica especialmente
no âmbito alimentício destacando-se a ostra (Crassostrea rhizophora), o marisco (Anomalocardia
brasiliana) e o sururu (Mutella falcata) (PEDROSA; COZZOLINO, 2001).
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi realizar uma análise biomorfométrica e
histológica de indivíduos da espécie Anomalocardia flexuosa coletados em dois bancos de areia do
estuário do Rio Paraíba.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

O estuário do rio Paraíba está localizado, no Nordeste do Brasil e a sua parte inferior é
fragmento do litoral do município de Cabedelo-PB.

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Figura 1. Mapeamento dos pontos de coleta no estuário do Rio Paraíba do Norte.

A região norte do litoral da Paraíba manifesta uma estação chuvosa entre os meses de março a
julho, com maior representatividade no mês de junho e período mais secos entre os meses de agosto a
fevereiro (MARCELINO et al, 2012). Esse período de intensas chuvas causa uma baixa na salinidade
da água consequentemente a morte e até mesmo interferindo na reprodução e desenvolvimento dos
mariscos, diminuindo assim a disponibilidade desses animais.
O município de Bayeux possui 32km2 e tem uma área representativa importante do ecossistema
de manguezal, região que se mostra de forma significativa para a preservação da fauna e da flora
ameaçadas, ainda existentes no estuário do Rio Paraíba. Em torno de 60% do território do município
ainda é composto de manguezais e resquícios de Mata Atlântica.

Coleta do material

Os espécimes de Anomalocardia flexuosa foram coletados no estuário do Rio Paraíba. As


coletas foram realizadas em terreno arenoso no dia 11 de julho de 2017, no período das 11h40min as
14h30min, com o auxílio de ferramentas artesanais fornecidas pelas marisqueiras da comunidade
(figura 2). As amostras foram coletadas durante o regime de maré baixa. Foram selecionados dois
bancos de areia, também chamados de croas, sendo um mais distante da comunidade (croa de Portinho)
e outro mais próximo à comunidade (croa da Cidade). O total de mariscos coletado foi de 180
indivíduos, 90 para cada banco de areia, o qual foi armazenado em saco de polietileno, corretamente
identificado, armazenado em caixa de isopor e transportado para a Universidade Federal de
Pernambuco, no dia seguinte foi iniciado os procedimentos para as análises no Departamento de

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Histologia e Embriologia. Durante a coleta realizou-se uma entrevista livre com as marisqueiras que
trabalham no estuário do Rio Paraíba e que nos auxiliaram nesta atividade.

Figura 2: Gadanho e pulsar, ferramentas utilizadas para a coleta dos animais.

Biomorfometria

Para medir a biomorfometria e a análise de biomassa do molusco A. flexuosa, foram coletados


180 indivíduos, sendo 90 da croa de Portinho e 90 da croa da Cidade, no município de Bayuex-Paraíba,
em julho de 2017. Os indivíduos coletados apresentaram diversidade de tamanhos, e foram separados
pelas próprias marisqueiras como do tamanho pequeno, médio e grande. Foi utilizado o n= 30 para
cada tamanho (pequeno, médio e grande) em cada croa, totalizando 90 indivíduos para cada banco de
areia.
As relações biomorfométricas das conchas foram medidas com um paquímetro para a obtenção
das seguintes medidas (mm): o comprimento (C), largura máxima (L) e a altura (A) de cada indivíduo
coletado (figura 3). Para obter os valores de biomassa (g): biomassa total (fresco e conchas incluídos)
de cada bivalve (PT) e a biomassa do corpo mole (fresco sem concha) (PC).

Figura 3: Relações morfométricas obtidas.

Análise histológica

Após a coleta, frações de aproximadamente 5 mm das gônadas dos animais foram seccionadas e
mergulhadas em formaldeído 10% não tamponado por 10 minutos, após isso foram guardadas em

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etanol a 70% por 3 dias para posterior processamento histológico que inclui: desidratação em série
alcoólica crescente, diafanização em xilol e inclusão em parafina. Os tecidos foram microtomizados,
obtendo-se cortes entre 6 e 8 µm de espessura, postos sobre lâminas, secos à temperatura ambiente,
corados e depois cobertos com lamínula com bálsamo do Canadá. A observação histológica das
preparações e a obtenção das fotomicrografias foram realizadas através do microscópio óptico com
câmera acoplada. As imagens foram projetadas e ampliadas apresentando um aumento final de 790µm.

Análise estatística

Foi analisada a taxa de crescimento dos animais, de acordo com os dados da biomorfometria, e
a taxa de rendimento que é a relação entre o tamanho e a biomassa realizados através do ANOVA
seguido pele teste Turkey.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 4 demonstra o peso total dos indivíduos coletados nas duas croas, separados pelos seus
tamanhos é possível observar que a média do peso total de mariscos está diretamente relacionado ao
seu tamanho. Na croa de Portinho o peso total de mariscos tamanho G tem um acréscimo de 80,95%
em relação ao peso total dos mariscos tamanho P e 38,09% em relação ao peso total de M. Os mariscos
de tamanhos M apresentam um acréscimo de 69,23% em relação ao peso total de P. Já na croa da
Cidade o peso total de mariscos tamanho G tem um acréscimo de 82,35% em relação ao peso total dos
mariscos tamanho P e 25,49% em relação ao peso total de M. Os mariscos tamanhos M apresentam um
acréscimo de 76,31% em relação ao peso total de P.
Portinho

Figura 4. Representa o peso total dos indivíduos coletados na croa de Portinho e croa da Cidade.

Podemos observar na figura 5, a taxa de rendimento do corpo mole de cada grupo. Na croa de
Portinho o rendimento de carne dos mariscos tamanho G tem um acréscimo de 83,7 % em relação ao

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peso do corpo mole dos mariscos tamanho P e 58,13% em relação ao peso do corpo mole de mariscos
de tamanho M. Os mariscos tamanhos M apresentam um acréscimo de 257,14% em relação ao peso do
corpo mole de P. Na croa da Cidade o peso do corpo mole dos mariscos tamanho G tem um acréscimo
de 93,02 % em relação aos indivíduos de tamanho P e 20,93% em relação a indivíduos de tamanho M.
Os mariscos tamanhos M apresentam um acréscimo de 91,17% em relação ao peso do corpo mole de
indivíduos do tamanho P.

Portinho Cidade

Figura 5. Representa a pesagem do corpo mole dos indivíduos de cada Croa.

Durante o trabalho de coleta notou-se uma preocupação das marisqueiras da localidade em


separar os mariscos de acordo com o tamanho, dividindo-os em grupos: pequeno (P), médio (M) e
grande (G). Esses mariscos considerados pequenos no momento da separação são deixados no seu
habitat, as marisqueiras expõem que eles não atingiram o período de maturidade reprodutiva e também
não fornecem quantidade satisfatória de carne para atingir a produtividade necessária para venda
(figuras 4 e 5).
Em outros estudos realizados no estuário do Rio Paraíba verificou-se que as mudanças sazonais
influenciam na biomassa dos mariscos, visto que a salinidade, temperatura, os ciclos da maré e a
disponibilidade de alimentos estão diretamente relacionados com o peso da carne, uma vez que os
bivalves são filtradores (SILVA, 2011). Em diálogo realizado com duas marisqueiras da região,
afirmaram que há uma variação no tamanho total e rendimento da carne, de acordo com a época do
ano, nos meses de chuvas intensas há uma baixa na salinidade da água e como consequência a morte
dos mariscos. Os bivalves são animais que resultam de interações de diversos fatores e atividade
metabólica estando assim sujeitos a variações da sua morfometria, já que estão diretamente suscetíveis
aos fatores climáticos e ambientais (HICKMAN e ILLIMGRORTH, 1980).

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A figura 6 demonstra um comparativo do peso total dos indivíduos de cada subgrupo nas duas
croas coletadas, indivíduos de tamanho P o peso total dos que foram coletados na croa da Cidade
apresenta um acréscimo de 20% em relação ao peso total de mariscos dos mesmos tamanhos coletados
na croa de Portinho. Indivíduos do tamanho M coletados na croa da cidade apresenta um acréscimo de
28% em relação ao peso total dos mariscos coletados na croa de Portinho. Indivíduos do tamanho G
apresentam um acréscimo de 19,6% em relação ao peso total de mariscos tamanho G coletados na croa
de Portinho.

P M G

Figura 6. Representa o peso total dos indivíduos de cada subgrupo na croa de Portinho e na croa da Cidade.

O peso total e o peso do corpo se mostrou maior nos indivíduos coletados na croa da Cidade, o
peso do corpo mole se apresentou como cerca de 10% o valor do peso total. Média biomassa: Portinho
(PT): 2.72 / Cidade (PT): 3.78/ Portinho (PC): 0.24/ Cidade: (PC): 0.33 (figura 7).

Figura 7. Representa a biomassa das duas croas sem a separação por tamanho.

Houve diferença significativa no tamanho dos indivíduos do mesmo subgrupo nas duas croas,
os mariscos coletados na croa da cidade apresentaram médias maiores nas medições utilizadas (figura

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5). Média Biomorfometria: Portinho (A): 0.65 / Cidade (A): 0.9 / Portinho (C): 1.5 / Cidade (C): 1.7 /
Portinho (L): 1.0 / Cidade (L): 1.2. Os tamanhos do comprimento dos indivíduos de cada grupo
variaram P (cidade): 0.7 – 1.1 mm; P (Portinho): 0.6 – 1.1 mm; M (cidade): 1.4 – 2.2 mm; M
(Portinho): 1.3 – 1.7 mm; G (cidade): 1.8 – 2.3 mm; G (Portinho): 1.7 - 2.2 mm.

Figura 8. Representa um comparativo da biomorfometria de cada croa.

De acordo com os resultados obtidos e o relato das marisqueiras, a interferência antrópica no


ambiente aquático influencia no tamanho dos mariscos (figuras 6, 7 e 8). As áreas estuarinas como já se
sabe, são fortemente afetadas pelos ciclos das marés, e também pelo que elas transportam tais como
lixo, esgoto, agrotóxico e rejeitos orgânicos por toda a extensão do estuário proliferando poluentes e,
portanto interferem diretamente na vida da população dependente da mariscagem (SILVA, 2011).
A croa da Cidade está mais próxima da área urbana da comunidade, e, portanto a mesma recebe
os dejetos da população, devido a essa interferência trópica, há um aumento na quantidade de matéria
orgânica disponível no estuário. Dessa forma os resultados obtidos demonstraram a relação direta entre
a disponibilidade de nutrientes e o tamanho dos mariscos.
Em relação à análise histológica do aparelho reprodutivo Anomalocardia flexuosa asugundo os
grupos estabelecidos de acordo com o tamanho das conchas (Pequeno (P), Médio (M) e Grande (G)),
verificou-se que os animais coletados nas duas croas, tanto a de Portinho quanto a da Cidade, no grupo
grande (G) já apresentavam ter alcançado a maturidade sexual, com os animais possuindo sexo
definido e em plena atividade reprodutiva (Fig 9). Animais do grupo Médio (M) apresentavam ter
alcançado a maturidade sexual possuindo sexo definido, porém não em atividade reprodutiva e animais
do grupo pequeno (P) não foi possível identificar o tipo de sexo e, portanto, também não apresentaram
atividade reprodutiva.

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A B

Figura 9. Fotomicrografia de gametogênese de macho e fêmea de Anomalocardia flexuosa do grupo grande (G).
A) Gametogênese do macho, B) Gametogênese da fêmea.

Ainda na análise histológica não foram encontrados parasitas, mas é necessário um estudo mais
detalhado para confirmar esses resultados, porém esses dados podem servir de subsídio para futuras
pesquisas.
Os resultados obtidos na análise histológica do aparelho reprodutor dos três grupos
estabelecidos de Anomalocardia flexuosa evidencia o que já era esperado, os animais considerados
como grandes já terem alcançado a maturidade sexual e reprodutivamente ativos, os animais
considerados como médios ainda estarem em fase de amadurecimento, enquanto os pequenos ainda
serem indiferenciados sexualmente por não terem atingido a maturidade sexual.
Esses resultados corroboraram com a opinião das marisqueiras em sua prática de coleta por elas
escolherem retirar do ambiente natural apenas os mariscos maiores por acharem que estes já
concluíram o seu ciclo de reprodução e deixarem os animais menores por acharem que estes ainda não
atingiram a capacidade reprodutiva.

CONCLUSÃO

Verificou-se que os mariscos coletados na croa da Cidade apresentaram nas medições de


largura, altura e comprimento médias maiores em relação às realizadas nos mariscos coletados na croa
de Portinho. E, portanto, pelo fato do tamanho ser diretamente proporcional ao peso, as médias do peso
total e do corpo mole dos mariscos coletados na croa da cidade também foram maiores do que as
médias de Portinho, e isso pode está relacionado com os dejetos e lixos orgânicos liberados em
córregos que estão diretamente ligados a croa da cidade, fornecendo dessa forma maiores nutrientes
para os animais presentes nesta localidade.
Também foi verificado em análises histológica do aparelho reprodutor de Anomalocardia
flexuosa que os animais considerados como grandes já haviam atingido a maturidade sexual e estavam
reprodutivamente ativos, enquanto os considerados como médios estavam em fase de maturação e não
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

estavam reprodutivamente ativos e já os animais considerados como pequenos ainda estavam


sexualmente indiferenciados. Dessa forma, a visão das marisqueiras está correta, pois essa separação
durante a coleta não compromete o recrutamento das populações no ecossistema.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 267


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESQUÍCIOS DE MATA ATLÂNTICA NO MÉDIO CURSO DO RIO TIJUCO EM


ITUIUTABA (MG): UMA ANÁLISE BIOGEOGRÁFICA

Thalita Mendes Pereira BORGES19


Mestranda em Geografia (FACIP/ UFU)
thalita.geografia@yahoo.com.br
Rildo Aparecido COSTA
Docente do Curso de Graduação e Pós-graduação em Geografia (FACIP/ UFU)
rildoacosta@gmail.com

RESUMO
A Biogeografia tem como objeto de estudo os seres vivos, inclusive o ser humano, e busca entender
como os seres vivos se relacionam com o meio, levando em consideração também elementos naturais e
dinâmicas ambientais. Partindo deste pressuposto, esta pesquisa tem como objetivo principal fazer uma
análise biogeográfica de resquícios de Mata Atlântica presente no Rio Tijuco no município de Ituiutaba
(MG). O município de Ituiutaba (MG) está localizado onde é domínio do Cerrado, porém existem
resquícios de Mata Atlântica presentes especialmente nas margens dos principais cursos d‘água da
região. Assim, fazer uma caracterização da área, identificar as espécies de Mata Atlântica presentes,
dentre outros fatores serão importantes para que seja feita a análise biogeográfica. O presente trabalho
está nas etapas iniciais por isto apresenta informações parciais. A metodologia desta pesquisa iniciou se
por pesquisas bibliográficas sobre os temas relacionados à temática principal. Posteriormente, para a
análise da vegetação serão identificadas as espécies vegetais para a caracterização biogeográfica, toda a
análise biogeográfica será baseada na metodologia de Passos (2003) para a construção de pirâmides de
vegetação. As pirâmides são modelos que permitem uma visão holística da área em estudo, pois
considera aspectos físicos (clima, solo, relevo, geologia, dentre outros), além do uso da terra. Desta
forma será possível entender as dinâmicas envolvidas que ainda permitem a existência de Mata
Atlântica, e se estes resquícios de Mata Atlântica estão em áreas que podem trazer risco para a sua
sobrevivência, visto que esta vegetação é muito afetada pela degradação ambiental.
Palavras-chave: biogeografia; mata atlântica; cerrado; pirâmide de vegetação; Ituiutaba (MG).
ABSTRACT
Biogeography has as subject of study the living beings, including human beings, and it aims to
understand how the living beings relate with the environment, also considering natural elements and
the environmental dynamics. Assuming this point, this research has as its main objective to make one
biogeographical analysis about the remains of Atlantic Forest in the Tijuco river in the municipality of
Ituiutaba (MG). The municipality of Ituiutaba (MG) is located where it is a domain of Cerrado, but
there are remains of Atlantic Forest especially on the banks of the main streams of the region. That
said, making a characterization of the area, identifying the Atlantic forest species present, and other
factors will be important to the biogeographical analysis to be done. This work is in the early stages
this way it presents partial information. The methodology of this research has started through
bibliographical research about the themes related to the main thematic. Posteriorly, for the vegetation
analysis will be identified the vegetal species for the biogeographical characterization, all the

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Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

biogeographical analysis will be based in the methodology of Passos (2003) for the construction of
vegetation pyramids. The pyramids are models that allow one holistic vision about the area studied,
because it considers the physical aspects (climate, soil, relief, geology, among others), besides the land
use. Thus it will be possible to understand the dynamics involved that still permit the existence of
Atlantic Forest and if these remains of Atlantic Forest are in areas that can bring risks to their survival,
since this vegetation is heavily affected by environmental degradation.
Key-words: biogeography; atlantic forest; cerrado; pyramid vegetation; Ituiutaba (MG).

INTRODUÇÃO

Quando considera se o estudo dos seres vivos, os quais inclui o homem na superfície terrestre, a
Biogeografia tem um papel essencial, visto que busca compreender como a interação entre os seres
vivos com o meio ocorre e como se dá a sua distribuição geográfica, considerando a dinâmica do
passado e do presente (TROPPMAIR, 2012). Diante da ideia de entender estas dinâmicas, sabe se que
no município de Ituiutaba (MG), especialmente próximo às margens do rio Tijuco, existem resquícios
de Mata Atlântica, sendo que este município está nas áreas de domínio do Cerrado.
Para uma breve contextualização, o município de Ituiutaba (MG) está localizado na
Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba, mais especificamente, na Microrregião
de Ituiutaba em Minas Gerais. Este município possui 97.171 habitantes de acordo com dados do Censo
de 2010 (IBGE, 2016). Dentre as atividades econômicas em destaque no município, tem se atividades
voltadas para a agricultura, especialmente para a produção de etanol por meio da cana de açúcar, dentre
outros cultivos; e a criação de animais para a produção de leite e outros fins.
Em relação à vegetação, o que ainda existe de vegetação nativa encontra-se especialmente nas
matas ciliares de cursos d‘água dos municípios da região (COSTA; SILVA, 2012). O município de
Ituiutaba (MG) tem a presença de remanescentes tanto de Cerradão, como de Mata Atlântica e a
presença de Mata Atlântica na mata ciliar do rio Tijuco é muito significativa. Desta forma, esta
pesquisa tem como objetivo principal analisar o remanescente de floresta estacional semidecidual
(Mata Atlântica) do ponto de vista biogeográfico na área de Refúgio de Vida Silvestre no Rio Tijuco
em Ituiutaba (MG) e tem outros objetivos como fazer uma caracterização paleogeográfica da área em
estudo, também identificar as espécies vegetativas e as dinâmicas ambientais do solo, do clima e do
relevo e o uso e ocupação do solo e os possíveis impactos na sobrevivência das espécies.
Conforme aponta o SOS Mata Atlântica (2015) o domínio de Mata Atlântica abriga mais de
15.700 espécies vegetais (destas 8 mil são endêmicas), então vale analisar os tipos vegetais presentes
no rio Tijuco, até porque em Ituiutaba (MG) existe 4.147 hectares de Mata Atlântica, que pode se
considerar como uma área relevante (SOS MATA ATLÂNTICA, 2016).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quanto ao questionamento sobre a existência de Mata Atlântica no domínio de Cerrado em


Ituiutaba (MG) hipoteticamente isto pode ser resultado de dinâmicas paleoclimáticas que permitiram a
existência da Mata Atlântica, visto que isto tende a ser herança de tempos remotos. Para que exista
Mata Atlântica no Cerrado, provavelmente existem indicadores climáticos e de qualidade ambiental
que permitem que estas espécies de outro domínio possam ainda existir no Cerrado, e por meio do
desenvolvimento desta pesquisa será possível constatar se as hipóteses levantadas são válidas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia empregada nesta pesquisa (que está em andamento) inicia se primeiramente por
pesquisas sobre temas como: biogeografia, domínio de Mata Atlântica e domínio do Cerrado,
dinâmicas ambientais, dentre outros. A busca por informações já existentes sobre a área, como em
trabalhos acadêmicos e em órgãos como SOS Mata Atlântica, IEF (Instituto Estadual de Florestas),
dentre outros, tem permitido a caracterização teórica da área em estudo, no que se refere à Mata
Atlântica e aspectos físicos da mesma.
Para análise biogeográfica da vegetação será adotada a metodologia de Passos (2003) para a
criação de Pirâmide de Vegetação, sendo que esta propõe um inventário fitogeográfico da vegetação.
Para isto será delimitada dentro da área com presença de Mata Atlântica, uma área com um raio de 10
metros para a coleta e posterior análise da vegetação. Por meio da metodologia de pirâmide de
vegetação (PASSOS, 2003) e análise geossistêmica sobre a realidade ambiental, é possível fazer uma
análise da vegetação, sua estrutura, dinâmica, seguindo parâmetros fitossociológicos (GONÇALVES;
BARBOSA; PASSOS, 2015).
Para os trabalhos de campo, é preciso considerar quatro fatores em relação à escolha da área
para coleta da vegetação, são eles: relevo, solo, descontinuidades fisionômicas e antropização da área
(se houver). Estes fatores são determinantes para a presença da vegetação sem descontinuidade
(GONÇALVES; BARBOSA; PASSOS, 2015). Então, para a escolha da área exata, a qual será coletada
amostras de vegetação, os aspectos anteriores serão considerados, por isto que em campo que é
possível verificar as condições da vegetação para a escolha destas áreas.
Para a catalogação das espécies (para elaboração do inventário fitogeográfico) serão utilizadas
fichas biogeográficas propostas por Passos (2003); estas apresentam informações sobre: o tipo de
espécies vegetais predominante, os fatores, processos e dinâmicas que influenciam na formação vegetal
em estudo. Portanto, conhecer o clima, solos, formação geológica são necessários antes mesmo de ir à
campo. As pirâmides são elaboradas com base nos dados das fichas biogeográficas, desta forma, as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pirâmides podem ser elaboradas em softwares como o CorelDraw ou Microsoft Word (GONÇALVES;
BARBOSA; PASSOS, 2015).
Serão elaborados também mapas temáticos, para isto em campo será utilizado equipamento de
GPS (Global Positioning System), altímetro, e outros necessários para o georreferenciamento e coleta
de outros dados físicos. E para a elaboração dos mapas será utilizado o software QGis 2.18.10 que irá
gerar mapas temáticos que contemplem as especificidades da área em estudo. A partir daí serão feitas
as análises de todo material produzido para enfim, demonstrar os resultados alcançados com a
realização desta pesquisa.

BIOGEOGRAFIA E OUTROS CONCEITOS

Por Biogeografia, entende se que é ―[...] o estudo da distribuição dos seres vivos na superfície
do Globo e a análise das causas a que obedece constitui o objeto da Biogeografia‖ (PASSOS, 2003, p.
127). Troppmair (2012) ressalta que é importante analisar o meio, visto que este é alterado pela relação
que os seres vivos estabelecem com o mesmo; daí a necessidade de uma análise dos processos naturais
dos sistemas geográficos, ou geossistemas, tendo em vista uma visão espaço-temporal da natureza.
Como o município de Ituiutaba (MG) está localizado em uma área de domínio do Cerrado e
apresenta resquícios de Mata Atlântica (outro domínio), vale ressaltar que domínio morfoclimático e
fitogeográfico é ―[...] um conjunto espacial de certa ordem de grandeza territorial - de centenas de
milhares a milhões de quilômetros quadrados de área - onde haja um esquema coerente de feições de
relevo, tipos de solos, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas‖ (AB‘SÁBER, 2003, p.
11-12). Ainda sobre os domínios, Ab‘Sáber (2003, p. 12) apresenta algumas de suas características
gerais ―[...] tais domínios espaciais, de feições paisagísticas e ecológicas ‗integradas‘, ocorrem em uma
espécie de área principal, de certa dimensão e arranjo, em que as condições fisiográficas e
biogeográficas formam um complexo relativamente homogêneo e extensivo‖.
Os domínios tem relativa homogeneidade e apresentam grandes extensões, e se concentram em
determinadas áreas por variadas condições que justificam a sua existência, daí a noção da localização
geográfica as quais os domínios estão presentes, como é o caso do Cerrado e da Mata Atlântica.
Para Ab‘Sáber (2003) as áreas ―core‖ dos domínios estão sobrepostas à estruturas litológicas
variadas em idade geológica e em composição litológica. A influência geomorfológica e pedológica,
dentre outros fatores, definem as condições ecológicas que dominam estas áreas. Outra característica
marcante dos domínios é que estes ―[...] possuem filiação muito direta com a história paleoclimática
quaternária das regiões onde se fixaram e se expandiram‖. (AB‘SÁBER, 2003, p. 28).

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O município de Ituiutaba (MG) está localizado na área de domínio do Cerrado e este domínio
está em uma posição geográfica entre duas florestas úmidas: Mata Atlântica e Floresta Amazônica,
como se fosse um corredor entre elas. O tipo de vegetação predominante no Cerrado tem como
característica: ―[...] vegetação xeromorfa que varia de campo limpo até cerradão, embora também
ocorram matas de galeria e florestas estacionais‖. (MÉIO et al, 2003, p. 437).
O Cerrado já ocupou uma área de 1,8 Km² (TROPPMAIR, 2012), porém estas áreas com o
passar dos anos foram reduzidas, resultante da expansão agrícola da cana, soja e para a criação de
animais. A área core do Cerrado no Brasil está situada nos chapadões do Planalto Central. Este é um
domínio muito ameaçado, tanto pelos fatores mencionados anteriormente, como também por
queimadas que causam destruição que compromete a possibilidade de recuperação do Cerrado.
Troppmair (2012, p. 102) acrescenta também que este é ―[...] um dos biomas mais ameaçados [...]‖.
Enquanto unidade morfoclimática e climato-botânica, para Ab‘Sáber (2003) o Cerrado tem o
predomínio dos chapadões tropicais do Brasil Central, e tem como características climáticas gerais duas
estações quentes por ano.
No que se refere à Mata Atlântica, Ab‘Sáber (2003) afirma que o domínio das matas atlânticas
primariamente chegou a ocupar aproximadamente um milhão de quilômetros quadrados, área superior
ao território de domínio da floresta amazônica. O entendimento desta ocupação/compartimentação
territorial da floresta Atlântica foi importante para entender a dinâmica ecológico-ambiental desde o
fim do Pleistoceno até atualmente.
A Mata Atlântica é um tipo de mata pluvial também denominada Mata de Encosta, que tem
como área de domínio a faixa litorânea partindo dos estados do Rio Grande do Norte até o Rio Grande
do Sul, sofreu impactos ambientais ocasionados por atividades antrópicas, o que fez com que grande
parte de suas áreas fossem devastadas (TROPPMAIR, 2012). É importante enfatizar que com o
Cerrado também não foi diferente.
Outra característica da Mata Atlântica é que esta apresenta grande quantidade de espécies
vegetais, como destaca Troppmair (2012, p. 95): ‖Dentro dos ecossistemas brasileiros e mesmo
mundiais, a Mata Atlântica, devido à extensa latitude (Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul) e a
diferente altitude (10 a 1000m), portanto existindo em diferentes tipos de clima (semiárido, tropical,
subtropical e habitats diversos), é o que apresenta maior biodiversidade, ultrapassando inclusive a
Amazônia.‖.
Como já fora citado no presente trabalho, existem remanescentes de Mata Atlântica no Cerrado
onde está localizado o município de Ituiutaba (MG). Esta Mata Atlântica no Cerrado é considerada uma
vegetação exótica, e estas ilhas de vegetação exóticas nas áreas core de outro domínio (o qual não

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fazem parte, mas estão presentes), está diretamente ligado à ―[...] fatores de exceção, de ordem
litológica, hidrológica, topográfica e paleobotânica‖ (AB‘SÁBER, 2003, p. 28). Esta também é uma
evidência que este tipo de ilha de vegetação exótica representa um domínio morfoclimático que
anteriormente foi bem desenvolvido.
O intercâmbio entre espécies de domínios diferentes, e mesmo a dispersão das espécies,
dependem de fatores geográficos ou de eventos (paleológicos) que são os reguladores e que dão as
condições necessárias para a existência das espécies (MÉIO et al, 2003). Desta forma, quando
Ab‘Sáber (2003) utiliza o termo ecossistemas outrora espacialmente desenvolvidos, pode se inferir que
é uma característica da área em estudo, visto que o domínio de Cerrado (que tecnicamente não
contempla Mata Atlântica) tem resquícios desta vegetação, que provavelmente foi muito desenvolvida
e ocupava áreas maiores. Quando observa se a expansão do Cerrado considerando o tempo geológico,
sabe-se que:

A vegetação dos cerrados, tendo se desenvolvido e se adaptado, em algum momento do


Quaternário (ou mesmo dos fins do Terciário), a essa estrutura de paisagens, de planaltos
tropicais interiorizados dotados de solos lateríticos, é certamente um dos quadros da vegetação
mais arcaicos do país. Á medida que a rede frouxa dos vales com drenagem perene se expandiu,
as florestas-galeria filiadas às grandes províncias florestais contíguas (Mata Amazônica e Mata
Atlântica e do Rio Paraná) tem-se interpretado pelo vasto domínio dos cerrados (AB‘SÁBER,
2003, p. 31).

Como fora mencionado anteriormente, o Cerrado se adaptou e desenvolveu em determinadas


áreas, porém com as transformações na rede de drenagem tem sido possível encontrar no Cerrado tipos
vegetais de outros domínios. Porém, quanto ao estudo da vegetação que envolve a Mata Atlântica e
Cerrado nesta pesquisa, é necessário entender os elementos físicos como o solo, a vegetação, dentre
outros, que permitem a atual permanência da Mata Atlântica no Cerrado em Ituiutaba (MG).
Portanto, é importante considerar todos os elementos de forma integrada e sistêmica (visto que
os elementos são sistematicamente conectados), ou seja, ter uma visão holística, pois de acordo com
Troppmair (2012, p. 123) ―[...] não devemos estudar o meio físico como produto final, com o objetivo
único e isolado em si, mas como o meio em que os seres vivos, entre eles, o homem, vivem e
desenvolvem suas atividades‖. Desta forma esta pesquisa que está em andamento e apresentará uma
caracterização contemplando diversos aspectos que envolvem a área.

CERRADO E MATA ATLÂNTICA: A REALIDADE DE ITUIUTABA (MG)

De acordo com o que já foi discutido no presente trabalho, sabe se que o município de Ituiutaba
(MG) está teoricamente na área de domínio do Cerrado (porém as áreas de vegetação nativa de Cerrado
são mínimas), desta forma no que diz respeito às especificidades do Cerrado no município sabe se que:
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Em relação à vegetação o município possui, em quase toda a sua totalidade, o Cerrado strictu
sensu. Porém é comum encontrar, nas áreas mais baixas as veredas, que são caracterizadas por
solos mal drenados e com acúmulo de águas, formando as nascentes das áreas de Cerrado. Nas
partes mais altas, em solos mais desenvolvidos encontra-se o Cerradão e em alguns pontos
(manchas) encontram-se resquícios de Mata Atlântica (COSTA; SILVA, 2012, p. 347).

Pela fala do autor anteriormente, florestas, dentre elas a Mata Atlântica podem ser encontradas
pelo Cerrado. De forma mais específica, quanto ao estado de Minas Gerais, este apresenta uma
considerável diversidade de domínios, como por exemplo: Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, dentre
outros (COSTA; SILVA, 2012). E como nas últimas décadas algumas áreas foram devastadas devido à
expansão da agricultura, outras áreas foram afetadas pelo desmatamento e reflorestamento, partindo
disto, houve uma diminuição das áreas de vegetação nativa. E o que atualmente ainda se encontra de
matas nativas, de forma geral, estão próximo aos cursos d‘água ou nascentes.
Devido à degradação resultante da agricultura e pela própria ocupação do Triângulo Mineiro,
especialmente no Pontal do Triângulo Mineiro onde está localizado o município de Ituiutaba (MG),
também contribuiu ao longo dos anos para a diminuição das áreas de Cerrado. Como existem fatores
naturais que contribuem para este avanço da agricultura, como relevo suave, índices pluviométricos
anuais suficientes e solos consideravelmente férteis (COSTA; SILVA, 2012), tem se a degradação de
áreas de vegetação nativa. Obviamente, não somente a agricultura, mas outras atividades antrópicas
também trouxeram problemas.
Assim, no caso do Triângulo Mineiro, o relevo e a abundância das águas contribuíram para a
instalação de grandes lavouras. Com a substituição da vegetação natural, o que sobrou foram
remanescentes de vegetação em ―[...] áreas de vales dos principais córregos e rios e as cabeceiras de
drenagem‖ (COSTA; SILVA, 2012, p. 347).
Com o intuito de preservar estas áreas de vegetação nativa, o IEF (Instituto Estadual de
Florestas) criou o Refúgio de Vida Silvestre Estadual dos Rios Tijuco e da Prata, por meio do Decreto
nº 45.568, de 22 de Março de 2011. Existem diferentes tipos de unidades de conservação (COSTA,
2011); e como o próprio nome mostra esta é um refúgio de vida silvestre. Este foi criado devido à
presença de espécies que devem ser preservadas e tem uma área muito extensa (9.750,4026 de
hectares) e engloba 5 munícipios da região, inclusive Ituiutaba (MG). E de acordo com Costa e Silva
(2012), o Rio Tijuco, Ribeirão São Lourenço e Rio da Prata (todos da mesma bacia hidrográfica, sendo
o rio Tijuco o principal) apresentam remanescentes de Mata Atlântica.
Partindo de uma análise paleogeográfica, quando se questiona a existência de Mata Atlântica
nesta região de domínio do Cerrado, primeiramente é necessário entender que "[...] a origem da
vegetação de Mata Atlântica está associada à deriva continental, ou seja, a separação dos continentes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

americano e africano, ocorrida a aproximadamente 80 milhões de anos atrás‖ (COSTA; SILVA, 2012,
p. 348). Para Costa e Silva (2012), o que favoreceu isto foi a variação de temperaturas quentes e
úmidas (período interglacial) e de clima seco e frio (glaciação), pois contribuiu para a expansão da
Mata Atlântica pelo interior do Brasil, chegando aos limites da Floresta Amazônica.
Para Costa e Silva (2012), a partir de pesquisas sobre o município de Ituiutaba (MG), se
comparadas às áreas ocupadas por Cerradão e Mata Atlântica, nota se que no caso deste município,
existem mais áreas com Mata Atlântica do que com Cerradão. Então, é relevante a presença de Mata
Atlântica no município. E diante do que fora discutido até o momento, como esta pesquisa está em
andamento, ainda existem várias etapas a serem realizadas para a obtenção de resultados que se referem
aos objetivos da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como esta pesquisa está em andamento, acredita se que será possível contribuir com a geração
de informações sobre a área de refúgio vida silvestre, a qual está situada a Mata Atlântica, e que ao
mesmo tempo é uma área de reserva, ou seja, que visa a preservação de suas espécies. E como a
presença de Mata Atlântica no município de Ituiutaba (MG) é bem considerável em relação à vegetação
nativa de Cerrado (que é de fato o domínio morfoclimático da região), por meio desta pesquisa será
possível conhecer as especificidades e fazer uma caracterização da área em estudo.
Como em algumas áreas do município de Ituiutaba (MG) existem como manchas, os resquícios
de Mata Atlântica, é importante salientar que esta faz parte do Domínio Tropical Atlântico, que
constitui um conjunto de matas atlânticas que ocupam áreas de norte a sul do território brasileiro,
abrangendo áreas com características intertropical e subtropical. E por meio da metodologia de
pirâmide de vegetação (PASSOS, 2003) e análise geossistêmica sobre a realidade ambiental será
possível fazer uma análise da vegetação, sua estrutura, dinâmica, seguindo parâmetros fitossociológicos
(GONÇALVES; BARBOSA; PASSOS, 2015). Por fim, devido à riqueza da biodiversidade brasileira,
tem se assim um cenário que ainda pode trazer descobertas e precisa ser mais conhecido.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IMPORTÂNCIA DE POLINIZADORES NA CULTURA DO FEIJÃO CAUPI

Toni Halan da Silva IRINEU


Doutorando em Fitotecnia na Universidade Federal Rural do Semiárido
tonnysilva_oliveira@hotmail.com
José Sebastião de MELO FILHO
Doutorando em Agronomia na Universidade Federal da Paraiba
sebastiaouepb@yahoo.com.br
Mário Leno Martins VÉRAS
Doutorando em Fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa
mario.deus1992@bol.com.br
Lunara de Sousa ALVES
Mestranda em Sistemas Agroindustriais na Universidade Federal de Campina Grande
Lunara_alvesuepb@hotmail.com

RESUMO
O conhecimento da flora apícola é um passo importante para a exploração racional e programas de
conservação de abelhas, facilitando as operações de manejo no apiário, como também, possibilitando a
identificação, preservação e multiplicação das espécies vegetais mais importantes na área. A criação de
abelhas é uma atividade que beneficia, além do apicultor, às próprias abelhas e aos vegetais que
dependem da sua polinização. A chave de uma apicultura produtiva é o conhecimento do
comportamento dos fluxos de néctar e de pólen de uma região. Objetivou-se com este trabalho
identificar visitantes florais do feijão caupi. Esta pesquisa foi realizada em condições de campo, no
Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar - CCTA da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus de Pombal - PB. Observou que na cultura do feijão caupi ocorreu à presença de vários
visitantes florais (Apis Melíferas, Vespas Amarelas Rajadas, Abelhas Amarelas, Maribondos Pretos e
Maribondos Vermelhos. A ordem mais presente foi as abelhas Apis Melíferas que representou um
percentual de 34 % nas flores e no momento da pesquisa observou-se Maribondos Pretos com
percentual de 56 % nas astes das plantas no momento das visitas observadas.
Palavras Chave: Pastagem apícola; Leguminosa; insetos.

ABSTRACT
Knowledge of bee flora is an important step in the rational exploitation and conservation programs
bees, facilitating operations management in the apiary, as well, enabling the identification, preservation
and multiplication of plant species in the most important area. Keeping bees is an activity that benefits,
beyond the beekeeper, and the bees themselves to plants that depend on pollination. The key to a
productive beekeeping is the knowledge of the behavior of the flow of nectar and pollen of a region.
The objective of this work was to identify floral visitors of cowpea. This research was conducted under
field conditions, the Center for Science and Technology Agrifood - CCTA Federal University of
Campina Grande, Campus de Pombal - PB. He noted that in the culture of cowpea was the presence of
several floral visitors (Apis bees, wasps Gusts Yellow, Yellow Bees, wasps and wasps Black Reds.
Was order more gift honey bees Apis representing a percentage of 34% on flowers and when the

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survey was observed wasps Black with percentage of 56% in Astes plant at the time of the visits
observed.
Keywords: Grassland beekeeping; Legumes; insects

INTRODUÇÃO

Os primeiros insetos polinizadores eram dípteros e besouros, não muito especializados que
provocavam, além da polinização, a destruição de parte das flores, hoje os principais polinizadores
pertencem à três ordens: Díptera (moscas e mosquitos), Hymenoptera (vespas e abelhas), e Lepidoptera
(mariposas e borboletas).A relação de mutualismo entre plantas e insetos é de grande importância para
ambos e já passou por diversos tipos de alterações durante a sua evolução na busca de propiciar
melhores condições aos seus participantes, já que de um lado temos as plantas buscando se reproduzir e
de outro os insetos querendo se alimentar. É uma relação muito antiga que têm suas origens com os
insetos filófagos, provavelmente no Carbonífero, se ampliando no Cretáceo com o aumento das
angiospermas (Santos et al., 2008).
No Brasil são conhecidas mais de 400 espécies de abelhas sem ferrão que apresentam grande
heterogeneidade na cor, tamanho, forma, hábitos de nidificação e população dos ninhos. Algumas se
adaptam ao manejo, outras não. Embora vantajosa, a criação racional dessas abelhas é dificultada pela
escassez de informações biológicas e zootécnicas, pois muitas sequer foram identificadas ao nível de
espécie (Pereira, 2005).
Dentre as espécies mais conhecidas estão as abelhas mandaçaia (Melipona quadrifasciata Lep.),
jataí (Tetragonisca angustula Latreielle), jandaíra (Melipona subnitida Ducke), mirim (Plebeia sp),
rajada (Melipona asilvae), canudo (Scaptotrigona sp) e uruçu (Melipona scutellaris) (Lopes et al.,
2005).
Além da ação humana há uma destruição, que embora reduza a população de abelhas, pode ser
considerado um controle natural das populações que de um modo geral, são os ataques atacadas por
aranhas, formigas, passarinhos, répteis, batráquios, vespas, traças, e até por abelhas maiores, entre
muitos outros predadores (Fabichak, s/d). Por causa deste desaparecimento, em algumas regiões, como
o Sudeste e Sul, poucas pessoas conhecem os sabores do mel das abelhas nativas, o que faz desse
produto uma verdadeira iguaria, apresentando cores, gostos e aromas incomparáveis (Lopes, 2005), e
que quando comercializado apresentam valores elevados.
Alguns estudos, bem como, práticas em campo são capazes de provar a eficiência dessas
espécies como polinizadores. No México, a espécie Scaptotrigona mexicana é usada como polinizador

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de abacate e tem sido exportada para Israel; são utilizadas também como polinizadoras na Austrália,
onde muitos criadores têm abelhas sem ferrão, cuja principal atividade é a polinização. No Brasil, os
benefícios agrícolas desta atividade estão ainda em estudo, por exemplo, a Nannotrigona testaceicornis
(iraí) e a Tetragonisca angustula (jataí) são utilizadas em estufas para cultivo de morango, a Melipona
subnitida (jandaíra) é usada em pomares de goiaba (Psidium guajava) (Imperatiz-Fonseca et al.,2005).
As abelhas, em geral, polinizam diversas plantas cultivadas no mundo, resultando em uma
estimativa de 15 a 30% da produção mundial de alimentos (Kremen et al., 2002;Guimarães, 2006). Em
especial as de vida solitária são responsáveis pela produção de bons frutos na flora nativa em
agroecossistemas, que já são criadas com esta finalidade (Rego & Albuquerque, 2006). As abelhas
nativas são consideradas de comportamento social, mas não só estas são importantes para a
polinização, as abelhas solitárias são responsáveis pela polinização de espécies vegetais como a
acerola, algodão, caju, maracujá, já as abelhas africanizadas polinizam as flores do melão, pepino,
eucalipto e café (Freitas et al., 2006).
Essa extinção já foi evidenciada em todos os continentes com exceção da Antártica e, embora
não tenham sido avaliadas grandes extensões em todos os continentes, pode-se presumir que a
degradação desses organismos seja ainda maior já que esta vem associada às ações humanas, dentre as
quais destacam: a fragmentação de hábitat e outras mudanças implantadas no uso da terra, como a
agricultura, e o pastoreio, a utilização de praguicidas e herbicidas, e a introdução de espécies exóticas
(Buchmann & Nabhan, 1996; Kearns et al.,1998; Cruz, 2003; Ghazoul, 2005; Santos et al., 2008).
Apesar desta importância e da fragilidade da polinização para os ecossistemas conhecidos há
tanto tempo, os estudos sobre a ecologia da polinização não estão avançando adequadamente
principalmente no que diz respeito aos diversos polinizadores e as plantas que são polinizadas (Eardley
et al., 2006). A preservação dos organismos polinizadores é algo de extrema importância para a
manutenção dos ecossistemas, bem como para preservar a diversidade genética dos vegetais. Pensando
nas razões econômicas a conservação da atividade polinizadora proporciona um aumento nos ganhos
principalmente quando se trata da produção de frutos e sementes (Santos et al., 2008).
Souza (2002) ressaltou que os produtos resultantes das atividades de coleta das abelhas, como
mel, pólen, própolis e geléia real, representam uma alternativa econômica e ecologicamente sustentável
dos recursos naturais, uma vez que a apicultura/meliponicultura tem na preservação da vegetação como
primeiro requisito para sua sustentabilidade, pois sem as flores não existe a produção de mel nem de
pólen. E o semi-árido, onde existem vastas extensões de terra com vegetação nativa para a produção do
mel orgânico, ou seja, aquele livre de contaminação ambiental (por agrotóxicos) revela-se como uma
região capaz de sobressair-se nesta atividade econômica no âmbito nacional e internacional.

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A técnica da polinização é fenômeno que permite a reprodução das plantas, por transferência de
pólen, alterando caracteres para aumentar a adaptação ao meio através de frutos e sementes melhores
(Free, 1993). É um serviço prestado ao meio ambiente que proporciona a diversidade das espécies
vegetais através de uma maior variedade genética e grande dispersão por vários habitats, é por isso um
mecanismo de benefício mútuo no qual os animais buscam seu alimento e em troca auxiliam na
reprodução e dispersão das plantas.
Nas últimas décadas, o desafio do setor agrícola vem sendo o desenvolvimento rural sustentável
com a busca de práticas sustentáveis, que se comparem às obtidas pela agricultura tradicional, mas que
impliquem em menores custos ambientais (Tilman, 1998). Esse desafio marca uma nova fase da
agricultura, momento em que a sustentabilidade do modelo produtivista vem a ser questionada e que
serão implantados valores ambientais nas práticas agrícolas, na opinião pública e na agenda política.
Com base nesta forma de agricultura dita sustentável, muitos são os tipos de agricultura que vão
surgindo dentre as quais tem-se: agricultura orgânica, biodinâmica, agricultura natural, agricultura
biológica e a agricultura ecológica (Hespanhol, 2008).A utilização de abelhas é algo importante
principalmente quando são empregadas as abelhas nativas, que estão em extinção devido à introdução
da espécie exótica do gênero Apis, que apesar de produzir grande quantidade de mel estão levando a
uma queda no número de indivíduos nativos do Brasil.
Diferente da agricultura convencional, também chamada de tradicional, a agroecologia tem
como alicerce processos de controle de pragas e doenças que se baseiam no equilíbrio químico e
fisiológico da planta, buscando maior resistência pelo equilíbrio energético e metabólico vegetal
(Medeiros et al., 2007). No presente estudo objetivou-se identificar os visitantes florais das variedades
do feijoeiro caupi em condições de campo, buscando identificar polinizadores efetivos em áreas
agrícolas no município de Pombal – PB.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar da


Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Pombal - PB. Localizado no Sertão
Paraibano, nas coordenadas geográficas 6º47‘20‘‘ de latitude S e 37º48‘01‘‘ de longitude W, e altitude
média de 194 m.
O clima da região, conforme a classificação climática de Köppen, adaptada ao Brasil (COELHO
e SONCIN, 1982), do tipo BSh, que representa clima semi-árido quente e seco, com precipitação média
de 750 mm ano-1, e evaporação média anual de 2000 mm.

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O experimento foi conduzido no período de 14 a 24 de dezembro de 2012, sendo este estudo


conduzido durante o florescimento do feijão caupi, os insetos visitantes florais foram coletados em 4
copos plásticos,1recipiente com tampa pra colocar os insetos,com 2 mangueiras (fina e
grossa),acetona,algodão,.álcool, 1 máquina fotográfica,1 computador para tabular os dados coletados
durante o momento da coleta e identificação dos insetos., em três dias consecutivos durante os horários
das 6:20, 7:20, 9:00, 11:00, 13:00, 15:00 e 17:00 horas, e posteriormente foram identificados até a
ordem correspondente. Foram considerados visitantes florais aqueles que coletavam néctar e/ou pólen,
ou os que se alimentavam das partes florais.

Figura 1: Materiais utilizados na coleta de visitantes florais durante o momento da pesquisa no cultivo do
feijoeiro caupi, em Pombal, PB, 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na identificação e coleta dos insetos em campo, foi observado o momento que antecedeu a
abertura das flores, onde constatou-se o início da abertura das flores (antese) a partir das 6:00 horas
(A.M.), e concluído-se aproximadamente às 7:00 hrs (A.M.). O fechamento das flores (senescencia)
iniciou-se às 11:00 hrs (A.M.), concluindo-se aproximadamente às 12:00 hrs (P.M.), nesse horário
observou-se todas as flores já fechadas. Na coleta de insetos foi identificado o horário de 6:20 hrs
(A.M.) com a maior incidência de insetos visitantes no cultivo do feijão caupi. Na coleta de dados
observou-se insetos que almejam diversos objetivos no interior das flores que foram desde a coleta de
recompensas (pólen e néctar), consumo de partes vegetais (pétalas,astes.Constatou-se 156 visitantes
florais nas astes e 86 nas flores,sendo observado 242 visitantes florais em geral ,conforme a tabela 1
apresentada abaixo em ordem pelos visitantes florais que foram observadas no momento da pesquisa no
cultivo do feijão caupi e suas variedades.

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Tabela 1: Identificação de visitantes florais no município de Pombal - PB, 2013.


Varie Ordem de Insetos Ast Flo Quantidade\visit
dades es r antes
V1 HP;HV;HAR;AA 8;2; 2;3 56 1
M;APIS 3;5;3 ;3;2;8 HP 2
V2 HP;HV;HAR;AA 7;3; 1;2 28 1
M;APIS 4;6;3 ;1;1;4 HV 0
V3 HP;HV;HAR;AA 9;4; 1;1 21 1
M;APIS 3;4;4 ;3;4;7 HAR 6
V4 HP;HV;HAR;AA 9;6; 3;2 33 1
M;APIS 3;7;3 ;3;3;5 AAM 4
V5 HP;HV;HAR;AA 12;5 2;1 18 3
M;APIS ;5;7;3 ;4;2;6 APIS 4
V6 HP;HV;HAR;AA 11;8 3;1 156 8
M;APIS ;3;4;2 ;2;2;4 6

De acordo com a coleta dos insetos em campo foi constatado que os visitantes florais em maior
freqüência nas astes da cultura do feijão caupi, foram Maribondos Pretos com percentagem de 36 % do
total de visitas na espécie vegetal, e os 64 % restantes correspondem a Abelhas Amarelas, Maribondos
Vermelhos; Vespas Amarelas Rajadas e Apis Melíferas. De acordo com a (tabela 2), constatou-se a
identificação dos visitantes florais nas astes, por ordem de insetos identificados nas variáveis
observadas no cultivo do feijoeiro caupi. De acordo com Simpson & Neff (1983) indicaram que partes
florais, em diversas espécies, ao longo do tempo, têm se tomado em tecidos nutritivos para insetos
visitantes. Tais tecidos são de origem epidérmica e parenquimática, contendo açúcares, amido,
proteínas e lipídios.
A maioria dos grupos de insetos visitantes florais, especialmente Coleoptera, Hymenoptera,
Lepidoptera e Diptera, utilizam pólen (fonte protéica) e néctar (fonte energética) para o vôo dos adultos
e/ou também para a maturação dos ovos. As abelhas, porém, são totalmente dependentes dos recursos
florais durante o estágio larval e adulto. O alto grau de dependência das abelhas pelos recursos florais
reflete-se nas inúmeras adaptações morfológicas para coleta e transporte desses recursos (MICHENER,
1974; ROUBIK, 1989; RAMALHO et al., 1991; NEFF & SIMPSON, 1993).
Abelhas solitárias e vespas foram visualizadas coletando néctar e pólen das partes florais do
feijão caupi durante o período em que a mesma manteve-se aberta, após o início da senescencia, foram
observados espécimes representantes dos indivíduos observados anteriormente utilizando o receptáculo
floral como ambiente de descanso, para adentrar nas flores utilizavam seus primeiros pares de patas
com o fim de abrir as pétalas e introduzirem-se no interior das flores.

Tabela 2: Percentagem nas astes de identificação dos visitantes florais na cultura do feijão caupi, no município
de Pombal - PB, 2013.
Ordem de visitantes Astes (%)

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HP 56 36
AAM 33 21
HV 28 18
HAR 21 13
APIS 18 12
TOTAL 156 100

Durante a observação de visitantes na flor do feijão caupi em estudo, foram observadas as


seguintes ordens de insetos na coleta de pólen e/ou néctar: Apis Melíferas; Vespas Amarelas Rajadas;
Abelhas Amarelas; Maribondo Preto e Maribondo Vermelho. O fato de ser encontrada enorme
variedade de visitantes florais, além da coleta de alimento sejam potenciais polinizadores, corrobora
com muitas espécies vegetais nas regiões tropicais e temperadas que podem apresentar mais de uma
síndrome de polinização, e a interação planta-polinizadora é uma relação flexível (PROCTOR et al.
1996) As abelhas Apis Melíferas foram observadas várias vezes visitando flores do feijoeiro cauoi,
com percentual de 39,5 % do total de visitas nesta espécie vegetal, os 60,5 % restantes correspondem a
Vespas Amarelas Rajadas; Abelhas Amarelas; Maribondos Pretos e Maribondos Vermelhos. A baixa
freqüência das demais espécies pode estar relacionada com as grandes populações das colônias de Apis
Melíferas, quando comparadas a outras espécies de abelhas e demais insetos.
De acordo com Piedade (1998), em Merremia aegyptia observou-se que o néctar foi forrageado
por A. mellifera, enquanto o pólen foi coletado por Trigona spinipes. Esta diferença de comportamento
entre as abelhas é atribuída às características morfológicas florais, que selecionam as abelhas com
comprimento de língua adequado para ter acesso ao néctar. No caso de T. spinipes, estas apresentam
comprimento de probóscide inferior ao comprimento do tubo da corola de M. aegyptia, impedindo que
esta abelha tenha acesso ao néctar, justificando o comportamento de coleta exclusiva de pólen nas
flores desta invasora.
Piedade (1998), reforça que a polinização por abelhas generalistas, como A. mellifera e T.
spinipes, associada a possibilidade de autofecundarão e polinização cruzada, confere a esta
Convolvulaceae adaptação adequada a plantas daninhas e invasoras de culturas. Assim, J. Multiflora
apresenta características que permitem classificá-la como uma "planta invasora ideal‖ (BAKER 1974),
pois além da autocompatibilidade, apresentam altas taxas de frutificação e produção de sementes/fruto,
bem como altas taxas de germinação.
Para Free (1993) e Freitas (1995), diferente de outros polinizadores, as abelhas são
extremamente eficientes na polinização tanto de plantas cultivadas quanto silvestres porque possuem os
recursos florais (pólen, néctar e óleos) como suas únicas fontes de alimento ou produtos e serviços
necessários à sua sobrevivência como no caso das essências florais (usadas por machos de algumas

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espécies para produzirem seus feromônios sexuais e atraírem fêmeas para o acasalamento), abrigos de
inimigos e intempéries, resinas vegetais, locais de acasalamento e de encontrar parceiros sexuais, fonte
de calor (machos de algumas espécies aquecem-se em flores nas noites frias) dormem nas noites frias,
etc. Isto obriga as abelhas a estarem em contato constante com as flores, aumentando enormemente a
chance de transferirem grãos de pólen dentro da mesma flor ou entre flores diferentes da mesma
espécie de planta. As visitas às flores feitas por outros animais são eventuais e a grande maioria não
possui as flores como sua única fonte alimentar e/ou a visitam somente em momentos isolados.
É importante salientar que durante a coleta de néctar às 15:00 horas as flores encontravam-se
fechadas, apesar disso algumas abelhas africanizadas utilizavam o primeiro par de patas para afastar as
pétalas e adentrar nas flores, a partir dessa visualização tornou-se viável a coleta de néctar no horário
referido. Este fato é confirmado por Winston (2003), o mesmo afirma que para flores fechadas, as
abelhas forçam com suas pernas dianteiras a separação das pétalas, e então, junta o pólen com as partes
bucais e as pernas dianteiras, o mesmo autor ainda informa que para flores tubulares as operárias
inserem a proboscíde na corola a procura de néctar, e o pólen é coletado casualmente quando adere às
partes bucais ou às pernas dianteiras, fato também constatado neste estudo com Merremia aegyptia.
Durante esta coleta de pólen involuntária, pode ocorrer a autopolinização, e ainda mais freqüente, já
que as abelhas visitam grande número de flores, a polinização cruzada. Durante a coleta, a abelha
africanizada e algumas vespas, contatam as estruturas reprodutivas com a parte ventral do corpo, onde
o pólen é depositado, caracterizando a polinização esternotribica. A espécie Merremia aegyptia pode
ser classificada como melitófila (FAEGRI & VAN DER PIJL 1980).

Tabela 3: Percentagem nas flores de identificação dos visitantes florais na cultura do feijão caupi, no município
de Pombal - PB, 2013.
Ordem de visitantes Flor (%)
APIS 34 39,5
HAR 16 18,6
AAM 14 16
HP 12 13,9
HV 10 12
TOTAL 86 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

1. Observou-se que a Apis Melífera apresentou hábito diurno, a antese iniciou-se às 6:00, e concluiu-se
aproximadamente às 12:00 horas;
2. A coleta dos visitantes florais no feijão caupi foi às 6:20 horas, a ordem mais presente na flor foram
as abelhas, Apis Melíferas representando uma porcentagem de 39,5 % das visitas observadas, e os 60,5

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% restante refere-se a Vespas Amarelas Rajadas, Abelhas Amarelas,Maribondos Pretos e Maribondos


Vermelhos.
3. Do total de insetos visitantes florais na aste coletados o maior percentual é de Maribondos Pretos
com percentual de 36 % e os demais foram constatado uma percentagem de 64 % durante a coleta dos
intsetos.

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COLEÇÃO DIDÁTICA HERPETOLÓGICA DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO -


CAMPUS MATA NORTE

Tulíbia Laurindo SILVA


Mestranda em Morfotecnologia – UFPE
tulibia_tully@hotmail.com
Gessica Gomes BARBOSA
Mestre em Biologia Animal - UFPE
gessicagomes_91@hotmail.com
Camila Nascimento de OLIVEIRA
Mestre em Biologia Animal – UFPE
camilanascimentov@yahoo.com.br
Dr. Gilberto Gonçalves RODRIGUES
Professor Adjunto - Departamento de Zoologia - UFPE
gilbertorodrigues.ufpe@gmail.com

RESUMO
As coleções são uma importante ferramenta para o conhecimento no ramo da biologia, por preservarem
exemplares biológicos como vegetais e animais. Estas informações podem proporcionar descobertas
futuras e auxiliar em diversas pesquisas. As coleções podem ser direcionadas para diferentes
finalidades, dentre elas está auxiliar nas aulas práticas de zoologia, apresentando grande importância
didática. A coleção didática zoológica da Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte, possui
exemplares da herpetofauna, tendo sidoconstruída a partir de coletas por terceiros, onde moradores
locais traziam os exemplares mortos para a universidade. Estas amostras evidenciam o temor que a
população tem em relação a estes animais , podendo estar associado à falta de conhecimento, aos mitos
e a cultura popular, o que acarreta a morte indiscriminada. Este trabalho teve como objetivo identificar
o material biológico presente nesta coleção, possibilitando assim a devida utilização, garantindo-lhe
uma maior vida útil através da restauração do material biológico. A coleção é composta por 57
espécimes, sendo eles: 1 testudine, 1 crocodiliano, 2 anuros, 3 anfibênias, 6 lagartos e 44 serpentes. A
identificação da coleção didática auxiliará como material complementar para as aulas de zoologia,
assim como o material biológico. Coleções didáticas são essências para auxiliar na compreensão e
assimilação do assunto exposto em sala de aula.
Palavras-Chave: Herpetologia, Material Biológico, Pernambuco.
ABSTRACT
The collections are an important tool for knowledge in the field of biology, for preserving biological
specimens such as plants and animals. This information can provide future discoveries and assist in a
variety of searches. The collections can be directed to different purposes, among them it is useful in the
practical classes of zoology, presenting great didactic importance. The zoological didactic collection of
the University of Pernambuco, Campus Mata Norte, has copies of the herpetofauna, and was
constructed from collections by third parties, where local residents brought the dead specimens to the
university. These samples show the fear that the population has in relation to these animals, and may be

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

associated with lack of knowledge, myths and popular culture, which leads to indiscriminate death.
This work aimed to identify the biological material present in this collection, thus enabling proper use,
guaranteeing a longer shelf life through the restoration of biological material. The collection consists of
57 specimens: 1 testudine, 1 crocodilian, 2 anurans, 3 amphibians, 6 lizards and 44 snakes. The
identification of the didactic collection will help as complementary material for the zoology classes, as
well as the biological material. Didactic collections are essences to aid in the understanding and
assimilation of the subject exposed in the classroom.
Keywords: Herpetology, Biological Material, Pernambuco.

INTRODUÇÃO

As coleções de um modo geral são um diversificado e valioso banco de dados de espécies ou


exemplares biológicos preservados, que no futuro poderá propiciar importantes descobertas que ainda
estão fora do alcance tecnológico (ZAHER & YOUNG, 2003; MARICATO, 2007). Trata-se de uma
ferramenta para várias áreas de conhecimento biológico (RANGEL, 2006). As coleções variam quanto
a tamanho, estrutura, abrangência ou instituição a qual estão vinculadas, sendo divididas por áreas de
interesse.
Há inúmeros tipos de coleções nas quais cada uma possui sua particularidade, encontrando-se
em estudos direcionados de materiais biológicos como vegetais e animais coletados. Este material gera
um acervo representativo, amostrando a diversidade de espécies raras e comuns em todo o mundo,
podendo também abrigar produtos de atividade animal, tais como ninhos e pegadas, além de animais já
extintos (PAPAVERO 1994; FRANCO, 2002; ZAHER & YOUNG, 2003; KUNZ et al., 2007).
Dentre as diversas especialidades biológicas, as coleções zoológicas reúnem amostras de grupos
de animais, parte deles ou produto, de forma organizada, entre outros dados associados a estas amostras
que visam o aproveitamento científico (ZAHER; YOUNG, 2003). Possuindo em seus acervos
testemunhos da fauna existente e já extinta, sendo de grande importância para a sociedade de modo
geral e para comunidade científica (ZAHER; YOUNG, 2003). Estas coleções encontram-se em cunho
de instituições científicas e/ou didáticas, como museus, universidades, institutos de pesquisas e também
de organizações não governamentais (PAPAVERO, 1994; FRANCO; 2002).
As coleções zoológicas científicas são um acervo importante tanto para a conservação como
para o entendimento da biodiversidade (AZEVEDO, 2012). A maioria dos zoólogos no decorrer de
suas atividades adquire eventualmente exemplares de algumas espécies, que servirão como fonte de
consulta posteriormente. Geralmente o valor numérico destas coleções está voltado para a área de
interesse de cada pesquisador. . Estas coleções são comumente encontradas nos departamentos das

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

universidades em todo o mundo (PAPAVERO, 1994; FRANCO, 2002; KUNZ et al., 2007;
MARQUES, 2010).
Já as coleções didáticas são destinadas à área do ensino por meio de demonstrações e
treinamento (AZEVEDO, 2012). Este tipo de acervo serve como material didático para o ensino formal
das ciências biológicas, demonstrando as semelhanças e diferenças taxonômicas (RODRIGUES, 2005).
Por este motivo pode-se conter em seu acervo, materiais com exemplares parcialmente danificados e/ou
com dados incompletos, devido sua exclusiva finalidade para o ensino. O ensino promovido através de
aulas práticas, com este tipo de material, proporciona aos estudantes maior aprendizagem, através da
observação e manipulação (AZEVEDO, 2012). O conteúdo deste tipo de coleção é constantemente
renovado, pois são considerados materiais de curta duração pelo manuseio constante que lhes causa
avarias. Estas coleções são encontradas vinculadas a instituições ao ensino de zoologia (PAPAVERO,
1994).
Levando em consideração que a utilização de coleções dirigem-se a atualização e produção de
conhecimento, pode-se dizer que todos os tipos de coleções zoológicas têm uma importância didática
(FRANCO, 2002). Elas contribuem enfaticamente na formação de profissionais, dando subsídio a
atividades de ensino secundário, universitário e pós-graduação, onde também está inserido nos
programas de conscientização da preservação ambiental. (FARRAPEIRA; PINTO 2005; PRUDENTE,
2005). Este trabalho teve como objetivo identificar as espécies da coleção didática Herpetológica do
laboratório de zoologia da Universidade de Pernambuco/ Campus Mata Norte, para utilização como
material de apoio para as aulas práticas de zoologia - herpetologia.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras utilizadas neste trabalho são provenientes do laboratório de zoologia da


Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte. Embora não havendo registro quanto à localização
de origem das amostras, pode-se dizer que estas são oriundas de várias cidades circunvizinhas a Nazaré
da Mata: Aliança, Carpina, Orobó, Vicência, Belo Jardim entre outras cidades, devido moradores locais
terem as trazido, sendo, portanto, amostras que representam as cidades da Mata Norte do Estado de
Pernambuco.
Através de ofício encaminhado pela UFRPE, foi concedida autorização de transporte do
material armazenado referente à herpetofauna do laboratório de zoologia, este material foi transportado
e acomodado no Laboratório de Estudos Herpetológicos e Paleoherpetológicos - LEHP da UFRPE,
onde houve a identificação dos espécimes. O material foi acondicionado no laboratório, recebendo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

tratamento de restauração, foram condicionados em potes com e acomodados em álcool 70% separado
por família.
As amostras foram identificadas através da chave dicotômica, Catalogue of the Neotropical
Squamata Part I Snakes e Part II Lizards de James A. Peters. Após a identificação, as amostras foram
etiquetadas, enumeradas e catalogadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após o levantamento de dados foi registrado um total de 57 indivíduos pertencentes à


herpetofauna, sendo 2 anuros (2%), 1 crocodiliano (2%), 1 testudine (2%), 3 anfisbênias (5%), 6 de
lagartos (11%) e 44 serpentes (77%), (Tabela 1; Gráfico 1).
Em relação aos anuros foram registradas apenas duas famílias com um representante para cada
uma delas, Bufonidae com Rhinella crucifer (WIED-NEUWIED, 1821) e Hylidae com Boana raniceps
(COPE, 1862).
Os répteis tiveram uma melhor representatividade nas amostras analizadas. Para as anfisbenas
foram identificadas três indivíduos da mesma espécie, Amphisbaena vermiculares (WAGLER, 1824).
Entre os crocodilianos foi identificado o Paleosuchus palpebrosos (CUVIER, 1807), pertencente à
família Alligatoridae e no que se refere à testudines, foi encontrado uma espécie da família Chelidae,
Phrynops geoffroanus (SCHWEIGGER, 1812). Dos lacertílios foram analisados seis exemplares
pertencentes a quatro famílias: Teiidae com três amostras, sendo duas de Ameiva ameiva (LINNAEUS,
1758) e uma de Salvator merianae (DUMÉRIL & BIBRON, 1839); Anguidae com duas amostras de
Diploglossus lessonae (PERACCA, 1890) e Gymnophthalmidae representado por uma amostra de
Dryadosaura nordestina (Rodrigues, Freire, PELLEGRINO & SITES JR., 2005). As serpentes
representam o maior número em relação à coleção herpetológica com 44 exemplares distribuídos em 17
espécies e em cinco famílias (Tabela 1), sendo elas: Leptotyphlopidae (Leptotyphops sp. (n=1)); Boidae
(Boa constrictor (Linnaeus, 1758) (n=1) e Epicrates chenchria (Linnaeus, 1758) (n=5); Colubridae
(Chironius bicarinatus (Wied-Neuwied, 1820) (n=1), C. flavolineatus (Boettger, 1885) (n=2),
Mastigrodryas biffosatus (Raddi, 1820) (n=3), Philodryas nattereri (Steindachner, 1870) (n=1), P.
olfersii (Lichtenstein, 1823) (n=7), Liophis sp. (n=3), Xenodon sp. (n=1), Sibynomorphus neuwiedi
(Ihering, 1911) (n=1), Pseudoboa sp. (n=1), Oxyrhopus trigeminus (Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
(n=3); Elapidae (Micrurus lemniscatus (Linnaeus, 1758) (n=2) e Micrurus ibiboboca (Merrem, 1820)
(n=10), (Tabela 1).
Em relação às famílias de serpentes, a que mais apresentou diversidade de espécie foi a
Colubridae, o que já era esperado, pois esta família se destaca das outras devido ao elevado número de
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

espécies contidas nela (Uetz et al 2016), seguido por Boidae, Elapidae e por último a Leptotyphopidae
(Costa e Bérnilis 2015, Uetz et al 2016). As espécies mais representativas quantitativamente foi a
Micrurus ibiboboca, seguido da Philodryas olfersii e da Oxyrhopus trigeminus. Vale ressaltar que estes
são animais que de alguma forma trazem algum perigo à população. No caso da O. trigeminus, a falsa-
coral, apesar de ser uma serpente opistóglifa, ou seja, peçonhenta, é constantemente confundida com as
do gêneros Micrurus devido ao seu grau de mimetismo elevado com as corais verdadeiras, fazendo
com que ela seja erroneamente morta pela população local.
Observamos um elevado número no que se refere ao clado das serpentes, que mostra o temor da
população, devido aos mitos e ao real perigo que o grupo oferece, quando comparamos aos demais
clados da herpetofauna. Cerca de 12 espécies de corais verdadeiras encontram-se na coleção, assim
como as que as mimetizam (corais falsas), com quatro indivíduos da mesma espécie, O. trigeminus,
mostrando uma preocupação da população no que diz respeitos as serpentes corais.
A falta de conhecimento que a sociedade apresenta sobre estes animais pode impulsionar seu
extermínio indiscriminado (Pough et al., 2001). Além disso, para a maioria das pessoas as serpentes
são conhecidas mais pela periculosidade do que pelas relações tróficas e importância ecológica as quais
são encarregadas (Lima-Verde, 1994) e a econômica (Pough et al., 2001). Pode-se observar que em
diversas regiões do país as serpentes têm aceitação negativa, pois são geralmente consideradas como
―animais perigosos‖ (Fernandes-Ferreira et al. 2012). Esta situação, associada a algumas características
da cultura popular, pode causar conflitos entre a espécie humana e as serpentes, mas por outro lado
pode atiçar a curiosidade, medo e fascínio (Moura et al. 2011).

Número de
Família Espécie espécimes
Anuros
Bufonidae Rhinella crucifer 1
Hylidae Boana raniceps 1

Testudines
Chelidae Phrynops geoffroanus 1

Lagartos
Teiidae Ameiva amaiva 2
Salvator merionae 1
Anguidae Diploglosus lessonae 2
Gymnophthalmidae Dryadosaura nordestina 1

Anfisbenídeos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Amphisbaenidae Amphisbaena vermiculares 3

Serpentes
Elapidae Micrurus ibiboboca 10
Micrurus lemniscatus 2
Colubridae Chironius flavolineatus 2
Chironius bicarinatus 1
Philodryas olfersii 7
Philodryas natereli 1
Mastigrodryas biffosatus 3
Liophis sp. 3
Xenopon sp. 1
Helicops sp. 1
Sibynomorphus neuwiedi 1
Oxyrhopus trigeminus 4
Pseudoboa sp. 1
Boidae Epicrates cenchria 2
Boa constrictor 1
Leptotyphopidae Leptotyphopssp. 1

Crocodilianos
Alligatoridae Paleosuchus palpebrosos 1
Tabela 1. Quantitativo das espécies da coleção didática da zona da Mata Norte, divididos em família, espécies e quantidade
de indivíduos encontrados.

Os anfisbaenios em que sociedade os ―rotulou‖ como animais maléficos, devido a sua aparência
com as serpentes, criou-se uma crença popular incorreta, causando seu extermínio logo que avistados.
Pois segundo populares, estes animais apresentam uma ameaça para o homem, por possuírem muito
veneno e são considerados ―anormais‖, já que possuem duas cabeças. O que não é verdade, pois são
animais inofensivos, que apresentam capacidade de caminhar para os dois lados, por isso o nome de
cobra-de-duas-cabeças. Esses animais são mais difíceis de serem vistos devido ao seu hábito fossorial,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

por isso provavelmente se encontre menos exemplares na coleção didática (Moura et al. 2011; Pough et

al. 2001).
Gráfico 1: Percentual da diversidade de clados da coleção didática da UPE

CONCLUSÕES

Por fim, este trabalho contribuirá para auxiliar as aulas práticas de zoologia na Universidade de
Pernambuco aproximando o aluno da realidade de forma prática e dinâmica, a estruturação da coleção
didática herpetológica desta universidade poderá se utilizada para a formação teórica e prática dos
discentes, podendo ser uma importante ferramenta em atividades de educação ambiental, já que o
presente trabalho demonstrou o temor da população local a cerca das serpentes de acordo com o alto
número de serpentes coletadas. Visto que a morte indiscriminada desses animais deve ser combatida
através da aproximação e desmistificação a cerca da herpetofauna.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Geoecologia das Paisagens

© Antonio David Diniz

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ABORDAGEM DIALÉTICO-MATERIALISTA NO ESTUDO DA


DINÂMICA DOS TERRAÇOS FLUVIAIS

Lucivânio JATOBÁ
Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Professor Adjunto do DCG-UFPE
lucivaniojatobá@uol.com.br

RESUMO
São feitas neste artigo considerações sobre a dinâmica dos terraços fluviais, a partir da utilização do
método dialético-materialista. Trata-se de um trabalho em que é realizada a interface entre a Filosofia e
a Geografia na interpretação de fatos naturais. O método dialético contribui sensivelmente para o
estudo das paisagens geográficas (naturais e modificadas pelos seres humanos), quando é empregado
como instrumento para a interpretação da dinâmica das paisagens atuais e pretéritas. A questão central
examinada refere-se à pergunta: Como a utilização da análise dialético-materialista permite a
compreensão da estruturação natural de um terraço fluvial? Constatou-se que é praticamente impossível
a análise geomorfológica das vertentes e dos terraços fluviais de uma região sem a apreciação dialética
das conexões entre fatos físico-geográficos e da totalidade.
Palavras-chave: Análise Dialética; Relevo Terrestre; Leis da Dialética; Terraços Fluviais
ABSTRACT
This article makes considerations about the dynamics of the river terraces, from the use of the
dialectical-materialist method. It is a work in which the interface between Philosophy and Geography is
realized in the interpretation of natural facts. The dialectical method contributes significantly to the
study of geographic landscapes (natural and modified by humans), when it is used as an instrument for
the interpretation of the dynamics of current and past landscapes. The central question examined refers
to the question: How does the use of dialectical-materialistic analysis allow understanding of the
natural structure of a river terrace? It has been found that geomorphological analysis of the river slopes
and terraces of a region is practically impossible without the dialectical appreciation of the connections
between physical-geographic facts and the totality.
Keywords: Dialectic Analysis; Land Relay; Laws of Dialectics; River Terraces

INTRODUÇÃO

O Materialismo Dialético tem entre as suas fontes a natureza, além do estudo da história
humana e as transformações produzidas no curso das diferentes épocas, e o pensamento. Mesmo tendo
a natureza como uma das suas fontes, o Materialismo Dialético, pelo menos no Brasil, muito pouco foi
empregado para explicar a dinâmica das paisagens, particularmente na questão dos aspectos físico-
geográficos que as compõem, cuja história remonta à escala de milhões de anos. O mesmo não ocorreu
no domínio das ciências humanas, sobretudo da História, da Sociologia, das Ciências Políticas e da
Geografia Humana.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Esse destaque dado à aplicação do método referido verificou-se, em especial, com a


redemocratização do país, no final da década de 1970 e na década de 1980. Muito pouco se escreveu ou
se discutiu nos ambientes acadêmicos, no domínio das geociências e nas ciências ambientais, sobre o
que Engels (1979) designou como ―a Dialética da Natureza‖.
O método dialético contribui sensivelmente para o estudo das paisagens geográficas (naturais e
antropizadas), quando é empregado como instrumento para a interpretação da dinâmica das paisagens
atuais e pretéritas. Pretéritas porque as paisagens que hoje são vislumbradas estão impregnadas de
história e contêm uma herança de outras condições ambientais que variaram no tempo e no espaço, que
são duas categorias filosóficas essenciais.
O estudo da dinâmica das paisagens naturais pressupõe um entendimento da própria
estruturação destas, mas não se podem abstrair, nessa análise, as relações dialéticas entre as variáveis
físico-geográficas e a sociedade, daí ser essa investigação algo de caráter eminentemente
interdisciplinar.
O método dialético evita a simples setorização dos elementos que compõem as paisagens,
contidos numa colcha de retalhos de diversas ciências. O Materialismo Dialético, aqui tomado como
referência teórica para a análise da aparentemente simples formação de terraços fluviais, é concebido
como ciência das relações gerais que ocorrem na natureza. A natureza possui a sua própria história, no
entanto os movimentos que compõem essa história, ou seja, os movimentos mecânicos, físicos,
químicos ou biológicos, excluem a determinação pela consciência e não comportam a perseguição de
fins prefigurados (KONDER, 1966).
São feitas neste artigo algumas considerações sobre os terraços fluviais, a partir de uma ótica
dialético-materialista, fazendo-se assim uma ponte entre a Filosofia e a Geografia Física na abordagem
da dinâmica da natureza. A questão central aqui esquadrinhada refere-se à indagação: Como a
utilização da análise dialético-materialista permite a compreensão da estruturação natural de um terraço
fluvial?

AS LEIS DA DIALÉTICA

A Dialética Materialista é uma ciência particular: estuda as leis mais gerais de todas as espécies
de movimento, transformação, desenvolvimento. A universalidade das leis da Dialética consiste em que
é atual na natureza e na sociedade, estando a elas subordinado o próprio pensamento.‖ (KUUCINEN et
al. 1956, p. 66).
As leis da Dialética, que no presente trabalho, assumem um particular importância para a
explicação dos fenômenos que se verificam nos vales fluviais, foram esboçadas por Engels (1979) e,
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

segundo ele, extraídas da história da natureza e da história da sociedade humana. Reduziu-as


principalmente a três, reconhecendo, contudo, que as mesmas foram estabelecidas por Hegel, mas a
partir de um prisma idealista.
Engels (1979) considerou que Hegel cometeu o erro de impor essas leis à natureza e à História,
como ―leis do pensamento‖ e não como resultado de sua observação. Engels (1979) procurou ressaltar
que as leis dialéticas são leis reais do desenvolvimento da natureza, válidas, portanto, à teoria das
ciências naturais.
As relações e dependências entre os objetos e fenômenos naturais ou sociais são investigadas
pelas diversas ciências; essas relações são denominadas de leis (KOVALHOV, 1974).
As leis objetivas da natureza são as formas gerais das relações existentes entre os fenômenos
naturais presentes, por exemplo, no vale fluvial. As leis das ciências refletem, portanto, as leis
objetivas. O Materialismo Dialético define lei como a conexão interna necessária entre duas coisas.
Uma lei se caracteriza como uma conexão de causa e efeito.

La ley implica um nexo de causa a efeito, em su más profunso sentido. En el nexo, esencial
entre dos fenômenos, que ES lo que constituye la ley, la acción de um apscto se convierte em
causa de La accion del outro, y, a la par, em efecto suyo. (...) Toda ley existe sobre la base de
ciertas condiciones, plantea determinadas exigencias, em consonância com los rasgos que le son
inherentes, y se manifiesta em acciones, caracteristicas de ella (ROSENTAL e STRAKS, 1960,
p.157, 160)

Optou-se por considerar, no presente trabalho, ―normas de análise‖ ou ―princípios de análise‖ o


posicionamento filosófico para explicar, sob o prisma do Materialismo Dialético, a dinâmica dos
terraços fluviais. Significa que o pesquisador elabora o conhecimento sobre a dinâmica terrestre, mas
sempre procurando um entendimento nos fatos naturais , nas suas conexões diversas, nas suas
transformações e contradições. Assim, a Dialética passa a ser um método de pensamento, uma Lógica.
Essas normas podem ser enunciadas sinteticamente assim:
a) Todos os fenômenos da natureza, e, por conseguinte, das paisagens naturais, encontram-se
em permanente relacionamento ou conexão.
b) Todos os fenômenos presentes nas paisagens naturais apresentam-se em estado de frequente
transformação.
c) Todos os fenômenos naturais, do átomo a uma cordilheira, apresentam um estado constante
de contradição, de luta de contrários.
Os objetos e fenômenos verificados nas paisagens naturais passam por três etapas, ou seja, a
primeira é a tese, depois esta dá lugar à sua negação (antítese) e esta conduz à negação da antítese. Esta
lei foi denominada de ―a Negação da Negação.‖

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OS TERRAÇOS FLUVIAIS

Uma das feições geomorfológicas mais frequentemente divisadas nas paisagens é conhecida
como terraço fluvial. Trata-se de um patamar que margeia um vale fluvial e que representa o antigo
nível do vale. Segundo a definição universalmente referida de McGee (1897), o terraço constitui um
plano horizontal ou aproximadamente horizontal , de maior ou menor extensão, limitado de um lado
por um terreno mais elevado e do outro por uma escarpa.
No processo da produção do espaço geográfico, os terraços fluviais foram ambientes preferidos
pelos povoadores, sobretudo pela característica morfológica (terreno plano e pouquíssimo inclinado) e
a presença de solos (neossolos flúvicos), solos em geral férteis para o desenvolvimento de atividades
agrícolas.
Os terraços fluviais possuem uma significação especial do ponto de vista científico em
decorrência das particularidades de sua gênese pela participação que têm para a utilização do espaço
, uma vez que apresentam aptidões para inúmeras atividades antrópicas (Ab‘ Sáber, 1975).
Essas feições de relevo resultam de uma luta de contrários estabelecida entre a erosão vertical e
a erosão lateral operantes, sobretudo, na planície aluvial. Os terraços fluviais podem ser talhados na
rocha ou nas aluviões deixadas pelo próprio rio (Figura 1).

Figura 1. A dinâmica da formação de terraços fluviais

Mudanças quantitativas nos índices pluviométricos numa dada bacia implicarão em mudanças
qualitativas no regime pluviométrico e, por extensão, na cobertura vegetal das vertentes e interflúvios.
Essas mudanças qualitativas propiciarão alterações nas condições de mobilização dos detritos nas
vertentes, que são deslocados pelo escoamento superficial para as correntes fluviais.

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Uma luta de contrários estabelece-se no vale fluvial e implicará na evolução do terraço fluvial,
ou seja, instala-se uma contradição entre processos de acumulação das aluviões e material coluvial na
calha fluvial de fundo chato e o entalhamento do talvegue. A negação da negação também se faz
presente na medida em que os depósitos colúvio-aluviais na calha (tese), são dissecados pela corrente
fluvial (negação), em seguida se dá um aprofundamento da calha e uma posterior expansão do leito
menor do rio, originando um novo nível de terraço (negação da negação). A paisagem fluvial exibe-se,
assim, escalonada em vários níveis de terraço de acordo com as mudanças quantitativas e qualitativas
desencadeadas na localidade em função das flutuações e mudanças climáticas.
A dinâmica da formação e da dinâmica dos terraços fluviais consiste da seguinte cadeia
conceitual, conforme síntese apresentada na Figura 2.

Figura 2. Cadeia conceitual da análise dialético-materialista da dinâmica dos terraços fluviais

A DISSECAÇÃO LINEAR E A DEGRADAÇÃO LATERAL DAS PAISAGENS

A erosão linear (dissecação), ou seja, aquela que tem como sede o talvegue, se opõe à erosão
areolar ou erosão das vertentes e interflúvios (Derruau, 1966) . Há uma luta de contrários entre essas
duas modalidades de erosão. A erosão areolar tende a provocar um alargamento do vale, enquanto que
a linear propicia um aprofundamento do talvegue. Há também uma conexão entre a erosão linear e as
condições climáticas dominantes na região.
A erosão linear predomina nas paisagens que apresentam climas quentes e úmidos, com
vertentes recobertas por uma densa floresta tropical. Em paisagens de ambientes semiáridos, a erosão
linear é insignificante, predominando, por conseguinte, a erosão areolar.

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Muitos geomorfólogos (Bigarella e Mousinho, 1965; Bigarella e Andrade, 1964) utilizaram as


formas de vertentes, esculpidas por processos de erosão e deposição areolares, para explicar a
morfologia de paisagens de diversas áreas do Brasil, inclusive da Região Nordeste.
O mecanismo da evolução das vertentes, de acordo com Bigarella, Mousinho (1965), consiste
em uma sutil interação entre profundas mudanças climáticas, variações dos níveis de base locais e
deslocamento crustais (tectônica).
Utilizando-se de alguns princípios do Materialismo Dialético é possível detectar certos aspectos
fundamentais dos processos operantes nas paisagens.
Inicialmente, é preciso que se compreenda que as mudanças climáticas zonais são o resultado de
mudanças quantitativas que se verificam no fluxo da radiação de ondas curtas (ROC) emitida pelo Sol.
Tais alterações podem ser conseqüentes da própria atividade solar ou de modificações astronômicas na
órbita terrestre, que se verificam na escala cronológica de milhares de anos, tais como a precessão dos
equinócios, ou alterações na obliqüidade da eclíptica. Estabelece-se o princípio dialético da conexão
Terra-Sol que permite compreender as mudanças qualitativas dos climas.
Em seguida, faz-se necessário o entendimento de que as variações dos níveis de base locais
podem se verificar em face da maior energia cinética adquirida pelas correntes fluviais (no caso de
mudança climática em direção ao mais úmido). Há, dessa forma, uma conexão dialética entre
alterações na relação Terra-Sol, uma mudança quantitativa na pluviometria e uma alteração qualitativa
no regime fluvial. Esses fatos inter-relacionados propiciarão uma descida dos níveis de base locais que
repercutirá na evolução das vertentes que configuram as paisagens.
Por último, entende-se que as ações internas do planeta, materializadas pelo dinamismo
tectônico, agirão sob a crosta terrestre e causarão desnivelamentos crustais e / ou deslocamentos do
terreno. As vertentes serão inevitavelmente atingidas por algum paroxismo tectônico e um novo
conjunto de relações dialéticas se configura na paisagem. Mudanças qualitativas se verificam nas
vertentes, podendo acelerar, inclusive, os processos de erosão areolar em topografias de maior
gradiente topográfico, adquirido com a movimentação tectônica que rompeu o aparente estado de
equilíbrio da paisagem.
As mudanças quantitativas nos índices pluviométricos anuais numa determinada bacia
hidrográfica, ao longo de um prolongado período de tempo (cronológico), podem causar uma mudança
qualitativa nos processos de dissecação e de erosão areolar ou degradação lateral das paisagens.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, o emprego da dialética materialista vem sendo muito pouco empregada, ainda, para
desvendar a dinâmica da natureza. Tal fato representa, em certo aspecto, um óbice para melhor se
entender como os fatos naturais estão em conexão, como se transformam e que contradições e
combinações, nem sempre harmoniosas, mantêm entre si.
A Dialética Materialista, enquanto método, e como Filosofia, representada pelo Materialismo
Dialético fornecem uma fundamentação teórica que busca entender a aparência e a essência dos fatos e
fenômenos naturais.
Os terraços fluviais, um dos elementos fundamentais de paisagens, sobretudo em áreas de
planície ou de vales em manjedoura, representam um ambiente que permite a aplicação da Dialética
Materialista para explicar a conexão dialética entre fatos do vale, sobretudo as mudanças de nível de
base local ou até geral, as transformações quantitativas de fatos que determinam mudanças qualitativas
desses, além da observação da luta de contrários entre elementos da paisagem.
Por último, constata-se que é praticamente impossível a análise geomorfológica das vertentes e
dos terraços fluviais de uma região sem a apreciação dialética da totalidade.

REFERÊNCIAS

AB‘SÁBER, A.N. Formas de Relevo. São Paulo: Edart, 1975.

BIGARELLA, J.J.; ANDRADE, G.O de. Considerações sobre a estratigrafia dos sedimentos
cenozoicos em Pernambuco (Grupo Barreiras). Recife: Arquivos do ICT, nº2, Univ. do Recife,
1964.

BIGARELLA, J. J., e MOUSINHO, M. R. Considerações a respeito dos terraços fluviais, rampas de


colúvio e várzeas. Bol. Paranaense Geografia, n. 16/17, Curitiba, 1965.

BURLATSKI, F. Fundamentos da Filosofia Marxista-Leninista. Moscou: Edições Progresso, 1987.

BUZÚIEV, V; GORODNOV, V. Que é o Marxismo-Leninismo. Moscou: Ediições Progresso, 1987

ENGELS, F. A dialética da natureza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 240p

KONDER, L. A concepção marxista da História. Revista Paz e Terra, Ano I, nº2, 1966, p.95 – 107.

KOVALHOV, S. M. et al. Manual de materialismo dialético e histórico. Porto: Publicações


Escorpiao, 1974. (Serie Cadernos O Homem e a Sociedade).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 305


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

KUUCINEN, O,V. et al.. Fundamentos do Marxismo-Leninismo. Rio de Janeiro: Editorial Vitória,


1958.

MC GEE, J.W. Sheet Flood erosion. Bull. Geol. Soc. Am., 8, p. 87-112.

ROSENTAL, M. y G. M. Straks. Categorías del materialismo dialéctico, México: Grijalbo, 1960.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 306


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CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA BACIA DO IPOJUCA ENTRE OS


MUNICÍPIOS DE SÃO CAETANO E GRAVATÁ (PE)

Alineaurea Florentino SILVA


Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Embrapa
alineaurea.silva@embrapa.br
Ana Lucia Luiza GOMES
Universidade Federal de Pernambuco
analucia201102@live.com
Lucivânio JATOBÁ
Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente - UFPE
lucivaniojatoba@uol.com.br

RESUMO
Diversas formas de análise de geoambientes condizem com a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) em seu Art.9, inciso II, da Lei 6938\81 e podem ser tratado de forma que seja mais funcional e
conveniente para solucionar problemas gerados por ação antrópica. O presente trabalho teve como
objetivo reunir subsídios para o Zoneamento Ambiental do trecho a Bacia do rio Ipojuca que
compreende os municípios de Gravatá, Sairé, Bezerros, Caruaru e São Caetano, situados no agreste
pernambucano, analisando aspectos climáticos, pedológicos, bem como possíveis fatores de
degradação, tendo em vista a melhoraria da gestão integrada dos recursos hídricos entre os municípios
na região. A metodologia utilizada teve como ponto de partida o levantamento bibliográfico, referente
aos principais aspectos do Zoneamento Ambiental e recursos hídricos. Foram utilizados materiais
como: cartas topográficas, na escala de 1:100.000, imagens de radar, na escala de 1: 250.000, além de
imagens obtidas do programa Google Earth, mapas de solos, disponibilizados pela EMBRAPA
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e fotos das diversas paisagens. Após análise criteriosa
das informações de solo e clima durante o desenvolvimento do trabalho, constatou-se que a visão
integrada da região em apreço permite a compreensão dos espaços mais vulneráveis e colabora
diretamente com a elaboração de planos municipais de manejo de recursos naturais integrados, com
vistas a proteger os recursos hídricos locais e minimizar problemas ambientais causados pela ação
antrópica.
Palavras-Chave: Zoneamento ambiental, Recursos naturais, Rio Ipojuca, Solos.

ABSTRACT
Many forms of analysis of geoenvironments are consistent with the National Environmental Policy
(PNMA) in its Article 9, item II, of Law 6938 \ 81 and can be treated in a way that is more functional
and convenient to solve problems generated by anthropic action . The objective of the present work
was to gather subsidies for the Environmental Zoning of the Ipojuca River Basin, which includes the
municipalities of Gravatá, Sairé, Bezerros, Caruaru and São Caetano, located in rural Pernambuco,
analyzing climatic, pedological aspects, as well as possible factors Of degradation, with a view to
improving the integrated management of water resources among the municipalities in the region. The
methodology used had as a starting point the bibliographic survey, referring to the main aspects of the
Environmental Zoning and water resources. Materials such as: 1: 100,000 topographic charts, 1:

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250,000 radar images, and images obtained from the Google Earth program, soil maps, made available
by EMBRAPA (Brazilian Agricultural Research Corporation) and Photos of the various landscapes.
After careful analysis of soil and climate information during the development of the work, it was
verified that the integrated vision of the region in question allows the understanding of the most
vulnerable spaces and collaborates directly with the elaboration of municipal plans for the management
of integrated natural resources to protect local water resources and to minimize environmental
problems caused by anthropogenic action.
Key-Words: Enviromentnal Zoning, Natural resources, Rio Ipojuca, Soil

INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica do Rio Ipojuca é uma das principais do estado de Pernambuco, pela
extensão que ocupa e, sobretudo, pela variedade de paisagens e meios bioclimáticos que apresenta. De
acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC), dos 10 maiores rios em extensão do
Estado, o Ipojuca está em segundo lugar, com comprimento de 320 km, ficando atrás apenas do rio
Pajeú, no Sertão. Abrange uma área de 3.435,34 km2, correspondendo a 3,49% da superfície do Estado,
expandindo desde o Sertão até a Zona da Mata Sul de Pernambuco (Figura 1).

Figura 1. A bacia hidrográfica do Ipojuca, no Estado de Pernambuco.


Fonte: Disponível em: http://www.sirh.srh.pe.gov.br/hidroambiental/img_ipojuca_municipios_01.html. Acesso
em 30/08/2017). A escala foi omitida no documento original.

De acordo com a SECTMA (2006) a bacia hidrográfica em apreço foi definida como a Unidade
de Planejamento Hídrico UP3, que engloba 25 municípios, sendo que 14 desses têm suas sedes na bacia
e 11 apenas parcialmente. A bacia do rio Ipojuca, localiza-se quase integralmente no Estado de
Pernambuco, entre as latitudes de 08º 09‘ 50‖ e 08º 40‘ 20‖ de latitude sul, e 34º 57‘ 52‖ e 37º 02‘ 48‖
de longitude oeste. Limita-se ao norte, com as Unidades de Planejamento UP2 (Bacia do Capibaribe) e
o Estado da Paraíba; ao sul, com as unidades UP3 (bacia do rio Una) e UP4 (bacia do Sirinhaém); a

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leste, com os grupos de bacias de pequenos inapropriadamente designados rios litorâneos inseridas nas
UP15, UP 16 e o oceano Atlântico GL2. O limite a oeste se verifica com as UP 7 (Bacia do rio
Ipanema) e UP8 (Moxotó) e o Estado da Paraíba.
A área escolhida para ser objeto da presente comunicação (Figura 2) engloba um amplo trecho
do Agreste Central, abrangendo os municípios de São Caetano, Caruaru, Bezerros e Gravatá, todos
situados num espaço geográfico caracterizado pelo predomínio do clima semiárido BShs‘ (Clima
semiárido de baixas latitudes com regime de chuvas de outono-inverno), de acordo com a classificação
climática de Koppen, adaptada por Gilberto Osório de ANDRADE e Rachel Caldas LINS (1964).
Justificam essa escolha os seguintes aspectos: a variedade de corpos litológicos, a complexa
compartimentação geomorfológica das paisagens, a localização de importantes centros urbanos
regionais (Caruaru, Gravatá, Bezerros e São Caetano) além das pressões antrópicas exercidas sobre as
paisagens, que resultaram em problemas ambientais que repercutiram e ainda repercutem na bacia
estudada.

Figura 2. Localização do trecho investigado da bacia do Ipojuca (A escala do mapa foi omitida no documento
original). Fonte: SHRE, 2017

A caracterização geoambiental sumariamente apresentada a seguir objetiva fornecer elementos


para a realização de futuro zoneamento ambiental dessa importante área da bacia do Ipojuca.

MATERIAIS E METODOLOGIA EMPREGADOS

Para a realização desse trabalho foram empregados materiais cartográficos, em diversas escalas,
além da realização de uma ampla pesquisa bibliográfica sobre os principais temas contemplados numa
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caracterização geoambiental de paisagens. Entre os materiais cartográficos estão: Mapa Geológico do


Estado de Pernambuco, na escala de 1:600.000, elaborado por Dantas (1980), Mapa Geológico de
Pernambuco, na escala 1: 500.000, estruturado pelo DNPM, em convênio com o Governo do Estado de
Pernambuco, Cartas SRTM, mais especificamente as cartas SC-24-X-B; SC-25-V-A , ambas na escala
de 1:250.000, além de SC-25-V-A-II e SC-V-A-I-2, em escala de 1:100.000. Essas cartas de radar
permitiram uma melhor compreensão da compartimentação geomorfológica e a estruturação geológica
das paisagens. Além desse material mais direcionado à análise geológica e geomorfológica, utilizaram-
se, ainda, mapas de solo, na escala de 1:100.000, fornecidos pela EMBRAPA e que auxiliaram
sobremaneira no entendimento da distribuição geográfica das formações superficiais, nas quais se
inserem os solos, e a correlação destes com a litomassa local. Foram relevantes, ainda, as imagens
disponibilizadas pelo Google Earth que permitiram uma visão ampla da área investigada, tornando
possíveis as necessárias analogias geográficas.
Os estudos climáticos foram possíveis graças as informações obtidas em sites de instituições
especializados no tema, como INPE, APAC e Embrapa, permitindo esclarecimento maior sobre as
condições específicas da região. Com as informações obtidas foram montadas as discussões e relações
sobre aspectos clima e solo.
Alguns trabalhos de campo foram consumados para a identificação de unidades paisagens e de
problemas ambientais diversos. Esses trabalhos foram realizados ao longo da BR 232, entre as cidades
de Gravatá e São Caetano, e ao norte da cidade de Caruaru.
Empregaram-se, basicamente, os princípios metodológicos da análise físico-geográfica
estabelecidos pela Geografia Física, bem como os fundamentos da Geocologia de Paisagens,
preconizados Mateo (1984) e Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), que objetivam fornecer as bases
para um planejamento ecológico de um território.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O espaço investigado apresenta uma grande diversidade de paisagens que foram elaboradas
durante o Cenozoico e que evoluíram até os dias atuais. A quase totalidade do trecho escolhido para
análise situa-se em terrenos ígneos e metamórficos que se situam na unidade geotectônica intitulada
―Província Borborema‖ (BRITO-NEVES, 1975), que não coincide, obrigatoriamente, com o
compartimento regional de relevo ―Planalto‖ da Borborema. Esses terrenos são do Pré-Cambriano e se
notabilizam pela presença de granitos, granodioritos, migmatitos, gnaisses, xistos e milonitos. São
rochas antigas apresentando-se bastante falhadas e dobradas (JATOBÁ, 2003), revelando, assim, um
conturbado passado tectônico.
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Um elemento de natureza tectônica individualizou paisagens geomorfológicas entre Gravatá e


São Caetano. Trata-se de uma grande falha de rejeito direcional, disposta, grosso modo, de leste para
oeste, conhecido como Lineamento Pernambuco (Figura 3). Essa falha continental, muito antiga, foi
reativada ao longo do Cenozoico, influenciando, consideravelmente na compartimentação do relevo de
unidades geológicas estruturais, juntamente com um conjunto de falhamentos secundários de direções
NE-SO.

Figura 3. Lineamento Pernambuco e falhamentos secundários


Fonte: EMBRAPA. Disponivel em: <https://www.cnpm.embrapa.br >. Acesso em 30/08/2017

As notáveis diferenças de quadros litológicos na área investigada geraram diferenças de feições


e compartimentos de relevo que implicaram na geração de unidades de paisagens, que serão
fundamentais a um futuro zoneamento geoambiental da área. Essas diferenças decorrem de milenares
processos de erosão diferencial que são mais eficazes em rochas física e quimicamente mais
―fragilizadas‖.
A área investigada está contida numa unidade geomorfológica representada pelo compartimento
geomorfológico designado como Planalto da Borborema, no qual se inserem maciços residuais e a
Depressão Sertaneja, outro compartimento de relevo extenso que marca a fisionomia do Agreste e,
sobretudo, do Sertão pernambucanos.
O Planalto da Borborema não é uma unidade homogênea de relevo, mas um saldo de diversas
superfícies de erosão que foram elaboradas no Cenozoico, a partir de prolongadas fases de
pedimentação e de pediplanação. Entre os municípios de Gravatá e São Caetano, confinada entre
retalhos de um pediplano, designado por Bigarela e Andrade (1964) como Pd1 e restos do Pd2, ambas
superfícies pediplanadas, encontra-se o vale do Ipojuca. Esse vale se alarga consideravelmente no
município de Caruaru e se estreita em São Caetano, condicionado esse fato a problemas de natureza
litológica (erosão diferencial), como é o caso de Caruaru, e tectônica, como em São Caetano.

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O vale do Ipojuca é controlado tectonicamente, no trecho investigado, pelo Lineamento


Pernambuco, conforme se nota nas imagens de radar SRTM (Figura 3), definindo-se uma drenagem
típica de padrão linear / retangular, em alguns casos. No município de Gravatá, o rio Ipojuca assume
um padrão de drenagem baioneta, prova dessas interferências do tectonismo na rede de drenagem. A
influência tectônica é marcante, particularmente na escarpa da Serra das Russas, que é um expressivo
exemplo de escarpa de falha.
Na paisagem gravataense, refletindo as condições climáticas de semiaridez, surgem diversos
afloramentos de gnaisses, milonitos, e granitos que condicionam a compartimentação de relevo local.
Ali a morfogênese se impõe à pedogênese, conforme se constata nos cortes de estrada ao longo do eixo
principal da bacia do Ipojuca, ou seja, com o predomínio de regolitos pouco profundos.
Em Bezerros, como que ilhado no Pediplano Pd1, há um vasto maciço residual, desenvolvido
em rochas graníticas, que altimetricamente atinge cotas superiores a 800m. Essa situação altimétrica
singular, associada aos fluxos dos alísios de sudeste-este, gerou um dos mais significativos brejos
agrestinos de Pernambuco, a Serra Negra (Figura 4).

Figura 4. O brejo de Serra Negra


Fonte: Google Earth. Acesso em 30/08/2017

No tocante às condições climáticas ambientais, a área investigada é dominada pelas condições climáticas
semiáridas, haja vista que a média pluviométrica anual é inferior a 800mm. A cobertura vegetal, mesmo que
bastante desfigurada e degradada pelas ações seculares antrópicas, as formações superficiais, além do uso dos
solos denunciam inequivocamente um clima de déficit hídrico anual. De acordo com a classificação de Koppen,
a área estudada insere-se na categoria dos climas BShs‘, ou seja, clima semiárido quente com chuvas de outono-
inverno.
As condições climáticas são bastante irregulares, com relação à variável chuva. Há anos que são
chuvosos, apresentando precipitação além da média climatológica anual e anos que ficam aquém, quando as
secas se configuram.

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Alguns sistemas atmosféricos respondem por esse quadro pluviométrico. O primeiro, de origem
extratropical, é representado pela Frente Polar Atlântica (FPA), que, em fase de frontólise, penetra pelo vale do
Ipojuca, remontando-o e proporcionando chuvas de caráter frontal, durante o inverno, nos municípios de
Gravatá, Bezerros, Caruaru e São Caetano, mas com impressionante descontinuidade espacial. O segundo
sistema é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Trata-se de um sistema de caráter tropical e convectivo
que avança sobre a região com a direção geral NE-SO. Avançando por vales fluviais e transpondo com relativa
facilidade maciços e cristas residuais, a ZCIT ocasiona chuvas de outono, representada, às vezes, por pesados
aguaceiros convectivos, acompanhados de relâmpagos e trovões. O terceiro sistema, por demais irregular,
corresponde aos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis que, nos meses de janeiro e/ou fevereiro, podem atingir a
área e também propiciar chuvas, às vezes pesadas, de caráter convectivo. Por último, há as Ondas de Leste que,
algumas vezes no final do outono e inverno, desencadeiam aguaceiros fortes, chegando a provocar inundações
nas cidades de Caruaru, Bezerros e Gravatá.
Na área, as formações superficiais, representadas pelos solos e o regolito, acusam nitidamente as
influências do material rochoso, das condições climáticas atuais e pretéritas e do relevo. Há um verdadeiro
mosaico de solos entre os municípios de Gravatá e São Caetano
Os solos existentes na área estudada correspondem aos conhecidos como planossolos,
neossolos, argissolos, regossolos, vertissolos, latossolos, gleissolos e terras roxas estruturadas. Os
Neossolos presentes na área estudada apresentam grande susceptibilidade à erosão, pois expõem
substratos rochosos a pequena profundidade. Esses solos, quando há saturação de água, podem ser
verificados processos de erosão em massa. Porém este aspecto é agravado pela baixa capacidade de
retenção de umidade pelo mesmo, impedindo o estabelecimento de espécies vegetais que pudessem
proteger a superfície da erosão que possa ocorrer no local. Os materiais de origem variam desde
sedimentos aluviais até resultante da decomposição do cristalino (pré-cambriano). Nos Neossolos
litólicos, em relevo com maior declividade, os mais rasos tem forte limitações para uso agrícola,
relacionadas á mecanização e a suscetibilidade à erosão e baixa capacidade de retenção de umidade
(SILVA, 2014).
Os Argissolos dessa região são bem desenvolvidos, considerados pedologicamente velhos.
Constituem-se de material mineral, com horizonte B textural. Ocorrem em diferentes condições
climáticas e de material de origem. Apresentam baixa fertilidade, acidez moderada, teores elevados de
alumínio e suscetíveis a processos erosivos, porém com bom potencial agrícola quando bem
manejados.
Por outro lado, os Latossolos são muito desenvolvidos, pedologicamente velhos. Presença de
horizonte diagnóstico latossólico e argilas com predominância de óxidos de ferro, alumínio, silício,
titânio e argilas de baixa atividade. Localizados em terrenos planos como: tabuleiros, chapadas,

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planaltos, entre outros. São escolhidos para atividade agrícola, por apresentarem-se em grandes
extensões de terra no Brasil. No caso dos Vertissolos possuem desenvolvimento restrito, horizonte
superficial pouco desenvolvido. Geralmente localiza-se em áreas planas a suave ondulada, poucos
profundos. Apresentam-se em diversos tipos climáticos, dos mais úmidos aos mais secos. Planossolos
são solos jovens apresentam desargilização vigorosa da parte superficial e acumulação intensa no
horizonte subsuperficial, localizados em topografia plana, encostas pouco declivosas (Figura 5).
Os diversos usos dos solos, no trecho em estudo correspondem às atividades como: pecuária,
agricultura de subsistência, área de nascente, policultura, avicultura, parques industriais. Causando
alguns impactos nos solos e no rio. As ocupações dos solos são através de: lixões, Parque Ecológico,
posto de gasolina, extração mineral, curtume, atividade turística, esgoto sanitário, matadouro, indústria,
aterro controlado, matadouro, retirada de areia, áreas urbanas (CPRH, 2003).

Figura 5. Mapa de solos do município de Gravatá


Fonte: Embrapa, 2017.

Devido à ocupação do solo desordenada a bacia hidrográfica do rio Ipojuca enfrenta diversos
impactos como: proliferação das áreas cobertas por pastos em detrimento da vegetação nativa,
assoreamento dos leitos dos canais da rede de drenagem, presença de matadouros públicos, localizados
nas proximidades dos leitos de rios, riachos e canais para facilitar o escoamento dos dejetos
provenientes desta facilidade, desmatamentos, assoreamento das nascentes, vísceras são comumente,

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despejadas em córregos, rios e riachos, desmatamento das matas ciliares, uso de defensivos agrícolas
no cultivo de determinadas culturas, destruição dos remanescentes de Mata Atlântica, erosão do solo
nos cortes das estradas, poluição do solo e dos recursos hídricos, ocasionando a morte de espécies da
fauna dos rios e estuários (CPRH, 2003.)
No município de Bezerros, por exemplo, existem lixões que representam um risco ambiental,
principalmente pela inexistência de técnicas de controle e prevenção da poluição, além de estarem
localizados a uma distância máxima de 500m do Rio Ipojuca. É importante ressaltar a necessidade de
aquisição e atualização de informações importantes no setor de resíduos sólidos (taxa de geração de
resíduos, composição gravimétrica, localização geográfica, etc.) para assim haver uma estimativa de
contaminação da bacia do rio Ipojuca de forma mais aproximada da realidade (Plano Hidroambiental
do rio Ipojuca, 2010)
A geração total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) na bacia hidrográfica do rio Ipojuca é de
aproximadamente 537 toneladas/dia, considerando as parcelas das populações urbanas e rurais de cada
município. O município de Caruaru gera cerca de 163,5 toneladas/dia seguido dos municípios de
Pesqueira e São Caetano, com 67,13 e 45,35 toneladas/dia, respectivamente.
Pode-se observar que a destinação final em lixões a céu aberto, é adotada por 40% dos
municípios da Bacia, enquanto que os aterros controlados e sanitários, compreendem cerca de 24 e 8%,
respectivamente, das práticas adotadas. O destino final e tratamento inadequado dos resíduos sólidos
contribuem para a contaminação das áreas dos mananciais. As áreas de destinação final dos resíduos
gerados na bacia hidrográfica do rio Ipojuca compreendem dezesseis (16) lixões a céu aberto, dois (2)
aterros controlados e seis (6) aterros sanitários distribuídos entre seus municípios.
A vegetação característica da área investigada é a Caatinga Hipoxerófila. Contudo, por
influencia do relevo (caso dos maciços e cristas residuais) observam-se vestígios de formações vegetais
florestais (Figura 6). A pressão antrópica sobre essas formações é imensa. Tanto as florestas
encontradas em topos de elevações quanto as caatingas hipoxerófilas, sofreram um processo intenso de
degradação que se refletiu sobretudo no regime fluvial do Ipojuca e tributários principais.
De acordo com JATOBÁ (2003), a Caatinga Hipoxerófila é formada predominante por árvores e
arbustos que perdem as folhas durante a época seca. Prevalece no Agreste do Estado, em áreas
semiáridas ou subúmidas. As espécies vegetais mais comuns na Caatinga Hipoxerófila são: canafístula,
mulungu, jurema preta, macambira, marmeleiro e mandacaru (Figura 6). A vegetação é um elemento
fundamental para assegurar a redução do risco de erosão, principalmente onde o regime pluviométrico
é irregular.

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Figura 6. Vegetação do estado de Pernambuco


Fonte: CONDEPE\FIDEM, 2011

A gestão de recursos hídricos, como no presente trabalho, é fundamental para que sejam
garantidos o uso da água com proteção direta da fonte. Segundo a ANA (Agência Nacional das águas)
são necessários alguns instrumentos para a gestão dos recursos hídricos como: regularização de usos
(cadastro ou outorga), alocação de água, enquadramento dos corpos d água, cobrança pelo uso da água,
sistema de informações, fiscalização e monitoramento e capacitação educação ambiental.
Os municípios em estudo concentram a maior parte da população nos núcleos urbanos, sedes
municipais, residenciais comerciais e industriais. Provocando nos recursos hídricos problemas como:
dejetos industriais no recurso hídrico, destino dos resíduos sólidos em locais inapropriados, falta de
saneamento básico em alguns locais. É necessário que sejam levados em consideração todas as
informações apresentadas nesse trabalho bem como aprofundados os aspectos que possam ser
utilizados na argumentação sobre pontos críticos da proteção ambiental.
Nas Figuras abaixo estão ilustradas formas de apresentação dos mapas da região estudada, que
podem ser elaborados com base nas informações levantadas como subsídio para um zoneamento
ambiental, associando informações de altitude e delimitações municipais (Figura 7) e de pluviosidade
envolvendo os quatro municípios vizinhos (Figura 8).

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Figura 7. Representação gráfica integrada da hipsometria nos municípios estudados.


Fonte: a autora

Figura 8. Representação gráfica integrada da Pluviosidade da região dos municípios estudados.


Fonte: a autora

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A bacia do Ipojuca compreende a diversos municípios, enfrentando problemas ambientais de


várias ordens, como poluição, desmatamento das matas ciliares, destino de resíduos sólidos
inapropriados, entre outros. Os municípios inseridos na área de estudo foram Gravatá, Sairé, Bezerros,
Caruaru e São Caetano. A geormofologia da área está inserida na unidade ambiental da Borborema,
com presença de solos do tipo latossolos, argissolos, planosssolos e vertissolos. O clima corresponde
segundo a classificação de Koppen Bshs‘ semiárido com vegetação de caatinga. Diante dessas
informações, devidamente organizadas é possível fazer uma análise integrada dos municípios com
vistas a propor ações de gestão ambiental que envolva os cinco municípios, tendo em vista a

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interligação que existe entre eles através do Rio Ipojuca. O presente trabalho levantou informações que
servem como subsídio para um zoneamento, pois o mesmo constitui num dos instrumentos mais
eficazes da Política Nacional do Meio Ambiente e serve como orientação para organizar as paisagens,
contribuindo para o equilíbrio entre os diferentes usos do solo e a conservação dos ecossistemas
naturais.

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2005. 32 p. Disponível em:
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Goiana\\PE. Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento Educacional. RECIFE, SETEMBRO
2010.

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RESSIGNIFICAÇÃO DA PAISAGEM: UM OLHAR ACERCA DO NATURAL NA VILA


DE DOIS RIOS – ILHA GRANDE, RJ.

Ana Cristina Figueira de ALMEIDA


Mestranda do Curso de Geografia da UERJ – PPGEO
cristinafalmeida@outlook.com
Ronaldo ROZENDO
Aluno do Curso de graduação de Geografia da UERJ
rrozendo32@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo visa a analisar as implicações da ressignificação da paisagem natural na Vila de Dois
Rios/Ilha Grande no Rio de Janeiro e seus desdobramentos. Para desenvolver este estudo de caráter
exploratório, foram adotados, como lentes teóricas, em levantamento bibliográfico, os significados das
diferentes leituras que o termo paisagem pode incluir, tendo em vista os diversificados atores sociais
com interesses específicos que compõem esta dinâmica, dentre eles: os moradores da vila, os turistas e
o poder público institucionalizado. Além disto, esta pesquisa foi elaborada por meio de análise em
acervos documentais e observação estruturada (assistemática) in loco. Com base neste estudo, foi
possível constatar que, com a ressignificação da paisagem, novas dinâmicas foram incorporadas à Vila,
dentre elas o CEADS, culminando num cenário de desafios na intermediação de interesses de ordem
antagônica.
Palavras-chave: Ressignificação da Paisagem; Vila de Dois Rios; Olhar natural.
ABSTRACT
The present article aims to analyze the implications of the re-signification of the natural landscape in.
And its unfolding. In order to develop this exploratory study, the meanings of the different readings
that the term landscape can assume have been adopted as theoretical lenses, in a bibliographical survey,
taking into account the diverse social actors with specific interests that make up this dynamic, among
them: the residents of the village, the tourists and the institutionalized public power. In addition, this
research was elaborated through analysis in documentary collections and structured observation
(unsystematic) in loco. Based on this study, it was possible to verify that with the re-signification of the
landscape, new dynamics was incorporated into the Vila de Dois Rios, among them CEADS,
culminating in a scenario of challenges in the intermediation of antagonistic interests.
Keywords: Landscape Resignation; Vila de Dois Rios; Natural look.

INTRODUÇÃO

Reconhecendo o conceito de paisagem como nodal no debate sobre a ressignificação, esta


pesquisa visa investigar as implicações e os desdobramentos deste processo que ocorreu de modo

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planejado pela esfera pública com o intuito de remover, por meio de um programa governamental à
época, o Instituto Penal Candido Mendes existente no local.
Neste sentido, ao realizar uma retrospectiva do conceito de paisagem, nota-se como marco
inicial o termo alemão landschaft que recebeu sentido científico dentro da área da geografia em meados
do século XIX ao remeter às características de uma determinada região (CABRAL, 2006).
A posterior evolução deste conceito deveu-se principalmente ao aumento da complexidade de
organização do espaço planetário, fazendo-se necessários novos olhares e interpretações, a fim de
contemplar para além dos aspectos objetivos da paisagem, os subjetivos.
O termo paiagem pode adquirir o contexo de paisagem vivida, termo que designa o conjunto
dos processos de percepção, ideologias, crenças, afetividade, memória, além das experiências e
imagens (pré) conhecidas, intrínsecas ao ser humano (HOLZER, 1993). Tendo isto, ―para
compreender a paisagem vivida, não basta apenas à análise da percepção da dinâmica de suas estruturas
espaciais, ecológicas, culturais, presentes no cotidiano dos lugares‖ (GUIMARÃES, 2002).
Com efeito, torna-se central o estabelecimento de uma relação tridimensional entre corpo,
espírito e paisagem. Posto que os espaços em sua própria existência são constituídos pelos elementos
imaginários, míticos e simbólicos, provenientes dos sentidos e afeições humanas.
Deste modo, incorpora-se o significado de vivido às paisagens, uma vez que ao serem formadas
por valores subjetivos, remetem realidades mais abrangentes do que somente geográficas: sistema de
coordenadas cartesianas e métodos quantitativos e científicos de análise. E sim, depreendem-se
fundamentalmente de contribuições de outros campos, dentre eles, da psicologia com a fenomenologia
existencialista (TUAN, 1983).
A partir deste recorte teórico, adota-se como estudo de caso a Vila de Dois Rios, localizado na
Ilha Grande, município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, posto que essa se caracteriza por estar
inserida numa Unidade de Conservação de forte atrativo turístico do Estado; território de interesses
antagônicos provenientes de diferentes atores sociais, a saber: moradores locais, turistas, academia
científica e poder público institucionalizado.
Diante do exposto, o objetivo geral deste trabalho foi investigar as relações positivas e/ou
negativas dos moradores da Vila de Dois Rios/Ilha grande – RJ com a paisagem percebida, a fim de
reunir subsídios para futuras ações socioeducativas.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa, ao considerar como fonte de dados aspectos subjetivos sobre o espaço vivido, com
ênfase em suas relações com a paisagem e sua percepção sobre a natureza, exigiu uma abordagem
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

qualitativa que contasse com a sensibilidade do pesquisador para coletar e analisar as informações.
Neste sentido, foi necessário combinar diferentes procedimentos e técnicas de coleta e interpretação de
dados, visto o caráter multimetodológico (MAZZOTTI e SZNAJDER, 1998).
Assim, as etapas foram dividas em: visita preliminar à área de estudo; revisão bibliográfica e
análise documental; pesquisa empírica in loco e análise dos dados coletados, realizada pela adaptação
da técnica de análise de conteúdo de Bardin (1994), levando em consideração os eixos temáticos de
observação: a) mudanças na paisagem da Vila de Dois Rios; b) práticas sociais anteriores e atuais na
Vila e; c) possíveis conflitos e divergências entre os atores sociais envolvidos.
Os atores selecionados foram os moradores da Vila de Dois Rios, em primeiro plano, os
turistas, e o poder intitucionalizado, a saber: INEA (Instituto Estadual do Ambiente) e CEADS – UERJ
(Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentáveis – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro).
Delimitada a área, partiu-se então para a aplicação de uma pesquisa-piloto (teste), que serviu
para constatar a necessidade de mais pesquisas relacionadas às percepções dos envolvidos.
Essa pesquisa é classificada como descritiva, que consiste em descrever as características de
determinada população e envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: formulário e
observação sistemática (GIL, 1991).
É também qualitativa, pois, de acordo com Minayo (1996), a investigação qualitativa requer a
flexibilidade, a capacidade de observação e a interação com o objeto pesquisado. Para a coleta de
dados, além de observação por parte do pesquisador, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
os atores envolvidos, e anotações aplicadas, numa situação face a face que propiciou uma interação
entre os entrevistados e o pesquisador.
O instrumento de pesquisa utilizado foi entrevista semi-estruturada. Para Triviños (1987) apud
Manzini (2004), é um tipo de entrevista que favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas
também sua explicação e a compreensão de sua totalidade além de manter a presença consciente e
atuante do pesquisador no processo de coleta de informações. Portanto, houve a participação
simultânea do pesquisador a medida que as entrevistas foram sendo realizadas, sendo dividido nas
seguintes áreas: identificação do entrevistado; níveis de conscientização ambiental; grau de importância
de problemas ambientais inerentes ao local de estudo e educação ambiental.
No que se refere à técnica empregada neste trabalho, constatou-se, através da literatura
consultada, que a grande maioria dos trabalhos envolvendo a percepção do meio ambiente e a
percepção em Geografia está de alguma forma vinculada às obras de Whyte (1977) e Zube (1982), pois
mesmo quando adaptadas preservam, na sua essência, os fundamentos principais destes autores. Neste

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trabalho, a metodologia adotada foi à proposta por Whyte (1977) e igualmente utilizada por Sartori
(2000), que sugeriu adotar um triângulo metodológico de pesquisa formado pela tríade observando,
perguntando/ouvindo e registrando.

OBSERVAÇÃO IN LOCO

A coleta dos dados foi realizada pelo próprio pesquisador tendo como locais de coleta os
encontros realizados com os moradores em suas residências. Antes da aplicação do instrumento de
pesquisa, o entrevistado foi informado dos objetivos da investigação e salientada a importância de se
ter uma informação precisa.
Em relação ao nº. de entrevistados, não se encontrou na bibliografia consultada um número
consenso que pudesse ser considerado como o mais indicado, pois varia de acordo com as
necessidades, objetivos e locais de cada trabalho. Neste sentido, (Machado, 1988: 112) destaca:

A medição na abordagem perceptiva é uma tarefa difícil e delicada, em face da riqueza e


complexidade dos significados dos objetos da percepção humana. Onde o medir envolve
diretamente a escolha dos procedimentos e técnicas de campo a serem utilizados na obtenção de
respostas, capazes de permitir que se entenda como acontece a percepção do meio ambiente
pelos homens.

A partir deste entendimento foi fixado um total de 15 entrevistados, de 40 moradores, número


considerado suficiente para que os objetivos propostos fossem alcançados a contento, além de permitir
a coleta das informações via instrumento de medida elaborado.
Quanto à abordagem da pesquisa, na entrevista, foi apresentado aos moradores um questionário
contendo cinco questões, onde se buscou observá-los, registrando, analisando, classificando e
interpretando de forma que não houvesse nenhuma interferência do pesquisador.
Foram analisados alguns aspectos do perfil sociocultural e a percepção dos impactos ambientais
sendo adaptados dos roteiros de classificação de Sauvé et al (2000) apud Fiori (2002) adaptada por
Sato (2001).
Além disso, também foi analisada a percepção dos moradores quanto aos sentimentos
topofílicos e topofóbicos representados pela paisagem da Vila em relação ao poder institucionalizado.

AS SUBJETIVIDADES ENVOLVIDAS NO CONCEITO DE PAISAGEM

Sendo a paisagem o termo que compõe o embasamento teórico deste artigo, torna-se necessário
discorrer sobre o seu significado, ainda que de maneira breve, já que o objetivo desta pesquisa é
articular ideias que permitam refletir a paisagem enquanto fenômeno vivido, e não o de realizar um
resgate histórico sobre a evolução do seu conceito na ciência geográfica.

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Introduzindo ao debate, De Oliveira (1999) salienta que a paisagem resulta da combinação de


processos naturais e de ações antrópicas alocados na escala da percepção humana. Possibilitando a
afirmação de que as ações humanas ou os processos naturais ocorridos em uma determinada área, com
o tempo se materializam e originam a paisagem.
Na visão de Santos (1997) ―a paisagem é o conjunto de formas, que, num dado momento,
exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza‖. O
autor complementa que: ―[...] A rigor, a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é
possível abarcar com a visão‖.
Em se tratando da paisagem urbana, como é o caso do presente estudo, pode-se dizer que esta
não é construída ―para uma pessoa, mas para muitas, que apresentam diferenças de temperamento,
formação, ocupação profissional, origem étnica, diversidade social e, portanto, interesses‖
(CASTROGIOVANI, 2001).
Deste modo, a composição de uma cidade, ou seja, de um ―espaço territorializado, apropriado
pelas sociedades‖ ocorre balizada em aspectos de diversas origens e, neste sentido, a paisagem reflete
as feições desta apropriação humana (CASTROGIOVANI, 2001).
Para avançar na reflexão, pode-se inserir que os fenômenos modernos, notadamente a
globalização dos diversos pilares da vida, dentre eles o social e o econômico, conduzem a uma
mundialização do espaço geográfico que se torna então, imbuído de novos significados. Tais
fenômenos podem, potencialmente, mudar a paisagem e consequentemente alterar, por vezes de modo
predatório, as tradições locais por meio da inserção de novas práticas e formas de consumo do espaço.
Em concordância com Santos (1997), pode-se designar este processo como uma ressignificação
da paisagem, a qual envolve uma redescoberta do espaço que passa a assumir novas funcionalidades
baseadas em intervenções naturais, culturais ou mesmo políticas. Adequando-se a um novo contexto
para atender a outra funcionalidade que difere da regular ou cotidiana.
Todavia, esta dinâmica gera implicações, dado que a paisagem é essencial para o habitante local
que passa a ter referências múltiplas – geográficas, afetivas, sagradas etc. – a partir dela, tornando-se
inclusive parte do seu modo de se autocompreender perante o meio social. Entretanto, para cumprir
com finalidades específicas de determinados atores sociais, por vezes provenientes de ambientes
externos, esta pode ganhar novos direcionamentos.
É neste cenário que aqui se propõe analisar as especificidades do processo de ressignificação da
paisagem da Vila de Dois Rios.

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UM PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO DA PAISAGEM LOCAL

A Vila de Dois Rios, foco deste estudo, possui suas complexidades e particularidades como
qualquer lugar. Recebeu este nome devido aos dois rios que correm de encontro ao mar nos dois
extremos com aproximadamente um quilômetro de extensão. Voltada para sudeste e banhada pelo
oceano Atlântico, a praia é propícia para a prática pesqueira.
Atualmente o território de Dois Rios faz parte do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) e seu
terreno está sob a administração da UERJ, que através do CEADS ali instalado, realiza pesquisas na
área ambiental, proibindo assim a instalação de equipamentos turísticos na vila e praia.
Segundo Morador A, ex-guarda militar do Instituto Penal Candido Mendes e presidente da
Associação de Moradores de Dois Rios, a vila é habitada por cerca de 40 moradores.
O fator que aloca a Vila de Dois Rios em questão como um caso de investigação, remete-se à
sua história que precede a Criação do CEADS.
Segundo Tenório (2006), a história de Dois Rios tem como marco inicial o século XIX, quando
o terreno onde hoje se localiza o CEADS (não somente), era uma fazenda onde se desenvolvia o cultivo
de cana-de-açúcar e café que se estenderam até a última década do século XIX, intensificando sua
colonização através da fundação de novas fazendas e de pequenas vilas, onde os negros trazidos para
trabalhar nas lavouras fizeram do lugar uma das principais rotas do tráfico de escravos até a abolição da
escravatura. Após a promulgação da lei Áurea, a produção da fazenda diminui drasticamente, por
conseqüência da perda de mão-de-obra escrava, acarretando perdas elevadas, aumento do custo da
produção, venda e escoamento do produto por conta das longas distâncias percorridas até os navios que
transportavam as mercadorias para a capital.
Em 1884, a Fazenda de Dois Rios é vendida para o Império, buscando o abastecimento de
alimentos, proteção das matas e seus mananciais de água e compor o complexo do Lazareto. Um novo
período se inicia em Dois Rios, quando o presídio passa a funcionar, abrigando funcionários,
moradores locais e turistas atraídos pela economia formada em torno da carceragem.
A Penitenciária Agrícola do Distrito Federal se instala em definitivo em 1894, com a finalidade
principal de corrigir pelo trabalho os excluídos da capital por não se enquadrarem ao estereótipo de
perfeito cidadão. A promiscuidade era total, não havia separação dos condenados por delito, idade e
principalmente por sexo.
Em 1896, por dificuldades financeiras e falta de pessoal, a Penitenciária é fechada impedindo o
cumprimento do regulamento e os objetivos estabelecidos por lei. Por conta do crescimento assustador
da população na capital e as fortes crises econômicas que assolavam o país, o número de moradores de

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rua e a pobreza só aumentaram, elevando consequentemente o número de desordeiros e desocupados,


forçando o governo a buscar um local afastado da cidade para que tais elementos fossem enviados. Sob
pressão, o Presídio volta a funcionar em 1903, sendo denominado como Colônia Agrícola do Distrito
Federal, com algumas modificações, sendo uma delas a separação dos detentos por sexo; porém, vale
destacar que o perfil dos condenados em sua totalidade era de pobres, mestiços, prostitutas, menores
abandonados e negros. Os castigos só aumentaram de proporção e o desrespeito prisional só se
agravou.
Por conta da criação do presídio no local o lugar foi obrigado a modificar totalmente sua
paisagem, até então ―Selvagem‖ para receber todo o sistema carcerário que crescia na Vila, gerando a
necessidade de construção de várias edificações como moradias para funcionários e presos em
liberdade condicional, igreja, escola pública, bares etc. Um pequeno núcleo populacional foi erguido
nos arredores do presídio se estendendo nos dois sentidos da Vila (Parnaóica e Abraão). Por conta
dessa explosão populacional se fez necessário a construção de uma estrada que ligasse a Vila de Dois
Rios a Vila do Abraão, edificação realizada por presos comuns.
Após o início do governo de Getúlio Vargas, todos os confinados do Lazareto foram
transferidos para a colônia de Dois Rios, aumentando seu efetivo prisional para mil detentos, sendo,
posteriormente, denominado Instituto Penal Cândido Mendes.
Foi por conta das publicações de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (preso político
durante a ditadura do estado Novo), que o Instituto se tornou célebre e notavelmente mais visto e
acompanhado por conta dos maus tratos que os detentos ali recebiam.
A Vila de Dois Rios enfrentou muitas dificuldades econômicas por longos anos, por conta das
poucas e inexistentes lavouras que se tornaram de subsistência, ressaltando o declínio nas atividades
pesqueiras por volta de 1980, forçando os moradores locais buscarem alternativas no Turismo que já
crescia na Vila do Abraão.
A Vila de Dois Rios passou por períodos de atividade e inatividade, porém nunca deixou de
integrar o sistema penitenciário, apresentando, entretanto, perfis variados ao longo do tempo.
Em 1994, o Presídio é implodido e a cessão da área passa para a UERJ, em 1998, com a
implementação do CEADS a dinâmica do lugar foi totalmente alterada, passando a Universidade ter
como objetivo prioritário inventariar e preservar a diversidade local e a criação de um EcoMuseu
inaugurado em 2009, para resguardar a história local e a divulgação dos recursos naturais existentes e
dos vários aspectos que envolvem a memória e as características locais.
Segundo, Myrian Santos (2005), a Vila enfrenta novamente uma mudança na paisagem, visto
que em sua grande totalidade os moradores viviam do sistema carcereiro que gerava diretamente e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

indiretamente renda para a sua permanência no local. Com a desativação do presídio, a população local
perdeu a referencia que a estruturava cultural e economicamente. Alguns moradores foram somados
aos funcionários da UERJ, forçando os demais a buscarem soluções variadas em outras localidades.

ANÁLISE DAS IMPLICAÇÕES E DOS DESDOBRAMENTOS DA RESSIGNIFICAÇÃO DA


PAISAGEM LOCAL

Com a demolição do Instituto Penal Cândido Mendes - IPCM, houve um processo de


ressignificação da paisagem local que não ocorreu de modo espontâneo, mas sim planejado, durante o
governo Brizola, por se tornar inviável economicamente.
Entretanto, esta mudança, que utilizou de estratégias pautadas na eliminação do IPCM,
acarretou uma transformação na paisagem e, por conseguinte, no dia-a-dia da população. Ao retirar o
presídio, não se pensou nas dinâmicas internas, como deslocamento dessa população em busca de
outras fontes de renda, a forma como se sentiram fragmentados e separados de sua identidade histórica.
Hoje encontramos uma Vila em total abandono, moradias precárias, falta de recursos, lazer
inexistente, apenas duas vendas com itens de primeira necessidade; uma igreja evangélica e uma
católica. O cemitério foi desativado, mas ainda é possível encontrar ossadas no local. O mato alto e a
precariedade desestimulam os moradores, mas acabam atraindo turistas em busca do ―Selvagem, do
Intocado‖.
Houve um pequeno melhoramento no sentido físico, quando foi implementado o CEADS, que
tem o intuito de promover uma noção de patrimônio comunitário e coletivo, porém, o programa em si
não conseguiu aglutinar todos os antigos funcionários do presídio. Sob o olhar dos moradores locais
falta à relação e a compreensão com o ser envolvido devolvendo aos mesmos os resultados das
pesquisas realizadas no local.
A falta de infraestrutura é assunto de constante reclamação. Os modarores da Vila não foram
considerados quando desativaram o presídio; não foi levada em consideração sua construção histórica e
as experiências vividas.
Um dos maiores conflitos a serem mencionados diz respeito à estrada que liga Abrão a Dois
Rios, que é considerada um dos maiores imbróglios tanto para os pesquisadores quanto para o poder
institucional (INEA), pelo risco de transformar-se em fator de destruição ambiental, caso realmente a
estrada venha ser asfaltada. No entanto, para os moradores a revitalização da estrada traria viabilidade
de melhorar o turismo na região e assim, atrair mais turistas, sem contar a facilidade de acesso a
atividades comuns como mercados e hospital.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 327


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para o INEA a pavimentação da estrada possibilitaria o avanço do turismo no local que ao ser
comparado a Vila do Abraão, seria catastrófica.
Pela observação do pesquisador fica muito claro que o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG)
não se importa com o turismo na região, perdendo assim a possibilidade de promover a educação
ambiental, atrair ecoturistas e possivelmente elevar o local como exemplo de gestão.
Atualmente toda a infraestrutura fica direcionada ao INEA e ao CEADS, promovendo um novo
imbróglio, onde ambas as instituições empurram suas obrigações uma para outra, faltando dialogo na
gestão.
Assim, ao direcionar o olhar ao estudo de caso deste artigo, a Vila de Dois Rios, é possível
identificar que a população existente outrora raramente visita o lugar que era seu lar, transformando o
recinto em um ambiente com população flutuante por conta da aglutinação de serviços terceirizados
pela UERJ. Neste sentido, as opções oferecidas pelo uso público da Ilha Grande como um todo é nula.
Falta infraestrutura generalizada, inclusive o lazer para os moradores, que vivem quase que
exclusivamente do trabalho gerado pelo turismo na Vila do Abraão e suas imediações.
A oposição entre a lógica do trabalho existente à época do funcionamento do Presídio
contrapõe-se à nova ordem do ócio e do lazer para os ex-funcionários residentes na Vila. Todo o
contexto apresentado fez com que a Paisagem criasse novas formas de ser enxergada, transformou e
inclusive valorizou diferencialmente espaços que poderiam não ter ―valor‖ no contexto perceptivo.
A ressignificação da paisagem contribuiu para a incorporação de uma nova dinâmica local:
segregando antagonicamente os grupos existentes no ambiente. A percepção saudosa do lugar pelos
moradores, em boa parte, não é compartilhada pelos visitantes, que conhecem o local em seu estado
atual. Para a maioria dos turistas, a imagem do Presídio é negativa e imaginam que a vida na Vila seja
melhor atualmente, quando não é.
Apesar do difícil acesso ao local, o interesse do turista pela Vila pode ser explicado, por conta
das paisagens ainda pouco exploradas, por se caracterizar como uma área de conservação ambiental em
meio a um território urbano. Outra questão é que, além do perfil natural, inseriram-se elementos
culturais na Vila, com a implementação do EcoMuseu e toda a história agregada ao local.
Mediante tal contexto, esta pesquisa identificou perspectivas antagônicas permeadas por
subjetividades provenientes de diferentes atores sociais. Em um primeiro momento, podem ser citados
os moradores que residem na localidade, enxergando a paisagem como moradia e parte de sua
identidade.
Outro aspecto a ser mencionado, seria o relacionamento entre os moradores e os pesquisadores
que pode ser descrito como sendo de indiferença do que um conflito em si, visto que, as pesquisas

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 328


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

continuam sendo desenvolvidas e os pesquisadores continuam sendo bem recebidos pelos moradores
locais; faltando entre eles não apenas diálogo social, mas, uma construção de uma consciência
sócioambiental.
Para os pesquisadores, os moradores possuem um vasto conhecimento sobre a natureza e uma
rica cultura que fora adquirido ao longo de várias gerações; possuem conhecimentos, muitas das vezes
totalmente desconhecidos do mundo acadêmico e de grande valia para se desenvolver medidas
sustentáveis a partir de tais saberes.
Para os moradores, os pesquisadores detêm as informações e muitas das vezes não as repassam,
faltando vinculo afetivo, olho no olho do entrevistado.
Com a ressignificação, um novo público foi atraído à localidade: turistas visando o Turismo
Ecológico e pesquisadores visando ao fomento científico.
Em um segundo momento percebe-se o descontentatemno entre moradores e o INEA. Os
moradores, por falta de informação, orientação e dialogo sobre as leis e normas do PEIG, vêem a
instituição pública como adversária, sendo visto como órgão repressor. O INEA em contra partida não
realiza ações integradoras entre os moradores, o que facilitaria a integração da população local na
construção coletiva do processo de proteção da natureza o que levaria os moradores a perceberem o
quanto a natureza preservada traria vantagens aos mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa procurou refletir sobre as implicações que as transformações na paisagem podem
gerar, exemplificando com desdobramentos relacionados ao planejamento de remoção do IPCM, hoje
EcoMuseu. As perspectivas apresentadas podem ser analisadas do ponto de vista do pertencimento,
onde as vivências influenciam a percepção. Dentre a gama de subjetividades que o conceito de
paisagem acarreta, identificam-se na Vila de Dois Rios diferentes atores sociais, que apresentam
interesses específicos e, por vezes, antagônicos.
Mediante discussão no decorrer deste artigo, compreende-se que a parceria entre as esferas
públicas na Vila, não deve dificultar a participação de outros atores sociais envolvidos, assim como
ocorreu em épocas anteriores, abafando a opinião e a voz daqueles que residiam na localidade. Uma
vez ciente de que a participação social é central para a gestão sócioambiental.
A Vila sofre atualmente um período delicado de apropriação do seu território. Não há,
atualmente, nenhuma espécie de cultura local se desenvolvendo em relação aos moradores
remanescentes. Resta apenas a memória, através de diversos registros. Agora a lógica vigente é o
CEADS.
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 329
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O Presídio e suas histórias contribuíram para a invenção do turismo na Ilha Grande. Todo esse
rico acervo patrimonial deve ser preservado e deve ser utilizado como fator colaborador no
desenvolvimento local, desde que planejado adequadamente. Mesmo ao considerarmos que há
interesses diversos sendo negociado, um dos maiores obstáculos apresentados é a falta de diálogo e de
negociação em torno de soluções intermediárias que possam satisfazer aos diferentes interesses sócio-
econômicos dos envolvidos.
A importância das questões apresentadas deve ser avaliada à luz dos conceitos de Paisagen, e
Turismo. Portanto, deve ter como objetivo focal a existência e a permanência dos moradores, o direito
ao conhecimento produzido pela Universidade, o direito a ter vós e discutir suas condições perante o
poder publico, mas, sobre tudo o direito de coexistir.
A pesquisa revelou uma pluralidade de percepções e interpretações dos variados atores sobre o
tema, revelando de certa forma, que o Parque como um todo é importante para o turismo, sendo o
turismo importante para os moradores e as esferas públicas deveriam ser importantes veículos
aglutinadores.
Há de se destacar que as paisagens não são estáticas, mas sim transformadas quase que
diariamente a fim de atender às novas exigências dos atores envolvidos. Desta forma, tanto o espaço
geográfico como as suas categorias de análise são modificadas com o passar do tempo. Assim, as
paisagens topofílicas de hoje, podem não ser as mesmas de amanhã, assim como aquelas que são
preteridas hoje podem se tornar agradáveis futuramente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O ESTUDO DA PAISAGEM COMO FERRAMENTA DE GERENCIAMENTO DOS


RECURSOS HÍDRICOS: UM ESTUDO DE CASO NA BACIA DO RIBEIRÃO MELCHIOR

Ana Paula Silva CAMELO


M.Sc., Doutoranda em Ciências Florestais da UnB
paulaflorestal@gmail.com
Keila Lima SANCHES
Profa. Dra. do IFB/Campus Samambaia
keila.sanches@ifb.edu.br

RESUMO
A mudança de uso e ocupação do solo altera e compromete o provimento dos serviços ambientais
hidrológicos das bacias hidrográficas tanto no quesito de qualidade quanto de quantidade da água. Por
sua vez, a análise das métricas de paisagem pode auxiliar no entendimento da relação entre o uso do
solo e os serviços ambientais hidrológicos. Neste sentido, este estudo teve como objetivo analisar a
relação das manchas de vegetação com o fornecimento de serviços ecossistêmicos hidrológicos de
qualidade e quantidade de água na bacia hidrográfica do Ribeirão Melchior. Foram avaliadas as
métricas de paisagem ao nível de classes entre os anos 2005 e 2016. Os parâmetros de qualidade de
água analisados, foram: Condutividade elétrica, Demanda Bioquímica de Oxigênio, Fósforo total,
Concentração de amônio, Oxigênio Dissolvido e Turbidez (NTU). Estudou-se, também, a
estacionariedade das séries históricas dos parâmetros e da vazão do rio entre os anos de 2002 a 2016.
Foi observado que a classe de uso do solo urbano, não só aumentou como também se tornou mais
uniforme nas bordas da bacia influenciando tanto na qualidade quanto na quantidade de água da bacia.
Além disso, as relações entre as métricas de paisagem e os parâmetros de qualidade de água da bacia
do Rio Melchior apresentaram linearidade e a sazonalidade foi um fator de grande influência para a
qualidade da água do rio Melchior.
Palavras-chave: Métricas de Paisagem; Recursos Hídricos, Qualidade de Água.

ABSTRACT
The land use and cover changes compromises the provision of hydrological environmental services in
watersheds in terms of quality and quantity of water. In turn, the analysis of landscape metrics can help
the understanding of the relationship between land use and hydrological environmental services. This
study aims to analyze the relationship between vegetation patches and the supply of hydrological
ecosystem services for water quality and quantity in the Melchior river basin. The landscape metrics at
the class level were analyzed between 2005 and 2016. The water quality parameters analyzed were
Electrical Conductivity, Biochemical Oxygen Demand, Total Phosphorus, Ammonium Concentration,
Dissolved Oxygen and Turbidity (NTU). It was also studied the stationarity of the historical series of
parameters and the river flow between the years 2005 and 2016. It was observed that the urban use
class not only increased but also became uniform at the edges of the basin influencing both the quality
and quantity of water in the basin. In addition, the relationships between the landscape metrics and the
water quality parameters of the Melchior River basin present linearity and that the seasonality was a
great influence factor for water quality.
Key Words: Landscape Metrics; Water Resources, Water Quality.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 333


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A alteração do uso e manejo do solo em bacias hidrográficas prejudica o fornecimento dos


serviços ambientais, especialmente os hidrológicos. A evapotranspiração, a taxa de infiltração, o
escoamento direto, a quantidade de água disponível, a uniformidade das vazões e a qualidade da água
são serviços hidrológicos que podem ser afetados pela alteração do uso do solo (PORRAS et al. 2008).
Neste sentido, alguns estudos mostram uma alta correlação entre a distribuição espacial das atividades
humanas, a conservação florestal e o nível de degradação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica.
O entendimento da relação entre o uso do solo e a preservação da qualidade de água dentro de
uma bacia é essencial para assegurar o desenvolvimento sustentável (MENEZES et al, 2015).
Conforme SINGH et al (2005) ambientes lóticos, por carregarem as águas residuais municipais,
industriais e o escoamento de áreas agrícolas estão entre os corpos hídricos mais suscetíveis a
degradação devido a poluição. A qualidade da água em qualquer ponto de um rio/tributário reflete a
influência da geologia, vegetação, solos, clima e, sobretudo, do homem (SHRESTHA & KAZAMA,
2007).
Mundialmente, há diversos estudos que relacionam o uso da terra com a qualidade da água (YU
et al, 2016). Em âmbito nacional esse tipo de estudo vem aumentando, principalmente devido a uma
maior difusão das técnicas de geoprocessamento. Para o Bioma Cerrado destaca-se o trabalho de
Bonnet et al (2008), os quais estudaram a relação do Índice Normalizado de Vegetação Remanescente
(NRVI) com o Índice de Qualidade de Água (IQA) em todas as bacias de abastecimento público do
estado de Goiás. Também no Bioma Cerrado Casarin et al (2008), observaram a relação de parâmetros
físico-químicos da água com o uso e ocupação da terra na bacia Paraguai/Jauquara no Mato Grosso.
Não obstante, Gergel et al (2002) enfatiza que detectar os impactos humanos nos sistemas
fluviais é desafiador, em função dos diversos componentes biológicos, químicos, hidrológicos e
geofísicos que devem ser avaliados. Assim, esse estudo tem por objetivo analisar a relação das
manchas de vegetação com o fornecimento de serviços ecossistêmicos hidrológicos tanto de qualidade
quanto de quantidade na bacia hidrográfica do ribeirão Melchior.

METODOLOGIA

Localização

O estudo abrangeu a área da bacia do rio Melchior no Distrito Federal. Esta bacia possui as
cidades mais populosas do DF, Taguatinga e Ceilândia, além da cidade de Samambaia. A altitude
máxima da bacia é 1286,69m e a mínima 822,03m. O rio Melchior é receptor da Estação de Tratamento
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 334
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de Esgoto (ETE) Melchior (desde 2005) e da ETE Samambaia (desde 1996). A ETE Melchior atende
as cidades de Taguatinga, Ceilândia, Águas Claras e parte de Samambaia; e a ETE Samambaia atende
somente Samambaia. A figura 1 mostra a localização destas estações.

Figura 1. Localização das estações na Bacia do Melchior.

As estações MC10, MC20 e MC30 são estações de controle de qualidade do corpo hídrico, já a
estação 60436185 é uma estação fluviométrica onde é aferida a cota do corpo hídrico.
No estudo e no tratamento digital dos dados necessários foram utilizados: Envi 4.7, ArcGis
10.2.1, Fragstats; e MS Excel 2013. Foram utilizadas imagens dos sensores dos satélites Landsat 5
(anos 2002, 2005, 2008 e 2011) e Landsat 8 (ano 2016) ponto 221, órbita 71 todas nos mês de setembro
para que não houvesse interferência do efeito da pluviosidade na avaliação da vegetação do Cerrado.

Processamento de Imagens

O processamento das imagens foi realizado no software ENVI 4.7. O pré-processamento foi
realizado com os processos de correção atmosférica das imagens e teve por base o Princípio da
Reflectância Zero (VETTORAZZI, 1992). Posteriormente, foi realizada a correção geométrica
utilizando o modelo de transformação polinomial de primeiro grau e o método de interpolação do
vizinho mais próximo. As coordenadas reais foram padronizadas para o sistema de coordenadas UTM
(Universal Transversa de Mercator) e datum SIRGAS 2000.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Foi realizada a classificação supervisionada com o algoritmo de máxima verossimilhança. A


imagem foi construída com a composição 5R, 4G e 3B Landsat 5 TM e 6R, 5G e 4B Landsat 8 OLI.
Dentro da área de cerrado estudada, o uso do solo foi dividido em quatro classes: 1) Agrícola; 2)
Urbano∕Solo Exposto; 3) Formação Campestre e Savânica; e 4) Formação Florestal (Mata).

Métricas de Paisagem

Após a classificação da imagem foram calculadas as métricas de paisagem ao nível de classes


no software Fragstats. As métricas utilizadas foram Número de Manchas (NP), Índice de Coesão
(COHESION), Total de Áreas Núcleo (TCA), sugeridas por Mcgarigal & Marks (1995). A distância de
borda adotada foi de 50 metros.

Parâmetros de qualidade de água

Os serviços ecossistêmicos avaliados foram a qualidade de água, no período de 2005 a 2017,


representada pelos seguintes parâmetros de qualidade: Condutividade elétrica (uS/cm), Demanda
Bioquímica de Oxigênio (mg/L), Fósforo total (mg/L), Concentração de amônio (mg/L), Oxigênio
Dissolvido (mg/L) e Turbidez (NTU). Amostras de água foram coletadas e analisadas pela CAESB, de
acordo com os procedimentos padrão (APHA, 1995), em uma frequência mensal a bimestral. Além dos
serviços ecossistêmicos referentes a qualidade, foi avaliada a vazão no exutório da bacia para o mesmo
período.
Os dados de qualidade da água foram divididos por ponto de captação e por estação do ano
(seca e úmida); esta divisão de estações é frequentemente usada na literatura, pois pode haver uma
variação significativa entre os dois períodos, em função do maior transporte de nutrientes e sedimentos
durante a estação chuvosa (CLINTON & VOSE, 2006). Assim, para os parâmetros foram calculados as
médias e os coeficientes de variação para cada estação e para cada período.
Além disso, para identificar a relação entre a alteração do uso do solo e dos serviços
ecossistêmicos, verificou-se o grau de estacionariedade das séries temporais dos parâmetros de
qualidade da água em cada uma das captações. No caso da existência de tendência (crescente ou
decrescente) das séries históricas, sua significância foi determinada através do teste de t, com base em
um modelo linear. De acordo com Salas (1992), uma série apresenta tendência significativa de
crescimento ou decrescimento linear, quando:

Equação 1
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Onde: r é o coeficiente de correlação entre o parâmetro e o tempo, N é o número de anos e t1-


a/2,v é o valor tabelado da distribuição de Student para um grau de liberdade n = N-2. A estatística para
a determinação de ressaltos na série temporal é semelhante, sendo que a série temporal é sub-dividida
em duas, com duas médias e dois desvios-padrão (SALAS, 1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a classificação foi calculado a porcentagem que cada classe do uso do solo ocupa na
paisagem. Observou-se que inicialmente, em 2002, a classe de uso cerrado ocupava maior parte da
bacia (37,41 %) e em 2016 essa classe passou a ocupar 27,70% da área total da bacia. A Tabela 1
mostra a mudança no uso do solo no período observado.

Porcentagem da paisagem ocupada por cada classe (%)


Classe de uso do ANO
solo 2002 2005 2008 2011 2016
Agrícola 16.04 19.37 19.71 19.69 13.67
Cerrado 37.41 44.65 42.90 38.97 27.70
Mata 17.75 8.23 8.23 10.08 10.73
Urbano 28.79 27.75 29.16 31.26 47.91
Tabela 1. Mudança no uso do solo da bacia nos anos de 2002 e 2016.

Na Figura 2 estão os mapas de uso do solo da bacia nos anos de 2002 e 2016. É notório e
extremamente relevante o aumento da área urbana e do solo exposto no ano de 2016. Ao analisar as
imagens de satélite e dados sociais locais observa-se a situação precária das áreas dos setores Pôr do
Sol e Sol Nascente em Ceilândia.

Figura 2. Mapas de uso do solo nos anos de 2002 e 2016.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Segundo da Pesquisa Distrital de Amostras por Domicílios (PDAD) nos setores Pôr do Sol e Sol
Nascente, 45,07% da população possuem rendimentos de 2 a 5 salários mínimos e 13,45% até 1 salário
mínimo (CODEPLAN, 2017). A transformação desse espaço que inicialmente era de finalidade rural
em uma região urbana ocorreu, principalmente, devido à demanda por mais moradias de baixo custo.
Ao avaliar a métrica de número de fragmentos dentro de cada classe foi observado que o
número de manchas de cerrado tem aumentado ao longo dos anos estudados o que pode indicar a
fragmentação da classe de uso do solo. A Tabela 2 mostra a mudanças referentes às manchas de
vegetação no período estudado.

Número de Manchas (NP)


Classe de uso do ANO
solo 2002 2005 2008 2011 2016
Agrícola 1538 2033 1836 2808 1810
Cerrado 1130 1244 807 1464 2276
Mata 2750 942 789 927 2063
Urbano 1209 1403 757 1026 814
Tabela 2. Manchas de vegetação no período de 2002 a 2016.

Relação Número de Manchas e Índice de Coesão (Uso


Urbano)
99,4
COHESION

99,2
99
98,8 Série1
98,6 R² = 0,8834
Linear (Série1)
98,4
600 800 1000 1200 1400 1600

Número de Manchas

Gráfico 1. Relação do Número de Manchas (NP) com o Índice de Coesão (COHESION).

A classe de uso do solo urbano∕solo exposto apresentou uma tendência de diminuição do


número de manchas, todavia, observa-se a formação de um novo aglomerado. Esse fato é corroborado
pelo aumento da métrica Índice de Coesão (COHESION) que mede a conectividade física das
manchas. Ao relacionar o Número de Manchas e o Índice de Coesão da classe de uso urbano∕solo
exposto observou-se uma relação linear com coeficiente de determinação (r²) de 0.8834. Portanto, a
diminuição do número de manchas está correlacionada com o aumento da conectividade dessas áreas.
Observou-se que a medida que se aumentou o Número de Manchas (NP) na área e períodos
estudados o Índice de Coesão (COHESION) diminuiu, ou seja, percebeu-se mais manchas na paisagem
com menos conectividade entre elas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Tabela 3 mostra os Índices de Coesão apresentados para as classes de uso de solo no período
estudado.

Índice de Coesão (COHESION)


Classe de uso ANO
do solo 2002 2005 2008 2011 2016
Agrícola 96.56 97.06 95.99 93.99 91.52
Cerrado 99.66 99.76 99.76 99.67 98.07
Mata 93.48 90.53 92.14 93.22 94.24
Urbano 98.87 98.49 99.17 99.11 99.32
Tabela 3. Índices de Coesão para as classes de uso do solo no período de 2002 a 2016.

Ao longo do período estudado a classe que apresentou a maior diminuição do índice de


COHESION ao longo do período estudado foi a classe agrícola. Ou seja, as áreas não estão mais
agregadas como no início do período estudado. De acordo com a SENA (2015) o contingente resultante
do célere e elevado crescimento populacional do Distrito Federal levou a busca por alternativas para
moradia em ocupações irregulares e parcelamentos clandestinos, nas terras particulares não
desapropriadas ou mesmo em áreas públicas.
Por fim, foi avaliada a métrica TCA (Total Core Area) que é a soma das áreas centrais de cada
classe. Essa métrica sofre influenciadas da profundidade da borda, que no caso, foi de 50 metros. Nos
anos analisados observou-se que a classe agrícola e a classe cerrado tiveram decréscimos nesta métrica,
a classe de uso referente a mata foi mantida relativamente constante e a classe onde houve maior
aumento foi a classe de uso urbano.

Soma das áreas centrais (TCA)


Classe de ANO
uso do solo 2002 2005 2008 2011 2016
Agrícola 1070.91 1054.8 1540.8 688.4292 539.28
Cerrado 3988.8 4278.24 4721.58 3471.972 2316.51
Mata 634.77 363.6 494.46 536.9622 635.4
Urbano 4682.43 4513.77 4987.53 5330.273 7140.87
Tabela 4. Soma das áreas centrais (TCA) das classes de uso do solo no período de 2002 a 2016.

Parâmetros de qualidade

O ponto de coleta MC10 localiza-se a montante do lançamento de efluentes da ETE Samambaia, cerca
de 50m. A série de dados de qualidade que foi disponibilizada para este ponto foi do período de 2011 a
2016. Na Tabela 5 encontram-se os resultados para o período analisado.

COND DBO P(tot) N-NH3 OD TURB


Período
(uS/cm) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (NTU)

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 339


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Média 129.0 4.7 0.1 0.9 7.7 31.4


Úmido C.V 0.1 0.2 0.2 0.7 0.0 1.1
tc 0.516 -0.301 0.283 0.903 -1.112 0.113
Média 142.8 7.1 0.3 4.3 7.2 10.1
Seco C.V 0.6 1.0 1.2 1.6 0.2 0.9
tc 1.907 2.240 3.497 1.794 -1.721 1.486
Tabela 5. Dados de qualidade do ponto de coleta MC10.

Observou-se que no período úmido nenhum parâmetro de qualidade apresentou tendências de


aumento ou diminuição, já no período seco houve uma tendência de aumento dos valores de DBO e
Fósforo total. Uma vez que nesse ponto há a descarga de esgoto in natura no corpo hídrico, uma
diminuição da vazão devido ao período seco que tende a aumentar a concentração de tais parâmetros.
Para o ponto MC20, localizado a jusante do lançamento da ETE Melchior e da ETE
Samambaia, a série de dados de qualidade que foi disponibilizada foi do período de 2005 a 2016. Para
essa série, durante o período chuvoso, o único que apresentou tendência de crescimento foi o parâmetro
de Condutividade Elétrica, porém o N-NH3 apresentou um coeficiente de variação de 3.413. Para o
período seco, os parâmetros que apresentaram tendência de crescimento foram Condutividade Elétrica,
N-NH3 e Turbidez. Na Tabela 6 encontram-se os resultados obtidos para este ponto, no período
analisado.

COND DBO P(tot) N-NH3 OD TURB


Período
(uS/cm) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (NTU)
Média 218.29 9.29 0.54 483.51 6.05 50.86
Úmido C.V 0.231 0.337 0.307 3.413 0.164 1.363
tc 4.170 -0.589 -1.598 -1.632 0.619 -1.266
Média 239.1 14.7 0.8 6609.4 6.4 9.1
Seco C.V 0.13 0.58 0.20 0.73 0.08 0.54
tc 2.681 1.551 0.961 3.629 -0.775 2.297
Tabela 6. Dados de qualidade do ponto de coleta MC20.

Outro aspecto importante foi que mesmo no período seco os valores de turbidez foram
extremamente elevados. Ressaltando que o comportamento da turbidez reflete a condição local, com
aumento em locais de maior poluição e/ou degradação (BUZELLI & CUNHA SANTINO, 2013).
Por fim, no ponto MC30 localizado após a confluência do rio Melchior com o córrego Salta
Fogo, a série de dados de qualidade que foi disponibilizada foi do período de 2005 a 2017, porém com
algumas lacunas. Na Tabela 7 encontram-se os resultados obtidos para este ponto, no período
analisado.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 340


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

COND DBO OD TURB


Período P(tot) mg/L N-NH3 mg/L
uS/cm mg/L mg/L NTU
Média 208.46 16.28 0.64 5.42 6.18 76.70
Úmido C.V 0.17 0.37 0.45 0.68 0.10 1.12
tc 2.607 -0.444 -1.945 3.371 1.995 -0.736
Média 292.22 20.39 1.29 9.62 5.67 10.23
Seco C.V 0.12 0.62 0.59 0.49 0.23 0.56
tc 3.135 0.958 -2.221 2.471 2.071 0.230
TABELA7. Dados de qualidade do ponto de coleta MC30.

Para o MC30 observou-se que no período úmido houve uma tendência de diminuição de
Fósforo Total e aumento de Condutividade Elétrica, N-NH3, e OD. Já para o período seco, observou-se
uma tendência de diminuição de Fósforo Total e aumento da Condutividade Elétrica, N-NH3 e
Oxigênio Dissolvido.
No que tange a vazão do corpo hídrico medida no exutório da bacia a série de dados disponível
abrangeu o período de 2009 a 2016 e a quantidade de água foi dada pela cota (cm) do corpo hídrico.
Assim com base nos dados obtidos foi observada uma tendência de diminuição das vazões nos meses
de Julho, Outubro, Novembro, Dezembro e Janeiro. A Tabela 8 mostra as cotas médias dos corpos
hídricos para o período analisado.

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr
Média 52.9 46.1 41.9 39.6 40.1 47.6 58.9 66.1 78.9 67.0 82.0 78.3
CV 0.2 0.1 0.1 0.1 0.1 0.2 0.2 0.2 0.3 0.1 0.2 0.3
tc 0.431 -1.02 -2.13 -1.99 -0.45 -2.32 -2.31 -2.05 -2.04 -1.99 -0.81 0.20
Tabela 8. Cotas médias dos corpos hídricos no período compreendido de 2009 a 2016.

A diminuição da vazão observada pode ser relacionada ao fato das regiões administrativas de
Taguatinga, Samambaia e Ceilândia se encontrarem nas áreas mais altas da bacia, onde se localizam as
zonas de recarga. Além disso, as regiões do Pôr do Sol e Sol Nascente em Ceilândia estão próximas às
áreas mais declivosas da bacia onde se encontram várias nascentes de córregos que abastecem o Rio
Melchior. Conforme Porras et al (2008) ao se substituir áreas de florestas para o uso urbano as
principais consequências para os serviços ecossistêmicos de provimento de água doce são o aumento da
quantidade de escoamento superficial associado ao aumento de carga poluente, aumento do risco de
cheias e diminuição da recarga subterrânea.
A relação entre a paisagem e a qualidade de água variou significativamente devido às
características da bacia e as fontes de poluição distribuídas no espaço. Considerando que o MC20 teve
a maior amplitude de dados disponibilizados (2005 a 2016, sem lacunas) foi realizada uma correlação
das métricas de paisagem das classes de uso do solo analisados no estudo. O Quadro 1 mostra os

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 341


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

valores de correlação das métricas de paisagem das classes de uso cerrado e uso urbano e dos valores
dos parâmetros obtidos para a estação MC20.

Período Seco Período Úmido


COND P(tot) N-NH3 OD TURB COND P(tot) N-NH3 OD TURB
Variáveis
uS/cm mg/L mg/L mg/L NTU uS/cm mg/L mg/L mg/L NTU
NP(Urb) 0.71 -0.77 0.90 -0.20 0.26 0.93 -0.34 -0.22 -0.40 -0.30
NP(Cer) -0.49 -0.48 -0.20 -0.88 0.06 -0.11 0.92 0.92 -0.85 0.96
COE(Urb) -0.60 0.47 -0.72 0.01 0.07 -0.94 0.48 0.35 0.08 0.48
COE(Cer) 0.75 0.19 0.50 0.82 0.21 0.26 -0.99 -0.97 0.66 -0.91
TCA(Cer) -0.82 0.72 -0.95 0.05 -0.37 -0.87 0.48 0.37 0.30 0.42
TCA(Urb) 0.76 -0.40 0.79 0.21 0.10 0.85 -0.68 -0.57 0.06 -0.66
Quadro 1. Valores de correlação das métricas de paisagem e dos parâmetros para o MC20.

Avaliando o quadro de correlações percebeu-se uma relação linear entre algumas das variáveis
estudadas que também foi observado por Li et al (2015) ao estudar a relação das métricas de paisagem
ao nível das classes com parâmetros de qualidade de água em uma bacia com usos múltiplos (urbano,
rural e agrícola). Uma das maiores correlações observadas (0.96) foi a do Número de Manchas (NP) da
classe de Cerrado com o parâmetro de Turbidez, no período úmido. Isso indicou que a fragmentação
dessa classe implica piora deste parâmetro, ou seja, o Cerrado, principalmente na época úmida serve
como retenção das partículas de sedimento que são carregadas para o corpo hídrico.
Outro ponto revelado pela análise de correlação foi que a sazonalidade se apresentou como um
fator de grande influência para o Rio Melchior. Essa relação de sazonalidade com as métricas e o
parâmetros de qualidade também foi observado por Bonnet et al (2008) para o estado de Goiás.
Observou-se também a falta de linearidade entre algumas métricas de paisagem, isto indicou
que o modelo linear estimado pode não ter sido o melhor modelo para explicar essa relação. Huang et
al (2013) utilizando diferentes métodos estatísticos (não lineares) observaram relações significantes
entre as métricas e parâmetros de qualidade. Assim, vale ressaltar a recomendação de Krusche et al
(2005), que sugere o investimento em modelos empíricos de forma a possibilitar um maior
conhecimento do funcionamento destes ecossistemas e efetuar simulações e prognósticos de eventos
futuros. Desta forma, outros modelos podem e devem ser testados para verificar e analisar a relação
entre os parâmetros estudados.

CONCLUSÕES

 A classe de uso do solo urbano, não só aumentou como também se tornou mais uniforme nas bordas
da bacia influenciando tanto na qualidade quanto na quantidade de água da bacia;

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 342


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

 Por ser um corpo hídrico receptor o aumento da classe de uso urbano na bacia ocasiona uma piora
na qualidade da água do corpo hídrico;
 As relações entre as métricas de paisagem e os parâmetros de qualidade de água da bacia do Rio
Melchior apresentam linearidade;
 A sazonalidade é um fator grande importância para qualidade da água do Rio Melchior;
 A impermeabilização da cabeceira da bacia é um fator que influencia na vazão do corpo hídrico
estudado.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EXPLORAÇÃO MINERAL E IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS: ANÁLISE


ECODINÂMICA DE PAISAGEM NO NORTE DA BAHIA

Clecia Simone Gonçalves Rosa PACHECO


Mestre em Tecnologia Ambiental (IF SERTÃO-PE)
clecia.pacheco@gmail.com
Reinaldo Pacheco dos SANTOS
Red Iberoamericana de Medio Ambiente (REIMA)
pachecoreinaldo6@gmail.com
Ketylen Jessica Siqueira da SILVA
Bolsista PIBIC (IF SERTÃO-PE)
ketylensiqueira@hotmail.com

RESUMO
A mineração é um dos setores básicos da economia brasileira e tem contribuído para o
desenvolvimento de cidades e de pequenos vilarejos, desde que operada com responsabilidade
socioambiental, baseando-se nos preceitos do desenvolvimento sustentável. Muito se tem questionado
acerca da responsabilidade social e ambiental da atividade mineral, emergindo indagações sobre os
impactos causados com a implantação destes empreendimentos. Sendo assim, o presente artigo objetiva
apresentar a realidade socioambiental do povoado de Quixaba, no município de Sento Sé, norte da
Bahia, com a exploração voluntária de uma jazida de ametista, bem como, apontar os principais
impactos ambientais à luz do Direito Ambiental. Ressalta-se que a referida jazida não se encontra
identificada, até então, dentro do patrimônio mineralógico brasileiro, tendo sido (re)descoberta há
pouco tempo, por pessoas da região. No entanto, a mesma localiza-se no coração do semiárido, na área
protegida denominada Parque Nacional Boqueirão da Onça, dominado por maciços e serras (com mais
de 1.200 metros) no centro e norte, e por planícies pluviais, ao sul. Tal pesquisa está fundamentada
essencialmente na Teoria Geossistêmica (Sotchava, 1977), no Método Ecodinâmico (Tricart, 1977) e,
na Teoria GTP (Bertrand; Bertrand, 2007). Sendo assim, é fundamental desenvolver medidas de
conservação e manejo sustentável dos ambientes protegidos, já que as paisagens são produtos e
registros da evolução geológica do planeta (LOPES; ARAÚJO, 2011). Portanto, é indispensável a
compreensão por parte das autoridades locais e ambientais, da urgência de um manejo adequado e
responsável das áreas exploradas pela mineração, essencialmente porque a região abriga enorme
patrimônio geológico, paleontológico, arqueológico, faunístico, florístico e paleoambiental.
Palavras chave: Mineração; Patrimônio ambiental; APA; Paleoambientes; Impactos.
ABSTRATC
Mining is one of the basic sectors of the Brazilian economy and has contributed to the development of
cities and small villages, since operated with social and environmental responsibility, based on the
precepts of sustainable development. Much has been questioned about the social and environmental
responsibility of mineral activity, raising questions about the impacts caused by the implementation of
these ventures. Thus, the present article aims to present the social and environmental reality of the
village of Quixaba, in the municipality of Sento Sé, northern Bahia, with the voluntary exploration of
an amethyst deposit, as well as to point out the main environmental impacts in light of Environmental

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Law. It should be noted that this deposit has not been identified until then within the Brazilian
mineralogical heritage, having been discovered in a short time by people of the region. However, it is
located in the heart of the semi-arid, in the protected area denominated National Park Boqueirão da
Onça, dominated by massifs and mountain ranges (more than 1,200 meters) in the center and north, and
by pluvial plains to the south. This research is essentially based on the Geosystemic Theory (Sotchava,
1977), the Ecodynamic Method (Tricart, 1977) and the GTP Theory (Bertrand, Bertrand, 2007).
Therefore, it is fundamental to develop conservation measures and sustainable management of
protected environments, since landscapes are products and records of the geological evolution of the
planet (LOPES and ARAÚJO, 2011). Therefore, it is indispensable the understanding by the local and
environmental authorities of the urgency of an adequate and responsible management of the areas
explored by the mining, mainly because the region harbors enormous geological, palaeontological,
archaeological, faunistic, floristic and paleoenvironmental patrimony.
Keywords: Mining; Environmental patrimony; APA; Paleoambientes; Impacts.

1. INTRODUÇÃO

Por suas dimensões continentais e diversidade geológica, o Brasil se constitui em um país com
enorme vocação mineral e um grande produtor de insumos básicos provenientes da mineração. A
produção mineral brasileira tem crescido nas últimas décadas, devendo-se ao fato, de significativos
investimentos realizados por empresas de prospecção mineral, aliado ao esforço realizado pelos
governos federal e estaduais na execução de extensos programas de levantamentos geológicos
sistemáticos (SILVA, 2008).
Os bens minerais se constituem em um dos grandes patrimônios não-renováveis da
geodiversidade, sendo um importante fator no desenvolvimento sustentável e na melhoria da qualidade
de vida dos brasileiros. Entretanto, a distribuição dos recursos minerais é função da tendência
metalogenética dos elementos crustais que formaram as províncias geológicas do Brasil, sendo
responsável pela grande diversidade mineral desses recursos e por sua ampla distribuição geográfica
(SILVA, 2008).
Partindo dessas premissas iniciais, ressalta-se que o presente artigo objetiva discorrer sobre a
realidade socioambiental do povoado de Quixaba, no município de Sento Sé, norte da Bahia, com a
exploração voluntária de uma jazida de ametista, apontando os principais impactos ambientais
embasada na legislação ambiental brasileira. É válido ressaltar que a referida jazida não se encontra
identificada até o presente momento, no mapa mineralógico brasileiro, tendo sido (re)descoberta
(porque sempre existiu) há pouco tempo, por garimpeiros da região.
Para discutir os objetivos elencados, fundamentar-se-á na Lei nº 7.805, de 18 de julho de 1989,
que versa sobre o regime de permissão de lavra garimpeira, no Código de Mineração e Legislação
Correlata (2011), e na Resolução do CONAMA, nº 237/97 (2012). Ademais, embasaremos as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

discussões dos resultados na Teoria Geossistêmica (SOTCHAVA, 1977), no Método Ecodinâmico


(TRICART, 1977) e, na Teoria GTP (BERTRAND; BERTRAND, 2007).
Destarte, no que tange aos impactos ambientais decorrentes da mineração, deve-se levar em
consideração que a prática da mineração organizada poderá causar menores impactos, podendo ser
monitorada e fiscalizada pelo poder público e órgãos ambientais. No entanto, se a extração mineral
ocorrer de maneira informal, sem planejamento, controle e fiscalização, se tornará uma fonte de
grandes passivos ambientais.
Portanto, este trabalho anseia refletir sobre as práticas clandestinas de extração mineral, seus
principais impactos socioambientais e, principalmente, sobre a necessidade de legalização do uso e
ocupação dos solos, para minimizar os impactos, outrora irreversíveis, causados pela extração mineral
na área em tese.

2. HISTORIOGRAFIA DOS RECURSOS MINERAIS EM SENTO-SÉ

O município de Sento Sé (figura 1A), fundado em 1832, situa-se no norte da Bahia, às margens do lago
de Sobradinho, na região do São Francisco, possuindo uma área de 12.699 km² e uma população de
41.102 (2014), distando da capital (Salvador) 689 km. Possui o clima semiárido e está localizado no
semiárido do Nordeste brasileiro, abrigando enorme patrimônio geológico, paleontológico,
arqueológico, faunístico, florístico e paleoambiental (figura 1B).

Figura 1A e B – Mapa de Senso Sé/BA e Área do Patrimônio Natural


Fonte: Kestering; Alves; Lima Filho (2013)

A historiografia de Sento Sé revela uma lenda, que foi transmitida de geração a geração, que um
―escravo boêmio costumava desaparecer da senzala, nos tempos recuados do trabalho servil. Nunca se
soube ao certo aonde ele ia, mas sempre quando retornava trazia pepitas de ouro para presentear seu

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

senhor‖ (VIEIRA, 1950, p. 137). Dizem que ao morrer levou consigo o segredo do local que visitara e
que conseguira ouro. Pelo visto atualmente, o segredo do escravo já fora revelado, ou pelo menos,
decifrado, já que a região hoje abriga migrantes de várias partes do Brasil em busca de pedras
preciosas.
A localidade de Quixaba que fica a 50 km da sede (Sento Sé) encontra-se com uma rotina diária
modificada e com o comércio superfaturando com a chegada dos garimpeiros. No alto da Serra da
Quixaba (figura 2A e B), encontra-se o garimpo com pedras preciosas que foi descoberto por acaso, e
já conta com mais de 8.000 (oito mil) pessoas explorando-o (figura 2C). Como as pedras preciosas
estão em local de difícil acesso (figura 2D), contribui ainda mais para os riscos de acidentes, já que os
garimpeiros não utilizam nenhum Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), e nem há fiscalização
no local.

Figuras 2 A, B C e D – Vista Geral do Garimpo


Fonte: Site G1.com (2017)

O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) já fez visita ao garimpo e já elencou


as providencias necessárias para legalização do garimpo que hoje ainda é clandestino. De acordo com a
Lei n. 7.805/89, Art. 3º ―a outorga da permissão de lavra garimpeira depende de prévio licenciamento
ambiental concedido pelo órgão ambiental competente‖. Desse modo, a partir do momento que a Poder
Público de Sento Sé atender a todas as solicitações do DNPM, os garimpeiros precisarão se organizar
em cooperativa, devidamente registrados e pagando os impostos obrigatórios ao Governo Federal, já

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 349


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

que toda riqueza que encontra-se no subsolo é de domínio da União, pois, ―a permissão de lavra
garimpeira deverá outorgada pelo Diretor-Geral do Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM), que regulará, mediante portaria, o respectivo procedimento para habilitação‖ (Art. 4º da Lei
7.805/89).

3. A MINERAÇÃO À LUZ DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO

De acordo com o Art. 14 do Código de Mineração de 1969, entende-se por pesquisa mineral a
execução dos trabalhos necessários à definição da jazida, sua avaliação e a determinação da
exequibilidade do seu aproveitamento econômico (Código de Mineração e Legislação Correlata (2011).
Tal atividade pode gerar graves problemas ambientais e de saúde para os empregados. No Brasil, os
recursos minerais têm balizamento jurídico, fazem parte do subsolo e têm um regime legal totalmente
distinto da propriedade privada do solo. A Constituição do Brasil de 1988 estabelece que os bens
minerais são da União e, portanto, só podem ser pesquisados e explorados por empresas por meio de
ato jurídico individualizado e específico para cada uma, a obtenção de Título Minerário, uma concessão
da União outorgada pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), em nome do governo
federal.
Desse modo, o Código de Mineração (1967), retira a preferência do proprietário do solo na
exploração mineral. Ademais, a Constituição brasileira (1988) exige uma Licença Ambiental (LA),
obrigando a empresa a realizar Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para poder vir a operar
posteriormente. O Art. 225, inciso IV, corrobora, reafirmando que é necessário exigir, na forma da lei,
o EIA, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente.
Embora não exista ainda evidência sistemática para todo o extenso território brasileiro, a
percepção de Scliar (2004) sobre a mineração, no texto sobre a Agenda 21 do Setor Mineral, não é nada
positiva:
A mineração é frequentemente citada como atividade agressora do meio ambiente, que não
pode contribuir para o desenvolvimento sustentável das regiões onde se localiza. Essa visão
retrata a reação ao aproveitamento destrutivo dos recursos ambientais pela sociedade moderna
que degradou e poluiu em nome do progresso (p. 28).

Infelizmente, os recursos naturais são finitos, e após o encerramento da atividade mineradora,


restam os impactos ambientais e a degradação no solo, expostos a céu aberto, sem nenhuma
responsabilização no processo de remediação e restauração da área degradada. De acordo com a Lei
7.805/89 em seu Art. 11, o DNPM estabelecerá as áreas de garimpagem, levando em consideração a
ocorrência de bem mineral garimpável, o interesse do setor mineral e as razões de ordem social e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ambiental. Estabelece ainda que nas áreas de garimpagem, os trabalhos deverão ser realizados
preferencialmente em forma associativa, por meio de cooperativas (Art. 12), sendo que as áreas de
garimpagem ficam condicionadas à Licença Prévia do órgão ambiental competente (Art. 13).
No que diz respeito a gestão ambiental na mineração, como para todos os demais
empreendimentos, as principais tendências tecnológicas apontam na direção de que as empresas que
gerenciam a mineração, tenham sistemas de gestão ambiental formais e certificados, ao menos segundo
a ISO 14.000. Em alguns casos, procura-se também a certificação dos mesmos sistemas perante outras
normas, como é o caso da britânica BS 7750, ou normas da União Européia.
Uma tendência atual é que os sistemas de gestão ambiental sejam integrados a sistemas de
gestão de segurança, higiene e saúde ocupacional, e que inclusive as áreas responsáveis por esta gestão
também sejam integradas numa única responsabilidade. As grandes empresas de mineração já se
encontram nesta condição, ou estão se adaptando a ela. No entanto, a grande maioria das pequenas e
médias empresas ainda estão alheias a este processo, sem contar que alguns garimpos, ainda nem
contam com uma empresa administrando, sendo seu funcionamento totalmente clandestino e sem
nenhuma fiscalização e/ou certificação, como é o caso da mineração da Serra da Quixaba/Sento Sé/BA.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Localização da área da pesquisa

O garimpo de Serra da Quixaba, norte da Bahia, fica localizado no Parque Nacional de


Boqueirão das Onças (figura 3), local que daria proteção integral a cerca de 900 mil hectares no
coração da Caatinga. O parque no Boqueirão da Onça não saiu do papel, mas, fica em uma região de
difícil acesso, com terra pouco valorizada, poucas estradas, sem pavimentação asfáltica e pouco
povoada, com três habitantes por mil quilômetros quadrados.

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Figura 3 – Parque Nacional (Proposta)


Fonte: SEA (2012)

Esta região do sertão nordestino não falta água e é possível se transformar numa grande reserva
ambiental. Boqueirão da Onça é um refúgio para vários animais e preserva espécies de plantas raras,
além de ter inúmeras formações rochosas e uma imensidão de 800 mil hectares de mata nativa. Os raros
povoados que existem são rústicos, com calçamento e paredes de pedras, ruas estreitas e pequenas
casas. Os moradores vivem da exploração de ametistas, que são encontradas nos garimpos artesanais.
Muitas terras desabitadas sendo um ambiente ideal para proteger a fauna/flora da região.
O clima é semiárido, mas totalmente agradável, por conta da altitude. A mais de mil metros de
altitude faz frio, numa região predominantemente quente e seca. O Boqueirão da Onça tem uma das
maiores áreas de caatinga conservada do planeta. É possível encontrar espécies endêmicas, originárias
da região, além de desfiladeiros, que apesar da beleza, inspiram solidão. Um laboratório a céu aberto,
onde se pode estudar/pesquisar. São pontos isolados, longe de tudo, sem atividades de turismo e local
preferido do Ibama para soltar os animais apreendidos em cativeiro.

4.2 Métodos

Para o estudo em tese, procurou-se fundamentar essencialmente nas seguintes teorias/teóricos:

a) Teoria Geossistêmica (SOTCHAVA, 1977), que de acordo com a concepção de Monteiro (2001),
visa, a priori, à integração por uma etapa de análise das variáveis naturais e antrópicas, juntamente
com a segunda etapa, de integração, em que se fundem os recursos, os usos e os problemas, que são
configurados na etapa de síntese em unidades homogêneas, que conduz assim, para a etapa
conclusiva de aplicação, no qual se esclarece a real qualidade do meio ambiente, resultando em
uma análise tempo-espacial integrado das inter-relações sociedade e ambiente na construção da
paisagem;
b) Método Ecodinâmico (TRICART, 1977), que afirma que ―uma unidade ecodinâmica se caracteriza
por certa dinâmica do meio ambiente que tem repercussões mais ou menos imperativas sobre as
biocenoses‖ (p. 32). Dentro do estudo da ecodinâmica proposto por Tricart, este categoriza as
unidades ecodinâmicas em três, a saber: meios estáveis, meios intergrades e meios fortemente
instáveis;
c) Teoria GTP (BERTRAND; BERTRAND, 2007), visando reaproximar estes três conceitos para
analisar como funciona um determinado espaço geográfico em sua totalidade. Sendo assim,
essencialmente, se trata de compreender as interações entre elementos constitutivos diferentes para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

analisar a dialética existente entre a paisagem, o território e o geossistema. A visualização das


relações entre os elementos da paisagem, devem levar o pesquisador a compreender a dinâmica da
área estudada, e como ela dialogar com as áreas do seu entorno.

Além dos pressupostos metodológicos descritos, o trabalho está fundamentado na Lei nº 7.805,
de 18 de julho de 1989, que versa sobre o regime de permissão de lavra garimpeira, no Código de
Mineração e Legislação Correlata (2011), e nas Resoluções do CONAMA (2012).

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5. 1 Os impactos causados pela extração da mineração informal

5.1.1 Impactos socioeconômicos

O crescimento impulsiona a criação de novas ideias, surgindo à necessidade de criar novos


produtos e melhorar os existentes, dando ênfase ao padrão de vida da população, como ao econômico, e
para que isso aconteça, o capital humano é essencial para pensamentos inovadores e para manejar a
tecnologia com os conhecimentos. Entretanto, não devemos confundir crescimento com
desenvolvimento. Nem sempre que há crescimento, há desenvolvimento.
O garimpo de Serra da Quixaba tem provocando crescimento populacional descontrolado
(figura 4) no referido distrito, de forma que, oportunizou para muitos a possibilidade de obter lucros
volumosos, e para outros, o sonho de se tornar milionário. Contudo, com as condições precárias no
local (figura 5), com a vida diária improvisada, em meio ao topo da serra, com subidas e descidas
íngremes, existem muitos garimpeiros e pessoas que para lá se mudaram, que estão perecendo com as
amplitudes térmicas diárias no local (um calor que chega a até 38ºC dia, e um frio que pode chegar a
20ºC noite). Além da falta de higiene, segurança e privacidade.

Figuras 4 e 5 – Situação in loco

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Fonte: Site G1.com (2017)

Quem de fato obtém lucros volumosos são os comprados internacionais (chineses e indianos)
que compram as pedras e exportam para obter maiores ganhos. Além deles, os atravessadores, que
comercializam as pedras com os estrangeiros. Ademais, os trabalhadores, que atuam com a força
braçal, apenas adquirem valores tímidos com as vendas, se comparados com a dureza da lida.

5.1.2 Impactos ambientais

Os impactos ambientais na área do garimpo da Serra da Quixaba, são incontáveis. Vão desde a
devastação do bioma caatinga com o desmatamento (figura 6A) e abertura de estradas para chegar ao
topo da serra (figura 6B), até a escavação dos solos de forma desregrada, causando poeira, fuligem,
deslizamentos, soterramentos e até mortes.

Figuras 4 e 5 – Situação in loco


Fonte: Site G1.com (2017)
De acordo com o Art. 1º da Resolução 001 do Conama, constitui-se impacto ambiental:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada
por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades
sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V
- a qualidade dos recursos ambientais.

Assim sendo, a mineração e, por conseguinte a garimpagem, constituem-se em elementos


gerados de impactos incalculáveis, tendo em vista que a fauna e a flora do local sofrem graves
consequências. No Brasil, os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em
quatro categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, e subsidência do terreno. Na área
estudada, a flora está sendo degradada para dar acesso ao garimpo, para constituir-se parte do garimpo
(construção de escadas, grades de apoio para a entrada no corte, apoio para a descida dos trabalhadores,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

forquilhas e suportes para as barracas, etc.). A fauna sendo desequilibrada, pela evasão dos animais,
insetos e aves do seu habitat, por conta do barulho e movimentação diária de carros e pessoas no local.

5.1.3 A responsabilização do poder público e as formas de remediação

5.1.3.1 Da responsabilização

De acordo com o Decreto n o 97.632/69, os empreendimentos de mineração estão obrigados,


quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA), a submeter também o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) à aprovação do
órgão estadual de meio ambiente competente. Os Estados e Municípios têm poder constitucional para
legislar sobre mineração e meio ambiente. Além destes, o Ministério Público Federal e Estadual
também fiscalizam, emitem normas e diretrizes, sendo a maioria delas conflitantes entre si (FARIAS,
2002). A seguir está o quadro (figura 7) das atribuições governamentais relacionadas a proteção
ambiental e planejamento da mineração.

Figura 7 – Quadro sintético de atribuições governamentais


Fonte: Sintoni (1994)

Os impactos provocados pela mineração, agregado à concorrência pelo uso e ocupação do solo,
ocasionam conflitos socioambientais pela ausência de regulamento de intervenção, que adimitam a
pluralidade dos interesses envolvidos. A elucidação dos conflitos provenientes da atividade
mineradora, essencialmente em Áreas de Preservação Permanentes (APPs) ou em Unidades de
Conservação (UCs), exige uma coordenação dos poderes públicos que atuam na localidade, em
consonância com a sociedade civil e com empresas do ramo, de modo que sejam implantadas normas e
procedimentos com critérios claros e coesos, valorizando os princípios do desenvolvimento sustentável.
É crucial que as áreas agredidas pela implementação da mineração sejam recuperadas,
cumprindo o que diz a Art. 225, § 2º da Constituição (1988) que impõe àquele que explorar recursos
minerais a responsabilidade de recuperação dos danos ambientais causados pela respectiva atividade,

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consistindo na obrigação de recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica
exigida pelo órgão público competente, na forma de lei.
Mediante tal premissa, fica a indagação: na Serra da Quixaba, ainda não há sequer, autorização
de funcionamento da mineração. Será que os garimpeiros não abandonarão a região antes mesmo da
legalização de funcionamento, já que a partir disso, vários impostos serão cobrados? É função do
DNPM, e principalmente do Poder Público municipal, acompanhar todos os processos, desde o
EIA/RIMA, PRAD e Licença Prévia e, de Operação, visando evitar o abandono da mina pelos
garimpeiros, sem nenhuma responsabilização ambiental.

5.1.3.2 Da Remediação

Por conta de suas dimensões continentais e diversificada geologia, o Brasil se constitui em um


país com enorme vocação mineral e um grande produtor de insumos básicos provenientes da
mineração. Atualmente, figura no cenário internacional ao lado de países com tradicional vocação
mineira, tais como Canadá, Austrália, África do Sul e Estados Unidos. A figura 8A traz o mapa da
atividade mineradora do Brasil, onde observa-se a distribuição destas por quase todas as regiões
geoeconômicas, e a figura 8B demonstra as áreas de mineração dentro de áreas protegidas.

Figuras 8 e B – Mapas de Áreas de Mineração


Fonte: Farias (2002)

Nesse sentido, a distribuição dos recursos minerais é função da vocação metalogenética dos
elementos crustais que formam as províncias geológicas do Brasil, sendo responsável pela grande
diversidade mineral desses recursos e por sua ampla distribuição geográfica. Contudo, em relação aos
impactos ambientais decorrentes da mineração, Farias (2001, p. 106) discorre que ―a mineração
organizada causa menos impactos nocivos e é muito mais facilmente controlada pelo poder público‖.
Outrossim, o ―extrativismo mineral realizado de maneira informal, sem planejamento e controle,

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constitui-se em fonte de grandes passivos ambientais‖. Segundo este autor, o controle é muito
problemático, sobretudo porque envolve parcelas da população que, privadas dessa fonte de sustento,
veem-se marginalizadas e excluídas de qualquer fonte de renda. Destarte, Tricart (1977) categoriza os
ambientes como meios: estáveis (áreas que ainda estão conservadas), intergrades (áreas que se
encontram em situação de transição entre a estável e instável) e, fortemente instáveis (áreas com alto
teor de degradação ambiental), sendo possível traçar esta categorização na área do garimpo de Serra da
Quixaba, conforme figuras 9A, B e C.

Figuras 9A, B e C – Categorização da Área segundo a Teoria de Tricart


Fonte: Autores (2017)

Por fim, é relevante pontuar propostas de conservação no geossistema dunar, embasadas nas
características da ecorregião, já que esta, se encontra inserida numa protegida, onde seria o Parque
Nacional Boqueirão da Onça. Nessa convicção, sugere-se a criação de três planos estratégicos (figura
10), para os três ambientes e, de acordo com a Teoria GTP.

Figura 10 – Planos Estratégicos


Fonte: Autores (2017)

Cada plano sugerido, possui sua aplicabilidade de acordo com a impactação da área. O Plano de
Manejo e Conservação Ambiental é aplicável em áreas ainda estáveis, visando a conservação por se
tratar de um ambiente frágil e vulnerável por condições climatobotânicas e socioeconômicas. O Plano

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de Controle e Conservação Ambiental deverá ser aplicado em áreas que se encontram em transição do
aspecto estável para o meio intergrades. E o Plano de Revitalização e Conservação Ambiental é o que
busca estratégias de revitalização/reflorestamento com espécies nativas do bioma caatinga, nas áreas
tidas como fortemente instáveis e, a partir dos resultados se traçaria um controle de conservação,
analisando a capacidade de resiliências dos respectivos ambientes (PACHECO, 2014).
Ressalta-se que as propostas sugeridas deverão ser aplicadas pelo Poder Público do Município
de Sento Sé, em parceria com DNPM, com o Governo do Estado e, com os munícipes e distritos
vizinhos afetados pelos impactos da mineração.
De acordo com a Resolução do CONAMA, n. 428 de 17 de dezembro de 2010, em seu Art. 1º
que o licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental que possam afetar
Unidade de Conservação (UC) específica ou sua Zona de Amortecimento (ZA), assim considerados
pelo órgão ambiental licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser concedido após autorização do órgão
responsável pela administração da UC ou, no caso das Reservas Particulares de Patrimônio Natural
(RPPN), pelo órgão responsável pela sua criação.
Portanto, qualquer atividade potencialmente impactante nesse geossistema, deverá vir acompanhada, de
um Estudo de Impacto Ambiental e, seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental, visando dirimir
todo e qualquer impacto irreversível que venha a provocar maiores desequilíbrios neste território.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo buscou discutir a exploração mineral e os impactos ambientais na Serra da
Quixaba, norte da Bahia, trazendo a historiografia dos recursos naturais de Sento Sé, especialmente, os
recursos minerais. Também se discutiu as questões ambientais a partir da óptica legislacional, já que o
referido empreendimento se encontra numa área com proposta de implantação de um Parque Nacional
denominado Boqueirão da Onça. É impossível se debater impactos ambientais de forma isolada, sem
atrelá-lo aos impactos sociais e econômicos. Desse modo, traçou-se o perfil real da região nos dias
atuais com a chegada da mineração, bem como, apontou-se a necessidade de responsabilização do
poder público, da necessidade de recuperação das áreas degradadas, sugerindo propostas e planos de
remediação da área da mineração. Portanto, espera-se que este artigo possa contribuir com a temática
ambiental, essencialmente voltada as questões legais de amparo ao meio ambiente na remediação de
degradação por prática de garimpagem.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BERTRAND, G.; BERTRAND C. Uma Geografia Transversal e de Travessias: o meio ambiente


através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Mossoni, 2007.
BRASIL. Código de mineração (1967). Código de mineração: e legislação correlata. 2. ed. – Brasília:
Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2011.
BRASIL. Lei n. 7.805 de 18 de julho de 1989. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1989/lei-7805-18-julho-1989-366155-norma-pl.html.
Acesso em: 18 de jun. 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2016. 496p. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf?sequenc
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BRASIL. Decreto n. 97.632 de 10 de abril de 1969. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1989/decreto-97632-10-abril-1989-448270-norma-
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CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (BRASIL). RESOLUÇÕES DO CONAMA:
Resoluções vigentes publicadas entre setembro de 1984 e janeiro de 2012. Ministério do Meio
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FARIAS, C. E. G. Relatório Preparado para o CGEE/PNUD. S/L, 2002, 40p.
KESTERING, C.; ALVES, R. de C.; LIMA FILHO, S. L. de. Boqueirão Do Riacho das Traíras, Sento
Sé – BA: Subtradição Sobradinho. Rupestreweb, 2013. Disponível em:
http://www.rupestreweb.info/trairas.html. Acesso em: 20 jun. 2016.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Manual de Normas e Procedimentos para Licenciamento
Ambiental no Setor de Extração Mineral. Brasília: Brandt Meio Ambiente, 2011.
MONTEIRO, C. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2001.
PACHECO, C. S. G. R. Ecodinâmica da Paisagem Paleodunar do Médio Rio São Francisco/BA: em
defesa das fronteiras agredidas. Dissertação de Mestrado. Instituto de Tecnologia de Pernambuco
(ITEP). Recife/PE, 2014,153p.
SOCIEDADE ESPELEOLÓGICA AZIMUTE (SEA). Proposta do Parque Nacional de Boqueirão da
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SCLIAR, C. Agenda 21 e o setor mineral. Cadernos de Debate: Brasília, DF, 2004. Disponível em:
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SINTONI, A. A mineração no cenário do município de São Paulo: mercado e novas tecnologias. In: I
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SOTCHAVA, V. B. O estudo de geossistemas. São Paulo: Instituto de Geografia USP: 1977, 51 p.
(Métodos em Questão, 16).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 359


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 91p, 1977.
VIEIRA, R. L. Sento Sé: rico e ignoto. Bahia, Imprensa Oficial, s/d.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 360


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O PALEODESERTO DE XIQUE-XIQUE-BAHIA: ABORDAGENS TEÓRICAS E


ASPECTOS PEDOLÓGICOS

Wesley de Lima FRANCO


Graduando em Geografia da Universidade do Estado de Mato Grosso - Campus de Cáceres-MT
Geografia.wesley@gmail.com
Ivamauro Ailton de Sousa SILVA20
Doutorando em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
ivamauro@hotmail.com
Fernanda Viera XAVIER21
Professora adjunta da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/Cáceres-MT
ferx.unesp@gmail.com

RESUMO
Na região de Xique-Xique, no noroeste do Estado da Bahia, ocorre um tipo de degradação dos solos
que, configura-se como uma erosão geológica formada durante o Quaternário, período em que ocorreu
um intenso processo de sedimentação e decomposição. O proposito do trabalho é discutir o processo de
formação das paleodunas, além de apresentar um panorama teórico, que abordou de o conceito, fatores
e características do ―paleodeserto‖ de Xique-Xique. O trabalho também almeja fornecer informações
pedológicas sobre esse processo, que ainda é pouco estudado pela comunidade acadêmica. A pesquisa
foi realizada em três etapas distintas e complementares: no primeiro momento, procedeu-se verificação
bibliográfica sobre o tema, extraindo os conceitos norteadores; no segundo momento levantaram-se
dados geoambientias sobre a área investigada, envolvendo a estrutura litopedológica, feições
geomorfológicas, aspectos climáticos e os usos do solo e também importantes materiais cartográficos
(mapa de localização, ilustrações e imagens de satélite). Os resultados da pesquisa enfatizam as
seguintes investigações: a) o paleodeserto representa um sítio testemunho de evoluções
geomorfológicas e geológicas locais; b) a gênese está atribuída em grande às alternâncias
paleoclimáticas; c) os neossolos quartazarênicos são de baixa aptidão agrícola e o uso contínuo de
culturas agrícolas anuais pode levá-los rapidamente à degradação; d) a erosão eólica predomina na
mobilização do material, emprestando à paisagem fisionomia semelhante à de desertos, situação que
atualmente compromete fortemente a economia e meio ambiente.
Palavras-chave: Abordagens teóricas; Paleodeserto; Xique-Xique; Solos
ABSTRACT
In the Xique-Xique region, in the northwestern part of the State of Bahia, a type of soil degradation
occurs as a geological erosion formed during the Quaternary, during which there was an intense
sedimentation and decomposition process. The purpose of the paper is to discuss the formation process
of the paleodunas, besides presenting a theoretical panorama, which approached the concept, factors
and characteristics of the "paleodeserto" of Xique-Xique. The work also aims to provide pedological
information about this process, which is still little studied by the academic community. The research

20
Professor assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/Cáceres-MT
21
Doutora em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista – UNESP-Rio Claro

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

was carried out in three distinct and complementary stages: in the first moment, a bibliographic
verification was done on the subject, extracting the guiding concepts; In the second moment
geoenvironmental data about the area investigated, involving the litopedological structure,
geomorphological features, climatic aspects and land uses, as well as important cartographic materials
(map of location, illustrations and satellite images). The results of the research emphasize the following
investigations: a) paleodeserto represents a site testimony of local geomorphological and geological
evolutions; B) the genesis is attributed in large to the paleoclimatic alternations; C) the Quatrozarênicos
neosols are of low agricultural aptitude and the continuous use of annual agricultural crops can lead
them quickly to the degradation; D) wind erosion predominates in the mobilization of the material,
lending to the landscape physiognomy similar to that of deserts, a situation that currently strongly
affects the economy and the environment.
Key-words: Theoretical approaches; Paleodesert ; Xique-Xique-BA ; Soils

INTRODUÇÃO
O tema abordado nesse trabalho, faz uma análise das paleodunas de Xique-Xique a partir das
contribuições teóricas desenvolvidos por Ab‘Sáber (2006) e discute também as características
pedológicas da área de ocorrência deste processo.
A área foi denominada por Williams (1925) de um "pequeno Saara ao longo do São Francisco".
Segundo este autor, as areias hoje estabilizadas pela vegetação teriam sido supridas pelo Rio São
Francisco, durante as estiagens, sendo a seguir transportadas pelo vento.
As paleodunas são grandes campos de dunas quaternárias fixas, que documentaram a ocorrência
de mudanças no clima e processos eólicos de um passado relativamente recente (AB‘SÁBER, 2006).
Esse processo se localiza em três municípios: Xique-Xique, Barra e Pilão Arcado, região sertaneja
situada às margens do Rio São Francisco, no estado da Bahia.
A área do campo de dunas inativas, representa um sítio muito importante para área ambiental e
serve como testemunho de evoluções geomorfológicas e geológicas locais, em grande parte atribuível
às alternâncias paleoclimáticas do nordeste brasileiro durante o quaternário (AB‘SÁBER, 2006).
Ab‘Sáber (2006) afirma, que esse campo de dunas localizado no Sertão Baiano, se constitui o
maior campo de areia em qualquer parte do território brasileiro, e trata-se de uma área de grande
erodibilidade dos solos quando são impactados pela dinâmica natural (erosão eólica e erosividade da
chuva).
Segundo Ab‘Sáber (2006), a região apresenta elevada suscetibilidade à erosão dos sedimentos
essencialmente arenosos. A ocupação humana da área, por exemplo, conduziria à completa
desfiguração geomorfológica das dunas, causando reflexos irreversíveis na hidrologia e na
biodiversidades faunística e florística do domínio da Caatinga. Nesse sentido, não há dúvida que o
adensamento da ocupação local acentuaria os processos geológicos das paleodunas de Xique-Xique.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Do ponto de vista geomorfológico, se localiza na depressão periférica do médio Rio São


Francisco, região em que as características do clima semiárido modificaram e alteraram as formações
rochosas, influenciando na ocorrência de solos arenosos.
Conforme os fundamentos cronológicos elaborados por Ab‘Sáber, é possível perceber a
ocorrência de variações climáticas durante a formação geológica das paleodunas:

No fim do Pleistoceno e início do Holoceno, as condições de clima mais frio e úmido que o
atual permitiram a expansão de floresta pluvial de galeria (mata ciliar) nas planícies fluviais.
Embora menos conspícua na paisagem entre 11.000 e 8.900 anos AP, a vegetação de caatinga
sempre esteve presente, cuja participação aumentou após 4.240 anos AP. O retrabalhamento de
dunas nos últimos 30.000 anos parece ter sido mais intenso no Holoceno que no Pleistoceno
tardio e, além disso, a grande espessura de areias eólicas sugere que eventos semelhantes
remontem ao início do Quaternário ou, até mesmo, ao Terciário tardio na área em questão
(AB‘SABER, 2006)

A partir do levantamento teórico, foi possível perceber que, ainda existem poucos artigos
científicos sobre as paleodunas de Xique-Xique. Nesse sentido, considerou ser relevante desenvolver
esse trabalho, almejando ampliar a discussão sobre o tema e apresentar contribuições relacionadas ao
deciframento morfogenético e os aspectos pedológicos.
Para Ab‘Sáber (2006) é importante desenvolver pesquisas mais aprofundadas sobre esse
paleodeserto, uma vez que, essas dunas se localizam em áreas com fragilidade ambiental, situada às
margens do Rio São Francisco, ou seja, é necessário ter um olhar muito cuidadoso em relação esse
processo natural.
Em sua essência, o presente trabalho tem como objetivo principal: analisar os fatores de
formação das paleodunas em Xique-Xique, buscando fornecer informações referentes aos solos e as
dinâmicas que ocorrem na área de estudo. De forma complementar, a titulo de objetivos específicos,
pretende-se: I. Realizar uma revisão teórica sobre as paleodunas; II. Enfatizar as características
pedológicas; III. Identificar os fatores que influenciam na formação do solo e consequentemente na
gênese e expansão das paleodunas;

METODOLOGIA
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa fundamentou-se na análise de
materiais bibliográficos (artigos científicos, revistas eletrônicas e sites). Para o desenvolvimento desse
trabalho, utilizou-se com fontes elementares como: a) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Meteorologia.
Os procedimentos e mecanismos utilizados durante a elaboração do trabalho corresponderam
aos seguintes fundamentos operacionais adotados em diferentes etapas, descritos a seguir: I) Definição

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

do tema; II. Delimitação da área de estudo; III. Definição dos objetivos; IV. Revisão bibliográfica; V.
Caracterização da área; VI. Elaboração de gráficos de pluviosidade (climogramas). VII. Compilação e
análise de mapas temáticos, e ainda imagens orbitais (satélite);

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O campo de dunas inativas situa-se a Noroeste do estado da Bahia, ao sul do Polígono das
Secas, ocupa parte dos municípios de Barra, Pilão Arcado e Xique-Xique com uma extensão de
aproximadamente 6.700 km2 (AB‘SÁBER, 2006). Esse reduto ecológico, se localiza entre dois
ambientes: Serra do Estreito, na porção noroeste e norte da cidade de Xique-Xique e as margens do Rio
São Francisco também é possível identificá-las (Figura 1).

.
Figura 1 – Mapa de localização regional das paleodunas
Elaboração autores, 2017

ASPECTOS GEOLÓGICOS: O DOMÍNIO DOS SEDIMENTOS CENOZOICOS EÓLICOS

Esse domínio foi subdividido por Ab‘Sáber (2006) em dunas móveis e fixas e engloba os
depósitos: eólicos costeiros, fluviomarinhos eólicos e eólicos continentais. Os dois primeiros depósitos

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são constituídos de areia, argila, sedimento eólico e silte, enquanto aqueles pertencentes ao último tipo
são essencialmente arenosos.

ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS
A área investigada está situada na depressão periférica do médio Rio São Francisco, com
altitudes variáveis entre 400 e 800 metros (IBGE, 1977). As feições relacionadas à sedimentação eólica
foram analisadas quanto às características sedimentológicas e morfológicas, modificações pós-
deposicionais e padrões pretéritos de paleoventos (BARRETO e SUGUIO, 1999).
Além desses aspectos, a área possui características singulares e diversificadas. Observou-se por
meio das imagens orbitais e fotografias, que junto às dunas do São Francisco, existem enormes bancos
de areias, que vão se ampliando durante o curso do rio, remodelando a paisagem com feições de relevo
fortemente onduladas, leques de areia de erosão pluvial e vegetação de caatinga arbustiva
(AB‘SABER, 2006).
Segundo Campos (2015), conceitualmente de um modo geral, as dunas são unidades
geomorfológicas de constituição predominantemente arenosa, com aparência de cômoro ou colina,
produzida pela ação dos ventos, situadas na costa ou interior dos continentes, podendo ser vegetada ou
não. Formam-se onde há disponibilidade, para grande suprimento de sedimentos arenosos de
granulação fina, ventos frequentes capazes de movimentá-los e locais adequados à acumulação.

ASPECTOS PEDOLÓGICOS: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS NEOSSOLOS


Os neossolos são considerados é um tipo de solo constituído por material mineral ou por
material orgânico pouco espesso, também conhecido como areias quartzosas com insuficiência de
manifestação dos atributos diagnósticos que caracterizam os diversos processos de formação dos solos,
seja em razão de maior resistência do material de origem ou dos demais fatores de formação (clima,
relevo ou tempo) que podem impedir ou limitar a evolução dos solos (EMBRAPA, 1999).
Além dessas características, os neossolos podem apresentar alta (eutróficos) ou baixa
(distróficos) saturação por bases, acidez e altos teores de alumínio e de sódio. Variam de solos rasos até
profundos e de baixa a alta permeabilidade, são solos não hidromórficos, arenosos, desde de ácidos até
alcalinos e excessivamente drenados (EMBRAPA, 2007). A principal caraterística desse solo é
apresentar textura arenosa em todo seu perfil, no horizonte A e no horizonte C (Figura 2).

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Figura 2 – Perfil do Neossolo


Fonte: EMBRAPA, 1997.

Esse tipo de solo não apresenta horizonte B, porque o mínimo de argila mais silte para o
horizonte B é de 16%. Existe uma semelhança morfologicamente parecido com o latossolo vermelho
amarelo, são constituídos, essencialmente, de grãos de quartzo resistentes ao intemperismo, e, por
conseguinte, praticamente destituídos de minerais primários.

CONFIGURAÇÕES CLIMÁTICAS E COBERTURA VEGETAL


A área territorial de Xique-Xique, Barros e Pilão Arcado, embora seja bastante expressiva, não
é suficientemente grande ou particularmente diferenciada, para compor uma dinâmica climática
própria, estando inserida no jogo das variações climáticas regionais e continentais. Os sistemas de
circulação atmosférica responsáveis pela gênese e regime de chuvas na região, estão associados à
Massa Equatorial Atlântica (mEa) e Tropical Atlântica (mTa) no inverno e a Massa Equatorial
Continental (mEc) atua durante o verão.
Regionalmente, o clima da área pesquisada apresenta características do tipo tropical semiárido.
Diante dessas características, o clima na região enquadra-se na classificação de Köppen-Geiger (1928)
do tipo Bsh (semiárido quente com 7 a 8 meses de seca). A pluviosidade média anual situa-se entre 600
mm a 650 mm (INMET, 2017), sua distribuição ocorre principalmente entre outubro a março.
Para Ab‘Saber (2006), a área em estudo é caracterizada pela predominância absoluta do
domínio florístico da Caatinga. Segundo Barreto et. al. (1999), nas áreas de ocorrência da caatinga,
esse domínio pode ser subdividido em hipoxerófila (arbustiva) e hipoxerófila (arbórea). A primeira
desenvolve-se preferencialmente, nas proximidades do Rio São Francisco, com densidade variável e
aspecto rasteiro e aberto.

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Os registros paleoclimáticos, revelam características climáticas distintas na região atual ocupada


pela caatinga durante a transição do período Pleistoceno/Holoceno. O clima era o tropical úmido e com
vegetação extremamente diferenciada da caatinga atual (OLIVEIRA et al., 2014, p.503).
Conforme Silva (2011), as oscilações climáticas fizeram com que a vegetação fosse modificada,
adquirindo aspectos de cerrado, sendo assim ocorreu um regresso na vegetação de caatinga, limitando-
se apenas as regiões nordestinas onde predomina o semiárido, já delimitadas neste trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ab‘Saber (2006) afirma que, o clima e o tempo pode ser um dos fatores mais importantes na
formação das paleodunas. Essa influência está pautada devido às condições físicas do ambiente, que
são vulneráveis ao ritmo e regime pluviométrico, fatores que contribuem para que a modificação
(geológica) da paisagem. As condições climáticas da região proporcionam uma variedade de plantas
endêmicas, tais como plantas rasteiras e muitos arbustos de características do domínio morfoclimático
da Caatinga.
Assim, na paisagem regional, os condicionantes e as energias atuantes na formação das dunas
presentes no Rio São Francisco e Serra do Estreito derivam das condições climáticas (temperatura
elevada, chuvas irregulares e ventos constantes) e o retrabalhamento dos depósitos sedimentares em
áreas com solos arenosos (neossolo quartazarênico), provocando a ruptura dos agregados e a liberação
das partículas mais leves de solo, que se mantêm suspensas e propícias a mobilização eólica, o que
resulta na formação de enormes bancos de dunas (Figura 3), sobretudo próximo a Serra do Estreito
(Figura 4), que serve como ―barreira natural‖, para impedir o avanço das paleodunas.

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A Caatinga
Arbustiva

Paleodunas

Figura 3 – Paleodunas na paisagem de Xique-Xique


Fonte: Panoramio, 2017
B Rio São
Francisco

Paleoduna
s

Serra do

Estreito
Cidade de
Xique-Xique

Figura 4 - Localização geográfica e ocorrência das Paleodunas


Fonte: Google Earth, 2017

MATERIAL DE ORIGEM Alteração de rochas areníticas e quartizíticas


RELEVO Plano e Suane
TEXTURA Média Arenosa
ESPESSURA 40 cm
CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA Baixo

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PERMEABILIDADE Alta
ERODIBILIDADE Alta
Elevado teor de Areia
CONSTITUIÇÃO (ESTRUTURA)
Baixa quantidade de argila/matéria orgânica
Elevada
POROSIDADE
Poros muito grandes e médios
PRINCIPAIS RISCOS Processos erosivos (ravinas) e lixiviação
APTIDÃO AGRÍCOLA Baixa
Além desses aspectos paleoclimáticos e ecológicos, é importante enfatizar neste trabalho, as
características dos neossolos quartazarênicos, sendo a classe predominante em Xique-Xique, Barra e
Pilão Arcado (Quadro 1).
Quadro 1 – Aspectos pedológicos dos neossolos quartzarênicos
Elaboração: Autores, 2017 Fonte: EMBRAPA, 1999

Figura 3- Distribuição de neossolos quartzarênicos no território brasileiro.


Fonte: EMBRAPA SOLOS, 1999.

No estado da Bahia, os neossolos quartazarênicos ocupam uma área de 54.248 km², isso
corresponde a 9,61 % da área total do estado e se concentram na região noroeste, sudoeste, ocorrendo
algumas manchas na porção nordeste e ao longo das margens fluviais do Rio São Francisco. Nos

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neossolos quartazarênicos, a estrutura dos arranjamentos das partículas primárias: areia, silte e argila
(Figura 4) em agregados apresentam-se na grande maioria em grãos simples; muitos poros médios e
grandes.

10%
7%

Areia
Silte
Argila
82%

Figura 4 – Gráfico da quantidade das partículas presentes nos Neossolos Quartazarênicos


Elaboração: Autores, 2017-Fonte: EMBRAPA, 1999

Conforme a revisão bibliográfica são considerados solos de baixa aptidão agrícola. O uso
contínuo de culturas anuais pode levá-las rapidamente à degradação. As práticas de manejo que
mantenham ou aumentem os teores de matéria orgânica podem reduzir esse problema. Culturas
perenes, plantadas em áreas de neossolos quartazarênicos, requerem manejo adequado e cuidados
intensivos no controle da erosão, da adubação (principalmente com nitrogênio e potássio) e da
irrigação, esta última, visando à economia de água.
Caso contrário, há o depauperamento da lavoura, acarretando baixas produtividades. As áreas
de Areias Quartzosas que ocorrem junto aos mananciais devem ser obrigatoriamente isoladas e
mantidas para a preservação dos recursos hídricos, da flora e da fauna. O reflorestamento de áreas
degradadas, sem finalidade comercial, é uma opção recomendável em que a regeneração da vegetação
natural é lenta, entretanto, o reflorestamento comercial é uma alternativa para as áreas mais afastadas
dos mananciais e da rede de drenagem.
Por serem muito arenosos, com baixa capacidade de agregação de partículas, condicionada
pelos baixos teores de argila e de matéria orgânica, esses solos são muito suscetíveis à erosão. Quando
ocupam as cabeceiras de drenagem, em geral, dão origem a grandes voçorocas. Os Neossolos
Quartazarênicos são aproveitáveis pela rarefeita população local para culturas de subsistência e, além
disso, as dificuldades de acesso são fatores naturais que favorecem a preservação das paleodunas do
antigo deserto de Xique-Xique (AB‘SÁBER, 2006).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Nessa perspectiva, é imprescindível que a vegetação, que protege o relevo contra a erosão e
reativação da atividade eólica hoje existente, seja protegida. Além disso, a vegetação nativa controla o
regime hidrológico e fornece alimentação e forma os nichos de refúgio e de vida para os animais
endêmicos ainda pouco estudados.
É notório que os biomas vêm se modificando mais rapidamente devido as ações antrópicas,
perdendo características de sua naturalidade. Segundo Ferreira et. al. (2016) em alguns períodos, as
mudanças foram ocasionadas por questões naturais (paleoclimáticas, geomorfológicas, pedológicas).
Nesse tipo de mudanças, os processos são mais lentos, onde é possível que a natureza encontre
alternativas para se adaptar a todas as transformações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das contribuições teóricas, verificou-se, que ao longo do tempo geológico, as oscilações
climáticas, proporcionaram mudanças significativas no bioma da Caatinga e principalmente na área
investigada.
Considerando que a dinâmica geoambiental da área de estudo ainda é pouco conhecida e
pesquisa, iniciou-se o presente trabalho com o objetivo principal de compreender a gênese e os
processos que atuam no Paleodeserto de Xique-Xique, além de oferecer informações pedológicas das
classes de solo predominante na região.
Ao investigar o tema, foi possível perceber a influencia dos elementos da natureza na formação
das paleodunas. A questão bibliográfica se torna muito limitada, porém foi possível perceber a
diversidade da temática e as potencialidades da área analisada.
A título de conclusão, a pesquisa revelou as seguintes investigações: a) o paleodeserto apresenta
grande magnitude e está situado em três municípios: Barra, Pilão Arcado e Xique-Xique; b) as feições
da paisagem (paleodunas), representam uma área, que foi testemunha de mudanças paleoclimáticas e
evoluções geomorfológicas e geológicas locais; c) a gênese está atribuída em grande às alternâncias
paleoclimáticas; d) os neossolos quartazarênicos são de baixa aptidão agrícola e o uso contínuo de
culturas agrícolas anuais pode levá-los rapidamente à degradação; e) a erosão eólica predomina na
mobilização do material, emprestando à paisagem fisionomia semelhante à de desertos, situação que
atualmente compromete fortemente a economia e meio ambiente.
É importante ressaltar, que a ciência geográfica, tem apresentado relevantes pesquisas para
compreender a dinâmica das vegetações, por meio dos paleoclimas. Esse viés, possibilita realizar
comparações do passado com o presente, e permite investigar cronologicamente as mudanças que
ocorreram em alguns biomas, propondo soluções para diminuir os impactos dessas alterações,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

favorecendo assim, a conservação e preservação dos redutos ecológicos presentes no semiárido


nordestino.

REFERÊNCIAS

AB'SABER, A. N. O paleodeserto de Xique-Xique. Estudos Avançados. São Paulo. 20 (56): 301-8,


2006.

AB‘ SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 4. ed. São


Paulo: Ateliê Editorial, 2007

BARRETO, A. M. F; SUGUIO, K.;, OLIVEIRA, P. E.; TATUMI, S. H. Campo de Dunas Inativas do


Médio Rio São Francisco, BA. CAMPOS, R. Dunas Eólicas Costeiras. SIGEP-CPRM, 1999.
Disponível em: http://www.zonacosteira.bio.ufba.br/dunaseolicas.html. Acesso em: 25/07/2017

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Manual de análises de


solo, planta e fertilizante. Brasília: Embrapa produção de informação, 1999.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos Manual de métodos de análise de solo / Centro
Nacional de Pesquisa de Solos. – 2. ed. Rev. atual. Rio de Janeiro, 2006. 212 p.

FERREIRA, E. A. A.; SILVA, I. A. S.; FERREIRA, A. J. A.; DIAS, L. P. Relação entre o bioma da
Caatinga e as mudanças climáticas: pontos para reflexão In: 7ª Jornada Científica da Unemat, 7ª.
(JC), 2016, Cáceres/MT. Anais... Cáceres/MT: PRPPG, PROEG, PROEC e PRAE, 2016. Vol. 7
(2016). ISSN ONLINE 2178-7492.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo Demográfico 2010 -


Resultados do universo. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 20 de junho de 2017.

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET. Normais climatológicas do Brasil (1961-


1990). Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/normaisclimatologicas. Acesso em: 08 de
maio de 2017.

KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes. 1928

OLIVEIRA, P. E; et al. Paleoclimas da Caatinga Brasileira Durante o Quaternário Tardio. In:


CARVALHO, I. de. S. et al. (Eds.). Paleontologia: Cenário Da Vida – Paleoclimas. Rio de Janeiro:
Interciência, 2014. Vol. 05, p.501-516.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 372


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PANORAMIO COPY PHOTOS TO GOOGLE MAPS. Disponível em: https://www.panoramio.com/.


Acesso no dia 16 de maio de 2017.

SILVA, M. L. A Dinâmica de Expansão e Retração de Cerrados e Caatingas no Período Quaternário:


Uma Análise Segundo a Perspectiva da Teoria dos Refúgios e Redutos Florestais. Revista Brasileira
de geografia Física. v.4, p.57-73. 2011.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

USO DOS RECURSOS NATURAIS E PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS NO


PERCURSO VITÓRIA DA CONQUISTA – MUCUGÊ - BA

Mineia Venturini MENEZES


Mestranda do Curso de Geografia da UESB
mineiaventurini@gmail.com
Fernanda Ramos LACERDA
Mestranda do Curso de Geografia da UESB
nandarlacerda@gmail.com
Jane Mary Lima CASTRO
Mestranda do Curso de Geografia da UESB
janecastroo@hotmail.com
Espedito Maia LIMA
Professor Adjunto do DG/UESB
espeditomaia@gmail.com

RESUMO
A relação sociedade-natureza carrega uma rede de interações, principalmente na apropriação e uso dos
recursos naturais, nos problemas, riscos e conflitos socioambientais. A produção do espaço geográfico
pode ser analisada, explicada e compreendida a partir da relação sociedade-natureza, na qual a
reprodução deve ser vista numa perspectiva de reprodução socioespacial. A análise realizada nos
municípios que compõem o trecho entre Vitória da Conquista e Mucugê teve o propósito de analisar a
forma como a natureza é apropriada no processo de desenvolvimento das diversas atividades
econômicas, como a agricultura, a mineração e o turismo, como também as derivações socioambientais
decorrentes desse processo. A metodologia consistiu no estudo de fontes bibliográficas, no
levantamento e análise de dados e informações fornecidos por órgãos públicos, levantamentos de
campo e confecção de mapa da área de estudo. Para entender a essência da relação entre apropriação e
uso dos recursos naturais, o presente artigo analisa as relações de apropriação e uso dos recursos
naturais e a problemática ambiental no percurso que abrange os municípios de Vitória da Conquista,
Anagé, Tanhaçu, Ituaçu, Barra da Estiva, Ibicoara e Mucugê, na Bahia.
Palavras-chaves: Sociedade-natureza. Recursos naturais. Derivações socioambientais.
ABSTRACT
The relationship society-nature carries a network of interactions, especially on ownership and use of
natural resources, problems, risks and environmental conflicts. The production of geographical space
can be examined, explained and understood from the relationship society-nature, in which the
reproduction should be seen in the context of reproduction socio-spatial. The analysis undertaken in the
municipalities that make up the stretch between Vitória da Conquista and Mucugê had the purpose to
examine how the nature is appropriate in the process of development of the various economic activities
such as agriculture, mining and tourism, as well as the socioenvironmental leads resulting from this
process. The methodology consisted in the study of bibliographic sources, in the survey and analysis of
data and information provided by public agencies, field surveys and preparation of a map of the study

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

area. To understand the essence of the relationship between ownership and use of natural resources,
this article analyzes the relations of ownership and use of natural resources and environmental issues in
the path that covers the municipalities of Vitória da Conquista, Anagé, Tanhaçu, Ituaçu, Barra da
Estiva, Ibicoara and Mucugê, in Bahia.
Keywords: society-nature. Natural resources. Socioenvironmental leads.

INTRODUÇÃO

O espaço geográfico pode ser analisado, explicado e compreendido a partir da relação


sociedade-natureza, na qual a reprodução deve ser vista numa perspectiva da produção socioespacial.
Assim sendo, a relação sociedade-natureza estabelece uma rede de relações, principalmente na
apropriação e uso dos recursos naturais, os problemas, riscos e conflitos socioambientais, produzindo
assim a transformação do espaço natural em um espaço modificado, produzido através da exploração
dos recursos da natureza.
Diante desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos da relação
que a sociedade estabelece com a natureza através da produção do espaço geográfico, no percurso entre
as cidades de Vitória da Conquista, Anagé, Tanhaçu, Ituaçu, Barra da Estiva, Ibicoara e Mucugê, na
Chapada Diamantina, Bahia.
A partir dos levantamentos de campo buscou-se analisar a forma como a natureza é apropriada
no processo de desenvolvimento das diversas atividades econômicas, como a agricultura, a mineração e
o turismo.
A metodologia para a realização deste estudo consistiu no estudo de fontes bibliográficas, no
levantamento e análise de dados e informações fornecidos pelo IBGE, levantamentos de campo e no
georeferenciadas dos principais pontos de análise, avaliando-se a dinâmica e as transformações
decorrentes da apropriação e uso dos recursos naturais.
Os levantamentos de campo foram feitos com o preenchimento de uma matriz com as
indicações das características geoambientais identificáveis, as atividades econômicas predominantes, a
ocupação, apropriação e uso dos recursos naturais, e os riscos, conflitos e danos socioambientais
derivados do mau uso dos recursos naturais.

APROPRIAÇÃO E USO DOS RECURSOS NATURAIS E OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

As unidades de paisagem identificadas apresentam diversidades de características


morfoclimáticas, geológicas e hidrológicas, em virtude da localização geográfica de cada unidade
(figura 1): O Planalto de Vitória da Conquista apresenta topografias planas e altitudes elevadas (entre

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

700 e 900 metros), sendo sua disposição no sentido norte-sul, apresentando-se como um
prolongamento do compartimento compreendido pela Serra Geral de Minas Gerais, drenado pelos
afluentes do Rio Pardo e do Rio de Contas.

Figura 1 - Percurso Vitória da Conquista – Mucugê-BA.

Já o Pediplano Sertanejo compreende altitudes entre 240m e 600m, sendo uma superfície
consideravelmente plana, ―retocada, inumada, elaborada durante fases sucessivas de retomada de
erosão sem, no entanto, perder suas características, ou seja, é uma superfície deprimida ao longo do
limite ocidental da região‖ (LIMA et al, 2006, p. 04). Em relação à Chapada Diamantina, localiza-se no
centro do estado da Bahia, compreende uma área que apresenta um conjunto de relevos serranos,
planaltos e sistemas cársticos, entalhados em rochas sedimentares e metassedimentares, decorrentes de
diversos e complexos eventos.
A partir dos pontos de amostragem, buscou-se identificar e caracterizar as formas como os
diferentes indivíduos e grupos sociais se apropriam dos recursos naturais no processo de
desenvolvimento das diversas atividades econômicas, como a agricultura, a mineração e o turismo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No município de Vitória da Conquista umas das atividades mais impactantes quanto ao uso dos
recursos naturais relaciona-se com a exploração mineral, na Serra do Periperi, por exemplo, a retirada
de areia e cascalho, que somado a ocupação desordenada, tem provocado graves problemas para a
conservação dessa unidade.

No passado a Serra do Periperi contava com uma vasta cobertura vegetal, porém ao longo dos
anos fatores como o crescimento urbano desordenado, a implantação da BR-166, que como foi
mencionado ultrapassa a serra, além da mineração indiscriminada, alteraram significantemente
a vegetação nativa e ainda reduziram as nascentes do Rio Verruga ali localizado (JESUS, 2010,
p.7).

Mas não é somente nesta área do município que se desenvolve atividades de mineração, saindo
de Vitória da Conquista sentido Anagé, às margens da BA 262 observa-se a ocorrência de algumas
áreas de exploração mineral e depósitos destes materiais.

Figura 2 - Área de depósito de brita às margens da BA 262.


Fonte: Fonte: LACERDA, F., 2017.

Jesus (2010) aponta que a região do Planalto de Conquista dispõe de jazidas de minérios que
ainda não são tecnicamente aproveitáveis, mas já se constata a existência de 387 jazidas minerais, 21
minas em exploração e 18 garimpos em atividade. Minerais como a diatomita, mármore, cianita,
quartzo, granito, manganês, bentonita, entre outros, também são extraídos na região.

Na região de Pradoso, zona rural do município de Vitória da Conquista, ocorre a exploração de


bentonita. Esse mineral é uma argila que possui como característica principal o alto poder de expansão
quando umedecida, fato que confere ao mineral, propriedades bastante específicas, que têm justificado uma vasta
gama de aplicações nos mais diversos segmentos desde a indústria alimentícia à siderúrgica.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Pouco conhecida do grande público, a bentonita é um mineral utilizado em áreas bastante


distintas, com mercado que movimenta US$ 300 milhões ao ano no Brasil. Hoje, mais de 70%
da produção nacional concentra-se na Paraíba, mas, após 20 anos de pesquisa, foi descoberta
uma ocorrência do minério no distrito de Pradoso no município de Vitória da Conquista (BA),
que passou a produzir comercialmente em 2007. Segundo os prognósticos, as reservas terão
vida útil de mais de 50 anos e permitirão extrair pelo menos 60 mil toneladas por ano, um terço
de toda a bentonita retirada do solo brasileiro atualmente. A estimativa é que exista 3,7 milhões
de toneladas em reservas (MAIA e FONTES, 2011, p. 8).

A atividade de mineração possui grande importância econômica na obtenção de recursos


utilizados na indústria, sendo também fonte de renda alternativa para proprietários rurais. Entretanto se
trata de uma das atividades que mais ocasiona danos ambientais nos locais onde elas são desenvolvidas,
podendo afetar também localidades próximas. Desse modo, se faz necessário um planejamento visando
à adoção de medidas mitigadoras, como recomposição da cobertura vegetal, preservação de cursos
d´água e da paisagem cênica, controle sobre os rejeitos, entre outras medidas buscando minimizar o
impacto ambiental da atividade. É importante destacar a necessidade de um eficaz controle e
fiscalização dos órgãos ambientais responsáveis.
Maia e Fontes (2011, p. 1) apontam que na região do Pradoso, onde ocorre a exploração de
bentonita e de outras atividades econômicas, ―o uso dos recursos naturais não tem levado em
consideração as condições de vulnerabilidade de cada ambiente, extrapolando a capacidade de
sustentação às atividades humanas e gerando, portanto, muitos problemas de ordem socioambiental‖.
As autoras destacam a necessidade de atuação do poder público e da comunidade no desenvolvimento
de um planejamento territorial buscando reparar os danos ambientais, apontando alternativas que
estejam pautadas na sustentabilidade ambiental.
Além da exploração da bentonita e do granito (para a produção de brita), a região do Planalto de
Vitória da Conquista conta com minas de exploração de granito e quartzito para fins ornamentais.
A região de Anagé está diretamente ligada a pecuária extensiva e a agricultura com baixo uso de
agrotóxicos. Inserido no Polígono da Seca, o município passa por dificuldades devido à irregularidade
das chuvas. Lisboa e Alcântara afirmam que,

A economia do município de Anagé é especificamente voltada para a agropecuária,


porém em pequena escala, ou seja, a maior parte da produção é gerada pela agricultura
familiar de subsistência, uma vez que no município há predominância da pequena
propriedade e, por conta da falta de chuva e investimentos não tem como desenvolver
uma agricultura em maior escala (LISBOA e ALCANTARA, 2016, p. 4)

Predomina no município a pequena propriedade rural, onde é desenvolvida a agricultura de


sequeiro, pois mesmo com a barragem construída no Rio Gavião, não há sistema de irrigação de grande

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 378


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

porte. A pecuária e criação de pequenos animais também faz parte da produção e economia da região.
Lisboa e Alcântara enfatizam ainda que,

Os pequenos agricultores criam, principalmente, aves de pequeno porte para comercializar e


para o próprio consumo, eles representam os maiores rebanhos criados no município,
destacando-se em segundo lugar, a criação de bovinos, porem comparada com municípios
vizinhos, não tão grandes, pois o clima quente não favorece a evolução de pastos para criação
do gado, assim não se tem, no município, muitas fazendas para a criação do gado (LISBOA e
ALCANTARA, 2016, p. 4)

A principal obra de engenharia no município é Barragem do Rio Gavião, com destaque à


Prainha que possui uma extensão de aproximadamente 2 km da margem esquerda, onde se localizam
hoje dez cabanas, tipicamente de praia, que durante o verão são frequentadas por moradores do
município e visitantes das cidades circunvizinhas.
O município de Ituaçu é marcado pela exploração do calcário, pela agricultura de subsistência e
pelo turismo (tanto o turismo religioso, quanto o turismo de aventura). Trilhas, grutas e cachoeiras são
os principais atrativos turísticos daquele município.
A região da Barra da Estiva caracteriza-se por estar situada na formação geológica conhecida
como Formação Tombador, com destaque para dois importantes morros testemunhos (Morro do Ouro e
Morro da Torre). Devido a elevada altitude e as baixas temperaturas destaca-se pela produção de café,
de maracujá e morango. Na figura 3 observa-se o Vale do Morro do Ouro com algumas propriedades
com produção de café e ao fundo no horizonte a Serra do Sincorá.

Figura 3- Vale do Morro do Ouro


Fonte: LACERDA, F., 2017.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 379


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Figura 4 mostra em detalhe a produção de café no vale do Morro do Ouro, aproveitando os


níveis mais baixos do relevo, onde as condições edáficas e de umidade são mais favoráveis.
Avançando em direção a cidade de Mucugê é possível observar um aumento significativo de
grandes propriedades rurais com uma forte concentração de pivôs de irrigação, com produção destinada
ao agronegócio. Esse cenário configurou-se por meio da construção da Barragem do Apertado, que fica
entre os municípios de Ibicoara e Mucugê, segundo Miranda, 2012,

podemos nos questionar sobre a relação positiva entre o surgimento da barragem e do Polo
Agrícola com a concentração de terra maior em Ibicoara do que em Mucugê, já que a barragem
encontra-se no segundo município e, [...] existe um grande adensamento de pivôs de irrigação
em Mucugê (MIRANDA, 2012, p. 10).

Figura 4 – Cultura no Vale do Morro do Ouro


Fonte: LACERDA, F., 2017.

Localizada no município de Mucugê, a Barragem do Apertado foi construída em 1990 no alto


do Rio Paraguaçu, ―[...] aumentando a oferta de água para os irrigantes da região de Cascavel, em terras
planas dos municípios de Mucugê e Ibicoara [...]‖ (MIRANDA, 2012, p. 10). A construção da
barragem provocou alterações na estrutura fundiária dos dois municípios, havendo grande concentração
de terras. Segundo Miranda (2012), antes da barragem os moradores utilizavam as terras úmidas do Rio
Paraguaçu, próximo ao local da barragem, para a produção agrícola. Entretanto, essas áreas foram
inundadas. Muitos camponeses venderam suas terras planas para os grandes produtores que cultivam
no Polo Agrícola Mucugê-Ibicoara. Nas figuras 5 e 6 pode-se observar os cinturões agrícolas presentes
entre esses dois municípios,

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 380


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5 e 6 - Pivôs de irrigação entre Ibicoara- Mucugê


Fonte: LACERDA, F., 2017.

É possível observar que nos municípios de Ibicoara e Mucugê, a expansão do agronegócio


(Figura 7) implicou na submissão dos sistemas de agricultura familiar, com a atração de antigos
produtores rurais para as relações de trabalho assalariado. Essa realidade se reflete em elevados índices
de PIB per capita municipal, mas em baixos indicadores sociais.

Figura 7 - Trecho de pivôs centrais de irrigação no município de Mucugê


Fonte: Recorte de imagem do Google Earth

A produção agrícola nos municípios de Ibicoara e Mucugê é realizada predominantemente na


forma de pivôs centrais de irrigação, cujas dimensões variam entre 60 e 120 hectares. A batata se
destaca como principal produto cultivado pelo agronegócio nessa região. Guimarâes, Landau e Souza

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 381


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(2014) salientam que o município de Mucugê possui 471 pivôs, com uma área irrigada de 32.106,78
hectares, enquanto Ibicoara conta com 206 pivôs, que irrigam uma área de 11.635,03 hectares.

TURISMO: POTENCIALIDADES, EXPLORAÇÃO E AÇÕES SUSTENTÁVEIS

O turismo e o ecoturismo são atividades econômicas que tem tido um amplo crescimento no
Brasil, significando oportunidade de diversificação e consolidação econômica. O turismo pode trazer
muitas vantagens, como geração de emprego e renda, valorização da cultura e do patrimônio histórico,
pode ser desenvolvido numa perspectiva que busque a conservação ambiental.
Pesquisas mostram que o turismo no Brasil e, nesse caso, especificamente na Bahia, cresce
consideravelmente, tanto no que diz respeito aos fluxos inter-regional, intra-regional e também
internacional. Nesse contexto, a Chapada diamantina se destaca por suas potencialidades e
particularidades naturais, exibindo exuberantes paisagens específicas.
Uma das principais características relacionadas com o turismo é desenvolvimento local. Desse
modo, é posto que a atividade turística proporciona o desenvolvimento regional a partir da produção de
novas atividades que vão trazer renda para esse lugar. Porém, a discussão e conceituação acerca do
turismo são muito mais complexas e deve ser analisada a partir de diversas vertentes e variáveis.
O município de Mucugê localiza-se na região da Chapada Diamantina, sendo que 32,38% da
área do município faz parte do Parque Nacional da Chapada Diamantina. O município possui muitos
atrativos, incluindo trilhas e cachoeiras, como a Cachoeira dos Funis e a Cachoeira das Andorinhas, o
Projeto Sempre-Viva que visa proteger essa espécie de planta herbácea ameaçada de extinção, além de
ser uma cidade histórica, com um conjunto arquitetônico tombado pelo IPHAN- Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O conjunto arquitetônico e paisagístico, especialmente o cemitério da cidade de Mucugê, foi
tombado, pelo IPHAN, em 1980. A cidade é uma das mais antigas da Chapada Diamantina e se
destacou como um dos principais centros de exploração de ouro e de diamantes, na região, da mesma
forma que Lençóis. O patrimônio é constituído por casas térreas e sobrados característicos da segunda
metade do século XIX, além de duas igrejas.
Apesar de ser uma cidade tombada, na qual existe grande rigor do poder executivo quanto à
fiscalização na realização de obras em casas, buscando a preservação do patrimônio histórico,
observou-se que não ocorre o mesmo cuidado com relação à conservação ambiental na cidade, a
exemplo dos cursos d‘água que cortam a cidade. As figuras 8 e 9 mostram o descuido dos moradores e
a falta de limpeza cotidiana do local, com restos de plástico e papel jogados no Riacho ―Corgo‖, ao

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 382


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

lado da Praça da Feira Municipal. O próprio Balneário Municipal encontra-se interditado para banho
por conta de contaminação de suas águas em decorrência da canalização de alguns esgotos domésticos.
O turismo ecológico em Mucugê, bem como em todo o Parque Nacional da Chapada
Diamantina, tem tido um amplo crescimento, o que suscita indagações quanto a forma como tem sido
realizado e os impactos decorrentes desse aumento do fluxo de turistas na região, o que pode
comprometer a proteção dessa importante unidade ambiental.
A atividade do turismo é considerada pelos órgãos de proteção ambiental como aquela que mais
danifica os aspectos ambientais do Parque Nacional da Chapada Diamantina. De fato, o lugar se tornou
cobiçado por turistas de todos os lugares do mundo, sendo ponto de visitação de um número crescente
de turistas. Por esse motivo, os órgãos de gestão ambiental buscam conscientizar os visitantes e regular
essa atividade econômica dentro do parque.

Figuras 8 e 9 - Curso d‘água com carga de poluentes em Mucugê-Ba.


Fonte: LACERDA, F., 2017.

Atualmente, o órgão gestor de caráter consultivo do parque nacional é o ICMBio (Instituto


Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), criado em 2007 após uma reestruturação do
IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que até então
cumpria esse papel. O ICMBio faz parceria com diversas associações de guias das cidades da Chapada
Diamantina e com o grupo de brigadistas, que em conjunto buscam criar campanhas, normas e regras
para a entrada e manutenção de turistas que desejam visitar o parque. Contudo, essa regulamentação
possui suas contradições no que se refere a preservação ambiental.
A informação que os guias e membros do ICMBio passam para os turistas que querem ir ao
Vale do Pati, por exemplo, é que acampar dentro do vale é proibido, buscando ―conscientizar‖ e
diminuir os danos ao meio ambiente. Essa informação, contudo, é parcialmente falsa. As atividades

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 383


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proibidas são, na verdade, fazer fogueiras, deixar lixo e evacuar perto de fontes de água e trilhas e não
propriamente dormir no vale.
Entretanto, dizendo ter um objetivo de minimizar esses impactos ambientais, tanto o ICMBio
quanto seus parceiros afirmam que para acampar no parque nacional é obrigatório a contratação dos
guias locais e a pernoite apenas nas ―casas dos nativos‖ (como costumam chamar) que, com a
diminuição da mineração do diamante e o aumento estratosférico do turismo, se tornaram pousadas e
comércio de alimentos e equipamentos. Ou seja, para amenizar os impactos, cria-se toda uma estrutura
que facilita a vinda de muitos tipos de turistas, que contratam pacotes de viagem de qualquer lugar do
mundo. Além disso, vê-se que nessas casas de nativos as regras nem sempre são cumpridas a rigor,
tendo em vista que, para o uso do fogão e do lazer no fim da noite, uma grande quantidade de lenha é
retirada da mata todos os dias. A consequência lógica e prática disso é que cada vez mais o Parque
Nacional da Chapada Diamantina se torna mais visitado e mais mercantilizado do que a uma década
(ano que marca a criação do ICMBio).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Castrogiovanni e Goulart (1990), a Geografia é o campo do conhecimento que busca


compreender a produção do espaço pela sociedade, suas desigualdades, contradições, relações de
produção e formas de apropriação que essa sociedade faz da natureza. Nesse sentido, percebe-se que o
―espaço é ao mesmo tempo o local geográfico da ação e a possibilidade social de engajar-se na ação‖
(GOTTDIENER, 2010, p. 127).
A leitura dos aspectos socioespaciais e as relações do ambiente natural físico e a intervenção da
sociedade na natureza a partir da investigação da totalidade dos processos espaciais e sua
materialização na paisagem foi realizada sequencialmente nos ambientes do Planalto de Vitória da
Conquista, Pediplano Sertanejo e Chapada Diamantina, com destaque para a aplicação de técnicas de
análise espacial utilizadas na Geografia.
Portanto, constata-se que a produção do espaço na área estudada ocorreu em tempo e
espacialidades diferentes. Os danos ambientais estão associados a atividades de exploração mineral,
agricultura, pecuária e turismo. A apropriação e uso dos recursos naturais no contexto atual guarda as
marcas históricas de uma sequência de paisagens que se sucederam ao longo do tempo histórico, muitas
delas marcadas por situações de riscos e conflitos socioambientais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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Geografia: A Noção de Espacialidade e o Estudo da Natureza. In: Terra Livre nº 7. 1990. São Paulo.
Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB.

GUIMARÃES, J.T. et al. Geologia da Chapada Diamantina – Projeto Ibitiara-Rio de Contas.


Salvador: CBPM/CPRM. 2005.

GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. EDUSP, 2010.

GUIMARÂES, D. P.; LANDAU, E. C.; SOUZA, D. L. de Irrigação por pivôs centrais no Estado da
Bahia – Brasil. Sete Lagoas: EMBRAPA Milho e Sorgo, 2014. Disponível em
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1009632/irrigacao-por-pivos-centrais-
no-estado-da-bahia---brasil. Acesso em julho de 2017.

INSTITUTO CHICO MENDES. Plano de Manejo do Parque Nacional da Chapada Diamantina.


Brasília, 2007. Disponível em:
http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgsunidadescoservacao/parna_chapada_diamantin
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JESUS, R. B. de. Os recursos naturais e sua exploração na formação territorial do município de Vitória
da Conquista-BA. In: XVI Encontro Nacional de Geógrafos. Anais. Porto Alegre. Crises, Práxis e
Autonomia: Espaços de Resistências e de Esperança, 2010. p. 1-11.

LIMA, K. C. Uma contribuição aos estudos de geomorfologia climática em ambiente semi-árido na


região Sudoeste da Bahia. VI Simpósio Nacional de Geomorfologia. Anais. Goiânia 2006.

LISBOA, A. S.; ALCÂNTARA, F. V. Agricultura Familiar e Associativismo Rural no município de


Anagé - Ba. Encontro Nacional de Geografia Agrária. Anais. 2016.

MAIA, M. R.; LAGE, C. S. O Estudo Geomorfológico como Subsidio ao Planejamento Territorial no


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Anais. Universidade de São Paulo 2005.

MAIA, M. R.; FONTES, A. L. Dinâmica ambiental do distrito do Pradoso-Vitória da Conquista - BA.


Scientia Plena, v. 7, p. 1-9, 2011

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 385


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MIRANDA, R. M. Para onde vai a microbacia do rio Capãozinho? Questão agrária na expansão do
Pólo Agrícola Mucugê – Ibicoara. Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia. Universidade
Católica de Salvador, Salvador, 2012.

MIRANDA, R. M., ALENCAR, C. M. M. de. Questão Agrária em Ibicoara-BA: antes e depois da


Barragem do Apertado. In: XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária. Anais. 2012. Disponível
em < http://www.gamba.org.br/wpcontent/uploads/2012/12/ArtigoQuest%C3%A3Agr%C3%A1ria-
em-Ibicoara-antes-e-depois-da-barragem-do-Apertado.pdf>. Acesso em 22 de maio de 2017.

PEREIRA, R. G. F. de. A. Geoconservação e desenvolvimento sustentável na Chapada Diamantina


(Bahia - Brasil). 2010. 317f. Tese (Doutorado em Ciências - Geologia). Universidade do Minho:
Escola de Ciências, Portugal, 2010.

TOTH, E. M. R. Chapada Diamantina – Rochas pré-cambrianas e pinturas rupestres do homem


pleistocênico. In: Clio Arqueológica. Pernambuco: Universidade Federal de Pernambuco, 1997.
Disponível em: <www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/1997a11.pdf>. Acesso em 21 de maio de
2017.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 386


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ALAGOAS O CAPITAL NATURAL E AS MODIFICAÇÕES NO MEIO AMBIENTE.

Rochana Campos de ANDRADE LIMA


Profa. Dra. CTEC e do PPG em Geografia da UFAL
rca.lima@hotmail.com
Maria do Rosário de OLIVEIRA
Profa. Msc. Geografia da UFAL
mrosarios@gmail.com

RESUMO
O estado de Alagoas tem uma área de 27.767,66 km², que equivale a 0,33% do território nacional e
1,79% do Nordeste brasileiro, tem seu nome ligado à presença de corpos lagunares existentes no litoral
e lacustres, na margem do rio São Francisco. A área de estudo, por envolver as rochas cristalinas e
sedimentares, geomorfologicamente a planície costeira, os tabuleiros costeiros, planaltos e que passam
por influências de diversos fatores naturais e antrópicos, necessitou do levantamento de dados
históricos sobre o município, geológico-geomorfológicos, da ocupação urbana e populacional. O
processo de urbanização das cidades-polo no estado, tem sido alvo de forte afluxo populacional,
causando grandes modificações no seu capital natural, ou seja, o meio ambiente pela sua urbanização.
Atualmente, Maceió, a capital, tem seu núcleo urbano em continuidade espacial com os municípios de
Satuba, Rio Largo e Marechal Deodoro, uma das causas do processo de conurbação. É inquestionável
que os índices de população urbana vêm aumentando, principalmente, em razão da migração rural-
urbana. Nas principais cidades, uma série de fatores ambientais como efluentes sanitários, vazamentos
industriais, salinização de aquíferos e presença de chorume, dentre outros, tem levado à degradação do
seu capital natural. Um outro fator nessas cidades, a evolução das formas de relevo, deve ser entendido
como um processo natural, que nos últimos anos, foi modificado pela ação dos processos antrópicos.
Assim, o capital natural, que é o conjunto dos bens naturais disponíveis para a sociedade, vem sendo
modificado à medida que o estado cresce, sem considerar as bases ecológicas e a responsabilidade
social que deve impor limites e normas para o desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: geologia, ocupação urbana, capital natural.

ABSTRACT
The state of Alagoas has an area of 27,767.66 km², which is equivalent to 0.33% of the national
territory and 1.79% of the Brazilian Northeast. Its name is related to the presence of lagoon bodies on
the coast and lakes, on the bank of the River São Francisco. The study area, as it involves crystalline
and sedimentary rocks, geomorphologically the coastal plain, coastal boards, plateaus and that are
influenced by several natural and anthropic factors, required the collection of historical data about the
municipality, geological-geomorphological, Urban and population occupation. The process of
urbanization of the polo cities in the state has been subject to a strong population influx, causing great
changes in its natural capital, that is, the environment by its urbanization. Nowadays, Maceió, the
capital, has its urban nucleus in spatial continuity with the municipalities of Satuba, Rio Largo and
Marechal Deodoro, one of the causes of the conurbation process. It is unquestionable that urban
population indices have been increasing, mainly due to rural-urban migration. In the main cities, a
series of environmental factors such as sanitary effluents, industrial leaks, salinization of aquifers and
the presence of slurry, among others, has led to the degradation of its natural capital. Another factor in

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these cities, the evolution of relief forms, must be understood as a natural process, which in recent
years has been modified by the action of anthropic processes. Thus, natural capital, which is the set of
natural assets available to society, has been modified as the state grows, without considering the
ecological bases and social responsibility that must impose limits and standards for sustainable
development.
Keywords: geology, urban occupation, natural capital.

INTRODUÇÃO

O estado de Alagoas tem uma área de 27.767,66 km², que equivale a 0,33% do território
nacional e 1,79% do Nordeste brasileiro, tem seu nome ligado à presença de corpos lagunares
existentes no litoral e lacustres, na margem do São Francisco (figura 1).
Este trabalho foi desenvolvido a partir da divisão estadual em três Mesorregiões: Sertão
Alagoano, Agreste Alagoano e Leste Alagoano e das 13 Microrregiões Geográficas, onde estão
inseridos os 102 municípios que compõem o estado. Assim serão descritas as características
geográficas, ambientais e a evolução populacional do estado nos últimos 200 anos (figura 2).

Figura 1 – Imagem do Estado com as divisões dos 102 municípios

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 - Mapa com os 102 municípios alagoanos, subdivididos em 3 Mesorregiões e 13 microrregiões


(fonte, IAM. 2015)

O traçado do mapa estadual, que configura-se em um ―V‖, apresenta sua linha de costa desde
Maragogi, município do extremo norte costeiro fronteira com Pernambuco, até Piaçabuçu, no extremo
sul, com aproximadamente 230 km; e da foz do São Francisco em Piaçabuçu até o extremo oeste, na
tríplice fronteira Alagoas, Bahia e Pernambuco com aproximadamente 220 km. Na zona costeira,
ocorrem no extremo norte, as piscinas naturais, no centro, os estuários e lagunas de aspectos naturais
inigualáveis e ao sul o rio São Francisco com monumentos naturais de rara beleza. São essas
LAGUNAS, popularmente denominadas de lagoas que nomearam o estado. Pela observação geográfica
desses elementos, a área tornou-se conhecida como a Terra das Alagoas, posteriormente Estado das
Alagoas e hoje Estado de Alagoas.
Assim, as diversas abordagens das paisagens naturais, dos recursos hídricos, as ocupações dos
espaços e suas relações sociedade-natureza, nos levam a entender em especial o capital natural do
estado.

METODOLOGIA

Buscou-se descrever as características naturais/capital natural, geologia, geomorfologia,


recursos hídricos, socioambientais, a evolução populacional, os processos antrópicos e as Unidades de
Conservação, responsáveis pelo modelar do estado.
A área de estudo por envolver geologicamente as rochas cristalinas e sedimentares,
geomorfologicamente a planície costeira, os tabuleiros costeiros e planaltos, ambientes que passam por
influencias de diversos fatores naturais e antrópicos, necessitou do levantamento de dados históricos
sobre o município, geológico-geomorfológicos, da ocupação urbana e populacional.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Inicialmente foram feitos estudos bibliográficos e levantamento de dados históricos através de


cartas, mapas topográficos e geológicos, além dos levantamentos aerofotogramétricos de 1955 (60.000
– Cruzeiro do Sul) e 1966 (1:60.000 – Cruzeiro do Sul) na área em estudo. De posse dos dados, foi
elaborada a evolução da ocupação do estado, suas mudanças no capital natural e populacional nos
últimos 200 anos.

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO ALAGOANO

Os primeiros pontos mapeados no litoral alagoano datam de 1501 e mostram a foz dos rios São
Miguel, Jequiá, Coruripe e São Francisco (figura 3).
Segundo Lima (1992) a ocupação no litoral se deu em 12 Portos e Ancoradouros: Jaraguá e
Penedo no São Francisco, Pituba em Coruripe, Laguna do Roteiro, Rio Santo Antônio, Barra Grande
em Maragogi, Porto de Pedras, Barra do Camaragibe, Francês, Marechal Deodoro, Jequiá, Batel em
Coruripe e Peba em Piaçabuçu. Entre 1520 e 1611, surgiram os primeiros núcleos de povoamentos em
Porto Calvo, Santa Luzia do Norte, Alagoas atual Marechal Deodoro e Penedo, (figura 4).
Em 1817 se deu a Emancipação Política e Administrativa do Estado de Alagoas de Pernambuco
e teve início a criação das províncias sem áreas geográficas definidas (figura 5).

Figura 3 – Mapa dos primeiros pontos mapeados, modificado de Lima (1992)

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 390


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4 – Mapa com os primeiros núcleos de povoamentos em Alagoas

Figura 5 - Mapa do Estado de Alagoas (1917) 100 anos depois da emancipação com áreas já definidas.

A seguir, no quadro abaixo, tem-se o intervalo de criação dos municípios até os dias atuais.
Quadro 1 – Intervalo de criação dos municípios até os dias atuais.

Ano de criação Municípios


1636 - 1763 Penedo, Porto Calvo, Alagoas
1764 - 1815 Atalaia, Poxim, Anadia, Maceió e Porto de Pedras
Rio Largo, União dos Palmares, São Miguel dos Campos,
1830-1857 Palmeira dos Índios, Traipu, Mata Grande, Passo de Camaragibe,
Pão de Açúcar, Pilar, Viçosa.
1866 Poxim passa a ser Coruripe
Murici, Quebrangulo, Maragogi, Água Branca, Santana do
Ipanema, Porto Real do Colégio, São José da Laje, São Luís do
1870 - 1889
Quitunde, Batalha, Piranhas, Limoeiro de Anadia, São Braz,
Piaçabuçu.
1890 - 1903 Colônia Leopoldina, Capela, Junqueiro, Igreja Nova.
1924 - 1949 Arapiraca, Major Isidoro.
Delmiro Gouveia, Maravilha, Poço das Trincheiras, São José da
1950 - 1958
Tapera, Jacaré dos Homens, Olho D‘Água das Flores, Olivença,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Cacimbinhas, Igaci, Girau do Ponciano, Feira Grande, Paulo


Jacinto, Pindoba, Cajueiro, Boca da Mata, Cajueiro, Ibateguara,
Matriz do Camaragibe, Jacuípe.
Olho D‘Água do Casado, Inhapi, Canapi, Ouro Branco, Carneiros,
Palestina, Monteirópolis, Dois Riachos, Minador do Negrão,
Jaramataia, Olho D‘Água Grande, Campo Grande, Lagoa da
Canoa, São Sebastião, Coité do Nóia, Taquarana, Belém, Mar
Vermelho, Tanque D‘Arca, Marimbondo, Campo Alegre, Feliz
1960 - 1994 Deserto, Roteiro, Barra de São Miguel, Coqueiro Seco, Santa
Luzia do Norte, Satuba, Chã Preta, Santana do Mundaú,
Branquinha, Joaquim Gomes, Novo Lino, Jundiá, Messias,
Flexeiras, Barra de Santo Antônio, São Miguel dos Milagres,
Japaratinga, Pariconha, Senador Rui Palmeira, Estrela de Alagoas,
Craíbas, Teotônio Vilela, Paripueira, Campestre.
Jequiá da Praia, segundo o IBGE, criado pela Lei 5675/1995 - 102
1995-2017
municípios

O CAPITAL NATURAL

O meio físico-natural é a base na qual se dá o uso e a ocupação do seu espaço, mesmo com
prejuízos ambientais quando se aterram alagados, canais, vales fluviais e lagoas, numa tentativa
desordenada de ampliar o espaço. Assim, a geografia e as paisagens do estado foram determinantes na
localização das sedes municipais.

GEOLOGIA

Em Alagoas, 80% do seu território encontra-se distribuído sobre as rochas ígneas e


metamórficas, conhecidas como ―Cristalino‖ formadas por Migmatitos, Granitos, Gnaisses e
Granitoides. Os 20% restantes são ocupados pelas bacias sedimentares, a costeira, de Maragogi até
Penedo e a bacia do Jatobá, localizada no extremo oeste do estado (figura 6).
Assim, a grande maioria dos municípios alagoanos estão encravados no cristalino,
principalmente, o agreste e o sertão. Os municípios de Penedo, Piaçabuçu, Feliz Deserto, Coruripe,
Jequiá da Praia, Roteiro, Barra de São Miguel, Marechal Deodoro, Maceió, Santa Luzia do Norte, Pilar,
Coqueiro Seco, Paripueira, Barra de Santo Antônio, Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres,
Porto de Pedras, Japaratinga e Maragogi estão situados sobre os sedimentos da bacia Sedimentar
Alagoas.
Outros municípios como Igreja Nova, Junqueiro, Porto Real do Colégio, São Sebastião,
Teotônio Vilela, Atalaia, São Luís do Quitunde estão na transição do sedimentar para cristalino. No
agreste, Arapiraca e Palmeira dos Índios possuem áreas com espessuras razoáveis de manto de
intemperismo de rochas. Ressalta-se que, partes dos municípios de Olho D‘Água do Casado, Delmiro

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Gouveia e Mata Grande situam-se na bacia sedimentar do Jatobá, onde aflora o arenito Tacaratu, que
tem um ótimo potencial de água subterrânea tanto de vazão como em qualidade de água.

GEOMORFOLOGIA

A Mesorregião do Leste Alagoano, apresenta formas de relevo como a planície costeira, os


tabuleiros costeiros, a depressão periférica e o planalto cristalino. A Planície Costeira, com altitudes de
0 a 12 metros, apresenta acumulações marinha, fluvial, flúvio-marinha e eólica. É composta por
sedimentos que dão origem a terraços, pontas arenosas, restingas, cordões litorâneos, ilhas, bancos
arenosos, recifes de arenitos e lagunas. No extremo sul do litoral, a feição estuarina do rio São
Francisco é modelada pela ação dos ventos dando origem a um campo de dunas que constitui a Área de
Proteção Ambiental de Piaçabuçu instituída pelo Decreto nº 88.421 de 21 de junho de 1983.

Figura 6 – Mapa geotectônico de Alagoas

Os Tabuleiros Costeiros, apresentam topo semi-plano com suave inclinação para sudeste e
altitudes entre a 120 m, no interior, a 20 m, no litoral. Na faixa costeira, a erosão marinha nas encostas
originam falésias vivas e quando protegidas pela planície costeira são denominadas de paleofalésias. A
Depressão Periférica, corresponde a uma faixa de terreno rebaixada, preenchida por sedimentos da
Formação Barreiras que se estende pelos municípios que limitam a bacia sedimentar com o cristalino.
O Planalto Cristalino, localizado na parte mais interior corresponde a porção meridional do Planalto da
Borborema nas rochas cristalinas (granitos e gnaisses).
Na Mesorregião do Agreste são encontradas encostas cristalinas, o início da Depressão
Sertaneja e a presença de pedimentos, no contato do planalto sedimentar com a Depressão Sertaneja.

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A Depressão Sertaneja, além de um baixo planalto na margem do Rio São Francisco, apresenta
ainda, maciços residuais cristalinos e sedimentares, que compõem o relevo da Mesorregião do Sertão
Alagoano. A Depressão Sertaneja corresponde a uma superfície de aplainamento no cristalino, que
compreende a quase totalidade do Sertão, a porção semiárida do São Francisco e áreas do Agreste.
Abriga toda a rede hidrográfica temporária que drena suas águas para o rio São Francisco. No nordeste
da cidade de Olho D`Água do Casado, ocorre um relevo em forma de Cuesta, inclinado para o rio São
Francisco, formado por sedimentos da Bacia do Jatobá.

CLIMA E RECURSOS HÍDRICOS

O Estado apresenta temperaturas médias mensais sempre superiores a 20° C e precipitações que
variam de 1.500 mm no litoral a menos de 600 mm no Sertão, em geral, concentradas de março a
agosto.
Essas condições são responsáveis pela presença da água, ocorrendo em dois contextos hidro
climáticos, o primeiro, onde a precipitação é maior que a evapotranspiração, com excedente hídrico em
grande parte do ano e forma uma região úmida, onde os rios são perenes e os aquíferos dispõem de um
bom volume de águas armazenadas, correspondendo à zona litorânea e da mata. O segundo, onde a
evapotranspiração ultrapassa a precipitação ocorre um déficit hídrico, formando uma região seca, o
conhecido semiárido, onde os rios são temporários, os aquíferos inexpressivos e a vegetação escassa.
A bacia hidrográfica é a unidade de planejamento na área de Recursos Hídricos, seja para a
drenagem de águas pluviais, seja para as ações hidro ambientais. O território alagoano é constituído de
54 (cinquenta e quatro) bacias hidrográficas, que foram agrupadas em 16 (dezesseis) Regiões
Hidrográficas, sendo nove rios de domínio estadual e sete rios de domínio federal (figura 7).

Figura 7 - Regiões Hidrográficas de Alagoas

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Apesar da forte expansão urbana, ainda se encontram no estado ecossistemas preservados tais
como: Cerrado, Mata Atlântica e Zona Litorânea com seus mangues e restingas, verificando-se assim a
existência de Unidades de Conservação; Federal, Estadual, Municipal e RPPM, que protegem a rica
biodiversidade do estado.
Compõe estas Unidades: Federal, APA Costa dos Corais, ESEC de Murici, APA de Piaçabuçu,
RESEC da Lagoa de Jequiá da Praia, REBIO da Pedra Talhada, MONA (Monitoramento Natural) do
rio São Francisco; Estadual, APA de Murici, APA de Santa Rita, APA do Catolé e Fernão Velho, APA
do Pratagy, APA da Marituba do Peixe, RESEC do Saco da Pedra, RESEC dos Manguezais da Lagoa
de Roteiro, RVS (Refúgio de Vida Silvestre) dos Morros do Craunã e do Padre; Municipal, APA do
Poxim, Parque Municipal de Maceió, Parque Municipal Marinho de Paripueira, Parque Municipal da
Pedra do Sino; e mais 33 Reservas Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

URBANIZAÇÃO E CIDADES

Atualmente a Mesorregião Geográfica do Leste Alagoano, apresenta a maior concentração


urbana de Alagoas. A influência de vários fatores, como a presença de parques industriais, abertura de
rodovias, a expansão do turismo no litoral, a mecanização da agropecuária (utilização de pouca mão de
obra), assim essas transformações econômicas promoveram o crescimento urbano das cidades, sede dos
municípios, quadro2.

Quadro 2 - Cidades mais populosas de Alagoas


Cidades População Urbana (hab.) População Total (hab.)*
1. Maceió 932.129 1.021.709
2. Arapiraca 181.481 232.671
3. Rio Largo 55.947 75.688
4. São Miguel dos Campos 52.566 61.204
5. Palmeira dos Índios 51.610 74.049
6. União dos Palmares 47.651 66.255
7. Coruripe 46.043 57.059
8. Penedo 45.020 64.292
9. Delmiro Gouveia 34.854 52.306
10. Campo Alegre 28.655 57.008
(Fonte: IBGE, 2010, 2016 *População Estimada)

REGIÕES METROPOLITANAS

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Maceió capital e principal centro econômico do estado, passa pelo processo de conurbação,
fenômeno urbano quando as cidades se expandem uma ao lado da outra, de tal forma que acabam se
unindo. Assim, tal processo deu a capital, com seu raio de influência o direito de comandar a primeira
Região Metropolitana de Alagoas. Seus espaços se confundem com 12 municípios que compartilham
dos mesmos bens e serviços da capital, todos na Mesorregião do Leste Alagoano.
O processo de descentralização econômica, levou a surgir uma segunda Região Metropolitana, a
Região Metropolitana de Arapiraca em 2009, localizada na Mesorregião Geográfica do Agreste
Alagoano com área de influência, em municípios das Mesorregiões do Leste e Sertão Alagoano.
Compreende Arapiraca (Polo) e mais 19 municípios.

EVOLUÇÃO POPULACIONAL

Os dados censitários registram o aumento da população de Alagoas desde a sua primeira


contagem em 1810 (89.589 habitantes), para 3.358.963 em 2016, no espaço 206 anos. O quantitativo
populacional sempre crescente, excetuando-se quando da forte migração populacional de Alagoas para
outros estados, do Nordeste e do Brasil, principalmente de 1920 a 1940.
Conforme a estimativa do IBGE (2016), a população alagoana totaliza 3.358.963 habitantes,
apresentando um crescimento populacional de 1% ao ano e densidade demográfica atual de 120,61
hab./Km2 (figura 8).

Habitantes
4.000.000
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Figura 8 - Evolução da população em Alagoas

Vale ressaltar que, apesar do forte êxodo rural das décadas de 1980 e 1990, alguns municípios
do estado permaneceram com maior população rural que urbana, a exemplo de Piranhas no sertão
alagoano que segundo (IBGE, Censo 2000), a população rural era de 18.667 habitantes e urbana de
1.340 pessoas. Porém, no Censo (2010), em Piranhas o processo se inverteu, a população urbana subiu
para 13.189 habitantes e a rural caiu para 9.856 pessoas e para 2016 (estimativa do IBGE) ganhou mais

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2.085 pessoas, somando um total para o município de 25.130 habitantes. Apesar da forte urbanização
do estado de Alagoas, 41 municípios permanecem com a população rural maior que a urbana, IBGE
(2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, a partir da metade do século XX,


provocou uma forte concentração populacional nas cidades brasileiras. Em Alagoas, as 10 cidades mais
populosas, dentre elas Maceió, Arapiraca, Rio Largo, São Miguel dos Campos e Palmeira dos Índios,
não foi diferente, este modelo levou a grandes modificações no seu capital natural, ou seja, na sua
paisagem natural. Atualmente, Maceió tem seu núcleo urbano em continuidade espacial com os
municípios de Satuba, Rio Largo e Marechal Deodoro, uma das causas do processo de conurbação.
É inquestionável que os índices de população urbana vêm aumentando em todo estado,
principalmente, em razão da migração rural-urbana. O Estado de Alagoas, segundo o Censo de 1960,
apresentava uma população rural de 842.834 habitantes e a urbana de apenas, 428.228 pessoas. Foi a
partir da década de 1970, que a população iniciou sua migração para as cidades, os chamados centros
urbanos, provocando um crescimento acelerado e desordenado.
No estado, em suas principais cidades, uma série de fatores ambientais como efluentes
sanitários, vazamentos industriais, salinização de aquíferos e presença de chorume, dentre outros, tem
levado à degradação do seu capital natural. Um outro fator nessas cidades, a evolução das formas de
relevo, deve ser entendida como um processo natural, que nos últimos foi modificado pela ação dos
processos antrópicos.
Assim, o capital natural, que é o conjunto dos bens naturais disponíveis para a sociedade vem
sendo modificado à medida o estado cresce, sem considerar as bases ecológicas e a responsabilidade
social que deve impor limites e normas para o desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

CRAVEIRO, Costa. 2001. História das Alagoas, Maceió. Reed. Ed. Catavento-Femac.

IAM. 2015. Instituto Arnon de Mello. Maceió Duzentos Anos. Maceió. 240 p.

IBGE. 1985. Mapa topográfico folha Maceió (SC.25-V-C-IV-2), na escala 1: 50.000.

IBGE. 2016. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em 28/050/2017.

LIMA. I. F. Ocupação Espacial do Estado de Alagoas. Maceió, SERGASA, 1992.


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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA E AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO A PARTIR


MINERAÇÃO

Vaneusa Silva PEREIRA


Pós-graduada no curso de Especialização em Análise do Espaço Geográfico da UESB
vaneusasper@hotmail.com
Roberval Soares SANTOS
Mestrando no curso de Geografia da UESB
ruberss@yahoo.com.br

RESUMO
A Geografia nasceu enquanto ciência no século XIX e, desde então, teve na relação entre a sociedade e
a natureza o delineamento do seu objeto de estudo. A relação sociedade-natureza tem sido muito
abordada nos últimos decênios, em que a pauta de maior repercussão é a apropriação da natureza pelo
homem. O reflexo dessa dominação torna-se mais evidente a cada dia, tanto na própria natureza como
na vida do ser humano, perceptíveis através dos danos ambientais ao espaço explorado e à população
afetada. Neste trabalho, portanto, serão discutidas as implicações da atividade mineradora no espaço e
na paisagem, numa perspectiva de análise a partir da relação de apropriação da natureza pelo homem.
Palavras-chave: Relação homem/natureza. Espaço. Paisagem. Mineração.

ABSTRACT
Geography as a science was born in the nineteenth century and since then has had on the relationship
between society and the nature of the design of their object of study. The relationship between society
and nature has been much discussed in recent decades, in which the agenda of greater impact is the
appropriation of nature by man. The reflection of this domination becomes more evident every day,
both in nature itself as in human life, perceived to be explored through environmental space and the
affected population damage. In this paper, we discuss the implications of mining activity in space and
landscape from the perspective of analysis from the relationship of appropriation of nature by man.
Keywords: Man / nature relationship. Space. Landscape. Mining.

INTRODUÇÃO

Estudar e entender a natureza como parte de nossas vidas sempre foi um grande desafio para a
humanidade. Além disso, compreender como a natureza busca constantemente seu equilíbrio e o
homem sempre busca seu conforto confrontando com o curso natural do meio é ainda mais instigante.
Nessa perspectiva, Mendonça (2010, p. 22) aponta que ―a relação entre sociedade e natureza tem sido a
proposta que desde o início permeia a Geografia em âmbito acadêmico‖.
As interações entre humanos e natureza proporcionam transformações no espaço, e dessa
relação resulta também uma nova configuração através das paisagens. Neste sentido, este trabalho

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busca discutir, a partir de autores que abordam a temática, as implicações ambientais da atividade
mineradora sobre o espaço, tendo a paisagem como principal categoria de análise. Como informa
Damangeon ( 1985, p. 53)

em nossos dias, a ação do homem sobre a natureza está se ampliando ainda mais em razão das
armas que a ciência lhe tem dado e do domínio que os transportes lhe asseguram sobre as
distâncias. Dessa maneira, as obras humanas oriundas de todo o passado da Humanidade
contribuem para constituir o meio, o ambiente, o meio geográfico que condiciona a vida dos
homens.

Sobre a perspectiva de análise de algumas categorias e conceitos que irão embasar as discussões
deste trabalho, destacam–se a relação homem/natureza, o espaço, a paisagem e atividade mineradora
como principais enfoques..

A RELAÇÃO HOMEM/NATUREZA E AS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS

Refletir sobre as relações entre o homem e a natureza requer antes de tudo, analisar as relações
de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a utilização futura desses recursos.
Como aponta Casseti (1991, p. 07), ―quanto mais a sociedade se desenvolve, mais ela transforma o
meio geográfico pelo trabalho produtivo social, acumulando nele novas propriedades‖.
Atualmente, a relação do homem com a natureza está chegando a uma situação limite, ao passo
que as apropriações estão sendo realizadas, talvez as consequências se tornem irreversíveis, se não
houver alterações drásticas. Conforme Biolat (1977, apud CASSETI, 1991, p. 06), "a sociedade está
numa relação direta com a natureza por todo um processo de produção de bens materiais e de
desenvolvimento cultural dos homens, destinado a satisfazer as suas necessidades".
A interferência do homem sobre o meio não é nova, assim como a relação homem-natureza
também não o é, remete-nos, portanto, à própria existência humana. Como sugere Gonçalves (2007, p.
47), ―[...] Há vestígios da ação humana por toda parte, muitas vezes criando belas paisagens que
parecem naturais; e também locais feios, desarmônicos, como as imensas monoculturas‖. Não seria,
então, extremo a máxima de que a degradação ambiental emaranha-se com a origem do homem.
Conclui-se, portanto, que a forma de apropriação e transformação da natureza é determinada pelas leis
transitórias da sociedade humana que se desenvolveu no planeta terra.
Na concepção de Guerra (1969, p. 11), ―os recursos naturais constituem todos os bens
dadivosamente fornecidos pela natureza: o ar, a água, o alimento, o sol (como fonte de luz e calor), a
vegetação, a fauna, os minerais etc‖. Sobre isso Raffestin (1993) apresenta três formas de apropriação
dos recursos naturais pelo ser humano, seriam elas: o exploracionismo, preservacionismo e
conservacionismo.

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Nessa perspectiva de análise, sobre as relações que se travam entre ser humano – meio ambiente
Casseti (1995, p. 13) relata que

a natureza e o homem se integram e se interagem. Esse processo de apropriação e


transformação da natureza pelo homem, coloca em movimento braços e pernas, cabeças e mãos,
em ordem para apropriar a produção da natureza numa forma adaptada às suas próprias
necessidades.

Marx (1967, p. 34), ainda reforça que ―o capitalismo cria a grande produção e a competição,
que levam aparelhada a dilapidação da capacidade produtiva da terra‖. Assim sendo, considerando que,
habitamos um planeta regido por modelos de produção e desenvolvimento que priorizam a
maximização econômica em detrimento à conservação ambiental, evidencia-se que, a manutenção e a
expansão da qualidade de vida humana, da produção e do consumo são inimagináveis sem a exploração
dos recursos minerais. E isso, vem sendo praticado desde tempos remotos, como confirma Casseti
(1995, p. 21), quando expõe que ―a utilização espontânea da natureza, e a dilapidação de suas riquezas,
esboçou-se nas primeiras etapas da história da sociedade e se acentuou na época feudal, porém,
alcançou um grau máximo no curso da sociedade capitalista‖.
De acordo com os estudos realizados levam-nos à reflexão de que desde que o homem habita
um planeta regido por modelos de produção e desenvolvimento passou-se a priorizar a maximização
econômica em detrimento à conservação ambiental. Nessa linha de pensamento, Casseti (1995, p. 20)
discorre que

a história do homem tem demonstrado a procura permanente de sua harmonia com a natureza, o
que não exime a degradação ambiental de ser considerada também histórica: inicia com a
agricultura predatória na África (6.000 AC), continua com a quebra do equilíbrio natural
decorrente da substituição da população nômade pela sedentária, como nas estepes da Ucrânia e
América e intensifica-se com a implantação do sistema capitalista.

Nesse sentido, torna-se necessário, pois, ressaltar que como toda causa tem seu efeito
correspondente, todo benefício que o homem extrai da natureza tem certamente também seus
malefícios. Desse modo, parte-se do princípio de que toda ação humana no ambiente natural ou
alterado causa algum impacto em diferentes níveis, gerando alterações com graus diversos de agressão,
levando às vezes as condições ambientais a processos até mesmo irreversíveis (ROSS, 2005). Nessa
perspectiva, como reforça Casseti (1995, p. 20) ―a forma de apropriação e transformação da natureza
responde pela existência dos problemas ambientais, cuja origem encontra-se determinada pelas próprias
relações sociais‖.
Penteado (1985, p.126) ressalta que, as relações sociais, estão intrinsecamente ligadas às
questões ambientais em um processo em que denomina o meio ambiente como sendo ―o resultado de

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interações e funcionamento entre os elementos sociais e naturais (...). Em que compatibiliza o


desenvolvimento da economia humana com as restrições impostas pela natureza‖. Ainda, nessa análise
Reigota (1997, p.14) destaca que

meio ambiente é um (...) lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais ou sociais
estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação
cultural e tecnológica e processos históricos e sociais da transformação do meio natural e
construído.

Sobre isso, Guerasimov (1983, apud, CASSETI, 1995, p. 43) constata que, ―a rigor, a Geografia
tem estudado sempre o meio ambiente, tomado em seu conjunto como um sistema em que estão
incluídos os componentes naturais e sociais (tecnológicos)‖. Nesse caso, ao se tratar das questões
ambientais, a geografia nos permite a aproximação do homem com a natureza, rompendo a visão
dicotômica na compreensão da interdependência do complexo homem-natureza.
Nessa perspectiva de análise a cerca da relação homem e meio ambiente e os problemas
ambientais, desencadeados em função das atividades desenvolvidas sobre a natureza ao longo dos
tempos, ressalta o papel do, que muitos autores consideram, impacto sobre o meio natural. Como
informa Bertrand (1978, apud, HUNKA, p. 23) ―para cada ambiente existe uma atividade adequada,
que pode ser tolerante e menos impactante, devendo ser prognosticado através do conhecimento
profundo das relações que se processam nos sistemas ambientais‖.
O meio ambiente encontra-se hoje excessivamente sobrecarregado pelas atividades antrópicas
as quais o encaminham para o risco de exaustão dos seus recursos que, em determinadas situações, não
consegue recuperar por si só. De um modo geral, podemos notar que há um confronto ideológico muito
intenso entre desenvolver-se economicamente ou conservar a natureza. Este embate, portanto, tem sido
bastante evidenciado nas principais conferências ambientais, ainda que seja de forma incipiente. Mas o
fato é que, pelo menos no âmbito das discussões, tem existido uma análise mais cristalizada acerca dos
problemas ambientais, demonstrando através das evidentes preocupações, a busca pelas soluções
necessárias.

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DO CONCEITO DE ESPAÇO, PAISAGEM E


AS IMPLICAÇÕES DA MINERAÇÃO

Discute-se aqui as transformações no espaço geográfico e na paisagem a partir da atividade


mineradora. A Geografia, nascida na Antiguidade, sistematizada e institucionalizada como ciência na
segunda metade do século XIX, estuda não apenas os elementos físico-naturais, mas, também, os
aspectos sociais, em suas relações na construção e reconstrução da paisagem pela ação humana. A

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ciência geográfica, além do espaço geográfico e da paisagem como categorias de análise, apresenta, de
acordo com as diferentes correntes do pensamento, categorias consideradas essenciais para a
compreensão do seu estudo. Dentre as principais acrescentam-se, lugar, território, região.
Como pontua Milton Santos em seus discursos, definir uma categoria é tarefa árdua, já que cada
categoria possui diversas acepções. De acordo com a concepção de cada autor, as categorias recebem
são definidas por diferentes elementos de forma que toda e qualquer definição não é uma definição
imutável.
O espaço geográfico aqui abordado baseia-se na perspectiva de Lefebvre (1976) em que o
entende como produto da sociedade, fruto da reprodução das relações sociais em sua totalidade. Nesse
sentido, o espaço aqui entendido como uma das categorias máster da Geografia, o resultado contínuo
das relações sócio espaciais e tais relações são pautadas na interação sociedade-espaço mediatizada
pelo trabalho.
Na visão de Santos (1979) o espaço organizado pelo homem como as demais estruturas sociais,
uma estrutura subordinada-subordinante. Ainda sobre o espaço Santos (1979, p. 10) enfatiza que

O espaço reproduz a totalidade através das transformações determinadas pela sociedade, modos
de produção, distribuição da população, entre outras necessidades, desempenham funções
evolutivas na formação econômica e social, influencia na sua construção e também é
influenciado nas demais estruturas de modo que torna um componente fundamental da
totalidade social e de seus movimentos.

Moreira (1982) contribui ainda, reforçando que o espaço geográfico resulta da estrutura das
relações determinadas pelo social, através da socialização da natureza pelo trabalho e uma totalidade
estruturada de formas espaciais.
O conceito de espaço geográfico, abordado nesse estudo, então, se perfaz como sendo o
resultado das maneiras de como os homens organizam sua vida e suas formas de produção. Sendo
assim, a natureza passa a ser vista como recurso à produção. Baseia-se, assim, na relação dicotômica
entre a sociedade e a natureza.
Nessa perspectiva, destaca-se, também, a paisagem como categoria de análise a partir dada
relação sociedade/natureza. Sendo assim, ressalta-se que a conceituação de paisagem é muito antiga na
Geografia. Na Geografia Tradicional Vidal de la Blache, já apontava para a relação entre homem e a
natureza resultante de uma ação modeladora, adaptada de acordo com a cultura de cada indivíduo. Na
atualidade, o conceito de paisagem ganha força nos estudos relacionados à Geografia Física e a
Geografia da Percepção.
A transformação do conceito de paisagem na linha cronológica do pensamento geográfico é
notória. Oscilou entre a relevância e a pouca discussão nos estudos dos processos de construção do

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espaço. Foi durante a ascensão da Nova Geografia na década de 1970 que houve grande limitação nas
discussões do conceito de paisagem, principalmente, devido à revolução teorética-quantitativa
(MORAES, 2003).
Sendo a paisagem a categoria de análise abordada nesse estudo, é necessário, pois, uma reflexão
sobre a validade das definições de paisagem no contexto da ciência geográfica, numa perspectiva em
que ela é constituída através das relações do homem com o espaço natural. Paisagem aqui seria, então,
o resultado da materialização do processo interativo do homem e os elementos da natureza. Como
aponta Bertrand (2004, p. 141) a paisagem é,

em determinada porção do espaço, resultado sobre uma certa porção do espaço, da combinação
dinâmica e, portanto, instável dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, que, interagindo
dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em
contínua evolução.

Nessa interação do homem com o meio ambiente, inclui-se a apropriação do primeiro pelos
recursos minerais do segundo. Ao se apoderar dos minérios dispostos na natureza o homem constrói e
reconstrói a paisagem em que esses recursos estão inseridos. A atividade mineradora produz, então,
alterações na paisagem. Na maioria dos casos, as modificações encontradas na paisagem local, oriundas
da extração mineral, podem ser consideradas alterações negativas ainda que a maior parte da população
permaneça alheia aos danos ambientais. Sendo assim, o papel da mineração na questão do
desenvolvimento e alteração local e regional varia de acordo com a percepção do observador.
De acordo com Guimarães (1998, p. 45), ―o estudo da paisagem envolve essencialmente
sociedade - natureza, as comunidades humanas e seus ambientes, sejam eles naturais ou construídos‖.
Nesse sentido, a paisagem e o meio ambiente que estão em discussão aqui é um meio ambiente também
humano, já que é um espaço ocupado pelos indivíduos que moldam esse espaço e necessitam de
recursos ali ou em outros espaços produzidos e/ou reproduzidos.
A paisagem como categoria de análise neste trabalho é analisada na perspectiva sistêmica, na
qual segundo Lopes (2012, p. 23) a paisagem,

é compreendida como uma realidade posta, ou seja, realidade objetiva. Nesse caso, a paisagem
é o produto de um imbricamento dinâmico, maleável entre os componentes formadores da
paisagem, elementos físico-naturais e sociais. Essa dinâmica, para o viés sistêmico é única para
cada porção do espaço, e torna a paisagem um conjunto singular, inseparável e em constante
mutação.

A Geografia estuda a paisagem por diversas vertentes do pensamento geográfico e seu conceito
é polissêmico, pode ser utilizado de diferentes maneiras e por várias ciências. Vitte (2007, p. 75) traz a
definição da paisagem geográfica, ―compreendida como sendo o produto da interação entre o georelevo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

e as paisagens naturais com os produtos da ação humana na superfície‖. Bertrand (2004, p. 01) pensou
a paisagem como

uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de


elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros,
fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução.

Sobre isso, destaca-se, ainda, a proposta idealizada por Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2002) na
qual a paisagem é analisada numa perspectiva em que há integração dos componentes antrópicos e
naturais onde são caracterizados de forma socioeconômica e geoecológica. É nesse sentido, que os
autores defendem que haja o abandono dos preceitos mecanicistas de concepção do paradigma
ambiental e que a sociedade humana avance em uma nova orientação rumo ao desenvolvimento social junto à
natureza.
Na perspectiva de Rodrigues, Silva e Cavalcanti (2007, p. 18), ―a paisagem é definida como um
conjunto inter-relacionado de formações naturais e antroponaturais‖. Pode ser considerada, como um
sistema que contem e reproduz recursos, como um meio de vida e da atividade humana. Ainda esses
autores complementam que, ―as paisagens são formações complexas caracterizadas pela estrutura e
heterogeneidade na composição dos elementos que a integram‖.
Destarte, a discussão a cerca da análise da paisagem, percebe-se que, o conceito de paisagem e
as ciências que se dedicam ao estudo da paisagem, atualmente, assumem diversas posições filosóficas e
diferentes interpretações. Nesse estudo, o foco está nas implicações da ação humana sobre a paisagem,
nesse caso, o nosso foco é a mineração.
Assim sendo, ressalta-se a mineração como um bom exemplo dos agentes transformadores, que
influem na constituição de uma nova paisagem, por possuírem um considerável potencial indutor de
alterações das relações no espaço. Como aponta Accioly ( 2012, p. 12)

a mineração é muito representativa, uma vez que é uma atividade que exerce grande alteração
na paisagem e no espaço, principalmente no caso de lavras à céu aberto, por seu potencial de
transformação e degradação da paisagem. Além disso, a mineração é capaz de alterar
substancialmente a estrutura e configuração de agrupamentos sociais e comunidades, visto que
reconfigura o espaço por completo e suas relações, (des)construindo referências espaciais e
culturais. Há situações onde observamos a completa destruição de lugares, desvinculando as
raízes e identidade de famílias e grupos com o lugar.

A atividade mineradora produz alterações na paisagem. Na maioria dos casos, as modificações


encontradas na paisagem local, oriundas da extração mineral, podem ser consideradas alterações
negativas ainda que a maior parte da população permaneça alheia aos danos ambientais. Como aponta
Guerra e Vitte (2004, p.137), ―toda e qualquer atividade econômica sempre se inicia com um saque
sobre algum bem ambiental: a terra, os minérios, a vegetação, o ar, as águas, os animais‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

É necessário, pois, destacar que o aproveitamento de recursos minerais gera emprego e renda
para população da área direta e indiretamente afetada, além dos tributos gerados para o município. Por
isso, o conhecimento da política mineral pelos administradores municipais resulta, sem dúvidas, em um
incremento significativo do orçamento municipal.
No entanto, ao se realizar a exploração de algum mineral a céu aberto exerce o ambiente sofrerá
intensa modificação, influenciando diretamente na qualidade de vida das pessoas e na alteração da
paisagem natural. Portanto, a mineração é um processo de atividades que agride o meio ambiente
(GUERRA E VITTE, 2004).
Diante das leituras realizadas, confere-se que, em áreas em que são desenvolvidas atividades
mineradoras sua geomorfologia é alterada ao que seu relevo é modificado de forma brusca, tendo como
maiores consequências, erosões que implicam em voçorocas e assoreamentos. Vendo de modo mais
específico, o Relatório de Impacto Ambiental da implantação da Mina Pedra de Ferro na Bahia - RIMA
(2009, p.124), constata que:

Serão efetuadas ações na área explorada como a remoção da cobertura vegetal e da camada
superficial de solo nas áreas de acessos e estradas, decapameamento das áreas de lavra,
processo de lavra e disposição de estéril que levarão ao aumento da propensão dos solos à
erosão. A geração de áreas expostas em taludes de corte e aterro também poderá favorecer a
ocorrência de movimentos de massa ou escorregamentos.

No tocante ao solo, durante a operação de uma mina, este é alterado após a retirada da cobertura
vegetal para abertura da cava e construção de vias de acesso. Ao decapearem a área de floresta, as
características do solo serão alteradas comprometendo sua permeabilidade, exaurindo seus minerais,
modificando suas propriedades em função da contaminação com resíduos sólidos, como óleos e graxas,
inviabilização para uso agrícola em decorrência disposição dos rejeitos soterrados ou expostos, entre
outros agravos (RIMA, 2009, p. 88).
Ainda com relação a esse tema, Guerra e Vitte (2004, p.233) chamam a atenção para a extensão
das consequências da erosão dos solos. Nesse caso, eles afirmam que ―a erosão tem suas consequências
danosas não apenas onde ela ocorre, mas seus efeitos podem ser notados vários quilômetros afastados
de onde o processo erosivo esteja acontecendo‖. Assim sendo, conclui-se que, os efeitos da exploração
do ferro não se restringirão apenas ao local da mina, mas poderá se estender para áreas adjacentes
interferindo em atividades agrícolas, assoreando rios, contaminando corpos hídricos, etc.
Ainda nesse aspecto, citam-se os principais efeitos nocivos, devido ao material particulado,
causados por tal atividade que se resumem em danos sobre a saúde humana com a diminuição da
capacidade pulmonar, os efeitos negativos no processo reprodutivo das plantas comprometendo a
vegetação local e regional. Além disso, a fauna, também, sofre com a disposição de partículas na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

atmosfera com o enfraquecimento do sistema respiratório dos animais tornando-os mais susceptíveis às
doenças, conforme afirma Almeida (1999, p. 18).
No que concerne aos impactos nos recursos hídricos nas áreas de exploração de ferro, certifica-
se, então que, a atividade mineral leva a sérios impactos sobre as águas na região em que ela se
desenvolve. Nesse caso, os agravos ramificam-se tanto nas águas superficiais quanto nas águas
subterrâneas. Na primeira pela necessidade de água no processamento e transporte do minério e na
segunda pela usual presença de lençóis freáticos no subsolo que serão perfurados para uso na operação
ou removidos para que o minério seja extraído. Sendo assim, o lençol deixa de existir ou é pelo menos
modificado (MENDES, 2008).
Destarte, no que concerne à escala dos danos ambientais causados pela mineração com relação
às paisagens tem sido, como supracitado, de devastação. Conjectura-se que, na recuperação ambiental
da paisagem alterada não implicará o retorno à sua configuração original. Pode-se considerar, uma
nova configuração espacial e criação de novas paisagens, socialmente construídas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O reconhecimento da Geografia como disciplina na perspectiva de pensar os problemas


socioambientais assume papel de relevância nas discussões atuais assim como o estudo das relações do
homem com o meio.
Percebe-se uma nova configuração espacial a partir da influência de diversos fatores, sejam
econômicos, políticos e sociais alocados em um espaço, sendo que esses fatores devem estar imbuídos
numa perspectiva de promover transformações no espaço.
É necessário, pois, destacar que, os modos de produção adotados pelo homem não foram
capazes de proporcionar um convívio equilibrado e uma interação saudável sociedade/natureza já que
vivemos sob a égide do capitalismo, o qual está fundamentado no lucro e no consumismo sendo o
mesmo incompatível com as práticas de conservação da natureza.
Diante disso, percebe-se também que, a procura por um novo paradigma de desenvolvimento,
diante de um cenário agravado por um contexto mundial em rápida mutação, marcado pela integração
desigual dos mercados, pela produção e consumo desenfreados, enfim, pela pressão degradante sobre o
meio ambiente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Mudanças Climáticas,
Natureza e Sociedade

© Claudia Neu

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS DO AR EM CIDADES BRASILEIRAS


SOB O ENFOQUE DO AQUECIMENTO GLOBAL (1960-2010)

Gabriel de Paiva CAVALCANTE


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – UFPB
cavalcantegp.geo@gmail.com

RESUMO
O termo mudança do clima atribui-se direta ou indiretamente à atividade humana, ocorrendo de forma
adicional à variabilidade climática natural. Para se tentar entender o que mudará nos próximos séculos
é necessário compreender o processo de exploração do planeta no último milênio, além das mudanças
perceptíveis na atualidade, que podem alertar sobre condições que já estão com mudanças em curso. A
urbanização, fenômeno forte nas cidades brasileiras a partir dos anos 1980, tende a gerar condições
propícias ao aquecimento da temperatura de espaços onde há grandes extensões de terra ocupadas por
massa edificada. Esta urbanização tende a aumentar a intensidade de fenômenos como as ilhas de calor
e as anomalias térmicas do ar. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise sobre
a influência das mudanças climáticas nas sociedades humanas com ênfase na literatura, aplicando-se no
processamento da série temporal de dados de temperaturas máximas das cidades de Manaus, Recife,
Goiânia, São Paulo e Porto Alegre, localizadas em diferentes Regiões Geográficas do Brasil. Realizou-
se primeiramente um estudo bibliográfico visando uma breve análise das produções sobre as mudanças
climáticas no Brasil e no mundo. Posteriormente, foram coletados os dados de temperaturas máximas
diárias no Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de
Meteorologia – BDMEP/INMET entre 1960 e 2015. A tabulação desses dados permitiu o cálculo da
média aritmética decenal da temperatura máxima para as cidades estudadas. Todas as cidades
pesquisadas registraram os primeiros cinco anos da década de 2010 como os mais quentes em toda a
série. Sobre a evolução decenal, a cidade que apresentou maior variação foi Goiânia (+1,88°C em 54
anos), seguida por São Paulo (+1,68°C), Porto Alegre (+1,39°C), Manaus (+1,2°C) e Recife (+0,83°C).
De forma geral, as variações térmicas ocorrem na média de +1,39°C.
Palavras-chave: Mudanças Climáticas; Temperatura Máxima do Ar; Variações Térmicas.
ABSTRACT
The term climate change is attributed directly or indirectly to human activity, occurring in addition to
the natural climatic variability. In order to try to understand what will change in the next centuries, it is
necessary to understand the process of exploration of the planet in the last millennium, in addition to
the perceptible changes that can now alert to conditions that are already underway. Urbanization, a
strong phenomenon in Brazilian cities since the 1980s, tends to create conditions conducive to the
temperature rise of spaces where there are large tracts of land occupied by built mass. This urbanization
tends to increase the intensity of phenomena such as heat islands and thermal anomalies of the air. In
this perspective, the objective of this work is to perform an analysis on the influence of climatic
changes in human societies with emphasis in the literature, applying in the processing of the temporal
series of data of maximum temperatures of the cities of Manaus, Recife, Goiânia, São Paulo and Porto
Alegre, located in different Geographic Regions of Brazil. A bibliographical study was first carried out
aiming at a brief analysis of the productions on the climatic changes in Brazil and in the world.
Subsequently, the data of maximum daily temperatures were collected in the Meteorological Database

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

for Teaching and Research of the National Institute of Meteorology - BDMEP/INMET between 1960
and 2015. The tabulation of these data allowed the calculation of the arithmetic average of the
maximum temperature for cities Studied. All of the cities surveyed recorded the first five years of the
2010s as the hottest in the entire series. Regarding the decennial evolution, the city that presented the
greatest variation was Goiânia (+1.88°C in 54 years), followed by São Paulo (+1.68°C), Porto Alegre
(+1.39°C), Manaus (+1.2°C) and Recife (+0.83°C). In general, the thermal variations occur in the
average of +1.39°C.
Key Words: Climate changes; Maximum Air Temperature; Thermal Variations.

INTRODUÇÃO

O termo mudança do clima atribui-se direta ou indiretamente à atividade humana, ocorrendo de


forma adicional à variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis de
tempo, de acordo com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (ONU,
2007). Uma das principais atividades antrópicas que, de acordo com o IPCC, contribui para com as
mudanças climáticas, é a alteração da composição da atmosfera por meio da emissão de gases
poluentes como o Dióxido de Carbono e os Clorofluorcarbonetos – CFC‘s.
O principal órgão responsável pelos estudos e previsões climáticas é o Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change) – IPCC. A
missão do IPCC, segundo Marengo (2006), é ―avaliar a informação científica, técnica e
socioeconômica relevante para entender os riscos induzidos pela mudança climática na população
humana‖. Esta tarefa é abordada com a participação de um grande número de pesquisadores das áreas
de clima, meteorologia, hidrometeorologia, biologia e ciências afins, que se reúnem regularmente a
cada quatro anos.
Para se tentar entender o que mudará nos próximos séculos é necessário compreender o
processo de exploração do planeta no último milênio, além das mudanças perceptíveis na atualidade,
que podem alertar sobre condições de desequilíbrio em curso. Para Angelocci e Sentelhas (2010), a
complexidade do tema é colossal, pois ele envolve não só a atmosfera, mas também as superfícies
terrestres, ou seja, continentes, oceanos e a chamada criosfera (composta gelo marinho e camadas de
gelo das mais diferentes formas sobre os continentes), dos quais dependem as variações climáticas.
A Organização Pan-americana de Saúde (2003) relata que o clima afeta a saúde humana de
diversas maneiras: furacões, tempestades e inundações matam milhares de pessoas a cada ano e
comprometem água e alimentos; as secas provocam fome e desnutrição; chuvas fortes podem
desencadear epidemias de doenças como a malária e a dengue, além de gerar deslizamento de terra e
soterrar famílias ou comunidades inteiras; ondas de calor agravam o quadro de doenças como as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

respiratórias e cardiovasculares em idosos, deflagrando internações e, em muitos casos, contribuindo


com o óbito dos pacientes (BESANCENOT, 2001, 2002; FIRPO, 2008; MOURA, 2013; TEMÓTEO,
2016; CAVALCANTE, 2016).
A urbanização, fenômeno forte nas cidades brasileiras a partir dos anos 1980, tende a aquecer a
temperatura de espaços essencialmente urbanos, nos quais há grandes extensões de terra ocupadas por
massa edificada (MOURA, 2008, 2013). Esta urbanização tende a aumentar a intensidade de
fenômenos como as ilhas de calor e as anomalias térmicas do ar. Para Moura (2008), a urbanização é
uma das responsáveis pelas modificações do clima natural em determinada região. A degradação da
atmosfera urbana proporciona novos cenários que atuarão de forma diferente com a aplicação dos
fatores naturais. Moura (2013) também ressalta que a urbanização também pode produzir efeitos no
campo térmico de uma cidade, a exemplo da ocorrência de anomalias térmicas extremas.
Levando em consideração os aspectos tratados, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise
sobre a influência das mudanças climáticas nas sociedades humanas com ênfase na literatura,
aplicando-se no processamento da série temporal de dados de temperaturas máximas das cidades de
Manaus, Recife, Goiânia, São Paulo e Porto Alegre, localizadas em diferentes Regiões Geográficas do
Brasil (Figura 1).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Primeiramente, realizou-se um estudo bibliográfico para reunir ideias suficientes para discutir
sobre os impactos das variações climáticas do planeta nos ecossistemas, permitindo uma análise
preliminar, qualitativa. Como relata Minayo apud. Seabra (2007), a abordagem qualitativa da realidade
ocorre a partir de ―um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem
ser reduzidos à operacionalização de variáveis‖.
Na compreensão e discussão sobre os problemas ambientais e sociais será utilizado o método
analítico. Este método consiste na decomposição do objeto de estudo nas suas partes integrantes, a fim
de que os componentes individuais possam ser observados por diferentes ângulos (SEABRA, 2007).
Ou seja, tais objetos são o Homem Social, os Animais e as Plantas, na abordagem dos seres vivos em
geral e, em síntese, a sociobiodiversidade. Os ângulos são, por fim, as reações que cada um desses
grupos sofrerá a partir de mudanças climáticas atuais e geológicas, no intuito da análise das tais.
Por fim, parte do trabalho abordará o método quantitativo, no qual será utilizada a média das
temperaturas máximas nas últimas décadas em cinco cidades brasileiras localizadas em Regiões
Geográficas diferentes. Os dados de temperaturas máximas diárias serão obtidos no Banco de Dados
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Meteorológicos para Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia – BDMEP/INMET,


tabulados no software Microsoft Excel 2010.

LOCALIZAÇÃO DAS CIDADES PESQUISADAS

Manaus
Recife
Goiânia
São Paulo
Porto Alegre

Sistema de Coordenadas Geográficas


Datum: Sirgas 2000
Fonte dos dados e da base cartográfica: IBGE, 2010
Elaboração: Gabriel P. Cavalcante, 2017

Figura 1 – Localização das cidades de Manaus, Recife, Goiânia, São Paulo e Porto Alegre.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As mudanças climáticas na escala geológica

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O planeta já se aqueceu e se resfriou diversas vezes. Há também mudanças relacionadas a


outros atributos climáticos, como regiões que já receberam diferentes intensidades de chuva, o que
proporciona drásticas alterações na biodiversidade. Ou seja, não se deve abordar como mudanças
climáticas apenas as alterações térmicas representadas pelos períodos glaciais e quentes, mas também
as alterações pluviométricas provocadas por mudanças de fluxo dos sistemas atuantes em macro, meso
e até mesmo em microescala. Todas essas mudanças provocam reações nos organismos vivos presentes
na superfície afetada.
Os climas da Terra no passado podem ser reconstituídos a partir das características presentes no
registro geológico, principalmente nas rochas sedimentares, cuja composição e estrutura refletem o
ambiente em que se formaram (TEIXEIRA et. al., 2009, p. 117). No Brasil, podem ser citados como
exemplos os sistemas de chapadas, como a Chapada do Araripe, Diamantina e Serra do Catimbau,
importantes complexos sedimentares formados em condições climáticas diferentes das atuais
(SEABRA, 2014). Há também evidências de paleoclimas nas camadas de Carbonato de Cálcio
(CaCO3) presentes nos oceanos e em áreas litorâneas atualmente soterradas por barreiras. Nessas
evidências podem se constatar fósseis de animais com características específicas que corroboram as
teses sobre a evolução das espécies e a adaptação em climas diferentes.
No que tange às ocorrências de flutuações climáticas, os períodos quentes ocorreram com mais
frequência e duração. Há, inclusive, registros de porções continentais que sofreram processos de
desertificação, com desfavorecimento à sobrevivência de animais e plantas em virtude das condições
climáticas adversas (EEROLA, 2003). Já os períodos glaciais geralmente são de curta duração. A
Figura 2 mostra as temperaturas e glaciações que ocorreram na Terra nos últimos 630 milhões de anos.
Há uma correlação entre as temperaturas (Figura 2a) e os períodos glaciais (Figura 2b), mostrando que
os períodos de transição foram relativamente estáveis. A figura mostra também que a glaciação mais
violenta foi a Marinoana, que chegou à porção equatorial do globo e durou aproximadamente 10
milhões de anos:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 – Temperaturas (a) e Glaciações (b) da Terra nos últimos 630 milhões de anos. Fonte: Berner & Berner
(1996) in: Teixeira (2009).

Os períodos de aquecimento do planeta podem ocorrer na medida em que fatores se combinam,


dos quais, três recebem destaque, sendo os dois primeiros de causas internas, ou seja, fenômenos que
ocorrem no planeta, e o terceiro, de causas externas:
 a presença de CO2 na atmosfera (variabilidade proporcionada pela intensidade do
vulcanismo22;
 pelo ciclo do Carbono, com relações íntimas a criação de rochas carbonáticas marinhas);
 as características solares (como as explosões), e mudanças elipsoidais nos movimentos
de translação do planeta através de milhões de anos.
Nos últimos milhões de anos ocorreram aproximadamente dez oscilações maiores e quarenta
menores de ciclos glaciais intercalados com interglaciais. (TEIXEIRA et. al., 2009).
O estudo do passado nos revela que sempre houve mudanças climáticas afetando de forma
significante a flora e fauna. Espécies desapareceram e novas espécies surgiram (SEABRA, 2011,
2014). Desta forma, as mudanças drásticas do clima do planeta, associadas ao tempo de extinção,
evolução e adaptação das espécies animais e vegetais, mostram relevante importância na capacidade de
adaptação dos seres vivos em geral a partir de condições adversas. Provavelmente, se o planeta sempre

22
A partir do vulcanismo e da consequente emissão de centenas de toneladas da CO² emitidas na atmosfera, algumas regiões
da Terra sofreram alterações climáticas, principalmente os processos de absorção, transmissão e reflexão de energia solar
(TEODORO & AMORIM, 2008).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

estivesse sob uma única condição climática, os seres vivos não haviam passado por transformações
importantíssimas para a manutenção da vida.

Mudanças climáticas a partir do século XIX

Há relevante quantidade de produções científicas sobre as mudanças climáticas que consideram


que o início dos impactos ocorreu a partir da Revolução Industrial, momento em que o mundo passou a
emitir muito mais gases pesados na atmosfera, tanto em consequência do aumento do número de
indústrias, quanto por causa do surgimento dos veículos, fortalecendo processos como o efeito estufa.
A partir do século XIX, com o advento da Revolução Industrial, o aumento progressivo do
consumo de combustíveis fósseis, a intensificação no uso dos recursos naturais, os processos
produtivos e agrícolas (cultura de arroz, fabricação e uso de fertilizantes, fabricação e uso de fluidos
refrigerantes), o gerenciamento, muitas vezes inadequado, de resíduos, as alterações no uso da terra,
bem como o desmatamento aumentaram a concentração dos Gases de Efeito Estufa – GEEs na
atmosfera. A resposta da natureza às nossas intervenções é a necessidade de atingir um novo equilíbrio,
que se manifesta por meio de fenômenos naturais de origem externa (OLIVEIRA & ALVES, 2007).
Na Figura 3 constam as médias temperaturas anuais entre 1850 e 2005 (IPCC, 2007). Durante
todo o período, a maior sequência de anos com temperaturas médias acima da normal histórica
investigada é a partir da década de 1980, inclusive com os maiores registros nos últimos anos
pesquisados (na linha amarela, que registra aproximadamente 0,1°C de aumento por ano). Observa-se,
ainda, que existem quatro linhas que mostram a tendência de aumento das temperaturas, o que
evidencia ainda mais o agravamento das condições térmicas atuais em menores períodos.
A maior parte das previsões das condições de saúde frente a mudanças climáticas globais é
marcada pela maior quantidade de estudos locais e de curta duração. Para cenários globais e de longo
prazo, os estudos são poucos, o que pode gerar inúmeras incertezas e imprecisões. Os desenhos de
estudos epidemiológicos de base individual parecem não ser adequados para esses problemas, uma vez
que pressupõem a distinção entre grupos expostos e não-expostos, o que não é o caso dos estudos
relacionados a mudanças globais (McMICHAEL, 1999, 2006, 2008).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3 – Média das temperaturas anuais entre 1850 e 2005. Fonte: IPCC, 2007.

Um dos impactos mais significativos em decorrência do aumento da temperatura do ar reflete na


biodiversidade é a desertificação. Souza (2008) relata que este processo não é nenhuma novidade para
os ecossistemas, porém é com a degradação proveniente do antropismo que as consequências se
agravam. As teorias sobre a desertificação surgiram no século XVIII. Ainda segundo Souza (2008),

Os impactos provocados por diversas civilizações no Velho Mundo ajudaram a desenvolver,


desde a época mencionada (século XVIII), no velho continente, a ―teoria do dessecamento‖
(autoria desconhecida), o que parece ser, como um conjunto de conhecimentos sistematizados, a
mais antiga menção relacionada ao processo de desertificação que se tem notícia. Segundo essa
teoria, a vegetação estaria em direta consonância com a pluviosidade de uma região, não apenas
como resultado desta, mas contribuindo decisivamente para a sua manutenção, logo, a
destruição das matas, entre outras consequências, provocaria redução das chuvas (PÁDUA,
2002). Tal teoria mostra-se em direta concordância com algumas pesquisas mais recentes
desenvolvidas em algumas paisagens que fazem esse tipo de relação entre a vegetação e o tipo
de degradação em questão (SOUZA, 2008, p. 27).

O desmatamento e o uso incorreto do solo são as atividades antrópicas com mais potencialidade
para degradar um ambiente a ponto de gerar o processo de desertificação. A ausência de vegetação e o
empobrecimento pedológico facilitam processos como a remoção dos sedimentos, o que impede o
crescimento e a consequente regeneração das plantas (SOUZA, 2008).

Análise quantitativa das temperaturas máximas em regiões estratégicas do território brasileiro

A Prancha 1 contém as médias das temperaturas máximas diárias a cada 10 anos nas cidades de
Manaus, Recife, Goiânia, São Paulo e Porto Alegre, situadas em diferentes regiões geográficas do
Brasil. Para a década de 2010, os dados analisados vão até o ano de 2015.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 418


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Todas as cidades pesquisadas registraram os primeiros cinco anos da década de 2010 como os
mais quentes em toda a série pesquisada. Sobre a evolução decenal, a cidade que apresentou maior
variação foi Goiânia (+1,88°C em 54 anos), seguida por São Paulo (+1,68°C), Porto Alegre (+1,39°C),
Manaus (+1,2°C) e Recife (+0,83°C). Destaca-se a brusca variação entre 2000 e 2010 em Porto Alegre:
em apenas uma década (2000 e 2010), a temperatura variou +0,59°C. Recife foi a cidade que mostrou a
menor variação interdecenal dentre as cidades pesquisadas, mesmo apresentando um quantitativo
próximo a +1,0°C. Tal fato é justificado pelo já aquecido clima da cidade (foi a única cidade litorânea
dentre as cinco pesquisadas, a qual possui clima característico pela sucessão habitual de condições
estáveis do tempo).
De forma geral, as variações térmicas ocorrem na média de +1,39°C em um intervalo de 54
anos. A Tabela 1 sintetiza os dados e fornece uma síntese sobre a situação do aquecimento térmico no
território brasileiro.

Cidades Década menos quente (°C) Década mais quente (°C) Variação (°C)

Manaus 31,34 (1980) 32,54 (2010) +1,20


Recife 28,86 (1960) 29,69 (2010) +0,83
Goiânia 29,67 (1960) 31,55 (2010) +1,88
São Paulo 24,76 (1970) 26,44 (2010) +1,68
Porto Alegre 24,67 (1970) 26,06 (2010) +1,39
Aumento médio da temperatura +1,39
Tabela 1: Síntese da Variação Térmica das cidades pesquisadas. Fonte: INMET
33,00

32,50
MANAUS

32,00
A

31,50

31,00
1960 1970 1980 1990 2000 2010

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 419


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

30,00

29,50
RECIFE
B

29,00

28,50
1960 1970 1980 1990 2000 2010

32,00

31,50
GOIÂNIA

31,00
C

30,50

30,00

29,50
1960 1970 1980 1990 2000 2010
27,00

26,50
SÃO PAULO

26,00
D

25,50

25,00

24,50
1960 1970 1980 1990 2000 2010
26,50
PORTO ALEGRE

26,00

25,50
E

25,00

24,50
1960 1970 1980 1990 2000 2010
Prancha 1 – Média das temperaturas máximas diárias em Manaus, Recife, Goiânia, São Paulo e Porto Alegre
(decênios entre 1960 e 2014). Elaboração: Gabriel de Paiva. Fonte: INMET.

Esse aquecimento na superfície urbana das cinco cidades pode gerar transtornos como
epidemias de doenças como a dengue. Os tipos de tempo que ocorrem nessas cidades (notadamente os
períodos chuvosos concomitantes a temperaturas altas) são propícios para ambientes que facilitam a
reprodução do Aedes Aegypti. Segundo Júnior (2011), as características climáticas, principalmente a
precipitação, têm relação de média a forte com essas epidemias. A evolução da dengue de 1980 a 2010
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 420
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

coincide com a variabilidade térmica demonstrada neste trabalho, o que evidencia a possível relação
entre os casos de dengue e o aumento da temperatura na superfície (CATÃO, 2011).
Com relação a outros transtornos, tem-se, por exemplo, a ocorrência mais frequente de períodos
de calor acentuado, ou anomalias térmicas extremas do ar. Duas pesquisas em especial mostraram
resultados consistentes no Brasil para a percepção do aquecimento da superfície terrestre e seus efeitos
na população. Firpo (2008) e Moura (2013) produziram estudos sobre as cidades de Santa Maria/RS e
Fortaleza/CE, respectivamente. Mesmo com o controle térmico da latitude entre as duas cidades, as
anomalias térmicas extremas do ar existentes contribuem para com mudanças de hábitos da sociedade.
As condições de calor extremo podem agravar doenças cardiovasculares, principalmente nos idosos,
grupo etário mais sensível às variabilidades climáticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de aquecimento global é de conhecimento total na comunidade científica. Embora


não haja consenso para seus motivos, a interferência antrópica possui relevante participação. Desde as
revoluções industriais, a temperatura aumentou rapidamente, o que não ocorreu nos últimos períodos
de aquecimento registrados por estudos geológicos. Não obstante, há grupos científicos que relatam
que o planeta está sob uma situação de aquecimento natural em virtude de uma glaciação ocorrida há
pouco tempo. Cria-se, desta forma, um cenário de dúvidas e contradições no entorno dessas questões.
As mudanças climáticas ocorridas no tempo geológico foram essenciais para a dispersão e
evolução da vida no planeta. Várias espécies formaram adaptações biológicas para viver sob novas
condições naturais; muitas foram extintas por não se adaptarem às mudanças no clima. Os fenômenos
físicos – como a deriva continental, por exemplo – também foram determinantes para a manutenção
desta evolução na biodiversidade: cada porção continental ―migrou‖ para outras porções do planeta,
expondo os seres vivos e o sistema ambiental físico a condições climáticas diferentes.
Tal aspecto é formador de divergências, por exemplo, entre as florestas tropicais sul-
americanas, africanas e asiáticas, que, embora se localizem na mesma latitude, possuem atributos
biológicos relativamente diferentes. Os paleoclimas existentes em muitas porções do globo evidenciam
a intensa atividade das mudanças climáticas no planeta nas eras geológicas. São importantes
testemunhos de todos os processos sofridos pela biodiversidade e se mostram essenciais para a
compreensão da linha climática que a Terra participou e ainda participa.
Saindo do tempo geológico e partindo para o antrópico, as variações climáticas sentidas
atualmente em todo o mundo também alteram a saúde das pessoas: as doenças transmitidas por vetores
ainda são os principais transtornos sentidos no mundo, ocasionando graves problemas sociais,
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 421
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

principalmente nos países pobres. Há também a ocorrência de ondas de calor que, mesmo com muitos
registros antigos, apresentam-se atualmente com mais gravidade e frequência.
Foi detectado neste trabalho um aumento de 1,39°C nas temperaturas máximas por década em
um intervalo de 54 anos em uma cidade para cada região geográfica do Brasil. Trata-se de uma
mudança brusca em um intervalo de pouco mais de meio século que pode gerar consequências para as
sociedades humanas e a natureza em geral. Há muitos resultados semelhantes em diversos estudos pelo
mundo, especialmente aqueles publicados pelo IPCC.
A partir da análise dos processos de mudanças climáticas recentes, nota-se que o foco do
combate está na diminuição da emissão de gases que contribuem para com o aquecimento de – gênese
antrópica – do planeta. Mesmo que esteja, hipoteticamente, ocorrendo um processo de aquecimento
natural, não se pode negar a influência do Homem, uma vez que as ações potencializam esses fatores
condicionantes de fluxo e distribuição de energia. A solução é, portanto, poluir menos, sem reflexos na
produtividade. Deve-se usar a tecnologia a favor do meio ambiente para que os recursos naturais sejam
mais bem gerenciados e que não chegue ao esgotamento. O princípio para a continuidade dos processos
produtivos para a sociedade atual é o do desenvolvimento sustentável que, levantado pela ONU, deve
ser atribuído nas instituições públicas e privadas, criando cenários mais otimistas para a vivência das
gerações futuras.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PODER, PRECISÃO E RESPOSTA DE TESTES CLÁSSICOS DE


HOMOCEDASTICIDADE: APLICAÇÃO À SÉRIES TEMPORAIS DE PRECIPITAÇÃO
PLUVIAL DO SEMIÁRIDO POTIGUAR

Bruno Claytton Oliveira da SILVA


Docente da Universidade Potiguar (UnP)
brunoclaytton@yahoo.com.br
Prof. Dr. Ranyére Silva NÓBREGA
Docente do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE

RESUMO
O trabalho objetivou foi avaliar o poder, a precisão e a ‗resposta‘ de testes clássicos de
Homocedasticidade, sob séries temporais de precipitação pluvial acumulada na quadra chuvosa
Fevereiro-Março-Abril-Maio (FMAM), para o Semiárido do Nordeste Brasileiro (NEB); mais
especificamente do estado do Rio Grande do Norte (RN). Para tanto, foram empregados os testes de
igualdade de Variâncias de Bartlett (1937), Cochran (1941) e Levene Absoluto (1960), às séries
históricas obtidas junto ao Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa do Instituto
Nacional de Meteorologia (BDMEP-INMET). Destaca-se que o recorte temporal em estudo está
relacionado ao período de 1998-2015, e que as unidades espaciais avaliadas correspondem as Estações
Climatológicas Principais (ECPs) de Apodi, Caicó, Cruzeta, Florânia e Macau. Os resultados
apontaram que, apesar dos distintos pressupostos e características de cada teste – em termos de
concepção e parâmetros utilizados –, tais como (maior) menor sensibilidade à Normalidade dos
resíduos, eles tiveram desempenho (poder e precisão) semelhantes, além de igual ‗resposta‘ para as
séries avaliadas: em todas, manteve-se a hipótese de igualdade de Variâncias (H0) – séries
Homocedásticas. Logo, concluiu-se que os parâmetros e aspectos que modulam os testes de
Homocedasticidade estudados, não produziram efeitos distintos significativos – tanto em relação ao
desempenho, quanto a ‗resposta‘ – sob as séries analisadas.
Palavras-chaves: Homocedasticidade, Testes Clássicos, Precipitação Pluvial, Semiárido, Rio Grande do
Norte.
ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the power, precision and 'response' of classical
Homoscedasticity tests, under rainfall series accumulated in the February-March-April-May rainy
season, for the Brazilian Northeast Semi-Arid (NEB); More specifically the state of Rio Grande do
Norte (RN). For this, the Variance Equality Tests of Bartlett (1937), Cochran (1941), and Levene
Absolute (1960) were used for the historical series obtained from the Meteorological Database for
Teaching and Research of the National Meteorological Institute (BDMEP- INMET). It is worth noting
that the temporal cut in study is related to the period 1998-2015, and that the spatial units evaluated
correspond to Main Climatological Stations (ECPs) of the Apodi, Caicó, Cruzeta, Florânia and Macau.
The results showed that, despite the different assumptions and characteristics of each test, in terms of
design and parameters used, such as (greater) less sensitivity to the Normality of the residues, they had
similar performance (power and precision), besides equal 'response' for the series evaluated: in all,
remained the hypothesis of equality of variances (H0) - Homocedastics series. Therefore, it was

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

concluded that the parameters and aspects that modulate the Homoscedasticity tests studied did not
produce significant distinct effects - both in relation to performance and 'response' - under the analyzed
series.
Key-words: Homoscedasticity, Classical Tests, Rainfall, Semi-Arid, Rio Grande do Norte.

INTRODUÇÃO

A análise de Homocedasticidade verifica se as Variâncias das Variáveis Aleatórias (de um


modelo) são iguais. Existem duas maneiras de averiguar a Homocedasticidade: a gráfica (Qualitativa) e
partir de testes estatísticos (Quantitativa) (GOMES, 2016).
As Variâncias constantes, ou a homogeneidade de Variâncias, é, em geral, um pré-requisito para
realização de uma série de aplicações, inclusive, para Análise de Variância (ANOVA) (RIBOLDI et
al., 2014).
Dentre as técnicas gráficas, ou seja, orientadas dentro de uma abordagem Qualitativa, tem-se na
literatura o emprego dos gráficos Box-Plots (gráficos de Caixas) e Dot-Plots (gráficos de Pontos ou
Dispersão).
Já em relação as técnicas Quantitativas, para o mesmo fim, previstas na literatura, pode-se citar
os testes paramétricos de: Verossimilhança, Bartlett (1937), Levene (1960), Brow-Forsythe (1974),
O‘Brien (1979) (RIBOLDI et al., 2014). Além desses, existem os testes não paramétricos – aplicados
quando as distribuições das populações envolvidas não pertencem a uma família específica de
distribuição de probabilidade (PORTAL ACTION, 2017).
São considerados testes não paramétricos, para avaliação da Homocedasticidade, os testes de:
Mood (1954), Siegel-Tukey (1960), Ansari-Bradley (1960) e Klotz (1962) (RIBOLDI et al., 2014).
Ressalta-se que cada grupo, ou teste específico de Homocedasticidade, possui vários
pressupostos para seu emprego. Por conseguinte, conhecê-los figura como tarefa fundamental para sua
aplicação devida.
Nesta linha, Conover, Johnson e Johnson (1981, p.352) afirmam que: ―The potential user of a
test for equality of variances is thus presented with a confusing array of information concerning which
test to use […]‖.
Complementarmente, Bartlett (1937, p.281-282) aponta que: ―Properties of sufficiency must
necessarily be considered for all small sample tests of significative, whether these are related to
problems of estimation and fiducial distributions, or are of the nature of tests of goodness of fit‖.
Em consequência do exposto, compreende-se que a escolha do(s) teste(s) de
Homocedasticidade deve ser acompanhada de critérios/pressupostos que atentem para as suas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

potencialidades e limitações. Do contrário, as possíveis análises realizadas, a posteriori,


provavelmente, apresentarão vieses significativos.
Desde modo, o trabalho objetivou: 1. Caracterizar e distinguir as principais técnicas clássicas
para verificação da Homocedasticidade; 2. Avaliar o poder e a precisão de três testes clássicos de
Homocedasticidade, aplicados a séries temporais de precipitação pluvial do Semiárido Potiguar.

METODOLOGIA

A área de estudo deste trabalho, em termos ‗macro‘, contempla o Semiárido do Rio Grande do
Norte (RN). Tal área, segundo a Portaria de n° 89 do Ministério da Integração Nacional (MIN, 2007,
p.6-8), abrange 147 dos 167 municípios do mencionado estado; ou seja, cerca de 88% de suas unidades
administrativas.
Destaca-se que o recorte temporal em estudo está relacionado ao período de 1998-2015, e que
as unidades espaciais avaliadas correspondem as Estações Climatológicas Principais (ECPs) de: Apodi
(5°36'36''S e 47°48‘36‖W, 150,0m), Caicó (6°27'36''S e 37°4'48''W, 169,9m), Cruzeta (6º25'48''S e
36º34'48''W, 226,5m), Florânia (6º6'36''S e 36°48'36''W, 324,5m) e Macau (5°9'00''S e 36º34'12''W,
32,0m) (BDMEP-INMET, 2017).
De posse das séries cronológicas mensais, referentes as supracitadas ECPs, essas foram
tabuladas, processadas, criticadas e analisadas a partir dos programas Microsoft Office Excel, versão
2016, e Action Stat, versão 2.9. Além disso, a partir dos mesmos programas, foram gerados produtos
gráficos diversos.

Teste de Bartlett (1937)

O teste de Bartlett (1937) é uma modificação do teste da Razão de Verossimilhança; abordagem


clássica para testar a igualdade de Variâncias sob a suposição de Normalidade. Guardada tal
similaridade, o teste de Bartlett (1937) objetiva melhorar sua aproximação à distribuição Qui-Quadrado
(RIBOLDI et al., 2014).
Além do citado aspecto, os últimos autores, embasados no trabalho de Connover et al. (1981),
destacam que o teste de Bartlett (1937): ―[...] tem maior precisão para a probabilidade do erro tipo I e alto
poder quando a distribuição subjacente dos dados possui comportamento, aproximadamente, Normal [...] na
literatura tem sido feito referência à sensibilidade do teste de Bartlett a desvios da normalidade‖.
Nesta última perspectiva, a respeito da sensibilidade do teste de Barlett (1937), Conagin et al.
(1993, p.174-175) apontam que:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

―[...] o teste de Bartlett (1937) é extremamente sensível à falta de normalidade; em populações


Leptocúrticas, o teste tende a mostrar diferenças quando elas não existem e, em populações
Platicúrticas, diferenças reais passam a ser mascaradas [...] à medida que aumentam a assimetria
e a curtose, aumenta a porcentagem de rejeição da hipótese de nulidade de homogeneidade das
variâncias [...]‖.

Em face do exposto, pode-se concluir que o teste paramétrico de Bartlett (1937), apesar de sua
usual aplicabilidade, e de ser entendido como preciso e com alto poder, possui pressupostos
importantes (CONAGIN, 1993, p.177; ALMEIRA, ELIAN E NOBRE, 2008, p.243): 1. As
distribuições devem apresentar baixa Assimetria e Curtose; 2. A distribuição subjacente dos dados deve
possuir comportamento (aproximadamente) Normal;
A estatística do teste de Bartlett (1937) é dada por (PORTAL ACTION, 2017, p.3):
q
b0 =
c
Em que:
k

q = (N - k) * ln s - ∑ [(n i - 1)* ln si2 ]


2
p
i =1

k
1
c =1+
3 (k - 1)
( ∑ n 1- 1 - N1- k )
i =1 i

k
1
2
s =
p
N-k
∑ (n i
- 1) s i2
i =1

ni
(yij - yi ) 2
s =∑
2
i
j =1 ni -1

Sob H0 (igualdade das variâncias) sabe-se que B0 tem distribuição assintótica Qui-quadrado
com k - 1 graus de liberdade. Desta forma, ter-se-á que: Manter H0: se, B0 ≤ Q[1 - α; k - 1] no qual Q[1 - α; k -
1] representa o quantil (1 - α) * 100% da distribuição Qui-quadrado, com k-1 graus de liberdade, dada
por (PORTAL ACTION, 2017, p.3):

P - valor = P [χ 2 (k -1) > B0 H0 ]


Ou, rejeitar H0 (e assumir H1): se, B0 > Q[1 - α; k - 1].

Teste de Cochran (1941)

O teste de igualdade de Variâncias de Cochran (1941) figura como um dos três testes citados
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO, 2010, p.7), no DOQ-

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 429


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CGCRE-008 – documento orientativo para a validação de métodos analíticos – com vistas à avaliação
da homogeneidade dos resíduos (Homocedasticidade).
Destaca-se que o citado documento, no cenário brasileiro, possui caráter orientativo-normativo
para validação de métodos analíticos diversos.
Como mencionaram Conover, Johnson e Johnson (1981, p.353) ―The test introduced by
Cochran (1941) was considerably easier to compute than the tests up to that time. With today's
computers the difference in computation time is slight, however […]‖. Ou seja, a partir do teste de
Cochran (1941) pode-se analisar, mais facilmente, a Homocedasticidade dos resíduos.
O teste de Cochran (1941) é adequado quando/para (CONAGIN, 1993; GONZÁLES,
ASUERO, SAYAGO, 2006, p.257; MILLER E MILLER, 2010, p.97; PORTAL ACTION, 2017, p.2):
1. As distribuições apresentam baixa Assimetria e Curtose; 2. O número de observações é o mesmo
(experimentos balanceados); 3. Comparar a maior Variância observada com as demais Variâncias da
série, ou seja, variações periféricas e não ―o todo‖.
A estatística do teste, como já mencionado, é bastante simples, dada por (GONZÁLES,
ASUERO, SAYAGO, 2006, p.257; MILLER E MILLER, 2010, p.95):
s 2max
C=

k

i =1
s i2

Onde: C = estatística do teste de Cochran (1941); s 2max = Variância amostral Máxima; ∑i = 1 s i2 =


N

1 n
somatório das Variâncias amostrais: s =
2
i ∑
n - 1 j =1
(x ij - x i ) 2 ; n = número de medidas em cada nível do

fator ou tamanho do grupo (replicas); k = número de níveis/grupos.


No trabalho em curso, ‗n‘ será representado pelo número de dados de cada série temporal (n =
18), e ‗k‘ estará relacionado ao número de estações analisadas (k = 5).
Obtido o valor de C(calc.), esse deverá ser comparado a um dado valor crítico ou tabelado (C(tab.))
– para certo nível de significância – como citam Gonzáles, Asuero e Sayago (2006, p.257): ―[...] This
calculated value is compared with the critical tabulated value Ctab […]‖. Em seguida, ainda segundo
os mesmos autores, deve-se observar: ―[...] If C ≤ Ctab, then there is no significant difference among
the variances […]‖.
Em face do exposto, ter-se-á que: Manter H0: se, C(calc.) ≤ (C(tab.)); Rejeitar H0 (e assumir H1): se,
C(calc.) > (C(tab.)). Logo, o valor de C(tab.), para o trabalho em curso (n = 18, k = 5), obtido por meio da

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Tabela de Valores Críticos para a Estatística do Teste de Cochran (1941), para o nível de significância
de 5%, será de é 0,3859.

Teste de Levene Absoluto (1960)

O teste de Levene (1960) é outro teste bastante empregado na literatura para avaliação da
homogeneidade das Variâncias dos resíduos, ou seja, da Homocedasticidade.
Assim como o teste de Cochran (1941), ele também é indicado pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO, 2010, p.7), no DOQ-CGCRE-008, como um dos três
testes úteis e atuais para se testar a Homocedasticidade.
Em geral, o teste é orientado em quatro situações (ANDRADE et al., 2016, p.184; RIBOLDI et
al., 2014; FIORANI et al., 2011, p.6-7; ALMEIDA, ELIAN E BOBRE, 2008, p.243): 1. Quando não
se pode assegurar a normalidade dos dados; 2. Quando é sabido que os dados não possuem
comportamento (aproximadamente) Normal; 3. Para estudos balanceados; 4. Para análise de Variância
envolvendo um único fator.
Em todas as circunstâncias citadas, o teste de Levene Absoluto (1960) é considerado robusto,
com alto poder e, consequentemente, menos sensível a falta de normalidade (CONOVER et al. 1981,
p.355; RIBOLDI et al., 2014, p.3). Tal fato explica-se, como cita Almeida, Elian e Nobre (2008,
p.243), ―já que, na ausência de normalidade, seu tamanho real é próximo do nível de significância
fixado para uma grande variedade de distribuições de probabilidade‖.
Sobre seus aspectos fundamentais/técnicos, Riboldi et al. (2014, p.2) afirmam que:

―[...] O nível de significância para o teste de homogeneidade de variâncias é o p-valor do teste F


na análise de variância da variável de dispersão. [...] O teste de Levene (1960) usa os desvios
em relação à média dos grupos (tratamentos), podendo-se tomar o valor absoluto dos desvios
(Levene absoluto) ou os quadrados dos desvios (Levene quadrado) [...]‖.

Assim como em outros já mencionados testes, Levene Absoluto (1960) testa:

H0 : σ12 = ... = σ2k , i = 1, ...., k (Hipótese Nula)

H1 : σi2 ≠σ 2j , para algum i ≠ j, j = 1,...., k (Hipótese Alternativa)

Além dos citados aspectos, o Portal Action (2017, p.7) afirma que o teste de Levene Absoluto
(1960) ―consiste em fazer uma transformação dos dados originais e aplicar aos dados transformados o
teste da ANOVA‖.
A transformação supracitada é dada por (PORTAL ACTION, 2017, p.7; ALMEIRA, ELIAN E
NOBRE, 2008, p.243):

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Xi. = n i-1 ∑j = 1 Xij


ni

Para:

zij = x ij - x i , i = 1, ..., k, e j = 1, ..., n i

Onde: zij = representa os dados após a transformação; xij = representa os dados originais; x i =
representa a Média do nível i, para os dados originais.
Em seguida define-se a estatística (ALMEIRA, ELIAN E NOBRE, 2008, p.244):

n-k
∑n (z i i.
- z..) 2
W0 = ( ) i =1
k ni
k -1
∑∑(z ij
- z i. ) 2
i =1 j =1

ni k k

Em que: zi. = n
-1
i ∑z ij , z .. = n -1
∑n z i i. e n = ∑n i . Deste modo, o teste consiste em
j =1 i =1 i =1

rejeitar H0 se W0 > F(k−1,n−k),(1−α) ; F(k−1,n−k),(1−α) representa o quantil de ordem 1 − α da distribuição F


(k−1,n−k) e α é o nível de significância do teste (ALMEIRA, ELIAN E NOBRE, 2008, p.244).
Todavia, especificamente para distribuições assimétricas, Brown-Forsythe (1974) propuseram o
emprego dos valores absolutos dos desvios, não em função da Média, mas em função da Mediana
(RIBOLDI et al., 2014, p.2). Para tal, a transformação descrita na equação 11 deverá ser substituída por
(PORTAL ACTION, 2017, p.7):

zij = x ij - ~
xi , i = 1, ..., k, e j = 1, ..., n i

Onde: zij = representa os dados após a transformação; xij = representa os dados originais; ~
xi =
representa a Mediana do nível i, para os dados originais.
Por conseguinte, a estatística descrita na equação 13 será alterada para (ALMEIDA, ELIAN E
NOBRE, 2008, p.244):
k

n-k
∑n (z i
(m)
i.
- z (m) ..) 2
W50 = ( ) i =1
k ni
k -1
∑∑(z (m)
ij
- z i.(m) ) 2
i =1 j =1

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ni k k

Em que: z
(m)
i. =n -1
i ∑z (m)
ij e z (m)
.. =n -1
∑n z i
(m)
i. e n = ∑n i .
j =1 i =1 i =1

Dada a sua sutil diferença, entende-se que o teste de Brown-Forsythe (1974) pode ser
considerado, nada a mais, nada a menos, do que teste de Levene (1960) modificado.
Segundo Olejink e Algina (1987), mencionado por Conover et al. (1981), o teste de Brown-
Forsythe (1974) possui robustez e melhor poder para detectar a diferença de Variâncias, sendo ainda
mais preciso para a probabilidade do erro tipo I. Entretanto, nos resultados do estudo de Riboldi et al.
(2014, p.3) tais ganhos não foram observados. Nesse, os autores apontam que o teste de Levene
Absoluto (1960) se mostra tão eficiente, por exemplo, em relação ao teste de Bartlett (1937), para
dados normalmente distribuídos, e mais eficiente que ele para dados não normalmente distribuídos.
Em face do exposto, e da possível ausência de assimetria dos dados analisados, será empregado
no trabalho em curso, apenas, o teste de Levene Absoluto (1960).
A estatística do teste de Levene (1960) é a seguinte (ALMEIDA, ELIAN E NOBRE, 2008,
p.244):
k
n i (z i. - z..) 2
∑ (k - 1)
i =1
F*= k ni

∑∑(z ij - z i. ) 2
i =1 j =1
k

∑(n i - 1)
i =1

k
z ij
Em que: zi. = ∑n
i =1 i

k ni

∑∑z ij
i =1 j =1
e, z.. = k

∑n i
i =1

Logo, a partir da aplicação da estatística F, será rejeitada H0 e, consequentemente, descartada a


hipótese de igualdade de Variâncias, caso tal estatística seja significativa.
Enfatiza-se que, assim como foi fixado para os demais testes, será considerado o nível de
significância de 5% (α = 0,05 ou 5%).

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Finalmente, como citaram Costa, Olivares e Pacces (2011, p.2), se referindo as sugestões
quando se observa Heterocedasticidade nos dados, ―caso estas não sejam constante sugere-se aplicar o
método dos mínimos quadrados ponderados [...]‖.
Tal indicação já havia sido mencionada por Gonzáles, Asuero e Sayago (2006, p. 257) que
disseram que ―If the Cochran assay indicates heteroscedasticity, either weighed linear regression or
some mathematical transformation for stabilizing the response variance has to be considered‖.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como inicialmente mencionado, o trabalho objetivou, em termos gerais, comparar o poder,


precisão e resposta de testes clássicos de Homocedasticidade, aplicados a precipitação pluviométrica
acumulada na quadra chuvosa, para cinco Estações Climatológicas Principais (ECPs), localizada no
Semiárido do estado do Rio Grande do Norte.

Quanto a poder e precisão, como apresentou literatura consulta, e experimento realizado, todos
os testes obtiveram resultados semelhantes, não apresentando, com isso, diferentes significativas para
as séries temporais avaliadas.

Igualmente, os três testes, como mostra o quadro 1, logo abaixo, também não demonstraram
―sinais‖ distintos, quanto a rejeição da hipótese nula (H0), tida como aquela que admite não haver
diferenças significativas entre as Variâncias dos dados.

TESTES P-VALOR* / ESTATÍSTICA** RESPOSTA


Bartlett (1937)* 0,8449 Mantém H0
Cochran (1941)* 0,9223 Mantém H0
Levene Absoluto (1960)** 0,3959 Mantém H0

Em face dos resultados acima apontados, pode-se perceber que todos os p-valores superaram
bastante o nível de significância considerado neste trabalho (α = 5%). Logo, como já mencionado, não
há indícios de Heterocedasticidade dos dados. Ao contrário, as Variâncias das séries temporais de
precipitação pluvial, das ECPs de Apodi, Caicó, Cruzeta, Florânia e Macau, devem ser considerados
Homocedásticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos, pôde-se perceber que os parâmetros e aspectos que modulam os
testes de Homocedasticidade de Barlett (1937), Cochran (1941) e Levene Absoluto (1960) não

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

produziram efeitos distintos significativos – tanto em relação ao desempenho, quanto a ‗resposta‘ – sob
as séries temporais analisadas.
Em face do exposto, entende-se que a aplicação dos testes de Homocedasticidade supracitados –
desde que atentem para seus pressupostos – pode ocorrer de modo indiferente, para a componente
climática precipitação pluviométrica acumulada na quadra chuvosa Fevereiro-Março-Abril-Maio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Forsythe para igualdade de variâncias e médias. Revista Colombiana de Estadística, v.31, n.2, p.241-
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 436


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE INSETOS


AQUÁTICOS ENDÊMICOS DE REGIÕES FRIAS

Daniel Paiva SILVA


Doutor em Ecologia e Evolução, Instituto Federal Goiano, campus Urutaí (IFGoiano
daniel.paivasilva@gmail.com
Anderson Cleiton DIAS
Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Goiás (UEG)
bioandersonueg@gmail.com
Lucas LECCI
Doutor em Entomologia, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
lucaslecci@gmail.com
Juliana SIMIÃO-FERREIRA
Doutora em Ecologia e Evolução, Universidade Estadual de Goiás (UEG)
julianalimno@gmail.com

RESUMO
Em resposta ao aquecimento global causado pelo aumento da temperatura média do planeta, as
espécies endêmicas de regiões frias deslocam-se em busca de regiões adequadas para seu
desenvolvimento. Neste trabalho objetivou-se avaliar se e como a distribuição potencial futura de
quatro espécies de Gripopterygidae se diferirá da atual, em resposta a diferentes cenários futuros das
MCGs, utilizando-se modelos de distribuição potencial de espécies (MDPEs). A distribuição potencial
para todas as espécies modeladas apresentou bons índices de previsão e tendeu a diminuir. Políticas de
preservação da Mata Atlântica estariam, indiretamente, garantindo a manutenção das espécies
estudadas, pois mostraram íntima dependência do bioma no presente e no futuro.
Palavras-chave: Gripopterygidae; Mata Atlântica; Modelos de Distribuição Potencial de Espécies;
Mudanças Climáticas Globais.

ABSTRACT
In response to global warming caused by the average temperature increase of the planet, endemic
species of cold regions move towards adequate regions to their development. Here, we aimed to
evaluate how the future potential distribution of four species of Grypopterygidae will change in
comparison to future scenarios of climate change, with species potential distribution models. The
potential distribution of all modelled species showed good predictability indexes and tended to
decrease. Environmental policies to protect Atlantic Forest would be, indirectly, guaranteeing the
maintenance of the studied species, because they showed intimate dependency with this biome in both
present and future.
Keywords: Grypopterygidae; Atlantic Forest; Species Potential Distribution Models; Global Climate
Change

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

O aquecimento global pode influenciar a migração das espécies em direção às regiões com
temperaturas mais favoráveis ao seu crescimento e reprodução. Assim, espera-se que algumas espécies
se desloquem em direção aos polos ou para regiões montanhosas, acompanhando áreas com
temperaturas mais adequadas aos seus limites de tolerância fisiológicos (Parmesan, 2006). Os
deslocamentos geográficos das espécies podem afetar as interações entre espécies e a estrutura e
composições das comunidades biológicas futuras (Hughes, 2000), formando novas metacomunidades e
interações biológicas (Aars et al., 2015). Espera-se também que as mudanças climáticas diminuam a
riqueza de espécies e causem o enfraquecimento ou mesmo a perda de algumas interações devido à
mudança na biota após o aumento das temperaturas (Parmesan, 2006).
Portanto, em resposta ao aquecimento global causado pelo aumento da temperatura média do
globo, as espécies endêmicas de regiões frias deslocam-se em busca de regiões adequadas para seu
desenvolvimento (Parmesan, Yole, 2003), uma vez que estas áreas representam ambientes
particularmente sensíveis às mudanças no clima (Diaz, Grosjean, Graumlich, 2003). Estas espécies
sobrevivem em pequenos gradientes de tolerância térmica e de altitude e suas condições ambientais
locais variam pouco (Huey et al., 2009).
A família Gripopterygidae (Plecoptera) é uma das mais sensíveis às alterações em seus
ambientes. Na América do Sul se distribuem ao longo dos Andes (Bispo, Froehlich, 2007) e nas regiões
montanhosas do sul, sudeste e do centro do Brasil (Nessimian et al., 2009; Froehlich, 2010). São
considerados como oligostenotérmicos, apresentando pequeno gradiente de tolerância à temperatura
(Illies, 1965; Froehlich, 1969). Possuem larvas aquáticas endêmicas de regiões frias e de montanha
restritas a ambientes com água corrente, com elevada concentração de oxigênio (Froehlich, 2010).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos das mudanças climáticas globais sobre
a distribuição potencial futura de quatro espécies de Gripopterygidae (Gripopteryx cancellata,
Gripopteryx garbei, Tupiperla gracilis e Tupiperla tesselata).

MATERIAL E MÉTODOS

Neste estudo, modelamos a distribuição potencial de duas espécies do gênero Gripopteryx (G.
garbei Navás 1936 e G. cancellata Pictet 1841) e duas de Tupiperla (T. gracilis Burmeister 1839 e T.
tesselata Brauer 1868), com as ocorrências mostradas na Figura 1.
Com objetivo de estimar e avaliar os impactos potenciais das mudanças climáticas sobre os
padrões de distribuição das espécies, os modelos de distribuição potencial de espécies (MDPEs) são

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

uma importante ferramenta para a ecologia, biogeografia e biologia da conservação (Franklin, 2010).
Estes modelos representam a relação espécie-nicho (Guisan, Zimmermann, 2000) e se baseiam na
teoria de que fatores ambientais influenciam diretamente na distribuição das espécies. Os MDPEs são
desenvolvidos a partir da correlação entre as ocorrências geográficas conhecidas de uma espécie e os
respectivos conjuntos de variáveis ambientais destes locais, para produzir um espaço ambiental
multidimensional adequado para a distribuição potencial das espécies. Em um segundo momento, este
espaço ambiental é projetado no espaço geográfico de maneira a representar a distribuição geográfica
potencial das espécies em cenários climáticos (Phillips, Anderson, Schapire, 2006).

Figura 1 – Registros de ocorrências no Brasil, das espécies estudadas: A) G. cancellata; B) G. garbei; C) T.


gracilis; D) T. tesselata.

Foram utilizados os dados de 111 registros de ocorrência para as quatro espécies obtidos de: (1)
registros da literatura, (2) bancos de dados online CRIA Species Link (http://splink.cria.org.br), Global
Biodiversity Information Facility (http://www.gbif.org) e (3) dados cedidos pelos professores Dr.
Cláudio Froehlich e Dr. Lucas Lecci Silveira, que correspondem a vários estudos realizados pelos
pesquisadores especialistas neste grupo de insetos (Plecoptera) no Brasil (Froehlich, 1998).
Foram utilizadas 19 variáveis disponíveis no banco de dados de variáveis climáticas WorldClim
(Hijmans et al., 2005; http://www.worldclim.org/current) para derivar os componentes principais
empregados como variáveis ambientais durante o processo de modelagem. A partir dessas variáveis
foram feitas Análises de Componentes Principais (PCAs) em uma matriz de correlação, para derivar 19

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

componentes principais, dos quais os três primeiros foram utilizados como variáveis ambientais finais
(84% de toda variação climática original). Estas variáveis foram selecionadas por já terem sido
utilizadas como preditoras climáticas em outros estudos em que a distribuição potencial de insetos foi
modelada (Silva et al., 2014; Martins et al., 2015).
As mesmas 19 variáveis foram obtidas para o ano 2080 em três diferentes Modelos Gerais de
Circulação Atmosfera-Oceano (AOGCMs – CCCMA-CGCM2, CSIRO-MK2 e HCCPR HADCM3)
no CIAT (http://ccafs-climate.org/data/). Para cada modelo foi utilizado dois cenários, otimista e
pessimista (B2a e A2a, respectivamente), segundo o 4º Relatório de Avaliação do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O cenário A2a se refere ao cenário ―extremo‖,
com aquecimento projetado com uma média anual de temperatura de 5.8 ± 1.3 ºC. O cenário B2a
reflete um cenário ―moderado‖ com um aumento projetado da média da temperatura anual em 4.4 ± 1.0
ºC. Assim, foram projetadas as combinações lineares de todas as 19 PCAs obtidas para o cenário atual
em cada cenário futuro dos AOGCM.
Dada a natureza incerta dos MDPEs (Diniz-Filho et al., 2009), as espécies em estudo foram
avaliadas considerando dois algoritmos de modelagem diferentes: (1) Maximum Entropy – MaxEnt
(Phillips, Anderson, Schapire, 2006) e (2) Support Vector Machines – SVM (Schölkopf et al., 2001).
Os algoritmos MaxEnt e SVM são complexos métodos de inteligência artificial e tendem a prever mais
corretamente as ocorrências conhecidas das espécies (Rangel, Loyola, 2012). Para executar a Máxima
Entropia foi utilizado o software MaxEnt v. 3.3.3 (Phillips, Anderson, Schapire, 2006 – disponível para
download gratuito em <http://www.cs.princeton.edu/~schapire/maxent/>) e para o SVM utilizou-se o
OpenModeller Desktop (Muñoz et al., 2011). Para projetar o mapa de distribuição potencial das
espécies modeladas foi utilizado o software ESRI ArcGIS® 10.2 SP2 para Microsoft® Windows®.
A conversão das matrizes de adequabilidade contínua estimada em mapas de predição binária
de presença/ausência foi feita utilizando-se o limiar LPT (Pearson et al., 2007), por ser o mais indicado
quando se tem uma quantidade pequena de registros de ocorrências e que considera o menor valor de
adequabilidade dos pontos de ocorrências conhecidos das espécies. Sua ação pode ser interpretada
como uma estimativa de adequabilidade mínima que é necessária para a ocorrência das espécies e
minimiza apenas erros de omissão, uma vez que é considerado mais importante no estudo de espécies
com pouca informação de distribuição conhecida (Pearson et al., 2007).
Para avaliar o desempenho dos modelos foi utilizado a estatística de distribuição verdadeira
(True Skill Statistics – TSS; Allouche, Tsoar, Kadmon, 2006), um limiar que varia de -1 a 1. Valores de
TSS negativos ou próximo de zero representam distribuições que não foram melhores que uma
distribuição aleatória, enquanto que valores próximos de 1 representam um acordo perfeito entre as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

distribuições das espécies observadas e modeladas em cenários climáticos atuais. Modelos aceitáveis
utilizando estas estatísticas são aqueles que atingem pelo menos 0.5 e valores ótimos de TSS atingem
um mínimo de 0.7 (Silva et al., 2014). Finalmente, foi projetada uma distribuição média consenso para
as espécies em cada um dos três cenários climáticos considerados (atual, otimista e pessimista). Este
conjunto de métodos é considerado um dos mais confiáveis para determinar a distribuição potencial de
espécies utilizando diferentes algoritmos de modelagem (Marmion et al., 2009).

RESULTADOS

A distribuição potencial para as espécies modeladas apresentou bons índices de previsão


(Tabela 1). No cenário atual, Gripopteryx apresentou distribuição potencial desde o sul até as partes
mais altas do Brasil Central. A distribuição de G. cancellata se estendeu (Figura 2) do extremo sul do
país, passando por áreas adequadas em praticamente toda a porção leste da região sul, inclusive pelo
estado do Paraná (até então sem registro para a espécie) e se estendendo a pequenos fragmentos até o
centro do Mato Grosso do Sul. Em toda a porção sugerida, a distribuição potencial atual da espécie se
estende da costa litorânea até o centro-sul do país.

ALGORITMOS
Espécies
MaxEnt SVM
Gripopteryx cancellata 0.94 ± 0.002 0,76 ± 0.079
Gripopteryx garbei 0.95 ± 0.002 0,69 ± 0.168
Tupiperla gracilis 0.95 ± 0.002 0,70 ± 0.143
Tupiperla tesselata 0.94 ± 0.002 0,73 ± 0.127
Tabela 1 – Valores do TSS sob o limiar LPT utilizados para avaliar ambos algoritmos (MaxEnt e SVM)
escolhidos para determinar a distribuição potencial final das espécies modeladas.

Similar à G. cancellata, a distribuição potencial de G. garbei no presente se estende sentido


litoral-continente, coexistindo nas mesmas regiões da primeira espécie. As duas espécies apresentam,
ainda,potencial de colonização em direção à costa semi-árida. Podem haver regiões adequadas no
estado do Paraná e fragmentos ainda menores que G. cancellata no Pantanal – estas atualmente sem
registros conhecidos para as espécies.
Por fim, o gênero Tupiperla, de modo geral, apresentou uma área de distribuição potencial
significativamente maior que a atualmente conhecida. Os modelos de distribuição indicam regiões
climaticamente adequadas para a colonização das espécies no litoral sul do nordeste brasileiro. Ambas
as espécies, segundo o modelo, também podem ser encontradas em quase todo o sudeste (região com
cobertura da Mata Atlântica) e sul do Brasil, se estendendo até o centro-norte do Rio Grande do Sul.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No cenário futuro, o gênero Gripopteryx perderá áreas adequadas para sua ocorrência, com sua
cobertura reduzida do sudeste ao sul do país. No futuro otimista, sua área de domínio será reduzida a
pequenas regiões na costa semi-árida, no estado da Bahia, e estendida do sul de Minas Gerais ao norte
do Rio Grande do Sul, ainda predominando nesta região sudeste do país. Em um futuro pessimista, as
espécies do gênero podem se limitar ainda mais ao extremo sul de Minas Gerais e se concentrar,
propriamente, entre este e São Paulo, e ao centro-norte da região sul do país. Aparentemente, as duas
espécies de Gripopteryx modeladas responderam de forma bastante similar ao clima previsto para o
futuro pessimista.
No mesmo cenário futuro, T. gracilis apresentou redução da área adequada e ainda um leve
deslocamento de sua cobertura para o sul, com suas áreas preservadas nesta região e reduzidas
significativamente no sudeste brasileiro. Assim como Gripopteryx, se concentra entre o extremo sul de
Minas Gerais e sudeste de São Paulo, se estendendo ao sul a partir daí. Por sua vez, T. tesselata é a
espécie com situação mais crítica, que no cenário futuro otimista é extinta em praticamente toda a
região sul, com perdas ainda, mesmo que menores, no sudeste do Brasil. Em um futuro pessimista, a
espécie pode sobreviver apenas na costa sudeste.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 – Distribuição potencial atual e futura, em dois cenários, final prevista para as espécies G. cancellata, G. garbei, T.
gracilis e T. tesselata, a partir dos algoritmos MaxEnt e SVM, considerando o limiar LPT.

A partir de suas áreas de distribuição potencial futura obtidas utilizando a modelagem, é


perceptível a preferência das espécies, principalmente,pela região de Mata Atlântica, centralizando suas
ocorrências neste bioma. Todas as perdas de hábitat direcionam os remanescentes das espécies à costa
litorânea do Brasil.

DISCUSSÃO

De modo geral, as ocorrências conhecidas e as distribuições potenciais futuras das espécies


modeladas exibiram uma afinidade intrínseca com a região coberta pela Mata Atlântica. É possível
perceber que nos cenários modelados, as áreas climaticamente adequadas para as ocorrências previstas
das espécies estão na região de domínio do bioma. Portanto, as ameaças climáticas que comprometem a
Mata Atlântica estariam diretamente correlacionadas à perda de áreas adequadas para as espécies
estudadas.
No cenário presente, as quatro espécies modeladas apresentaram capacidade de colonizar uma
região maior que a atualmente conhecida para as mesmas. Inclusive, estados onde atualmente não
existem registros conhecidos para G. cancellata – Paraná, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Bahia
– de acordo com o modelo obtido possuem características adequadas à colonização por estes
organismos. O mesmo acontece para as demais espécies: G. garbei (Rio Grande do Sul, Paraná e
pequenas manchas no Mato Grosso do Sul); T. gracilis (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,
Espírito Santo e Bahia); e, por fim, T. tesselata (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul).
Considerando que a família Gripopterygidae constitui organismos raros e endêmicos de regiões
frias e/ou de altas altitudes, a distribuição potencial das espécies reflete um possível deslocamento em
resposta à variação na temperatura ao longo do tempo. O objetivo seria alcançar áreas adequadas de
sobrevivência, restritas a regiões de altas altitudes, o que reduziria de forma significativa seu potencial
de distribuição apresentado no mapa.
Em estudos com insetos aquáticos na Europa, foi constantemente defendida a hipótese que áreas
climáticas adequadas para organismos termossensíveis se deslocariam para o norte do continente
(Parmesan, Yole, 2003; Chen et al., 2011), a fim de alcançar regiões de menores temperaturas.
Relacionado ao presente estudo, a migração seria equiparada ao observado na projeção das
distribuições. As quatro espécies estudadas, em geral, além de reduzirem suas áreas adequadas para
sobrevivência, as mantêm no sul do país, ou ainda se deslocam predominando nesta região do Brasil,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

onde também alcançariam áreas com baixas temperaturas. Desta forma, a dimensão dos efeitos das
mudanças climáticas globais estaria relacionada às espécies com preferências térmicas (Domisch et al.,
2013) e aquelas raras e endêmicas, como a família estudada, seriam mais ameaçadas pelas mudanças
no clima do que as demais espécies, por apresentar uma maior exigência de hábitat que pode não estar
presente em condições climáticas futuras (Ohlemüller et al., 2008).
Das quatro espécies modeladas, todas apresentaram considerável redução em sua potencial
distribuição geográfica no cenário futuro, em especial, T. tesselata que perdeu habitats viáveis em
vários estados brasileiros em um futuro pessimista. No entanto, apenas T. gracilis que passou a ter suas
áreas de maior adequabilidade climática mais ao sul, conservando seus hábitats adequados nesta região
e perdendo grande parte da área no sudeste. Pelas espécies terem uma sensibilidade apurada para
alterações na temperatura, os modelos indicaram a necessidade de um comportamento estratégico para
sobrevivência, pois as áreas com maior adequabilidade climática se predominarão nas regiões sul do
país, onde as temperaturas médias anuais serão menores.
Regiões montanhosas e sem pressão antropogênica, potencialmente, configuram os fragmentos
remanescentes de distribuição das espécies no sudeste brasileiro. Por dependerem diretamente da
variável temperatura, a altitude pode predizer a distribuição geográfica futura das espécies. Isso nos
sugere que, no sudeste do país, principalmente no oeste de São Paulo, as regiões montanhosas como
córregos de altitude e/ou nascentes, por exemplo, podem estar comprometidos. Esta perda de hábitat
com clima adequado para as espécies estaria ligada ao intenso desenvolvimento humano ou áreas onde
as fronteiras de agricultura se expandem atualmente. Por sua vez, a conservação da espécie no sul
estaria ligada à consequente preservação destas regiões de altitudes ou ao manter, nesta região, uma
variação climática dentro do gradiente requerido pela espécie (Jacobsen, Schultz, Encalada, 1997;
Brehm, Colwell, Kluge, 2007).
Para as outras três espécies (G. cancellata, G. garbei e T. tesselata), aparentemente, a principal
ameaça traduzida na perda de hábitat adequado seriam os efeitos das mudanças climáticas e dos gases
de efeito estufa, causando um consequente aumento da temperatura média do globo (Heimann, 2005;
Nolte et al., 2008). A família Gripopterigydae, em especial, os gêneros Gripopteryx e Tupiperla, que
ocorrem no Brasil, possuem especificidades bastante conhecidas quanto à sensibilidade a variações no
gradiente de temperatura (Froehlich, 2012). A família é comum em áreas com cobertura vegetal densa
e seus estágios imaturos colonizam, em geral, rios de baixa ordem, preferencialmente em altas
altitudes, onde atingem populações viáveis (Bispo et al., 2006).
Desta forma, alterações nas temperaturas médias e disponibilidade de oxigênio atmosférico
configurariam potenciais ameaças para espécies aquáticas restritas a regiões de altas altitudes

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 444


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(JACOBSEN, 2008). Assim, as mudanças climáticas podem alterar os padrões de distribuição ou levar
à extinção espécies sensíveis a um determinado gradiente altitudinal (Domisch et al., 2013).

AGRADECIMENTOS

Nós agradecemos à UEG pelo apoio financeiro, por meio do "Programa Auxílio Eventos (Pró-
Eventos)" e pela bolsa de Iniciação Científica.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE DA COBERTURA VEGETAL EM ANOS DE EVENTOS PLUVIOMÉTRICOS


EXTREMOS EM SÃO JOÃO DO CARIRI – PB

Jaricélia Patrícia de Oliveira SENA


Doutoranda do Curso de Pós- graduação em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande
jariceliasena@hotmail.com
João Miguel de MORAES NETO
Dr. em Recursos Naturais, Prof. Titular UFCG, Campina Grande-PB
moraes@deag.ufcg.edu.br
Daisy Beserra LUCENA
Dra. em Meteorologia, Profa. Adjunta DGEOC/CCEN/UFPB-João Pessoa-PB
daisylucena@yahoo.com.br

RESUMO
Em condições adequadas o clima e suas variações executam uma influência positiva sobre a sociedade,
entretanto, existem condições climáticas em que as consequências apresentam resultado que, muitas
vezes, são prejudicial/adverso. O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento da precipitação
nos anos de eventos extremos e suas consequências na cobertura vegetal, no município de São João do
Cariri, localizado na região do Cariri paraibano. Para isto utilizou-se dados da Agência Executiva de
Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) durante o período de 1995–2015; dados mensais de
anomalias mensais da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre o Pacífico e Atlântico; e
imagens do satélite LANDSAT-TM/5 para o processamento digital das composições multiespectrais
ajustadas. As técnicas do box-plot e dos quantis foram aplicadas para a seleção dos eventos de
precipitação extremas. Com base nos resultados verifica-se que os métodos aplicados captam bem os
anos com eventos extremos de precipitação. Tem-se que dentre os anos analisados de 1995 a 2015, não
foi identificada maior frequência de anos secos. Para a categoria chuvosa, os oceanos Pacífico e
Atlântico estavam em condições favoráveis, contribuindo assim para a precipitação da região, na
categoria seca apesar de apresentar La Niña no Pacífico as condições do oceano Atlântico está em
condições desfavoráveis o que pode ter influenciado a diminuição dos volumes pluviométricos. A
análise visual e o processamento digital das imagens do satélite Landsat-5, mostrou-se bastante eficaz
na identificação dos alvos terrestres (vegetação, solo e água). Comparando os dois anos de eventos
pluviométricos extremos selecionados (1998 – seco e 2008 - chuvoso), verificou-se que ocorre
diferença na vegetação do ano seco para o chuvoso. Na parte Sul do município em estudo ainda existe
uma considerável vegetação preservada no local.
Palavras-chave: Box-plot, Técnica dos quantis, Composições multiespectrais ajustadas.
ABSTRACT
In appropriate conditions, the climate and its variations have a positive influence on society, however,
there are climatic conditions in which the consequences present a result that is often detrimental /
adverse. The objective of this work is to analyze the precipitation behavior in the years of extreme
events and their consequences on the vegetation cover, in the municipality of São João do Cariri,
located in the Cariri region of Paraíba. For this purpose data from the Executive Agency for Water
Management of the State of Paraíba (AESA) were used during the period 1995-2015; Monthly data of

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

monthly sea surface temperature (TSM) anomalies over the Pacific and Atlantic; And LANDSAT-TM /
5 satellite images for the digital processing of the adjusted multispectral compositions. Box-plot and
quantil techniques were applied for the selection of extreme precipitation events. Based on the results,
it can be seen that the applied methods capture well the years with extreme precipitation events. It has
been observed that among the years analyzed from 1995 to 2015, no higher frequency of dry years was
identified. For the rainy category, the Pacific and Atlantic oceans were in favorable conditions,
contributing thus to the precipitation of the region, in the dry category although presenting La Niña in
the Pacific the conditions of the Atlantic Ocean are in unfavorable conditions which may have
influenced the decrease of the Pluviometric volumes. The visual analysis and the digital processing of
Landsat-5 satellite images proved to be very effective in identifying terrestrial targets (vegetation, soil
and water). Comparing the two years of selected extreme rainfall events (1998 - dry and 2008 - rainy),
it was verified that there is difference in the vegetation of the dry year to the rainy season. In the
southern part of the municipality under study there is still considerable vegetation preserved on the site.
Keywords: Box-plot, Quantis technique, Adjusted multispectral compositions.

INTRODUÇÃO

O clima e seus impactos, numa concepção geográfica, devem atingir dois níveis: o
socioeconômico, que é um fenômeno socialmente produzido, e o ambiental, que compreende a
influência dos fenômenos atmosféricos e os padrões climáticos. Com base nesses dois níveis, vários
estudos científicos têm sido produzidos e, cada vez mais, despertam o interesse da sociedade,
principalmente, em debates relativos às questões ambientais, a variabilidade climática como também as
mudanças climáticas globais e regionais (SANT‘ANNA NETO, 2008).
Em condições adequadas o clima e as variações climáticas, executam uma influência positiva
sobre a sociedade, através da precipitação pluvial, luminosidade, vento, dentre outros. Entretanto, em
condições negativas o resultado pode ser prejudicial/adverso visível através de enchentes, tempestades,
secas, granizo entre outras (SOUSA, 2006).
O clima tem grande influencia em diversos setores, dentre eles: na economia, na pecuária, na
agricultura, nos recursos hídricos, no turismo, na saúde, na engenharia, na produção de energia, entre
outros; sendo a agricultura uma das atividades mais vulneráveis às mudanças climáticas (MIRANDA et
al. 2010). Elas podem afetar os sistemas agrícolas regionais, com sérias consequências na produção de
alimentos. Por isso, o uso de informações meteorológicas e climáticas é fundamental para que a
agricultura se torne uma atividade sustentável (SIVAKUMAR et al., 2000).
O Cariri paraibano está localizado no Nordeste do Brasil, essa região apresenta o menor índice
pluviométrico de todo o Estado da Paraíba, não ultrapassando 800 mm anuais (SENA et al., 2012) -
uma região fisiográfica de condições climáticas de semiaridez, com fauna e flora pouco diversificada,
devido a influência do clima, sendo este um fator limitante para o desenvolvimento da vida local. A

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

irregularidade das chuvas ao longo dos anos tem levado a agricultura de subsistência (milho e feijão),
aos limites de déficits hídricos, com isto, as lavouras não atingem nem a floração, fenômeno conhecido
como seca verde (LIMEIRA, 2008).
Segundo Molion e Bernardo (2002) e Nascimento e Alves (2008), o Cariri Paraibano apresenta
deficiência pluviométrica, por se localizar na vertente a sotavento do planalto da Borborema,
mostrando a interferência que a distância do oceano e a morfologia do relevo, exercem na distribuição
dos climas. É uma região marcada por superfície irregular, localizada numa área rebaixada pela ação
das águas da bacia hidrográfica do rio Paraíba, cortada por relevos residuais, ora isolados, ora em
alinhamentos (NASCIMENTO e ALVES, 2008).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar o comportamento da precipitação nos
anos de eventos extremos e suas consequências na cobertura vegetal, no município de São João do
Cariri, localizado na região do Cariri paraibano.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo compreende o município de São João do Cariri, localizado em uma


microrregião do Estado da Paraíba (Figura 1) que compõe a microrregião geográfica do Cariri Oriental.
Emancipado politicamente em 15 de novembro de 1831, possui uma área total de 653,09 Km2, sendo
ocupada por 4.344 habitantes e com uma densidade demográfica de 6,65 habitantes/Km2, segundo o
último censo IBGE (2010).
O município apresenta uma rede de drenagem de natureza intermitente, embora tenha vários
cursos d‘água, que por sua vez, só apresenta fluxo com as chuvas intensas. O Rio Taperoá além de ser
o principal rio do município, é também o maior e mais importante dos efluentes do Rio Paraíba
(MORAIS et al., 2014). O município conta ainda com um açude de porte médio (Açude dos
Namorados) com capacidade de 2.118.980 m3, hoje com volume atual de 17.124 m3 (AESA, 2016).
Apresenta médias pluviométricas que variam de 400 a 500 mm/ano (SOUZA, 2008).

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Figura 1 - Mapa da Divisão Política do Estado da Paraíba, localização da área de estudo no Estado da Paraíba.
Fonte: Adaptado do IBGE (2016).

Para o desenvolvimento do trabalho foram analisados dados de precipitação pluvial fornecida e


disponibilizada pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) para o
período de 1995 - 2015.
Foram aplicada as técnicas do box-plot e dos quantis visando identificar os valores (eventos)
extremos de precipitação. O box-plot funciona como ferramenta diagnóstica para monitorar a
variabilidade mensal, sazonal e anual da chuva observada, em uma determinada localidade (TRIOLA,
2005) e identificar os valores atípicos (outliers) na série de dados.
A técnica dos quantis distribui em classes a variável em estudo, de modo a caracterizar os
períodos de anomalias de acordo com a intensidade do evento. É uma técnica que se baseia na
distribuição da frequência acumulada, ou seja, quanto maior o número de observações disponíveis,
melhor a aproximação da função densidade de probabilidade que descreve o fenômeno (PINKAYAN,
1966; XAVIER et al., 2002; XAVIER et al., 2007). Os quantis possibilitam estabelecer ou delimitar
faixas com regimes de chuvas diferenciados, tais como: extremamente seco (ES), muito seco (MS),
seco (S), normal (N), chuvoso (C), muito chuvoso (MC) e extremamente chuvoso (EC).
Utilizaram-se também dados de anomalias mensais da Temperatura da Superfície do Mar
(TSM) sobre o Pacífico e Atlântico, obtidos no site do CPC/NOAA23.

23
Climate Prediction Center. Disponível em <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/data/indices/>

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para análise e interpretação das composições multiespectrais ajustadas, foram utilizadas


imagens do satélite LANDSAT-TM/5, obtidas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
para as datas, 14 de outubro de 1998 e 23 de setembro de 2008, da órbita 215, ponto 65.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir do gráfico box-plot para a precipitação mensal do município de São João do Cariri
durante o período de 1995 a 2015 (Figura 2), é possível observar uma assimetria positiva, para os totais
mensais de precipitação pluviométrica, uma vez que, a média mensal apresentou-se superior à mediana
nos seis primeiros meses, uma possível justificativa para isso, seria a má distribuição espacial da
precipitação durante esses meses. Os valores atípicos (outliers) estão concentrados nos meses de
janeiro, março, junho, agosto, outubro, novembro e dezembro, sendo o mês de janeiro o que
apresentou, em termos quantitativo o maior valor atípico da precipitação, com 280,8 mm no ano de
2004 (Figura 2), com relação a quantidade de eventos atípicos chama a atenção os meses de outubro e
novembro com 3 eventos extremos em cada mês, sendo os anos de 2001 (com 51,7 mm), 2010 (com
152 mm), 2014 (com 17 mm), 1995 (com 73 mm), 2013 (com 39,6 mm) e 2014 (com 105 mm) (Figura
2), ressaltando que nesses meses os valores de precipitação mensal são bem pequenos já que estão no
quadrimestre mais seco para a região (SOUZA, 2008).

SÃO JOÃO DO CARIRI


350

300
PRECIPITAÇÃO (mm)

250

200

150

100

50

0
MAR

MAI

AGO

OUT

DEZ
ABR
JAN

JUN

NOV
FEV

JUL

SET

MESES

Figura 2 - Box plot dos dados mensais de precipitação (mm) para São João do Cariri, no período de 1995 – 2015.
Fonte: Elaborado pela autora.

Diante da variabilidade observada e dos anos com precipitações extremas – outliers (verificados
pela técnica do box plot) foi aplicado a técnica dos quantis, pois como os dados de precipitação
pluviométrica não seguem uma distribuição normal, essa técnica acaba sendo a melhor metodologia,

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para classificação de eventos de precipitação quanto a intensidade, sendo possível identificar, mesmo
que não corrobore com os eventos de precipitação verificados pela técnica do box-plot.
A classificação da intensidade da precipitação referente ás ordens quantílicas obtidas para São
João do Cariri baseada na metodologia dos quantis pode ser observada na Tabela 1, por exemplo, para
um ano ser classificado como extremamente seco (ES) ele deve apresentar precipitação anual inferior a
124,80 mm, para um ano extremamente chuvoso (EC) precipitação for maior ou igual a 1351,70 mm.

Intensidade da Precipitação (mm)


Categorias São João do Cariri
Extremamente Seco (ES) p(x) < 124,80
Muito Seco (MS) 124,80 p (x) < 214,44
Seco (S) 214,44 p (x) < 372,35
Normal (N) 372,35 p (x) < 658,91
Chuvoso (C) 658,91 p (x) < 786,55
Muito Chuvoso (MC) 786,55 p(x) < 1351,70
Extremamente Chuvoso (EC) p(x) 1351,70
Tabela 1 - Classificação da intensidade da precipitação anual para São João do Cariri.
Fonte: Elaborado pela autora.

Analisando essa classificação interanual, percebe-se que os anos chuvosos (categorias chuvoso,
muito chuvoso e extremamente chuvoso) aparecem com maior frequência de ocorrência com um total
de 8 anos. Salienta-se que, a partir de 2000 até 2011 a frequência de chuvas com maior intensidade
aumentam (Figura 3), corroborando com os encontrados por Sena et al. (2014). A única exceção ocorre
em 2003 e 2007 classificadas na categoria Seco.
Após o ano de 2011 ocorrem oscilações na precipitação pluviométrica, variando de muito seco a
seco, com exceção do ano de 2014 classificado na categoria normal com 377,3 mm. Com respeito a
esses anos Marengo et al. (2016) relata que, os anos de 2012 a 2015 são considerados o período de seca
mais grave na região, das últimas décadas, causando impactos na região semiárida nos estados do
Nordeste brasileiro. O ano de 2011 chama a atenção sendo o ano que apresentou a maior quantidade
pluviométrica com 1351,7 mm dentre o período em estudo, um aumento de 160 % da média para o
período.

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Figura 3 - Distribuição temporal da qualidade chuvosa para o município de São João do Cariri para o período de 1995-2015.
A linha na cor vermelha representa a média climatológica ( ).
Fonte: Elaborado pela autora.

A partir da técnica dos quantis é possível identificar os anos com precipitações extremas
(eventos extremos). Sendo assim, alguns anos apresentaram elevados e baixos volumes de precipitação,
evidenciando os anos de 1998 (com 124,8 mm) uma redução de 24%, 1999 (com 184,9 mm) uma
redução de 35% e 2012 (com 205,8 mm) com uma redução de 39% (ano Extremamente Seco e Muito
seco) em relação à média climatológica da região (Figura 3). Os anos classificados nas categorias
Muito chuvoso e Extremamente chuvoso foram 2000 (com 886,2 mm) com um aumento de 70%, 2008
(com 796,3 mm) com um aumento de 53% e 2011 (com 1351,7 mm) com um aumento de 160% em
relação à média climatológica.
Nos anos de eventos chuvosos observa-se a predominância de eventos La Niña de categoria
leve e forte no Oceano Pacífico e sobre o Oceano Atlântico condição neutra e negativa, ou seja, os dois
oceanos em condições favoráveis, o que pode ter contribuído com o aumento da precipitação. Para os
anos de eventos secos observa-se a predominância de dois eventos La Niña de categoria forte e
moderado e um dos eventos, El Niño de categoria forte. Apesar dos dois eventos La Niña presentes
pode ser observado que sobre o Oceano Atlântico as condições não são favoráveis, apresentando o
GRADM neutro e positivo o que influenciou a diminuição dos volumes pluviométricos e também da
indícios que outros fenômenos atmosféricos podem ter contribuído para essa diminuição (Tabela 2).

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Tabela 2 - Eventos extremos de precipitação e condições sobre os oceanos Pacífico e Atlântico. Eventos
chuvosos e eventos secos.
EVENTOS OCEANOS EVENTOS OCEANOS
CHUVOSOS Pacífico Atlântico SECOS Pacífico Atlântico

2000 La Niña (L) Neutro 1998 El Niño (F) Neutro


2008 La Niña (L) Negativo 1999 La Niña (F) Neutro
2011 La Niña (F) Neutro 2012 La Niña (M) Positivo

Observação: As letras em parênteses na tabela 2, referem-se à intensidade do evento em que, F


– forte , M – moderado e L – leve.
Fonte: CPC/NOAA, 2016.

Os anos selecionados para o estudo das composições multiespectrais ajustadas (CMA‘s), foram
os anos de 1998 e 2008, classificados na categoria extremamente seco e muito chuvoso. Foi escolhido o
ano de 1998 por ser ano de atuação do evento El Niño classificado na categoria forte e 2008 de La
Niña, classificado na categoria leve, além disso, outro fator decisivo foi a disponibilidade das imagens,
com uma cobertura de nuvem abaixo de 10%.
Pode-se perceber a partir das composições multiespectrais ajustadas, uma modificação no
quantitativo vegetacional ao longo desses eventos (Figura 4 a e b). Ademais, foi possível observar que
a cobertura vegetal se manteve principalmente ao longo dos cursos dos rios e riachos locais, em
decorrência da manutenção da umidade durante uma boa parte do ano, assim como nas áreas de
maiores elevações, nesse caso os morros, picos e relevos regionais. Nota-se que ocorre uma evolução
do processo de redução da vegetação nativa em alguns pontos do município e uma recuperação em
outros, o qual ocorre principalmente nas áreas em que as terras se encontram em repouso, sem
nenhuma utilização de práticas antrópicas como: desmatamento, preparo do solo para plantios, entre
outros (Figuras 4 a e b).
No ano de 1998, verificam-se uma vegetação arbustiva aberta e solos expostos em várias áreas.
As áreas de relevo mais plano são mais explorados e a baixa fertilidade dificulta o desenvolvimento da
cobertura vegetal, predominando uma vegetação rala + solo exposto, foi um ano com baixos volumes
pluviométricos (124,8 mm), sendo o mês de agosto o último mês com precipitação (38 mm), o maior
valor registrado em todo o ano (Figura 4 a).
A composição multiespectral do ano de 2008 (Figura 4 b) apresenta uma vegetação mais
exuberante, sem estresse hídrico, tendo em vista que foi um ano com precipitação de 796,3 mm. Nesse
período os maiores valores pluviométricos concentram-se nos seis primeiros meses, destacando o mês
de março e abril, com maior volume pluviométrico (266,2 mm).

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Figura 4 - Composição multiespectrais ajustada para o município de São João do Cariri no ano de (a) 1998 e (b) 2008.

É visível que na parte Sul do município ao longo dos anos, ainda existe uma considerável
vegetação preservada no local. No entanto, na parte Norte - Noroeste a região se apresenta mais
devastada, isso ocorre devido à evolução da retirada da vegetação nas proximidades dos rios,
principalmente do rio Taperoá, além de práticas de agricultura intensas, que intensificam o processo de
retirada da vegetação (Figura 4 a e b)

CONCLUSÕES

A distribuição da precipitação pluviométrica sempre necessita de investigação, tendo em vista a


sua grande variabilidade e as consequências que podem advir de eventos extremos. Apesar de ser uma
característica marcante da região do Cariri Paraibano os baixos índices pluviométricos e a região sofrer
com as consequências de eventos de secas, foi observado que, dentre os anos estudados de 1995 a
2015, não foi identificada maior frequência de anos secos.
Os métodos aplicados para a identificação dos extremos pluviométricos mostraram-se
simplicidade na realização e resultados satisfatórios. Notou-se que para as categorias chuvosas os
oceanos Pacífico e Atlântico estavam em condições favoráveis, contribuindo com a precipitação da
região. Na categoria seca as condições do oceano Pacífico e Atlântico apresentavam-se em condições
desfavoráveis influenciando a diminuição dos volumes pluviométricos.
A comparação da cobertura vegetal em dois anos contrastantes 1998 (extremamente seco) e
2008 (muito chuvoso) percebe-se que a região sofre com os baixos volumes pluviométricos no ano

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extremamente seco, no ano muito chuvoso a vegetação apresentou-se mais exuberante, sem estresse
hídrico, apresentando um aumento de 53% em relação à média climatológica da região.
Foi visível que na parte Sul do município ao longo dos anos, ainda existe uma considerável
vegetação preservada no local. Portanto, a analise visual e o processamento digital das imagens do
satélite Landsat-5, mostrou-se bastante eficaz na identificação dos alvos terrestres (vegetação, solo e
água).

AGRADECIMENTOS

Ao CAPES/ FAPESQ pela concessão de bolsa de pesquisa ao primeiro autor.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VULNERABILIDADES MORFOCLIMÁTICAS NO BIOMA AMAZÔNIA NO ESTADO


DO MARANHÃO: ORIENTAÇÕES AO ZONEAMENTO
ECOLÓGICO-ECONÔMICO REGIONAL

Luiz Jorge B. DIAS


Professor de Geografia, DHG./ CECEN, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
luizjorgedias@hotmail.com
Wenderson TEIXEIRA
Geógrafo e Pesq. do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos - IMESC
Jéssica Conceição SILVA
Graduanda do Curso em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Jéssica Suyane SOUSA
Graduanda do Curso de Bacharelado em Geografia, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

RESUMO
As vulnerabilidades morfoclimáticas são indicativos de estabilidade ou instabilidade dos territórios
naturais, sob a perspectiva dos usos potenciais a ele associados. Apresenta-se como metodologia a
intercalação de dados e informações em ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG) quanto
às vulnerabilidades climáticas e de relevo para o Bioma Amazônia no Estado do Maranhão, com o
objetivo de obter-se maior entendimento sobre os problemas integrados que a área apresenta. São
apresentados mapas temáticos que indicam a configuração climática e morfológica regional, apontando
para áreas de criticidade e instabilidade de manutenção das atividades em curso, bem como permitindo
uma melhor distribuição espacial dos fenômenos de vulnerabilidades integradas. Conclui-se com a
proposta técnica e científica de indicar o Bioma Amazônia no Estado do Maranhão como o território
inicial para o Zoneamento Ecológico e Econômico do Maranhão na escala 1:250.000, com vistas a
reconhecer seus potenciais e restrições ambientais, sociais e econômicos do ponto de vista da
articulação dos espaços regionais.
Palavras- Chave: Bioma Amazônia. Zoneamento Ecológico e Econômico. Estado do Maranhão.
ABSTRACT
Morpho-climatic vulnerabilities are indicative of the stability or instability of natural territories from
the perspective of the potential uses associated with them. It is presented as a methodology the
intercalation of data and information in a Geographical Information System (GIS) environment
regarding the climatic and relevant vulnerabilities to the Amazon Biome in the State of Maranhão, with
the objective of obtaining a better understanding of integrated problems That the area presents.
Thematic maps are presented that indicate the regional climatic and morphological configuration,
pointing to areas of criticality and instability of maintenance of the current activities, as well as
allowing a better spatial distribution of the integrated vulnerability phenomena. It concludes with the
technical and scientific proposal to indicate the Amazon Biome in the State of Maranhão as the initial
territory for the Ecological and Economic Zoning of Maranhão in the 1: 250,000 scale, with a view to
recognizing its environmental, social and economic potentials and constraints. View of the articulation
of regional spaces.
Keywords: Amazon biome. Ecological and Economic Zoning. State of Maranhão.
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INTRODUÇÃO

A ideia de relacionar a Geomorfologia regional com as atividades climáticas atuantes sobretudo


em domínios morfoclimáticos tropicais em uma mesma escala cartográfica não é recente. Tricart
(1959) e Cailleux e Tricart (2010) já apresentavam essa perspectiva como um modelo integrador de
reconhecimento da morfodinâmica atuante sobre um determinado arranjo territorial natural, sem as
interferências humanas, e, portanto, atuante ao longo do instável período Quaternário (últimos 1,81
M.A.). Às mudanças e variações climatológicas seguem as alterações da dinâmica do relevo, que, em
contexto mais abrangente do ponto de vista geográfico, gera novas formas de relevo (PENTEADO,
1980; TORRES et. al., 2012), o que permite alterações paulatinas na configuração da geodiversidade
regional pelas dinâmicas de paisagens historicamente construídas e constituídas (DANTAS et. al.,
2008).
Tricart (1977) indica que para os esforços de integrar as análises da dinâmica da natureza, é
imprescindível que esta seja acompanhada da definição técnico-científica da regionalização dos
processos climáticos, bem como compreender os quadros ecológicos (sobretudo fitogeográficos) e
geomorfológicos na mesma escala. Por conseguinte, Tricart e Cailleux (1973) chamam atenção para a
necessidade de reconhecimento dos processos zonais associados à distribuição dos climas na Terra e
sua consequente importância para o conjunto de ―sistemas‖ associados à configuração dos fatos
geomorfológicos. Ross (2009) chama atenção para a compreensão dos fatos dessa natureza e tipologia
através de uma linguagem cartográfica adequada, a qual possibilite o planejamento e o ordenamento do
território.
Ab‘Sáber (2004), por seu turno, indica que há uma necessidade cada vez mais forte de
orientação de esforços para o ordenamento dos territórios brasileiros em função das regiões
naturalmente circunscritas ao que ele denomina domínios de natureza, algo imprescindível para a
configuração de Zoneamentos Ecológico-Econômicos tão necessários para a compreensão dos espaços
totais regionais, estaduais e nacionais. Ademais, o entendimento das articulações opostas das atividades
humanas e dos elementos físico-bióticos (ou naturais) conflui para o entendimento integrado das
problemáticas afeitas ao mal ou desorientado uso dos recursos naturais disponíveis em um background
territorial (AB‘SÁBER, 2012).
Para efeitos deste trabalho, além do conceito norteador de domínios morfoclimáticos, foi
tomado o de vulnerabilidade, que implica em conceber eventos ou processos que, em sendo realizados,
poderão gerar problemas sociais, econômicos e ambientais e diminuir a capacidade de resiliência dos
grupos sociais ou mesmo da natureza por dificultarem os processos de adaptação a eventuais sinistros

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(MARANDOLA JÚNIOR, 2009). Porém, sua concepção analítica atualmente é indispensável para a
prospecção de cenários, que podem mitigar perdas futuras caso sejam considerados técnica e
cientificamente pelos tomadores de decisão e pelas comunidades humanas diretamente envolvidas com
o território avaliado.
O Bioma Amazônia tem preocupado deveras a parte do meio geopolítico internacional, bem
como às comunidades ambientalista, científica e entidades representativas de povos que subsistem em
função dos diversos recursos que esse macroespaço natural dispõe (BECKER, 2007). Nesse sentido,
pressões as mais diversas, sobretudo associadas à supressão vegetal ou desmatamento, uso inadequado
das terras, processos erosivos remontantes e assoreamento de cursos d‘água de diversos tamanhos,
profundidades e larguras concorrem para a diminuição da biodiversidade regional, bem como para uma
perca dos atributos de sua geodiversidade. Não obstante, tudo isso ocorre na parte Oeste do Estado do
Maranhão, onde está materializado territorialmente essa macrounidade ambiental, que tem nessa
Unidade Federativa a sua ocorrência mais oriental.
O propósito maior deste trabalho é o de produzir conhecimentos acerca da integração técnico-
científica entre climatologia e geomorfologia do Bioma Amazônia no Estado do Maranhão e apontar os
graus de vulnerabilidades naturais que o seu território apresenta. Ademais, permitindo a indicação de
áreas críticas à ocupação, poder-se-á, ao final, indicar quais são as áreas cujas fragilidades são menores
frente à necessidade humana de ocupar territórios e dispor de seus espaços para as atividades
econômicas. É conveniente afirmar que o único esboço existente com essa perspectiva para o Estado do
Maranhão foi desenvolvido em seu Macrozoneamento Ecológico-Econômico na escala do
milionésimo. Esse trabalho, ao ter como base os produtos cartográficos desse documento, apresenta-se
como uma complementação necessária para a compreensão e indicação de políticas públicas para o
recorte do Bioma Amazônia em terras maranhenses.

METODOLOGIA

Para efeitos do presente trabalho, utilizou-se do método estruturalista, com base na Teoria
Geossistêmica (BERTRAND, 2004), com o propósito de identificar processos climáticos e
geomorfológicos na escala 1:1.000.000, para as vulnerabilidades já indicadas pelo trabalho da
EMBRAPA – Monitoramento de Satélites voltado para o Macrozoneamento Ecológico-Econômico do
Estado do Maranhão (BATISTELLA et. al., 2014). As informações geográficas foram tratadas em
ambiente SIG (Sistema de Informações Geográficas) utilizando-se o software ArcGis 10.1, bem como
o ajuste de polígonos e tratamento de legenda associados ao software QuantumGis 2.18.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Assim, a base de dados foi estruturada nas definições de vulnerabilidades físicas e naturais do
ZEE-MA, na escala do milionésimo, e optou-se por integrar as vulnerabilidades climáticas às
geomorfológicas para entender quais tipos de paisagens e suas distribuições regionais estariam ligadas
a critérios de comprometimento de uso ou de ocupação.
Assim, optou-se por adaptar a legenda original de trabalho de Bastistela et. al. (2014) para um
proposta baseada em Tricart (1977), que nortea o princípio da ecodinâmica. Às unidades territoriais
foram inseridos os prenomes técnicos vulnerabilidades, que variam da vulnerabilidade climática
inexistente à vulnerabilidade em situação de criticidade plena (com duas abordagens), bem como da
estabilidade geomorfológica à instabilidade geomorfológica alta.
Por conseguinte, optou-se por classificar as paisagens naturais integradas sob o background
analítico das vulnerabilidades climáticas, considerando o acréscimo das geomorfológicas à essa base, o
que concorreu para uma fundamentação melhorada da dinâmica do modelado nas áreas mais sensíveis.
Esses critérios possibilitaram, no cruzamento de ambos os conjuntos de criticidade do meio físico, a
indicação de áreas de morfodinâmicas que tendem à instabilidade morfoclimáticas, sobretudo com se
estiverem sobrepostas aos usos inadequados por parte das populações humanas.

REFLEXÕES SOBRE BIOMAS E A AMAZÔNIA MARANHENSE

O conceito de bioma, conforme proposto originalmente, é aplicável a arranjos espaciais naturais


que apresentam situação climáxica entre os seguintes elementos: clima, vegetação, relevo, recursos
hídricos (superficiais e subterrâneos) e solos. Por sua definição abrangente, acaba sendo confundido
analiticamente no Brasil com os domínios morfoclimáticos (AB‘SÁBER, 2006). Estes, pois,
circunscrevem grandes realidades geográficas de maneira uniforme, sem grandes variações
paisagísticas, sob a visão da vegetação ―mais comum‖ que ocorre em um território (COUTINHO,
2016). Isso é refletido na maioria dos mapas disponíveis nas bases de informações do IBGE e do
Ministério do Meio Ambiente, as quais servem de fundamento para grande parte dos esforços de
reconhecimento do espaço total brasileiro e de suas macrorregiões.
Assim, se fosse para seguir a lógica de ambos os conceitos neles presentes, em terras
maranhenses apareceriam apenas a Amazônia, os Cerrados e um pequeno território com presença de
Caatingas. Contudo, há que se concordar que a realidade dessa Unidade Federativa é muito mais
diversa que isso! Desde o início do século XX, o Maranhão já era considerado um espaço de contatos
entre vários tipos de paisagens naturais (ABREU, 1931), pois se encontra na transição de vários
domínios de natureza, definidos em função do clima, como são os casos dos anteriormente citados. Isso

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permite com que ele tenha uma posição privilegiada no tocante ao contato de comunidades bióticas,
refletida em sua significativa e estratégica biodiversidade animal terrestre e aquática.
Tal linha de pensamento foi consolidada em meados a fins dos anos 1960 por Ab‘Sáber (1971),
que propôs em projeção cartográfica a inserção do Maranhão em um contexto de tangenciamento de
domínios de natureza, criando faixas de transição e contatos, como as famosas Matas de Cocais, os
campos inundáveis da Baixada Maranhense, os enclaves de Caatingas em meio aos Cerrados e o
prolongamento de campos de dunas costeiras pelos Cerrados no Nordeste do Estado. Contudo, em uma
abordagem geral, encontram-se distribuídos no Estado alguns domínios de natureza, que segundo o
mesmo pesquisador devem ser considerados como biomas para fins de planejamento ambiental, como é
o caso dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos (ZEEs) que merecem maior detalhamento, são eles:
Domínios Amazônicos, Domínios dos Cerrados, Domínios Costeiros e Domínios de Transição e
Contato (AB‘SÁBER, 2006). Cada qual carece de entendimento especial, apresentando-se um rápido
panorama global de seus problemas e de eventuais possibilidades de intervenções humanas racionais.
No que tange aos Domínios Amazônicos ou Bioma Amazônia no Maranhão, este,
originalmente, tinham sua extensão territorial a Leste na Ilha do Maranhão. Seguia para Sul, através do
corredor Bacabeira-Santa Rita, até atingir parcialmente a Baixada Maranhense. Depois aparecia em
Vitória do Mearim, seguindo em direção a Santa Inês, prosseguindo até Açailândia. Seguia ainda mais
para Sul, chegando a Amarante do Maranhão, que pegava rumo Oeste até o Bico do Papagaio. Desses
limites, chegava às divisas com o Pará, por todo o vale do Rio Gurupi e também na Zona Costeira,
próximo aos manguezais existentes entre Carutapera e Alcântara
De sua área original vegetada, que cobria algo em torno de 33% das terras maranhenses, pouco
resta, equivalendo a menos de 30.000 km2 de espaço total, restrito sobretudo na Reserva Biológica do
Gurupi e em Terras Indígenas situadas nas bacias do Pindaré, do Turiaçu e do Maracaçumé. Sobram
ainda poucas áreas mais abertas, próximas à Baixada Maranhense, mas com a Floresta empobrecida,
devido ao uso inadequado de seus recursos.
As principais ameaças atuais no Bioma Amazônico no Estado do Maranhão são as mesmas dos
fins da década de 1960, ou seja: conflitos de terra (posseiros, grileiros e meeiros, além de
latifundiários), desmatamento indiscriminado, pecuária extensiva sem cuidados adequados com o
manejo dos solos e aberturas de frentes de ocupação humana sem a observação das fragilidades e das
vulnerabilidades ambientais, sobretudo aquelas ligadas ao clima e ao relevo. Somam-se a isto outras
advindas das práticas desenvolvidas a partir dos fins dos anos 1990, como o plantio extensivo de
eucaliptos e pinus, as erosões remontantes, o assoreamento de cursos d‘água e a diminuição da
vegetação ciliar por estresse, desmatamento ou agricultura itinerante.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VULNERABILIDADES MORFOCLIMÁTICAS: UM DESAFIO PARA O ZONEAMENTO


ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO BIOMA AMAZÔNIA NO ESTADO DO MARANHÃO

Como resultados da pesquisa, as vulnerabilidades são apontadas como restrições, maiores ou


menores, à configuração do meio físico, bem como aos arranjos socioeconômicos dominantes no
Bioma Amazônia no Maranhão. Ao integrar dois importantes elementos naturais, há proposição de
políticas públicas que visam à mitigação de danos ambientais que possam ser incorporados nos
conjuntos e arranjos territoriais do Oeste Maranhense. Assim, as Figuras 01 e 02 indicam os diversos
graus de vulnerabilidade climática e geomorfológica (ou de relevo), respectivamente. Ambas as
projeções apontam para algo em comum: a necessidade premente de que, nos Zoneamentos Ecológico-
Econômicos (ZEEs) possam ser cruzadas informações de restrições ambientais as mais diversas para
que se tenha indicação das possibilidades de usos adequados dos territórios disponíveis.
A indicação de níveis de criticidade ambiental, de forma qualitativa, é proposta dada a
objetividade que as temáticas requerem. Quanto aos climas regionais e suas vulnerabilidades, é
importante afirmar que os territórios adjacentes ou pertencentes à zona costeira maranhense, em que
pese nas áreas denominadas de Baixada Maranhense e Reentrâncias Maranhenses, são consideradas em
situação plena de atuação/ocorrência, dado, sobretudo, à atuação de macromarés (com amplitudes
superiores a 6,0 metros) e maiores tendências às ondas e correntes de retorno mais intensas, o que está
associado a fatores como: ação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) em grande intensidade
no primeiro semestre; ocorrência de ventos de velocidades com velocidades superiores a 20 km/h, que
possibilitam perdas materiais, bióticas e territoriais (DIAS, 2006). Ademais, são áreas sujeitas a
invasões periódicas das águas marinhas costeiras, o que pode ser maximizado com pequenas elevações
do nível eustático nas próximas décadas.
Quanto às vulnerabilidades geomorfológicas, as retromencionada áreas são também
configuradas como parcialmente intermediárias a instáveis. Isso, contudo, dá-se apenas no contato das
terras firmes de baixa amplitude das planícies litorâneas e costeiras com as áreas marinhas
próximas/adjacentes. Por outro lado, aparecem áreas cuja instabilidade geomorfológica é patente, como
as situadas a Sul, Sul-Sudoeste e Centro-Oeste do território analisado, sobretudo em interespaços de
cabeceiras de drenagem associadas ao Planalto Dissecado Gurupi-Grajaú (DANTAS et. al., 2013).
As superfícies de aplainamentos desse compartimento geomórfico geraram cimeiras areníticas
associadas a solos bastante profundos que, desprovidos de cobertura vegetal protetora, acabam por
proporcionar grandes e extensivos processos de erosão laminar associado à abertura de estradas de
rodagem, à conversão de ambientes intraplanálticos em áreas de pecuária bovina extensiva, bem como

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 466


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

à inobservância das vertentes irregulares, porém convergentes, em que canais fluviais de importância
regional (rios Buriticupu, Pindaré e Zutiua, por exemplo) sobrepõem-se aos planos de falhas normais.
Tais atividades poderiam ser disciplinadas e realizadas de forma adequada caso haja rigor técnico na
indicação das vulnerabilidades às quais as populações humanas e as suas atividades estão associadas.
As vulnerabilidades morfoclimáticas (Figura 03), por seu turno, acabam por indicar e orientar quais são
os espaços regionais prioritários para o reconhecimento expedido dos problemas ambientais
geomórficos e climáticos regionais, pois a superposição de imagens clarifica esse ponto.

Figura 01: Vulnerabilidade natural do clima para o Bioma Amazônia no Estado do Maranhão.
Fonte: Registros da Pesquisa (2017) adaptados de Batistella et. al. (2014).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 02: Vulnerabilidade natural às alterações do relevo para o Bioma Amazônia no Maranhão.
Fonte: Registros da Pesquisa (2017) adaptados de Batistella et. al. (2014).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 468


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Figura 03: Vulnerabilidade morfoclimática para o Bioma Amazônia no Estado do Maranhão.


Fonte: Registros da Pesquisa (2017) adaptados de Batistella et. al. (2014).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 469


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ademais, ao serem indicadas as vulnerabilidades principais, como indicadores de instabilidade


qualitativa dos ambientes geomorfológicos sobre uma base cartográfica climatológica, abre-se à
discussão a possibilidade de indicar que o planejamento e o ordenamento territorial de macroespaços
naturais venham a ser compreendidos de maneira mais integrada. Por outro lado, as margens dos
principais rios regionais são apontadas como áreas igualmente críticas, pois ao mesmo posso que
morfodinamicamente apontam para uma possibilidade de alteração das dinâmicas dos canais através da
erosão fluvial, também indicam serem elas os ambientes que recebem as aluviões dos processos
erosivos remontantes, os quais concorrem para a ocorrência pontual ou extensiva de processos de
assoreamento de cursos hídricos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No tocante ao planejamento e ordenamento territorial do Bioma Amazônia no Estado do


Maranhão, essa região natural foi tratada desde a metade do século XX como uma região fronteira,
dada a sua tipologia de zona pioneira de ocupação (WAIBEL, 1979). Seus processos de uso e
ocupação não necessariamente obedeceram a uma política de articulação de espaços geográficos
naturais e socioeconômicos com uma perspectiva de integração analítica que confluísse para a
formatação de esforços públicos que orientassem o adequado aproveitamento dos seus potenciais em
termos de recursos, bem como promovesse a formatação de novos arranjos produtivos locais com
inserção social, a integrar uma base estratégica de desenvolvimento sustentável.
Destarte, na tentativa de mitigar os citados problemas historicamente construídos, o Governo do
Estado do Maranhão recentemente decidiu orientar esforços para elaborar o Zoneamento Ecológico-
Econômico (ZEE) na escala 1:250.000 aplicada, em um primeiro momento, ao Bioma Amazônia. Esse
documento, além de zonificar o território ora mencionado, deverá prever as condições de investimentos
econômicos e recuperação ambiental no âmbito do território maranhense, visando a sustentabilidade
socioambiental, socioeconômica e sociocultural de praticamente 1/3 das terras maranhenses.
Some-se a isso a necessidade de criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral nas
cabeceiras dos rios citados anteriormente, ou de seus afluentes principais, com vistas à manutenção da
biodiversidade regional, o que será abordado logicamente como uma estratégia forte de proteção dos
recursos ambientais amazônicos remanescentes.
Para todos esses efeitos e propósitos, a pertinência de avaliar as vulnerabilidades ambientais, em
que pesem as climáticas, geomorfológicas e morfoclimáticas (integração das duas primeiras citadas),
são condição sine qua non para uma adequada e racional utilização dos espaços disponíveis. Isso tendo
em vista a orientação para a mitigação de perturbações antropogênicas que concorram para o
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 470
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comprometimento ao mesmo tempo das sociedades humanas locais e regionais, bem como dos recursos
naturais contidos no território.
São cenários que convidam ao pesquisador que zoneia um espaço total dessa magnitude a
prospectar alternativas que sejam integradoras para a promoção do tão propalado ensejo de desenvolver
sustentavelmente essa parcela esquecida do Estado do Maranhão. E, ratifica-se, deve se tornar algo
viável a partir da efetivação do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Maranhão, na escala
1:250.000, aplicada primeiramente ao Bioma Amazônia.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 471


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DANTAS, Marcelo Eduardo; ARMESTO, Regina Célia Gimenez; ADAMY, Amílcar. Origem das
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 472


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO CURSO DO RIO PARAÍBA


E SUA TENDÊNCIA PLUVIOMÉTRICA

Manoel Vieira de FRANCA


Prof. MSc. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
manoelvieiraufrpe@gmail.com
Raimundo Mainar de MEDEIROS
Dr. em Meteorologia e Pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
mainarmedeiros@gmail.com
Romildo Morant de HOLANDA
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
romildomorant@gmail.com
Vicente de Paulo SILVA
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
vicenteufrpe@yahoo.com.br

RESUMO
As oscilações nas precipitações refletem claramente a dinâmica atmosférica da região, marcada pela
intensa variabilidade, onde se observa a atuação da Zona de Convergência Intertropical com maior
intensidade podendo vim a ocorrer chuvas torrenciais, a qual se soma a essas características um regime
pluviométrico limitado entre os meses de fevereiro a junho com alta variabilidade interanual e
intermunicipal, causando as recorrentes secas sobre a região. Utilizou-se de séries de dados mensal e
anual de precipitação adquiridos pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e
Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) para o período de 1962 a 2014.
Analisou-se a distribuição temporal e a tendência da precipitação pluvial para a área da bacia
hidrográfica do alto curso do rio Paraíba, relacionado o estudo com regressão linear e tendência
mensal. Os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, setembro, outubro, novembro, dezembro e
anual apresentaram tendências positivas, os meses de junho, julho e agosto suas tendência foram
negativo e todos os meses estudado o R2 foram de baixa significância. O regime de chuvas, com
estação seca bem definida, associado à má distribuição durante a estação chuvosa (fevereiro a junho) e
a pobreza de nutrientes dos solos, em geral, exigem alto nível técnico para a produção agrícola, sendo
recomendável a adoção de práticas de manejo que visem conservar a água no solo. Falta de água nos
meses de agosto a dezembro limita o uso da terra, tornando inviável o cultivo nessa época do ano. Não
se verificou nenhuma tendência de longo prazo, ou seja, não ocorreram diminuição nem aumento das
chuvas anuais. Salienta-se que existe possibilidade de eventos extremos nos índices pluviométricos de
ocorrerem chuvas de altas magnitudes e em curto intervalo de tempo.
Palavras chaves: variabilidade espaço-temporal e climática da precipitação, sustentabilidade;
previsibilidade.
ABSTRACT
Fluctuations in precipitações clearly reflect the atmospheric dynamics of the region, marked by intense
variability, which we can observe the performance of the Intertropical Convergence Zone with greater

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

intensity may come to occur torrential rain, which adds to these features one rainfall limited between
the months of February to June with high interannual variability and inter causing the recurrent
droughts over the region. We used monthly and annual rainfall data acquired by the Northeast
Development Superintendence series (SUDENE) and Executive Management Agency of the State of
Paraiba Waters (AESA) for the period from 1962 to 2014. We analyzed the temporal distribution and
the trend of rainfall to the area of the basin of the upper course of the river Paraíba related the study of
linear regression and monthly trend. The months of January, February, March, April, May, September,
October, November, December and annual had positive trends, the months of June, July and August its
trend were negative and all the months studied R2 were of low significance. The rainfall, with well-
defined dry season, associated with poor distribution during the rainy season (February to June) and the
poverty of soil nutrients, generally require high technical level for agricultural production, and
recommended the adoption of practices management aimed at conserving water in the soil. Lack of
water in the months from August to December limits the use of land, making it impossible to crop this
time of year. There has been no long-term trend, i.e., there were no decrease or increase in annual
rainfall. Please note that there is a possibility of extreme events in rainfall occur rains of high
magnitude and short interval of time.
Keywords: spatio-temporal variability and climate precipitation, sustainability; predictability.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso essencial para a manutenção da vida, principalmente no que se refere a


―água doce‖, este fator encontra-se atrelado às múltiplas atividades desenvolvidas por meio deste
recurso, entre elas, abastecimento para consumo humano, atividades industrial e agrícola, e importância
para os ecossistemas conforme Rebouças (2006).
O monitoramento da precipitação pluviométrica é uma ferramenta indispensável na mitigação
de secas, cheias, enchentes, inundações, alagamentos conforme ressaltam Paula et al. (2010). Dentre os
elementos do clima de áreas tropicais, a precipitação pluviométrica é o que mais influencia a
produtividade agrícola em conformidade com os autores Ortolani e Camargo (1987), principalmente
nas regiões semiárida, onde o regime de chuvas é caracterizado por eventos de curta duração e alta
intensidade (Santana et al. 2007). Em função disso a sazonalidade da precipitação concentra quase todo
o seu volume durante os cinco a seis meses no período chuvoso em conformidade com Silva (2004).
A região semiárida nordestina é caracterizada pela ocorrência de chuvas escassas, irregulares
(espacial e temporal) de secas frequentes, sendo usual a ocorrência de eventos de alta intensidade e de
pouca duração, desprovido de volume de escoamento de água dos rios, essa situação pode ser explicada
em função da variabilidade temporal das precipitações e das características geológicas dominantes além
dos sistemas meteorológicos atuantes em conformidade com Silva et al (2013). Em região de clima de
áreas próximas contrastantes (de um lado chuvoso do outro semiárido) como o Nordeste do Brasil

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(NEB) e em especial o estado da Paraíba o monitoramento da precipitação, principalmente, durante o


período chuvoso é muito importante para tomada de decisões que tragam benefício para população.
A precipitação é fundamental para a caracterização climática (Ferreira da Costa, 1998), e o seu
monitoramento pode ser usado na gestão e manutenção dos recursos hídricos, pois fornece dados que
contribuem nos planejamentos públicos e nos estudos que buscam o uso sustentável da água. Com base
em dados pluviométricos vários estudos foram desenvolvidos com vistas os efeitos do desmatamento
sobre o clima da Amazônia (D'Almeida et al., 2006; Costa, 2007; Sampaio et al., 2007; Coe et al.,
2009). Esse estudo evidencia que o desmatamento da floresta Amazônica está influenciando
diretamente o desequilíbrio do meio ambiente, principalmente no ciclo hidrológico, onde em
simulações mostraram um decréscimo significativo na evapotranspiração e na precipitação.
Nos últimos anos, a modernização levou a um crescimento das cidades, e com o aumento da
urbanização, surgiram condições que vem provocando alterações no clima local, devido principalmente
a construção de obras, como edificações, impermeabilização dos solos, desmatamento, ausência de
planejamento urbano para melhoria no convívio entre ser humano e o meio ambiente, vem excluindo os
elementos naturais, e induzindo o aparecimento de eventos extremos, que tem como consequências nas
grandes cidades: cheias, inundações, alagamentos, enchentes, desmoronamentos, aumento de pragas,
doenças e mortes de acordo com Santos (2007).
A precipitação e a variável climática com a maior variabilidade no tempo e no espaço. Por essa
razão, o estudo de eventos extremos de precipitação diária máxima anual esta relacionado com danos
severos as atividades humanas em quase todas as regiões do mundo, devido a seu potencial em causar
saturação hídrica do solo, escoamento superficial e erosão (IPCC, 2007; Tammets et al, 2013).
Diversos autores avaliaram a tendência na precipitação observada no NEB durante o século XX.
Por exemplo, Haylock et al. (2006) fizeram uma análise da precipitação sobre a América do Sul, e
observaram uma tendência de aumento do total anual de chuva sobre o NEB. O estudo realizado por
Santos e Britto (2007), utilizando índices de extremos climáticos e correlacionando-os com as
anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM), também mostra tendência de aumento da
precipitação total anual nos Estados da Paraíba e Rio Grande de Norte. Santos e Brito (2009)
mostraram tendências de aumento de precipitação para o Estado do Ceará.
É de grande relevância a análise do comportamento das chuvas na Região NEB, devido,
principalmente, à sua irregularidade, uma vez que as variáveis climáticas são muito importantes não só
sob o enfoque climático, mas também pelas consequências de ordem social e econômica. Segundo
Zanella (2006), vários fenômenos ligados às novas condições climáticas nas cidades, nessas últimas
décadas, tais como o aumento da temperatura, a poluição atmosférica, as chuvas mais intensas, entre

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

outros, passam a fazer parte do cotidiano da população, tornando-a vulnerável a inúmeros problemas
deles decorrentes.
As constantes mudanças no clima estão provocando aumento nas ocorrências de eventos
climáticos extremos no mundo inteiro. No Brasil, esses eventos ocorrem, principalmente, como
enchentes (fortes chuvas) e secas prolongadas em conformidade com Marengo et al., (2010). No
Nordeste do Brasil os impactos são ainda maiores devido à grande variabilidade na ocorrência de
precipitação dessa região. Os principais sistemas responsáveis pela ocorrência de precipitação no NEB
são: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Vórtices Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), Linha de
Instabilidade (LI), Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), Brisas (Marítima e Terrestres) e as
Perturbações Ondulatórias nos ventos Alísios (POAS) conforme Molion e Bernardo, (2002). O El Niño
– Oscilação Sul (ENOS) é outro modo de variabilidade climática que influência na ocorrência de
precipitação do NEB.
A análise de tendências em séries históricas de precipitações é importante para verificar a
variabilidade climática interanual e decenal para que assim sejam identificados como as mudanças
climáticas podem modular estes padrões temporais de variabilidade de acordo com Soriano (1997).
Este estudo é relevante, uma vez que a área estudada se caracteriza por possuir uma
variabilidade dos índices pluviométricos e uma diversidade nos padrões de ocupação do solo, onde os
impactos das precipitações têm grande influência na área estudada, eventos extremos prejudicam a
questão sócia econômica local na área da bacia hidrográfica do curso do rio do Alto Parnaíba.

MATERIAL E MÉTODOS

A Bacia Hidrográfica do Alto curso do rio Paraíba (BHACRP), com área de 20.071,83 km2,
compreendida entre as latitudes 6º51'31" e 8º26'21" Sul e as longitudes 34º48'35"; e 37º2'15"; Oeste de
Greenwich, é a segunda maior do Estado da Paraíba, pois abrange 38% do seu território, abrigando
1.828.178 habitantes que correspondem a 52% da sua população total. Considerada uma das bacias
mais importante do semiárido nordestino, ela é composta pela sub-bacia do Rio Taperoá e Regiões do
Alto Curso do rio Paraíba, Médio Curso do rio Paraíba e Baixo Curso do rio Paraíba. Além da grande
densidade demográfica, na bacia estão incluídas as cidades de João Pessoa, capital do Estado e
Campina Grande, seu segundo maior centro urbano (figura 1).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Alto Curso do rio Paraíba. Fonte: AESA (2014).

A bacia é formada de regiões afligidas por eventos sinóticos locais, regionais e de larga escala
provocadores de chuvas como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e as contribuições dos
sistemas de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs) quando em atividade sobre o NEB, além dos
efeitos decorrentes dos ventos alísios de nordeste em conjunto com os efeitos de brisa marítima,
auxiliados pela formação dos vórtices Ciclônicos do Atlântico Sul (VCAS) e das formações das linhas
de instabilidade (LI), o Padrão do Dipolo (PD) no Oceano Atlântico Tropical e as perturbações
ondulatórias no campo dos ventos alísios, proporcionando eventos de secas, enchentes, inundações,
alagamentos, transbordamento de rios, açudes, barreiros, lagoas, lagos e córregos; na sua maioria, o
escoamento dos rios nas cabeceiras é temporários devido à má distribuição pluviométrica. Na região
paraibana, o período chuvoso com os aumentos das suas cotas pluviométricas provoca aumento
significante no escoamento em que a maioria é represada em grandes e médias barragens e seu excesso
após os represamentos escoa lentamente para o oceano em virtude do relevo e de seus cursos básico das
águas.
As enchentes, alagamentos e inundações já provocaram prejuízos e remoções de diversos
povoados e vilas; historicamente as maiores cheias ocorreram entre os trechos do médio, baixo e alto
Paraíba, a ocorrência de enchentes é quase que periódica (dependendo da qualidade e quantidade do
período chuvoso); sabe-se que nesta área não existem sistemas de contenção de enchentes e suas
vazões são aleatórias auxiliadas pelo relevo (SUDENE, 1999).
A área da unidade em estudo é recortada por rios perenes, porém de pequena vazão e o
potencial de água subterrânea é baixo. Os elementos climatológicos e hidrológicos integrados ao
ajustamento do relevo regional e local com declives para vertente atlântica dão procedência a uma rede
hidrográfica na qual são recorrentes os cursos com nascentes intermitentes, cuja descarga ocorre apenas
durante restritos períodos de chuva torrencial.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O relevo apresenta-se de forma geral bastante diversificado, constituindo-se por formas de


relevo diferentes trabalhadas e por diferentes processos, atuando sob climas distintos e sobre rochas
pouco ou muito diferenciadas. No tocante à geomorfologia, existem três grupos formados pelos tipos
climáticos mais significativos: úmido, subúmido e semiárido. O uso atual e a cobertura vegetal
caracterizam-se por formações florestais definidas como caatinga arbustiva arbórea aberta, caatinga
arbustiva arbórea fechada, caatinga arbórea fechada, tabuleiro costeiro, mangues, mata-úmida, mata
semidecidual, mata atlântica e restinga.
Ressalta-se, que nas bacias hidrográficas e nos mananciais, os impactos e a degradação pela
poluição, através das redes de esgoto e dos lixões próximos às suas margens e/ou mesmo jogados pelas
populações ribeirinhas ou transportados pelas correntes das águas após fortes eventos de precipitações,
as intensas quantidades de agrotóxicos que vem sendo utilizados de forma impróprios no setor agrícola.
Observa-se que seus excedentes estão chegando diretamente nas áreas da bacia, reservatórios, lagoa,
lago, riachos e córregos e nas águas de subsolo, contaminando-as e atingindo diretamente o ser
humano, animal e vegetal de conformidade com Maruyama et al., (2005).
Utilizou-se de séries de dados mensais e anuais de precipitação fornecidos pela
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e pela Agência Executiva de Gestão
das Águas do Estado da Paraíba (AESA), como demonstrado na tabela 1.

Tabela 1. Localização dos municípios e suas coordenadas geográficas, período de observações de precipitações
mensais e anuais, precipitação histórica mensal para a área da bacia hidrográfica do curso do rio alto Parnaíba.
Municípios/meses lat lon alt período jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

1962-
Barra S Miguel -7,45 -36,19 520 33,5 56,4 83,7 85,4 43,8 43,4 32,2 13,5 7,0 5,7 3,1 14,9
2014

1926-
Cabaceiras -7,29 -36,17 338 21,7 40,2 58,2 58,4 42,6 42,6 36,4 14,7 4,6 3,5 4,2 10,5
2014

1962-
Camalaú -7,53 -36,49 565 51,7 75,5 119,1 107,2 63,6 34,6 28,9 12,0 6,4 8,2 10,2 19,4
2014

1931-
Caraúbas -7,43 -36,29 460 28,1 51,5 97,5 75,9 43,7 28,3 17,4 6,1 1,4 5,5 6,1 16,9
2014

1962-
Congo -7,47 -36,39 500 41,3 63,9 119,4 97,9 69,3 37,5 20,0 3,5 0,9 2,9 4,8 25,7
2014

1962-
Coxixola -7,37 -36,36 465 46,2 62,8 107,7 103,3 49,9 41,3 31,0 11,1 4,6 8,0 2,9 20,0
2015

1911-
Monteiro -7,53 -37,07 590 68,0 77,6 125,5 106,1 79,3 49,6 33,0 15,3 8,4 13,0 10,6 28,5
2014

1962-
Prata -7,41 -37,04 600 62,6 106,3 160,0 137,2 75,8 42,2 30,5 12,4 3,9 8,2 9,8 26,4
2014

1934-
S J do Tigre -8,04 -36,5 616 40,2 61,2 113,0 99,6 45,7 32,2 20,4 7,6 3,9 7,3 12,3 24,6
2014

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 478


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

1963-
S J Cordeiros -7,23 -36,48 600 46,3 79,9 138,7 125,6 56,4 35,1 29,7 11,8 3,0 4,5 4,6 15,6
2014

1962-
S S Umbuzeiro -8,09 -37,00 600 59,1 81,2 131,8 106,0 59,0 30,8 22,0 7,3 7,8 11,5 19,5 32,3
2014

1962-
Serra Branca -7,28 -36,39 450 43,9 73,4 116,6 103,8 54,5 36,1 25,2 13,2 5,6 5,6 6,9 24,5
2014

Legenda: Lat = Latitude (° ‗); Lon = longitude (° ‗); alt = Altitude (metros) .

RESULTADOS e DISCURSÕES

As figuras a seguir mostram o comportamento da tendência mensal, anual e as variabilidades


espaço temporais dos índices pluviométricos intermunicipal para a bacia hidrografia do alto curso do
rio Parnaíba.
Na figura 2 tem-se a distribuição da tendência pluviométrica do mês de janeiro com coeficiente
angular de reta positivo e baixo R2. Destaca-se os municípios de Cabaceira, Camalaú, São José do
Tigre e Serra Banca com baixos índices pluviométricos e os municípios de Carnaúba, Monteiro, Prata,
São Sebastião do Umbuzeiro com elevados valores nos índices pluviométricos. A flutuabilidade
mensal oscila entre 20 a 65 mm.

Figura 2. Distribuição da tendência da precipitação no Figura 3. Distribuição da tendência da precipitação no


mês de janeiro na área da BHACRP. mês de fevereiro na área da BHACRP.

A distribuição da tendência da precipitação no mês de fevereiro na área da Bacia Hidrográfica


do Alto curso do rio Paraíba (BHACRP) representada na figura 3. A reta da tendência tem coeficiente
angular positivo e R2 apresenta valor significante para ocorrência das chuvas. Destaca-se que o mês de
fevereiro é o mês de chuva de pré-estação na área de estudo.
A tendência da precipitação anual do mês de março demostram acréscimo linear e R 2 de baixa
significância destaca-se os municípios de Cabaceiras e São José do Tigre com índices anuais abaixo
das normais quando comparados com os demais municípios, Camalaú e prata foram os municípios que
obtiveram maiores cotas pluviométricos. Esta irregularidade é decorrente dos fenômenos
meteorológicos atuantes e a variabilidade de atuação dos efeitos locais em conformidade com a figura
4.
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 479
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4. Distribuição da tendência da precipitação no Figura 5. Distribuição da tendência da precipitação no


mês de março na área da BHACRP. mês de abril na área da BHACRP.

No mês de abril (figura 5) as chuvas se encontram concretizadas com seu período chuvoso ativo
e os índices pluviométricos têm variabilidades intermunicipais com irregularidades, ressalva os
municípios de Congo, Coxixola e Monteiro com cota pluviométrica igual, os municípios de Cabaceiras
e Caraúbas como os de baixas concentrações de chuvas e o município de Prata como alta variabilidade
pluviométrica. A reta de tendência tem coeficiente angular positivo e R2 com baixa significância.
Com R2 de baixa significância e reta de tendência com coeficiente angular positivo às
variabilidades nos índices pluviométricos intermunicipais oscilam entre 40 a próximo dos 80 mm,
demostrando as irregularidades ocorridas na área de estudo devido a atuações dos sistemas
meteorológicos atuantes e as contribuições locais (figura 6). Destaca-se que em anos de chuvas normais
dentre a região semiárida a ocorrências de chuvas irregulares intermunicipais são observadas e
registradas.

Figura 6. Distribuição da tendência da precipitação no Figura 7. Distribuição da tendência da precipitação no


mês de maio na área da BHACRP. mês de junho na área da BHACRP.

As chuvas registradas no mês de junho (figura 7) oscilam entre 28 a 49 mm e suas


irregularidades intermunicipais, seu R2 mantem-se com baixa significância e seu coeficiente angular da
reta de tendência apresenta-se negativo.
A distribuição espaço temporal das chuvas para o mês de julho esta representada na figura 8 na
qual se observa flutuações intermunicipais oscilando entre 16 a 35 mm, este mês a tendência da reta foi
de coeficiente angular negativo demonstrando tendência para o final do período chuvoso em
conformidade com a figura 8.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 480


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 8. Distribuição da tendência da precipitação no Figura 9. Distribuição da tendência da precipitação no


mês de julho na área da BHACRP. mês de agosto na área da BHACRP.

A figura 9 demonstra a variabilidade da precipitação do mês de agosto na área de estudo. Por


ser um mês que praticamente esta em inicio de período seco as flutuações mensais a qual se observa
baixa significância. Salienta-se que qualquer incidência de ocorrência de chuva neste mês ultrapassa a
climatologia dos municípios estudados. Neste mês predomina sistema de alta pressão usando
subsidência deixando o céu com pouca cobertura de nuvens.
Figura 10 tem-se a variabilidade da precipitação do mês de setembro onde a reta de tendência é
praticamente nula (não tem tendência negativa ou positiva) e R2 é baixíssimo. Os índices
pluviométricos no mês em estudo são de baixos valores e de alta irregularidade fato que não
contribuem para nenhuma ação voltada a agricultura e represamento de água.

Figura 10. Distribuição da tendência da precipitação Figura 11. Distribuição da tendência da precipitação
no mês de setembro na área da BHACRP. no mês de outubro na área da BHACRP.

A figura 11 observa-as a variabilidade da tendência das chuvas no mês de outubro com uma
tendência de reta positiva e R2 de baixa significância, destaca-se que a climatologia da precipitação é
baixa e qualquer evento de ocorrência de chuva neste mês altera ou ultrapassa a climatologia sendo este
o caso dos municípios de Camalaú, Coxixola, Monteiro, Prata e São Sebastião de Umbuzeiro, para os
demais municípios a incidência de chuvas no mês em estudo é bastante restrita e não ultrapassa a
climatologia.
As irregularidades observadas no mês de novembro são decorrentes das baixas climatologias
registradas e observadas na área de estudo, como as chuvas são de distribuições espaço-temporal

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 481


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irregulares o mês de novembro tem equação de reta positiva e baixa R 2 em conformidade com a figura
12.

Figura 12. Distribuição da tendência da precipitação Figura 13. Distribuição da tendência da precipitação
no mês de novembro na área da BHACRP. no mês de dezembro na área da BHACRP.

Na distribuição da tendência pluviométrica do mês de dezembro para a área de estudo (figura


13), observa-se a linearidade crescente com a equação da reta y=1,1377x+14,219 e com R 2=0,4067,
destaca-se ainda que a variabilidade pluviométrica entre os municípios seja irregulares e estas
irregularidades são decorrentes das chuvas ocorridas e como suas climatologias são baixas qualquer
volume de água precipitada provocam as irregularidades como registradas na figura 13.
A distribuição de a precipitação demonstrar irregularidades nos índices pluviométricos anuais
em conformidade com a figura 14. Destaca-se os municípios de Camalaú, Monteiro e Prata como as de
maiores incidência pluviométricas e os municípios de Cabaceira, Caraúbas e São José do Tigre como
os de menores incidências pluviométricas anuais. Salienta-se ainda que em atuações de El Niño(a) estes
índices sofre aumentos ou reduções por volta de 60 a 70% da sua climatologia.

Figura 14. Distribuição da tendência da


precipitação anual na área da Bacia Hidrográfica
do Alto curso do rio Paraíba (BHACRP).

CONCLUSÃO

O regime de chuvas, com uma estação seca bem definida, associado à má distribuição das
chuvas durante a estação chuvosa (fevereiro a junho) e a pobreza de nutrientes dos solos, em geral,

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 482


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exigem alto nível técnico para a produção agrícola, sendo recomendável a adoção de práticas de
manejo que visem conservar a água no solo. Falta de água nos meses de agosto a dezembro limita o uso
da terra, tornando inviável o cultivo nessa época do ano.
Não se verificou nenhuma tendência de longo prazo, ou seja, não ocorreram diminuição nem
aumento das chuvas anuais. Salienta-se que existe possibilidade de eventos extremos nos índices
pluviométricos de ocorrerem chuvas de altas magnitudes e em curto intervalo de tempo.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 485


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E ÁREAS SUSCETÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO


ANTRÓPICA NO MUNICÍPIO SERGIPANO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA

Max Cardoso SILVA


Mestre em Geografia (UFS)
max.cardsilva@hotmail.com
Wagner da Cruz SILVA
Mestre em Educação (UFS)
cws22@msn.com

RESUMO
A humanidade tem evidenciado significativas mudanças no meio ambiente ocasionando impactos de
diferentes naturezas na biosfera. A desertificação constitui um grave problema nos ambientes em que
ocorre. No Brasil as áreas suscetíveis a esse processo localizam-se no Sertão nordestino, onde se situa o
município sergipano de Nossa Senhora da Glória, objeto deste estudo. A presente pesquisa visou
analisar a degradação ambiental e o processo de desertificação antrópica no município sergipano de
Nossa Senhora da Glória. Assim, para atingir esse e outros objetivos específicos utilizaram-se diversos
procedimentos metodológicos associados a diferentes etapas, destacando-se entre eles o levantamento
de dados bibliográficos e de outros documentos que se mostraram úteis para a investigação do objeto,
além das atividades de campo. Os resultados desse estudo mostram que no referido município
evidencia-se em diferentes localidades do espaço rural a predominância de áreas degradadas e
suscetíveis ao processo de desertificação antrópica, ainda em condições reversíveis com aplicação de
medidas eficazes de combate ao fenômeno. No que pese as atividades humanas ou antrópicas detectou-
se como responsáveis por suas causas imediatas o sobrecultivo, o pastoreio excessivo, o desmatamento
e a irrigação inadequada. Além disso, há de se reconhecer outras causas mais profundas diretamente
ligadas a pobreza que não deixam outra alternativa aos agricultores a não ser retirar o máximo da terra
para satisfazer as suas necessidades imediatas, ainda que comprometendo sua subsistência a longo
prazo. A situação de vulnerabilidade socioeconômica da população sertaneja do município
apresentando baixos índices de renda, expectativa de vida, baixa produtividade econômica,
concentração de terras e de riqueza em poder de poucos, ainda é agravada pelas secas periódicas que
assolam a região semiárida. Disso conclui-se que, toda essa situação repercute no agravamento dos
problemas ambientais que para serem transpostos dependem de ações que vão além de políticas
setoriais e de orientação remedial.
Palavras Chave: Degradação ambiental; Desertificação antrópica; Potencial natural; Nossa Senhora da
Glória.
ABSTRACT
Humanity has evidenced significant changes in the enviromental causing impacts from different nature
in the biosphera. Desertification is a serious problem in places where it happens. In Brazil, the
susceptible area to this process are located at the northeasthern, it is what we call "Sertão", where is the
city of Sergipe "Nossa Senhora da Glória‖. This study aimed to analyse the enviromental degradation
and the process of anthropic desertification in the city of Nossa Senhora da Glória. Object of this study.
So, to achieve this and other specific goals were used many methodological procedures associated to
different stages, highlighting among them the bibliographic data and other documents that were useful

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

to investigate the object of study, beside the outside activities. The results of this study show that in this
city is evident in different places in the rural areas the prevalance of degraded areas and susceptible to
the process of a thropic desertification, even if in reversible conditions with application of effective
measures to combat the phenomenon. The human or the anthropic activities is was detected as being
responsible as immediate causes the over cultivation, overgrazing, deforestation, and poor irrigation.
Moreover, it must be... Recognized other deeper causes directly related to poverety, and it is not given
other alternative to the farmers, instead of remove from the land as much as possible to solve their
immediate needs, even compromising their long-term survival. The socio-economical vulnerability
from the population of this region show low income, file expectancy, low economic productivity,
concentration of land and wealth in the hands of a few, it is further agraveted by periodic droughts
plaguing the semiarid region. It is conclused that thos whole situation reflected in the worsening of
enviromental problems to be overcome depends on actions the go beyond sectoral polices and remedial
guidance.
Keywords: Environmental degradation; Desertification anthropic; Natural potential; Nossa Senhora da
Glória.

INTRODUÇÃO

A história da humanidade, marcada pela relação homem/natureza ao longo dos tempos, em face
do aprimoramento científico e tecnológico capitalistas, tem evidenciado significativas mudanças no
meio ambiente, ocasionando impactos de diferentes naturezas na biosfera. Em todo mundo
multiplicam-se estudos que têm como objetivos analisar questões relacionadas à degradação do meio
ambiente. Degradação e contaminação do solo, poluição e contaminação das águas superficiais e
subterrâneas, desmatamentos, queimadas, excesso de lixo, bem como seu destino mais adequado ou
menos impactante e reciclagem de materiais, estão entre os principais temas debatidos e estudados na
atualidade.
Um dos desafios atuais da região semiárida brasileira consiste em conciliar a exploração
eficiente e reciclável dos limitados recursos naturais do semiárido nordestino e a necessidade urgente
de crescimento material das comunidades sertanejas. Nesse caso, uma das regiões mais afetadas pela
crise do modelo de consumo extensivo dos recursos naturais é o semiárido nordestino,
cuja degradação ambiental crescente vem ocasionando processos de desertificação cada vez mais
significativos, trazendo como consequências imediatas, dentre outras, a perda da fertilidade do solo e
da biodiversidade, a destruição de habitats naturais e o êxodo rural.
A desertificação constitui um grave problema nos ambientes em que ocorre, qual seja as Terras
Secas (áridas, semiáridas e subúmidas secas). Esse tipo de degradação afeta cerca de 1/4 da superfície
terrestre, com implicações de ordem ambiental, econômica, política, social e cultural. No Brasil as
áreas suscetíveis a esse processo localizam-se na região Nordeste, mais precisamente, na mesorregião

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 487


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

do Sertão, caracterizada por baixos índices pluviométricos, elevadas temperaturas médias, acentuado
déficit hídrico, solos rasos e pedregosos e vegetação xerofítica (AQUINO, 2010). Inserindo-se neste
contexto, tem-se o noroeste do Estado de Sergipe ou o Alto Sertão do São Francisco, localizado no
polígono das secas, de clima semiárido, que constitui uma região suscetível à desertificação. Esta
constatação conduz ao estudo da degradação/desertificação no município de Nossa Senhora da Glória,
com o intuito de avaliar o risco desse impacto, por hora, ali existente.
Desde a década de 1970, a tendência à desertificação causa preocupação à comunidade mundial,
tanto que em 1977, houve a Conferência das Nações Unidas sobre a Desertificação, quando foi criado o
Plano de Ação de Combate à Desertificação, o que foi reforçado na Rio 92. A redução da
biodiversidade (fauna e flora), a intensificação de processos erosivos, a diminuição da cobertura
vegetal, a redução dos recursos hídricos e ainda o comprometimento da qualidade desses recursos, quer
resultantes de eventos cíclicos de seca, quer do uso inadequado do solo, são algumas evidências de
degradação ambiental em regiões semiáridas.
Quanto à desertificação no mundo, mais de 100 países sofrem algum tipo de problema causado
pela desertificação. Os países mais atingidos são: Portugal, Namíbia, China e Brasil. Em nosso país
esse processo evidencia-se, em uma área de aproximadamente 788.064 km², correspondendo a 48% da
região Nordeste (NASCIMENTO, 2006).
A corrida contra o tempo sobre o alerta de desertificação em várias regiões brasileiras é refletida
hoje em ações do Governo Federal e Estadual, na tentativa de instituir programas de adaptação e
redução de danos de longa duração. São suscetíveis à desertificação, 9 estados do Nordeste e o norte de
Minas Gerais e do noroeste do Espírito Santo. Ao todo, são 1.482 municípios, que ocupam uma área de
1.338.076 km², corresponde a 15,7% do território brasileiro. Isso compreende há pelo menos 32
milhões de pessoas potencialmente afetadas. Já no mundo, a área comprometida é de aproximadamente
5,1 bilhões de hectares em 6 continentes. De acordo com a ONU, até a metade do século XXI, 50% do
planeta estará desertificado se não houver medidas de contenção eficazes.
Pautado nessa constatação, que indicam do ponto de vista climático que 223 km² do território de
Sergipe estão suscetíveis ao processo de desertificação em diferentes níveis de intensidade (moderada e
severa), mais exatamente, o Sertão do Estado, objetivou-se uma avaliação cuidadosa da relação entre o
risco físico de degradação/desertificação e as atividades humanas que denotam a degradação efetiva da
área, considerando uma análise multitemporal (IBAMA, 2003). A degradação da Terra e a
desertificação são sérios problemas globais. Eles afetam 33% do planeta, atingindo cerca de 2,6 bilhões
de pessoas. Das áreas brasileiras sujeitas à desertificação, 60% estão na caatinga e 40% no cerrado.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Sergipe possui 10.027 km² de área de caatinga, quase 50% de todo o território do Estado, sendo
que, até o ano de 2008, 6.840 km² de caatinga foram desmatadas, isto é, 68,23% da cobertura vegetal
do bioma, garantindo ao Estado o 2° lugar no ranking de desmatamento total acumulado da
caatinga no Brasil, perdendo apenas para o Estado de Alagoas (MMA, 2008). Áreas onde ocorre o
desmatamento estão suscetíveis à desertificação. A caatinga é um bioma de lento processo de
recuperação, em média a caatinga desmatada se restaura em um período de 13 a 15 anos (MMA, 2008).
No Estado de Sergipe, 6 municípios do Alto Sertão do São Francisco estão suscetíveis à desertificação:
Canindé do São Francisco, Poço Redondo, Porto da Folha, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da
Glória e Gararu (SEMARH, 2011). Esta região abriga uma população estimada em 140.287 habitantes
(IBGE, 2010) que sofrem frequentemente com o enigma da seca.
Observa-se o aumento nos dados estatísticos com relação à degradação/desertificação no Brasil
e no mundo. Motivo pelo qual, mostra-se necessário a análise e o estudo que servirá de maiores
conhecimentos e informações, alertando ao público em geral as novas tendências, realidades, conceitos,
características e contextualizações. Em virtude da intensa degradação e aumento da desertificação, faz-
se necessário à geração de conhecimentos que fundamentem a recomendação de estratégias e
metodologias para serem empregadas em propostas de reabilitação de áreas degradadas,
principalmente, das áreas de desertificação, que estão sob intensa ação de erosão pela pressão e uso.

ALTERAÇÕES NA PAISAGEM E AS TRANSFORMAÇÕES NA AGROPECUÁRIA E


DESMATAMENTO

A desertificação além de tornar uma região vulnerável à seca causando prejuízos diretos na
agricultura e pecuária com perdas sensíveis para a economia dos locais atingidos causa ainda desastres
maiores, como o da biodiversidade, dos solos por erosão e diminuição dos recursos hídricos. Outra
situação é de aspecto social, os problemas remetem ao abandono das terras pela população (êxodo
rural), a qual migra para as cidades gerando ainda aumento dos problemas ambientais e
socioeconômicos urbanos (MMA, 2010).
Em termos gerais delineou-se como objetivos desta pesquisa: analisar a degradação ambiental e
o processo de desertificação antrópica no município sergipano de Nossa Senhora da Glória; caracterizar
os elementos naturais a fim de verificar as influências no processo de degradação ambiental e
desertificação antrópica; relacionar as atividades antrópicas, econômicas, de uso e pressão do solo ao
processo de degradação/desertificação e identificar na escala global e local a degradação ambiental e as
áreas suscetíveis à desertificação antrópica.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O município de Nossa Senhora da Glória, base territorial do objeto de pesquisa, está localizado
no noroeste do Estado de Sergipe, na mesorregião do Alto Sertão sergipano, entre as coordenadas
geográficas 10º 13' 06" de latitude sul e 37º 25' 13" de longitude oeste, estando a uma altitude de 291
metros. Limita-se ao norte com os municípios de Monte Alegre de Sergipe e Porto da Folha; ao sul,
com os municípios de Carira, Nossa Senhora Aparecida e São Miguel do Aleixo; ao leste, com os
municípios de Gararu, Feira Nova e Graccho Cardoso e ao oeste, com o município de Carira e o estado
da Bahia. A sede urbana fica distante 126 km da capital Aracaju.
Apresenta clima megatérmico semiárido com precipitações médias anuais de 700 mm³, com
período chuvoso se estendendo do mês de março ao mês de agosto. A temperatura média anual gira em
torno de 24 (°C). Apresenta solo do tipo argila arenoso e franco argiloso, apto à exploração de cultura
de subsistência e pecuária. A vegetação predominante é a caatinga e o regime hidrográfico compreende
o rio Sergipe e riachos sazonais da bacia do São Francisco.
A população do município de Nossa Senhora da Glória, segundo dados do censo 2010 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 32.514 habitantes, sendo 10.881 na zona
rural e 21.633 na zona urbana. A população de homens e mulheres é quase equânime. Além da sede,
possui 61 povoados, dentre os quais se destacam: Angico, Aningas, Lagoa Bonita, Nova Esperança,
São Clemente, Quixaba e Lagoa Grande, entre outros.
Atualmente, a economia do município baseia-se substancialmente no setor primário. Uma de
suas principais atividades econômicas é a pecuária, com destaque para as atividades de bovinocultura,
ovinocultura, caprinocultura, suinocultura e a criação de animais de pequeno porte como frangos. O
rebanho bovino do município, como o de toda a região do semiárido, varia de acordo com o tempo. Em
sua maior parte, destina-se à produção leiteira; o restante, ao abate. Os índices médios de produtividade
de Nossa Senhora da Glória ficam em torno de 720 litros de leite anuais por cabeça, o equivalente a
uma produção anual de aproximadamente 24.120.000 litros. A maior parte dessa produção é absorvida
pelas fabriquetas da região. A outra parte destina-se à produção de queijos e derivados (manteiga,
requeijão, doces, iogurtes, coalhadas, e outros), que são comercializados nas feiras locais e nos
municípios vizinhos. A segunda atividade econômica mais importante é a agricultura, destacando-se a
cultura de milho, feijão, milho + feijão (que ocupam grande percentual da área de lavoura do
município: 14.271 hectares), algodão, mata, sorgo, capim búffel, capim pangola, palma forrageira,
leucina e pasto nativa (Secretaria Municipal de Agricultura de N. Srª. da Glória, 2014).
No semiárido brasileiro, quase toda a agricultura que se pratica é de sequeiro, realizada na
estação chuvosa (março a agosto). Segundo Mendes, B. (1995), esta atividade é de alto risco,
ecologicamente antiquada e improdutiva. Estima-se que a cada 10 anos, ocorre apenas 1 ano com

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chuvas em quantidade suficiente e bem distribuídas capazes de proporcionar boa produtividade nas
culturas tradicionais da região: milho, feijão, algodão e mandioca. Portanto, é uma atividade de alto
risco de diminuição ou fracasso total das colheitas. Nas secas não há safra agrícola, contudo, não há
regularidade da produção, sendo altamente variável e imprevisível. As culturas tradicionalmente
usadas são exigentes em água e solo, e por isso são inadequadas às condições edafoclimáticas do
semiárido. A produtividade dessas colheitas é muito baixa se comparadas com a produção em outras
regiões do país.
No município sergipano de Nossa Senhora da Glória, o uso de tecnologias modernas atuais deve
ser recomendado, devido à incerteza da ocorrência de chuvas. O combate às pragas e às doenças,
aração e drenagem da terra, adubação química e outras, requerem um investimento que resulta em
prejuízo quando a produção é frustrada pela escassez de chuvas. Desse modo, afirma-se que a água é o
principal fator de produção, pois as chuvas devem ser suficientes para o desenvolvimento do ciclo das
culturas. Assim, a agricultura intensiva, consumidora de insumos modernos, só é aconselhável nas
áreas irrigadas, que não é o caso do objeto de estudo.
Com relação à pecuária, ela é tradicionalmente do tipo extensiva, ou seja, os rebanhos são
criados soltos nas propriedades, se alimentando normalmente de forrageiras. A criação de um número
de animais acima da capacidade de suporte do semiárido exerce uma pressão muito grande sobre a
biodiversidade local, tanto pela eliminação lenta das plantas mais plantáveis, como pela compactação
do solo pelo pisoteio excessivo. O consumo das plantas pelos animais durante anos e anos, leva a uma
diminuição crescente das áreas florísticas e até a extinção de espécies.
De acordo com estudos, de modo geral, os proprietários rurais glorienses criam um número de
bovinos, caprinos e ovinos bem superior ao número que deveriam criar, pois a capacidade de suporte
forrageiro da caatinga é muito baixa. São necessários 10 a 25 hectares de terra com vegetação nativa
para a manutenção de um bovino adulto, isto nos anos de chuva, já que nas secas a pecuária extensiva
torna-se inviável.
As áreas destinadas à agricultura são também utilizadas pela pecuária, pois após as colheitas, os
animais (bovinos, ovinos, caprinos e equinos) são soltos nos roçados para consumir os restos das
culturas. Essa prática, que é generalizada para toda a região, diminui ainda mais o teor de matéria
orgânica dos solos e, em consequência, reduz o tempo de permanência, no mesmo local, das culturas
agrícolas, ou seja, acelera a rotatividade da agricultura intinerante.
Algumas tecnologias já estão sendo utilizadas na região para viabilizar a criação de bovinos nas
secas, através de silos, fenos e o cultivo de forrageiras xerófilas como o capim-búfel, o capim
andropogon, a laucena, a algaroba, a palma forrageira e muitas outras forrageiras nativas e exóticas,

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viabilizando o auto abastecimento da região do sertão sergipano. A pecuária regional é tão arcaica que,
geralmente estima-se que o boi criado para abate no semiárido leva o dobro das despesas para a sua
criação na região centro-sul do país. Isso ocorre devido ao fato de que os animais ganham peso no
período de chuvas, passando o resto do ano mal alimentados e, além disso, nas secas, grande número de
bovinos são dizimados pela fome e pela sede. É comum a retirada de elevado número de bovinos para
estados circunvizinhos ao polígono das secas, principalmente para o Maranhão, Pará e Tocantins
(MENDES, 1997).
Praticamente todo o município de Nossa Senhora da Glória e toda a área de caatinga é usada
para a criação extensiva de gado, raro são as áreas não sendo utilizadas para pastoreiro. De acordo com
Sampaio et al. (1994), atualmente, a pecuária é o fator de alteração ambiental que atinge quase toda a
região semiárida, visto que ela afetou a biodiversidade pelas mudanças provocadas nas populações de
herbívoros nativos, por ter mudado a composição florística da vegetação nativa usada para pastoreio e
pela substituição por espécies introduzidas, gerando o aparecimento de processos de degradação
ambiental e locais sujeitos à desertificação.
Baseado em pesquisas, verifica-se que novas formas de manejo da caatinga têm sido indicadas
visando aumentar sua produtividade forrageira. Os métodos de manejo do raleamento com
enriquecimento e rebaixamento da vegetação são os mais difundidos. Esses métodos de manejo da
caatinga para fins agropecuários devem ser vistos dentro da dualidade de posição: aumento da
produtividade e das condições socioeconômicas da população versus o aumento da antropização e a
queda da biodiversidade.
A desertificação deve ser encarada como um empobrecimento dos ecossistemas áridos,
semiáridos e subúmidos secos sob os efeitos combinados das atividades humanas e da seca. As
mudanças que ocorrem nesses ecossistemas podem ser avaliadas em termos de baixa produtividade das
culturas, de alterações na fitomassa e de mudanças na biodiversidade e de uma aceleração da erosão
dos solos, e dos riscos para a vida das populações (RODRIGUES, 1992).
As causas de natureza humana são aquelas que conduzem a erosão hídrica dos solos, ao seu
esgotamento e/ou desaparecimento e à sua degradação química. São elas: a agricultura com técnicas de
cultivo inadequado e sobre ambientes com predisposição aos processos de erosão; sobrepastoreio;
coleta abusiva de madeira e lenha; exploração mal feita dos perímetros irrigados, por excesso de
irrigação, ausência de drenagem ou drenagem inadequada, utilização de águas muito salgadas ou de
solos inapropriados para a irrigação.
A importância espacial e a intensidade de degradação variam consideravelmente de uma região
pra outra ou de um continente para o outro. Se as causas são as mesmas em toda parte, sua importância

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relativa varia de região para região. Os motivos da degradação ambiental e de focos propícios à
desertificação no município de Nossa Senhora da Glória, não diferem das que são encontradas em
outros estados nordestinos. Elas são decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, de práticas
agrícolas inapropriadas e, sobretudo de modelos de desenvolvimento imediatista. As práticas agrícolas
tradicionais, geralmente associadas a um sistema concentrado de propriedade da terra e da água
caracterizam graves problemas socioeconômicos que se agravam quando sobrevêm as secas.
Segundo Ab‘Saber (1977), ―todos os fatos pontuais areolares, suficientemente radicais para
criar degradações irreversíveis nas paisagens semiáridas‖ são processos de desertificação parciais.
Influem na sua formação dois grupos de fatores: a) ligados à predisposição geoecológica (clima local,
topografia e fenômeno de abrigo e de exposição aos elementos do clima, rocha-mãe e solos) e b)
atividades antrópicas diretas e indiretas.
Como observado ―in loco‖ durante as atividades de campo realizadas no município de Nossa
Senhora da Glória, entre os anos de 2013 a 2016, foram constatadas a ocorrência de focos pontuais ou
áreas degradadas e suscetíveis ao processo de desertificação. Esses focos pontos ou núcleos de
desertificação constituem pequenas áreas de formas variadas (pontuais, lineares e areolares) em que os
solos apresentam-se fortemente degradados: o horizonte superficial decapitado pela erosão laminar ou
retalhos pelos ravinamentos, alguns destes chegam a ser medianamente profundos (nas acumulações
coluviais dos pés-de-serra, e dos terraços fluviais) e por vezes, por certos movimentos de massa de
pequena dimensão. Nesses locais a vegetação se recupera muito dificilmente ou então é substituída por
algumas espécies mais xerófilas da caatinga.
Os núcleos de desertificação possuem dinamismo próprio baseado na morfodinâmica
característica do sistema semiárido e têm uma tendência a evoluir em detrimento das áreas vizinhas por
processos regressivos de erosão. Além disso, eles podem ser dotados de elevado potencial de
degradação, dependendo das condições ecotópicas e podem ser localizados ou generalizados. Sua
tendência evolutiva no tempo e no espaço pode ser muito rápida, rápida, lenta ou incipiente. Em alguns
dos casos observados a degradação já se encontra em um estágio muito avançado, talvez irreversível.
Os núcleos ou focos identificados foram:

 áreas dedicadas ao pastoreio extensivo do gado bovino e caprino – areolares;


 setores de tomada de empréstimo de terras marginais às estradas e açudes. Criam-se assim
núcleos marginais lineares ao lado das estradas e anulares em torno dos açudes cuja recuperação
é impossível ou muito difícil, pois toda massa do solo (que é muito pouco espesso) foi
removida. A vegetação pioneira que consegue se instalar em alguns locais é representada por

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poucas espécies muito xerófilas: xique-xique, juremas (Mimosas spp.) geralmente anãs, pinhão
bravo de pequeno porte e fumo bravo (Nicotina glauca), indicadora de solos salinos;
 áreas lineares ao longo das instalações das linhas de transmissão de energia elétrica onde
importantes ravinamentos que lembram voçorocas rasas, surgem e aumentam de modo
irreversível. Geralmente desprovidos de vegetação;
 áreas em torno da cidade, povoados e sedes de fazendas, em que a retirada da vegetação para a
lenha (desmatamento) atinge proporções imensas com ravinamentos, solos raspados e solos
decapitados – areolares circulares;
 áreas de produção de carvão e áreas de fornos de cal e olarias. A retirada de barro para a
fabricação de telhas e tijolos vem se amplificando na medida em que se desenvolve a
construção civil. Aliada a estes fatos ocorre à destruição da cobertura vegetal para obtenção de
lenha utilizada nos fornos – pontuais e areolares;
 áreas de passagem de rebanhos. Formam-se caminhos em ziguezague, com solo compactado
pelo excesso de pisoteio e os riscos de erosão hídrica são grandes;
 terracetes de pisoteamento do gado nas encostas geralmente nas áreas com pastagens plantadas;
 antigos campos cultivados – terras completamente retalhadas pela erosão hídrica – areolares;
 construção de cercas, às vezes quilométricas, cria ao longo delas, estreitas faixas onde podem
começar a ocorrer processos incipientes de degradação: erosão hídrica principalmente;
 interflúvios pedregosos sem nenhuma vegetação que geralmente foram antes utilizados pela
agricultura comercial.

A desertificação se espalha lentamente a partir de pequenos núcleos até atingir grandes


superfícies. Ela se alimenta por si própria, criando áreas áridas que antes apresentavam um certo
biótico. Combatê-la logo de início pode dar resultados, mas se nenhuma ação for empreendida por falta
de vontade política, parar a desertificação torna-se extremamente oneroso. Eventualmente a
recuperação de terras degradadas ou desertificadas torna-se impossível (GRAINGER, 1986).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda a vida terrestre depende da frágil capa de solo que recobre os continentes. Este manto que
se forma de maneira lenta, pode ser destruído com uma rapidez aterradora. Séculos podem ser
necessários para formar uma fina camada de solo, porém a ausência de cuidados faz com que os ventos
e a água levem esse material em alguns poucos anos. Essa crise é mais aguda nas áreas secas, onde o

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clima é caracterizado por pouca e concentrada precipitação e altas temperaturas, os solos são
particularmente frágeis e a vegetação escassa.
O município de Nossa Senhora da Glória, localizado no Alto Sertão do Estado de Sergipe, está
englobado nessa realidade, apresentando pontos ou áreas degradadas e suscetíveis ao processo de
desertificação antrópica. Este impacto pode ser reversível se houver medidas de combate eficazes ao
processo a curto, médio e longo prazos. O processo de recuperação de uma área desertificada ou
degradada suscetível ao fenômeno é complexa, pois necessita de ações capazes de controlar, prevenir e
recuperar as áreas degradadas. Paralelamente a estas ações, cabe uma maior conscientização política,
econômica, ambiental e social no sentido de minimizar e/ou combater a erosão, a salinização, o
assoreamento, o desmatamento, a diminuição dos recursos hídricos, entre outros. Mesmo sendo a
degradação dos solos uma realidade local, regional e global, apenas se qualifica de desertificação
quando o processo ocorre em terras secas. Essa delimitação geográfica possui um caráter político, uma
vez que as áreas secas coincidem com os maiores bolsões de pobreza no mundo, gerando a necessidade
de canalizar esforços para reverter o processo.
Os custos econômicos provenientes desse processo são alarmantes e os custos humanos ainda
mais altos, tanto para Sergipe, pro Brasil e para o mundo. O Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA calcula que a desertificação custa ao mundo mais de 70 milhões de dólares ao
ano e compromete os meios de subsistência de mais de 1,5 milhão de pessoas. Um contingente
significativo de homens e de mulheres podem se ver obrigados a migrar diante da impossibilidade de
sobreviverem em suas regiões, é o êxodo rural, tão comum no semiárido sergipano, onde suas
consequências são drásticas e conhecidas. Tal situação contribui para desagregação social, fome,
instabilidade política, somando-se a outros fatores de agravamento da crise ambiental à qual estamos
submetidos.
A palavra desertificação vem induzindo a alguns erros de interpretação. Para muitos significa
que os desertos do mundo estão crescendo, cobrindo superfícies cada vez maiores de terras férteis.
Realmente os limites dos desertos podem se expandir ou retrair ciclicamente em função das flutuações
do clima, mas não é o caso; na verdade o processo de desertificação é mais cruel, envolvendo áreas
muitas vezes distantes do deserto mais próximo. São áreas isoladas, às vezes pequenas, onde os solos
ficam empobrecidos e com a capacidade de regeneração comprometida, em função de práticas
inadequadas de cultivo (agropecuária), como no caso do município sergipano de Nossa Senhora da
Glória. Entretanto, a despeito da sua realidade geológica, geomorfológica, climática, fitogeográfica e
da exploração abusiva das terras, o município estudado possui recursos naturais capazes de sustentar
uma base socioeconômica produtiva. Aonde, mais especificamente, o semiárido gloriense constitui-se

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uma área com significativa biodiversidade, base para o seu desenvolvimento sustentável e
socioeconômico.
No que diz respeito às atividades humanas ou antópicas, é possível detectar as que são
responsáveis por suas causas mais imediatas: o sobrecultivo, o pastoreio excessivo, o desmatamento, a
irrigação inadequada. Contudo, é necessário reconhecer que há, em geral, causas mais profundas, como
a pobreza, que não deixam outra alternativa aos agricultores a não ser retirar o máximo possível da
terra para satisfazer necessidades imediatas da família, ainda que comprometendo sua subsistência a
longo prazo. Tudo isso é claramente detectado no cotidiano da população no município de Nossa
Senhora da Glória. Por outro lado, essas causas mais gerais tem em suas origens as orientações ditadas
pelo processo de organização socioeconômica capitalista e espacial implementado em cada lugar/região
e articulados por mecanismos que muitas vezes ultrapassam os limites dos estados-nação.
Essa vulnerabilidade econômica e social da população sertaneja gloriense, que apresenta baixo
índice social e de renda, alto índice de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, altos índices de
analfabetismo, baixa produtividade econômica, exploração inadequada dos recursos naturais,
concentração de terra e de riqueza, entre outros (IBGE, 2010), é agravada pelas secas periódicas que
assolam a região semiárida de Nossa Senhora da Glória e que repercutem no agravamento dos
problemas ambientais, que para serem transpostos dependem de ações que vão além de políticas
setoriais e de orientação remedial.
Setores mais privilegiados economicamente vem pautando o uso do solo pelo imediatismo do
lucro, sem atender aos requisitos de conservação, sobrepujando, em nome da capacidade técnica, os
limites agroecológicos dos lugares. O desafio vai desde a aplicação social do conhecimento produzido
até a adoção de diretrizes que consigam balizar estratégias políticas com foco integrado de objetivos
simultaneamente socioeconômicos, políticos-institucionais, culturais e ambientais do processo de
desenvolvimento, no planejamento e na gestão de recursos.
Nesse percurso vai sendo criada uma orientação no sentido de buscar metas para uma ordem
mundial, regional e local mais justa, sustentável e centrada nas pessoas. Recomenda-se o fomento e a
inclusão de linhas de pesquisa relacionadas ao tema da degradação e desertificação antrópica junto a
fundações estaduais de amparo à pesquisa, universidades e demais órgãos públicos e privados, ONG‘s,
como forma de incentivar novas pesquisas e reforçar as já existentes. Pretende-se neste processo, ao
rever a caracterização da degradação e da desertificação, apontar a coexistência de áreas com grande
potencial natural, não consideradas nos estudos homogeneizadores do semiárido como sinônimo de
degradação/desertificação, contribuindo, assim, para os estudos ambientais no âmbito da Geografia ao
se propor ações e medidas visando ao uso racional dos recursos naturais e a consequente melhoria da

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qualidade de vida e bem estar social da população residente na região do Alto Sertão sergipano, mas
especificamente, o município de Nossa Senhora da Glória, dando suporte aos planos de
desenvolvimento regional/municipal e ao monitoramento ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CABACEIRAS – PB E SUAS VARIABILIDADES DE


TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO

Raimundo Mainar de MEDEIROS


Pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco
mainarmedeiros@gmail.com
Marcelo KOZMHINSKY
Mestrando em Engenharia Ambiental, UFRPE
marcelok1963@gmail.com
Romildo Morant de HOLANDA
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPR
romildomorant@gmail.com
Vicente de Paulo SILVA
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
vicenteufrpe@yahoo.com.br

RESUMO
A variabilidade é um dos elementos mais conhecidos da dinâmica climática, e o impacto produzido por
esse fenômeno, mesmo dentro do esperado pode ter reflexos significativos nas atividades humanas.
Tem-se como objetivo analisar a variabilidade climática da temperatura máxima do ar e da precipitação
no município de Cabaceiras - PB, enfocando tais variações como um meio para compreender futuras
mudanças. Para realização deste trabalho foram utilizados dados de temperatura máxima do ar e totais
pluviométricos mensais e anuais no período de 1950 a 2010. Como resultado pode-se afirmar que as
tendências das temperaturas máximas, mínimas anuais manter-se em elevação aquecendo as manhas e
tarde acima dos padrões normais, as amplitudes térmicas anuais mantêm em equilíbrio podendo a vim
deste modo causar vários problemas socioeconômicos, bem como, para a saúde humana. Sobre os
totais pluviométricos anuais, nota-se que os valores tende a elevações gradativamente, sendo que essa
elevação pode estar relacionada com o aumento da temperatura, que faz com que se tenha uma
evaporação ainda maior e consequentemente um índice precipitado mais intenso e em curtos intervalos
de tempo.
Palavra chave: Média mensal e anual, Variabilidade climática, Trimestre mais úmido.
ABSTRACT
Variability is one of the most popular elements of climate dynamics, and the impact produced by this
phenomenon, even within expectations can have a significant impact on human activities. Has to
analyze the climate variability of the maximum air temperature and precipitation in the municipality of
Cabaceiras - PB, focusing on such variations as a means to understand future changes. We used data of
maximum monthly temperature and annual rainfall totals and air from 1950 to 2010 for this work. As a
result it can be stated that the trends of maximum temperature, minimum annual remain elevated in the
mornings and afternoon heating above the normal standards, the annual temperature range to keep in
balance may come thereby cause various socioeconomic problems as well, to human health. On annual
rainfall totals , note that the values tends to gradually rise, and this increase may be related to the

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increased temperature, which makes it has a further evaporation and therefore a more intense index
precipitate and short intervals.
Keyword: monthly and annual average, climate variability, Quarter wetter.

INTRODUÇÃO

O clima exerce grande influência sobre o ambiente, atuando como fator de interação entre
componentes bióticos e abióticos. O clima de toda e qualquer região, situada nas mais diversas latitudes
do globo, não se apresenta com as mesmas características em cada ano (Soriano, 1997). Em região de
transição como o Nordeste do Brasil (NEB) o monitoramento da precipitação, principalmente, durante
o período chuvoso é muito importante para tomada de decisões que tragam benefício para população.
Nos dias atuais, um bom monitoramento da precipitação pluviométrica é uma ferramenta indispensável
na mitigação de secas, enchentes, inundações, alagamentos (Paula et al. 2010). Dentre os elementos do
clima, a precipitação pluviométrica é o que mais influencia a produtividade agrícola (Ortolani et al,
1987), principalmente nas regiões tropicais, onde o regime de chuvas é caracterizado por eventos de
curta duração e alta intensidade (Santana et al. 2007), em função disto a sazonalidade da precipitação
concentra quase todo o seu volume durante de cinco a seis meses no período de chuvoso. (Silva, 2004).
O clima é formado por vários elementos como radiação solar, precipitação pluviométrica,
temperatura máximas do ar, temperatura mínimas do ar, amplitude térmica do ar, umidade relativa do
ar, vento (direção e intensidade), cobertura de nuvens, pressão atmosférica, evaporação,
evapotrtanspiração entre outros, onde é importante analisar a ação desses no ambiente. A variabilidade
é um dos elementos mais conhecidos da dinâmica climática, e o impacto produzido por essa
variabilidade, mesmo dentro do esperado, pode ter reflexos significativos nas atividades humanas.
Porém vale ressaltar que as anomalias podem desestruturar tanto o sistema ambiental, quanto o
socioeconômico.
Os inventários de recursos climáticos para fins de zoneamento agrícola e estudos de
produtividade de plantas, baseiam-se primariamente na quantificação de condições de temperatura e
umidade, obtidas em estações terrestres de monitoramento. Além dessas informações, o conhecimento
das precipitações pluviométricas é indispensável para se compreender e controlar o ciclo natural da
água, devido aos consideráveis fluxos de massa e energia a ela associados. A quantificação das
condições de precipitação pluviométrica é fator relevante nas análises climáticas, porque o
conhecimento das precipitações pluviométricas é indispensável para compreender o ciclo hidrológico
local e controlar o ciclo natural da água, devido aos consideráveis fluxos de energia e massa a ela

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

associados. O impacto econômico e social resultante está ligado às consequências de suas


manifestações externas, como inundações, desestabilização de encostas, épocas secas e por envolver
necessidades crescentes de conhecimento do comportamento da água no planejamento do
desenvolvimento da economia energética, rural e urbana, Huntzinger et al (1993) citados por Seiffert
(1996). O impacto econômico e social resultante está associado às consequências de suas manifestações
extremas, como inundações, alagamentos, enchentes, cheias e secas.
Estudos sobre o comportamento das variáveis climáticas locais trazem uma contribuição
importante, porque as atividades humanas têm modificado o ambiente, resultando em notáveis
modificações no fluxo de energia, dentro do sistema climático regional, mas com reflexos globais de
acordo com Barret et al (1992).
A problemática das mudanças climáticas é um dos maiores desafios socioeconômicos e
científicos que a humanidade terá que enfrentar ao longo deste século. De acordo com Jenkin et al.
(2005), todo o planeta sofrerá com esses impactos, mas as populações mais pobres, dos países mais
vulneráveis, certamente serão as mais susceptíveis aos seus impactos negativos.
A temperatura é um dos mais importantes elementos meteorológicos, pois traduz os estados
energéticos e dinâmicos da atmosfera e consequentemente revela a circulação atmosférica, sendo capaz
de facilitar e/ou bloquear os fenômenos atmosféricos (Dantas et al., 2000). Os seres vivos que povoam
o planeta vivem adaptados à energia do ambiente. Além da variação diária, a temperatura varia também
ao longo do ano, conforme a disposição da terra e da radiação solar. Assim, verifica-se que a
temperatura do ar tem um efeito claro no desenvolvimento dos seres vivos, animal e vegetal, sendo
necessária a utilização de métodos de estimativas de temperatura confiáveis e seguros para que se possa
trabalhar com informações precisas.
A temperatura do ar exerce influência sobre diversos processos vitais das plantas, como a
fotossíntese, respiração e transpiração, refletindo no crescimento vegetal e, sobre os estádios de
desenvolvimento das culturas (Lucchesi, 1987; Lucchesi, 2011). Os valores das temperaturas do ar
máximas e mínimas estão associados à disponibilidade de energia solar, nebulosidade, umidade relativa
do ar e do solo, vento (direção e intensidade) e a parâmetros geográficos como topografia, altitude e
latitude do local, além da cobertura e tipo de solo (Ometto, 1981; Pereira et al., 2002; Apud
Strassburger, 2011). E a amplitude térmica influencia na definição das épocas de semeadura, na escolha
de cultivares e na adoção de práticas de manejo que busquem modificar o ambiente de cultivo de
acordo com Strassburger (2011).
A quantificação de atributos ligados à temperatura possibilita a definição do regime de
temperaturas prevalecentes, indicativo para a adaptabilidade de cultivos e criações, previsão de épocas

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de plantio e previsão de safras. Braga (1990) e Braga (1992) citado por Seiffert (1996), os modelos de
previsão das principais fenofases de cultivos agrícolas, indicam que as variáveis climáticas energéticas
são efetivamente decisivas no desencadeamento da reprodução vegetal.
Atualmente, não é consenso na comunidade científica que as mudanças climáticas globais sejam
oriundas das atividades antropogênicas (Molion, 2008). Todavia, as mudanças climáticas em escala
regional e local são bem documentadas, o exemplo mais significativo ocorre no ambiente urbano, no
qual diversos estudos têm mostrado que as cidades criam um clima típico, decorrente dos diferentes
tipos de uso e ocupação do solo em conformidade com os autores Offerle et al. (2005); Coutts et al.
(2007); Alves et al, (2009).
Um importante instrumento para a regulação do clima urbano, principalmente no controle da
poluição atmosférica, na amenização da temperatura, no aumento da umidade, são as áreas verdes que
proporcionam uma melhoria da qualidade de vida vegetal e animal conforme os autores Souch e
Grimmond (2006); Zoulia (2009); Shashua-Bar et al. (2010).
A variabilidade climática é definida por Angelocci e Sentelhas, (2007,) ―... como uma variação
das condições climáticas em torno da média climatológica‖. O estudo da variabilidade ―[...] dos
parâmetros climáticos, que podem ser constatadas dentro de um período de curto prazo, adquire
importância, uma vez que as condições climáticas, consideradas como elemento condicionador da
dinâmica do sistema ambiental, encontram-se diretamente ligadas aos processos hidrológicos que
envolvem a dinâmica de uma bacia hidrográfica‖ Steinke, (2004).
Medeiros (2012) analisou a climatológica da precipitação no município de Cabaceiras - PB, no
período de 1930-2011 como contribuição a Agroindústria e constatou que os índices pluviômetros são
essenciais a sustentabilidade agroindustrial.
Medeiros (2012) realizou uma análise do clima e das disponibilidades dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos do município de Cabaceiras, área com o menor índice pluviométrico do
Nordeste do Brasil (NEB), apresentando núcleos de desertificação espalhados por todo seu território. A
caracterização climática foi realizada através do levantamento dos principais elementos do clima e
tempo como: precipitação pluviometria, vento, umidade relativa do ar, balanço hídrico e dos recursos
hídricos superficiais e subterrâneos. Segundo a classificação de Köppen o clima é Bsh - Semiárido
quente, precipitação predominantemente, abaixo de 400 mm/ano, e temperatura mais baixa, devido ao
efeito da altitude, 400 metros. a temperatura média anual é de 24,0°C; a umidade relativa do ar média
anual é de 63,8%; a evaporação real total média anual é de 338,4 mm/ano.

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A precipitação pluvial é um dos elementos essenciais nas atividades agrícolas, a partir do


volume de chuva precipitado e da sua distribuição pode-se determinar quais os tipos de atividades
agrícolas de certa localidade de acordo com Arraes et al. (2009).
O monitoramento do regime pluviométrico da região nos últimos anos tem mostrado que a
escassez de recursos hídricos acentua os problemas socioeconômicos, em particular ao final de cada
ano, com os totais pluviométricos em torno ou abaixo da média da região em conformidade com
Marengo et al (2006).
Segundo Nobre e Assad (2005), a temperatura média global do planeta à superfície aumentou
progressivamente nos últimos 120 anos, com uma variação superior a meio grau Celsius. Na última
década ocorreram os três anos mais quentes dos últimos 1.000 anos da história recente da Terra.
Segundo o relatório do IPCC (Horikoshi et al, 2007), que reforçou esses fatos, indicando como
provável esse aumento da temperatura do ar seja consequência de ações antrópicas.
Tem-se como objetivo compreender e analisar a variabilidade espaço temporal da temperatura
máxima, mínima e amplitude térmica do ar e da precipitação pluviométrica no município de Cabaceiras
- PB, no período de 1950 a 2010. Visando a delimitação de regime pluviométrico que caracterize o
trimestre mais úmido e mais quente para o município de Cabaceiras, assim como demonstrar a
variabilidade da temperatura máxima, mínimo e amplitude térmica do ar mês a mês e anual para a área
em estudo, visando impactos de mudanças climáticas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Cabaceiras localiza-se na microrregião do Cariri Oriental Paraibano e na Mesorregião do


Planalto da Borborema, limitando-se com os municípios de São João do Cariri, São Domingos do
Cariri, Barra de São Miguel, Boqueirão e Boa Vista (AESA, 2011). A sede municipal situa-se a 7o 30‘
S e 36o 17‘ O, com altitude média de 390 metros, localizada na área mais baixa do Planalto da
Borborema.
As chuvas da região sofrem influência das massas Atlânticas de sudeste e do norte. O regime
pluviométrico municipal possui uma distribuição irregular espacial e temporal, que é uma característica
do NEB, em função disto, a sua sazonalidade de precipitação concentra quase todo o seu volume
durante os cinco meses do ano (de janeiro a julho). (Silva, 2004).
O estudo foi realizado através do levantamento de dados das temperaturas máximas, mínimas e
amplitude térmica do ar e da série pluviométrica no período de 1950 a 2010. Quando necessários dados
faltosos de temperaturas, foram obtidos pelo método de regressão linear múltipla, calculadas em função
da latitude, longitude e altitude pelo software Estima_T (Cavalcanti et al., 1994, 2006).
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Os valores das precipitações pluviométricas médias mensais e anuais foram adquiridos do


Banco de dados da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e Agência
Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA).
Os dados climatológicos médios mensais e anuais de temperatura e precipitação pluvial foram
agrupados em 60 anos (1950 a 2010), caracterizando um período de normal climatológica, onde,
empregando-se planilhas eletrônicas, para extraírem-se os valores das médias mensais e anuais de
temperatura e precipitação. Esses dados foram tabulados em planilhas eletrônicas para obterem-se as
médias das máximas e mínimas absolutas das localidades e sua reta de tendência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pluviometria pluvial representa o elemento fundamental para análise dos climas tropicais,
refletindo a atuação das principais correntes da circulação atmosférica. No município de Cabaceiras os
índices pluviométricos é o principal elemento a contribuir para o bom desenvolvimento do regime dos
rios perenes, córregos, riachos, níveis dos lagos e lagoas, bem como para a ocupação do solo, sendo
imprescindível ao planejamento de qualquer atividade o conhecimento da sua distribuição e seu regime.
A precipitação pluvial é a única fonte de suprimento de água potável. Ao escoar
superficialmente, a água é armazenada em pequenos ou médios açudes que será usada para o
abastecimento. Do mesmo modo, uma pequena fração é captada e armazenada em cisternas para fins
potáveis. Todavia, este elemento climático é extremamente variável tanto em magnitude quanto em
distribuição espaço-temporal para qualquer local e/ou região e, em especial, no Nordeste do Brasil
(NEB) de acordo com os autores Almeida et al (2004); Almeida et al (2007).
O período chuvoso na região que compreende o município inicia-se no mês de fevereiro com
chuvas de pré-estação e prolonga-se até o mês de julho e destaca-se pela frequente irregularidade na
distribuição dos índices pluviométricos entre meses e anos, sendo seu quadrimestre mais chuvoso os
meses de março a junho.
O regime de precipitação que compreende o município de Cabaceiras, localizado na parte norte
do estado da Paraíba, insere-se na faixa das isoeitas (linha que une o mesmo valor de precipitação) de
300 a 400 mmano-1.
Os fatores provocadores de chuva no município são formações de linhas de instabilidade na
costa e transportada para o interior pelos ventos alísios de sudeste/nordeste, desenvolvimento de
aglomerados convectivos, proveniente do calor armazenado na superfície e transferido para atmosfera,
orografia, contribuições de formação de vórtices ciclônicos, e tendo como principal sistema o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Além de possuir uma distribuição


pluviométrica anual irregular (336,6mm).
Normalmente as chuvas têm intensidade moderada (de tempo regular por volta de oito a dez
horas de chuvas descontínuas diárias), seguidas de irregularidade devido ás falhas dos sistemas
meteorológicos atuantes. Salienta-se que a ocorrência de períodos de veranicos (ocorrências de vários
dias consecutivos sem chuva durante o período chuvoso) no quadrimestre mais chuvoso (março a
junho) é possível e variante de ano para ano. Sua magnitude é variada dependendo da época e dos
fatores meteorológicos. Tem-se registrado ocorrências com períodos de veranicos superiores a
dezessete (17) dias mensais no intervalo de tempo ocorrido dentro do quadrimestre.
A precipitação pluvial passa a ser a única fonte de suprimento de água. Por isso, ao escoar
superficialmente a água é barrada em pequenos açudes e usada para o abastecimento e irrigação. Além
disso, muitas vezes, uma pequena fração é captada e armazenada em cisternas para fins potáveis. No
entanto, este elemento do clima é extremamente variável tanto em magnitude quanto em distribuição
espacial e temporal para qualquer região e, em especial, no nordeste brasileiro, Almeida et al, (2004) e
Almeida et al, (2007).
Entre os meses de fevereiro a junho os índices pluviométricos são elevados com precipitações
superiores a 40 mm. E nos meses de setembro a segunda quinzena do mês de novembro o município
sofre com as irregularidades das chuvas. Essas características climáticas causam uma alta variabilidade
no volume dos mananciais, causando assim, em períodos de seca, a redução da quantidade e qualidade
da água dos reservatórios.
Após as etapas acima citadas foram feitos testes de consistência para ver-se a confiabilidade dos
dados gerados e das informações que seriam passadas ou utilizadas para diversas finalidades,
principalmente no setor hidroelétrico, irrigação, piscicultura, pecuária, agrícola, armazenamento e
represamento de água e de saúde, além dos benefícios gerados para a fruticultura, hortaliça e lazer.
Para o município em estudo a confiabilidade dos dados é de 95% pelo teste T-Student, com isto
podemos abranger os dados mensais e anuais e ter-se a delimitação do seu trimestre mais úmido.
Observando-se os dados de temperatura máxima do ar representativas da área municipal na
distribuição da temperatura máxima média climatológica do ar; desvio padrão da temperatura máxima
do ar; coeficiente de variância da temperatura máxima do ar; máximos e mínimos valores da
temperatura máxima do ar, estabeleceram-se os meses mais quentes que ocorrem entre outubro a
fevereiro com flutuações entre 31,7 a 32,6 ºC e o período mais suave ocorrem entre os meses de março
a setembro com oscilação entre 27,8 a 31,2 ºC. As maiores temperatura máximas absolutas registradas

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foram nos anos de 1997 no mês de dezembro com 33,7 ºC e no ano de 1998 com 33,2 ºC no mês de
janeiro.
Na Figura 1 tem-se o demonstrativo da temperatura do ar média máxima; máxima da máxima e
mínima da máxima, onde se observa as flutuações médias mensais para o município de Cabaceiras.

Figura 1 demonstrativo da temperatura do ar média máxima climatológica; máxima da máxima e mínima da


máxima. Figura 2 e temperatura anual com a reta da tendência (b), para o município de Cabaceiras.

Observa na Figura 2 que a tendência da temperatura máxima é terem ascendência e as tardem


sempre irá ficar mais quentes, destacando os anos 2000 como sendo os mais quentes.
Observando-se os dados de amplitude térmica máxima do ar representativas da área municipal
na sua distribuição que a amplitude térmica climatológica fluir entre 9,3 ºC em junho a 12,4 ºC no mês
de novembro e sua amplitude térmica anual são de 10,8 ºC. A amplitude térmica máxima fluir entre 9,7
ºC nos meses de maio e junho a 13,2 no mês de novembro com o seu máximo anual de 11,2 ºC. Já a
amplitude térmica mínima anual é 10,8 ºC e sua flutuação anual são de 9,3 nos meses de maio e junho e
12,4 ºC no mês de novembro.
Na Figura 3 tem-se o demonstrativo da Amplitude térmica média climatológica do ar; desvio
padrão da Amplitude térmica do ar; Coeficiente de variância da Amplitude térmica do ar; máximos e
mínimos valores da Amplitude térmica do ar para o município de Cabaceiras. Período de 1950 a 2010.

Figura 3 Demonstrativo da amplitude térmica climatológica; amplitude térmica máxima e mínima. Figura 4
amplitude térmica anual com a reta da tendência para o município de Cabaceiras.

Na Figura 4 tem-se a tendência linear da amplitude térmica onde se destaca os anos de 1965,
1975 e 1983 que se apresentaram como anos anômalos devidos a flutabilidade dos sistemas

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meteorológicos atuante, observa-se que no elemento meteorológico amplitude térmica a tendência


linear apresenta-se nutra.
Observando-se os dados de temperatura mínima média climatológica do ar; desvio padrão da
temperatura mínima do ar; coeficiente de variância da temperatura mínima do ar; máximos e mínimos
valores da temperatura mínima do ar para o município de cabaceiras, a temperatura mínima
climatológica oscila entre 17,8 ºC no mês de agosto a 20,8 ºC nos meses de fevereiro e março sua
temperatura anual é de 19,7 ºC, a temperatura máxima da mínima anual é de 20,2 ºC e sua flutuação
mensal variam entre 18,5 ºC nos meses de julho e agosto a 21,8 ºC nos meses de janeiro e fevereiro,
temperatura registrada no ano de 1998. As temperaturas mínimas das mínimas registradas oscilaram
entre 17,3 ºC nos meses de julho e agosto dos anos dede 1950 e 1954, e 20,2 ºC no mês de março de
1976. Estas flutuações estão relacionadas com as variações e/ou oscilações dos fatores meteorológicos
atuantes no período referenciado.
Na Figura 5 tem-se o demonstrativo da temperatura mínima climatológica do ar; as flutuações
mensais da temperatura máxima e mínima absoluta para o município de Cabaceiras no período de 1950
a 2010.

Figura 4 Demonstrativo da temperatura mínima climatológica; temperatura máxima e mínima (a) e temperatura
mínima anual com a reta da tendência (b), para o município de Cabaceiras no período de 1950 a 2010.

Na Figura 6 tem-se a tendência linear da temperatura mínima mostrando que as manhas estão
ficando mais quentes e seus aumentos ocorrem devidos às variabilidades dos sistemas meteorológicos
transientes que vem ocorrendo em todo o globo
Observando os dados de precipitação representativos da área municipal na distribuição da
precipitação média climatológica; desvio padrão da precipitação média; coeficiente de variância da
precipitação; máximos e mínimos valores da precipitação, estabeleceram-se os meses mais chuvosos
que ocorrem entre os meses de fevereiro a junho com flutuações entre 40,7 a 67,5 mm. Os meses mais
secos que ocorrem entre setembro a novembro com os índices pluviométricos fluindo entre 2,9 a 6 mm,
o município tem uma precipitação média anual de 352,8 mm.

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Na Figura 7 tem-se o demonstrativo da precipitação média máxima; máxima da máxima e


mínima da máxima, onde se observa as flutuações médias mensais para o município de Cabaceiras –
PB.
A precipitação média anual para os sessenta anos com observação é de 352,8 mm, e sua
precipitação máxima ocorrida neste intervalo de tempo foi de 775,5 mm no ano de 1964.
Na Figura 8 tem-se o demonstrativo da precipitação anual e sua tendência para o município de
Cabaceiras. Observando-se a figura 5b nota-se uma tendência de elevação da precipitação anual, esta
elevação esta relacionada com a temperatura e com os índices evaporativos.

Figura 7 - Precipitação anual, Figura 8- tendência linear da precipitação para o município de Cabaceiras para o período de
1950 a 2010.

CONCLUSÕES

Os resultados apresentados indicam possíveis variações climáticas nas temperaturas máximas;


nas amplitudes térmicas e nas temperaturas mínimas do ar, e na precipitação, apontando para uma
tendência de condições mais quente e chuvosa.
A temperatura do ar máxima anual demonstrou grande variação entre o período estudado, a
temperatura máxima absoluta foi aumentada de 2,6% e a temperatura mínima absoluta sofreu uma
elevação de 1,8%.
Em relação ao trimestre mais úmido da precipitação, tal quadrimestre é também representativo
para o período chuvoso que são os meses de março a junho.
A precipitação total anual vem-se demonstrando uma elevação gradativa nos seus índices da
série estudada, podendo estar relacionado com o elevamento da temperatura e um maior índice
evaporativo.
Possibilidade de eventos extremos nos índices pluviométricos de ocorrerem chuvas de altas
magnitudes e em curto intervalo de tempo.

AGRADECIMENTO

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de


bolsa de Pós-doc e a Coordenação do centro de Engenharia Ambiental pela pesquisa em
desenvolvimento.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 512


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VARIABILIDADE DAS TEMPERATURAS EXTREMAS E MÉDIA DO AR E DO


ENTORNO DA LAGOA PARNAGUÁ

Romildo Morant de HOLANDA


Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPR
romildomorant@gmail.com
Raimundo Mainar de MEDEIROS
Pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco
mainarmedeiros@gmail.com
Marcelo KOZMHINSKY
Mestrando em Engenharia Ambiental, UFRPE
marcelok1963@gmail.com
Vicente de Paulo SILVA
Prof. Dr. Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE, PE, Brasil
vicenteufrpe@yahoo.com.br

RESUMO
Objetivando a delimitação da variabilidade da temperatura máxima (Tx), mínima (Tn) e média (Tm) do
ar na área municipal e do entorno da lagoa do parnaguá. Com o desenvolvimento e a expansão
agropecuária, grande áreas estão sendo desmatada, não levando em consideração a contribuição dos
fatores meteorológicos entre elas em especial as temperaturas que podem minimizar a ocorrência de
prejuízos de efeitos anômalos que por ventura aconteça. Utilizaram-se dados de Tx, Tn e Tm estimadas
pelo software estima – T compreendido entre os anos de 1960 – 2015, sendo obtidas as médias
mensais, anuais, máximos e mínimos valores. Observando das variabilidades da Tx, Tn e Tm balizaram-
se o trimestre mais quente e seus valores mensais e anuais, assim como os valores máximos e mínimos
absolutos observados. Os resultados mostram que no período quente aumentam as possibilidades de
focos de queimadas e incêndios e em áreas verdes são benéficos à produção de pastagens e grão. As
definições dos trimestres mais quentes e as informações das épocas de menor temperatura máximas do
ar serviram de alerta às autoridades federais, estaduais, municipais e aos tomadores de decisões, para
efetivações de melhores planejamentos. A temperatura média é a representação da variação e oscilação
das temperaturas extremas e qualquer modificação nestes elementos, as temperaturas médias se
adequam as suas oscilações que decorrem dos sistemas sinóticos atuantes na época do período chuvoso
e seco tal como dos impactos no meio ambiente.
Palavra-chaves: Variáveis atmosféricas, oscilações mensais, alertas extremas.
ABSTRACT
Aiming to the delimitation of the variability of the maximum temperature (Tx), minimum (Tn) and
average (Tm) of the air in the local area and around the Parnaguá pond. With the development and
agricultural expansion, large areas are being deforested, not taking into account the contribution of the
meteorological factors including particularly temperatures that can minimize the occurrence of loss of
anomalous effects that perchance happen. They used data Tx, Tn and Tm estimated by estimator
software - T between the years 1960 - 2015, and obtained the average monthly, annual, maximum and

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minimum values. Noting the variabilities of TX, Tn and Tm is the hottest quarter and their monthly and
annual values as well as the absolute maximum and minimum values observed. The results show that
the warm period increases the possibilities of fire outbreaks and fires and green areas are beneficial to
the production of pastures and grain. The definitions of the hottest quarters and information from times
of lower maximum air temperature served as a warning to federal, state, and municipal decision makers
to functionings better planning. The average temperature is the representation of the variation and
fluctuation of temperature extremes and any changes in these elements, the average temperatures fit
their fluctuations arising from active synoptic systems at the time of the rainy and dry season as the
impacts on the environment.
Keyword: atmospheric variables, monthly fluctuations, extreme alerts.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais tem-se presenciado grandes ocorrências de eventos atmosféricos extremos. O
conhecimento das variáveis meteorológicas é importante para a elaboração de programas preventivos e
de combate às graves consequências associadas a esses fatos. A delimitação do clima de uma região
permite estabelecer os indicadores do potencial do meio físico para o local em estudo, bem como as
demarcações das áreas homogêneas, do ponto de vista socioeconômico, o que contribui para o
planejamento e desenvolvimento sustentável da região.
Medeiros et. al. (2012) calcularam a temperatura do ar média diária com o emprego de
diferentes metodologias para os municípios de Parnaíba, Picos e Gilbués localizados, respectivamente,
na área litorânea, na região central do Estado do Piauí e pertencente à região semiárida, em terras do
cerrado e desertificada. Utilizaram quatro métodos para o cálculo da temperatura média, sendo adotado
como padrão o recomendado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Os quatro métodos
avaliados em relação ao padrão possuíram desempenho classificado como ―Muito bom e Ótimo‖, com
índice de confiança variando entre 0,83 a 0,98. Os resultados ainda indicam que nas condições
climáticas da região de estudo os quatro métodos avaliados em relação ao padrão (INMET) podem ser
utilizados nas estimativas das temperaturas médias diárias do ar.
A temperatura é um dos elementos meteorológicos que explica os estados energéticos e
dinâmicos da atmosfera e, consequentemente, revela a circulação atmosférica, facilitando ou
bloqueando os fenômenos atmosféricos conforme Dantas et al. (2000).
Souza et. al. (2015) realizaram a delimitação da temperatura máxima do ar (TX) na bacia
hidrográfica do rio Uruçuí Preto (BHRUP). Com o desenvolvimento e a expansão agropecuária,
grandes áreas estão sendo desmatadas, não levando em consideração a contribuição dos fatores
meteorológicos entre eles em especial as temperaturas máximas. Utilizaram-se dados de Temperatura
máximos observados e interpolados das estações que operam na área em estudo, que foram obtidos

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para os 49 locais da bacia as médias mensais, anuais, máximos e mínimos valores. Observando a
variabilidade da TX na área da bacia ao longo do ano, delimitou-se o trimestre mais quente e seus
valores mensais e anuais, assim como os valores máximos e mínimos absolutos observados. Tais
delimitações dos trimestres mais quentes e as informações das épocas de menor temperatura máximas
do ar serviram de alerta às autoridades federais, estaduais, municipais e aos tomadores de decisões,
para efetivação de melhores planejamentos.
Matos et al (2015) utilizaram dados de temperatura do ar mensais para o município de Barbalha
– Ceará e demonstraram que a elevação e a latitude são as variáveis fisiográficas que explicam melhor
a variação da temperatura do ar anual e que as variabilidades da temperatura média decorrem dos
sistemas sinóticos atuantes na época do período chuvoso ou seco tal como dos impactos no meio
ambiente.
A temperatura do ar desempenha influência sobre diversos processos vitais nas plantas, como a
fotossíntese, respiração e transpiração, evidenciando no crescimento vegetal e, nos estágios de
incremento das culturas de acordo com Lucchesi (1987). Os valores das temperaturas do ar máximas e
mínimas estão associados à disponibilidade de energia solar, nebulosidade, umidade do ar e do solo,
vento (direção e intensidade) e a parâmetros geográficos como orografia, latitude local e da cobertura e
tipo de solo em conformidade com os autores Ometto (1981) e Pereira et al. (2002).
A temperatura do ar se destaca entre as variáveis atmosféricas mais utilizadas no
desenvolvimento de estudos de impactos ambientais com mudanças nos processos meteorológicos e
hidrológicos de acordo com Nogueira et al. (2012) e Correia et al. (2011).
De acordo com Pereira et al. (2013) a modelagem das estimativas das temperaturas máximas,
mínimas e médias possibilitam o uso de técnicas de regressão linear múltipla e Krigagem ordinária. O
ajuste das equações de regressão para as estimativas de temperaturas máximas, mínimas e médias é
uma alternativa viável para ampliar a base de dados climáticos, através de mapas temáticos de
temperatura, fornecendo subsídios para um planejamento agropecuário de acordo com Medeiros et al.
(2005).
Embora existam longas séries de dados de temperatura do ar para algumas localidades de uma
dada região, pode não haver registro exatamente daquela localidade em que se está interessado. Outro
fator que diz respeito ao número de estações meteorológicas que é pequeno, tornando baixa a densidade
das informações disponíveis sobre a temperatura, dificultando a caracterização do campo térmico. Estas
situações são muito frequentes na prática e estimulam concepções de técnicas que busquem estimar a
temperatura em locais onde não há dados conforme Varejão-Silva (2006).

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Objetiva-se analisar a variabilidade temporal da temperatura máxima, média e mínima do ar


para o município de Parnaguá e do entorno da lagoa de referido município nas escalas mensal, anual e
decadal e suas contribuições à secagem ou não da referida Lagoa.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área em estudo compreende o município de Parnaguá que está localizado na microrregião da


Chapada Extremo Sul Piauiense com suas respectivas coordenadas geográficas na latitude de 10º13‘ sul
e na longitude de 44º38‘ Oeste e a uma altitude de 316 metros (Figura 1). Sua área territorial é de
3.429,3 Km2, onde esta inserida a respectiva lagoa com uma população de 10.273 habitantes (IBGE,
2010).

Figura 1. Localização do município dentro do Estado.

Para as plotagens dos dados e elaboração dos gráficos e tabelas utilizou-se do software em
planilhas eletrônicas. Foram utilizados dos dados observados nos horários sinóticos e aplicaram-se
algumas estatísticas como média, desvio padrão, cálculos dos valores máximos e mínimos absolutos e
coeficiente de variância com a finalidade de obterem-se os resultados.
Na metodologia utilizou-se valores de temperatura máxima, média e mínima do ar estimados
pelo Software Estima_T em conformidade com os autores Cavalcanti e Silva (1994) e Cavalcanti et al.
(2006). Nesse modelo empírico de estimativa da temperatura do ar é utilizada uma superfície
quadrática em função das coordenadas locais: longitude, latitude e altitude dada pela Equação 1.

T=C0 + C1 λ + C2Ø + C3h + C4 λ2 + C5 Ø2 + C6h2 + C7 λ Ø + C8 λ h + C9Øh (1)

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Onde:
C0, C1,...., C9 são as constantes;
λ, λ2, λ Ø, λ h longitude;
Ø, Ø2, λ Ø latitude;
h, h2, λ h, Ø h altitude.

As séries temporais de temperatura máxima, média e mínima foram estimadas também


utilizando o Estima_T adicionando a esta a anomalia de temperatura do Oceano Atlântico Tropical de
acordo com Cavalcanti (2006).

Tij = Ti + AATij (2)

em que:
Tij é a temperatura do mês i e ano j; Ti é a temperatura climatológica do mês i e AATij é a anomalia da
temperatura do Atlântico Tropical do mês i e ano j; com i = 1,2,3,...,12; j = 1950, 1951, 1952,...,2014.
Os dados obtidos foram organizados em planilha eletrônica facilitando o cálculo de estatísticas,
tais como, valores decenais e a média histórica, desvio padrão, coeficiente de variância nas séries de
temperaturas máxima e mínima absoluta para o município de Parnaguá - Piauí de acordo com Medeiros
(2014).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na tabela 1 têm-se as variabilidades das temperaturas médias, desvio padrão, coeficiente de


variância (coef. variância), máxima e mínima absoluta para o município de Parnaguá e do entorno de
sua lagoa.
A temperatura média anual é de 26,6 °C e sua variabilidade anual oscilam entre 25,2 °C nos
meses de julho a 29,7 °C em setembro. Os desvios padrões em relação à média e os coeficientes de
variâncias apresentam valores bem homogêneos e inferiores a 0,5 °C. As temperaturas médias máximas
absolutas ocorrem nos meses de agosto a novembro coincidindo com o período seco. O valor médio
mínimo absoluto ocorre no mês de julho com 24,6°C.

Tabela 1. Temperatura média estimada do ar, desvio padrão, coeficiente de variância (coef. variância), máxima e
mínima absoluta para Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Parâmetros/meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
Média 25,9 25,8 25,3 25,5 25,6 25,2 25,4 27,4 29,7 28,9 27,2 26,4 26,5
Desvio padrão 0,4 0,3 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,3
Coef. variância 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,01
Máxima absoluto 27,0 26,9 27,0 26,3 26,4 25,8 26,0 28,0 30,4 29,7 28,2 27,5 27,1
Mínima absoluto 25,1 25,1 24,7 25,0 25,0 24,6 24,7 26,8 29,0 28,1 26,4 25,5 25,9

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Na Figura 1 tem-se a representatividade da temperatura: média da máxima absoluta; média da


média e média da mínima absoluta para o município em estudo. Observa-se que as flutuações da média
da máxima absoluta são maiores nos meses de agosto a outubro e sofrem reduções entre os meses de
abril, maio e junho com suas amplitudes seguindo as curvas das médias e mínimas. A temperatura
mínima das máximas varia entre 24,6 °C a 29 °C demostrando que as madrugadas estão ficando
aquecidas.

Figura 1. Temperatura média da máxima absoluta; média da média e média da mínima absoluta para o município
de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.

Na Tabela 2 tem-se o demonstrativo da temperatura média decadal (1960 a 2000) para o


município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa. Os valores baixos das médias decadal ocorrem entre
os meses de junho a agosto para as décadas em estudo, suas oscilações foram próximas com exceção à
década de 1980 que apresentou maiores amplitudes com flutuações, estas flutuações estão interligadas
aos sistemas de micro escala e aos efeitos locais. Observam-se oscilações com menores flutuabilidades
nos meses de novembro a março, estas irregularidades estão interligadas as oscilações e/ou atuações
dos fenômenos de meso e larga escala atuante na área de estudo. Nas décadas de 1990 e 2000
destacam-se aumentos nas temperaturas decadal devido a atuações do fenômeno de larga escala como
El Niño/La Niña predominante na região do NEB alterando seus padrões térmicos.

Tabela 2. Temperatura média decadal do município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.


Décadas Jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Anual
1960-1969 25,7 25,6 25,0 25,3 25,4 25,0 25,2 27,1 29,5 28,7 27,0 26,2 26,3
1970-1979 26,0 25,9 25,3 25,6 25,7 25,3 25,5 27,4 29,8 29,0 27,3 26,5 26,6
1980-1989 26,1 26,0 25,5 25,8 25,9 25,5 25,6 27,5 29,9 29,1 27,4 26,6 26,7
1990-1999 26,1 26,0 25,5 25,7 25,8 25,4 25,6 27,6 30,0 29,2 27,5 26,8 26,8
2000-2009 26,2 26,1 25,8 25,8 25,9 25,4 25,6 27,5 29,8 29,0 27,3 26,5 26,7

Na Figura 2 tem-se a variabilidade da temperatura média decadal do município de Parnaguá e


do entorno de sua lagoa. As décadas de 1960 e 1970 apresenta-se como as de memores flutuabilidades
demonstrando que para as referidas décadas ocorreram anomalias nos seus índices. Nas décadas de 80,
90 e 2000 as oscilações das temperaturas médias sofreram aumentos quando comparadas as décadas de
60 e 70. Entre 2010 e 2015 as temperaturas médias foram intermediarias às outras décadas. Para todas

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as décadas estudadas as temperaturas sofrem reduções entre os meses de dezembro a maio e entre os
meses de agosto a outubro que tem suas elevações máximas. Estas variabilidades estão interligadas a
predominância do período seco e chuvoso e às flutuações dos fenômenos transientes atuantes na escala
regional e local.

Figura 2. Variabilidade da temperatura média decadal do município de Parnaguá e do entorno da lagoa.

Tem-se na Tabela 3 o demonstrativo da temperatura máxima, desvio padrão, coeficiente de


variância, máxima e mínima absoluta para o município de Parnaguá e do entorno da sua lagoa. O
desvio padrão em relação à média e o coeficiente de variância não apresentam valores. Os valores
médios oscilam entre 32,1°C em janeiro a 37,5 °C no mês de setembro com uma média anual de 34°C.
Os máximos absolutos variam entre 33,2 °C em dezembro e janeiro, a 38,2 °C no mês de setembro e as
temperaturas mínimas absolutas oscilam entre 30,9 °C nos mês de março a 36,8 °C em setembro.

Tabela 3. Temperatura máxima histórica, desvio padrão, coeficiente de variância (coef. variância), máxima e
mínima absoluta para Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Parâmetros/meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
Média 32,1 32,2 31,5 32,2 33,9 34,9 35,7 37,3 37,5 35,4 32,6 32,2 34,0
Desvio padrão 0,4 0,4 0,5 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,4 0,3
Coef. variância 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01
Máxima absoluto 33,2 33,3 34,6 33,0 34,7 35,5 36,3 37,9 38,2 36,2 33,6 33,2 34,5
Mínima absoluto 31,3 31,6 30,9 31,7 33,2 34,3 35,0 36,7 36,8 34,6 31,8 31,3 33,3

Na Figura 3 tem-se a variabilidade da temperatura máxima da máxima absoluta; média da


máxima e mínima da máxima absoluta para o município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Observa-se que as oscilações da temperatura máxima da máxima absoluta ocorrem com maior
frequência entre os meses de maio a setembro e nos meses de outubro a abril que sofrem reduções
devido à atuação da época da quadra chuvosa, destaca-se que no mês de março ocorreu anomalia acima
do padrão normal em relação aos restantes dos meses analisados. Na curva da temperatura média
máxima entre os meses de outubro a março observam-se as reduções na mesma declividade da curva
que deve ser vista para a temperatura mínima absoluta. Neste caso da temperatura mínima salienta-se
que está ocorrendo aumentos significativos e que a madrugada esta ficando mais quente.

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Figura 3. Temperatura máxima da máxima absoluta; média da máxima e mínima da máxima absoluta para o
município de Parnaguá e do entrono de sua lagoa.

Representatividade da temperatura máxima média decadal para Parnaguá e do entorno de sua


lagoa, conforme Tabela 4. As variabilidades ocorridas entre os valores decadais foram decorrentes dos
sistemas sinóticos de meso e larga escala e as contribuições e seus efeitos locais. Nos meses de outubro
a abril as oscilações das temperaturas decadais oscilaram entre 31,3 a 35,7 °C, devido aos efeitos das
chuvas e dos sistemas locais. Nos meses de maio a setembro observa-se elevamento, deixando suas
flutuações oscilares entre 33,7 a 37,8 °C. A década de 60 apresentou os menores valores de temperatura
máxima, as décadas de 70, 80, 90 e 2000 foram as de maiores incidências de temperatura máxima,
sendo a década de 50 com as menores taxas de temperatura mínimas. Estas flutuações foram
decorrentes da ativação e da retirada da vegetação, dos focos de incêndios, da implantação da
monocultura e do alto poder evaporativo que vem ocorrendo com as mudanças dos cenários.

Tabela 4. Temperatura máxima média decadal do município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Décadas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
1960-1969 31,9 32,0 31,2 32,0 33,7 34,7 35,5 37,0 37,3 35,1 32,4 31,9 33,7
1970-1979 32,2 32,3 31,5 32,3 34,0 35,0 35,8 37,3 37,7 35,5 32,7 32,3 34,0
1980-1989 32,3 32,5 31,7 32,5 34,2 35,1 35,9 37,4 37,7 35,5 32,8 32,4 34,2
1990-1999 32,3 32,4 31,7 32,4 34,1 35,1 35,9 37,5 37,8 35,7 32,9 32,5 34,2
2000-2009 32,4 32,5 32,3 32,5 34,2 35,1 35,8 37,4 37,6 35,5 32,8 32,3 34,2

A Figura 4 têm basicamente as mesmas oscilações dos parâmetros analisados para as outras
décadas. Exceto os meses de fevereiro a abril para a década de 2000. Nas décadas de 60 e 70 as taxas
de temperatura máxima foram inferiores às demais décadas estudadas.

Figura 4. Variabilidade da temperatura média máxima decadal do município de Parnaguá e do entorno de sua
lagoa.
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Na Tabela 5 tem-se a representatividade da temperatura mínima, desvio padrão, coeficiente de


variância, máxima e mínima absoluta para Parnaguá e do entorno da sua lagoa. A temperatura média da
mínima é de 19,1°C e sua oscilação mensal variam entre 15,1 °C no mês de julho a 22,4 °C no mês de
outubro. As temperaturas máximas absoluta oscilam entre 15,7 a 23,3 °C e as mínimas absolutas entre
14,5 a 21,6 °C. O desvio padrão e o coeficiente de variância não apresentam grandes flutuações para o
período em estudo.

Tabela 5. Temperatura mínima histórica, desvio padrão, coeficiente de variância (coef. variância), máxima e
mínima absoluta para Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Parâmetros/meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
Média 19,7 19,4 19,1 18,8 17,4 15,5 15,1 17,5 21,9 22,4 21,8 20,7 19,1
Desvio padrão 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,3
Coef. variância 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,01 0,02 0,02 0,02 0,01
Máxima absoluto 20,7 20,4 20,0 19,6 18,2 16,1 15,7 18,1 22,6 23,3 22,7 21,8 19,6
Mínima absoluto 18,8 18,7 18,5 18,3 16,7 14,9 14,5 16,9 21,2 21,6 20,9 19,8 18,5

A Figura 5 mostra as oscilações das temperaturas mínimas da máxima absoluta; média da


mínima e mínima da mínima absoluta para o local de estudo. Observa-se que as oscilações da
temperatura média das mínimas, mínima da máxima e mínima da mínima, começam a aquecer na
segunda quinzena de agosto e eleva-se nos meses de setembro a novembro sofrendo reduções entre os
meses de maio a junho. Entre os meses de janeiro a abril sofrem reduções gradativas com as
predominâncias das chuvas e suas amplitudes seguem as curvas das médias e mínimas.

Figura 5. Temperatura mínima da máxima absoluta; média da mínima e mínima da mínima absoluta para o
município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.

Na tabela 6 observa-se a variabilidade da Temperatura média mínima decadal do município de


Parnaguá e do entorno de sua lagoa. Para as décadas 1970, 1980, 1990 e 2000 as temperaturas mínimas
fluíram basicamente equiparadas exceto na década de 80 e 2000 quando comparadas às demais entre os
meses de janeiro a junho. Estas flutuações de aumentos foram causadas pelo fator transiente local e
regional.

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Tabela 6. Temperatura média mínima decadal do município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.
Décadas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
1960-1969 19,5 19,2 18,8 18,6 17,2 15,3 14,9 17,3 21,7 22,2 21,5 20,5 18,9
1970-1979 19,8 19,4 19,1 18,9 17,4 15,6 15,2 17,5 22,0 22,5 21,8 20,8 19,2
1980-1989 19,9 19,6 19,3 19,1 17,6 15,8 15,3 17,6 22,1 22,6 22,0 20,9 19,3
1990-1999 19,8 19,5 19,2 19,0 17,6 15,8 15,4 17,8 22,2 22,8 22,1 21,0 19,3
2000-2009 19,9 19,6 19,3 19,1 17,6 15,7 15,3 17,6 22,0 22,5 21,8 20,8 19,3

Na figura 6 tem-se a variabilidade temporal da temperatura média mínima nas décadas de 1960,
1970, 1980,1990 e 2000 no município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa. Observa-se que em todas
as décadas estudadas, as flutuações das temperaturas mínimas apresentam aumentos compreendidos
entre os meses de agosto a novembro, nos meses de abril a julho as reduções na flutuabilidade da
temperatura mínima são destacadas atingindo o seu mínimo de 14,5 °C em todas as décadas estudadas
com ênfase maiores para as décadas de 1960 e 1970 que fogem dos padrões normais das demais
décadas apresentadas na figura 6. Nos meses de janeiro a abril observa-se uma redução gradativa por
volta de 2 °C.

Figura 6. Variabilidade da temperatura média mínima decadal do município de Parnaguá e do entorno de sua lagoa.

CONCLUSÕES

As flutuações da temperatura máxima decorrem dos sistemas sinóticos atuantes na época do


período chuvoso e do período seco, tal como dos impactos no meio ambiente.
A elevação em relação ao nível médio do mar é a variável fisiográficas que melhor explica a
variação da temperatura do ar na localidade estudada.
As variabilidades decadais estão interligadas às flutuações dos sistemas de meso e grande escala
atuantes no período estudado.
As flutuações sazonais e interanual das temperaturas: máximas, médias e mínimas decorrem das
influências das estações do ano (variação sazonal) e da intensidade dos sistemas sinóticos atuantes, em
cada ano, na época do período chuvoso e do período seco (variação interanual).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 522


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A estabilidade das temperaturas mensais, anuais e decadal nas suas médias, máximas e mínimas
do ar mantiveram-se acima da normalidade podendo caracterizar tendência a possíveis mudanças
climáticas.
As décadas de 1990 e 2000 apresentaram variabilidade da temperatura mínima absoluta com
significâncias demostrando que as madrugadas foram mais quentes que a normalidade quando
comparadas às demais décadas.
A temperatura média é a representação da variabilidade e suas oscilações das temperaturas
extremas. Qualquer variabilidade nestes elementos, as temperaturas médias se adequam às suas
oscilações que decorrem dos sistemas sinóticos atuantes na época do período chuvoso e seco tal como
dos impactos no meio ambiente e da elevação em relação ao nível do mar.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO PLUVIOMÉTRICO DO ESTADO DE SERGIPE


USANDO DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADES

Valneli da Silva MELO


Doutoranda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UEPB,
e-mail: valnelismello@hotmail.com
Kely Dayane Silva DO Ó
Doutoranda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UEPB,
e-mail: kely.dayane@hotmail.com

RESUMO
O conhecimento da precipitação pluviométrica contribui para estratégias no agronegócio brasileiro e no
planejamento dos recursos hídricos. Entre os modelos matemáticos utilizados para descrever os dados
dessa variável, destaca-se as distribuições de probabilidades. Diante disso este trabalho objetiva avaliar
métodos para estimativas dos parâmetros das distribuições de probabilidade em séries médias mensais
de precipitação de 50 estações meteorológicas no estado do Sergipe. Utilizando testes estatísticos foram
usados diversos modelos de distribuição de probabilidades. Através da função de frequência
acumulada, usando-se a metodologia da distribuição de probabilidade Gama com dois parâmetros com
averiguação de aderência pelo teste Kolmogorov-Smirnov com nível de significância de 5%, se
constituindo como uma opção adequada para pesquisas envolvendo a precipitação utilizados nesse
estudo. Os meses de janeiro e fevereiro apresentam os melhores ajuste, com um ajuste de 99% dos
dados a função, já os meses de setembro e outubro representam os ajustes mais baixos 32,84% e
27,97% respectivamente.
Palavra chave: Precipitação, distribuição Gama, Kolmogorov-Smirnov
ABSTRACT
The knowledge of rainfall contributes to the strategy in the Brazilian agribusiness and in the planning
of water resources. Among the mathematical models used to describe the data of this variable, stands
out as probability distributions. Therefore, this work aims to evaluate methods for estimating the
payment of probability distributions in monthly average series of precipitation of 50 meteorological
stations in the state of Sergipe. Using statistical tests were several models of probability distribution.
Through the frequency function, using the methodology of probability distribution Gamma with two
parameters with determination of adherence by the test Kolmogorov-Smirnov comingue of significance
of 5%, constituting as a suitable option for research involving the precipitation Study. The months of
January and February are the best adjustments, with a 99% adjustment of the data of a function, already
the months of September and October, represent the lowest adjustments 32.84% and 27.97%
respectively.
Keyword: Precipitation, gamma distribution, Kolmogorov-Smirnov

INTRODUÇÃO

O conhecimento do comportamento temporal e espacial da precipitação pluvial constitui-se em


elemento essencial para o planejamento da grande maioria das atividades humanas em uma dada

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 526


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região. As precipitações caracterizam-se como fenômeno aleatório, no entanto estudos de valores


médios mensais e anuais associados a distribuições de probabilidades permitem a avaliação dos riscos
assumidos em projetos para o uso dos recursos hídricos. Desta forma, a utilização de técnicas de
geoestatística pode possibilitar a ampliação da informação e avaliar a confiabilidade do dado em
regiões de baixa cobertura.
O conhecimento da variação de volumes precipitados durante o ano a partir de séries históricas
possibilita a geração de valores médios e com possibilidade de ocorrência em um mês ou ano qualquer.
Estas informações são de extrema aplicabilidade nos processos de planejamento agrícolas, em que, por
exemplo, o dimensionamento de sistemas de irrigação deve considerar um risco de atendimento das
demandas de água das culturas pela precipitação.
Estudos probabilísticos de variáveis climáticas são de extrema importância para o planejamento
de atividades de irrigação, entre outras atividades da agropecuária, construção civil, turismo e
transporte. No Brasil existem vários trabalhos dessa natureza, contudo, ainda são raros estudos
comparativos de distribuições de probabilidade, especialmente aplicados ao estudo de chuva provável.
Tais estudos podem contribuir, de forma mais efetiva, para o planejamento da irrigação complementar,
especialmente em regiões onde a agricultura irrigada tem crescido de forma considerável ou apresenta
potencial de crescimento. Várias distribuições de probabilidade têm sido aplicadas em estudos de
precipitações prováveis no Brasil, destacando-se as distribuições Gama, Normal e Log-Normal
(RIBEIRO et al., 2007).
O Estado de Sergipe está posicionado no setor Nordeste do Brasil, aonde grande parte do seu
território está localizado dentro do semiárido, neste setor da região a precipitação média anual é em
torno de 500 mm/ano, tendo uma distribuição bastante irregular tanto espacial como temporal. Com
isso, a produção agrícola desenvolvida torna-se dependente do comportamento desta variável.
De acordo com (Uvo, 1989), a quadra chuvosa nessa região concentra-se entre os meses de
fevereiro a maio, sendo basicamente dependente do deslocamento para o Hemisfério Sul da Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), que contribui com, aproximadamente, de 70 a 80% da distribuição
da chuva.
Visto isso, esse trabalho teve como objetivo avaliar as distribuições Beta, Qui-quadrado, Erlang,
Exponencial, Gama com 1 e 2 parâmentros, Gumbel, Log-normal, Logística, Normal e Weibull com
1,2 e 3 parâmetros na descrição da precipitação pluviométrica mensal de 50 municípios do Estado de
Sergipe, verificando-se as respectivas aderências por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov à nível de
0,05 de probabilidade. A escolha do modelo que apresenta melhor ajuste foi feita usando os p-valores
do teste de Kolmogorov-Smirnov.

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MATERIAIS E MÉTODOS

REGIÃO E DADOS

Sergipe está situado na Região Nordeste e tem por limites o oceano Atlântico a leste e os estados
da Bahia, a oeste e a sul, e de Alagoas, a norte, do qual está separado pelo Rio São Francisco (Figura
2.1). É o menor dos estados brasileiros, ocupando uma área total de 21 915,116 km², tornando-o pouco
maior que El Salvador. Em 2010, sua população foi recenseada em 2.068.017 habitantes.
O clima é tropical, mais úmido próximo ao litoral (pluviosidade média anual de 1600 mm na
capital, com maior intensidade de chuvas entre março e julho) e semiárido no sertão. Em algumas
ocasiões, a seca no Oeste do estado pode se prolongar por quase um ano. A temperatura média anual do
ar varia de 22,7 a 26,5 ºC. A umidade relativa média anual varia de 80% no Litoral Sudeste a 65% no
noroeste do estado. O mês com menor umidade relativa é o mês de fevereiro (entre 60 a 70%) e o mês
com maior valor é maio (entre 75 a 85%) (Aragão et al., 2011; SEMARH, 2011).

Figura 2.1 – Localização do estado de Sergipe. Fonte: Serviço geológico do Brasil

Os dados avaliados foram cedidos pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste


(SUDENE) e à Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídrico (SEMARH), são médias mensais
de precipitação pluvial de 54 anos (1962 e 2016), observados em cinquenta postos instalados no estado
de Sergipe.

DISTRIBUIÇÕES DE PROBABILIDADE

O conjunto de dados climatológicos foi previamente analisado com base em alguns indicadores
estatísticos básicos para que se possa, efetivamente, desenvolver a teoria das probabilidades às situações
práticas desejadas.

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Com base nesta proposta podem-se calcular alguns indicadores e medidas estatísticas
importantes, como média, desvio padrão (variância), assimetria, curtose, distribuição de frequência dos
dados observados e na sequência usa-se a Função de Distribuição.

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE QUI-QUADRADO

Quando, na distribuição Gama, o parâmetro de forma é igual a , com n inteiro positivo,e o

parâmetro de escala é β = 2 resulta a distribuição qui-quadrado com n graus de liberdade cuja


densidade é dada por:
n x
1 
fx  x  2 1
x e 2
se x  0
n 2
n
(2.1)
 2
2

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE ERLANG

Quando o parâmetro de forma α da densidade Gama é um inteiro positivo, a distribuição nGama


é conhecida como distribuição de Erlang e sua função densidade é do tipo:

 k 1  x

x e
f x  x     k  1! , se x  0 (2.2)

 0, se x  0

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE EXPONENCIAL

A distribuição Exponencial é geralmente aplicada aos dados com forte assimetria, ou seja,
apresentando uma forma de "J" invertido. Sua função densidade de probabilidade é assim descrita
(KITE, 1978).

 x
exp   , para x  0
fx  x   x (2.3)
 0, para x  0

sua função de distribuição acumulada é do tipo:


 x
Fx ( x)   f ( x)  1  exp    (2.4)
0  x

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O único parâmetro da distribuição é a média amostral.

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE GAMA

Se X for uma variável aleatória contínua e independente, tal que (0  X  ) , com distribuição
Gama de parâmetros   0 e   0 , então a sua função densidade de probabilidade é definida como:

x
1 
f  x  x 1e  , se 0  x   (2.5)
   

Sendo Fx(x) a probabilidade de ocorrência de um evento menor ou igual a x e é dada pela


função de distribuição acumulada de probabilidade é representada pela função Gama incompleta,
segundo THOM (1958):

x u
1 0 
F  x0   
    0
 1 
u e du (2.6)

Algumas formas de estimar os parâmetros da distribuição Gama foram desenvolvidas,


contribuindo, junto com a sua flexibilidade de formas, para sua utilização em diversas áreas O principal
método para estimar seus parâmetros é o método de máxima verossimilhança.

1  1  4  ln  x   xg  / 3
ˆ  (2.7)

4 ln( x)  xg 
O estimador do parâmetro β, pode ser obtido por:

x
 (2.8)
ˆ

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE GEV

A distribuição GEV (do inglês ―Generalized Extreme Value‖) foi introduzida por JENKINSON
(1955), incorporando as três formas assintóticas: Gumbel (Tipo I), Fréchet (Tipo II) e Weibull (Tipo
III). Sua FDP é dada por:

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 1 
    
1
1  x          x     
f  x   ·1   ·  ·exp  1      (2.9)
          
 

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE GUMBEL

A função densidade de probabilidade (fdp) Gumbel é dada por:

  x  e 
 ( x )

f x ( x)    e (2.10)

A integração da f x ( x) fornece a função de distribuição acumulada:

  ( x )
P( X  xi )  ee (2.11)

Esta distribuição apresenta os dois primeiros parâmetros de uma distribuição de probabilidades,


ou seja, a média (µ) e a variância (σ), que são calculados pelas expressões abaixo, considerando se o
método dos momentos:

1, 2826
ˆ  (2.12)
s

ˆ  x  0, 45  s (2.13)

em que x e s correspondem, respectivamente, à média e o desvio padrão da série histórica.

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE LOG-NORMAL

Outra distribuição, testada por Huf e Neil (1959), num trabalho de comparação entre vários
métodos para analisar frequência de precipitação, é a distribuição log-normal, a qual assume que os
logaritmos das variáveis aleatórias são normalmente distribuídos. Conforme Mirshawka (1971), a
função de densidade acumulada Log-normal com dois parâmetros e a três parâmetros, são
representadas pela seguinte equação:

 ln  x  a     2 
exp     
1
fx  x  (2.14)
 x  a   2  2 2

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DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE LOGÍSTICA

A distribuição Logística apresenta normalmente duas expressões. Uma denominada de fórmula


geral e outra de forma padrão. A distribuição Logística é derivada do trabalho de Verhulst, Professor de
Análise na Faculdade Militar Belga. Ele a utilizou para modelar o crescimento da população na Bélgica
no início de 1800.
A expressão geral da função de densidade de probabilidade (fdp) Logística é dada por:
 1e( x  )/ 
f x ( x)  2
para x  R,   0 (2.15)
( x  )/ 
1  e 
ou

fx ( y) 
1/   e y
, para x  R, y
x 
2
 (2.16)
1  e  y

onde α é o parâmetro de locação e β é o parâmetro de escala.


A função densidade de probabilidade Logística padrão é dada por:
ex
f  x  2
, para xR (2.17)
1  e x 

ex
ou f  x  2
, para xR (2.18)
1  e x 

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE NORMAL

A distribuição de probabilidade contínua mais utilizada é a distribuição normal (HASTINGS e


PEACOCK, 1975), geralmente citada como curva normal ou curva de Gauss. A distribuição normal é
uma distribuição de dois parâmetros. Sua função densidade de probabilidade tem a seguinte forma:

 1  ( x   )2 
 exp    ; para x  0
f x ( x)   2  2 2  (2.19)
 0; para x  0

em que µ é a média e σ o desvio-padrão populacional.

DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE WEIBULL

A distribuição de probabilidade Weibull foi proposta primeiramente por Fischer e Tippet, em


1928, tendo sido desenvolvida independentemente por Walodi Weibull, físico sueco em 1939. Sua

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 532


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

função de densidade de probabilidade é apresentada de diversas formas, sendo comum, em alguns


trabalhos, apresentá-la como:

 1
  x     x    
f x ( x)   exp     , para x  
   
(2.20)
    

Nessa forma, a distribuição é normalmente chamada de Weibull com três parâmetros. A sua
função de distribuição acumulada é:

   x    
F ( x)   f ( x)dx  1  exp      (2.21)
0     

TESTE DE KOLMOGOROV-SMIRNOV

Esta estatística é obtida em função do tamanho da amostra (n) e nível de significância (α) a ser
adotado (5% na maioria das vezes). A hipótese de nulidade a ser testada é a hipótese H o de que a
frequência observada poderá ser estimada pela distribuição de probabilidades, ou seja, como o valor
tabelado é estatisticamente nulo, pode se concluir que valores menores ou iguais a este serão também
estatisticamente nulos. Desta forma, tem-se:

F calm \aximo  F tabelado( n, ) (2.22)

Desta forma, o Teste de Kolmogorov-Smirnov é inteiramente qualitativo, significando que o


mesmo permite apenas a conclusão de que a distribuição de probabilidades é adequada ou não, não
havendo embasamento suficiente para se concluir a respeito da precisão e comparação entre
distribuições distintas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos totais das médias mensais precipitados dos postos pluviométricos do estado de
Sergipe foram obtidas as estatísticas descritivas da precipitação pluvial, no período estudado. Observa-
se na Tabela 3.1 que estado tem, como característica climática, a irregularidade, nessas regiões a
precipitação é concentrada em determinada época do ano definindo uma estação seca e uma chuvosa.
Pode-se verificar a existência de altos valores de desvio padrão, mostrando que há grande variação nos
valores da chuva durante um mesmo mês do ano.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O período chuvoso é de abril a agosto, com máximas se concentrando em maio (299,2 mm),
junho (249,2 mm) e julho (222,5 mm). As precipitações mínimas ocorreram nos meses de fevereiro,
outubro, novembro e dezembro. As variações encontradas nos valores das precipitações médias
mensais mostram que o uso da chuva média no planejamento de atividades agrícolas é inadequado e
enfatizam a importância de estudos probabilísticos, conforme recomendação de Araújo et al. (2001).

Meses Mínimo Máximo 1°Quartil Mediana 3°Quartil Média DP CV (%)


Janeiro 21,2 57,5 31,8 37,2 43,9 38,2 8,9 79,6
Fevereiro 12,1 96,3 37,7 48,7 62,8 51,1 17,1 292,4
Março 44,1 137,3 67,9 84,6 99,9 84,5 23,2 538,4
Abril 56,2 209,1 97,0 130,8 163,4 132,3 42,7 1822,8
Maio 64,4 299,2 135,5 158,6 234,5 177,1 59,1 3498,0
Junho 60,8 240,9 119,0 139,6 176,5 146,8 43,3 1877,0
Julho 50,8 222,5 115,2 138,7 175,1 144,9 41,5 1718,6
Agosto 26,7 149,3 72,8 91,5 113,5 93,4 29,0 842,2
Setembro 15,6 102,1 49,2 60,4 74,1 60,3 20,4 415,0
Outubro 10,7 67,5 30,0 39,9 52,4 40,9 14,7 217,3
Novembro 18,9 68,6 34,7 41,5 52,1 42,2 13,5 183,1
Dezembro 17,2 59,1 34,2 39,6 47,4 40,1 9,8 96,0
Tabela 3.1 - Estatística descritiva dos dados de precipitação de Sergipe no período de 1962 a 2016.

Após analisar o comportamento descritivo da precipitação ajustaram-se funções de distribuição


de probabilidade aos dados de médias mensais, com o objetivo de avaliar qual função melhor
representa os dados mensais. Observou-se a distribuição Gama com dois parâmetros apresentou melhor
ajuste. A Tabela 3.2, apresenta o resultado do teste de aderência de todas as funções de distribuição de
probabilidade avaliadas nesse estudo, em destaque, pode-se observar que a função de distribuição de
probabilidade Gama com dois parâmetros, foi a distribuição que melhor apresentou melhor ajuste aos
dados de precipitação do estado de Sergipe, aderência das distribuições foi comprovada segundo o teste
de Kolmogorov-Smirnov, onde todos os p-valores, mostram valores superiores a 0,05 indicando que as
distribuições descrevem satisfatoriamente os dados observados. A distribuição Gama com dois
parâmetros foi a que obteve maior aderência, mais outras distribuições como a GEV, Qui-quadrado e
outras também apresentaram bons resultados, indicando com isso que essa série de dados pode ser
representada por outras distribuições e com isso sugere-se a proposta de novos trabalhos utilizando
essas distribuições de probabilidade.

Distribuições P-valor
Qui-quadrado 0,9853
Erlang < 0,0001
Exponencial < 0,0001
Gama (1) 0,3468
Gama (2) 0,9909
GEV 0,9882
Gumbel < 0,0001

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 534


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Log-normal 0,9788
Logística 0,9778
Normal 0,9696
Student < 0,0001
Weibull (1) < 0,0001
Weibull (2) 0,8621
Weibull (3) 0,9814
Tabela 3.2 - P-valores dos ajustes da precipitação de Sergipe no período de 54 anos (1962 a 2016) às
funções distribuição de probabilidades.

A Figura 3.1 representa os ajustes do p-valor de todos os meses da função de distribuição de


probabilidade Gama com dois parâmetros, os meses de janeiro e fevereiro apresentam ajustes maiores
que 99%, os meses de março, julho e dezembro, apresentam ajustes de 87,5%, 84,4% e 83,8%
respectivamente, já os meses de setembro e outubro apresentam os menores valores de ajuste, com p-
valores representando 32,8% e 27,9%. Em todos os meses verificou-se a aderência da distribuição
Gama aos dados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov a 5% de significância. Estes resultados concordam
com aqueles encontrados por Frizzone (1979), Ribeiro & Lunardi (1997) e por Catalunha et al. (2002).
Em estudo realizado para a cidade de Tangará da Serra (MT), Martins et al. (2010), utilizando a
distribuição de probabilidade Gama, encontraram boa adequação dos dados à distribuição de
probabilidade testada segundo teste KS, resultados semelhantes foram encontrados por Soccol et al.
(2009) em estudo realizado para a cidade de Lages, Santa Catarina, Murta et al. (2005).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 535


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3.1 - Distribuição de probabilidade acumulada Gama com dois parâmetros para os meses de janeiro a
dezembro da precipitação no estado de Sergipe no período de 1962 a 2016.

CONCLUSÕES

Existe para a série de dados avaliada uma variedade de funções de distribuição de probablididade
que apresenta bons ajustes as chuvas do estado de Sergipe.
A função de distribuição de probabilidade Gama com dois parâmetros apresentou os melhores
ajuste, sendo portanto, a distribuição que melhor representa a precipitação no estado de Sergipe. Os meses
de janeiro e fevereiro apresentam os melhores ajuste, com um ajuste de 99% dos dados a função, já os
meses de setembro e outubro representam os ajustes mais baixos 32,84% e 27,97% respectivamente.
O fato dessa série de dados apresentar bons resultados de ajustes com outras distribuições de
probabilidade, possibilita um estudo mais aprofundado sobre as funções de probabilidade.

REFERÊNCIAS

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Planejamento e Gestão de
Áreas Protegidas

© Giovanni Seabra

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ARÉAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – APA ANÁLISE E REFLEXÕES NO


TERRITÓRIO BRASILEIRO

José Paulo Marsola GARCIA


Professor Associado Departamento de Geociências CCEN/ UFPB
jp.marsola@terra.com.br

RESUMO
O artigo discute as relações entre as unidades de conservação e especialmente as Áreas de Proteção
Ambiental - APAs enfocando sua dimensão e representatividade no território brasileiro e a eficácia
desta unidade de conservação nos seus objetivos de Desenvolvimento Sustentado tendo como base de
dados o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), que é mantido pelo Ministério do
Meio Ambiente – MMA - coloca a hipótese de ser a Unidade de Conservação que representa em área
quase meio milhão de quilômetros quadrados nas esferas, estaduais e municipais entre as doze
categorias do Sistema nacional de Conservação o de maior representação e eficácia no território
nacional.
Palavras-chaves: Unidade -Conservação - APA – Cadastro - Legislação

ABSTRACT
The article discusses the relationships between conservation units and especially the Environmental
Protection Areas (APAs) focusing on their size and representativeness in the Brazilian territory and the
effectiveness of this conservation unit in its Sustainable Development objectives, based on the National
Cadastre of Units Conservation (MUC), which is maintained by the Ministry of the Environment
(MMA), places the hypothesis of being the Conservation Unit that represents in area almost half a
million square kilometers in the spheres, state and municipal among the twelve categories of the
National System of Conservation The most representative and effective in the national territory.
Keywords: Unit - Conservation - APA - Cadastre - Legislation

INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação da Natureza representam no território Brasileiro mais de


1.500.000 km² (um milhão e meio de quilômetros quadrados), dezessete por cento do País. No mundo,
poucas nações exercem soberania em territórios equivalente ao espaço geográfico das Unidades de
Conservação.
A proteção especial desse imenso território dentro do Espaço Brasileiro é constitucional e
sistematizada pelo SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, lei nº 9.985, de
18 de julho de 2000; o SNUC estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
unidades de conservação e define como unidade de conservação em seu Artigo 2º inciso I, por:

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 540


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder
Público com objetivos de conservação e limites definidos, sob-regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;

Cabe realçar ―espaço territorial sob regime especial de administração‖ entendendo que uma vez
unidade de conservação, usos tradicionais ou usuais, geralmente sofrem de restrições, e está adequação
no Brasil não é nem pacífica ou compreendida.
O SNUC está dividido em doze categorias de unidades de conservação- UC‘s sendo 5 ( cinco)
de Proteção integral e 7 (sete) de uso como visto na tabela I ;
Este artigo visa fazer reflexões sobre as APAs , analisando o histórico legal de sua concepção
no Brasil; Tabela I que data antes da Constituição e 1988 e muito antes do SNUC, bem como analisa
sua distribuição em reação as outas categorias por entes federados do Brasil .
As análises têm como a base de dados as Tabela II e III do Cadastro Nacional de Unidades de
Conservação (CNUC) que é mantido pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA com a colaboração
dos Órgãos gestores federal, estaduais e municipais. Seu principal objetivo é disponibilizar um banco
de dados com informações oficiais do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 541


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Histórico da legislação das Áreas de Proteção Ambiental – APAs - Tabela I

Instrumento legal Referência


Lei Federal 6.902 de 27/4/81 Dispõe sobre a criação das APAs e das estações ecológicas
Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
Lei Federal 6.938 de 31/8/81
providências.
Regulamenta a Lei 6.938 , de 31/ago/1981 ref. Política Nacional do Meio Ambiente e a Lei 6.902, de 27/abril/1981, ref. a
Decreto Federal 88.351 de 1/6/83
criação de estações ecológicas e APAs

Decreto Federal 91.305 de 3/6/85 Altera dispositivos do regulamento do CONAMA.

Resolução CONAMA 11 de 3/12/87 Declara categorias como Unidades de Conservação

Resolução CONAMA 10 de
Define APA e estabelece alguns critérios para zoneamento.
14/12/88
Lei Federal 7.803 de 18/7/89 Acrescenta parágrafo ao art.º 2º do Código Florestal.
Altera a Lei 6.938, referente a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei 7.735, de 22/fev/1989, a Lei 6.803, de 02/jul/1980
Lei Federal 7.804 de 18/7/89
e a Lei 6.902, de 27/abril/1981
Regulamenta a Lei 6.902, de 27/abril/1981, referente a criação das estações ecológicas e APAs e a Lei 6.938, de
Decreto Federal 99.274 de 6/6/90
31/ago/1981, referente a Política Nacional do Meio Ambiente.

Resolução CONAMA 13 de 6/12/90 Dispõe normas referentes ao entorno das Unidades de Conservação

Portaria Ibama 77 – N de 20/9/99 Uniformiza critérios e procedimentos para criar Unidades de Conservação.

Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Lei Federal 9.985 de 18/7/00
Conservação da Natureza e dá outras providências.
Fontes: http://fflorestal.sp.gov.br/unidades-de-conservacao/apas/apas-areas-de-protecao-ambiental-legislacao-pertinente/ in 30 de agosto 2017

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A tabela I demonstra a evolução da legislação federal em relação às APAs , como se observa


sua regulamentação é antes da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA que é de agosto de
1981 enquanto a Lei de regulamentação de APAs é de abril de 1981, além de sua antiguidade para os
padrões brasileiros, devemos realçar que foi a primeira tentativa de criar unidades de conservação em
propriedades privadas sem a obrigação do poder publico fazer a desapropriação e indenização.
As Áreas de Proteção Ambiental é no mínimo polémica. Equacionar as restrições, ou melhor, os
objetivos de criação da APA com a realidade é discutível, o que causa descrédito à categoria. Vários
autores têm dissertado a respeito, e o que se percebe, em geral, é que muitas APAs têm sido criadas, e
poucas são levadas à risca como quer a legislação.
Há principal ―VANTAGEM‖ é a não necessidade da desapropriação e indenização das
propriedades privadas, o que evita gastos públicos; a suposta existência de um Conselho gestor, que
permitiria acordos e normatização democrática, não é realidade nas APAs brasileiras. Para não estender
um tema muito debatido na literatura. No estado de São Paulo o mais rico e populoso apenas duas
APAs estaduais possuem plano de manejo de um total de 30 Apas estaduais, sendo que as primeiras
foram criadas 1983 e ainda não tem plano de manejo.

DEFINIÇÃO DE ARÉAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – APA

Segundo o SNUC de 1998 é uma categoria de uso sustentável definida:

Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau
de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e
tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
§ 1º A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas.
§ 2º Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições
para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma área de Proteção Ambiental.
§ 3º As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas
sobre domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade.
§ 4º Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições
para pesquisa e visitação pelo público, observadas a exigência e restrição legal.
§ 5º A Área de Produção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão
responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos,
de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no
regulamento desta Lei.

Categorias de UC's com Conselhos ainda não regulamentados: Área de Proteção Ambiental,
Área de Relevante Interesse Ambiental, Reserva de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio
Particular. O SNUC não deixa claro o tipo de Conselho para APAs. No entanto, ICMBio está
trabalhando na regulamentação da categoria e, até então, a maioria das APAs vêm tratando seus

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Conselhos como Consultivos. Instrução Normativa 09/2014 Sendo que estado como Acre, Amazonas
e Tocantins as APAs estaduais possuem conselhos deliberativos.

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TABELA II

TABELA III

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Analisando a tabela III acima se constata que do total territorial das Unidades de
Conservação - UC´s é de 1.585.778 km²; as APAs correspondem 469.506 km² é disparado a Uc
com maior área das 12 categorias de UC´s. Quando analisamos por esfera federal, estadual e
municipal os dados são ainda mais gritantes. Na esfera estadual do total 762.747 km² as APAs
correspondem a 336.940 km², na esfera municipal ainda maior, apresentando um total territorial de
UC´s 27.036 km² as APAs representam 26.064 km². Na esfera Federal temos com maior área
territorial que as APAs, apenas os Parques Nacionais, Florestas Nacionais . Estes dados da esfera
federal quando analisados por Biomas como na Tabela II, demonstra que Florestas Nacionais e
Parques Nacionais, e com maior representatividade em área estão concentrados no Bioma
Amazônia com 273.649 km² e 305.179 km². Excluindo o Bioma Pantanal, que não possui APA;
todos os outros biomas as Apas são o de maior expressão territorial, realçando que no bioma
Pampa, com mais de 90 por cento o totais das áreas protegidas são de APAs.

CONCLUSÃO

Nesta reflexão geral não há a intensão de esgotar o assunto, apenas levantar algumas
questões e reflexões.
Fato que as APAs são nas esferas estaduais e municipais a de maior representação territorial,
no caso dos municípios quase a totalidade das áreas de todas as categorias de unidades de
conservação. A hipótese apresentada pela análise dos dados oficiais, esta no fato que criar APA não
é necessário desapropriar, ou seja, em uma canetada se cria uma APA, já a implantação e a
realização do plano de manejo é ficção na maioria das APAs do Brasil. Quanto ao poder publico, na
criação da APA mantém como consultivo o conselho gestor órgão, que em regime democrático e
com ações em propriedade privada, sem dúvida deveriam ser e deliberativo. Portanto deve se rever
a regulamentação das APAs, deixar de ser letra morta e se tornar efetivas na defesa do patrimônio
ambiental brasileiro.

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Edição. - 978-85-203-6115-3.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 548


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O CÂNION DO RIO POTI UM PATRIMÔNIO CULTURAL A SER PRESERVADO:


OBSERVAÇÕES DE UMA AULA DE CAMPO

Andréa Lourdes Monteiro SCABELLO


Docente da Licenciatura em Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia – UFPI
ascabello@hotmail.com
Bartira Araújo da Silva VIANA
Docente da Licenciatura em Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFPI
bartira.araújo@ufpi.edu.br

RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma aula de campo realizada nas disciplinas
de Introdução à Arqueologia e Biogeografia do Curso de Licenciatura em Geografia e da disciplina
Patrimônio e Paisagem Cultural (Tópicos Especiais) do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia (PPGANT) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A aula de campo ocorreu num
trecho do Cânion do rio Poti, localizado nos municípios de Castelo do Piauí, Juazeiro do Piauí e
Buriti dos Montes, na porção Centro-Norte do Estado do Piauí. O objetivo geral foi refletir sobre a
importância da preservação do patrimônio cultural. E, por objetivos específicos: observar as
diferentes paisagens; levantar informações sobre os aspectos do povoamento pretérito, registrar as
percepções individuais em caderneta de campo, além de, realizar desenhos, fotografias e pequenos
vídeos. O Cânion do rio Poti apresenta paisagens de uma beleza estética surpreendente e com
importante potencial ecológico e arqueológico o que tem sido tomado como justificativa para a
criação de Unidades de Conservação na área em questão
Palavras-chave: Rio Poti. Cânion. Preservação. Unidades de Conservação. Piauí.

ABSTRACT
This article aims to present the results of a field class taught by the subjects of Introduction to
Archeology and Biogeography of the Degree in Geography and of the Cultural Patrimony and
Landscape (Special Topics) subject of the Postgraduate Program in Anthropology (PPGANT) Of
the Federal University of Piauí (UFPI). The field class took place in a section of the Rio Poti
Canyon, located in the municipalities of Castelo do Piauí, Juazeiro do Piauí and Buriti dos Montes,
in the central-northern portion of the State of Piauí.The overall intent was to reflect on the
importance of preserving cultural heritage. As specific goals: to observe the different landscapes;
To collect information about the aspects of the past settlement, to record the individual perceptions
in the field book, besides making drawings, photographs and small videos. The Rio Poti Canyon
presents landscapes of surprising beauty and important ecological and archaeological potential
which is the reason why the creation of Conservation Units is essential.
Keywords: Rio Poti. Canyon Preservation. Conservation Units. Piauí.

INTRODUÇÃO

A Bacia hidrográfica do rio Poti, com área de aproximadamente 52.270 km 2, abrange parte
do território cearense e a porção Centro-Norte do Piauí. O rio Poti constituí um dos grandes
afluentes do Rio Parnaíba, eixo principal da drenagem do estado piauiense. Nasce no Ceará, nas
Serras dos Cariris, no município de Quiterianópolis, cortando terrenos do embasamento cristalino e

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 549


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

diversas Formações geológicas - Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Longá, Poti, Piauí, Pedra do
Fogo - da Bacia Sedimentar do Maranhão-Piauí, percorrendo cerca de 538 km até chegar em
Teresina e, desaguar no rio Parnaíba, numa área conhecida como Encontro dos Rios.
Este rio corta, também, diferentes feições geomorfológicas (LIMA, 1982) nas quais se
constata a presença de vestígios de registros rupestres entre outros remanescentes arqueológicos,
atestando a sua importância como via de povoamento do território, como se percebe na citação a
seguir.

A bacia do rio Poti, em função da sua posição geográfica e do cânion, funcionou como um
corredor migratório entre as planícies do Piauí e Maranhão e o semi-árido do Ceará,
Pernambuco e Bahia. As milhares de gravuras rupestres, confeccionadas em baixo relevo,
por picoteamento, e outras tantas de pinturas rupestres em abrigos sob rochas comprovam
que esta região foi, em tempos, uma rota migratória milenar dos primeiros habitantes das
Américas. (CPRM, 2017, s/p).

A toponímia do rio indica tratar-se de vocábulo de origem indígena que significa camarão.
E, os documentos históricos demonstram que este é assim designado a partir dos anos de 1760.
Evidencia-se, ainda, nesses registros que a coroa portuguesa, por volta do século XVIII, incentivou
a instalação de fazendas nas suas proximidades (CPRM, 2017).
Parte do Cânion do Poti foi objeto de estudo das disciplinas de Introdução à Arqueologia
(optativa) e Biogeografia do Curso de Licenciatura em Geografia e da disciplina Patrimônio e
Paisagem Cultural (Tópicos especiais) do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGANT)
da Universidade Federal do Piauí (UFPI) através de aula de campo realizada em junho de 2017. ´
O objetivo geral foi refletir sobre a importância da preservação do patrimônio cultural. E,
por objetivos específicos: observar as diferentes paisagens; levantar informações sobre os aspectos
do povoamento pretérito, registrar as percepções individuais em caderneta de campo, além de,
realizar desenhos, fotografias e pequenos vídeos.

CONTEXTUALIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

Com relação a contextualização da área de estudo ressalta-se que a fronteira entre o Ceará e
o Piauí é constituída por um sistema de serras cortado por um falhamento que permitiu o
aparecimento de uma paisagem singular (BARROS, 2017, s/p). Destaca-se, ainda que:

O rio Poti capturado pelo sistema de falhas gera formas geológicas exuberantes, expondo e
esculpindo rochas do Grupo Canindé, Formação Cabeças, predominantemente, e das
formações Tianguá e Ipu do Grupo Serra Grande. O rio Poti [...] adentra o Piauí segundo
uma falha geológica responsável por mudar seu curso, até então em direção ao mar, na
altura do município de Buriti dos Montes.

Desta forma, as características geológicas e a ação da erosão fluvial são os fatores que
explicam o aparecimento do Cânion. A localização desta feição é limitada pela Cachoeira da
Lembrada (Figura 1) e o Cânion da Pedalta, embora o seu leito apresente-se escarpado em outros

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trechos até sua foz, em Teresina. (CPRM, 2017, s/d). O segmento observado na aula de campo
incluiu parte dos municípios de Castelo do Piauí, Juazeiro do Piauí e Buriti dos Montes, localizados
na mesorregião Centro-Norte Piauiense, inclusa na microrregião de Campo Maior (Figura 2).
Do ponto de vista geomorfológico a área visitada está inserida no compartimento
denominado Planalto Oriental da Bacia Sedimentar do Maranhão-Piauí correspondendo a parte leste
da bacia sedimentar, cuja porção Norte é conhecida como Serra da Ibiapaba e a parte Sul designada
por Serra Grande. A topografia da região é decorrente do soerguimento da borda leste da bacia
sedimentar e o mergulho das formações geológicas em direção à porção oeste, justificando o
aparecimento de um tipo de relevo denominado Cuestas.

Figura 1 – Cachoeira da Lembrada

Fonte: Scabello (2017)

Figura 2 – Mesorregiões e Microrregiões do Piauí

Fonte: Disponível <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/censo_2010_piaui.pdf>


Acesso 14 de junho de 2017

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 551


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O Planalto Oriental apresenta maior altimetria na porção cearense com altitudes de 900 m.
Para o lado do Piauí as declividades vão decrescendo até o nível de base regional quando deságua
no rio Parnaíba. Lima (1987, p. 18) ressalta que:

Topograficamente, essa área reflete a estrutura monoclinal de cuesta, por apresentar um


mergulho de suas camadas em torno de 5 graus, no sentido leste/oeste. As altitudes variam
entre 900 metros – áreas mais elevadas no Ceará – e um nível de base local em torno de 200
metros. Forma uma grande linha de cuesta, cujo ―front‖ está voltado para as depressões
sertanejas cearenses e o reverso para o Piauí. Apresenta-se mais uniforme ao norte, onde é
denominada genericamente de ―Serra da Ibiapaba‖ e ao sul, a partir do canyon ou boqueirão
do rio Poti, é conhecida por ―Serra Grande‖, apresentando, nessa parte, altitudes mais
modestas, e escarpa bastante festonada pela drenagem de sudoeste do Ceará .

O Planalto Oriental é constituído por litologias variadas evidenciadas pelas Formações Serra
Grande, Pimenteiras e Cabeças e por capeamentos pontuais correspondentes as Formações Piauí e
Itapecuru destacando-se geomorfologicamente ―[...] os reversos de cuestas conservadas em
estruturas monoclinais, depressões e vales encaixados – destacando-se o canyon ou boqueirão do
Poti, que tem piso cristalino e encostas sedimentares com frente e o declive suave do sentido
contrário ao front [...].‖ (LIMA, 1987, p. 20). O Cânion do rio Poti é, portanto, como se mencionou,
o resultado da diversidade litológica submetida ao processo da erosão diferencial.
Dentro deste compartimento do relevo piauiense, segundo a citada pesquisadora, destaca-se
outro tipo peculiar de feição identificada como ruiniforme. Um exemplo desse tipo é a Pedra do
Castelo, localizada na Unidade de Conservação situada no município de Castelo do Piauí.
Com relação ao processo de formação da feição ruiniforme Lima (1987, p.20) afirma que se
trata de ―[...] feição residual que se forma a partir do desgaste provocado pela erosão plúvio/eólica,
segundo, os planos de diaclases, na Formação Cabeças.‖.
Do ponto de vista climático há a predominância, segundo a classificação de Köppen, do
clima: tropical quente e úmido (Aw). Mas, na parte sudeste evidencia-se o quente e semi-árido
(Bsh); ambos com sistema de chuvas concentradas no verão.
As características vegetacionais da área estão diretamente relacionadas com os tipos
climáticos e com os tipos de solos. Segundo Azevedo (2007, s/p) a ―[...] vegetação existente na
bacia, é diversificada, ecotonal, sendo a caatinga, o cerrado e a mata de cocais os tipos mais
densamente encontrados.‖.

ASPECTOS DO POVOAMENTO E USO DO SOLO

Como já foi dito, o Cânion do rio Poti serviu como meio de comunicação – um corredor
migratório – que possibilitou aos grupos indígenas pré-coloniais e, mais tarde ao colonizador, um
meio eficiente de se deslocar pelo território sem que houvesse a necessidade de enfrentar os
―contrafortes‖ das serras.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As informações sobre a ocupação dessa região pelos grupos indígenas pré-coloniais ainda é
inconsistente, uma vez que não existem dados disponíveis, oriundos de escavações arqueológicas. O
que se encontram são informações parciais resultantes dos projetos de levantamento e
cadastramento de sítios arqueológicos e locais de ocorrência de vestígios.
Os dados mais consistentes podem ser obtidos através dos documentos históricos produzidos
pelos colonizadores e viajantes no intuito descrever o território. Neles podem-se identificar
informações sobre a localização das etnias e os grupos linguísticos. Contudo, as informações
oriundas dessas fontes são também fragmentárias e, não permitem retratar detalhadamente o
processo de povoamento do território.
Magalhaes (2011) ressalta que os dados acerca dos grupos indígenas que habitaram o
Nordeste tornaram-se mais frequentes a partir do século XVII. Desta forma, é possível que os dados
sejam especializados, o que permitiria a localização dos diferentes grupos. Mas, chama a atenção
para o fato de que o longo convívio dos indígenas com os colonizadores acentuou o processo de
aculturação. Cita a presença dos Tabajaras da Serra de Ibiapaba; no alto sertão do Ceará, os Cariri;
os Canindé ocupando o sertão nordestino do Ceará ao São Francisco, entre outros exemplos.
Dados acerca da história mais recente dessas localidades foram publicados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2016). Segundo este órgão o município de Castelo do
Piauí iniciou-se num lugar denominado Rancho dos Patos. Esta localidade pertencia à freguesia de
Santo Antônio do Surubim, atual cidade de Campo Maior. A ocupação ocorreu no início do século
do século XVIII e, em 1742, o povoado foi elevado à categoria de Freguesia para em junho de 1761
se tornar Vila e Sede Municipal, com a denominação de Marvão. Esta localidade que tem entre as
suas memórias a defesa pela Independência do Brasil, em 1890, teve o seu nome mudado para Vila
de Castelo. E, em 1948 passou a chamar-se Castelo do Piauí, em função da duplicidade de
nomenclatura dos municípios brasileiros.
O atual município de Buriti dos Montes originou-se em 1992 do desmembramento do
município de Castelo do Piauí através da lei estadual nº 4.477 de 29 de abril de 1992. A
emancipação política ocorreu no ano seguinte no dia 1º de janeiro. E, Juazeiro do Piauí surgiu em
1995 de um desmembramento do município de Castelo do Piauí. ―A origem do nome se deu devido
a um pé de Juá onde os comboios se arranchavam debaixo da árvore [...]‖ (IBGE, 2017, s/d).
Embora não se tenha dados mais detalhados do processo de povoamento do território pelas
populações indígenas, é certo afirmar que estes grupos utilizaram o Cânion do rio Poti como lugar
de passagem, fato evidenciado pelos vestígios de pinturas rupestres e gravuras, que podem ser
observadas na Pedra do Castelo (Figura 3), localizada no município de Castelo do Piauí e, nas
proximidades da comunidade de Conceição dos Marreiros, situada em Buriti dos Montes.

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A Pedra do Castelo caracteriza-se por ser uma feição ruiniforme que se assemelha às torres
de um castelo medieval, constituída por salões internos que foram esculpidos por processos erosivos
apresentando também evidências de ação antrópica. Nas paredes rochosas é possível evidenciar
pinturas e gravuras rupestres denotando a passagem dos grupos indígenas por essa área.
(MAGALHÃES, 211). O misticismo deste lugar chegou até os dias atuais. Diversos foram os
grupos de romeiros que utilizaram a Pedra do Castelo para manifestar as suas crenças deixando
objetos e ex-votos como oferendas.
Tratando-se de um monumento geológico-geomorfológico e arqueológico a área foi
transformada numa Unidade de Conservação pela prefeitura. Contudo, esta iniciativa não resolve
integralmente a questão da preservação e conservação do monumento. A UC foi aberta ao público
sem a elaboração do plano de manejo, o que significa dizer que não há, por exemplo, estudo de
carga para o sítio arqueológico.
A abertura da UC ao público provocou uma mudança na frequência dos visitantes e se
observou uma diminuição dos grupos de romeiros. Contudo, ainda é possível verificar as marcas
deixadas por estes. Além dos objetos como velas, imagens de santos, fitinhas, terços entre outros
restam ainda na memória dos habitantes as lendas sobre a aparição de Nossa Senhora.
Nas proximidades da comunidade de Conceição dos Marreiros (município de Buriti dos
Montes), presencia-se, ao longo de 3 km do Cânion, gravuras rupestres elaboradas em baixo relevo
através de técnica de picoteamento, utilizando os afloramentos rochosos do leito (Figura 4).

Figura 3 – A Pedra do Castelo, PI: gravuras e pinturas rupestres.

Fonte: Scabello (2017)

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Figura 4 – Cânion do Rio Poti: gravuras.

Fonte: Scabello (2017)

Com relação às atividades econômicas existentes nos três municípios visitados destacam-se
àquelas de natureza turística, especialmente, as ligadas ao ecoturismo. Mas, estas são incipientes
não havendo infraestrutura adequada para o atendimento dos visitantes.
Observa-se nos municípios de Juazeiro do Piauí e em Castelo do Piauí a exploração de
jazidas minerais, mais especificamente, a extração da pedra do Castelo ou pedra de Juazeiro. Esta
rocha é explorada economicamente e, utilizada como material de construção (Figura 5). Na área em
questão observou-se o uso das lâminas de pedra na construção de muros, por exemplo. Contudo, a
sua exploração pode causar danos ambientais irreversíveis ao ambiente.

Figura 5 - Exploração da pedra Juazeiro

Fonte: Scabello (2017)

Na foto acima se percebe que a exploração é realizada sem a presença de maquinário. Os


operários utilizam somente ferramentas. Contudo, pôde-se notar que há a possibilidade de entre os

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

impactos negativos. O material de rejeito pode contribuir para o assoreamento de trechos do rio.
Além dessa jazida, que o abastece o mercado interno, há no município uma empresa transnacional
que explora esse recurso, comercializando-o com países da Europa. Esta exploração é realizada com
maquinário pesado, empregando pouca mão de obra.

A AULA DE CAMPO: O PLANEJAMENTO, A EXECUÇÃO E AS DISCUSSÕES.

A aula de campo é uma atividade pedagógica imprescindível. Pode-se dizer que é uma
extensão das discussões teóricas realizadas em sala de aula mediadas pelo professor. Nessa
atividade de caráter empírico os estudantes através de experiências, ou melhor, de vivências
associam a teoria à prática possibilitando a percepção da complexidade do espaço geográfico.
O planejamento da aula de campo foi feito coletivamente. Em primeiro lugar recorreu-se a
um levantamento bibliográfico incluindo diversas temáticas, entre elas os desafios da preservação
da biodiversidade e da geodiversidade, aliada, a conservação do patrimônio cultural. Foram,
também, objeto de pesquisa os aspectos físicos, humanos, históricos, antropológicos e
arqueológicos da área a ser visitada. Este levantamento foi socializado e permitiu a elaboração de
um pequeno caderno de campo constituído por roteiro e orientações acerca das observações e dos
registros dos dados a serem realizados. A intencionalidade foi permitir o contato direto com os fatos
e fenômenos estudados, através de uma observação orientada.
Num segundo momento, organizou-se uma palestra com o tema ―Reflexões sobre o contexto
de preservação e conservação do Cânion do Rio Poti” ministrada pelo cientista social Bendito
Rubens Luna de Azevedo e o arqueólogo Welington Lage. Esta etapa teve por intenção apresentar a
e proporcionar esclarecimentos sobre a área de estudo.
A atividade de campo ocorreu nos dias 15 e 16 de junho. Partiu-se de Teresina em direção a
Juazeiro do Piauí e Castelo do Piaui. Neste primeiro dia foram visitadas a jazida de exploração da
pedra de Juazeiro e a UC da Pedra do Castelo. Após, finalizada as visitas partiu-se para a
comunidade de Conceição do Marreiros. A viagem foi morosa, realizada por uma estrada de chão
batido, que se encontrava em péssimas condições de conservação. As ravinas e voçorocas
demonstravam a fragilidade do solo e a intensificação dos processos erosivos.
A chegada em Conceição dos Marreiros proporcionou um maior entrosamento entre grupo.
Organizou-se uma roda de conversa na qual foram socializadas as impressões e observações do
primeiro dia. Além disso, os estudantes puderam contemplar um belíssimo céu estrelado e, ainda,
escutar histórias sobre o lugar.
Conceição dos Marreiros localiza-se na área rural de Buriti dos Montes. As casas de
fazendas centenárias, remanescentes do ciclo do gado, construídas com vigas em carnaúba

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encontram-se presentes em meio as casas de alvenaria. As antenas parabólicas, as placas de energia


solar e a motocicleta utilizada para tanger o gado denunciam as transformações da paisagem.
No dia 16/06 foi realizada uma incursão ao ponto mais elevado da localidade com vista a
observar e contemplar aspectos da paisagem. Para na sequência, se iniciar a caminhada em direção
ao Cânion.
O grupo de estudantes apresentou-se tranquilo, porém, inquieto; comportamento típico do
pesquisador que olha com a intenção de enxergar os detalhes, que deseja entender a natureza dos
fenômenos e compreender as relações entre os aspectos físicos e humanos. Compreenderam as
instruções fornecidas no caderno de campo: ―[...] a complexidade é revelada e conduzida à
compreensão do geógrafo, munido de seus principais conceitos como paisagem, espaço, região e
lugar [...] é onde as fronteiras acadêmicas das disciplinas deixam de fazer sentido e são substituídas
por inúmeras conexões entre fatos observados [...]‖ (VENTURI, 2011, p. 21).
Alguns estudantes perceberam que a preservação e conservação do patrimônio cultural de
uma localidade não é tarefa fácil, pois depende da relação entre a sociedade-natureza. E, nessa
relação há aspectos culturais e outros de âmbito político.
A aula de campo permitiu conhecer parte do território de uma das dez pequenas UCs que
estão sendo planejadas pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Piauí, ao longo do Cânion
do rio. Os territórios dessas UCs foram definidos de forma a preservar os aspectos da fauna e flora,
sem atingir as comunidades locais. Embora a proposta seja a de manter as populações residindo nas
suas localidades, mitigando os problemas sociais, pode-se prever alterações significativas na
paisagem com a intensificação do fluxo de turistas.
Ao retornar à UFPI os estudantes expressaram as suas percepções e aprendizagens através
da elaboração de um relatório técnico científico. A turma de Introdução a Arqueologia propôs
realizar pequenos vídeos utilizando recursos como moviemaker e aplicativos para celular. Estes
vídeos foram elaborados utilizando-se os registros fotográficos. O objetivo da atividade foi produzir
material didático para a Educação Básica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aula de campo enquanto estratégia pedagógica se constitui numa atividade muito rica. Ela
proporcionou experiências que aguçaram a observação, fortalecendo a coleta e os registros de
dados. A observação atenta permitiu, não só olhar, mas enxergar as minúcias; escutar com
acuidade; ouvir o relato respeitando quem pronunciava as palavras. Os dados obtidos foram
registrados e esses registros puderam ser compartilhar. O campo permitiu uma transformação
pessoal, pois ampliou a compreensão e a reflexão sobre a temática em estudo.

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Um das reflexões relaciona-se aos modelos de UCs implantados no Brasil. Entre as diversas
justificativas para a delimitação da UCs do Cânion do rio Poti pode-se destacar potencial ecológico
existente na área. Contudo, o que se observa é que as UC são de fato um produto cultural que
agrega valor estético que fomentará o ecoturismo.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Benedito Rubens Luna de. A importância socioambiental da bacia hidrográfica do rio
Poty na formação da identidade cultural piauiense. Carta Cepro, v.24, n. 1, 2007. Disponível
em: <http://www.cepro.pi.gov.br/download/200806/CEPRO04_e7ff5947dc.pdf> Acesso em 17
de agosto de 2017.

BARROS, J. S. Proposta Geoparque Cânion o rio Poti: um cenário da historia geológica


planetária da Bacia do Parnaíba. Disponível em
<http://sbg.sitepessoal.com/anais48cbg/st23/ID6305_110394_52_Resumo_48o_CBG_JOSE_SI
DINEY_BARROS.pdf> Acesso em 24 de agosto de 2017.

CPRM. O Cânion do Rio Poti. Disponível em: <http:


<http://www.cprm.gov.br/publique/media/Asscom/canion.pdf> Acesso em 16 de agosto de 2017.

Bacia do rio Poti. Disponível em: <http:// http://www.ccom.pi.gov.br/download/Poti.pdf> Acesso


em 24 de agosto de 2017.

IBGE. Cidades em síntese. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pi/castelo-do-


piaui/panorama>. Acesso em: 5 jun. 2017.

LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. Caracterização geomorfológica da Bacia hidrográfica do Rio
Poti. 1982. 101f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em
Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1982.

Relevo Piauiense: uma proposta de classificação. Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84
Ago/Dez 1987. Disponível em: <http://files.iracildefelima.webnode.com/200000008-
7ca1f7d9fa/RELEVO%20PIAUIENSE_Carta%20CEPRO_IracildeMouraF%C3%A9Lima.pdf>
Acesso em 18 de agosto de 2017.

MACHADO, Paulo Henrique C. As trilhas da morte: extermínio e espoliação das nações indígenas
na região da bacia hidrográfica paraibana piauiense. Teresina: Corisco, 2002.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 558


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MAGALHÃES, Sônia Maria Campelo. A arte rupestre do centro–norte do Piauí: indícios de


narrativas icônicas.2011. 457f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto
de Ciências Humanas e Filosofia – Departamento de História, Rio de Janeiro, 2011.

VENTURI, Luís Antônio Bittar (Org.). Geografia: Práticas de Campo, Laboratório e Sala de Aula.
São Paulo: Editora Sarandi, 2011.

(Org.). Praticando Geografia: técnicas de campo e de laboratório. São Paulo: Oficina de Textos,
2005.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AÇÕES FORMATIVAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE


ZOOBOTÂNICO ARRUDA CÂMARA-JP: PARCERIA UFPB/BICA

Antonia Arisdelia Fonseca Matias Aguiar FEITOSA


Professora Adjunta da UFPB
arisdelfeitosa@gmail.com
Maria do Céo Rodrigues PESSOA
Bióloga do Laboratório de Botânica do DSE/CCEN/UFPB
mariadoceoster@gmail.com
Maria Neide Moura M. de ANDRADE
Bióloga – CPAM/BICA/SEMAM-JP
neidemartinsbio@gmail.com

RESUMO
As funções dos zoológicos evoluíram cronologicamente – do caráter taxonômico e de divulgação da
diversidade de espécies exibidas em recintos (séc. XIX) para o caráter ecológico (séc. XX) com
ênfase em comportamento animal e seu habitat. Neste contexto, a educação ambiental assume papel
importante no sentido de desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de
consciência sobre a gravidade dos problemas ambientais e a necessidade urgente de nos
debruçarmos seriamente sobre eles. Este estudo teve como objetivo contribuir com as atividades de
Educação Ambiental desenvolvidas no Parque Zoobotânico Arruda Câmara - PZAC (Bica) a partir
de estudos e intervenções formativas junto à equipe vinculada ao Centro de Estudos e Práticas
Ambientais – CEPAM do Parque. As atividades foram conduzidas pela abordagem qualitativa.
Adotou-se como estratégia a pesquisa-ação por meio da qual se investigou demandas e
potencialidades para a EA no Parque. Foram realizadas consultas em documentos institucionais e
diálogos com a equipe executora das atividades de EA no Parque, além de intervenções mediadas
por palestras e oficinas temáticas. A dinâmica funcional vigente no Parque Zoobotânico Arruda
envolve visitações por trilhas, oficinas, jogos educativos, etc. Atividades de capacitação de pessoal
foram executadas, mediadas por seminários, palestras, oficinas e mini-cursos desenvolvidos para
gerar competências e habilidades na equipe que compõe o Centro de Estudos e Práticas Ambientais
– CEPAM do Parque Arruda Câmara. Por meio da educação ambiental crítica é possível formar na
equipe um perfil de sujeitos ecológicos para atuarem junto aos visitantes e comunidade circundante
valorizando a função socioambiental do Parque - que deve ser usado nas formações e visitações a
voltadas a potencializar os valores ecológicos, culturais e pessoais que este espaço tem potencial de
despertar.
Palavras-chave: Educação Ambiental Crítica. Sujeito Ecológico. Valoração do Parque.

ABSTRACT
The functions of Zoos have evolved chronologically – from the taxonomic character and
presentation of the diversity of species in halls ( XIX century) to the ecological character with an
emphasis on the behavior of animals and their habitat (XX century). In this context, environmental
education plays an important role towards developing technologies and methods that facilitate the
process of raising awareness of the seriousness of environmental issues and the urgent need to deal
with them seriously. This study aims to contribute to the activities of Environmental Education
provided at Parque Zoobotânico Arruda Câmara – PZAC (Bica) from the study of formative
interventions along with the team associated to the Centro de Estudos e Práticas Ambientais –
CEPAM of the Park. The activities were conducted in a qualitative approach. The strategy was the

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

research-action one through which demands and potentialities of the EE of the Park were
investigated. Examination of institutional documents and conversations with the executive team of
the EE of the Park were undertaken in addition to lectures and thematic workshops. The current
functional dynamics at Parque Zoobotânico Arruda Câmara involves visits to tracks, workshops,
educational games, etc. Training activities for skilled personnel were provided through seminars,
lectures, workshops and mini- courses aiming at developing the capabilities of the team working at
Centro de Estudos e Práticas Ambientais – CEPAM at Parque Arruda Câmara. Through
environmental education it is possible to form in the team a profile of ecological individuals
prepared to interact with visitors and the surrounding community and fully appreciate the
socialenvironmental function of the Park, which must be used in the formations and visits with a
view to the potential ecological, cultural, and personal values this area can have.
Key words: Critical Environmental Educational. Ecological Individual. Valuation of the Park.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) é uma das ferramentas existentes para a sensibilização e


capacitação da população em geral sobre os problemas ambientais. Com ela, busca-se desenvolver
técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de consciência sobre a gravidade dos
problemas ambientais e a necessidade regente de nos debruçarmos seriamente sobre eles.
Em relação ao público da Educação Ambiental, considera-se como objetivo atingir o público
em geral. Parte-se do princípio de que todas as pessoas devem ter oportunidade de acesso às
informações que lhes permitam participar ativamente na busca de soluções para os problemas
ambientais atuais.
A Lei Federal Nº 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999, institui a ―Política Nacional de
Educação Ambiental‖. Essa é a mais recente e a mais importante lei para a Educação Ambiental.
Nela são definidos os princípios relativos à Educação Ambiental que deverão ser seguidos em todo
o País. Essa Lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, através do Decreto N.º 4.281.
A EA objetiva promover ambientes educativos de mobilização desses processos de
intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos nestes
ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo em que nesse
exercício, estejamos educandos e educadores, nos formando e contribuindo pelo exercício de uma
cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos
(GUIMARÃES, 2004).
A formação de sujeitos comprometidos com as questões ambientais depende da educação.
Temas relacionados ao meio ambiente deverão dominar os debates educativos das próximas
décadas em que cidadania ambiental e a cultura de sustentabilidade serão, necessariamente, o
resultado do fazer pedagógico que conjugue a aprendizagem a partir da vida cotidiana. Como opção
pedagógica para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas, a partir da vida cotidiana, a
ecopedagogia apresenta-se como um novo campo de trabalho para educadores e pesquisadores,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

evidenciando a educação para uma conscientização ambiental na perspectiva do desenvolvimento


sustentável, conforme defende Gutiérrez e Prado (2002).
A EA se constitui como um processo que contribui na desconstrução de visões naturalistas e
antropocêntricas; para o entendimento da complexidade ambiental e sugere a refuncionalização de
conhecimentos e percepções já existentes.
Esta proposta teve o objetivo de contribuir com as atividades de Educação Ambiental
desenvolvidas no Parque Zoobotânico Arruda Câmara - PZAC (Bica) a partir de estudos
intervenções formativas junto à equipe vinculada ao Centro de Estudos e Práticas Ambientais –
CEPAM do Parque Arruda Câmara. Buscou-se capacitar a equipe técnica do CEPAM – estagiários,
coordenadores, estudantes extensionistas da UFPB (bolsistas e/ou colaboradores) no conhecimento
biológico, sistemático e ecológico da flora e fauna do Parque; na valoração do Parque enquanto
espaço de múltiplas áreas de educabilidade e na ressignificação de programas educativos junto às
escolas e atividades nas trilhas ecológicas.

Os Zoológicos: Espaços Ressignificados e Educativos

Para Wemmer et al. (1991) apud Achutti (2013), zoológico é toda coleção de animais
silvestres em cativeiro ou em exibição, não importando que seja pública ou particular,
possuindo animais exóticos ou nativos. Os primeiros zoológicos pouco mais eram do que
espetáculos de aberração; algumas chegavam a incluir aberrações humanas nas jaulas junto
com animais selvagens. Primeiramente os zoológicos tiveram a função de realçar o poder dos
líderes e na sequência, proporcionar ao povo o acesso à diversão oferecida pelos animais em
exposição. No século XIX, os zoológicos tinham um caráter estritamente taxonômico, com
exposições em jaulas visando apenas à manutenção e reprodução. O século XX é marcado
inicialmente pela tendência ecológica, na compreensão do comportamento animal e dos
diferentes habitat. Atualmente temos uma forte tendência conservacionista, marcada pela
preocupação em adequar as instalações aos ecossistemas naturais e na conservação in situ
(GARCIA, 2006).
As atividades desenvolvidas nos zoológicos, embora com claras propostas educativas,
ainda encontram-se presas às funções consideradas clássicas dessas instituições. Desse modo,
se considerarmos o potencial educativo dos zoológicos hoje e as discussões advindas do campo
da educação não formal e da divulgação científica, torna-se fundamental discutir qual a
finalidade educativa desses locais. Em geral nas visitas escolares desenvolvidas em zoológicos
os conteúdos trabalhados estão voltados a temas como taxonomia, características morfológicas,
etológicas, ecológicas e evolutivas dos vertebrados. Aspectos relativos à instituição, sua
missão, função social e educativa nem sempre são abordados nesse tipo de visita. No entanto,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

essas informações são de fundamental importância para entender o papel não só educativo
desses locais hoje, mas também sua função de pesquisa e de conservação. Os zoológicos têm
evoluído rapidamente e a tendência é que no século XXI se transformem em Centros de
Conservação e de Educação Ambiental (IUDZG, 1993, P. 03) apud Achutti, 2013:

Como Centros de Conservação, os zoológicos devem, portanto, enfocar as relações


sustentáveis entre a humanidade e a natureza, explicando os valores dos ecossistemas
e a necessidade de conservar a biodiversidade biológica, praticar a ética
conservacionista através de todas as operações de um zoológico e cooperar com a rede
mundial de zoológicos e com outras organizações conservacionistas. A exibição de
imersão envolve o público visitante nas circunstâncias ambientais dos animais e tais
experiências contribuem para uma favorável recepção, por parte dos visitantes, de
mensagens fortemente conservacionistas.

Parque Zoobotânico Arruda Câmara, João Pessoa-PB

O Parque Zoobotânico Arruda Câmara, mais conhecido por Bica, é oriundo da antiga
Mata do Roger e possui atualmente 26,4 hectares de área. Foi inaugurado precisamente às 13
horas do dia 24 de dezembro de 1922. Seu nome é uma homenagem à memória do ilustre
botânico paraibano nascido na cidade de Pombal, Dr. Manoel de Arruda Câmara. Foi tombado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1941, e em agosto
de 1980 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP).
Ao longo dos anos, o Parque foi consolidando sua estrutura física e seu plantel
faunístico, tomando forma de Zoológico. Em 1995, houve uma intensa reforma na área de
lazer. Foi construído O Lago das Cinco Fontes, que tornou possível o uso de pedalinhos, e em
seu entorno, triciclos e um trenzinho que passou a ser utilizado para uso e transporte de
visitantes.
No dia 21 de setembro de 1999, o Parque recebeu do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) o registro oficial de Zoológico. A
partir de 08 de maio de 2006 passou a denominar-se: Parque Zoobotânico Arruda Câmara.
A partir de setembro de 2010, deu-se início a entrega do projeto de requalificação do
Parque melhorando as condições de acondicionamento dos animais através da construção de
novos recintos: Casa dos Répteis, Vila dos Mamíferos, Recinto das Aves e Falconiformes,
tornando a Bica uma das melhores opções de lazer e entretenimento da cidade de João Pessoa.
O Centro de Estudos e Práticas Ambientais – CEPAM do Parque Arruda Câmara
coordena o Programa de Educação Ambiental do Parque Zoobotânico Arruda Câmara - é um
espaço de educação não formal que, além de estar comprometido com a promoção de
mudanças de comportamento do público visitante e com o seu relacionamento com o ambiente
de Parque e de Zoológico, expande seus objetivos para esferas mais amplas como a rua, o
bairro, a cidade e a biosfera, na medida em que estimula a criação desses elos coerentes e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

significativos com o meio ambiente e espera a efetiva prontidão pela defesa do Parque e da
Natureza. Tem como objetivo geral trabalhar a temática ambiental de forma holística de modo
a sensibilizar e incentivar atitudes de preservação, conservação e manutenção de um Parque
Zoológico.

METODOLOGIA

A proposta foi desenvolvida a partir de processos investigativos e de intervenções realizadas


no período entre outubro/2016 – Julho/2017, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara – BICA, João
Pessoa-PB. As atividades foram conduzidas pela abordagem qualitativa por meio da qual se buscou
a compreensão de realidades, seus significados e situações-problemas (MINAYO, 2009). Adotou-se
como estratégia a pesquisa-ação, por meio da qual se investigou demandas e potencialidades para a
EA no Parque. A pesquisa-ação é um tipo de investigação que procura a mudança para melhorar a
prática dos participantes junto com sua compreensão e a situação irá induzi-los à prática; assegurar
de forma contínua a participação dos integrantes do processo propiciando a mudança
(RICHARDSON, 2003). As atividades ocorreram por meio de estratégias pedagógicas flexíveis,
programadas previamente e sempre que necessário, foram ressignificadas continuamente para
atender às demandas apreendidas durante o percurso de execução. Nesta perspectiva, as atividades
foram avaliadas de forma contínua e coletiva.
As etapas envolveram dois momentos sequenciais e complementares: no primeiro momento
- foram realizadas visitas, consultas em documentos institucionais e diálogos com a equipe
executora das atividades de EA no Parque. A finalidade deste momento foi alcançar uma
aproximação da realidade vigente no Parque Zoobotânico Arruda Câmara e indicar as primeiras
demandas para estudos e intervenções. No segundo momento – realizaram-se as intervenções
formativas mediadas por seminários, palestras, oficinas pedagógicas e mini-cursos, que foram
desenvolvidos para o desenvolvimento de competências e habilidades na equipe que compõe o
Centro de Estudos e Práticas Ambientais – CEPAM do Parque Arruda Câmara.

RESULTADOS

Caracterização das Atividades de Educação Ambiental Mobilizadas no Parque Zoobotânico


Arruda Câmara – BICA.

O Programa de Educação Ambiental do Parque Zoobotânico Arruda Câmara – BICA busca


desenvolver práticas de Educação Ambiental, utilizando o potencial da instituição como
instrumento para a conscientização e valorização do Parque como patrimônio natural e cultural da
sociedade; desenvolver ações educativas que proporcionem o reconhecimento do zoológico

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

como espaço de conservação, pesquisa, educação e lazer; sensibilizar e mobilizar os visitantes e a


preservação e conservação ambiental no interior do Parque.
O Parque possui dois setores voltados para à praticas de Educação Ambiental: Um Setor de
EA criado em 2007, para atender as demandas de educação ambiental da flora e fauna, e o Centro
de Estudos e Práticas Ambientais – CEPAM, criado em 24 de setembro de 2010, e que funciona
como um espaço para desenvolver estudos e práticas que envolvam a Educação Ambiental do
município, implementando ações para conscientização e preservação do meio ambiente. As ações
cotidianas no CEPAM e no setor de EA do parque se voltam ao desenvolvimento de atividades
educativas para a preservação dos recursos naturais com a finalidade de sensibilizar a população
sobre a importância de garantir o futuro das próximas gerações. Os dois setores, em conjunto,
atendem cerca de 2.000 mil visitantes mensalmente.
Os princípios orientadores do CEPAM pautam-se na Ecopedagogia - uma estratégia que se
apresenta como uma pedagogia dos direitos que associa direitos humanos, econômicos, culturais,
políticos, ambientais e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da sabedoria
popular. A ecopedagogia apresenta-se como um novo campo de trabalho para educadores e
pesquisadores, evidenciando a educação para uma conscientização ambiental na perspectiva do
desenvolvimento sustentável. O principal objetivo da Ecopedagogia é inserir a cultura da
sustentabilidade em espaços educativos (GUTIÉRREZ e PRADO, 2002).
Mais de 19 mil visitantes foram assistidos pelas ações mobilizadas pela equipe do CEPAM
desde sua fundação. São desenvolvidas atividades como: trilhas ecológicas (fauna e flora) seguidas
ou não por atividades práticas (desenhos, fichas temáticas, artesanato, etc); vivência em artes (eco-
oficinas); dinâmicas, jogos e brincadeiras ecológicas; interação com animais após trilhas ou
palestras; projeções de filmes didáticos (curtas e/ou longas); atividades com e na comunidade;
capacitações; palestras.
Outras atividades no Parque visam também promover atividades, pedagógicas, artísticas e
culturais, voltadas à preservação, conservação e manutenção do Meio Ambiente, que estimulem à
participação do público visitante e comunidade circunvizinha ao Parque.
Indicação das Potencialidades e Demanda de Intervenções em Educação Ambiental
Mediante estudos em documentos oficiais, didáticos e pedagógicos que orientam as
atividades desenvolvidas na área de Educação Ambiental, além de diálogos informais com a equipe
executora das ações de educação ambiental no parque, foi realizada uma oficina pedagógica
intitulada ―O Parque é Nosso Foco‖ a partir da qual foram indicados quatro (04) eixos temáticos
vinculados às atividades educativas de EA desenvolvidas no Parque Zoobotânico Arruda Câmara –
BICA. Os eixos selecionados (Quadro 01)- ―Valoração do Parque; Fauna; Flora; Educação
Ambiental‖ foram analisados como enfoques a serem estudados e adotados para a implementação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

das atividades de EA. O objetivo principal foi levantar demandas e propor linhas possíveis de
intervenção educativa no Parque.

Eixos Demandas de
Proposições Indicadas
Temáticos Intervenções
- Planejar as falas e apresentações compatíveis com a faixa etária dos
visitantes.
– Oferecer palestras e eventos que contribuam para a
conscientização do valor do parque para a cidade;
Função - Criar um ―setor‖ focado na fiscalização a fim de orientar advertir
socioambiental do sobre a conservação das áreas verdes, consideradas como APA –
parque; com atividades externas a cada mês.
Serviços – Atualizar o site do Parque ressaltando a importância da Mata
Valoração do
ecossistêmicos; Atlântica e biodiversidade no espaço urbano.
Parque
Importância cultural - Verificar os pontos de riscos, deslizamentos e erosão envolvendo
e histórica; as trilhas – propor intervenções que recuperem áreas em processo de
Qualidade de vida; degradação no interior do parque.
Cidades sustentáveis - Criação de jogos relacionados a outras áreas como flora, valoração
do parque;
- Criar informativos abordando a valoração do parque, explicando a
função e do zoológico, desmistificando ideias negativas na cabeça
das pessoas.
– Catalogar e procriar espécies ameaçadas de extinção de nossa
região, e para os animais exóticos do parque, criar projetos de troca e
Conservação ex-situ;
reprodução para preservação e devolução ao seu habitat natural.
Bem estar animal;
– Promover uma abordagem integrada fauna e flora. Ex.:
CBSG-IUCN: Rede
Correlacionar o bioma que o animal habita e o tipo de alimentação
de zoológico com
Fauna que normalmente consomem.
reprodutores;
- Implantação de QR Code nas placas, direcionado para sites
Programa de
explicativos sobre o animal.
Reprodução de
- Na aula de campo sentiu-se falta principalmente de alguma
espécies
interação com a flora do parque. Então, vejo como importante uma
aula de campo direcionada a flora do parque.
- Inventariar as espécies ocorrentes no Parque;
- Criar um de catálogo fotográfico com representantes da flora do
Parque
– Produzir placas com a identificação de algumas espécies
Inventário florístico,
(incluindo nome científico e popular), importância para o meio
Mapeamento das
ambiente e algumas curiosidades científicas ou culturais;
espécies nas trilhas,
- Criar eventos, e fortalecer os já existentes, com intuito de
Produção de placas
conscientização e conhecimento sobre as relações compartilhadas
de identificação;
Flora entre a flora e fauna, para que as pessoas se sensibilizem com ideias
Produção de uma
conservacionistas como reflorestamentos e preservação dos animais
coleção didática para
selvagem;
exposição
- Criação de uma coleção didática para exposição.
Exposição de
- Contextualizar a flora presente nos recintos dos animais com o tipo
exsicatas;
de bioma e hábitats que os mesmos habitam.
Para diferenciar as trilhas das aulas de campo, poderiam ser feitas
trilhas temáticas ou percursos diferenciados dentro das temáticas.
mediados por guias ou catálogos temáticos explorando
conhecimentos científicos relacionados às espécies.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

- Nas oficinas é necessária uma discussão a respeito do que está


sendo feito, do por que da utilização de determinado material, tendo
em vista que se estava utilizando material reciclado.
- Criar mais jogos voltados pra preservação ambiental/curiosidade
Ativação projeto
animal/problemas ambientais.
educativo Bica-
-Em relação às escolas que solicitam acompanhamento: desenvolver
escola;
Educação atividades baseado na programação curricular da escola.
Lixo, respeito aos
Ambiental - Organizar as atividades com o departamento do Zoológico.
animais,
Realizar uma tabela de atividades que precise de tal grupo de
Atendimento ao
animal.
público em geral.
-Utilizar dinâmicas relacionadas ao grupo do animal que foi
escolhida.
- Realização de aulas de campo envolvendo alunos das escolas dos
bairros do entorno da bica.
Quadro 01. Caracterização dos eixos temáticos, suas demandas e as proposições indicadas. Fonte: dados da
pesquisa (Junho/2017).

O contexto expresso no quadro 01 torna pertinente sintetizar os desafios a serem enfrentados


na dimensão pedagógica, técnica ou de infraestrutura, são eles: A ressignificação das trilhas
ecológicas (fauna e flora) numa visão integradora e interdisciplinar; Elaboração/atualização de
cartilhas orientadoras às interpretações das trilhas; Implementação de um acervo digital de imagens
do Parque (botânico e zoológico) a ser utilizado para edição de vídeos de apresentação do Parque
durante as visitações ou construção de uma galeria de imagens (exposição); Produção de recursos
didáticos (fichas, cartilhas, folders, etc.) a serem utilizados durante as visitações e ações junto às
escolas públicas. Participaram desse processo de captação de demandas professores, técnicos e
alunos integrados aos eixos temáticos previamente definidos.

Intervenções formativas – geração de competências e habilidades para o desenvolvimento das


atividades de EA no Parque

Um ciclo de Palestras e Oficinas Temáticas foi planejado e executado com a finalidade de


construir conhecimentos teóricos e práticos, relacionados aos eixos temáticos (Valoração do Parque;
Fauna; Flora; Educação Ambiental). Durante a realização das intervenções pedagógicas diferentes
conhecimentos foram mobilizados no campo teórico e prático e mediados pela perspectiva da
Alfabetização Ecológica e Educação Planetária (STONE E BARLOW, 2006; MORIN, 2007), na
perspectiva de capacitar a equipe de monitores do parque a orientarem as pessoas durante as
visitações no interior do parque abordando, de modo integrativo, articulando os diferentes aspectos
que envolvem os eixos temáticos envolvidos. Foram tratados os seguintes temas: 1) Formação do
sujeito ecológico – complementado pela oficina temática ―Hortas Urbanas e sua Aplicabilidade nas
Ações Educativa para Ensino de EA e Botânicas‖; 2) Flora no Parque, coleta e herborização de
plantas no parque, promovidas visando desenvolver habilidades técnicas na equipe no que diz
respeito ao conhecimento de espécies da mata atlântica, seja na área de morfologia, fisiologia e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interação ecológica com a biodiversidade animal; 3) Valoração do Parque – no qual se buscou


imprimir a compreensão de que o parque é um espaço de formação integral do sujeito, onde valores
culturais e ecossistêmicos sejam visibilizados; 4) Fauna na Bica, Catálogo Temático Zoo – ocorreu
a produção de material informativo a partir de catálogos temáticos voltados aos conhecimentos dos
animais que se encontram nos recintos da Bica; 5) Recursos da Natureza e os Conceitos Ecológicos
– onde foram explorados os serviços ecossistêmicos e conceitos ecológicos vinculados à qualidade
ambiental do solo, ár e água, envolvidos nas trilhas interpretativas no interior da bica; 6) Ensino de
Botânica na Bica – abordando possibilidades didáticas de ensinar botânica, sua relação com outras
áreas do conhecimento e as características dos biomas, por meio de trilhas ecológicas; 7) Visita de
Intercâmbio ao Jardim Botânico de Recife como forma de promover a socialização dos saberes
científicos através do estabelecimento de parcerias institucionais; 8) Mini-curso ―Ensaios
Fotográficos no Parque‖ - visando a capacitação da equipe na apreensão qualificada de imagens e
cenários da bica para uso pedagógico durante as visitações. Tais temas foram trabalhados com
abordagens que expressam a complexidade ambiental (LEFF, 2001), que envolve o Parque
Zoobotânico Arruda Câmara – BICA.
Importante salientar que a constituição do sujeito ecológico se dá por processos educativos
que se voltem a capacitá-lo na adoção de um estilo de vida orientado por valores ecológicos. Nesta
perspectiva é importante pensar o ser humano como um fenômeno simultaneamente social e
individual, subjetivo e objetivo, psíquico e biológico, cultural e biológico (CARVALHO, 2012).
O Parque se configura como um espaço de educabilidade para além da exploração de
cenários ambientais atrativos – deve ser um campo de formação de sujeitos ecológicos, críticos e
cidadãos planetários.

DISCUSSÃO

A Formação do Sujeito Ecológico por meio de uma Educação Ambiental vai além de
sensibilizar a população para o problema; Só a compreensão da importância da natureza não é o
bastante para ser levada à sua preservação. É preciso ainda, e, sobretudo, a mobilização, o por a
ação em movimento. É incorporar a questão ambiental no cotidiano de nossa ação como prioridade.
Desta forma, a EA precisa ser vista e aplicada na sua integralidade e assim ser praticada
tanto nas dimensões do ambiente interno de cada um (físico, mental, emocional, espiritual) quanto
nas dimensões do ambiente externo (relacionamentos interpessoais e com as demais manifestações
da natureza). É na dimensão do ambiente interno que começa o processo de Alfabetização
Ecológica. Esta consiste em uma modalidade da educação ambiental inspirada na Ecologia
Profunda e no eco-anarquismo, que defende o ponto de vista de que a causa da atual crise ambiental
está localizada no universo cultural do ser humano moderno, que consolidou uma visão de mundo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

antropocêntrica, cartesiana e reducionista, incapaz de perceber as complexas relações causais entre


a ação antrópica e os impactos ambientais dela decorrentes.
Importante se faz desenvolver no sujeito a percepção ambiental, que se concretiza a medida
que seus hábitos e usos (signos) forem submetidos à lógica da linguagem. A percepção entendida
como tomada de consciência de forma nítida a respeito de qualquer objeto ou circunstâncias. Para
Tuan (1980) percepção é uma espécie de leitura de mundo na qual os sentidos perceptivos reagem a
produção cognitiva de cada um.
Nesta perspectiva, a EA se constitui como um processo que contribui na desconstrução de
visões naturalistas e antropocêntricas; para o entendimento da complexidade ambiental e sugere a
refuncionalização de conhecimentos e percepções já existentes.
A EA é, sem dúvida, fundamental para formar a cidadania ativa e criar esferas de ação e
intervenção política de enfrentamento ao modelo já ultrapassado e vigente. Contudo, essa
capacidade implica um conhecimento das questões socioambientais atuais, a fim de perceber o
mundo e perceber-se nele. Reconhecê-lo e compreendê-lo, para nele atuar. Internalizá-lo por meio
da percepção e contato com o meio e com sua realidade a partir de um olhar crítico, que permita
reorganizar saberes e refletir envolvendo as diferentes dimensões (éticas, sociais, econômicas,
políticas, espirituais). O Parque Arruda Câmara se constitui num espaço de formação do sujeito
ecológico pelo seu potencial educativo e pelas diferentes experiências que este pode viabilizar aos
visitantes por meio de atividades pedagógicas durante as visitações, seja por turistas, escolas,
comunidades ou visitações independentes. A pretensão é potencializar as ações do Parque Arruda
Câmara que já vem oportunizando o desenvolvimento de uma maior percepção ambiental atrelada a
questões socioambientais por parte dos atores envolvidos. Durante as construções coletivas
experienciadas, já são visíveis os avanços para um pensamento reflexivo, o que está registrada nas
proposições ―contextualizada‖ que consideram a importância de uma cidadania mais efetiva para
alcançar as mudanças desejadas nas atividades desenvolvidas no Parque.

CONCLUSÃO

O Parque Zoobotânico Arruda Câmara exerce várias funções e assume importante papel na
vida cotidiana dos cidadãos, por se tratar de um espaço que serve como base para as atividades de
lazer, educação e recreação ao ar livre e que fornecem múltiplos usos para a comunidade. Ameniza
os impactos ambientais existentes, estando diretamente relacionado com a qualidade de vida e a
preservação do meio ambiente. O desafio deste século é tornar os parques ecológicos urbanos como
centro de pesquisa no qual o tema conservação seja tratado de forma holística com oferta de
múltiplos usos e que seja de caráter educativo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No espaço do Parque é possível promover o intercâmbio de saberes envolvendo visitantes,


pesquisadores, estudantes, estagiários e coordenações setoriais de modo que a construção de
conhecimentos ocorrerá compartilhada e contínua no exercício das atividades e dos estudos
orientados. É possível articular eventos didáticos com as atividades no Parque Zoobotânico Arruda
Câmara enfatizando sua VALORAÇÃO pelo potencial eclético que este detém para atrair e
construir conhecimentos junto ao seu público tão variado.

REFERÊNCIAS

ACHUTI, M. R. N. G. O Zoológico como Ambiente Educativo para Vivenciar o Ensino de


Ciências. Dissestação de Mestrado. Itajaí (SC) 2003. 68 P.

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6ª ed. São Paulo:
Cortez, 2012.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Práticas Interdisciplinares na Escola. 7. Ed., São Paulo:
Cortez.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 23ª ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1997.

GARCIA, V. A. R. (2006). O processo de aprendizagem no Zoológico de Sorocaba: análise da


atividade educativa visita orientada a partir dos objetos biológicos. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. 224 f

LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental; tradução de Sandra Valenzuela; revisão técnica de Paulo
Freire Vieira. – São Paulo: Cortez, 2001.

MARCATTO, Celso. Educação ambiental: conceitos e princípios / Celso Marcatto - Belo


Horizonte: FEAM, 2002. 64 p.: il.1. Educação ambiental.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde. 4a


ed. HUCITEC – ABRASCO. São Paulo – Rio de Janeiro, 1996.

MOREIRA, Marco Antônio. A Teoria da Aprendizagem Significativa e sua Implementação em Sala


de Aula. – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2006.

MORIN, Edgar. Educar na Era Planetária – o pensamento complexo como método de


aprendizagem pelo erro e incerteza humana/elaborado para a UNESCO por Edgar Morin, Emílio
Roger Ciurana,; Raúl Domingo Motta. 2. ed. Tradução Sandra Trabucco Valenzuela. Revisão
técnica da tradução Edgard de Assis Carvalho. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

NARDI, Roberto (Organizador). Educação em Ciências: da pesquisa à prática docente. – São


Paulo: Escrituras Editora, 2001. – (Educação para a Ciência)

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Secretaria de Meio Ambiente. Parque


Zoobotânico Arruda Câmara – PZAC. Kit Estagiário – leitura obrigatória. (S/I).

RICHARDSON, R. J. Pesquisa-ação: Princípios e Métodos. João Pessoa: Editora


universitária/UFPB, 2003. 242 p.

TUAN, Yi – Fun. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. DIFEL,
São Paulo/ Rio de Janeiro, 1980.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL DE VISITANTES DE UM PARQUE


ZOOBOTÂNICO

Bruno Melo de SOUSA


Doutorando em Botânica pela UFRPE
Bruno.msousa@ufrpe.br
Amanda Lucena COUTINHO
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPB
amanda_bispo@hotmail.com
Dilma Maria de Brito Melo TROVÃO
Professora titular Doutora em Recursos Naturais da UFCG
dilmatrovão@gmail.com

RESUMO
O estudo da representação ambiental dentro de parques zoológicos e botânicos é uma ferramenta
para avaliar as necessidades e dificuldades que esses ambientes para a formação e transmissão de
informações que fomentem um senso crítico e ambientalmente correto. Objetivou-se com este
estudo registar a Representação Ambiental dos visitantes em relação à importância do Parque
Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), João Pessoa, PB, Brasil, para melhor compreensão da inter-
relação dos visitantes com o ambiente possibilitando avaliar as principais necessidades e falhas do
Parque dentro de suas estruturas e metodologias de sensibilização e informações quanto às questões
ambientais. Foram aplicados 16 questionários contendo perguntas abertas e fechadas para os
visitantes do parque. As respostas dos entrevistados foram codificadas, tratadas e categorizadas de
acordo com o tema principal da resposta em cada pergunta. 52% das respostas dos entrevistados
atribuíram o motivo das visitas ao parque para lazer. 87% dos entrevistados saíram do Parque com
incremento de informações após a visita ao parque. Infere-se que e grande parte dos entrevistados
visualiza o Parque Zoobotânico Arruda Câmara apenas como parque zoológico e não zoobotânico e
como um local para lazer e socialização, associando o ambiente a uma sensação de bem estar. A
maioria dos entrevistados ressaltaram a importância do parque para a preservação da fauna e flora lá
existentes, demonstrando que a principal finalidade do parque é reconhecida pelos seus visitantes.
Palavras-Chave: Zoológico, Jardim Botânico, Parque Zoobotânico Arruda Câmara, Bica.

ABSTRACT
The study of environmental representation in zoological and botanical parks it's an toll to evaluate
the needs and difficulties that these environments show for interact and to transmit information that
fosters an environmentally sound critical. The aim of this study was to register the environmental
representation of visitors in relation to the importance of the Parque Zoobotânico Arruda Câmara
(Bica), João Pessoa, PB, Brazil, to understand the interrelation between visitors and the
environment making possible to evaluate the main needs and failures of the Park inside Its
structures and methodologies of awareness and information regarding environmental issues. 16
questionnaires containing open and closed questions for park visitors were applied. The answers of
interviewees were coded, treated and categorized according to the main theme of the answer in each
question. 52% of the interviewees‘s answers attributed the reason for visits to the park for leisure
and socialization. 87% of the interviewed get out the Park with an increase in information after the
visit to the park. It is inferred that most interviewees view the Parque Zoobotânico Arruda Câmara
only as zoological and not Zoobotanical park and a place for leisure and socialization, associating
the environment with a sense of well-being. Most of the interviewees stressed the importance of the

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

park for the preservation of the fauna and flora existing there, demonstrating that the main purpose
of the park is recognized by its visitors.
Keywords: Zoo, Botanical Garden, Parque Zoobotânico Arruda Câmara, Bica.

INTRODUÇÃO

A redução e ou perda da qualidade ambiental, oriundas do processo de urbanização e


crescimento populacional, vem ameaçando inúmeros representantes da flora e da fauna local,
prejudicando e alterando a qualidade de vida de todos os componentes do meio ambiente
(MORAIS, 2009). Muitas vezes essas alterações da qualidade do ambiente não nos afetam
diretamente ou passam despercebidas pelo homem, diante desse senário as Unidades de
Conservação assumem, assim, um grande papel para minimizar os impactos no ambiental, de forma
a preservar e conscientizar o homem para um ambiente ecologicamente equilibrado.
As Unidades de Conservação devem atuar não somente na preservação da flora e fauna, mas
também como locais de aprendizagem e sensibilização da comunidade acerca do ambiente
(TORRES; OLIVEIRA, 2008), mas nem sempre isso ocorre, seja por falta de um setor ou políticas
eficazes voltadas à sensibilização do público visitante ou por o ambiente transmitir uma visão de
local recreativo e ou de lazer. Os estudos de representação em unidades de conservação torna-se
essencial e indispensável para a obtenção da representação dessas unidades de conservação pelo
público visitante, evidenciando assim a inter-relação do homem com o meio ambiente, suas
expectativas, anseios, satisfações, insatisfações, julgamentos e condutas (FERREIRA, 2005).
O termo percepção, na língua portuguesa, pode ser definido como a resposta dos sentidos
aos estímulos externos, como, por exemplo, a percepção das cores, cheiros e som, que são
manifestados através de fenômenos químicos e neurológicos (FERREIRA, 1988). Segundo Silva et
al. 2014, alguns estudos utilizam o termo percepção com o intuito apenas de representar aquilo que
é sentido por um indivíduo, ou pela população, em relação a algo, desconsiderando o efeito de
outros fatores influenciadores da percepção, como o fator cultural, fisiológico e psicológico, motivo
pelo qual Silva et al (2014) sugerem que o termo representação seja mais apropriado que o termo
percepção, pois, ao acessarmos a escrita, fala ou ilustração do indivíduo investigado, estamos
acessando a externalização do que é percebido pelo indivíduo, ou seja, sua representação, que
envolve não apenas os fatores químicos e neurológicos como também culturais, fisiológicos e
psicológicos.
Alguns estudos já vêm sendo desenvolvidos em unidade de conservação, como parques
urbanos, com o intuito de captar a representação ambiental dos visitantes do parque (COSTA et al.
2011; MENZES, 2011; AMADOR, 2012). Esses estudos de percepção, em principal os
desenvolvidos em parques zoológicos e jardins botânicos, pode ser uma forma de se avaliar as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

necessidades e possíveis dificuldades da interação homem/ambiente de forma a transmitir


informações que irão fomentar um senso crítico e ético ambientalmente correto para com os
visitantes (ARAGÃO & KAZAMA, 2014).
Objetivou-se registar a representação ambiental dos visitantes em relação ao Parque
Zoobotânico Arruda Câmara, localizado em João Pessoa, Paraíba, Brasil, para melhor compreensão
da inter-relação homem/ambiente assim como para avaliar as principais necessidades e falhas que o
Parque apresenta dentro de suas estruturas e metodologias de abordagem aos visitantes para com a
importância do ambiente.

MATERIAIS E MÉTODO

O estudo foi desenvolvido no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, mais conhecido por Bica
localizada na coordenadas central latitude -7.112571º e longitude -34.874130º no município de João
Pessoa. O Parque está situado na área urbana de João Pessoa-PB. É oriundo da antiga mata do
Roger, possui atualmente 26,4 hectares. É fragmento de Mata Atlântica que abriga muitas espécies
vegetais ameaçadas de extinção servindo também como refúgio e proteção para muitas espécies de
animais nativos contra o processo acelerado de urbanização da cidade. O Parque é uma Zona de
Conservação e possui um setor de Educação Ambiental que busca o comprometimento com a
sensibilização ambiental de modo a incentivar atitudes de preservação, conservação e manutenção
não só do Parque como também do meio ambiente de forma geral (BICA, 2012).
A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de
Estadual da Paraíba (CEP-UEPB). Após a provação do Comitê de ética foi aplicado um estudo
piloto com quatro visitantes do Parque para verificar a necessidade de possíveis alterações no
questionário. Após o estudo piloto foram definidas 16 perguntas com questões abertas e fechadas de
versavam sobre ecológicos e dados socioeconômicos dos entrevistados. Os critérios de seleção dos
participantes foram: 1) Ser visitante do Parque, 2) Ser maior de idade e 3) Assinar o termo de
consentimento livre e esclarecido. O número amostral foi definido pelo número máximo de
visitantes entrevistados em 16 horas (dois dias) não contínuas. Foram aplicados 16 questionários
entre os meses de Dezembro de 2016 e Janeiro de 2017.
A análise dos dados ocorreu de acordo com Bardin (1977), que consiste na codificação, pré-
análise e categorização. Os entrevistados foram codificados com e letra ―E‖ e numerados
aleatoriamente de 01 a 16, sendo o primeiro entrevistado codificado como: ―E01‖ e assim
sucessivamente. A resposta de um entrevistado poderia se encaixar em mais de um tema central.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por que você veio à Bica?

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para a primeira pergunta realizada foram criados quatro temas, através das respostas (Figura
1). A maioria das respostas dos entrevistados (52%) atribuiu o motivo da visitação ao Parque para
lazer e socialização. Uma parcela de 24% dos entrevistados atribuíram a visita ao parque ao fato de
ser um local que, segundo eles, transmite uma sensação de paz ou um sentimento positivo
relacionado ao bem estar como mostra algumas respostas: ―...É um ambiente agradável de
frequentar‖ E10; ―Porque é um lugar que me traz paz...‖ E14; ―Pelo fato de ser um ambiente
confortável e agradável...‖ E15.

Figura 1. Por que você veio a Bica?

Esse resgate de paz interior, demostrado por ¼ dos entrevistados, pode ser reflexo do
contato com a natureza silvestre. Outros estudos já demostram uma relação da natureza como o
bem-estar e a saúde (Hartig, Mang & Evans, 1991; Bratman, Hamilton & Daily, 2012; Clark et al.
2014), sendo a natureza um recurso fundamental para a promoção da saúde e meios que visam uma
melhoria na qualidade de vida não apenas para o homem como para todo o ecossistema (HANSEN-
KETCHUM et al. 2011).

Você atribui alguma importância para a Bica?

Apenas uma pessoa afirmou que a Bica não possuía nenhuma importância, duas pessoa não
soube responder a pergunta, os demais entrevistados (13) atribuíram alguma importância para o
Parque. Foram criados quatro temas centrais através das respostas (Figura 2).
53% dos entrevistados relacionaram a importância do Parque à preservação ambiental e 22%
deles, conectaram a importância ao lazer e turismo. Segundo a Lei do Plano Diretor da Cidade de
João Pessoa, as Zonas Especiais de Preservação são porções do território, localizadas tanto em áreas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

urbanas ou rurais, nas quais se tem por principal interesse a preservação, manutenção e recuperação
de características paisagísticas, ambientais, históricas e culturais (PREFEITURA MUNICIPAL DE
JOÃO PESSOA, 1992). Essas áreas também são áreas reservadas ao lazer e recreação da população
(PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA, 2001). Nas respostas dos entrevistados pode-se
notar a representação da Bica tanto como local de preservação ambiental e de importância cultural,
por exemplo: "Ótimo local de lazer para os Paraibanos assim como lugar excelente ao turismo"
E08; "Eu vejo como um local de extrema importância de ajuda na preservação da Mata Atlântica"
E03; ―Preservação de um ambiente rustico e natural" E15.
Embora a grande maioria das respostas estivesse relacionada com um dos principais motivos
da criação desse tipo de Unidade de Conservação apenas 13% duas respostas (2) estiveram
relacionadas à importância educacional do parque. Isso reflete o desconhecimento que a população,
em geral, faz da relação natureza/educação/sustentabilidade, o que pode demonstra, de certa forma,
uma falha no sistema de apresentação do Parque Zoobotânico e uma incompreensão preocupante da
representação que esses tipos de ambiente têm.
Espações que possuam áreas verdes e ou Unidades de conservação são locais propícios para
o desenvolvimento da educação não formal, devido possuírem recursos naturais para o ensino e
aprendizagem (VIERA, BIANCONI & DIAS, 2005). Devido essa característica o programa da
Educação ambiental já deve estar incluído como ferramenta do Parque, sendo um das formas mais
eficientes para transformar a mentalidade antiga de ver os animais apenas como bonecos enjaulados
(TELLES, ROCHA, PEDRO & MACHADO, 2002). No parque em questão existe um setor
dedicado a Educação ambiental, implantado desde 2006, e que vem desenvolvendo estudos para
uma melhor e mais ampla sensibilização do público visitante para com o meio ambiente.
Além de serem fontes de aprendizagem, em alguns casos, as unidades de conservação,
podem desempenhar outras tarefas, como a pesquisa científica (SISTEMA NACIONAL DE
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2000). Embora estivessem participando de uma pesquisa
científica, nenhum entrevistado citou que esses locais também são fonte de pesquisa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2. Você atribui alguma importância para a Bica?

Quando me falam da Bica penso em...

Um participante afirmou não saber responder a pergunta, provavelmente por ser de outra
cidade e está apenas visitando o local, não conseguindo associar um objeto ou sentimento ao
Parque.
44% dos entrevistados associarão o Parque a um local de lazer. A associação da Bica a lazer,
provavelmente, deve-se a maioria dos visitantes se deslocar para esse local por motivos de
recreação e socialização (Figura 3). No parque são desenvolvidas várias atividades recreativas
como: pedalinho, parque para crianças, trenzinho, entre outras. Estas atividades, embora omitam a
importância ecológica e educacional do local, deslocam um grande público alvo para o local e
permitem assim, economicamente, a manutenção do parque e também um público alvo maior, que
pode ser sensibilizado ambientalmente, pela própria visita ao Parque ou por atividades que estejam
sendo desenvolvidas pelo setor de educação ambiental.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3. Quando me falam da Bica penso em...

Alguns entrevistados relacionaram a Bica ao ―bem estar‖ (17%) como nos exemplos: ―...
estar bem consigo mesmo" E01; ―Paz, sossego‖ E11.

O que deveria existir em um Parque Zoobotânico ideal?

Três pessoas afirmaram não saber responder o que deveria existir em um parque
Zoobotânico ideal. Essa pergunta foi realizada a generalizar todos os parques Zoobotânicos, mas a
maioria dos entrevistados responderam acerca do que deveria existir no parque em que o estudo
estava sendo realizado. As respostas foram classificadas em dois temas, que foram subdivididos em
sete: 1) Melhorias para os visitantes (abrangem os subtemas: Melhor infraestrutura para os
visitantes; animais; áreas de lazer; e entretenimento para os visitantes) e 2) Melhorias para o meio
ambiente (abrange os subtemas: Atividades educacionais; melhor infraestrutura para os animais;
estudos da fauna e preservação do ambiente natural) (Figura 4).
65% dos entrevistados atribuíram que no parque zoobotânico ideal deveria existir mais
melhorias para os visitantes e apenas 36% dos entrevistados falaram que deveriam existir melhoras
para o meio ambiente. Essas respostas podem informar uma visão deturpada que os visitantes
possuem em relação aos parques, sendo entendido por eles que a finalidade precípua dos mesmos é
de que se trata de um local apenas de lazer e exposição dos animais.

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Figura 4. O que deveria existir em um parque Zoobotânico ideal?

18% dos entrevistados afirmaram que no parque deveria haver uma maior variedade de
espécies no local. Os animais criados nos recintos da Bica são animais oriundos de outros parques
zoobotânicos ou fruto de tráfico de animais que ali são depositados por órgãos ambientais visando a
ressocialização e/ou tratamento e alojamento dos mesmos no meio ambiente. Uma maior
diversidade ou riqueza de espécies da fauna nos recintos do Parque, na maioria das vezes, implica
em um maior impacto ambiental, oriundo do tráfico de animais.
Apenas uma pessoa citou que no parque deveriam existir estudos sobre a fauna. Esse
número é preocupante, pois é sabido que os estudos científicos são a base para a melhoria da grande
parte dos temas centrais criados a partir das respostas dos visitantes.

O que a bica ensinou para você?

Duas pessoas (12%) relataram não ter aprendido nada com a visita ao parque. A maioria dos
visitantes (63%) saiu do Parque, segundo eles, com o ensinamento de respeito ao meio ambiente
(Figura 5) o que demonstra que grande parte dos entrevistados se sensibilizaram ambientalmente
através do contato da fauna e ou flora ou através de leitura de placas educativas distribuídas no
Parque.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5. O que a Bica ensinou para você?

Algumas respostas dos entrevistados foram: "Transparecer que a gente deve cuidar bem dos
animais e das plantas" E06; ―Que devemos cuidar mais dos nossos animais até porque muitos já
estão em extinção‖ E07; ―Que devemos sempre respeitar a natureza... que seria do ser humano sem
a natureza..." E08.

Placas do parque

Todos os visitantes afirmaram ter visto placas nos recintos dos animais e afirmaram ler as
informações das mesmas. Para as placas próximas as plantas essa realidade foi diferente, pois
apenas 56% dos entrevistados (10 pessoas) afirmaram ter visualizado alguma placa de identificação
das plantas, destes 90% afirmam ler essas placas. Dos entrevistados que afirmaram ler e ter
visualizado as placas presentes nas plantas 40% não souberam citar um único exemplo de planta
presente no parque. Os demais entrevistados (33%) afirmaram não ter visualizado as placas
educativas presentes em espécies de vegetais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5. Árvores típicas da Mata Atlântica presentes na Bica sem placas de identificação. A) Barriguda
(Ceiba sp.) B) Ipê-amarelo (Handroanthus albus (Cham.) Mattos).

Figura 6. Placas de identificação dos animais e das plantas no parque Arruda Câmara (Bica). A) placa de
identificação da lontra Albina (Lontra longicaudis (Olfers, 1818)). B) Placa de identificação do Pau-Brasil
(Caesalpinia echinata Lam).

São poucas as atividades de educação ambiental desenvolvidas no parque relacionadas a


botânica, além disso, também são pouca as espécies de plantas típicas da região que estão
identificadas por placas no parque. Algumas espécies típicas da Mata Atlânticas, localizadas em
trilhas principais, não estão identificadas com, por exemplo, a Barriguda (Ceiba sp.) e o Ipê
Amarelo (Handroanthus albus (Cham.) Mattos) (Figura 5). Além disso, as placas de identificação
das espécies vegetais presentes no parque são pequenas e de difícil visualização, e também não
possuem elementos atrativos como foto de parte da espécie e curiosidades sobre a mesma,
diferentes das placas de identificação dos animais (Figura 6). Também não há nenhuma placa

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

educativa informando trilhas e localização das espécies de plantas. Aliadas a essas questões existe
também o fato de que, naturalmente, as pessoas não associam à vegetação a mesma importância dos
animais, que pode ser nomeado como Cegueira Botânica (WANDERSEE & SCHUSSLER, 2002).
Todos esses fatores podem contribuir para a visualização do parque apenas como zoológico e
refletem a necessidade de medidas a serem tomadas pela administração do parque em relação a
sanar essas falhas, como contratação de profissionais ligados as áreas botânicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

Parte dos entrevistados visualiza o Parque Zoobotânico Arruda Câmara apenas como parque
zoológico e não Zoobotânico além de desconhecer sua ação educativa e importância científica,
reconhecendo o local como fonte de lazer e turismo. Esse desconhecimento esta além de uma
desinformação pessoal, podendo estar relacionado a uma falha no sistema pedagógico que não
consegui ultrapassar os obstáculos da Educação Ambiental como uma temática interdisciplinar da
educação brasileira. Em contrapartida mais da metade dos entrevistados representaram um
preocupação com a preservação ambiental.
Devido os fatores educacionais, fisiológicos e midiáticos a cegueira botânica (ver:
WANDERSEE & SCHUSSLER, 2002; SALATINO & BUCKERIDGE, 2016) tornasse mais
enrizadas em nossa cultura omitindo-nos a importância dos recursos vegetais para nossa vida. Os
Jardins botânicos e Parque Zoobotânico assumem uma grande importância para reverter essa
situação, mas, muitas vezes isso passa despercebido até pela própria administração do local. Em
Parque Zoobotânicos uma medida para chamar a atenção do público para com os recursos vegetais
seria relacionar informações presentes nas placas de identificação dos animais com alguma planta,
por exemplo, informado qual planta aquele animal se alimenta ou toma como habitat, assim como,
tornar as placas de identificação das plantas mais atrativas com foto das flores ou alguma outra
característica morfológica atrativa da planta.
Outra medida a ser tomada, para minimizar a visão de parques zoológicos ou botânicos
como locais apenas recreativos seria a instalação de placas educativas mostrando as principais
funções e importâncias do parque para maior conscientização do público visitante. Essa medida
pode ser expandida também para outras unidades de conservações e áreas verdes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA INCIDÊNCIA DE FOCOS DE CALOR E


RELAÇÃO COM INCÊNDIOS FLORESTAIS NA RESERVA DA BIOSFERA DA
SERRA DO ESPINHAÇO

Eduarda Soares MENEZES


Mestranda em Ciência Florestal da UFVJM
eduarda_menezs@hotmail.com
Danielle PIUZANA
Professora Associada UFVJM, Doutora em Geologia
dpiuzana@yahoo.com.br
Marcos Vinícius Miranda AGUILAR
Graduando em Engenharia Florestal do IFNMG
aguilarmarcos2009@hotmail.com

RESUMO
A Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, região central de Minas Gerais, possui grande
relevância quanto à biodiversidade. Este trabalho teve como objetivo avaliar os registros de focos
de calor ao longo 2000, 2010 e 2017 nesta reserva e relacioná-los com a ocorrência de incêndios
florestais por meio do uso de ferramentas do sistema de informações geográficas. O processamento
dos dados foi realizado pelo software QGIS, a partir dos mapas de focos de calor em formato
vetorial. A densidade de ocorrência de focos de calor foi calculada por meio do estimador de Kernel
e foram utilizados cinco níveis de classificação dos focos: muito baixa, baixa, média, alta e muito
alta. No ano de 2000, observou-se classes baixa/muito baixa de focos na região sul, e classes
alta/muito alta na região nordeste. Em 2010, a densidade de focos se distribui de forma mais
acentuada, com classes alta e muito alta à norte e noroeste da reserva. Em 2017 houve aumento na
distribuição espacial e intensidade de classes alta e muito alta, abrangendo o noroeste, norte, centro
e sul. A estimativa realizada pela função de Kernel apresentou a capacidade de predizer sobre a
distribuição e intensidade dos focos sendo uma ferramenta com grande aplicabilidade no
monitoramento e interpretação de incêndios.
Palavras-chave: Biodiversidade, Conservação, Monitoramento, Sensoriamento Remoto.
ABSTRACT
The Serra do Espinhaço Biosphere Reserve, central region of Minas Gerais, has great relevance for
biodiversity. This work aimed to evaluate the records of heat sources throughout 2000, 2010 and
2017 in this reserve and to relate them to the occurrence of forest fires through the use of
geographic information system tools. The data processing was performed by the QGIS software,
from the maps of heat sources in vector format. The density of occurrence of heat sources was
calculated using the Kernel estimator and five levels of classification of the outbreaks were used:
very low, low, medium, high and very high. In the year 2000, low / very low classes of foci were
observed in the southern region, and high / very high classes in the northeast region. In 2010, the
density of outbreaks is distributed more sharply, with high and very high classes to the north and
northwest of the reserve. In 2017 there was an increase in spatial distribution and intensity of high
and very high classes, covering the north-west, north, center and south. The estimation performed
by the Kernel function showed the ability to predict the distribution and intensity of the foci being a
tool with great applicability in the monitoring and interpretation of fires.
Key-words: Biodiversity, Conservation, Monitoring, Remote Sensing.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO
A Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, declarada pela Unesco em 2005 (UNESCO,
2017), abarca cerca de 3.200.000ha no estado de Minas Gerais. Caracteriza-se por uma notável
importância no que tange a biodiversidade. Destaca-se no cenário nacional e internacional, por
abrigar nascentes de diversas bacias hidrográficas, além de compor uma área ímpar quanto às
formações geológicas e florísticas, que apresentam significativo grau de endemismo de diversas
famílias de plantas. Segundo Gontijo (2008) a reserva abriga, ainda, mais de 40% das espécies
vegetais ameaçadas do estado de Minas Gerais. Em áreas campestres, por exemplo, espécies
microendêmicas são majoritariamente constituídas apenas por pequenas populações, e por isso
encontram-se bastante suscetíveis a episódios aleatórios naturais ou provocados pela ação humana e
dada sua vulnerabilidade, necessitam de proteção especial (ANDRADE et al. 2015).
O efeito do fogo em ecossistemas é complexo, abrangendo desde a perda de biodiversidade,
redução ou eliminação da biomassa na superfície do solo à impactos nos processos físicos, químicos
e biológicos abaixo da superfície aumentando a susceptibilidade à erosão (TOMZHINSKI et al.,
2011). No Brasil, Unidades de Conservação (UC) vem sendo atingidas por incêndios florestais,
sendo esta uma das principais preocupações na gestão e manejo de tais unidades, principalmente as
do bioma Cerrado, pois proporcionam uma grave ameaça para a conservação da biodiversidade e
manutenção de processos ecológicos (PRUDENTE, 2010).
No Cerrado brasileiro, a ocorrência do fogo é um fenômeno antigo e embora o bioma seja
relativamente adaptado ao fogo, a ocorrência de queimadas antrópicas frequentes pode afetar
negativamente o estabelecimento das árvores e arbustos, e consequentemente, modificar os
processos evolutivos do bioma resultando na degradação dos solos (MAGALHÃES et al., 2012).
Nesse sentido, para estabelecer políticas de controle e prevenção, faz-se necessário conhecer
o perfil dos incêndios. As estatísticas de ocorrência dos incêndios em ambientes naturais são
consideradas importantes ferramentas para se traçar esse perfil (CIPRIANI et al., 2011).
Pesquisas sobre incidência de focos de queimadas por meio do uso do geoprocessamento
resultam em diversas aplicações, possibilitando a definição de áreas de maiores ou menores riscos
de incêndio, servem de base para estudos secundários da relação do fogo e vegetação, estudos de
causas e combate aos incêndios e elaboração de mapas de risco. Ademais podem auxiliar tanto na
idealização, como na implementação de planos de manejo, gestão da unidade de conservação,
principalmente para definição de estratégias de combate aos incêndios por parte dos gestores de
áreas protegidas.
O monitoramento de queimadas por imagens de satélites é imprescindível para regiões sem
meios intensivos de acompanhamento, condição esta que representa a situação geral do país (INPE,
2012). Nesse contexto, o Sistema de Informações Geográficas (SIG), juntamente com as técnicas de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

geoprocessamento constituem ferramentas bastante significativas para o monitoramento por meio


de mapas manipulados nesse sistema integrados aos focos contidos na região de interesse.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar os registros de focos de
calor ao longo dos anos de 2000, 2010 e 2017 e relacioná-los com a ocorrência de incêndios na
Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço por meio do uso de ferramentas do sistema de
informações geográficas.

METODOLOGIA

Área de estudo

O estudo foi realizado na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE), localizada na


porção central de Minas Gerais. Encontra-se parcialmente inserida no que foi denominado Serra do
Espinhaço por Eschwege em 1822 (ESCHWEGE, 2005) que caracteriza a região, assim como em
outras obras de naturalistas do Século XIX, sua importância geológica e ecológica. Por abarcar
uma área muito extensa, Pereira et al. (2015) subdividiu a RSBE, de forma mais ampla, em duas
porções: o Quadrilátero Ferrífero, ao sul e o Espinhaço, a norte.
A porção do Quadrilátero Ferrífero caracteriza-se como um importante distrito mineral
brasileiro na parte sul da RBSE, e pela presença de cidades de grande importância históricas e
econômicas, como Belo Horizonte, Ouro Preto, Congonhas do Campo e Mariana. A Unidade
Geomorfológica Quadrilátero Ferrífero ressalta-se na paisagem mineira por suas alongadas
escarpas, de altitudes médias em torno de 1400 – 1600 metros com ponto culminante de 2064
metros na Serra do Caraça (PIUZANA et al., 2011). Marcas de ocupação estão impressas na região
desde o século XVII condicionadas às riquezas minerais como reservas de minério de ferro e rochas
ricas em ouro.
Já a porção Espinhaço possui como um dos seus traços de maior destaque a presença dos
afloramentos quartzíticos, cuja cidade mais importante é Diamantina. Os depósitos basais na Bacia
Espinhaço possuem características dominantemente continentais e são representadas pelas
formações São João da Chapada e Sopa-Brumadinho, unidades integrantes do Supergrupo
Espinhaço (PFLUG, 1965). Na formação Sopa-Brumadinho encontram-se, na forma de pacotes
lenticulares, o conglomerado diamantífero, de onde foram extraídos cerca de 30 a 40% de todos os
diamantes já produzidos no Brasil, em torno de 30.000.000 de quilates (CHAVES et al., 1993).
A RBSE possui um clima Cwb (subtropical de altitude, com inverno seco e verão ameno)
segundo a classificação de Köppen e grande importância no tocante aos recursos hídricos no Brasil,
abarcando parte de três grandes bacias hidrográficas: Rio Doce, do Jequitinhonha e do rio São
Francisco (PEREIRA et al., 2015). Quanto a biogeografia, a RSBE encontra-se inserida nos biomas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Cerrado, a oeste, e Mata Atlântica, a leste e sul, além do contato, na porção norte, com o bioma
Caatinga.
Possui inúmeras unidades de conservação integraisRES
ou não apresentadas na Figura 1.
ERVA DA BIOSFERA DA SERRA DO ESPINHAÇO
1ª REVISÃO PERIÓDICA (2005-2015)

FIGURA 24: RECORTE DA RBSE MOSTRANDO AS UNIDADES DE PLANEJAMENTO DISPONÍVEIS (NÃO CONSERVADAS) E AS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO CONSIDERADAS EM 2005.

Figura 1- a) delimitação da RBSE com demarcação de áreas de proteção integral – parques federais, 110
estaduais e municipais. b) unidades de conservação criadas antes e pós 2005. Retirado de: Andrade et al.
2015

Método

O levantamento dos dados sobre os focos de calor foram obtidos pelo site do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) pelo monitoramento por meio de imagens do satélite de
referência AQUA_M-T, sensor MODIS, disponibilizados em banco de dados disponível no sítio do
instituto. O trabalho analisou todos os dias dos anos 2000 e 2010 e de Janeiro a Julho de 2017.
O processamento dos dados foi realizado pelo software QGIS, a partir dos mapas de focos
de calor em formato vetorial (shapefile), disponibilizados pelo banco de dados do INPE, dos quais
foi feita a seleção da região de interesse tendo por base limites disponibilizados em imagem
vetorial, escala 1:100.000, extraídas do banco de dados do Instituto Pristino (INSTITUTO
PRISTINO, 2017). Após compilação dos dados vetoriais adquiridos, os mesmos foram sobrepostos
à área de estudo, para iniciar o processo de interpretação das informações e geração dos produtos
derivados. Realizou-se a categorização da incidência dos focos de calor registrados por todos os

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

satélites que possuem sensores óticos operando na faixa termal-média de 4 μm recebidos pelo INPE
o que possibilitou os mapas subsequentes para os anos em análise (INPE, 2017).
A densidade de ocorrência de focos de calor foi calculada por meio do estimador de Kernel
que estima uma vizinhança circular ao redor de cada ponto amostral, correspondendo ao raio de
influência, e então aplica uma função matemática de 1 a 0 na posição do ponto, na fronteira da
vizinhança (SOUZA et al., 2013). Neste sentido foram utilizados neste trabalho cinco níveis de
classificação dos focos de calor: muito baixa, baixa, média, alta e muito alta, com raio de 2000 m e
pixel de 100 m.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A avaliação da distribuição dos focos de calor na RBSE permitiu a visualização da dispersão


e concentração do risco de queimadas em regiões que a compõem, levando a percepção da
distribuição dos riscos ao longo dos anos, corroborando com os registros de incêndios florestais
para as áreas com alta e muita alta presença de focos de calor.
No ano de 2000 (Figura 2), observou-se menor intensidade dos focos na região sul (Porção
Quadrilátero Ferrífero) caracterizados pela classe baixa e muito baixa, exceto na região sudoeste da
Porção Quadrilátero Ferrífero (imediações de Congonhas do Campo). Incidências mais
significativas – classes muito alta e alta - ocorrem na região Nordeste da porção Espinhaço, nas
proximidades do Serro, Conceição do Mato Dentro e em área do Parque Estadual do Itambé (Figura
1a), além de focos também pertencentes a estas classes a norte de Diamantina, em área do Parque
Nacional Sempre Vivas (Figura 1a) e a noroeste – imediações do Parque Estadual Serra do Cabral.
Neste sentido, pode-se afirmar a ocorrência de focos de calor expressivos em Áreas de Relevante
Interesse Ecológico, Áreas de Proteção Ambiental e Parques Nacionais, cujas áreas caracterizam-se
por terreno acidentado com exposições de solo e rocha e estradas que moldam a direção e
propagação dos incêndios florestais.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 589


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 - Densidade de focos de calor referente ao ano de 2000 para a RBSE.

Em 2010 (Figura 3) a densidade de focos ocorre de forma mais acentuada, com significativa
incidência de classe alta e muito alta na parte central e sul da porção Espinhaço - abrangendo área
do Parque Nacional da Serra do Cipó (Figura 1a) e noroeste, em área do Parque Estadual Serra do
Cabral e adjacências, ambas na Porção Espinhaço. No relatório Reserva da Biosfera da Serra do
Espinhaço - 1ª Revisão Periódica (2005-2015) de Andrade et al. (2015), dados de focos de calor
obtidos entre os 10 anos confirmam a sensibilidade quanto aos focos quando comparado às áreas
observadas neste estudo (Figura 4).
Segundo dados do IBAMA (2007), nessa região foi observado um aumento crescente de
áreas queimadas entre 1990 e 2000, sendo este último ano muito mais expressivo em termos
proporcionais que os anteriores. Neste mesmo sentido, o relatório de Andrade et al (2015) também
aponta para o aumento do número de áreas de calor e de queimadas quando compara uma média
histórica dos anos de 2009 a 2013 e o ano de 2014. Assim, como observado nos dados obtidos neste
trabalho, os focos de calor encontrados foram consideravelmente superiores demonstrando que a
ferramenta pode indicar alertas para possíveis ocorrências de incêndios florestais.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 590


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESERVA DA BIOSFERA DA SERRA DO ESPINHAÇO


1ª REVISÃO PERIÓDICA (2005-2015)

Desmatamento Estradas Lavras

RESERVA DA BIOSFERA DA SERRA DO ESPINHAÇO


Figura 3 - Densidade
1ª REVISde
ÃO focos de calor
PERIÓDICA referente ao ano de 2010 para a RBSE.
(2005-2015)

Desmatamento Estradas Lavras

Focos de calor Taxa crescimento população População

FIGURA 28: CONJUNTO DE VARIÁVEIS UTILIZADAS COMO CUSTO DE CONSERVAÇÃO POSITIVO POR CONTRIBU
Figura 4 - Variável focos de calor utilizada para análise do ESFORÇO
esforçoQUE
a DEVE
ser empreendido paraPROMOVER
SER EMPREENDIDO PARA promover a
A CONSERVAÇÃO DA REGIÃO DA
conservação da região da RBSE. Modificado de Andrade et al. 2015.

As análises realizadas para o primeiro semestre de 2017 (Figura 5) indicam variações bem
discriminadas na distribuição espacial dos focos, abrangendo o noroeste, região central e sul da
RBSE, havendo, em todas elas, áreas de campos rupestres. Pela figura 4 pode-se observar um
aumento significativo em termos de distribuição areal e intensidade da densidade dos focos para a
área da RBSE, parâmetros que servem de alerta para o monitoramento quanto aos riscos de
incêndios. Focos de calor Taxa crescimento população População

FIGURA 28: CONJUNTO DE VARIÁVEIS UTILIZADAS COMO CUSTO DE CONSERVAÇÃO POSITIVO POR CONTRIBUIREM PARA AUMENTAR O
ESFORÇO QUE DEVE SER EMPREENDIDO PARA PROMOVER A CONSERVAÇÃO DA REGIÃO DA RBSE.

ISBN: 978-85-68066-55-3 117 Página 591


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A maior parte dos incêndios que ocorre na RBSE se deve a queima dos campos para
promover rebrota de gramíneas, prática popular utilizada para renovação das pastagens. Um
exemplo é a área que compreende o Parque Nacional da Serra do Cipó (Figura 1a), que para o mapa
de 2017 apresenta classe média referente a densidade de foco de calor (Figura 5). Ribeiro (2007)
afirma que tal área limita o parque na forma de uma linhas de cumeada de serra, e o acesso ao
parque requer horas de caminhada, o que torna a fiscalização e o combate ao incêndio bastante
dificultado.

Figura 5 - Densidade de focos de calor referente aos meses de Janeiro a Julho de 2017 para a RBSE.

A forte pressão do fogo, principalmente vinculado à época da seca do presente ano podem
indicar grandes incêndios, mais intensos e prolongados. Segundo o INPE (2017) 79.167 focos de
queima foram contabilizados em todo o território até o momento. No que concerne à RBSE os focos
de calor em áreas de Campos Rupestres são preocupantes, uma vez que compreendem
fitofisionomias com alto grau de endemismo e riqueza de espécies onde existem interesses
minerários, crescimento urbano e que sofre com incêndios florestais nos altiplanos da Reserva da
Biosfera.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 592


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os resultados deste estudo apresentam um aumento de focos de calor - classes alta e muito
alta - para a RBSE pela comparação dos dados de 2000, 2010 e 2017. Observou-se que a
ocorrência de incêndios com base nos focos de calor estão intimamente relacionados. Dados da
literatura afirmam que índices muito altos de focos de calor, associam-se diretamente às pressões
antrópicas, características da vegetação e do terreno. Ao longo dos anos foi notória a variação
espacial da incidência e dimensão dos focos nas regiões, com ocorrências reincidentes na porção
noroeste e norte da RBSE.
A estimativa realizada pela função de Kernel apresentou a capacidade de predizer sobre a
distribuição e intensidade dos focos permitindo conclusões sobre a espacialidade das áreas
susceptibilidade, representando uma ferramenta com grande aplicabilidade no monitoramento e
intepretação das causas dos incêndios na Serra do Espinhaço.
Ao avaliar o uso do sistema de informações geográficas e sua aplicabilidade em uma
questão preocupante na conservação dos recursos naturais, entende-se que é imprescindível a
ampliação desses estudos entre as relações dos incêndios florestais e focos registrados, bem como a
utilização desses conhecimentos para o monitoramento, elaboração de mapas de risco e definição de
estratégias para a prevenção e amenização de impactos ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 595


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O USO DE GEOTECNOLOGIAS LIVRES NO MONITORAMENTO


DE ÁREAS PROTEGIDAS

Élida Thalita S. de CARVALHO


Mestranda do Curso de Geografia da UFRN
elidathalita@hotmail.com
Miquéias Rildo de S. SILVA
Bacharel em Geografia
Miqrildo@gmail.com
Sebastião Milton Pinheiro da SILVA
Professor de Geografia da UFRN
sebastiaomilton@gmail.com

RESUMO
As áreas protegidas são fundamentais na manutenção e equilíbrio ambiental principalmente das
áreas urbanas, onde o desmatamento e a poluição são impactos negativos recorrentes. O
desenvolvimento de estudos com a utilização de geotecnologias em áreas de preservação tem
contribuído significativamente para o monitoramento, caracterização e delimitação dos elementos
naturais e antrópicos. No sentido de tentar avaliar a as condições ambientais das duas Zonas de
Proteção Ambiental da cidade de Natal-RN, que são a ZPA 08 e a ZPA 09, estabelecidas pelo Plano
Diretor da cidade homônima. Este estudo que tem como objetivo avaliar o emprego de
geotecnologias baseadas em Free or Open Source Software – FOSS para garantir a preservação, a
melhoria e recuperação dos aspectos paisagísticos, históricos, arqueológicos e científicos das ZPAs.
Foram coletados e adotados dados secundários a partir da pesquisa bibliográfica, além de imagens
do satélite Sentinel 2, obtidas a partir Earth Explorer e para análise e representação os softwares
Google Earth Pro e o QGIS 2.1811. Os procedimentos metodológicos utilizados possibilitou
elaborar o mapa dos padrões de ocupação do solo da ZPA 08, na zona norte de Natal, de modo que
compreendemos melhor a forma que cada classe encontra-se distribuída espacialmente, e, da mesma
forma foi possível delimitar elementos da ZPA 09, mostrando como a utilização destes instrumentos
fornece subsídios para caracterizar, mapear e monitorar os espaços protegidos, que são
fundamentais para manter a qualidade de vida da população em áreas urbanas.
Palavras-chave: Áreas protegidas, Geotecnologias livres, Zonas de Proteção Ambiental.
ABSTRACT
Protected areas are fundamental for maintaining and balancing the environment, especially in urban
areas, where deforestation and pollution are recurring negative impacts. The development of studies
using geotechnologies in preservation areas has contributed significantly to the monitoring,
characterization and delimitation of natural and anthropic elements. In order to try to evaluate
environmental conditions of two Environmental Protection Zones (ZPA) of the city of Natal-RN,
which are ZPA 08 and ZPA 09, established by the Land-use Planning of this city. This study aims
to evaluate the use of geotechnologies based on Free or Open Source Software (FOSS) to ensure the
preservation, improvement and recovery of the landscape, historical, archaeological and scientific
aspects of ZPAs. Secondary datas were collected and adopted from the bibliographic research, as
well as images of the Sentinel 2 satellite. They were obtained from Earth Explorer. For analysis and
representation, Google Earth Pro software and QGIS 2.1811 were used. The methodological
procedures used to elaborate the map of soil occupancy patterns of ZPA 08, in the northern zone of
Natal, so that we better understand the way each class is spatially distributed, and, in the same way,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

it was possible to delimit elements of the ZPA 09, showing how the use of these instruments
provides subsidies to characterize, map and monitor the protected spaces, which are fundamental to
maintain the population's life quality in urban areas.
Keywords: Protected Areas, Free Geotechnology, Environmental Protection Areas.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais as áreas verdes são fundamentais na manutenção e equilíbrio ambiental.
Desta forma existe uma preocupação em relação à expansão urbana das cidades que cada vez mais
tem suprimido estas áreas para abrigar edificações que ocupam grandes espaços, comprometendo as
características e condições naturais do local onde se instalam, sem esquecer, conforme Paviani
(1996), que a população permeia e impulsiona todo o processo, com graus variados de impactos
sobre as cidades, dependendo do contexto geográfico e das formas que assume o próprio processo
de produção e de consumo. DeFries et al. (2010), utilizaram imagens de satélite de 2000 e 2005 e
técnicas de regressão linear, para mostrar que a perda de florestas nos trópicos está positivamente
correlacionada com o crescimento da população urbana e às demandas internacionais por produtos
agrícolas no período de tempo considerado.
O desenvolvimento de pesquisas de monitoramento e gestão de áreas protegidas para tentar
propor soluções que equalizem, minimizem ou previnam estes fatos são fundamentais para garantir
uma utilização de forma mais racional e assim evitar a redução da cobertura vegetal. Nesse sentido,
Brasil (2006) destaca a importância das ações relacionadas à avaliação e ao monitoramento das
áreas protegidas, bem como à gestão, ao monitoramento e à avaliação do PNAP.
As áreas protegidas possuem denominações e legislações diferentes segundo sua
importância e local no qual elas estão inseridas. Compreende-se que, independente destes fatores
essas localidades possuem importância para o bem comum e para o equilíbrio do meio ambiente,
podendo citar como exemplo as Unidades de Conservação (UCs) e as Zonas de Proteção Ambiental
(ZPAs).
O progresso tecnológico tem permitido avaliar diversas alterações que incidiram e incidem
nas áreas verdes com base em geotecnologias. O alto grau de interação espacial dos dados
geográficos pode ser mais bem discutido utilizando geotecnologias, visto que o conjunto de
instrumentos empregados, como imagens de satélites e sistemas de informações geográficas
possibilitam uma melhor representação, combinação e visualização dos dados espaciais adquiridos
sobre o objeto de analise.
Sobre este aspecto Souza; Falcão; Costa (2017) afirmam que: ―o avanço da tecnologia
espacial coloca à disposição satélites com sensores imageadores da superfície da Terra, que
permitem a obtenção de imagens em faixas espectrais distintas e com características espaciais e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

temporais apropriadas para o estudo do uso do solo, contribuindo assim para a gestão eficiente e
racional do espaço geográfico.‖.
Os diferentes tipos de Sistemas de Informação Geográfica (SIG‘s) contribuem para auxiliar
no planejamento de áreas urbanas e ambientais abrindo assim novos horizontes para a cartografia e
as mais diversas formas de representação. Rosa (2005, p. 81) afirma que ―as geotecnologias são o
conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência
geográfica‖. Souza Filho e Crósta (2003) complementam ainda afirmando que as geotecnologias
englobam o conjunto de ciências e tecnologias relacionadas à aquisição, ao armazenamento em
bancos de dados, processamento e desenvolvimento de aplicações, utilizando informações
georreferenciadas.
A literatura mostra que as geotecnologias estão associadas aos mais diversos tipos de
mercado, áreas de conhecimentos, e têm sido cada vez mais disseminadas entre profissionais como
uma ferramenta técnico-cientifica, com amplo acesso a softwares livres, que tem permitido a
acessibilidade a uma variada gama de usuários. São inúmeros os exemplos e estudos de caso, dentre
outros, pode-se citar, Almeida e Silva (2016).
Neste contexto, observam-se diversas aplicabilidades ao planejamento e a gestão de áreas
protegidas, principalmente devido à facilidade em reconhecer esses locais por imagens de satélite.
Luppi et al (2013) ressalta que ―as metodologias que utilizam a geotecnologia como ferramenta
principal vêm se destacando, sendo a alternativa mais viável para se reduzir significativamente o
tempo gasto com o mapeamento das áreas a serem protegidas, e, por consequência, agilizar o
período hábil de fiscalização no cumprimento das leis pertinentes‖. Sucintamente, percebe-se que as
geotecnologias contribuem significativamente para a abordagem do monitoramento, pois permite a
espacialização dos dados e a visualização de suas relações espaciais.
Diante do exposto, o presente trabalho propõe analisar e apresentar os resultados advindos
do emprego de geotecnologias de livre acesso ou Free Open Source Softwares –FOSS, nos estudos
de áreas protegidas, tomando como estudo de caso as Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) 8 e 9 do
município de Natal-RN, identificando dimensões, delimitação e as ocupações no seu entorno com
emprego de Sistemas de Informação Geográfica (SIG‘s), observando a aplicabilidade desses
sistemas.
Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, utilizamos uma metodologia divida em
três fases: a coletada de dados, o processamento destes dados e a elaboração de produtos
cartográficos. Na fase inicial do trabalho, foram feitas pesquisas bibliográficas sobre os temas
abordados e pesquisa documental das áreas analisadas junto aos órgãos competentes. Ainda nessa
etapa, realizou-se a pesquisa e a obtenção de dados espaciais e produtos de sensoriamento remoto.
A segunda fase do trabalho refere-se ao armazenamento e processamento dos dados adquiridos na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fase anterior. Através da utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG) foi montado um
banco de dados geográficos, onde foi realizado o processamento destes dados utilizando técnicas de
geoprocessamento, tais como processamento digital de imagens para corrigir erros e melhorar as
imagens, no que diz respeito à visualização e a vetorização, para definir limites na área de estudo.
Por fim, a última fase do trabalho consistiu na elaboração de produtos cartográficos da área de
estudo. Ainda com o auxílio do SIG, foi possível criar diversos mapas com a indicação dos
resultados da pesquisa.

ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 08 E 09

A cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte possui quatro regiões
administrativas que são as Regiões Administrativas Norte, Sul, Leste e Oeste, que juntas possuem
36 bairros e 803.739 habitantes que residem na área urbana segundo dados do Instituto Brasileiro
Geografia e Estatística (IBGE).
Esta capital possui uma diversidade de ecossistemas como lagoas, praias, rios e dunas,
presentes dentro e no entorno da área urbana, com um alto grau de concentração populacional, o
que contribui para ocupação urbana em áreas impróprias. Nesse sentido, se faz necessário a adoção
de medidas preventivas que minimizem ou equalizem a apropriação desses espaços. Sendo assim a
prefeitura de Natal instituiu o zoneamento ambiental do município como um procedimento que visa
à preservação, melhoria e recuperação dos aspectos paisagísticos, históricos, arqueológicos e
científicos (SEMURB, 2013). Por meio deste zoneamento foram criadas 10 Zonas de Proteção
Ambiental definidas pelo Plano Diretor, são elas:

 Zona de Proteção Ambiental 01 do Sun Valle;


 Zona de Proteção Ambiental 02 do Parque das Dunas;
 Zona de Proteção Ambiental 03 do Rio Pitimbu;
 Zona de Proteção Ambiental 04 dos Guarapes;
 Zona de Proteção Ambiental 05 de Lagoinha;
 Zona de Proteção Ambiental 06 do Morro do Careca;
 Zona de Proteção Ambiental 07 do Forte dos Reis Magos;
 Zona de Proteção Ambiental 08 do estuário do Rio Potengi;
 Zona de Proteção Ambiental 09 do Rio Doce;
 Zona de proteção ambiental 10 de Mãe Luíza.

Os nossos objetos de estudo serão as Zonas de Proteção Ambiental 08 que é composta pelo
ecossistema de manguezal e estuário do Potengi/Jundiaí. Grande parte desta ZPA está localizada na
região administrativa norte, porém ocupa uma área também na parte oeste do município. E a Zona

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de Proteção Ambiental 09 que corresponde ao ecossistema de lagoas e dunas ao longo do rio Doce.
Esta se encontra somente na região administrativa norte. A Figura 1 representa a localização de
ambas as ZPA‘s em Natal.

Figura 1: Localização das Zonas de Proteção 08 e 09

A ZPA 08 tem grande importância para o meio ambiente assim como para o fator
socioeconômico do município. Durante o período que compreende da década de 1970 a 1980, em
Natal, estiveram presentes as atividades salineiras e de piscicultura, ocorrendo e inseridas nas
proximidades do mangue, cuja área faz hoje parte da ZPA 08. A Figura 2 apresenta os vestígios dos
tanques utilizados para estas atividades econômicas e que nos dias atuais estão ocupadas pela
vegetação do manguezal. Nos dias atuais a atividade econômica que está presente nesta ZPA 08 é a
carcinicultura, aonde se observa ainda uma ocupação urbana avançando sobre esta área protegida.

Figura 2: Vestígios de Tanque de Piscicultura

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A ZPA 09 se constitui em um ecossistema de lagoas e dunas ao longo do Rio Doce, fazendo


limite com o município de Extremoz e abrangendo os seguintes bairros de Natal: Lagoa Azul,
Pajuçara e Redinha. Esse ecossistema possui valores de potencial paisagísticos e turísticos,
compreendendo o sistema de dunas e lagoas associado ao vale do rio Doce, sendo importante ainda
na função de perenização do rio e de recarga dos aquíferos. Este complexo é utilizado em grande
parte para atividades agrícolas (SEMURB, 2013).
No ano de 2012 uma reportagem publicada no caderno de cidades do Novo Jornal retratou
sobre uma operação de reintegração de uma área que foi ocupada irregularmente no bairro Lagoa
Azul que integrava a ZPA 09 e tinha toda sua extensão sob a zona proteção ambiental, sendo
vedada qualquer intervenção humana. Esta área tinha aproximadamente 240 ha de terras e o cenário
apresentava uma intensa degradação. Atualmente neste local ainda é perceptível à intensa ocupação
de casas.

GEOTECNOLOGIAS E ÁREAS PROTEGIDAS

O uso dos mapas para transmitir conhecimentos sobre distintas regiões não é algo da
sociedade moderna, ao contrário, pode ser encarada como um dos meios mais tradicionais de
comunicação inter-humana. Com o passar dos anos, as formas de elaborar mapas foram
aperfeiçoadas, principalmente com o surgimento das técnicas de sensoriamento remoto na década
de 1960 (MATIAS, 1996). Nos últimos anos presenciou-se o grande avanço no que diz respeito à
distribuição de dados espaciais e softwares livres, o que tem contribuído bastante o
desenvolvimento de pesquisas ambientais. Dentre estes novos instrumentos, destacaremos o
Sistema de Informação Geográfica (SIG) Quantum GIS (QGIS), o Google Earth Pro e os produtos
de sensoriamento remoto disponibilizados na página do Earth Explorer, do Serviço Geológico dos
Estados Unidos (USGS – United States Geological Survey).
O Earth Explorer é um dos sites administrados pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos
(USGS – United States Geological Survey) onde é possível obter diversos produtos de
sensoriamento de domínio público. Para ter acesso aos dados disponíveis na página, é preciso fazer
um registro. Um dos dados disponíveis no site do Earth Explorer são as imagens do satélite
Sentinel 2, desenvolvido pela Agência Espacial Européia (ESA - European Space Agency). As
imagens deste satélite possuem 11 bandas espectrais, onde a resolução espacial na região visível do
espectro é de 10 metros. Além disso, a missão Sentinel 2 possui uma alta resolução temporal, com
revisita a cada 5 dias. A combinação da boa resolução espacial com a alta resolução temporal,
aliadas à distribuição gratuita das imagens fazem do Sentinel 2 uma excelente ferramenta para
monitoramento ambiental, principalmente no quis diz respeito a áreas protegidas, tendo em vista
que estas áreas ainda sofrem constantes agressões pelas ações do homem.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O QGIS é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) de Código Aberto de instalação


prática e que o usuário encontra facilmente na internet, assim como também encontra manuais que
ajudam a utilizar as ferramentas disponíveis no programa. Trata-se de um programa
multiplataforma de sistema de georreferenciamento, que permite várias funcionalidades em
constante desenvolvimento por meio de funções nativas e da instalação de complementos. Fornece a
visualização, a edição e a analise de dados georreferenciados, e cujas funcionalidades permitem que
o usuário crie mapas utilizando diversas projeções, diferentes formatos para distintas funções,
operando com camadas raster e/ou vetoriais, armazenando dados por meio de pontos, linhas e/ou
polígonos (LAPIG). Para demonstrar a aplicabilidade desta ferramenta nos estudos de áreas
protegidas, fizemos a classificação de uma imagem do satélite Sentinel 2 do dia 25 de maio de
2017, mostrando os padrões de ocupação na ZPA 08, na parcela que se encontra na zona norte de
Natal (Figura 3).

Figura 3: Classificação dos padrões de ocupação da ZPA 08 na zona norte de Natal/RN.

Pode-se observar na imagem classificada que a classe ―vegetação‖ é predominante na ZPA


08, representada principalmente pela vegetação de mangue. Na região norte da ZPA 08, a classe
―urbano‖ ocupa uma área considerável. Esta área nos últimos anos tem sido alvo do mercado
imobiliário, com a inserção de condomínios verticais, fato este que tem contribuído para o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

crescimento da ocupação urbana na área. A classe água é representada no interior da zona de


proteção pelo Rio Jaguaribe, afluente do Rio Potengi e pelos tanques de carcinicultura. Esta
atividade é responsável por suprimir boa parte da vegetação do mangue, ocasionando problemas
como o assoreamento do rio e risco a biodiversidade do habitat do mangue. Como se pode observar
na Figura 3, próximos aos tanques nota-se várias áreas representadas pela classe ―solo exposto‖.
Dessa forma, o QGIS, assim como outros SIG‘s, se mostram ferramentas relevantes e
imprescindíveis nos dias de hoje no que concerne à utilização de banco de dados geográficos, a
criação, gestão e monitoramento de áreas protegidas, dando aportes à tomada de decisões,
permitindo ainda aos seus usuários uma visão holística da área em questão.
O Google Earth Pro é uma ferramenta fornecida pelo Google que permite aos seus usuários
realizar diversas atividades, tais como calcular distâncias e áreas, visualizar, manipular exportar
dados de outros SIG‘s, visualizar imagens históricas, dentre outras funções. Sua versão Pro passou a
ser recentemente gratuita, trazendo consigo funções que não existiam em versões anteriores, como
por exemplo, a importação de shapefiles, formato de dados espaciais bastante utilizados por
usuários de SIG. O uso desta ferramenta no monitoramento de áreas protegidas se mostra muito
proveitoso, tendo em vista que as imagens fornecidas pelo mesmo são de ótima qualidade e
relativamente atuais. Além disso, seu fácil manuseio permite que qualquer pessoa com uma breve
apresentação do programa, consiga utilizá-lo. Com o uso deste programa, foi possível vetorizar
elementos que se encontram no interior da ZPA 09 (Figura 4).

Figura 4: Vetorização de lagoas na ZPA 09.

O desenvolvimento e a disseminação das geotecnologias livres têm sido essenciais não


apenas para pesquisadores e gestores, pois o fácil acesso a essas ferramentas possibilita seu uso em
vários setores da sociedade, como por exemplo, a utilização nas escolas, em atividades de educação
ambiental, geografia, biologia, dentre outros. A possibilidade de abordar sobre vários temas em uma
mesma plataforma, mostra a importância das geotecnologias nos estudos multidisciplinares.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONCLUSÕES

Compreender a situação ambiental de áreas preservadas, assim como visualizar as


ocupações no seu entorno e monitorar esses espaços são primordiais para auxiliar nas tomadas de
decisões, no que se refere ao uso do solo, auxiliando em ações planejadas que possibilitem a
sustentabilidade do meio urbano. Neste estudo utilizaram-se como estudo de caso duas importantes
zonas de proteção que estão localizadas na zona norte de Natal, um município considerado 100%
urbano.
As técnicas e os procedimentos metodológicos utilizados possibilitaram uma melhor
representação do espaço e um maior reconhecimento dos alvos. Há uma preocupação quanto à
ocupação do solo, uma vez que deve haver um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e
ambiental e estes necessitam preservar e conservar os elementos naturais, para contribuir na
qualidade de vida da população que ali reside.
Com a elaboração do mapa de ocupação do solo da ZPA 08, consegue-se entender melhor
de que forma cada classe está espacialmente distribuída. A área urbana apresenta uma ocupação
bastante significativa nas proximidades do mangue, o que se torna uma preocupação, pois o ato de
habitar em locais impróprios desprovidos de serviços essenciais de infraestrutura pode trazer
consequências diretas ao meio ambiente tais como poluição das águas e desmatamento.
Considera-se neste estudo a importância das geotecnologias na identificação das
transformações da ocupação do solo, seja em área urbana ou na área rural. Dentro deste contexto,
entende-se que as informações aqui viabilizadas são essenciais nos projetos de monitoramento dos
espaços, principalmente das áreas protegidas.
Esta possibilidade de mostrar a direção da mancha urbana pode auxiliar os gestores no
planejamento destas áreas, evitando assim que ocorram consequências como a de degradação do
meio ambiente e impacto negativo para a sociedade. Delimitar os elementos naturais pertencentes a
essas zonas de proteção por meio de imagens de satélite como foi realizado na ZPA 09 contribui
expressivamente para caracterizar, mapear e monitorar estes espaços protegidos que tanto
colaboram para a qualidade de vida.
Finalmente, o uso de geotecnologias no monitoramento de áreas protegidas se mostra
bastante pertinente, tendo em vista que a constante atualização de dados e softwares possibilita uma
analise constante dos recursos naturais, fornecendo informações que possibilitem a conservação e a
gestão dos mesmos. Estudos como este são importantes no que concernem às questões ambientais
de outras localidades, principalmente no contexto atual de expansão de áreas urbanas em todo o
mundo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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ATIVIDADES AO AR LIVRE E CONECTIVIDADE COM A NATUREZA NO JARDIM


BOTÂNICO BENJAMIN MARANHÃO – JOÃO PESSOA/PB

Gilivã Antonio FRIDRICH


Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPB
gilivan_fridrich@hotmail.com.
Ittalo Ornilo de LIMA
Graduado em Ciências Biológicas da UFPB
ittalo.bio@gmail.com
Luane Maria Melo AZEREDO
Mestre em Ciências Biológicas - Zoologia da UFPB
luaneazeredo@gmail.com
Luiz Carlos Serramo LOPEZ
Professor da UFPB, Doutor em Ecologia pela UFRJ
lcslopez@gmail.com

RESUMO
O Jardim Botânico Benjamim Maranhão está localizado no bairro da Torre da cidade de João
Pessoa no estado da Paraíba. O Jardim realiza atividades de trilhas interpretativas e recreativas
voltadas para o ensino de ecologia, botânica e Educação Ambiental. Essas atividades ajudam a
promover a preservação de um fragmento de Mata Atlântica dentro do perímetro do Refúgio de
Vida Silvestre Mata do ―Buraquinho‖. As atividades de trilha, lá realizadas possuem um valor
educativo importante e com retorno positivo para a natureza, por apresentarem à população
informações sobre a fauna e flora da Mata Atlântica. O presente estudo objetivou perceber o quanto
é potencializado o sentimento de Conexão com a Natureza por meio das trilhas do Jardim. Por meio
da aplicação da Escala de Conexão com a Natureza (ECN) foi realizado um levantamento com 92
visitantes espontâneos que frequentaram o Jardim Botânico para as atividades de trilha
interpretativas no período de Agosto a Outubro de 2016. Antes de entrar na trilha, os participantes
foram solicitados a responder um questionário contendo as perguntas da ECN. Depois da atividade
nas trilhas, os participantes responderam o questionário novamente. Os dados obtidos revelaram que
o score de conexão com a natureza dos participantes aumentou após o passeio nas trilhas (P<0,001).
A ECN possui uma consistência já validada e corroborou a hipótese de que as atividades de trilha
interpretativa existentes no Jardim Botânico promovem um aumento no sentimento de Conexão
com a Natureza do indivíduo.
Palavras-chave: Trilhas Interpretativas; Interação com a Natureza; Bem-estar.

ABSTRACT
The Botanical Garden Benjamin Maranhão is located in the neighborhood of Torre, in the City of
João Pessoa, state of Paraíba. The Garden executes intepretatives and recreational trails that aim
ecology teaching, botanic and environmental education. These activities help promote the
preservation of a fragment of Atlantic forest inside the perimeter of Wildlife Refuge Mata do
Buraquinho. The trail activities have an important educative value with a positive feedback to
nature, because they help promote information about local flora and fauna. The present study aimed
to identify how the feeling of Conectedness to Nature can be potentiated by the trails activities in
the Garden. We applicated the Conectedness to Nature Scale (CNE) to 92 spontaneous
participants,who frequented the Botanical Garden for the trails activities from August to October of

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2016. Before people get into trail, they were requested to respond a questionnaire about the CNE.
After the activity in trails, the participants responded the same questionnaire again. The obtained
data revealed that the CNE score of the participants increased after the activity in trails (p<0.001).
The CNE has a validated consistence and has corroborated the hypothesis that the trails activities in
that Botanical Garden promote an increase in the feeling of connectedness to nature in the
individuals.
Keywords: Interpretive Trails; Interaction with Nature; Well-being

INTRODUÇÃO

O Jardim Botânico Benjamim Maranhão (JBBM), localizado no bairro da Torre, na cidade


de João Pessoa-PB, realiza atividades de trilhas interpretativas e recreativas voltadas para o ensino
de ecologia, botânica e Educação Ambiental, por meio da sensibilização à respeito das questões
ambientais, visando a preservação da Mata Atlântica da região Nordeste do Brasil dentro do
perímetro do Refúgio de Vida Silvestre (RVS) - Mata do Buraquinho (OLIVEIRA; MELO, 2009).
A pesquisa em questão teve como objetivo, perceber o quanto é potencializado o sentimento
de Conexão com a Natureza por meio das trilhas do Jardim Botânico Benjamin Maranhão, assim
como constatar se a frequência com a qual os visitantes realizam atividades ao ar livre e o tempo de
exposição à natureza, influenciam com maior intensidade na melhoria desse sentimento. Segundo
Gadelha Neto (2004), as atividades de trilha no JBBM possuem um valor educativo importante e
com retorno positivo para a natureza, por apresentarem à população informações sobre a fauna e
flora da Mata Atlântica, que fomentam atitudes de preservação e que de outra forma só estariam
acessíveis com facilidade à comunidade cientifica.
Este trabalho se faz relevante por demonstrar que, essas atividades fortalecem também
fatores emocionais que são positivos e indispensáveis na construção de um pensamento ambiental
voltado para as questões de preservação. Conforme Bratman et al., (2015) nos remete que o contato
com ambientes naturais é benéfico ao ser humano mesmo em variadas durações, a característica das
atividades ao ar livre desenvolvidas no JBBM apresenta uma gama de possibilidades para os
visitantes estarem sensibilizados e emocionalmente conectados com o meio ambiente, para que
possam promover a valoração e preservação do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Buraquinho, que
é um marco natural para os moradores da cidade de João Pessoa, importante tanto para pesquisas de
cunho cientifico quanto para contemplação de seu espaço.
Nosso relacionamento com o meio ambiente enquanto espécie humana é prejudicado pela
falta de sensibilidade e ligação com os elementos naturais presentes à nossa volta. O
comportamento de proteção é alcançado quando deixamos de considerar a Terra como uma fonte
inesgotável de recursos, que nos pertence e passamos a entendê-la como uma comunidade à qual
pertencemos e que devemos tratar com amor, respeito e de forma sustentável (LEOPOLD, 1949),

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

destituindo-se de uma visão antropocêntrica, onde o meio ambiente e seus elementos são exclusivos
aos seres humanos (REIGOTA, 2012).
A preocupação com o ambiente em que vivemos possui um papel crítico em como pensamos
e nos comportamos. Os ambientes naturais estão associados com a exposição a estímulos que
provocam um tipo de fascinação suave e gentil que é emocionalmente positiva e cognitivamente
estimulante (ATCHLEY; STRAYER; ATCHLEY, 2012). Segundo Berman, Jonides e Kaplan
(2008), essa conexão promove no indivíduo não apenas melhorias no funcionamento cognitivo
como também no bem-estar geral24, memória e atenção. Esse tipo de ligação reflete, inclusive, nas
atitudes que uma pessoa desenvolve a respeito do meio ambiente, e se faz mais intrínseca de acordo
com a intensidade com a qual a mesma se sente parte da natureza (SCHULTZ et al., 2004).
Tais benefícios da exposição à natureza podem ser percebidos em uma gama de diferentes
tipos de contato. Seja por meio da observação de fotografias, vista diária da natureza pela janela, a
presença física em ambientes naturais, entre outros. Essa interação também é benéfica em durações
variadas de exposição; desde poucos minutos observando imagens, até longas horas por vários dias
de experiências na natureza ou contato cotidiano com espaços verdes. Essas diversidades sugerem
que o impacto psicológico das experiências de conexão do ser humano com a natureza é,
igualmente, abrangente e robusto (BRATMAN et al., 2015).
Explorar a relação ser humano/natureza enfatizando a importância da ligação que os une,
auxilia na contextualização desse elo. Segundo Nisbet, Zelenski e Murphy (2008) essa relação é
descrita em três pilares: O fator pessoal, onde há uma conexão interna de identificação com a
natureza, além de pensamentos e reflexões sobre ser uno com a mesma. O fator de perspectiva,
onde a natureza é o mundo externo, em volta. E o fator de experiência, que reflete a conexão física
com o mundo natural (ERNST; THEIMER, 2011).
A partir de tais afirmações compreendemos que a busca do ser humano pelo contato com o
ambiente natural retroalimenta o senso de proteção por aquele espaço, permitindo uma gama imensa
de possibilidades de atividades ao ar livre que exploram e potencializam essa sensação. Dentre
essas possibilidades estão as atividades em trilhas que, quando bem planejadas, produzem
experiências de contato com o meio ambiente que contribuem diretamente para a conservação
ambiental (OLIVEIRA; MELO, 2009) ao estimular a relação de unidade com a natureza, bem-estar,
felicidade e pensamentos pró ambientais (ZELENSKI; NISBET, 2014).
Embora a Interpretação Ambiental seja o elemento-chave das atividades no JBBM, onde o
roteiro da trilha tem por base apresentar ao visitante, significados e inter-relações da mata por meio
de demonstração e do contato direto com a mesma (OLIVEIRA; MELO, 2009), a Conexão com a

24
Nota do autor: Segundo Siqueira e Padovan (2008), tomando por base as proposições da psicologia positiva, bem
estar geral é o conjunto de fatores que influenciam beneficamente características pessoais positivas como, abertura,
autoestima, esperança, otimismo e inteligência emocional.

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Natureza desenvolvida espontaneamente com esse contato ocorre sutilmente e permeia essas
atividades, proporcionando a Sensibilidade Ambiental (ERNST; THEIMER, 2011).

CONEXÃO COM A NATUREZA

O termo Conexão com a Natureza foi proposto por Mayer e Frantz (2004) para descrever
esse sentimento de união com o mundo natural de uma forma afetiva, enfatizando, além da sensação
de intimidade, o quanto o indivíduo se sente responsável pela proteção do mesmo. No entanto,
segundo Schultz (2002), esse aspecto emocional consiste em apenas uma de três dimensões do que
ele titulou de Inclusão com a Natureza, onde é descrito que o sentimento de conexão com ambiente
é o pilar cognitivo, o comprometimento com o mesmo é o pilar comportamental e o cuidado com a
natureza é sustentado pela afetividade. É possível destacar então que, Schultz et al. (2004) define o
termo Conexão com a Natureza como a intensidade com a qual nos sentimos ligados a mesma de
uma perspectiva muito mais cognitiva que emocional.
Por impactar diretamente no comportamento humano, a Conexão com a Natureza vem sendo
pesquisada por meio de estratégias cada vez mais abrangentes, Pessoa et al. (2016) descreve que:
―Inicialmente, as pesquisas evidenciavam construtos como conhecimento, atitudes e preocupação
ambiental [...] entretanto, com o desenvolvimento da temática, conteúdos afetivos também
começaram a ser levados em consideração para explicar os comportamentos voltados para a
natureza e seus recursos ‖ p. 272
De tal forma, Mayer e Frantz (2004) explicam que é por meio desse tipo de contato que
ajustamos a nossa cultura à importância do meio ambiente e nos reconectamos com o mesmo.
Favorecendo assim, o desenvolvimento de um comportamento de proteção ambiental mais sensível
e integrado além de um maior interesse em aprender sobre o meio ambiente, preocupar-se e agir
para preservá-lo (FISHER, 2002).
Para mensurar a experiência de ligação com o mundo natural, de um ponto de vista
individual e afetivo, Mayer e Frantz (2004) desenvolveram a Escala de Conexão com a Natureza
(ECN), que se mostrou efetiva como uma ferramenta de pesquisa que auxilia empiricamente no
entendimento da extensão do quanto os fatores emocionais influenciam nas atitudes de um
indivíduo para com o meio ambiente. Em seu trabalho, os mesmos concluem que:

―Há um consenso crescente de que as pessoas no mundo ocidental precisam mudar o seu
comportamento de padrões de consumo de forma profunda a ponto de criar uma sociedade
sustentável. E enquanto intervenções que focam em problemas ambientais específicos
tenham se mostrado efetivas, está gradativamente se mostrando mais aparente que a
magnitude dos problemas ambientais que enfrentamos necessitam de uma intervenção mais
ampla com foco na mudança da nossa cultura de visão de mundo. A ECN é uma ferramenta
pra ativistas e pesquisadores para monitorar o quanto são efetivos na promoção dessas
mudanças.‖ p. 512

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Embora cada vez mais estudada e utilizando-se de uma variedade de medidas baseadas em
escalas de contexto cognitivo e testes de associação implícita (SCHULTZ et al., 2004) e
comportamentais (KAISER; WILSON, 2004), a Conexão com a Natureza não possuía ferramentas
adaptadas para o contexto brasileiro que pudessem ser identificadas e utilizadas. Por esse motivo,
Pessoa et al. (2016) realizou estudos que objetivaram reunir evidências de validade e precisão da
Connectedness to Nature Scale no Brasil, concluindo que a mesma se mostrou uma medida
psicometricamente adequada para servir como ferramenta avaliativa do fator geral de Conexão com
a Natureza e podendo assim, ser empregada nesse estudo.
São 14 itens atribuindo apenas uma pontuação de 1 a 5 que representava o grau de
concordância com cada item proposto sendo que, 1 - Discordo Totalmente. 2 - Discordo
Parcialmente. 3 – Neutro. 4 - Concordo Parcialmente. 5 - Concordo Totalmente. Para determinar o
conceito primário de que as trilhas no JBBM atuam como condicionantes da potencialização do
sentimento de Conexão com a Natureza, o score total na ECN dos participantes antes de realizar a
atividade foi comparado com a variável obtida após o passeio.

MATERIAL E MÉTODOS

O Campo da Pesquisa

O presente estudo foi desenvolvido com visitantes espontâneos25 que frequentaram o JBBM
para a realização das atividades de trilhas interpretativas disponíveis no local aos sábados no
período da manhã entre os meses de Agosto a Outubro de 2016.
O Jardim está localizado no Bairro da Torre, na cidade de João Pessoa-PB, entre as
coordenadas 07º06‘54‖ de Latitude Sul e 34º51‘47‖. O JBBM foi criado em 28 de agosto de 2000,
quando foi assinado o Decreto Estadual nº. 21.264, de criação e constituído o grupo de trabalho
para elaborar o planejamento de implantação do mesmo (SUDEMA, 2014). Contudo, apenas após
sua inauguração, em 23 de março de 2002, que as atividades de Educação Ambiental e lazer
contemplativo começaram a ser realizadas no espaço. O Jardim Botânico de João Pessoa também é
responsável pelo monitoramento de atividades que envolvam a pesquisa científica dentro da RVS
Mata do Buraquinho, onde está situado. Em 2004, o JBBM foi reconhecido como Posto Avançado
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, título renovado em 2013.
Esse local é considerado como uma das maiores área de floresta nativa urbana do país
(CARVALHO; ALMEIDA, 2001) a Mata do Buraquinho, onde se localiza o JBBM, compreende
um fragmento florestal de aproximadamente 519,75 hectares, que resguarda uma das maiores e

25
O contato da população com a mata é feito tanto por visitantes espontâneos, que visitam o Jardim Botânico sem
agendamento prévio e que buscam primordialmente o lazer contemplativo, quanto por grupos de estudantes agendados
previamente.

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mais representativas coleções in-situ de espécies vivas da flora e fauna nativa da Mata Atlântica do
Estado da Paraíba (SUDEMA, 2014).
O Jardim Botânico dispõe de trilhas para visitações que são resultado histórico do acesso aos
poços construídos no interior da mata no período de 1909 a 1912 para o abastecimento de água da
cidade. Atualmente há 12 trilhas em funcionamento que se interligam e compõem diferentes trajetos
para uso nas atividades ao ar livre. Tais trilhas levam o visitante a conhecer as espécies da flora e
fauna do local e aprender sobre as mesmas.
As trilhas utilizadas no JBBM possuem placas indicativas e composições específicas que
dão heterogeneidade às variações de incursões à mata, permitindo uma boa amplitude de tempo de
contato com a natureza de acordo com a escolha do caminho a ser percorrido. Além disso, possuem
diferentes níveis de dificuldade e esforço requerido para a atividade e, vale salientar, algumas
possuem ótimas condições de acessibilidade para pessoas de todas as faixas etárias, com dificuldade
de locomoção ou cadeirantes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Todos os visitantes foram abordados e solicitados a participar voluntariamente da pesquisa


anônima onde preencheram um formulário com questionamentos sobre a frequência com que
visitavam o Jardim e se costumavam realizar atividades em espaços naturais. Além disso, foi
respondida a Escala de Conexão com a Natureza (ECN) antes e após as atividades nas trilhas.

ANÁLISE DOS DADOS

O score de conexão com a natureza foi obtido através da média dos 14 itens da escala. Para
proceder com essa análise, foi necessário inicialmente que se invertessem as pontuações de três
itens que denotavam ideia contrária aos outros que compunham a escala (itens 4 [Frequentemente
me sinto desconectado da natureza], 12 [Quando penso sobre meu lugar na Terra, me considero no
topo da hierarquia que existe na natureza], e 14 [Meu bem-estar pessoal independe do bem-estar da
natureza]). Os scores foram calculados e classificados como antes da caminhada (pré teste) e depois
da caminhada (pós teste). A comparação entre esses scores foi realizada através de um teste-t
pareado. A análise foi feita no programa estatístico R (versão 3.4). O nível de significância adotado
baseou-se no intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra total desse estudo foi composta por 92 indivíduos, dos quais 54 atestaram estar
visitando o Jardim Botânico pela primeira vez, 27 pela segunda vez, e 11 por três ou mais vezes
para a atividade de trilhas interpretativas. Quando questionados se costumavam participar de

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atividades na natureza em espaços naturais, 54 responderam positivamente, 9 desses participantes


afirmaram realizar essas práticas diariamente, 19 semanalmente e 26 declararam fazê-las ao menos
uma vez por mês.
No pré teste o resultado alcançado totalizou uma média de 4,24 ± 0,41pontos. Já no pós
teste, o valor da média elevou-se para 4,49 ± 0,42. O teste-t pareado revelou que a diferença entre as
médias foi altamente significativa (p<0,01), evidenciando assim, que houve um aumento da
conexão com a natureza, após a caminhada nas trilhas (Figura 1).
A Escala de Conexão com a Natureza possui uma consistência interna satisfatória e
correlaciona-se positivamente com o comportamento ecológico, satisfação com a vida e perspectiva
ambiental do indivíduo estudado (PESSOA et al., 2016), funcionando como uma ferramenta
importante que garante a precisão dos dados desejados e conduz a um produto matemático, que por
sua vez assegura poucas chances de distorções e reforça as possibilidades de uma análise
quantitativa mais precisa dos resultados. Mayer e Frantz (2004) demonstram que a ECN também
possui um alto grau confiabilidade se aplicada em modelo de pré teste/pós teste, método utilizado
nessa pesquisa.

FIGURA 1: Médias dos score da Escala de Conexão com a Natureza antes da trilha (pré-teste) e depois da
trilha (pós-teste) para os visitantes do Jardim Botânico Benjamim Maranhão, João Pessoa –PB, de agosto a
outubro de 2016.

Pela logística de funcionamento do próprio JBBM as incursões à mata ocorrem sempre com
o acompanhamento de um guia, e com diferentes extensões de tempo a serem escolhidas pelos
visitantes. Enquanto a maioria dos passeios dura em média 1 hora e 20 minutos, fica a critério dos
visitantes solicitar sua participação em caminhadas de até 3 horas e meia. Entretanto, nenhuma

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trilha com essa extensão foi realizada nos dias em que ocorreu a pesquisa. Os percursos mais longos
realizados nesse período duraram uma média de 2 horas.
A ECN se mostrou efetiva em sua já validada consistência e corroborou a hipótese de que as
atividades de trilha interpretativa existentes no Jardim Botânico promovem um aumento no
sentimento de Conexão com a Natureza do indivíduo. Assim como atestou que o contato constante
com ambientes naturais promove essa potencialização com eficiência recorrente, além do fato dessa
melhoria ser ainda mais significativa de acordo com o tempo de duração desse contato.
Segundo Oliveira e Nishida (2011), o Jardim contempla em seus passeios, além das
características ambientais, valores culturais e históricos, que possuem um grande potencial para os
diferentes tipos de visitantes do local. E uma vez que esses programas interpretativos estão sempre
em aprimoramento na área para adaptar-se ao seu público variado, perceber e considerar a
importância da RVS Mata do Buraquinho como condicionante do afeto pela própria mata e somar
esses valores afetivos aos passeios desencadeará uma efetividade ainda maior na sensibilização
ambiental da população, que é um dos focos da instituição, tornando assim as atividades ao ar livre
ainda mais eficientes e prazerosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados nesse estudo nos permitiram perceber a importância das atividades
ao ar livre como cerne da Conexão com a Natureza, que por várias pesquisas já se comprovou
altamente benéfica como precursora de comportamentos pró ambientais, satisfação com a vida,
autoafirmação como parte do mundo natural, entre outros fatores.
Como instituição de pesquisa ligada também ao ensino de botânica, o JBBM expande seus
horizontes ao incorporar a ligação emocional com a mata em seus passeios, podendo utilizar-se
desse atributo natural como viabilizador de novas bases de dados em seus estudos e contribuir ainda
mais para a população que o frequenta.
Por esse motivo, ainda assim, novas investigações se fazem necessárias para obtenção de
dados ainda mais consistentes e comparações mais amplas nesse espaço, além de diferentes
abordagens e correlações com outras escalas com as quais a ECN já se mostrou compatível em
estudos prévios, tornando-se possível toda uma gama de novos resultados em torno de um mesmo
objeto de estudo: A Conexão com a Natureza.
Assim como o caráter educativo e interpretativo dos passeios na mata promove uma relação
de sensibilidade e afeto com a natureza que se reflete em uma melhor preocupação quanto ao
cuidado e a preservação do meio ambiente. É através dos passeios no interior da mata que os
visitantes ouvem, observam, e se conectam com os elementos da natureza, agregando
conhecimentos sobre a mesma numa experiência coerente, prazerosa e educativa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 616


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE UNIDADE DE


CONSERVAÇÃO FEDERAL NA AMAZÔNIA: O CASO DA FLORESTA NACIONAL
DO TAPIRAPÉ - AQUIRI

Glenda Rafaela de Sousa QUIRINO


Engenheira Ambiental | FUNDEP -ICMBio
glenda.rafaela@hotmail.com
André Luís Macedo VIEIRA
Engenheiro Florestal | ICMBio
andre.macedo@icmbio.gov.br
Sinara da Silva ALBUQUERQUE
Engenheira Agrônoma | FUNTEC – ICMBio
Sinara_maraba@hotmail.com

RESUMO
A Floresta Nacional do Tapirapé - Aquiri – FLONATA é uma unidade de conservação da natureza
do grupo de uso sustentável, criada pelo decreto federal nº 97.720 de 05 de maio de 1989. Localiza -
se no sudeste do estado do Pará, possuindo área de 196.503,94 hectares, com abrangência nos
municípios de São Félix do Xingu e Marabá, tendo como órgão gestor o instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade – ICMBio, que realiza diversos projetos junto às comunidades do
entorno da UC e nos municípios aos quais a mesma encontra – se inserida, objetivando diminuir a
pressão sofrida pela unidade com atos ilícitos, ao estimular um sentimento de pertencimento aos
recursos naturais ali presentes, além de inserir o contexto da sustentabilidade no dia a dia das
comunidades locais. Entre os programas em andamento está o de educação ambiental, por meio do
qual o ICMBio promove a aproximação da comunidade regional com a unidade. Tal programa é
vinculado ao projeto do voluntariado, que capacita interessados a atuarem entre outras, na
realização de visitas guiadas ao interior das unidades do mosaico Carajás, do qual a FLONATA faz
parte. Nele, praticas educativas pautadas na educação ambiental crítica, despertam o interesse dos
envolvidos para a causa ambiental com um olhar mais analítico. O público alvo momentaneamente
é a sociedade de Marabá, por meio de grupos organizados como escolas, igrejas, organizações não
governamentais, universidades, entre outros. Iniciado em 2016, o programa tem ampliado ações e
alcançado cada vez um número maior de usuários. O presente artigo se propõe a compartilhar a
prática bem-sucedida na unidade, de forma a incentivar iniciativas similares em outras regiões do
país.
Palavas Chave: Conscientização; Pertencimento; Sustentabilidade; Envolvimento.
ABSTRACT
The National Forest of Tapirapé-Aquiri - FLONATA is a conservation unit of the nature of the
sustainable use group, created by federal decree n° 97.720 of May 05, 1989. It is located in the
southeastern state of Pará, with an area of 196,503.94 hectares, covering the municipalities of São
Félix do Xingu and Marabá. Its management body is the Chico Mendes Institute for Biodiversity
Conservation - ICMBio, which carries out several projects together to the communities around the
CU and in the municipalities to which it is inserted, aiming to reduce the pressure suffered by the
unit with unlawful acts by stimulating a sense of belonging to those present natural resources, and
insert the context of sustainability in everyday life of local communities. Among the programs
underway is environmental education, through which ICMBio promotes the approximation of the

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

regional community to unity. This program is linked to the volunteer project, which enables
interested parties to act among others, in the conduct of guided visits to the interior of the Carajás
mosaic units, of which FLONATA is a part. In this program, educational practices based on critical
environmental education, arouse the interest of those involved to the environmental cause with a
more analytical look. The target audience is momentarily Marabá society, through organized groups
such as schools, churches, non-governmental organizations, universities, among others. Started in
2016, the program has expanded actions and reached more and more users. This article proposes to
share the successful practice in the unit, in order to encourage similar initiatives in other regions of
the country.
Keywords: Environmental education; Amazon; National forest.

I. INTRODUÇÃO

A Floresta Nacional do Tapirapé Aquiri – FLONATA está inerida no mosaico de unidades


de conservação de Carajás, que abrange ainda a Área de Proteção Ambiental do Igarapé – Gelado –
APAIG, Floresta Nacional de Carajás; Floresta Nacional do Itacaiúnas; Reserva Biológica do
Tapirapé e Parque Nacional Campos Ferruginosos sob a gestão do ICMBio e Reserva indígena dos
Xikrim do kateté sob a gestão da Fundação Nacional do Índio – FUNAI. Juntas, alcançam cerca de
1,2 milhões de hectares de floresta amazônica protegida.
A FLONATA é uma unidade do grupo de uso sustentável, assim, conforme estabelecido no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, são permitidas o uso múltiplo
sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica em seu interior. O Decreto de criação da
UC apresenta a particularidade de assegurar a continuidade das atividades de pesquisa e lavra
minerais autorizados já em curso na área. Desta forma, no interior da UC está em atividade um dos
maiores projetos de mineração de cobre a céu aberto do mundo – Projeto Salobo, que recebeu
licença de operação no ano de 2012 e tem previsão de exploração estimada por mais 30 anos.
No âmbito do Licenciamento Ambiental do empreendimento, são estabelecidas
condicionantes ambientais com o objetivo de viabilizar projetos que beneficiam as comunidades do
entorno da unidade. Assim, a gestão local favorece à melhor aceitação das restrições impostas à
área protegida com ações de conscientização e inserção da sustentabilidade no dia a dia das
famílias, além de garantir maior eficiência na proteção dos recursos naturais que compõe a UC,
contribuindo para o atendimento dos objetivos precípuos da mesma.
Entre os programas em andamento destaca – se nesta oportunidade o de educação ambiental
– Programa Comunidade Vai à Floresta, desenvolvido em parceria com o Núcleo de Educação
Ambiental – NEAM, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - Unifesspa, que capacita
voluntários a atuarem entre outras, em visitas guiadas ao interior das UC‘s do mosaico Carajás. A
formação é dividida em três módulos, sendo eles: teórico, prático e experimental, que juntos
oferecem as condições ideais para que os voluntários exerçam o papel de educadores ambientais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A principal atividade do programa é conduzir grupos organizados ao interior das unidades


de conservação, dentro de um contexto de educação ambiental crítica, onde os visitantes são
levados a refletir sobre o contexto histórico-econômico e cultural no qual as UCs estão inseridas.
Para melhor aproveitamento das práticas educativas e garantia de acesso a todos os setores da
sociedade, o programa oferece transporte, alimentação e hospedagem aos usuários, através de
recursos financeiros provenientes de condicionantes ambientais e parceria com a Salobo Metais,
responsável pela exploração mineral na área. As imagens um e dois mostram diferentes etapas do
curso de formação de monitores voluntários 2017.

Imagem 01: Módulo teórico realizado em Marabá – Imagem 02: Módulo Prático realizado no Mosaico
PA. Carajás.
Fonte: QUIRINO, (2017). Fonte: LIMA, (2017).

Iniciado em 2016 o programa tem passado por um processo de melhoria contínua e


consequente ampliação de atividades. Logo, a visibilidade deste tem aumentado consideravelmente,
o que eleva a procura popular. O grande diferencial dos programas está no envolvimento social, na
consequente aproximação do público em geral com a unidade e a sensação de pertencimento
gerada. A conservação da biodiversidade e a busca pela sustentabilidade começam pela
disseminação de práticas inovadoras e éticas de sensibilização, ao ponto que a formação de
multiplicadores desponta como uma corrente fortalecedora da atuação do ICMBio frente à gestão da
unidade, que já é referência na região.
O presente estudo objetivou avaliar a eficácia dos programas implantados na unidade como
instrumentos para o fortalecimento da gestão, ao tempo que os resultados pudessem mostrar
possíveis necessidades de aperfeiçoamento na metodologia até então aplicada, visando a melhoria
contínua destes. A divulgação dos resultados evidencia os ganhos advindos do esforço em prol da
conservação da biodiversidade local, de forma a viabilizar a disseminação da prática em todo o
território nacional.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

II. DESENVOLVIMENTO

O programa de voluntariado do ICMBio é regulamentado pela instrução normativa número


03 de maio de 2016, que estabelece diretrizes a serem seguidas nacionalmente pelas unidades de
conservação da natureza federais. A FLONATA aderiu ao programa em 2016, onde teve sua fase
experimental executada no período de agosto a dezembro, período em que os ajustes foram
realizados na consolidação de roteiros, preparo dos monitores, mobilização logística e
enriquecimento das ferramentas de gestão e controle.
A partir de janeiro de 2017 as atividades passaram a ser operadas com maior intensidade, de
forma que no primeiro semestre do ano atingiu - se um público de cerca de 700 pessoas. Ainda no
referido período deu – se início ao ciclo de capacitação de uma nova turma de monitores
voluntários. O novo contingente de voluntariado vem sendo fundamental para os planos de
expansão do programa, uma vez que estão sendo estabelecidas novas linhas temáticas de atividades
com intuito de intensificar a abrangência.
Para a gestão da FLONATA foi grande a satisfação encontrada durante a fase de inscrições
para o voluntariado em 2017, onde cerca de 200 interessados, dos mais diferentes setores da
sociedade local, regional, nacional e internacional estiveram representados. O fato é um indicativo
da importância das ações para a divulgação da UC e fortalecimento da participação social. O fato
culmina na potencialização do estabelecimento de parcerias que contribuem sobremaneira com o
fortalecimento da gestão da unidade, fator destacado pela mídia local e jornal de circulação interna
do ICMBio a nível nacional – O ICMBio em foco, a exemplo da edição de nº 420 que tratou do
ciclo de capacitação da turma de monitores voluntários 2017.
Para o desenvolvimento das atividades são selecionadas as turmas usuárias, que antes da
atividade ao interior da UC‘s recebem visitas dos monitores voluntários da FLONATA. Nesta
oportunidade é realizada uma palestra prévia, onde o grupo é munido de informações sobre as
diretrizes gerais da prática educativa no interior do mosaico, entre as quais destacam - se uma rica
introdução sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, as
especificidades do mosaico Carajás, em especial da Flona do Tapirapé – Aquiri, as regras de
segurança, comportamentais e de vestimentas a serem seguidas. Tal metodologia foi apresentada em
resumo no I Seminário Voluntariado do ICMBio 2017 - Experiências Internacionais em Áreas
Protegidas e considerada como inovadora entre o público presente.
Como técnica de avaliação lúdica foi realizada no dia mundial do meio ambiente em 2017 a
I Gincana Ambiental Interescolar da Floresta Nacional do Tapirapé – Aquiri, onde parte das escolas
beneficiárias do programa Comunidade vai à Floresta foram desafiadas a participarem de uma
competição saudável em que a temática central abordada foi o mosaico de UC‘s de Carajás, com
ênfase na FLONATA. Entre as provas propostas estiveram paródias com coreografias, mini

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

palestras, desfiles com roupas de materiais reutilizados, arrecadação de materiais de higiene e


limpeza (para doação a instituições locais) entre outras. As imagens três e quatro registram o
evento.

Imagem 03: Premiação para as equipes vencedoras. Imagem 04: Parte do público envolvido na Gincana.
Fonte: RIBEIRO, (2017). Fonte: LIMA, (2017).

A competição movimentou a cidade e entrou para o calendário das comemorações alusivas à


semana do meio ambiente no município de Marabá – PA. A prática além de fortalecer os
conhecimentos de maneira individual e coletiva incentiva a interação entre as escolas e disseminam
métodos educativos diferenciados e atrativos.

III. METODOLOGIA

Como forma de avaliação da eficácia do esforço dedicado, foram elaborados questionários


para análise dos usuários antes e depois de conhecerem às unidades de conservação do mosaico. Por
meio deles, questões básicas são levantadas, com vistas a verificar uma possível variação nos
conhecimentos e percepção ambiental prévios e posteriores a realização das atividades. O
percentual de 50% do público total foi entrevistado, o que oferece condições reais de análises, tais
como caracterização do perfil dos usuários, nível de consciência e percepção ambiental destes, entre
outros.
Os questionários embasam entrevistas semiestruturadas que atendem públicos de diferentes
categorias: Estudantes de ensino fundamental, médio, superior, organizações não governamentais e
sociedade civil em geral, no intuito de usar uma técnica avaliativa compatível ao grau de instrução
de cada grupo usuário. A análise dos questionários preenchidos no desenvolver das atividades
educativas é realizada pela equipe técnica da FLONATA, que direciona os esforços necessários
para o atendimento das expectativas do público e da unidade.
A aplicação dos questionários é feita pelos voluntários por oportunidade da palestra que
antecede as visitas ao interior das unidades, momento no qual os usuários registram o nível de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

conhecimento que possuem. Os roteiros são realizados com o acompanhamento de uma dupla de
monitores voluntários e equipe do centro de visitantes do Mosaico Carajás, representantes do
Instituto Chico Mendes, na oportunidade são repassadas informações gerais e específicas sobre as
áreas, consolidando – se a transmissão de conhecimentos de grande relevância. Ao final as
perguntas pós visitas são respondidas.
Cabe salientar que as questões formuladas para a pós visita não se limitam ao conteúdo visto
durante a atividade, e sim aos conceitos gerais e sensibilização, tais como o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – SNUC, sustentabilidade e percepção ambiental, temáticas necessárias
para que os participantes além de despertarem o interesse para a causa, tornem – se multiplicadores
dela. A coleta de dados desenvolveu-se primeiramente por meio da observação espontânea e
prosseguiu com a interrogação por meio de questionário semi-estruturado. Whyte. (1977) destaca
que em um estudo de percepção, permite avaliar as experiências, as características individuais e
coletivas de determinados grupos bem como as tomadas de decisões destes.
A avaliação dos resultados qualitativos se deu por meio da análise de conteúdo (Bardin
2010). A análise de conteúdo de acordo com esta autora é um procedimento que consiste na análise
dos dados qualitativos através da identificação de temáticas que constituem resposta a questões
específicas. Para esta análise quantitativa foi utilizada a análise simples (porcentagens), por meio de
planilha eletrônica 2007 para a tabulação dos dados. O foco da Percepção Ambiental foi
direcionado em torno do conhecimento dos grupos de visitantes sobre as unidades de conservação
do mosaico Carajás, considerando – se o fato de que a aproximação do público alvo a elas favorece
ao surgimento e/ou intensificação de tal percepção.

IV. RESULTADOS

A análise dos dados coletados no desenvolver da presente pesquisa revelou que os diferentes
setores da sociedade estudados possuem níveis semelhantes de conhecimentos quando a abordagem
ambiental é trabalhada, níveis esses consideravelmente baixos, que foram notoriamente combatidos
entre o público até então atingido pelo programa, considerando a mudança na percepção ambiental
registrada entre os formulários pré e pós visita e palestras. Quanto ao número de participações, as
instituições de ensino e a sociedade em geral participaram de um maior número de visitas guiadas.
Assim, a comunidade em geral foi escolhida para demonstração dos resultados, conforme registros
nos gráficos que seguem:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Conhece o ICMBio e suas competências

Conhece as UC's do município

Considera - se capaz de contribuir para a manutenção


do equilíbio ambiental

Considera - se parte integrante do meio ambiente

Conhece a importância de tais áreas

Sabe o que são as UC's

0 20 40 60 80 100 120

NÂO SIM

Gráfico 01: Diagnóstico Comunidade em Geral – Pré Visita.

Conhece o ICMBio e suas competências

Conhece as UC's do seu município?

Consideram - se capazes de contribuir para a


manutenção do equilíbrio ambiental.

Consideram - se parte do Meio Ambiente

Conhecem a Importância de Tais Áreas

Sabe o que são as Ucs

0 20 40 60 80 100 120

NÂO SIM

Gráfico 02: Diagnóstico Comunidade em Geral – Pós Visita.

V. DISCUSSÃO

A avaliação dos conhecimentos ambientais dos usuários realizada através da presente


pesquisa revelou a extrema carência regional por atividades relacionadas à educação ambiental,
tendo em vista que os conceitos básicos de meio ambiente são desconhecidos pela grande maioria
dos participantes. O fato pode ser explicado pela ausência de disciplinas voltadas a essa temática
nos diferentes níveis de ensino, além da ausência de políticas públicas eficazes que supram a
demanda.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As informações coletadas após as visitas revelam um divisor de águas em tal contexto, visto
que a realização das palestras prévias somadas às informações recebidas na prática educativa no
interior do mosaico possuem elevado potencial de retorno e oferecem condições para o público
envolvido desenvolver melhor as respostas. É fato ainda que as ações aqui relatadas tratam – se de
um subsídio inicial para a formação da consciência ambiental crítica na população, sendo
necessárias medidas que intensifiquem o esforço por parte das demais instituições, atendendo ao
disposto no artigo 3º da lei 9.795/89 – Política Nacional de Educação Ambiental, que prevê o
direito a educação ambiental como parte do processo educativo de todos, incumbindo ao poder
público, instituições educativas, meios de comunicação de massa, empresas e instituições públicas,
privadas e a sociedade como um todo o dever de assegurar o acesso.
A falta de conhecimentos sobre os impactos ambientais negativos e suas consequências para
o meio e a humanidade é fator que contribui para o agravamento do cenário. Assim, a aproximação
da comunidade com a temática e a disseminação de conhecimentos específicos sobre a temática
contribuem sobremaneira na implantação da sensação de pertencimento, que eleva a adoção de
práticas sustentáveis em atitudes cotidianas com potencial de multiplicação considerável.
MARCZWSKI (2006), avalia a percepção ambiental da seguinte maneira:

― A percepção ambiental é uma atividade mental do indivíduo com o meio, que pode ser
definida como a tomada de consciência do meio pelo ser humano. A pesquisa sobre
educação ambiental pode funcionar como um importante diagnóstico da situação da
sociedade em relação ao meio, avaliando o nível de valoração dado aos diversos recursos e
serviços ecossistêmicos e embasando programadas de educação para o desenvolvimento
sustentado‖

Com base no exposto, é fácil fazer a conexão da educação ambiental crítica aqui trabalhada
com a percepção ambiental, tendo em vista que a aplicação da primeira abre espaço para o
surgimento da segunda. O aguçamento da percepção faz com que a comunidade como um todo
entre na luta em favor da sustentabilidade, vindo a ser aliada primordial na causa. O perfil
diversificado dos beneficiários do programa contribui de forma significativa para garantia de uma
maior abrangência das atividades.
Nesta perspectiva, de acordo com Fereira, (2005), a avaliação de diferentes percepções
ambientais conduz ao reconhecimento dos valores intrínsecos, tornando-se um ponto de partida para
o estabelecimento e aprimoramento de ações de educação ambiental em Unidades de Conservação
da Natureza. LIMA, (2009) defende que o processo educativo não é neutro e subjetivo, destituído
de valores e ideologias, ao contrário, vem a ser uma construção social repleta de subjetividade,
escolhas valorativas e especialmente dotadas de valor social por sua capacidade de reproduzir a
ordem. O autor considera que a educação ambiental crítica possui função estratégica por estar
diretamente envolvida com a formação da identidade social e cultural dos indivíduos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A magnitude das atividades desenvolvidas na Floresta Nacional do Tapirapé – Aquiri pode


ser verificada nos resultados apontados na presente pesquisa, onde um cenário negativo quanto ao
envolvimento da sociedade com as questões ambientais passou a ser combatido com práticas de
conscientização abrangentes com elevado grau de eficiência. O crescente aumento no número de
pessoas beneficiadas pelas ações do programa, em especial o contato direto com as unidades de
conservação cria e intensifica a aproximação da sociedade como um todo da gestão da unidade, que
passa a ter a participação social como aliada no atendimento aos objetivos traçados para a UC.
A análise dos resultados da pesquisa atual se mostrou satisfatória. Contudo, foi possível
verificar necessidades de ajustes para que o atual estágio de ampliação das ações dos programadas
possibilite o alcance de um público ainda mais diversificado, a exemplo da comunidade residente
no entorno da UC, o que possibilitará o fortalecendo dos esforços educativos já dedicados nos
demais projetos implantados pelo ICMBio na região, além da criação de mecanismos que garantam
a participação de crianças menores que 12 anos nas atividades realizadas no interior da Unidade,
entre outros, viabilizando resultados como ainda mais expressivos no número de agentes
multiplicadores formados e uma crescente corrente de conscientização a favor da conservação da
biodiversidade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AS CONSEQUÊNCIAS DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS


EM TRILHAS INTERPRETATIVAS

Gisele Gonçalves de OLIVEIRA


Mestre em Recursos Naturais do Cerrado pela UEG
oliver.giseleg@gmail.com
Mirza Seabra TOSCHI
Doutora em Educação, Docente da UEG
mirza.seabra@ueg.br
Hélida Ferreira da CUNHA
Doutora em Ciências Ambientais, Docente da UEG
cunhahf@gmail.com

RESUMO
As atividades de trilha de interpretação ambiental são classificadas segundo Layrargues na
macrotendência conservacionista e em muitos casos, refletem a visão naturalista dos envolvidos. O
estudo discute as consequências da prática de trilhas interpretativas com essa abordagem, de acordo
com as macrotendências de Layrargues e a proposta de sujeito ecológico de Carvalho. Realizou-se
um levantamento sobre as atividades praticadas em uma trilha na Universidade Estadual de Goiás,
uma visita a duas trilhas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e entrevista com a diretora
do parque. Foi constatado que as trilhas possuem o foco conservacionista, porém com abertura para
uma Educação Ambiental crítica emancipatória. O trabalho concluiu que atividades exclusivamente
conservacionistas não abordam questões sociais e sugere medidas a serem tomadas para a
incorporar a perspectiva crítica nas trilhas.
Palavras-chave: educação ambiental crítica, Cerrado, macrotendências.
ABSTRACT
The environmental interpretation trail activities are sorted by Layrargues in conservation macro
trends and in many cases they reflect the naturalistic view of those involved. The study aims to
discuss the consequences of the practice of interpretative trails with this approach, according to the
macro trends of Layrargues and the proposed ecological subject of Carvalho. We conducted a
survey of the activities practiced on a trail at the Universidade Estadual de Goiás, we visited two
trails in the Chapada dos Veadeiros National Park and we interviewed the director of the park. It
was found that the trails have a conservationist focus, but it is opening for an environmental
education critical emancipatory. The study concluded that only conservation activities do not
address social issues and suggests measures to be taken for the incorporation of critical perspective
on the trails.
Keywords: environmental education critical, Cerrado, macrotrends.

INTRODUÇÃO

As atividades de trilha de interpretação ambiental são classificadas segundo Layrargues


(2013) na macrotendência conservacionista, pois valorizam a relação afetiva entre homem e
natureza como forma de sensibilização ambiental. Está historicamente relacionada às primeiras

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

atividades de Educação Ambiental, incorporadas por planos de manejo em Unidades de


Conservação (CARVALHO, 2012). São atividades de educação não formal (TRILLA, 2008) com
práticas que refletem a visão naturalista dos envolvidos (REIGOTA, 2001; CARVALHO, 2012).
De acordo com Araújo, et al. (2011) o objetivo das trilhas interpretativas é aproximar os
envolvidos da biodiversidade local, sendo realizada em um ambiente preservado, e comparar com o
entorno geralmente impactado por atividades de degradação causadas pelo homem. Sendo assim, as
trilhas interpretativas são trabalhos de educação científica que têm como foco ensinar conceitos,
sobretudo, biológicos (AULER & DELIZOICOV, 2001), tais como as características morfológicas e
funcionais da vegetação, fauna regional, conceito e descrição do bioma, tipo de solo, clima, relevo,
entre outros.
Devido ao fato de as trilhas interpretativas não abordarem aspectos além dos biológicos; tais
como sociais, econômicos, históricos e culturais, são caracterizadas como atividades não críticas.
Essa abordagem limita o potencial das pessoas em somar forças para a luta de transformação da
sociedade e distorce o real sentido da educação que é de formar pessoas capazes de resolver os
problemas ambientais da realidade da qual pertencem. A Educação Ambiental crítica pode ser
realizada em todos os ambientes: formal, não formal, informal e esse fato possibilita a realização de
atividades que, de acordo com a proposta de Layrargues (2013) são capazes de transitar entre as
ciências sem eliminar os conteúdos, mas capaz de olhar para outros conhecimentos.
Caminhar entre o saber popular, científico e o tradicional é um desafio baseado no ideal de
sujeito ecológico apresentado por Carvalho (2012). Deixamos de herdar valores tradicionais dos
povos indígenas, o que é uma grande perda, pois estes sabem como ninguém como transitar por
conhecimentos diversos, sendo de fato transdisciplinares. Munduruku e Almeida (2011, p.25)
descrevem: ―a ciência colocou o saber tradicional em uma caixa que guarda a arrogância ocidental
que desconsidera o saber circular, holístico, que os povos indígenas desenvolveram‖. O ser humano
agora precisa voltar a essa forma integrada de ver o mundo na tentativa de resolver os complexos
problemas reais que constituem uma teia de relações não compreendidas pelo conhecimento
fragmentado (BOFF, 1997).
O ideal nas atividades de trilha interpretativa seria trocar as lentes naturalistas por lentes
globalizantes e críticas (CARVALHO, 2012), deixando claro aos participantes a importância de
preservar determinada área devido à importância ecológica, incluindo o homem como parte do
ambiente e toda sua complexidade cultural, histórica e social. Que seja inclusiva, permitindo a
participação das pessoas que vivem no entorno da área onde a trilha acontece de forma orientada.
Saviani (2001) afirma que a educação busca fazer com que os envolvidos de forma direta e indireta
sejam levados a reflexão, o que seria possível caso houvesse tal participação.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O presente estudo discute as consequências da prática de trilhas interpretativas


conservacionistas, de acordo com as macrotendências de Layrargues (2013) e a proposta de sujeito
ecológico de Carvalho (2012). Os argumentos buscam compreender a importância de realizar uma
atividade de Educação Ambiental que aborde conhecimentos da biologia integrada à questão social,
o que caracteriza uma abordagem crítica.

METODOLOGIA

Descrição da área do estudo

O estudo foi realizado no Campus Henrique Santillo da Universidade Estadual de Goiás


(UEG) no município de Anápolis-GO, onde há uma área de preservação cortada por uma trilha
interpretativa chamada ―Trilha do Tatu‖. A trilha possui 1500 metros, passando por três
fitofisionomias do Cerrado (Cerrado stricto sensu, mata seca e mata de galeria) chegando até o
Córrego Barreiro. A trilha recebe visitas escolares desde 2001 quando foi aberta por Alexandre
Nunes e Fernando Santiago.
No entorno da área de preservação existem fazendas, nas quais a vegetação nativa foi
substituída por pastagens, o Distrito Agroindustrial de Anápolis – DAIA e o aeroporto de cargas. A
mata de galeria está bastante degradada e separada da mata seca por uma estrada pouco utilizada. O
córrego Barreiro está poluído e existem espécies vegetais exóticas como o capim braquiária, bambu
e uma mangueira.
Em 2014 a trilha foi revitalizada e pontos de observação como mirantes e decks, foram
construídos e uma placa de alerta com a seguinte mensagem foi instalada: ―CUIDADO! Área com
alta incidência de animais peçonhentos. Proibida a entrada sem equipamento de segurança‖ (Fig. 1).
Como equipamento de segurança é aconselhável o uso de perneiras, calçado fechado e calça. Essa
revitalização foi uma das atividades propostas e realizadas pelo projeto intitulado ―A biodiversidade
do Cerrado e a inclusão em atividades de educação científica para a popularização da Ciência‖,
financiado pelo CNPq (MCTI/CNPQ/SECIS 85/2013). Outra atividade proposta e realizada pelo
projeto é receber visitas de educandos de escolas públicas e da comunidade que esteja interessada
em conhecer a trilha.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1. A foto à esquerda mostra o portal de entrada da Trilha do Tatu.


À direita a placa de alerta instalada no início do percurso.

Além da Trilha do Tatu, também foram campo de estudo duas trilhas interpretativas
autoguiadas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), trilha dos Saltos e trilha das
Sete Quedas. O PNCV foi criado em 1961, é localizado entre as cidades de Alto Paraíso de Goiás,
Cavalcante e Colinas do Sul em Goiás. A área total é de 65.514 ha de Cerrado e preserva áreas de
antigos garimpos.
A trilha dos Saltos possui uma extensão aproximada de 11 km ida e volta, sinalizada com
setas amarelas. Inclui a passagem pelo maior garimpo de quartzo da região quando estava em
atividade entre os anos de 1912 a 1961. O percurso passa por duas quedas d‘água no Rio Preto, uma
de 80 metros com área para banhistas e outra de 120 metros que é somente avistada e os visitantes
não tem acesso. A trilha das Sete Quedas possui 23,5 km de extensão é sinalizada com seta laranja.
Outras trilhas são sinalizadas com setas de cor amarela (trilha dos Saltos e trilha das Corredeiras) e
setas vermelhas (trilha do Cânion e trilha das Cariocas) (Fig. 2) (ICMBIO, 2015).

Figura 4. A foto à esquerda mostra uma das sinalizações das trilhas.


À direita percurso final da trilha das Sete Quedas.

Coleta dos dados

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Foi feito um levantamento das atividades realizadas pelo público do Campus da UEG na
Trilha do Tatu a fim de analisar quais os problemas sociais encontrados na área de preservação e
investigar os motivos que levam as pessoas a conhecerem e/ou frequentarem a trilha. Foram
aplicados 112 questionários para alunos de todos os cursos de graduação e de pós-graduação,
professores e funcionários do Campus.
No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros a diretora Carla Cristina de Castro
Guaitanele foi entrevistada. Conversamos sobre os problemas sociais que enfrentam no Parque e
como tem sido a prática das trilhas no mesmo. Foi realizada visita em duas trilhas autoguiadas com
o objetivo de comparar as práticas de Educação Ambiental em trilhas e subsidiar a discussão no
presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse item será descrito o que foi percebido através do levantamento no Campus da UEG e
com a visita às trilhas do PNCV. Depois serão discutidas as consequências das práticas
conservacionistas nos dois lugares, relacionando com a proposta de Educação Ambiental crítica
proposta por Layrargues (2013) e Carvalho (2012).

Percepção do público da UEG sobre a Trilha do Tatu

No Campus da UEG a maioria das pessoas que respondeu o questionário conhece, ou no


mínimo, já ouviu falar da Trilha do Tatu. Atividades variadas de pesquisa e educação são realizadas
no local e grande parte do público utiliza o espaço como lazer (Fig. 3). Foram relatadas como outras
atividades: fotografar a paisagem, realizar a manutenção da bomba que capta água para o Campus
localizada próxima ao córrego Barreiro no final da trilha, fazer a segurança de funcionários e houve
um relato de perseguição de ladrão.

Figura 5. Porcentagem de respostas do público da UEG sobre os motivos


pelos quais frequentam a Trilha do Tatu.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Com relação às atividades impróprias que já foram vistas acontecendo na trilha, foram
relatadas: consumo de álcool e uso de drogas ilícitas, pessoas tomando banho no lago poluído,
tentativa de furto de equipamentos e veículos da UEG, pessoas depredando a trilha, matando
animais como cobra, prática de motocross e pessoas tendo relações sexuais. Já foram encontrados
ao longo da trilha diversos objetos, tais como velas de macumba, camisinhas, bituca de cigarro,
churrasqueira enferrujada, carcaça de carro roubado, uma moto roubada foi escondida na trilha e
muitos resíduos sólidos e poluição no riacho e ao longo do caminho.
Ao final do questionário as pessoas sugeriram algumas medidas a serem tomadas como
tentativas de resolver esses problemas. A maioria relatou que a construção de cerca em torno da área
pertencente ao Campus e seguranças para monitorar a trilha seriam soluções. Há também a sugestão
de realização de trabalhos de educação, conscientização e instalação de placas educativas sobre a
questão ambiental e a importância da área de preservação onde está a Trilha do Tatu.

Percepção das pesquisadoras nas atividades no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Na entrevista, a diretora Carla Cristina de Castro Guaitanele relatou que é realizado um


trabalho de educação ambiental que ela denominou ser ―preventivo‖, no qual uma equipe capacitada
de voluntários e estagiários do PNCV orienta os visitantes antes de entrarem na reserva. Todos
assistem a um vídeo com instruções diversas sobre a questão do lixo, pois, cada visitante é
responsável por leva-lo de volta, visto que não há recolhimento de lixo nas trilhas.
Há solicitação para evitar o uso de sabão e outros produtos químicos no rio; esclarecimento
sobre a sinalização das trilhas, riscos de trombas d‘água. Cuidados com a segurança do grupo caso
aconteçam eventos naturais como chuvas, é feito um alerta, pois o parque não conta com serviço de
resgate, e qualquer eventualidade deve-se acionar os bombeiros ou o SAMU. Telefones celulares
possuem rede em boa parte das trilhas.
Após assistir ao vídeo, um voluntário/estagiário do Parque reforça ao público os avisos e
explica que não é permitido fazer fogueiras e fumar nas trilhas devido ao risco de causar incêndios,
nem levar instrumentos musicais para não gerar conflitos com aquelas pessoas que vão ao parque
com intenção de descansar. Ao final, todos recebem uma ficha verde que deve ser devolvida na
entrada da trilha para garantir que todos participaram da atividade.
Ex-garimpeiros da região onde hoje é o Parque trabalham como guias locais para os
visitantes. A contratação do guia é opcional, pois as trilhas são autoguiadas. De forma geral, o
público tem respeitado as orientações, porém ainda foram vistas pessoas fumando, ligando som na
área de camping, usando sabonete no rio e pessoas dispersas do grupo caminhando sozinhas pela
trilha. Quase não foi visto lixo pelas trilhas e o Parque também recebe escolas para realizar a trilha
interpretativa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Problemas atuais e caminhos para uma Educação Ambiental crítica na Trilha do Tatu

Na Trilha do Tatu são realizadas pesquisas de Iniciação Científica, levantamentos de fauna e


flora, há estudos sobre o solo, trabalhos de educação, entre outros. Em um levantamento realizado
na biblioteca do campus foi encontrado um trabalho de conclusão de curso de um aluno da
graduação em Ciências Biológicas sobre uso de drogas por alunos no campus (SOARES, 2014) e
outro sobre uso e contato de substâncias alcoólicas (HONORATO et al, 2005). A questão do uso de
drogas é, portanto, pouco abordada pelos cursos. Um dado contraditório, pois quatro dos seis cursos
de graduação oferecidos são da modalidade licenciatura, para formação de educadores. Segundo
Soares (2014) o uso de drogas em relação aos futuros profissionais da educação é preocupante, visto
que serão modelos de conduta e formadores de opinião para os seus alunos. Professores deveriam
ter uma formação que levasse ao desenvolvimento de responsabilidades socioambientais.
Além da questão do uso de drogas, há registros de queimadas provocadas no Cerrado e em
uma dessas ocasiões o Laboratório de Pesquisa e Educação Científica - LabPEEC quase foi
incendiado em 2014, pois está localizado bem próximo da área de preservação. O fogo provocado é
um fato atribuído tanto à falta de cuidado de quem frequenta a trilha (fogueiras, por exemplo,
podem descontrolar e queimar a vegetação seca), quanto de vizinhos que queimam pastos e pela
ação do vento o fogo pode se espalhar. As queimadas naturais acontecem no Cerrado em intervalos
de tempos diferentes dependendo da composição vegetal. Em estudo realizado no Parque Estadual
do Jalapão, foi constatado que o intervalo máximo de queimadas naturais seria de três a quatro anos
(C. JUNIOR et al, 2014) para a região. Na Trilha do Tatu está acontecendo praticamente todos os
anos.
Infelizmente, informações sobre a poluição e os riscos de tomar banho em água poluída não
chega a todos, pois foram registrados casos de pessoas com essas práticas, além de muito lixo
encontrado pelo caminho. Isso é um risco à saúde e à segurança dos moradores do entorno e do
próprio público da UEG. Isso poderia ser minimizado com a instalação de mais placas educativas e
de advertência além de um trabalho educativo. Poderiam ser realizadas discussões aprofundadas
sobre os temas ambientais relacionados à saúde e dinâmicas educativas durante as visitas.
A Trilha do Tatu é tida como ambiente de trabalho por aqueles que realizam pesquisas e
atividades educativas no local, também é utilizada como lazer informalmente. Esse uso não
caracteriza uma atividade imprópria e sim reflete o valor cultural da área (ANDRADE &
ROMEIRO, 2009). Como o campus não possui centro de convivência, a Trilha do Tatu faz esse
papel, pois as pessoas a frequentam em momentos livres para lazer e descanso.
O Campus da UEG está localizado em uma fazenda cujo perímetro encontra-se
desprotegido, havendo o risco de invasão, roubos, além de ser constantemente frequentado por
usuários de drogas (UEG, 2013). A construção de uma cerca não seria uma forma de proibir que as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pessoas frequentem a trilha, mas uma conduta consciente de garantir a segurança e integridade dos
que frequentam e habitam a área. O fato de não existir controle e monitoria na entrada na trilha faz
com que esses problemas se agravem.
De acordo com o que foi observado no PNCV, esse controle de funciona bem, pois todos que
entram nas trilhas são informados e orientados a se comportarem de forma a agredir o mínimo
possível à natureza. Além de ser uma oportunidade para as pessoas perceberem que é possível
visitar um ambiente natural, se divertir, descansar e relaxar sem ser necessário som automotivo,
músicas altas, fogueiras e outras práticas que levariam a consequências negativas e desarmonia. É
uma rara oportunidade de experimentar a interação com a natureza.
A falta dessas medidas no Campus da UEG corrobora a proposta de Saviani (2001) no que
diz respeito à crise da educação. A educação capitalista não tem intenção de resolver o problema de
uma sociedade, e a escola separada da sociedade caracteriza uma educação não crítica. Esse modelo
de educação de fato demonstra comodismo e falta de preocupação na formação de cidadãos e
sujeitos ecológicos, conforme proposto por Carvalho (2012). O ambiente acadêmico é rico em
conhecimentos, porém ao se deparar com esses problemas, fica nítida a falta de integração entre os
cursos e a falta de trabalhos de extensão, que seria a forma de comunicar a Universidade com a
comunidade não acadêmica.
Apesar disso, cada vez mais ―tem se percebido a abertura para a superação da ênfase
exclusivamente conservacionista e explicativa que caracterizam as trilhas interpretativas, com a
incorporação de questões socioambientais‖ (CARVALHO, 2012, p.81). Na Trilha do Tatu são
realizados trabalhos de educação científica que envolve os graduandos do curso de Ciências
Biológicas com a comunidade escolar da cidade de Anápolis, proporcionando uma experiência
interessante, uma vez que esses universitários se tornarão professores. O contato com os educandos
fora da sala de aula é relevante na formação tanto dos acadêmicos quanto das crianças, é uma troca
interessante que fará diferença quando for de fato lecionar em uma escola. Os educandos se
encantam com o laboratório, com a trilha e com as palestras que são realizadas antes da visita à
trilha. Essa prática não formal instiga a curiosidade e mostra aos visitantes como é a vida de um
cientista, aproximando-os do meio acadêmico e possibilitando o retorno à sociedade por parte da
Universidade atuando na divulgação científica.
Na Trilha do Tatu a abordagem socioambiental acontece quando se integram os
conhecimentos biológicos com as questões sociais, culturais, ambientais, históricas, políticas e
econômicas. Por exemplo, ao promover discussões nas palestras e durante as visitas sobre origem
da trilha, impactos das atividades agropecuárias no Cerrado, a importância ecológica de refúgios de
vida silvestres, o interesse econômico de empresas privadas por áreas naturais, como o consumo
afeta o meio ambiente, como as áreas verdes podem ser usadas para lazer dentre outros. Além disso,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

é importante ressaltar que o envolvimento da população não acadêmica em visitas ao local


configura um retorno à sociedade e oportuniza a participação coletiva, fazendo com que as pessoas
vejam a trilha como um ambiente a ser conservado, promovendo a reflexão de como os hábitos de
consumo afetam a natureza e a vida das pessoas.

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e caminhos para a Educação Ambiental crítica

Durante a visita às trilhas do PNCV foram vistas pessoas realizando atividades impróprias,
tais como o consumo de álcool e drogas ilícitas na área do camping e pessoas caminhando dispersas
do grupo. O fato de as pessoas caminharem dispersas é um risco, pois se não finalizarem a trilha por
algum motivo será difícil alguém saber. Na trilha das Sete Quedas o grupo entrega uma ficha de
controle ao final do percurso como forma de garantir que todos finalizaram a travessia. Uma
sugestão para melhorar esse controle, seria a entrega de fichas do grupo e individuais, assumindo
que ninguém tenha ficado para trás.
O trabalho educativo sobre o risco de acidentes já é realizado, porém falta um enfoque na
saúde e segurança em relação ao uso de drogas. Para que as pessoas sejam sensibilizadas sobre essa
questão do cuidado com o próprio corpo e com a mente. Além disso, existe o risco de as pessoas
alcoolizadas e drogadas ficarem vulneráveis a acidentes como quedas e afogamento.
Um ponto positivo foi em relação aos ex-garimpeiros terem se tornado guias locais, o parque
foi uma forma de proporcionar a geração de renda aos moradores e os envolve no trabalho
educativo. Todos da comunidade da Vila de São Jorge e demais regiões do país possuem acesso à
região com informações e orientações. Áreas verdes precisam ser tratadas como patrimônio público
no sentido de permitir a entrada de todos, e de forma democrática também no que diz respeito à
divulgação científica e conhecimentos histórico-culturais adquiridos pelas pessoas durante a visita.
O fato de o PNCV adquirir práticas educativas possibilita que cada indivíduo possa refletir sobre
seus atos antes de entrar no local evitando danos, poluição, conflitos com outras pessoas e o mais
importante, possibilitando as pessoas a valorizar mais o meio ambiente.
As atividades do parque e da trilha ainda não caracterizam uma abordagem totalmente
crítica, mas o envolvimento da comunidade possibilitará abrir um caminho de mudança e abandono
de uma abordagem estritamente conservacionista para uma educação ambiental crítica. Esse modelo
de educação é de fato instrumento de transformação da sociedade e de conscientização quanto às
questões ambientais, e de forma geral envolve o ser humano em todos os aspectos. A partir do
momento em que as pessoas ao passarem pela trilha mudarem seu olhar (de predatório para
integrador) sobre o meio ambiente, a trilha interpretativa estará cumprindo seu papel educativo
servindo de modelo de como se comportar e agir em outros ambientes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho mostra que atividades conservacionistas não abordam problemas de caráter social
que a Educação Ambiental crítica propõe. No PNCV, apesar do foco conservacionista, há questões
ambientais bem resolvidas, como o fato de não ter lixo pelo caminho, as pessoas agem com respeito
umas com as outras e com o ambiente dentro da reserva e os ex-garimpeiros não ficaram
marginalizados após terem sido proibidos de exercer esse ofício, pois trabalham como guias locais.
A comunidade residente no entorno do parque possui uma relação de respeito e frequenta o local. A
existência da reserva gera renda através do turismo, pois muitas pessoas alugam suas casas, vendem
produtos e outras atividades realizadas em São Jorge e Alto Paraíso. Esses aspectos demonstram
uma abertura para a realização de um trabalho de educação ambiental crítico.
Na Trilha do Tatu, o projeto ―A biodiversidade do Cerrado e a inclusão de atividades de
educação científica para a popularização da ciência‖ é uma atividade que permite aproximar os
graduandos à comunidade escolar. Além disso, possui abertura para realização de atividades de
extensão envolvendo não só acadêmicos e educandos, mas também a comunidade não acadêmica
com as visitas à trilha. Incluir a participação de não acadêmicos é o que, de fato, faz com que
aconteça a popularização da ciência.
A prática de atividades de trilha interpretativa com abordagem crítica no Campus poderia ser
realizada também com a participação de docentes de diferentes cursos como monitores da Trilha do
Tatu. Além da realização de discussões sobre temas ambientais e questões sociais abertas ao público
da UEG e à comunidade não acadêmica. Para ter atitudes compatíveis com o ideal ecológico
proposto por Carvalho (2012) é necessário esforço do público de forma articulada e coletiva. As
questões ambientais e sociais são de responsabilidade de todos.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao público da UEG que respondeu os questionários, a CAPES pela bolsa de


mestrado para GGO, ao CNPq pela bolsa de produtividade em pesquisa para HFC (processo
302198/2015-6) e a todos que contribuíram para que esse trabalho pudesse ser realizado.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. Capital natural, serviços ecossistêmicos e sistema


econômico: rumo a uma ―Economia dos Ecossistemas‖. IE/UNICAMP, Campinas, n. 159,
Texto para Discussão, maio 2009.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ARAUJO, E. S.; NICOLINI, N. de; SOMAN, J. M.; CALUZI, J. J.; CALDEIRA, A. M. A. Ensino
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referencial. Revista brasileira de pesquisa em educação de Ciências. v.11, n.1,p.1-26, 2011.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica par quê? Ensaio – pesquisa em


educação em Ciências, v.2, n.2, p.105-115, 2001. Disponível em
<www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensaio/article/viewFile/44/203>. Acesso em 13 de julho
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BARRETO JR, N. M.; ANGELINI, R. Mapeamento topográfico e delimitação fitofisionômica da


área natural do campus da UEG. In: MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UEG, 1, 2003,
Anápolis. Anais... Anápolis: Universidade Estadual de Goiás, 2003. CD I.

BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

C.JUNIOR. A. P.; OLIVEIRA, S. L.J.; PEREIRA, J. M.C.; TURKMAN, M. A. A. Modelling Fire


Frequency in a Cerrado Savanna Protected Area. PlosOne, v.9, n.7, p. 01-11, jul. 2014.

CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6ª ed., São Paulo:


Cortez, 2012.

GOIÁS, UEG. Relatório 2012 e planejamento 2013, Anápolis, jun. 2013.78 p. Disponível
em<www.ueg.br> Acesso em 01 de agosto de 2015.

HONORATO, F. Estudo do uso e contato com substâncias alcoólicas por acadêmicos da UNUCET
da UEG-GO em Anápolis. CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG –
CONPEEX, 2, 2005, Goiânia. XIII Seminário de Iniciação Científica, Goiânia: UFG, 2005.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE- ICMBIO. Guia


do visitante da Chapada dos Veadeiros. Disponível em
<http://www.icmbio.gov.br/parnachapadadosveadeiros/guia-do-visitante.html.> Acesso em
25.julho.2015

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2013. Disponível em <http://elosdeformacao.wordpress.com/2013/07/23/a-tematica-ambiental-
na-pesquisa-em-educação-ambiental-diferentes-abordagens-teorico-metodologicas-materialismo-
historico-dialetico-e-epistemologias-ecologicas/>. Acesso em 20 de julho de 2015

MUNDURUKU, D.; ALMEIDA, C. Mundurukando. Participação especial de Ceiça Almeida,

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 637


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

primeira edição. São Paulo: UK‘A. 2011.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 1ª ed., Coleção primeiros passos, São Paulo:
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SAVIANI, D. Escola e democracia. 34ª ed., Campinas, SP: Autores Associados. 2001.

SOARES, P. T.; AYRES, F. M. Uso de álcool e drogas ilícitas: perfil de consumo por estudantes de
licenciatura. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biologia) - Universidade Estadual
de Goiás, GO, 2014.

TRILLA, J. A educação não formal. In: GHANEM, E.; TRILLA, J.; ARANTES, V. A. (Orgs).
Educação formal e não formal: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2008. p.15-55.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GESTÃO DO PARQUE ESTADUAL DAS CARNAÚBAS: UMA PROPOSTA DE USO


PÚBLICO NA GEODIVERSIDADE DA CAATINGA CEARENSE

Hermógenes Henrique Oliveira NASCIMENTO


Especialista em Gestão Ambiental da SEMA
henrique.sampa@gmail.com
Andréa de Sousa MOREIRA
Especialista em Educação Ambiental da SEMA
demoreiras@gmail.com

RESUMO
Este trabalho objetiva analisar a gestão do uso público do Parque Estadual das Carnaúbas,
localizado no município de Granja, aproximadamente 365 km de Fortaleza, buscando contribuir
com o registro, valorização e conservação da sua geodiversidade. Para tanto, a metodologia adotada
se baseou no estudo por documentação indireta e direta, caracterizando-se de cunho qualitativo.
Com a análise de campo foi possível apresentar um roteiro geoturístico composto de uma trilha para
o Parque, abordando além de atrativos geológicos, toda a evolução histórico-cultural da região. Por
fim, constatou-se que, se realizada de forma sustentável, a integração do geoturismo com as demais
modalidades de turismo, conjuntamente com as atividades ambientais do Parque pode representar
um grande desenvolvimento econômico regional.
Palavras-Chave: Geodiversidade, Planejamento, Parque Estadual das Carnaúbas, Uso Público.

ABSTRACT
This work aims to analyze the management of the public use of Carnaubas State Park, located in the
municipality of Granja, approximately 365km from Fortaleza, seeking to contribute with the
registration, valorization and conservation of its geodiversity. Therefore, the methodology adopted
was based on the study by indirect and direct documentation, characterizing itself as qualitative.
With the analysis of the field it was possible to present a geotouristic route composed of a trail to
the Park, approaching besides geological attractions, all the historical-cultural evolution of the
region. Finally, it was verified that, if carried out in a sustainable manner, the integration of
geotourism with other tourism modalities, together with the park's environmental activities can
represent a great regional economic development.
Key-Words: Geodiversity, Planning, Carnaubas State Park, Public Use.

INTRODUÇÃO

O turismo em áreas naturais caracteriza-se também pela possibilidade de propiciar o contato


dos turistas com as mais diferenciadas formas bióticas e abióticas. Rios de águas cristalinas, praias,
florestas, campos abertos, cânions com corredeiras e cachoeiras, a fauna e a flora, entre outros, são
reverenciados, pela atratividade que exercem nos turistas.
A atividade turística vem se transformando nas últimas décadas, resultante das mudanças de
ordem econômica, ambiental, social e cultural. O surgimento de novos interesses e motivações

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contribui para o incremento de modalidades alternativas do turismo. Entre elas, encontra-se o


geoturismo e dentre este, mais especificamente, o espeleoturismo. Esta categoria direciona a
realização das atividades em ambientes cavernícolas, já o geoturismo tem uma relação muito
próxima com a denominada geoconservação, contribuindo para o desenvolvimento de um turismo
voltado para a preservação e conservação em sistemas cársticos.
O conceito de geodiversidade é relativamente novo. Sua utilização se inicia a partir dos anos
de 1990, consolidando-se ao longo dos últimos anos dessa década. Na literatura internacional, a
geodiversidade tem sido aplicada com maior ênfase aos estudos de geoconservação. Nesse sentido,
destacam-se os estudos destinados à preservação do patrimônio natural, tais como monumentos
geológicos, paisagens naturais, sítios paleontológicos etc.
Eberhard (1997) introduz o conceito de geodiversidade com esse viés, definindo-o como ―a
diversidade natural entre aspectos geológicos, do relevo e dos solos‖. Cada cenário da diversidade
natural (ou paisagem natural) estaria em constante dinâmica por meio da atuação de processos de
natureza geológica, biológica, hidrológica e atmosférica. Gray (2004) concebe uma definição
bastante similar; todavia, estende sua aplicação aos estudos de planejamento territorial, ainda que
com ênfase destinada à geoconservação.
Stanley (2001) já apresenta uma concepção mais ampla para o termo ―geodiversidade‖, em
que as paisagens naturais, entendidas como a variedade de ambientes e processos geológicos,
estariam relacionadas a seu povo e a sua cultura. Desse modo, o autor estabelece uma interação
entre a diversidade natural dos terrenos (compreendida como uma combinação de rochas, minerais,
relevo e solos) e a sociedade.
No Brasil, o conceito de geodiversidade é desenvolvido praticamente de forma simultânea a
outros países, porém, ressaltando-se, aqui, um caráter mais aplicado ao planejamento territorial,
ainda que os estudos voltados para a geoconservação não sejam desconsiderados. Xavier da Silva e
Carvalho Filho (2001) definem geodiversidade a partir da ―variabilidade das características
ambientais de uma determinada área geográfica‖, cabendo ao pesquisador, com base em um estudo
sistemático de enorme massa de dados ambientais disponíveis em base de dados georreferenciada, a
seleção das variáveis que melhor determinam a geodiversidade em cada local.
Observa-se que o geoturismo ainda não pode ser considerado um segmento consolidado de
mercado, até mesmo pela falta de pesquisas e dados que comprovem que o meio físico está entre os
principais fatores motivadores de um grupo representativo de turistas. Para Manosso (2007), o
geoturismo já se desenvolve no Brasil, mas inserido em segmentos como ecoturismo, turismo
cultural e rural. Assim, compreende-se aqui o geoturismo como uma forma diferenciada de
planejamento e gestão do turismo, e não um segmento consolidado de mercado. Suas origens
possuem ligações diretas com o ecoturismo, no que diz respeito aos aspectos filosóficos, ao

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

planejamento, à gestão e à conservação ambiental. Mas difere deste por ter no meio físico – e não
na natureza como um todo – o seu foco de atenção e as suas propostas de uso.
As relações mais diretas entre o turismo e a paisagem cárstica se dão em função do meio
físico. Todavia, elas não são as únicas existentes, pois isso seria uma perspectiva que reduz o
turismo à simples interpretação, compreensão e uso dos aspectos geológicos, geomorfológicos,
pedológicos e climáticos de um determinado lugar. Entende-se que as relações com o meio biótico e
com as sociedades e culturas locais também influenciam e interferem no potencial e na qualidade
dos produtos turísticos.
Todavia, mesmo as questões de ordem biótica, social e cultural entrelaçadas ao turismo
culminam por interferir, bem como receber interferências, do meio físico. Nesse sentido, a
interligação entre todos estes meios e o turismo resulta em diferentes significações da paisagem, e
em diferentes identidades turísticas, dentre elas o geoturismo. Este não deve ser compreendido de
uma forma estanque, como uma única proposta de execução do turismo, mas sim, de maneira
multifacetada e abrangente. As diversas possibilidades de uso turístico do meio físico podem
futuramente originar novos segmentos de mercado, em função de fatores motivadores de viagem
que sejam mais específicos. Este processo é inerente à contemporaneidade – a era dos serviços –
onde novas necessidades de consumo são identificadas e até mesmo criadas a cada momento.
Geoturismo e ecoturismo cumprem critérios e princípios básicos de sustentabilidade
(MOREIRA, 2010), com a diferença que o primeiro tem como principal atrativo turístico a
geodiversidade, ao passo que, por mais que diversas definições de ecoturismo contenham o
patrimônio natural, nenhuma delas abrange a geodiversidade como a principal parte do produto
turístico, citando muitas vezes, apenas a biodiversidade e a conservação dos elementos biológicos
(fauna e flora) (MOREIRA, 2008; 2010; NASCIMENTO et al., 2007; VIEIRA e CUNHA, 2004).
No pano de fundo, têm-se as Unidades de Conservação (UC) que são áreas naturais sob-
regime especial de administração, criadas legalmente pelo Poder Público, com localização e limites
definidos. Em geral, possuem características ecológicas ou paisagísticas especialmente importantes,
com elevada riqueza de espécies de flora e fauna, presença de espécies raras, endêmicas ou
ameaçadas de extinção, amostras representativas de diferentes ecossistemas, significativa beleza
cênica, ou recursos naturais indispensáveis para o bem-estar das comunidades humanas.
Atualmente, no Estado do Ceará, temos 23 (vinte e três) Unidades de Conservação e 01 (um)
Corredor Ecológico que são administrados pela Secretaria do Meio Ambiente – SEMA.
O Parque Estadual das Carnaúbas (PEC) está localizado na região noroeste do Estado do
Ceará, compreendendo parte dos municípios de Viçosa do Ceará e Granja, com porção majoritária
de sua área no território municipal de Granja. A região possui terrenos elevados, mais de 900m de
altitude, correspondentes ao planalto da Ibiapaba e terrenos mais baixos, com altitudes inferiores a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

100m. O Parque Estadual das Carnaúbas, criado pelo Decreto n°28.154, de 15 de fevereiro 2006,
localiza-se na Bacia Hidrográfica do Coreaú. Uma pequena área da Unidade de Conservação
compreende as nascentes e principais afluentes do Rio Timonha/Ubatuba. As Sub-bacias destes dois
rios são afluentes do Sistema Estuarino Timonha/Ubatuba, que ocupa uma área de 2.165 km².
O Parque engloba uma pequena fração do enclave úmido do Planalto da Ibiapaba no
município de Viçosa do Ceará, incluindo uma parcela significativa da Serra de Ubatuba que é
revestida por relíquias de cerrados, localizada em uma área que apresenta significativa variedade de
sistemas ambientais e uma biodiversidade extremamente rica. A área também inclui superfícies
pediplanadas sertanejas do município de Granja revestidos por caatingas, abrangendo planícies
fluviais e áreas de inundações sazonais onde estão adensados os carnaubais que emprestam o nome
a UC.
Na região da UC, existem importantes serviços ambientais prestados pela Serra de Ubatuba
e das Flores, que detém as maiores áreas de vegetação primitiva e de transição de ecossistemas.
Essas áreas incluem a vegetação composta predominantemente de caatinga oriunda do sertão, mata
seca composta pela vegetação que parte do sertão em direção a serra e mata úmida, composta de
fragmentos de mata atlântica e floresta amazônica, que ao alcançarem o platô e encontrar o cerrado
acabam evidenciando a transição de 04 (quatro) ecossistemas ampliando a possibilidade de espécies
endêmicas.
Em função da fragilidade dos diversos sistemas ambientais do Estado e os atributos bióticos
e abióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e bem estar
das populações humanas, o Governo do Estado vem adotando medidas que têm por finalidade a
proteção e preservação da biodiversidade, geodiversidade e o disciplinamento do processo de
ocupação, visando assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Mediante a realidade exposta, referente ao objeto de estudo precisa-se compreender a
potencialidade existente na referida UC no que tange o seu acervo geológico, onde guarda jazidas
paleontológicas e monumentos arqueológicos que remontam à época do homem pré-histórico, pois,
assim, o turismo em áreas protegidas abre perspectivas para a valorização e revitalização do
patrimônio e da geodiversidade, do revigoramento das tradições e da história local, da redescoberta
de bens culturais materiais e imateriais, muitas vezes reprimidas pela concepção consumista
moderna.
Para Bomfim (2006), muitos autores têm percebido que a história humana acaba por
predominar sobre os fatores naturais na configuração de regiões. Outros acrescentam, ainda, o
sentimento de pertença com a consciência da tradição e de ideais comuns, considerando ainda que o
binômio homem-meio ainda não foi incorporado como uma das grandes dimensões da identidade.

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Dessa forma, esse trabalho procura investigar se a implantação do geoturismo no Parque


Estadual das Carnaúbas pode oferecer ao visitante um aprofundamento sobre as origens da história
do ambiente com base em informações geológicas, ao mesmo tempo em que constitui igualmente
um elemento essencial para incluir pessoas no contexto das discussões e reflexões que tratam do
conflito homem x meio ambiente (PIRANHA; DEL LAMA; LA CORTE, 2009).

METODOLOGIA

A metodologia científica pode ser compreendida, de forma resumida, como a soma de


técnicas e processos empregados na realização de uma pesquisa, sendo que as técnicas
corresponderiam às atividades sistematizadas e racionais que permitem alcançar os objetivos,
delineando o caminho metodológico a ser seguido (MARCONI; LAKATOS, 2003).
Nesse sentido, foram duas técnicas empregadas nessa pesquisa:

1. Documentação indireta: refere-se ao levantamento de dados em fontes primárias e secundárias


através de:
 Pesquisa documental: realizada no arquivo do Parque Estadual das Carnaúbas, onde foi
possível ter acesso a relatórios dos gestores e dados cartográficos.
 Pesquisa bibliográfica: baseou-se no levantamento, localização, fichamento e, por fim,
análise e interpretação de obras pertinentes ao tema, a partir de três eixos principais:
i. Geodiversidade, geopatrimônio, geoconservação e geoturismo,
ii. Caracterização da área de estudo e
iii. Interpretação ambiental
2. Documentação direta: corresponde ao levantamento de dados no próprio local onde os
fenômenos ocorrem, nesse caso, o Parque Estadual das Carnaúbas, através de pesquisa de
campo. Foi realizada em duas etapas, uma no ano de 2015 e outra em 2016, totalizando cerca de
20 dias, com o objetivo de compreender melhor as características naturais da área de estudo,
bem como identificar, georreferenciar e fazer o registro fotográfico dos atrativos de base
abiótica e cultural.

A partir dessas técnicas foi possível correlacionar os dados obtidos, o que oportunizou o
entendimento mais aprofundado e contextualizado da área de estudo do PEC e da temática
abordada. Dando continuidade, foram elaborados os mapas empregados na pesquisa (área de
estudo, localização do geopatrimônio, unidades litológicas e geomorfologia), os quais foram
elaborados com a supervisão de um especialista em geoprocessamento, tendo como referência a
base cartográfica obtida durante a pesquisa documental e imagens de satélite do Google Earth.

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A IMPORTÂNCIA DE UMA TRILHA GEOTURÍSTICA PARA O USO PÚBLICO DO PARQUE


DAS CARNAÚBAS

Diferentes segmentos de turismo vêm sendo praticados no Brasil. Esse fato deve-se tanto à
variedade das belezas naturais do nosso país quanto à sua história, rica em cultura, que atrai
milhares de turistas nacionais e de todo o mundo. Atualmente, o turismo ecológico cresce de 15% a
25% ao ano. Em todo o mundo, 10% dos turistas buscam esse tipo de atração.
Para estimular este mercado, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que 2017
será o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Em meio a essas
riquezas naturais se encontra a sua vertente geológica, com as conexões com a história e cultura
local. Assim, surgindo um campo turístico relativamente novo no Brasil se comparado aos demais
países, principalmente europeus: o Geoturismo.
O geoturismo emerge na atualidade com um grande potencial de valorização de recursos
naturais, buscando a sua divulgação e valorização, disseminando na sociedade os diferentes valores
que estes possuem, incitando-a a compreender a necessidade de conservação ou preservação dos
aspectos abióticos da natureza.
Define-se geoturismo como um segmento turístico de natureza que tem como principal
atrativo o meio abiótico, ou seja, feições geológicas como rochas e relevos, utilizando-as como
ferramentas para assegurar a conservação e a sustentabilidade do local visitado. Nesta atividade
utiliza-se como recurso ou produto toda a geodiversidade da região, buscando-se sempre sua
geoconservação.
Na definição de Ruschmann (2004), ―Geoturismo é um segmento da atividade turística que
utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural de uma região buscando, além de sua
conservação, a formação de uma consciência ambientalista, através da interpretação do ambiente e
da promoção do bem-estar das populações envolvidas‖.
Sob o enfoque em tela, a área de abrangência do Parque apresenta características
geomorfológicas truncadas por superfície erosiva desenvolvida sob condições de morfogênese
mecânica, traduzindo-se no sistema ambiental da Depressão Sertaneja. Exibe uma superfície
topográfica aplainada a moderadamente dissecada, com solos rasos e grande ocorrência de
afloramentos rochosos, como mostrado na figura 1.

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Figura 1: Painel interpretativo, com destaque em vermelho de um trecho da Trilha das Serra das Flores e com
destaque do círculo em azul para a Gruta da Pirapora (elaborada pelo autor)

Com esses recortes geológicos, o Parque configura diversos atrativos para as pessoas se
deslocarem de seu entorno habitual, precisam de motivação, de atrativos que despertem seu
interesse. Observou-se que em relação à Gruta da Pirapora, ainda falta mais pesquisa e informação
para um manejo correto e de forma sustentável.
Com os levantamentos de campo obtidos, observou-se que conforme Nascimento e Carvalho
(2003), os domínios fitoecológicos derivam de fatores históricos, ecológicos, espaciais, temporais e
modeladores das paisagens, através da geoecologia e atividades sociais. Os fatores climáticos,
edafológicos e bióticos estão compreendidos nos inter-relacionamentos atuais, dos quais depende a
distribuição vegetacional em uma dada época. Os vegetais são, pois, a base para a vida animal e,
portanto, fundamental para existência do homem.
Constatou-se também que, a região em estudo detém grande biodiversidade, a partir de
ecossistemas aquáticos e terrestres. Aqueles possuem taxa maior de família e ordens do que estes.
Por sua vez, os ecossistemas terrestres têm grande diversidade de insetos e plantas com flores, o que
proporciona maior riqueza de espécies. Em conjunto, compõem os domínios fitoecológicos e
faunísticos encontrados no Parque.
Todo esse geopatrimônio observado no PEC está intimamente relacionado à definição de
sítios geomorfológicos, os geomorfossítios, cujas formas de relevo e depósitos correlatos,
isoladamente ou em conjunto, devem ser representativas de determinados processos morfogenéticos
(VIEIRA e CUNHA, 2004). Panizza (2001) conceitua os geomorfossítios como as formas de relevo

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que adquiriram um valor científico, cultural/histórico, estético e/ou socioeconômico, devido à


percepção humana ou exploração.
Considerando as partes alta e baixa, com seus acessos e atrativos turísticos distintos, lá se
encontram ―dois parques em um‖. Há opções para turistas que desejam apenas observar pássaros no
hábitat natural ou a grande variedade de flora endêmica (figura 2), ou também àqueles que querem
fazer passeios ou longas caminhadas, para montanhistas e naturalistas, enfim, para todos os
apreciadores da natureza. Além disso, encontra-se água potável disponível por quase todo o parque,
diretamente das nascentes.

Figura 2: Diversidade de herbáceas encontradas no PEC

O trabalho em tela vem mostrar a viabilidade de geoturismo no PEC, tendo em vista que os
critérios físicos de geodiversidade levam em consideração o grau de conservação da vegetação,
rochas, solos, águas e toda a sua variabilidade ambiental. O grau de conservação da vegetação local
tem significado especialmente importante porque tem estreita relação com o estado de conservação
do solo e da fauna, alem de afetar a disponibilidade dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos.
Desse modo, as áreas mais conservadas devem abranger zonas de maior proteção e as áreas
mais degradadas devem ser direcionadas para as zonas de recuperação ambiental ou para zonas de
maior intensidade de uso. A variabilidade ambiental, por outro lado, está diretamente vinculada com
a compartimentação do relevo e com as feições do modelado. São essas características que
sintetizam as relações de interdependência entre o conjunto de fatores do potencial ecológico e da
exploração biológica.

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MAPEAMENTO ESTRATÉGICO DA TRILHA


Caracterização geral
Valores Principais Uso
Segmento Critérios de Zoneamento Meio
A/M/B Meio Físico Conflitos Permitido
Biológico
1.Grau de conservação da -Superfície
A
vegetação. estrutural de
relevo
2.Variabilidade ambiental. A
irregular. -Campos de - Caça
3.Representatividade Cerrado
A
ambiental. - Pesquisa
- Escarpas científica
4.Riqueza de espécie. A
frontais e
5. Área de transição A respectivos
Trilha
depósitos de -Vegetação
geoturística da 6. Suscetibilidade. M
tálus. de várzea -Desmata- -Monitora-
Serra das
7.Potencial para visitação. A com mento mento dos
Flores
carnaubais sistemas
8.Potencial para
A - Escarpas ecossistê-
conscientização.
secundárias micos
9. Infraestrutura. B ressaltos e
degraus
10.Uso conflitante. M
estruturais. - Caatinga e -Visitação
Mata Seca - Conflitos sujeita às
11.Presença de população. M fundiários normas e
restrições
Quadro 1- Caracterização da Trilha da Serra das Flores baseada em critérios adaptativos para o seu uso

Na coluna de Valores se têm as referências marcadas pelo A (alto), M (moderado) e B


(baixo), onde é possível correlacionar de forma qualitativa à importância da biodiversidade local
com o seu zoneamento. Assim, em conformidade com o escopo técnico, torna-se possível priorizar
ações e tomar as decisões mais coerentes, de acordo com os valores escolhidos para o planejamento
estratégico mais efetivo da Trilha da Serra das Flores.

Figura 3: Perfil em vermelho da Trilha da Serra das Flores, com o desenho da poligonal do PEC, em
amarelo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Já, em relação a Figura 3, pode-se confirmar pela interpretação do mapa em tela, que o
início da trilha se deu na cota 162m, no distrito de Passagem da Onça, do município de Viçosa/CE,
chegando ao topo na cota 895m. A trilha percorrida na modalidade de trekking tem grau de
dificuldade considerada alta, pois o seu percurso é entorno de 31,3 km, com um aclive íngreme. O
término da trilha se situa no distrito de Ubatuba, do município de Granja/CE.
Essa trilha pode ter ou desenvolver atributos turísticos, que deverão ser analisadas sob a
ótica geológica e geomorfológica no intuito de subsidiar a criação de produtos turísticos locais. A
análise deve avaliar as suas potencialidades bem como as vulnerabilidades em face das atividades e
demandas originadas pela exploração turística. Alguns pontos visitados, em razão da presença de
uma significativa geodiversidade, sobretudo geológica e geomorfológica, apresentam importante
valor científico e didático, como alguns afloramentos e geoformas. Denominados de geossítios,
esses locais podem abrigar um importante valor, científico, didático, estético, turístico, recreativo e
econômico.
No entanto, vale tomar medidas prevencionistas para mitigar impactos ambientais à
implantação da mesma, conforme destacam Fontoura e Simiqueli (2006), o uso das trilhas pelos
visitantes pode provocar alteração e destruição do habitat da flora e fauna, fuga de algumas espécies
animais, erosão, alteração dos canais de drenagem da água, compactação do solo pelo pisoteio e a
redução da regeneração natural de espécies vegetais. Os autores propõem uma abordagem integrada
de trilhas, que engloba todas as fases essenciais do manejo, ajudando a garantir a sustentabilidade
dos recursos naturais e a satisfação daqueles que utilizam a trilha.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com essas argumentações, uma proposta de Geoturismo no PEC pode oferecer uma grande
oportunidade de aproximação com a comunidade do entorno e visitantes, além de ser um novo
produto de turismo direcionado a pessoas motivadas por conhecimento intelectual e por atividades
que envolvam aprendizado, exploração, descoberta e imaginação. Esta necessidade de
conhecimento faz da interpretação um meio eficaz de prover informação em linguagem acessível,
tendo um papel importante no aumento do interesse na geoconservação e na geologia, além de
promover sua divulgação e uma maior educação ambiental.
Compreendeu-se que a proposta da Trilha da Serra das Flores é relevante como um produto
turístico e que aproveitamento dos diferentes conteúdos da geodiversidade sob diversos potenciais
de uso pode, inclusive, conferir à paisagem do PEC novas funcionalidades, serviços ecossistêmicos
integrados, dinâmicas econômicas e transformação da realidade local. Um importante instrumento
para esse processo é o Geoturismo baseado no conteúdo da geodiversidade, valorização,
reconhecimento, promoção e conservação dos valores dessa atratividade paisagística.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Espera-se que os trabalhos na região do PEC continuem e favoreçam a compreensão de seu


valor ambiental e científico, além de estimular a realização de mais atividades de pesquisa e ensino
envolvendo este patrimônio natural/cultural e acabe por aumentar o reconhecimento dos benefícios
da geoconservação na população local e no público visitante.

REFERÊNCIAS

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Epitácio: representações sociais e culturais de identidade local. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Local). Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, 2006.

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MOREIRA, J. C. Geoturismo: uma abordagem histórico-conceitual. VI Seminário da Associação


Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo 10 e 11 de setembro de 2009 –
Universidade Anhembi Morumbi – UAM/ São Paulo/SP.

Geoturismo e interpretação ambiental. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2011. 157p.

Patrimônio geológico em Unidades de Conservação: atividades interpretativas, educativas e


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Catarina, Florianópolis, Tese de Doutorado, 428p. 2008.

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um exemplo do geoprocessamento aplicado à geografia física. Revista de Geografia, Recife:
DCG/UFPE, n. 1, p. 57-64, 2001.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 650


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Hueliton da Silveira FERREIRA


Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia PPGEO- UFS
huelitonferreira@gmail.com

RESUMO
O artigo aborda o tema da educação no âmbito do processo de gestão ambiental das unidades de
conservação federais geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), destacando a contribuição da educação ambiental na gestão participativa e democrática
destas áreas protegidas a partir da participação social por meio dos conselhos gestores e outros
instrumentos de gestão das unidades de conservação. Analisa-se como a EA praticada na gestão das
unidades de conservação federais leva a um maior envolvimento por parte das populações
beneficiarias e comunidades do entorno no processo de gestão e planejamento ambiental destas
áreas. Desta forma fornecendo através da EA uma formação que permite a participação mais efetiva
e qualificada das comunidades na implementação dos planos de gestão nos territórios em que estão
inseridas. Aborda ainda os instrumentos legais e normativos utilizados pelo órgão gestor para
viabilizar a prática da EA nos processo de gestão das unidades de conservação.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Unidades de Conservação, Gestão participativa.
RESUMÉN
El artículo aborda el tema de la educación en el marco del proceso de gestión de las unidades de
conservación federales, gestionadas por el Instituto Chico Mendes de Conservación de la
Biodiversidad (ICMBio), destacando la contribución de la EA en la mejora de la gestión
participativa y democrática de estas áreas protegidas participación social a través de los consejos
gestores y otros instrumentos de gestión de las unidades de conservación. Se analiza cómo la EA
practicada en la gestión de las unidades de conservación federales lleva a una mayor implicación
por parte de las poblaciones beneficiarias y comunidades del entorno en el proceso de gestión
ambiental y planificación de estas áreas. De esta forma, a través de la EA una formación que
permite la participación más efectiva y calificada de las comunidades en la implementación de los
planes de gestión en los territorios en que están insertadas. Aborda además los instrumentos legales
y normativos utilizados por el órgano gestor para viabilizar la práctica de la EA en los procesos de
gestión de las unidades de conservación.
Palabras clave: Educación Ambiental, Unidades de Conservación, Gestión participativa.

INTRODUÇÃO

Atualmente a crise ambiental adquire cada vez mais dimensões globais. O atual estágio de
desenvolvimento do modo de produção capitalista chegou a patamares de destruição ambiental
ainda não alcançados em nenhuma outra fase da história. Assim, a Educação Ambiental (EA)
passou a ser apresentada como uma importante estratégia para a formação de indivíduos envolvidos
na construção de uma sociedade sustentável, socialmente justa e ecologicamente equilibrada.
Ou seja, uma sociedade que contesta os paradigmas reducionistas da realidade e o modo de
produção capitalista que explora o meio ambiente a partir da lógica do consumismo. Ao abordar

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

esse assunto, Leff (2001) enfatiza a necessidade da incorporação de uma visão de sustentabilidade
fundada numa racionalidade ambiental, o que requer a mobilização de um conjunto de processos e
ações sociais, tais como ―a formação de uma consciência ecológica; o planejamento transetorial da
administração pública e participação da sociedade na gestão; a reorganização interdisciplinar do
saber, tanto na produção como na aplicação de conhecimento‖ (LEFF, 2001). Onde a construção da
racionalidade ambiental passa pelo confronto de interesses opostos e pela conciliação de objetivos
comuns de diversos atores sociais.
Na década de 1970, as discussões sobre a EA ganham força pelo mundo em virtude da
realização de eventos que contaram com a participação de cerca de 150 países. Dentre tais eventos,
destacam-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (1972) e a Conferência
Intergovernamental de Educação Ambiental (1977). Neles, foram definidos princípios, objetivos,
estratégias e recomendações para o desenvolvimento da EA mundial, o que, de certa maneira,
desencadeou esforços para a consolidação de políticas públicas internacionais e nacionais
ambientais.
A história de criação de políticas públicas de EA em âmbito federal no Brasil se inicia no
ano de 1973 a partir da criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (Sema), tendo como
competência, ―o esclarecimento e a educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos
naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente‖.
Em 1981, a EA surgiu pela primeira vez em uma lei federal, inserida como um princípio da
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), ―Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente
tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
(...). X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente‖. (BRASIL, 1981). Com
a Constituição Federal em 1988, ganhou importância maior com o artigo n.º 225, como uma forma
de se assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e também de defesa
e preservação ambiental para as gerações presentes e futuras (BRASIL, 1988).
A partir de 1990 a EA alcança grande espaço nas discussões em diversos setores da
sociedade (inclusive nas instituições de ensino), momento este ocasionado principalmente pela
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-
92, ocorrida no Rio de Janeiro. Com as influências anteriores e posteriores à Eco- 92, a EA passou a
se fazer mais presente em diferentes instâncias governamentais, como no Ministério da Educação e
no nascente Ministério do Meio Ambiente (MEDINA, 1997). Em dezembro de 1994, em função da
Constituição Federal de 1988 e dos compromissos internacionais assumidos com a Conferência do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Rio, foi criado, pela Presidência da República, o Programa Nacional de Educação Ambiental-
PRONEA (MMA, 2014)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO PÚBLICA

Juntamente com sua incorporação à dimensão governamental brasileira, houve um


envolvimento maior da EA tanto junto à academia quanto à sociedade civil, com consequente
aumento do número de trabalhos acadêmicos, ocorrência de encontros e fóruns e multiplicação das
redes (REIGOTA, 1998). Em seguida, direcionando a EA à formação humana e cidadã, foi criada,
em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei n.º 9795/99, que, além de muitos outros
encaminhamentos, institui a EA como obrigatória em todos os níveis de ensino formal. E definiu
em seu Art. 1º ―Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade‖. (BRASIL, 1999)
Quintas (2006) propõe o uso da educação ambiental como instrumento mediador de
conflitos socioambientais na gestão ambiental publica. Entendendo a gestão ambiental como um
processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que
agem sobre os meios físico-natural e construído. Para este autor, o principal mediado desse processo
é o poder público, por ser detentor de poderes e obrigações estabelecidos na legislação, que lhe
permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais até a reparação
pelo dano ambiental. Essa concepção é adotada na gestão das unidades de conservação federais.
A EA direcionada aos grupos sociais que convivem diretamente com a realidade das
unidades de conservação, sejam os vizinhos, moradores, usuários ou beneficiários desses territórios
protegidos, é uma estratégia essencial para o engajamento da sociedade na desafiadora tarefa de
conservar as diversidades natural, cultural e histórica desses territórios. De um modo geral, as ações
de EA nesses espaços têm por objetivo a mudança de atitude dos indivíduos em relação ao espaço
protegido, contribuindo para a construção de novos conhecimentos e valores necessários à
conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento socioambiental. (ICMBio, 2016-a)
Assim, a educação ambiental crítica e emancipatória deve permear as práticas educativas no
interior e no entorno de unidades de conservação e demais áreas protegidas. No sentido de que ―o
esforço da Educação Ambiental deveria ser direcionado para a compreensão e busca de superação
das causas estruturais dos problemas ambientais por meio da ação organizada‖. (QUINTAS, 2006)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INSTRUMENTOS LEGAIS E NORMATIVOS DA GESTÃO PARTICIPATIVA EM UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO

A política ambiental no Brasil é orientada por leis, decretos e resoluções e é composta por
políticas públicas, planos e programas. Ela regula e orienta o uso adequado dos recursos naturais
por atividades humanas e processos econômicos, visando o bem-estar da sociedade. O uso dos
recursos naturais e do território constitui a essência da intervenção reguladora, pois intervir sobre a
natureza é intervir sobre o seu suporte, que é o território (Steinberger; Abirached, 2013).
No Brasil, em 2000 a Lei 9.985, instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC). Segundo a qual, compete à União, aos estados e municípios definir espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos. As unidades de conservação integrantes do
SNUC, conforme art. 7 a 14, dividem-se em dois grupos, com características específicas:
• Unidade de Proteção Integral: seu objetivo básico é preservar a natureza, sendo admitido
apenas uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei. É
composta por: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e
Refúgio de Vida Silvestre.
• Unidade de Uso Sustentável: seu objetivo básico é compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. É composta por: Área de
Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva
Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do
Patrimônio Natural.
Como bem descreveram Medeiros (2006), Santilli (2005) e Pureza (2015) o SNUC foi fruto
de quase uma década de discussões, sobretudo quanto à presença ou não de pessoas dentro das
unidades, e, apesar do inegável avanço que proporcionou à questão das áreas protegidas no Brasil,
não conseguiu atingir plenamente sua pretensão inicial de criação de um sistema que pudesse
integrar, por meio de um único instrumento, a criação e gestão das distintas tipologias existentes no
país. Se, por um lado, ele tem o mérito de racionalizar e otimizar em parte esta questão, ele também
aprofundou a divisão existente entre as diferentes tipologias de áreas protegidas que ficaram
excluídas do seu texto.
A partir de uma analise critica da Lei, Rodrigues (2005) destacou que a lei do SNUC apesar
das deficiências surge como um instrumento importante para traçar novos rumos que permitam as
UCs exercer mais efetivamente o seu relevante papel na conservação ambiental.
A Lei n° 9.985/2000 estabelece a necessidade de criação de Conselhos na gestão de
Unidades de Conservação. O Decreto n° 4.340/2002 define a forma de composição e de
representação dos Conselhos, bem como estabelece as suas competências. Cada Conselho constitui
um fórum de excelência para promover o diálogo permanente com a sociedade e construir com as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comunidades e demais atores locais a solução para os desafios a serem enfrentados pela gestão das
Unidades de Conservação.
A Politica Nacional de Participação Social (PNPS), recém-instituída pelo Decreto n°
8.243/2014, tem como uma de suas diretrizes gerais o reconhecimento da participação social como
direito do cidadão e expressão de sua autonomia. Objetiva consolidar a participação social como
método de governo e conceitua os conselhos de políticas públicas como instância colegiada
temática permanente, instituída por ato normativo, de diálogo entre a sociedade civil e o governo.
O Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas - PNAP, instituído pelo Decreto n°
5.758/2006, que prevê como estratégias para aprimorar o planejamento e a gestão do SNUC o
estabelecimento e a promoção do funcionamento dos conselhos das unidades de conservação, bem
como o apoio à participação efetiva dos representantes das comunidades locais nos conselhos;
A Instrução Normativa ICMBio nº 09, de 5 de dezembro de 2014, que disciplina as
diretrizes, normas e procedimentos para a formação, implementação e modificação na composição
de Conselhos Gestores de Unidades de Conservação Federais;
Ao analisar os conselhos gestores em termos de estrutura e funcionamento, baseados em
normas especificas, aceitamos que os documentos legais que regem a política ambiental
estabelecem diretrizes ao Estado para promover a regulação do uso dos recursos naturais e do
território por meio de pactos e compromissos, construídos com distintos setores da sociedade
brasileira.(ICMBio, 2015).
Em ultima analise trata-se de reconhecer a legislação como ferramenta para a gestão
ambiental das unidades de conservação, como destacaram Dios & Marçal (2012) ao assinalar que o
direito ambiental esta inserido no âmbito dos interesses da coletividade, sendo que o interesse na
proteção do meio ambiente é de natureza pública, prevalecendo sobre os interesses individuais,
constituindo o primeiro principio do direito ambiental que é a supremacia do interesse publico na
proteção do meio ambiente. Para tanto, são necessários instrumentos capazes de viabilizar uma
gestão ambiental que envolva todos os setores sociais e comunidades locais na implementação
desses territórios.

A GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS

Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da


Biodiversidade é uma autarquia em regime especial, criado dia 28 de agosto de 2007, pela Lei
11.516, o ICMBio faz parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).
Ao Instituto compete executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as UCs instituídas pela
União. Sua missão é proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Que se dá por meio da gestão de Unidades de Conservação Federais, da promoção do


desenvolvimento socioambiental das comunidades tradicionais naquelas consideradas de uso
sustentável, da pesquisa e gestão do conhecimento, da educação ambiental e do fomento ao manejo
ecológico. Ou seja, a educação ambiental é uma das finalidades do ICMBio.
Assim, em 2011, foi criada a Coordenação de Educação Ambiental e Capacitação Externa,
para implementar as diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA - Lei 9.795/99)
e da Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental (ENCEA , estabelecida pela
Recomendação CONAMA nº 14, de 26/04/2014) nas unidades de conservação federais e centros
nacionais de pesquisa e conservação. Teve como objetivo fortalecer ações institucionais que
promovam a qualificação da participação social na gestão e promover a sociobiodiversidade. Com
foco político-pedagógico no fortalecimento de políticas públicas e ações institucionais que
promovam os instrumentos de gestão e conservação da biodiversidade; participação efetiva na
gestão das UCs dos grupos sociais em situação de vulnerabilidade ambiental; espaços democráticos
de participação na gestão de UCs e da biodiversidade. (ICMBio, 2016-a).
O Instituto ainda fomenta e executa programas de pesquisa, proteção, preservação e
conservação da biodiversidade e exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das Unidades
de Conservação federais. Além de fazer a gestão das unidades de conservação, atua na proteção das
espécies ameaçadas de extinção, no apoio às populações tradicionais extrativistas e na promoção ao
uso sustentável dos recursos da biodiversidade. Contudo, as ações de educação ambiental em
comunidades escolares no interior e entorno de unidades de conservação tem sido uma das
principais demandas recebidas pelo Instituto.
Atualmente administra em todo o Brasil 324 Unidades de Conservação, fornece a apoio a
667 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), atende 52.104 famílias beneficiarias
residentes em unidades de conservação de uso sustentável, e atuando num total de 9,0% do
território do território continental brasileiro protegido em UCs federais, distribuídas conforme os
dados abaixo.

Figura 1. (Fonte: ICMBIO, 2017). Figura 2. (Fonte: ICMBIO, 2017)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na figura 1. Dados estatísticos sobre numero de unidades de conservação federais (total de


324, por área e categorias de manejo) e total de área protegida segundo grupos de proteção.
A figura 2 apresenta o numero de unidades de conservação federais por bioma brasileiro,
onde se pode perceber a representatividade das UCs em cada bioma.

OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO

A ação do homem no meio gera uma série de modificações no ambiente natural. Dentre as
consequências das atividades humanas no meio ambiente pode-se citar a fragmentação das áreas
naturais e as drásticas modificações provocadas pelos diferentes usos da terra estabelecidos nos
espaços entre os fragmentos naturais remanescentes. A paisagem resultante deste processo
compromete a conectividade entre as áreas naturais restantes, dificultando a trânsito das populações
de diversas espécies, gerando obstáculos para as atividades vitais, como reprodução e alimentação,
resultando na extinção de espécies e de sistemas naturais.
Pureza (2015) assinala que diante da necessidade de reservar espaços para garantir a
disponibilidade e o uso dos recursos naturais, o ser humano passou a destinar áreas especificas para
exploração ou conservação da natureza, sendo que ao longo dos anos estas áreas passaram por
alterações conceituais passando a ter características e finalidades diferentes, levando a uma
necessária formulação de critérios quanto a sistematização e gestão destas áreas protegidas.
Os instrumentos de gestão territorial aparecem como alternativas para compatibilizar a
ocupação humana com a conservação da biodiversidade. Eles visam garantir a sobrevivência e a
efetividade das áreas naturais protegidas em consonância com as atividades humanas, por meio de
ações no território, envolvendo as UC e seu entorno, outras áreas protegidas e as áreas modificadas
pela ação do homem estabelecidas entre elas. Esses instrumentos, quando aplicados no contexto
regional, fortalecem a gestão das áreas protegidas, ordenam o território e compatibilizam a presença
da biodiversidade, a valorização da sociobiodiversidade e as práticas de desenvolvimento
sustentável.
Com a criação da Lei do SNUC, foram disponibilizados aos órgão gestores três instrumentos
de gestão territorial: Corredores Ecológicos, Mosaicos, Reserva da Biosfera. Há ainda outros
instrumentos de gestão de áreas protegidas, como os Sítios do Patrimônio Natural, Sítio Ramsar.
Quanto a gestão de Unidades de Conservação, os principais instrumentos de gestão são o Conselho
gestor e o Plano de Manejo.
Um dos desafios encontrados por Unidades de Conservação (UCs) é a ameaça à
biodiversidade devido à pressão humana. Desse modo, desenvolver meios para envolver a
sociedade pela proteção de uma área se torna cada vez mais urgente e estratégico. (ICMBio, 2016)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Principal instrumento de relacionamento entre as Unidades de Conservação e a sociedade, o


Conselho pode ser Consultivo ou Deliberativo, e visa promover uma gestão compartilhada da
Unidade, com ampla participação da sociedade. Atualmente das 324 Unidades de Conservação
federais, 279 possuem Conselhos formados. Conforme mostram os dados do ICMBio abaixo.

Figura 3. Dados estatísticos sobre conselhos gestores das unidades de conservação federais (situação, tipo,
regimento interno). Fonte: ICMBIO, 2017.

De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), cada UC deve ter
seu próprio conselho, presidido pelo órgão que administra a Unidade, no caso, o Instituto Chico
Mendes.
A formação de um Conselho, basicamente, passa por três fases: a identificação dos atores
governamentais e da sociedade civil que estejam de alguma forma relacionados com a UC, a
sensibilização e mobilização destes atores e a sua formação propriamente dita.
O Conselho deve ser composto por representantes da sociedade e dos órgãos públicos
federais, estaduais e municipais. Sua criação se dá por meio de Portaria publicada no Diário Oficial
da União, com a relação dos setores usuários e reguladores dos usos do território de influência da
Unidade de Conservação. Estão entre as competências do Conselho elaborar o seu regimento
interno e plano de ação; acompanhar a elaboração, implementação e revisão do Plano de Manejo da
UC, garantindo seu caráter participativo; buscar a integração da UC com as demais áreas protegidas
e com o seu entorno, entre outras.
Categorias de UCs com Conselho Consultivo: Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação
Ecológica, Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre e Florestas Nacionais.
Categorias de UCs com Conselho Deliberativo: Reserva de Desenvolvimento Sustentável,
Reserva Extrativista.
Categorias de UCs com Conselhos ainda não regulamentados: Área de Proteção Ambiental,
Área de Relevante Interesse Ambiental, Reserva de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio
Particular. Cabe destacar que o SNUC não deixa claro o tipo de Conselho para APAs. No entanto,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ICMBio está trabalhando na regulamentação da categoria e, até então, a maioria das APAs vêm
tratando seus Conselhos como Consultivos.
Além da Instrução Normativa 09/2014, já citada, o Instituto publicou um Guia para
Conselhos e Gestores (publicado em 2014). A seguir estão as informações de como estão
distribuídos os conselhos entre as categorias de Unidades de Conservação federais.

Figura 4. Dados estatísticos sobre conselhos gestores das unidades de conservação federais por categoria de
manejo e grupo de proteção. Fonte: ICMBIO, 2017.

Em cada conselho gestor, diferentes segmentos sociais e comunidades tradicionais são


constantemente orientados por processos educativos focados na gestão ambiental destes territórios,
tornando a educação ambiental uma ferramenta de longo alcance para além dos limites das unidades
de conservação, com ações voltadas para a comunidade escolares no contexto da gestão pública da
biodiversidade nas UCs. Chegando a existir em algumas Reservas Extrativistas propostas de Projeto
Politico Pedagógico diferenciado em função da realidade local territorial da UC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental como uma ação política é exercida de forma relevante nas unidades
de conservação federais. O caráter político pode ser expresso, ou não, na intencionalidade e no
potencial transformador das relações sociais nas quais a educação, em suas mais variadas formas de
institucionalização, está inserida. Em função da realidade a ser transformada, como prática social a
educação ambiental se exerce de forma política. Trata-se, portanto, de uma educação política de
caráter crítico-transformador inserida no processo de gestão ambiental das unidades de conservação,
sobretudo a partir dos conselhos gestores. À medida que os conselheiros são continuamente

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

capacitados por ações educativas, a EA acaba por ser uma importante pratica utilizada como
ferramenta para fortalecer a gestão das unidades de conservação federais.
Com este artigo, fica evidente que mesmo considerando a situação difícil das unidades de
conservação com relação a sua efetiva implementação e estruturação, considerando os percalços
diários necessários à elaboração dos planos de manejo, dos conselhos gestores, da regularização
fundiária, da fiscalização, do uso público, das pesquisas cientificas, entre outros, a educação
ambiental sendo usada em todos estes processos representa uma importante ferramenta para a
gestão participativa e democrática destes territórios. Conclui-se que a ação educativa deve ser
contínua, envolvendo a diversidade de atores como protagonistas no processo. É importante que
ocorra um processo democrático de construção participativa e permanente, de forma que o impacto
transformador das ações de EA como instrumento de gestão das unidades de conservação reflita
uma ação continuada, construída horizontalmente com a comunidade envolvida, ou seja,
―construída com as pessoas, e não para as pessoas‖.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. 1981.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição República Federativa do Brasil.1988.

BRASIL. Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre Educação Ambiental e institui a
Política nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Brasília, DF, 28 abr. 1999.

BRASIL . Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Educação. Programa Nacional de


Educação Ambiental (ProNEA). 3. ed. Brasília: Edições MMA, 2005.

DIOS, Claudia Blanco & MARÇAL, Monica dos Santos. Legislação ambiental e a gestão de
unidades de conservação: o caso do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba – RJ. IN:
GUERRA, Antonio Jose T. (org). Unidades de Conservação, abordagens e características
geográficas. 2.edicao, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2012.

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2001.

ICMBio. Conselhos Gestores de unidades de conservação federais, um guia para gestores e


conselheiros. 2. Edição, Brasília, 2015.

ICMBio, Boas práticas na gestão de unidades de conservação. Edição 02 , Brasília, 2016.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 660


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ICMBio. Educação Ambiental em Unidades de Conservação: Ações voltadas para Comunidades


Escolares no contexto da Gestão Pública da Biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente,
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MEDINA, N. M. Breve histórico da educação ambiental. In: PÁDUA, S. M.; (Org.). Educação
ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília, DF: IPE, 1997. p.257-269.

MEDEIROS, R. Evolução das tipologias e categorias de áreas protegidas no Brasil. Ambiente &
Sociedade.V. IX. n. 1. p. 41–64. 2006.
MMA. Educação ambiental, por um Brasil sustentável: ProNEA, Marcos Legais & Normativos. 4.
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PUREZA, Fabiana. Unidades de Conservação, fatos e personagens que fizeram a historia das
categorias de manejo. São Paulo, Matrix, 2015.

QUINTAS, Jose Silva. Introdução a gestão ambiental pública. 2. Edição, Brasilia, IBAMA, 2006.

REIGOTA, M. A. S. Educação ambiental: fragmentos de sua história no Brasil. In: NOAL, F.;
REIGOTA, M. (Orgs.). Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul:
Edunisc, 1998.

RODRIGUES, Jose Eduardo Ramos. Sistema Nacional de Unidades de Conservação. São Paulo,
Editora Revista dos Tribunais, 2005.

SANTILI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos, proteção jurídica a diversidade biológica


e cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005.
STEINBERGER, Marília; ABIRACHED, Carlos F de A. Política Ambiental: intervenção do Estado
no uso da natureza e do território. In: Território, Estado e Políticas Públicas Espaciais. Brasília:
Ler Editora, 2013.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EFETIVIDADE DA GESTÃO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DO CUIÁ

Igor do Nascimento QUARESMA


Graduado no curso de Engenharia Ambiental da UFPB
igor_nq@hotmail.com
João Evangelista Nascimento Filho
Graduando no curso de Engenharia Ambiental da UFPB
joaonasc.filho@gmail.com
Lenine de Carvalho Fontes DA SILVA
Graduado no curso de Engenharia Ambiental da UFPB
leninefontes@hotmail.com
Bráulio Almeida SANTOS
Doutor em Ciências pela Universidad Nacional Autónoma de México (2011)
braulio@dse.ufpb.br

RESUMO
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) foi instituído através da lei federal Nª
9985/2000, que dispõe sobre a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Porém,
resta saber se a gestão das unidades de conservação está sendo feita de forma efetiva. Uma das
ferramentas utilizadas no estudo da efetividade de gestão das unidades de conservação é a auditoria
ambiental. Diante disso, os objetivos desta pesquisa foram (1) realizar uma auditoria ambiental a
fim de verificar a adequação da unidade de conservação ao que está previsto na legislação
ambiental vigente, e (2) propor soluções para as não conformidades encontradas na auditoria
ambiental. Foram realizadas duas auditorias ambientais no Parque Natural Municipal do Cuiá:
auditoria de conformidade legal e auditoria de desempenho de gestão. Ao longo das auditorias
foram aplicados 40 parâmetros, onde 39 apresentaram não conformidades relativas à legislação
ambiental ou a um desempenho de gestão efetivo. Os graves problemas de gestão demonstrados
nesta pesquisa evidenciam o não cumprimento do parque com suas funções previstas na Lei Federal
9.985/2000. Recomenda-se o desenvolvimento e a adoção de um modelo de gestão compartilhada
entre o setor público e o privado, de forma que a unidade seja conservada em sua totalidade e
cumpra suas funções sociais.
Palavras Chave: Unidades de Conservação, Gestão Ambiental, Auditoria Ambiental.
RESUMEN
El Sistema Nacional de Unidades de Conservación (SNUC) fue creado por la Ley Federal Nº
9985/2000, que dispone sobre la creación, implantación y la gestión de las Unidades de
Conservación. Sin embargo, queda por saber si la gestión de las unidades de conservación está
siendo hecha de forma efectiva. Uno de los instrumentos utilizados en el estudio de la efectividad
de gestión de las unidades de conservación es la auditoría ambiental. Por lo tanto, los objetivos de
este trabajo he sido (1) realizar una auditoría ambiental a fin de verificar la adecuación de las
unidades de conservación a lo que está descrito en la legislación ambiental y (2) proponer
soluciones para las no conformidades encontradas en la auditoría ambiental. Se aplicaron dos
auditorías ambientales en el Parque Cuiá: auditoría de conformidad y auditoría de gestión. He sido
aplicados 40 parámetros en las auditorías, donde 39 presentaron no conformidades relativas a la
legislación ambiental o con una gestión ambiental efectiva. Los graves problemas de gestión
presentados en este trabajo evidencian el incumplimiento del Parque Cuiá con sus funciones, en los
términos de la Ley Federal 9.985/2000. Se recomienda el desarrollo y la adopción de un modelo de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

gestión compartida entre el sector público y el privado, de forma que la unidad sea conservada en su
totalidad y cumpla con sus funciones sociales.
Palabra clave: Unidad de Conservación, Gestión Ambiental, Auditoria Ambiental.

INTRODUÇÃO

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) foi instituído através da lei


federal Nª 9985/2000, que dispõe sobre a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação, tanto na esfera administrativa federal, estadual e municipal. Essas unidades são
criadas com o objetivo de preservar os ecossistemas envolvidos nessas áreas.
A efetividade de gestão das unidades de conservação é cada vez mais questionada. Então é
necessária a utilização de instrumentos que busquem o aperfeiçoamento da gestão das unidades de
conservação. Uma dessas ferramentas é a auditoria ambiental, definida como sendo um instrumento
de gestão que permite fazer uma avaliação sistemática, documentada e periódica das atividades de
uma organização, para controlar e minimizar seus impactos sobre o meio ambiente, visando uma
melhoria contínua do seu desempenho (VALLE 2004).
Os objetivos desta pesquisa são (1) Realizar uma auditoria ambiental a fim de verificar a
adequação do Parque Cuiá ao que está previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação e
seu decreto de criação e (2) propor soluções para as não conformidades encontradas na auditoria
ambiental.

MÉTODOS

Caracterização da área de estudo

O Parque Natural Municipal do Cuiá é uma unidade de conservação de proteção integral,


criado através do Decreto Municipal Nº 7.715 de Abril de 2012. O parque está localizado na cidade
de João Pessoa, capital da Paraíba e é gerido pela Secretária do Meio Ambiente (SEMAM). O
Parque do Cuiá possui uma área de 43 hectares e representa um dos maiores remanescentes de
vegetação nativa urbana da Paraíba, pertencente ao Bioma Mata Atlântica. Devido a sua
localização, o Parque Cuiá apresenta um grande potencial para visitação, educação e interpretação
ambiental, além de outros usos recreacionais e contemplativos. A figura 1 ilustra a localização do
Parque Cuiá.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1 Localização do Parque Municipal Cuiá

Além da importância que a área possui pelo remanescente de vegetação nativa o parque
pertence à bacia hidrográfica do Rio Cuiá, localizado mais precisamente no alto do Rio Cuiá.
Segundo Braga (2014), a bacia hidrográfica do Rio Cuiá é uma das mais importantes da zona sul da
cidade de João Pessoa, sua área é protegida por lei na modalidade de Área de Preservação
Permanente - APP segundo o Código Florestal Nº 12.651/2012 e as Zonas Especiais de Proteção -
ZEP (Plano Diretor Municipal Lei 03/1992 e suas alterações).
O Parque Cuiá foi criado com os seguintes objetivos: Preservar e recuperar as características
dos ecossistemas originais do bioma Mata Atlântica, manutenção dos processos ecológicos, e o
desenvolvimento de atividades de educação ambiental, recreação e turismo ecológico (JOÃO
PESSOA, 2012).

Auditoria ambiental

A auditoria ambiental realizada no Parque Cuiá teve como método o Manual para Auditoria
Ambiental em Unidades de Conservação (HATJE, 2009), onde este autor propôs um conjunto de
indicadores que podem ser utilizados em uma auditoria ambiental para unidades de conservação.
Porém, nesta pesquisa foram realizadas adaptações nos indicadores propostos por Hatje (2009), para
que os mesmos atendessem as características do Parque Cuiá.
Sendo assim, a auditoria foi dividida em duas auditorias: auditoria de conformidade legal e
auditoria de desempenho de gestão. Na auditoria de conformidade legal, os parâmetros são
estudados com o objetivo de verificar se os mesmos estão em conformidade com a legislação
ambiental vigente, como a Lei Federal Nº 9985 (SNUC) e o decreto de criação da unidade de
conservação. Já na auditoria de desempenho de gestão, os parâmetros não estão diretamente ligados
à legislação, mas sim com um desempenho de gestão efetivo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Foram utilizadas imagens de satélite disponíveis no Google Earth Pro® com o objetivo de
identificar as diferentes coberturas vegetais do Parque Cuiá, como áreas degradadas (solo exposto,
áreas edificadas e pastagem) e fragmentos de vegetação, e identificar os principais danos causados
ao Parque Cuiá. Em conjunto com a analise das imagens de satélite, foi realizada uma visita a
campo ao Parque Cuiá em 26 de Fevereiro de 2016, onde foi possível analisar os aspectos físicos do
parque, como a disposição de resíduos sólidos, ocupações irregulares, sinalização, controle de
acesso ao parque.
Definido o escopo das auditorias ambientais, foi criado um check list contendo os possíveis
requisitos e parâmetros a serem estudados em cada uma das auditorias. Para a Auditoria de
Conformidade Legal foram aplicados quatro requisitos, subdivididos em 12 parâmetros. Os
requisitos e parâmetros aplicados na auditoria de conformidade legal estão dispostos na tabela 1.

Tabela 1Requisitos e Parâmetros aplicados na auditoria de conformidade legal


Requisito Legislação Evidências
1 Plano de Manejo
1.1 Existências do Plano de Artigo 27 da lei nº Publicação do plano.
Manejo. 9.985/00 – SNUC.

1.2. Elaboração do Plano de Artigo 27 da lei nº Publicação do plano no prazo de cinco anos após
Manejo no prazo de cinco anos da 9.985/00 – SNUC. a criação da unidade de conservação.
criação da unidade.

1.3. Inclusão, no plano de manejo, Artigos 25 e 27 da lei nº Item incluso no plano.


do zoneamento, zona de 9.985/00 - SNUC.
amortecimento e de corredores
ecológicos.
1.4. Plano de Manejo público e Artigo 27 da lei nº Cópias eletrônicas ou impressas do plano de
disponível para leitura na sede da 9.985/00 - SNUC; manejo acessíveis aos interessados.
unidade e em meio eletrônico. Artigo 16 do decreto
4.340/02.
2 Conselho Gestor
2.1. Existência do conselho Artigo 29 da lei nº Portaria de criação do conselho gestor.
Consultivo. 9.985/00 – SNUC.
2.2. Inclusão de órgãos pertinentes Artigo 29 da lei nº Portaria de criação do conselho gestor.
externos. 9.985/00 – SNUC.
3 Pesquisa
3.1. Articulação da UC com a Artigo 32 da lei nº 9.985 Cópia dos convênios; Cópia dos projetos dos
comunidade cientifica. – SNUC. estudos em andamento, cadastros SISBIO etc.
3.2. Aprovação prévia das Artigo 32 da lei nº 9.985 Cópia da autorização de pesquisa; cadastro
pesquisas realizadas pelo órgão – SNUC. SISBIO.
competente.
4 Aspectos diversos
4.1. Ocupações irregulares no Artigo 11, § 1° da lei nº Registros que comprovem a existência de
interior da UC. 9.985/00 – SNUC. ocupações irregulares no interior da UC.
4.2. Zona de Amortecimento. Artigo 25 da lei nº Existência.
9.985/00 – SNUC,
4.3. Danos causados as Unidades Artigo 40-lei 9.605/98. - Registros que identifiquem os danos causados a
de Conservação. unidade de conservação.
4.4. Conservação das Apps no Lei Federal nº 12.651. Registro de atividades que comprovem a
interior das unidades. conservação das Apps no interior da UC-

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na Auditoria de Desempenho de Gestão do Parque Cuiá foram aplicados dez requisitos


gerais, subdivididos em 28 parâmetros. Os requisitos e parâmetros utilizados na Auditoria de
Desempenho de Gestão estão listados na tabela 2.

Tabela 2 Requisitos e Parâmetros aplicados na auditoria de desempenho de gestão


Requisito Evidências
1 Uso Público
1.1. Trilhas interpretativas definidas no Existência de trilhas interpretativas, sinalizadas e com condições de
Plano de Manejo. caminhada.
1.2. Comunicação visual. Sinalização com informações úteis aos visitantes.
1.3 Equipamentos. Existência e conservação dos equipamentos necessários ao uso público da
unidade de conservação.
1.4. Capacidade de Carga. Existência de estudo de capacidade de carga para uso público.
1.5. Controle de acesso. Sistema para controle da visitação e acesso.
2 Equipe
2.1. Equipe técnica nível superior. Registro de Funcionários.
2.2. Equipe técnica de fiscalização. Registro de Funcionários.
2.3. Equipe administrativa. Registro de Funcionários.
2.4. Treinamento da equipe. Realização e fomento ao treinamento e capacitação da equipe.
3 Funcionamento do conselho
3.1. Reuniões do conselho. Atas de reuniões que comprovem a existência do conselho.
4 Zoneamento
4.1. Efetividade do zoneamento Atividades desenvolvidas de acordo com o estabelecido para cada zona,
constante no plano de manejo. no plano de manejo.
5 Relação com a comunidade
5.1. Realização de projetos sociais e/ou Existência de projetos que fomentem a relação da comunidade local com
ambientais. a unidade de conservação.
6 Infraestrutura
6.1. Centro de Visitantes. Existência de estrutura.
6.2. Sede Administrativa. Existência de estrutura.
6.3. Área de apoio a pesquisa. Existência de estrutura.
6.4. Delimitação física do limite da UC. Cercas, muros, placas, etc.
6.5 Banheiros públicos. Existência de estrutura.
6.6. Gestão de resíduos sólidos. Existência de estrutura para acondicionamento e destinação de resíduos
sólidos.
6.7. Gestão de efluentes Líquidos. Existência de rede para coleta, destinação (rede publica, fossa) e
tratamento de efluentes líquidos.
6.8 Espaços para desenvolvimento de Existência de estrutura.
atividades educacionais.
7 Relatórios de gestão
7.1. Atualização dos dados e do Dados da UC atualizados no CNUC.
relatório de gestão da UC no Cadastro
Nacional de Unidades de Conservação
(CNUC).
8 Fiscalização, avaliação e
monitoramento
8.1. Controle de incêndio. Existência de estrutura para controle e combate a incêndios.
8.2 Fiscalização. Realização de atividades de fiscalização frequente na UC e seu entorno.
8.3 Monitoramento. Existência projetos para controle e monitoramento de espécies ameaçadas
de extinção.
9 Gestão do uso do solo.
9.1. Regularização fundiária. Adequação em relação aos objetivos da categoria e ao zoneamento
previsto no plano de manejo.
9.2. Programa de reflorestamento, Existência procedimentos documentados.
recomposição e manutenção dos
espaços.
10. Educação Ambiental
10.1. Programa de educação para a Documento disponível na UC contendo as diretrizes e atividades
Unidade de Conservação. elaboradas, e aprovadas pela gestão da UC, para o programa.
10.2. Eventos em Educação Ambiental. Realização de eventos de educação ambiental.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Sendo assim, ao longo das duas auditorias ambientais, foram estudados 14 requisitos
subdivididos em 40 parâmetros. Sendo observados se esses requisitos estavam em conformidade
com a legislação ambiental vigente e com um desempenho de gestão efetivo.
Os requisitos e parâmetros foram classificados em conformidades e não conformidades,
onde essa classificação foi realizada através da visita a campo, analise de imagens de satélite,
revisão bibliográfica e contato com a SEMAM, órgão gestor do parque. O contato com a SEMAM
foi realizado através de um ofício, onde foi solicitado informações complementares a respeito do
Parque Cuiá, como o número mensal de visitas ao parque, equipe disponível para atender as
necessidades da unidade, equipamentos disponíveis no parque para uso público e periodicidade das
atividades de fiscalização, avaliação e monitoramento

RESULTADOS

O resultado da auditoria de conformidade legal aplicada no Parque Cuiá está disposto na


tabela 3 a seguir.

Tabela 3 Resultado da auditoria de Conformidade Legal no Parque Municipal do Cuiá


Requisitos Parâmetros Status de Observações
Conformidade
Plano de Manejo 4 4 Não conformidades Não existe plano de
manejo
Conselho de Gestão 2 2 Não conformidades Não existe conselho
gestor
Pesquisa 2 2 Não conformidades Ausência de vínculos
Aspectos Diversos 4 3 Não conformidades Resíduos sólidos

De acordo com a tabela 3, dos 12 parâmetros aplicados ao Parque Cuiá, 11 apresentaram não
conformidade com o SNUC ou com o decreto de criação do parque. Esse número expressivo se dá
principalmente pela ausência de instrumentos básicos de gestão de uma Unidade de Conservação,
como o plano de manejo, conselho gestor e fomento de pesquisa. O parâmetro em conformidade diz
respeito a ocupações irregulares, onde não foram identificadas edificações no interior do Parque
Cuiá, caracterizando uma conformidade com o Art. 11, § 1º da Lei Federal Nº 9985/2000 ―O
Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus
limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei‖ (BRASIL, 2000).
O Parque Cuiá não possui plano de manejo, mesmo cinco anos após sua criação. Sendo
assim, todos os parâmetros dispostos nesse requisito apresentaram não conformidades com o Art.
27º da Lei Federal nº 9985/2000, a qual afirma que um parque municipal deve ter seu plano de
manejo elaborado com até cinco anos da criação da unidade (BRASIL, 2000). Assim como o plano
de manejo, o Parque Cuiá não possui conselho gestor. Com isso, todos os parâmetros presentes
nesse requisito apresentaram não conformidade. A inexistência do conselho gestor não pode ser

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

justificada pela não existência do Plano de Manejo, pois o conselho pode ser criado anteriormente
ao plano, inclusive auxiliando na elaboração de tal documento. No âmbito da pesquisa, não há um
controle sobre as pesquisas realizadas no interior do parque, também não há qualquer vinculo da
SEMAM com institutos de pesquisas, como as Universidades federais e estaduais. Isso faz com que
um dos objetivos da criação do parque, possibilitar a realização de pesquisas cientificas, não seja
cumprido.
No que diz respeito aos aspectos diversos, como o parque não possui plano de manejo, sua
zona de amortecimento não é definida pelo plano, representando uma não conformidade. Os
principais danos causados tanto ao Parque Cuiá, como as Áreas de Preservação Permanente (APP),
identificados na visita a campo, estão relacionados à disposição irregular de resíduos sólidos no
perímetro no parque, desmatamento e a contaminação dos corpos hídricos.
Como o desmatamento é um dos danos causados ao Parque Cuiá, foi elaborado um mapa de
uso e ocupação do solo dessa unidade de conservação a fim de entender como o Parque Cuiá está
sendo ocupado. Foram identificados 32,95 hectares de fragmentos de vegetação, o que representa
77% de área conservada em relação a sua área total de 43 hectares. Também foram identificado
9,37 hectares de solo exposto, representando 23% de área degradada em relação a área total do
Parque Cuiá. A figura 2 ilustra o uso e ocupação do solo dessa unidade de conservação.

Figura 2 Uso e Ocupação do solo do Parque Natural Municipal do Cuiá

O resultado da auditoria de desempenho de gestão aplicada no Parque Cuiá está disposto na


tabela 4 a seguir.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tabela 4 Auditoria de Desempenho de Gestão no Parque Municipal Cuiá.


Requisitos Parâmetros Status de Observações
Conformidade
Uso Público 5 5 Não Ausência de Sinalização
conformidades
Equipe 4 4 Não Ausência de equipe
conformidades
Funcionamento do 2 2 Não Não há conselho
Conselho conformidades
Zoneamento 1 1 Não Não há plano de manejo
conformidade
Relação com a 1 1 Não Ausência
comunidade conformidades
Infraestrutura 8 8 Não Não há qualquer infraestrutura
conformidades
Relatórios de 2 2 Não Não há
Gestão conformidades
Fiscalização 1 1 Não Não há ações de controle,
Conformidades monitoramento e fiscalização
Gestão do Solo 2 2 Não Não há programas de gestão
conformidades
Educação 2 2 Não Não há atividades de Educação
Ambiental conformidades Ambiental

Como visto na tabela 4, dos 28 parâmetros analisados dentro dos 10 requisitos estudados por
meio da Auditoria de Desempenho de Gestão, todos apresentaram não conformidades com um
desempenho de gestão efetivo. Essa alto índice de não conformidade se deve principalmente a total
falta de estrutura mínima para o funcionamento adequado de um parque municipal.
No âmbito do uso público, o Parque Cuiá não possui sinalização externa nem interna
informando os limites do parque ou qualquer tipo de comunicação visual com informações uteis
para possíveis visitantes, bem como não existe um controle de acesso/visitação. Ainda no campo do
uso público, o parque municipal não dispõe de qualquer equipamento que proporcione atividades de
lazer para a sociedade, como trilhas interpretativas. O Parque Cuiá não possui uma equipe própria
para sua gestão, também não há equipes de controle, monitoramento ou fiscalização do parque.
Durante a visita ao parque foi constatado que vários moradores da região não sabem que aquela
região possui um parque municipal, demonstrando que a relação da comunidade com a unidade de
conservação não existe, além disso, não foi identificado nenhum programa de educação ambiental
que envolva a comunidade. Tais fatos demonstram que o Parque Cuiá não cumpre com os objetivos
referentes a criação de um Parque Municipal, evidenciando a má qualidade da gestão dessa unidade
de conservação.
Sendo assim, dos 40 parâmetros aplicados ao longo das duas auditorias, 39 apresentaram
não conformidades, seja com a legislação ambiental vigente, ou com um desempenho de gestão
efetivo. Sendo assim, 98% dos parâmetros aplicados nas auditoria de conformidade legal e
desempenho de gestão do Parque Cuiá apresentaram não conformidades. Esse resultado demonstra
que o Parque Cuiá é uma unidade de conservação que existe apenas no papel.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Soluções propostas para as não conformidades

As soluções para as não conformidades encontradas na auditoria de conformidade legal são


complementares as soluções propostas para as não conformidades identificadas na auditoria de
desempenho de gestão. Por exemplo, solucionando a não conformidade de plano de manejo,
automaticamente parâmetros da auditoria de desempenho de gestão como zoneamento e uso público
do parque seriam contemplados. Essas soluções foram resumidas em sete propostas que atendem as
não conformidades encontradas nas duas auditorias.
1. Criação do conselho gestor;
2. Elaboração do plano de manejo;
3. Contratação de funcionários para atividades básicas de gestão e fiscalização;
4. Delimitação dos limites do parque, criação da sede e dos demais espaços necessários para a
administração uso público do Parque;
5. Sinalização externa e interna para dar visibilidade ao Parque e orientar os visitantes;
6. Diálogo do órgão gestor com entidades de pesquisa, para fomentar a pesquisa científica e a
educação ambiental, funções básicas de qualquer unidade de conservação;
7. Desenvolvimento de um novo modelo de gestão para o Parque, baseado em parcerias
público privadas ou concessões que assegurem a conservação do patrimônio natural em sua
totalidade. Diante de um orçamento público cada vez mais reduzido para a área ambiental, é preciso
compartilhar a gestão, o que também é previsto pela Lei Federal 9.985/2000.

CONCLUSÃO

Apesar de problemas quanto aos quesitos legais e de desempenho de gestão, o Parque


Natural Municipal do Cuiá tem um grande potencial quanto ao cumprimento dos objetivos
dispostos pelo SNUC para o tipo de unidade de conservação que foi criada, pois mesmo com o alto
índice de não conformidades identificadas nas auditorias ambientais, o parque consegue manter
77% de sua área conservada. Então, essa unidade de conservação se torna um importante Fragmento
Urbano de Mata Atlântica da cidade de João Pessoa, potencializando a importância de sua
conservação.
Benefícios da conservação

REFERÊNCIAS

BRAGA, R. B. do. Parque Cuiá: o ponto de vista de um Geógrafo para a construção de um plano
de manejo, 2014. Monografia (Bacharelado em Geografia). Universidade Federal da Paraíba.
João Pessoa. 2014.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII
da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e
dá outras providências. Presidência da República. Casa Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 20 jan. 2017.

BRASIL. Lei nº 12.651 de 25 de Maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera
as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22
de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de
abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências.

HATJE, R. B. H. Critérios e Indicadores para Auditoria Ambiental Pública em Unidades de


Conservação. 2009. 116f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Florestas,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica. 2009.

JOÃO PESSOA. Decreto Municipal Nº 7.517 de Abril de 2012. Cria o Parque Natural Municipal do
Cuiá – Parque Cuiá – Unidade de Conservação Municipal.

VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental ISO 14000. – 5ª ed. – São Paulo: Editora Senac São Paulo,
2004.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL,


SERGIPE: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

Isabelle Aparecida Dellela BLENGINI


Graduada em Ciências Biológicas
belle_biologia@yahoo.com.br
Jeamylle NILIN
Profª Drª do Departamento de Ecologia/UFS
jeamylle@gmail.com

RESUMO
A implementação de áreas protegidas (APs) é considerada uma das principais ferramentas utilizadas
para a proteção da biodiversidade, nelas encontramos alternativas para o planejamento e
ordenamento territorial. Tal possibilidade é evidenciada ao analisar as conferências internacionais
sobre meio ambiente, em que se discute a possibilidade de se conservar a biodiversidade em
espaços especialmente criados e protegidos. Nesse contexto, as áreas protegidas vêm tornando-se,
historicamente, uma prática utilizada em muitos países do mundo. No Brasil, entre as APs
encontramos as Unidades de Conservação (UCs), elas são criadas e instituídas pelo poder público
com o objetivo da conservação da biodiversidade. O Estado de Sergipe, é a unidade da federação
com menor percentual de áreas de proteção integral. Sendo assim, esse texto tem como objetivo
evidenciar a importância da Reserva Biológica Santa Isabel, como local para a realização de
pesquisas e educação ambiental, assim como determina o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), Lei Federal 9.985/2000. A REBIO Santa Isabel foi criada em novembro
1988, através do Decreto n.º 96.999, sobretudo com a finalidade de proteger espécies das tartarugas
marinhas, que procuram esses sítios em intervalos regulares, principalmente na estação reprodutiva.
Porém a localidade ainda carece de maiores estudos e dispositivos para mobilização da sociedade
em relação a valorização dos seus atributos naturais e sua função ecossistêmica, nesse sentido
encontramos aporte na educação ambiental como estratégia para o enfrentamento dessa
problemática complexa.
Palavras-Chave: Biodiversidade, Conservação, Educação Ambiental.
RESUMÉN
La implementación de áreas protegidas (APs) es considerada una de las principales herramientas
utilizadas para la protección de la biodiversidad, en ellas encontramos alternativas para la
planificación y ordenación territorial. Tal posibilidad es evidenciada al analizar las conferencias
internacionales sobre medio ambiente, en que se discute la posibilidad de conservar la biodiversidad
en espacios especialmente creados y protegidos. En este contexto, las áreas protegidas se están
convirtiendo, históricamente, una práctica utilizada en muchos países del mundo. En Brasil, entre
las APs encontramos las Unidades de Conservación (UCs), ellas son creadas e instituidas por el
poder público con el objetivo de la conservación de la biodiversidad. El Estado de Sergipe, es la
unidad de la federación con menor porcentaje de áreas de protección integral. Por lo tanto, este
texto tiene como objetivo evidenciar la importancia de la Reserva Biológica Santa Isabel, como
local para la realización de investigaciones y educación ambiental, así como determina el Sistema
Nacional de Unidades de Conservación (SNUC), Ley Federal 9.985 / 2000. REBIO Santa Isabel fue
creada en noviembre de 1988, a través del Decreto nº 96.999, sobre todo con la finalidad de
proteger especies de las tortugas marinas, que buscan esos sitios a intervalos regulares,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

principalmente en la estación reproductiva. Pero la localidad todavía carece de mayores estudios y


dispositivos para movilización de la sociedad en relación a la valorización de sus atributos naturales
y su función ecosistémica, en ese sentido encontramos aporte en la educación ambiental como
estrategia para el enfrentamiento de esa problemática compleja.
Palabras clave: Biodiversidad, Conservación, Educación Ambiental.

INTRODUÇÃO

A temática ambiental está sendo evidenciada em vários aspectos, e alcançar sociedades mais
justas e sustentáveis é um desfio. Segundo Lago (1984), é necessário, levando-se em conta o
conjunto dos fatores ecológicos e sociais, definir que tipo de crescimento é socialmente desejável e
ecologicamente sustentável. Para buscar isso é necessário identificar possibilidades, e nesse sentido,
o ordenamento territorial a partir de áreas protegidas (APs) pode ser um caminho a ser pensado e
discutido.
As APs têm a função de conservar a biodiversidade, a cultura e recursos naturais, e no Brasil
uma forma de AP são as Unidades de Conservação da Natureza (UC) estabelecidas pelo poder
público, sendo organizadas por categorias mais restritivas e menos restritivas em relação a interação
com as atividades humanas. É normatizada pela lei nº 9.985 de 2000 que institui o Sistema
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (BRASIL, 2000), que descreve cada categoria, seus
usos, objetivos entre outras questões que estão diretamente ligadas a gestão das UCs.
As UCs de Proteção Integral têm caráter mais preservacionista, sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais. Neste grupo encontram-se: Estação Ecológica (ESEC), Reserva
Biológica (REBIO), Parque Nacional (PARNA), o Monumento Natural (MONA) e o Refúgio de
Vida Silvestre (REVIS).
As Reservas Biológicas começaram a ser criadas na década de 30, juntamente com a criação
dos Parques Naturais, e em 1932 foi instituída a Reserva Biológica de Goethea em Itaipu, distrito de
São Gonçalo, Rio de Janeiro. Considerada a mais antiga do Brasil, segundo Pueza (2015) a REBIO
Goethea, foi criada no papel e somente em 1993 sua criação foi de fato instituída, devido ao grupo
chamado Cidadania Ecológica que reativou o processo de criação. A primeira reserva federal criada
foi a REBIO de Poço das Antas (RJ), instituída em 1974, Decreto Nº 73.791, emitido por Emílio
Garrastazu Médici, com o intuito de proteger o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) que se
tornou uma espécie bandeira para a proteção da área. Ainda na década de 70, foi criada a REBIO do
Atol das Rocas (RN) em 5 de junho de 1979, sendo a primeira unidade de conservação federal do
bioma marinho.
A categoria Reserva Biológica foi mencionada pela primeira vez em uma lei federal, na Lei
Florestal nº 4.771, de 1965, (BRASIL, 1965) que em seu artigo 5º diz, ―ser competência de Poder

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Público, criar reservas biológicas com a finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza
conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais com a utilização destinada a
objetivos recreativos e científicos‖. Em 1967, dois anos depois da publicação , da Lei 4.771
(BRASIL, 1964) Lei Florestal, a Lei de Proteção à fauna (BRASIL, 1967), também faz menção a
essa categoria no seu Artigo 5º, ao que seria um pré-anúncio do vinha de ser uma REBIO dizendo
que ―compete ao Poder Público criar reservas biológicas nacionais, estaduais e municipais, onde as
atividades de utilização, perseguição, caça ou introdução de espécimes da fauna e flora silvestre e
domésticas, bem como modificações do meio ambiente a qualquer título são proibidas, ressalvadas
as atividades científicas devidamente autorizadas pela autoridade competente‖ (texto revogado pela
Lei do SNUC).
Em 2000, o SNUC define de fato o objetivo das reservas biológicas a:

―Preservação integral da biota e demais atributos existentes em seus limites, sem


interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de
recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessária para recuperar
e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e processos ecológicos naturais‖
(BRASIL, 2000).

Outra questão sobre as REBIOs que deve ser levada em conta é que de acordo com a Lei do
SNUC, a criação de uma UC deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que
permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a área. Entretanto
para a criação de estação ecológicas e de reservas biológicas não está vinculada a consulta pública.
Devido a importância da área, surgiu o interesse de se compreender o panorama geral da
REBIO, conhecendo quais os seus processos relacionadas a Gestão, assim como as atividades de
pesquisas científica e as de EA. O trabalho buscou entender os desafios a serem superados e
visualizar possiblidades frente a esse panorama, para que, a partir desse conhecimento prévio se
pudesse implementar planos, programas e projetos de acordo com a realidade local, olhando para as
oportunidades encontradas na busca de resultados positivos.

CONHECENDO A RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL, SE

A Reserva Biológica Nacional Santa Isabel foi criada pelo Decreto nº 96.999, de 20/10/1988
(BRASIL, 1988), atualmente ela é gerenciada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e
Conservação (ICMBIO) Está localizada na faixa litorânea dos municípios de Pirambu e Pacatuba ao
norte da capital Aracaju, dentro do bioma Mata Atlântica contendo extensões de restinga,
manguezais lagoas, com uma área de 2.766 ha, sendo 45 km de praia limitados por duas barras dos
rios Japaratuba e Barra do Funil (BRASIL,1988). Neste decreto está claro a importância da UC para
a conservação das tartarugas marinhas, já que nessa região é um dos maiores locais de reprodução
principalmente da tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea). O manejo e conservação de tartarugas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

marinhas que vem desovar na praia é desenvolvido pelo Projeto TAMAR (Projeto Tartarugas
Marinhas), sendo Pirambu a primeira base do Tamar instalada no Brasil, em 1982. No litoral norte
de Sergipe, o projeto monitora 53km de praias e protege quase 2.400 desovas e 106 mil filhotes, a
cada temporada, cerca de 80% são da espécie oliva, a menor entre as tartarugas marinhas que
ocorrem no Brasil, também conhecida na região como tartaruga pequena, com comprimento
curvilíneo de casco entre 70 e 74cm (TAMAR,2017).
A área desta REBIO compreende diversas unidades geomorfológicas como tabuleiros
costeiros, dunas e cordões litorâneos, praias, terraços marinhos, planícies costeiras, várzeas e
pântanos, bem como leques aluviais. Seus solos, do tipo neossolo quartzarênico, são formados por
sedimentos de origem quaternária. São solos vulneráveis a erosão, de alta permeabilidade e de
intensa lixiviação (SILVA, 2010). O clima da região é caracterizado como do tipo megatérmico
úmido e sub-úmido (tipo as – tropical chuvoso com verão seco, para a classificação climática de
Köppen-Geiger), marcado por uma estação chuvosa e seca. A estação chuvosa vai de março a
agosto, enquanto que a estação seca tem início em setembro, estendendo-se até fevereiro.
Observam-se, portanto, predomínio de chuvas de outono-inverno. A precipitação total varia de
1.500 a 1.800 mm/ano e temperatura média anual de 26°C (SEPLAC, 2011).
Melo (2013) identificou que no entorno da REBIO existe a necessidade de implementação
de políticas públicas que auxiliem na promoção da conservação ambiental, harmonizando o
convívio da comunidade e o ambiente, e principalmente que auxiliem na resolução os conflitos
socioambientais locais.
Nesse cenário, o objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento sobre o status atual da
REBIO Santa Isabel, principalmente relacionado os principais desafios e as possibilidades de ações
que apoiem a conservação. Esta pesquisa foi realizada mediante a aplicação de um questionário
com o chefe da UC Paulo Faiad em junho de 2017, com vinte perguntas abertas divididas em três
blocos: 1-Gestão Ambiental da Reserva; 2- Atividades de pesquisa científica; 3- Atividades de
educação ambiental. Esta divisão foi baseada em estudos realizados em outras Unidades de
Conservação com a metodologia de Avaliação Rápida e Priorização de Gestão de Área Protegida
(Rappam), desenvolvida pelo Fundo Mundial para a Natureza (World Wildlife Fund - WWF) para
avaliar a efetividade da gestão das UCs (ERWIN 2003).

POSSIBILIDADES E DESAFIOS NA REBIO SANTA ISABEL

A gestão ambiental na área da REBIO vem sendo realizada por atividades de Educação
Ambiental, projetos de pesquisas realizadas pelo ICMBio e por pesquisadores do estado de Sergipe
e de fora do Estado, ações de proteção como fiscalização e monitoramento, gestão administrativa
auxiliada pelo Conselho Consultivo (CC) da Reserva, composto por 33 instituições sendo elas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ICMBio, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis),
SEMARH (Secretária de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos), ADEMA
(Administração Estadual do Meio Ambiente), IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), SEBRAE (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), CODEVASF (Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), SPU (Superintendência do
Patrimônio da União), Batalhão de Polícia Ambiental, Prefeitura de Pirambu, AAAPTJ (Associação
de Artesanato e Apicultura dos Povoados Tigre e Junca), Ass. Pescadores do Tigre, Prefeitura de
Pacatuba, ACOPAL (Associação das Comunidades Participativas de Antigas e Lagoa Redonda),
AMLPS, RPPN DONA BENTA (Reserva do Particular do Patrimônio Natural), RPPN MORRO
DA LUCRÉCIA- Reserva do Particular do Patrimônio Natural, PETROBRAS, UP PETROLEO,
SEVERO VILARES, CBH RIO JAPARATUBA (Comitê de Bacia) , CBH RIO SÃO FRANCISCO
(Comitê de Bacia), Fundação PRO-TAMAR ( Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas
Marinhas), CENTRO TAMAR - ICMBIO, FUND MAMIF. AQUÁTICOS, ANACON -
Associação Nacional Companhia Natureza, UFS (Universidade Federal de Sergipe), UNIT
(Universidade Tiradentes), ITP (Instituto de Tecnologia e Pesquisa), EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), IFS (Instituto Federal de Sergipe). O CC está em
funcionamento desde o ano de 2015 sendo instituído pela a Portaria Nº 12, de fevereiro de 2015,
(BRASIL,2015) quando foram identificados temas que poderiam ser trabalhados junto ao conselho
tais como EA e questões como licenciamento de atividades e empreendimentos na localidade.
Atualmente o principal desafio para a boa gestão, de acordo com o chefe da UC, é erro na
demarcação do polígono da REBIO, que ocorreu em 1988, durante os estudos realizados para
criação da reserva, decorrente da acumulação de azimute com a utilização do teodolito, que gerou
um deslocamento do polígono para dentro do mar. A retificação do polígono já foi realizada, porém
a sua correção ainda não foi publicada em diário oficial. A ausência do documento com a
demarcação correta da área traz grave insegurança jurídica para a proteção da UC, fato que impede
a publicação do plano de manejo, a regularização fundiária e outras ações de fiscalização e
monitoramento. Em relação ao plano de manejo da REBIO, foi respondido que ele está pronto,
porém devido à falta da poligonal da Reserva ele não pode ser implementado.
O segundo bloco de perguntas faz menção as atividades de pesquisa científica desenvolvidas
na REBIO. De acordo com o chefe, existe uma lacuna no conhecimento relacionada principalmente
com o impacto do gado na REBIO e também a possível existência de áreas com importância de
corredores ecológicos que ligam a REBIO à outras áreas na matriz. Entre as pressões que a Reserva
vem sofrendo atualmente a falta de segurança foi citada como principal, com o risco de assalto à
pesquisadores e furto de equipamentos e estrutura de experimentos montados. Em seguida foi citada

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a falta de regularização fundiária como fator prejudicial, pois em toda a área da REBIO existe
grandes rebanhos bovinos e caprinos, que afetam a vegetação, principalmente dos campos
herbáceos, além de contribuírem para a inserção e sucesso de espécies invasoras. Outro aspecto que
é tido como pressão é a falta a manutenção de fazenda de cocos e viveiros de camarão desativados.
Foram também relatadas outras pesquisas desenvolvidas na localidade como a conservação das
tartarugas marinhas, uma vez na área da REBIO são registrados dados da reprodução desde 1983,
principalmente da tartaruga-oliva Lepidochelys olivacea, além de pesquisas com pequenos
mamíferos, anfíbios, plantas e insetos. Dentre as instituições de pesquisa que atuam na área foram
citadas a Universidade Federal de Sergipe e a Universidade Tiradentes (SE), e eventualmente a
Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal Pernambuco também desenvolveram
pesquisas na localidade. Neste quesito, foi relatado que cerca de 70 solicitações de pesquisa foram
concedidas pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBio/ICMBio desde
2008 (Portaria MMA 238/2008). Acerca das atividades de educação ambiental na REBIO, foi
afirmado que tais ações são fruto do Plano de EA, criado em parceria com o Conselho Consultivo.
As atividades vêm sendo realizadas conjuntamente com as Secretarias Municipais de Educação,
resultando em um evento de capacitação em 2016 com cerca de 200 professores das redes
municipais de Pirambu e Pacatuba, principalmente para que os temas referentes à REBIO fossem
inseridos no conteúdo programático de forma transversal pelos professores, bem como o estímulo
para a realização de atividades extraclasse com visitas guiadas pelos analistas ambientais da
REBIO. Além dessa capacitação, foram promovidas palestras e trilhas dentro da UC com escolas e
universidades. Na semana do meio ambiente, de 5 a 9 junho de 2017, foi realizada uma Gincana
Ambiental em uma escola de ensino fundamental do município de Pirambu, com palestras e
oficinas para 80 crianças do 6º ano, visando debater questões referente a REBIO e as populações do
entorno. Nesse período também foram realizadas palestras nas escolas do município de Japaratuba,
com a participação de cerca de 200 alunos, além de cerca de seis visitas às trilhas ecológicas na
Reserva, com aproximadamente 120 alunos no total.
Em relação as dificuldades para a realização da EA na REBIO, foi mencionado a ocorrência
do turismo desordenado no entorno e dentro da UC, atividade que não é compatível com tipo de UC
de proteção integral. Sobre a interação com as comunidades do entorno, ações futuras estão sendo
planejadas no âmbito do CC principalmente com intuito de envolver a comunidade nas discussões
sobre a gestão e processos da Reserva, sendo fundamental a busca por financiamento para a
implementação dos projetos de EA, como organização das trilhas e material didático para as escolas
do entorno. O turismo que ocorre no entorno da REBIO é um fator de grande preocupação para a
conservação ambiental, uma vez que a estrutura para recepção dos turistas ainda é deficiente por
falta de investimento dos municípios. De acordo com o relatado para o perfil do visitante da reserva,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

trata-se de um turista pendular e de massa, sendo que a grande maioria permanece na área o dia
todo e traz toda sua alimentação não gerando renda nas comunidades, nem consumindo serviços
locais, deixando os resíduos de forma inadequada pela redondeza. Foi relatado também que não
existe um plano de comunicação, porém existe uma logomarca da REBIO, página em uma rede
social e matérias de divulgação criados pela Divisão de comunicação do ICMBio.
Em suma, as questões a serem desenvolvidas na REBIO em ordem de importância são:
retificação do polígono, publicação do Plano de Manejo, regularização fundiária com indenização e
retirada de propriedades, retirada do gado, cercamento, sinalização, construção de guaritas nos
principais acessos, reforma de estruturas administrativas e de apoio ao pesquisador.
De acordo com o estudo preliminar realizado na REBIO Santa Isabel é possível perceber
que as parcerias e o planejamento são partes chaves para dar andamento as atividades na área, e o
Conselho Consultivo apresenta atores importantes para a gestão da Reserva, uma vez que existe um
processo de envolvimento principalmente nas questões relacionadas com as atividades de EA no
ensino formal. O chefe da UC cita que existe um Plano de EA que foi desenvolvido conjuntamente
com o Conselho, traduzindo um dos princípios da EA que é a participação ativa da sociedade.
Podemos dizer que uma das inovações da SNUC está na previsão de participação da sociedade por
meio dos conselhos gestores (consultivo ou deliberativo de acordo com a categoria), que assessoram
na gestão da unidade, sendo que o fortalecimento dessa instância pode trazer inúmeros benefícios
para a gestão da UC que muitas vezes carece de mais braços para concretizar suas ações, e para as
instituições que ajudam na implementação de planos e projetos protagonizando seu papel na
sociedade. Mesmo diante de tantas pressões como a falta de segurança na área, a REBIO tem uma
função respeitável no desenvolvimento de pesquisa científica, estando dentre as UCs que mais
recebem projetos de pesquisa do Estado de Sergipe (DÓREA, 2013) além contar com as pesquisas
realizadas pelo TAMAR que já trabalha na área há mais de 30 anos, a Reserva continua sendo palco
de descobertas como os sítios arqueológicos descobertos recentemente no processo de ampliação da
rodovia SE-100. Existe na região diversas oportunidades de pesquisa relacionados com os processos
ecológicos, fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas relacionadas a conservação
e a busca de resolução de conflitos, principalmente enquanto a poligonal não estiver ajustada. Sobre
EA, o que chama a atenção é o trabalho realizado com as escolas na localidade, um ponto relevante
é que tal iniciativa partiu do Conselho Consultivo, o que resulta positivamente dentro de perspectiva
da EA emancipatória, transformadora e crítica, que busca conhecer a realidade histórico social e a
partir dessa realidade planejar e intervir para ela seja sustentável e justa.
Os desafios são muitos, porém segundo Layrargues (2002), o maior desafio e a tarefa
prioritária da educação ambiental no processo de gestão ambiental consistem na possibilidade de,
sem negar os conflitos existentes, mas mediando-os democraticamente, instaurar acordos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

consensuais entre os agentes sociais, por meio da participação, do diálogo, do exercício e da


construção da cidadania. Sendo esse um objetivo a ser almejado no caminho das APs.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A REBIO Santa Isabel situada nos municípios de Pirambu e Pacatuba no Estado de Sergipe,
realiza atividades de acordo com os objetivos instituídos na lei, como atividades de pesquisa
científica e educação ambiental, demonstrando ser um local aberto para o diálogo em projetos e
ações dentro dessas linhas. O chefe da unidade se mostrou empenhado a contribuir para ela seja de
fato uma área que continue avançando na área de conservação da biodiversidade. Alguns conflitos
na localidade poderiam ser minimizados com a formalização da poligonal estabelecendo a área da
REBIO Santa Isabel e suas zonas de amortecimento, e dessa forma também se poderia implementar
o plano de manejo. A falta de consulta pública para sua implementação, uma vez que essa categoria
não é obrigada perante a lei a realiza-la, pode ter resultado na falta de compressão dos moradores do
entorno sobre a Unidade. O envolvimento da comunidade, principalmente para atuarem como
guardiões da localidade, passa por reconhecimento que a UC é um espaço a qual ela faz parte e que
essa interação que já acontece, pode ser benéfica para ambas as partes. O documento Estratégia
Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em UCs (ENCEA), apresenta diretrizes
interessantes do ponto de vista do envolvimento da comunidade local através por exemplo de
educomunicação, que pode ser uma forma de aproximação com a localidade uma vez a expansão da
educação ambiental e da comunicação social como estratégias de aprimoramento da gestão e de
fortalecimento da localidade facilitam o acesso a informações e a construção de conhecimentos
capazes de promover e qualificar a participação da sociedade, em especial de seus segmentos menos
favorecidos, na gestão das áreas protegidas (MMA, 2015). Pois além de mediar conflitos e valorizar
os saberes locais, e melhorar as atividades de interação com a localidade, essas estratégias podem
ser possibilidades para que as UCs possam avançar em seu papel na conservação, valorização e
manutenção da biodiversidade, juntamente com as comunidades do entorno.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei n. 9795, de 27 de abril de 1999: Institui a Política Nacional de Educação Ambiental e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1999.

Decreto n. 96999 de 20 de outubro de1988. Cria, no litoral do Estado de Sergipe, a Reserva


Biológica de Santa Isabel e dá outras providências.

Lei n.4.771, de 15 de setembro de 1965: Institui o novo Código Florestal e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1965.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da


Natureza e dá outras providências. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível
em:<http://www.presidencia.gov.br/legislacao>.

Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967: Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1965.

Portaria n. 61, de 15 de maio de 2008: Estabelece as práticas de sustentabilidade ambiental a serem


observadas pelo Ministério do Meio Ambiente e suas entidades vinculadas quando das compras
públicas sustentáveis e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2008.

BRASIL, Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade


Global. Política Nacional de EA – Lei 9,795/99. Regulamento de PNEA – decreto 4.281/02 – 92.

BLENGINI, I. A. D. Levantamento preliminar do conhecimento da comunidade universitária sobre


fragmento florestal com potencial para projetos de educação ambiental no campus Ondina-
UFBA. In: FÓRUM BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 7, Anais digital,2012,
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DÓREA, B. M. Publicações acadêmicas das unidades de conservação no estado de Sergipe,


Brasil. Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33926506009> ISSN 0378-1844

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LAYRARGUES, P. P. Educação para a gestão ambiental: a cidadania no enfrentamento político


dos conflitos socioambientais. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: POR UMA


CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA LOCAL

Keili Lucí ROCHA26


Docente na FAG – Centro Universitário – Toledo, Pr.
keilyluci@yahoo.com.br
Alvori AHLERT
Docente da PPGRDS da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

RESUMO
A educação ambiental é condição para promover o desenvolvimento sustentável. A escola é a base
para a transformação e construção da identidade dos espaços para uma proposta desta educação.
Neste contexto, a pesquisa objetiva compreender a relação da educação ambiental escolar com uma
Unidade de Conservação - UC existente no município de Santa Helena –Oeste do Paraná. Criada
pela Itaipu Binacional em 1984 a UC tem como meta a iniciativa de conservação, visando à
preservação da fauna e flora da biodiversidade. A educação ambiental vem conquistando espaço
através de atividades que sensibiliza para a preservação do local face à sua identidade local. Os
resultados da pesquisa demonstram uma ausência de relações entre a educação ambiental,
pesquisada em três escolas, com a Unidade de Conservação, o que indica que a política pública
local e o desconhecimento de políticas públicas de educação ambiental por professores e gestores
não tem alcançado suficientemente um trabalho efetivo para o fortalecimento deste elo, podendo
afirmar-se como uma hipótese da fragmentação do ensino e da construção identitária local.
Palavras-chave: Educação ambiental. Escola. Unidade de Conservação.
RESUMEN
La educación ambiental es condición para promover el desarrollo sostenible. La escuela es la base
para la transformación y construcción de la identidad de los espacios para una propuesta de esta
educación. En este contexto, la investigación objetiva comprender la relación de la educación
ambiental escolar con una Unidad de Conservación - UC existente en el municipio de Santa Helena
-Oeste do Paraná. Creada por la Itaipú Binacional en 1984, la UC tiene como meta la iniciativa de
conservación, visando la preservación de la fauna y flora de la biodiversidad. La educación
ambiental viene conquistando espacio a través de actividades que sensibiliza a la preservación del
local frente a su identidad local. Los resultados de la investigación demuestran una ausencia de
relaciones entre la educación ambiental, investigada en tres escuelas, con la Unidad de
Conservación, lo que indica que la política pública local y el desconocimiento de políticas públicas
de educación ambiental por profesores y gestores no ha alcanzado suficientemente Un trabajo
efectivo para el fortalecimiento de este eslabón, pudiendo afirmarse como una hipótesis de la
fragmentación de la enseñanza y de la construcción identitaria local.
Google Tradutor para empresas:Google Toolkit de tradução para appsTradutor de sites
Palabras clave: Educación ambiental. Escuela. Unidad de Conservación.

26
Mestra em Desenvolvimento Rural Sustentável - UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A educação ambiental tem sido uma das temáticas mais contempladas da atualidade,
também em função de contribuir para o desenvolvimento sustentável. Considera-se a escola um
potencial, onde é possível propagar um trabalho efetivo e com oportunidades de sensibilizar as
novas gerações que são o reflexo da sociedade em que vivemos.
Mesmo com um cenário de desvalorização e fragmentação do ensino, postula-se grandes
esperanças nas instituições educativas, a começar pelo espaço local. Outro fator contempla-se na
postura docente quando realiza a sua prática direcionada por currículos simplistas e conteudistas.
Assim este estudo destaca a necessidade de uma educação ambiental escolar que traga novos
valores e princípios, a partir de ações mediadas por conteúdos e programas educacionais. A
pesquisa contempla-se pelo estudo de caso com dados coletados a partir de aplicação de formulários
com gestores em três escolas do município de Santa Helena – PR.
A imprescindibilidade da sustentabilidade demanda uma reorientação da educação em seu
viés ambiental. Neste sentido, é que se faz mister analisar a importância da relação homem natureza
e assim compreender as relações que instituições educativas podem obter junto a unidade de
conservação local para tornar-se um espaço culturalmente reconhecido pela comunidade. Este
trabalho busca pesquisar esta relação com intuito de diagnosticar tais aspectos contribuindo para a
sustentabilidade e a construção da identidade ambiental local.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PEDAGOGIA PARA COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS


QUE COMEÇA ONDE O SER HUMANO ESTÁ INSERIDO

A educação ambiental é considerada a pedagogia mobilizadora do momento atual da


humanidade. Ela tem o poder pedagógico para construir uma sociedade sustentável. Quando se diz
pedagogia, significa dizer que tem-se o caminho e para isso é preciso compreender o sentido da
educação ambiental para que saibamos e a praticamos a partir do local em que vivemos.
Neste sentido, Marcos Sorrentino (2005) define que:

A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber


ambiental materializado nos valore séticos e nas regras políticas de convívio social e de
mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do
uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu
sentido de pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da ação coletiva e
organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos
problemas ambientais (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, [2014].

Destarte, entende-se que a educação ambiental nasce no processo educativo e a partir deste
começo é possível apreender o saber ambiental, aliando o reconhecimento de pertencimento do
meio ou da natureza. É nesta perspectiva que a pedagogia ambiental, proposta neste estudo deve
interagir para que o humano compreenda-se como cidadão ativo na busca da cidadania ecológica e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de uma comunidade sustentável. A partir da concepção de pertencimento, o aluno passa juntamente


do seu espaço de convívio a disseminar e construir a identidade, a cultura, o que demanda ser um
processo gradativo, pois é um trabalho de conscientização e sensibilização. Não basta apenas saber
o que é, mas professar o que se lê em termos de preservação e cuidado. E acima de tudo, aprender a
responsabilidade.
Para incorporar ainda mais o sentido desta pedagogia, Leff (2009), confere que isto implica
ensinamentos que derivam de práticas concretas que se desenvolvem no meio. É necessário
valorizar a relação entre teoria e práxis para fundamentar a reconstrução da realidade em detrimento
do pragmatismo. Por isso, vê-se a importância de ressignificar a educação ambiental no município
de Santa Helena, PR através da educação escolar. Esta possui plenas competências de alcançar a
dimensão desta educação ambiental conectada com o meio natural possibilitado pela existência de
uma unidade de conservação.
É a partir da escola que a pedagogia pode priorizar uma educação ambiental crítica que
―fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais e novos critérios de tomadas de decisões dos governos,
guiados pelos princípios de sustentabilidade ecológica e diversidade cultural [...]. Isto implica
educar para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo [...] (LEFF, 2009:256).
Desta forma, a educação ambiental contribui para a sustentabilidade. Com relação a isso, ―se
o objetivo último da biologia da conservação é, sem dúvida, a conservação e a gestão sustentável da
biodiversidade, é evidente que ela exige considerar conjuntamente abordagens integrativas e um
olhar iluminado pelas ciências humanas‖ (BARBAULT, 2006:381).
Para o encontro com a biodiversidade e a integração para a efetiva pedagogia, conjuga-se a
unidade de conservação que busca envolver o âmbito escolar para fazer com que a pedagogia do
saber do ambiente se concretize nas ações individuais e coletivas. Assim, ―A pedagogia ambiental
expressa-se no contato dos educandos com seu entorno natural e social‖ (LEFF, 2009:243). É
possível considerar que o homem necessita aproximar-se do ambiente para que os princípios
sustentáveis sejam alcançados pela humanidade. Assim a escola deve integrar o aluno para fazer
apropriar-se dos saberes curriculares de forma significativa, por exemplo, propiciar complementos
que associem a realidade ambiental que pode surgir coadjuvantes ao espaço natural existente.
Temas como biodiversidade, fauna, flora, espécies diversas de plantas, animais podem abrir-se
como ricos significados ao saber e a construção identitária no município, pois educação ambiental
começa pelo indivíduo e pelo seu entorno, pelo seu bairro, pelo seu município.
Neste sentido o desenvolvimento sustentável para Gadotti (2000:79) ―tem um componente
educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a
formação da consciência depende da educação‖. Pode-se assim dizer que esta construção, assim
como da identidade de uma local, se faz com tempo, com atitudes, com valores e princípios que

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

necessitam ser apreendidos na escola, e não somente nela, mas em toda instituição, enfim por toda a
sociedade.
Em virtude disso, é possível tecer que a pedagogia para uma cultura local é explicitada pela
educação que consiste na base da aprendizagem sustentável para o efeito dos resultados humanos
com o meio ambiente. A comunidade sustentável que almejamos começa por onde você está.

A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: POR UMA


CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA LOCAL

A incorporação da educação ambiental na educação formal, referindo-se a este estudo tem


como princípio gerar uma construção identitária local, haja visto seu trabalho visa uma articulação
com o meio natural. Isto se refere ao estudo de uma unidade de conservação denominada ARIE –
Área de Relevante Interesse Ecológico, situada no Oeste do Paraná, no município de Santa Helena.
Unidade de conservação, segundo o Sistema Nacional de Conservação da Natureza
(SNUC), com a promulgação da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 é definida como:

[...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos
de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção (Lei do SNUC, 2000 ).

Ao reconhecer a definição de área natural, é relevante destacar a revitalização e a


potencialização do local ao qual este trabalho faz menção, sendo que o cuidado e a preservação
ocupam hoje o cerne de debates e pesquisas ambientais.
A unidade de conservação de Santa Helena –PR (conforme Figura 1) foi uma das oito
unidades criadas pela Itaipu após a formação do Reservatório da Hidrelétrica através da reunião de
Diretoria Executiva no 50/1984 e posteriormente como Refúgio Biológico Santa Helena, pois não
havia na época respaldo legal para UCs (Unidades de Conservação) particulares. O município,
―além da importância ambiental ecológica, tem na UC uma importante alternativa de ecoturismo,
além da sua importância para a educação ambiental da população local‖ (Plano de Manejo, 2010:8).

Figura 1: Vista da Unidade de Conservação de Santa Helena, Pr.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A educação ambiental neste município pode exercer forte influencia, dada a existência deste
espaço de biodiversidade. É nele que as escolas do município possuem condições de fomentar
práticas a partir de currículos fortalecidos por ações conectadas a natureza de forma mais intensa e
envolvente. O mundo mais objetivo e de características globalizantes, tecnológicas distanciam o
humano da natureza concreta. Ela não pode ser virtual. Ela é palpável, até mesmo pelo ar que
respiramos.
A comunidade escolar Santa-helenense tem em suas mãos a possibilidade, munidas de um
poder de proteção, para explorar através do conhecimento, do contato, da observação, do diálogo,
do sentir, do tocar. Todo este movimento leva-os a formalizar a identidade ecológica, um termo
introduzido e definido por Mitchel Thomashow (1995) como ―a base de nossa íntima relação com a
natureza‖ (SILVEIRA, 2010).
É por isso que há uma relação a ser aproximada entre escolas e meio natural. Desta forma,
tem-se os imperativos para suscitar ações para esta articulação compreendendo a educação
ambiental, que segundo a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, cita que:

Entende-se por educação ambiental o processo por meio do qual o indivíduo e a


coletividade constrói valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Lei nº 9795/1999, Art 1º).

Contudo, o cotidiano humano resulta em atitudes colaborativas para fazer a sua identidade
com comunidade sustentável resultando na relação do homem com a natureza e favorecendo a
promoção da sensibilização da comunidade escolar e consequentemente da sociedade.
O tema de interesse nesta pesquisa é bastante salutar, pois pouco tem-se levado em
consideração estudos sobre as unidades de conservação. Por isso da necessidade de reavivar este
propósito, tendo em vista a emergente crise ambiental. Fica evidente a necessidade de reconhecer-
nos como atores protagonistas enquanto profissionais da educação, pois a crise ambiental global é
resultados da crise que inicia-se onde estamos, onde vivemos.
Para compreender o contexto da relação existente da educação ambiental com a unidade de
conservação, é preciso verificar os fatores que impedem gestores educacionais do município
pesquisado de aliar os saberes escolares disciplinares com o espaço natural próximo e de fácil
acesso.
Um fator que potencializa com maior ênfase a unidade de conservação é o fato deste fazer
parte do Corredor da Biodiversidade (conforme Figura 1) que busca interligar áreas naturais
governamentais e privadas, isoladas com a destruição das florestas originais na região da fronteira
comum a Brasil, Paraguai e Argentina. É um projeto ousado, iniciado em 2003 e que se torna
realidade permitindo a dispersão dos genes de flora e fauna, inserido na Bacia do Paraná 3. É
considerado um autêntico ―corredor da vida‖, capaz de neutralizar o ―efeito ilha‖, que compromete

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a diversidade das espécies e as expõe ao risco de extinção. A participação de proprietários rurais é


fundamental para o sucesso do projeto e para o desenvolvimento rural.

Figura 2: ARIE inserida no Corredor da Biodiversidade.

Os diversos fatores, dentre eles, da unidade de conservação estar inserida no Corredor da


Biodiversidade pressupõem o fortalecimento de uma identidade que se encontra integrada, de
tamanha importância, apenas carecendo de olhares e propostas educativas de ações e atividades para
efeito na comunidade escolar. Ao alcançar a escola, ramificamo-nos na sociedade, na comunidade
social. São milhares de alunos, milhares de pais, irmãos, primos, tios, avós que fazem parte do
contexto.
Esta importância se compila sob a égide do valor identitário ambiental, econômico, cultural,
social, e também espiritual, que segundo Leonardo Boff (1995 apud PELIZZOLI, 2013, p. 72)
prega ―uma verdadeira conversão espiritual [...]. A racionalidade instrumental dicotomizou ciência e
poesia, razão e mistério [...] reespiritualizar o humano, labor e recuperação traria a harmonia
ecológica perdida em termos de subjetividade‖.
Nas palavras de Boff, o reespiritualizar nos leva a renovação, a atitudes necessárias, a
equidade ambiental que existe e nos consolida como seres dessa natureza, uma parte da
biodiversidade natural.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa de campo foi realizada com uma amostragem de três instituições municipais de
educação do município de Santa Helena – PR. Foram aplicados formulários para coleta de dados
junto aos gestores constituídos por coordenadores pedagógicos e diretores das escolas.
O método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar
na investigação. De acordo com André (2005), o desenvolvimento do estudo de caso realiza-se em
três fases: a fase exploratória - momento em que o pesquisador entra em contato com a situação a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ser investigada para definir o caso, confirmar ou não as questões iniciais, estabelecer os contatos,
localizar os sujeitos e definir os procedimentos e instrumentos de coleta de dados; a fase de coleta
dos dados ou de delimitação do estudo e a fase de análise sistemática dos dados, traçadas como
linhas gerais para condução desse tipo de pesquisa, podendo ser em algum momento conjugada uma
ou mais fase, ou até mesmo sobrepor em outros, variando de acordo com a necessidade e
criatividade surgidas no desenrolar da pesquisa
A pesquisa é contemplada a partir do estudo de caso estudando uma unidade de conservação
e conhecendo-a a partir da educação escolar do município de Santa Helena – PR. Ludke e Andre
(1986, p. 18-20) destacam-se algumas características fundamentais associadas ao estudo de caso
naturalístico, são elas:
a) Os estudos de caso visam a descobertas: pressupõe que o conhecimento não é algo acabado,
mas sim uma construção que se faz e refaz constantemente.
b) Enfatizam a interpretação em contexto: para a apresentação completa do objeto é preciso
considerar o contexto em que se insere.
c) Buscam retratar a realidade de forma completa e profunda: esta abordagem evidencia as inter-
relações de seus componentes.
É desta forma que encontra-se os meios para concretizar a pesquisa na busca de estabelecer
descobertas e interpretações na correlação existente em cada momento de pesquisa.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, UNIDADE DE CONSERVAÇAO E ESCOLAS: POR UMA


RESSIGNIFICAÇÃO NO ENSINO

Não significa apenas discutir a educação ambiental, mas incorporá-la no âmbito escolar, de
forma a mobilizar as escolas em virtude da existência da Unidade de Conservação em Santa Helena.
De acordo com formulário aplicado aos gestores, perguntou-se inicialmente como definem a
educação ambiental, sendo que as respostas fizeram menção a importância para o desenvolvimento
dos alunos para que estes tenham uma visão holística e construam atitudes enquanto cidadãos. A
segunda resposta foi definida como um ato de conscientização e educação, em que se o indivíduo é
educado ele saberá os limites do que é certo e do que não é em relação ao meio ambiente, e a última
afirmou ser a educação ambiental um conhecimento interdisciplinar que deve ser retomado
continuamente e que possui uma ampla abrangência.
Neste sentido, constata-se saberes que podem estar relacionados a uma visão do caminho a
ser trilhado pela educação ambiental, mas que no momento pouco efeito tem nas decisões e
práticas escolares pesquisadas. A exemplo da segunda resposta, de que forma foi trabalhado o
―certo‖ e o ―errado‖ com relação ao meio ambiente? Afirmações como esta, desvinculam-se das

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

possibilidades de reflexões de que nem sempre o cidadão educado é aquele que age coerentemente
ou vice-versa.
Ao que se constatou, ideias e palavras que interligam fatores importantes do trabalho na
escola são coadjuvantes teóricos e por si participam dos discursos, porém na efetividade da prática
realmente interdisciplinar, tecemos um panorama distanciado e inconsistente.
Isabel Carvalho (2012) justifica quando coloca que nesse mundo de ordem natural autônoma
e da realidade puramente objetiva não há lugar para educadores e aprendizagens significativas,
reflexivas e críticas. Que desta forma não é possível realizar o encontro do sujeito com o mundo.
Entretanto, mesmo na objetividade do mundo globalizado, deve haver o espaço para o
resgate do significado, do contato com o meio natural. Todas as ideias relatadas, por exemplo, estão
articuladas nesta pesquisa pela unidade de conservação como espaço para aliar o saber da sala de
aula e neste intuito, observou-se se há ações conexionadas com este local.
A partir deste diálogo, o gestores são indagados se nas suas instituições realizam projetos
voltados a educação ambiental e como acontecem. Em duas escolas existe um projeto já realizado
há alguns anos, de cunho interdisciplinar, no entanto de forma muito tímida, pois ao dialogar sobre
a interdisciplinaridade, percebe-se que na prática a responsabilidade é de ―todos‖, e quando é de
―todos‖, a responsabilidade acaba sendo de ninguém. Em outra instituição os gestores não possuem
nenhum trabalho desenvolvido no momento, nenhum projeto. Afirmaram que as questões
ambientais são trabalhadas aleatoriamente em datas comemorativas sendo que cada professor faz a
sua maneira. Essa maneira refere-se a lembrar-se do dia da árvores, envolver a turma unicamente
(nem sempre toda escola participa), ir ao encontro de uma árvore, realizar um desenho e
prontamente o trabalho de educação ambiental foi realizado. Desta forma, percebeu-se o trabalho
dos professores, despido da interdisciplinaridade relatada.
Constata-se que os próprios gestores carecem de iniciativas para impulsionar o
conhecimento ambiental, a relação homem e natureza. Assim há um reflexo da própria gestão no
meio escolar, da ausência de participação e colocação em ação de uma perspectiva curricular que se
funda com a realidade do aluno em formação e com o seu contato com a natureza, neste caso, com a
unidade de conservação que se localiza no município das escolas.
Quando Leff (2009:248) afirma que ―a interdisciplinaridade é mais que a soma das ciências
e dos saberes herdados; implica a problematização e transformação dos conhecimentos pela
emergência do saber ambiental‖. O autor chama a atenção para a problematização e para que isto
ocorra de fato precisamos de ações concretas para a construção de uma comunidade sustentável
que na prática escolar é refletida pelo papel dos gestores na superação de resultados.
Com relação a unidade de conservação e o conteúdos trabalhados nas escolas, buscou-se
saber através do diálogo, se as escolas tem articulado os saberes curriculares com a prática. Isto

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

quer dizer, mesmo pelo privilégio da unidade de conservação situar-se no próprio município,
observa-se a inexistência desta relação, ou pouco dialogada, solicitada ou ainda timidamente,
quando envolvida nos planos escolares.
Aí decorre a necessidade deste estudo, quando as razões não justificam o distanciamento
com a natureza tão próxima. ―Através de um processo de interação entre educadores e educandos
reproduz-se o modo de ser e a concepção de mundo que esses povos foram construindo ao longo da
história‖ (AHLERT, 2003)
Isto faz refletir que os recursos naturais, a preservação do meio ambiente, a vida do ser
humano acontece porque a natureza existe. É esta relação que o mantém vivo. É esta reprodução de
concepção atual que busca-se ressignificar o planeta, haja visto o descaso que não cessa. Desta
forma que legado a civilização atual deixará? É a educação que transforma o mundo, e por isso a
importância da educação para o ambiente, para o sustentável.
Com base nesta discussão, a pesquisa indaga se as escolas tem realizado visitas na unidade
de conservação com seus alunos, objetivando o contato com o meio natural. Foi diagnosticado que
já realizaram visitas, uma há mais de 6 anos atrás, as demais não lembram, ficando assim expresso
que pouco tem se discutido sobre o local, e pouco se envolveu o espaço diante dos conteúdos
estudados.

A educação ambiental foi reduzida a um processo geral de conscientização dos cidadãos , à


incorporação de conteúdos ecológicos e à fragmentação do saber ambiental num ligeira
capacitação sobre problemas pontuais, nos quais a complexidade do saber ambiental
permanece reduzida e mutilada (LEFF, 2009:249).

Isto significa destacar que os protagonistas do processo de ensino tem carecido de ações
transformadoras. É preciso remar para uma mudança paradigmática. O autor da mudança é o ser
humano que está conduzindo o processo.
Com relação aos objetivos e formas de sistematização realizadas pelos professores quando já
visitaram o a unidade de conservação percebeu-se ausência de planejamento e vinculação de
conhecimentos acerca da educação ambiental e suas temáticas. Além da visita, a sistematização das
escolas baseou-se em desenhos e textos sobre o que foi observado durante o passeio. Assim de uma
forma tímida, de um conhecimento reduzido, acaba-se por estudar aquilo que demandaria inúmeras
oportunidades de significados, de aulas das mais diversas áreas, não somente ciências e/ou
geografia. Professores necessitam desfazer-se da linearidade do ensino e fazer-lo com qualidade.
Com relação as legislações ambientais e politicas públicas as escolas pesquisadas
desconhecem o que regem as leis ambientais. Isso representou o reflexo da desconexão com as
causas ambientais, talvez pela correria da equipe escolar em dar conta dos conteúdos e cumprir o
currículo estabelecido.

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Visto desta forma, a pedagogia deve reorientar-se diante do questionamento da crise


ambiental e difundir novos saberes e conhecimentos que permitirão a formação de uma comunidade
sustentável. A nova sociedade deve ser regida por uma nova racionalidade em Santa Helena, de
relações íntimas entre escolas e unidade de conservação, entre professor e conteúdo, professor e
aluno, enfim os vários atores necessitam estabelecer conexões para colher resultados e construir a
sua identidade como aquela identidade local regrada de atitudes e valores sustentáveis, presentes no
olhar, nas ações, no diálogo de alunos com seus conteúdos, na sua cotidianidade.

CONCLUSÃO

Diante da educação ambiental jazem todas as perspectivas de novos caminhos para a


sustentabilidade de um município possuidor de potenciais naturais. Assim é significante inferir que
a educação tem papel fundamental neste processo movido por relações entre pessoas e natureza de
uma mesma comunidade. É preciso trabalhar o ser como integrante do meio. É através da prática
pedagógica escolar que se desenvolvem experiências, ensinamentos.
Neste enfoque, o estudo pressupõe que as instituições carecem de uma ressignificação da
prática de ensino com relação a educação ambiental no que diz respeito ao contato com a natureza a
que propriamente fazem parte. Tem-se constatado, que o real significado da educação ambiental
ainda constitui-se como um ensino distanciado da sua realidade nos aspectos ambientais. É uma
pedagogia que espera e que não age, que é submissa diante de tantas tarefas diárias.
A educação ambiental com tema que mediou este estudo buscou provocar o fortalecimento
de práticas ambientais escolares de Santa Helena, tendo em vista a inquietude com a desconexão
apresentada pela pesquisa. Para que construamos uma identidade ambiental local, é preciso que as
escolas apropriem-se destas lacunas para apurar seus planos de ações educativas em parceria com a
municipalidade. Neste contexto, conjuguem seus planejamentos, reavivam seus conteúdos,
envolvam o contato com a natureza em suas aulas, promovam diálogos ecológicos, aulas ao ar livre,
e tudo o que for possível, explorados a partir das relações que se estabelecem entre homem e
natureza.
A comunidade sustentável que almejamos começa por onde você está.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, M. E. D. A. Estudo de Caso em Pesquisa e avaliação educacional. Brasília: Liber Livro


Editora, 2005.

AHLERT, Alvori. A eticidade da educação: o discurso de uma práxis solidária/universal. 2 ed.


Ijui, RS: UNIJUI, 2003. (Coleção fronteiras da educação).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 691


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BARBAULT, Robert. A conservação e a gestão da biodiversidade: um desafio para a ecologia. In:


GARAY, Irene; BECKER, B. K. As dimensões humanas da biodiversidade: o desafio de novas
relações sociedade-natureza no século XXI. Petrópolis: Vozes, 2006.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da


Natureza – SNUC. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; decreto nº 4.340, de 22 de agosto de
2002. Brasília : MMA/SBF, 2004.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6


ed. São Paulo: Cortez, 2012.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. São Paulo: Petrópolis, 2000.

LÜDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo:


EPU, 1986.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 7 ed.


Petrópolis: Vozes, 2009.

PELIZZOLI, M. L. Ética e meio ambiente para uma sociedade sustentável. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2013.

SILVEIRA, Joselito Lima. Educação ambiental como processo de resgate da identidade ecológica
dos moradores das margens da Lagoa do Vigário em Campos dos Goytacazes – RJ. Boletim do
observatório ambiental Alberto Ribeiro Lamego, Campos dos Goytacazes, Rj, v. 4 n 1, p. 81-90,
jan/jun. 2010.

SORRENTINO et all. Educação ambiental como política pública, 2005. Conceitos de educação
ambiental. Disponível em http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-
ambiental. Acesso 14/10/2016.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FÍSICO-AMBIENTAIS E OCIOECONÔMICOS


DO CARIRI PARAIBANO: O CASO DA RPPN FAZENDA ALMAS

Larissa Fernandes de LAVOR


Doutoranda do PPG em Geociências da Universidade Federal de Pernambuco – PPGEOC/UFPE
larilavor@hotmail.com
Alexandre dos Santos SOUZA
Doutorando do PPG em Geografia da Universidade Federal da Paraíba – PPGG/UFPB
alesougeo@gmail.com
Wesley Ramos NÓBREGA
Mestrando do PPG em Engenharia Urbana da Universidade Federal da Paraíba –PPGECAM/UFPB
wesjppb@gmail.com
Vinícius Ferreira de LIMA
Doutorando do PPG em Geografia da Universidade Federal da Paraíba – PPGG/UFPB
viniciusgeo_lima@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo caracterizar os aspectos físico-ambientais da área que abrange a
Fazenda Almas – Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – situada entre os municípios
de São José dos Cordeiros – PB e Sumé – PB, na mesorregião do Cariri paraibano. A caracterização
proposta visa a fornecer embasamentos para identificação e avaliação dos impactos nos meios
físicos, biológicos e socioeconômicos da área em questão que contribuam com a aplicação do Plano
de Manejo e exalte a importância da conservação e manutenção das singularidades naturais e
culturais da paisagem local diante do proeminente potencial de ampliação para o desenvolvimento
do turismo sertanejo, da implantação de projetos de educação patrimonial e ambiental, além do
resgate da cultura local.
Palavras chave: Cariri paraibano. RPPN Fazenda Almas. Turismo sertanejo.
ABSTRACT
This paper aims to characterize the physical and environmental aspects of the area encompassing
Fazenda Almas – Private Reserve of Natural Patrimony (RPPN) – located between the
municipalities of São José dos Cordeiros – PB and Sumé – PB, in the meso-region of Cariri of
Paraíba. The proposed characterization aims to provide bases for identification and evaluation of the
impacts on the physical, biological and socioeconomic environments of the area in question that
contribute to the application of Management Plans and emphasize the importance of conserving and
maintaining the natural and cultural singularities of the local landscape in the face of the prominent
potential of expansion for the development of backcountry tourism, the implementation of
patrimonial and environmental education projects, as well as the rescue of the local culture.
Keywords: Cariri of Paraíba. RPPN Fazenda Almas.Back country tourism.

INTRODUÇÃO

A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) consiste em uma categoria de Unidade de


Conservação (UC) de uso sustentável criada por ação voluntária dentro de uma propriedade privada

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

em caráter perpétuo, a partir do interesse do proprietário e instituída pelo poder público. Segundo
dados do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 1998), após a Convenção da Diversidade
Biológica (1992), foram criadas714RPPNs no território brasileiro, distribuídas em mais de 530.000
ha.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), instituído pela Lei
nº 9.985/2000, ordena que a dimensão da área a ser instituída como RPPN deve respeitar a vontade
do proprietário, e recomenda que nessas áreas sejam estabelecidas metas para a conservação da
biodiversidade. Uma vez criada a reserva, é permitido o uso do ambiente apenas para pesquisa,
atividades educativas e turismo, desde que autorizadas pelo órgão ambiental responsável e que
sejam respeitadas as regras do Plano de Manejo (BRASIL, 2000).
A Fazenda Almas é considerada a quarta maior RPPN existente dentro da zona de
abrangência do bioma Caatinga e a maior RPPN do estado da Paraíba. Localizada entre os
municípios de Sumé e São José dos Cordeiros (Figura 1), o imóvel possui uma área de 5.502,92 ha,
dos quais 3.505,00 ha foram decretados como RPPN, por meio da Portaria nº 1.343/1990, do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (BRASIL, 2015).

Figura 1: Mapa de Localização da área da Fazenda Almas.


Fonte: Autoral.

Como meio de se alcançar o objetivo proposto neste estudo, buscou-se diagnosticar as


características geoambientais da Fazenda Almas e da área decretada como RPPN, de modo a
fornecer embasamentos para identificação e avaliação dos impactos nos meios físicos, biológicos e
socioeconômicos da área em questão.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento deste trabalho ocorreu a partir de dados adquiridos em: publicações


sobre a geologia e geomorfologia da região do Cariri paraibano; trabalhos que relataram o processo
de uso e ocupação do solo da área estudada; consulta ao Plano de Manejo da RPPN Fazenda Almas
(BRASIL, 2015); dados retirados do mapa geológico do estado da Paraíba, escala 1:500.000
(WANDERLEY et al., 2006), disponível em meio digital pela Agência Executiva de Gestão das
Águas do Estado da Paraíba (Aesa); e imagens orbitais do BingMap.
Também foram realizadas coletas de dados em campo. Essas coletas ocorreram ao longo de
idas aos sítios naturais e culturais da Fazenda Almas em abril de 2013. Nessa etapa, foi possível
efetuar registros fotográficos e adquirir pontos de coordenadas geográficas de unidades de
paisagens consideradas relevantes para este estudo.
Utilizou-se a ferramenta metodológica denominada de transecto (seção-tipo) para
representar as unidades de paisagens observadas na RPPN Fazenda Almas. Para Cavalcanti (2014),
essa técnica consiste em um modelo capaz de caracterizar variações paisagísticas ao longo de um
gradiente de relevo. Para auxiliar na caracterização geoambiental da área estudada foram
interpretadas imagens de satélites do BingMape em seguida elas foram correlacionadas a dados
temáticos preexistentes (geologia, geomorfologia, solo, infraestrutura da RPPN Fazenda Almas
etc.).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Aspectos fisiográficos

A Fazenda Almas situa-se nos terrenos cristalinos do complexo Anfibolito,


Metagranodiorito, Metatonalito, Migmatito/Serra do Jabitacá; da suíte Monzodiorito, Quartzo
Monzonito, Sienito, Sienogranito/Serra Branca; e da Suíte Granítica-Migmatítica
Peraluminosa/Riacho do Forno, do Planalto da Borborema na região do Cariri paraibano. De acordo
com Silva e Seabra(2010), a região do Cariri paraibano corresponde a uma depressão relativa
alongada semelhante a uma concha, caracterizada por apresentar elevadas temperaturas entre 26°C
e 30°C e índices pluviométricos reduzidos de aproximadamente 500 mm e 800 mm, com
precipitações irregulares e concentradas em poucos meses.
Para Nimer (1979), a situação climática dessa região está intimamente relacionada à
localização geográfica, poiso Cariri situa-se no fim do percurso dos fluxos úmidos que se
direcionam para o semiárido nordestino em situação de sotavento da vertente, o que possibilita o
reduzido índice pluviométrico na região.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Souza, Suertergaray e Lima (2010) apontam outro fator relevante para a escassez
pluviométrica, que é a elevada heterogeneidade da distribuição espacial das chuvas, que faz com
que, em um mesmo município, alguns setores recebam descargas pluviais esperadas ou mesmo
acima da média estimada, enquanto que, em outras áreas do mesmo município, o total recebido seja
inferior ao esperado. Nessa perspectiva, o Coeficiente de Variação (CV) das chuvas, para o
município de São José dos Cordeiros, é de aproximadamente 40,9%. Essa condição climática,
atrelada a fatores geológicos e geomorfológicos, condiciona à formação do Bioma Caatinga e de
rios intermitentes (SOUZA, SUERTERGARAY E LIMA, 2010).
A geomorfologia da área está assentada sobre o Planalto da Borborema, uma estrutura
maciça formada por rochas cristalinas de Éon Arqueano, que sofreu deformação posteriormente à
sua formação por ações tectônicas e, em decorrência disso, apresenta, atualmente, ora porções
soerguidas, ora deprimidas, ora inclinadas ou alinhadas, seguindo determinadas direções. O relevo
nessa região varia entre 600 m a 700 m de altitude, condicionados pelos falhamentos e fraturas
decorrentes de tectonismos, formando serras e escarpas onde alguns vales fluviais se adaptam
(LIMA; MELO, 1885). O perfil hipotético da morfologia da área (Figura 2) que abrange a Fazenda
Almas permitiu ilustrar alguns aspectos gerais do terreno.

Figura 2: Perfil hipotético do terreno.


Fonte: Autoral.

Com relação ao sistema hidrográfico, o Cariri paraibano é caracterizado pela predominância


de rios intermitentes ocasionados justamente pela irregularidade na distribuição de chuvas, pela
sucessão de períodos prolongados de estiagem e pela baixa capacidade de permeabilidade do solo,
devido ao cristalino exposto por lixiviação. A região possui duas bacias hidrográficas: bacia do rio
Taperoá e a bacia do rio Paraíba (MAGALHÃES; EGLER, 1885).
A vegetação predominante compreende as espécies do bioma Caatinga do tipo arbustivo-
arbóreo, apresentando espécies como:Cereusjamacaru (mandacaru);Pilosocereuspiauhiensis
(facheiro); Bromelialaciniosa Mart (macambira); Pilosocereusgounellie Weber (xique-xique),

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Spondia tuberosa Arruda (umbuzeiro), Melocactuszehntneri (coroa de frade), dentre outras


(CARVALHO; CARVALHO, 1985).

Aspectos socioeconômicos

A situação socioeconômica do Cariri paraibano é bastante influenciada pelas condições


naturais na qual a região se insere. A baixa densidade demográfica, índice de desenvolvimento
humano (IDH) reduzido, elevada emigração e forte dependência aos programas governamentais
voltados a assegurar a qualidade mínima de vida da população caririense, consistem nas principais
consequências dessa causa ambiental. Nesse sentido, Silva e Seabra(2010) apontam como uma
solução para o desenvolvimento econômico nessa região o incentivo às atividades turísticas,
baseadas nas riquezas da paisagem natural e do patrimônio cultural da localidade.
Apesar das dificuldades condicionadas pelos fatores naturais, o Cariri foi palco de uma das
atividades econômicas que destacou o estado da Paraíba na economia nacional, conhecido como o
sistema econômico gado-algodão, que ocorreu durante o século XX até a década de 1960, quando
começou a declinar. De acordo com Moreira e Targino (1997, p. 156), entre os fatores que
provocaram o declínio da atividade algodoeira, estão: os rigores do clima semiárido, as oscilações
dos preços e o baixo nível tecnológico, que não fomentou a organização produtiva que predominava
no Cariri e no Seridó paraibano. Além disso, a praga do bicudo, que assolou a região em seu
período áureo, destruiu praticamente todo o sistema econômico voltado ao algodão do estado,
principalmente naquelas regiões em que se produzia o algodão arbóreo. Convém destacar, também,
que, em alguns estados do nordeste brasileiros,

[...] onde houve maior determinação do poder público na tomada de decisões mais
imediatas de apoio à pesquisa e ao uso de recursos técnicos defensivos no acompanhamento
da cultura, foi possível obter alguns resultados positivos, senão erradicando-se a praga, mas
encontrando-se formas de convivência com a mesma (MOREIRA; TARGINO, 1997, p.
158).

Essa situação infelizmente não ocorreu na Paraíba, e o sistema gado-algodão foi rompido e
regiões como a do Cariri paraibano sofreram um declínio em suas economias, pois, desde o século
XVIII, esse sistema vinha sendo explorado (MOREIRA; TARGINO, 1985). Testemunhos desse
período estão inseridos nas estruturas arquitetônicas nas cidades, que vivenciaram esse ciclo
econômico. Além disso, costumes dessa época ainda são mantidos nesses lugares, como demonstra
Silva e Seabra(2010, p. 10), ao afirmarem que o povo caririzeiro sempre esteve ligado à sua origem
algodoeiro-pecuarista e, com isso ―surgiram festas, romarias, danças, repentes, contos, lendas,
estórias, artes etc., formando uma identidade cultural própria do Cariri paraibano‖. Atualmente, a
região possui como arranjo produtivo a criação de caprinos e comercialização de produtos
derivados dessa atividade pastoril, como carne, couro, leite e queijo (SILVA; SEABRA, 2010).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Fazenda Alma consiste em um testemunho do sistema gado-algodão, fundada por


Boaventura de Souza Braz e Eulâmpia da Silva Braz no final do século XIX. Essa propriedade se
transformou, no século XX, na principal usina de algodão (descaroçamento) e na maior produtora
agropecuária da região. Em 1990,a herdeira Eunice Braz, segunda mulher de Boaventura de Souza
Braz, transformou a fazenda em uma RPPN (BRASIL, 2015). Atualmente, a RPPN tem sido
utilizada para estudos científicos direcionados ao conhecimento da biodiversidade e geodiversidade
da região do Cariri paraibano.
Diante do grau de relevância cultural e natural que a Fazenda Almas abriga em seus limites
territoriais, torna-se pertinente o desenvolvimento de atividades turísticas que valorizem as
expressivas paisagens geoecológicas existentes no seu interior, ainda não explorada pelo turismo da
Paraíba. Na tentativa de destacar elementos geológicos e geomorfológicos relevantes para a prática
turística, Nascimento, Ruchkys e Mantesso-Neto(2008) propõem um subseguimento para o
ecoturismo no Brasil, denominado de geoturismo. Essa prática turística é bastante disseminada na
Europa e, segundo Hose (1995 apud NASCIMENTO; RUCHKYS; MANTESSO-NETO, 2008),
consiste em ações e serviços que permitem aos visitantes adquirirem conhecimentos e entendimentos
acerca da geologia e geomorfologia de uma determinada porção do espaço, assegurando sua
conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse recreativo ou de lazer.
Desse modo, acredita-se que o geoturismo seria uma prática viável para a manutenção e os objetivos
da RPPN Fazenda Almas.

Particularidades da Fazenda Almas

A RPPN Fazenda Almas tem como principal objetivo conservar a diversidade biológica da
Caatinga arbórea do Cariri paraibano. Atualmente, estão sendo desenvolvidas pesquisas na UC, em
parceria com o Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba
(CCEN/UFPB) e a Associação Plantas do Nordeste (APNE), principalmente na área das ciências
biológicas (BRASIL, 2015).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3: Fotografia da sede da Fazenda Almas.


Fonte: Lavor (2013).

A infraestrutura disponível para o andamento das atividades na UC integra: uma casa para o
guarda-parque; um alojamento; uma oficina para educação ambiental; uma capela; um engenho;
uma casa de farinha; curral e estábulo com animais (gado, caprinos e cavalo); um açude; e três
trilhas interpretativas. É importante ressaltar que os edifícios utilizados para a infraestrutura da
RPPN consistem na antiga sede da Fazenda Almas, que foi adaptada para atender às necessidades
atuais da área (Figura 3).
Conforme já mencionado anteriormente, a RPPN possui grande potencial para o
desenvolvimento do geoturismo na região. Como atrativo para visitação, têm-se, além dos
elementos culturais e biológicos, as unidades de relevo e os materiais litológicos, facilmente
observados ao longo das três trilhas interpretativas existentes no local. A seguir destacar-se-ão
algumas das principais paisagens observadas nas trilhas Pedra da Bola e Lajedo do Cumarú, além
da características arquitetônicas dos edifícios da antiga sede da Fazenda Almas.

Trilha I: Pedra da Bola

No sentido sudoeste em relação à sede da fazenda, existe uma trilha de fácil acessibilidade,
cujo terreno de pouca declividade possui uma paisagem marcante e exuberante, com o cristalino
exposto, formando lajedos e matacões fraturados e arredondados, resultantes do intemperismo
físico-químico sobre rochas magmáticas peculiares na região (Figura 4).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura4: Peculiaridades da fisiografia da área: (a) coroa de frade, cactácea comum na região; (b) vegetação
típica da caatinga composta por arbustos, árvores ―caducifólias‖ de pequeno porte e facheiros; (c) escorpião;
(d) variedade de borboletas; (e) aranha caranguejeira; (f, j) ave de rapina (coruja) camuflada em lajedo; (g)
tipo de lagarta; (h) matacão formado pela esfoliação esferoidal sobre rochas graníticas; (i) lajedo
característico da região.
Fonte: Lavor (2013).

Nessas rochas, também é possível observar pinturas rupestres, possivelmente feitas por
índios Cariris que habitaram a região. Na vegetação (Figura 4) predominam as coroas de frade,
facheiros, estratos arbóreo-arbustivos, variedade de cactáceas (a, b, i) e umbuzeiros, além de outras
espécies. Na fauna local, é possível observar a presença de diversos insetos (c, d, e, g), lagartos,
aves de rapinas (f, j), roedores e serpentes.

Trilha II: Lajedo do Cumaru

No setor nordeste da sede da fazenda, a trilha leva a um trecho de serras de


aproximadamente 700 m de altitude por um caminho atrativo para os aventureiros que desejam uma
visão panorâmica de áreas pediplanadas (Figura 5, d-e) do planalto da Borborema. Os matacões
formam, nesse trecho, cavidades e fraturas naturais que configuram cenários ímpares para
caminhadas ecológicas e registro fotográfico (Figura5, c). Uma dessas cavidades configura um
abrigo rochoso de aproximadamente 50 m de extensão com altura variando entre 1 m e 2 m (Figura
5, d). Esse local é popularmente chamado de ―casa da comadre Fulôzinha". Nas imediações dessas
cavidades rochosas, chega-se a um mirante rochoso no qual estão impressas pinturas rupestres com
representação de símbolos e animais (Figura5, a-b).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5: Particularidades da geodiversidade da paisagem: (a, b) gravuras rupestres; (c, d) trechos da rilha;
(e, f) vista panorâmica da paisagem. Fonte: Lavor (2013).

Paisagem cultural

O universo arquitetônico da Fazenda Almas, compreendido pela casa-grande, os galpões, a


capela e a fábrica, representam aspectos socioeconômicos da sociedade rural de uma época em que
ficaram impressas as relações de produção, tecnologia empregada, cultura e crenças religiosas, que
somadas, formavam uma micro-organização ímpar. Conforme mencionado anteriormente, essa
fazenda era utilizada para operação de descaroçamento do algodão por meio de máquinas movidas a
vapor, tração animal e manual. Essas máquinas, de fabricação inglesa, foram transportadas para a
fazenda por meio de carros de boi, segundo relatos do administrador da área.
O sítio arquitetônico localiza-se no setor oeste da propriedade, entre a encosta inferior e a
base de uma serra. Os prédios se dispõem linearmente, com exceção da capela, que se situa defronte
àcasa-grande. Ao fundo, tem-se a vegetação, e à frente, um açude construído a partir do
represamento de um rio. A observação das construções permite vislumbrar aspectos culturais
pretéritos (Figura 6). A estrutura rústica, com piso de madeira e vários quadros pintados pela antiga
proprietária Eunice Braz aguça a percepção artístico-cultural com traços singulares exóticos e
misteriosos, no qual é retratada a fascinação pela lenda da ―comadre Fulôzinha". Na fazenda, ainda
se encontram uma casa de farinha e um pequeno engenho, que permanecem como testemunho das
atividades rurais de subsistência.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 6: Sitio arquitetônico da fazenda.


Nota: Observar a revitalização realizada nas edificações da fazenda comparando as imagens (a, b) e (e, f).
Fonte: (a, c, d, e) Lavor (2013); (b, f, g) Lima (2016).

CONSIDERAÇÕES

A RPPN Fazenda Almas contém paisagens que revelam ambientes de riqueza geológica,
morfológica e biológica com grande potencial para exploração dogeoturismo. Além disso, seu
universo arquitetônico consiste em testemunhos de antigas formas de organização econômico-social
das quais a região do Cariri paraibano fez parte. Esse sítio cultural poderá contribuir na construção
da identidade local por meio da educação patrimonial.
Medidas conservacionistas já estão sendo implantadas na RPPN Fazenda Almas, mediante
pesquisas e atividades educacionais. Em 2015, o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) divulgou o Plano de Manejo da UC, que contém o zoneamento ecológico
e o programa de manejo para o local. Nesse documento, estão previstas ações de fiscalização,
monitoramento, educação ambiental e desenvolvimento de pesquisas nas áreas das ciências
humanas, exatas e da natureza.
Diante das características naturais e culturais apresentadas neste artigo, sobressai-se o
potencial para diversas atividades voltadas ao turístico ecológico e práticas pedagógicas de
educação ambiental na área Fazenda Almas. No entanto, para que essas ações sejam implantadas no
local, é imprescindível aplicarrecursos financeiros direcionados em prol da conservação. Dessa
forma, é importante saber que, no Brasil, existem verbasdestinadas a subsidiar projetos de
conservação em RPPNs, oferecidos por meio de editais que são lançados anualmente por entidades
governamentais como: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), do Ministério das Ciências e Tecnologias; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ministério do Trabalho; Fundo de Defesa de direito difuso (FDD), do Ministério da Justiça; Fundo
Nacional da Cultura (FNC), do Ministério da Cultura, dentre outras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de Manejo da Reserva


Particular do Patrimônio Natural Fazenda Almas. Recife: ICMBio, 2015. Disponível em:
<http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/plano_de_manejo_rppn_fazenda_almas_
2015.pdf>. Acesso em: 5 maio 2017.

Lei nº 9.985, de 19 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 jul.
2000.

Ministério do Meio Ambiente. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade
Biológica. Brasília: MMA, 1998. Disponível em:<http://www.mma.gov.br/destaques/
item/7926-primeiro-relatório>. Acesso em: 12 maio 2017.

CARVALHO, F; CARVALHO, M. G. F.Vegetação. In: PARAÍBA. Atlas Geográfico do Estado da


Paraíba. João Pessoa: Grafset, 1985.p. 44-47.

LIMA, A.; MELO, A.Relevo. In: PARAÍBA. Atlas Geográfico do Estado da Paraíba. João Pessoa:
Grafset, 1985.p. 26-29.

LIMA, J.R. Gestão ambiental de Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN): o caso da
Fazenda Almas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL E
SUSTENTABILIDADE, 4., 2016, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Congestas, 2016.
Disponível
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em: 5 maio 2017.

MAGALHÃES, C.; EGLER, C.Hidrografia e recursos hídricos. In: PARAÍBA. Atlas Geográfico do
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1997.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 703


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NASCIMENTO, M. A. L.; RUCHKYS, U. A.; MANTESSO-NETO, V.Geodiversidade,


geoconservação e geoturismo:trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico.
São Paulo: SBG, 2008.

NIMER, E. Pluviosidade e recursos hídricos de Pernambuco e Paraíba. Rio de Janeiro:


IBGE/Supren, 1979.

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MENDOÇA, I.Turismo sertanejo: natureza e cultura no turismo de base local. João Pessoa:
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geológico da Paraíba. In: PARAÍBA. Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia e do Meio
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Recursos Hídricos: resumo executivo e atlas. Brasília: Consórcio TC/BR – Concremat, 2006.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AUDITORIA AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO PARA O PARQUE


ESTADUAL MARINHO DE AREIA VERMELHA – PB

Lénine de Carvalho Fontes da SILVA


Graduado em Engenharia Ambiental pela UFPB
leninefontes@hotmail.com.br
Igor do Nascimento QUARESMA
Graduado em Engenharia Ambiental pela UFPB
Igor_nq@hotmail.com
Bráulio Almeida SANTOS
Doutor em Ciências pela Universidad Nacional Autónoma de México (2011)
braulio@dse.ufpb.br
João Evangelista do NASCIMENTO FILHO
Graduando em Engenharia Ambiental pela UFPB
joaonasc.filho@gmail.com

RESUMO
Com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, um grande passo foi dado rumo à
preservação dos ecossistemas nacionais, representando um marco na criação de unidades de
conservação, uma vez que a partir desse momento, muitas UCs foram instituídas no Brasil. Porém,
a maior parte dessas áreas não conta com os recursos mínimos necessários para uma gestão efetiva.
Pois, a simples iniciativa de criação dessas áreas protegidas não assegura o cumprimento das
funções ambientais e sociais previstas em lei para essas áreas. Os principais objetivos deste trabalho
são avaliar a efetividade da gestão do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha por meio da
realização de uma auditoria ambiental e propor soluções para os problemas encontrados,
contribuindo dessa forma para a melhoria da gestão da unidade de conservação em estudo. Foram
selecionados 23 parâmetros, dos quais 10 apresentaram-se em conformidade e 13 em não-
conformidade com a legislação vigente. Como possíveis soluções, recomenda-se a elaboração do
plano de manejo, contratação de funcionários, criação de sede administrativa e centro de visitantes,
melhorias na sinalização e delimitação da unidade e fortalecimento de parcerias institucionais com
fins científicos, educacionais e de visitação.
Palavras Chave: Auditoria Ambiental, Unidades de Conservação, Preservação.
RESUMEN
Con la creación del Sistema Nacional de Unidades de Conservación, un gran paso fue dado hacia la
preservación de los ecosistemas nacionales, representando un marco en la creación de unidades de
conservación, una vez que a partir de ese momento, muchas UCs fueron instituidas en Brasil. Sin
embargo, la mayoría de estas áreas no cuentan con los recursos mínimos necesarios para una
gestión efectiva. La simple iniciativa de creación de esas áreas protegidas no asegura el
cumplimiento de las funciones ambientales y sociales previstas en ley para esas áreas. Los
principales objetivos de este trabajo son evaluar la efectividad de la gestión del Parque Estadual
Marino de Arena Roja por medio de la realización de una auditoría ambiental y proponer soluciones
a los problemas encontrados, contribuyendo así a la mejora de la gestión de la unidad de
conservación en estudio. Se seleccionaron 23 parámetros, de los cuales 10 se presentaron en
conformidad y 13 en no conformidad con la legislación vigente. Como posibles soluciones, se
recomienda la elaboración del plan de manejo, contratación de funcionarios, creación de sede

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

administrativa y centro de visitantes, mejoras en la señalización y delimitación de la unidad y


fortalecimiento de alianzas institucionales con fines científicos, educativos y de visitación.
Palabras Clave: Auditoría Ambiental, Unidades de Conservación, Preservación.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da vida humana sempre esteve associado à apropriação do meio


ambiente e dos seus recursos naturais. Produção de alimentos e de bens de consumo, manipulação
das matérias-primas e dos serviços ambientais marcam a manutenção da trajetória humana sobre o
nosso planeta. Trajetória essa que tem deixado rastros de destruição e degradação ambiental,
intensificada principalmente após a Revolução Industrial.
No sentido de reverter esse cenário, algumas ações começaram a surgir em diversos países,
por meio da criação de áreas legalmente protegidas. Há evidências que apontam para a existência de
áreas protegidas desde 250 a.c., na Índia. Porém, foi somente a partir do século XIX, com a criação
do Parque Nacional de Yellowstone em 1872, nos Estados Unidos, que se iniciou a instituição de
áreas legalmente protegidas, com o objetivo de preservar ecossistemas e paisagens naturais
(SCHENINI et al., 2004).
No nosso país, sem dúvida um grande passo em direção à preservação do meio ambiente foi
dado com a instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), por meio da lei
n° 9.985/2000. Foram criadas 12 categorias de unidades de conservação distribuídas em dois
grandes grupos: de Proteção Integral e de Uso Sustentável. O Parque Estadual Marinho de Areia
Vermelha, que é objeto desse estudo faz parte da categoria de unidades de conservação de proteção
integral. Este, quando criado por ato legal do estado, é reconhecido como Parque Estadual, sendo
este o caso do O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha.
A partir da criação do SNUC, diversas unidades de conservação foram instituídas no
território brasileiro. O grande problema é que grande parte dessas áreas não tem recebido os
recursos necessários para que haja uma gestão efetiva. Pois, o simples ato de instituir áreas
legalmente protegidas não assegura que os objetivos de preservação, ambientais e sociais previstos
no SNUC estarão sendo satisfeitos.
Uma importante ferramenta que vem sendo utilizada para a melhoria da gestão de unidades
de conservação é a realização de auditoria ambiental aplicada às UCs. A auditoria ambiental surgiu
com o objetivo principal de verificar o cumprimento da legislação ambiental. Dessa forma, ela pode
ser utilizada para identificar, de forma antecipada, os problemas provocados pelo não cumprimento
dos objetivos previstos em lei e dessa maneira, contribuir para a efetividade da gestão e prevenção
da degradação associadas à essas áreas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os principais objetivos deste trabalho são avaliar a efetividade da gestão do Parque Estadual
Marinho de Areia Vermelha por meio da realização de uma auditoria ambiental (estruturada em
duas etapas) e propor soluções para os problemas encontrados, contribuindo dessa forma para a
melhoria da gestão da unidade de conservação em estudo (terceira etapa).

MÉTODOS

Caracterização da área

O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha foi criado por meio do Decreto Estadual nº.
21.263 de 28 de agosto de 2000. Possui uma área de 230, 91 hectares, abrangendo uma vasta
biodiversidade marinha associada a recifes de corais. Estando localizado à 1 km da costa do
município de Cabedelo, na praia de Camboinha.
O Parque conta com bastante visitação ao longo do ano, devido à grande beleza natural que
a maré baixa proporciona; tornando visível bancos naturais de areia vermelha. Outro atrativo é a
formação de piscinas naturais, durante a maré baixa. Encontra-se em seu entorno um vasto
ecossistema recifal que abriga diversos organismos como peixes, corais, zoantídeos, algas,
moluscos e crustáceos, que formam várias piscinas naturais. O acesso ao Parque realiza-se por meio
de embarcações que partem das praias do Poço e de Camboinha, sempre que a maré permite, ou
seja, quando o nível do mar deixa exposta a pequena ilha, por catamarãs ou embarcações
particulares que partem de qualquer área da costa (LOURENÇO et al., 2015 apud SILVA, 2016).

Figura 1: - Localização do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha no município de Cabedelo, Paraíba.
Fonte: SILVA (2016).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Inicialmente, foram selecionados indicadores e aspectos a serem utilizados na auditoria


ambiental, que formaram um check-list com 23 parâmetros ao todo, sendo 12 parâmetros para a
primeira etapa do trabalho e 11 parâmetros para a segunda parte. Os requisitos e parâmetros
abordaram aspectos legais da UC (i.e. auditoria de conformidade legal), bem como de
funcionamento e planejamento (i.e. auditoria de desempenho da gestão).
Realizou-se pesquisas em trabalhos desenvolvidos na área em estudo (i.e. Google scholar,
Scopus e Web of Science), análise de imagens de satélite, visitas in loco, registros fotográficos para
o preenchimento da auditoria.
As atividades foram divididas em três etapas. A primeira etapa consistiu na auditoria de
conformidade legal, onde foram levados em consideração os principais aspectos presentes na
legislação ambiental vigente e no decreto de criação do parque (Decreto n° 21.263/00). Tomou-se
como principal referência o SNUC, e mais especificamente, o que se prevê para a categoria de
Parque.
A segunda etapa envolveu a auditoria de verificação do desempenho da gestão. Tomou-se
como referência o trabalho desenvolvido por HATJE (2009), que propõe um manual com as
diretrizes gerais para a realização de auditorias ambientais públicas em unidades de conservação. E
a terceira e última etapa tratou da elaboração das propostas para solução dos problemas de gestão
encontradas. Cada recomendação apontada está fundamentada e permeou os resultados obtidas nas
auditorias.

RESULTADOS

Primeira Etapa

A tabela 1 apresenta os 12 parâmetros selecionados para a realização da auditoria ambiental


de conformidade legal do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha (PEMAV). Ao todos oito
parâmetros apresentaram-se em conformidade e quatro em não-conformidade.
Data da auditoria –Novembro/2016. Realizada num domingo, dia de maior fluxo de
visitantes no Parque Estadual Marinho de Areia.
Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha

CHECK-LIST

Item Aspectos Avaliados Legislação SIM Não STATUS


Aplicável
1 Proteção e preservação Art. 7, § 1° e X Conformidade
integral dos recursos Art. 11 da lei
naturais da Unidade de nº 9.985/00 –
Conservação SNUC /
Decreto N.º

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

21.263/00

2 Existência de atividades Art. 7, § 1° e X Conformidade


que envolvam coleta e Art. 11 da lei
uso, comercial ou não, dos nº 9.985/00 –
recursos naturais da SNUC.
Unidade de Conservação;
3 Existência de atividades DECRETO X Conformidade
que venham a causar N.º 21.263/00
danos, poluição e
degradação da Unidade de
Conservação;
4 Lançamento de resíduos e DECRETO X Conformidade
detritos de qualquer N.º 21.263/00
natureza passíveis de
provocar danos à área;
5 Ocorrência de atividades DECRETO X Conformidade
de captura, pesca, N.º 21.263/00
extrativismo e degradação
dos recifes na Unidade de
Conservação;
6 Existência de Plano de Artigo 27 da X Não-Conformidade
Manejo lei nº 9.985/00
–SNUC
7 Existência de Conselho Art. 29 da lei X Conformidade
Consultivo de Gestão nº 9.985/00 –
SNUC.
8 Pesquisas Científicas sob Art. 32 da lei X Não-Conformidade
prévia autorização pelo nº 9.985 –
órgão responsável pela SNUC.
gestão da UC
9 Existência de Zona de Art. 25 da lei X Não-Conformidade
Amortecimento nº 9.985/00 –
SNUC.
10 Visitação pública Art. 11, § 2° X Conformidade
controlada da lei nº
9.985/00 –
SNUC.
11 Turismo sustentável e as DECRETO X Conformidade
demais atividades N.º 21.263/00
econômicas compatíveis
com a conservação
ambiental da UC
12 Danos diretos ou indiretos Art. 40 da lei X Não-Conformidade
causados à Unidade de 9.605/98 - Lei
Conservação de crimes
ambientais
Tabela 1 - Auditoria Ambiental de Conformidade Legal no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha.

Os parâmetros observados em conformidade foram:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

1 - Proteção e preservação integral dos recursos naturais da Unidade de Conservação.


O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha recebe anualmente um grande número de visitantes,
oriundos do próprio estado e demais regiões do País. Num passado recente, essa UC já esteve muito
vulnerável aos impactos decorrentes de uma atividade turística insustentável. Entretanto, atualmente
o cenário encontra-se favorável para o atendimento das funções sociais e de conservação do Parque.
Tendo em vista as ações que a SUDEMA vem adotando no sentido de combater a degradação e
controlar a visitação na UC.
2 - Existência de atividades que envolvam coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais da
Unidade de Conservação;
Não se verificou coleta ou uso dos recursos naturais da UC. As atividades relacionadas ao Parque
limitam-se à visitação e utilização do espaço para a prática do turismo e lazer.
3 - Existências de atividades que venham a causar danos, poluição e degradação da Unidade de
Conservação;
Atividades antes comuns, como por exemplo, a comercialização e consumo de alimentos e bebidas
alcoólicas, não se verificam mais no Parque Areia Vermelha devido à adoção de medidas restritivas
de utilização do espaço, que só contribuem para a conservação do Parque.
4 -Lançamento de resíduos e detritos de qualquer natureza passíveis de provocar danos à área;
Graças à proibição do consumo e comercialização, não se verificou o descarte ou lançamento de
resíduos no Parque Areia Vermelha.

5 - Ocorrência de atividades de captura, pesca, extrativismo e degradação dos recifes na Unidade de


Conservação.
Devido à falta de gestão, no passado os recifes de corais passaram por um intenso processo de
degradação. No dia da visita, o Parque Areia Vermelha dispunha de um agente fiscalizador da
SUDEMA, atuando na fiscalização para impedir a degradação dos recifes de corais. Porém, esse
efetivo é insuficiente para controlar a visitação em toda a área do Parque.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 - Fiscal da SUDEMA atuando na fiscalização para proteção dos recifes de corais. Fonte: SILVA
(2016)

Os parâmetros observados em não conformidade foram:


6 - Existência de plano de manejo;
O Parque Areia Vermelha ainda não dispõe de plano de manejo.
8 - Pesquisas Científicas sob prévia autorização pelo órgão responsável pela gestão da UC;
Não há nenhuma articulação por parte da administração da unidade de conservação, ou mesmo
qualquer controle das pesquisas realizadas no Parque Areia Vermelha.
9 - Existência de Zona de Amortecimento;
Ainda não se verificou o estabelecimento da zona de amortecimento do Parque Areia Vermelha.
12 - Danos diretos ou indiretos causados à Unidade de Conservação;
Como consequência da falta de gestão no passado, grande parte dos recifes de corais do Parque
Areia Vermelha encontram-se em processo de degradação e precisam de ser restaurados.

Segunda Etapa

Dos 11 parâmetros avaliados, dois foram considerados em conformidade: fiscalização e


monitoramento da UC e a gestão dos resíduos sólidos, já que no dia da visita havia uma equipe da
SUDEMA fiscalizando a área e medidas vem sendo tomadas no sentido da proibição do descarte
inadequado de resíduos. Porém, o pequeno efetivo de agentes destinados para essas atividades é
preocupante, devendo ser incrementado para garantir o processo de melhoria na gestão.
Data da auditoria – Novembro/2016. Realizada num domingo, dia de maior fluxo de
visitantes no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha.

Desempenho de Gestão da UC
Aspecto Observado Sim Não STATUS
1. Fiscalização e Monitoramento da UC X Conformidade
Não-
X
2. Equipe Conformidade
Não-
3. Sede Administrativa X
Conformidade
Não-
4. Centro de Visitantes X
Conformidade
Não-
5. Área de Apoio à Pesquisa X
Conformidade
Não-
6. Banheiros X
Conformidade
7. Gestão de resíduos sólidos X Conformidade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

8. Espaços para desenvolvimento de atividades Não-


X
educacionais, incluindo educação ambiental Conformidade

9. Programa de recuperação das áreas degradadas Não-


X
da UC Conformidade

10. Programa de educação para a Unidade de Não-


X
Conservação Conformidade
Não-
11. Eventos de Educação Ambiental X
Conformidade
Tabela 2 – Auditoria de Desempenho de Gestão realizada no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha

O alto índice de não conformidades identificadas no Parque Estadual de Areia Vermelha é


semelhante ao índice de não conformidades observadas por QUARESMA (2017) que aplicou
auditorias de conformidade legal e desempenho de gestão em três Parques Estaduais da Paraíba:
Parque Jacarapé, Parque Aratu e Parque Xém-Xém, onde 100% (43) dos parâmetros analisados
foram classificados como não conformidades, seja com a legislação ambiental ou com um
desempenho de gestão efetivo. Isso mostra que a situação do Parque Estadual de Areia Vermelha
não é uma casualidade, mas sim um padrão de gestão das unidades de conservação estaduais da
Paraíba.

Terceira Etapa

Para a adequação e o cumprimento dos objetivos previstos no decreto de criação do Parque


Estadual Marinho de Areia Vermelha e na Lei Federal 9.985/2000, recomenda-se, prioritariamente,
a:
1. Elaboração do plano de manejo;
2. Implantação permanente de um quadro de funcionários para atividades básicas de gestão e
fiscalização;
3. Cercamento ou outro tipo de delimitação dos limites da unidade, criação da sede e dos demais
espaços necessários para a administração e uso público do Parque;
4. Sinalização externa e interna para dar visibilidade ao Parque e orientar os visitantes;
5. Estabelecimento de estratégias e medidas a fim de promover a recuperação das áreas degradadas
no interior da UC;
6. Diálogo do órgão gestor com universidades, escolas, comunidade do entorno e outros atores
envolvidos no uso da área, para fomentar a pesquisa científica e a educação ambiental, funções
básicas de qualquer unidade de conservação;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

7. Desenvolvimento de um novo modelo de gestão para o Parque, baseado em gestão


compartilhada, parcerias público-privadas ou mesmo concessões que assegurem a conservação do
patrimônio natural em sua totalidade, a exemplo do que já ocorre em outros Parques brasileiros,
como Tijuca, Iguaçu e Fernando de Noronha.

CONCLUSÃO

Uma das principais ações adotadas em diversos países, no sentido de conter o acelerado
processo de degradação ambiental, tem sido a criação de áreas protegidas, dentre essas, as unidades
de conservação. No Brasil, é bem verdade que um passo importante foi dado com a instituição do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Muitas UCs foram criadas a partir deste momento,
porém, em grande parte delas o que se observa é uma gestão falha por parte do poder público. A
simples criação de espaços territoriais protegidos não garante a efetividade na conservação do meio
ambiente.
Com a aplicação da auditoria ambiental no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha, foi
possível notar um cenário favorável e positivo em relação à um passado recente, do ponto de vista
da gestão, mas ainda assim um pouco distante do que a legislação prevê. A SUDEMA tem tomado
ações no sentido de garantir a preservação do Parque e ao mesmo tempo compatibilizar a visitação
pública com a proteção da biodiversidade marinha. É muito importante que o uso público do Parque
seja acompanhado de um monitoramento rigoroso dos recursos naturais, de preferência em parceria
com as universidades da região.
O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha protege um ecossistema natural ambiente
costeiro, sendo uma área estratégica para o desenvolvimento de uma região com grande capacidade
turística e precisam ser melhor administrados. No geral, as não-conformidades legais e de
desempenho de gestão estão comprometendo o cumprimento dos objetivos previstos no SNUC para
a categoria de parque. As soluções, embora numerosas, são plenamente viáveis e podem ser
aceleradas pela adoção de um modelo de gestão compartilhada entre o setor público e o privado.

REFERÊNCIAS

BRASIL, LEI n° 9.985 de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1°, incisos I, II, III e VII
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A REDEFINIÇÃO DO ESPAÇO NATURAL PARA O LÚDICO: A INTERAÇÃO


ECOTURISMO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
NATURAL TENDO AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL -
RPPNs COMO ELEMENTO MEDIADOR

Magda Beatriz de Almeida MATTEUCCI


Professora da Escola de Agronomia da UFG
mbeatriz@ufg.br
Rosangela VERA
Professora da Escola de Agronomia da UFG
rosangela.vera@uol.com.br
Reginaldo SANTANA
Professor da Escola de Agronomia da UFG
emaildesantana@gmail.com

RESUMO
As Unidades de Conservação - UCs representam territórios apropriados ao turismo sustentável na
natureza por se tratar de áreas destinadas à proteção, por vezes, integral dos recursos naturais,
admitindo-se, a depender da modalidade de UC, a visitação com objetivos turísticos, recreativos e
educacionais. O objetivo deste foi estudar as RPPNs como estratégia para legitimar o ecoturismo
como atividade sustentável geradora de renda tendo a educação ambiental como instrumento de
preservação ambiental. O estudo foi realizado através da observação participante. A coleta de dados
foi realizada por meio de 10 (dez) visitas a UC entre março de 2016 e maio de 2017. A principal
observação foi o número de pessoas que visitavam a UC e quais os procedimentos foram utilizados
pelo proprietário visando a proteção dos atributos naturais. Esse estudo sinaliza que, de um modo
geral, a estratégia conservacionista do meio ambiente necessita de uma política consistente com o
ecoturismo, articulada com a política de Educação Ambiental e a política de conservação da
natureza visando harmonizar as ações turísticas com a conservação da natureza, garantindo o bem-
estar das populações envolvidas e oferecendo aos turistas um contato íntimo e prazeroso com os
recursos naturais e culturais de uma dada região.
Palavras Chaves: RPPN, Ecoturismo, Unidade de Conservação, Educação Ambiental.
ABSTRACT
The Conservation Units are territories appropriated to leisure in nature because they are areas
destined to the protection, sometimes integral of natural resources, admitting, depending on the
modality of the Conservation Units, the tourist visitation with recreational and educational
objectives. The objective of this study was to study the RPPNs as a strategy to reconcile ecotourism
as a sustainable source of income promoting environmental education as an instrument of
environmental preservation. This study was carried out through participant observation. Data
collection was performed in 10 (ten) visits to the Conservation Units between March 2016 and May
2017. The main observation was the number of people who visited and what procedures were used
to protect the natural attributes. This study indicates that, in general, the conservationist strategy of
the environment needs a consistent policy for ecotourism, articulated with the policy of
Environmental Education and policy of Conservation Units aiming to harmonize tourism actions
with the conservation of nature, ensuring the well-being of the populations involved and offering to

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

the tourists an intimate and enjoyable contact with the natural and cultural resources of a given
region.
Keywords: RPPN, Ecotourism, Conservation Unit, Environmental Education

INTRODUÇÃO

As relações do homem com a natureza se estabelecem de diferentes maneiras de acordo com


as situações e interesses, portanto a utilização dos recursos naturais responde às múltiplas
necessidades humanas. A sociedade pós-industrial tem experimentado uma crescente necessidade
de restabelecer relações lúdicas com a natureza, buscando em espaços naturais ―o paraíso perdido‖
ou tão somente o prazer proporcionado por um contato com a natureza preservada em seus atributos
cênicos. Neste contexto, as Unidades de Conservação - UCs representam territórios apropriados ao
lazer na natureza por se tratar de áreas destinadas à proteção, por vezes, integral dos recursos
naturais, admitindo-se, a depender da modalidade de UC, a visitação com objetivos turísticos,
recreativos e educacionais.
As Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPNs, uma modalidade de UC de
domínio privado, têm estratégico papel no cenário ambientalista, constituindo-se em espaços
privilegiados, podendo tornar-se uma das solucões que contemplem a sustentabilidade através da
preservação ambiental conciliada com o desenvolvimento de atividades ecoturísticas.
A modalidade ecoturística é uma atividade possuidora de enfoque conservacionista, por ter
como fundamentos básicos a proteção dos recursos naturais e culturais das áreas visitadas e o
envolvimento das populações relacionadas a estas. Todavia é considerada uma modalidade de
turismo pouco consumista por fugir da característica de ser praticada em massa.
Como no Brasil o total de áreas protegidas é insuficiente para garantir a preservação da
diversidade contida em seus territórios, as RPPNs representam um número significativo de áreas
destinadas à proteção merecendo especial atenção. Até porque os principais municípios goianos que
se destacam pela prática de turismo têm em comum um significativo contingente desta modalidade
de UC.
O objetivo deste foi estudar as RPPNs como estratégia para compatibilizar o ecoturismo
como atividade sustentável geradora de fonte de renda tendo a educação ambiental como
instrumento de preservação ambiental.

O OBJETO DE ESTUDO: AS RPPNs

Esta figura jurídica prevista no antigo Código Florestal de 1965 foi regulamentada através
do Decreto 1922 em 05/06/96, data escolhida por ser o dia em que se comemora o Dia Mundial do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Meio Ambiente. Esse instrumento legal regulará apenas as RPPNs constituídas até a vigência do
referido Decreto, exceto nos casos previstos em lei.
Isto porque no ano de 2000, Lei nº 9.985 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza- SNUC recepcionou as RPPNs permitindo apenas as atividades
associadas à pesquisa científica e à visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais
(Art. 21, § 2o incisos I e II, da lei 9985/2000). Mesmo classificada como de uso sustentável
manteve, desta maneira, seu status de categoria de UC de proteção integral.
No Decreto nº 5.746, de 5 de abril de 2006, que regulamentou o art. 21 do SNUC, a RPPN é
caracterizada como uma área de domínio privado protegida, ad aeternum, por iniciativa de seu
proprietário, tem como objetivo conservar a diversidade biológica. Para tanto é gravada, com
perpetuidade, por intermédio de Termo de Compromisso averbado à margem da inscrição no
Registro Público de Imóveis. Sua criação está na dependência do reconhecida pelo Poder Público
serem seus atributos relevantes por sua biodiversidade, ou por conter belezas cênicas, ou ainda por
características ambientais que justifiquem ações de recuperação ou preservação do ciclo biológico
de espécies da fauna e da flora nativas.
Essa modalidade de UC goza de privilégios legais como a isenção do Imposto sobre a
Propriedade Territorial Rural - ITR, têm prioridade na análise da concessão de recursos ao Fundo
Nacional do Meio Ambiente – FNMA, bem como terá preferência na análise do pedido de
concessão de crédito agrícola, pelas instituições oficiais de crédito.
No Brasil a soma de todas as formas de Unidades de Conservação da natureza nas esferas
federal, estadual e municipal representam algo entorno de 18% de seu território - área de
154.433.313,68 ha, num total de 1872 UCs. Deste montante 666 são RPPNs com área de
516.821,43 ha correspondendo a 0,33% do território nacional (GITE, 2017; SIMRPPN, 2017) .
No Estado de Goiás a situação da conservação ambiental é muito inferior a nacional, as UCs
estaduais somam um valor aproximado de 1,15% do território goiano.
De acordo com o Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN - SIMRPPN do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, em parceria com o Ministério do
Meio Ambiente - MMA, as 62 RPPNs em Goiás cobrem uma área de 36.411, 41 ha. Considerando
que a área do Estado é de 340.110,385, km2, a porcentagem ocupada por RPPNs é de 1,07% do
território goiano. É um valor que, em uma primeira análise, pode ser interpretado como uma fração
pouco significativa ou numericamente inexpressiva. Todavia um olhar comparativo entre os índices
de áreas protegidas no Brasil e no Estado de Goiás demonstra que o número e a área coberta por
RPPNs são significativos e estratégicos, em especial, para a preservação dos Cerrados e para o
desenvolvimento de atividades ecoturísticas e educacionais (IBGE, 2017; SIMRPPN, 2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os municípios onde estas ocorrem, bem como suas respectivas quantidades e porcentagens
sobre as RPPNs totais do Estado são: Alto Paraíso (11) (34,46%); Cavalcante (8) (25,84%);
Pirenópolis (7) (3,64%); Cristalina (4) (3,88%); Planaltina de Goiás (0,75%) e São João d‘Aliança
(5,16%) 3 cada; Cocalzinho (2) (0,43%), Cidade Ocidental (2) e Colinas do Sul (2). Alexânia
(0,03%), Aporé (0,08%), Aruanã (2,81%), Britânia (4,37%), Campestre (5,98%), Corumbá (0,59%),
Formosa (0,09%), Goianápolis (0,04%), Goiânia (0,01%), Hidrolândia (0,04%), Itaberaí (0,02%),
Mineiros (1,07%), Nova Crixás (7,89%), Padre Bernardo (0,22%), Paraúna (0,74%), Santo Antônio
do Descoberto (0,01%), Serranópolis (0,48%), Terezópolis (0,10%) e Trombas (0,37%) todos com
apenas uma (Figura 1).

AS RPPNs E O ECOTURISMO

Sendo por conceito um turismo desenvolvido em localidades com potencial ecológico, de


forma conservacionista, o ecoturismo busca harmonizar as ações com a natureza, bem como
oferecer aos turistas um contato íntimo com os recursos naturais e culturais da região, sendo um
instrumento de formação de consciência ecológica (EMBRATUR 1994; BRASIL 2010).
O lazer e a recreação foram concebidos dentro da visão capitalista como uma estratégia
preservacionista e o resgate econômico para as comunidades pobres que vivem em espaços naturais
protegidos ou não, ou próximo deles. Na prática, o ecoturismo pode ser desenvolvido através de
atividades como caminhada, alpinismo, mountain bike, rapel, observação de animais e plantas, vôo
livre, balonismo, fotografia, paragliding, espelho mergulho, espeleologia, cayaking, boia cross,
rafting, mergulho, montanhismo, pescaria esportiva, entre outros (MATTEUCCI, 2003).
Considerando que toda atividade humana tem poder transformador, gerando impactos ora
positivos, ora negativos sobre o ambiente/cultura, é de se esperar que a atividade ecoturística,
mesmo quando bem executada possa ocasionar, intencionalmente ou não, impactos
ambientais/culturais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1. Municípios goianos onde ocorrem RPPN‘s e as vias de acesso. (IHGB, 2017).

São considerações de Acerenza, 1997:

Con relación a los impactos del turismo en los usos y costumbres de la población local,
algunos trabajos de investigación indican que éste puede llegar a distorsionar las culturaas
autóctonas...
Es muy difícil, sin embargo, determinar en qué grado el turismo es el responsable de estos
hechos, cuando el efecto demostración causante de esta distorsión puede manifestarse
también a través del desarrollo de los medios masivos de comunicación, los cuales son
capaces de ejercer una influencia sobre los valores culturales de una determinada
comunidad mayor aún que la del propio turismo.
Lo cierto es que el turismo, por medio del efecto demostración, puede en un momento dado
llegar a influir en los patrones culturales de la población local.

De acordo com Maranhão, 1996:

... frente ao discurso levantado pelo movimento ambientalista, sobre a realidade de que a
invasão de turista acabava por depredar o meio ambiente, que teve uma grande repercussão
a nível mundial, tornou-se necessário, como uma posição reativa e ambígua, apresentar uma
proposta substitutiva ao turismo de massa em prol de um turismo responsável, como forma
de evolução do próprio mercado turístico, na busca de lucro

Evidentemente que os impactos ambientais do ecoturismo serão em menores proporções e


terão características diferentes dos ocasionados pelo turismo de massa. Apoiando-se na Educação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ambiental, ao invés de promover impactos destrutivos para o meio ambiente, resguardará a


sustentabilidade valorizando os atrativos naturais conciliando lazer a preservação ambiental.
Neste sentido, nas RPPNs, a lei determina que é responsabilidade do proprietário do imóvel
assegurar a preservação dos atributos ambientais que justificaram sua criação.

O LOCAL DE ESTUDO – PIRENÓPOLIS-GO

Tombada em 1988 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - S.P.H.A.N., Pirenópolis


a 121 km de Goiânia, repousa a sombra das Serras dos Pirineus. Originária de um arraial minerador
no início do séc. XVIII é um dos mais ricos acervos patrimoniais do Centro-Oeste. Seus casarões
seculares, suas ruas de calçamento com pedras, o fascínio do Rio das Almas com suas incontáveis
cachoeiras, as comunidades esotéricas, seus refúgios ecológicos e os festejos da festa do Divino
Espírito Santo - As Cavalhadas, fazem da antiga Minas de Nossa Senhora do Meia Ponte uma
cidade internacionalmente conhecida. A cidade conserva casarões, prédio e igrejas do período
colonial: a igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário da Meia Ponte, construída em 1725 sendo a
mais antiga do Estado de Goiás; a Cadeia Pública, construída no inicio do séc. XIX, o Teatro dos
Pireneus; a Ponte sobre o Rio das Almas; a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, construída entre
1750 e 1754 entre os patrimônios culturais.
A festa do Divino é uma tradição portuguesa que acontece todos os anos 50 dias após a
páscoa, sendo considerada uma das maiores manifestações espontânea da América do Sul. Tem
duração de doze dias com novenas, procissões, folias, cavalhadas - batalhas entre mouros e cristãos,
pastorinhas, mascarados e grupos folclóricos.
Pirenópolis é detentora do terceiro lugar em RPPNs em Goiás. Dos 36.411,41 ha, 1325,47
encontram-se nesse município goiano. Sedia o primeiro dos santuários de Vida Silvestre,
posteriormente convertida numa RPPN, a Vagafogo, além de outras 6 (seis) RPPNs e fazendas
como a Fazenda Bonsucesso- com seis cachoeiras de rara beleza, a Fazenda Babilônia marco
histórico construída em fins do século XVIII, tombada como Patrimônio Nacional, pelo IPHAN e
inscrita no Livro de Belas Artes, nº480, em 26/04/1965.
No município encontram-se inúmeros outros atributos naturais e culturais além dos
anteriormente referidos como as Cachoeiras do Lázaro, o Morro do Cabeludo, a Serra dos Pireneus
ponto de misticismo e devoção católica e muitas outras áreas representativas onde a natureza é
preservada e o ecoturismo é a principal fonte de renda (Figura 2).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2: Atributos naturais do município destacando-se duas Cachoeiras.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado através da observação participante (CRUZ NETO, 1996; GREGORI,
1988). A coleta de dados foi realizada em 10 (dez) visitas a UC entre março de 2016 e maio de
2017. A principal observação foi o número de pessoas que visitavam e quais procedimentos
utilizados visando a proteção dos atributos naturais.

RESULTADOS DE DISCUSSÃO

A atividade primordial era o ecoturismo. A UC recebeu durante o período observado uma


média de 300 pessoas por final de semana, contagem que excluiu crianças. Os dados foram
confirmados pelo proprietário em declaração verbal.
Os visitantes pagavam uma taxa para ingressarem e o valor era de R$ 25,00 por pessoa. No
ato de pagamento recebiam um folheto com orientações sobre a UC. As trilhas eram autoguiáveis e
no folheto encontravam recomendações educativas sobre comportamentos em atividades
ecoturísticas, detalhes históricos da UC e orientações que resguardavam a segurança do ecoturista
(Figura 3)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No que diz respeito a geração de renda, considerando que cada mês, em geral, apresenta
quatro (4) finais de semana, o proprietário obteve durante a realização deste estudo uma renda
mensal entorno de R$30.000,00. Um faturamento considerável visto que apenas parcela da
propriedade é uma UC e outras atividades são desenvolvidas, especialmente a pecuária de leite.
Uma receita bruta substancial.

Figura 3: Folheto entregue com as recomendações educativas sobre comportamentos em atividades


ecoturísticas.

No que concerne a faceta conservacionista, a UC preserva representativa vegetação do


bioma Cerrado, os campos rupestres, um tipo de vegetação sobre topos de serras e chapadas de
altitudes superiores a 900m com afloramentos rochosos onde predominam ervas e arbustos. Assim
resguarda os atributos naturais, conciliando a proteção integral da fauna, da flora e as belezas
naturais (Figura 4).
Pode se considerar que é possível vincular o viés preservacionista com a educação ambiental
através da realidade vivida na atividade ecoturística. O contato com a natureza preservada propicia
a pessoa ―perceber‖ a natureza e com isso a compreensão da necessidade de mantê-la. No mínimo é
capaz de sensibilizar o turista para a questão de dependermos da natureza como de espaço do bem
estar da mesma forma de se conscientizar da necessidade humana da convivência com o ambiente
natural preservado.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4: Vegetação do bioma Cerrado, os campos rupestres, com os afloramentos rochosos onde
predominam ervas e arbustos.

Foi observado que o proprietário cumpre o que determina a lei assegurando a manutenção
dos atributos ambientais da RPPN, art. 24 do Decreto nº 5.746, de 5 de abril de 2006. Visto que a
preservação da UC é o motivo pelo qual a frequência de turista é alta e constante. Dado
comprovado por ser a média de frequentadores de 300 pessoas/mês.
A sustentabilidade ambiental transparece na renda obtida numa atividade que promove a
preservação ambiental no caso deste estudo.

CONCLUSÃO

Em primeiro lugar não é possível fazer um julgamento universal e generalizar o axioma


sobre serem as RPPNs instrumentos de sustentabilidade ambiental quiçá instrumento de Educação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ambiental. Todavia esse estudo sinaliza que de um modo geral, a estratégia conservacionista do
meio ambiente necessita de uma política consistente para o ecoturismo, articulada com a política de
Educação Ambiental e de UCs visando harmonizar as ações turísticas com a conservação da
natureza, garantindo o bem-estar das populações envolvidas e oferecendo aos turistas um contato
íntimo e prazeroso com os recursos naturais e culturais de uma dada região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Trillas, 1991 (reimp. 1997). 124 p.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONTRIBUIÇÕES DA PECUÁRIA PARA A CONSERVAÇÃO DA APA DO


IBIRAPUITÃ, BIOMA PAMPA

Marilse Beatriz LOSEKANN


Doutoranda em Geografia no PPGGeo da UFSM
marilselosekann@gmail.com
Carmen Rejane Flores WIZNIEWSKY
Docente do Departamento de Geografia da UFSM
carmenrejanefw@gmail.com

RESUMO
Os campos sulinos do Bioma Pampa se caracterizam por possuir uma vasta biodiversidade, sendo
que parcela ainda não foi estudada. Além dessa há a diversidade cultural e social específica dos
locais que se estruturam, principalmente, através da pecuária extensiva, atividade que conformou as
características atuais do pampa gaúcho. No entanto, a expansão do agronegócio sobre o Bioma,
através da soja e da silvicultura, vem causando inúmeros impactos sobre a sociobiodiversidade
local. Neste sentido, busca-se aqui realizar uma discussão acerca das contribuições da pecuária
sobre campo natural para a conservação da Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, Unidade de
Conservação de Uso Sustentável. Para isso, utilizou-se a pesquisa documental e bibliográfica, assim
como entrevistas e observações. Assim, percebe-se que a pecuária sobre campo nativo representa
mais de 87% das atividades na APA do Ibirapuitã, e esta representa importante espaço de
resistência ao agronegócio, visto que se configura na maior área protegida no Pampa gaúcho.
Palavras-chaves: Bioma Pampa, Área de Proteção Ambiental, Pecuária, Conservação.

RESUMÉN
Los campos sureños del Bioma Pampa se caracterizan por poseer una vasta biodiversidad, siendo
que la parcela aún no ha sido estudiada. Además de eso hay la diversidad cultural y social específica
de los locales que se estructuran, principalmente, a través de la pecuaria extensiva, actividad que
conformó las características actuales del pampa gaúcho. Sin embargo, la expansión del agronegocio
sobre el Bioma, a través de la soja y la silvicultura, viene causando innumerables impactos sobre la
sociobiodiversidad local. En este sentido, se busca aquí realizar una discusión acerca de las
contribuciones de la ganadería sobre campo natural para la conservación del Área de Protección
Ambiental del Ibirapuitã, Unidad de Conservación de Uso Sostenible. Para ello, se utilizó la
investigación documental y bibliográfica, así como entrevistas y observaciones. Así, se percibe que
la ganadería sobre campo nativo representa más del 87% de las actividades en la APA del
Ibirapuitã, y ésta representa un importante espacio de resistencia al agronegocio, visto que se
configura en la mayor área protegida en la Pampa gaúcho.
Palabras clave: Bioma Pampa, Área de Protección Ambiental, Ganadería, Conservación.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

O Bioma Pampa se caracteriza por possuir uma vasta biodiversidade bem como a
diversidade cultural e social específica dos locais, que se estruturam, principalmente através da
pecuária extensiva, sendo esta atividade um dos fatores que conformou as características campestres
atuais do pampa gaúcho. Diegues (2000, p.1), que ―a diversidade biológica não é simplesmente um
conceito pertencente ao mundo natural. É também uma construção cultural e social‖.
Nos estudos realizados sobre Unidades de Conservação ainda predomina o foco nos
aspectos naturais, assim como, o forte caráter preservacionista da legislação ambiental que
desconhece as evidências científicas sobre o relacionamento, as formas de manejo, da população
nativa com o ambiente (DIEGUES, 2000). As territorialidades das populações que vivem nas
APAs, e que caracterizam as práticas de diferentes grupos sociais, foram construídas em um meio
ambiente específico, por isso sua forma particular de utilizar os recursos naturais, o seu modo de
fazer e viver em comunidade e a sua identidade cultural (BENATTI, 1999), deve ser levado em
conta nas políticas ambientais.
Ao encontro dessas premissas foi criada a Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã,
Unidade de Conservação de Uso Sustentável (SNUC, 2000) no Bioma Pampa, mais
especificamente na região da Campanha Gaúcha, Sudoeste do RS. Estes espaços protegidos
constituem-se numa das principais formas de intervenção governamental, visando reduzir as perdas
da biodiversidade face à degradação ambiental.
Neste sentido, a presente investigação visa verificar se a pecuária extensiva vem
contribuindo para a conservação da APA do Ibirapuitã, visto que nos últimos anos o Bioma Pampa
vem sendo impactado pela supressão de campo nativo devido à expansão de atividades como o
cultivo de soja e o plantio de árvores exóticas. Este modelo de desenvolvimento para o Pampa
significa uma mudança radical de sua matriz produtiva e alterações dos ecossistemas que compõem
o Bioma.
Assim, por meio da abordagem qualitativa e de instrumentos como a pesquisa bibliográfica
e documental e de entrevistas e observações, o presente trabalho traz as contribuições da pecuária
para a conservação da APA do Ibirapuitã, considerando o fator antrópico como essencial para a
conformação das características do Bioma Pampa através do processo de coexistência entre homem
e natureza (OVERBECK et al, 2015).

METODOLOGIA

Para a presente investigação foi utilizada a abordagem qualitativa, que de acordo com
Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p.131,) para estudos complexos que não exigem a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

quantificação, é mais pertinente o uso da pesquisa qualitativa e ―nas pesquisas qualitativas, o


pesquisador procura, na sua elaboração, seguir a tradição compreensiva ou interpretativa‖. Já
quanto ao tipo de pesquisa esta se classifica como exploratória (GIL, 2011) a qual objetiva a
descoberta ou delimitação de novos relacionamentos e/ou hipóteses.
Quanto aos instrumentos e técnicas utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental (GIL,
2011), através das informações contidas em leis, decretos, normativas, programas, projetos, etc. que
estejam direcionados para a APA do Ibirapuitã, assim como nas bibliografias acerca do bioma
Pampa, formação espacial do Pampa Gaúcho, Unidades de Conservação de Uso Sustentável, entre
outras que embasam teoricamente o trabalho.
Também foi realizado trabalho de campo nos qual se aplicou entrevistas aos gestores da
APA do Ibirapuitã, aos gestores municipais de Alegrete, Santana do Livramento, Quaraí e Rosário
do Sul, os quais integram a APA, aos Sindicatos Rurais, além de entrevistas aos moradores da
Unidade de Conservação, que são em sua maioria pecuaristas familiares e pecuaristas patronais. A
observação junto as propriedades rurais também proporcionou a apreensão acerca do manejo e
conservação dos campos pampeanos.

O PAMPA E O GADO

Os campos do Bioma Pampa estendem-se ao sul e a oeste pela República Oriental do


Uruguai e províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios, Santa Fé, Córdoba, Buenos Aires e La
Pampa. No Brasil, o Pampa configura-se como um Bioma restrito ao estado do Rio Grande do Sul,
onde ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004), a qual corresponde a 63% do território estadual
e a 2,07% do território brasileiro. Apenas em 2007 foi reconhecido oficialmente como bioma pelo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, também, pelo MMA – Ministério do Meio
Ambiente. As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a
coxilhas. O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens
naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença
de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados,
afloramentos rochosos, etc. (MMA, 2015).
Sobre a formação dos campos com essa fisionomia, estudos paleoecológicos e
paleoambientais (BEHLING, 2009) demonstram a predominância de vegetação de campo sobre
áreas hoje ocupadas por floresta até 1500 cal AP7 (Holoceno Superior), antes do qual o clima
predominante era seco e frio, com aproximadamente três meses de seca ao ano. Com a mudança
climática a partir de 3000 anos cal AP, ocorre o aumento das precipitações e temperatura, inicia-se a
expansão da Floresta com Araucária em refúgios florestais ao longo de rios sobre o campo em áreas
mais elevadas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para Behling (2009) os ecossistemas de campo constituíram-se possivelmente em contato


com animais pastadores pertencentes a uma megafauna primitiva extinta a cerca de 12.000 anos
atrás (último Período Glacial). Eram grandes herbívoros semelhantes às preguiças gigantes,
equídeos semelhantes aos cavalos ou burros, e tatus gigantes. Tanto os caçadores pré-históricos
quanto os animais primitivos desapareceram na transição do Pleistoceno ao Holoceno (12.000 anos
AP), quando as condições frias e secas deixam de ser predominante. Esse período de oito mil anos
entre a extinção dos grandes herbívoros e a introdução do gado teria influenciado o aumento das
grandes queimadas nos campos, inclusive em áreas de transição campo/floresta de Araucária.
Assim, a presença do fogo é um fator importante para o controle e equilíbrio desses mosaicos,
evitando a expansão da floresta sobre o campo.
Desde a introdução de gado pelos Jesuítas espanhóis no século XVII, a atividade pecuária se
desenvolve nos campos do RS, conformando as características do Bioma Pampa através da
coexistência entre homem e natureza. Para Overbeck et al (2015)

O clima, solo e relevo influenciam a distribuição das espécies numa escala regional, mas o
manejo é fundamental para definir as diferentes fisionomias campestres locais. A vegetação
campestre, nas zonas tropicais e subtropicais, evolui sob a influência do fogo e do pastejo e
pisoteio dos herbívoros. Devido à coevolução com estes fatores, as plantas campestres
podem ser consideradas adaptadas a estes distúrbios e desenvolveram estruturas que
permitem que elas resistam ao fogo ou ao pastejo, ou que consigam regenerar as suas
populações rapidamente. (2015, p.36)

A forte relação verificada entre o desenvolvimento de culturas locais do Pampa, como a


produção de gado, faz com que o pisoteio do gado mantenha os campos na região, logo a conexão
entre os aspectos culturais e naturais estão estreitamente integrados.
Contudo, os estudos sobre conversão e fragmentação dos campos sulinos (VÉLEZ-
MARTIN et al 2015) apontam que na primeira década do século XXI restavam apenas 43% do que
havia originalmente. O que tem causado essa dramática perda de área de campo nativo é a
conversão para áreas de agricultura (principalmente lavouras de soja, milho e arroz) ou de
silvicultura (eucaliptos, pinus e acácia), causando assim, a supressão dos campos existentes pelo uso
de máquinas para lavrar a terra e o uso de herbicidas aplicados para matar a vegetação campestre
para implantar as lavouras.
Conforme estudo do Laboratório de Geoprocessamento da UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul) acerca do remanescente de vegetação campestre no Sul do Brasil, a APA do
Ibirapuitã coincide com uma das maiores áreas que ainda apresentam remanescentes de vegetação
original dos campos do pampa. Neste sentido, esta UC vem contribuindo para a manutenção da
biodiversidade do pampa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A PECUÁRIA NA APA DO IBIRAPUITÃ: CONTRIBUIÇÕES AO USO SUSTENTÁVEL

A preocupação com as questões ambientais ganham notoriedade mundial a partir das


décadas de 1970 e 1980, e as transformações do espaço rural da campanha gaúcha a partir de 1960,
com a introdução da lavoura cerealista moderna e a conversão dos campos nativos, causou a
mobilização de um grupo de ambientalistas que propusessem a criação de um espaço protegido.
Assim, a APA do Ibirapuitã foi criada em 20 de maio de 1992, através do Decreto Federal nº
529. Ela está localizada na região sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul (coordenadas
aproximadas 55°29'W a 55°53'W e 29°05'S a 30°51'S), e seu território abrange a porção superior da
Bacia Hidrográfica do Rio Ibirapuitã e está distribuído pelos municípios de Alegrete/RS (15%),
Rosário do Sul/RS (16%), Quaraí/RS (12%) e Santana do Livramento/RS (57%) como pode ser
observado na Figura 1, totalizando uma área de 316.882,75 ha, predominantemente rural e com uma
população estimada de 3.000 moradores.
A formação espaço-temporal do território agrário do Rio Grande do Sul nos permite
compreender a presença de agricultores familiares, com suas diversidades inerentes a cada lugar, ao
mesmo tempo em que o latifúndio persiste. Os sistemas de distribuição de terras, como a das
sesmarias e das datas juntamente com a Lei de Terra, geraram uma enorme desigualdade e exclusão
ao acesso a esta, originando um grande rol de posseiros, agregados dos latifúndios, ex-peões que se
instalaram em pequenos sítios baldios, além de ex-escravos e indígenas que ocuparam áreas de
difícil acesso, seja por estas serem as que ―sobraram‖, ou seja, por optar pelo isolamento
(CHONCHOL, 1996). A APA do Ibirapuitã expressa essa conformação espacial sendo constituída
por territórios da agricultura familiar e patronal, em que 71% das propriedades têm até 50 hectares
(URB-AL-Pampa, 2011)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1 - Apresenta a localização da APA do Ibirapuitã, a qual abrange partes de quatro


municípios da região da Campanha Gaúcha.
Fonte: IBGE (2007); Observatório de UCs – WWF Brasil (2015)

A categoria Área de Proteção Ambiental (APA) foi criada pela Lei nº. 6.902/81 que instituiu
a Política Nacional de Meio Ambiente. Atualmente, encontra-se no SNUC dentro do grupo de
Unidades de Uso Sustentável. Pelo SNUC (2000, p.18):

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais.

Além da sua significativa representatividade, também cabe ressaltar que a APA do Ibirapuitã
é a única UC dessa categoria instituída no Bioma Pampa. A sua criação atende a uma solicitação
feita por ambientalistas da região que reconheciam a riqueza da biodiversidade local, sua grande
beleza paisagística e sua importância histórica relacionada à definição da fronteira sul do Brasil.
Conforme o Decreto No529, de 20 de maio de 1992, são os seguintes objetivos que motivaram a
criação da APA do Ibiratuipã:

Garantir a preservação dos remanescentes de mata aluvial e dos recursos hídricos; melhorar
a qualidade de vida das populações através da orientação e disciplina das atividades
econômicas locais; fomentar o turismo ecológico, a educação ambiental e a pesquisa
científica; preservar a cultura e a tradição do gaúcho da fronteira; proteger espécies
ameaçadas de extinção em nível regional (BRASIL, 19992).

Na Figura 3 observam-se sete classificações de uso e cobertura do solo: florestas, áreas


úmidas, campo de solos profundos de encosta de coxilhas, pastagens cultivadas, lavoura, campo de
solo raso em topo de coxilhas e campo de solos profundos e planos, sendo este último o que
predomina na APA enquanto que as pastagens cultivadas e lavouras ocupam as menores áreas.

Figura 2 – Mapa do Uso e Cobertura da Terra na APA do Ibirapuitã.


Fonte: RAMOS, R. A. et al. (PELD, 2013).

A APA do Ibirapuitã apresenta como principal atividade econômica a pecuária extensiva


sobre campo natural (mais de 87% do território) e pecuária extensiva sobre pastagem cultivada

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 732


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(menos de 1%), além do cultivo de arroz irrigado (menos de 3,5%), desenvolvido principalmente
nas áreas de várzea do Rio Ibirapuitã (TORGAN, 2013). Assim, verifica-se que no território da
Unidade de Conservação denominada APA do Ibirapuitã, ainda predomina a pecuária extensiva
sobre o campo natural, configurando a manutenção das características culturais e ambientais locais.
Em relação à biodiversidade local, estudos de Pillar (2015, p.117) ressaltam que a
conservação dos campos nativos propicia inúmeros serviços ecossistêmicos:

São exemplos a regulação hídrica e o fornecimento de água limpa, a produção de forragem


para a atividade pecuária,a manutenção de polinizadores e de predadores de pragas de
culturas agrícolas, o potencial para a recreação ao ar livre, a estocagem de carbono no solo
que ajuda a mitigar as mudanças climáticas globais, dentre tantos outros.

Somando-se a esses fatores, Vélez-Martin et al (2015, p. 169) apontam que ―os


estabelecimentos rurais dedicados à pecuária sustentável têm maiores possibilidades de explorar
atividades econômicas complementares‖. Dentre as atividades, são destacados o turismo rural, o
turismo ecológico e a observação de aves, a apicultura, a produção de plantas medicinais e de
plantas ornamentais, a produção comercial de sementes nativas e o desenvolvimento de cosméticos,
fitoterápicos e fármacos são possibilidades que precisam ser incentivadas e melhor exploradas nos
Campos Sulinos.
Durante o trabalho de campo na APA do Ibirapuitã foi possível observar que a pecuária
extensiva sobre campo natural, com a bovinocultura de corte e a ovinocultura, é a atividade
predominante. A Figura 3 demonstra o gado e as ovelhas pastando sobre o campo natural
característico do Bioma Pampa, que conforme Boldrini et al (2015, p.53) ―o que caracteriza os
campos é a dominância das gramíneas, sendo estas mais de 9.000 espécies no mundo e 1.485 no
Brasil, enquanto que no Rio Grande do Sul, são 473 espécies nativas e 423 destas ocorrem nos
campos‖.

Figura 3 - Paisagem característica e predominante na APA do Ibirapuitã – pecuária extensiva


sobre campo nativo.
Fonte: LOSEKANN, M. B. Trabalho de campo jan. 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na Figura 3 é possível observar a paisagem característica da APA do Ibirapuitã, a qual


apresenta a predominância da atividade da pecuária sobre campo nativo, tanto nas grandes
propriedades quanto nas unidades de pecuária familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A APA do Ibirapuitã, por possuir como principal atividade econômica a pecuária extensiva
sobre campo natural, configura um exemplo de que a criação de Unidades de Conservação e Áreas
Protegidas proporcionam limites a expansão do agronegócio, principalmente às atividades silvícolas
e da soja, logo, observa-se a importância da criação de UCs como estratégia de manutenção das
características locais.
Nessa perspectiva, a APA do Ibirapuitã, UC de uso sustentável, configura-se como um
território de resistência a expansão do agronegócio no que se refere às atividades silvícolas e da
soja. Assim, as Unidades de Conservação enquanto territórios representam importante papel da
relação homem/meio, contribuem na manutenção de serviços ecossistêmicos e na conservação da
sociobiodiversidade.
Contudo, para que a sustentabilidade em todas as suas dimensões, econômico, social,
ambiental, institucional e cultural (LEFF, 2009) se efetive, faz-se necessário a implementação de
políticas públicas de valorização das Unidades de Conservação e, no caso específico da APA do
Ibirapuitã, o estímulo a pecuária sustentável e a cadeia produtiva oriunda dos campos nativos.

REFERÊNCIAS

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TRADICIONAIS - UMA ANÁLISE JURÍDICA DA REALIDADE BRASILEIRA. In Novos
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http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/111.

BEHLING, H. et al. Dinâmica dos campos no Sul do Brasil durante o Quaternário tardio. In:
PILLAR, V. DE P. Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília:
MMA, 2009.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 734


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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como Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, no Estado do Rio Grande do Sul, a região que
delimita e dá outras providências. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0529.htm.

BRASIL. Lei Federal n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e dá outras providências. Presidência da República - Casa Civil, Brasília, DF, 18 jul.
2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 29
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modernización conservadora. Chile: Ed. Fondo de Cultura Económica, 1996.

DIEGUES, Antonio Carlos (Autor). O mito moderno da natureza intocada. 3a Ed. São Paulo:
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DIEGUES, Antonio Carlos (org.). Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos
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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo : Atlas, 2010.

LEFF, Enrique. Ecologia, Capital e Cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Editora


Vozes: Petrópolis - RJ, 2009. [Trad. Jorge E. Silva]

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TORGAN, L.C. et all. ―AVALIAÇÃO DA PAISAGEM, COMPOSIÇÃO, ESTRUTURA E


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BIOMA PAMPA: potencialidades, conflitos de uso e sustentabilidade‖. Programa de pesquisas
ecológicas de longa duração (PELD): edital MCT/CNPQ N0 59/2009 – Sítio 25 Campos Sulinos.
Porto Alegre: Fundação Zoobotânica/SEMA/RS, 2013. 52 p

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 736


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A CONSERVAÇÃO DE NASCENTES DO RIO


COCÓ, RIO PACOTI E RIACHO IPUÇABA

Sérgio Augusto Carvalhedo MOTA


Gestor ambiental da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará
sergio.mota@sema.ce.gov.br
Milton Alves de OLIVEIRA
Gestor ambiental da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará
milton.oliveira@sema.ce.gov.br
Ulisses José de Lavor ROLIM
Gestor ambiental da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará
ulisses.jose@sema.ce.gov.br

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo analisar o Projeto de Educação Ambiental para a Conservação
de Nascentes, desenvolvido pela Secretaria de Meio Ambiente do Ceará – SEMA, em três Unidades
de Conservação. Com base nos conhecimentos e anseios da população do entorno das nascentes da
área de abrangência do projeto, o projeto foi construído coletivamente, o que proporcionou o seu
apoderamento por parte desses. Como resultado, ao final do projeto, percebeu-se entre os cursistas
um maior nível de conhecimento e uma maior motivação no engajamento nas questões ambientais,
sobretudo sobre nascentes e temas transversais, contribuindo assim para a preservação dos recursos
hídricos das Unidades de Conservação.
Palavras-chave: nascentes, educação ambiental, preservação, unidades de conservação.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the Environmental Education Project for the
Conservation of Springs, developed by the Environmental Secretary of Ceará – SEMA, in three
Nature Conservation Units. Based on the knowledge and aspirations of the population surrounding
the sources of the project area, the project was built collectively, which provided for their
empowerment. As a result, at the end of the project, a greater level of knowledge and a greater
motivation for engaging in environmental issues, especially on springs and cross-cutting themes,
were perceived among the students, contributing to water resources preservation in Conservation
Units.
Keywords: springs, environmental education, preservation, conservation units.

INTRODUÇÃO

As nascentes são afloramentos naturais do lençol freático que apresentam perenidade e dão
início a um curso d‘água (BRASIL, 2012). São áreas muito frágeis, que necessitam de proteção
integral para garantir a manutenção de suas diversas funções ecológicas. Essa proteção é realizada
pela vegetação do seu entorno, as matas ciliares, que são formas de vegetação que acompanham e
protegem as nascentes, rios, lagos, lagoas, açudes e demais recursos hídricos. Diante dessa

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

importância, são consideradas, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, áreas de preservação
permanente (APP), que são definidas por essa lei como : ‖áreas protegidas, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.‖ (BRASIL, 2012).
Mesmo diante da importância e vitalidade para a formação dos rios e sua essencialidade para
todos os seres vivos, as nascentes vêm sofrendo forte pressão devido às atividades humanas e
―apresentado crescente processo de deterioração em consequência do aumento da antropização, com
atividades poluidoras do meio ambiente e ocupação indevida de áreas de preservação ocasionadas,
sobretudo, pelo crescimento da população humana.‖ (Cabanelas & Moreira, 2007)
Diante dessa realidade, a educação ambiental configura-se como um importante instrumento
para reverter esse quadro. Para Medina (2002) a educação ambiental é um processo que busca
elucidar valores e desenvolver atitudes que permitam adotar uma posição consciente e participativa
relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais. Ainda, segundo o
mesmo autor, ela ―é um instrumento imprescindível para a consolidação dos novos modelos de
desenvolvimento sustentável, com justiça social, visando à melhoria da qualidade de vida das
populações envolvidas‖ (2002).
Contudo, Dias (1994) ressalta que a educação ambiental só é efetiva se todos os membros da
sociedade participarem, a partir das suas habilidades, nas complexas e múltiplas tarefas de melhoria
nas inter-relações das pessoas com o meio ambiente. Isso só pode ser alcançado se as pessoas se
conscientizarem do seu envolvimento e das suas responsabilidades, adquirindo uma cidadania
completa. Complementando essa ideia, segundo Carneiro (2006), ―é fundamental uma educação que
reconstrua relações entre pessoas, sociedade e meio natural, sob uma ética de responsabilidade
voltada à sustentabilidade socioambiental.‖.

ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO PROJETO

O projeto foi desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente do Ceará, em três Unidades de
Conservação Estaduais: APA da Serra de Baturité, APA da Serra da Aratanha e APA da Bica do Ipu.
Essas áreas têm regime especial de proteção, haja vista sua relevância ambiental, social, cultural e
econômica. De acordo com a legislação federal, uma unidade de conservação é um ―espaço
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção‖. (BRASIL, 2000).
A APA da Serra de Baturité é a primeira e mais extensa APA criada pelo Governo do Estado

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

do Ceará, e foi instituída através do Decreto Estadual N° 20.956, de 18 de setembro de 1990,


alterado pelo Decreto N° 27.290, de 15 de dezembro de 2003. Abrange uma área de 32.690 hectares
e está localizada na porção Nordeste do Estado, na região serrana de Baturité. Delimitada pela cota
600 (seiscentos) metros, é composta pelos municípios de Aratuba, Baturité, Capistrano,
Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Caridade e Redenção. Apresenta um dos mais importantes
enclaves da mata úmida do Estado do Ceará, representando um ambiente de exceção do bioma
caatinga, sendo o principal centro dispersor de drenagem do setor norte ocidental do Estado. Três
sistemas fluviais têm suas nascentes na área serrana, sendo o mais importante o que é formado pelo
Rio Pacoti. (SEMACE, 2017)

Figura 1-Corredor Ecológico do Rio Pacoti

A APA da Serra da Aratanha localiza-se na Região Metropolitana de Fortaleza,


compreendendo parcelas dos municípios de Maranguape, Pacatuba e Guaiúba, tendo como limite
físico a cota altimétrica de 200 metros. Ocupa uma área de 6.448,29 hectares, criada pelo Decreto
Estadual de n.º 24.959/99. A Serra da Aratanha, que contrasta com a paisagem semiárida do interior
cearense, se faz notar por suas superfícies topograficamente elevadas de relevos serranos,
proporcionando melhores condições ambientais, sob a influência de mesoclimas de altitude, verde
exuberante e um verdadeiro remanescente de Mata Atlântica. Constitui-se de unidades naturais, o
que conhecemos por serras secas e serras úmidas. Nas serras úmidas, há melhores condições
naturais no contexto semiárido, o que consideramos como área de exceção ou enclave paisagístico.
É nesta região onde nasce o principal rio que corta o município de Fortaleza, o Rio Cocó.
(SEMACE, 2017)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2-Rio Cocó

A APA da Bica do Ipu foi criada pelo Decreto Estadual nº 25.414/99, abrange uma área de
3.484,66 hectares e localiza-se no município de Ipu, a 391 Km de Fortaleza. Fica localizada no
Planalto da Ibiapaba que representa um dos mais expressivos compartimentos de relevos do estado
do Ceará. O rebordo da Ibiapaba na área do Município do Ipu constitui um escapamento íngreme
por onde flui a cascata do Riacho Ipuçaba, que nasce no reverso úmido do Planalto sedimentar e
percorre 14 km até o despenhadeiro. O Riacho Ipuçaba, ao longo de sua trajetória, forma diversas
cachoeiras, sendo a principal delas a Bica do Ipu, queda d'água de 130 metros, conhecida como véu
de noiva, que é uma das principais atrações turísticas da região, o que possibilita desde as atividades
de banho à prática de esportes de aventura, como o rapel. Expõe-se então uma frente de cuesta
muito íngreme que contrasta para oeste com terrenos de declives suaves que mergulham para o
interior da bacia, configurando a área do reverso. (SEMACE, 2017)

Figura 3 – Bica do Ipu

Apesar de essas áreas configurarem-se como Unidades de Conservação, alguns fatores vêm
contribuindo para a degradação desses ambientes. O rápido aumento demográfico e as atividades
produtivas (extrativismo vegetal e mineral, pecuária, produção agrícola, etc.), aliados à grave seca
dos últimos anos no estado, vêm gerando enorme pressão sobre os recursos hídricos das regiões,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comprometendo suas funções ecológicas e o abastecimento humano.


Partindo desse contexto, a Secretaria de Meio Ambiente do Ceará desenvolveu o Projeto de
Florestamento dos Rios Pacoti, Rio Cocó e Riacho Ipuçaba, com objetivo de recuperar e proteger os
principais recursos hídricos dessas Unidades de Conservação.
Contudo, para que esse objetivo se concretize, segundo as referências consultadas, é
necessária a compreensão e a participação ativa da população local. Para isso, foi desenvolvido um
projeto antecessor a este, o Projeto de Educação Ambiental para a Conservação de Nascentes,
objeto de análise deste artigo, que teve como o objetivo sensibilizar os principais atores sociais
envolvidos com a temática: moradores e trabalhadores do entorno das nascentes, líderes
comunitários, educadores e estudantes da região, agricultores e populações tradicionais.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

O projeto se estruturou em dois eixos: Oficinas de Percepção Socioambiental e Cursos de


Capacitação, que tiveram como público-alvo as populações do entorno de nascentes inseridas em
Unidades de Conservação no Estado Ceará: Rio Cocó, na APA da Serra da Aratanha, município de
Pacatuba; Rio Pacoti, na APA da Serra de Baturité, município de Pacoti; e Riacho Ipuçaba, na APA
da Bica do Ipu, município de Ipu. Cada Unidade de Conservação recebeu 2 oficinas, com carga
horária de 3 horas cada, e 3 cursos de capacitação, com carga horária de 16 horas cada.
Durante os meses de junho e julho de 2016, foram realizadas as Oficinas de Percepção
Socioambiental, primeira etapa do projeto, com o objetivo de diagnosticar a relação entre os atores
sociais e as nascentes de cada região. Nas ocasiões, foram construídos coletivamente os materiais
do Projeto. A identidade visual foi construída levando em consideração a percepção dos atores sobre
diversos aspectos da região, como a fauna, a flora e o relevo, como é observado nas figuras 4 e 5.

Figura 4-Logomarcas personalizadas para cada Unidade de Conservação do Projeto

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 741


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5-Capa da apostila do Curso Educação Ambiental para a Conservação de Nascentes

Diante das discussões geradas nas oficinas, foi elaborado o plano de curso para cada
Unidade de Conservação, elencando os principais eixos temáticos a serem trabalhados na apostila e
nos cursos, segunda fase do projeto: Gerenciamento e Tratamento de Resíduos Sólidos;
Agroecologia; e Bases da Legislação Ambiental. Esses eixos temáticos foram reunidos em cursos de
16 horas (quatro horas para cada um dos eixos temáticos + quatro horas de aulas em campo).
O Módulo 1 (Gerenciamento e tratamento de resíduos sólidos) teve como objetivo discutir a
relação entre o ―lixo‖ e as nascentes. Inicialmente abordou-se o a diferença entre resíduos sólidos e
lixo, as diversas classificações, o consumismo, resíduos agrícolas (embalagens de agrotóxicos).
Essas discussões foram pautadas em duas perguntas de partida: ―De onde vem tanto lixo?‖ e ―Onde
colocar tanto lixo?‖. Em seguida, prossegui-se às discussões relativas à coleta seletiva e separação
do lixo em seco e úmido, compostagem e, finalizando esse módulo, a Política Nacional de Resíduos
Sólidos.

Figura 6-Aula sobre resíduos sólidos em Pacatuba-CE

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 742


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O Módulo 2, Agroecologia, abordou desde a história da agricultura mundial,


contextualizando com a Revolução Verde, até os dias atuais, em que se vem discutindo novos
modelos de produção. O conceito de agricultura convencional foi construído e chegou-se à
conclusão pelos cursistas de que esse modelo prioriza a maior produtividade em um curto prazo de
tempo, mostrando-se insustentável.
Como modo de alcançar a sustentabilidade na agricultura, foram discutidos com os cursistas
os conceitos de agroecologia e sistemas agroflorestais. Nesse tópico, foram discutidos o histórico da
agroecologia, seus princípios, principais práticas e as melhores formas de se fazer uma transição
ecológica sadia. Como fechamento do tópico foi apresentado as principais características dos
sistemas orgânicos e agroflorestais.

Figura 7-Aula sobre agroecologia, Guaiuba-CE

O último módulo teórico dos cursos tratou do tema ―Bases da Legislação Ambiental‖. O
início do módulo foi feito a partir de uma pergunta: Por que conhecer as leis? Os cursistas foram
levados a discutir a importância da existência de leis, e como seria um mundo onde não existissem
regras. Ao entrarem na discussão eles chegaram à conclusão de que um dos princípios básicos da
cidadania é conhecer direitos e cumprir deveres. Foi feito um apanhado histórico da legislação
ambiental e as principais leis relativas às nascentes. Finalizando o módulo, foi discutida a ―Gestão
dos Recursos Hídricos no Ceará‖, abordando como funciona a distribuição dos órgãos responsáveis
pelo gerenciamento, outorga de água no Ceará e a função dos comitês de bacia.

Figura 8-Aula sobre a importância da legislação ambiental, em Pacoti-CE

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 743


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 9-Aula em uma nascente do Rio Pacoti, em Pacoti-CE

O módulo da aula prática foi desenvolvido no formato de visita em campo a nascentes. Os


cursistas puderam observar com um outro olhar e discutiram os principais pontos vistos nos
módulos teóricos, fazendo a ligação entre teoria e realidade.
Ao final dos cursos, foram aplicados questionários de avaliação aos cursistas, que avaliaram
os quesitos instrutores, conteúdo e infraestrutura, chegando a um conceito geral. A avaliação,
segundo os cursistas, foi bastante positiva, como se observa nos gráficos a seguir (SEMA, 2016):

Gráfico 1- Conceito Geral dos cursos na APA da Serra da Aratanha: classificação de acordo com os
participantes, em porcentagem.

Gráfico 2- Conceito Geral dos cursos na APA da Serra de Baturité: classificação de acordo com os
participantes, em porcentagem.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 744


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico 3- Conceito Geral dos cursos na APA da Bica do Ipu: classificação de acordo com os participantes,
em porcentagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização de 6 oficinas, com 102 participantes no total, e de 9 cursos de capacitação,


com 190 participantes no total, em três Unidades de Conservação no estado, os principais atores
sociais da área de abrangência do projeto foram sensibilizados a assumirem o compromisso de
conservação das nascentes das regiões e a atuarem como multiplicadores do conhecimento
adquirido.
O projeto teve como diretriz a participação social na construção do seu formato desde o
início, tanto o seu conteúdo, quanto o seu aspecto visual. Isso fez com que o público reconhecesse o
seu lugar como seu ambiente, e se percebesse como um ser ativo desde o início do processo como
um dos autores do projeto.
Nas oficinas, foi interessante observar que os temas elencados em três Unidades de
Conservação distintas foram os mesmos, demonstrando a importância de se aprimorar o trabalho de
gestão e educação ambiental com foco nos eixos citados.
Todo o projeto foi desenvolvido de modo a alcançar o objetivo de os atores sociais
adquirirem os conhecimentos para a conservação das nascentes no entorno da localidade em que
vivem ou trabalham, preparando as regiões da área de abrangência a receberem as ações de
florestamento e reflorestamento dos recursos hídricos, contribuindo assim para a qualidade de vida
da população e dos outros seres vivos das regiões.

REFERÊNCIAS

BRASIL. 2000. Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm. Acesso em: 08 ago. 2017.

BRASIL. 2012. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 745


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

2014/2012/lei/L12651compilado.htm. Acesso em: 10 ago. 2017.

CABANELAS, I. T. D. & MOREIRA, L. M. A. Estudo sobre o estado de preservação das


nascentes do rio Sapato, Lauro de Freitas-BA. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, 2007,
6(2): p. 160-162.

CARNEIRO, Sônia M.M. Fundamentos epistemo-metodológicos da educação ambiental. Educar,


Curitiba, n.27, p.17-35, 2006. Editora UFPR.

DIAS, G. F. Educação ambiental: Princípios e Práticas. 3.ed. São Paulo. Gaia, 1994.

MEDINA, N. M. A formação de multiplicadores em educação ambiental. In: PEDRINI, A.G.


(Org.). O Contrato Social da Ciência, unindo saberes na Educação Ambiental. Petrópolis: Vozes,
2002. p. 47-70.

SEMA. Relatório Final do Projeto Educação Ambiental para Conservação de Nascentes. 2016.

SEMACE. Disponível em: http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/apa-da-serra-de-baturite/. Acesso


em: 10 de ago. 2017.

SEMACE. Disponível em: http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/area-de-protecao-ambiental-da-


bica-do-ipu/. Acesso em: 10 de ago. 2017.

SEMACE. Disponível em: http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/area-de-protecao-ambiental-da-


serra-da-aratanha/. Acesso em: 10 de ago. 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA REBIO


TINGUÁ, XERÉM, DUQUE DE CAXIAS - RJ, ESTUDO DE CASO

Sílvia Maria Varela de SOUZA


Doutoranda em Geografia PPGEO, UERJ
silviasouza.varela@gmail.com
Alexander Josef Sá Tobias da COSTA
Prof. Dr. em Geografia PPGEO, UERJ
ajcostageo@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho buscou identificar as diferentes percepções ambientais dos moradores do
entorno da Reserva Biológica do Tinguá, na vertente do município de Duque de Caxias, no bairro
de Xerém, com o objetivo de entender a relação entre moradores e unidade a fim de apontar
sugestões que venham a corroborar com a melhora da relação. Os estudos da Percepção Ambiental
vem se constituindo numa importante ferramenta para a compreensão das relações entre o homem e
o meio ambiente. A investigação detalhada da PA fornece subsídios à elaboração de propostas que
apresentem soluções viáveis para os problemas existentes no gerenciamento da Unidade e à
delimitação de estratégias que propiciem medidas de integração da comunidade com a natureza. A
metodologia utilizada para alcançar tais resultados foi baseada na pesquisa qualitativa e teve como
instrumento a pesquisa de campo com aplicação de questionários. Constatou-se a partir dos
resultados que a reserva biológica do Tinguá apresenta problemas relacionados ao uso público para
o lazer de forma intensa, carência de infraestrutura básica, além da falta de segurança e fiscalização
na região. De acordo com os moradores, o resíduo sólido se apresenta como um problema crônico,
pois a prefeitura não realiza a coleta em todo o bairro. Mesmo com os problemas e conflitos
mencionados acima, os moradores percebem a Rebio como importante em suas vidas e não querem
sair da região em que moram e gostam de estar em constante contato com a natureza, mas esperam
uma melhora no bairro em termos de serviços públicos e uma estrutura melhor dentro da unidade.
Palavras-chave: Percepção ambiental. Reserva biológica. Unidades de conservação. Educação
Ambiental.

RESUMEN
El presente trabajo buscó identificar las diferentes percepciones ambientales de los habitantes del
entorno de la Reserva Biológica del Tinguá, en la vertiente del municipio de Duque de Caxias, en el
bairro de Xerém, con el objetivo de entender la relación entre moradores y unidad a fin de apuntar
sugerencias que vengan a corroborar con la Mejora de la relación. Los estudios de la Percepción
Ambiental se vienen constituyendo en una importante herramienta para la comprensión de las
relaciones entre el hombre y el medio ambiente. La investigación detallada de la PA proporciona
subsidios a la elaboración de propuestas que presenten soluciones viables a los problemas existentes
en la gestión de la Unidad ya la delimitación de estrategias que propicien medidas de integración de
la comunidad con la naturaleza. La metodología utilizada para alcanzar tales resultados
basada en la investigación cualitativa y tuvo como instrumento la investigación de campo con
aplicación de cuestionarios y entrevista. Se constató a partir de los resultados que la reserva
biológica del Tinguá presenta problemas relacionados al uso público para el ocio de forma intensa,
carencia de infraestructura básica, además de la falta de seguridad y fiscalización en la región. De
acuerdo con los residentes, el residuo sólido se presenta como un problema crónico, pues la alcaldía
no realiza la recolección en el barrio. A pesar de los problemas y conflictos mencionados

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 747


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

anteriormente, los residentes perciben a Rebio como importante en sus vidas y no quieren salir de la
región en que viven y les gusta estar en constante contacto con la naturaleza, pero esperan una
mejora en el barrio en términos de servicios públicos Y una estructura mejor dentro de la unidad.
Palabras-clave: Percepción ambiental. Reserva biológica. Unidades de conservación. Educación
ambiental.

INTRODUÇÃO

Compreender a percepção sobre a importância e o valor de uma Unidade de Conservação


(UC) para as pessoas de seu entorno, permite avaliar o modo como essa população atua sobre a área
interferindo na base dos recursos naturais e como é afetada por essa dinâmica. Assim, estudos têm
utilizado à percepção ambiental (PA) como forma de entender as diferentes relações do ser humano
com o meio em que está inserido.
"A identificação das distintas percepções contribui para a gestão de conflitos, no
planejamento, nas políticas e programas de educação ambiental" (Hoeffel et al., 2008). "Permite
também a análise de valores, expectativas e interesses das populações locais em relação a uma UC"
(Pacheco e Silva, 2006). Possibilita-se com isso a construção de orientações que subsidiem a
tomada de decisões assegurando os objetivos básicos dessas áreas protegidas e a manutenção das
condições para uma boa qualidade de vida atual e futura das comunidades envolvidas.
Pode-se dizer que Unidade de Conservação é um conceito novo no Brasil, porém, às áreas
protegidas existem desde a época do Brasil Colônia. No entanto, essas áreas nem sempre foram
delimitadas por lei para proteger os recursos naturais.
"Tinguá (Reserva Biológica do Tinguá), na época do então Imperador D. Pedro II, teve suas
serras preservadas por conta da sua importância hídrica" (Plano de Manejo, 2006, encarte 3, p.8).
Tinguá possui uma captação de água do tempo do Império (1889). Até hoje essa captação é usada
com a mesma tubulação de ferro fundido, chamada Sistema Acari.
A Reserva Biológica do Tinguá foi criada em 23 de maio de 1989, sob o Decreto nº 97.780.
De acordo com o Plano de Manejo (2006), "a unidade foi implantada a partir da vontade e da
pressão popular". A localização da Reserva encontra-se na porção centro oeste do estado do Rio de
Janeiro, sua importância se constitui num relevante fragmento de Floresta Atlântica, abrangendo
quatro municípios: Nova Iguaçu; Duque de Caxias; Petrópolis; e Miguel Pereira.
Esta importância decorre, entre outros fatores, de seu excelente estado de conservação, além
dos serviços ecológicos e ambientais que esta unidade de conservação proporciona. Porém, como a
maioria das áreas florestais do país, a REBIO enfrenta, diariamente, diferentes tipos de pressões
antrópicas como invasões, turismo ilegal, extração vegetal, caça predatória, etc. Frente a este
cenário, é necessário que se estabeleçam estratégias de conservação para estes espaços.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 748


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A área analisada neste trabalho é um importante fragmento de estado avançado de


conservação da Mata Atlântica com abundancia hídrica que, segunda a CEDAE (2010/2014),
"abastece até 80% da Baixada Fluminense" e esta análise teve início pela importância da região e
por observar que existiam conflitos de uso entre vários atores sociais (Petrobras, CEDAE,
comerciantes, sociedade, visitantes, entre outros).
Esta pesquisa vem sendo desenvolvida ao longo de 05 anos, tendo se iniciado na graduação
enquanto projeto de iniciação científica e desdobrado-se no mestrado.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização da pesquisa foi dividida em duas etapas, a


primeira baseia-se no aprofundamento conceitual. No segundo momento foram realizados trabalhos
de campo e uma visita à sede da REBIO-Tinguá para conhecer e conversar com a atual gestão.
Em relação à base teórica, os conceitos de percepção ambiental e lugar se relacionam por ser
tratar de um estudo cognitivo, que fala de vivência do ser humano em determinado lugar, do locus,
do sentimento de pertencimento do espaço vivido. Já o conceito de unidade de conservação foi
incluído para poder compreender a reserva biológica analisada, sendo citado, inclusive, o seu
aparato legal, o SNUC.
A fase das entrevistas foi dividida da seguinte forma:
i) Visitas à localidade para reconhecimento do local, além de algumas conversas informais.
ii) Investigação da percepção ambiental através de um roteiro de entrevista semi-estruturado.
Para a realização deste trabalho foram aplicados 140 questionários, sendo 72 masculinos e 68
femininos. Os questionários foram aplicados nos dias 06 de outubro de 2015 e 13 de setembro de
2016 em horários parecidos.
O segundo momento é importante para compreender o entorno da região, seu
desenvolvimento e a relação da comunidade com a área protegida. Fatores de infraestrutura básica
são importantes para entender a percepção e a relação dos moradores com o lugar em que vivem.

DESENVOLVIMENTO

O indivíduo percebe o mundo a partir da sua experiência com ele, como e onde vive, sendo
que a bagagem cultural de cada ser humano influencia de maneira direta na sua atitude. Segundo
Tuan (1980, p.04):

A percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade
proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem
para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para a
sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Todos os seres humanos compartilham percepções comuns, um mundo comum, em virtude


de possuírem órgãos similares, apesar de duas pessoas não verem a mesma realidade; nem dois
grupos sociais fazem a mesma leitura do meio ambiente.
O estudo sobre a percepção ambiental dos moradores do interior e do entorno das unidades
de conservação vem se mostrando uma ferramenta importante para a gestão das UC's, pois permite
analisar o conhecimento que a população possui sobre a área, assim como conhecer os valores e as
atitudes que os diversos atores sociais mantêm com uma determinada área. A partir desse estudo e
análise é possível traçar diretrizes de forma a inserir a opinião, vontade e necessidade das
comunidades residentes no entorno das unidades, criando uma relação conjunta entre sociedade e
natureza.
A área analisada (Figura 01) consiste em uma das vertentes da REBIO, pertence ao bairro
de Xerém, no município de Duque de Caxias. De acordo com o IBGE (2010), a área possui em
torno de dois mil moradores, mas esse número cresceu de forma considerável com a entrega da
Conjunto Residencial Vale da Mata, do Programa Minha Casa Minha Vida no final de 2015, são
215 casas no total.

Figura 3: Localização da área de estudo - Duque de Caxias.


Fonte:Wilson Messias. Imagem Raster. Agosto/2016.

A análise dos questionários começará pelo perfil dos moradores, sendo fundamental para
compreender como a comunidade percebe a unidade. De acordo com o estudo realizado, os
moradores possuem baixa escolaridade, trabalho com renda abaixo de 5 salários mínimos, entre as
mulheres a profissão que mais foi contabilizada é a de empregada doméstica, diarista e cozinheira.
No caso dos homens, a profissão que mais se destaca é a de comerciante.
No universo feminino o número de pessoas graduadas (9%) é quase o dobro do masculino
(5%). Entre os que não possuem instrução, as mulheres seguem com 10%, já os homens caem para
1%. Todos os que não possuem nenhum grau de instrução escolar estão na faixa etária acima dos
51 anos. Entre os mais jovens todos possuem algum grau de escolaridade, a maioria com o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fundamental II ou o médio. O ensino médio é o nível mais representativo dos entrevistados e está
presente em todas as faixas etárias.
A faixa etária mais representativa na pesquisa está entre 36-50 anos, com 38% no feminino e
27% no masculino, no total representa 32%.
Sobre o conhecimento a respeito da REBIO Tinguá, 50% dos moradores entrevistados do
entorno da UC no município de Duque de Caxias, responderam que já ouviram falar em reserva
biológica, no entanto, apenas 15% reconheceram Tinguá como reserva no município de Duque de
Caxias. Os moradores se referem a floresta naquela região como Reserva da Mata, Mata de Xerém,
Cachoeira da Mata, Mata da CEDAE, entre outros. Para uma parcela de 25% do universo dos
entrevistados, a REBIO Tinguá fica em Nova Iguaçu, "é o outro lado da mata" 27. Para muitos é
apenas um bairro, ou uma empresa de ônibus.
Entre os moradores que dizem reconhecer a floresta como REBIO-Tinguá, as mulheres
adultas (26-35 e 36-50) possuem uma PA melhor em relação aos homens da mesma faixa etária. As
mulheres entre 36 e 50 anos apresentam um grau de escolaridade mais alto, fato que pode ter
ajudado na construção da percepção ambiental feminina deste grupo.
A comunidade possui dúvidas sobre o que é uma REBIO, lugares como a Quinta da Boa
Vista e Jardim Botânico foram citados como exemplos de reserva. Tal resposta pode ser vista de
forma positiva, pois faz um link com a natureza. Ambos os lugares foram construídos, mas são
compostos de imensas áreas verdes. O SNUC com tantas divisões complica o entendimento das
pessoas em relação as categorias.
Após saberem que a Rebio Tinguá é o quintal de suas residências, os moradores foram
perguntados sobre a função da unidade. Preservação da natureza ficou com 52% e proteção dos
mananciais de água com 27% no total dos entrevistados. E, para 14% dos entrevistados, a área serve
para o lazer, algo que também pode ser visto como positivo, pois o lazer é um momento de prazer
do ser humano, onde existe a busca da beleza e do bem estar.
Outro fato relevante é o reconhecimento da importância da floresta. O total de 81% dos
moradores percebem que independente do uso que se faça (lazer, hídrico ou outro) a REBIO é
importante em suas vidas devido a qualidade ambiental. Entre os 19% que não reconhecem a
importância da Rebio, estão os que alegam não usar, não conhecem ou não gostam da área, por isso
não percebem sua magnitude.
O uso público dentro da Reserva Biológica do Tinguá acontece diariamente e em todos os
municípios, principalmente em Duque de Caxias e Nova Iguaçu. A maior parte das pessoas que
frequentam a área não são os moradores da região. O total de 57% dos moradores entrevistados já
foram a reserva, mas apenas 1% deste universo diz ir duas ou mais vezes por semana, sendo a maior

27
Fala dos moradores do entorno da reserva biológica do Tinguá no município de Duque de Caxias.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

parte composta por moradores masculinos entre as idades de 18 a 35 anos. Os lugares mais
visitados são as cachoeiras e a represa.
A primeira pergunta do questionário sobre a percepção ambiental dos moradores é: qual a
primeira palavra que vem a sua cabeça quando você pensa na Rebio Tinguá? As respostas foram
surpreendentemente positivas, mostraram que existe um elo, de acordo com a visão do Tuan, há um
sentimento de topofilia entre a população local e a reserva.
Palavras como saúde, ar puro e paz aparecem de forma espontânea. A população consegue
perceber que a floresta representa uma qualidade de vida boa, de bem estar. As palavras
reflorestamento e CEDAE mostram a observação do morador com a utilização da área, muitos,
inclusive, chamam a REBIO de mata da CEDAE. O desmatamento é sentido nas épocas de chuvas
fortes, quando o bairro sofre com enchentes, as matas ciliares não existem ao longo dos rios fora da
unidade, as margens foram tomadas por uma urbanização nas partes baixas.
Lazer e turismo são outras palavras recorrentes nos questionários, que vem aliada a alegria,
beleza e diversão, estes conceitos foram citados de forma simétrica entre ambos os sexos e em todas
as faixas etárias.
Outras palavras positivas que aparecem entre todos os entrevistados são: vida, verde, bonito,
paisagem, animais, cachoeira e proteção.
Como sentimentos negativos, que mostram os problemas da unidade, aparecem a caça, o
espaço vazio, e o descaso. A questão da caça foi mencionada por homens e mulheres na faixa etária
acima de 35 anos, não sendo mencionada (ou pouco mencionada) entre os mais novos. O espaço
vazio foi citado por uma moradora na faixa etária entre 25-35 anos que prefere um parque aquático
no lugar da floresta. A mesma diz não perceber nenhum benefício oferecido pela floresta para a
região. As duas frases acima, demonstram a falta de conhecimento de parte da população sobre a
área, preferir um parque aquático com 150 km de perímetro abarcando quatro municípios a um
fragmento de Mata Atlântica com um potencial hídrico e todos os outros serviços ambientais que
esta floresta oferece é não ter conhecimento sobre a importância da região.
Apesar da percepção dos moradores ser positiva na maioria das questões abordadas, os
mesmos falam do descaso em relação as esferas municipais e federais na região, o que pode
provocar sentimentos negativos e vontade de mudança. O descaso também pode estar relacionado
com a falta de cuidado, de zelo, com o esgotamento sanitário liberado sem nenhum tratamento nos
rios, com o consumo de drogas que é feito dentro da unidade ou a falta de segurança.
Os bons sentimentos se repetem quando perguntados sobre qual palavra lembra a natureza.
Uma moradora citou Tinguá como a melhor lembrança da natureza. Um morador coloca apenas
Deus acima da floresta. A sensação de liberdade é comparada com o prazer proporcionado por estar
em contato com a natureza. Outras palavras e sentimentos mencionados, são: música, flores, sol,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

vida, beleza e pulmão do mundo, ou seja, sem esta floresta o mundo não sobrevive. Está junção de
palavras remete os sentimentos dos moradores pelo lugar vivido, sentido e apreciado.
Sobre quem deve cuidar da Rebio Tinguá, há uma divergência entre homens e mulheres. A
maioria dos homens, exceto entre 18-25 anos, dizem que está tarefa cabe ao governo, as mulheres
mencionam que todos devem cuidar, pois os benefícios são para todos. Apenas 2% dos homens
entrevistados entre 18-25 anos, colocam que este trabalho deve ficar com as empresas privadas. A
faixa etária mencionada acima ressalta a falta de emprego na região, alguns dizem que pretendem ir
embora por essa razão, o fato de ter uma empresa privada cuidando da floresta pode significar
empregos para os moradores na percepção da sociedade. Uma moradora ressalta que deveria haver
uma empresa só para cuidar da Rebio, sem o envolvimento do governo.
Todos os entrevistados foram perguntados sobre o cuidado com a Rebio Tinguá, como cada
um cuida dessa região. As faixas etárias mais novas disseram que não sabem como cuidar, entre os
que não frequentam a unidade, a maioria diz que não faz nada justamente por não usufruir a área,
está resposta apareceu independente de idade e sexo. Ações como não deixar o lixo nas ruas e nos
balneários é a mais citadas entre todos. Alguns moradores mencionaram que gostariam de conhecer
melhor a reserva, saber o que significa e sua importância; outro morador queria saber sobre
trabalhos voluntários dentro da unidade. Falas como esta, mostra que a população possui um
sentimento de pertencimento pelo lugar mesmo com os problemas da região.
Durante a pesquisa foi possível observar que a Reserva Biológica do Tinguá possui três
grandes problemas, são eles: o resíduo sólido, quantidade de visitantes e a falta de fiscalização.
O resíduo sólido, de acordo com os residentes do local, é o maior problema. A informação
obtida no site da prefeitura de Duque de Caxias é que a coleta de resíduos é realizada em todo
bairro de Xerém. No entanto, os moradores falam de outra realidade, principalmente no entorno
bem próximo a reserva. Algumas ruas são muito estreitas e o caminhão de lixo não chega lá, os
moradores precisam levar o lixo até um determinado ponto do bairro para ser coletado. A limpeza
pública também não é realizada dentro da unidade, uma vez que esta é uma reserva biológica e não
é permitido nenhum uso direto. No entanto, o uso da reserva como área de lazer existe e o visitante
deixa o seu resíduo nas trilhas e nos balneários. Os moradores reclamam por ter que tirar o lixo
deixado pelo visitante ou conviver com o mesmo.
O termo fiscalização em alguns momentos é confundido com segurança pública. Alguns
moradores se referem a fiscalização como sendo responsabilidade do ICMBio, estes se referem ao
uso da unidade como área de lazer; outros falam em fiscalização no sentido de segurança (drogas) e
ordenamento da área. O grupo de mulheres adultas, entre 36-50 anos, que possui melhor percepção
e maior escolaridade, identifica a falta de fiscalização como o maior problema da região. Pode-se

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

dizer que as mulheres desta faixa etária apresentam uma percepção mais abrangente sobre a questão
ambiental.
A quantidade de pessoas que frequenta a área também é mencionada como um dos
principais problemas pela comunidade, um balneário chega a comportar uma média de 300 pessoas
durante a semana na época do verão, nos finais de semana e/ou feriado esse número é muito maior.
Além dos comerciantes que montam suas barracas as margens dos rios.
Por ser uma reserva Biológica, pode-se dizer que todo este movimento acontece por falta de
fiscalização do ICMBio, que é o órgão responsável pela unidade. O que não significa que a gestão
não saiba ou não se preocupe com uso da área, mas não há como monitorar toda a REBIO, nem
fazer um trabalho junto à comunidade relacionada a educação ambiental com o quadro de
servidores que a unidade possui. A reserva precisa que o órgão fiscalizador aumente o número de
servidores.
Mesmo com os problemas que a região possui e ausência do poder público (município), os
moradores acreditam numa melhora para o bairro e pretendem continuar morando. Dentro do
número de pessoas que pretendem sair, estão os homens entre 18 a 35 anos que alegam que não há
empregos para todos. A maioria dos moradores entrevistados gostam da floresta e não querem outra
coisa em seu lugar, entre as mulheres essa vontade é menor. Em meio aos que gostariam de uma
mudança na REBIO, os que mais aparecem são: área de lazer com segurança, parques aquáticos,
comércio e indústrias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos sobre percepção ambiental vem se mostrando eficazes para analisar situações
como a citada acima e podem ser entendido como a análise da relação da sociedade com as áreas
protegidas, o valor atribuído a sua importância, contribuindo para a elaboração de projetos a serem
trabalhados em cada área, auxiliando na gestão das unidades de conservação com a participação
mais efetiva das comunidades.
A Reserva Biológica do Tinguá completou 28 anos em maio de 2017. No entanto, nem todos
os moradores do entorno sabem que a área é uma unidade de conservação e o que isso significa. No
município de Duque de Caxias, em Xerém, os moradores não reconhecem a floresta como parte da
REBIO-Tinguá, a maioria chama de Mata de Xerém ou área da CEDAE, são poucos os que sabem
que a mata pertence a reserva. O conceito de unidade de conservação e suas categorias é abstrato
para os moradores. Contudo, o entorno da Reserva, de um modo geral, percebe a importância
ambiental da área diante do seu tamanho e a abundância hídrica, o que se leva a pensar que a
pressão popular para a criação da unidade dentro da categoria de Reserva, pode ter sido feita por um

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

determinado grupo de atores sociais sem o esclarecimento para o restante da população, podendo
ocasionar maiores conflitos.
A unidade foi criada sem uma política de conscientização com as comunidades do entorno,
causando prejuízos à está relação. É preciso pensar no desenvolvimento das comunidades sem
deixar de lado o propósito de criação desta REBIO. É notório a urgência em esclarecer aos
moradores da região a preciosidade que eles possuem nos quintais de suas casas.
Diante do exposto acima, é difícil chegar com soluções prontas, mesmo depois de anos de
pesquisa. Os problemas da comunidade de Xerém, no entorno em Duque de Caxias estão ligados a
questões culturais e políticas. No entanto, este trabalho propõe ações que a médio e longo prazo
possam trazer mudanças na relação entre unidade de conservação e comunidade. Repensar a
categoria de parte da unidade pode ser uma saída para resolver a questão do emprego informal e do
lazer na região. Uma combinação entre Parque nas cotas altimétricas mais baixas e Reserva
Biológica nas mais altas, aliado a um centro de visitantes com uma exposição permanente nas
principais entradas da unidade de cada município com suas respectivas história desde a época do
Brasil Império até os dias atuais; implantação de uma educação ambiental crítica para os visitantes
e, principalmente para os moradores; trilhas marcadas ou suspensas com informações sobre a
região; uma estrada parque; e a implementação do ecoturismo para o desenvolvimento da sociedade
local. Essas medidas podem ser possíveis soluções para os conflitos de uso na unidade e retorno
financeiro para a comunidade desde que seja a vontade da população local e que a mesma participe
de todo o processo de implantação, como possa usufruir de tal mudança.
As propostas citadas acima, não são fáceis de serem implantadas, no entanto, a educação
ambiental para as crianças e adultos não é impossível e não requer tantos recursos financeiros.
Pode-se pensar em parcerias com empresas privadas junto as universidades federais e estatuais para
realizar um trabalho com à comunidade, escolas e associações. O objetivo principal seria apresentar
à população a Reserva Biológica do Tinguá e aplicar uma educação ambiental crítica na região,
"transformando" os moradores em multiplicadores do conhecimento sobre a unidade e práticas de
educação ambiental. Identificar os grupos que residem na região pode ser um início para
desenvolver o trabalho de educadores ambientais, seja na escola, em casa ou na própria reserva. Há
possibilidades de se identificar grupos de moradores que queiram participar como voluntário na
melhoria da região a partir de ações simples, mas significativas, como por exemplo entender a
importância da floresta e o SNUC, a fim de conhecer os direitos e deveres que existem para quem
mora em uma área tão privilegiada e rica em biodiversidade e beleza. Quanto a recategorização de
parte da unidade, pode-se pensar num plebiscito local para saber a vontade do povo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O lazer é uma necessidade humana e pode ser praticado sem degradar o ambiente, é preciso
pensar em medidas para mudar comportamentos negativos dentro da unidade, o uso público de
forma intensa já existe e, é constante, o que se precisa é pensar em ações dentro dessa perspectiva.
A PA pode funcionar como uma ferramenta para entender a comunidade e tentar
melhorar/amenizar os problemas vividos nas regiões estudadas. Sendo um estudo que pode ser
aplicado a outros entornos de unidades de conservação ou a qualquer comunidade que viva uma
situação de conflito. O estudo da PA traz resultados capazes de nortear conflitos ambientais e
sociais, no caso da REBIO-Tinguá, ele mostra que a comunidade tem um elo com o lugar e que
possui um sentimento de pertencimento, mas que este sentimento pode ser ampliado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Lei N° 9.985, de 18 de julho de


2000, Brasília.

CEDAE. Relatório Anual Tinguá – Informações aos Usuários. Disponível em:


http://www.cedae.com.br/div/RelatoriosQualidadeAgua/2010/Tingua.pdf 05/05/2014 17h e 30
min.

HOEFFEL, J. L. et al. Trajetórias do Jaguary – Unidades de conservação, percepção ambiental e


turismo: um estudo na APA do Sistema Cantareira, São Paulo. Ambiente & Sociedade -
Campinas v. XI, n.1, p. 131-148. Jan.-Jun. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/asoc/v11n1/09.pdf Acesso em: 20/08/2012.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em:


<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?coduf=33> Acesso em: 22/01/2017, às 23h.

PACHECO, Éser; SILVA, Hilton P. Compromissos Epistemológicos do Conceito de Percepção


Ambiental – Departamento de Antropologia EICOS UFRJ, [2000?]. Disponível em:
<http://www.ivt-rj.net>. Acesso em: 15/09/2012.

BRASIL. Plano de Manejo da Reserva Biológica do Tinguá, Brasília, 2006. 951p.

TUAN, YU-FU. Espaço e Lugar – A Perspectiva da Experiência – Tradução Lívia de Oliveira,


Prof. Adjunta do Depto. De Geografia – UNESP – Rio Claro, SP. 1983, 250p.

Topofilia – Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente. Tradução Lívia de


Oliveira, Prof. Adjunta do Depto. De Geografia – UNESP – Rio Claro, SP, 1980, 288p.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ROTEIROS TEMÁTICOS PARA A RESERVA ECOLÓGICA DA MATINHA:


RESULTADOS DE UM TRABALHO DE EXTENSÃO

Taísa Fonseca NOVAES


Professora Titular em Turismo do Ifbaiano
taisa.novaes@urucuca.ifbaiano.edu.br

RESUMO
O artigo tem como objetivo apresentar a experiência e os resultados finais do projeto de extensão
intitulado Roteiros Temáticos para Matinha – o uso da reserva ecológica como ferramenta de
aprendizagem. Discorre sobre as etapas de pesquisa, planejamento, criação e aplicação dos roteiros
temáticos que utilizaram temas trabalhados no ensino fundamental para a visitação de estudantes a
uma reserva ecológica da Mata Atlântica. Esta proposta surgiu a partir da observação do atual uso
da reserva ecológica como local de aulas práticas por alguns docentes da instituição, da real
necessidade de desenvolver a prática do curso de graduação em Gestão de Turismo e o curso
técnico em Guia de Turismo e por fim, da possibilidade de aproximar a instituição da comunidade
local. Como resultado, oferece uma forma didática e lúdica de ampliação dos conhecimentos
passados em sala de aula, e, por sua vez, auxilia a conservação da reserva.
Palavras Chave: Meio Ambiente, Roteiro, Educação.
RESUMEN
El artículo tiene como objetivo presentar la experiencia y los resultados finales del proyecto de
extensión titulado Rutas temáticas para Matinha - el uso de la reserva ecológica como herramienta
de aprendizaje. Se discuten sobre las etapas de investigación, planificación, creación y aplicación de
los itinerarios temáticos que utilizaron temas trabajados en la enseñanza fundamental para la visita
de estudiantes a una reserva ecológica de la Mata Atlántica. Esta propuesta surgió a partir de la
observación del actual uso de la reserva ecológica como lugar de clases prácticas por algunos
docentes de la institución, de la real necesidad de desarrollar la práctica del curso de graduación en
Gestión de Turismo y el curso técnico en Guía de Turismo y por fin De la posibilidad de aproximar
la institución de la comunidad local. Como resultado, ofrece una forma didáctica y lúdica de
ampliación de los conocimientos pasados en el aula, y, a su vez, ayuda a la conservación de la
reserva.
Palabras clave: Medio Ambiente, Ruta, Educación.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é o resultado do projeto de extensão intitulado Roteiros Temáticos para


Matinha – o uso da reserva ecológica como ferramenta de aprendizagem. O projeto foi realizado por
discentes do curso de graduação tecnológica em Gestão de Turismo do Instituto Federal Baiano
(Ifbaiano) – Campus Uruçuca, apoiado pelo recurso da Pró – Reitoria de Extensão (PROEX), no
ano de 2016 e 2017. Este artigo tem como objetivo apresentar a experiência e os resultados
alcançados pela instituição, pela comunidade e pelos discentes, com a finalização desta atividade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O Instituto Federal Baiano (Ifbaiano) – Campus Uruçuca foi instituído em 2008 pela lei
11.892 junto com as demais Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica. Está localizado no Sul da Bahia em uma região conhecida por ter um importante
remanescente de Mata Atlântica. Esta instituição, por sua vez, possui uma parcela importante deste
bioma: a Reserva Ecológica da Matinha, com 18 hectares.
Nos últimos nove anos as trilhas da Matinha foram utilizadas para aplicação de aulas
práticas aos discentes do curso técnico integrado em Guia de Turismo e do curso superior de Gestão
de Turismo e eventualmente, por docentes da área propedêutica, também como forma de
visualização de conteúdos trabalhados em sala de aula. Sendo assim, verificou-se o potencial da
área para aplicação de roteiros com conteúdos pedagógicos. Porém eles atingiam apenas os
discentes do instituto e eram feitos de forma não organizada e sem a preocupação com a
preservação ambiental.
Assim, o projeto de extensão em questão propôs a definição e organização de roteiros que
atendessem aos requisitos pedagógicos de forma mais eficaz e sustentável, envolvendo também a
comunidade do município através captação para visita dos estudantes do ensino fundamental. Para
tanto o trabalho pressupôs as seguintes atividades: elencar os conteúdos pedagógicos possíveis de
serem trabalhados nesta reserva ecológica; estudar as normas de uso sustentável da reserva;
organizar de forma sistemática e controlada a visitação do local, seguindo e separando os roteiros
por conteúdo; produzir material para divulgação dos roteiros; divulgar e operacionalizar os roteiros
junto às escolas públicas do município.
Este artigo está organizado com breve explanação sobre a Mata Atlântica, sobre a prática da
roteirização das aulas práticas pelas agências de viagens, dos materiais e métodos utilizados e,
finalmente a apresentação dos resultados do projeto.

UM BREVE OLHAR SOBRE A MATA ATLÂNTICA E O SUL DA BAHIA

As florestas tropicais são conhecidas mundialmente por sua diversidade biológica e sua
expressiva riqueza de paisagens. A Mata Atlântica de acordo com o Ministério do Meio Ambiente,
é um conjunto de formações florestais e ecossistemas que se estendia, originalmente, por quase todo
litoral brasileiro abrangendo cerca de 1.300.000 km2 e dezessete estados do Brasil. O Instituto
Brasileiro de Florestas complementa informando que cerca de 70% da população brasileira vive no
território deste bioma e depende de suas nascentes e mananciais para o abastecimento das cidades.
Porém, devido a grande desgaste causado em sua maioria pelo mal uso do homem, esta vegetação
se encontra reduzida a cerca de 22% da sua cobertura original.
Do remanescente desta floresta, de acordo com Conselho Nacional da Reserva da Biosfera
da Mata Atlântica, o seu exemplar localizado no sul da Bahia conserva uma grande diversidade de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

espécies da fauna, com animais silvestres não encontrados em outros lugares. Ainda por esta
instituição o exemplar localizado na Costa do Cacau, região onde está situada a cidade de a Reserva
Ecológica da Matinha, é uma das áreas mais importantes para conservação da biodiversidade
global.
A conservação deste bioma no sul da Bahia se deve a utilização de um sistema de plantio
denominado cacau – cabruca, que consiste no plantio do cacaueiro em meio a mata atlântica, sob
suas árvores. Conforme Lobão e Valeri (2009):

O plantio tradicional do cacaueiro sob o dossel da floresta, aprimorado ao longo de 250


anos, resultou num sistema de produção agrossilvicultural conhecido como cacau-cabruca.
Esse sistema gerou recursos financeiros, fixou o homem no campo, conservou recursos
naturais e compatibilizou o desenvolvimento socioeconômico com a conservação.

De acordo com as pesquisas realizadas pelos autores citados, o sistema de cacau – cabruca
conservou a vegetação remanescente da floresta atlântica primária e diferentes espécies arbóreas em
diferentes estádios da substituição da cobertura natural da floresta.
A Reserva Ecológica da Matinha, por pertencer a esta importante região do sul da Bahia e
também conservar uma área deste bioma, precisa ter uma utilização controlada e sustentável. Esta
foi uma das preocupações dos discentes ao realizarem as atividades do projeto.

A ROTEIRIZAÇÃO DA AULA PRÁTICA

As aulas práticas possibilitam aos discentes interagir com a montagem de instrumentos


específicos que normalmente não tem contato em um ambiente formal de sala de aula
(Borges, 2002). Esta ferramenta é também forma de se verificar e auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem, uma vez que acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos, passa pela
observação dos progressos e das dificuldades da sala de aula. É uma atividade importante que o
professor deve fazer, pois os alunos muitas vezes têm dificuldade de compreender o porquê dos
conteúdos por ele estudado em sala de aula (BIZZO, 2000).
Porém a organização e a operacionalização de aulas práticas com visitas a locais fora do
contexto escolar vão além da preparação e da disponibilidade de tempo por parte dos docentes e
muitas vezes da escola. Desta forma se faz necessário a preparação destas por parte de profissionais
preparados para a elaboração e aplicação de roteiros e visitas, neste caso os profissionais de
turismo.
A utilização das aulas práticas para a aprendizagem está sendo aperfeiçoadas e o
desenvolvimento de roteiros temático está se tornando profissional e um nicho de mercado no setor
turístico. Muitas agências estão se dedicando a propor roteiros de visitas que proporcionem o
conhecimento do meio, completando de forma lúdica e prática os conceitos da sala de aula. O uso
de desta ferramenta está de acordo com Artigas (2002), quando afirma que é possível ao visitar

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

determinados pontos, conhecer a evolução e o desenvolvimento do local, as características


geográficas, a preservação ambiental e outros aspectos relacionados ao currículo escolar e às suas
áreas de conhecimento. Por sua vez Bizzo (2000) considera as aulas práticas uma boa forma de
verificar e auxiliar o processo de ensino – aprendizagem, uma vez que acompanhar o processo de
aprendizagem dos alunos demanda observação dos progressos e aprendizagem dos conteúdos de
sala de aula. Contudo, de acordo com Krasilchik (2008) a utilização dos roteiros de visitas como
ferramenta para aprendizagem ainda é pouco difundida devido a falta de tempo para a preparação
de material e também falta de segurança em controlar os alunos.
É neste contexto que se inseri o roteiro pedagógico, que se caracteriza por visitas de estudo
do meio e tem como objetivo transportar o conhecimento teórico assimilado em sala de aula para a
realidade concreta. Segundo Milan (2007) este tipo de roteiro apresenta uma proposta de aula
elaborada a partir dos conteúdos curriculares e sua tradução em objetivos de aprendizagem. Logo, a
educação através da aplicação de roteiros de visitação conduz o educando a aprendizagem de
conceitos e atitudes corretas por meio da participação, observação ou reprodução do cotidiano, e a
integração com o conhecimento escolar.

O PROJETO DE EXTENSÃO

Considerando o exposto nos itens acima, o uso organizado produzido pela utilização de um
roteiro pré-definido pode contribuir para a diminuição dos impactos ambientais causados pelas
aulas práticas na Reserva Ecológica da Matinha. Afinal, conforme Gomes (2013), a visitação
pública em áreas naturais tem como principal benefício a conciliação entre o uso e a conservação
dos recursos naturais e culturais. Sendo assim o projeto aplicado utilizou o conhecimento dos
discentes do Ifbaiano – Campus Uruçuca para a organização de roteiros temáticos, voltados para
complementação da aprendizagem dos conteúdos trabalhados em sala de aula, na área da Matinha.
A atividade em questão buscou articulação entre os cursos superior de Gestão de Turismo e
integrado técnico em Guia de Turismo, favorecendo o intercâmbio entre os cursos da área de
turismo desta instituição. Seu caráter extensionista se percebe no propósito de aplicar estes roteiros
pedagógicos junto aos estudantes do ensino fundamental do município, aproximando a comunidade
da reserva ecológica e consequentemente do Instituto Federal Baiano de Uruçuca.
Logo, no período de julho de 2016 foram iniciadas as atividades do projeto de extensão
tendo como objetivo geral a organização de roteiros de visitação a Reserva Ecológica da
Matinha e como temática os conteúdos pedagógicos trabalhados no ensino fundamental das Escolas
Públicas de Uruçuca. Inicialmente as atividades foram articuladas através pesquisa e levantamento
de dados através de entrevistas e visitação in loco da reserva. Em seguida, a ação através da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

elaboração de roteiros, divulgação e realização, dos mesmos, junto às escolas locais de ensino
fundamental.
Na avaliação de cada etapa, reuniões periódicas foram realizadas para acompanhamento dos
resultados das pesquisas e do levantamento de dados sobre a reserva ecológica. Por fim houve o
acompanhamento presencial na etapa de elaboração e aplicação dos roteiros.
Para atingir o referido objetivo, pequenas metas foram trabalhadas e alcançadas. São elas:

 Pesquisa digital e de campo para verificar os possíveis temas ligados ao ensino


fundamental que pudessem ser trabalhados na reserva ecológica – foram levantados dados
através dos Parâmetro Curricular Nacional (PCN) e através de aplicação de questionário com
docentes de Ifbaiano e das escolas locais (ANEXO).
 Estudo das normas de uso da Reserva Ecológica da Matinha – como produto de projeto
anterior foi elaborado um manual com normas de uso e visitação da reserva. Este material foi
estudado em detalhe pelos discentes envolvidos no projeto.
 Compreensão sobre a forma de elaboração de um roteiro de visita – através da orientadora
do projeto em uma oficina foram passadas informações essenciais para criação de um roteiro
de visita e os cuidados necessários na condução de visitantes em áreas naturais.
 Elaboração dos roteiros – tendo como base o resultado da pesquisa de campo realizada com
os docentes foram elaborados três roteiros temáticos. O primeiro teve como base temas da
disciplina Geografia como localização geográfica, solo e bioma Mata Atlântica. O segundo
aborda tema da literatura de Jorge Amado e Adonias Filho. Foram utilizados trechos de seus
livros que descrevem a paisagem local e informações sobre suas obras e estilos para serem
abordadas de forma lúdica durante a realização da trilha. O terceiro e último roteiro aborda
tema da disciplina História. Neste foram colocados itens que remontem a história da cidade e
da região.
 Produção do material de divulgação – Nesta etapa foi criada a logomarca do projeto e a
partir dela produzidos materiais de divulgação contendo a descrição dos roteiros, além de
brindes e crachás que foram utilizados na realização das visitas.
 Divulgação e operacionalização do roteiro junto às escolas públicas do município de
Uruçuca – os discentes envolvidos no projeto fizeram, primeiramente, um levantamento das
escolas de ensino fundamental da cidade de Uruçuca. De posse da relação de escolas
efetuaram visitas divulgando os roteiros para diretores e coordenadores escolares. Nesta etapa
apenas uma escola concordou em realizar o roteiro temático na Reserva Ecológica da Matinha
com seus alunos.
 Realização do Roteiro – apenas uma escola concordou em realizar a atividade, o Centro
Educacional do Município de Uruçuca (CEMUR) gostou da proposta e agendou um dia para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

realização da mesma. No dia marcado os discentes responsáveis pelo projeto efetuaram o


traslado dos estudantes até o Ifbaiano. Conduziram e orientaram os estudantes visitantes na
realização de toda visita à reserva, seguindo todos os passos descritos no roteiro. Foram
recebidas duas turmas e cada uma delas utilizou um roteiro, sendo eles: Roteiro Conhecendo
a Mata Atlântica (trabalha temas de Geografia) e Roteiro Minha Cidade (trabalha temas de
História).

Durante a realização deste projeto de extensão foram encontradas algumas dificuldades,


foram elas: a demora dos professores para responderem aos questionários, a negação de outros
professores em aceitar responder o questionário. Algumas escolas alegaram não ser possível a
liberação dos alunos, naquele período, para a realização de visitas extraclasse. Apesar das
dificuldades encontradas ao longo da aplicação dos roteiros a escola que aceitou a visita ficou
satisfeita com a atividade, assim como seu alunado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da reserva ecológica para fins pedagógicos foi padronizado e seu uso como
ferramenta de aprendizagem foi controlado e incentivado. Apesar das dificuldades encontradas, o
que pode ser considerado natural diante de uma proposta nova, os objetivos do projeto foram
alcançados. A escola municipal participante finalizou a visita com uma visão positiva da atividade e
com planos para realização de outras. Com o evento também houve o estreitamento entre a relação
da escola e do Ifbaiano, possibilitando parcerias futuras.
Com a estruturação dos roteiros temáticos para a Matinha, visando o uso da reserva
ecológica como ferramenta de aprendizagem, foi possível a utilização e a divulgação desta área para
além dos discentes do Campos Uruçuca. Como resultado material ficaram os roteiros, que poderão
ser utilizados e aplicados por outras turmas em outras escolas da região. Foram alcançados os
alunos do ensino fundamental das escolas públicas do município, com isso o projeto se
alinhou também a um objetivo institucional que é a aproximação do campus com a comunidade
local.
Portanto, este projeto contribuiu para que houvesse uma ampliação dos conhecimentos
passado em sala de aula, propiciando uma aprendizagem de forma lúdica e prática, e, por sua vez,
promovendo a conservação da reserva e aproximação da comunidade com o instituto.

REFERÊNCIAS

ARTIGAS, A. Turismo educativo em Curitiba. In: Cadernos de Pesquisa Turismo.


Faculdades Integradas Curitiba, 2002.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 762


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 2000.

BORGES, A.T. Novos rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino
de Física, v.19, p.291-313, dez. 2002.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Mata


Atlântica. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/iomas/mata-atlantica> Acesso em 24
setembro 2016.

CONSELHO NACIONAL DA RESERVA DA BIOSFERA DA MATA


ATLÂNTICA (Brasil). A Mata Atlântica que Conhecemos. Disponível
em: <http://rbma.org.br/anuario>Acesso em 24 de setembro de 2016.

INSTITUTO BRASILEIRO DE FLORESTAS. Bioma Mata Atlântica. Disponível em:


<http://www.ibfloresta.org.br/bioma-mata-atlantica.html> Acesso em 24 setembro 2016.

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. São Paulo: Edusp, 2008.

LOBÃO, Dan Énrico. VALERI, Sérgio Valiengo. Sistema Cacau -


Cabruca: Conservação de Espécies Arbóreas da Floresta Atlântica. Centro de Pesquisa do
Cacau. Disponível em: <http://www.ceplac.gov.br/Agrotropica/vol%2021/43.pdf> Acesso em
24 setembro 2016.

MILAN, P. L. Viajar para aprender: turismo pedagógico na região dos Campos Gerais – PR. 125
p. Dissertação de Mestrado em Turismo e Hotelaria – Universidade Vale do Itajaí –
UNIVALI. Balneário Camboriú, 2007.

MORAIS, J. P.; MAIA, J. S. S. A prática do turismo pedagógico: um estudo de caso na


creche Emei. Mário Andrade de Ourinhos. In: Revista Eletrônica- Global Tourism- Turismo e
Educação, 2005. Disponível em: <http://www.periodicodeturismo.com.br>. Acesso em: 28 jun.
2012.

GOMES, Diogo Antonio Queiroz. Análise da visitação pública no Parque Estadual da


Serrado Conduru (PESC) – BA. 2013. 116 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Regional Meio Ambiente) - Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA, 2013.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O ETNOCONHECIMENTO DOS PESCADORES ARTESANAIS DA RESERVA DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO

Tiago Ezequiel da SILVA


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UERN)
tiagored13@hotmail.com
Márcia Regina Farias da SILVA
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UERN)
mreginafarias@hotmail.com

RESUMO
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão - RDSEPT, criada através
da Lei 8.349 que entrou em vigor no dia 18 de julho de 2003 e a partir do desejo de suas
comunidades pesqueiras, tem como objetivo fundamental preservar os recursos naturais locais e
promover a sustentabilidade da população tradicional residente em suas circunscrições territoriais.
O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo teórico que caracterize a pesca
artesanal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, tecendo reflexões
sobre os conceitos de etnoconhecimento, conhecimento ecológico local de pescadores artesanais e
populações tradicionais. O presente trabalho teve uma metodologia traçada em pesquisa
bibliográfica e uso de dados secundários. Entretanto constatou se que a gestão compartilhada é um
caminho a se trilha para a execução de medidas que contribuam para a sustentabilidade desta
atividade. Sendo necessário realizar uma pesquisa aprofundada para descobrir se os pescadores
atuais da RDS Estadual Ponta do Tubarão possuem o etnoconhecimento sobre as espécies que
capturam, ou pode ser realizado uma pesquisa que visse a traçar o etnoconhecimento dos
pescadores mais velhos das comunidades, analisando se este conhecimento foi transferido paras as
gerações atuais através da arte de pesca, e como os pescadores visualizam a importância deste
conhecimento para a sustentabilidade da pesca artesanal.
Palavras Chave: Pesca Artesanal, Conhecimento Ecológico Local, População Tradicional e Reserva
de Desenvolvimento Sustentável.
ABSTRACT
The Ponta do Tubarão State Sustainable Development Reserve (RDSEPT), created through Law
8,349, which came into effect on July 18, 2003 and, based on the desire of its fishing communities,
has as its fundamental objective to preserve local natural resources and promote Sustainability of
the traditional population residing in its territorial circumscriptions. The present work aims to
develop a theoretical study that characterizes the artisanal fishing of the State Sustainable
Development Reserve Ponta do Tubarão, reflecting on the concepts of ethno - cognition, local
ecological knowledge of artisanal fishermen and traditional populations. The present work had a
methodology traced in bibliographic research and use of secondary data. However, it was verified
that shared management is a path to be taken to implement measures that contribute to the
sustainability of this activity. It is necessary to carry out an in-depth research to find out if the
current fishermen of the Ponta do Tubarão State RDS have the knowledge about the species they
catch, or a research can be carried out to trace the ethnoconference of the older fishermen of the
communities, analyzing if this knowledge Was transferred to the present generations through
fishing gear, and how fishermen see the importance of this knowledge for the sustainability of
artisanal fishing.
Keywords: Artisanal Fishing, Local Ecological Knowledge, Traditional Population and Sustainable
Development Reserve.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A pesca artesanal é uma das atividades mais antigas no mundo, sendo muitas vezes a
principal ou única fonte para muitas famílias de diversas comunidades, tanto no litoral, quanto no
interior dos estados brasileiros.
Segundo Diegues (1973), pescadores artesanais são aqueles que, na captura e desembarque
de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos e/ou utilizam mão-de obra familiar ou não
assalariada, explorando ambientes ecológicos localizados próximos à costa, pois em geral a
embarcação e aparelhagem utilizadas para tal fim possuem pouca autonomia. Uma realidade de
muitos pescadores que não possuem equipamentos básicos para pesca e navegação, inclusive
equipamentos de segurança e salvatagem necessários para a salvaguarda da tripulação.
De acordo com o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura de 2011, divulgado pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a produção nacional de
pescados em 2011 foi de 1.431.974,4 toneladas, sendo que a pesca marinha registrou uma produção
de 803.270,2 toneladas. Em 2011, a Região Nordeste continuou sendo responsável pela maior
parcela da produção nacional, com 186.012,0 toneladas, a Região Sul ficou em segundo lugar, com
158.515,4 toneladas. Para a Região Norte foi registrada uma produção de 94.265,3 toneladas, e a
produção pesqueira da Região Sudeste foi de 114.877,3 toneladas de pescado.
Quando há um detalhamento a Região Nordeste a produção pesqueira, o estado do Alagoas
apresenta uma produção de 10.702,0 t, a Bahia 59.293,0 t, Ceará 21.788,0 t, Maranhão 44.599,0 t, a
Paraíba 9.140,0 t, Pernambuco 10.880,0 t, Piauí 4.119,0 t, Rio Grande do Norte 19.364,0 t. e
Sergipe 6.127,0 toneladas. (ICMBio, 2011).
No setor de pesca artesanal estima-se que aproximadamente 700.000 pescadores estejam
envolvidos, sendo representados por 400 colônias distribuídos entre 23 Federações Estaduais. A
atividade pesqueira por sua vez, de acordo com Diegues (2004) ―proporcionou os pescadores
adquirir um vasto conhecimento ao longo de vários séculos sobre os aspectos relacionados ao ciclo
de vida das espécies capturadas, a época de sua reprodução e a concentração de cardumes‖.
Maldonado (1997) enfatiza que ―a pesca, além de ser a principal fonte de renda, é também
em 80% dos casos praticada como forma de subsistência‖. A autora ainda caracteriza a pesca como
uma atividade que utiliza equipamentos rústicos, e as modalidades de pesca variam de acordo com
as espécies a serem capturadas. Este fato justifica a importância desta atividade para os pescadores
que exploram o ambiente aquático de forma peculiar e adquirem conhecimentos sobre a natureza,
além de estabelecer uma grande diversidade de interações com o ambiente.
Marques (2001), descreve a partir da seguinte afirmação que alguns grupos de pescadores
possuem conhecimentos específicos sobre o ciclo de vida das espécies, estes são acurados e
compatível com o conhecimento ictiológico acadêmico.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Vale salientar que as comunidades pesqueiras adquirem e acumulam conhecimento através


de várias gerações. Este conhecimento é construído através de experiências históricas acumuladas e
transmitidas de uma geração para outra.
Para Godard (1980 apud Marchiori, 2012) ―a importância do conhecimento produzido e
transmitido oralmente pelos pescadores artesanais tem recebido atenção especial nos programas de
manejo pesqueiro que buscam por meio da gestão participativa validar as práticas tradicionais‖.
Sendo assim todo este conhecimento gerado e produzido pelas populações tradicionais são de
grande importância para uma gestão participativa de um manejo adequado da biodiversidade.
Nessa perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo teórico
que caracterize a pesca artesanal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do
Tubarão, tecendo reflexões sobre os conceitos de etnoconhecimento, conhecimento ecológico local
de pescadores artesanais e populações tradicionais.

METODOLOGIA

O estado do Rio Grande do Norte representa 4,7% do território brasileiro, com uma faixa de
400 km de extensão de costa, onde estão localizadas 83 comunidades pesqueiras, que na sua
maioria, praticam a pesca de forma artesanal (Alves et al, 2009).
A área de estudo da pesquisa é a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta
do Tubarão - RDSEPT, criada através da Lei 8.349 que entrou em vigor no dia 18 de julho de 2003
e a partir do desejo de suas comunidades pesqueiras, tem como objetivo fundamental preservar os
recursos naturais locais e promover a sustentabilidade da população tradicional residente em suas
circunscrições territoriais. A Reserva abrange uma área de 12.946,03 ha, sendo que 95% do
território pertencente a Macau, enquanto 5% pertence ao município de Guamaré.
A criação da RDS Ponta do Tubarão tem o objetivo de preservar a natureza e, ao mesmo
tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a melhoria dos modos e da qualidade de
vida das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as
técnicas de manejo do ambiente por essas populações (IDEMA, 2012).
Para a construção deste artigo foi realizado uma pesquisa bibliográfica com a temática
desejada, em bibliotecas virtuais e em acervo pessoal, com os seguintes autores: Brandão e Silva
(2008), Diegues (1973, 1995 e 2004), Clauzet, Ramires e Barrella (2005), Hanazaki (2003),
Marchiori (2012), Maldonado (1997), Marques (2001), Miller Júnior (1988), Lopes (2004),
Ramires, Barrella e Esteves (2012), Ramires, Molina e Hanazaki (2007), Saldanha (2005) e Tyler
Miller Jr.(2013). Foi utilizado também dados do Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura de
2011, divulgado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

autores como Nobre (2005), Dias (2006) e Goulart (2007) com trabalhos desenvolvidos com a
população tradicional da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão.
Nessa direção, os dados secundários foram obtidos por meio de pesquisadores da
Universidade Rural do Semi-árido (UFERSA) que desenvolvem estudos, com a equipe de revisão
do Plano de Manejo da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Cabe ressaltar que
os dados foram obtidos do banco de dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, os quais foram gerados a partir do programa ESTATPESCA e da
Estatística Pesqueira realizada pela Petrobrás, como medida de compensação ambiental na Reserva.
Foram identificados os principais recursos pesqueiros desembarcados na RDSEPT, e suas
respectivas participações na produção total da reserva.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesca artesanal

A pesca artesanal está tradicionalmente ligada às comunidades costeiras, das quais devida a
sua baixa especialização e elevados níveis de pobreza fazem dela a principal fonte de renda. A
atividade pesqueira marítima é compreendida como as ações que envolvem a captura, e a venda do
pescado in natura.
Segundo Lopes (2004, p.13), ―a pesca ―artesanal‖ se diferencia da pesca ―industrial‖ de
acordo com o estado ou região e, mesmo entre os agentes, não existindo um consenso acerca das
características que as distingue‖. O autor ainda destaca que a pesca artesanal pode ser classificada
em tipos, como: Pesca Artesanal de Subsistência e Pesca Artesanal Comercial ou de Pequena
Escala.

A Pesca Artesanal de Subsistência tem como principal finalidade a obtenção de alimentos


para consumo próprio. Eventualmente, há comercialização do excedente. É praticada com
técnicas rudimentares, possui pouca finalidade comercial e a eventual comercialização é
realizada pelo próprio pescador (LOPES, 2004, p. 14).
Pesca Artesanal Comercial ou de Pequena Escala, combina a obtenção de alimento para
consumo próprio com a finalidade comercial. Utilizam barcos de médio porte, adquiridos
em pequenos estaleiros ou construídos pelos próprios pescadores. Podem ter propulsão
mecanizada ou não. Os petrechos e insumos utilizados não possuem qualquer sofisticação.
Utilizam normalmente equipamentos básicos de navegação, em embarcações geralmente de
madeira, com estrutura capaz de produzir volumes pequenos ou médios de pescado. Forma
a maior porção da frota brasileira e acredita-se responder por aproximadamente 60% do
volume das capturas nacionais (LOPES, 2004, p.14).

Diogo Lopes, Barreira e Sertãozinho são as principais comunidades pesqueiras da RDS


Estadual Ponta do Tubarão. Todas as famílias sobrevivem direta ou indiretamente da pesca. A
atividade pesqueira interliga várias atividades e cria uma espécie de rede de negócios, Goulart
(2006) expõe que a pesca que desencadeia uma rede produtiva: pescaria e mariscagem, tratadores
de peixe, atravessadores, mestre de barcos, mergulhadores, marceneiros navais, carregadores,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fabricantes de rede, comerciantes do produto, atividades de frigorifico e fabricação de gelo. Estas


famílias tiram seu sustento do mar, costa ou estuário.
Sobre a importância desses ambientes no sustento das famílias, Nobre (2005) cita que o
estuário Ponta do Tubarão é o ambiente no qual se pesca o peixe, captura-se o caranguejo e o siri,
cata-se o marisco, retira-se a rama do mangue para alimentar as criações, a madeira grossa de
mangue para a fabricação de embarcações, como também a casca da planta para tingir os
tresmalhos. Cita ainda, que no lazer o estuário é o ambiente em que a população toma banho,
pratica natação informal, e realiza competições de regatas, de miniaturas de barcos à vela, canoas de
pesca profissional à vela, brinca-se nas catraias, joga o futebol e o vôlei de praia.

A produção pesqueira da RDS Estadual Ponta do Tubarão

A produção de pescados registrados no período entre 2005 e 2014 no município de Macau é


de 17.042.850,80 toneladas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão
produziu 9.834.511,30 toneladas. As comunidades pesqueiras da RDSEPT produziram equivalentes
a 57% de toda a produção do município de Macau. As maiores produções foram registradas nos
anos de 2009 a 2011, é importante ressaltar que no período entre 2005 e 2007 o acompanhamento
estatístico não foi integral, este fato se dá pelas razões de que este trabalho era realizado pela
Prefeitura de Macau. Outro ponto importante é que no ano de 2012 pode-se observar um declínio na
produção local com uma breve recuperação nos anos seguintes. (Figura, 1)

RDSEPT MACAU
3.000.000,0
Produção (ton)

2.500.000,0

2.000.000,0

1.500.000,0

1.000.000,0

500.000,0

0,0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Figura 1. Gráfico da Produção Total de Pescado de Macau e da RDSEPT no período entre 2005 e
2014. Fonte: IBAMA, 2014.

A sardinha, é o principal recurso pesqueiro da RDSEPT, apresentou uma tendência


crescente até o ano de 2009, com mais de 1000 ton. desembarcadas. Já o peixe-voador, segundo
principal recurso, apresentou oscilações com tendência crescente até o ano de 2011, com um leve
decréscimo no ano seguinte e se mantendo aparentemente estável próximo das 200 ton. Um ponto

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interessante a se discutir sobre a grande diferença entre produção de sardinha e peixe voador está
atrelado ao seu valor econômico que é muito baixo. (Figura, 2)

Sardinha Peixe Voador


1.200.000,00

1.000.000,00
Produção (ton)

800.000,00

600.000,00

400.000,00

200.000,00

0,00
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Figura 2. Produção Pesqueira de Sardinha e Voador da RDSEPT no período entre 2005 e 2014. Fonte:
IBAMA, 2014.

Sobre a produção pesqueira da RDSEPT, Dias (2006) aponta que:

Apesar da alta produção pesqueira, proveniente principalmente do alto mar representada


pela sardinha-bandeira (Opisthonema oglinum), pelo peixe voador (Hirundichthys affinis) e
pelos lutjanídeos, carangídeos e atuns, a ausência de iniciativas de melhor aproveitamento
do que é pescado, agregação de valor ao produto e mercado consumidor competitivo, torna
a grande produção pesqueira da Reserva, algo de baixo valor comercial (DIAS, 2006).

Fig. 01: Produção da Pesca de Sardinha. Fig. 02: Produção de Peixe Voador. Fonte:
Fonte: Tiago Ezequiel Tiago Ezequiel

Estes recursos são basicamente capturados por dois tipos de embarcações: Bote a vela –
Embarcação com propulsão a vela, com casco de madeira e quilha, convés fechado, sem cabine,
com comprimento geralmente inferior a 11 metros; Barco a Motor – Embarcação motorizada, com
casco de madeira, comprimento abaixo de 15 metros, com cabine, algumas embarcações
apresentam os dois tipos de propulsão. (Figuras 03 e 04)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Fig. 03: Embarcação com propulsão a vela e a Fig. 04: Embarcação a vela. Fonte: Tiago
motor. Fonte: Tiago Ezequiel Ezequiel

O etnoconhecimento como uma ferramenta para a sustentabilidade

O etnoconhecimento são os saberes, tradições (cultura) passados de geração a geração nas


comunidades tradicionais, aprendidos com a vida cotidiana e a interação direta com o meio que os
cerca e seus fenômenos naturais (NASCIMENTO, 2013). Estes saberes são mais presentes nas
comunidades e povos tradicionais, como no caso dos pescadores artesanais.
Paz & Begossi (1996) também afirmam que o conhecimento dos pescadores é proveniente
do cotidiano, de experiências vividas e compartilhadas de geração a geração.
Para Silvano (1997) aponta que os pescadores artesanais mantêm contato direto com o
ambiente natural e, assim, possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história
natural, comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem.
Diegues (1995) afirma que ―os conhecimentos sobre o meio de exploração, as condições de
marés o uso e manipulação dos apetrechos de pesca e a identificação dos pesqueiros são em
conjunto os elementos que caracterizam a pesca artesanal‖.
De acordo com Vieira (et. al 1998 apud Ramires, Barrela e Esteves, 2012, p.40), ―variações
abióticas (pluviosidade, intensidade e direção do vento, temperatura da água, salinidade e
transparência) são importantes fatores que determinam a abundância e diversidade das espécies
presentes nos estuários‖.
Sobre isso, Miller Júnior (1988, p. 4), afirma que as atividades tradicionais da pesca
artesanal incluem as de captura do peixe, envolvendo uma tecnologia adequada ao meio ambiente e
aos ―[...] hábitos diversos de uma variedade de espécies, o que por sua vez significa conhecimento
por parte do mestre da pesca, e a adequação tecnológica, não somente ao habitat e aos hábitos da
fauna, mas também as possibilidades inerentes à matéria-prima disponível para elaborar tais
apetrechos de pesca‖. O autor (1988) complementa, discorrendo que a tecnologia empregada na
pesca de pequena escala é, fundamentalmente, artesanal, tendo em vista que o pescador camponês
não dispõe de capital para investimento em apetrechos manufaturados industrialmente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No caso da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, Goulart


(2006) cita que:

Os pescadores adentram o mar sem instrumentos tecnológicos de apoio à navegação,


contando, para a operação, tão somente a experiência dos mais antigos e com os saberes
adquiridos na tradição, com a capacidade de observação de astros, dos ventos e das marés.
Esses conhecimentos são transmitidos por seus ancestrais, os mais velhos da comunidade,
ou pela interação com os companheiros do oficio, na prática diária. (GOULART, 2007,
p.48)

Sobre esse conhecimento e sua importância para as comunidades tradicionais, Saldanha


(2005) afirma que:

Comunidades tradicionais pesqueiras fundamentam suas atividades no vasto conhecimento


empírico, adquirido e acumulado através de várias gerações. Nesse sentido, a intuição, a
percepção e a vivência são parte desse ―saber tradicional‖ que consolida a prática da pesca.
A importância do conhecimento produzido e transmitido oralmente pelos pescadores
artesanais tem recebido atenção especial nos programas de manejo pesqueiro que buscam
por meio da gestão participativa validar as práticas tradicionais. (SALDANHA, 2005)

Através do etnoconhecimento os pescadores demonstraram um conhecimento sobre as


espécies que capturam, principalmente em relação ao hábitat e alimentação. Sendo que para
diferenciam os tipos de hábitat das espécies de acordo com a distribuição destas na coluna de água –
por exemplo, peixes de fundo, de meia água ou de superfície e também de acordo com a
distribuição das espécies nos ecossistemas que habitam, como o estuário, o mar e os rios.
Sobre alimentação dos peixes o conhecimento é acumulado de acordo com o que os
pescadores encontram nos estômagos das espécies que capturaram, além dos conhecimentos
transmitidos pelas outras gerações.
O etnoconhecimento se torna de total relevância para o conhecimento cientifico e para o
manejo e conservação da biodiversidade a partir de modos de vida sustentáveis. Berkes (et al 1998
apud Hanazaki, 2003) argumentam que ―o conhecimento tradicional pode complementar o
cientifico, fornecendo experiências práticas através da vivência nos ecossistemas e respondendo
adaptabilidade a mudanças nestes ecossistemas‖.
Brandão e Silva (2008, p. 57) dizem que ―este conhecimento que estabelece a base da
prática produtiva dos pescadores artesanais, também traz consigo informações necessárias a
sustentabilidade ecológica e econômica da comunidade‖.
Segundo Costa-Neto e Marques (2000 apud Ramires, Molina e Hanazaki, 2007, p. 102), ―o
conjunto de conhecimentos teórico-práticos que os pescadores apresentam sobre o comportamento,
hábitos alimentares, reprodução, taxonomia e ecologia dos peixes oferece uma rica fonte de
informações de como manejar, conservar e utilizar os recursos pesqueiros de maneira sustentável‖.
Sendo assim o uso do conhecimento tradicional torna-se uma ferramenta extremamente
necessária para a gestão dos recursos naturais desenvolvendo sociedades sustentáveis que de acordo

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 771


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

com Tyler Miller Jr. (2013) ―Uma sociedade sustentável atende às necessidades atuais de sua
população em relação a alimentos, água e ar limpo, abrigo e outros recursos básicos sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras‖. Isso representa uma nova visão das sociedades,
uma visão que reconhece as práticas existentes que atendem as necessidades básicas, sem degradar
ou exaurir o capital natural.
Uma alternativa para a sustentabilidade das comunidades pesqueiras tradicionais é a gestão
compartilhada o conhecimento científico e o conhecimento tradicional podem e devem ser
integrados. O sistema de gestão deve ter participação efetiva na construção e manutenção do
processo. A gestão compartilhada pode agir em uma parceria na qual o governo, a comunidades
tradicionais e agentes externos (ONGs, organizações acadêmicas e instituições de pesquisa).

CONCLUSÃO

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão apresenta como sua


principal atividade econômica a pesca artesanal, suas comunidades produzem toneladas de pescados
principalmente a Sardinha (Opisthonema oglinum) e o Peixe Voador (Hirundichthys affinis).
Os recursos pesqueiros enquadram-se na categoria de recursos naturais renováveis de uso
comum. Tratam-se de bens livres, relativamente aos quais cada usuário atual ou potencial é capaz
de subtrair daquilo que pertence também a todos os demais usuários. O uso sustentável destes
recursos é de total importância para a sustentabilidade ambiental, econômica e social dos povos e
comunidades que deles dependem.
É importante enfatizar que o etnoconhecimento ou conhecimento ecológico local/tradicional
dos pescadores sobre os peixes é extenso e apresenta uma elevada concordância com o
conhecimento cientifico.
A gestão compartilhada é um caminho a se trilha para a execução de medidas que
contribuam para a sustentabilidade desta atividade. No caso da RDS Estadual Ponta do Tubarão as
ONG‘s que compõe o Conselho Gestor da mesma buscam discutir com os pescadores meios de se
criar um plano de manejo dos recursos pesqueiros dentro de um Grupo de Trabalho da Pesca.
Entretanto se faz necessário realizar uma pesquisa aprofundada para descobrir se os
pescadores atuais da RDS Estadual Ponta do Tubarão possuem o etnoconhecimento sobre as
espécies que capturam, ou pode ser realizado uma pesquisa que visse a traçar o etnoconhecimento
dos pescadores mais velhos das comunidades, analisando se este conhecimento foi transferido paras
as gerações atuais através da arte de pesca, e como os pescadores visualizam a importância deste
conhecimento para a sustentabilidade da pesca artesanal.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 775


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Riscos, Impactos e
Desastres Naturais

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 776


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

LAGOA DO APODI: HISTÓRIA DE UM POVO

Antonio Caubí Marcolino TORRES


Professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino do RN
caubitorres@hotmail.com
Rusiane da Silva TORRES
Graduanda no Curso de História da UERN
rusianehistoria@gmail.com
Raiane Torres da SILVA
Graduanda no Curso de Enfermagem da UERN
raianetorressilva@hotmail.com
Júlio ULISSES FILHO
Gestor Ambiental (IFRN) e Graduando em Pedagogia UnP
julioconsultorambiental@hotmail.com

RESUMO
As terras as margens da lagoa do Apodi desde os tempos passados são usadas pelos agricultores
como forma de amenizar o problema da estiagem. O plantio de culturas alimentícias assim como de
forragem para os animais é uma prática rotineira na comunidade de Córrego, zona rural do
município. O objetivo do trabalho foi analisar o perfil dos agricultores que ainda fazem das margens
na lagoa sua fonte de renda. Para isso empregou-se um questionário composto de duas partes, perfil
socioeconômico e perguntas sobre os impactos ambientas. No fim os dados foram tabulados no
Excel e as respostas transcritas no Word. 85,71% dos entrevistados são do sexo masculino,
sobrevivem com renda mensal de até um salário mínimo e estudaram somente até o ensino
fundamental completo. As culturas alimentícias mais plantadas são feijão, milho e sorgo, tanto na
forma isolada como em consórcio para assim aumentar seu rendimento. O município de Apodi é
muito bem representado pelos movimentos sociais, estes que já realizaram várias mobilizações em
prol da lagoa. 74,28% dos agricultores relatam já terem causado algum dando ao meio ambiente e
que sentem-se incomodados com esses problemas, porém nada fazem para amenizar essa situação.
90% não sabem definir com clareza o que seja erosão, mas sabem que é um problema muito sério
para o meio ambiente, e principalmente para a lagoa, na qual é considerada por todos como a mãe
da pobreza.
Palavras chaves: Assoreamento, Erosão e Meio Ambiente.
ABSTRACT
The lands on the banks of the Apodi lagoon since ancient times are used by farmers as a way of
alleviating the problem of drought. Planting food crops as well as fodder for animals is a routine
practice in the community of Córrego, a rural area of the municipality. The objective of the study
was to analyze the profile of farmers who still make the banks in the lagoon their source of income.
A two-part questionnaire, socioeconomic profile and questions on environmental impacts were
used. In the end the data was tabulated in Excel and the answers transcribed in Word. 85.71% of the
interviewees are male, survive on a monthly income of up to a minimum wage, and only studied
until complete elementary education. The most planted food crops are beans, maize and sorghum,
both in isolation and in a consortium to increase yields. The municipality of Apodi is very well
represented by the social movements, which have already carried out several mobilizations in favor
of the lagoon. 74.28% of the farmers report that they have caused some to the environment and that
they feel uncomfortable with these problems, but they do nothing to alleviate this situation. 90% do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

not know how to define clearly what erosion is, but they know that it is a very serious problem for
the environment, and especially for the lagoon, which is considered by all as the mother of poverty.
Key-words: Sedimentation, Erosion and Environment.

INTRODUÇÃO

A interferência do homem na natureza acontece desde os primórdios da humanidade.


Sempre utilizando de suas ferramentas para modificar o meio ambiente visando sua sobrevivência
inicialmente e nos últimos tempos, o lucro excessivamente. Os modos de produção adotados pelo
homem não conseguiram manter uma relação agradável entre desenvolvimento e natureza. A
expansão territorial e o desenvolvimento local sempre veio acompanhado de problemas ambientais.
A cada dia essa agressão aumenta em proporções desastrosas.
Embora nos dias atuais, o meio ambiente esteja tão esquecido, são vários os povoados que se
desenvolveram as margens de rios. Baptista e Cardoso (2013) destacam que as relações entre
homem e cidade, sempre esteve atrelada a um rio, dessa forma, podemos dizer que os rios
possibilitaram a civilização. No entanto, após esse processo de desenvolvimento inicial, onde os
rios e lagoas eram elementos essenciais para a fixação do homem, os rios passaram a sofrer de
forma dramática os impactos hidrológicos e ambientais ocasionados pelo crescimento e
desenvolvimento das cidades. Pode-se mencionar o caso da cidade de São Paulo que se desenvolveu
as margens do Rio Tiete, e hoje o rio se encontra em estado de atenção, devido ao nível de poluição.
A ocupação do homem na cidade é um dos principais responsáveis pelo estado em que se
encontram os lençóis freáticos nos dias atuais, esse fenômeno é antigo. ―Logo após os primórdios
das ocupações urbanas, ainda quando as populações ribeirinhas eram rarefeitas, nas Idades Antiga e
Média, os rios já começaram a sentir os impactos da urbanização, recebendo elevadas cargas
sanitárias‖ (BAPTISTA; CARDOSO, 2013, p. 131)
Diante da situação dos nossos rios e lagoas, começa-se se pensar em uma nova forma de
desenvolver, um crescimento que não prejudique o meio natural, trata-se do desenvolvimento
sustentável. Barreira e Sampaio (2004) defendem que desenvolvimento sustentável surgiu como
uma tentativa dos países ricos darem continuidade ao seu processo de exploração, tendo em vista
que os recursos naturais, como a água são indispensáveis para realizar qualquer atividade.
Desenvolver de forma sustentavelmente apresenta como objetivo repensar a forma de
produção, analisar seus erros e tentar não repeti-los. Cada cidade deve pensar em um
desenvolvimento menos agressivo ao meio ambiente (SILVA; RODRÍGUEZ, 2001).
O desenvolvimento de forma sustentável é defendido pelos movimentos sociais, em especial
os que apresentam ligações com o campo. Podemos entender movimentos sociais como sendo
―ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e

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camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país,


criando um novo campo político de força social na sociedade civil.‖ (GONH, 2000, p, 215). Esses
movimentos buscam uma nova situação para o país. Diante da situação em que se encontram os rios
que possibilitaram o desenvolvimento local, lutam pela mudança nos modos de produção, defendem
a ideia de que é possível crescer sem danificar nossas águas.
Dentre os processos que são responsáveis pela modelagem da superfície terrestre, destaca-se
a erosão, que pode ser governada por agentes como clima, ação da água e vento, natureza do
material, relevo, como também da ação antrópica. O processo de erosão pode ser compreendido
como um conjunto de fenômenos naturais que envolvem formação de materiais detríticos
provenientes da decomposição e desagregação das rochas e dos solos. Pode afetar a vida terrestre de
várias maneiras e causar sérias consequências, tanto no meio rural quanto no meio urbano
(SANT‘ANA; NUMMER, 2010). Uma consequência dos processos erosivos e que o solo perdido
pela erosão hídrica é geralmente mais fértil, contendo os nutrientes necessários as planta
(BERTONI; LOMBARDI NETO, 1999).
Esse solo perdido causa o fenômeno de assoreamento, que são bancos de areia (depósitos)
oriundos da erosão. Causando sérias consequências, principalmente pra o agricultor, como a
diminuição do armazenamento de água nos reservatórios, prejudicando aqueles que necessitam
dessa água para consumo e irrigação de pequenas lavouras; colmatação total de pequenos lagos e
açudes; obstrução de canais de cursos d‘água; destruição dos habitats aquáticos, afetando os
pequenos pescadores que dependem da pesca para sobreviver; prejuízo dos sistemas de distribuição
de água. A prevenção da erosão se dar de várias formas, na área agrícola, por exemplo, pode ser
realizada através do plantio de gramíneas e outras espécies, que venham a proteger o solo de forma
eficaz pela cobertura que proporcionam. Também pode ser prevenida com a recuperação das
propriedades físicas e da fertilidade do solo, através de adubações de preferência de forma orgânica
(ZOCCAL et al. 2007). A conscientização do ser humano é a melhor forma de prevenção. Esses
dois problemas atrelados podem ocasionam a escassez de água limpa e potável para o consumo. No
município de Apodi não é diferente, a escassez de água atinge parcela da população. O município
não dispõe de um número considerado de reservatórios d'água. O maior é a Barragem de Santa Cruz
com 600 metros cúbicos e o segundo é a lagoa (IBGE, 2010).
Segundo Guerra (2000), a Lagoa do Apodi foi ponto de abrigo e sustento para 2.400 pessoas
e 600 animais durante a seca de 1900. A plantação de verduras, frutas e legumes são as atividades
mais populares na região da Lagoa. Seu primeiro nome foi ―Lagoa Itaú, nome de origem indígena
que significa na língua dos Tapuias Paiacus, ―Pedra Preta‖. Segundo uma lenda na cidade, esse
também foi o nome de um valente guerreiro, chefe dessa tribo que habitava as suas margens cujo
nome era Itaú.

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A Lagoa do Apodi, chamada pelos habitantes primitivos de Lago do Pody, era um recanto
de rara beleza, bastante admirado pelos que tinham a oportunidade de visitá-la. Um quadro
que a natureza preparou caprichosamente, acolhedor de colonizadores, aventureiros e índios
guerreiros. (GUERRA, 2000, p.160)

Lagoa de grande importância para a economia do município, distribuidora de centenas de


vazantes, farta de peixes, legumes e frutas; salvadora de indigentes em anos de seca, mãe da
pobreza, como era e ainda é chamada.
Por outro lado, o processo de aterramento do leito da lagoa é considerado um caso muito
sério, salinizando as melhores terras de sua área produtora, onde se cultivam as mais diversas
lavouras. A devastação dos vegetais nas margens dos rios e riachos, provocando a erosão, é o fator
principal desse grave e preocupante problema.
Diante dessa situação, que poderá eliminar os recursos naturais do importante reservatório,
nota-se um silêncio comprometedor por parte dos que tem o dever de defender os interesses da
coletividade. A lagoa é um patrimônio do povo, um bem comunitário.
Também chamada de recanto de rara beleza pelos habitantes primitivos, a lagoa vem
perdendo a cada dia essa denominação, em decorrência do grande acúmulo de poluentes em seu
leito, num rápido processo de assoreamento agravado pelo desmatamento constante nas nascentes
dos rios e riachos tributários e por criminosos aterramentos em suas margens.
O objetivo do trabalho foi analisar o perfil dos agricultores que moram e cultivam no
entorno da lagoa, na Comunidade de Córrego, Apodi- RN.

METODOLOGIA

O município de Apodi RN fica na microrregião da Chapada do Apodi na zona Oeste do


Estado, com uma população de aproximadamente 36 mil habitantes, uma área territorial de 1.602,66
km², com altitude 60 metros (IBGE, 2010), clima quente, seco e salubre, com temperatura máxima
de 37º C e mínina de 21º C, seu período de inverno ocorre nos meses de janeiro a junho, sendo os
mais intensos abril e maio e o verão de julho a dezembro. A cidade desenvolveu-se inicialmente
observando um traçado irregular em direção ao sul condicionado pela existência da própria Lagoa.
A comunidade de Córrego localiza-se na parte Oeste e fica distante 10 km do município
Apodi, RN, limita-se com as comunidades rurais ao norte: Sítio Pau Ferro; Sul: Sítio Urbano; leste:
Sítio Largo e ao Oeste: Sítio Lagoa Amarela, é cortada pelas águas da lagoa (TORRES, 1998).
Localizada na sede do município, a Lagoa do Apodi foi o primeiro atrativo e razão para que
os primeiros colonizadores fundassem em sua margem norte, o núcleo que iria dar origem a bela
cidade que leva o mesmo nome. A Lagoa compreende três bacias distintas: Ponta D‘água, Despejo
e Lagoa Grande. Sua profundidade máxima quando cheia chega a 20 milhões de metros cúbicos.
Sua largura é de 2 km aproximadamente, enquanto o comprimento é estimado em 15 km.

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A pesquisa foi realizada de forma qualitativa e os dados foram coletados através de pesquisa
direta com a aplicação de questionários junto aos moradores da comunidade de Córrego localizada
na região da areia do município Apodi. A escolha dessa região se deu pelo fato da comunidade ser
cortada por um córrego que deságua no qual a lagoa deságua nele. Foram aplicados 35
questionários com critério de seleção aleatória dos agricultores. A entrevista continha perguntas
abertas (o que é erosão, assoreamento). E perguntas sobre o perfil socioeconômico.
Em seguida os dados foram tabulados no Excel 2010, e as respostas das perguntas abertas
digitadas no Word 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dentre os entrevistados 85,71% são do sexo masculino e 14,29% são mulheres, com idade
variando dos 30 a 65 anos, sendo a maioria (72,11%) entre 40 a 50 anos. Diferindo os resultados
observados por Souza et al. (2017) na qual verificaram a variação de idade de 21 a 78 anos entre os
moradores da cidade de Paquetá, PI (Tabela 1). Esses dados mostram que atualmente ainda é o
homem o responsável pelo trabalho no campo. No presente trabalho, observa-se a ausência de
jovens até 30 anos trabalhando na agricultura, segundo Dotto (2011) existem vários motivos pelos
quais os jovens saem do campo, a renda familiar é um fator decisivo, nas famílias com maior
conforto econômico, os jovens possuem maior probabilidade de sair. Fato observado no presente
estudo, somente 17,12% dos entrevistados possuem renda mensal de até um salário mínimo.
Perguntado aos agricultores sobre os filhos estarem ou não no campo, a maioria relatou que esses
estudam na cidade durante a semana, mas que passam o fim de semana com a família. Castro
(2005) relata que os jovens não tem problema com o campo e sim com o trabalho no campo. Os
mesmo preferem ir para a cidade seja trabalhar ou estudar, para assim ter sua liberdade financeira
(ESTEVAM, 2007).
No que diz respeito a escolaridade 85,71% dos entrevistados estudaram somente até o
ensino fundamental. Muitos relataram que tiveram que abandonar os estudos, pois não tinham
como se deslocar até a cidade, pois só lá era ofertado ensino médio. Outros tiveram que trabalhar
muito cedo no ―roçado‖ para ajudar no sustento de casa juntamente com o pai.

Tabela 1: Perfil socioeconômico dos agricultores do Córrego Apodi, RN usuários da lagoa.


Sexo (%)
Masculino 85,71
Feminino 14,29
Idade (%)
Até 30 anos 0
30 a 40 anos 10,89
40 a 50 anos 72,11

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Acima de 50 13
Escolaridade (%)
Ensino Fundamental 85,71
Ensino Médio 14,29
Ensino Superior 0
Renda (%)
Até 1 Salário Mínimo 17,12
De 1 a 2 Salários Mínimos 72,67
Acima de 3 Salários Mínimos 10,21
A população do Córrego sempre desempenhou as culturas de vazantes às margens da Lagoa.
A proporção em que ás águas vão baixando, a terra vai sendo ocupada com cultivos, visando a
produção de hortaliças, leguminosas, tubérculos e frutas, além de capim para forragem, que são
utilizados como alimento aos pequenos rebanhos na época da estiagem. 85,71% dos entrevistados
são agricultores (Tabela 2) e realizam a fim de aumentar a renda da família. O cultivo somente de
feijão de corda (Vigna unguiculata) é realizado por 20% dos agricultores, as gramíneas milho (Zea
mays) e sorgo (Sorghum bicolor) são outras opções 9,3 e 8,21% dos agricultores relataram fazerem
o plantio dessas culturas (respectivamente). O consórcio feijão/milho é realizado por 42,4% dos
agricultores, seguido do consórcio feijão/sorgo com 19,19% (Tabela 2). A prática de consórcio é de
suma importância, além de aumentar a renda do produtor, tem a vantagem de enriquecer a vida
biológica do solo e protegê-lo contra a erosão (SIMIONI et al. 2014). O plantio se dar na própria
terra ou arrendadas a terceiros. Parte do que é colhido é armazenado para o consumo ao longo do
ano e plantio no ano seguinte. Outra parte é vendida. Os agricultores enfrentam uma seca de quase 5
anos e, como consequência, houve quase perda total da cajucultura existente no município, assim
como a apicultura.
Outra atividade desenvolvida pelos moradores do Córrego é a indústria artesanal (14,29%)
que tem como matéria prima a folha da carnaubeira, na fabricação principalmente de chapéus,
vassouras, esteiras e cestaria, em geral. Esta atividade é tipicamente doméstica onde se utiliza a mão
de obra do gênero feminino, constituindo um importante reforço financeiro nas casas mais pobres.
Enquanto que o corte da palha (matéria prima utilizada) é realizada pelos homens da comunidade. O
corte da carnaúba que durante a década de 1970 teve o auge da produção é feito no período de
outubro a dezembro e continua, fundamentalmente, sendo desenvolvido por agricultores
(arrendadores de áreas com carnaubais) de baixa renda.

Tabela 2: Atividades desenvolvidas pelos agricultores da comunidade de Córrego, Apodi-RN


Principal Fonte de Renda (%)
Agricultura 85,71
Indústria Artesanal 14,29
Cultura Plantada (%)
Feijão de corda (sem consórcio) 20,0

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Milho (Sem consórcio) 9,3


Sorgo (Sem consorcio) 8,21
Consórcio Feijão/Milho 42,4
Consórcio Feijão/Sorgo 19,19

Antigamente durante as grandes secas, a Lagoa era a salvação dos agricultores que
trabalhavam as margens da mesma visando garantir a sobrevivência da família. Por isso é dado o
nome de ―mãe da pobreza‖ por permitir a instalação de grandes quantidades de vazantes e alimentar
centenas de famílias. Apesar da estiagem, as poucas chuvas que caem sobre o solo fértil de Apodi é
capaz de manter viva a esperança do agricultor, principalmente os que verem na lagoa sua fonte de
renda. Todos os entrevistados utilizam as margens da lagoa para alguma melhoria de sua vida no
campo, seja plantado as culturas alimentícias ou culturas para alimentação animal. Esses dados
corroboram com os observados por Souza et al. (2017) analisando a percepção ambiental e usos de
uma lagoa temporária em uma cidade no Semiárido Brasileiro, os autores concluíram que (98% das
citações) disseram que utilizam a lagoa para alguma atividade, enquanto que 2% disseram que não
utilizam para nenhuma atividade. Mostrando mais uma vez a importância da preservação das lagoas
para a população.
No ano de 2003 através da luta das entidades representativas da área urbana e rural do
município foi criado o Fórum das Entidades de Apodi, com objetivo de lutar pela preservação da
Lagoa do Apodi, e desde então tem feito uma grande mobilização para preservar a mesma,
representado por vários segmentos que saíram às ruas, literalmente, pedindo pela manutenção de
nossa lagoa. No final de 2006 o fórum abriu os diálogos pela criação da Área de Proteção
Ambiental (APA), sendo algumas entidades do Movimento Rural contra a criação e foram falar
diretamente com os agricultores. Por causa da pouca escolaridade de alguns agricultores, muitos
entenderam que a APA serviria para roubar deles a terra e que depois de criada eles seriam
obrigados a deixarem suas terras. O fórum realizou atividades de conscientização junto aos
agricultores sobre as vantagens dessa área de preservação, levando em consideração o que dizia a
Lei N.º 9.985 de 18/07/00).

APA é definida como uma área ―... em geral extensa, com um certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como
objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (artigo 15º ).

No final do debate entres os agricultores e o fórum sobre a concepção de APA, nenhum dos
agricultores entrevistados sabiam o que é, no entanto afirmam que a efetivação de uma área de
Proteção Ambiental ajudaria a ele e a família a contribuir para um ambiente mais saudável.

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Em maio de 2008 a Colônia de Pescadores, aquiculturas e afins (Z-48) e a Cooperativa


Potiguar de Desenvolvimento Rural Sustentável (COPAPI), elaboraram um documento em defesa
da Lagoa do Apodi. O documento foi entregue pelo presidente da Colônia Z48, Francisco Mário de
Carvalho a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em Brasília – DF. Nele continha um
retrospecto dos maiores crimes contra a lagoa e relacionava quatro investimentos custeados pelo
Governo Federal, que ao invés de desenvolver a economia do município, se transformaram em
prejuízos para a população, devido a erros de projeto e execução por parte da Prefeitura Municipal.
O primeiro é uma passagem molhada, construída pela Prefeitura para permitir o acesso à
localidade Urbano, distante 18 quilômetros da sede do município. Esta obra, por ter sido mal
projetada, todo ano é destruída parcialmente ou em sua totalidade e o material é todo arrastado pela
força das águas para o interior da lagoa. O segundo destaque negativo para a Lagoa do Apodi é o
desmatamento no Córrego da Missão, sem nenhuma preocupação ambiental e destaca a falta de
critérios na destruição da mata ciliar, que termina por permitir o aterramento da lagoa. O outro
investimento trata-se do projeto de irrigação da Chapada do Apodi, que desapropriou muitos
assentados para a construção do perímetro, e com a chegada de grandes empresas do ramo da
fruticultura irrigada ameaça contaminar o lençol freático da região, devido as aplicações constantes
de defensivos químicos.
O documento também citava o Projeto de construção de um posto de gasolina dentro das
margens da Lagoa, localizada ao lado da BR-405, Km 78, na curva do Cuaçu, onde a obra foi
embargada, mas nunca tiraram o material que foi colocado dentro da Lagoa. ―É necessário que o
Ministério Público Estadual tome providências no sentido que obrigue os agressores a retirarem os
entulhos de dentro do lago‖, informa o documento. Mas, nem outro crime foi tão cruel e devastador
como o Terminal Turístico (calçadão) patrocinado pelo Governo Federal e encampado como
prioridade pela Prefeitura. O projeto desta obra não respeitou os limites da lagoa. As construções
físicas ficaram dentro e apesar de todos os recursos terem sido liberados pelo Governo Federal a
obra ainda foi concluída. Com a cheia de 2008, o que havia de alicerce foi destruído.
Entidades apontam prejuízos para pescadores, apicultores e artesões
A COOPAPI e a Colônia Z48 finalizam o documento especificando os prejuízos dos pescadores,
apicultores, produtores de artesanato com palha de carnaúba, entre outros. ―Hoje temos um calçadão
enterrando as margens da lagoa, com certeza algo pior contra os que dependem da lagoa para sua
sobrevivência, alguns setores que precisam da lagoa para sua existência‖, diz Francisco Mário de
Carvalho. E prejudicando a lagoa está prejudicando a produção do artesanato, que depende da palha
de carnaúba para fornecer a matéria-prima para produção de urupemba, vassoura, bolsa, cestos e
chapéus, uma herança dos nossos antepassados os Índios Paiacus. Assim como a produção de
alimentos as margens da lagoa.

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As famílias que moram às margens da Lagoa, nasceram e se criarem ali, portando são donos
ou herdeiros das terras, as baixas do Córrego sempre foram usadas como meio de subsistência nos
anos em que não havia inverno. No ano de 1993 quando houve uma grande seca, praticamente todas
as famílias que tinham propriedades às margens da Lagoa fizeram plantio de feijão, batata, arroz,
sorgo que amenizou a fome da população da comunidade. Exemplo oposto aconteceu no ano de
2005 quando houve enchentes e um grande inverno e ninguém teve condições de colher o pouco do
que foi plantado. Tudo foi levado pelas correntezas.
Quando foi perguntado aos agricultores se eles se consideram um agente causador de algum
dano ao meio ambiente, a maioria (74,28%) respondeu quem sim, somente 5,8% responderam que
não, enquanto que 19,92% não souberam informar (Tabela 3). Outro dado importante 90% dos
agricultores entrevistados se sentem incomodados com problemas ambientais como poluição,
desmatamento, entre outros. No entanto, somente 5,72% fizeram ou fazem alguma atitude para
mudar essa situação em que se encontra o ambiente.

Tabela 3: Percepção dos moradores da comunidade de Córrego sobre meio ambiente


Você causa algum dano ao meio ambiente (%)
Sim 74,28
Não 5,8
Não Sabem 19,92
Sentem incomodados com problemas ambientais (%)
Sim 88,57
Não 11,43
Fizeram ou fazem alguma atitude para mudar essa situação (%)
Sim 94,28
Não 5,72

Muitos dos agricultores consideram que o principal responsável pela degradação ambiental
da Lagoa é a sociedade, mas sente-se que eles não se incluem como coparticipantes desta sociedade,
o fato mais agravante está no fato deles acharem que principal setor responsável pela proteção da
Lagoa é o governo.
Sobre erosão, 90% não sabem a definir, mas entendem e conhecem na prática quais as
causas da erosão, que segundo eles, são desmatamentos, aterramento e que tem como consequências
principais a diminuição da água da lagoa e a ―matança‖ dos peixes. Segundo Sant‘Ana e Nummer
(2010) podemos compreender por erosão os processos de dinâmica superficial que são responsáveis
por modelar a superfície da terra, e que são governados por agentes climáticos como água e vento,
como também pela ação antrópica, e causam consequências tanto no meio rural como no meio
urbano. Fato observado as margens da lagoa.
Outro ponto abordado entre os agricultores foi sobre assoreamento, no qual nenhum dos
entrevistados souberam definir claramente o que é assoreamento de um rio. Sabe-se que desde a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

existência de mares e rios no planeta que existe o fenômeno do assoreamento, e que esse processo já
depositou milhões de metros cúbicos de sedimentos no fundo dos oceanos, o problema é que
quando ocorre de forma acelerada e desgovernada causa sérios prejuízos ao meio ambiente
(MASSAD, 2003). Outro grande problema estar no fato do homem vem a cada dia aumentando esse
processo, seja através dos desmatamentos expondo assim áreas a erosão. As construções em morros
e encostas, que além de retirar a mata nativa que protege o solo geram erosão acelerada devido à
declividade do terreno. As plantações em locais impróprios com uso de técnicas agrícolas
inadequadas, com a retirada da vegetação nativa para plantio em grande escala (BRANCO, 2000).
Uma grande consequência do assoreamento é a diminuição no volume das águas dos rios, e a
mudança no fluxo natural das nascentes, devido ao acumulo de sedimentos, um exemplo claro é
observado no rio Amazonas que antigamente corria para o Oeste e hoje corre à Leste, e essa
mudança fez com que ele trouxesse muitos sedimentos (MIGUEL; SANTOS, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As águas da lagoa do Apodi, já saciaram a sede e a fome de muitos agricultores que vivem
às suas margens. Os agricultores que fazem o uso dessas terras para a plantação são em sua maioria
homens, com idade variando dos 30 aos 65 anos, no qual possuem apenas o ensino fundamental e
possuem uma renda mensal de até um salário mínimo. Fazem o plantio principalmente do feijão,
milho e sorgo, tanto na forma de consórcio ou como cultura única. Também são cultivados
hortaliças, leguminosas, tubérculos e frutas, além de capim para forragem, que são utilizados como
alimento aos pequenos rebanhos na época da estiagem. Além da agricultura os moradores buscam
outras fontes de renda como a indústria artesanal. Através dos movimentos sociais várias lutas
foram enfrentadas pela preservação da mãe lagoa. Os moradores já enfrentaram e enfrentam muitas
batalhas para manter viva a lagoa, na qual retiram seu sustento.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DE UM ALAMBIQUE EM CAICÓ – RN

Daniele Aparecida Monteiro ISMAEL


Mestranda em Tecnologias Energéticas e Nucleares, UFPE
danieleambiental@hotmail.com
Luara Lourenço ISMAEL
Doutoranda em Recursos Naturais, UFCG
luara_ismael@hotmail.com
Maria das Dores de Souza ABREU
Doutoranda em Recursos Naturais, UFCG
mdabreu_bio@hotmail.com
Fernanda Carolina Monteiro ISMAEL
Professora IFPB, Princesa Isabel
fernanda_monnyero@hotmail.com

RESUMO
As atividades agroindustriais promovem impactos ambientais relevantes. Nesse contexto, estuda-se
nesse artigo os impactos ambientais de um Alambique localizado no município de Caicó-RN. A
identificação dos impactos foi realizada para as fases de planejamento, implantação e operação do
empreendimento, de acordo com os métodos: Chec List, Ad Hoc e Matriz de Interação. Em todas as
fases do empreendimento, foram identificados 88 impactos ambientais, sendo 37 significativos e 51
não significativos. As principais medidas de controle ambiental propostas foram: controle da
supressão vegetal, implantação de dispositivos de drenagem, condução adequada de movimentação
de terra.
Palavras-chaves: Meio ambiente, Impactos Ambientais, Medidas de Controle Ambiental.
ABSTRACT
Agroindustrial activities promote relevant environmental impacts. In this context, we study in this
article the environmental impacts of an alembic located in the municipality of Caicó-RN. The
identification of the impacts was performed for the phases of planning, implementation and
operation of the enterprise, according to the methods: Chec List, Ad Hoc and Interaction Matrix. In
all phases of the project, 88 environmental impacts were identified, of which 37 were significant
and 51 were not significant. The main measures of environmental control proposed were: control of
plant suppression, implantation of drainage devices, proper conduction of land movement.
Keywords: Environment, Environmental Impacts, Environmental Control Measures.

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a questão ambiental passou a ser fortemente discutida e considerada
nas atividades econômicas que afetam negativamente o ambiente. O meio ambiente
ecologicamente equilibrado tornou-se um direito fundamental de todo cidadão, e necessário à sadia
qualidade de vida. Para fortalecer esta tese, criaram-se diversas leis de proteção ao meio ambiente,
com determinação de penalidades para atividades que comprometam a qualidade ambiental.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 789


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Diversas atividades econômicas, quando realizadas sem medidas de controle ambiental,


provocam degradação ambiental e produzem resíduos capazes de poluir e/ou contaminar os
ambientes terrestres e aquáticos.
A agroindústria promove desenvolvimento social e econômico, em especial à comunidade
rural, associando o cultivo agrícola ao desenvolvimento de produtos a serem comercializados. Este
setor é um dos segmentos mais promissores da economia brasileira.
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar e o primeiro do mundo na produção de
açúcar e etanol, e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do biocombustível como
alternativa energética (MAPA, 2015).
As atividades agroindustriais promovem impactos ambientais relevantes, principalmente no
que tange à utilização de recursos naturais e à geração de vinhaça (FEAM, 2013) e palha. A
produção de cachaça é uma destas atividades que oferecem riscos ao meio ambiente devido aos
resíduos gerados.
A vinhaça possui elevada demanda bioquímica por oxigênio (DBO) e quando lançada em
um corpo hídrico, reduz o balanço de oxigênio da água, comprometendo sua qualidade. Para Abreu
et al. (2011), a combustão da palha da cana-de-açúcar gera compostos orgânicos, que podem
provocar intoxicações através das vias respiratórias e fazer com que, pelo contato com a pele,
ocorram cânceres de pulmão, de bexiga e de pele.
A crescente preocupação com os impactos ambientais gerados pela produção de bens e
serviços à sociedade tem sido indutora de novas ferramentas e métodos que visam a auxiliar na
compreensão, controle e/ou redução destes impactos (LUNA, 2012). A Avaliação de Impacto
Ambiental - AIA é um dos itens que integra os Estudos de Impacto Ambiental e serve de auxílio
para a gestão ambiental da indústria (FRAGA & FERRAZ, 2012).
A despeito da problemática que caracteriza grande parte das agroindústrias do País, e do
desejo demonstrado por diversas empresas de tornar a produção sustentável, o presente estudo tem
por objetivo avaliar os impactos ambientais inerentes à produção de cachaça de um alambique
situado na zona rural do município de Caicó-RN, com vistas a propor medidas que minimizem os
impactos ambientais causados e contribuir com desenvolvimento sustentável.

MATERIAL E MÉTODOS

O empreendimento está localizado na zona rural do município de Caicó, no Estado do Rio


Grande do Norte, como apresentado na Figura 1.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 790


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1- Localização do município de Caicó – RN (Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Caicó).

O diagnóstico ambiental foi elaborado com a utilização de dados primários adquiridos em


visitas ao empreendimento, através de entrevistas e fotodocumentação, e dados secundários obtidos
de artigos científicos e estudos técnicos realizados na área.
A identificação dos impactos ambientais foi realizada para as fases de planejamento,
implantação e operação do empreendimento, de acordo com os métodos: Chec List, Ad Hoc e
Matriz de interação. A identificação envolveu sua classificação quanto ao grau de significância.
Cada impacto listado foi classificado em significativo (S) ou não significativo (NS).
As medidas de controle ambiental foram indicadas de acordo com pesquisas na literatura
especializada, principalmente por EIA/RIMAs de empreendimentos semelhantes, levando em
consideração a especificidade dos impactos ambientais diagnosticados nas fases de planejamento,
implantação e operação do empreendimento estudado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL

Este diagnóstico abordou os elementos que, direta ou indiretamente, estão vulneráveis aos
impactos ambientais decorrentes de ações e atividades desenvolvidas nas diferentes fases do
empreendimento.

- Meio abiótico

Os solos predominantes em Caicó são do tipo Bruno Não Cálcico Vértico, que possui
fertilidade natural alta, textura arenosa/argilosa e média/argilosa, sendo moderadamente drenado e
de relevo suave ondulado.
O clima é semiárido, muito quente e, com estação chuvosa atrasando-se para o outono. A
precipitação pluviométrica anual normal é de 716,6 mm, e a observada de 746,8 mm. O período

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 791


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Chuvoso ocorre de fevereiro a maio, com temperatura média de 27,5 °C. A umidade relativa média
anual é 59 %, com 2.700 horas de insolação (CPRM, 2005).
Caicó possui relevo de 100 a 200 metros de altitude. A depressão Sertaneja se faz presente
em terrenos baixos situados entre as partes altas do Planalto da Borborema e da Chapada do Apodi.
O Planalto da Borborema, nos terrenos antigos formados pelas rochas Pré-Cambrianas como o
granito, onde se encontram as serras e os picos mais altos (CPRM, 2005).
O município de Caicó encontra-se totalmente inserido nos domínios da bacia hidrográfica
Piranhas-Açu, sendo banhado pela sub-bacia do Rio Seridó, que o atravessa na direção ESE-WNW.
Os recursos hídricos presentes nas proximidades do empreendimento compreendem dois
reservatórios, sendo um rio e um açude (FIG. 2).

Figura 2 - Açude nas proximidades do empreendimento (Fonte: Arquivo pessoal, 2015).

A atividade produtora de cachaça não lança resíduos sólidos ou vinhaça nos mananciais,
com o intuito de garantir boa qualidade da água. No entanto, a qualidade pode ser alterada devido
ao lançamento de água usada na lavagem da cana-de-açúcar antes da moagem, de pisos e
equipamentos.

- Meio biótico

Caicó está sob o domínio de Caatinga Subdesértica do Seridó, com vegetação mais seca do
Estado, com arbustos e árvores baixas, ralas e de xerofitismo mais acentuado. Nesse tipo de
vegetação as mais encontradas são Pereiro, Faveleiro, Facheiro, Macambira, Mandacaru, Xique-
xique e Jurema-preta.
A fauna é constituída de espécies típicas da caatinga, como Cavia Aperea (Preá),
Patagioenas Picazuro (Asa-branca), Bufo Ictericus (Sapo Cururu), Crotalus Durissus (cobra
Cascavel), Columbina Picui (rolinha branca), Vulpes Vulpes (raposa) e Euphractus Sexcintus (tatu-
peba).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 792


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Na Tabela 1 apresentam-se os impactos ambientais propagados nas fases de planejamento,


implantação e operação do empreendimento e as atividades associadas a eles.

Fases Atividades Impactos ambientais

1. Aumento de conhecimento sobre a viabilidade


Estudo de viabilidade econômica
econômica do projeto
2. Aumento de conhecimento da disponibilidade de
Levantamento da disponibilidade matéria-prima
matéria-prima para a produção
3. Aumento de conhecimento da disponibilidade de
Estudo de disponibilidade de infraestrutura
infraestrutura
4. Alteração do uso do solo
Seleção da área 5. Oscilação nos valores dos terrenos no entorno do
alambique
Planejamento

Elaboração do projeto de engenharia 6. Aumento do conhecimento das etapas do projeto


7. Aceleração dos processos erosivos
8. Compactação do solo
9. Redução do habitat para a fauna local
10. Alteração do escoamento superficial
Abertura de vias de acesso
11. Perda de espécies vegetais
12. Intrusão visual
13. Aumento no nível de ruídos
14. Atropelamento e morte de animais silvestres

Divulgação do empreendimento 15. Aumento de expectativas da população

Fases Atividades Impactos ambientais


1. Aumento de emprego e renda
Contratação de pessoal temporário
2. Aumento da demanda de bens e serviços
Instalação de acampamentos 3. Intrusão visual
Isolamento da área 4. Redução de riscos de acidentes
5. Alteração da paisagem natural
6. Alteração do microclima local
7. Aceleração dos processos erosivos
8. Intrusão visual
9. Assoreamento dos corpos hídricos
Desmatamento 10. Exposição temporária do solo
11. Alterações nas características físicas, químicas e
Implantação

biológicas do solo
12. Perda de espécies vegetais
13. Perda de abrigo, alimentação e reprodução
prejudicando a fauna local
14. Alteração na drenagem natural local
15. Aumento das emissões de poeira
16. Alteração das características do solo
17. Alteração da topografia local
18. Aumento da turbidez das águas
Terraplanagem, execução de cortes e aterros 19. Aumento de erosão acelerada
20. Aumento do nível de ruídos
21. Perturbação da fauna local
22. Fuga de espécies animais
23. Compactação do solo

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 793


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

24. Riscos de acidentes de trabalho


25. Assoreamento de corpos hídricos
26. Riscos de doenças alérgicas
27. Alteração da paisagem
Impermeabilização do solo 28. Compactação do solo
Fases Atividades 29. A alteraçãoImpactos
das características
ambientaisfísicas, químicas e
Contratação de trabalhadores biológicas do solo do número de empregos
1. Aumento
Conservação e manutenção de vias de acesso 30.2. Alteração
Melhoriada das
drenagem local de transporte e acesso
condições
Recepção da matéria-prima 31.3.Aumento dos alagamentos
Incremento econômico na produção agrícola
32. Degradação4. física do solo
Aumento do nível de ruído
33. Diminuição
5. Aumento da diversidade
da geraçãodadefauna terrestre
resíduos sólidos
Moagem 34. Intrusão visual 6. Poluição do ar
35. Compactação
7. Aumento do solo
do uso de recursos naturais
36. Desestruturação do solo
Filtração e decantação 8. Aumento de geração de efluentes líquidos
37. 9.Aumento dos processos
Aumento erosivos
de geração de efluentes líquidos
Fermentação 38. Poluição atmosférica
10. Aumento de geração de odor
Operação

Construção civil 39. Aumento do nível de ruídos


Destilação 11. Aumento de geração de odor
Envelhecimento 40. Assoreamento de corpos
12. Incremento hídricos do produto
na qualidade
41. Alteração da qualidade das águas
Envasamento 13. Aumento da geração de resíduos sólidos
42. Aumento do risco de acidentes
Rotulagem 14. Aumento da geração de resíduos sólidos
43. Alteração da fauna
Dispensa de produtos defeituosos 15. Aumento da geração de resíduos sólidos
44. Alteração da flora
16. Aumento do nível de ruídos
Transporte de produtos 45. Alteração dos microorganismos do solo
17. Compactação do solo
Construção de sistema de tratamento de efluentes 46. Redução do risco de poluição da água
18. Redução do risco de poluição do solo
Coleta de líquidos
resíduos sólidos
47. 19. Redução
Alteração do númerod proliferação
de empregos de vetores
Dispensa de mão de obra da construção civil 20. Redução da proliferação de vetores
Instalação de equipamentos 48. 21. Redução de odor
Aumento de ruído
Tratamento convencional de efluentes líquidos 49. Poluição atmosférica
22. Redução de incômodo na vizinhança
Coleta de resíduos sólidos 50. Redução do risco do
23. Redução de poluição
risco de do solo do solo
poluição
Tabela 1 - Impactos ambientais identificados em cada fase do empreendimento (Planejamento; Implantação e
Operação). Fonte: Arquivo pessoal, 2015.

SELEÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS SIGNIFICATIVOS

Na Tabela 2 apresenta-se a classificação dos impactos ambientais significativos


identificados no empreendimento.

Impacto Significância Impacto Significância Impacto Significância Impacto Significância


1 23 45 67
2 24 46 68

3 25 47 69
4 26 48 70
5 27 49 71
6 28 50 72
7 29 51 73
8 30 52 74
9 31 53 75
10 32 54 76
11 33 55 77
12 34 56 78
13 35 57 79
14 36 58 80
15 37 59 81

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

16 38 60 82
17 39 61 83
18 40 62 84
19 41 63 85
20 42 64 86
21 43 65 87
22 44 66 88

LEGENDA
Significativo ‘ Não significativo

Tabela 2 - Seleção dos impactos ambientais significativos Arquivo pessoal, 2015.

Em todas as fases do empreendimento, foram identificados 88 impactos ambientais, sendo


37 impactos significativos e 51 não significativos.

Na Figura 3 apresenta-se a distribuição de impactos ambientais significativos para cada fase


do empreendimento.

26

Planejamento Implantação Operação

Figura 3- Distribuição dos impactos ambientais significativos por fase do empreendimento. (Fonte: Arquivo
pessoal, 2015),

A implantação foi a fase que apresentou uma maior quantidade de impactos significativos
(26 impactos), seguida da fase de operação (7 impactos), e da fase de planejamento (4 impactos).

PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL

As medidas de controle ambiental foram indicadas no intuito de mitigar ou maximizar


impactos ambientais significativos identificados. Estas estão apresentadas na Tabela 3.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 795


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Mitigadora Maximizadora Impactos


controlados
Utilização de Equipamentos de Proteção Individual X 57
(EPI)
Usar protetores auditivos X 35
Implantação e manutenção da rede de drenagem X 29,45,46
Controle da supressão da vegetação X 4,9,11,22,26,27,28,
29,37,48,58,59
Realizar manutenção das máquinas de moagem X 71
periodicamente
Implantação de dispositivos de drenagem X 29,34,45,46
Placas informativas, para que sejam evitados X 57
Medidas de controle ambiental

acidentes
Priorização da contratação de mão de obra local X 16
Impermeabilizar somente as áreas necessárias para a X 43,44,45,46
construção do alambique
Condução adequada dos trabalhos de movimentação X 31, 32,34,38,40
de terra
Implantar o programa de Prevenção e Controle dos X 22,34
Processos Erosivos
Promover manutenção e limpeza de máquinas e X 35
veículos utilizados nos trabalhos das obras
Desmatar minimamente possível X 9,11,26,27,28,
36,37,60
Adoção de Práticas de Gerenciamento de resíduos X 78,84
sólidos e efluentes líquidos
Inspeção do isolamento da área X 19
Controlar a qualidade dos efluentes, especialmente 85,86,87,88
da temperatura, pH,sólidos totais dissolvidos e X
suspensos, DBO e DQO
Lançamento dos efluentes deve obedecer aos X 84,85,86,87,88
critérios legais estabelecidos em regulamentos
(CONAMA – 020/86)
Tabela 3 - Medidas de controle ambiental (Fonte: Arquivo pessoal, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades mais impactantes realizadas no empreendimento foram construção civil (14


impactos), terraplanagem, execução de cortes e aterros (13), desmatamento (10) e abertura de vias
de acesso (8). Com relação à significância dos impactos ambientais, foram identificados 37
impactos significativos e 51 não significativos. A fase de implantação foi a que apresentou o maior
número de impactos significativos (26), seguida da fase de operação (7).
As principais medidas de controle ambiental propostas foram: controle da supressão da
vegetação, implantação de dispositivos de drenagem, condução adequada dos trabalhos de
movimentação de terra (terraplenagens e estocagem de solo), desmatar minimamente possível e
lançamento dos efluentes de acordo com a Resolução CONAMA – 020/86.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 796


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

ABREU, D. A produção da cana-de-açúcar no Brasil e a saúde do trabalhador rural. São Paulo,


2011.

FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (FEAM). Plano de ação para adequação


ambiental do setor de aguardente e cachaça artesanal no Estado de Minas Gerais. FEAM: Belo
Horizonte, 2013. 105 p.

FRAGA, N.N; FERRAZ, S.F.B. Avaliação dos estudos de impacto ambiental no Setor
sucroenergético em relação ás águas superficiais. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do
Pinhal , v. 9, n. 1, p.162-176, jan./mar. 2012.

FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de Impactos Ambientais: Aplicação


aos Sistemas de Transporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. 249 p.

LUNA, A. J. Prevenção de riscos ambientais na Agroindústria canavieira. Tese de mestrado.


Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2012.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Cana- de-Açúcar.


Brasília, 2015. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/cana-de-acucar.

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL (CPRM). Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por


Água Subterrânea: Diagnóstico do município de Pombal. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. 23
p.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE DA EXTRAÇÃO DE MINÉRIOS EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BA:


SUBSÍDIOS AO PLANEJAMENTO AMBIENTAL

Meirilane Rodrigues MAIA


Doutora em Geografia UFS
Professora do Programa de Pós-graduação em Geografia UESB
meire.rmaia@gmail.com
Edvaldo OLIVEIRA
Doutor em Geografia UFS
Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia UESB
edvaldocartografia@gmail.com
Débora Paula de Andrade OLIVEIRA
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia UESB
deborapaulageografia@gmail.com
Espedito Maia LIMA
Doutor em Geografia UFS
Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia UESB
espeditomaia@gmail.com

RESUMO
A exploração mineral se configura como uma das atividades econômicas mais controversas na
sociedade contemporânea, pois perfila entre as questões socioambientais a as demandas da
economia, com consideráveis danos ao ambiente. Diante desse quadro, o artigo tem o propósito de
traçar um perfil sobre as atividades relacionadas à exploração mineral no município de Vitória da
Conquista, com ênfase na extração de areia, bentonita e diatomita. No plano metodológico, pautou-
se na discussão teórica, elaboração do projeto cartográfico e implementação do SIG, levantamento
documental e análise da legislação ambiental pertinente e pesquisas de campo. Os resultados da
pesquisa convergem para a análise socioambiental dessa atividade no município. Destaca-se ainda
que o processo de formação geológica, aliado as condições geomorfológicas do município que
contribuem para que o município possua importantes recursos naturais, sobretudo, muitas riquezas
minerais. Considera-se que apesar do aparato legal pertinente a política, fiscalização e
monitoramento ambiental das atividades mineradoras, verificam-se no município diversos
empreendimentos clandestinos de exploração de recursos minerais, sobretudo, na zona rural. É
necessária uma maior fiscalização e orientação da atividade, pois esta causa sérios danos tanto ao
ambiente, quanto as comunidades, sobretudo aquelas situadas em áreas próximas da extração.
Palavras - chave: Análise socioambiental. Extração mineral. Planejamento ambiental.
ABSTRACT
The mineral exploration is configured as one of economic activities more controversial issues in
contemporary society, because outline between the environmental issues to the demands of the
economy, with considerable damage to the environment. In this context, the article has the purpose
to trace a profile on activities related to mineral exploration in the city of Vitória da Conquista, with
emphasis on the extraction of sand, bentonite and diatomite. In the methodological level, based on
the theoretical discussion, elaboration of the mapping project and implementation of the SIG,
research and documentary analysis of relevant environmental legislation and field surveys. The
results of the research are converging toward the analysis of environmental activity in the

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 798


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

municipality. It is also emphasized that the process of geological formation, coupled with the
conditions of the geomorphologic municipality contributing to the municipality has considerable
natural resources, especially, many mineral wealth. It is considered that although the relevant legal
policy, monitoring and environmental monitoring of mining activities, there are in the city several
ventures clandestine exploitation of mineral resources, especially in the rural area. There is a need
for greater supervision and guidance of the activity, because this cause serious damage both to the
environment and the communities, especially those located in nearby areas of extraction.
Key words: Environmental Analysis. Mineral extraction. Environmental planning.

INTRODUÇÃO

A exploração dos recursos minerais consiste numa importante atividade para a economia dos
municípios. Nesse sentido, no município de Vitória da Conquista, assim como outros do Território
de Identidade do Sudoeste Baiano (TISB), verificam-se vários tipos de exploração mineral, alguns
deles conduzidas como atividades ilegais, sem qualquer controle dos órgãos competentes. As
atividades mineradoras no território dão uma significativa contribuição à economia dos municípios,
mas, ao mesmo tempo, apresentam, muitas vezes, forte ameaça à qualidade ambiental28.
O equilíbrio ambiental é necessário para a conservação dos diversos ecossistemas e depende
não só das decisões do poder político-administrativo, através da legislação e fiscalização, mas
também do comprometimento dos diversos profissionais que lidam com a área, bem como das
atitudes de cada cidadão.
Desde o início de sua colonização até os dias atuais, o Brasil sofre reflexos de uma atividade
extrativa, desordenada e de pouco controle tecnológico o que acaba sendo um aspecto negativo
relacionado às atividades minerais no país.
Particularizando a questão para o município de Vitória da Conquista, a exploração mineral,
em parte, não possui licença ambiental, nem mesmo uma Licença prévia (LP), o que acaba gerando
certo descontrole dessa atividade. Mesmo assim, muitos exploradores dão continuidade à extração
mineral, na maioria dos casos sem se preocupar com a ação degradadora no meio ambiente.
Diante dessas questões, o artigo tem o propósito de traçar um perfil sobre as atividades
relacionadas à exploração mineral no município de Vitória da Conquista. Nesse sentido, seus
desdobramentos poderão viabilizar um maior conhecimento sobre a extração, comércio, impactos
socioambientais oriundos da exploração de minérios no município com vistas a dar suporte a
elaboração de políticas públicas e a gestão do território, no que tange a questão da mineração, que
implica diretamente na questão ambiental.

28
Deve ser entendida como um equilíbrio entre das relações sociedade-natureza de maneira integrativa como forma de
alcançar a sustentabilidade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ASPECTOS METODOLÓGICOS
A metodologia de trabalho adotada no desenvolvimento da pesquisa foi pautada em quatro
etapas distintas. A etapa inicial consistiu no levantamento bibliográfico pertinente a relação
sociedade natureza, reflexão acerca dos recursos naturais, política ambiental e exploração de
minérios.
Na segunda etapa, foi realizado o levantamento cartográfico da área em estudo com a
estruturação do Sistema de Informações Geográficas (SIG), com dados pertinentes a extração
mineral no município. O SIG foi estruturado no software livre QGIS, com a inserção das bases de
dados vetoriais referentes aos recursos minerais no município, disponíveis no GeoBank da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e do Sistema de Informações Geográficas
da Mineração (SIGMINE) do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a inserção
as cartas topográficas na escala 1:100.000, disponibilizadas em formato shpafille (*shp) pela
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
Na terceira etapa, foi realizada a pesquisa documental, pertinente as atividades mineradoras
no município, em que se pautou na análise da legislação ambiental, e mais precisamente, as leis
municipais relativas à extração mineral. Com base nessas informações, aliado ao referencial teórico
utilizado, na quarta etapa foi elaborado os instrumentos de pesquisa, com roteiros de entrevista,
questionários para a coleta de dados em campo.
A quinta etapa consistiu em levantamentos de campo, que permitiram a análise in lócus da
realidade em questão, onde foram identificados e avaliados os problemas ambientais decorrentes de
cada atividade mineradora.
Na última etapa desenvolveu-se a análise a partir do cruzamento das distintas fontes de
informações. A base de análise da geração dos problemas ambientais está calcada na
incompatibilidade entre o potencial de uso, definido pelas limitações ambientais, e a pressão das
atividades humanas sobre os ambientes. Quando a pressão das atividades humanas atinge o limite
de tolerância ambiental, há a geração de problemas em estágios variados, a depender do grau de
estrangulamento da capacidade de suporte dos ambientes. Os procedimentos realizados permitiram
traçar o perfil da exploração mineral e seus efeitos ambientais no município de Vitória da
Conquista.

DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL E EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS MINERAIS:


CONEXÕES TEÓRICAS

Ao longo da história, as atividades humanas têm representado papel determinante nas


relações entre a sociedade e a natureza, sendo direcionadas para os mais variados aspectos. Nesse

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contexto, a interpretação da natureza ocorre no limiar tênue existente entre a inextricável dimensão
ambiental e humana. Com essa compreensão, Lustoza (2006) pondera:

[...] O homem estabelece a sua visão da natureza recorrendo a vários elementos, bens e
frutos oferecidos pelo meio ambiente. Isto exige trabalho, arte, empenho e inteligência. A
tarefa é conduzida de tal maneira que os limites entre o ambiente natural e o humanizado
acabam se confundindo (LUSTOZA, 2006, p. 24-25).

Nessa perspectiva, a autora argumenta que a compreensão da relação sociedade-natureza


suscita questões relevantes no processo de produção espacial, especialmente no que se refere à
discussão sobre as questões ambientais, decorrentes da ação, muitas vezes predatória das atividades
humanas. Diante desse cenário, é pertinente abordar as reflexões que envolvem o conceito de
recurso natural, que historicamente foi concebido de forma acrítica e dissociada das questões sociais
da atualidade. A ideia de recurso natural ―como qualquer elemento da natureza que possa ser
explorado pelo Homem‖ (VENTURI, 2006, p. 9), tradicionalmente imperou no pensamento
científico. No entanto, tal conceito apresenta-se demasiadamente simples, uma vez que não
apreende a problemática que os recursos naturais têm no contexto das sociedades capitalistas. Desse
modo, Venturi apresenta uma reflexão crítica, ao complementar que:

Recurso natural pode ser definido como qualquer elemento ou aspecto da natureza que
esteja em demanda, seja passível de uso ou esteja sendo usado direta ou indiretamente pelo
Homem como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em determinado
tempo e espaço (VENTURI, 2006, p. 15).

Nesse contexto, os recursos minerais assumem grande relevância na discussão sobre os


recursos naturais, uma vez que a exploração mineral consiste numa atividade complexa e
contraditória, pois apesar da sua reconhecida importância no desenvolvimento técnico-científico das
sociedades, a atividade acarreta danos, muitas vezes irreversíveis aos sistemas ambientais.
Segundo Kopezinski (2000), os impactos ambientais, positivos e/ou negativos causado pela
atividade extrativa dependerão exclusivamente da ação antrópica. A atividade humana é que
determinará o tipo, a magnitude e as conseqüências da alteração ambiental no meio a ser explorado.
Kopezinsk (2000) compreende ainda, que a forma de extrair os bens minerais que a natureza
nos oferece tem sido aprimorada nos últimos cinquenta anos. Nota-se que os impactos ambientais,
positivos e/ou negativos causados pela atividade extrativa dependerão da frequência e da
intensidade da ação antrópica, refletindo-se nas consequências da alteração ambiental no meio
físico submetido aos processos de exploração dos recursos minerais.
Como atividade extrativa, a mineração, quando exercida sem técnicas adequadas e sem
controle, pode deixar um quadro de degradação oneroso na área que a abriga. Estas premissas são
importantes para analisarmos a situação específica do município de Vitória da conquista.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 801


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A EXTRAÇÃO DOS RECURSOS MINERAIS EM VITÓRIA DA CONQUISTA

O município de Vitória da Conquista localiza-se entre as coordenadas de 14° 30' e 15° 30' de
latitude Sul e 40° 30' e 41°10' de longitude a W. Gr, (Figura 1) e ocupa uma área de 3.743 km². De
acordo com a atual regionalização da SEI, o município integra o TISB. Estima-se que a população
do município seja de 346 069 habitantes (IBGE, 2016), distribuídos entre os doze distritos.

Figura 1- Localização do município de Vitória da Conquista, 2017.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

No que tange aos aspectos geoambientais, destaca-se que a maior parte do município está
localizada no Planalto de Vitória da Conquista, que apresenta uma estrutura geológica composta
parcialmente, por rochas do complexo cristalino, representadas pelas formações Pré-Cambrianas do
Complexo Caraíbas-Paramirim e Formação Rio Gavião que aflora sob a forma de uma pequena
faixa disposta seguindo a direção E-O no distrito de Bate Pé. O Supergrupo São Francisco,
representado sob a denominação de Grupo Macaúbas na parte sul do município, especificamente no
distrito de Cercadinho. O Grupo Contendas-Mirante, representado sob a denominação de Formação
Areão, que aparece na parte norte do município e as Coberturas Detríticas, de idade Terciário-
Quaternária, sobre as rochas do Complexo Cristalino na parte central do município.
Silva Filho et al. (1974) citado por Brasil (1981) denominaram de Depósito Detríticos-
Coluvionares às coberturas existentes no Planalto de Vitória da Conquista, representadas por
material amarelado, detrítico, conglomerático, mal consolidado, com espessura variável, podendo
atingir 8 metros junto a serra do Marçal. No que se refere aos aspectos geomorfológicos, o
município encontra-se compartimentado em três ambientes de relevos distintos.
O Planalto de Vitória da Conquista é caracterizado pela região cimeira e representa a maior
parte do território do município no sentido NE-SO, está submetida ao clima sub-úmido, que ocorre

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 802


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

em todo o setor meridional do município, e predominância de clima semiárido na porção norte e


enclaves de semiaridez na porção SSE. Os solos predominantes no município são do tipo
Latossolos. No que se refere à vegetação, são encontrados, trechos expressivos de remanescentes de
Floresta Estacional, mas o que predomina são as áreas cultivadas, com destaque para cultura do café
e as pastagens, que recobrem grandes extensões do planalto. A estrutura geológica é formada por
depósitos eluvionares, e predominantemente coluvionares arenosos com níveis conglomeráticos,
com incidência de diatomita.
O Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista, unidade que se estende no sentido
E-SE do setor meridional do município e representa um nível intermediário entre o Planalto e a
Depressão de Itapetinga. É uma área caracterizada por uma grande dissecação do relevo, com vales
profundos em ―V‖, sendo comum a ocorrência de alvéolos de cabeceira. Se comparado a outras
áreas do município, este trecho do planalto possui uma maior umidade em função da disposição do
relevo de forma perpendicular à orientação da maioria das massas de ar que se deslocam em direção
ao interior do Estado, que provoca, com freqüência, precipitações orográficas. Em decorrência
dessas características, a área possui um maior potencial agrícola e, como conseqüência, uma maior
utilização dos solos, principalmente com a cultura de café e culturas de subsistência. A área mais
úmida envolve tanto o setor oriental do platô como a vertente à barlavento do planalto.
Os Patamares do Médio Rio de Contas aparecem no setor oeste do Planalto de Vitória da
Conquista, correspondendo a níveis intermediários entre este e os Pediplanos Sertanejos. Este
ambiente evolui através de uma morfogênese mecânica em função da semi-aridez reinante, sendo
caracterizado por um menor índice pluviométrico, solos mais rasos e vegetação xerófila. O dorso do
Planalto, onde está situado o distrito sede do município, corresponde a uma integração entre os dois
setores anteriores, apresentando-se como uma área de transição entre a Floresta Estacional e a
Caatinga. A estrutura geológica é formada basicamente por rochas do tipo gnaisses, xistos,
anfibolitos e biotitas.
O processo de formação geológica, aliado as condições geomorfológicas de Vitória da
Conquista contribui para que o município possua importantes recursos naturais, sobretudo, muitas
riquezas minerais. Tal realidade despontou o interesse pela exploração mineral, que apesar da
reconhecida importância para a economia, configura-se também como um empreendimento com
sérios impactos negativos no ambiente em que está inserido.
Nesse contexto, destacam-se no município a extração mineral de bentonita, diatomita e
areia. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), a bentonita extraída pela
Companhia Brasileira de Bentonita (CBC), em Vitória da Conquista, tem origem no processo de
intemperismo de rochas básicas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A jazida de bentonita localizada no município de Vitória da Conquista configura-se entre as


mais expressivas da Região Nordeste do Brasil, perdendo somente com os municípios de Boa Vista
e Cubati no Estado da Paraíba, que são os maiores produtores da região Nordeste. Em decorrência
da elevada extração mineral desses municípios, a região Nordeste figura como a maior produtora de
bentonita do Brasil, com o total de 85% da produção nacional.
Esse minério é amplamente utilizado em diversos setores industriais, tais como a indústria
de cosméticos, a construção civil, as operações petroquímicas, fabricação de rações para animais,
perfuração de poços de sondagem, fabricação de produtos de limpeza entre outras aplicações
(TOMIO, 1999; LUZ, OLIVEIRA, 2005).
A diatomita, mineral originário de processo sedimentar, rico em sílica, é constituído
fundamentalmente por carapaças de algumas diatomáceas29. Esse mineral é extraído em áreas do
nordeste de Vitória da Conquista pela empresa Comércio, Indústria e Exportação de Minérios Ltda.
(CIEMIL) e também pela Cimpor Cimentos do Brasil Ltda (CCB).
De acordo com as informações apresentadas no Relatório de Atividades do ano de 2006 do
Governo do Estado da Bahia, além dos dados do DNPM, verifica-se que a Bahia produz 82,2% do
total de diatomita extraída em todo o Brasil. Segundo França, Luz e Inforçati (2005), a diatomita
possui diversas aplicações, principalmente nos processos de filtração de xaropes, vinhos, cervejas,
refrigerantes, uísques, sucos, enzimas e proteínas. A Figura 2 ilustra uma área de exploração da
diatomita no município.

Figura 2- Área de exploração de diatomita em Vitória da Conquista, 2014.


Fonte: Trabalho de campo.

No município, destaca-se ainda a extração de areia que é uma das atividades mineradoras de
maior impacto, tanto social quanto ambiental, em razão da expansão da construção civil e a
crescente urbanização da cidade, que possui estreita relação com esta atividade. Em conformidade

29
Diatomáceos são microrganismos eucariontes unicelulares encontrados em ambientes úmidos e aquáticos (UFPR,
2012).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

com o Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA) LEI Nº 1.410/2007 do município,


pertinente a exploração mineral, Seção V Art. 136, ―[...] para a extração de areia, e outras, é
necessária, além da licença de localização e de funcionamento, uma licença especial, se for
empregado o uso de explosivo, e essa solicitação deve ser feita à Secretaria de Meio Ambiente‖
(PMVC, 2007, p. 31). A Figura 3 apresenta um mapa com os principais recursos minerais
encontrados no município, de acordo com o CPRM.

Figura 3- Recursos minerais encontrados em Vitória da Conquista.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A legislação ambiental tem o propósito de administrar a qualidade ambiental do município,


visando amenizar os conflitos e estabelecer um meio de equilíbrio entre a exploração dos recursos
naturais e as atividades econômicas.
Diante desse panorama, a Lei N.º 1.410/2007 foi instituída com o objetivo de definir
critérios e padrões de qualidade ambiental, estabelecer normas pertinentes a utilização e ao manejo
de recursos naturais, além de instituir medidas para que os agentes responsáveis pela degradação
ambiental sejam eles da esfera pública ou privada, possam recuperar e/ou indenizar os impactos
negativos causados ao meio ambiente. Pretende ainda coibir a exploração mineral clandestina e
promover medidas para responsabilizar os causadores de poluição e degradação, dentre outros
aspectos relacionados a essa questão.
Assim, o Sistema Municipal do Meio Ambiente (SIMMA) foi constituído no município para
coordenar e integrar as ações dos diferentes órgãos da administração pública municipal, que
funcionam sob as premissas do planejamento integrado, da coordenação e da participação dos
institutos representativos da sociedade civil, na qual as atividades estejam relacionadas à
conservação e à melhoria do meio ambiente.
O Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMMAM), que integra o SIMMA, tem caráter
consultivo, deliberativo e normativo foi criado pela Lei N.º 1.085/2001 e é responsável por definir
as diretrizes da política ambiental com vistas a elaboração de normas e medidas para a proteção
ambiental, além de analisar e deliberar sobre o licenciamento de atividades com possibilidade de
impacto ambiental, com a exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e a aprovação
dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD).
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA), que também integra o SIMMA, tem
como função, encaminhar os processos de licenciamento aos órgãos competentes do Estado ou da
União, cadastrar, licenciar, monitorar e fiscalizar a implantação e o funcionamento de
empreendimentos com potencial de impacto ambiental. Por intermédio do geoprocessamento dos
dados do DNPM, é possível identificar as áreas de exploração, concessão e autorização de
substâncias minerais em Vitória da Conquista, como pode se verificar na Figura 4.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4- Áreas de exploração mineral em Vitória da Conquista.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Compreende-se que os instrumentos da política municipal pertinente a legislação ambiental


tem o propósito de viabilizar a administração da qualidade ambiental. Desse modo, destacam-se os
seguintes instrumentos: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impactos Ambientais
(RIMA), o Relatório de Qualidade Ambiental (RQA), a fiscalização, o monitoramento e
automonitoramento de atividades consideradas potencialmente poluentes ou degradadoras do meio
ambiente. Sobre esse aspecto, a seção V do projeto de lei do licenciamento ambiental do código
municipal do meio ambiente de Vitória da Conquista, no Art. 39 adverte que:

Art.39. Estão também sujeitas ao licenciamento ambiental prévio, a ser requerido ao órgão
legalmente competente:
I. As obras da administração direta ou indireta do Estado ou da União que, de acordo
com a legislação federal, sejam objeto de Estudo de Impacto Ambiental; e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

II. A extração de argila, pedras, areia e quaisquer outros minerais.


Parágrafo único - Não será concedida Licença de Localização para atividades de
exploração de argila ou pedra, em local onde os ventos predominantes levem a
fumaça para a Cidade ou em local de potencial turístico ou de importância
paisagística ou ecológica (CÓDIGO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE, 2005,
p. 26).

No entanto, apesar do aparato legal pertinente a política, fiscalização e monitoramento


ambiental, verificam-se no município diversos empreendimentos clandestinos de exploração de
recursos minerais, sobretudo, na zona rural, sendo os mais comuns à extração de areia para a
construção civil e argila para a produção de tijolos.
Verifica-se que tais órgãos não detêm o controle total dessas atividades, especialmente
naquelas exercidas na zona rural dos distritos. Ao serem questionados sobre a extração de minérios
de forma clandestina, os funcionários do SEMMA confirmaram sua existência e relataram ainda as
dificuldades no processo de fiscalização. Segundo os profissionais entrevistados, as principais
dificuldades estão relacionadas ao número reduzido de funcionários destinados à fiscalização,
diante da grande quantidade de exploração mineral existente no município. Os entrevistados
destacaram o papel da população no apoio da fiscalização por meio de denúncias, como um
relevante auxílio para a efetivação das políticas ambientais, pois facilitam o monitoramento das
atividades mineradoras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora perfile entre as atividades econômicas mais controversas, na perspectiva


socioambiental, a extração mineral persiste como importante atividade para a sociedade. Todavia, é
necessária uma maior fiscalização e orientação da atividade, pois esta causa sérios danos tanto ao
ambiente, quanto as comunidades, sobretudo aquelas situadas em áreas próximas da extração.
É inegável que, no mundo moderno, a mineração assume contornos de importância decisiva
para o desenvolvimento econômico, pois se observa que os minérios extraídos da natureza estão em
quase todos os produtos utilizados pelo homem. Entretanto, esta dependência gera um ônus para a
sociedade, principalmente através do surgimento de imensas áreas degradadas que na maioria das
vezes, ao final da exploração, não podem ser ocupadas racionalmente

REFERÊNCIAS

FRANÇA, S. C. A.; LUZ, A. B.; INFORÇATI, P. F.; Rochas & Minerais Industriais: Usos e
Especificações. In: CETEM; Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:
<http://www.cetem.gov.br/publicacao/CTs/CT2005-134-00.pdf>. Acesso em novembro de 2016.

GUERRA, Antonio Teixeira. Dicionário Geológico-Geomorfológico. 7ª ed. Rio de Janeiro: IBGE,


1987.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 808


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GUERRA, Antonio José Teixeira (Orgs.). Geomorfologia: exercícios, técnicas e aplicações. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

GUERRA, Antonio Teixeira. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de


Janeiro, Bertrand Brasil, 1994. 472p.

KOPEZINSKI, Isaac. Mineração x meio ambiente: considerações legais, principais impactos


ambientais e seus processos modificadores. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2000.

LUSTOZA, R. E. Produção do espaço urbano e questão ambiental: a urbanização entre mar e


montanha na cidade do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Universidade Federal Fluminense:
Niterói, 2006.

LUZ, Adão. B; OLIVEIRA, Cristiano. H. Bentonita. Rochas & minerais industriais: Usos e
especificações. Rio de Janeiro: CETEM, 2005.

PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA (PMVC). LEI Nº 1.410/2007, do


referido Código Municipal. Institui o Código Municipal do Meio Ambiente de Vitória da
Conquista Website da PMVC. Disponível em:<http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/wp-
content/uploads/CODIGOMUNICIPAL_MEIOAMBIENTE.pdf>. Acesso em novembro de
2016.

TOMIO, Alexandre. A Mineração no Mercosul e o Mercado de Bentonita. 1999. 105 f. Dissertação


de Mestrado. Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS NO RESTAURANTE


UNIVERSITÁRIO DA UFCG

Deborah Almeida dos ANJOS


Pós Graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho – UNINASSAU
deborah_almeida89@hotmail.com
Márcia Cristina de SOUSA
Pós Graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho - FIP
marciacrissousa@hotmail.com
Kellianny Oliveira AIRES
Profa. MSc. da Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho - Inovar Cursos (FIP)
kelliannyoaires@hotmail.com
Emanuele MONTENEGRO
Pós Graduanda em Engenharia Química - UFCG
emanuele.montenegro@gmail.com

RESUMO
A rotina de um Restaurante Universitário possui ritmo intenso sendo que cada setor expõe o
trabalhador a diferentes riscos. Dessa forma, é importante identificar os fatores ambientais
existentes nesse local que possam trazer danos à saúde dos trabalhadores. Nesse sentido, este
trabalho teve como objetivo identificar e avaliar os riscos ambientais aos quais os funcionários do
Restaurante Universitário da Universidade Federal de Campina Grande (Campus I) estão expostos.
Trabalhou-se com variáveis qualitativas, a partir da aplicação de um questionário onde se avaliou
principalmente a frequência de acidentes e de incômodos relacionados à temperatura, esforço físico
e ruído; e quantitativa do agente ruído em alguns setores do restaurante. Identificou-se a
necessidade de adequação das condições de temperatura no setor de higienização das bandejas e de
conscientização, bem como de supervisão, dos profissionais quanto aos riscos aos quais estão
expostos diariamente, quanto ao uso de EPIs e utilização de medidas que propiciem melhor
conforto no ambiente laboral de forma a garantir sua saúde física e mental.
Palavras-chave: restaurante universitário; riscos ambientais; ruído.

ABSTRACT
The routine of a University Restaurant has an intense pace and each sector exposes the worker the
different risks. In this way, it is important to identify the environmental factors that exist on the
place that bringing damage to workers' health. In this sense, the objective of this work was to
identify and evaluate the environmental risks the to which employees of the University Restaurant
of the Federal University of Campina Grande (Campus I) are exposed. Worked with qualitative
variables, based on the application of a questionnaire where the frequency of accidents and
annoyances related to temperature, physical effort and noise, and quantitative of the noise agent in
some sectors of the restaurant were evaluated. It was identified the necessity of adequacy of the
temperature conditions in the sector of hygiene of the trays and of awareness, as well as of
supervision, of the professionals regarding the risks to which they are exposed daily, regarding the
use of PPE and the use of measures that provide better comfort In the work environment in order to
guarantee their physical and mental health.
Keywords: university restaurant; environmental risks; noise.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

O Restaurante Universitário é considerado um segmento de alimentação coletiva que possui


como proposta fornecer refeições balanceadas e com qualidade, de maneira que atenda às
necessidades nutricionais dos estudantes. As refeições devem ser preparadas com adequadas
condições higiênico-sanitárias, atendendo a legislação vigente, assegurando a qualidade e
inocuidade dos produtos manipulados (ARRUDA, 1999).
A rotina desse segmento possui ritmo intenso sendo que cada setor do restaurante expõe o
trabalhador a diferentes riscos, tais como: frio, umidade, esforço repetitivo, levantamento de peso
excessivo, calor, ruído e iluminação. Além de fatores como ventilação, presença de gases e vapores
bem como espaço físico e concepção de materiais e equipamentos. Tais fatores podem trazer como
consequência a fadiga, lesões musculares, perda auditiva e desconforto aos empregados,
aumentando os riscos de acidentes e diminuindo a produtividade (ABREU et al., 2007;
LOURENÇO e MENEZES, 2008; SANTANA, 2002; COLARES e FREITAS, 2007; QUINTILIO
et al., 2012; CORDEIRO et al., 2005; KROEMER e GRANDJEAN, 2005; ARAÚJO e
RODRIGUES, 2011).
Dessa forma, a identificação de fatores ambientais existentes nos locais de trabalho, que
possam causar agravos à saúde dos trabalhadores é importante uma vez que, ao identificá-los
precocemente torna-se possível adotar medidas que venham a minimizar ou eliminar a interferência
destes fatores sobre a saúde e segurança daqueles trabalhadores. Portanto, o caráter preventivo na
adoção de medidas que contribuam para proporcionar melhores condições de trabalho se reflete na
segurança e na saúde dos trabalhadores, gerando maior satisfação e produtividade (JARDIM, 2005).
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo identificar e avaliar os riscos ambientais
aos quais os funcionários do Restaurante Universitário da Universidade Federal de Campina Grande
(Campus I) estão expostos, de maneira a contribuir para futuras iniciativas que venham a fomentar
melhorias nas condições de vida e do trabalho destes profissionais.

RISCOS AMBIENTAIS

Os riscos ou agentes ambientais constituem um capítulo importante no que se refere aos


acidentes e doenças do trabalho, estão incluídos nas condições inseguras e são definidos na Norma
Regulamentadora (NR) n° 9 – Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego. Dentre esses
riscos, estão os agentes físicos os quais estão associados às diversas formas de energia geradas por
equipamentos e processos que podem causar danos à saúde dos trabalhadores expostos, tais como:
ruído, calor, frio e umidade. Os riscos mecânicos (ou riscos de acidentes) e ergonômicos são
agentes que também podem afetar o trabalhador. Ainda de acordo com a NR 9, os riscos ambientais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

são capazes de causar danos à saúde do trabalhador, dependendo da natureza e concentração do


agente; da suscetibilidade do trabalhador exposto e do tempo de exposição (JARDIM, 2005).
Em restaurantes há uma grande produção de ruídos, em razão da variedade, quantidade de
equipamentos, sistemas de exaustão em funcionamento, manipulação de utensílios, processos de
higienização e ressonâncias nas superfícies metálicas. O agente físico ruído, definido de forma
simplificada como um som incômodo e desagradável, pode se tornar nocivo à saúde do trabalhador
de acordo com sua frequência (Hertz), intensidade, repetitividade e tempo de exposição. A Norma
Regulamentadora 15 (2011) estabelece que valores acima de 85 dB em 8 horas de trabalho
ininterruptamente são considerados como prejudiciais à saúde, independentemente do tipo de local.
A exposição do trabalhador em níveis acima dos limites permitidos poderá causar danos à audição,
alcançando muitas vezes a surdez. Além deste cenário, quando inadequado, o ruído também pode
provocar a redução da capacidade de coordenação motora, insônia, distúrbios do humor, do
equilíbrio, irritabilidade, fadigas e redução do poder de concentração (KROEMER e
GRANDJEAN, 2005; LOPES et al., 2009).
No Brasil, um dos principais problemas de saúde ocupacional ligados aos trabalhadores do
setor de alimentação coletiva é de natureza musculoesquelética, devido à postura incorreta e aos
movimentos repetitivos, levantamento de peso excessivo e permanência por períodos prolongados
na postura de pé. Além disso, sofre a pressão temporal da produção, a qual necessita ajustar-se aos
horários de distribuição das refeições, condicionando e/ou modificando constantemente o modo
operatório dos funcionários, a fim de atender a demanda. Estes fatores são classificados como riscos
ergonômicos, ou seja, riscos decorrentes da falta de adaptação do trabalho ao homem (JARDIM,
2005; CASAROTO e MENDES, 2003).
Posturas inadequadas, imediatamente ou com o decorrer do tempo, apresentam dor. A dor,
mais que a incapacidade, pode com frequência, ser o fator limitante para o bom desempenho do
trabalhador. Já o trabalho parado, em pé, exige o trabalho estático da musculatura envolvida para
manutenção da posição referida provocando facilmente a fadiga muscular. Esses fatores são tão
importantes para o desempenho das tarefas quanto para a promoção da saúde e minimização de
estresse e desconforto durante o trabalho (MONTEIRO et al., 1997; OROFINO, 2004).
As unidades de alimentação apresentam ainda riscos consideráveis de acidentes em
decorrência do intenso movimento, aliado à inexperiência pessoal e a um ambiente dotado de
grande variedade de equipamentos elétricos. As queimaduras configuram uma grande parte dos
acidentes nas cozinhas dos restaurantes de uma maneira geral. Essas são decorrentes do uso
constante de óleo quente e do contato frequente com equipamentos em fogo alto. Outros tipos de
acidentes como cortes e lesões também são comuns e causados em sua maioria pelo uso constante
de objetos perfuro cortantes, além de máquinas e equipamentos como moedores ou

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

processadores. Além desses, quedas e tropeções também podem ocorrer devido aos pisos
escorregadios ou a própria configuração do ambiente. Outro fator que pode acarretar algum acidente
em restaurantes é decorrente do seu funcionamento com fluxo desordenado de funcionários,
levando aos acidentes de trajeto (trombadas). Dessa forma, se faz necessário que o ambiente possua
um espaço e configuração adequados para a movimentação segura de pessoal (CONCEIÇÃO e
CAVALCANTI, 2001).

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de um estudo descritivo de caráter observacional trabalhando com


variáveis qualitativas e quantitativas. Nesse estudo, realizado no mês de Julho de 2017, foram
avaliadas as condições ambientais do Restaurante Universitário (RU) do Campus I da Universidade
Federal de Campina Grande localizado na cidade de Campina Grande na Paraíba (Figura 1).

Figura 1 – Visão externa do Restaurante Universitário e do refeitório.

O RU distribui por dia em média 1248 refeições no almoço e 650 no jantar para atender esta
demanda, 36 colaboradores formam o quadro de funcionários. Para realização desta pesquisa uma
amostra de 17 funcionários foram entrevistados, entre eles, cozinheiros, auxiliares de cozinha,
copeiros, auxiliares de serviços gerais e assistentes administrativos.
Para a avaliação qualitativa das condições ambientais, ou seja, dos riscos aos quais os
funcionários estão expostos, foi aplicado um questionário com as seguintes variáveis: gênero; idade;
função; tempo de serviço no RU; ocorrência de acidentes (queimaduras, cortes e lesões, escorregões
e quedas ou outros); incômodos relacionados à temperatura, ao ruído e ao esforço físico (cansaço,
sudorese, desidratação, zunidos, interferência na comunicação oral, fadiga, dores ou não possui
incômodo); satisfação em relação ao espaço, organização e manutenção do ambiente de trabalho;
fatores que fazem parte da rotina de trabalho (posição em pé por muito tempo, postura inadequada,
movimentos repetitivos, pegar excesso de peso, excesso de horas de trabalho e contato com
ferramentas e equipamentos em más condições).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A avaliação quantitativa consistiu na medição dos níveis de pressão sonora (NPS) nos
seguintes setores do RU: pré-preparo, produção, área de distribuição das refeições e a área de
recebimento e higienização de bandejas. Estes setores podem ser observados na Figura 2.

Pré-preparo: Ponto 1 Pré-preparo: Ponto 2

(a) (b)

Pré-preparo: Corte de
Produção
carnes

(c) (d)

Distribuição Higienização

(e) (f)
Figura 2 – Setores do Restaurante Universitário avaliados: (a) Pré-prerado-ponto 1;(b) Pré-preparo-ponto 2;
(c) Pré-preparo-corte de carne; (d) Produção; (e) Distribuição; (f) Higienização de bandejas.

As medições foram obtidas posicionando o instrumento (Decibelímetro INSTRUTHERM,


Modelo DEC-460) na altura equivalente à orelha dos funcionários. Utilizou-se a curva de
ponderação A, para ruídos contínuos e flutuantes, e a escala de tempo slow obtendo-se a média dos
níveis de ruído. No setor de recebimento e higienização de bandejas foram identificados ruídos de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

impacto existentes devido ao choque entre bandejas e entre as bandejas e as superfícies existentes
no ambiente, dessa forma, a medição do ruído foi realizada utilizando a curva de ponderação C e a
escala de tempo fast, conforme recomendado no Anexo 2 da NR 15. Ressalta-se que no período de
medição, o equipamento de esterilização das bandejas se encontrava quebrado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra analisada foi constituída de 10 funcionários do sexo masculino (58,82%) e 7 do


sexo feminino (41,18%) com uma média geral de idade de 45 anos. Conforme o gráfico da Figura
3a, a maioria deles possui idade superior a 50 anos (41,18%), funcionários mais jovens com idades
entre 20 e 30 anos representam a menor parcela da amostra com 23,53%. Aqueles com idade entre
40 e 50 anos compõem 35,29% do quadro de entrevistados. A maioria destes funcionários possui
tempo de serviço no restaurante entre 5 e 10 anos (52,94%), 29,41% já trabalham do RU há mais de
10 anos e uma pequena parcela está na função em um tempo inferior a 4 anos.
Em relação ao estado civil 52,94% dos entrevistados são casados e 41,18% são solteiros.
Somente um funcionário relatou ser divorciado representando apenas 5,88% da amostra (Figura 3b).
A maior parte dos entrevistados possui, em relação à quantidade de dependentes (Figura 3c), entre 1
e 3 filhos representando 64,71% do total. Apenas 2 funcionários possuem mais de 3 dependentes e 4
não têm filhos, o que representa 11,76% e 23,53%, respectivamente, da amostragem total.

45,00% Idade 41,18% 60,00% Tempo de 52,94%


40,00% Serviço
35,29% 50,00%
35,00%
30,00% 40,00%
25,00% 23,53% 29,41%
30,00%
20,00%
17,65%
15,00% 20,00%
10,00%
10,00%
5,00%
0,00% 0,00%
20-30 40-50 >50 < 4 anos 5 - 10 anos > 10 anos

(a) (b)

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 815


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

60,00% 70,00% Filhos


Estado Civil 52,94% 64,71%

50,00% 60,00%
41,18%
50,00%
40,00%
40,00%
30,00%
30,00% 23,53%
20,00%
20,00%
5,88% 11,76%
10,00%
10,00%
0,00% 0,00%
Solteiro Casado Divorciado Não tem 1-3 >3
(c) (d)
Figura 3 – Frequência relacionada à (ao): (a) idade; (b) tempo de Serviço; (c) estado civil e (d) quantidade de
dependentes dos funcionários entrevistados.

Quanto à distribuição das funções e do nível de escolaridade dos entrevistados no


restaurante universitário, a maioria desempenha a função de copeiro, representando 35,29% da
amostra, seguido da função de serviço gerais (29,41%), cozinheiro (23,53%) e uma quantidade
menos significativa de funcionários ligados à administração (11,76%). Associado a este quadro está
o nível de escolaridade onde 29,41% possui o Ensino Médio completo, 23,53% não completaram o
Ensino Fundamental e os demais respondentes relataram possuir apenas o Ensino Fundamental
completo ou o Ensino Médio incompleto representando, cada um, 17,65% da amostra. Como era de
se esperar, o menor grau de instrução está entre os funcionários que ocupam funções nos setores
considerados operacionais, setores estes que apresentam maior risco ambiental ao trabalhador.
Em relação aos riscos presentes no ambiente apenas 29,40% da amostra, total de 5
funcionários, declararam ter sofrido algum tipo de acidente dentre os quais os mais frequentes são
os cortes e lesões, relatados por 100% do pessoal que já sofreu acidente. Esses tipos de risco
ocorrem devido à presença de máquinas e equipamentos, uso de lâminas, facas, processadores e
objetos perfuro-cortantes. No momento da realização da pesquisa observou-se que a grande maioria
dos colaboradores não usavam luvas adequadas para o manuseio desses objetos, o que pode explicar
a maior frequência desse tipo de ocorrência.
Dois funcionários informaram ter sofrido queimaduras (29,40%) provocadas pelo contato
com óleo quente e utensílios em fogo alto. Acidentes como escorregões, quedas e outros tipos,
como esbarrões devido ao deslocamento dos trabalhadores, são os que menos ocorreram
acontecendo em uma frequência de 20% cada, nos funcionários acometidos. Essa menor parcela
pode ser explicada pelo uso do equipamento de proteção individual adequado para pisos molhados
(fator condicionante identificado na maioria dos setores analisados), neste caso, botas
antiderrapantes. 10 colaboradores (58,82%) consideraram a organização do ambiente e manutenção

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 816


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

dos equipamentos razoáveis ou inadequados aumentando as chances de trombadas e lesões. Dessa


forma, uma maneira de evitar os esbarrões é realizar o planejamento adequado do fluxo de trabalho
no restaurante, assim como uma ambiência adequada.
No Restaurante Universitário foram identificados fatores condicionantes de incômodos em
relação à temperatura, ruído e ao esforço físico. No espaço foram identificados poucos pontos de
ventilação artificial, existindo apenas um ponto de ventilação natural presente somente quando um
portão lateral situado na cozinha está aberto. Sendo assim, a maioria dos entrevistados não sente
incômodo em relação à temperatura (41,18%), conforme pode ser observado na Figura 5a. Alguns
funcionários afirmaram sentirem-se desidratados e cansados apresentando ambos os fatores 70,58%
das queixas. No setor de higienização das bandejas foi relatado um maior incômodo devido ao calor
no ambiente agravado por uma divisória de vidro que impede a ventilação natural, o que pode ser
minimizado com a implantação de sistemas de ventilação artificial como ventiladores.
Observou-se ainda uma grande produção de ruídos em razão do uso de equipamentos como
trituradores, conversação dos funcionários e estudantes, manipulação de utensílios, processos de
higienização e ressonâncias nas superfícies metálicas. Diante desse cenário, a maioria dos
entrevistados alegou sentir zunidos no ouvido, fator que traduz 41,18% da frequência de incômodos
em relação ao ruído (Figura 5b). Seis funcionários (35,29%) disseram não sentir incômodos e uma
mesma quantidade sentem interferência na comunicação oral e a menor parcela de incômodos
relatados foi em relação à fadiga com 11,76%.
Na Figura 5c, em relação ao esforço físico, observou-se que as dores na coluna são a queixa
mais frequente entre os entrevistados (52,94%) decorrentes do excesso de peso. No restaurante
observou-se que alguns funcionários transportavam caldeirões de comida na cozinha e 41,18% dos
entrevistados não sentem incômodo, por não realizarem esforço com frequência, e uma minoria diz
sofrer com sudorese (11,76%).

Temperatura Ruído

41,18% 35,29% 35,29% 41,18%

11,76% 11,76%

35,29% 35,29%

Zunido
Int. na Comunicação
Cansaço Sudorese Desidratação Não sente Fadiga
Não sente

(a) (b)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Esforço Físico Fatores da Rotina de Trabalho


0,00% 29,41% 17,65%
11,76%
41,18% 41,18%

58,82%
52,94% 11,76%

Postura inadequada Mov. Repetitivo


Pegar peso Ficar em pé
Sudorese Dores Não sente Ferramentas em más cond. Excesso de horas de trabalho

(c) (d)
Figura 5 – (a) Incômodos identificados em relação à temperatura; (b) ao ruído; (c) ao esforço físico; (d)
Fatores que fazem parte da rotina de trabalho.

No RU os trabalhadores possuem atividades rotineiras que podem desencadear doenças que


afetam a saúde e o desempenho. Associadas a essas atividades quanto a rotina dos entrevistados
58,82% disseram ficar em pé por muito tempo, 41,18% afirmaram realizar movimentos repetitivos,
29,41% relataram excesso de trabalho, 17,65% ficam em postura inadequada ao desenvolver
algumas atividades e apenas 11,76% (2 pessoas) declararam pegar peso (Figura 5d). Nenhum dos
entrevistados indicou más condições dos equipamentos e utensílios utilizados. Esses fatores podem
desencadear dores, lesões por esforço repetitivo, estresse e fadiga.
Durante a jornada de trabalho, os funcionários tem uma hora de intervalo e no setor de
distribuição das refeições, após uma hora do início do almoço, eles realizam a troca do quadro de
pessoal neste local. Dessa forma, o desgaste por esforço repetitivo e problemas como dores
ocasionadas pela má postura são atenuados. No caso das tarefas que exigem longo tempo em pé,
pode-se tomar como medida de prevenção intercalá-las com tarefas que possam ser executadas na
posição sentada ou andando, a fim de evitar a fadiga na coluna e pernas.
Os níveis de ruídos contínuos encontrados nos setores do restaurante variaram entre 75,7 e
96,3 dB e os de ruído de impacto no setor de higienização, entre 97 e 98,7 dB. Para o setor de
distribuição, onde a medição foi realizada em dois pontos, valores superiores ao recomendado (com
oscilações) pela legislação foram observados a partir de 12h15min, horário de aumento do fluxo de
estudantes e início de entrega de bandejas (Figura 6a). Este último fator influencia no nível de ruído
no ambiente de distribuição devido ao fato de que ambos os ambientes (higienização e distribuição)
não são completamente isolados.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ponto 1 Ponto 2 Valor recomendado Higienização Valor recomendado


94
Distribuição Higienização
90 92

NPS (dB)
90
NPS (dB)

85
88
80
86

75 84
11:31 12:00 12:28 12:57 12:28 12:57 13:26 13:55 14:24
Hora Hora
(a) (b)

Pré-preparo Corte de carne Impacto na higienização


Produção Valor recomendado Recomendado
110 130

100 120
NPS (dB)

90
NPS(dB)
110

80 100

70 90

60 80
07:55 08:09 08:24 08:38 08:52 12:43 12:57 13:12 13:26 13:40 13:55
Hora Hora

(c) (d)
Figura 6 – Índices de ruído por setor avaliado: (a) setor de distribuição; (b) setor de higienização; (c) pré-
preparo e produção e (d) ruído de impacto no setor de higienização.

No setor de higienização a intensidade de ruídos manteve-se sempre acima do recomendado


no intervalo de medição utilizado (Figura 6b), esse fato ocorreu devido a maior manipulação e
higienização de utensílios (bandejas e talheres) utilizados no refeitório e fluxo de usuários. Neste
local os funcionários permanecem por cerca de duas horas e meia expostos. Embora este tempo
esteja dentro da máxima exposição diária permissível de três horas para um nível de ruído médio de
92 dB, segundo o anexo 1 da NR 15, de acordo com os funcionários causa grande desconforto.
Na Figura 6c encontra-se a intensidade de ruídos nos setores de pré-preparo (incluindo o
pré-preparo de carnes) e produção, observa-se os maiores níveis são no pré-preparo local onde
existe a utilização de maquinários como trituradores. Os níveis diminuem devido ao desligamento
dos equipamentos presentes neste local. Durante a realização da pesquisa verificou-se que estes
ambientes também não são completamente isolados o que explica o comportamento semelhante dos
níveis de pressão sonora nestes setores. Embora os dados mostrem que o nível apresenta-se acima
do permitido dentro do tempo estipulado na norma, de acordo com alguns funcionários os
equipamentos permanecem em funcionamento por até três horas a depender do tipo de alimento a

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 819


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ser processado. Em relação ao ruído de impacto, os níveis permaneceram abaixo dos 120 dB
recomendados. Apesar do incômodo relatado, foi observado que nenhum dos funcionários faz uso
de protetores auditivos embora os recebam, alegando desconforto em relação ao tipo de EPI (intra-
auricular).

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos foi possível identificar a necessidade de adequação da


estrutura física do RU, tendo em vista que os setores avaliados não são totalmente isolados,
facilitando a propagação do ruído. Dessa forma, recomenda-se a adequação das condições de
temperatura no setor de higienização.
Apesar de em alguns setores o nível de ruído se manter em certos momentos acima do
recomendado, o uso de protetores auditivos podem atenuar esse risco. Nesse sentido, aponta-se a
necessidade de conscientização dos profissionais quanto aos riscos aos quais estão expostos
diariamente, bem como de supervisão, quanto ao uso de EPIs e utilização de medidas que propiciem
melhor conforto no ambiente laboral de forma a garantir a saúde física e mental dos funcionários do
Restaurante Universitário da UFCG.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 822


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GESTÃO AMBIENTAL E O PROCESSO EDUCATIVO NÃO FORMAL: O CASO DOS


IMPACTOS AMBIENTAIS DO ÓLEO DE COZINHA EM SISTEMAS DE
ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Eduardo José Melo LINS


Engenheiro Civil e Licenciado em Matemática Universidade de Pernambuco UPE
eduardojmlins@hotmail.com
Josiane Maria de Santana Melo LINS
MSc. Universidade Católica de Pernambuco UNICAP
josianemlins@hotmail.com
Vanice Santiago Fragoso SELVA
Professora de Geografia - UFPE
vanice.ufpe@gmail.com

RESUMO
O óleo de cozinha usado consiste em um resíduo de considerável potencial de poluição do meio
ambiente. A educação não formal é uma importante ferramenta para a disseminação da educação
ambiental, principalmente nas classes de baixa renda. Os sistemas de esgotamento sanitário e o
meio ambiente como um todo são afetados pelo descarte do óleo de fritura na pia da cozinha, visto
que o citado resíduo aglutina os resíduos sólidos, os quais entopem e danificam a infraestrutura e os
equipamentos. Dados da ABIOVE (2017) apontam que na última década a produção brasileira
anual de óleo comestível foi de 2,56 bilhões de litros, sendo 1,28 bilhões de litros convertidos em
óleo de fritura a ser descartado no meio ambiente, dos quais apenas 3,0% são reciclados. Estudos
realizados no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul atestam que as classes sociais de maior renda
consomem menos óleo de cozinha, quando comparadas às classes de baixa renda, bem como que
esta é menos disposta a doar o óleo de cozinha usado para a reciclagem, tendo em vista que o
utilizam para a produção de sabão caseiro. O estudo também revela que de 90%- 92% do volume de
óleo vegetal é convertido em resíduo. Importantes ações de gestão e educação ambiental são
desenvolvidos no Brasil, a exemplo do Programa PROL da SABESP, do Projeto Biguá da CAESB,
do Projeto Biodiesel em Casa e nas Escolas da Prefeitura de Ribeirão Preto/SP e do Programa
Mundo Limpo, Vida Melhor da parceria ASA-COMPESA, os quais através da educação não formal
estimulam a reciclagem do óleo de fritura e diminuem os problemas de entupimento e aumento de
custos dos sistemas de esgoto. Do diagnóstico traçado é possível compreender que a educação
ambiental não formal é uma poderosa ferramenta para a conscientização ambiental, principalmente
das classes de menor renda, as quais produzem maior volume de resíduos e estão menos dispostas a
doarem o óleo de fritura para a reciclagem.
Palavras Chave: Óleo Vegetal, Educação Não Formal, Saneamento.
ABSTRACT
The used cooking oil consists of a residue of considerable potential for environmental pollution.
Non-formal education is an important tool for the dissemination of environmental education,
especially in low-income classes. Sanitary sewage systems and the environment as a whole are
affected by the disposal of the frying oil in the kitchen sink, as the residue agglutinates the solid
waste, which clogs and damages the infrastructure and equipment. Data from ABIOVE (2017) point
out that in the last decade the annual Brazilian production of edible oil was 2.56 billion liters, with
1.28 billion liters being converted to frying oil to be disposed of in the environment, of which only

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

3.0% Are recycled. Studies carried out in the Distrito Federal and Rio Grande do Sul state that
higher-income social classes consume less cooking oil when compared to low-income classes, as
well as being less willing to donate cooking oil used for recycling , Since they use it for the
production of homemade soap. The study also reveals that from 90% - 92% of the volume of
vegetable oil is converted to residue. Important environmental management and education actions
are being developed in Brazil, such as SABESP's PROL Program, CAESB's Biguá Project,
Biodiesel at Home Project and the City Hall of Ribeirão Preto/ SP and the Mundo Limpo Program,
ASA-COMPESA partnership, which through non-formal education stimulate the recycling of frying
oil and reduce the problems of clogging and increased costs of sewage systems. From the traced
diagnosis it is possible to understand that non-formal environmental education is a powerful tool for
environmental awareness, especially of the lower income classes, which produce more waste and
are less willing to donate the frying oil for recycling.
Keywords: Vegetable Oil, Non-Formal Education, Sanitation.

INTRODUÇÃO

A questão ambiental vem ganhando cada dia mais importância e atenção, com constantes
discussões no seio acadêmico, empresarial e social, e a consequente adoção de ações de educação,
gestão e mitigação de danos ambientais imprevisíveis ou de difícil previsão e, é por meio destas
discussões que se consegue chegar à sensibilização das pessoas para que, em conjunto com outras
ações, possa manter o meio ambiente de forma equilibrada e permita entender melhor o
funcionamento e, assim, construir a ideia de que se pode conviver com o meio ambiente sem agredi-
lo (SILVA, 2013).
O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 estabelece que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Pode Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações, ou seja, a Carta Magna brasileira deixa claro que a responsabilidade de
cuidar do meio ambiente é de todos e não apenas dos órgãos públicos ou privados, mas também da
sociedade como um todo (MONTE et al., 2015). De acordo com o artigo 2º da Lei n. º 9.795/1999
que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), a Educação Ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.
Segundo (GOHN, 2009), a educação não formal consiste em um processo com várias
dimensões, a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, a capacitação
dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de
potencialidades, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se
organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos
cotidianos, a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do
mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor. A educação não formal é

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

uma área que o senso comum e a sociedade em geral usualmente não vêem e não tratam como
educação porque não são processos escolarizáveis, contudo a mesma consiste em uma área
educacional ímpar, frente ao alto potencial de alcance e impacto social (GOHN, 2009) para os
incontáveis problemas que afetam o ambiente nas suas diferentes dimensões, resultantes de práticas
inadequadas desenvolvidas nos setores econômicos e mesmo em residências a exemplo do descarte
de resíduos gerados diariamente.
O Óleo de Fritura Residual (OFR) é parte de um dos resíduos gerados diariamente em
domicílios, comércios e indústrias. A eliminação descontrolada de resíduos de óleos de fritura em
sumidouros ou jogados diretamente em recursos hídricos acarreta uma série de danos ambientais,
tais como a obstrução de tubos em sistemas de esgotamento sanitário, o aumento de custos dos
processos de tratamento de águas residuais, além do aumento da poluição ambiental. O
recolhimento e a reutilização destes óleos usados impede a sua eliminação inadequada e traz
benefícios para o meio ambiente. De acordo com a Resolução 357/2005 do CONAMA, a água
integra as preocupações do desenvolvimento sustentável, baseado no princípio da função ecológica
da propriedade, da prevenção, da precaução, do poluidor pagador, do usuário-pagador e da
integração, bem como do reconhecimento do valor intrínseco à natureza (LINS, 2017).
O presente artigo tem como objetivo apresentar um diagnóstico do cenário brasileiro relativo
aos impactos ambientais provocados pelo inadequado manejo do óleo de fritura residual (óleo de
cozinha) estabelecendo uma relação com a educação ambiental. No diagnóstico é apontada a
contaminação dos recursos hídricos por tal resíduo, em particular os impactos ambientais que
afetam os sistemas de esgotamento sanitário, como também as ações governamentais e sociais
existentes no campo da gestão e da educação ambiental não formal, bem como da importância da
educação ambiental não formal no processo de conscientização ambiental do cidadão comum. A
partir das reflexões aqui propostas espera-se que seja um ponto de partida para o delineamento de
políticas de educação ambiental voltadas para a educação não formal e para a conscientização de
que o óleo de fritura residual afeta e aumenta o preço dos serviços de esgotamento sanitário, bem
como que o citado óleo pode ter um aproveitamento sustentável.
Para produção do presente trabalho foram realizadas consultas a artigos científicos e
periódicos selecionados através de buscas no banco de dados do Google Scholar, Scielo e Portal de
Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/ Ministério
da Educação (MEC), bem como pesquisas sobre as legislações atinentes ao óleo residual nos portais
do governo Federal, pesquisa documental em relatórios de companhias de saneamento brasileiras
relativa à educação ambiental e gestão pública e privada do óleo de cozinha usado e dados
estatísticos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (ABIOVE).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O ÓLEO DE COZINHA E OS SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Conhecido também como óleo alimentar usado, o óleo de cozinha saturado é utilizado em
processos de frituras de alimentos em residências, restaurantes, lanchonetes e cozinhas industriais
deriva essencialmente do uso de óleos de origem vegetal tais como o azeite, óleo de girassol, óleo
de soja, óleo de canola, dentre outros. O óleo de fritura residual ou simplesmente óleo de cozinha
usado apesar de em temperatura ambiente apresentar-se no estado líquido, ao entrar em contato com
a água nas redes de esgoto, se torna um resíduo sólido por conta das suas propriedades físico-
químicas, fato que inviabiliza o lançamento do mesmo nas citadas redes públicas de esgotamento
sanitário ou nos corpos d‘água, motivos pelos quais o enquadra na definição de resíduo sólido
(DIAS, 2013 apud DISCONZI, 2014). A Norma Brasileira NBR 10.004/04, que versa sobre a
classificação dos Resíduos Sólidos, fornece elementos que permitem a classificação dos resíduos
sólidos e por consequência subsidia a tomada de decisões para a mais adequada destinação dos
mesmos. No caso particular do óleo de fritura residual, a luz da citada NBR 10.004/04, o mesmo é
classificado como resíduo da Classe II A, ou seja, resíduo não perigoso e não inerte.
Segundo PITTA JÚNIOR et al. (2009) quando o óleo de cozinha usado é descartado
inadequadamente um grande impacto ambiental é verificado, visto que sobre a superfície dos corpos
hídricos há a tendência de formação de uma película que dificulta a entrada de luz e a troca de gases
da água com a atmosfera, ocasionando redução gradual da concentração de oxigênio na água e a
consequente mortandade de peixes e de outras criaturas que dependem do oxigênio para viver. O
óleo de cozinha saturado também contribui para o efeito estufa, uma vez que é liberado gás metano
durante o processo de decomposição do mesmo no solo. BOTTURA JR (2008) comenta que cada
litro de óleo descartado no meio ambiente pode contaminar até um milhão de litros d‘água. A citada
relação é contestada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP),
tendo em vista que o grau de contaminação depende da profundidade do corpo d‘água, a qual é
bastante variável e, portanto segundo a citada estatal a proporção de contaminação dos recursos
hídricos serve meramente para alertar que o volume de água contaminada pode ser muito grande. A
Resolução CONAMA 357/05 estabelece no artigo 34 que o limite de lançamento de óleos de graxas
de origem vegetal e animal corresponde a 50mg/l e a partir deste valor se obtém que cada litro do
óleo de fritura polui mais de 25.000 litros de água.
As obstruções das redes de esgotos estão associadas à propriedade aglutinante do óleo de
fritura oxidado, cujo mecanismo consiste na junção dos diversos resíduos sólidos que compõem o
esgoto urbano em um bloco rígido, resultando na obstrução da citada rede e na consequente
poluição do meio ambiente. Dentre os resíduos que são aglutinados pelo óleo de fritura oxidado
podem ser verificados os absorventes, pontas de cigarros, cotonetes, preservativos, fio dental,
cabelos, tecidos, dentre outros. É importante destacar que os trabalhos para as desobstruções das

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

redes de esgotamento sanitário são sobremaneira dificultadas pela presença de blocos rígidos
formados pelos resíduos sólidos aglutinados com óleo de cozinha oxidado (Figura 1).

Figura 1 – Dispositivos de entrada em sistema de esgotamento sanitários sujos - poços de visita; massa consistente de
sujeira e óleo; bomba submersa travada por conta do bloco sólidos-óleo (Fonte: SABESP, 2017)

De acordo com SANTOS (2012), os principais problemas levantados pelas grandes


companhias de saneamento básico do Brasil a respeito do descarte inadequado do óleo de cozinha
consistem: no entupimento das tubulações residenciais pelo óleo residual retido nas caixas de
gordura, formando uma graxa; no entupimento das redes, dutos e reservatórios de sistemas de
tratamento de esgotos; o óleo descartado pode atingir os recursos hídricos, formando uma lâmina
sobre os corpos d‘água, dificultando a entrada da luz e bloqueando a oxigenação da água e em razão
destes fatores ficam comprometidas a cadeia alimentar, a flora e a fauna aquática; o constante
descarte do óleo residual sobre o solo contribui para a impermeabilização do mesmo, e
consequentemente para a ocorrência de enchentes no período de chuvas intensas, tendo em vista
que quando em contato com o solo o óleo residual também entra em decomposição, causando mau
cheiro e promovendo a liberação de gás metano durante o processo de decomposição, fato este que
agrava o efeito estufa.
Segundo informações da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA) (2017), o
impacto negativo do descarte inadequado do óleo de cozinha usado na rede coletora de esgoto
consiste no desgaste dos equipamentos das estações de tratamento e da própria rede, a exemplo das
bombas das estações elevatórias e das tubulações, tendo em vista que o óleo de fritura promove a
formação de crostas, com a consequente obstrução das tubulações, extravasamentos e refluxos de
esgoto para o interior das residências, bem como mau cheiro e a atração de pragas causadoras de
doenças, a exemplo da leptospirose, cólera e hepatites.

CENÁRIO BRASILEIRO DA RECICLAGEM DO ÓLEO DE FRITURA

O óleo de fritura pode ser utilizado como matéria prima para a fabricação de sabão,
detergente, ração animal, glicerina, lubrificante para engrenagens, tintas, dentre outras aplicações,
porém é necessário que o citado resíduo tenha uma destinação adequada através da promoção de
iniciativas que visem a sua reciclagem e reutilização em maior escala, transformando a poluição e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

transtornos em potencial, em fontes de benefícios para a comunidade (PITTA JUNIOR et al. 2009
apud MONTE et al., 2015).
Segundo dados da ABIOVE na última década a produção média anual de óleo vegetal
comestível no Brasil foi de 2,56 bilhões de litros e cerca da metade da produção, 1,28 bilhões de
litros, foi convertida em óleo de fritura a ser descartado, no entanto conforme levantamento de 2009
da entidade Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) apenas 2,5% a 3,5% do óleo
vegetal comestível usado descartado é reciclado, o qual corresponde a cerca de 39 milhões de litros
ou 31.200 toneladas de óleo de fritura residual reciclado por ano (Figura 2).

Histórico da Produção x Descarte


3.500
3.130 3.158
2.932
3.000
2.747
2.594 2.653
2.557 2.562
Produção ( 1.000.000 litros )

2.500
2.138
1.969
2.000
1.736
1.565 1.579
1.466
1.500 1.297 1.327 1.374
1.279 1.281
1.069
985
1.000 868
Óleo Vegetal
Produzido
500
Óleo de Fritura
Descartado
0
Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura 2 – Histórico da produção brasileira de óleo vegetal comestível e respectiva quantidade óleo de fritura descartada
(Fonte: ABIOVE, 2017)

A. Reciclagem de óleo de cozinha no Distrito Federal:

De acordo com dados da pesquisa desenvolvida por SANTOS (2012) em domicílios urbanos
situados nas 26 Regiões Administrativas do Distrito Federal, a quantidade de óleo de cozinha usado
e potencialmente disponível para reciclagem corresponde a 92% do volume total de óleo vegetal
consumido. O estudo também traçou o perfil socioeconômico e socioambiental da população, no
qual ficou evidenciado que quanto maior a renda, menor é o consumo de óleo de cozinha e, quanto
menor a escolaridade, maior é a sobra de óleo usado, bem como que o grau de disposição para doar
o óleo de fritura para a reciclagem é maior nas famílias com maior renda familiar, uma vez que nas
famílias de mais baixa renda o citado resíduo é aproveitado para a fabricação do seu próprio sabão.
Quanto ao ator que deve ser responsável pela coleta do óleo usado, a população julgou que a mesma
deveria ser realizada por cooperativas (38%), pela Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal - CAESB (37%), pelo Instituto Brasília Ambiental - IBRAM (16%) e por outros
(9%), estando as cooperativas como líder de preferência pelo fato de estarem mais próximas das
comunidades. O citado estudo ainda aponta que a população amostral acredita que a implantação do

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serviço de coleta seletiva de óleo de cozinha usado deve existir acompanhada da reciclagem dos
citados resíduos, sendo vista como a principal medida para diminuir o impacto ambiental causado
pelo descarte do óleo de fritura na natureza.
No estudo desenvolvido por SANTOS (2002) foi identificado que grande parte da população
do Distrito Federal descarta o óleo residual na pia da cozinha, apesar de haver certo grau de
conscientização ambiental da sociedade local. Ainda de acordo com o citado autor, a disseminação
da informação sobre o descarte do óleo de cozinha usado necessita da educação ambiental não
formal da população por meio de campanhas educativas com o uso das escolas e dos veículos de
comunicação de massa (televisão, rádio, internet, etc.), de informe nas contas de água, de palestras e
outras ações que possibilitem o acesso à informação de maneira constante, uma vez que a
preparação dos alimentos e o consequente uso do óleo de cozinha são diários.

B. Reciclagem de óleo de cozinha no Rio Grande do Sul:

De acordo com dados da pesquisa desenvolvida por DISCONZI (2014) em domicílios


situados no município de Itaara, o qual está localizado ne região central do Estado do Rio Grande
do Sul, a utilização do óleo de cozinha é inversamente proporcional à renda familiar, ou seja,
quanto maior a renda da família, menor é a quantidade de óleo de cozinha consumido, bem como
que a maior quantidade de óleo residual potencialmente reciclável é verificada em domicílios com
menor nível de escolaridade. A quantidade de óleo de cozinha usado e potencialmente disponível
para reciclagem corresponde a 90% do volume total de óleo vegetal consumido. Quanto à
disposição em doar o óleo de cozinha usado, 72% dos entrevistados afirmaram que doariam o citado
resíduo para reciclagem por estarem preocupados com a preservação ambiental e para evitar a
poluição, a qual demonstra uma atitude positiva de não mais descartar o óleo de fritura na pia.
Quanto ao ator que deve ser responsável pela implantação de uma coleta seletiva para o óleo
de cozinha usado, a população julga que a implantação deve ser feita pela prefeitura ou através de
uma cooperativa. Em relação à disposição em doar o citado resíduo, 28% dos domicílios com
menor renda relataram que já aproveitam o óleo residual para a fabricação de sabão e comida
animal, consistindo em menor disposição para doar. Quanto ao destino do óleo de cozinha usado,
foi verificado que grande parte da população do município de Itaara o descartava em lugares
inadequados, embora houvesse certo grau de conscientização ambiental. Também foi constatado
que a população não tem conhecimento da intensidade do impacto ambiental causado pelo descarte
do óleo de cozinha no meio ambiente. A população declarou conhecer o aproveitamento do resíduo
para a produção de sabão, contudo poucos sabem da possibilidade de produção de biodiesel a partir
do óleo usado. Segundo DISCONZI (2014), a falta de disseminação do conhecimento e o baixo
nível de escolaridade da população brasileira em geral, se tornam responsáveis por ações ambientais

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incorretas, não só relativo ao óleo de fritura residual, mas a diversas práticas, como o desperdício de
água, a disposição de resíduos sólidos no meio ambiente, dentre outros. A citada autora também
afirma que a inexistência de legislação específica sobre a coleta de óleos e gorduras vegetais
aumenta a importância da implementação de ações estruturadas para a promoção da sensibilização
da população sobre a importância da coleta seletiva e da reciclagem do óleo de cozinha.

AÇÕES GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NÃO


FORMAL

Segundo Gonh (2009) os Projetos Sociais Educativos desenvolvidos junto às comunidades


de baixa renda se configuram em uma área de prática educativa, mais precisamente da educação não
formal. Os citados Projetos Sociais não são vistos ou tratados como objeto de estudo na área de
educação. As práticas de educação não formal se desenvolvem usualmente extramuros escolares,
nas organizações sociais, nos movimentos, nos programas de formação sobre direitos humanos e
ambientais, dentre outros. A educação não formal é uma área carente de pesquisa científica. A
mesma não deve ser vista como algum tipo de proposta contra ou alternativa à educação formal
escolar, mas antes como uma importante ferramenta de ensino e formação com a aprendizagem de
saberes para a vida em sociedade e para a construção de uma consciência da importância da
preservação do meio ambiental de maneira sustentável. Importante ator na implementação dos
Projetos Sociais Educativos é o Educador Social, o qual em suas atividades educacionais deve
buscar desenhar cenários futuros, visto que os diagnósticos são importantes para a localização do
presente, bem como servem para estimular imagens e representações sobre o futuro que se almeja.
De acordo com SANTOS (2012), dentre as ações que vem ganhando espaço nas políticas
públicas para a educação e gestão ambiental relacionada aos resíduos de óleo de fritura está a
reciclagem, tendo em vista a crescente preocupação com o significativo volume de resíduos gerados
nos grandes centros urbanos. É preciso buscar alternativas ambientais por meio da reciclagem de
resíduos considerados potencialmente reaproveitáveis para a fabricação de novos produtos, dentre
os quais está o óleo de fritura, que pode ser reciclado para a produção de produtos de limpeza
(sabão, detergente, etc.), bem como para a produção de biodiesel. A Educação Ambiental no
processo de reciclagem do óleo de fritura residual se faz extremamente necessária, pois sem a
participação da população, o processo de descarte correto do citado resíduo não é possível de ser
realizado. Com a Educação Ambiental é possível levar às comunidades informações e
esclarecimentos sobre a importância de dar o destino correto ao óleo que é descartado de frituras em
restaurantes e residências, minimizando os efeitos do descarte incorreto do resíduo e evitando a
poluição ambiental. O desenvolvimento de ações socioambientais está intimamente ligado à

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

educação não formal que se inicia na família, aprimorada pela educação formal na escola e colocada
em prática na comunidade através de ações e atitudes (SILVA, 2013).
A seguir são apresentados quatro programa/projetos do Poder Público e da iniciativa privada
para a educação ambiental e reciclagem do óleo de cozinha:

i. Programa de Reciclagem do Óleo de Fritura SABESP – PROL:

Uma interessante ação de coleta e reciclagem de óleo de fritura é desenvolvida desde


meados da década de 2.000 pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(SABESP), através do Programa de Reciclagem do Óleo de Fritura SABESP - PROL, o qual foi
idealizado para fomentar a reciclagem do óleo de fritura através de parcerias com a sociedade civil
organizada.
Dentre os diversos projetos que integram o Programa PROL da SABESP, merece destaque o
projeto sobre a reciclagem de óleo de fritura apresentado na 2ª Audiência de Sustentabilidade
organizada pela SABESP em dezembro de 2007. Desenvolvido em uma parceria com a Sociedade
de Amigos do Bairro de Cerqueira Cesar e com a Organização Não Governamental Trevo, o mesmo
representou uma campanha pioneira na cidade de São Paulo para a coleta do óleo de fritura em uma
área piloto, no quadrilátero formado pelas Av. Brigadeiro Luís Antônio, Rua Estados Unidos, Rua
da Consolação e Av. 23 de Maio, a qual teve como foco os condomínios residenciais e cujos
resultados foram monitorados com uso de georefenciamento, através do acompanhamento do
impacto alcançado relativo à quantidade de serviços de desobstruções da rede de esgotamento
sanitário na região situada dentro do perímetro do projeto. A iniciativa consistiu no estoque do óleo
de fritura pelos condomínios em recipientes plásticos do tipo bombona, com capacidade útil de 50
litros, os quais foram mantidos no pavimento de garagem do condomínio e posteriormente
coletados e reciclados, bem como na distribuição pela SABESP de um folheto
informativo/educativo junto com as faturas mensais, convocando os clientes a aderirem ao
mencionado projeto. O fornecimento das bombonas, bem como a coleta e reciclagem do óleo de
fritura ficou sob a responsabilidade da ONG Trevo, especializada na coleta e beneficiamento do
citado resíduo. Segundo dados da SABESP a iniciativa proporcionou a adesão inédita de 1.500 dos
1.600 condomínios residenciais da área piloto do projeto, onde há 11.500 ligações ativas de água e
esgoto e uma população de 139.000 pessoas, conforme dados do Censo Demográfico de 2.000
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O projeto resultou numa
significativa diminuição na quantidade de serviços de desobstrução da rede de esgotamento
sanitário na citada região da capital paulista.

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ii. Projeto Biguá – CAESB:

Outro bom exemplo é o Projeto Biguá desenvolvido pela Companhia de Saneamento


Ambiental do Distrito Federal (CAESB), o qual é composto de várias ações de proteção ambiental e
de inclusão social, cujo objetivo é mobilizar as comunidades de baixa renda para atividades
voltadas para a reciclagem de resíduos, dentre os quais os óleos graxos que são lançados
diretamente nas redes de esgotos a serem tratados, possibilitando o controle de contaminação e
maior eficiência das Estações de Tratamento de Esgoto (SANTOS, 2012).

iii. Biodiesel em Casa e nas Escolas – Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto:

A Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto em parceria com a Universidade de São Paulo


(USP) também desenvolve desde 2.004 um projeto para a reciclagem do óleo de fritura, o qual é
intitulado ―Biodiesel em Casa e nas Escolas‖, com a promoção de ações para o incentivo à coleta do
óleo usado pelas comunidades, através da entrega nas escolas ou em postos de troca do óleo de
fritura produzido nos domicílios, ações de educação ambiental para conscientização das
comunidades em relação à viabilidade do uso do óleo de cozinha usado para produção de
biocombustível, bem como de ações para a preservação ambiental e mudança de comportamento
social através da sensibilização das famílias e estudantes com o uso de folhetos, cartilhas e palestras
realizadas em escolas e locais públicos.

iv. Programa Mundo Limpo, Vida Melhor - ASA-COMPESA:

O Programa Mundo Limpo, Vida Melhor promovido pela pernambucana ASA Indústria e
Comércio em parceria com a Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA) desde 2008 é
um excelente exemplo de parceria entre a iniciativa privada e o Poder Público, através do qual é
viabilizada a coleta seletiva e reaproveitamento do óleo de cozinha utilizado. Segundo dados da
COMPESA a parceria já atuou em 47 municípios de Pernambuco com a promoção de educação
socioambiental em 350 escolas e reciclou 5,5 milhões de litros de óleo, o que representa uma
proteção ambiental de 100 bilhões de litros de água. O mencionado Programa Mundo Limpo, Vida
Melhor conta com 26 pontos de coleta nas lojas da COMPESA situadas na Região Metropolitana do
Recife, Zona da Mata e Agreste de Pernambuco, bem como 500 pontos de entrega voluntária
implantados em estabelecimentos de ensino e comerciais, organizações privadas e governamentais,
no qual a população deposita o óleo usado armazenado em garrafas, o qual é posteriormente
coletado pela ASA e incorporado em seus processos produtivos como matéria prima graxa para a
fabricação de sabão em barras.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do diagnóstico traçado é possível compreender que a educação ambiental não formal é uma
poderosa ferramenta para a disseminação da educação e conscientização ambiental, principalmente
das classes de menor renda, as quais produzem maior volume de resíduos e estão menos dispostas a
doarem o óleo de fritura para a reciclagem.
O Programa PROL da SABESP, o Projeto Biguá da CAESB, o Projeto Biodiesel em Casa e
nas Escolas da Prefeitura de Ribeirão Preto/SP e o Programa Mundo Limpo, Vida Melhor da
parceria ASA-COMPESA apontam que através da educação não formal é possível estimular a
reciclagem do óleo de cozinha usado, fruto da conscientização da importância da ação de cada
cidadão em prol de um meio ambiente saudável, com a consequente diminuição da quantidade do
citado resíduo descartado de maneira incorreta, bem como da diminuição dos problemas de
entupimento dos sistemas de esgotamento sanitário.
Dados estatísticos da ABIOVE demonstram que o consumo e descarte de óleo vegetal no
Brasil continuará a crescer, portanto as ações integradas de gestão, educação ambiental não formal e
formal promovidas pelo Poder Público em conjunto com a iniciativa privada podem proporcionar a
diminuição do óleo de cozinha usado descartado no meio ambiente e por consequência diminuir os
custos com a operação dos sistemas de esgotamento sanitário.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

Lei n. º 9.795, de 27 de abril de 1999. Instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 de abril de 1999.

Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais - ABIOVE. Balanço Mensal de Oferta e
Demanda do Complexo Soja. Estatísticas mensais do complexo soja com dados atualizados até
junho de 2017 e projeções anuais. São Paulo - SP. 04 de agosto de 2017.

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Programa de Reciclagem de


Óleo de Fritura da SABESP – PROL. Disponível em:
http://site.sabesp.com.br/uploads/file/asabesp_doctos/programa_reciclagem_oleo_completo.pdf

Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA). Compesa amplia parceria com a ASA


para coleta de óleo de cozinha. 22 de março de 2017. Acesso em:
http://servicos.compesa.com.br/compesa-amplia-parceria-com-a-asa-para-coleta-de-oleo-de-
cozinha/

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MONTE, E.F.; FAGUNDES, T.C.; XIMENES, A.F.; MOURA, F.S.; COSTA, A.R.S. Impacto
ambiental causado pelo descarte de óleo: Estudo de caso de percepção dos moradores de
Maranguape I, Paulista – PE. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de
Tecnologia Rural. GEAMA. Recife – PE. 2015.

SILVA, C.L.W. Óleo de cozinha usado como ferramenta de educação ambiental para alunos do
ensino médio. Monografia de Especialização. Universidade Federal de Santa Maria. Centro de
Ciências Rurais. Santa Maria – RS. 2013

SANTOS, D.V. Disponibilidade e potencial de recolhimento de óleo de cozinha usado domiciliar


no Distrito Federal: uma avaliação da situação atual e perspectivas para um aproveitamento
socioambiental e sustentável. Dissertação de Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental.
Universidade Católica de Brasília. Brasília - DF. 2012.

LINS, J.M.S.M. Otimização do Tratamento de Águas Oleosas com Alto Grau de Emulsificação
Utilizando Biossurfactante e FAD. Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento de Processos
Ambientais. UNICAP. Recife-PE, 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ESTUDO DE CASO: ANÁLISE AMBIENTAL DA IMPLANTAÇÃO DE


ABATEDOURO NO MUNICIPIO DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN

Espedito de Lima CARVALHO SEGUNDO


Biólogo
espedito_19@hotmail.com
Sílvio Petronilo de Medeiros GALVÃO
Tecnólogo em Gestão Ambiental
silvio_galvão@hotmail.com
Pedro Henrique Godeiro de LIMA
Geógrafo
pedrolima194@gmail.com
Ridon Dantas BORGES FILHO
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária
ridodantas@gmail.com

RESUMO
Este trabalho relata o estudo de caso para análise das alternativas locacionais para futura
implantação de um empreendimento de suporte a agroindústria local denominado de Abatedouro
Público, com vista a uma breve análise dos impactos ambientais e infraestrutura que necessitam
para a viabilidade de tal atividade. Foram analisadas 3 (três) áreas no município, o qual estas estão
inseridas em área de dunas, planície fluvial e tabuleiros. Através das observações in loco e
fotointerpretação do mapeamento em software SIG - Sistema de Informação Geográfica, elaborado
da integração das características ambientais das áreas de interesse (relevo, vegetação, solos e
hidrografia), foi possível determinar a melhor área para implantação de tal empreendimento.
Palavras-chaves: Viabilidade ambiental, impacto ambiental, abatedouro público.
ABSTRACT
This paper reports the case study for the analysis of locational alternatives for future
implementation of a local agroindustry support project called Public Abattoir, with a view to a brief
analysis of the environmental impacts and infrastructure that they need for the feasibility of such
activity. Three (3) areas were analyzed in the municipality, which are inserted in an area of dunes,
fluvial plain and trays. Through the in situ observations and photointerpretation of the mapping in
GIS software - Geographic Information System, elaborated of the integration of the environmental
characteristics of the areas of interest (relief, vegetation, soils and hydrography), it was possible to
determine the best area for implementation of such an enterprise.
Keywords: Environmental viability, environmental impact, public slaughterhouse.

INTRODUÇÃO

Desde o inicio do mundo globalizado a figura do homem altera o espaço geográfico com
suas relações voltadas ao meio ambiente. Porém, as práticas que seriam para a existência humana
passam a ter outras relações no território. Com o advento da modernização e da tecnologia, cada vez

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

mais o homem capitaneado pelo sistema de acumulação, busca sem precedentes exploração dos
recursos naturais, causando impactos.
O crescimento populacional faz aumentar a demanda por produtos e serviços, que por sua
vez, potencializaram a geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos. Nessa perspectiva, os
abatedouros são geradores de efluentes e de resíduos de grande potencial poluidor. O problemas
ambientais gerados por tal atividade estão relacionados com os seus despejos ou resíduos oriundos
de diversas etapas do processamento industrial, o qual os principais impactos negativos são:
geração de efluentes líquidos que podem provocar contaminação dos solos e das águas superficiais
e subterrâneas, além do odor da decomposição do material orgânico.
O conceito de impacto ambiental, abrange várias áreas, mas que propõem unicamente os
traumas referentes a natureza, através de um conjunto de ações antrópicas causando danos e
alterações ao meio ambiente.
Considerando a importância de conhecer e buscar medidas para um desenvolvimento
sustentável, a proposta do presente estudo é à análise das alternativas locacionais para futura
implantação de um empreendimento de suporte a agroindústria local denominado de Abatedouro
Público, com vista a uma breve análise dos impactos ambientais e infraestrutura que necessitam
para a viabilidade de tal atividade. Com isso, para alcançar tal finalidade, foi preciso analisar os
principais aspectos relacionados ao uso e ocupação do solo da área do empreendimento; caracterizar
o quadro natural da área de estudo quanto aos elementos: geológicos, geomorfológicos, e biótico;
identificar áreas de restrição ambiental e/ou ambientalmente sensíveis, dentro da área de influência
direta do empreendimento e identificar e propor o espaço geográfico mais adequada para
implantação do empreendimento considerando a legislação vigente.
O empreendimento será situado no município de São Gonçalo do Amarante, Estado do Rio
Grande do Norte. O principal acesso as alternativas locacionais se dá pela rodovia BR-101 (área 01)
e RN-160 (área 02 e 03). A seguir temos o mapa de localização da área do empreendimento
partindo como ponto de referência o centro do Município de São Gonçalo do Amarante.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

03 02

01

Figura 1: Mapa de Localização das Alternativas Locacionais. Fonte: SEMURB, 2017.

A metodologia do trabalho consistiu na revisão bibliográfica, com leitura de livros, artigos


científicos e documentos oficiais do assunto abordado.
Após essa revisão, foram realizadas visitas in loco, procedimento fundamental para o
reconhecimento das áreas propostas. Durante as visitas, foi possível fotografar pontos das três áreas
de estudo e os arredores e foi de suma importância para identificação de solo, geomorfologia,
vegetação e hidrografia.
Com essas informações organizadas, foi possível elaborar mapas referentes à localização,
identificando principalmente as áreas de estudo, o zoneamento geomorfológico e ambiental. O
mapeamento, bem como o layout final do mapa de localização foram elaborados por meio de um
software SIG - Sistema de Informação Geográfica, no caso, a versão 10.3 do ArcGIS (ESRI ©).

DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS

Área 01 – Loteamento Água das Fontes (Bairro Jardins)

A área 01 está localizada no Bairro Jardins, dentro do loteamento Águas das Fontes, inserida
na Zona de Expansão Urbana - ZEU do município. De acordo com o banco de dados do IDEMA
(2006) e observações em campo, área em questão é caracterizada geomorfologicamente como
―Campo de Dunas com vegetação formando as dunas fixas‖ de constituição de areias quartzosas,

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imobilizadas sob a cobertura vegetal, elevam-se aproximadamente até 29 metros de atura, com a
formação de corredores interdunares. São excelentes reservatórios de água doce, sobretudo para a
recarga dos aquíferos, uma vez que as águas pluviais que penetram no solo acumulam-se
facilmente. Porosidade e permeabilidade altas permitem os usos dessas áreas como reservatórios
naturais de recursos hídricos para a manutenção do meio natural e demais necessidades da
população; entretanto, esse tipo de solo torna-as extremamente frágeis em áreas de adensamento
urbano (NUNES, 2009).
Durante vistoria realizada in loco no dia 25 de janeiro de 2017 foi observado a presença de
lagoas e corredores interdunares com a vegetação primitiva de restinga (nativa) em bom estado de
conservação.

Figura 2: Dunas localizada dentro da área proposta para implantação do empreendimento. Fonte: SEMURB,
2017.

Em relação a implantação de um matadouro na área em questão, definimos que para tal tipo
de atividade, o local se classifica como inadequada por possuir predominantemente coberturas de
alteração arenosas e com o lençol freático mais superficial, ocorrendo periodicamente a formação
de lagoas temporárias, sendo imprópria para deposição de rejeitos sólidos e efluentes líquidos,
principais aspectos ambientais oriundos da atividade, acarretando em impactos ambientais de
natureza negativa. As dunas são consideradas Áreas de Preservação Permanente - APP, protegidas
nos termos dos arts. 2º e 3º do Código Florestal brasileiro e definidas segundo a Resolução nº 303
do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, cobertas ou não por vegetação nativa, com
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas. Nessas áreas, não se pode fazer a retirada da cobertura vegetal original,
permitindo, assim, que ela possa exercer, em plenitude, suas funções ambientais.
Utilizando-se de valores de cotas numéricas das curvas de nível obtidos por levantamento
topográfico do Governo do estado do Rio Grande do Norte elaboradas no ano de 2006 (Projeto Polo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Costa das Dunas), foi criado um modelo digital do terreno (figura 02) como subsídio à identificação
das dunas que se encontram na altitude de 10 até 29 metros do nível do mar.

Figura 3: Modelo Digital do Terreno, Área 01. Fonte: SEMURB, 2017.

Área 02 – Comunidade de Coqueiros

A área 02 está localizada a Oeste da Comunidade de Coqueiros a qual é confrontante com o


limite do terreno aonde pretende-se instalar o Matadouro. O imóvel está localizado entre as Zonas
de Expansão Urbana, Rural e Área Especial de Interesse Agrofamiliar e Segurança Alimentar de
acordo com a lei Complementar nº 049/2009 qual institui o Plano Diretor do município.
Em um breve histórico é possível observar que a Área 02 sofreu durante vários anos a
extração irregular de areia, deixando assim o imóvel com um passivo ambiental sobre tal atividade,
situação essa que acabou rebaixando o relevo de parte do terreno ficando mais próximo o lençol
freático da superfície, o qual aflora e alaga em alguns locais.
Através de vistoria técnica e interpretação em tela das imagens de satélites foi possível
constatar vários pontos alagados devido a extração irregular de área. Foi utilizado também o
Sistema de Informação Geográfica – SIG do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio
Ambiente – IDEMA (banco de dados de 2006), onde foi inserido a base de dados referente a
Geomorfologia da área sendo classificada como área Planície de Inundação fluvial, situação essa
que inviabiliza a implantação do empreendimento na poligonal desejada, quanto a sua futura
operação e aspectos ambientais, o que comprometeria a execução da drenagem, esgotamento
sanitário, resíduos sólidos, implantação de acessos etc.
Quanto a Infraestrutura local, o acesso é realizado através de estrada de barro, conta ainda
com abastecimento de água, iluminação pública, telefonia móvel e fixa, coleta de lixo. A poligonal

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da área está localizada a aproximadamente 2.6km em linha reta do centro de São Gonçalo do
Amarante.

Comunidade
de Coqueiros

Figura 4: Mapa Geomorfológico da Área 02. Fonte: SEMURB, 2017.

Área 03 – Comunidade De Utinga

A área 03 está localizada a aproximadamente 700m da Comunidade de Utinga e 13km do


Centro de São Gonçalo do Amarante, sendo confrontante a Norte um acampamento do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Em vistoria realizada na área e através da obtenção de
dados de satélites foi possível observar e constatar que o terreno proposto é bastante plano, com
uma inclinação média de 0,3%, onde a sua altura a nível do mar varia entre 36m a 35,40m.
A vegetação da área encontra-se bastante antropizada devido a extração ilegal de madeira,
produção de carvão e cultivo de monoculturas. O bioma local apresenta espécies de mata atlântica e
caatinga (área transicional) sendo a espécie de maior predominância a jurema preta, Catanduva e
embaúba, o qual são indicadores de vegetação secundaria o que traduz que a área foi recentemente
perturbada.

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Figura 5: Vegetação Localizada na Área 03. Fonte: SEMURB, 2017.

A geomorfologia local é constituída por formas tabulares com vegetação cobrindo os


tabuleiros, e algumas ocupações com características rurais as quais desenvolvem o plantio de milho,
caju, mandioca, manga e outras espécies frutíferas.

Figura 6: Mapa Geomorfológico da Área 03. Fonte: SEMURB, 2017.

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Referente a hidrografia da área, a gleba não possui recursos hídricos superficiais, nem áreas
ambientalmente sensíveis, o recurso hídrico mais próximo está localizado a 700m de distância, onde
faz parte da bacia hidrográfica do Rio Potengi. A área e bastante favorável para implantação do
empreendimento não possuindo assim nenhuma restrição do ponto de vista ambiental.

CONSIDERAÇÕES

Através das observações in loco e fotointerpretação do mapeamento elaborado da integração


das características ambientais das áreas de interesse (relevo, vegetação, solos e hidrografia),
permitiram a realização de uma análise que teve por finalidade indicar a área ambientalmente viável
e com uso adequado para a atividade.
Por fim, no que concerne às alternativas locacionais sugeridas para futura implantação do
empreendimento, temos a Área 03 localizada em na comunidade de Utinga, como sendo a mais
favorável e adequada para tal finalidade, tanto do ponto de vista geoambiental, pois a área possui
características físicas e bióticas que comportam a atividade e quanto à legislação ambiental vigente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução 303, de 20 de março de 2002. Dispõe
sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios
artificiais e o regime de uso do entorno. Diário Oficial da União, Brasília, 13 mai. 2002.

BRASIL. Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências.

Lei Complementar n° 049 de 2009: institui o Plano de Diretor do Município de São Gonçalo do
Amarante/RN.

NUNES, Elias. O Meio Ambiente da Grande Natal. 2 ed. rev. atual. e ampl. Natal: Elias Nunes,
2009, 188 p.

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OS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS CAUSADOS PELA A INDÚSTRIA


EXTRATIVA MINERAL DO PÓLO GESSEIRO DO ARARIPE

Fábio Pereira Batista de LIMA


Estudante da Especialização no Ensino de Química e Biologia – URCA
fabio.pereira.bdl@gmail.com

RESUMO
No Brasil existem minas de gipsita em oito estados brasileiros. Do ponto de vista econômico pode-
se destacar o Estado de Pernambuco, e especificamente as cidades de Araripina, Trindade, Ouricuri,
Ipubi, e Bodocó, denominadas em consumo como ―Pólo Gesseiro do Araripe‖. Esta região
apresenta grande importância na produção deste mineral dada as vantagens comparativas com
outras regiões também produtoras de gipsita. O minério da região do Araripe é considerado o de
melhor qualidade no mundo, apresentando um teor que varia de 88% a 98% de pureza. Nesse
minério, observa-se a ocorrência de diferentes variedades mineralógicas de gipsita. A área de estudo
situa-se no denominado Pólo Gesseiro do Araripe, oeste do Estado de Pernambuco, Nordeste do
Brasil. O presente artigo analisa os problemas referentes à exploração da gipsita na Região do Pólo
Gesseiro do Araripe, explanando seu modo de produção e suas implicações no meio ambiente
(físico e sócio-econômico). A metodologia empregada para a realização da pesquisa foram estudos
de cunho bibliográfico, onde foram consultados os principais trabalhos realizados sobre o tema na
região do Araripe. Observa-se que a mineração de gipsita vem provocando desmatamentos,
queimadas, erosão dos solos, assoreamento e alteração dos recursos hídricos da região em analise.
Palavras-chave: Implicações Ambientais, Gipsita, Mineração
ABSTRACT
In Brazil there are gypsum mines in eight Brazilian states. From the economic standpoint it can be
highlighted the state of Pernambuco, and specifically the towns of AraripinaFutebol, Trindade,
Ouricuri, Ipubi, and Bodocó, named in consumption as "Polo student do Araripe". This region
presents great importance in the production of this mineral given the comparative advantages to
other regions also producing gypsum. In this ore, the occurrence of different varieties mineralogical
of gypsum is observed. The area of study is located in the so-called pole student do Araripe, west of
the state of Pernambuco, northeast of Brazil. This article analyses the problems pertaining to the
exploitation of gypsum in the region of the student do Araripe, by explanation of its production
mode and its implications in the environment (physical and socio-economic). The methodology
employed for conducting the research were bibliographical studies, where the main work carried out
on the topic in the Araripe region were consulted. It is observed that gypsum mining has been
causing deforestation, burnt, soil erosion, silting and alteration of the region's water resources in
analysis.
Keywords:Environmental implications, gypsum, mining

INTRODUÇÃO

No Brasil existem minas de gipsita em oito estados da Federação, porém do ponto de vista
econômico as principais jazidas estão localizadas na bacia sedimentar do Araripe, que fica
localizada no epicentro do semi-árido nordestino à 690 Km da capital pernambucana ocupando

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8%do território do Estado de Pernambuco. Denomina esta área de Pólo Gesseiro e nele estão as
cidades de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade e que em aproximadamente 230
habitantes (Anuário de Mineração brasileiro, 2000).
O sulfato de cálcio ocorre na natureza, principalmente, sob as formas de anidrita (CaSO4) e
gipsita (CaSO4 . 2 H2O). Essas espécies minerais são encontradas em depósitos evaporíticos
originados de antigos oceanos. A formação geológica desses depósitos é explicada pela ocorrência
de precipitação, seguida de evaporação e, consequente, concentração dos sais (Jorgensen, 1994).
Enquanto a anidrita desperta pouco interesse econômico (Kebel, 1994), a gipsita apresenta
uma grande diversidade de opções de aproveitamento industrial, podendo ser utilizada na forma
natural ou calcinada. A forma natural da gipsita é amplamente utilizada na fabricação de cimento
portland e na agricultura. Na indústria cimenteira a gipsita é adicionada ao clínquer durante a
moagem, na proporção de 2% a 5%, para retardar o tempo de pega do cimento. Na agricultura, a
gipsita pode atuar como: (1) agente corretivo de solos ácidos, como fonte de cálcio; (2) como
fertilizante em culturas específicas como amendoim, batatas, legumes e algodão e (3) como
condicionador de solos, aumentando a permeabilidade, a aeração, a drenagem, a penetração e
retenção da água (Velho, et. al., 1998).
O minério da região do Araripe é considerado o de melhor qualidade no mundo,
apresentando um teor que varia de 88% a 98% de pureza. Nesse minério, observa-se a ocorrência de
diferentes variedades mineralógicas de gipsita, conhecidas na região com os nomes de: cocadinha,
rapadura, pedra Johnson, estrelinha, alabastro e selenita, além da anidrita. A utilização de cada uma
dessas variedades depende da utilização industrial a que se destina (Baltaret al., 2004)
Atualmente, os maiores produtores mundiais de gipsita são: Estados Unidos da América
(17%), Irã (10%), Canadá (8%), México (7%) e a Espanha (6,8%). O Brasil possui a maior reserva
mundial, mas só representa 1,4% da produção mundial (Lyra Sobrinho et al, 2004).
Sendo um material de baixo valor unitário cujo emprego industrial implica no manuseio de
grandes quantidades e existente em muitos países do mundo, o comércio internacional de gipsita
guarda certas peculiaridades em virtude das quais menos de 20% da produção mundial entram em
transações internacionais (Balaziket alii, 1998.).
O minério gipsífero do Pólo Gesseiro do Araripe classifica-se, grosso modo, como de
excelente qualidade industrial, em face de uma consistente concentração de sulfatos, da ordem de
90 a 95%, enquanto as impurezas de origem terrígena se apresentam em quantidades desprezíveis,
raras vezes ultrapassando a 0,5% da rocha total. Embora nesse minério a gipsita seja predominante,
também se fazem presentes quantidades subordinadas de anidrita, em geral de 4 a 7% mas podendo,
às vezes, chegar até 14% (Menor, 1995).

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Com esta revisão objetivou-se analisar os problemas referentes à exploração da gipsita na


Região do Pólo Gesseiro do Araripe, explanando seu atual modo de produção e suas implicações no
meio ambiente (físico e sócio-econômico).

METODOLOGIA

A área estudada localiza-se no sertão nordestino, Oeste do Estado de Pernambucoe


compreende os municípios que constituem o Pólo Gesseiro do Araripe, com latitudes aproximadas
que vão de 7°10‘ a 7°48‘ S e longitudes de 39°47‘ a 40°38‘ W.
As áreas de exploração de gipsita situam-se em dois trechos principais: a) Trindade-Ipubi-
Bodocó-Ouricuri: faixa que se estende de NE a SW; e b) Araripina: faixa descontínua ao sul e
sudoeste do município.
A metodologia empregada para a realização da pesquisa foram estudos de cunho
bibliográfico, onde foram consultados os principais trabalhos realizados sobre o tema na região do
Araripe, as principais fontes de dados foram adquiridas a partir de leituras de teses e dissertações,
livros, artigos e periódicos, além de pesquisa em sites como o Departamento Nacional de Produção
Mineral - DNPM

Histórico da Mineração de Gipsita

Os primeiros estudos sobre a Chapada do Araripe datam do início do século XIX; ela se
tomou bastante conhecida quando Spix e Martius estudaram a região, registrando seus peixes
fósseis, sendo o trabalho mais importante destes autores: Reise in Brasilein, datado entre 1823 e
1831. Alguns trabalhos geológicos e fisiográficos foram realizados por Lisboa e Crandall, em 1910.
Small, em 1914, esboçou uma coluna estratigráfica para o Araripe, que permaneceu como base até a
década de 60, quando outros estudiosos sugeriram modificações nas terminologias das formações
(DNPM, 1996b; KRAUS; AMARAL, 1997).
Até o final da década de 50, toda gipsita e gesso consumidos no país tinham como lugar de
origem a Bacia Potiguar, município de DixSept Rosado - RN. Estado que ocupou a posição de
maior produtor por cerca de 20 anos, desde 1938. A produção desse Estado se tomou inviável por
razões como: pequena espessura da camada de gipsita, em tomo de 5 m, o espesso capeamento,
cerca de 20 m, e diante das descobertas de jazidas em melhores condições de explotação na
Chapada do Araripe (KRAUS; AMARAL, op. cit.; SOBRINHO, 2002).
Em 1972, o consumo setorial distribuía-se entre a indústria de cimento, com 75 %, e a de
calcinação, com 25%. Enquanto em 1979, o consumo desses setores se distribuiu na proporção de
62 %a 38 %, respectivamente (DNPM, 1980).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No Araripe, a calcinação só teve crescimento após a ação de alguns empresários da região.


Segundo Sobrinho (2002), aqueles empresários identificaram no Sudeste, especialmente em São
Paulo, uma demanda reprimida de gesso e deduziram que a calcinação seria possível através dos
fomos de casas de farinha. A produção tomou maior impulso e se intensificou em função da
concorrência do fosfogesso na segunda metade da década de 70, pois esse sub-produto da indústria
de fosfatos, localizada no Centro-Sul era largamente produzido, podendo ser aproveitado como
substituto do gesso, já que o frete encarecia o produto in natura do Araripe.
Ainda na década de 70, nasce a Associação dos Mineradores e Calcinadores de Gipsita do
Araripe- AMIGA, que màis tarde, vai se constituir na Associação Profissional das Indústrias de
Extração de Gipsita e da Calcinação do Estado de Pernambuco, com registro de 1985 e que passou a
denominar-se de Sindicato da Indústria da Extração do Mármore, Calcários e Pedreiras e da
Indústria da Extração de Minerais Não-Metálicos do Estado de Pernambuco. Com a cisão do
SINDIPEDRA, ocorrida em 1993, passou a atuai denominação de SINDUSGESSO- Sindicato das
Indústrias de Extração e Beneficiamento da Gipsita, Calcários, Derivados de Gesso e de Minerais
Não-Metálicos do Estado de Pernambuco (SOBRINHO, op. cit.).

O Pólo Gesseiro da região do Araripe

O Pólo Gesseiro do Araripe/PE (PGA/PE) é um importante Arranjo Produtivo Local – APL


que abrange os municípios de Araripina, Bodocó, Exu, Ipubi, Ouricuri e Trindade. Segundo o
DNPM (2010, p. 54) em 2009―contava com 34 minas em produção, cerca de 120 calcinadoras e
aproximadamente 300 pequenas unidades produtoras de artefatos‖. Apesar disso, as condições de
operação das minas e de algumas calcinadoras ainda são precárias, sendo responsáveis por graves
problemas de segurança e higiene do trabalho, além dos impactos ambientais.
Na região do Pólo Gesseiro do Araripe, assim como em quase todo o país, o Estado tem
participação intensa no processo de produção e reprodução do espaço geográfico. Ou seja, o Estado
está presente em todos os momentos do processo, atuando diretamente através dos órgãos públicos,
e indiretamente, estimulando a ação de pessoas e empresas, agindo nos três níveis ou escalas:
municipal, estadual e federal (ANDRADE, 1984).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico 1: Produção de Gipsita em Pernambuco

Fonte: ROSA et al

A produção pernambucana de gipsita aumentou 126,0% entre os anos de 2004 e 2013,


passando de 1.283.488 t para 2.900.318 t, uma média de crescimento de 9,5% ao ano. O valor total
da produção de gipsita cresceu 406,6% no período analisado, passando de R$ 15,7 milhões para
79,5 milhões, uma média de crescimento de 19,8% ao ano (ROSA et al).
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) vem alertando para o crescimento das
atividades mineralógicas de pequena escala em diversos países da África, Ásia e América Latina
que funcionam, na maioria dos casos, desrespeitando as legislações ambientais e trabalhistas
vigentes, causando danos à saúde humana e ao ambiente (OIT, 1999). Tudela (1989) define esse
tipo de trabalho como ―lamodernizacionforzadadel trópico‖, correlacionando-o ao processo de
deteriorização tanto social como ecológica. Isso se deve ao modelo de inserção econômica desses
países, que implantam um estilo tecnológico e de produção muitas vezes inadequados e
insustentáveis (Santos e Silveira, 2001).
No Brasil temos como exemplo a atividade de mineração de gesso na região nordeste, que se
estima ser a maior reserva de gipsita do país, principalmente pela facilidade de exploração e
elevador teor de pureza do minério (Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco, 1966). As
reservas localizadas na Microrregião de Araripina, no estado de Pernambuco, abrangem os
municípios de Araripina, Ipubi, Trindade, Ouricuri e Bodocó, que até duas décadas atrás
apresentava uma paisagem de morfologia agrária, tipicamente agropastoril, conhecida na região
pela grande produção de farinha de mandioca (Melo, 1988).

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Tabela 1: Estados brasileiros produtores de gipsita


Estado Produção (toneladas) Participação

AM 30.600 2,04%
MA 56.074 3,74%
PI 54.325 3,63%
CE - 0,00%
RN - 0,00%
BA - 0,00%
TO 14.642 0,98%
PE 1.497.773 89,61%

Fonte: DNPM, 2000

O gesso produzido da gipsita (sulfato de cálcio bihidratado) é obtido através da calcinação


em fornos de tecnologia, muitas vezes, ineficientes do ponto de vista econômico e ambiental, que
funcionam da combustão da madeira (originada da caatinga) ou do óleo BPF (óleo combustível
fóssil pesado com Baixo Ponto de Fluidez) ou ainda do coque (originado de resíduos de petróleo)
(Belfort, 2002)
O polo gesseiro de Pernambuco é responsável por 90% da produção de gipsita do país,
gerando na região mais de 12 mil empregos, constituindo-se assim uma das mais importantes
atividades econômicas do Sertão do Araripe (Santos e Sardou, 1996). O processo de deteriorização
ecológica e social da região foi referido ―cautelosamente‖ no Plano Estadual de Controle da
Desertificação de Pernambuco, que classifica a região apenas como área com problemas ambientais,
e por Sobral (1997), que aborda a temática com ressalva. A referida autora adverte para as
implicações negativas da racionalização da produção sobre o número de postos de trabalho. A
mesma entende que essa mudança no processo de produção provocaria um novo desemprego na
região. Os problemas de saúde causados pela produção do gesso na região ainda são poucos
explorados.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco, em uma inspeção sanitária, encontrou problemas
relacionados a segurança do trabalho (excesso de poeira, calor e ruído), ausência de serviços de
saúde voltados para o atendimento do trabalhador e inexistência de dados sobre as patologias
geradas pela exposição à poeira de gesso (Coutinho e col., 1994).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico2: Causas do absenteísmo no trabalho do polo gesseiro


40%
30%
20%
10%
0%
Bebidas Doenças Atividades Outros
alcoólicas Comuns agrícolas

Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa (Sebrae)

Entre as denominadas ―doenças comuns‖, as mais referidas (50%) estão relacionadas ao


aparelho respiratório (Santos e Sardou, 1996).
A poeira de gesso pode causar um amplo espectro de problemas à saúde das pessoas,
acarretando desde efeitos irritativos nos olhos, nas mucosas e no aparelho respiratório, passando por
efeitos cutâneos, ou até mesmo efeitos crônicos ou permanentes na saúde das pessoas. Comumente
são diagnosticadas conjuntivite, rinite, amidalite, irritação nos brônquios e traqueia, sangramentos
nasais e prejuízos ao olfato e paladar, ou doenças pulmonares crônicas, como exemplo,
pneumoconiose, calcicosilicosis e fibrose pulmonar (Niosh, 2002; YESO, 1989; Santos, 2001;
Dorland, 1994).
Há um relatório-síntese russo da década de 1960 que mostra a crescente incidência de
fibrose modular alveolar, rinite subtrópica, laringite e faringe em trabalhadores de uma indústria de
gesso naquele país (Niosh, 2002; Voroparev, 1967). Ademais, experimentos feitos com animais
expostos à poeira de gesso atestaram o desenvolvimento de pneumonia e pneumoconioses
intersticiais, produzindo alterações na circulação sanguínea e linfática em nível pulmonar (YESO,
1989, p. 279).
Todavia, é sabido que o quadro clínico completo, ou seja, a instalação da doença poderá
ocorrer muito tempo após a fase inicial da exposição, inclusive os efeitos tóxicos sistêmicos sobre o
aparelho cardiovascular, sistema nervoso central, fígado ou rins. E que a presença desses sinais e
sintomas pode estar associada a uma gama de fatores confundidores ou potencializadores no
desencadeamento desses agravos (Amâncio, 1983; Rozenberg, 1981; Santos 2001; Aránguez e col.,
1999; Croce e col., 1998; López-Antuñano, 1998).
O Instituto Nacional para Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos (Niosh)
(2002) alerta para os riscos adicionais inerentes ao processo de desidratação ou calcinação do
mineral, como, por exemplo, óxidos de enxofre. No caso do Araripe, esses processos são
potencializados com outras substâncias em virtude das matrizes energéticas empregadas –
hidrocarbonetos aromáticos e benzeno, oriundos da combustão da lenha, óleo BPF e coque. Nessas
situações, há uma resposta inflamatória do aparelho respiratório induzida pela ação de substâncias

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oxidantes, que acarretam aumento da produção da acidez, viscosidade e consistência do muco


produzido pelas vias aéreas, levando a uma diminuição de resposta ou reparo do sistema mucociliar
(Cançado e col., 2006).
Nesses casos, os estudos epidemiológicos adquirem um papel importante na intervenção
sobre os efeitos dos poluentes do ar sobre a saúde das pessoas. Haja vista as ações de vigilância
serem mais efetivas quando iniciadas por meio da identificação de sinais e sintomas precoces das
doenças (Pivetta e Botelho, 1997; André e col., 2000; Brasil, 2001).
Em razão da necessidade de se compreender os fatores epidemiológicos que concorrem com
a saúde das pessoas que vivem e trabalham no contexto sociotecnicoambiental de produção de
gesso e artefatos no semiárido pernambucano e pela inexistência de dados nos sistemas de
informações em saúde, este artigo tem como objetivo descrever os principais efeitos na saúde da
população exposta à poluição ambiental oriunda da poeira de gesso.
Segundo dados do Sindusgesso (1999), para abastecer as calcinadoras do Pólo Gesseiro do
Araripe eram necessários 25.000 m3 de lenha/mensais; em 2002 o consumo aumentou e não se têm
dados precisos. No ano de 1999, existiam 62 empresas de calcinação no Pólo Gesseiro do Araripe,
destas 26 utilizavam a lenha como combustível e 36, o óleo BPF (SINDUSGESSO, op. cit.).

Impactos ambientais

Quanto aos impactos da poluição ambiental sobre o clima, segundo Fellenberg (1997), não
se tem certeza de quantos fatores climáticos são afetados pelo aumento crescente da quantidade de
poeira na atmosfera. Algumas consequências são certas, tais como: a diminuição da intensidade de
radiação do sol, estimada em cerca de 0,4% por ano e perdas de energia que não se refletem
somente numa diminuição geral da temperatura, mas, eventualmente, também na velocidade e
direção dos ventos (FELLENBERG, 1997).
Estudos recentes vêm alertando sobre os danos à saúde humana que são causadas pelos
impactos ambientais das atividades mineralógicas em pequena escala nos países em
desenvolvimento (JENNINGS, 1999).
A exposição à poluição ambiental é considerada quando o fator de risco encontra-se
imediatamente próximo às vias de ingresso do organismo do indivíduo, ou seja, da respiração,
alimentação, pele, placenta, etc (BRASIL,2001).
Sobre a degradação do solo, o Plano Estadual de Controle da Desertificação de Pernambuco
estabelece os níveis de ocorrência de degradação ambiental em muito graves, graves e, áreas
susceptíveis. Este documento, oficialmente, resume a problemática ao classificar a região do
Araripe como ―área com problemas ambientais‖ (PERNAMBUCO, 1995).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Andrade (2007) aponta a retirada de lenha para o abastecimento dos fornos das indústrias
gesseiras, a expansão da cultura da mandioca e a utilização da chapada para o pastoreio durante a
estação seca como atividades causadoras da degradação e destruição da vegetação desta região.
A calcinação da gipsita, fornecedora de gesso para a construção civil, tem na lenha a sua
principal matriz energética. No pólo gesseiro do Araripe (PE), 94% da lenha que abastece as
indústrias da região é extraída sem manejo, Barros et al. (2010).
A necessidade constante de lenha para o processo de produção de gesso tem sido a maior
responsável pelo desmatamento crescente da Caatinga na região da Chapada do Araripe (BRAINER
et al., 2011).
A mudança no uso do solo da região está, também, atrelada à expansão da área cultivada,
Freitas Filho e Medeiros (1993). Segundo Coriolano et al. (2005), a cultura da mandioca emprega
70% da população rural que vive sobre a chapada ou nas suas encostas. Observa-se que nas áreas
onde a mandioca é plantada, após sucessivos cultivos, o solo apresenta baixa produtividade, o que
leva os agricultores a migrarem, expandindo a lavoura, e o desmatamento, a outras áreas, Coriolano
et al. (2005).
A tabela 3 apresenta os principais impactos ambientais diante de algumas atividades que são
executadas na área de foco desse trabalho.

Tabela 3 – Síntese de Atividades e Impactos na Fase de Desenvolvimento.


Principais Atividades Principais Impactos Ambientais

- Transformações da paisagem;
- Abertura de estradas, remoção de parte da cobertura - processos erosivos (erosão pluvial e eólica) nas vias de
vegetal e do capeamento de solo, escavações, aterros, acesso abertas;
construções e instalação de equipamentos, etc. - riscos de contaminação do lençol freático, dos corpos d‘água
em superfície nos setores onde foram removidos os solos e
parte da vegetação;
- geração de poeiras;
- afugentamento temporário da fauna em função da presença
humana e do ruído das máquinas.
Na maior parte, as situações são temporárias e os impactos
localizados, pouco significativos e de caráter reversível.
Fonte: FORNASARI FILHO et al (1992) e ITGE (1989).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A exploração de recursos pela o homem implica em alterações significativas ou mudanças


no meio ambiente (conglomerando o meio físico-biológico e sócio-econômico), de maneira que esta
interferência será responsável por processos naturais diferentes da situação inicial de uma
determinada área. As ações humanas provocam uma nova dinâmica no meio ambiente e, por isso,
devem ser planejadas com a finalidade de controlar e mitigar os impactos indesejados.
A utilização de lenha como fonte energética no processo de calcinação da gipsita no Pólo
Gesseiro causa degradação ambiental da área, o uso do recurso que é retirado dos

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ecossistemaslocais provoca reduçãoda cobertura vegetal e aumentam os processos como erosão,


assoreamento dos rios e riachos, de desertificação, entre outros.
A produção de gesso no chamado Polo Gesseiro do Araripe em uma região que sofre com as
condições climáticasé responsável pela geração de emprego e renda. Por ser uma atividade
fundamental na economia da região a indústria extrativa-mineral tem uma importância crucial para
o desenvolvimento regional; contudo, é uma das atividades responsáveis pela degradação dos
ecossistemas locais e que provoca ou agrava outros problemas regionais como a seca e a
desertificação.
Portanto, observa-se que muito pouco foi feito em termos de aplicação de uma política
voltada à conservação dos recursos naturais. O presente artigo cita os principais problemas
ambientais causados pela a mineração, tais problemas geram condições adversas para a qualidade
de vida das comunidades envolvidas na atividade e, em médio e longo prazo, os problemas podem
se tornar ainda mais graves.
Enfim devemos evidenciar a necessidade de uma correção do modo de exploração vigente
para que se corrijam tais problemas e sejam tomadas medidas eficientes na produção econômica, na
conservação e proteção do meio ambiente. Com o escopo de buscar o equilíbrio entre o
desenvolvimento econômico e o meio ambiente.

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CÁLCULO DO RISCO DE INCÊNDIO: O CASO DA SERRA DO CABRAL


EM SIMÃO DIAS – SE

Fábio Wendell da Graça NUNES


Professor Mestre do Instituto Federal de Sergipe
fabio.nunes@ifs.edu.br
Ricardo Monteiro ROCHA
Professor Mestre do Instituto Federal de Sergipe
ricardomonteiro2003@globo.com
José ESPÍNOLA JR
Professor Doutor do Instituto Federal de Sergipe
joseespinolajr@uol.com.br
Ícaro Gibson de SOUZA
Estudante do Instituto Federal de Sergipe
Icarogibson1515@gmail.com

RESUMO
Os índices para previsão de incêndios florestais são ferramentas estatísticas utilizadas na avaliação
da probabilidade de ocorrência de fogo, baseados nas condições atmosféricas do dia ou de uma série
temporal. Estes índices expressam se existem condições favoráveis para a ocorrência de incêndios,
o que possibilita a adoção de medidas preventivas mais eficazes e econômicas, como também, o
planejamento do controle de possíveis incêndios. O objetivo geral desta pesquisa foi analisar se as
condições atmosféricas estão favoráveis à ocorrência de incêndios na serra do Cabral no município
de Simão Dias – SE. Segundo White (2010), o índice de risco de incêndio mais eficaz a ser aplicado
no território de Sergipe é o índice de Angstron. Este índice baseia-se fundamentalmente na
temperatura e na umidade relativa do ar, ambos medidos diariamente às 13h, sendo um índice não
acumulativo. Dessa forma, foi utilizado este índice para realizar os cálculos de risco de incêndio da
pesquisa. Assim, foram coletados os dados atmosféricos durante um período de 4 anos (2012 a
2015) e, através desse índice, determinadas as condições de ocorrência de incêndios. De acordo
com os resultados, foi determinado o percentual de dias com risco e ainda os meses mais propícios a
ocorrência dos incêndios.
Palavras Chaves: condições atmosféricas, fogo, índice de risco e previsão.
ABSTRACT
The forest fire prediction indexes are statistical tools used to assess the probability of fire
occurrence, based on the weather conditions of the day or a time series. These indexes expressing
whether there are favorable conditions for the occurrence of fire, which allows the adoption of more
economic and effective preventive measures as well as the control over the planning of
possible fires. The general objective of this research was to analyze if the atmospheric conditions
are favorable to the occurrence of fires in Serra do Cabral in the municipality of Simão Dias -
SE. According to White (2010), the most effective fire risk index to be applied in the territory of
Sergipe is the Angstron index. This index is based mainly on the temperature and the relative
humidity of the air, both measured daily at 1 pm, being a non-cumulative index. Thus, this index
was used to carry out the calculations of fire risk of the research. So they were
collected atmospheric data over a period of 4 years (2012-2015) and through this index,

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determined the fire occurrence conditions. According to the results, the percentage of days with risk
and the most favorable months of the fires were determined.
Keywords: atmospheric conditions, fire, risk index, forecast.

INTRODUÇÃO

Os incêndios florestais são um dos graves problemas que afeta a fauna e a flora brasileira,
mas também outros países com clima tropical e temperado, como Estados Unidos, Austrália, países
do continente Africano e Asiático. No Brasil, a grande maioria das queimadas é causada pelo
homem em busca de fins econômicos, usando de forma inadequada os recursos naturais e
colaborando para a insustentabilidade ambiental.
Incêndio florestal é a ocorrência de fogo fora de controle em qualquer tipo de vegetação;
muitas vezes é ocasionado por queimadas que não foram devidamente autorizadas, aceiradas e
monitoradas [1]. Incêndio florestal é como uma combustão sem controle que se propaga
consumindo os combustíveis naturais de uma floresta, tendo como principal característica o fato de
propagar-se livremente, respondendo apenas às variações do ambiente e às influências derivadas
dos combustíveis vegetais, do clima e da topografia. [2]. Já as queimadas são procedimentos de
manejo agropastoril, no qual se emprega o fogo para limpeza de área para cultivo ou para queima de
restos de produção, tendo como agente causador o homem.
O registro de incêndios florestais é fundamental para se conhecer o problema que tal
fenômeno causa em uma floresta nativa ou plantada, não raramente ignorado em sua plenitude. É
fundamental saber onde, quando e porque esses incêndios ocorrem, pois, ao se conhecerem as
causas, pode-se estabelecer um meio eficaz para prevenir ou minimizar suas consequências [3].
De modo geral, pode-se dizer que o homem é o principal causador dos incêndios florestais
porque a maioria deles são iniciados em decorrência de algum tipo de atividade humana. Existem
também os incêndios causados por fenômenos naturais, porém eles são mínimos. As causas mais
frequentes dos incêndios florestais são: práticas agropastoris, fogueiras em áreas de visitação
pública, incêndios intencionais, fumadores, linhas elétricas, estradas de ferro, descargas elétricas
(causa natural) e pescadores [4].
Os incêndios florestais constituem um dos fatores mais importantes na redução de bosques e
florestas no mundo, acarretando: na destruição da cobertura vegetal, destruição de húmus e morte
de micro-organismos, destruição da fauna silvestre, aumento de pragas no meio ambiente,
eliminação de sementes em estado de latência, perda de nutrientes e erosão do solo [4].
Os índices para previsão de incêndios florestais são ferramentas estatísticas utilizadas na
avaliação da probabilidade de ocorrência de fogo, baseados nas condições atmosféricas do dia ou de
uma serie temporal [2]. Estes índices expressam se existem condições favoráveis para a ocorrência

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do mesmo. Dentre as diversas utilidades e aplicações dos índices de incêndios pode-se destacar: o
conhecimento do grau de risco, o planejamento do controle de incêndios, a permissão para as
queimas, entre outros. Existem, na literatura, diversos índices de perigo de incêndios, dentre eles:
Angstron, Telicyn, Rodríguez e Moretti, Formula de Monte Alegre e a de Monte Alegre Alterada.
A área estudada, conhecida como Serra do Cabral apresenta beleza e valor histórico para a
região. Conta-se que quando Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião (1898-1938), percorria os
estados Nordestinos, fazendo justiça com as próprias mãos, ele chegou na Serra do Cabral para
atacar a cidade, contudo, o povo de Simão Dias reagiu, se posicionando nas portas das casas,
fazendo com que Lampião desistisse de invadir a cidade. Entretanto, o rei do cangaço não admitiu a
desistência de invadir a cidade por medo dos moradores e encontrou uma "desculpa" honrosa,
dizendo que, em respeito a Nossa Senhora de Santana, que é sua madrinha e padroeira de Simão
Dias, não invadiria a sede do município. Hoje a Serra do Cabral é mais conhecida como Serra do
Cruzeiro, com potencial para o ecoturismo, onde os visitantes encontram um restaurante
famosíssimo da cidade, uma praça encantadora e desfrutam de uma visão panorâmica do município.
Em torno da serra, parte dela é utilizada como pastagem para a pecuária extensiva ou para o
plantio de grãos como milho e feijão. No entanto os agricultores usam a técnica de queimadas ou
coivaras, que consiste na queima da vegetação seca para a preparação do solo, o que pode acarretar
numa perda do controle da situação possibilitando o alastramento do incêndio. Foi desta forma que
o incêndio de 2009 começou: um agricultor ateou fogo na pastagem de uma fazenda e os ventos
fortes na região provocaram um incêndio de grandes proporções.
O objetivo deste trabalho foi analisar se as condições climáticas estão favoráveis para a
ocorrência de incêndios na Serra do Cabral no município de Simão Dias- SE através de cálculos
usando o Índice de Angstron. Além disso, a elaboração de dados que apontem os meses mais
favoráveis a incêndios, possibilitando a adoção de medidas preventivas mais eficazes e econômicas.
Esse estudo foi realizado por discentes do ensino médio do Instituto Federal de Sergipe
como projeto de iniciação científica do Convênio IFS/PETROBRAS.

METODOLOGIA

A área de estudo do presente trabalho foi a Serra do Cabral no município de Simão Dias-
SE. Os motivos que levaram a escolha desta área foram dados pelos incêndios de 2009 e 2012,
nesta área de grande potencial para o ecoturismo e preservação da flora e fauna local, contribuindo
para a progressiva sustentabilidade da região.
O município de Simão Dias está localizado no extremo oeste do Estado de Sergipe,
limitando-se a norte com os municípios de Pinhão e Pedra Mole, a leste com Macambira e Lagarto,
a sul com Riachão do Dantas e Lagarto e a oeste com Tobias Barreto, Poço Verde e o Estado da

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Bahia. A área municipal ocupa 560,8 km2. A sede municipal tem uma altitude de 250 metros e
coordenadas geográficas de 10°44'20" de latitude sul e 37°48'36" de longitude oeste, a uma
distância de 100km da capital sergipana, Aracaju. Com 40.199 habitantes, estimativa do Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2013. Seu clima é tropical seco e subúmido. A
região localiza-se no Polígono das Secas, com temperatura média anual de 24,1°C, mas no inverno
a temperatura pode variar entre 9°C e 18°C. Um fato interessante é que Simão Dias é a cidade mais
fria de Sergipe. A precipitação de chuvas média ao ano é de 880 mm, mais predominante de março
a agosto (outono-inverno). O relevo municipal é representado por pediplanos com ocasionais
formas tabulares e cristas, a cidade possui muitas grutas e cavernas. A vegetação do município
compreende capoeira, caatinga, campos limpos e campos sujos e vestígios de Mata, também é
denominada de Agreste nordestino. O município está inserido nas bacias hidrográficas do rio Vaza-
Barris e do rio Piauí, e como rios principais, além do rio Vaza-Barris, os rios Jacaré e Caiçá. Já a
Serra do estudo encontra-se numa altitude de 424m, distante 9km do centro do município.

Figura 1: Vista da Serra do Cabral, tendo a cidade de Simão Dias em frente. (Fonte: Alexandre Santos) [7]

Figura 2: Incêndio na Serra do Cabral em fev.- 2012 (Fonte: Denilson Matos/Portal Edelson Freitas). [8]

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Figura 3: Incêndio na Serra do Cabral em fev. - 2012 (Fonte: Denilson Matos/Portal Edelson Freitas). [8]

Figura 4: Incêndio na Serra do Cabral em fev.- 2012 (Fonte: Denilson Matos/Portal Edelson Freitas). [8]

Os dados meteorológicos como: temperatura do ar, umidade relativa do ar, correspondentes


aos períodos estudados, foram coletados no site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) através de sua plataforma SINDA (Sistema Integrado de Dados Ambientais), que está
localizada em Frei Paulo-SE, a aproximadamente 50 km da Serra do Cabral. Existe uma PCD [5] do
SINDA mais próxima da serra, localizada no próprio município, Simão Dias, porém a plataforma
não gerava todos os dados necessários para a pesquisa, sendo assim, foi utilizada a plataforma de
Frei Paulo, pois a mesma é a segunda mais próxima da serra e gera todos os dados necessários. O
período utilizado para a coleta de dados foi motivado pelo incêndio ocorrido em 16/02/2012. Foi
adotado para o estudo, o período entre janeiro de 2012 e agosto de 2016.
Segundo White [6], o índice de risco de incêndio mais eficaz para ser aplicado no território
de Sergipe é o índice de Angstron. Dessa forma, foi utilizado o mesmo para realizar os cálculos de
risco de incêndio dentro da Serra do Cabral- SE.
O índice de Angstron foi desenvolvido na Suécia. Este índice baseia-se fundamentalmente
na temperatura e na umidade relativa do ar, ambos medidos diariamente às 13h. É um índice não
acumulativo e a sua equação é a seguinte:

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(1)

( )

Onde:
B = índice de Angstron
H = umidade relativa do ar em %
T = temperatura do ar em °C

A partir do valor obtido no índice pode-se determinar o grau de risco de incêndio, sendo
que, quando B for menor que 2,5 haverá perigo de incêndios, ou seja, as condições atmosféricas do
dia estarão favoráveis à ocorrência de incêndios. Este índice não é acumulativo, pois determina o
grau de perigo de incêndios florestais apenas para um determinado dia, sem considerar as condições
meteorológicas dos dias anteriores.

RESULTADOS E DISCURSÕES

O gráfico a seguir representa a série histórica compreendida entre janeiro de 2012 a agosto
de 2016 dos valores do índice de Angstron (Fig 5), em que os valores abaixo de 2,5 representam
dias com perigo de ocorrência de incêndios.

5
4,5
4
3,5
3
Com risco
2,5
Sem risco
2
Incêndio
1,5
1
0,5
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Figura 5: Série histórica entre janeiro de 2012 a agosto de 2016 dos valores do índice de Angstron.

Reforçando os resultados citados acima, foi criado um gráfico (Fig 6) com a porcentagem de
dias em que houve risco e que não houve risco dentro do período estudado. Nele fica demonstrado
que na maior parte dos dias, a Serra do Cabral não apresentou condições favoráveis para a
ocorrência de incêndios.

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17%

Dias com Risco


Dias sem Risco

83%

Figura 6: Gráfico com a porcentagem de dias com risco e sem risco no período
entre janeiro de 2012 a agosto de 2016.

Com base nos dados obtidos, foi feito o gráfico abaixo (Fig 7), no qual foi determinado o
percentual de dias do mês com risco de incêndio. Nesta análise, o mês com maior percentual de dias
com risco de incêndio foi o de fevereiro de 2013. Esse mês apresentou 92,9% dos dias com risco de
incêndio.

100,0

80,0
2012
60,0 2013
2014
40,0
2015
20,0 2016

0,0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 7: Gráfico com a porcentagem de dias com risco de incêndio por mês.

A tabela abaixo representa o percentual médio de dias no mês com risco de incêndio nos
quatro anos de estudo.

PERCENTUAL MÉDIO DE DIAS


MÊS
COM RISCO DE INCÊNDIO (%)
Janeiro 34,8
Fevereiro 32
Março 35,5
Abril 29
Maio 8,4
Junho 0,0
Julho 0,0

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Agosto 0,0
Setembro 1
Outubro 0,0
Novembro 13,3
Dezembro 26,7
Tabela 1: Percentual médio de dias com risco de incêndio entre 2012 e 2016.

CONCLUSÕES

Após a análise dos resultados foi identificada a existência em 18% dos dias do ano de
condições necessárias para a propagação de incêndios na Serra do Cabral. Pode-se concluir também
que o período entre os meses dezembro a abril são os mais propícios a ocorrência de incêndios.
Dessa forma, os índices de perigo de incêndio são importantes, pois, a adoção de medidas
preventivas podem ser planejadas e intensificadas no período de maior probabilidade de ocorrência
de incêndios. Também ficou claro após os cálculos que fevereiro é o mês mais propício para os
incêndios, sendo que os dois últimos incêndios na serra estudada foram em fevereiro de 2009 e de
2012, tornando necessária uma maior atenção nesse mês do ano tanto pelas autoridades
responsáveis como também pela população que mora em volta da serra.
Os índices de perigo de incêndio se mostram como uma boa ferramenta para medidas de
planejamento do controle de incêndios. Para que o sistema de avaliação do grau de perigo de
ocorrência de incêndios florestais na Serra do Cabral seja implantado é de extrema necessidade a
instalação de uma plataforma de coletas de dados dentro da área da Serra do Cabral, para que
possam ser obtidos os dados das variáveis locais, podendo assim prever com maior eficiência a
ocorrência desses incêndios danosos à fauna e à flora.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 864


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VISÃO SOCIOAMBIENTAL DOS MORADORES DAS VILAS


PRODUTIVAS RURAIS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-PB

Francisco Romário Andrade FIGUEIREDO


Mestrando em agronomia PPGA/CCA/UFPB
romarioagroecologia@yahoo.com.br
Jackson Silva NÓBREGA
Mestrando em agronomia PPGA/CCA/UFPB
jacksonnobrega@hotmail.com
Rodrigo Garcia Silva NASCIMENTO
Mestrando em agronomia PPGA/CCA/UFPB
Rodrigo_garciasilva@hotmail.com
Daciano Miguel de SOUSA
Mestre em Agronomia PPGF/UFERSA
dacianosousa@hotmail.com

RESUMO
A obra de transposição do rio São Francisco trouxe consigo a esperança para muitos nordestinos,
com a chegada de suas águas. Em contrapartida, também resultou em grandes impactos ao ambiente
e a Caatinga. Nesse contesto, objetivou-se com este trabalho conhecer a visão socioambiental dos
moradores das Vilas Produtivas Rurais (VPRs) do eixo norte da transposição no município de São
José de Piranhas-PB. Foram aplicados questionários com moradores das VPRs Irapuá I e Cacaré,
sendo um total de 118 entrevistados. Os questionários eram compostos de perguntas objetivas e
subjetivas relacionadas à temática abordada, sendo estes caracterizados como de natureza
quantitativa, uma vez que os dados foram transformados em números e opiniões, com a finalidade
de analisa-los e classifica-los. A partir dos resultados quantificados, verificou-se que 80,9% dos
entrevistados afirmaram que a obra promoveu sérios impactos ao ambiente, sendo os mais citados o
desmatamento da vegetação e a poluição ambiental e sonora. É notória também a percepção dos
moradores quanto à necessidade da adoção de medidas para minimizar os impactos causados pela
obra, fazendo-se necessário o desenvolvimento de politicas publicas conjuntas entre o poder público
e a sociedade.
Palavras-chave: Impactos ambientais; Caatinga; Transposição; Politicas públicas.
ABSTRACT
The transposition shell-work of the São Francisco river brought hope with it for many
Northeasterners, with the arrival of water. On the other hand, it also resulted in major impacts in the
environment and the Caatinga. In this context, this work aimed to know the socioenvironmental
vision of the residents of the Rural Productive Villages (VPRs) of the northern axis of the
transposition in the municipality of São José de Piranhas-PB. Questionnaires were applied with
residents of VPRs Irapuá I and Cacare, a total of 118 interviewees. The questionnaires were
composed of objective and subjective questions related to the subject, and these were characterized
as quantitative in nature, once the data were transformed into numbers and opinions, with the
purpose of analyzing and classifying them. From the quantified results, it was verified that 80.9% of
the interviewees affirmed that the work promoted serious impacts to the environment, being the

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

most cited the deforestation of native vegetation and environmental pollution. The residents'
perception of the necessity to adopt measures to minimize these impacts caused by the work is also
noticeable, making it necessary to develop joint public policies between the public power and
society.
Keywords: Environmental impacts; Caatinga; Transposition; Public policy

INTRODUÇÃO

A região Nordeste representa cerca de 28% da população brasileira, contendo uma


percentagem de apenas 3% da disponibilidade de água do país. O Projeto de Integração do Rio São
Francisco as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), surgiu com o objetivo de
amenizar os graves problemas resultantes dos longos períodos de estiagens que assolam a região, os
quais dificultam as condições de sobrevivência dessas populações (ALBUQUERQUE;
GONÇALVES; SOUZA, 2013).
Como parte do projeto foram construídas as Vilas Produtivas Rurais (VPRs), com o objetivo
de reassentar as famílias que habitavam a área de execução da obra. O reassentamento dos
moradores atingidos pela obra baseia-se na aquisição de áreas rurais que proporcione uma nova
base produtiva, visando melhorar a subsistência das famílias, dando condições adequadas de
infraestrutura comunitária e de produção (VILELA et al., 2017).
Projetos de tamanha grandeza trás para as populações e para as áreas afetadas consequências
positivas e negativas. Obras desta plenitude resultam em grandes problemas do ponto de vista
ambiental, provocando uma reordenação territorial, culminando com a retirada compulsória das
populações que vinham ocupando as áreas atingidas pelo projeto (FERREIRA NETO; SILVA;
PEREIRA, 2012).
Do ponto de vista ambiental, a área do projeto tem como cobertura vegetal predominante a
Caatinga, a qual vem sofrendo sérios distúrbios promovidos pelas obras. As consequências e os
danos promovidos por obras dessa natureza sobre o meio ambiente só podem ser observados de fato
após a sua conclusão, uma vez que acabam interferindo na dinâmica da fauna e flora presente no
local (SOUZA; AZEVEDO, 2013).
As condições naturais como clima, vegetação e a geomorfologia e as condições das
populações residentes como características culturais e características socioeconômicas são de
alguma forma alterada por esse tipo de obra (LIMA, 2013). A vegetação local sofre grandes
impactos, sendo o desmatamento considerado o principal, em virtude de deixar o solo desprotegido,
provocando o processo de erosão e degradação ambiental (BARBOSA, 2014).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Diante desse contexto objetivou-se com o presente trabalho conhecer a visão social e
ambiental dos moradores das vilas produtivas rurais no município de São José de Piranhas-PB a
respeito da obra de transposição do Rio São Francisco.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A pesquisa foi realizada em duas Vilas Produtivas Rurais (VPRs) do eixo norte do projeto
de transposição do rio São Francisco, sendo estudadas as VPRs Irapuá 1 e Cacaré, localizadas no
munícipio de São José de Piranhas-PB. Localizado ente as coordenadas geográficas: latitude 7°7‘5‖
Sul e longitude 38°30‘5‖ Oeste.

Figura 1. Localização da área de estudo. Areia, PB, 2017.

Procedimentos metodológicos

Para atingir o objetivo do estudo foi realizado o levantamento de dados, empregando-se os


métodos de coleta de informações de caráter quantitativos e qualitativos. As características da
pesquisa a classificam como descritiva, tendo como propósito atribuir as particularidades de uma
população ou fenômeno, ou a determinação da relação existente entre as variáveis. Uma das
características mais marcantes, no método adotado na pesquisa é uso de técnicas padronizadas na
coleta de informações, tais como: entrevistas, formulários, teste e observação (PRODAVON;
FREITAS, 2013).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os procedimentos técnicos adotados nesta pesquisa constituem-se em um levantamento de


dados (survey), requerendo o questionamento direto aos indivíduos, os quais desejamos identificar
por maio da aplicação de questionários. Em geral, implementa-se através de solicitações acerca de
informações a um determinado grupo de pessoas relacionadas a problemática abordada no estudo,
posteriormente, por meio da análise quantitativa obtêm-se as conclusões sobre os dados coletados
(PRODAVON; FREITAS, 2013).
O estudo foi iniciado com um levantamento bibliográfico a respeito da temática abordada,
em seguida realizou-se o levantamento de dados acerca da visão socioambiental dos moradores das
Vilas Produtivas Rurais (VPRs), sobre o projeto de transposição do rio São Francisco.
O questionário utilizado na pesquisa era composto de perguntas objetivas e subjetivas
relacionados a visão socioambiental dos entrevistados, abordando pontos, como: impactos
ambientais promovidos pela obra, incentivo financeiro, uso de agroquímicos, entre outros. Contudo,
na maioria dos casos não são pesquisados todos os indivíduos da população da área em estudo.
Desse modo, emprega-se por meio estatístico uma amostragem do universo da população
(NÓBREGA et al., 2017).

Determinação do tamanho da amostra

A forma adotada para se determinar a realização das entrevistas seguiu o método de


proposto por Levin (1987), em que se baseia na estimativa da proporção populacional. Assim, os
procedimentos aplicados para a determinação do tamanho da amostra foi dimensionado a parir do
levantamento do número de famílias residentes nas VPRs.
Para o estabelecimento do cômputo da amostra (n) baseado na equação matemática, a partir
da estimativa da proporção populacional, levando-se em consideração os seguintes critérios: a-
populações infinitas; b- grau de confiabilidade de 95%; c- nível de significância de 0,05. A equação
utilizada para calcular o tamanho da amostra é a seguinte:

n= Ñ. p.q (zα/2)2/ p .q. (zα/2)2 + (Ñ-1). E2 (1)

Em que:
n é o número de indivíduos que desejamos calcular; N é o tamanho da população; Zα/2 é o valor
crítico que corresponde o grau de confiança desejado; p é a proporção populacional de indivíduos
que pertencem à categoria de interesse no estudo = 0,5; q representa o número de indivíduos que
não pertencem à categoria estudada (q = 1 – p) = 0,5; Assim, quando pˆ for desconhecido faz a
relação do produto pˆ. qˆ= 0,25, que é o maior valor que pode ser alcançado por essa relação pˆ. qˆ
(LEVINE, 2000).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

E é a Margem de erro ou erro máximo de estimativa.


Sabendo que o número da população é 148 e que grau de confiança é de 95%, teremos o
valor crítico (Zα/2) = 1,960. O erro máximo de estimativa (E) será de ± 5% (ou 0,05). Como não
temos nenhuma informação p.q, considerou-se o produto p. q = 0,25. Logo, n= 148 x 0,25 x
(1,960)2 / 0,25 x (1,960)2 + (148 – 1) x (0,05)2 = 107,04 (107).

Técnicas de coleta dos dados

Foram entrevistados 114 moradores das duas VPRs, sendo considerado que cada
entrevistado representava uma família residente no local. Na Irapuá 1 foram entrevistados 86
pessoas de um total de 118 residências, enquanto na Cacaré foram entrevistas 28 de 30 residências.
Dentre as técnicas utilizadas para pesquisa e coleta de dados utilizou-se a observação direta e
entrevistas por meio de formulários previamente estabelecidos. O questionário aplicado era
composto de questões padronizadas, considerando-se pontos relevantes sobre a temática estudada,
adotando-se o princípio da aleatoriedade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos questionários aplicados, foi observado que dentre os perfis entrevistados, a
maioria é do sexo feminino 56,25% e masculino com 43,75 % (FIGURA 2A). Geralmente nessas
comunidades rurais são desenvolvidas várias atividades agrícolas e culturalmente cabe ao homem
esse papel, fato esse que pode ter influenciado no aumento percentual da quantidade de mulheres
durante a coleta dos dados. Essa divisão das tarefas é comum em áreas rurais, ocorrendo como
consequência, ainda, da pouca participação das mulheres no desenvolvimento de atividades
produtivas remuneradas (BORGES, 2013).

A B

Figura 2. Sexo (A) e faixa etária (B) de moradores das vilas produtivas rurais Irapuá I e Cacaré no eixo norte
da transposição do rio São Francisco no município São José de Piranhas-PB. Areia, PB, 2017.

Com relação à faixa etária dos moradores entrevistados, verifica-se que 44,64% possuem
entre 21 e 40 anos, seguida pela faixa etária de 41 a 60 anos com 35,71%, enquanto que as faixas
etárias de 16 a 20 anos e acima de 60 anos apresentam respectivamente 7,14% e 12,5% cada

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(FIGURA 2B). Essa característica das comunidades em questão é tida como importante, pois de
acordo com Souza et al. (2014), são essas faixas etárias que contribuem de formar direta e indireta
para o crescimento econômico da comunidade.
Na área de estudo observou-se uma população com níveis de escolaridade diversificados:
superior completo 7,21%, médio completo 21,62%, fundamental completo 58,56% e 12,61% de
pessoas não alfabetizadas (FIGURA 3A). Esse fator pode estar relacionado com a faixa etária dos
envolvidos, visto que boa parte da população tem entre 21 e 40 anos, os quais comparados com a
geração acima de 60 anos tiveram mais oportunidades para se qualificar. Pinto Filho et al. (2016),
afirma que este atributo observado é importante, pois o atual mercado de trabalho está exigindo uma
mão de obra mais qualificada, sendo fundamental possuir uma escolaridade formal.

A B

Figura 3. Escolaridade (A) e atividade exercida (B) de moradores das vilas produtivas rurais Irapuá I e
Cacaré no eixo norte da transposição do rio São Francisco no município São José de Piranhas-PB. Areia, PB,
2017.

Quando questionados sobre a atividade que exerciam, 75,89% responderam que são
agricultores (as), profissional liberal e contratado 1,79% cada, funcionário público 0,89%, estudante
4,46% e sem ocupação 15,18% (FIGURA 3B). Esse número expressivo de agricultores (as) está
relacionado com o fato de que a agricultura familiar ser a base econômica dessas áreas, mostrando o
perfil das comunidades envolvidas no projeto de transposição do rio São Francisco. Em
contrapartida, os grandes proprietários dessa região priorizam a pecuária, com a criação
principalmente de gado bovino (GONÇALVES, 2014).
Ao serem questionados se acreditavam que o projeto de transposição promoveu impactos ao
meio ambiente 80,91% responderam que sim, enquanto 19,09% dos entrevistados afirmaram que as
obras não promoveram impactos ao ambiente (FIGURA 4A). Dentre os impactos citados pelos os
mesmos, há um destaque para o desmatamento, visto que para a construção das barragens e das
próprias Vilas Produtivas Rurais (VPRs) foi necessário à retirada de parte da vegetação nativa da
área atingida. Foram citados também a poluição atmosférica e sonora promovida pelo uso de
máquinas, caminhões e detonações para abertura de túneis e canais para o transporte da água.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Além desses impactos mencionados anteriormente, o risco de redução da biodiversidade,


perda e fragmentação de 430 hectares de vegetação nativa (Caatinga), risco de introdução de
espécies de peixes prejudiciais ao homem e interferência sobre a pesca nos açudes receptores como
os principais impactos negativos ao meio ambiente promovidos pelas obras da transposição do rio
São Francisco (BRASIL, 2004).
Ao serem perguntados sobre quais medidas deveriam ser adotadas para minimizar os
impactos promovidos pela obra de transposição, os entrevistados afirmaram que adotariam o
reflorestamento das áreas degradadas com espécies nativas, recuperação da flora e fauna local e
descanso das áreas destinadas ao cultivo. Sendo indispensável o desenvolvimento de politicas
públicas voltadas a situação local, as quais seriam desenvolvidas em conjunto entre sociedade e
entidades governamentais.
O desenvolvimento de politicas públicas voltadas à ocupação de um espaço geográfico
requer medidas e ações voltadas ao planejamento ambiental, sendo essencial do poder público e da
população para que ocorra o desenvolvimento de uma gestão ambiental participativa e a promoção
de autonomia nas decisões tomadas pelas comunidades (SILVA; RODRIGUEZ, 2014).

A B

Figura 4. A obra de transposição promoveu impactos ambientais (A), faz uso de agroquímicos (B) e o
incentivo financeiro do governo federal é suficiente para sobrevivência da família (C), visão dos moradores
das vilas produtivas rurais Irapuá I e Cacaré no eixo norte da transposição do rio São Francisco no município
São José de Piranhas-PB. Areia, PB, 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quando questionados se fazem uso de agroquímicos nas áreas destinadas ao cultivo 68,75%
afirmaram que não fazem uso, enquanto 31,25% disseram que sim (FIGURA 4B). Os dados em
questão mostram que especialmente os pequenos produtores estão a cada dia se conscientizando a
respeito do uso de produtos químicos. Onde os mesmos afirmaram que não fazem uso de produtos
de natureza química em função dos riscos à saúde, poluição de reservatórios de água e do solo e a
contaminação de alimentos utilizados na dieta da família.
Um fato agravante é que os entrevistados que responderam que fazem uso de agroquímicos,
o fazem de maneira indiscriminada e sem nenhuma proteção, promovendo riscos ao meio ambiente
a sua própria saúde. O uso de proteção no momento de aplicação de algum agrotóxico é prática
pouco realizada entre os pequenos agricultores, isto em função do desconforto promovido pelo
equipamento e a falta de recursos para a aquisição e por questões culturais (SOUSA et al., 2016).
A partir do momento que as famílias deixaram de produzir bens de consumo à espera das
VPRs, foi implantado o Programa de Transferência Temporária (PTT). Quando interrogados sobre
se esse incentivo financeiro seria suficiente para a sobrevivência da família 51,79% respondeu sim e
os outros 48,21% não (FIGURA 4C). Observa-se perante as respostas que a maioria consegue
sobreviver com o incentivo dado pelo governo federal. No entanto, muitos dos entrevistados
afirmam que desenvolvem atividades para complementar a renda da família, uma vez que o
incentivo financeiro não cobre as despesas que os mesmos possuem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de transposição do Rio São Francisco surgiu com o objetivo de resolver o


problema hídrico da região Nordeste, em contrapartida promoveu grandes impactos sobre o
ecossistema local.
De acordo com os entrevistados os principais impactos a perda da biodiversidade da fauna e
flora e a poluição ambiental e sonora são considerados os mais prejudiciais ao meio ambiente.
Com isso surge a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para essas
populações, ações essas que segundo devem ser de responsabilidade de instituições governamentais
em conjunto as comunidades.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CRIANÇAS E VIVÊNCIAS EM TEMPO DE CHEIA AMAZÔNICA


EM BARREIRINHA / AM

Gracy Kelly Monteiro Dutra TEIXEIRA30


Professora da Universidade do Estado do Amazonas
gracydutra@hotmail.com
Taíssa de Paula BRANDÃO31
Coordenadora pedagógica da Rede Municipal de Educação de Barreirinha/AM
taissapaula@hotmail.com

RESUMO
A cheia é um dos fenômenos naturais que ocorre todos os anos na Região Amazônica, atingindo
diversas cidades que se encontram as margens dos rios, principalmente às de terras baixas,
conhecidas como várzea, e o público mais vulnerável a essa intempérie é a criança. A presente
pesquisa tem por objetivo analisar o modo de vida da criança no período da Cheia Amazônica na
cidade de Barreirinha/Am. Não houve faixa etária limite dos sujeitos, visto que as fotos apontaram
para várias idades e indiretamente houve contato com as crianças. A fundamentação está alicerçada
em Merleau-Ponty (2011), Kuhnen e Higuchi (2011), Tuan (2013), Teixeira (2015), entre outros
autores de igual importância. A pesquisa teve caráter qualitativo, descritivo e exploratório,
incorporando a abordagem Multimétodos. A técnica fundamental da pesquisa foi a observação, na
qual foram realizados registros fotográficos do cotidiano infantil no período da cheia em
Barreirinha/Am. Deste modo, se alcançou um novo olhar sobre a relação criança e ambiente em
tempos de Cheia na Amazônia.
Palavras – chave: Amazônia. Cheia Amazônica. Barreirinha. Criança.
RESUMEN
La inundación es uno de los fenómenos naturales que ocurre todos los años en la Región
Amazónica, alcanzando diversas ciudades que se encuentran a orillas de los ríos, principalmente a
las de tierras bajas, conocidas como várzea, y el público más vulnerable a esa intemperie es el niño.
La presente investigación tiene por objetivo analizar el modo de vida del niño en el período de la
Raya Amazónica en la ciudad de Barreirinha / Am. No hubo rango de edad límite de los sujetos, ya
que las fotos apuntaron a varias edades e indirectamente hubo contacto con los niños. La
fundamentación está basada en Merleau-Ponty (2011), Kuhnen e Higuchi (2011), Tuan (2013),
Teixeira (2015), entre otros autores de igual importancia. La investigación tuvo carácter cualitativo,
descriptivo y exploratorio, incorporando el enfoque de los métodos. La técnica fundamental de la
investigación fue la observación, en la que se realizaron registros fotográficos del cotidiano infantil
en el período de la llena en Barreirinha / Am. De este modo, se alcanzó una nueva mirada sobre la
relación niño y ambiente en tiempos de Llena en la Amazonia.
Palabras clave: Amazonia. Llena Amazónica. Barreirinha. Niños.

INTRODUÇÃO

O espaço amazônico é constituído por imensos rios e lagos que contornam grande parte das
cidades. No primeiro semestre de cada ano, as cidades amazônicas, em suas particularidades,
30
Socióloga e Assistente Social. Mestra em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia.
31
Pedagoga. Especialista em Gestão e Coordenação Pedagógica.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

tornam-se inundadas pelo fenômeno enchente/cheia dos rios da região. Diante desta realidade, o
público mais vulnerável, são as crianças que vivem na sazonalidade dos rios amazônicos. Numa
cidade em expansão, a natureza cede lugar a construções, todavia, algumas não levam em conta a
estrutura geográfica, como no caso da cidade de Barreirinha / AM, implantada em uma área de
várzea.
Cruz (2008) comenta que ao habitar um espaço o ocupante investe nele intenções, atos e
marcas que permitem aos sujeitos sobreviver às banalidades do cotidiano, dando em si uma
identidade, criando condições que possam constituir a moradia como um refúgio ou abrigo. O
espaço de moradia passa a ser o centro da existência humana, com significações físicas,
psicológicas e culturais, com conteúdo de familiaridades do mundo vivido, uma expressão de
identidade cultural que reflete um status social e pertencimento (LEMOS, 2010). Assim, a inserção
da criança num espaço urbano submerso pela água faz com que ela se comporte de diversos modos
nessa realidade específica da Região Amazônica. Assim, morar, em uma época específica do ano,
dentro das águas altera modos de vida e comportamentos sociais.

PERCEPÇÃO

A percepção humana diante de uma realidade singular e específica é o caminho traçado para
reflexão do cotidiano da criança na cheia amazônica, por isso, eis a importância de se apropriar das
funções que norteiam pesquisas de cunho perceptivo, bem como valorizar a função cerebral que
leva o sujeito a atribuir aos estímulos sensoriais os significados que fazem parte do mundo em que
estão inseridos. Por meio da percepção, a organização e a interpretação também vêm entrelaçadas,
com o objetivo de dar significados a todos os elementos que fazem parte da relação pessoa-
ambiente.
A percepção é uma ação individual de cada pessoa acerca das experiências do espaço em
que vive. Não se pode limitar a percepção diante de grandes pesquisas que buscam definir a ação do
ser humano como um propósito científico, onde somente a ciência pode vim a compreender e a
explicar. Para Merleau – Ponty (2011), tudo que se sabe do mundo, mesmo por ciência, se sabe a
partir de uma visão individual ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência
não poderiam dizer nada. As pessoas são dotadas de uma capacidade única e individual de perceber
aquilo que é significativo, que advém de uma experiência sem o qual não tem de imediato a
resposta, é preciso além de perceber, refletir e posteriormente analisar os diversos contextos que
podem estar submetidos na consciência. Logo, a percepção vem carregada de ideologias, e é preciso
diferenciá-las, ou descartá-las, e lançar a mão somente na raiz da essência de todo o contexto.

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Atualmente, os estudos de percepção vêm ganhando espaço em meio às pesquisas, por ser
uma ação individual do sujeito, principalmente sobre o ambiente em que se vive, buscando refletir
suas próprias ações e se sensibilizando com o que vem ocorrendo visivelmente no meio em que
estar inserido. A percepção como tema específico, teve seu campo de origem na fisiologia e
psicologia e foi sendo ressignificada pelas demais áreas a fim de tornar compreensíveis os
comportamentos humanos, em particular àqueles voltados a relação pessoa-ambiente (KUHNEN E
HIGUCHI, 2011).
As pesquisas sobre a percepção ambiental se consolidaram com a criação na década de 1960
do ―Grupo de trabalho sobre Percepção Ambiental‖ pela União Geográfica Internacional (UGI) e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) criou o projeto 13
dentro do ―Programa Homem Biosfera‖ (AMORIM FILHO, 2007). Entender essa relação é
vislumbrar os problemas causados pelo homem e posteriormente refletir, seguido do agir contra
suas próprias ações.
Com a continuação dos estudos, a percepção ambiental foi se intensificando e se inserindo
em vários contextos e para compreendê-la, é fundamental iniciar a discussão em torno de sua
definição, buscando vislumbrar as interpretações de vários autores na busca de entender como
pessoas pensam e agem no e com o ambiente. Pedrini et al (2010) argumentam que o conceito de
percepção ambiental perpassa temas que oscilam da Fisiologia à Semiótica, passando pelas
representações sociais, as quais se alicerçam, em grande parte, no estruturalismo e na
fenomenologia, podendo então apresentar visões de mundo diferentes. Os autores ainda discutem
que a percepção ambiental é um construto de contornos conceituais complexos, embora sejam
termos amplamente estudados no contexto socioambiental. As complexidades conceituais não
existem apenas para que se torne difícil à prática, mas para que se possa enfatizar a perspectivas
científicas e sociais. Marin et al (2003) mostram que a percepção, na busca da apreensão da
realidade, não pode ser apenas pelas vias racionalistas embasadas somente em características
conceituais. Então, não basta saber o que é percepção ambiental superficialmente, mas compreendê-
la de maneira significativa para que possa direcionar as ações do indivíduo.
A percepção ambiental se dá pela transportação do ambiente para a consciência com
objetivo de obter a verdadeira essência do espaço em que vivem. Realizando esse processo, o
sujeito refletirá e criará possibilidades de fazer com que o outro busque não apenas o que se
encontra visível aos olhos, mas o que está por trás de grandes ideologias. Nestas considerações, é
difícil no mundo contemporâneo lançar à mão a essência da percepção devido as grandes
tecnologias e informações que rodeiam o homem, por isso a importância de partir primeiramente

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dos conceitos para compreender os mecanismos que levam a essência da percepção de um


determinado lugar.

A PERCEPÇÃO DE AMBIENTE URBANO DA CRIANÇA

O estudo da percepção da criança no ambiente urbano é uma ferramenta indispensável para


compreender como a sociedade vem adquirindo conhecimentos e se sensibilizando com as questões
sociais e ambientais que afetam diretamente seu cotidiano. As crianças, a partir do seu nascimento,
percebem o mundo em sua volta. Percepções como o cheiro, os sons, o tato, os sentimentos, dentre
outros fatores, serão indicativos para entender que elas não vivem isoladas (ALENCAR, 2015). Por
meio das percepções das crianças, podem-se identificar as circunstâncias vivenciadas, as posturas
que vem sendo construídas diante do ambiente urbano e, principalmente, suas relações com o lugar
onde realiza suas ações desejáveis.
Crianças são seres que possuem uma capacidade interminável de imaginação, são capazes de
criar um mundo de oportunidades e várias maneiras de criar suas próprias brincadeiras. Brougére
(2010) argumenta que a brincadeira aparece por meio de escapar da vida limitada da criança, de se
projetar num universo alternativo excitante, onde a iniciativa é possível, onde a ação escapa das
obrigações do cotidiano. Contudo, a criança percebe o espaço em que encontra da maneira real que
está à sua frente, sem interesses ou sem se apoiar em termos que estão associados às dimensões
econômicas ambientais e sociais, diferente do adulto que estão envolvidos diretamente nas relações
que determinam ações sobre o meio ambiente. Alencar (2015) enfatiza que cada criança é um ser
único em crescimento e desenvolvimento capaz de interagir de maneira natural, social e cultural. As
percepções da criança são desenvolvidas a partir de sua interação com o mundo. Assim, esse
processo cognitivo deve ser valorizado nessa fase, onde a criança tem uma capacidade inexplicável
de explorar o seu entorno.
É de fundamental relevância conhecer como as crianças percebem os fatores que fazem
parte de seu ambiente, identificando suas satisfações e insatisfações que refletem em sua vivência.
Teixeira (2015) ressalta que a criança, ao construir a sua vivência, torna-se um ser ativo no mundo,
envolto pelas dimensões socioculturais da sociedade. Nessa fase, estão sendo construídos seus
conceitos e valores, sendo possível identificar a percepção em suas ações frente ao meio ambiente.
A percepção ocorre no momento em que as atividades dos órgãos dos sentidos estão
associados com atividades cerebrais (MELAZO, 2005). É um momento de internalização no qual a
criança não tem dificuldade, dependendo de seu interesse sua atenção é totalmente voltada para sua
exploração. É importante ressaltar que cada indivíduo ao olhar para uma mesma direção não terá a
mesma visão, suas particularidades estão entrelaçadas ao meio ambiente, pois é um momento de

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construção de identidade e caráter pessoal, mas esse processo não fragmenta a essência da
percepção da criança.

METODOLOGIA

As crianças são os principais atores por fazerem parte da construção de conhecimento de


uma sociedade. Ao discutir a percepção de ambiente urbano da criança amazônica, a pesquisa
tornou-se qualitativa, descritiva e exploratória por permitir analisar as práticas humanas diante de
suas emoções, percepções e subjetividades. O método de abordagem utilizado foi o Multimétodos,
que segundo Günther (2008) implica o uso e dois ou mais métodos de pesquisa, definidos em
função do objeto e dos objetivos almejados pela pesquisa. Ao envolver pessoa-ambiente não teve
como definir apenas um método, suas ações diante da natureza possibilitam pensamentos e
comportamentos diferentes um do outro. Foram realizados registros fotográficos que permitem uma
análise do cotidiano infantil decorrente da observação realizada. Diante desse percurso
metodológico, procurou-se destacar as vivências das crianças moradoras nos espaços inundados
vulneráveis da cidade de Barreirinha/Am.

O COMPORTAMENTO INFANTIL NAS ÁGUAS: A CRIANÇA E A CHEIA EM


BARREIRINHA /AM

Barreirinha é um município do interior do estado do Amazonas, Região Norte do país.


Barreirinha encontra-se localizada entre os rios Paraná do Ramos e Andirá. É conhecida
carinhosamente como Princesinha do Ramos por estar às margens do rio Paraná do Ramos, e o seu
principal ponto turístico vem ser o rio Andirá que se encontra atrás da cidade com águas
esverdeadas e belíssimas praias que aparecem no período da seca (verão). Pertence à Mesorregião
do Centro Amazonense e Microrregião de Parintins, localiza-se a leste de Manaus, capital do estado
no qual fica distante cerca de 331 km, possui uma área territórial estimada em de 5 750,534 km²,
com população de aproximadamente 30 658 habitantes, sendo assim o vigésimo terceiro município
mais populoso do estado do Amazonas e o terceiro de sua microrregião.
Todo primeiro semestre, a cidade é invadida pelas águas dos rios Paraná do Ramos e Andirá.
A subida do nível das águas se dá lentamente com aproximadamente 5 a 10 centímetros por dia com
duração de seis meses, como afirma Souza et al.(2010). Na geografia amazônica, o rio Amazonas
possui em suas margens grandes extensões de terras baixas, conhecidas como várzeas. Estas terras
são inundadas por seis meses pelas enchentes, característica natural da Amazônia. Diante disso,
muitas famílias sofrem com a elevação do nível dos rios, por não terem para onde ir ou suas
condições econômicas não são favoráveis para adaptarem suas casas. As águas começam a subir no
mês de janeiro devido intensidade de chuvas que se iniciam no período do inverno, as terras vão

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sendo tomadas e aos poucos percebe-se a mudança acontecer, tanto na natureza quanto ao dia-dia da
população que reside na cidade, os primeiros lugares a serem inundados são os bairros próximos à
beira dos rios.
As águas adentram a área urbana afetando todo um contexto social e ambiental. Os prejuízos
são imensos diante de fenômeno enchente/cheia, as pessoas vivem sempre um recomeço, casas são
destruídas ao longo desses seis meses, pois a água faz apodrecer mais rápida a madeira, plantas e
criações deixam de existir nesse período devido à falta de terra firme.
Barreirinha/ AM é uma cidade pacata onde as crianças vão para as escolas sozinhas, brincam
nas ruas em frente de suas casas, e andam de bicicletas realizando tarefas simples para o adulto. No
período da enchente, essas crianças são os principais sujeitos em vulnerabilidade, pois sentem a
necessidade de realizarem suas brincadeiras no quintal de suas casas ou até mesmo nas ruas que se
encontram inundadas. O cotidiano da cidade é alterado. As aulas são paralisadas, pois as
instituições também são invadidas pelas águas, com isso a criança tende a ficar em casa, e a atenção
dos pais se redobra. No entanto, as atividades dos adultos não param, é nesse momento que a
criança que fica em casa, se torna mais vulnerável, pois sem um olhar do adulto sobre suas ações
acabam que entrando em contato com as águas que os rodeiam.
A criança que vive nessa área de várzea, se relaciona e se adapta diante desse fenômeno
natural, onde as condições em que o meio ambiente se encontra não são favoráveis para o seu
desenvolvimento integral. Adger et al. (2009) afirmam que adaptação fez parte de todas as
sociedades, e continua fazendo. A adaptação da população de Barreirinha não é uma questão de
querer e sim de necessidade. No momento que as águas dos rios adentram a cidade, a primeira
providência a serem tomadas por moradores, juntamente com a gestão municipal, são as
construções de pontes que substituem as ruas de Barreirinha/AM por seis meses.
Ao longo das pesquisas, percebeu-se que as pontes espalhadas pela cidade são os principais
espaços utilizados pela criança. Por meio da ponte, as crianças realizam suas atividades diárias,
principalmente suas brincadeiras, as quais não se tornam limitadas. Diante dessa possibilidade, as
brincadeiras são recriadas e adaptadas ao contexto que vivem. Há uma relação de prazer de um
grupo de meninos pescando em um final da tarde, próximos de suas casas, visto que ao longo da
pesquisa constatou-se que as crianças preferem brincar no horário vespertino.
A ponte se transforma em instrumento de apropriação no cotidiano da criança no período da
enchente/cheia. As crianças a utilizam como suporte para suas atividades: correm, saltam, pulam no
rio, é um espaço de acesso a sua liberdade, criatividade, autonomia onde as ações contribuem para o
seu desenvolvimento e vivência no espaço urbano que todos os anos se transformam com elevação
das águas do rio Amazonas.

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Além da sensação de prazer ao realizar suas brincadeiras, a criança vive em torno de grandes
perigos, salienta-se que este público tem conhecimentos prévios dos riscos da região, mas, não
reconhece a gravidade de seus atos para sua sadia qualidade de vida. Com a subida das águas, os
rejeitos depositados de forma inadequada no espaço urbano ficam submersos, poluindo assim às
águas dos rios que adentram a cidade, causando odor em diversas áreas.
O contato da criança com o ambiente degradado o torna vulnerável as doenças que se
manifestam quando seu ambiente não detém mais de suas características naturais. O ar puro deixa
de existir devido à falta de saneamento básico, a água límpida passa a ter um cheiro desagradável
com um sabor amargo, além de sua verdadeira coloração se perder em meios ao caos da inundação.
O comportamento da criança na Amazônia, faz com que o rio seja um prolongamento do
corpo. Crianças que residem no entorno de ambientes fluviais, sentem-se atraídas pelo recurso
hídrico, todavia estes cursos de água estão fragilizados pela poluição e tornam-se, assim mesmo,
espaços usados para contato direto. Brougére (2010) enfatiza que a criança não brinca numa ilha
deserta. Ela brinca com as substâncias materiais e imateriais que lhes são propostas, ela brinca com
o que tem na mão e com o tem na cabeça. Viver na Amazônia torna o rio parte de si, por isso,
brincar na água em qualquer estado, é natural.
No período da cheia, as crianças não estão vulneráveis somente a poluição advinda da ação
do ser humano, mas também aos animais peçonhentos, que se tornam mais próximo do sujeito na
área urbana neste período, bem com as cobras, aranhas, escorpiões, formigas, abelhas e etc. Dentre
esses animais, a cobra é o animal mais temível pela população, assim também como o jacaré, os
quais já foram encontrados várias vezes ao longo das enchentes nos quintais das casas alagadas.
Outros animais peçonhentos são tão perigosos quanto às cobras, no entanto a criança encontra-se
em seu momento de descoberta, fascinação pelo lugar, não demonstra medo ao entrar em contato
com o ambiente ao seu redor, principalmente com água que faz parte de sua vivência no primeiro
semestre de cada ano.
Os riscos que cercam a criança amazônica da cidade de Barreirinha são inúmeros, mas seu
desejo de viver sua infância quebram os paradigmas de uma vida de qualidade, principalmente no
período da enchente/cheia, onde é visível a degradação ambiental, que afeta a saúde geral da
população. Salienta-se novamente que este público tem conhecimentos prévios dos riscos da região,
mas, não reconhece a gravidade de seus atos para sua sadia qualidade de vida.
Cruz (2008) ressalta que é nesse contexto socioambiental que se encontra a criança em pleno
processo de desenvolvimento aprendendo agir sobre o meio, modificando-o e modelando-o este de
acordo com suas necessidades. No período da enchente/cheia a criança sente a necessidade de um
espaço para realizar suas brincadeiras. Com isso aprendem a adaptar suas pequenas ações diante de
sua realidade que os afetam diretamente.

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Diante de suas vias de acesso inundadas e a existência temporária de pontes, a criança não
deixa de brincar e nem de utilizar seus pertences como brinquedos. Estes buscam alternativas de
uso, exploram suas imaginações e se fazem construtores de seu próprio comportamento. Na Figura
18, os meninos mais novos correm sobre a ponte, e os dois maiores andam, percebe-se que quanto
menor for à criança, o medo também é menor. A adaptação dos meninos no ambiente é
simplesmente natural. O risco de caírem são enormes devido à largura da ponte, mas isso não
impede de todos os dias no final da tarde se encontrarem.
Para a criança a vida parece um mundo de fantasias, pois, esta encontra motivos para
envolvimento em grupo, independente das circunstancias (BROUGÉRE, 2010). Ser criança, nessa
realidade, é viver as fantasias existentes dentro de si mesmo a partir das brincadeiras imaginadas e
criadas para esse período. É preciso quebrar os paradigmas existentes sobre a criança da Amazônia,
pois esta tem muito a ensinar a viver, nos mais diversos lugares com inúmeras situações-problemas.

CONCLUSÃO

A Amazônia é um chão de riqueza, com suas imensas florestas contornadas de rios e lagos.
As pessoas que habitam essa região, trazem consigo culturas e conhecimentos dos fenômenos
naturais, que ocorrem nesse palco de identidade e de afetividade. A região é muito mais do que
floresta, terra e água, quem dá sentido a esse cenário são os sujeitos que enfrentam as diversas
situações-problemas em seu cotidiano.
A pesquisa realizada na cidade de Barreirinha, com enfoque na relação da criança com o
fenômeno natural enchente/cheia que atinge todos os anos seu habitat, proporcionou não apenas
conhecer a criança inserida no meio ambiente diante da Cheia Amazônica, mas os diversos modos
que se apresentam a partir do seu comportamento nesse espaço inundando. Habitar no espaço
urbano que sofre com a enchente/cheia, altera modos de vida, principalmente das crianças que estão
na fase do brincar. Estes ao longo das observações realizadas, não se sentem limitados para a
realização de suas atividades de lazer, se apropriam do recurso hídrico que se encontra em estado de
degradação, e adaptam suas brincadeiras diante desse contexto.
As brincadeiras se mostram essenciais na vida das crianças, é a partir desse ato que inicia
suas descobertas. Na Amazônia o principal espaço ocupado para adquirir experiências é no
ambiente natural. Aqui a criança constrói sua identidade, compreende os inúmeros aspectos
relacionados ao seu espaço, e passa a viver de acordo com os fenômenos naturais da região.
O relacionamento da criança com água é uma característica que define o ser criança na
Amazônia, diante do contexto da cheia, elas não medem esforços em se fazerem presente diante da
realidade. Brincar em ambientes urbanos inundados reflete a peculiaridade da vivência na
Amazônia, todavia, quando este recurso hídrico está em degradação ambiental é preocupante.

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Ao discutir a relação entre crianças urbanas e cheias amazônicas aponta-se para uma
urgência socioambiental que afeta todos os setores da sociedade e, que, não é percebido como
vulnerabilidade, por assim ter se naturalizado no contexto em que se vive. É necessário que a partir
dessa análise questione-se o papel das políticas públicas no enfrentamento dos reflexos da questão
ambiental sobre as crianças.

REFERÊNCIAS

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LORENZONI, Irene; O'BRIEN, Karen. (eds.) Adapting to climate change: thresholds, values,
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BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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GÜNTHER, Hartmut; ELALI, Gleice A.; PINHEIRO, José Q. A abordagem multimétodos em


estudos pessoa-ambiente: características, definições e implicações. Métodos de pesquisa nos
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MELAZO, G.C. A percepção ambiental e educação ambiental: uma reflexão sobre as relações
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MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de


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SOUZA, Camilo; ALMEIDA, Regina. Vazante e enchente na Amazônia brasileira: impactos


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TEIXEIRA, Gracy Kelly Monteiro Dutra. Ambiente Degradado e Infância Vulnerável:


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(Dissertação). Manaus: Universidade Federal do Amazonas. Manaus, 2015.

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IMPACTOS DA AÇÃO ANTRÓPICA SOBRE O RIO IPANEMA NOS MUNICÍPIOS DE


ÁGUAS BELAS – PE E POÇO DAS TRINCHEIRAS – AL

Iwelton Madson Celestino PEREIRA


Mestre em Ciências Geográficas UFPE
madson85@hotmail.com
Adjaneide Tenório de Carvalho LIMA
Graduada em Licenciatura em Geografia IFPE
adjaneide_tnorio@hotmail.com
Marília Soares da ROCHA
Graduada em Licenciatura em Geografia IFPE
mari-rocha1@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo discute a degradação do rio Ipanema em uma área de estudo compreendida entre o
Município de Águas Belas – PE e Poço das Trincheiras – AL. Tendo como objetivo, identificar as
principais causas da degradação do rio Ipanema nessa área e as implicações das mesmas à dinâmica
natural do rio, refletindo sobre sua importância para a população local. Para tanto, foi realizada uma
pesquisa qualitativa de natureza explicativa com observação de campo, registros fotográficos e
aplicação de questionário. A partir da pesquisa constatou-se que, os principais fatores degradantes
do rio Ipanema dizem respeito remoção da mata ciliar; presença de barramento e aterramentos
irregulares do leito; extração de areia; e ocupação desordenada da margem. Tais ações geram
alterações na dinâmica natural do rio, gerando problemas que afetam diretamente a população local.
Palavras-chave: Rio Ipanema, ação antrópica, degradação ambiental.
RESUMEN
Este artículo discute la degradación del río Ipanema en un área de estudio entre el Municipio de
Águas Belas - PE y Poço das Trincheiras - AL. Con el objetivo de identificar las principales causas
de la degradación del río Ipanema en esa área y las implicaciones de las mismas a la dinámica
natural del río, reflexionando sobre su importancia para la población local. Para ello, se realizó una
investigación cualitativa de naturaleza explicativa con observación de campo, registros fotográficos
y aplicación de cuestionario. A partir de la investigación se constató que, los principales factores
degradantes del río Ipanema se refieren a la remoción de la vegetación ciliar; Presencia de represas
y aterramientos irregulares del lecho; Extracción de arena; Y ocupación desordenada del margen.
Estas acciones generan cambios en la dinámica natural del río, generando problemas que afectan
directamente a la población local.
Palabras clave: Río Ipanema, Acción Antrópica, Degradación del medio ambiente

INTRODUÇÃO

Corpos hídricos têm sido, historicamente, afetados por processos de uso, não sustentáveis,
de suas potencialidade econômicas. Nesse sentido, é fundamental refletir como os impactos gerados

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pela atuação desordenada de grupos humanos podem gerar problemas de ordem estrutural e
ambiental para esses grupos e para o sistema como um todo.
A resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA 001, de 23 de janeiro de
1986, em seu artigo 1º, define impacto ambiental como:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente afetam: I- a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II- as
atividades sociais e econômicas; III- a biota; IV- as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente; V- a qualidade dos recursos ambientais. (IBAMA, 1992, p. 39-40)

Embora não seja muito clara, a normativa supracitada da a entender que tais alterações
venham em detrimento de uma perda de qualidade, o que, no bojo das interpretações vigentes soa
impreciso. A literatura especializada (MOREIRA, 1992; WESTMAN, 1985; WESTHERN, 1988;
ISO 14.001, 2004, citados por SÁNCHEZ, 2013) já parece concordante que, ao se tratar de
impactos ambientas, deve-se considerar também modificações de cunho benéfico, desde que
alterem de forma temporária ou permanente, as condições vigentes. Embora divirjam em alguns
pontos, todos parecem uníssonos no fato de considerar que tais impactos só podem ser resultantes
da ação humana.
Neste mesmo sentido legislações de países como Finlândia, Portugal, Hong Kong (território
independente da China), Angola, Chile etc., deixam claro que a noção de impacto ambiental
circunscreve-se no contexto das modificações de estruturas naturais (SÁNCHEZ, 2013). Nesse
trabalho, por consequência, adotar-se-á, à despeito da resolução brasileira vigente (imprecisa a
nosso ver), o entendimento de que todas as atividades observados serão inevitavelmente impactante
ao ambiente estudado. Contudo, sempre que tais atividade indiquem uma perda de qualidade do
espaço observado, optar-se-á pelo uso do termo degradação ambiental, uma vez que essa indica
"uma perda ou deterioração da qualidade ambiental" (SÁNCHEZ, 2013, p. 27).
A água é, sem sombra de dúvida, o bem mais caro à existência humana, não só por seu
consumo direto, fundamental à manutenção das funções vitais do organismo, como para o
desenvolvimento das mais variadas atividades econômicas que subsidiam a estrutura social vigente.
A perspectiva de vastidão dos corpos hídricos, criaram, ao longo do tempo, a ideia de perenidade
desse bem de uso coletivo. Com o passar do tempo, e principalmente a partir da década de 70 do
século XX, o entendimento do possível esgotamento desse bem natural, gerou uma movimentação
internacional. No início do século XXI, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um alerta,
onde afirma que, mantidos os padrões de consumo e exploração, a existência humana estaria
impossibilitada em 50 anos, pela inexistência de água potável suficiente (MELO, 2007).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dentre o conjunto dos corpos hídricos, mais afetados pela ação humana estão os rios. Sua
característica aparentemente transitória, dado o fluxo continuo de suas águas, criou a sensação de
resiliência perene e ilimitada na paisagem.
A legislação ambiental brasileira define como rio degradado àquele que, por causas diversas,
sofreu impactos ambientais e apresenta uma ou mais das características estabelecidas pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 1986), tendo suas águas afetadas de maneira parcial ou
totalmente ao longo de seu curso.
Conforme Rutherfurd et al. (2000 apud SILVA, 2010), seria possível elencar cinco elementos
interativos que definiriam a degradação de um rio. Estes aspectos considerariam estruturas morfológicas,
como a forma e a quantidade de água; estruturas químicas, como a qualidade da água; e estruturas biológicas,
como a condição da mata ripária e a diversidade de grupos biológicos habitando o rio.
Embora, corriqueiramente tratemos as questões de degradação ambiental sob a perspectiva
dos donos causados a estrutura biológica e a interrupção de seus ciclos, não podemos, sob o risco de
incorrer em reflexões desconexas com as condições vigentes, desconsiderar os impactos
econômicos causados pelo mal uso dos recursos disponíveis. Cavalcanti (1997 apud SOUZA;
NEUMANN-LEITÃO, 2000 p.111), afirma que "impactos ambientais geram problemas de
insustentabilidade em termos sociais, ambientais e econômicos, tanto em nível local quanto global".
O aspecto social, isto é, ligado às características e às ações do componente humano, está
diretamente ligado as condições socioeconômicas dos grupos de assistem a região. Uma vez que,
por razões sociais, pode ocorrer, por exemplo, mau uso dos recursos naturais e geração de pressões
exacerbadas sobre o ambiente, criando um ciclo que escassez continua, que levará ao colapso total
dos sistemas biológicos e econômicos (KAMOGAWA, 2003).
O uso do espaço, pelas populações humanas, carrega consigo inúmeras contradições,
gerando, por vezes, conflitos que inviabilizam a própria ocupação. A exaustão dos recurso naturais,
para fins de sobrevivência é um bom exemplo. Por serem de uso coletivo, tais recursos, se não
utilizados para fins lucrativos deveriam estar acessíveis a todos. Nesta perspectiva, a conservação
de tais recursos é de interesse coletivo e para tanto deve resguardas às gerações futuras as condições
mínimas de uso.
A lei 9.433/97 dispões sobre a política nacional de Recursos Hídricos, e indica que a gestão
dos rios deve ser feita de forma integrada. Ainda determina que é a bacia hidrográfica a unidade
territorial para a implementação das políticas oriundas de suas diretrizes. Se considerar ser o rio e
por conseguinte, a bacia hidrográfica um sistema aberto, apto a receber uma alta carga de energia, é
fundamental que se considere, para seu gerenciamento, todo o curso de forma integrada.
Ciente das normativas legais e das premissas que sustentam o instrumento jurídico
supracitado, optar-se-á, no bojo das discussões propostas nesta perquisição, adotar uma escala

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

espacial e de analise diferente. Em detrimento de uma análise da bacia hidrográfica,


corriqueiramente adotada, foi feita a opção do aumento da escala, para permitir a observação do
trecho do rio, que corta os municípios de Águas Belas-PE e Poço das Trincheiras-PE, na zona de
contato entre os estados de Pernambuco e Alagoas. A região fronteiriça foi usada como locus
representativo das dificuldades de gestão de corpos hídricos que atravessam múltiplos territórios,
carregando consigo o somatório das interferência sofridas ao longo do seu curso.
Dessa forma o presente trabalho objetiva a identificação de possíveis causas de degradação
do rio Ipanema ao longo dos Municípios de Águas Belas – PE e Poço das Trincheiras – AL,
buscando, especificamente, apresentar as principais atividades econômicas e de subsistência
desenvolvidas ao longo da calha do rio e de suas áreas marginais, e indicar possíveis relações de
dependências da populações locais com corpo hídrico.
Nesse sentido, este artigo foi elaborado de forma a fazer uma breve apresentação da área de
estudo, seguido de um apresentação sucinta dos materiais e métodos utilizados, durante a pesquisa,
e, por fim, apresentar e discutir as condições observadas na paisagem.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do rio Ipanema apresenta uma área de 6.209,67 km², compreendida
entre as latitudes 9°53‘16‖ e 8°18‘38‖ sul, e entre as longitudes 37°27‘42‖ e 36°37‘41‖ oeste. Sua
área abrange total ou parcialmente os municípios de Pesqueira, Alagoinha, Venturosa, Pedra,
Tupanatinga, Buique, Águas Belas, Itaiba, Caetes, Ibirim, Manari, Paranatama, Saloa, Iati, Arco
Verde e Bom conselho, no Estado de Pernambuco; e Ouro branco, Maravilha, Dois Riachos,
Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras, Carneiros, Olho d‘água das Flores, Olivença, Major
Isidoro, Batalha, Belo Monte, no Estado de Alagoas (SANTOS; NICÁCIO; GONZAGA, 2011).
A nascente do rio Ipanema se situa no município de Pesqueira - PE, e sua foz localiza-se no
município de Belo Monte - AL. Intermitente, por definição, enfrenta longos períodos com seu leito
exposto, o que gera um conjunto de atividade dentro da própria calha pluvial.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa qualitativa, de natureza explicativa, segundo GIL, (2002, p. 42) ―têm como
preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos". Ciente disso, optou-se, neste trabalho, por adotar tal abordagem, uma vez que permite
ao pesquisador, elencar, a partir de sua análise, o conjunto dos fatores que podem interferir na
disposição dos objetos e fenômenos componentes da paisagem estudada.
A pesquisa de campo foi utilizada como método exploratório das condições do trecho
estudado e o registro fotográfico foi utilizado como parâmetro de apreensão da paisagem para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

posterior discussão. Conversas informais foram desenvolvidas com os moradores, para subsidiar o
melhor entendimento dos processos observados.
A observação do curso do rio estudado foi realizada através de caminhadas nas margens e na
estrada vicinal que segue seu percurso, perfazendo uma área de aproximadamente 38 quilômetros.
A atividade foi realizada num período de três semanas.
Como subsídio para a reflexão sobre a importância econômica do rio Ipanema, para a
população ribeirinha, foi aplicado um questionário simples, compostos apenas de três perguntas
abertas, que discorriam sobre as atividade econômicas e de subsistência vinculadas ao rio. A
aplicação foi aleatória e vinculada exclusivamente a disponibilidade de participação e ao
desenvolvimentos de atividades ribeirinhas. Um total de 20 famílias se dispuseram a participar da
atividade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os rios intermitentes diferem em alguns aspectos dos rios permanentes, em suas


características e também na maneira como os moradores de seu entorno se relacionam com os
mesmos. Tais diferenças, contudo, não suprimem a forte influência, que esses corpos hídricos
exercem na organização dos espaços e na vida da população circundante. O rio Ipanema, nesse
contexto, não é uma exceção a regra.
Os aspectos identificados ao longo da área de estudo, mostram que as atividades e
intervenções humanas a partir da apropriação e uso inadequado dos recursos naturais, contribuem
para a degradação cada vez mais acentuada da calha do rio Ipanema.
Diante dessa realidade optamos por apresentar as questões ligadas aos fatores degradantes
das condições ambientais separadamente da relação econômica desenvolvida pela população que
assiste a região marginal do rio, embora esteja muito claro, durante as discussões que se seguem,
que tais fatores se inter-relacionam. Tal escolha foi feita dado o entendimento que, por vezes, as
relações de subsistência, criadas com cursos d'água, embora desarmônicas, acabam por ocupar lugar
secundário no panorama total de empobrecimento ambiental.

PRINCIPAIS FATORES DE DEGRADAÇÃO DO RIO IPANEMA NO TRECHO ENTRE OS


MUNICÍPIOS DE ÁGUAS BELAS-PE E POÇO DAS TRINCHEIRAS-AL.

Como a presença do fluxo hídrico não é continua, e o ideário popular tende a vincular a
existência de um rio à presença de água, nos meses de estiagem e de vazão total, há uma
diversificação dos usos do leito, gerando problemas severos para os meses de cheia. Os principais
problemas identificados, ao longo da área de estudo dizem respeito à: destruição da mata ciliar;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ocupação irregular do solo; despejo de esgoto e lixo doméstico; atividades agrícolas irregulares;
presença de barramento e aterramentos irregulares do leito; e extração de areia.
O processo de apropriação do espaço, por meio das atividade humanas tendem a gerar
modificações morfológicas na paisagem, construindo aparatos técnicos capazes de alterar de forma
definitiva a dinâmica ambiental. Santos (2014), indica ser a artificialização dos espaços a marca
preponderante da ação humana. Refletindo sobre o processo de desenvolvimento das áreas urbanas
o autor indica uma constante desconfiguração de espaços arbóreos em detrimento de espaços
artificiais, "fabricados com restos da natureza primitiva" (p. 46).
A destruição da vegetação nativa das margens do rio é um dos principais fatores que
ocasionam sua degradação. Tal fato ocorre porque os proprietários das terras adjacentes ao rio,
eliminam toda a vegetação, para dar lugar ao cultivo de plantações de verduras, legumes, frutas e
para implantação de pastos para a criação de animais. Considerando-se o contexto pedogênico e
edafoclimático circundante, tal escolha parece "lógica" (embora não justificável), uma vez que é às
margens dos corpos d'água, mesmo que sem vazão, que haverá maior disponibilidade hídrica.
Oliveira e Rios (2013 p.13) indicam que ―a supressão da vegetação (...) potencializa a erosão de
suas margens, o assoreamento da calha, e alterações do relevo e da paisagem de suas encostas.‖
O aterro do leito do rio foi outra prática identificada em quatro pontos diferentes ao longo da
área de estudo. Tais aterramentos (Figura 1) são utilizados como ponto de passagem de veículos no
período do rio seco. Merecendo destaque por, aparentemente, contar com o aval do poder público
local.
Figura 1: Aterro do leito do rio Ipanema.

Leito do rio Leito do rio


Aterro do leito

Fonte: Marilia, 2014.

A legislação ambiental vigentes, e as normativas estaduais, de Pernambuco e de Alagoas,


são reticentes em propor meios de preservação das estruturas dos rios e de manutenção da qualidade
do fluxo de água. Contudo, a ida a campo apresenta uma realidade muito distinta, denunciando o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fato de que processos mínimos de planejamento ambiental vem sendo grosseiramente


desconsiderados.
A observação da imagem deixa clara a carga de sedimento depositada no leito do rio, e, que,
posteriormente, durante o período de cheias, serão transportadas pelo fluxo de água para serem
depositados à jusante provocando um grave assoreamento do leito do rio e diminuindo de forma
considerável a lamina d'água, potencializando o processo de avaporação.
A construção de estruturas semimóveis, como a exemplificada acima, não é o único tipo de
empreendimento desenvolvido pelo poder público local. Observou-se ainda a presença de
barramentos na altura do sítio Aliança, no município de Águas Belas- PE, e de pequenas pontes no
município de Poço das Trincheiras - AL, (Figura 2) sendo estas nas imediações do Sítio Patos e
Sítio Passagem. Consideramos que tais obras, alteram o curso natural do rio, pois o escoamento da
água sofre alterações (―impedimentos‖), que, por sua vez, implicam na descaracterização da
dinâmica natural do leito do rio, alterando o canal, no que diz respeito à profundidade, largura e
forma.

Figura 3: Ponte sobre o rio Ipanema no Sítio Passagem

Fonte: Marília, 2014.

De acordo com Cunha (1995, citado por COELHO, 2008) qualquer barramento do canal
fluvial, por mais planejado que seja, irá gerar interferência no sistema lótico. Tal interferência, pode
adicionar características lénticas ao sistema, inferindo na dinâmica do ambiente. Nesse sentido,
diante dos modelos de barramentos observados, pode-se inferir que o sistema natural do rio
Ipanema está sofrendo forte interferências por ações do poder local, o que nos indica que o
planejamento de ações desconhece ou desconsidera as normativas impetradas pelos instrumentos
normativos estaduais e federais no que concerne a gestão de corpos hídricos.
Adicionalmente, foi constatada, ainda, a criação de bovinos, caprinos, ovinos, equinos e
suínos em pocilgas e currais bem próximo às margens e até mesmo no leito do rio, onde o despejo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de dejetos provenientes são lançados sem qualquer tratamento. Esse fato, por sua vez, ocasiona o
alto índice de material orgânico na água no período de correnteza e, por consequência,
contaminação das mesmas.
Também foram observados vários pontos de despejo de esgotos, de lixo e resíduos
domésticos ao longo do curso do rio, tais como no município de Águas Belas (no sítio Aliança) e
em Poço das Trincheiras (na sede do município e no povoado Quandu - sendo que neste povoado, a
área de despejo de esgotos domésticos se encontram bem próximas de poços e cacimbas, ou seja,
locais destinados à capitação de água para o consumo das famílias para diversos fins, pondo em
risco a saúde dessas, devido à qualidade sanitária da água).
A esse respeito Maltchik (1999, p.3) ressalta que ―nos rios temporários as enxurradas,
depois do período seco, produzem uma (re)suspensão e transporte dos poluentes acumulados
durante a estação seca‖. Tal condição nos indica que o despejo de esgotos domésticos potencializa a
ocorrência de contaminação das populações locais, e elevação da sua vulnerabilidade. Quanto aos
despejos observados cabe, nesta analise, lembrar que um dos principais fatores que propiciam sua
ocorrência, é a quase total falta de saneamento básico, nas comunidades visitadas. Criando uma
situação onde o leito do rio é usado, simultaneamente, como local de despejo das águas servidas e
de captação dos volumes de água necessários ao desenvolvimento da atividade diárias.
Outra atividade observada de maneira muito comum, nas comunidades de Barra da Tapera,
Povoado Quandu, Pedra da Bola, Riachão e Passagem, foi à extração de areia e sedimentos do leito
e dos barrancos das margens. Essa extração geralmente é feita com uso de máquinas retro
escavadoras, tratores, caminhões, e/ou manualmente, em carroças e carros de boi. Essa retirada de
sedimentos nas encostas e leito do Ipanema é mais intensa em período do rio seco, o que resulta na
descaracterização do canal e até mesmo na drenagem do rio.
Sobre esse tipo de ação Oliveira e Mello (2007, p. 386) dizem que ―os recursos hídricos são
bastante sensíveis às atuações antrópicas, sendo a extração de areia uma delas, tornando-se mais
problemática ainda quando feita de forma incorreta, sem os devidos critérios e cuidados, o que pode
acarretar graves agressões ao meio ambiente‖.
Ainda de acordo com os autores ―o efeito imediato e direto desta ação é a redefinição dos
limites do canal, seja pela retirada ou adição de materiais, que por sua vez pode promover uma
mudança no padrão de fluxo e de transporte de sedimentos‖ (OLIVEIRA; MELLO, 2007 p. 374).
A titulo de relato de campo, deve-se agregar, à reflexão pretendida, que, durante a atividade
de observação de campo, os observadores foram diversas vezes inquiridos sobre a natureza de suas
trabalhos por pessoas que desenvolviam atividades de retiradas dos sedimentos do rio, segundo os
mesmo, por receio de fiscalização, fato que justifica a inexistência de registros fotográficos. Isto

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posto, pode-se perceber que havia total ciência da ilicitude da ação, contudo, sem nenhuma
interferência no ato.
Outro fator que merece destaque é o fato de, salvo os casos de retirada manual para uso
domestico, a ação supracitada estava subsidiada por forte aparato econômico materializado por
meios técnicos, como maquinas e caminhões, que indicam poder aquisitivo por parte dos
indivíduos, descaracterizando, assim, condições de subsistência, frente a indicativos de exploração
econômica dos recursos ambientais.
Observou-se que ao longo das margens do rio Ipanema a grande maioria dos agricultores e
pecuaristas utilizam a água encontrada no subsolo do leito do rio, para irrigação de plantações
destinadas a alimentação dos animais, assim como para irrigar plantações de verduras, legumes e
frutas.
Quando questionados sobre a questão de fiscalização ou regulamento do uso e exploração
dos recursos do rio, todos os indivíduos alegaram não conhecer a existência, muito menos a atuação
de algum órgão nesse sentido, no rio Ipanema.
Outro aspecto observado durante as conversas, que merece destaque, é que, a condição de
proprietário das terras, às margens do rio, torna-se fator primordial para a exploração e uso do
mesmo. Os indivíduos tem a noção de propriedade do próprio rio Ipanema, no trecho que tangencia
suas terras. Isso me materializa na construção de cercas que vão até o leito do rio.
Numa observação geral da paisagem local, observa-se um leito com grande quantidade de
vegetação, repleto de pequenas ilhas, grande camada arenosa, uma quantidade exorbitante de poços
de extração de água do subsolo, no leito seco, e um uso exorbitante das áreas marginais para
habitação e cultivo. As condições naturais de secura e desolação (AB'SÁBER, 2012) contrastam
com um uso desproporcional dos limitados recursos disponíveis. Tal condição só é possível diante
da peculiar ocupação intensa que vive os sertões nordestinos diante de uma total falta de
planejamento e gestão do poder público.

A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO RIO IPANEMA PARA A POPULAÇÃO RIBEIRINHA


DOS MUNICÍPIOS DE ÁGUAS BELAS E POÇO DAS TRINCHEIRAS.

Diante das questões referentes ao rio Ipanema, buscamos identificar que atividades
econômicas são desenvolvidas nas comunidades que assistem a área de estudo, vinculadas ao uso
do rio Ipanema, e ainda compreender qual a importância das mesmas para esta população. Para tal
elaborou-se questionário simples que foi aplicado de forma direta aos sujeitos da pesquisa. As
respostas permitiram a identificação de atividades como: pesca; extração de areia; pecuária; e
produção de verduras e legumes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O questionário foi elaborado de forma simples, buscando as respostas mais diretas e


pudessem, sem possibilidades de múltiplas interpretações identificar as relações de dependência
resultante da relação Homem/Rio. Para tal, perguntou-se: a) Que atividade econômica é
desenvolvida pela família, vinculada ao uso do rio Ipanema e aos seus recursos? b) Qual a renda
mensal gerada por essa atividade? c) Qual a finalidade da renda gerada por essa atividade vinculada
ao rio Ipanema.
Observou-se que nos questionários respondidos por famílias que desenvolvem atividades
relacionadas à extração da areia, a renda média mensal é de setecentos reais, podendo variar em
detrimento dos meses do ano. Quanto à finalidade da renda, todos alegaram o sustento da família.
Os indivíduos que desenvolviam atividade ligadas a atividades como pecuária leiteira, a
renda mensal é bastante variada, dependendo do tamanho do rebanho, sendo encontrada renda de
quinhentos reais até mil e quinhentos reais. Já no que diz respeito à finalidade, a resposta variou,
indo desde a indicação de uso para sustento da família, passando pelo melhoramento do próprio
rebanho, até o auxilio na manutenção de outras atividades econômicas.
As famílias que desenvolvem a irrigação para produção de verduras, legumes e frutas
também foi constatado que a renda é variável de acordo com área e produto cultivado, mas, que a
finalidade da renda gerada, é sem sobra de dúvida o sustento da família.
O questionário com as famílias que desenvolviam as atividades de pescadores o valor da
renda média mensal mostrou-se um dos mais baixos (de aproximadamente quatrocentos á
setecentos reais), que, segundo os mesmos era usada para o sustento do grupo familiar. Vale
ressaltar, contudo, que, no momento da aplicação do questionário, esta atividade não estava sendo
desenvolvida, pois, a mesma, era realizada na água represada na barragem no sítio Aliança, que,
diante de um evento de seca severa, se esgotou. Tal realidade forçou os chefes das famílias, que
viviam dessa atividade, a migrarem, para outras localidades, em busca de emprego que
subsidiassem o sustento familiar.
O uso da água do Ipanema para a irrigação possibilita a produção agropecuária das famílias
ribeirinhas, otimizando o uso das terras das margens do rio, viabilizando o desenvolvimento de
atividades agrícolas, como agricultura e a pecuária, em épocas do ano em que as condições
meteorológicas não são propícias ao seu desenvolvimento. Assim, a água acumulada no subsolo do
Ipanema, utilizada para irrigação, favorece o desenvolvimento da principal atividade econômica das
comunidades, inseridas na área de estudo, enquanto que a extração de areia, por sua vez, garante a
algumas famílias uma renda suficiente para sua subsistência econômica.
Isto posto, fica claro que o rio Ipanema, mesmo sendo intermitente, é fundamental para a
economia das populações ribeirinhas, e por este motivo carece de maior atenção do poder público.
Mesmo diante de uma sociedade predominantemente urbana e majoritariamente desconexa com os

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elementos da natura, é fundamental o desenvolvimento de ações que criem condições de


coexistência dessas atividades com um ambiente salubre, fundamental à existência humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ação humana sobre sistemas ambientais tem causado grande pressão sobre determinadas e
espécies e sobre os próprios sistemas. Contudo, considera-se prudente compreender que as
condições de sobrevivência da espécie humana sempre tiveram atreladas as modificações espaciais.
Nesse sentido, o grande desafio que se apresenta ao pesquisador contemporânea o desenvolvimento
de técnicas que possam conciliar as necessidades humanas às condições de suporte, a essas
necessidades, ofertadas pelo meio.
Diante disso o presente estudo, conseguiu elencar os principais fatores antrópicos que têm
fragilizado do sistema rio (Ipanema), no trecho em que o mesmo cruza a divisa de duas importantes
porções do território nacional. Nessa perquisição percebemos que uma parti importante dos
problemas observados decorrem das condições precária a que a populações locais são submetidas,
gerando ressonâncias no próprio ambiente circundante. Uma parcela importante dos problemas
gerados pelas ações humanas, como a degradação da qualidade da água subterrânea acaba gerando
um ônus para os próprios indivíduos geradores.
Perante tal realidade é fundamental fugir do constante vezo acadêmico de responsabilização
cega dos grupos populacionais que assistem determinadas áreas sem considerar que suas ações, por
vezes, são decorrentes das condições degradantes a qual são submetidos. Assim, considera-se
pertinente lembrar as admoestações do professor Roberto Lobato Correa (2005), que, ao tratar do
estudo da natureza indica que, este, deve ser feito incluindo o ser humano. Um ser humano, segundo
o mesmo, qualificado e dotado de técnicas, pois, qualquer tentativa de definição de natureza que o
exclua, será falha, pois, desconsidera, aquele que, por suas ações, é simultaneamente algoz e vítima.

REFERÊNCIAS

AB'SÁBER, A. N. Os domínios de Natureza do Brasil: potencialidades paisagística. 7. ed. São


Paulo: Ateliê Editorial, 2012. 158p.

CHAVES, A. Importância da Mata Ciliar (Legislação) Na Proteção dos Cursos Hídricos,


Alternativas para sua Viabilização em Pequenas Propriedades Rurais. Passo Fundo, 2009.

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Geografia. Uberlândia v. 9, n. 26, 2008. p. 16 - 32.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
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KAMOGAWA, L. F. O. (2003). Crescimento econômico, uso dos recursos naturais e degradação


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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A PERCEPÇÃO SOCIAMBIENTAL E IDENTIDADE CULTURAL EM ÁREA DE


RISCO EM CAMPINA GRANDE/ PB

Helena Maria da Conceição de ARAÚJO


Mestranda do Programa de Pós Graduação em Recursos Naturais/ UFGC
E-mail: helenaaraujo.geo@gmail.com
Jéssica Morais Braga LYRA
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Recursos Naturais/ UFGC
E-mail: jessicabragaadm@gmail.com
Antonio Fagundes Gomes SILVA
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Recursos Naturais/ UFGC
E-mail: fagundes-gomes@hotmail.com
Rosimery Alves de Almeida LIMA
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Recursos Naturais/ UFGC
E-mail: rosy.alves@bol.com.br

RESUMO
A Educação Ambiental (EA) é uma ferramenta de sensibilização social a eventos e fenômenos que
podem levar a uma degradação ao meio ambiente, onde o homem é o agente transformador da
natureza e vítima de tais atos. O risco apenas é concretizado caso exista um indivíduo ou coletivo
que o perceba, sendo assim um objeto construído socialmente, tanto em ações quanto em percepção,
e está intrínseco ao manejo dos recursos naturais quando se percebe que por meio da intervenção
humana modificando o espaço de acordo com suas necessidades, muitas vezes, concebem o risco
neste mesmo espaço. Dessa forma, este trabalho tratará do espaço socioeconomicamente
marginalizado da Vila dos Teimosos, na cidade de Campina Grande/PB, localizada a margem
direita do açude de Bodocongó e que apresenta, primordialmente, a problemática do risco
geoambiental que junto a EA desenvolvida em uma comunidade como esta, vulnerável ao risco, se
torna de fundamental importância. Neste sentido, objetiva-se fazer uma análise socioespacial,
buscando compreender como os moradores da região percebem e se relacionam com os recursos
naturais disponíveis e como Educação Ambiental pode sensibilizar os residentes.
Palavras- Chave: Educação Ambiental – Risco – Percepção Socioambiental.
ABSTRACT
Environmental Education (EA) is a social awareness tool for events and phenomena that can lead to
a degradation to the environment, where man is the transforming agent of nature and a victim of
such acts. The risk is only realized if there is an individual or collective that perceives it, thus being
a socially constructed object, both in actions and in perception, and is intrinsic to the management
of natural resources when it is perceived that through human intervention modifying the space
According to their needs, often conceive the risk in this same space. Thus, this work will deal with
the socioeconomically marginalized space of the Vila dos Teimosos, in the city of Campina Grande
/ PB, located on the right bank of the Bodocongó reservoir and which presents, mainly, the problem
of geoenvironmental risk that together with EA developed in a community, As this one, vulnerable
to risk becomes of fundamental importance. In this sense, we aim to do a socio-spatial analysis,
trying to understand how the community that lives there perceives and relates to the available
natural resources and how Environmental Education can sensitize residents.
Keywords: Environmental Education - Risk - Socio-Environmental Perception.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Na atualidade, quando se trata do estudo da urbanização e crescimento populacional em


médias cidades, faz-se necessária a análise dos elementos que, por ventura, formam entraves no
desenvolvimento e bem estar da população como um todo. A percepção auxilia na identificação de
possíveis elementos que exponham os residentes a possíveis riscos e vulnerabilidades, a fim de
elaborar estratégias de planejamento, gestão e inclusão.
O modelo de ocupação terrestre e o uso dos recursos naturais pelo homem possibilitaram o
surgimento do risco e vulnerabilidades, visto que foi utilizado desenfreadamente o espaço. Embora
este seja modificado por todos que o habitam para atender as suas necessidades, são os mais
carentes e de baixa renda que residem em áreas com más condições urbanísticas sanitárias e em
situações de risco e degradação ambiental (Torres, 1997). Isso ocorre, pois são áreas desvalorizadas,
públicas (sujeitas a invasões), apresentando características inerentes ao risco.
Portanto, a Educação ambiental vem a contribuir na conscientização/ sensibilização e
também no reconhecimento da história local possibilitando a valorização da identidade da
comunidade e mensurar a percepção de cada um a respeito do uso e manejo dos recursos naturais,
impactos decorrentes e possíveis riscos. Para tanto, utilizou-se como metodologia levantamento de
dados, pesquisas em referenciais bibliográficos que tratem dessa temática, visita à comunidade,
aplicação de questionários e entrevistas aos moradores, profissionais da saúde, educação, assistência
social e representantes políticos, elaboração de gráficos e tabelas que auxiliem na mensuração dos
riscos e em, posterior analise da área.

PERCEPÇÃO DO RISCO E PROCESSO DE URBANIZAÇÃO/OCUPAÇÃO

O risco é um objeto social, e para que exista é necessária a concepção de alguém, ou seja, a
população deve percebê-lo e sofrer com ele. O risco ambiental e/ ou natural por fatores condizentes
a variações climáticas, hidrológicas, geodinâmicas internas e externas, é, na maioria das vezes, tidos
como únicos e mais relevantes, mas também são objetos de estudos os riscos tecnológicos, como
aqueles por meio do transporte, infraestrutura, das atividades industriais e comercias, e os riscos
mistos, que são aqueles que envolvem a natureza e o ser humano, como a poluição das águas, dos
solos, a degradação ambiental etc.
Áreas de risco, portanto, podem ser consideradas como aquelas que sofrem por fatores
naturais (índices pluviométricos, furacões, terremotos, maremotos, enchentes e inundações e
deslizamentos), como fatores sociais (violência, ausência de políticas públicas a saúde, saneamento
básico e água limpa e doenças endêmicas). O conceito de risco e vulnerabilidade social para alguns
autores são sinônimos, ou muitas vezes, encarados como o mesmo, entretanto com base em outros

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

cientistas percebem-se as distinções.


A ONU (Organizações das Nações Unidas) conceitua vulnerabilidade como: ―o conjunto de
processos e condições resultantes de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais‖ quando
determinam o nível de risco que a população sofre. Já Kaztman (apud Mello, 2010) afirma que a
―vulnerabilidade está relacionada com a incapacidade de uma pessoa ou de um domicílio de
aproveitar-se das oportunidades disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar
sua situação de bem-estar.‖
Percebe-se que os riscos no Brasil e a exposição à vulnerabilidade advêm do processo
acelerado de urbanização, apresentando falta de planejamento e crescimento dos grandes centros
urbanos. Na cidade encontra-se grande contingente de ofertas de empregos, as populações, antes
rurais, dirigem-se aos grandes centros urbanos em busca de melhoria de vida, no entanto o sistema é
cruel e excludente e muitos desses ocupam áreas que não são apropriadas para habitações, além da
falta de assistência a serviços básicos e essenciais como: saúde, educação, segurança e lazer. Além
de problemas sociais, a urbanização transformou a paisagem, como afirma Umberlino (2007):

―A urbanização modifica todos os elementos da paisagem: o solo, a geomorfologia, a


vegetação, a fauna, a hidrografia, o ar e o clima. A ocupação indiscriminada nos centros
urbanos é uma das principais fontes de problemas ambientais das cidades, sendo que esses
locais podem ser caracterizados pela elevada desigualdade em termos de distribuição da
renda, precárias condições de moradias e acesso reduzido aos serviços públicos,
particularmente na parcela da população mais pobre e vulnerável em termos
socioambientais.‖

O processo de urbanização brasileira se deu de maneira desordenada, trazendo consigo o


aumento de índices de pobreza e miséria, como afirma Torres (2002) ―serviços urbanos básicos,
como: distribuição de água tratada, coleta, saneamento básico e designação adequada dos resíduos
sólidos, geram doenças e poluição das águas‖, que se apresentam como o fator mais decisivo para
formação de áreas de risco. Segundo Lopes (2002) ―as deficiências do saneamento, planos e
projetos de controle e/ou combate a degradação ambiental em relação à água se torna ineficaz‖, uma
vez que os centros urbanos em áreas marginalizadas utilizam os cursos de água para lançar esgotos,
majoritariamente, sem tratamento, propiciando a geração de doenças e aumentando-as em enchentes
e inundações.
São diversos os problemas acarretados no modelo de urbanização brasileiro, sobretudo a
forma de lançar os dejetos domiciliares e industriais, que geralmente são direcionados a córregos e
cursos de água, aumentando a poluição das águas e ocasionando doenças e propiciando
vulnerabilidade maior ao risco. O modelo de urbanização, o processo, e os resultados giram em
torno das necessidades que as pessoas buscam em suprir e que consequentemente não ocorrem,
expondo-as a um risco socialmente concebido.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Entender o fenômeno do risco a partir das categorias geográficas se faz importante para que
se possam fornecer subsídios, através de estudos e pesquisas, para que a sociedade e os gestores
públicos possam intervir de forma mais eficaz, compreendendo o risco e também na formulação de
políticas públicas que amenizem esse fenômeno.

HISTÓRIA/ EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE IDENTIDADE


CULTURAL NO MEIO URBANO

A Educação Ambiental atualmente é um instrumento de sensibilização coletiva, e auxilia a


Geografia do Risco a uma percepção maior a respeito de vulnerabilidade do risco geoambiental e
socieconômico. Fortunato e Neto (2012.p. 15) consideram que:

[...]A preocupação ecológica com a natureza é algo novo que vem a passos largos, rápidos e
desordenados, porém reconhecidamente atrasados para seu importante compromisso,
tentando suprir seu tardio surgimento. Essa novidade é, na verdade, corolário proporcional
da descoberta de quão abruptas e violentas vêm sendo as ações antrópicas. (2012, p.15)

A partir de 27 de Abril de 1999 a Educação Ambiental torna-se lei. O Artigo 1º da Lei nº


9795/1999 da Política Nacional de Educação Ambiental, define que os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade é a EA (CONGRESSO NACIONAL,
1999).
Dispor da Educação Ambiental para gerir, planejar e possivelmente prevenir o risco a
comunidades vulneráveis apresenta caráter relevante, partindo do pressuposto, como já supracitado,
que o risco depende da percepção humana, e por vezes o agente prejudicado pelo risco não o
percebe por falta de conhecimento de suas causas e consequências. Alguns tipos de analise partindo
da educação ambiental foram feitos:

Educação sobre o meio ambiente: trata-se da aquisição de conhecimentos e habilidades


relativos à interação com o ambiente, que está baseada na transmissão de fatos, conteúdos e
conceitos, onde o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado; Educação no meio
ambiente: também conhecido como educação ao ar livre, corresponde a uma estratégia
pedagógica onde se procura aprender através do contato com a natureza ou com o contexto
biofísico e sociocultural do entorno da escola ou comunidade. O meio ambiente provê o
aprendizado experimental, tornando-se um meio de aprendizado; Educação para o meio
ambiente: processo através do qual se busca o engajamento ativo do educando que aprende
a resolver e prevenir os problemas ambientais. O meio ambiente se torna uma meta do
aprendizado. (Sauvé 1997 apud Ministério da Educação 2007, p. 11).

Com isso, percebe-se que a pratica da Educação ambiental em escolas e mesmo na


comunidade como um todo vai trazer ao coletivo melhores condições de convivência e gestão do
risco. Para tanto, se procura investimento na análise da comunidade e uma abordagem mais
humanizada onde será elencado o histórico dos residentes na comunidade, fatores ambientais e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

socioeconômicos que interagem com estes indivíduos, políticas públicas que visem a inclusão da
população vulnerável a programas que priorizem o bem estar e igualdade social. Será uma
Educação sobre no e para o meio, onde este tal meio está intrínseco ao agente agressor/vítima do
espaço.

BREVE RELATO DA URBANIZAÇÃO EM CAMPINA GRANDE E OCUPAÇÕES


IRREGULARES NO ESPAÇO URBANO

Campina Grande, na Paraíba, se destaca por se consolidar como cidade de porte médio,
exercendo forte influência sobre os municípios adjacentes, 44% dos municípios paraibanos,
repassando o exemplo a níveis estaduais (CARVALHO, 2014, p.03), por meio da organização
espacial com serviços de saúde e educação que não se encontram em cidades de pequeno porte,
criando assim um das características do capitalismo avançado: a teia de influência com cidades
polos interagindo com cidades de pequeno e grande porte. (CORREA, 2007, p. 70).
A cidade em estudo se organiza de acordo com a economia vigente, possibilitando a sua
expansão de acordo com as necessidades atuais da população e dos interesses de agentes
hegemônicos, como afirma Maia (2010): ―A economia algodoeira somada aos incrementos técnicos
possibilitam a primeira grande expansão da cidade que se dá para além do seu centro primaz.
Destarte, Campina se prepara para a modernidade, e oferece a população modificações na paisagem
e influencia um êxodo rural significativo, porque as pessoas procuram melhorias de vidas e este
estereótipo de possível igualdade existente ocasiona os problemas encontrados em todos os grandes
centros brasileiros, onde a expansão das cidades é marcada pelos grandes loteamentos oficiais
voltados as camadas mais ricas e, em contrapartida pelos loteamentos irregulares ou clandestinos,
ou seja, formação de periferias e ocupações indevidas, visto que o ambiente não suporta a demanda
(MAIA, 2010).
Ainda sobre Campina Grande, essa procura atender as novas premissas do sistema
capitalista e projeta-se para tanto, assumindo as características que vislumbram um crescimento
econômico, e com o tempo, percebe-se que é iniciado uma delimitação entre as diferentes classes
sociais que interagem no espaço, ou seja, uma forte segregação social entre os habitantes, atingindo
serviços de saúde, educação, lazer e também as questões de moradia, nessa perspectiva temos
Correa (2007), que assegura:

―É do capitalismo, contudo, que a segregação residencial torna-se mais complexa, a medida


que se amplia o processo de estruturação das classes sociais e seus fracionamentos. Novos
modelos espaciais de segregação aparecem impulsionados pelos diferentes agentes da
organização espacial urbana [...] São criados assim, periferias de autoconstrução, favelas
em áreas alagadiças, cortiços, morros, bairros dos diferentes segmentos de classe média.‖
(CORREA 2007, p. 74)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ao Estado é dada a função de oferecer à população os serviços e direitos à cidade, mas na


realidade é assegurado a uma parte da população privilegiada a todos os benefícios da cidade. Com
isso, o espaço urbano fica a disposição do sistema capitalista e a organização espacial segrega a
população menos favorecida (CAVALCANTI, 2008). O Estado encarrega-se de prover os
equipamentos de consumo coletivo para todo o espaço urbano, sendo o elemento de legitimação da
classe dominante sua atuação enquanto provedor tende, por um lado, a reforçar as áreas residenciais
nobres, e por outro, a viabilizar o sucesso de novas implantações produtivas do grande capital
(CORREA, 2007, p. 83).
Com isso, pode-se notar que os centros urbanos apresentam paisagens e organizações
espaciais planejadas e geridas por agentes diversos que atenuam e definem elementos e realidades
próprias, exemplo disso tem-se a parcela da população que não tem acesso à cidade em si e ocupam
áreas públicas ou privadas para obter moradia, e muito embora, não haja condições de suprir suas
necessidades básicas, se fortificam em espaços marginalizados, interagindo com o local e
comunidade.

A VILA DOS TEIMOSOS (AS), PERCEPÇÃO AO RISCO SOCIOAMBIENTAL E


IDENTIDADE CULTURAL/ TERRITORIAL

A área estudada é a Vila dos Teimosos (e Teimosas), localizada a margem direita do açude
de Bodocongó, no bairro denominado Novo Bodocongó, na cidade de Campina Grande/PB. A
invasão da Vila dos Teimosos foi dada de maneira desordenada nos anos de 1980, como relatado
pela maioria dos moradores da localidade, sem prévia programação para ocorrer, as pessoas que por
ali se fixavam vinham em busca de moradia e melhores condições de vida. Deu-se a invasão,
ocuparam o espaço e vigiaram para que outros não se apossassem e foram construindo aos poucos
moradias, inicialmente de taipas, papelão, pedaços de varas e barro. Os moradores se ajudavam na
construção das casas, portanto a união se tornou o fator mais importante para a efetiva ocupação do
espaço. Com o passar do tempo a população residente sofreu com enchentes do açude, onde as
casas foram inundadas e foram deslocados para o grupo escolar mais próximo.
A marca dos residentes dessa área é serem chamados de Teimosos, sendo esta denominação
aceita por eles. São identificados por este nome por resistirem a toda e qualquer iniciativa de
deslocamento e abandono das suas residências. Os moradores buscavam seu espaço perto a cidade
que oferece condições melhores de vida, como emprego, saúde e educação, que embora se
apresentem como serviço precário, eles pode usufruir. Muitas vezes foram despejados pela polícia,
mas voltavam sempre à noite e ocupavam novamente suas casas, como relata a Sra. Rosilda Silva,
uma moradora com mais de 30 anos na Vila. Percebem-se mais uma vez, a função clara de
território, onde o poder de diversos agentes se sobrepõe ao espaço, cada um defendendo seus

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interesses. Temos na Vila dos Teimosos a formação evidente de identidade com o local, construída
ao passar dos anos e lutas pela ocupação, entretanto a população estudada é exposta a riscos e
vulnerabilidades, como assegura Ferreira (2007) em seus estudos:

De acordo com a pesquisa, verificou-se que, a Vila dos Teimosos apresenta alta
vulnerabilidade ambiental de 100%. A alta vulnerabilidade ambiental é justificada na área
devido à degradação provocada pelos principais indicadores de risco: disposição dos
resíduos sólidos domiciliares, degradação do solo através de erosão, lançamento de esgoto
diretamente no solo, exploração agropecuária e condições de risco nas residências e risco
de inundações.

O fator prejudicial na Vila dos Teimosos é a questão da deposição dos resíduos sólidos e o
lançamento de esgoto in natura em vias públicas, sendo direcionado diretamente ao açude de
Bodocongó, como pode ser visualizado na imagem a seguir:

Foto ilustrativa de localização/ Fonte: Google Earth


Perímetro vermelho: Área que compreende a Vila dos Teimosos(as)
Perímetro branco: Área de urbanização e parque ecológico de Bodocongó.

O grau de escolaridade dos entrevistados residentes na área de estudo onde 62% possui o
fundamental incompleto, o que podemos concluir que a percepção que estes indivíduos possuem
do risco concebido e sofrido na comunidade, seja ele geoambiental ou socieconômico, permeia a
empiricidade. A renda de mais da metade das famílias entrevistadas é inferior a um salário
mínimo, o que impossibilita suprir as necessidades básicas de todos, procura de melhores
condições de vida, etc. Os gráficos seguintes retratam a coleta dos resíduos sólidos em sua maioria
pela prefeitura e a inexistência quase total de saneamento básico, contudo, os vizinhos de maneira
coletiva custearam os materiais para conduzir o esgotamento sanitário de suas casas até as margens
do Açude de Bodocongó. Fato este realizado a alguns anos, e atualmente as condições dessa tubulação
se encontra precária e a céu aberto novamente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No reconhecimento da área é perceptível a falta de saneamento básico caracterizando o


grande risco geoambiental sofrido pela população residente na Vila dos Teimosos, onde os
resíduos sólidos produzidos pelas residências e comércios são direcionados in natura para o açude
de Bodocongó. Caso este decorrente de uma ocupação desordenada da área por parte da
população, que sofre diretamente com a ocorrência de doenças, dito por moradores, como dengue
e outras tão graves quanto. Também podem ser observadas que no período de chuva, com o
aumento da capacidade do açude retornam os resíduos e águas contaminadas às residências,
causando inundações e, consequentemente, prejuízos econômicos.
Indagados a respeito das vulnerabilidades e exposição aos riscos existentes na comunidade
que podem atingi-los, foi tido o seguinte: 29,7% dos entrevistados disseram sofrer com algum tipo
de risco, sendo eles de violência, inundação, doenças por causa da ausência de saneamento básico
e poluição do açude. Aproximadamente 71% disseram não serem atingidos por qualquer risco. A
população em sua totalidade sofre com a falta de saneamento, mas em questão de inundações,
essas ocorrem apenas para as pessoas da parte baixa da Vila, episódio este relatado por um dos
moradores entrevistados, Eduardo Freitas, 28 anos, que afirma que na última grande inundação sua
família composta na época por cinco pessoas, perdeu todos os seus bens, dentre eles os
eletrodomésticos e móveis, eles viram tudo sendo carregados pela forte enxurrada. Com isso,
iniciativas governamentais os deslocaram do local e direcionaram para o prédio que funciona o
PETI (uma escola), onde permaneceram por dois anos até perceberem que não seriam realocados,
então ocuparam uma área que é uma extensão da Vila dos Teimosos pelo lado esquerdo, contudo
com o passar do tempo, perceberam que esta área não era reconhecida pela prefeitura, ou seja, não
apresentava intervenção destes e o índice de criminalidade aumentou nessa localidade e aos
poucos as famílias foram alugando novas casas na Vila dos Teimosos novamente. Este morador
ainda hoje habita em casa alugada na parte baixa da Vila, sujeito a novas inundações. Outro relato
foi da senhora Maria Nazaré, 60 anos, que alega o óbito de um de seus filhos como consequência
da última cheia do açude.
Nessa perspectiva, a conscientização/ identificação socioeconômica cultural através da
prática da Educação Ambiental da comunidade vem servir de instrumento de sensibilização da
comunidade frente ao risco, tendo o homem como agressor e vítima (VEYRET, 2007), com tudo
isso, atrelada a uma educação de qualidade e políticas públicas que promovam inclusão social,
gestão do risco e planejamento de bom convívio entre o homem e o meio, será um grande passo
para minimizar as vulnerabilidades das comunidades vulneráveis. A presença da EA no âmbito
escolar se torna de fundamental importância permeado a melhor interação do homem como parte
do meio, que é genuinamente responsável pelas variáveis que possam ocorrer. Políticas públicas
que contemplem escolas, associações de moradores e qualquer órgão ou instituição que atinjam

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

diretamente a população servirão, poderão proporcionar um equilíbrio geoambiental e


socioeconômico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como ponto principal deste trabalho procurou-se inserir os residentes da Vila dos
Teimosos em parâmetros ditados pela sociedade como um todo, partindo da Educação Ambiental
como sensibilizadora da população frente aos riscos iminentes, analisando estratégias de
planejamento, já que é irreversível a questão do crescimento desordenado que foi realizado,
buscando- se políticas públicas que assegurem a esta população o bem estar social, com condições
aceitáveis de convivência com o meio. Na localidade não existem organizações que defendam os
interesses do todo. As pessoas que ai residem criaram um sentimento de posse e apreço pelo local
e resistem a ideia de sair, por isso a EA se faz necessária, para que estes saibam conviver com
recursos naturais disponíveis, sem degradar ou devastar, e consequentemente, sofrer com tais
danos.
Contudo, nota-se que cotidianamente a população da Vila dos Teimosos, está sujeita aos
riscos das enchentes, desabamento de residências, contaminação do solo e das águas pela disposição
clandestina de resíduos, entre outros. Não há como negar a estreita relação entre riscos
geoambientais e socioeconômicos envolvendo o urbano, e a questão do uso e ocupação do solo, que
entre as questões determinantes das condições ambientais da cidade, é aquela onde se delineiam os
problemas ambientais de maior dificuldade de enfrentamento e, contraditoriamente, onde mais se
identificam competências de âmbito municipal (JACOBI, 2006). A população se expõe a doenças
graves quando colocadas frente a tais condições de infraestrutura precária.
A Educação Ambiental mais uma vez se fortifica como o elo para o equilíbrio no meio,
todavia, para que haja uma gestão e planejamento do risco, exige-se a presença de uma forte
intervenção dos órgãos competentes e interessados a humanizar os riscos e arriscar investimentos
para a sensibilização humana, visto que toda transformação começa com a Educação como um todo.
Para futuras análises pode-se considerar os impactos decorrentes da revitalização do açude de
Bodocongó, como também a instalação/ construção do parque ecológico de Bodocongó em Área de
Preservação Permanente e como esta serve aos residentes da Vila dos Teimosos.

REFERÊNCIAS

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em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm> acesso em: 12/05/15.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM PAISAGENS


PERIFÉRICAS DA ZONA SUL DA CIDADE DO RECIFE-PE

João Allyson Ribeiro de CARVALHO


Professor Adjunto da UPE
allyson.carvalho@upe.br
Marcelo Alves RAMOS
Professor Adjunto da UPE
marcelo.alves@upe.br
Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA
Professora Pesquisadora do ITEP
noliveira825@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho foi realizado com o objetivo de analisar as causas e consequências dos
movimentos de massa ocorridas no bairro do Ibura, cidade do Recife-PE. No primeiro momento,
analisou-se os aspectos conceituais sobre riscos geológicos, movimentos de massa, processos
erosivos, modelos de uso e ocupação do solo e os impactos decorrentes desses processos.
Metodologicamente, foram realizadas atividades de campo a partir de uma análise qualitativa e
descritiva, tendo como alvo de estudo o bairro do Ibura. Como resultados, foram identificados 25
impactos socioambientais deflagrados por ações antrópicas num ambiente de fragilidade factível ao
desenvolvimento de processos de deslizamentos. Foi possível ordenar os impactos por grau de
magnitude a partir da investigação de fatores causais e suas consequências. Conclui-se que novas
ações do poder público em consórcio com a população podem contribuir para mitigar ou minimizar
os impactos identificados.
Palavras Chave: Deslizamentos; Poluição Ambiental; Ordenamento Urbano.
ABSTRACT
The present work was carried out with the purpose of analyzing the causes and consequences of the
landslines occurred in the neighborhood of Ibura, city of Recife-PE. In the first moment, we
analyzed the conceptual aspects about geological risks, mass movements, erosive processes, land
use and occupation models and the impacts resulting from these processes. Methodologically, field
activities were performed based on a qualitative and descriptive analysis, with the study of the Ibura
neighborhood. As a result, we identified 25 socioenvironmental impacts triggered by anthropogenic
actions in an environment of fragility feasible to the development of landslide processes. It was
possible to order impacts by magnitude from the investigation of causal factors and their
consequences. Concluding, that new actions of the public power in consortium with the population
can contribute to mitigate or minimize the identified impacts.
Key words: Landsline; Environment pollution; Urban Planning.

INTRODUÇÃO

A ocorrência de impactos ambientais nas diversas paisagens do Planeta impõe a necessidade


de estudos cada vez mais atentos às possibilidades de ação direta no ambiente que respeitem os

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

limites de sustentabilidade ambiental. Mais ainda, as ciências ambientais representam na atualidade


um caráter imprescindível na compreensão dos espaços, relações antrópicas e possibilidades de
mitigação dos impactos decorrentes de intervenções das mais distintas naturezas e magnitudes.
Nesse cenário, o presente trabalho traz em seu cerne de observação os primeiros resultados de uma
investigação das causas e consequências dos impactos ambientais decorrentes da ocupação
desordenada na região periférica da zona sul da cidade do Recife, Estado de Pernambuco. Mais
especificamente no bairro do Ibura, área objeto de estudo, que apresenta cerca de 10 km2.
A citada região é composta por uma paisagem com ocorrência de diversos impactos
ambientais. No entanto, o presente artigo propôs estudar os impactos decorrentes dos potenciais
riscos geológicos atuantes na área. Sobretudo no que se refere aos movimentos de massa. Em linhas
gerais, a área de estudo é constituída por um clima tropical e significativas taxas de precipitação
pluviométrica na estação chuvosa. Soma-se ao contexto o fato da configuração do relevo: marcada
por uma instabilidade típica de formações sedimentares como os mares de morro da Formação
Barreiras. Inclusive quando as comunidades realizam cortes inadequados para moradia, depositam
resíduos sólidos nas vertentes, além dos efluentes domésticos que atuam com drenagens
ininterruptas.
A culminância de alguns fatores naturais com ações antrópicas desordenadas reverbera
cenários de colapso em muitas vertentes: o que potencializa a instabilidade geológica, gerando
eventos muitas vezes catastróficos com processos erosivos de grande magnitude envolvendo
prejuízos irreversíveis. As comunidades do citado bairro têm efetuado severas mudanças da
paisagem natural. Desencadeando processos de ocupação desordenada associada à retirada da
vegetação. Fator que converge para a incidência de deslizamentos, que por sua vez, culminam em
sérios problemas de ordem socioeconômica.
Para tanto, definiu-se como objetivo do presente trabalho a identificação dos fatores que
condicionam os movimentos gravitacionais de massa, no sentido de compreender fatores causais e
consequências para a proposição de possibilidades de mitigação dos impactos diagnosticados. Nesse
sentido, foram realizadas na primeira etapa da pesquisa visitas periódicas ao bairro no período de
março a novembro de 2016 para o reconhecimento das peculiaridades da região e posterior estudo
de gabinete a partir de registros fotográficos realizados, construção de esquemas e croquis,
georreferenciamento dos impactos visualizados, tendo como enfoque uma abordagem de natureza
qualitativa e descritiva que permitisse compreender a dinâmica holística das distintas paisagens
contempladas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS DOS MOVIMENTOS DE MASSA E IMPACTOS


ASSOCIADOS

Em linhas gerais, propõe-se conceber os movimentos de massa como agentes dinâmicos em


que massas de rocha e solo se deslocam em vertentes a partir da influência da força gravitacional,
mas com a participação de outros agentes de transporte. É bem verdade que elementos contributivos
como as intempéries em pacotes sedimentares de baixo grau de dureza apresentam significativa
atuação. No entanto, tais eventos ocorrem em paisagens naturais sem que haja sérias repercussões.
Geralmente caracterizam-se por remobilizar sedimentos, alterar a composição vegetal no plano de
deslizamento, dentre outros impactos de baixa magnitude.
Quando a paisagem natural encontra-se com altos índices de alteração e descaracterização
(como no caso das comunidades), tais impactos são exponencialmente aumentados a partir da
retirada da cobertura vegetal original, cortes de vertentes que acentuam o grau de inclinação da
encosta e reverberam impactos de alta magnitude. Fator que contribui diretamente para a
composição do bairro em estudo. Sendo comum a ocorrência de eventos de deslizamentos, de obras
de engenharia para mitigar a instabilidade do relevo, áreas cobertas com plásticos para a redução da
taxa de infiltração na superfície, além de residências com indícios de comprometimento em sua
estrutura, apresentando desníveis entre portas, rachaduras, etc.
Desse modo, Guidicini & Nieble (p. 79, 2007) definem escorregamentos como:

Deslocamento finito ao longo de uma superfície de deslizamento definida, preexistente ou


de neoformação. Os escorregamentos também classificam-se em dois subtipos:
escorregamentos rotacionais e escorregamentos translacionais. Os rotacionais ocorrem ao
longo de descontinuidades, ou planos de fraquezas preexistentes. Os translacionais são
movimentos ao longo de uma superfície plana condicionada a alguma feição estrutural do
substrato.

Assim, os escorregamentos podem ser processos resultantes de movimentos de massa


envolvendo materiais que recobrem as superfícies das vertentes ou encostas, tais como solo, rocha e
vegetação, dentre outros elementos. Esses processos estão presentes nas regiões de relevo
acidentado, sobretudo nas regiões de climas úmidos. Obviamente, o processo de uso e ocupação
desordenada nessas regiões contribui significativamente para acelerar tais processos.
Os estudos sobre riscos vêm sendo desenvolvidos cada vez mais. Aleotti & Chowdhury
(1999) atentam para o fato do tema de escorregamento atrair cada vez mais a atenção dos
estudiosos. Sobretudo porque a ocorrência de escorregamentos repercute em prejuízos de bilhões de
dólares em todo o mundo. Sendo, portanto, um planejamento estratégico estudar ações de mitigação
e previsão de fenômenos de escorregamento. Já Oliveira et al (2006, p. 94) defendem a relevância
de pesquisas que monitorem tais riscos em comunidades carentes:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Um estudo torna-se extremamente relevante quando apresenta uma densidade demográfica


à mercê de acontecimentos naturais que repercutiriam tragédias irreversíveis, sem um
monitoramento eficaz com os constantes desabamentos. Tal monitoramento permite
conhecer o ambiente de modo a identificar sua dinâmica, apontando, ao final, as
alternativas de maior viabilidade para recuperação da área em médio e longo prazo
(OLIVEIRA, et al. p. 94).

De acordo com o manual de ocupação dos morros da Região Metropolitana do Recife, o


risco de deslizamento expressa a possibilidade de perdas materiais ou sociais, através da ocorrência
de eventos. O referido manual destaca que uma área onde ocorreu um deslizamento pode ficar
naturalmente estabilizada, cessando o movimento da encosta. Sendo a ação antrópica o agente
deflagrador desses processos. O bairro do Ibura, por sua constituição litológica e seu processo de
urbanização pode ilustrar inúmeros pontos factíveis a escorregamentos e seus impactos (Figura 01).

Figura 01: Área com suscetibilidade a processos de deslizamentos.

O cenário apresentado na Figura 01 é caracterizado por uma sucessão de intervenções


antrópicas ao longo de décadas que contribuem direta e indiretamente para tornar a ameaça de
deslizamentos mais severa. Soma-se ao contexto a sucessão de negligências por parte do poder
público com intervenções efetivas. Em muitos casos, identificam-se apenas políticas paliativas,
como a instalação de coberturas em plástico na vertente exposta. Convém destacar que a
intervenção que se limita à colocação de coberturas plásticas não estabiliza a encosta, tampouco
impede que o processo de infiltração cesse. O que caracteriza-se como um simulacro, representando
uma falsa sensação de alívio para a população. Porem, não resolve o problema.
Os escorregamentos, sobretudo os translacionais são acelerados em momentos de chuva
intensa. É comum que a superfície de ruptura coincida com a interface solo-rocha, a qual representa
uma importante descontinuidade mecânica e hidrológica (FERNANDES & AMARAL, 1996).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Desse modo, o período de março a julho frequentemente representa um período de ameaça para a
comunidade, que sazonalmente vivencia eventos de deslizamentos, muitos com prejuízos
irreversíveis com a perda de vidas humanas.
As diversas visitas ao campo permitiram confirmar informações constantes na bibliografia
especializada. Dentre elas, o fato de que o bairro cresceu sem o devido planejamento para uma área
de morfologia complexa, deflagrando diversas áreas de riscos com a atuação de diversos impactos.
A percepção de Christofoletti (1980) define a amplitude de atuação dos movimentos de massa,
quando defende que tais movimentos corresponde aos mais diversos fatores de deslocamento
gravitacional de partículas ou partes do regolito pela encosta abaixo.
Assim, os diversos tipos de movimento de massa envolvem grande variedade de materiais e
fatores condicionantes. Dentre os critérios que podem ser considerados, destacam-se o tipo de
material envolvido, a velocidade do deslizamento, a configuração dos planos de ruptura, a
quantidade de água envolvida no sistema e a estrutura geológica. Merece destaque a maioria dos
eventos de deslizamentos no bairro do Ibura, que caracteriza-se pela deflagração de movimentos
com a presença de resíduos sólidos na vertente, vegetação irregular, caracterizando-se em sua
maioria em deslizamentos translacionais.
Guidicini & Nieble (2007) definem conceitualmente as causas e agentes dos
escorregamentos. Os mesmos diferenciam ‗agentes‘ de ‗causas‘. Os agentes, por sua vez, podem ser
predisponentes (através de complexos geológicos, morfológicos, climático-hidrológico, gravidade,
calor, vegetação) ou efetivos: que atuam diretamente no ambiente. Os agentes efetivos dividem-se
em preparatórios e imediatos. Os preparatórios atuam por meio de pluviosidade, erosão, ação do
gelo, variação de temperatura, ação química, ação fluvial, oscilação do nível de corpos hídricos,
ação dos seres vivos (inclusive do ser humano, como exemplo, o desmatamento).
Os agentes imediatos caracterizam-se por chuvas intensas, fusão do gelo e neve, erosão,
terremotos, ondas, vento e ação antrópica. Já as causas podem ser divididas em internas, externas e
intermediárias. As causas internas podem atuar por meio de efeitos de oscilação térmica, redução de
parâmetros de resistência por meio de intemperismo (físico, químico e/ou biótico). As causas
externas podem ser exemplificadas por alterações globais, mudanças de geometria do sistema,
efeitos de vibrações, mudanças naturais na inclinação das camadas (como creep que pode
desencadear movimentos mais efetivos em curtos espaços de tempo). Por fim, as causas
intermediárias como elevação do nível piezométrico em pacotes homogêneos, presença de água,
rebaixamento rápido de lençol freático, erosão subterrânea retrogressiva (piping).
A conjunção dos fatores abióticos com as ações antrópicas contribui para problemas
ambientais que passam para o âmbito social. Na maioria dos casos identificados in loco, as
moradias não apresentam infraestrutura adequada e caracterizam-se por uma parcela da população

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da cidade carente que, não tendo alternativas de moradia, arriscam-se ocupando áreas de elevado
risco geológico. Um reflexo da exclusão social que asseverou-se na segunda metade do século XX
nas regiões de periferias da cidade do Recife.

GÊNESE E EVOLUÇÃO DOS IMPACTOS ATUANTES NA ÁREA

A gênese do processo socioambiental de ocupação do bairro do Ibura reporta-se ao modo de


como a ocupação ocorreu no bairro. Inicialmente, a ocupação das áreas mais planas (geralmente nos
topos das colinas) foi fruto da comercialização com loteamentos planejados, registrados como
Unidades Residenciais – UR‘s pelos órgãos competentes. No entorno dessas áreas, há a presença da
ocupação espontânea de espaços públicos ou privados. Tais áreas geralmente margeavam os lotes
planejados ou é fruto de cortes inadequados das barreiras para aumento de área e terraplanagem
ineficientes que são realizadas por iniciativas individuais e contribuem para a instabilidade dos
deslizamentos translacionais.
Inicialmente, convém destacar a atuação dos diversos processos erosivos atuantes na área de
estudo. O relevo colinoso da Formação Barreiras e seu frágil índice de dureza é alvo da remoção e
transporte das camadas superficiais do solo. Sobretudo a partir do desmatamento, que torna exposto
às intempéries os solos. Inicialmente, a erosão laminar é mais atuante, carreando sedimentos e
nutrientes para as áreas mais baixas. O segundo estágio apresenta sulcos na superfície que permite
um transporte de maior competência dos sedimentos em fluxos contínuos de efluentes residenciais e
em momentos pontuais com águas pluviais.
Em seguida, é comum observar o aprofundamento dos sulcos, formando ravinas em
distribuição dispersa e aleatória no padrão de drenagem. Merece destaque o padrão de alteração da
paisagem a partir da ocorrência de ravinas. Com o passar do tempo, as ravinas de maior
profundidade passam a adotar a morfologia de voçorocas. Sendo este estágio um exemplo de erosão
acelerada que se desenvolve com maiores cotas de profundidade. A partir de então, a suscetibilidade
a deslizamentos passa a ser um risco eminente em períodos da estação chuvosa. Sendo necessária a
remobilização dos moradores da área: à montante e à jusante da vertente.
Com relação ao escoamento, é importante salientar que a maior parte da população sediada
em áreas de risco também é desprovida de drenagem e saneamento básico. Sendo o escoamento
superficial um elemento causal para deslizamentos, já que potencializa maiores taxas de transporte
de sedimentos. Que por sua vez influencia no processo de assoreamento nos córregos localizados
em áreas mais baixas. Em momentos de chuvas intensas é comum o transbordamento dos canais, o
que deflagra outros impactos para a população residente. O cenário de múltiplos impactos
dimensiona um verdadeiro mosaico de fatores ambientais e sociais que carecem da atenção do

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poder público no sentido de definir políticas de reordenamento, assistência social, educação


ambiental, dentre outras.
No que concerne à cobertura vegetal, a região pertence ao domínio da floresta atlântica. No
entanto, identificam-se apenas algumas espécies arbóreas esparsas. O bairro carece de espaços
verdes, algumas residências possuem espécies próximas às casas geralmente de frutíferas. É comum
a ocorrência de bananeiras em áreas de vertentes. Um fator que contribui para o acúmulo de
umidade em seu sistema radicular e, consequentemente, maior predisposição para os deslizamentos.
Merece destaque o fato de que alguns moradores sabem que não é indicada a cultura de espécies
vegetais de grande porte ou mesmo a bananeira. Mesmo assim, é comum a presença de coqueiros e
bananeiras em diferentes andares de barreiras cada vez mais verticalizadas.
Considerando os diversos fatores contributivos para o potencial risco de deslizamentos na
área de estudo, deve-se enfatizar a atuação dos resíduos sólidos em áreas de vertentes. O bairro
possui coleta regular de resíduos sólidos. Mesmo assim, é comum identificar em áreas de difícil
acesso a disposição de resíduos sólidos. Tal disposição atua como uma carga extra na vertente, com
acúmulo de água, que em caráter cumulativo representa uma ameaça ao processo de ruptura na
vertente, seguida de deslizamento. Nota-se, portanto, a necessidade de ações de sensibilização
socioambiental, no sentido de garantir uma postura dos moradores que permita o correto
acondicionamento e destinação dos resíduos sólidos.
Diante do cenário descrito, a pesquisa de campo permitiu elencar em escala de magnitude
vinte e cinco impactos atuantes na região (Quadro 01). Merece destaque o fato de que o estudo
detalhado dos fatores e elementos constituintes das paisagens, o levantamento das principais ações
antrópicas realizadas e a identificação dos impactos decorrentes desse processo permite a
construção de um diagnóstico ambiental da região, que por sua vez pode subsidiar na definição de
políticas de gerenciamento de todos os ecossistemas.

QUADRO 01: Identificação dos impactos socioambientais atuantes na área de estudo


1 – Alteração da paisagem em decorrência de uso e ocupação planejada e espontânea;
2 – Vertentes expostas factíveis ao processo de deslizamento;
3 – Construções precárias;
4 – Delimitação de áreas com difícil acesso;
5 – Violência e criminalidade;
6 – Surgimento de processos erosivos acelerados;
7 – Retirada da vegetação e inserção de espécies exóticas;
8 – Poluição de lençóis freáticos com resíduos sólidos dispostos incorretamente;
9 – Ausência de saneamento básico;
10 – Perda de solo por escoamento superficial e de subsuperfície;
11 – Oferta de coleta de resíduos sólidos deficitária;
12 – Construção de residências com grande demanda espontânea;
13 – Sensação térmica diferenciada em decorrência do desflorestamento;
14 – Atividades comerciais;
15 – Fragilidade das encostas;

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16 – Práticas inadequadas nas áreas de encostas;


17 – Aumento de áreas de risco geológico;
18 – Obras de contenção de barreiras (ainda que insuficientes);
19 – Instalação de lonas plásticas;
20 – Alteração da fauna e flora terrestre;
21 – Alteração do padrão de drenagem;
22 – Assoreamento de canais e córregos;
23 – Adequações nas residências para minimizar os movimentos de massa;
24 – Inundações nas porções próximas aos canais fluviais;
25 – Aumento de doenças vinculadas por vetores patogênicos.

O referido levantamento traduz um cenário ambiental resultante de fatores históricos de


pobreza e exclusão social que se repetem nas diversas cidades brasileiras. Como respostas a esse
cenário, é possível identificar um número significativo de impactos. O que emerge no entendimento
de que tais impactos atuam entre si replicando as suas consequências em toda a região. A interação
desses impactos, por sua vez, produz outros impactos num sistema de degradação que se
desestabiliza cada vez mais, sendo o desequilíbrio social refletido diretamente na perspectiva
ambiental.

PROPOSTAS PARA MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS NO BAIRRO DO IBURA

A cidade do Recife convive historicamente com o problema dos deslizamentos de barreiras.


O bairro alvo de estudo não foge dessa realidade. Uma grande parcela da população é de baixa
renda e sofre com os sucessivos de deslizamentos. Muitos atuando como verdadeiras catástrofes,
ceifando vidas. Para tanto, convém reconhecer o papel do poder público, que deveria atuar de forma
mais efetiva sem medidas imediatistas e ineficientes. Atualmente, muitas áreas de risco eminente
foram estabilizadas com obras de engenharia adequadas. Porem, é mister que tal procedimento
atenda a toda a população.
Também se faz necessária o estabelecimento de medidas de prevenção de acidentes, com a
sensibilização dos moradores quanto a importância de se achar responsável pela garantia da saúde e
da conservação do meio ambiente. Com a população sensibilizada haverá uma predisposição para
mudanças de atitudes. No entanto, é necessário o trabalho com oficinas de educação socioambiental
que viabilizem o debate da comunidade e a construção da aprendizagem que permita ao morador a
adoção de novas práticas. A Educação Ambiental, nesse sentido, torna-se uma importante
ferramenta no sentido de permitir um novo olhar do morador em relação ao espaço do qual faz
parte.
O monitoramento ambiental também pode ser uma alternativa para garantir uma assistência
ao morador que decida cortar barreiras, depositar resíduos sólidos em local inadequado, plantar
espécies vegetais incompatíveis com o relevo local, etc. Atualmente, o conhecimento de técnicas de
geotecnia e engenharia permitem a adoção de várias ações que contribuam para o equilíbrio de

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regiões com relevo acidentado. Na medida em que tais conhecimentos sejam difundidos com os
moradores, os mesmos passam a assumir um papel de parceria em prol da estabilidade ambiental.
Referendando-se a partir do desejo de mudança de comportamento dos moradores da comunidade,
com a mobilização dos mesmos.
Nesse sentido, defende-se que as ações políticas tenham a articulação com a comunidade de
modo a possibilitar ações concretas pautadas no rigor científico, não em atividades pontuais
imediatistas que em sua maioria não passam de paliativos, mascarando a problemática sem resolvê-
la. Assim, a mobilização da comunidade na formação de grupos, centros, associações pode garantir
a reivindicação ressoar com mais eficiência, empoderando os moradores, tornando-os protagonistas
na luta por condições mais dignas de sobrevivência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até o presente momento, a pesquisa permite emitir algumas relevantes considerações. Quais
sejam:
A soma dos fatores abióticos com os antrópicos desencadeia o aparecimento de diversas
áreas de risco geológico factíveis a deslizamentos. Cabe ao poder público em consórcio com a
comunidade em realizar intervenções que permitam o uso consciente dos espaços, respeitando-se os
limites de tolerância do ambiente;
As condições sociais de pobreza de parte da população do bairro do Ibura contribuem para a
ocupação de áreas de risco. A redução das desigualdades sociais pode contribuir no equacionamento
de ocorrências de deslizamentos e prejuízos diversos, com o reordenamento das áreas e adoção de
técnicas de estabilização de taludes em áreas que permitam a ocupação regular e a proibição de
moradias em locais críticos;
Os vinte e cinco impactos identificados podem ser o norteamento para a minimização e
mitigação de problemas ambientais no bairro do Ibura. Dessa forma, pode-se coletivamente
vislumbrar metas e ações que permitam repensar as causas dos impactos obtidos, os entraves e
possibilidades;
Os eventos de movimento de massa inegavelmente são reflexos da desordem urbana na área,
cuja população carente se fixa em áreas de instabilidade nas colinas da Formação Barreiras. Essa
população é responsável por cortes inadequados para fixação das residências. O cerne de análise
pode-se respaldar no poder transformador da educação ambiental, que pode alicerçar uma nova
concepção da população em de sua relação com o meio ambiente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

ALEOTTI, P., CHOWDHURY, R., Landsline hazard assessment: summary rewiew and new
perspectives. Bulletin of International Association of Engineering Geology and Environmental,
n. 58: 21-44. 1999

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgar Blucher, 1980.

FERNANDES, N. F., AMARAL, C. P. Movimentos de Massa: uma abordagem geológico-


geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T., CUNHA, S. B. (Org) Geomorfologia e Meio Ambiente.
Bertrand, Rio de Janeiro. P. 123-194. 1996.

GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de Escavação. São Paulo:


Edgard Blucher, 2007.

OLIVEIRA, N. M. G. A., CARVALHO, J.A.R., SANTANA, P. H. Caracterização


Geomorfológica e Avaliação Ambiental da Fragilidade das Vertentes no Bairro de Tabatinga,
Município de Camaragibe – PE. Revista do Departamento de Geografia, 19, p. 92-103, 2006.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PROPOSIÇÃO DE METODOLOGIAS PARA ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS


EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DE RODOVIAS

José Laécio de MORAES


Doutorando em Geografia – IGCE/UNESP/Rio Claro - SP
laeciomoraes.ambiental@gmail.com
Francisco Evanildo Simão da SILVA
Historiador e Graduando em Direito – Faculdade Paraiso
evanildosimao@hotmail.com

RESUMO
A ampliação da malha viária para o transporte de cargas e de passageiros ampliou a necessidade do
acompanhamento das potenciais consequências ambientais pela implantação de rodovias. Estes
fatores devem ser analisados por meio de estudos de impacto ambiental, que englobam a seleção de
metodologias e indicadores ambientais adequados, além da definição da área de influência do
empreendimento analisado. Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho é a proposição de
metodologias de estudo de impactos ambientais para obras de construção e ampliação de rodovias.
Com relação à definição da metodologia a ser aplicada em cada etapa de um EIA, os resultados
demonstraram que é possível combinar as principais técnicas de avaliação para abranger o maior
número de variáveis e critérios, para uma análise quantitativa e qualitativa das informações
referentes à determinação da relevância e magnitude dos impactos ambientais. A seleção de
indicadores ambientais, por sua vez, foi realizada com vistas à possibilitar uma análise
multidimensional dos empreendimentos de oleodutos e facilitar o monitoramento e a previsão de
tendências futuras. Para a definição da área de influência, verifica-se a existência de um padrão
adotado por órgão licenciador e empreendedores, destacando-se a necessidade de avanço nos
estudos acerca da definição de metodologias para tal procedimento.
Palavras-chave: Estudo de Impacto Ambiental; construção de rodovias; Indicadores ambientais.
ABSTRACT
The expansion of the road network for freight and passenger transportation has increased the need
to monitor the potential environmental consequences of road development. These factors should be
analyzed through environmental impact studies, which include the selection of appropriate
environmental methodologies and indicators, as well as the definition of the area of influence of the
enterprise analyzed. In this perspective, the objective of this work is the proposal of methodologies
for the study of environmental impacts for construction works and expansion of highways.
Regarding the definition of the methodology to be applied in each stage of an EIA, the results
demonstrated that it is possible to combine the main evaluation techniques to cover the greatest
number of variables and criteria, for a quantitative and qualitative analysis of the information
regarding the determination of the Relevance and magnitude of environmental impacts. The
selection of environmental indicators, in turn, was carried out with a view to enabling a
multidimensional analysis of pipeline projects and facilitating the monitoring and prediction of
future trends. In order to define the area of influence, there is a standard adopted by the licensing
body and entrepreneurs, highlighting the need for advancement in the studies about the definition of
methodologies for such procedure.
Keywords: Environmental impact study; Road construction; Environmental indicators.

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INTRODUÇÃO

A previsão de significativo aumento na produção de commodities em todo território


brasileiro e a ampliação da malha viária para o transporte da produção trazem consigo a necessidade
de constantes aprimoramentos nos estudos de integridade e confiabilidade nas obras de construção e
ampliação de rodovias, bem como na caracterização das pressões exercidas nos e pelos meios físico
e antrópico.
As obras de rodovias devem te sua capacidade de oferta continuamente renovada e
aumentada, compatibilizando essa oferta com a não degradação do meio ambiente e da qualidade de
vida da população, em função da qualidade dos serviços prestados, tornando possível a diminuição
de ruídos e emissão de gases principalmente em vias urbanas. Vê-se assim, a necessidade de
projetos rodoviários cada vez mais criteriosos e que levem em conta os impactos ambientais a
serem provocados, possibilitando a mitigação quando negativos e ampliando os benefícios dos
impactos positivos em sua área de influência.
A legislação ambiental brasileira estabelece a necessidade da elaboração de estudos de
impactos ambientais para empreendimentos de significativo potencial de geração dos mesmos, tais
como a construção e ampliação de rodovias. Entretanto, os estudos de impactos ambientais em
território brasileiro ainda estão longe do ideal, necessitando, dentre outros fatores, de um maior
banco de dados de estudos sobre a temática, possibilitando o acesso a conhecimentos já produzidos,
o que pode resultar em redução de prazos e custos para a elaboração de novos estudos (BRASIL,
2004).
A existência de grande diversidade de indicadores e métodos disponíveis para os estudos de
impacto ambiental, apontam para a necessidade de aprimoramento e discussão da seleção de
indicadores, métodos, critérios, bem como da proposição de roteiros metodológicos considerando-
se as distintas fases de um EIA (planejamento, implantação, operação).
Nesta perspectiva, o presente artigo tem como objetivo principal analisar critérios para a
definição de áreas de influência, as metodologias de avaliação de impacto e a escolha de
indicadores ambientais construção e ampliação de rodovias, com vistas à proposição de
metodologias de estudo de impactos ambientais para o referido empreendimento.
A proposição baseia-se em pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática em estudo,
conjuntamente a uma análise interpretativa e comparativa das fontes pesquisadas.

CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA EM RODOVIAS

Para Sánchez (2008) é somente depois da previsão de impactos que se pode tirar alguma
conclusão sobre a área de influência de um projeto. Se esta é a área geográfica na qual são

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detectáveis os impactos do projeto, então ela não poderá ser estabelecida de antemão (antes de se
iniciarem os estudos), exceto como hipótese a ser verificada.
A definição dos limites da área de influência de um empreendimento pode ser considerada
uma das tarefas mais difíceis e complexas na elaboração de um EIA. A despeito dessa dificuldade,
analisando-se as experiências acumuladas pelo Ministério Público da União (BRASIL, 2004),
verifica-se que a importância da correta definição dessas áreas se faz sentir desde a elaboração dos
diagnósticos ambientais até a fase de aplicação dos programas de monitoramento, mitigação e
compensação.
As questões ligadas à área de influência de um determinado empreendimento seja ela direta
ou indireta, ainda são alvos de inúmeras discussões e não existe um consenso entre empreendedor e
órgão licenciador quanto à questão de empreendimentos lineares no Brasil.
Na realização dos Estudos de Impacto Ambiental, devido ao tempo de elaboração e de
análise e, principalmente, em função do entendimento do órgão licenciador, foram adotados, como
padrão, "corredores" de 400m e 5km, respectivamente, como áreas de influência direta e indireta,
sem que tenha sido estabelecida ainda uma metodologia para isso.
No caso da Área de Influência Direta (AID), o que tem norteado a sua extensão para as
rodovias são os alcances do cenário acidental mais críticos definidos pelos estudos de análise de
risco do projeto. Neste caso, o valor que tem sido comumente usado é de 400 metros. No entanto,
este alcance irá mudar dependendo das características do projeto. Mesmo quando se assume que a
largura de 400m é conservadora em relação aos riscos associados aos acidentes, exclui-se, por
exemplo, a interferência direta sofrida pela flora e pela fauna do entorno das vias (cerca de 20m) em
função, por exemplo, da fragmentação do ambiente, cujos estudos científicos comprovam que atinja
até cerca de 1km de distância da faixa aberta.
Já no caso da Área de Influência Indireta (AII), os valores de 5 km atualmente estabelecidos
para os meios avaliados não possuem critério estabelecido, sendo que anteriormente a AII era de 10
km para os projetos de rodovias.

PROPOSIÇÃO DE MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL PARA


OLEODUTOS

Os métodos de avaliação ambiental consistem na determinação da relevância e magnitude


dos impactos que podem ocorrer principalmente nas fases de implantação e operação de um
empreendimento. A inadequação e/ou inexistência de métodos em um Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) costumam compor uma extensa lista dos problemas verificados nos diagnósticos
ambientais (SÁNCHES, 2008) e em processos decisórios.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A definição da metodologia a ser aplicada em cada etapa de um EIA objetiva combinar as


principais técnicas de avaliação para abranger o maior número de variáveis e critérios, viabilizando
uma análise quantitativa e qualitativa das informações. O quadro 1 apresenta uma breve descrição
dos principais métodos utilizados na avaliação de impactos.

Quadro 1. Principais métodos de avaliação de impacto ambiental (descrição, vantagens e desvantagens).


Adaptado de Braga et. al (2005) e Oliveira (2004).
MÉTODO DESCRIÇÃO APLICAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS
Reuniões de
Avaliações Rapidez e baixo Vulnerável a
1. AD HOC técnicos e
rápidas custo subjetividades
especialistas

Diagnóstico Simplicidade de
2. LISTAGENS DE Listagens de fatores Não permite projeções
ambiental até a aplicação,
CONTROLE e impactos ou identificações de
(CHECK-LIST) comparação de informação
ambientais impactos indiretos
alternativas reduzida de dados

Resultados subjetivos;
Cartas temáticas
Projetos lineares e Boa visualização e não quantifica a
3. SUPERPOSIÇÃO superpostas de
diagnósticos exposição de magnitude, difícil
DE CARTAS recursos ambientais
ambiental dados integração de dados
e uso
socioeconômicos
Determinação de
Abordagem
Gráfico ou impactos
integrada de Só abrangem os
4. REDES DE INTERAÇÃO diagrama de cadeia indiretos,
impactos e impactos negativos
de impacto destacando-os dos
interações
diretos
Não identifica: impactos
Listagem de
Boa visualização, indiretos, características
5. MATRIZES DE controle Identificação de
simplicidade e temporais e
INTERAÇÃO bidimensional impactos diretos
baixo custo subjetividade na
(fatores x ações)
magnitude
Modelos Interações entre
Falta de dados; emprego
matemáticos Diagnóstico e variáveis (físicas,
de relações simplistas;
6. MODELOS DE (escolha do traçado, prognóstico da bióticas e
dificuldade de incorporar
SIMULAÇÃO movimentos de qualidade socioeconômicas)
fatores e indução no
massa e vazamentos ambiental e impactos
processo de decisão
de óleo) ambientais
Avaliação sob um
Calcula custos e mesmo padrão
benefícios de Avaliar os objetos Boa visualização, (monetário).
7. ANÁLISE
projetos, de acordo com simplicidade e Superestimação de
CUSTO -BENEFÍCIO
alternativas e seus custos baixo custo algum serviço do
programas ecossistema que não
tenha valor reconhecido.
Definição de Cada objetivo deve ser
Avaliar fatores e Identificação de
8. ANÁLISE objetivos uma medida individual
impactos por meio medidas cardinais
MULTIOBJETIVO estruturados em de uma meta
de atributos e ordinais
forma hierárquica considerada
Agrupa elementos
do meio físico de Projetos lineares e Elaboração de
9. COMPARTIMENTAÇÃO Dificuldade de
acordo com diagnósticos documento
FISIOGRÁFICA integração entre dados
semelhanças e ambiental cartográfico único
diferenças

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quanto aos critérios que estruturam as etapas de elaboração do EIA, estes são referenciados
pelas diretrizes da Resolução Conama n°001/86 a que este artigo faz menção. Como disposto no
Artigo 6°, deve compreender as seguintes atividades técnicas:

I. Diagnóstico ambiental da área de influência (meio físico, biológico e socioeconômico);


II. Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas;
III. Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos;
IV. Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento.

Dessa forma, com referência na análise do quadro 1 e nas etapas estruturais que compõem um
EIA, propõem-se de forma sucinta a utilização mais adequada de cada um dos nove métodos para
cada etapa de elaboração do EIA, como mostra a figura 1.

Figura 1. Seleção de métodos para as etapas de desenvolvimento do EIA.

O método Ad Hoc pode ser utilizado em todas as etapas concomitante a outros métodos,
pois promove uma visão integrada da questão ambiental auxiliando sobretudo nos levantamentos de
campo e nos processos decisórios.
Para a etapa de descrição do empreendimento e alternativas de traçado, cinco métodos foram
selecionados:
Ad Hoc - método utilizado principalmente na análise das alternativas, pois com ele é
possível avaliar os aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais da região onde se pretende
implantar o projeto. O Ad Hoc pode ser norteado pelos outros quatro métodos citados a seguir.
Superposição de cartas - método muito utilizado e de grande eficiência, principalmente para
determinar as melhores alternativas de traçado, pois com ele é possível visualizar de forma
integrada, por meio de mapas temáticos, as informações referentes aos recursos ambientais. Este
método não é adequado para recursos socioeconômicos.
Compartimentação fisiográfica - método que reúne informações do meio físico
(geomorfologia, geologia, pedologia, entre outros) em um único documento cartográfico. Pode ser
utilizado em substituição a Superposição de Cartas para a seleção das melhores alternativas de
traçado.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Custo-Benefício - bastante empregado na determinação das melhores alternativas de traçado


e na definição dos locais de instalação, agregando valor a cada variável.
Modelos de simulação - pode ser utilizado juntamente com a Superposição de Cartas e/ ou
Compartimentação Fisiográfica na escolha das alternativas de traçado em um programa
computacional.
A etapa do diagnóstico ambiental compreende os seguintes métodos:
Ad Hoc - melhor indicado para a descrição dos fatores que compõem os meios físico,
biótico e socioeconômico. Pois é por meio deste que será possível compreender a dinâmica das
interações entre os ambientes, analisando as condições ambientais atuais e seu prognóstico,
possibilitando a definição de listagens de impactos ambientais.
Chek-List - método amplamente utilizado devido sua simplicidade de aplicação, com ele é
possível listar os diversos fatores que compõem o sistema ambiental passíveis de serem afetados.
Também serve para estabelecer fichas padronizadas para levantamento de dados em campo,
orientando os trabalhos a serem desenvolvidas pelas equipes executivas.
Análise de imagens e Sensoriamento Remoto - não constituem a lista de métodos
apresentados no quadro 1, mas são amplamente utilizados como subsídio ao mapeamento dos
recursos bióticos e de uso e ocupação da terra.
Na etapa de avaliação de impactos os métodos que podem ser aplicados são:
Ad Hoc - com este método é possível identificar mais rapidamente os impactos e sua
probabilidade de ocorrência, podendo-se empregar as técnicas específicas para diminuir o grau de
subjetividade da análise dos consultores Ad Hoc, como é o caso do uso das técnicas Delphi ou AHP
(Processo Analítico Hierárquico).
Matriz de Interação - utilizado na identificação dos impactos diretos, tem por finalidade
associar os fatores ambientais e as ações resultantes da fase de implantação do empreendimento.
Tem um objetivo de organizar a apresentação dos impactos ambientais, correlacionando diferentes
fatores em grupo, tais como: tipos de impactos e sua respectiva classificação; impactos com as
atividades específicas do empreendimento; impactos com medidas/programas ambientais.
Redes de Interação - utilizado na identificação dos impactos indiretos ou de ordem inferior,
possibilita uma análise integrada dos impactos em cadeia. Servem também para facilitar a
visualização e interação entre os impactos.
Modelos de Simulação - método importante para simular situações que envolvam
movimentos de massa e vazamentos de substancias em casos de acidentes nas vias para um cenário
de pior caso, ou seja, tem como finalidade principal analisar impactos de alta significância,
principalmente, para criação de planos de contingência.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Custo-Benefício - tem a capacidade de avaliar quantitativamente os benefícios ambientais


gerados e os que foram comprometidos nas fases de implantação e operação do empreendimento.
Para a etapa dos planos de gestão ambiental optou-se por três métodos:
Ad Hoc - método mais indicado para esta etapa, pois por meio dele é possível recomendar
medidas que tenham a capacidade de minimizar, compensar ou eliminar impactos. Com base nessas
medidas também é possível propor programas ambientais visando a conservação, prevenção e/ou
recuperação de recursos ambientais.
Custo-Benefício - agrega valor monetário a viabilidade das medidas e programas
ambientais.
Análise Multiobjetivo - este método pode ser empregado para designar com base em um
determinado objetivo como, por exemplo, a minimização de impactos ambientais negativos,
múltiplos propósitos e para estes, agregar valores relativos.

SELEÇÃO DE INDICADORES AMBIENTAIS EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO E


AMPLIAÇÃO DE RODOVIAS

Os indicadores ambientais são parâmetros mensuráveis capazes de descrever as respostas e o


estado dos fenômenos do meio ambiente (SANTOS, 2004) na situação atual, comparativamente a
cenários futuros, após, por exemplo, a implantação de um novo empreendimento. Munn (1979)
salienta a esse respeito, que os indicadores são parâmetros que fornecem quantitativamente e
simplificadamente a medida do impacto ambiental.
Considerando esses aspectos e tendo em vista que os indicadores são reconhecidos como
uma das ferramentas mais importantes na apresentação de informações em diversas etapas do
processo de planejamento ambiental (SANTOS, 2004) nesta seção pretende-se selecionar alguns
dos principais indicadores ambientais para o planejamento de rodovias.
A metodologia de aplicação de indicadores multinível proposta por Bollmann (2001)
baseada no modelo Unesco 1987, foi aqui adotada, e adaptada, por esse estudo se tratar de um
empreendimento de caráter linear, e a metodologia original abordar empreendimentos cuja área de
influência abrangem bacias hidrográficas.
A abordagem de Bolmann (2001) se mostra relevante, pois permite a análise
multidimensional dos resultados obtidos, e sua aplicação possibilita estabelecer facilmente, através
de um gráfico cartesiano, o ponto de equilíbrio entre as condições de qualidade ambiental e
desenvolvimento econômico atual e a previsão futura dessa relação (ver BOLLMANN, 2001).
Desse modo, para a seleção dos indicadores ambientais necessários nas etapas de
planejamento de rodovias, foram estabelecidos subsistemas de análise, conforme a Unesco

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 924


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(1987), sendo eles, o subsistema ecológico (englobando o meio biótico e abiótico) e o subsistema
econômico (englobando também o subsistema social, e cultural, que estão inter-relacionados).
De posse dos subsistemas de análise e as fases que contemplam o estudo de impacto
ambiental (fase de planejamento, fase de implantação e fase de operação), os indicadores foram
selecionados a partir da previsão dos possíveis acontecimentos, riscos, e impactos ambientais
decorrentes do empreendimento, conforme pode ser visualizado no quadro 2.

Quadro 2 - Principais Indicadores Ambientais nas fases de estudo de impacto ambiental.


Fases do estudo de Impacto Ambiental
Subsistema Nível Indicadores Ambientais Fase de Fase de Fase de
Planejamento Implantação Operação
Quantidade de espécies
presentes na área
X X
(mastofauna, ictiofauna,
avifauna e herpetofauna)
Porcentual de espécies
Fauna X X
endêmicas
Ecológico Porcentual de espécies
X X
ameaçadas de extinção
Valor ecológico da fauna X X
Taxas de diversidade X X
% de área florestada X X
Porcentual de espécies
X X
endêmicas
Porcentual de espécies
Flora X X
ameaçadas de extinção
Estágio de sucessão
X X
ecológica da vegetação
Valor ecológico da
X X
vegetação
Padrões de qualidade da
Índice de X X
água (IQA)
qualidade do
Níveis de poluição do ar X
ambiente
Níveis de ruído X
Frequência dos
X X X
movimentos de massa
Características
Freqüência de inundações X X X
morfodinâmicas
Quantidade de perda de
X X X
solo e erosões
Qualidade da Informação X
Taxas de Desemprego X X
Social Porcentual de uso e
Econômico ocupação da terra no X X
entorno
PNB X X
Produção
Renda per capita X X
Cultura Investimentos X X X

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O subsistema ecológico foi subdivido em quatro níveis, o da fauna, o da flora, o de índice de


qualidade ambiental, e o das características morfodinâmicas.
No nível da fauna considerou-se relevante no âmbito da temática analisada, a quantidade de
espécies presentes na área, dando destaque principalmente para a mastofauna, a ictiofauna (quando
a implantação de rodovias que atravessam grandes drenagens), e a herpetofauna, já que estes sofrem
diretamente com o ruído dos equipamentos e a retirada da vegetação na fase de implantação das
rodovias, e pela modificação do habitat natural nesta fase e também na fase de operação.
A avifauna foi considerada como um indicador relevante, devido basicamente ao ruído na
fase de implantação, que pode afastar esses animais de seus locais de reprodução e desova.
Além disso, nesse nível, foi considerado importante o indicador de porcentual de espécies
endêmicas e ameaçadas de extinção, visando à preservação destas e o valor intrínseco da fauna
existente para o meio ambiente e para a sociedade.
No nível da flora foi dado destaque as taxas de diversidade, a quantidade de área florestada,
ao percentual de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção nas fases de implantação e operação,
pois principalmente com a retirada da vegetação na fase de implantação, essas e também novas
áreas tendem a ser reflorestadas. Assim sendo, é importante a análise da qualidade desse
reflorestamento em comparação com a mata existente antes da implantação, também avaliados
pelos indicadores de estágio de sucessão ecológica e valor ecológico da vegetação.
As taxas de poluição do ar e de ruído também foram selecionadas para esse nível
considerando a entrada de equipamentos, caminhões e outros materiais que emitem poluentes na
atmosfera e causam ruído.
No nível das características morfodinâmicas foi selecionado como indicador a freqüência
dos movimentos de massa e das inundações e a quantidade de perda de solo e erosões nas três fases
do estudo de impacto ambiental, considerando que essas informações auxiliam na tomada de
decisão para a escolha do trajeto das rodovias na fase de planejamento e nas fases subseqüentes são
importantes, pois ajudam no monitoramento de rodovias e no planejamento de medidas de controle
e prevenção de problemas relacionados a movimentos de massa.
O subsistema econômico, por sua vez, foi subdividido em três níveis de análise, sendo eles,
o nível social, o de produção, e o da cultura.
No nível social, considerou-se relevante o indicador da qualidade da informação prestada à
população afetada pelo empreendimento, que deve alertar sobre os possíveis benefícios e riscos
advindos da obra e de sua operação.
A taxa de desemprego é também um importante indicador desse nível, pois é capaz de
salientar o quão o empreendimento trouxe benefícios para a população do entorno.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O percentual de uso e ocupação da terra no entorno também englobado nesse nível se mostra
relevante, pois é capaz de evidenciar as mudanças que o empreendimento ocasionou em termos de
uso e ocupação na área de implantação.
No nível de produção foram selecionados indicadores que revelam a taxa de crescimento
econômico acarretada pela implantação do empreendimento, sendo eles, o produto nacional bruto e
a renda per capita da população local.
Por fim, o nível da cultura procura evidenciar os investimentos que o empreendimento
proporcionou nos setores culturais, ou seja, investimento em palestras, construção de bibliotecas,
eventos, etc.
Portanto, através da análise dos indicadores sugeridos para esse estudo de impacto
ambiental, conforme a proposição de Bollmann (2001), ou seja, considerando a comparação do
ponto de equilíbrio entre as condições atuais (ambientais e econômicas) e as tendências futuras (ver
mais em BOLLMANN, 2001) pode-se traçar com mais facilidade o quadro de investimentos
necessários para atingir o equilíbrio econômico e ambiental da área abrangida pelo
empreendimento, e com isso, definir a viabilidade da implantação do empreendimento nos locais
pretendidos no projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O escopo do presente artigo consiste em auxiliar o profissional na elaboração de estudos de


impacto ambiental, instruindo-o de forma simplificada na definição dos critérios adotados para
determinação das áreas de influência do empreendimento; na combinação de métodos de avaliação
empregados em cada etapa de elaboração do EIA; e na seleção de alguns dos principais indicadores
ambientais.
Cabe ressaltar no caso das áreas de influência a necessidade de discussões técnicas para
estabelecer formas coerentes de definição de áreas de influência, e espera-se que as premissas
científicas que regem a delimitação dessas áreas possam também ser incorporadas ao
Licenciamento Ambiental brasileiro, de modo a tornar os Estudos de Impacto Ambiental passíveis
de serem utilizados como fonte de consulta reconhecida pela Academia.
Ao identificar e combinar os principais métodos de avaliação com cada etapa de elaboração
de um EIA para empreendimentos de oleoduto, verifica-se que é possível abranger grande número
de variáveis e critérios com o intuito de determinar a relevância e magnitude dos impactos
ambientais de forma quantitativa e qualitativa.
Por fim, no que concerne aos indicadores ambientais, salienta-se a importância de seu estudo
em obras de construção e ampliação de rodovias para a definição da viabilidade de implantação das
mesmas, de acordo com o impacto ambiental resultante de sua instalação.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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BARRELLA. (Org.) Indicadores ambientais: conceitos e aplicações. São Paulo: EDUC, 2001,
p. 15-46.

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ed. p. 256-286.

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1, p. 2548-2549, fev. 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br> Acesso em: 13 jun. 2011.

BRASIL. MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. Deficiências em estudos de impacto ambiental:


síntese de uma experiência. Brasília, Ministério Público da União, 2004.

IQA. Disponível em: <http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/IndiceQA.aspx>. Acesso em: 10 jun.


2011.

MENDES, R. ET al. MARA - Elaboração de metodologia para análise dos riscos ambientais. In:
Rio Pipeline Conference & Exposition 2005, realizada no período de 17 a 19 de outubro de 2005,
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MUNN, R. E. Environmental impact assessment: Principles and procedures. Chicherster: John


Wiley, 1979.

OLIVEIRA, T. A. de. Compartimentação fisiográfica aplicada à avaliação de terrenos. Subsídio


ao planejamento territorial do município de Cananéia. 2004. 112 f. Dissertação (Mestrado em
Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade
Estadual Paulista, Rio Claro.

SÁNCHEZ. L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de


Textos, 2008.

SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Ofina de textos, 2004.

SERPA, R.R. Gerenciamento de riscos ambientais. Curso de Análise de Riscos Ambientais. São
Paulo, CETESB-SP. 1999.

UNESCO. Methodological guidelines for the integrated environmental evaluation of water


resources development. Paris: United Nations Educational, Scientific and cultural organization,
1987.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 928


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS EM TALUDES


DAS RODOVIAS QUE LIGAM MOSSORÓ (RN) A QUIXERÉ (CE)

Vicente Kelvy Medeiros ARAÚJO


Bacharel em Ciência e tecnologia -UFERSA
vicente_kelvy@hotmail.com
Marcelo Tavares GURGEL
Profº Doutor pela UFERSA
marcelo.tavares@ufersa.edu.br
Kaline Dantas TRAVASSOS
Doutora em Irrigação e Drenagem pela UFCG/ Pesquisadora PNPD/CAPES
kalinedantas@yahoo.com.br
Flávio de Oliveira BASÍLIO
Doutorando em Manejo de Solo é Água pela UFERSA
flapanema@yahoo.com.br

RESUMO
Os taludes tem bastante influencia na estabilidade das rodovias, tendo em vista que de maneira geral
são eles que suportam os esforços exercidos nas rodovias, servindo de apoio e sustentação para as
mesmas, a identificação e análise dos problemas em taludes é de fundamental importância para a
estabilidade das rodovias. O presente trabalho tem por objetivo, identificação, descrição e busca por
possíveis soluções, que sejam viáveis a resolução dos principais problemas encontrados nos taludes
das rodovias RN-015 e CE-356. Conclui-se que na rodovia RN-015, o principal problema
identificado foi à erosão, a ausência de mecanismos de drenagem e proteção superficial. As
soluções para estes problemas foram, retaludamento, a implantação dos mecanismos de drenagem e
proteção superficial. Os problemas encontrados na rodovia CE-356 foram erosão, ruptura e
deslizamento de blocos.
Palavras-chave: Erosão, Movimento de massa, Ruptura, Solução.
ABSTRACT
The slopes have a great influence on the stability of the highways, considering that, in general, they
support the efforts exerted on the roads, supporting and sustaining them, the identification and
analysis of slope problems is of fundamental importance for the Stability of highways. The present
work aims to identify, describe and search for possible solutions, which are feasible to solve the
main problems encountered in the slopes of RN-015 and CE-356 highways. It can be concluded that
in the RN-015 highway, the main problem identified was erosion, the absence of drainage
mechanisms and surface protection. The solutions to these problems were, shuffling, the
implantation of drainage mechanisms and surface protection. The problems encountered on the CE-
356 highway were erosion, rupture and sliding of blocks.
Key-words: Erosion, Mass movement, Break, Solution.

INTRODUÇÃO

A construção de rodovias, como as rodovias RN-015 e CE-356, que ligam Mossoró a


Quixeré, passando por Baraúnas, vem se mostrando de extrema importância. Além de promover o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

intercâmbio de pessoas entre as cidades vizinhas, inclusive de Quixeré para Mossoró, as rodovias
são responsáveis pela movimentação de mercadorias e matérias primas, tornando-se assim de
fundamental importância para a região, tendo em vista que tanto Baraúnas como Quixeré, cidades
ligadas pelas rodovias, tem grande parte de sua economia voltada para a exportação agroindustrial.
O processo de construção das rodovias da origem aos chamados taludes, que Segundo Horst
(2007), trata-se de uma superfície inclinada, natural ou artificialmente criada, que limita um maciço
de terra e/ou de rocha.
Problemas envolvendo taludes, como a erosão, o deslizamento de blocos de rochas e/ou de
terra, vem se intensificando ao longo das principais rodovias do país, causando danos as rodovias,
dificultando o trânsito de veículos e, na maioria das vezes, provocando acidentes desastrosos.
Em rodovias como a RN-015 e a CE-356, que ligam cidades do interior, onde a fiscalização
é quase inexistente, o processo de construção se dá, na maioria das vezes, de maneira irregular, não
respeitando os parâmetros de estabilidade dos taludes. Esse fato, aliado com a falta de inspeção e
manutenção, se enquadram como os principais causadores de problemas nas rodovias.
A falta de conhecimento do meio físico, aliada a ação dos agentes do intemperismo se
enquadram, de acordo com Nascimento (2006), como as principais causas de problemas envolvendo
taludes. A problemática dessa falta de conhecimento está associada à falta de informação na
literatura envolvendo o tema, dificultando assim a pesquisa e aprofundamento por parte dos
responsáveis pela construção e manutenção das rodovias. O conhecimento de informações sobre o
local de construção, como clima, pluviosidade e as características do solo, são de vital importância
para a construção das rodovias, e muitas vezes não são levados em consideração. Com isso se
intensificam os problemas envolvendo taludes das rodovias, fazendo-se necessário um estudo sobre
os problemas e uma busca por possíveis soluções.
A ação dos agentes do intemperismo, como a ação da chuva e dos ventos, se torna de
extrema importância para o processo de estabilização dos taludes, daí a necessidade de um
conhecimento específico sobre o tema, na tentativa de compreender a ação de tais agentes para o
desenvolvimento do projeto. Vale salientar que para o desenvolvimento de qualquer tipo de projeto,
é necessário um estudo antecipado levando em conta fatores que possam ser prejudiciais antes,
durante e depois da execução do projeto.
O presente trabalho tem por objetivo, identificação, descrição e busca por possíveis
soluções, que sejam viáveis a resolução dos principais problemas encontrados nos taludes das
rodovias RN-015 e CE-356.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

METODOLOGIA

O estudo foi realizado durante os meses de Outubro de 2014 a Janeiro de 2015, onde
inicialmente foram feitos alguns levantamentos na literatura sobre o tema.
Para esse levantamento, foram realizadas pesquisas que tiveram como ponto de partida a
busca por definições de taludes suas classificações e aplicações, quais os problemas encontrados e as
soluções para seus respectivos problemas. Posteriormente, a pesquisa foi direcionada para a região
onde o estudo foi realizado, o que permitiu a percepção da carência de trabalhos envolvendo a região.
A pesquisa teve como base teses, dissertações, TCC‘s, normas técnicas, apostilas entre ouros arquivos
que viessem a abordar algum aspecto sobre o tema.
Foram levantados os dados da pesquisa por meio da obtenção de imagens, com o auxílio de
uma câmera fotográfica, dos taludes das rodovias RN-015 e CE-356, no trecho que liga Mossoró a
Quixeré passando por Baraúnas, com uma média de 84 Km.

Figura 1. Localização do trecho estudado.


Fonte: Google maps

Para cada imagem obtida, foram marcadas as coordenadas do local com o auxílio de um
GPS portátil da marca Garmin Etrex disponibilizado pela UFERSA.
No total foram coletadas imagens de 40 pontos ao longo do trecho estudado, sendo
capturadas em média duas imagens para cada ponto, sempre marcado as coordenadas para melhor
localização dos dados obtidos. Após o levantamento das imagens, foi feita uma análise destas,
enfocando-se os problemas identificados bem como uma busca na literatura por possíveis soluções
que sejam economicamente viável a resolução dos problemas encontrados.
A análise das imagens teve como base arquivos encontrados na revisão bibliográfica que
descrevem alguns problemas encontrados em taludes das rodovias do Brasil, de modo a auxiliar na
identificação do tipo de problema nas rodovias RN-015 e CE-356, bem como alguma medida que
possa a vir ajudar na solução e prevenção do problema identificado.
Terminada a fase de identificação dos problemas e busca na literatura por soluções que
possam ser realizadas, foram feitas as conclusões sobre qual solução seria mais viável para os
problemas encontrados, e as considerações finais sobre a pesquisa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A rodovia RN-015, apresentado valas de drenagem e vegetação protegendo seus taludes, os


quais são predominantemente de aterro (Figura 2A). No trecho da rodovia que circunda Baraúnas, a
presença das valas de drenagem é quase inexistente, assim como a vegetação, tornando a área
bastante susceptível à erosão.
De acordo com a Figura 2B, é possível perceber a ausência da vala de drenagem neste
ponto, a terra está obstruindo o bueiro, impedindo a passagem da água em caso de uma grande
precipitação de chuva, podendo danificar a rodovia. Está terra no bueiro foi resultado de um
processo de escavação feito na região, onde todos os taludes das proximidades de Mossoró
passaram por um processo de retaludamento.
Ainda é possível perceber a escassez de vegetação na superfície do talude, o que aliado à
ausência de valas para a drenagem, tornam o local susceptível a erosão, já que de acordo com
Silveira (1981) apud Lemes (2001) a falta de revestimento superficial acarreta uma maior exposição
do solo aos agentes erosivos, aumentando assim à susceptibilidade a erosão.
Uma solução para o problema seria a limpeza do bueiro, evitando assim o barramento da
água, a implantação de valas de drenagem, para que a água proveniente das chuvas não passe
totalmente pela superfície inclinada do talude. Dessa forma, seria amenizado o processo erosivo
pluvial, e a revegetação da superfície do talude, que além de aumentar sua resistência, pelas raízes
das plantas, diminuiria a ação dos agentes erosivos. Vale salientar que segundo Moretto (2012),
para que ocorra a revegetação do local, com um desenvolvimento considerável da vegetação, é
necessário que as condições do solo estejam adequadas.
A análise da Figura 2C permite a identificação da erosão do talude, provocada pela ação do
vento e provavelmente intensificada pela ação da água que possa escoar pelo cano presente na crista
do talude. Esse processo erosivo pode ter sido intensificado ainda pela ausência da vala de
drenagem e pela falta da proteção superficial causada pela inexistência de vegetação na superfície
do talude, como citando anteriormente esse fato torna o local mais susceptível a erosão. À medida
que o processo erosivo se intensifica, a superfície inclinada do talude vai adentrando por baixo da
rodovia, tal fato pode provocar a perda da resistência do talude, e uma possível fissura na rodovia.
Uma alternativa para a resolução do problema seria o retaludamento do local, evitando que a
erosão faça a superfície do talude passe por baixo da rodovia, seguido da implantação das canaletas
de drenagem superficial e revegetação superficial, que ajudaria no acréscimo de resistência ao solo
devido à relação solo raiz (AZEVEDO, 2011).
Essa solução é viável, pois segundo Mattos (2009) o processo de retaludamento tem que
estar associado a obras de controle e drenagem e proteção superficial, com a finalidade de que aja

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

uma diminuição na infiltração da água no terreno, reduzindo o escoamento superficial inibindo


assim os processos erosivos.
As Figuras 2D, 2E, 2F e 2G a baixo são do trecho da rodovia RN-015 que circunda a cidade
de Baraúnas.

A B

C D

E F

Figura 2. Vala de drenagem RN-015 (A), talude de aterro RN-015 (B), talude afetado pela erosão RN-
015 (C), erosão em sulcos (D), erosão em sulcos trecho da RN-015 (E), erosão em sulcos trecho 2 RN-
015 (F), erosão em sulcos trecho 3 RN-015 (G)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As identificações do tipo de erosão apresentada nas Figuras 2D, 2E, 2F e 2G são erosão em
sulcos, está identificação foi possível a partir da comparação com outras Figuras encontradas na
revisão na literatura.
É possível perceber que os taludes presentes na região apresentam pouca inclinação, a água
escoa com menor velocidade, causando uma maior penetração da água no solo.
A solução encontrada para tal problema seria inicialmente o retaludamento, para reajustar a
superfície inclinada do talude, posteriormente à implantação dos dispositivos de drenagem e
proteção superficial, natural.
De forma geral dos problemas dos taludes da rodovia RN-015, a partir da análise das
Figuras observada no presente trabalho, percebe-se erosão, a maior ocorrência foi através de sulcos,
onde as principais causas são a inexistência dos mecanismos de drenagem, bem como a proteção
superficial vegetal. Para solucionar os problemas identificados seria necessário o retaludamento,
implantação dos depósitos de drenagem e a proteção superficial dos taludes.
A busca para solução dos problemas envolvendo erosão tem que ser feita de imediatamente,
pois segundo Lopes (2007) apud Mattos (2009) os processos erosivos tendem a evoluir, iniciando-
se em pequenos sulcos, como os das Figuras acima, evoluindo para ravinas com dimensões variadas
dependendo das condições do terreno.
O retaludamento tem o intuito de reconstruir a superfície erodida do talude, recuperando
suas propriedades físicas; É considerada uma obra viável para a solução dos problemas na região,
pois além de atender aos critérios para a resolução dos problemas, o retaludamento, segundo Mattos
(2009), é um dos métodos mais simples e eficaz.
A implantação dos dispositivos de drenagem tem o intuito de amenizar ou até evitar o
escoamento das águas da chuva pela superfície inclinada do talude, amenizando assim os efeitos da
erosão. A proteção superficial, mais especificamente a vegetal, além de amenizar as ações dos
agentes erosivos, tanto do vento, diminuindo o impacto e a velocidade do vento, como das chuvas,
ela aumenta a resistência do talude (MASSAD, 2010).
Embora a identificação dos problemas no trecho estudado, a rodovia ainda se apresenta em
um bom estado de conservação. Tal fato está relacionado escassez de chuva na região, assim os
processos erosivos são menores intensos.
A rodovia CE-356, no trecho que liga Baraúnas a Quixeré já se apresenta bastante
desgastada, principalmente pelo fato da inexistência de acostamento, faz com que os taludes se
liguem diretamente com a rodovia, dessa forma os possíveis problemas que atinjam os taludes
consequentemente atingirão a rodovia. Segundo Paulo Mendes et al. (2010) o acostamento é
indispensável a segurança e manutenção da conservação das vias. Os taludes neste trecho da
rodovia são praticamente inexistentes, de modo que na saída de Quixeré para Baraúnas, mais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

precisamente na ladeira da chapada do Apodi, percebe-se a presença de grandes taludes de corte, o


que torna a região bem apta ao presente estudo, pelo fato de ocasionar maior risco a segurança de
quem trafega na rodovia (Figura 3A).
As Figuras 3B e 3C foram tiradas no trecho antes da ladeira da chapada do Apodi. Sendo
identificadas as erosões mais intensificadas, as quais já atingiram a pista, esse fato decorre da ausência
do dispositivo de drenagem, e também do fato de que no trecho não existe acostamento. Desse modo
o talude fica em contato direto com a rodovia e os problemas que afetam este prejudicam diretamente
a rodovia. A causa da erosão, pelo modo como está desposta foi à ação das águas da chuva,
intensificada pelo trafego de veículos na região, tendo em vista que segundo Moretto (2012), a ação
das águas da chuva intensifica o processo erosivo.
Uma possível solução para o problema mencionado anteriormente é, inicialmente, a
reconstrução da parte afetada da via, acrescida do acostamento, seguida da implantação do
dispositivo de drenagem e posterior proteção superficial.
As imagens que seguem, Figuras 3D, 3E, 3F, 3G, 3H e 3I, foram capturadas no trecho da
ladeira da chapada do Apodi, com a predominância de taludes de cortes.

A B

C D

E F

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

G H

Figura 3. Taludes de corte ladeira da chapada do Apodi CE-356 (A), erosão intensificada CE-356 (B), erosão
intensificada que atingiu asfalto na CE-356 (C), voçorocas em talude de corte CE-356 (D), erosão superficial
em Talude de corte CE-356 (E), erosão em talude de corte imagem 1 CE-356 (F), erosão de Talude de Corte
imagem 2 CE-356 (G), ruptura intensificada taludeda rodovia CE-356 (H), ruptura em talude da rodovia CE-
356 (I)

Na Figura 3D, a erosão se apresenta na forma de Voçorocas ou Boçorocas, provocadas pela


ação do vento, reduzindo a resistência do talude. Nas Figuras 3E, 3F e 3G, apresentam erosões
diferenciadas.
Como se trata de um talude de corte, a solução deve ser uma obra de contenção, e tratando-se
de um terreno acidentado, como o em questão, a solução mais adequada é a implantação de uma
proteção superficial com o concreto, para prevenir o progresso da erosão e evitando o fissuramento,
tendo em vista que na proteção superficial com concreto tem-se a utilização de uma grade que
absorve as tensões geradas pela dilatação e retração do concreto, evitando assim seu fissuramento
(PEZENTE, 2015).
Outra alternativa para estes problemas poderia ser a implantação do muro de arrimo com
gabiões, que ajudaria na contenção e como apoio do talude, mas haveria uma grande dificuldade
pelo fato do terreno ser acidentado, diminuindo a fixação da base, já que os gabiões são gaiolas de
arame empilhadas e preenchidas por pedra britada (MATTOS, 2009).
Nas Figuras 4A e 4B, foram identificados sinais de ruptura, decorrente da perca da resistência
do talude. Uma solução seria o reforço com uma manta geotêxtil, uma vez que a manta ajuda na
resistência a tração do solo, outra saída seria a proteção superficial com concreto, reparando o local
da ruptura e consequentemente aumentando a resistência do maciço (MASSAD, 2010).
Analisando as Figuras 4A, 4B e 4C, foi possível a identificação dos movimentos de massa,
como o deslizamento de blocos e do solo. Na Figura 4B perceber-se a presença de rochas soltas na

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 936


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

crista do talude, se tornando um grande risco para quem trafega na rodovia, já nas Figuras 4A e 4C,
as rochas se encontram em repouso no pé do talude, onde provavelmente ocorreu um deslizamento
de blocos.
Uma solução eficaz para o problema seria a construção de um muro de arrimo com gabiões,
para a contenção das rochas soltas evitando seu deslizamento e possíveis acidentes neste trecho da
rodovia. As demais obras de contenção como cortinas atirantadas ou a implantação de tirantes e
chumbadores também resolveriam o problema, mas, requerem uma mão de obra qualificada e como
nesse trecho existem muitas rochas expostas, não seriam viáveis para a solução do problema.

A B

Figura 4. Rocha solta próximo à rodovia CE-356 (A), rochas soltas na crista talude da rodovia CE-356 (B),
rocha solta no pé de talude de aterro rodovia CE-356 (C)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na rodovia RN-015, o principal problema identificado foi à erosão, a ausência de mecanismos


de drenagem e proteção superficial. As soluções para estes problemas foram, retaludamento, a
implantação dos mecanismos de drenagem e proteção superficial.
Os problemas encontrados na rodovia CE-356 foram erosão, ruptura e deslizamento de
blocos. Nessa rodovia a solução para estes problemas estão relacionados à necessidade de um
projeto de planejamento e execução das obras de contenção.
Há necessidade de novos estudos que visem despertar o olhar crítico para que os problemas
encontrados sejam solucionados por parte dos órgãos responsáveis de modo que as rodovias
mantenham-se em um bom estado de conservação evitando possíveis acidentes ao longo do trecho
estudado.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, p. 83-112, 2010.

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arenosos: estudo na rodovia castelo branco (SP 280), KM 305 A 313. Dissertação (Mestrado) -
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(Mestrado Em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
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de Aula. 134 p. 2006

PEZENTE, J. H. Proteção superficial de taludes. 2015. Disponível em:


<http://www.metalica.com.br/protecao-superficial-de-taludes>. Acesso em: 08 jan. 2015.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 938


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DAS ATIVIDADES DO COMPLEXO


INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE – PE: UM FOCO NA ILHA DE TATUOCA

Leandro Tavares Santos BRITO


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências e Matemática da UFRPE
leandrotsb@yahoo.com.br
Monica Lopes Folena ARAÚJO
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências e Matemática da UFRPE
monica.folena@gmail.com

RESUMO
A degradação ambiental na Região Metropolitana do Recife vem ocorrendo desde do início da
colonização, visando usufruir das vantagens econômicas locais. O porto de Suape surgiu com as
intenções de aproveitar o posicionamento estratégico do território no que diz respeito a rotas
marítimas. Com a propaganda embasada em significativos avanços econômicos, as políticas
públicas omitiram os diversos conflitos socioambientais oriundos das intervenções diretas e
indiretas da implantação desse complexo, dentre eles a remoção de diversas comunidades
tradicionais como a da Ilha de Tatuoca. Este trabalho busca compreender, por intermédio de
entrevista semi-estruturada, a relação entre a administração de Suape e os ilhéus quanto ao
estabelecimento de diálogos, mobilizações, ações educativas em meio ambiente e participação das
escolas. Os sujeitos da pesquisa foram uma representante de um movimento social do município do
Cabo de Santo Agostinho e um dos líderes da comunidade em foco. Percebe-se um sentimento de
revolta quanto à ausência da participação dos moradores na definição de seus próprios destinos, seja
relacionado a intervenções que venha a afetar seu modo de vida enraizado culturalmente pelas
diversas gerações que por ali passaram, seja pela realocação da comunidade de maneira incisiva.
Nota-se a ausência de práticas educativas socioambientais, sendo percebidas apenas ações pontuais
com a finalidade de cumprimento de legislação. Os entrevistados também não reconhecem a
participação das escolas da região nesse contexto.
Palavras-chave: Suape, Ilha de Tatuoca, conflitos socioambientais.
ABSTRACT
Environmental degradation in Região Metropolitana do Recife has been occurring since the
beginning of the colonization, in order to take advantage of the local economic advantages. The
Suape‘s port arose with the intention of taking advantage of the territory‘s strategic positioning with
regard to sea routes. With propaganda based on significant economic advances, public policies
omitted the socio-environmental conflicts arising from direct and indirect interventions in the
implementation of this complex, among them the removal of several traditional communities such
as Ilha de Tatuoca. This work seeks to understand, through a semi-structured interview, the
relationship between the Suape‘s administration and the islanders regarding the establishment of
dialogues, mobilizations, educational actions in the environment and schools‘ participation. The
research‘s subjects were a representative of a social movement from Cabo de Santo Agostinho and
one of the community‘s leaders in focus. There is a revolt feeling about the lack of participation of
the residents in the definition of their own destinies, whether it‘s related to interventions that will
affect their way of life rooted culturally by the several generations that have passed, or by the
community reallocation in a incisive way. Note the absence of socio-environmental educational
practices, with only one-off actions being taken to comply with legislation. The interviewees also
do not recognize the participation of the region's schools in this context.
Keywords: Suape, Ilha de Tatuoca, socio-environmental conflicts.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A Região Metropolitana do Recife – RMR, em Pernambuco, vem sendo explorada desde o


século XVI, início da colonização, caracterizando-se pela forte economia da cana-de-açúcar devido
à adaptabilidade da espécie ao local, acarretando na destruição da vegetação natural, com o uso
irracional dos solos, com a poluição dos cursos d‘água e com a baixa qualidade de vida de grande
parte de sua população (ANDRADE, 1997). Tal situação continua acentuada, podendo qualificar a
região como recorrente em problemas ambientais, envolvendo ainda outras várias ações como
aterramento de manguezais, destruição de arrecifes, poluição de mananciais, deposição inadequada
de resíduos sólidos e esgotos, destruição de áreas de preservação para fins diversos, alterações na
qualidade do ar, entre outros.
O Complexo Industrial Portuário de Suape – CIPS, localizado nos municípios do Cabo de
Santo Agostinho e de Ipojuca, ambos pertencentes à RMR, foi estrategicamente planejado desde
1960 tendo em vista a possibilidade de rotas marítimas com conexão com mais de 160 portos do
mundo. O início de sua construção se deu no ano de 1974, e desde então houve um crescente
investimento de iniciativas públicas e privadas na operação e ampliação do polo, atingindo seu
ápice entre os anos de 2007 e 2010 (SUAPE, 2017) havendo uma recessão no ano de 2016 devido
ao agravamento da crise econômica do Brasil. A história desse projeto sempre foi referenciada pelas
mídias políticas como principal gerador de emprego e renda do estado, movimentando a economia
de todo o território. Todavia não se pode deixar de salientar os conflitos sociais e trabalhistas
oriundos da recente dispensa de mais de 40.000 colaboradores, da retirada de comunidades nativas
inteiras no período de implantação do complexo e das empresas lá situadas e a devastação
ambiental em um ritmo acelerado o qual nunca foi havia sido registrado (COSTA, 2016).
O espaço agora ocupado pelo referido empreendimento, no passado podia ser referenciado
por exuberantes praias, manguezais e matas, além de diversos sítios dos quais era oriunda a maioria
das frutas comercializadas no Recife (CAVALCANTI, 2008). Porém, como relata Santos et al.
(2014), quando são planejadas obras as quais influenciam na economia, as consequências
relacionadas à saúde e ao ambiente normalmente são rebaixadas a patamares menores no que diz
respeito aos graus de significância, uma vez que os potenciais riscos ambientais e tecnológicos de
produção e consumo, a devastação e suas implicações quanto à saúde são distribuídos entre as fatias
sociais de forma desigual.
Silveira (2010) identificou diversos tipos de conflitos sociais entre o CIPS e as comunidades
locais resistentes, dentre os quais aqueles caracterizados como socioambientais. Foi evidenciado
que 15 comunidades, do total de 27, manifestaram reconhecimento da existência de conflitos
socioambientais, incluindo: desapropriação de terras (relacionada a reflorestamento e conservação
de manancial), instalação de estação de tratamento de efluentes (impactos nas comunidades
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 940
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

envolvidas), poluição sonora, atmosférica, hídrica e supressão de manguezais (instalação de


empresas potencialmente poluidoras).
De acordo com Carvalho (2012, p. 166): ―Um olhar mais atento sobre as relações sociedade-
natureza e sobre a arena de conflitos socioambientais vai perceber uma teia emaranhada de grupos
sociais no campo e na cidade (...) que lutam por legitimar formas de uso dos bens ambientais, de
acesso a eles e de convivência e interação com o ambiente, assim como os saberes
correspondentes.‖.
Conforme Albuquerque et al. (2013), a comunidade da Ilha de Tatuoca retirava seus
recursos de sobrevivência da pesca e do extrativismo local há várias gerações, sofrendo diretamente
com a degradação ambiental operacionalizada pela administração do CIPS. Devido à
insustentabilidade da comunidade do local após as intervenções da empresa, houve a construção do
Loteamento Nova Tatuoca com a finalidade realocar os moradores, denotando assim a sobreposição
econômica em relação às comunidades tradicionais. Carvalho (2012, p. 167) relata que ―o motivo
central desses conflitos é a tensão entre o caráter público dos bens ambientais e sua disputa por
interesses privados‖.
Visando tomar conhecimento do posicionamento da comunidade acima referenciada perante
as atividades, ações e providências do CIPS, foi realizada entrevista com uma representante de um
movimento social do município do Cabo de Santos Agostinho (identificada nesta pesquisa como
Sujeito 1 – S1) e um dos líderes comunitário da Ilha de Tatuoca (Sujeito 2 – S2). Buscou-se
compreender como a administração do complexo se relaciona com os moradores, incluindo a
verificação de diálogos sobre as questões socioambientais, instrumentos de comunicação, ações
mitigadoras, existência de atividades educativas em meio ambiente e participação da escola nesse
contexto.
Foi inserido o ambiente escolar, em sua função primeira, pelo seu caráter formativo em
amplo sentido, principalmente como cidadão atuante na sociedade, opinando, debatendo,
reivindicando, transformando e sendo transformado. De acordo com Torres et al. (2014, p. 15),

a formação de sujeitos escolares em uma perspectiva crítica requer o investimento na


elaboração e na efetivação de abordagens teórico-metodológicas que propiciem a
construção de concepções de mundo que se contraponham às concepções de que o sujeito é
neutro; de que o conhecimento é transmitido do professor ao aluno numa via de mão única;
de que a ciência e seu ensino são balizados por critérios positivistas, entre outras
concepções fragmentadas de mundo.

Observam-se limites e dificuldades na efetivação da proposta acima mencionada. Tais


barreiras podem ter influência dentro da própria escola (falta de interesse dos profissionais ou ainda
ausência de uma formação coerente para mediar determinadas situações) ou da sociedade em geral
(seja política, social, cultural, econômica).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Segundo Araújo (2015, p.38) ―a educação comprometida com a realidade socioambiental


constitui prática social que requer um conjunto de ações intencionais em prol da sustentabilidade; e
uma de suas finalidades é contribuir para a humanização e emancipação do homem e para a
formação de cidadãos críticos.‖.

METODOLOGIA

Aproveitando a oportunidade de palestra ministrada pelos sujeitos desta pesquisa no


Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, e tendo em
vista que a entrevista se caracteriza como ―técnica qualitativa de apreensão da percepção e da
vivência pessoal das situações e eventos do mundo‖ (FRASER & GONDIM, 2004, p. 139), foi
procedida uma entrevista semi-estruturada, quando foram utilizadas perguntas norteadoras as quais
buscaram iniciar blocos de discussões sobre cada ponto abordado, o que não significou uma
redução de debate pois os pontos acabam sendo interligados, evitando assim a fragmentação do
conteúdo de interesse da pesquisa. Esse procedimento foi adotado prezando por uma organização
mais eficiente da coleta dos dados, mas estabelecendo precauções quanto ao estabelecimento de
barreiras nas falas dos entrevistados.
Houve uma conversa informal no momento que se antecedeu à palestra, quando ocorreram
as apresentações e um diálogo inicial sobre o tema da entrevista, bem como sua relevância. A
concordância dos sujeitos na participação se deu de forma natural, demonstrando interesse em
colaborar. Em seguida, iniciou-se a palestra com a primeira fala de S1 e, logo após, houve a
exposição de S2. A partir desse momento, foi realizada audiogravação de todas as falas proferidas
no evento até seu fim, inclusive das interações com os ouvintes.
No intervalo ocorrido ao final das exposições dos palestrantes, antes das interlocuções com a
plateia, se deu mais uma conversa informal (desta vez registrada) já abordando algumas das
perguntas norteadoras. Tal fato se justificou pela percepção, por parte do entrevistador, do estado de
envolvimento dos sujeitos durante suas apresentações, configurando-se como ponto importante da
coleta de dados. Ao final do evento, no momento reservado para participação da plateia, foram
realizadas as perguntas até então não contempladas.

COM A PALAVRA, A RESISTÊNCIA

No início da fala de S1 foi observada uma abordagem histórica do CIPS, na qual ocorreu o
questionamento quanto ao seu planejamento para o crescimento da região. Foi mencionada uma
estagnação das atividades em um período aproximado de vinte anos, configurando-se como uma
área desconhecida pelos próprios habitantes dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pois não havia nenhum tipo de comunicação com as comunidades a respeito do objetivo daquele
complexo.
Na primeira parte da década de 2000, conforme S1, um ritmo acelerado tomou conta das
movimentações do local, apontando como benefícios a expansão da economia local com geração de
empregos e renda e inibindo as implicações ambientais (algumas já ocorridas e muitas outras por
vir). Porém, não houve um planejamento com a finalidade de informar e preparar a população
quanto ao nível de abrangência daquele empreendimento, não oportunizando assim qualquer tipo de
profissionalização da mão-de-obra local ou reivindicações quanto aos problemas socioambientais.
Diante disso, observou-se a chegada de milhares de trabalhadores de outros estados (e até de outros
países) para ocupação cargos das empresas, restando apenas as funções menos qualificadas para a
população local (foi mencionado que ocorreram ações pontuais de qualificação, mas que, além de
não atender à demanda, se deram em tempo tardio). Esse fato acabou gerando um problema social
maior com a recente recessão, uma vez que muitos dos profissionais forasteiros não retornaram aos
seus locais de origem, permanecendo desempregados nas cidades circunvizinhas ao CIPS.
De acordo com S1, as degradações ambientais foram tomando proporções cada vez maiores
no decorrer das instalações das empresas, afetando diretamente as comunidades as quais dependiam
dos recursos naturais para retirar seus alimentos, bem como para obtenção de renda na
comercialização de frutas, verduras, raízes e pescados, caracterizando insustentabilidade para
diversas famílias. Houve uma alusão ao fato da permissibilidade governamental quanto à supressão
ambiental com a justificativa de incentivar o desenvolvimento econômico, muitas vezes ignorando a
relação harmônica dos moradores com a natureza. Foi citada a existência de termos de
compromisso relacionados a compensações de danos causados e/ou ações mitigatórias a ser
realizadas as quais não são evidenciadas de fato. Há ações pontuais não significativas nomeadas
pelos idealizadores como educação socioambiental, que fogem da real essência que deveria carregar
esse tipo de atividade.
É citado como exemplo por S1 o caso da Ilha de Tatuoca, a qual foi altamente impactada
para a construção de um estaleiro, sofrendo diversas intervenções de aterros, resultando em sua
dizimação. As famílias lá residentes há mais de cem anos foram retiradas, contrariando suas
intenções, e alocadas em uma vila a qual se distancia severamente do estilo de vida natural daquela
população, tanto do ponto de vista da qualidade de vida quanto da ausência dos meios de
sobrevivência. Foi mencionada a ocorrência de audiências públicas envolvendo a administração do
CIPS, as políticas públicas e as comunidades, porém, conforme S1, a população não participa de
fato nas decisões sobre o desenvolvimento da região.
Quanto aos meios de comunicação do CIPS com a comunidade no que tange à necessidade
de utilização do local, S1 relatou a existência de um contato informativo referenciando a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

convocação para pagamento de indenização, utilizando valores reclamados como insignificantes.


Caso não haja negociação, utilizam artifícios jurídicos para derrubar as moradias
independentemente das situações familiares.
S1 finaliza sua fala relatando que ―o desenvolvimento de Suape não era bem como se dizia,
não é bem como o Estado propagandeia, não é bem como aparece: com tantas empresas e tantas
construções naquela região.‖
Ao iniciar sua exposição, S2 direciona às atenções à situação da Ilha de Tatuoca que ainda
denota uma significativa representatividade para os pescadores que sempre dedicaram suas vidas a
atividades ligadas àquela área. Foi traçado um quadro comparativo, caracterizando a ilha antes e
depois da atuação do CIPS, mencionando a implantação de recifes artificiais para construção de
rodovias e o isolamento de um rio o qual se caracterizava como principal fonte de alimento e renda
para os moradores. Foi exposta a atual dificuldade de acesso a esse curso d‘água, sendo alvo de
discussões envolvendo a administração do complexo e pescadores, transparecendo ausência de
intenção de acordo por parte da empresa. S2 relatou que esse isolamento se deu na intenção de
dedicar o referido rio para resfriamento de turbinas de uma refinaria.
A degradação ambiental evidenciada na ilha, segundo S2, foi ocorrendo de maneira gradual,
muitas vezes atribuindo a supressão de vegetação à mortandade de espécimes cujo motivo se deu
pela própria intervenção do CIPS. Foi relatado o esforço coletivo para manter uma área de
manguezal remanescente, reconhecendo sua significativa importância ecológica e econômica para a
pesca. Na região que sofre influência da maré e alimenta esse estuário foi implantado um dique de
enrocamento, servindo de base para uma ponte, no qual foram instaladas manilhas de concreto com
a finalidade de não interromper o fluxo aquático. Porém, de acordo com S2, esse equipamento está
situado em uma altura a qual somente permite a passagem das águas nos momentos de maré alta,
impactando negativamente o manguezal, podendo levar a sua breve degradação. Além disso, as
manilhas estão consideravelmente distantes daquilo que se configurava como paisagem natural do
ambiente, impedindo o trânsito vital para o equilíbrio ambiental.
Outro ponto mencionado por S2 foi a realização de obras de dragagem nas proximidades da
Ilha de Tatuoca cujos resíduos foram depositados a aproximadamente quinhentos metros da costa,
provocando reações dérmicas a pessoas que estabeleciam algum tipo de contato com as águas, além
do aterro de corais e áreas de mangue. Também foi referenciada a extração de areia de um pontal da
região para proteção de um estabelecimento hoteleiro, como forma de evitar o avanço do mar, ação
essa que não obteve sucesso.
A atual situação das marisqueiras, na visão de S2, é mais um impacto direto das atividades
do CIPS nas comunidades ribeirinhas da região. As mulheres que trabalham durante todo o dia na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pesca artesanal não conseguem mais sobreviver por suas atividades. A quantidade de mariscos e
crustáceos da região vem reduzindo à medida dos avanços das intervenções empresariais.
Sobre a realocação das famílias da ilha, S2 estabeleceu diferenças entre a qualidade e o
estilo de vida da comunidade quando estavam em seu local de origem e no momento atual,
residindo no Loteamento Nova Tatuoca. Foi mencionado que na ilha eles conseguiam manter suas
famílias com trabalhos de culturas de subsistência, pesca e comercialização de seus produtos, com
boa quantidade e qualidade dos alimentos; o condomínio o qual estão atualmente habitando não
oferece essas oportunidades, descaracterizando a comunidade tradicional, submetendo os moradores
a condições difíceis. Evidenciou-se casos de depressão, suicídio, uso e tráfico de drogas lícitas,
sendo considerando, sendo considerado por S2 como um ―campo de concentração‖. Além disso, os
moradores não detêm título de posse desses imóveis, sendo impedidos de realizar quaisquer
alterações em suas estruturas.
Na conclusão de sua exposição, S2 coloca que ―esse é o desenvolvimento que o Estado de
Pernambuco trouxe para nós, pernambucanos e cabenses‖, e acrescenta: ―infelizmente é o
desenvolvimento do Estado, trazendo miséria para as populações tradicionais e trazendo risco de
vida para vocês, pois cada um daqueles que se torna marginal, cada um de vocês corre risco de
vida.‖
Tanto S1 como S2 não conseguiram reconhecer nenhuma prática educativa socioambiental
realizada pelo CIPS. Eles mencionaram a realização de algumas atividades pontuais, caracterizadas
como ingênuas, apenas com fins de cumprimento legislativo, as quais não podem ser consideradas
de fato como educação socioambiental.
Até mesmo escolas da região acabam absorvendo o senso comum de desenvolvimento do
complexo, uma vez que, conforme os sujeitos desta pesquisa, influenciam os alunos a se capacitar
para integrar as empresas lá estabelecidas, inibindo as consequências que as intervenções podem
acarretar. S1 ainda ressaltou a ocorrência de alunos já estarem trabalhando em algum
empreendimento do CIPS, sendo influenciado pela sua renda, ou ainda seus pais sustentarem a
família por intermédio de empregos alcançados pelas instalações do complexo. Os sujeitos ainda
salientaram a necessidade de um cuidado em relação à abordagem desse tema nos espaços
escolares, tendo uma vista uma má interpretação do alerta, podendo ser convertido em retaliação.
Eles também informaram a ausência de uma política com essa abordagem por parte das secretarias
de educação municipais. S1 comentou que a educação local está ―dormindo em berço esplêndido‖
quantos aos conflitos socioambientais existentes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidencia-se que a região do CIPS não se caracteriza somente por problemas, mas sim
conflitos socioambientais, quando as situações se assinalam pela manifestação das comunidades no
que diz respeito às intervenções relacionadas à implantação de empreendimentos. Percebe-se que os
moradores entendem suas participações nas decisões que envolvem seus próprios futuros como
irrelevantes para a administração do complexo, sendo apontados como principais destaques a
ausência de diálogos ou, quando ocorrem, não objetivam acordo viável para ambas as partes. A
degradação ambiental reflete diretamente na sustentabilidade das famílias que residem no entorno
de Suape, fato esse que torna indispensável o envolvimento dessas pessoas em quaisquer decisões
as quais possam vir a causar qualquer alteração em seu cotidiano, principalmente por se tratar de
comunidades tradicionais.
As escolas poderiam servir como alavanca nesse processo de discussão, esclarecimentos e
acordos, uma vez que são instituições formadoras de cidadãos com opiniões individualizadas e
posicionamentos diversificados. Porém, os próprios resistentes desse sistema não reconhecem essa
participação, percebendo isso na ausência de ações conjuntas e na passividade quanto às situações
de conflito. Nesta pesquisa, não há evidências de quais motivos, de fato, levariam os espaços
escolares a não ser reconhecidos como atuantes nas questões socioambientais locais, podendo se dar
por falta de uma formação adequada aos profissionais da educação lá atuantes, por questões de
posicionamento político, por concepções equivocadas acerca da realidade vivenciada pelas
comunidades ou simplesmente por ausência de interesse.

REFERÊNCIAS

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Biologia. Recife: Editora UFPE, 2015. 374 p.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 947


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IMPACTOS DA AÇÃO ANTRÓPICA SOBRE O RIO CANAPI

Luana da Rocha Melo GUERRA


Aluna do curso de Especialização em Ensino de Ciências
guerra-luana@bol.com.br

RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade identificar os principais impactos ambientais causados pelo
processo de urbanização no trecho do Rio Canapi que corta a cidade de Canapi AL. A questão
central é entender como o processo de ocupação vem trazendo danos à qualidade da água do rio, a
partir de sua evolução histórica, desde o surgimento da cidade até os dias atuais. O trabalho foi
realizado a partir de revisão bibliográfica, levantamento em campo, conversas informais e
entrevistas com moradores antigos e funcionários da prefeitura ligados a secretaria de meio
ambiente municipal, bem como registro fotográfico, análise de imagens de satélites e mapas para
melhor compreensão da área de estudo. A partir de tal estudo, fica evidente que a relação entre a
população e rio se desestabiliza cada vez mais e que esta parece não ser percebida por quem vive no
local, cabendo uma análise sobre as atribuições da população e dos órgãos públicos competentes.
Palavras Chave: Rio Canapi, Ação Humana, Impacto Ambiental.
SUMMARY
The present work aims to identify the main environmental impacts caused by the urbanization
process in the Canapi River section that cuts through the city of Canapi AL. The central issue is to
understand how the occupation process has been damaging the water quality of the river, from its
historical evolution, from the city's emergence to the present day. The work was carried out from a
bibliographical review, field survey, informal conversations and interviews with old residents and
city hall employees connected to the municipal environment secretariat, as well as photographic
record, satellite image analysis and maps for a better understanding of the area of study. From this
study, it is evident that the relationship between the population and the river is increasingly
destabilized and that this seems not to be perceived by those who live in the place, and an analysis
on the attributions of the population and the competent public agencies.
Keywords: Canapi River, Human Action, Environmental Impact.

INTRODUÇÃO

O crescimento demográfico vem atingindo o ambiente natural, provocando assim o


desaparecimento de inúmeras espécies, tanto animais como vegetais, e outras, ainda ameaçadas de
extinção (Gewehr, 2007 citado em Perreira et al., 2016 ). Em específico, os rios nas cidades têm
sofrido com a deposição de resíduos sólidos e de compostos xenobióticos. A consequência é a
redução da qualidade ambiental desse ecossistema (CAJARAVILLE et al., 2000; ARIAS et al.,
2007).
Observando as questões ambientais no município de Canapi, se verificou a necessidade de
conscientização a respeito dos impactos acarretados pela ação antrópica sobre o Rio Canapi, que
corta o município. Nesse sentido, o projeto de pesquisa ora apresentado procurar trazer uma

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discussão sobre como a população vem contribuindo para a degradação deste, bem como a
importância de discutir e trabalhar tal temática no município, considerando a necessidade de
conscientização para com as atitudes que afetam ou prejudicam seu curso natural.
Considerando que este tem uma importância significativa para o município, é essencial que
se trabalhe com o intuito de despertar a importância da preservação voltada para a construção de um
futuro sustentável, levando-os a desenvolver ações modificadoras, de forma a permitir um
desenvolvimento harmônico entre população e natureza.
A elaboração desse trabalho busca discutir ações que visem reduzir os impactos ambientais
negativos sobre o rio, contribuindo assim para viabilização do uso sustentável deste. A água é parte
integrada dos seres vivos, essencial à vida e representa cerca de 60% do peso do corpo humano. Ela
está presente na constituição dos tecidos, sendo dissolvente que transporta as substâncias não
aproveitadas pelo organismo.
Além de sua função natural de manutenção da vida, a água destina-se aos mais diversos fins,
como abastecimento público e industrial, dessedentação de animais, geração de energia, transportes,
lazer/recreação, irrigação, entre outros. Além disso, a água recebe, dilui e transporta esgotos
domésticos, efluentes industriais e resíduos sólidos das atividades humanas.
Constata-se a importância da água para a humanidade quando se observa, através da
História, o desenvolvimento de grandes civilizações em torno de cursos d‘água e o deslocamento de
outras, quando em situações de escassez deste precioso recurso natural.
Contudo, em escala geral, sabe-se que o crescimento demográfico aumentou a pressão sobre
os recursos hídricos e no caso do Rio Canapi, apesar de se tratar de uma cidade de pequeno porte e
esta não possuir atividade industrial, a urbanização comprometeu seriamente a qualidade das águas,
a ponto de ser inviabilizada sua utilização para determinados fins. Isso leva a refletir que o grande
desafio da sociedade geral é aliar crescimento e uso sustentável dos recursos hídricos, visto que a
degradação ambiental aumenta substancialmente a cada ano.
O fato é que as cidades pequenas, principalmente, além de possuírem consciência
inadequada sobre os problemas urbano-industriais, apresentam falta de mobilização por parte da
população e consequentemente de ações políticas adequadas para lidar com essa temática.
Sendo assim, o objetivo central desse trabalho é, além de identificar os principais impactos
ambientais no Rio Canapi, resultantes das ações humanas, orientar a população sobre os danos
causados ao rio por determinadas atividades e/ou práticas, refletir sobre a importância
socioeconômica deste para a população do município, propor medidas e ações que viabilize seu uso
sustentável e consequentemente analisar a atuação do poder público municipal e estadual no
gerenciamento do rio.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tal pesquisa se configura como um estudo de caso sobre os principais impactos ambientais
no trecho do Rio Canapi que corta o perímetro urbano do município de Canapi. Configura-se como
uma pesquisa de cunho exploratório. Para tal utilizam-se dois métodos de pesquisa, sendo estes o
histórico, que permite levantar dados de como esta área era antes do processo de ocupação mais
expressiva, e o método fenomenológico, que descreve, compreende e interpreta os fenômenos para
que se possa chegar a tal resultado de pesquisa.
A metodologia envolveu, primeiramente, uma revisão bibliográfica sobre conceitos de
hidrografia e urbanização, com o intuito de melhor entendimento da área de estudo. Foi realizado
também um levantamento de campo, que envolveu observações diretas, bem como conversas
informais e entrevistas abertas com moradores antigos, com o intuito de entender essa mudança
ocorrida na qualidade da água do rio desde o período antecessor a ocupação até o período atual.
Também foi realizado registro fotográfico das áreas de interesse e análise do mapa da área,
no Google Maps, e imagens de satélites do Google Earth, visto que essas ferramentas permitem um
maior nível de compreensão sobre o determinado espaço estudado.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO

O Rio Canapi está situado na região do polígono das secas, região esta que apresenta uma
extrema irregularidade quanto ao regime pluviométrico. Tendo sua nascente no município de Itaíba
PE 8°55'42.6"S 37°28'43.1"W e sua foz no município de Canapi AL 9°17'12.0"S 37°35'18.9"W,
sendo assim considerado um rio transfronteiriço por atravessar o território de dois Estados.
Encontra-se inserido na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, sendo este afluente do Rio
Capiá e Subafluente do Rio São Francisco. Trata-se de um rio intermitente, uma vez que escoa
durante os meses chuvosos e seca no período de estiagem. FEITOSA & MANOEL FILHO (2000)
afirmam que Rios e lagos podem alimentar ou serem alimentados pela água dos aquíferos. No caso
do rio em questão, como se trata de um rio de região Árida, este é intermitente porque é ele que
abastece o lençol freático e o seu nível fluvial, ou seja, a variação do nível de água, ao longo do ano,
muda em função da variação hidrológica.
Durante maior parte do período que este passa com água, esta escoa apenas pelo leito menor,
ou seja, local por onde a água ocupa no período de estiagem. Quanto mais se distancia do período
chuvoso, apenas o talvegue, ou seja, o local mais profundo do rio é ocupado. Já no período das
chuvas, elas arrastam-se pelo leito maior ou sazonal, ou seja, local que é inundado quando a água
ultrapassa os limites do leito menor.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA PARA A CIDADE (MUNICÍPIO)

Apesar de ser um rio temporário, o Rio Canapi possuiu grande importância para a cidade e
para o município em geral. Este marca o início de um aglomerado populacional que depois viria a
ser a cidade de Canapi, cidade esta que carrega seu nome.
Na década de 1940, quando as obras da BR 316, lideradas pelo funcionário do
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DENOCS), o senhor Luiz Bastos, estavam
alcançando o Rio Canapi, houve a necessidade de construção de uma ponte para que os trabalhos da
BR dessem sequência. Muitos trabalhadores vieram com ele, e logo ali, às margens do rio, formou-
se um aglomerado urbano.
Questionados, alguns moradores antigos afirmaram que da década de 1930 até mais
precisamente a década de 1970, alguns trechos do rio chegou a matar a sede da população. Ainda
segundo eles, naquela época, por motivos desconhecidos, a água apresentava menos sal, fator que a
tornava propicia para beber, cozinhar e lavar.
Existem também relatos da prática de pesca de subsistência, especialmente no período das
cheias. Hoje, além da pesca, é possível ver no curso do rio atividades de irrigação de milho para
silagem e capim, além da instalação de poços artesianos e retirada de areia para construção civil.

IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE O RIO: DO NÚCLEO POPULACIONAL INICIAL AOS


DIAS ATUAIS

O processo de ocupação sem dúvidas vem contribuindo cada vez mais para o aumento dos
impactos sobre o rio. É fácil perceber através de vestígios, que ao entorno deste sempre existiram
currais de animais (gado) e pocilga (suínos), inclusive o matadouro, que hoje se encontra
desativado, foi construído na margem do rio, onde aproveitava-se a água para lavagem das vísceras
e despejo dos dejetos.
Hoje, embora o trecho em questão esteja localizado na área urbana, mantém características
rurais, com criação de animais de grande porte, mais precisamente gado bovino.
Existe também há poucos metros um lixão (Figura 1) que, com o período chuvoso, serve
para abastecer o curso do rio, fator extremamente preocupante. Pois, colocado de forma
inadequada, o lixo, invade o rio e causa a poluição das águas, ocasionando coloração e cheiro
fétido, devido à decomposição e Putrefação dos resíduos. Uma vez que além de matéria orgânica,
eles também contem matérias inorgânicos que além de sujar a agua podem conter substancias
toxicas.

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Figura 01: Lixão na área de captação de água do Rio Canapi.


Fonte: A Autora

A zona urbana da cidade de Canapi está em crescimento horizontal, e cada vez mais
próxima do rio, sendo possível observar complicações advindas dessa proximidade. Crescimento
este que não vem sendo acompanhado de infraestrutura e serviços urbanos que contribuam para
amenização da poluição do rio.
Partindo dessa observação, é perceptível que o aumento desordenado das cidades é um fator
preocupante tanto do ponto de vista ambiental quanto social. Na área de estudo é possível visualizar
claramente essas duas vertentes. Do ponto de vista social, percebemos que a classe social menos
favorecida ocupa áreas próximas ao leito maior do rio, local que aparentemente não apresenta risco,
visto que, por se tratar de um rio temporário, não se espera um fluxo maior de água. Além desses,
existem comerciantes que também começaram obras nas margens do rio, visto que se trata de um
terreno financeiramente mais barato. Além do mais, acredita-se que uma estrutura concreto armado
possa conter a força da água, desconsiderando assim o fato de que mais precisamente nos anos de
1975 e 1982 aconteceram duas grandes cheias que causaram prejuízo financeiro aos moradores da
proximidade das margens. Tomando por base tais informações é possível entender ainda mais a
situação do Rio Canapi no perímetro urbano do município. Este se encontra totalmente sem mata
ciliar, exceto uma grande quantidade de algarobas (Prosopis juliflora) no seu curso, esta que é uma
espécie exótica, invasora e que inclusive é tida como uma ameaça à biodiversidade da caatinga. A
Figura 2 mostra um trecho urbano do rio sem mata ciliar. Já a Figura 3 apresenta construções às
margens do rio.

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Figura 02: Trecho do Rio Canapi sem mata ciliar, com presença de algumas algarobas
Fonte: A Autora

Figura 03: Presença de contrução nas margens do rio.


Fonte: A Autora

De um modo geral, pode-se dizer que a qualidade da água de uma fonte é função das
condições naturais e dos usos que se fazem do solo da bacia hidrográfica (VON SPERLING, 1996).
Ou seja, quando um rio apresenta a interferência do homem, seja de forma dispersa, ou concentrada
num ponto, como é o caso da área de estudo, através do lançamento de esgoto e resíduos sólidos, a
qualidade da água é bastante afetada prejudicando inclusive o lençol freático. A Figura 4 mostra
trecho urbano do rio Canapi com grande presença de resíduos sólidos.

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Figura 04: Trecho do Rio Canapi com grande quantidade de residuos sólidos.
Fonte: A Autora

Feitosa & Manoel Filho (2000) ainda acrescentam que: As águas subterrâneas estão mais
protegidas por estarem no subsolo, enquanto as águas superficiais estão mais expostas às perdas por
evaporação, assim como a ação do homem (poluição).
AÇÕES DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL EM DEFESA DO RIO

É perceptível o elevado nível de poluição das águas do Rio Canapi no trecho que este
percorre dentro da cidade, no entanto, no que diz respeito ao poder público municipal, não existe
nenhuma preocupação acerca dessa situação.
Uma imagem extremamente apavorante aos olhos de todos é se deparar com a grande
quantidade de resíduos que é jogado nas margens e dentro da própria água parada nos meses secos,
além dos esgotos que também são lançados.
O município possui secretaria de meio ambiente, mas esta parecia atender somente aos
interesses políticos dos envolvidos, levando-nos a crer que a questão ambiental nunca é
preocupação para o poder publico municipal. Os serviços de implantação do sistema de saneamento
básico foram iniciados, porém essas ações não foram continuadas. Tal ação é de extrema
importância para a manutenção da qualidade das águas do Rio.
Santana (2003) diz que a ausência total ou parcial dos serviços públicos de esgoto sanitários
nas áreas urbanas, suburbanas e rurais exige a implantação de um meio de disposição dos esgotos,
para evitar a contaminação tanto do solo como da água que uma vez ocorrendo pode ocasionar
prejuízos presentes e futuros. Ou seja, a população do entorno possuem uma parcela de culpa, visto
que em pleno século XXI é praticamente impossível um povo desconhecer o fato de que jogar lixo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

no rio é uma atitude insana e inconsequente, mas que cabe ao poder público iniciar este processo.
Cobra-se muito a falta de uma coleta satisfatória, bem como um sistema de esgotamento sanitário
no município.
Apesar de ser um rio temporário, de água salgada e não propício ao lazer, mas mesmo assim
existe um foco de poluição muito grande, com quantidade expressiva de resíduos sólidos desde
papéis, latas, madeiras, vidros, plásticos, dentre outros. Subentende-se com isso que: ―A poluição
dos rios não se limita apenas a um problema de caráter ambiental, pois é também uma questão
educacional que interfere na qualidade de vida das pessoas, principalmente das que estão em suas
proximidades.‖ (Resolução 422 CONAMA, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho trouxe, de modo simples e claro, uma abordagem inicial sobre alguns
impactos ambientais no trecho do Rio Canapi que corta o perímetro urbano do município de Canapi.
Este que, apesar de ser um rio temporário, possuiu grande importância para a cidade e para o
município em geral, pois ele marcou o início de um aglomerado que mais tarde viria a se tornar a
cidade de Canapi.
Sabe-se que a tomada de consciência é um processo demorado, mas é preciso que a
população local entenda a importância e urgência de providências que venham a amenizar a
situação ambiental do rio.
Portanto, cabe ressaltar que o processo de pesquisa proporcionou a obtenção de uma enorme
diversidade de informações e dados sobre o Rio Canapi, sendo apenas uma parte delas utilizadas no
presente artigo, por se tratar de um estudo preliminar, mas ficou evidente diante das informações
apresentadas que é de extrema urgência, que se tomem providências acerca de tal situação.

REFERÊNCIAS

ARIAS, A. R. L.; BUSS, D. F. B.; ALBURQUERQUE, C.; INÁCIO, A. F.; FREIRE, M. M.;
EGLER, M.; MUGNAI, R.; BAPTISTA, D. F. Use of bioindicators for assessing and
monitoring pesticides contamination in streams and rivers. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n.
1, p. 61-72. 2007.

CAJARAVILLE MP, BEBIANNO JM, BLASCO J, PORTE C, SARASQUETE C, VIARENGO


A. The use of biomarkers to assess the impact of pollution in coastal environments of the Iberian
Peninsula: a practical approach. Science Total Environmente, v.247, p. 295-311. 2000.

CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução nº 422, 23 de mar.


2010.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 955


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

FEITOSA, A. C.; MANOEL FILHO, J. Hidrogeologia: conceitos e aplicações. 2ª Ed. Fortaleza:


CPRM/REFO, LABHID UFPE, 2000. 391 p.

Pereira, P. S.; Pereira, A. M. B.; Castro, Cícero L. F.. Percepção dos moradores sobre a poluição
do rio Cariús, município de Farias Brito, Ceará. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e
Tecnologia Ambiental Santa Maria, v. 20, n.1, p. 363−371, jan.-abr. 2016.

SANTANA, D.P. Manejo Integrado de bacias Hidrográficas. Documentos EMBRAPA, Sete


Lagoas, MG, 2003. Disponível em:
http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/docume30ID-TUSBRYuXa7.pdf

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e do tratamento de esgotos. Belo


Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental/ UFMG, 1996.243P.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 956


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ELABORAÇÃO DA CARTA DE FRAGILIDADE AMBIENTAL NATURAL À


EROSÃO DE SOLOS PARA TURMALINA, MINAS GERAIS, BRASIL

Luciano Cavalcante de Jesus FRANÇA


Mestrando no PPG em Ciência Florestal – UFVJM
lucianodejesus@florestal.eng.br
Danielle Piuzana MUCIDA
Professora Drª no PPG em Ciência Florestal – UFVJM
dpiuzana@yahoo.com.br

RESUMO
Objetivou-se com este estudoapresentar a metodologia para elaboração da carta de fragilidade
ambiental natural à erosão de solos, parazona municipal de Turmalina, Minas Gerais, Brasil, por
meio de análise multicriterial e uso dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Foram
utilizadas bases vetoriais de classes de solos, fluxo acumulado eimagens raster da base MDE
(Modelo Digital de Elevação) para geração da declividade do terreno. Todos os procedimentos
foram realizados no Software ArcGIS 10.3. A análise dos múltiplos critérios gerou uma carta final
Fragilidade Potencial, em que contabilizou-se 56,32% da área total do município, com fragilidades
altae extremamente alta. Os resultados deste estudo mostraram-se eficientes para análise da
paisagem e determinação das áreas com maiores e menores susceptibilidades à erosão dos solos,
assim como o desenvolvimento da metodologia é de fácil implementação e flexibilidade para
fornecer suporte em decisões com base em distintos critérios físicos-naturais.
Palavras-chave: Fragilidade Potencial, Vale do Jequitinhonha, Sistema de Informações Geográficas,
Recuperação de Áreas Degradadas, Análise Multicritério.
ABSTRACT
The objective of this study was to present the methodology for the elaboration of the letter of
natural environmental fragility to soil erosion for municipal district of Turmalina, Minas Gerais,
Brazil, by means of multicriteria analysis and use of Geographic Information Systems (GIS). We
used vector bases of soil classes, accumulated flow and raster images of the MDE base (Digital
Elevation Model) to generate slope of the terrain. All procedures were performed in software
ArcGIS 10.3. The analysis of the multiple criteria generated a final letter Potential Fragility, which
accounted for 56.32% of the total area of the municipality, with high and extremely high fragilities.
The results of this study proved to be efficient for landscape analysis, determination of areas with
greater and lesser susceptibilities to soil erosion, as well as the development of the methodology is
easy to implement, and flexible to provide support in decisions based on different physical criteria-
natural.
Key Words: Potential Fragility, Vale do Jequitinhonha, Geographic Information System, Recovery
of Degraded Areas, Multicriteria Analysis.

INTRODUÇÃO

A análise da fragilidade de ambientes é uma proposta de investigação cujo princípio básico é


definir os diferentes níveis de fragilidade dos ambientes naturais, modificados ou não pelas
atividades antropogênicas, em face o desenvolvimento das atividades humanas (ROSS, 1994).
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 957
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A fragilidade potencial caracteriza-se pela fragilidade natural a que se encontra submetida


uma determinada área, podendo-se considerar seu tipo de solo, a declividade do relevo, os índices
pluviométricos, além de outros fatores, e que este local poderá apresentar ou não um equilíbrio
natural. Dessa forma, ao se analisar uma determinada área sobre o prisma da fragilidade potencial,
considera-se apenas seus aspectos naturais (SANTOS, 2005). Identificar os ambientes naturais e
suas fragilidades potenciais e emergentes proporciona uma melhordefinição das diretrizes e ações
técnicas a serem implantadas no espaço físico territorial, promovendo uma base para projetos de
zoneamento e fornecendo subsídios para gestões territoriais (SPÖRL; ROSS, 2004).
A proposta metodológica de Ross (1994), trata-se de ―Análise Empírica da Fragilidade dos
Ambientes Naturais e Antropizados‖, baseia-se na aplicação das concepções de ecodinâmica e
ecossistema, elaborada por Tricart (1977) para uso em projetos de planejamento ambiental, no qual
é associado os meios instáveis a áreas que sofrem intervenção antrópica e meios estáveis aquelas
que se encontram em seu estado natural, sem intervenção do homem. A metodologia para
determinação da fragilidade ambiental com base na classe de declividade (ROSS, 1994) é a mais
utilizada no meio científico. Todavia, trabalhos são realizados com adaptações visando obter
resultados mais realísticos (SPÖRL & ROSS, 2004; SANTOS & SOBREIRA, 2008; MASSA &
ROSS, 2012). Normalmente há atribuição de pesos vinculados ao número de classes, de forma a
fornecer indicativo da contribuição do fator analisado para com o nível de fragilidade
(GONÇALVEZ et al.2011).
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são aceitos como sendo umatecnologia que
possui o ferramental necessário para realizar análises com dadosespaciais e, oferece, ao ser
implementada, alternativas para o entendimento da ocupaçãoe utilização do meio físico, compondo
o chamado universo da Geotecnologia (FITZ, 2008).
Dessa forma, compreende-se então que a identificação de locais com menor e maior grau de
fragilidade, com a determinação de áreas com diferentes graus de susceptibilidade a tornarem-se
áreas degradadas, pode ser de fundamental importância e auxílioà intervenções públicas municipais,
estaduais e/ou federais. Tal diagnóstico leva ao conhecimento de quais áreas estão mais sujeitas a
mudanças na paisagem, além de identificar as áreas naturalmente mais frágeis quanto as
características naturais do meio físico e as áreas com maior potencial para recomendação ao
desenvolvimento da agricultura, reflorestamento, unidades de conservação, dentre outras atividades
econômicas.
Neste sentido, o presente trabalho partiu da uma adaptação metodológica de Ross (1994),
com o objetivo de apresentar metodologia para elaboração da carta de fragilidade ambiental natural
para o município de Turmalina, no estado de Minas Gerais, Brasil.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A área de estudo compreende o município de Turmalina, localizado na Mesorregião do Vale


do Jequitinhonha, em Minas Gerais, Brasil (Figura 1). O município apresenta área total de 1.130,25
m². A sede municipal encontra-se a 718,00 m de altitude e distante 480 km de Belo Horizonte,
capital do estado. O índice médio pluviométrico é de 1.100 mm anuais eapresenta em sua extensão
dois importantes rios da região, o Jequitinhonha e Araçuaí (CPRM, 2004).

Figura 1. Mapa de Localização do município de Turmalina, na Messoregião do


Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, Brasil.

O cerrado representa o principal tipo de vegetação, e a paisagem predominante de relevo é


montanhoso (40%), plano (40%) e ondulado (20%), com altitude máxima na divisa do distrito de
Caçaratiba (1.020m) e a mínima é de 450m (CPRM, 2004).Na agricultura há a produção de cultura
permanente de café, correspondente a 180 hectares (ha), banana (10,0 ha), laranja (7,0 ha), manga
(2,0 ha), além de tomate, mandioca, feijão, milho e na pecuária a criação de galináceos, bovinos,
suínos e equinos, na sua maioria como produtos de subsistência. A área de reflorestamento com
eucalipto chega 20.056,57 ha.

Aquisição, processamento de dados e geração de cartas

Para a geração do Modelo Digital de Elevação Hidrologicamente Consistente (MDHEC),


foram utilizadas imagens raster da base SRTM contendo as informações de elevação do Modelo
Digital de Elevação (MDE), com resolução espacial de 30 metros, obtidas junto à Empresa

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA, 2016). Foram utilizados dados de informações


vetoriais de hidrografia da Agência Nacional de Águas (ANA, 2016), bases vetoriais referentes aos
solos (IBGE, 2016) e informações geológicas (CPRM, 2016).A elaboração do MDEHC subsidiou a
análise do relevo e comportamento dos solos e recursos hídricos, fatores estes associados à
erosividade dos solos. Por conseguinte, foram elaboradas as variáveis necessárias para geração da
carta final de fragilidade ambiental, sendo eles, os mapas de Fluxo Acumulado, Declividade do
Terreno e Classes de Solos,variáveis utilizadas neste estudo, para efeitos de demonstração
metodológica.
A metodologia aplicada para a área do município de Turmalina está apoiada nos conceitos
da análise da fragilidade potencial a qual baseou-se na análise dos elementos físico-naturais(ROSS,
1994). O estudo destas variáveis possibilita a definição das classes de fragilidades potenciais,
elaborado a partir da sobreposição dos mapas de declividade, solos e fluxo acumulado, para cada
um dos fatores foram atribuídos pesos de 1 a 5 por variável, representando nomeadamente as
categorias: 1 (Baixa), 2 (Levemente Baixa), 3 (Média), 4 (Alta) e 5 (Extremamente Alta), conforme
descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Classes de fragilidade e seus respectivos pesos e descrições.

CLASSES PESO DESCRIÇÃO


Baixa 1 Caracteriza áreas por condição de equilíbrio e estabilidade das características
físicas naturais de um ecossistema.
Levemente 2 Condições físicas de estabilidade do ambiente, com ao menos uma característica
Baixa que não inclui na classe anterior.
Ambiente com caracteres de fragilidade em transição das classes mais baixas
para as classes altas, trata-se da categoria de alerta para os riscos ambientais
Média 3 naturais sob o qual determinado ambiente está sujeito. Áreas que merecem
maior atenção para conservação, proteção e técnicas de manejo adequado do
solo, recursos hídricos e ordenamento do território.
Caracteriza áreas com alta susceptibilidade à processos de degradação ambiental
(físico, químico e biológico), devido maior acentuação de parâmetros e critérios
Alta 4 analisados. Merecem muita atenção do ponto de vista ambiental. São as áreas
com restrições a atividades de ocupação e uso antrópico, devido a elevada
instabilidade das características naturais do ambiente.
Áreas com intensa sensibilidade ambiental, inaptas a qualquer tipo de atividade
Extremamente antrópicas que provoque alterações no ambiente. Reúnem as mais frágeis
5
Alta combinações de características físicas-naturais a tornarem-se áreas degradadas.
São de extrema susceptibilidade à erosões e voçorocamentos.

A partir do processamento dos Planos de Informação (PI) referentes a cada parâmetro


avaliado e seus pesos de importância atribuídos, assim desenvolveu-se a álgebra de mapas, através
da Ánalise Multicriterial em ambiente SIG. Para geração da carta de fragilidade, aplicou-se ao
software de SIG a seguinte equação para cálculo de soma algébrica (∑ F.) dos PI:

FAP = FD + FS + FF (Eq. 1)
Onde:

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 960


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

FAP = Fragilidade Ambiental Potencial


FD = Fragilidade do parâmetro Declividade do Terreno
FS = Fragilidade do parâmetro Classes de Solos
FF = Fragilidade do parâmetro Fluxo Acumulado

Todos os procedimentos foram realizados por meio do software ArcGIS 10.3 (ESRI,
2013).Para o cruzamento dos fatores pela álgebra de mapas utilizou-se a extensão SpatialAnalyst e a
ferramenta Raster Calculator, assim, procedeu-se a soma dos critérios declividade, solos e fluxo
acumulado. O arquivo gerado (fragilidade potencial) foi reclassificado, por meio da ferramenta
SpatialAnalyst > Reclassify, assim foram estabelecidas classes para cada grau de fragilidade, por
meio da sobreposição ponderada (Spatial Analyst Tools > Weighted Overlay) dos atributos com o
cruzamento dos arquivos em formato Raster.
Para verificação das características fisiográficas da área de estudo, realizou-se um
diagnóstico de campo pelo município de Turmalina. As verificações in locusão importantes e
recomendadas para estudos de fragilidade ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Planos de Informação Multicritérios

Confeccionou-se as cartas referentes à declividade do terreno, classes de solo da região e o


fluxo acumulado da drenagem, que compõem o Plano de Informação Multicriterial. Realizou-se a
reclassificação de cada variável em uma mesma escala de valor, que variou de baixa a
extremamente alta. Os pesos para os três fatores considerados no estudo, são apresentados na
Tabela 1.Para declividade do terreno, atribuiu-se os pesos em ordem crescente de acordo com a sua
variação de plano à forte montanhoso, conforme observado na Figura 2.

Tabela 1. Classes de fragilidade atribuídas aos fatores considerados no estudo.


Fluxo Acumulado
Classes de Pesos Declividade do
Classes de Solos (Pixels de
fragilidade atribuídos terreno
contribuição)
Plano
(0º - 3º) (AR) Value:
Baixa 1
Suave Ondulado Afloramento Rochoso 26.006 – 58.690
(3º - 5,9º)

(LVA)
Ondulado Value:
Levemente Baixa 2 Latossolo Vermelho
(5,9º - 8,9º) 16.200 – 26.006
Amarelo

Forte Ondulado (NV) Value:


Média 3
(8,9º - 12º) Nitossolo Vermelho 7.729 – 16.200

Montanhoso (CX) Value:


Alta 4
(12º - 15,9º) CambissoloHáplico 2.048 – 7.729

Extremamente Forte Montanhoso --- Value:


5
Alta (15,9º - 32º) 0 – 2.048

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 961


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Figura 2. Mapa de Declividade do Terreno (em graus de declive), Turmalina (MG), Brasil.

Contabilizou-se que o município apresenta uma área de 14,38% referente ao relevo


montanhoso e forte montanhoso, com declividades acima de 12°. Para o mapeamento da fragilidade
potencial, a declividade apresenta-se como um importante fator de análise, tento em vista que, os
processos erosivos que venham a ocorrer na região, podem ser acelerados conforme o grau de
inclinação que apresenta. Na tabela 2 são apresentadas as áreas quantificadas para cada categoria de
declive no município de Turmalina.

Tabela 2. Áreas (em km² e %) dos diferentes tipos de inclinação do relevo


RELEVO ÁREA (km²) %
Plano 294,91 24,60
Suave Ondulado 272,66 22,75
Ondulado 262,54 21,90
Forte Ondulado 196,20 16,37
Montanhoso 124,32 10,37
Forte Montanhoso 48,09 4,01

Para as Classes de Solos atribuiu-se o peso 1 (um) para áreas com solos menos susceptíveis
a processos erosivos e 4 (quatro) para aqueles com maior susceptibilidade, respectivamente
atribuídos os valores intermediários (Figura 3). Para a área de estudo não apresentaram-se solos que
pudessem ser enquadrados na fragilidade Extremamente Alta.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 962


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Figura 3. Mapa de classes de solos do município de Turmalina (MG), Brasil.

Conforme observado na Figura 3 e Tabela 1, as áreas com os maiores potenciais de


fragilidade são aquelas comCambissoloHáplico e Nitossolo Vermelho, e as menores fragilidades
estão nas áreas de Latossolo Vermelho-Amarelo e Afloramento rochoso. Em trabalho desenvolvido
por Mesquita et al. (2010) as áreas que possuíam CambissoloHáplico associado a declividade
possuíam uma moderada vulnerabilidade à perda de solos, devido a cobertura vegetal presente, no
caso,as Floresta Ombrófilla Densa Montana e Submontana auxiliaram na retenção do solo,
apontando, então, a importância do seu recobrimento.Apesar das características físicas do
CambissoloHáplico e do Nitossolo Vermelho favorecerem processos erosivos, Santos e Sobreira
(2008) constataram presença do CambissoloHáplico em locais de alta fragilidade potencial, apesar
de ser importante ressaltar que não apenas o tipo de solo influencia nesta susceptibilidade, como
também a declividade e cobertura vegetal na área analisada.
As classes de fragilidades levemente baixa e baixaforam encontradas nas áreas em que o
tipo de solo predominante era o Latossolo Vermelho-Amarelo. Resultado semelhante foi encontrado
por Fushita et al. (2011)em área de estudo com predominância da classes de baixa fragilidade e que,
associado a ocorrência de Latossolos, reconhecidamente permeáveis e resistentes à erosão.
Para o fator do Fluxo Acumulado da água, delimitou-se os graus de fragilidade levando-se
em consideração a quantidade de células que contribuíram para tal fluxo, considerando-se os
conceitos de hierarquia fluvial por meio da densidade do acumulo de água (Figura 4). De acordo
com Christofoletti (1980), quanto maior a participação percentual de canais de primeira ordem,
maior deverá ser a fragilidade potencial do relevo, uam vez que os processos morfodinâmicos
associados à dissecação nessas hierarquias são mais intensos.

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O fluxo acumulado da água é considerado um importante fator na análise integrada de uma


bacia hidrográfica, pois expressa a distribuição espacial da hidrografia, demonstrando o caminho do
fluxo, além de quantificar as áreas que contribuem para que os fluxos se formem. Neste sentido, por
ser o fluxo acumulado de água sazonalmente muito intenso, facilita a erosão laminar, removendo da
camada superficial do solo a matéria orgânica, sementes, nutrientes, e o que encontrar pela frente
para o os cursos d‘água (PORTES et al. 2009).
Silva et al. (2003) analisa a influência desse fator no processo erosivo destacando que à
medida que o caminho percorrido aumenta, águas se tornam mais volumosos como também a
velocidade de escoamento aumenta progressivamente e a maior energia resultante se traduz em
maior potencial erosivo.Portes et al. (2009) destaca ainda que para porcentagens de inclinação
elevadas são atribuídos pesos altos e a geoforma côncava propicia um maior valor no fluxo
acumulado, uma vez que direciona o fluxo para o centro da encosta, recebendo também um peso
elevado. Desta forma, a partir dos dados gerados pode-se perceber os padrões da natureza e suas
relações que auxiliam a tomada de decisão.

Figura 4. Mapa de fluxo acumulado da água para o município de Turmalina (MG), Brasil.

Fragilidade Potencial

De posse dos mapas finais referente aos Planos de Informações (PI) avaliados neste estudo,
realizou-se o cruzamento dessas informações para a obtenção da fragilidade potencial. A Tabela 4
mostra a quantificação das áreas dacarta final de fragilidade potencial (Figura 5). Observa-se que
56,32% da área de estudo encontra-se nas classes de fragilidade extremamente alta(43,4 km²)
ealta(146,8 km²), a fragilidade média aparece em uma proporção um pouco menor, chegando a

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 964


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26,56% da área total, o que corresponde 295,3 km². O restante da área do município enquadra-se
nas classes levemente baixa e baixa.

Tabela 4. Área (em ha e %) de cada classe de Fragilidade Potencial


Classe de Fragilidade
Área (km²) Área (%)
Potencial
Extremamente Alta 43,4 20,41
Alta 146,8 35,91
Média 295,3 26,56
Levemente Baixa 399,2 13,21
Baixa 226,9 3,90
TOTAL *1.111,58 100,00
*A área total obtida na análise multicritério não equivale exatamente a área oficial do município, que é de
1.153,08 km², devido a imprecisões na extensão geográfica dos vetores utilizados para as operações de
mapeamento, e da base em si de onde foram adquiridos os dados. Portanto, a área de cada análise calculada
aqui, deve ser tomada como uma aproximação média.

Figura 5.Mapa da Fragilidade potencial para o município de Turmalina – MG, Brasil.

Observou-se uma maior ocorrência dos solos de maiores fragilidades e declividades com os
maiores graus de influência aos processos erosivos, principalmente em proximidade dos recursos
hídricos (cursos Araçuaí e Jequitinhonha), o que na carta final de fragilidade ambiental apresentou
as classes mais altas. E os solos de menor fragilidade associados às menores declividades e com
proximidade menor dos recursos hídricos, enquadrados nas classes de fragilidade mais baixas.
A figura 6 apresenta classes de fragilidade e a abrangência das áreas no município de
Turmalina na forma gráfica, demonstrando as mais altas taxas de fragilidade entre médio e
extremamente alta, o que corrobora na necessidade de conservação e preservação deáreas

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 965


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prioritárias, já que o ambiente apresenta potencial natural para processos erosivos, que podem ser
catalizados pelas ações antrópicas.
Dada a sensibilidade constatada em proximidade aos cursos hídricos, remonta-se atenção
prioritária às Áreas de Preservação Permanente (APP), que, de acordo com a definição da Lei nº
12.651/2012 do Novo Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012), as APPs são áreas sensíveis e
necessárias para a preservação de serviços ambientais essenciais, tais como: fornecimento de água;
regulação do ciclo hidrológico e climático; estabilidade geológica e proteção do solo; e manutenção
da biodiversidade.Estes resultados reforçam a importância da preservação da cobertura florestal em
áreas com altas declividades que, na ausência de vegetação, tornam-se propícias à degradação por
erodibilidade, e apresentando-se com as mais altas classes de fragilidade ambiental. Santos (2005) e
Donhaet al., (2006) também constataram que essas classes estão associadas a relevos mais
inclinados.

50000 399,17

40000
295,26

30000 226,95
Área em km²

146,80
20000

43,37
10000

0
Extremamente Alta Média Levemente Baixa
Alta Baixa
-10000
Classes de Fragilidade

Figura 6. Gráfico com a quantificação em km² das áreas nas diferentes fragilidades.

Contudo em trabalho de Gonçalves et al.(2011)resultados permitiram afirmar que uma bacia


hidrográfica analisada apresentava-se emrelativo equilíbrio ambiental no que se refere às variáveis
estudadas devido asbaixas declividades e maior cobertura por Latossolos.Porém, os autores
destacam que predominância de classes de fragilidade potencial baixa e médianão implica na
permanência futura desses índices, uma vez que dependem da influência daação antrópica.

CONCLUSÃO

Os Sistemas de Informações Geográficas, por meio da álgebra de mapas, demonstraram


eficácia na análise da fragilidade ambiental de Turmalina, atestando a possibilidade de aplicação da
metodologia em outros estudos de ordenamento ambiental para municípios e bacias hidrográficas.

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Contudo, é importante destacar que quanto maior for a incorporação de novos fatores na
metodologia de análise, desde que estejam relacionados com a determinação de taxas de fragilidade
ambiental, a carta final obtida pode ser mais condizente com a realidade local.Desta forma, como
este estudo teve como principal finalidade apresentar o procedimento metodológico, sugere-se que
sejam desenvolvidas outras avaliações e estudos sobre a incorporação de novos fatores à
metodologia original, além daqueles considerados neste estudo, e assim corroborar com os
resultados aqui apresentados para a susceptibilidade da área em estudo apresentar degradação
proveniente da erosão dos solos.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 968


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

IMPACTOS DA EXTRAÇÃO DE CACTÁCEAS EM REGIÕES SERRANAS DO


SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Maiara Bezerra RAMOS


Mestranda em Ecologia e Conservação, UEPB
maiarabramos@hotmail.com
Humberto Araújo ALMEIDA
Graduando em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, UEPB
Sonaly Silva da CUNHA
Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, UEPB
Sérgio de Faria LOPES
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, UEPB

RESUMO
As regiões serranas da Caatinga têm sido apontadas como importantes áreas para a conservação da
biodiversidade desse ecossistema. Dentre os grupos vegetais, as cactáceas estão entre os grupos que
sofrem forte pressão por parte das populações humanas, sobretudo em períodos de estiagem, onde
as populações rurais fazem extração desses vegetais para forragem animal. Nessa perspectiva, o
presente estudo registrou o conhecimento e uso das cactáceas em duas comunidades rurais presentes
no município de São João do Cariri-PB (Nordeste do Brasil) para compreender o possível impacto
sobre outros grupos vegetais. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas através da técnica
snowball, totalizando 20 informantes. Para análises dos dados, todas as citações foram organizadas
em categorias de uso e foi calculado o valor de uso para identificar quais são as espécies
consideradas mais importantes para comunidade. Foram registradas seis espécies da família
Cactaceae: Cereus jamacaru DC., Pilosocereus glaucescens (Labuor) Byles & G.D. Rowsley,
Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles & G.D. Rowley, Mecactus zehntneri (Britton & Rose)
Luetzelburg, Tacinga palmadora Britton & Rose e Tacinga inamoena (K. Schum.) N.P. Taylor &
Stuppy. A espécie que se destacou no valor de uso (VU) foi P. glaucescens (facheiro) com Vu
de1,4. A categoria forragem sobressaiu entre as categorias de uso. Metade dos entrevistados não
retiram as espécies da serra, utilizando indivíduos próximos as suas residências, porém são
queimados indivíduos de P. glaucescens, P. gounellei e T. palmadora utilizando outras espécies
vegetais como auxílio na queima. As potencialidades dos usos das cactáceas mostram como tais
espécies são importantes para comunidade, tornando necessário estudos que avaliem a real situação
de extração e propor ações conservacionistas voltadas para estes cactos.
Palavras-chave: forragem; snowball; altitude; cactos.
ABSTRACT
The mountainous regions of the Caatinga have been identified as important areas for the
conservation of biodiversity of this ecosystem. Among the plants groups, Cactaceae are among the
groups that have a strong pressure from the human population, especially in periods of drought,
where rural populations make extraction of these plants for animal fodder. From this perspective,
the present study detected the knowledge and use of cacti in the rural community present in São
João do Cariri-PB (northeastern Brazil), to understand the possible impact on other plant groups.
Semi-structured interviews were conducted using through the snowball technique, totaling 20
informants. For analysis of all citations data were organized into categories of use and was
calculated using value to identify which species is considered the most important for the

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

community. We recorded six species of cactaceae family: Cereus jamacaru DC, Pilosocereus
glaucescens (Labuor) Byles & GD Rowsley, Pilosocereus gounellei (FAC Weber) Byles & GD
Rowley, Mecactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelburg, Tacinga palmadora Britton & Rose and
Tacinga inamoena (K. Schum.) NP Taylor & Stuppy. The species with higher value in use was P.
gounellei (Xique-Xique) with UV = 1.35. The category forage stood out among the categories of
use, as compared with drawals species of the mountain, 50% do not remove, using specimens near
their homes, but in the category "burn" there were more to the species P. glaucescens, P. gounellei
and T. palmadora. The potential of the cacti uses showing how these are important to the
community, so it becomes necessary studies to assess the real situation of extraction in order to
propose conservation actions of these species.
Keywords: forage; snowball; altitude, cacti.

INTRODUÇÃO

A região semiárida brasileira é caracterizada pela presença de um conjunto de


fitofisionomias influenciada, sobretudo, pela forte heterogeneidade ambiental da região (RODAL et
al, 2008; CABRAL et al., 2013; APAGAUA et al., 2014). O déficit hídrico tem sido tratado como o
principal fator limitante para as espécies vegetais no semiárido. Nesse sentindo, ao longo de sua
evolução as espécies adquiriram inúmeras adaptações morfofisiológicas e funcionais, como
presença de espinhos, deciduidade foliar e fechamento estomáticos. Estas adaptações são
importantes estratégias para a manutenção e sobrevivência nesse ambiente com regimes
pluviométricos severos (BERNARDES, 1999; DRUMOND et al., 2000; LIMA, 2007; CABRAL et
al, 2013).
Dentre as famílias de espécies vegetais da Caatinga, a família Cactaceae apresenta inúmeras
características adaptativas importantes para a sobrevivência em ambientes xéricos, como plantas
com caules e ramos suculentos espinhosos e fotossintetizantes e consequentemente possuem maior
eficiência no uso da água (FERREIRA et al, 2016). A ocorrência dessa família é distribuída em
quatro grandes centros de dispersão que se estendem pelo México, Estados Unidos, Brasil e nos
Andes (ZAPPI e TAYLOR, 2008). No Brasil possui cerca de 1450 espécies pertencentes a 127
gêneros (HUNT et al., 2006). Estudos com a vegetação semiárida brasileira tem demonstrado a
importância dessa família, que está entre as famílias mais representativas em relação a número de
indivíduos (FERREIRA et al.,2016).
As espécies da Caatinga apresentam uma variedade de usos por parte das populações
humanas, que detém conhecimentos acerca da importância de cada espécie vegetal para alimentação
humana, para forragem animal, medicinal, edificações rurais e domésticas e esses conhecimentos
foram sendo repassados ao longo das gerações (LUCENA et al, 2011). Em especial, espécies da
família Cactaceae têm sido apontadas para diferentes finalidades pelas populações rurais do
semiárido. Porém, atualmente, mudanças no contexto socioeconômico nas comunidades rurais têm

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influenciado na dinâmica do conhecimento e da utilização de espécies da Caatinga (LUOGA et al.


2000) e, nessa perspectiva, estudos etnobiológicos buscam compreender as relações e dinâmica de
utilização dos recursos vegetais, com intuito de encontrar técnicas futuras de planos de manejo,
afim de garantir a conservação e manutenção da biodiversidade (ALBUQUERQUE, 2005;
LUCENA et al., 2007; ROQUE et al., 2010; LOIOLA, 2015).
Regiões serranas presentes no ecossistema Caatinga são consideradas refúgios para
biodiversidade e possuem peculiaridades florísticas e estruturais (SILVA et al., 2014; LOPES et al,
2017). A vegetação da Caatinga tem sido fortemente afetada pelo uso e manejo inadequado dos
recursos, principalmente de espécies de cactos, o que tem transformado a região em um conjunto de
fragmentos isolados (CABRAL et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2013). Por outro lado, as populações
tradicionais rurais que utilizam estes recursos vegetais possuem um rico conhecimento empírico
sobre as espécies e comunidades vegetais. Assim, a fim de identificar essa pressão de uso, buscou-
se avaliar o uso de espécies de cactáceas por populações rurais presentes no entorno da Serra da
Arara, Paraíba.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado nas comunidades rurais Lucas (7°26'52.6"S 36°24'30.8"W) e Caruá
(7°24'23.3"S 36°23'34.1"W), ambas localizadas no município de São João do Cariri, microrregião
do Cariri, estado da Paraíba, Brasil. O clima da região é do tipo As‘, caracterizado como tropical
quente (Álvares et al., 2013). A precipitação é de 350 a 600 mm por ano, com maior concentração
entre dois a quatro meses, correspondendo a 65% das chuvas anuais (Paraíba, 2000). As
temperaturas mínimas variam de 18 a 22°C entre os meses de julho e agosto e as máximas entre 28
e 31°C nos meses de novembro e dezembro (Paraíba, 1997). O município de São João do Cariri é
um dos mais afetados pelos processos antrópicos (BARBOSA, 2007). O município possui uma
vasta extensão de territórios rurais, onde a população vive basicamente da agricultura, pecuária e
caprinocultura com técnicas ainda arcaicas. As comunidades rurais onde foram realizados o
presente estudo estão localizadas próximas a Serra da Arara, que representa um refúgio da
biodiversidade da região em meio a uma matriz de habitats fragmentados (SILVA et al, 2014;
LOPES et al, 2014).
Os dados foram coletados em junho e julho de 2015. O estudo tem caráter qualitativo e foi
realizado com 20 pessoas representativas da comunidade, sendo 11 homens e nove mulheres. Foram
aplicados questionários semiestruturados (ALBUQUERQUE et al., 2010) com perguntas
específicas sobre o conhecimento e utilização dos cactos e as formas que coletam e utilizam estes
recursos presentes na comunidade. Antes das entrevistas, uma conversa foi realizada explicando o
objetivo do trabalho, onde foram convidados a participar da pesquisa, através da técnica de ―bola de

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neve‖ (snowball) (BAYLEY, 1994). Nessa técnica, a pesquisa inicia-se com um informante-chave,
uma pessoa culturalmente competente, geralmente idosa, bastante popular na região e com grande
conhecimento a respeito da utilização das plantas, que recomenda outro informante de competência
similar, repetindo-se o processo a partir dos novos incluídos.
Os usos citados para os cactos foram organizados em categorias adaptadas de uso, conforme
LUCENA (2011), sendo elas: alimentação, forragem, medicinal, construção, medicina veterinária e
sombra. Também foi aplicado o cálculo Valor de Uso de cada espécie (VU) através da fórmula VUs
= ΣV U is/n, onde VUis corresponde ao valor de uso de uma espécie para um informante e n é o
número total de informantes entrevistados. Posteriormente foram realizados histogramas para a
melhor visualização dos dados. Por fim, buscou-se analisar os métodos utilizados para a exploração
dos recursos vegetais e dimensionar os impactos nas comunidades naturais, especialmente na área
serrana próxima à comunidade em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No levantamento etnobôtanico foram citadas seis espécies de Cactaceae: Cereus jamacaru


DC. (mandacaru), Pilosocereus glaucescens (Labuor) Byles & G.D. Rowsley (facheiro),
Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles & G.D. Rowley (xique-xique), Melocactus zehntneri
(Britton & Rose) Luetzelburg (coroa de frade), Tacinga palmadora Britton & Rose (palmatória) e
Tacinga inamoena (K. Schum.) N.P. Taylor & Stuppy (cumbeba). Dentre essas espécies, quatro
foram citadas com diferentes finalidades, o que demonstra a variedade de usos que essas espécies
apresentam. Foram registradas um total de 112 citações de uso.
Em relação aos valores de uso (VU), P. glaucescens foi a espécie que apresentou maior
valor (1,4), seguida por Pilosocereus gounellei (1,35), Cereus jamacaru (1,1), Tacinga palmadora
(0,95) e Melocactus zehntneri (0,7). No entanto, Tacinga inamoena foi a única espécie que não
apresentou nenhuma citação de uso. Este cálculo expressa a importância da espécie na comunidade,
baseado no número de usos mencionados para a mesma, independente da categoria
(VENDRUSCOLO; MENTZ, 2006). De acordo com estes resultados, é possível observar que as
plantas mais utilizadas eram as que estavam mais abundantes em levantamentos fitossociológicos
realizados na região (DINIZ, 2016). De acordo com a Hipótese de Aparência (ALBUQUERQUE;
LUCENA, 2005), espécies com maiores valores de uso traduzem maiores índices de exploração, o
que alerta para medidas de conservação. Porém, é importante ressaltar que esta teoria propõe apenas
aspecto sugestivo e não necessariamente justifica o uso real das espécies, uma vez que a utilização e
a exploração de qualquer recurso também compreendem contextos culturais específicos
(ALBUQUERQUE; LUCENA, 2005).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No que tange à multiplicidade de usos, verificou-se que as espécies que mais se destacaram
foram P. glaucescens, C. jamacaru e P. gounellei, sendo registradas, respectivamente, quatros
categorias de uso para as duas primeiras e três para a última (Figura 1). O uso das espécies vegetais
é uma prática muito comum que perpassa as gerações ao longo do tempo, constituindo uma rica
fonte de conhecimento mantida entre a população de várias regiões do mundo, inclusive no
semiárido brasileiro (LUCENA et al, 2007, LUCENA et al, 2011). O emprego das plantas como
meio terapêuticos foram essenciais em períodos em que a medicina não tinha atingido tão altos
patamares.
Por outro lado, destaca-se ainda que as categorias de uso mais expressivas foram forragem e
alimentação com 72 e 20 citações, respectivamente. Tais categorias também se destacaram em
outros trabalhos (LUCENA et al, 2012). A predominância dessas categorias pode ser justificada,
uma vez que, nos tempos mais remotos, as condições de vida, conforme os relatos, eram mais
difíceis, constituindo assim como meio de subsistência. Ao mesmo tempo, sabe-se que as
características edafoclimáticas limitam as atividades pecuárias do nordeste brasileiro, sendo as
espécies forrageiras da Caatinga uma alternativa para manter à criação nos períodos de estiagem,
como a situação vivenciada atualmente. Em contrapartida, ainda deve ser considerado que o
ecossistema sofre com a pressão da superexploração, de modo que a criação é superior à capacidade
de suporte do sistema (ALVES et al, 2009), o que acarreta sérios impactos ambientais.

100 For Med Cons Alim Somb Orn Med vet


90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
P. gounellei T. palmadora C. jamacaru M. Zehntneri P. glaucescens

Figura 1. Categorias de uso para espécies de cactáceas citadas pelos moradores das comunidade Lucas e
Caruá, São João do Cariri- PB. For- forragem; Med-medicina; Cons- construção; Alim-alimento; Som-
sombra; Orn-ornamental; Med vet- medicina veterinária.

Em relação às partes dos vegetais utilizadas, nota-se que Cereus jamacaru foi a espécie com
maior número de partes utilizadas (cinco citações) e com finalidades distintas (Tabela 1). Vale
ressaltar, que C. jamacaru é mais utilizada de forma inteira na categoria de forragem (16 citações),
aplicada à alimentação de animais principalmente para o rebanho bovino. Partes como fruto e o

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miolo dessa espécie são também utilizados na alimentação humana, sendo relatado pelos
participantes que ingerem ou ingeriam na infância o fruto in fresco. Enquanto que para o miolo, foi
relatado como sendo utilizado na alimentação humana em épocas de estiagem, onde existia uma
maior dificuldade, como segue o exemplo da fala dada por um dos participantes ―... antigamente o
pessoal mais velho usava o mandacaru para matar a fome. Cozinhavam e faziam uma farinha com o
miolo...‖.
Cereus jamacaru é bastante utilizado para o tratamento de enfermidades, a exemplo, tem-se
o uso das raízes para problemas de cálculo renal, tendo a decocção como modo de preparo (raiz de
molho na água). Também foram registrados usos para a espécie na ornamentação, que
consequentemente utilizam a flor para tratamentos medicinais. Enquanto para categoria construção,
os entrevistados utilizam o caule por ser uma madeira rígida para fabricação de portas.
Foi registrado quatro categorias para Pilosocereus glaucescens: construção, alimentação,
forragem e sombra (Tabela 1). O maior número de uso para essa espécie foi citado para a categoria
forragem (13 citações), onde os informantes relataram que essa é uma das espécies mais usadas para
alimentação dos rebanhos em períodos de estiagem. Para categoria construção, os informantes
citaram usos destinados para fabricação de ripas (estrutura de telhado de casas), utilizando-se o
caule da espécie. Em relação a categoria alimentação, os participantes informaram que o fruto era
utilizado in fresco. Outra atribuição ao uso da espécie é que a mesma também é utilizada para fazer
sombra.
Pilosocereus gounellei foi citado em quatro categorias (Tabela 1). Assim como para as
demais espécies, a categoria forragem apresentou maior número de citações (16), onde os
participantes informaram queimar os espinhos e fornecer a planta inteira para os rebanhos. A
espécie também se destacou para uso forrageiro em outros estudos (LUCENA et a, 2012; LUCENA
et al, 2015). Para a categoria alimentação, os informantes citaram que o fruto é consumido in fresco,
além de fazerem referência que no passado essa espécie era muito utilizada para alimentação
humana em épocas de estiagens: ... ―antigamente as pessoas tinham menos condições e tinha épocas
que as pessoas queimavam o xique-xique, tiravam o miolo e comiam...‖. Na categoria medicina
veterinária, apenas um participante informou utilizar o miolo do xique-xique como uma ferramenta
para desengasgar bovinos, sendo que a haste é inserida na garganta do animal.
Melocactus zehntneri foi citada em três categorias de uso, sendo que no forrageiro o
consumo é in fresco principalmente pelas espécies, Equus asinus (jumento), Equus cavallus
(cavalo) e a Rhea americana (ema) ...―a ema, quebra a coroa de frade com as unhas e depois ela
come o miolo‖.... Vários participantes afirmaram que a raiz dessa espécie é utilizada na preparação
de chás para tratar problemas no sistema urinário ou inflamações de garganta, além disso, foi citado
o uso do miolo no preparo de lambedor para o tratamento de tosse. O fruto também foi indicado

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para alimentação, sendo ingerido em in fresco: ...―Quando eu era pequena adorava comer aquelas
frutinhas, são bem docinhas‖....

Tabela 1 - Categorias de uso e partes das espécies de Cactaceae usadas por moradores da comunidade Lucas, São João
do Cariri- PB.
Categorias de Parte
Espécies uso usada Modo de uso Utilização
Pilosocereus
gounellei Alimento Fruto in fresco
Alimento Miolo Cozinha
Planta
Forragem inteira Queima ou corta
Medicina Insere na garganta do auxilia no processo de
veterinária Haste animal desengasgar
Planta
Tacinga palmadora Forragem inteira Queima

Alimento Fruto in fresco


Alimento Polpa Cozinha
Pilosocereus Planta
glaucescens Forragem inteira Queima
Construção Madeira Ripas
Planta
Sombra inteira

Alimento Fruto in fresco


Alimento Miolo pedras nos rins
Planta
Cereus jamacaru Forragem inteira Queima ou corta
Medicinal Raiz
Ornamentação Flor
Construção Caule Portas

Alimento Fruto in fresco tosse


Melocactus Planta problemas urinários e
Zehntneri Forragem inteira garganta
Medicinal Miolo faz lambedor
Medicinal Raiz chá
Tacinga enamoena _ _ _

Quando analisamos os dados referentes aos métodos de colheita dos cactos, verificamos que
a queimada predomina, com 100% dos entrevistados afirmando realizar a queima de no mínimo
uma das espécies citadas antes de sua utilização. Pilosocereus glaucescens, Pilosocereus gounellei
e Tacinga palmadora são as espécies que apresentaram um maior número de citações para
―queima‖. Apesar de existirem algumas novas técnicas como o uso do maçarico, o qual foi citado
por seis dos entrevistados, a queimada ainda persiste como um meio de preparo dos cactos para a
alimentação dos rebanhos, onde nesse processo a planta é completamente queimada.

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A presença da região serrana nas proximidades das comunidades sempre foi algo de
interesse para os moradores, onde muitos relataram que a serra é tida como um refúgio para as
espécies vegetais e animais e, portanto, sempre existiram mais espécies na região serrana que em
outras áreas. Nesse contexto, observou-se que 50% dos entrevistados fazem uso da serra, desta
parcela 40% afirmaram fazer retirada da parte inferior, entretanto, levam as espécies para queimar
em casa enquanto que os outros 60% retiram os cactos e queimam na própria serra. Os entrevistados
que não utilizam as espécies de cactos na serra, justificam essa atitude devido a retirada das
espécies ocorrerem em suas propriedades e áreas dispostas no entorno da serra.
Nesse universo que retiram os cactos na parte inferior, vimos que 50% detêm alguns
cuidados como medidas de prevenção de incêndios, bem como buscam evitar a morte de outras
espécies da área. Enquanto que os outros 50% denotam-se indiferentes quanto à esta
conscientização, promovendo a queimada no local que encontram as espécies. A situação no que
tange medidas cautelosas, neste caso, são ainda mais alarmantes, uma vez que, 45% não exibem
nenhum tipo de preocupação ao promover a queimada, que além de ser realizada no mesmo local
que a encontram, utilizam ainda outras espécies para auxiliar na queima, como o marmeleiro, o
pinhão, o alecrim e a catingueira, contribuindo ainda mais para os impactos na vegetação.
Cabe salientar que as queimadas afetam diretamente processos como: dispersão, germinação
e regeneração das espécies vegetais, não sendo apenas a retirada, mas, sobretudo, a forma como os
recursos vegetais são extraídos que têm contribuindo para a diminuição da biodiversidade da
Caatinga (GARIGLIO et al., 2010). Com base nesses dados, sugerimos que a retirada de espécies de
cactáceas da serra da Arara e, sobretudo, a queima no local tem afetado negativamente a estrutura
da comunidade vegetal da área serrana a qual apresenta nos menores níveis altitudes o domínio de
espécies como: Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz, Croton blanchetianus Baill.
(marmeleiro) e Croton heliotropiifolius Kunth, caracterizadas como espécies generalistas de áreas
antropizadas do semiárido brasileiro (ARAÚJO et al., 2012; RIBEIRO et al., 2015).
A presença de perturbações em uma dada área, afeta negativamente o crescimento de
espécies especialistas, por outro lado possibilita o crescimento de espécies generalistas, sobretudo
por essas apresentarem adaptações fisiológicas a distintas condições ambientais e, portanto, capazes
de ocupar uma variedade de habitats (BUCHI e VUILLEUMIER, 2014). Como ocorre por exemplo
com Croton heliotropiifolius que apresenta indivíduos distribuídos ao longo de toda serra, enquanto
que espécies como: Schinopsis brasiliensis Engl. (baraúna), Myracrodruon urundeuva Allemão
(aroeira) típicas de áreas pouco perturbadas (RIBEIRO et al, 2015) apresentam indivíduos apenas
nas altitudes mais elevadas.
Por outro lado, constatamos que alguns dos entrevistados relatam a importância da serra
como uma área capaz de suportar maior diversidade de espécies tanto vegetais quanto animais.

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Houveram relatos da presença de espécies animais que são ameaçadas de extinção como: Felis
tigrina (gato do mato), Chrysocyon brachyurus (guará), também relataram a maior abundancia de
espécies vegetais que tem diferentes usos como: a Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm e
Myracrodruon urundeuva na área serrana.

CONCLUSÕES

É comum o uso dos recursos vegetais em todas as partes do mundo para diversos fins. No
entanto, embora seja uma prática que vem sendo repassada em gerações ao longo do tempo, no
presente estudo, alerta-se para a forma como esta pressão antrópica compromete o ecossistema da
Caatinga. A retirada de cactáceas seguido pelo processo de queima, tem rompido a homeostase da
vegetação da área de estudo, implicando não apenas prejuízos à diversidade local, mas
comprometendo outros processos ecológicos intrínsecos à comunidade vegetal. Estas modificações
florísticas estruturais são evidentes mediante o predomínio de espécies generalistas nas altitudes
mais baixas, características de ambientes antropizados, tais como Poincianella pyramidalis, Croton
blanchetianus e Croton heliotropiifolius.
Em face destes impactos gerados pela intensa exploração de cactos, principalmente na base
da serra, é evidente a grande necessidade de promover medidas conservacionistas, que visem
preservar esse patrimônio, como a criação de medidas de conscientização e gestão adequada dos
recursos silvestres, principalmente aqueles que envolvem o uso de cactos na alimentação animal.
Estas medidas podem aliar as necessidades dos moradores rurais, como por exemplo ministrar
cursos e palestras que orientem um manejo adequado.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 979


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO QUALI-QUANTITATIVA DOS RISCOS AMBIENTAIS NO


ATERRO SANITÁRIO DE CAMPINA GRANDE - PB

Márcia Cristina de SOUSA


Pós Graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho - Inovar Cursos – FIP
marciacrissousa@hotmail.com
Kellianny Oliveira AIRES
Profa. MSc. da Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho - Inovar Cursos - FIP
kelliannyoaires@hotmail.com
Emanuele MONTENEGRO
Pós Graduanda em Engenharia Química - UFCG
emanuele.montenegro@gmail.com
Deborah Almeida dos ANJOS
Pós Graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho - Inovar Cursos - Maurício de Nassau
deborah_almeida89@hotmail.com

RESUMO
O aterro sanitário é uma das alternativas que favorece o tratamento e a destinação final adequada
dos resíduos sólidos, além disso, tem o intuito a minimizar os riscos a saúde pública e ao meio
ambiente. Devido à heterogeneidade dos resíduos e as atividades laborais exercidas no local,
diversas são as possibilidades de contato com riscos ambientais para os trabalhadores de um aterro
sanitário. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é realizar uma avaliação dos riscos ambientais
no Aterro Sanitário de Campina Grande-PB. A área de estudo possui atualmente 31 funcionários e
previsão de vida útil de 25 anos. Para avaliação dos riscos ambientais foi aplicado um questionário
contendo 20 questões com uma amostra de 18 trabalhadores do Aterro Sanitário de Campina
Grande (ASCG). A avaliação quantitativa foi realizada com a medição do risco físico ruído em 3
setores: no recebimento do resíduo (pesagem), na Célula em execução do aterro e na trajetória dos
caminhões de resíduos na área interna do ASCG. A pesquisa apresentou que qualitativamente os
trabalhadores estão susceptíveis a riscos operacionais, físicos, químicos, biológicos e ergonômicos.
No entanto, as condições de trabalho com a devida utilização de equipamentos de proteção
individual proporcionaram a integridade da saúde e a produtividade dos funcionários do ASCG com
a atenuação ou cessação dos riscos identificados. Na avaliação quantitativa do risco físico ruído,
verificou-se que os índices de ruído chegaram a 80 dB, estando dentro do limite de tolerância
estabelecido pelo Ministério do Trabalho.
Palavras-chave: aterro; resíduos sólidos; riscos ambientais.
ABSTRACT
The landfill is one of the alternatives that favor the treatment and the appropriate final desposal to
solid waste, in addition, is intended to minimize the risks to public health and the environment. Due
to the heterogeneity of the waste and the work activities, several are possibilities of contact with
environmental risks for the workers of a landfill. In this context, the objective of this work is to
carry out an environmental risk assessment not Landfill Campina Grande-PB. The study area
currently has 31 employees and 25 year life expectancy. To evaluate the environmental risks, a
questionnaire containing 20 questions was applied with a sample of 18 workers from Landfill
Campina Grande (ASCG). A quantitative evaluation was performed with the physical noise risk
measurement in 3 sectors: non-receipt of the residue (weighing), in the Cell in the landfill and in the

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trajectory of the waste trucks in the internal area of the ASCG. Research is an operational, physical,
chemical, biological and ergonomic risk. However, as working conditions with proper use of
personal protective equipment have provided health integrity and productivity of ASCG employees
with a mitigation or cessation of identified risks. In the quantitative evaluation of the physical noise
risk, it was verified that the noise indices are of 80 dB, being within the tolerance limit for the
Ministry of Labor.
Keywords: landfill; solid waste; environmental risks.

INTRODUÇÃO

De acordo com a NBR 8419 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT aterros
sanitários são uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à
saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. Esse método utiliza
princípios de engenharia para confinar os resíduos em uma menor área possível e busca reduzi-los
ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada
de trabalho, ou a intervalos menores, caso haja necessidade (ABNT-NBR 8419, 1992).
Um aterro sanitário pode ser dividido em setores de preparação, execução e setores
concluídos. No setor de preparação da área são realizadas a impermeabilização e o nivelamento do
terreno, as obras de drenagem para captação do lixiviado (ou percolado) para ser conduzido ao
tratamento, além das vias de circulação; No setor de execução os resíduos são separados de acordo
com suas características e depositados separadamente. Antes de ser depositado todo o resíduo é
pesado, com a finalidade de acompanhamento da vida útil do aterro; O setor concluído deve ser
objeto de contínuo e permanente monitoramento para avaliar as obras de captação dos percolados,
as obras de drenagem das águas superficiais e as concentrações dos gases oriundos da
biodegradação da matéria orgânica (UNESP, 1999). A Figura 1 ilustra os setores de um aterro
sanitário e uma Célula concluída do Aterro Sanitário de Campina Grande - ASCG.

Figura 1. (a) Esquema com os setores de um aterro sanitário; (b) Setor concluído do ASCG.
Fonte: UNESP (1999).

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O aterro sanitário abrange os diversos tipos de resíduos sólidos domiciliares, construção


civil, serviço de saúde, comerciais; abrangendo assim diversas possibilidades de contato com riscos
ambientais ao trabalhador.
A proposta da saúde e segurança do trabalhador no ambiente de trabalho do aterro sanitário
é decorrente das Normas Regulamentadoras - NRs que visam avaliar e analisar os riscos
ocupacionais, promovendo medidas corretivas e preventivas relacionadas ao ambiente de trabalho.
Estes riscos podem ser operacionais (riscos de acidentes), comportamentais ou ambientais
(químicos, biológicos, ergonômicos e físicos). A norma que destaca os riscos ambientais é a NR9
que em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de
causar danos à saúde do trabalhador (NR9, 1998).
Os riscos operacionais ocorrem em decorrência das condições físicas do ambiente e das
máquinas e demais tecnologias, que podem vir a colocar em perigo o trabalhador.
Os riscos químicos são provenientes de substâncias químicas que podem vir a ser absorvidos
pelo organismo, e gerar danos à saúde. São exemplos de risco químico: poeiras, fumos gases,
neblinas, névoas ou vapores.
Os riscos biológicos são causados por microorganismos como bactérias, fungos, vírus entre
outros que possam vir a gerar doenças devido à contaminação ou pela própria natureza do trabalho
(atividades em hospitais, em aterros sanitários).
Os riscos ergonômicos interferem nas características psicofisiológicas do trabalhador,
proporcionando um ambiente desconfortável ou insalubre. São exemplos de risco ergonômico: o
levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade e postura inadequada.
Os riscos físicos são referentes às condições do ambiente de trabalho que podem vir a causar
danos à saúde do trabalhador. São exemplos de risco físico: ruído, calor, frio, pressão, umidade,
radiações ionizantes e não-ionizantes, vibração, etc. Neste trabalho o risco físico avaliado
quantitativamente no aterro sanitário foi o ruído. Entende-se por ruído um agente contaminante de
som indesejável e incômodo. É definido como o som ou grupo de sons de tal amplitude que pode
ocasionar adoecimentos ou interferência no processo de comunicação.
Os níveis de intensidade do ruído no ambiente laboral é normatizado pela NR15 em limites
de tolerância para exposição máxima diária é de 85 dB em 8 horas trabalho (NR15, 1998). Ao
burlar este limite a exposição ao ruído pode provocar diferentes respostas nos trabalhadores de
ordem auditiva e extra-auditiva a depender das características do risco, da exposição e do indivíduo
exposto. São efeitos auditivos reconhecidos: o zumbido de pitch agudo, a mudança temporária do
limiar (MTL) e a mudança permanente do limiar (MPL) (trauma acústico agudo e crônico) e são
efeitos extra-auditivos: distúrbios no cérebro e nos sistemas nervoso, circulatório, digestório,

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endócrino, imunológico, vestibular, muscular, nas funções sexuais e reprodutivas, no psiquismo, no


sono, na comunicação e no desempenho de tarefas físicas e mentais (GANIME, 2010).
O controle do agente ruído deve ser contínuo no ambiente laboral, visando manter a
integridade física do trabalhador e o melhor desempenho de suas funções. Algumas medidas
preventivas e protetivas devem ser realizadas através de ferramentas de gestão, como equipamentos
de proteção coletivos - EPC's e equipamentos de proteção individual - EPI's, visando à redução da
potência do ruído, abarcando o limite de tolerância normativo da NR15.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é estabelecer uma visão da segurança e saúde do
trabalho no ambiente laboral do Aterro Sanitário de Campina Grande, através de uma análise quali-
quantitativa dos riscos ambientais.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em julho de 2017, onde durante as visitas ao aterro sanitário
observaram-se os trabalhadores inseridos em seu ambiente de trabalho, o que possibilitou a
elaboração e aplicação de questionários individuais contendo 20 questões pessoais e relacionadas os
riscos ambientais aos quais estão sujeitos no exercício da sua atividade profissional. A aplicação
dos questionários foi realizada com uma amostra de 18 trabalhadores do ASCG. Com base nas
entrevistas, nas observações in loco e no registro fotográfico foi possível elaborar os instrumentos
de investigação pertinente aos objetivos do estudo.
A área de estudo compreende o Aterro Sanitário de Campina Grande, localizado na Rodovia
PB 135, Km10, Zona Rural, Campina Grande-PB. O ASCG consiste em um empreendimento
privado gerenciado pela ECOSOLO - Gestão Ambiental de Resíduos LTDA. Atualmente, possui 31
funcionários e previsão de vida útil de 25 anos, esse aterro sanitário ocupa uma área total de 64 ha,
sendo 40 ha destinados à disposição de Resíduos Sólidos Urbanos e recebe resíduos provenientes
dos municípios de Campina Grande, Puxinanã, Montadas, Boa Vista e Lagoa Seca. Sendo assim, o
ASCG atende, no momento, uma população de 461.387 habitantes, resultando no aterramento de
500 t.d-1 de resíduo, aproximadamente (ECOSAM, 2014; IBGE, 2017; GUEDES et al., 2017). A
Figura 2 ilustra a vista superior da área de localização do ASCG.

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Figura 2. Vista superior do ASCG


Fonte: Google Maps (2017).

Em paralelo a aplicação dos questionários, realizou-se a avaliação quantitativa do risco


físico ruído que pode vir a comprovar se o ambiente é insalubre ao trabalhador. A medição foi
realizada com o aparelho Decíbelimetro INSTRUTHERM Modelo DEC-460, em 3 setores do
ASCG, no recebimento do resíduo (pesagem), na Célula em execução do aterro, onde ocorre as
atividades de carregamento, manejo e compactação do resíduo, e por fim realizou-se medições na
trajetória dos caminhões de resíduo na área interna do ASCG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos funcionários entrevistados na área de estudo todos foram do sexo masculino, a


população configurou-se como sendo de indivíduos adultos, com faixa etária entre 21 e 50 anos, em
sua maioria, casados e com filhos. Quanto ao grau de instrução 9 possuíam ensino médio completo,
e os demais não completaram o ensino fundamental. Foram identificados entre os entrevistados as
seguintes funções: operador de máquina, motorista, auxiliar de limpeza, serviços gerais, topógrafo,
auxiliar de RH, encarregado de terraplanagem, balanceiro e porteiro. Vale ressaltar que além dos
funcionários, foi realizada uma entrevista com o Engenheiro Civil responsável pelo
empreendimento, a fim de obter maiores informações a respeito da rotina diária dos funcionários,
bem como coletar dados da operação diária do ASCG. O engenheiro de segurança do trabalho não
estava presente no momento da coleta de dados, porém, ele faz parte do quadro de funcionários do
ASCG e realiza vistorias periódicas, bem como o treinamento dos funcionários.

 Avaliação Qualitativa dos Riscos Ambientais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O ASCG é um empreendimento recente, possui apenas 2 anos de funcionamento, desta


forma, em relação aos riscos operacionais até o momento não houve registros de acidentes
decorrentes de maquinário defeituosos e arranjo físico inadequado.
Com relação aos riscos físicos, todos os entrevistados relataram não sentir incômodo com o
ruído no local de trabalho. Em visitas ao ASCG observou-se que a maior frequência de ruído
encontrava-se no descarregamento dos caminhões de resíduos, porém o ruído local é atenuado pelo
uso do EPI - protetor auricular, fornecido peladireção do aterro. Com relação ao calor, todos os
entrevistados informaram não sentir incômodos, uma vez que foram minimizados com o uso de
chapéus e óculos protetores, além do uniforme obrigatório.
Em relação aos riscos químicos, a maioria dos entrevistados notificou não sentir incômodo
com a poeira no local de trabalho. Foi informado por apenas um funcionário, a irritação nos olhos
em época de verão, onde há uma maior incidência de poeira, porém, durante os dias mais quentes
um dos métodos utilizados no ASCG é a aspersão de água no ambiente. Vale destacar, que a
ECOSOLO fornece óculos aos funcionários, no entanto, observou-se que a maioria não faz o uso
deste tipo de EPI, mesmo havendo a disponibilidade no local. Com relação aos gases, todos os
entrevistados alegaram não sentir incômodo. Aos trabalhadores de aterros sanitários é perceptível
odores oriundos da biodegradação dos resíduos sólidos urbanos, ocasionado principalmente pelo
gás sulfídrico, porém, observou-se que poucos funcionários utilizam as máscaras fornecidas pela
empresa. O monitoramento dos gases é realizado semanalmente pela Universidade Federal de
Campina Grande - UFCG, que analisa as concentrações de CO2, CH4, O2, CO e H2S presentes nas
Células do ASCG, a fim de verificar se os níveis encontrados conferem algum risco aos
trabalhadores e as localidades circunvizinhas do aterro, além de avaliar a biodegradabilidade dos
resíduos ali dispostos.
Entre os entrevistados a maioria considerou o risco biológico inerente ao serviço no
ambiente do aterro sanitário. Foi constatado que a gestão do ASCG disponibiliza os EPI's
necessários à proteção do risco biológico como uniformes, botas, luvas, máscaras, óculos, e por
determinação do Ministério do Trabalho, os funcionários recebem um acréscimo em seu salário por
insalubridade máxima e para os motoristas dos caminhões que trafegam com resíduos recebem um
acréscimo em seu salário por insalubridade média. Outro dado relevante, é que o ASCG não possui
uma Célula específica para resíduo hospitalar. As cidades que depositam os resíduos no aterro
sanitário não possuem um Plano de Gestão efetivo para segregação destes resíduos na fonte
geradora. Todo resíduo que é coletado vai agregado auma série de contaminantes, entre eles
podemos citar medicamentos, seringas, gases, agulhas, etc. Infelizmente, esta é uma prática bastante
comum nas residências das cidades que o ASCG recebe os resíduos, o que exige um maior cuidado
dos trabalhadores. Com relação à presença de animais peçonhentos, todos os entrevistados

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 985


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

afirmaram não ter tido nenhum contato, uma vez que, os resíduos recepcionados no aterro são
dispostos nas Células e após a compactação, são cobertos por uma camada de solo com baixa
permeabilidade, para evitar sua exposição dos trabalhadores e a emissão de gases para atmosfera.
Em relação ao risco ergonômico, como levantamento e transporte manual de peso, os
entrevistados que trabalham diretamente em contato com resíduos, realizam o manuseio e o
deslocamento do resíduo em espaço ínfimo, e relataram que não são expostos a sobrecargas, ficando
a responsabilidade desta atividade para as máquinas de prensa e os caminhões de transportes. Para
as jornadas de trabalho, constatou-se que os funcionários do ASCG são devidamente alocados em
uma duração de serviço de 8 horas, com rotatividade usual nos três turnos.
No Quadro 1 estão destacados os riscos ambientais presentes no ASCG, e as devidas
medidas de controle da gestão do aterro para atenuar ou eliminar os riscos.

Quadro 1. Dados qualitativos dos riscos identificados no ASCG e medidas de controle.

Riscos Agentes Medidas de controleda gestão do ASCG


Ambientais

Maquinário Manutenção preventiva


Operacionais
Arranjo Físico Arranjo físico adequado ao pedestre e aos caminhões

Ruídos EPI fornecido: protetor Auricular


Físicos
Calor EPI fornecidos: chapéus, uniformes.

Poeiras EPI fornecido: óculos


Químicos
Gases Monitoramento de gases realizado pela UFCG. EPI fornecido: Máscaras

Fornecimento de EPIs como uniformes, botas, luvas, máscaras, óculos;


Microrganismos
Recebimento de adicional de insalubridade para todos os trabalhadores.
Biológicos
Os resíduos recepcionados no aterro são dispostos nas Células e após a
Animais peçonhentos
compactação são cobertos por uma camada de solo com baixa permeabilidade.

Levantamento e
A sobrecarga fica a cargo das máquinas de prensa e dos caminhões de
transporte manual de
transportes
Ergonômicos peso

Jornadas longas de Os trabalhadores são devidamente alocados em uma jornada de serviço com 8
trabalho horas e rotatividade usual nos três turnos.

 Avaliação Quantitativa do Risco Físico Ruído

Para as análises quantitativas do agente físico ruído foram selecionados três pontos de
medição. O primeiro foi monitorado na chegada dos resíduos ao ASCG, ou seja, na balança de
pesagem. Onde três funcionários realizam o monitoramento da quantidade em peso, do tipo e da

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origem do resíduo. A Figura 3 (a) ilustra a balança de pessagem com o caminhão caregado com
resíduos, na Figura 3 (b) encontram-se os dados de ruído no primeiro ponto de medição, que foi
realizado em 30 minutos, num intervalo de 5 minutos a cada medição, e com uma média de ruído de
74,45 dB.

Figura 3. (a) Ponto 1 balança de pesagem com caminhão de resíduo; (b) Monitoramento do ruído no ponto 1.

O segundo ponto de monitoramento foi na Célula em execução, onde há o recebimento,


despejo e a compactação dos resíduos. Neste setor trabalham em média 10 funcionários, numa
rotatividade de três turnos, além dos motoristas dos caminhões que realizam o depósito dos resíduos
coletados em um breve intervalo de tempo. A Figura 4 (a) mostra a Célula em execução com o
recebimento e despejo dos resíduos, na Figura 4 (b) estão os dados de ruído no local que foram
monitorados por 30 minutos, num intervalo de 5 minutos a cada medição, e com uma média de
ruído de 80,81 dB. Neste local concentrou-se a maior intensidade de ruído, porém, abaixo do limite
máximo permissível de 85 dB recomendado pela NR15.

Figura 4. (a) Ponto 2 Célula em execução; (b) Monitoramento do ruído no local.

O terceiro ponto monitorado foi na trajetória percorrida pelos motoristas dos caminhões de
resíduo dentro do ASCG. Em média, o ASCG recebe 500 ton.d-1 de resíduos, com uma rotatividade

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de aproximadamente 80 caminhões. A Figura 5 (a) ilustra parte da trajetória percorrida pelos


caminhões até a Célula para despejo dos resíduos, já a Figura 5 (b) apresenta os dados de ruído no
local com medições realizadas em 30 minutos, num intervalo de 5 minutos cada, e obteve uma
média de ruído de 71,7 dB.

Figura 5. Ponto 3 trajetória dos caminhões até a Célula em execução; (b) Monitoramento do ruído no local.

CONCLUSÕES

Foi possível verificar que os entrevistados foram predominantemente indivíduos adultos, do


gênero masculino e faixa etária entre 21 e 50 anos. A pesquisa apresentou que qualitativamente os
funcionários do Aterro Sanitário de Campina Grande estão susceptíveis a riscos operacionais,
físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. No entanto, observamos que as condições de trabalho
com a devida utilização de equipamentos de proteção individual proporcionaram a integridade da
saúde e a produtividade do grupo de trabalhadores com a atenuação ou cessação dos riscos
identificados.
Na avaliação quantitativa do risco físico ruído, verificou-se que o ASCG tem os índices de
ruído em torno de 80 dB, estando dentro do limite de tolerância estabelecido pelo Ministério do
Trabalho. Vale ressaltar que em 2 anos de operação o ASCG não registrou nenhum acidente de
trabalho e todos os funcionários recebem o auxílio insalubridade.

REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419: Apresentação de


projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1992.

BRASIL. Norma Regulamentadora 9 (NR-9). Programa de prevenção de riscos ambientais. Guia


Trabalhista. Brasil 1998.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 988


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BRASIL. Norma Regulamentadora 15 (NR-15). Atividades e operações insalubres. Aprovada pela


Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978.

ECOSAM – Consultoria em Saneamento Ambiental Ltda. Plano Municipal de Gestão Integrada de


Resíduos Sólidos do Município de Campina Grande-PB. ECOSAM: João Pessoa, 2014.

GANIME, J. F.; O Ruído Como Um Dos Riscos Ocupacionais: Uma Revisão De Literatura.
Revista Eletrônica de Enfermaria Global, n 19. ISSN- 1695-6. Junho/2010

GUEDES, M. J. F.; MOREIRA, F. G. S.; AIRES, K. O.; CURI, R.C.; MONTEIRO, V. E. D.


Simulação do potencial de geração de biogás para o aterro sanitário em Campina Grande – PB.
In: II Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino de Ciências. Campina Grande-PB. 2017. 3p.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. 2017. Disponível em:


<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=25&search=paraiba>. Acesso: fev 2017.

UNESP/IGCE - Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista.


Material didático - Módulo 12 - Disposição de Resíduos. Minas Gerais: Rio Claro, 2017.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 989


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MICROALGAS COMO FERRAMENTA COMPLEMENTAR DE EDUCAÇÃO


AMBIENTAL NA EJA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Maria Irismã Libório GÓES


Mestre em Bioprospecção Molecular/URCA, Professora SEDUC/CE
liborioiris@gmail.com
Karla Jaqueline do NASCIMENTO
Mestre em Bioprospecção Molecular/URCA, Crato-CE
karla_j.nascimento@hotmail.com
Francisco Vieira da SILVA FILHO
Especialista em Educação Ambiental / URCA, Crato -CE
fcovieirafilho@gmail.com
Yedda Maria Lobo Soares de MATOS
Professora do Curso de Ciências Biológicas URCA, Crato-CE
yeddalobo@gmail.com

RESUMO
O fitoplâncton é considerado a base da cadeia trófica dos ecossistemas aquáticos. Colaboram de
modo eficiente no controle, prevenção e preservação da qualidade da água, são utilizados como
bioindicadores de ambientes lóticos. O presente trabalho teve como objetivo determinar a
composição da comunidade fitoplanctônica de trechos do Rio Granjeiro, bem como relacioná-las
como bioindicadoras da qualidade da água e despertar nos alunos uma sensibilização sobre a
problemática ambiental. Foi realizada oficina sobre microalgas e recursos hídricos junto aos alunos
do ensino fundamental e médio da modalidade EJA, no Centro de Educação de Jovens e Adultos
CEJA no município de Crato- CE. Os estudantes foram a campo onde observaram o ambiente e
coletaram (filtragem) amostras com auxílio de tubo de PVC com malha de 40 μm, as quais foram
acondicionadas em frascos de polietileno e preservados com formol a 4%. Em seguida conduzidas
ao laboratório de Ciências do CEJA. Onde ocorreu a identificação dos organismos utilizando
microscópio óptico e bibliografia especializada. A comunidade fitoplanctônica mostrou-se
constituída por 36 táxons, distribuídos em quatro divisões Bacillariophyta (Diatomáceas) foi a mais
representativa com 15 táxons, seguida por Cyanobacteria (Cianobactéria) com 14, Chlorophyta
(Clorofíceas) quatro e Euglenophyta (Euglenofíceas) três táxons. No percurso do rio Granjeiro os
alunos registraram fotos e observações pertinentes sobre o meio ambiente local e colocaram
opiniões de que os problemas que viam no rio e em seu entorno estava relacionados às ações
antrópicas. Desse modo, constatou-se que atividades educativas como estas que levam o aluno à
prática, que possam proporcionar mudanças de atitudes devem ser implantadas nos espaços
escolares e de forma permanente.
Palavras-chave: Microalgas; Educação de jovens e adultos; Educação ambiental.
ABSTRACT
Phytoplankton is considered the basis of the trophic chain of aquatic ecosystems. They collaborate
efficiently in the control, prevention and preservation of water quality, are used as bioindicators of
lotic environments. The present work had as objective to determine the composition of the
phytoplankton community of stretches of the Rio Granjeiro, as well as to relate them as
bioindicators of the quality of the water and to awaken in the students a sensitization on the
environmental problematic. A workshop on microalgae and water resources was carried out

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 990


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

together with the elementary and middle school students of the EJA modality, in the Center for
Youth and Adult Education CEJA in the municipality of Crato-CE. The students went to the field
where they observed the environment and collected (filtering) samples using a PVC tube with a
mesh of 40 μm, which were packed in polyethylene bottles and preserved with 4% formaldehyde.
They were then taken to the CEJA Science Laboratory. Where the identification of the organisms
occurred using optical microscope and specialized bibliography. The phytoplankton community
was constituted by 36 taxa distributed in four divisions Bacillariophyta (Diatoms) was the most
representative with 15 taxa, followed by Cyanobacteria (Cyanobacteria) with 14, Chlorophyta
(Chlorophyceae) four and Euglenophyta (Euglenofíceas) three taxa. In the course of the Rio
Granjeiro the students recorded pertinent photos and observations about the local environment and
expressed opinions that the problems they saw in the river and in its surroundings were related to
the anthropic actions. Thus, it was found that educational activities such as these that lead the
student to practice, that can provide changes of attitudes, must be implanted in school spaces and
permanently.
Keywords: Microalgae; Youth and adult education; Environmental education.

INTRODUÇÃO

A poluição de águas doces superficiais é um dos grandes problemas ambientais do mundo.


A degradação dos recursos hídricos é resultante da expansão do desenvolvimento econômico, com
vistas a atender crescentes demandas industriais, agrícolas e o crescimento das populações urbanas
(TUNDISI, 2003). Com isso, a qualidade da água é um aspecto importante, pois em função do
crescimento das cidades e das atividades econômicas, aumentam as quantidades de esgotos, de
resíduos industriais e de agrotóxicos que são despejados nas águas, o que contribui para a escassez,
visto que a água poluída torna-se imprópria para a utilização.
O fitoplâncton é considerado a base da cadeia trófica dos ecossistemas aquáticos. O estudo
de sua estrutura vem sendo utilizado como ferramenta de diagnóstico das condições ecológicas
desses ambientes (CROSSETI; BICUDO, 2008; PADISÁK, CROSSETI; NASSELLI-FLORES,
2009). Esses organismos colaboram de modo eficiente no controle, prevenção e preservação da
qualidade da água (SANT‘ANNA; AZEVEDO 2000), bem como são utilizados como
bioindicadores de ambientes lóticos e lênticos (LIRA; BITTENCOURT-OLIVEIRA; MOURA,
2007; MOURA et al., 2007; COSTA; DANTAS, 2011). Isso porque os grupos de microalgas são
controlados por muitos fatores ambientais, bióticos e abióticos, os quais podem, ser afetados por
muitos tipos de poluentes, produzindo mudanças na estrutura e no funcionamento da comunidade
(VIDOTTI; ROLLEMBERG, 2004).
A educação ambiental é um importante instrumento no avanço para a conscientização e para
a sustentabilidade das águas no Brasil e na crescente aplicação do desenvolvimento humano. E os
maiores provedores disso são as escolas públicas estaduais e municipais. É dentro das escolas
públicas que se encontra o cenário ―estratégico para a formação de consciência ambiental e
construção de valores‖ (SÃO PAULO, 2002).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Segundo Chervel (1990), a prática escolar fornece informações sobre a produção do


conhecimento que não são encontradas no nível de sua produção dentro da ciência ou em outras
instâncias da sociedade. Dessa forma, cabe à escola conhecer o universo social do aluno, pois ela é
o espaço para aprender e apreender o conhecimento histórico. É também o lugar para se exercitar a
convivência, e refletir sobre as diversas formas de convívio social, onde precisamos da teoria e da
prática para se fazer uma reflexão crítica sobre o papel de educadores e do que está sendo ensinado.
As metodologias de ensino e aprendizagem devem se valer das diferentes estratégias. E isso
é necessário para atingir os objetivos de formar cidadãos conscientes, capazes de julgar e avaliar as
atividades humanas que envolvem o uso e a ocupação do ambiente, dentro e fora da comunidade a
qual estão inseridos.
Diante desse contexto, faz-se necessário e importante levantar a questão hidrológica nas
escolas e neste caso, apresentar o cenário do rio Granjeiro, Crato/CE, que corta a cidade e que o
Centro de Educação de Jovens e Adultos - CEJA encontra-se às margens. Essa hidrografia é
complicada pois muitas vezes é confundida com um canal (grande trecho é canalizado) e sua
configuração original termina se perdendo. Assim, tem-se como objetivo determinar a composição
da comunidade fitoplanctônica de trechos do rio Granjeiro, bem como relacioná-las como
bioindicadoras da qualidade da água e, despertar nos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA)
uma sensibilização sobre a problemática ambiental.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O município do Crato/CE exibe uma paisagem fisiográfica privilegiada e diferente do


restante dos municípios cearenses, devido estar encravado na Chapada do Araripe e em virtude das
suas especificidades geomorfológicas, geológicas, climáticas e sua formação florestal constituída
em sua maior parte por caatinga arbustiva (OLIVEIRA; ABREU, 2010).
O Rio Granjeiro é o rio principal da microbacia 03 da sub-bacia hidrográfica do rio Salgado,
e é afluente do rio Jaguaribe (COGERH, 1999). Ele nasce na encosta da Chapada do Araripe e
drena parte do município do Crato, onde se apresenta com grande área impermeabilizada,
encontrando-se contido em um canal de concreto estreito.
Às margens do rio Granjeiro dentre tantas edificações encontra-se localizado o Centro de
Educação de Jovens e Adultos CEJA. O Centro atende alunos do ensino fundamental e médio da
EJA modalidade semipresencial (Figura 1).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1.Trechos do Rio Granjeiro- Crato/CE

Oficinas

Oficina sobre microalgas e recursos hídricos foi oferecida a alunos do ensino fundamental e
médio da modalidade EJA, no Centro de Educação de Jovens e Adultos CEJA no município de
Crato- CE. A oficina, além de oferecer aos participantes a oportunidade de conhecer as microalgas,
sua importância no biomonitoramento de sistemas aquáticos, também serviu para conhecer e avaliar
a situação de trechos do Rio Granjeiro. Tal oficina foi realizada em quatro etapas.
Na primeira etapa foi estudado os recursos hídricos, a relevância do monitoramento dos rios,
a caracterização do Rio Granjeiro com imagens das áreas canalizadas, além de fotografias de
diferentes situações ambientais de várias décadas.
Em um segundo momento adotou-se uma abordagem teórica onde foi apresentado a
definição de microalgas, importância econômica e ecológica, onde podem ser encontradas. Além
dos parâmetros a serem analisados em campo (coletas).
Na segunda etapa, os estudantes foram a campo, onde visualizaram trechos do rio como
também foram determinados três pontos para coleta de material fitoplanctônico. O primeiro ponto
foi a ponte da Bia local em que o rio recebe esgoto mas ainda não está revestido de concreto, o
segundo no início do canal de concreto e o terceiro em frente ao CEJA totalmente canalizado.
O material foi coletado com um pequeno balde preso a um barbante, posteriormente filtrado
no tubo de PVC com malha de 40 μm, acondicionadas em frascos de polietileno e preservados com
formol a 4%. Em seguida conduzidas ao laboratório de Ciências do CEJA.
Na terceira etapa, os alunos utilizaram o microscópio binocular (todos já haviam realizados
oficinas sobre o manuseio do microscópio) para visualização das microalgas e a identificação dos
organismos foram feitas utilizando bibliografia especializada baseada em Bicudo e Menezes (2006)

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e com supervisão de professores. Foram analisados 2 lâminas de cada amostra, durante a


observação no microscópio, foi ressaltado a diversidade morfológica das microalgas, que possuem
espécies filamentosas, unicelulares e coloniais.
Na quarta etapa, de posse dos dados levantados durante as observações ao microscópio foi
realizado uma roda de conversa onde foi discutido a importância das microalgas como base da
cadeia produtiva a predominância de algumas espécies e a influência das mesmas no ecossistema
lótico como também enfatizado que a composição depende do estado trófico da água ressaltando
assim, a importância das mesmas na utilização como biomonitoramento da qualidade da água.
Discutido também, a qualidade da água do rio Granjeiro, buscando despertar nos alunos a
preocupação com o estado de degradação dos recursos hídricos enfatizando o caso do rio Granjeiro
e a necessidade de se estabelecer métodos de avaliação da qualidade ambiental. Nesse contexto as
microalgas foram colocadas como ferramentas complementar no monitoramento dos recursos
hídricos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comunidade de microalgas planctônicas considerando os três trechos do rio mostrou-se


constituída por 36 táxons distribuídas em quatro divisões Bacillariophyta (Diatomáceas) foi a mais
representativa com 15 táxons (42%), seguida por Cyanobacteria (Cianobactéria) com 14 (39%),
Chlorophyta (Clorofíceas) quatro (11%) e Euglenophyta (Euglenofíceas) três táxons (8%). (Figura
2).

8%
11%
Bacillariophyta
42%

Cyanobacteria

39% Chlorophyta

Euglenophyta

Figura 2- Distribuição percentual das divisões de microalgas planctônicas em três pontos do rio Granjeiro

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Estes dados corroboram com estudos realizados por Rangel Júnior et al. (2016) no rio
Salgado que tem como afluente o rio Granjeiro, Góes et al. (2016) em outros trechos do rio
Granjeiro, como também por Campos et al. (2011), Nascimento et al. (2013), Vieira et al. (2013)
em diferentes trechos do rio Batateira localizado também no município do Crato, onde a divisão
Bacillariophyta apresentou maior representatividade qualitativa entre os táxons encontrados.
De acordo com Soares, Huszar e Roland (2007) as microalgas planctônicas de rios é
dominada por organismos capazes de sobreviver em sistemas com grande turbulência e flutuação de
luz, por exemplo, as diatomáceas (Bacillariophyta). Cetto et al. (2004), reafirma que a maior
riqueza dessa classe está relacionada, em parte, a estruturas que oferecerem vantagem competitiva
às diatomáceas, em condições mais estressantes.
Os indicadores biológicos (bioindicadores) podem ser definidos particularmente como
espécies ou comunidades, que, pela sua presença, fornecem informações sobre as condições físicas
e químicas no ambiente. Dos gêneros identificados, alguns como: Nitzschia, Cocconeis, Cymbella,
Gomphonema e Navicula (Bacillariophyta) são de acordo com Branco (1978), Schneck (2007),
considerados cosmopolitas e com grande amplitude ambiental. Sendo o gênero Navicula apontado
como indicadores de maior impacto antrópico, águas poluídas e despejos industriais.
Assim, as diatomáceas devido à sua ampla ocorrência e por responderem de forma rápida às
mudanças ambientais têm sido usadas como indicadoras de contaminação orgânica e eutrofização
(SALOMONI, 2004).
A divisão Cianobactéria representou a segunda mais diversificada. Para Sant‘Anna (2006),
as cianobactérias ocorrem naturalmente como componentes da comunidade de microalgas
planctônicas de águas doces, mas estão frequentemente associadas à eutrofização dessas águas,
constituindo uma grande fonte de produtos naturais tóxicos. Com isso, as florações de
cianobactérias causam impactos sociais, econômicos e ambientais, geralmente consequências
visíveis e danosas para os organismos e o meio ambiente.
Os impactos antrópicos da urbanização promovem alterações na bacia hidrográfica que
ocasionam alterações na composição da água e promovem uma variação espacial em virtude do
maior ou menor grau de impacto. Analisando de forma geral, a maior parte das espécies indicadoras
encontradas neste relato, são descritas na literatura como tolerantes a altas concentrações de
nutrientes e adaptadas a ambientes eutróficos.
Acredita-se que o conhecimento sobre os organismos fitoplanctônicos e suas relações com o
meio ambiente de forma contextualizada com a realidade passa a ser instrumento pelo qual os
alunos potencializam suas capacidades levando a adquirir uma compreensão das inter-relações
presentes na sociedade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Durante a realização das oficinas, foi possível observar uma grande participação dos alunos,
que demonstraram concentração e interesse ao longo das atividades. O interesse gradual dos
participantes em relação aos temas abordados assim, como o desempenho de cada um. E, a cada
término de um tema abordado, realizou-se uma avaliação observacional a participação do grupo
visando o senso crítico e a autonomia de cada aluno.
Na realização da atividade de campo no percurso do rio Granjeiro os alunos registraram
fotos e observações pertinentes sobre o meio ambiente local e colocaram opiniões de que os
problemas que viam no rio e em seu entorno estava relacionados às atividades antrópicas,
principalmente dos bairros adjacentes. Foi questionado também por alguns alunos que a falta de
administração pública e de conhecimento por parte da comunidade podem estar contribuindo para
o crescimento do problema.
Fundamentado nos conteúdos abordados na oficina sobre o conhecimento e importância das
microalgas os alunos puderam relacionar a teoria à prática, como: perguntas sobre a sobrevivência
de organismos no referido ambiente, até que momento tais organismos poderiam sobreviver à
degradação, se existiam outros organismos com resistência, quais os sintomas causados por as algas
que liberam toxinas. E no laboratório também foi observado um grande interesse em visualizar as
diferentes formas em que se apresentam as microalgas, como também enfatizaram a beleza das
formas e coloração.
Aulas de campo, onde o discente pode unir o conteúdo teórico com a prática contribui para
despertar nos alunos a atenção para as condições ambientais dos recursos hídricos da localidade. De
acordo com Guimarães, Rodrigues e Malafaia (2012), a observação desses ambientes desenvolvidos
em instituições de ensino pode oportunizar aos discentes a percepção e identificação de possíveis
impactos que podem passar despercebidos no seu dia-a-dia, principalmente, devido ao fato do
impacto já ter se incorporado à realidade das pessoas e não ser enxergado como um problema
ambiental.
De acordo com Guimarães, Pereira e Branco (2008) a aproximação do aluno à sua realidade
possibilita, além de uma melhor aprendizagem, uma maior percepção das questões ambientais,
melhorando sua forma de expressão; contribuindo para uma participação mais efetiva destes
sujeitos; melhorando a integração entre eles, desenvolvendo a criatividade e fortalecendo a
sensibilização em relação à Educação Ambiental.
Segundo os PCN (BRASIL, 1997), a principal função de se desenvolver o tema Ambiente é
contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade
socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global‖. Para atingir esse objetivo é necessário trabalhar com atitudes, formação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de valores, aprendizagem de procedimentos, pensamento crítico, sensibilização e não apenas com a


transmissão de conceitos e informações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A opor tunidade dada aos discentes da EJA em unir teoria e prática, conhecer ambientes do
seu entorno, realizar coleta de materiais, conhecer organismos invisíveis (microalgas), identificá-los
e discutir a relação desses organismos com o meio, de forma contextualizada despertam nos alunos
uma sensibilização da problemática ambiental, como também estimula e fortalece a participação
individual e coletiva na preservação dos recursos hídricos. Levando a uma formação cidadã
ecológica e que portanto possam vir a contribuir para um desenvolvimento sustentável.
Sugere-se que atividades educativas como estas que levem o aluno à prática, que possam
proporcionar mudanças de atitudes sejam implantadas nos espaços mais indicados e privilegiados
que são as escolas e de forma permanente.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 999


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AVALIAÇÃO DE RISCOS GEOAMBIENTAIS E ELETROMAGNÉTICOS EM LINHAS


DE TRANSMISSÃO LOCALIZADAS NO AGRESTE MERIDIONAL DE
PERNAMBUCO: SUBSÍDIOS PARA AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Mariana Eduarda Ferreira XAVIER


Técnica em Eletroeletrônica (IFPE)
marianaeduarda.xavier@gmail.com
Tatiane de Andrade AMARAL
Técnica em Meio Ambiente (IFPE) e Graduanda em Pedagogia (UPE)
tatikm2@hotmail.com
Rogério Melo de OLIVEIRA
Professor Doutor em Engenharia Agrícola (IFPE)
rogerio.melo@garanhuns.ifpe.edu.br
Wilker Victor da Silva AZEVÊDO
Professor Mestre em Engenharia Elétrica (IFPE)
wilker.azevedo@garanhuns.ifpe.edu.br

RESUMO
O sistema de transmissão de energia elétrica possui riscos quanto ao uso de áreas adjacentes. Apesar
das restrições serem instituídas por lei, vem crescendo o número de ocupações irregulares, o uso de
pecuária extensiva e a expansão imobiliária nas adjacências. O objetivo desse trabalho foi verificar
conformidade das faixas de servidão de linhas de transmissão (LTs) próximas de Garanhuns (PE) e
municípios vizinhos. A identificação de riscos foi conduzida em viés geoambiental e
eletromagnético. Os resultados balizam propostas de ações mais efetivas voltadas aos moradores
das áreas próximas das linhas de transmissão no que se refere à compreensão da operação das LTs,
respeito às normas e mitigação de riscos. Análises por Geoprocessamento e cálculo dos campos
elétrico e magnético foram realizados. Os resultados permitiram verificar trechos com expansão
acentuada da ocupação urbana, já com inobservância dos limites para as faixas de segurança, além
de patamares elevados para os campos elétrico e magnético. O trabalho congrega subsídios para
definição de ações estruturantes de educação ambiental.
Palavras Chave: Riscos, Geoprocessamento, Eletromagnetismo e Educação Ambiental.
ABSTRACT
The electric power transmission system has risks regarding the use of adjacent areas. Although the
imposed restrictions by law, irregular occupations, use of extensive livestock and the expansion of
cities in the vicinity of the lines has been growing. The aim of this work was to verify the
conformity of the transmission line right of way near Garanhuns (PE) and neighboring
municipalities. The identification of risks was conducted in geoenvironmental and electromagnetic
bias. The results show more effective proposals for actions aimed at the residents of the areas close
to the transmission lines with regard to understanding the transmission line operation, respect for
standards and mitigation of risks. Analysis by geoprocessing and calculation of electric and
magnetic fields were performed. The results allowed to verify expansion of the urban occupation,
already with nonobservance of the right of way limits, besides elevated levels for the electric and
magnetic fields. The work gather subsidies for the definition of structuring actions of environmental
education
Keywords: Risks, Geoprocessing, Electromagnetism and Environmental Education.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1000


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A geração, transmissão e a distribuição da energia elétrica são fundamentais para o


suprimento energético da sociedade, em que é necessária a minimização de falhas de operação bem
como o devido atendimento aos requisitos de segurança junto ao território geográfico que
atravessam. No Sistema Interligado Nacional (SIN), próximo aos centros urbanos e nas áreas rurais
dos municípios, existem diversas linhas de transmissão de alta tensão. Isto requer precauções à
população nas suas adjacências, em que decorrem análises para mapeamento de riscos.
Com centenas e até milhares de quilômetros, os circuitos de transmissão são sujeitos a
diversos fatores de risco, como queimadas, erosão do solo, intempéries temporárias como raios e
curto-circuitos. Um elemento que podemos sugerir como adicional para análise é o uso da faixa de
segurança imediatamente abaixo da torre, seja em relação à realização de atividades humanas como
agricultura e pecuária ou através da expansão imobiliária dos centros urbanos. É denominada ―faixa
de servidão‖ a faixa de terra ao longo da linha, cujo domínio permanece com o proprietário havendo,
no entanto, restrições de seu uso em face dos campos elétrico e magnético. Tal medida visa garantir a
segurança das instalações e dos indivíduos que convivem com as Linhas de Transmissão (LTs).
Existem limitações ao uso e à ocupação das terras ao longo da faixa de servidão a fim de
evitar riscos à biota e segurança das pessoas. A corrente elétrica alternada que percorre os condutores
de uma LT dá origem a um campo magnético (H). Por sua vez, o espaçamento entre os condutores (em
alta tensão) e o solo (tensão 0 V) remete a um modelo de capacitor, para o qual existe uma região no
espaço em que se associa um campo elétrico (E). Quanto maior a tensão elétrica, maior o campo
elétrico. Linhas com maior nível de tensão podem transportar mais potência elétrica e,
consequentemente, ter uma corrente elétrica de maior intensidade, o que proporciona elevado
campo magnético próximo aos cabos. A largura da faixa de segurança varia com a tensão da LT.
Na literatura, alguns grupos de pesquisa têm se dedicado à proposta de manejo sustentável e
análise geoambiental da vegetação nesta faixa (SILVA et al., 2003; XAVIER et al., 2007), de modo
a atuar para prevenir interrupções no fornecimento de energia. No trabalho de Silva (2003) destaca-
se a proposta de controle do dossel arbóreo dentro e fora da faixa de servidão, em que podas são
detalhadas em diversas categorias de modo a minimizar impactos ao meio ambiente (evitando
cortes drásticos). Discorremos que uma preocupação latente suplementar refere-se ao respeito dos
limites e distâncias especificadas por norma, em que a população em geral carece de informações.
Outra fonte de preocupação presente na literatura está relacionada à intensidade do campo
elétrico e do campo magnético, além da distância efetiva entre residências e equipamentos elétricos,
incentivados ainda pela análise de efeitos sobre a saúde da população (MORENO & MORENO, 2001;
NAKHJAVANI & ABBASI, 2002; MARCÍLIO et al., 2009). Alguns pesquisadores também têm se
voltado ao cálculo mais preciso destas grandezas, apoiados por técnicas de medição ou pelo
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1001
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desenvolvimento de rotinas computacionais que consideram leis físicas, parâmetros do circuito e


elementos geométricos da posição dos condutores das LTs, vislumbrando-se a simulação apropriada
dos fenômenos (GUIMARÃES, et al., 2005; LOPES, et al., 2009).
É fundamental ainda destacar-se no contexto das faixas de servidão a falta de controle e de
uma gestão efetiva – pautada em uma cartografia adequada e com profissionais preparados. Esta
lacuna favorece a ocorrência de edificações em locais impróprios. Isto proporciona danos: para a
sociedade, que se utiliza do espaço irregular; para o meio ambiente, que sofre com ações antrópicas
em áreas sensíveis. Segundo Saquet (2009), com o desenvolvimento da tecnologia de informática
na segunda metade do século passado, tornou-se possível armazenar e representar tais informações
em ambiente computacional, abrindo espaço para o aparecimento do Geoprocessamento. Essa
tecnologia é amplamente assessorada pelas informações sobre fenômenos ou objetos observados
através de sistemas sensores. As informações obtidas de imagens de satélites dão subsídios a órgãos
de planejamento para uso sustentável e gestão racional, dos ambientes urbanos e rurais, em que
também vislumbramos a identificação de áreas com conflitos. Inspira-se a possibilidade de
concatenar estudos de natureza elétrica e magnética com avaliações geoambientais, focalizando um
diagnóstico mais efetivo dos impactos sobre o meio e a sociedade, apontando possibilidades para
ações de educação ambiental junto à população transitória e permanente afetada por riscos.
Em particular, linhas de transmissão de energia de alta tensão localizadas no Agreste
Meridional de Pernambuco, especificamente na divisa entre os municípios de São João e Garanhuns
(PE), foram foco de avaliação em virtude da constatação de estradas, atividades de pecuária, além
de vegetação de médio porte em algumas regiões sensíveis. De modo complementar, a expansão
imobiliária com a criação de lotes para fins residenciais e de um bairro denominado ―planejado‖
têm resultado na mudança do perfil geográfico da região adjacente aos circuitos de transmissão,
suscitando análise de riscos na faixa de servidão. As análises objetivam, ainda, subsidiar o
planejamento de ações de educação ambiental diretamente vinculado aos resultados técnicos
mapeados. Os estudos em tela são resultado de dois projetos de iniciação científica concluídos
(PIBIC-TEC), desenvolvidos colaborativamente entre docentes e estudantes dos cursos técnicos em
eletroeletrônica e meio ambiente, os quais foram realizados no âmbito do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Garanhuns.
No contexto tratado, o objetivo geral do trabalho consistiu em estabelecer os níveis de
exposição de condicionantes eletromagnéticos em torno de condutores energizados em circuito de
transmissão e a realização do processamento geográfico de informações acerca das faixas de
servidão, favorecendo informações sobre a segurança. Estudos e simulações, técnicas de
geoprocessamento e análises dos campos elétrico e magnético permitiram aferir distâncias e apontar
elementos para estruturação de informações que subsidiem ações de educação ambiental.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

METODOLOGIA

- Aspectos Geoambientais

A análise quanto à manutenção das faixas de segurança das LT's foi realizada em duas
localidades distintas: L1 (município de Garanhuns) e L2 (limite Garanhuns/São João). Houve uma
atenção especial quanto à ocupação nas proximidades de três LTs específicas, as quais atravessam
os municípios com destino à subestação de energia de Angelim (há cerca de 33 km de Garanhuns).
Nessas localidades, foram criados polígonos identificando as formas de ocupação, sendo:

 Para L1: trecho de ocupação urbana (parte do Bairro COHAB 2) + Área sem Ocupação
Urbana;

 Para L2: trecho de ocupação urbana (loteamento Cidade das Flores e outros
empreendimentos imobiliários) + Área sem Ocupação Urbana.

Para identificação e delimitação das LT's, bem como das ocupações existentes em suas
proximidades, foram utilizadas técnicas de geoprocessamento como a vetorização dos elementos
com o auxílio do Google Earth PRO (Fig. 1).
Para validar as informações obtidas no programa, foram realizadas visitas à área de estudo e
coleta de informações sobre localização de elementos possíveis de não serem verificados nas
imagens disponibilizadas pelo programa (Figs. 2a e 2b), delimitados com o auxílio do aplicativo C7
GPS Dados (desenvolvido pela equipe do Laboratório de Geomática do Departamento de
Engenharia Rural - Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria),
substituindo a utilização do GPS convencional.

(a) (b)

Figura 1 – Delimitação de quadras utilizando a ferramenta ―Polígono‖ (a), e delimitação das Linhas de
Transmissão utilizando a ferramenta ―Caminho‖ (b), do Google Earth PRO.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1003


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(a) (b)

Figura 2 – Visita técnica para estruturação de informações georreferenciadas.

Os elementos vetorizados foram agrupados e importados para o programa TerraView 4.2.2,


onde foi realizado a criação de Buffers em torno das linhas de transmissão. Essas áreas de
influência foram criadas com base nos critérios da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
os quais estabelecem a distância mínima em torno de cada linha, que é variável em função da
capacidade nominal de transmissão de cada uma delas. Na Tabela 1 são especificadas as faixas
permissíveis:

Linha de Transmissão [kV] Faixa de Servidão [m]


180 15

230 25
500 30
Tabela 1 – Faixa de servidão apropriada para LT‘s de diferentes capacidades de transmissão.

- Aspectos Eletromagnéticos

Para a realização dos cálculos dos campos elétrico e magnético foi utilizada a metodologia
desenvolvida por Lopes (2009), sendo ajustada, contudo, para uma avaliação bidimensional no
cenário de uma linha de transmissão de energia de 500 kV. As equações foram desenvolvidas e
subdivididas em retas que variam no plano, sendo calculadas para condutores reais e corrigidas com
o uso do conceito de condutores imagens. Preliminarmente foram mapeados parâmetros de
influência. Em seguida, fez-se uso do software Matlab na implementação das técnicas de cálculo, as
quais se baseiam nas leis de Ampère e na Lei de Coulomb. Informações do cálculo de campo
magnético e elétrico são indicadas nas Figuras 3 e 4.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1004


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3 – Percurso para cálculo do campo magnético. Figura 4 – Percurso para cálculo do campo elétrico.

Em relação aos parâmetros apontados nas Figuras 3 e 4, tem-se:

 B – Indução magnética ou Densidade de campo magnético (em Tesla, T);


 µ – Permeabilidade magnética (Henry por metro, H/m);
 H – Campo Magnético (A/m);

 H 1 – Vetor campo magnético;


 I – Corrente elétrica (em Ampère, A);

 H 1h – Intensidade magnética na direção horizontal;

 H 1v – Intensidade magnética na direção vertical;


 Re( H 1h ) – Intensidade da componente real do campo magnético na direção horizontal;

 Re( H 1v ) – Intensidade da componente real do campo magnético na direção vertical;


 Im( H 1h ) – Intensidade da comp. imaginária do campo magnético na direção horizontal;

 Im( H 1v ) – Intensidade da comp. imaginária do campo magnético na direção vertical;

 E 1 – Vetor campo elétrico, (em Volts por metro - V/m);


 q 1 – Carga elétrica (em Coulomb, C);
 Ԑ – Permissividade elétrica do meio (Faraday por metro - F/m)

 E 1h – Intensidade do campo elétrico na direção horizontal;


 E 1v – Intensidade do campo elétrico na direção vertical;
 Re( E 1h ) – Intensidade da componente real do campo elétrico na direção horizontal;

 Re( E 1v ) – Intensidade da componente real do campo elétrico na direção vertical;


 Im( E 1h ) – Intensidade da comp. imaginária do campo elétrico na direção horizontal;

 Im( E 1v ) – Intensidade da comp. imaginária do campo elétrico na direção vertical;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As simulações consideraram análise paramétrica e de sensibilidade, requisitando uma atenção


nos valores das variáveis para avaliar os efeitos do carregamento dos circuitos e da intensidade de
campo a certa distância dos condutores energizados. Visitas técnicas em campo subsidiaram aspectos
práticos e reais das instalações como perfil da estrutura (Figs. 5a e 5b), flecha dos condutores (altura
em relação ao solo – Fig. 5c), a superfície do solo, além de características de ocupação.

(a) (b) (c)


Figura 5 – Visita técnica para caracterização de elementos geométricos das linhas de transmissão.

Por fim, foram feitas comparações dos níveis obtidos de cada parâmetro com aquele definido
por norma para a população ocupacional e o público em geral, analisando-se diferenças percentuais
e significativas. Na Tabela 2 estão sintetizados alguns parâmetros de referência.

Valores Limites Intensidade E [kV/m] Intensidade H [A/m]


Público em Geral 4,16 66,67
Ocupacional 8,33 333,33
Tabela 2 – Níveis de referência médios para campos elétricos e magnéticos - ABNT.

As variáveis de saída da rotina computacional são as intensidades do campo magnético, H


(medido em A/m) e do campo elétrico, E (medido em kV/m). Considerou-se a utilização da
Equação de Carson para a correção dos valores de indução magnética.

ANÁLISE GEOAMBIENTAL

No contexto Geoambiental foi criado um banco de dados com o intuito de armazenar os


dados vetorizados. As linhas de transmissão foram vetorizadas e seu traçado projetado desde a
subestação do município de Angelim até a área urbana do município de Garanhuns passando
também pelo município de São João. Essa vetorização foi realizada para evidenciar os elementos
com limites facilmente identificáveis nas imagens do Google Earth PRO (Figura 6).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(a) (b)
Figura 6 – Elementos vetorizados na localidade L1(a) e L2 (b).

A geração dos Buffers permitiu identificar se havia manutenção da faixa de segurança das
linhas de transmissão nos locais avaliados. Para a localidade L1, na área de ocupação urbana, não
foi verificada irregularidades ao longo de quase toda extensão do trecho avaliado, com exceção de
um ponto específico onde se verifica sobreposição entre o buffer gerado para uma linha de 230kV
em um trecho da estrada e parte de uma quadra do bairro (Fig. 7a).
Na localidade L2, área do loteamento Cidade das Flores, a análise do buffer gerado para a
linha mais próxima das residências (500kV), demonstra que existe uma sobreposição entre a
representação da faixa de segurança e parte da infraestrutura do condomínio (Fig. 7b).

(a) (b)
Figura 7: Buffer gerado para a localização L1 (a) e para localização L2 (b).

A proximidade existente entre a área habitacional e a linha de transmissão pode induzir a


uma exposição constante das pessoas que moram nessas residências ao campo elétrico e magnético
de baixa frequência. Nesses pontos a população se desloca, a vegetação predominante é composta
por pastagem e o gado trafega livremente na faixa de segurança das linhas de transmissão.

ANÁLISE ELETROMAGNÉTICA

Em relação à simulação do campo elétrico do campo magnético, foi admitida uma LT de


500 kV, localizada em uma região próxima a residências no limite geográfico entre os municípios
de Garanhuns e São João. A LT apresenta 4 cabos por fase (observar Fig. 5a). A distância entre os
condutores geminados de cada fase (tipo ACSR Grosbeak) é de 0,425 metros. Entre fases vizinhas a
distância é de 8 metros. A altura dos condutores em relação ao solo na torre é de 18 metros e, em

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1007


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

virtude da flecha (8 metros), no centro da catenária é de 10 metros. A frequência de operação é de


60 Hz. A resistividade do solo para este caso é 100Ω/m. A largura da faixa de servidão é de 60
metros (-30m; +30m). Estes dados subsidiaram o cálculo dos campos elétrico e magnético.
Dois cenários foram avaliados, sendo o primeiro mais severo em relação ao campo
magnético, pois apresenta uma corrente de 2 kA. No segundo cenário a corrente admitida é de 1 kA.
No cálculo do campo elétrico, a altura dos condutores em relação ao solo é de 8 metros para o
primeiro cenário (o mais crítico) e de 10 metros para o segundo cenário (Fig. 8).

Figura 8 – Cenários considerados para cálculo do campo elétrico.

Essas variações das catenárias normalmente ocorrem em virtude da variação da temperatura


e de carga ao longo do dia, propiciando alternância do perfil da flecha inerente à linha de
transmissão. Outra situação que resulta em variações da catenária reside no aspecto geográfico
relacionado a desníveis do solo entre duas torres consecutivas.
No primeiro cenário (C1), é apresentada na Figura 9 a distribuição do campo magnético (H).
O valor do campo é 222,4 A/m imediatamente abaixo da torre. No limite da faixa de servidão (FS) o
módulo é de 40,3 A/m. Nota-se, por comparação com os dados da Tabela 2, que este valor está abaixo
do limite normativo na fronteira da faixa de servidão (66,67 A/m), ou seja, se encontra abaixo de um
valor de risco. No que diz respeito à intensidade do campo elétrico (E) (Fig. 10), apresenta valor
máximo de 24,5 kV/m. A intensidade no limite da faixa de servidão – de 4,5 kV – excede o valor de
referência (4,16 kV/m) em torno de 8%, algo que remete certa prudência em relação a medidas de
segurança frente a exposição de pessoas nos arredores da linha. Os resultados das simulações apontaram
que o campo passa a ser inferior a 4,16 kV/m apenas a partir de, aproximadamente, 2 metros do limite
da faixa de servidão.
A existência de um campo elétrico em intensidade superior à permitida nas vizinhanças da
faixa denota um olhar cuidadoso e solícito quanto a orientações para a população, pois a projeção
vertical dos cabos cruza certas ruas e em alguns casos a faixa de servidão posiciona-se bem próxima
das ruas do loteamento Cidade das Flores, havendo sobreposição da faixa de servidão com a
infraestrutura do bairro (Fig. 11a), tal como verificado na análise via técnicas de geoprocessamento.
Há também locais de criação de animais, árvore (Fig.11b) e estradas na região, incluindo cercas em
áreas rurais, as quais estão a alguns metros do circuito de transmissão energizado.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1008


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 9 – Distribuição de campo magnético (C1). Figura 10 – Distribuição de campo elétrico (C1).

(a) (b)
Figura 11 – Locais com habitações, criação de animais e vegetação nas proximidades das torres de 500 kV.

Para o segundo cenário (C2), o nível de corrente (1,0 kA) representa um cenário de carga
leve no sistema de transmissão. O valor do campo magnético (H) é 111,2 A/m na referência central
abaixo da torre, abaixo do máximo valor plausível. No limite da faixa de servidão, o módulo do
campo magnético é de 10,2 A/m. Nota-se, por comparação, que o módulo do campo no limite da FS
e para além dela se encontra abaixo da especificação estabelecida pela norma (66,67 A/m).
Por vezes são verificadas irregularidades no relevo onde estão instaladas as linhas. No caso
do módulo do campo elétrico para o cenário 2, na fronteira da faixa de servidão, apresenta valor 3,5
kV/m (não excede o limite estabelecido pela ABNT - 4,16 kV/m). O valor máximo do campo foi
18,4 kV/m, constatado a aproximadamente 12 metros do eixo central abaixo da torre.
Por meio dos resultados se mostra indispensável subsidiar informações através de ações de
educação ambiental com medidas de precaução para que os indivíduos não fiquem expostos aos
campos por tempos prolongados no limite da faixa de servidão. O manejo de gado (Fig. 12a) e
trechos com vegetação de médio porte (Fig. 12b) são encontrados imediatamente abaixo e nas
circunvizinhanças de alguns dos circuitos de 500 kV, reforçando princípios de segurança.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(a) (b)
Figura 12 – Manejo de gado, residências e vegetação de médio porte nas adjacências das linhas.

SUBSÍDIOS PARA ELABORAÇÃO DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Os resultados das visitas apontam a presença de um público diversificado para ações


voltadas para Educação Ambiental (EA). Além dos novos moradores no bairro planejado (recém-
inaugurado), nota-se a presença de diversos pequenos produtores rurais. Uma sondagem preliminar
demonstrou variabilidade no nível de formação e saberes das pessoas diretamente afetadas pelos
empreendimentos de transmissão. Neste sentido, além da produção de materiais instrucionais
didático-pedagógicos com uma linguagem acessível (cartilhas, folders), se mostra fundamental a
realização de visitas para explicações dialogadas com os moradores.
Palestras em escolas da região também podem se apresentar como norteadoras para divulgar
resultados, informações, levar esclarecimentos, estabelecer debates, bem como para capacitação dos
docentes. Por meio dos diálogos e conversas informais realizadas junto à população ficou evidente
que a maioria dos indivíduos desconhece os riscos a que estão submetidos, as precauções que
devem ser tomadas no cotidiano, bem como o respeito à região limítrofe da faixa de servidão das
Linhas de Transmissão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mapeamento das faixas de segurança e dos campos elétrico e magnético de circuitos de


transmissão de energia caracteriza-se como instrumento fundamental na avaliação dos ambientes
eletromagnéticos. Nota-se também que a intensidade do campo magnético nos cenários avaliados
aponta níveis em conformidade com a prescrição da norma a partir dos limites geográficos da faixa
de segurança. No caso do campo elétrico, os resultados das simulações indicam que as intensidades
detectadas apontam atenção quanto à segurança da população em virtude dos valores que se
estabeleceram para além das distâncias de segurança apontadas por norma para certo perfil de altura
dos condutores energizados em relação ao solo.
Para todos os cenários é reforçado o cuidado quanto aos elevados níveis dentro da faixa de
segurança. A intensidade do campo magnético abaixo dos condutores chega a atingir mais de duas
vezes aquele recomendado como seguro para exposições de longo período. O campo elétrico, por

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sua vez, exibe intensidade quase cinco vezes superior à indicada como segura para exposição
prolongada. Devido à faixa de servidão irregular e a intensidade do campo elétrico superior as
normas estabelecida, é necessário ações de orientação à população em virtude da ocorrência de
atividades de manejo de gado na região, vegetação de médio porte e proximidade a residências.

REFERÊNCIAS

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blood sugar in mice. Iran. Mag. Diabetes and Lipid 2(1): 59-63, 2002.

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Faca. Dissertação (Mestrado em Geomática). Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CHUVAS EXTREMAS E SEUS IMPACTOS EM UBERLÂNDIA-MG: A QUESTÃO DO


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PLANEJAMENTO URBANO E DA VULNERABILIDADE

Nathalie Ribeiro SILVA


Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia, UFU
nathaliersilva@yahoo.com.br
Paulo Cezar MENDES
Professor Doutor do Instituto de Geografia, UFU
pcmendes@ig.ufu.br

RESUMO
Este estudo traz uma análise dos impactos causados por fenômenos climáticos intensos na cidade de
Uberlândia-MG, suas vulnerabilidades e como o uso das geotecnologias pode contribuir para os
processos de planejamento e gestão urbana. Para tanto foi utilizado Registros de Ocorrências que
demandaram o atendimento da Defesa Civil do município nos anos de 2014 e 2015, com a análise
do Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica – PEP 2015/2016‘ desenvolvido pela
Coordenadoria Municipal de Defesa Civil e ainda com a análise da dinâmica climática na região do
Triângulo Mineiro. Os resultados apontaram que uma parcela significativa dos alagamentos esteve
relacionada à acomodação de resíduos sólidos em locais inadequados, sendo eles responsáveis pela
obstrução da rede de drenagem. Quanto a identificação e o mapeamento dos locais de riscos,
conclui-se que os mesmos são de grande valia nas ações da Defesa Civil, pois geram informações
fundamentais para planejamento e implementação de ações destinadas ao enfrentamento de
impactos urbanos desencadeados por eventos climáticos extremos.
Palavras Chave: Impactos das chuvas, geotecnologias e planejamento urbano.
ABSTRACT
This study provides an analysis of the impacts caused by intense climate phenomena in the city of
Uberlândia-MG, its vulnerabilities and how the use of geotechnologies can contribute to urban
planning and management processes. For this it was used Records of Occurrences that demanded
the assistance of the Civil Defense of the municipality in the years 2014 and 2015, with the analysis
of the Pluviometric Emergency Preventive Plan - PEP 2015/2016 'developed by the Municipal Civil
Defense Coordination and also with the analysis of the climatic dynamics in the Triângulo Mineiro
region. The results indicated that a significant part of the floods was related to the accommodation
of solid waste in inappropriate places, being responsible for the obstruction of the rain drenage.
Regarding the identification and mapping of risk areas, it is concluded that they are of great value in
the actions of Civil Defense, since they generate fundamental information for planning and
implementation of actions aimed at coping with urban impacts triggered by extreme climatic events.
Key Words: Impacts of rainfall, geotechnologies and urban planning.

INTRODUÇÃO

As cidades representam as maiores e mais significativas modificações que o homem faz na


superfície do planeta. Apesar de existirem vários estudos sobre elas, é raro que os resultados

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Apoio: PROEX/UFU, PROEXT/MEC – Programa: Monitoramento Climático para Prevenção de Desastres Naturais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

produzidos por esses estudos sejam aplicados diretamente no planejamento e na modelagem da


cidade, com o desígnio de impedir que as cidades se tornem tão vulneráveis diante de situações
extremas (MENDES, 2001).
Sobretudo nas últimas décadas, a evolução das ferramentas e técnicas relacionadas a
Geotecnologia, tem melhorado a identificação e o mapeamento de áreas vulneráveis a impactos
provocados pelas chuvas no ambiente urbano, possibilitado as cidades, a adoção de medidas
mitigadoras e preventivas frente à ocorrência de desastres naturais relacionados a eventos
climáticos.
De acordo como Tominaga (2009) são considerados desastres naturais quando os fenômenos
naturais atingem áreas ou regiões habitadas pelo homem, causando-lhe danos. Outra conceituação é
adotada pela United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UN-ISDR, 2009), a
qual considera como desastre : ―uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma
sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão cujos impactos
excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos.‖ (TOMINAGA,
2009, p. 13).
O Glossário da Defesa Civil Nacional, desastre é tratado como sendo "resultado de eventos
adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos
humanos, materiais e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais.‖ (BRASIL,
1998, p. 52)
Essa vulnerabilidade deve ser entendida, segundo Ayoade (2010), como a medida pela qual
uma sociedade é suscetível de sofrer por causas climáticas. Dessa forma, quando se relacionam
eventos climáticos extremos como, por exemplo, grandes precipitações em um curto período de
tempo em uma área impermeabilizada, observa-se que são raros os casos em que as cidades são
replanejadas para se tornarem menos vulneráveis a essas atuações climáticas críticas.
O autor também retrata sobre a resiliência, a qual se refere à habilidade de uma sociedade
em "recuar" quando adversamente afetada por impactos climáticos, só ocorre em curtos espaços de
tempo, após uma catástrofe que repercuta na população de maneira significativa. Ao término desse
período, quando as atividades exercidas pela sociedade retomam seu ritmo normal, pouco a pouco
essa mesma população começa a repetir as mesmas atitudes que deram origem aos problemas
passados, produzindo um círculo vicioso, que lentamente deteriora a qualidade de vida da
população. (AYOADE, 2010)
Neste contexto, observa-se que não é raro nos espaços de grandes centros urbanos do Brasil
a ocorrência de desastres relacionados com fenômenos atmosféricos. O processo de urbanização
tem sido responsável pelas imensas áreas impermeáveis onde às chuvas concentradas não
encontram espaços para a infiltração contribuindo para o agravamento do escoamento superficial.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tucci (1993) comenta que a água, ao atingir o solo, segue por três caminhos principais. O
primeiro deles é a infiltração, enquanto a superfície do solo não se satura. O segundo é o
escoamento superficial, que ocorre com o excesso não infiltrado da precipitação, produzido pela
saturação da porosidade superficial do solo. E o terceiro caminho é quando a água fica retida na
superfície, em contato com a atmosfera, o que possibilita a evaporação ou a evapotranspiração,
quando interceptada pela vegetação. Dessa maneira, a água quando atinge o solo, estando ele com a
cobertura da vegetação natural, consegue penetrar facilmente até atingir o ponto de saturação para, a
partir de então, dar início ao escoamento superficial, que é definido como o fluxo de água sobre a
superfície do solo e/ou pelos seus múltiplos canais naturais ou artificiais. O asfalto e o concreto,
comuns nos centros urbanos, não possuem esse ponto de saturação, simplesmente porque a água
não consegue penetrar em sua superfície.
Em seu livro "As Tempestades", Bell (1963) faz a seguinte observação: "uma chuva
concentrada de 40,0mm, com duração de tempo de 30 minutos em uma área de 2 quilômetros
quadrados, pesaria mais de 90 mil toneladas". A partir dessa observação como referência, não é
difícil imaginar os estragos que essa água causaria precipitando-se em uma área urbana
despreparada para tal situação, como por exemplo asfaltos arrancados, árvores derrubadas, carros
destruídos, casas alagadas, dentre outros. Essa mesma chuva citada, na mesma área de 2
quilômetros quadrados, produz um volume de 80.000m³ de água no prazo de 30 minutos. Se a infra-
estrutura de escoamento não for capaz de dar vazão a este volume, as consequências poderão ser
catastróficas (MENDES, 2001).
Neste contexto, a identificação e o mapeamento das áreas de maior vulnerabilidade às
precipitações extremas passam a ser de grande valia, por se constituir como um instrumentos de
planejamento voltado a adoção de medidas de curto e longo prazos, relacionadas com a defesa civil
e órgãos gestores, quando da ocorrência impactos de ordem meteorológica. Neste cenário, o uso do
Sistema de Informações Geográficas (SIG) vem ganhando força, pois o mesmo tem gerado
significativos avanços nas esferas da pesquisa e no planejamento de ações dedicadas ao combate e
preparação da cidade para o enfrentamento de desastres.
Para Rosa (2005, p. 81), o SIG pode ser definido como, um conjunto de ferramentas
computacionais composto de equipamentos e programas que, por meio de técnicas, integra dados,
pessoas e instituições, de forma a tornar possível a coleta, o armazenamento, o processamento, a
análise e a oferta de informação georreferenciada produzida por meio de aplicações disponíveis, que
visam maior facilidade, segurança e agilidade nas atividades humanas referentes ao monitoramento,
planejamento e tomada de decisão relativas ao espaço geográfico.
O SIG é capaz de demonstrar as características, o comportamento e a variação espacial e
temporal da atuação dos fenômenos atmosféricos, auxiliando assim, o conhecimento detalhado das

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

condições de tempo atmosférico da área de estudo que se pretende analisar. No estudo de


vulnerabilidade climática a utilização do SIG vem oferecendo recursos para uma nova abordagem
cartográfica por permitir auxiliar nas tomadas de decisões, favorecendo um planejamento das
atividades urbanas que considerem os impactos causados pelas precipitações.
A cidade de Uberlândia (MG) possui o papel especial neste contexto. A existência de grande
área impermeabilizada, asfaltada e ocupada pelas construções, somada à canalização dos córregos e
à remoção da cobertura vegetal, diminui ano a ano a área de infiltração, tornando-a com o passar do
tempo, extremamente vulnerável à ocorrência de desastres relacionados às precipitações
concentradas, cuja altura necessária para causar impactos diminui à medida que aumenta a
população urbana da cidade.
Baseado nessas premissas, este estudo objetiva apresentar, de modo exploratório, como a
associação entre o conhecimento dos riscos causados por fenômenos climáticos, das
vulnerabilidades e do o uso das geotecnologias podem contribuir para os processos de planejamento
e gestão urbana a partir de um processo de preparação para o enfrentamento de impactos
desencadeados por eventos climáticos extremos, tendo como objeto de análise, a cidade de
Uberlândia (MG)

METODOLOGIA

Este estudo foi baseado na teoria do sistema clima urbano proposta por Monteiro (1976)
utilizando-se do canal de percepção humana termodinâmico. Em relação à escala de análise, foi
empregado a mesoescala definida por Ribeiro 1993: ―...a mesoclimatologia está preocupada com o
estudo do clima em áreas relativamente pequenas, entre 10 e 100 quilômetros de largura, por
exemplo, o estudo do clima urbano e dos sistemas climáticos locais severos tais como tornados e
temporais‖ (AYOADE 1991 apud RIBEIRO, 1993, p. 3).
A área investigada corresponde a cidade de Uberlândia (MG), (Figura 1), segundo o censo
demográfico, do IBGE para 2017, possui uma população estimada de 676.613 habitantes, sendo a
segunda maior cidade de Minas Gerais. O município, no qual pertence a cidade, localiza-se entre as
coordenadas geográficas de latitude 18º 30‘ e 19º 30‘ Sul e, 47º 50‘ a 48º 50‘ de longitude Oeste do
meridiano de Greenwich, na microrregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, no oeste do estado
de Minas Gerais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1: Mapa de localização do Município de Uberlândia (MG).


Fonte: IBGE (2017). Elaboração: SILVA, L.R.T. (2017)

Em relação aos aspectos climáticos, o município é classificado, segundo Köppen, como Aw,
levando-se em consideração o comportamento pluviométrico e a variação das temperaturas, ao
longo do ano. Na classificação de Arthur Strahler, que leva em consideração principalmente a
natureza e ação das massas de ar, Uberlândia está inserida no grupo climático Tropical Semi-úmido,
caracterizado por duas estações definidas, sendo o verão marcado por temperaturas elevadas e
chuvas intensas e o inverno com temperaturas amenas e baixos índices ou, até mesmo, inexistência
de precipitação (AYOADE, 1991).
Baseado nos registros meteorológicos provenientes do Laboratório de Climatologia e
Recursos Hídricos da Universidade Federal de Uberlândia, a precipitação e a temperatura média dos
últimos 20 anos foram, respectivamente, 22,2ºC e 1.596 mm. As temperaturas médias mensais mais
elevadas foram registradas no mês de outubro, com médias de 23,8ºC. Já as menores médias
mensais foram registradas nos meses de junho e julho, com 19,2ºC. Sobre a altura das precipitações,
os maiores índices foram totalizados no mês de dezembro, com média de 327 mm acumulados. Já o
mês mais seco foi o de julho com precipitação média acumulada inferior a 10 mm.
Em termos operacionais, foi elaborada neste estudo uma revisão bibliográfica pertinente ao
tema; por meio de pesquisas e consultas em livros, revistas e artigos científicos e sites
especializados. Sobre as análises, este estudo envolveu métodos quantitativos, ao coletar as
informações e tratar os dados estatisticamente e posteriormente qualitativos ao empregar as
apreciações de modo a identificar a atuação dos fenômenos meteorológicos e seus reflexos no
contexto analisado. Os mesmos foram coletados junto a Defesa Civil de Uberlândia (MG) em forma
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de registros de intervenções de casos que envolveram danos provocados por chuvas extremas nos
anos de 2014 e 2015.
Os registros de intervenções foram correlacionados aos sistemas atmosféricos atuantes no
município de Uberlândia-MG identificados na plataforma do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET); nos dados meteorológicos de superfície registrados na Estação Meteorológica da
Universidade Federal de Uberlândia e também na estações da Agência Nacional de Águas (ANA).
De forma complementar foram utilizados arquivos dos noticiários de mídias local sobre chuvas e
vendavais intensos município.
Para a ilustração do ‗Mapeamento dos locais de riscos‘ utilizou-se o material denominado
―Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica – PEP 2015/2016‖ um trabalho desenvolvido pela
Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Uberlândia-MG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio do Relatório de Ocorrências registrado pela Defesa Civil do Município de


Uberlândia-MG nos anos de 2014 e 2015 (Tabelas 1 e 2) é possível identificar algumas diferenças
e semelhanças ao relacionar o tipo de ocorrência com a atuação climática do referido período/mês
de cada ano.

RELATÓRIO DE OCORRÊNCIAS DO ANO DE 2014


OCORRÊNCIA/MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Queda/poda de árvore 10 41 1 7 0 1 4 1 6 2 2 5 80
Inundação 10 7 2 1 1 0 1 0 0 0 13 8 43
Destelhamento 13 27 0 2 0 0 0 0 2 2 0 0 46
Alagamento de via 4 0 0 2 0 0 0 0 0 0 12 4 22
TOTAL 37 75 3 12 1 1 5 1 8 4 27 17 191
Tabela 1: Relatório de Ocorrências do ano de 2014.
Fonte: Defesa Civil de Uberlândia-MG

RELATÓRIO DE OCORRÊNCIAS DO ANO DE 2015


OCORRÊNCIA/MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Queda/poda de árvore 33 32 22 6 4 1 0 1 22 58 57 80 316
Inundação 16 3 41 2 1 0 0 0 2 2 5 5 77
Destelhamento 4 17 0 0 0 1 0 1 145 6 6 7 187
Alagamento de via 14 20 152 32 5 1 2 0 7 4 32 13 282
TOTAL 67 72 215 40 10 3 2 2 176 70 100 105 862
Tabela 2: Relatório de Ocorrências do ano de 2015.
Fonte: Defesa Civil de Uberlândia-MG

Ao analisar os quatro tipos de ocorrências (Queda/poda de árvore; Inundação;


Destelhamento e Alagamento de via) nos anos de 2014 e 2015 nota-se que os maiores registros
ocorreram entre os meses de Janeiro a Abril e Setembro a Dezembro, período de maior ocorrência

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de chuvas e vendavais na região conforme destaca Silva (2010, p. 38), ―o Triângulo Mineiro possui
uma alternância de duas estações bem definidas, uma com um verão quente e chuvoso e outra com
inverno seco e ameno. No verão (23 de dezembro a 22 de março), registram-se os maiores índices
tanto de precipitação como de temperatura.‖
O climograma do município de Uberlândia (Gráfico 1), ilustra claramente o regime termo-
pluviométrico em uma análise de 35 anos, que no período de outubro a março ocorrem os maiores
índices tanto de temperatura como de precipitação.
Outra constatação ao comparar as Tabelas 1 e 2 é que no ano de 2015 registrou-se uma
quantidade muito superior de registros em relação ao ano de 2014 em praticamente todos os tipos de
ocorrências. Os destaques na comparação entre esses dois anos (2014 e 2015) permeiam:
‗Queda/poda de árvore‘: um aumento de quase quatro vezes; ‗Inundação‘: quase o dobro de
ocorrências; ‗Destelhamento‘: quadriplicou o número de ocorrências; ‗Alagamento de via‘:
aumentou 13 vezes as ocorrências registradas.

Uberlândia (MG): Precipitação Média Mensal e


Temperatura Média Estimada Mensal, 1981 - 2016
Precipitação (mm)

Temperatura (°C)

Precipitação
Temperatura
Gráfico 1: Climograma do município de Uberlândia(MG)
Fonte: Laboratório de Climatologia (UFU)

Hipoteticamente, pode-se considerar como motivo da elevação desses registros, o fato de


haver uma maior atuação do órgão municipal (Defesa Civil) junto às ocorrências e também o fato
de 2015 ter sido marcado por intensas chuvas e vendavais como constatado nos registros de jornais
locais da cidade como o ocorrido em Janeiro, noticiado que ―Chuva forte derruba árvores e causa
estragos em Uberlândia... Bairros ficaram sem energia devido a quedas de árvores na rede elétrica.
Residências foram alagadas; postes de energia também caíram.‖ (Jornal G1, em 03/01/2015). No
mês em que marca o fim do verão, foi noticiado que,

Volume de chuva em março supera em 35% média histórica do mês... Os 288 mm de


chuva, registrados em Uberlândia durante todo o mês de março, ultrapassaram em 35,2% a
média histórica de 213 mm registrados no período, segundo dados do Laboratório de
Climatologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A quantidade também foi
superior à verificada no mesmo mês de 2014, de 117,8 mm. (Jornal Correio de Uberlândia,
em 01/04/2015)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Já em setembro, um mês atípico de ocorrências de chuvas na região, o jornal Gazeta de


Uberlândia noticiou ―Chuva destrói casas e alaga bairro em Uberlândia... O temporal teve início por
volta das 21h e durante sete horas foram registrados cerca de 30 milímetros de chuva e ventos de
aproximadamente 80 km/h. (Jornal Gazeta de Uberlândia em 09/09/2015). No inicio de dezembro
outra notícia marca os efeitos causados pelas fortes precipitações pluviométricas, ―Defesa Civil
contabiliza estragos causados por chuva em Uberlândia... Inmet registrou 38,8 mm de chuva no fim
da tarde desta quarta-feira‖ (Jornal G1, em 03/12/2015).
No ano de 2014 os meses com mais registros de ocorrências foram Janeiro, Fevereiro, Abril,
Novembro e Dezembro com maiores ocorrências para ―quedas/podas de árvores‖ com destaque
para o mês de fevereiro, em seguida ―destelhamento‖ com maiores ocorrências em janeiro e
fevereiro, depois ―inundação‖ com maiores registros de janeiro a março; novembro e dezembro e
por último ―alagamento de via‖ com mais ocorrências em novembro.
Em 2015 a semelhança com o ano anterior é o aumento das ocorrências no período chuvoso
da região (outubro a março), as maiores ocorrências foram para ―quedas/podas de árvores‖ com um
total de 316 ocorrências, principalmente entre os meses de outubro a dezembro, em seguida
―alagamento de via‖ com destaque para o mês de março, com 152 ocorrências, correspondente a
54% do total. O ―destelhamento‖ obteve mais ocorrências no mês de setembro com um total de 145,
o que corresponde a 77%, esse mês marca a transição entre o período seco e chuvoso da região. O
registro de ―inundação‖ teve o menor número entre todas as ocorrências, sendo 77 registros, desses
41 ocorrências foram registradas somente do mês de março, o que corresponde a 53% dos registros
dos 12 meses do ano.
Nesse sentido, pôde-se constatar que no período chuvoso, ou seja, nos meses de Janeiro,
Fevereiro, Março, Outubro, Novembro e Dezembro na região e no município de Uberlândia-MG as
ocorrências correspondem nesse período a aproximadamente 80% do total.
Para identificar os locais onde pode haver vulnerabilidade da população uberlandense em
virtude de chuvas extremas e vendavais no espaço geográfico de Uberlândia-MG foi feito um
mapeamento dos locais de riscos (Figura 2) e sua respectiva legenda (Figura 3) como parte do
―Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica – PEP‖.
Na área central da cidade observa-se próximo aos pontos amarelos e linha vermelha os
pontos que representam alto risco. Nessa porção da cidade se encontra a Avenida Rondon Pacheco
sobre o córrego São Pedro canalizado no início da década de 1980, essa construção considerada
inadequada ―refletiu em complicações referente ao escoamento superficial das águas das chuvas e a
sua infiltração no solo, podendo ser comprovado os fatos, por inúmeras enchentes registradas na
imprensa regional e nacional, sendo motivo de reconstruções e desembolso de gastos públicos
periodicamente‖ (ANDRADE e FERREIRA, 2010, p. 5)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2: Mapeamento dos locais de riscos


Fonte: Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica – PEP 2015/2016 de Uberlândia-MG

Figura 3: Legenda do Mapeamento dos locais de riscos e abrigo/alojamento


Fonte: Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica – PEP 2015/2016 de Uberlândia-MG.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Assim como a Avenida Rondon Pacheco, outras como Getúlio Vargas na região oeste da
cidade, Anselmo Alves dos Santos na porção leste e Minervina Cândida na região central de
Uberlândia-MG tem os verões marcados por diversos estragos como asfaltos arrancados, árvores
derrubadas, carros destruídos, casas alagadas, visto a extensa área permeabilizada, deficiente rede
de captação pluvial, redução de áreas vegetadas, caminhos típicos da intensa urbanização mal
planejada principalmente dos países subdesenvolvidos. É nesse sentido que

―a pouca arborização da área urbana, com ruas pavimentadas e terrenos ocupados, concorre
para a formação de zonas de baixa pressão atmosférica que funcionam com um ralo para as
nuvens carregadas. Dependendo da altura da coluna dos acúmulos e de sua carga de água,
torna-se inevitável a precipitação de enormes índices pluviométricos. Inundações desse tipo
é o principal problema vivenciado em Uberlândia nos últimos anos...‖ (Plano Preventivo de
Emergência Pluviométrica – PEP 2015/2016, p. 6)

Além dos prejuízos materiais, estrondosos gastos públicos para a recuperação dessas áreas, a
vida humana, principalmente da população mais vulnerável, se encontra a mercê de uma cidade
frágil e insegura. A Defesa Civil, como também outros órgãos públicos como Corpo de Bombeiros
e Polícia Militar também são solicitados para atender casos de alagamentos dentro de casa, queda de
muro, refluxo de esgoto, além de atuarem na constatação e dar providências para os afetados
desabrigados que necessitam ser alojados nos 10 pontos de ‗Locais de abrigo/alojamento‘
espalhados pela cidade conforme pode-se observar nas Figuras 2 e 3.
No ‗Plano Preventivo de Emergência Pluviométrica - PEP‘ ainda é destacado que nem
sempre as intensas precipitações pluviométricas são responsáveis pelos alagamentos e sim um
deficiente sistema de drenagem. Cabe também ressaltar que não apenas a elevada taxa de
impermeabilização do solo urbano dos locais públicos amplia o volume de água a ser escoado pelo
sistema de captação da cidade. A população também pode contribuir por meio da permeabilização
parcial de seus terrenos ou com a redução de áreas cimentadas em edifícios de maneira a não
sobrecarregar o sistema de captação urbano. ―O incentivo ao uso de cobertura vegetal ao invés de
materiais impermeáveis em áreas externas das residências pode significar um acréscimo de área
permeável em torno de 10% a 15% da área urbana, diminuindo o volume de água a ser escoado pelo
sistema de drenagem.‖ (PEP, 2015, p. 6)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Planejar e dotar as cidades com infra-estrutura completa para evitar problemas relacionados
com as chuvas é uma tarefa extremamente difícil. Entretanto, medidas paliativas podem e devem ser
efetuadas para amenizar as dificuldades enfrentadas pela população urbana durante o período
chuvoso, como por exemplo, a construção de canais artificiais de grande vazão a limpeza
permanente dos córregos e bueiros e, principalmente, a desocupação das margens dos rios.
Contudo, é sabido que tais obras exigem uma somatória muito grande de recursos públicos,
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

impedindo grande parte das cidades brasileiras, que enfrentam esse tipo de problema, de
implantarem esse tipo de solução.
Em Uberlândia, durante o período analisado, foi observado que grande parte dos eventos
pluviométricos extremos esteve relacionada à ação de sistemas frontais. Todavia, não podemos
esquecer que a causa principal dos impactos teve como elemento propulsor, o elevado índice de
impermeabilização do solo da cidade, resultante da expansão dos espaços construídos e da
pavimentação maciça, que está impedindo a infiltração da água precipitada para o lençol freático,
aumentando o escoamento superficial e, conseqüentemente, o alagamento de ruas e casas nos locais
de maior fluxo d‘água.
Além da impermeabilização do solo, percebe-se ainda, como agentes causadores de
inundações, a canalização de córregos; a acomodação de lixo em locais indevidos, que obstrui as
galerias pluviais; o desmatamento e a ocupação imprópria dos fundos de vale, a deficiência no
planejamento e execução de obras de infra-estrutura urbana que são freqüentemente danificadas ou
até mesmo totalmente destruídas palas fortes precipitações
Neste contexto, o monitoramento dos eventos climáticos extremos na cidade de Uberlândia
possibilitou, por meio da elaboração e análise de mapas temáticos, o fornecimento ao poder publico,
uma visão especializada das áreas mais vulneráveis no enfretamento chuvas intensas, abrindo a
possibilidades de execução de planejamento, obras e implementação de ações mais eficazes
voltadas ao enfrentamento de eventos climáticos extremos..
É nesse sentido, portanto que o conhecimento das condições climáticas de um determinado
lugar somado ao uso de geotecnologias constitui um instrumento essencial para o planejamento das
atividades urbanas, visto que o próprio crescimento das cidades amplia a possibilidade de
ocorrência de eventos climáticos extremos, principalmente vendavais e precipitações. Esses
eventos, além de colocar em risco à vida causam grandes danos na infra-estrutura urbana, com
prejuízos as residências, instituições públicas e privadas, instalações industriais, comerciais e bens
dos moradores.

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ANÁLISE DE TOXICIDADE EM Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) NO


ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE, REGIÃO DE BAYEUX, PB

Nabuêr Francieli da SILVA


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE
nabuerfrancieli@gmail.com
Renatha Claudia Barros Sobreira de AGUIAR
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE
renathasobreira@gmail.com
Ivone Antonia de SOUZA
Profª. Drª Departamento de Antibióticos, CB - UFPE, Recife
idesouza5@gmail.com
Rosângela Estevão Alves FALCÃO
Profª. Drª UPE, Garanhuns/PE
rosangela.falcao@upe.br

RESUMO
O uso e ocupação desordenados da população nas áreas costeiras, somados ao desenvolvimento sem
planejamento das cidades tem promovido alterações significativas nos ecossistemas costeiros e
biota associada. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar os efeitos tóxicos de
extratos aquosos da carne de Anomalocardia brasiliana frente Artemia salina e determinar a
rentabilidade da biomassa de espécimes desse molusco bivalve coletados no estuário do Rio Paraíba
do Norte, no intuito de avaliar a qualidade ambiental. Extratos aquosos da carne de A. brasiliana
submetidos ao teste de letalidade para larvas de A. salina, indicaram que os extratos nas
concentrações testadas não eram tóxicos, além disso, a espécie apresentou diferenças nas análises
de rendimento da biomassa entre os pontos de coleta. Assim, os resultados do estudo podem servir
como base para o estabelecimento de futuros programas de manejo deste recurso pesqueiro e o
desenvolvimento da maricultura na região, fornecendo informações importantes para futuras
propostas de educação ambiental. A análise da toxicidade proposta, torna este o primeiro trabalho
desta natureza na região estuarina do Rio Paraíba do Norte.
Palavras-chaves: Anomalocardia brasiliana, Educação Ambiental, Toxicidade.

ABSTRACT
Disorganized use and occupation of the population in coastal areas, coupled with the unplanned
development of cities, has promoted significant changes in coastal ecosystems and associated biota.
In this sense, the present study had the objective of investigating the toxic effects of aqueous
extracts of Anomalocardia brasiliana against Artemia salina and to determine the profitability of
the biomass of specimens of this bivalve mollusk collected in the estuary of the Paraíba do Norte
River, in order to evaluate the quality environmental. Aqueous extracts from the A. brasiliana meat
submitted to the lethality test for A. salina larvae showed that the extracts at the concentrations
tested were non - toxic. In addition, the species showed differences in the biomass yield analyzes
between the collection points. Thus, the results of the study can serve as a basis for the
establishment of future management programs for this fishery resource and the development of
mariculture in the region, providing important information for future environmental education
proposals. The analysis of the proposed toxicity makes this the first work of this nature in the
estuarine region of the Paraíba do Norte River.
Keywords: Anomalocardia brasiliana, Environmental Education, Toxicity.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Os ecossistemas costeiros são caracterizados por suas conexões com os sistemas adjacentes,
bem como também pela influência das terras emersas e atividades antrópicas neles desenvolvidas.
São exemplos desses ecossistemas: lagoas costeiras, costões rochosos, estuários e deltas,
manguezais e marismas, praias arenosas e Iodosas, recifes de coral e restingas e dunas (PASKOFF,
2001 apud DIAS, 2007).
Os estuários e manguezais situados nas regiões costeiras constituem áreas altamente
produtivas, desempenhando importantes funções ecológicas. Historicamente são fontes de
subsistência e renda para inúmeras comunidades pesqueiras artesanais (SOUTO; MARTINS, 2009).
Bayeux, cidade situada no estado da Paraíba, região nordeste do Brasil, é uma das várias
cidades drenadas pelo Rio Paraíba do Norte localizado entre as latitudes de 6°54‘14‖ e 7º07‘36‖S e
as longitudes de 34º58‘16‖ e 34º49‘31‖O (NISHIDA et al., 2008). O estuário deste rio é berço para
o desenvolvimento de várias atividades pesqueiras, entre elas a mariscagem que é a atividade de
coleta e beneficiamento de moluscos (BARACHO, 2016), gerando fonte de renda para inúmeras
comunidades locais, onde a pesca é considerada uma atividade tradicional. Dessa forma, as
comunidades locais exercem influência no manejo dos bancos naturais das espécies que habitam
esses ecossistemas.
Dentre as espécies de moluscos bivalves capturadas na região estuarina em estudo,
Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) destaca-se pela sua maior representativamente na
mariscagem local, segundo relatam as marisqueiras. Trata-se, pois, de uma espécie que agrega valor
econômico, constituindo importante fonte de proteína, aproximadamente 18% de sua composição,
tendo diversas aplicações comerciais como alimento, como acessórios de bijuterias e artesanato,
além de sua exploração para a produção de cal (TORRES, 2009).
O molusco bivalve A. brasiliana está inserido na família Veneridae e apresenta ampla
distribuição no globo, ocorre desde as Índias Ocidentais até o Uruguai, sendo observada em todo o
litoral brasileiro. No Brasil a espécie possui várias nominações vulgares como marisco, búzio,
vôngole e berbigão (RIOS, 1994; LAVANDER, 2011).
Alguns organismos, a exemplo dos moluscos bivalves, podem ser considerados
bioindicadores ambientais ou biomonitores de qualidade ambiental, devido a interação metabólica
desses indivíduos com agentes poluidores presentes em seu ambiente, acumulando-os em sua
biomassa (MÉLO, 2014, DIAS, 2007). Masutti (1999) discorre que a principal característica de um
bioindicador é refletir a contaminação do ambiente.
Boehs et al. (2010) assinala que A. brasiliana está entre as espécies de moluscos bivalves
marinhos mais explorados comercialmente e consumidos ao longo da costa brasileira. Nessa
perspectiva, pesquisas que avaliem a qualidade dos recursos pesqueiros que se destinam ao
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

consumo da população no que concerne a sua exposição a agentes contaminantes que possam lhes
causarem algum efeito tóxico, são de suma importância, através de estudos de biomonitoramento
dessa biota, para mensuração da qualidade ambiental dos seus habitats, ecossistemas.
Os testes toxicológicos são realizados no intuito de analisar as condições em que as
substâncias químicas produzem efeitos tóxicos, qual a natureza desses efeitos e os níveis seguros de
exposição (LOOMIS, JAYMES, 1996).
Ensaio de toxicidade utilizando Artemia salina (Figura 1) é um modelo animal comumente
adotado na literatura consultada para estudos de análises toxicológicas, em consequência das
vantagens apresentadas para execução deste método, entre elas a simplicidade, a rapidez, a
reprodutibilidade e o baixo custo (MESQUITA et al., 2015).

Figura 1. Artemia salina. Fonte: https://www.naturamediterraneo.com

Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar os efeitos tóxicos de extratos
aquosos da carne de Anomalocardia brasiliana frente Artemia salina e determinar a rentabilidade
da biomassa de espécimes desse bivalve, no intuito de avaliar a qualidade ambiental do ecossistema
em estudo. A análise da toxicidade proposta, torna este o primeiro trabalho desta natureza na região
estuarina do Rio Paraíba do Norte.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Coleta

Os espécimes de mariscos em estudo, foram coletados em região de estuário no rio Paraíba,


na cidade de Bayeux, estado da Paraíba-PB (Figura 2). As coletas foram realizadas em dois pontos
específicos, bancos de areia da Croa de Portinho (ponto de maior distanciamento da área urbana) e
Croa da Cidade (ponto de maior proximidade da área urbana), respectivamente, no dia 11 de julho
de 2017, no período das 12h às 14h. Cada um dos pontos apresentava níveis de poluição, em

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

consequência da ação antrópica, distintos, sendo o banco de areia da Croa da cidade (P2) com maior
interferência antrópica, em decorrência de sua maior proximidade com a área urbana.

Figura 2. Localização da área de estudo. Fonte: Silva (2017)

O procedimento de coleta, em terreno arenoso, foi acompanhado por marisqueiras, sendo a


captura dos espécimes auxiliada por ferramentas artesanais usualmente utilizadas na mariscagem
(Figura 3.A e B). Foram coletados mariscos de tamanhos variáveis, pequeno, médio e grande,
totalizando 30 indivíduos (N=30) para cada comprimento, através do auxílio de marisqueiras que
fizeram a identificação vernacular de cada um dos comprimentos mencionados durante a coleta dos
espécimes (Figura 3.C). Após a coleta, os mariscos foram armazenados em sacos de polietileno,
devidamente identificados, e acondicionados em caixa de isopor, então foram transportados para os
laboratórios da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, pertinentes a
realização das análises do material.

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Figura 3. Coleta dos mariscos no local de estudo. Em (A) ―Puçá‖ instrumento usado na captura de marisco e
enxada objeto auxiliar, (B) Captura de mariscos utilizando o gadanho, (C) Marisqueira realizando a
separação dos diferentes comprimentos dos mariscos.

Condições de Preservação dos Espécimes

Posteriormente a coleta, os mariscos de ambos os comprimentos foram lavados em água


corrente e todo material correspondente a cada ponto de coleta, foi pesado em balança digital
criteriosamente: grupo de conchas com o corpo mole em seu interior, repetindo-se a pesagem
somente com o volume da carne extraída da concha (corpo mole) e apenas a concha sem o conteúdo
da carne. O método de pesagem aplicado se repetiu para cada comprimento dos mariscos citados
anteriormente. Em seguida, a carne extraída da concha foi armazenada em recipientes vedados sob
refrigeração, até a realização dos procedimentos sequenciais.

Padronização Dos Extratos

Após a pesagem foi obtido o rendimento total da biomassa do bivalve (g), peso da concha
(g), peso da carne (g) para cada comprimento (pequeno, médio e grande) dos espécimes em cada
um dos pontos de coleta, seguidamente da obtenção dos extratos. O extraído, correspondente ao
corpo mole, foi triturado em água destilada, prontamente o caldo obtido foi filtrado em peneira de
porosidade média, e armazenado sob refrigeração até o processo de liofilização no laboratório de
farmacognosia, Departamento de Farmácia – UFPE para realização das análises.

Avaliação do Potencial de Toxicidade: Bioensaio com Artemia Salina

Para a realização do ensaio foi seguida uma metodologia descrita segundo Meyer et al.
(1982). Os cistos de A. salina foram incubados para eclosão em recipiente contendo água do mar,
sob aeração e agitação constantes, em uma temperatura com variação de 26º a 30º C ao abrigo de
iluminação artificial com lâmpada fluorescente. O recipiente foi recoberto com parafilme durante
48h para a eclosão das larvas. Passado o período de incubação determinado, foram transferidas 10

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

larvas para tubos de ensaio contendo quatro concentrações dos extratos (25 µg/mL, 50µg/mL, 100
µg/mL e 200 µg/mL), e controles em triplicata. O ensaio contou com dois grupos controles, sendo
um constituído da solução salina (larvas + solução salina) e o outro com o solvente (larvas + água
destilada), nas mesmas concentrações do extrato. Após a incubação dos metanáuplios por 24h em
exposição com os extratos em diferentes concentrações, foi realizada a contagem do número de
metanáuplios mortos, ou seja, aqueles que não apresentavam mobilidade, para que pudesse ser
calculada a percentagem de mortalidade e assim fosse obtida a Concentração Letal Média (CL50),
que é a concentração que dizima metade de uma população.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desenvolvimento industrial nas áreas costeiras trouxe consigo ameaças para esses
ecossistemas, em razão da sua maior exposição a agentes poluentes. Muitas áreas de manguezais
são consideradas receptores de poluentes através da deposição atmosférica, do transporte fluvial e
das marés, onde podem ser assimilados pela biota local e sofrer processos de bioacumulação sendo
inseridos na alimentação humana (MASUTTI, 1999). Em Texeira et al. (2007) ressalvamos
Anomalocardia brasiliana como a espécie bioindicadora que apresenta os melhores resultados para
contaminação por metais, possuindo os melhores coeficientes de variação na concentração dos
metais, ao avaliar a bioacumulação de metais pesados, por exemplares deste bivalve e outras três
espécies de moluscos. Podendo inclusive ser utilizada em programas de monitoramento dada a sua
ampla distribuição nas áreas estuarinas da região.
Na avaliação da toxicidade in vitro do extrato aquoso da carne de A. brasiliana, coletada em
Bayeux-PB, frente Artemia salina, constatou-se que este não foi capaz de causar mortalidade dos
metanáuplios. Os resultados encontrados demonstraram que as amostras testadas não apresentaram
toxicidade para A. salina nas concentrações avaliadas não havendo diferenças entre os estágios de
desenvolvimento, bem como os locais em que foram coletadas (Tabela 1 e 2), denominados
respectivamente de P1 (Croa de Portinho) e P2 (Croa da Cidade), este último sendo o local com
maior influência antrópica, onde a espécie formava bancos com baixa densidade de indivíduos.

Tabela 1: Ensaio de toxicidade frente Artemia salina de espécimes de Anomalocardia brasiliana coletados
em P1 (Croa de Portinho).
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
50 100
Pequeno
100 100
200 100
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
Médio 50 100
100 100

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

200 100
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
50 100
Grande
100 100
200 100

Tabela 2: Ensaio de citoxicidade frente Artemia salina de espécimes de Anomalocardia brasiliana coletados
em P2 (Croa da Cidade).
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
50 100
Pequeno
100 100
200 100
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
50 100
Médio
100 100
200 100
Comprimento dos espécimes Concentração dos extratos (µg/mL) Viabilidade dos metanáuplios (%)
25 100
50 100
Grande
100 100
200 100

Simões e Almeida (2015) esclarecem que os efeitos reproduzidos para A. salina pelas
amostras testadas ocasionarão efeitos iguais para humanos, ou seja, se a amostra testada se mostrou
tóxica para A. salina, seus efeitos também serão os mesmos em humanos. Assim, as informações
adquiridas no ensaio de toxicidade são consideradas importantes, pois sugerem que a carne da
espécie de marisco analisada pode ser utilizada comercialmente para consumo, tendo em vista que o
extrato aquoso da carne de A. brasiliana tem um efeito geral não-tóxico nas condições investigadas,
fornecendo-nos também indicativo de qualidade ambiental do ecossistema aquático, devido ao fato
desses organismos serem biomonitores de qualidade ambiental (MÉLO, 2014).
Outros pesquisadores, como Pereira (2003) também utilizaram o berbigão A. brasiliana
como bioindicador para análises de parâmetros quanto a qualidade ambiental, neste estudo os dados
obtidos revelaram condições elevadas de coliformes fecais e metais-traço (Zn, Ni, Pb, Cr, Cd),
cujos níveis impediram a balneabilidade em 3 de 4 pontos analisados, dando o parecer de medidas
de intervenção urgentes sobre aquele ecossistema. O autor ainda sinaliza que moluscos podem
acumular metais-traço e outros xenobióticos em concentrações diretamente proporcionais ao seu
desenvolvimento e às encontradas no sedimento adjacente.
Dentre os estudos efetuados na literatura consultada foi encontrado um único registro quanto
a análise da toxicidade de extratos da carne de espécimes de mariscos, no qual Ferreira et al. (2017)
relata que Anomalocardia flexuosa não apresentou efeitos tóxicos frente A. salina, na reserva
extrativista de Açaú-Goiana Paraíba, coincidindo com os achados obtidos neste estudo. Contudo,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

diferentemente deste trabalho onde a concentração mais elevada investigada foi de 200µg/mL, a
literatura citada utilizou uma concentração máxima de 100µg/mL, sugerindo que em estudos futuros
sejam avaliadas concentrações mais expressivas, conforme embasa Meyer et al. (1982).
Os dados expressos nas Tabelas 3, 4 e 5 revelam diferenças no rendimento da biomassa
total, peso da carne e da concha entre os pontos de coleta, apontando que o ponto 1 cuja influência
antrópica é mais evidenciada, apresentou menor rentabilidade para as variáveis analisadas. Diante
disso, Esteves (1998) argumenta que os efeitos de metais pesados presentes no ecossistema aquático
podem causar alterações no crescimento, reprodução e distribuição das populações de organismos
deste habitat. Boehs et al. (2008) ainda acrescenta que características abióticas como a salinidade e
taxas de precipitação pluviométrica, também devem ser consideradas no bom desenvolvimento de
A. brasiliana.

Tabela 3: Rentabilidade da biomassa total de espécimes (N=30) de Anomalocardia brasiliana coletados da


região estuarina.
Tamanho dos espécimes Peso total em P1 (Croa de Portinho) Peso total em P2 (Croa da Cidade)
Pequeno 32 g 25 g
Médio 116 g 81 g
Grande 156 g 123 g

Tabela 4: Rentabilidade da biomassa mole de espécimes (N=30) de Anomalocardia brasiliana coletados da


região estuarina.
Tamanho dos espécimes Peso da carne em P1 (Croa de Portinho) Peso da carne em P2 (Croa da
Cidade)
Pequeno 3g 1g
Médio 10 g 8g
Grande 15 g 13 g

Tabela 5: Rentabilidade da biomassa seca de espécimes (N=30) de Anomalocardia brasiliana coletados da


região estuarina.
Tamanho dos espécimes Peso da concha em P1 (Croa de Peso da concha em P2 (Croa da
Portinho) Cidade)
Pequeno 22 g 18 g
Médio 78 g 58 g
Grande 103 g 87 g

Neste contexto, comunidades de invertebrados aquáticas podem refletir mudanças em sua


biota provenientes de adaptações às condições ambientais em que estão inseridas, o que resulta na
presença de padrões temporais e espaciais como resultado da habilidade da espécie em lidar com as
mudanças nos fatores físicos e biológicos associados com as principais interações ambientais, tais
como influência da maré, a taxa de exposição, e as características da água e do substrato, conforme
afirma Rodil et al. (2008).
Esta pesquisa configura o primeiro registro na literatura consultada, até o presente momento
para esta espécie na área de estudo analisada.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nesta pesquisa confirmam que o extrato aquoso da carne de


Anomalocardia brasiliana não se mostrou tóxico contra Artemia salina, portanto o seu consumo
não caracteriza risco à saúde da população. As diferenças encontradas na rentabilidade da biomassa
entre os bivalves coletados em P1 e P2, nos parâmetros avaliados, sugerem que o menor rendimento
apresentado em P2 seja devido ao estresse ambiental no ecossistema em estudo, como consequência
de atividades antrópicas no local. Ainda assim, são necessários novos estudos sobre a dinâmica das
variáveis ambientais e sobre a dinâmica populacional desta espécie em um número maior de pontos,
visando ações de manejo apropriadas e eficientes, além da avaliação de ensaios de toxicidade com
concentrações mais expressivas, que possam corroborar ou não esses pressupostos.

AGRADECIMENTOS

As marisqueiras por terem compartilhado conosco os seus conhecimentos sobre a


mariscagem, disponibilizando do seu tempo para nos receber em campo durante a coleta dos
espécimes, as quais mostraram com simplicidade e maestria os saberes adquiridos com a natureza,
por meio da mariscagem no estuário do Rio Paraíba do Norte em Bayeux. Aos professores do
laboratório de farmacognosia, do laboratório de biofísica, Departamento de Histologia e
Embriologia e do Departamento de Antibióticos que disponibilizaram os seus espaços,
oportunizando as análises dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1035


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

USO E CONSEQUÊNCIAS DOS AGROTÓXICOS UTILIZADOS PELOS PEQUENOS


PRODUTORES DE TOMATE DOS MUNICÍPIOS DE FARIAS BRITO E VÁRZEA
ALEGRE, CEARÁ, BRASIL

Pedro Edcarlos Freitas OLIVEIRA


Pós-graduando em Ensino de Biologia e Química URCA
pedroedcarlosbio@gmail.com

Luiz Marivando BARROS


Professor Doutor em Ciências Biológicas URCA
lmarivando@hotmail.com

Antonio Carlito Bezerra dos SANTOS 33


Professor Substituto Mestre em Bioprospecção Molecular URCA
carlito.santos@urca.br

RESUMO
Agrotóxicos são produtos químicos utilizados no combate a pragas que invadem as plantações.
Apesar das opções de cultivos disponíveis no mercado, como a produção orgânica, alguns
agricultores ainda preferem a utilização dos agroquímicos. Pequenos agricultores dos municípios de
Farias Brito e Várzea Alegre optam por investir em um mercado crescente, que é a produção de
tomate e utilizam em suas plantações agrotóxicos, por ser uma forma mais barata de cuidar das
lavouras. Com isso, objetivou-se neste trabalho fazer um diagnóstico dos produtos químicos usados
nessas plantações e os problemas de saúde apresentados pelos trabalhadores. Foram observados 27
tipos diferentes de agroquímicos, todos legalizados no Brasil, porém a maioria com o nível de
toxicidade considerado extremo ou altamente tóxico. Vários trabalhadores apresentaram alguns
sintomas ao manusearem os produtos, desde gasturas à dores de cabeça. Apesar de estarem cientes
dos riscos, os agricultores afirmam que vão continuar com o serviço, pois é uma ótima fonte de
renda familiar.
Palavras-chave: Agrotóxicos; Agricultura; Problemas de Saúde.
ABSTRACT
Agrochemicals are chemicals used in the fight against pests that invade plantations. Despite the
crop options available on the market, such as organic production, some farmers still prefer the use
of agrochemicals. Small farmers in the municipalities of Farias Brito and Varzea Alegre opt to
invest in a growing market, which is the production of tomatoes and use in their plantations
pesticides, because it is a cheaper way of taking care of the crops. The objective of this study was to
make a diagnosis of the chemical products used in these plantations and the health problems
presented by the workers. Twenty-seven different types of agrochemicals were observed, all
legalized in Brazil, but most with the level of toxicity considered extreme or highly toxic. Several
workers had some symptoms when handling the products, from
seasickness to headaches. Although they are aware of the risks, farmers say they will continue with
the service because it is a great source of family income.
Keywords: Agrochemicals; Agriculture; Health problems.

33
Professor orientador.

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INTRODUÇÃO

Desde o último século os avanços tecnológicos do setor agrícola avançaram bastante, com
os produtos transgênicos, e principalmente com a utilização de agrotóxicos nas plantações. Após a
revolução verde, em 1960, os modernos sistemas de produção agrícola tiveram um desenvolvimento
notável, incorporando-se pacotes tecnológicos que visavam a utilização global, pensando-se o
rendimento de cultivos nas mais variadas situações ecológicas, criando assim, formas mais
econômicas e mais rápidas de produção (MATOS, 2011).
O Brasil adotou o consumo de agrotóxicos nas lavouras, e atualmente é um dos maiores
usuários do mundo. De acordo com Melo et al. (2010), nos últimos anos houve um aumento no país
no uso de agrotóxicos, devido ao crescimento das áreas agrícolas para suprir a demanda do aumento
na produção de alimentos. Com esse elevado índice de utilização de produtos químicos, aumenta
também a exposição dos trabalhadores aos riscos de contaminação.
A legislação brasileira define agrotóxicos como produtos ou agentes químicos, físicos ou
biológicos utilizados na produção, armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas,
pastagens, florestas, assim como, outros ecossistemas ou na zona urbana, ambientes hídricos ou
industriais, onde objetiva-se alterar a flora ou fauna, para preservá-los da ação danosa dos seres
vivos considerados nocivos (BRASIL, 1989).
Os agrotóxicos podem ser classificados como: Inseticidas – para combate a insetos;
fungicidas – combater fungos; herbicidas – para combate às ervas daninhas; acaricida – combatem
os ácaros; nematicidas – agem no combate a nemátodes; moluscidas – controlam os moluscos;
raticidas – agem sobre os ratos; e bactericidas – age combatendo as bactérias (DUARTE, 2004).
Alguns agricultores das cidades de Farias Brito e Várzea Alegre no Ceará, começam a
investir na produção de tomate, um mercado que vem crescendo cada vez mais no país. O tomate é
um fruto de fácil manuseio, e pode ser plantado em qualquer época do ano, desde que tenha água
suficiente para o cultivo. Estes trabalhadores ficam expostos a riscos pelo uso dos agrotóxicos,
podendo causar graves danos à sua saúde. Apesar dos riscos, os produtores continuam no trabalho,
visto que por ser um produto de fácil comercialização e consequentemente gera mais trabalho para
os agricultores locais.
Nesse sentido, neste trabalho objetivou-se fazer um levantamento dos agrotóxicos utilizados
nas plantações de tomate na cidade de Farias Brito e Várzea Alegre, interior do Ceará, assim como,
verificar os possíveis sintomas apresentados pelos trabalhadores ao manusear os produtos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa em campo.
A pesquisa bibliográfica foi realizada analisando leis federais, reportagens publicadas em sites,
artigos e livros sobre os assuntos relacionados ao tema, e em órgãos responsáveis pela liberação e
fiscalização dos produtos (ANVISA e EMBRAPA). Foram analisados livros e artigos disponíveis
nos portais Scielo, WorldCat, CGSpace e Embrapa.
A pesquisa de campo foi realizada no período de fevereiro a julho do 2017. Inicialmente
foi realizado um levantamento dos produtores de tomate das cidades de Farias Brito e Várzea
Alegre. Em seguida, foi solicitado a cada produtor autorização para observar como se dá o trabalho
nas lavouras. Foram observadas oito lavouras, sendo cinco no município de Farias Brito e três em
Várzea Alegre. Em algumas lavouras tinham mais de um dono, trabalhando em sociedade,
totalizando assim, 13 produtores. Foram entrevistados 71 trabalhadores rurais, incluindo os donos
das lavouras que também participam do trabalho. Os funcionários são moradores locais que são
contratados na forma de diária quando necessário.
Após ser lido e entregue o Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE para
assinatura dos entrevistados, para realização da entrevista semi-estruturada, os trabalhadores foram
separados em grupos e responderam as perguntas. No primeiro grupo ficaram os trabalhadores que
não tem contato direto com os agrotóxicos, no segundo ficaram os homens responsáveis pela
pulverização. Nesse segundo grupo estavam também incluídos os donos das lavouras, que sabem
como manipular os produtos a serem utilizados. A entrevista se deu durante o período de almoço,
individualmente, onde as perguntas foram feitas a cada um dos trabalhadores (Quadro 1).

Quadro1: Formulário utilizado durante a entrevista com trabalhadores rurais dos municípios de Farias Brito e
Várzea Alegre, Ceará, Brasil.
Pergunta 1: Qual seu nome (opcional), idade, sexo e nível de escolaridade?
Pergunta 2: Quais os agrotóxicos utilizados na plantação?
Pergunta 3: Quantas horas por dia você trabalha na lavoura?
Pergunta 4: Qual sua função na lavoura?
Pergunta 5: Como é feita a pulverização?
Pergunta 6: Já sentiu algum problema ao manipular os agrotóxicos? Quais?
Pergunta 7: O que é feito com as embalagens vazias dos agrotóxicos?

Além da entrevista, foi possível acompanhar o processo de cultivo do tomate. Durante seis
meses, observou-se como se dá a plantação e adubagem do tomate, e durante o período de
pulverização foi possível verificar como é o processo na plantação. Verificou-se os cuidados

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tomados pelos trabalhadores e a forma como são descartadas as embalagens dos agrotóxicos quando
esvaziadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a análise dos dados obtidos, foi possível verificar as condições de trabalho que os
tomateiros estão expostos e os riscos pelo uso de agrotóxicos. Dos entrevistados, constatou-se que
35,2% não concluíram o ensino fundamental, 29,6% concluíram o fundamental, mas não
ingressaram no ensino médio, 26,7% concluíram o segundo grau e 8,4% são analfabetos. Esses
dados corroboram com Alves et al. (2008), onde verificaram as condições de trabalho associadas ao
uso de agrotóxicos na cultura de tomate de mesa e observaram que nível de pessoas que não
concluíram o ensino fundamental é muito elevado (71,1%) e que apenas 5,2% concluíram o 2° grau.
Dos 71 trabalhadores entrevistados, todos são do sexo masculino, com idades que variam de
18 até 80 anos, sendo 39,5% com menos de 30 anos e 15,5 % com mais de 50 anos de idade. Um
dos trabalhadores tinha 80 anos, ao ser perguntado por que ainda trabalha, ele respondeu que era
apenas por prazer. A média das idades apresentadas ficou em 34 anos. Nenhum dos trabalhadores
exercem sua função de forma contratual, ou de carteira assinada, apenas alugam sua mão-de-obra,
ganhando por dia de serviço, desempenhando suas funções de acordo com o que será necessário,
que vão desde o plantio, pulverização, até colheita e venda dos tomates, trabalhando de oito a dez
horas por dia. Incluindo os donos das lavouras, alguns trabalhadores estão nesse mercado a mais de
dez anos, enquanto outros estão em média há 5 anos.
Um problema apresentado na produção de tomate é o alto índice de agrotóxicos utilizados.
Mesmo quando se tem a oportunidade de se trabalhar com produtos orgânicos e sem depender de
agroquímicos, os agricultores optam pela segunda opção, sendo essa muito mais barata, além de
deixar os frutos mais qualitativos visualmente. Quando escolhem trabalhar com agrotóxicos os
trabalhadores das lavouras estão cientes dos riscos que ficam expostos, no entanto preferem os
resultados econômicos do produto.
A produção de tomate geralmente envolve a utilização de agrotóxicos para combate de
pragas, o que não seria o ideal a não ser em casos de emergências, como se observou no trabalho de
Naika et al. (2006), quando afirmou que:

Praticamente todas as pragas e doenças podem ser controladas de forma adequada através
da aplicação de pesticidas químicos sintéticos. Contudo, a maior parte dos pesticidas são
dispendiosos e, às vezes, muito prejudiciais para os seres humanos e o meio-ambiente, de
forma que o seu uso deverá limitar-se a casos de emergência. Além disso, há algumas
pragas que desenvolveram uma resistência a certos pesticidas. Por conseguinte,
recomendam-se estratégias de Manejo Integrado de Pragas (MIP) que combinam o uso de
variedades resistentes, práticas apropriadas de cultivo e uma aplicação sensata de
pesticidas.

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O problema da utilização dos agrotóxicos é o custo benefício, que segundo a maioria dos
agricultores entrevistados essa técnica se tornaria mais viável em vez de investir em uma produção
orgânica que se tornaria muito mais caro. Isso demonstra um retrocesso, que de acordo com
Rodrigues et al. (2009), a produção orgânica apresenta um crescimento elevado com cerca de 30%
no mercado, crescimento esse que não significa somente evolução, mas o fortalecimento de um
mercado promissor para os produtores, assim como, para o varejo.
Durante a etapa de observação verificou-se a utilização de diversos agrotóxicos na plantação
do tomate (Tabela 1), assim como, suas características toxicológicas. Os proprietários das
plantações são os responsáveis pela dosagem colocada nos pulverizadores costais. Em algumas
plantações, os próprios donos ajudam aos operários na pulverização. Muitos produtores optaram por
realizar o processo de pulverização na madrugada, que de acordo com eles, durante o dia a
intensidade dos ventos faz com que dificulte a aplicação dos venenos.

AGROTÓXICO INGREDIENTE ATIVO GRUPO ALVO TOXICIDADE


Abamex Abamectina 18 g/L Acaricida, inseticida Extrema
Cartap Cloridrato de cartap 500 g/Kg Fungicida, inseticida Extrema
Curyon Lufenuron 50 g/L Inseticida, fungicida Extrema
Profenofós 500 g/L
Decis Deltametrina 25 g/L Inseticida Extrema
Gramoxone Paraquate 200 g/L Herbicida Extrema
Keshet Deltametrina 25 g/L Inseticida Extrema
Lannate Metamil 215 g/L Inseticida Extrema
Manzate Mancozeb 800 g/Kg Fungicida Extrema
Ridomil Gold Metalaxyl – M 40 g/L Fungicida Extrema
Score Difenocanazole 250 g/L Fungicida Extrema
Tiger Piriproxifrem 100 g/L Inseticida Extrema
Ampligo Clorantraniliprole 100 g/L Inseticida Alta
Lambda-cialotrina 50g/L
Certero Triflumuran 480 g/L Inseticida Alta
Connect Beta-cyflutrin 12,5g/L Inseticida Alta
Imidacloprido 100g/L
Dacobre Clorotalonil 250 g/Kg Fungicida Alta
Oxicloreto de cobre 504 g/Kg
Dicarzol Cloridrato de formetanato 582 g/Kg Acaricida, inseticida Alta
Regent Fipronil 800 g/Kg Inseticida Alta
Actara Thiamethoxan 250 g/Kg Inseticida Média
Amistar Top Azoxystrobin 200g/ Fungicida Média
Difenoconazale 125 g/L
Cabrio Top Metiran 550 g/Kg Fungicida Média
Piraclostrobina 50 g/Kg
Cefanol Acefato 750 g/Kg Acaricida, inseticida Média
Fusilade Fluazifop-p-butil 250 g/L Herbicida Média
Manfil Mancozeb 800 g/Kg Acaricida, fungicida Média
Oberon Espiromesifeno 240 g/L Inseticida, acaricida Média
Pirate Chlorfenapyr 240 g/L Acaricida, inseticida Média
Virmitec Abamectina 18 g/L Nematicida, acaricida Média
Match Lufenuron 50 g/L Inseticida Pouca
Tabela 1: Tipos de agrotóxicos utilizados nas lavouras dos municípios de Farias Brito e Várzea Alegre no
Ceará, seguidos dos ingredientes ativos, seu grupo alvo e sua classificação toxicológica. Fonte:
www.agrolink.com.br/

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Foram analisados 27 tipos de agrotóxicos, todos avaliados de acordo com o ingrediente ativo
e verificada sua legalidade pela ANVISA. Nenhuma irregularidade quanto ao tipo de agroquímico
utilizado foi observada durante a pesquisa, pois todos estavam devidamente registrados e de livre
comércio no Brasil.
Os agrotóxicos mais utilizados segundo os produtores eram o Decis, Certero e Curyon.
Todos os agrotóxicos analisados obedecem às normas da lei, no entanto o que é possível observar
em seu nível de toxicidade, é que a maioria é extremamente tóxico ou altamente toxico, seguindo as
normas de classificação quanto a toxicidade estabelecida pela ANVISA, mostrando que os produtos
expõem os trabalhadores à grandes riscos que comprometem sua saúde.
Os efeitos dos agrotóxicos são bastante severos, afetando o meio ambiente, inclusive o
homem, que faz parte desse meio. Para Ribas & Matsumura (2009), em seu trabalho sobre a
química dos agrotóxicos, os efeitos sobre a saúde humana provocam mais de 20 mil mortes por ano
(não intencionalmente), com diferentes tipos de intoxicações, podendo provocar abortos, dermatose,
câncer e outras doenças.
Foram avaliadas 28 pessoas que participavam da pulverização e todos afirmaram utilizar os
equipamentos de proteção necessários, porém apresentam alguns sintomas durante a aplicação dos
venenos, onde 96,4% afirmaram sentir dor de cabeça, 42,9% afirmaram sentir gastura e dor de
cabeça, enquanto 39,2% reclamaram de sentir, além de dor de cabeça e gastura, uma certa
queimação no corpo e apenas 3,5% relataram não sentir nenhum problema durante o trabalho
realizado. Dos trabalhadores que relataram sentir queimação no corpo, falaram que sentiam ao
manusear o agrotóxico Decis, que apresenta em sua fórmula, o princípio ativo Deltametrina 25 g/L,
e um segundo agrotóxico conhecido como Curyon, que tem na fórmula o Lifenuron 50 g/L e
Profenofós 500 g/L, todos considerados extremamente tóxicos. Os outros sintomas apresentados
ocorriam com alguns dos demais agrotóxicos.
Os demais trabalhadores que não tem contato direto com o uso de agrotóxicos, seja na
dosagem ou pulverização. Segundo eles, acreditam que ainda estão expostos a riscos, pois demoram
menos de dois dias para entrar na lavoura após a pulverização. Cerca de 23% relataram sentir um
certo desconforto, mal-estar, após terem contato com a lavoura depois de ser aplicado os
agrotóxicos. Os 77% restantes afirmaram não sentirem nada, mas ficam preocupados com a
situação, segundo eles, é muito veneno utilizado e não há como não ter efeitos sobre o ser humano,
porém, continuam trabalhando, pois é uma boa fonte de renda para suas famílias.
De acordo com a legislação brasileira, os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins
devem devolver as embalagens onde foram comprados os produtos, obedecendo às recomendações
estabelecidas nas bulas, em no máximo um ano a partir da compra. Se for autorizado pelo órgão

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competente, pode ultrapassar esse período e as devoluções podem ser feitas por postos
intermediários, desde que sejam autorizados e fiscalizados pelos responsáveis (BRASIL, 2000).
De todos os produtores pesquisados, apenas um afirmou que raramente devolve as
embalagens vazias e os demais afirmaram que guardavam para devolvê-las depois, mas nem sempre
lembrava de devolver no prazo determinado pela lei. Outro fato em relação às embalagens, é que os
consumidores afirmam guardá-las em armazéns nas suas casas, juntamente com outros materiais
utilizados na lavoura, como adubos fertilizantes. A forma inadequada como são guardadas põe em
risco cada vez mais a saúde dos tomateiros. Durante a pesquisa não foi observado à presença de
fiscais ou representantes de órgãos responsáveis na localidade para fiscalização do trabalho ou para
dar as devidas instruções de trabalho com os produtos.
Um problema verificado quanto as embalagens a seres devolvidas é a forma como são
lavadas para devolução. Dos 13 produtores avaliados, todos lavavam as embalagens normalmente,
porém, a água utilizada era jogada no solo, podendo assim, entrar em contato com o lençol freático.
De acordo com Silva & Fay (2004), o solo está sujeito a entrada de substâncias potencialmente
tóxicas, considerando-se os produtos de descarte de resíduos industriais, domésticos e outros
materiais que são abandonados indiscriminadamente sobre ele. Foi observado também que, quando
há sobras de agrotóxicos nos pulverizadores, 67,9% dos trabalhadores continuavam repassando até
secarem as máquinas, enquanto os outros 32,1% guardavam os produtos para serem utilizados em
uma nova pulverização.
Segundo Naika et al. (2006), o tomate se desenvolve bem de acordo com a qualidade do
solo, com capacidade de retenção de água, arejamento e isentos de salinidade, preferindo solo
franco-arenosos profundos e bem drenados. Culturas saudáveis se desenvolvem bem em solos com
15 a 20 cm de espessura. Em caso de solos argilosos, a lavoura profunda favorece uma melhor
penetração das raízes. Com solos desse tipo, a penetração nos agrotóxicos ocorre com maior
facilidade, podendo se fixar melhor e entrar em contato com as aguas superficiais e subterrâneas.
As lavouras das duas cidades apresentavam padrões semelhantes, sendo que das cinco
plantações de Farias Brito, duas ficavam próximos a reservatórios de água das comunidades,
enquanto das três de Várzea Alegre, apenas uma apresentava essa mesma característica, o que pode
ser um risco grave à saúde humana.
Quando perguntados se não tinham medo de usarem aquela água, alguns moradores locais
afirmaram que sim, mas, só tinham aquele reservatório, não havia o que fazer. Já outros afirmaram
que não havia problema algum, segundo eles, a plantação fica longe o suficiente para não
contaminar a água. No entanto, não é o que se encontra na literatura, pois para Silva & Fay (2004),
o uso intensivo de agrotóxicos se dá pelos sistemas de produção intensivo, com isso aumentam os
níveis de nitrato, fosfato e as concentrações residuais dos agrotóxicos ou seus metabolitos,

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decorrentes do processo de biodegradação do solo, podendo comprometer a qualidade das águas


superficiais e subterrâneas.
Os pequenos agricultores estão crescendo nesse mercado, mesmo sob tantos riscos,
encontram no produto uma forma de ganhar a vida. De acordo com Naika et al. (2006), o tomate é
fonte de vitaminas, produto comercial para pequenos agricultores e agricultores de média escala,
sendo uma das culturas mais comercializadas no mundo. Como se trata de uma cultura com um
ciclo relativamente curto e de altos rendimentos, a cultura do tomate tem boas perspectivas
econômicas e a área cultivada está a aumentar cada dia.
De acordo com os donos das lavouras, a produção anual varia um pouco, conforme a
quantidade das chuvas, pois se for uma boa época, podem plantar mais pés de tomate, ou se houver
pouca água, a quantidade tende a reduzir. Quando plantados apenas uma vez no ano, os
proprietários afirmaram colher de 2000 até 3000 caixas em média. Outros afirmaram que em anos
anteriores chegaram a colher até 5000 caixas, quando foi possível plantar mais de uma vez no ano.
Dos 13 produtores avaliados, oito afirmaram que não será possível fazer um novo plantio no mesmo
ano, devido à baixa quantidade de chuvas, já os demais (cinco) confirmaram um novo plantio, dois
desses em uma outra área com maior reservatório de água.

CONCLUSÃO

Concluiu-se nesse trabalho que os agricultores de Farias Brito e Várzea Alegre encontraram
no tomate uma oportunidade inovadora no mercado agrícola para aumentar sua renda. Com o
produto em alta é possível adquirir uma boa renda para os produtores, assim como, para os
trabalhadores da lavoura.
Muitos agricultores apresentaram problemas relacionados à saúde quando manusearam os
agrotóxicos, problemas esses que vão desde gastura até queimação no corpo e dores de cabeça, ao
trabalharem principalmente com as marcas Decis e Curyon. Apesar desses problemas, nunca
procuraram orientação médica e não pretendem abandonar o serviço, pois é um produto muito bem
recebido no comercio.
Em pleno século XXI, com os avanços tecnológicos, não se observa muitos investimentos
para combater a utilização dos agrotóxicos, pelo contrário, investe-se em meios de facilitar as
pulverizações e os agricultores apesar de estarem cientes dos riscos, defendem a utilização do
produto
O uso intensivo de agrotóxicos causa prejuízos para o ser humano em escala mundial e
apesar de práticas políticas nacionais para o combate a esses produtos, o uso não diminui. Políticas
de conscientização são realizadas, porém os defensores afirmam que os benefícios trazidos pelo uso
de agrotóxicos são maiores que os malefícios.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1045


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ESTUDO TOXICOLÓGICO DE FOLHAS DE


Piptadenia stipulacea (BENTH.) DUCKE

Renatha Claudia Barros Sobreira de AGUIAR


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE
renathasobreira@gmail.com
Yhasminie Karine da SILVA
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE
yhasminiekarine73@gmail.com
Nabuêr Francieli da SILVA
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia - UFPE
nabuerfrancieli@gmail.com
Ivone Antonia de SOUZA
Profª. Drª Departamento de Antibióticos, CB - UFPE, Recife
idesouza5@gmail.com

RESUMO
O uso de espécies medicinais para o tratamento de diversas enfermidades data desde registros bem
antigos, acompanhando o desenvolvimento das civilizações. Diante do exposto, o referido trabalho
objetivou apresentar a importância da utilização das plantas medicinais como instrumento de
Educação Ambiental e, como tratamento alternativo na assistência terapêutica da população,
avaliando o potencial toxicológico de extratos etanólicos das folhas da espécie medicinal
Piptadenia stipulacea, comumente utilizada na medicina popular para o tratamento de diferentes
males, frente Artemia salina. Os resultados dos ensaios demonstraram que os extratos etanólicos de
P. stipulacea possuem baixa toxicidade. Os dados obtidos com o estudo também reforçam a
necessidade de propostas de educação ambiental para o manejo sustentável desta espécie, devido a
sua potencial importância na saúde pública como opção médico-terapêutica.
Palavras chave: Educação Ambiental, Piptadenia stipulacea, toxicidade.
ABSTRACT
The medicinal species use for treatment of various diseases dates from very ancient records,
accompanying civilization's development. In view of the above, the objective of this study was to
present the importance of medicinal plants usage as an instrument of environmental education and,
as an alternative of population's therapeutic care treatment, evaluating the toxicological potential of
ethanolic extracts of leaves from medicinal species Piptadenia stipulacea, commonly used in
popular medicine for treatment of different diseases. The results demonstrated that ethanolic
extracts of P. stipulacea have low toxicity. The data obtained from the study also reinforce the need
for environmental education proposals for the sustainable management of these species, due to its
potential importance in public health as a medical therapeutical option.
Keywords: Environmental Education, Piptadenia stipulacea, toxicity.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental está inserida em todos os setores da sociedade, no revelar do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comprometimento mantenedor dos seus defensores diante da problemática ambiental e social. A


crise econômica, por sua vez, com o alto preço dos medicamentos industrializados, e o difícil acesso
da população à assistência médica e farmacêutica tem estimulado a utilização das plantas
medicinais como meio alternativo aos medicamentos alopáticos (FAVILA & HOPPE, 2011).
No cenário medicinal são utilizadas diversas ervas como fitoterápicos, no entanto, pouco se
sabe a respeito do potencial toxicológico dessas plantas (PEREIRA et al., 2012). O amplo
conhecimento sobre as plantas usadas pelas comunidades dar-se através da propagação do
conhecimento tradicional compartilhado entre os membros da uma mesma família (SILVA et al,
2014), ou seja, um conhecimento sem fundamento científico fazendo-se necessário um estudo mais
aprofundado.
Piptadenia stipulacea pertencente à família Fabaceae e à subfamília Mimosoideae, sendo
uma espécie arbórea de pequeno porte, nativa da Caatinga, amplamente distribuída na região
Nordeste do Brasil; é de grande interesse comercial, econômico e ambiental para a região pelas suas
características de uso múltiplo (MAIA, 2004). A espécie é conhecida popularmente por jurema
branca (FABRICANTE; ANDRADE, 2007) e carcará (FLORENTINO; ARAÚJO;
ALBUQUERQUE, 2007), sendo utilizada em marcenaria, construção civil, produção de estacas,
lenha, carvão e principalmente na medicina caseira, em tratamentos de queimaduras e problemas de
pele. A espécie possui potencial antimicrobiano, analgésico, regenerador de células, antitérmico e
adstringente peitoral (MAIA, 2004). Em testes para avaliar o seu elevado potencial biológico, a
folha de P. stipulacea apresentou atividade antimicrobiana contra cepas da bactéria Klebsiella
pneumoniae multiresistentes (SOARES et al., 2006).
No entanto, plantas utilizadas como medicamentos são xenobióticos, e como todo corpo
estranho, os produtos de sua biotransformação são potencialmente tóxicos até que se prove o
contrário. Ensaios farmacológicos para determinar a toxicidade dessas substâncias presentes nos
vegetais são fundamentais para assegurar a sua utilização reduzindo os riscos à saúde.
Artemia salina é uma espécie de micro crustáceo da ordem Anostraca, muito utilizada como
bioindicador em ensaios de laboratório, em função da sua facilidade de manipulação e do seu baixo
custo econômico (CALOW, 1993) e por ter demonstrado boa correlação com várias atividades
biológicas (Meyer et al., 1982). Estudos recentes comprovam a ação tóxica de várias substâncias
naturais nestes pequenos animais (RIOS, 1995; NASCIMENTO et al., 2008), tais como: atividade
antitumoral (MCLAUGHLIN, 1991; MCLAUGHLIN et al., 1991, 1993), atividade contra o
Trypanosoma cruzi (DOLABELA, 1997), atividade antibacteriana (BRASILEIRO et al., 2006;
NIÑO et al., 2006; MAGALHÃES et al., 2007) e antifúngica (NIÑO et al., 2006; MAGALHÃES et
al., 2007). Desta forma, este micro crustáceo tem sido utilizado em ensaios de toxicidade
desenvolvidos para determinar a condição letal, de compostos bioativos em extratos vegetais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(MEYER et al., 1982). Normalmente os testes de toxicidade são elaborados com objetivo de avaliar
ou prever os efeitos tóxicos em sistemas biológicos e dimensionar a toxicidade relativa das
substâncias (FORBES & FORBES, 1994). Em geral, extratos com alta toxicidade para A. salina
(CL50 < 200 µg mL-1) apresentam alto potencial para estas atividades.
Considerando-se a importância da Educação Ambiental nos processos de mudança de
comportamento da humanidade, reconhece-se como a ferramenta mais eficiente para a
conscientização ambiental e consequentemente a mudança de postura do ser humano frente ao
ambiente. Nesse sentido, a utilização de plantas medicinais pela comunidade, apresenta-se como
mais um campo de atuação da Educação Ambiental, tendo vistas a preservação das espécies por
intermédio do seu manejo sustentável pelas comunidades tradicionais, a reaproximação do ser
humano da natureza e a conservação do conhecimento popular transmitido por meio dos tempos,
(FAVILA & HOPPE, 2011).
Pelo exposto, o objetivo geral desse trabalho é promover a conscientização, através da
educação ambiental, sobre o uso indiscriminado de plantas medicinais como alternativas de
tratamento, investigando o seu potencial toxicológico.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho experimental foi desenvolvido no Laboratório de Toxicologia e Cancerologia


Experimental do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco.
A metodologia utilizada para os ensaios de toxicidade utilizando Artemia salina foi baseada
em Meyer et al. (1982), utilizando-se o extrato etanólico das folhas de Piptadenia stipulacea.

O MATERIAL BOTÂNICO/ EXTRATO ETANÓLICO

Folhas de P. Stipulacea foram utilizadas como material botânico no ensaio realizado no


referido estudo. A obtenção do extrato etanólico produzido a partir do referido espécime, deu-se
através de uma doação do laboratório de toxicologia e cancerologia experimental do departamento
de antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco.

DETERMINAÇÃO DA CL50 COM Artemia salina L.

Foram utilizadas as larvas na forma de metanáuplio, utilizando-se a Concentração Letal


Média (CL50) como parâmetro de avaliação da atividade biológica (MEYER, 1982). Para a
obtenção dos metanáuplios, cistos de A. salina foram incubados em um recipiente contendo 500 mL
de solução de água do mar. O recipiente foi colocado dentro de uma incubadora iluminada por uma
lâmpada fluorescente, no qual foram adicionados 0,2 mg de cistos de Artemia salina, mantendo a
água em aeração constante, com auxilio de um compressor de aeração para aquário. A incubação foi

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

feita durante o período de 48 horas.


Após o período de incubação, os organismos-testes (metanáuplios Artemia salina) foram
expostos às diferentes concentrações (50, 100, 250, 500, 750 e 1000 µg/mL) do extrato etanólico
das folhas de P. stipulacea por 24 horas, utilizando-se tubos de ensaio, cada um contendo 10
metanáuplios de Artemia salina, previamente selecionados. Os testes foram feitos em triplicata para
cada concentração. Um grupo controle foi preparado contendo apenas os metanáuplios em água do
mar.
O conjunto permaneceu em incubação sob luz artificial por 24 h e então foi realizada a
contagem do número de metanáuplios vivos e mortos para determinação da CL50 de acordo com o
método estatístico de Probitos, utilizando o programa Microcal Origin 4.1.9. Foram considerados
vivos todos aqueles animais que apresentaram qualquer tipo de movimento quando observados
próximos a uma fonte luminosa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com os resultados obtidos do ensaio de toxicidade do extrato etanólico de Piptadenia


stipulacea foi possível observar que à medida que as concentrações dos extratos aumentavam, havia
aumento da taxa de mortalidade dos metanáuplios (Figura 1). Para as concentrações de 50µg/mL,
100µg/mL e 250µg/mL do extrato etanólico, a taxa de mortalidade observada foi de 10 a 20%.
Enquanto que para as concentrações de 500µg/mL, 750µg/mL e 1000µg/mL a taxa de mortalidade
foi superior a 50%.

100,0
90,0
y = -0,08x + 91,43
% Metanáuplios Vivos

80,0 R² = 0,98
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0 1000,0 1200,0
Concentração dos extratos (µg/mL)

Figura 1: Curva Concentração-Resposta da toxicidade do extrato etanólico de Piptadenia stipulacea frente


Artemia salina.

Meyer et al. (1982) estabeleceram uma relação entre o grau de toxicidade e a dose letal
média, CL50, apresentada por extratos de plantas sobre larvas de A. salina, desde então, considera-se
que quando são verificados valores acima 1000 μg mL-1, estes, são considerados atóxicos. Sendo
assim, P. stipulacea pode ser considerada com baixo potencial toxicológico em concentrações de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

50µg/mL, 100µg/mL e 250µg/mL. Ainda conforme Meyer e colaboradores (1982), avaliação


toxicológica de extratos vegetais sobre Artemia salina que apresentam resultados de CL50 menores
que 1000 μg mL-1 como os aqui obtidos devem ser considerados bioativos, indicando desta maneira
o potencial bioativo da espécie medicinal em estudo, ao mesmo tempo que incentiva o seu manejo
sustentável por parte das comunidades que dela fazem uso na medicina tradicional.
O uso de bioensaios, como o de A. salina, para o monitoramento de bioatividade em
extratos, frações ou compostos isolados de plantas medicinais, tem sido cada vez mais frequente em
pesquisas fitoquímicas (NOLDIN; FILHO, 2003). Somando-se a isso, temos a simplicidade, rapidez
e baixo custo deste método favorecendo a sua utilização em diversos estudos.
Estudos preliminares de ensaios de toxicidade, são extremamente importantes, pois
funcionam como uma ótima ferramenta em pesquisas com plantas medicinais, devido a diminuição
do uso de animais vertebrados na experimentação, o que vem sendo uma preocupação dos Comitês
de ética em experimentação animal (BEDNARCZUK et al., 2010).
O potencial tóxico observado nos extratos de P. Stipulacea mostram a importância de
estudos químicos posteriores para esta espécie, uma vez que esta pesquisa é a primeira registrada na
literatura consultada, até o presente momento.

CONCLUSÕES

Os resultados demonstraram que o extrato etanólico de P. stipulaceae não foi tóxico nos
ensaios frente Artemia salina.
O grande uso de medicamentos à base de plantas medicinais e o próprio conhecimento
popular trazem consigo a necessidade de pesquisas para o esclarecimento e confirmação de
informações sobre as ações das plantas, visando à minimização de efeitos colaterais e toxicológicos,
haja vista esse uso deve ser confiável e seguro. Com isso, o estudo demonstrou que as plantas
medicinais são de grande importância e muitas das vezes a única alternativa para a população, pois
está inserida no dia-a-dia da comunidade.
Dessa forma, as pesquisas e trabalhos em educação ambiental que envolvam os saberes
relacionados às plantas medicinais têm a possibilidade de promover religações significativas e
desencadear transformações socioambientais mais efetivas, como o seu manejo sustentável,
estabelecendo uma relação racional entre o uso de plantas e a cura de doenças.
A utilização de extratos vegetais com fins terapêuticos pela população deixa sugestivas
opções para trabalhos futuros que visem o encontro de nova atividade farmacológica.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1052


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE DE RISCO À POLUIÇÃO DE FONTES HÍDRICAS POR


HIDROCARBONETOS EM JOÃO PESSOA ESTADO DA PARAÍBA - BRASIL

Ícaro de França ALBUQUERQUE


Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
icaro_ufpb@hotmail.com
Samara Gonçalves Fernandes da COSTA
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
samaragfc@gmail.com
Samir Gonçalves Fernandes COSTA
Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental - UFPB
samir-gfcost@hotmail.com

RESUMO
A poluição hídrica nas zonas urbanas trata-se de um problema ambiental preocupante,
principalmente quando se trata de aquíferos destinados a abastecimento público. Os postos de
combustíveis são uma das fontes de poluição dos recursos hídricos subterrâneos no Brasil. Diante
disso, o presente trabalho tem por objetivo mapear e analisar os postos de combustíveis passíveis de
poluir aquíferos por hidrocarbonetos em bairros do município de João Pessoa por meio da
elaboração de um mapa de correlação entre o grau de risco de poluição dos aquíferos com os
empreendimentos de potencial poluidor e correlacionar ao mapa de susceptibilidade a poluição dos
aquíferos livres no município elaborado por Menezes (2007), com base no modelo DRASTIC. Para
tanto, selecionou-se uma porção do município de forma a abranger todos os graus de
susceptibilidade, totalizando 8 bairros e uma área de 10,44 km². Como resultado, verificou-se que
43,75% dos postos de combustíveis apresentaram suscetibilidade muito elevada o que representa
30% da área total estudada; 37,5% encontram-se em área de moderada suscetibilidade e 18,75% dos
postos estão em uma região de baixa suscetibilidade. A classe elevada que compreende uma área de
15 % não apresentou nenhum posto instalado.
Palavras-chaves: água subterrânea, suscetibilidade, posto de combustível.
ABSTRACT
Water pollution in urban areas is a worrying environmental problem, especially when it comes to
aquifers for public supply. Fuel stations are one of the sources of contamination of groundwater
resources in Brazil. Therefore, the present work has the objective of mapping and analyzing the fuel
stations susceptible to groundwater contamination by hydrocarbons in neighborhoods of the
municipality of João Pessoa by means of the elaboration of a correlation map between the degree of
risk of contamination of the aquifers with the enterprises of potential polluter and correlate to the
pollution susceptibility map of free aquifers in the municipality prepared by Menezes (2007), based
on the DRASTIC model. For this purpose, a portion of the municipality was selected in order to
cover all degrees of susceptibility, totaling 8 neighborhoods and an area of 10.44 km². As a result, it
was verified that 43.75% of the fuel stations presented very high vulnerability, representing 30% of
the total area studied; 37.5% of the fuel stations are in an area of moderate vulnerability and 18.75%
of the stations are in a region of low vulnerability. The high class comprising an area of 15% did not
present any installed gas station.
Keywords: groundwater, susceptibility, fuel station.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A exploração excessiva dos recursos hídricos, a ocupação e uso irregular do solo e a


carência de mecanismos normativos legais põem em risco os aquíferos, principalmente, urbanos
propensos à contaminação devido ao aumento da concentração de atividades potencialmente
poluidoras que podem comprometer a sua qualidade e quantidade (TOSCANO e SILVA, 2012).
Os postos de combustíveis representam um risco ambiental por se tratarem de fontes
associados a vazamentos de gasolina, principalmente nas zonas urbanas das cidades. O contato do
combustível com o meio ambiente pode ocorrer por derramamentos durante a operação de
transferência do produto para o tanque; vazamentos no sistema devido à corrosão; falhas estruturais
do tanque ou da tubulação conectada ao tanque; ou mesmo por sua instalação inadequada
(ALMEIDA et al, 2007).
Segundo Chen et al (2015), os principais tipos de contaminantes presentes na gasolina são
os hidrocarbonetos aromáticos, dentre os quais se destacam benzeno, tolueno e xilenos (BTXs) que
são considerados tóxicos à saúde humana e apresentam toxicidade crônica mesmo em pequenas
concentrações, podendo levar a lesões do sistema nervoso central, ainda está relacionado
diretamente ao risco de câncer.
Uma das principais preocupações dos problemas envolvendo esses empreendimentos é a
contaminação de aquíferos que sejam usados como fonte de abastecimento de água para consumo
humano (CORSEUIL e MARINS,1998). Para que se possa ter um controle sobre o uso das águas
subterrâneas, evitando-se sua contaminação, torna-se necessário conhecer sua qualidade e sua
suscetibilidade bem como a espacialização das atividades passíveis de contaminação.
O município de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, são poucos os estudos sobre a
influência e o risco dos aquíferos à contaminação por hidrocarbonetos, provenientes dos postos de
combustíveis existentes. O presente trabalho tem por objetivo mapear e analisar os postos de
combustíveis em alguns bairros do município de João Pessoa/PB, os quais tornam águas
subterrâneas passíveis de contaminação das por hidrocarbonetos, correlacionando-os com o mapa
de suscetibilidade a poluição de aquíferos livres elaborado por Menezes (2007) com base no modelo
DRASTIC.

MATERIAIS E MÉTODOS

A cidade de João Pessoa está inserida no município de João Pessoa, capital do Estado da
Paraíba, porção extrema oriental do continente americano, entre as latitudes 7º14‘ e 7º03‘ Sul e
longitude 34º58‘ e 34º47‘ Oeste (Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1054


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1 – Localização da cidade de João Pessoa, Paraíba.

Segundo Menezes (2007), João Pessoa insere-se na bacia sedimentar Pernambuco-Paraíba,


que se distribui ao longo da faixa litorânea do Estado da Paraíba e de parte do Estado de
Pernambuco. A sequência litoestratigráfica da base para o topo, na área de estudo é caracterizada
pelos depósitos do Grupo Paraíba, pela Formação Barreiras e pelos depósitos Quaternários. A
formação Barreiras e os depósitos Quaternários se apresentam nas camadas menos profundas do
subsolo em que os aquíferos dos sedimentos de praia e aluviões encontram-se localizados
sobrepostos ao aquífero da Formação Barreiras. Por se tratar de aquíferos mais superficiais, estes
estão mais expostos as atividades antrópicas (BATISTA et al, 2011).
A delimitação da área foi realizada utilizando o mapa de susceptibilidade à poluição dos
aquíferos livres superiores do município de João Pessoa que foi desenvolvido por Menezes (2007)
utilizando o modelo DRASTIC (Figura 2).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 - Mapa de susceptibilidade dos aquíferos livres no município de


João Pessoa, baseado no modelo DRASTIC.

Posteriormente, selecionou-se uma porção do município de forma a abranger todos os graus


de suscetibilidade do mapa, englobando os bairros Brisamar, Castelo Branco, Expedicionários,
Manaíra, Miramar, São Jose, Tambaú e Tambauzinho, totalizando uma área de 10,44 km² (Figura
3).

Figura 3 - Mapa localização da área de estudo contendo os bairros inseridos na área de estudo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A análise espacial dos dados foi feita através de um Sistema de Informação Geográfica
(SIG) que permitiu o armazenamento, o processamento e a análise dos dados. O software escolhido
para o desenvolvimento do trabalho foi o ArcGis 10.3®.
Os dados referentes a localização dos postos de combustíveis nos bairros estudados foram
obtidos no Sistema Municipal de Orientação e Defesa do Consumidor Joao Pessoa – PROCOM
(PARAIBA, 2015). As coordenadas geográficas foram coletadas com auxílio do software Google
Earth® e armazenadas com outras informações referentes ao nome do posto, bairro, endereço,
distribuidora, telefone, atividade (posto em funcionamento ou desativado) em um banco de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Elaborado o mapa de localização dos postos de combustíveis na área de estudo pode-se


correlacionar ao mapa de susceptibilidade à poluição dos aquíferos superiores elaborado por
Menezes (2007), obtendo-se um mapa de correlação (Figura 4).

Figura 4 - Mapa de correlação entre os postos de combustíveis e as classes de suscetibilidade.

Na Tabela 1 são apresentados os percentuais referentes aos números de postos por faixa de
suscetibilidade.

Classe de Área Área Número de Postos


suscetibilidade [km2] [%] Postos [%]
Muito Elevada 3,15 30 7 43,75
Elevada 1,51 15 0 0,00

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Moderada 2,94 28 6 37,50


Baixa 2,84 27 3 18,75
Total 10,44 100 16 100,00
Tabela 1 - Área e número de postos de combustíveis correspondente a cada classe de
suscetibilidade e a sua equivalência percentual.

Da análise do mapa de correlação e da Tabela 1, nota-se que as localizações dos postos de


combustíveis estão em áreas consideradas de grande suscetibilidade para os aquíferos.
Evidenciando que 43,75% dos postos estão na área inserida na classe de suscetibilidade muito
elevada, representando 30% da área total; 37,5% dos postos encontram-se em área de moderada
suscetibilidade que abrange 28% da região estudada; e 18,75% dos postos estão em uma região de
baixa suscetibilidade, representando 27% de toda a área. A classe elevada que compreende uma
área de 15 % não apresentou nenhum posto de combustíveis instalado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se, neste trabalho, a importância de mais estudos referentes a suscetibilidade a


poluição de aquíferos visto que estes estão propensos a contaminações provenientes de diversas
atividades humanas, entre elas empreendimentos de postos de combustíveis.
Os resultados desta pesquisa devem servir de alerta aos órgãos gestores das águas, que
devem buscar ações que possibilitem um maior controle dessas atividades a fim de evitar a
contaminação do aquífero.
Por fim, a utilização das técnicas de geoprocessamento mostrou-se bastante eficaz,
principalmente no aspecto da manipulação de dados geográficos e na compatibilização de dados de
fontes diversas. Outra vantagem identificada na utilização dos SIG está no fato da facilidade a
identificação visual das áreas mais críticas que precisam ser tratadas de forma prioritária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, F.; SOUZA, D. M.; LUIZ, J. G. Contaminação por Hidrocarbonetos em Postos de


Serviços de Abaetetuba-PA: Um Estudo com Georadar. In: 4º Congresso Brasileiro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Petróleo e Gás. Campinas. Anais do 4º PDPETRO. Campinas:
Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo, 2007

BATISTA, M. L. C.; JANIRO, C. R.; Ribeiro, M. M. R.; ALBUQUERQUE, J. P. T. Modelagem do


Fluxo Subterrâneo na Bacia Sedimentar do Baixo Curso do rio Paraíba como subsídio à Gestão
de Recursos Hídricos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos-RBRH, v. 16, n. 3, p. 163-175,
2011.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1058


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CHEN, J.; GAO, X.; YAN, L.; XU, D. Recent progress in monoaromatic pollutants removal from
groundwater through bioremediation. International Letters of Natural Sciences v. 34, p. 62-69,
2015.

CORSEUIL, H. X.; MARINS, M. D. M. Efeitos causados pela mistura de gasolina e álcool em


contaminações de águas subterrâneas. Petrobras, Rio de Janeiro, 1998.

MENESES, L. F. de. Avaliação da Suscetibilidade dos Aquíferos Superiores no Município de João


Pessoa/ PB, através do Modelo DRASTIC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana e
Ambiental - UFPB. João Pessoa, 2007.

PARAÍBA. Prefeitura Municipal de João Pessoa. Sistema Municipal de Orientação e Defesa do


Consumidor – PROCOM. Pesquisa de Combustíveis. João Pessoa, 2015.

TOSCANO, G. L. G.; SILVA, T. C. da. Uso do solo em zonas de proteção de poços para
abastecimento público na cidade de João Pessoa (PB). Revista Eng. Sanitária e Ambiental, v. 17,
n. 4, p. 357-362, 2012.

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SUSCETIBILIDADE DE ENCOSTAS: BREVE ANÁLISE DA ÁREA OCUPADA ÀS


MARGENS DO CÓRREGO DA LAGOA EM ITUIUTABA (MG)

Sandra Ap. da SILVA


Mestranda em Geografia PPGEP-FACIP-UFU
sandesilva2201@gmail.com
Ana Claudia de ABREU
Mestranda em Geografia PPGEP-FACIP-UFU
anaclaudia500@yahoo.com.br
Sirlene Ap. da SILVA
Mestranda em Geografia PPGEP-FACIP-UFU
sirlene.silva@gmail.com
Rildo Ap. COSTA
Docente PPGEP-FACIP-UFU
rildoacosta@gmail.com

RESUMO
A urbanização no Brasil se deu muitas vezes de forma rápida e desordenada e em áreas com
condicionantes geológicas e geomorfológicas desfavoráveis, tornando essas propícias a acidentes
naturais. Uma situação problemática é quando há a fixação de pessoas nessas áreas com quadro de
exclusão sócioespacial, deixando-as expostas a uma situação de risco iminente. Diante desse
cenário, ressalta-se a importância de estudos que possam subsidiar políticas eficientes de gestão de
riscos urbanos, de modo a prevenir a ocorrência de acidentes como deslizamentos e possíveis
desabamentos, além de minimizar a dimensão das consequências, sobretudo as sociais. Nesse
estudo objetivou-se a fazer uma breve análise da suscetibilidade da área ocupada às margens do
Córrego da Lagoa em Ituiutaba (MG), com confecção de mapas temáticos (de localização, de
declividade e de uso e ocupação), bem como pesquisa de campo para coleta de informações
inerentes à caracterização da ocupação da área a fim de auxiliar na análise do terreno. A
metodologia aplicada na pesquisa foi a quali-quantitativa de observação e coleta de dados da
paisagem referida. Por fim, de posse dos dados observou-se que embora a ocupação tenha se dado
sem o planejamento adequado, os impactos encontrados foram construções muito próximas às
margens do córrego, descarte irregular de resíduos sólidos, solapamento do solo, exposição de
rochas, erosão, contaminação da água do córrego por resíduos domésticos e falta de mata ciliar.
Entretanto os resultados obtidos com as cartas excluem a possibilidade de deslizamento ou
desabamento.
Palavras-Chave: Uso e ocupação, Desabamento, Ituiutaba.
RESUMEN
La urbanización en Brasil se ha dado muchas veces de forma rápida y desordenada y en áreas con
condicionantes geológicos y geomorfológicos desfavorables, haciendo estas propicias a accidentes
naturales. Una situación problemática es cuando hay la fijación de personas en esas áreas con
cuadro de exclusión socioespacial, dejándolas expuestas a una situación de riesgo inminente. Ante
este escenario, se resalta la importancia de estudios que puedan subsidiar políticas eficientes de
gestión de riesgos urbanos, a fin de prevenir la ocurrencia de accidentes como deslizamientos y
posibles derrumbes, además de minimizar la dimensión de las consecuencias, sobre todo las
sociales. En este estudio se pretendía hacer un breve análisis de la susceptibilidad del área ocupada

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a las márgenes del Córrego da Lagoa en Ituiutaba (MG), con confección de mapas temáticos (de
localización, de declividad y de uso y ocupación), así como investigación de campo para la
recolección de informaciones inherentes a la caracterización de la ocupación del área a fin de
auxiliar en el análisis del terreno. La metodología aplicada en la investigación fue la cuantitativa de
observación y recolección de datos del paisaje referido. Por último, en posesión de los datos se
observó que aunque la ocupación se había dado sin la planificación adecuada, los impactos
encontrados fueron construcciones muy próximas a los márgenes del arroyo, descarte irregular de
residuos sólidos, solapamiento del suelo, exposición de rocas, erosión, contaminación del agua del
arroyo por residuos domésticos y falta de vegetación ciliar. Sin embargo, los resultados obtenidos
con las cartas excluyen la posibilidad de deslizamiento o derrumbamiento.
Palabras Clave: Uso y ocupación, Desbrozamiento, Ituiutaba.

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização no Brasil se deu de forma intensa e acelerada. A Revolução


Verde e o processo de industrialização, no século XX, promoveram o êxodo da população do
campo em direção às cidades em busca de empregos e provocaram uma rápida ocupação urbana
muitas vezes de forma desordenada traduzida em uma expansão da malha urbana em áreas com
condicionantes geológicas e geomorfológicas desfavoráveis o que tornou-as propícias a acidentes
naturais.
De acordo com Tominaga et al. (2012, p.8) os desastres naturais são fenômenos naturais que
atingem áreas ou regiões habitadas pelo homem, causando-lhes danos que podem ser de ordens
diversas e atingir muitas pessoas.
Caracterizados como aqueles que podem ocorrer tanto em escalas globais ou regionais – em
forma de eventos extremos, como nevascas, terremotos, tsunamis, furacões – quanto de ordem
local, onde o número de vítimas varia de acordo com o fenômeno manifestado, os desastres naturais
mais recorrentes no Brasil e que na maioria das vezes são provocados ou intensificados pela ação
humana são os que envolvem os movimentos de massa (deslizamento, corrida de lama,
desmoronamento etc.), a subsidência, as erosões, as inundações e alagamentos, segundo Tominaga
et al. (2012, p. 8).
Quanto aos movimentos de massa, muitos estudos consideram que além da desnudação do
solo e o manejo da terra para construção de vias de acesso e moradias, a alteração no modo de
escoamento e infiltração de água de chuva e a deposição irregular de lixo e entulho em áreas de
difícil acesso são também outros fatores que elevam a área à condição de risco. Estas ações
diminuem o quadro de estabilidade dos terrenos, contribuindo assim para o desencadeamento de
movimentos de massa no local.
Outra representação tão característica das cidades brasileiras e que revela uma problemática
estabelecida é a fixação de pessoas com quadro de exclusão socioespacial em lugares que não são

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contemplados com infraestrutura urbana que promova estabilidade, deixando-nas expostas à


situação de risco iminente.
Essa condicionante socioespacial aliada a fatores geofísicos predisponentes tornam as
pessoas e as sociedades mais vulneráveis aos desastres naturais e em razão desses fenômenos há
uma tendência mundial ao crescimento dos prejuízos financeiros nas cidades, visto que o
planejamento urbano não consegue acompanhar o crescimento rápido do seu perímetro urbano.
Assim, esse fato estimula as aglomerações urbanas em locais não recomendados, que ao
ocorrerem em cidades com conformações de relevos íngremes, força a instalação de moradias em
locais de encostas e beiras de rios que não são contemplados com infraestruturas necessárias à
manutenção da estabilidade desses terrenos. A esse cenário junta-se ainda ruas com captação de
volumes pluviométricos insuficiente, casas com construções fragilizadas e solo sem coberturas
vegetais as quais poderiam auxiliar na fixação do mesmo e aumentar a infiltração das precipitações
e frear a velocidade das enxurradas. A soma deste conjunto deixa os terrenos susceptíveis a
deslizamentos ou moradias condenadas ao desabamento em consequência do agravamento do
constante solapamento do solo.
Diante dessa problemática, foi selecionada uma área para estudo dessas condicionantes que
possam sujeita-la a algum tipo de impacto ambiental na cidade de Ituiutaba (MG) onde localiza-se a
microbacia do Córrego da Lagoa.
Embora no município de Ituiutaba (MG) as áreas de relevo não sejam muito acentuadas,
nota-se, entretanto, que algumas áreas são propensas a sofrer algum impacto ambiental por estarem
situadas próximas a cursos d‘água, com ocupação humana inadequada e sem mata ciliar, podendo
caracterizar uma área suscetível a problemas decorrentes de instabilidade de encostas.
Diante deste cenário, justifica-se a necessidade de um estudo pormenorizado que possa
subsidiar uma política eficiente de gestão de riscos urbanos, de modo a prevenir a ocorrência de
acidentes como deslizamentos e possíveis desabamentos e minimizar a dimensão das
consequências, sobretudo as sociais.
A avaliação de suscetibilidade é importante tanto para auxiliar no planejamento municipal
físico e ambiental quanto para possibilitar a priorização dos investimentos, além de prever os custos
e execução de intervenções preventivas e/ou corretivas nas áreas de encostas, contribuindo também
para nortear as ações desenvolvidas pela Defesa Civil Municipal (ALHEIROS, 1998).
Com isso, esse trabalho objetivou fazer uma breve análise da suscetibilidade da área
ocupada às margens do Córrego da Lagoa em Ituiutaba(MG).
De modo específico essa pesquisa, objetiva-se a:

 Apresentar uma revisão teórica conceitual dos principais termos utilizados em desastres
naturais;
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

 Elaborar mapas temáticos (de localização, de declividade e de uso e ocupação)


utilizando o Sistema de Informações Geográficas (SIG) QGIS;
 Realizar pesquisa de campo para coleta de informações inerentes à caracterização da
ocupação da área a fim de auxiliar na análise do terreno.

REVISÃO TEÓRICA CONCEITUAL

Na revisão teórica buscou-se discutir os temas pertinentes a movimentos de massa, visto que
esse é o principal tipo de ocorrência relacionado a desastres naturais no Brasil. Para tanto, é
necessário abordar o seu conceito e agentes condicionantes ou deflagradores. Dentre os conceitos,
destaca-se alguns termos inerentes a esses movimentos como suscetibilidade, vulnerabilidade, risco
e perigo, pois a clareza destes é fundamental para a total compreensão do tema.
Nos estudos de risco geológico, Tominaga et al. (2001) e Tominaga (2007 p.48) adotaram,
com base em Varnes (1984), Einstein (1988) e UN-ISDR (2004), as definições:

Perigo - refere-se à possibilidade de um processo ou fenômeno natural potencialmente


danoso ocorrer num determinado local e num período de tempo especificado.
Vulnerabilidade - conjunto de processos e condições resultantes de fatores físicos, sociais,
econômicos e ambientais, o qual aumenta a suscetibilidade de uma comunidade (elemento
em risco) ao impacto dos perigos. A vulnerabilidade compreende tanto aspectos físicos
(resistência de construções e proteções da infraestrutura) como fatores humanos, tais como,
econômicos, sociais, políticos, técnicos, culturais, educacionais e institucionais.
Risco - é a possibilidade de se ter consequências prejudiciais ou danosas em função de
perigos naturais ou induzidos pelo homem. Assim, considera-se o Risco (R) como uma
função do Perigo (P), da Vulnerabilidade (V) e do Dano Potencial (DP), o qual pode ser
expresso como: R = P x V x DP.

Entretanto, a publicação organizada pela UN-ISDR (2004) define Risco como a


probabilidade de consequências prejudiciais, ou danos esperados (morte, ferimentos a pessoas,
prejuízos econômicos etc) resultantes da interação entre perigos naturais ou induzidos pela ação
humana e as condições de vulnerabilidade. Contudo, a versão atualizada (UN-ISDR, 2009)
considera risco como ―a combinação da probabilidade de um evento e suas consequências
negativas‖.
Serpa (2001) define risco como a medida de perda econômica, de danos à vida humana e/ou
de impactos ambientais, resultante da combinação entre a frequência de ocorrência e a magnitude
das perdas ou danos (consequências).
Perigo é uma ou mais condições, físicas ou químicas, com potencial para causar danos às
pessoas, à propriedade, ao meio ambiente ou a combinação desses (SERPA, 2001).
Alternativamente, pode também ser definida como sendo as condições de uma variável com
potencial para causar danos ou lesões.
Suscetibilidade de uma área a um determinado fenômeno geológico corresponde à
possibilidade de sua ocorrência como um evento sem danos, enquanto risco está relacionado à

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

possibilidade de que a ocorrência do fenômeno tenha consequências sociais e econômicas (Cerri e


Amaral, 1998).
Nas análises sobre o risco, a vulnerabilidade está associada ao uso e à ocupação do solo,
além de designar condições e características sociais da população, como a fragilidade social, a
densidade demográfica, a infraestrutura, o conhecimento e a situação econômica, que aumentam a
suscetibilidade de uma comunidade ao impacto do perigo (KOBIYAMA et al., 2006), ou seja,
relacionada à fragilidade da comunidade envolvida na suscetibilidade de riscos/perigos.
Desse modo, conforme analisado por Wiggers (2013) mesmo que uma comunidade
apresente grande vulnerabilidade à ocorrência de um evento adverso, causador de desastre, algumas
pessoas podem apresentar menor ou maior vulnerabilidade, dependendo de suas condições
econômicas, da infraestrutura da sua moradia, do seu conhecimento e da sua percepção sobre o
risco, fatos esses que podem influenciar preventivamente.
O conceito de Movimentos de massa remete aos movimentos de descida de material de
composição diversa (solo, rocha e/ou vegetação) pelas encostas devido à ação da gravidade. Esses
processos naturais podem ocorrer em qualquer área que apresente declividade natural e
desencadeada por atuação do intemperismo e da erosão, tendo como um dos principais agentes
deflagradores a água da chuva.
De acordo com Lopes (2006) a água de chuva tem potencial para transformar a massa sólida
do terreno em um fluido viscoso com volume alterado, resultante do aumento da porosidade
juntamente com a acumulação de sedimentos depositados nas linhas de drenagem (trajetória das
corridas de massa) e/ou barramento natural em drenagens que podem culminar no fenômeno capaz
de originar os movimentos de massa.
É importante ressaltar que diante desse processo de movimento de massa, há dois fatores,
dentro da Geociências e segundo Spink (2014), a serem considerados na análise de movimentos de
massa: a suscetibilidade (maior ou menor propensão de instabilidade do solo, decorrente de
características geológicas e geomórficas, somadas a valores de precipitação altos) e a
vulnerabilidade (predisposição de pessoas e/ou construções a serem afetadas por ocasião de um
desastre).
Em virtude da complexidade dos processos envolvidos e da multiplicidade de ambientes de
ocorrência, assim como dos diferentes enfoques dados, existem várias classificações de movimentos
de massa gravitacionais: queda, tombamento, escorregamentos, avalanches de blocos, detritos ou
solos ou uma combinação de dois ou mais tipos desses movimentos. Entretanto, atualizações da
classificação desses movimentos são constantemente propostas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os movimentos de massa sofrem uma cadência processual a partir do rompimento das


variáveis responsáveis por estabilidade e equilíbrio dos materiais presentes na encosta,
condicionadas por uma série de fatores ou agentes, de origem natural ou antrópica.
Notadamente, são inúmeros os fatores que podem se associar, ou agir isoladamente,
determinando o grau de intensidade do fenômeno, duração e consequências de ordens ambientais ou
sociais. Todavia, o conhecimento desses fatores é preponderante no planejamento e prevenção dos
fenômenos.
Guidicine e Nieble (1984) fazem um resumo dos fatores deflagradores dos movimentos de
massa que provocam o aumento das solicitações e a redução da resistência do solo, ora classificados
por: remoção de massa (lateral ou base), causando erosão, escorregamentos e cortes; sobrecarga por
peso de água de chuva, granizo, vegetação ou construção; dinâmicas como terremotos, ondas,
vulcões; características geomecânicas, intemperismo etc.
Assim, de forma sintética, na figura 1 há uma correlação entre os fatores condicionantes dos
movimentos de massa, onde em uma associação com as condições naturais e que podem se dividir
em agentes predisponentes – aquelas pré-existentes e não condicionadas pela ação humana, e se
dividem em geológicas, topográficas e ambientais – e agentes efetivos que são aqueles que podem
ser diferenciados em agentes preparatórios e agentes imediatos:
Os agentes efetivos subclassificados como preparatórios promovem ações incessantes nas
condições de equilíbrio inicial existentes e, consequentemente, aumentam a suscetibilidade dos
materiais aos deslizamentos. Essas ações podem ser influenciadas ou não pela ação antrópica, que
podem acelerar processos inerentes aos movimentos de massa. Nesta classificação incluem-se:
pluviosidade, erosão pela água ou vento, oscilação de nível dos lagos e mares e do lençol freático,
ação de animais e ação humana como desmatamento, entre outros.
Já os agentes imediatos são aqueles que determinam a deflagração dos mecanismos de
rompimento e movimentação que constituem o fenômeno, tais como: chuva intensa, erosão,
terremotos, ondas, vento, interferência do homem, dentre outros.

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condições
geológicas

Agentes condições
predisponentes topográficas

FATORES condições
DEFLAGRADORES ambientais -pluviosidade
DOS MOVIMENTOS -erosão por água ou vento
DE MASSA -oscilação do nivel dos lagos, mares
Agentes
+ preparatórios e lençol freático
CONDIÇÕES -ação de animais
NATURAIS -ação humana
(desmatamento)
Agentes
efetivos
-Chuva intensa

-erosão

-terremotos,
Agentes
imediatos -ondas, ventos,

-interferência do
homem, outros

Figura 2. Correlação entre os agentes deflagradores dos movimentos de massa e condições naturais
Fonte: (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007). Org: Silva, S.; (2017)

Tominaga (2009, p.1) aponta que o expressivo aumento do número de acidentes associados
a escorregamentos nas encostas urbanas tem como principal causa a combinação de ocupação
desordenada em áreas que apresentam alta suscetibilidade aos processos de movimento de massa. Já
Wiggers (2013, p. 38), detalhadamente explica que,

As ações antrópicas são responsáveis por modificar as características naturais das encostas,
causando instabilidades. Dentre as principais atividades humanas responsáveis por auxiliar
na desestabilização das vertentes, deflagrando e aumentando não só a magnitude, como
também a probabilidade de ocorrência de acidentes, está o desmatamento, a realização de
cortes com a formação de patamares, os depósitos tecnogênicos com materiais que
apresentam comportamento heterogêneo e de baixa compactação, como lixo, rejeitos de
construções e de antigas pedreiras.

Dessa forma, a adoção de medidas educativas e preventivas adequadas para com a


comunidade envolvida nesses cenários é de suma importância para a redução dos riscos. Tais
medidas necessitam de estudos prévios dos fatores condicionantes e dos mecanismos dos
fenômenos envolvidos, bem como de uma avaliação do perigo e do risco.

METODOLOGIA:

O trabalho consistiu em análise quali-quantitativa da paisagem em três etapas distintas:

 Levantamento de informações em campo (fotos, anotações descritivas);


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 Mapeamento temático preliminar (geomorfológico, de declividade e usos e ocupação);


 Análise da suscetibilidade a risco de movimentos de massa.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade de Ituiutaba (MG), localiza-se no Pontal do Triângulo Mineiro, mais precisamente


na parte noroeste dessa mesorregião do estado de Minas Gerais, com uma distância de 685 km de
Belo Horizonte (MG), capital do Estado e aproximadamente 456 km da capital do país, Brasília
(DF). Ituiutaba possui uma população estimada de 102.690 habitantes (IBGE, 2015), com área total
de 2.598.046 km², dos quais 24,2 km² constituem a mancha urbana, perfazendo uma densidade
demográfica de 37,40 hab/km².
Baseada no trabalho de Fonseca et al. (2009) a caracterização física da microbacia do
Córrego da Lagoa está localizada dentro do perímetro urbano de Ituiutaba, mais especificamente, no
setor nordeste da cidade, desde a nascente até sua foz, entre as coordenadas geográficas 18º56‘00‖,
18º59‘00‖ S e 49º25‘00‖, 49º28‘00‖ W. O Córrego da Lagoa (figura 2) é um afluente do rio Tijuco
ficando ele totalmente dentro de uma área urbanizada e tendo o sentido de sua drenagem de dirigida
de SE-N. O Córrego é um fluxo remanescente da drenagem da Lagoa ―dos Drummond‖, localizada
no que é hoje o Residencial Drummond, mas que no passado era sediada em uma antiga fazenda,
inclusive com relatos históricos de que nessa época era um local de produção de artefatos manuais
provenientes da argila do fundo do lago levando a crer tratar-se de uma lagoa artificial oriunda da
retirada de sedimentos.
O córrego, pela sua localização, coleta além da drenagem da lagoa, os volumes
pluviométricos dos bairros em seu entorno. Percebe-se ainda, na sua encosta lugares com mata
ciliar, construções urbanas e locais desprovidos totalmente de vegetação.
A nascente se localiza a uma altitude de 569 metros em relação ao nível do mar; o ponto
cotado mais elevado da bacia atinge 609 metros de altitude e o mais baixo (na foz do Córrego) 495
metros de altitude, o que demonstra baixo nível de dissecação. Possui variação altimétrica baixa,
seus índices se encaixam totalmente dentro da estrutura de solos originada do basalto, do Grupo São
Bento e Formação Serra Geral. O basalto só aflora à superfície nas áreas mais escavadas da bacia,
no leito do córrego, como atesta Fonseca et al. (2010).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2 – Mapa de localização do Córrego da Lagoa.

Em relação à dinâmica atmosférica o Município de Ituiutaba(MG) está sob controle dos


sistemas intertropicais. Esses sistemas de circulação ocasionam um clima tropical alternadamente
seco e úmido. Entre junho e dezembro é comum temperaturas oscilarem entre 14ºC e 31ºC.
Pela fisiologia da paisagem, terceiro nível de tratamento metodológico proposto por
Ab‘Saber (1969) a qual se refere a momentos recentes (atuais) no quadro evolutivo do relevo,
considerando os processos morfodinâmicos, morfoclimáticos e as transformações antrópicas da
paisagem foi feita a análise do uso e ocupação do solo por meio de observações durante visita de
campo e confecção de mapa de uso e ocupação do solo (Figura 3).
De posse do mapa e pelas observações in loco é possível observar que o perímetro do
Córrego da Lagoa é ocupado por pastagens, vegetação natural, culturas e predominantemente por
edificações diversas.

RESULTADOS

Para esse estudo os procedimentos metodológicos envolveram uma tentativa de integração


dos atributos físicos e sociais envolvidos na deflagração de deslizamentos, portanto foram
confeccionados os mapas de declividade e mapa de uso e ocupação do solo (Figura 3).

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Dentro de uma perspectiva sistêmica, foram analisados alguns elementos da paisagem, como
declividade, tipos de modelado, uso e ocupação do solo, pois, como prepondera Tominaga et al.
(2009) é necessário considerar também a suscetibilidade natural do terreno e as características do
uso e ocupação do solo como indicativos do perigo potencial.

Figura 3 - Mapa de uso do solo

Segundo as observações em campo, ficou constatado, que existe um trecho onde o curso
d‘água do córrego é totalmente canalizado (ponto P1 a P2, na figura 2), devendo receber, portanto,
somente o volume pluviométrico, uma vez que nas proximidades constatou-se a presença de uma
estação de semi-tratamento dos resíduos domésticos, por estes, devido a altitude, não conseguirem
chegar à estação de tratamento da cidade.
Entretanto, logo após o fim da canalização observou-se o escoamento irregular de resíduos
domésticos no leito do córrego, principalmente após o ponto P2, sendo os mesmos despejados
diretamente na água do córrego, muito provavelmente contaminando-a.
Em outros pontos (P3 a P4 na figura 2), observou-se quantidade insignificante de mata ciliar
como é o caso do trecho que passa pelo distrito industrial próximo ao córrego onde praticamente a
composição vegetal é composta por pasto ou gramínea.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Observou-se que quanto à apropriação, ocorre uma combinação de construções das mais
diversas ordens, desde barracões industriais até moradias, respectivamente. Exatamente entre os
pontos P2 e P4 (figura 2) as ocupações se deram sem planejamento prévio, de modo a se constatar a
grande proximidade com as margens do córrego, sendo a área constituída por plantações de
frutíferas e arbustivas, descarte de resíduos sólidos e pastejos de pequenos animais.
Conclui-se que o ambiente analisado é resultado de modificações que sofreram inúmeras
influências da ação do homem (Figura 4), numa maneira de adaptar a natureza à sua maneira de
melhor viver, mesmo que em condições inapropriadas para ambos.

Figura 4- Mosaico de fotos da área de estudo. Fonte: Silva, S. A. (2017).

É sabido que o uso desordenado do solo, principalmente nas áreas urbanas, tem provocado a
intensificação e até mesmo o aparecimento de problemas ambientais relevantes, como os
movimentos de massa em terrenos inclinados que ofereçam condições suscetíveis a esse fenômeno.
A adoção de medidas apropriadas é extremamente necessária para assegurar e controlar a ocupação
racional destas áreas pelo homem. Entretanto, de posse do mapa de declividade (figura 5) da
microbacia do córrego, observa-se que a declividade é baixa, não oferecendo risco/perigo iminente
de movimentos de massa, embora tenha sido observado em campo, solapamento de solos a partir de
processos erosivos, mas que não afetam as construções, por enquanto.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1070


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5 – Mapa de declividade

Diante composição dos atributos físicos, sociais e juntamente com a confecção dos mapas
foi possível fazer a combinação desses com as observações em campo, possibilitando a realização
de um estudo da suscetibilidade a deslizamentos, indicando as áreas mais perigosas e discutindo as
possíveis implicações e impactos ambientais.
Nesse caso especificamente, conclui-se que os impactos ambientais sejam mais relevantes
do que a probabilidade de ocorrência de algum desastre. O que não invalida o acompanhamento
sistemático dessa área para futuras intervenções.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Geomorfologia (18), São Paulo: Instituto de Geografia. USP. 1969.

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Tese (Doutorado) – Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1998.

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M. S. Geologia de Engenharia. ABGE, São Paulo, 1998. p.301-310.

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FIOCRUZ, 2001.

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TOMINAGA, L. K. Avaliação de metodologias de análise de risco a escorregamentos: aplicação


de um ensaio em Ubatuba, SP. 2007. 220p. Tese (Doutorado em Geografia Física) - Faculdade
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Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-18102007- 155204/>.
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TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. Desastres naturais: conhecer para prevenir. 1
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município de Caxias do Sul (RS). 2013. 131p. Porto Alegre: Instituto de Geociências, Universidade
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maio 2016

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1073


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

OCUPAÇÃO URBANA EM ÁREA DE DUNAS NO LOTEAMENTO ÁGUA DAS


FONTES, SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN

Sílvio Petronilo de Medeiros GALVÃO


Tecnólogo em Gestão Ambiental
silvio_galvão@hotmail.com
Espedito de Lima CARVALHO SEGUNDO
Biólogo
espedito_19@hotmail.com
Pedro Henrique Godeiro de LIMA
Geógrafo
pedrolima194@gmail.com
Ridon Dantas BORGES FILHO
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária
ridodantas@gmail.com

RESUMO
Os Ecossistemas Dunares tem grande importância pela sua ampla diversidade. No município de São
Gonçalo do Amarante/RN existe apenas uma pequena área de dunas, à nordeste, o qual a anos vem
sofrendo intervenção antrópica. O presente trabalho busca analisar a ocupação urbana em área de
dunas no município, no que diz respeito a abertura de uma rua no Loteamento Água das Fontes.
Para tal, foram utilizados software SIG - Sistema de Informação Geográfica e visita In loco. A partir
desta análise de viabilidade ambiental, foi possível identificar passíveis a vulnerabilidade ambiental
para tal intervenção, em áreas de dunas e lagoas interdunares.
Palavras-Chave: Dunas, Vulnerabilidade Ambiental, Ocupação Urbana.
ABSTRACT
The Dunares Ecosystems have great importance for their wide diversity. In the municipality of São
Gonçalo do Amarante / RN there is only a small area of dunes, to the northeast, which for years has
undergone anthropic intervention. The present work seeks to analyze the urban occupation in the
area of dunes in the municipality, with regard to the opening of a street in the Water Plot of the
Fontes. For this, GIS software - Geographic Information System and In loco visit were used. Based
on this analysis of environmental feasibility, it was possible to identify the environmental
vulnerability for such intervention in areas of dunes and interdunar lagoons.
Keywords: Dunes, Environmental Vulnerability, Urban Occupation,

INTRODUÇÃO

O crescimento urbano nas cidades brasileiras vem ocorrendo de forma acelerada e


desordenada, onde a paisagem natural sofre constantes agressões ambientais, provocando um
grande impacto e uma grande pressão em seus componentes naturais, sem que haja, na maioria das

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1074


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

vezes, uma ação governamental efetiva que proporcione melhores condições de qualidade de vida
para população.
Essa realidade não é diferente em São Gonçalo do Amarante. A ocupação urbana acabou se
expandindo por áreas de preservação ambiental, como região de dunas, que é o caso deste trabalho.
O município possui apenas uma pequena região de dunas e pela constante especulação da terra,
provocando desmatamento, aterramento e abertura de trilhas, entre outros impactos.
Este artigo tem como objeto à análise da ocupação urbana em área de dunas, no que diz
respeito a abertura de uma rua, no município de São Gonçalo do Amarante, estado do Rio Grande
do Norte (RN), Brasil. Mais precisamente no Loteamento Água das Fontes, no bairro Jardins. A
partir desta análise de viabilidade ambiental, foi possível identificar passíveis a vulnerabilidade
ambiental para tal intervenção, em áreas de dunas e lagoas interduna1res. Com isso, para alcançar
tal finalidade, foi preciso analisar os principais aspectos relacionados ao uso e ocupação do solo na
área; caracterizar o quadro natural da área de estudo quanto aos elementos: geológicos,
geomorfológicos e biótico; identificar áreas de restrição ambiental (considerando a legislação
vigente) e/ou ambientalmente sensíveis, dentro da área de influência direta.
A área de estudo está localizado no Bairro Jardins, Loteamento Água das Fontes, na região
Nordeste do município de São Gonçalo do Amarante/RN. O principal acesso ao local se dá pela
rodovia BR-101 e estradas internas sem pavimentação do loteamento. A figura 1 abaixo temos o
mapa de localização da área do empreendimento, partindo como ponto de referência o centro do
Município de São Gonçalo do Amarante.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 5: Localização e acesso a Rua Projetada. Fonte: Google Maps.

A área está localizada a aproximadamente 18km com acesso através da via metropolitana e
BR-101. Em linha reta a rua está a uma distância de aproximadamente 11km do centro do
município. O acesso a área é bastante facilitado.
A metodologia do trabalho consistiu na revisão bibliográfica, com leitura de livros, artigos
científicos e documentos oficiais do assunto abordado.
Após essa revisão, foi realizada a visita in loco, procedimento fundamental para o
reconhecimento da área. Durante a visita, foi possível fotografar pontos da área de estudo e os
arredores e foi de suma importância para identificação de solo, geomorfologia, espécies de plantas
da área e atividades antrópicas.
Com essas informações organizadas, foi possível elaborar mapas referentes à localização do
bairro, identificando principalmente a área de estudo, o zoneamento geomorfológico e ambiental. O
mapeamento, bem como o layout final do mapa de localização foi elaborado pelo Google Earth Pro
e os demais mapas por meio de um software SIG - Sistema de Informação Geográfica, no caso, a
versão 10.3 do ArcGIS (ESRI ©).

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CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO

O loteamento Águas das Fontes, está inserido na Zona de Expansão Urbana - ZEU do
município de São Gonçalo do Amarante de acordo com o Plano Diretor.
A área em questão é caracterizada geomorfologicamente como ―Campo de Dunas com
vegetação de restinga formando as dunas fixas‖ de constituição de areias quartzosas, imobilizadas
sob a cobertura vegetal. Os corredores interdunares proporcionam o surgimento de reservatórios de
água doce, sobretudo para a recarga dos aquíferos, uma vez que as águas pluviais que penetram no
solo acumulam-se facilmente. Essas feições possuem uma porosidade e permeabilidade alta, o que
permite os usos dessas áreas como reservatórios naturais de recursos hídricos para a manutenção do
meio natural e demais necessidades da população; entretanto, esse tipo de solo torna-as
extremamente frágil em áreas de adensamento urbano ou em áreas com ocupação irregular como no
caso do loteamento em questão.

Figura 6: Área solicitada para abertura da Rua Projetada. A) Duna vegetada localizada na área solicitada para
abertura de Rua; B) Duna fixa localizada a 100m da área solicitada para abertura da Rua. Fonte: SEMURB, 2017.

Segundo a Resolução CONAMA nº 303, a restinga é um depósito arenoso paralelo a linha


da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação. A cobertura
vegetal nas restingas ocorrem mosaico, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e
arbóreo, este último mais interiorizado, a seguir temos o zoneamento Geomorfológico da área.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 7: Geomorfologia da área. Fonte: SEMURB, 2017.

Através do mapeamento anterior foi possível constatar que a área destinada ao projeto da rua
(sinalizada por uma linha vermelha) está localizada em área de dunas fixas a qual se for implantada
irá cortar duas lagoas interdunares.
No mapeamento realizado foi possível identificar um mosaico composto por várias feições
como: vegetação de restinga, dunas fixas, lagoas interdunares, vias de acessos internos, plantações,
edificações, áreas antropizadas etc. Apesar da área está localizada em uma Zona de Expansão
Urbana – ZEU, a mesma possui características rurais, onde as propriedades podem ser enquadradas
como minifúndios onde desenvolve-se atividades produtivas como: Agricultura, horticultura,
psicultura, pequenas criações de suínos e gado e até matadouro ilegal.
O estrato da vegetação encontrada na duna a qual foi solicitada a abertura de Rua é do tipo
herbácea/Arbustiva com altura variando entre 1 e 3m de altura. As epífitas ocorrem no estrato
arbustivo, são elas: bromélias, fungos, líquens, musgos etc.
A cobertura vegetal do corpo dunar é composta por espécies de fitofisionomia de
ecossistema de Mata Atlântica – a vegetação é do tipo Restinga que cresce sobre a área dunar,
dentre as várias espécies que compõem essa vegetação destacam-se: cajueiros (Anarcadium

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occidentale), Mangabeira (Hancornia speciosa), pitanga da restinga de cachorro (Neomitranthes


obscura)

(Tabela 1). No fragmento dunar o qual foi solicitado a abertura da Rua foi identificado 17 espécies
vegetais diferentes.

Tabela 5: Relação das espécies vegetais identificadas na Duna. Fonte: SEMURB, 2017.

A seguir temos algumas fotos das espécies que foram identificadas no fragmento de duna
em estudo.

C) ) E)

Figura 8: Espécimes vegetais identificadas na área. A) Hohenbergia ramageana, B) Cecropuia


pachystachya e Anacardium occidentale, C) Commelina erecta L., D) Hancornia speciosa, E) Krameria
Tomentosa A. Fonte: SEMURB, 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A área possui uma ampla diversidade e importância ecológica, mesmo sofrendo intensas
ações antrópicas através da implantação do loteamento e sua ocupação, as quais contribuíram para
degradação dos corpos dunares, com a perda da vegetação e consequentemente, a aceleração de
processos erosivos, terraplenagem da área e extração irregular de areia, o que vem
descaracterizando a paisagem natural.
Durante visita realizada in loco no dia 25 de janeiro de 2017 foi observado a presença de
lagoas e corredores interdunares com a vegetação nativa de restinga.
A área em questão sofreu bastante intervenção antrópica, perdendo grande parte de suas
características naturais, devido a ocupação humana e atividades desenvolvidas na área, como:
Criação de animais, áreas de pastagem, agricultura de subsistência, piscicultura, matadouros, dentre
outras.
A Lei 12.651 de 2012 despreza a proteção das dunas e repete o que era definido no antigo
Código Florestal, em seu Artigo 4º, inciso VI caracterizando como Área de Preservação Permanente
– APP somente as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues, em resumo
considera como APP somente a vegetação que recobre a duna. Tal lei delimita as Áreas de
Preservação Permanente de acordo com sua classificação, segue a baixo parte da minuta da lei onde
enquadra APP para Lagos e restingas fixadoras de dunas. Segundo o Novo Código Florestal, Lei n
12.651, Art. 4, Inciso II e VI:

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os


efeitos desta Lei:
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d‘água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

Para identificação das APP foi realizada uma análise espacial em uma carta com escala de
1:1.250, escala essa que fora a mais adequada pra o trabalho realizado e identificação em tela dos
componentes os quais estão inseridos no mosaico estudado. Foram utilizadas as linhas vetorizadas
das lagoas e lagos do Banco de Dados do IDEMA/2006 os quais foram retificados, e a partir delas
gerado um buffer com a distância de 50 metros determinada pelo Art. 4 inciso II paragrafo a), da
Lei 12.651.
Assim, foi possível observar que a área a qual pretende-se realizar a abertura de rua é
equivalente a aproximadamente 240m², que além de ser enquadrada como área de restinga a qual
recobre uma duna, também é enquadrada como uma área de APP de 50m da lagoa a qual esta
localizada a Sul da área objeto de estudo, abaixo segue o mapeamento realizado .

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 9: identificação de áreas de APP de acordo com a Lei 12.651/12. Fonte: SEMURB/2017.

Como esta região está em constante crescimento, é necessário disciplinar o uso do solo,
evitando edificações em lugares irregulares, tráfego de veículos, alterações no fluxo natural de água
pluvial, alteração e/ou barramento dessas lagoas interdunares. É preciso estabelecer faixas de recuo,
e impedir que se construam obras e possível aterramento da lagoa e destruição da duna e sua
vegetação. Durante o mapeamento foi possível observar em tela vários empreendimentos dentro das
áreas de APP, onde o loteamento foi parcelado de forma irregular, não respeitando as diretrizes
ambientais.
Ainda segundo a Resolução nº 303 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA,
as dunas cobertas ou não por vegetação nativa de acordo com o Artigo 3º, inciso XI são
consideradas como APP. A proteção integral das dunas, vegetadas ou não, estabelecida por está
resolução permanece, somente sendo possível a intervenção nestes ecossistemas nos termos da
Resolução CONAMA 369/06.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área de estudo possui uma ampla diversidade e importância ecológica. Com a implantação
do loteamento e sua ocupação em área de dunas, contribuíram para degradação dos corpos dunares,
com a perda da vegetação e consequentemente, a aceleração de processos erosivos, terraplenagem
da área e extração irregular de areia, o que vem descaracterizando a paisagem natural.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dessa forma, a implantação de uma estrada projetada no local em questão se classifica como
inadequada, pois na área possui predominantemente coberturas de alteração arenosas com
cobertura de vegetação nativa e com o lençol freático mais superficial, ocorrendo periodicamente a
formação de lagoas temporárias, sendo classificadas como Área de Preservação permanente – APP.
Espera-se ainda, que esse estudo sirva como base para a regularização do empreendimento,
respeitando os limites da APP, com intuito de compatibilizar o tipo de uso do solo na localidade e
respeitar as restrições impostas pelas características da área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução 303, de 20 de março de 2002. Dispõe
sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios
artificiais e o regime de uso do entorno. Diário Oficial da União, Brasília, 13 mai. 2002.

BRASIL. Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
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CESTARO, L. A.. Fragmentos de florestas atlânticas no Rio Grande do Norte: relações estru-
turais, florísticas e fitogeográficas. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Centro
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Lei Complementar n° 049 de 2009: institui o Plano de Diretor do Município de São Gonçalo do
Amarante/RN.

INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ & DEUTSCHE GESELLSCHAFT FÜR


TECHNISCHE ZUSAMMENARBEIT (IAP & GTZ). Manual de avaliação de impactos
ambientais, 1993, 2ª edição.

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Regional Conference on Geomorfology, Ano 2006. Cidade: Goiânia - GO. 2006.

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2009, 188 p.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

SANTOS, Maria da Conceição Nasser dos FILGUEIRA, Maria de Fátima; COSTA, Morgana Jales
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Rio Grande do Norte, Natal, 1992.

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112f. Dissertação de Mestrado, 2003. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,
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SOUZA, Bernadete de Lourdes Queiroga de. Mudanças ambientais no entorno do prolongamento


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conclusão de curso (Especialização). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1999.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1083


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

OS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO CRÍTICO-REFLEXIVA E CONTRIBUIÇÕES PARA


PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAIS: NOTAS TEÓRICAS
PARA O DEBATE.

Christiane Luci Bezerra ALVES34


Docente do Departamento de Economia da URCA
chrisluci@gmail.com
Anderson da Silva RODRIGUES35
Docente do Departamento de Economia da URCA
anderson_rodrigues750@hotmail.com
Valéria Feitosa PINHEIRO36
Docente do Departamento de Economia da URCA
valeriafp73@gmail.com
Adriana Correia Lima FRANCA37
Docente do Departamento de Economia da URCA
drica.correia@yahoo.com.br

RESUMO
O crescimento concentrador e excludente observado nos grandes centros urbanos nos últimos anos é
reflexo da apropriação desigual do espaço pelo capital; a face visível deste processo é que os riscos
ambientais inerentes às atividades antrópicas são repartidos de forma assimétrica entre diferentes
grupos sociais, ocorrendo para as classes de menor renda uma sobreposição de condições sociais
precárias e elevado risco ambiental, caracterizando uma situação de vulnerabilidade socioambiental.
A superação de tal condição pressupõe, para os atores envolvidos, uma reflexão sobre os elementos
condicionantes desta realidade e ação política transformadora. Neste sentido, o presente artigo
aborda os aportes da Educação Ambiental Crítica enquanto elemento vital para o reconhecimento
de novos saberes, para consolidação de uma formação crítica que para além da ética, também seja
política e a construção de laços comunitários que possibilitem o empoderamento de comunidades
vulnerabilizadas.
Palavras-chave: Vulnerabilidade socioambiental. Educação Ambiental Crítica.
ABSTRACT
The concentrating and exclusionary growth observed in large urban centers in recent years is a
reflection of the unequal appropriation of space by capital; the visible face of this process is that the
environmental risks inherent to anthropic activities are distributed asymmetrically between different
social groups, occurring for the Low income classes an overlapping of precarious social conditions
and high environmental risk, characterizing a situation of socio-environmental vulnerability. The
overcoming of this condition presupposes, for the actors involved, a reflection on the conditioning
factors of this reality and transformative political action. In this sense, the present article addresses
the contributions of Critical Environmental Education as a vital element for the recognition of new

34
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente
35
Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente
36
Mestre em Desenvolvimento Regional
37
Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

knowledge, for the consolidation of a formation that, besides ethics, is also political and the
construction of community ties that enable the empowerment of vulnerable communities.
Keywords: Socio-environmental vulnerability. Critical Environmental Education.

INTRODUÇÃO

Grande parte da literatura recente de estudos sobre cidades tem enfatizado o caráter do
desenvolvimento concentrador e excludente observado nas regiões metropolitanas do Brasil, que
tem conduzido a níveis crescentes de segregação socioambiental. Nas últimas décadas tem se
constatado que ―com o crescimento acelerado das grandes cidades e com os processos de
conurbação que nelas frequentemente ocorrem, certos problemas urbanos são potencializados e
adquirem um caráter de vulnerabilidade ambiental, propenso a processos antropogênicos induzidos‖
(BARCELLOS; OLIVEIRA, 2008, p.2).
Essas contradições são percebidas na própria produção do espaço urbano, que tem reflexo na
organização socioespacial das cidades. Resultado da dinâmica de acumulação do capital, o espaço
urbano capitalista é ―fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e
campo de lutas‖, é um produto social, ―resultado de ações acumuladas através do tempo, e
engendradas por agentes que produzem e consomem espaço‖ (CORRÊA, 2000, p.11).
É nesse sentido que, para Costa (2009, p.147), os espaços da cidade se constituem ―objetos
de interesse econômico, conforto material, de reprodução material ou simbólica e de distinção
social. Portanto, eles se identificam com determinados grupos sociais – dominantes ou excluídos‖.
A produção desigual do espaço urbano, segundo a lógica do mercado (SANTOS, 2005),
expõe níveis crescentes de populações à segregação socioespacial e a situações de vulnerabilidade.
Conforme Cardoso (s.d. apud COSTA, 2009, p.147), a desigualdade de acesso às condições urbanas
de vida se expressa também como desigualdade ambiental, ―pois as populações com menor poder
aquisitivo tendem a localizar-se nas chamadas áreas de risco, ou seja, áreas de maior exposição a
situações insalubres (contaminação de água, solo, e do ar) e inseguras (riscos de acidentes de
diversos tipos)‖.
Como abordagem multidimensional, a vulnerabilidade socioambiental ganha importância no
contexto em que são repensados os modelos tradicionais de desenvolvimento, mediante a natureza
estrutural e sistêmica que assume a crise na sociedade em fins do século XX, onde se reconhece a
chave e a força de elementos sociais, ambientais, culturais e institucionais, além dos elementos
econômicos, na promoção do desenvolvimento. Particularmente, no que diz respeito à variável
ambiental, constata-se que ―o paradigma ambiental está surgindo cada vez mais como uma mudança

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de enfoques, abordagens, concepções teóricas e metodológicas não somente de pesquisa, mas


também no planejamento e gestão‖ (RODRIGUEZ; SILVA, 2013, p.70)38.
As crises dos sistemas econômicos e sociais são permeadas pela crise ambiental, visto que o
modelo de desenvolvimento consolida-se indistintamente, nos países centrais ou periféricos, com a
extração crescente de recursos naturais e o aumento significativo de desequilíbrios ambientais. Na
visão de Leff (2009, p. 20), realidades como estas reforçam, por um lado, a relação de causa e efeito
entre métodos produtivos e seus efeitos sobre os recursos naturais e, de outro, as consequências no
futuro que tal produção ilimitada pode gerar, sendo possível visualizar a crise que iremos enfrentar
e a necessidade de gerenciá-la com mais urgência.
Diante deste contexto, parte das novas concepções e interpretações da crise, reconhecem que
os problemas ambientais não podem ser entendidos destituídos do processo de construção social,
sendo lugar de operação de forças e disputas materiais e ideológicas, apresentando-se como um
desafio ético para entender os próprios limites e fronteiras do conhecimento. Nesse cenário,
portanto, o reconhecimento dos saberes ambientais e, consequentemente, da crise ambiental faz
parte da construção de um novo paradigma, que considera a intervenção humana na sociedade, na
natureza e na subjetividade, onde o pensamento mecanicista dá lugar ao pensamento sistêmico
(ALVES, 2013).
Neste sentido, o presente texto pretende contribuir para o debate sobre as possibilidades de
atuação da Educação Ambiental, na sua vertente crítica, como elemento vital para o reconhecimento
de novos saberes e construção de laços comunitários e cooperativos, trocas construtivas e
transformadoras que possibilitem a percepção de situações de risco e vulnerabilidades a que estão
expostas as populações e o consequente empoderamento e possibilidade de atuação para o
enfretamento destas realidades.
Este artigo está estruturado em quatro seções. Além desta introdução, na seção 2 abordar-se-
á a vulnerabilidade urbana enquanto construção histórica, reflexo de uma apropriação desigual e
marginalizadora do espaço urbano pelo capital. Na seção seguinte, procura-se apontar elementos
para a compreensão da contribuição da educação ambiental crítica para o entendimento dos novos
desafios impostos pela crise ambiental e da atuação transformadora possível de ser construída na

38
Vale ressaltar que o relatório do chamado ―Clube de Roma‖, denominado ―Limites do Crescimento‖ (1972), é
considerado um marco para as discussões que passam a inserir na avaliação dos processos de crescimento econômico a
variável ambiental, pautada nos impactos da ação humana sobre o meio ambiente. Todavia, tais debates assumem a
dimensão global na primeira Conferência Mundial Sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo pela
Organização das Nações Unidas (ONU), 1972, onde a partir da qual é criado o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA). Cabe destaque para as contribuições que se sucedem em direção ao conceito de
desenvolvimento sustentável, com as sugestões teóricas do ambientalismo científico e a noção de
―ecodesenvolvimento‖ sugerida por Maurice Strong, em 1973 e sistematizada e definida por Ignacy Sachs, em 1974. É
nos anos 1980 que a concepção de desenvolvimento começa a ser associada à de sustentabilidade, por meio do
Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(1987), que apresenta o desenvolvimento sustentável como aquele capaz de satisfazer as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem às suas próprias (CMMDA, 1988, p. 34).

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relação homem-natureza. Por fim, à guisa de reflexões, são traçadas considerações acerca das
possibilidades e limites de atuação da Educação Ambiental, tanto na compreensão multidimensional
dos problemas socioambientais por parte do educando, quanto na promoção de um maior
protagonismo das populações sob os aspectos multifacetados nos quais suas realidades são
esculpidas (social, econômico, político, cultural, ambiental, etc.).

VULNERABILIDADE AMBIENTAL URBANA – ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS

Apesar da multiplicidade de interpretações e das contribuições que envolvem múltiplos


campos de conhecimento, as aproximações na literatura reconhecem três vetores que caracterizam a
vulnerabilidade ambiental: exposição ao risco; (in)capacidade de reação; dificuldade de adaptação
mediante riscos.
A vulnerabilidade encontra-se constantemente associada ao grau de susceptibilidade de um
sistema a fatores intrínsecos ou extrínsecos que sobre o mesmo exercem pressão. Nos fatores
intrínsecos incluem-se, por exemplo, as características bióticas do meio. Os fatores extrínsecos
relacionam-se à exposição do sistema a pressões ambientais atuais e futuras (VEYRET, 2007).
Envolve fatores ex-ante, como a possibilidade de um evento catastrófico ocorrer, presença de riscos
e danos potenciais e fatores ex-post, como perdas objetivas de bens materiais ou vidas (GARCÍA-
TORNEL, 1997, apud GAMBA, 2010). Ou seja, de maneira corrente, ―denota risco, fragilidade ou
dano‖ (DESCHAMPS, 2004, p.80).
O debate envolvendo o conceito nos meios políticos e institucionais, em nível mundial,
ocorre diante da multiplicação de estudos sobre mudanças climáticas e advertências sobre o efeito
estufa e nas interpretações de análise de riscos, que ganham corpo a partir da criação, em 1988, do
Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate
Change)39. Nessa perspectiva, constata-se a associação da vulnerabilidade à ideia de resiliência,
entendida como a capacidade de um sistema, sociedade ou comunidade de resistir e adaptar-se, para
obter um nível aceitável de estrutura e funcionamento (PNUD, 2004, p.136).
Para Adger (2006, p.269, apud CONFALONIERI, 2002), trata-se da ―exposição de
indivíduos ou grupos ao estresse (mudanças inesperadas e rupturas nos sistemas de vida) resultante
de mudanças socioambientais‖, variando de acordo com as possibilidades culturais, sociais e
econômicas das populações. Desta forma, a capacidade de adaptação das populações aos diferentes
níveis de estresse encontra-se estreitamente vinculada a fatores como ―riqueza, tecnologia,
educação, informação, habilidades, infraestrutura, acesso a recursos e capacidade de gestão‖
(CONFALONIERI, 2002).
39
Resultado de conferência conjunta realizada pela Organização Meteorológica Mundial (Word Meteorological
Organization - WMO) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environmental
Program - UNEP).

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A trajetória de vulnerabilidades associa-se intimamente, portanto, à (in)capacidade de reação


às dificuldades enfrentadas em diferentes dimensões, sob múltiplos determinantes como sociais,
econômicos e culturais, a qual é influenciada, adicionalmente, pela presença efetiva e institucional
do Estado na promoção de condições adequadas que interfiram na qualidade de vida e interação das
populações com o meio natural. Assim, ―a vulnerabilidade socioambiental apresenta níveis bastante
elevados, por conta da limitada capacidade de adaptação da população frente a eventos extremos
adversos, agravada pela vulnerabilidade institucional no sentido de desenvolver planos de gestão
dos riscos dirigidos a estes grupos‖ (GAMBA, 2010, p.8).
A vulnerabilidade, nesse sentido, está atrelada ao

grau de eficácia de um grupo social para adequar sua organização frente a mudanças no
meio natural que incorporam risco. A vulnerabilidade aumenta em relação direta com a
incapacidade do grupo humano para se adaptar à mudança, e determina a intensidade dos
danos que pode produzir. O conceito de vulnerabilidade é, portanto, estritamente de caráter
social (GARCÍA-TORNEL, 1997, apud GAMBA, 2010, p.5).

Conforme a CEPAL (2002, apud ZANELLA et al., 2009, p.192), vulnerabilidade seria o
―resultado da incapacidade de enfrentar riscos ou pela inabilidade de adaptar-se ativamente a
situação‖. Portanto, pessoas vulneráveis ―teriam menos condições de aproveitar as oportunidades
oferecidas pelo mercado, o Estado e a sociedade‖. Tal capacidade de aproveitamento de
oportunidades, a que se referem Kaztman et al. (1999) por ―posse ou controle de ativos‖, vincula
estreitamente a vulnerabilidade à dimensão social das populações. Ou seja, o autor concentra sua
análise na ―relação ativos/vulnerabilidade/estrutura de oportunidades‖, a partir do entendimento de
que a disponibilidade de ativos que possibilita o enfrentamento de determinada situação de
vulnerabilidade pode ou não ser suficiente, a depender da estrutura de oportunidades que prevalece
em determinada área ou região. Essas compreensões refletem o que chamava atenção o IPCC
(2001), o qual considera que aqueles que possuem menos recursos coincidem com os que mais
dificilmente se adaptam e, portanto, são os mais vulneráveis.
Neste sentido, a vulnerabilidade se origina na repartição desigual dos benefícios (geração de
riqueza) e custos (produção danos e riscos ambientais) do acesso, apropriação e uso dos recursos
naturais, que no sistema econômico vigente é mediada por relações produtivas e mercantis e está
sujeita a assimetria do poder nas relações sociais, expondo ao risco ambiental os grupos sociais
vulneráveis, agravando a situação de opressão social e exploração econômica destes grupos.
(LAYRARGUES, 2006). É nesta perspectiva que, enfatiza Quintas (2004), há interesses em jogo e
conflitos (potenciais e explícitos) entre atores sociais que atuam de alguma forma sobre os meios
físico-natural e construído, visando o seu controle ou a sua defesa.
O caráter social da vulnerabilidade e sua vinculação com os riscos ambientais também é
enfatizado por Deschamps (2004, p.140), que chama atenção para a estreita correlação existente

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

―entre a localização espacial dos grupos que apresentam desvantagens sociais e aquelas áreas onde
há risco de ocorrer algum evento adverso, ou seja, populações socialmente vulneráveis se localizam
em áreas ambientalmente vulneráveis‖.
Barcellos e Oliveira (2008) também enfatizam que o risco ambiental ―não se distribui de
forma aleatória entre os diversos grupos sociais, mas obedece aos padrões de desigualdade e
segregação social que marcam a estruturação das cidades‖. Assim, ―o reconhecimento de uma
situação de risco tem como pressuposto que os acidentes, em larga medida, são fenômenos sociais,
ou seja, decorrem não de um fenômeno natural em si, mas da relação entre este fenômeno e os
processos históricos de ocupação de determinados espaços da cidade.‖ (TORRES, 2000, apud
BARCELLOS; OLIVEIRA, 2008, p.10).
É nessa orientação que, como campo de pesquisa, ―as condições de vida da população
passaram a desempenhar importante papel na compreensão dos problemas ambientais urbanos e
revelou, ao mesmo tempo, diferenciações claras entre a cidade formal e a cidade informal‖.
(MENDONÇA, 2004, p.141)

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

A natureza estrutural e sistêmica que assume a crise na sociedade em fins do século XX


remete a crise ambiental, conforme alguns autores, como expressão de uma crise civilizatória
pluridimensional (LAYRARGUES, 2002; LIMA, 2002, p. 116), o que contribui para a releitura e
interpretação de paradigmas dominantes, seja no campo econômico, como observado nas
contribuições da economia ecológica, seja na crítica à lógica da racionalidade científica, quando se
propõe pensar a complexidade e trabalhar em busca do desafio da interdisciplinaridade, o que para
Búrigo (2001, p. 6) é muito mais que uma teoria: ―Pois pensar complexo é desafiar os preceitos, os
valores a ordem até então estabelecida. É olhar a desordem como um meio de aprendizagem. A
crise como uma possibilidade. É entender o fenômeno social como uma desordem e/ou ordem com
possibilidades de evolução e mudanças.‖.
Nesse cenário, a ressignificação de paradigmas também envolve o entendimento dos
processos de reprodução social, através de embates ideológicos que contribuem ou para
conformação e absorção das novas reflexões pelo padrão hegemônico do sistema capitalista de
produção40 ou para resistência crítica em favor de mecanismos de transformação e emancipação, na
construção de relações sociais de produção equitativas, humanamente desejáveis e ecologicamente
prudentes.
40
O que ocorre, para Lima (2002, p.118), ―sequestrando a crítica à sociedade industrial e convertendo-a em mais um
instrumento a serviço da sua reprodutibilidade‖, conforme o mecanismo de ―conservadorismo dinâmico‖, como
proposto por Guimarães (1998, p.16). Nesse sentido, para Lima, aceita-se o alternativo ―antes que se torne ameaçador
para a seguir absorver-lhe apenas os elementos compatíveis – a reciclagem, a redução do desperdício e o
reaproveitamento – suprimindo-lhe o elemento crítico – a redução do consumo.‖

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Assim, as contribuições mais recentes, que rejeitam as interpretações da crise ambiental


circunscrita nas discussões a respeito de critérios técnicos ou comportamentais em detrimento de
aspectos éticos e políticos dos processos de produção e consumo, norteiam a construção de uma
nova epistemologia ambiental, que, por sua vez, suscita amplas discussões acerca do papel de um
outro tipo de educação.
De acordo com Carneiro (2006, p. 27), no processo de busca de novos saberes e
racionalidade, é fundamental uma educação que ―reconstrua relações entre pessoas, sociedade e
meio natural, sob uma ética de responsabilidade voltada à sustentabilidade socioambiental‖. Para
isso, são imprescindíveis41:

apreender o ambiente como potencial ecológico da natureza em simbiose com as dinâmicas


culturais que mobilizam a construção social da história; [...] o entendimento de
sustentabilidade socioambiental como racionalidade orientada por novos valores e saberes,
em vista de uma gestão político-econômica criteriosa das potencialidades e limites dos
recursos naturais; [...] a interdisciplinaridade, como articulação integradora de diferentes
disciplinas e saberes sociais (locais, tradicionais e populares) na construção partilhada do
conhecimento frente a problemas socioambientais, comportando a desconstrução do
pensamento disciplinar; [...] uma nova linguagem pedagógica que adote uma perspectiva
sistêmico-relacional, com enfoque crítico-social, com abertura frente às incertezas,
incorporando simultânea reflexão sobre a unidade e a diversidade do processo planetário,
suas complementaridades e antagonismos (como a mundialização, ao mesmo tempo
unificadora e conflituosa) (CARNEIRO, 2006, p. 27-28).

Ao se refletir, portanto, sobre o entendimento da crise ambiental a partir dos paradigmas que
consideram a indissociabilidade entre homem e natureza, cabe também estabelecer reflexões sobre
o papel da educação ambiental no contexto dessa crise. Aqui, vale enfatizar a impossibilidade,
ressaltada por Lima (2002, p. 116), de caracterizá-la a partir de uma única matriz teórica,
generalizando-a, sem qualificá-la, ignorando as ―principais tendências político-ideológicas e éticas‖
que norteiam o saber ambiental. Trata-se, pois, de estabelecer o campo das perspectivas
conservadoras e emancipatórias da educação ambiental.
Na perspectiva de situar o caráter contra-hegemônico da educação ambiental42, vale
caracterizar a educação como subsistema social, subordinado e articulado ao macrossistema social,
ou a um contexto histórico mais amplo que condiciona seu caráter e sua direção pedagógica e
política (CARVALHO, 1998, apud LIMA, 2002, p. 119). Logo, significa compreendê-la em sua
dimensão política, considerando o conjunto de interesses e conflitos estabelecidos no
funcionamento dos sistemas sociais, onde os atores se apropriam ―material e simbolicamente da
natureza de modo desigual‖, em condições materiais desiguais e com projetos distintos de sociedade
(LOUREIRO, 2012, p. 145).

41
Síntese da autora conforme Edgar Morin, Enrique Leff, Capra, Carvalho, entre outros autores.
42
Vista nas tipologias de educação ambiental crítica (GUIMARÃES, 2000), emancipatória (QUINTAS, 2004), ou
transformadora (LOUREIRO, 2012), conforme (LOUREIRO, 2012).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Esses sujeitos sociais, como enfatiza Layrargues (2002, p. 193), não se igualizam como
deflagradores e vítimas da crise ambiental (como pressupõe a educação ambiental na perspectiva
convencional), mas são identificados, na educação ambiental crítica, com ―níveis diferenciados
tanto de responsabilidade como de exposição aos riscos ambientais, de modo inversamente
proporcional‖.
Encontra-se implícita a impossibilidade de pensar a educação isenta de seu condicionamento
social, percebendo como os processos econômicos e sociais determinam as divisões sociais e as
relações de exploração e domínio entre os sujeitos. Para a educação ambiental crítica, ―a crise
ambiental é decorrente do agravamento da tensão da lógica da apropriação privada dos recursos
humanos e naturais, que na ordem econômica competitiva, são forçados ao uso abusivo.‖
(LAYRARGUES, 2002, p. 194).
Porém, entender a problemática ambiental nessa nova matriz é também reconhecer a
educação como práxis social, a qual implica ―a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para
transformá-lo (FREIRE, 1983, p. 40)‖. A educação, nessa perspectiva emancipatória, visa à
formação de uma consciência crítica e o reconhecimento da transformação de processos sociais,
contribuindo, portanto, para ―o processo de construção de uma nova sociedade pautada por novos
patamares civilizacionais e societários distintos dos atuais, na qual a sustentabilidade da vida, a
atuação política consciente e a construção de uma ética que se firme como ecológica sejam seu
cerne. ‖ (LOUREIRO, 2003, apud LOUREIRO, 2012, p. 100).
Não se pode perder de vista o caráter essencialmente ideológico da educação enquanto
aparelho ideológico de Estado de reprodução social e manutenção do status-quo (ALTHUSSER,
1999), sendo imperativo o destaque a ser dado à dimensão política no fazer pedagógico. O desafio
que se coloca à consolidação de uma educação ambiental assentada na perspectiva crítica pressupõe
romper com o desequilíbrio histórico presente na educação ambiental que age majoritariamente em
favor de uma vertente, que ressalte a necessidade de uma mudança cultural e uma nova ética para
tratar dos complexos problemas trazidos à tona pela crise ambiental. Nesse sentido, torna-se
necessário para a contribuição por uma nova sociedade, não somente ecologicamente prudente mas
socialmente justa, a revisão conceitual da própria educação ambiental, focada na reorientação de
seus objetivos, sua função social, seu público-alvo e seus conceitos estruturantes (LAYRARGUES,
2006).

À GUISA DE REFLEXÕES

Do exposto anteriormente, pode-se inferir as inúmeras possibilidades de atuação da


Educação Ambiental na compreensão multifacetada das vulnerabilidades socioambientais que
afetam diversas comunidades, sobretudo nos grandes centros urbanos, possibilitando, através da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ação educativa, o diálogo entre atores envolvidos (escola, comunidade, Ongs, Estado) nas diferentes
temáticas locais (econômicas, ambientais, sociais, culturais, éticas, etc). Nessa trama de reflexões,
abre-se a possibilidade de estabelecimento de novos valores, contribuindo para a criação de uma
nova identidade para o indivíduo, com vista a atuação proativa da comunidade para a percepção e
superação dos seus problemas, tanto pela construção de uma nova ética com o meio ambiente e
formação de cidadania, quanto demandando do poder público atuação para a solução dos problemas
locais.
Entretanto, para que tal proposta resulte em ações que efetivamente desemboquem em
resultados concretos, que consigam mitigar os processos de reprodução social em que se perpetuam,
para a parcela mais empobrecida da população, a suscetibilidade ao risco socioambiental, há de se
refletir, ainda, sobre em que ambiente essa proposta educacional encontrará terreno fértil para se
desenvolver, considerando que os padrões da educação formal não coadunam com um pensamento
transformador e emancipatório. Haja vista os espaços dessa educação formal – embora tragam
elementos dialéticos, pois, apesar de não ser o seu objetivo, podem, ao trabalhar com processos
cognitivos, fomentar ideias críticas e até mesmo atitudes contrárias ao status quo – serem
considerados mecanismos de manutenção e perpetuação da lógica do sistema vigente.
Assim, é necessário que o projeto de Educação Ambiental supere a concepção de
necessidade de uma mudança apenas cultural e ética para a superação da crise ambiental, mas
avance para reflexões que também contemplem a base material e a complexidade das relações
homem-natureza e as condições de reprodução social, intrínsecas ao modo de produção vigente.
Por outro lado, a pluralidade funcional que considera a epistemologia das relações sociais,
históricas e culturais na compreensão crítica da prática social encontra terreno fértil nas análises por
uma nova educação ambiental.
Ao compreender o conhecimento como emancipação e não como regulação, o saber
educacional, na perspectiva crítica, constrói estratégias de diálogo e criticidade, mas utiliza de uma
tensão construtiva, como forma de desestabilizar ao máximo a repetição do presente. Para Santos
(2005), é nessa capacidade desestabilizadora que pode estar a chave para a contribuição de novos
projetos pedagógicos para a ruptura do atual modelo de sociedade, que se baseia em mecanismos
insustentáveis de reprodução social.
O conjunto de reflexões socioambientais, suscitado ao longo deste trabalho, deve ser
articulado por práticas educativas que considerem um enfoque crítico-social, onde a preocupação de
entendimento dos problemas de pesquisa leve em consideração os antagonismos postos pela
realidade social e que seja motivado pela formação de condutas ―positivas (referenciadas aos
valores de respeito, solidariedade, cidadania, justiça, prudência, honestidade etc.) em termos de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

práticas propositivas (resolver/prever problemas) e reativas (vencer acomodação/indiferença)‖,


além de pertinentes com uma nova sustentabilidade socioambiental (CARNEIRO, 2006, p.5).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O DESMATAMENTO DA MATA CILIAR NA ÁREA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO


RIO CUBATÃO DO NORTE (JOINVILLE- SC)

Vanilda Barbosa GALLI


Doutoranda em Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Região de Joinville-UNIVILLE
vanildagalli09@hotmail.com
Gilivã Antonio FRIDRICH
Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPB
gilivan_fridrich@hotmail.com
Nelma BALDIN
Professora Doutora em História da PUC
nelmabaldin47@gmail.com

RESUMO
O artigo aborda o processo do desmatamento da mata ciliar na área da Bacia Hidrográfica do Rio
Cubatão do Norte (BHRCN) em Joinville-SC. Florestas sadias e água doce de qualidade e em
quantidade adequada é de vital importância para a sobrevivência de todos os seres vivos, bem como
para o funcionamento adequado de comunidades e economias. E se tratando da importância da mata
ciliar é indiscutível que a qualidade dos recursos hídricos está sob constante ameaça, principalmente
onde se expandem as atividades industriais e agrícolas, em um cenário em que as mudanças
climáticas poderão provocar grandes alterações no ciclo hidrológico. Dessa forma, o objetivo do
estudo aqui destacado, buscou reconstruir a história da devastação da Mata Atlântica que, até o
período colonial, rodeava e rodea a BHRCN, além de analisar como se deu, historicamente esse
processo de degradação numa decorrência desse desmatamento por meio da mata ciliar na região de
toda a área da bacia 492 km². A metodologia utilizada na aplicação da pesquisa constou de
observações e análise das informações e dados coletados por meio de entrevistas aplicadas a 50
moradores que há mais de 40 anos vivem na região da bacia. Os dados evidenciam o resgate
histórico documental da localidade, nos âmbitos ambiental e econômico. Os resultados da pesquisa
demostraram desmatamento excessivo, incluindo regiões de áreas protegidas.
Palavras-chave: Mata Atlântica, História Ambiental, Conscientização Ecológica.
RESUMÉN
El artículo aborda el proceso de la deforestación de la mata ciliar en el área de la Cuenca
Hidrográfica del Río Cubatão del Norte (BHRCN) en Joinville-SC. Los bosques sanos y agua dulce
de calidad y en cantidad adecuada es de vital importancia para la supervivencia de todos los seres
vivos, así como para el correcto funcionamiento de las comunidades y las economías. Y si tratando
de la importancia de la mata ciliar es indiscutible que la calidad de los recursos hídricos está bajo
constante amenaza, principalmente donde se expanden las actividades industriales y agrícolas, en un
escenario en que los cambios climáticos pueden provocar grandes cambios en el ciclo hidrológico.
De esta forma, el objetivo del estudio aquí destacado, buscó reconstruir la historia de la devastación
de la Mata Atlántica que, hasta el período colonial, rodeaba y rodea la BHRCN, además de analizar
como se ha dado, históricamente ese proceso de degradación en una consecuencia de esa
deforestación por medio de la mata ciliar en la región de toda el área de la cuenca 492 km². La
metodología utilizada en la aplicación de la investigación constó de observaciones y análisis de las
informaciones y datos recogidos por medio de entrevistas aplicadas a 50 habitantes que desde hace
más de 40 años viven en la región de la cuenca. Los datos evidencian el rescate histórico

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documental de la localidad, en los ámbitos ambiental y económico. Los resultados de la


investigación demostraron una deforestación excesiva, incluyendo regiones de áreas protegidas.
Palavras clave: Historia Ambiental, Mata Atlántica, Conscientización ecológica.

INTRODUÇÃO

Partindo-se do pressuposto da importância da mata ciliar é indiscutível que a qualidade dos


recursos hídricos está sob constante ameaça, principalmente onde se expandem as atividades
industriais e agrícolas, em um cenário em que as mudanças climáticas poderão provocar grandes
alterações no ciclo hidrológico. Por este e tantos outros argumentos da importância da permanência
de nossos recursos naturais, que se realizou a pesquisa aqui em destaque, cujo objeto de estudo foi
uma análise histórica da macroeconomia em relação ao desmatamento da Mata Ciliar da área da
Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte, em Joinville. O Rio Cubatão do Norte (objeto de
análise), é considerado um patrimônio público diretamente relacionado aos recursos hídricos e ao
meio ambiente do Município de Joinville (SC). A bacia hidrográfica do rio Cubatão do Norte é
considerada uma das mais importantes bacias hidrográficas da região nordeste de Santa Catarina
(ZANOTELLI; HOMRICH; OLIVEIRA, 2009, p. 9).
Historicamente, a Mata Atlântica foi a primeira floresta a receber iniciativas de colonização,
e dela saiu a primeira riqueza a ser explorada pelos colonizadores do Brasil. Desde então, vários
ciclos se desenvolveram no seu domínio. Os colonizadores, motivados pela valorização da madeira
e do lucro fácil, não percebiam a importância dos benefícios ambientais que a cobertura florestal
nativa trazia e, assim, foram-se mais de quatro séculos de extração predatória, seletiva e exaustiva
de espécies como o pau-brasil, além de outros produtos florestais que foram e são até hoje
amplamente extraídos (DEAN, 1996).
Devido a todo esse processo, decorrente da própria história, é necessário mensurar a
interferência da economia nos ecossistemas naturais, reconhecendo que é possível um trabalho de
conscientização, cujo objetivo central é a busca da sustentabilidade. Em consonância com esse
pensamento, tem-se o entendimento de que a qualidade da água deve ser tão importante quanto à
quantidade. E a garantia desse bem comum para atender as necessidades básicas dos seres humanos
e do meio ambiente, envolve diversos fatores que partem de um pressuposto: conscientização
ambiental, uma mudança de comportamento de atitudes e valores em relação à representação social
sobre a importância da Mata Atlântica em relação aos recursos hídricos. Que a pesar de as duas
questões (Mata Atlântica e bacia hidrográfica) estarem intimamente interligadas, o que se reforça
aqui é que a água continua sendo utilizada para saciar a sede, cultivar alimentos e mover a
economia. E as florestas continuam protegendo-as. Dessa forma, o objetivo deste estudo, buscou
reconstruir a história da devastação da Mata Atlântica que, até o período colonial, rodeava e rodea a

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Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte, além de analisar como se deu, historicamente esse
processo de degradação numa decorrência desse desmatamento por meio da mata ciliar na região de
toda a área da bacia 492 km².

DESMATAMENTO
Os desmatamentos das encostas e das matas ciliares vêm contribuindo para a diminuição da
quantidade e da qualidade das águas nas nascentes. Essas atitudes causam, tanto a curto como longo
prazo, sérios problemas para as populações dos municípios onde essas matas estão inseridas.
Segundo Carvalho (2008), desmatamentos, desvios dos cursos de rios, queimadas,
monoculturas em grande escala, extração de minérios, pavimentação asfáltica, entre outros, são
algumas das ações ―opressoras‖ sobre a natureza, pois provocam consequências na forma de
catástrofes que geralmente levam à desertificação, falta d‘água, enchentes, desmoronamentos de
encostas de morros, envenenamento por poluentes, entre outros fatores. O mesmo autor ainda
menciona que a ordem social vigente e ―opressora‖ sobre a natureza se caracteriza pela
produtividade material, baseada na exploração ilimitada dos recursos naturais e pela desigualdade e
exclusão social e ambiental. E como afirma o referido autor, essa forma de viver, baseada no
acúmulo de bens e no uso desenfreado dos recursos naturais, é criticada pelo ideário ecológico.
Para Lopes (2001), a extração de toras de madeira para construção de habitação humana, a
qual às vezes ocorre antes mesmo da ocupação e abertura de terras para atividades agropastoris,
causa impacto substancial em termos de destruição de matas ciliares, onde as espécies importantes
tendem a se concentrar. Produz-se forte degradação ambiental e os rios se transformam em canais
de depressão de esgoto e rejeitos. Por causa da falta da mata ciliar e do excesso de areia, rios podem
desaparecer, ocasionando também a morte de peixes de porte maior, já que o volume de água tende
a diminuir, pois, com a exposição do rio, o processo de evaporação é mais intenso.
O desaparecimento de florestas no Brasil é causado por fatores específicos, como a obtenção
de solo para a agropecuária, a indústria madeireira, o uso da lenha nas residências, na agricultura e
na indústria nascente, somando-se a esses fatores, ainda, a especulação imobiliária. Isso ocorre por
dois principais motivos: falta de planejamento no âmbito ambiental, que visa diagnosticar
consequências drásticas ao meio ambiente, e, principalmente, falta de fiscalização do governo sobre
o cumprimento das leis (DEAN, 1996).
Entende-se, portanto, que a sociedade precisa despertar para a importância da preservação da
natureza como elemento fundamental para a própria sobrevivência e, para isso, além de ―cuidar‖
das nossas riquezas naturais, deve ainda chamar o poder público à ação, haja vista que este é
também um dos responsáveis por essa conservação. Há que se cobrar das autoridades políticas
públicas eficientes e permanentes na defesa das matas ciliares.

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MATA CILIAR
Matas ciliares são formações florestais que se encontram ao longo dos cursos de água e no
entorno de nascentes. Apresentam características vegetacionais definidas por uma complexa
interação de fatores dependentes das condições ambientais ciliares (RODRIGUES e GANDOLFI,
2000).
Um dos principais objetivos das matas ciliares é contribuir para a proteção das nascentes e
dos mananciais. Segundo Franco (2005, p.134):
As matas ciliares constituem-se, reconhecidamente, em um elemento básico de proteção
dos recursos hídricos, apresentando diversos benefícios tanto do ponto de vista utilitarista,
em relação direta ao ser humano, quanto do ponto de vista efetivamente ecológico, para a
preservação do equilíbrio ambiental e, consequentemente, da biodiversidade [...] As matas
ciliares guardam íntima relação com a quantidade e o comportamento da água existente nos
sistemas hidrográficos, controlando por um lado a vazão e por outro a estabilidade dos
fluxos hídricos.
A Mata ciliar é a formação vegetal localizada nas margens dos rios, córregos, lagos, represas
e nascentes. Considerada pelo Código Florestal Federal como "área de preservação permanente",
deve ser mantida intocada, e, caso esteja degradada, deve-se prever a imediata recuperação.
Estabelecido isso, com a preservação torna-se possível: reter/filtrar resíduos de agroquímicos
evitando a poluição dos cursos d‘água; proteger contra o assoreamento dos rios e evitar enchentes;
formar corredores para a biodiversidade; recuperar a biodiversidade nos rios e áreas ciliares;
conservar o solo; auxiliar no controle biológico das pragas; equilibrar o clima; melhorar a qualidade
do ar, água e solo; manter a harmonia da paisagem; e consequentemente melhorar a qualidade de
vida. Sem a mata ciliar, reduzem-se as nascentes, os córregos, os rios e os riachos além de outros
prejuízos econômicos. Por esses e outros motivos se faz necessário preservar as matas ciliares de
acordo com o Código Florestal, Lei n.º 4.771/1965 (BRASIL, 1965).
No que diz respeito às áreas de preservação permanente, no caso as matas ciliares, as
extensões atualmente em vigor são as que foram instituídas pela Lei 12.651/12 e por outras
posteriores como a Lei 12.727, ambas de 2012, que a modificaram. Na tabela abaixo encontram-se
os elementos estabelecidos pela Lei.

I - As faixas marginais de qualquer curso d‘água natural perene e intermitente, excluídos os


efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:
Cursos d‘água de menos de 10 (dez) metros de largura. 30 (trinta) metros
Cursos d‘água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)
50 (cinquenta) metros
metros de largura.
Cursos d‘água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
100 (cem) metros
metros de largura.
Cursos d‘água que tenham de 200 (duzentos) a 600
200 (duzentos) metros
(seiscentos) metros de largura.
Cursos d‘água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) 500 (quinhentos) metros

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metros;
II - As áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
Em zonas rurais, exceto para o corpo d‘água com até 20
(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 100 (cem) metros
(cinquenta) metros;
Em zonas urbanas 30 (trinta) metros
TABELA 2: Área de Preservação Permanente (APP) Mata Ciliar, segundo o novo Código Florestal Lei nº
12.651/12.
Fonte: BRASIL, 2012a.

Cabe reafirmar, aqui, a importância da mata ciliar. Como área de preservação permanente
sua existência é obrigatória, uma vez que ela preserva a vida dos rios e dá cobertura ao solo. São
inúmeros seus efeitos positivos, não apenas para os recursos hídricos, mas, também, para a
biodiversidade. Evita enchentes, protege os animais que controlam as pragas, protege o solo contra
erosões, e ainda serve para controlar a temperatura e impedir que agrotóxicos usados na agricultura
cheguem aos rios pela água da chuva. Para Martins (2001), vários nomes são encontrados para
designar matas ciliares, tais como: florestas ripárias, matas de galeria, florestas beiradeiras, florestas
ripícolas e florestas ribeirinhas. Leitão Filho (2000) enfatiza que essas matas ciliares ocorrem ao
longo dos cursos d‘água e no entorno de nascentes.
Segundo Paz e Farias (2008), as matas ciliares exercem importante papel na proteção dos
cursos d‘água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas, além de que, em
muitos casos, constituírem-se nos únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo,
portanto, essenciais para a conservação também da fauna. Assim, sua importância reside na função
protetora que exerce sobre os recursos bióticos e abióticos, onde a denominação de ciliar refere-se a
sua função de proteção aos rios, comparada aos cílios que protegem os olhos. Quanto aos recursos
bióticos, servem de refúgio para a fauna, fornecendo abrigo e alimentação e, atuando como corredor
biológico, estimulam o fluxo gênico entre as populações. Quanto aos recursos abióticos, as matas
ciliares têm importância fundamental na manutenção da qualidade da água dos mananciais. Apesar
da reconhecida importância ecológica cada vez mais evidente com o passar dos anos, em que a água
é considerada o recurso natural mais importante para toda espécie de vida, as matas ciliares
continuam sendo eliminadas, cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a pecuária,
agricultura e, em muitos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo
de produção.
Sendo assim, o Código Florestal existe para regular e exigir a preservação da mata ciliar.
Onde não mais existir a mata ciliar, é necessário o reflorestamento, pela aplicabilidade da lei, o
homem terá que recompor o que foi retirado (BRASIL, 2012).

METODOLOGIA

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A pesquisa foi desenvolvida na abordagem qualitativa, descritiva e de forma etnográfica.


Esse tipo de pesquisa, segundo Lüdke e André (2003), tem sido o método sugerido para estudos que
tem o ambiente natural como fonte dos dados. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas
abertas e semiestruturadas com 50 moradores da região, conforme orienta a técnica metodológica
snowball (―bola de neve‖) – é uma ferramenta que vem sendo utilizada para pesquisas em Educação
Ambiental aplicadas em comunidades (ALBUQUERQUE, 2009). Esta técnica possibilita encontrar
essa população-alvo, em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes, que
por sua vez indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o número
esperado (o número mínimo) 50 (cinquenta) pessoas. O critério para a participação no estudo é o
ato de morar 40 anos ou mais na localidade. Devido a grande extensão da bacia 492 km², definiu-se
para estudo 15 pontos estratégicos, tendo como referência a quantidades dos principais afluentes-
rios. No entanto, em um dos pontos definidos, a área do afluente Rio do Braço, a pesquisa não está
sendo aplicada tendo em vista que já se têm dados e informações detalhadas obtidas no estudo de
Galli (2014). Neste sentido, a pesquisa centrou-se nos outros 14 pontos. Buscou-se saber dos
residentes dessas localidades estudadas: o que percebem como comprometedor da qualidade das
águas de seus rios, notadamente afluentes do Rio Cubatão do Norte; qual a relação da Mata
Atlântica com as águas do Rio Cubatão; quais as representações sociais que têm sobre o fenômeno
que ocorre com esse rio; e qual a percepção que expressam quanto à degradação da BHRCN.
A referência da população para este estudo foi a mata ciliar da área da bacia hidrográfica.

RESULTADOS

Nesse contexto, apresentam-se, aqui, dados preliminares da pesquisa sobre o desmatamento


da mata ciliar na área da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Do Norte Dos 14 pontos previamente
estabelecidos para o locus da pesquisa, 13 já foram estudados e dentre os 50 moradores com o
critério estabelecido para participantes das entrevistas de morar 40 anos ou mais na região, têm-se
até este momento 48 entrevistados. As contribuições científicas e sociais já estão sendo possíveis
através dos resultados parciais da aplicação da pesquisa que está em andamento, principalmente em
relação à discussão coletiva, pois 76 % dos participantes já entrevistados afirmam que o volume de
água dos afluentes dos rios que formam a bacia hidrográfica está gradativamente diminuindo e isto
é notável devido ao desmatamento da Mata Atlântica desde a época da colonização da cidade em
Joinville e este tem profunda relação com os rios, já 24% afirmam que a Mata Atlântica não
apresenta tanta importância para com os rios, que o volume de água em menor quantidade é
decorrente do mal cuidado com os rios e principalmente dos banhistas na época do verão na
localidade.

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Houve entrevistados que ao serem questionados sobre a conservação da Mata Atlântica


mencionam a década de 1950 e aproximadamente até a década de 1980 como o período de mais retiradas
de madeiras da floresta, sendo que esta era então uma prática comum.
Quando indagado aos entrevistados se a existência, a manutenção e a conservação da Mata
Atlântica possibilitam à sociedade local uma melhoria na qualidade de vida, todos afirmaram que
sim. Suas justificativas foram diversas, com maior ênfase na questão de um clima melhor, pela
própria função que a Mata Atlântica propõe, na qualidade da água e na pureza do ar. Os
pesquisadores reforçam aqui esta informação com a fala do ―Entrevistado 6‖:

―Sim, pelo próprio ar que se respira, quanto mais verde melhor‖.

Para Jodelet (2009), os significados que os sujeitos individuais e coletivos atribuem a um


objeto do seu meio social e material estão ligados à sua sensibilidade, interesses, desejos, emoções e
funcionamento cognitivo. Nesse sentido, os entrevistados estabeleceram a partir de suas ―falas‖ qual
o significado que o rio e a Mata Atlântica representam para os mesmos. O ―Entrevistado 2‖
demonstrou certa falta de interesse quando perguntado sobre a importância do rio, que corre em sua
propriedade:

―Não tem nenhum significado. Ele está praticamente morto. Antigamente tinha muita
água... Eu não sinto falta. Porque aqui eu tenho muita água no poço‖.

Discutindo-se a relação que a Mata Atlântica tem com a água da região estudada, ou seja,
com a Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte, o ―Entrevistado 8‖ menciona:

―A Mata Atlântica ela é extremamente generosa. Como ela se situa em uma região de clima
tropical, ela é formada por uma variedade imensa de espécies maior que qualquer
ecossistema. E, além disso, tem uma capacidade enorme de regeneração. A BHRCN é
importante devido os mananciais.‖

O processo de sensibilização ambiental em curso na sociedade brasileira segundo Leff


(2005) é aquele que inclui valores éticos, conhecimentos práticos e saberes tradicionais. Esses
contribuem para que os indivíduos tenham novas atitudes sociais, o que possibilita novas reflexões
e, consequentemente, novas ações em relação ao meio ambiente. Para tanto, considera-se, aí, a
importância da Educação Ambiental (EA) que, segundo Reigota (2004) é uma representação social,
já que é realizada a partir da concepção individual que se tem do meio ambiente. Nesse sentido,
identifica-se que a sensibilização ambiental é uma das etapas fundamentais do processo de
aplicação da EA, porque este é o momento em que os ―envolvidos‖ poderão entrar em contato com
a temática ambiental e com as principais discussões que são então realizadas via os inúmeros
questionamentos, sejam eles de ordem global, regional ou local. Essa conexão leva, portanto, à
relação com a realidade da comunidade onde o sujeito está inserido.

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Ao serem questionados sobre a importância da Mata Atlântica em relação ao bem estar e à


qualidade de vida, todos os entrevistados relataram que é de importância essencial. Tanto na
questão qualidade da água, como em relação ao ar e clima.
E para um reforço desse entendimento, o ―Entrevistado 10‖ destaca:

Temos uma rica diversidade de Mata Atlântica, tanto vegetal como animal. É uma floresta
diferenciada. Há muitos anos atrás tinha mais água no rio. Hoje parece que está acabando...
a calha está profunda, devido a mineração... Antes tinha mais água devido a cobertura da
floresta, quando não se tem floresta a qualidade de vida diminui.

Reigota (2004) considera que a compreensão das diferentes representações deve ser a base
da busca de negociação e solução dos problemas ambientais. A verdade é que muitas vezes em
consequência da má administração, grande parte da água disponível não só nas economias em
desenvolvimento, mas também nas economias desenvolvidas, está poluída e contaminada em níveis
variados. Ou seja, é um recurso natural que está sendo mal utilizado, mal distribuído e mal cuidado.
Dessa forma, os resultados encontrados sobre a questão pesquisada e as análises etnográficas
das informações coletadas possibilitam, à comunidade local, uma maior reflexão quanto à questão
da importância das águas para a vida, assim como, posterior conscientização da importância da
Mata Atlântica para a permanência dessas águas. Os resultados desta pesquisa mesmo que parciais,
já fornecem evidências de que a destruição da mata ciliar é uma prática realizada até mesmo antes
da colonização (DEAN, 1996). Diante deste discurso, a pesquisa trás uma reflexão profunda onde o
estudo está sendo aplicado, principalmente porque faz um resgate de fatos históricos de âmbito
ambiental da localidade e, sobretudo, voltado principalmente à sensibilização e conscientização dos
moradores da área da BHRCN. Além de que, já se tem dos próprios moradores sugestões para
conservação da Mata Atlântica e consequentemente do Rio Cubatão no município de Joinville.
Desta forma, esta pesquisa poderá subsidiar a elaboração de campanhas e projetos de intervenção
ambiental, envolvendo os sujeitos da sociedade como um todo: governo e população. Pois as
evidências indicam que não basta apenas a existência de regulamentos, também é necessário haver
um compromisso com a fiscalização dessas Leis, assim como o conhecimento delas. Com o
conhecimento das Leis, a comunidade pode ser mobilizada por meio de ações educativas e de
conscientização, o que poderá levar os indivíduos à mudanças de comportamento.

DISCUSSÃO

Posteriormente à etapa das entrevistas formais, ocorreram sessões de conversas informais


entre as pesquisadoras e os entrevistados. Esses foram momentos que possibilitaram um maior
enriquecimento das informações coletadas, bem como foram espaços de aprendizagem, sendo que
as informações ali obtidas acabaram por ressaltar variáveis históricas e socioeconômicas de grande
relevância para a conclusão da pesquisa. Mediante as falas em geral dos entrevistados, foi possível

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perceber que mesmo considerando a Mata Atlântica na região como conservada, os moradores
ressaltaram como essa era diferente há 40 ou 50 anos atrás, principalmente em relação aos rios, que
correm na localidade, pois esses eram muito mais caudalosos que a situação como se apresentam hoje em
dia.
Na região estudada, segundo as ―falas‖ dos entrevistados, o corte das madeiras em geral era
feito próximo às margens do rio para facilitar o transporte e escoamento. Este processo fez com que
a mata ciliar ficasse degradada contribuindo também para a erosão no leito dos rios.
Nas saídas de campo feitas às propriedades para as entrevistas, foi-nos possível observar que
em alguns pontos do rio a mata ciliar permanece preservada, e em outros com mata ciliar
replantada. É notório realçar, no caso, que algumas pessoas se sensibilizam mais facilmente que
outras, e essas reações estão explícitas na própria comunidade. Para Jacobi (2003), o crescimento e
o desenvolvimento da consciência ambiental expandem as possibilidades de ação e participação da
população nos processos de decisão em níveis mais altos. Deste modo, desenvolve-se e fortalece-se
a coparticipação no controle e na fiscalização dos agentes responsáveis pela degradação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos dados coletados possibilitou observar que com o passar dos últimos 30 ou 40
anos ocorreu, na região, grande ação antrópica. Percebe-se, ainda que nesse período aconteceu um
aumento significativo de solo exposto, campo e urbanização. Em contra partida, em visitas na área,
notou-se a significativa diminuição da Mata Atlântica e a formação de capoeira, ou seja, pelos
resultados obtidos com a pesquisa, verificou-se que houve uma grande redução da vegetação nativa
mais grossa, e redução de vegetação fina, o que evidencia que ao contrário das informações
colhidas durante a aplicação das entrevistas de que a floresta permanece conservada, percebe-se que
essa é uma tese que não se comprova.
O estudo mostrou-nos que a cobertura florestal, hoje, é formada predominantemente por
vegetação secundária em estágio avançado e médio de sucessão. Isto é, vegetação instalada após
longas décadas de exploração de madeiras, corte raso, exploração de lenha e após abandono das
terras e, assim, permitido o processo sucessional (SEVEGNANI et al, 2013).
A aplicação das entrevistas e também as conversas informais acontecidas com os
participantes da pesquisa aqui em foco, mais os resultados em geral encontrados sobre a questão a
aplicação das entrevistas e também as conversas informais acontecidas com os participantes da
pesquisa aqui em foco, mais os resultados em geral encontrados sobre a questão pesquisada podem
ser aproveitados como uma alternativa para propostas de políticas públicas voltadas para a
comunidade local, assim como para seu entorno. Pois, é necessário que as autoridades responsáveis
pela conservação ambiental adotem uma postura rígida no sentido de preservarem as matas ciliares

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que ainda restam, e que a população em geral, em especial os produtores rurais, sejam
conscientizados sobre a importância da conservação dessa vegetação. Nesse sentido, é importante
mencionar a intensificação de ações na área da Educação Ambiental, visando conscientizar tanto as
crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação das áreas ciliares. Há necessidade de
parcerias entre instituições como escolas, universidades, associações, o Ministério Público,
Organizações Não Governamentais (ONGs), prefeituras municipais, tendo como objetivo principal
a viabilização da recomposição dessas matas ciliares que protegem os recursos naturais que são
essenciais para a vida, as nascentes e os mananciais de água.
Os estudos sobre as áreas de bacias hidrográficas degradadas mostram que invariavelmente
as florestas, as matas ciliares e as suas águas sofrem perdas significativas com as ações do homem.
Uma forma de amenizar esses efeitos é a prática de atividades de Educação Ambiental que
possibilitem reflexão, sensibilização e conscientização ambiental nos moradores locais.

AGRADECIMENTOS

A Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), pelo apoio


financeiro à pesquisa;

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Rio Cubatão do Norte. Joinville, SC: UNIVILLE, 2009.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1106


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO RIO TRACUNHAÉM, BOM JARDIM-PE,


VISANDO A COMPREENSÃO DA REALIDADE LOCAL E CAUSAS DA
DEGRADAÇÃO DESSE CORPO HÍDRICO

Wanderson Cabral da SILVA


Pós-graduado em Ensino de Geografia - FAINTVISA
E-mail: wanderson.univ.cabral@gmail.com
Alineaurea Florentino SILVA
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Embrapa
E-mail: alineaurea.silva@embrapa.br
Lucivânio JATOBÁ
Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente - UFPE
E-mail: lucivaniojatoba@uol.com.br

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo apresentar uma breve análise da realidade socioambiental
do rio Tracunhaém, no perímetro urbano do município de Bom Jardim-PE, pertencente ao Agreste
pernambucano, como forma de alertar a população do município, tornando-os protagonistas de
ações que possam combater a degradação de corpos hídricos importantes para a sobrevivência
humana no local. Para a investigação foram utilizados o método de análise bibliográfica e
observações de campo, visando identificar os principais fatores que contribuem hoje e contribuíram
no passado para a degradação do ambiente fluvial, como também as principais consequências
identificadas. O trabalho chama atenção para as condições inóspitas as quais o rio está submetido
atualmente, apontando ações a serem realizadas, que possam trazer melhorias para o quadro,
destacando principalmente o papel do poder público. Concluiu-se que várias ações precisam ser
empregadas para a recuperação do curso fluvial a curto, médio e longo prazos e ferramentas
importantes, como a educação ambiental e a sensibilização da população, podem constituir as
principais aliadas.
Palavras-chave: Degradação Ambienal, Ocupação Desordenada, Poluição, Curso Fluvial.
ABSTRACT
In the present work, a brief analysis of the socioenvironmental reality of the Tracunhaém River was
presented, in the urban perimeter of the municipality of Bom Jardim-PE, belonging to Pernambuco's
agreste, with the aim of alerting the population of the municipality, making them protagonists of
actions covered with care and Concern with the degradation of water bodies important for human
survival. For the investigation, the method of bibliographical analysis and field observations were
used to identify the main factors that contribute today and contributed in the past to the degradation
of the fluvial environment, as well as the main negative consequences identified. The work calls
attention to the inhospitable conditions that the river is currently undergoing, pointing out actions to
be carried out, that can bring improvements to the picture, highlighting mainly the role of the public
power. Thus, it was concluded that a number of actions need to be employed for the recovery of the
fluvial course in the short, medium and long term, and important tools, such as environmental
education and population awareness, may be the main allies.
Keywords: Water Degradation, Disorderly Occupation, Pollution, Fluvial Course.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1107


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Desde os mais remotos relatos históricos de ocupação dos espaços terrestres e com a
evolução do ser humano, os componentes das mais diversas civilizações que existiram na história
buscaram meios de adaptação `as condições da natureza e usufruíram dela para satisfação de suas
necessidades. O uso ou exploração dos recursos naturais foi se expandindo, acompanhado do
crescimento populacional, trazendo como consequência negativa a degradação exacerbada do meio
ambiente.
O Rio Tracunhaém encontra-se inserido na bacia do Rio Goiana, sendo um de seus
principais cursos d‘água, com uma extensão de cerca de 127 quilômetros. Passa por diversos
municípios do Agreste e da Zona da Mata pernambucana, sendo seus principais afluentes o rio
Orobó, o riacho Pagé, o rio Ribeiro, o riacho Paissandu e o rio Acaú, pela margem esquerda; e o
riacho Gabioé, o rio Itapinassu e o rio Caraú, pela margem direita.
Na borda norte-ocidental do município de Orobó-PE, ao sul do distrito de Umburetama-PE,
região conhecida como Serra do Orodongo, nasce o rio Tracunhaém, assumindo direção Sudeste até
o município de Limoeiro-PE, onde redireciona-se para nordeste até o município de Goiana-PE,
fazendo ali confluência com o rio Capibaribe Mirim, formando o Rio Goiana. Ao longo de seu
curso, passa pelo centro da cidade de Bom Jardim-PE, onde é notada uma complexa problemática
ambiental, devido a notável ocupação urbana desordenada, trazendo a retirada da mata ciliar, o
assoreamento do leito do rio, o despejo de esgoto e o lixo despejado ao longo de suas margens, além
de outros problemas de ordem indireta.
O presente estudo ressalta a importância da aplicação da educação ambiental no
aprimoramento do ensino de geografia, trazendo o incentivo do conhecimento aprofundado da
teoria associado à prática e ações junto aos órgãos competentes.
A partir da visualização dos problemas relacionados com a poluição do Rio Tracunhaém e
da identificação de alternativas para enfrentá-la, pode-se iniciar um processo de sensibilização da
população, relacionando o quadro atual do referido rio com os aspectos negativos causados pela
evolução histórica da ocupação desordenada. Desse modo, podem ser apontadas soluções em curto,
médio e longo prazos que contribuirão para minimização ou solução total dos problemas
observados.
O papel da educação ambiental e da sensibilização da população é de importância crucial,
pois só a partir da mobilização social é possível conseguir maior atuação e maior eficácia na
resolução dos problemas diversos que atingem o leito do rio. Para isso, faz-se necessário chamar
atenção para a situação inóspita do ambiente fluvial do município e as condições geradas a partir
disso para a população e para o entendimento do processo atual de degradação ambiental,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

procurando-se, assim, compreender como deu-se o desenvolvimento desse processo. Esses aspectos
reunidos podem gerar informações mais aprofundadas sobre o assunto, que sendo observadas e
aplicadas, poderão minimizar estes problemas ou, no mínimo, alertar os órgãos competentes e a
comunidade envolvida a respeito da problemática diagnosticada e apresentada.
O presente trabalho teve como objetivo a análise da realidade socioambiental do rio
Tracunhaém, no município de Bom Jardim-PE, pertencente ao agreste pernambucano, no recorte
espacial que abrange o meio urbano, buscando a compreensão da realidade local e como esta
contribui com a degradação ambiental desse espaço, para alertar a população, tornando-os
protagonistas de ações revestidas de cuidado e preocupação com a degradação de corpos hídricos
essenciais para a sobrevivência humana.

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico com o propósito de compreender a


realidade do objeto em estudo através de teóricos do assunto, além disso, análises de dados gráficos,
tabelas e imagens, também foram empregados para o enriquecimento do texto de das
argumentações posteriores.
O método definido para o trabalho fundamentou-se na pesquisa bibliográfica, que segundo
SEVERINO (2007):

É aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores,


em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. utiliza-se de dados ou categorias
teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos
tornam-se fontes dos mas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das
contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. (SEVERINO, 2007,
p. 122)

Após levantamentos bibliográficos, foram feitas viagens a campo para observação direta e
análise dos impactos socioambientais ocasionados graças a degradação hídrica existente e a
ocupação desordenada, identificando causas e consequências relacionadas, principais com vistas a
associar toda essa problemática como alguma ferramenta pedagógica que possa socializar as
informações com a comunidade, na busca de intervenções para o alcance das melhorias.
Desta maneira, foram programadas idas a campo para identificar as ações passíveis de
solucionar os problemas identificados e, por meio de ações educativas e sensibilizadoras,
empreender ações que possam mobilizar toda a comunidade para realização de iniciativas, com o
intuito de recuperação do canal fluvial em benefício da própria população. Os próprios moradores
envolvidos seriam os responsáveis tanto pelas melhorias a curto prazo, como também pela
manutenção das mesmas e o desenvolvimento de futuras no beneficiamento dos recursos naturais.
No estudo procurou-se compreender as concepções que permeiam os saberes que se

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entrecruzam no campo da sociedade atual no que diz respeito a ocupação urbana e a degradação
hídrica no leito do rio Tracunhaém, no perímetro urbano do município de Bom Jardim, agreste
setentrional pernambucano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo dados da CPRM (2005), O município de Bom Jardim está localizado na


mesorregião do Agreste Pernambucano e na Microrregião Médio Capibaribe do Estado de
Pernambuco, limitando-se a norte com Orobó e Machados, a sul com João Alfredo, a leste com
Vicência e Limoeiro e a oeste com Surubim e Casinhas (Figura1). A área municipal ocupa 207,4
km2 e representa 0.21 % do Estado de Pernambuco. A sede do município está a uma altitude
aproximada de 333 metros e suas coordenadas geográficas são 07° 47‘ 45‖ de latitude sul e 35° 35‘
14‖ de longitude oeste, distando aproximadamente 114,8 quilômetros da capital, Recife-PE.

Figura 1: Localização do município de Bom Jardim-PE


Fonte: IBGE (2017)

A sede municipal de Bom Jardim encontra-se inserida na unidade geoambiental do Planalto


da Borborema, no agreste setentrional pernambucano, zona de transição entre a zona da Mata e o
sertão nordestino, com vegetação caracterizada por florestas caducifólia e subcaducifólia.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), formulado para medir a
qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino em toda a rede,
tem evoluído consideravelmente nos últimos anos no município, progredindo de 2,60 no ano de
2007, para 3,40 no ano de 2013, conforme assinala dados coletados no IBGE (2013). Considerando
que o IDEB do município se comportou de forma crescente nos últimos anos, se faz necessário que

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o índice cresça ainda mais, uma vez que em todos os 4 (quatro) anos citados, o índice se mostrou
inferior à média do estado de Pernambuco, que atingiu os valores de 3,1 em 2007, 3,6 em 2009, 4,2
em 2011 e 4,4 no ano de 2013, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira.
A proposta estudada remete ao contexto da educação ambiental e ao aprimoramento do
ensino de diversas ciências como a geografia, biologia e história, tendo em vista maior
conhecimento de aspectos práticos desses temas com objeto de estudo local, iniciativa que poderá
melhorar sobremaneira o IDEB do município e permitir o envolvimento da comunidade escolar no
desenvolvimento de propostas de trabalho com apelo para proteção ambiental.
De acordo com o Censo demográfico, realizado no ano de 2010 pelo IBGE, foi constatado,
no município, uma população de 37.826 habitantes, com uma estimativa para o ano de 2016 de
38.976 habitantes, sendo 15.195 residentes na zona urbana e 22.631 residentes na zona rural. A
população que reside na zona urbana de Bom Jardim, em sua maioria, não possui acesso ao
saneamento básico, sendo uma quantidade mínima de domicílios que possuem fossa séptica,
considerando que a maior parte da população que habita este setor, deposita diretamente os resíduos
gerados no curso fluvial do Rio Tracunhaém.
De acordo com dados disponibilizados pelo IBGE (2017), Bom Jardim possui 22,1% de
domicílios com esgotamento sanitário adequado e, quando comparado a outros municípios do
estado de Pernambuco, assume a posição 154 de um total de 185 municípios. Se compararmos aos
demais municípios pertencentes ao território brasileiro sua posição passa para 3529 de um total de
5570. Esses dados são alarmantes, pois ao longo de muitos anos as cidades vem crescendo
desordenadamente, sem planejamento, e sem o devido controle levando uma expansão habitacional
muito rápida e a população não dispondo de acesso à rede de saneamento lançam os resíduos de
maneira clandestina e até mesmo intencional degradando diretamente os corpos d‘agua.
O município de Bom Jardim apresenta certa heterogeneidade de tipos de solos, como
ilustrado na Figura 2 (Embrapa, 2017), destacando-se aqui o perfil registrado apenas na área em
estudo, ou seja, o perímetro urbano, que apresenta três variedades de solos: os Luvissolos (antigos
Brunos Não Cálcicos); os Argissolos Vermelhos Escuros (antigos Podzólicos Vermelhos Escuros);
e os Neossolos Litólicos (antigos Litólicos).

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Figura 2. Solos do município de Bom Jardim – PE


Fonte: Embrapa (2017)

Os Luvissolos preesentes na área estudada são ―solos constituídos por material mineral,
apresentando horizonte B textural com argila de atividade alta e alta saturação por bases.‖
(EMBRAPA, 2006, p. 177), são poucos desenvolvidos e com poder de infiltração baixo, sendo
bastante susceptível aos processos erosivos. Os Neossolos são ―solos pouco evoluídos constituídos
por material mineral, ou por material orgânico com menos de 20cm de espessura, não apresentando
qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.‖ (EMBRAPA, 2006, p. 181). São solos
consideravelmente muito rasos e a rocha de origem está bem próxima a superfície. Porém esse
aspecto pode tornar-se complicador no momento em que a saturação do solo alcança seus níveis
mais altos e o escoamento carrega partículas de argila, promovendo o assoreamento do rio. Estes
aspectos sao importantes quando associados ao regime pluviométrico de eventos torrenciais,
fragilizando ainda mais a estrutura do solo que impediria a erosão e assoreamento do leito do rio.
O clima em Bom Jardim é tropical chuvoso com verão seco, no qual, geralmente o período
de chuvas registra-se de fevereiro a setembro. Segundo dados da Climate-Data.org (2017) a
temperatura média registrada é de aproximadamente 23.6°C anuais com pluviosidade média anual
de 1223 mm, como assinala o gráfico abaixo (Figura 3).

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Figura 3. Gráfico climático de Bom Jardim – PE


Fonte: Climate-Data.org (2017)

O inverno do município de Bom Jardim é mais chuvoso que o verão. De acordo com a
classificação de Köppen e Geiger (2017) o clima é classificado como As. Novembro é o mês mais
seco com 22 mm e o mês de julho é o de maior precipitação, registrando uma média de 192 mm.
Historicamente, os rios possuem grande importância no surgimento de povos e de grandes
civilizações REBOUÇAS (2004). Analisando o processo histórico, podemos observar que as
diversas civilizações que existiram e ainda existem no mundo se instalaram e se desenvolveram em
torno de mananciais ou de um curso de rio qualquer, fazendo destas fontes de recursos naturais, um
meio necessário para a sua sobrevivência.
Tundisi destaca que:

―O conjunto de ações produzidas pelas atividades humanas ao explorar os recursos hídricos


para expandir o desenvolvimento econômico e fazer frente as demandas industriais e
agrícolas e a expansão e crescimento da população e das áreas urbanas foi se tornando
complexo ao longo da história da humanidade.‖ (TUNDISI, 2005, p.35)

O aumento da população urbana, em cidades com quase nenhum acesso a rede de


saneamento básico, trazem preocupações com a degradação do meio ambiente, sendo que as
atividades domésticas, industriais e comerciais representam, nesse âmbito, os principais agentes
causadores dos poluentes que influenciam de diferentes formas na qualidade das águas, tanto
superficial, quanto subterrânea. Diante desse cenário, percebe-se que um dos principais problemas
socioambientais da atualidade é a crescente contaminação e degradação dos cursos d'água,
agravados principalmente em áreas urbanas. Isso compromete não só o funcionamento da cadeia

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alimentar e dos ecossistemas que ali sobrevivem, mas também atinge a oferta de água potável,
própria ao consumo humano.
A contaminação e consequente degradação dos rios e de redes de drenagem pode ser
percebida de diversas maneiras, como por exemplo, poluição das águas através do descarte
impróprio de resíduos gerados pela população, erosão e assoreamento do leito dos cursos d'água
ocasionado principalmente pela retirada de mata ciliar, ocupação desordenada das margens do curso
fluvial, comprometendo a segurança da população que reside nestas áreas consideradas na maioria
das vezes de extremo risco, dentre outros fatores.
Além da degradação em áreas urbanas, existe também a poluição dos rios no meio rural. Ela
costuma ocorrer principalmente pelas práticas agrícolas, como a excessiva deposição de
agrotóxicos, manejo inadequado do solo e dos resíduos gerados, bem como por agroindústrias, que
não direcionam corretamente os seus rejeitos industriais. No caso dos agrotóxicos, em muitos casos
eles são usados na agricultura e direcionados aos leitos dos rios pelas águas pluviais, provocando a
morte de espécies, atingindo não só o local de contaminação, mas toda a jusante do curso d'água.
O descaso ocorrido no Rio Tracunhaém é de fácil percepção, uma vez que foram
identificados, através de visitas a campo, diversos fatores que contribuem consideravelmente para
sua degradação, dentre eles estão a ocorrência da ocupação desordenada, despejo de lixo e esgoto,
retirada ou inexistência de mata ciliar, assoreamento, dentre outros. Atualmente, de acordo com
dados do IBGE (2017), 13,1% de domicílios urbanos na cidade de Bom Jardim, em vias públicas,
contam com urbanização adequada, no que é uma minoria, tal critério leva em conta a presença de
bueiros, calçadas, pavimentação e meio-fio, elementos básicos do contexto urbano.
Na cidade de Bom Jardim-PE, o fenômeno vem crescendo nos últimos anos, não há limites
ou planos de ação ou minimização dos efeitos, tanto no que diz respeito a edificações antigas como
também para as instalações recentes.
A ocupação desordenada é resultante de um conjunto de fatores, como a falta de fiscalização
do poder público, passíveis de tomar alguma atitude apenas com medidas punitivas, com multas ou
advertências, após a ocorrência de acidentes gravíssimos com percas de bens materiais e nas mais
graves das hipóteses, perdas de vidas humanas. A audácia sobre o meio ambiente é muito maior
quando se observam casas construídas dentro do curso do rio, dividindo em dois canais, como
mostrado na Figura 4. O crescimento da população associado a falta de uma política habitacional
eficiente e eficaz, provoca uma preocupante situação de uso e ocupação do solo. Com o regime
irregular das águas fluviais o problema pode torna-se ainda mais alarmante, pois a população não
compreende o leito original do rio e acreditando que o mesmo não voltará a ter água em excesso
aumenta a construção de casas em suas margens.

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Figura 4: Construção civil irregular ao longo do leito do rio Tracunhaém.


Fonte: SILVA, 2017.

A poluição dos rios é muito comum em zonas urbanas, havendo raríssimos casos em que
cursos d'água nessas regiões não se encontrem degradado. O caso da deposição de esgoto doméstico
em áreas com ausência de saneamento, como na área em questão (perímetro urbano de Bom Jardim)
nas quais o esgoto a céu aberto vai parar nos cursos d'água, pelo direcionamento inadequado das
tubulações dos sistemas públicos (Figura 5).
No município de Bom Jardim esse caso também pode ser comprovado de acordo com o
censo demográfico do IBGE realizado no ano de 2010, que registrou apenas 22,1% com acesso a
esgotamento sanitário adequado, comom comentado anteriormente, sendo um fator preocupante,
pois a grande maioria dos domiciliados não conta com esse serviço. Com isso, além do mau cheiro
percebido nesses ambientes, ficam também os prejuízos com morte de espécies, consequente
desequilíbrio ecológico, inutilização das águas e ainda propicia o crescimento de insetos
responsáveis pelas arboviroses.
Além do esgoto também vale destacar o constante despejo de lixo, tanto doméstico, como
também industrial, gerando mais problemas para o Rio Tracunhaém, no município de Bom Jardim,
agravado pelo acumulo de entulho e metralha da construção civil, jogado pela própria população e
muitas vezes por funcionários da própria prefeitura do município.

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Figura 5. Acúmulo de lixo e esgoto no rio Tracunhaém.


Fonte: SILVA, 2017

Outro fato importante a ser destacado é a ausência de mata ciliar, vegetação de fundamental
importância para o ecossistema fluvial, contribuindo para o equilíbrio sistêmico do rio e
principalmente na contenção de enchentes. Vale destacar o crescente processo de assoreamento
resultante da falta de vegetação nas margens do rio, visível para a população local (Figura 6).

Figura 7. Assoreamento e ausência de mata ciliar.


Fonte: SILVA, 2017.

O assoreamento dos rios acontece quando os cursos de água são afetados pelo acúmulo de
sedimentos, o que resulta no excesso de material sobre o seu leito. O fenômeno é agravado pela
ação antrópica, principalmente pela retirada da vegetação seguida por erosão. Desse modo o
problema se torna ainda mais grave, uma vez que, em caso de enchente, o fluxo fluvial estará muito
raso, inundando outras áreas que não faz parte de seu curso, afetando a população.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo da análise da realidade socioambiental que permeia o curso do rio Tracunhaém no


perímetro urbano do município de Bom Jardim-PE, constatou-se que a região estudada possui clima
chuvoso de temperaturas amenas ao longo do ano que quando associadas ao tipo de solo exige certa
atenção nos processos que desencadeiam erosão nas margens do rio. Os índices sociais analisados
apontam a necessidade de melhoria na educação local, na tentativa de incrementar o IDEB diante
dos objetos de trabalho e estudo ambiental que apontaram o presente trabalho.
No caso do município de Bom Jardim-PE também vale destacar a ausência do poder público
na contenção da construção de moradias dentro do rio, uma vez que uma das sugestões possíveis
seria o impedimento de novas edificações por parte das autoridades responsáveis, seguido da
elaboração de planos de ação e políticas públicas voltadas para a população que já habita as
margens do rio.
Torna-se necessário também a destinação adequada dos resíduos sólidos, partindo da
implementação da rede de saneamento básico para a população, descarte correto do lixo, trazendo
melhorias para o quadro inóspito do rio. Diante de tudo isso é possível recuperar em boa parte o
ecossistema do rio Tracunhaém, finalizando com o plantio de mata ciliar, com a vegetação nativa,
favorecendo a contenção de erosão e prevenção de assoreamento.
Embora sejam os mesmos problemas enfrentados em diversas cidades brasileiras e também
pelo mundo, da mesma forma que o homem é um agente que contribui para a degradação do meio
natural, ele pode também auxiliar na recuperação desses ecossistemas que ele próprio ajudou a
degradar. É um trabalho que exige muito empenho e sensibilização, mas com propostas de curto,
médio e longo prazo é possível alcançar resultados favoráveis, específicos para cada situação
municipal.
Todo esse trabalho exige um longo processo de sensibilização e é possível ser alcançado se
tratado com seriedade e eficiência. O processo educacional a ser fomentado nas escolas e demais
instituições públicas do município tem um importante papel, podendo ser trabalhado numerosos
projetos de educação ambiental.
Com o presente trabalho foi possível entender e analisar as características de solo, clima e
dados sociais mais profundamente, bem como as peculiaridades relacionadas ao rio e como seu
quadro atual repercute na vida da sociedade do qual faz parte, sendo essa uma metodologia de
trabalho que pode ser replicada em outros municípios ao longo de seu leito.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1117


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2017.

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[por] João de Castro Mascarenhas, Breno Augusto Beltrão, Luiz Carlos de Souza Junior, Manoel
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CPRM/PRODEEM, 2005.

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<http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/pe/bomjardim.pdf> Acesso em: 02 abr. 2017.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1118


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ASSOREAMENTO, DESASSOREAMENTO E DESATERRO DO


AÇUDE MAMÃO EM EQUADOR / RN

Zenon Sabino de OLIVEIRA


Professor da Unidade Acadêmica de Geografia da UFCG
zenonsabino@hotmail.com

RESUMO
Ao longo de quatro décadas, vem ocorrendo o processo de assoreamento da calha do rio que
deságua no Açude Mamão, que supre às necessidades hídricas da cidade de Equador-RN. Esse
processo vem ocorrendo, ocasionado em larga escala pelo recebimento de rejeitos de mineradoras a
montante do reservatório. Dessa forma, tornou-se necessário o desassoreamento consistindo em
retirar o acúmulo de entulhos e detritos do leito e das margens do rio, oferecendo um fluxo livre às
águas que se destinam ao açude, bem como o desaterro dos detritos, partículas e sedimentos
acumulados no leito do reservatório. Para isso, tornou-se necessário, que houvesse as técnicas
necessárias para a conservação e manutenção adequada para que não ocorresse a obstrução da calha
aluvionar desse manancial. O trabalho consistiu em assessoria à Prefeitura Municipal da cidade de
Equador, estado do Rio Grande do Norte, onde se fez um estudo de viabilidade técnica para
recuperação da quantidade de água anteriormente existente no açude, fosse recuperado para suprir a
demanda de consumo da população da cidade e do município. O trabalho foi realizado no ano de
2013 e dessa forma, atendeu o processo de revitalização e também a conscientização das
mineradoras e mineradores, quanto ao local adequado para depósito dos rejeitos provindos dessas
atividades.
Palavras Chave: Assoreamento, Desassoreamento, Desaterro, Açude Mamão, Capacidade Hídrica,
Equador-RN.
ABSTRACT
Over four decades, there has been silting process of the riverbed that flows into the Papaya Dam,
which supplies the water needs of the city of Ecuador-RN. This process has been taking place,
caused largely by the receipt of mining tailings upstream of the reservoir. Thus, it became necessary
the dredging consisting of removing the debris build-up and the bed debris and the river banks,
offering a free flow to the waters that are intended for, and the excavation of the waste particles and
accumulated sediment in the bed reservoir. For this, it was necessary; there were the necessary
techniques for the conservation and proper maintenance so that did not occur obstruction of alluvial
channel this spring. The work consisted of advice to the Municipality of the City of Ecuador, state
of Rio Grande do Norte, where it made a technical feasibility study to recover the amount of
previously existing water in the weir, were recovered to meet the population's consumption demand
city and county. The study was conducted in 2013 and thus met the revitalization process and also
the awareness of miners and miners, as the appropriate place for deposit of tailings stemmed these
activities.
Key Words: Siltation, Dredging, Excavation, Dam Papaya, Hydro Capacity, Ecuador –RN

INTRODUÇÃO

Equador-RN é o município mais meridional do estado do Rio Grande do Norte (Figura


01), situado no Seridó Potiguar. Com uma população de 6.070 habitantes é abastecido por poços

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artesianos provindos da comunidade Caiçara e o principal reservatório situado na comunidade Pau


dos Ferros, denominado Açude Mamão. Esse quando construído em início da década de 80, tinha
uma capacidade de armazenamento de 1.300.000m³. Entretanto, ao longo dos anos, seu reservatório
foi se exaurindo em virtude do assoreamento e consequentemente a sedimentação do leito do açude,
precisando para isso, a retirada do material para que em seu lugar, fosse acumulada a água que em
tempos anteriores ocupara esse espaço.

Figura01: Mapa de localização da cidade de Equador-RN


Fonte: HTTPS://PT. wikipedia.org/wiki/Equador_ (Rio_grande_do_norte)

Sabendo-se que o conceito de assoreamento pode ser definido como sendo um processo de
acumulação de partículas sólidas (sedimentos), em meio aquoso ou aéreo, ocorrendo quando a força
do agente transportador natural é sobrepujada pela força da gravidade ou quando a supersaturação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

das águas ou ar permite a deposição de partículas sólidas (Infantil Jr & Fornasari Filho, 1998), esse
material trazido ao longo do curso natural da calha do açude, é composto de sedimentos naturais de
partículas transportadas em suspensão ou rolamento e material oriundo dos rejeitos das
mineradoras, compostos de micas, quartzo e feldspato, constituintes do rejeito do caulim.
Segundo OLIVEIRA, (1995), os processos de assoreamento acarretam nos seguintes
problemas: perda de volume de reservatório; redução da profundidade de canais; perda de eficiência
de obras hidráulicas; produção de cheias; deterioração da qualidade da água; alteração e morte da
vida aquática.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área em Estudo

A área trabalhada está localizada no município de Equador-RN (Foto 01), na Comunidade


Pau dos Ferros, inserido na Mesorregião Central Potiguar e Microrregião do Seridó Oriental. O
estudo de viabilidade técnica em tela consistiu na recuperação do Açude Mamão, a partir da retirada
de sedimentos, lodos, fragmentos de rochas e minerais acumulados ao longo do seu leito.

FOTO 01: Vista aérea do Açude Mamão.


FONTE: Zenon Sabino de Oliveira, março de 2005.

A metodologia utilizada consistiu em realizar, previamente, um levantamento topográfico da


área a ser estuda para recuperação. Em seguida, se fez um pedido junto ao Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente – IDEMA, onde foi requerida a licença ambiental.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Fez-se também necessário, a presença de equipe técnica da Secretaria de Recursos Hídricos do


estado, para verificar e atestar o projeto.
De posse da licença ambiental e do aval da equipe técnica do estado, tratou-se da
operacionalização do projeto do trabalho, que consistiu primeiro na limpeza das margens do rio e do
açude com o auxílio de uma máquina moto nivelador. De posse de uma retroescavadeira, escavou-
se o material consolidado na calha do açude. Após isso, com uma pá enchedeira, era colocado o
material em caminhões caçambas, onde esse era depositado ao lado oposto do balde, sendo
consolidado com os próprios maquinários e caminhões.

FOTO 02: Retroescavadeira e máquina pá enchedeira retirando sedimentos do leito do açude.


FONTE: Zenon Sabino de Oliveira, maio de 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com levantamento realizado in loco, foram retiradas 7.000 mil caçambas de
material, perfazendo um total de aproximadamente 98.000m². Dessa forma, com o processo de
retirada desse material (sedimentos, lodo e argilas minerais), chegou-se a quase totalidade quando
da sua construção no início da década de 80.
Com o material que foi depositado à jusante do balde do açude, pode-se seguramente,
diminuir o sangradouro e aumentar a parede do mesmo com aproximadamente 700.000m² de
armazenamento de água, o que supriria a necessidade da população dessa cidade.

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FOTO 03: Caminhões caçambas transportando material e depositando na parede oposta ao


açude, fortalecendo a mesma para um possível aumento de sua capacidade.
FONTE: Zenon Sabino de Oliveira, abril de 2013.

O orçamento para execução dessa atividade ficou em R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil
reais), recursos próprios da prefeitura municipal.
Com relação aos mineradores e mineradores, a prefeitura através da Secretaria de Obras e
Meio Ambiente, realizou atividades de conscientização a respeito de conter os rejeitos em depósitos
pré-estabelecidos e evitar que esses continuassem a convergir diretamente para o leito do açude.
Outro ponto que foi abordado com a população foi para evitar a retirada de areia às margens
do rio, evitando dessa forma, o assoreamento e o consequente processo de aterramento provindos de
sedimentos, raízes e outros matérias trazidos em decorrência desses fatores.

CONCLUSÕES

Diante do exposto, o trabalho realizado foi de extrema importância, uma vez que as perdas
em metros cúbicos foram recuperadas, perfazendo a quase totalidade de quando de sua edificação
na década de oitenta, como também, a estrutura da parede do açude ficou pronta para o aumento de
sua capacidade.

AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos se fazem necessários ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e


Meio Ambiente do estado do Rio Grande do Norte (IDEMA/RN), Secretaria de Recursos Hídricos e
Associação dos Municípios do Seridó Oriental (AMSO).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F.F.M. & RIBEIRO, A.C.O. A Terra em Transformação. In: OLIVEIRA, A.M.S. &
BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia
de Engenharia (ABGE), 1998. Cap. 1, p.7-13.

AUGUSTO FILHO, O. Escorregamentos em encostas naturais e ocupadas: análise e controle. In:


BITAR, O.Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São Paulo: Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT),
1995. Cap. 3.4, p.77-100.

INFANTI JUNIOR, N. & FORNASARI FILHO, N. Processos de Dinâmica Superficial. In:


OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. Cap. 9, p.131-152.

OLIVEIRA, A.M.S. Depósitos Tecnogênicos Associados à Erosão Atual. In: CONGRESSO


BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 6, 1990, São Paulo. Anais... São Paulo:
ABGE/ABMS, 1990. P.411-416.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Políticas Públicas,
Projetos e Ações

© Antonio David Diniz

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PROJETOS E AÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO DA


TRAJETÓRIA DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E COERÊNCIA TEÓRICO-
METODOLÓGICA

Carlos Hiroo SAITO


Professor Doutor, Departamento de Ecologia/IB e Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB
carlos.h.saito@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho visa analisar a trajetória pessoal de Projetos e Ações em Educação Ambiental
focada na construção de uma identidade teórica e na observância de uma coerência teórico-
metodológica ao longo dessa trajetória, de forma a explicitar possíveis contribuições no campo da
educação ambiental. A revisão da trajetória de projetos e publicações a eles vinculados revelou uma
identidade em termos de filiação a um pensamento crítico, sustentado em autores como Paulo
Freire, Jürgen Habermas, Maurice Bazin, e John Friedmann, além de Wilfred Carr e Stephen
Kemmis. A revisão aqui realizada revelou também uma trajetória interligada, com reelaborações
que permitiram dar maior robustez teórica em torno de um eixo central inicial focado em Paulo
Freire e também o reconhecimento da influência do ideário do Science for the People.
Palavras-chave: Paulo Freire, empoderamento, Pesquisa-Ação, Habermas, Science for the People

ABSTRACT
The present work aims to analyze the personal trajectory of Environmental Education Projects and
Actions focused on the construction of a theoretical identity and on the observance of a theoretical
and methodological coherence throughout this trajectory, in order to address possible contributions
to the field of environmental education. The review of the trajectory of projects and publications
linked to them revealed an identity based on a critical thinking affiliation, sustained on authors such
as Paulo Freire, Jürgen Habermas, Maurice Bazin, and John Friedmann, as well as Wilfred Carr and
Stephen Kemmis. The review carried out also revealed an interrelated trajectory, with re-
elaborations that allowed to give greater theoretical robustness around an initial central axis focused
on Paulo Freire and also the recognition of the influence of the ideology of Science for the People.
Keywords: Paulo Freire, Empowerment, Action-Research, Habermas, Science for the People

INTRODUÇÃO

Quando se pensa em projetos e ações em educação ambiental, a primeira coisa que se


considera importante é guardar coerência teórico-metodológica a partir de algumas escolhas
teóricas. Essa coerência deve ser buscada tanto na articulação teoria-prática, como também, numa
sequência de trabalhos ao longo do tempo, uma interligação entre os trabalhos do ponto de vista
dessa articulação teoria-prática. Em outras palavras, isso significa dizer que se busca uma
identidade: será que os trabalhos de educação ambiental apresentam a mesma filiação teórica?
Assim sendo, gostaria de apresentar a trajetória dos projetos e ações em educação ambiental
que percorri, trazendo à tona os fundamentos teórico-metodológicos nessas iniciativas, de forma

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

que se possa analisar a observância da coerência anteriormente mencionada.


Para tornar a apresentação das ideias mais claras, o presente trabalho será dividido em duas
partes: a primeira parte tratará do conjunto de trabalhos de cunho teórico que foram produzidos ao
longo da trajetória acadêmica como forma de pavimentar a chamada ―identidade‖ teórica em
educação ambiental; a segunda parte tratará dos trabalhos ―aplicados‖, ou seja aqueles de natureza
de ação ou produção de materiais, quando se poderá analisar tanto a coerência teórico-metodológica
em termos da aderência da metodologia à teoria, e a coerência identitária.

A IDENTIDADE TEÓRICA

Antes de mais nada, é preciso dizer que a Política Nacional de Educação Ambiental,
instituída pela Lei 9.795/1999 é uma referência tanto válida como necessária para nossas ações em
Educação Ambiental. Ela traz em seu artigo 1o a definição de educação ambiental, e nos artigos 4o e
5o, princípios e objetivos dessa política. Os dois primeiros princípios são: I - o enfoque humanista,
holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade. Deles derivam o primeiro dos objetivos que é ―o desenvolvimento de
uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo
aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e
éticos‖.
No entanto, pode-se presumir que haja mais de uma maneira de olhar para o meio ambiente
em sua totalidade, pois que essa noção de totalidade pode ser argumentada de diferentes maneiras a
depender da filiação teórica e do compromisso político a que se vincular.
Em virtude disso, apresento a seguir o conjunto de publicações que expressam a filiação
teórica, os compromissos políticos e a própria evolução ou refinamento do corpo teórico que
compõe a identidade dos projetos e ações em educação ambiental ao longo da minha trajetória
acadêmica até aqui.
A formulação teórica se inicia na dissertação de mestrado, quando se delineia claramente a
opção pelo pensamento crítico e se abraça o pensamento de Paulo Freire (SAITO, 1990). A partir
daí, vem se aprimorando a reflexão em torno da perspectiva educacional freireana, que passa pelas
obras Saito e Santiago (1998), Saito (2001a), e que a partir de uma mesa-redonda no Congresso de
Educação Ambiental pró-Mar-de-Dentro, em Rio Grande-RS no ano de 2001 (Saito, 2001b),
começa-se a articular essa trajetória de reflexões em torno do pensamento de Paulo Freire à área de
educação ambiental enquanto corpus teórico (SAITO, 2002; SANTOS et al., 2005; BERLINCK e
SAITO, 2010; SAITO, 2012; SAITO, 2013; SAITO et al., 2014).
Antes disso, durante o doutorado, reflexões na área ambiental (planejamento e gestão

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

territorial) também reafirmaram a vertente crítica, resultando como um dos subprodutos da tese de
doutoramento uma reflexão sobre a sustentabilidade na vertente crítica (SAITO, 1997). É essa base
teórica no campo ambiental que passa a interpretar o objetivo de ―desenvolvimento de uma
compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações‖ presente na
Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/1999).
Sobre essa trajetória, cabe esclarecer que a publicação, na forma de capítulo de livro em
Saito (2002), traz uma revisão das discussões na mesa-redonda do Congresso de Educação
Ambiental pró-Mar-de-Dentro (SAITO, 2001b). Nessa discussão, propõe-se 4 desafios para a
Política Nacional de Educação Ambiental, a saber: 1) busca de uma sociedade democrática e
socialmente justa; 2) o desvelamento das relações de dominação em nossa sociedade; 3) a vivência
efetiva, e concretamente, de ações transformadoras; 4) necessidade de constante busca do
conhecimento. Esses desafios, além de atender ao primeiro objetivo da Política Nacional de
Educação Ambiental, já citado, também atende fortemente a dois outros objetivos dessa mesma
política que é ―o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social‖ (artigo 5o, III) e ―o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e
responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania‖ (artigo 5o, IV). Esses quatro
desafios estão fortemente ancoradas na abordagem dialógico-problematizadora freireana, visando a
uma educação (ambiental) como prática de liberdade, uma educação libertadora, emancipatória
(FREIRE, 1967 e 1970).
Em Santos et al. (2005), em função de trabalhos desenvolvidos na área de educação
ambiental e gestão de recursos hídricos com participação social (projetos CNPq/CT-Hidro), como
Berlinck e Saito (2010), incorpora-se um outro elemento aos 4 desafios para a Política Nacional de
Educação Ambiental que é a importância da mediação científico-tecnológica. A centralidade dessa
mediação significa que o domínio do conhecimento científico-tecnológico enquanto uma processo
de alfabetização na ciência e tecnologia sobretudo do campo ambiental se torna primordial: como se
diz no ditado popular ―de boas intenções, o inferno está cheio‖, é preciso adquirir conhecimento dos
processos ambientais ao mesmo tempo que se desenvolve valores sociais que levem a atitudes pro-
ambiente. Estas últimas reflexões trouxeram à tona uma influência de um passado de convivência e
aprendizado com Maurice Bazin, físico francês fundador do Espaço Ciência Viva no Rio de Janeiro-
RJ, mas que trazia em sua bagagem uma trajetória de reflexão e ação prática no campo educacional
compartilhando as ideias de Paulo Freire, e fortemente inspirado pelo ideário do Science for the
People (GREELEY e TAJLER, 1979), que surgiu nos Estados Unidos da América em 1969 com o
objetivo central de problematização do papel social da ciência. Entre diversas publicações de
Maurice, certamente a que traz o conceito de alfabetização técnica foi decisiva para esta

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

reelaboração teórica no campo da educação ambiental (BAZIN, 1977).


Ao assumir esta centralidade da mediação científico-tecnológica, pode-se na sequencia
atualizar o arcabouço teórico no que diz respeito aos desafios contemporâneos para a educação
ambiental, de modo geral, e particularmente para a Política Nacional de Educação Ambiental:
decorridos dez anos da publicação do livro Educação Ambiental: abordagens múltiplas
(RUSCHEINSKY, 2002), onde constava o capítulo que tratava dos quatro desafios, a editora
solicitou uma revisão dos capítulos por cada um dos autores para lançamento de uma edição
revisada e ampliada do mesmo livro como comemoração da década de sucesso (RUSCHEINSKY,
2012). Assim, nesse processo de revisão, um quinto desafio como ―instrumentalização científico-
tecnológica para resolução de conflitos socioambientais‖ foi incorporado aos quatro anteriores
(SAITO, 2012a).
A trajetória de elaboração teórica finalmente se consolida com um artigo de revisão em
educação ambiental encomendado por uma revista internacional (SAITO, 2013), e com uma defesa
da abordagem dialógico-problematizadora de Paulo Freire na educação ambiental (SAITO et al,
2014), como capítulo do livro Paradigmas metodológicos em Educação Ambiental (PEDRINI e
SAITO, 2014).

A COERÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA

Cumpre agora analisar como projetos e ações em educação ambiental nesta trajetória
profissional (e que resultaram em publicações) guardam correspondência, e portanto coerência, com
essa identidade teórica, e como, ao fazê-lo, operacionalizam na prática a teoria, demonstrando a
coerência teórico-metodológica. Para isso, lista-se a seguir os projetos em educação ambiental
desenvolvidos com fontes de financiamento de agências de fomento, e algumas das publicações
geradas, correspondendo àquelas mais diretamente ligadas ao campo da educação ambiental,
deixando aquelas da área de modelagem ecológica e análise espacial de fora (Quadro 1).

Quadro 1. Relação dos projetos de pesquisa e principais publicações geradas relacionadas à educação
ambiental.
Título do projeto periodo Agência de n. processo publicações
Fomento
1 Educação e Pesquisa Ambiental Participante 1999- FNMA/MMA 02000.002516 Saito et al., 2000a
2001 / Saito et al., 2000b
97-39

2 Desenvolvimento tecnológico e 2002- CNPq/CT-Hidro- 55.0119/2002- Berlinck et al.,


metodológico para mediação entre usuários 2004 Gerenciamento de 7 2003
e Comitês de Bacia Hidrográfica. Recursos Hídricos Santos et al., 2005
Berlinck e Saito,
2010

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

3 Elaboração de material educativo e 2005- PROBIO/Ministéri convênio Saito et al, 2006


instrucional sobre biodiversidade brasileira, 2006 o do Meio 68.0074/04-00 Saito et al, 2008
espécies da fauna brasileira ameaçada de Ambiente/BIRD- Saito 2012a
extinção, fragmentação de ecossistemas, Global Saito 2012b
biomas brasileiros, espécies invasoras e Environment
unidades de conservação. Facility/CNPq.

4 Desenvolvimento teórico-metodológico em 2007- CNPq/CT-Hidro 555519/2006- Goulart e Saito,


gestão transfronteiriça de áreas úmidas: 2009 44/2006 – Zonas 6 2012
Lagoa Mirim (Brasil-Uruguai) Úmidas Brasileiras

5 Educação Ambiental para a conservação da 2008- FAP-DF 193.000.375/ Almeida et al.,


biodiversidade: capacitação docente e 2010 (Fundação de 2008 2010
avaliação da eficácia da estrutura matricial Apoio à Pesquisa D‘Almeida et al,
de organização dos conhecimentos nos do Distrito Federal) 2011
materiais didáticos Probio-EA Bartasson e Saito,
2012

6 PROBIO na escola e na praça 2008- Edital MCT/CNPq 553172/2006- Saito et al., 2012
2011 012/2006-Difusão 9
e Popularização da
Ciência e
Tecnologia.

9 Segurança hídrica, gestão de águas e o 2015- FAP-DF 193.000.898/ Thalmeinerova et


Global Water Partnership (GWP): o atual (Fundação de 2015 al. 2017
potencial da modelagem conceitual de Apoio à Pesquisa
processos hidroecológicos na educação do Distrito Federal)
ambiental.

10 Mapas conceituais e teoria de sistemas: 2015- CNPq edital 304345/2014- Saito, 2016
modelagem de processos ecológicos, gestão atual produtividade em 8
de recursos hídricos e educação ambiental pesquisa

O projeto ―Educação e Pesquisa Ambiental Participante‖ foi desenhado em conjunto com


membros da comunidade do Jardins do Morumbi, zona rural de Planaltina-DF, visando proteger
uma cachoeira no interior do loteamento rural, que estava sendo objeto de parcelamento e
comercialização. O projeto permitiu desenvolver atividades educacionais na escola de ensino
fundamental pública existe dentro da comunidade, incluindo ida à cachoeira com os alunos e
professores, investigar o processo de constituição do loteamento e condições de parcelamento e
venda dos lotes, mobilizar a comunidade em torno da proteção da vegetação nas margens do lago
formado pela cachoeira, e estabelecer um canal de comunicação entre a comunidade e a Promotoria
de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (Prodema). O
projeto permitiu resgatar documentos da época de início das vendas de terrenos no loteamento, que
a comunidade considerava serem provas perdidas de uma conduta lesiva do empreendedor.
Paralelamente, as ações na escola permitiram que a mesma não apenas participasse mas também
sediasse o encontro de mostras de projetos pedagógicos da Regional de Ensino da Secretaria de
Educação do Distrito Federal, em posição de destaque. O enfrentamento da comunidade ao
processo de parcelamento permitiu que o proprietário das terras em volta do lago da cachoeira se
comprometesse com sua preservação, e denúncias de grilagem e retirada clandestina de argila na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

região fossem encaminhadas às autoridades. Um livro foi publicado como resultado do projeto
(SAITO et al., 2000b), contendo inclusive copia dos folhetos de propaganda de venda de lotes na
época da constituição do loteamento, opiniões dos moradores e registro dos trabalhos feito na
escola.
Este projeto ―Educação e Pesquisa Ambiental Participante‖ (1999-2001) teve a participação
de membros da comunidade desde o seu desenho inicial para busca de financiamento, na coleta de
dados ao entrevistar moradores, e na divulgação dos resultados, assinado em co-autoria com
membros da associação de moradores da comunidade, livro este que foi distribuído gratuitamente
para cada morador do loteamento. Crê-se que, desta forma, manteve a coerência teórico-
metodológica com uma proposta freireana de educação libertadora e participativa, expondo as
situações-limite de angústia em relação ao processo de venda dos lotes até o empoderamento da
comunidade via audiências na Prodema. A mesma iniciativa também foi reconhecida no âmbito
institucional como projeto de extensão, e os laços entre pesquisadores e comunidade levou a
estudante de graduação Verônica Dias (in memoriam) envolvida no projeto de pesquisa a vir residir
na comunidade. A conexão teórico-metodológica das ações com o referencial teórico da
investigação-ação (pesquisa-ação) e o conceito de empowerment (empoderamento) foi apresentado
em Saito et al (2000a). Além das obras de Paulo Freire (1967, 1970), Carr e Kemmis (1986) e
Friedmann (1992) passam a figurar como referências constantes nos trabalhos a partir de então. É
no âmbito desse projeto que a formulação teórica da triangulação entre empowerment, investigação-
ação e pedagogia dialógico-problematizadora de Paulo Freire é sistematizada (SAITO, 2001a), e os
desafios contemporâneos para a educação ambiental (SAITO, 2002).
O projeto ―Desenvolvimento tecnológico e metodológico para mediação entre usuários e
Comitês de Bacia Hidrográfica‖ (2002-2004) foi desenhado na sequência, inspirado em demanda
dessa mesma comunidade, que após a experiência de luta em defesa da cachoeira, reconheceram a
necessidade de se articular regionalmente em torno da proteção e gestão da bacia hidrográfica do rio
Maranhão (afinal, a cachoeira era apenas um ponto no rio, poderia trazer poluição de áreas à
montante da cachoeira). Desse reconhecimento, surgiu de forma espontânea a Comissão pro-Comitê
de bacia hidrográfica, que depois de constituída, procurou os pesquisadores da universidade para
apoio. Estudantes de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado foram envolvidos, resultando
em frentes de pesquisa diversificadas, desde modelagem qualitativa da qualidade da água (dinâmica
de oxigênio dissolvido e exportação de cargas poluidoras) e diagnóstico rápido da situação das
margens, até ações de educação ambiental forma e não-formal como parte dos processos de
empoderamento da comissão pró-comitê de bacia hidrográfica. Reuniões com essa comunidade
foram realizadas no sentido de delimitar sua área de atuação e expandir sua base de representação.
Trabalhos com a escola forma retomados no sentido de ampliar o debate sobre a importância de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

proteger a água, e compromissos em favor do meio ambiente entre diferentes atores na comunidade
foram firmados. Simultaneamente, os trabalhos na escola e na comunidade se diversificaram,
incorporando a temática da segurança alimentar e nutricional, e o diálogo entre proprietários e
caseiros/empregados, articulando em torno da sustentabilidade socioambiental, conceitos de justiça
social, fome zero e proteção do cerrado com base também na valorização do potencial nutricional
de sua flora.
Neste projeto ―Desenvolvimento tecnológico e metodológico para mediação entre usuários e
Comitês de Bacia Hidrográfica‖, de dimensões mais amplas que o anterior, envolvendo uma equipe
maior e mais multi-disciplinar, foi desenvolvido ações articuladas na perspectiva interdisciplinar, e
com maior ênfase do que no projeto anterior no componente científico-tecnológico. A alfabetização
técnica defendida por Bazin (1977) entra como um elemento adicional que leva à valorização da
mediação científico-tecnológica (SANTOS et al., 2005).
O projeto ―Elaboração de material educativo e instrucional sobre biodiversidade brasileira,
espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção, fragmentação de ecossistemas, biomas
brasileiros, espécies invasoras e unidades de conservação‖ (Probio-EA) representa, possivelmente,
o projeto de maior envergadura, mais desafiador e mais significativo dentro da trajetória de
educação ambiental. O projeto contou com o apoio financeiro do PROBIO/Ministério do Meio
Ambiente/BIRD-Global Environment Facility/CNPq e envolveu, ao todo, 10 instituições:
Universidade de Brasilia (coordenadora), UFPe, UFMT, UFSM, UNEB-Campus Jacobina-BA,
CDCC/USP-Campus São Carlos-SP, Projeto Lagoa Mirim/IBAMA/CSR, ONG AQUASIS, ONG
Instituto Baleia Jubarte, e EMBRAPA Amazônia Oriental. Neste projeto, tratou-se a temática da
biodiversidade seguindo os princípios da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei
9.795/1999), especialmente no que se refere à abordagem do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade. Foi dito da significância desse projeto dentro da trajetória, por ter sido
nele que foi operacionalizado, de forma concreta em um material educativo, os conceitos freireanos,
tanto de investigação temática como de codificação-descodificação e problematização para
superação das situações-limite, como também o de empowerment e de mediação científico-
tecnológica. O desafio de fazer um material educativo atuar em cumprimento aos 4 desafios
contemporâneos à educação ambiental (SAITO, 2002), sem que os autores do material possam estar
junto aos alunos levou à formatação de um conjunto de portfólios constituído por 45 pares de
lâminas de fotos e textos, sendo que a noção de pareamento se justificava pela configuração do
binômio conflitos sócio-ambientais (o problema ou situações-limite freireanos) e ações positivas
(soluções existentes pela superação). Os portfólios trataram dos temas biomas brasileiros, espécies
da fauna brasileira ameaçadas de extinção (constantes da lista oficial), fragmentação de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ecossistemas, espécies exóticas invasoras, e Unidades de Conservação da Natureza, em cada um dos


biomas brasileiros, tal que tanto os temas quanto os biomas estivessem igualmente representados. A
linguagem e a cultura local/regional, bem como seus saberes foram levados em consideração, e
todas as situações de conflito e ações positivas foram retratadas por meio de fotos (e não ilustrações
caricaturadas), e identificadas geograficamente. Um livro para o professor foi produzido para
orientar os professores no uso do material, contendo sugestões de atividades e desafios para serem
lançados aos alunos, variando desde a abordagem experimental no ensino até o envolvimento e
participação em fóruns coletivos locais. Um jogo didático de tabuleiro completa o material, com o
intuito de estimular, de forma lúdica, o envolvimento e a aprendizagem do aluno, de forma
integrada, ao conjunto de portfólios.
Neste projeto Probio-EA, em virtude das ações positivas representarem soluções
historicamente contextualizadas com base no conhecimento científico-tecnológico e na cultura, foi
enormemente valorizado o papel instrumental do conhecimento científico-tecnológico, articulando
os 4 desafios de Saito (2002) à centralidade da mediação científico-tecnológica defendida em
Santos et al. (2005). A racionalidade instrumental enquanto conceito habermasiano (HABERMAS,
1970, 1994) é adicionada ao referencial teórico básico, e o projeto anterior ―Desenvolvimento
tecnológico e metodológico para mediação entre usuários e Comitês de Bacia Hidrográfica‖ recebe
um novo olhar, que resulta na publicação de Berlinck e Saito (2010), com maior robustez teórica.
Diversas publicações decorrerem desse projeto Probio-EA, desde aquelas para explicar a
fundamentação teórico-metodológica subjacente à produção do material (SAITO et al., 2006;
SAITO et al., 2008; SAITO et al., 2012b). Foi também com base nessa experiência que reflexões de
cunho teórico foram reelaboradas, transformando os 4 desafios contemporâneos à educação
ambiental em 5 desafios, acrescidos, desta vez, da ―instrumentalização científico-tecnológica para
resolução de conflitos socioambientais‖ (SAITO, 2012a) e realinhando o debate em torno da
educação ambiental com ênfase na conservação da biodiversidade, numa perspectiva crítica, ainda
ancorado em Paulo Freire e no conceito de empowerment, e em oposição tanto à visão naturalista
como os modismos como a cunhagem do termo educação para o desenvolvimento sustentável
(SAITO, 2013).
Os projetos ―Educação Ambiental para a conservação da biodiversidade: capacitação
docente e avaliação da eficácia da estrutura matricial de organização dos conhecimentos nos
materiais didáticos Probio-EA‖ (2008-2010) e ―PROBIO na escola e na praça‖ se constituíram em
desdobramentos do anterior, tanto para utilização e avaliação de usa aplicação em escolas como em
praças públicas (ALMEIDA et al., 2010; D‘ALMEIDA et al, 2011; BARTASSON e SAITO, 2012;
SAITO et al, 2012). A partir do projeto ―PROBIO na escola e na praça‖, novas instituições parceiras
foram agregadas, entre elas a Universidade Federal de Goiás e a Universidade Federal Rural do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Semi-Árido, em Mossoró-RN. Essas instituições até hoje vem fazendo uso do material Probio-EA
em suas atividades de ensino-pesquisa e extensão, valendo-se de uma nova tiragem produzida pelo
Ministério do Meio Ambiente no ano de 2010, em comemoração ao Ano Internacional da
Biodiversidade.
O projeto ―Desenvolvimento teórico-metodológico em gestão transfronteiriça de áreas
úmidas: Lagoa Mirim (Brasil-Uruguai)‖, apesar de não estar focado em educação ambiental, tomou
como ponto de partida situações de conflitos socioambientais descritos no material Probio-EA para
problematizar a forma de ocupação territorial na região de fronteira Brasil-Uruguai: a expansão da
monocultura do eucalipto, a prática da caça de animais silvestres, e a rizicultura. Este projeto foi
acoplado a duas iniciativas de cooperação bilateral apoiadas pela Agencia Brasileira de Cooperação
do Ministério das Relações Exteriores, com ênfase na capacitação de recursos humanos. Conflitos
de ordem geopolítica emergiram, dificultando a evolução das iniciativas acadêmicas. Para além de
análises sobre a dinâmica de modificação da paisagem, e as ações prioritárias para conservação da
biodiversidade (STEINKE e SAITO, 2013), um produto de grande relevância foi gerado: uma
modelagem dos impactos ecológicos do projeto hidroviário da Lagoa Mirim, cuja análise completa
na forma de artigo (GOULART e SAITO, 2012), foi solicitada pela Procuradoria da República no
município de Rio Grande (Ofício SETCOL/PRM/RG/RS n. 217/2012, de 06 de março de 2012),
―no interesse do Inquérito Civil em trâmite na PRM Rio Grande sob o n. 01.29.006.000020/2001-
46)‖. A portaria IC 048/2010 converte o Procedimento Administrativo de numeração indicada em
inquérito civil, ―tendo por objeto o acompanhamento da gestão ambiental das hidrovias Patos e
Mirim e do procedimento de licenciamento ambiental da ‗hidrovia do Mercosul‘ ‖. Não se tem
conhecimento do resultado do inquérito; no entanto, em 2015, foi promulgado o Decreto nº 8.548,
de 23 de outubro daquele ano, que valida o Acordo entre a República Federativa do Brasil e a
República Oriental do Uruguai sobre Transporte Fluvial e Lacustre na Hidrovia Uruguai-Brasil,
firmado em Santana do Livramento, em 30 de julho de 2010, que em seu Artigo IX, afirma que
―Nenhuma das disposições do presente Acordo poderá limitar o direito das Partes de adotar medidas
para proteger o meio ambiente, a saúde e a ordem pública, de acordo com suas legislações e os
respectivos tratados de que sejam parte‖.
Neste projeto, exercitamos o diálogo problematizador em torno de conflitos socioambientais
em uma escala diferente, mas mantendo-se fiel à explicitação dos desafios contemporâneos à
educação ambiental, com forte lastro no conhecimento científico, em especial na modelagem dos
processos ecológicos que indicaram forte possibilidade de espalhamento do mexilhão-dourado
(Limnoperma fortunei) em função das ações de intervenção para implementação da hidrovia, como
a dragagem do canal. Outros impactos associados sobre os pontais, baixios e ilhas na Lagoa Mirim,
e o impacto consequente sobre a biodiversidade também forma indicados na modelagem. Estes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

resultados, muito mais do que uma condenação a priori do projeto de hidrovia, deverá servir de
orientação para o licenciamento e o monitoramento das atividades de sua implantação. Além disso,
o debate aberto serviu para problematizar o discurso de progresso econômico e anseio histórico
local pela hidrovia, abordando questões como interesses econômicos imbricados e a magnitude e
escala da hidrovia presente e passada, mantendo o compromisso com a filiação a um pensamento
crítico orientador da visão de meio ambiente em sua complexidade.
Os projetos de pesquisa atualmente em curso ―Segurança hídrica, gestão de águas e o Global
Water Partnership (GWP): o potencial da modelagem conceitual de processos hidroecológicos na
educação ambiental‖ e ―Mapas conceituais e teoria de sistemas: modelagem de processos
ecológicos, gestão de recursos hídricos e educação ambiental‖ resultam do aprendizado a partir da
modelagem dos impactos ecológicos da hidrovia da Lagoa Mirim (GOULART e SAITO, 2012), de
que modelagem qualitativa é capaz de auxiliar na compreensão da cadeia de processos causais
envolvidos, de forma rápida e fácil em virtude da sua disposição gráfica. Os mapas conceituais,
neste particular, constituem diagramas capazes de apontar as relações entre conceitos, ou entre
palavras que usamos para representar conceitos (NOVAK e CAÑAS, 2007), e o conjunto das
interligações (rede de interdependência) podem tanto mostrar a complexidade das interações
interdisciplinares como a cadeia de processos causais. Portanto, mapas conceituais, e modelos
qualitativos de modo geral, constituem instrumentos de diálogo problematizador com diferentes
atores sociais, e pode contribuir para seu empowerment (empoderamento) por meio de uma
instrumentalização científico-tecnológica.
O foco na temática de água nestes últimos projetos se deve em parte a uma trajetória
histórica de projetos vinculados à essa temática, desde o primeiro projeto ―Educação e Pesquisa
Ambiental Participante‖ (1999-2001), que lidou com a mobilização de uma comunidade para
defender uma cachoeira, passando por dois projetos aprovados nos editais CNPq/CT-Hidro (2002-
2004 e 2007-2009). Também influenciaram nesse perfil temático a interação mais recente com a
Global Water Partnership - GWP (Parceria Mundial pela Água), e a instituição, pela Organização
das Nações Unidas, de uma nova Década Internacional para Ação: Água para o Desenvolvimento
Sustentável (2018-2028). A resolução A/RES/71/222, de 21 de dezembro de 2016 afirma que os
objetivos dessa Década devem ter um foco maior no desenvolvimento sustentável e na gestão
integrada dos recursos hídricos, e que estes objetivos devem ser perseguidos através da melhoria da
geração e disseminação do conhecimento, facilitando o acesso ao conhecimento e o intercâmbio de
boas práticas, o que converge com as diretrizes da educação ambiental. Um passo nesse sentido foi
dado com o lançamento pela GWP do IWRM ToolBox Teaching Manual, um guia voltado
especialmente para os professores de Instituições de Ensino Superior visando auxiliá-los no
planejamento da utilização do acervo contido no IWRM Toolbox (THALMEINEROVA, 2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oportunidade e o desafio de tratar de Projetos e Ações em Educação Ambiental, com um


olhar retrospectivo sobre a trajetória até aqui percorrida, levou a uma análise focada na construção
de uma identidade teórica e na observância de uma coerência teórico-metodológica ao longo dessa
trajetória. O exercício frutífero revelou não apenas uma identidade em termos de filiação a um
pensamento crítico, sustentado sobre os pilares do pensamento de Paulo Freire, Jürgen Habermas,
Maurice Bazin, e John Friedmann, além de Wilfred Carr e Stephen Kemmis, mas também uma
trajetória interligada, com reelaborações que permitiram dar maior robustez teórica em torno de um
eixo central inicial focado em Paulo Freire. A valorização desse eixo inicial em Paulo Freire foi
retomada com a publicação de um capítulo de livro específico sobre a adoção desse paradigma na
educação ambiental (Saito et al, 2014). Essa revisão da trajetória histórica, em paralelo com uma
outra inciativa em curso de rever postumamente a influência de Maurice Bazin na minha trajetória,
e na área da educação científica de modo geral, fez também reconhecer a forte presença do ideal do
Science for the People, cuja menção deve ser registrada nestas palavras finais.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos são devidos à FAPD-DF e ao CNPq pelo apoio concedido.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

JOÃO PESSOA SUSTENTÁVEL: CONSTRUINDO UMA REDE DE


CIDADANIA COM A UNIVERSIDADE

Ligia Maria Tavares da SILVA


Profª. Drª. do Departamento de Geociências - Universidade Federal da Paraíba
ligiamts@hotmail.com

RESUMO
A Universidade Federal da Paraíba faz parte de uma Rede de Monitoramento Cidadão da Cidade de
João Pessoa, estabelecida para acompanhar o andamento de temas que impactam diretamente a
qualidade de vida dos cidadãos, de acordo com indicadores estabelecidos pelo Programa Iniciativa
Cidades Emergentes e Sustentáveis do Banco Interamericano de Desenvolvimento – ICES – BID,
ao qual a cidade é integrante. Esses indicadores de sustentabilidade abarcam as dimensões
Ambiental e Mudança Climática, Urbana e Fiscal e Governança. Consideramos o papel da
Universidade pública fundamental neste Programa para a promoção do debate público qualificado
sobre o tema da sustentabilidade urbana, para estimular o engajamento de docentes e discentes na
vida pública municipal e, sobretudo, para a avaliação crítica do processo de implementação do
programa.
Palavras-Chaves: Sustentabilidade Urbana – Cidadania – Universidade
ABSTRACT
The Federal University of Paraíba is part of a Citizenship Network of the city of João Pessoa,
established to monitor the progress of issues that directly impact the quality of life of citizens,
according to indicators established by the Program entitled Emerging and Sustainable Cities
Initiative of the Inter-American Development Bank - ICES – IDB, in which the city integrates.
These sustainability indicators include the Environmental and Climate Change, Urban and Fiscal
and Governance dimensions. We consider the role of the public university fundamental in this
Program to promote qualified public debate on the subject of urban sustainability, to stimulate the
engagement of teachers and students in municipal public life and, above all, to critically evaluate
the process of implementing the program.
Keywords: Urban Sustainability - Citizenship – University

INTRODUÇÃO

João Pessoa, capital da Paraíba, é uma das seis cidades no Brasil que possui uma Rede de
Monitoramento Cidadão (RMC), iniciativa que faz parte do Programa Cidades Emergentes e
Sustentáveis do Banco Interamericano de Desenvolvimento (ICES-BID), juntamente com as
cidades de Florianópolis, Goiânia, Palmas, Vitória e Três Lagoas, MS.
A RMC é composta pelos setores de: Academia, Sociedade civil organizada, Setor produtivo
e de Comunicação. Seu propósito é acompanhar o andamento de temas que impactam diretamente a
qualidade de vida dos cidadãos, conforme o documento intitulado: Plano de Ação João Pessoa
Sustentável (2014), onde 137 indicadores foram distribuídos em três dimensões: Ambiental e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Mudança Climática; Urbana e; Fiscal e Governança. Esses indicadores foram estabelecidos pelo
ICES-BID como parte integrante da metodologia para avaliar e acompanhar o grau de
sustentabilidade de cidades que fazem parte do referido Programa. A RMC também tem como
objetivo fortalecer a cultura de transparência e participação, além de promover o debate público
qualificado. Em João Pessoa, a Presidência da RMC está com a Universidade Federal da Paraíba.
Destacamos, portanto, a participação da academia como protagonista no monitoramento e no
compromisso com o crescimento sustentável da cidade de João Pessoa.
Em 2014, a Prefeitura Municipal entregou ao BID o Plano de Ação João Pessoa Sustentável,
resultado da aplicação da metodologia estabelecida para as cidades que participam deste programa e
que apresenta, inicialmente, um diagnóstico sobre a cidade evidenciando áreas e os setores passíveis
de atuações prioritárias, por meio de políticas públicas e intervenções urbanísticas, com o
financiamento, por meio de empréstimos a longo prazo, do BID. Esse banco vem sendo atualmente
uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para o desenvolvimento econômico,
social e institucional da América Latina e do Caribe.
Entendemos que o BID, em parceria com o Fundo socioambiental da Caixa Econômica
Federal, que financia a Rede de Monitoramento Cidadão dentro da Iniciativa Cidades Emergentes
Sustentáveis, cria um estímulo para uma nova prática de participação democrática, envolvendo os
três setores capazes de construir a participação, num quadro de realidade econômica e social:
Sociedade Civil, Setor Produtivo e de Comunicação e Academia. Com o suporte da Academia, a
partir de estudos e pesquisas já realizadas em seus meios institucionais, é possível construir uma
ponte sólida entre a realidade urbana e a produção da inteligência acadêmica sobre essa realidade.
Se faz necessário, portanto, conhecer essa inteligência para auxiliar no monitoramento, envolvendo
docentes e discentes no pensar sobre a cidade, aproximando a academia do setor público e de suas
políticas, na área de sustentabilidade. Em poucos meses de participação da RMC, a UFPB já vem
catalisando pesquisadores, promovendo debates e orientando estudos e pesquisas afinadas com o
desenvolvimento sustentável. Por outro lado, enquanto iniciativa pioneira, a RMC enfrenta desafios
no ajustamento das ações em suas escalas de atuação local e nacional, visto que a gestão das RMCs
ao nível nacional vem promovendo, em João Pessoa, um engessamento das iniciativas locais, na
medida em que as decisões são promovidas verticalmente pela empresa gestora, desestimulando
assim o engajamento horizontal e a participação social ampliada da Sociedade civil organizada.

SOBRE PARTICIPAÇÃO, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE

Diante do quadro de desigualdade e exclusão na América Latina, surgem, a partir dos


movimentos sociais nos anos de 1980 e 1990, novas possibilidades de participação política. No
Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, movimentos sociais atuantes começaram a se

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

intensificar com maior expressão pelo país, demonstrando a pluralidade de manifestações: do


movimento negro, dos ambientalistas, de defesa dos direitos das crianças, dos adolescentes, dos
idosos, entre outros. Destacamos os movimentos sociais relativos à moradia, e que resultaram no
Estatuto da Cidade (Brasil, 2004) e o direito à qualidade de vida, conforme o Art. 225 da Carta
Magna: ―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.‖
No processo brasileiro de redemocratização, o Estado vem desde 1988 construindo vários
cenários, objetivando estimular a participação social e o exercício da cidadania nas tomadas de
decisões na escala dos municípios (Tavares da Silva, 2008). Conselhos de Desenvolvimento
Urbano, de Meio Ambiente e Comitê Gestor Orla; Conferências municipais de Cidades, de Meio
Ambiente e Orçamento participativo são alguns exemplos de estratégias de inclusão e de
participação social, visando o fortalecimento do processo democrático nos municípios e no país.
O crescimento acelerado das cidades na América Latina e os impactos ambientais
resultantes desse crescimento, somados ao fortalecimento da Sociedade Civil no tocante à busca por
seus direitos, por meio da participação e da cidadania, trouxe a sustentabilidade urbana como tema
prioritário nas agendas das Conferências Mundiais de Meio Ambiente.
De acordo com Herzog (2013), a sustentabilidade urbana, mais que um conceito é um
processo de interação sinergética e de evolução simultânea de quatro grandes subsistemas que
fazem uma cidade: os ambientes econômico, social, físico e ambiental. Esses pilares, atuando em
relativa harmonia no tempo e no espaço podem garantir às populações urbanas um grau de bem-
estar ao longo prazo, sem comprometer as possibilidades de desenvolvimento de áreas do entorno,
contribuindo assim para a redução dos efeitos malignos da urbanização na biosfera (a camada do
globo terrestre habitada pelos seres vivos, que contém o solo, o ar, a água, a luz, o calor e os
alimentos e que fornece as condições ambientais necessárias para o desenvolvimento da vida).
A ONG Urban Ecology prefere a definição de Cidade Ecológica: ―um assentamento humano
que habilita os seus residentes a viver com boa qualidade de vida, usando mínimos recursos‖.
O Banco Mundial traz o conceito de eco-cidades, e assim as define: ―cidades que criam
oportunidades econômicas para os seus cidadãos de forma inclusiva, sustentável, com utilização
eficiente dos recursos, ao mesmo tempo em que preserva e alimenta a ecologia local e os bens
públicos globais, tais como o meio ambiente, para as gerações futuras‖ (Lian, Gunawansa &
Bhullar 2013, p. 85).
Outro indicador aplicado em cidades nos países da América do Sul e do Caribe é o índice
de Progresso Social (IPS). Ele se consolida como um método que pode ser aplicado nas diferentes
escalas desde o país até as comunidades, permitindo assim agendas de políticas nos diferentes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

setores das próprias cidades, considerando o fato de que essas últimas são os cenários principais da
interação humana, cuja projeção para 2050 é de 7 para cada 10 pessoas vivendo em cidades
(Aranibar et all, 2016). Constam no IPS as seguintes dimensões: Fundamentos de bem estar;
Necessidades básicas e Oportunidades.
Para o BID as Cidades Emergentes Sustentáveis são as que ainda possuem condições de
reverter o processo de crescimento acelerado insustentável, criando estratégias para cumprir um
crescimento sustentável, que se traduz nas três dimensões: Ambiental e Mudança Climática; Urbana
e; Fiscal e Governança (PMJP, p. 14).
A sustentabilidade é, portanto, um conceito em permanente evolução, assim como as
diferentes técnicas que existem para mensurá-la (Rodrigues & Rippel, 2015). Embora seja relevante
a tarefa de observar as diferentes técnicas de mensuração, há que se optar por uma metodologia e
balizar um estudo no tempo, para poder medir e comparar os dados acerca da sustentabilidade de
uma cidade.
A metodologia estabelecida pelo BID para o Programa Cidades Emergentes Sustentáveis
(que abarca as dimensões Ambiental e Mudança Climática; Urbana e; Fiscal e Governança)
priorizou inicialmente a realização de um diagnóstico, que tem quatro filtros: 1) Pesquisa de
percepção Cidadã; 2) filtro ambiental; 3) filtro técnico e; 4) filtro econômico. A partir dessa
filtragem, chegou-se a seis áreas de atuação, por escala de prioridade para a cidade de João Pessoa:

I) Desigualdade urbana e Uso do Solo;


II) Gestão Pública Moderna e Gestão do Gasto Público;
III) Competitividade da Economia e Emprego;
IV) Segurança;
V) Mitigação da Mudança Climática/ Vulnerabilidade a desastres;
VI) Mobilidade e Transporte.

Com base nesses elementos considerados prioritários, o Plano de Ação João Pessoa
Sustentável (2014) propõe projetos de intervenção urbana que devem ser avaliados e acompanhados
pela população, por meio da Rede de Monitoramento Cidadão.
O êxito previsto para o Plano de Ação João Pessoa Sustentável, cuja durabilidade prevista é
de longo prazo, ou seja, de décadas, vai depender de um esforço coordenado dos diferentes setores
do Governo Municipal e da parceria com as instâncias ao nível federal e estadual, da participação
do setor privado e da participação cidadã, por meio da atualização dos índices de monitoramento e
das pesquisas de opinião pública, que são de responsabilidade da RMC. Neste cenário, interessa a
produção acadêmica dos indicadores de sustentabilidade e das pesquisas de opinião pública,
tornando as universidades, nas cidades que fazem parte desta Iniciativa (ICES –BID), ativas no

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

acompanhamento das políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, tanto no que se refere ao
acompanhamento da realização das pesquisas, quanto à divulgação e sobretudo, à avaliação crítica
das políticas públicas.

MODELO DE REDE: ATORES E DESAFIOS ATUAIS

A Rede de Monitoramento Cidadão é uma rede formal, definida da seguinte maneira,


segundo Egger (2007:13): ―Formada por grupos correlacionados de várias instituições e ou
organizações independentes, estabelecidas de acordo com um propósito ou necessidade específica.
Os participantes da rede compartilham pontos de vista, objetivos e regras comuns, executando um
conjunto de atividades comuns, como eventos regulares‖.
No caso da RMC, ela tem formato legal, estatuto e funcionamento interno. De acordo com o
mesmo, os objetivos da RMC são:
a) Defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
b) Promoção do desenvolvimento sustentável, justo e inclusivo da cidade;
c) Promoção do voluntariado;
d) Promoção do empreendedorismo e da inovação;
e) Promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de
outros valores universais;
f) Fomento da qualidade de vida no ambiente urbano, por meio da cooperação entre os
setores produtivo, social e acadêmico, da colaboração social sem exclusões e do
desenvolvimento de um trabalho em rede e colaborativo;
g) Acompanhamento de um grupo de temas identificados como prioritários para a
cidade rumo à sustentabilidade;
h) Fortalecimento de uma cultura de transparência, participação e controle social, de
debate público qualificado e da rendição de contas, que fomente a eficiência na
administração pública e incentive o direcionamento dos recursos públicos e privados para
os setores prioritários;
i) Promoção do desenvolvimento sustentável da cidade com objetividade,
independência e autonomia; e
j) Realização de estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos relacionados
às finalidades sociais da Rede de Monitoramento Cidadão de João Pessoa.

É vedada à RMC o envolvimento em questões político-partidárias e os seus associados são


assim definidos:

a) Associados Instituidores: aqueles que participaram diretamente do ato de


constituição da RMC tendo assinado a Ata de Fórum Geral de Constituição da Rede.
b) Associados Efetivos: aqueles que ingressarem nos quadros sociais da RMC,
posteriormente à sua constituição formal, tendo sido aprovados pelos Associados
Instituidores.
c) Associados Mantenedores: aqueles que contribuem com recursos humanos ou
financeiros para a manutenção e desenvolvimento das atividades RMC pelos Associados
Instituidores – os quais não possuem direito de voz e voto nas reuniões do Fórum Geral, e
tampouco podem ser votados para cargos eletivos.

Financiada pelo Fundo Sócio Ambiental da Caixa, a RMC tem uma empresa gestora, a
Baobá Sustentabilidade, que atua como protagonista no processo de criação e implementação da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Rede, por meio de seus profissionais, que viajam pelo país, articulando a montagem das RMC e
promovendo vídeo conferências e encontros no país e na Colômbia.
Vale ressaltar que esse país tornou-se referência em assuntos de paz e de sustentabilidade na
América Latina, por meio da Rede Como Vámos Colombia. Essa Rede atua desde 1998, quando era
chamada Bogotá Cómo Vamos e foi implementada por instituições privadas e uma fundação, a
Fundação Corona. A iniciativa de Bogotá se expandiu para outras 13 cidades, formando a Red
Colombiana de Ciudades Cómo Vamos, cuja experiência de quase 20 anos e o aperfeiçoamento de
sua metodologia, vem inspirando outras iniciativas, como o modelo da RMC, criada pelo BID.

―La Red Colombiana de Ciudades Cómo Vamos nació con el propósito de generar
información confiable, imparcial y comparable en torno a temas de ciudad, calidad de vida
y participación ciudadana. La experiencia de las ciudades que cuentan con el programa
Cómo Vamos enriquecen, fortalecen y potencian nuestra Red, mediante el intercambio de
buenas prácticas de los diferentes programas y de los gobiernos locales. Al mismo tiempo
buscamos contribuir al desarrollo de gobiernos efectivos y transparentes, así como de
ciudadanías más informadas, responsables y participativas‖. (redcomovamos.org)

As cidades que participam da ICES visitam a Colômbia para obter conhecimento através das
experiências bem sucedidas e dos desafios encontrados, já que a RMC se propõe a ser um exemplo
desse modelo de Rede.
Em João Pessoa, a RMC está em seu primeiro ano de atuação. No processo de
implementação na cidade de João Pessoa, os atores locais foram mobilizados à participação por
meio da ação voluntária e constituíram a RMC em Assembleia, com a aprovação do Estatuto. A
implementação da RMC requer a participação em reuniões e execução de tarefas, como as
pesquisas de atualização dos 137 indicadores de sustentabilidade e a pesquisa de opinião pública.
As pesquisas dos indicadores e de opinião pública são de responsabilidade da RMC, estando a
coleta dos indicadores, sob a responsabilidade da Sociedade Civil Organizada, enquanto a análise
crítica desses indicadores e produção de relatórios, sob a responsabilidade da Academia, conforme
o Artigo 29 do estatuto:
Os Grupos Estratégicos (GE) têm por objetivo desenvolver de forma constante estratégias
imprescindíveis para a operação da Rede de Monitoramento Cidadão de João Pessoa,
divididos da seguinte forma:
a) GE de Monitoramento: responsável pela coleta anual de indicadores, sua
sistematização e demais aspectos relacionados a indicadores. O Coordenador desse GE será
indicado pelo Membro da Comissão Executivas representante do Grupo de Interesse da
Sociedade Civil;
b) GE de Comunicação: responsável por elaborar as estratégias de difusão dos
trabalhos e resultados da RMC , envolvendo o maior número de atores e especialistas, de
modo que proporcione uma cidadania ativa, participante e co-criadora de conteúdo. O
Coordenador desse GE é indicado pelo Membro da Comissão Executivas representante do
Grupo de Interesse do Setor Produtivo;
c) GE de Inteligência: responsável pela recepção e tratamento dos resultados dos
indicadores, com produção de análises, relatórios, estudos, pesquisas adicionais, entre
outras ações necessárias para o cumprimento de seu objetivo. O Coordenador desse GE é
indicado pelo Membro da Comissão Executivas representante do Grupo de Interesse da
Academia; e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

d) GE de Competitividade: responsável por acompanhar os indicadores relacionados ao


tema de Competitividade, com objetivo de traduzir estes dados em plano de ação com
ênfase no aumento da competitividade da cidade em busca de um desenvolvimento
econômico local sustentável. O Coordenador desse GE é indicado pelo Membro da
Comissão Executivas representante do Grupo de Interesse do Setor Produtivo.

Na prática, a coleta de indicadores, tarefa da Sociedade civil organizada, vem sendo


realizada pelo Grupo Estratégico de Inteligência da UFPB, onde houve uma articulação acadêmica,
com apoios de docentes e discentes, envolvendo diversos departamentos acadêmicos, a saber:
Geociências, Relações Internacionais, Economia, Ciências Sociais, Arquitetura, Comunicação e
Administração, além do apoio de bolsistas do Instituto para o Desenvolvimento da Paraíba, o IDEP
– UFPB.
Por outro lado, a Sociedade civil organizada em João Pessoa, que possui participação
nominal na Comissão Executiva da RMC e na coordenação do Grupo Estratégico de
Monitoramento, não está sendo representada nas atividades de coleta e pesquisa dos indicadores,
conforme estabelecido no Estatuto. Alegando conflitos e discordâncias com a atuação por parte da
empresa gestora, considerada centralizadora, a ausência da Sociedade civil organizada representa,
atualmente, o maior desafio para a consolidação da RMC na cidade de João Pessoa.

REFERÊNCIAS

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24. Bogotá: Escuela de Gobierno Alberto Lleras Camargo: 2016.

BRASIL. (1988). Constituição Federal da República do Brasil. In: Planalto.Gov.Br/Ccivil

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Mma.Gov.Br/Cidades-Sustentaveis

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Publicações.

EGGER, Urs Karl et All.(2007). Work the Net – Um Guia de Gerenciamento para Redes Formais.
Rio de Janeiro: GTZ.

HERZOG, Cecília Polacow. (2013).Cidades Para Todos: Reaprendendo A Viver Com a Natureza.
Rio De Janeiro: Mauad X:Inverde,

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TAVARES da Silva, Gustavo. (2008). Políticas Públicas e Intersetorialidade: Uma Discussão Sobre
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http://www.imap.curitiba.pr.gov.br/wp-
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uridica_e_social.pdf

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA QUÊ?

Aécio da Silva MARTINS


Mestrando em Administração de Empresas (PPGA-UNIFOR)
aecio.martins@ifma.edu.br
Iara Costa OLIVEIRA
Aluna do curso técnico em Administração (IFMA)
iaracosta110497@gmail.com
Jéssica Pereira da SILVA
Aluna do curso técnico em Administração (IFMA)
jessica2329@gmail.com
Raissa Naiele de Lima OLIVEIRA
Aluna do curso técnico em Administração (IFMA)
naieleraissa@gmail.com

RESUMO
O sistema educacional brasileiro sofreu algumas modificações nas últimas décadas. A mais recente
é a aprovação da reforma do ensino médio, assunto controverso para especialistas na área, já que a
nova estrutura proposta apresenta dois rumos: um que será comum e obrigatória a todas as escolas -
Base Nacional Comum Curricular - e outra flexível. Um dos argumentos contrários a essa proposta
é o despreparo da maioria das escolas em ofertar o ensino nesse formato, ainda surgem dúvidas se
estas terão tempo para discutir temas relevantes como, a educação ambiental e sustentabilidade.
Este trabalho objetiva investigar se atualmente as escolas de ensino médio tem explorado a
educação ambiental no currículo. A pesquisa foi realizada em Coelho Neto – MA com amostra
contemplando três escolas: federal, estadual e particular. Esse estudo se classifica como qualitativo
e exploratório. A coleta de dados se deu através de entrevistas semiestruturadas realizadas em
fevereiro do corrente ano. Evidenciou-se a pouca abordagem da temática nas escolas, a inexistência
da disciplina nos currículos e a realização de programas, porém inacabados.
Palavras–chave: Ensino médio, Educação ambiental, Sustentabilidade, Currículo.
ABSTRACT:
The Brazilian educational system has undergone some modifications in the last decades. The most
recent is the approval of the high school reform, a controversial subject for specialists in the field,
since the proposed new structure has two directions: one that is common and compulsory for all
schools - National Curricular Base - and another flexible. One of the arguments against this
proposal is the lack of preparation of the majority of schools to offer didactic education, in addition
to essential topics to discuss relevant topics, environmental education and sustainability. This
objective work investigates how high schools have exploited environmental education without a
curriculum. The Survey was conducted in Coelho Neto - MA with a sample of three schools:
federal, state and private. This study is classified as qualitative and exploratory. The collection of
data was done through semi-structured interviews conducted in February of the year. The lack of
discipline in curricula and the realization of programs, as well as unfinished programs.
Keywords: High school, Environmental education, Sustainabilit, Curriculum.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Desde os seus primórdios, a sociedade tem passado constantemente por transformações. Na


ampla gama de exemplos destas mutações, as revoluções industriais e tecnológicas marcaram
substancialmente os últimos três séculos, os quais foram palco para o surgimento de novas técnicas
produtivas e suas inevitáveis consequências.
Dentre os aspectos positivos, esta revolução promoveu consideráveis mudanças,
especificamente, o aumento da capacidade de produção. Contudo, tamanha velocidade de
crescimento e a consequente necessidade de geração de riquezas culminaram em vários efeitos
colaterais para a sociedade. Esse modelo estabelecido de produção acelerada suscitou a reflexão da
impossibilidade de subsistência, bem como as consequências de tamanho volume de produção.
Dentre os mais óbvios, está que a sociedade passaria a enfrentar o agravamento de problemas como
concentração de riquezas, desigualdade social, desemprego, prejuízos ambientais (DE OLIVEIRA
et al., 2012).
A contradição da equação: capitalismo, desenvolvimento sustentável, humano e ambiental,
pode levar ao status de impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas
conflitantes fundamentados no bojo econômico do desenvolvimento. Para reverter seus conflitos, é
preciso que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos
comportamentos gerados pela dinâmica da racionalidade existente. Assim, o conhecimento a ser
desenvolvido nos meios acadêmicos deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio
natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, configurando o papel dos
diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações
alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva que priorize um novo perfil de
desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental. Assim, a sustentabilidade é
reconhecida como uma questão-chave para a sociedade do século XXI (KOMIYAMA;TAKEUCHI,
2006).
Sobre a temática do desenvolvimento sustentável na ótica do capitalismo, a Academia tem
promovido variados debates, no sentido de conciliar a complexidade do desenvolvimento
sustentável, humano e ambiental, onde geram neste sentido, conflitos de interesses sociais e
econômicos, nas variadas alternativas para compreender a atuação da humanidade no planeta.
As discussões por ele geradas, fez surgir em 1987 o conceito de Desenvolvimento
Sustentável (WECD, 1987). A expressão foi apresentada oficialmente na Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da Organização das Nações Unidas (ONU),
presidida pela ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, a qual definiu como ―a
capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem suas próprias necessidades‖ (COMISSÃO..., 1988, p. 9).
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A discussão sobre desenvolvimento sustentável, em suas várias dimensões e aspectos,


considera que o tema deve ser tratado de uma forma sistêmica e integrado.
Outros conceitos também abordam outras dimensões, como exposto por Sachs (2002), que
enfatiza as oito dimensões do eco desenvolvimento, deixando bem claro que, para se alcançar a
sustentabilidade, tem-se de valorizar as pessoas, seus costumes e saberes, a partir de uma visão
holística dos problemas da sociedade e dos recursos naturais. Assim, a educação deve ser vista não
só como um direito humano fundamental, mas também como meio balizador para promover
práticas sustentáveis que auxiliem na conscientização dos educadores e educandos em seu papel
como cidadãos.
Mais de quarenta anos de discussão promoveu na sociedade e na Academia o uso aplicado
de pesquisas e construção de novos conhecimentos sobre a questão central de como fazer uso dos
recursos naturais para promover o desenvolvimento, impactando com efeitos mínimos o meio
ambiente e suas graves consequências.
Observando qualquer cenário onde o conceito pode e deve ser desenvolvido e disseminado
enquanto valor e prática há de se considerar especialmente os atores que possibilitam tais
construções, como o papel das escolas. De acordo com Leff (2013), a formação ambiental vai além
de um processo de capacitação que busca reciclar e ajustar às habilidades profissionais as novas
funções e normas ecológicas dos processos produtivos e as novas tecnologias embasadas na
racionalidade ambiental no processo ensino-aprendizagem. (LEFF, 2013).
Barreto et. al. (2012) destacam a educação como um produto da sociedade, a qual percebe a
urgência de uma educação engajada na edificação de sujeitos responsáveis por suas ações e
comprometida com os seus pares. Para isso, preservar o ambiente é uma questão-chave e deve ser
responsabilidade da Educação.
A Educação Ambiental, e com ela a preservação do meio ambiente, recebeu vários conceitos
e fundamentações, os quais, de acordo com Seiffert (2007), a percepção da problemática ambiental
está ganhando dimensões ao longo das últimas décadas, levando o homem a repensar o seu modelo
de crescimento econômico, alinhado com o desenvolvimento sustentável. Seguindo esse raciocínio,
isso nos remete uma nova reflexão sobre o desenvolvimento sustentável, que deve ser encarado
como um processo de transformação econômica, política, humana e social, e isso, é um dos grandes
desafios que a humanidade enfrenta atualmente, na conciliação entre o capitalismo e o
desenvolvimento humano e ambiental.
Neste contexto, a Educação Ambiental, segundo Schenini (2005) observando diferentes
cenários onde o conceito pode e deve ser empregado, há de se considerar os atores que possibilitam
tais práticas. Qualquer fazer só deverá se realizar pela ação de profissionais preparados para atuar
de forma diferenciada, independentemente da área de conhecimento em que estejam operando. As

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

questões relacionadas à sustentabilidade permeiam uma ampla gama do campo do conhecimento,


vínculo indissociável entre desenvolvimento e meio ambiente tem sido a principal base dessa
reflexão.
Já Barbieri (2012) defende que a Educação para a Sustentabilidade no Brasil começou a ter
evidência apenas em 1988, na forma de importante instrumento de políticas públicas. Tal
posicionamento decorreu do que foi estabelecido pela Constituição da República Federativa do
Brasil (1988), através da Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA e da Política Nacional de
Educação Ambiental - PNEA.
A partir da 6.938/81 da PNMA, todas as modalidades de ensino deveriam incluir a Educação
para a Sustentabilidade em seus programas de forma permanente, incluindo os programas de
treinamentos e desenvolvimento de pessoas realizadas por organizações públicas e privadas.
O artigo 214 da Constituição Federal Brasileira - CFB de 1988 registra que a
sustentabilidade no ensino está presente e visa articular o Sistema Nacional de Educação em regime
de colaboração. É necessário, portanto, definir diretrizes, traçar objetivos, determinar metas e
estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus
diversos níveis, etapas e modalidades. Esta articulação deve acontecer por meio de ações integradas
dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a:

I erradicação do analfabetismo; II universalização do atendimento escolar; III melhoria da


qualidade do ensino; IV formação para o trabalho; V promoção humanística, científica e
tecnológica do País; e VI estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do produto interno bruto (CFB, 1988, p. 127-128).

De acordo com a Lei 9.795/99, mais especificamente, um dos princípios básicos da


Educação Ambiental é pluralidade de ideias e concepções pedagógicas diferenciadas, cujas
perspectivas devem considerar a inter, multi e transdisciplinariedade. Mais especificamente, o artigo
11 desta mesma lei é descrito que a dimensão ambiental deve constar dos currículos da formação
dos professores, em todos os níveis e disciplinas. Destarte, os docentes em atividade nas IES devem
receber formação complementar em sua área de atuação, para que possam atender aos princípios da
Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795, Art. 11, parágrafo único).
No âmbito nacional, o Ministério da Educação – MEC, nas últimas décadas vem realizando
uma série de mudanças no sistema de ensino. Integrando a articulação desses processos de
mudança, está à frente o Conselho Nacional de Educação – CNE, o qual vem criando um conjunto
de diretrizes e políticas com a intenção de promover a melhoria contínua da qualidade da educação
superior brasileira.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MATERIAL E MÉTODOS

Quanto à análise o estudo teve uma proposta de abordagem qualitativa, que de acordo com
Richardson (2008), é caracterizada por compreender detalhadamente os significados e
características que são apresentadas pelo fenômeno analisado.
A pesquisa teve uma característica descritiva que de acordo com Trivinos (1987), são
pesquisas que pretendem descrever as características de determinado fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre algumas variáveis. O universo da pesquisa as escolas que ofertam
o ensino médio na cidade de Coelho Neto – MA.
Os sujeitos de uma pesquisa podem ser caracterizados na visão de Puzzebon e Freitas (1998,
p. 147) que afirmam: ―[...] composta por indivíduos, grupos ou organizações, ou ainda por projetos,
sistemas ou processos decisórios específicos. A determinação da unidade de análise deve ser
resultante de exame cuidadoso das questões de pesquisa.‖.
Entretanto, para a presente pesquisa serão considerados os gestores das três escolas
selecionadas. A amostra não-probabilística, determinada pela aceitação e conveniência dos
respondentes, foi composta de 03 escolas que fazem parte de redes diferentes, ou seja, uma
particular, estadual e federal. Este trabalho foi baseado no constructo de Galvão e Lima (2013) no
qual totalizam 15 perguntas agrupadas em 4 (quatro) dimensões: social, econômica, ambiental e
político-institucional. O roteiro de entrevista elaborado para essa pesquisa contemplava 08
perguntas abertas as quais abordavam as quatro dimensões já citadas. As entrevistas foram
realizadas com a gestão das três escolas entre os dias 20 e 24 de fevereiro do corrente ano.
Após a coleta dos dados foi utilizado a técnica de tratamento a análise de conteúdo (Bardin,
2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as entrevistas junto aos gestores das escolas, estas foram transcritas seguindo fielmente
as falas pronunciadas pelos mesmos, e logo abaixo se apresenta os resultados e os comentários
organizados por tópicos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quadro 1: Quanto a formação do corpo docente e técnico da escola em educação ambiental.


Tema Categorias Subcategorias Unidades de Contexto

―Desconheço algum
profissional na escola
com essa habilitação‖.
―(...) somente uma
―Não é fácil incluir no
professora da instituição
Doutores em Educação currículo uma
possui especialização na
Ambiental disciplina que não tem
área de educação
Mestres em Educação professor capacitado
ambiental. ‖
Formação em Ambiental para executa-la‖
―Não apresentamos
Educação Especialistas em Educação A cidade tem
nenhum profissional
Ambiental Ambiental capacidade para
formado na área de
Graduados em Educação desenvolver projetos na
sustentabilidade. ‖
Ambiental área, falta-nos recursos.
―Não contamos com
Não existem profissionais ‖
nenhum profissional
habilitados ―O IFMA deve ter esse
formado na área de
profissional em seu
sustentabilidade. ‖
quadro, a escola faz
parte de uma rede
federal. ‖

Fica perceptível com esse quadro a carência de profissionais habilitados a desenvolver


projetos e ministrar disciplinas nas grades das escolas da cidade. Apenas uma das três escolas
possui um único profissional especializado para a temática, o que deve justificar a pouca
expressividade que a disciplina tem gerado no dia-a-dia das escolas em estudo. Não está levando em
conta a formação aqui em ciências biológicas, disciplina presente na base comum do ensino médio.
O que está sendo levantado nessa categoria é a formação complementar em educação ambiental e
sustentabilidade.

Quadro 2: Quanto a inclusão da disciplina ―Educação Ambiental‖ na grade curricular.


Tema Categorias Subcategorias Unidades de
Contexto

―Não apresenta disciplina


especifica, porem os
professores buscam abordar
o tema durante as aulas‖.
―Não possuímos a disciplina
voltada para área de
sustentabilidade, entretanto
Existe a proposta de busca incluir o tema nas
inclusão da disciplina. outras disciplinas oferecidas‖. ―Não temos a
Inclusão da Apresenta a disciplina na ―A instituição não possui disciplina, porém
disciplina grade; disciplina especifica porem fazemos diversos
―Educação Já se ofertou, entretanto, nas matérias de Biologia, tem trabalhos, inclusive
Ambiental‖ hoje se opta em trabalhar de visto que os professores de conscientização.
no currículo maneira transversal. desenvolvem projetos ou ‖
do ensino Não existe a disciplina na ações que contentam as Nas feiras, eventos,
médio. grade curricular. temáticas da sustentabilidade, encontros (...)
A temática é trabalhada na desenvolvem oficinas e sempre é lembrado
interdisciplinaridade. projetos de modo geral e dessa temática.
também embora esse tema
não esteja previsto nos planos
de curso são abordados nos
eventos do instituto
principalmente na Semana
Nacional de Ciências e
Tecnologia e também durante
o Workshop Multicultural. ‖

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Nessa categoria, onde se busca identificar a inclusão da disciplina ―Educação ambiental‖ no


currículo do ensino médio, fica evidente que as escolas se esforçam para tratar o tema no dia-a-dia,
embora não possuam na grade curricular. Como foram mencionados em uma das falas, os
professores trabalham o tema na interdisciplinaridade. Embora essa prática de tentar incluir o tema
nos trabalhos seja relevante, acredita-se que a inclusão da disciplina na grade poderia gerar
resultados mais sólidos na formação do adolescente.

Quadro 3: Quanto a escola possuir um Plano de Gestão Ambiental


Tema Categorias Subcategorias Unidades de Contexto

―Não existe plano de ―Já fizemos algumas


gestão ambiental estratégias, mas não se
formalizado, apenas configuram plano. ‖
Existe um plano de gestão de iniciativas dentro das
ambienta a rigor da disciplinas, e nos eventos ―Não é simples lidar
exigência dos órgãos que como já foi dito com isso, exige
auditam. anteriormente. ‖ recursos, tempo,
Plano de pessoas...‖
Existe uma proposta de ―Existe um plano. Mas
Gestão
elaboração. ainda não foi iniciado. ―A cidade tem
Ambiental capacidade para
Onde este plano cria-se
Já está sendo votado um uma horta e um esquema desenvolver projetos
plano de gestão que envolva que jogue a agua na área, falta-nos
toda a comunidade. desperdiçada pelos alunos recursos. ‖
Ainda não se pensou nesse nas plantas. ‖
aspecto. ―A escola pode
―Não possui nenhum oferecer mais, falta
plano (Por falta de articular melhor essas
recursos). ‖ ideias. ‖

A principal alegação quando se fala em realizar projetos e políticas em qualquer órgão,


inclusive público é a falta de incentivo financeiro. Essa carência de recursos, a qual muitas vezes,
afetam áreas tidas como prioridade não chega a alcançar, por exemplo, a questão ambiental que fica
mais nos bastidores das organizações. O que poderia ser diferente, caso os gestores buscassem
alternativas mais baratas, mas que garantissem a execução de propostas que melhorassem quem
sabe o desenvolvimento do planeta. Além desses aspectos já formalizados através dos quadros
acima, a pesquisa ainda evidenciou alguns aspectos que merecem destaques.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quadro 4: Outras informações relevantes apontadas pela pesquisa


Tema Escola Particular Escola Estadual Escola Federal

Não existe uma parceria


Não possui nenhuma
estabelecida, porem tem
pareceria Não possui
Engajamento dos interesse de se trabalhar
estabelecida, porem a nenhuma parceira
colaboradores da com os catadores de lixo de
feira de ciências do devido à falta de
escola na temática coelho neto, bem como foi
ano de 2017 buscará recursos.
sustentabilidade. iniciado no ano de 2016
este engajamento.
mas não foi concluído.

Existe um Ainda não possui


planejamento onde os nada formalizado.
alunos são Mas pretende-se
Projetos pra redução do Se existe ainda não é
responsáveis por utilizar a luz solar
uso de energia elétrica formalizado.
analisar o que se como fonte de
gasta e tentar iluminação das
diminuir o supérfluo. salas de aula.

Não existe nenhum plano


formalizado, existem
Existe um projeto, apenas ações promovidas
porém não iniciado. dentro da instituição,
Projetos para combater
Entretanto não houve Não possui mediante a exposição de
o uso desnecessário de
nenhum interesse dos nenhum projeto. cartazes, chamando a
água
demais atenção de alunos e
colaboradores. servidores, quanto a
importância de se
economizar a agua.

A escola nunca Nunca foi realizada A escola não foi auditada


Auditoria Ambiental recebeu nenhum nenhuma auditoria ainda por nenhum órgão
órgão ambiental. ambiental. ambiental.

Comparando as redes de ensino em relação à sustentabilidade e educação ambiental,


percebe-se que pelo fato delas serem geridas de modo diferentes e receberem recursos também de
maneira diferente isso não contribui para o desenvolvimento ou não de atividades que combatam o
desperdício e a execução de projetos que beneficiem a sociedade. As escolas apresentam
desempenham muito parecidos nesse contexto.

CONCLUSÕES

Esse estudo que tinha como objetivo investigar se atualmente as escolas de ensino médio
tem explorado a educação ambiental no currículo, pode-se afirmar que não. As escolas da cidade de
Coelho Neto infelizmente não trabalham a disciplina de educação ambiental em seus currículos,
embora atividades pontuais tenham sido realizadas ao longo dos anos de maneira interdisciplinar
nessa área.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O estudo apontou também que o fato das redes estudadas serem diferentes: particular,
estadual e federal, isso não tem de nenhuma forma sido um fator que diferenciem as escolas quanto
à formação dos seus alunos para a sustentabilidade. Percebe-se que as escolas muitas vezes têm
executado projetos de maneira isolada sem contexto com a formalização de práticas que venham
agregar maior valor para o aluno.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

SISTEMA DE LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS EM GERAL NÃO


PERIGOSAS NOS PROGRAMAS MUNICIPAIS DE COLETA SELETIVA DAS
CAPITAIS NORDESTINAS: REALIDADE OU UTOPIA?

Aline Carolina da SILVA


Doutoranda em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
alinesilva.ambiental@gmail.com
José Fernando Thomé JUCÁ
Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
jftucah@icloud.com
Kelma Maria Vitorino ALMEIDA
Professora do Instituto Federal de Sergipe (IFS)
kelma.v@uol.com.br

RESUMO
O presente trabalho visou promover um diálogo entre os campos da Logística Reversa e os
Programas Municipais de Coleta Seletiva das capitais do Nordeste brasileiro, objetivando
impulsionar a sensibilização ambiental para a temática a partir da compreensão das realidades
municipais acerca da implementação de ações do Acordo Setorial de Embalagens em Geral não
Perigosas. Para tanto, a pesquisa se desenvolveu de forma exploratória e descritiva, com abordagem
quantiqualitativa para o diagnóstico da situação. Analisou-se o período de 2012 a 2017 de acordo
com as informações primárias e secundárias confiáveis e disponíveis, propiciando o mapeamento
dos fluxos comerciais por meio do programa AmCharts. Para a visualização da situação-problema
no cenário atual foi realizada análise crítica dos resultados considerando-se os aspectos
positivos/potencialidades e aspectos negativos/ameaças. Verificou-se que a ausência de dados
substanciais para planejamento estratégico das ações, as baixas receitas com a comercialização dos
materiais, a inconsistência de dados, bem como, o não estabelecimento de um sistema de rede
logística de coleta, armazenamento e distribuição dos materiais potencialmente recicláveis e
reutilizáveis são um dos fatores limitadores para otimização, alcance e efetividade das ações da
Logística Reversa na coleta seletiva das capitais nordestinas do Brasil.
Palavras-chave: Acordo Setorial, Coleta Seletiva Municipal, Nordeste Brasileiro, Fluxo de
Embalagens, Cenário.

ABSTRACT
The present work aimed to promote a dialogue between the fields of Reverse Logistics and the
Municipal Programs of Selective Collection of the capitals of the Brazilian Northeast, aiming to
promote environmental awareness for the theme from the understanding of the municipal realities
about the implementation of actions of the Sector Agreement of General Non-Hazardous
Packaging. For this, the research was developed in an exploratory and descriptive way, with
quantitative approach to the diagnosis of the situation. The period from 2012 to 2017 was analyzed
according to reliable and available primary and secondary information, providing the mapping of
commercial flows through the AmCharts program. It was found that the absence of substantial data
for strategic planning of actions, low revenues from commercialization of materials, inconsistency
of data, and failure to establish a logistic system for the collection, storage and distribution of

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

potentially recyclable materials and Reusable materials are one of the limiting factors for the
optimization, scope and effectiveness of Reverse Logistics actions in the selective collection of
Brazilian Northeastern capitals.
Keywords: Agreement Sector, Municipal Selective Collection, Northeast Brazil, Flow of
Packaging, Scenario.

INTRODUÇÃO

A recuperação dos materiais potencialmente recicláveis e reaproveitáveis é de fundamental


relevância ambiental, econômica e social, seja na geração de empregos, na substituição da matéria
prima para produção, ou ainda na produção de energia. No Brasil, apesar dos recentes avanços,
observa-se que essa atividade encontra dificuldades para implementação, podendo-se pontuar a
ausência de sensibilização ambiental, capacitação técnica, tributação específica, características
culturais e impasses políticos, como fatores responsáveis pelo andamento das ações.
É importante salientar que o país possui aproximadamente 70% dos seus resíduos sólidos
urbanos caracterizados como orgânicos e 30% caracterizados como materiais potencialmente
recicláveis e reaproveitáveis secos, onde apenas 5,2% deste total seco, em média, é recuperado, em
parte, pelos programas municipais de coleta seletiva (MCIDADES/SNSA, 2016).
O cenário apresentado é desafiador frente a implementação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), Lei Federal nº 12.305/2012, que traz no Art. 54 a obrigatoriedade da disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos (resíduos para os quais ainda não há tecnologia ou
viabilidade econômica que permita seu tratamento, reaproveitamento ou reciclagem (BRASIL,
2010)), a ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação da Lei.
Salienta-se que o Decreto 7.404/2010, que regulamentou a referida Lei, dedica o Capítulo II
à Coleta Seletiva, classificando-a como instrumento essencial para que se atinja a meta de
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (Artigo 54º da Lei 12.305) (BRASIL, 2010).
O supracitado Decreto também estabelece que Acordo Setorial significa o ato de natureza
contratual, firmado entre o Poder Público e os fabricantes, importadores, distribuidores ou
comerciantes, visando a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do
produto.
Em prosseguimento, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes são
obrigados a estruturar e implementar Sistemas de Logística Reversa (SLR) pós consumo, mediante
retorno de produtos após o uso pelo consumidor. Estes, são responsáveis diretos pelos materiais
agrotóxicos, pilhas, baterias, óleos lubrificantes, lâmpadas e resíduos eletroeletrônicos, bem como,
embalagens diversas não perigosas. À administração pública cabe a responsabilidade de estabelecer
a coleta seletiva de modo a otimizar os procedimentos para o reaproveitamento dos materiais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

reutilizáveis e recicláveis, como também, a articulação com os agentes econômicos e sociais


viabilizando o retorno dos materiais passíveis de reciclagem ou reutilização, coletados pelos
serviços de limpeza público, ao ciclo produtivo.
Logo, as coalizões firmadas pelo Sistema de Logística reversa por meio de Acordos
Setoriais podem vir também a englobar a efetividade e alcance dos Programas Municipais de Coleta
Seletiva, pois a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos necessitará de
ações, investimentos, suporte técnico e institucional, bem como a promoção de campanhas de
conscientização com o objetivo de sensibilizar o consumidor.
Pelo posto exemplifica-se o Acordo Setorial das embalagens diversas não perigosas, firmado
em novembro de 2015, cujas embalagens, que compõem a fração seca dos resíduos sólidos urbanos
ou equiparáveis, exceto aquelas classificadas como perigosas pela legislação brasileira, podem ser
compostas de (MMA, 2016): (a) papel e papelão; (b) plástico; (c) alumínio; (d) aço; (e) vidro; e (f)
embalagem cartonada longa vida.
Tais embalagens representam um montante considerável entre os materiais coletados nos
Programas Municipais de Coleta Seletiva, visto que o consumo de embalagens no Brasil e no
mundo, principalmente plásticas, vem aumentando há décadas, devido ao sucesso conseguido por
esse material nas mais variadas aplicações, confirmado pela Associação Brasileira de Embalagens –
ABRE (2016), cujo panorama apresentado das embalagens no país mostra que as embalagens de
materiais plásticos, papelão ondulado, embalagens metálicas e de diversificados tipos de papel
compõem, aproximadamente, 90% do da produção de embalagens no Brasil, que em 2013 totalizou
R$ 57.254.707,00 bilhões (dólares).
De acordo com o 1º Relatório de Desempenho do Acordo Setorial de Embalagens não
perigosas (CEMPRE, 2017), a estimativa da quantidade de embalagens distribuídas no mercado
interno brasileiro é de cerca de 3.283 mil toneladas/ano com referência ano de 2015, valor referente
as informações das indústrias usuárias de embalagens signatárias do Acordo Setorial.
Vale lembrar que, em sua fase inicial, as ações do Acordo Setorial de Embalagens não
perigosas se concentrarão em 12 cidades e regiões metropolitanas, sendo 4 dessas no nordeste do
país, representação de 1/3 das cidades, são estas: Fortaleza (CE), Natal (RN), Recife (PE) e
Salvador (BA).
Enfatiza-se que as capitais nordestinas podem ser divididas em 2 grupos de hierarquia
urbana (IBGE, 2008), sendo consideradas metrópoles Salvador, Fortaleza e Recife compostas por
mais de 1.6 milhões de habitantes e possuírem influência nas relações entre si e demais regiões do
país, seguidas do grupo denominado capitais regionais que se relacionam com o estrato superior da
rede urbana, com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, tendo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

área de influência de âmbito regional, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (2008).
Neste cenário, esta produção pretende promover um diálogo entre os campos da Logística
Reversa e os Programas Municipais de Coleta Seletiva das capitais do nordeste brasileiro,
objetivando avançar na compreensão das realidades municipais acerca da implementação de ações
do Acordo Setorial de Embalagens em Geral não Perigosas para impulsionar a sensibilização
ambiental, bem como, mapear os fatores potenciais e limitadores da expansão destes, considerando-
se o cenário atual e prospecção futura.

METODOLOGIA

O campo de estudo delimitado para a realização da pesquisa corresponde aos Programas


Municipais de Coleta Seletiva das capitais do nordeste brasileiro: São Luís (MA), Teresina (PI),
Fortaleza (CE), Natal (RN), João Pessoa (PB), Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE) e Salvador
(BA) e as ações do Acordo Setorial de Embalagens não Perigosas, firmado em 2015.
A pesquisa foi realizada de forma indutiva, partindo-se da realidade para a formulação de
hipóteses explicativas, visando planificação de políticas públicas para a gestão adequada dos
resíduos sólidos urbanos (ALMEIDA, 2012).
O delineamento utilizado foi realizado por meio da pesquisa bibliográfica e trabalhos de
campo. Quanto aos procedimentos sistemáticos, a pesquisa se desenvolveu de forma exploratória e
descritiva, com abordagem quantiqualitativa objetivando o diagnóstico da situação como base para
a definição das ações estratégicas contemplando assim um mapeamento cognitivo a respeito de uma
determinada situação-problema.
A análise temporal foi feita de 2012 a 2017 de acordo com as informações primárias e
secundárias confiáveis e disponíveis. Para o levantamento dos dados secundários foi realizada
consulta às bases de dados relevantes para o estado da arte mundial dentro da área acadêmica como
artigos, teses, dissertações e documentos governamentais.
A coleta de informações acerca dos Programa Municipais de Coleta Seletiva levou em
consideração os dados disponíveis no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e das
organizações de catadores parceiras do Acordo Setorial de Embalagens não Perigosas nas capitais
nordestinas, atingindo um total de 30 organizações de catadores da Coalizão das Embalagens,
descriminadas no Anexo D do 1º Relatório de Desempenho do Acordo Setorial de Embalagens não
perigosas (2017).
Após levantamento de dados foi realizada compilação dos mesmos com auxílio do arquivo
no formato XLSX (Excel 2003/2007) de modo a facilitar a organização das informações, bem como
a tabulação dos resultados por gráficos, tabelas e quadros, para possibilitar um prognóstico do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

cenário atual. Também, foram mapeados os fluxos comerciais do por meio do programa AmCharts,
disponível online. O mapeamento levou em consideração o centro das capitais de origem como
centro de massa para o fluxo dos materiais.
Para a visualização da situação-problema foi aplicada análise crítica dos resultados
considerando-se os aspectos positivos/potencialidades e aspectos negativos/ameaças, segundo
modelo estabelecido por Saffer et. all (2014).

PANORAMA DOS PROGRAMAS MUNICIPAIS DE COLETA SELETIVA NAS CAPITAIS DO


NORDESTE BRASILEIRO

Os municípios do nordeste brasileiro, metrópoles e capitais regionais, somatizam uma


população urbana de 56.915.936 milhões de habitantes, sendo deste total 12.446.368 milhões
pertencentes às capitais São Luís (MA), Teresina (PI), Fortaleza (CE), Natal (RN), João Pessoa
(PB), Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE) e Salvador (BA) (IBGE, 2016). Uma taxa de
urbanização superior a 90% nas capitais e média de PIB per capita, base ano 2014, de R$ 22.835,86
(vinte e dois mil, oitocentos e trinta e cinco reais e oitenta e seis centavos) (IBGE, 2016).
Quanto aos resíduos sólidos urbanos, cabe destacar que as referidas capitais depositam
6.293.155 t/ano (SNIS, 2016) em aterros sanitários, tendo em vista a regularização de todas as
capitais para na disposição final de resíduos. Quanto a massa recolhida anualmente (kg.hab.ano)
pelos Programas Municipais de Coleta Seletiva nas referidas capitais torna-se insignificante quando
observado a massa coletada dos domicílios e resíduos públicos, tendo-se uma média de 2 kg ano por
habitante, de acordo com os dados apresentados pelo SNIS (2016).
Para iniciar as discussões acerca do atual cenário dos Programas Municipais de Coleta
Seletiva, é importante enfatizar que os Programas de Coleta Seletiva ainda são ineficientes em
muitos municípios brasileiros, principalmente porque são vistos como dispendiosos. Dados do
CEMPRE (2016) revelam que o custo médio da coleta seletiva, por tonelada, nas cidades é de US$
102,4943 (R$ 389,46), considerando que o valor médio da coleta regular de lixo US$ 25,00 (R$
95,00), tem-se que o custo da coleta seletiva ainda está 4,10 vezes maior que o custo da coleta
convencional (CEMPRE, 2016). Logo, analisa-se que o movimento econômico promovido pela
coleta dos resíduos sólidos no Brasil gira em torno de U$ 94.14 bilhões de dólares, correspondente a
R$ 25.3 bilhões de reais (ABRELPE, 2014).
De modo a enriquecer os argumentos, dos valores de investimentos nos Programas
Municipais de Coleta Seletiva somente foi possível tabular das capitais Recife, Natal e de Aracaju,
repassados os valores R$65.000 (UUS 20.340), R$1.079.871,96 (UU$ 337.628,50) e R$24.000,00
(UU$ 7.503), respectivamente. Ressalta-se que o investimento descrito para a cidade de Natal

43
Dólar cotado a R$ 3,80

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contempla licitação e contrato recente junto às cooperativas vencedoras, objetivando melhorias


significativas para a redução de material reciclável depositado para disposição final. Os valores de
investimento na coleta seletiva não são descriminados entre os indicadores do SNIS.
Quanto a abrangência dos Programas de Coleta Seletiva nas capitais nordestinas
corresponde a uma taxa média de cobertura de 11% em relação a população total urbana, sendo a
cidade de Recife com o maior percentual (25% aproximadamente). Observa-se ainda que a cidade
de Maceió não apresentou dados quanto ao indicador explanado.
Somatiza-se a tais informações de relevância para compreensão do atual cenário nas capitais
nordestinas que:
 Apenas a capital João Pessoa possui taxa específica para a limpeza pública o que
tende a viabilizar melhorias significativas para o sistema, contudo, segundo informações da
divulgadas pela Prefeitura Municipal local, esta taxa tem alta inadimplência;
 A coleta de recicláveis não satisfaz ao montante gerado destes materiais nas capitais
estudadas, valores menores que 1% (média 0,49%) representado os materiais coletados
seletivamente em comparação ao total domiciliar coletado;
 Nas capitais de estudo os Programas Municipais de Coleta Seletiva são controlados,
em sua grande maioria, pelas associações e cooperativas cadastradas junto às prefeituras municipais
e o quantitativo contabilizado se faz com base na comercialização dos materiais recicláveis tendo
em vista a ausência de estrutura nos galpões de triagem para o controle de entrada dos materiais.
 A contrapartida das prefeituras para a coleta de materiais recicláveis e
reaproveitáveis tem sido conceder a estrutura física dos galpões de triagem, água, luz e um
montante irrisório para pagamento dos motoristas e manutenção dos caminhões de coleta.
Faz-se necessário também entender o funcionamento e os valores atribuídos a
comercialização dos materiais recicláveis de acordo com sua caracterização de modo a possibilitar
projeções de ganhos significativos de viabilização e investimentos nos Programas de Coleta
Seletiva. A exemplo, de acordo com os dados do SNIS (2016), a média dos tipos de materiais
coletados pelos Programas de Coleta Seletiva nas capitais do Nordeste representam: 57,5% papeis,
18.8% plásticos, 10.5% metais, 11.3% vidros, 1.9% outros.
Dentre estes materiais o alumínio (R$ 2,71), seguido do papel (R$ 0,91) e plástico (R$ 0,89)
são os de maior valor comercial, por quilo, na região Nordeste do Brasil, segundo levantamento
realizado no ano de 2017 entre as cooperativas pertencentes aos Programas Municipais de Coleta
Seletiva das capitais nordestinas, sendo o de menor valor o vidro (R$ 0,05).
Enfatiza-se que os valores descritos são referentes a comercialização junto a middleman
(intermediário), materiais prensados e/ou limpos, que assim como possuem alta influência no
cenário de coleta, transporte e retorno dos materiais recicláveis e reaproveitáveis para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

transformação e processamento na indústria, são negativamente vistos no cenário social devido a


exploração dos catadores tendo em vista os baixos preços de compra sob os lucros de venda.
Vale salientar que os materiais caracterizados compõem embalagens diversas não perigosas
cuja produção brasileira em 2015 atingiu um volume bruto de produção fechado em R$ 57,3 bilhões
(UU$ 17.82 bilhões), correspondendo a 0,97% do PIB no país, um crescimento de R$ 14.5 bilhões
(UU$ 4.4 bilhões) se comparado a 2010 (ABRE, 2016).
Levando-se em consideração as embalagens não perigosas com maior percentual de coleta
entre os materiais recicláveis e reutilizáveis nas capitais do nordeste do país, a Figura 1 apresenta o
fluxo de comercialização dos tipos de papel e do papelão diagnosticados no ano de 2016 junto as
organizações de catadores das capitais que estão inclusas na Coalizão das Embalagens não
Perigosas. Tal informação permite visualizar que estes materiais, em sua maioria, fluem para as
metrópoles regionais do país.

Figura 1: Fluxo comercial dos tipos de papel e papelão, limpos e prensados, nas capitais do nordeste
brasileiro.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A Figura 1 possibilita demonstrar que:
 Em Salvador (BA) o fluxo concentra nas indústrias locais, como também, ocorre
exportação.
 Em Aracaju (SE) os materiais em sua maioria permanecem no Estado, sendo
comercializados junto a empresa Ondunorte localizada no município de Itaporanga (SE). Quando
não há quantitativo mensal que possa ser comercializado diretamente com a indústria este materiais
são repassados para middleman, que coletam nos estados de Sergipe e Alagoas e direcionam para a
indústria Ondunorte em Recife;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

 Maceió (AL) comercializada todo material com atravessadores (middleman) que os


direciona para a indústria de Recife (PE);
 Em Recife (PE) algumas cooperativas conseguem comercializar diretamente com a
indústria quando conseguem coletar quantitativo minímimo necessário para esta operação, ou os
materiais são comercializados por atravessadores que unem materiais das demais capitais e efetuam
o repasse para a indústria;
 A capital João Pessoa (PB) tem a comercialização dos papeis e papelão, em sua maioria,
entre a indústria CONPEL no Estado e Ondunorte em Pernambuco. As cooperativas relatarm que
depende dos quantitaivos coletados e dos valores ofertados mensal pelas indústrias;
 Natal (RN) posui a comercialização dos materiais tratados entre a indústria CONPEL no
Estado da Paraíba e Ondunorte em Pernambuco, além de repasse para middleman, tendo em vista
que nem todas as cooperativas possuem estrutura para coleta e comercialização direta junto as
indústrias relatadas;
 Em Fortaleza (CE) os materiais destinam-se por middleman em sua grande maioria, que
recolhem das demais cidades e repassam para indústria no Ceará e também Pernambuco.
 Na capital Teresina (PI) todos os materiais são comercializados por meio de
atravessadores. Segundo informações de alguns deles, os materiais são destinados para a indústria
Sanpil na propria capital, mas também quando há quantitativo logístico são direcionados para o
Ceará e Pernambuco;
 Por fim, em São Luís (MA) os materiais são comercializados por middleman e
encaminhados para a indústria Everest no Estado, como também em alguns meses seguem para o
Ceará e Pernambuco.
Silva (2017) afirma que:

―A comercialização dos materiais recicláveis é sempre um elo com pouca


governança por parte dos catadores (atores dos Programas Municipais de Coleta
Seletiva) - dadas as características econômicas intrínsecas à atividade e também a
realidade social que define a identidade na maioria das vezes marginalizada de sua
força de trabalho - uma vez que a escala de produção é um dos entraves para
comercializarem diretamente para a indústria recicladora, o que vem a propiciar a
dependência da intermediação que restringe as margens de ganho na venda de seus
produtos‖

Logo, o setor da reciclagem apresenta um campo de análises bastante particular e desafiador


em termos de mobilização coletiva dos atores para a sustentabilidade do sistema, tendo a quantidade
de resíduos comercializados e o acesso às tecnologias para a coleta, triagem, prensagem e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comercialização dos resíduos como fatores que determinam o seu avanço na cadeia produtiva da
reciclagem dos resíduos sólidos urbanos (PEPINELLI, 2011, p. 145-146).

AÇÕES DO ACORDO SETORIAL DE EMBALAGENS EM GERAL NÃO PERIGOSAS NAS


CAPITAIS DO NORDESTE BRASILEIRO

A Coalizão do referido Acordo Setorial foi assinado no ano de 2015 e contou com 20
Associações Brasileiras representantes do setor empresarial composto por produtores, usuários,
importadores e comerciantes de embalagens em geral. Sua meta inicial é de em 36 meses, a contar
com a data de publicação, retornar para a cadeia de produção 50% das embalagens. Para tanto
definições descritas neste são de fundamental importância para prospecção de cenários futuros
(Quadro 2).
Quadro 2: Resumo regulamentações do Acordo Setorial de Embalagens não Perigosas
INDICADOR DESCRIÇÃO DESCRIÇÃO
Compromisso No curso de Implementar um sistema de
implementação monitoramento das quantidades de
embalagens colocadas no mercado
interno e das embalagens
recuperadas pelo sistema de
logística reversa deste acordo
setorial, sendo as cooperativas de
catadores de materiais recicláveis
priorizadas no processo de
implantação do referido sistema.
Ações iniciais Fase 1 Adequação e ampliação da
capacidade produtiva das
cooperativas nas cidades previstas;
Viabilização das ações necessárias
para a aquisição de máquinas e de
equipamentos, que serão destinados
às Cooperativas; Capacitação dos
catadores das Cooperativas;
Fortalecimento da parceria
indústria/comércio para triplicar e
consolidar os PEV.
Ferramenta Comunicação Empresas deverão investir em
campanhas de conscientização e
informação do consumidor,
podendo incluir, entre outros, mídia
televisiva, rádio, jornais, revistas,
internet, etc.
Fonte: Elaborado pelo autor. Acordo Setorial de Embalagens Gerais não Perigosas, 2015.

Segundo o 1º Relatório de Desempenho do Acordo Setorial de Embalagens não perigosas


(2017) o Plano de Comunicação específico da Coalizão Embalagens, já contratado, terá início em
2017, considerando o prazo de desenvolvimento da Fase 1 e planejamento da Fase 2, e contempla as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

etapas: planejamento estratégico; diagnóstico de perfis qualitativos e quantitativos para verificar as


necessidades locais; planejamento do plano de atuação; realização de um plano piloto em seis (6)
capitais para verificar a regionalização e resultados da aplicação dos multicanais de comunicação;
mensuração e análise dos resultados com planejamento para atuação nacional.
Os resultados da Fase 1 do Sistema de Logística Reversa de Embalagens implementado pela
Coalizão, registrou ações relativas a implantação e estruturação, que incluem as organizações de
catadores e PEV, nas 9 capitais nordestinas inclusas nos 25 Estados brasileiros. As informações do
Relatório de Desempenho, considerando a população estimada de 2015, mostram que as ações da
Coalizão estão disponíveis para uma população de aproximadamente 104.713.430 milhões de
habitantes, representando 51% da população total brasileira (204.440.972), sendo que a maioria
concentra-se no Estado de São Paulo.
Nas capitais do Nordeste brasileiro as ações realizadas pela Coalizão estão descritas no
Quadro 3 e disponíveis nos anexos no Relatório de Desempenho da Coalizão. O Quadro abaixo
representa um resumo de todas as ações desenvolvidas nas capitais.
Quadro 3: Ações da Coalizão do Acordo Setorial de Embalagens em Geral não Perigosas nas Capitais do
Nordeste Brasileiro, período 2015 a 2017.

 Melhoria de telhados;
 Elevador de fardos;
 Prensa hidráulica;
Equipamentos disponibilizados para  Carrinhos;
infraestrutura e adequação  Adequação do sistema elétrico;
operacional das organizações de  Máquinas de costura;
catadores - Cooperativas
 Fornecimento de mesas de triagem;
 Equipamentos de proteção individual (EPI);
 Transpaleteira;
 Big bag
 Assessoria para criar indicadores de
produtividade;
 Mapeamento de oportunidades de
comercialização;
Capacitações realizadas nas  Demanda de melhoria dos processos produtivos;
organizações de catadores –  Processos de separação / triagem;
Cooperativas  Aumento da escala de venda dos recicláveis;
 Mapeamento de oportunidades de
comercialização;
 Adequação da situação administrativa;
 Mapeamento de oportunidades de
comercialização;
 Educação ambiental básica;
 Gestão administrativa;
 Gestão de pessoal;
 Adequação logística

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ações de educação ambiental e  Sensibilização em mídias sociais;


comunicação
Localização dos PEV com os tipos de  Ambiente Coletivo Privado (implantação –
ações realizadas pelo sistema de PEV);
logística reversa de embalagens  Estacionamento (implantação e
operacionalização – PEV)
Fonte: Elaborado pelo autor. 1º Relatório de Desempenho do Acordo Setorial de Embalagens não perigosas
(2017)

Verifica-se que nas capitais estudadas devido a precariedade das infraestruturas das
organizações de catadores, bem como, os baixos indicadores apresentados pelos Programas de
Coleta Seletiva e comercialização dos materiais, as ações da Coalização são insuficientes para
reestruturação do sistema. Analisa-se que se faz necessário além da melhoria de infraestrutura e
capacitação, um sistema logístico de distribuição, coleta e armazenamento das embalagens não
perigosas potencialmente recicláveis para retorno a cadeia produtiva, além da revisão da legislação
tributária, a fim de se evitar a bitributação na cadeia de reciclagem, o que impacta a competitividade
do produto e seu posicionamento no Mercado.
Por fim, o Quadro 4 apresenta a análise crítica dos Programas de Coleta Seletiva das
Capitais do Nordeste brasileiro com a aplicação das Ações da Coalização do Acordo Setorial de
Embalagens não Perigosas, objetivando a potencialização da segregação e comercialização dos
materiais recicláveis. Para tanto foi subdividido em aspectos positivos/potencialidades e aspectos
negativos/ameaças, conforme modelo de Saffer et. all (2014), Quadro 4.
Quadro 4: Resumo das Potencialidades e Ameaças dos Programas de Coleta Seletiva das capitais do
Nordeste frente a Logística Reversa.
Cenário Atual dos Programas de Coleta Seletiva nas Capitais Nordestinas frente as Ações de
Coalizão do Acordo Setorial de Embalagens Gerais não Perigosas Apresentadas
ASPECTOS POSITIVOS -POTENCIALIDADES ASPECTOS NEGATIVOS - AMEAÇAS
Contribui para o desenvolvimento social; Ausência de dados substanciais para
planejamento estratégico das ações;
Promove a Sensibilização Ambiental; Baixa cobertura e infraestrutura das
organizações de catadores;
Possibilita aumento da produtividade das Caracterização dos resíduos atual
cooperativas e /ou associações; insuficiente para atendimento as
demandas de mercado;
Promove aumento na cobertura de coleta seletiva Baixas receitas com a comercialização
nos bairros ou Pontos de Entrega Voluntária; dos materiais devido à forte atuação dos
intermediários;
Efetiva o Sistema de Logística Reversa dos Não previsto Pagamento por Serviços
materiais recicláveis ou reaproveitáveis; Ambientais as organizações de catadores;
Possibilita futuras oportunidades de emprego e Baixa participação da entidade pública
renda; municipal para otimização do sistema
logístico;
Melhora na triagem e beneficiamento primário; Diagnósticos locais sem veracidade das
potencialidades de comercialização;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Restituição da matéria-prima secundaria ao setor População ainda desconhece o que é


empresarial; reciclável e não tem informação da
logística reversa pós-consumo e da
reciclagem do material suficiente;
Os governos locais e instituições públicas
Competitividade industrial; responsáveis pela gestão de resíduos
sólidos e limpeza urbana não incentivam
nem desenvolvem mecanismos para a
coleta e reciclagem de pós-consumo;
Setoriais Estaduais e Regionais para os O mercado econômico ainda valoriza
investimentos do setor empresarial para o SLR; muito pouco o pós-consumo;
Os comércios existentes não
Melhorias de infraestruturas para os desenvolvem iniciativas em logística
Empreendimentos de Economia Solidária; reversa de pós-consumo por
representarem custos adicionais e não
serem as essências desses negócios;
Logística de comercialização direta com as Não existem estatísticas precisas para
indústrias; formulação de indicadores do sistema;
Cumprimento do marco normativo da Política Ações previstas na Coalizão não suprem
Nacional de Resíduos Sólidos, Lei demanda de rede logística de mercado
n°12.305/2010, por parte do setor público e nas capitais do nordeste brasileiro;
privado, quanto à responsabilidade compartilhada,
coleta seletiva, logística reversa, reciclagem de
embalagens e inclusão social;
Promove discussões para melhorias junto a Ausência de sistema logístico de coleta,
sociedade; armazenamento e distribuição dos
materiais que podem retornar a cadeia de
produção;
Possibilita o reaproveitamento dos materiais Sem estimativa da revisão legislativa
recicláveis; tributária;
Possibilita implementar políticas econômicas, Corpo técnico e capacitação técnica
sociais e ambientais com base em diagnóstico insuficiente;
prévio;
Enaltece a transparência pública das ações Poucos programas de informação e
municipais; divulgação sobre logística reversa de
pós-consumo
Possibilita ratear custeios na aplicação de taxas; Pagamento por tonelada de resíduos
coletados no sistema de limpeza pública
municipal, o que vem a propiciar ações
de não segregação por parte das empresas
coletoras;
Promove redução de despesas com a disposição As organizações de catadores não têm
final de resíduos em aterros sanitários; áreas de armazenagem adequadas;
Coleta de produtos e embalagens pós-consumo; Custo alto na logística do transporte pós-
consumo;
Beneficiamento secundário e Comercialização; Ausência de programas de redução de
embalagens;
Desonera os gastos públicos com a coleta de Não menciona o pagamento às
resíduos sólidos urbanos a longo prazo; cooperativas de catadores pelos serviços
a serem executados;
Aumenta demanda por pesquisa e Não prevê a remuneração do poder
desenvolvimento de tecnologias mais limpas e público pelos serviços de transporte e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

eficientes; triagem dos materiais recicláveis e


reutilizáveis e disposição final dos
rejeitos decorrentes do processo de
separação dos materiais;
Possibilita revisão da legislação tributária; Não apresenta critérios para instalação
dos PEVs;
Otimiza o retorno desses resíduos à indústria que
estará contribuindo com a redução de utilização Não há previsão de penalidades a serem
de matérias-primas e da quantidade de resíduos aplicadas em caso de descumprimento do
dispostos inadequadamente no ambiente; Acordo;
Responsabilidade Compartilhada pelo Ciclo de Comércio informal de embalagens e
Vida das embalagens gerais não perigosas; resíduos desviados do SLR.
Integração da SLR com os serviços de coleta
seletiva;
Obrigatoriedade de instalação e manutenção de
PEVs pelos importadores e fabricantes de forma
articulada com a rede de distribuição e comércio
Implementação de incentivos econômicos e
fiscais.
Fonte: Elaborado pelo autor.

CONCLUSÃO

Pelos dados analisados é possível afirmar que as ações do Sistema Logístico de Embalagens
não Perigosas nas Capitais do Nordeste do Brasil necessitam de estruturação de modo a lapidar
estratégias eficientes e alcançáveis para a realidade local. Percebe-se como um dos fatores
limitadores a ausência de dados contundentes de produção destinada para a região, bem como, do
quantitativo segregado e comercializado, dito como recuperado. Tais informações são pontos de
partida para mensurar índice de retorno das embalagens para a cadeia de produção e são
inexistentes. Também, o sistema logístico de coleta, armazenamento e distribuição, cadeia de
suprimento, não foi levantado como estratégico para a efetividade das ações.
Logo, pode-se afirmar que a Logística Reversa de Embalagens não Perigosas e o
atendimento dos Programas Municipais de Coleta Seletiva das Capitais Nordestinas estão a passos
largos de uma realidade de eficiência e alcance das metas estabelecidas nos regulamentos, bem
como do retorno dos materiais ao sistema de produção e/ou cooprocessamento, por meio da
avaliação econômica, social e ambiental do sistema, contribuindo para a cadeia produtiva e
consequente economia circular.
Contudo, é importante reconhecer que as ações para melhoria na gestão e gerenciamento dos
resíduos sólidos urbanos foram inicias no que tange aos materiais secos recicláveis e reutilizáveis.
Esta realidade propicia otimização dos sistemas envolvidos e esperança de futuro promissor para a
gestão de resíduos no país.

REFERÊNCIAS

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brasileira de empresas públicas e resíduos especiais, 2015. Disponível em:
http://www.abrelpe.org.br/. Acesso em: Set, 2016.

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Implementação da Logística Reversa por Cadeia Produtiva. São Paulo, 2012.

ALMEIDA, K. M. V. Logística reversa para gestão de resíduos e coprodutos da cadeia de


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em: http://www.snis.gov.br Acesso em: Dez, 2016.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

TEORIAS E PRÁTICAS EDUCATIVO-AMBIENTAIS SOBRE O CULTIVO DE


HORTALIÇAS NA ESCOLA RURAL DE BOA VISTA – PB

Aluísio Marques da SILVA


Professor de Ensino Fundamental, Campina Grande – PB
marquesnp@hotmail.com
Kezarque Carvalho dos SANTOS
Tecnólogo em Construção de Edifícios, IFPB
kezarque@gmail.com
Vanessa da Costa SANTOS
Mestranda em Tecnologia Agroalimentar, UFPB
nessacosta1995@hotmail.com
Jairo Janailton Alves dos SANTOS
Mestrando em Tecnologia Agroalimentar, UFPB
jjasnp@hotmail.com

RESUMO
Através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que as escolas se
preocupem com a utilização de uma alimentação mais saudável em todas as idades, a escola
necessita entender sobre a importância dos alimentos saudáveis na alimentação escolar. Pautado
nesta realidade, o presente trabalho teve como objetivo sensibilizar os alunos através do processo
ensino-aprendizagem sobre a importância da utilização de alimentos saudáveis, tanto no ambiente
escolar, quanto na comunidade a qual estão inseridos. Para a concretização do trabalho foi realizada
uma pesquisa teórica e de campo com 15 alunos por meio de questionário semiestruturado
qualitativo. O trabalho contou com a participação de docentes e discentes da escola, onde em sua
maioria afirmaram dentre as atividades trabalhadas na escola tanto na teoria, quanto na prática, que
o manuseio das hortas foi a atividade mais prazerosas. Os alunos destacaram esta atividade com
hortas devido ao fator de não ficar apenas no âmbito de sala e poderem sair e fazer contato com a
natureza. Ao concluir esa pesquisa, pode-se percebem a necessidade de trabalhar a educação
ambiental de forma contínua, a medida em que os alunos preferem essas atividades ao conteúdo
programático do plano de aula. Além de proporcionar um contato maior com a terra e com as ações
ambientais, facilitando a interação entre os discentes contribuindo com o processo educativo e
conscientização ambietal de toda a familia.
Palavras – Chave: Meio Ambiente, Educação, Escola Rural, Práticas Educativas.

ABSTRACT
Through the National School Feeding Program (PNAE), which requires schools to be concerned
about the use of healthier food at all ages, the school needs to understand the importance of healthy
foods in school feeding. Based on this reality, the present work aimed to sensitize students through
the teaching-learning process about the importance of using healthy foods, both in the school
environment and in the community to which they are inserted. For the accomplishment of the work,
a theoretical and field research was carried out with 15 students through a semi-structured
qualitative questionnaire. The work included the participation of teachers and school students,
where mostly said among the activities at the school worked both in theory and in practice, that the
handling of the gardens was the most pleasurable activity. The students emphasized this activity

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1174


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

with vegetable gardens due to the factor of not only being in the room and being able to go out and
make contact with nature. At the conclusion of this research, one can perceive the need to work on
environmental education on an ongoing basis, as students prefer these activities to the programmatic
content of the lesson plan. In addition to providing greater contact with land and environmental
actions, facilitating interaction among students contributing to the educational process and
environmental awareness of the whole family.
Keywords: Environment, Education, Rural School, Educational Practices.

INTRODUÇÃO
A Educação Ambiental é o meio mais eficaz de desenvolver a sustentabilidade, e assim,
promover o desenvolvimento sustentável. A definição de desenvolvimento sustentável é muito
genérica considerada por alguns autores e pesquisadores da área, definição adotada na reunião de
Estocolmo. Para atender as necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras é
preciso considerar alguns pontos, entre eles: Quais os tipos de necessidade o ser humano precisa?
Em quais ambientes deve aplicar? Suas definições embora sucintas e bonitas de se expressar deixam
muitas lacunas.
No entanto sua definição carrega consigo sublimamente uma palavra pouco considerada, à
empatia quando ―eu me coloco no lugar do outro‖, estou me preocupando com o próximo. Então, se
pode perceber que o Desenvolvimento Sustentável não é só a preocupação com meio ambiente e,
sim a capacidade humana de solidarizar-se com os pares e isso englobando o meio ambiente e uma
educação para um novo mundo, promovendo assim, uma sustentabilidade eficaz. Para isso, se faz
necessário haver uma mudança radical na relação homem – natureza – homem, sobretudo, através
da (re)educação alimentar e o cuidado com o ambiente.
Desta forma, esta concepção se justifica pelo fato de sensibilizar os alunos e as pessoas da
comunidade local, sobre a importância de obter um ecossistema bem cuidado e fortalecido através
da realização de aulas em sala e de campo, sobre o cultivo de hortaliças agroecológicas, o uso
responsável da água e de outros recursos naturais, além de várias ações executadas no decorrer do
processo educativo.
O presente trabalho teve como objetivo sensibilizar a comunidade escolar, através do
processo de ensino-aprendizagem, mostrando de forma teórica e prática importância da utilização
de alimentos saudáveis, tanto no ambiente escolar, quanto na comunidade.

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO ENSINO-


APRENDIZAGEM

No Capítulo VI, artigo 225, da Constituição Federal está gravado que ―todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-


lo para as atuais e futuras gerações.

A educação ambiental na escola deve ter como objetivo a sensibilização e a


conscientização, a busca de mudança comportamental, a formação de cidadãos mais
atuantes, a sensibilização do professor, principal agente promotor da educação ambiental,
[…] um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares e da
instrumentação dos professores, a integração entre escola e comunidade, com o objetivo de
proteger o ambiente (DIAS, 2000).

A UNESCO (1997), ―define Educação Ambiental como sendo - a dimensão atribuída à


teoria e prática, visando encontrar meios para a resolução de problemas ambientais, através da
interdisciplinaridade e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade‖.
Ou seja, é imprescindível que as ações desse âmbito sejam pensadas localmente, com o intuito de
tomar medidas adequadas a realidade daquela comunidade, sem generalizações.
Diante dessa realidade, o nosso propósito é desenvolver ações que contribuam no processo
ensino-aprendizagem, principalmente, no que se refere o uso racional da água na comunidade
escolar, oferecendo alternativas de convivência harmoniosa com o ambiente, sobretudo, devido à
escola está inserida numa área rural, em relação à convivência com a seca, o combate ao processo
de desertificação no Bioma Caatinga e ao êxodo rural, a preservação e a conservação da fauna, flora
e o incentivo a produção de hortaliças orgânicas.
No que se refere às mudanças climáticas ocorridas no mundo, inclusive no Brasil, as pessoas
estão tendo a necessidade de despertar o interesse para o desempenho de atividades curriculares no
ambiente escolar, de modo mais consistente. Essa percepção dar-se-á pelo fato da educação escolar
ser um dos caminhos muito importante para a sensibilização dos alunos no que diz respeito à
educação ambiental voltada a mudança de comportamento em todos os aspectos, principalmente, a
melhoria da qualidade de vida do planeta e, consequentemente, das pessoas da sociedade brasileira
e mundial.

Nossa geração tem testemunhado um crescimento econômico e um processo precedente, os


quais, ao tempo em que trouxeram benefícios para muitas pessoas produziram também
sérias consequências e ambientais sociais. [...] é necessário encontrar meios de assegurar
que nenhuma nação cresça ou se desenvolva em detrimento de outra nação, e que o
indivíduo aumente o seu consumo à custa da diminuição do consumo dos outros. Os
recursos do mundo deveriam ser utilizados de um modo que beneficiasse toda a
humanidade e proporcionasse a todos a possibilidade de aumento de qualidade de vida. Nós
necessitamos de uma nova ética global (DIAS, 2004, p. 107).

Nesse contexto, o crescimento econômico, sobretudo, das grandes potências mundiais tem
ocasionado consequências negativas, principalmente, no que se refere o usufruto dos recursos
ambientais. Por isso é importante que a população mundial se mobilize de maneira organizada a fim
de criar políticas que minimizem os impactos negativos causados pelo uso desenfreado dos recursos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

naturais e, assim promover uma educação condizente com a realidade, que despertem nas pessoas a
utilização dos recursos existentes de modo responsável.
Por isso é necessário o desenvolvimento de conteúdos (teoria e prática) ligados a esta
temática no currículo educacional direcionado a educação ambiental. Também é imprescindível
sensibilizar o ser humano no sentido de promover a participação efetiva dos educandos e a
comunidade escolar, para a utilização dos recursos naturais de maneira adequada e, ao longo do
tempo provocar uma mudança de comportamento considerável, para melhoria da qualidade de vida
das atuais e futuras gerações.

A Utilização dos Alimentos Saudáveis na Alimentação Escolar

Através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), as escolas têm se


preocupado com uma alimentação mais saudável em todas as idades. Por isso, o ambiente
educacional possui uma demanda considerável no intuito de entender sobre a importância dos
alimentos orgânicos para a alimentação escolar. Para o Ministério da Educação, Brasil (2005), ―uma
alimentação saudável é aquela que atende todas as exigências do corpo, […] além de ser a fonte de
nutrientes que envolvam diferentes aspectos, como valores culturais, sensoriais, entre outros‖.

Com base no programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), todas as escolas devem
de ter um cardápio nutritivo, para que todas as crianças tenham hábitos alimentares
saudáveis, em todas as faixas etárias. É assim que começa uma politica de hábitos
alimentares saudáveis, onde desde pequenos, os educandos irão conhecer o valor nutritivo
dos alimentos. Sabe-se que a alimentação atua diretamente no metabolismo do corpo
humano, ajudando no crescimento físico, no desenvolvimento mental e na capacidade de
concentração, facilitando o processo de aprendizagem dos alunos (ROCHA; AMORIM;
SANTOS, et al, 2013, p. 1)

Se há condições de obter uma horta dentro da unidade escolar haverá subsídios de incentivar
os alunos a adquirir novos hábitos alimentares, contribuindo assim, a melhoria do ensino-
aprendizagem e, consequentemente, o seu desempenho de saúde, físico, mental e intelectual. Para
isso é preciso o apoio incondicional de toda comunidade escolar para que as ações planejadas nesse
sentido possam ser colocadas em prática, sendo desta forma, praticadas de modo duradouro e
consistente.

A Importância da Horta Escolar

O incentivo ao uso da alimentação saudável no ambiente escolar proporciona a integração e


a atuação dos alunos, professores e funcionários, através de atividades planejadas e executadas de
modo sistematizado, uma vez que, os profissionais envolvidos tenham o interesse de estimular a
capacidade criativa de usufruir dos recursos naturais, como também, uma alimentação saudável

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

baseada na utilização dos alimentos orgânicos, estimulando assim, a mudança de hábitos, a


aprendizagem dos alunos e o trabalho em equipe.
Para isso, Albieiro; Alves (2007, p. 17), ―[…] torna-se interessante à realização de
dinâmicas em espaço alternativo, como a horta escolar, assim, estimular a curiosidade do
educando‖. Tendo o professor, a possibilidade de criar maneiras, que possam apreender e incentivar
uma alimentação com mais valor nutricional, ―a horta, além de contribuir para merenda escolar,
proporciona a aquisição de bons hábitos alimentares, estimulo ao consumo de hortaliças [...]‖
(BAHIA, 2008).
Com a implantação da horta escolar, tornou-se possível desenvolver, acompanhar, dinamizar
e avaliar ações destinadas á educação, através de subsídios para conteúdos pedagógicos que
resultassem no desempenho de atitudes dos educandos em relação aos hábitos alimentares saudáveis
e outras práticas consideradas importantes. Desse modo, pode-se contribuir com o
ensino/aprendizagem para uma alimentação saudável, auxiliando na melhoria da qualidade de vida.

A horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório vivo que possibilita o
desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação [...] alimentar unindo
teoria a prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem
(MORGADO, 2006, p. 9).

Por isso, a escola tem a atribuição de incentivar o hábito alimentar saudável, como também,
atrair nas crianças e adolescentes a partir da construção e utilização da horta para o processo de
ensino-aprendizagem, oferecendo assim, um espaço vivo de experimentação e investigação,
sobretudo, no que se refere à utilização na prática dos conteúdos aprendidos em sala de aula.

Contribuições da Escola para o Desenvolvimento Sustentável

―O Brasil produz diariamente cerca de 149 mil toneladas de resíduos sólidos, mas apenas
13,4 mil, ou 9%, são recicladas, segundo o Informe Analítico da Situação da Gestão Municipal de
Resíduos Sólidos no Brasil, do Ministério das Cidades‖ (IDEC, 2005). ―O restante, 135,6 mil
toneladas, é destinado a aterros sanitários (32%), aterros clandestinos (59%), ou lançados
diretamente nas ruas e terrenos baldios, causando problemas ao meio ambiente e gerando sérios
riscos à saúde pública‖ (GONÇALVES-DIAS; TEODOSIO, 2006).
―Um dos grandes problemas ambientais enfrentados hoje pela população mundial é a
crescente produção de resíduos associado ao aumento das taxas de consumo. [..]‖ (POLAZ;
TEIXEIRA, 2009). A ampliação das cidades tem gerado grandes quantidades de resíduos sólidos
por meio do aumento do consumo, da atividade industrial, da construção civil, entre outros, o que
tem ocasionado degradação e a poluição do ambiente de diversas formas gerando consequências
graves a população.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MATERIAL E MÉTODOS

O período de realização do projeto e, consequentemente, das ações propostas foi entre os


meses de julho a dezembro de 2016. As atividades teóricas e práticas foram desenvolvidas ao longo
deste período e apresentadas à comunidade através da Mostra Pedagógica realizada no ambiente
escolar, no último mês citado.
Para isso, teve a participação efetiva de professores, funcionários, assim como, 15 (quinze)
alunos que se envolveram efetivamente neste processo, entre meninos e meninas, estudantes da
Escola Municipal de Ensino Fundamental Santino Luís de Oliveira, localizada no Sítio Bravo, zona
rural do município de Boa Vista-PB. O município localiza-se nas coordenadas geográficas
07º15'34" S, 36º14'24" W e uma altitude de 493m, apresentando uma área de 476,542 km 2 na
microrregião dos Cariris Velhos, no semiárido pertencente ao estado da Paraíba, localizada a 189,7
km da capital do estado, João Pessoa – PB. A população estimada para 2016 é de 6.986 habitantes
(IBGE, 2016).
No que se referem às ações implementadas de forma prática, foram desenvolvidas as
seguintes atividades: A) Aulas teóricas e de campo sobre educação ambiental; B) Utilização da água
de maneira racional; C) Construção de hortas dentro da escola, assim como, utilização de materiais
reaproveitáveis para a construção do ―canteiro econômico‖; D) Cultivo de hortaliças nos canteiros
para implementação da merenda escolar, e; E) Realização de parcerias com pessoas da comunidade
local e entidades para a efetivação das ações planejadas.
A metodologia que serviu de base a este trabalho foi por meio de pesquisas teóricas de
autores de descrevem sobre a temática apresentada, conforme exposto neste trabalho, como
também, uma pesquisa de campo através da aplicação de um questionário com questões fechadas,
focadas em possibilitar a coleta de respostas sobre a aprendizagem dos alunos e, consequentemente,
ações práticas e coletivas desenvolvidas dentro de um processo de ação-reflexão, que viabilize a
adoção de novos comportamentos, provoquem mudanças, desenvolvam habilidades e
instrumentalizem novas práticas e atitudes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os alunos que participaram do processo educativo e no desempenho da referida pesquisa


tinham idade entre 04 e 11 anos, conforme apresenta a Figura 1. É importante que os educandos,
logo na infância, participem deste tipo de atividade no ambiente escolar, pois nesta fase, elas
aprendem com maior facilidade, contribuindo assim, na mudança de hábitos alimentares podendo
sensibilizar sua família neste sentido, visto que elas são à base de sua educação, enquanto ser
humano.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1. Idade dos alunos pesquisados.

Conforme a Legislação Brasileira, a educação escolar possui dois níveis de ensino: a


Educação Básica, compreendendo a Educação Infantil (0 a 5 anos), o Ensino Fundamental (6 a 14
anos) e o Ensino Médio (15 a 17 anos); e a Educação Superior (variável – acima dos 18 anos)
(BRASIL, 2000). Tendo como pressuposto, as crianças serem agentes transformadores, na medida
em que é inserida esta temática na sala de aula, elas se tornam potenciais agentes transformadores
da aprendizagem e também são incentivados a continuarem promovendo ações que visem a práticas
educativas, sociais e ambientais indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade.
Na figura 2 foi pesquisada em que atividades os alunos gostaram mais de desenvolver na
escola durante a execução do projeto? Obteve-se como resposta que 73,33 % dos discentes, ou seja,
11 deles afirmaram que trabalhar com o manuseio das hortas foram mais prazerosas do que as
demais ações citadas.

Figura 2. Atividades que os alunos mais gosta de ter realizado na escola

Para Morgado (2006, p. 9), ―a horta inserida no ambiente escolar pode ser um laboratório
vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas [...] unindo teoria à
prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ao questionar com qual atividade o aluno gostaria de trabalhar mais na escola, os alunos
elencaram que as hortas seriam a atividades que mais gostaram de fazer, pois se sentiam bem em
mexer com a terra, aguar as hortaliças para que fizessem parte do cardápio da merenda, tornando a
comida mais saborosa e saudável. (Figura 3)

Figura 3. Atividade que o aluno gostou mais de trabalhar na escola

Assim como relata Bahia (2008), ―a horta, além de contribuir para merenda escolar,
proporciona a aquisição de bons hábitos alimentares e estímulo ao consumo de hortaliças [...]‖.
Desta forma, quando é incentivado o uso de alimentos saudáveis no cardápio da escola tem
procurado estimular a capacidade criativa de usufruir dos recursos naturais, como também, uma
alimentação saudável baseada na utilização dos alimentos orgânicos, estimulando assim, a mudança
de hábitos, a aprendizagem dos alunos e o trabalho em equipe.

CONCLUSÃO

Discutir e envolver a comunidade escolar sobre a importância da inclusão da alimentação


saudável contribui significativamente na mudança de comportamento, assim como, na melhoria dos
hábitos alimentares.
É evidente que as crianças percebem a necessidade de trabalhar a educação ambiental de
forma contínua, a medida em que preferem essas atividades ao conteúdo programático do plano de
aula. Além de proporcionar um contato maior com a terra e com as ações ambientais, eles se
interessam mais em participar das ações propostas no decorrer do processo educativo.
Com estas iniciativas, os alunos além de desenvolverem na prática o que aprenderam na
teoria são estimulados a sensibilizar sua família a cultivarem e utilizarem em suas casas e na
alimentação diária. Assim, adotam atitudes necessárias a melhoria da qualidade de vida no sentido
de envelhecerem com mais saúde e disposição.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

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GONÇALVES-DIAS, S. L. F.; TEODOSIO, A. S. S. Estrutura da cadeia reversa: "caminhos" e


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MORGADO, F. DA S. A Horta Escolar na Educação Ambiental e Alimentar: experiências do


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UNESCO. Tendencias de la educación ambiental. Paris: UNESCO, 1997.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (LEI 12.305/2010) E SUA


APLICABILIDADE NO MUNICÍPIO DE BACABAL – MA

Ana Caroline Pires MIRANDA


Professora EBTT da disciplina Direito Público IFMA
ana.pires@ifma.edu.br
Carlos Eduardo Pereira CARVALHO
Aluno do curso Técnico de Meio Ambiente IFMA
Leonardo Aron Quadros Aragão de ALMEIDA
Aluno do curso Técnico de Meio Ambiente IFMA
Monikelle Costa ROCHA
Aluno do curso Técnico de Meio Ambiente IFMA

RESUMO
O presente estudo tem por objetivo analisar a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
na cidade de Bacabal, Maranhão. Para tanto, realizamos pesquisa bibliográfica sobre a temática e
entrevistas com os gestores públicos no intuito de identificar os desafios – especialmente para a
saúde e qualidade de vida – e oportunidades econômicas que podem surgir a partir da adequada
gestão destes resíduos. Conclui-se que as políticas públicas ainda são muito incipientes e que a
população não possui conhecimentos adequados sobre a políticas, fatores que contribuem para o
agravamento da problemática vivenciada no município de Bacabal.
Palavras-chave: Política Nacional de Resíduos Sólidos. Poder Público. Resíduo Hospitalar.
ABSTRACT
The present study aims to analyze the implementation of the National Solid Waste Policy in the city
of Bacabal, Maranhão. In order to do so, we carry out bibliographic research on the subject and
interviews with public managers in order to identify the challenges - especially for health and
quality of life - and economic opportunities that can arise from the proper management of this
waste. It is concluded that public policies are still very incipient and that the population does not
have adequate knowledge about the policies, factors that contribute to the aggravation of the
problematic experienced in the municipality of Bacabal.
Keywords: National Solid Waste Policy. Public Power. Hospital waste.

INTRODUÇÃO

O descarte inadequado de resíduos e rejeitos44 tem sido apontado como um dos maiores
causadores da poluição ambiental em meios urbanos, motivo pelo qual a edição da Lei Federal

44
Conforme consta no art. 3º. Inc. XV e XVI da Lei 12.305/2010, rejeitos são ―resíduos sólidos que, depois de
esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada‖
enquanto os resíduos sólidos são definidos como ―material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder,
nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

nº12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, gerou
grande expectativa de resolução deste problema.
No entanto, apesar das expectativas e do estabelecimento de prazos na referida lei federal,
sobretudo no que concerne a apresentação, pelos municípios, de planos integrados de resíduos
sólidos e de encerramento de sues lixões até o prazo de 02 de agosto de 2014 (arts. 54 e 55 da Lei
12.305/2010), poucas mudanças foram verificadas no tratamento dos resíduos sólidos nas cidades
brasileiras.
O município de Bacabal, Maranhão, com aproximadamente 100.014 mil habitantes e com
uma área de 1.683,074 km² (IBGE, 2010), é um dos municípios que enfrenta diversos problemas em
decorrência do descarte inadequado dos resíduos e rejeitos, integrando, portanto, os 60,7% de
municípios brasileiros45 que não implementaram as determinações oriundas da Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
Diante desta constatação, esta pesquisa buscou identificar as dificuldades na aplicação da
Lei 12.305/2010 no município de Bacabal, problematizando a atuação do poder público nesta área,
bem como identificando iniciativas da sociedade social para reverter este problema.
Buscamos assim, fomentar o debate sobre a questão e a partir de atividades de pesquisa –
com coleta de dados, realização de entrevistas, trabalhos de campo, discussão de textos, etc. – e
buscamos neste trabalho dialogar com órgãos municipais estaduais e federais com vistas a criar e
instalar um processo organizado de observação, de levantamento de informações e de proposição de
políticas sobre as questões ambientais no município.
Cumpre ressaltar de antemão a necessidade de desenvolver a percepção de que a questão
ambiental, dada a sua amplitude, envolve, necessariamente, uma abordagem coletiva e
interdisciplinar. Assim, na discussão sobre preservação ambiental e conflitos motivados pela
utilização de recursos naturais – na qual se insere a discussão sobre a política nacional de resíduos
sólidos – é necessário recorrer a diversas disciplinas e áreas de conhecimento para compreender os
dados e informações, assim como compreender as diferentes formas de relação do homem com a
natureza.
Deste modo, esta proposta de estudo, buscou conciliar conhecimento de diferentes áreas
científicas, tendo em vista que se pretende refletir criticamente sobre a construção de categorias e
recortes científicos, bem como das próprias políticas públicas propostas.
Para tanto, a metodologia adotada neste trabalho contou com a análise da literatura
pertinente à temática, em especial de estudos que tratam da gestão de resíduos sólidos, bem como
sobre políticas públicas ambientais. Realizamos também levantamento sobre trabalhos de autores

45
CANTO, Ronaldo. Lei de resíduos sólidos não foi cumprida. E agora? Revista Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/lei-de-residuos-solidos-nao-foi-cumprida-e-agora-2697.html. Acesso
em: 05/01/2016.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

que analisam a questão ambiental no munícipio de Bacabal e também discussões sobre a legislação
ambiental brasileira, em especial a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Posteriormente, visitamos alguns órgãos e instituições oficiais, bem como realizamos
consultas junto a Internet, com vistas a obter um levantamento das principais ações realizadas pelo
poder público para discutir e/ou solucionar os problemas de gestão de resíduos do município.
Realizamos ainda entrevistas com os agentes envolvidos na temática ambiental no município
com vistas a obter informações mais detalhadas junto a gestores responsáveis pelas questões
ambientais no município de Bacabal e aos agentes da sociedade civil que realizam ações na área.
Assim, realizamos, no dia 22 de agosto, entrevista com o Secretario Municipal de Meio Ambiente
do município de Bacabal, Gleidson Santos, e com sua equipe de gestão.
Adotamos, portanto, diversos métodos e técnicas de pesquisa (coleta de documentos,
observações de diversos tipos, entrevistas aprofundadas, pesquisas na Internet e na imprensa, escrita
e falada, etc.), com vistas a realizar um diagnóstico sobre as políticas ambientais, especialmente
sobre a gestão de resíduos sólidos no município e qual a relevância que tem sido dada a mesma nas
ações dos gestores públicos.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A Lei 12.305/2010, que tramitou por mais de 20 anos antes da sua aprovação, contém
importantes instrumentos para o aproveitamento de matérias primas e redução de desperdício de
recursos, poluição e degradação ambiental.
Integrada à Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 8.938/1981), a Política Nacional de
Resíduos Sólidos estabelece a prevenção e redução na geração de resíduos, por meio do consumo
sustentável, da reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, além da destinação final
adequada para os rejeitos.
Paralelamente a estas medidas, institui a Responsabilidade Compartilhada dos gerados de
resíduos sólidos, ou seja, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e cidadãos deverão
se responsabilizar pela destinação adequada dos resíduos e rejeitos e ainda a Logística Reversa –
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e restituição dos resíduos sólidos, ou sua
destinação final adequada.
Além disso, a lei prevê a criação de metas para a eliminação de lixões bem como instituí
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e
metropolitano e municipal, nas esferas governamentais, e obrigatoriedade dos particulares
elaborarem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Da leitura do art. 7º da Lei 12.305/2010, pode-se afirmar que o principal objetivo da Política
Nacional de Resíduos Sólidos é a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, bem maior
de toda a legislação ambiental (MACHADO, 2010).
Para a concretização dos objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, foram
previstos os Planos de Resíduos Sólidos, que, por sua vez, compreendem o processo de
planejamento e consolidação de projetos de diferentes esferas – públicas e privadas – com vistas a
diminuir, reutilizar e reciclar os rejeitos gerados.
Este Plano é coordenado pela União, através do Ministério do Meio Ambiente, sendo
composto por uma série de metas, objetivos, normas e leis. Conforme dispõe o art. 15 da Lei
12.305/2010:

Art. 15. A União elaborará, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o Plano
Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por prazo indeterminado e horizonte de 20
(vinte) anos, a ser atualizado a cada 4 (quatro) anos, tendo como conteúdo mínimo: I -
diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos; II - proposição de cenários, incluindo
tendências internacionais e macroeconômicas; III - metas de redução, reutilização,
reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos
encaminhados para disposição final ambientalmente adequada; IV - metas para o
aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de resíduos
sólidos; V - metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e
à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; VI -
programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas; VII - normas e
condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União, para a obtenção de seu aval ou
para o acesso a recursos administrados, direta ou indiretamente, por entidade federal,
quando destinados a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos; VIII - medidas
para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos; IX - diretrizes para
o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das regiões integradas de
desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como para as áreas de especial
interesse turístico; X - normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando
couber, de resíduos; XI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no
âmbito nacional, de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social.

Percebe-se, pois, a necessidade de uma a responsabilidade compartilhada a implementação


da lei a consecução de seus objetivos, haja vista que a proteção da sadia qualidade de vida através
da correta gestão de resíduos é atribuída ao poder público, aos empresários e à toda coletividade.
Conforme dispõe Amado (2011, p. 587):

Caberá a Administração Pública prestadora dos serviços públicos de limpeza urbana e de


manejo de resíduos sólidos a responsabilidade pela organização e prestação direta ou
indireta desses serviços. Já as pessoas físicas e jurídicas geradoras de resíduos sólidos,
listado no art. 20, da Lei 12.305/2010, deverão implementar e operacionalizar integralmente
o seu plano de gerenciamento de resíduos sólidos (...) Por seu turno, o gerador de resíduos
sólidos domiciliar terá cessada a sua responsabilidade pelos resíduos com a
disponibilização adequada para a coleta ou pela devolução.

Deverá prevalecer a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, do setor


empresarial e dos demais segmentos da sociedade na promoção da Política Nacional de Resíduos
Sólidos, incluindo os cidadãos que devem se responsabilizar pelos resíduos gerados em suas
próprias residências, descartando-o adequadamente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Diante do exposto, cumpre examinar de que modo têm sido gerenciados os resíduos sólidos
no município de Bacabal, em especial no que se refere às responsabilidades do poder público
municipal em implantar a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, formadas por pessoas físicas de
baixa renda. Pretende-se, avaliar, inclusive, se o trabalho de conscientização ambiental, feita junto
aos munícipes, tem sido realizada a contendo.

A QUESTÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE BACABAL

Realizando uma breve análise sobre a situação ambiental no município de Bacabal,


sobretudo no que se refere ao gerenciamento de resíduos sólidos, percebemos que ainda existe uma
grande desorganização no que se refere ao tema, em diferentes administrações municipais.
Neste sentido, os trabalhos de Oliveira (2017) e Silva (2017), que analisaram a gestão
ambiental no município de Bacabal e a situação dos resíduos sólidos hospitalares no município,
auxiliaram a fornecer alguns dados importantes.
Do ponto de vista das políticas públicas municipais, em pesquisa realizada junto a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, Agricultura, Pesca e Abastecimento de Bacabal no ano de 2014,
Oliveira (2017, p.26) destaca a fragilidade das ações, inclusive pelo fato de que não existia, à época,
uma secretária específica para o meio ambiente levando a um enfraquecimento das demandas
relativas à questão ambiental diante das atividades produtivas. Conforme destaca a autora:

Observa-se que existem três secretárias funcionando em um mesmo local, porque não existe
um projeto aprovado em lei para o exercício das três secretarias com pastas diferentes.
Além disso, percebe-se que a equipe é reduzida diante dos desafios colocados por estas três
diferentes secretarias. Tal situação aponta para uma má gestão pública, havendo
sobreposição de pastas diferenciadas e não priorização da questão ambiental no município
(OLIVEIRA, 2017, p. 26).

Além disso, a autora destaca a problemática do lixão municipal, localizado no bairro da


Vila Palmeira, rodeado por casas e até mesmo escolas e que aumenta a cada dia. Segundo relato
realizado pela autora, após visita de campo realizada no local:

Na visita ao lixão, pudemos observar que não há separação dos resíduos como: garrafa pet,
vidro, papel, resto de comida e metal que compartilham do mesmo espaço, sendo
competido por baratas, moscas, ratos, urubus e cachorros. Constatamos também a presença
de crianças que acompanhavam catadores que tentavam tirar alguns materiais para serem
vendidos ou para seu próprio consumo. Deve-se destacar que os catadores não utilizavam
sequer luvas, tendo contato direito com alguns os tipos de lixo que mencionamos
anteriormente (domiciliar, comercial, hospitalar dentre outros) (OLIVEIRA, 2017, p. 26).

Fica evidenciada a exposição dos catadores aos resíduos altamente perigosos, devido ao
caráter infeccioso, tóxico, radioativo e que possui poder de disseminação muito alto dos resíduos
descartados no lixão.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Neste mesmo sentido, no que se refere aos resíduos hospitalares, Silva (2017) afirma que o
gerenciamento não é realizado de forma adequada no município de Bacabal. Em trabalho de campo
realizado no Hospital Materno Infantil de Bacabal, a autora destaca que:

O resíduo hospitalar, conforme entrevistas realizadas, a observação in loco e as fotografias


retiradas e apresentadas ao término deste trabalho, não é acondicionado devidamente, bem
como não há correta identificação do resíduo tampouco o seu tratamento é realizado. A
destinação final do mesmo é feito sem maiores cuidados para com as características que
este material apresenta, sendo, no final, depositado a céu aberto no lixão do munícipio
(SILVA, 2017, p.22).

Assim, ainda segundo a autora, o manejo correto das autoridades públicas no que se refere
aos resíduos oriundos dos serviços de saúde é deficitário e, além de comprometer o meio ambiente
pode ―gerar sérios danos à saúde da população, especialmente a de baixa renda, que mora nas
proximidades do lixão, ou dos catadores, que sem a devida proteção, fazem a separação do lixo para
posterior reciclagem‖ (SILVA, 2017, p.22).
Diante dessas informações, percebemos a dimensão da problemática vivenciada pelos
moradores do município, que não contam com uma política integrada na gestão dos resíduos sólidos
– inclusive o hospitalar – restando expostos inclusive a problemas de saúde, que afetam a sua
qualidade de vida.

PODER PÚBLICO MUNICIPAL E A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A atual gestão municipal continua com os mesmo problemas no que se refere a gestão dos
resíduos sólidos no município. A atual Secretaria Municipal de Meio Ambiente, embora possua
uma estrutura própria – não tendo mais que tiver as pastas e demandas com outras secretarias –
alega que, a despeito da relativa autonomia, não possui recursos necessários par implementar a
Política Nacional de Resíduos Sólidos no município.
Assim, em conversa realizada com o Secretario Municipal Gleidson Santos, no dia 22 de
agosto de 2017, na sede da secretaria e acompanhado pelas assessoras, o mesmo destacou que
pouco tem sido feito pelos resíduos sólidos na região, tanto pela falta de recursos financeiros quanto
pela falta de conscientização da população.
Sobre estes aspectos, especificamente sobre o local de disposição final dos resíduos sólidos
no município de Bacabal, o Secretario Gleidson Santos destaca que:

Infelizmente, ainda hoje vivemos a real situação de termos um lixão misto, onde é agregado
todo resíduo gerado em Bacabal, haja vista intenção do município é a construção de um
aterro sanitário. Porém, um aterro sanitário requer muita grana, uma logística maior e o
município de Bacabal hoje não dispõe dessa situação financeira para fazer o aterro
sanitário, daí a Secretaria esta buscando meios para que possa amenizar a situação do lixão
em Bacabal (entrevista em 22 de agosto de 2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Acerca da situação dos resíduos sólidos hospitalares, o Secretario destaca que todo o lixo
gerado por clínicas odontológicas, hospitais, farmácias é destinado ao lixão. Ainda de acordo com
seu relato, os próprios catadores desenvolveram formas de maneja com vistas a diminuir o contato
com estes matérias. Segundo Gleidson Santos, ―eles pegam todo o material e fazem aterramento,
eles colocam todo material e dentro de um buraco, uma cova, e cobrem, para não ficar exposto ali
até porque pode causar dano aos catadores que ali trabalham‖.
Ainda de acordo com sua fala, o único resíduo hospitalar que é adequadamente coletado é o
do Hospital Laura Vasconcelos, haja vista que a coleta, manejo e descarte dos resíduos é de
responsabilidade do Governo do Estado do Maranhão. Segundo afirma Gleidson, busca-se fomentar
uma parceria para que a empresa contratada pelo poder público estadual possa, também, se
responsabilizar pelos resíduos hospitalares dos demais focos produtores, contudo, até o presente
momento, não foi obtido sucesso nesta empreitada.
Dessa forma, percebe-se, por meio dos relatos do representante do poder público municipal,
que até o presente momento, não foi possível constatar avanços na política ambiental do município.
Conforme constatação do próprio gestor:

A secretaria pegou uma situação já bem avançada de poluição. Ali ao redor do próprio lixão
a degradação vem se estendo a cada dia, daí a necessidade de buscarmos uma saída urgente.
O aterro sanitário não é ponto final, porém é o início, porque só um aterro sanitário não
resolve. Tem que ter o aterro sanitário, tem que ter educação ambiental e a comunidade
estar focada em fazer, em buscar o bem estar da família. Então, aqui no centro da cidade há
vários focos de lixões e esses focos vão gerando, vem degradando a área e ao redor. A
Terra do Sol passa a coleta de lixo, mas assim mesmos os moradores fazem questão de criar
um lixão lá, de não esperar a coleta passar e depositar o resíduo que é gerado nas suas casas
no determinado local que hoje já se tornou um lixão. Então a degradação é constante e está
avançando a cada dia (entrevista em 22 de agosto de 2017).

Disto percebe-se que, além do poder público não conseguir realizar suas competências no
que se refere à questão ambiental, a coletividade também não tem se importado muito com esta
discussão, salvo algumas exceções de movimentos sociais e atividades desenvolvidas em escolas no
município.
Existe ainda muita omissão e falta de conscientização no que se refere à política nacional de
resíduos sólidos no município de Bacabal, de modo que é necessário o desenvolvimento de ações,
programas e projetos constantes na tentativa de sanar a problemática que, a cada dia, só aumenta e
dificulta a manutenção de uma sadia qualidade de vida em Bacabal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o levantamento de informações sobre a situação da questão ambiental no município de


Bacabal, bem como a realização de entrevistas e conversas com gestores municipais, podemos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

constatar que as políticas municipais de proteção ao meio ambiente e de gestão de resíduos sólidos
no município de Bacabal são extremamente deficitárias.
Não foi possível identificar a existência de um sistema integrado de coleta e reciclagem de
resíduos sólidos no município de Bacabal, nem uma preocupação das empresas e estabelecimentos
de saúde no correto descarte do material infecto contagioso com o qual lidam diariamente.
Dessa forma, podemos afirmar que muitos são os desafios colocados para que a
problemática verificada seja sanada, inclusive, desafios no que se refere ao estímulo a participação e
ao envolvimento da sociedade civil nestas discussões.
Os objetivos dispostos na Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 estão ainda muito distantes
da concretização no município de Bacabal, contudo, pode-se perceber que, paralelamente aos
desafios, muitas são as oportunidades que poderiam ser aproveitadas caso houvesse predisposição
do poder público e da sociedade civil para aproveitá-las.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Forense; São Paulo: Método, 2011.

BRASIL, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em: 12 dez. 2014.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 16 dez. 2014.

BRASIL, Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 05 jan.
2016.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva,
2012.

LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatriomonial: teoria
e prática. São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2011.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2010.

MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1190
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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de Bacabal - MA. Trabalho de Conclusão de Curso Técnico em Administração, Instituto Federal
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segregação, acondicionamento e destinação. Trabalho de Conclusão de Curso Técnico em
Administração, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus
Bacabal. Bacabal/MA, 2017.

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SARLET, Ingo Wolfgangt. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2003.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1191


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEGURANÇA FERROVIÁRIA: UMA


ABORDAGEM PRÁTICA EM ESCOLAS LINDEIRAS

André Petick DIAS


Graduado em Turismo e Pós-Graduado em Conservação da Natureza (Universidade Positivo)46
andre.dias@rumolog.com

Daniele Ribeiro MORAIS


Graduada em Gestão Ambiental (Faculdades Integradas Camões)47
daniele.morais@rumolog.com

Ana Flavia Freire BORGO


Estudante de Jornalismo (Centro Universitário UNIBRASIL)48
ana.borgo@rumolog.com

RESUMO
A Rumo S.A. é uma empresa detentora de quatro concessões ferroviárias no Brasil, operando em 12
mil quilômetros de malha férrea, com cerca de mil locomotivas e 27 mil vagões, por meio dos quais
a Companhia transporta commodities agrícolas e produtos industriais, possui 12 mil funcionários
diretos e indiretos. Sua capacidade de elevação no Porto de Santos e no Porto de Paranaguá é de 29
milhões de toneladas ao ano. O Programa de Educação Ambiental e Segurança Ferroviária da Rumo
- PEA, tem como principal objetivo gerar, divulgar e incutir conhecimentos voltados ao meio
ambiente e segurança com os trens ao público infantil, crianças entre 10 e 12 anos tem acesso às
informações, e tornam-se agentes multiplicadores de conhecimento em relação à preservação do
meio ambiente e a segurança ferroviária. Os estudantes aprendem a importância de repensar as
atitudes quanto às questões ambientais, quanto ao uso de recursos que tem acesso diariamente onde
vivem, até mesmo na escola, como a água e a energia, por exemplo. São capazes de compreender
que a mudança começa dentro da própria casa e da escola, e se consideram pessoas importantes por
estarem contribuindo para manter prevenido o planeta terra e a natureza. O PEA também busca
construir valores sociais e culturais que se transformem em atitudes de consumo consciente quanto
ao consumo e uso racional dos recursos naturais.
Palavras chaves: Educação Ambiental, resíduos sólidos, biodiversidade e ferrovia.
ABSTRACT
Rumo S.A. has 4 railway concessions in Brazil, with 12 thousand kilometers of railroads, about 1
thousand locomotives and 27 thousand railcars, through which the Company transports agricultural
commodities and industrial products. It has 12 thousand direct and indirect employees. Its lifting
capacity in the Port of Santos and the Port of Paranaguá of 29 million tons per year. The
Environmental Education and Railway Safety Program have as principal objective to produce and
to disperse knowledge when it comes to environment, to the child audience, children in between 10
e 12 years old have access to the information and transform themselves in multipliers agents of
knowledge regarding the preservation of the environment and the correct use of natural resources.
These students learn how important is to think about their attitude when it comes to environment
questions, as for the use of things that they have daily access wherever they go, even in school, like
the water, i.e. They are capable to understand that the change starts in their own house, they are

46
Coordenador de Socioeconômia da empresa Rumo.
47
Auditora Ambiental da empresa Rumo.
48
Técnica em Meio Ambiente da empresa Rumo.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1192


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

considered important people for helping to keep planet earth and nature protected. They try to build
social values and conscious consumption of natural resources.
Key words: Environmental Education, Solid waste, Biodiversity and railway.

INTRODUÇÃO

Transpondo quatro biomas de extrema importância no País, a Rumo S.A. é uma das
principais empresas de transporte ferroviário existentes no Brasil. Dentre as malhas ferroviárias do
país, a Malha Paulista e Norte (Rondonópolis MT – Santos SP) formam um dos principais
corredores de transporte ferroviário de grãos, escoando parte da produção de granéis do centro-
oeste para o Porto de Santos.
A Rumo possui quatro concessões ferroviárias no Brasil, operando em 12 mil km de malha
férrea, com cerca de mil locomotivas e 27 mil vagões, por meio dos quais a Companhia transporta
commodities agrícolas e produtos industriais. Tendo em vista que a ferrovia cruza áreas
conservadas de Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, e que a operação ferroviária traz
impactos socioambientais, surge a necessidade de criar algum método para reduzir esses impactos
causados.

Figura 10: Mapa do traçado ferroviário sob concessão da RUMO logística S.A.

Empreendimentos lineares como rodovias e ferrovias causam diversas alterações no


ambiente e facilitam o acesso humano a áreas pouco ou nunca impactadas, tendo como
consequência o desmatamento, a caça, a expansão imobiliária, e o atropelamento da fauna. Diante
desse problema, a Rumo desenvolve várias práticas socioambientais a fim de diminuir os impactos
causados pelo transporte ferroviário, como o PEA, que vêm trabalhando constantemente na
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1193
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sensibilização das comunidades adjacentes à linha férrea (lindeira) e de funcionários na referida


temática.
Considerando a Educação Ambiental um processo pelo qual as pessoas e a sociedade
constroem valores, agregam conhecimentos e habilidades, todo e qualquer esforço para introduzi-la
como prática no dia a dia é válido e aumenta a interação dos seres humanos para com o meio
ambiente. É evidente que a questão ambiental é uma das grandes preocupações mundiais, presente
em todas as áreas. Isso leva várias parcelas da sociedade a aumentar seus esforços voltados para a
conservação do meio ambiente. Partindo da preocupação com a questão ambiental e aliando
esforços para o alcance de resultados coletivos, a Rumo executa o PEA em escolas próximas à
ferrovia, entendendo que as crianças são um público formador de opinião e construtor de práticas
transformadoras que colaborarão para melhorar a qualidade ambiental das cidades. Vale ressaltar
que durante o ano de 2017, mais precisamente até o fim de mês de agosto, o PEA já foi realizado
em 18 municípios e 38 escolas, abrangendo um número total de 2.141 alunos e 102 professores.
Neste artigo, será analisado a realização do Programa no município de Paranaguá, no estado do
Paraná. A seguir será detalhada a metodologia do Programa.

METODOLOGIA

As atividades do PEA seguem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica49,


incluindo temas, conceitos e conteúdos sempre em prol de integrar as diferentes dimensões da
realidade de cada localidade, para a compreensão da complexidade e da interdependência dos
fenômenos da natureza com o ser humano. O PEA da Rumo aborda questões sobre a economia dos
recursos naturais, a destinação correta de resíduos sólidos, o consumo consciente, a fauna e a flora e
a segurança ferroviária, estimulando a construção de valores e atitudes que ampliem o
conhecimento e principalmente a consciência ambiental dos estudantes, além de promover a
preservação e o cuidado ambiental nas comunidades onde elas vivem, a melhoria da qualidade de
vida e a redução dos riscos associados à operação ferroviária.
O público alvo são crianças entre 10 e 12 anos, alunos do 4º e 5º ano do Ensino
Fundamental, de escolas localizadas nas imediações de linhas férreas, a distância entre a via férrea e
as escolas geralmente é de 1km, podendo variar para mais ou para menos, dependendo de cada
local. Compreendem os objetivos específicos do PEA: i) desenvolver valores ambientais junto aos
colaboradores, terceiros e moradores das comunidades do entorno da ferrovia; ii) criar agentes
multiplicadores quanto à divulgação e disseminação de boas práticas ambientais da sociedade; iii)
conscientizar o público escolar quanto à importância da ferrovia e ações de melhoria na segurança e
meio ambiente de entorno e; iv) monitorar as ações da concessionária para atendimento às normas

49
Vide Referências Bibliográficas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de saúde e segurança. O programa é executado por meio de oficinas lúdico-interativas, que


funcionam como ferramenta pedagógica de suporte e complementação aos temas já trabalhados em
sala de aula pelos professores, trazendo conceitos importantes, como o da segurança ferroviária e do
meio ambiente com abordagem prática e lúdica, tendo em vista que a brincadeira descontrai e ajuda
a fixar a informação. Além disso, a ludicidade alcança todas as faixas etárias e ajuda no
desenvolvimento do ser humano permitindo experimentar, criar e expressar, contribuindo para
saúde física e mental. A faixa etária do público alvo do PEA, foi selecionada a partir da relação com
os temas abordados pelo currículo escolar de alunos do 4º e 5º ano.
As oficinas do PEA são acompanhadas de material desenvolvido especificamente (cartilha)
para as ações junto às escolas, e é voltado à conscientização do público alvo quanto aos temas de
segurança ferroviária e meio ambiente. O material é distribuído individualmente (para cada aluno)
durante a participação da oficina, e será exemplificado mais adiante, no detalhamento da
metodologia da oficina.
A metodologia do PEA consiste em relacionar os conteúdos ambientais com o ser humano e
suas interdependências, fornecendo informações que possibilitam a compreensão e a importância de
se conservar todos os elementos de forma integrada. Além disso, a metodologia do PEA está
pautada na relação ―homem x natureza‖, agregando conteúdos relacionados ao meio ambiente
urbano/construído, como a importância da minimização da geração de resíduos e da separação e
destinação correta, problema que atinge grande parte das cidades brasileiras. E ainda, questões
sobre a importância das ferrovias para a sociedade, bem como a segurança e bem-estar de
comunidades adjacentes às linhas de trem.
Quando inserimos as crianças em atividades práticas que se aproximam da realidade
cotidiana, sobretudo abordando o tema meio ambiente, elas se veem e se sentem como peças
importantes por estarem fazendo parte de algo que é essencial para o futuro e sobrevivência de
todos. Para a Educação Ambiental ser considerada como um fator importante para as crianças, é
necessário que seja feita uma série de ações que antecedem a abordagem como, por exemplo, iniciar
mostrando que esses jovens são peças-chave na conservação da natureza e no consumo consciente
dos recursos naturais. Somente depois disso, é possível mostrar (e obter êxito) a importância de que
todos devem ter consciência de que a sobrevivência no planeta terra depende de todos nós no
sentido da conservação ambiental.
No início das atividades é realizada a apresentação dos ministrantes, da empresa Rumo, da
oficina de educação ambiental e da programação das atividades a serem desenvolvidas naquele dia.
Neste momento, também são apresentadas algumas dicas de segurança ferroviária para os
estudantes, de modo a introduzir as mesmas nos assuntos que serão abordados nos jogos,
compartilhando informações já presenciadas pelas mesmas nas ferrovias, através de relato oral

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1195


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

direto. Além disso, conforme explicitado anteriormente, os temas e assuntos tratados nas atividades,
levam em conta o currículo escolar dos estudantes entre a faixa etária de 10 a 12 anos. Após a
apresentação são realizados dois jogos, que serão detalhados a seguir.

Metodologia do Jogo Corrida dos Trens

Essa atividade aborda assuntos relacionados à importância do transporte ferroviário, atitudes


e procedimentos que devem ser adotados em áreas próximas às ferrovias, principalmente
relacionados à segurança física dos transeuntes que em algum momento transpassam a linha férrea
para deslocar-se. O jogo consiste em um tabuleiro gigante (3,5m x 3,5m) em que miniaturas de
trens devem realizar um determinado percurso, que inclui perguntas relacionadas à segurança em
ferrovias e também traz surpresas ao longo do caminho, com a abertura de cartas que trazem
atitudes positivas e negativas, fazendo com que o trem se desloque mais algumas casas para frente
ou retroceda no jogo.
Já nas cartas ―pergunta‖, o objetivo é socializar informações sobre segurança em ferrovias, a
fim de mitigar acidentes com pedestres, automóveis e animais domésticos. E nas cartas ―atitude‖,
são difundidas ações que podem ser realizadas para transformar/melhorar nosso meio ambiente.
Segundo Pereira & Bonfim (2009), as brincadeiras são excelentes oportunidades para nutrir
a linguagem da criança, pois o contato com diferentes objetos e situações estimula a linguagem
interna e o aumento do seu vocabulário.

Foto 1: Crianças participando do jogo ―Corrida dos Trens‖

O Objetivo do jogo é abordar assuntos relacionados ao meio ambiente e à importância das


ferrovias, atitudes e procedimentos seguros que devem ser aplicados em áreas próximas às
ferrovias.
Para início da atividade, são apresentadas as cartas ―dicas de segurança para ser amigo do
trem‖, como forma de dar uma leve introdução sobre o jogo e sobre as perguntas que deverão
responder. Após, são formados até quatro subgrupos. Define-se qual o grupo que irá começar, e este
joga o dado para saber quantas casas irá andar, movendo o trem para o número de casas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

correspondente. Se a casa que o grupo cair conter a figura ―?‖, o grupo pegará uma carta pergunta,
tendo que respondê-la, errando a resposta, o grupo deverá voltar as casas que avançou conforme o
último lance do dado. Se a casa que o grupo cair for de números, o grupo pegará uma carta
―missões‖, a qual poderá conter uma atitude positiva que proporcionará que o grupo ande mais
algumas casas, ou se for uma atitude negativa, o grupo é penalizado, tendo de retornar algumas
casas. O jogo termina quando um dos grupos cumprir todo o seu objetivo.

Metodologia do Jogo Lixo no cesto

O objetivo deste jogo é despertar os participantes para a necessidade da ação coletiva em


relação à separação e destinação correta dos resíduos sólidos produzidos em casa e na escola. Os
participantes recebem figuras de diferentes resíduos e devem colocar nas lixeiras corretas. Em suas
discussões a atividade aborda ainda a sociedade de consumo e o desenvolvimento sustentável, o uso
dos recursos naturais para produção dos diferentes objetos utilizados diariamente e a importância de
se praticar os 3Rs- Reduzir, Reaproveitar e Reciclar. O monitor apresenta cada uma das lixeiras,
informando sobre as cores da coleta seletiva e sobre cada tipo de resíduo. São divididos grupos e
cada participante receberá uma figura de um resíduo qualquer para jogar na lixeira correspondente.
Por fim, o moderador pegará cada lixeira e analisará junto com os participantes se os diferentes
resíduos que foram colocados no recipiente de cor correspondente ao seu destino, aproveitando para
fazer as correções necessárias e discutir a importância dos ―3 Rs‖ e ainda a necessidade de que tal
ação seja coletiva e não individual, para que todos saiam ganhando.
Ao final é realizada uma avaliação escrita com os participantes, com o intuito de mensurar o
aprendizado que as atividades possam ter propiciado. A avaliação é composta por perguntas
relacionadas aos conteúdos ministrados, e também por um quadro em que o aluno expressa sua
satisfação ou não com as atividades realizadas, bem como em relação aos monitores. O modelo de
avaliação é apresentado s a seguir.

Foto 2: Apresentação/execução do jogo ―Lixo no Cesto‖

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Foto 3: Agente Rumo explicando avaliação/alunos executando

Figura 2: Modelo da avaliação aplicada aos estudantes

Figura 03 – Capa da cartilha

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 04 – Segunda parte do conteúdo da cartilha

Figura 05 – Terceira parte do conteúdo da cartilha

Figura 04 – Jogo Corrida dos Trens em formato miniatura no verso da abertura da cartilha aos alunos

Atualmente, a educação ambiental não é tratada como uma disciplina curricular, conforme
são ensinadas outras disciplinas, como português e matemática. A educação ambiental deveria, de
fato, ser abordada constantemente, não somente em escolas, mas em todas as instituições de ensino,
pois, é comum observar casos onde indivíduos sem o mínimo de acesso à informação acabam
cometendo atos que degradam a natureza. Por isso é de extrema importância que sejam executadas
atividades transversais de educação ambiental, conforme é o PEA da Rumo, ou mesmo abordando
temas básicos, como a coleta seletiva, espécies ameaçadas de extinção, aquecimento global e
biodiversidade que muitas pessoas não sabem diferenciar os temas e suas características, como por
exemplo, em qual cor de lixeira deve depositar o resíduo.
Outro objetivo do PEA é desenvolver valores ambientais nas comunidades do entorno da
ferrovia, criando agentes multiplicadores quanto à divulgação e disseminação de boas práticas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ambientais na sociedade, conscientizar o público escolar quanto à importância da ferrovia e ações


de melhoria na segurança ferroviária e meio ambiente de entorno e monitorar as ações da
concessionária para atendimento às normas de saúde e segurança.

MUNICÍPIO ABRANGIDO

Paranaguá é um município localizado no litoral do estado do Paraná, no Brasil. Fundada em


1648, é a cidade mais antiga do Paraná e a principal do litoral paranaense.

De acordo com a estimativa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 2016, Paranaguá possui uma população de 151.829 habitantes e é a 10ª cidade na Lista de
municípios do Paraná por população. Detém um produto interno bruto de R$ 7.200.842.000 (2010),
que é o sexto maior do estado. Seu porto é sua principal atividade econômica.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a aplicação do PEA nas escolas, instruímos a importância da economia dos recursos
naturais, a destinação correta de resíduos sólidos, o consumo, a fauna e a flora e a segurança
ferroviária, estimulando a construção de valores e atitudes que ampliem o conhecimento e
principalmente a consciência ambiental dos estudantes, além de verificarmos a atuação destes como
agentes multiplicadores das ações e boas práticas ambientais na sociedade, mesmo antes de sairmos
da escola.
Como exemplo das atividades, exibiremos a avaliação de 220 alunos da rede Municipal de
Educação de Paranaguá que participaram do PEA, realizado nos dias 17, 18, 19 e 20 de abril de
2017. Abaixo segue o resultado das avaliações preenchidas pelos discentes das escolas: EMEF Iná
Xavier Zacharias, EMEF Tiradentes, EMEF Berta Elias Rodrigues Elias e EMEF Leôncio Correia,
todas situadas no Município de Paranaguá/PR e distantes no máximo 400 metros da linha férrea.
Avaliando as duas questões aplicadas aos alunos, obtivemos os seguintes resultados:
Tabela 6 - Resultados para Segurança Ferroviária e
coleta seletiva
Acertos Erros
Escola Acertos Erros Total
(%) (%)
Paranaguá/PR 290 150 440 66% 34%
Quanto a avaliação dos alunos sobre os monitores e as atividades realizadas, é nítida a
interação e a satisfação de aprender brincando, abaixo segue gráfico trazendo os resultados da
avaliação qualitativa de satisfação das atividades do PEA:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico 1 - Satisfação dos alunos

Corrida dos Trens

Lixo no Cesto

Monitor Andre

Monitora Ana Flavia

Monitora Daniele

0 50 100 150 200 250


Não Gostou Gostou Pouco Gostou Muito

Considerando os resultados das avaliações aplicadas aos alunos e aos docentes, as atividades
das Oficinas Ambientais da Rumo são avaliadas positivamente trazendo um conjunto de
conhecimentos e alegrias a todos os participantes.
No caso da segurança ferroviária, é visível que as crianças não possuíam qualquer
conhecimento relacionado ao assunto, pois vários relatarem alguns eventos na ferrovia, sendo
brincando entre os trilhos, colocando objetos na linha e/ou pegando ―carona‖ nos trens, durante a
realização da oficina e da avaliação. Após as dicas e informações passadas durante os jogos, de
acontecimentos reais vivenciados e relatados pelos professores e alunos, todos se mostram
preocupados e interessados a repassar as informações aos seus familiares e colegas, afim de
preveni-los de algum possível acidente.
Por fim, é visto que a Educação Ambiental de forma prática é um tema que ainda pode ser
mais aplicado nas escolas, trazendo fundamental importância em relação à minimização da geração,
separação e destinação correta de resíduos, problema que atinge grande parte das cidades
brasileiras. E, ainda, questões sobre a importância das ferrovias para a sociedade, bem como a
segurança e bem-estar de comunidades adjacentes às linhas de trem. Considerando que as crianças e
jovens se veem e se sentem como peças importantes por estarem fazendo parte de algo que é
essencial para o desenvolvimento econômico e social do país (operação ferroviária), além do futuro
e sobrevivência dos seres humanos (conservação da natureza).

REFERÊNCIAS

JACOBI P. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e


reflexivo. Educação Pesquisa 2005; 31(2): 233-250

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RODRIGUES, G. S. S. C.; COLESANTI, M. T. M. Educação ambiental e as novas tecnologias de


informação e comunicação. Sociedade e Natureza, Uberlândia, v. 20, n. 1, p. 51-66, jun. 2008.

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Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental,
v. 4. Out/nov/dez 2000. (apud RUY, 2004).

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PEREIRA, L. H. P. BONFIM, P. V. Brincar e aprender: um novo olhar para o lúdico no primeiro


ano do ensino fundamental. 2009.

PARANAGUÁ/PR (PORTAL DA CÂMARA DE PARANAGUÁ. Disponível


em:<http://www.paranagua.pr.leg.br/>.)

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1202


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

USO DE COLEÇÕES DIDÁTICAS NOS ESTUDOS DE ZOOLOGIA NO ENSINO


FUNDAMENTAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Betty Rose de Araújo LUZ


Doutora Oceanografia Biológica e Professora do ICB/UPE
betty.luz@upe.br
Valdelúcia de França COSTA
Especialista Ensino Biologia, UPE
valdeluciacosta@gmail.com

RESUMO
Este artigo trata de um relato de experiência sobre um curso desenvolvido para os professores do 7º
ano do ensino fundamental da cidade de Patos-PB. O objetivo do curso relatado foi conhecer a
formação e método de trabalho dos professores participantes do curso e propor novos métodos e
técnicas para aprimorar o ensino de zoologia, dentro de um enfoque evolutivo e valorizando as
práticas didáticas com a finalidade de tornar essa disciplina mais atraente no ensino básico. Foram
ministradas cinco aulas de oito horas cada, totalizando 40 horas, nas instalações da UFCG-CSTR, e
aulas nas escolas e no SESI do município de Patos-PB. A participação efetiva dos professores
sustenta a ideia de que aulas práticas são essenciais para o ensino de ciências, uma vez que os
mesmos são carentes de aulas práticas. A partir do curso os participantes ficaram estimulados a
incluir aulas práticas seja em campo ou em sala, tornando as aulas de ciências e biologia mais
interessantes.
Palavras-chave: aprendizagem, formação acadêmica, metodologia.

ABSTRACT
This article is about an experience report about a course developed for the teachers of the 7th year
of primary education in the city of Patos-PB. The purpose of the course was to know the training
and working method of the teachers participating in the course and to propose new methods and
techniques to improve the teaching of zoology, within an evolutionary approach and valuing the
didactic practices with the purpose of making this discipline more attractive in basic education. Five
classes of eight hours each were taught, totaling 40 hours, in the UFCG-CSTR facilities, and classes
in the schools of the municipality of Patos-PB and SESI. The effective participation of teachers
supports the idea that practical classes are essential for teaching science, since they are lacking in
practical classes. From the course all were encouraged to include practical classes in the field or in
the classroom, making science and biology classes more interesting.
Key-words: learning, academic training, methodology.

INTRODUÇÃO

O ensino de ciências e biologia deveria ser uma iniciação ao conhecimento responsável


sobre a biodiversidade em que habitamos, mas normalmente, este é omitido pelos professores. Isto
se deve basicamente pelo fato de como o conhecimento foi recebido e é repassado: sem a mínima

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

preocupação de haver associações com a realidade de seus atores, e a sua cultura ou a riqueza
biológica da região.
O trabalho escolar ao acontecer dissociado do cotidiano do aluno apresenta-se ineficiente no
objetivo de promover a educação cientifica e é um dos problemas atuais apontados para o ensino de
ciências (KRASILCHIK, 2004).
Os conteúdos ministrados e os métodos de como estes são trabalhados na sala de aula,
devem ser fortemente observados ao se trabalhar com as questões a respeito da qualidade do ensino
de ciências. Para execução de boas aulas é indispensável o conhecimento técnico, preciso e
conceitual, mas caso metodologias ineficientes sejam adotadas a aprendizagem permanece
comprometida (BIZZO, 2000).
Cada situação de ensino deve ser única, as soluções devem ser buscadas dentre vários
aspectos, considerando a realidade da escola e as questões culturais dos envolvidos (KRASILCHIK,
2004). Os professores são profissionais essenciais nos processos de mudança da sociedade, por isso
a importância do desenvolvimento e formação profissional (SEVERINO; PIMENTA, 2009).
Com base nos PCNs (MEC, 2001), constata-se que é esperado do professor de ciências e
biologia um bom conhecimento, em todos os aspectos biológicos. Portanto, a aprendizagem deve
ser traduzida na compreensão de relações entre seres vivos, meio e na capacidade de ações
responsáveis no meio (MALDANER, 1991).
O uso de coleções cientificas ou didáticas, apoiam tanto a pesquisa como o ensino, uma vez
que os objetivos também são fontes de prazer e fascínio, promovem experiências e a possibilidade
de concretizar a informação (MARANDINO et al, 2009). Segundo o mesmo autor, os animais vivos
na natureza ou em terrários direcionam as atenções para a biologia, comportamento e ecologia, com
a intervenção do professor as discussões poderiam ser levadas para a reflexão sobre a conservação
das espécies.
Segundo Amorim (1997), o ensino voltado à zoologia deve ser dirigido de forma a se
desenvolver através de conhecimentos trazidos pelo aluno, salientando não necessariamente o
domínio de conceitos complexos e abstratos, desmistificando o ensino que utiliza o método de
somente memorizar nomes, estruturas e características, mas induzindo conceitos mais intuitivos.
Por isso, é importante uma reflexão sobre os métodos de aprendizagem e como a Ciência está sendo
ensinada nas escolas.
Em um projeto de extensão desenvolvido em 2013, os alunos do curso de Ciências
Biológicas, propuseram trabalhar o tema ―biodiversidade‖, sob o ponto de vista evolutivo e da
conservação, valorizando as práticas didáticas, com o intuito de formar cidadãos com uma visão
mais responsável sobre o meio em que vivem, através dos conhecimentos adquiridos. Como
também, através da capacitação dos professores para ministrar aulas práticas, mais criativas e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

participativas. Esse trabalho é o relato da experiência do curso desenvolvido para os professores do


7º ano do ensino fundamental da cidade de Patos-PB. O objetivo do curso foi primeiramente
conhecer a formação e a metodologia de ensino dos professores; para propor novos métodos e
técnicas para aprimorar o ensino da zoologia, com ênfase na evolução, contribuindo para a
valorização das práticas didáticas, com a finalidade de tornar essa disciplina mais atraente para os
estudantes do ensino básico.

METODOLOGIA

A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), desenvolve programas de extensão


universitária para que os seus alunos, além de contribuir com a comunidade local, tenham a
oportunidade de iniciar a prática pedagógica com experiências vivenciadas extra muros da
universidade.
Dentre muitos projetos de extensão do tipo PROBEX (Programa de Bolsa de Extensão),
destacamos o projeto, de 2013, ―Ensino de Ciências e Biologia: valorizando práticas e coleções
didáticas no estudo da zoologia do ensino fundamental e médio‖; que objetivou melhorar a
metodologia utilizada por professores do município de Patos-PB no ensino da zoologia, através de
capacitação e uso de coleções didáticas.
Esse projeto foi realizado por seis alunos de Ciências Biológicas e uma professora
coordenadora, em parceria com a Secretaria Municipal de Ensino de Patos-PB e os professores de
ciências do 7º ano do ensino fundamental.
Em uma primeira etapa, houve a divulgação do curso na Secretaria Municipal de Ensino de
Patos e na Secretaria Estadual de Educação da Paraíba (6ª Região de Ensino) sendo repassada para
os professores do município e do estado. A Secretaria Municipal de Ensino mediou a divulgação em
uma reunião com os professores em suas instalações, para apresentação do projeto através de
panfletos e fichas de inscrição disponibilizadas para os interessados em participar.
Foram realizadas na ocasião, 10 inscrições com os professores de 7º ano do município, e as
inscrições prosseguiram por telefone e e-mail, até o preenchimento das 20 vagas disponíveis.
As aulas ocorreram na Universidade Federal de Campina Grande, no Centro de Saúde e
Tecnologia Rural (UFCG-CSTR), entre julho e dezembro de 2013, com a seguinte programação: aos
sábados, no horário de 8h às 17h, com 1h de intervalo para almoço, totalizando 40 horas de aula,
sendo 30% de aulas teóricas e 70% de aulas práticas. No primeiro encontro, foram aplicados
questionários de identificação e caracterização do perfil do grupo participante, para determinar a
escolaridade, profissão, grau de conhecimento prévio sobre o tema do curso e as possíveis
dificuldades esperadas.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1205


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As aulas práticas foram realizadas no Laboratório de Microscopia e no Laboratório de


Preparação de Material Zoológico da UACB. Através de roteiros impressos, foram apresentadas as
técnicas de coleta e conservação apropriadas para diversos grupos taxonômicos, além de orientação
para elaboração de roteiros de aulas práticas. As orientações dos roteiros foram consultadas e
seguidas pelos alunos durante a visualização, através de microscópio e/ou estereomicroscópio (lupa)
das estruturas externas e específicas dos espécimes conservados, com auxílio de bibliografia
específica: Ribeiro-Costa; Rocha (2002), Ribeiro-Costa; Rocha (2006) e Brusca; Brusca (2007).
Durante o mês de outubro, foram ministradas aulas em seis escolas e no SESI, em Patos (Pb)
(tabela 1), onde lecionavam os professores participantes do curso; com o intuito de proporcionar aos
alunos observações dos espécimes, reforçando a aprendizagem através das práticas. Além das aulas
ministradas aos professores, cada escola recebeu a equipe de extensão para execução de uma aula
prática nas suas dependências, com uso de coleções didáticas, com organismos selecionados a
critério do professor.
As aulas nas escolas, com os alunos participantes, utilizaram a mesma metodologia do curso
de extensão na universidade, ou seja, aula teórica seguida de aula prática. Foi definido previamente
pelos professores o grupo taxonômico a ser apresentado para os seus alunos. Durante as aulas
adotou-se a seguinte metodologia: após breve introdução sobre os caracteres do grupo taxonômico,
ocorriam as aulas práticas, conforme os roteiros adaptados à realidade da escola.
A coleção didática composta por espécimes conservados em álcool ou secos, foi transportada
para a escola, juntamente com dois estereomicroscópios (lupas); proporcionando aos alunos a
oportunidade de observar em detalhe a morfologia externa dos organismos. Após as observações, os
alunos fizeram desenhos esquemáticos dos organismos, podendo-se avaliar o seu interesse e
motivação.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1206


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DATA ESCOLA

08/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Alírio Meira Wanderley, no município de Patos.
Ensino Municipal de Ensino Fundamental José Permínio Wanderley, Santa Gertrudes município
10/10
Patos.
11/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Aristides Hamad Timene, no município de Patos.

16/10 Serviço Social da Industria-SESI, município de Patos.

17/10 CIEP III Firmino Ayres, município de Patos.

17/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Monsenhor Manoel Vieira, município de Patos.

18/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Inst. Dr. Dionísio da Costa, município de Patos.

08/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Alírio Meira Wanderley, no município de Patos.
Ensino Municipal de Ensino Fundamental José Permínio Wanderley, Santa Gertrudes município
10/10
Patos.
11/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Aristides Hamad Timene, no município de Patos.

16/10 Serviço Social da Industria-SESI, município de Patos.

17/10 CIEP III Firmino Ayres, município de Patos.

17/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Monsenhor Manoel Vieira, município de Patos.

18/10 Escola Municipal de Ensino Fundamental Inst. Dr. Dionísio da Costa, município de Patos.
Tabela 1 – Cronograma das aulas nas escolas de ensino fundamental do município de Patos (PB).

RESULTADOS

Os autores ministraram cinco aulas de oito horas cada, totalizando 40 horas, compostas por
aulas teóricas com auxilio de projetor multimídia e quadro branco, seguidas de aulas práticas.
A proposta de auxilio aos professores de ciências e biologia no ensino de zoologia procurou
atingir metas de fundamental importância para o cumprimento das ações e assim o êxito do
desenvolvimento do projeto. A tabela 2, apresenta as metas propostas e as metas alcançadas,
durante o decorrer do projeto.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1207


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

METAS PROPOSTAS METAS ALCANÇADAS


Foram estabelecidas parcerias entre a universidade, a
Estabelecer parcerias entre a universidade, a
prefeitura municipal de Patos (através da Secretaria de
prefeitura municipal de Patos (através da
Educação) e 6ª Região de Ensino, resultando no apoio
Secretaria de Educação) e 6ª Região de Ensino,
da coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação
para facilitar o acesso aos professores e escolas,
de Patos. Com o auxilio na divulgação do curso e
bem como fornecimento de material didático
fornecimento de material para ser utilizado durante o
pedagógico, a serem utilizados no curso.
curso.
Foram elaborados e aplicados um questionário, a fim
Conhecer o perfil dos professores envolvidos e
de conhecer o perfil dos professores, formação e
estratégias utilizadas para o ensino de ciências e
estratégias pedagógicas no ensino de ciências e
biologia.
biologia.
Realizar encontros mensais, a fim de preparar e Foram realizados cinco encontros, totalizando 40 horas
organizar as aulas teóricas e práticas, que semanais de curso, onde os professores tiveram a
totalizariam 40 horas semanais, com participação oportunidade de expandirem seus conhecimentos,
da professora coordenadora e dos alunos (bolsista através de aulas teóricas e práticas, sobre a diversidade
e voluntários), na elaboração e execução. animal e a sua evolução.
Habilitar os professores de ciências e biologia a Os professores participaram de aulas práticas,
elaborar e executar aulas práticas dos conteúdos elaborando relatórios com desenhos esquemáticos de
pertinentes ao estudo de zoologia. cada grupo taxonômico estudado.
Habilitar os professores para realização de
coletas didáticas responsáveis, com técnicas Foram realizadas coletas de animais, com técnicas
adequadas de montagem e preservação da especificas; mostrando as técnicas corretas de coleta.
coleção didática.
Foram realizadas visitas às escolas; com exemplares de
Visitar as escolas dos professores envolvidos no
coleções didáticas de animais, de acordo com a aula a
curso, para auxilia-los na preparação e execução
ser ministrada proposta pelo professor; orientou-se na
de aulas práticas.
preparação da aula e na explicação do tema exposto.
Tabela 2: Metas propostas X Metas alcançadas, no projeto de extensão ―Ensino de Ciências e Biologia:
valorizando práticas e coleções didáticas no estudo da zoologia do ensino fundamental e médio‖.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na realização do curso de extensão ―Ensino de Ciências e Biologia: valorizando práticas e


coleções didáticas no estudo da zoologia do ensino fundamental e médio‖, da Universidade Federal
de Campina Grande, em parceria com a Prefeitura Municipal de Patos e a Secretaria de Educação
do município, contando com a participação ativa dos professores da rede pública municipal, foi
possível obter o apoio necessário para alcançar as metas pedagógicas propostas no projeto. Os
estudantes tiveram a oportunidade de entrar em contato com coleções didáticas de invertebrados,
proporcionando maior qualidade no processo ensino-aprendizagem nas aulas de ciências, desse
modo satisfazendo a curiosidade sobre a biodiversidade; incrementando a interação e com isso
despertando o entusiasmo pelo estudo das ciências biológicas.
A participação efetiva dos professores durante todo o curso, demonstrando interesse e
motivação, sustenta a ideia de que os cursos de capacitação com aulas práticas são essenciais para
melhoria do ensino de ciências. Pois, grande parte dos professores são carentes de conteúdo prático
sobre morfologia animal, em razão de que nos cursos de licenciatura em Biologia, não oferecerem
essa capacitação nos seus currículos.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1208


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As aulas ministradas nas escolas pelos professores participantes do curso e extensionistas


(bolsista e voluntários) mostraram o quanto é importante a realização de aulas práticas, pois o
processo ensino aprendizagem se torna mais participativo e efetivo.
Concluiu-se que no decorrer do curso o entusiasmo dos participantes e envolvidos no
projeto, tornou-se dinâmico e possível de cumprir os objetivos esperados, relevando a importância
de aulas mais diversificadas e de baixo custo.
O interesse dos acadêmicos extensionistas participantes desse curso de extensão foi
demostrado pela intensidade do envolvimento com a sala de aula e um alto nível de
comprometimento com o ensino, elevando o grau de consciência da importância do seu papel na
formação dos alunos. A partir dessa experiência didático pedagógica, podemos afirmar que alunos e
professores que passaram por treinamento sobre a dinâmica de ensino utilizando coleções
zoológicas, adquirem conhecimentos sólidos e aprofundados, contribuindo também para a redução
dos impactos humanos na biodiversidade.
Lecionar ciências e biologia, vai muito além de ministrar conteúdos novos, é contribuir para
a redução dos impactos antrópicos à biodiversidade. A dinâmica de ensino utilizando coleções
zoológicas, leva o estudante a refletir sobre a sua responsabilidade na preservação e no cuidado com
os animais.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX – 2013) pela concessão da bolsa. Aos


professores e graduandos que fizeram parte do projeto e todos os envolvidos. Aos professores
participantes do curso pelo desejo de melhorar o ensino de ciências e a aprendizagem dos seus
alunos com aulas mais didáticas.

REFERÊNCIAS

AMORIM, D. S. Elementos básicos de Sistemática Filogenética. Holos Editora, Ribeirão Preto,


São Paulo. 1997.

BIZZO, N. Ciências: Fácil ou difícil? Coleção Palavra de Professor. São Paulo: Editora Ática,
2000.

BRUSCA R. & BRUSCA G. Invertebrados. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4ª Ed. São Paulo: Edusp, 2004.

MALDANER, O. A. Animais no ambiente: integração-interação. 2ª ed. Livraria da Unijuií, Ijui,


Rio Grande de Sul. 1991.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1209


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MARANDINO, M., SELLES, S.E., FERREIRA, M.S. Ensino de Biologia: histórias e práticas em
diferentes espaços educativos. Coleção Docência em Formação. São Paulo: Editora Cortez,
2009.

MEC. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Ministério de Educação,


Secretaria de Educação Fundamental. 3ª Ed. vol. 4. Brasília. 2001.

RIBEIRO-COSTA, C. S. & ROCHA, R. M. Invertebrados: manual de aulas práticas. Ribeirão


Preto: Holos Editora, 2002. 226p.

RIBEIRO-COSTA, C.S.R; ROCHA, R.M. Invertebrados: Manual de Aulas Práticas. 2ª Ed.


RibeirãoPreto:Holos,2006.

SEVERINO, A.J. & PIMENTA, S.G. Apresentação da Coleção. In: Ensino de Biologia: histórias e
práticas em diferentes espaços educativos. Coleção Docência em Formação. São Paulo: Editora
Cortez, 2009.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1210


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL E ANÁLISE DA EFETIVIDADE


DO EIA PARA CONTENÇÃO DA EROSÃO NA PRAIA DO SEIXAS E NA FALÉSIA
DE CABO BRANCO EM JOÃO PESSOA - PB

Camila Balista GARBELINE


Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Geografia pela UnB
camila.garbel@gmail.com

RESUMO
A problemática ambiental começou a motivar reflexões em contexto mundial sobre crescimento
econômico e preocupação com o meio ambiente a partir de 1970. Para controlar a degradação
ambiental causada pela ação antrópica começaram a ser exigidos estudos de impactos ambientais
como umas das etapas do licenciamento ambiental. Em João Pessoa (PB) os estudos de impactos
ambientais começaram a ser elaborados por requisição legal em 2003. O EIA (Estudo de Impacto
Ambiental) é mais um instrumento para controle ambiental, dependendo da forma como é elaborado
e a forma de revisão pelo órgão público competente, pode não servir para prevenir e mitigar os
impactos socioambientais, como consequência das questões que são negligenciadas nos estudos se
tem a degradação, contaminação e poluição do meio ambiente. A área de estudo elegida para o
artigo é João Pessoa (PB) que desde 1980 as atividades antrópicas na área costeira têm aumentado a
preocupação com o risco de erosão. Diante do exposto o trabalho busca um arcabouço teórico dos
aspectos legais referentes ao tratamento das questões ambientais, a lei quando não está na defesa
dos interesses de grupos econômicos ela representa uma possibilidade real de controle para o meio
ambiente por meio de sanções, proibições, entre outros. No desenvolvimento do trabalho analisa-se
a Política Nacional de Meio Ambiente, o licenciamento ambiental e a efetividade do EIA elaborado
em 2011 para a redução/contenção do processo de erosão da Falésia do Cabo Branco e da Praia do
Seixas no litoral de João Pessoa (PB), esse estudo vem sendo discutido até os dias atuais devido a
sua complexidade. Outro objetivo é uma análise da percepção da sociedade civil residente no
entorno da área de estudo, desta forma, pode-se verificar a preocupação e percepção da sociedade
civil relacionada aos impactos ambientais.
Palavras-chave: Política Nacional, Meio Ambiente, Estudo de Impacto Ambiental, Participação
Social.

ABSTRACT
The environmental problem started to motivate reflections in a global context about economic
growth and concern for the environment from 1970. To control the environmental degradation
caused by anthropic action, environmental impact studies began to be required as one of the stages
of environmental licensing. In João Pessoa (PB) environmental impact studies began to be
elaborated by legal requisition in 2003. The EIA (Environmental Impact Study) is another
instrument for environmental control, depending on the way it is elaborated and the form of review
by the organ Public, may not serve to prevent and mitigate socio-environmental impacts, as a
consequence of issues that are neglected in studies if there is degradation, contamination and
pollution of the environment. The study area chosen for the article is João Pessoa (PB), which since
1980 anthropic activities in the coastal area have increased the concern with the risk of erosion. In
view of the above, the work seeks a theoretical framework of legal aspects regarding the treatment
of environmental issues, the law, when it is not in the interests of economic groups, represents a real
possibility of control for the environment through sanctions, prohibitions, others. In the
development of the work, the National Environmental Policy, the environmental licensing and the

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1211


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

effectiveness of the EIA prepared in 2011 for the reduction / containment of the erosion process of
the Cabo Branco Cliff and the Seixas Beach off the coast of João Pessoa ( PB), this study has been
discussed until the present day due to its complexity. Another objective is an analysis of the
perception of civil society residing in the surroundings of the study area, thus, one can verify the
concern and perception of civil society related to environmental impacts.
Key-words: National Policy, Environment, Environmental Impact Study, Social Participation.

INTRODUÇÃO

A ação antrópica diante do meio ambiente levou a alguns países a institucionalizarem a


Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Dentre os instrumentos criados para a efetivação,
destaca-se o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), inicialmente criado nos Estados Unidos em 1970,
no Brasil foi adotado a partir de 1980 pela pressão e preocupação relacionadas às questões
ambientais.
Ainda na década de 70 os movimentos sociais passaram a questionar a sociedade capitalista
e a reivindicar a preservação do meio ambiente, a sociedade começa a se questionar dos efeitos do
crescimento econômico.
A Alemanha adotou o sistema de Estudo de Impacto Ambiental em 1971, depois Canadá em
1973, França e Irlanda em 1976, e a Holanda em 1981. Nos EUA a legislação ambiental culminou
com a implantação do Estudo de Impacto Ambiental, através da PL-91-190, começou a vigorar em
1970. No Reino Unido o EIA é flexível, são aceitos estudos menos formais, desde que avaliem os
aspectos ambientais, e a decisão formal é tomada por políticos e não por planejadores (TOMMASI,
1994).
O licenciamento ambiental no Brasil começou em alguns estados em 1970, e em 1980 foi
incorporado a legislação federal. A legislação sobre licenciamento ambiental iniciou no Rio de
Janeiro, quando o Decreto – Lei n° 134/75 tornou obrigatória a autorização para o funcionamento
de atividades propícias a degradação, estipulando a emissão da Licença Prévia, Licença de
Instalação e Licença de Operação. O Estudo de Impacto Ambiental está inserido na LP (licença
prévia).
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é uma atividade com o objetivo de identificar e
comunicar sobre o impacto no meio ambiente, na saúde pública, etc. Visa segundo Tommasi
(1994), assegurar que os efeitos ambientais, sociais, econômicos e políticos sejam identificados e
avaliados na fase de planejamento.
Entretanto, estudos demonstram que os instrumentos legais como o EIA adotados para a
minimização dos impactos ambientais são se mostram documentos sérios, pelo contrário, encontra-
se no decorrer dos documentos falhas em várias etapas. Esse é o caso da proposta para conter a
erosão da Praia do Seixas e da Barreira Cabo Branco, em João Pessoa (PB), cuja implantação visava

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1212


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

reduzir/conter a erosão nessas áreas causada por processos naturais e agravada por ação antrópica
com o intuito de fomentar o turismo, contudo, as medidas de mitigação podem causar impactos
negativos ao ambiente que não são elucidados de forma clara no documento, entre outras falhas
analisadas.
O presente trabalho visa uma análise sobre legislação e licenciamento ambiental, sobre o
Estudo de Impacto Ambiental para redução/contenção do processo de erosão na Falésia de Cabo
Branco e Praia do Seixas em João Pessoa (PB), e por fim uma analise sobre a participação da
sociedade civil ao projeto para verificar o grau de preocupação ambiental perante a degradação.
O município de João Pessoa é capital da Paraíba, se localiza na região nordeste com uma
população estimada em 801.718 e uma área de 211.475 km² (IBGE, 2016). João Pessoa é
considerada uma das capitais mais antigas do Brasil, foi fundada no dia 5 de agosto de 1585.

METODOLOGIA

Foi utilizado um arcabouço teórico, com revisão bibliográfica, tomando por base alguns
textos clássicos sobre o tema. Textos incluindo teses e artigos produzidos em anos recentes,
informações sobre a política nacional de meio ambiente, efetividade processual do estudo
ambiental, e a participação social vinculada às questões ambientais.
O estudo de caso demandou uma pesquisa da documentação contida em processos
administrativos. Desta forma, exigiu a realização de visitas a órgãos do Centro Administrativo
Municipal, como a SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente) e SUDEMA (Superintendência de
Administração do Meio Ambiente), desses órgãos foram coletados os documentos necessários para
a apreciação e discussão do artigo.
As ferramentas utilizadas para análise e efetividade processual do estudo de impacto
ambiental de contenção da erosão foi baseada nos autores Fischer (2007), HKEDP (1997), na lista
de checagem dos estudos ambientais do IBAMA (1995), Jones et al. (2005) e Retief (2006).

POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE

A Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981 definiu a Política Nacional de Meio Ambiente e


instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) que congrega todos os órgãos e
entidades da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, assim como todas as fundações públicas
responsáveis pela proteção ambiental. O processo de licenciamento ambiental é realizado pelos
órgãos competentes que compõem o SISNAMA, e cada nível de governo possui competências
diferentes no licenciamento ambiental (CAMPOS E SILVA, 2010).
Dentre os estudos ambientais, o mais referenciado instrumento de avaliação ambiental é o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que possui status constitucional (previsto no art. 225, §1º, VI

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1213


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

da CF/88), consiste em procedimento administrativo de análise prévia dos possíveis impactos


ambientais de uma obra, atividade ou empreendimento. (CAMPOS e SILVA, 2010). Assim, quando
um empreendimento gera de alguma forma uma degradação ambiental, impõem-se a elaboração e
aprovação do EIA (Estudo de Impacto Ambiental), como requisito para a concessão da licença
ambiental. Além do EIA, há outros estudos ambientais que podem integrar o processo de
licenciamento.
De acordo com a Resolução do CONAMA n°237/97, artigo 11, os estudos para o processo
de licenciamento deverão ser realizados por profissionais habilitados, desta forma, o empreendedor
e a equipe são os responsáveis pelo EIA/RIMA e podem sofrer sanções administrativas, civis e
penais.
O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo, o órgão ambiental
competente licencia a implantação e operação de empreendimentos ou atividades com potencial de
degradação ambiental. Ele é realizado em um órgão federal, estadual ou municipal, o órgão deve ser
integrante do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente).
A resolução afirma a responsabilidade do empreendedor e dos técnicos na elaboração do
EIA, assim, caso aconteça erros, distorções, conclusões equivocadas no estudo é possível pelo
órgão competente solicitar a correção do estudo ou embargar o projeto.
Na Resolução do Conama 327/1997 fica estabelecido às competências para cada órgão
ambiental, ao IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) o licenciamento ambiental de
significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional. Compete ao órgão ambiental
municipal, e órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, o licenciamento
ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem
delegadas pelo Estado por instrumento legal.
Compete à União promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades
localizadas no Brasil e em país limítrofe, em terras indígenas, em unidades de conservação
instituídas pela União, em dois ou mais estados, no mar territorial, na plataforma continental. Cabe
aos estados promover o licenciamento ambiental em atividades ou empreendimentos utilizadores de
recursos ambientais que possam causar degradação ambiental, promovem o licenciamento
ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de
conservação instituídas pelo estado. É atribuído aos municípios promover o licenciamento de
empreendimentos ou atividades em âmbito local, considerando o porte e o potencial poluidor
(MOTTA, 2013).
Exemplificando, os empreendimentos com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional o IBAMA é o responsável em termo de Licenciamento. Nos demais casos, o
licenciamento compete aos Estados, ou se o impacto for local compete ao Município o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

licenciamento. Assim, fica a critério do órgão competente determinar se as atividades e


empreendimentos podem causar algum tipo de impacto ao meio ambiente. Se for critério do órgão
competente pode-se exigir a realização do EIA (Estudo de Impacto Ambiental), e entre as etapas
está a realização de audiências públicas quando solicitadas pelo Ministério Público, ou por 50 ou
mais cidadãos (Resolução CONAMA nº 009, 1987), entre outros tipos de estudo.
Para Motta (et. al. 2013) o licenciamento ambiental, o EIA e outros estudos garantem não
apenas a preservação do dano ambiental, mas também o adequado planejamento do
empreendimento. É uma ferramenta administrativa que objetiva o uso sustentável dos recursos
naturais.
A Resolução do Conama 1/1986, exibe o que deve ser abordado pelo estudo de impacto
ambiental, como: diagnóstico ambiental da área de influencia do projeto completa descrição e
análise dos recursos ambientais: meio físico (subsolo, água, ar e clima); meio biológico (fauna e
flora); meio socioeconômico (uso e ocupação do solo); os impactos negativos e positivos, diretos e
indiretos, imediatos e a médio e longo prazo, temporários e permanentes, a distribuição dos ônus e
benefícios sociais; definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos; elaboração do
programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os
fatores e parâmetros a serem considerados. Entretanto as diretrizes, e os fatores mínimos a serem
abordados podem sofrer mudanças, o órgão ambiental responsável pode adicionar diretrizes se
forem julgadas necessárias.

EFETIVIDADE DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL PROPOSTO PARA A PRAIA DO


SEIXAS E FALÉSIA DE CABO BRANCO

O crescimento da área urbana de João Pessoa (PB) em direção do litoral sul vem
incorporando novas áreas pressionando os ecossistemas litorâneos, o que acarreta em desigualdades
sociais e degradação ambiental.
O processo erosivo na área estudada é um processo natural, com maior incidência em
períodos chuvosos, pelas ondas e durante a maré alta. Contudo, esse processo foi intensificado
pelas ações antrópicas, construções impróprias que aceleraram a erosão, a influência de forma
negativa se deu em decorrência do processo de ocupação, tornando a áreas mais vulneráveis as
ações naturais e antrópicas.
A preocupação com a barreira de Cabo Branco se dá pelo seu valor histórico e pelo ponto
turístico, existem embarcações que naufragaram ali, existem peças arqueológicas que já foram
catalogadas naquela área, e do ponto de vista geográfico, é o extremo oriental das Américas (Ponta
do Seixas). Esses ambientes são propícios à intensa especulação imobiliária e pelo turismo, pelos
atrativos que essas áreas oferecem. Nessa perspectiva, torna-se importante a implantação de ações

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

adequadas de planejamento e conservação, para mitigar os processos que provocam e vem


provocando a degradação desses espaços.
Na praia do Seixas verifica-se uma série de problemas, como a erosão costeira e ocupação
irregular da orla por ação antrópica. A lista de impactos na Falésia de Cabo Branco e na praia do
Seixas é ampla, os impactos estão relacionados à alteração da intensidade e direção das correntes
marinhas; alteração no carregamento de sedimentos; modificação da composição da fauna e flora
existente; alteração dos habitats e nichos ecológicos; alteração dos locais de reprodução, abrigo,
alimentação da fauna, entre outros.
A situação atual vem sendo discutida desde 2011 com o estudo de impacto ambiental para
conter a erosão nas áreas, entretanto, as discussões não passam do papel, os estudos propostos são
barrados pela dificuldade financeira e por não mostrarem os fatores negativos que as obras para
contenção da erosão podem causar a longo prazo. Sobre o conteúdo do EIA analisado, foram
observados (Quadro 1):

Critérios de Análise e Efetividade


Avaliação
Processual
Foram informados com clareza no documento analisado. A praia
vem sofrendo ao longo dos anos um intenso processo de erosão
Estado atual do ambiente e a marinha afetando as estruturas existentes, a situação crítica da
necessidade do EIA erosão, como o ataque das ondas ao pé da falésia,
desmoronamentos, ocupação associada ao desmatamento, entre
outros processos.
Sobre os efeitos para a contenção da erosão, os efeitos da obra
foram analisados, mas não foram especificados claramente como
efeitos diretos e efeitos indiretos, cabe ao leitor identificar.
Efeitos diretos e indiretos da obra
Também, sobre a evolução do ambiente sem e com a influência
proposta
da obra, não foi apresentado no decorrer do documento. São
dados importantes não demonstrados com clareza para dar
continuidade ao projeto de contenção da erosão.
As medidas mitigadoras foram descritas e foram propostas: uma
contenção com quebra-mar para dissipar as ondas, construção de
um enrocamento aderente, recuperação da vegetação nativa no
Medidas mitigadoras topo da falésia, e um manejo da água de escoamento superficial
através do redimensionamento da rede de drenagem. Algumas
estruturas foram explicadas, outras foram apenas citadas sem
comentar detalhadamente como seria realizada.
Foram citados alguns, mas não foram citados logo após as
Efeitos ambientais adversos das
medidas mitigadoras definidas, os efeitos adversos a essas
medidas de mitigação
medidas foram abordados no final do documento.
Comenta-se sobre os programas de monitoramento nas áreas de
influencia do projeto. Mas não é apresentado se a prefeitura tem
verba para realizar o monitoramento como foi prevista pelo
Monitoramento e fiscalização
documento. Há atividades que não apresentam de quanto em
quanto tempo serão monitoradas e as ferramentas que serão
utilizadas.
Quadro 1: Efetividade do EIA para contenção/redução da erosão Elaboração: GARBELINE, Camila Balista.,
2017

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

É importante lembrar que toda obra gera impactos negativos e positivos, o estudo tem que
deixar claro os impactos positivos e negativos, mostrar se o impacto é mais negativo ou positivo, se
for negativo, é preciso elaborar outro estudo. O estudo analisado não faz essa comparação.
Percebe-se que o EIA analisado tem uma abordagem exaustiva, com muitas informações,
mas ao mesmo tempo muitas dessas informações são irrelevantes e gerais, saem da área de
influência do projeto.
As informações sobre as obras de contenção se causam mais impacto negativo do que
positivo não foram apresentadas, também não foi dito se a prefeitura tem 60 milhões para financiar
as obras propostas. Pode-se afirmar que o estudo precisa ser refeito, as propostas não são obras
simples e podem provocar alterações ambientais, como a questão do direcionamento da água com
uma rede de drenagem, podem causar impactos que não foram bem avaliados e estudados.
O estudo não integra e não compara os efeitos ambientais esperados do projeto e de cada
uma de suas alternativas, além disso, a avaliação da real consequência dos efeitos adversos é
apontada como uma de suas falhas. Desta forma, o estudo deixou de contemplar o acompanhamento
e monitoramento dos impactos positivos e negativos das fases do projeto com equipamentos e
sistemas adequados, as ações de monitoramento deveriam ser implementadas logo após a
constatação dos impactos.
Como contenção foram construídos barreiras para minimizar a força das ondas sem qualquer
planejamento na Praia do Seixas, utilizando materiais inadequados, e na Falésia de Cabo Branco
foram bloqueadas as passagens de carros sobre a parte da falésia que está desmoronando. As
―obras‖ de contenção são um resumo da negligencia com o meio ambiente, foram tomadas medidas
impróprias de uso e ocupação do solo, como resultado temos o agravamento das áreas e a
vulnerabilidade ambiental.
A Praia do Seixas e a Falésia de Cabo Branco continuam vulneráveis as ações naturais e
antrópicas. A Praia do Seixas e a Falésia de Cabo Branco são ocupadas pelo processo de
urbanização e avanço turístico, com construções de casas, bares, obras turísticas, avenidas, entre
outras atividades que desestabilizam o equilíbrio e a resiliência da área.
A vulnerabilidade da Falésia de Cabo Branco diante das construções próximas a área
continua, e os interesses econômicos e turísticos persistem, essa área é uma importante mercadoria
para o aproveitamento das atividades turísticas.
Os EIAs são vistos como documentos burocráticos, não como ferramentas para proteção
socioambiental. Em geral, a elaboração do EIA representa o cumprimento de etapas formais
exigidas por lei (CAMPBEL, 1993). Assim, os EIAs de forma geral são apenas para demonstrar o
cumprimento formal, quando não há respeito com a legislação ambiental, o documento não tem

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comprometimento com o planejamento ambiental. Observa-se também a ideia imposta tratando as


licenças ambientais como entraves para o crescimento econômico.
Segundo Magalhães (2015) diversos empreendimentos no Brasil por falta de clareza no EIA
tiveram suas licenças ambientais cassadas pelo Ministério Público, pela insuficiência nas estudos
apresentados e por minimizarem os verdadeiros impactos negativos causados no meio ambiente.
Ações como estas fazem parte da realidade a partir do momento que a qualidade ambiental e
social não pertence aos objetivos, pode-se dizer que os objetivos são imediatos e de interesse
econômico, desta forma, alavanca a degradação e a falta de importância dos estudos ambientais.
Os problemas relacionados ao estudo de impacto ambiental podem aparecer no início do
processo de licenciamento ambiental, como: a falta de clareza sobre qual esfera federal ou estadual
irá ser responsável pela emissão da licença; má qualidade dos estudos de impacto ambiental
elaborados por empresas particulares responsáveis pelo projeto; dificuldade no cumprimento de
normas legais; poucos profissionais para a demanda nos órgãos ambientais; avaliação rápida dos
estudos devido à pressão pelo empreendedor; falta de verba e ferramentas para análise e
monitoramento do projeto pelo órgão ambiental; o distanciamento entre os ambientalistas e os
tomadores de decisões na área econômica, entre outros. Todas essas etapas do processo revela uma
cadeia de imperfeições que perpassam todas as demais etapas.

REFLEXÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL

A lógica da participação social tem sido amplamente documentada em vários países devido
à importância de aumentar a consciência da população sobre o direito e dever de expor suas ideias e
de ter voz diante das mudanças. Mesmo em países onde o poder de decisão está concentrado numa
parcela minoritária da população, hoje a participação social quando levada a sério, ao ponto de ser
ouvida, significa poder nas mãos dos que por muitos anos foram excluídos das decisões.
A vantagem associada à participação é a possibilidade das pessoas afetadas pelas decisões
fazerem-se presentes e por ser um mecanismo de troca de informações, assim, a participação
permite que os órgãos responsáveis pelas decisões sejam sensíveis para aspectos que vão além do
próprio projeto.
O EIA é um documento que por lei deve ser debatido com a sociedade antes do órgão
licenciador manifestar-se quanto a viabilidade ambiental do projeto. Existe um ciclo envolvendo as
etapas dos projetos, começa na concepção e vai até a operação do empreendimento.
A análise da audiência pública realizada após a elaboração do EIA de contenção da erosão
da Falésia de Cabo Branco e praia do Seixas, teve como objetivo mostrar a preocupação da
sociedade civil, e as questões tratadas e negligenciadas no decorrer da audiência.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na audiência pública, além dos coordenadores dos projetos, de diretores e técnicos de


órgãos ambientais, secretários do meio ambiente, deputados, entre outras figuras, a população
estava presente para discutir sobre o projeto. Estavam presentes professores, pescadores,
representantes da Associação Barraqueiros da Praia do Seixas, e representando do Grupo de
Amigos da Natureza.
A professora do IFPB questionou sobre a simulação das obras de engenharia, na leitura da
professora não tem um engenheiro na equipe de estudo. O questionamento da professora não foi
respondido na audiência, disseram que o debate no momento era sobre a política de tráfego na
região. Entretanto, analisando o EIA verifica-se um Engenheiro Civil na equipe, pode ser
considerado pouco, pois nesse trabalho foram contratados vinte e dois biólogos, era uma resposta
simples que não foi passada para a professora.
Um pescador local percebeu a preocupação entorno do quebra-mar, a maior parte da
discussão é voltada para o quebra-mar, o pescador comentou sobre outra preocupação, afirmou que
a chuva tem derrubado mais a barreira que o mar. Como resposta foi dito que a obra de drenagem
na bacia será recuperada, e que vai haver um lago de retenção, levando toda a drenagem ao rio
Cabedelo. Obtendo essa resposta não houve mais questionamentos.
O questionamento deveria ter continuado, foi uma afirmação essencial do cidadão que tem
como trabalho a pesca, a preocupação dele foi com o impacto da chuva, como resposta foi dito
sobre uma drenagem. A discussão deveria ter continuado, e deve haver uma análise detalhada para a
construção de uma drenagem, pois pode ser uma catástrofe. Um exemplo negativo é a Estação da
Ciência, foi feito um grande buraco, que chama de lagoa de atenuação, e a água foi lançada dentro
desse ponto, no entanto, não analisou que poderia ter tormentas sequenciais, o reservatório é
ineficiente, não tem capacidade apropriada e representa um foco de dengue.
Para um professor que chama atenção para a parte de cima da barreira, em relação ao
deslizamento. Como resposta foi de promover medida de contenção indireta por vegetação,
proibição de transporte, e fazer um muro de arrimo.
Percebe-se em alguns pontos a falta de explicação detalhada sobre os impactos negativos,
pode ser devido ao tempo para as respostas, mas percebe-se uma discussão vaga, sem
aprofundamento.
Outro questionamento foi sobre a manutenção constante do local, que nos dias de hoje existe
falta de manutenção dos bens públicos, de onde sairão os recursos para a manutenção das obras. Foi
respondido que existem recursos, mas que será comentado sobre isso num momento mais
apropriado. Obtendo uma resposta vaga.

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Compreende-se um apoio da população sobre a recomposição da vegetação, não há


discussão sobre isso. Contudo, sobre as obras que gastariam entorno de 60 milhões de reais, não há
uma boa aceitação do valor.
Os questionamentos ainda foram poucos, o principal desafio para a participação é criar uma
forma mais ativa de representatividade, isso implicaria numa redistribuição de poder, para que as
pessoas não sejam apenas ouvidas, a informação coletava deve ser incorporada no processo de
decisão.
Magalhães (2015) comenta que a participação da comunidade nas audiências públicas, onde
os estudos ambientais dos empreendimentos são apresentados, tem pouco a contribuir com as
discussões e encaminhamentos dos estudos, já que as decisões mais relevantes já foram tomadas.
O ideal é que o grupo de participantes seja ativo, tenha capacidade de entender os relatórios
técnicos para fazer uma autocrítica sobre os problemas que se encontram e colaborar na solução.
Nas participações é necessário considerar alguns condicionantes, como a compreensão do projeto e
a área de estudo, senso de poder onde cada participante interfere nas considerações, o senso comum
que cada participante tem sobre determinado tema, e o somatório de todos os elementos da
participação levam a uma reflexão coletiva por meio de diálogos (SANTOS, 2004).
Pode-se comentar sobre algumas barreiras que inibem uma participação social mais ativa,
com uma maior quantidade de população presente com dúvidas e afirmações sobre os projetos,
pode ser devido ao pouco conhecimento sobre a importância ambiental, incapacidade de influenciar
o processo de tomada de decisão, falta de conhecimento para acessar sites onde contem os
documentos e informações das audiências públicas.
A falta de conhecimento vinculada a longos documentos carregados com termos técnicos
intimidam ainda mais a população que não é especialista na área, desta forma, não tem a
oportunidade de expressar opiniões.
É de extrema seriedade ressaltar que a falta de participação da sociedade pelos fatores que
reduzem e inviabilizam a participação social, que são consideradas como deficiência das audiências
públicas, não torna as decisões transparentes e amplia o poder de influência de grupos de interesse,
sejam interesses econômicos e/ou políticos que podem influenciar a decisão de um projeto que
tenha uma degradação significativa.
Os interesses econômicos do setor privado, além dos grupos que se encontram no poder,
acabam facilitando o andamento e os processos de licenciamentos ambientais. Mesmo com diversos
instrumentos legais de proteção ambiental, a decisão final é na maioria das vezes um artefato
político, influenciado principalmente pelo interesse dos grupos hegemônicos (CAMPOS e SILVA,
2010).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

É importante ressaltar que as questões devem ir além da preservação ambiental e dos


processos de licenciamento ambiental, é necessário uma participação efetiva da sociedade civil,
uma sociedade informada e organizada para subsidiar novas e qualificadas discussões, para exigir
estudos ambientais mais precisos com contrapesos maiores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No caso do estudo de contenção da erosão em destaque o instrumento utilizado para


mensurar os impactos atuais decorrentes de efeitos naturais e antrópicos e propor medidas
mitigadoras para os impactos foi o EIA/RIMA, que demonstrou insuficiência no aspecto preventivo.
O EIA analisado tem uma abordagem exaustiva, com muitas informações irrelevantes e
gerais. Também o estudo não integra e não compara os efeitos ambientais esperados das obras, a
avaliação da real consequência dos efeitos adversos é apontada como uma de suas falhas. Evidencia
que a compreensão do EIA como ferramenta de planejamento ambiental ainda encontra-se em
estágio embrionário, e muitos sofrem influências econômicas e políticas servindo apenas para
cumprir exigências legais.
Analisar os problemas ambientais não é simples, em geral essas análises tendem a ter uma
concepção fragmentada e simplificada dos problemas, com tentativas de adequar ao modelo
capitalista minimizando os efeitos muitas vezes irreversíveis dos danos ambientais, ignorando uma
abordagem complexa e não reducionista, é necessário uma aproximação entre as ciências sociais e
ambientais, igualmente uma participação efetiva da sociedade civil, uma sociedade organizada para
discutir e exigir estudos mais precisos.
Os questionamentos referentes das obras de contenção da erosão foram poucos, mas em
comparação com outros casos no município de João Pessoa (PB), pode-se dizer que a população
civil demonstrou preocupação com as degradações ambientais e com o EIA/RIMA elaborado.
Contudo, ao estudar a história da participação social percebe-se que no passado a participação
social era igual à zero, e qualquer número perto de zero parece melhor. Houve um crescimento da
participação nos dias de hoje, mas como já foi dito qualquer número perto de zero parece bom, mas
ainda é limitado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Coletânia de Legislação Ambiental: Constituição Federal. Org. Odete Medauar. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

CAMPBELL, I. Environmental Impact Assessment – Where to from here? Nairobi: UNEP, 1993.
UNEP Environmental Economics Series Paper nº 6.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1221


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CAMPOS S. R. M.; SILVA, V. P. de. A Efetividade do Estudo de Impacto Ambiental e do


Licenciamento em Projetos de Usinas Hidrelétrica. Revista Caminhos de Geografia. 2010. p. 1-
14.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Editora Edgard Blucher


Ltda. 2013.

JELINEK, R. Licenciamento Ambiental e Urbanístico para o Parcelamento do Solo Urbano.


Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/doutrinaparcel_19.pdf. Acesso
em: 07/10/2016

MAGALHÃES, J. F. X. EIA-RIMA Insuficiente como Avaliação de Impactos Ambientais Enquanto


busca de Sustentabilidade Urbana: O caso de São Sebastião. Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Doutorado), USP. São Paulo, 2015.

MOTA, S. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999.

RODRIGUES, A. M. A Matriz Discrusiva sobre o ―Meio Ambiente‖: produção do espaço urbano


– agentes, escalas, conflitos. In: CARLOS, A. F. A.; SOUZA, M. L. de.; SPOSITO, M. E. B.
(orgs.). A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo:
Contexto, 2012.

SÁCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2008

SANTOS, R. F. de. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos. 2004.

TOMMASI, L. R. Estudo de Impacto Ambiental. São Paulo: CETESB, 1993.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRODUÇÃO, INOVAÇÃO E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO DA INDÚSTRIA DE


ALIMENTOS NO ESTADO DA PARAÍBA50

Daniel Filipe da Silva SANTANA


Graduado em Economia pela UFPB
daniel.santanagcm@gmail.com
Márcia Cristina Silva PAIXÃO
Professora do Departamento de Economia da UFPB
marciapaixao2014@gmail.com

RESUMO:
O trabalho destaca aspectos da relação entre industrialização, inovação e meio ambiente e o papel
das empresas para o desenvolvimento sustentável. Especificamente, apresenta dados econômicos e
sociais da indústria de alimentos e avalia se empresas do estado da Paraíba tem incorporado a
variável ambiental em suas estratégias produtivas. Utilizaram-se relatórios do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da
Associação Brasileira de Alimentos e Bebidas (ABIA) e dados do cadastro industrial da Federação
da Indústria do Estado da Paraíba (FIEP). Utilizaram-se também informações de uma empresa de
grande porte coletadas por meio de questionário e de uma segunda empresa por meio de seu
relatório de sustentabilidade. Pelos resultados obtidos, pode-se afirmar que foi possível identificar
ações de empresas paraibanas da indústria de alimentos alinhadas com a proposta do
desenvolvimento sustentável, seja através da busca pelo uso mais racional de recursos naturais, por
fontes alternativas de energia, pela prática da reciclagem ou da comercialização de resíduos e ainda
por meio de ações sociais, ainda que pequenas, voltadas à comunidade local.
Palavras-chave: Indústria de alimentos. Meio ambiente. Paraíba, Brasil.

ABSTRACT: The work highlights aspects of the relationship between industrialization, innovation
and the environment and the role of companies for sustainable development. Specifically, it
presents economic and social data of the food industry and evaluates if companies of the state of
Paraíba has incorporated the environmental variable in its productive strategies. Reports from the
National Economic and Social Development Bank (BNDES), the National Confederation of
Industry (CNI), the Brazilian Food and Beverage Association (ABIA) and data from the industrial
registry of the Federation of Industry of the State of Paraíba (FIEP) were used. We also used
information from a large company collected through a questionnaire and of a second company
collected in its sustainability report. From the results obtained, it can be stated that it was possible to
identify actions of Paraiba companies in the food industry aligned with the proposal of sustainable
development, either through the search for a more rational use of natural resources, alternative
sources of energy, recycling or commercialization of waste and through social actions, althoug
small, aimed at the local community.
Keywords: Food industry. Environment. Paraíba, Brasil.

50
Artigo derivado de Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Economia. O texto é uma versão revisada e
contém melhoramentos de forma e conteúdo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A indústria de alimentos, segundo definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), compreende o processamento e transformação de produtos da agricultura, pecuária e pesca
em alimentos para uso humano e animal (IBGE, 2007). Trata-se de um dos setores mais dinâmicos
e significativos na composição do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com sua produção voltada
para os mercados interno e externo.
Apesar de já tradicional na economia brasileira, essa indústria apresenta forte tendência de
modernização motivada por um mercado em transformação onde as empresas estão sempre em
busca de ganhos de produtividade por meio da adoção de novas tecnologias de processo (CNI,
2016).
Por outro lado, a indústria de alimentos é intensiva em recursos naturais e caracterizada
como de médio potencial poluidor (PAIXÃO, 2014). Assim sendo, torna-se relevante identificar o
comportamento ambiental das empresas que, segundo a literatura, é influenciado, principalmente,
pelos mercados em que atuam e pela legislação ambiental.
Dessa perspectiva, este estudo discute a indústria paraibana de alimentos quanto a sua
importância socioeconômica e investiga o comportamento ambiental das empresas.
Especificamente, trata da contribuição socioeconômica, em nível nacional e estadual, em termos de
número de empregos, renda gerada e contribuição ao saldo comercial e identifica o comportamento
ambiental de empresas locais investigando se as empresas tem recorrido à certificação ambiental ou
a outras práticas alinhadas com a proposta do desenvolvimento sustentável.
O trabalho contém quatro seções além desta Introdução. Na Seção 2 apresentam-se
argumentos teóricos sobre a relação entre inovação, industrialização e meio ambiente e sobre como
a certificação pode constituir um diferencial na estratégia de mercado das empresas, e os resultados
da revisão da literatura. A Seção 3 apresenta os métodos e procedimentos adotados e a Seção 4, os
resultados e a discussão. Por fim, a Seção 5 apresenta as conclusões do trabalho.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DA LITERATURA

A Economia do Meio Ambiente é um ramo relativamente novo do campo da ciência


econômica. Seus primeiros estudos formalizados foram apresentados a partir da década de 1960. A
relação entre o meio ambiente e o sistema econômico era até então deixada em segundo plano não
fazendo parte da análise dos modelos tradicionais. Prevalecia a visão de que o meio ambiente era
provedor infinito de insumos e receptor sem limites de resíduos e rejeitos. Os impactos da atividade
produtiva eram desconsiderados e não entravam no cálculo econômico (MUELLER, 2007).
Um dos primeiros estudos que alertou sobre os perigos da continuidade da expansão da
escala da economia e do crescimento demográfico foi encomendado pelo Clube de Roma ao

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Massachusetts Institute of Technology (MIT). O trabalho intitulado The Limits of Growth,


publicado em 1972, previu uma catástrofe global em menos de cem anos e fez sérias
recomendações de diminuição da produção, do consumo per capita e do crescimento populacional
(MULLER, 2007; ROMEIRO, 2010).
Em suma, o Relatório seria um exemplo extremo da postura pessimista sobre certas
limitações que o meio ambiente impõe à continuação da expansão econômica e, em última análise,
sobre o fato de a atividade econômica realizar trocas contínuas com o meio ambiente que o afetam
negativamente e de maneira cumulativa. Por outro lado, a ausência da hipótese de progresso
tecnológico foi considerada uma deficiência relevante do modelo de simulação adotado (MULLER,
2007).
Mais adiante, em 1983, foi publicado o relatório intitulado ―Nosso Futuro Comum‖,
resultante de avaliações e debates realizados no âmbito da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) sob demanda da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nesse Relatório, o conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado como aquele que
concilia crescimento econômico, equidade social e preservação ambiental (MULLER, 2007).
A Economia do Meio Ambiente ocupa-se exatamente dessa interface entre economia e meio
ambiente. Duas vertentes teóricas tem se destacado como principais: a economia ambiental
neoclássica e a economia ecológica. Para elas, o progresso tecnológico é fundamental para o
aumento da eficiência na utilização de recursos naturais e uma estrutura regulatória baseada em
incentivos econômicos seria capaz de aumentar tal eficiência. A principal discordância entre as duas
está relacionada com a efetiva capacidade de o avanço tecnológico conduzir a uma superação
indefinida dos limites ambientais (MULLER, 2007; ROMEIRO, 2010).
Enquanto a economia ambiental supõe substitubilidade perfeita entre capital, trabalho e
recursos naturais, tida como possível por meio do progresso tecnológico e científico, para a
economia ecológica esses fatores de produção são essencialmente complementares entre si porque
existem certos limites ecológicos insuperáveis por meio de tecnologias (MULLER, 2007;
ROMEIRO, 2010).
No caso da indústria, recursos naturais são extraídos da natureza, resultando em impactos
ambientais como degradação do solo, desmatamento etc., e são transformados em matérias-primas e
energia consumo de processos produtivos. Estes, por sua vez, não geram apenas bens, mas também
rejeitos industriais como fumaça, resíduos sólidos, efluentes líquidos etc., ampliando, portanto, o
tamanho do impacto ambiental (YOUNG, 2010).
Como determinados recursos naturais são finitos (minérios, madeira de floresta nativa) e
outros podem ter suas características naturais alteradas por degradação ou contaminação (ar, água),

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sua utilização deve ser feita de maneira racional de modo a garantir disponibilidade para a produção
das gerações atual e futuras (YOUNG, 2010).
Para avaliar a interface entre produção industrial e meio ambiente, a literatura econômica
recomenda ter em vista que a intensidade do uso de recursos naturais e a poluição industrial
dependem do ―efeito escala‖ resultante da expansão da atividade econômica, do ―efeito
composição‖ referente à participação relativa de cada setor na economia, e do ―efeito tecnologia‖
resultante dos métodos, técnicas e equipamentos utilizados (LUSTOSA, 2010).
Em se tratando de tecnologias utilizadas e da perspectiva microeconômica, as empresas
estão continuamente em busca de novos produtos ou processos produtivo e organizacional como
forma de obter vantagens econômicas como maiores lucros e parcela de mercado. As inovações
podem ser técnicas ou organizacionais. No primeiro caso, podem ocorrer na forma de introdução de
um novo processo, produto, sistema ou equipamento e no segundo, como alterações na política
interna, em tarefas, procedimentos e responsabilidades.
Nesse contexto, inovações com objetivos ambientais tem passado a ser um fator de
diferenciação porque a conduta da empresa em relação ao meio ambiente também vem sendo
valorizada no mercado. A literatura define tecnologia ambiental como: ―O conjunto de
conhecimentos, técnicas, métodos, processo, experiências e equipamentos que utilizam os recursos
naturais de forma sustentável e que permitem a disposição adequada dos rejeitos industriais de
forma a não degradar o meio ambiente.‖ (LUSTOSA, 2010, p. 209).
Esse conceito é amplo e engloba tipos distintos de tecnologia: as tecnologias chamadas
―mais limpas‖ (também tidas como ―preventivas‖ porque respondem por um coeficiente menor de
emissões); as ―poupadoras de recursos naturais‖ (utilizam quantidades menores de insumos de
origem natural); as ―despoluidoras do meio ambiente‖ (também tidas como ―remediadoras‖ porque
são utilizadas após a geração da poluição); as tecnologias ―de controle‖ (monitoram o nível de
degradação ambiental) (LUSTOSA, 2010).
Sobre os determinantes do investimento em tecnologias ambientais, estes seriam
influenciados basicamente pela regulamentação ambiental, pela pressão dos consumidores finais e
intermediários, a pressão dos stakeholders e a pressão dos investidores (VINHA, 2010).
Do ponto de vista da economia ambiental neoclássica, haveria um trade off entre
regulamentação ambiental e competitividade: se, por um lado, a regulamentação proporcionaria
maiores benefícios sociais relativos à preservação do meio ambiente, por outro aumentaria os custos
de produção, elevando os preços e reduzindo a competitividade da empresa e do país. Isto é, nessa
perspectiva, competitividade estaria associada ao preço, refletindo uma visão de curto prazo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Em contraponto a esse argumento, a hipótese de Porter51 afirma que as empresas reagem à


imposição de padrões ambientais adotando inovações que, na verdade, reduzem seus custos. Nesse
caso, as empresas seriam estimuladas pela regulamentação a adotar ou desenvolver novas
tecnologias de produto e processo mais eficientes na utilização de matérias-primas e energia como
também na disposição dos rejeitos da produção (VINHA, 2010).
Nesse contexto, o investimento em certificação representa um selo de confiança no (novo)
sistema de produção ou gestão utilizado pela empresa, agregando mais valor ao seu produto e
aumentando sua competitividade. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
certificação é o conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da relação
comercial com a empresa, com o objetivo de atestar por escrito que o produto, serviço ou sistema
está em conformidade com os requisitos especificados nas normas técnicas.
As principais certificações são: ISO 9000, relacionada com a qualidade do produto; ISO
14000, relacionada com Sistema de Gestão Ambiental (SGA); Boas Práticas de Fabricação (BPF),
específica do setor de alimentos; ISO 18001 relacionada com a segurança e a saúde do trabalho.52
A certificação ambiental corresponde a um estágio avançado da gestão de uma empresa na
qual se insere a variável ambiental. É um compromisso voluntário da organização no sentido de
adotar um comportamento correto em relação ao gerenciamento ambiental, fundado em normas
padronizadas e reconhecidas nacional e internacionalmente.
Quando mantida pela empresa, atua como um mecanismo de defesa do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, garantindo a efetividade de medidas preventivas e a sustentabilidade
ambiental na atividade produtiva mediante o gerenciamento e a autofiscalização (concretizada
através das auditorias ambientais) necessários para manter a certificação. Ainda, estimula a
concorrência e a competitividade no mercado, especialmente a internacional, característica almejada
por todos os empreendimentos na atual economia globalizada (VINDIGAL, 2011).
Capiotto e Lourenzani (2010) também destacam que, quando bem implantada, a certificação
ambiental pode trazer retornos financeiros devido à redução dos custos da produção, diminuição de
mercadorias retornadas, aumento do rendimento e expansão do mercado com a melhoria da
qualidade.
Martini Junior, Silva e Mattos (2012), por sua vez, analisaram empresas brasileiras
certificadas em sistema de gestão ambiental avaliando existência de relação entre a intensidade do
potencial poluidor da empresa e a obtenção de certificação ISO 14001.

51
Porter e Linde (1995) apud Lustosa (2010).
52
Para uma empresa obter a certificação, deve cumprir padrões nacionais ou internacionais fixados por Organizações
Não Governamentais (ONGs) ou por instituições independentes, as chamadas ―entidades normatizadoras‖. Para isso,
essas entidades e as instituições privadas são credenciadas em cada país para atestar o cumprimento das normas e dos
critérios previamente estabelecidos. No Brasil, o responsável pelo credenciamento e certificação de tais entidades é o
Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia (INMETRO).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Utilizando dados de 649 empresas de setores diversos (agroindústria, indústria, comércio e


serviços), o estudo revelou não haver relação entre categoria de complexidade ambiental e
facilidade de obtenção de certificação.53 Por exemplo, setores de ―baixa‖ complexidade ambiental,
que supostamente teriam maior facilidade para a obtenção de certificação em função de seu menor
impacto potencial, não predominaram. Nesse caso, segundo os autores, a busca pela certificação
seria determinada por fatores como exigência de clientes e competição por mercado consumidor.
Corrêa et al. (2010) buscaram identificar os possíveis impactos das inovações tecnológicas
implementadas com o objetivo de reduzir impactos ambientais negativos. Foram considerados trinta
e oito ramos de atividade, sendo cinco do setor de serviços e os demais da indústria de
transformação. Para isso utilizam uma amostra de empresas que inovaram, utilizando como proxy
seus registros de consumo de matéria-prima, energia elétrica e de água para identificar o potencial
de danos ambientais. Concluíram que existe uma relação positiva entre inovação tecnológica e
qualidade ambiental, ou seja, a implementação de novas tecnologias nos diversos setores
econômicos implicaria uma melhora dos indicadores de utilização racional de recursos providos
pelo meio ambiente.
Dias e Pedrozo (2008) buscaram identificar como as dimensões do desenvolvimento
sustentável estão previstas nas inovações da indústria alimentícia brasileira utilizando dados da
PINTEC dos anos 2000, 2003 e 2005. Identificaram uma baixa valorização do setor de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) como fonte de informação interna. Para empresas que cooperam e inovam,
os parceiros mais importantes seriam os fornecedores, seguidos dos consumidores, universidades e
centros de pesquisa. Verificou-se ainda que as empresas valorizam a implantação de mudanças em
suas estratégias organizacionais. Dentre as inovações, predominaram técnicas avançadas na gestão
de produção seguidas pela gestão de informação e a gestão ambiental. E quando analisado o tipo de
inovação, se de produto ou processo, foi verificado mais inovações relacionadas a produtos.
Constatou-se que a orientação em relação às dimensões do desenvolvimento sustentável está numa
fase inicial e que ainda predomina a lógica econômica.
Brandli et al. (2009) investigaram o caso de uma empresa da indústria alimentícia,
especificamente de produtos de soja, sendo uma unidade produtiva no Rio Grande do Sul,
considerando que a empresa é de grande porte com a produção voltada para exportação. Destacaram
os aspectos ambientais de cada etapa do processo produtivo e seus respectivos impactos ambientais
e analisaram a política e a responsabilidade ambiental da empresa. Concluíram pela ocorrência de

53
Os autores seguiram critério estabelecido na norma NBR ISO/IEC 17021 segundo o qual o grau de complexidade
ambiental é definido de acordo com aspectos da atividade produtiva que podem ser medidos por meio de estimativas
de geração de poluentes, levando-se em consideração também a escala da produção, o porte das empresas e a
tecnologia empregada na produção.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comportamento proativo por parte da empresa em termos de ações sustentáveis sendo, inclusive,
possível verificar uma relação positiva entre lucratividade e ações sustentáveis.
Silva (2016) mapeou anúncios de investimentos produtivos no estado da Paraíba sob a
perspectiva de desenvolvimento sustentável. Usando dados do Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços (MDIC), relacionou informações como valores envolvidos, municípios de
destino do investimento, origem do capital, empregos diretos a serem gerados e potencial de
impacto ambiental da atividade produtiva. Constatou que 91% dos anúncios de investimentos se
concentraram em setores intensivos em recursos naturais e 80%, em quatro setores classificados
como de alto potencial poluidor.
Em suma, a revisão de literatura empírica recente revelou estudos discutindo a forma como a
variável ambiental vem sendo inserida na estratégia das empresas e identificando que tem sido
através da busca por certificação ou pela adoção de inovações de produtos e processos. Além disso,
identificou uma relação positiva entre ações sustentáveis e a lucratividade da empresa e que a
indústria alimentícia está em constante busca por inovações que impactam positivamente o meio
ambiente por meio da racionalização do uso de energia e de recursos naturais.
Os estudos também ressaltam o papel da política ambiental no meio empresarial para uma
maior conscientização dos impactos de suas atividades. E indicam que o debate recente acerca do
desenvolvimento sustentável envolve consumidores, fornecedores, empresas, governo e instituições
de pesquisa em um processo de influência mútuo.

MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

O estudo investiga aspectos ambientais e socioeconômicos da indústria de alimentos no


estado da Paraíba. Para tanto, utilizaram-se, principalmente, dados e informações nacionais e
regionais divulgadas pelo IBGE e relatórios setoriais do BNDES, da Associação Brasileira das
Indústrias de Alimentação (ABIA).
Uma discussão sobre a relevância socioeconômica dessa indústria no estado da Paraíba é
feita com base em dados da CNI e avalia-se o perfil das empresas locais a partir de dados do
cadastro industrial da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP), de relatórios
divulgados por parte das empresas investigadas e de respostas de questionário aplicado online com
empresas selecionadas.
Destaque-se que foi feita tentativa de contato, por telefone e E-mail, com dez empresas
locais e apenas uma de grande porte colaborou com a pesquisa por meio do questionário aplicado.
Também houve esforço de contato pessoalmente com duas empresas, porém sem êxito.
A escolha pela aplicação de um questionário foi feita para se obter informações sobre
aspectos de inovação, pesquisa e desenvolvimento e meio ambiente, com destaque para o papel da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

certificação como fator de diferenciação das empresas. Especificamente, procurou-se identificar se


as empresas possuíam sistemas de qualidade, gestão ambiental e relação com institutos de pesquisa.
Oportunamente, buscou-se obter informações de produção, principais mercados e de aspectos
sociais como qualificação da mão-de-obra e relação com a comunidade local.
A seleção das empresas contatadas foi feita com base em informações iniciais obtidas no
cadastro da FIEP quanto ao porte, certificações obtidas e estratégias relacionadas com o meio
ambiente (geração própria de energia, comercialização de resíduos). Para a classificação das
empresas segundo o porte, utilizou-se a classificação da CNI segundo a qual: microempresas tem
até 9 empregados; pequenas empresas tem entre 10 e 49 empregados; médias, tem entre 50 e 249
empregados; e grandes, tem 250 ou mais empregados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) - versão 2.0,


definida pelo IBGE (2007), a indústria de transformação compreende atividades que envolvem
transformação física, química e biológica de materiais, substâncias e componentes para se obterem
produtos novos. Esses materiais, substâncias e componentes são insumos produzidos nas atividades
extrativas (agrícolas, florestais, de mineração, da pesca) e produtos da indústria de transformação.
Dentro da indústria de transformação, a indústria de alimentos consiste no processamento e
transformação de produtos da agricultura, pecuária e pesca em alimentos para uso humano e animal.
O setor de alimentos responde por 15,2% do PIB da indústria de transformação e por 1,8%
do PIB do Brasil (em valor adicionado). Na criação de empregos, é expressivo gerando cerca de
1.532.732 postos de trabalho, o que representa 19,7% dos empregos formais na indústria de
transformação. Em número de estabelecimentos, responde por 45.393 unidades (12,9% dos
estabelecimentos industriais no país) (FIESP, 2016).
O setor também é importante para a geração de saldo comercial positivo. Em 2016, suas
exportações representaram 19,7% do total nacional contra 3,6% do total das importações, o que
correspondeu a um saldo positivo de US$ 47,6 bilhões. Destacam-se na pauta de exportações:
açúcares, suco de laranja, carnes e derivados e soja (ABIA, 2016). Apesar desse desempenho, é
bastante afetado pela conjuntura internacional. Pelo lado da oferta, apresenta dependência de
importação de bens de capital e insumos agroindustriais (trigo, leite em pó e cacau) e pelo lado da
demanda está exposto a variações na cotação dos principais produtos exportados (BNDES, 2014).
Segundo a ABIA (2016), a indústria faturou, em 2016, R$ 497,3 bilhões, contando com um
total de 35,2 mil empresas (não incluindo panificação industrial), das quais 78,1% são
microempresas, 15,1% são pequenas, 3,6% são de médio porte e 1,3% são de grande porte. E,
segundo o BNDES (2014), diante de perspectivas de crescimento da demanda interna e externa, as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

empresas tem empreendido investimentos em aumento da capacidade e da eficiência produtiva.


Para o período 2015-2018, foram anunciados investimentos de R$ 49 bilhões.
Na dimensão ambiental, o setor tem buscado fontes limpas de energia. Segundo o relatório
de sustentabilidade da indústria de alimentos da CNI (2012), utilizando dados do Balanço
Energético Nacional de (2011), metade da energia utilizada nesse setor vem de fontes renováveis,
enquanto na média mundial essas fontes não passam de 15%, segundo a Agência Internacional de
Energia (World Energy Outlook, 2011). Para a CNI, esse desempenho representa um importante
diferencial do setor brasileiro no cenário internacional.
No caso, especificamente, do estado da Paraíba, e de acordo com as Contas Regionais do
IBGE, o PIB estadual a preços correntes foi de R$ 52,936 bilhões em 2014, e o PIB per capita, R$
13.422,42. A participação percentual do PIB estadual no PIB nacional se manteve constante no
período 2010-2014, sendo de 0,9% e ocupando a 19º posição em relação às outras unidades da
federação. A indústria de transformação do estado, por sua vez, respondeu por 9,3% do valor
adicionado bruto estadual em 2014 (CONTAS, 2016).
Em 2015, o número de estabelecimentos industriais no estado da Paraíba era de 6.550, os
quais empregavam 126.611 pessoas, representando 19% do emprego formal no estado. O salário do
setor, no entanto, em torno de R$ 1.456,80, é o mais baixo do Brasil, estando 40,4% abaixo da
média nacional industrial (CNI, 2015). A indústria de alimentos, especificamente, responde no
estado por 8,3% do PIB industrial e é um dos setores mais tradicionais do estado.
Quanto ao porte, considerando-se o cadastro industrial da FIEP e utilizando a classificação
da CNI, as empresas da indústria de alimentos seguem o padrão nacional com a seguinte
distribuição: a) grande porte, 2,6% do total de empresas do setor; b) médio, 4,3%; c) pequeno,
18,5%; d) microempresas, 74,5%. Os municípios de João Pessoa, Campina Grande, Sousa e Patos
concentram o maior número dessas empresas. Um aspecto que chamou a atenção é que, do total de
empresas cadastradas, 14,3% declaram possuir certificações na maioria das vezes relacionadas a
Boas Práticas de Fabricação (BPF), ISO 9001 e, em alguns casos, ISO 14001.
Como já mencionado, o questionário foi aplicado com dez empresas da indústria de
alimentos paraibana. Destas, uma empresa colaborou com a pesquisa, de grande porte e, por essa
razão, representando uma contribuição importante para o estudo. Obtiveram-se as seguintes
informações: a) dentre as principais motivações da empresa para implantar uma unidade produtiva
na Paraíba, foi declarado é que o estado representa um ponto de conexão com mercados da região
nordeste; b) a mesma não compra insumos de produtores agrícolas ou pecuários no estado e
também não possui produção própria, sendo os principais fornecedores de estados de outras regiões
do país; c) declarou exigir de seus fornecedores certificações e padrões de qualidade; d) a produção
é voltada para o mercado nacional, porém tem dependência da conjuntura internacional em relação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a um dos seus principais insumos que é importado da Argentina, do Uruguai e Estados Unidos,
principalmente.
Como a água constitui um insumo fundamental nessa indústria, procurou-se verificar se a
empresa tem investido para a otimização da utilização desse recurso. Foi declarado que: a) a
unidade produtiva possui práticas para reuso da água; b) a empresa possui estação de tratamento de
efluentes (ETE)54. Inclusive, a empresa informou possuir departamento dedicado à pesquisa e
desenvolvimento no próprio estado da Paraíba.
Ainda sobre aspectos ambientais, informou: a) que possui sistema de gestão ambiental; b)
que existe um acompanhamento da regulação a da legislação ambiental, sendo este um dos
determinantes de seus investimentos ambientais; c) a empresa possui certificação ISO 14001; d) os
gerentes locais tem liberdade de ação na gestão ambiental da unidade, sendo uma das estratégias a
fixação de metas de desempenho ambiental; e) a empresa não produz com material reciclado e nem
possui projetos com a comunidade local com esse objetivo. No entanto; informa comercializar
resíduos (papelão).
E sobre aspectos sociais, declarou ofertar e apoiar financeiramente a qualificação da sua mão
de obra, oferecendo benefícios voluntários a seus funcionários.
Dada a muito baixa taxa de resposta do questionário, buscou-se complementar a pesquisa
por meio de levantamento de informações de interesse do estudo nos sites das empresas. Por meio
do Relatório de Sustentabilidade divulgado pelo grupo M Dias Branco, do segmento de fabricação
de massas alimentícias e que possui uma unidade produtiva no município de Cabedelo, foi possível
constatar que: a) a empresa é de capital aberto desde de 2006; b) possui unidades produtivas em
outros estados nordestinos e, inclusive, no sul do País; c) incorpora a relação com seus stakeholders
no seu processo decisório.
Aliás, ressalte-se, por oportuno, que a própria divulgação de um relatório de sustentabilidade
está associada ao aspecto da transparência que cada vez mais é exigido pelos investidores e também
pela sociedade.
A empresa também afirma possuir departamento de pesquisa, desenvolvimento e inovação e
um setor para assuntos de legislação ambiental, sendo uma área criada com o objetivo de gerenciar
os aspectos e impactos ambientais da companhia.
Vale ressaltar que o grupo teria investido R$ 8,1 milhões em pesquisa e desenvolvimento no
ano de 2016 e seus gastos ambientais no mesmo ano teriam sido no valor de R$ 10,4 milhões
incluindo os seguintes tipos de despesas: a) serviços de profissionais de meio ambiente; b) operação

54
A Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) é uma infraestrutura operacional composta por unidades de tratamento
que – através de processos físicos, biológicos ou químicos – removem as cargas poluidoras do efluente, elevando seu
potencial de reuso e garantindo que a qualidade do efluente final esteja em consonância com os padrões estabelecidos
nas legislações ambientais vigentes (CTA, Meio Ambiente).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de estações de tratamento de efluentes (R$ 2,7 milhões); c) monitoramento de efluentes e emissões


de gases; d) destinação de resíduos perigosos e outros serviços (R$ 6,1 milhões); e) investimentos
para melhoria da ETE.
É relatado, ainda, que no caso da unidade produtiva localizada no estado da Paraíba, os
efluentes são direcionados para a ETE com tratamento físico e biológico composto por tanque
decanto digestor, reator UASB, filtros de areia, tanque de reuso e caixas de infiltração de solo.
Entre as fontes de energia utilizadas pela empresa estão: energia elétrica, gás natural, gás
liquefeito de petróleo (GLP) e diesel. Entre seus esforços para uma matriz energética mais limpa,
destaca uma redução no consumo de diesel no ano de 2016 da ordem de 98,6% devido a menor
utilização de geradores em horários de ponta.
A empresa também estabelece critérios ambientais para seus fornecedores através de
questionários de qualificação, relacionados tanto a aspectos ambientais quanto a condições de
trabalho. O grupo declara ainda desempenhar ações sociais por meio da sua área de
sustentabilidade. Nessa área, em 2016, teriam sido investidos na unidade R$ 50 mil em um projeto
social que visa atender jovens de 7 a 15 anos de áreas carentes com atividades de artes e música.
Em termos de investimentos voltados para os funcionários, estes incluiriam: programas de
saúde ocupacional e assistência, alimentação, transporte, segurança laboral, capacitação,
participação em lucros e resultados, outros benefícios.
No caso da unidade da Paraíba, os cursos de capacitação visam à solução e gerenciamento
de problemas com uma carga horária de (apenas) 70 horas. Outro aspecto desfavorável para a
unidade paraibana é o fato de que outras unidades produtivas do grupo possuírem certificação de
gestão de qualidade ISO 9001, de gestão ambiental ISO 14001 e de segurança do trabalho ISO
18001, entre outras, enquanto a unidade local não possui nenhuma dessas certificações.

CONCLUSÃO

Segundo a literatura recente, os principais determinantes do investimento ambiental seriam a


legislação/regulação ambiental, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a relação com os
stakeholders. Este trabalho apresentou a relevância socioeconômica da indústria de alimentos e
aspectos de seu comportamento ambiental. Especificamente, analisou como as empresas dessa
indústria no estado da Paraíba estão incorporando a variável ambiental em suas estratégias
produtivas considerando que no processo de concorrência existe uma busca constante por
diferenciação e que a variável ambiental vem ganhando importância para consumidores, para
fornecedores e acionistas.
Por meio do cadastro industrial da FIEP, foram levantadas informações de porte e
localização das empresas, se adotam sistemas de qualidade e de gestão ambiental, se comercializam

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

resíduos, possuem fontes alternativas de geração de energia e estão integradas ao comércio


internacional. Um ponto que chamou a atenção é que a procura das empresas por certificação é
baixa, principalmente por certificações mais complexas relacionadas a sistemas de gestão
ambiental. Identificou-se que as mais comuns são as de qualidade e de boas práticas de fabricação e
que apenas 14,3% das empresas possuem alguma certificação.
Um questionário foi aplicado online com uma amostra de dez empresas com o objetivo de
obter informações mais detalhadas sobre produção, inovação e meio ambiente, mão-de-obra e
integração com a comunidade local. Apenas uma empresa colaborou com a pesquisa, representando
uma contribuição relevante por se tratar de empresa de grande porte. O questionário permitiu
identificar que existe um acompanhamento da legislação ambiental por parte de um setor especifico
da empresa, como também a utilização de sistemas de gestão de qualidade e de gestão ambiental e
que existe autonomia por parte dos gerentes dessa unidade na gestão ambiental local. A empresa
também declarou que fixa metas ambientais e que são adotadas práticas sustentáveis quanto ao uso
da água, além de dispor de estação de tratamento de efluentes. Ainda, que realiza investimentos em
pesquisa e desenvolvimento, contando com um setor exclusivo para essa atividade. Em relação a
aspectos sociais, afirmou apoiar a qualificação de seus empregados e que desempenha ações sociais
com a comunidade local.
Por meio de relatório de sustentabilidade divulgado, resultados similares foram obtidos para
outra empresa do setor que, inclusive, faz parte de um grupo empresarial com unidades produtivas
em outros estados do País.
Considerando os resultados obtidos com a pesquisa, pode-se afirmar que foi possível
identificar ações de empresas paraibanas da indústria de alimentos alinhadas com a proposta do
desenvolvimento sustentável, seja através da busca pelo uso mais racional de recursos naturais, de
fontes alternativas de energia, pela prática da reciclagem ou da comercialização de resíduos, e ainda
por meio de ações sociais, ainda que pequenas, voltadas à comunidade local.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1236


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONFLITOS AMBIENTAIS RELACIONADOS AO USO DA ÁGUA NO


CANAL DA REDENÇÃO EM SOUSA - PB

Paulo Abrantes de OLIVEIRA


Doutorando em Recursos Naturais – UFCG
barionix01@gmail.com
Erivaldo Moreira BARBOSA
Doutor em Recursos Naturais-UFCG
erifat@terra.com.br
Maria de Fatima Nóbrega BARBOSA
Doutora em Recursos Naturais-UFCG
mfnbarbosa@hotmail.com
Georgia Graziela Aragão de ABRANTES
Doutoranda-UMSA
georgiagrazy@gmail.com

RESUMO
Mesmo estando localizado em um dos países que possuem a maior disponibilidade hídrica em rios
do mundo, o nordeste brasileiro enfrenta, na região do alto sertão paraibano, um dos fenômenos
naturais mais devastadores conhecidos pela humanidade, o flagelo da seca, esta provocando um
conflito que só se imaginaria no futuro muito distante, a guerra pelo uso da água, especificamente
nas áreas irrigadas; protestos desesperados são deflagrados como forma de chamar a atenção das
autoridades competentes, no canal Governador Antônio Mariz. Neste contexto o objetivo geral
pretende descrever o conflito ambiental existente, pelo uso do recurso natural água, na área do canal
Governador Antônio Mariz na região do alto sertão da Paraíba, sobremaneira nas áreas pertencentes
aos Municípios de Aparecida, Coremas, São José da Lagoa Tapada e Sousa. Este estudo se
caracteriza como pesquisa de campo, iniciando com uma investigação de caráter exploratório
documental, no período de agosto a setembro de 2013, nos municípios envolvidos no conflito. Os
resultados demonstram que o conflito existe, é complexo, sua magnitude é macro e os atores
envolvidos tornam difícil o diálogo enquanto o Estado da Paraíba demonstra desinteresse pelo caso,
visto que o conflito já perdura há mais de 10 anos, a fiscalização é insuficiente, o desperdício de
agua é visível, o canal se encontra em péssimo estado de conservação e as estradas marginais no
trecho São José da Lagoa Tapada a Sousa-PB, são intransitáveis, fato que dificulta a fiscalização;
constata-se também um descontrole explícito na utilização dos recursos hídricos na região.
Palavras-Chave: Conflito Ambiental. Canal da Redenção. Recursos Hídricos.
ABSTRACT
Even though it is located in one of the countries with the highest water availability in rivers in the
world, the Brazilian northeast faces one of the most devastating natural phenomena known to
mankind, the drought scourge, in the upper Sertão region of Paraiba. One could only imagine in the
very distant future, the war for the use of water, specifically in the irrigated areas; Desperate
protests are triggered as a way to get the attention of the competent authorities, in the channel
Governador Antônio Mariz. In this context, the general objective is to describe the existing
environmental conflict, through the use of the natural water resource, in the area of the Governador
Antônio Mariz channel in the high backwoods region of Paraíba, especially in the areas belonging
to the Municipalities of Aparecida, Coremas, São José da Lagoa Tapada and Sousa. This study is

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

characterized as field research, starting with an exploratory documentary investigation, from August
to September 2013, in the municipalities involved in the conflict. The results show that the conflict
exists, is complex, its magnitude is macro and the actors involved make dialogue difficult while the
State of Paraíba shows disinterest in the case, since the conflict has lasted for more than 10 years,
supervision is insufficient, The wastewater is visible, the canal is in poor condition and the marginal
roads in the stretch São José da Lagoa Tapada a Sousa-PB, are impassable, a fact that makes it
difficult to inspect; There is also an explicit lack of control in the use of water resources in the
region.
Keywords: Environmental Conflict. The Redemption Channel. Water Resources.

1 INTRODUÇÃO

A água não é tão somente uma molécula química formada por dois átomos de hidrogênio e
um de oxigênio. Segundo alguns estudiosos, foi nela que surgiu a primeira forma de vida do planeta
há milhões de anos; imersa na sua acumulação promoveram-se os processos evolutivos que
culminaram com o aperfeiçoamento da nossa espécie; é pela sua importância e influência que
continuam a existir todas as formas de biodiversidade.
Segundo estudos de (CLARKE e KING, 2005), o planeta terra dispõe sempre de 1,386
bilhão de quilômetros cúbicos de água, aproximadamente. Quase toda esta água (97,85%) é salgada,
espalhada por oceanos, mares, lagos salgados e aquíferos salinos (reservas subterrâneas). Dos 2,5%
de água doce, mais de dois terços estão indisponíveis ao ser humano, pois ficam contidos em
geleiras, neves, gelos e subsolos congelados.
A agua é tão importante para a existência de vida neste planeta que se pode afirmar que na
Terra tudo é mantido graças à presença desse líquido vital, toda a infraestrutura das nossas cidades,
nossas indústrias, nossas plantações e mesmo o oxigênio que respiramos, cerca de 70% dele, vêm
das reações fotoquímicas desempenhadas pelas microscópicas algas que habitam os nossos
reservatórios de água, formadas por rios, lagos e oceanos MARGALEF (1991).
Embora o Brasil seja o primeiro país no ranking da disponibilidade hídrica em rios do
mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem este recurso em várias regiões do país. Na
última década a quantidade de água distribuída aos brasileiros cresceu 30%, mas quase dobrou a
proporção de água sem tratamento (de 3,9% para 7,2%) e o desperdício ainda assusta: 45% de toda
a água ofertada pelos sistemas públicos (ANA, 2013).
De acordo com dados do IBGE (2010), a região nordeste do Brasil participa com 18% no
total da área correspondente às bacias hidrográficas em território brasileiro, colocando-se em
terceiro lugar entre as cinco Grandes Regiões brasileiras, logo atrás das regiões Norte e Centro-
Oeste. A grande diversidade dos regimes hidrológicos dos rios nordestinos advém das diferentes
condições pluviométricas, das diversas características físicas (presença relativa de rochas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sedimentares e cristalinas) e da forma da rede hidrográfica, bem como de suas morfologia e


vegetação; tudo isto concorre para a variabilidade da lâmina escoada anualmente.
A gestão hídrica possui uma missão importantíssima a cumprir na transição para o
paradigma da sustentabilidade, pois a água é fator de desenvolvimento e condição elementar para
sustentabilidade da vida e dos ecossistemas. (BRASIL, 2011)
Por intermédio da Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997, foram instituídas a Política
Nacional de Recursos Hídricos e a criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamentando o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal de 1988 (CF/88)
assegurando, em seus fundamentos, que a água é um bem de domínio público; recurso natural
limitado e dotado de valor econômico.
O Estado da Paraíba tem mais de 70% do seu território dentro de uma área de clima
semiárido, o que torna a água um elemento indiscutivelmente indispensável para o seu
desenvolvimento; no entanto, o problema não se encontra apenas na falta ou má distribuição deste
recurso, mas na falta de gerenciamento dos recursos hídricos disponíveis no Estado (INSA, 2013).
Para fins de facilitar as estratégias de combate às frequentes estiagens, o governo federal
criou ao longo dos anos, mecanismos e órgãos que objetivassem atuar no combate à seca; assim,
foram instituídos, por ordem de criação, a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) que
posteriormente veio a ser denominada Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) e
posteriormente de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – (DNOCS), (VILLA, 2000).
Da percepção das diferenças sociais e econômica existentes entre as várias regiões do Brasil
foi criada, em 15 de dezembro de 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste-
SUDENE; foi uma forma de intervenção do Estado Brasileiro na região Nordeste com o objetivo de
promover e coordenar o desenvolvimento da região. Em um primeiro momento, a forma de
intervenção nesta região se deu pela construção de grandes obras hídricas (Política de Açudagem)
que, segundo dados do DNOCS, transformaram a região nordeste do Brasil no maior canteiro de
obras da América Latina. (VILLA, 2000).
Dentre as principais obras hídricas construídas na Paraíba se destaca: O ―Complexo
Coremas-Mãe D´Água‖, com capacidade máxima de acumulação de 1.358.000 (um bilhão trezentos
e cinquenta e oito milhões) de metros cúbicos de água, O engenheiro responsável pela construção
foi o potiguar Estevam Marinho (1896-1953). O Açude de Coremas-Mãe D´Água é, na verdade,
formado pela interligação de dois reservatórios, o primeiro represado pela Barragem Dr. Estevam
Marinho, no rio Piancó, e o segundo denominado Mãe D´Água , tem seu barramento no rio Aguiar;
este manancial já foi considerado o maior açude do Brasil no período de 1943 (inauguração) até
1960, sendo suplantado pela construção de outras barragens gigantescas (DNOCS 2013).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Observando as potencialidades e fertilidade das terras das várzeas de Sousa, o engenheiro


Estevão Marinho idealizou a construção de um canal que levaria as águas do complexo Coremas-
Mãe D´Água, por gravidade até o reservatório de São Gonçalo este localizado no rio Piranhas,
permitindo, assim, a irrigação de uma grande faixa de terra, que até então se encontrava inexplorada
(DNOCS 2013).
Conforme o projeto atualizado (os primeiros são da década de 40), o canal Coremas/São
Gonçalo, constituirá na reversão das águas que saem por Mãe D'água, para irrigar cerca de 5 mil
hectares de várzeas férteis na região polarizada por Sousa-PB, cuja obra previa a construção de 57
km de extensão de canais, orçada em cerca de 58 milhões de Reais do Governo Federal. A obra
constaria de um canal propriamente dito, várias pontes e alguns túneis.
O último político de peso a encarar seriamente a viabilidade do projeto foi, o falecido
governador Antônio Marques da Silva Mariz (1937-1995), porém seu vice, José Targino Maranhão,
encampou de imediato a iniciativa do político sousense. Conforme o projeto atualizado, ficou
definido um novo traçado para o canal não tendo mais, como destino, o açude de são Gonçalo e sim
um novo reservatório a ser construído entre os municípios de Sousa e Aparecida, com a finalidade
de prover água para o Projeto de Irrigação Várzeas de Sousa (PIVAS, 2013).
Diante deste panorama objetiva-se, com esse estudo, descrever os conflitos existentes e
oriundos da disputa pelo uso da agua no canal da redenção, região entre os municípios de Aparecida
e Sousa-PB.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A Gestão dos Recursos Hídricos

A gestão de recursos hídricos, segundo Rebouças (2012) é designada como um conjunto


de ações integradas que objetivam regular, controlar e proteger os recursos hídricos sob normas de
determinada legislação vigente, devendo ser implementada a partir de projetos e ações de promoção
e recuperação das águas, tal como sua preservação e manutenção das bacias hidrográficas
considerando-se a qualidade desses recursos.
Para Campos (2001) uma política de recursos hídricos deve proporcionar meios para que o
recurso ―água‖, embora seja necessário para o desenvolvimento econômico e seja distribuído de
forma racional e justa para toda a sociedade.
No intuito de regulamentar tal situação, o legislador constituinte, estabeleceu no texto
constitucional, precisamente em seu art. 21, a competência da União para instituir o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) tendo, por objetivos, coordenar a
gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso, preservação e a recuperação dos
recursos hídricos e promover a cobrança pelo uso da água.
Integram o SINGREH, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, os conselhos de
recursos hídricos dos Estados e do Distrito Federal, os comitês de bacias hidrográficas, as agências
de água, a ANA (Agência Nacional de Águas) e os órgãos dos poderes públicos Federal, Estaduais,
do Distrito Federal e Municipais, cujas competências se relacionem com a gestão de recursos
hídricos.
O Comitê de Bacia Hidrográfica é um tipo de organização inteiramente nova na realidade
institucional brasileira que conta com a participação dos usuários, das prefeituras, da sociedade civil
organizada, dos demais níveis de governo (estaduais e federais). O comitê de bacia é um ente de
Estado, colegiado, responsável pela gestão das águas, no âmbito de uma bacia hidrográfica, com
função política e administrativa.
É um fórum de negociação fundamental nos conflitos da água, constituído por
representantes do poder público, usuários e sociedade civil e tem caráter consultivo e deliberativo,
destinado a atuar como "parlamento das águas da bacia" pois o comitê é o fórum de decisão no
âmbito de cada bacia hidrográfica (MENDONÇA et al., 2006).
O Estado da Paraíba criou através da Lei Estadual nº 7.779 de 07 de julho de 2005, a AESA
(Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba) entidade da Administração Pública
Indireta, dotada de personalidade jurídica de direito público, sob a forma de autarquia, com
autonomia administrativa e financeira, sede e foro na Capital, jurisdição em todo o território do
Estado da Paraíba e prazo de duração indeterminada.
A ANA (Agência Nacional de Águas) autorizou, através da Resolução nº 347/2007, a AESA
a realizar a captação de água no reservatório Coremas Mãe d‘água, seu transporte através do canal
da redenção, com a finalidade de promover a irrigação do PIVAS.

2.2 Aspectos Legais que Norteiam os Recursos Hídricos

Com a sanção da Lei nº 9.433/1997, os Estados-Membros passaram a agilizar a instituição


de suas políticas de recursos hídricos tendo, como referência, a legislação federal. Alguns entes
federados, que já possuíam sua legislação, revogaram suas leis e sancionaram outras procurando
adequar-se à lei federal e consoante com o previsto na CF/88.
Neste diapasão tem-se, como instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: os
planos de recursos hídricos, enquadramento dos corpos de água, a outorga do direito de uso dos
recursos hídricos, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, Sistema de Informações sobre
Recursos Hídricos e a compensação a municípios.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Desta forma se destaca também, como substrato legal, a Resolução n. º 347/2007 da ANA,
que autoriza a captação de água no reservatório Curema Mãe D‘água via canal da redenção até
Sousa, com a finalidade de irrigação do PIVAS.
A Lei 6.308/1996 (Política Estadual de Recursos Hídricos) do Estado da Paraíba e a Lei nº
7.779/2005, que autoriza a criação da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba
(AESA 2013).

2.3 O Conflito

O termo conflito pode ser entendido das mais variadas formas; para Hoban (2001), o
conflito é, em geral, uma divergência natural, decorrente do convívio de pessoas ou de grupos que
diferem em atitudes, crenças, valores ou necessidades. O mesmo autor afirma que os conflitos
podem ocorrer por diferenças de personalidade ou rivalidades passadas.
Para a existência de um conflito e de acordo com Hoban (2001), torna-se conveniente a
presença dos seguintes fatores: necessidades, percepções, poder, valores, sentimentos e emoções.
Deixando de lado a acepção genérica do vocábulo conflito, foca-se a definição deste termo
no contexto da questão ambiental, na construção de sua obra Little (2004) define conflitos
socioambientais como sendo embates entre grupos sociais em função de seus distintos modos de
inter-relacionamento ecológico, isto é, com seus respectivos meios social e natural. Esta definição
remete à presença de múltiplos grupos sociais em interação entre si e em interação com seu meio
biofísico.
De acordo com Pinheiro (2003) os conflitos ambientais, que têm, como objeto de disputa, o
recurso natural água, são quase sempre decorrentes das deficiências hídricas entre demandas e
disponibilidades e se configuram em uma situação de não entrosamento das reivindicações e
demandas da sociedade ao aproveitamento e/ou controle dos recursos hídricos.
Percebe-se que, desta forma, para a existência de um conflito ambiental uma série de
condições preexistente devem ser observadas; nas palavras de Raffestin (1993) os conflitos passam
a existir quando um ou mais atores sociais estão em disputa por algo ou alguns interesses; na
maioria das vezes esta disputa ocorre a partir do momento em que o objeto disputado passou a ser
escasso, para suprimento da necessidade de todos.
O conflito pelo acesso à água do canal da redenção não é algo novo; desde as discussões
acerca da construção do canal, passando pela escolha do seu traçado culminando com a escolha do
modelo de transporte desta água se em tubulações fechadas ou a céu aberto em canais, a inércia do
governo paraibano na execução do projeto, combinado com a falta de planejamento estratégico,
sementou a discórdia e acirrou os ânimos dos atores sociais envolvidos no conflito.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Percebe-se que o modelo de transporte de água escolhido pelo gestor do projeto, canais a
céu aberto, contribuiu para motivar o uso da água pelos proprietários que possuem terras nas
margens do canal e argumentam que água passa dentro das suas terras e, paradoxalmente, numa
região semiárida, não se fazendo uso de tão precioso líquido.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

O presente estudo se caracterizou como uma pesquisa de campo iniciando, a princípio, com
uma investigação de caráter exploratório documental.
Tem, como método de abordagem, o modo dedutivo; onde por meio da pesquisa e dedução,
confirma-se a veracidade dos fatos, e o histórico, analisando o contexto histórico e a realidade a que
são submetidos os atores envolvidos no conflito em estudo.
Utilizaram-se procedimentos de abordagem direta e como objeto a pesquisa de campo com
uma investigação de caráter exploratório documental, seguindo as seguintes etapas: primeira etapa,
visita à área em conflito, região do canal da redenção alto sertão da Paraíba, precisamente nos
Municípios de Aparecida, Coremas, São José da Lagoa Tapada e Sousa; em seguida, procedeu-se à
coleta de dados na Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), Projeto
de irrigação Várzeas de Sousa (PIVAS), Ministério Público Federal e TCE, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), sites e referencial bibliográfico referentes ao tema.
Na segunda etapa foram selecionados os dados que eram relevantes para esta pesquisa e por
fim se analisaram os dados coletados com base na bibliografia selecionada, a saber: legislação
federal, estadual, consulta a documentação no Ministério Público Federal e acesso ao relatório do
TCE.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Gênese do Conflito Ambiental

Com 37 quilômetros de extensão o canal da Redenção, que conduz a água vinda dos açudes
Coremas-Mãe d‘Água, é a céu aberto em alguns trechos e por problema decorrente da falta de
manutenção do canal, somados a desvios irregulares e abusivos de água por parte de vários
proprietários de fazendas nas margens do mesmo, os fazendeiros colocam canos e desviam a água
para barragens e irrigações clandestinas; tal procedimento reduz o volume de água disponível no
sistema comprometendo seu funcionamento, tendo, como consequência a falta de água para os
usuários que estão na parte final do projeto.
Conforme dados da AESA (2013) o canal Governador Antônio Mariz (Canal da Redenção)
possui, na sua configuração, estruturas mistas, parte em concreto parte em tubulação de aço

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

reforçado; os canais possuem grande parte de seu traçado em forma geométrica trapezoidal,
alternando-se pequenos trechos de forma retangular.
A vazão máxima suportável pelo canal é de 4 m3/s; no entanto e devido a problemas de
economia de água e à má conservação na estrutura do canal, a vazão disponível atual é de 1,9 m 3 /s,
vazão esta calculada para suprir a 1ª etapa do PIVAS, levando-se em consideração as perdas por
evaporação e infiltrações.
Pelos dados disponibilizados pela AESA se constatou que em novembro de 2012, com a
abertura da comporta no açude Mae d‘água, a 35%, identifica-se uma vazão na saída do reservatório
de 1,9 m ³/s, e em medição realizada na chegada da água no projeto várzeas de Sousa, a vazão é tão
somente de 0,96 m ³/s, pelos cálculos realizados pelos técnicos da agência, conclui-se que
impressionantes 49,47% da água do canal estão sendo perdidas no trajeto.
Em investigação ―in loco‖ os fiscais do órgão, encontraram mais de 200 (duzentos) desvios
irregulares de água no canal, alguns feitos com simples mangueiras em forma de sifões, até desvios
mais sofisticados, implementados com estações de bombeamento, direcionando a água para tanques
de cultivo de piscicultura e irrigação de capim para a criação de animais.
O procedimento de praxe foi retirar as mangueiras e demais artefatos, das margens do canal
e notificar os autores e as autoridades competentes.
Numa ação inédita na Paraíba, o Tribunal de Contas da Paraíba iniciou a Auditoria
Operacional aprovada em recente sessão plenária e destinada a identificar os entraves a total
implantação do Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa (PIVAS), área de assentamento coordenada
pelo Governo do Estado em que já atuam três grandes empresas e 178 famílias de pequenos
agricultores.
Passados quase 15 anos desde sua concepção, a um custo para os cofres públicos superior a
R$ 1,5 bilhão, o PIVAS tem, hoje em dia, somente metade de seus 4.376 hectares ocupados com
resultados apenas equivalentes a 25% de sua capacidade produtiva (PIVAS, 2013).
Ficou evidenciado que o conflito pelo uso das águas do canal da redenção existe e é
complexo, sua magnitude é macro, os atores envolvidos tornam difícil o diálogo e o Estado da
Paraíba demonstra desinteresse pelo caso, visto que o conflito já perdura por mais de 10 anos, a
fiscalização é insuficiente ( 02 fiscais) o desperdício de água é visível, o canal se encontra em
péssimo estado de conservação, as estradas marginais no trecho São José da Lagoa Tapada a
Sousa-PB, são intransitáveis e há um descontrole na utilização do recurso hídrico.
Em recente auditoria do Tribunal de Contas do Estado foi constatada uma série de
problemas apontados como fatores de estrangulamento daquele projeto que custou quase 300
milhões de reais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Este relatório informa que todos os locais de desvio foram geo-referenciados e que aquele
tribunal disponibilizará os dados para quem quiser coibir a ilegalidade. Cópia do relatório de
auditoria do TCE será entregue aos Procuradores da República presentes na audiência.

4.2 Atores Envolvidos no Conflito

Durante o estudo constatou-se o envolvimento de diversos atores sociais, conforme referido


abaixo: Agência Nacional de Águas (ANA); Governo do Estado da Paraíba; Agência Executiva de
Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA); Proprietários de terras que margeiam o canal;
Trabalhadores do assentamento Acauã; Colonos do Projeto de irrigação Várzeas de Sousa (PIVAS);
Prefeitura Municipal de Sousa-PB; Prefeitura Municipal de Aparecida-PB; Ministério Público
Federal (MPF); Tribunal de Contas do Estado (TCE); Sociedade Civil, aqui representada pela
população diretamente envolvida.

4.3 Medidas Mitigadoras

O Estado da Paraíba exercendo seu papel de gestor, disponibilizou, seus órgãos de


gerenciamento, a realizar o papel de mediadores do conflito, implementando medidas que
possibilitassem o seu deslinde.
A AESA promoveu diversas reuniões com os atores envolvidos, nos Municípios de
Coremas, Aparecida e Sousa, no ano de 2012, buscando uma solução pacífica para a disputa.
O TCE (Tribuna de Contas do Estado) promoveu uma auditoria operacional, em todo o
projeto; realizando uma minuciosa fiscalização, consultou os atores envolvidos no conflito através
de audiências públicas.
O Ministério Público Federal homologou TAC (termo de ajustamento de condutas) e
promoveu audiências públicas e intensificou a fiscalização sobre os órgãos que fazem a gestão do
canal da redenção.
Também foram ouvidos André Gadelha Neto e Júlio César Queiroga de Araújo, prefeitos de
Sousa e Aparecida; as duas cidades situadas na área do perímetro irrigado e, portanto, diretamente
alcançadas por benefícios ou perdas, conforme se faça o êxito ou insucesso do projeto concebido
para a redenção social e econômica de larga faixa da população sertaneja.
Dessas audiências participou ainda o representante da Projetec, empresa recentemente
contratada pelo Governo do Estado para orientação e acompanhamento dos 178 irrigantes pelo
período de dois anos, prazo previsto para a autogestão do PIVAS.
A Secretaria de Estado de Recursos Hídricos do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, a
do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca e também a da Infraestrutura, além da Agência
Estadual das Águas (AESA), se fizeram representar por engenheiros e agrônomos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um estudo completo sobre os conflitos decorrentes do uso da água demanda conhecimentos


de ordem multidisciplinar, em virtude das interações de cunho social, ambiental, econômico e
cultural, o que dificultou uma abrangência maior do trabalho realizado.
Nas últimas décadas os conflitos em torno do tema água estão ocorrendo com mais
frequência, podendo ser observados sobre as mais diversas formas de dominação e disputa do
desenvolvimento do território, os conflitos são quase sempre decorrentes das deficiências hídricas
entre demandas e disponibilidades e se configuram em uma situação de não entrosamento das
reivindicações e demandas das sociedades ao aproveitamento e do seu controle.
A crise ambiental instalada na atualidade é um dos principais reflexos do modelo de
desenvolvimento adotado pela humanidade, a busca incessante pelo lucro, ocasionou problemas que
ameaçam a sustentabilidade do planeta e a própria vida humana, situações que têm exigido uma
mudança de postura por parte dos governantes e da sociedade na gestão do meio ambiente.
Por fim, após a análise dos dados coletados na área do conflito tem-se, como resultado, a
confirmação da existência do mesmo, constatando-se, pelas suas características intrínsecas que o
problema é complexo, sua magnitude pode ser definida como macro, pois ultrapassa os limites
geográficos de vários municípios.
Os atores sociais diretamente envolvidos tornam difícil o diálogo; o Estado da Paraíba
demonstra desinteresse pelo caso pois, conforme dados extraídos do relatório do TCE, o conflito já
perdura há mais de 10 anos e a fiscalização por parte da AESA é insuficiente (02 fiscais) para
fiscalizarem uma área de grandes proporções.
Destaca-se também o silêncio do Comitê da Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu que,
mesmo possuindo competência legal para mediar e propor soluções para os conflitos que estejam
inseridos na bacia hidrográfica sob sua gestão, se manteve inerte, abdicando de uma de suas
prerrogativas legais, qual seja, a de instância primária de negociação e proposta de resolução de
conflitos pelo uso dos recursos hídricos.
Um dado preocupante diz respeito ao desperdício de água, a estrutura do canal (calha) se
encontra em péssimo estado de conservação, percebe-se rachaduras, desmoronamentos dos taludes,
a lona de impermeabilização que isola o revestimento de concreto do canal do solo em alguns
trechos foi retirada, fato que acarreta perda de água por infiltração, as estradas marginais no
trecho São José da Lagoa Tapada a Sousa-PB, são intransitáveis tendo, como consequências, a
dificuldade na fiscalização; observa-se também um descontrole explícito na utilização dos recursos
hídricos na Região.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA

Espedito Maia LIMA


Doutor em Geografia pela UFS, Professor Adjunto – DG/UESB
espeditomaia@gmail.com
Quênia Batista de OLIVEIRA
Graduanda do Curso de Biologia da UESB
queniaoliveira18@gmail.com
Mauricio de Oliveira SILVA
Graduando do Curso de Biologia da UESB
m.osilva@hotmail.com
Ananda Santos OLIVEIRA
Graduanda do Curso de Biologia da UESB
ananda_soliveira@hotmail.com

RESUMO
Vitória da Conquista conta com três órgãos de defesa ao meio ambiente, no entanto convive com
fortes dilemas socioambientais no ambiente urbano e zona rural. O presente trabalho tem o
propósito de analisar as ações de educação e gestão ambiental adotados no município, à luz das
experiências da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da visão dos diferentes segmentos sociais
envolvidos. Para a execução foi utilizado um roteiro de entrevista com perguntas relacionadas á
educação, gestão e legislação ambiental, bem como a realização de leituras de fontes bibliográficas.
É possível perceber que a população participa ativamente das questões de gestão ambiental de
forma colaborativa em geral, no entanto, percebe-se que há relações conflituosas.
Palavras-chaves: Vitória da Conquista. Unidades de Conservação. Meio Ambiente.
ABSTRACT
Vitória da Conquista has three components of defense of the environment, however coexists with
strong environmental dilemmas in urban and rural areas. The present work has the purpose of
analyzing the actions of education and environmental management adopted in the municipality, in
the light of the experiences of the Municipal Secretariat of Environment and the vision of the
different social segments involved. For the implementation we used a structured interview with
questions related to education, management and environmental legislation, as well as the
completion of readings of bibliographical sources. It is possible to realize that the population
participates actively in the issues of environmental management in a collaborative way in general,
however, you will notice that there are conflicting relations.
Keywords: Vitória da Conquista. Conservation Units. Environment.

1 INTRODUÇÃO

O planejamento e a gestão ambiental se apresentam no contexto atual como importantes


elementos componentes da gestão territorial. É na célula municipal que essas ações devem ser

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pensadas e executadas, de forma a manter um ambiente saudável, tanto nos espaços rurais, como
nos espaços urbanos.
No Brasil começou a se discutir planejamento ambiental a partir da década de 80
(GONDIM, 2012). A legislação ambiental brasileira vem sendo construída a partir de então,
chegando ao cenário atual de uma importante base jurídica para o planejamento e a gestão
ambiental. ―Nos dias atuais, todas as ações e atividades que são consideradas como crimes
ambientais podem ser punidos com multas, seja para pessoas físicas ou jurídicas‖ (CALDAS,
2011).
Instituído pela Lei 6.938/81 e regulamentado pelo Decreto 99.274/90, o Sistema Nacional de
Meio Ambiente (SISNAMA) constitui um sistema articulado de órgãos e entidades das três esferas
federativas (União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, bem como fundações
instituídas pelo Poder Público), responsável pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, com
base no conceito de responsabilidades compartilhadas e controle social, sendo estruturado em:
órgão superior, órgão consultivo e deliberativo, órgão central, órgão executor, órgãos seccionais, e
órgãos locais (BRASIL, 2008). Portanto, cada Município tem órgão de defesa ao meio ambiente. O
município de Vitória da Conquista conta, por exemplo, com Conselho Municipal de Meio Ambiente
(COMMAM), Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA), Conselho de Defesa do Meio
Ambiente (CONDEMA) (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2016a).
Entretanto, a realidade levantada em campo mostra que o município de Vitória da Conquista
convive com fortes dilemas socioambientais, tanto no ambiente urbano como na zona rural. A zona
rural é marcada pelo intenso uso do solo com agricultura e pecuária, muitas vezes praticadas de
forma conflitante com a capacidade de uso das terras. As paisagens atuais demonstram que a
histórica recente foi marcada por expressivas ações de desflorestamento da Floresta Estacional
Decidual e das Caatingas para expansão da cafeicultura e das pastagens.
A área urbana experimenta os problemas resultantes de uma forte expansão da cidade sobre
os ambientes frágeis, a exemplo da vertente da Serra do Peripiri, calhas fluviais do Rio Verruga e
Riacho Santa Rita, como também das lagoas e baixadas.
Essa realidade socioambiental aponta para a necessidade de ações enérgicas no
disciplinamento do uso dos diferentes recortes espaciais, especialmente com a implementação de
instrumentos reguladores, seja na utilização dos solos de acordo com a sua capacidade de suporte,
preservação das APPs e criação de Reserva Legal em cada propriedade, em conformidade com o
Código Florestal, seja no cumprimento das ações previstas no Plano Diretor Urbano, com o real
disciplinamento do uso do espaço urbano.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

É com base nessas premissas que o presente trabalho tem o propósito de analisar as ações de
educação e gestão ambiental adotados no município de Vitória da Conquista, à luz das experiências
da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da visão dos diferentes segmentos sociais envolvidos.

2 METODOLOGIA

Para a execução deste trabalho foi utilizado um roteiro de entrevista com perguntas
relacionadas a educação, gestão e legislação ambiental em Vitória da Conquista, bem como a
realização de leituras de fontes bibliográficas que deram subsídio às discussões e bases teóricas das
questões ambientais.
Tomou-se como pressuposto básico as recomendações apresentadas à gestão pública
municipal por ocasião do treinamento dos gestores ambientais com vistas a implantação do
SISMUMA (Sistema Municipal de Meio Ambiente).
As primeiras etapas de trabalho consistiram em uma revisão bibliográfica conceitual sobre a
temática, leituras dos artigos, levantamento de dados e informações cadastrais, análise do Plano
Diretor Urbano, e levantamentos feitos junto a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria
Municipal de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista – BA.
A análise da gestão ambiental foi feita a partir das informações levantadas, dos cenários
levantados em campo e diálogos com a população diretamente afetada pelos riscos e conflitos
socioambientais, bem como entrevista com o Secretário Municipal do Meio Ambiente e Secretário
Municipal de Mobilidade Urbana.
A fase final do trabalho consistiu na análise e correlação dos dados e informações
levantados, buscando interpretá-los à luz dos princípios da análise socioambiental.

3 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ÁREA

Vitória da Conquista possui uma superfície de 3.204,5 km² e está localizado na Região
Sudoeste da Bahia (Figura 1). Está distante da capital do Estado, Salvador, cerca de 510 km pela
rodovia BR-116. Situa-se a uma altitude de 923 m e está localizada a 1450‘19‖ Latitude Sul e
4450‘19‖ Longitude Oeste de Gr.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1- Localização do município de Vitória da Conquista


Fonte: Elaborado pelos autores

O crescimento da população urbana de Vitória da Conquista atingiu níveis extremamente


elevados a partir de 1970, conforme demonstra a tabela 1. A população total do município
aumentou 144,4% entre 1970 e 2010, sendo que a população urbana cresceu, no mesmo período,
226,9%.
Dos 306.866 habitantes residentes, no município, no ano de 2010, 260.260 habitantes
residiam na cidade de Vitória da Conquista. Isso significa que quase 85% de toda a população do
município residem no meio urbano de Vitória da Conquista.

Tabela 1-VITÓRIA DA CONQUISTA:


População urbana e crescimento populacional no período de 1970 a 2010
População Taxa de
Crescimento
Anos Urbanização
populacional
Urbana Rural Total

1970 84.053 41.520 125.573 --- 69,94%

1980 127.512 43.107 170.619 35,87% 74,73%

1991 188.351 36.740 225.091 31,93% 83,68%

2000 225.545 36.949 262.494 16,62% 85,92%

2010 274.739 32.127 306.866 19,90% 89,53%


Fonte: IBGE - Censo Demográfico (Acesso em 11/01/2016)
(http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=761&z=t&o=4&i=P)

Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2007), Vitória


da Conquista apresenta climas semiárido, subúmido a seco e úmido. De um modo geral a cidade
tem um clima bem ameno, influenciado pela altitude local chegando a registrar temperaturas bem

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baixas nos meses frios de inverno entre os meses de maio a julho, chegando aos 5ºC durante as
madrugadas (BRITO; BLATT; SILVA; 2010). O município apresenta duas grandes ecorregiões,
correspondentes a diferentes tipologias vegetais, diferenciadas pela vegetação original e
remanescentes atuais. São elas a formação florestal decidual montana e a ―caatinga‖ (GONDIM,
2012).
Vitória da Conquista abriga três unidades de conservação, oficialmente instituídas, segundo
o Código Municipal do Meio Ambiente de 2007 (SILVA, 2013): o Parque Municipal da Serra do
Peripiri e a Unidade de Conservação do Poço Escuro, Parque Urbano da Lagoa das Bateias e Parque
Urbano da Lagoa da Jurema.
A Serra do Peripiri que é uma unidade de preservação integral criada com o intuito de conter
a ocupação desordenada, o desmatamento e a degradação ambiental, decorrentes, principalmente,
das atividades de mineração. É no topo da serra que se encontra um dos monumentos históricos
mais conhecidos da cidade (ALMEIDA, 2005). O Cristo Crucificado de Mário Cravo, que mostra a
feições de homem sertanejo, sofrido e esfomeado, construído entre os anos de 1980 e 1983,
medindo 15 metros de altura por 12 de largura (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2016a). A unidade de
conservação do Poço Escuro, área de proteção integral, mostra-se de essencial valor para a cidade
de Vitória da Conquista, pois é o último resquício de mata urbana presente na cidade, onde se
localiza vários pontos de nascentes do Rio Verruga, que corre por toda a unidade. A unidade é
considerada uma área de transição de ecossistemas, onde foi observada a presença de vegetação dos
ecossistemas: caatinga, mata de cipó, cerrado e mata atlântica (VITÓRIA DA CONQUISTA,
2016a).
A Unidade de Conservação Lagoa das Bateias exerce funções de manutenção dos
mananciais hídricos e tem importância como monumento paisagístico e área de lazer para a cidade
estimulando investimentos em saneamento, conservação, educação ambiental, lazer e turismo
(COSTA; FILHO; ALMEIDA, et al. 2014).
Segundo Soares, Teixeira e Lima (2015)

A implantação do Parque se iniciou no ano de 2005 e implicou na instalação de uma


estrutura de controle das bordas da lagoa, se constituindo de uma pista automobilística, uma
ciclovia e pista de corrida/caminhada, como também o estabelecimento de uma linha
delimitadora entre a área pública do Parque e as áreas residenciais. Os demais
equipamentos do Parque são compostos de sede administrativa, museu da fauna, parque
infantil, equipamentos de ginástica, campo de futebol de areia e um espaço para atividades
de lazer e educação ambiental.

O Parque está regulamentado pelo Artigo 23 do Código Municipal do Meio Ambiente, que o
define como uma unidade de conservação na qual só poderão ser desenvolvidas atividades de
pesquisas científicas e de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

natureza e de turismo ecológico, respeitados os demais critérios e restrições estabelecidas pela


legislação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
A Unidade de Conservação Lagoa da Jurema está expressa no Código Municipal de Meio
Ambiente do Município de Vitória da Conquista. A Lei nº 1.410/2007 reza sobre as áreas
protegidas (SILVA, 2013). O referido Parque é fruto de políticas públicas ambientais (SANTOS;
BENEDICTIS, 2013).

4 GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA

Vitória da Conquista é considerada, atualmente, a terceira maior cidade da Bahia. A partir da


década de 40, ela passou a expandir a sua malha urbana num processo crescente, que se
intensificou, especialmente nas últimas décadas, em decorrência da abertura de loteamentos e do
incremento populacional vivenciado pela zona urbana do município (FERRAZ, 2001). A cidade
atualmente conta com três órgãos municipais de fiscalização ambiental: COMMAM, SEMMA e
CONDEMA.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA) é responsável pelo desenvolvimento
da política do Meio Ambiente em Vitória da Conquista, a fim de garantir qualidade de vida à
população (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2016a). Suas as ações são voltados para práticas sociais e
econômicas que não prejudiquem a natureza. Seu trabalho é feito com a parceria de outros órgãos
dos governos Municipal, Estadual e Federal e da Sociedade Civil. Por meio dos levantamentos de
campo constatou-se que a Secretaria do Meio Ambiente planeja e realiza ações que visam à
promoção, conservação, preservação e recuperação da qualidade ambiental e cuida do controle da
poluição ambiental, realizando também campanhas educativas de incentivo a participação
comunitária no planejamento, na execução e na vigilância das atividades que tenham como objetivo
a proteção e a recuperação ambiental.
O Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMMAM) tem como objetivos: definir,
aprovar e acompanhar a execução da política ambiental do município; aprovar as normas, critérios,
parâmetros, padrões e indicadores de qualidade ambiental, bem como métodos para o uso
sustentável dos recursos naturais, desta forma propõe incentivar ações de educação ambiental,
visando à conscientização e mobilização da comunidade para a proteção, conservação e melhoria do
meio ambiente.
O COMMAM também acompanha e avalia a criação de unidades de conservação e áreas de
relevante interesse ecológico, paisagístico ou histórico; além de autorizar os licenciamentos
ambientais, analisar e emitir termo de referência, quando solicitado, para a elaboração do
EIA/RIMA, propõe ação civil pública para a responsabilização civil por danos causados ao meio
ambiente e a bens de valor artístico, histórico e paisagístico (VITÓRIA DA CONQUISTA, 201b).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O Conselho de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMA) desenvolve suas atividades com o


objetivo de definir a política municipal no que concerne à expansão e desenvolvimento do
município e a preservação e defesa do seu ambiente;

Coordenar, integrar e executar as atividades públicas contra a poluição ambiental; receber,


analisar e encaminhar reclamações, sugestões, denúncia ou propostas de entidades
representativas ou de qualquer município (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2016b).

A elaboração e o aperfeiçoamento de recursos legais destinados a: proteção contra a


poluição de cursos d'água; águas interiores; ar: sonoro, visual, gases e resíduos; defesa das matas,
fauna e flora; regulamentação de venda, compra, uso, destino, transporte, armazenagem, manuseio,
industrialização de substâncias tóxicas e seus subprodutos; uso de energia sob quaisquer de suas
formas; atividades extrativas vegetais e minerais; uso do solo; e programas de detecção, prevenção
e controle de doenças por poluição ambiental também são atividades promovidas e regulamentadas
pelo CONDEMA. Além dessas atribuições, o CODEMA tem a função de

informar, conscientizar e motivar os munícipes por todos os meios de divulgação, escrita,


falada, cursos e conferências e outras promoções com os mesmos objetivos; organizar
comissões de bairros, com denominações próprias, constituídas por elementos, que se
disponham a colaborar com as metas do conselho; e 1/3 consonância com a política
nacional do meio-ambiente, IBAMA, entidades correlatas e legislação em vigor (VITÓRIA
DA CONQUISTA, 2016b).

Desde a década de 1990, Vitória da Conquista conta com uma Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (SEMMA) que é responsável por conduzir a gestão municipal de meio ambiente, essa age
em completude com o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMMAM), que tem reuniões
mensais compostas por doze membros da sociedade governamental e doze da sociedade civil, e
busca contemplar todas as pessoas diretamente interessadas nas questões de gestão ambiental.
A SEMMA conta com setores de Licenciamento Ambiental e Fiscalização Ambiental, que
atuam em conjunto, com vistas a reduzir os impactos negativos da sociedade ao meio ambiente. As
multas e as taxas de licenciamento são direcionadas ao Fundo Conquistense de Apoio ao Meio
Ambiente, que é uma conta separada do tesouro municipal, que tem seus recursos pecuniários
direcionados aprovados pelo conselho. Esse fato é importante para a garantia que os valores
arrecadados com tributos e multas sejam realmente revertidos em prol das ações ambientais.
É possível perceber que em Vitória da Conquista a população participa ativamente das
questões de gestão ambiental do município como, por exemplo, a elaboração da Agenda 21, que é
um processo de planejamento participativo de um determinando território que envolve a
implantação de fórum de agenda 21. No ano 2004 foi elaborado o documento ―A conquista do
futuro: cenários para o desenvolvimento sustentável‖, e em 2007 foi publicada a segunda edição da
Agenda 21 ―A conquista do futuro: diretrizes de ação para o desenvolvimento sustentável‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A gestão ambiental de Vitória da Conquista funciona de forma colaborativa entre as


entidades públicas e privadas, articulados com a sociedade em geral. Sendo assim, há uma boa
convivência entre a prefeitura e os movimentos sociais organizadores. Além disso, a prefeitura
busca chamar atenção da sociedade em geral, para as questões e problemas ambientais do município
através da organização de eventos que estimulem a participação da população como a Semana do
Meio Ambiente e o Brincando na Lagoa, que são eventos que levam cultura, lazer, entretenimento e
conhecimentos sobres às questões ambientais aos conquistenses.
Um ponto importante a se destacar, é que existe uma lacuna aberta em muitos processos de
planejamento participativo, e principalmente na elaboração de um plano municipal de meio
ambiente, que está associado ao comprometimento de várias esferas, especialmente de uma
fiscalização efetiva de ações potencialmente impactantes no município.
Uma evidência dessa falta de fiscalização, ou até descaso do serviço público, é a ocupação
de uma porção da serra do Peripiri. A porção sul, ao redor da nascente do rio verruga, está sofrendo
com essa ocupação irregular, em que o governo não toma nenhuma atitude, como, por exemplo, de
realocar essas pessoas para outros bairros e tentar recuperar o prejuízo já causado por essa
ocupação. O próprio ambiente da serra carrega as marcas da exploração de areia e cascalho
destinados à construção civil.
Devido a constante atividade de mineração na Serra, da retirada da cobertura vegetal, o solo
não consegue absorver a água da chuva, fato que tem contribuído significativamente para o
aumento das enxurradas que descem a vertente da serra em direção à porção central da cidade.
Quanto a participação dos diferentes segmentos sociais na gestão ambiental municipal,
percebe-se que há relações conflituosas, convivendo com ações colaborativas.
A câmara, de modo geral, não tem tido efetividade em suas ações com as questões
ambientais, como também se percebe que parte significativa dos vereadores não parecem
preparados para discutir essas questões. Esses assuntos são trazidos para plenária, sobretudo, em
datas comemorativas, como o dia do meio ambiente. Quanto ao poder judiciário, verifica-se uma
efetiva ação do Ministério Público, atuando sobre crimes ambientais, regulação na exploração dos
recursos naturais da região, como também cobrando da Secretaria de Meio Ambiente os cuidados
com os processos de licenciamento ambiental e com os espaços dotados de maior fragilidade
ambiental.
O setor empresarial tem atuação muito limitada, especialmente por uma excessiva
preocupação apenas com interesses próprios, que juntamente com parte significativa da
comunidade, preocupa-se praticamente com a cobrança de ações do poder público sobre problemas
ambientais que a afetam diretamente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Por outro lado, percebe-se no público jovem e nos clubes de serviço (a exemplo das
Marçonarias e Lions Clube) uma maior predisposição para ações colaborativas, seja pela função
social desses clubes, seja pelas ações de educação ambiental junto a essa juventude.

5 CONCLUSÃO

A gestão ambiental deve estar pautada nos seus instrumentos básicos (legislação ambiental,
órgão executivo ambiental municipal, conselho municipal do meio ambiente e fundo municipal do
meio ambiente), como também com a participação e acompanhamento de diversos atores
responsáveis pela sanidade ambiental, como INEMA, IBAMA, Ministério Público, Instituições de
Ensino e segmentos organizados da sociedade civil, realizando um trabalho no sentido de garantir
os cuidados necessários com a qualidade ambiental e ao mesmo tempo com a qualidade de vida dos
moradores, pois o crescimento econômico, qualidade de vida e preservação ambiental devem
compor a pauta ambiental atual.
Portanto, esses requisitos devem ser pensados concomitantemente e nunca dever ser deixado
de ser considerados, pois se esse tripé em algum momento deixar de considerar algumas dessas
vertentes o processo para conservação ambiental ficará incompleto e desestruturado. Uma das
medidas a serem tomadas pelo município para melhorar a sua situação ambiental, é a avaliação
concreta das ações previstas em seu Plano Diretor, definindo diretrizes de ajustes e aperfeiçoamento
do mesmo.
Quanto as experiências positivas de gestão ambiental, pode-se destacar que o município de
Vitória da Conquista tem obtido avanços na preservação do meio ambiente em determinados
recortes espaciais, a exemplo das Unidades de Conservação e do Centro de Triagem de Animais
Silvestres (CETAS). Entretanto, essas unidades de conservação ainda não contam com os seus
planos de manejo, que são importantes instrumentos da gestão ambiental.
As ações de educação ambiental são mais eficientes no Parque da Lagoa das Bateias e no
Módulo de Educação Ambiental, que compõe a estrutura ambiental da Praça da Juventude, anexa à
Reserva do poço Escuro. A prefeitura também desenvolve eventos de conscientização como a
Semana do Meio Ambiente, Semana da Água e Brincando na Lagoa. A partir dessas intervenções, a
população entende os problemas ambientais e começa a colaborar com o incremento das ações
ambientais necessárias ao desenvolvimento sustentável da cidade.

REFERÊNCIAS

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o Parque Municipal da Serra do Periperi, Vitória da Conquista – BA. Monografia. Feira de
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1260


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO


SUPERIOR SOB A PERSPECTIVA DA AGENDA AMBIENTAL NA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (A3P)

Jailson de Arruda ALMEIDA


Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da UPE
jailsonaalmeida@hotmail.com
Fábio José de Araújo PEDROSA
Professor Doutor em Geologia Ambiental da UPE
fabio.eco@terra.com.br
Sandro VALENÇA
Professor Doutor em Engenharia Civil da UFPE
sandro_valenca@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste artigo é descrever as principais ações de responsabilidade socioambiental (RSA)
realizadas por uma Instituição de Educação Superior (IES), com base na percepção dos seus
administradores e nos eixos temáticos da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P).
Trata-se de um estudo de campo exploratório-descritivo, de natureza qualitativa. Quanto ao
instrumento de pesquisa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os administradores
ocupantes de cargos de direção no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Pernambuco (IFPE) – Campus Belo Jardim. Sobre o método de descrição dos dados e informações,
utilizou-se a análise de conteúdo, preconizada por Laurence Bardin. Os resultados mostraram que a
atuação da Organização se dá de forma incipiente, no tocante aos eixos temáticos da A3P.
Entretanto, a Instituição se encontra numa fase de apropriação e de internalização da temática
socioambiental em suas práticas acadêmicas e administrativas.
Palavras Chave: Responsabilidade Socioambiental, Instituição de Ensino e Administração Pública.

ABSTRACT
The aim of this article is to describe the main social-environmental responsibility (SER) actions
performed by an Higher Educational Institution (HEI), based on the perception of their managers
and the thematic axes of the Environmental Agenda in Public Administration (A3P). This is an
exploratory-descriptive field study of a qualitative nature. As for the research instrument, semi-
structured interviews were conducted with managers occupying management positions at Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Belo Jardim. About
the data description method, was used content analysis, preached by Laurence Bardin. The results
showed that the Organization's performance is incipient, regarding the thematic axes of A3P.
However, the Institution is in a phase of appropriation and internalization of the socio-
environmental theme in its academic and administrative practices.
Keywords: Social-environmental Responsibility, Teaching Institution and Public Administration.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A ideia desenvolvimentista difundida na sociedade industrial, entre os anos 60 e 70 do


século XX, estava associada ao progresso e crescimento ilimitados, culminando com uma grave
crise econômica, social e ambiental, que passou a afetar os mais variados aspectos da vida humana
(SCOTTO; CARVALHO; GUIMARÃES, 2011; SACHS, 2007).
Neste contexto, a temática socioambiental passou a ser pauta de importantes eventos.
Ademais, em face dos inúmeros problemas de ordem econômica, social e ambiental, houve uma
maior conscientização por parte das comunidades, convergindo com um movimento global de
responsabilidade tanto de indivíduos quanto de organizações (DIAS, 2011; BARBIERI, 2008).
No contexto da esfera pública, Matias-Pereira (2012) e Acselrad (2009) afirmam que um dos
atuais desafios de governos e administradores constitui a promoção do desenvolvimento que seja
economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Para tanto, faz-se
necessário a implantação de modelos de administração sustentáveis, não obstante os diversos
obstáculos à disseminação de uma cultura de sustentabilidade nos órgãos públicos.
A percepção de que o Estado é um consumidor expressivo de bens e serviços tem fomentado
o debate acerca da inserção de critérios sustentáveis no âmbito público. Associado a isto, sabe-se
que é papel dos administradores públicos liderar o processo de transformação dos padrões de
consumo vigentes (ALENCASTRO; SILVA; LOPES, 2014).
Assim, visando à implantação de uma cultura voltada à sustentabilidade nos órgãos
integrantes da Administração Pública, incluindo as instituições de ensino, o Governo Federal
concebeu, em 1999, o programa Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P). Trata-se de
uma iniciativa que estimula a gestão socioambiental, uma vez que possibilita uma mudança de
cultura e hábitos por parte de servidores e administradores públicos (FERREIRA, 2012).
A A3P, cuja adesão pelas instituições públicas embora seja natureza voluntária, é
recomendada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), encontra-se estruturada em cinco eixos
temáticos, a saber: (i) uso racional dos recursos naturais e bens públicos; (ii) gestão adequada dos
resíduos gerados; (iii) qualidade de vida no ambiente de trabalho; (iv) sensibilização e capacitação;
e (v) licitações sustentáveis (BRASIL/MMA, 2009)
Na perspectiva das Instituições de Educação Superior (IES), por constituírem agentes sociais
no processo de desenvolvimento local e sustentável, é de fundamental importância a promoção de
debates e iniciativas em prol de uma gestão socioambiental, fundamentada na ideia de que
sociedade, meio ambiente e economia são integrados e se reforçam mutuamente (LOHN, 2011).
Sob este prisma, alguns estudos já foram realizados buscando abordar a questão
socioambiental e o programa A3P no âmbito dos órgãos públicos e das IES, como se observa, por
exemplo, nas pesquisas desenvolvidas por Freitas, Borget e Pfitscher (2011); Rêgo, Pimenta e
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Saraiva (2011); Luiz et al. (2013); Santana e Moura (2014); Kruger et al. (2011); Souza, Uhlamnn e
Pfitscher (2015); e, Viegas et al. (2015).
Entretanto, embora seja uma agenda sólida e coerente, observa-se, que a A3P está presente
nos discursos e nas intenções de muitos administradores públicos e políticas institucionais, mas nem
sempre resultam em práticas efetivas de sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental
(RSA) no contexto organizacional (CARRIERI; SILVA; PIMENTEL, 2009).
Face ao exposto e, considerando que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Pernambuco (IFPE) – Campus Belo Jardim tem o papel de promover a formação de pessoal e a
disseminação de conhecimentos que proporcionem a minimização e/ou solução dos diversos
problemas econômicos, sociais e naturais, o objetivo deste artigo é descrever as principais ações de
RSA realizadas por uma Instituição de Educação Superior (IES), com base na percepção dos seus
administradores e nos eixos temáticos da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P).

METODOLOGIA

A pesquisa foi classificada como um estudo de campo exploratório-descritivo combinado,


de natureza predominantemente qualitativa, o qual apresentou, a partir de uma pesquisa
exploratória, informações detalhadas e uma descrição completa do objeto estudado, abordado em
seu próprio contexto. O estudo descritivo, por sua vez, envolveu a contextualização do IFPE –
Campus Belo Jardim, sobretudo em relação à percepção dos administradores sobre as principais
ações de RSA realizadas.
Quanto ao instrumento de pesquisa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os
administradores ocupantes de cargos de direção CD-2 — responsável pela Direção Geral (DG) — e
CD-3 — responsáveis pelo Departamento de Desenvolvimento Educacional (DDE) e pelo
Departamento de Administração e Planejamento (DAP). A escolha dos sujeitos se deu em virtude
da natureza dos cargos que ocupam na Instituição e do nível de informação e envolvimento que
possuem acerca de determinadas questões estratégicas e administrativas do Campus.
Em particular, os sujeitos foram indagados entre os dias 6 e 10 de novembro de 2015, sobre
as ações realizadas pelo IFPE – Campus Belo Jardim no tocante à RSA. O projeto de pesquisa foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (CEP/UPE), por meio
da Plataforma Brasil, sob o n. 48447515.3.0000.5207 e aprovado, conforme Parecer
Consubstanciado de n. 1.307.139, de 3 de novembro de 2015.
Sobre o método de descrição dos dados e informações, utilizou-se a análise de conteúdo.
Foram adotados procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos, agrupados em
três fases: pré-análise — ―leitura flutuante‖ e escolha dos documentos —, exploração do material
— análise categorial temática, onde foram selecionadas as unidades de codificação — e tratamento

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

dos resultados obtidos e interpretação — realização de inferências, a partir de recortes das falas dos
administradores —, conforme prescrito por Bardin (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da categoria denominada ―principais ações realizadas pelo IFPE – Campus Belo Jardim‖,
emergiram seis subcategorias: (1) uso racional dos recursos naturais e bens públicos; (2) gestão
adequada dos resíduos sólidos; (3) qualidade de vida no trabalho; (4) conscientização e
sensibilização socioambiental; (5) capacitação dos servidores; e (6) licitações sustentáveis.
Na subcategoria 1, apareceram como unidades de significado o consumo de: (a) energia, (b)
água; (c) copos plásticos; e (d) papel. A respeito da energia elétrica, infere-se que, embora sejam
adotadas pequenas ações no sentido de conscientizar a comunidade, não há algo institucionalizado.
Ademais, as instalações do Campus são antigas e necessitam de reparação e manutenção.
Em relação ao consumo de água, o administrador A destacou que uma importante medida
implantada no Campus foi a reativação da estação de tratamento de água. O administrador B, por
sua vez, ressaltou a existência de vazamentos em algumas tubulações, o que indica desperdício de
água. Já o administrador C sinalizou que não há iniciativas em prol do seu uso eficiente.
No que se refere ao consumo de copos plásticos, os administradores afirmaram que a
Instituição disponibiliza aos alunos e funcionários garrafas do tipo squeeze, para desestimular o uso
de descartáveis. Também, disseram que já foram realizadas campanhas do tipo ―adote um copo‖,
com a mesma finalidade. Logo, nota-se que o Campus realiza ações na perspectiva de diminuir o
uso de copos plásticos que agridem o meio ambiente.
Por fim, em se tratando do consumo de papel, os administradores B e C foram enfáticos ao
afirmar que no Campus há um consumo excessivo do item e, ao mesmo tempo, um elevado nível de
desperdício, em virtude da falta de iniciativas e campanhas voltadas ao uso racional e de não haver
estímulo ao reaproveitamento, conforme aparece nos recortes das falas a seguir:

No tocante ao papel, isso é uma problemática grave do Campus, porque de fato não tem
nenhuma campanha voltada para o uso melhor, mais eficiente do papel, e é onde a gente vê
um consumo muito grande. Anualmente, são feitas aquisições de resmas e, de fato, o
consumo é muito grande, o desperdício é muito grande, o reaproveitamento deles é quase
que inexistente. Um ou outro setor, de forma isolada, faz um reaproveitamento em
rascunho, mas o consumo é grande, às vezes as impressoras se danificam e engolem o
papel, esmagam o papel e tudo isso contribui para o aumento do desperdício
(Administrador B, entrevista em 09/11/2015. Grifo do autor).

Nós hoje não temos impressoras nos setores-chaves que imprimam automaticamente frente
e verso. Uma simples troca de equipamento já começa a refletir. Então, nós não temos, de
fato, nenhuma ação voltada para essa consciência no que tange ao uso do papel e, com
certeza, nós temos desperdício sim (Administrador C, entrevista em 10/11/2015. Grifo do
autor).

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De modo geral, percebeu-se que as ações do Campus voltadas ao uso racional dos recursos
naturais e bens públicos são ínfimas e pontuais, considerando as recomendações existentes para o
eixo da A3P que trata da temática (BRASIL/MMA, 2009).
As falas dos administradores evidenciam que a realidade do Campus é semelhante ao que foi
percebido por Luiz et al. (2013), numa IES do estado de Santa Catarina — onde foi constatado que
a instituição não desenvolve ações para reduzir o consumo de papel, energia e água, porém, orienta
e conscientiza os servidores a aderirem a iniciativas sustentáveis, como a utilização de canecas de
vidro em substituição aos copos descartáveis.
Na subcategoria 2, por sua vez, foram apresentadas as seguintes unidades de significado: (a)
implementação da coleta seletiva; (b) adequação ao Decreto Presidencial nº 5.940, de 25 de outubro
de 2006; e (c) destinação dos resíduos gerados.
Em relação à coleta seletiva, o administrador A afirmou que existe o interesse, por parte da
Comissão de Gestão Ambiental, na implementação. Infere-se, portanto, que ainda não há um
sistema de coleta seletiva em funcionamento no Campus:

Recentemente, fui informado que a Comissão [de Gestão Ambiental] está querendo fazer,
realmente. Só que isso é um trabalho que não se faz do dia para a noite. O primeiro ponto é
ver o que eles precisam para termos essa coleta seletiva (Administrador A, entrevista em
06/11/2015. Grifo do autor).

O administrador B, por sua vez, mencionou que existem cestos para a coleta seletiva dos
resíduos, porém, a separação não é realizada adequadamente, tanto pela comunidade quanto pela
prefeitura do município, que recolhe os resíduos. Logo, percebe-se a necessidade de mais ações de
educação ambiental para a comunidade acadêmica:
Constatou-se, através do discurso dos administradores B e C, que no Campus não existem
parcerias para doação de materiais recicláveis para cooperativas de catadores de lixo, o que denota a
necessidade premente de adequação ao Decreto Presidencial n. 5.940/2006 (BRASIL, 2006). No
entanto, o administrador B declarou que existe o interesse por parte administração:

Não! Não há uma ação específica para isso, apesar de existir esse Decreto Presidencial...
Repito, não há uma ação formal, um projeto... Há intenções, como recentemente a gente
discutiu com o Setor de Patrimônio, com Diretoria de Ensino a questão de fazer essa
parceria com associações de catadores de lixo, para aproveitar melhor os materiais
inservíveis da gente ou antieconômicos, mas, hoje não há uma ação (Administrador B,
entrevista em 09/11/2015. Grifo do autor).

No que se refere à destinação dos resíduos gerados, algumas ações são realizadas, conforme
destacou o administrador B: (1) as sobras de alimentos são destinadas à alimentação de animais, na
suinocultura; (2) as folhas e aparas de gramas são descartadas em área própria da Instituição; (3) os
entulhos são destinados tanto ao aterro sanitário quanto à área interna do Campus; e (4) os demais
resíduos são enviados ao aterro sanitário.

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Com relação à destinação de resíduos perigosos, em especial lâmpadas fluorescentes, o


administrador A disse que o eletricista recebe orientação para o armazenamento separado:

A gente está orientando, principalmente, o rapaz da elétrica, que ele coloque elas [as
lâmpadas fluorescentes] em um local que só ele possa ter acesso, um local fechado para que
não possa jogar isso, enquanto realmente não se realiza uma coleta tecnicamente mais
favorável (Administrador A, entrevista em 06/11/2015. Grifo do autor).

Por fim, em relação à destinação dos resíduos de saúde, o administrador B informou que ela
é feita adequadamente, através de uma parceria com o hospital municipal, uma vez que a
quantidade de resíduos gerada nas aulas práticas do curso técnico em enfermagem é pequena. Esta
medida é sugerida pelo MMA, ao tratar do programa A3P (BRASIL/MMA, 2009).
Corroborando o pensamento da comunidade acadêmica acerca da gestão dos resíduos
gerados, os discursos proferidos pelos administradores deram conta da inexistência de um sistema
efetivo de coleta seletiva e de parcerias com cooperativas para doação de materiais recicláveis,
assim como da destinação inadequada de alguns tipos de resíduos perigosos.
Levando em consideração os pressupostos do eixo temático 2 da A3P, a situação do Campus
é bastante preocupante. Chega a ser mais crítica do que a da UFRA que, apesar das ações de gestão
dos resíduos necessitarem de novas orientações, os resíduos perigosos da IES são monitorados e
têm destinação que obedece à legislação em vigor (VIEGAS et al., 2015).
Na subcategoria 3, as unidades de significado destacadas foram: (a) uso e desenvolvimento
de capacidades; (b) integração social e interna; (c) respeito à legislação; e (d) condições de
segurança e saúde no trabalho.
Acerca da temática uso e desenvolvimento de capacidades, o administrador B destacou que
há algumas ações de impacto positivo realizadas no IFPE – Campus Belo Jardim, como o incentivo
à participação de servidores em programas stricto sensu de mestrado e a concessão de auxílios
financeiros para estudantes participarem de eventos, visitas técnicas, etc.
O incentivo e a promoção de cursos de mestrado para servidores constituem um dos
programas do PIC do IFPE e tem sua importância atribuída ao desenvolvimento de pessoal, à
capacitação e ao crescimento contínuo dos servidores. Ademais, em um nível macro, ações desta
natureza fazem parte da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal da administração pública
federal direta, autárquica e fundacional.
Sobre a integração social e interna, os administradores A e B ressaltaram que na Instituição
existe um espaço de convivência, propício para a realização de ações de integração. Também, o
administrador B afirmou que existe a ação ―aniversariantes do mês‖, onde servidores e funcionários
se reúnem para comemorar e homenagear aqueles que fazem aniversário. Entretanto, quando se
trata da integração de novos servidores ao Campus, as iniciativas desenvolvidas deixam a desejar:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No tocante aos servidores, a gente tem uma ação que no momento está suspensa, mas é o
projeto ―aniversariantes do mês‖, isso também é uma iniciativa que integra os servidores.
Nós temos ações tímidas ainda com relação à integração dos servidores que estão
chegando, são ações que precisam ser evoluídas [...] (Administrador B, entrevista em
09/11/2015. Grifo do autor).

Tanto o espaço de convivência quanto o projeto ―aniversariantes do mês‖ são importantes


iniciativas que favorecem a qualidade de vida no trabalho. No entanto, internamente, ainda é
preciso melhorar as ações de acolhimento e apresentação dos servidores. Na IES estudada por Luiz
et al. (2013) — um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do estado de Santa
Catarina — também foi identificada demanda semelhante.
Com relação ao respeito à legislação, em especial à liberdade de expressão, os
administradores A e B ressaltaram que a administração do Campus se dá de forma compartilhada e
participativa, procurando ouvir os anseios da comunidade acadêmica, através da realização de
consultas formais, de diálogo direto com a Direção Geral, da atuação do grêmio estudantil e do
serviço de atendimento ao cidadão, por meio da ouvidoria.
Quanto às condições de segurança e saúde no trabalho, o administrado B destacou que no
Campus há equipamentos e móveis adequados aos servidores, assim como se procura manter os
ambientes de trabalho e salas de aula climatizados.
Sobre a realização de ginástica no trabalho, oficinas de talento e outras atividades, os três
administradores afirmaram que não há ações implementadas. Entretanto, o administrador B disse
que no IFPE existe uma Portaria que possibilita ao servidor se ausentar do trabalho por duas horas
semanais para realizar atividades físicas na Instituição. Já o administrador C enfatizou a necessidade
de profissionais para atuar e implantar práticas de ginástica laboral.
Ainda sobre condições que geram qualidade de vida no trabalho, uma questão preocupante
diz respeito ao acesso para portadores de necessidades especiais, que é um problema antigo do
Campus. De acordo com os administradores A e B, existe um projeto para realização de obras de
acessibilidade, em atendimento às exigências da Justiça Federal. No entanto, por questões
orçamentárias e financeiras, ainda não foi iniciado.
Eis o discurso do administrador B:

Foram elaborados projetos de acessibilidade, mas, infelizmente, não conseguiram ser


executados ano passado, em virtude do prazo pequeno para realização da licitação e
emissão de empenho. A expectativa para esse ano é executar, mas por conta dessa crise de
recursos que atinge o governo federal, não foram encaminhados os recursos necessários...
Porém, a Instituição está preparada para executar três grandes obras de intervenções de
acessibilidade, em três etapas, o mais rápido possível, já a partir de 2016 (Administrador B,
entrevista em 09/11/2015. Grifo do autor).

As percepções dos administradores deram conta de que o acesso aos prédios e instalações
não são apropriados para portadores de necessidades especiais. De fato, nem todos os locais do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Campus atendem às exigências de acessibilidade, realidade parecida com a da Agência Estadual de


Meio Ambiente CPRH, conforme preconizado por Santana e Moura (2014).
Na subcategoria 4 — conscientização e sensibilização socioambiental —, emergiram as
seguintes unidades de significado: (a) ações realizadas pela Comissão de Gestão Ambiental; e (b)
divulgação de informativos em meios eletrônicos.
Em suas falas, os administradores demonstraram que as campanhas de conscientização e
sensibilização no âmbito do IFPE – Campus Belo Jardim são reduzidas e, as que existem não
acontecem de forma continuada, tampouco possuem um nível de abrangência satisfatório, dada a
grande quantidade de indivíduos que integram a comunidade acadêmica.
Logo, é preciso que as ações sejam permanentes, tendo em vista a sua importância para o
alcance do desenvolvimento sustentável, à medida que propicia uma mudança dos padrões de
consumo, produção e valores, desperta maior responsabilidade ecológica, o exercício da cidadania e
maior valorização do meio ambiente (SOUZA; CARVALHO, 2015).
De acordo com os administradores A e B, as iniciativas existentes são promovidas pela
Comissão de Gestão Ambiental do Campus. Entretanto, faz-se necessário que sejam estendidas e
envolvam a comunidade acadêmica como um todo. Além disto, a promoção de ações de educação
ambiental não deve estar vinculada à Comissão, apenas.
Na percepção do administrador C, as campanhas de conscientização e sensibilização
socioambiental acontecem a partir da divulgação de informativos via e-mail, onde são veiculadas
importantes temáticas, mas, apenas em datas específicas, configurando o caráter isolado das ações.
De modo geral, percebeu-se, através das falas dos administradores a carência de ações
contínuas e abrangentes de educação ambiental, em que a comunidade acadêmica possa tomar
consciência do seu meio ambiente e adquirir conhecimentos, valores, habilidades e experiência que
os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais, conforme destaca Dias (2004).
Na subcategoria 5, surgiu como unidade de significado o plano de capacitação. De acordo
com os administradores, o IFPE – Campus Belo Jardim dispõe de um instrumento de planejamento
que congrega ações anuais voltadas para o treinamento dos servidores.
De acordo com o administrador A, uma parcela significativa de docentes e TAE
participaram, em 2014, de eventos de capacitação, nacionais e internacionais, abrangendo,
inclusive, o incentivo à qualificação, através de cursos de mestrado. Nesta perspectiva, o
administrador C destacou que, em 2015, todas as solicitações de capacitação do DDE foram
atendidas, sendo ofertados também cursos in loco.
Em síntese, existe um plano anual e a maior parte dos eventos pleiteados pelos servidores é
viabilizada. Logo, percebe-se que a Instituição desenvolve iniciativas voltadas a este item, que
compõe o eixo temático 4 da A3P (BRASIL/MMA, 2009).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na subcategoria 6, ―licitações sustentáveis‖, apareceram como unidades de significado: (a)


modalidade de licitação mais utilizada; (b) aquisição de bens, materiais e contratação de serviços; e
(c) obras públicas.
De acordo com o administrador B, a modalidade de licitação mais usada no IFPE – Campus
Belo Jardim é o pregão eletrônico, mediante Sistema de Registro de Preços (SRP), procedimento
que possibilita a redução dos processos licitatórios, a formação de ―estoques virtuais‖, a aquisição
conforme a necessidade do órgão, o atendimento às demandas imprevisíveis e a maior participação
de microempresas e empresas de pequeno porte (SEBRAE, 2014).
No que se refere à aquisição de bens e à contratação de serviços, constatou-se, nas falas dos
administradores B e C, que a Instituição, sempre que possível, tem inserido itens sustentáveis e,
quando não, apresenta a devida justificativa formal acerca da não inclusão. O administrador B
destacou que as ações, às vezes, acontecem de forma ―inconsciente‖, indicando a necessidade de
maior sensibilização dos administradores, como verificado por Luiz et al. (2013), num Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do estado de Santa Catarina.
Em se tratando especificamente dos objetos licitados e que, de alguma forma, levaram em
consideração critérios de sustentabilidade, os administradores apontaram a aquisição de impressoras
e locação de máquina reprográfica com recurso de impressão em frente e verso; aquisição de papel
reciclado e exigência de certificações e atestados próprios na compra de carteiras escolares.
Infere-se que no IFPE – Campus Belo Jardim algumas medidas são adotadas, no sentido de
exigir critérios de sustentabilidade ambiental em seus processos licitatórios, como bens constituídos
por material reciclado e a certificação de produtos sustentáveis. Porém, não foram mencionadas
regras adotadas para a contratação de serviços (BRASIL/MPOG, 2010).
Em relação às obras públicas, nos últimos anos o Campus não realizou processos licitatórios,
não sendo aplicados critérios de sustentabilidade. Contudo, segundo os administradores A e B,
existem obras previstas e que os editais das licitações contemplarão estes critérios, principalmente,
em virtude das exigências por parte dos órgãos de controle.
Diante do que foi apresentado, depreende-se que o Campus atende parcialmente às
recomendações para a adoção de licitações sustentáveis, diante das potencialidades existentes.
Situação semelhante foi percebida no estudo realizado por Viegas et al. (2015), na UFRA,
evidenciando o desafio dos administradores públicos em adequarem-se às normas e princípios que
norteiam as práticas sustentáveis no âmbito da administração pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em se tratando do contexto organizacional do IFPE – Campus Belo Jardim, as ações de


RSA adotadas se refletiram, predominantemente, na atuação da Comissão de Gestão Ambiental e na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

realização de iniciativas pontuais, aparentando não fazerem parte de uma agenda socioambiental
formalizada ou de políticas e programas institucionais — o que seria de se esperar das entidades
integrantes da Administração Pública.
A atuação do Órgão, no que se refere à RSA, ainda se dá de maneira incipiente. Há muito o
que ser feito para que Campus se torne referência na adoção de critérios sustentáveis em suas
atividades rotineiras. O estudo mostrou que, implicitamente, a RSA integra os recursos discursivos
dos administradores do Campus, o que é um aspecto positivo e importante. No entanto, ainda não se
transformou, efetivamente, em um elemento norteador das práticas organizacionais.
Os relatos sobre as ações realizadas apontaram, ao mesmo tempo, vulnerabilidades e
potencialidades institucionais em relação aos eixos temáticos da A3P, referencial de análise adotado
no estudo. Embora tenham sido identificadas práticas isoladas e embrionárias no tocante ao uso
racional dos recursos naturais, à gestão dos resíduos, à qualidade de vida no trabalho, à
conscientização e à sensibilização socioambiental, à capacitação dos servidores e às licitações
sustentáveis, a Instituição se encontra numa fase de apropriação e de internalização da temática
socioambiental em suas práticas acadêmicas e administrativas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PELO JORNALISMO EM PARCERIA


COM A GEOGRAFIA NA PRESERVAÇÃO DE BACIA HIDROGRÁFICA ONDE SE
LOCALIZA UMA FAVELA

Alexander Josef Tobias da COSTA


Professor Dr. do curso de Geografia da UERJ
ajcostageo@gmail.com
João Pedro Dias VIEIRA
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UERJ
jpdiasvieira@gmail.com

RESUMO
A ocupação de bacias hidrográficas por favelas que, através de suas ações antrópicas, provocam
danos ambientais, nos leva a propor a utilização de meios jornalísticos como uma alternativa de
educação ambiental, sob o enfoque da geografia. Para isto, apresentamos um resumo da história do
jornalismo onde o caracterizamos como uma forma de reflexão acerca do assunto, levando em conta
que notícia difere de informação, pois a notícia leva o receptor à reflexão. O método de produção
dos meios será o de Paulo Freire, pois será levada em conta a cultura da população da comunidade
que contribuem para intervenções político-pedagógicas da educação ambiental.
Palavras-chaves: Geografia, Jornalismo, Bacia Hidrográfica, Favela, Educação Ambiental.
RESUMEN
La ocupación de cuencas hidrográficas por favelas que, através de sus acciones antrópicas,
provocan daños ambientales, nos lleva a proponer la utilización de medios periodísticos como una
alternativa de educación ambiental, bajo el enfoque de la geografía. Para ello, presentamos un
resumen de la historia del periodismo donde lo caracterizamos como una forma de reflexión acerca
del asunto, teniendo en cuenta que la noticia difiere de información, pues la noticia lleva al receptor
a la reflexión. El método de producción de los medios será el de Paulo Freire, pues se tendrá en
cuenta la cultura de la población de la comunidad que contribuyen a intervenciones político-
pedagógicas de la educación ambiental.
Palabras claves: Geografía, Periodismo, Cuenca Hidrográfica, Favela, Educación Ambiental.

INTRODUÇÃO

Ninguém, ou pelo menos ninguém cujo cérebro funcione bem, duvida que a chuva molhe;
mas podem existir pessoas que questionem a proposição de que obrigatoriamente devemos
abrigar-nos dela, e que achem que enfrentar os elementos é uma forma de fortalecer nosso
caráter – algo assim como se andar na chuva sem chapéu fosse sinônimo de santidade.‖
(Geertz, p. 79)

A ocupação de morros onde se construíram habitações à revelia do Estado, mas de certa


forma tolerada por ele, nos levou a propor uma forma de aprimorar a formação de moradores/as de
favelas quanto aos prejuízos e riscos ambientais provocados pela ocupação desses territórios,
escolhidos por serem os locais onde nascem os rios, a que chamaremos de berço das Bacias

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Hidrográficas – conceito criado na década de 1960, quando este espaço passa a ser reconhecido
como unidade espacial na Geografia Física (Vitte e Guerra, p. 153).
Entendemos que estes atores sociais são discriminados pelo território que ocupam,
classificado inicialmente como favela e denominados, atualmente pelo IBGE, como aglomerados
subnormais. Ressaltamos que apenas em 1953 o IBGE publica um artigo relacionado à favela
(IBGE, 1953). Isto é, apenas no início dos anos 50 do século XX o Estado se manifesta oficialmente
acerca desta ocupação nos morros.
Apesar dos muitos preconceitos existentes acerca dos moradores de favelas serem marginais
ou não trabalhassem, também em documentos oficiais foram publicados opiniões de servidores do
Estado que diziam que ―os ‗pretos e pardos‘ prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente
atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas (Zaluar e Alvito,
p. 13)‖. Entretanto, quando foi publicado o artigo do IBGE, o estigma de marginalização dos
moradores foi quebrado, mas o preconceito permanecia:

―As características econômicas dos habitantes presentes nas 58 favelas observadas através
do Censo Demográfico de 1950 demonstram que ali se encontra uma população ativa,
predominantemente trabalhadora, ligada através de ocupações diversas aos principais ramos
de atividade econômica desenvolvidos no Distrito Federal. Não se trata, pois, de uma
população composta de ―marginais‖, mas de aglomerados humanos integrados
regularmente na vida social‖. (p. 23)

Em 1950 a pesquisa constatou a existência de 58 favelas com 169.305 habitantes (p.26);


entretanto fizeram uma observação de que, como não havia uma definição para o que era favela, os
números podem não corresponder à realidade da época, mas representa números próximos. Em
2010 o IBGE identificou 753 favelas com 1.393.314 habitantes.
Este aumento de favelas e moradores, nos levou a perceber a importância de nossa proposta
de trabalho, que consiste em apresentar uma forma de educação ambiental com uso de mídias com
linguagem e formato jornalístico, levando em conta que Jornalismo, segundo Dines, ―é a técnica de
investigar, arrumar, referenciar, distinguir circunstâncias‖ (2009, p. 9) - as mesmas ações de um
processo educativo. Assim, entendemos que noticiar é, também, um processo educativo.
Ressaltamos que noticiar é diferente de informar, pois o primeiro, ao distinguir circunstâncias, leva
à reflexão quando o assunto é de interesse – logo, é necessário despertá-lo; o segundo, apenas
apresenta um fato, sem a necessidade de reflexão acerca do comunicado.
Neste artigo justificaremos o porquê de utilizarmos os conceitos de Paulo Freire na
elaboração da notícia, levando em conta a importância de utilizarmos a linguagem dos/as
receptores/as, fugindo da linguagem acadêmica; constatamos, em nossas pesquisas preliminares, a
utilização de termos geográficos do senso comum, o que não inviabiliza utilizarmos, também,
termos geográficos acadêmicos nestes meios jornalísticos locais.

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Esta proposta é ratificada por Pedrini e De-Paula (Pedrini, p. 105) quando, citanto Mohr &
Shall em seu artigo, é necessário incluir particularidades regionais como o senso comum da
comunidade (contexto) a ser abordada‖, pressupostos da DI/UNESCO.

RESUMO DA HISTÓRIA DO JORNALISMO

Segundo Quintero (1994, p. 2), ―a história do Jornalismo ocupa-se de um aspecto


particularmente relevante da vida social, e não só do ponto de vista do historiador‖, um dos motivos
que nos levaram a explorar o Jornalismo como meio para a Educação Ambiental, com a pretensão
de situá-lo em seu contexto político e social.
Ressaltamos que a origem histórica do fenômeno jornalístico podem ser resumidos
fundamentalmente em três grupos (Quintero, p. 8): os que acreditam que surgiu na Antiguidade,
ressaltando atividades desenvolvidas em Roma; os que consideram o surgimento da impressão na
Europa, em paralelo ao Estado moderno; finalmente os que atribuem a origem no século XIX,
provocado pela Revolução Industrial.
O primeiro grupo inclui os Actas romanas como um meio jornalístico pelas notícias dadas e
pela periodicidade, duas características que definem este meio e, em pouco tempo de existência, a
variedade (Rizzini, p.5) . Eram diversos os Actas, dependendo do público alvo: ―Acta Diurna, Acta
populi, Acta Urbis ou Acta diurna populi urbana constituem os mais antigos escritos aparentados
com jornal‖ (Rizzini, p. 4). O poder deste meio pode ser medido por consequências de suas notícias:

―Em 69 antes de Cristo, alterou Júlio César tão rudimentar meio oficial de informação,
determinando fossem diariamente redigidos e publicados os atos do povo e os do Senado.
Fingindo servir a democracia, mas de fato sacrificando-a às suas ambições, visava o futuro
ditador a desmoralizar o senado, expondo-lhe dissídios e conflitos até então encobertos por
inviolável sigilo. Deve-se a esse subalterno propósito uma iniciativa que o andar dos
séculos erigia em direito fundamental dos povos: o exame e a crítica das resoluções do
Estado.‖ (Rizzini, p. 5)

Sua distribuição variava, os mais ricos recebiam em casa; os que não tinham estas
condições, liam em pé onde eram fixadas: ―À tarde, gente de todas as condições ali acorria para fiar
conversa, conferir projetos e criticar o governo‖ (Rizzini, p. 7). Como podemos ver, esta prática é
antiga; também percebemos que este meio era uma fonte de disseminação de notícias e relação de
poder de quem os produzia.
O segundo grupo defende o ponto de vista de que o Jornalismo surge com o prelo, quando
tem início a impressão de tinta preta sobre o papel: ―A invenção e a rápida difusão na Europa do
prelo de caracteres móveis constitui uma verdadeira revolução. Sem ele seria impossível explicar a
consolidação das línguas nacionais e das respectivas literaturas‖ (Quintero, p. 30).
Outros importantes meios que surgem naquele período são ―folhas soltas e pequenos
folhetos ou opúsculos‖ - texto impresso que contém poucas páginas: ―Criavam-se, assim, os

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embriões dos futuros jornais, folhas informativas ocasionais que irão conviver com as notícias
manuscritas anteriores à impressão e com as publicações periódicas impressas que constituíram um
fenômeno assinalável a partir do século XVII, o século das gazetas.‖ (Quitero, p. 30)
Desta forma, passamos a ter um fluxo de informações cada vez mais constante e com mais
difusão, tendo como consequência a constatação de que o Jornalismo é um meio de poder: ―Os
governantes perceberam rapidamente o poder da impressão e tentaram utilizar os seus favores, mas
também procuraram limitar o que pudesse por em perigo os seus interesses. Nasceu assim toda uma
legislação destinada mais a controlar o novo fenômeno do que para organizá-lo‖. (Quintero, p. 44)
Quanto ao terceiro grupo de pesquisadores, atribuem à revolução industrial porque ocorre,
―de uma maneira geral, um grau de maturidade considerável, que permitiu o grande salto industrial
do século XIX, durante o qual as necessidades da imprensa diária introduziram as primeiras
modificações importantes na técnica de Gutemberg, fazendo-a progredir com passos de gigante.‖
(Quintero, p. 56)
Diante da possibilidade de o Jornalismo provocar transformações, levando em consideração
o que Santos (2001) escreve no prefácio de seu livro ―Por uma outra globalização‖, a respeito da
preocupação ao que se entende hoje por espaço geográfico; dizendo que ―também (é) tributário de
outras realidades e disciplinas acadêmicas‖(2001,p.11) para justificar sua tese em relação à
globalização, acreditamos que produzir um ou mais meios jornalísticos em uma favela podemos
colaborar com a preservação ambiental.
Evidenciamos as articulações entre a Geografia e o Jornalismo para a compreensão mais
precisa no fenômeno Jornalístico e do seu poder de legitimar um pensamento sobre a relação entre
atores sociais, que vivem em uma favela localizada em uma bacia hidrográfica. Fortalece esta tese a
opinião de Milton Santos (2012, p.47) ao escrever que ―de um modo geral, e por falta de uma
epistemologia, claramente expressa, que a própria geografia, tem dificuldade para participar de um
debate filosófico e interdiscilinar. Isto é, é no fenômeno técnico que se tem dificuldade de participar
em um debate filosófico e interdisciplinar‖.
Do ponto de vista do Jornalismo, levamos em conta o que escreve Marcelo Canellas (p.
104):

É impossível discutir a ampliação da agenda social na imprensa sem romper o fatalismo


dogmático que nos condena a acreditar que a felicidade só é permitida a alguns, como
conquista individual dos mais capazes, que não há saída fora de uma competição em que
antes da largada já se conhecem os vencedores. No desvão de uma economia que deixa de
ser ciência humana ... desaparecem noções universais de solidariedade e de bem comum.‖

Também por este motivo, acreditamos ser importante criarmos um ou mais meios
jornalísticos para fortalecer conceitos ambientais - sob o ponto de vista da Geografia - e de
cidadania; não apenas a vida em comum na comunidade.

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Nestas atividades, as notícias são dirigidas a moradores de uma determinada comunidade,


com prioridade às questões ambientais relacionadas aos desafios sociais, isto é, com respeito à
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, acreditamos que possamos colaborar para a
construção, o reconhecimento e tomada de consciência acerca do pensamento geográfico ou
socioambiental, com base na Geografia, com esta população favelada que vive em uma bacia
hidrográfica provocando, de forma antrópica, incluindo os provocados em cursos de água e criando
situação de risco para moradores/as.
Desde o ano de 2014, quando fomos morar naquele território, convivemos e observamos as
ações sociais dos moradores que vivem na comunidade formada por três favelas - Parque André
Rebouças (ou Barreira), Vila Santa Alexandrina e Acomodado (ou Paula Ramos) – que formam o
Complexo Paula Ramos; ele está localizado no bairro do Rio Comprido, zona norte da cidade do
Rio de Janeiro, acima do túnel Rebouças (ver figura abaixo).

Complexo Paula Ramos é formado por três favelas: Barreira, Vila Santa Alexandrina e Acomodado

Para apresentarmos esta discussão junto aos atores sociais destas favelas, utilizaremos o
método freiriano por acreditarmos ser o mais adequado para nossos objetivos. Esta escolha se deu
pela crença de que é o melhor método, seguindo o um princípio ressaltado por Hannah Arent (p. 23)
acerca da adoção de neutralidade: ―a lei ateniense não permitia que um cidadão permanecesse
neutro, e punia com perda de cidadania aqueles que não quisessem tomar partido em disputas
faccionárias‖.
Outro motivo para adotar este método é o livro ―Quarto de despejo‖, Diário de uma
favelada, de Carolina Maria de Jesus; a justificativa é a de que ele é a transcrição do diário da
autora, mantendo a sua forma não douta de escrever – tendo estudado até o segundo ano
fundamental, contrariando a gramática, incluindo a grafia e a acentuação das palavras -, ―traduzido
para 13 línguas, considerado um importante referencial para estudos culturais e sociais, tanto no
Brasil como no exterior‖, segundo a apresentação do livro.

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GEOGRAFIA, JORNALISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Em prefácio ao livro Educação Ambiental: dialogando com Paulo Feire, Philippe Pomier
Layrargues diz ―que alguns sujeitos sociais ... se encontram unidos por uma mesma perspectiva: a
adversa condição de dominados por um modelo, ameaçados, subjugados, injustiçados,
exterminados, por serem ao mesmo tempo explorados nos processos de produção e acumulação de
riqueza‖.(Loureiro e Torres, p.8) Conclui dizendo da esperança de que as intervenções com os
princípios apresentados por Paulo Freire contribuam para intervenções político-pedagógicas da
Educação Ambiental. Esta esperança é a que pretendemos aplicar em nossa proposta de trabalho:
―Para que o pensamento freiriano possa contribuir de fato na construção de outro mundo, que seja
socialmente justo, ecologicamente prudente, politicamente atuante, culturalmente diverso,
economicamente suficiente, ele não pode ser compreendido de forma superficial, desatenta,
ingênua, descompromissada.‖ (p. 12)
A utilização de meios jornalísticos é uma proposta ―tendo como eixo condutor as categoria
trabalho/práxis/diálogo, sob a tradição crítica de educação‖, segundo Loureiro e Franco (Loureiro e
Torres, p. 155).
A primeira atividade para conhecer o ponto de vista dos moradores foi criar no facebook
uma página com o nome do projeto de extensão (amopaularamos), onde propomos aos moradores
que fossemos amigos e que apenas acompanharíamos o que postam em suas páginas e uma outra
página com o nome paularamosvaiaoteatro, que apesar de ainda existir não está ativa, mas ainda
com partilhamento de moradores e moradoras.
Até o início de julho de 2017, no facebook amo Paula ramos temos 111 amigos; no Paula
ramos vai ao teatro temos 258 amigos. Em comum entre os dois facebook‘s temos 62
amigos. Obtivemos resposta de cinco, juntando os dois facebooks. A pergunta foi a
seguinte: ―Gostaria de saber o que poderia ter evitado os prejuízos causados pela chuva na última
terça-feira, dia 20 (de junho)?‖ Esta indagação foi feita porque choveu muito na noite do dia 20 para
o dia 21. Segundo a EBC Agência Brasil, ―Das 15h45 às 23h59 - em apenas oito horas -, 11
estações pluviométricas registraram no Rio maior volume de chuva do que o esperado para todo o
mês de junho.
As respostas foram as seguintes:

―Adriana Albuquerque Deveriam ter feito uma encosta atrás da casa da


minha mãe ( Barreira) ,vale lembrar que no ano de 2010 minha mãe perdeu
os Quartos no qual minha irmã e meu sobrinho ficaram suterrados por 40
minutos. Cadê a encosta ? Até hoje estamos com medo de envestir em uma
nova contrução,por esse motivo em tempos de chuvas fortes minha mãe
perde algum por ter sua casa alagada.‖.
―Valquiria Oliveira Conscientizacao dos moradores com o lixo jogado dentro
do rio e no chao da comunidade,santa alexandrina 1575,moradora ha 55
anos.‖.

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―Jo Mendes Já q a chuva forte nos deu essa ajuda deixando o rio limpo de
lixo vamos conservar , o rio limpinho como está.‖.
―Jane Quintiliana Poderia ter mais consciência das pessoas em relação o lixo
que jogam em qualquer lugar.isso não é a solução.Mais já ajudaria
muito.Moradora do parque André Rebouças.‖.
―Cristiane Freitas So acho q a conscientização de tds os moradores pra q qnd
houver essas chuvas não ter tragédias como uns anos atrás e tbm não fazer
casas em lugares errados (alto risco) pq na grande maioria as casas são feitas
no barranco e e nesse caso q numa chuva dessa o solo encharca e o barro
desce e e so destruição .‖.

Como vemos, apesar do pequeno número de respostas, as duas questões apresentadas são as
prioridades de nosso trabalho: ambiente e risco. Por este motivo, trabalharemos com a realidade dos
moradores que ―se constitui a partir das condições materiais da existência e deve ser apreendida
como um processo que se dá em cada momento histórico sendo por isso complexa e dinâmica,
contraditória e inacabada‖ (Loureiro e Franco, p. 158), o que quer dizer que necessitaremos rever
constantemente os resultados apresentados após a recepção das notícias.
Os autores também explicam que a ―linguagem em si não produz transformação‖ mas que
―o ser humano desperta potencialidades e mobiliza sua capacidade optar, decidir, de escolher, ao
exercer sua liberdade de escolha na ação que desenvolve não muda apenas o mundo, muda sua
posição diante do mundo. A linguagem-pensamento se traduz pela palavra (fenômeno
especificamente humano) nas suas dimensões constituintes: ação e reflexão.‖ (Loureiro e Torres, p.
158).
A proposta de meios jornalísticos para este tema, também atende ao que Casino (p. 43)
apresenta: ―Desde 68, passando por 72, 77, 87 e 92, tem-se verificado a preocupação de se
discutirem novas referências culturais, novas leituras das relações humanas, novas estratégias para
alterar formas de convivência e construção de relações.‖
Na apresentação do livro Educação Ambiental: Reflexões e práticas contemporâneas,
organizado por Pedrini, a forma desta educação também pode passar por meios jornalísticos:
―Informação torna-se conhecimento quando é percebida pela cognição humana e por meio dela
acrescenta ou substitui, enfim, modifica o conjunto de conhecimentos do qual o indivíduo é
previamente detentor ... provendo o desenvolvimento e a liberdade individual, dos grupos de
convivência e da sociedade como um todo‖. (p. 7)
O que Pedrini chama de informação, no jornalismo chamamos de notícia. Ratificando o que
escrevemos acima, notícia é o que leva à reflexão, que se configurarão como conhecimento.
Isto é, se a partir das notícias constataremos mudanças na comunidade, em relação à
preservação ambiental. Havendo mudança, a proposta de educação ambiental, por meios
jornalísticos, será comprovada.
Em seu livro, Cacino escreve que o movimento ambientalista, que surge nos anos 60 do
século XX, é identificada ―uma aspiração: é preciso resgatar o indivíduo e tirar o indivíduo da

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massa, da totalidade, do conjunto descaracterizado. É preciso repensar partido, indivíduo,


participação política, estado, etc.‖ (p. 31). Obtendo sucesso neste novo repensar, a comunidade
passa a construir o seu próprio caminho para a preservação ambiental.
É importante ressaltar que a pauta não incluirá apenas questões ambientais sob o ponto de
vista da geografia, pois a proposta é a interdisciplinaridade, como Santos propõe ao escrever que
―também (é) tributário de outras realidades e disciplinas acadêmicas (2001, p. 11) para justificar sua
tese acerca da globalização.
Reproduzindo John F. Kolars e John D. Nyste, Santos escreve (2012, p. 33) : ―A sociedade
opera no espaço geográfico por meios de comunicação e transporte‖; concluindo que ―à medida que
mudam a tecnologia e as aspirações humanas, tornando possíveis novas conexões e às vezes
fechando todas as velhas rotas, a coação no interior dos sistemas também muda‖. Esta afirmação
nos evidencia a nova forma de fazer jornalismo tanto no que diz respeito ao jornalismo em uma
comunidade, como a utilização de novos meios como a internet, whatsapp etc.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1281


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS PARA MUNICÍPIOS DE MÉDIO E PEQUENO


PORTE – REFLEXÕES À LUZ DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

José Humberto Dantas de MEDEIROS


Bacharel em Ciência e Tecnologia (UFERSA - 2012), Engenheiro Civil (UFERSA – 2014)
humbertodmedeiros@hotmail.com

Roselene de Lucena ALCÂNTARA


Professora da UFERSA, Campus Angicos
roselene@ufersa.edu.br

RESUMO
A procura de uma solução para os problemas socioambientais gerados pelo acúmulo, destino e falta
de tratamento adequado dos resíduos sólidos tem despertado discussões, mobilizações e intensa
procura de alternativas que visem o equilíbrio sustentável do meio ambiente. Com este objetivo, o
presente trabalho se propõe a fazer uma análise do destino dos resíduos sólidos nos municípios de
pequeno e médio porte (Angicos/RN e Caicó/RN, respectivamente), à luz da Lei n° 12.305/2010
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras providências. Como percurso
metodológico, utilizou-se a pesquisa qualitativa, pautando-se na documentação direta e indireta.
Foram realizadas visitas técnicas ao lixão dos municípios objetos de estudo e aos órgãos
responsáveis pela gestão dos resíduos municipais para criação de um banco de dados, com o
acompanhamento de registro fotográfico. De maneira geral, pode-se inferir que nos municípios de
Angicos/RN e Caicó/RN há necessidade imediata de ações de políticas públicas e educativas por
intermédio das prefeituras dos municípios e do próprio Estado, para que haja uma gestão dos
resíduos sólidos conforme preconiza a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Consequentemente, é
imprescindível que os municípios se prepararem para as resoluções da referida lei e, principalmente,
procedam ao fechamento dos seus lixões.
Palavras-chave: Resíduos sólidos. Gestão. Lei 12.305/10. Lixão. Catadores.
ABSTRACT
The search for a solution to social-environmental problems generated by the accumulation,
destination and lack of adequate treatment of solid waste has sparked discussions, mobilizations and
intense search for alternatives that seek sustainable balance of the environment. With this objective,
this study intends to make an analysis of the destination of solid waste in small and medium towns
(Angicos, RN, and Caicó, RN, respectively), in light of Law number 12.305/2010, which
establishes the National Solid Waste Policy and sets other norms. The method used was qualitative
research, based on direct and indirect documentation. Technical visits were made to the dumps of
the studied towns and to the agencies responsible for municipal waste management to create a
database along with photographic records. In general, it can be inferred that, in the towns of
Angicos, RN, and Caicó, RN, there is an immediate need for public and educational policies
through the city halls, the municipalities, and the state itself, so that there is solid waste
management in light of the National Solid Waste Policy. Consequently, it is imperative that towns
prepare for the resolutions of the aforementioned law and, mainly, provide for the closing down of
their dumps.
Keywords: Solid waste. Management. Law 12.305/10. Dumping ground. Waste pickers

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

O acelerado crescimento populacional quando associado às mudanças de hábitos promove


um aumento na produção de materiais e de atividades. Estes, por sua vez, à medida que são
produzidos e consumidos, acarretam um surgimento cada vez maior de resíduos, os quais, coletados
ou postos de forma inadequada, trazem significativas transformações ambientais que têm se tornado
um dos maiores desafios do planeta.
Nesse contexto, os resíduos sólidos quando destinados de forma inadequada produzem
grandes impactos ao meio ambiente e à saúde humana, podendo causar poluição das águas
superficiais e subterrâneas, contaminação dos solos e do ar e a proliferação de doenças;
(GOUVEIA, 2012).
Por outro lado, quando destinados adequadamente apresentam extrema importância no que
se refere à promoção da qualidade de vida da população e redução dos riscos à saúde pública. Para
tanto, há necessidade de realização de um ―conjunto de etapas, que compreende o gerenciamento de
resíduos sólidos e abarca desde a coleta até a destinação final ambientalmente adequada‖, e que
―deve ser planejado levando-se em consideração que é interligado e passível de influenciar o
desempenho da etapa posterior, e essa influência pode ocorrer nas mais diversas dimensões, como
preconizado nas premissas no desenvolvimento sustentável.‖ (BARROS, 2012, p.03).
De acordo com a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES)
(ABES INFORMA, no. 287, 2012) é notória a dificuldade dos municípios brasileiros para a
destinação adequada dos seus resíduos sólidos, com um quadro especialmente mais grave nos
municípios de pequeno porte. Em relação à destinação final, a Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico realizada em 2008 (IBGE, 2010) revelou que de 1989 a 2008 houve um crescimento
considerável do percentual de municípios que destinavam seus resíduos aos aterros sanitários e
aterros controlados.
Entretanto, apesar dos avanços no Brasil, na Região Nordeste a situação da destinação final
destes resíduos ainda é muito crítica, revelando que, de acordo com a pesquisa supracitada (IBGE,
2010) foi possível identificar que 89,3% dos municípios do Nordeste ainda tinham os lixões como
destino final dos referidos resíduos. O município de Angicos/RN, que não conta com saneamento
básico na maior parte dos bairros, é um desses exemplos. Segundo dados da última análise realizada
pela Secretaria do Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) em fevereiro de
2008 e publicados em 2012, no Rio Grande do Norte os resíduos sólidos urbanos são dispostos em
lixões a céu aberto em mais de 92% dos municípios, e essa realidade se concentra, na maioria das
vezes, nos pequenos municípios, que geralmente não têm recursos suficientes para dar o destino
adequado aos resíduos sólidos urbanos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Portanto, o trabalho tem como objetivo realizar um levantamento diagnóstico e bibliográfico


sobre as formas de tratamento e disposição dos resíduos sólidos em dois municípios de pequeno e
médio porte à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Nº 12.305, 03/08/2010),
considerando que esta une proteção ambiental à inclusão social.

METODOLOGIA

O trabalho teve como recorte espacial os municípios de Angicos (população de 11.549


habitantes) e Caicó (população de 61.923 habitantes), no Rio Grande do Norte, em 2012 (IBGE,
2010). A distância rodoviária dos municípios até a capital é de 171 km e de 280 km,
respectivamente.
Utilizou-se a pesquisa qualitativa, pautando-se na documentação direta (observação e
entrevista) e indireta (pesquisa bibliográfica) (MARCONI; LAKATOS, 2006).
Inicialmente as atividades desenvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico
dos temas relacionados aos resíduos sólidos, incluindo as formas de tratamento e destinação final
(buscou-se associar a realidade de municípios de pequeno e médio porte!). Foram realizadas visitas
técnicas ao lixão dos municípios objetos de estudo, e aos órgãos responsáveis pela gestão dos
resíduos municipais para criação de um banco de dados, com o acompanhamento de registro
fotográfico. Também foram realizadas entrevistas livres com os catadores de resíduos dos dois
municípios.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOS MUNICÍPIOS DE ANGICOS E


CAICÓ - RN

 Município de Pequeno Porte – Angicos/RN

No contexto dos resíduos sólidos de Angicos/RN, é importante mencionar que foi realizado
um estudo preliminar desenvolvido por Souza Filho (2009) no período de dezembro/2008 a
fevereiro/2009. E nos anos de 2009 – 2011 foi realizado um diagnóstico dentro do projeto de
pesquisa de iniciação científica intitulado ―Interface Saúde, Saneamento e Meio Ambiente no
Município de Angicos/RN‖, desenvolvido por alunos/as do Curso de Bacharelado em Ciência e
Tecnologia da UFERSA - Campus Angicos, sob a orientação da professora Roselene de Lucena
Alcântara. Como produtos desse trabalho de iniciação científica foram publicados alguns trabalhos
técnico-científicos que nortearão a discussão aqui apresentada.
Com relação ao destino dos resíduos sólidos coletados, Costa et al. (2011, p.01) reportaram
que:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No município de Angicos/RN, o destino dos resíduos sólidos coletados (domiciliar,


comercial, de feiras livres e de construção civil) é o lixão municipal, localizado,
aproximadamente, a 2 km do município em uma área de 9 hectares. Os resíduos são
depositados em um lixão a céu aberto, sem obediência a nenhuma técnica operacional de
engenharia e sem os cuidados sanitários e ambientais pertinentes, fazendo com que a área
em estudo esteja submetida a pressões antrópicas. Ressalte-se que, uma grande parte dos
resíduos sólidos do município, é simplesmente descartada sem qualquer critério ambiental
em depósitos espalhados nos bairros do município. Em determinados pontos do lixão,
observou-se a presença de animais mortos e carcaças de animais, locais onde o cheiro
nauseabundo sugere o alerta, bem como evidências de queima de resíduos em alguns
pontos do lixão.

Para a destinação final ambientalmente adequada, a Política Nacional de Resíduos Sólidos -


Lei 12.305/2010) (BRASIL, 2010), Artigo 3, inciso VII, estabelece que:

destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a


recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes do Sisnama, SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando
normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;.

Sobre os catadores e o quadro de funcionários responsáveis pela limpeza urbana do


município, Costa et al. (2012, p. 03) mencionaram:

Na atividade de catação no lixão, observou-se a presença de três pessoas (um homem e


duas mulheres), residentes nas proximidades do lixão que, diariamente, vão ao local nos
dois turnos para coletar e separar os materiais coletados. De acordo com o observado, os
resíduos separados são armazenados em sacos de 30 kg e, segundo a fala dos catadores,
esses são comprados por uma pessoa que leva para uma recicladora no Estado.
Com mais de 20 anos trabalhando como catadores de lixo, as duas catadoras entrevistadas
informaram que, para cada 1 kg de resíduo coletado, os preços finais para comercialização
dos resíduos coletados são: R$ 0,20 para resíduos plásticos e R$ 0,10 para resíduos
ferrosos. As duas conseguem coletar, semanalmente, 6 sacos de 30Kg, segundo suas
informações. Na hora de comercializar, para cada saco coletado, são descontados 6 Kg em
virtude de resíduos inertes que podem ter sido coletados. Logo, a quantidade de resíduos
coletada por elas diariamente, semanalmente (segunda a sexta-feira) e mensalmente, é de,
aproximadamente, 28,8 kg; 144 kg e 576 kg, respectivamente. Informaram ainda que, os
resíduos que não conseguiam vender eram queimados no local.
A Prefeitura Municipal, por intermédio da Secretaria de Obras e Urbanismo, informou que,
atualmente, existem 32 (trinta e dois) funcionários responsáveis por toda a limpeza
municipal, dos quais 10 (dez) são garis e 22 (vinte e dois) estão distribuídos nos cinco
veículos de coletas, que circulam diariamente, em todos os dias da semana, em todos os
bairros recolhendo os resíduos sólidos municipais, (e trabalham todos os dias da semana).
A Prefeitura realiza um acompanhamento semanal dos resíduos depositados no lixão
municipal e afirma que é feito um trabalho com tratores de terraplanagem no local sempre
que as camadas de resíduos são dispostas (no local). No contexto dos resíduos hospitalares,
informaram que estes são transportados duas vezes por semana por uma empresa de
Natal/RN, denominada Serquip – Tratamento de Resíduos RN Ltda., pioneira no Estado na
gestão de resíduos sólidos de serviços de saúde.

Nesse período estava em discussão à implantação de um Consórcio Público Regional de


Saneamento Básico, denominado ―Consórcio Regional de Saneamento Básico do Vale do Açu‖
(2010), e o Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado (2012) com
participação de 25 municípios, Angicos é um desses municípios, e seria construído no município de
Assú (SEMARH, 2012). Atualmente, segundo reportam Silva Filho e Corrêa (2017, p. 36), a
situação está da seguinte forma:
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Apesar disso, cinco anos após a publicação da lei 12.305/2010 e da criação do Consórcio
Regional de Saneamento Básico do Vale do Açu, as determinações da PNRS, cujo prazo
final para se ajustar às normas nela contidas terminou em agosto de 2014, continuam sem
operacionalização. Pouco se avançou nessa temática, tanto a PNRS quanto o consórcio
continuam estacionários. Dessa forma, o manejo ambientalmente adequado do lixo e a
reciclagem de materiais continuam em estado precário, ou melhor, sem êxito.

Os autores mencionam ainda que a situação percebida no ―interior do estado potiguar‖ é do


―não cumprimento da PNRS.‖. E ―para que se tenha uma ideia da realidade, não há entendimento
sobre a localização do aterro sanitário a ser construído, da definição do domicilio da sede do
consórcio recém-criado, dentre outros [...].‖ Também citam a hipótese para essa situação e, na
sequência, enfatizam quanto ―indispensável é para a região açuense‖ a criação do consórcio.
(SILVA FILHO; CORRÊA, 2017, p. 36-37).
É notória a dificuldade do município objeto de estudo na questão da destinação adequada
dos seus resíduos sólidos. O quadro do lixão do município se agrava de modo crescente fazendo
com que a área em estudo esteja sujeita a grandes impactos ambientais com o decorrer do tempo.
Portanto, os problemas encontrados não são somente problemas estéticos e sim ambientais, de
saúde pública, socioambientais, dentre outros.

 Município de Médio Porte – Caicó/RN


No município de Caicó/RN, o destino dos resíduos coletados (domiciliar, comercial, de feira
livre e construção civil) é o lixão municipal, localizado, aproximadamente, 700 m da BR 427 que
liga o município de Caicó/RN ao de Jardim de Piranhas/RN, distante 8 Km do centro do município
em estudo, em uma área 70 hectares que é alugada pela Prefeitura. Os resíduos são dispostos em um
lixão a céu aberto, ―sem obediência a nenhuma técnica operacional de engenharia e sem os cuidados
sanitários e ambientais pertinentes, fazendo com que essa área esteja submetida‖ a impactos
causados por essas atividades humanas. Portanto, situação semelhante à verificada no município de
Angicos/RN, conforme reportada por Costa et al. (2011, p.01). Ressalte-se que nas proximidades do
lixão existem corpos aquáticos - os Rios Barra Nova e o Seridó, que ficam a uma distância,
aproximadamente, de 500 m (leste do lixão) e o Rio Sabugí que fica a uma distância de 700 m,
aproximadamente, a oeste do lixão. Uma grande quantidade de resíduos é simplesmente descartada,
sem qualquer critério ambiental, em depósitos espalhados nos bairros do município.
Na atividade de catação no lixão, segundo o Secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos
da Prefeitura de Caicó/RN, existem, aproximadamente, 64 pessoas com uma média 13 mulheres e
51 homens exercendo essa atividade naquele local. A maior parte dos catadores reside no Bairro
Frei Damião que fica a uma distância de, aproximadamente, 6 Km do lixão.
O Bairro Frei Damião, localizado na zona Oeste de Caicó/RN, é considerado o de pior
qualidade de vida da cidade. É totalmente desprovido de sistema de esgotos, pavimentação e coleta
de lixo. Segundo um morador do bairro, menos da metade dos domicílios ocupados têm acesso à
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

água encanada. Pode-se dizer que as atividades exercidas pelos pais, chefes de domicílio, neste
bairro exigem pouco ou nenhum nível intelectual e muito esforço físico. O nível de renda familiar
está atrelado ao tipo de ocupação, onde boa parte da população sobrevive com renda mensal inferior
a um salário mínimo, tendo em vista que as principais ocupações recebem remunerações ínfimas
por tarefa, principalmente a atividade de ―catar lixo‖, de onde a maior parte da população retira o
sustento para sua família.
No entanto, uma das opções para essas pessoas que sobrevivem da catação dos resíduos é a
formação de cooperativas de reciclagem que é uma alternativa para não permanência dessas pessoas
em áreas de risco. Dessa forma, oportuniza-se uma melhoria nas condições de vida dessas pessoas
que vivem da catação de resíduos nos lixões. No contexto social, observa-se que, geralmente, no
entorno dos lixões formam-se aglomerados de pessoas que são consideradas marginalizadas e não
excluídas, ou seja, são aquelas que tiveram poucas oportunidades.
A maioria dos catadores realiza suas atividades pela manhã por volta das 4 horas, em função
da temperatura, nesse horário, ser mais amena. Os catadores trabalham em equipes e, à medida que
vão coletando os materiais recicláveis que são encontrados, vão armazenando em um local no
próprio lixão. No fim da manhã eles armazenam em sacos de 50 e 300 kg todos os materiais que
foram coletados para serem comercializados por empresas recicladoras existentes no município.
Nesse sentido, pode-se dizer que essas atividades são realizadas em condições insalubres de
trabalho, pois não há higiene no local, o ar é praticamente irrespirável e não existe abrigo para se
proteger do forte sol, etc.
Uma catadora de 42 anos de idade, e mais de 8 anos de trabalho como catadora de lixo,
informou que, para cada 1 Kg de resíduo coletado é comercializado com o preço variando de acordo
com o tipo de resíduo, como, por exemplo: R$ 0,40 para resíduos de politileno tereftalato (PET); R$
0,30 para resíduos plástico rígido (por exemplo, vasilhame de água sanitária) e R$ 0,20 para
plásticos finos (sacola). O valor mensal conseguido com a catação é de, aproximadamente, R$
350,00. Informou ainda que os resíduos que não são comercializados são queimados no próprio
lixão.
A Prefeitura Municipal, por intermédio da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos,
informou que existem 70 (setenta) funcionários responsáveis por toda a limpeza das 772 ruas dos 33
bairros do município, dos quais 20 (vinte) são podadores, 30 (trinta) são garis, e 20 (vinte) estão
distribuídos nos 6 (seis) carros de coletas - 4 (quatro) do tipo compactador e 2 poliguindaste, e
ainda possuem 10 (dez) caçambas e máquinas na parte de metralha. A coleta é iniciada às 03:00h da
manhã em todos os bairros do município, com os veículos circulando 2 (duas) vezes por semana em
cada rua.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Prefeitura realiza um acompanhamento semanal dos resíduos dispostos no lixão municipal


e afirma que é feito um trabalho com tratores de terraplanagem no local todos os sábados. No
contexto dos resíduos hospitalares, informaram que estes são transportados a cada 15 dias por uma
empresa de Natal/RN, denominada Serquip – Tratamento de Resíduos RN Ltda., pioneira no Estado
na gestão de resíduos sólidos de serviços de saúde. Os resíduos são acondicionados em sacos e
transportados em um carro tipo baú para Natal/RN. Quanto aos resíduos das clínicas, é a própria
clínica que é responsável para dar um destino adequado aos resíduos.
De acordo com a recomendação da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010
(BRASIL, 2010) e determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
(BRASIL, 2004), é da competência de todo gerador de resíduos de serviço de saúde a elaboração do
plano de gerenciamento desses resíduos.
Nascimento Neto (2013, p. 08) cita que para se ―realizar uma abordagem adequada da
gestão dos resíduos sólidos no Brasil, se faz premente diferenciar os conceitos de Gerenciamento e
Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, que apresentam conotações distintas e complementares [...].‖.
Conforme estão explicitados, no artigo 3 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, incisos X e XI,
respectivamente, (BRASIL, 2010):

X – gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou


indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com
plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;
XI – gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de
soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica,
ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento
sustentável;

Com relação aos catadores, a Prefeitura Municipal, por intermédio da Secretaria de


Infraestrutura e Serviços Urbanos, informou que hoje eles trabalham por conta própria, mas há uma
parceria da Prefeitura com a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó (ADESE) que vai
possibilitar a implantação da coletiva seletiva em Caicó/RN. Para tanto, está sendo formada uma
Associação dos Catadores de Matérias Recicláveis no município. Segundo o Secretário, já existem
3 (três) bairros do município que fazem a coleta seletiva, mas só por iniciativa dos presidentes dos
conselhos comunitários desses bairros que colocaram carros de som e panfletagem nas ruas dos seus
bairros orientando e pedindo para a comunidade separar os resíduos conforme suas características.
No município, o Projeto Reciclagem Cidadã tem a frente o líder comunitário Pedro
Xambaril. No projeto há 8 pais de família trabalhando voluntariamente que recolhem, em média, 8
toneladas de resíduos mensais, os quais passam por uma triagem e são vendidos para reciclagem no
município. A renda dos produtos é dividida conforme o quantitativo que o catador recolheu durante
o mês, em média pode chegar a R$ 330 reais por mês.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quando questionado sobre a existência de algum convênio com outras cidades ou Estado
para a implantação de um aterro sanitário, o Secretário informou que existe um consórcio entre 25
(vinte e cinco) municípios da região do Seridó. O município de Caicó/RN será beneficiado com esse
aterro, contudo, ainda não se sabe o local exato considerando que está sendo realizado um estudo
pela empresa Geotechnique, que também vai fazer o projeto de encerramento dos lixões nos
municípios consorciados. O Secretário também falou que técnicos da empresa já fizeram análise
topográfica e encontraram 3 (três) locais propícios para implantação do aterro no município, a
escolha será realizada com base no que cause menos danos ao meio ambiente. Mas, até o momento,
o projeto não foi implementado.
Com relação aos municípios integrantes do consórcio da região do Seridó, Araújo et al.
(2011, p. 722) reportam:

O território do Seridó-RN possui uma circunscrição territorial caracterizada por 25


municípios, cujos membros são Acari, Bodó, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá,
Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó,
Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Matos, Santana do Seridó, São
João do Sabugi, São Fernando, São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte,
Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas que juntos totalizam uma superfície de
10.796,62Km² o que corresponde a um percentual de 20,45% do Estado. O referido
território limita-se ao Norte com os territórios do Vale do Açu e o Sertão Central Cabugi,
ao Leste com o Estado da Paraíba e com os territórios do Trairi e do Potengi, a Oeste com a
Paraiba e com o Sertão do Apodi e ao Sul com a Paraiba.

No contexto da proteção e conservação do meio ambiente e da gestão dos resíduos sólidos,


balizados pela legislação ambiental brasileira, os autores supracitados narram:
De acordo com essa legislação o Ministério Público entrou com um pedido de Termo de
Ajustamento de Conduta- TAC, para vários municípios do Seridó. Esse TAC é um
instrumento extrajudicial por meio do qual as partes se comprometem, perante os
procuradores da república, a cumprirem determinadas condições, de forma a resolver os
problemas que estão causando ou a compensar danos e prejuízos já causados. O TAC
antecipa a resolução de problemas de uma maneira mais rápida e eficaz do que se o caso
fosse a juízo. Se a parte descumprir o acordo no TAC, o procurador da república pode
entrar com pedido de execução, para o juiz obrigá-lo a cumprir o determinado no
documento. Este termo de conduta será considerado um título executivo extrajudicial, de
forma que o agente causador do dano estará admitindo ter consciência da ofensa que está
praticando contra o meio ambiente, e se comprometendo a, num espaço de tempo pré-
estabelecido no próprio termo, deixar de causar dano ou recuperar o meio ambiente à sua
forma original, de maneira que aquilo está determinado no artigo 225, da Constituição
Federal atual, ―todo cidadão tem direito a um meio ambiente saudável e ecologicamente
equilibrado‖, seja perfeitamente cumprido. Caso o agente provocador do dano não venha a
cumprir ao que fora determinado no TAC, o órgão público responsável terá o dever de
executar diretamente o ofensor, de modo que não se faz mais necessário o reconhecimento,
para poder exigir o comprimento do acordo, uma vez que o termo de ajustamento de
conduta possui a característica de titulo executivo.
Com isso, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos- Semarh
oficializou a instalação do consórcio de resíduos sólidos da região Seridó. A ação faz parte
do Programa Estadual de Resíduos Sólidos. Com esse programa, 15 municípios terão como
oferecer destino correto ao lixo. Com a instalação deste consórcio, essas cidades passarão a
dar destinação correta ao lixo, possibilitando uma melhora na qualidade de vida e na saúde
da população, assim, como no meio ambiente (ARAÚJO et al. 2011, p. 725).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Com relação aos consórcios, Nascimento Neto (2013, p. 22) reporta que ―No Brasil, a
utilização de modelos de consorciamento tem correspondido a momentos de maior autonomia e
descentralização federativa, pautando-se como instrumento de cooperação, coordenação e
pactuação federativa [...].‖.
De maneira geral, percebe-se que nos municípios de Angicos/RN e Caicó/RN há uma
necessidade imediata de ações de políticas públicas e educativas por intermédio das prefeituras, dos
municípios e do próprio Estado, para que haja uma gestão dos resíduos sólidos à luz da Política
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). Dentro deste contexto, é necessário que os
municípios se prepararem para as resoluções da referida lei e, principalmente, procedam ao
fechamento dos seus lixões.
Com relação ao fechamento dos lixões, a Agência Brasil ([2012] apud ABES INFORMA n o.
294, 2012, p. 01) registrou:

O excesso de burocracia é um dos principais entraves que impedem o cumprimento da


determinação de acabar com os lixões até 2014, prevista na Política Nacional de Resíduos
Sólidos. A reclamação dos prefeitos é que o prazo é apertado para cumprir todas as
exigências previstas na lei. Além de determinar o fim dos lixões em todo o país, a nova
legislação prevê a redução gradual do volume de resíduos sólidos recicláveis que ainda são
enviados aos aterros. A ideia é que, cada vez mais, esse material seja encaminhado para
tratamento e reciclagem adequados. A lei também determina que, até agosto, os municípios
iniciem seus planos de gestão de resíduos sólidos. ―Só receberão recursos para programas
de resíduos os municípios que tiverem, pelo menos, iniciado a elaboração de seus planos‖,
explicou o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio
Ambiente, Silvano Silvério da Costa. Ele ressaltou que o Ministério tem diversos
programas para incentivar os municípios na adoção da lei. Entre eles, o que incentiva a
chamada logística reversa, que é o retorno para a indústria de materiais como embalagens,
eletroeletrônicos e pneus, para que possam ser novamente aproveitados pelo fabricante.
Além disso, será lançado um programa para incrementar a reciclagem em 153 municípios
que tenham aterros sanitários. ―Esse programa atingirá 70 milhões de habitantes‖, informou
o secretário.

Ainda no contexto do fechamento dos lixões, uma questão que influencia muito é que o lixo
é uma forma de sustento, talvez a única, para muitos dos(as) catadores(as) como bem expressam
Silva e Silva (2007, p.03 ) quando relatam:

[...] percebe-se que a grave crise social existente, caracterizada também por distribuições de
renda totalmente desiguais, tem levado um número cada vez maior de pessoas a buscar sua
sobrevivência através da catação de materiais recicláveis existentes no lixo domiciliar. A
miséria socioeconômica brasileira faz com que o lixo acabe se transformando numa fonte
de sustento para milhares de pessoas, adultos e crianças, homens e mulheres, [...].

Em Angicos/RN e Caicó/RN a situação não é diferente, conforme expostas anteriormente.


Em decorrência dos lixões, percebe-se a questão da favelização do local e de outros
impactos ambientais, conforme relato da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM, 2010,
p.11):

Em termos ambientais, os lixões agravam a poluição do ar, do solo e das águas, além de
provocar poluição visual. Nos casos de disposição de pontos de lixo nas encostas é possível

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ainda ocorrer a instabilidade dos taludes pela sobrecarga e absorção temporária da água da
chuva, provocando deslizamentos.
Em termos sociais, os lixões a céu aberto contribuem para a favelização do local. A área
passa a exercer atração nas populações de baixa renda do entorno, que buscam na separação
e comercialização de materiais recicláveis uma alternativa de trabalho, apesar das
condições insalubres e sub-humanas da atividade. Do ponto de vista econômico, a área para
disposição de resíduos gera custos externos negativos, quase sempre ignorados, referentes à
depreciação das terras e imóveis nos seus arredores. Esse tipo de destinação está proibido
no Brasil.

No decorrer desse trabalho foi visto que nos municípios de pequeno e médio porte, os
resíduos sólidos são simplesmente despejados a céu aberto, com o único tipo de ―tratamento‖, que é
o espalhamento dos resíduos, no entanto não é o mais adequado, podendo trazer uma série de
consequências danosas ao meio ambiente, entre elas a contaminação de águas subterrâneas, e
impactos à saúde da população. Os lixões irregulares atraem várias famílias que se amontoam em
busca de materiais recicláveis misturados a restos de comidas e bebidas, para, depois, serem
comercializados por empresas que não pagam o valor digno do trabalho que essas famílias têm,
além de desenvolverem suas atividades em condições totalmente insalubres. Pode-se dizer que, os
municípios em estudo precisam se organizar no tocante a gestão dos seus resíduos em consonância
com o estabelecido na Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico e um recorte


situacional em dois municípios de médio e pequeno porte, sobre as formas de tratamento e
disposição dos resíduos sólidos à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.
12.305/2010). Com as visitas técnicas em campo, foi possível destacar que, com relação ao estudo
realizado, é fundamental fazer um diagnóstico dos tipos de resíduos para, depois, poder propor uma
modelo de gestão de resíduos.
De maneira geral pode-se inferir que os resíduos gerados são oriundos de feiras livres,
comercial, domiciliar e de construção civil, e são dispostos em lixões municipais sem obedecer a
nenhuma técnica operacional de engenharia e sem os devidos cuidados sanitários e ambientais,
acarretando, portanto, graves impactos à essas áreas.
Os resíduos coletados nesses lixões são comercializados por empresas recicladoras por
preços muito baixos, que variam de acordo com o tipo de resíduo coletado. A coleta e o
espalhamento dos resíduos são os únicos ―tratamentos‖ observados nos lixões.
A população carece ser informada quanto às implicações do descarte incorreto de resíduos,
suas causas e conseqüências, e da Lei 12.305/2010. Deste modo, espera-se que este trabalho possa
contribuir para incentivar a população, governos municipal e estadual sobre a necessidade e
urgência da implementação da política.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AGRADECIMENTOS

Às pessoas, físicas e jurídicas, que colaboraram com a realização do trabalho.

REFERÊNCIAS

ABES INFORMA – Informativo Eletrônico da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e


Ambiental. Coleta seletiva em apenas 766 municípios, no. 294, 12 de setembro de 2012.

ABES INFORMA - Informativo Eletrônico da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e


Ambiental. Lixão é problema em cidades pequena, no. 287, 25 de Julho de 2012.

ARAÚJO, A. L. P.; ARAÚJO, A. B.; SANTOS NETO, D. E. O Tratamento do lixo no Seridó, In:
SEABRA, G.; MENDONÇA, I. Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da
sociobiodiversidade. 2011. 1234p. João Pessoa: Universitária da UFPB, UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA, 2011. v. 1, p. 722 - 726.

BARROS, R. M. Tratado sobre Resíduos Sólidos: gestão, uso e sustentabilidade. Rio de Janeiro:
INTERCIÊNCIA LTDA; Minas Gerais: ACTA, 2012.

BRASIL. Lei no.12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília/DF, 03 de agosto de 2010. Seção 1.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Dispõe sobre o Regulamento


Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde. Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC, no. 306, de 07 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília/DF, 10
de dezembro de 2004.

COSTA, H. D. G.; CUNHA, E. M.; FRUTUOSO, M. I. B.; ALCÂNTARA, R. de L.; SPINELLI,


A. C. O. C. Gestão de Resíduos Sólidos do Município de Angicos/RN: Reflexões à Luz da
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), In: XXXIII Congresso Interamericano
de Engenharia Sanitária e Ambiental (AIDIS), 2012, Anais do XXXIII AIDIS. Salvador/BA,
2012. CD-ROM.

COSTA, H. D. G.; FRUTUOSO, M. I. B.; ALCÂNTARA, R. de L.; SPINELLI, A. C. O. C.


Diagnóstico da gestão dos resíduos sólidos no município de Angicos/RN. In: SEMINÁRIO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 17., 2011, Mossoró. Resumos... Mossoró: UFERSA, 2011. 1 CD-
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1292


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

FEAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE. Reabilitação de áreas degradadas


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SEMARH – SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DE RECURSOS HÍDRICOS.


SEMARH reúne prefeitos do Vale do Açu para tratar da questão dos resíduos sólidos. 2012.

SILVA FILHO, R. I,; CORRÊA, A. B. de B. Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico e


Implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) do Vale do Assú. In: Revista
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Angicos/RN. Monografia (Graduação), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte –
Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró – Departamento de Economia. Assu/RN, 2009.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1293


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AS QUESTÕES AMBIENTAIS NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO


(ENEM, 1998-2016)

José Leandro Fernandes dos SANTOS


Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFAL
leandrogeoalagoas@gmail.com
Carlos Jorge da Silva CORREIA
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da UFAL
carloscorreia1986@gmail.com

RESUMO
Trata-se de um trabalho investigativo de cunho quantitativo e qualitativo por meio do qual
buscamos inventariar temáticas relacionadas ao meio ambiente abordadas em todas as edições do
ENEM até o presente, o que compõe o período de 1998 a 2016. Como desdobramento deste
levantamento sobre quais discussões acerca do meio ambiente são favorecidas pelas provas
analisadas, entendemos este texto, também, como uma oportunidade para pensarmos em como
abordarmos a crise socioambiental em nossas práticas docentes, tendo em vista a forma como a
questão ambiental tem se apresentado no ENEM.
Palavras chaves: Questões ambientais, ENEM, práticas docentes.
ABSTRACT
This is an investigative work of a quantitative and qualitative nature, through which we seek to
inventory the themes related to the environment addressed in all editions of the ENEM up to the
present, which makes up the period from 1998 to 2016. As a result of this survey on which
discussions about the environment are favored by the evidence analyzed, we also understand this
text as an opportunity to think about how to approach the socio-environmental crisis in our teaching
practices, considering the way the environmental issue has been presented in the ENEM.
Key words: Environmental issues, ENEM, teaching practices.

1 INTRODUÇÃO

O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP por muito tempo
apresentou o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM como uma avaliação que seria um ―ensaio
para a vida‖. Desta sorte, seria compreensível supormos que neste ―ensaio para a vida‖ venham
sendo, ao longo dos anos, estimuladas a reflexão e a discussão sobre diferentes aspectos que
compõem os desafios postos às gerações do presente, dentre os quais, destacamos a crise
socioambiental e os limites civilizatórios que a mesma tem colocado à humanidade.
Criado em 1998 com o duplo objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes brasileiros ao
concluírem a educação básica e contribuir para a melhoria da qualidade desse nível de escolaridade,
o ENEM passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino
superior a partir de 2009 (INEP, 2011). Desde então, tem registrado ano após ano recordes no
número de candidatos inscritos, tornando-se um dos maiores exames do mundo. Assim, a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

importância social e educacional do ENEM tem crescido cada vez mais, o que implica também
falarmos em responsabilidades ampliadas naquilo que diz respeito à qualidade das questões que
compõem o exame e o seu potencial papel de indutoras de reflexões acerca de assuntos caros à
sociedade, como o são, frequentemente, os temas anuais das propostas de redação.
Nesse sentido, desde a nossa vinculação com os campos da Educação Ambiental, do Ensino
de Ciências e Biologia e do Ensino de Geografia, gostaríamos de apresentar neste trabalho um
levantamento de questões do ENEM sobre os desafios ambientais de nosso tempo. Para tanto,
identificamos as principais temáticas ambientais presentes nas provas do ENEM, sendo
consideradas, aqui, todas as edições do exame desde 1998 até a sua mais recente edição, em 2016.
Finalmente, como desdobramento deste levantamento sobre quais discussões acerca do meio
ambiente são favorecidas pelas provas analisadas, entendemos este texto, também, como uma
oportunidade para pensarmos em como abordarmos a crise socioambiental em nossas práticas
docentes, tendo em vista a forma como a questão ambiental tem se apresentado no ENEM. Aqui,
vamos ligar os dados pesquisados à ideia de professor reflexivo, formulada por D. Schon (1990)
inspirado em John Dewey, onde o autor propõe uma epistemologia da prática centrada na
investigação que o professor faz a partir de sua própria experiência, baseada na reflexão na ação,
para avançar na sua prática pedagógica e produzir experiências mais adequadas, no
desenvolvimento da sua intervenção profissional.

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de um trabalho investigativo de cunho quantitativo e qualitativo por meio do qual


buscamos inventariar temáticas relacionadas ao meio ambiente abordadas em todas as edições do
ENEM até o presente, o que compõe o período de 1998 a 2016. Para tanto, a pesquisa contou com a
análise documental de todas as provas do ENEM aplicadas no referido período que foram obtidas
no endereço eletrônico do INEP, qual seja: http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos. É importante
destacar que a totalidade das questões das provas do ENEM passou por uma análise de conteúdo
empreendida pelos pesquisadores, tendo sido este o esforço de pesquisa para a obtenção de dados
quantitativos e qualitativos sobre questões que traziam em si aspectos discursivos sobre meio
ambiente. A análise de conteúdo deve ser entendida, de acordo com Franco (2003), desde uma
concepção crítica e dinâmica da linguagem, cujo fenômeno envolve o uso de representações sociais
por determinados grupos da sociedade para expressar a sua compreensão da realidade nos
documentos que produzem.
Sendo assim, inicialmente, foram identificadas as questões sobre meio ambiente nas provas
analisadas de cada edição do exame, o que nos proporcionou estipular a porcentagem relativa destas
questões em relação às demais. Posteriormente, esses mesmos dados foram tabulados e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interpretados a partir de referenciais teóricos marcadamente dos campos da Educação Ambiental, do


Ensino de Ciências e Biologia e do Ensino de Geografia que nos permitiram agrupar as questões
levantadas anteriormente em categorias de acordo com a semelhança dos temas promovidos por
elas. Com isso, também foi possível indicar a frequência dos temas ambientais inventariados ano a
ano do ENEM.

3 AS QUESTÕES AMBIENTAIS NO ENEM

Na sequência, apresentaremos principalmente dados quantitativos referentes a questões


sobre meio ambiente no ENEM no período de 1998 a 2016, que foi dividido em outros dois
períodos referentes ao ―antigo ENEM‖ aplicado de 1998 a 2008 e ao ―novo ENEM‖ aplicado desde
2009 até hoje. Por outro lado, os referidos dados encontram-se discutidos a partir de referenciais
teóricos sobre avaliação (LUCKESI, 2011 E 2000) e práticas docentes (TARDIF, 2014) e, sempre
que possível, também a partir de referências a eventos geopolíticos e/ou a desastres ambientais, por
exemplo, que, a nosso ver, explicam alguns dados circunstanciais de incremento de questões sobre
meio ambiente nas provas do ENEM em certos anos do período estudado. Procuramos, aqui, tratar
objetivamente dos temas ambientais que mais aparecem nas questões do ENEM no período
analisado, com um breve exemplo de reflexão de como estas temáticas permeiam a discussão na
escola e na sociedade e como o conhecimento desses dados fornecem elementos que podem facilitar
a prática pedagógica do cotidiano dos professores do Ensino Médio.

3.1 Período 1998-2008

A partir da tabulação dos dados coletados foi possível constatar que nas cinco primeiras
edições do ENEM as questões dedicadas à reflexão de temas ambientais correspondiam, em média,
a 19% do total de itens do exame. Por outro lado, foi observado, também, um significativo
incremento da relevância dos assuntos sobre meio ambiente no período de 2003 a 2008, quando a
média das questões a este respeito foi de 24,6%.
De modo geral, esses dados nos dizem da crescente relevância das questões ambientais para
a sociedade brasileira no começo do século XXI quando, de fato, haviam políticas públicas voltadas
à discussão das questões ambientais sendo implementadas conjuntamente pelos ministérios da
Educação (MEC) e do Meio Ambiente (MMA). No âmbito do MMA, temos como exemplo as
Conferências Nacionais de Meio Ambiente (CNMA) realizadas nesse ínterim, quando foram
realizadas três das quatro CNMA organizadas até hoje (MMA, s.d.)55.

55
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, s.d.) as quatro Conferências Nacionais de Meio Ambiente
até hoje organizadas foram realizadas em 2003, 2005, 2008 e 2013 e trataram respectivamente dos seguintes temas:
fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente, gestão integrada das políticas de meio ambiente e recursos
naturais, mudanças climáticas e resíduos sólidos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No contexto do MEC, por sua vez, também foram realizadas três Conferências Nacionais
Infanto juvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA) no período em destaque, que contavam com adesão
espontânea das escolas do segundo segmento do Ensino Fundamental e representaram um marco na
política de Educação Ambiental do país (MEC, s.d.).
Em outras palavras, vai ficando explícito, aqui, um interesse genuíno do poder público em
promover espaços de discussão sobre a questão ambiental nesse período de 2003 a 2008, ao tempo
em que nos parece plausível afirmar que o ENEM configura-se, assim, como mais um lócus
privilegiado para a consecução desse objetivo.

Tabela 1. Quantitativo de questões sobre meio ambiente nas edições do ―antigo‖ ENEM.
Fonte: Análise documental das provas do ENEM (1998-2008).
Ano Quantidade de Questões % Relativo ao Total de Questões da Prova
1998 14 22,2%
1999 11 17,4%
2000 13 20,6%
2001 11 + Redação 17,4%
2002 11 17,4%
2003 21 33,3%
2004 16 25,4%
2005 8 12,7%
2006 14 22,2%
2007 18 28,5%
2008 16 + Redação 25,4%

Além das questões propriamente ditas como podemos observar na tabela acima, em 2001 e
2008, as provas do ENEM ainda trataram sobre meio ambiente em suas propostas de redação. Em
ambas as edições, a questão ambiental apareceu como tema de redação tendo como contexto de
reflexão o problema do desmatamento. Contudo, em 2001, a ênfase dada foi em propor aos
participantes do exame que refletissem sobre como conciliar o desenvolvimento com a preservação
ambiental; já em 2008, o tema da prova ressaltou a relevância da Amazônia para o meio ambiente e
para a economia brasileira, enfatizando que o desmatamento persistente deste bioma poderá
acarretar, no longo prazo, danos importantes ao regime de chuvas em diferentes regiões do país, que
é justamente alimentado pela floresta.

Tabela 2. Temáticas ambientais presentes nas edições do ―antigo‖ ENEM. Fonte: Análise documental das
provas do ENEM (1998-2008).
Ano Temáticas ambientais (Quantidade de Questões)
1998 Saneamento básico (3), Água (2), Chuva ácida (2), Ecologia da paisagem (2), Qualidade do ar (2),
Reforma agrária (2), Geração x Consumo de energia (1)
Consciência planetária (3), Hidroelétricas (2), Água (1), Combustíveis fósseis (1), Energia solar (1),
1999 Florestas tropicais: desmatamento (1), Florestas tropicais: ecologia dos solos (1), Saneamento básico
(1)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Geração x Consumo de energia (2), Acúmulo e disposição do lixo sólido (1), Água (1), Chuva ácida
2000 (1), Combustíveis fósseis (1), Despejo de esgotos (1), Hidroelétricas (1), Ordenamento urbano (1),
Preservação ambiental (1), Qualidade do ar (1), Questão indígena: Demarcação de terras (1), Relação
homem-natureza (1)
Geração x Consumo de energia (2), Água (1), Combustíveis fósseis (1), Biodiversidade (1), Chuva
2001 ácida (1), Mata Atlântica: desmatamento histórico (1), Pesca predatória (1), Questão indígena:
integração do índio à sociedade brasileira (1), Recuperação de ambientes degradados (1), Riscos da
radiação e da toxicidade de determinadas substâncias (1)
Contaminação por mercúrio ao longo da cadeia alimentar (2), Extrativismo (2), Mudanças climáticas
2002 (2), Chuva ácida (1), Geração x Consumo de energia (1), Qualidade do ar (1), Reaproveitamento de
lixo orgânico (1), Reparação de crimes ambientais (1)
Água (5), Biodiversidade (3), Combustíveis alternativos: óleo de girassol e gás natural (3),
2003 Combustíveis fósseis (2), Geração x Consumo de energia (2), Atividades humanas decorrentes de
problemas sociais e ambientais: catação de latinhas (1), Coleta seletiva (1), Eficiência energética (1),
Floresta Amazônica: desmatamento (1), Lixo orgânico (1), Mudanças climáticas (1)
Geração x Consumo de energia (5), Fontes energéticas alternativas (2), Água (1), Aquífero Guarani
2004 (1), Cerrado: desmatamento (1), Floresta Amazônica: desmatamento (1), Poluição de rios (1),
Remediação de desastres ambientais (1), Resíduos sólidos (1), Transporte urbano (1), Uso de
agrotóxicos (1)
Atividade pesqueira (1), Fontes energéticas alternativas (1), Lixo plástico (1), Mata Atlântica:
2005 desmatamento histórico (1), Poluição em áreas urbanas (1), Poluição industrial: Fabricação de papel
(1), Transgênicos (1), Transposição das águas do rio São Francisco (1)
Agroecologia (2), Mudanças climáticas (2), Aquífero Guarani (1), Chuva ácida (1), Crise hídrica: São
2006 Paulo (1), Degradação ambiental do cerrado (1), Fontes energéticas alternativas (1), Geração x
Consumo de energia (1), Impacto ambiental da mineração (1), Poluição industrial: Fabricação de papel
(1), Qualidade do ar (1), Saneamento básico (1)
Aquecimento global (4), Fontes energéticas alternativas (3), Condições precárias de trabalho na
2007 monocultura da cana-de-açúcar (2), Resíduos sólidos (2), Água (1), Comércio ilícito de fauna silvestre
(1), Eficiência energética (1), Fauna ameaçada de extinção (1), Perda de biodiversidade vegetal (1),
Monocultura da cana-de-açúcar (1), Queima da cana-de-açúcar (1)
Fontes energéticas alternativas (4), Floresta Amazônica: desmatamento (2), Unidades de Conservação
2008 (2), Água de lastro (1), Ciclo hidrológico na Amazônia (1), Fluxo de energia na atmosfera (1),
Incidência de chuvas (1), Lixo eletrônico (1), Pantanal (1), Poluição de rios (1), Serviços
ecossistêmicos de florestas tropicais (1)

Na tabela 2, acima, podemos constatar que as questões sobre meio ambiente no período do
―antigo ENEM‖ atribuíram bastante destaque ao tema da geração e consumo de energia.
Inicialmente entre os anos de 1998 e 2001, a reflexão proposta se deu acerca da matriz energética
brasileira caracteristicamente baseada em hidroelétricas e na necessidade de um consumo racional
de recursos hídricos. Aqui não podemos deixar de recordar que o país enfrentava neste período
sérios problemas para gerar energia elétrica suficiente para atender a demanda da sociedade, ao
tempo mesmo que vivenciamos graves ―apagões‖ de eletricidade e campanhas importantes para que
as famílias economizassem esse recurso.
Já a partir de 2004, verificamos que questões sobre fontes energéticas alternativas começam
a ganhar cada vez mais espaço nas edições do ENEM. Neste ponto, poderíamos até dizer que este
movimento representou o interesse da sociedade brasileira na época em pensar alternativas que
ampliassem a sua matriz energética, tendo o ENEM canalizado esta discussão ao atribuir

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

visibilidade a este tema nas edições mencionadas. De fato, nas provas de 2007 e 2008, que
encerram o período do ―antigo ENEM‖, a questões sobre fontes energéticas alternativas foram as
que tiveram maior prevalência. O que isso tem a nos dizer? Acreditamos esta tendência do ―antigo
ENEM‖ em discutir diferentes aspectos contemporâneos da sociedade a cada edição é algo que
reforça o seu caráter de avaliação processual (LUCKESI, 2000), com ênfase na formação dos
indivíduos e no exercício da cidadania.

3.2 Período 2009-2016

Este período de exames a partir de 2009 que consolida o chamado ―novo ENEM‖
apresentou uma importante diminuição na frequência de questões sobre meio ambiente em relação
ao período anterior. Agora, o que passamos a verificar nas provas é uma média de apenas 10,2% de
perguntas que tratam do meio ambiente de alguma forma. Isto significa dizer, em outras palavras,
que neste novo período as temáticas ambientais perderam espaço em relação ao período anterior em
termos quantitativos, posto que no ―antigo ENEM‖ a média para tais questões era de 21,8%.
No período considerado, podemos verificar que o tema do meio ambiente além das questões
identificadas na tabela 3 (abaixo) também foi abordado na proposta da redação da segunda
aplicação do ENEM no ano de 2010. Nesse sentido, cabe-nos mencionar que a referida prova de
redação solicitou aos participantes que refletissem sobre desastres ambientais em espaços urbanos,
pois foi neste mesmo ano que ocorreram enchentes no nordeste e chuvas intensas no Rio de Janeiro
que, de acordo como Zamparoni (2011), estariam relacionadas com a acentuação das mudanças
climáticas.

Tabela 3. Quantitativo de questões sobre meio ambiente nas edições do ―novo‖ ENEM. Fonte: Análise
documental das provas do ENEM (2009-2014). * No ano de 2010 houve duas aplicações do ENEM.
Quantitativo de Questões por Área de Conhecimento
Ciências da Linguagens, % Relativo
Ciências Humanas e Matemática e suas
Natureza e suas Códigos e suas ao Total de
Ano suas Tecnologias (% Tecnologias (%
Tecnologias (% Tecnologias (% Questões da
Relativo ao Total de Relativo ao Total de
Relativo ao Total de Relativo ao Total de Prova
Questões da Área) Questões da Área)
Questões da Área) Questões da Área)
2009 13 7 3 4 17,2%
2010.1* 8 6 4 3 11,6%
2010.2* 8 6 2 + Red. 4 11,1%
2011 13 13 1 2 16,1%
2012 9 5 1 0 8,3%
2013 6 2 2 1 6,1%
2014 7 2 1 2 6,6%
2015 7 3 2 2 7,7%
2016 5 4 3 2 7,7%

Para a autora (op. cit., p. 159), ―o desastre natural resulta da combinação entre as
características físicas do lugar, que refletem suas suscetibilidades e fragilidades associadas à
capacidade de resposta e recuperação da sociedade expressas por sua vulnerabilidade e resiliência‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

E foi exatamente com este viés que o tema de desastres ambientais foi cobrado na edição do ENEM
em consideração, posto que o tema exigia que o participante refletisse sobre isso tendo em vista a
importância da ajuda humanitária nesses casos, apresentando experiência ou proposta de ação social
para o enfrentamento desse tipo de situação. No ano de 2011, verificou-se um aumento no número
de questões sobre meio ambiente, muitas delas tratando sobre deslizamentos, enchentes e tragédias
ambientais. É importante destacar que um pouco antes do período de aplicação das provas do
ENEM em 2011, ocorreram grandes desastres ambientais no Brasil, como já destacados, e que isso
pode ter tido alguma influência na elaboração de questões e no possível aumento de assuntos sobre
a temática verificados na edição do ano em tela.
Para além da dimensão quantitativa as questões sobre meio ambiente no ―novo ENEM‖
apresentaram um recuo qualitativo também, pois verificamos nelas um viés mais utilitário dado ao
meio ambiente, que passa a ser debatido principalmente a partir da noção de recursos naturais,
como é o caso da água e da geração de energia. Não estamos afirmando, aqui, que todas as questões
sobre meio ambiente no ENEM a partir de 2009 tiveram essa perspectiva. O que estamos
argumentando é que houve uma mudança na abordagem dos temas ambientais se comparamos tais
itens aos verificados nas provas do ―antigo ENEM‖, muito mais abrangentes. Agora, as questões
voltam-se especialmente para aspectos relacionados ao consumo racional de recursos naturais.

Tabela 4. Temáticas ambientais presentes nas edições do ―novo‖ ENEM. Fonte: Análise documental das
provas do ENEM (2009-2014). * No ano de 2010 houve duas aplicações do ENEM.
Temáticas Ambientais por Área de Conhecimento
Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Linguagens, Códigos e Matemáticas e suas
Ano suas Tecnologias suas Tecnologias suas Tecnologias Tecnologias
(Quantidade de (Quantidade de (Quantidade de (Quantidade de
Questões) Questões) Questões) Questões)
2009 Efeito estufa (2), Água (1), Aquecimento Consumo (2) Água (2), Biodiesel (1),
Energias renováveis global (1), Dióxido de carbono (1)
(2), Combustíveis Desertificação (1),
fósseis (1), Chuva ácida Desmatamento (1),
(1), Lixo orgânico (1), Exploração de recursos
Reflorestamento (1), naturais (1), Fontes
Tempo geológico (1) energéticas (1),
Sustentabilidade (1)
2010. Biomas (1), Erosão (2), Expansão Desmatamento (1), Água (2),
1* Combustíveis da fronteira agrícola Ecossistemas (1), Pesca Desmatamento (1),
alternativos (1), (1), Movimentos Ilegal (1), Sustentabilidade (1)
Combustíveis fósseis ambientais (1), Sustentabilidade (1)
(1), Desastres Resíduos sólidos (1)
ambientais (1),
Expansão da fronteira
agrícola (1), Fontes de
energia (1),
Saneamento básico (1)
2010. Aquecimento global Consumo (2), Sustentabilidade (2) Água (1), Consumo (1),
2* (3), Agrotóxico (1), Agrotóxicos (1), Enchentes (1)
Combustíveis fósseis Biomas (1), Chuva
(1), Enchente (1), ácida (1), Queimadas
Fiscalização ambiental (1), Reciclagem (1)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(1), Reciclagem (1)


2011 Água (3), Fontes de Desmatamento (2), Água (1) Água (2)
energia (2), Acidente nuclear (1),
Aquecimento global Chuva ácida (1),
(2), Biocombustíveis Contaminação do solo
(1), Biofiltros (1), (1), Desordenamento
Combustíveis fósseis territorial (1), Expansão
(1), Controle Biológico da fronteira agrícola
(1), Deslizamentos (1), (1), Fontes alternativas
Desmatamento (1), (1), Migração por
Incineração (1) questões ambientais
(1), Poluição por metais
(1), Queimadas (1)
2012 Ameaças à camada de Água (2), Efeitos Sustentabilidade (1) Nenhum tema
ozônio (1), nocivos de
Aquecimento global combustíveis fósseis
(1), Compactação do (1), Mudanças
solo (1), Consumo climáticas e sociedade
racional de eletricidade (1), Transgênicos e
(1), Matriz energética agricultura (1)
(1), Mitigação de danos
decorrentes de
acidentes ambientais
(1), Pesticidas (1),
Saneamento básico (1),
Reciclagem (1)
2013 Ciclo da água (1), Danos ambientais Aquecimento global Danos ambientais
Energia renováveis (1) decorrentes da (1), Cosmovisão causados pela
implantação de indígena sobre meio radioatividade (1)
hidrelétricas (1), Efeito ambiente (1)
estufa (1), Impactos da
mineração no ambiente
(1),
Poluição ambiental de
correntes de fontes
energéticas (1),
Problemas ecológicos
causados por espécies
invasoras (1), Resíduos
sólidos (1)
2014 Água (1), Geração de Biorremediação de Água (1) Consumo de energia
energia elétrica (1) resíduos (1), Camada de elétrica (1), Saneamento
ozônio (1), Danos básico (1)
ambientais causados pela
geração de energia
nuclear (1), Danos do
dióxido de carbono aos
recifes de corais (1),
Geração de energia a
partir de resíduos sólidos
(1), Minimização de
impactos ambientais (1),
Resíduos sólidos (1)
2015 Água (3), Ecossistemas Água (1), Área de Água (1), Resíduos Água (2)
aquáticos (1) Energia proteção ambiental (1), sólidos (1)
solar (1); Pesticidas (1); Desertificação (1)
Química verde (1)
2016 Aquecimento global (1), Água (2), Ameaça a Água (1), Conservação Água (1), Gerenciamento
Fontes energéticas (1), biodiversidade (1), das florestas (1), dos recursos naturais (1)
Geração de energia (1), Destruição do meio Desastres ambientais (1)
Resíduos sólidos (1), natural (1)
Sistemas agroflorestais
(1)

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1301


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Como estamos argumentando, no sentido das temáticas tratadas pelas questões sobre meio
ambiente no ENEM podemos constatar na tabela acima que a água assume um lugar central nas
questões analisadas. Tais itens das provas analisadas se concentram, respectivamente, nas áreas de
Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências Humanas e suas tecnologias. A dimensão
reflexiva destas questões é múltipla e versam principalmente sobre temas ligados à disponibilidade
e conservação, ou seja, o meio ambiente como recurso a partir da ideia de uso funcional. Sendo
assim, a água é vista como um elemento essencial para a sociedade humana e crucial para o
desenvolvimento da vida.
Nesse sentido, o professor de posse desses dados pode estabelecer uma visão crítica e
abrangente que construa pontes de diálogo entre a realidade que esta posta e a partir disso esclarecer
que a falta de água também pode ser uma produção humana e que por consequência pode gerar
conflitos entre povos no futuro, já que, em função do avanço das técnicas ela passe a ser
instrumentalizada a ser uma mercadoria. Gadotti (1995), retrata a relação entre prática pedagógica,
conflito e contradição, isto é, a abrangência de situações e visões para um mesmo tema que
inevitavelmente revelará ações e reflexões para um estudo mais elaborado. Pimenta (2002, p. 26),
relata a importância da teoria para oferecer aos professores perspectivas de análise para
compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como
profissionais.
Cabe, então, ao docente aludir à compreensão a partir das intencionalidades do mundo e a
prevalência de seus atores hegemônicos, já que, como visto nos dados, as questões do ENEM
contextualizam essa dinâmica atual. Essas relações ocorrem no espaço geográfico que, segundo
Milton Santos (2002), é uma instância social. Assim, a temática da água e de outros temas
ambientais que aparecem nos dados está atrelada a realidade e esta é considerada uma
complexidade que necessita de uma investigação mais apurada e, por conseguinte, de uma aplicação
eficaz em sala de aula. É importante destacar que aqui os dados mostram uma tendência de
diminuição das questões de meio ambiente ao longo dos anos, sobretudo no ―novo ENEM‖, a partir
de 2009; sendo assim, associamos a situação à ideia de Tardif (2014), ao dizer que há uma
pragmatização dos conhecimentos, da formação e da cultura, e que isso vai incidir no ofício dos
professores, já que os mesmos seriam equipados ao funcional e o útil. Por esses motivos fica claro a
mudança da contextualização dos problemas ambientais nas provas, o que nos faz pensar nas
contribuições de Luckesi (2000) acerca das características dos processos de avaliação, a saber: ―o
ato de avaliar é processual, inclusivo, dialógico, investigativo e diagnóstico, já os exames são
pontuais, seletivos e antidemocráticos, classificatório, excludente e está centrado no produto, com a
característica de prêmio e castigo‖ (LUCKESI, 2011. p. 149-294).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dessa forma, podemos argumentar que o ―antigo ENEM‖ privilegiava questões abrangentes
em suas provas, tais como as que envolviam temáticas ambientais, pois tem um caráter processual,
enquanto o ―novo ENEM‖ vem perdendo esta característica de avaliação para se tornar meramente
um exame de seleção, o que reflete, inclusive, no pouco espaço que temas relacionados com a
formação integral dos jovens estudantes, a exemplo das questões sobre meio ambiente, ocupam nas
edições recentes do ENEM (Figura 1).

Figura 1. Tendência de diminuição das questões sobre meio ambiente nas provas do ENEM (1998-2014).
Fonte: Análise documental das provas do ENEM (1998-2016).

No gráfico acima fica evidente o declínio da frequência de questões sobre meio ambiente ao
longo do ENEM, o que se acentuou bastante nas últimas cinco edições do exame. Assim, a reflexão
que se impõe, aqui, não é outra senão perguntamo-nos se o INEP vai insistir nessa curva atual de
desprestígio de temas ambientais no ENEM ou se a importância do debate dessas questões vai
encontrar espaço mais uma vez no exame.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da prevalência ou declínio de questões ambientais ao longo dos anos do ENEM


que realizamos neste trabalho nos informam de processos que denotam certa dimensão política dos
temas que são discutidos nas provas do ENEM, tendo especial atenção para os temas sobre meio
ambiente. Isso porque verificamos que a incidência desses assuntos guarda relação com fatores e
circunstâncias de gestão socioambiental e de eventos como desastres ambientais observados ao
longo das edições analisadas. Nesse sentido, acreditamos que os dados aqui apresentados
evidenciam a tendência do INEP em priorizar o caráter seletivo do ENEM, em detrimento de seu

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

viés formativo observado em suas primeiras edições. Como observado, a quantidade e a qualidade
das questões sobre meio ambiente apresentaram declínio ao longo do tempo, trazendo uma visão
utilitária do meio ambiente às abordagens do tema no ENEM.
Por fim, temos que ter em mente ao tratarmos a questão ambiental que ela pode suscitar
conflitos e contradições, inclusive, no cenário escolar, a partir do debate de idéias entre
profissionais e alunos no contexto das atividades docentes. Mas ainda nesses contextos, existe a
oportunidade de intervir nos conflitos, facilitando o debate sobre meio ambiente, transformando as
concepções e práticas dos indivíduos em processo de escolarização. É por isso que defendemos que
a análise dessas questões do ENEM pode servir de estratégia para a promoção de espaços de
discussão sobre meio ambiente no ensino médio, uma vez em que as referidas questões sejam
usadas dentro de um processo avaliativo reflexivo, como o que aqui foi comentado, entendendo que
o ensino também é uma atividade planejada, mas que deve estar sempre aberta à interação com os
alunos e aos devires disto decorrentes.

5. REFERÊNCIAS

FRANCO, M. L. P. B. Análise de conteúdo. Brasília: Plano editora, 2003.

GADOTTI, M. Pedagogia da práxis. São Paulo: Cortez, 1995.

INEP, Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sobre o Enem. 2011.
Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/enem/sobre-o-enem>. Acesso em: 18 jan. 2014.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem. São Paulo: Cortez 2011.

Avaliação da Aprendizagem (Entrevista). Jornal do Brasil, 21 jul. 2000. Disponível em:


<http://www.luckesi.com.br/textos/art_avaliacao/art_avaliacao_entrev_jornal_do_Brasil2000.
pdf>. Acesso em: 1 maio 2017.

MEC, Ministério da Educação. Memórias da conferência Infanto juvenil. [s.d.]. Disponível em:
<http://conferenciainfanto.mec.gov.br/2012-05-22-18-29-37/2012-05-30-19-46-17>. Acesso em:
1 maio 2017.

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Conferência Nacional do Meio Ambiente. [s.d.]. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/conferencia-nacional-do-meio-
ambiente>. Acesso em: 1 maio 2017.

PIMENTA, S. G; GHUEDIN, E. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um


conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1304


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2002.

TARDIF, M. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de
interações humanas. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

ZAMPARONI, C. A. Mudanças climáticas, riscos e desastres naturais em ambientes urbanos. In:


SEABRA, G. (Org.). Educação Ambiental no Mundo Globalizado. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 2011. p. 159-170.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PENSANDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DA


CIDADE DE MOSSORÓ/RN

Leia Mara de MENEZES


Mestranda do PROFIAP/UFERSA
leia.menezes@ufersa.edu.br
Erandi Canafístula ARAÚJO
Mestrando do PROFIAP/UFERSA
erandiaraujo@gmail.com
Wendson Max SILVINO
Mestrando do PROFIAP/UFERSA
wendson@ufersa.edu.br
Ludimilla Carvalho Serafim de OLIVEIRA
Professora Doutora em Arquitetura e Urbanismo- PROFIAP/UFERSA
ludimilla@ufersa.edu.br

RESUMO
Este trabalho versa sobre as temáticas de Educação Ambiental e Meio Ambiente e tem como
objetivo analisar a Educação Ambiental em escolas públicas da cidade de Mossoró/RN e quais as
concepções dos alunos sobre meio ambiente. Realizou-se uma pesquisa de caráter quantitativo e
qualitativo em duas públicas estaduais de ensino fundamental desta cidade, a Escola Estadual
Francisco Martins e a Escola Estadual Inalda Cabral. Para a coleta de dados, foram aplicados
oitenta e dois questionários com perguntas abertas e fechadas aos alunos dos 4º e 5º anos das
escolas durante o mês de junho de 2017. A escolha pelos alunos dessas séries se deu em razão de
eles representarem o final do primeiro ciclo da educação básica. A opção pela Escola Estadual
Francisco Martins foi devida à sua participação, desde 2013, em um Projeto Ambiental. Já a escola
Escola Estadual Inalda Cabral não participa de nenhum projeto nessa área. Tais diferenças entre as
escolas permitiram comparar a concepção de meio ambiente para os alunos pesquisados. Buscou-se
analisar o conteúdo das respostas dos alunos e a repetição de palavras, comparando-as com a
bibliografia utilizada para o estudo. Quanto aos dados numéricos, optou-se por representá-los por
meio de gráficos. De forma geral, os resultados revelam que quando os alunos das duas escolas
conceituam meio ambiente, há uma predominância de elementos que indicam uma visão naturalista
de meio ambiente, alheia ao meio ambiente social, político, econômico e cultural que eles estão
inseridos. No entanto, percebe-se que quando eles falam sobre os problemas ambientais e sobre a
responsabilidade por esse meio, eles compreendem o meio ambiente de maneira globalizante, se
referindo ao meio ambiente com algo em torno deles e em que eles estão inseridos, de maneira
sistêmica.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Escolas Públicas.
ABSTRACT
This paper goes to analize how the Environment Education is worked in public schools in the city
of Mossoró / RN and the students' conceptions about the environment. The methodolofy was based
on a quantitative and qualitative research was carried out in two public primary schools named
Escola Estadual Francisco Martins and Escola Estadual Inalda Cabral. For the data collection,
eighty-two questionnaires with open and closed questions were applied to students of the primary
schools during the month of June 2017. The students were chosen because they represented the end

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

of the First cycle of basic education. The option for the Francisco Martins State School was due to
its participation, since 2013, in an Environmental Project. The school Escola Estadual Inalda Cabral
was chosen because it does not participate in any project in this area. Such differences between the
schools allowed comparing the conception of the environment for the students surveyed. We sought
to analyze the content of the students' responses and the repetition of words, comparing them with
the bibliography used for the study. As for the numerical data, it was chosen to represent them by
means of graphs. In general, the results show that when the students of the two schools
conceptualize the environment, there is a predominance of elements that indicate a naturalistic view
of the environment, unrelated to the social, political, economic and cultural environment that they
are inserted. However, it is noticed that when they talk about environmental problems and
responsibility, they understand the environment in a globalizing way, referring to the environment
with something around them and in what They are inserted in a systemic way.
Keywords: Environmental Education, Environment, Public Schools.

INTRODUÇÃO

A degradação que o ser humano vem causando ao meio ambiente não é recente. Durante
muitos anos, adotou-se modelos de desenvolvimento que demandavam a extração de grandes
quantidades de recursos naturais e uma excessiva contaminação do meio ambiente natural. Este
processo foi intensificado pela Revolução Industrial, uma vez que o grande crescimento econômico
resultante desse acontecimento, combinado com a busca de melhor qualidade de vida, e o aumento
do consumo desencadearam um quadro de degradação contínua do meio ambiente (DIAS, 1999).
Com isso, surgiu a necessidade de discussão em torno das questões ambientais, através de
conferências e encontros em todo o mundo. Começa-se, então, a pensar na educação ambiental,
como instrumento que objetiva o desenvolvimento de uma consciência crítica nas pessoas,
direcionada para a manutenção ecológica (BRANDALISE, et al., 2015).
No Brasil, um marco importante foi a instituição da Política Nacional de Educação
Ambiental, através da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Tal dispositivo relaciona a educação
ambiental aos processos por meio dos quais, o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,
1999).
Ainda no âmbito nacional, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 1996 que estabelece a as
diretrizes e bases da educacional, trata ligeiramente da educação ambiental em dois artigos. No
artigo 32, inciso II, o ensino fundamental deve objetivar a formação básica do cidadão através
também da compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e
dos valores em que se fundamenta a sociedade. E, pouco adiante, no artigo 36, §1º, dispõe que os
currículos do ensino fundamental e médio devem contemplar, obrigatoriamente, o estudo da língua
portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
política (BRASIL, 1996).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Educação Ambiental deve estar presente em todos os espaços de educação das pessoas
(REIGOTA, 2012). Assim, escolas, parques, reservas ecológicas, universidades, associações de
bairro, meios de comunicação podem realizar Educação Ambiental. Nesse sentido, a Lei nº 9.795,
de 27 e abril de 1999 incumbe a promoção, pelas instituições educativas, da educação ambiental de
maneira integrada aos programas educacionais que estas desenvolvem (BRASIL, 1999).
Na compreensão de Reigota (2012, p. 40) ―a escola, da creche aos cursos de pós-graduação,
são locais privilegiados para a realização da educação ambiental, desde que se dê oportunidade à
criatividade, ao debate, à pesquisa e a participação de todos.‖ De maneira que, faz-se necessário
conhecer as concepções das pessoas envolvidas sobre meio ambiente, pois, só assim será possível
realizar atividades de educação ambiental.
Diante disso, emergem as seguintes questões: Como a Educação Ambiental vem sendo
trabalhada nas escolas públicas? Qual a percepção que alunos têm de meio ambiente?
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é analisar como a Educação Ambiental é trabalhada
em duas escolas públicas da cidade de Mossoró/RN e quais as concepções dos alunos sobre meio
ambiente.
O presente trabalho se estrutura da seguinte maneira: na primeira parte faremos uma breve
reflexão da literatura em torno da educação ambiental e meio ambiente, na segunda parte será
apresentada a metodologia da pesquisa, em seguida, serão socializados e discutidos os resultados da
pesquisa e, por último as considerações finais sobre o estudo.

MEIO AMBIENTE

Não existe um conceso na literatura acerca do conceito de meio ambiente. A ampliação das
discussões em torno das questões ambientais, tem feito com que muitos autores se detenham sobre
esse tema.
Fiorillo (2013) propõe uma classificação do meio ambiente em quatro significativos
aspectos, que são: natural, artificial, cultural e do trabalho. Para esse autor, o meio ambiente natural
(também conhecido como físico) é formado pela atmosfera, pelos elementos da biosfera, pelas
águas, pelo solo, pelo subsolo (inclusive recursos minerais), pela fauna e flora. O meio ambiente
artificial compreende o espaço urbano construído (conjunto de edificações, chamado de espaço
urbano fechado) e os equipamentos públicos (espaço urbano aberto). O meio ambiente cultural está
relacionado a história de seu povo e sua formação. Já o meio ambiente do trabalho contempla o
aspecto da saúde vinculado ao local onde as pessoas fazem suas atividades laborais, sejam
remuneradas ou não, cujo equilíbrio baseia-se na salubridade do meio e na ausência de agentes que
comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na legislação brasileira, a Lei nº 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, em seu Art. 3º, inciso I, mostra que: Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se
por meio ambiente: ―o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖ (BRASIL, 1981).
Reigota (1991), por sua vez, categoriza as concepções de meio ambiente em três divisões
distintas: naturalista, antropocêntrica e globalizante. Na categoria naturalista, o meio ambiente é
tido como sinônimo de natureza intocada, onde são considerados apenas os aspectos naturais. Na
categoria antropocêntrica, evidencia-se a utilidade dos recursos naturais para a sobrevivência do ser
humano. Por sua vez, a categoria globalizante considera as relações recíprocas entre natureza e
sociedade.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Em relação à Educação Ambiental, sua história tem relação direta com as conferências
mundiais e com os movimentos sociais em todo o mundo. Porém, antes mesmo desses eventos
oficiais, pessoas e grupos, sem muita notoriedade, já realizavam ações e práticas pedagógicas que se
aproximavam do que se entende hoje como educação ambiental (REIGOTA, 2012).
Diversos eventos podem ser destacados, ao longo do tempo, como esforços direcionados
para, pelo menos, uma reflexão sobre os problemas ambientais.
Em 1972, em Estocolmo, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano, que debateu a ação do homem em relação à degradação da natureza. Dessa
conferência resultou a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, documento que continha
princípios de comportamento e responsabilidade sobre tomadas de decisões com relação a questões
ambientais. Outro resultado da Conferência foi um Plano de Ação que convocava todos os países a
cooperarem na busca de soluções para uma série de problemas ambientais.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na
cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992, que teve como principal objetivo debater os problemas
ambientais mundiais. Dessa conferência, como principal documento dessa confência tem-se a
Agenda 21, que visa promover o desenvolvimento ambiental racional (FELDMANN, 1997).
No que diz respeito à Educação Ambiental no Brasil, a Lei nº 9.795 estabelece, em seu Art.
10, que ―a educação ambiental será desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e
permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal‖. A mesma lei, em seu Art. 9º,
estabelece a obrigatoriedade da Educação Ambiental na educação básica: ―Entende-se por educação
ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino
públicas e privadas, englobando: I - educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental e
c) ensino médio (BRASIL, 1999).‖

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Em 1997, foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais, que constituem um


referencial para a educação fundamental no país. No aspecto ambiental, eles indicam que o aluno
deva ser capaz de sentir-se integrante, dependente e agente transformador e, dessa maneira,possa
contribuir ativamente para a melhoria do meio ambiente (BRASIL, 1997).
Há diversas maneiras de inserir a temática ambiental nos currículos escolares, como, por
exemplo, a utilização de experiências práticas, projetos e atividades fora da sala de aula. É
importante que os professores saibam utilizar de práticas criativas, atuando como fator-chave para
mediar o processo de aprendizagem. É importante também destacar que a Educação Ambiental é
interdisciplinar, contemplando todas as áreas que formam o currículo (SATO, 2003).

METODOLOGIA

Tendo em vista o objetivo proposto, foi realizada, em junho de 2017, uma pesquisa de
caráter quantitativo e qualitativo em duas públicas estaduais de ensino fundamental da cidade de
Mossoró/RN, a Escola Estadual Francisco Martins e a Escola Estadual Inalda Cabral.
A escolha pela abordagem qualitativa se deu com base no entendimento de Minayo (2009,
p. 21) de que a pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
crenças, das aspirações, dos valores e das atitudes.‖ No que diz respeito a pesquisa quantitativa, Gil
(2002) preconiza que a utilização de instrumentos padronizados de coleta de dados, tais como
questionários e formulários, conduzem a resultados de natureza quantitativa. Aqui, dada a
problemática, optou-se pela utilização das duas abordagens.
Para a coleta de dados, foram aplicados questionários com perguntas abertas e fechadas aos
alunos dos 4º e 5º anos das escolas. Além disso, conversou-se com professores dessas escolas e uma
supervisora pedagógica. A escolha pelos alunos dessas séries se deu em razão de eles representarem
o final do primeiro ciclo da educação básica. A faixa etária desses alunos é entre 10 e 14 anos.
Participaram da pesquisa 82 alunos no total.
Optou-se pela Escola Estadual Francisco Martins devido à sua participação, desde 2013, em
um Projeto Ambiental. Já a escola Escola Estadual Inalda Cabral não participa de nenhum projeto
nessa área. Tais diferenças entre as escolas permitirão comparar a concepção de meio ambiente para
os alunos destas escolas.
Para apresentação dos resultados, buscou-se analisar o conteúdo das respostas dos alunos e a
repetição de palavras, comparando-as com a bibliografia utilizada para o estudo. Quanto aos dados
numéricos, optou-se por representá-los por meio de gráficos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Educação Ambiental na Escola Estadual Inalda Cabral

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Escola Estadual Inalda Cabral não possui Projeto Ambiental implementado. No que se
refere às atividades relacionadas ao meio ambiente, as opinões são divididas, algumas professoras
afirmaram que trabalham temáticas ambientais durante o ano inteiro, especialmente nas disciplinas
de Ciências e Geografia. Outras afirmaram que tais atividades são pontuais e ocorrem em datas
referentes ao meio ambiente. Apesar de encontrar-se presente no Projeto Pedagógico da Escola,
como afirmou a Supervisora Escolar, na prática, a Educação Ambiental ocorre de maneira
insatisfatória.

Concepção de meio ambiente para os alunos da Escola Estadual Inalda Cabral

Através da pergunta ―Pra você, o que é meio ambiente?‖ buscou-se compreender a


concepção de meio ambiente para os alunos. Os resultados das análises apontam que, para eles, o
conceito de meio ambiente apresenta-se de várias formas, não existindo, assim, um único conceito.
No entanto, alguns elementos se repetem, permitindo o agrupamento deles nas categorias sugeridas
por Reigota (1991), que são: naturalista, antropocêntrica ou globalizante. (Quadro 1).

Naturalista Antropocêntrica Globalizante


―É um lugar que todas as ―É um lugar que todas as ―É o lugar onde a gente vive e
pessoas vivem sem poluição.‖ pessoas vivem sem poluição.‖ convive com os outros
animais.‖
―É um lugar limpo e bonito pra ―É um lugar limpo e bonito pra
gente viver bem.‖ gente viver bem.‖ ―É um lugar onde a gente vive
com os animais, com as flores,
―Meio ambiente pra mim é ―Meio ambiente pra mim é plantas...‖
uma cidade limpa‖ uma cidade limpa‖
―É onde os seres vivos
―É um lugar para as pessoas ―É um lugar para as pessoas moram.‖
viver.‖ viver.‖
―Ele tem que ficar limpo para
―Uma cidade limpa e bem ―Uma cidade limpa e bem as pessoas não ficarem
cuidada, sem muita poluição.‖ cuidada, sem muita poluição.‖ doentes.‖
Quadro 1 – Resposta dos estudantes da Escola Estadual Inalda Cabral à questão ―Pra você, que é o meio
ambiente?‖, classificadas de acordo com as categorias propostas por Reigota (1991).
Fonte: elaborado pelos autores.

Apesar dos resultados mostrarem as três categorias, a concepção naturalista de meio


ambiente prevalece, através da identificação, por eles, sobretudo, de elementos da flora (árvores,
plantas). A presença humana não é percebida nessa classificação e tem-se uma ideia romântica de
meio ambiente.
Na sequência, foi solicitado aos alunos que escrevessem cinco palavras que vêm à mente
deles quando pensam em meio ambiente. A palavra que mais se repetiu foi ―lixo‖. Em segundo
lugar, as palavras ―árvores‖ e ―limpo/limpeza‖ (Gráfico 1), que se enquadram na concepção
naturalista de meio ambiente, vista anteriormente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

rios 5
árvores 13
lixo 16
limpeza/limpo 13
cuidado/cuidar 6
água 3
plantas 10
animais 8
flores 2
fumaça 5
poeira 4
saúde 5

Gráfico 1 – Palavras que vêm à mente dos alunos da Escola Estadual Inalda Cabral quando eles pensam em
meio ambiente.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Os estudantes foram questionados também se eles já haviam participado de alguma


atividade relacionada ao meio ambiente na escola. A maioria, 30 alunos, respondeu que sim
(Gráfico 2).

sim 30

não 13

Gráfico 2 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Inalda


Cabral quando indagados se já participaram de alguma
atividade relacionada ao meio ambiente na sua escola.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Quando foram pedidos detalhes dessas atividades, eles citaram que participaram de
acampamentos dos escoteiros (atividade que não é da escola); alguns fizeram referência a atividades
que foram realizadas no dia do meio ambiente, à produção de um desenho relatando os cuidados
que eles deviam ter com o meio ambiente e à exibição de um filme sobre meio ambiente. Alguns
chegam a afirmar que não se lembram de qual atividade participaram, demonstrando que estas não
acontecem com tanta frequência.
Os alunos foram, ainda, questionados acerca da existência de problemas ambientais na
escola e no bairro. A maioria dos alunos respondeu que enxerga a existência de problemas
ambientais na escola (Gráfico 3) e também no bairro em que moram (Gráfico 4).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sim 29

não 14

Gráfico 3 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Inalda


Cabral quando questionados se enxergavam problema
ambiental na escola.
Fonte: Elaborado pelos autores

sim 37

não 6

Gráfico 4 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Inalda


Cabral quando questionados se percebiam algum problema
ambiental no bairro em que moram.
Fonte: Elaborado pelos autores

Esse resultado evidencia uma compreensão de meio ambiente relacionada ao contexto que
eles estão inseridos, atreladas às vivências do dia-a-dia, seja no ambiente escolar ou no ambiente de
moradia. Na escola os principais problemas percebidos foram: ―lixo na grama‖, ―paredes riscadas‖,
―os alunos jogam lixo no chão‖. No bairro: ―esgosto a céu aberto‖, ―gasto de água‖, ―muito lixo na
rua‖, ―o campo cheio de lixo‖, ―buzinas‖, ―fumaça de carro‖, ―lixo jogado na calçada‖, ―lixo
bagunçado‖. Além disso, as respostas demonstram a percepção dos alunos em relação à poluição,
de várias formas, sonora (buzina), visual (lixo, paredes riscadas, esgosto a céu aberto), atmosférica
(fumaça de carro), hídrica (gasto de água).
Outro ponto abordado foi sobre os causadores dos problemas ambientais. As crianças
evidenciaram que elas consideram as pessoas (nas respostas: ―nós mesmos‖, ―a gente‖, ―seres
humanos‖) como os principais causadores desses problemas. Eles chegam até a especificar as
pessoas próximas a eles e as ações, como: ―minha vizinha‖, ―nossa comunidade‖, ―os adolescentes
que sujam a praça‖, ―os alunos que jogam lixo na sala‖, ―meus tios‖, ―meus avós‖, ―meus pais‖,
―meus amigos. Autoridades (políticos), empresas e agentes naturais (pragas) também aparecem
como causadores dos problemas ambientais. Uma resposta que chama a atenção é: ―os lenhadores
que desmatam a floresta‖, pois é uma situação distante do cotidiano dos alunos, que pode ter sido
pensada por influência da mídia ou de livros.

Educação Ambiental na Escola da Escola Estadual Francisco Martins

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A escola participa, há quatro anos, do Projeto de Extensão Horta Didática, realizado pela
Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA. O referido projeto tem como proposta
trabalhar a questão da alimentação saudável a partir do cultivo de hortas sem o uso de agrotóxicos.
Além do cultivo da horta, as crianças são acompanhadas por bolsistas, vinculados ao
projeto, estudantes universitários da área das Ciências Agrárias e da Licenciatura Educação do
Campo e recebem material didático e capacitações.

Concepção de Meio Ambiente para alunos da Escola Estadual Francisco Martins

Assim como na Escola Estadual Inalda Cabral, perguntou-se aos alunos da Escola Estadual
Francisco Martins o que para eles era meio ambiente. As respostas também foram categorizadas
utilizando-se a classificação de Reigota (1991) (Quadro 2).

Naturalista Antropocêntrica Globalizante


―animais, plantas, rio
limpo.‖

―rio, mar, animais.‖

―preservar a natureza.‖

―Pra mim é a natureza,


animais e o planeta.‖

―as plantas, os animais, a


floresta, o mar e a cidade.‖
―Minha casa, meu lugar,
―Pra mim meio ambiente minha vida.‖
são as árvores, as plantas e
o mundo.‖ ―É tudo que nos cerca.‖
―é tudo.‖

―o meio ambiente é onde ―o meio ambiente é tudo


―é a nossa cidade, onde
tem muitas pessoas e que nós vemos ao nosso
moramos e nos cerca, é
redor, o que sentimos,
animais, e muitas coisas tudo.‖
bonitas.‖ olhamos.‖

―é uma coisa muito boa ―o meio ambiente é lixo e


para se aprender e para poluição.‖
falar sobre ele.‖

―é o mundo limpo e sem


poluição.‖

―na mina opinião é a


natureza.‖
―meio ambiente é a
natureza. Devemos
preservar o meio ambiente,
não devemos colocar lixo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

em florestas e rios porque


prejudica o meio
ambiente.‖

―animais, árvores,
pássaros.‖
―floresta, planeta...‖
Quadro 2 – Resposta dos alunos da Escola Estadual Francisco Martins à questão ―O que é o meio
ambiente?‖, classificadas de acordo com as categorias que propõe Reigota (1991).
Fonte: Elaborado pelos autores.

Na Escola Estadual Francisco Martins também predomina uma concepção naturalista de


meio ambiente entre os estudantes. Porém, em algumas respostas, que não foram classificadas de
acordo com as categorias sugeridas por Reigota (1991), percebeu-se a presença de palavras, como:
reciclar, legumes e reciclagem, não vistas nas respostas dos alunos da escola anterior.
Provavelmente, tais elementos foram mencionados, por haver uma horta na escola e também por os
alunos terem participado de uma capacitação em que aprenderam sobre reciclagem, ambas as
atividades graças ao projeto ambiental desenvolvido na escola.
Na sequência, quando foi pedido aos alunos que escrevessem cinco palavras que vêm à
mente deles quando pensam em meio ambiente, a palavra que mais se repetiu foi ―árvores‖ (Gráfico
5). Buscando compreender essa repetição a partir da análise do contexto em que os alunos estão
inseridos, percebe-se que existe uma relação, uma vez que a escola encontra-se localizada dentro da
extensa e arborizada área de uma Universidade e os alunos moram em uma região próxima. Em
segundo lugar, a palavra que mais apareceu foi ―rio‖, isso provavelmente se deu porque ao lado da
escola existe um rio.

árvores 21
rio 19
lixo 17
animais 17
água 10
plantas 9
floresta 8
reciclagem 6
limpeza 5
coleta de lixo 4
natureza 4
cuidar 3
animais morrendo 3
rua suja 3
rio sujo 3
pássaros 3
mar 3
horta 2

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico 5 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Francisco Martins quando questionados sobre palavra
relacionada ao meio ambiente
Fonte: Elaborado pelos autores.

Ao serem questionados se já participaram de alguma atividade relacionada ao meio


ambiente na sua escola e, caso afirmativo, qual atividade, a maioria dos alunos respondeu que já
participou (Gráfico 6). Entre as atividades mencionadas estão: ―regar as plantas‖, ―limpar os
canteiros‖, ―pegar as lagartas (que ficam nas plantas)‖, ―apresentação‖, ―Projeto Horta Didática‖,
―trabalho sobre os lixos e rios poluídos‖ e ―uma viagem ao parque ambiental no Ceará‖. Uma das
professoras também destacou que os alunos participaram de concurso de redação sobre
sustentabilidade e que desenvolveu, durante as aulas, palestras, leituras, músicas e apresentações
sobre o meio ambiente. Na escola anterior, de 38 alunos, 15 responderam que não participaram.
Nesta escola, de 38 alunos que responderam o questionário, apenas 3 disseram que não
participaram. Pode-se dizer que o projeto ambiental desenvolvido na escola possui influência
considerável na quantidade de respostas positivas.

sim 35

não 3

Gráfico 6 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Francisco Martins quando indagados se já participaram
de alguma atividade relacionada ao meio ambiente na sua escola.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Em resposta a indagação feita sobre a existência de problemas ambientais na escola e no


bairro que mora, a maioria dos estudantes respondeu que percebe a existência de problemas tanto na
escola (Gráfico 7), como no bairro (Gráfico 8). Caso a resposta fosse afirmativa, os alunos deveriam
responder qual(is) era(m) o(s) problema(s).

sim 17

não 15

Gráfico 7 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Francisco Martins quando questionados se enxergavam
problema ambiental na escola.
Fonte: Elaborado pelos autores.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1316


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sim 32

não 3

Gráfico 8 – Respostas dos alunos da Escola Estadual Francisco Martins quando questionados se percebiam
algum problema ambiental no bairro em que moram.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Entre os problemas da escola que foram mencionados estão: ―lixo no chão‖, ‖sujeira‖, ―a
grama‖, ―casca de banana fora do lixo‖, ―jogam lixo na escola‖, ―poeira‖, ―barulho‖, ―árvores
morrendo‖, ―cocô de animal‖, ―abelhas‖ e ―esgoto aberto‖. Alguns problemas relatados com relação
ao bairro foram: ―lixo na rua‖, ―cachorro rasgando o lixo‖, ―árvores queimadas‖, ―esgoto a céu
aberto‖, ―fumaça‖, ―sujeira‖, ―enchentes‖, ―cano estourado de água na rua‖, ―fezes de animais‖,
―barulho‖ e ―animais com fome‖. Pode-se perceber que os estudantes desta escola, assim como os
da escola anterior, estão atentos ao que acontece ao seu redor, que são capazes de entender os
problemas mais próximos, situações visualizadas diariamente.
Em seguida, os estudantes foram questionados sobre quem são os causadores dos problemas
ambientais. Entre as respostas estão: ―nós mesmos‖, ―as pessoas‖, ―os animais‖, ―os homens e as
mulheres‖, ―As fumaças das empresas‖, ―Os homens que jogam lixo na rua não gostam do meio
ambiente‖, ―Os caçadores‖, ―Os homens que derrubam as plantas‖ e ―os políticos‖. Assim como na
escola anterior, os alunos consideram as pessoas como os principais causadores dos problemas
referentes ao meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permitiu compreender a concepção das crianças de quarto e quinto anos do


ensino fundamental de duas escolas da rede pública de Mossoró – RN com relação ao meio
ambiente e como a Educação Ambiental é trabalhada nessas escolas.
Como vimos, quando os alunos das duas escolas conceituam meio ambiente, há uma
predominância de elementos que indicam para uma visão naturalista de meio ambiente, alheia ao
meio ambiente social, político, econômico e cultural em que eles estão inseridos. No entanto, em
outros momentos, eles compreendem o meio ambiente de maneira globalizante, se referindo ao
meio ambiente com algo em torno deles e em que eles estão inseridos, de maneira sistêmica.
Assim, com a localização da Escola Estadual Inalda Cabral em um ambiente próximo a
áreas não construídas, que acumulam resíduos, muitas crianças tendem fazer referência ao lixo em
várias das questões propostas. Na Escola Estadual Francisco Martins, onde se desenvolve o Projeto

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1317


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de Extensão Horta Didática, muitos alunos relacionaram vivências relativas ao projeto em suas
respostas.
Em ambas as escolas verificou-se que a maioria dos estudantes entende que somos
responsáveis pelos problemas ambientais. Além de citar vários problemas no ambiente escolar e no
bairro que habitam, eles são capazes de elencar cuidados, como, por exemplo: não jogar lixo nos
rios, não contaminar o solo, para a preservação do meio ambiente.
Na escola onde há o desenvolvimento do Projeto Horta Didática, verificou-se uma maior
participação dos alunos em atividades relacionadas ao meio ambiente. Na escola onde não há o
projeto na área ambiental, a maioria dos alunos afirma ter participado de atividade relacionada ao
meio ambiente, mas numa proporção menor que a outra escola analisada.
Em relação a como a Educação Ambiental é trabalhada, percebeu-se que ainda há muito a
ser feito, principalmente na Escola Inalda Cabral, em que os temas ambientais são trabalhados de
maneira esporádica.
Por fim, seria interessante uma pesquisa que buscasse compreender a concepção de meio
ambiente e Educação Ambiental para os professores destas escolas.

REFERÊNCIAS

BRANDALISE, L. T.; BERTOLINI, G. R. F.; HOSS, O.; ROJO, C. A. Educação e gestão


ambiental: sustentabilidade em ambientes competitivos. Paraná: DRHS: 2015.

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
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seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da


União, Brasília, DF, 02 set. 1981. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017.

Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as


diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília : MEC, 1996

Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente, saúde. –


Brasília : Secretaria de Educação Fundamental, 1997. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf Acesso em: 07 jul. 2017.

Lei nº 9.795, de 27 abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de
Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 abril
1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em: 10
jul. 2017.
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1318
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DIAS, R. Gestão Ambiental na Empresa: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo:


Atlas, 2009.

FELDMANN, Fabio (Coord.).Tratados e organizações internacionais em matéria de meio


ambiente. 2. ed. Série Entendendo o Meio Ambiente, vol.I. São Paulo: SMA, 1997

FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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MINAYO, C. S. Org. Pequisa Social: teoria, método, e criatividade. 28. ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2009.

REIGOTA, M. O meio ambiente e suas representações no ensino em São Paulo, Brasil.


Uniambiente. Boletim da Comissão Interinstitucional sobre Meio Ambiente e Educação
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SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima: 2003.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1319


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA


CONSTRUÇÃO ENTRE ALUNOS

Leonardo Silva POTJE


Docente do Técnico em Meio Ambiente do Senac
leonardo.spotje@sp.senac.br
Antônio Roberto CONTARDI JUNIOR
Aluno do Técnico em Meio Ambiente do Senac
antonio_contardi@outlook.com
Elton Berg dos Santos SILVA
Aluno do Técnico em Meio Ambiente do Senac
eltonbergs@outlook.com
Júlia Grazieli da Silva OLIVEIRA
Docente do Técnico em Meio Ambiente do Senac
julia.soliveira@sp.senac.br

RESUMO
A educação ambiental é um instrumento na construção de uma sociedade mais perceptiva, critica e
que aponta soluções para as problemáticas ambientais do local ao global. Educar, e educar
ambientalmente, não se deve apenas atribuir a escola, e sim a sociedade como um todo. O presente
trabalho foi idealizado pelos alunos do curso de Técnico em Meio Ambiente do SENAC Birigui/SP
e realizado no Instituto de Promoção e Inclusão Social (IPIS) de Birigui/SP, com o objetivo de
sensibilizar e propor atitudes sustentáveis através dos temas ambientais: Água, Solo, Vegetação e
Animais. O IPIS Birigui atende cerca de 140 crianças e adolescentes, entre 06 e 14 anos, em
situação de vulnerabilidade social, oferecendo assim, diariamente alimentação, esporte e oficinas
educativas. Foi realizado um diagnóstico prévio, obtendo informações sobre o local, seu público
alvo, os conhecimentos e expectativas sobre as questões ambientais, e possíveis intervenções a
serem realizadas durante a ação. As oficinas tiveram cunho educativo, com atividades práticas e de
interação com o local – comunidade – família, transcorrendo os princípios da Educação Ambiental
Não Formal. A metodologia utilizada e os recursos foram de forma lúdica e didática, como:
exposições de fotos, rodas de conversas, construção de um terráreo, plantio de sementes de
hortaliças, horta em garrafas, vasos de hortaliças para casa, dinâmicas de sensibilização ambiental.
O trabalho realizado foi de grande importância como primeiro contato do IPIS com as questões
ambientais, uma vez que a Lei nº 9.795/99 da Politica Nacional de Educação Ambiental aponta
como um dos objetivos da Educação Ambiental: o incentivo à participação individual e coletiva,
permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa
da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania.
Palavras-chave: Educação Ambiental – Inclusão Social – Meio Ambiente

ABSTRACT
Environmental education is an instrument in the construction of a society that is more perceptive,
critical and that points out solutions to environmental problems from local to global. Educating, and
educating environmentally, should not only be attributed to the school, but to society as a whole.
The present work was conceived by the students of the Environmental Technician course at SENAC
Birigui / SP and carried out at Birigui / SP Institute of Promotion and Social Inclusion (IPIS), with

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

the objective of raising awareness and proposing sustainable attitudes through environmental
themes: Water, Soil, Vegetation and Animals. IPIS Birigui serves about 140 children and
adolescents, aged between 06 and 14, in situations of social vulnerability, thus offering daily food,
sports and educational workshops. A previous diagnosis was made, obtaining information about the
place, its target public, knowledge and expectations about environmental issues, and possible
interventions to be carried out during the action. The workshops were educational, with practical
activities and interaction with local - community - family, transcending the principles of Non -
formal Environmental Education. The methodology used and the resources were playful and
didactic, such as: photo exhibitions, conversation wheels, construction of a terrarium, planting seeds
of vegetables, vegetable garden, bottles of vegetables for home, environmental awareness. The
work carried out was of great importance as IPIS's first contact with environmental issues, since
Law No. 9.795 / 99 of the National Environmental Education Policy points out as one of the
objectives of Environmental Education: the incentive to individual and collective participation,
permanent And responsible, in preserving the balance of the environment, understanding the
defense of environmental quality as an inseparable value of the exercise of citizenship.
Key-words: Environmental Education - Social Inclusion – Environment

INTRODUÇÃO

A prática da educação ambiental deve permear na busca da inclusão social. Sendo assim, o
presente trabalho tem como idealizadores os alunos do curso Técnico em Meio Ambiente do
SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) de Birigui/SP e alunos assistidos pelo
IPIS (Instituto de Proteção e Inclusão Social), também de Birigui/SP. A ação partiu de uma
proposta de trabalho em Educação Ambiental Não Formal, competência desenvolvida no módulo de
Educação Ambiental do curso técnico. Através de um diagnóstico prévio realizado entre algumas
entidades assistenciais do município de Birigui/SP, avaliamos que o IPIS tinha um público alvo
favorável, um espaço notadamente carente de atitudes sustentáveis, portanto, necessária para uma
intervenção em Educação Ambiental.
O Instituto de Promoção e Inclusão Social (IPIS) localiza-se no Quemil, um bairro periférico
com muitos problemas de infraestrutura e de violência. Atualmente, o IPIS é a única instituição na
periferia que atende crianças e adolescentes entre 06 e 14 anos e respectivamente, suas famílias,
com condições socioeconômicas precárias e em situação de vulnerabilidade social. Sendo assim,
segundo o IPIS, a sua missão é:

―Proporcionar às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social,


oportunidade de convívio social no qual possam desenvolver de maneira adequada suas
potencialidades, desenvolvendo por meio do trabalho educativo a garantia dos seus direitos
seguindo os princípios do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), visando a efetivação
dos direitos referentes à vida (saúde, alimentação, educação, esporte, lazer e cultura) e
superando os riscos de se vincularem ao mundo da marginalidade.‖

Considerando a sustentabilidade como atitudes de preservar os recursos naturais e ter um


uso racional deles nos dias atuais e protegendo para as futuras gerações, a Educação Ambiental é

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

uma ferramenta fundamental para promover ações que busquem prevenir, corrigir e/ou solucionar
problemas locais, valorizando os pilares da sustentabilidade: economia, sociedade e natureza. Ao
inserir o tema Meio Ambiente no IPIS, vimos a necessidade de abordar temas e subtemas, Água
(ciclo da água, consumo e poluição), Solo (tipos de solo, conservação e poluição), Vegetação
(importância, desmatamento e preservação) e Animais (cuidados e habitats).
Os alunos assistidos pelo IPIS, frequentam o a escola no período contrário de que estão no
projeto, tendo assim contato com a Educação Ambiental Formal através da estrutura curricular de
algumas disciplinas do ensino básico, superior, profissional, especial e educação de jovens e
adultos.
Por se tratar de um projeto social, o IPIS nos apresenta as necessidades de se aplicar,
sensibilizar e propor a Educação Ambiental Não Formal, que faz a integração da resolução de
problemas ambientais a partir da conscientização coletiva, de uma forma fora de padrões
curriculares, vindouros da percepção e observação do público alvo, sem limites para a busca de
alternativas e resultados. Assim, a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99) cita a
Educação Ambiental Não Formal no artigo e parágrafos a seguir:

Art. 13º Entendem-se por educação ambiental não formal as ações e práticas educativas
voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização
e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Parágrafo único. O Poder Público, em níveis Federal, Estadual e Municipal, incentivará:

I – A difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de


programas e campanhas educativas e de informações acerca de temas relacionados ao
meio ambiente.
II – A ampla participação da escola, da universidade e de organizações não
governamentais na formulação e execução de programas e de atividades vinculadas à
educação ambiental não formal.
III – A participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de
educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não
governamentais.

OBJETIVO GERAL

Sensibilizar os alunos do Instituto de Promoção e Inclusão Social (IPIS) de Birigui quanto a


preservação do meio ambiente, através de oficinas didáticas abordando os temas: Água – Solo –
Vegetação – Animais, integrando assim, atitudes sustentáveis no local, em casa e na comunidade.

OBJETIVOS ESPECIFICOS

 Integrar os alunos do Técnico em Meio Ambiente do Senac Birigui com os alunos


assistidos pelo Instituto de Promoção e Inclusão Social (IPIS), promovendo assim uma relação
Escola – Comunidade;
 Vivenciar o aprendizado/ experiência da Competência de Educação Ambiental do
curso Técnico em Meio Ambiente do Senac;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

 Estimular a prática de atitudes com relação à preservação do meio ambiente através


de um diálogo e oficinas práticas através dos temas: solo, água, vegetação e animais.

METODOLOGIA

―A educação ambiental não se baseia apenas na transmissão de conteúdos específicos, já


que não existe um conteúdo único, mas vários, dependendo das faixas etárias a que se
destina e dos contextos educativos em que se processam as atividades. (...) O conteúdo mais
indicado é aquele originado do levantamento da problemática ambiental vivida
cotidianamente pelos alunos pelas alunas e que se queira resolver. ‖ (REIGOTA, p.63)

O desenvolvimento do trabalho de Educação Ambiental no IPIS Birigui, se deu


primeiramente, no levantamento de expectativas, na percepção do local quanto ao meio ambiente e
do conhecimento prévio dos alunos. A metodologia aplicada foi através da ―Técnica de
Facilitação‖, ou seja, uma atividade onde se tem um mediador, o público alvo e algumas perguntas
que visão promover a reflexão coletiva, a situação do local e os conhecimentos prévios de
determinados assuntos, relacionando-os no final da técnica. Foram distribuídas várias filipetas com
canetões coloridos aos alunos, nos quais eles respondiam as seguintes perguntas: ―O que é meio
ambiente para vocês? ‖, ―O que você gostaria de aprender sobre o meio ambiente? ‖ e ―O que você
faria para melhorar o IPIS em relação ao meio ambiente?‖. Conforme os alunos respondem as
perguntas (uma por vez), eles receberam fitas adesivas para distribuírem no quadro branco, para
melhor visualização e compreensão.
Após a análise das respostas dos alunos, distribuímos os temas que foram abordados durante
o semestre, afim de atender as expectativas e suprir resultados práticos e de sensibilização na
Instituição. A Educação Ambiental no IPIS abordou os temas: Água, Solo, Vegetação e Animais,
consequentemente, os subtemas propostos pelos próprios alunos.

Água

A oficina com o tema ―Água‖ (figura 1) abordou a princípio, o ciclo da água, retratando a
importância dos componentes desse ciclo: vegetação – água – solo. Após a explicação e interação
com os alunos, foi contada uma história do ciclo da água para que de forma coletiva, construíssem
um ciclo da agua, valorizando os elementos naturais e culturais da paisagem.

Solo

O tema da oficina ―Solo‖ (figura 2 e 5) teve como objetivos: caracterizar os tipos de solo,
sensibilizar sobre a importância do solo e abordar as causas de poluição do solo. Os alunos
relataram durante a atividade, vários problemas ambientais que danificam o solo na comunidade
local, tornado assim, uma percepção real da problemática. Os subtemas trabalhados foram: solo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fértil, solo degradado, camadas do solo, importância do solo para o homem e causas e
consequências da poluição do solo. Durante a aula, os alunos construíram um terráreo, valorizando
as camadas do solo e seus componentes, entre rochas, minerais, compreendendo também, a
importância da vegetação para um solo saudável. Os recursos utilizados nessa oficina foram:
recipientes de vidro, pedras, terra vegetal, carvão e variadas espécies de plantas.

Vegetação

A oficina de tema ―Vegetação‖ abordou os conteúdos: fotossíntese, importância das árvores,


estrutura das plantas, diversidade de espécies de plantas, e teve como objetivo explicar e sensibilizar
os alunos quanto a importância da vegetação para os seres humanos e animais. Foi aplicado o
plantio de sementes de salsinha e cebolinha em bandejas com substrato (figura 3), para
posteriormente serem transplantadas em garrafas PET e levadas para cultivar em casa.

Animais

A oficina sobre o tema ―Animais‖ (figura 4) teve como objetivos: compreender a


importância dos animais no meio ambiente, valorizando as espécies e os biomas, apresentar alguns
animais que encontram em extinção no Brasil e, demonstrar os cuidados do homem com os animais
domésticos. Os conteúdos trabalhados nessa aula foram: animais domésticos e selvagens, animais
em extinção no Brasil, proteção da biodiversidade e animais do bioma Mata Atlântica. Destaca-se o
entusiasmo e surpresa dos alunos para com a exibição dos animais da Mata Atlântica, tais como a
onça pintada, mico leão dourado, tamanduá bandeira, entre outros, gerando muitas dúvidas e
depoimentos. Ao final da oficina, a metodologia utilizada foram as dinâmicas: ―Morcego e
Mariposa‖, ―Qual animal sou eu? ‖ e ―Montando um Animal‖.

Figura 11: Oficina de construção do ciclo da Figura 2: Oficina de construção de um terráreo.


água

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3: Plantio de sementes. Figura 4: Dinâmica ―Que animal sou eu? ‖

Figura 5: Explicação sobre os cuidados com o Figura 6: Oficina de horta em garrafas PET.
solo.

DISCUSSÃO TEÓRICA

A educação ambiental permeia nos caminhos para a construção de uma sociedade


sustentável. A transição para uma sociedade equilibrada socialmente, economicamente e
ambientalmente, deve ser construída nos alicerces da educação formal e não formal, tendo como
objetivos de sensibilizar, propor conhecimento e discussões e solucionar conflitos. A formação de
um cidadão mais sensibilizado com as questões ambientais e de buscar uma sociedade mais
igualitária e racional, deve-se integrar em todos níveis de educação, equipamentos sociais e
principalmente, para se transformarem em políticas públicas, assim nos apresenta a Política
Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99), que entende esse tipo de educação como ―os
processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.‖
As práticas educativas devem permear nas ações comunitárias, buscando sempre analisar,
propor e intervir nas questões ambientais, ou seja, haver uma intervenção local dos problemas mais
comuns que assolam as periferias das cidades, tais como: falta de arborização, despejo de resíduos
em locais inadequados e consequentemente, a contaminação do solo e de nascentes, maus tratos aos
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

animais, áreas verdes degradadas e praças sem manutenção, ausência de atividades de cunho
cultural e esportivo, entre outros. A visão crítica da Educação Ambiental se deve a provocação da
observação ao local em que vivemos, para assim obtermos uma casa, uma rua, um bairro e uma
cidade mais sustentável, a partir de um processo educativo. Segundo Carvalho (2004), a Educação
Ambiental busca melhorar as condições ambientais da existência das comunidades e dos grupos,
valorizando as práticas culturais locais de manejo do ambiente.
A vulnerabilidade social é um dos maiores problemas na busca de um equilíbrio sustentável.
Uma sociedade carente de saúde, educação, trabalho, cultura e esporte, entre outros, afugenta das
responsabilidades da preservação do meio ambiente e da exigência dos direitos sociais. A justiça
social também deve ser refletida na busca aos recursos naturais, ou seja, uma água limpa e potável,
um solo fértil, um ar puro, arborização nas cidades, biodiversidade protegida, etc.
Sendo assim, o trabalho realizado no IPIS, vem auxiliar a inclusão das discussões dos
problemas socioambientais na comunidade, através da Educação Ambiental Não Formal, uma
ferramenta importante para que a população reflita suas práticas cotidianas em relação à
sustentabilidade.

A possibilidade de maior acesso à informação, notadamente dos grupos sociais mais


excluídos, pode potencializar mudanças comportamentais necessárias orientadas para a
defesa de questões vinculadas ao interesse geral. Cidadãos bem informados, ao se
assumirem enquanto atores relevantes têm mais condições de pressionar autoridades e
poluidores, assim como de se motivar para ações de corresponsabilização e participação
comunitária.(JACOBI, p.182)

A participação da população é relativa na tomada de decisões tanto do IPIS, quanto ao seu


entorno, pois o Instituto promove várias ações beneficentes e de cunho cultural que envolve as
famílias dos educandos e comunidade em geral. Visto isso, vimos a necessidade de fomentar os
temas ambientais com as crianças afim de que se torne algo prático no dia a dia.
Segundo Jacobi (2004), o desafio político da sustentabilidade, apoiado no potencial
transformador das relações sociais que representam o processo da Agenda 21, encontra-se
estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia e da construção da cidadania.

RESULTADOS

Sabemos que os resultados de uma sensibilização vêm a médio e a longo prazo. A Educação
Ambiental não é diferente, embora todas as ações e oficinas desenvolvidas no IPIS tenham sido de
forma precisa e conclusa, espera-se que os alunos multipliquem os conhecimentos, as habilidades e
atitudes para a sustentabilidade de suas casas e comunidade entorno.
Os alunos foram avaliados também sob a técnica de Facilitação, levantando resultados
através de menções Ótimo, Regular e Ruim, e expectativas quanto ao Aprendizado, as Dinâmicas e
os Temas Trabalhados (solo, água, vegetação e animais). Pela análise dos resultados (figura 7), o
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

projeto atendeu de forma satisfatória as necessidades e expectativas dos alunos do Instituto e,


promoveu sem dúvidas, a integração dos alunos do Técnico em Meio Ambiente com a comunidade
local, propondo alternativas para a construção de uma sociedade sustentável e atendendo os
princípios da Educação Ambiental. Por fim, haverá uma extensão dessas oficinas no IPIS Birigui
por mais um semestre, com temas já escolhidos pelos alunos: Compostagem, Aproveitamento
Integral de Alimentos e Arborização Urbana.

Figura 7: Avaliação de resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTÉ, Rodrigo. Gestão socioambiental no Brasil. Curitiba: Ibpex, 2009.


BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.
São Paulo: Cortez, 2004.
CORNELL, Joseph. Vivências com a Natureza 2: novas atividades para pais e educadores. São
Paulo: Aquariana, 2008.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004.
MENDONÇA, Francisco (org). Impactos Socioambientais Urbanos. Curitiba: Editora UFPR, 2004.
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez, 2010.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2009.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DIÁLOGO COM COMUNIDADES RIBEIRINHAS: A


SUSTENTABILIDADE EM QUESTÃO

Lídia Rochedo FERRAZ


Professora Doutora FAPSI/UFAM
lidiaferraz@ufam.edu.br
Maria Anete Leite RUBIM
Professora Doutora DEPESCA/FCA/UFAM
aneterubim@ufam.edu.br
Jomara de Oliveira ANDRADE
Graduanda do Curso de Pedagogia /UFAM
mara.oliveira18@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho emergiu a partir do desenvolvimento das atividades do Projeto ―Educação Ambiental
para Sustentabilidade do Puraquequara‖, objetivando sensibilizar moradores e visitantes para as
demandas ambientais emergentes na localidade, assim como disseminar os conceitos, princípios e
diretrizes da Educação Ambiental. O projeto propôs pensar ações em conjunto com os moradores,
efetivando práticas, fortalecendo o desenvolvimento de competências, valores, habilidades e atitudes
que estimulem o envolvimento e comprometimento nas questões de sustentabilidade
socioambiental. A realização das ações teve como base os princípios metodológicos da pesquisa-
ação-participante, tendo como proposta a efetiva participação dos agentes sociais envolvidos no
processo, desde o planejamento à execução e avaliação das ações.
Palavras-chave: Educação Ambiental, sustentabilidade amazônica, Puraquequara.
ABSTRACT
This work emerged from the development of the activities of the Project "Environmental Education
for Sustainability of Puraquequara", aiming to sensitize residents and visitors to the emerging
environmental demands in the locality, as well as to disseminate the concepts, principles and
guidelines of Environmental Education. The project proposed to think about actions together with
the residents, implementing practices, strengthening the development of skills, values, skills and
attitudes that stimulate the involvement and commitment in the issues of social and environmental
sustainability. The implementation of the actions was based on the methodological principles of the
action-participant research, having as proposal the effective participation of the social agents
involved in the process, from planning to execution and evaluation of actions.
Keywords: Environmental Education, Amazonian sustainability, Puraquequara

INTRODUÇÃO

Este trabalho emergiu a partir do desenvolvimento das atividades do Projeto ―Educação


Ambiental para Sustentabilidade do Puraquequara‖, que tem por finalidade a construção de um
espaço permanente de educação ambiental na área desta Bacia hidrográfica, objetivando sensibilizar
moradores e visitantes para as demandas ambientais emergentes na localidade, assim como

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

disseminar os conceitos, princípios e diretrizes da Educação Ambiental, fortalecendo o


desenvolvimento de competências, valores, habilidades e atitudes que estimulem o envolvimento e
comprometimento nas questões de sustentabilidade socioambiental.
As ações resultaram da articulação e parceria entre equipe do Programa de Extensão da
Universidade Federal do Amazonas, a Associação de Moradores do Bairro Puraquequara e a igreja
católica, tendo por foco as comunidades que vivem e trabalham neste bairro. Configura-se a
necessidade de se trabalhar junto a estas comunidades, questões concernentes à conservação dos
recursos naturais existentes, e à melhoria da qualidade de vida do bairro: sua gente, suas florestas,
águas e terra.
O bairro localiza-se na zona leste da cidade e compreende um ambiente de terras, águas e
florestas, no limite entre áreas rural e urbana. Possui extensas áreas florestadas em uma microbacia
hidrográfica que deságua numa foz alargada, formando um grande lago, sendo esta a maior bacia de
interesse ecológico inteiramente inserido no município. Apesar de vir sofrendo significativos
impactos ambientais em função da expansão urbana e da ocupação desordenada ao longo de seus
canais, ainda se encontra preservada.
Como área de expansão recente, e criado em um modelo econômico que tem promovido o
rápido crescimento demográfico e o agravamento das condições de vida nas cidades, o bairro vem
experimentando na última década, profundas e rápidas mudanças, sobretudo no que diz respeito à
produção dos espaços de moradia e de trabalho, e na desarticulação das formas tradicionais de
enfrentamento dos problemas econômicos, educacionais, de saúde, enfim, ambientais.
Sua condição como bairro é singular: compõe-se de pequenos aglomerados, entremeados de
sítios, fazendas, florestas densas e áreas alagadas, constituindo comunidades, rurais e ribeirinhas,
distribuídas no interior e ao entorno do lago, e na estrada que dá acesso ao bairro, compondo assim
um cenário muito diferente de outros bairros da cidade. Cada comunidade possui sua própria
denominação, havendo uma comunidade central, que leva o nome do bairro. A maioria tem um
santo padroeiro que lhe dá o nome, e alguma organização político-social, o que dá ao bairro a
quantia de oito associações rurais ou comunitárias. Em termos de ocupação, possui baixa densidade
populacional, e também a menor renda per capta. Dista cerca de trinta quilômetros do centro urbano
e, até a década de 1980, manteve-se como uma comunidade isolada, cujo acesso dava-se apenas por
via fluvial, uma distância aproximada de duas horas e meia de motor. Um bairro fronteiriço, visto
que ainda há predominância do modo de vida rural-ribeirinho, mesmo estando em gradativo avanço
urbano.
O projeto propôs pensar ações em conjunto com os moradores, que efetivem práticas de
educação ambiental. A troca de saberes e experiências, a proposição de alternativas sustentáveis e a
intensificação do debate sobre questões ambientais foram o foco principal, considerando a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

necessidade de sensibilizar moradores e visitantes para a proteção e conservação da Bacia, seu lugar
de moradia e trabalho, como também para o cuidado e melhoria da vida das pessoas.
Através da Educação Ambiental intenta-se o fortalecimento de padrões de relacionamento
que respeitem os limites dos ecossistemas, e que levem em conta os problemas concretos das
comunidades, suas concepções e experiências na busca de soluções ou reduções das ameaças ao
contexto psicossocial, aos recursos hídricos, florestais e à sociobiodiversidade da região.
Objetivou-se a construção de um espaço de diálogo com comunidades ribeirinhas
recentemente incorporadas ao ambiente urbano, e de intervenção psicossocial em comunidades, a
fim de compreender as interfaces entre espaços rurais e urbanos.
O bairro Puraquequara localiza-se na zona leste da cidade e compreende um ambiente de
terras, águas e florestas, limite urbano com suas ruralidades. Com o avanço da expansão urbana,
sem o devido planejamento urbano, corre riscos significativos de degradação e de impactos nos
modos de organização socioambiental. Decorre, portanto, a necessidade de investir em trabalhos
formativos e de disseminação de informações, para que os moradores possam cuidar de seu lugar.

METODOLOGIA

A realização das ações teve como base os princípios metodológicos da pesquisa-ação-


participante, tendo como proposta a efetiva participação dos agentes sociais envolvidos no processo,
desde o planejamento à execução e avaliação das ações.
A equipe executora foi constituída por membros do Instituto Poraquê, membros da
associação de moradores do bairro, uma professora e alunos da Universidade Federal do Amazonas
e moradores. Mais do que cumprir uma tarefa, o importante era fazer com que o grupo se
apropriasse de ferramentas conceituais, e do ―se saber capaz‖. Por isso, não há pressa em se
construir um produto, mas valorizar o processo.
As atividades concentraram-se prioritariamente na Vila do Puraquequara e na comunidade
Bela Vista, estendendo-se a outras comunidades através de oficinas itinerantes. Envolveram
palestras e minicursos, espaços itinerantes de aprendizagens coletivas e encontros participativos de
informação, capacitação, mobilização e articulação institucional, sempre em parceria com
organizações locais.
O projeto teve duração de dois anos e propôs a realização das seguintes ações:

1. Realização de encontros de formação, mobilização e articulação institucional, direcionados


aos membros da equipe e aos moradores;
2. Realização de minicursos e oficinas na sede da associação comunitária, e palestras,
enfatizando a biodiversidade, a conservação dos recursos hídricos, saúde e desenvolvimento;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

3. Produção de espaços itinerantes de educação ambiental e aprendizagens coletivas, nas


comunidades, com atividades de sensibilização para a proteção dos mananciais hídricos, das
florestas e da biodiversidade;
4. Realização de campanhas de mobilização da comunidade, com distribuição de panfletos e
mudas de plantas nativas, propondo um programa de mudança de hábitos de consumo de água,
energia e separação de resíduos.

RESULTADOS: AÇÕES DESENVOLVIDAS

Entre as atividades efetuadas pelo projeto, destacam-se:

Formação da equipe de trabalho:

O processo de formação dos membros da equipe foi o eixo estabelecido pela coordenação
como elemento fundamental para a implantação do Projeto na comunidade.
Privilegiou-se a constituição de uma equipe de trabalho composta por moradores do bairro,
por considerar que a produção de comportamentos pró-ambientais só se faz através de efetiva
participação. Neste sentido, os moradores foram convidados e estimulados a envolver-se no
processo de produção das ações e materiais de divulgação, bem como na organização de alguns
encontros. Também, objetivando estimular o aperfeiçoamento acadêmico, procurou-se estimular os
moradores a ingressar em cursos de graduação.
Os encontros de formação da equipe objetivaram propiciar condições para que os agentes
envolvidos no processo possam estabelecer um diálogo crítico que culmine na capacidade de
intervenção na realidade social. Nestes, foram criadas situações de interação, além de discussão de
temas referentes às questões ambientais locais atuais.
Embora abertas à comunidade, estas reuniões ficaram restritas à equipe do projeto. Os
encontros mantiveram a proposta de estabelecimento de um fórum permanente de discussão das
questões ambientais, de elaboração de material informativo e de divulgação, a produção de um
mapa das ações, a construção de um banco de dados, o monitoramento do projeto e a sistematização
de informações para construção de uma agenda ambiental local.
Os temas que contemplaram a proposta de formação foram definidos a cada encontro, tendo
como eixo norteador a discussão acerca das questões socioambientais que atravessam a
comunidade.
Decorrente destas atividades, a equipe manifestou interesse em organizar os dados e
informações coletadas. Emergiu como proposta a catalogação de material sobre o bairro e a
manutenção de um espaço físico e virtual disponibilizando estas informações. Até o momento

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

foram identificados dezesseis trabalhos acadêmicos, projetos em andamento, e busca de imagens,


fotografias antigas, junto aos moradores.

Visitas às comunidades do Bairro:

Durante os encontros de formação, a equipe atentou para a necessidade do contato com


moradores das comunidades ribeirinhas que compõem a paisagem do bairro e da bacia. As visitas às
comunidades objetivaram estabelecer vínculos com lideranças e moradores, e apresentar o projeto.
Foram realizadas visitas às comunidades localizadas no lago do Puraquequara, e na margem
esquerda do Rio Amazonas.
Durante as visitas, pôde-se estabelecer contato com líderes comunitários, alguns professores
e gestores das escolas. No diálogo com as comunidades, tem-se procurado mostrar que o interesse
dos pesquisadores consiste, primordialmente, em envolver os moradores das comunidades neste
processo, para que se apropriem do campo de saber científico, e para que haja troca de experiências
e saberes entre todos os participantes. Através deste contato ficaram estabelecidas a realização de
oficinas e minicursos.
As visitas também envolveram ações de sensibilização e difusão de informações, que
consistiram em desde promover a distribuição de informativos aos domingos à realização de
campanhas.
Em parceria com a Associação de Moradores e a Organização Salva-Vidas Amazônia,
organizamos um circuito de Educação e Saúde. A atividade foi desenvolvida através de stands
informativos sobre saúde, alimentação orgânica, água. Os moradores também foram convidados a
estabelecer novos hábitos e cuidados com a saúde.
Outra campanha realizada consistiu na distribuição de mudas de plantas regionais, em troca
de garrafas pet. Esta atividade contou com a participação de alunos de cursos de graduação da
UFAM, e teve por objetivo a divulgação do projeto entre os moradores.
Mobilizações no Terminal de ônibus fizeram parte da campanha de combate à violência
contra a criança, além da realização de uma campanha de educação para o trânsito.

Ateliê Ambiental:

Encontros semanais e minicursos foram estratégias utilizadas como dispositivo para instalar
pensamentos e debates entre moradores. Foram ricos os momentos de discussão envolvendo
assuntos do cotidiano, que também são temas do debate local, regional, nacional, enfim, global:
contextualizar a questão ambiental, situar a comunidade neste cenário, fornecer informações acerca
da legislação vigente, e pensar possibilidades de intervenção.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O foco central consistiu em difundir informações, sensibilizar e mobilizar os moradores para


a proteção dos mananciais hídricos do bairro Puraquequara, e envolver a comunidade em programas
de mudança de hábitos de consumo de água, energia e separação de resíduos.
Os cursos oferecidos contemplaram as seguintes informações: apresentação do tema
educação ambiental, seu histórico e legislação; importância da água, índices de qualidade,
disponibilidade do recurso, consumo e desperdício, resíduos sólidos e Economia Solidária. Dentre
as questões e ações apresentadas pelos participantes, as principais temáticas referiam-se ao
desperdício de água e aos resíduos sólidos, que já se acumulam nas comunidades, formando
―lixões‖. Questionou-se a ausência do poder público e a necessidade de a própria comunidade
assumir responsabilidades, a fim de evitar problemas maiores.
Estas demandas caminharam para oferta de oficinas sobre reaproveitamento de óleo de
cozinha para produção de sabão, produção de vassouras com garrafas pet, reuso de sacolas, caixas e
outros materiais para produção de ornamentos. Também gerou um debate sobre a possibilidade de
as associações comunitárias organizarem um programa de coleta seletiva.

Reuniões com lideranças comunitárias:

As reuniões com lideranças comunitárias do bairro Puraquequara objetivaram estimular a


participação dos moradores nas atividades comunitárias, e defesa das questões ambientais locais.
Discutiu-se qualidade da água para as residências, o fornecimento, desperdício e despejo de
efluentes. Com o decorrer do ano, outras temáticas foram emergindo, como a questão da segurança,
a implantação de um polo naval, a geração de emprego e renda, e novas tecnologias sociais.
A principal demanda apresentada pelos moradores tratava da distribuição de água para as
residências. É lamentável que, residindo nas margens do caudaloso rio-mar, ainda haja falta d‘água
nas moradias. As comunidades não são atendidas pelo serviço de abastecimento da cidade,
necessitando de poços tubulares para captação de água. A maioria desses poços foi construída por
reivindicação dos moradores, seja ao poder público ou a organizações não governamentais, e está
sob a responsabilidade da própria comunidade. No início da realização deste projeto havia situações
em que famílias recebiam apenas duas horas de água a cada dois dias, numa vazão que mal lhes
permitia encher um depósito de 500 litros. Também havia e ainda há diversas situações de
desperdício. A maioria das residências não possui caixa d‘água suspensa, acondicionando água em
depósitos de 200 litros, em média, com uma torneira que, muitas vezes, fica aberta, possibilitando o
transbordamento.
Vale destacar dois outros momentos importantes: a reunião com lideranças das comunidades
para discutir a implantação do polo naval, e a Audiência Pública para tratar de segurança, contando
com a presença de representantes dos órgãos governamentais. Os moradores preocupam-se com o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

agravamento dos problemas socioambientais, e com a descontinuidade dos serviços prestados pelo
poder público.
Estamos longe de considerar solucionado aquele problema. A captação de água via poços
tubulares tem se tornado um problema para as cidades, com severo risco de contaminação dos
lençóis subterrâneos. A distribuição de água entre os moradores ainda não atende de modo
satisfatório, havendo necessidade de revisão do sistema de distribuição residencial. Não há rede de
esgoto sanitário, a maioria das residências possui fossas rústicas, mas isto deve ser tratado com
muita seriedade e cautela, a fim de evitar que o esgoto seja canalizado diretamente para o lago e os
igarapés.
Também o desmatamento de áreas florestadas e a impermeabilização do solo via
pavimentação para implantação de diversas empresas na região, podem ocasionar prejuízos
significativos para a bacia hidrográfica, se não forem observados os critérios estabelecidos pela
legislação. Outro problema agravante trata da emissão de substâncias químicas, tanto pelo uso de
agrotóxicos na produção de hortaliças, como os dejetos de algumas empresas localizadas na região,
que levam à contaminação das águas e do solo, com impactos sobre a saúde dos moradores e
também visitantes que utilizam os espaços de lazer. Diante do esgotamento dos recursos naturais, os
conflitos pela água tornam-se cada vez mais frequentes.

CENÁRIO SOCIOAMBIENTAL – DESAFIOS À PARTICIPAÇÃO

O projeto possibilitou iniciar a consolidação de um grupo de trabalho constituído por


moradores do Puraquequara, e de um espaço de formação e diálogo em educação ambiental.
Estimulou moradores a continuar os estudos e ingressar no ensino superior, e um ateliê ambiental
permanece acontecendo na comunidade, reunindo crianças e adolescentes. Em relação à pesquisa e
reflexão teórica, abre espaço para realização de outros projetos. É preciso assegurar sua
continuidade.
No percurso, deparamo-nos com dificuldades. Há dificuldade de acesso às comunidades
rurais. Não há transporte público, o que torna oneroso o deslocamento até as comunidades
localizadas no lago do Puraquequara.
A consolidação de uma equipe de trabalho é outra questão bastante complexa; optamos por
realizar um trabalho em conjunto com a diretoria da associação comunitária, e priorizamos
estimular a formação de um grupo de multiplicadores. Faz-se necessário ampliar o nível de
conhecimento dos moradores acerca da importância da participação social, assim como melhorar o
nível de comunicação entre diretoria e comunidade, de modo que se constitua uma efetiva
representação.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Muitos esforços são ainda necessários para o envolvimento dos moradores nas ações que
promovam melhorias no bairro, e afirmar parcerias entre associações, escolas, organizações de
modo geral, procurando superar vaidades pessoais em prol de um trabalho coletivo. Os moradores
têm interesse em contribuir para a qualidade ambiental desejada, mas há necessidade de se trabalhar
em prol de uma unidade de ação. Como salienta Mark Harris, ―os moradores são capazes não
apenas de se acomodar, mas também de se reorganizar e se reproduzir nas novas condições
encontradas a cada vez‖ (2006; 91).
Encerramos uma etapa; é necessária uma pausa para distanciar-se e avaliar resultados.
Consideramos que boa parte dos objetivos foi alcançada, entretanto ainda há longo caminho pela
frente.
Este projeto tem por finalidade consolidar um ponto de encontro e produção de saberes e
práticas em educação ambiental, em parceria com as organizações sociais locais. Primou pelo
conhecimento da realidade das comunidades ribeirinhas, e deseja continuar sensibilizando
moradores e visitantes para as demandas ambientais emergentes na localidade, e para a efetiva
instalação de um Comitê de Bacia Hidrográfica e a devida proteção ambiental do Puraquequara.
Não há conclusões, mas um processo, que pretende continuidade.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Roberta F.C. Ribeirinhos urbanos: vidas e modos de vida no Puraquequara. Manaus:
EDUA, 2013.

BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

CASARIN, Fátima SANTOS, Mônica. Água: o ouro azul. Usos e abusos dos recursos hídricos.
Rido de Janeiro: Garamond, 2011.

DIEGUES, Antonio C. Desmatamento e modo de vida na Amazônia. São Paulo: NUPAUB/USP,


2005.

FERRAZ, Lidia R. O cotidiano de uma escola rural-ribeirinha na Amazônia: práticas e saberes na


relação escola-comunidade. 2010. Tese (Doutorado em Psicologia), Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras-USP, São Paulo, 2010.

FRAXE, Terezinha. J.P. Cultura cabocla-ribeirinha: mitos, lendas e transculturalidade. São Paulo:
Anablume, 2004.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1335


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

HARY, Mark Presente ambivalente: uma maneira amazônica de estar no tempo. Em: ADAMS, C.;
MURRIETA, R.; R. NEVES, W. (Ed.) Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e
invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006. p. 81-108.

SARRIERA, Jorge Castellá (coord.). Psicologia comunitária: estudos atuais. Porto alegre: Sulina,
2000.

SATO, Michèle. CARVALHO, Isabel (orgs.). Educação ambiental: Pesquisa e desafios. Porto
Alegre: Artmed, 2005.

SILVA, Alvanice L. Puraquequara: uma herança ameaçada. Manaus:Muiraquitã, 2008.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MÉTODO ALTERNATIVO PARA A MITIGAÇÃO DE


ATROPELAMENTO DE FAUNA NA FERROVIA

Marcos DUMS
Graduado em Ciências Biológicas – Rumo Logística S.A
marcos.dums@rumolog.com
Denison José HENZ
Graduado em Ciências Biológicas – Rumo Logística S.A
denison.henz@rumolog.com
Stefani Gabrieli AGE
Graduada em Ciências Biológicas – Rumo Logística S.A
stefani.age@rumolog.com
Mariana Marsal BASSOUTO
Graduada em Ciências Biológicas – Ekoa Park
mariana@ekoapark.com.br

RESUMO
A RUMO S.A.é uma empresa detentora de quatro concessões ferroviárias no Brasil, operando em
12 mil km de malha férrea, com cerca de mil locomotivas e 27 mil vagões, por meio dos quais a
Companhia transporta commodities agrícolas e produtos industriais. Diante desse cenário e
considerando que empreendimentos lineares atravessam densas áreas de Cerrado, Mata Atlântica,
Pampa e Pantanal, e que algumas espécies da fauna silvestre do entorno encontram-se ameaçadas de
extinção,surge a necessidade de criar métodos para reduzir o impacto causado quando animais
atravessam pela ferrovia. A empresa cumpre condicionantes das licenças ambientais no âmbito de
monitoramento e mitigação de atropelamento de fauna, dos quais partem estratégias e iniciativas
para diminuir o impacto da ferrovia ao meio ambiente. O presente trabalho tem como objetivo
propor uma prática em Educação Ambiental, através do uso de material informativo (folders)
considerando a necessidade de sensibilização na temática do atropelamento de fauna, promovendo
assim a educação ambiental em todas as esferas da empresa e nas áreas de entornopara alertar
funcionários da viae sociedade sobre a importância da preservação da biodiversidade. Como
resultado espera-se que as atividades educacionais envolvendo a faunasensibilize, de maneira geral,
funcionários e pessoas envolvidas, criando multiplicadores de conhecimento.
Palavras Chave: Educação Ambiental. Atropelamento de fauna. Ferrovia.
ABSTRACT
RUMO S.A. has 4 railway concessions in Brazil, with 12 thousand kilometers of railroads, about 1
thousand locomotives and 27 thousand railcars, through which the Company transports agricultural
commodities and industrial products. Given this scenario and considering that linear ventures pass
through dense areas of Cerrado, Atlantic Forest, Pampa and Pantanal, and that are some species of
the wild fauna of the surroundings threatened with extinction; the need arises to create methods to
try to reduce the impact caused when animals cross the railway. The company fulfills
environmental licensing conditions in the context of monitoring and mitigating the faunarailkill,
from which results strategies and initiatives to reduce the impact of the railwayon the environment.
The present work aims to propose a practice in Environmental Education using information material
(folders) considering the need to raise awareness on the issue of railkill, thus promoting
environmental education in all sectorsof the company and in the surrounding areas. As a result, we

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

expect that the educational activities involving the fauna sensitize, in general, employees and people
involved, creating knowledge multipliers.
Keywords: Environmental Education. Railkill.Railway.

INTRODUÇÃO

Atravessando quatro biomas de extrema importância no País, a Rumo S.A. é uma das
principais empresas de transporte ferroviário existentes no Brasil. Dentre as malhas ferroviárias do
país, a Malha Paulista e Norte (Rondonópolis MT – Santos SP) formam um dos principais
corredores de transporte ferroviário de grãos, escoando parte da produção de granéis do centro-oeste
para o Porto de Santos.
A Rumo é detentora de quatroconcessões ferroviárias no Brasil, operando em 12 mil km de
malha férrea (espera-se que as atividades educacionais envolvendo a fauna sensibilize, de maneira
geral, funcionários e pessoas envolvidas, criando multiplicadores de conhecimento que hajam de
maneira significativa na diminuição de atropelamentos de faunaespera-se que as atividades
educacionais envolvendo a faunasensibilize, de maneira geral, funcionários e pessoas envolvidas,
criando multiplicadores de conhecimento que hajam de maneira significativa na diminuição de
atropelamentos de fauna.
), com cerca de mil locomotivas e 27 mil vagões, por meio dos quais a Companhia
transporta commodities agrícolas e produtos industriais. Tendo em vista que a ferrovia cruza áreas
densas de Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, e que algumas espécies da fauna silvestre do
entorno encontram-se ameaçadas de extinção, surge a necessidade de criar algum método para
reduzir o impacto causado quando da travessia destes animais pela ferrovia.
Empreendimentos lineares como rodovias e ferrovias causam diversas alterações no
ambiente e facilitam o acesso humano a áreas pouco ou nunca impactadas, tendo como
consequência o desmatamento, a caça, a expansão imobiliária (SILVA e VIANNA, 2009), e o
atropelamento da fauna.
O atropelamento da fauna é um dos principais fatores responsáveis pelo declínio
populacional das espécies, superando inclusive a caça (SMITH-PATTEN e PATTEN, 2008;
FORMAN e ALEXANDER, 1998). As construções de estradas ocasionam o chamado ―efeito
barreira ou filtro‖ onde se criam fragmentos florestais menores e que isolam populações de animais
não permitindo o fluxo gênico de espécies, além dos efeitos de evitamento e afugentamento da
fauna causados pela emissão de ruídos e da poluição (SEILER, 2001).
Diante desse problema, a Rumo desenvolve várias práticas ambientais a fim de diminuir os
impactos causados pelo transporte ferroviário, como o atendimento ao programa de monitoramento
e mitigação de fauna atropelada, implantação de apitos ultrassônicos que afugentam a fauna durante

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

o deslocamento da composição, instalação de canaletas de travessia para quelônios e, juntamente


com essas, vêm trabalhando constantemente na sensibilização de funcionários na referida temática.
Considerando a Educação Ambiental um processo pelo qual as pessoas e a sociedade
constroem valores, agregam conhecimentos e habilidades, todo e qualquer esforço para introduzi-la
como eixo temático ou práticas no dia a dia é válido e aumenta a interação dos seres humanos para
com o meio ambiente (RODRIGUES, 2008). Teixeira e Castro (2003) mostram que a questão
ambiental é uma das grandes preocupações mundiais, presente em todas as áreas. Isso leva várias
parcelas da sociedade a aumentar seus esforços voltados para a conservação do meio ambiente.
O trabalho constante de educação ambiental envolve funcionários que estão presentes
diariamente no campo, como maquinistas, condutores e rondas, bem como setores administrativos e
moradores próximos da área de influência da via. Contudo, na medida quesurgem demandas
específicas e que envolvem treinamento de pessoal afim de elucidar eventuais dúvidas relacionadas
à fauna e sensibilizar os funcionários que trabalham diretamente no campo, há necessidade de
aprimorarmos os trabalhos, sobretudo em Educação Ambiental.
Por esse motivo e objetivando propor uma prática em Educação Ambiental, a RUMO
considera a necessidade de sensibilização na temática do atropelamento de fauna, promovendo a
educação ambiental em todas as esferas da empresa para alertar funcionários da via sobre a
importância da preservação da biodiversidade. Como consequência espera-se que as atividades
educacionais envolvendo a faunasensibilize, de maneira geral, funcionários e pessoas envolvidas,
criando multiplicadores de conhecimento que hajam de maneira significativa na diminuição de
atropelamentos de fauna.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1. Mapa do traçado ferroviário sob concessão da RUMO logística S.A.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento das atividades, o presente trabalho foi baseado nos dados de
atropelamentos de fauna registrados através da metodologia via auto de linha, que correspondem ao
cumprimento das condicionantes estabelecidas pelo Ibama.
O levantamento de fauna através de auto de linha é realizado por meio de deslocamento
sobre a via na totalidade dos trechos operacionais Nesta metodologia, um profissional específico
para o monitoramento de fauna, percorre a ferrovia, via auto de linha, a uma velocidade máxima de
40 km/h e os registros de fauna foram efetuados de maneira visual ao longo de toda a faixa de
domínio e adjacências. Quando observado um animal atropelado, o deslocamento foi interrompido
(sempre que possível) e realizado o registro para cada espécime.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 2. Modelo do veículo Auto de linha utilizado nos monitoramentos ambientais.

Os dados obtidos, e apresentados a seguir, contemplam os anos de 2014 a 2016 e estão


classificados como carcaças e ossadas, ou seja, excluem-se os registros de animais feridos e/ou
avistados.

MALHA SUL – PARANÁ E SANTA CATARINA

A Malha Ferroviária, que abrange os estados do Paraná e Santa Catarina, possui um tráfego
intenso de cargas de diversos gêneros. A área de influência da ferrovia abrange diversos municípios,
passando por áreas rurais não adensadas que ocupam a maior parte dos estados, e por áreas urbanas,
que por sua vez, apresentam adensamento populacional significativo.
O traçado da ferrovia nesses estados atravessa complexas redes de corpos d‘água e
importantes fragmentos florestais de Mata Atlântica que abrigam as mais variadas espécies de fauna
e flora. Entre o ano de 2014 e 2016, período em que fora executado o monitoramento de
atropelamento de fauna, foram catalogadas 341 espécies de animais atropelados, compreendidos
entre animais domésticos (243) e silvestres (98), justificando-se assim ações de mitigação de
atropelamento de fauna nesta região.

MALHA SUL – RIO GRANDE DO SUL

A Malha Ferroviária, que abrange o estado do Rio Grande do Sul, possui um tráfego intenso
de cargas de diversos gêneros. A área de influência da ferrovia abrange diversos municípios,
passando por áreas rurais não adensadas que ocupam a maior parte dos estados, e por áreas urbanas,
que por sua vez, apresentam adensamento populacional significativo.
O traçado da ferrovia nesses estados atravessa complexas redes de corpos d‘água e
importantes fragmentos florestais e Pampas, que abrigam as mais variadas espécies de fauna e flora.
Entre o ano de 2014 a 2016, período em que fora executado o monitoramento de atropelamento de
fauna, foram catalogadas 3.243 espécies de animais atropelados, dos quais 2.958 eram domésticos e
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

285 silvestres, por esse motivo ações mitigatórias se fazem necessárias, principalmente alinhando a
Educação Ambiental para a diminuição de problemas relacionados.

MALHA PAULISTA

A Malha Ferroviária, que abrange o estado de São Paulo, possui um intenso tráfego de
composições, sendo hoje uma das principais em termos de logística para a empresa. O traçado da
ferrovia que corta o estado abrange vários municípios com intensa ocupação populacional e
importantes áreas de florestas mescladas com pastagens e agricultura. Os biomas presentes no
estado estão caracterizados basicamente pela Mata Atlântica e pelo Cerrado, e por haver uma zona
de transição entre ambos (região de ecótono) se torna uma região importante na conservação e
preservação de espécies, muitas endêmicas.
Entre março de 2014 a junho de 2016 foram registradas 977 evidências de atropelamento,
destes 272 registros foram de espécimes domésticos, 113 de espécimes exóticos, 583 silvestres, e
nove não identificados, justificando-se assim ações de Educação Ambiental no âmbito do
atropelamento de fauna nesta região.

MALHA NORTE

A Malha Ferroviária, que abrange o estado do Mato Grosso, possui um intenso tráfego de
composições, sendo hoje uma das principais em termos de logística para a empresa. O traçado conta
ainda com um terminal de cargas multimodal, onde são feitos os carregamentos de grãos para
posterior escoamento.
A malha ferroviária em questão passa por diversas áreas agrícolas e pecuárias bem como
muitas áreas de proteção ambiental e florestas densas. O bioma predominante caracteriza-se pelo
cerrado, que abriga inúmeras espécies de animais silvestres, muitos deles ameaçados de extinção,
como é o caso da Anta (Tapirusterestris). Hoje a maior taxa de atropelamento de animais silvestres
encontra-se na respectiva malha, e a partir desse problema, surgiu a necessidade de
desenvolvimento de ações paralelas de mitigação de atropelamento. Foram registrados 2.467
atropelamentos, sendo: 2.201 silvestres; 266 domésticos/exóticos/não identificados (N.I), entre
janeiro de 2015 a novembro de 2016.

USO DE FOLDER COMO FERRAMENTA EDUCATIVA

Baseado nos dados de atropelamento de fauna, surgiu a necessidade de ações mitigadoras,


afim de diminuir os eventos de atropelamento ao longo da malha ferroviária. Uma das ações é a
intervenção educativa com foco nos funcionários e comunidade do entorno.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Foram criados folders específicos para cada bioma em que a ferrovia está inserida, e sua
respectiva fauna predominante, considerando dados particulares de fauna específica para cada um
deles. O desenvolvimento do material contempla informações sobre o setor de licenciamento
ambiental, cujo qual desenvolve a coleta de dados e ações de mitigação, bem como informações
pertinentes a cada bioma, animais envolvidos e proteção dos mesmos.
A aplicação da metodologia está inserida no âmbito da formação de multiplicadores em
educação ambiental e serão desenvolvidas palestras e distribuição dos folders aos funcionários da
via, para que estes fortaleçam a rede de comunicação nas questões ambientais que envolvem a fauna
e atropelamento dos mesmos.
Durante as campanhas de coleta de dados ambientais em campo, serão feitas reuniões com o
público alvo afim de esclarecer e implantar a metodologia. A distribuição dos folders será feita ao
final da palestra, após todos estrarem cientesdo cenário atual relacionadoa fauna. As propriedades
localizadas em entorno das unidades também podem ser visitadas e informadas sobre a ocorrência
de determinadas espécies e a sua importância (LIMA e OBARA, 2004).
A estratégia advinda do uso do folder, é associar a devida importância da espécie para com o
meio ambiente, principalmente onde ela está inserida. Trazer o conhecimento sobre as espécies
frequentemente atropeladas com informações do tipo, importâncias para a organização trófica de
uma comunidade, para a dispersão de sementes ou para polinização de plantas, pode representar
uma grande contribuição para a sensibilização do público alvo (OLIVEIRA, 2013).
Após a identificação dos locais do problema, será considerado a existência dos
atropelamentos, sua abrangência espacial e as espécies mais frequentemente atropeladas. É
importante ainda que todas essas informações sejam compartilhadas com o público alvo das ações
que, nesse caso, abrange a comunidade de entorno das estradas, que podem contribuir com a
execução das atividades de educação (PAES E POVALUK, 2012).
A execução do trabalho será pontual e desenvolvida em cada unidade operacional. O público
alvo será orientado mediante palestra para apresentação do material, bem como informações sobre a
importância da proteção à fauna na ferrovia e adjacências. Na medida que as equipes se
encontrarem em campo, ações pontuais de esclarecimento e entrega dos folders serão realizadas.
Entrevistas com questionário constituído de seisperguntas: Você já viu algum animal na ferrovia
enquanto conduz a composição? Você conhece os animais que avista? Você já atropelou algum
animal? Você faz uso da buzina caso algum animal esteja atravessando a ferrovia no momento do
deslocamento? Você acha que atropelar algum animal é um problema? Também serão aplicadas,
para mensurar a evolução do conhecimento no período em que a atividade será desenvolvida.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura3 Modelo de folder utilizado na Educação Ambiental como proposta de mitigação de fauna atropelada.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando os dados, coletados em campo, relacionados ao atropelamento de fauna,


evidenciou-se a necessidade de conscientização dos funcionáriosda RUMOem relação aos
atropelamentos e a fauna local. Dada a importância que cada ser vivo possui no meio ambiente
surgiu a necessidade de elaborarmos uma alternativa educacional a fim de mudar alguns
conhecimentos (muitas vezes empíricos) e adquiridos de geração para geração.
Com a aplicação dessa metodologia, espera-se que os resultados demonstrem um aumento
no conhecimento dos colaboradores em relação ao tema, a importância da preservação da
biodiversidade e diminuição dos atropelamentos acidentais ou não. Vários relatos, outrora
observados foram corroborados por Júnior, et.al. 2016, onde grande parte dos motoristas afirmaram
que atropelamentos propositais ocorrem, seja para consumo do animal ou por pura ―diversão‖.
Embora uma composição não tenha opção de diminuir a velocidade e/ou parar na presença de um
animal, queremos, com essa ferramenta de Educação Ambiental, que o maquinista entenda a
importância na preservação da espécie, que eventualmente fora atropelado, para o meio ambiente e
que, em novas ocasiões, faça o uso da buzina com maior frequência.
No caso de veículos ferroviários menores, como o veículo ―Auto de linha‖, que tem opção
de reduzir a velocidade caso algum animal esteja na via, espera-se que o novo conhecimento
adquirido através da sensibilização, seja crucial para a diminuição da velocidade ou uso de buzina
no momento em que o condutor observar alguma travessia de fauna.
A falta de informação de profissionais que atuam na condução de veículos (rodoviários e
ferroviários) acaba por ser um fator determinante em vários atropelamentos. Assim como afirma
Meneguettiet al., 2010, muitos são imprudentes, pois não respeitam os limites de velocidade e
jogam lixo nas estradas. Podemos adotar parte dessa afirmação para ferrovia, embora uma
composição não consiga diminuir sua velocidade, o lixo jogado por funcionários na via, é uma
realidade. Silva et.al. 2007, ainda menciona que muitos motoristas (aqui podemos incluir
maquinistas e condutores) não possuem conhecimento sobre os problemas provenientes dos
atropelamentos da fauna e da importância da preservação ambiental, o que agrava ainda mais o
problema.
Junto a isso, queremos que cada funcionário seja um multiplicador, que esse conhecimento
seja perpetuado para outras áreas, fora da empresa, como familiares, amigos, entre outros. Espera-se
que com essa divulgação seja dada a devida importância para os animais silvestres, diminuindo até
mesmo a caça e o aprisionamento de animais, pois assim como afirma Jacobi, 2003 qualquer
cidadão pode ser um educador ambiental, porém é necessário que haja capacitação adequada para
formação dos mesmos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para finalizar, Dia e Bos, 2006 nos mostram que a execução de atividades de Educação
Ambiental é uma das principais medidas mitigatórias para os atropelamentos de animais silvestres,
assumindo o papel de desenvolver estratégias e meios de educar a população sobre o impacto dos
atropelamentos de fauna.

CONCLUSÃO

Os folders confeccionados para o presente trabalho focam nos conhecimentos relacionados


aos biomas e a fauna silvestre de cada. É importante ressaltar, que além desses animais, na tratativa
com os funcionários e comunidade do entorno também será abordada a sensibilização dos
atropelamentos relacionados a fauna doméstica. A maior parte dos atropelamentos de fauna
doméstica, principalmente cachorros e gado, ocorre em trechos com predominância de áreas
urbanas e de agricultura. Possivelmente os animais domésticos estejam em situação de
vulnerabilidade na via, seja para se alimentar, deslocar, ou simplesmente pela não contenção efetiva
dos mesmos dentro das propriedades
Entre as espécies silvestres mais representativas nos registros realizados nos
monitoramentos, estão três espécies; tatu-galinha, quati e cachorro-do-mato. Essas espécies são
generalistas e habituadas a ambientes com influência antrópica. Dentre os fatores que podem causar
atropelamento das espécies silvestres estão a relação entre a presença dos remanescentes naturais,
como as florestas ombrófila densa e mista, e a presença da ferrovia que corta tais áreas.
Partindo desse pressuposto, as ações mitigadoras desenvolvidas pela Rumo vêm sendo
aprimoradas de modo que esses atropelamentos sejam reduzidos. A educação ambiental e o uso de
alternativas educacionais ajudam na sensibilização dos impactos causados pela ferrovia e aliado à
informação sobre a importância da conservação da biodiversidade, se tornam uma importante
ferramenta de mitigação.

REFERÊNCIAS

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Congresso Nacional de Meio Ambiente. Poços de Caldas, set. 2016. Acesso em 21.julho.2017.

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LIMA, S, F. e OBARA, A, T. Levantamento de animais silvestres atropelados na BR-277 às


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fauna. Fauna nativa. 2004.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

NEM TUDO É LIXO: PRÁTICAS DE ADAPTAÇÃO À POLÍTICA NACIONAL DE


RESÍDUOS SÓLIDOS

Maria Daniele Pereira Bessa da SILVA


Aluna de Especialização em Geoprocessamento Ambiental e dos Recursos Hídricos/UECE
mdanielebessa@gmail.com
Thayane Rabelo BRAGA
Mestre em Engenharia Química/UFC
Kevin Brito Gondim FERREIRA
Professor de História/Escola Edson Queiroz
Milena Maria Tomaz de OLIVEIRA
Doutoranda em Fitotecnia/UFC

RESUMO
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) vem trazendo
instrumentos importantes com reflexões acerca da destinação correta dos resíduos. O consumo
desenfreado aliado a falta de organização da população em relação aos resíduos vem causando
graves dados ao meio ambiente. Portanto, este trabalho teve por objetivo analisar a PNRS,
incentivar e oferecer à comunidade escolar a oportunidade de contribuir com a redução dos
impactos ambientais e sociais causados pela elevada produção de resíduos. A aplicação do projeto
proporcionou a comunidade escolar a oportunidade de inserir práticas sustentáveis em suas
atividades cotidianas aliando à consciência ecológica a adaptação da população a nova política de
resíduos sólidos bem como a redução e reutilização/reciclagem de resíduos.
Palavras chaves: Política Nacional de Resíduos Sólidos. Impactos ambientais. Comunidade escolar.
ABSTRACT
Law No. 12,305 / 10, which establishes the National Solid Waste Policy (PNRS) has been bringing
important tactis of reflections on the correct disposal of sediments. Rampant consumption with the
lack of organization of the population in relation to sediments has been causing serious damage to
the environment. Therefore, this study aimed to analyze the PNRS, to encourage and offer the
school community the opportunity to contribute to the reduction of environmental and social
impacts caused by the high production of sediments. The implementation of the project provided
the school community with the opportunity to insert sustainable practices in their daily activities,
combining ecological awareness with the adaptation of the population to the new solid sediments
policy as well as the reduction and reuse / recycling of sediments.
Keys-words: National Policy on Solid Waste. Environmental impacts. School community.

INTRODUÇÃO

O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS.

Durante o decorrer da história muitos povos viviam em harmonia com o meio ambiente, mas
com a chegada do desenvolvimento e do consumo desenfreado por muitos fatores, os recursos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

naturais passaram por sérios riscos. As paisagens naturais ganharam cada vez mais à ação antrópica.
A preocupação com a utilização desordenada nos recursos vem gerando preocupações para a
comunidade científica, comunidades no geral e ao poder público.
Com o agravamento da atual situação ambiental, o planejamento traz os significados e
alternativas para um equilíbrio entre o social e o ambiental, o mesmo tem o objetivo de impulsionar
diversos setores da nossa sociedade a realizar ações que levam em consideração a importância de
um desenvolvimento econômico sustentável.
Desta forma, a discussão sobre o conceito de desenvolvimento sustentável vem ganhando
destaque nas últimas décadas pois possibilita o planejamento de ações que visem a minimização dos
impactos sobre o meio ambiente.

Os debates e as reflexões que dominam a cena política e técnico científica internacional


sobre modelos e alternativas de desenvolvimento – capazes de enfrentar os desafios e os
problemas econômicos, sociais e ambientais contemporâneos – estão levando à formação
de uma nova concepção de desenvolvimento, conhecida como desenvolvimento
sustentável. Mesmo com as imprecisões e ambiguidades que ainda cercam o conceito, todos
os esforços recentes de desenvolvimento local e municipal têm incorporado, de alguma
forma, os postulados de sustentabilidade, procurando assegurar a permanência e a
continuidade, no médio e longo prazos, dos avanços e melhorias na qualidade de vida, na
organização econômica e na conservação do meio ambiente (BUARQUE, 1999, p. 29).

O crescimento das atividades ligadas ao desenvolvimento econômico na rapidez e


intensidade dos dias atuais tendem a degradar o meio ambiente e seus recursos impossibilitando
assim, no futuro um desenvolvimento que vise a qualidade de vida da população. Buarque (1999)
afirma que parte dos recursos são não renováveis e podem se esgotar com esta excessiva exploração
econômica, e mesmo os renováveis, como as florestas e recursos hídricos, se forem explorados
numa intensidade superior ao seu próprio ritmo de auto reprodução, começam também a se esgotar
os recursos e provocar uma desorganização do meio ambiente.
Segundo Naruo (2003) devido ao crescimento populacional e a varrições nos padrões de
consumo e de produção, a sociedade vem sofrendo nos tempos atuais com os problemas
relacionados ao lixo pois este quando não é tratado nem disposto de forma adequada pode gerar
danos ao solo, a contaminação das águas, gerar odores e a proliferação de doenças. A quantidade de
lixo gerada no mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, além de provocar gastos
financeiros significativos, pode provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o
bem-estar da população (CUNHA; CAIXETA FILHO, 2002).

A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS): OBJETIVOS E RELEVÂNCIA


SOCIOMBIENTAL.

A produção de resíduos no Brasil continua a ter um destino incerto, a Lei nº 12.305/10, que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) vem trazendo instrumentos importantes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

para a reflexão sobre sua destinação correta. A proposta trouxe discursões com vários autores com
diversos posicionamentos para entrar em consenso em suas diretrizes. Diante da atual configuração
ambiental e a importância de se encontrar soluções o MMA propôs metas, estratégias e ações que
proporcionem a realização da PNRS.
De acordo com a Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS (2010) consideram -se
resíduos sólidos o materiais, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades
humanas e cuja destinação final se procede nos estados sólido ou semissólidos, bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou que necessite para isso técnica economicamente
inviável e os rejeitos seriam os resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada; A própria
expressão lixo o retrata como algo sem valor ou importância por isso vem sendo substituída pelo
termo resíduos sólidos.

[...]Além disso, "resíduos sólidos" diferenciam-se do termo "lixo" porque, enquanto este
último não possui qualquer tipo de valor, já que é aquilo que deve apenas ser descartado,
aqueles possuem valor econômico agregado, por possibilitarem (e estimularem)
reaproveitamento no próprio processo produtivo. Estas novas características contribuíram
para tornar prioritária, dentro do setor público nos países desenvolvidos, a política de
gestão de resíduos sólidos, demandando um comportamento diferente dos setores públicos,
produtivo e de consumo (DEMAJOROVIC 1995. p, 1).

O Art. 13. desta lei, classifica resíduos sólidos como:

I - quanto à origem:

a) resíduos domiciliares
b) resíduos de limpeza urbana
c) resíduos sólidos urbanos
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços
e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico
f) resíduos industriais:
g) resíduos de serviços de saúde
h) resíduos da construção
i) resíduos agrossilvopastoris
j) resíduos de serviços de transportes
k) resíduos de mineração.
Na tabela abaixo podemos analisar a quantidade de resíduos em toneladas coletados por
dia e por habitante urbano por Kg/hab por dia no Brasil e por regiões.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tabela 1. Estimativa da quantidade de resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos coletados

Fonte: PNRS (2012) Elaborado a partir de Datasus (2011) e IBGE (2002, 2010a).

Segundo Cunha; Caixeta filho (2002) a quantidade de resíduos produzida por uma sociedade
é bem variável e depende de vários de fatores, como renda, época do ano, modo de vida,
movimento da população nos períodos de férias e fins de semana e novos métodos de
acondicionamento de mercadorias, com a tendência mais recente de utilização de embalagens não
retornáveis.
Entre os objetivos desta legislação está a proteção da saúde pública e da qualidade
ambiental, o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços,
e principalmente deve ser observada em ordem de prioridade a: não geração, redução, reutilização,
reciclagem e o tratamento dos resíduos sólidos bem como a disposição final ambientalmente
correta.
A reciclagem surge como uma das alternativas para o aproveitamento dos resíduos sólidos.
É um processo que ocorre a alguns anos de forma tímida, porém nos últimos tempos com a eclosão
do discurso de sustentabilidade vem ganhando um destaque maior.
A preocupação com uso e direito ao um ambiente ecologicamente correto juntamente com
os benefícios sociais e econômicos vem gerado discussões acerca da temática sobre a questão
ambiental, pois todos os elementos naturais são de elementar importância para o equilíbrio no
desempenho de sua função. As atividades desenvolvidas podem causa impactos sociais e ambientas.
Segundo a RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986, considera-se impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam:
I - A saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - As atividades sociais e econômicas;
III - A biota;
IV - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - A qualidade dos recursos ambientais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A produção de resíduos ganhou um elevado crescimento, causando sérios danos ao meio


ambiente. No Brasil, de acordo com a PNSB (2000), se coleta cerca de 228.413 toneladas de
resíduos sólidos diariamente, sendo125.258 toneladas referentes aos resíduos domiciliares. Este
trabalho trata sobre a gestão dos resíduos procurando conscientizar a população sobre a importância
da diminuição dos impactos, sociais, econômicos e ambientais a partir do manuseio dos resíduos.

O MUNICÍPIO DE CASCAVEL E A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A elaboração do plano nacional de gestão integrada de resíduos PMGIRS é um dos


requisitos para que os municípios tenham aceso aos recursos da união, Cascavel-CE juntamente
com suas parcerias está iniciando esta elaboração. A região faz parte da regional leste composta por
mais sete municípios (Aracati, Beberibe, Fortim, Icapuí, Itaiçaba, Jaguaruana e Pindoretama) dentre eles
existe apenas um Consórcio Intermunicipal de Resíduos Sólidos Urbanos: o Consorcio Municipal
Para Aterro de Resíduos Sólidos Unidade Cascavel – COMARES/UCV, CNPJ: 13.256.794/0001-
09, composto por três municípios (Pindoretama, Cascavel e Beberibe), sendo a sede do consórcio
localizada no município de Cascavel-CE.

Figura 1. Mapa de localização do município de Cascavel-CE

Fonte: Silva, 2017

Segundo a prefeitura municipal de Cascavel o município têm serviços de coleta


convencional domiciliar, que é oferecido em dias alternados, com exceção no centro comercial das
cidades, onde a coleta é realizada diariamente. Em relação à disposição final dos RSU, o munícipio
ainda dispõe seus resíduos em lixões, o que gera preocupação quanto a contaminação desses

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ambientes. Na figura abaixo podemos identificar que Cascavel encontra-se como o segundo
município com a menor taxa de cobertura de lixo do litoral leste.

Tabela 1. Taxas de cobertura do serviço de coleta de lixo

POPULAÇÃO TAXA DE COBERTURA DO SERVIÇO DE COLETA DE


MUNICÍPIO
ATENDIDA (2010) LIXO (2010)

ARACATI 14.477 73,22%

BEBERIBE 8.388 59,58%

CASCAVEL 12.434 66,16%

FORTIM 3.055 73,47%

ICAPUÍ 4.305 82,44%

ITAIÇABA 1.662 72,74%

JAGUARUANA 7.202 74,89%

PINDORETAMA 3.715 69,56%

REGIÃO 55.238 71,51%

Fonte: Gaia Engenharia Ambiental, 2017. Com base nas informações do Perfil Básico Municipal do IPECE, 2016.

Segundo Takenaka (2008) é um grande desafio saber o que fazer com os resíduos gerados, a
partir das atividades humanas, para que sua disposição final cause o mínimo de impactos negativos
ao meio ambiente. Este é um grande problema da maioria dos estados brasileiros, onde os resíduos
gerados são coletados, transportados e depositados sem uma triagem e posteriormente dispostos em
locais inapropriados causando diversos danos ao meio ambiente. Na figura abaixo podemos
descartar as principais atividades impactantes no Litoral Leste.

Figura 2. Empreendimentos Impactantes do Litoral Leste


Diversas 152
40
Bebidas 16
271
Vestuário,… 243
111
Material plástico 5
35
Couros, peles e… 10
48
Madeira 52
9
Mecânica 6
103
Minerais não… 85
0 100 200 300
Fonte: Gaia Engenharia Ambiental, 2017.

A produção de resíduos sólidos tende a crescer de acordo com o crescimento da população.


Na figura abaixo temos a estimativa do RSU médio em 2017 de 68,1 ton/dia no município de
Cascavel-CE.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tabela 2. Estimativa de RSU médio (2017 a 2037) Ton/dia de alguns municípios.


Estimativa de RSU médio (2017 a 2037) Ton/dia
Município
2017 2027 2037

Aracati 70,3 77,7 98,8

Beberibe 50,9 57,5 63,6

Cascavel 68,1 76,6 84,7

Fortim 15,7 18,3 21,7

Icapuí 17,4 19,5 21,5

Fonte: Gaia Engenharia Ambiental, 2017.

PRÁTICAS DE ADAPTAÇÃO A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA


COMUNIDADE ESCOLAR

O objetivo das práticas de adaptação da política nacional de resíduos sólidos foi incentivar e
oferecer a comunidade escolar oportunidades de contribuir com a redução dos impactos ambientais
e sociais causados pela elevada produção de resíduos. Como também fomentar a consciência
ecológica na escola e na comunidade local e auxiliar com matéria prima as oficinas de reciclagem e
parceiros que manejam a agropecuária.
Foi selecionada como área de abrangência uma Escola Estadual de tempo integral do
município de Cascavel - Ceará e posteriormente a comunidade local. Realizou-se uma pesquisa com
o órgão responsável do município acerca da deposição dos resíduos, além da coleta e análise de
dados com a comunidade escolar. Como forma de identificação da problemática foi realizada uma
pesquisa sobre a quantidade de matéria orgânica e papel que eram desperdiçados.

Figura 3. Quantidade de alimentos desperdiçados por Turma

Fonte: Silva (2016)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4. Indicativo em porcentagem do desperdício mensal de papel nas turmas de A e B.

Fonte: Rodrigues (2017)

A escola inicialmente passou pelo processo de reeducação sobre o desperdício alimentar


criando estratégias para a diminuição do desperdício de alimentos. Os resíduos foram divididos em
três categorias: Resíduos orgânicos (restos de comida), orgânicos (óleo) e recicláveis secos.

Figura 5 e 6. Separação do Resíduos: orgânicos (restos de comida), orgânicos (óleo) e recicláveis secos

Fonte: Silva (2016)

Na sala de aula foram colocados postos de recolhimento para papel e derivados. Foi
realizada uma parceria com os coletores da comunidade que semanalmente recolhiam os resíduos
proporcionando assim, o descarte correto, encaminhando os mesmos para uma posterior reciclagem
e\ou reutilização.
Com a redução a partir da prevenção na geração de resíduos se pautando na prática de
atividades sustentáveis, observou-se um aumento da reciclagem de resíduos sólidos. Além de
propiciar a adaptação da comunidade escolar a ações previstas na nova Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Também foram realizadas parcerias com órgãos especializados destinando os
resíduos de forma correta.
A estratégia adotada para a disposição dos resíduos visa à minimização dos impactos
causados pela sua má disposição no solo, nas águas e no ar. A coleta seletiva implementada a partir
do projeto surge como uma nova forma da população contribuir para a preservação do meio
ambiente. Utilizando-os na elaboração de novos produtos e insumos a partir da matéria orgânica
coletada para o beneficiamento da ração animal e/ou adubo. Assim, justifica-se a importância de
realização do projeto na escola e comunidade como uma forma de contribuir com a implementação
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de estratégias que visem um destino correto dos resíduos, assim como a adaptação da comunidade
na contribuição de um espaço de sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do projeto proporcionou a comunidade escolar a oportunidade de inserir


práticas sustentáveis em suas atividades cotidianas aliando à consciência ecológica a adaptação da
população a nova política de resíduos sólidos bem como a redução e reutilização/reciclagem de
resíduos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>.
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Lei nº 13.103, de 24 de Janeiro de 2001. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos. Diário
Oficial do Estado, 5 de fevereiro de 2001.

Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
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São Carlos, v. 9, n. 2, ago. 2002.

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Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 283p.
2003.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1356


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

TAKENAKA, E. M. M. Políticas públicas de gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos


no município de Presidente Prudente-SP. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Tecnologia. 2008.

TORRES, C. N. A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL NO MODO DE PRODUÇÃO


CAPITALISTA COM EFOQUE NOS RESÍDUOS SÓLIDOS: A GESTÃO REALIZADA NO
MUNICÍPIO DE CASCAVEL – CE COMO VERIFICAÇÃO DAS
CONSIDERAÇÕESTEÓRICAS. Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências e Tecnologia,
Programa de Mestrado Acadêmico em Geografia. 2013.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1357


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRESERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA: META ESTRATÉGICA DA POLÍTICA


AMBIENTAL MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

Maria do Socorro da Silva MENEZES56


Mestre em Economia pela UFPB.
E-mail: socorromenezes@gmail.com
Luciana Vilar de ASSIS57
Doutoranda na Pós-Graduação em Direito da UFPB
E-mail: lucyvilar@hotmail.com

RESUMO
A Mata Atlântica, presente em vários estados brasileiros, é formada por um conjunto de formações
florestais marcada pela diversidade. Uma das pautas mais preocupantes a respeito deste Bioma é a
devastação que ele vem passando no decorrer dos anos. Pode-se dizer que sua devastação caminha
paralela à história econômica do Brasil e que, cada ciclo econômico vivenciado pelo país,
correspondeu ao desaparecimento de uma grande parte da mata. Planos de recuperação e
preservação da Mata Atlântica são pensados pelos governos e o Poder Público, com sua
competência legislativa e fiscalizadora desempenha um papel importante nesse cenário.
Instrumentos disponíveis para que ocorra o melhoramento da floresta existem, a exemplo das
normas relacionadas à gestão ambiental, assim como legislação específica voltada ao assunto. Em
João Pessoa, as ações empreendidas pela equipe de fiscalização da SEMAM com suas
açõesprogramadas para efetuar o monitoramento dessas áreas tem sido de fundamental importância
para evitar o avanço do desmatamento de sua cobertura vegetal, bem como para conter a
degradação de suas áreas, a exemplo da deposição inadequada e o descarte aleatório de resíduos da
construção civil em seus remanescentes de Mata Atlântica.
Palavras-Chave: Mata Atlântica; Preservação; Gestão ambiental; Poder Público.
ABSTRACT
The Atlantic Forest, present in several Brazilian states, is formed by a set of forest formations
marked by diversity. One of the most worrying guidelines regarding this biome is the devastation
that it has undergone over the years. It can be said that its devastation walks parallel to the
economic history of Brazil and that each economic cycle experienced by the country, corresponded
to the disappearance of a large part of the forest. Plans for recovery and preservation of the Atlantic
Forest are thought by governments and the Government with its legislative and supervisory powers
plays an important role in this scenario. Instruments available to occur the improvement of the
forest there, the example of the rules related to environmental management, as well as specific
dedicated to the subject legislation. In João Pessoa, the actions taken by the inspection team
SEMAM with its planned actions to make the monitoring of these areas has been of fundamental
importance to prevent the advance of deforestation of its vegetation cover, as well as to curb the
degradation of their areas, example of inadequate deposition and random disposal of construction
waste in its remaining Atlantic Forest.
Keywords: Atlantic forest; Preservation; Environmental management; Public Power.

56
Fiscal Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de João Pessoa, PB, Professora do Curso
de Graduação de Pós-Graduação em Direto da Instituição de Ensino Superior Fesp Faculdades, João Pessoa, PB.
57
Professora de Graduação do Curso de Direto da Instituição de Ensino Superior Fesp Faculdades, João Pessoa, PB
Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1358


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

1 INTRODUÇÃO

O Bioma Mata Atlântica é uma formação vegetal encontrada em quase toda a extensão da
região litorânea do Brasil ocupando uma extensão de aproximadamente 100 mil quilômetros
quadrados. A Mata Atlântica é uma das mais importantes florestas tropicais do mundo,
apresentando uma rica biodiversidade, sendo, entretanto, bastante prejudicada por desmatamento,
particularmente em consequência da especulação imobiliária.
Para situar melhor os prejuízos que esse Bioma vem acumulando, cumpre ressaltar que,
estudo feito pela ONG S.O.S. Mata Atlântica e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
concluiu que o desmatamento foi de 235 km² (duzentos e trinta e cinco quilômetros quadrados)
entre os anos de 2011 e 2012. As florestas foram as mais prejudicadas pelo desmatamento com
perda de 219 km² (duzentos e dezenove quilômetros quadrados) de vegetação. A vegetação de
restinga teve perda de 15 km² (quinze quilômetros quadrados), enquanto os mangues perderam 0,17
km² (zero vírgula dezessete quilômetros quadrados).
Em vários pontos do país, as licenças para desmatamentos irregulares e a indústria do carvão
foram as principais causas deste desmatamento, em outras localidades, a expansão imobiliária é a
responsável por essa realidade. Atenta a essa realidade, sobretudo com devastação de vegetação no
bairro do Altiplano Cabo Branco, Jacarapé, além de outros bairros da cidade, o governo municipal
de João Pessoa instituiu através da Lei nº 12.101/11, o Sistema Municipal de Áreas Protegidas de
João Pessoa (SMAP), tratando da criação, implementação e gestão de áreas protegidas (unidades de
conservação e parques municipais).
Assim, o objetivo desse estudo, cuja metodologia se pautou na técnica da pesquisa
bibliográfica e documental, consiste em demonstrar que a aprovação dessa legislação é uma
referência importante haja vista que, João Pessoa foi a primeira cidade a construir um Plano
Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, no final de 2010, estabelecendo um
marco regulatório das ações ambientais no Brasil, ao municipalizar a preservação do bioma,
tornando referência nacional.
O Plano Municipal de Preservação da Mata Atlântica tem como objetivo estabelecer as
diretrizes para a gestão municipal de meio ambiente e integrar projetos e ações em consonância com
as leis e códigos urbanísticos e ambientais vigentes, sobretudo para evitar danos a espécimes da
fauna e da flora silvestre ameaçadas de extinção.
Trata-se de medida importante no sentido de ser um marco regulatório da política de
controle ambiental abrangendo ações de conservação, fiscalização, monitoramento e educação
ambiental. Importante ressaltar que, assim como toda a região litorânea do estado da Paraíba, a
cidade de João Pessoa encontra-se dentro da faixa de domínio da Mata Atlântica e que o processo
de expansão e ocupação dessa área começou a se intensificar a partir do final da década de 1970,
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1359
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

com a construção de infraestrutura viária e de sistema de esgoto e de drenagem, bem como ocorreu
a instalação de diversas atividades privadas, a exemplo dos serviços de infraestrutura de apoio ao
turismo.

2 UM OLHAR ECONÔMICO-EVOLUTIVO SOBRE A MATA ATLÂNTICA

Deve-se destacar, inicialmente, que o sistema econômico implantado em boa parte dos
países que detêm recursos naturais exploráveis economicamente, ou seja, onde predomina a lógica
dominante do sistema capitalista, vem transformando o Meio Ambiente em fornecedor, tão
somente, de valores econômicos e de meio facilitador para instalação de negócios financeiros
rentáveis. Os recursos naturais, a despeito de serem finitos, não são vistos com essa característica e
servem, nesse panorama, apenas, como forma de satisfação de poucos.
É sabido que a exploração indevida de recursos naturais remonta ao período da colonização
e que, no decorrer dos tempos, as florestas vêm se transformando em locais de dominação do
homem. Além disso, as destruições do Bioma não acompanham, no mesmo ritmo, seu replantio e,
em virtude desse fato, os ecossistemas vêm passando por fortes mudanças, especialmente no que diz
respeito a sua biodiversidade.
A política neoliberal e o direito de propriedade, resguardado pela Constituição Federal
Brasileira, são fatores desencadeantes de conflitos nos quais dois interesses se chocam: a livre
iniciativa econômica e a preservação da Mata Atlântica. O direito de propriedade encontra-se
inserido nesse panorama uma vez que, grande parte do aludido Bioma, está localizada nestas terras,
algo em torno de 70% (setenta por cento). Diante desse impasse, destaque-se que vivemos em uma
sociedade de risco na qual os interesses econômicos e os avanços tecnológicos se desenvolvem em
uma velocidade crescente e, muitas vezes, não avaliam suas consequências e riscos (GAIO, 2014).
Um dos aspectos principais quando o assunto é preservação, recuperação e proteção da Mata
Atlântica é a restauração florestal. Essa estratégia é a maior garantia para a manutenção dos serviços
ambientais como a estabilidade geológica dessas áreas, evitando assim as grandes catástrofes que já
ocorreram onde a mata foi suprimida, com consequências econômicas e sociais extremamente
graves. Além disso, o Bioma abriga, ainda, belíssimas paisagens, cuja proteção é essencial ao
desenvolvimento do turismo, uma das atividades econômicas que mais crescem no mundo.
Em 2009, foi apresentado o ―Pacto pela Restauração da Mata Atlântica‖, que envolveu
várias organizações na sua feitura, entre elas a Conservação Internacional e a Fundação S.O.S. Mata
Atlântica. O intento na elaboração do documento foi reverter a atual situação de fragmentação em
que a floresta se encontra. O Pacto tem como meta restaurar 15 milhões de hectares até 2050 e
estimular a discussão e a melhor aplicação de políticas de restauração florestal no Bioma. Para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

atingir as metas necessárias, é fundamental que as ações sejam integradas e coletivas, e que exista
uma mobilização geral da sociedade em sua defesa.
Para que os dispositivos constantes no Pacto pela Restauração da Mata Atlântica sejam
concretizados, faz-se necessário investimento na produção de conhecimento científico aliando-se,
para tanto, experimentos empíricos de forma a serem incluídas as evoluções temporais a respeito
deste assunto. A colocação em prática de ações específicas é o ato que sustenta a concretude das
proposições presentes no documento. Pode-se dizer, portanto, que o Pacto foi constituído para
sustentar as ações de restauração da Mata Atlântica, ações estas que deverão ser potencializadas
com o esforço coletivo que deverá existir entre as organizações não governamentais, os governos
federal, estaduais e municipais, os proprietários rurais, as comunidades tradicionais, as
cooperativas, as associações e as empresas.
Diante dessa constatação, pode-se afirmar que a Mata Atlântica carece de políticas de
proteção urgentes de forma a ver conservada e recuperada, em toda sua extensão, os recursos ali
presentes. Essa compreensão permitiu que a cidade de João Pessoa se tornasse pioneira na tomada
de medidas efetivas de garantia de preservação do Bioma Mata Atlântica, da preservação da
qualidade de vida de sua população e para que o conceito de desenvolvimento sustentável possa vir
a prevalecer, apesar de toda a sua complexidade envolvendo o desenvolvimento da cidade.

2.1 SOBRE A SUA PROTEÇÃO LEGAL

A Lei nº 11.428/2006, que dispõe sobra a utilização e a proteção da vegetação nativa do


Bioma Mata Atlântica, estabelece no seu artigo 1º que serão considerados integrantes desse sistema
a Floresta Ombrófila Densa; a Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; a Floresta Ombrófila Aberta; a Floresta Estacional Semidecidual; a Floresta Estacional
Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos
interioranos e encraves florestais do Nordeste (BRASIL, 2006).
Um dos objetivos principais da Lei supracitada é a promoção do desenvolvimento
sustentável além de salvaguardar a biodiversidade, os valores paisagísticos, estéticos e turísticos,
dentre outros. Destaca, ainda, o texto legal no seu artigo 6º parágrafo único, que, para a proteção e
quando da utilização do Bioma Mata Atlântica, deverão ser levado em consideração os princípios
da função socioambiental da propriedade, da equidade intergeracional, da prevenção, da precaução,
do usuário-pagador, da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade
procedimental, da gratuidade dos serviços administrativosprestados ao pequeno produtor rural e às
populações tradicionais e do respeito ao direito de propriedade (BRASIL, 2006).
Além das disposições acima citadas, a Lei nº 11.428/2006 apresenta instrumentos para
apoiar as pessoas que trabalham com preservação da Mata de forma a recompensá-las pelo trabalho

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desenvolvido. Para que ocorra a recuperação da floresta, a lei prevê incentivos econômicos, como
por exemplo, a existência de um fundo de restauração que passa, então, a fazer das chamadas
políticas ambientais. Os projetos beneficiados com os recursos desse fundo são aqueles que
envolvam conservação de remanescentes de vegetação nativa, pesquisa científica ou áreas a serem
restauradas, desde que implementados em Municípios que possuam plano municipal de conservação
e recuperação da Mata Atlântica, cujo conteúdo tenha sido devidamente aprovado pelo Conselho
Municipal de Meio Ambiente.
Ainda fazendo parte dessa política de incentivo econômico à preservação da Mata Atlântica,
foi criado o denominado Imposto de Renda Ecológico, inovador mecanismo de investimento
ambiental defendido pela Conservação Internacional, S.O.S. Mata Atlântica, diversas ONG‘s e
empresas – na ―Ação pelo IR Ecológico‖, criada em 2005. De acordo com o Projeto de Lei nº
5.974/05, pessoas físicas e jurídicas poderão deduzir do Imposto de Renda devido, respectivamente,
até 80% (oitenta por cento) e até 40% (quarenta por cento) dos valores efetivamente doados a
entidades sem fins lucrativos, para aplicação em projetos de conservação do meio ambiente e
promoção do uso sustentável dos recursos naturais. A criação do IR Ecológico surge, portanto,
como mais um incentivo de promoção à preservação ambiental, assim como caracteriza uma ação
governamental de proteção à sustentabilidade.58
Outro diploma normativo que estabelece proteção à Mata Atlântica é o Decreto nº 6.660, de
2008. O texto elenca os procedimentos que se fazem necessários à preservação do Bioma ora em
apreço, assim como detalha quais os tipos de vegetação serão protegidos pela Lei da Mata
Atlântica. Entre os seus dispositivos estão, por exemplo, disposições acerca do plantio e do
reflorestamento com espécies nativas e a prática do ―pousio‖, consistente na interrupção de
atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturas do solo por até dez anos para possibilitar a
recuperação de sua fertilidade (art. 22).
De um lado, é de se ressaltar que a Constituição Federal considera a Mata Atlântica
patrimônio nacional, determinando que a utilização dos seus recursos seja feita dentro de condições
que assegurem a sua proteção. Foi, apenas, com a promulgação da nova Constituição Federal que a
Mata Atlântica assumiu o status de Patrimônio Nacional sendo, assim, descrita pelo § 4º, do Artigo
225: A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense
e a Zona Costeira ―são patrimônios nacionais, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais‖ (BRASIL, 1988). De acordo com a orientação ditada pela Constituição Federal, diversos
Estados reforçaram este dispositivo em seus diplomas legais. Ressalta, ainda, a autora que:

58 Informações disponíveis no endereço eletrônico: <http://www.aliancamataatlantica.org.br/?p=13>. Acesso em


05 jun. 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Até recentemente o Código Florestal era a única legislação que resguardava o bioma Mata
Atlântica. Embora legislação avançada para a época, não atendia as necessidades de real
proteção do bioma. Limitava-se apenas ao exercício do direito de propriedade em relação
às formações vegetais nativas. Trazia em seu texto o conceito de bens de interesse comum,
subordinando a exploração dos recursos existentes ao interesse da população (PERES,
2010, p. 113).

De outro lado, deve ser dito que a cidade de João Pessoa tornou-se uma referência nacional
em áreas protegidas com a aprovação de uma legislação que envolve os regramentos contidos no
seu Código Municipal de Meio Ambiente, Lei Complementar nº 029/2002 que tratou de estabelecer
medidas efetivas de proteção ao Bioma Mata Atlântica nos domínios de sua jurisdição,
estabelecendo o seguinte:

Art. 87. Ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou em


estágio avançado e médio de regeneração da mata atlântica, salvo quando houver
necessidade de execução de obras, planos, atividades ou projetos de indiscutível interesse
social ou de utilidade pública, mediante licença ambiental e apresentação do EIA/RIMA.
§ 1º. Considera-se Mata Atlântica, para fins desse Código, a formação florestal primária,
megatérmica, latifoliada e perenifólia que se distribui preferencialmente nas encostas dos
baixos planaltos litorâneos.
§ 2º. Considera-se nos termos desta lei complementar, como ecossistemas associados à
formação descrita no parágrafo acima, mata de restinga, manguezal, campos de restinga e
cerrados (tabuleiros) (JOÃO PESSOA, 2002, p. 38).59

O município de João Pessoa foi mais além, em 2007 lançou o Programa João Pessoa Verde
para o mundo que consistiu na instalação de um viveiro para produção de mudas de plantas nativas
com a finalidade de recompor a cobertura vegetal da cidade e contribuir com a recuperação do
Bioma Mata Atlântica através do fornecimento aos outros municípios interessados em criar os seus
mecanismos legais de preservação dessa vegetação, orientação de seus técnicos e oferta de mudas
de plantas nativas para atingir suas metas de reflorestamento.
Em 2010, com apoio da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, da Secretaria Municipal de
Planejamento, do Conselho Municipal de Meio Ambiente e dos técnicos de sua Diretoria de
Estudos e Projetos e Divisão de Fiscalização elaborou o Plano Municipal de Conservação e
Recuperação da Mata Atlântica, passando a estabelecer uma ação estratégica de monitoramento das
áreas verdes da cidade com o intuito de evitar a ocorrência de desmatamento, invasões e ocupações
irregulares, tendo os seus agentes de fiscalização a incumbência de cuidar para que novos danos e

59 Deve-se ainda considerar questões de natureza técnica sobre esse Bioma nos moldes em que o regramento que
segue aponta: Art. 88. Nos casos de vegetação secundária em estágios médio e avançado de regeneração da mata
atlântica, o parcelamento do solo ou qualquer edificação para fins urbanos e rurais, só será admitido quando de
conformidade com o código de urbanismo e com a legislação ambiental vigente, mediante licenciamento ambiental e
desde que a vegetação não apresente qualquer das seguintes características:

I - ser abrigo de fauna silvestre especialmente de alguma espécie ameaçada de extinção;

II - exercer função de proteção de mananciais ou de preservação e controle de erosão; III - possuir excepcional
valor paisagístico (JOÃO PESSOA, 2002, p. 38).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1363


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

agressões a esse Bioma venham a ocorrer. Em 2011, com a aprovação da Lei do SMAP, Lei nº
12.101/11, passou-se a obter um resultado mais efetivo em relação a esse contexto, conforme
atestam os dados que seguem:

- Entre abril de 2010 e o final de 2011, bairros e áreas receberam mudas de árvores nativas,
totalizando plantio e distribuição de mais de 23.000 mudas;
- Foi realizado o plantio de mais de 1.300 mudas nativas em processos de recuperação de
áreas degradadas;
- Foram realizadas podas de árvores, plantio e paisagismo de canteiros nos mais diversos
bairros de João Pessoa, cujas áreas recebem cuidados diários por equipes de jardineiros;
- Foi catalogada a vegetação existente em metade das praças do Centro Histórico da cidade.
Todos os espécimes são identificados, recebem um código alfanumérico e são avaliados
quanto à condição fitossanitária (presença de doenças, fungos ou cupins, estabilidade do
espécime, etc.). É produzida então uma planta baixa de cada praça, com a localização das
árvores e palmeiras existentes naquele espaço;
- Foi lançado o Projeto Caminho Livre em 2011, que tem como objetivo contribuir para a
fluidez do trânsito da cidade, oferecendo mais conforto e agilidade à população;
- Em 2012, a cidade contava com 47,11m² de área verde por habitante (PROGRAMA
CIDADES..., 20013).

Na sua operacionalidade, ―o viveiro municipal de João Pessoa, na Paraíba, produz mudas de


aproximadamente 100 espécies nativas e da Mata Atlântica, que são usadas na restauração de matas
ciliares, áreas degradadas e principalmente para arborização urbana do município‖ (SERVIÇO...,
2013). Esses indicadores de resultado permitem inferir que o SMAP, bem como toda a legislação
anteriormente citada está, de fato, contribuindo para auxiliar na conservação e recuperação da Mata
Atlântica no Município de João Pessoa, podendo assim ser considerada como uma importante
ferramenta de gestão ambiental para essa finalidade.

3 FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL

A expressão ―gestão ambiental‖ não se encontra restrita, tão somente, ao significado de


gerenciamento do meio ambiente, mas, sobretudo, à condução adequada das ações humanas no que
diz respeito à sustentabilidade. Desta feita, o objetivo da gestão ambiental pode ser entendido como
a realização das necessidades humanas sendo consideradas, de igual feita, as restrições ambientais
como sendo instrumentos para a efetivação da sustentabilidade.
Falando em sustentabilidade, convém mencionar que esta pode ser entendida como um
relacionamento entre sistemas econômicos dinâmicos e sistemas ecológicos maiores e também
dinâmicos, embora de mudança mais lenta, em que: 1º - a vida humana pode continuar
indefinidamente; 2º - os indivíduos podem prosperar; 3º - as culturas humanas podem desenvolver-
se; mas em que 4º - os resultados das atividades humanas obedecem a limites para não destruir a
diversidade, a complexidade e a função do sistema ecológico de apoio à vida (GALLO, 2007).
De acordo com Amaral (2001) e Soares (2001), os instrumentos de gestão ambiental podem
ter base em quatro tipos principais de estratégias: comando e controle; econômica; autorregulação;
e, macropolíticas com interface ambiental. As estratégias de comando e controle são o conjunto de
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

regulamentos e normas impostos pelo governo que têm por objetivo influenciar diretamente as
atitudes do agente impactante, indica padrões a serem cumpridos e as formas de controlar os
impactos causados.
Por seu turno, os citados autores enfatizam que as estratégias econômicas visam beneficiar o
agente impactante que reduz os impactos ou, então, punir aquele que causa impactos negativos. A
penúltima das estratégias, a de autorregulação, baseia-se na gestão ambiental de responsabilidade do
próprio agente impactante e controle, pelas forças de mercado. Por fim, as estratégias de
macropolíticas com interface ambiental referem-se ao desenvolvimento, quer seja ele tecnológico,
energético, regional e urbano, educação ambiental, dentre outros.
No que diz respeito aos instrumentos de gestão ambiental privada, a série ISO 14000 destaca
alguns instrumentos, quais sejam: comprometimento da organização através da política da
qualidade; planejamento; avaliação de impactos ambientais; avaliação de desempenho ambiental;
processo de melhoria contínua, documentação do sistema da qualidade; registros das atividades e
elementos operacionais e ambientais; treinamento; comunicação; monitoramento; auditoria
ambiental; análise crítica pela administração. Montardo (2002) destaca que os instrumentos de
gestão ambiental de empreendimentos (projetos públicos ou privados) são os seguintes: avaliação
de impacto ambiental, recuperação de áreas degradadas, monitoramento ambiental, auditoria
ambiental, análise de riscos ambientais, investigação do passivo ambiental, seguro ambiental e
sistema de gestão ambiental. De posse dessas informações a respeito dos instrumentos de gestão
ambiental, Floriano (2007, p. 47), ressalta que:

Pode-se deduzir que muitos dos instrumentos, utilizados na gestão ambiental pública e
privada, são comuns. A gestão pública dá ênfase aos instrumentos que levam à proteção e
controle ambientais, enquanto a gestão privada privilegia o planejamento e melhoria
contínua, a partir de uma situação atua.
Os principais instrumentos da política brasileira de gestão ambiental pública são, de um
lado, o comando e controle através do licenciamento, que procura manter os efeitos das
atividades antrópicas sob controle. De outro, a conservação, através das unidades de
conservação da natureza e corredores para a biota, que procuram conservar as partes mais
significativas do ambiente natural e da cultura humana no território nacional.

Ometto e Tachard (2007, p. 41) destacam que o monitoramento e a retroalimentação das


informações para o sistema de gestão são essenciais para o alcance da melhoria contínua do
processo e da garantia da eficácia das medidas implementadas, ou seja, ―o monitoramento pode ser
realizado com a instrumentação nos locais das atividades, assim como por meio de monitoramento à
distância, com o uso do sensoriamento remoto e de imagens de satélite de alta resolução‖. E,
arrematam essa questão dizendo que, ―esta tecnologia aplicada às diversas fases do produto é
conhecida como georrastreabilidade, que é uma forma de monitorar as atividades de produção por
meio de geotecnologias‖.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Por fim, Manzini e Vezzoli (2002) citam que o impacto provocado no ambiente pelas
atividades humanas depende de três fatores: a população, a procura do bem-estar humano e
aecoeficiência das tecnologias aplicadas. A ecoeficiência pode ser entendida como a otimização do
processo produtivo ou do ciclo de vida do produto conciliada com a minimização de impactos
adversos ao ambiente e ao ser humano.

4 O DEVER DO PODER PÚBLICO EM CONSERVAR E RECUPERAR O MEIO AMBIENTE

A Constituição Federal de 1988, ao trazer dispositivo acerca do meio ambiente relacionando


ao dever do poder público em participar de sua proteção, terminou por reconhecer o direito ao meio
ambiente como um direito fundamental. Deve-se ressaltar que, o poder público, dotado de órgãos
investidos de autoridade, é ente que exerce papel indispensável na preservação do meio ambiente
não, apenas, porque tem competência para agir coercitivamente diante de uma infração, ou dano, ao
meio ambiente, mas, também, pela competência na edição de leis e na fiscalização de seu
cumprimento.
Com lastro na disposição constitucional pode-se dizer que o reconhecimento do direito ao
ambiente ecologicamente equilibrado foi estabelecido em função da busca da melhoria da qualidade
de vida e de bem-estar social indispensável à vida e ao desenvolvimento do ser humano. Desta feita,
valorização da dignidade da pessoa humana e a sua qualidade de vida como dado vital inerente ao
seu desenvolvimento enquanto pessoa passa a fazer parte, também, das matérias relacionadas ao
meio ambiente (PRADO, 2005, p. 76 apud COUTINHO, 2009, p. 61).60
Nas cidades hoje, a urbanização acelerada que está ocorrendo resulta na transformação do
meio ambiente natural em meio ambiente artificial. Argumentando a esse respeito, Figueiredo Filho
e Menezes (2014, p. 18) dizem que ―o meio ambiente artificial diz respeito ao ambiente constituído
pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano
fechado) e dos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)‖. Esse ambiente artificial também é
tutelado pela Constituição Federal de 1988 no capítulo que trata da política urbana, conforme
previsão no artigo 182.
Com algumas semelhanças e diferenças, em maior ou menor escala, as cidades apresentam
basicamente os mesmos problemas sem relação ao meio ambiente, sobretudo no que respeita a

60 Coutinho ressalta a existência de um princípio relacionado à atuação do Poder Público no que diz respeito à
proteção ambiental denominado de Princípio da natureza pública da proteção ambiental. Afirma o autor: ―Tal princípio
foi expressamente previsto na Constituição Federal de 1988, fundamenta-se no fato de que, em razão da meio ambiente
constituir-se como um bem de uso comum do povo, a proteção ambiental deve ser feita visando o bem-estar da
coletividade, O princípio da natureza pública da proteção ambiental, ainda serve como fundamento para a
obrigatoriedade da intervenção do Estado, eis que se trata de direito relacionado ao interesse público‖ (COUTINHO,
2009, p. 63)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

questão da expansão urbana, onde se percebe a importância de que sejam feitos alguns comentários
sobre a fiscalização e monitoramento como prática de proteção e conservação ambiental.

4.1 Fiscalização e monitoramento como prática de proteção e conservação ambiental

Empreender ações de fiscalização e monitoramento, como prática de proteção e conservação


ambiental, implica em considerar a presença dos fatores de influência na conservação e preservação
da Mata Atlântica no contexto da política municipal de meio ambiente em João Pessoa, onde se
percebe que isso ocorre porque:
- O Plano criado pela Secretaria de Meio Ambiente do Município de João Pessoa,
estabeleceu diretrizes estratégicas para que, principalmente as áreas de preservação permanente, as
APP‘s degradadas possam vir a ser recuperadas;
- Houve intensificação da fiscalização nas áreas verdes da cidade para evitar desmatamentos,
ocupações irregulares, barramento de recursos hídricos e degradação de natureza diversas, a
exemplo da instalação de infraestrutura par criação de animais, sem que sejam observados os
respectivos cuidados;
- Estabeleceu-se como prioridade a elaboração de um plano de requalificação das zonas de
interesse social, as ZEIS, mediante diagnóstico dessas áreas com vistas ao restabelecimento dos
processos ambientais dessas áreas, notadamente no que se refere ao uso e ocupação do solo,
supressão e recomposição da vegetação nativa e da eliminação das fontes de poluição hídrica, ou
seja, isso compreende uma área de abrangência que engloba áreas de preservação permanente, tais
como encostas, nascentes, mata ciliar e manguezais.
- A conservação e preservação da Mata Atlântica também depende, em larga escala, do
licenciamento ambiental, pois através de cada fase do licenciamento, que envolve desde a licencia
prévia para averiguar o uso potencial da área com o empreendimento proposto, passando pela
licença de instalação e, posteriormente a de operação, com seus respectivos condicionantes e
medidas mitigadoras, que precisam ser monitorados e acompanhados pelos agentes de fiscalização
para averiguar se os padrões de qualidade previstos na legislação vigente, estão sendo atendidos
satisfatoriamente.
- Fiscalização permanente me vinte áreas consideradas como sendo pontos críticos na
conservação e conservação de remanescentes da Mata Atlântica, dentre as quais merecem destaque
algumas áreas cuja cobertura vegetal sofreu desmatamento e, portanto, deixou de existir para ceder
lugar a projetos públicos e/ou privados de expansão imobiliária e/ou de infraestrutura de
esgotamento sanitário, como está ocorrendo no bairro de Paratibe, área de comunidade quilombolas,
em Mangabeira em área do Parque estadual de Jacarapé, Nova Mangabeira, Bancários, Altiplano
Cabo Branco, dentre outros.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1367


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Percebe-se, portanto, que as ações empreendidas pela equipe de fiscalização da Semam com
suas ações programadas para efetuar o monitoramento dessas áreas tem sido de fundamental
importância para evitar o avanço do desmatamento de sua cobertura vegetal, bem como para conter
a degradação de suas áreas, a exemplo da deposição inadequada e o descarte aleatório de resíduos
da construção civil em seus remanescentes de Mata Atlântica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A especulação imobiliária, o comércio ilegal de madeira, são alguns dos fatores que
influenciam na decisão da preservação do bioma Mata Atlântica. Estatística divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho de 2015, aponta que somente 14,5% (catorze
por cento) da vegetação original (nativa) da Mata Atlântica permanece preservada. O dado positivo
é que a área desmatada diminuiu de 88% (oitenta e oito por cento) para 85,5% (oitenta e cinco e
meio por cento) entre os anos de 2010 e 2012.
Esse resultado positivo também se concretiza em João Pessoa onde a Secretaria de Meio
Ambiente, através de seu corpo de agentes de fiscalização, realizam um trabalho de monitoramento
dessa área que só pode sofrer algum tipo de desmatamento se for emitido um laudo técnico
estabelecendo a área atingida, as espécimes da vegetação que poderão ser suprimida e, se haverá
necessidade de estabelecer alguma compensação ambiental mediante replantio /reflorestamento em
outras áreas.

REFERÊNCIAS

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desenvolvimento econômico: economia do meio ambiente - ECO-1106 – Aula 5. Rio de Janeiro:
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____ Decreto nº 6.660, de 21 de novembro de 2008. Regulamenta dispositivos da Lei n. 11.428, de


22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma
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2010/2008/decreto/d6660.htm>. Acesso em: 05 jun. 2017.

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Acesso em: 6 jun. 2017.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1369


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: APLICAÇÃO DA ANÁLISE EXERGÉTICA PARA UM


SECADOR POR BOMBA DE CALOR

Anderson Felipe Chaves FORTES


Mestre em Engenharia Mecânica pela UFPB
anderson.fortesem@ifpi.edu.br
Maria Mayara de Souza GRILO
Mestre em Energias Renováveis pela UFPB
maria.mayara@cear.ufpb.br
Júlio Augusto Mendes SILVA
Prof. Dr. em Engenharia Mecânica na UFBA
julio.silva@ufba.br

RESUMO
A preocupação com a depleção de recursos naturais tem alavancado o estudo de técnicas de melhor
aproveitamento destes recursos. A exergia é uma grandeza física que caracteriza bem o conteúdo de
qualidade energética destes recursos naturais, o que torna a análise exergética uma ferramenta de
grande relevância na análise, projeto e otimização de sistemas de conversão de energia. Esta análise
permite identificar processos que promovem maior degradação de qualidade de energia, e, portanto,
maior depleção dos recursos energéticos e por meio da eficiência exergética caracteriza o nível de
sustentabilidade destes processos. A análise exergética tem sido implementada em estudos de
Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) dando origem ao método de Avaliação Exergética de Ciclo de
Vida (AECV), e também vem sendo utilizada na alocação de impactos ambientais. Este trabalho
apresenta uma metodologia de análise exergética empregada em um secador por bomba de calor
desenvolvido no Centro de Energias Renováveis e Alternativas (CEAR) da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). Ademais este trabalho busca ainda demonstrar a importância do estudo da variável
exergia, bem como da análise exergética para o desenvolvimento de mundo mais sustentável.
Palavras Chave: Exergia, Análise Exergética, Avaliação de Ciclo de Vida, Sustentabilidade.

ABSTRACT
The concern with the depletion of natural resources has leveraged the study of techniques of better
utilization of these resources. Exergy is a physical quantity that characterizes well the content of
energy quality of these natural resources, which makes the exergética analysis a great tool in the
analysis, design and optimization of energy conversion systems. This analysis allows to identify
processes that promote greater degradation of energy quality, and, therefore, a greater depletion of
energy resources and through exergética efficiency characterizes the level of sustainability of these
processes. Exergetic analysis has been implemented in Life Cycle Assessment (LCA) studies giving
rise to the Exergetic Life Cycle Assessment (AECV) method, and it has also been used in the
allocation of environmental impacts. This work presents an exergetic analysis methodology used in
a heat pump dryer developed at the Center for Renewable Energies and Alternatives (CEAR) of the
Federal University of Paraíba (UFPB). In addition this work also seeks to demonstrate the
importance of the study of the variable exergy, as well as the exergética analysis for the
development of a more sustainable world.
Keywords: Exergy, Exergetic Analysis, Life Cycle Assessment, Sustainability.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1370


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO
As preocupações com a disponibilidade de recursos energéticos e com os impactos
ambientais associados ao uso destes recursos tem alavancado a busca pelo desenvolvimento de
técnicas de uso de energia de maneira sustentável, principalmente em processos caracterizados por
elevado consumo energético.
Kemp (2011) caracteriza o processo de secagem como um processo energeticamente
intensivo considerando que o processo de secagem consome entre 10% e 20% de toda a energia
utilizada no setor industrial dos países desenvolvidos. Secadores por bomba de calor são bastante
atrativos do ponto de vista energético devido a sua habilidade de recuperar calor e remover umidade
do ar (DINÇER; ROSEN, 2015). Minea (2016) destaca que a secagem por bomba de calor é uma
tecnologia sustentável pois requer baixo consumo energético e sua operação não emite diretamente
gases e fumos nocivos à atmosfera.
Erbay e Hepbasli (2017a) afirmam que os sistemas e processos de secagem apresentam
como aspecto crítico suas baixas eficiências térmicas, se fazendo necessária a análise e melhoria da
performance destes sistemas, destacando a análise exergética como uma ferramenta essencial para o
projeto e análise de sistemas de secagem.As análises energética e exergética possuem caminhos
complementares e possuem o objetivo de reduzir perdas. A análise exergética proporciona
informação adicional, e claramente identifica, dentro de cada sistema, o equipamento menos
eficiente desde um ponto de vista termodinâmico (DINCER; ROSEN, 2012).
Silva, Ávila Filho e Carvalho (2017) mencionaram que abordagens tradicionais, baseadas
em balanços de massa e energia, são insuficientes quando se almeja obter soluções que aumentem a
eficiência energética global. Sugere-se a utilização da exergia (SZARGUT, 2005), que considera a
qualidade da energia envolvida nos processos, e que recentemente vem sendo aplicada, por meio da
eficiência exergética, para avaliar o desempenho de processos e também projetar, otimizar e
melhorar sistemas térmicos (KAUSHIK; REDDY; TYAGI, 2011).A análise exergética está
diretamente relacionada ao consumo de recursos naturais, e porque não dizer, a possibilidade de
redução de impactos ambientais.
Segundo Gonçalves e Gaspar (2011), os alunos dos cursos de engenharia devem ser
educados e sensibilizados para "[...] a influência e relevância que a componente conceptual tem na
criação de conhecimento, na adaptabilidade à melhoria das aplicações tecnológicas, à redução do
desperdício e na ativação de mecanismos para a comunicação utilizável e eficaz.". O estudo de
Ferracioli (2009) discutiu alguns contrastes que têm reflexos no ensino e na aprendizagem da
exergia para a formação do cidadão crítico e transformador de uma sociedade que se pretende
sustentável.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1371


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os conceitos de exergia tem sido associados às técnicas de Avaliação de Ciclo de Vida


dando origem ao método de Avaliação Exergética de Ciclo de Vida (AECV). Segundo Dinçer e
Rosen (2015) exergia, sustentabilidade e impactos ambientais estão inter-relacionados pelo fato de
que se a eficiência exergética de um processo se aproxima de 100% então os impactos ambientais se
aproximam de zero pois a exergia é convertida de uma fonte para outra com menor degradação e
menores desperdícios). Portanto a educação ambiental requer conhecimentos sobre a avaliação de
performance de sistemas e processos que envolvem consumo e conversão de energia, a fim de
possibilitar ao profissional a mensuração de impactos ambientais baseada nos conceitos de exergia.
Este artigo tem por objetivo demonstrar o papel relevante da análise exergéticacomo fonte
de informações para educação ambiental, aplicando o conceito a um secador por bomba de calor
desenvolvido no Laboratório de Energia Solar do Centro de Energias Alternativas e Renováveis da
Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa.

MATERIAIS E MÉTODOS

Aparato Experimental

O equipamento é constituído por compressor, condensador, evaporador, válvula de expansão


termoestática e um ventilador centrífugo. O compressor é do tipo hermético, modelo K1-
C176GEBC-A, aplicável ao fluido refrigerante R-22 com faixa de temperatura do evaporador de -
10°C a 15°C e potência nominal de 1250 W.
Não foi possível obter dados técnicos sobre os trocadores de calor utilizados no protótipo. A
válvula de expansão utilizada pelo sistema é termoestática com equalização de pressão externa,
modelo TEX 2, marca Danfoss. O ventilador utilizado no protótipo é do tipo centrífugo, acionado
por motor WEG HA32194 com potência de 225 W.
Com objetivo de coletar as temperaturas de entrada e saída do fluido refrigerante no
evaporador e condensador do protótipo foi utilizada uma placa ArduinoMega 2560, e termistores do
tipo NTC com 3 mm de diâmetro.Com relação à coleta de dados de temperatura do ciclo frigorífico
verificou-se inconsistência nos dados obtidos, optando-se por simular as temperaturas do ciclo de
refrigeração com bases nas medições de pressão de evaporação e condensação do ciclo
considerando um grau de superaquecimento de 5°C e um grau de subresfriamento de 5°C.
As medições de temperatura e vazão de ar foram coletadas na entrada e saída do protótipo
por meio de anemômetro de hélice marca ICEL AN 30-30. A umidade relativa do ar foi medida na
entrada e saída do protótipo por termohigrômetro ICEL HT-210.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Processos do Ar

O processo de condicionamento de ar para secagem requer que inicialmente o ar seja


desumidificado e posteriormente seja aquecido. Inicialmente o ar succionado pelo exaustor
(ventilador) passa pelo evaporador sofrendo um processo de resfriamento com
desumificação.Posteriormente ele atravessa o condensador onde passa por um processo de
aquecimento sensível, de forma a reduzir sua umidade relativa.
Após atravessar o condensador o ar passa pelo ventilador já em condições adequadas para a
remoção de umidade da substância. O último processo deveria ser a passagem do ar pela câmara de
secagem realizando a retirada de umidade da substância à ser desumidificada. Devido a
inviabilidade de montagem da câmara de secagem, este processo será modelado
termodinamicamente a fim de fechar o ciclo do ar.

Análise Exergética

A exergia é a única medida que quantifica, segundo uma base termodinâmica correta, as
ineficiências dos dispositivos que compõem uma instalação, e consideram o rendimento exergético
como o parâmetro idôneo para comparar de maneira racional o comportamento de dispositivos ou
plantas completas distintas, ainda que tenham objetivos diferentes (LOZANO et al.., 1989).
Dinçer e Zamfirescu (2015) definem exergia como o máximo trabalho que um sistema
termodinâmico pode produzir até atingir o equilíbrio termodinâmico com sua vizinhança. Define
ainda que o equilíbrio termodinâmico é atingido quando o sistema se encontra na mesma
temperatura, pressão e potencial químico de suas vizinhanças. Kotas (1985) apresenta o balanço de
exergia para volumes de controle, em regime permanente, conforme Eq. 1.

( ̇ ) ̇ ( ) ( ̇ ) ̇ ̇ (1)

Onde ̇ representa fluxo de massa, aexergia total específica, ̇ fluxo de calor entrando na
fronteira r, representa temperatura, ̇ potência e ̇ a taxa de destruição de exergia.
Segundo Dinçer e Rosen (2012) eficiência exergética, para um volume de controle em
regime permanente,é a razão entre o somatório da exergia dos produtos que saem do volume de
controle sobre o somatório das exergias que entram. Dinçer e Rosen (2015) definem eficiência
exergética racional ( ), conforme Eq. 2.
̇
̇
(2)

Onde ̇ representa a taxa de fornecimento de exergia para o sistema.


A análise exergética tem sido implementada à Avaliação de Ciclo de Vida resultando na
Avaliação Exergética de Ciclo de Vida. Segundo Dincer e Rosen (2012) a AECV apresenta etapas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

similares às da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), entretanto a Análise de Inventário da AECV é


mais detalhada, a Avaliação de Impactos foca na definição dos fluxos de exergia, na destruição de
exergia e eficiências exergéticas de todos os processos e subprocessos. A última etapa da AECV
consiste a Análise de Melhorias que pretende reduzir as destruições de exergia ao longo do ciclo de
vida do sistema analisado, identificando os processos de menor eficiência a fim de se desenvolver
alternativas para melhorar a eficiência destes processos.
Para a realização da análise exergética todos os processos foram considerados operando em
regime permanente. O ar seco e a umidade presente no ar foram tratados como gás ideal. Para as
definições do estado morto foram consideradas a temperatura ambiente (303,15 K), a pressão de
101,315 kPa e a umidade relativa ambiente de 74%. Foram consideradas desprezíveis as variações
de energia cinética e potencial. Foi considerada uma eficiência elétrica do motor do compressor e
do motor do ventilador de respectivamente 85% e 90%.
A estrutura física do modelo termodinâmico é representada pela Fig. 2, onde os volumes de
controle EVAPORADOR, COMP, CONDENSADOR, EXP, SEC, VENT representam
respectivamente o evaporador, o compressor, o condensador, a válvula de expansão, o secador e o
ventilador. Na estrutura física estão representados ainda a bandeja de condensado, para a onde a
umidade retirada do ar no evaporador é drenada e o componente SUBS representa a substância ou
matéria que estaria sendo desidratada. Os números são utilizados para representar os fluxos de ar e
água e as letras são utilizadas para representar os fluxos do refrigerante R-22. Observa-se ainda que
a modelagem dos fluxos de ar úmido foi realizada desagregando o ar úmido em ar seco e vapor de
água considerando ambos como gás ideal (ar seco e H2O como gases ideais). O condensado e a
umidade absorvida pelo ar no secador foram considerados água.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 1 - Estrutura física do modelo termodinâmico do sistema analisado.

Os trocadores de calor foram considerados isobáricos. Na saída do evaporador foi


considerado um superaquecimento de 5 graus, a definição do estado de saída do compressor foi
realizada considerando uma eficiência isoentrópica de 0,85 para este dispositivo. Com relação à
temperatura de saída do condensador foi admitido um subresfriamento de 5 graus. O processo de
expansão foi considerado isentálpico.
Com relação ao ciclo realizado pelo ar (1-2-3-4-1) foram realizadas medições de
temperatura nos pontos 1 e 4. A pressão total ( ) do ar foi considerada igual a pressão de referência
( ) e constante ao longo dos processos de 1 a 4. Foi realizada medição de umidade relativa (RH)
dos pontos 1 e 4. Portanto, os estados termodinâmicos dos pontos 1 e 4 foram
determinados.Admitiu-se que a umidade absoluta( ) se manteve constante nos processos 2-3 e 3-4.
Com relação ao estado 2, duas propriedades termodinâmicas estão determinadas (umidade
absoluta e pressão total), o estado termodinâmico 2 fica determinado com base na consideração de
que no estado 2 a umidade relativa é de 100%. O estado do condensado (5) foi definido
considerando o condensado como água na pressão e temperatura da mistura no ponto 2 (
).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Com relação ao estado 3, estão definidas a pressão e a umidade absoluta, se faz necessária a
definição de uma terceira propriedade. A aplicação do balanço de energia ao volume de controle
VENT, permite a definição da temperatura do estado 3, o que possibilita a determinação deste
estado.Com relação ao estado 6 (umidade retirada da matéria a ser desidratada), foi considerada
água à temperatura e pressão de referência ( ).
Após a definição dos estados termodinâmicos para cada um dos fluxos aexergiatotal
específica ( ) destes pode ser definida. A exergia total é calculada como a soma da parcela de
exergia física com a parcela de exergia química. O ar úmido foi desagregado em ar seco e umidade.
As Eqs. De 3 a 6 apresentam a definição de exergia total específica para os fluxos de refrigerante, ar
seco, umidade (vapor de água) e água (liquido comprimido) respectivamente.
( ) (3)

( ) ( ) ( ) ( ) (4)

( ) ( ) ( ) ( ) (5)
( ) ( ) (6)

Onde representa entalpia, representa entropia, a constante de gás ideal da susbtância


i, representa o calor específico a volume constante da susbstância i, representa o calor
específico à pressão constante da susbtância i, e representam as frações molares do ar seco
e do vapor na mistura em condição de temperatura igual a e pressão igual a , enquanto
e representam as frações molares destes componentes no ambiente de referência, assim como
e representam entalpia e entropia da água avaliadas nas condições de temperatura de
referência e pressão de vapor do ambiente de referência e e representam entalpia e
entropia da água avaliada nas condições de temperatura de referência e pressão total de referência.
A tabela 1 apresenta os valores das propriedades definidas para os fluxos do equipamento.

Estado Descrição Substância Fase T (K) P (kPa) RH (%) ̇ (kg/s) (kj/kg)


1ª Ent. Evaporador Ar Seco Gás Ideal 303,2 98,17 0,06275 0,000
74,00
1v Ent. Evaporador Água Gás Ideal 303,2 3,14 0,00125 0,000
2ª Ent. Condensador Ar Seco Gás Ideal 295,4 98,63 0,06275 0,508
100,00
2v Ent. Condensador Água Gás Ideal 295,4 2,68 0,00106 -21,921
3ª Ent. Ventilador Ar Seco Gás Ideal 318,0 98,63 0,06275 0,762
28,14
3v Ent. Ventilador Água Gás Ideal 318,0 2,68 0,00106 -21,450
Ent. Câmara de
4ª Ar Seco Gás Ideal 321,2 98,63 0,06275 0,923
Secagem
24,00
Ent. Câmara de
4v Água Gás Ideal 321,2 2,68 0,00106 -21,149
Secagem
Líquido
5 Sai. Evaporador Água 295,4 101,32 - 0,00019 42,544
Comprimido
Ent. Câmara de
6 Água Vapor Saturado 303,2 101,32 - 0,00019 42,118
Secagem
Vapor
A Ent. Condensador R-22 372,2 2350,00 - 0,01913 87,768
Superaquecido

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ent. Dispositivo de Líquido


B R-22 327,6 2350,00 - 0,01913 69,420
Expansão Comprimido
C Ent. Evaporador R-22 Bifásica 262,8 350,00 - 0,01913 57,397
Vapor
D Ent. Compressor R-22 266,8 350,00 - 0,01913 36,785
Superaquecido
Tabela 1 - Dados sobre estados termodinâmicos.

Observa-se para as exergias específicas totais dos fluxos de umidade presente no ar um valor
negativo da exergia, que ocorre devido ao fato da parcela de exergia química associada à umidade
presente no ar ser negativa, entretanto a exergia total da mistura é sempre positiva.
A partir do balanço de exergia aplicado aos volumes de controle do equipamento é possível
determinar as taxas de destruição de exergia. A tabela 2 apresenta os balanços de exergia aplicados
a cada um dos volumes de controle.

Balanços de Exergia aplicados aos Volumes de Controle


Compressor ̇ ̇ ( ) ̇
Condensador ̇ ̇ ( ) ̇ ( ) ̇ ( )
Dispositivo ̇ ̇ ( )
de Expansão
Evaporador ̇ ̇ ( ) ̇ ̇ ̇ ̇ ̇
Ventilador ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇
Câmara de ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇
Secagem
Tabela 7 - Balanço de Exergia para os volumes de controle avaliados.

A eficiência exergética dos volumes de controle bem como do protótipo foram avaliadas
conforme equações apresentadas na Tabela 3.

Avaliação das Eficiências Exergéticas dos Volumes de Controle e Protótipo


̇ ( )
Compressor ̇
[ ̇ ( ) ̇ ( )]
Condensador
̇ ( )
Dispositivo
de Expansão
̇ ̇ ̇ ̇ ̇
Evaporador
̇ ( )
̇ ̇ ̇ ̇
Ventilador ̇
Câmara de ̇
Secagem ̇ ̇ ̇ ̇

Protótipo ( ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ )
̇ ̇
Tabela 8 - Definição de eficiências exergéticas dos volumes de controle avaliados.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RESULTADOS

A fig. 1a apresenta os percentuais de destruição de exergia dos volumes de controle do


sistema enquanto a fig. 1b apresenta as eficiências exergéticas dos volumes de controle analisados.
Observa que os trocadores de calor juntos contribuem com mais de 50% da destruição de exergia do
equipamento, o que indica a possibilidade de melhorias de rendimento nestes dispositivos. Os
trocadores de calor, juntamente com o ventilador, apresentam as menores eficiências exergéticas do
equipamento, indicando ainda que estes volumes de controle apresentam potencial de melhoria em
termos de melhorias de eficiência.

(a) (b)
Figura 12– (a) Percentual de destruição de exergia dos volumes de controle; (b) Eficiência exergética dos
volumes de controle.

Por meio da análise exergética permitiu-se identificar os componentes do sistema que


tiveram menores eficiências, maiores perdas de energia e degradação de sua qualidade. Estudos
específicos devem ser conduzidos a fim de identificar os motivos destas perdas e tentar reduzir seus
efeitos a fim de se obter melhores eficiências e consequentemente menores impactos ambientais.
A tabela 4 apresenta valores de eficiência exergética avaliados para componentes de bombas
de calor aplicadas a secagem de outros estudos.

Erbay e Erbay e Para


Sulemanet Ganjehsarabiet este
Hepbasli Hepbasli
al. (2014) al. (2014) Estudo
(2014) (2013)
Compressor 92,59 - 62,00 87,10 74,58
Evaporador 74,93 34,00 62,00 75,40 4,47
Condensador 47,95 60,30 79,00 77,75 4,78
Válvula de Expansão 76,54 - 71,00 - 82,64
Tabela 9 – Resultados de eficiência exergética para bombas de calor de estudos diversos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Por fim a eficiência exergética do equipamento foi avaliada em 12,72%, o que indica que
87,28% da disponibilidade de energia recebida pelo sistema é revertida em perdas e degradação da
energia, identificando um potencial de melhoria de rendimento do sistema.
Estudos recentes têm utilizado do conceito de exergia associados à ACV para identificar
componentes com maior impacto ambiental (Ehtiweshet al., 2016; Koroneos e Stylus, 2014),
avaliar sistemas de gerenciamento de perdas (Laneret al., 2015), quantificar o uso de recursos
naturais (Finnvedenet al., 2015), investigar os efeitos de implantação de um sistema de cogeração à
um sistema de produção de cimento (Sui et al., 2014), avaliar o nível de sustentabilidade de uma
biorefinaria (Ofori-Boateng e Lee, 2014).
Ademais estudos de Carvalho et al. (2010), Carvalho (2011), Carvalho et al. (2012), Silva
(2013), Silva e Oliveira (2014), Dos Santos (2015), Dos Santos (2016), Da Silva (2017) tem
aplicado os conceitos de exergia para alocação de emissão de CO2-eq em sistemas multiprodutos.

COMENTÁRIOS FINAIS

O conceito de exergia apresenta grande relevância em estudos ambientais, identificando a


sustentabilidade de sistemas e processos de acordo com o seu nível de degradação da qualidade de
energia. As eficiências exergéticas identificam, ainda que em sistemas complexos, componentes
com maior contribuição em termos de desperdício e degradação da qualidade de energia bem como
depleção de recursos naturais. Este trabalho apresentou a metodologia de análise exergética por
meio da aplicação em um sistema de secador por bomba de calor, identificando componentes
passíveis de melhoria, além de apontar estudos e aplicações dos conceitos de exergia associados às
metodologias de ACV e alocação de impactos ambientais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico (Bolsa de Produtividade em Pesquisa, nº 303199/2015-6).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SANEAMENTO BÁSICO EM CIDADES DO


AMAZONAS E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO

Nágila dos Santos SITUBA


Mestranda em Geografia da UFAM
nagilasituba@hotmail.com

RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo analisar as políticas públicas de saneamento básico em Tefé e
Coari - Amazonas, de modo a compreender como o espaço urbano se produz e reproduz a partir das
leis e, da presença e ausência dos serviços de saneamento. Inicialmente pretende-se discutir a lei
nacional 11. 445/2007 que estabelece diretrizes para o saneamento básico e para política federal.
Logo após será discutido à importância dos serviços de saneamento para o planejamento urbano,
levando em consideração os Planos Diretores, Planos Municipais de Saneamento Básico e Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos. Para finalizar as discussões, analisaremos como a municipalidade
das referidas cidades tem gerenciado os serviços de saneamento.
Palavras-chave: Políticas públicas, saneamento, cidades.
ABSTRACT
The objective of this research was to analyze the public policies of basic sanitation in Tefé and
Coari - Amazonas, in order to understand how the urban space is produced and reproduced from the
laws and from the presence and absence of sanitation services. Initially we intend to discuss Law 11
445/2007, which establishes guidelines for basic sanitation and for federal policy. Afterwards, the
importance of sanitation services for urban planning will be discussed, taking into account the
Master Plans, Municipal Plans for Basic Sanitation and Integrated Management of Solid Waste. To
finalize the discussions, we will describe how the municipality of these cities has managed the
sanitation.
Key-words: Public policies, sanitation, cities

INTRODUÇÃO
A Geografia é a ciência que busca compreender a relação sociedade e natureza e suas inter-
relações. Neste sentido, não se consegue analisar geograficamente separando os elementos destas
relações. O homem é sujeito atuante no meio ambiente, o altera, explora-o, a partir da força de
trabalho, e a natureza dá subsídio para sobreviver. Essa dicotomia feita por estudiosos é imaginária,
uma vez que é impossível separar homem e natureza.
A problemática ambiental é um reflexo do espaço produzido pelo homem, é produto
danificado pelo tempo, a partir de relações estabelecidas no cotidiano. Desse modo, a sociedade é o
agente que produz o espaço, mesmo sendo desigual essa produção. Segundo Milton Santos ―Os
elementos do espaço seriam os seguintes: os homens, as empresas, as instituições, o chamado meio
ecológico e as infraestruturas‖ (1986, p.08). Cada elemento deste produz uma parte do espaço que
se resulta no espaço geográfico.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Neste contexto, os últimos decênios têm sido palco de muitas mudanças no cenário
ambiental e social, especificamente no que tange o saneamento, pois políticas públicas têm sido
criadas e elas representam um avanço para a sociedade e para as cidades. Neste enfoque, o presente
artigo visa analisar as políticas públicas de saneamento básico de Tefé e Coari – Amazonas, com
intuito de entender a importância dessas leis para produção e reprodução do espaço urbano.
Luís Fiorotti (2008) afirma que saneamento é um conjunto de procedimentos
socioeconômicos que têm como foco minimizar a insalubridade ambiental e promover bem-estar
social. Assim, diminuir os problemas sanitários nas cidades sempre foi o foco das políticas de
saneamento, visto que desde o princípio, as discussões, as reflexões e as soluções estiveram
voltadas para questões sanitárias a luz do processo de urbanização. Mas apenas com a lei
11.445/2007, que se consolida a definição de saneamento básico e seus elementos, além das
estratégias de soluções.
Quatro elementos compõem o saneamento básico: abastecimento de água, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais
urbanas. Entretanto, saneamento são necessidades básicas a serem supridas para que a população
tenha qualidade de vida, neste sentido, este serviço é condição para a produção do espaço.
Contudo, esses serviços citados acima colocam em evidência a responsabilidade que o poder
público deveria ter com as políticas públicas. Para Rezende e Heller (2010), pode-se definir
saneamento básico no aspecto individual e coletivo. Individual no sentido da oferta dos recursos
hídricos, abastecimento de água, esgoto e disposição de resíduos; coletivo diante da atuação
ambiental, socioeconômica e políticas. Dessa forma, o espaço urbano se reproduz de forma a
conciliar as tomadas de decisões das políticas públicas.
Buscou-se a partir da Política Nacional de Saneamento básico (11.445/2007) e planos
municipais comparar a realidade das duas cidades, para isso, o método comparativo auxiliou nas
análises, assim como os estudos bibliográficos e pesquisa de campo (2015 e 2016). Os resultados
obtidos mostraram que as cidades em estudo são próximas em territórios, população urbana
parecida, possui problemas semelhantes e soluções divergentes. Os serviços em ambas são
precários, carecem de efetividade e, apesar da existência dos Planos Municipais, estes não têm
conseguido combater os problemas sanitários das cidades. Portanto, os serviços em Tefé e Coari se
dão de maneira desigual, uma vez que, há bairros com a presença e outros com a ausência desses
serviços.

MATERIAIS E MÉTODOS

O método utilizado nesta pesquisa foi o comparativo e a sistematização dos dados foi
orientada para a comparação entre as duas cidades, de modo a se alcançar uma análise menos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

endógena e mais relacional. Neste intuito, ―O objetivo do método comparativo é de auxiliar e


complementar os estudos regionais, servindo como uma análise comparativa de diferentes regiões‖
(Alves e Ferreira, 2008, p. 13).
Esta pesquisa tem como área de estudo as cidades de Tefé e Coari, que se localizam na
Região Norte. Tefé, segundo estimativa do IBGE (2016), possui 62.230 e Coari têm 83.929
habitantes no município. As duas cidades têm importância na calha do Solimões, pois a partir de
especificidades e funcionalidades tem status de polo, pois através de instituições e empresas
conseguem influenciar municípios vizinhos e atrair moradores da região em busca de seus serviços.

ÁREAS ESTUDADAS

Mapa 1: Localização dos Municípios estudados – Tefé e Coari – Amazonas.


Fonte: IBGE, 2010.
Elaboração: Nágila Situba.

Para realização desta pesquisa, realizou-se revisão bibliográfica, coleta de dados no site do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, pesquisa de campo (2015 e 2016) e aplicação
de formulários nos bairro das cidades em estudo. Em Tefé e Coari, aplicaram-se cinco formulários
em cada bairro; totalizando na primeira 120 e na segunda 75.

ENTRE LEIS E PRÁTICAS: A POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO (LEI


11.445/2007)
A lei de n° 11. 445, de 05 de janeiro de 2007 é um marco federal que institui quatro
componentes basilares do saneamento básico. A partir dos instrumentos desta lei, as cidades

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

brasileiras devem planejar e executar os serviços de saneamento de acordo com a sua realidade.
Segundo Brasil (2007):

I - saneamento básico: conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações operacionais de:


a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações
necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações
prediais e respectivos instrumentos de medição;
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos
sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra-estruturas e
instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo
doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
d) drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas
redes urbanas: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de
drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o
amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais
drenadas nas áreas urbanas.

Esses elementos são essenciais para promoção da saúde e bem estar social. Além disto, essa
lei propõe diretrizes nacionais para o saneamento básico a nível federal, algumas ações e
planejamento, porém o grande mentor de todo esse processo é o Ministério das Cidades, com os
planos que instrumentalizam o planejamento de metas e estratégias. Neste instrumento legal, Brasil
(2007) afirma que, o Plano Nacional de Saneamento Básico se constitui um instrumento para guiar
os estados com relação a políticas públicas de saneamento básico.
Portanto, entende-se que o problema das cidades brasileiras, especificamente as do
Amazonas não é a falta de leis, mas sua aplicabilidade.

AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO

As políticas públicas criadas a nível nacional, regional, estadual e municipal têm como
objetivo combater as condições insalubres das cidades brasileiras e atribuir qualidade de vida as
pessoas.
Neste contexto, apesar de Tefé e Coari ter população total diferente (tabela 1) e receita
orçamentária diversa, possui problemas semelhantes no que se refere ao serviço de saneamento
básico e a falta de aplicabilidade de leis.

Situação do Ano
Município
domicílio 1970 1980 1991 2000 2010
Total 27.636 42.609 38.678 67.096 75.965
Coari – AM Urbana 8.878 14.805 21.081 39.504 49.651
Rural 18.758 27.804 17.597 27.592 26.314
Total 19.173 30.736 53.970 64.457 61.453
Tefé – AM Urbana 7.822 15.797 39.057 47.698 50.069
Rural 11.351 14.939 14.913 16.759 11.384
Tabela 1: População residente por situação do domicílio em Tefé e Coari.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.


Organização: Paola Verri Santana – 2017.

A tabela acima mostra o crescimento demográfico de Tefé e Coari ao longo dos anos.
Percebe-se o quanto a população urbana superou a rural ao longo de poucas décadas. Esse
crescimento está atrelado à dinâmica das cidades e suas funcionalidades na rede urbana. O
crescimento populacional na área urbana é o principal aspecto do processo de urbanização e, apesar
do suposto dinamismo proveniente da economia do petróleo, o crescimento de Coari na área urbana
pareceu seguir semelhante movimento observado em Tefé.
Os serviços de saneamento devem ser oferecidos pela municipalidade. A presença destes
contribui para salubridade ambiental, na qual, está diretamente relacionada à higienização dos
espaços e logradouros públicos. Um esforço a ser apreendido nessa discussão, é que o acesso aos
serviços não é para todos, mas que diversas políticas públicas têm sido criadas, e estas não fazem
esta distinção.
Outro instrumento da política urbana que é de grande importância para o desenvolvimento
das cidades é o Plano Diretor (PD). Este tem como objetivo contribuir para o planejamento dos
espaços públicos, expansão urbana etc. ―O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o
instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana‖ (Brasil, 2001. capítulo III,
art. 40). Assim, cidades com população acima de 20 mil habitantes são obrigadas
constitucionalmente a fazer a elaboração dos planos. Entretanto, para que o mesmo seja válido é
necessário que haja a participação de três entidades: legislativo, executivo e população. Esta tríade é
essencial para que se realize a criação de diretrizes municipais e leis que visam contribuir e não
fracassar com desenvolvimento da cidade.
Isso possibilita dizer que o plano diretor é conduzido pelo Estatuto da Cidade (Lei
10.257/2001), instrumento que rege os planos diretores nas cidades. ―Estatuto da Cidade, estabelece
normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental‖
(Brasil, 2001. capítulo 1, parágrafo único). Acrescenta-se que ―A lei que instituir o plano diretor
deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos‖ (Brasil, 2001. capítulo III, § 3o), porém o que se
observa em várias cidades no Brasil é a inadimplência de planos pela ausência de revisão.
Outro instrumento atrelado ao plano diretor é o Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos (PMGIRS). Este engloba toda a cadeia produtiva do lixo, diagnóstico,
caracterização, destinação e disposição, logística reversa, coleta seletiva, cooperativa de catadores,
custo do serviço, responsabilidades, participação social, metas entre outros. Este também possui um
conjunto de ações voltadas para o gerenciamento dos resíduos sólidos, que considera questões
políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais visando desenvolvimento sustentável.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Essas políticas descritas mostram a importância da legislação para a organização espacial e


para a dinâmica das cidades. Neste contexto, o objetivo do Estatuto das Cidades e Planos Diretores,
ambos previstos na Constituição Federal de 1988, é garantir o ―direito à cidade‖, assim como o
direito à água, esgoto, limpeza, transporte, saúde, educação, lazer entre outros. Por isso, a
participação popular é importante na tomada de decisões, denominada pelo filósofo Jurgen
Habermas (2014) de democracia deliberativa.
Essa democracia vai além da decisão eleitoral. A participação das pessoas em todos os
momentos da esfera pública, seja na criação de leis, combate a corrupção, fiscalização de finanças
públicas se torna essencial para desenvolvimento dos lugares.
Portanto, fazendo uma análise da realidade no que cerne a problemática dos planos diretores
das cidades de Tefé (2006) e Coari (2007), percebe-se que eles precisam de efetividade e os prazos
e estes precisam ser revisados.
De acordo com Arlete Moysés Rodrigues (2004, p. 2) ―Os desafios para construir premissas,
concepções e objetivos para uma cidade com justiça social, democrática na definição de metas,
empreendimentos, acesso universal aos bens, equipamentos, serviços para todos são de grande
magnitude‖. Os planos diretores prometem a garantia do direito à cidade.
O Estatuto da Cidade já prevê essa garantia ao direito à cidade, mas distante de um olhar
geográfico, o direito à cidade é muito além do direito à moradia, à terra urbana, ao saneamento
básico, à infraestrutura pública, ao transporte, ao lazer, entre outros. Em síntese, o direito à cidade
também é o direito à mudança social no sentido de uma utopia (LEFEBVRE, 2001; RODRIGUES,
2004).
Não se constroem cidades para viver, mas para e pelo capital, nem o direito a moradias são
iguais, imaginem o direito a um ambiente equilibrado e higienizado. O desafio é interpretar este
movimento do caso particular destas cidades do médio Solimões, na medida em que aparentes
miudezas do capital circulam ali.
É cabível observar, que ter qualidade de vida tornou-se mercadoria, pois maior parte dos
serviços são comprados pela população, mesmo não sendo de qualidade. Uma das maneiras de
pagar pelos serviços é através de impostos ou pelo pagamento de taxas.
Pode-se inferir que, quanto mais leis são criadas pior ficam as condições de saneamento
básico e outros serviços nas cidades. Além disto, o urbanismo como ideologia é impregnado na
sociedade, ―este saberia discernir os espaços doentes dos espaços ligados à saúde mental e social,
geradores dessa saúde‖ (Lefebvre, 2001, p. 49). Nesse ponto, uma infraestrutura social adequada
seria capaz de promover o urbanismo, proporcionar qualidade de vida e saúde as pessoas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Contudo, será a partir de necessidades humanas que diversos serviços serão implantados na
cidade como energia elétrica, abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e
outros.
Desse modo, o espaço urbano se reproduz de forma a conciliar as tomadas de decisões das
políticas públicas. A rigor, as políticas públicas só surgem e multiplicam-se a partir do crescimento
urbano, onde este está atrelado à urbanização. Contudo, essa produção do espaço urbano se dá de
maneira desigual, principalmente porque o que rege esta sociedade é o capitalismo. É notório
melhorias para uma parte da população enquanto outra sofre pelo descaso do poder público, em
parte isso está associado à lógica da economia de mercado.

A reprodução do espaço (urbano) recria constantemente as condições gerais a partir das


quais se realiza o processo de reprodução do capital, mas também aquele da vida humana
em todas as suas dimensões. A reprodução do espaço urbano, enquanto produto social, é
produto histórico, apresenta-se, ao mesmo tempo, como realidade presente e imediata o que
significa pensar o urbano enquanto reprodução da vida em todas as suas dimensões onde
nada pode ser definido por uma morfologia material, nem tão pouco como essência
atemporal, ou ainda imposto como um sistema entre sistemas. (Carlos, 2007, p. 48).

Neste sentido, o espaço social é a própria sociedade e suas relações. Assim o espaço urbano
se reproduz a partir da lógica do capital. Milton Santos (2006) afirma que o espaço é um conjunto
indissociável de sistema de objetos e ações. Henri Lefebvre (2006) complementa ao dizer que este
espaço reúne o mental, cultural, social e histórico.
É neste espaço que será perceptível a falta de saneamento básico em alguns lugares da
cidade e a presença em outras, além disso, é visível a pobreza nos bairros das cidades. De todo
modo, estas duas cidades estudadas ainda são bastante heterogêneas quanto à distribuição de
população de baixa e alta renda, provisão ou não de serviços públicos básicos.

A REALIDADE DE TEFÉ E COARI VISTA DO LADO DE CÁ

As cidades Amazonenses estão crescendo, tanto em tecido urbano, população e


infraestrutura. Isso se dar principalmente pelo processo de urbanização que se expandiu em todo
território brasileiro, inclusive na Amazônia.
O fato é que esse crescimento urbano vem acompanhado de problemas. Neste caso seria
necessário criar, planejar e legislar políticas públicas para reordenamento do espaço urbano.
No Amazonas, especificamente em Tefé e Coari, os serviços de saneamento básico são
precários, pois não há tratamento da água, esgoto, lixo e limpeza urbana de qualidade. Esses são
serviços básicos a ser oferecido para a população, mas que tem sido um dos maiores desafios das
municipalidades nas cidades em estudo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No que se refere à água, o problema das cidades não é a quantidade, mas a qualidade.
Diferente de Tefé, Coari possui uma estação de tratamento, porém esta distribuição não se dar de
maneira uniforme, visto que alguns bairros da cidade não utilizam este serviço municipal.
Não há tratamento de esgoto, este é exposto a céu aberto, em ambas as cidades. Neste tipo
de disposição, ―[...] podem aparecer alguns inconvenientes, como o desprendimento de maus
odores, a presença de sabor na água potável, a mortandade de peixes e a ameaça à saúde pública‖
(Araújo [et.al], 2010, p. 73). Todo esgoto produzido nas residências, comércios e hospitais de Tefé
e Coari é destinado aos igarapés e Bacias hidrográficas.
Semelhante à problemática de esgoto a céu aberto, o lixo nas cidades se apresenta como
problema agravante. Em pleno século XXI, há uma alta geração de resíduos e poucas soluções das
municipalidades. Entretanto, ambas as cidades dispõem de seus resíduos em um lixão a céu aberto e
estes se localizam próximo ao aeroporto.
De acordo com IPEA (2017), apenas 13% dos resíduos urbanos no Brasil vão para
reciclagem. Os dados revelam a composição desses resíduos: 57,41% de matéria orgânica, 16,49%
de plástico, 13,16% de papel e papelão, 2,34% de vidro, 1,56% de material ferroso, 0,51% de
alumínio, 0,46% de inertes e 8,1 de outros materiais.
Os resultados apontaram que a limpeza urbana não é de qualidade e o serviço precisa de
efetividade; os espaços e logradouros públicos precisam de manutenção e de higienização. Portanto,
todos os serviços de saneamento carecem de investimentos. Acredita-se que para resolver os
problemas urbanos, especificamente de saneamento básico, é necessário a junção de idéias e ações,
tanto do governo federal, estadual, municipal e população.
Enfim, para que as pessoas tenham qualidade de vida, é necessário que haja investimentos e
infraestrutura urbana. Ressalta-se que o problema da gestão pública não é a ausência de leis, mas a
aplicabilidade destas. O gráfico abaixo mostra a percepção dos moradores quanto aos serviços de
saneamento oferecido pela gestão pública.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Conceito
A percepção da de satisfação
população do saneamento
quanto básico
ao Saneamento Básico
dada pelos moradores
de Tefé e Coari

Coari
Tefé

Gráfico 1: Percepção dos moradores em relação aos serviços de saneamento básico


Fonte: Pesquisa de Campo em Coari e Tefé – 2016
Organização: Nágila Situba – 2017

No âmbito geral, as condições de saneamento básico estão péssimas na percepção dos


moradores de Tefé e Coari, isso mostra o quão precária está a infraestruturas urbana dessas cidades.
Isso também reflete altos índices de doenças, pessoas em situação de rua e pessoas habitando em
áreas de risco. Neste contexto, é necessário pensar que saneamento é o primeiro pilar para se ter
uma cidade limpa, saudável e sustentável. Portanto, vive-se em cidades onde este direito é negado, a
partir do momento em que não se tem os serviços.

CONCLUSÃO

O espaço urbano se produz e reproduz de modo a ter o planejamento como ferramenta da


gestão pública, e a partir dessas ferramentas, surgem as políticas públicas. Neste sentido, é
necessário que a municipalidade tenha o planejamento como ferramenta de estratégia socioespacial
(SOUZA, 2002), só assim haverá mudanças, no que se refere à cidade, sua infraestrutura urbana.
Os resultados obtidos mostraram que as cidades em estudo são próximas em territórios,
população urbana parecida, possui problemas semelhantes no que tange as questões sanitárias,
Coari possui orçamentos elevados, porém possui os mesmos problemas que Tefé. Os serviços em
ambas são precários; carecem de efetividade e, apesar da existência dos Planos Municipais, estes
não têm conseguido combater os problemas sanitários das cidades.
O fato é que esses problemas vão do urbano ao político e vice-versa. Neste sentido, não é
suficiente existir um poder legislativo e executivo nas cidades, é necessário mais participação
popular nas tomadas de decisões. Portanto, as questões sanitárias precisam ser solucionadas, assim
como necessita-se de uma gestão menos representativa e mais participativa.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1391


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MEIO AMBIENTE COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES DA REDE


PÚBLICA ESTADUAL DE SERGIPE

Wagner da Cruz SILVA


Mestre em Educação (PPGED-UFS)
cws22@msn.com
Max Cardoso SILVA
Mestre em Geografia (PPGEO-UFS)
max.cardsilva@hotmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental nos últimos trinta anos, tem se demonstrado como importante caminho para
a adequação da relação homem e natureza. Nesse sentido, entender como homem concebe a
Educação Ambiental é indispensável para entender como ele interage, interfere, transforma o meio
ambiente e no caso dos docentes, como tal percepção interfere em suas práticas pedagógicas. Nessa
perspectiva, a presente investigação se desenvolveu dentro de uma perspectiva de inspiração
fenomenológica, cujo viés empírico abordou as práticas pedagógicas no semiárido do Estado de
Sergipe. Para responder como acontecem as referidas práticas optou-se por fazer uma abordagem
qualitativa através de entrevista estruturada com os docentes que desenvolvem a Educação
Ambiental no âmbito do sertão sergipano. Constatou-se que as práticas docentes desenvolvidas, a
partir da interpretação das falas, estão concentradas nos seguintes aspectos: ênfase na prática de
Educação Ambiental conservacionista, pautada a partir da preocupação com a problemática do lixo;
na preocupação com a degradação da caatinga; na construção de projetos pedagógicos com temática
ambiental.
Palavras Chave: Educação Ambiental; Prática Docente; Meio Ambiente; Semiárido.
ABSTRACT
The Environmental Education in the last thirty years, has been demonstrated as important way for
the adequacy of the relation man and nature. In this sense, understanding how man conceives
Environmental Education is indispensable to understand how it interacts, interferes, transforms the
environment and in the case of teachers, how such perception interferes in their pedagogical
practices. From this perspective, the present research developed from a perspective of
phenomenological inspiration, whose empirical bias addressed pedagogical practices in the semi-
arid state of Sergipe. In order to respond as these practices take place, a qualitative approach was
chosen through a structured interview with the teachers who develop Environmental Education
within the sergipe sertão. It was verified that the teaching practices developed, based on the
interpretation of the lines, are concentrated in the following aspects: emphasis in the practice of
Conservation Environmental Education, based on the concern with the problem of garbage; concern
with the degradation of the caatinga; in the construction of pedagogical projects with environmental
themes.
Keywords: Environmental Education; Teaching Practice; Environment; Semi-arid.

INTRODUÇÃO

A relação do homem com o espaço natural é pensada desde a Antiguidade, com Aristóteles.
O filósofo, no auge do seu pensamento, concebe a natureza como dotada de uma finalidade, um

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

telos61. O ser humano seria parte dela, e a utilizaria na busca de realizar-se plenamente em sua vida
e em suas atividades. Na contemporaneidade, há uma quantidade incomensurável de atividades,
fazendo com que essa busca acarrete sérios problemas ambientais (MARCONDES, 2009).
Os problemas ambientais, gerados através dos séculos, e que hoje representam um
verdadeiro drama mundial, ocorreram por conta da negligência e da ganância das autoridades
governamentais, e também pela pouca ou nenhuma informação do homem frente às necessidades e
aos cuidados na sua relação com o meio ambiente. Tal enredo fez-me perceber a urgência da
implantação imediata de ações educacionais que possibilitassem ao ser humano habitar a Terra de
maneira sustentável.
Nesse sentido, a Educação Ambiental assume um desafio, que no âmbito pedagógico e no
ambiental, exige uma reflexão comprometida ―acerca dos códigos que moldam a racionalidade
(sistema de pensamento, paradigmas etc.) e as suas propostas para ação‖ (MEIRA; CARIDE, 2004,
p. 212).
Nessa mesma linha de raciocínio, Reigota (2011) salienta a importância da Educação
Ambiental Política para a sociedade, quando afirma que:

A Educação Ambiental como Educação Ambiental Política está comprometida com a


ampliação da cidadania, da liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e
cidadãs na busca de soluções alternativas que permitam a convivência digna e voltada para
o bem comum (REIGOTA, 2011, p. 13).

Nessa perspectiva, as práticas docentes em Educação Ambiental não podem estar


condicionadas à mera transmissão de conhecimento. Deve clarificar os valores subjacentes perante
os problemas ambientais: tomada de decisões em face de qualquer situação, no plano individual ou
em grupo. Também deve ser precedida de uma postura pessoal de adquirir valores que delimitem e
orientem o discente, visto que a Educação Ambiental não pode ser um processo neutro (MEIRA;
CARIDE, 2004, p. 232).
Diante do exposto, a presente investigação abordou o meio ambiente como prática
pedagógica de professores nos municípios que formam a Diretoria Regional de Educação da região
do semiárido do Estado de Sergipe, a saber: Nossa Senhora da Glória, além dos municípios de Feira
Nova, Monte Alegre, Poço Redondo, Porto da Folha e Canindé do São Francisco.
Para elucidar a problemática anteriormente apresentada, é importante salientar que Sergipe
tem 10.027 km² de área de caatinga, quase 50% de todo o território do Estado. Até o ano de 2008,
6.840 km² dessa vegetação foram desmatados; isto é: 68,23% da cobertura vegetal do bioma,

61
Aristóteles usava o termo causa final ou telos. Nesse sentido, desenvolveu a idéia de causa final que ele acreditava
que era explicação determinante de todos os fenômenos. Sua ética afirmava que o Bem em si mesmo é o fim a que todo
ser aspira, resultando na perfeição, na excelência, na arte ou na virtude. Todo ser dotado de razão aspira ao Bem como
fim que possa ser justificado pela razão (MARCONDES, 2009).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

garantindo ao Estado o 2º lugar no ranking de desmatamento total acumulado da caatinga no Brasil,


sendo superado apenas pelo Estado de Alagoas (MMA, 2008).
Além desse agravante, as áreas onde ocorre o desmatamento estão suscetíveis à
desertificação. Em Sergipe, seis municípios do Alto Sertão do São Francisco correm esse risco:
Poço Redondo, Canindé do São Francisco, Porto da Folha, Monte Alegre de Sergipe, Nossa
Senhora da Glória e Gararu (SEMARH, 2011). Esta região abriga uma população estimada em
140.287 habitantes (IBGE, 2010), que também sofre frequentemente com períodos de seca.
A metodologia utilizada para elucidar a práticas docentes, foram realizadas entrevistas e a
partir das análises foram estabelecidas categorias a fim de estabelecer interpretações de como o
meio ambiente é trabalhado na prática pedagógica dos professores. O universo desta investigação
foi composto por profissionais docentes que desenvolvem ações em Educação Ambiental na DR9,
órgão do Governo do Estado de Sergipe, subordinado à Secretaria de Estado da Educação de
Sergipe (SEED).
Para que o nome dos entrevistados fosse preservado, utilizaram-se as seguintes abreviações
para identificá-los no texto: E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10, E11, E12, E13, E14, E15. A
escolha obedeceu à ordem das entrevistas ocorridas.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICA DOCENTE

É mister, antes de apresentar as práticas docentes analisadas é necessário uma breve


discussão a respeito da importância da Educação Ambiental e sua importância para a prática
docente.
Em linhas gerais, a prática docente é um indicativo e um sintoma de uma condição
sociopolítica, com desdobramentos econômicos e culturais. O docente é formado, via de regra, para
transmitir um conhecimento específico das mais diversas áreas do saber e muitas vezes voltadas
para a formação do mercado de trabalho, reproduzindo, dessa forma, os postulados modo de
produção vigente. Tal aporte é histórico e uma mudança de abordagem implica numa transformação
de paradigmas que busque a formação do aluno do ponto de vista reflexivo, crítico e criativo. A
formação profissional é necessária e importante, mas não se pode negar que o aluno deve estar
preparado para empreender a transformação da realidade de nossa sociedade. A Educação
Ambiental, certamente, tem muito a contribuir nesse sentido.
Desse modo, a Educação Ambiental é sobretudo uma atitude, uma transformação
comportamental que, para estabelecer-se, precisa arraigar uma nova fundamentação cultural. Tal
transformação só é possível mediante ações radicais que, não raro, estão relacionadas à submissão
de uma cultura a outra, ou a uma profunda reflexão crítica capaz de revalorizar itens atitudinais.
Neste caso, o caminho transformador é o processo educativo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para que isso seja possível, a práxis pedagógica deve estar respaldada a partir da teoria de
Freire (2005), que a concebe como uma reflexão e ação do homem sobre o mundo para transformá-
lo de modo que a realidade desmistificada criticamente por docentes e discentes. No entanto, é
preciso ressaltar que a escola não é a única responsável por essa transformação social, mas sem ela,
é muito difícil que alguma transformação aconteça.
Para um melhor dimensionamento da questão, Guattari (apud ENRICONE, 2002, p. 44)
destaca a existência de três instâncias primordiais de reflexão ambiental: ―a biosférica ou do meio
ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade Humana‖. Além de deflagrarem em si mesmas
uma série de eventos transformadores, essas instâncias devem emanar um diálogo capaz de
converter a atitude humana num evento maior, pois transformado sob a promessa de uma
reinvenção das relações com o meio ambiente, com o semelhante e consigo mesmo.
Neste ponto, cabe indagar: como conseguir esta visão crítica, como obter subsídios capazes
de constituir um olhar perscrutador? Paulo Freire, com a naturalidade que sempre lhe foi inerente,
afirmava que o homem era um ser de relações, e justamente por assim sê-lo, guardaria em si a
determinação crítica da transformação.

O homem está no mundo e com o mundo. Se apenas estivesse no mundo não haveria
transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode objetivar-se, pode também
distinguir entre um eu e um não eu. Isto o torna um ser capaz de relacionar-se; de sair de si;
de projetarem-se nos outros; de transcender. Pode distinguir órbitas existenciais distintas de
si mesmo. Estas relações não se dão apenas com os outros, mas se dão no mundo, com o
mundo e pelo mundo (FREIRE, 1981, p. 30).

Ora, se há relação há de haver reflexão. A ausência da reflexão paralisa as ações, imobiliza o


indivíduo, impedindo-o de atuar como fonte de transformação cultural. A Educação deve extrair-lhe
esse eu reflexivo e apresentá-lo às inúmeras possibilidades e problemas constituídos na sociedade.
A Educação Ambiental deve valer-se de tal postulado, no sentido de revolucionar a postura
do indivíduo em relação à complexidade e emergência dos temas atuais, assumindo dessa forma,
seu caráter crítico transformador.

MEIO AMBIENTE E PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES

Com o objetivo de investigar as práticas docentes em Educação Ambiental desenvolvidas


pelos professores no semiárido sergipano, foi solicitado na entrevista desenvolvida que os eles
relatassem suas práticas em sala de aula. A partir das respostas obtidas, foi possível tecer
considerações e interpretações que geraram o entendimento do lugar da Educação Ambiental na
prática pedagógica desses docentes a partir da ótica de cada um.
Nesse sentido, a partir da interpretação das falas, notamos que as práticas desenvolvidas
pelos docentes, de modo geral, estão concentradas sob o viés das seguintes perspectivas: 1) ênfase
na prática de Educação Ambiental Conservacionista; 2) preocupação com a problemática do lixo; 3)
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

preocupação com a degradação da caatinga; e 4) ênfase em projetos com ênfase na temática


ambiental. Para facilitar o entendimento da interpretação dos dados, foram estabelecidas
subcategorias de análise, conforme exposto no Quadro 1.

Categorias Subcategorias
– Ênfase na prática da Educação Ambiental Conservacionista.
Meio Ambiente e Prática Pedagógica de
– Preocupação com a Problemática do Lixo.
Professores
– Preocupação com a Degradação da Caatinga.
– Ênfase em projetos com a temática ambiental.
Quadro 1. Categorias e Subcategorias obtidas a partir das entrevistas com os professores com relação às suas
práticas pedagógicas em Educação Ambiental

ÊNFASE NA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONSERVACIONISTA

Nas falas dos educadores, é possível identificar que suas práticas pedagógicas, apesar de
estarem em contextos favoráveis, em termos de ações e propostas relacionadas à problemática
ambiental, ainda se aproximam muito do modelo de Educação Ambiental classificada por Lima
(2011) como Conservacionista. Nessa perspectiva de atividade, são notórios discursos e
preocupações de conservação dos recursos naturais, visando a mudar comportamentos do ser
humano, de maneira a proteger a natureza. Não se percebe compromisso com as relações históricas,
econômicas, políticas e culturais que coadunem com a concepção de natureza enquanto dimensão
central de sobrevivência de todos os seres vivos.
No relato do professor E1 sobre suas práticas, é evidente a assertiva discutida acima:

[...] Como afirmei anteriormente, a minha prática em Educação Ambiental se baseia a partir
da discussão gerada a partir de algum texto literário ou jornalístico com o qual trabalho em
sala de aula. A partir de um elemento motivador, promove-se um debate grupal com o
objetivo de estimular a reflexão e propiciar o desenvolvimento de atitudes coerentes em
relação ao meio ambiente [...].

Cabe destacar nesse depoimento a afirmativa de que estimular a reflexão é algo necessário.
Isso é verdade, porém ela precisa estar associada ao desenvolvimento do olhar crítico dos alunos
acerca da problemática ambiental que os cerca. Sobre a importância da reflexão, E1 continua:

[...] Acredito que consigo estimular a reflexão. A mudança de atitudes é algo mais
complexo, que demandaria um trabalho mais regular e específico, capaz de provocar novas
percepções acerca da própria realidade. No entanto, a reflexão surte seu efeito. É possível
que, em situações futuras, as atitudes deles sejam mais propensas à harmonia e à
preservação do meio ambiente que as atitudes da minha geração, que sequer foi convidada a
refletir sobre o assunto.

No prosseguir de sua fala, ele aponta que é necessário desenvolver ―atitudes coerentes‖ em
relação ao meio ambiente. Tal ponto de vista remete ao sentido de conservar/proteger o mesmo,
porém, esse não deve ser o objetivo principal da Educação Ambiental, conforme ficou claro no
decorrer deste trabalho. Além disso, o discurso de ―harmonia e preservação‖ traz um sentido

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

romântico e pouco eficaz diante da voracidade de destruição e consumo do modo de produção


vigente.
Os temas recorrentes trabalhados em sala de aula de forma tradicional (aula expositiva) e
citados pelos professores estão basicamente ligados à transmissão de conhecimento no que diz
respeito a problemas que atingem a sociedade nos dias atuais, conforme podemos observar na fala
do professor E9: ―[...] trabalho aplicação de conteúdos relacionados com o ambiente e com a
atualidade [...]‖. Esses conteúdos são assunto como: efeito estufa, problemas ambientais urbanos,
desmatamento, aquecimento global, entre outros. Não é possível observar nas falas a presença
qualquer olhar mais crítico no que diz respeito à inter-relação homem e natureza, ou de uma visão
mais ideológica que informativa no que se refere à utilização dos recursos naturais pelo modo de
produção vigente. É como se o homem, a partir de suas atitudes, não fosse o responsável por toda
problemática ambiental na atualidade.
Essa forma de prática pedagógica em Educação Ambiental pode ser explicada, entre outros
fatores, pela utilização dos livros didáticos a partir dos quais os educadores planejam suas aulas. A
pesquisadora Michele Sato, ao realizar um estudo sobre as metodologias de Educação Ambiental
nos livros didáticos, constatou que ―os modelos tradicionais de educação ainda persistem‖ (SATO,
1995, p. 12).
Outro fator de influência é o uso de outros recursos pedagógicos como revistas, televisão e
jornais. É sabido por aqueles que trabalham com a temática ambiental na escola que artigos de
revistas, tenham ou não caráter pedagógico; programas de televisão e jornais restringem-se a
denunciar/informar sobre a degradação ambiental, salientando a importância de conservar e
proteger a natureza, e se eximem de tecer análises mais significativas sob a inter-relação necessária
de desenvolvimento econômico e social, associado à qualidade de vida e ambiental.

ÊNFASE NA PROBLEMÁTICA DO LIXO

O lixo, por definição, é algo que as pessoas já não querem, então pouco se preocupam com
seu destino. No mundo ocidental, estima-se que uma pessoa produza em média 500 quilos de
resíduos por ano. No Brasil, a taxa é de 378 quilos, ou seja, quanto mais desenvolvido for o país,
mais detritos ele gera (VEJA, 2011). O que fazer com esses resíduos, num mundo em que a
discussão sobre a problemática ambiental está em alta, é um dos grandes dilemas da sociedade
moderna. Nos últimos trinta anos no Brasil, a problemática também tem sido discutida nos bancos
escolares (CINQUETTI, 2004). Como o assunto é tratado em sala de aula a partir do fazer
pedagógico dos docentes, torna-se de extrema importância.
Partindo-se dessa premissa, ao dar continuidade à leitura crítica da fala dos docentes,
observa-se que a preocupação com a problemática do lixo é recorrente em suas práticas. Cerca de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

30% relatam que, nas suas práticas pedagógicas em Educação Ambiental, o lixo é uma grande
preocupação, portanto abordado com frequência, como é possível observar na fala do professor E1:

―[...] Os temas mais comuns em minhas práticas em Educação Ambiental dizem respeito ao
destino do lixo produzido nas cidades, à devastação do meio ambiente e aos
questionamentos acerca do estilo de vida contemporâneo que interfere ampla e
negativamente sobre o planeta como um todo [...]‖.

Cinquetti (2004) salienta a dificuldade e o cuidado em trabalhar a problemática do lixo em


sala de aula. Para esta autora, os docentes devem trabalhar a partir de três aspectos: a discussão
sobre suas raízes, sobre as consequências em termos de impactos ambientais, e sobre as alternativas
quanto ao tratamento de resíduos e à disposição do lixo.
As raízes do problema ao qual a autora se refere dizem respeito a trabalhar em sala de aula a
sistematização de produção de bens que serão descartados; como também o consumo desigual entre
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, além do consumo excessivo, ocasionando ou não
desperdício. Tais assuntos devem merecer destaque pelo professor ao tratar da problemática em
questão. Nessa perspectiva, a fala do docente E1 coaduna com a autora, pois, ao narrar sua prática,
o mesmo dá ênfase ao consumismo exagerado, entre outras atitudes, que assolam o planeta.
A mesma fala do docente sintetiza outro pressuposto de Cinquetti (2004), que seria entender
a disposição do lixo, e consequentemente os impactos ambientais causados, pelo seu
acondicionamento inadequado, ao planeta Terra. A mesma acepção pode-se apreender na fala do
professor E2, que, ao narrar suas práticas, enfatiza a referida assertiva.

[...] Minhas práticas abarcam trabalhar assuntos como planejamento do uso e ocupação do
solo nas áreas urbanas e rurais; pensar na natureza não é fonte inesgotável de recursos;
sensibilizar para a compreensão do frágil equilíbrio da biosfera e dos problemas da gestão
dos recursos naturais; lixo (redução, reutilização e reciclagem); lixo hospitalar (destinação)
[...]‖

Os educadores afirmam ainda dar atenção especial à reutilização do lixo a partir de


reaproveitamento/reciclagem, haja vista o depoimento de E6: ―[...] Entre minhas práticas em sala de
aula, incentivo depositar seu lixo em latões de coleta seletiva; incentivo os alunos a realizar
separação de lixo, organizar o lixo que pode ser reciclado em categorias [...]. O professor E8 assim
se pronuncia: ―[...] minhas práticas buscam conscientizar os alunos da necessidade de: conservação
do meio limpo, poluição do meio limpo, poluição do meio ambiente — tais como: visual, sonoro,
lixo etc. —, coleta de lixo, que é um dever de cada cidadão [...]‖. O docente E7, em sua fala sobre
suas práticas pedagógicas com o uso do lixo, expõe a sua visão no que diz respeito à importância de
reutilizá-lo:

―[...] No caso do lixo, por exemplo, a prática da reutilização do lixo seco, como produto
reciclado, em atividades educativas não é somente para fazer economia. Ao usar o lixo,
devemos ter em mente: o valor do trabalho com as mãos, a consciência de fazer para
aprender; o estudo de nossa realidade; a criatividade, a criticidade e a reflexão sobre o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

material que está sendo trabalhado. Usar o lixo seco como atividade educativa deve ser uma
maneira de transformar aquilo que nos incomoda em algo que contribua para transformar
nossa realidade [...]‖.

Como pode-se apreender, discurso e prática utilizados pelos docentes mais uma vez sofrem
influência dos discursos trazidos pelos livros didáticos. Cinquetti (2004), ao fazer uma análise de
como a problemática do lixo é tratada nos didáticos e paradidáticos do ensino regular, considera
que, apesar de os autores problematizarem de maneira significativa a origem e aumento da
quantidade de lixo, pecam ao tratarem da redução dos resíduos, pois se baseiam nos pressupostos
dos 3Rs (redução, reutilização, reciclagem) recomendados pela agenda 21. Segundo a autora, o
processo de reciclagem causa tão ou mais impactos ambientais no meio ambiente, pois utiliza
processos químicos nocivos para se concretizar; além disso, mesmo utilizando material reciclável,
sempre restará lixo.

ÊNFASE NA PROBLEMÁTICA DA DEGRADAÇÃO DA CAATINGA

A preocupação com a conservação do bioma caatinga é evidente na fala dos docentes ao


relatarem suas práticas em Educação Ambiental no semiárido sergipano. É possível observar, nos
relatos de práticas de 70% dos sujeitos da pesquisa, atividades desenvolvidas no sentido de
conservação/preservação da caatinga. Eles creditam a presença marcante do tema em suas práticas
ao fato de fazerem parte do Coletivo Educador do Semiárido Sergipano. Os 70% que desenvolvem
atividades nesse sentido, fazem parte do Coletivo.
As práticas pedagógicas em Educação Ambiental dos sujeitos desta pesquisa abarcam
atividades como trabalhos de campo (30%), a fim de fazer levantamentos de espécies animais e
vegetais do bioma, conforme é possível verificar no depoimento do professor E1:

―[...] Por exemplo, já desenvolvi com meus alunos um vídeo-documentário em que havia
entrevistas com pessoas da região acerca do bioma caatinga. Os alunos puderam investigar
sobre o desmatamento da vegetação típica da região e sobre as espécies extintas ou
ameaçadas de extinção. Além desse documentário, desenvolvemos e publicamos, num
jornal voltado a essas questões, o que chamamos ‗Bio-repórter [...]‖

Encontram-se também, nas falas de 30% desses docentes, o relato de atividades que dizem
respeito a reflorestamento. São citadas práticas de cultivo de uma área verde e uma campanha
chamada Adote uma Árvore, que visam incentivar a proteção às árvores, tanto em áreas públicas,
quanto em áreas particulares, conscientizando sobre sua importância para a manutenção da vida
com qualidade sobre o planeta. Também assumem como objetivo a arborização urbana.
Segundo o docente E4, as campanhas de arborização não costumam levar em conta a
importância da manutenção das árvores plantadas, o que pretende ser corrigido pela campanha
Adote uma Árvore, que atribui um padrinho para cada árvore doada, que terá a responsabilidade de
plantar, cuidar, e substituir por outra em caso de acidente ou morte da planta.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

[...] Cada aluno ou pessoa interessada durante o desenvolvimento da atividade preencheu


um termo de responsabilidade, solicitando uma muda de árvore, dizendo onde pretende
plantar, assumindo o compromisso de cuidar das 2000 mudas de árvores nativas do bioma
caatinga plantada em locais degradados escolhidos pelos alunos. [...]‖

Outra prática verificada foi a presença de atividades como dramatização, apresentação lúdica
ou teatral (25%), abordando impactos ambientais ocorridos atualmente, com finalidade de
sensibilizar a comunidade escolar para a degradação do meio ambiente e para a problemática de
desmatamento do bioma caatinga. Há também outras atividades, como caminhadas ecológicas
(15%), que têm o objetivo de sensibilizar a população para preservar/conservar o meio ambiente.

Ênfase em Projetos com a Temática Ambiental

Os projetos são elaborados principalmente pelos docentes de Ciências e Geografia (80%


daqueles) e outras disciplinas como Língua Portuguesa (10%), trabalhados nas escolas de maneira
interdisciplinar (100%). A interdisciplinaridade nos ocorre com mais frequência entre as disciplinas
Geografia, Ciências (Biologia), História, Química, Língua Portuguesa e Educação Física.
O desenvolvimento de projetos governamentais de âmbito estadual, federal ou municipal
não foi citado nos depoimentos dos entrevistados. Para elaborar os projetos, eles argumentam que se
utilizam de propostas de livros didáticos, inspiram-se em experiências de outras unidades de ensino
ou na observação dos problemas da região que são discutidos nas reuniões do Coletivo Educador
local. Os projetos duram em torno de 3 a 6 meses, desde concepção, desenvolvimento e
culminância aberta a toda a comunidade local.
Ao interpretar as características dos projetos, nos remetemos à ideia, já discutida aqui, do
desenvolvimento de práticas em Educação Ambiental ancoradas em princípios de
conservação/preservação. Nesse sentido, nota-se, mais uma vez, a influência dos livros didáticos,
uma vez que os professores se utilizam deles para produzir os projetos, juntamente com a influência
dos pressupostos do Coletivo Educador de desenvolver habilidades de respeito à natureza intocada.
Portanto, os projetos não despertam nos alunos a consciência crítica para atuar e concretizar
as ações propostas. Isso revela que as iniciativas existentes são marcadas pela falta de solidez em
concepções teóricas e metodológicas para a construção de projetos de Educação Ambiental,
revelando, dessa forma, a carência de formação continuada dos professores.
Outro fato a se destacar são os projetos serem planejados de forma unilateral, principalmente
pelos professores de Ciências e Geografia. Apesar de apresentarem atividades que sejam
trabalhadas de forma interdisciplinar, e se basearam nos problemas inerentes à região, eles não são
construídos coletivamente. A fala do docente E1 ilustra bem as dificuldades do trabalho
interdisciplinar: [...] ―A interação ocorre apenas por ocasião de algum projeto proposto para ser

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desenvolvido em alguma etapa do ano letivo. Não há um planejamento articulado no sentido de se


trabalhar a Educação Ambiental em sala de aula de forma regular [...]‖.
O planejamento de prática de ensino feitos nesses moldes encontra-se muito desgastado,
pois determina atividades feitas verticalmente; com isso, a proposta de interdisciplinaridade torna-se
ameaçada. Guimarães (2011) defende que, para se desenvolver ―uma educação popular,
comprometida com a transformação da sociedade para um mundo mais equilibrado social e
ambientalmente, faz-se necessário resgatar o planejamento como uma ação pedagógica essencial‖
(GUIMARÃES, 2011, p. 40).
Nesse sentido, o mesmo autor argumenta:

Conforme os princípios básicos descritos pela educação ambiental, o planejamento das


ações deve ser essencialmente participativo: professores, alunos, segmentos comunitários,
agentes sociais de uma prática social em que cada um contribua com sua experiência
acumulada, sua visão de mundo e suas expectativas, aflorando as contradições. Dessa
forma, facilita a compreensão e a atuação integral e integrada sobre a realidade vivenciada
[...](GUIMARÃES, 2011, p.40).

O argumento usado por ele vale também para os projetos de alcance nacional propostos pelo
Governo Federal através do MMA/MEC, e os de alcance estadual propostos pelo Governo Estadual
através da SEED ou da parceria MMA/MEC/SEED, mesmo que não tenham sido citados nos
depoimentos dos entrevistados projetos dessa natureza na região, construídos nos moldes do
unilateralismo.
Observa-se também o cuidado dos docentes em desenvolver projetos que contextualizem os
problemas ambientais que afligem a população local. São contemplados temas sobre a degradação
da caatinga e a degradação do rio São Francisco e de seus afluentes; são feitas atividades lúdicas
(teatro) sobre reciclagem de lixo; além disso, há atividades de reflorestamento com plantas nativas
da caatinga; palestras com a comunidade e com os discentes; panfletagem de conscientização;
elaboração de documentários; realização de trilhas ecológicas e trabalhos de campo a fim de se
fazer levantamentos das espécies vegetais ainda existentes.
Questionados como avaliam a participação dos alunos nos projetos de Educação Ambiental
desenvolvidos no ambiente escolar, os professores são unânimes em considera-lo de forma positiva,
conforme depoimentos dos educadores E2 e E6, respectivamente: ―[...] na maioria das vezes, eles
desempenham um trabalho belíssimo, e todos ficam comovidos e sensibilizados diante da
preocupação com meio ambiente[...]‖; ―[...] verificando a aprendizagem por meio da
conscientização do meio ambiente em nossas vidas[...]‖. E12 corrobora a fala dos colegas: ―[...] os
alunos têm participação ativa, e a maioria adquire o conhecimento e a conscientização desejada
[...]‖.
A outra parte do grupo pesquisado também avalia a participação dos alunos de forma
positiva, no entanto, atribui isso ao fato de ser atribuída pontuação às atividades — ―vale nota‖. As

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

falas dos docentes ilustram bem isso. E1, por exemplo, argumenta que o envolvimento dos alunos
se dá ―[...] apenas pelo resultado que os projetos possam produzir em termos de notas para as
disciplinas envolvidas, há certo envolvimento dos alunos. Eles ficam entusiasmados com as
atividades, e muitos participam, efetivamente, da realização dos projetos [...]‖ E4 também avalia
positivamente, ―[...] mas o objetivo maior é sempre obter nota. Falta o entendimento que esses
projetos precisam ter afetividade prática, centrados na resolução de problemas sociais concretos.
Nós, professores, temos essa missão que é muito difícil [...]‖ Partindo-se da assertiva da perspectiva
pedagógica e ideológica de como os projetos foram concebidos e executados, a participação dos
discentes não poderia ser diferente daquela condicionada à atribuição de nota.
É possível observar em suas falas que os docentes acreditam que suas práticas em Educação
Ambiental surtem efeito por estarem centradas na transmissão de conhecimentos que visam
desenvolver mudanças de comportamento individualistas e nutrem um sentimento de sensibilização
e reflexão para desenvolver hábitos de preservação, conservação e respeito à natureza.
Essa ideia está nítida nas fala do docente E4 — que entende que suas práticas nem sempre
surtem o efeito esperado: ―[...] não consegui criar condições para que todos meus alunos entendam
que pequenos gestos como colocar papel em uma lixeira é um grande ato de amor para com a
natureza e o seu próximo [...]‖. No entanto, E5 afirma que suas práticas surtem um efeito positivo:
―[...] quando se consegue mudar o comportamento de apenas um indivíduo, já estou contribuindo
para a construção de uma sociedade melhor, pois esse indivíduo vai passar seu conhecimento
adquirido, promovendo a mudança tão esperada [...]‖.
Interpretando as falas de E1, E2, E4 e E5, é possível reafirmar que os docentes entendem
que suas práticas em Educação Ambiental são eficientes por promoverem a transformação dos
discentes a partir de mudanças comportamentalistas. Então, seguindo a linha de raciocínio de E5,
em breve teremos uma sociedade sensível à problemática ambiental e desenvolvendo
comportamentos ambientalmente corretos. Não que desenvolver hábitos de mudança de
comportamento de conservação da natureza seja um equívoco, pelo contrário, é importante que
desenvolver práticas docentes com essa intenção, mas isso não é suficiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas educativas desenvolvidas pelos docentes e aqui narradas, são baseadas em


mudanças de comportamentos individualistas, não promovem a transformação dos indivíduos e da
realidade sócio ambiental, conforme foi propagado por E5 e por outros docentes em seus discursos.
Além disso, as práticas até então aqui ilustradas são baseadas principalmente na transmissão
de conhecimentos ambientalmente corretos; na sensibilização, apelando para o aspecto emocional;
na conscientização; na preservação da natureza intocada e na conservação dos recursos naturais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tais práticas são fundamentadas e influenciadas pelos livros didáticos, pelos meios de comunicação
de massa (TV, internet, jornais, revistas etc.) e pelas cartilhas e materiais pedagógicos distribuídos
pelo MMA/SEED/MEC. Sendo assim, dificilmente encontraremos no semiárido sergipano uma
criança ou jovem que não esteja condicionado a pensar a natureza como algo sagrado, que merece
ser respeitado, preservado e conservado.
Entende-se, portanto, que as práticas educativas em Educação Ambiental incapazes de
transformar significativamente a realidade da problemática ambiental do semiárido sergipano, a
partir da formação de cidadãos críticos e ativos, servem apenas para perpetuar os problemas já
existentes na realidade atual. Faz-se necessário refletir sobre o desenvolvimento de uma formação
docente ancorada em princípios pedagógicos epistemologicamente comprometidos com a superação
da severa crise ambiental do mundo contemporâneo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Daniel Carvalho Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1407


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS AO TURISMO NO BREJO PARAIBANO

Wallysson Klebson de Medeiros SILVA


Mestrando em Energias Renováveis da UFPB e Graduando de Administração da IFPB
wallyssonk@gmail.com
Graziela Pinto de FREITAS
Mestranda em Energias Renováveis da UFPB
freitas.graziela@cear.ufpb.br
Habila Yusuf THOMAS
Graduado em Engenharia Química da UFRN
habilayusufthomas@yahoo.com
Kardelan Arteiro da SILVA
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
kardelanok0@gmail.com

RESUMO
A Paraíba é dividida em nove regiões turísticas, dentre elas a Região Turística do Brejo – composta
por oito cidades: Alagoa Grande, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Borborema, Matinhas, Pilões e
Serraria –. Cada município tem sua própria característica, porém todas possuem uma diversidade
geográfica, econômica, cultural, histórica e ambiental peculiar. O objetivo deste artigo foi analisar
como as políticas públicas, no Brejo Paraibano, podem contribuir para o desenvolvimento da
economia local, por meio da exploração do potencial turístico que a região apresenta. A
metodologia valeu-se do estudo de caráter exploratório, efetuando-se a investigação bibliográfica
quanto seus procedimentos técnicos e delimitou-se como qualitativa quanto à sua forma de
abordagem. Constata-se que a microrregião pode fortalecer turismo, por meio dos atrativos e
produtos potencializados por projetos, programas e investimentos que surgem a cada ano, tornando-
se assim, mais uma alternativa econômica e sustentável para a região.
Palavras Chave: Turismo, Políticas Públicas, Brejo Paraibano.
ABSTRACT
Paraiba is divided into nine tourist regions, amongst them is the Brejo Tourist Region - composed
of eight cities: Alagoa Grande, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Borborema, Matinhas, Pilões and
Serraria. Each municipality has its own unique characteristic, but all have a geographical,
economic, cultural, historical and environmental diversity. The objective of this article was to
analyze how the public policies, in the Brejo Paraibano, can contribute to the development of the
local economy, through the exploration of the tourism potential that the region presents. The
methodology was based on an exploratory study, with a bibliographic investigation of its technical
procedures and a qualitative approach to this research. It can be seen that the micro region can
strengthen tourism, through attractive measures and products promoted by projects, programs and
investments that arise every year, thus becoming another economic alternative for the region.
Key-words: Tourism, Public Policies, Brejo Paraibano.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A importância de políticas públicas voltadas à atividade turística tem aumentado nos anos
recentes, promovendo dessa forma uma atenção cada vez maior por se constituir em uma das mais
consideráveis atividades econômicas. Pode-se, via da regra, aceitar que o turismo é um fenômeno
de grande relevância para o desenvolvimento e crescimento de uma região, capaz de equacionar
desequilíbrios sociais e econômicos, pelo menos teoricamente.
Para que o turismo opere como elemento propulsor do desenvolvimento e como alternativa
viável à promoção de mudanças, faz-se necessário que a gestão pública pense em estruturar e
planejar o turismo de forma consciente, através da preservação do meio ambiente e práticas
sustentáveis, para que assim realmente o local esteja preparado para ter um turismo com inclusão
social e que traga benefícios à comunidade local, visto que a sustentabilidade se dá,
fundamentalmente, através do planejamento e da maneira como se levam em conta os principais
aspectos que a sustentam.
Assim sendo, o presente trabalho propõe-se entender se, o Brejo Paraibano pode ser
considerado um destino turístico, já que a região vem estimulando e fomentando as raízes culturais,
artesanais, naturais, sustentáveis, atividades criativas e preservacionistas pautadas nos aspectos
regionais levando apreço a sua identidade cultural.
Com vistas a uma análise mais ampla acerca do turismo como atividade econômica, o
objetivo geral deste artigo é: Analisar como as políticas públicas, no Brejo Paraibano, podem
contribuir para o desenvolvimento da economia local, por meio da exploração do potencial turístico
que a região apresenta.
Para a consecução do objetivo proposto neste artigo, podemos classificar o presente trabalho
como um estudo de caráter exploratório, uma vez que objetiva proporcionar maior familiaridade
com o tema. Efetuou-se a investigação bibliográfica, quanto seus procedimentos técnicos, através
de um levantamento de dados disponíveis em fontes. E delimita-se como qualitativa quanto à sua
forma de abordagem.
Levando em conta que o turismo é adotado atualmente como um dos principais e mais
relevante fenômeno da atualidade. O estudo políticas públicas voltadas ao turismo no brejo
paraibano tem como principal justificativa a importância adquirida pelas vertentes e interpretações
relativos ao campo das políticas públicas e do turismo na atualidade, que uniria e integraria em um
corpo teórico unificado e de caráter científico. Diante da escassez de material, poucos trabalhos
sistemáticos e de cunho científico que demonstre a importância de regiões com potenciais turísticos
distantes do litoral (como a do Brejo Paraibano), se faz de tamanha importância esse estudo, para
uma temática aprofundada regionalista.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BREJO PARAIBANO: CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO

O Brejo Paraibano passou por importantes transformações no decorrer do processo histórico


na ocupação do espaço regional de agrário natural para social. Conforme Lima (2010, p. 19), a
mudança se deu através de diversos fatores, como os danos à vegetação nativa, adequação do
espaço urbano para necessidades das cidades ou pela construção de estradas. Apesar disso, foram
mantidas áreas de reserva ecológica e uma preocupação com a conservação do patrimônio
arquitetônico, cultural e natural; dando a sensação de um espaço bucólico que nos permite andar
para trás no tempo.
Na região turística do brejo paraibano, estabelecida na mesorregião do Agreste Paraibano do
estado da Paraíba formada por oito (08) municípios, quais sejam: (i) Alagoa Grande, (ii) Alagoa
Nova, (iii) Areia, (iv) Bananeiras, (v) Borborema, (vi) Matinhas, (vii) Pilões e (viii) Serraria que
ocupam juntos 1.202,1 km² e com população estimada de 116.235 habitantes, ocupando cerca de
2% do território paraibano (IBGE, 2015). Apesar da sua pequena dimensão territorial a
microrregião é uma das principais do estado devido às condições de solo e clima que viabilizam a
produção agrícola.
Contudo, a atividade agrícola do Brejo Paraibano sofreu um decréscimo devido a uma série
de acontecimentos que resultaram em problemas econômicos, como fechamento de engenhos e
fábricas. Em decorrência desse fato, os habitantes tiveram que procurar outras formas de
sobrevivência e o turismo foi uma das soluções encontrada para alavancar o dinamismo na região
(GALVÃO, 2012).
Esse processo de substituição do espaço agrário para o espaço turístico se deu através da
―descoberta‖ que se poderia aproveitar das peculiaridades e atrativos de cada município visando
atrair um grande fluxo de turistas, gerando emprego e renda para comunidade local. Assim as
paisagens singulares, belezas naturais, cultura regional e clima frio (12 graus no inverno),
encontrado raramente no Nordeste brasileiro, serviram como artifício para atrair uma maior
quantidade de pessoas para conhecer os contrastes que transformaram a microrregião numa atração
turística para os gostos mais variados. Essa mistura de arranjos produtivos socioeconômicos e
culturais, fez com que a inclusão do turismo crescesse.
A região brejeira destaca-se também, pela maior concentração de engenhos de cana-de-
açúcar do estado da Paraíba. O registro da existência destas unidades produtivas nos faz voltar a
meados do século XVIII. Seu longo tempo de existência assegura a vocação produtiva dos
engenhos de cana-de-açúcar nesta microrregião.
Há também peculiaridades que apenas a microrregião do Brejo Paraibano oferece, tais como
produtos disponíveis, com caráter interessante e não facilmente encontrados em outros lugares do
país como, por exemplo, a cana-de-açúcar, a rapadura e a cachaça, que permitem agregar
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

originalidade e diferencial ao produto turístico. Também proporcionam um cenário de clima frio,


repleto de rios, cachoeiras, trilhas e mata atlântica, além do patrimônio histórico das cidades
centenárias, que promovem eventos e a prática de um turismo alternativo (GUARDIA, 2012).

CONSIDERAÇÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO

Segundo Dye (2012, p. 2), política pública ―é tudo o que o governo decide fazer ou não‖.
São escolhas feitas pelos que estão no poder, que refletem as decisões e não decisões, ações e
inações do governo. Faz-se necessário criar uma imagem positiva para o local de destino turístico,
visto que a percepção dos turistas é essencial para o crescimento, sendo fundamental planejar ações
e uma política integrada do órgão público ou setor responsável pelo turismo (CARVALHO, 2009).
Assim, o desenvolvimento harmônico da atividade turística é o pilar das políticas públicas do
turismo, visto que o estado propicia, constrói e apoia a infraestrutura urbana e de acesso.
A política pública tem papel importante no desenvolvimento das atividades turísticas, pois, a
partir dela, elabora as estratégias do governo para o desenvolvimento do turismo. Beni (2007)
acredita que a política pública de turismo deve ser coordenada, tendo por base as instituições
públicas, em seus planos e programas com foco na parte cultural, econômica e social, para assim
determinar as prioridades, administrar recursos e promover incentivos com a finalidade de aquecer
o setor. Sobre isto, Dias (2008) destaca que, geralmente, as políticas de turismo são elaboradas de
forma espontânea para satisfazer as necessidades imediatas da atividade. Porém, o objetivo
principal seria o inverso: introduzir ações norteadoras para o planejamento, voltadas para o
crescimento e desenvolvimento sustentável do turismo.
Sendo assim, uma visão estratégica é a primeira alternativa para que se consiga alcançar o
desenvolvimento, por meio do planejamento das políticas públicas do turismo, visto que a estratégia
permite determinar, através de análises dos ambientes externos e internos, a vocação e as
modalidades de turismo nas quais se pretende investir (SILVA, 2005). Logo, cada cidade ou região
deve detectar suas potencialidades e capacidades, direcionando as ações para o desenvolvimento. A
escolha pela atividade turística deve ser conduzida pelo diagnóstico que incide em uma coleta de
dados e informações preliminares (BURIOL, 2005).
A necessidade de avaliar a posição e atuação do mercado turístico, fez com que surgisse a
gestão estratégica, concebendo a possibilidade de verificar as oportunidades e ameaças, pontos
fortes e fracos do setor, impulsionando o surgimento de técnicas e instrumentos que são
fundamentais para chegar ao desenvolvimento turístico que, de acordo com Silva (2005), envolve
dois fatores: competitividade e sustentabilidade. A competitividade indica a habilidade de concorrer
de maneira dinâmica e lucrativa no mercado turístico, ao passo que a sustentabilidade representa a
capacidade do propósito de conservar a qualidade de seus recursos físicos, sociais, culturais e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ambientais. Portanto, devem-se estimular os atrativos, através do aprimoramento de produtos;


mudanças nos métodos de prestação de serviços e novos enfoques de marketing.
Beni (2007) acredita que o planejamento estratégico do turismo ocorre através da gestão
compartilhada, na participação mútua em custos e na definição de programas e produtos de
promoção turística em conjunto. Consequentemente, é fundamental que as escolhas no turismo
tenham a participação efetiva conjunta, sendo a coordenação das atividades essencial para a criação
de produtos turísticos aceitáveis, que beneficiem tanto a comunidade local quanto os turistas
(AKEHURST, 2003).
O planejamento torna-se um componente importante das políticas públicas, passando a ser
um elemento imprescindível, pois, a partir de uma análise das políticas públicas através do
planejamento pode-se definir as decisões e como elas podem ser tomadas. Toda a preparação de
políticas públicas reflete, assim, todo um ambiente político, caracterizando valores e ideologias,
distribuição do poder, estruturas institucionais e processos de tomadas de decisão (BURSZTYN,
2005). Logo, a junção do planejamento e gestão estratégica, ao lado da identificação do perfil da
demanda e da inventariação da oferta, faz com que crie um cenário para uma melhor colocação da
localidade quanto à vocação turística, à formatação e ao aperfeiçoamento de novos produtos, bem
como às mudanças no enfoque na prestação de serviços turísticos (ASHTON, 2008).
Por outro lado, diante da falta de um modelo padrão de organização do turismo, recomenda-
se não criar estruturas especificas se não houver investimento e recursos humanos e financeiros que
evitem torna-las ineficientes. Nesses casos, o fundamental é elaborar um modelo de gestão
participativa, criando instrumentos para que cada órgão governamental local fique responsável para
controlar a atividade. O poder público pode desempenhar os seguintes papeis, visando o fomento e
o controle segundo o Manual de Políticas Públicas para o Turismo do World Wild Forest sugere: a)
elaboração e implementação da política de turismo, com intuito de direcionar o desenvolvimento; b)
estabelecimento de prioridades e estratégias no desenvolvimento do produto turístico; c) elaboração
e aplicação de legislação e regulamentação, estipulando normas a se desenvolver; d) capacitação de
recursos humanos; e) implementação e manutenção da infraestrutura; f) estruturação e
diversificação da oferta turística; g) promoção turística; h) elaboração de dados estatísticos, com
propósito de direcionar investimentos; i) proteção e conservação dos recursos naturais, paisagístico,
histórico e cultural; j) promoção do bem estar da comunidade e do turista; k) promoção da
articulação e mobilização entre todos os atores envolvidos diretos e indiretamente com o
desenvolvimento do turismo (WWF, 2004).
Nogueira (1987) avalia que o estado tem quatro funções principais em relação ao turismo: 1)
função coordenadora que objetiva elaborar e programar uma política para o turismo; 2) função
normativa que visa formular as leis e regulamentos específicos; 3) função planejadora que integra

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

os planos de turismo no planejamento global da atividade e por fim 4) função financiadora que são
os subsídios, ou seja, infraestrutura e apoio a iniciativa privada. Logo, a política pública de turismo
representa as orientações, condições e procedimentos para o processo de planejamento.
Em linhas gerais, a função das políticas públicas para o desenvolvimento do setor turístico
envolve diferentes atores, tais como os gestores privados, profissionais e prestadores de serviços em
turismo, comunidade e, principalmente, os gestores públicos que veem no turismo, oportunidades
antes não imaginadas (emprego, renda etc.). Mas para isso, é fundamental que os agentes
promotores do turismo elaborarem uma ação criativa de política de desenvolvimento e um plano
físico turístico (OMT, 2003). E sempre lembrar que as políticas públicas voltadas ao turismo devem
ser sempre feitas e pensadas para a população local e a ela aplicada.

AS ROTAS CULTURAIS COMO IMPULSIONADORA DO TURISMO

Uma rota designa a ideia de um ponto com início e fim, ou seja, um trajeto que geralmente
tem uma linha histórica, compreendendo vários roteiros ou circuitos turísticos. O Ministério do
Turismo define roteiro turístico como ―um itinerário caracterizado por um ou mais elementos que
lhe confere identidade, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e
comercialização turísticas‖ (BRASIL, 2010, p. 31). Cidades de pequeno e médio porte vêm
aderindo ás rotas, pois através dos roteiros turísticos, os municípios tem a chance de apresentar de
forma organizada suas peculiaridades artesanais, gastronômicas, os meios de hospedagem e as
produções das agroindústrias, possibilitando uma intercalação de uma fonte de renda para a região.
E foi através dessa visão que surgiu o projeto Caminhos do frio.
Caminhos do Frio - Rota Cultural surgiu em 2005, criado com a concepção de inserir na
Paraíba um roteiro inspirado no Circuito do Frio de Pernambuco e conduzido, pelas diretrizes da
regionalização do turismo sob a ótica do Ministério do Turismo. Sediam o projeto as cidades:
Alagoa Grande, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Matinhas, Remígio, Pilões, Serraria e Solânea.
Atualmente a rota caminhos do frio vem se consolidando como um dos eventos culturais mais
importantes do estado. Além de ser o maior produto turístico do Brejo Paraibano, a cada ano que se
passa o roteiro fica mais conhecido e atrativo, despertando mais entusiasmo aos turistas, isso devido
a sua divulgação nas mídias e redes sociais, destacando as peculiaridades de cada cidade brejeira.
O roteiro Caminhos dos Engenhos surgiu em 2004, com plano de revitalizar os engenhos,
valorizar a cultura local e evidenciar a produção artesanal da cachaça e rapadura. O primeiro passo,
para que isso fosse possível foi utilizar da história da região como base para o desenvolvimento
regional turístico; e assim foi resgatado o ciclo da cana-de-açúcar, trazendo de volta a memória e a
identidade local (CARVALHO et al., 2013). O brejo paraibano conta com dezessete engenhos que
são patrimônios histórico-culturais. O projeto torna-se um importante aliado para o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desenvolvimento regional da região, graças à capacidade em atribuir valores ao espaço rural,


criando experiências e serviços, através de novas funcionalidades a estruturas antigas.
A rota caminhos do Padre Ibiapina iniciou-se em 2003, nela os turistas tem a oportunidade
de percorrer os caminhos usados pelo Padre Ibiapina entre 1856 e 1883. É um convite à parte para
ver de perto o lado humanitário do turismo. Nas trilhas, os andarilhos recebem o passaporte do
peregrino, que vai sendo carimbada a cada etapa percorrida das quatro vias (Via Cruzeiro de Roma;
Via Túnel Samambaia; Via Cruzeiro do Espinho e Via das Artes) (LEAL FILHO, 2017).
Com objetivo de resgatar os resquícios da época colonial, surge o Roteiro Integrado da
Civilização do Açúcar que foi criado em 2005, faz parte do roteiro os estados de Pernambuco,
Paraíba e Alagoas. No roteiro, o visitante tem a oportunidade de viajar no tempo e conhecer de
perto as tradicionais produções de rapadura e cachaça típicas do Brejo Paraibano. Além da
oportunidade de vivenciar um passeio repleto de particularidades encontradas apenas na localidade.
Com o crescimento do turismo no Brejo Paraibano, novos roteiros vêm surgindo para
fortalecer a atividade e, consequentemente, o desenvolvimento regional e local. Um deles é o
Festival dos Sons e Sabores do Brejo que tem como princípio buscar novas misturas e criar novos
sabores. O projeto é fruto de uma parceria entre Sebrae Paraíba, PBTur, Fórum de Turismo do
Brejo paraibano e prefeituras municipais.
Certamente, a participação, a sustentabilidade, a integração e a descentralização, uma vez
adotadas, vão fortalecer e nortear o processo de planejamento e implementação de um plano
estratégico de desenvolvimento regional. Para tanto, são necessárias mudanças de atitude dos atores
locais e a sua adesão incondicional na defesa dos objetivos do plano. Para que isso seja possível é
imprescindível uma estrutura organizacional sólida que busque de fato o desenvolvimento regional
através do turismo e da sustentabilidade.

POTENCIALIDADES REGIONAIS PARA O CRESCIMENTO DO TURISMO NO BREJO


PARAIBANO

Alagoa Grande tem um grande potencial turístico a ser explorado, por possuir uma enorme
potencialidade devido seus atrativos naturais e histórico. Rica em construções históricas como a
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, edificada em 1868 e o Teatro Santa Ignez,
inaugurado em 1905. O Turismo rural destaca-se na localidade através de seus engenhos, cachoeiras
e antigos quilombos. A estruturação da cultura está em expansão, uma vez que Alagoa Grande é a
terra de Margarida Maria Alves e Jackson do Pandeiro. Juntos, tem aproveitado o potencial, tanto
no aspecto turístico como de propagação e solidificação da cultura regional. Apesar da maior ênfase
do turismo histórico na cidade, modalidades de esportes foram incorporadas dentro dessa região de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

matas e cachoeiras, aparecendo como uma nova forma de integração de lazer com o meio natural.
São eles: o rapel, trekking, tirolesa, escalada, mountain biking e enduro.
Alagoa Nova vem se consolidando como uma cidade tipicamente turística pelo seu legado e
tradição dos engenhos de cachaça e rapadura e a sua famosa gastronomia que tem na galinha
capoeira o seu maior referencial. Um dos principais impulsionadores do turismo é a festa da
Galinha e da Cachaça que atrai milhares de pessoas todo ano. Os principais pontos turísticos da
cidade são: Restaurante O Bianão e Pirauá, Balneário Cachoeira da Furna, Parque de Vaquejada,
Parque da Lagoa, Largo do Moraesão, Pesque e Pague, Engenhos Com Cultura da Cachaça, Pista de
Motocross e Cachoeira da Boa Vista, utilizada para área de lazer e para prática de esportes radicais.
Correlacionando com trilhas ecológicas, prática do rapel e uma extensa paisagem rural.
Areia é a cidade com maior ascensão turística, cuja conjuntura vem proporcionando diversas
operações visando o crescimento do turismo como construções de hotéis, complexos com lojas de
artesanato local e restaurante. O turismo cultural tem um grande impacto social e econômico no
município, deixando-o no patamar de principal cidade turística da microrregião, por contar com um
significativo acervo cultural e patrimônio histórico, o que valoriza sua importância para o turismo
estabelecendo e reforçando identidades. Outro ponto importante é que Areia está a 618m acima do
nível do mar e um de seus atrativos é a baixa temperatura no inverno que chega atingir 12ºC
(GUARDIA, 2012). A cidade ainda conta diversas opções para o ecoturismo, com cachoeiras e um
balneário aquático. Há também a possibilidade de turismo gastronômico e artesanal. Além da
realização de manifestações culturais com âmbito regional e nacional, a exemplo do O Festival
Nacional da Cachaça, da Rapadura e do Açúcar Mascavo, mais conhecido como 'Bregareia' que é
um dos principais atrativos culturais da região e com maior repercussão nacional.
Bananeiras possui um apelo turístico forte, pois a própria história de sua colonização faz
referência à igreja matriz, conservada até os dias atuais, além do trem que foi um marco no
município e chegou em 1922, hoje desativado e funcionando como museu, hotel-pousada e
restaurante. Destacam-se também, seu artesanato regional, o Cruzeiro de Roma, as pinturas
rupestres, o próprio centro da cidade, com casarios que expressam riquezas arquitetônicas de mais
de um século de existência do município entre estilos neoclássicos, góticos, art-déco e eclético
(GUARDIA, 2012). Além da Lagoa do Encanto, Casa da Farinha, Fonte da juventude, Bica dos
cocos, Canoas e Umarí, Gruta dos morcegos, centro cultural Isabel Burity, Pedra Preta, campo de
golfe e Festa de reis, de natal, nossa senhora do livramento.
Borborema tem ruas bem definidas e as casas são em estilo barroco, conservando sua
história. Sua natureza auxilia a efetuação de programas tanto para os que gostam de atividades leves
e curtas (ciclismo, caminhada ecológica, passeios a cachoeiras e trilhas), como a adeptos de
esportes radicais, como o montanhismo (escaladas, trekkers, tirolesa e rapel). Na cidade os turistas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

podem ainda participar de diversas festas populares, como: Festa de São Sebastião e Carnaval na
Ilha da Fantasia. A cidade ainda conta com açude "Ilha da Fantasia", a cachoeira do Roncador no
qual contempla a prática do ecoturismo, o túnel da serra da samambaia, a cachoeira de Boa Vista,
trilha ecológica do túnel e duas barragens.
Matinhas tem o turismo centrado na laranja, desde cursos, culinárias, negócios, exposição e
outros atrativos até o seu principal indutor do turismo na cidade que é a festa da laranja, tudo
visando à efetivação e propagação da produção de citros. Destaca-se também na cidade a pratica do
turismo ecológico através de trilhas para a Cachoeira do Pinga e Cachoeira do Altar no Sítio
Jurema.
O clima e relevo de Pilões estimula seu turismo impulsionado pela produção de flores, que
atualmente atraem turistas e alavanca a atividade agrícola. A principal atração da cidade é a festa
das flores que atrai turista e aquece a economia local. A trilha para a ‗Pedra do Espinho‘, é um dos
pontos mais procurados por possuir seus mais de 150 metros de altura, e propicia a prática do rapel.
A Cachoeira de Ouricuri é bastante visitada devido à beleza ao seu redor. Há também opção
histórica como a igreja do sagrado coração de Jesus, o casario rural e a corrida das Argolinhas.
Serraria aos poucos vem se firmando turisticamente, não somente pelos eventos, mais por
seus atrativos histórico-culturais. Este crescimento turístico possibilitou que outras atividades
fossem retomadas pelos moradores, principalmente o artesanato com suas rendas, bordados,
pinturas, patchwork, labirintos, entre outros tantos, que agregam valores aos atrativos da cidade.
Destaque também para a Pedra da Furna, antiga residência de índios; Igreja Matriz ―Sagrado
Coração de Jesus‖, Engenho Coitezeiro, Engenho Martiniano, Portal da Glória, Cachoeira de
Saboeiro e Praça Antônio Bento.
Diante do exposto, não se pode negar a transformação social advinda da promoção da
atividade turística. Porém, embora apresente expressivas potencialidades de crescimento, a
atividade turística, atualmente, na região do brejo, ainda apresenta diversas e expressivas
fragilidades que, caso não sejam solucionadas, podem vir a se constituir em pontos limitantes para o
desenvolvimento da região (GALVÃO, 2012). Os municípios necessitam estar preparados para
receber o turista, priorizando projetos coletivos e planejamento através de políticas públicas com
maior apelo para o desenvolvimento e inclusão social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso considerar que grande parte dos projetos na área do turismo tem direcionamento
mais voltado ao turismo de massa que visa, sobretudo, a estruturação da infraestrutura, serviços e
atrativos turísticos, do que voltado necessariamente para a sustentabilidade e turismo alternativo.
Neste sentido, acreditamos que as principais dificuldades que o setor apresenta de forma geral são:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

políticas governamentais ambíguas; falta de incentivos fiscais e financeiros; planejamento local


inexistente ou ineficaz e falta de envolvimento dos agentes da região.
Torna-se necessário uma conciliação das políticas, que estimule o crescimento turístico, com
práticas locais e sustentáveis. A organização dos atores sociais pode ser a chave do sucesso com
efetivação de um planejamento turístico, para que isso seja possível, deve estar claro qual o papel
cada indivíduo precisa desempenhar diante do turismo.
Neste contexto, nota-se visivelmente o papel fundamental do Estado como regulador e
incentivador da atividade; da iniciativa privada com a operacionalização do turismo; e da atuação e
inclusão da comunidade local como combustível do crescimento e desenvolvimento. No caso
específico do turismo no Brejo Paraibano, cumpre observar que, apesar da atuação de diversos
agentes promotores da atividade turística esquematizarem a estruturação do crescimento e expansão
turística na região, essa só trará desenvolvimento regional, se os municípios forem proativos e
ampliarem políticas públicas e projetos que contribuam para a estruturação do setor. O primeiro
passo poderia ser a realização de um plano de ação, que envolvesse a cooperação de todos os
agentes interessados na atividade turística da região.
Quanto aos tipos de turismo mais prósperos para a região e que, portanto, devem ser
estimulados, a luz dos atrativos existentes e das características regionais, verifica-se que o turismo
no espaço rural, o de aventura, o cultural, o religioso por prática sustentável são os mais presentes.
Dado que, como foi observado no decorrer do artigo, a região tem muito potencial turístico, porém
para que uma região consiga se desenvolver, é necessário adotar políticas para potencializar o
turismo de acordo com as características locais e suas potencialidades. Também percebe-se que a
visibilidade de um dos principais modelos de desenvolvimento da região, que são as rotas culturais,
estão em ascensão porém, precisa ser ampliada.
Conclui-se que a união do poder público, sociedade organizada e instituições privadas são
percussores de mudanças na dinâmica econômica, política, social e cultural do turismo que
contribuem para o desenvolvimento da região brejeira com o turismo sustentável, tal como a
valorização da cultura, a preservação do patrimônio arquitetônico e ambiental, além das
possibilidades de investimentos financeiros e de infraestrutura que fortalecem a economia local.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PROJETO CULTIVANDO IDEIAS, A SUSTENTABILIDADE GOTA A GOTA

Ronaldo Alves dos SANTOS


Especialista em Educação Ambiental – UCAM/JBRJ
ronaldoa@furnas.com.br

RESUMO
O Programa de Educação Ambiental da Linha de Transmissão (LT) Norte - Sul I, - Projeto
Cultivando Ideias, a Sustentabilidade Gota a Gota desenvolvido por Furnas, constituiu-se em ações
educativas em 04 assentamentos Brejinho e escola sediada, União e Nossa Senhora de Fátima em
Miracema do Tocantins, Arlindo em Crixás do Tocantins - Estado de Tocantins e 01
Reassentamento Cana Brava e Escola sediada próxima, em Minaçu - Estado de Goiás. O
―Cultivando Ideias‖ foi desenvolvido norteado na construção coletiva de um Diagnóstico Rápido
Participativo - DRP, que identificou as potencialidades e as fragilidades ambientais locais
primordiais para elaboração de estratégias de ações educativas com atores sociais de diferentes
segmentos envolvidos. O PEA envolveu as comunidades, gestores públicos, lideranças comunitárias
que contribuíram para a promoção de reuniões e no acompanhamento dos trabalhos, diretores e
coordenadores das escolas do campo nos encontros pedagógicos e as parcerias feitas com Ruraltins
e TAESA. No DRP foi levantado à necessidade de palestras educativas abordando questões de
saúde, educação e meio ambiente sobre os temas: Não utilização de agrotóxico, agroecologia como
alternativa agrícola, utilização de EPI e convivência harmoniosa com a LT e na realização de
oficinas pedagógica de tecnologias sociais voltadas para a montagem e construção de sistemas de
captação doméstica de água da chuva, irrigação por gotejamento e a criação horta comunitária.
Inovação a se destacar para a região devido à falta de conhecimento na implantação desses sistemas.
Nas Escolas Rurais, o tema escolhido: agrotóxico, devido à percepção dos educadores e alunos em
conviver com um alto grau de doenças em seus familiares e uso indiscriminado, e a convivência
harmoniosa com a LT. O PEA objetivou estimular e apoiar, na formulação de políticas públicas
buscando a participação dos diferentes segmentos sociais diretamente afetados e daqueles cuja
vulnerabilidade incida direta ou indiretamente, sobre o empreendimento.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Tecnologias Sociais, Comunidade.
ABSTRACT
The Environmental Education Program (EEP) of the Transmission Line Norte-Sul I developed by
Furnas called Project ―Cultivating Ideas: Drop by Drop Sustainability‖, is comprised of educational
campaigns in three rural settlements (Brejinho, União, and Nossa Senhora de Fátima) and one
school located in Miracema do Tocantins; the one rural settlement Arlindo, located in Crixás do
Tocantins; and the rural settlement Cana Brava and nearby school, located in Minaçu of Goiás. The
development of ―Cultivating Ideas‖ was guided by a collective effort resulting in a Brief
Participatory Diagnosis (BPD) that identified local potentials as well as environmental
vulnerabilities in order to build educational strategies with social actors involved in different
segments. The EEP sought to involve communities, public managers and community leaders, who
contributed by promoting meetings and monitoring the work, headmasters and coordinators of rural
schools, with participation in pedagogical meetings, and also included partnerships with
government agency Ruraltins and private company TAESA. The BPD suggested the need for
educational lectures addressing health, education and environmental issues regarding the use of
pesticides, agroecology as an agricultural alternative, use of personal protection equipment, and
peaceful coexistence with the Transmission Line. Moreover, pedagogical workshops about social
technologies aimed at the assembly and construction of systems for domestic rainwater collection,
drip irrigation and community gardening. These were groundbreaking initiatives for the region due

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

to the lack of knowledge in implementing these systems. In rural schools, the chosen themes were
pesticide use, due to the perception of high incidence of family illnesses resulting from the
indiscriminate use of toxic agrochemicals, and peaceful coexistence with the transmission line. The
EEP aimed to stimulate and support the formulation of public policies seeking the participation of
directly affected social segments and those whose vulnerability directly or indirectly impacts the
transmission line.
Keywords: Environmental Education, Social Technologies, Community.

INTRODUÇÃO

Um Programa de Educação Ambiental – PEA começa antes mesmo de ser escrito. Ele se
inicia nas primeiras percepções acerca das questões socioambientais locais, a partir da sensibilidade
e do olhar atento para os grupos sociais mais vulneráveis e, principalmente, no propósito de
construir um mundo socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Para Furnas, o PEA da LT
Norte-Sul I, parte da 1ª renovação da Licença de Operação - LO nº 341/2003, visando ao
atendimento da condicionante 2.17 da LO emitida pelo Ibama, é uma oportunidade de desenvolver
um programa que contemple as comunidades próximas do empreendimento, tendo um efetivo
envolvimento e comprometimento em todas as etapas, o que, além do atendimento a IN nº 02/2012
do Ibama, expressa a importância que a empresa dedica a este tipo de ação transformadora no
contexto socioambiental.
A equipe técnica de educadores ambientais de Furnas executou os DRP´s, entre setembro de
2014 e maio de 2015, nos municípios de Miracema do Tocantins (TO), Crixás do Tocantins (TO) e
Minaçu (GO). O trabalho envolveu consultas e entrevistas, devidamente documentadas com
produtores rurais, associações de moradores, lideranças comunitárias, secretarias de educação, de
meio ambiente e de desenvolvimento rural, assim como o levantamento de dados para a sua
execução pela identificação dos programas e políticas públicas locais, regional e federal em
execução.
O papel da Educação nessa etapa inicial foi de trabalhar com atores que se interessassem em
se mobilizar para identificar conjuntamente as potencialidades e fragilidades socioambientais dos
municípios, dos impactos e da identificação de conflitos decorrentes da implantação do
empreendimento. Foram promovidas reuniões com gestores públicos das Secretarias Municipal e
Estadual de Educação, Secretaria de Desenvolvimento Rural, Secretaria de Saúde e parceiros. Esses
momentos foram voltados para a construção de parceiras locais, onde a contrapartida do poder
público é a mobilização dos atores locais e a disponibilização de lugar para a operacionalização e
execução das palestras educativas e oficinas pedagógicas apontadas no DRP.
Os DRP´s foram executados na escolas rurais do assentamento Brejinho, Escola Municipal
Boanerges Moreira de Paula, em Miracema do Tocantins-TO, e no reassentamento Cana Brava na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Escola Estadual Santo Antônio do Cana Brava, em Minaçu-GO, e resultou na percepção das
diferentes realidades que compõem os seus diferentes grupos constitutivos, assim como os
resultados dessas realidades., Agrupados por eixos temáticos, os temas apontados pelos educadores
como prioritários para os alunos do ensino fundamental e médio foram: Água – uso racional, Saúde
– doenças veiculadas devido ao uso de agrotóxico, EPI, Lixo, captação da água da chuva e convívio
harmonioso com linhas de transmissão. Para os alunos do ensino médio, além dos temas
mencionados, foram ministradas palestras sobre DST.
Com base nos resultados do Diagnóstico, cujo objetivo foi conhecer as especificidades
locais e os impactos gerados pela linha de transmissão, à luz das diferentes percepções dos
diferentes grupos sociais presentes em suas áreas de influência, foram identificados pelos grupos
sociais das comunidades dos assentamentos/reassentamento as temáticas a serem trabalhadas (meio
ambiente, educação, saúde, cultura e sociedade e produção sustentável). Tais eixos nortearam os
temas prioritários das palestras educativas e na realização de oficinas pedagógicas na construção de
tecnologias sociais.
Em 1º de junho de 2016, Furnas contratou a Empresa Brencorp - Consultoria em Meio
Ambiente Ltda. para a prestação de serviços visando à implantação e execução do PEA da LT
Norte-Sul I, norteado pelo DRP e sob a supervisão da equipe técnica de Furnas, finalizando em 31
de maio de 2017.
Entretanto, para as equipes de Furnas e Brencorp, que desenvolveu programas de educação
ambiental, o PEA nasce não apenas da necessidade de atender às exigências da legislação
contratante, pois implica em mais uma oportunidade de conhecer e intervir numa realidade a fim de
transformá-la, visando minimizar os impactos negativos e potencializar os positivos gerados na
construção e operação de uma Linha de Transmissão.
À luz das atividades realizadas ao longo dos 12 (doze) meses de execução do PEA, onde
houve um esforço das equipes para a realização e o desenvolvimento de oficinas pedagógicas nos 4
assentamentos e 1 reassentamento na construção e na montagem de um sistema integrado de
captação doméstica de água da chuva, irrigação por gotejamento e implantação de horta
comunitária, além de palestras educativas sobre agrotóxico/agroecologia, bem como atividades
pedagógicas realizadas com professores e alunos de duas escolas.

SÍNTESE DAS ATIVIDADES REALIZADAS ANTERIORMENTE

Apresentamos um histórico do desenvolvimento das atividades do PEA ao longo dos meses


de execução, desde a primeira reunião de nivelamento em Furnas, em junho de 2016 até as últimas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

oficinas de monitoramento realizadas no mês de abril de 2017. As atividades a serem apresentadas


encontram-se detalhadas conforme a linha do tempo (figura 1).

Figura 1. Linha do tempo com as atividades realizadas no período de execução do PEA da LT 500 kV
Norte-Sul I. (Fonte: Relatório Final - Brencorp 2017).

METODOLOGIA, AS AÇÕES DESENVOLVIDAS, NÚMERO DE PESSOAS ENVOLVIDAS E


OS RECURSOS UTILIZADOS.

O ponto alto do Projeto Cultivando Ideias foi a realização dos Encontros Temáticos e das
oficinas pedagógicas para a comunidade nas associações dos 4 assentamentos e 1 reassentamento.
As turmas reuniram-se em momentos diferentes para discutir sobre os temas transversais definidos
em conjunto nos DRP´s, ações educativas desenvolvidas com duração de 40 horas de aula, ou seja:
nas comunidades dos assentamentos e reassentamento, 1 encontro com a disseminação de palestras
educativas com a duração de 4 horas de aula, sobre os temas Água – uso racional, Saúde – doenças
veiculadas devido ao uso indiscriminado de agrotóxico, EPI, formas de incentivo na mudança do
plantio de culturas voltadas para agroecologia como alternativa de agricultura sustentável, lixo,
segurança alimentar, políticas públicas, tecnologias sociais e convívio harmonioso com linhas de
transmissão.
As palestras educativas foram trabalhadas de acordo com uma metodologia única composta
de exposição e nivelamento teórico. A partir daí são elaboradas 36 horas de atividades dinâmicas e
participativas de construção coletiva voltada para oficinas pedagógicas práticas na montagem e
construção dos sistemas de captação doméstica de água da chuva, irrigação por gotejamento,
tecnologias sociais de baixo custo, culminando na criação de uma horta comunitária irrigada pelo
sistema, incentivando o cultivo por meio da agroecologia aos participantes, a não utilização de
agrotóxico, a partir da realidade de cada município.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

―Portanto, a ideia de uma ―agricultura sustentável‖ revela, antes de tudo, a crescente


insatisfação com o status quo da agricultura moderna; indica o desejo social de práticas que,
simultaneamente, conservem os recursos naturais e forneçam produtos mais saudáveis, sem
comprometer os níveis tecnológicos já alcançados de segurança alimentar; e resulta de emergentes
pressões sociais por uma agricultura que não prejudique o meio ambiente e a saúde (BEZERRA &
VEIGA, 2000)‖. ―A busca de formas alternativas de produção agrícola tem sido acompanhada por
controvérsias. Para alguns, agricultura orgânica é ficção de naturalistas inconsequentes; para outros
ela é uma revolução, a exemplo do que foi a Revolução Verde (MAZZOLENI & NOGUEIRA,
2006)‖.
O público participante pela comunidade era formado por agricultores, professores da rede
pública, profissionais das secretarias municipais de saúde, meio ambiente e agricultura, líderes
comunitários, estudantes universitários, empresas parceiras como Ruraltins (setor público) e
TAESA (setor privado). A frequência média foi entre 25-30 participantes em cada encontro. Ainda
durante as visitas de campo, na medida em que foram apresentadas as atividades a serem
desenvolvidas na execução do PEA, as equipes de Furnas e Brencorp promoveram, com as
comunidades, discussões sobre criar uma identidade para o Programa.
O nome para o Projeto que teve maior votação foi ―Cultivando ideias, a sustentabilidade
construída gota a gota‖. Este nome, juntamente com a logomarca, representou a identidade visual
do PEA da LT Norte-Sul I. (Figura 2.).

Figura 2. Logomarca elaborada para criação da identidade visual do Programa.


Além das atividades dinâmicas de cada tema, ao final de cada Encontro foram criadas e
distribuídas cartihas, de acordo com a faixa etária, para a comunidade dos
assentamentos/reassentamento, ensino fundamental e médio para cada um dos temas tratados. A
pedido das secretarias municipais de educação de Miracema, Crixás do Tocantins e Minaçu foi
ministrado palestras sobre educação ambiental para diretores, coordenadores de ensino, educadores
e alunos de pedagogia.
Durante toda execução do PEA foi aberto um canal de comunicação (telefone, e-mail) para
dirimir dúvidas dos participantes sobre as tecnologias sociais implementadas e promovidos 1

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

encontro de 8 horas aulas em cada assentamentos/reassentamento para a discussão para trocas de


experiências positivas ou negativas do projeto.
A metodologia dos encontros de monitoramentos teve como objetivo concluir o ciclo do
programa com também fazer uma reflexão e avaliação sob a sua efetividade definida seguindo uma
lógica de avaliação construída por etapas, iniciando pela colocação de Furnas com relação ao futuro
do programa, quais as perspectivas de continuidade. O Futuro do PEA, momento onde a Empresa
Furnas se posiciona sobre os cenários futuros e estratégias de continuidade do PEA, utiliza-se a
exposição de diálogo com os participantes, com o propósito de colaborar para o fortalecimento das
organizações comunitárias dos assentamentos/reassentamento, é inserido no Encontro de
Monitoramento, um momento de reflexão, sobre as associações e os processos de organização
social.

RESULTADOS E IMPACTOS POSITIVOS DAS AÇÕES DA INICIATIVA INSCRITA PARA A


SOCIEDADE

Resultados Quantitativos do Projeto

A meta prevista era a formação de 150 multiplicadores das comunidades distribuídos em 5


turmas, 1 turma por assentamentos/reassentamento, por município, com cerca de 30 participantes
para cada inserção do PEA. Os números revelam que chegou-se bastante próximo da meta
estabelecida (275 participantes entre comunidade e alunos) apesar de todas as dificuldades e
barreiras culturais e sociopolíticas registradas em relatórios bimestrais de acompanhamento dos
trabalhos. O número de participantes do Cultivando Ideias, a Sustentabilidade Gota a Gota: número
de moradores que participaram das atividades nos assentamentos/reassentamento e certificados:
167, número de professores capacitados das escolas rurais: 48, número de alunos e professores
envolvidos nos encontros pedagógicos nas escolas rurais: 275, número de instituições colaboradoras
que participaram do PEA: 11 instituições colaboradoras: TAESA, Ruraltins, duas Associações do
Assentamento Dom Roriz em Minaçu (GO), sindicato dos trabalhadores rurais, Secretarias
municipais: Meio Ambiente, Agricultura, Cultura, Desenvolvimento Econômico e Educação,
Subsecretaria regional de educação do estado de Goiás.
É importante destacar que, como as oficinas pedagógicas e palestras foram realizadas em
três dias consecutivos, o valor expresso no gráfico 1 é a média de participação nos assentamentos e
o gráfico 2 é a média de participação das comunidade nas escolas rurais.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Gráfico 1. Média de participação nos assentamentos e Gráfico 2. Média de participação das comunidades
reassentamento durante as ações educativas do escolar durante as ações educativas do PEA da LT
escolar durante as ações educativas do PEA da LT do do PEA da LT Norte-Sul I. (Fonte: Relatório Final -
PEA da LT Norte-Sul I. (Fonte: Relatório Final - Brencorp, 2017).
Brencorp, 2017).

Foram produzidas e distribuídas cartilhas para o Projeto Cultivando Ideias, a


Sustentabilidade Gota a Gota voltadas para a comunidade dos assentamentos/reassentamento,
alunos do ensino fundamental e médio, apostilas para educadores, abordando os temas propostos
levantados pelos participantes nas reuniões dos DRP´s, cartilhas sobre convívio harmonioso com
Linhas de Transmissão para todos envolvidos. Tratou-se de momento de especial atenção onde toda
a equipe do Projeto esteve envolvida, pois mais do que a produção de impressos e apresentações,
contemplou a concepção e elaboração do conteúdo, programa, estratégias, abordagens e formas de
condução das palestras educativas e das oficinas pedagógicas voltadas para montagem das
tecnologias socias.
As Cartilhas Educativas consistem em publicação atemporal e baseada em metodologia
passível de replicação, sem deixar de fazer referência ao Projeto Cultivando Ideias. Foi concebida
como um ―Guia Temático de fácil compreensão que ilustra um passo a passo para a montagem e
construção das tecnologias sociais implementadas com o objetivo de replicação dessas atividades
educativas por meio de uma Educação Ambiental participativa e cidadã‖.
Além das Cartilhas e dos vídeos, compõem o material didático apresentações de slides,
textos, estudos de caso, artigos e outros recursos para a realização das dinâmicas. O quantitativo de
materiais educativos e informativos distribuídos no Projeto Cultivando Ideias, a Sustentabilidade
Gota a Gota: número de palestras e oficinas pedagógicas realizadas: 5 palestras educativas e 5
oficinas de tecnologias sociais em cada um dos 4 assentamentos e 1 reassentamento, número de
encontros pedagógicos nas escolas: 9 encontros pedagógicos realizados, número de material
produzido (cartilha, cartazes, apostilas) para comunidades e escolas rurais: 1320 (350 cartilhas
ensino médio, 450 ensino fundamental, 450 comunidades e 70 cartazes), número de vídeo do
projeto distribuídos para as comunidades: 100 DVD´s.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

E importante enfatizar que todas as ações educativas do Projeto Cultivando Ideias, a


Sustentabilidade Gota a Gota, foram filmadas e podem ser vista por meio da página http://
vimeo.com/217545903 senha ―furnas‖, materia de 22/08/2017 na pagina: www.furnas.com.br
―FURNAS leva educação ambiental e sustentabilidade a assentamentos rurais, ou por meio dos
relatórios bimestrais e final.

Resultados Qualitativos do Projeto

Após a apresentação dos dados quantitativos serão descritos de forma geral os ganhos
subjetivos do projeto, a saber:
 Integração junto às secretarias municipais e instituições que, antes, atuavam de forma
estanque nos municípios;
 Integração e troca de experiências;
 Construção de um espírito de reflexão crítica do entorno nos participantes;
 Compreensão, por parte da maioria dos participantes, da complexidade das questões
socioambientais;
 Compreensão, por parte da maioria dos participantes, dos diferentes graus de
responsabilidade e atribuições dos atores sociais envolvidos em um processo de
desenvolvimento;
 Dedicação de profissionais e estudantes na obtenção de dados e preparação de informações a
serem levadas para os encontros;
 Compromisso e fidelidade dos participantes que compreenderam os objetivos do Projeto, e
participavam ativamente não só dos encontros, mas também da construção de propostas e
ações;
 Clima de confiança estabelecido entre os instrutores e coordenadores do Projeto e os
representantes do poder público e sociedade civil nos municípios beneficiados;
 Qualidade crescente do nível de discussões, debates e reflexões, baseada não só no nível
escolar e profissional dos presentes, mas também em informações e visões inovadoras
trazidas pelo Projeto;
 Exercício pleno da cidadania, por meio do trabalho focado na melhoria das condições de
vida humana e condições ambientais de sua região;
 Exercício da construção coletiva de conhecimentos e propostas, por meio do esforço no
trabalho coletivo e multidisciplinar;
 Vontade e disposição em continuar trabalhando no diálogo e efetivo desenvolvimento
socioambiental da região.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do ponto de vista global dos resultados e avaliações da fase de Monitoramento podemos


destacar dois eixos analíticos: um que reconhece a positividade desse programa de Educação
Ambiental, dado ao seu conceito teórico e prático, o outros, numa visão de futuro, da necessidade
de uma melhor estruturação e fortalecimento de suas organizações comunitárias.
Para Furnas, considerando a natureza de continuidade de programas de EA, se faz necessário
observar as fragilidades indicadas no Monitoramento, tanto para executar em 2017 novos PEAs,
como para a questão do fortalecimento da Organização Comunitária. Quanto aos processos de
mobilização para as atividades planejadas, se faz necessário o aprofundamento sobre a necessidade
de instituir mobilizadores locais, como forma de estabelecer um diálogo mais permanente e criar de
fato a sinergia necessária para a participação das pessoas.
O processo de mobilização social, como afirmam Bernardo Toro e Nísia Werneck (2004),
consiste no ato de convocar vontades para atuar em um propósito comum, sob uma interpretação e
um sentido também compartilhados. Entretanto, é importante lembrar que a decisão de participar é
pessoal e deve ser respeitada.
A implantação de novas tecnologias sociais requer dos beneficiários uma mudança de
cultura e maior dedicação para absorver essas novas tecnologias.
Com o desenvolvimento deste PEA foi possível observar que o nível da organização
comunitária dos assentamentos influi diretamente no sucesso das atividades, seja na mobilização,
quanto na implantação e uso do sistema, em especial a horta, na vertente da produção e
comercialização. Isto contribui para o fortalecimento da Organização das Comunidades, como
elemento futuro de sustentabilidade socioambiental. Outro aspecto de importância no programa se
refere às parcerias construídas para suportar o desenvolvimento e a continuidade das atividades
implantadas.
Para as próximas ações educativas do PEA a partir de 2017, Furnas incluiu o assentamento
Dom Roriz em Minaçu (GO), composto por 03 Associações de produtores rurais ASPRAFADR,
BRASIL e APDR, considerando, assim, esta comunidade como seu público-alvo, representando a
etapa 2 do PEA. Visando a continuidade do Programa, as ações serão pautadas em palestras
educativas abordando temas como: saúde do homem e da mulher, agrotóxico, agroecologia e a
realização de oficinas pedagógicas para a montagem e construção de tecnologias sociais de sistemas
de captação doméstica de água da chuva, irrigação por gotejamento e criação de horta comunitária,
sistema de um biodigestor caseiro e sistema de fossa séptica econômica, temas prioritários
apontados no novo DRP elaborado e executado em fevereiro de 2017 pela equipe técnica de Furnas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DO PROJETO

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ibama. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 2, DE 27 DE MARÇO DE 2012.

Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9.795 de 27 de abril de 1999.

BRENCORP – Relatório Final do Programa de Educação Ambiental da LT 500 kV Norte – Sul I.


Elaborado em maio de 2017.

QUINTAS,J.S; GOMESP.M;UEMA,E.E. Pensando e Praticando a Educação no processo de


Gestão Ambiental: uma concepção pedagógica e metodológica para a prática da educação
ambiental no licenciamento.2.ed. rev. e aum. Brasília:IBAMA,2006.

QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental pública: a construção do ato


pedagógico. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P; CASTRO, R. S. (Orgs.). Repensar
a educação ambiental: um olhar crítico, São Paulo: Cortez Editora, 2009.

TORO, J. B.; WERNECK, N. M. D. F. Mobilização social: um modo de construir a democracia e a


participação. UNICEF- Brasil, 2004.99p.

BEZERRA, M.C.L.; VEIGA, J.E. (Coord.) Agricultura Sustentável. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
Consórcio Museu Emílio Goeldi, 2000.

MAZZOLENI, E. M.; NOGUEIRA, J.M. Agricultura orgânica: características básicas do seu


produtor. RER, Rio de Janeiro, vol. 44, nº 02, p. 263-293,2006 – Impressa em junho 2006.

MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Políticas Públicas para Agricultura Familiar 2013.
Disponível em
http://www.mda.gov.br/portalmda/sites/default/files/ceazinepdf/politicas_publicas_baixa.pdf
Acesso em 15 de setembro de 2016.

LONG, M. Irrigação gota a gota. Revista Cultivar Máquinas. 2ª. ed. março/abril de 2001. Em:
<http://www.grupocultivar.com.br/artigos/irrigacao-gota-a-gota>. Acesso em 04 de setembro de
2016.

PASSADOR, C. S.; PASSADOR, J. L. Apontamentos sobre as políticas públicas de combate à


seca no Brasil: Cisternas e Cidadania. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, v. 15, n. 56, p. 65-
86. 2010. Em: <http://pt.climate-data.org/location/312451/>. Acesso em 04 de setembro de 2016.

Captação de água de chuva: conheça as vantagens e cuidados necessários para o uso da cisterna.
Em: <http://www.ecycle.com.br/component/content/article/43-drops-agua/3301-o-que-e-
cisterna- tecnologia-projeto-sistema-solucao-alternativa-aproveitamento-reaproveitamento-

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

reuso-captacao-coleta-agua-chuva-pluviais-reservatorio-armazenamento-deposito-caixa-de-agua-
casa-condominio-consumo-humano-como-onde-encontrar-comprar.html>. Acesso em 04 de
setembro de 2016.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Movimentos Sociais, Legislação


e Direito Ambiental

© Giovanni Seabra

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O MANGUEZAL DE TODOS OS POVOS - A OCEANOGRAFIA SOCIAL E A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES
TRADICIONAIS COSTEIRAS

Flávia Rebelo MOCHEL


Dra.Profa. Associada, Depto. de Oceanografia e Limnologia da UFMA
flavia.mochel@gmail.com

RESUMO
Apesar dos aportes do conhecimento científico e das tecnologias vigentes no século XXI , em
diversas partes do mundo as populações humanas, em especial as comunidades urbanas de
pequenas cidades com baixo índice de desenvolvimento humano, comunidades rurais e populações
tradicionais tem pouco acesso aos significados desse conhecimento e suas implicações. Geralmente,
observa-se que esses conhecimentos chegam a essas populações em caráter geralmente informativo
por meio das mídias de comunicação. Observa-se, também, que apesar do acesso à informação, as
populações humanas ainda mantem um modelo de desenvolvimento caracterizado pela elevada
degradação dos ecossistemas e baixa qualidade nos quesitos de saúde, educação e usos dos recursos
naturais. Agrava-se a isso, os cenários de mudanças climáticas previstos para os ecossistemas
costeiros no mundo e o despreparo da maioria da população para discutir e enfrentar novas
realidades. Migrar do modelo atual para um que seja tido como sustentável é um processo dinâmico
e contínuo onde a educação ambiental e a criação de áreas integradoras de conhecimento, como a
Oceanografia Social, desempenham um papel chave no caráter transformador da realidade.
Palavras-chave: desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, manguezais.
ABSTRACT
Mangroves are valuable coastal ecosystems but they face great damages and losses due to human
activities of urban and industrial expansion. In the tropics, including Brazil, mangrove ecosystems
are under constant threat from land reclamation, clearing, draining, and infilling as part of planned
or unplanned development. Beyond the awareness the main issue of the environmental education
is to influence public behavior and attitudes for avoiding deforestation, predatory fisheries,
pollution from wastes, or, in a few words leading people to "best practices in citizenship" having the
mangroves as the main focus and the effects of global changes as the main scenario. Those
initiatives combined with new integrated fields of knowledge, as Social Oceanography, are likely to
reduce the negative impacts on mangroves and coastal systems
Key-words: sustainable development, climate changes, mangroves.

A SOBREVIVÊNCIA DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS COSTEIRAS NO MUNDO EM


TRANSFORMAÇÃO

O Decreto nº 6.040 que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos


Povos e Comunidades, define as comunidades tradicionais como ―grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social,
que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e


transmitidos pela tradição‖.
Historicamente, os habitantes de áreas costeiras tropicais e subtropicais tem se relacionado
com os bens e serviços ecossistêmicos dos manguezais seja para a obtenção de alimentos, tintas,
argila, madeira, fibras, resinas, para uso medicinal, confecção de artefatos, utensílios, moradias,
embarcações, bem como para a manutenção de suas atividades pesqueiras, sociais e culturais.
A elevada produtividade das águas costeiras e estuarinas, resultante dos processos naturais
que ocorrem no manguezal, sustenta e renova os estoques de peixes, camarões, caranguejos, siris,
mariscos, ostras, sururus que as pessoas capturam para alimentação, geração de renda, confecção de
artesanatos, fins religiosos e muitos outros. Essa riqueza de recursos favorece o desenvolvimento da
pesca e de variadas atividades humanas, culminando numa notável diversidade sociocultural.
Por sua importância ecológica, social, econômica e cultural, as áreas de manguezal tem sido
historicamente ocupadas por grupos tradicionais que se expressam de maneira única ao longo do
litoral brasileiro. A relação ancestral homem-manguezal remonta a ocupação do litoral por grupos
caçadores-coletores há mais de 5.000 anos. Sítios arqueológicos revelam que os produtos fornecidos
pelos manguezais têm sido utilizados por grupos humanos pré-históricos desde a América Pré-
Colombiana como também na África e na Ásia.
Os habitantes pré-históricos da costa brasileira alimentavam-se principalmente de peixes,
mariscos e ostras. Organizavam-se em pequenos grupos familiares, faziam fogueiras, caçavam e
coletavam frutos como complementação alimentar bem como sepultavam seus mortos. Os restos de
ossos e conchas se amontoavam com o passar do tempo formando os sambaquis, registros dos
antigos locais de moradia dessas comunidades pré-históricas que ocuparam o litoral brasileiro há
milênios. A palavra sambaqui vem da fusão dos termos indígenas tambá, que significa concha e ky,
monte ou amontoado. Ao longo da costa brasileira sambaquis em Santa Catarina, Rio de Janeiro,
Bahia, Alagoas, Pernambuco, Maranhão e Pará revelam a conexão entre o homem pré-histórico e
os manguezais e demais ambientes do litoral a partir da presença de restos de conchas de ostras,
gastrópodos, ossos de peixes, cerâmica e outros artefatos (GASPAR, 1996; BARBOSA et al.,
1996; BANDEIRA, 2014; KNEIPP, 1981). Pesquisas nos sambaquis da Região dos Lagos, como na
Barra Nova, em Saquarema, no Rio de Janeiro, mostraram que os sambaquieiros se estabeleciam
em áreas de interseção ambiental, de modo que conseguissem explorar mais agilmente manguezais,
restingas, praias e baías. Essa estratégia permitia-lhes selecionar uma área mais segura ou produtiva
quando outras se encontrassem sob condições menos adequadas, garantindo-lhes sua sobrevivência.
( KNEIPP, 1981 )
Sambaquis ocorrem ao longo da costa amazônica, em particular n o Maranhão e Pará, onde
amontoados de conchas de moluscos que se desenvolvem em áreas de manguezal dividem o espaço

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

com fragmentos de cerâmica, adornos, artefatos, e, em muitos casos, remanescentes de


sepultamentos.
A coleta e o consumo de ostras e mariscos perduram até os tempos atuais e se inserem numa
sociedade mais complexa, que transforma o uso de recursos naturais em valores tais como trabalho,
geração de renda e emprego. Esse fato é observado nas interações entre os grupos que catam,
pescam e coletam os que beneficiam os produtos (limpam, filetam, aferventam, congelam,
ensacam), e os que consomem e revendem, como mercados, residências, mercados, bares,
restaurantes, entre outros.
Dentre os recursos, destacam-se os caranguejos, capturados diretamente nos manguezais e
várias espécies de peixes e camarões cujo ciclo de vida depende total ou parcialmente dos
manguezais.
Peixes e camarões são capturados por equipamentos de pesca (petrechos) muito
diversificados, local e regionalmente chamados ―trastes‖ no litoral amazônico. Os trastes mais
empregados são as linhas, as redes, os cercos e as armadilhas, como linhas, varas, redes de arrasto,
de emalhar, zangarias, espinhéis, tarrafas, puçás, ―currais‖, tapagens, gamboas,, covos, matapis, e
envolvem conhecimentos e habilidades específicas para o seu manuseio. Alguns desses petrechos
são predatórios e encontram-se proibidos ou regulados por legislação específica.
Saber observar e interpretar os sinais do ambiente sem equipamentos modernos, é também
um conhecimento adquirido com a experiência e com a tradição oral passada de geração em
geração. Essa ―leitura‖ do ambiente circundante envolve o reconhecimento e as interrelações de
fases da lua, altura, correntes e dinâmica das marés, posição das estrelas, tipos de nuvens, direção e
intensidade dos ventos, que indicam horários, épocas, abundância ou escassez, calmarias ou
tempestades, ganhos ou perdas.
O Relatório do Ministério da Pesca e da Aquicultura para 2010 mostra que a pesca extrativa
marinha continuou sendo a principal fonte de produção de pescado no Brasil, tendo respondido por
42,4% do total de pescado, gerando 536.455 toneladas de peixes, crustáceos e moluscos. O restante
da produção foi gerado pela pesca extrativa continental e pela aquicultura continental e marinha.
Em 2010 foi registrada uma redução de 8,4% na produção de pescado oriunda da pesca
extrativa marinha em relação a 2009, resultado de um decréscimo de 49.217 t. As questões
relacionadas à diminuição da produção do pescado no Brasil e no mundo passam pela sobrepesca,
proveniente de uma frota pesqueira crescente e do uso de petrechos predatórios. Encontra-se no
âmago desse problema a necessidade de gerar alimentos e renda para os pescadores tradicionais
com a premência de se incorporar novos conceitos e métodos sustentáveis, ajustando-se, ou mesmo
abandonando-se, aqueles tradicionais reconhecidamente predatórios. O desafio em que as
comunidades tradicionais atuais enfrentam, sob o risco de também estarem contribuindo com o

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

esgotamento de seus recursos naturais, é conciliar a manutenção de seus conhecimentos e práticas


tradicionais com os novos conhecimentos produzidos. Nesse aspecto, observam-se experiências
bem sucedidas no Brasil que envolvem o empoderamento dessas comunidades aliado à educação
ambiental, à produção com manejo sustentável e ao acesso a um mercado que demanda e valorize
seus produtos, como é o caso de diversos produtos florestais não madeireiros e pescados produzidos
por meio de rotatividade de áreas, acordos coletivos e repartição de benefícios. Entre as espécies
que participam da quantidade total de pescado encontramos algumas claramente dependentes dos
manguezais, como o aratu e o caranguejo uçá. Outras, tem seu ciclo de vida parcial ou
indiretamente relacionado ao ecossistema manguezal e suas águas estuarinas, como o camarão
branco, o sururu.
O Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP) do MPA, até 31/12/2010 registrou 853.231
pescadores profissionais ativos, distribuídos nas 27 Unidades da Federação, sendo que os estados
que apresentam mais de cem mil pescadores são: Pará (223.501), Maranhão (116.511), Bahia
(109.396) representando 52,7 % do total nacional de pescadores registrados. Ainda que esses
números incorporem tanto a produção costeira e marinha quanto a de águas interiores, é digno de
nota que esses três estados são os que correspondem à maior extensão de litoral com mangues do
país. É na Amazônia Costeira que se estende a maior área contínua de manguezais do mundo, com
cerca de 8.900 km2, de São Caetano de Odivelas, no Pará, até a Baía de São Marcos, no Maranhão.
O litoral do Estado do Maranhão compreende cerca de 50% do total dessa área (KJERFVE et. al.,
2002; MOCHEL, 2011). Considerando-se a questão de gênero, registra-se um aumento da
participação de mulheres no setor pesqueiro nacional com 40,85% do total dos pescadores ativos no
país.
A captura do caranguejo uçá Ucides cordatus representa um importante recurso sócio-
econômico no Maranhão, sendo que em 2003 apresentou uma produção de 1.523,7 t, equivalendo a
4,5% do total da pesca no Estado (IBAMA/CEPENE, 2003). No Maranhão estima-se que mais de
cem mil famílias vivam diretamente da cata do caranguejo-uçá e levando-se em conta que a
comercialização formal e informal do caranguejo atinge uma vasta e difusa rede de receptadores,
esse número salta para patamares que ainda não foram devidamente quantificados. O perfil sócio-
econômico dos catadores mostra, em diversas localidades estudadas, que são predominantemente
masculinos (sendo crescente a participação das mulheres), com baixo nível de escolaridade e essa
atividade constitui sua principal fonte de renda. A renda mensal familiar varia de 0,5 a 3 salários
mínimos. Mais de 50% dos catadores têm idade superior a 30 anos. A desinformação quanto a
direitos trabalhistas, ao cumprimento da legisação do defeso e da proteção dos manguezais é uma
constatação em diversas localidades.
Além dos recursos pesqueiros, os manguezais fornecem uma ampla variedade de usos para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

as comunidades humanas. As cascas, caules e raízes das árvores de mangue têm sido utilizadas para
fins medicinais e para tingir redes e velas de embarcações.
A produção do mel e o cultivo de abelhas também utilizam, principalmente, as espécies do
gênero Avicennia. O mel elaborado por abelhas nativas, sem ferrão, a partir das flores do
manguezal, é coletado, comercializado e muito apreciado pelas populações tradicionais. Entretanto,
sua coleta ainda é predatória, pelo fato das colmeias dessas abelhas serem pouco acessíveis o que
leva à derrubada da árvore para se extrair o mel. A apicultura nas áreas de manguezal tem se
configurado como mais uma alternativa sustentável bem-sucedida para evitar o desmatamento e
favorecer a produção de mel em muitas áreas do país.
O uso das árvores como fonte de madeira para construção civil , naval e como fonte de
energia a partir de lenha e carvão foi, por séculos, o mais comum em todo o litoral brasileiro. No
início do século XIX, estabeleceu-se no estuário do Rio Bacanga, na capital do Maranhão, o maior
complexo fabril de curtição de couros da América do Sul: o Sítio do Físico. Uma área de 1.600 m²
contendo curtumes, tanques, fornos, armazéns, construções residenciais em azulejos e pedras de
cantaria, entre outras edificações. As cascas das árvores de mangue da região eram colocadas de
molho em grandes tanques e forneciam praticamente todo o tanino usado no processo. O couro era
o mais valioso dos produtos, com preço superior ao do arroz e do algodão. As ruínas do Sítio do
Físico encontram-se hoje entre os importantes sítios arqueológicos do país.
Quanto ao fornecimento de energia, por exemplo, os manguezais constituíram a principal
base energética que alimentou o parque industrial maranhense. Em 1926, foi contratada pelo
governo do Maranhão, a empresa americana ULEN & COMPANY para realizar a construção das
redes de abastecimento de água e de esgoto, fornecimento de energia termoelétrica para luz, tração
(bonde) e força, incluindo a instalação de maquinismo para prensagem de algodão. A madeira do
manguezal foi o combustível que alimentou as caldeiras da ULEN & CO. por vinte anos, até o
encerramento do contrato, em 1946.
A dinâmica da ocupação humana em muitos lugares do litoral brasileiro aponta para a
participação do ecossistema manguezal na construção das sociedades atuais, sejam tradicionais,
rurais ou urbanas (MOCHEL,2005).

OCEANOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL: UMA NOVA ÁREA DO CONHECIMENTO NAS


CIÊNCIAS DO MAR SE APRESENTA.

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável elaborada pela Organização das


Nações Unidas (ONU, 2015) estabelece entre seus compromissos, conservar e utilizar de maneira
sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos. Nessa perspectiva, a Comissão Oceanográfica
Intergovernamental propôs, no início de 2017, o Decênio Internacional das Ciências Oceânicas para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

o Desenvolvimento Sustentável ―o oceano que necessitamos para o futuro que queremos‖. Para tal,
se faz necessário estabelecer programas de pesquisa transdisciplinares, incluindo envolvimento de
pesquisadores nas áreas sociais e humanas.
Entre os 17 objetivos da Agenda 2030 estão o melhoramento da educação, aumento da
conscientização e capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de
impacto e alerta precoce da mudança do clima. O Objetivo 14, integra as ações sobre os oceanos,
mares e zona costeira, seu manejo, gestão e políticas públicas para Ciência, Tecnologia, Educação e
Economia sustentáveis, para um cenário variável entre 2020 e 2030.
Alinhados com os trabalhos da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, criada pela
UNESCO em 1960, está anunciada para Outubro de 2017 a Primeira Reunião de Oceanografia
Social a ser realizada em Michoacán, México, com o objetivo de gerar novas formas de trabalho,
estratégias de integração e fortalecimento para gerar investigação científica, desenvolvimento
tecnológicos e inovação necessários à preservação dos oceanos e sua diversidade biológica e
cultural (NARCHI, 2017). A necessidade de criação de uma área do conhecimento que integre a
dimensão humana e os saberes gerados nas áreas sociais e humanas com aqueles gerados pela
Oceanografia nas áreas biológica, física, química e geológica foi proposta por JACQUES (2010) de
modo a promover um entendimento mais completo dos sistemas sóciomarinhos.
Acreditamos que um dos aspectos-chave para a conservação e a sustentabilidade dos
manguezais brasileiros é a valorização da cultura local no que tange ao encontro do ser humano
com o ecossistema manguezal. As artes, a poesia, a literatura, os folguedos, as danças, as canções,
os instrumentos musicais, a culinária, os mitos, os rituais religiosos, as lendas e a medicina popular
são expressões da fusão sócioambiental que caracteriza ―os povos do manguezal‖.

A INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS NATURAIS E HUMANOS SOBRE O MANGUEZAL E


SUA SOCIODIVERSIDADE

―A fartura antes era grande. Hoje pra matar 400 quilos tá difícil, antes pra pegar 1000
quilos era fácil. A ciência do homem tá muito desenvolvida, tem muito tipo de traste. Antes
tinha só zangaria, curral, rede de lanço, tarrafa. Hoje tem até olho pro fundo (―radar‖).
Depoimento de José Ribamar Mendes (―seu‖ Pixilinga, pescador, 65 anos, em Poto Rico,
MA, durante pesquisa de Mestrado do PPGSE, UFMA).

A observação de ―seu‖ Pixilinga é a mesma em quase todo o Brasil. Pescadores e


pescadoras, marisqueiras, catadores de caranguejos, povos de santo, quilombolas, indígenas,
extrativistas, as comunidades tradicionais veem ameaçadas suas culturas, crenças, práticas,
conhecimentos e fontes de recursos num mundo onde as transformações insustentáveis tem
destruído muitas áreas de manguezal. A destruição dos manguezais afeta as populações humanas,
sejam tradicionais, rurais ou urbanas. Os problemas sócioambientais em áreas de manguezais são
crescentes e complexos.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Se os mangues forem usados descontroladamente eles serão destruídos e assim, a


humanidade perderá um dos ecossistemas mais ricos do planeta, gerando graves consequências à
população que se beneficia indiretamente de seus bens e serviços.
Os problemas socioambientais que prejudicam os manguezais são variados e em sua maioria
são provocados por atividades humanas desordenadas e descontroladas. Alterações nos fluxos
d´água como barragens, represamentos, drenagens e desvios dos cursos dos rios e das marés
provocam um grande dano ao manguezal.
O desmatamento arrasa a vegetação, a fauna, expõe a lama e compromete a qualidade
ambiental. Se as árvores forem cortadas indiscriminadamente, o manguezal perderá sua
produtividade e a pesca será afetada, prejudicando tantos os ecossistemas como o próprio homem
que se verá privado de seus recursos alimentares e econômicos. O desmatamento, ainda, provoca a
perda da capacidade do sedimento em reter o excesso de água que existe no ecossistema e, por isso,
está, por vezes, associado ao aumento das enchentes nas circunvizinhanças, afetando as residências,
o comércio e as indústrias.
A pesca e a captura dos animais do manguezal precisam ser ordenadas, ou, caso contrário,
com o passar do tempo esses recursos irão diminuir afetando as espécies e as comunidades
humanas. É importante, mas nem sempre fácil, distinguir o uso tradicional, de pequena escala, que
normalmente afeta os manguezais com baixa intensidade, daqueles cujos impactos são amplos e de
difícil absorção ou reversão. A pesca predatória, por meio de tapagens, zangarias, espinhéis, redes
de arrasto com malhas muito finas precisa ser substituída por práticas sustentáveis. É necessário
resguardar as épocas de reprodução das espécies para garantir a manutenção dos estoques, assim
como é necessário controlar o tamanho dos animais capturados para permitir que os jovens cresçam
e procriem. É muito importante não apanhar as fêmeas ovadas ou que estão carregando filhotes.
As áreas próximas aos manguezais também precisam ser conservadas, pois a poluição dos
rios e do mar, o lixo, o desmatamento das encostas e os desvios e barragens dos cursos d‘água
prejudicam e alteram os manguezais que precisam receber águas limpas e sedimentos adequados
para se manterem produtivos.
O modelo de carcinocultura intensiva, com espécies exóticas, praticado no litoral brasileiro
tem gerado um dos mais graves impactos nos manguezais, especialmente na região nordeste,
afetando tanto o ecossistema quanto a estabilidade social e a segurança alimentar das comunidades
tradicionais. Essa atividade, além de alterar as características ambientais da água e dos sedimentos,
impede o livre acesso de pescadores às áreas costeiras, gerando conflitos sociais. A salinização do
lençol freático provocado pela atividade da carcinocultura é uma constatação em várias áreas do
nordeste, causando a mortalidade da mata nativa e dificultando o acesso das comunidades à água
doce já escassa nessas regiões.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os vazamentos, derramamentos e deposições de petróleo e derivados provenientes dos


acidentes ou simplesmente da rotina de abastecimento e lavagem de motores e porões de
embarcações, são comuns na zona costeira, próximo as áreas portuárias.
O crescimento desordenado das cidades e das áreas industriais é responsável pela supressão
de boa parte dos manguezais em toda a costa brasileira. A falta de saneamento básico em muitas
cidades acarreta numa carga de esgotos para o mar, provocando a poluição dos manguezais e da
zona costeira. O lixo é comumente depositado nos manguezais, seja pela deficiência dos aterros
sanitários e do sistema público de coletas dos resíduos sólidos, seja pela insuficiência de uma
educação ambiental transformadora e emancipatória.
Nos últimos 30 anos, dados científicos tem revelado ao mundo que o clima global está se
alterando de maneira mais rápida e mais intensa do que o esperado numa escala geológica. Essas
mudanças climáticas, como tem sido chamadas, são atribuídas à contribuição das atividades
humanas no incremento de gases para a atmosfera, em particular gases do efeito estufa (CO2) e
gases que provocam chuvas ácidas, a base de elementos como enxofre (S), Nitrogênio (N) entre
outros. O resultado tem sido percebido como o aquecimento da temperatura média do nosso planeta
acarretando diversos efeitos diretos e indiretos como o derretimento de geleiras e calotas polares,
mudanças nas características dos oceanos, aumento do nível do mar, alterações nos regimes de
ventos, chuvas e secas, afetando não apenas o conforto, mas também a produção de bens e
alimentos e qualidade de vida humanas (IPCC, 2009; 2014).
Além das populações humanas, os ecossistemas e suas espécies de fauna e flora também se
alteram com as mudanças climáticas globais, seja pela alteração de ciclos biogeoquímicos, perda de
biodiversidade, ruptura e fragmentação de habitats, ou outros parâmetros. Entre os ecossistemas
mais vulneráveis às mudanças globais estão os recifes de corais e os manguezais por sua posição na
zona costeira e marinha tropical do mundo. Esse fato ameaça sobremaneira os dois ecossistemas
mais produtivos do mundo e colocam em situação de risco inúmeras espécies bem como as
populações humanas que se utilizam dos bens e serviços ambientais fornecidos por esses dois
ecossistemas.
Entre os efeitos das mudanças climáticas globais para os manguezais, apontados por
MOCHEL (2016) geram implicações complexas e compreendem perdas e alterações ecológicas,
econômicas, sociais e culturais. As consequências são variadas incluindo-se os impactos no setor da
pesca e recursos pesqueiros, na prevenção de enchentes e na proteção da costa. As ações para o
enfrentamento das mudanças climáticas estão delimitadas no Objetivo 13 da Comissão para o
Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Apesar dos aportes do conhecimento científico e das tecnologias vigentes no século XXI ,
em diversas partes do mundo as populações humanas, em especial as comunidades urbanas de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pequenas cidades com baixo IDH (índice de desenvolvimento humano), comunidades rurais e
populações tradicionais tem pouco acesso aos significados desse conhecimento e suas implicações.
Geralmente, observa-se que esses conhecimentos chegam a essas populações em caráter geralmente
informativo por meio das mídias de comunicação. Observa-se, também, que apesar do acesso à
informação, as populações humanas ainda mantem um modelo de desenvolvimento caracterizado
pela elevada degradação dos ecossistemas e baixa qualidade nos quesitos de saúde, educação e usos
dos recursos naturais. A queima de combustíveis fósseis ainda é a principal fonte de energia em
nossa sociedade globalizada e, em muitas localidades brasileiras, africanas e da Ásia, a energia
ainda é proveniente da queima da vegetação (lenha e carvão). Agrava-se a isso, os cenários de
mudanças climáticas previstos para os ecossistemas costeiros no mundo (IPCC 2009; 2014) e o
despreparo da maioria da população para discutir e enfrentar novas realidades.
A recuperação de manguezais degradados é uma tarefa complexa e que deve ser realizada
com todos os cuidados e por pessoas capacitadas, uma vez que a intervenção no ecossistema pode
gerar efeitos ainda mais danosos (MOCHEL, 2015). A capacitação de membros das comunidades
para a recuperação de suas áreas deve ser sempre incentivada e o engajamento de pessoas
comprometidas tem se mostrado eficaz na manutenção do ecossistema após sua recuperação.

A ÚLTIMA FRONTEIRA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSFORMADORA

Nas últimas décadas a importância dos manguezais tem sido mundialmente reconhecida
tanto no contexto ecológico como no contexto socioeconômico. Mas, apesar dos esforços para
conservar os manguezais a degradação continua e avança.
A base da sustentabilidade dos ecossistemas e dos recursos naturais é a utilização
controlada, evitando desperdícios e promovendo a reposição dos estoques. Uma tentativa de conter
o avanço desordenado da expansão humana sobre os ecossistemas naturais tem sido a criação de
Unidades de Conservação, no Brasil e em todo o mundo. As Unidades de Conservação (UCs) que
buscam conciliar o uso sustentável dos manguezais brasileiros com a manutenção das populações
tradicionais e seus conhecimentos são as Reservas Extrativistas – RESEX.
Para promover a mudança de atitudes e posturas, fixar o aprendizado das informações, é
importante transpor os modelos teóricos para experiências e vivências práticas, aglutinando o que os
conhecimentos e métodos tradicionais tem de melhor com os novos conhecimentos adquiridos.
Nesse contexto, a educação ambiental tem se mostrado como via inclusiva, participativa e
emancipatória por meio da qual podem ser conciliadas as boas práticas tradicionais e as inovadoras
no cenário da sustentabilidade. A complexidade das questões socioambientais exige processos
educativos que permitam às pessoas apreenderem conhecimentos multidisciplinares e
desenvolverem atitudes e habilidades para interagir e intervir de forma pronunciada e participativa

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

nos processos decisórios (CASTRO & CANHEDO, Jr., 2009)


Não há um modelo ou fórmula restrita para se fazer Educação Ambiental. No âmbito da
transformação social, a educação ambiental tem se mostrado mais eficiente quanto mais plural,
mais múltiplas forem as linguagens utilizadas em seu processo. Usar todas as formas de artes, como
a poesia, o canto, a dança, o teatro, jogos educativos, bem como todas as mídias disponíveis,
permite acessar diferentes grupos sociais, culturais, faixas etárias, independentemente de sua
escolaridade (MOCHEL et.al., 2014). Não há fronteiras para o aprendizado e criatividade, pois a
sustentabilidade, portanto, apresenta diversas vertentes - ambiental, cultural, social, econômica -
que, por conceito, devem ser tratadas de maneira igualitária como forma de atender aos diferentes
interesses e dirimir os inevitáveis conflitos. Mas a questão central parece residir no aspecto
intangível da sustentabilidade, que são os seus pressupostos éticos e políticos. Entendendo-se, aqui,
a política como base da coletividade, a ética como base do comportamento que reconhece o direito
do outro, e tendo por pressuposto a confiança na possibilidade humana de realizar as mudanças
necessárias.

―A inserção da Universidade, docente e alunos de graduação e pós-graduação na


comunidade trocando os saberes científicos e tecnológicos de última geração, com os
conhecimentos tradicionais, experiência e vivência dos residentes é o efeito sinérgico do
conhecimento.‖ (MOCHEL, 2016)

Muitas Organizações não Governamentais (ONGs) atuam em áreas de manguezal,


fornecendo informações, liderando processos públicos contra crimes ambientais, fazendo parte de
projetos participativos de recuperação, educação ambiental, realizando mutirões, agregando
voluntários e promovendo o respeito à diversidade sociocultural.
É importante, também, lembrar que cada um de nós, como cidadãos, tem uma parcela
importante na conservação de todos os ecossistemas e recursos naturais. Mesmo distante dos
manguezais, a economia de água, luz, o uso de materiais biodegradáveis, a reciclagem, podem fazer
muito para a sustentabilidade da zona costeira e do nosso planeta.
Articular parcerias com comunidades tradicionais, colônias e sindicatos de pescadores,
gestores públicos, educadores, associações de moradores, grupos de jovens, de mulheres, grupos
culturais, religiosos, folclóricos, em torno da questão dos manguezais, motra-se uma estratégia de
conservação e um exercício de cidadania.
O manguezal é um patrimônio brasileiro. O manguezal é de todos nós!
Manguezal é vida ! Proteja-o!

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

VENCENDO DESAFIOS: MUNDO CORPORATIVO E SUSTENTABILIDADE

Sergio Fernandes ALONSO


Professor do Departamento de Geografia da UFPB
salonsoufpb@yahoo.com.br

RESUMO
A presente reflexão busca discutir e colocar em evidência as novas relações que se apresentam no
meio corporativo quanto ao desenvolvimento econômico. A sustentabilidade não é mais um artigo
raro para a economia. Novas gerações de empresários qualificam o retorno econômico; a gênese de
uma nova sociedade passa gradativamente a cobrar uma legislação que de suporte a produtos
ambientalmente corretos e a processos produtivos responsáveis. Nesse contexto vencer desafios no
mundo dos negócios significa superar antigos paradigmas e aproveitar o novo cenário
protagonizado pela ecologia para fazer o certo e lucrar com isto. O mercado ambiental é bilionário e
a cobrança da sociedade e principalmente da natureza requer qualificação, coerência social,
eficiência econômica e respeito à existência.
Palavras-Chave: Sustentabilidade, Mundo Corporativo, Desafios.
ABSTRACT
The present reflection seeks to discuss and highlight the new relationships that are presented in the
corporate environment regarding economic development. Sustainability is no longer a rare
commodity for the economy. New generations of entrepreneurs qualify the economic return; the
genesis of a new society gradually passes legislation to support environmentally correct products
and responsible production processes. In this context, overcoming challenges in the business world
means overcoming old paradigms and taking advantage of the new scenario of ecology to do the
right thing and profit from it. The environmental market is a billionaire and the collection of society
and especially of nature requires qualification, social coherence, economic efficiency and respect
for existence.
Key Words: Sustainability, Corporate World, Challenges.

INTRODUÇÃO

No universo contemporâneo que envolve relações econômicas e natureza, no qual a


problemática da sustentabilidade ambiental é a questão central, a que se ficar muito bem claro qual
conceito de economia que se está falando. Quando objetivamos as discussões do meio ambiente no
bojo da chamada economia convencional ou, em outras palavras, numa visão econômica da
economia, o que se têm é a compreensão de que os recursos da natureza são completamente
ignorados nos modelos de crescimento, o que, neste caso, significa admitir o meio ambiente como
puro apêndice. Do outro lado, ou melhor, do lado oposto, numa visão ecológica da economia, a
natureza é condição de suporte insubstituível.
Acerca deste outro lado da economia, Cavalcanti, 2015, expressa com muita coerência:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

―Para a Economia Ecológica, a questão é conceber a economia-atividade como um sistema


aberto dentro do ecossistema. Nessa ótica não se entende que haja criação de riqueza. Há,
sim, transformação, (metabolismo) de matéria e energia de baixa entropia em matéria e
energia de alta entropia - como estabelecem as incontornáveis leis da termodinâmica.‖

Pois bem, diante destes dois cenários, ou seja, economia convencional X economia
ecológica, um ―novo‖ empresariado esta buscando a segunda corrente. Não porque esse ―novo‖
empresário, em seu sentido latu se tornou, como num passe de mágica ―ecologicamente correto‖; o
cenário é mais complexo. Os valores ambientais, mesmo que lentamente, passam a fazer parte da
cadeia corporativa. Leis, normas e legislações buscam forçar uma estratégia empresarial
ambientalmente correta, em paralelo a isto, a exigência por maior qualidade de vida demanda
consumidores de produtos ambientalmente saudáveis e, no horizonte, uma maior dificuldade por
matérias-primas, aliada a maior competitividade nesse universo sustentável entre as empresas,
coloca em risco a sobrevivência das mesmas.

A QUESTÃO AMBIENTAL NO CENÁRIO DAS EMPRESAS

As mudanças tecnológicas originadas do processo de pesquisa e desenvolvimento


amplificou a capacidade da sociedade em transformar a natureza. A velocidade desse processo
redundou em frequentes desequilíbrios ecológicos e as limitações na natureza colocou em cheque o
crescimento econômico ilimitado. Nesse contexto a questão ambiental foi posta no cenário
produtivo, incorporando a critica ao modelo de desenvolvimento econômico vigente e sua
incompatibilidade com a preservação dos recursos ambientais. Na esteira das discussões, do
―crescimento zero‖ proposto no âmbito do Clube de Roma em 1972, ao ―direito ao crescimento‖
apresentado pelos ―desenvolvimentistas‖ surge uma terceira via protagonizado através da Comissão
formada pela ONU na década de 1980 que acabou por originar o Relatório de Brundtland.
Conhecido por ―Nosso Futuro Comum‖, o Relatório de Brundtland, foi paradigmático ao
apontar, de forma propositiva, que o desenvolvimento econômico e preservação ambiental não são
incompatíveis e sim interdependentes, para um efetivo desenvolvimento. Mais do que isso, o
desenvolvimento sustentável, em sua objetividade é aquele que satisfaz as necessidades presentes
sem sacrificar as necessidades do futuro, devendo ser entendido pela eficiência econômica,
equilíbrio ambiental e também pela equidade social. Logico está de que só podemos falar em
desenvolvimento sustentável, pois do contrário, se insustentável ele for, não perdurará, irá acabar.
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada de
03 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como ECO-92, foi um
evento de fundamental importância para a sustentabilidade corporativa.
É bom lembrar que a ECO-92, um evento diplomático, acabou por apontar a
responsabilidade dos países desenvolvidos pelas questões mundiais atreladas ao meio ambiente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Neste evento, foram elaborados diversos documentos que se tornaram referência em


sustentabilidade, dentre eles a Carta da Terra e a Agenda 21. A Agenda 21, o principal documento,
é um acordo para elaboração de estratégias que propõe um novo padrão de desenvolvimento
englobando o tripé da sustentabilidade.
Foi na ECO-92 que se reconheceu a necessidade do apoio financeiro e tecnológico a países
em desenvolvimento para que estes avançassem em direção ao desenvolvimento sustentável. A sua
não efetividade, associado a um vertiginoso crescimento industrial e de consumo nas décadas
seguintes destes países, revelou o quanto a natureza e a sociedade saíram perdendo.
Assinado por 170 países, a Agenda 21, ao privilegiar um programa cujo foco era o
planejamento e a qualidade do crescimento dos países, em detrimento da quantidade, acabou por
demandar, no escopo da sustentabilidade corporativa, a estabelecer a forma como as empresas
podem cooperar com a solução de problemas socioambientais.

VENCENDO DESAFIOS

Vencendo desafios é uma questão que habita o cenário ambiental brasileiro, pois há uma
necessidade de unir conservação, economia e o mundo dos negócios. A demanda ambiental não
pode e nem deve ficar a cargo de ministérios ou demais instituições públicas, para fazer frente à
preservação dos recursos ambientais. A junção: ambiente, economia e negócio podem ser vista
como um caminho, no seio da estrutura de acumulação do capital, de garantir respeito à legislação
ambiental em consonância com a manutenção da rentabilidade de diversos setores produtivos.
Por exemplo: projetos de conservação em grande escala pra fins de redução do
desmatamento, que nada mais é do que conservar uma área de floresta e evitar que ela seja
desmatada, gera, a quem efetivou esta conservação, créditos de carbono. Ou seja, em uma conta
com regras bem qualificadas, se estabelece o quanto esta sendo salvo em termos de carbono,
remunerando os esforços pela área conservada.
Outro bom exemplo é referente ao mercado de reserva legal. O código florestal ao trazer
como obrigação um mínimo de área nativa para resgatar os ―serviços ambientais‖, efetivamente:
água, madeira, biodiversidade, absorção de CO² pela fotossíntese das florestas, controle do clima,
polinização de plantas, controle de doenças e pragas, benefícios intangíveis obtidos, de natureza
recreativa, educacional, religiosa ou estético-paisagística, formação do solo, dispersão de sementes,
enfim, expos a realidade de muitas empresas ligadas ao agronegócio que possuem áreas nativas
aquém das exigências da legislação, de modo que hoje é possível compensar este déficit em outras
propriedades, com as mesmas características ecológicas, cujas áreas para esta finalidade é superior.
Assim esse mercado possibilita a conservação da mata que ainda está em pé, compensando áreas de
propriedades que esteja produzindo alimentos, energia.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A rigor, quando nos adentramos na discussão envolvendo meio ambiente e economia, ou de


uma forma mais direta, uma discussão que envolve a relação meio ambiente e mercado, o que deve
ser preponderante é o desafio de diminuir as distâncias presentes em termos de justiça e
desigualdades socioeconômicas, razão de uma consciência ambiental distante da consciência
necessária.

UM MERCADO BILIONÁRIO

Um primeiro ponto nesta discussão a ser colocado é que não dá para fingir que inexiste um
mercado ambiental, que movimenta no mundo todo bilhões de dólares e que envolve um número
crescente de empresas cada vez mais sofisticadas, englobando diversas áreas do meio ambiente. O
tamanho do mercado mundial ambiental foi avaliado pela EBI (2010) em US$ 782 bilhões para o
ano de 2008, de modo que é concreto aludir que este valor está bem próximo a um trilhão de
dólares.
A parcela do Brasil nesse mercado global era, também em 2010 de 15,1 bilhões, de dólares
equivalente a 1,9%, o que revela grandes oportunidades de crescimento em função do potencial da
demanda interna, já refletida na trajetória de crescimento apresentada pelo setor nos últimos 10
anos. Neste mesmo diapasão, o mercado para tecnologias ambientais no Brasil (incluindo
engenharia, equipamentos, serviços de consultoria e instrumentação associados ao controle da
poluição e projetos de remediação de impactos ambientais em diferentes áreas) era avaliado em
cerca de 5,2 bilhões de dólares, dos quais 2,3 bilhões estariam relacionados com águas de
superfície, águas subterrâneas e esgoto; US$ 2,5 bilhões à gestão de resíduos sólidos; e US$ 400
milhões ao controle da poluição atmosférica.
De acordo com a metodologia utilizada, os valores do mercado de bens e serviços
ambientais podem atingir resultados bastante distintos. Segundo a empresa de consultoria Roland
Berger (2009) o mercado brasileiro de ―tecnologias sustentáveis‖ movimentou 17 bilhões de
dólares, em 2007, com a perspectiva de crescimento entre 5% e 7% ao ano até 2020, quando o
mercado deverá oscilar entre 22,6 e 25,4 bilhões de dólares.
Neste estudo consta que o Brasil dispõe de uma importante indústria de tecnologias
sustentáveis, ocupando papel de liderança em algumas energias renováveis (hidrelétrica,
biocombustíveis), se defrontando com grandes oportunidades em gestão de resíduos sólidos
(separação, reciclagem e reaproveitamento térmico), água e saneamento, assim como em energias
renováveis alternativas (biomassa, eólica).
No plano empresarial, observa-se um número crescente de empresas que, paulatinamente,
tem implantado sistemas de gestão ambiental, baseados na adoção de padrões internacionais,
reforçando a busca de soluções tecnológicas de baixo carbono. Também é esperado um crescimento

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

expressivo do investimento público no setor, ampliando as oportunidades de parcerias público–


privadas (PPPs), concessões e privatizações. Esse potencial de crescimento decorre também da
perspectiva de evolução na direção de um padrão de desenvolvimento menos intensivo no uso de
insumos energéticos, o que implicaria na intensificação dos esforços para conservação de energia,
redução de emissões e dinamização de atividades de ―baixo carbono‖.
Muitos exemplos nessa busca por uma maior harmonia nas relações meio ambiente e
mercado nos levam a confirmar que não se trata de dor na consciência dos empresários. Muito se
tem ainda o que fazer quanto à agressão ao ambiente, mas os sinais de mudanças são positivos no
meio empresarial. Essa mudança não está simplesmente relacionada à observância mais rigorosa da
legislação ambiental. Quer dizer, o estímulo em agir com mais responsabilidades do ponto de vista
ambiental pelas empresas não mais está intimamente relacionada ao caixa. Pode-se afirmar que isto
é passado, já que a gestão ambiental está passando a fazer parte da estratégia empresarial, ou seja,
as empresas viram se compelidas a abandonar a postura mais defensiva, ante a consciência
crescente sobre a gravidade dos problemas ambientais. Hoje a imagem da empresa é fundamental,
mesmo porque ―nenhuma companhia está disposta a gastar rios de dinheiro em publicidade para
atrair o consumidor e depois ter seu nome associado a um acidente ambiental‖62, isto,
evidentemente, sem contar com possibilidade real de ser autuada por crimes ambientais.
Um fato muito claro, quando se discute problemas ambientais é a criação de um mercado
ambiental fabuloso, no qual além do meio empresarial também faz parte o setor público, através da
competência das esferas de governos quanto à prestação e gestão de serviços públicos,
especialmente, na área de saneamento.
Para atender esta demanda de empresas e governos, emergem outras empresas relacionadas
aos negócios ambientais dos mais variados segmentos. De empresas que dominam tecnologias
responsáveis em reciclagem de pilhas, plásticos, sucatas, alumínios, vidros, lâmpadas fluorescentes
etc, a empresas que lidam com tratamento de resíduos e efluentes industriais. De empresas
responsáveis por consultorias de pequenos a grandes projetos de despoluição, àquelas cujo nicho diz
respeito ao saneamento básico, coleta e disposição de lixo. Neste universo também se enquadram as
empresas cuja especificidade está relacionada ao lazer e turismo ambiental.

A REALIDADE DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A iniciativa de apontar um panorama bem geral da realidade dos resíduos sólidos nesta parte
específica do texto guarda relação direta com o valor deste mercado. Em 2015, os recursos per
capita gastos pelos municípios para fazer frente a todos os serviços de limpeza urbana no Brasil

62
FERNADES, Ana Paula. In Gazeta Mercantil de 16/11/2000, p. 1.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

atingiu o valor de R$ 10,15 por habitante por mês. Isto em valores reais revela um movimento de
recursos da ordem de R$ 27,5 bilhões de reais no ano.
Aqui, em grandes linhas nos atemos exclusivamente em dados de resíduos sólidos urbanos;
a razão dessa escolha tem a ver diretamente com a defasagem de dados, uma vez que as estatísticas
de outros tipos de resíduos (resíduos agrossilvopastoris, industriais, de serviços de saúde, da
construção civil e de eletroeletrônicos) encontram-se desatualizados.
Da grande maioria das cidades brasileiras sai um total anual de 80 milhões de toneladas de
resíduos sólidos urbanos. A partir dos dados apresentados pela Abrelpe (Associação Brasileira de
Empresas de limpeza Pública e Resíduos Especiais), o montante coletado em 2015 atingiu 72,5
milhões de toneladas, representando 91% enquanto índice de coleta. Esse dado em si é preocupante,
uma vez que cerca de sete milhões de toneladas de resíduos não são coletados no país e, portanto,
são destinados impropriamente.
Os dados relacionados à disposição final destes resíduos, e, portanto, na perspectiva
ambiental é inconcebível. Estou a falar de que, em 2015, um total de apenas 42,6 milhões de
toneladas foi disposto adequadamente, ou seja, 58,7% do coletado foram encaminhados para aterros
sanitários. Do outro lado, cerca de 30 milhões de toneladas foram dispostos inadequadamente, isto
é, destinados para aterros e/ou lixões controlados, mas que não atendem a legislação ambiental, e
que, portanto, estão sujeitos a apresentarem danos e degradações.
Um aspecto importante desse contexto de disposição final inadequada dos resíduos é que,
dos 5.570 municípios brasileiros, exatos 3.326 municípios, ou seja, 59,7% ainda fazem uso de
locais impróprios para a deposição de resíduos.
Em termos de identificar a representação da cobertura de coleta dos resíduos urbanos ao
nível regional, temos, na tabela 1 que se segue, um panorama por si só esclarecedor. Nesse
contexto, o que chama atenção é que as participações das regiões brasileiras, no total de resíduos
sólidos urbanos coletados, são muito discrepantes. A região Sudeste responde sozinha por 52,6% do
volume coletado no Brasil, ao passo que os 47.4% restantes são assim distribuídos: Norte – 6,4%;
Nordeste – 22,1%; Centro-Oeste – 8,2% e, finalmente Sul com 10,7%.

Tabela 1- Quantidade De Resíduos Sólidos Urbanos Coletado Diariamente Por Regiões E Brasil
(toneladas/dia)
Regiões 2014 2015
Norte 12.458 12.692
Nordeste 43.330 43.894
Centro-Oeste 15.826 16.217
Sudeste 102.572 104.631
Sul 21.047 21.316
Brasil 195.233 198.750
Fonte: Abrelpe, 2015 (Associação Brasileira de Empresas de limpeza Pública e Resíduos Especiais).

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1449


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Visto a coleta dos resíduos sólidos urbanos pelo ângulo da cobertura territorial, ou seja, o
porcentual coletado em detrimento do total gerado por regiões geográficas, Gráfico 1, temos uma
realidade ainda muito constrangedora, ao ponderarmos a lógica ambiental. Em que pese termos na
região sudeste, a maior geradora, cerca de 38 milhões de toneladas/ano, das quais a cobertura de
coleta atinge 97%, um total de 1,2 milhões de toneladas/ano não possui destino correto. Em outro
extremo, no Nordeste, a região que possui a pior cobertura de coleta, com 78,5%, em razão do seu
percentual gerador, que atinge 16 milhões de toneladas/ano, 3,5 milhões são dispostas na natureza
sem que tenhamos segurança ambiental, o que revela a nossa tolerância em desrespeitar o futuro do
planeta e das futuras gerações.
Nesta seara que envolve resíduos sólidos urbanos, o que se quer considerar é o volume de
recursos que giram em torno de todo esse processo, que vai da sua geração até sua disposição
adequada. O fato é que se queremos considerar as gerações futuras é inexorável se tenha pleno
domínio desse mercado, que os negócios ambientais pertinentes ao mesmo, induzem, considerando
questões que vão desde legislação como conscientização corporativa, uma nova relação sociedade
natureza, seguindo na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

Gráfico 1: Índice de Cobertura da Coleta de RSU por Regiões (%)


97,4
100 93,7 94,3
90,8
90
80,6
78,5
80

70

60

50

40

30

20

10

0
N NE CO SE S Brasil

Fonte: Abrelpe, 2015 (Associação Brasileira de Empresas de limpeza Pública e Resíduos Especiais).

CONSULTORIAS PARA ASSUNTOS AMBIENTAIS: UM MAPA DE NEGÓCIOS

Se a crescente adesão aos princípios do desenvolvimento sustentável representa uma


evolução de parte importante do empresariado nacional e, se outra parte dos industriais ainda vai
pelo caminho de atender às exigências legais enquanto razão para a adoção de práticas de gestão
ambiental, isso, sob os dois aspectos, revela um mercado próspero para as consultorias que
trabalham com a área ambiental.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1450


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Hoje, as atitudes e posturas pró-ativas por parte das empresas denotam uma preocupação de
reconhecer os possíveis riscos que as companhias possam vir enfrentar. Isto quer dizer reconhecer
os riscos e gerenciá-los antes que um acidente ambiental ocorra e denigra a imagem da corporação.
Evidente que além da imagem corporativa, uma auditoria ambiental é capaz de contribuir
para a redução dos custos operacionais, uma vez que o princípio da gestão ambiental potencializa a
empresa. Por exemplo: redução e reuso de resíduos, diminuição do uso da energia, reciclagem de
água utilizada no processo de produção etc.
Se a busca de consultores ambientais tem como razão conhecer, evitar ou gerenciar
possíveis acidentes ambientais, também há empresas que em caso de acidentes gerenciam o
processo de retomada a normalidade, o que significa ter a capacidade de comunicação (com a
comunidade envolvida e mídia), articulação (com as demais empresas nos mais diversos segmentos
envolvidos) e viabilizar a recuperação, caso seja possível, de, no menor tempo, sanar os danos
causados, ou mesmo mitigar os seus efeitos.
Importa esclarecer que no seio empresarial a sustentabilidade passa a ser um conceito que
agrega credibilidade futura e, portanto, não mais é vista como um ideal de ambientalistas. No meio
empresarial, o reconhecimento público de que suas práticas contribuem para o desenvolvimento
sustentável (o que permitiria agregar maior valor aos seus produtos), expressa visibilidade de
utilização de tecnologias limpas e a necessidade de eliminar passivos ambientais.
Não é à toa que a obtenção do certificado de qualidade ambiental da série ISO 14000 no
Brasil tem se difundido mais rapidamente do que seus precursores da série ISO 9000.
Evidentemente não em termos de valor nominal, considerando os certificados emitidos no mundo
(quadro 1), no qual o Brasil representava, ao final de 2006, menos de 1%, mas, sobretudo, pela
rapidez com que vem crescendo (quadros 2 e 3).

Quadro 1: Certificados emitidos no Mundo, por Continentes.


Continente
Total de Certificados
ÁFRICA 7879
AMÉRICA CENTRAL 1528
AMÉRICA DO NORTE 61436
AMÉRICA DO SUL 19337
ÁSIA 363768
EUROPA 405235
OCEÂNIA 2160
Total 861343
* Fonte: Site da ISO https://www.iso.org/home.html
Dados coletados até 31/12/2006

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1451


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quadro 2: Certificados ISO 9001 Emitidos


Ano de Empresas Certificados
Empresa Certificados
Emissão Acumuladas Acumulados
1981 1 1 1 1
1990 13 18 14 19
1995 271 369 724 985
2000 1820 2165 6041 7675
2005 1816 2042 16571 19793
2010 2769 2957 30561 35068
2015 160 172 35072 39857
Fonte: www.inmetro.gov.br

Quadro 3: Número de unidades de negócios que obtiveram


certificação ISO 9001

Válidas no SBAC * Válidas fora do SBAC *

253 170

616 1
* SBAC - Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade

A certificação, no caso a ISO 14001, (norma com diretrizes básicas para o desenvolvimento
de um sistema de gestão ambiental) é importante por parte da empresa que quer demonstrar o
comprometimento com práticas sustentáveis, ou seja, permite a uma organização desenvolver e
praticar políticas e metas ambientalmente sustentáveis. Inclusive para empresas exportadoras, ou
que possuem o interesse de atender o mercado externo, a certificação é exigida em alguns casos.
Nesta seara de certificação um ponto merece destaque. Trata-se do quantitativo de
certificados válidos no ano vigente. Ou seja, uma certificação ISO 14001 (a qual expressa sistemas
de gestão ambiental, ou seja, em suas operações, os empreendimentos devem considerar o uso
racional de recursos naturais, a proteção de florestas e matas, preservação da biodiversidade e dos
recursos hídricos entre outros requisitos) guarda validade de três anos, cabendo ser recertificado,
caso a empresa compreender que este certificado é importante para o mundo dos negócios da
mesma. Só para darmos um exemplo, o total de certificados válidos de empresas nacionais,
emitidos dentro e fora do SBAC (Sistema Brasileiro de Avaliação de conformidade), em 2016 não
ultrapassa 1.708, dos quais 1033 são de empresas localizadas no Estado de São Paulo.
Um fato é claro: esta espiral é ascendente, por uma questão inexorável: o desenvolvimento
sustentável é aquele que permanece. A economia convencional não preconiza um ambiente
saudável e, portanto, na perspectiva do ecossistema é contrária a existência humana. O
desenvolvimento sustentável por sua vez não é retórica ambientalista. Desenvolver não é crescer,
daí não fazer qualquer sentido em falar de crescimento sustentável. Desenvolvimento é evolução,
mudança, um processo. Simples assim.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1452


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PARA NÃO CONCLUIR

A transformação da sociedade, incluindo os diversos agentes sociais, dentro do que se


preconiza por desenvolvimento sustentável, indica um percorrer sem volta, um processo evolutivo
cuja baliza se dá por mudanças fundamentais na maneira de pensar, viver, produzir e consumir.
Uma ética ecológica revela, em todas as escalas, um caminho real da economia, na qual as empresa,
as corporações ao serem regulada por regras e padrões internacionais, dentro do conceito de
sustentabilidade, enxergam o futuro dos negócios e passam a contribuir não simplesmente para o
princípio do progresso, mas da evolução.

REFERÊNCIAS

ABRELPE - Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 2015 GENDA 21. Resumo – Conferência
das Nações Unidas.

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – Relatório de acompanhamento setorial:


Competitividade do Setor de Bens e Serviços Ambientais. Autor: Jorge Britto (Dep. Economia –
UFF).

BOSZCZOWSKI, A. M. O empreendedorismo sustentável e o processo empreendedor: Em busca


de oportunidades de novos negócios como solução para problemas sociais e ambientais. 2011. 27
f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.

INSTITUTO INOVAÇÃO. Econegócios: As ―Inovações Verdes‖ como Oportunidades de Negócio.


2007.

IPEA. Brasil perde R$8 bilhões por não reciclar. Brasil. 2010. Disponível em <
http://www.ipea.gov.br/sites/000/17/edicoes/61/pdfs/rd 61sec01.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2012.

MARTINE, G. O lugar do espaço na equação população/meio ambiente. Revista Brasileira de


Estudos de População. vol. 24(2), 2007.

NATURA. A Natura e o Caborno Neutro: pensamento no Futuro – Todo o Futuro. Natura, 2007.

NOBRE, M. e AMAZONAS, M. Desenvolvimento Sustentável: a institucionalização de um


conceito. Brasília, 2002. Ibama.

PEREIRA, A. M. Os impactos ambientais e as oportunidades de negócios: estudos de caso. 2008.


13f. Artigo Acadêmico – UNICAMP, São Paulo, 2008.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1453


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REYDON, Bastiaan P. et. All. A competitividade verde enquanto estratégia empresarial resolve o
problema ambiental? Campinas, SP: IE/UNICAMP, n. 125, jun. 2007. 24p. (Texto para
discussão).

ROSEMBURG, Cynthia; FERRAZ, Eduardo. Sua empresa é verde? São Paulo, Época Negócios, n.
2, p. 45-60, abril de 2007.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1454


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL DOS CATADORES DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS DE UMA ASSOCIAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA - PB

Amanda Lucena COUTINHO


Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPB
amanda_bispo@hotmail.com
Bruno Melo de SOUSA
Doutorando em Botânica pela UFRPE
bruno.msousa@ufrpe.br
Macelly Correia MEDEIROS
Mestre em Ecologia e Conservação pela UEPB
macellymedeiros@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho visou investigar a representação ambiental dos CMR da ASCARE-JP que
atuam na região litorânea do município de João Pessoa-PB. A pesquisa trata-se de um estudo de
caráter exploratório quali-quantitativo, a coleta dos dados consistiu de observação participativa,
entrevista semi-estruturada e conversação informal acerca da profissão, do meio ambiente e da
preservação ambiental. Participaram da pesquisa 90% dos CMR da ASCARE-JP. Os dados foram
analisados utilizando do Microsoft Excel 2010 e tomando por base a análise de conteúdo. Foi
observado que os entrevistados entendem a sua importância para o meio ambiente e a maioria
também reconhece que fazem parte do meio, este que está em constante modificação. O município
de João Pessoa vem sofrendo bastante impacto do adensamento urbano como o desmatamento e a
poluição. Portanto é necessário que a relação dos atores sociais, CMR e população, com o meio
natural se torne mais próxima, afim de que todos possam cuidar dos recursos naturais que ainda
restam na região.
Palavras chaves: Preservação ambiental, Agente ambiental, Meio Ambiente.
ABSTRACT
The present work aimed to investigate the environmental representation of ASCARE-JP CMRs that
operate in the coastal region of the municipality of João Pessoa-PB. The research covered a
qualitative and quantitative exploratory study and consisted of participatory observation, semi-
structured interview and informal conversation about the profession, the environment and
environmental preservation. 90% of the ASCARE-JP CMR participated in the survey. The data was
analyzed using Microsoft Excel 2010 and based on content analysis. It was observed that the
interviewees understood their importance to the environment and most also recognized that they are
part of the environment, which is constantly changing. The municipality of João Pessoa has been
suffering a lot of urban sprawl, such as deforestation and pollution. Therefore, it is necessary that
the relationship of the social actors, CMR and population, with the natural environment become
closer, so that all can take care of the natural resources that still remain in the region.
Keywords: Environmental preservation, Environmental agent, Environment.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1455


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

O aumento descontrolado dos resíduos sólidos e a sua destinação inadequada têm


preocupado o poder público e as sociedades do mundo inteiro devido aos impactos socioambientais
negativos que tem causado (SILVA, 2016), além da poluição, os problemas de saúde pública e de
impacto social referente aos catadores de materiais recicláveis que retiram do lixo sua fonte de
renda (RIBEIRO et al., 2011).
Neste cenário, torna-se essencial a figura do catador de materiais recicláveis (CMR) que
detêm de posição fundamental para gestão dos resíduos sólidos (COSTA; PATO, 2016) e vêm
realizando um trabalho de grande importância ambiental por promover o retorno dos materiais
recicláveis para o ciclo produtivo que, a princípio, se destinaria ao aterro sanitário ou diretamente
ao meio ambiente. Além disso, sua atuação sustenta o mercado da reciclagem, gerando economia de
energia e matéria-prima, atuando na preservação ambiental e no aumento da vida útil dos aterros
sanitários (MAGALHÃES, 2012). Pode-se dizer que é indiscutível a contribuição dos CMR para
sociedade na esfera econômica, ambiental e social (MAIA et al., 2013).
Ao longo de sua trajetória esses profissionais enfrentaram dificuldades por atuarem na
informalidade e excluídos da sociedade e do mercado de trabalho (MEDEIROS; MACÊDO, 2007).
Desde então esse grupo vem buscando reconhecimento social, melhores condições de trabalho, de
renda e de vida (GONÇALVES et al., 2013).
Os CMRs podem conquistar seu espaço e valor na sociedade à medida que adquirem
posição de agente ambiental (ROSADO; HEIDRICH, 2016), preservando e protegendo a natureza,
principalmente nas cidades que sofrem bastante impacto da poluição pelos resíduos sólidos,
garantindo assim, melhoria na qualidade de vida desses profissionais, pois, conforme um estudo
sobre gestão de pessoas voltado para o sentido do trabalho a dimensão profissional tem papel
fundamental para a formação da identidade e para o bem estar das pessoas (CAVAZOTE et al.,
2012). Logo, interpretar o sentido do trabalho para o CMR é fundamental para compreender o
comportamento desse trabalhador no mundo pós-moderno (FERRAZ et al., 2012).
Dessa forma, o auto reconhecimento da importância do trabalho, não só como catador de
material reciclável, mas como agente ambiental, pode proporcionar motivação para o enfrentamento
das dificuldades de valorização a que estes profissionais estão submetidos além de torná-los mais
sensíveis para o cuidado com o meio ambiente aproximando-os ainda mais da natureza,
promovendo a visão sistêmica de meio ambiente proposta por Capra (2006) que considera o ser
humano como parte do meio e não como ser superior.
Diante disso, o presente estudo busca analisar como os CMR representam o ambiente no
quais estão inseridos. O termo representação possui o mesmo sentido de percepção, visto que, é a
forma pela qual é possivel acessar as visões de mundo, sensações, valores e opiniões dos indivíduos
ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1456
Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(SILVA et al., 2010). Cavalcante; Maciel (2008) acrescenta ainda que só é possível acessar a
percepção do indivíduo através da representação que se define como a externalização e significação
do que este percebe cognitivamente e é influenciada por aspectos psicológicos e culturais.
A teoria das representações tem seu enfoque na relação sujeito e objeto, que segundo Farr
(1994) é o reflexo do mundo externo na mente, isto é, através das atividades e vivências do sujeito
com o meio que o circula que é possível descobrir e construir a si mesmo como também o mundo.
A representação ambiental dos CMR remete a relação destes profissionais com a biota nos
ecossistemas urbanos, valorizando a identidade de agente ambiental, fundamental para o cuidado
com a natureza que sofre impactos negativos com a demasiada geração de resíduos sólidos na
cidade. Desta forma o objetivo desta pesquisa foi verificar a representação ambiental dos CMR
acerca da sua profissão e da relação com o meio ambiente, tendo em vista o importante papel
socioambiental desses profissionais, assim como conhecer o perfil sócio econômico, as condições
socioambientais da profissão e a relevância atribuída aos recursos naturais que fazem parte do seu
campo de atuação.

METODOLOGIA

A pesquisa trata-se de um estudo de caráter exploratório com base nos princípios da


pesquisa quali-quantitativa, que se caracteriza pelo estabelecimento de relações comunicativas e
participativas entre os atores envolvidos, com o objetivo de compreender e acompanhar as ações
desenvolvidas na realidade do grupo em estudo (THIOLLENT, 2007). A pesquisa foi realizada na
ASCARE-JP (Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de João Pessoa) localizada no
bairro do Bessa no município de João Pessoa, capital do estado da Paraíba. O município de João
Pessoa-PB possui área territorial de 211 Km² e população de 723.515 habitantes (IBGE, 2010).
A ASCARE-JP abrange à região litorânea dos bairros: Jardim Oceania, Aeroclube e Bessa
(Figura 01). Esta região possui em seu entorno o rio Jaguaribe, a mata de restinga (Mata do Amém)
e vários terrenos ainda sem construção (VIANA, 2009) que sofrem com a disposição inadequada de
resíduos sólidos pela população. Por se tratar de área nobre do município, essa região, de acordo
com a EMLUR (Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana), descarta grande quantidade de
resíduos sólidos, principalmente material reciclável que ao ser destinado ao Catador de Materiais
Recicláveis gera renda a esses profissionais, além de evitar que sejam lançados no meio ambiente
trazendo impactos negativos.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1457


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 01 – Mapa de Localização da Área da pesquisa – ASCARE-JP e o campo de atuação dos


CMR. Fonte: Google Earth

A pesquisa foi realizada com nove CMR (90%) que compõe a ASCARE-JP- Bessa. O
integrante que não participou da pesquisa realiza suas atividades no posto localizado na
Universidade Federal da Paraíba onde recebe material reciclável da comunidade universitária. A
pesquisa consistiu de observação participativa, entrevista semiestruturada e conversação informal
(MANZINI, 2004) acerca da profissão, do meio ambiente e da preservação ambiental, conhecendo
assim o local, as condições socioeconômicas e ambientais em que atuam os catadores de materiais
recicláveis da ASCARE-JP.
Foi utilizado formulário com perguntas abertas, a fim de permitir autonomia do entrevistado
na exteriorização de suas ideias e representações, gravador de voz nas entrevistas e na observação
utilizou-se de registro fotográfico e anotações da pesquisadora (SILVA et al, 2010).
Inicialmente ocorreram visitas a ASCARE-JP para realização da observação direta, da
conversação, entrevistas e registros fotográficos, investigar assim, as condições de trabalho, de
satisfação profissional, relação com os recursos naturais existente na área de atuação da ASCARE-
JP e o entendimento dos CMR a respeito da relação das cidades com a natureza.
Em outro momento buscou-se um maior conhecimento histórico do local e da relação com o
ambiente através do acompanhamento durante a catação de um dos participantes que trabalha na
profissão há mais de 30 anos. Para identificação dos entrevistados foi utilizado siglas (Entrevistado
+ nº da entrevista = E01).
Os dados foram analisados pelo método de análise de conteúdo, definida por Bardin (2004)
como o conjunto de técnicas que investiga as comunicações, isto é, utiliza de procedimentos

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1458


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sistemáticos e objetivos para descrição do conteúdo das mensagens, como também através de
registros fotográficos realizados nas observações.
A análise dos dados foi organizada conforme Bardin (2004) seguindo três etapas: 1) apré-
análise; 2) a exploração do material separando em categorias e codificando-os: nessa etapa o tema
escolhido para ser trabalhado foi a ―Representação Ambiental dos CMR‖; 3) o tratamento dos
resultados: O tema Representação Ambiental dividiu nas seguintes categorias: Conceito de Meio
Ambiente, Conceito de Preservação Ambiental, Recursos Naturais presentes no campo de atuação e
a Relação Cidade X Natureza.
O programa Excel foi utilizado para a análise das respostas, calculando assim, a frequência
de citação por cada catador para cada categoria considerando os 9 (nove) catadores como 100%.
Um mesmo entrevistado pôde expressar mais de uma resposta para cada categoria, portanto terá
categoria que a soma das respostas não representará 100% devendo ser consideradas as
porcentagens individualmente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil Sócio Econômico

A profissão de CMR tem um histórico de superação e engloba tanto homens quanto


mulheres (OLIVEIRA; MATTOS, 2013; PEREIRA, 2012 e GONÇALVES, 2004) no entanto, na
ASCARE-JP 100% dos catadores são do sexo masculino. Conforme o coordenador, o motivo se dá
devido as catadoras reclamarem da distância de suas residências ao galpão (aproximadamente10
km). A maioria ainda mora no bairro do Roger, local onde funcionava o antigo lixão e a locomoção
até o galpão é feita através de bicicleta provocando assim um aumento do esforço físico que é a
condição essencial para a atuação profissional.
No que se refere a escolaridade, todos os participantes frequentaram a escola sendo
alfabetizados, mas nenhum concluiu o ensino médio. Afirmaram que desistiram dos estudos devido
ao cansaço físico do trabalho, pois precisavam trabalhar muito para aumentar a renda, e assim, não
mantinham vigor para os estudos. Corroborando com esse relato o autor Ferraz et al (2015)
confirma que os esforços físicos e a rotina de trabalho nas ruas ao relento se encarregam de excluí-
los do acesso ao conhecimento proporcionado pelo ensino formal.
A renda mensal também foi indagada na pesquisa e os participantes disseram possuir
rendimento mensal em torno de R$ 600,00 a R$1200,00. Apenas 33% dos entrevistados ganham
menos de um salário mínimo (R$880,00) enquanto 67% recebem entre R$ 880,00 à R$1200,00.
Constata-se, portanto que veem obtendo melhorias de renda quando comparados aos trabalhos de
Costa e Pato (2016) e Souza et al. (2014) que afirmam que a renda mensal dos CMR não alcançam
um salário mínimo. Hernandes et al. (2015) também reforça que grande parte desses profissionais

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

possuem renda precária. O autor trabalhou com cinco cooperativas de materiais recicláveis no Rio
Grande do Sul e em apenas uma os CMR ganhavam mais de um salário mínimo (R$ 900,00). Esse
aumento na renda é atribuído pelos catadores da ASCARE-JP ao local em que trabalham, isto é, o
bairro do Bessa, Aeroclube e Jardim Oceania, bairros com moradores de classe média e alta.
Os participantes da pesquisa em sua maioria estão nessa profissão há mais de 20 anos
(67%), são advindos do lixão e consideram o fato de estarem a tanto tempo trabalhando nesse ramo
às dificuldades para buscar outros caminhos, fazendo com que eles aceitem essa situação e não
busquem a carreira profissional que almejaram. Esse resultado também observado por Pereira
(2012) na sua pesquisa a maioria dos CMR estão na profissão a mais de 10 anos e vê o futuro com
desesperança, isto é, como algo incerto. No entanto, um percentual representativo (33%) está há
menos de cinco anos na associação. Esses são os mais jovens e não chegaram a trabalhar no lixão,
são CMR por influência do grau de parentesco com os associados.

Representação Ambiental

Nas entrevistas, os participantes foram abordados a respeito do conceito de meio ambiente.


44% das respostas conceituaram apenas como meio natural – Natureza (―É a natureza, as árvores,
os rios, a terra. ‖ E04) se enquadrando na visão estrita classificada por Milaré (2001), que considera
apenas o patrimônio biológico, isto é, a natureza e as relações dos seres vivos.
Para Capra (2006) Essa visão estrita é definida como visão mecanicista que ―vê o mundo
como uma coleção de objetos‖ e está bastante presente na sociedade contemporânea. Fonseca e
Prado (2008) acreditam que a apropriação dos seres humanos pelos recursos naturais/natureza pode
estar relacionada à essa visão distorcida de meio ambiente. Pois o ser humano se percebe como ser
superior e consequentemente dono da natureza. Essa relação presente principalmente nas
populações urbanas tem contribuído para a degradação ambiental e o distanciamento do ser humano
com a natureza (DANTAS et al., 2017).
No entanto o conceito de meio ambiente de uma forma mais ampla foi relatado por 56% dos
entrevistados, corroborando com os mesmos autores já citados, que da visão restrita do meio
ambiente apresentaram outra visão mais ampla e sistêmica, na qual percebem a relação do ser
humano tão importante como a de qualquer outro ser ou parte, portanto todos temos um papel na
Biosfera, nenhuma relação é melhor que a outra, mas tão importante e fundamental quanto.
Aprofundando mais sobre a valorização profissional, os CMR foram questionados a respeito
da importância de sua atividade e demonstraram se ver como atores importantes para preservação
do meio ambiente e melhoria da sociedade. Nessa categoria todos os participantes (100%)
relacionaram sua atuação como o cuidado com o meio ambiente. Como exemplo, um dos catadores

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1460


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

afirmou: (―... É bom que tá ajudando o meio ambiente... a gente alimpa a cidade, a mata, os
mares...‖ E01), trazendo assim, a relação de sua atuação com a limpeza e reciclagem dos resíduos.
A importância social foi relatada por (56%) dos participantes, como afirma um dos
entrevistados: ―O catador são agente ambiental. Retira o lixo pra melhorar pra população. Dá força
pra qualidade de vida‖ - E08. Eles se consideram importantes para a sociedade por desempenharem
um papel que é de todos, cuidar dos seus resíduos. Os CMR retiram os resíduos que seriam
descartados no meio ambiente, na cidade ou que iriam para o aterro sanitário e os devolvem à
cadeia produtiva. Corroborando com Cavalcante et al. (2012) que afirmam, a medida que o
individuo entende o meio ambiente adequadamente, ele age de forma apropriada respeitando as leis
naturais e contribuindo para a sustentabilidade.
Outra categoria trabalhada foi a Preservação Ambiental, 67% das respostas dos catadores
disseram entender como limpeza da cidade e do meio natural no sentido de evitar a poluição
(―Quando agente tira o resíduo agente preserva. Ali mesmo tem um ‗pé de oliveira‘ que as vezes
acumula lixo e quando eu passo eu tiro, para aquele material não se decompor ali‖ E04). A
preservação ambiental com o sentido de ―cuidar‖ obteve 33% das respostas. Essas argumentações
nos mostram que eles se vêem como agentes ambientais quando promovem o cuidado e a limpeza
da cidade e do meio natural. Para Busato e Ferraz (2017) os CMR são agentes de limpeza urbana, e
Alencar et al. (2015) afirma que estes contribuem diretamente para a preservação ambiental.
Os Recursos Naturais presentes no campo de atuação da ASCARE-JP também foi discutido,
pois, existem muitos recursos naturais que sofrem bastante impacto dos resíduos sólidos. Foram
citados nessa categoria as árvores e a mata com maior número de respostas (88,9%), os animais
(55,6%), o mar e a praia (55,6%), o mangue (22,2%), o rio (22,2%) e o ar puro (11,1%).
É possível observar que os participantes tem uma relação com o meio ambiente natural de
bem estar, apesar de reconhecerem as modificações causadas pelo ser humano (―É o ar puro, sentir
o ar puro, você entra na mata ali, entrou ali, sentiu o ar‖ E09; ―As plantas, é bom demais. Quando
tem uma árvore, descanso um pouquinho pra tomar fôlego pra andar de novo‖E08). É possível
observar uma relação de simbiose: os CMR cuidam da natureza e a natureza cuidam deles no dia a
dia, melhorando o ar, fazendo sombra, dando frutos, entre outros.
No acompanhamento da catação o catador E9 demostrou intimidade com a natureza quando
discutiu durante o percurso sobre o mar, o mangue, os animais e as árvores localizados nas
proximidades. O E9 foi destacando as árvores do percurso citando o nome popular e até a origem
delas, ―Essa árvore não é daqui. Ela é do Maranhão, mas plantaram aqui‖ E09
Citou também um cajueiro que se encontrava queimado próximo aos muros da associação e
demostrou está bastante indignado por existir pessoas que tem essa atitude de degradação, mas ele
acredita que o cajueiro ainda pode sobreviver. Um outro cajueiro presente vizinho a associação foi

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

apontado como bastante antigo, existente desde a origem do bairro, e relatou que o mesmo tornou
um ponto de referencia para o bairro.
Na pesquisa foi tratado o entendimento dos catadores sobre a relação da cidade com o meio
natural, pois à medida que as cidades crescem comprometem cada vez mais a natureza presente
principalmente nessas áreas litorâneas. Alguns dos CMR trabalham no bairro há muitos anos e
relatam as mudanças que houveram na região. O E09 traz essa fala: ―Não dá mais... cada vez, vai
crescendo a cidade, e vão fazendo prédio, derrubam uma casa e constrói prédio. Tem um terreno,
derruba os mato, os pé de arvore tudinho pra construir, casa, prédio, condomínio. Cada vez que a
cidade vai crescendo, vai apertando, apertando ai não tem mais jeito de fazer mais nada‖ E09.
Viana (2009) em seu trabalho sobre a ocupação do município de João Pessoa afirma que a
partir da década de 1960 houve uma maior aceleração populacional e que devido aos interesses
turísticos as áreas costeiras foram rapidamente povoadas acarretando modificações e impactos
negativos na região costeira de João Pessoa trazendo consequências que podem ser irreversíveis.
Guerra e Lopes (2015) destaca que à expansão urbana acarreta na poluição, contaminação,
aumento de resíduos sólidos, uso indiscriminado de recursos naturais, congestionamentos, ocupação
desordenada, problemas associados à mobilidade urbana entre outros.
Essa relação (Cidade x Natureza) foi apontada pelos participantes como difícil, mas 44%
dos entrevistados afirmaram ser possível, contanto que sejam respeitadas algumas condições, como
a conscientização e educação da população, a utilização de materiais ecológicos nas construções,
que não agridem o meio ambiente, como telhados de papelão, lajes de isopor, entre outros. Eles
afirmaram que as construções estão destruindo o meio ambiente, um dos CMR relata: ―As árvores...
é uma coisa maravilhosa. E tá acabando aqui por causa dos prédios.... aqui antes era cheio de pé de
caju, não tinha prédio... aí você via aqui os pássaros chega sentava, agente jogava comida. Hoje
você não vê mais isso mais, acabou...Os prédios ta acabando com o meio ambiente‖ E08.
O entrevistado E05 traz como exemplo de uma relação harmoniosa do meio natural com a
cidade (construída) a Universidade Federal da Paraíba (Figura 02), órgão que destina seus resíduos
recicláveis para a ASCARE-JP e se localiza dentro de uma área de extensa vegetação (FREITAS et
al., 2015). Relata da seguinte forma: ― ...ali na universidade... é o meio ambiente, a natureza e uma
comunidade. Agente tem que ter uma perspectiva que existe uma possibilidade que seja cidade e
meio ambiente e que seja um conjunto...‖ E05.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 02 – Universidade Federal da Paraíba – exemplo de relação harmoniosa da cidade (área construída)
com o meio natural. Fonte: Freitas et al. (2015).

Essas experiências relatadas são de fundamental importância para reflexão sobre os


impactos da expansão imobiliária no município de João Pessoa. Dantas et al. (2017) trata das
conseqüências dessa problemática constatando a considerável redução de vegetação no município
que traz alteração nos ecossistemas, redução de recursos, extinção de espécies, entre outros.

CONCLUSÃO

A representação ambiental dos entrevistados mostrou que eles entendem a importância de


sua profissão para o meio ambiente e para a preservação ambiental. A interação diária com os
recursos naturais, proposta pela região em que desempenham suas atividades, traz aos CMR da
ASCARE-JP um sentimento de bem estar e satisfação. A visão de meio ambiente foi expressa no
seu sentido amplo, isto é, eles percebem a integração do ser humano que age e modifica seu meio.
Esse ponto é importante para o reconhecimento profissional, fazendo com que eles tomem posse do
seu papel de agente ambiental e cuidem melhor dos recursos naturais ainda presentes na área de
atuação.
O município de João Pessoa encontra-se em um processo crítico de desmatamento, poluição
dos recursos naturais devido ao adensamento urbano, principalmente nas áreas litorâneas. Portanto a
presença dos CMR nessa área com uma visão sensível as questões ambientais torna-se ainda mais
relevante.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO AGENTE MOBILIZADOR E INTERVENTOR NO


PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE SUSTENTÁVEL

Ana Maria Ferreira LOPES63


Professora de Biologia da (SEDUC-RJ)
anamariapw.bio@gmail.com
Dagnete Maria Chaves BRITO64
Professora da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
dagnete@uol.com.br

RESUMO
O trabalho baseou-se nas diretrizes curriculares do 8º ano do ensino fundamental, 2 e o 3º ano do
ensino médio. Os 8º anos tinham como tema Entender e desenvolver um plano de ação na
comunidade a que pertencem e o terceiro ano. Os Principais problemas no Bioma Mata Atlântica,
tendo como escopo, Saúde e Sustentabilidade no âmbito educacional. A construção de grupos, que
atuaram fazendo um levantamento com a comunidade de Taboas, um distrito de Rio das Flores-RJ,
em busca de identificar e discutir sobre os problemas que assolam a comunidade, foi o ponto de
partida para os trabalhos de construírem um plano de ação e também buscarem, junto aos poderes
públicos, as melhores soluções para problemas detectados através de questionários sócio
ambientais, passados por eles, nos quais identificaram-se infestação de escorpiões, falta de
potabilidade da água fornecida e sua carência em algumas áreas e alto índice de alcoolismo na
comunidade, principalmente entre os mais jovens. Fóruns realizados com a comunidade através dos
quais os alunos apresentavam seus trabalhos, entrevistas com os responsáveis das Secretarias
Municipal de Meio Ambiente, de Obras e autoridades municipais, colaboraram para alcançarmos
nosso principal objetivo, que seria legitimar a educação ambiental como tema gerador de saberes
ambientais, por meio de atividades didáticas importantes para o comprometimento dos educandos
com a sociedade.
Palavras chave: Saúde, sustentabilidade, socioambiental
ABSTRACT
The work was based on the curricular guidelines of the 8th year of elementary school II and the 3rd
year of high school. The first ones had the theme "Understanding and developing a plan of action in
the community to which they belong" and the third year "The main problems in the Atlantic Forest
Biome". Having as scope, Health and Sustainability in the educational scope. The construction of
groups, which performed a survey with the community of Taboas, a district of Rio das Flores-RJ, in
search of identifying and discussing the problems that devastate the community was the starting
point for the work of constructing a plan Of action, in order to seek from the public authorities the
best solutions to problems detected through socio-environmental questionnaires passed by
them,which led students to identify problems such as¨ scorpion infestation, lack of potability of the
water supplied and its lack in some areas, high index Of alcoholism in the community, especially
the younger ones ". There were also discussions with the community in which the students
presented their works, interviews with the heads of the Municipal Department of Environment,
Works and municipal authorities collaborated to reach our main objective, which would legitimize
environmental education as a theme generating environmental knowledge through Of didactic
activities important for the students' commitment to society.
Keywords: Health, sustainability, socio-environmental
63
Bióloga, Especialista em Saúde Ambiental (UFRJ).
64
Geógrafa, Mestre em Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB) e Doutora em Ciências Sociais (UFPA).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

A escola é um espaço privilegiado para estabelecer conexões entre os conteúdos científicos e


levá-los de forma mais integralizada e participativa às comunidade não acadêmicas, com
possibilidades para criar condições e alternativas que estimulem os alunos a desenvolverem
posturas de cidadãos conscientes socioambientalmente e serem promotores e dispersores deste
comportamento junto aos que os cercam. A esse respeito Pereira e Terzi ( 2009 ) afirmam que.

¨a educação ambiental surge como forma de enfrentamento da crise civilizatória – cultural e


social - que procura contribuir com a dialética do Estado e da sociedade civil, definindo
políticas públicas a partir do diálogo. Assim, a educação ambiental busca educar para
cidadania dentro da possibilidade de construir uma ação política que contemple a
sociedade de maneira coletiva¨. ( PEREIRA E TERZI, 2009, p. 49)

As ações antrópicas sobre o ambiente, vêm cada vez mais lesando um patrimônio que não
nos pertence, ganhando um vulto a cada dia mais irreversível. Se padrões comportamentais não
forem imediatamente alterados, estaremos nos aproximando de um não-futuro. Só conhecemos um
caminho: a educação ambiental;entretanto, esta ação deve possuir metas de ação não só das
entidades de ensino ou do poder público, mas de toda sociedade.
Comumente encontramos profissionais com uma visão ainda restrita sobre saúde e meio
ambiente, acreditando que o corpo físico está intimamente ligado apenas aos fatores bióticos, como
microrganismo, sistema imunológico, falência de órgãos. Deixa-se em alguns instantes de pensar
que faz parte de um planeta cíclico em que toda ação promove uma reação, mesmo aparentemente
longe de sua origem; que um organismo ,do mais simples ao mais complexo responde a influências
externas e ,por isto, sua integração é intensa com o meio em que vive.
Por estes motivos hoje, ao falarmos em saúde, precisamos ter uma visão mais ampla, pois a
palavra saúde tomou um rumo mais abrangente, surgindo a saúde ambiental, a qual a interação
homem, natureza e sociedade estão intimamente ligadas. A Organização Mundial da Saúde e a
Organização Pan-Americana da Saúde desenvolveram o conceito de atenção Primária Ambiental,
como sendo,

¨ uma estratégia de ação ambiental, preventista e participativa em nível local, que reconhece
o direito do ser humano de viver em um ambiente saudável e adequado, e a ser informado
sobre os riscos do ambiente em relação à saúde, bem-estar e sobrevivência, ao mesmo
tempo em que define suas responsabilidades e deveres em relação à proteção, conservação
e recuperação do ambiente e da saúde. (VARGAS e OLIVEIRA, 2007, p.452)

Aliado aos conceitos de saúde, buscou-se trabalhar o conceito de Educação Ambiental,


oriundo da Lei 9.795/99, que impõe sua obrigatoriedade no ensino formal como disciplina
transversal. Aplicada na área educacional, a transversalidade deve ser vista como uma forma de se
tratar temas que devem ser difundidos continuamente no ensino formal, através de todas as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

disciplinas e níveis de ensino. Esses assuntos são chamados (Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN).
No terceiro ano do ensino fundamental, na disciplina de produção textual foram
desenvolvidos folhetos que sobre os temas levantados pelos planos de ação do 8º ano, que foram
distribuídos à comunidade, com o objetivo de alertá-los quanto aos problemas identificados
(Dengue, infestação de escorpiões, quantidade de água tratada fornecida à comunidade, alcoolismo
entre os jovens) no encontro promovido com a comunidade e os gestores do município de Rio das
Flores, no dia 12 de abril de 2017 ,no Club da comunidade

Sua complexidade faz com que nenhuma das áreas, isoladamente seja suficiente para
abordar sozinha o conhecimento. Por exemplo, a questão ambiental não é compreensível
apenas a partir das contribuições da Geografia, necessita de conhecimentos
históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da Demografia, da Economia, entre
outros‖. (PEREIRA & TERZI 2009, p.176.)

A necessidade da interdisciplinaridade na produção e na socialização do conhecimento no


campo educativo, é uma necessidade cada vez mais crescente em nossa realidade, se buscarmos
alcançar nossos educandos. Na análise de Frigotto ( 1995,p.26), ¨a interdisciplinaridade impõe-se
pela própria forma de o ¨homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito do
conhecimento social¨.
Um projeto, junto à equipe pedagógica do Colégio Estadual Nephtalina Carvalho Ávila ,à
Secretaria de Meio Ambiente e à Secretaria de Saúde de Rio das Flores foi desenvolvido e o escopo
seria desenvolver um Plano de Ação identificando os principais problemas sanitários que
acometessem a comunidade, correlacionando-os direto ou indiretamente com os problemas
ambientais .
O levantamento histórico da comunidade com registros de fotos antigas e atuais e entrevista
a moradores antigos, com a finalidade de se comparar a situação antropogênica atual com a do
passado, promovendo debates em sala de aula, couberam à disciplina de História, enquanto a de
Geografia buscou desenvolver uma pesquisa de georeferenciamento do distrito, identificando as
áreas de maior desmatamento e o seu grau de interferência na bacia hidrográfica do Paraíba do Sul.
A disciplina de Produção Textual trabalhou com a criação de folhetos explicativos, voltados
para os problemas identificados na comunidade ,enquanto a Educação Física auxiliou nas visitas à
Estação de Tratamento de Água( ETA) de Taboas, junto à professora de ciências e à equipe da
Secretaria de Meio Ambiente, que apresentou a estação de tratamento aos alunos com uma prévia
aula sobre o processo de tratamento garantindo a potabilidade da mesma à comunidade.
A Secretaria de Saúde do Município disponibilizou sua equipe do posto de atendimento, no
distrito de Taboas , a fim de ser entrevistada pelos alunos , sobre as doença mais notificadas no
período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. Contextualizando a sazonalidade de alguns agravos à

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

saúde , correlacionando-os às condições ambientais, sejam elas físicas, químicas ou sociais que o
município possa ter passado.
Ao final do trabalho, os alunos apresentaram um plano de ação, estabelecendo uma relação
entre o homem e o meio ambiente, compreendendo os processos de conservação, preservação e
utilização de forma correta dos recursos para que haja um equilíbrio, pois a sociedade, mesmo não
sendo o único fator de degradação do ambiente, é o agente com maior atuação neste processo.
O trabalho foi desenvolvido buscando-se desconstruir padrões estabelecidos erroneamente
como: ¨esta saudável mesmo vivendo em um ambiente desequilibrado ambientalmente; ¨Saúde é
uma questão de bem estar físico¨. ¨Doença esta restrita a fatores apenas biológicos como vírus ou
bactérias, mas sim um processo de desequilíbrio comportamental e social¨.
A infestação de escorpiões que acomete a comunidade, passou a ser vista como um
problema identificado por todos os seus membros assim também como o desmatamento que assola
o Distrito de Taboas e a falta de seus predadores naturais caçados e mortos pela população local.
Hoje, tornou-se um agravo à saúde, levando ao aumento de picadas por estes artrópodes. Entretanto,
fazer essa mudança na percepção da sociedade, é um exercício desafiador e por este motivo, a
educação ambiental é essencial neste processo, já que a escola pode ser o agente de transformação
social e consequentemente, ela pode auxiliar na mudança de valores e atitudes ambientais, em uma
escala maior de atuação .
O processo de construção do conhecimento por meio de estudos e da pesquisa possibilita

¨o aumento dos saberes que permite compreender melhor o ambiente sobre os seus diversos
aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula espírito crítico e permite
compreender o real, mediante aquisição de autonomia na capacidade de discerni .¨DELORS
( 1998, p. 91)

Conscientes de nosso dever como formadores de indivíduos críticos e atuantes em uma


sociedade cada vez mais ambientalmente destruída, buscamos um trabalho de pesquisa que
permeasse todos os processos educadores permitindo a reflexão crítica sobre a prática individual e
coletiva flexibilizando todo o processo com a finalidade de se buscar a realidade do mundo em que
vivem e não a contextualização de uma comunidade, importada de livros .

MATERIAL E MÉTODOS

Buscou-se desenvolver um trabalho participativo e interdisciplinar com os docentes do


Colégio Estadual Nephtalina Carvalho Ávila e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a Saúde
de Rio Das Flores, focando-se na pesquisa de campo realizada pelos discentes, afim de que
pudessem interiorizar todo o conteúdo apreendido em sala de aula e exercitá-lo de forma prática em
suas pesquisas. Segundo
O trabalho foi realizado em sete etapas pedagógicas:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

1ª Etapa: Debates na sala de aula sobre o tema ¨Saúde e Meio Ambiente e a construção dos
primeiros passos para a realização do trabalho ( Figura 1)

Figura 1 Alunos da turma 801 construindo os primeiros passos do trabalho

2º Etapa: Apresentação de vídeos que falassem sobre o SUS e o papel da comunidade como agente
interventor no processo de consolidação do sistema Nas aulas de ciências o tema ¨Saúde e Doença
como Direito do Indivíduo, foi debatido pelo vídeo. ― A História da Saúde Publica no Brasil‖
https://www.youtube.com/watch?v=L7NzqtspLpc e ― Como fazer um plano de ação‖
https://www.youtube.com/watch?v=ouduI96cqsQ&t=3s ( Figura 2)

Figura 2: Vídeo

3ª. Etapa: Pesquisas na internet sobre como construir um plano de ação, orientados pela técnica da
Secretaria de Meio Ambiente e a busca de dados e informações sobre a área de estudo em
programas de georeferenciamento Google, foram as ferramenta de identificação da área de atuação.
A sala de informática foi um instrumento utilizado pelos professores de Ciências e Geografia
(Figura 3 e 4)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3 pesquisa na sala de informática Figura4 Foto de Taboas

4ª. Etapa: Entrevistas à equipe do Posto de Saúde de Taboas sobre as principais ocorrências de
doenças de veiculação hídrica nos últimos 5 anos, respeitando seus aspectos de sazonalidade.

Figura 5 Equipe do porto do Posto Figura 6 Entrevista a Enfermeira responsável no posto

5ª. Etapa: A realização de um questionário sócio ambiental, na comunidade com o intuito de


descobrir o que mais afetava e como poderiam identificar e construír uma alternativa para
solucionar os problema identificados .

6ª. Etapa: Contextualização junto à comunidade escolar e local , dos principais focos identificados e
construção de um Plano de Ação para ser entregue aos gestores do município (Figura 7 ).

Figura 7 Pais e amigos da comunidade participando da apresentação.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Paralelamente, aconteceram outras atividades dinâmicas como: as aulas de História sobre


nosso município no passado, com fotos históricas do Centro Cultural, aulas de Matemática nas
quais buscou-se trabalhar com gráficos construídos a partir de problemas como, consumo de água
por pessoa, acidentes com picadas de escorpião na região.

7ª. Etapa: No dia 12 de março de 2017, foram entregues cópias do trabalho concluído, aos
representantes eleitos pela comunidade, ao Prefeito Vicente Guedes ( Figura 8) e aos representantes
eleitos pela comunidade como o Vereador Rafael Teodóro ( Figura 9) e Vereador Felipe os com
responsável pelo Sistema de Abastecimento Sr. Aldinho ( Figura 10)

Figura 8

Figura 9 Figura 10

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A necessidade da interdisciplinaridade na produção e na socialização do conhecimento no


campo educativo e social é uma necessidade. Na análise de Frigotti (1995), ¨a interdisciplinaridade
impõe-se pela própria forma de o ―homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito e
objeto do conhecimento social¨.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Não podemos pensar em ações que busquem recuperar ou proteger nossas riquezas
ambientais, sem trabalharmos incessantemente com as novas gerações, pois, em muitos casos, nas
áreas rurais o que observamos, é que esses são os agentes educadores em seus lares, desde que
orientados para este fim. Restrito a um tema único de aprendizagem, é necessário se trabalhar com
uma visão mais holística sobre a temática desenvolvida, correlacionando o maior número de
informações apreendidas.
As ações desenvolvidas pelos alunos mostraram seu grande interesse em atuar de forma
integrada e participativa, junto aos gestores municipais , seguindo os princípios da EA .

¨A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber


ambiental materializado nos valores céticos e nas regras políticas de convívio social e de
mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do
uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu
sentido de pertencimento e corresponsabilidade que, por meio da ação coletiva e
organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos
problemas ambientais. (Sorrentino et a.2005).

O envolvimento por parte do poder público foi intenso e com rápidas respostas graças à
mobilização promovida pelos alunos e seus trabalhos.
Os resultados mostraram, que a concepção prévia de saúde, dos alunos tendem a um olhar
mais restrito, que não os permite desenvolver visão holítica sobre o problema ambiental e sanitário,
levando-os não contextualizar a situação vivenciada, por isso, a necessidade de atividades didáticas
que promovam conhecimento sobre o conceito, levando-os a uma reflexão mais ampla, incluindo o
sistema de saúde que dispomos, sua criação e por quem ele é mantido. Nosso direito é o de ter um
atendimento de qualidade acoplado ao sistema de saneamento básico que funcione, pois isto gera
saúde e promove. Desenvolvimento Sustentável como forma de se ter uma sociedade mais justa.
Ao serem apontados os problemas de falta de água na comunidade, estes foram rapidamente
sanados com obras de ampliação da rede de abastecimento. Um problema levantado por um dos
grupos foi o alto índice de alcoolismo entre os jovens, e devido a isso pediram-se mais atividades
esportivas focadas ao problema, foram criados cursos de vôlei, capoeira e mais aulas de esporte nas
quadras.
No que se refere à infestação de escorpiões, relatada pela comunidade, a própria
compreendeu que, as inúmeras queimadas promovidas no entorno, deixando os morros totalmente
degradados. No habitat natural desses artrópodes obriga-os a buscar novo refúgio nos boeiros e casa
da comunidade, além do fato de que solo descoberto de vegetação, torna-se um grandes escorredor
de solo no período de chuva, reduzindo o processo de infiltração de água para o lençol freático e
promovendo a lixiviação do riacho Manuel Pereira, um dos objetos de drenagem desta microbacia
do Rio da Flores.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

No entorno desta comunidade encontramos uma área de Floresta Municipal criada em 2007
pelo decreto nº056, área que é queimada todo ano, segundo os moradores para manter afastadas as
cobras, porém trazendo para seu convívio os escorpiões.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a aliança entre o escola, comunidade e gestores públicos é fundamental,


como estratégia nas atuais abordagens, pois através destas, buscamos resguardar o que ainda nos
resta de reservas da biosfera, para garantir às futuras gerações, um planeta habitável. Tendo como
ferramenta poderosa a Educação Ambiental, se conseguir-mos fundamentar estratégias de
intervenção consciente nos programas/projetos que pretendamos desenvolver.
A interlocução entre o poder público e a comunidade resultou na conquista de melhores
condições, com obras na rede que fornece água, porém foi como uma gota em um copo que começa
a encher, indo ao encontro da conscientização da comunidade, de noção de cidadania, do direito à
saúde e a um ambiente mais saudável, condições essenciais para a sustentabilidade da qualidade
ambiental.

AGRADECIMENTOS

Ao prefeito Vicente Guedes, por promoveu junto aos vereadores Rafael Teodoro e o
vereador Felipe do Bar, um fórum com a comunidade de Taboas, a fim de iniciar um Processo de
Gestão Participativa e Sustentável, na qual as ações estejam voltadas para garantir um futuro
socioambiental correto para o município.
À Equipe Pedagógica e Direção do Colégio Estadual Nephtalina Carvalho Ávila, por sua
intensa e motivadora atuação durante todo projeto.
À Secretaria de Saúde, por dispor de seus profissionais de forma tão gentil e participativa.
Por ultimo, porém de vital importância para a realização deste trabalho, o apoio e
colaboração da Secretario de Meio Ambiente, Guilherme Guedes e sua equipe.

REFERÊNCIAS

AZEDO. Plauto Faraco de. Ecocivilização: Ambiente e direito. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2006. P.13

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais, Ética. Brasília: MEC,
1997.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1476


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

DELORS,J. Educação: Um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez,1998. Disponível


em:http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/uc000009.pdf. Acesso em: 8 de set.2016

FRIGOTTI, G. A interdisciplinaridade como necessidade e como problema nas ciências sociais. In:
Jantsch, A. P.; BianchettiI, L. (orgs) Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995

Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981.

Lei n°9.795 de 27 de abril de 1999.

PEREIRA, Pedro H. S. &TERZI, Alex M. Filosofia e Educação Ambiental: o desafio da


contextualização do paradigma biocêntrico nas salas de aula. In: PEREIRA, Pedro H. S. (org.
et. al.). Atas da XI Semana de Filosofia da UFSJ. São João del-Rei: SEGRA, 2009. ISBN: 978-
85-88414-49-5.

VARGAS, L. A.; OLIVEIRA, T; F. V. de. Saúde, meio ambiente e risco ambiental: um desafio
para a prática profissional do enfermeiro. Revista de Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 15,
n.3, p.451-456, 2007. Disponível em:
http://www.portalbvsenf.eerp.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
35522007000300021&lng=pt&nrm=iso

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

NOVAS PRÁTICAS TURÍSTICAS ‗SUSTENTÁVEIS‘: DISCUTINDO O TURISMO


COMUNITÁRIO

Anna Karenina Chaves DELGADO


Doutoranda em Administração pela UFPE
annajpa22@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo busca discutir como o turismo comunitário emergiu como uma nova prática
enfatizando os motivos que o tornaram uma forma de organização turística recomendada para a
busca da sustentabilidade. Diferentes conceitos e formas de observar o turismo comunitário também
são apresentadas no artigo, assim, como fases de implementação e dificuldades encaradas pelo
turismo comunitário, possibilitando examinar de modo mais amplo o turismo em comunidades.
Palavras-chave: Turismo de base comunitária. Turismo comunitário. Sustentabilidade.
RESUMEN
El presente artículo busca analizar como el turismo comunitario emergió como una nueva práctica,
dando énfasis a los motivos que lo convirtieron en una forma de organización turística recomendada
para la búsqueda de la sostenibilidad. Diferentes conceptos y formas de observar el turismo
comunitario también se presentan en el artículo, así como fases de aplicación y dificultades que el
turismo comunitario hace frente como el problema de comercialización, posibilitando examinar de
modo más amplio el turismo en comunidades.
Palabras-clave: Turismo de base comunitaria. Turismo comunitario. Sostenibilidad.

INTRODUÇÃO

A origem do fenômeno turístico remota ao século XIX. Apesar de serem realizadas viagens
desde o império romano passando pela aristocracia europeia dos séculos XVI, XVII e XVIII; o
turismo só surge, a partir da organização dos primeiros pacotes de excursão desenvolvidos pelo
britânico Thomas Cook, assim como, pela ampliação da demanda por viagens causadas como
consequência da Revolução Industrial na Europa. (PANOSSO NETTO, 2013; HOERNER, 2011;
TRIGO, 2009; MOLINA, 2004; URRY, 1996).
Notadamente em consequência dos avanços desencadeados pela revolução nas áreas de
tecnologia, comunicação e de transportes (especialmente pela criação e popularização do trem a
vapor), além das novas relações de trabalho marcadas pela ascensão da classe burguesa.
(PANOSSO NETTO, 2013; HOERNER, 2011; FRANKLIN, 2008, 2004). Esses fatores tornaram
possível a composição do cenário que desencadeou no surgimento do turismo no século XIX.
Dessa forma, o marco fundacional do turismo dar-se em 1841 quando foi realizada a
primeira viagem planejada por Thomas Cook, com 570 passageiros saindo de um trem fretado de
Leiscester com destino a Lougboroug (no Reino Unido) para participar de um encontro sobre

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

temperança. (TRIGO, 2009). No entanto, apenas em 1844, Thomas Cook organizou sua primeira
excursão de lazer; esta foi para o litoral de Liverpool (URRY, 1996).
Apesar da origem da atividade turística está comumente associada ao caráter empreendedor
de Cook (URRY, 1996) houve todo um cenário favorável, criado pela Revolução Industrial, que
acarretou em sua origem. (PANOSSO NETTO, 2013; KRIPPENDORF, 2009; TRIGO, 2009;
FRANKLIN, 2008, 2004). De forma geral, a nova configuração do mundo pelo capitalismo
industrial auxilia na expansão das viagens (FRANKLIN, 2008), permitindo inclusive que outras
composições de público, além da elite europeia tenham acesso a elas. Não só os trabalhadores
industriais, mas também as mulheres solteiras tinham a possibilidade de viajar pela Europa, isso em
decorrência da padronização e massificação dos pacotes de viagem, que de maneira similar a
produção fordista, vão se expandido rapidamente (HOERNER, 2011; MOLINA, 2004; URRY,
1996).
O forte crescimento do turismo é temporariamente interrompido pela Primeira Guerra
Mundial. Ao final da guerra houve uma série de mudanças de ordem econômica e política que
levam a uma nova composição geopolítica do mundo, ascensão dos Estados Unidos como nova
potência mundial, crise na Europa, surgimento dos partidos comunistas/ fascistas, etc.
Todos esses fatores impactaram a atividade turística, apesar disso, no período pós-primeira
guerra, o turismo reinicia seu desenvolvimento, especialmente em países europeus onde a moeda
estava desvalorizada - como Alemanha e Itália. Mas crises econômicas (a exemplo da queda da
bolsa de Nova York em 1929) e a deflagração da segunda guerra levam a uma nova estagnação da
atividade que só volta a se desenvolver plenamente no período pós-guerra a partir de 1950
(PANOSSO NETTO, 2013; REJOWSKI & SOLHA, 2002).
Algumas das principais razões responsáveis pela retomada do crescimento das viagens
turísticas pós-segunda guerra foram a melhoria da infraestrutura turística, expansão das grandes
redes internacionais hoteleiras, férias remuneradas, paz prolongada, consolidação econômica da
classe média, desenvolvimento/ popularização de novos meios de comunicação e de transportes,
maior interesse em conhecer outros povos/ culturas, etc. (PANOSSO NETTO, 2013;
KRIPPENDORF, 2009; FRANKLIN, 2008; REJOSWSKI & SOLHA, 2002).
De acordo com Krippendorf (2009) o principal fator para a ascensão do turismo enquanto
atividade de importância mundial são as mudanças nas formas de trabalho. A partir da conquista de
direitos trabalhistas - como o descanso semanal, redução da jornada de trabalho para oito horas,
férias remuneradas – cria-se o cenário ideal para a popularização do turismo e sua utilização como
uma atividade geradora de reconstituição do trabalhador pós-industrial. "[...] por ocasião da
Segunda Guerra Mundial, houve uma aceitação geral da visão de acordo com a qual sair de férias

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

era bom e constituía a base da renovação pessoal. As férias quase haviam se tornado marca de
cidadania, um direito ao prazer". (URRY, 1996, p. 47).
Além das mudanças nas formas de trabalho como fator dinamizador do fenômeno turístico,
Urry (1996) ainda destaca o processo de internacionalização do turismo, causado pelo
desenvolvimento de novos meios de transporte (REJOSWSKI & SOLHA, 2002) - a exemplo do
avião a jato – e pela nova configuração de mundo (HOERNER, 2011) - como aspecto que promove
um declínio do modelo turístico de massa tradicional baseado nos balneários litorâneos. A
internacionalização possibilita que:

"cada local turístico possa ser comparado com outros que se encontram no exterior. [...]
O resultado dessa internacionalização é que diferentes países ou diferentes lugares de
um país passam a especializar-se no que se refere ao propiciamento de determinados
objetos a serem contemplados. Nas últimas duas décadas, surgiu uma divisão
internacional dos locais turísticos. A Grã-Bretanha passou a especializar seu turismo na
história e na herança cultural e isso afeta não só o que o visitante vindo do estrangeiro
espera contemplar, como também faz com que os residentes do Reino Unido se sintam
motivados a passar as férias em seu próprio país." (URRY, 1996, p. 73).

Os lugares desenvolvem novas especializações (URRY, 1996) que resultam em formas


diferenciadas de se vivenciar as viagens, fugindo do tradicional modelo do turismo de massa em
balneários. Essas formas diferenciadas de turismo podem ser entendidas como novas práticas
turísticas. Mas o que seriam essas práticas no contexto do turismo? E de que forma essas práticas se
associam ao discurso da ‗sustentabilidade‘?
Dessa forma, o objetivo do presente artigo é discutir como a diversificação das práticas leva
a formação/ composição de um tipo específico de turismo sustentável (o turismo de base
comunitária ou turismo comunitário). Para tanto, recorre-se a uma breve revisão de literatura sobre
os fatores que levaram a formação do turismo comunitário no Brasil e como esse fenômeno tem-se
apresentado nos dias atuais, enfatizando sua forma de organização.

O QUE SÃO PRÁTICAS?

Schatzki (2001) entende as práticas como matrizes da atividade humana, já Reckwitz (2002)
as observam como pequenas unidades de análise, compostas por comportamentos rotinizados como
atividades corporais, objetos e suas aplicações, conhecimento construído, know-how, estados de
emoção e conhecimento motivacional. (RECKWITZ, 2002). O objeto principal de análise da teoria
das práticas é o chamado ―campo das práticas‖.

[...] Fenômenos como conhecimento, significado, atividade humana, ciência, poder,


língua, instituições sociais, e transformações históricas ocorrem com e são aspectos ou
componentes do campo das práticas sociais. O campo das práticas é um nexo total de
práticas humanas interligadas. A abordagem da prática pode ser demarcada como todas
as análises que (1) desenvolvem uma descrição das práticas, ou um campo geral das
práticas ou algum subdomínio; ou (2) considera o campo das práticas como o lugar de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

estudar a natureza e transformação de um campo de estudos. Note-se que esta


demarcação faz com que a noção de campo de práticas seja o pivô da abordagem
prática. Schatzki (2001, p. 11, tradução nossa).

Na concepção de Reckwitz (2002), a teoria das práticas seria aquela que apresenta a melhor
explicação para o fenômeno das práticas sociais. Schatzki (1996, 2001, 2005), no entanto, enfatiza
que não existe uma única teoria das práticas, mas várias abordagens que emergem nos estudos de
etnometodologia, ciência/ tecnologia, filosofia e sociologia (SCHATZKI, 2001), além dos
diferentes campos de estudo que podem voltar-se para as práticas. O próprio conceito sobre o que as
abarca diverge. Schatzki (1996) acredita que existem, pelo menos, três diferentes concepções sobre
o estudo das práticas em termos sociais, a saber:

[...] Segundo uma delas, praticar é aprender ou melhorar a capacidade de fazer ou


carregar algo por várias vezes. [Na segunda versão tem-se] a prática como um
desdobramento temporal e espacialmente disperso do nexo de ditos e feitos. [...] Três
avenidas principais de ligação [do nexo] estão envolvidas: (1) através de
entendimentos, por exemplo o que dizer e o que fazer; (2) através de regras, princípios,
preceitos e instruções expressas; (3) através do que eu vou chamar estruturas
"teleoafetivas" abraçando extremidades, projetos, tarefas, propósitos, crenças, emoções
e estados de espírito. Estas avenidas não são a única forma de ligar as ações. Fazer e
dizer formam cadeias causais, em que cada elo consiste na ação subsequente a anterior.
[...] Conexões causais são partes da prática, no entanto, apenas se elas de algum modo
"resultam" ou "seguem" a organização da prática. [...] Uma terceira noção da prática é
a de performar uma ação ou realizar uma prática do segundo tipo. Esta noção denota o
fazer, a atividade real ou energização, no coração da ação. [...] Designa o
acontecimento contínuo no núcleo da vida humana da atividade e nos lembra que a
existência é um acontecimento que toma a forma de realização incessante e
transportado para fora. (SCHATZKI, 1996, p. 89 - 90, tradução nossa).

Apesar das muitas formas de encarar as práticas, notam-se aspectos comuns aos conceitos
apresentados. De forma geral as práticas consistem em comportamentos (nexo de ditos e feitos) ou
acontecimentos que são frequentemente repetidos por um determinado conjunto de indivíduos. A
formação dessas práticas dar-se devido a um processo de institucionalização dessas ações.
Ao analisar a discussão das práticas dentro do turismo pode-se questionar como se dá o
processo de formação/ repetição desses nexos de ditos e feitos que desencadeia a constituição do
turismo em comunidades.

O surgimento das práticas do turismo comunitário

Em grande medida, a composição de novas práticas turísticas se baseia em contestações ao


modelo tradicional do turismo de massa, especialmente no que se refere a padronização - crise do
modelo fordista (URRY, 1996) - e aos impactos socioambientais decorrentes de sua exploração.
Desse modo, a partir das décadas de 60 e 70 são iniciadas discussões sobre a formação de
um turismo ―suave e humano‖ (KRIPPENDORF, 2009) ou ―situado‖ (ZAOUAL, 2009) ou um
turismo ―alternativo‖ (CORIOLANO, 2009) ou mesmo um ―turismo de interesse alternativo‖

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(COOPER, HALL & TRIGO, 2011) que conseguisse responder aos diferentes anseios do público-
alvo cada vez mais diversificado. Fundamentadas em debates que buscam o desenvolvimento de um
modelo de organização turística mais preocupado com os impactos sociais e ambientais sem
esquecer da importância econômica da atividade. (LEMOS, 2005).
Por trás dessas proposições de novos modelos de organização turística encontra-se a
ascensão do discurso da sustentabilidade. Antes mesmo de emergir o conceito de desenvolvimento
sustentável criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no âmbito do relatório de
Brundtland em 1986, discussões correlatas já eram tecidas – a exemplo da Conferência de
Estocolmo, Relatório Meadows, Declaração de Tbilisi e a Carta de Belgrado.
Na verdade, as primeiras discussões no ocidente acerca dos limites das transformações
ambientais causadas pelo ser humano têm origem no movimento romântico do final do século XIX
ao qual proponha uma maior aproximação com a natureza, respeitando os seus limites. Por
influência desse movimento é criado em 1872 o primeiro parque nacional do mundo (Yellowstone),
localizado nos Estados Unidos. Essas ideias de preservação ambiental sobrevivem até os dias atuais
(HALL, GÖSSLING & SCOTT, 2015), ajudando a compor o que depois viria a ser denominado de
sustentabilidade65. (RUSCHMANN, 2008).
A evolução desses conceitos na atualidade leva a estudos e discussões sobre como aplicá-los
de forma mais ampla, em grande medida essas discussões são realizadas em eventos internacionais,
nacionais e regionais criados com a finalidade de chamar atenção das pessoas para a ―causa‖
ambiental (MOREIRA & CRESPO, 2012).
Os debates dentro desses eventos consistiam numa busca por novos modelos de
desenvolvimento que possibilitassem uma integração mais equilibrada entre as esferas ambiental,
econômica e sociocultural (NORTHCOTE, 2015). Dessa forma, começam a surgir novas propostas
de desenvolvimento, a exemplo do ecodesenvolvimento (SACHS, 1993), desenvolvimento como
liberdade (SEN, 2000), desenvolvimento situado (MAGNAGHI, 2000), desenvolvimento primeiro
(BURNS, 2004), desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local, regional, territorial,
autóctone, etc. Todas essas discussões são em grande medida incorporadas ao debate sobre as
formas de organização turística, tendo em vista a busca por novos modelos de organização da
atividade.
Com o declínio do turismo de massa e elitista motivado pela crise do gerenciamento
uniformizador das atividades turísticas e pela internacionalização, as formas de consumação do
turismo passam a questionar a uniformização valorizando a multiplicidade de destinos e de
experiências turísticas (TELES, 2011; ZAOUAL, 2009; RUSCHMANN, 2008). Novas formas de

65
Para alguns pesquisadores, a discussão sobre sustentabilidade e participação no turismo surge apenas como um
engodo para retirar o foco dos grandes empreendimentos turístico e do processo de exclusão que é causado por esses,
sem que na prática tais ideias de fato de apliquem.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

organização são pensadas, tendo em vista que o turismo de massa já não respondia mais as
demandas socioambientais. Dessa maneira, o desenvolvimento de estudos e eventos relacionados a
sustentabilidade dentro do turismo expandem-se rapidamente com a finalidade de construir
empiricamente uma nova forma de organização.
Os primeiros estudos a ilustrar os malefícios trazidos pelo turismo de massa nos destinos
receptores e apontando para a necessidade de repensar as práticas turística remetem aos anos 80.
Órgãos como a Organização Mundial do Turismo (OMT), Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), World Travel and Tourism Council (WTTC), além de
diversos autores como Krippendorf, Murphy, Poon, etc. divulgam estudos que discutem os danos
causados pela grande quantidade de turistas nos núcleos receptores.
Nos eventos internacionais planejados por esses órgãos e por professores interessados na
temática são discutidos modelos alternativos ao desenvolvimento do turismo tendo a
sustentabilidade como fundamento. A exemplo da Conferência da OMT (Manila), Fórum
Internacional de Turismo Solidário (Marsella), Fórum Interamericano de Turismo Sustentável. E no
Brasil tem-se o Seminário Internacional de Turismo Sustentável (Fortaleza), Encontro Nacional de
Turismo de Base Local (São Paulo) etc. Além dos eventos constituírem espaço para discussão de
novos modelos de organização turística também auxiliam na formação de parcerias para a criação e
implementação de iniciativas de turismo sustentável.
Assim, a sustentabilidade emerge como uma nova forma de se pensar a organização
turística. Essa pode ser entendida como uma forma de organização das práticas que oferece
benefícios para a comunidade local sem degradar o meio ambiente (RUSCHMANN, 2008;
SWARBROOKE, 2000), ou seja, procura estabelecer uma utilização equilibrada dos recursos
ambientais, econômicos e socioculturais. No entanto, Hall, Gössling e Scott (2015) chamam atenção
para a noção controversa do ―equilíbrio‖ proposto pelo desenvolvimento sustentável, tendo em vista
que, depende dos valores e ideologias dos vários grupos de interesse (stakeholders) envolvidos no
projeto.
Para ilustrar a afirmação de Hall, Gössling e Scott (2015), Cooper et al (2007) chamam
atenção para a sustentabilidade empírica dos projetos turísticos. Segundo os autores, a maior parte
dos projetos turísticos que se auto intitulam sustentáveis utilizam o termo apenas como argumento,
ou seja, como retórica para atrair uma maior demanda turística, tendo pouca ou nenhuma
aproximação com os princípios da sustentabilidade.
Independente das controvérsias formadas com relação a sustentabilidade, houve uma
incorporação do conceito de sustentabilidade ao turismo, o que fez emergir uma série de
performances sintonizadas com a sua proposta. Dentre os delineamentos mais promissores tomados

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pelo turismo sustentável nas regiões Norte e Nordeste do Brasil (CORIOLANO, 2009;
MALDONADO, 2009) têm-se a formação da organização turística comunitária.
Murphy (1985) foi o primeiro autor a utilizar a expressão turismo comunitário para
apresentar a ideia de que os destinos turísticos deveriam ser organizados e geridos pela própria
comunidade. Segundo Murphy (1985), o planejamento turístico deve adotar uma abordagem
ecológica que enfatize o controle local do processo de desenvolvimento. A partir dos estudos de
Murphy (1985) atribui-se uma denominação a um fenômeno que já podia ser observado
empiricamente.
Maldonado (2009) afirma que as primeiras iniciativas de organização turística comunitária
da América Latina ocorreram ainda na década de 80 em ambientes rurais. Mas que a origem do
fenômeno se deu na Europa, alguns poucos anos antes de chegar a América Latina.
Isso devido a busca pela diferenciação de destinos causada por uma repulsa ao turismo de
massa (que se inicia na Europa), ascensão de preocupações com a preservação do patrimônio
natural/ cultural desencadeada pelos ideais sustentáveis, necessidade de emprego e renda nos
ambientes rurais, o papel relevante que desempenham as pequenas e microempresas no
desenvolvimento econômico local, estratégias políticas do movimento rural e indígena para a
preservação de seus territórios ancestrais.
De forma geral, o modelo de organização turística pós-década de 50 começa a desenvolver
impactos negativos sobre as comunidades locais em termos ambientais, culturais e econômicos.
Esse fator associado a compreensão na área de planejamento urbano e regional de que as
comunidades envolvidas deveriam participar do processo de tomada de decisão para que pudesse
ser garantido o sucesso dos projetos a longo prazo, levam ao desenvolvimento do turismo por
comunidades. (COOPER, HALL & TRIGO, 2011; ZAOUAL, 2009).
As principais razões que levam ao surgimento e expansão da organização turística
comunitária no mundo são sintetizadas na figura 1, a seguir.

Criação de novos modelos de


Queda do turismo de massa e desenvolvimento Eventos que discutem a
busca de diversificação sustentabilidade

Atuação das micro e Estratégias políticas do


pequenas empresas Turismo
movimento rural e indígena
comunitári
o
Ascenção do conceito de Combate as condições de
Sustentabilidade pobreza da população rural
Malefícios do turismo de
massa a população
Figura 1: Fatores que contribuíram para a formação do turismo comunitário no mundo
Fonte: Compilação baseada em vários autores (2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ao observar empiricamente o surgimento das primeiras iniciativas de organização


comunitária já se pode afirmar que esses não são propriamente segmentos turísticos, mas algo de
maior amplitude. Assim, é traçada uma distinção entre o turismo comunitário (TC) que é visto
como um segmento de mercado e o turismo de base comunitária (TBC) observada como uma forma
de organização. Mielke & Pegas (2013) e Mielke (2009) propõem que o TBC seja observado como
uma metodologia de trabalho ou estratégia de organização turística, que possui como objetivo
principal melhorar as condições de vida das comunidades que optam por aplicar o modelo.
Com relação a presença de projetos de turismo comunitário e de turismo de base
comunitária no Brasil, notam-se iniciativas em todas as regiões brasileiras. A maior parte das
iniciativas existentes nas regiões Norte e Nordeste brasileiros se encontram associados a gestão de
atrativos naturais (BARTHOLO, SANSOLO & BURSZTYN, 2009), ou melhor, aos modos de vida
das populações tradicionais e na forma como essas se relacionam com a natureza exercendo
atividades de pesca, cultivo, extração e coleta. Assim notam-se iniciativas relacionadas ao turismo
de sol e praia, ecoturismo, agroturismo, turismo rural, etc.
O conceito do turismo comunitário e do turismo de base comunitária ainda não é um
consenso no meio acadêmico, muitos consideram as duas nomenclaturas como sinônimos, outros
traçam essa distinção entre segmento de mercado e forma de organização. Ainda há uma associação
do TBC e TC a vertente do turismo de experiência, entende-os como uma espécie de nicho de
mercado desse segmento. Sendo assim, independente de como são vislumbrados o TBC e o TC,
estes têm-se tornando um fenômeno amplamente discutido e, de certa forma, desejado (como
modelo ideal de organização turística) pela academia, que frequentemente procura incentivar a
implementação de projetos de turismo comunitário em várias localidades.
Coriolano (2009) acredita que no ‗verdadeiro‘ turismo comunitário ou no turismo de base
comunitária a ideia de implementação do projeto de TBC deve partir da própria comunidade, e não
ser imposta ou apresentada por algum agente externo. O TBC tem que surgir pela vontade da
comunidade e não pela vontade de outros. Por outro lado, Bursztyn & Bartholo (2013) observam
que, na prática, a maioria das iniciativas de turismo comunitário partem de agentes externos a
comunidade, já que para iniciar os projetos é necessário ter algum capital e/ ou possuir
conhecimentos técnicos que possibilitem formatar/ delinear as ações iniciais necessárias para que a
iniciativa prospere. Em muitos casos, esses projetos são amplamente aceitos posteriormente pela
comunidade, que abraça a ideia e pode tomar a frente no processo de organização do turismo
comunitário.
Apesar da ideia e/ ou iniciativa partir de um agente externo não há uma inviabilização da
participação da comunidade e de que essa de fato consiga gerir e se beneficiar do turismo, pelo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contrário, devem ser criadas ferramentas que permitam a inclusão plena da comunidade, caso esses
dispositivos não consigam ser criados não se tem um turismo comunitário.
Assim, para Bursztyn & Bartholo (2013) o projeto se inicia com agentes externos a
comunidade, sem deixar de ter a participação da comunidade na formatação do projeto. Nesse
sentido, o Instituto Saúde & Alegria (2012) – órgão que atua na elaboração de projetos de turismo
comunitário – apresenta um modelo para o planejamento participativo de iniciativas de turismo em
comunidades, sendo esse formado pelas seguintes fases: (1) mapeamento participativo; (2)
elaboração de plano e (3) aprovação de plano. As ações de cada fase são resumidas no quadro 1 a
seguir.

1º Momento: 2º Momento: 3º Momento:


Mapeamento Participativo Elaboração de plano Aprovação de plano
 Sensibilização e mobilização de toda  Fóruns e reuniões  Fase simultânea com o
a comunidade para aceitação da ideia; comunitárias; 2º momento (elaboração
 Visualizar a realidade do território e  Divisão das plenárias em do plano), a medida que
as questões mais relevantes do local; grupos de trabalho (GT) surgem discordâncias
 Identificar possíveis oportunidades  Desenvolvimento do essas são debatidas e o
econômicas e planejar investimentos; plano em conjunto com a projeto vai sofrendo
 Qualificar e fornecer a organização associação de moradores. alterações.
coletiva da comunidade.
Quadro 1: Momentos de organização de iniciativas de turismo comunitário
Fonte: Compilação baseada em Instituto Saúde & Alegria (2012).

O quadro 1 apresentado pelo Instituto Saúde & Alegria (2012) consiste numa proposição de
modelo – dentre tantos outros – para a implementação do TBC e TC de modo a incluir
verdadeiramente a comunidade local no processo de organização e gestão do turismo, no entanto,
nesse modelo esquece-se de uma etapa de suma importância para as iniciativas, a fase de
comercialização. De acordo com Bursztyn & Bartholo (2013), a maior parte dos projetos de TBC
falham devido a problemas associados a comercialização dos destinos. Apenas planejar e organizar
os destinos de TBC não é suficiente, a vertente econômica do turismo, ou melhor do turismo
comunitário ou turismo de base comunitária, como um produto turístico não pode ser esquecido. É
necessário pensar nas formas de distribuição, promoção e comercialização das iniciativas.
Nesse sentido, pode ser necessário recorrer a agentes típicos do turismo de massa como as
agências e operadoras de viagem, provavelmente, aquelas grandes agências/ operadoras não vão se
interessar por comercializar esses roteiros, a solução é procurar por operadoras e agências que
busquem por destinos mais diferenciados que trabalham com outras formas de experiência
turísticas.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A elaboração de canais de distribuição direta também podem auxiliar na comercialização


dessas iniciativas, no entanto, requer um forte esforço por parte das comunidades em termos de
melhorias nas ações de promoção/ comunicação e de forma geral na administração desse produto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pode-se perceber houve toda uma composição de fatores que levaram a formação do
TBC e TC como uma das muitas práticas turísticas pós-modernas. Sua classificação como
sustentável está assentada na percepção de que os frutos econômicos e sociais vindos da exploração
do turismo são direcionados a população que é empoderada, reconhecida como a verdadeira ‗dona‘
do seu território, sem apropriação deste pela ‗indústria‘ do turismo como comumente acontece nos
modelos tradicionais de desenvolvimento turístico. Além disso, a vertente da sustentabilidade
ambiental também é reconhecida, já que dentro do TBC e TC são enfatizados os modos de vida das
populações locais voltando-se para as práticas tradicionais de convivência com a natureza, onde
supõe-se que há uma forte preservação do ambiente natural.
No entanto, apesar das considerações feitas sobre a sustentabilidade do turismo comunitário
e da ampla busca pela aplicação destas iniciativas, há um grupo de estudiosos de antropologia/
sociologia do turismo como Santana (2009), que observa alguns desses projetos como
insustentáveis no sentido que exploram a miséria das populações tradicionais. A atração
apresentada pelo TBC e TC está na diferença entre os modos de vida da população local e dos
turistas. No Brasil, essa diferença no caso do turismo em favelas, em comunidades ribeirinhas, etc.
pode estar voltada justamente para a miséria que é vivida pelas comunidades, assim, não é a forma
de se relacionar com a natureza que serve como atrativo ou mesmo as práticas culturais dessa
comunidade, mas sim a miséria, a forma como a comunidade consegue sobreviver em meio a tantas
dificuldades em termos de condições de moradia e infraestrutura. Nesse caso, o que se tem a
constituição da população como um atrativo turístico, uma apropriação de pessoas pelo turismo
formando uma lógica pervença e insustentável. (OURIQUES, 2005).

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1489


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

BRINCADEIRA DE CURUMIM, LIXO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FRAGMENTOS


DE UMA EXPERIÊNCIA NA ALDEIA INDÍGENA ACARÁ-MIRIM-PA

Cilene Letícia Neves NEGREIROS


Assistente Social Especialista em Saúde Mental UFMA
ncileneleticia@yahoo.com.br

RESUMO
O artigo traz o registro de uma experiência em educação ambiental realizada com crianças
indígenas na terra indígena Acará-Mirim, localizada no município de Tomé-Açú, nordeste do estado
do Pará em que se utilizou uma atividade lúdica para ilustrar como o brincar pode se tornar uma
ferramenta importante no processo de aprendizagem das crianças sobre o meio ambiente. Enfoca
que as mudanças ocorridas no modo de ser e viver dos povos indígenas, dentre outras
consequências, têm gerado um crescente consumo de produtos industrializados e consequentemente
uma expressiva produção de lixo nas aldeias. Demonstra que brincado, há a possibilidade de
melhor internalização de valores por partes dos curumins e que estes podem ser atores sociais
importantes no processo de disseminar os cuidados com a terra indígena e contribuir para a sua
preservação.
Palavras Chave; brincadeiras de criança, educação ambiental, povos indígenas
ABSTRACT
The article presents the record of an experience in environmental education with indigenous people
in the Acará-Mirim indigenous land, located in the municipality of Tomé-Açú, northeast of the state
of Pará, where a playful activity is used to illustrate how play can become A An important tool in
the process of children's learning about the environment. It emphasizes that as a change, it is not the
means of being and living of consumers, among other consequences, has generated an increasing
consumption of industrialized products and consequently a significant production of garbage in the
villages. It demonstrates that in play, there is a possibility of better internalization of values by parts
of the curums and that these can be important actors in the process of spreading care for an
indigenous land and contribute to its preservation.
Key words: Child plays, environmental education, indigenous people

INTRODUÇÃO

No mundo imaginário da criança, o brincar é uma atividade que a põe em contato com o
outro, que a faz interagir, socializar-se. Brincando, ela se apropria do tempo e do espaço, cria e
transforma. Friedmann apud Jesus (2010) reitera que, na História da Educação, o brincar é
considerado importante, pois as atividades lúdicas e as brincadeiras têm sua contribuição no
processo do conhecimento e na aprendizagem, afinal brincando a criança se comunica com o
mundo.
Nascimento, Rodrigues apud Santos (2010) enfatizam que pais e profissionais não devem
ficar indiferente ao brinquedo, ao jogo e às brincadeiras, porque essas são bases para o crescimento

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

da criança, o que possibilita para ela explorar o mundo, descobrindo-se, entendendo-se e


posicionando-se em relação a si mesma e à sociedade.
As crianças indígenas que moram em aldeias de áreas rurais nascem e crescem brincando
em árvores, nadando nos rios, correndo atrás de animais, colhendo frutos, catando sementes e
misturando-se a terra. Segundo Friedmann (2012), brincadeiras de áreas rurais têm algumas
características particulares: acontecem em amplos espaços em contato direto com a natureza,
fundindo-se nos elementos do entorno que motivam esses repertórios lúdicos. Os brinquedos são
geralmente criados e construídos com o que o próprio meio oferece: água, terra, plantas, árvores,
bichos.

A EXPERIÊNCIA DA GINCANA ECOLÓGICA

Pensando nessa disponibilidade de espaço, fauna, flora e elementos motivadores para os


curumins e ainda na crescente produção de lixo produzida pelos moradores da aldeia Acará-Mirim
propusemos uma ―gincana ecológica‖ que tinha o objetivo de propiciar atividades lúdicas para a
criançada, fazendo com que o brincar, como atividade criadora e fomentadora de uma ação
protagonista que é, também funcionasse como exercício de cidadania, no qual concretamente as
crianças seriam as responsáveis por catar e limpar o lixo da aldeia e assim internalizarem valores
importantes como cuidado, preservação, respeito pela natureza e responsabilidade como cuidadores
do patrimônio comum de todos. Aqui, corrobora-se com os princípios da educação ambiental
comentado por Dias (2004) em que a educação ambiental deve favorecer os processos que
permitam que os indivíduos e os grupos sociais ampliem a sua percepção e internalizem,
conscientemente, a necessidade de mudanças.
Pereira et al apud Medina (1999) esclarece que não se trata tão somente de ensinar sobre a
natureza, mas de educar para e com a natureza, assim compreender e agir corretamente os
problemas das relações do homem com o ambiente. Portanto, é importante saber educar para a
natureza, havendo finalidade nos trabalhos realizados com educação ambiental e com a natureza,
através de dinâmicas e exercícios correspondentes. Dessa forma, os conhecimentos e valores
trabalhados tendem mais facilmente a serem percebidos e assimilados em termos da conscientização
ambiental.
O presente artigo é resultado das reflexões a cerca da atividade denominada ―gincana
ecológica‖ realizada como atividade pedagógica de educação ambiental e de saúde, proposta pela
assistente social que compunha a equipe multidisciplinar de saúde indígena atuante na área, para as
crianças da aldeia indígena Acará-Mirim, no nordeste do estado do Pará, uma vez que, para a
assistente social, as atividades lúdicas representavam uma forma de alcançar o público infantil,
promover estados de alegria e bem estar para eles e consequentemente melhores estados de saúde.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ainda, devido a observação de que o lixo tornara-se um problema a ser combatido, uma vez o
descarte na natureza, o que poderia causar doenças e dava a impressão de descuido com o meio
ambiente na terra indígena, sendo preocupação constante da equipe de profissionais que atendia os
indígenas daquela região.
Sabe-se que as mudanças ocorridas no modo de ser e viver dos povos indígenas ocasionam
diversas questões sociais, dentre as quais, as ligadas ao ambiente, representadas principalmente pela
intrusão de suas terras, desmatamento, poluição das águas e dos rios, aumento da produção do lixo
em decorrência do aumento do consumo de produtos industrializados, dentre outras igualmente
nocivas para a sobrevivência desses povos.
Para entender um pouco mais a questão do lixo nas aldeias indígenas, recorremos a
Marcondes (2014), o qual constata que a perda histórica das terras e dos recursos naturais e os
constantes contatos interetnicos têm transformando pelo menos uma parte das economias indígenas
dependentes da lógica econômica de mercado capitalista e alterado o padrão de consumo nas
aldeias. Em decorrência circula, cada vez mais nas aldeias, produtos antes não consumidos pelos
povos indígenas como fraldas descartáveis, garrafas pet, embalagens plásticas diversas, vidros,
dentre outros. Resíduos que comumente são descartados no ambiente, quando não são queimados
ou enterrados.
A gincana ecológica foi proposta para um grupo de mais ou menos 25 (vinte e cinco)
crianças e adolescentes. Foram formados 5 grupos, com 4 a 5 membros e foram distribuídos sacos
plásticos grandes de 30 litros para a guarda do lixo e sacos pequenos para a proteção das mãos.
Todos receberam a orientação de separar os vidros e empilhá-los para que não fossem misturados
aos outros lixos. Previamente à organização da atividade, foi realizada com as crianças uma
pequena abordagem sobre a questão do lixo nas aldeias, uma mini palestra com duração de 10
minutos, cuja ênfase recaiu sobre o fato do lixo provocar doenças, acidentes e ainda causar um
aspecto de descuido por parte dos moradores. Foi solicitado às crianças que a partir de então
cuidassem melhor da área de moradia que era comum para todos e que ainda ensinassem a seus pais
e irmãos que não deveriam jogar lixo na aldeia pois estariam colaborando para o aparecimento de
doenças e para deixar o ambiente sujo e feio. Ansiosos que estavam para o início da atividade não
deram tanta importância para o fala fala.
As crianças partiram então para a ação e se notava fortemente a empolgação e alegria que
tomou conta de todos (as). Estipulamos o tempo de 40 minutos e após esse intervalo contou-se 44
(quarenta e quatro) sacos de lixo, o que deixou os adultos da aldeia inquietos e envergonhados com
tanto sujo verificado na área indígena, juntado pelas crianças. À época nos sentimos numa saia justa
e não entendemos muito bem a reação de algumas pessoas da comunidade, pois não era nossa
intenção causar constrangimento e vergonha para os moradores. Contudo, só depois de um tempo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

fomos refletir que no imaginário de uma grande parte das pessoas, os povos indígenas são modelos
de preservação de meio ambiente e cuidado com a natureza. E o são de verdade.
Entretanto, as mudanças ocorridas no modo de ser e estar de alguns povos, mais fortemente
naqueles com maior e mais intenso contato com os não indígenas e com as cidades, tem modificado
a sua relação com a natureza, a partir do momento em que absorvem hábitos e maneiras da
sociedade contemporânea, regida por uma lógica capitalista perversa que destrói o meio ambiente, o
polui, o inviabiliza para algumas economias tradicionais e o degrada, atingindo diretamente
populações tradicionais, dentre as quais os povos indígenas.
De certa forma o constrangimento dos moradores da aldeia se deu também pelo fato de que
eles mesmos ficaram surpresos da grande quantidade de lixo recolhido na área e que, de outra parte,
ainda não haviam mensurado o tamanho do estrago que o lixo fazia no espaço coletivo de moradia
de todos, agora medido e ilustrado pelos 44 sacos catados em área.
Oliveira (2015) nos informa que tanto lixo também é resultado do crescimento da produção
de produtos industrializados, embalagens (representa cerca de um terço do lixo doméstico) e do
nosso ciclo de vida, onde consumimos para sobreviver. O fato é que todo esse lixo gerado vai para
lixões e gera biogás, um dos principais causadores do efeito estufa, além de gás carbônico, entre
outras impurezas. Todos esses gases são prejudiciais para o meio ambiente
Por outro lado, ainda não havia sido realizado um trabalho que concretamente trouxesse o
problema do lixo à tona. Para a área de saneamento, a aldeia contava apenas com um supervisor de
saneamento da FUNASA – Fundação Nacional de Saúde e um agente indígena de saneamento,
basicamente encarregados de funcionar e fazer a manutenção da bomba d‘água que disponibilizava
o bem para os moradores. Estes ficaram agradecidos com a maneira palpável e concreta com que a
questão foi trabalhada. Como consequência, instituíram o dia D de cuidado e limpeza da aldeia que
consistia num dia do mês em que todos os moradores reuniam-se para a limpeza da área coletiva.
Hoje, 7 (sete) anos após a experiência relatada e com base na pesquisa e leitura de alguns
conteúdos pertinentes à educação ambiental (na época haviam apenas algumas noções), pudemos
apreender que a educação ambiental precisa partir do fato de que as pessoas devem conhecer as
interconexões existentes entre o ambiente e deste com os seres humanos, sem as quais não poderão
entender a delicada e recíproca teia de relações e comprometer-se com sua preservação. Nessa
direção, concordamos com Dias (2004) ao conceituar que a educação ambiental seja um processo
por meio do qual as pessoas apreendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o
afetamos, como podemos promover a sua sustentabilidade.
E por fim, conforme sustenta Gadotti (2000), a educação ambiental, também chamada de
ecoeducação, pressupõe uma mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida, que

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com a natureza e que implica atitudes,
valores e ações.
A alegria do brincar das crianças indígenas deve continuar acontecendo em um ambiente
onde possam crescer saudáveis, conscientes de suas responsabilidades para com ele, pequenos
curumins-cidadãos que brincando já se posicionam por um mundo melhor cuidado, em que não
faltem os rios, as árvores e os bichos.

REFERÊNCIAS

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de conservação no sertão de Pernambuco. Edivania do Nacimento Pereira, Maria José Lima
Teles, Ednilza Maranhão dos Santos. http://revistaea.org/pf.php?idartigo=1535

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MARCONDES, Camila. Descarte do Lixo e seu Impacto no Ambiente e Saúde: Percepção das
Comunidades Indígenas de Mangueirinha – Pr. 2014. 111 f. Dissertação. (Mestrado em
Desenvolvimento Regional) - Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2014.

O impacto do lixo nas mudanças climáticas, artigo de Francisco Oliveira, in EcoDebate, ISSN
2446-9394, 26/10/15, http://www.ecodebate.com.br/2015/10/26/0-impacto-do-lixo-nas-
mudancas-climaticas-artigo-de-francisco-oliveira/

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PRONERA EMANCIPANDO JOVENS CAMPONESES NO SEMIÁRIDO PARAIBANO


ATRAVÉS DO RESIDÊNCIA JOVEM

Danielson Soares de LIMA


Professor de História da Rede Pública de Ensino
limadanielson@hotmail.com
Jonieliton de Azevedo MARQUES
Graduando de Tecnologia em Gestão Ambiental – IFPB
jonieliton.marques7@gmal.com

RESUMO
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária é uma conquista dos movimentos sociais
para a educação no meio rural, no qual em 2010 tornou uma política pública de educação, através
do decreto n.º 7.352 de 04 de novembro assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim a
educação tornou um novo sentido a partir do PRONERA, surgindo uma educação inovadora, no
qual os homens e mulheres do campo são inseridos com suas lutas, conquistas, cultura e cotidiano,
ou seja, a realidade dos homens e mulheres do campo se torna presente. Neste sentido, o curso de
extensão Formação Sócio-histórica de Jovens Camponeses para Inovação Tecnológica no
Semiárido Paraibano. O Projeto Formação sociohistórica de jovens camponeses para inovação
tecnológica no Semiárido Paraibano foi estruturado como um curso Pós-médio para jovens oriundos
de assentamentos da Reforma Agrária, áreas tradicionais e da agricultura familiar na Paraíba, assim,
compreendendo a dinâmica da sociedade, em geral, do campo, e principalmente, do Semiárido
paraibano, desta forma, habilitando os jovens camponeses com técnicas e tecnologias, com
princípios da Agroecologia e da Educação do Campo para uma convivência sustentável e
harmoniosa no território do Semiárido da Paraíba. O projeto de Formação sociohistórica de jovens
camponeses para inovação tecnológica no Semiárido Paraibano surgiu da chamada n.19/2014 –
Fortalecimento da Juventude Rural, com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Informação-MTCI, Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA/INCRA e Secretaria Nacional de
Juventude e sendo operacionalizado pelo CNPq.
Palavras Chaves: Educação do Campo, Agroecologia, Jovens Camponeses, Semiárido da Paraíba
ABSTRACT
The Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA – is a conquer of social
moviments for the education in the rural environment. In 2010, it became public policy of
education, through the decree n.º 7.352 on november 4 signed by the President Luiz Inácio Lula da
Silva. Therefore, the education got a new significance from PRONERA, arising an innovative
education in which men and women from field are inserted with their struggles, achievements,
culture and daily, in other words, the reality of men and women from field become evident.
Hereupon, the Extension Course of Socio-historical Formation of Young Peasants for
Technological Innovation in the Paraíba‘s Semiaridwas structured as a Post-high school course for
youngs that come from settlements of Agrarian Reform, traditional areas and family farming in
Paraíba, thus, understanding the dynamics of society, in general, of field, and mainly, of Paraíba‘s
Semiarid, thereby, enabling young peasants through techniques and technologies about principles of
Agroecology and Field Education for a sustainable and harmonious living in the territory of
Paraíba‘s Semiarid. The project of Socio-historical Formation of Young Peasants for Technological
Innovation in the Paraíba‘s Semiaridarised from requirements n.19/2014 – Fortalecimento da
Juventude Rural, with financial support of Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação-MTCI,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA/INCRA and Secretaria Nacional de Juventude and it


has been operationalised by CNPq.
Keywords: Field Education, Agroecology, Young peasants, Paraíba‘s semiarid.

INTRODUÇÃO

No Brasil, política de educação pública historicamente é muito recente, sendo assim, em


1930, com Getúlio Vargas na presidência foi preciso repensar o modelo econômico que naquele
momento era agroexportador, pois, a crise do café66estava atingindo em cheio a economia interna.
Para combate a crise que estava exposta o Estado adotou uma política educacional, que era
necessário, para o novo modelo econômico industrial que, Vargas pretendia desenvolver no Brasil.
Então, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde, assim construiu um sistema público
de ensino. Para isso, Ghiraldelli (2009, p.101) expressa: ―O nacionalismo e o trabalhismo de
Vargas, que prometiam o desenvolvimento industrial de nosso país associado ao bem-estar social de
nosso povo mais pobre, defendiam a tese de que o Estado deveria responsabilizar-se em maior grau
diante da necessidade de distribuição de educação para as classes populares‖.
Neste aspecto, aspolíticas educacionais pensadas por Getúlio, foram para o desenvolvimento
das indústrias no Brasil, desta forma, o mundo camponês não fazia parte projeto de educação. Haja
vistas, que o maior número populacional se concentrava no campo com cerca de 60% dos números
de habitantes do Brasil. Contudo, mesmo com a iniciativa de fomentar a educação escolar urbana o
governo Vargas não obteve tanto sucesso nesse primeiro momento, como Ghiraldelli
(2009)menciona.

Na tentativa de fazer valer a tese, Vargas procurou aumentar as despesas públicas com o
ensino. Entretanto, o ensino superior foi mais contemplado que o ensino primário. Além
mais, não houve grandes alterações no número de matrículas no ensino primário, e a
alfabetização durante a gestão Vargas (pós-Dutra) cresceu apenas 1,79%. As mazelas da
educação pública continuaram evidentes; e a exclusão permaneceu regra básica do sistema
escola. (p. 102)

Seguindo com poucas alterações nos números de alfabetização, e, mudanças nas políticas
educacionais, na década de 1960, que tivemos mudanças, mas esse decênio foi um momento muito
conturbado politicamente. Em 1960, Jânio Quadros venceu as eleições para presidente, no qual,
assumiu em 1961, porém seu governo durou apenas 7 meses, pois o mesmo renunciou ao mandato,
assim, o Vice-Presidente João Goulart assumiu a Presidência da República. Goulart fomentou
política de educação para o meio rural a partir da Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDBEN, a 4.024/6, neste sentido, em 1971, o governo de do General Emílio Garrastazu Médici67 a

66
A crise foi provocada pela queda da Bolsa de Valores de Nova York nos Estados Unidos.
67
General Emílio Garrastazu Médici foi um dos Presidentes que assumiram a Presidência da República durante a
ditadura militar, que iniciou, com o golpe civil-militar em 1964.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

aprovação da Lei 5.692/71. Ambas as leis tratavam de políticas educacionais para o meio rural. Para
entendimento Davis (2004, p. 85) expressa o artigo 105 da LDBEN 4.024/61: ―Os poderes públicos
instituirão e ampararão serviços e entidades que mantenham na zona rural escolas ou centros de
educação capazes de favorecer a adaptação do homem no meio e o estímulo de vocações e
atividades profissionais‖.
Na década de 1970 houve uma efervescência política no Brasil, muito causado pela
insatisfação do povo perante o governo militar, sendo assim, os trabalhadores começam a
reorganizar, e, esse fato cominou na greve geral de 1978, no qual, cerca de dois mil metalúrgicos
cruzaram os braços reivindicando aumento salarial de 20%. A década de 1980 praticamente
começou com ebulições políticas, em 1981, os trabalhadores de São Bernardos dos Campos 41 dias
parados.
No campo a igreja católica reorganizou os trabalhadores rurais, a partir das Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), usando os princípios da Teologia da Libertação 68, e, com discurso que os
trabalhadores tinham que se organizar para buscarem seus direitos como filhos e filhas de Deus.
Desta forma, as CEBs entraram no processo de redemocratização com os trabalhadores rurais e
tendo uma importância crucial na vida dos trabalhadores do campo, como Stédile e Fernandes
(2012) enfatizam:

O surgimento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 1975, em Goiânia, foi muito


importante para a reorganização das lutas camponesas. [...]. De certa forma, foi uma
autocrítica ao apoio da Igreja católica ao golpe militar, sobretudo em relação aos
camponeses. Com o surgimento da CPT, há um movimento de bispos, padres e agentes de
pastoral, em plena ditadura militar, contra o modelo que estava sendo implantado no campo
(p. 19-20).

A CEBs era o meio em que os trabalhadores se organizavam para as lutas. Assim, Stédile e
Fernandes (2012) reforçam:

A CPT foi a aplicação da Teologia da Libertação na prática, o que trouxe uma contribuição
importante para a luta dos camponeses pelo prisma ideológico. Os padres, agentes
pastorais, religiosos e pastores discutiam com os camponeses a necessidade deles se
organizarem. A Igreja parou de fazer um trabalho messiânico e de dizer para o camponês:
"Espera que tu terás terra no céu". Pelo contrário, passou a dizer: "Tu precisas te organizar
te organizar para lutar e resolver os teus problemas aqui na terra". A CPT fez um trabalho
muito importante de conscientização dos camponeses (p. 20).

A luta pela redemocratização ganhou força com trabalhadores do campo e da cidade,


estudantes representados por seguimentos como a União Nacional dos Estudantes (UNE), centrais
sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), artistas, intelectuais e outros segmentos
uniram-se em busca da democracia e uma nova constituinte. Neste sentido, só pode vislumbrar uma
política de Estado pautada pelo povo com organização do povo, e sobretudo, dos movimentos

68
Teologia da Libertação é um segmento cristão que surgiu após o Concilio Vaticano II e da Conferência de Medellín
(Colômbia, 1968). Os teólogos da Libertação fazem uma opção pelos pobres.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

sociais, assim, Santos (2012, p.6) discorre sobre esse assunto: ―[...] É somente por meio da pressão
social, articulada com a proposição política, que a sua estabilidade [do Estado] se instabiliza, que
sua imobilidade se move em favor das classes trabalhadoras. Que se torna possível constituir um
espaço público alternativo à ampliação do espaço privado‖.
Neste sentido, a redemocratização trouxe avanços fundamentais com a Constituição Federal
de 1988, no qual, o inciso III do artigo 3 expressa um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais. No que tangeeducação, a Constituição Federal de 1988 também apresenta avanços
expressivos, pois a Carta Magna trata como um direito:

Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
VII – garantia de padrão de qualidade;
Art. 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram
acesso na idade própria. (p.121)

Mesmo com esses direitos expressos pela Carta Magna o campo continuava desassistido por
uma educação inovadora para o homem e mulher do campo, e, com um índice de analfabetismo
muito alto. Segundo o IBGE, em 1991, o Brasil tinha uma população de 15 anos ou mais de 94.891
habitantes, deste número, 19,7% eram analfabetos, e, desta porcentagem total, 40,1% era da zona
rural. Um país que se configurava urbano tinha um número expressivo de analfabetos no campo.
Em 1997, na UNB – Brasília, aconteceu o Encontro Nacional de Educadores e Educadoras
da Reforma Agrária – ENERA, realizado pelo Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
MST, em parceria com a Universidade Federal de Brasília – UNB, com participações: dos
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, o Fundo das
Nações Unidas para a Infância – UNICEF e a Conferência Nacional do Bispos do Brasil – CNBB.
O objetivo do ENERA era partilhar as experiências de educação do campo69 que estava ocorrendo
em diversas regiões do país com alguns professores universitários de algumas instituições públicas
do Brasil, e, também, pressionar o Estado para cumprir o direito à educação como está previsto na
Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 9394/96 nas
áreas de assentamentos da reforma agrária. Após esse encontro outros movimentos se uniram a
pauta de Educação do Campo: Quilombolas, Movimentos dos Atingidos por Barragens – MAB,
Indígenas, Movimentos dos Pequenos Agricultores – MPA, Movimento das Mulheres Camponesas
– MMC. Esses movimentos juntaram-se ao Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
69
Segundo Ribeiro (2013) Educação do Campo é uma nomenclatura ainda em construção, contudo, a Educação do
Campo traz elementos do cotidiano do homem e mulher do campo no processo de alfabetização, como por exemplo, as
lutas pela terra, o processo agropecuário e outros.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(MST), Associação em Áreas de Assentamentos no Estado do Maranhão (ASSEMA) e


Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
E em 1998, o Governo Federal, através Ministério Extraordinário de Políticas Fundiárias,
criou o PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, por meio da Portaria
Nº.10/98. Como o manual do PRONERA (2016), ressalta:

O PRONERA nasceu em 1998, a partir das lutas dos movimentos sociais e sindicais do
campo pela garantia do acesso à escolarização a milhares de jovens e adultos, trabalhadores
das áreas de reforma agrária que, até então, não haviam garantido o direito de se alfabetizar,
tampouco o direito de continuar os estudos em diferentes níveis e modalidades de ensino.
(p. 9)

Em 2010, o PRONERA tornou-se uma política de Educação do Campo, através do decreto


n.º 7.352 de 04 de novembro assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de
desenvolver projetos formais com instituições de ensinos, para camponeses que sejam beneficiarias
dos Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), do Crédito Fundiário, e também de projetos
elaborados pelos órgãos estaduais, mas que reconhecidos pelo Incra.

METODOLOGIA DO PRONERA

Na contramão do sistema educacional vigente, que enfatiza as práticas, vivencia e cultura


das pessoas que vivem na cidade, excluindo, os homens e mulheres do campo, os projetos ligados
ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, que são realizados por instituições de
ensino, é uma forma de inserir o camponês em uma educação que faça parte de suas realidades.
Ribeiro (2013) enfatiza: ―A escola rural só tem identificação devido ao lugar onde está situada, pois
seus conteúdos, concepções e métodos são idênticos aos das escolas urbanas, na pressuposição de
que as cidades significam o progresso e a civilização‖.(p.182)
Desta forma, o projeto de extensão Formação sociohistórica de jovens camponeses para
inovação tecnológica no Semiárido Paraibano, surgiu, com a chamada CNPq n.19/2014 –
Fortalecimento da Juventude Rural, e,financiamento doMinistério da Ciência, Tecnologia e
Inovação-MCTI, Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA/INCRA e Secretaria Nacional de
Juventude-SNJ e operacionalizado pelo CNPq surgiu.A proposta foi apresentada pela Universidade
Federal da Paraíba, através, do Departamento de História, e, da Coordenadores do Projeto Profª.
Drª. Regina Célia Gonçalves e do Prof. Dr. José Jonas Duarte da Costa que participaram da
chamada CNPq n.19/2014 – Fortalecimento da Juventude Rural.
O Estado da Paraíba tem uma extensão territorial de56.469.466 Km2, no qual, 76% desde
território está localizado no Semiárido, assim, 170 municípios, de um total de 223, que o Estado da
Paraíba possui estão na região do Semiárido. Nestes 170 municípios do semiárido, há poucas
indústrias ou não existe na maioria das cidades, assim como o setor de serviços que são escassos,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desta forma, as rendas dos grupos familiares estão ligadas ao setor primário, aposentadoria rural,
Bolsa Família e ao setor público. A cultura camponesa é tão enraizada nas pessoas, que os
habitantes da cidade demonstram seus hábitos camponês no cotidiano.
O projeto de extensão Formação sociohistórica de jovens camponeses para inovação
tecnológica no Semiárido Paraibano formou na primeira turma 30 educandos e na segunda 25
educandos. O projeto passou a ser chamado de Residência Jovem. Foi realizado pela Universidade
Federal da Paraíba, e, com os parceiros: Instituto Nacional do Semiárido – INSA, Via Campesina e
a ASPTA. O projeto organizado como um curso de extensão Pós-médio, para jovens de 15 a 29
anos, oriundos dos assentamentos da Reforma Agrária, agricultura familiar e áreas tradicionais do
semiárido paraibano. O objetivo do foi formar jovenspara ter uma leitura sóciohistórica do
Semiárido paraibano, e, habilitá-los ao sistema de produção sustentável, com princípios da
agroecologia para uma vivência harmoniosa com o Semiárido. A primeira turma teve início em
fevereiro de 2015, terminado com a certificação em março de 2016. A segunda turma iniciou em
março de 2016, e, terminou com a certificação em abril de 2017. O curso foi realizado no município
de Lagoa Seca, especificamente, no Centro de Formação Elizabeth e João Pedro Texeira MST/PB.

ALTERNÂNCIA COMO ELEMENTO PEDAGÓGICO DO RESIDÊNCIA JOVEM

Para ser um procedimento pedagógico e curricular diferente da educação vigente o curso de


extensão teve uma metodologia pedagógica específica para os alunos do semiárido. O objetivo era
proporcionar aos educandos uma leitura crítica e contextualizada sobre a realidade do campo,
capacitando-os com tecnologias renováveis para uma vivência harmoniosa com o meio rural. Sendo
assim, os componentes curriculares eram compostos de aulas práticas e teóricas, que os educandos
poderiam confrontar seus conhecimentos empíricos com os conhecimentos científicos. Assim, a
produção do conhecimento científico se tornou um elemento próximo da vida dos jovens
camponeses.
A metodologia pedagógica utilizada para proporcionaro processo de ensino-aprendizagem
foi o da alternância, desta forma, foram usados elementos da Pedagogia da Alternância nos tempos
e espaços educativos.

Na Pedagogia da Alternância a ação educativa não está vinculada à mera comunicação dos
conhecimentos, atos que exigem somente compreensão e memorização, mas, sobretudo,
proporciona a operacionalização de pesquisas e experimentações práticas e considera a
experiência do cotidiano a matéria prima para uma aprendizagem dinâmica, contextualizada
e interessante. Busca-se a construção do conhecimento a partir do conhecimento empírico
do meio rural. (BEGNAMI, s/d)

A Pedagogia da Alternância não liga ao mero conhecimento dentro da sala de aula, os


conhecimentos que vêm da família, sindicatos, associações ou movimentos sócias são válidos, até,
mesmos os conhecimentos que não advém das experiências citadas acima.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Os períodos educativos são divididos em Tempo Escola – TE e Tempo Comunidade – TC.


Os estudos no TE não ficam restritos a sala de aula, pois, as aulas práticas também são
fundamentais para aprimoramento do conhecimento do educando. Para viabilizar o conhecimento
científico do conhecimento empírico foram trocados saberes com agricultores da região fazendo
visita de campo em seus locais de trabalho, no qual após esse olhar prático o educador explanava
cientificamente o que foi visto na visita.
Dentro do TE havia outros tempos educativos. Lima e Marques (2017) mostra como era
dividido:

Tempo de Aula: período diário dedicado aos estudos dos componentes curriculares
desenvolvidos pela Coordenação Política Pedagógica – CPP.
Tempo de Trabalho: reservado para os educandos cuidarem do ambiente escolar, ou seja,
cuidarem dos ambientes coletivos que eles mesmos usam.
Tempo de Leitura: é o tempo diário dedicado a leitura coletiva, no qual, os educandos
fazem a leitura em grupo. Esse tempo é organizado a partir dos conteúdos programados e
da necessidade dos professores que irão ministrar as aulas.
Tempo do Núcleo de Base: é o tempo reservado para participação política e democrática
dos educandos, sobre os assuntos ligados à escola e da organização dos NB para o dia
seguinte.
Tempo Cultural: destinado à socialização da turma com elementos culturais (músicas,
danças e místicas).

O Tempo Comunidade era continuação do período letivo, assim, os educandos aplicavam os


conhecimentos em suas comunidades, o qual proporcionava novos saberes a comunidade, e
sobretudo, o homem e mulher do campo. A Coordenação Política Pedagógica fez visitas de TC para
avalizar a aplicação dos conhecimentos pelos educandos. Na análise das atividades desenvolvidas
pelos educandos eram usados alguns elementos da alternância queLaurenti e Lima (2016)
descrevem:

- Caderno didático para anotações de aulas teóricas, práticas e de campo durante o Tempo
Escola;
- Caderno de campo onde o educando registra suas atividades do Tempo Comunidade, tanto
as orientadas em cada etapa do Tempo Escola, quanto atividades de seu projeto e outras
correlatas aos temas trabalhados e/ou pesquisados. O Caderno de Campo é um dos
instrumentos de avaliação do processo educativo de cada educando;
- Experiências vividas na família, na comunidade e intercâmbios (registradas no Caderno de
Campo e também com fotos e filmagens), orientadas e comprovadas pelas visitas da
Coordenação Político Pedagógica nos Tempos Comunidade;
- Projeto de Conclusão de Curso elaborado desde a primeira etapa do Tempo Escola, vai
sendo aprimorado enquanto escrita do projeto e implementadas suas ações conforme
cronograma;
- Avaliação dos educandos é processual. Os educandos também fazem avaliação do curso,
dos educadores, da infraestrutura, dos conteúdos, das atividades e da equipe pedagógica a
cada Tempo Escola, subsidiando à Coordenação Político Pedagógica os ajustes necessários.
(p.5)

Estas atividades eram de suma importância para dar continuidade as outras etapas do curso
de extensão, pois a Coordenação Política Pedagógica preparava cada período letivo de acordo com
as necessidades e dificuldades dos educandos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ORIGEM E PROTAGONISMO A PARTIR DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Os educandos da primeira turma eram de 17 cidades: Algodão de Jandaíra, Boqueirão,


Camalaú, Campina Grande, Catingueira, Cubati, Diamante, Itatuba, Juazerinho, Maturéia,
Monteiro, Olho D‘água, Patos, Remígio, São José dos Espinhares e Queimadas. Na segunda turma
foram de 18 cidades: Já na segunda turma, foram formados 25 jovens de 18 municípios: Algodão de
Jandaíra, Aparecida, Areial, Aroeiras, Boqueirão, Caraúbas, Casserengue, Diamante, Esperança,
Itatuba, Maturéia, Monteiro, Prata, Queimadas, Remígio, Santa Luzia, São Domingos do Cariri, São
Sebastião do Umbuzeiro e Sousa. Os jovens foram indicados pelos movimentos sociais,
organizações sociais ou sindicatos (MST, MAB, CASACO, CATEQUESE FAMILIAR, POLO DA
BORBOREMA, SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS).
O Residência Jovem estimou os jovens a elaborar e executar projetos em seus
assentamentos, acampamentos, comunidades, ou melhor, local de sua origem. Assim, eles foram
capacitados tecnologicamente para a convivência no semiárido com princípios sustentáveis e
agroecológicos. Os educandos foram estimulados e orientados a explorarem os espaços das
Universidades Públicas, dos sindicatos, associações e movimentos sociais protagonizando suas
histórias.
Na práxis pedagógica a Educação do Campo tem a perspectiva na formação humana.
Criando novos vínculos na formação de produções no trabalho e no campo da política, envolvendo
os jovens em movimentos sociais, sindicatos, associações e etc, com a iniciativa do envolvimento
nas questões e lutas sociais.
Neste sentido, o Residência Jovem preparou os jovens para a sociedade com princípios da
Educação do Campo e agroecológicos. O propósito foi preparar os jovens oriundos do campo para a
convivência social e com o semiárido na intenção dos jovens ver suas potencialidades e
possibilidades na busca de novos horizontes na região. Desta forma, o Residência Jovem atuou com
a revisão de antigos e novos conceitos, possibilitando a interdisciplinaridade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse projeto de extensão tinha um objetivo específico, no qual a proposta era formação
sócio-histórica, humana e tecnológica para convivência com o semiárido. Neste sentido, os
educandos foram formados para terem uma leitura crítica e contextualizada do semiárido paraibano,
assim, os educandos foram levados a pensar sobre o espaço em que vivem, como uma região
limitada, porém, que há possibilidades de viver neste espaço com dignidade. Os jovens também
foram habilitados tecnologicamente para viverem na região, e em suas comunidades com princípios
de desenvolvimento sustentável e agroecológicos, e técnicas de agropecuárias para um convívio

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

harmonioso com o semiárido. Desta forma, podemos responder o norteador da educação: educação
para quê e para quem? Para os jovens camponeses do semiárido paraibano, com a intenção de fazê-
los permanecer no campo vislumbrando o seu lar como futuro e possibilidades de convivência.
Neste sentido, foi uma educação diferente do modelo educacional vigente, pois formaram os jovens
procedimentos pedagógicos e metodológicos voltados para a realidade, hábitos, cultura e
comportamento das cidades e à lógica capitalista de organização social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 35.ed.Brasília:


Senado Federal, 2012.

BEGNAMI, João Batista. Instrumentos Pedagógicos da Alternância. Disponível em


http://unefab.org.br/home/eixostema.htm. UNEFAB: s/d.

CALDART, Roseli Salete, Escola em Movimento: Instituto de Educação Josué de Castro. 1.ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2013.

CALDART, Roseli Salete; PEREIRA, Isabel Brasil; ALENTEJANO, Paulo; FRIGOTTO,


Gaudêncio. Dicionário da Educação do Campo. São Paulo: Expressão Popular, 2012. 788p.

DAVIS, Nicholas. Legislação educacional federal básica. São Paulo: Cortez, 2004.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Prefácio. In: CALDART, Roseli e outros (orgs.) Caminhos para a
transformação da escola 2 – Agricultura camponesa, educação politécnica e escolas do campo.
São Paulo: Expressão Popular, 2015.

GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. História da educação brasileira. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2009.

IBGE/PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2006.


http://www.sidra.ibge.gov.br/pnad/pnadtic.asp

LAURENTI, Ana Lúcia; LIMA, Danielson Soares. Residência jovem no semiárido paraibano:
produzindo conhecimento e disputando o território da educação. In: Congresso Internacional da
Diversidade do Semiárido, 1., 2016. Anais... Campina Grande: CONIDIS, 2016.

RIBEIRO, Marlene. Movimento camponês, trabalho e educação: liberdade, autonomia,


emancipação: princípios/fins da formação humana. 3.ed. São Paulo: Expressão Popular. 2013.
456p.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1503


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

STEDILE, João Pedro; FERNANDES, BernadoMançano. Brava gente: A trajetória do MST e a luta
pela terra no Brasil.2.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012. 176p

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1504


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CURSO DE DIREITO E TEMÁTICA AMBIENTAL:


ENFOQUE DADO À SUSTENTABILIDADE

Elenice Cristina da Rocha FEZA70


Vice Diretora Faculdades Associadas de Ariquemes – FAAR
elenice@faar.edu.br

Valdenice Henrique da CUNHA71


Profª. Das Faculdades Associadas de Ariquemes – FAAR
valdenice@faar.edu.br

David Alves MOREIRA72


Coordenador do Curso de Bacharel em Direito do IESUR/FAAR
davidmoreiraadv@hotmail.com

Clarides Henrich de BARBA73


Professor Associado da UNIR.
clarides@unir.br

RESUMO
Assuntos relacionados a mudanças climáticas, ambiente e sustentabilidade têm se tornado
recorrente no atual contexto, ao mesmo tempo em que se busca a atenção tanto de lideranças
governamentais, empresariais, educacionais, científicas e da população em geral. Na educação
superior estas questões são discutidas com mais intensidade a partir dos anos 1990, com a
publicação das novas legislações educacionais e ambientais. Neste foco, as comissões avaliadoras
do Ministério de Educação e Cultura - MEC em visita as instituições, circundam as reivindicações,
considerando a transversalidade do tema. Assim, indaga-se se é possível aliar os assuntos
relacionados à Sustentabilidade Ambiental, no curso de Bacharel em Direito do Instituto de Ensino
Superior de Rondônia – IESUR, no município de Ariquemes. Para tanto, partiu-se da leitura e
análise do PPP para conhecer a proposta curricular do referido curso. O objeto de pesquisa está
inserido no eixo Políticas Públicas, Projetos e Ações. Os resultados apontam para uma proposta
curricular que atende as demandas da região, por apresentar conteúdos que propiciam a execução da
transversalidade e ao mesmo tempo, caminha para um currículo ambientalizado.
Palavras chave: Sustentabilidade ambiental; currículo; transversalidade e ambientalização.
ABSTRACT
Issues related to climate change, environment and sustainability have become recurrent in the
current context, While at the same time seeking the attention of government leaders, business
leaders, educators, scientists and the population in general. In higher education these issues have
been discussed more intensively since the 1990s with the publication of new educational and
environmental legislation. In this focus, the evaluation commissions of the Ministry of Education
and Culture - MEC visiting the institutions, surround the demands, considering the transversality of
the theme. Thus, it is questioned if it is possible to combine the subjects related to Environmental
Sustainability, in the course of Bachelor of Laws of the Higher Education Institute of Rondônia -
IESUR, in the municipality of Ariquemes. To do so, we started reading and analyzing the PPP to
know the curricular proposal of that course. The research object is inserted in the Public Policies,
70
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
71
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia – Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
72
Doutor em Direito. Professor da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
73
Doutor em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Projects and Actions axis. The results point to a curricular proposal that meets the demands of the
region, for presenting contents that facilitate the execution of transversality and, at the same time,
moves towards an environmental curriculum.
Keywords: Environmental sustainability; curriculum; Transversality and environment.

INTRODUÇÃO

Quando se fala de sustentabilidade, tem-se uma vasta variação do termo, podendo a mesma
ser de cunho financeiro, empresarial e/ou ambiental. Todavia, todos os conceitos são os mesmos:
Sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as
necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. No caso
aqui especificamente, iremos falar sobre a ambiental, que consiste na manutenção das funções e
componentes do ecossistema, de modo sustentável, buscando a aquisição de medidas que sejam
realistas para os setores das atividades humanas.
O objetivo deste trabalho é discorrer sobre como este assunto tão pertinente em nossos dias
está inserido e discutido no curso de Bacharel em Direito do Instituto de Ensino Superior de
Rondônia – IESUR, já que o mesmo está localizado na Região Amazônica, local onde há um índice
enorme de degradação ambiental.
Na educação superior as questões ligadas à sustentabilidade ambiental iniciaram suas
discussões com mais intensidade a partir de 1990, com a publicação e exigência das novas
legislações educacionais e ambientais. Neste foco, as comissões do Ministério da Educação e
Cultura (MEC) que visitam as instituições educacionais para autorização de cursos de graduação
circundam as exigências, ao considerar a transversalidade do tema.
Em se tratando da perspectiva integradora, registra-se o caso dos famosos Temas
Transversais, impregnados nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, principalmente, os
relacionados ao Meio Ambiente. De acordo com a política ambiental, Lei nº 9.795/99 e Decreto nº
4.281/02, o tema ―Meio Ambiente‖ deve ser tratado de forma transversal, contínua e permanente ao
longo do curso.
Portanto, a ideia aqui é averiguar, qual a proposta pedagógica utilizada pelo referido curso,
no que tange aos assuntos relacionados à sustentabilidade ambiental. Se a proposta pedagógica
engloba o assunto, elencando-o em disciplinas específicas ou em optativas.
A metodologia utilizada teve abordagem qualitativa e do tipo descritiva apoiada em Ludke e
André (2013), com análise do Projeto Pedagógico Curricular (PPC) do curso de Direito (2015 a
2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

1 - Curso de Bacharel em Direito do IESUR: Inovação e desenvolvimento para a Região do Alto do


Jamari.

O Instituto de Ensino Superior de Rondônia – IESUR, foi credenciado no MEC no ano


2000, tendo como mantenedora a FUNDAÇÃO ASSISTENCIAL E EDUCACIONAL CRISTÃ DE
ARIQUEMES – FAECA. Entre outros benefícios para a região onde está localizado, o de mais
visibilidade está na oportunidade dada ao público jovem de prosseguir os estudos em nível superior,
com qualidade, melhorando, com isso, a vida da população de Ariquemes e do Estado de Rondônia,
com a geração das alternativas para a produção diversificada, ao longo desses 15 anos, inclusive.
Neste processo de desenvolvimento continua se consolidando o objetivo de fixar o homem
rondoniense e integrá-lo ao ambiente físico-cultural. (PPP, p. 7, 2015)
O IESUR tem como ―Missão Institucional‖, servir a comunidade, promovendo o
conhecimento e empregando ações que produzam,

O desenvolvimento científico, econômico, profissional, social e cultural de Ariquemes e


região, buscando contribuir sempre para o bem-estar da sociedade de modo a participar no
esforço pela melhoria da qualidade de vida, defendendo a expressão e o cumprimento da
verdade (PPP, 2015, p. 7).

De acordo com o PPP do curso de Bacharel em Direito, o IESUR é a única faculdade que
oferece o referido curso num raio de 200 quilômetros:

Em Rondônia, o curso de Direito é oferecido em Vilhena na AVEC e FECAVE, em Rolim


de Moura na Faculdade FAROL, em Cacoal na Universidade Federal de Rondônia - UNIR
e UNESC, em Ji-paraná na ULBRA, em Porto Velho na FARO, FATEC,UNIRON, São
Lucas, ULBRA e Universidade Federal de Rondônia- UNIR, todos distantes mais de 100
quilômetros da sede do IESUR. Em Ariquemes, o curso de Direito somente é ofertado no
IESUR/FAAr (PPP, 2015, p. 9).

Neste sentido, justifica-se a necessidade do Município de Ariquemes ter uma quantidade


mais significativa de profissionais da área jurídica, para atender as demandas pertinentes a sua área
de atuação, melhoria das condições de vida e dos direitos dos cidadãos, bem como o compromisso
com desenvolvimento econômico e socioambiental da Região. Portanto, o curso de Direito do
IESUR,

Pretende prosseguir para contribuir com a população disponibilizando profissionais


competentes, humanistas, críticos e reflexivos, sensibilizados aos problemas da população,
capacitados a propor soluções e que verdadeiramente contribuam com a nossa população de
forma ampla e efetiva. (PPP, 2015, p. 10).

Tanto na esfera econômica quanto na educacional, existe o grande desafio no que tange a
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Isso, em função das mudanças e transformações
ocasionadas pela globalização da economia, os avanços tecnológicos, as novas relações de emprego
e concepções culturais e sociais.
É importante salientar que a proposta do curso de Direito desta IES, foi elaborada para ser
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

uma ferramenta para a ação política, em sintonia com o modelo de educação que atenda as
demandas emergentes, fundamentada nas novas tecnologias e metodologias, para proporcionar
eficiência no desenvolvimento pessoal do alunado, bem como na sua formação para o exercício
profissional e da cidadania.
Quanto à pesquisa, seu objetivo está voltado para o estudo do Direito Público
Contemporâneo. A definição deste Direito está alinhada aos 7 Direitos Fundamentais, a
Sustentabilidade Ambiental e a Sociedade Contemporânea, que se fundamentam nos pilares de
sustentação do Estado de Direito, originado assim, duas linhas de pesquisa: Direito Ambiental e
Sustentabilidade e Direitos Humanos e suas dimensões.
As atividades de pesquisa são desenvolvidas pelo NUPES - Núcleo de Pesquisas Científicas,
criado para por em prática o projeto de pesquisa institucional do referido curso. De acordo com o
PPP de Direto, os Núcleos de Pesquisa – NUPES,

Desenvolvem o espírito científico e o pensamento reflexivo por meio do trabalho de


pesquisa e investigação científica, com a inserção dos eixos de pesquisa nas matrizes
curriculares, visando o desenvolvimento da ciência, da tecnologia, da criação e difusão da
cultura, incorporando atividades complementares em relação ao eixo fundamental do
currículo (PPP, 2015, P. 29)

As atividades e chamadas públicas, são realizadas por meio eletrônico:


<eletrônico:http://www.faar.edu.br/portal/arquivos/ arquivosnupes>. Há um esforço por parte da
IES no sentido de apoiar financeiramente como incentivo para que os docentes e discentes
participem das atividades elaboradas por meio do NUPES.
Há exemplo de atividades realizadas pelo curso no que tange a questões ambientais, cita-se
as ações desenvolvidas no ano de 2013, juntamente com o Centro Universitário Moacyr Sreder
Bastos – UniMSB e o Centro Universitário de Barra Mansa – UBM. Os temas trabalhados foram
os seguintes: I - ―Sustentabilidade Econômica e o Desenvolvimento Socioeconômico e Empresarial
Latino Americano‖; II - ―Como enfrentar as dificuldades na identificação de grupos identitários de
latinos americanos na microrregião leste de Rondônia; Pesquisa sobre ―Licenciamento ambiental‖ -
Elemento Imperceptível na Qualidade da Marca dos Postos de Revendas de Combustíveis;
―Relatório de Percepções e Impressões‖ das dificuldades enfrentadas nas Pesquisas Empíricas em
Direitos Humanos - Análise das dificuldades no reconhecimento dos direitos de ―grupo identitário‖,
com dificuldade em se expressarem na língua oficial do país e tendo saberes e de fazeres diversos
do perfil ―socialmente padronizado‖.
Outro empreendimento deste curso é a criação e produção da Revista Científica Eletrônica
AREL –

―Amazon's Research and Environmental Law‖ com o registro do ISSN 2317-8442, além da
indexação da Revista no Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) e no portal
Diadorim (azul), ambos do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1508


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(IBICT). A Revista AREL FAAr – AMAZON'S RESEARCH AND ENVIRONMENTAL


LAW (PPP, 2015, p. 30)

Esta revista é desenvolvida quadrimestralmente e tem como finalidade a promoção e o


refinamento dos estudos e especificamente nas linhas de pesquisas da área do Direito. Com isso, o
IESUR cumpre um de seus compromissos para com a comunidade, a formação profissional, onde o
egresso terá condições de desenvolver os valores éticos, defendendo os direitos humanos e o uso
sustentável das riquezas naturais, além da competência técnica.

2 - Transversalidade: construindo um currículo flexível considerando a diversidade regional

O conceito de currículo expressa a visão de mundo e de homem, trazido por vários autores
no decorrer da construção do processo histórico. Assim, a busca do conhecimento passa a ser
centrada a partir do indivíduo, natureza e racionalidade matemática, para a explicação das coisas,
com a difusão do humanismo acontece a centralização política do estado e o pensamento religioso
dominante é abalado pelo conhecimento científico.
O currículo se torna a expressão formal das funções que desempenha um ponto de vista
curricular. Sacristán (1998) entende que os currículos têm a finalidade de compreender a educação
no processo educativo. Deve-se compreender que o currículo torna-se um veículo de ideologia e da
intencionalidade no processo educacional, estando comprometido com algum tipo de poder voltado
para a prática. Assim, o currículo não é um conceito, mas é uma construção cultural, uma realidade
histórica e socialmente, que determina os procedimentos didáticos, administrativos na prática e na
teoria.
Para Silva e Moreira (2002) o currículo traz em seu bojo, uma marca que é a sua identidade,
visto que o mesmo atende uma determinada realidade. Assim, o currículo está a serviço da
concepção ideológica, do discurso, da história e da representação social de uma nação.
Quanto à política educacional, um dos aspectos significativos desse cenário é a percepção de
que a escola é um espaço de sociabilidade e convivência, nela concentram-se diferentes
experiências sociais e culturais que refletem contraditórias formas de inserção grupal na história do
país.
Neste viés, percebe-se a possibilidade de inserção do assunto sobre a EA no tripé das
universidades, a saber: o ensino, a pesquisa e a extensão e a abertura do currículo para intercâmbios
entre cursos, disciplinas e profissionais das diferentes áreas do saber. Silvério (2006), ainda
questiona se as ações são iniciativas apenas de educadores sensíveis à diversidade cultural ou são
assumidas como um eixo do currículo escolar, de propostas políticas pedagógicas das secretarias, e
ministério de educação e se são legitimadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1509


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Com base em Gomes (2007), entende-se que o currículo é um componente do


desenvolvimento biológico e cultural da humanidade está presente na produção de práticas, saberes,
valores, linguagens, técnicas artísticas, científicas, representações do mundo, experiências de
sociabilidade e aprendizagens, ao discorrer sobre o assunto, ela destaca que não se pode deixar de
enfatizar que homens e mulheres participem desta diversidade, enquanto espécie e sujeito
sociocultural e a diversidade biológica é a variedade de seres vivos e ambientes em conjunto que se
adaptam na biodiversidade.
No repensar deste currículo o autor considera impossível deixar de ampliar os diálogos sobre
diversidade e ética. Reconhecer o aluno e professor como sujeitos de direitos é também
compreendê-los como sujeitos éticos. Para Chauí (1998), a ética exprime o modo como a cultura e
sociedade definem valores sociais, não alheia ou indiferente à condição histórica, política,
econômica e cultural da ação moral.
Apple (1979), fala de ideologia e currículo com a ênfase de que se não for levado a sério o
envolvimento da educação com o mundo real das desigualdades e poder, a instituição educativa
estará em um mundo dissociado da realidade. Dessa forma, pode-se entender que o ideal e o real
nem sempre estão interligados em um processo de educação que busca a melhoria social.
No sentido transversal entende-se a importância de maior integração entre os envolvidos na
aprendizagem, isto significa que a EA deve perpassar por todos os conteúdos e atividades
curriculares. Ao aprofundar na abordagem curricular, busca-se em Mendonza (2002) e Barba
(2011), os fundamentos e características que devem ter um currículo ambientalizado. Os autores
enfatizam o diálogo, a transdisciplinaridade e o processo como opções chaves que originam o
formato proposto, além das outras características previstas no diagrama da Rede de
Ambientalização Curricular no Ensino Superior (ACES), com foco na necessidade de adequação
metodológica, espaços de reflexão e participação democrática, compromisso com a transformação
de relações sociedade-natureza, complexidade e ordem disciplinar, flexibilidade e permeabilidade,
contextualização do local-global-local e global-local-global, levar em conta o sujeito na construção
do conhecimento, considerar os aspectos cognitivos, afetivos, ética e estética; coerência e
reconstrução entre teoria e prática, orientação prospectiva de cenários alternativos que respeitem
gerações futuras.
Os autores acima mencionados consideram que para avaliar o grau de ambientalização de
um currículo, faz-se necessário, análise do conjunto de enfoques que de forma simultânea e com
reflexão profunda possam fazer a aproximação ao objeto de estudo. Neste caso, os itens que
compõem as características do diagrama circular podem se inserir na construção do saber, no qual
se insere o diagnóstico como processo contínuo, com espaços de diálogos entre diferentes enfoques
à teoria, pensamento e ação como fundamentais para propostas de novos desafios, estabilidade e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

mudança. Este diagnóstico constitui uma forma de evitar o reducionismo na geração do


conhecimento.
Com base no PPC, nota-se que a transversalidade ambiental no currículo de Direito foi
considerada necessária a partir de reflexões contínuas dos profissionais da área com fundamentos
relacionados à legislação ambiental e ainda na Res. nº2/2002, tendo em vista a problemática em que
se vive o foco na realidade social e no perfil de um profissional que se pretende formar.
Quando se propõe para o acadêmico do Curso de Direito uma postura reflexiva e crítica, o
conceito reflexivo coloca-o como protagonista nos processos de mudança e inovações. No entanto,
o que se pretende não é a supervalorização do indivíduo, que pode acontecer neste processo de
criticidade, acarretando certo individualismo, deseja-se então, um sujeito construtivo e que consiga
viver colaborativamente.
Portanto, a flexibilização curricular deve ser entendida claramente nos seus porquês, nos
conteúdos científicos e culturais, nos modos e caminhos de concretização, na subjetividade dos
sujeitos que fazem parte do processo pedagógico nas diversas instâncias do currículo e na
perspectiva de materializar o princípio da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extensão.
(FAZENDA, 2008).
As práticas flexíveis e a inserção de temas transversais no currículo pleno, tais como, o Meio
Ambiente tem sido uma preocupação contínua de educadores e povos rondonienses como um todo,
e a partir de 2014, o curso de Direito do IESUR tem procurado discutir essa temática em todos os
conteúdos curriculares, quer por meio de disciplinas fundamentais, profissionalizantes, optativas ou
atividades complementares.
Neste sentido, o curso de Direito do IESUR tem como objetivo:

Promover aos acadêmicos uma educação ambiental com prática educativa integrada,
interdisciplinar em todos os períodos de ensino, com diálogos contínuos no contexto
educacional e inserção dos assuntos que se relacionam a ―Rondônia no Contexto das
Mudanças Climáticas‖. Ainda se desenvolvem projetos, seminários, palestras de visão inter
e multidisciplinar com abrangência global. E interligada a esta temática existem projetos
que vão além das práticas de ensino e trabalhos e se inserem em diagnósticos, relatos,
artigos, banners e outros instrumentos de ensino, pesquisa e iniciação científica (PPP, 2015,
p. 47).

Nesta vertente curricular inserem-se as ações de defesa e promoção dos direitos humanos e
igualdade étnico-racial, a fim de atender os requisitos de responsabilidade legais e normativos, a
IES por meio da Direção Acadêmica e Pedagógica, encaminhou e discutiu com docentes do curso
de Direito e demais cursos o Parecer do CNE/CP nº: 9 8/2012, a Resolução 1/2012, que Estabelece
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, a Resolução 1/2004, que Institui
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e demais legislações vigentes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Neste sentido, o curso de Direito com esta visão tem a intenção de promover, a educação
para a mudança, a transformação social e fundamenta-se em princípios da dignidade humana,
igualdade de direitos, reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, laicidade do
Estado, democracia na educação, transversalidade, vivência e globalidade, sustentabilidade
socioambiental. (Parecer CNE/CP nº 9 8/2012).
Ainda neste foco, o curso realiza seminários para todos os alunos com tema Diretos
Humanos, como exemplo o SEMINÁRIO ETNOAMBIENTAL: Política Nacional de Gestão
Ambiental e Territorial das Terras Indígenas para toda a comunidade acadêmica da instituição com
a parceria da KANINDÉ - Associação de Defesa Etnoambiental para atender ao tema das relações
étnico-raciais e formação humanística dos acadêmicos do IESUR.
A KANINDÉ, a partir desta parceria, promove curso de capacitação para o corpo docente e
discente sobre as Políticas Nacionais de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas 74,
Direitos da Mulher Indígena, e ainda, visitas técnicas às aldeias indígenas e seminários. Este
projeto também é importante como contribuição para o processo de humanização, integração dos
acadêmicos nas questões étnicas e ambientais do nosso Estado.
Ainda, o IESUR, por meio de ações colegiadas, coordenações de ensino, pesquisa e
extensão, oportunizou os acadêmicos de todos os cursos a participarem do grupo de pesquisa
Preservação Ambiental e Cultural em Terras Indígenas.
Os acadêmicos e professores do IESUR têm se preocupado com convênios de parcerias para
aulas de campo, visitas técnicas e discussões que se inserem no patrimônio cultural não apenas de
Ariquemes, mas também no entorno e Capital Rondoniense, desta forma cita-se: Museu Rondon em
Ariquemes, Locomotiva Maria Fumaça / Estação de Ferro Madeira Mamoré, Caixa D´água Três
Maria e o Museu em Porto Velho.
Portanto, a inclusão de temas contemporâneos e transversais no currículo tem sido uma
preocupação deste curso e de toda a comunidade acadêmica do IESUR. Neste sentido, as
concepções do curso estão fundamentadas não a um currículo mínimo, pois a Portaria deixa clara a
ideia de que o curso não é apenas um conjunto de disciplinas, mas um conjunto de conteúdos e
atividades interdisciplinares, que se desenvolvem através de integração e participação sócio
interativa, na construção do conhecimento entre docentes e discentes, e nas ações sociais.

3 - Sustentabilidade Ambiental no Ensino Superior – construindo as bases para a ambientalização


curricular.

No Curso de Direito do IESUR, os assuntos relacionados ao Meio Ambiente e a


Sustentabilidade foram distribuídos nos vários semestres e é integrada às disciplinas do Curso de

74
PNGATI - Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

modo transversal, contínuo e permanente e com enfoque localizado na disciplina Direito Ambiental
(Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999 e Decreto n. 4.281, de 25 de junho de 2002).
Em se tratando das disciplinas de Antropologia e Direitos Humanos, as mesmas contemplam
os conteúdos relacionados à Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Lei n. 11.645, de 10 de março de
2008 e Resolução CNE/CP n. 1, de 17 de junho de 2004). Vejamos a seguir, algumas ementas que
contemplam o estudo da sustentabilidade ambiental no curso de Direito:

 A vida humana e seus direitos. A cultura. O Conceito Tradicional de Bem no Direito


Privado. Considerações sobre os aspectos ambientais no direito na disciplina de Introd. Ao
Estudo do Direito.
 Desafios contemporâneos: o lugar do homem na sociedade. O homem como ser no mundo –
os valores morais, a natureza, a linguagem e a cultura. Avaliação socioambiental das
políticas de desenvolvimento. Avanços e tendências recentes na avaliação socioambiental.
Dignidade humana, na disciplina de Filosofia Geral.
 Conceito de poder. Evolução histórica do pensamento político e econômico e
socioambiental. Laicidade do Estado e os direitos humanos na disciplina de Introd. À C.
Politica e TGE.
 Os Direitos humanos e o Direito Ambiental como objeto da Filosofia, em Filosofia do
Direito.
 Políticas públicas de manutenção da ordem e políticas sociais de direitos humanos. Um
olhar antropológico sobre o Relativismo cultural ou universalização dos direitos humanos.
Ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena. Reconhecimento e valorização das
diferenças e das diversidades. Transversalidade, vivência, globalidade e sustentabilidade
socioambiental, na disciplina Antropologia.
 O fenômeno da globalização no processo de organização da sociedade e os direitos
humanos. Sociologia do Meio Ambiente, teorias e perspectivas. Meio Ambiente,
desenvolvimento e planejamento, na disciplina de Sociologia Geral.
 Aspectos gerais. Sujeitos. Classificação geral das Obrigações. Efeitos das obrigações.
Reparação do dano ambiental como obrigação propter rem.. Da responsabilidade civil. Da
responsabilidade ambiental. Desigualdades sociais, raciais, direitos e responsabilidade
solidária, na disciplina de Direito Civil.
 Evolução histórica do Direito do Trabalho. Relação de trabalho e relação de emprego.
Contrato individual de trabalho. Educação do trabalho e a sustentabilidade ambiental.
Estatuto da Igualdade Racial na disciplina de Direito do Trabalho.
 Direito empresarial ambiental para a cidadania e sustentabilidade na disciplina de Direito
Empresarial;
 Direito Processual e Direito Penal. Consumidor, educação ambiental e consumo sustentável.
O estatuto do Fundo Brasil de Direitos Humanos na disciplina de Direito do Consumidor;
 Origem e conceito de Direito Ambiental; Princípios de Direito Ambiental; Direitos
Materiais difusos; Política Nacional do Meio Ambiente; Engenharia Genética; Flora e
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

aspectos de defesa; A fauna e sua tutela jurídica; Mineração e Soberania; Meios processuais
de Defesa Ambiental. Garimpo Princípios Fundamentais dos Direitos Humanos.
Responsabilidade solidária e resgate dos valores etino raciais na Amazônia, na disciplina de
Direito Ambiental.

O curso traz em sua matriz curricular inúmeras disciplinas que possibilitam uma prática
pedagógica que cumpre o que está previsto no PPP, quando insere assuntos relacionados ao
contexto real da área do conhecimento da mesma, com aplicabilidade para a dimensão
socioambiental. Com isso, pode-se afirmar que existe um indicativo para um currículo
diversificado, sustentavelmente ambientalizado, sem perder o caráter pleno. Isso é essencial para o
contexto onde esta IES está inserida, podendo assim, contribuir para o progresso regional,
considerando o compromisso social com a sustentabilidade ambiental.

4 - Pressupostos teórico/metodológico da pesquisa no Curso de Bacharel em Direito do IESUR

Pesquisa com abordagem qualitativa, tipo descritiva, apoiada em Ludke e André (2013),
com análise do Projeto Pedagógico Curricular - PPC à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais -
DCN do curso de Direito, bem como outros documentos administrativos. No primeiro momento,
uma análise do Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, constatando nos seus objetivos que a
IES propõe trabalhar a EA como prática interdisciplinar contínua em todas as fases e etapas do
ensino, verificou-se que no plano, o item 6.16 trata das Políticas de EA, conforme disposto na Lei
N° 9.795/99, no Decreto N° 4.281/2002, na Resolução CNE/CP N° 2/2012 e no item 6.17 consta o
Desenvolvimento Nacional Sustentável de acordo com o Decreto N° 7.746, de 05/06/2012 e a
Instrução Normativa N° 10, de 12/11/2012.
Analisou-se também, o relatório parcial da CPA 2016, que apresenta o resultado de uma
pesquisa realizada por meio do Portal do Egresso on-line em relação ao grau de satisfação
profissional e de formação, o curso atendeu às expectativas, 95% consideraram Bom e 5% Regular.
Foi perguntado se o curso proporcionou formação ética, 73% responderam Bom, 18% Excelente e
9% Regular. Outra questão foi se os conteúdos das disciplinas deram base à prática profissional,
86% responderam Bom, 5%, Excelente e 9% Regular. Com relação a grade curricular e o programa
desenvolvidos nas disciplinas, os alunos consideraram 77% Bom, 5% Excelente e 18% Regular
(Relatório Parcial CPA 2016).
A metodologia utilizada para se trabalhar os conteúdos ambientais inseridos nas ementas do
curso investigado perpassam por métodos dialógicos entre professor-professor e professor-aluno,
práticas de laboratórios, atividades e projetos de pesquisa e extensão, dentre outros. Para tanto, fez-
se uma amostragem com 15%, dos docentes que trabalham com disciplinas que oferecem leque para
a discussão Temática Ambiental. Segue a seguir, a questão levantada: ―Quais mecanismos você tem

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

utilizado para aliar os assuntos relacionados à Dimensão Ambiental e Sustentabilidade aos


conteúdos da sua disciplina, de acordo com os itens: Recursos didáticos utilizados; Abordagem do
conteúdo; Projetos Desenvolvidos; Percepção do interesse e participação do acadêmico; Outros‖;
Entre os trabalhos desenvolvidos pelos docentes que responderam ao questionamento acima,
vem sendo realizadas Visitas Técnicas em empresas que conseguiram aliar produtividade com
preservação do meio ambiente. É o caso da abordagem dos conteúdos de ―Segurança e Medicina do
Trabalho‖ e ―Direito Administrativo do Trabalho‖ onde são inseridos estudos sobre meio ambiente
do trabalho fazendo uma ponte com a proposta da matriz curricular.
Os acadêmicos aproveitam bastante à visita técnica e passam a entender que é possível
produzir, mantendo a integridade física dos empregados e preservando o meio ambiente. Essas
Visitas são utilizadas como instrumentos pedagógicos de abordagem dos conteúdos mencionados
possibilitam ainda que os acadêmicos conheçam alguns setores produtivos da nossa região, que são
destaques nacionais e que muitos nunca tiveram oportunidade de ver de perto seu desenvolvimento,
produção e escoamento.
Apesar de não haver projetos específicos de alguma disciplina, os docentes que responderam
a questão, tem fomentado a importância do profissional da área jurídica, equipar-se de
conhecimento e postura diferenciada, capaz de transformar a sociedade em seu entorno.

REFERÊNCIAS

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BARBA, Clarides Henrich. Ambientalização curricular no ensino superior: O caso da Universidade Federal
de Rondônia, Câmpus de Porto Velho. (2011) Disp. em:
<http://portal.fclar.unesp.br/poseduesc/teses/Clarides_Henrich_Barba.pdfa> acesso 06 de jun de 2017;

BRASIL, Decreto Nº 4.281, de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de abril de


1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências.

Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno. Resolução nº 1, de 17 de jun. de 2004.

Decreto N° 7.746, de 05/06/2012, regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

Lei 11.645, de 10 de marco de 2008. Disponível em: Acesso em: 2017-06-14

Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa Nº 10, de 12 de novembro de 2012. Publicada no


D.O.U.

Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999: dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de
Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial, 28 de abril de 1999.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ministério da Educação. Parecer Nº 9 de 8\12, Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Diretrizes


Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. 2012

Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas


transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em:
<portal.mec.gov.br> acesso: 06 de jul. de 2017.

Resolução CNE/CP nº 1, de 30 de maio de 2012 - Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos. Disponível em <portal.mec.gov.br> Acesso em 06 de jul de 2017.

Resolução nº 2, de 15 de junho de 2002 (*) Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Ambiental. Disponível em <portal.mec.gov.br> Acesso em 06 de jul de 2017.

Resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002.(*) Institui a duração e a carga horária dos cursos de
licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior.
Disponível em <portal.mec.gov.br> Acesso em 06 de jul de 2017.

CHAUÍ, M. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 1998.

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SILVÉRIO, Valter Roberto. Luta política pelo direito à diversidade. Brasília: MEC, 2006.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1516


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE UMA ASSOCIAÇÃO DO


INTERIOR POTIGUAR: PERFIL E CONDIÇÕES DE VIDA

Jacimara Villar FORBELONI


Docente vinculada ao DCETH da UFERSA
jacimara@ufersa.edu.br
Gerbeson Carlos Batista DANTAS
Graduando em Bacharelado em Ciência e Tecnologia pela UFERSA
gerbeson_dantas@hotmail.com

RESUMO
A significativa produção de resíduos sólidos e o sua destinação final ambientalmente inadequado
resultantes do modelo de crescimento econômico experimentado após Revolução Industrial gerou
uma intensa preocupação e tem tornado-se objeto de interesse de pesquisadores dessa área. Em
razão disso, os governos tem instituído políticas de atuação no sentido de minorar os efeitos do
descarte desses resíduos resultantes das atividades antrópicas. No Brasil destaca-se a Lei
12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Um dos instrumentos
dessa política são a coleta seletiva e o estímulo à criação de organizações de catadores e é nesse
contexto desafiador que insere-se os catadores. Assim, este trabalho objetiva identificar o perfil e a
percepção de catadores de materiais recicláveis vinculados a uma associação localizada no interior
potiguar quanto suas condições de vida. O trabalho baseia-se nas técnicas de Discurso do Sujeito
Coletivo e Observação Direta Extensiva e Intensiva. Foi aplicado um formulário para identificação
do perfil dos catadores e uma entrevista para obtenção da percepção das suas condições de vida. A
maioria dos entrevistados são mulheres, com ensino fundamental incompleto, de faixas entre 26 a
54. A maioria exerce a profissão pela primeira vez e realizam outras atividades para complementar
a renda da associação que é de aproximadamente R$500. Quanto interpelados sobre a mudança
ocorrida após associar-se na organização, a maioria disse que a mudança foi à conquista do
emprego. Quanto aos sonhos, parte respondeu que almeja ganhar uma renda maior, assim como
possuir a casa própria já que muitos não a possuem. Quanto ao lazer, afirmaram não ter nenhum
tipo de lazer diferente de descansar. Portanto, foi observado que embora haja certa melhoria com a
organização dos catadores, ainda há necessidade de maior apoio do poder público e da sociedade
para superar os entraves estruturais que essa atividade possui.
Palavras-chaves: Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Catadores. Associação. Renda
ABSTRACT
The significant production of solid wastes and their final environmentally inadequate destination
resulting from the economic growth model experienced after the Industrial Revolution has
generated intense concern, and has become an object of interest for researchers in this field. As a
result, governments have instituted policies to reduce the effects of these residues destination
resulting from anthropic activities. The Brazilian Law 12,305/2010 emerged to institute the
National Solid on Waste Policy (PNRS). One instrument of this policy is the selective waste
collection and the encouragement to the creation of cooperative of the waste pickers and this
challenging context the waste pickers are inserted. Thus, this study aims to identify the profile and
perception of recyclable materials waste pickers of a cooperative located in Rio Grande do Norte
state as well as their living conditions. The research is based on Discourse of the Collective Subject
and Extensive and Intensive Direct Observation. A form application aimed to identify the waste
pickers profile and an interview obtained the perception of their living conditions. Most of the

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1517


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

interviewees are women demonstrating incomplete elementary education, ranging in age from 26 to
54. Most of them work for the first time and perform other activities to complement the association
income, which is approximately R$ 500. When interviewed about changes after joining the
cooperative, most said the change was being employed. As for dreams, part wishes to earn a higher
income, as well as owning a house since many do not own it. As for leisure, they said they did not
have any kind of leisure but resting. Therefore, it was observed that although there is some
improvement in the waste cooperative, there is still a need for greater support from the public power
and society to overcome the structural obstacles that this activity presents with.
Key-words: National Solid on Waste Policy. Waste Pickers. Association. Income.

INTRODUÇÃO

A crescente migração aos conglomerados urbanos, fruto do modelo capitalista de


crescimento econômico experimentado pela maior parte dos países no período pós Revolução
Industrial, intensificou a produção e o consumo exacerbada de produtos e bens e, por conseguinte,
ampliou a geração e o descarte de resíduos sólidos resultantes desse modelo. Nos últimos decênios,
essa problemática dos resíduos tem se intensificado em razão do aumento da produtividade
proporcionada pelas novas tecnologias, consumindo cada vez mais recursos naturais, superior a
capacidade de depuração do meio ambiente, potencializando, portanto, os danos aos sistemas
ambientais (FELIX; SANTOS, 2013; GOUVEIA, 2012). Em ilustração a geração dos resíduos,
dados de 2012 revelam que a população mundial urbana gerou 1,3 bilhões de toneladas por ano, o
que equivale a 1,2 kg por dia para cada habitante (HOORNWE; BHADA-TATA, 2012).
Nesse sentido, os governos, atentos aos relatórios da comunidade científica, resultantes das
conferências internacionais, especialmente, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento Rio-92, fizeram acordos globais, no sentido de enfrentar a
problemática da emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) à atmosfera, nos quais, o metano (CH 4),
oriundo do chorume resultante da depuração dos resíduos sólidos, corresponde a um dos piores
gases contribuintes para o Efeito Estufa. Os acordos são baseados em mecanismos de metas de
redução, envolvendo toda a sociedade e devem atenuar as alterações climáticas, garantindo a
sobrevivência da vida no planeta (GOUVEIA, 2012; SEIFERT, 2009).
Mais especificamente no Brasil, ocorre a promulgação de leis de caráter ambiental que dão
vigor às políticas de desenvolvimento sustentável. Dentre essas, sobressalta-se a Lei 12.305/2010
que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). A PNRS dispõe sobre as ―diretrizes
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis‖
(BRASIL, 2010, Art. 1o). É importante salientar que um dos princípios elementares da PNRS é a
chamada responsabilidade compartilhada dos resíduos sólidos urbanos, isto é, os resíduos sólidos
gerados, bem como o seu ciclo de vida, são de responsabilidades do poder público, das empresas e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

dos demais segmentos da sociedade. É nessa perspectiva que a PNRS contém entre seus
instrumentos, os sistemas de coleta seletiva e o fomento à criação das cooperativas e associações de
catadores de materiais recicláveis e estes, devem estar contidos nos Planos de Gestão Integrada e
Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos (BRASIL, 2010).
O campo para aplicação desses importantes instrumentos é vasto. Segundo a Associação
Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o Brasil é produtor
potencial de resíduos sólidos urbanos, gerando cerca de 1,071 kg/habitantes por dia, similar a média
global (ABRELPE, 2015). Em contrapartida, apenas 65% dos municípios brasileiros tem algum
sistema de coleta seletiva independente do grau (ABRELPE, 2014) e destes, apenas 51% da coleta
seletiva nos municípios é realizada por cooperativas de catadores de materiais recicláveis
(CEMPRE, 2014).
Imerso nesse contexto desafiador e oportuno está inserido o catador de material reciclável. A
profissão é regularizada pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) nº 5.192-05 (BRASIL,
2002), entretanto, os desafios enfrentados cotidianamente pelos catadores são diversos. Segundo
Teodósio, Dias e Santos (2016, p.31) uma das maiores adversidades é a ―permanência de visões
estereotipadas e preconceituosas quanto aos catadores e também quanto à capacidade
organizacional das associações de catadores‖. Em adição a isso, o trabalho de catador ocorre em
meio a uma série de riscos à sua segurança e saúde, seja de natureza química, física e biológica, seja
de natureza dos acidentes e ergonômicos.
Diante dessa conjuntura, o objetivo do presente trabalho é estudar o perfil e a percepção de
catadores de uma associação de materiais recicláveis localizada no interior potiguar, quanto suas
condições de vida adotando como método de análise o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em uma Associação de catadores de materiais recicláveis,


localizada em uma cidade da região Seridó, no Estado do Rio Grande do Norte. Para realização da
pesquisa, foram realizadas duas visitas à Associação, nos dias 11 e 12 de novembro de 2016. Nas
oportunidades foi aplicado um formulário e efetuado entrevista com todos os associados. O
formulário estruturado foi organizado em perguntas relacionadas ao perfil do catador. A entrevista
semi estruturada sucedeu norteada a obter a percepção dos associados quanto as suas condições de
vida. A pesquisa abrangeu todos os associados, em um total de onze pessoas.
Os artifícios metodológicos ocorreram em duas frentes: uma de caráter quantitativa e a
outra, qualitativa. Para a etapa quantitativa adotou-se a técnica de Observação Direta Intensiva e
Extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005). A segunda etapa foi qualitativa com a aplicação da
técnica do Discurso do Sujeito Coletivo – DSC. Segundo Lefevre e Lefevre (2003) esta técnica tem

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como escopo de análise expressar em uma só resposta, o pensamento coletivo do grupo de estudo,
preservando o eixo central das respostas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Perfil dos entrevistados

A associação, objeto deste estudo, atua no ramo de coleta de materiais recicláveis desde
2014. Os catadores desempenham suas funções no período de segunda à sexta. O material é advindo
do perímetro urbano, realizando coleta em três bairros do município. A referida Associação possuía,
no período da pesquisa, onze catadores associados.
Apresentando uma breve descrição do perfil socioeconômico dos catadores entrevistados,
constatou-se que em sua maioria, os participantes são do gênero feminino (81,8% – 9/11) com faixa
etária distribuída entre 26 e 54 anos, com média aritmética simples de 41 anos aproximadamente. A
média das idades dos associados estão próximas dos encontrados da média nacional e da região
Nordeste que são 39,4 e 38,3 respectivamente (IPEA, 2013a).
No que concerne à escolaridade, (63,6% – 7/11) dos trabalhadores possuem ensino
fundamental, em sua maior parte, incompleto, e (27,3% – 3/11) são analfabetos. Apenas um tem
ensino médio completo (9,1% – 1/11).
Os entrevistados iniciaram, em sua maior parte, a trabalhar em outras atividades não
relacionadas com a coleta seletiva. Para (36,4% – 4 /11) exercício da atividade de reciclagem já era
realizado antes de trabalhar na Associação, enquanto o restante está executando o trabalho pela
primeira vez. Pouco mais da metade dos catadores entrevistados (54,5% – 6/11) está desde o início
da Associação, em 2014. Ocorre muito em razão da quantidade majoritária de mulheres associadas,
que enxergam na atividade, uma forma de trabalhar e inserir renda no orçamento doméstico.
No que concerne aos ganhos mensais, os catadores entrevistados disseram que a renda é algo
em torno de R$ 500, fruto da divisão igualitária entre todos os membros da Associação quando
retirada as despesas de funcionamento e manutenção. Quando questionados se esse era o único
trabalho, (36,4% – 4/11) afirmaram que a atividade de catador era o único trabalho. Os demais
(63,6% – 7/11) possuem outros trabalhos complementares como faxina, costuras, mecânico,
motorista, babá. Entre os entrevistados, (54,54% – 6/11) são beneficiários do programa Bolsa
Família, do Governo Federal. Quanto à destinação da renda, (100% – 11/11) disseram que a renda
era destinada a pagar as despesas de casa, especialmente, alimentação. Na ocasião (27,3% – 3/11)
deles informaram que estão com dívidas com a Companhia de Energia do Estado.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Quanto à família, todos são casados e destes, somente (9,1% – 1/11) não possui filhos. Em
relação à moradia, (72,7% – 8/11) pagam aluguel, enquanto (27,3% – 3/11) dividem a mesma
moradia com os pais ou tem o espaço cedido pelos mesmos.
Todos os entrevistados possuem os principais documentos, com exceção de (9,1% – 1/11)
que não possui carteira de trabalho. Com relação à destinação dos resíduos de suas casas, os
catadores afirmaram ter cobertura da coleta pública, depositando em uma caçamba disponibilizada
pela prefeitura os resíduos de suas casas quando retirado a parte que interessa à associação. Quanto
à distribuição de água, todos possuem cobertura do sistema da Companhia, exceto (18,2% – 2/11)
que não possuía tal cobertura. Já em relação ao esgotamento sanitário, (36,4% – 4/11) possui
cobertura deste serviço, enquanto todos possuem serviço de energia elétrica distribuído pela
Companhia elétrica do Estado. Dados similares foram encontrados nos estudos do IPEA (2013a).

Discurso do Sujeito Coletivo

O Discurso do Sujeito Coletivo realizado encontra-se apresentado em itálico a fim de


possibilitar um destaque em relação ao restante do texto. Para cada uma das respostas, encontra-se
indicada entre parênteses a quantidade de respondentes que apresentaram a mesma Ideia Central
(IC) em sua resposta (N1) e o número total de respondentes (N), conforme indicado por Levrefe e
Levrefe (2003).
Os discursos do sujeito coletivo, formados para três perguntas, foram divididos em sete
ideias centrais (IC) e estão apresentados no Quadro 1. A análise dos discursos está apresentada na
sequência.

IDEIA CENTRAL – ( /N)


PERGUNTA
Conseguir um emprego e melhorei minha
A) O que mudou na sua condição de
vida após entrada na associação? moradia (8/11)
Não mudou nada na vida (3/11)

Descansar (9/11)
B) Qual o seu principal lazer?
Não tem lazer (2/11)
Ganhar mais (6/11)
C) Qual o seu sonho? Possuir a casa própria (3/11)
Terminar os estudos (2/11)
Nota: N1: número de entrevistados que apresentaram a Ideia Central; N: número total de entrevistados.

QUADRO 1- Fragmentos das ideias centrais dos discursos dos entrevistados

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A) O que mudou na condição de vida após a entrada na associação?

Quando indagados sobre a melhora na sua vida depois da entrada na associação é necessário
avaliar cada resposta. A resposta predominante (8/11) para este item foi: ―Conseguir um emprego e
melhorei minha moradia‖. Logo é possível observar que este fato personifica o motivo essencial
dos entrevistados organizarem-se em uma associação: o livramento do desemprego, e
conseguintemente, obtenção de alguma renda, a fim de que possam suprir as suas necessidades
básicas. Nesse sentido, a geração de renda é uma das principais razões para a gestação das
associações e cooperativas espalhadas pelo Brasil, uma vez que, de acordo com o Instituto de
Pesquisa Tecnológica (IPT) (2003), o objetivo central de uma cooperativa ou associação de
materiais recicláveis é promover ao catador uma oportunidade de emprego e renda superior àquelas
encontradas quando atuam sozinhos.
A justificativa para este objetivo se dá em razão de historicamente esta atividade ser
praticada de maneira informal e por isto, os trabalhadores quando atuam isoladamente permanecem
invisíveis perante o poder público, excluindo-as de seus direitos. Já quando atuam organizados
conseguem resolver alguns entraves estruturais que a atividade apresenta, como: aumento da
produtividade, inclusive com a instauração de cadeia produtiva; acesso a direitos outorgados pelas
políticas públicas e leis, sobretudo, a PNRS; tomada de posição de destaque nos Planos Municipais
e Estaduais de Gestão Integrada e Gerenciamento dos Resíduos Sólidos; aumento do poder de
barganha com os compradores da mercadoria, na tentativa de excluir os atravessadores; conquista
junto aos governos de suporte técnico especializado, investimentos na produtividade e instalações
adequadas para pleno funcionamento da organização e por fim, aceitação social tanto no que
concerne aos catadores, quanto na contribuição nos sistemas de coleta seletiva municipal com
destino a essas organizações (IPEA, 2013b; BRASIL, 2010). Esses fatores somados são traduzidos
em aumento da competitividade dessas organizações, aumentando as receitas e, por conseguinte,
incremento de renda aos associados. Quanto a essa melhora um discurso notável pode ser colocado:
―Melhorou um pouco minha vida, pois antes eu trabalhava sozinho, mas depois que entrei aqui
consegui comprar minha geladeira e meu fogão que antes eu não tinha condições, por que a gente
ganhava mês sim, mês não‖. Nesta resposta, o entrevistado elencou itens comprados com a renda da
associação e que, sem dúvidas, denota certa melhora econômica experimentada tanto na renda,
quanto na sua perenidade depois de associado.
Dos entrevistados (3/11) afirmaram que não houve mudanças significativas na sua vida por
causa da cooperativa. Nessa questão três adversidades na atividade de catador estão postas: as de
caráter econômico, caráter social e condições de trabalho.
Na questão econômica, a renda é o principal enfoque, uma vez que se manifesta como
insuficiente, figurando menor que o salário mínimo vigente no país no ano de 2016 (R$ 880,00) e
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

vertiginosamente menor que o salário mínimo ideal (R$ 3.856, em dezembro de 2016) necessário
para manutenção de uma condição básica de vida por família de 4 componentes, calculado pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2016). A renda
obtida pelos associados desta Organização está em torno de R$500, valor aproximado da média
nacional (R$571,56) e da região Nordeste (R$459,34). Esta renda de R$500,00 é praticamente
metade do mínimo do país no ano da pesquisa (52,82% do mínimo) e muito inferior a renda ideal,
representando apenas 12,97% do mínimo ideal, inclusive, menor que a média nacional para a
atividade e, portanto, revela-se como o principal agente adverso que esses catadores enfrentam em
razão de sua atividade, indo de encontro à definição de trabalho decente, da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), cujo um dos indicadores para que um trabalho seja decente são os
Rendimentos Adequados capazes de suprir as necessidades vitais do ser humano, como alimentação
e moradia (GUIMARÃES, 2012; OIT, 2011).
Já no que tange as questões sociais, dois problemas sobressaltam-se: o preconceito contra o
catador e a recusa da sociedade quanto à instalação de uma organização desta natureza na
comunidade. Quanto o primeiro problema, Velloso (2004) afirma que a humilhação, preconceito e
desprezo dos moradores é um grande agente desmotivador para os catadores, de modo a despertar a
sensação de inferiorização e insignificância destes, perante o restante da comunidade. Em adição ao
preconceito, Magalhães (2012) alertou que as cooperativas/associações enfrentam problemas de
aceitação social, uma vez que parcela da comunidade fica insatisfeita com a instalação de uma
organização desta natureza nas proximidades de suas casas e em certos casos, ateia fogo nos
galpões como forma de expulsar e responsabilizar os catadores pelos transtornos causados pelos
resíduos gerados pelos próprios insatisfeitos. Ainda nessa discussão, o trabalho decente proposto
pela OIT, dentre os 4 objetivos estratégicos, além dos rendimentos adequados discutidos
anteriormente, está a abolição de todas as formas de discriminação, promoção do emprego de
qualidade digno, produtivo e de interesse social. É possível notar que, no aspecto social, este
empecilho precisa ser superado em nome da completa dignificação da atividade de catador
(GUIMARÃES, 2012; OIT, 2011).
Quanto à questão das condições e segurança no trabalho, segundo o IPEA (2013b) a
atividade ocorre em meio a uma série de problemas de ordem laboral em função da atividade
ocorrer imerso a um conjunto de riscos ambientais de todas as naturezas (físicos, químicos,
biológicos, ergonômicos e de acidentes), tais como à exposição ao calor, a umidade, os ruídos, a
chuva, o risco de quedas, os atropelamentos, os cortes e a mordedura de animais, o contato com
cobras, ratos, moscas e agentes microbiológicos, o mau cheiro dos gases, a fumaça que exalam dos
resíduos sólidos acumulados, principalmente metano (CH4), a sobrecarga de trabalho e
levantamento de peso, as contaminações por materiais perfurocortantes, embalagens de produtos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

químicos e etc. Somando-se aos riscos envolvidos na atividade, a associação não dispõe de um
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) (BRASIL, 1978c) cujo escopo é a
implementação de um conjunto de medidas que visam a proteção do trabalhador, bem como
resguardar sua saúde por meio do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)
(BRASIL, 1978b). Alguns instrumentos aplicáveis pelo PPRA são a utilização no manejo dos
resíduos com os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), conforme previsto na Norma
Regulamentadora 6 (NR-6) do Ministério do Trabalho, as estratégias de proteção coletiva,como os
Equipamentos de Proteção coletiva (EPC) que consistem em sistemas de proteção do conjunto de
trabalhadores e um importante instrumento do PCMSO que são os exames médicos admissionais,
mudança de função, retorno ao trabalho, periódicos e demissionais que visam o monitoramento da
saúde do trabalhador. Programas como estes, visam minorar as consequências nefastas que
terminam por ameaçar a integridade física e mental dos catadores em todas as etapas de trabalho,
incorrendo como um agente adverso concreto ao catador de materiais recicláveis.
Essa conjuntura nos âmbitos sociais, econômicos e das condições de trabalho atua no
sentido de depreciar não só ao catador, mas também revelando-se como entrave para a manutenção
das associações/cooperativas.

B) Qual o seu principal lazer?

As respostas para essa pergunta foram: descansar e não ter lazer. Imerso nesse contexto,
duas questões estão postas: o caráter da atividade do catador e novamente o caráter econômico.
Na questão da atividade alguns fatores são responsáveis pelas respostas, pois a rotina
intensa, extenuante, em condições insalubres, devido à jornada de trabalho de 09:30h diárias forçam
o trabalhador utilizar os momentos livres para descansar, como também, o próprio cansaço coíbe o
catador de espairecer, atuando como um fator desestimulante, isto é, insignificação do lazer pelo
trabalho.
Somando-se a atividade extenuante, o caráter econômico, personificado na renda
insuficiente para as demandas mais básicas é outro fator a ser levado em consideração, uma vez que
as necessidades básicas não são supridas pelo baixo rendimento, então os catadores suprimem o
lazer de seus orçamentos domésticos. Segundo Alves e Melo (2012) essa supressão ocorre, pois o
lazer pertence numa escala hierárquica de necessidades humanas, uma importância secundária
quando equiparada a alimentação, a saúde que são comumente tidas como dimensões humanas
fundamentais. Mas o autor questiona o por quê do lazer ser menos importante? Se existem uma
relação direta entre lazer e saúde, lazer e educação, lazer e qualidade de vida, as quais, não podem
ser negligenciadas. Esta ―secundarização‖ dos momentos de lazer traz para o catador uma redução

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

da qualidade de vida e, por conseguinte, atinge sua produtividade no cotidiano, dentre as quais,
redução de produtividade na sua própria atividade de subsistência (ALVES; MELO, 2012).

C) Qual o seu sonho?

Nessa questão, quando interpelados quanto ao maior sonho, à maioria (6/11) deseja ter
maiores ganhos, se comparada ao rendimento atual, revelando que os catadores almejam ter melhor
condição econômica para atender suas demandas. Esta resposta não só reitera as adversidades
postas ao trabalho de catador discutidos no item A, como apresenta os entraves estruturais que
traduzem essas adversidades, interferindo diretamente na vida dos catadores: os baixos
rendimentos, a informalidade, desigualdade e a ausência de cobertura previdenciária.
Segundo os estudos mais recentes do IPEA (2013a), o Brasil possui 1.426.584 domicílios
com pelo menos um catador, com rendimento médio de R$ 571,56, atividade formalizada em
apenas 38,6% dos casos, de modo que apenas 15,4% dos catadores possuem contribuição
previdenciária e a desigualdade de renda entre os catadores (coeficiente de Gini) em 0,42. Esses
números são ainda piores quando trata-se apenas da região Nordeste. Em média, 456.060 (32% em
relação ao total de brasileiro) dos domicílios contam ao menos com um catador na região Nordeste,
com rendimento médio de R$ 459,34, atividade formalizada em 33,8% dos casos, de modo que
apenas 6,2% dos catadores possuem contribuição previdenciária e a desigualdade de renda entre os
catadores (coeficiente de Gini) em 0,43. Tais dados denotam a realidade de caráter socioeconômico
dos catadores de materiais recicláveis no Brasil e quando comparado com a região Nordeste, os
números evidenciam significativa piora, uma vez que os dados da referida região estão abaixo da
média nacional e inclusive, o Nordeste figura na pior colocação quanto à renda, a desigualdade,
previdência e em segundo pior que na questão da informalidade. Somando-se a isso, a região
Nordeste apresenta o maior percentual (8,4%) de catadores na extrema pobreza (renda inferior a R$
70 per capta), praticamente o dobro da média nacional (4,5%). Essa conjuntura justifica o desejo
dos associados pelas melhorias de caráter econômico, dada a realidade preocupante aos quais estão
inseridos.
Nessa pergunta ainda foi citada por (3/11) que o maior sonho é ter a casa própria. Essa
afirmação ratifica a discussão anterior sobre a necessidade de melhora no âmbito econômico tanto
para as demandas básicas humanas como também para adquirir a própria casa. Esse sonho justifica-
se em razão de nenhum dos catadores entrevistados possuírem casa própria, seja pagando aluguel
(8/11) ou (3/11) dividindo a mesma moradia ou cedida pelos pais. Segundo IPEA (2013a) a
conquista da casa própria é mais do possuir um ativo, mas sim, conceder o mais essencial desejo da
vida humana: a moradia digna (IPEA, 2013b).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Ainda nesta questão (2/11) afirmaram que desejam ―Terminar os estudos‖. Essa questão
reflete um fato histórico brasileiro que são as altas taxas de analfabetismo. Segundo Censo 2010
IPEA (2013a), a taxa de analfabetismo era de 9,4% da população. Em contrapartida, a taxa de
analfabetismo entre catadores é mais que o dobro (20,5%) na média nacional e apenas 11,4%
concluíram o ensino médio. Os números são ainda mais preocupantes quando analisado somente a
região Nordeste. A taxa de analfabetismo é de 34%, mais que o triplo da taxa média brasileira e
maior que a média nacional para a categoria e quanto aos catadores que concluíram o ensino médio,
a taxa cai para 9,7%, inferior a média nacional da categoria. Dados similares quanto aos que
concluíram o ensino médio (9,1%) foram observados nessa associação. Segundo o relatório do
IPEA (2013a) isso é uma realidade preocupante, pois a pessoa analfabeta sofre limitações de
oportunidades profissionais e consequentemente, de inclusão social pelo trabalho, com impactos
deletérios na renda e na qualidade de vida. Mais especificamente entre os catadores, a alfabetização
promove maior compreensão dos processos de gestão da associação, como também ajuda no poder
persuasão por melhores preços empregada no processo de comercialização de seus materiais entre
as partes interessadas. Portanto, a baixa escolaridade interfere diretamente na renda dos catadores e
por esta razão, estes enxergam no término dos estudos, como o instrumento para melhorar sua vida.
É valido notar que, em suma, os sonhos convergem para melhorias no aspecto econômico,
seja em relação ao aumento no salário, expectativa de ter a casa própria ou ainda, concluir os
estudos. Todas essas mudanças sinalizam o almejo e a necessidade em azeitar a renda desses
catadores que hoje é, em média, R$500,00 por mês.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As condições de vida dos catadores filiados a essa associação de materiais recicláveis


assemelha-se com outros espalhados pelo Brasil e têm mostrado que a conjuntura social, econômica
e condições do trabalho personificadas nos baixos rendimentos, desvalorização do trabalho,
ausência de garantias de natureza trabalhista e previdenciária são entraves estruturais que ameaçam
a qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis. O perfil desses trabalhadores são
parecidos: geralmente excluídos de oportunidades do mercado formal pela baixa escolaridade, pelo
preconceito, pela simplicidade de suas ações, pela profissão que aprendeu, pela baixa renda, pelo
exercício da atividade de catador como único e exclusivo meio de subsistência.
Sabe-se que esta dura realidade estrutural não é resolvida rapidamente, contudo, passos
iniciais foram dados como a inserção desta atividade na lista oficial de Ocupações do Ministério do
Trabalho, o estabelecimento da PNRS cuja contribuição primordial foi o ganho de notoriedade dos
catadores perante o poder público e a ocupação do eixo central das ações previstas na referida lei.
Uma das principais responsabilidades imputadas pela Lei aos Governos foi o fomento para a criação

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

das Cooperativas/Associações de catadores e o apoio técnico-econômico-estrutural concedido a


essas Organizações no decorrer de suas atividades. Somando-se aos direitos e benefícios oriundos
do poder público, essas Organizações de catadores além de possibilitar o aumento da produtividade
inclusive, com o estabelecimento de produção em cadeia, promove maior poder de barganha com os
destinatários compradores dos materiais recicláveis, excluindo aos poucos a figura do atravessador,
que minorava os ganhos dos associados.
Diante disso, evidentemente houve certa melhora na condição de vida dos catadores dessa
associação, no entanto, mais avanços devem ocorrer para superar os entraves estruturais
encontrados na atividade, sobretudo, no cumprimento de todas as prerrogativas aos catadores
previstas pela PNRS, acesso as condições de trabalho formal conforme a Consolidação das Leis de
Trabalho e a padrões internacionais da Organização Internacional do Trabalho, cobertura
previdenciária, igualdade e, sobretudo, aumento na renda desses trabalhadores para que os catadores
de materiais de resíduos sólidos possam desempenhar plenamente suas atividades dignamente com
qualidade de vida.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1529


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AGRICULTURA FAMILIAR E ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL: UM


ESTUDO NO MUNICÍPIO DE REMÍGIO-PB

Katiana Diniz de ALMEIDA


Mestre em Desenvolvimento Regional pela UEPB
katianadiniz@gmail.com
Nerize Laurentino RAMOS
Doutora em Ciências Sociais. Professora UEPB
nerize@uol.com.br
Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO
Doutora em Recursos Naturais pela UFCG, Professora na UEPB
angelaramalho@oi.com.br

RESUMO
O estudo das formas familiares de reprodução social no mundo rural não é algo novo nos debates
acadêmicos. Nesse âmbito, a questão central tem sido a permanência das unidades agrícolas
baseadas no trabalho familiar e sua relação com o processo de desenvolvimento das sociedades
capitalista, mesmo assim, não há um consenso sobre a legitimidade e definição do termo agricultura
familiar. Diante desse contexto, o objetivo central deste estudo é analisar as estratégias de
reprodução social adotadas pelos agricultores familiares no Município de Remígio – PB. Para
análise desta temática, utilizou-se a abordagem quanti-qualitativa, a partir de entrevistas
semiestruturadas realizadas com os agricultores familiares do município de Remígio, na Paraíba, e
coletas de dados secundários. A amostra de vinte unidades foi selecionada mediante um critério
qualitativo, através da busca por unidades que caracterizassem as múltiplas formas de produção-
comercialização da população estudada. Os resultados demonstram o relevante papel que o Estado
assume, através das políticas públicas, nas propostas relativas ao desenvolvimento rural; e que suas
ações influenciam, sobremaneira, as estratégias e escolhas dos agricultores; ou seja, é através das
políticas públicas existentes que estes atores sociais assumem novas perspectivas para o seu
trabalho e vislumbram um futuro melhor no meio rural. Em consonância com os diversos estudiosos
do meio rural apresentados ao longo deste estudo, conclui-se que é preciso romper com o
isolamento do rural, caracterizado pela precariedade em suas vias de acesso, pela inexistência de
equipamentos mínimos de saúde, educação e lazer, para, rompidas estas barreiras, o rural possa
integrar-se aos núcleos dos pequenos municípios e/ou dos pólos regionais que irradiam seu
dinamismo econômico, e só assim, se vislumbrar as expressões do novo rural, ou seja, a
pluriatividade e multifuncionalidade tornarem-se estratégias reais, e possivelmente aplicáveis à
realidade do semiárido nordestino.
Palavras chave: Agricultura Familiar. Reprodução Social. Desenvolvimento Rural.
ABSTRACT
The study of the familiar forms of social reproduction in the rural world is not something new in
academic debates. In this context, the central question has been the permanence of agricultural units
based on family labor and its relation to the process of development of capitalist societies, even so,
there is no consensus on the legitimacy and definition of the term family agriculture. Given this
context, the main objective of this study is to analyze the strategies of social reproduction adopted
by family farmers in the municipality of Remígio - PB. For the analysis of this theme, the
quantitative-qualitative approach was used, based on semi-structured interviews with family
farmers in the municipality of Remígio, Paraíba, and secondary data collection. The sample of
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

twenty units was selected using a qualitative criterion, through the search for units that characterize
the multiple forms of production and commercialization of the studied population. The results
demonstrate the important role that the State takes, through public policies, in the proposals related
to rural development; And that their actions greatly influence farmers' strategies and choices; That
is, it is through existing public policies that these social actors take on new prospects for their work
and envisage a better future in rural areas. In agreement with the several rural scholars presented
throughout this study, it is concluded that it is necessary to break with the isolation of the rural,
characterized by the precariousness of its access routes, the lack of minimal health, education and
leisure equipment, to , These barriers being broken, the rural one can integrate itself to the nuclei of
the small municipalities and / or the regional poles that radiate its economic dynamism, and only
then, if one can glimpse the expressions of the new rural, that is, the pluriactivity and
multifunctionality become Real strategies, and possibly applicable to the reality of the Northeastern
semi-arid.
Keywords: Family Agriculture. Social reproduction. Rural Development

INTRODUÇÃO

A história da agricultura familiar no Brasil é marcada por lutas sociais e pela busca por
espaços, cuja realidade assumiu novos contornos notadamente a partir da intensificação do uso de
tecnologias na produção agrícola. Esta experiência acarretou em uma série de consequências sociais
e econômicas, afetando, particularmente, os modos de vida destes agricultores, que foram excluídos
do processo de ―modernização‖. Então, diante das pressões externas, resistir torna-se um imperativo
à agricultura familiar e significa, sobretudo, adotar estratégias de reprodução social, alimentadas por
um repertório de valores e saberes da herança camponesa.
Analisar as estratégias de reprodução social na agricultura familiar se constitui como foco
central nesta pesquisa. Esta abordagem se dará à luz das políticas públicas que visam o
desenvolvimento rural e da relação com os atores sociais envolvidos. Nesse sentido, compreendem-
se como estratégias os processos de apropriação de informações, conhecimentos e escolhas tomadas
pelos agricultores familiares, que se constroem a partir de um patrimônio sociocultural – valores,
percepções e representações – e das decisões políticas mais gerais, que interferem na vida desses
agricultores e na forma como se adaptam às pressões externas (LAMARCHE, 1993; 1998 apud
RUSZCZYK, 2007, p. 30).
Parte-se da hipótese de que existe um nível relativo de autonomia nas escolhas destes
agricultores familiares. No entanto, estas escolhas são representativas da resistência do agricultor
familiar para permanência no meio rural e no exercício a atividade agrícola. Assim, o pressuposto
teórico e metodológico aqui defendido é que nesse movimento dialético, entre a dinâmica interna
das unidades familiares e os processos externos de interação com as representações, instituições e
mediadores sociais, existe um espaço de manobra capaz de mitigar os efeitos históricos da
marginalização da agricultura familiar, pondo-a em um novo patamar: de excluída do processo de
desenvolvimento a elemento catalisador do desenvolvimento rural sustentável. Diante desse

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

contexto, o objetivo central deste estudo é analisar as estratégias de reprodução social adotadas
pelos agricultores familiares no Município de Remígio – PB.

MATERIAL E MÉTODOS
Para análise desta temática, utilizou-se a abordagem quanti-qualitativa, a partir de
entrevistas semiestruturadas realizadas com os agricultores familiares do município de Remígio, na
Paraíba, e coletas de dados secundários. A amostra de vinte unidades foi selecionada mediante um
critério qualitativo, através da busca por unidades que caracterizassem as múltiplas formas de
produção-comercialização da população estudada.
Embora não seja um número estatisticamente representativo da população, compreende-se
que é mais proveitosa uma análise integrada e mais aprofundada dos diversos elementos que
compõe as estratégias de cada unidade familiar, a partir da leitura de suas realidades e trajetórias
específicas. Assim, buscou-se conhecer unidades familiares que atendessem a critérios pré-
estabelecidos e se aproximassem do seguinte perfil: 1) agricultores que produzem somente para o
consumo; 2) agricultores que produzem para comercialização (tendo apenas um canal, independente
de qual seja) e 3) agricultores que comercializam no mercado institucional e, também, nas feiras
livres e através da entrega direta ao consumidor. A ideia era conhecer as diversas possibilidades de
comercialização e a trajetória de cada ator social nas mesmas, além de sua percepção acerca das
mudanças ocorridas nos últimos anos na agricultura através das políticas públicas voltadas para
agricultura familiar.
Este estudo se valeu dos aportes analíticos e teóricos denominados de ―perspectiva orientada
ao ator‖, dos autores Norman Long (2007) e Jan Douwe Van der Ploeg (2008), assim como da
leitura realizada destes autores por Ramos (2009) e Menezes e Malagodi (s.d.). Long (2007, p. 42 e
43) reconhece que, na análise dos fatos, experiências e processos sociais, existem importantes
forças estruturais que afetam diretamente os modos de vida dos indivíduos e de grupos sociais.
Afirma também que esta conjuntura é mediada e transformada pelos atores sociais. Dessa forma, é
pouco satisfatório buscar analisar os processos de desenvolvimento somente a partir das
determinações externas. Isso porque a existência dessas forças externas tornaria os indivíduos
meros expectadores e objetos de circunstâncias determinadas externamente; todavia, nesta análise
centrada no ator, os indivíduos e grupos sociais são apreendidos como ―sujeitos ativos‖ e estes
processos externos são ressignificados pelos atores sociais nas experiências de vida cotidiana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo da agricultura familiar, ainda que diante de todas as rupturas ocorridas com o
modo de vida camponês e novas sociabilidades existentes, provocadas inclusive por sua inserção no

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

mercado/sociedade globalizante, resguarda sua importância graças às especificidades desta


atividade, pois além de sua distinção estrutural, posto que o agricultor é trabalhador e dono dos
meios de produção - simultaneamente, são as especificidades históricas do trabalho agrícola que o
distinguem das demais atividades produtivas, além da própria perspectiva de uma co-produção com
a natureza, a que se refere Ploeg (2008), que diferencia-se do ritmo da produção industrial ao
produzir no compasso da natureza. Caso estas especificidades não existissem, estudar agricultura
familiar seria o mesmo que estudar uma empresa familiar qualquer, que se fundamente na mão de
obra da própria família.
Por ser um aspecto fundante do conceito da agricultura familiar, analisou-se a intensidade da
―lógica familiar‖ nas unidades agrícolas de Remígio. A pesquisa de campo revelou que 60% dos
filhos dos agricultores em idade economicamente ativa, migraram, sobretudo, para o sudeste do
país. Diante da evasão dos filhos dos agricultores para suprir as necessidades de mão de obra há a
contratação de um trabalho precário, na forma de ―diarista‖ ou de trabalho permanente em 75% das
unidades entrevistadas. Percebe-se que para ambos (quem contrata e quem é contratado), o trabalho
―alugado‖ é um último recurso. Percebeu-se que muitos pais aceitam, resignados, as escolhas dos
filhos, por compreenderem não ser possível viver bem apenas com a prática da agricultura naquela
localidade, pois reconhecem nela dificuldades intransponíveis. Longe de ser a situação idealizada
pelos agricultores familiares, este retrato só reforça as múltiplas relações do agricultor familiar na
sociedade atual, de forma que a reprodução familiar destas unidades mostra-se comprometida, mas
não extinta.
Apesar desse diagnóstico, existem agricultores na região motivados e com muitos projetos
para o seu futuro no mundo rural. Das vinte unidades analisadas, 25% estão nas mãos de
agricultores jovens, com menos de quarenta anos de idade, e outras 10% são geridas por
agricultores que tiveram uma experiência de vida nas grandes cidades e não pretendem voltar, pois
na atividade rural vêm a possibilidade de prosperarem naquilo que lhes pertence. Dessa forma,
quando este grupo de agricultores demonstra que têm diversos projetos de investimentos na
propriedade ou mesmo de diversificação da produção, apesar das limitações existentes, isso traz
claras projeções de crescimento do patrimônio da família e melhoria da qualidade de vida no
campo, e não de falência e abandono do rural.
Considera-se, nessa conjuntura, o relevante papel que o Estado assume, através das políticas
públicas, nas propostas relativas ao desenvolvimento rural; e que estas ações influenciam,
sobremaneira, as estratégias e escolhas dos agricultores; ou seja, é através das políticas públicas
existentes que estes atores sociais assumem novas perspectivas para o seu trabalho e vislumbram
um futuro melhor no meio rural.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Em relação às dinâmicas geradas pelas atuais políticas, destaca-se a relevância da


Previdência Rural e das políticas de comercialização dos produtos da agricultura familiar, através
sua inserção nos mercados institucionais. Embora sejam capazes de ampliar o acesso ao mercado,
estas políticas são insuficientes, pois beneficiam um número muito reduzido de agricultores, não
gerando reais impactos no desenvolvimento rural em virtude destes novos espaços existentes.
Outro elemento restritivo ao desenvolvimento da agricultura familiar foi o acesso a crédito,
percebido como um real obstáculo para muitos agricultores, isso porque embora existam diversas
linhas ofertadas, nenhum dos agricultores entrevistados conseguiu acessar o PRONAF - a principal
política de crédito para este público. Persistem muitas barreiras a serem transportas para que estas
políticas de crédito cheguem de fato a este público e atenda às suas necessidades e particularidades
da agricultura familiar. A maioria dos jovens, filhos dos agricultores entrevistados, já abandonou a
atividade rural e, os poucos que restam no campo, não conseguem obter crédito para investir em
seus projetos, além das questões relativas ao tamanho da propriedade; o crédito oferecido é
incompatível com projetos que de fato seriam capazes de promover mudanças significativas na vida
destas famílias.
Pôde-se perceber o uso dos benefícios previdenciários como uma clara estratégia para
permanência no meio rural e no exercício da atividade agrícola: 75% das famílias que percebem tais
rendas as utilizam no financiamento das atividades produtivas. Isso porque conceitualmente a
aposentadoria é concedida pela velhice, que acarreta na redução da capacidade laborativa e no
consequente comprometimento das condições de vida dos trabalhadores. Então, contrariando o
pressuposto da ―inatividade‖ intrínseco à aposentadoria, estes agricultores a utilizam para
―financiar‖ sua atividade laboral. Apesar das ―dinâmicas positivas‖ geradas por essa política pública
nos campos produtivo e social, essa repercussão se deve às próprias limitações da região e a falta de
geração de renda nas populações rurais, a precariedade das condições de vida e aos processos de
sujeição a que estas populações foram, historicamente, submetidas.
Após mais de duas décadas em seu atual formato, a previdência dos trabalhadores rurais
igualou-se aos direitos aos trabalhadores urbanos, demonstrou-se eficaz por garantir a permanência
no campo de muitos agricultores e reduzir a fome e miséria existente. No entanto, com a população
do campo envelhecida e a migração dos jovens, torna-se emergente a adoção de novas medidas que
emancipem estas populações da dependência desta transferência de renda, se não, a reprodução
social no campo estará amplamente comprometida, uma vez que as transferências de renda
correspondem a 52% de todos os rendimentos obtidos pelos entrevistados.
Evidencia-se que os agricultores adotam diversas estratégias e escolhas baseadas em suas
experiências e nas suas múltiplas relações para acessarem os canais de comercialização disponíveis
a agricultura familiar. Antes da pesquisa de campo, pressupunha-se que a diversidade de canais de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

comercialização propiciava necessariamente melhores condições à família, porém, identificou-se


que a capitalização dos agricultores e a disponibilidade de recursos produtivos pode ser
preponderante. Assim, a necessidade de acessar vários canais de comercialização pode refletir a
insuficiência e limitações dos mesmos. Outro pressuposto que foi reconsiderado foi a
comercialização a intermediários, já que apesar de toda a crítica a estes sujeitos - ―atravessadores‖-
que se apropriam de parte dos lucros dos agricultores, alguns optam por comercializar sua
produção a terceiros, pois há diversos fatores envolvidos quando preferem vender nas feiras,
diretamente ao consumidor: o tempo despendido e retirado do trabalho da produção agrícola; as
despesas com frete; embalagens; o risco do insucesso nas negociações, dentre outros fatores, que
podem desestimular o agricultor familiar a usar este canal de comercialização. Ressalte-se por fim,
a dificuldade de se revelar o grau de importância de cada canal de comercialização, pois para os
agricultores, apesar das pressões em sentido contrário, não lhes é comum o registro e controle dos
rendimentos e produções; as variações de preço e de safra dificultam ainda mais a noção
comparativa ao longo dos anos.
Nesta relação com o mercado, porém, a atuação de outros atores sociais pode trazer
repercussões variadas às estratégias dos agricultores familiares. Evidencia-se em campo a
funcionalidade dos pressupostos de José Eli da Veiga e Ricardo Abramovay no que concerne a
fundamental relação dos agricultores familiares com as instituições locais – públicas ou de
cooperação - para ampliar a geração de valor e para criação de um ambiente favorável ao
desenvolvimento rural. Percebeu-se entre os agricultores mais produtivos um descontentamento
generalizado com a empresa pública responsável pela assistência técnica rural, que além de distante,
a instituição quando requisitada não corresponde às expectativas dos agricultores, sendo que muitos
de seus projetos são retardados por depender deste apoio técnico para prosseguimento. Ao não
atender satisfatoriamente, as reivindicações da agricultura familiar na região, a empresa não parece
desenvolver as inovações e técnicas necessárias para ampliar a competitividade dos produtos
agrícolas da região.
Ao avaliarem o que significa ser agricultor hoje, em comparação com o tempo de seus pais,
a política compensatória foram mencionadas como determinantes das melhores condições de vida
no campo. Embora estas políticas sejam consideradas insuficientes para se pensar ―o futuro‖ do
mundo rural, até pelas próprias características das políticas citadas pelos entrevistados (bolsa
família e aposentadoria rural), estas trazem amenidades à vida no campo e valorizam o trabalho
rural (em virtude da garantia da cobertura previdenciária, igualando-o ao trabalho urbano). Mas é
preciso ir além. Estas políticas geraram dinâmicas positivas no meio rural, porém, as demais
políticas que se propõem a promover de fato o fortalecimento da agricultura familiar e ampliar os
canais de acesso à comercialização têm sido pouco eficazes, como demonstrado nesta pesquisa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONCLUSÕES
Em consonância com os diversos estudiosos do meio rural apresentados ao longo deste
estudo, considera-se que é preciso romper com o isolamento do rural, caracterizado pela
precariedade em suas vias de acesso, pela inexistência de equipamentos mínimos de saúde,
educação e lazer, para, rompidas estas barreiras, o rural possa integrar-se aos núcleos dos pequenos
municípios e/ou dos pólos regionais que irradiam seu dinamismo econômico, e só assim, se
vislumbrar as expressões do novo rural, ou seja, a pluriatividade e multifuncionalidade tornarem-se
estratégias reais, e possivelmente aplicáveis à realidade do semiárido nordestino, pois este rural
específico se tornará atrativo para outros atores sociais e suas múltiplas atividades.
Nessa conjuntura ideal, deverão caminhar em paralelo as políticas compensatórias – posto
que este ―rural atrasado‖ não se converterá repentinamente em progresso – estas políticas do novo
rural, do rural que complementa o urbano, e não se opõe a ele, como o espaço da precariedade e da
pobreza. Também, não se pode perder a centralidade da agricultura familiar no meio rural, pois
ainda que em alguma perspectiva futura, as outras atividades e rendas da pluriatividade venham a
ser mais significativas do ponto de vista econômico, não o serão do ponto de vista ambiental e
social, pois a agricultura familiar é um elemento vitalizador desta paisagem e da ruralidade:
excluindo-a do cenário ou minimizando-se sua importância, obter-se-á uma ponte que ligará a
cidade a um vácuo, um espaço sem identidade e sem elementos simbólicos que justifiquem tal elo.
É preciso que se mantenha viva a cultura do campo, pois logicamente, é esta que o torna atrativo e
um espaço de consumo para os citadinos.
Diante do exposto, acredita-se que houve um avanço nas políticas públicas direcionadas ao
desenvolvimento rural sustentável, que de um caráter meramente assistencialista avançaram a um
novo patamar, com políticas públicas que possibilitam a participação destes atores sociais. Conclui-
se, nesse sentido, que estes espaços participativos assumem cada vez mais relevância no cenário
nacional, pois se tornaram princípios que guiam a formulação de políticas públicas. Embora sejam
evidentes que ainda existem várias distorções, como a apropriação destes espaços democráticos
pelos poderes públicos locais; a dominação pelas instituições e ―mediadores‖ que na verdade
assumem uma postura interventiva e decisória, além de reuniões intermitentes que não conduzem a
resultados expressivos e provocam desgastes e desmotivação. Este parece ser o único instrumento
capaz de promover o diálogo entre os beneficiários das políticas públicas e seus planejadores, a fim
de torná-las mais adequadas às reais necessidades dos agricultores familiares, um desafio que se
potencializa pela heterogeneidade da agricultura familiar no país.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1537


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A GESTÃO DO


PROJETO DE ASSENTAMENTO AGROEXTRATIVISTA SÃO FRANCISCO

Luís Geraldo Leão GUIMARÃES


Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade/UNEB
luisppgeduc@gmail.com
Eduardo José Fernandes NUNES
Prof. Dr. do PPGEduC/UNEB
eduardojosf2@gmail.com
Avelar Luiz bastos MUTIM
Prof. Dr. do PPGEduC/UNEB
amutim@hotmail.com

RESUMO
O objetivo desse artigo é refletir sobre a relação entre a Educação Ambiental e a Gestão no Projeto
de Assentamento Agroextrativista São Francisco, enfocando as possibilidades de construção de uma
gestão para a sustentabilidade através das contribuições de uma educação ambiental transformadora.
Partimos da contextualização do projeto, da sua história, de seus moradores, incluindo também o
Movimento CETA que coordena/assessora o assentamento, do dilema entre produzir e preservar
enfrentado no dia a dia pelos assentados/as, para, em seguida discutir sobre Educação Ambiental e
sobre Gestão buscando compreender as possibilidades de contribuição para o processo de
autogestão do projeto.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Gestão; Assentamento Agroextrativista.
RESUMEN
El objetivo de este artículo es reflexionar sobre la relación entre la Educación Ambiental y la
Gestión en el Proyecto de Asentamiento Agroextrativista San Francisco, enfocando las
posibilidades de construcción de una gestión para la sostenibilidad a través de las contribuciones de
una educación ambiental transformadora. Partimos de la contextualización del proyecto, de su
historia, de sus habitantes, incluyendo también el Movimiento CETA que coordina / asesora el
asentamiento, del dilema entre producir y preservar enfrentado en el día a día por los asentados,
para luego discutir sobre Educación Ambiental Y sobre Gestión buscando comprender las
posibilidades de contribución al proceso de autogestión del proyecto.
Palabras clave: Educación ambiental; Gestión; Asentamiento Agroextrativista

CONHECENDO O CENÁRIO, OS SUJEITOS E O PROBLEMA

A preocupação com essa temática de estudo surgiu da minha experiência com o tema, desde
os anos 80 do século passado como extensionista rural (Técnico Rural Nível Médio) da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia (EMATER-BA), trabalhando com agricultores/as
familiares e suas organizações e passo a buscar caminhos alternativos para os problemas
enfrentados por eles, como a diversificação da produção, o cultivo consorciado de plantas, o uso de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

inseticidas naturais, o controle biológico de pragas, o associativismo/ cooperativismo, entre outros.


Tendo então contato com a chamada ―agricultura alternativa‖ que proponha uma relação mais
harmônica com o meio ambiente. Depois, no final dos anos 90 do sec. XX, como aluno do curso de
pedagogia do Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT), Campus XVII, em Bom
Jesus da Lapa, participando das discussões com grupos locais sobre educação ambiental, sendo por
isso indicado para representar o DCHT no Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
(COMDEMA) de Bom Jesus da Lapa, o que me motivou, no curso de pós-graduação, a pesquisar e
escrever sobre Educação Ambiental (EA).
Há um consenso sobre a importância da EA para a preservação da vida no planeta Terra,
conforme pensam Waldman (2001), Medina e Santos (2001), Carvalho (2002), Saito (2002),
Loureiro (2004, 2011), Lima (2011), Mutim (2007), entre outros, pois só através da mudança de
atitudes e valores é que será possível ―rever‖ a nossa relação com a natureza e com os outros
homens, criando uma sociedade ambientalmente equilibrada e socialmente justa (pautada na
sustentabilidade). E essa mudança só é possível via processos educativos tanto formais (escolas,
universidades, etc.), como não-formais (Sindicatos, ONG, Movimentos sociais, etc.). Parafraseando
Paulo Freire (2000), podemos afirmar que se a EA não muda o mundo, também o mundo não muda
sem a EA.
O Projeto de Assentamento Agroextrativista São Francisco (PAE-SF) fica localizado na
margem esquerda do rio São Francisco nos municípios baianos de Serra do Ramalho e Carinhanha,
numa Área de Preservação Permanente (APP), e teve como objetivo principal a regularização
fundiária das populações tradicionais de pescadores/agricultores que viviam nessa região nas áreas
de reserva do Projeto Especial de Colonização – Serra do Ramalho (PEC/SR), implementado pelo
governo federal para alojar a população atingida pela construção da barragem de Sobradinho, na
década de 70 do século passado.
Segundo Sodré (2008), os/as assentados/as do PAE-SF são, em sua maioria, descendentes
dos moradores das antigas fazendas situadas às margens do rio São Francisco, formada por
pescadores artesanais, vaqueiros, agregados e agricultores familiares que, habitantes/moradores de
uma APP tem que conciliar as atividades econômicas com a preservação ambiental, criando, na
maioria das vezes, conflitos entre a própria sobrevivência (e da família) com a preservação dos
recursos naturais.
O PAE-SF foi criado pela Portaria INCRA/SR-05/Nº62 de 27 de novembro de 1995
(BRASIL, 2001), e por estar localizado numa APP, constitui como um exemplo de reforma agrária
ecológica. Ocupa uma área de 20.820 hectares, sendo formado por 11 comunidades, onde moram
600 famílias legalmente assentadas e outras 200 de forma irregular (não assentadas por vários
motivos: forasteiros, ―sem perfil‖, entre outros)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O PAE-SF é ocupado por uma população tradicional de ribeirinhos (pescadores


artesanais/agricultores familiares), que segundo Sodré (op.cit. p. 88) ―[...] se orienta por normas
passadas entre gerações para a utilização dos recursos da natureza, de tal forma que não percebe que
algumas destas são práticas predatórias.‖ Por outro lado Sodré (op.cit. p.237) salienta que ―o saber
que essas famílias adquiriram sobre o meio ambiente decorre da sua relação constante com ele e,
portanto, a forma de preservá-lo vem, sobretudo, da necessidade de mantê-lo para a sua própria
sobrevivência e ainda para seus sucessores‖ facilitando um provável trabalho com educação
ambiental, pois, segundo a autora, para o camponês a

(...) natureza não significa simplesmente algo que está ao seu redor, mas é, acima de tudo, o
local com que ele interage, lugar de vida e de trabalho: constitui uma visão de mundo. No
PAE-SF, a relação homem-natureza é resultado de uma história construída ao longo de
muitas gerações (SODRÉ, 2008. p.287).

A criação do PAE-SF foi uma conquista da população local apoiada inicialmente pela
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e depois pelo Movimento CETA, que é um movimento social
que luta por reforma agrária, coordena vários acampamentos e assentamentos de reforma agrária na
Bahia e em Sergipe, sendo o responsável pela coordenação do PAE-SF.
O Movimento CETA surgiu em 1994, em função do grande número de conflitos fundiários
na Bahia e das dificuldades encontradas pelos trabalhadores/as no acesso à terra, inicialmente como
Coordenação Estadual dos Trabalhadores/as Acampados/as e Assentados/as, daí a origem da sigla
CETA. Após um processo de amadurecimento e disseminação das lutas, em 2002 tornou-se um
Movimento, ampliando a sua forma de atuação e manteve o nome original – Movimento CETA75.
Organizado no estado da Bahia, com sete regionais (Lapa; Médio São Francisco; Sertão;
Chapada; Sul; Sudoeste e Recôncavo Baiano), tem pretensão de expandir a atuação para outros
estados brasileiros. Atualmente o CETA possui 3.123 famílias acampadas e 10.247 famílias
assentadas. Segundo Bartolomeu, um dos coordenadores do Movimento, (apud MOREIRA, 2010.
p.71) o momento de reconhecimento público da força do movimento foi com a ―marcha pela terra‖
em abril de 2003, quando os militantes ficaram acampados por mais de 15 dias em Salvador,
desenvolvendo suas pautas de reivindicações. O Movimento afirma ter por objetivos:

[A] luta pela terra e por Reforma Agrária justa, capaz de dar condições de sustentabilidade,
comercialização, lazer, formação e emancipação aos trabalhadores/as rurais, tendo como
princípios o respeito à democracia, ao meio ambiente e relações equitativas de gênero,
raciais e de geração (CETA, 2013)

Embora tenha origem na luta pela terra, o Movimento dos Trabalhadores/as Assentados/as,
Acampados/as e Quilombolas – CETA, conforme Moreira (2010), incorpora como missão a
preservação ambiental e uma educação contextualizada, o que por si só já o qualifica para dirigir a

75
Dados disponíveis em: www.cetabahia.blogspot.com.br Acesso em 04/10/2013.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1540


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

luta dos ribeirinhos/as assentados/as do Projeto de Assentamento Agroextrativista São Francisco,


configurando segundo Viola (1991, apud DIEGUES, 2001, p.130), um ―ambientalismo camponês,
que luta por manter acesso aos recursos naturais de seus territórios, valoriza o extrativismo, os
sistemas de produção baseados em tecnologias alternativas.‖
O Movimento CETA e os/as assentados vivem o dilema de preservar a natureza do PAE-SF
e de produzir a própria existência, ou seja, o de produzir e preservar. Que pode ser equacionado a
partir da maneira que eles (assentados/as e Movimento CETA) efetivam a gestão do assentamento.
Que soluções tem encontrado o Movimento CETA e os/as assentados/as para resolver esse dilema?
Como tem sido discutidas, formuladas e implementadas as prováveis soluções? Todas essas
questões são potencializadas por processos de educação ambiental que possibilitam ―análises‖ mais
pertinentes da realidade vivida e percebida pelos envolvidos no processo e consequentemente
formas sustentáveis de gestão do PAE-SF.
Esse artigo busca contribuir na reflexão sobre as possíveis soluções para os problemas
socioambientais enfrentados pelos ribeirinhos/as assentados/as no PAE-SF que vivem o dilema
entre produzir sua existência ou preservar o ambiente, e com o Movimento CETA, responsável pela
organização das lutas sociais dessa população tradicional, que precisa resolver este dilema,
encontrando/construindo formas sustentáveis de produzir conservando os recursos naturais.
Partindo do pressuposto defendido por Nunes; Mutim; Costa (2014, p.459) de que ―a
Educação Ambiental se impõem como uma necessidade na construção de um sistema de gestão
compartilhada das políticas públicas,‖ objetiva, também, o desenvolvimento/produção de
conhecimentos específicos relacionados à contribuição da EA para a gestão em assentamentos da
chamada ―reforma agrária ecológica‖ (SODRE, 2008) nas condições do semiárido nordestino, em
particular, em Serra do Ramalho–Bahia. Buscando assim contribuir para articular os envolvidos nos
processos de gestão, no sentido de estimular reflexões, debates e inquietações sobre as possíveis
alternativas para enfrentar os problemas socioambientais vividos pelos assentados/as.

DISCUTINDO EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO

Educação Ambiental

Conceituar Educação Ambiental (EA) é muito complexo, para explicitar o que é e qual sua
importância, Carvalho (2002) adota a definição formulada na Conferência da UNESCO de
Educação Ambiental realizada em Chosica – Peru em 1976, como a que mais se aproxima daquilo
que ele entende por Educação Ambiental:

Educação Ambiental é ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tende
à tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados destas relações. (UNESCO
Apud CARVALHO, 2002. p. 51)

Carvalho defende a ideia que toda educação é ambiental, pois o processo educativo é
realizado num ―meio‖ que é o ambiente dos sujeitos da educação que vivem e convivem nesse
ambiente com outros seres vivos e que para sobreviverem estabelecem relações amplas com o meio.
Portanto, o ―adjetivo ‗ambiental‘ (...) ao lado do substantivo ‗educação‘ serve a meu ver, apenas
para reforçar dimensões que já estão contidas no mesmo; não devendo portanto, existir limites
rígidos entre os conceitos de Educação e Educação Ambiental‖ (CARVALHO, ibid. p.36),
ressaltando porém que devido à crise ambiental e a própria crise da modernidade há a necessidade
de demarcar a especificidade da dimensão ambiental como resgate da totalidade do processo
educativo rompendo com a compartimentação e fragmentação próprias do paradigma cartesiano.
Para Medina e Santos (2001), Educação Ambiental não se trata tão-somente de ensinar sobre
a natureza, mas de educar ―para‖ e ―com‖ a natureza; para compreender e agir corretamente ante os
grandes problemas das relações do homem com o ambiente. Para elas EA ―é a incorporação de
critérios sócio-ambientais, ecológicos, éticos e estéticos nos objetivos didáticos da educação‖ (ibid.
p. 25). Loureiro (2011) sintetiza e amplia o conceito de EA como ―uma práxis educativa e social
que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o
entendimento da realidade de vida e a atuação lúdica e responsável de atores sociais individuais e
coletivos no ambiente.‖ (op. cit. p. 73).
Nesse sentido, Saito (2002), fala em quatro grandes desafios da EA que são: buscar uma
sociedade democrática e socialmente justa; desvelar as condições de opressão social; praticar uma
ação transformadora intencional e por fim, promover a contínua busca do conhecimento.
Reafirmando que a resolução desses desafios constitui um ―caminho para estabelecermos uma
sociedade ambientalmente mais equilibrada, juntamente com uma sociedade mais justa, mais
igualitária e efetivamente mais democrática‖ (ibid. p. 58).
Não se discute mais a importância da EA para a melhoria da chamada ―qualidade de vida‖
na nossa sociedade. Todos (educadores, administradores, sociedade civil e política) concordam que
é imperativo mudar o nosso comportamento em relação ao meio ambiente. O problema e a grande
polêmica é como efetivamente desenvolver uma EA que dê conta de ―mudar‖ a mentalidade das
pessoas, alterando aspectos culturais e de comportamento, que por si só não garantem a resolução
dos problemas ambientais, pois os mesmos derivam da forma como a sociedade está organizada e
de como se dá a apropriação dos recursos naturais (o sistema de produção).
Diretamente todos ou quase todos os problemas ambientais estão relacionados com a
apropriação dos bens naturais e numa sociedade capitalista há o agravante dessa apropriação ser
privada, o que aliás é a essência dessa sociedade, com a consequente socialização coletiva dos

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1542


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

desequilíbrios ambientais (seca, enchentes, erosão do solo, poluição do ar e das águas, fome, etc.),
onde a maioria da população arca com os prejuízos e as elites se locupletam das benesses, das
riquezas.
Por esse prisma, fica evidente que para as elites não é interessante ―mudar‖ a mentalidade
das pessoas no que tange às nossas relações com a natureza – fonte primária da riqueza e da nossa
humanização.
Historicamente as elites (classes dominantes) detiveram o controle da sociedade e a
consequente imposição de suas ideias e valores (a ideologia), mas havendo contudo, resistência dos
oprimidos (classes dominadas) que lutam desesperadamente para conseguirem sobreviver livres do
jugo opressor. Assim, a questão ambiental (resultante da apropriação privada da natureza) está no
centro da luta de classe e portanto numa disputa ferrenha, pois questionar as agressões ao meio
ambiente é questionar a sua apropriação (direta ou indireta) pelo capital.
Preocupados com essa disputa, a classe dominante ou setores dela, criaram o
ecocapitalismo76, que segundo Waldman (2001, p. 30):

Ao não questionar formas de produção, paradigmas econômicos e modelo de consumo,


legitimam [e criam] o Consumismo Verde77. (...). Para os ecocapitalistas a defesa da
ecologia passa pela fabricação de carros que ―poluam menos‖ e não pela defesa de meios
alternativos de transporte (como as ciclovias) ou a melhoria do transporte público. Propõe
métodos de reciclagem e recuperação de matérias-primas, mas não produtos com maior
coeficiente de durabilidade, e assim por diante. (...) Embora discordando da depredação
ambiental, não questionam os valores e as relações de poder existentes no interior desta
mesma sociedade.

Em suma, é a manutenção da apropriação privada da natureza e a consequente pilhagem e


destruição da mesma. Nesse sentido, o capitalismo num ―toque do Rei Midas‖ 78 da mitologia grega,
transforma um grande problema em mais uma fonte de lucros, pois ―a água, o solo, o ‗verde‘ entre
outros elementos, a partir do momento que são contaminados, poluídos e depredados, justificam sua
transformação em bens adquiridos em mercado.‖ (WALDMAN, 2001, p.19).
Pelo exposto até aqui, fica claro que é muito difícil, nos marcos do capitalismo, propor ou
montar um currículo que de fato trabalhe a EA na profundidade que se faz necessária para
efetivamente ―mudar‖ a mentalidade das pessoas, pois implica mudar o próprio sistema com seus
valores, ideias e costumes. Por outro lado, é possível (e desejável) aproveitar as contradições
inerentes do capitalismo e construir contra-ideologicamente, no sentido gramsciano da palavra, a
educação ambiental transformadora, irmã, eu diria, das pedagogias críticas, tributárias das lutas
emancipatórias dos oprimidos do mundo. Reafirmo que nós (educadores), não podemos ―cruzar os
76
Conceito derivado da corrente ecológica denominada ecocapitalista, que acreditam que a economia de mercado é a
única a regular eficientemente a relação homem/natureza ( WALDMAN, 2001, p.32)
77
Vertente ecológica do consumismo capitalista, que exploram o apelo emocional das questões ambientais nos
consumidores para venderem seus produtos.
78
Rei Midas personagem da mitologia grega que transforma em ouro tudo o que toca com as mãos. (BRANDÃO, 2000,
p.122).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

braços‖ diante das questões ambientais face às dificuldades impostas pelo sistema, é preciso e
urgente saber conjugar luta política e luta ecológica, pois uma está implicada na outra numa relação
profundamente dialética.
A EA encontra-se mais desenvolvida na modalidade de educação não-formal que é onde
encontramos o maior número de experiências e diversidade de ações, até mesmo as desenvolvidas
pelo poder público como é o caso dos cursos de capacitação em educação ambiental promovidos
pelos órgãos do Ministério do Meio Ambiente e pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA), este
vinculado à Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia, só para ficar com dois
exemplos um federal e outro estadual.
Mas o grande impulso da EA no Brasil se deve às iniciativas das Organizações Não
Governamentais, principalmente as denominadas ONGs Verdes que perceberam que a mudança de
mentalidade das comunidades só seria possível através de um processo educativo que despertasse a
―consciência ecológica‖ das populações diretamente envolvidas com os problemas ambientais e
propiciasse a busca de soluções para os mesmos.
Lima (2004) classifica a EA em duas polaridades, uma conservadora e a outra
emancipatória, a primeira ―se interessa pela conservação da atual estrutura social, com todas as suas
características e valores econômicos, políticos, éticos e culturais‖ (op.cit. p. 132), e a segunda pelo
―compromisso de transformação da ordem social vigente, de renovação plural da sociedade e de sua
relação com o meio ambiente‖ (ibid. p.132). Entre essas duas polaridades o autor aponta ainda uma
terceira categoria denominada de conservadorismo dinâmico que atua para desviar o rumo
transformador/mobilizador das lutas pelas questões ambientais, operando ―por mudanças aparentes
e parciais nas relações sociais e nas relações entre a sociedade e o ambiente enquanto conserva o
essencial‖ (ibid. p.132), sendo a com maior visibilidade na mídia e apoio dos governos e empresas,
constituindo-se, segundo o autor, o mais poderoso obstáculo para uma abordagem transformadora
dos problemas ambientais.
Nesse sentido, Loureiro (2011) aponta a necessidade da construção da
ecocidadania/cidadania planetária como a inclusão de uma ética ecológica no cotidiano das nossas
vidas, possibilitando a formação da consciência individual e coletiva das nossas responsabilidades
locais/comunitárias/globais (planetária) para com o respeito à vida. E para ele é imprescindível a
―construção de estratégias dialeticamente locais e globais, comunitárias e governamentais,
instrumentais e educativas, que cumpram a mediação entre as esferas econômicas e político-cultural
e apontem para um ambientalismo comprometido com as lutas sociais e populares‖ (op. cit. p. 84).
A educação (formal e não formal) e os educadores, principalmente os ambientais, tem um
importante papel a desempenhar na construção de uma sociedade sustentável, pois como afirmam
Silva e Déjardin (2011, p.175)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

(...) a educação numa perspectiva de sustentabilidade pressupõe a imersão do sujeito em seu


contexto social e a sensibilidade deste para as questões complexas da atualidade, dentre as
quais as de cunho ambiental, social, cultural e econômico. (...) Entendemos a educação
como via direta de ampliação da consciência das pessoas nas suas relações com os outros,
com a vida comunitária e com a natureza.

E nesse sentido Nunes; Mutim e Costa (2014, p.459) enfatizam que:

A diversidade socioambiental dessas duas importantes regiões brasileira [Norte e Nordeste


– onde se localiza o PAE-SF] e os conflitos ambientais gerados favorece e demanda uma
atenção especial no sentido da construção de um sistema de gestão capaz de viabilizar a
participação da população na busca de ações que minimizem os problemas.

Gestão do assentamento

Os assentados/as do PAE-SF ―estão organizados de forma coletiva, na Central das


Associações dos Moradores (CAM) que é responsável pela gestão de todo o projeto‖ (BRASIL.
2001, p. 7). Em cada uma das onze comunidades existentes, os assentados participam de uma
Associação de Moradores, que por sua vez indica/elege três representantes para compor a diretoria
da CAM do PAE – SF, que tem a responsabilidade pela execução do plano de utilização e para isso
―designará GRUPOS e EQUIPES DE TRABALHO para atuarem nas distintas áreas da execução
administrativa – operacional do projeto e responder solidariamente pelo mesmo‖ (Ibidem, p. 13).
No plano de utilização é recomendado que o PAE-SF seja administrado na forma de
autogestão, sendo os moradores, na qualidade de coautores e cogestores da administração,
responsáveis de forma coletiva ou individual pela execução do mesmo.
Mas como tem sido efetivada a gestão do PAE-SF? Qual o significado do termo gestão para
os assentados/as? As respostas a essas indagações nos leva a questionar/problematizar sobre o que
de fato seja gestão, administração, autogestão.
O conceito administração é muito relacionado ao mundo dos negócios, à área empresarial e
por isso tem uma conotação técnico-racional pautada na eficiência, objetividade, hierarquia,
disciplina e lucratividade. Segundo Luck (2010. p.57) a ―administração é vista como um processo
racional, linear e fragmentado de organização e de influência estabelecida de cima para baixo e de
fora para dentro das unidades de ação‖, que tem uma forma mecanicista e utilitária de utilizar
pessoas e recursos, os mais diversos, para alcançar os objetivos previstos. Nesse sentido, o ato de
administrar é caracterizado como comando e controle. Não sendo nessa perspectiva, adequado para
designar ações de caráter coletivos em instituição/movimentos sociais, que requer na visão de Luck
(2010, p. 57)

[...] a participação ativa de todos os envolvidos em uma unidade social, para tomada de
decisão conjunta, mediante processo de planejamento participativo pelo qual a realidade é
analisada pela incorporação de diferentes olhares que, ao serem levados em consideração,
permitem que as decisões tomadas o sejam a partir de uma visão abrangente das
perspectivas de intervenção, além de garantirem o comprometimento coletivo com a
implementação do planejado.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Configurando como um processo de gestão (grifo nosso) que, segundo Luck (op.cit.) possui
uma lógica pautada por princípios democráticos centrados no reconhecimento da primazia da
participação consciente e autônoma das pessoas na tomada de decisões sobre os rumos a serem
seguidos, na organização e no planejamento necessário ao seu trabalho. Para a autora (id. 2009, p.
21) a gestão é ―um processo de mobilização da competência e da energia de pessoas coletivamente
organizada para que, por sua participação ativa e competente, promovam a realização, o mais
plenamente possível, dos objetivos da sua unidade de trabalho‖.
A autogestão aparece quando os trabalhadores percebem que a sua organização é uma tarefa
para eles próprios (COSTA; OLIVEIRA; MELO NETO, 2006), e se configura como a tomada da
consciência histórica de que somos construtores do nosso próprio destino, da nossa própria história.
Esse processo pressupõem a mais ampla participação, autonomia, democracia, cooperação,
autoanálise, diálogo e educação, pois segundo Motta (1981, apud. COSTA; OLIVEIRA; MELO
NETO, op.cit. p. 65) ―A sociedade autogestionária é a sociedade organicamente autônoma,
constituída de um feixe de autonomias, de grupos se auto-administrando, cuja vida exige a
coordenação, mas não a hierarquização‖, onde todos são, individual e coletivamente, responsáveis
pela gestão da comunidade/organização desde o planejamento até a execução final de todas as
atividades do grupo.
Pelo exposto até aqui, fica evidente que a decisão adotada no Plano de Utilização do PAE –
SF (BRASIL, 2001) de recomendar a gestão do Projeto na forma de autogestão é a mais coerente
com a finalidade proposta de promover o desenvolvimento local por meio de uma ação
transformadora com bases sustentáveis, que leve em consideração a tradição e a cultura dos
assentados/as.
Costa; Oliveira e Melo Neto (2006, p. 84) chamam a atenção para a importância da
educação nos processos de autogestão, pois é necessária uma constante aprendizagem de
―conhecimentos de novas formas de se poder viver que não apenas as estabelecidas nos marcos das
relações capitalistas‖. Mutim (2007. p.115) ampliando para a educação ambiental, compartilha
dessa mesma visão ao afirmar que:

A Educação Ambiental como articulação sistêmica dos processos educativos formais e não
formais é parte vital e indispensável para se chegar ao desenvolvimento local e à gestão de
sociedades sustentáveis, pois é a maneira mais direta e funcional de se atingir
objetivamente a meta da participação dos indivíduos e das comunidades locais/territoriais
na tomada de decisão a respeito do patrimônio socioambiental

Dowbor (2014, p.1) reforça a importância da educação para o desenvolvimento local ao


postular que a mesma quando a serviço da comunidade local ―devolve ao cidadão a compreensão de
que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâmica social local que facilite
o processo, gerando sinergia entre diversos esforços.‖ E que ―podemos ser donos da nossa própria

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

transformação econômica e social, de que o desenvolvimento não se espera mas se faz.‖ Pois afinal
a ―ideia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada a esta compreensão, e
à necessidade de se formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas
capazes de transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas.‖
Pelo exposto até aqui, fica evidente que a decisão adotada no Plano de Utilização do PAE –
SF (BRASIL, 2001) de recomendar a gestão do Projeto na forma de autogestão é a mais coerente
com a finalidade proposta de promover o desenvolvimento local por meio de uma ação
transformadora com bases sustentáveis, que leve em consideração a tradição e a cultura dos
assentados/as.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica claro que a resolução do dilema vivido pelos assentados/as do PAE –SF de ―preservar
ou produzir‖ só pode encontrar soluções dentro de um sistema de gestão dialógica e participativa na
forma de autogestão, mas para isso se torna imprescindível a contribuição da Educação Ambiental.
Que assim, numa perspectiva transformadora, pode contribuir para a gestão, na sua forma
autogestionária, ao possibilitar a compreensão ampla: das relações sociais na sociedade capitalista;
da ampliação da participação da comunidade na gestão (MUTIM, 2007); da formação de uma
cidadania ecológica/planetária (LOUREIRO, 2011); da materialização de possibilidades de ação no
plano local a partir dos conhecimentos gerais (DOWBOR, 2014); e, uma compreensão do nosso
lugar no mundo, na cultura e na natureza.
Afinal somos todos responsáveis pela construção de sociedades sustentáveis. Que passa por
pela valorização do território e de todos os recursos ali existentes (naturais, humanos, econômicos,
institucionais e culturais), e que vão constituir o enorme potencial de melhoria da qualidade de vida
para todos. Sendo necessário e urgente conhecer em profundidade este potencial, para construir uma
modalidade de desenvolvimento sustentável com as características local/regional/planetária.
Possibilitando assim as transformações sociais almejadas por todos/as que lutam por uma sociedade
mais igualitária, socialmente justa e ambientalmente equilibrada.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

OLHAR DE UMA COMUNIDADE TRADICIONAL DO SEMIÁRIDO SOBRE


PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL LOCAL

Antonia Thais Silva MENDES


Graduada em Ciências Biológicas UECE
thays.ips@hotmail.com
Marcelo Campelo DANTAS
Professor Assistente Mestre Ciências Biológicas UECE
campelo.dantas@uece.br

RESUMO
A falta de conscientização em relação ao manejo de recursos naturais tem causado problemas
muitas vezes irreversíveis. Um fator que influencia de forma significativa essa realidade é a
ausência de uma educação ambiental. A pesquisa teve como objetivo analisar se as práticas
ambientais não sustentáveis desenvolvidas pelos moradores de uma comunidade rural tradicional são
provenientes da falta de um ensino da temática. A pesquisa foi realizada com moradores da
localidade de São Chico, município de Ipueiras – CE. Para obtenção dos dados utilizou-se técnicas
de Diagnóstico Rural Participativo, especificamente mapas mentais e diagrama de causas e
consequências. Pode-se considerar que os participantes têm conhecimento dos problemas
ambientais dentro do meio em que vivem e também reconhecem que suas atitudes prejudicam ainda
mais essa realidade. Para a maioria dos participantes a falta de conhecimento sobre práticas
sustentáveis é um fator determinante em suas atitudes/práticas. Intervenção por meio de
projetos/programas surge como alternativa para conscientização de hábitos mediante a situação
vivida pelos moradores atualmente.
Palavras-chave: Comunidade rural tradicional. Diagnóstico Rural Participativo. Mapas mentais.
Educação ambiental.
ABSTRACT
Lack of awareness in relation to natural resource management has caused problems often
irreversible. One factor that influences this situation is the lack of environmental education. The
research aimed to examine whether non-sustainable environmental practices developed by residents
of a traditional rural community come from the lack of a thematic teaching. The survey was
conducted with local residents of São Chico, municipality of Ipueiras in the State of Ceará, Brazil.
For data collection techniques was used (Participatory Rural Appraisal, specifically Mental Maps
and Causes and Consequences Diagrams). It was observed that the lack of knowledge about
environmental education, for most participants, it is a determining factor in their attitudes /
practices. It can be considered that participants are aware of the environmental problems in the
environment where they live and also recognize that their actions prejudge this reality. Intervention
through programs would be an alternative to changing habits of the residents.
Keywords: Traditional Rural Community. Participatory Rural Appraisal. Mental Maps.

INTRODUÇÃO

É evidente que o ser humano altera o ambiente drasticamente, o que causa problemas muitas
vezes irreversíveis. A falta de conscientização em relação ao manejo inadequado de recursos

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1550


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

naturais, ao descarte incorreto do lixo, ao uso inadequado de defensivos agrícolas, por exemplo, tem
tornado o ser humano um grande vilão do meio ambiente. De fato, a ausência de conhecimento
sobre educação ambiental (EA) é um fator que influencia, de forma significativa, essa realidade
(ALENCAR, 2005).
A busca de alternativas para solucionar problemas ambientais deve partir de cada indivíduo.
A união dessas ações desenvolve medidas sustentáveis, e benefícios significativos ao ambiente em
geral (VELLOSO, 2010). É importante propor mudanças de atitudes baseadas nas concepções
particulares de cada indivíduo e enfatizar a importância da conservação do ambiente no cotidiano,
com perspectivas de garantir o acesso aos recursos pelas gerações futuras (SCHWARZ;
SEVEGNANI; ANDRÉ, 2007).
A educação ambiental torna-se uma alternativa para mudar atitudes, pois possibilita um
olhar diferenciado sobre a realidade na qual se vive e permite que se estabeleça uma consciência
ecológica com base no conceito de práticas sustentáveis. Vale ressaltar que somos todos
responsáveis pela conservação e manutenção do meio em que vivemos, de forma que nossas
atitudes podem reduzir ou aumentar os problemas causados ao ambiente (AMORIM et al., 2014,
MEIRELLES; VASCONCELLOS; NOVAES, 2013).
A educação ambiental é essencial para o uso consciente de recursos naturais, bem como para
uma relação agradável com o meio. Sabe-se que esse conhecimento, EA, é importante na formação
de educadores e líderes de comunidades, e através desses se pode alcançar os objetivos da EA em
comunidades rurais (SILVA et al., 2006). Muito embora as comunidades rurais estabeleçam um
contato direto com a natureza é dever de todos engajarem-se de forma ativa na proteção ambiental
(LUCCA; BRUM, 2013).
Pode-se inferir que muito deve ser feito para abordar a educação ambiental de forma
significativa nos meios rurais, visto ser este um meio onde as pessoas estão em contado direto com
o meio ambiente. Dessa forma, a pesquisa teve como objetivo analisar se as práticas ambientais não
sustentáveis desenvolvidas pelos moradores de uma comunidade rural tradicional são provenientes
da falta de um ensino da temática.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho trata de uma pesquisa descritiva qualitativa, fundamentada por métodos
participativos, na qual utilizaram-se técnicas de Diagnóstico Rápido/Rural Participativo (DRP) para
a confecção dos dados aqui apresentados, tais como mapas mentais e diagrama de causas e
consequências.
Para obtenção dos dados diagnósticos dessa pesquisa foram realizados encontros com
moradores da comunidade de São Chico, na cidade de Ipueiras - CE. Vale ressaltar que todos os

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

participantes assinaram Termo de Consentimento/Assentimento Livre e Esclarecido, propondo-se a


participar da pesquisa e declarando entender sobre os objetivos, riscos e benefícios da participação.
A pesquisa foi realizada com moradores de uma comunidade rural, São Chico, situada a
aproximadamente 10,0 Km na cidade de Ipueiras-CE. A comunidade conta com aproximadamente
31 famílias, em sua maioria agricultores ou donas de casa. Parcelas mínimas de pessoas que
residem nessa comunidade desempenham outras atividades, tais como, comerciante, servidores
públicos, ou trabalham na construção civil. A exploração de recursos naturais ainda é a principal
fonte para o desenvolvimento local. São desenvolvidas atividades locais como a produção de carvão
para venda e consumo, agricultura familiar, criação de bovinos, de aves entre outros.
A cidade de Ipueiras - CE fica localizada entre as latitudes 4°32'45''S e longitude
40°43'08''O na mesorregião noroeste cearense. Possui uma área de 1.474,10 km2, com altitude de
231,34 m. Apresenta clima Tropical quente semiárido brando e Tropical quente semiárido, com
chuvas de janeiro a maio, apresentados em um relevo formado pelo Planalto da Ibiapaba e
Depressões Sertanejas, com a predominância do Bioma Caatinga, e ainda precipitação
pluviométrica média de 932,2 mm (IPECE, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população pesquisada se mostrou interessada em discutir os problemas ambientais da


comunidade desde o primeiro contato, até mesmo para assinarem os termos de assentimento e
consentimento. Trinta (30) pessoas contribuíram para a confecção dos dados aqui apresentados,
sendo dezenove (19) do sexo feminino e onze (11) do sexo masculino, com faixa etária de dezesseis
(16) a setenta e três (73) anos.
A falta de conhecimento sobre educação ambiental foi apontada pela maioria dos
participantes, como o fator determinante em suas atitudes/práticas. Para eles, seria importante o
ensino da EA dentro da comunidade, porém, que também houvesse intervenção externa, com
alternativas para agirem de forma sustentável.
Ressalta-se que na comunidade não há programa voltado à educação ambiental. Além disso,
alguns moradores mostram-se insatisfeitos com as cobranças as quais são submetidos, como
relatado pelo participante P1.

Os fiscais do IBAMA vêm, dizem um bocado de coisa que a gente não deve fazer. Eles não
entendem que esse é o único jeito de a gente trabalhar por aqui. Tudo bem, a gente pode até
estar errado, mas ai vai proteger o meio ambiente e morrer de fome? Eles não oferecem
emprego, qualquer coisa pra gente trabalhar, nenhuma alternativa. Dizem pra cuidar do
ambiente, mas precisamos primeiro cuidar de nós, criar os bichos, plantar (P. 1).

Fica claro, a necessidade de haver investimento por parte dos órgãos públicos, quanto à
implementação de projetos de EA em comunidades rurais, tais como programas voltados ao ensino

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de práticas sustentáveis. A existência desses programas é básica para despertar a população no


tocante ao reconhecimento de se conservar o espaço onde vive ou de onde utiliza recursos para
manutenção da vida (SILVA, 2003; ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2009; MOTA;
FREITAS; FRANÇA, 2013).
Na fala do participante P2, é possível perceber a necessidade de abordar educação ambiental
no meio rural: ―É preciso ensinar EA em comunidades rurais, já que a gente não estuda. Era bom se
tivesse mesmo algo aqui dentro da comunidade voltado para isso‖ (P. 2).
O ensino, associado a ações, promove mudanças de hábitos e conscientização quanto à
forma de relacionar-se com o meio, contribuindo de forma positiva na construção da cidadania
ambiental. Ademais, é fator determinante na qualidade de vida da população (CARVALHO, 2014;
AMORIM et al., 2014; DUARTE et al., 2015).
De fato, como ressaltam Jacobi (2005) e Cuba (2010), a escola exerce um papel fundamental
na construção de novos saberes relacionados à cidadania ambiental. Esses saberes podem
transformar os hábitos e concepções sobre o ambiente, perpassando o conceito e práticas da
sustentabilidade.
Foi solicitado aos participantes representarem por meio de um mapa falado como eles
enxergavam o ambiente em que viviam.
Notam-se nessas representações alguns impactos ambientais na própria comunidade, tais
como queimadas, fator apresentado em todos os Mapas Falados, desmatamento de áreas para
plantio, destino do lixo e o problema com a situação da água no período.
Em um cenário sem vida, o ambiente representado pelo grupo 1 (Figura 1.a) atenta para as
marcas da seca, presente em todo o nordeste. Como consequência observa-se a morte dos animais e
queimadas, seja para fins planejados, ou consequência do estado seco do ambiente tornando-o
vulnerável a esse problema.
A seca, certamente dificulta a vida no campo, afetando a sobrevivência dos animais,
incluindo o homem, que necessitam dos recursos da natureza. Ademais, a característica de um
ambiente seco, deixa-o propício a incêndios, facilitando a queima da matéria (DUARTE et al.,
2015; BAPTISTA; CAMPOS, 2013).
Daí, a necessidade de ensinar educação ambiental em comunidades rurais, visto que a
maioria depende de forma direta dos recursos naturais. Importante em longos períodos de estiagem,
promover a conscientização e manejo adequado dos recursos disponíveis para garantir um padrão
de vida cômodo, mesmo em épocas mais difíceis (DUARTE et al., 2015; SANTOS JUNIOR et al.,
2013; LUCCA; BRUM, 2013; SILVA et al., 2006).
Na figura 1.b, observa-se um ambiente seco, sem árvores, desmatado, com a presença de
queimadas, caieiras para produção de carvão, poços profundos – comuns naquela região, e uma

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

mulher representando a forma típica de manejo da água. Nota-se também a presença de um


recipiente em frente a uma residência, onde supostamente um carro pipa abasteceria. De fato, este
mapa representa de forma clara a realidade da comunidade, destacando pontos característicos
observados durante o período da pesquisa.
Outro grupo também representou por meio do mapa falado problema com a disponibilidade
da água e a poluição, como observado na figura 1.c. A água é um recurso indispensável para a vida,
fundamental tanto nos processos de produção para bens de consumo quanto para a manutenção de
demais recursos naturais. Contudo, a água é de fato o que mais sofre com a ação antrópica. Atitudes
essas que refletem na qualidade de vida do próprio homem e da natureza, tendo por consequência
impactos a nível global (VARELLA, 2012; COMIN, 2012).
O que pode-se destacar na figura 1.d, é a presença e acúmulo de lixo próximo às residências.
Pode-se inferir que essa representação advém da falta de saneamento e da falta de coleta de lixo
naquele local, realidade essa compartilhada em diversas regiões no nordeste brasileiro (LIMA et al.,
2005; MOTA; SOUSA; SILVA, 2015). Os moradores são sensíveis a esta percepção, pois
ressaltaram da necessidade de algum projeto que vise a destinação final do lixo, visto ser o descarte
no ambiente e a queima deste a alternativa mais viável no momento.
Como afirma Silva et al. (2014), o ato de queimar o lixo causa problemas ao ambiente,
afetando desde a qualidade do solo destinado para a agricultura, como a saúde das pessoas.
Portanto, a conscientização sobre o manejo correto do lixo é a melhor forma de minimizar os
impactos causados por essa prática.
A situação atual do lixo, seja nas cidades ou no campo, é preocupante, sendo intervenções
necessárias com políticas públicas que visem melhorar as condições de vida da população mediante
essa realidade. Um dos problemas relacionados ao acúmulo de lixo é o impacto na saúde pública,
visto ser atrativo para vetores de diversas doenças (LIMA et al., 2005; OLIVEIRA, 2007; SILVA;
MELLO, 2011; ALVES et al., 2012).
Alguns participantes reconhecem que os impactos ambientais refletem na qualidade do
planeta, demonstrado pela representação do globo aquecido pedindo socorro, seguido da
representação de queimadas e desmatamento (FIGURA 1.e).
Nesse mapa falado os autores consideram a ação antrópica, especialmente por meio de
queimadas e desmatamento, prática comum na comunidade. Um agravante para o aquecimento
global, conforme mencionaram ao falar sobre o desenho, quando se referiram à sensação térmica
dos dias atuais, bem mais quente do que antes.
A terra vem sofrendo inúmeras alterações desde o principio, isso de fato já faz parte do seu
curso evolutivo. A intervenção humana, por sua vez, pode alterar a velocidade na qual essas
mudanças acontecem, e as consequências são perceptíveis nos dias atuais (NUNES, 2003).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Um fato que chamou a atenção na confecção dos mapas foi o desenho de uma criança,
moradora da comunidade, de apenas sete (7) anos. O material foi entregue ao mesmo, somente para
entreter-se enquanto sua mãe participava da atividade. De forma individual e sem interferência de
adultos, representou como ele vê a comunidade (figura 1.f), mediante as instruções dadas aos
demais. Vale ressaltar que a pessoa responsável pela criança, assinou o termo de assentimento livre
e esclarecido, permitindo a utilização do mapa falado produzido pelo menor.
Com clareza, foi representado mais uma vez, atividades como o desmatamento e queimadas.
Nota-se a presença de um homem cortando árvores, que segundo ele seria um familiar; depois a
queima desse material; uma flor murcha e o sol com cara de triste. Segundo o mesmo o sol fica
assim quanto agredimos o meio ambiente.
Desde o princípio os recursos naturais sempre foram determinantes para a sobrevivência do
ser humano, estabelecendo assim uma relação/compromisso indispensável entre homem e natureza.
No entanto, os impactos causados pela ação antrópica desestabilizam essa harmonia outrora firmada
(TONIAL, 2012).

Pode-se considerar que os participantes têm conhecimento dos problemas ambientais dentro
do meio em que vivem e também reconhecem que suas atitudes prejudicam ainda mais essa
realidade. Diante desse problema, reconhecem a necessidade de melhores condições de vida,
baseadas no ensino de EA e em práticas sustentáveis na comunidade.

Figura 1. Mapas falados da comunidade na visão dos moradores.

As representações por meio dos mapas falados possibilitam compreender a


realidade/situação de um determinado espaço (ARCHELA; GRATÃO; TROSTDORF, 2004;

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

FARIA; FERREIRA NETO, 2006; OLIVEIRA, 2006). De fato, essas produções refletem o cenário
do ambiente estudado, expressando em cada mapa a visão que os indivíduos têm sobre o lugar.
Foi solicitado aos participantes da pesquisa listarem de forma individual, os problemas
ambientais que eles conseguissem identificar dentro da comunidade, mediante suas atitudes/práticas
no dia a dia. Logo após, dividiram-se em dupla, alguns em grupos de três (3) pessoas, para produzir
o diagrama de causa e consequência, considerando os problemas que tinham identificado.
Os resultados dessa atividade estão representados na tabela 1. Os dados apresentados, no que
se refere às causas dos problemas ambientais identificados, reforça o pressuposto de que a falta de
conhecimento/informação acerca da responsabilidade de cada indivíduo influi nas atitudes dos
moradores da comunidade. De fato, reforçam as práticas representadas através dos mapas falados.
Compreende-se que os problemas destacados pelos participantes estão diretamente
relacionados às práticas cotidianas, às necessidades da exploração dos recursos para produção de
renda e sustento na comunidade. É notório o reconhecimento que os participantes têm em relação às
consequências dessas práticas com relação aos malefícios que causam ao ambiente e ao próprio
homem.
A intervenção por meio de projetos/programas surge como uma alternativa para
conscientização de hábitos mediante a situação vivida pelos moradores atualmente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tabela 10 - Resultado dos diagramas causa e consequência.


CAUSAS PROBLEMA CONSEQUÊNCIAS

Falta de conhecimento e conscientização sobre o manejo Descarte incorreto Acumulo de água causando doenças
correto do lixo Sujeira nos rios
Falta de coleta Prejudica nossa saúde
Irresponsabilidade

Falta de conhecimento sobre as consequências Desmatamento Poluição do rio ―água de má qualidade‖


Falta de opção (beira do rio) Degradação do solo
Necessidade para plantação
Necessidade de madeira para produção de carvão

Falta de conscientização das pessoas Uso excessivo de Problemas de saúde


Facilita o trabalho agrotóxicos Causa câncer

Falta de informação adequada sobre reciclar esses materiais Descarte de lixo Prejudica o solo e as plantações
Eletrônico Prejudica os animais

Falta de recursos e opção para não utilizar o carvão Poluição do ar Poluição do ar


Desmatamento e queima Doença respiratória
Falta de conscientização

Falta de conhecimento do problema que causa Descarte do óleo de Prejudica a qualidade do solo e prejudica a infiltração da
cozinha água

Preparação da terra para plantio Queimadas Empobrecimento do solo


Falta de orientação por parte dos órgãos públicos para manejar Migração de animais para outros locais
de forma correta Erosão do solo e aterramento dos rios
Prejudica as fontes de água
Contribui para o aquecimento global
Fonte: Elaborada pelo autor.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

É evidente a carência que a comunidade tem acerca da educação ambiental. Durante as


atividades da pesquisa, expressaram o quanto isso influi na qualidade de vida e o quanto é
importante educar ambientalmente os indivíduos para uma melhor convivência com o meio.
Como diz Brasileiro (2009), comunidades tradicionais demonstram cada vez mais interesse
em conservar o meio em que vivem. Além de apresentarem flexibilidade quanto às técnicas de
desenvolvimento sustentável no campo. Dessa forma, reconhecem a importância da relação
harmoniosa entre o homem e a natureza.

CONCLUSÃO

A comunidade onde foi realizada a pesquisa apresenta carência quanto ao conhecimento


sobre EA, sendo esse, fator determinante em suas atitudes e práticas dentro da comunidade.
O ambiente em que vivem é representado na visão dos moradores como um espaço onde a
ação humana afeta adversamente a natureza, através de atividades como queimadas, desmatamento,
provocada pela necessidade de utilização dos recursos naturais. De fato, a falta de conhecimento
sobre o manejo adequado dos recursos resulta em diversos problemas ambientais, como a poluição
das águas e o empobrecimento do solo.
Os participantes foram capazes de identificar os problemas ambientais existentes na sua
comunidade, destacando as atividades causadoras, como o descarte incorreto do lixo, o manejo
inadequado dos recursos, o uso excessivo de agrotóxicos, descarte do óleo de cozinha, dentre
outros.
A permanência dessas atitudes, embora seja reconhecido como problemas ao meio ambiente,
é resultado da falta de projetos/programas que permitam aos moradores da comunidade agirem de
forma diferente. Vale ressaltar, que no local não há programa de coleta de lixo, ou intervenção por
parte dos órgãos públicos sobre ações de educação ambiental.
É evidente que a mudança deve partir de cada um, porém carece de apoio de políticas
públicas para realização de atividades que permitam melhorar a interação entre a humanidade e
natureza, buscando estabelecer uma relação de compromisso e respeito para a manutenção da vida.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ECOVILA ARCA VERDE, UM CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE

Marcia Elena de Mello CARDIAS


Doutoranda do Curso de Geografia da UFSM
elenamarcia83@gmail.com
Tassia Farencena PEREIRA
Doutoranda do Curso de Geografia UFSM
tassiafarencena@hotmail.com
Bernardo Sayão Penna e SOUZA
Professor Dr. do Departamento de Geociências da UFSM
bernardosps@yahoo.com.br

RESUMO
O artigo possui como área de estudo a Ecovila Arca Verde, um sistema que tem seus ideais
atrelados a sustentabilidade. Traz como enfoque os principais pontos positivos e os negativos que o
referido sistema possui no que se refere a sustentabilidade, bem como seus objetivos e quais as
formas de atingi-los. Procurou-se ainda o entendimento de quais práticas realizadas dentro da
Ecovila são sustentáveis e quais não são sustentáveis e os motivos de assim serem. Desta forma,
houve uma melhor reflexão a respeito da relação sociedade/natureza o que gerou um melhor
entendimento sobre sustentabilidade, a maneira como funciona e o que é necessário para que se viva
em harmonia com a natureza diminuindo assim a aceleração da sua degradação.
Palavras Chave: Desenvolvimento Sustentável, Ecovila Arca Verde, Sustentabilidade, Educação
ambiental.
ABSTRACT:
The article has as study area the Ecovila Arca Verde, a system that has its ideals linked to
sustainability. It focuses on the main positive and negative points that the said system has regarding
sustainability, as well as its objectives and how to reach them. We also sought to understand what
practices within Ecovila are sustainable and which are not sustainable and the reasons for doing so.
In this way, there was a better reflection on the relationship between society and nature, which
generated a better understanding about sustainability, the way it works and what is needed to live in
harmony with nature, thus reducing the acceleration of its degradation.
Keywords: Sustainable Development, Ecovila Arca Verde, Sustainability, Environmental education.

INTRODUÇÃO

Vivemos há algum tempo em fase de transformações econômicas, políticas, sociais e


ambientais. Conforme o ser humano sobrepõe seu poder na natureza como forma de intervenção e
no sentido de alimentar suas necessidades, surgem cada vez mais conflitos na relação
sociedade/natureza.
A globalização em que estamos inseridos, gera consequências como o alto consumo, o
individualismo e a competitividade o que acaba por intensificar a degradação do meio natural e
assim diminuindo consideravelmente os recursos naturais. Mesmo trazendo o conceito de progresso

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a globalização tende a esquecer a ética, a espiritualidade e a cultura que são bens que o homem traz
consigo desde seu nascimento e que agora são vistos em segundo plano ou quase nem vistos. Ao
analisarmos mais profundamente nem mesmo a parte da questão material consegue ser sanada pela
globalização, pois a mesma é gerada sobre a homogeneização do que o mercado oferece e da
acumulação do capital e diante disto tem-se a negativa da sustentabilidade, pois não se pode ser
sustentável em mundo onde o capitalismo impera.
É sabido que este progresso se baseia em tecnologias e que possui uma visão de relação da
economia e material.
Novo (2006) destaca em seu texto, ―El desarollo sostenible. Su Dimensión Ambiental Y
Educativa‖ algumas características do processo de globalização.
Dentre elas, o crescente poder das companhias transnacionais que está condicionando a
forma de vida de muitas economias; a perda de soberania efetiva dos Estados-nação e um modelo
econômico sem considerações éticas.
Todas essas características da globalização são por consequência símbolos do capitalismo,
logo, a crise socioambiental torna-se uma necessidade do sistema e não uma falha como é de
costume se dizer.
É válido afirmar que desenvolvimento e sustentabilidade não caminham juntos no que diz
respeito a produção, pois onde há maior produção existe uma menor sustentabilidade, ou quase nula
podendo-se assim dizer pois os recursos naturais recebem um maior nível de destruição.
Neste sentido, a alteração da paisagem para a construção do espaço geográfico associado ao
crescimento econômico pode resultar em alterações dos recursos naturais, com caminhos muitas
vezes irreversíveis, pois a capacidade de alteração do meio pelo homem é mais intensa que a
capacidade de regeneração da natureza.
É diante do contexto de desenvolvimento sustentável que o presente trabalho aborda como
área de estudo a Ecovila Arca Verde, um sistema que tem seus ideais atrelados a sustentabilidade,
que procura viver com a natureza de forma saudável, cuidando e valorizando as relações sociais.
Cultivam o bem estar da terra, gerando abundancia com justiça e criando uma convivência tanto
entre seus moradores como também a comunidade fora dos seus limites físicos e reconectando-se ao
universo são alicerces para uma vida sustentável.
Buscou-se durante a pesquisa quais os pontos positivos e os negativos que o sistema
apresentado trouxe no que se refere a sustentabilidade, quais seus objetivos e quais as formas de
atingi-los. Procurou-se ainda o entendimento de quais práticas dentro do sistema são sustentáveis e
quais não sustentáveis.
Logo, através do estudo sobre o sistema, foi possível uma maior reflexão a respeito da
relação sociedade/natureza, criando assim um melhor entendimento sobre sustentabilidade, como

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

funciona e o que é necessário para que se viva em harmonia com a natureza diminuindo assim a
aceleração da sua degradação.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Mesmo diante de muitos textos, pesquisas, dissertações e teses dos quais é possível realizar
uma pesquisa a respeito do desenvolvimento sustentável, existe ainda muita indagação e indefinição
ao real significado do termo. Desta forma buscou-se uma breve discussão entre autores acerca do
que é o Desenvolvimento Sustentável.
O conceito de desenvolvimento sustentável foi declarado na Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente, realizada em 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, e, que levou o nome
de Conferência de Estocolmo. O foco da elaboração do conceito, foi unificar as noções de
crescimento e desenvolvimento econômico aliados a preservação da natureza, pois até então essas
três questões eram vistas de formas separadas.
Na Conferência Mundial sobre a Conservação e o Desenvolvimento, da IUCN
(Ottawa/Canadá, 1986), o conceito de Desenvolvimento Sustentável e Equitativo foi colocado como
um novo paradigma, tendo como princípios:
Integrar a conservação da natureza e desenvolvimento; satisfazer as necessidades humanas
fundamentais; perseguir equidade e justiça social; buscar a autodeterminação social e da diversidade
cultural e manter a integridade ecológica.
No ano de 1987, foi elaborado o Relatório ―Nosso Futuro Comum‖, também conhecido
como Relatório Brundtland, que tornou formal o termo desenvolvimento sustentável.
Em 1992, durante a ECO-92, o conceito ―satisfazer as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades‖ tornou-se o
principal eixo da conferência.
Assim, foi elaborada a Agenda 21, que teve como objetivo diminuir os impactos gerados
pelo aumento do consumo e do crescimento da economia pelo mundo. Neste contexto, a
sustentabilidade deve ser vista como o horizonte que dinamiza a sociedade para um equilíbrio
ecológico com equidade social e uma diversidade cultural.
Satterthwaite, 2004, define Desenvolvimento Sustentável como sendo a resposta das
necessidades humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos custos da
produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e no futuro.
Para Achkar, 2005, o conceito de desenvolvimento aplicado às sociedades humanas, tem a
sua base de apoio em uma metáfora organista, que pode ser considerada como um estágio superior
quando o programa é cumprido, quando um equilíbrio estável e harmônico é atingido pelas partes
de um organismo.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

O autor ainda ressalta que o termo aplicado para o desempenho das sociedades humanas
atinge níveis gerais após a Segunda Guerra Mundial quando os países Industrializados começam a
considerar e analisar o desvio crescente que separa países do "Terceiro Mundo" dos
industrializados.
Para Veiga, 2005, o desenvolvimento sustentável é considerado um enigma que pode ser
dissecado, mesmo que ainda não resolvido. Em seu livro ―Desenvolvimento Sustentável: o desafio
para o século XXI‖: ele afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável é uma utopia, apesar
de defender a necessidade de se buscar um novo paradigma científico capaz de substituir os
paradigmas do ―globalismo‖. (VEIGA, 2005).
Novo, 2006 destaca que:

[...] el modelo que la humanidade ha venido utilizando para la gestión de los bienes
naturales y el reparto del bienestar no responde verdadeiramente a la denominación de buen
desarrollo, pues ha producido una situación ecológica grave y, en lo social, tiene sumida en
la pobreza a más de la mitad de la humandad (NOVO, 151,2006).

Para a autora falar de Desenvolvimento Sustentável significa contemplar sobre outra ótica as
relações sociedade/natureza; compreender o direito da humanidade em participar de tudo aquilo que
lhe traga bem estar.
Novo, 2006, relata ainda que a sustentabilidade deve ser vista, então, como o horizonte que
energiza uma sociedade para o equilíbrio ecológico, a equidade social e diversidade cultural.
Pena, destaca em seu artigo ―Desenvolvimento Sustentável‖, escrito para o site Brasil
Escola, medidas sustentáveis que podem ser adotadas tanto pelos governos quanto pela sociedade
no geral, no sentido de que se possa construir um planeta traçado na sustentabilidade e assim
destaca:
A redução ou eliminação do desmatamento; preservação das áreas de proteção ambiental,
como reservas e unidades de conservação de matas ciliares; fiscalização, por parte do governo e da
população, de atos de degradação ao meio ambiente; adoção da política dos 3Rs (reduzir, reutilizar
e reciclar) ou dos 5Rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar); contenção na produção de
lixo e direcioná-lo corretamente para a diminuição de seus impactos; diminuição da incidência de
queimadas; diminuição da emissão de poluentes na atmosfera, tanto pelas chaminés das indústrias
quanto pelos escapamentos de veículos e outros; opção por fontes limpas de produção de energia
que não gerem impactos ambientais em larga e média escala e adoção de formas de conscientizar o
meio político e social das medidas acimas apresentadas.
Ao que se pode observar são medidas viáveis e práticas e através delas é possível dar início
a uma sociedade sustentável que não comprometa o meio natural.
Para Canepa, ―o Desenvolvimento Sustentável não é caracterizado como um estado fixo de
harmonia, mas sim como um processo de mudanças, que se compatibiliza com a exploração de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

recursos, o gerenciamento de investimento tecnológico e as mudanças institucionais com o presente


e o futuro‖ (CANEPA, 2007).
Tanto os países desenvolvidos bem como aqueles que estão em fase de desenvolvimento
exploram a cada dia mais os recursos naturais ao seu extremo e dependendo do nível tecnológico e
industrial de cada um os problemas são diferenciados, o que torna a degradação do meio ambiente
ainda maior.
A exemplo, temos a segregação espacial que ocorre do centro para a periferia, onde as
pessoas saem de um ambiente urbano a procura de locais periféricos que oferecem um ambiente
natural com uma ideia de prosperidade e com uma melhor qualidade de vida. Porém isso gerou
problemas como o aumento do uso de automóveis como meio de locomoção gerando grandes
congestionamentos e a poluição do ar.
Temos ainda como exemplo, o aumento da demanda populacional das cidades que ocorrem
de maneira intensa e sem o acompanhamento de sua infraestrutura por parte dos órgãos
responsáveis ocasionando assim a acelerada degradação dos recursos naturais e como
consequências problemas ambientais e interferência na qualidade de vida humana.
Sabe-se que um dos principais problemas enfrentados mundialmente pelo homem é a
pobreza e que aqueles que nela vivem são os menos favorecidos em termos gerais, não possuindo
acesso aos bens básicos. Logo, vislumbra-se a necessidade de um Desenvolvimento Sustentável
onde os direitos básicos devem ser proporcionados.
Nesse contexto, buscou-se no estudo da Ecovila Arca Verde, compreender as práticas e as
características aplicadas a sustentabilidade como ponto principal de suas atividades. Verificando de
que maneiras podem ser julgadas como parte de um Desenvolvimento Sustentável, ou ainda, se
atendem as necessidades básicas de uma sociedade sustentável.

A ECOVILA ARCA VERDE

Localizada no interior do município de São Francisco de Paula, RS, região fria e alta dos
Campos de Cima da Serra a Ecovila Arca Verde foi pensada pela primeira vez em 2005, através de
um grupo de 4 pessoas e vários apoiadores que divulgaram a ideia aos participantes do Chamado do
Beija Flor, encontro mundial de comunidades que aconteceu em setembro daquele ano no estado de
Goiás/Brasil.
No dia 05 de novembro de 2005, data que até hoje é comemorada o aniversário da Arca,
deu-se início em São José dos Ausentes, a primeira sede da Arca, um mutirão que reuniu mais de 50
pessoas e que recebeu o nome de Gralha Azul. A localização da futura sede se dava próximo ao
pico do Monte Negro, ponto mais alto do Rio grande do Sul e na beira dos Cânions dos Aparados
da Serra.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dado este evento, os primeiros moradores se se instalaram no lugar com barracas e tendas
para construir uma edificação que se tornou um símbolo: uma pipa de vinho de 100 mil litros que
foi utilizada como casa-mãe a mesma possuía dois andares e era coberta com telhado vivo.
A Arca Ausentes como assim era chamada, teve 4 anos de intensas atividades, vivências,
experiências e transformações. Porém, outras necessidades emergiram e em meados de 2009
acorreu uma mudança grande no projeto e surge então a Ecovila Arca Verde, contida e contendo os
valores e a visão do Instituto Arca Verde (Associação e ONG proprietária do novo terreno) sediada
em São Francisco de Paula/RS.
A sede da Arca abrange 25 ha de terra, possui em torno de 20 moradores sendo que destes
15 são sócios do Instituto Arca. É aberta a novos membros, aceitando também voluntários que lá
queiram trabalhar, e aqueles que a querem visitar devem realizar um agendamento prévio. É uma
associação sem fins lucrativos onde as decisões tomadas são feitas por moradores e sócios através
de um consenso.
Possuiu como focos de atuação os seguintes cursos: Caminhos para a Vida Sustentável;
Vivências em Permacultura; Bioconstrução; Agrofloresta; Ecologia Profunda; Consumo
Consciente; Vivências do Feminino; Vivências de Autoconhecimento, Comunicação Não-Violenta,
Danças, Arte e Cura; Programas de Voluntariado e Visitação.
Possuem uma autonomia alimentar que dependendo da época do ano permeia aos 30%. As
fontes de energia são dadas através da lenha; rede elétrica; fotovoltaica, solar e do projeto de micro
hidráulica. Possuem moeda própria chamada Verdinha, e um Ecobanco.
A Arca possui como ideologia viver com a natureza de forma saudável e sustentável,
cuidando e valorizando as relações sociais, cultivando o cuidado com a terra, gerando abundância
com justiça, criando convivência comunitária e reconectando-se ao universo.
Desta forma possuem uma visão de união enquanto grupo que é fortalecida por laços de
amor e por crença no espírito cooperativo como forma de relacionamento entre si. Todos aqueles
que possuem o interesse em participar da comunidade sejam eles indivíduos ou famílias devem
procurar realizar um primeiro contato presencial, seja através de uma visita, um curso, ou um
voluntariado.
Para fazer parte de uma vida sustentável a Arca segue os caminhos do Social, da Ecologia,
da Economia e da Cultura/espiritualidade.
SOCIAL: As decisões são tomadas em conjunto, no grande grupo ou em grupos menores
que possuem o poder para tal, dividindo poder e responsabilidades.
Existe entre os membros a vontade de trabalhar a si mesmos, resolvendo conflitos,
melhorando a si como pessoas e isso os faz com que se tornem uma comunidade. Para tanto
utilizam ferramentas sociais e buscam uma comunicação cada vez mais enriquecedora de vida.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ECOLOGIA: A infraestrutura da Ecovila Arca Verde segue seu projeto-planejamento


permacultural que inclui hortas e agrofloresta, alojamento coletivo, cozinha e refeitório
comunitários, espaço social e espiritual, ateliês, galpões e oficinas, espaço para as crianças, lotes de
uso particular, familiar e coletivo, entre outros. As construções tendem a ser cada vez mais
ecológicas e eficientes seguindo os princípios da permacultura.
ECONOMIA: A economia da Arca Verde é baseada em ecoempreendimentos comunitários
e individuais, que gerem trabalho prazeroso e sejam éticos do ponto de vista ecológico e social.
Alguns exemplos de atividades econômicas de grande potencial: educação, música, produção
agrícola e florestal, comunicação, artesanato, terapias, entre outros.
CULTURA/ESPIRITUALIDADE: A comunidade celebra ritualmente os ciclos naturais e os
pequenos ritos da vida comunitária, procurando viver o sagrado de cada momento. Cada membro
tem também liberdade plena para seguir seu caminho espiritual pessoal e individual, com o respeito
de todos.

OBJETIVOS DA ECOVILA ARCA VERDE

Registrada no ano de 2008 como pessoa Jurídica a Ecovila Arca Verde possui os seguintes
objetivos:
a) Contribuir para a desenvolvimento, recuperação e manutenção de ecossistemas
sustentáveis e sua biodiversidade, com a participação de comunidades humanas em harmonia com o
ambiente natural;
b) Promover a sensibilização ambiental, a produção e divulgação de conhecimento sobre
tecnologias alternativas e ecológicas nas áreas social, agrícola, de eficiência energética, de
bioconstrução, geração de renda, cidadania, consumo consciente e economia solidária, entre outras;
c) Promover a apropriação, valorização e interpretação do patrimônio cultural, técnicas
ancestrais e construção de memórias das comunidades envolvidas;
d) Fomentar o desenvolvimento de atividades econômicas que promovam sustentabilidade
regional;
e) Estimular o ecoturismo como alternativa econômica e de sensibilização ambiental;
f) Construir, apoiar e aprimorar unidades demonstrativas do modo de vida e produção
ecológicas e
g) Contribuir para a discussão, aprimoramento e efetiva aplicação da legislação ambiental e
gestão de unidades de conservação.
Para cumprir tais objetivos, a Associação Instituto Arca Verde pretende realizar por meio da
execução direta de projetos, disponibilização de trabalho e recursos físicos ou financeiros e em

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

parceria ou convênios com outras organizações com ou sem fins lucrativos e órgãos do setor
público e privado nacionais e internacionais que atuam em áreas afins as seguintes tarefas:
a) Promoção de cursos, capacitações técnicas, vivências, palestras, atividades de educação
ambiental, e workshops sobre temas relacionados aos objetivos do Instituto
b) Elaboração e implantação de sistemas agroflorestais, desenho e planejamento ecológico
de propriedades rurais e urbanas, redes de economia solidária, meios de comunicação alternativos,
bioconstruções, mutirões de trabalho e encontros de socioambientalistas das mais diversas áreas de
atuação.
c) Organização e difusão do resultado de experimentos e pesquisas científicas realizadas
pela Associação ou entidades parceiras.
d).Implantação de viveiros florestais de espécies nativas para utilização em sistemas
agroflorestais e na recuperação de matas ciliares e outras áreas degradadas.
e) Assessoria e prestação de consultorias técnicas em projetos de uso sustentável de recursos
naturais e de gerenciamento de resíduos.
f) Realização de Programas de Estágio voltados a pessoas que desejam vivenciar o modo de
vida sustentável.
g) Distribuição e comércio de itens produzidos pela Associação Instituto Arca Verde.
h) Realização e estímulo de atividades econômicas de geração de renda, tais como produção
e feiras de produtos ecológicos, agroindústrias familiares, tecelagem, produtos ecoturísticos,
materiais gráficos e audiovisuais, artesanato, entre outros.
i) Apoio a criação de cooperativas de crédito, clubes de trocas e outros empreendimentos de
economia solidária.

O QUE TEM SIDO REALIZADO

Para dar continuidade aos trabalhos a Arca vem realizando cursos, oficinas e mutirões todos
com o intuito da sustentabilidade. Tudo que por eles é oferecido pode ser conferido no site do
Instituto Arca Verde através da sua agenda (http://www.arcaverde.org/new/agenda/). Destaco a
seguir algumas atividades propostas pela Arca e que podem ser praticadas por aqueles que assim o
desejam: Curso de Bioconstrução; Caminhos para a Vida Sustentável; Curso de Agrofloresta;
Vivência de Sustentabilidade Doméstica entre outros.
A Arca possui também uma loja onde é possível encontrar mercadorias por eles produzidas.
Os alimentos orgânicos estão disponíveis na COOPAF-Serrana em São Francisco de Paula. Possui
também o projeto ―Ama Terra Arca Verde-Jardim Infantil‖ que tem como objetivos a busca de
conexão entre as crianças e a natureza.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES REFERENTES AS PROPOSTAS DA ECOVILA ARCA VERDE

No que se refere as propostas de atingir seus objetivos, a Ecovila Arca Verde tem buscado
cumpri-los através dos cursos oferecidos, porém nem todos são possíveis julgar como sustentáveis,
alguns são voltados para a prática da espiritualidade o que acaba levando para o caminho do bem
estar espiritual e não da natureza como um todo.
A exemplo tem-se o curso de meditação que é oferecido da seguinte forma: A meditação
com uma abordagem simples e humanizada, com práticas acessíveis aos iniciantes e leigos. Uma
introdução teórica será ensinada fundamentando-se em diversas vivências práticas. Meditar em um
local silencioso praticando diferentes técnicas, com alimentação natural e saborosa.
O que poderia ser julgado como sustentável nesse caso seria a alimentação oferecida durante
o curso que é produzida, segundo eles dentro da Arca.
Outro exemplo é o curso A Vivência do Clow, o qual explica que essa vivência traz o nariz
de palhaço como caminho para o desenvolvimento humano.
Apesar de não serem cursos que realmente tragam a sustentabilidade em seu contexto são de
grande valia no sentido de aproximar e humanizar as pessoas que deles participam, trazendo assim
maior harmonia entre todos.
Já a grande maioria dos cursos oferecidos trazem a sustentabilidade como tema e proposta
principal podendo ser citado dentre vários alguns como:
Curso de Vivência de Culinária Natural o qual tem como prática a cozinha natural,
vegetariana e vegana, cozinha permacultural, saúde através da alimentação, suco verde e leites
vegetais, pães, pastinhas e bolos veganos e os alimentos utilizados nas receitas são aqueles
produzidos dentro da Arca.
Outro curso que é possível citar como sendo sustentável é o de Cursos de Fogão a Lenha de
Alta Eficiência o qual ensina a prática de montagem de um sistema completo com princípios da
Permacultura e Bioconstrução com Barro, princípio da combustão completa, aquecedor solar de
água conjugado e serpentina para aquecimento de água.
Para os idealizadores do curso alta eficiência significa um consumo de lenha até 10 vezes
menor, quase zero emissão de fumaça e máximo aproveitamento do calor gerado.
Tem-se ainda o Curso de Bioconstrução, A casa Permacultural que tem como objetivo a
construção de uma casa ecológica e permacultural, que significa a implementação de tecnologias
apropriáveis e em harmonia com a natureza.
De posse dessas analises e do estudo sobre o que é oferecido, é possível dizer que a Ecovila
Arca Verde está mais próxima de ser um sistema sustentável, pois além de trazer propostas e
práticas que são voltadas para a sustentabilidade, possui uma relação de interesse e ajuda mútua

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

com a comunidade que lá está inserida, bem como com a comunidade de fora e que se propõe a
participar das atividades que a Arca oferece.
Sabe-se que um sistema não é inteiramente sustentável, mas ainda tecendo considerações
sobre a Ecovila Arca Verde, é possível afirmar que a mesma encontra-se no caminho da
sustentabilidade, oferecendo o seu máximo no que diz respeito a ―ser sustentável‖, através de suas
práticas dentro do seu espaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com uma ocorrência cada vez mais frequente de problemas ambientais, a atenção das
pessoas tem sido direcionada de forma urgente para as mudanças do modelo produtivo adotado pela
nossa sociedade e que agride a natureza produzindo desigualdades sociais, econômicas e culturais.
É possível observar que gradativamente grupos populacionais vem criando e adotando
modelos sociais, econômicos e culturais diferenciados e alicerçados na sustentabilidade, utilizando
assim o uso racional dos recursos oferecidos pela natureza, gerando assim uma sociedade equitativa
onde a democracia prevalece.
Desta forma o Desenvolvimento Sustentável não cabe ser apresentado como forma de
política, mas sim como uma maneira de encontrar meios de produção, distribuição e consumo dos
recursos de modo coeso e com o mínimo de degradação ambiental possível. É preciso ter em mente
que a Sustentabilidade possui como desafio a conscientização de que ela deve ser um processo a ser
percorrido.
Assim, é possível dizer que o grande desafio de se viver dentro de um sistema onde o
Desenvolvimento Sustentável é o objetivo, é de que deve-se insistentemente trabalhar na busca de
métodos capazes de propor e avaliar mudanças que regulamentem o uso dos recursos ambientais
através dos sistemas econômicos.
No momento que os homens vierem a perceber que o planeta é um sistema formado por
diversos elementos e que esses se inter-relacionam, irão compreender o significado de
sociedade/natureza, que estes não vivem separadamente e que o homem faz parte dessa natureza
necessitando do que ela oferece.
Portanto, ciente do entendimento que os recursos naturais são finitos, e que a idéia de
sustentabilidades ainda é um caminho a ser buscado, a Ecovila Arca Verde apresenta diversas
atividades que trilham esse caminho, desta forma, é possível apontar que possuem capacidade de se
refazer e se reestruturar como sociedade, dando continuidade à implementação dos princípios da
sustentabilidade aos quais são atrelados.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REFERÊNCIAS

ACHKAR. M. (2005) Indicadores de sustentabilidad. En: Achkar, M. et al. Ordenamiento


Ambiental del Territorio. CSEP- UdelaR Fac Ciencias. Montevideo. pg 55-70.

CANEPA, C. Cidades Sustentáveis: o município como lócus da sustentabilidade. São Paulo:


Editora RCS, 2007.

ARCA VERDE. Agenda <http://www.arcaverde.org/new/agenda/>. Acesso em 02 de julho de


2017

NOVO, M. El desarrollo sostenible. Su dimensión ambiental y educativa. UNESCO - Pearson


Educación S.A., Madrid, 2006, 431 p.

PENA, R. F. A. "Desenvolvimento sustentável"; Brasil Escola. Disponível em


<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/desenvolvimento-sustentavel.htm>. Acesso em 12 de
julho de 2017.

SATTERTHWAITE, D. Como as cidades podem contribuir para o Desenvolvimento Sustentável.


In: MENEGAT, Rualdo e ALMEIDA, Gerson (org.). Desenvolvimento Sustentável e Gestão
Ambiental nas Cidades, Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS Editora, pp.
129-167, 2004.

VEIGA, J. E. da. Cidades Imaginárias – o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas:
Editora da Unicamp, 2005.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE INDÍGENA POTIGUARA DA


ALDEIA MONTE-MÓR DE RIO TINTO-PB

Sidnei Felipe da SILVA


Doutorando em Geografia UnB
prof.sidnei.eageo@gmail.com

RESUMO
Neste início de século XXI a Educação Ambiental ganhou bastante destaque na comunidade
científica, passando a ser um importante instrumento que a sociedade possui na busca de minimizar
os prejuízos causados ao meio ambiente. Atualmente, existe a necessidade da abordagem desta
temática em todos os segmentos da sociedade, inclusive para as comunidades tradicionais, a
exemplo dos povos indígenas para que a educação ambiental possa vir a ser um instrumento que,
aliado aos aspectos culturais destes povos, passe a promover mudanças de atitudes e
comportamento na atual sociedade de consumo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar a
importância de se aplicar a Educação Ambiental através das contribuições da educação diferenciada
na Escola Estadual Indígena Dr. José Lopes Ribeiro do povo Potiguara da aldeia Monte-Mór,
situada no município de Rio Tinto-PB. O estudo apresenta uma realidade educacional bem peculiar
de um contexto envolvendo as comunidades tradicionais indígenas presentes no litoral setentrional
da Paraíba.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Povos Indígenas, Potiguara.
RESUMÉN
En este inicio del siglo XXI la Educación Ambiental ganó bastante destaque en la comunidad
científica, pasando a ser un importante instrumento que la sociedad posee en la búsqueda de
minimizar los daños causados al medio ambiente. Actualmente, existe la necesidad del abordaje de
esta temática en todos los segmentos de la sociedad, incluso para las comunidades tradicionales, a
ejemplo de los pueblos indígenas para que la educación ambiental pueda llegar a ser un instrumento
que, aliado a los aspectos culturales de estos pueblos, pase a promover Cambios de actitudes y
comportamiento en la actual sociedad de consumo. Por lo tanto, el objetivo de este trabajo es
analizar la importancia de aplicar la Educación Ambiental a través de las contribuciones de la
educación diferenciada en la Escuela Estadual Indígena Dr. José Lopes Ribeiro del pueblo
Potiguara de la aldea Monte-Mór, situada en el municipio de Rio Tinto-PB. El estudio presenta una
realidad educativa muy peculiar de un contexto que involucra a las comunidades tradicionales
indígenas presentes en el litoral septentrional de Paraíba.
Palabras Clave: Educación Ambiental, Pueblos Indígenas, Potiguara.

INTRODUÇÃO

O decorrer do século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, com a expansão
da industrialização e do modo de vida da sociedade de consumo, culminaram com o surgimento
das questões ambientais. Estas questões ganharam proporções globais, pois a capacidade do ser
humano de alterar os ecossistemas através do uso de novas tecnologias ocorreu numa velocidade
enorme, passando a superar, e muito, a capacidade de recuperação da natureza.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Tornou-se necessário a adoção, de um novo modo de agir com relação aos recursos
naturais. A Educação Ambiental (EA) surgiu como um meio capaz de contribuir com a construção
de novos padrões de comportamento, em ajuste com o conhecimento, a solidariedade, a equidade, e
a responsabilidade com as próximas gerações. Segundo Dias (2004, p. 100) ―a Educação
Ambiental é um processo por meio do qual as pessoas devem aprender como funciona o meio
ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como podemos promover a sua
sustentabilidade‖.
―Em decorrência do avançado processo de globalização as comunidades tradicionais,
outrora habituadas a conviver com um ambiente dotado de baixos níveis de poluição, são agora
vitimadas pela quebra de fronteiras dos problemas ambientais‖. (SEABRA, 2011).
Historicamente, o sistema econômico que caracterizava as comunidades tradicionais era
sustentado na base familiar, com reduzidos impactos ao meio ambiente. Nos últimos anos, a
concorrência desigual do modo de produção tradicional com as empresas que trabalham em escala
comercial visando o lucro, estimulou a adoção de práticas predatórias de extração dos recursos
naturais pelas populações tradicionais.
O presente artigo demonstra a necessidade da abordagem de conhecimentos concernentes à
EA, e tem como objetivo conscientizar e sensibilizar a comunidade escolar indígena em relação às
questões ambientais e territoriais que estão presentes na sua comunidade. Tornando acessível a
possibilidade de adquirir conhecimentos, valores, habilidades e atitudes necessárias para a proteção
dos recursos naturais de suas terras.
De acordo com Palitot (2005) nas últimas décadas neste território tem se verificado uma
grande degradação dos recursos naturais, principalmente por causa dos interesses econômicos dos
grupos agroindustriais que visam o lucro independente da situação destas terras. Assim os índios
estão denunciando estes sujeitos de poder econômico que tentam se estabelecer para subtrair as
riquezas existentes nestas terras.
É nesse cenário socioambiental atual que se busca a compreensão da EA, bem como o seu
envolvimento em ações que promovam hábitos sustentáveis do uso dos recursos naturais, além de
propiciar reflexões sobre a relação sociedade e natureza.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS AMBIENTAIS DAS TERRAS INDÍGENAS POTIGUARA

Figura I: Mapa de Localização do Território Indígena Potiguara (CARDOSO; GUIMARÂES, 2012)

A princípio é relevante destacarmos os aspectos ambientais deste tecido territorial rico em


recursos naturais e que se destaca nesse sentido. Em Mamanguape se encontra a maior área
contínua de Mata Atlântica do Brasil, na Bacia do Rio Grupiuna: a Reserva de Guaribas, com
4.321,6 hectares. Na Reserva Biológica Guaribas (REBIO), se desenvolvem atividades educativas,
pesquisas científicas, bem como o manejo de espécies vegetais nativas, com o objetivo de restaurar
o ambiente degradado, estabelecendo o replantio de espécies vegetais raras, e a reintrodução dos
macacos guaribas. A extensão da REBIO divide-se em três áreas distintas, como pode ser visto no
Quadro a seguir:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ÁREA Com superfície de 616,4 ha, coberta quase totalmente por vegetação de tabuleiro
I costeiro.
ÁREA Maior área da unidade com 3.378,2 ha. Tem sua cobertura vegetal caracterizada
II pela floresta estacional semidecidual, com incrustações de vegetação de
tabuleiro.
ÁREA Margeada ao sul pela cidade de Rio Tinto, com superfície de 327 ha concentra o
III trecho mais conservado da reserva.
QUADRO I: Divisão descritiva da área da Reserva Biológica Guaribas (SILVA, 2015)

A Reserva Biológica Guaribas é uma Unidade de Conservação Federal, que tem como
objetivo específico proteger as amostras representativas dos ecossistemas da Mata Atlântica do
Nordeste, conciliada com sua utilização para fins de educação e pesquisas científicas. Além da
REBIO, o município possui a Estação Ecológica do Pau-Brasil, que abrange uma área de 82 ha.
Esta denominação era utilizada devido à predominância do Pau-Brasil. ―Existem ainda reservas de
crescimento secundário de Mata Atlântica, distribuídas nos municípios de Santa Rita, Mamanguape
e Rio Tinto, ocupando uma área total de 147,02 km², localizada na Usina Monte Alegre‖. (SILVA,
2015).
De acordo com Mariano e Mariano Neto (2009) o território do município de Rio Tinto
destaca-se por possuir uma localização privilegiada entre os outros municípios do litoral norte que
compartilham trechos de reservas ambientais, por ter suas terras banhadas pela foz do Rio
Mamanguape, apresenta mais áreas de reserva ecológica. As reservas ambientais que possuem
frações territoriais no município são: A REBIO (Reserva Biológica Guaribas); a Reserva Ecológica
Mata do Rio Vermelho; a Reserva Indígena Potiguara; a Reserva Indígena Jacaré de São Domingos;
e a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape.
Apesar de possuir áreas destinadas à preservação e conservação de seus recursos naturais e
humanos, a degradação ambiental é bastante decorrente no município de Rio Tinto por meio do
desmatamento no entorno das reservas, geralmente promovidos pela expansão da monocultura
canavieira nas áreas de tabuleiro da região, e das pessoas que entram nestas áreas para extrair
madeira, caçar e coletar outros tipos de recursos naturais. ―De acordo com Mariano e Mariano Neto
(2009), nas áreas de manguezais os maiores impactos ambientais ocorrem devido à carcinicultura e
à extração de madeira nas áreas de maior contato com as populações ribeirinhas‖.
Sobre a pesquisa relacionando à EA e aos povos indígenas Potiguara é necessário esclarecer
que os próprios Potiguara e pesquisadores estão divulgando e produzindo livros e cartilhas que
possuem capítulos destinados a questão ambiental. Os Potiguara consideram relevantes os estudos
sobre os recursos naturais que ainda dispõem em suas terras.
Segundo Andrade (2012) ao falarmos sobre a relação dos índios com a natureza, num
contexto geral os indígenas sempre demonstraram ter uma relação de harmonia com a natureza,
baseada no respeito aos seres vivos e aos seres espirituais. Seus conhecimentos baseados na

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

cosmologia, sempre tiveram como referência a manutenção de sua sobrevivência, respeitando os


elementos naturais e sabendo utilizar a natureza sem degradá-la. É impossível falar de povos
indígenas sem falar da natureza. É uma relação que se dá através de um convívio diário com
elementos da sua cosmologia, por meio dos seus conhecimentos tradicionais os quais trazem as
diversas formas de manejar os ecossistemas e toda a biodiversidade presente em seus territórios,
respeitando seu nicho ecológico.
Devido à proximidade com a área urbana, é relevante afirmar que as terras indígenas de
Monte-Mor limitam-se e possuem terras que podem ser consideradas como da zona urbana do
município de Rio Tinto.

A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA PARA OS POVOS POTIGUARA DA PARAÍBA

Os povos Potiguara da Paraíba territorializam-se por meio de relações entre si, entre as suas
aldeias e com o mundo. Segundo Barcellos (2012) ―a etnia Potiguara possui a maior população
indígena do Nordeste etnográfico, uma das maiores populações do Brasil‖. Atualmente possui mais
15 mil habitantes, que vivem nas terras indígenas distribuídas em 33 aldeias, em três municípios do
litoral norte paraibano.
A Geografia é de suma importância também para os Potiguara, pois, ela está presente no
cotidiano desses povos, seja nos rituais, na pesca, na caça, na religião, nas plantações, nas
atividades domésticas e em outros momentos que constituem o processo de produção do espaço e a
territorialidade desses povos.
As temáticas mais significativas para a geografia e para o ensino de geografia nas aldeias
Potiguara: a questão territorial, a dinâmica natural (vegetação, clima, relevo, hidrografia), a questão
socioambiental e a valorização da sabedoria do seu povo. A partir dessa abordagem, acreditamos
que a geografia tem como contribuir para melhorar, ampliar e valorizar o conhecimento que estes
povos indígenas já possuem em relação ao seu território, estabelecendo uma relação entre o ensino
de geografia e o etnomapeamento das terras indígenas Potiguara como instrumentos que valorizem
a identidade étnica e cultural destes povos e facilitem o ensino aprendizagem de conteúdos
geográficos. (SILVA, 2015).
O mundo contemporâneo nos apresenta novos paradigmas para se pensar a educação que
está posta na atualidade, seja nos espaços denominados de educação formal, ou seja, a educação
básica, ou na educação escolar indígena, também conhecida por educação diferenciada.
A importância dos problemas relacionados à produção do espaço geográfico aproxima a
Geografia dos atuais problemas ambientais que a humanidade está presenciando. No entanto, as
questões ambientais não devem ser objeto de estudo exclusivo da Geografia ou de qualquer
disciplina, mas devem ser trabalhadas por todos componentes numa perspectiva interdisciplinar.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dentro da relação de interação entre a Geografia e o meio ambiente os Parâmetros Curriculares


Nacionais (PCNs) sugerem:

―uma abordagem da questão ambiental como política de conservação e apresentar aos


alunos o conceito de Áreas Protegidas e Unidades de Conservação por meio da pesquisa
sobre suas tipologias e seus objetivos, identificando como elas estão próximas ou distantes
de seu cotidiano e quais as suas implicações na vida das pessoas‖ (BRASIL, 1997, p. 133).

A Geografia, na proposta dos PCNs do ensino fundamental II, se compromete em tornar o


mundo compreensível para os alunos e entender que este mundo possa ser transformado. Dentro dos
PCNs, podemos encontrar como meta a busca de um ensino que leve à conquista de uma cidadania
brasileira. Ressaltando-se, também, poder encontrar uma farta bibliografia sobre os temas que
entrelaçam os conteúdos de Geografia com as questões sociais apontadas como prioritárias nos
próprios PCNs.
Pode-se conhecer os temas transversais e a preocupação da Geografia com relação a esses
temas para uma melhor compreensão de mundo, partindo do local para o global. Dentro desse
contexto é importante apresentar ao corpo discente as questões emergenciais para a conquista da
cidadania. De acordo com os PCNs, é imprescindível o convívio do professor com o aluno em sala
de aula, no momento em que pretender desenvolver um pensamento crítico da realidade por meio da
Geografia.
É de suma importância que o conhecimento prévio do aluno seja valorizado e que ele possa
perceber que a Geografia faz parte do seu cotidiano, trazendo para o interior da sala de aula, com
ajuda do professor, a sua experiência. É importante também levar o aluno a vivenciar in loco aquilo
que ele vê como conhecimento teórico em sala de aula, colocando assim, em prática a teoria ora
apresentada. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é
amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o ser humano. O
ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. ―Educar é
substantivamente formar‖ (FREIRE, 1996).

A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Toda problemática da ambiental que estamos discorrendo está diretamente interligada com a
educação escolar indígena que, foi homologada a partir do consenso na área de atuação da educação
básica. A educação escolar indígena passa a ser um ordenamento político de grande valor para as
causas indígenas que inova suas garantias e a população escolar indígena deixa de ser uma temática
secundária.
Além da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9394/96, e da resolução 3/99 do
Conselho Nacional de Educação (CNE), o direito a uma educação diferenciada, no qual está
garantida na Constituição Federal, também se encontra contemplado no plano nacional pela

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

educação e no projeto de lei de revisão do Estatuto do Índio, ambos discutidos no Congresso


Nacional, aprovado na Constituição Federal, artigos 210, 215 e 231, através do Decreto Presidencial
nº 26/91 que define o Ministério da Educação (MEC) como o responsável pela proposição da
política de educação escolar indígena, passando os Estados e Municípios a serem responsáveis por
sua execução sob orientação do MEC. (BRASIL, 2007, p. 26).
Diante desses instrumentos já existentes e buscando um aprimoramento da educação e
processo de aprendizagem, estudiosos e militantes da causa indígena têm, nas diretrizes da
educação escolar indígena (resolução 3/99 – CNE), as orientações a serem seguidas na educação
diferenciada e de qualidade, respeitando a cultura e os valores das comunidades autóctones.
―Uma escola indígena específica, diferenciada, intercultural, bilíngue e de qualidade, tornou-
se, hoje, o mote daqueles que, renegando os modelos assimilacionistas, lutam pela implantação de
programas de educação escolares que estejam a serviço das comunidades indígenas e não contra
elas‖ (GRUPIONI, 2006, p. 37).
De acordo com Scandiuzzi (2009, p. 23), foi constatado que ―a educação indígena sem a
interferência dos não indígenas, é impossível, pois os meios de comunicação estão presentes em
quase todos os lugares e o processo de globalização acelera o dinamismo cultural‖.
Segundo o artigo 39, da Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Conselho Nacional
de Educação, as escolas indígenas, atendendo às normas e ordenamentos jurídicos próprios e às
Diretrizes Curriculares Nacionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue, com vistas à
afirmação e à manutenção da diversidade étnica e linguística, assegurarão a participação da
comunidade no seu modelo de edificação, organização e gestão, e deverão contar com materiais
didáticos produzidos de acordo com o contexto cultural de cada povo. (Parecer CNE/CEB nº 14/99
e Resolução CNE/CEB nº 3/99).
Dessa maneira, percebemos a necessidade de contemplar estas comunidades tradicionais
utilizando como instrumento de ação uma proposta pedagógica baseada nos ensinamentos e nas
ricas contribuições do pedagogo Paulo Freire, inspirado em suas ideias para uma educação
articulada às propostas de Fritjof Capra e Moacir Gadotti indicando a ecopedagogia como uma
alternativa de fazer educação, tendo a terra como paradigma (BARCELLOS, 2012) e a
sustentabilidade como princípio educativo.
A educação escolar indígena Potiguara ainda encontra-se muito relacionada e dependente da
educação escolar regular devido a todo um contexto onde está inserida. Urge fazer uma educação
que contemple as especificidades da comunidade indígena, bem como a reformulação de práticas
docentes que colaborem para a preservação e conservação dos recursos naturais disponíveis em seu
território.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA DR.


JOSÉ LOPES RIBEIRO, NA ALDEIA MONTE-MÓR

Viabilizar um processo de conscientização e sensibilização ecológica é extremamente


importante para a preservação do meio ambiente. A escola possui um papel fundamental neste
processo de mudança de comportamento da sociedade em relação à natureza gerando futuros
agentes multiplicadores da EA, que tem pressionado a sociedade na busca de alternativas para
possibilitar um desenvolvimento direcionado para a sustentabilidade. De acordo com o pensamento
e a metodologia de Penteado Júnior (1985), demonstraremos algumas práticas e como abordar a EA
para alunos do ensino médio, pois, conforme o mesmo,

―sempre que seja possível, é preferível a forma de excursão, para o estudo da Geografia.
[...] E isso não é perder tempo. A arte de ensinar, é a arte de saber perder tempo. Aquilo que
a criança aprender pela observação direta, em situação de vida e com prazer, não esquecerá
jamais. Se o gasto de tempo é grande, a aprendizagem se torna mais eficiente que o simples
decorar. [...] Não se deve ficar, porém, no simples observar, é preciso provocar a elaboração
mental dos fatos, e depois o trabalho de expressão, pelos múltiplos recursos da escrita, da
exposição oral (PENTEADO JÚNIOR,1985, p. 119-120).‖

A aplicação de trabalhos de campo e de excursões pode conduzir professores e alunos a


abandonarem o marasmo que marca o ensino tradicional, ajudando a construção de um saber
necessário, com o objetivo de acelerar a implementação da EA em todos os níveis. (CARDOSO,
1991). Concordando com a afirmação, comprovei in loco alguns projetos realizados e que estão em
andamento nas escolas estaduais indígenas de Monte-Mór e Jaraguá. É importante que na escola se
tenham aulas práticas, trabalhos de campo e excursões para uma melhor compreensão do mundo
que os cerca.
De acordo com Silva (2015), foi realizada uma aula de campo muito interessante já que os
alunos puderam conhecer e compreender alguns dos problemas ambientais que ocorrem em seu
território a exemplo da enorme voçoroca que vem aumentando com o processo de erosão, segundo a
professora de Ciências Josineide Galdino ―o buraco do padre é uma feição erosiva que atinge 25m
de profundidade por 30m de largura em sua cabeceira, e ela afirma que a voçoroca recebe este nome
devido a sua localização, já que está situada por trás da igreja Nossa Senhora dos Prazeres‖. Ainda a
respeito da voçoroca visando diminuir o processo erosivo uma alternativa apontada pelo Cacique
Anibal é ―pegar todas as árvores cortadas e recolhida na cidade de Rio Tinto deveria ser colocada
na erosão – buraco do padre com o objetivo de reduzir a ação das águas das chuvas‖ (Cacique
Anibal, liderança indígena de Jaraguá). A seguir podemos visualizar a enorme voçoroca conhecida
popularmente por ―buraco do padre‖:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura II: Imagem da voçoroca (SILVA, 2015)

Em relação a abordagem das questões ambientais estes projetos estão de acordo com o
pensamento de Tozoni-Reis (2004, p.147):

―A educação ambiental é uma dimensão da educação, uma atividade intencional da prática


social, que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a
natureza e com outros seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade
humana, tornando-a mais plena na prática social e na ética ambiental.‖

A escola é um dos locais privilegiados para o desenvolvimento da EA, desde que se criem
oportunidades e contemporizem a criatividade, pois ela pode e deve estar presente em todas as
disciplinas quando se analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio
natural e as relações sociais.
O importante é que a EA possa desenvolver nos alunos uma postura crítica em relação as
informações que eles possuem sobre o tema transformando estes sujeitos em agentes
multiplicadores ambientais. A partir daí a visão deles sobre questões ambientais se tornará mais
ampla e, portanto, mais segura diante da realidade vivenciada em seu território.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para os povos indígenas Potiguara a terra, as águas, as matas, as furnas, as cachoeiras e tudo
que integra a ―mãe natureza‖ são elementos que se constituem sagrados. Apesar desta cosmovisão
dos Potiguara é importante demonstrar que as aldeias de Jaraguá e Monte-Mór, por se localizarem
próximas à zona urbana do município, estão em constante contato com a população não indígena e
com os seus costumes e cultura. Além disso, muitos não-índios moram e vivem entre os Potiguara
nas aldeias. Assim podemos afirmar que a preocupação com as questões ambientais neste tecido
territorial não é considerada prioridade entre os que habitam essas terras.
Entendo que é importante a realização de projetos de EA para a sensibilização dos alunos,
visando que eles comecem a compreender que estes povos pretendem proteger o que ainda restam

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

dos recursos naturais de suas terras. O cacique Anibal da aldeia Jaraguá, e a cacique Claudecir da
aldeia Monte-Mór são favoráveis a projetos que contemplem práticas ambientais salutares nas
escolas diferenciadas das aldeias.
A EA têm atraído cada vez mais os docentes, onde sua aplicação deve se tornar uma
realidade nas escolas diferenciadas; apesar das dificuldades em inserir esta temática nos conteúdos
programáticos, os docentes indígenas e os não índios demonstram grande interesse em disseminar a
EA e aplicá-la em suas aulas; os projetos desenvolvidos nas escolas e as parcerias com as
instituições do poder público, as organizações não-governamentais (Ong‘s) e a iniciativa privada
através de projetos socioambientais podem, devem e precisam contribuir positivamente na formação
destes alunos.
A EA sendo disseminada e aplicada neste território tende a se tornar uma importante
ferramenta para que se possa conservar e preservar as riquezas naturais e culturais das terras
indígenas.

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Apresentação dos Temas Transversais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1997.

BARCELLOS, Lusival Antonio. Práticas educativo-religiosas dos índios Potiguara da Paraíba.


João Pessoa: Editora da UFPB, 2012.

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CARDOSO, Thiago Mota; GUIMARÃES, Gabriella Casimiro (Orgs.). Etnomapeamento dos


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Indigenas, n. 2)

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004.
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Resgatando textos antigos. São Paulo: Instituto de Geografia/Departamento de Geografia –
Universidade de São Paulo, novembro, 1985, p. 113-121.

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TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Educação Ambiental: natureza, razão e história.


Campinas: Autores Associados, 2004.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1583


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CARAVANA: UMA METODOLOGIA TRANSFORMADORA A PARTIR DE UMA


EXPERIÊNCIA NO AGRESTE DE PERNAMBUCO

Priscila Carolina B. B. dos SANTOS


Bacharel em Agronomia pela UFRPE-UAG
priscila_c_bastos@hotmail.com
Horasa Maria Lima da Silva ANDRADE
Docente da UFRPE-UAG
horasaa@gmail.com
Luciano Pires de ANDRADE
Docente da UFRPE-UAG
lucianopandrade@gmail.com
Ana Paula Rodrigues NUNES
Graduanda em Engenharia de Alimentos da UFRPE-UAG
apnunes12@live.com

RESUMO
As formas de agriculturas sustentáveis vêm sendo incentivadas no cenário mundial especialmente
em virtude da necessidade de transformação dos sistemas de produção agrícolas atuais. Este
trabalho busca refletir sobre a metodologia de formação de uma Caravana Agroecológica Cultural,
método inovador que busca conhecer as potencialidades de os desafios do território para poder
transformá-lo. A partir de uma experiência na região do Agreste de Pernambuco foram feitas
análises qualitativas através dos documentos registrados para este evento. A participação popular
em conjunto com as instituições que disseminam o conhecimento agroecológico são as chaves para
a elaboração de um planejamento baseado em um roteiro que guiará e levará a ação coletiva,
contribuindo para o fortalecimento da Agroecologia e, consequentemente, para os processos de
transição agroecológica.
Palavras-Chaves: Agroecologia; Conhecimento Agroecológico; Participação.
ABSTRACT
The forms of sustainable agriculture have been encouraged in the world scenario especially due to
the need to transform the current agricultural production systems. This work seeks to reflect on the
methodology for the formation of a Cultural Agroecological Caravan, an innovative method that
seeks to know the potential of the territory's challenges in order to transform it. From an experience
in the Agreste region of Pernambuco, qualitative analyzes were made through the documents
registered for this event. Popular participation together with the institutions that disseminate
agroecological knowledge are the keys to the elaboration of a plan based on a road map that will
guide and lead to collective action, contributing to the strengthening of Agroecology and,
consequently, to the processes of agroecological transition.
Keywords: Agroecology; Agroecological knowledge; Participation.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

As Caravanas Agroecológicas e Culturais vêm ganhando destaque como metodologias


pedagógicas, com o objetivo de causar uma mobilização dos atores locais a fim de estudarem e
compreenderem o território que fazem parte, além de provocar um fortalecimento do conhecimento
agroecológico e o conhecimento das potencialidades e de possíveis desafios das ações já
desenvolvidas. Sendo assim, as Caravanas abrem caminhos como fontes inovadoras que
transformam a maneira de refletir o ensino, a pesquisa e a extensão em agroecologia, utilizando os
princípios inspirados nas metodologias de Educação Popular, os diálogos entre a sociedade,
instituições e movimentos sociais, bem como a vivência das experiências.
No cenário nacional observa-se o desenvolvimento de diversos trabalhos realizados por
meio de chamadas públicas dentro da temática agroecologia, em virtude da introdução desta
temática na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER). Contudo, as
demandas em se estudar e trabalhar o pensamento agroecológico e suas práticas se fazem
necessárias frente aos desafios apresentados em escala crescente. Ao analisar os desafios
identificados nos eixos estratégicos do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PLANAPO), foi relatado que os resultados dos trabalhos desenvolvidos por meio das chamadas
públicas dentro da temática agroecologia são tímidos e aponta como um dos desafios o ―foco
excessivo nos produtos da chamada (resultado) e não no processo, que pode demorar mais, devido à
necessidade de assimilação, maturação e implementação‖ (MENEGUELI et al., 2015, p. 40).
Partindo desta premissa podemos então entender a busca por metodologias que desafiem e auxiliem
o foco no processo, no saber, na formação e continuação dos agroecossistemas.

As ações desenvolvidas pelos agentes promotores da agroecologia também têm contribuído


para o conhecimento e fortalecimento das localidades, à medida que são realizados mapeamentos,
cursos, oficinas e eventos, bem como outras propostas metodológicas que levam à transformação de
práticas mais sustentáveis na agricultura. Neste sentido, é preciso conhecer o território para saber
como este deve ser trabalhado. É na abordagem territorial que se evidenciam as ações sociais
coletivas e seus diferentes interesses e que, a partir destes, surgem:
―estratégias de desenvolvimento que não seguem regras universais aplicáveis em qualquer
situação, mas que se inserem em contextos agronaturais, de histórias evolutivas distintas,
em que desempenham papel importante as decisões da sociedade ponderadas pelos seus
valores, mitos, organização, cultura e formas tecnológicas de explorar o ambiente‖
(CARMO, 2008, p. 37-38).

Inicialmente, a metodologia das Caravanas surgiu a partir de incentivos gerados pelos


Encontros Nacionais de Agroecologia (ENA) como resposta à pergunta ―por que interessa a
sociedade apoiar a agroecologia?‖ (Articulação Nacional de Agroecologia, 2014). Sua importância
está, principalmente, em fortalecer a Agroecologia ao passo que favorece a troca de experiências

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

durante as visitas e busca pelo bem viver, destacando a produção de alimentos saudáveis a partir da
preservação do meio ambiente, em meio aos processos de mobilização social nos locais e luta dos
povos pelo seu território. Nesse contexto é que vieram as Caravanas Agroecológicas e Culturais e
sua proposta de integrar grupos que estudam, praticam e têm interesse em Agroecologia,
considerando a diversidade cultural e identidade do território, abordando a transição agroecológica
e possíveis conflitos socioambientais. A experiência da Caravana Agroecológica e Cultural do
Agreste de Pernambuco em 2017 tornou possível explorar em que passo está e como é caracterizado
este território em termos de formas de agriculturas sustentáveis.
Portanto, este trabalho tem por objetivo refletir em como é o processo metodológico da
construção de uma caravana.

METODOLOGIA

Caracterização Da Área

A região do Agreste de Pernambuco abrange uma área total de 24 400 km² e possui 71
municípios, contando com uma população de 1,8 milhão de habitantes que representa um quarto da
população do estado (Wikipédia, 2017). É uma região que apresenta cultivo de lavouras de milho,
feijão e mandioca, entre outras culturas. Em 2006, o Censo Agropecuário apontou que grande parte
dos estabelecimentos agropecuários na maioria dos municípios do Agreste tem caráter familiar.
A busca por experiências agroecológicas e/ou de produção orgânica nesta região surge como
uma ferramenta para potencializar as vivências e os caminhos para o desenvolvimento sustentável
da agricultura familiar no cenário nacional. Para isso a Caravana iniciou o processo procurando
destacar os potenciais e desafios de cada lugar. As visitas aos municípios de Pedra, Águas Belas,
Caetés, Pesqueira, Angelim, Bonito, Garanhuns e Cumaru, ocorreram nos dias 01 a 03 de junho de
2017, partindo de Garanhuns-PE.
Para a realização da Caravana foi necessário haver uma ação coletiva, partindo do princípio
que este é um processo de construção coletiva, uma vez que é importante a participação dos
principais formadores do pensamento agroecológico nesta construção, como universidades,
organizações, instituições, movimentos sociais e sindicais e a sociedade civil. A experiência da
Caravana no Agreste de Pernambuco teve a iniciativa da Rede Nordeste de Núcleos de
Agroecologia (RENDA) e do Núcleo de Agroecologia Agrofamiliar da UFRPE-UAG, sendo
organizada em conjunto com outras instituições, movimentos, povos indígenas e quilombolas.
É notável salientar que, ao organizar uma caravana, deve-se pensar primeiramente qual
território será definido. Como chave do processo, é importante partir do território vivido, pois de
início é o meio onde estamos inseridos, o chão pisado, o lugar onde vivemos e buscamos melhorar

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

para posteriormente buscar expandir. Isso permite visualizar as ações que trazem impacto sobre o
desenvolvimento da Agroecologia, anunciando e evidenciando as resistências e experiências
agroecológicas em curso. Para isso, o diálogo com os vários sujeitos do território também é
fundamental. Pensando nisso, então foi definido o território do Agreste de Pernambuco (Figura 1).

Figura 13– Mapa do Agreste de Pernambuco. Fonte: Wikipédia (2017)

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O levantamento de dados para a análise qualitativa da construção da Caravana foi feito a


partir de relatórios de reuniões que precederam este evento e os demais relatórios gerados após a
apuração das experiências, bem como o material bibliográfico (o ―Caderno do Participante‖)
produzido para a Caravana Agroecológica e Cultural do Agreste de Pernambuco. A análise da
construção deste evento ocorreu no município de Garanhuns-PE, de maio a julho de 2017.
Foi durante as reuniões precedentes à Caravana que seu deu o roteiro da tomada de decisões,
inspirada na observação dos relatos de experiências das caravanas já ocorridas, onde se decidiu a
região e os municípios a serem visitados (território), dos quais foram definidas as possíveis rotas
(percursos) a serem percorridas; o tema; as questões orientadoras ou eixos; o número de dias da
realização; o número de participantes e a programação. Também foi feito o mapeamento do que
havia no território, a partir de questionamentos (necessidades e aptidões) levados ao grupo que
organizaria as ações para a realização da caravana, possibilitando estarem familiarizados com as
possíveis questões que seriam encontradas durante as visitas para posteriores análises das realidades
vivenciadas. Nesse contexto foi importante garantir a participação dos agricultores a estarem
inseridos nesta comissão para a organização das pessoas envolvidas na caravana, especialmente as

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

pessoas que moram no território definido, como uma das chaves para o processo de construção e o
apoio das parcerias na realização do evento.
A partir destas análises foi delineado que, no processo de construção de uma caravana, se
faz necessário seguir um roteiro previamente definido, que inclua uma programação (Figura 2).
Neste caso, da Caravana Agroecológica e Cultural do Agreste de Pernambuco, o roteiro que se
seguiu buscou fixar como eixos: qual a identidade do território, sua diversidade e cultura; produção,
comercialização e consumo; mudanças climáticas, convivência com o semiárido e desertificação;
transição agroecológica. Sob o tema da Caravana ―Vendo e vivendo os agrestes a partir das
experiências: semeando e discutindo identidades agroecológicas‖, o grupo foi estimulado a
(re)pensar o território nos aspectos referentes a relação deste com o processo de transição
agroecológica, respondendo as seguintes perguntas norteadoras: ―O que precisamos para
desenvolver a Agroecologia no agreste de Pernambuco?‖ e ―Quais os avanços, desafios,
contradições e limites no território em relação à Agroecologia?‖.
A partir dos eixos foram construídas quatro rotas, onde cada rota reuniu cerca de 20 pessoas,
totalizando 80 caravaneiros (participantes), durante três dias. Ao término das visitas, cada grupo
pertencente às rotas se reuniu para a culminância da Caravana, o momento de compartilhar o que
foi registrado. Esta ocasião foi marcada pela realização da construção de uma instalação
pedagógica, a partir das experiências vivenciadas por cada rota durante a sua jornada na Caravana.

Construção de
Caravanas
Agroecológicas
Culturais

Definição do
Definição dos eixos e Definição da
território e seu
tema da Caravana programação
mapeamento

Definição das rotas e


Perguntas norteadoras
suas descrições

Figura 2 – Roteiro para a construção de Caravanas Agroecológicas Culturais. Fonte: Priscila Carolina
B. B. dos Santos (2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentro da temática da Caravana Agroecológica do Agreste de Pernambuco, buscou-se


discutir as identidades agroecológicas a partir das experiências vivenciadas neste território ao longo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

do percurso das quatro rotas, durante três dias. Com isso, foram vivenciadas experiências de quem
já pratica agricultura sustentável e aqueles que se interessam e têm o desejo de aderir à prática.
Questões como ―A luta pela terra e território‖ e ―Resistências e Identidade‖, vivenciadas
pelas Rotas 1 e 2 respectivamente, em locais de assentamento e povos indígenas traz a atenção para
as realidades dos agricultores do Agreste e sua resistência em lutar pela sobrevivência, superando
preconceitos ao passo que, dentro das suas limitações, buscam construir relações políticas que
viabilizem a convivência com a seca. Em contrapartida, viu-se o outro lado, de quem já tem sua
terra garantida e produz para comercializar, como é o caso dos agricultores de uma cooperativa
mista na cadeia produtiva de leite (RODRIGUES et al., 2017).
O conhecimento agroecológico vem ganhando espaço, à medida que as comunidades se
organizam para essa nova perspectiva por meio de iniciativas das metodologias aplicadas. Prova
disso são as propriedades em fase de transição agroecológica e as demais que já transformaram o
seu ambiente de viver e produzir, como é o caso de três propriedades familiares no Agreste, que não
utilizam insumos químicos, sendo um deles de agricultores agroflorestais que convivem com o
semiárido. Como parte desse processo refletiu-se nos potenciais encontrados em comunidades
organizadas que juntas continuam a formar bancos comunitários de sementes crioulas e feiras
agroecológicas, pensando sob os tópicos ―Plantando e semeando a vida e diversidade‖ e
―Aprendendo a conviver e a transformar o ambiente‖ vivenciadas pelas Rotas 3 e 4,
respectivamente (RODRIGUES et. al., 2017).
Como parte dos desafios para a construção desta Caravana podemos extrair o iniciar do
processo, o passo a passo, a maneira de executar o que se havia planejado, visto ser a primeira a ser
realizada pelo grupo envolvido. Também é digno de nota que à medida que os relatos são vividos e
refletidos faz-se necessário um registro de cada momento e a sistematização, como maneiras de se
ter a memória de cada aspecto conhecido no território visitado. Isso fará parte das análises que serão
levadas em conta nas questões a serem problematizadas e para planejamentos futuros nos tópicos
relacionados em como devemos trabalhar e viabilizar a Agroecologia no território.
A participação popular e suas vivências foram uma das chaves de todo o processo de
construção da Caravana. As pesquisas participativas são amplamente empregadas como ferramentas
que auxiliam o desenvolvimento rural, visto que a pouca participação é apontada como fator que
limita o sucesso dos projetos de desenvolvimento deste setor. Como na maioria dos casos não
ocorre de forma espontânea, esta participação é construída de forma coletiva e como exercício no
cotidiano que buscam sensibilizar as comunidades que se beneficiam dos projetos para que possam
se organizar melhor (CAMPOLIN & FEIDEN, 2011).
Definir o tipo de abordagem metodológica que integre os aspectos ambientais,
socioeconômicos e culturais, é primordial para se conseguir manter o equilíbrio entre a produção do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

campo e o ambiente, sem deixar de prezar pela qualidade de vida das populações rurais. Os autores
ao descreverem sobre metodologias participativas em agroecologia e sua importância, chamam a
atenção para um aspecto importante ao se trabalhar uma abordagem metodológica, onde esta:

―não esgota as possibilidades nem deve ser entendida como uma receita a ser aplicada em
qualquer contexto. A criatividade e o aperfeiçoamento metodológico devem ser
estimulados, tendo sempre presente a complexidade e a diversidade de cada região e
sistema agrícola‖ (CAMPOLIN & FEIDEN, 2011, p. 7).

Sendo assim, podemos considerar que a vivência de Caravanas Agroecológicas e Culturais


vem como uma metodologia usada para transformar, pensar e viabilizar os processos de produção
agrícola com bases ecológicas. Metodologia esta que, à medida que é aplicada, considerando as
variáveis a serem adaptadas, contribui para ecoar e fortalecer a Agroecologia e os demais processos
de desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

Articulação Nacional de Agroecologia (2014). Disponível em:


<http://www.agroecologia.org.br/2014/03/18/o-legado-das-caravanas-agroecologicas-rumo-ao-iii-
encontro-nacional-de-agroecologia/> (Acesso em 20/07/2017).

Censo Agropecuário (2006). Disponível em:


<http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/51/agro_2006.pdf> (Acesso em: 20/07/2017).

CAMPOLIN, A. I.; FEIDEN, A. Metodologias participativas em agroecologia. 1. ed. Corumbá:


Embrapa Pantanal, 2011, 15 p.

CARMO, M. S. Agroecologia: novos caminhos para a agricultura familiar. Tecnologia &


Inovação Agropecuária, São Paulo, p. 28-40, dez. 2008.

MENEGUELI, H. O. et. al. Agroecologia brasileira no marco do plano nacional de agroecologia e


produção orgânica: cenário atual, perspectivas e desafios. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.
11, n. 22, p. 29-45, dez. 2015.

RODRIGUES, V. et. al. Caravana agroecológica e cultural do agreste pernambucano: caderno do


participante. Garanhuns: UFRPE-UAG, 2017, 36 p.

Wikipédia. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Mesorregi%C3%A3o_do_Agreste_Pernambucano> (Acesso em:
20/07/2017).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

REALIDADE E DESAFIOS DA VIDA NO SEMIÁRIDO: COMUNIDADE BOA VISTA


EM SANTANA DO MATOS/RN

Valéria Tatiany da CUNHA79


Bacharel em Ciência e Tecnologia (UFERSA - 2012)
tainara.vanessa@yahoo.com.br
Roselene de Lucena ALCÂNTARA
Professora da UFERSA, Campus Angicos
roselene@ufersa.edu.br

RESUMO
O Semiárido brasileiro abrange quase 70% do Nordeste e compreende 1.400 municípios de dez
estados do Brasil: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do
Norte, Espírito Santo e Sergipe. O Semiárido brasileiro é um dos maiores e mais populosos, além de
constituir maior parte do território do Nordeste (NE) Brasileiro, rico em cultura, biodiversidade,
riquezas minerais, grande potencial turístico e enormes possibilidades econômicas. Entretanto, as
condições de vida são precárias e para que tenha uma boa convivência com o Semiárido brasileiro é
preciso que haja uma produção e estocagem de bens no período de chuva como água e alimentos,
para dispor destes bens no período de estiagem. Considerando que os agricultores sofrem bastante
neste período em decorrência da falta de planejamento. O objetivo deste trabalho é mostrar como é
viver no semiárido e enfrentar muitas situações adversas como, a escassez de água e de
infraestrutura, analisando os artifícios que são gerados na comunidade de Boa Vista/RN a partir da
concepção e utilização de meios diversificados para a sobrevivência dos mesmos. Para tanto, a
técnica de pesquisa utilizada fundamentou-se em Thiollent (2009) no qual parte de observação
social que busca a resolução de um problema coletivo. Para isso, foi aplicado formulários com o
intuito de conhecer as dificuldades e potencialidades ressaltadas pelos moradores. Diante de todos
os problemas expostos, surge à necessidade de implantação de medidas estruturantes e duradouras
para se viver no semiárido com resultados economicamente sustentáveis, para que a população
esteja preparada para enfrentar o período de estiagem.
Palavras-chave: Semiárido. Convivência. Sustentabilidade.

ABSTRACT
The Brazilian Semiarid Region covers almost 70% of the Northeast and comprises 1,400 towns in
ten states of Brazil: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande
do Norte, Espírito Santo and Sergipe. It is one of the largest and most populous regions. Besides
constituting most of the Brazilian Northeastern (NE) territory, the Semiarid is rich in culture,
biodiversity, mineral wealth, tourism potential and economic possibilities. However, living
conditions in the Brazilian Semiarid are precarious and to be able to have a good coexistence, there
must be production and storage of goods in the rainy season, such as water and food, to avail of
these goods in the dry season, considering that farmers suffer a lot in this period due to lack of
planning. The objective of this work is to show how it is to live in the Semiarid region and face
many adverse situations such as water and infrastructure scarcity, and to analyze the artifices that
are generated in the community of Boa Vista / RN from the shaping and using of diversified means
for survival. Therefore, the research technique used was based on active research, which arises from
the social observation that seeks to solve a collective problem. For this, questionnaire forms were
79
Engenheira Agrícola e Ambiental (UFERSA - 2015), Aperfeiçoamento em Educação Ambiental (UFERSA - 2015),
Aperfeiçoamento - A Escola e a Cidade: Políticas Públicas Educacionais/PPGLS (UFERSA -2016).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

filled out in order to know the difficulties and potentialities highlighted by the residents. In view of
all the problems exposed, the need arises to implement structural and permanent measures to enable
life in the semiarid region with economically sustainable results, so that the population can be
prepared to face the dry season.
Keywords: Coexistence; Sustainability; Water Resources.

INTRODUÇÃO

A região Semiárida tem longa tradição de precariedade no setor hídrico. Sendo a água um
recurso natural de valor precioso, mais que um insumo indispensável à produção é um recurso
estratégico para o desenvolvimento econômico (GARJULLI, 2003). Em relação à produção
agrícola, a água representa um fator limitante às plantas, principalmente em áreas rurais, em que sua
renda depende do setor da agricultura.
A situação de escassez permanente de água, na região semiárida, leva à necessidade da
intervenção de políticas públicas capazes de criarem formas adequadas para captação e
armazenamento de água. É fato que algumas ações vêm sendo empreendidas no semiárido com o
objetivo de implantar infraestruturas capazes de disponibilizar água suficiente para garantir o
abastecimento humano e animal e viabilizar a irrigação, como exemplos, existem o Departamento
Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE) e outros órgãos. Todavia, esses esforços são insuficientes para resolver os problemas
decorrentes da escassez de água, pois essas ações ainda não chegaram a todas as comunidades
necessitadas, o que faz com que algumas comunidades, como Boa Vista/RN, continue vulnerável à
ocorrência de secas, especialmente, quando se trata do uso difuso da água no meio rural (CIRILO;
MONTENEGRO; CAMPOS, 2012).
Diante disso, o trabalho tem como objetivo principal mostrar como é viver no semiárido e
enfrentar muitas situações adversas como, por exemplo, a escassez de água e de infraestrutura.
Concomitante, foi realizada uma abordagem sobre como a captação de água de chuva contribui para
o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro, tendo como foco de investigação a
comunidade de Boa Vista, município de Santana do Matos/RN, localizado no semiárido potiguar.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado na comunidade Boa Vista, localizada no município de Santana do


Matos, semiárido potiguar, em 2012 e 2013. O município de Santana do Matos/RN possui uma
população de 13.800, com uma área territorial de 1.419 Km2, tendo como bioma a Caatinga (IBGE,
2010). Situa-se na mesorregião Central Potiguar e na microrregião Serra de Santana. Distante da

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

capital cerca de 188 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através das rodovias
pavimentadas BR-304 e RN-041.
A comunidade de Boa Vista é composta por 57 casas, com 206 habitantes no total. A distância
da cidade de Santana do Matos/RN para a comunidade é de, aproximadamente, 32 km.
Para o desenvolvimento do trabalho, utilizou a pesquisa-ação. Segundo Thiollent (2009, p, 16):

Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada
em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Desse modo foi aplicado um formulário semi-estruturado com a população de homens e


mulheres residentes na comunidade de Boa Vista/Santana do Matos/RN. Das 57 famílias que
residem na comunidade foram entrevistadas 38 (66,66%). Considerando os objetivos da pesquisa
procedeu-se a estratificação da comunidade enfatizando as vantagens e desvantagens existentes
nesta comunidade.
É importante mencionar que foi realizada a análise e tratamento dos dados coletados, numa
abordagem tanto quantitativos como qualitativa, com ênfase no conteúdo dos formulários e com o
referencial teórico que fundamenta o estudo proposto. A coleta de dados também foi realizada
através das pesquisas bibliográficas e de campo e análise documental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO DA COMUNIDADE BOA VISTA

A comunidade de Boa Vista fica distante da Cidade de Santana do Matos (sede),


aproximadamente, 32 km, e é dividida por um rio: o lado esquerdo contém 28 casas e o lado direito
29 casas. As casas são de alvenaria, os tamanhos e número dos cômodos são distintos, totalizando
em toda a comunidade 57 famílias.
A ocupação profissional dos moradores é distribuída, de maneira geral, da seguinte forma,
aposentados, professores e auxiliares de serviços gerais (ASGs) e merendeira. Outra parte se
sustenta da pecuária a partir da venda de leite, corte de madeira (ilegal) e da venda de carvão.
No que se refere à saúde, não existe nenhum estabelecimento na comunidade em estudo. O
posto de saúde mais próximo se encontra 5 km distante da comunidade, no distrito de Santa Tereza-
Santana do Matos/RN.
Com relação à arborização, a situação da comunidade é bem precária em função da
arborização ser praticamente ausente. Possivelmente, em decorrência da renda da lenha e carvão,
como meio de sobrevivência de algumas famílias locais, há uma redução da vegetação. Também há
que se considerar a falta de conhecimento da comunidade a respeito da importância da arborização

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

não só para a manutenção dos sistemas naturais, mas também para o seu conforto térmico. Alia-se a
esse cenário a questão da carência de água na comunidade, o que dificulta a irrigação e manutenção
de espécies vegetais (não há água encanada) e, especialmente, a limitação de tal recurso no período
de estiagem.

ESCOLAS DA COMUNIDADE BOA VISTA

Na Comunidade, funcionavam duas escolas, uma que se localizava no lado esquerdo,


denominada Escola Isolada José Cadó, fundada em 1927, pelo Sr. José Cadó com funcionamento
em só um turno, e desativada em 2001; e a outra no lado direito, a Escola Municipal Boa Vista,
fundada em 1968, pelo Senhor Manoel Ferreira Sobrinho, mais conhecido como Manoel Felipe,
funcionava em só um turno. As duas escolas foram desativadas por uma ordem do prefeito
municipal de Santana do Matos e sua equipe à época, por dois motivos: redução de custos e,
principalmente, para dar mais oportunidade aos estudantes da comunidade, considerando que as
escolas desativadas lecionavam do 1° ao 5° ano do ensino fundamental e os alunos de 6° a 9° ano
tinham que se deslocar para dar continuidade aos estudos na cidade de Angicos/RN.
É importante dizer que o prefeito, além das duas escolas mencionadas, fechou todas as
escolas pertencentes ao distrito de Santa Tereza, e ampliou a escola Francisca Mendes da Silva,
localizada em Santa Tereza, para receber os alunos oriundos das escolas desativadas. No ano de
2002, alunos e funcionários foram transferidos para a escola Francisca Mendes da Silva, que
lecionava do 1°ao 9° ano.
Atualmente, alunos e funcionários são transportados das comunidades Boa Vista e arredores
até a Escola Francisca Mendes da Silva em um ônibus da prefeitura de Santana do Matos, em um
percurso de 40 minutos. Os alunos do 1° ao 5°ano estudam no turno matutino e do 6°ao 9°ano no
turno noturno.

SANEAMENTO BÁSICO

A população da comunidade de Boa Vista vem sofrendo ao longo dos anos no período de
estiagem. Quando chove a água usada para beber é armazenada em cisternas. Cada casa tem uma
cisterna, construída em 2009, por um convênio do Governo Federal com o Sindicato dos
Trabalhadores. Quando a mesma seca, a população recorre às cacimbas próximas aos açudes (que a
água é doce) para ser consumida. Já a água dos açudes é utilizada para os demais usos, sendo eles:
banho, lavagem de roupa e louça e saciar a sede dos animais.
Os últimos anos viveu-se com a forte estiagem presente nos municípios do semiárido
brasileiro numa situação de calamidade, os açudes não diferentes, na Comunidade Boa Vista vê-se
que já secaram e até mesmo os rios onde são construídas as cacimbas, que eram abundantes, mesmo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

a água sendo salgada, hoje estão escassas, sem poder atender nossas necessidades e saciar a sede
dos animais. Como consequência, algumas famílias estão se mudando com seus rebanhos para
outras localidades buscando meios de sobrevivência, o conhecido êxodo rural.
No âmbito das políticas públicas de convivência com a seca, desde 2009, o Governo
Federal, em parceria com a prefeitura de Santana do Matos/RN, desenvolve um projeto, onde são
disponibilizadas quatro carros-pipas de água para cada nove famílias, uma vez ao mês. Por isso é
preciso racionar bastante, para dar para beber e cozinha.
A comunidade não dispõe de saneamento básico. Os esgotos das casas são lançados a céu
aberto. As casas que têm plantas reusam a água da lavagem de roupa, louça e banho para regar as
mesmas; não há coleta de lixo (resíduos), devido à mesma estar distante da zona urbana.
Observa-se na comunidade em estudo que a disponibilidade de alimentos para os animais
está muito difícil, pois na localidade já não há mais capim, o que exige deslocamento para áreas
distantes em busca de alimento. Já o xique-xique (Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles &
Rowley), que era um alimento emergencial nesta época de estiagem, já se mostra em esgotamento,
pois o mesmo é usado como uma alternativa de alimento para os animais não só da comunidade,
mas da região de Santana do Matos.
O uso do xique-xique como alternativa de alimento para os animais é feito após sua queima
em função do numero de espinhos que possui. Após a queima o mesmo é cortado e, às vezes, moído
e oferecido aos animais. É importante mencionar que muitas famílias utilizam o corte ilegal de
madeira por vários motivos, dentre eles o sustento da própria família, por não ter alternativa e nem
outra fonte de renda, levando os mesmos a provocarem estes impactos ambientais.
No tocante à carência de água, na comunidade de Boa Vista, todas as casas possuem
cisternas de placa de cimento, com capacidade de 16. 000 litros, construídas em 2009.
Para a construção destas cisternas foi fornecido um curso de capacitação para os pedreiros,
com duração de três dias. O curso foi ministrado no mesmo ano das construções (2009), e foi
realizado no Sítio Pichoré localizado no município de Santana do Matos /RN. Na comunidade em
estudo apenas um morador participou deste curso, o senhor Manoel Lucas da Cunha (meu pai). A
construção das cisternas é realizada em 13 etapas, conforme mencionam Silva, Bezerra e Eliezer
Neto ([2009?], p.1 a 15).

OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES

 Faixa etária dos moradores da comunidade


A maior porcentagem (24%) é de pessoas com faixa etária entre 41 e 50 anos; seguidos de
21%, para as faixas etárias de 31 a 40, e também 21%, para os acima de 60 anos; 16%, de 20 a 30
anos, e 18%, de 51 a 60 anos. Pelo exposto, percebe-se que a população considerada jovem, entre

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

20 e 30 anos, apresenta o menor percentual, o que pode ser explicado pelos movimentos migratórios
(êxodo rural) estar cada vez mais frequentes na zona rural, especialmente por parte dos jovens na
busca de melhores condições de vida.
Em um estudo realizado por Silva et al. (2008), em uma comunidade da zona rural de Minas
Gerais estado localizado na região sudeste do Brasil , 26,4% da amostra possuía faixa etária entre
18 e 29 anos; 18,5% de 30 a 39 anos; 14,7% ,entre 40 e 49 ano; 16,4% na faixa de 50 e 59 anos, e
24% com idade igual ou maior que 60 anos. Percebe-se, portanto, que, de maneira geral, os dados
são semelhantes, à exceção da faixa etária de 18 a 29 anos (26,4%), o que sugere o deslocamento de
jovens na região nordeste e permanência de jovens em outras regiões do país.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), na região semiárida,
a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais idade reduziu de 32,6 (censo 2000) para
24,3% (censo 2010). Portanto, um ponto que deve ser ressaltado. Entre os analfabetos do semiárido,
segundo o Censo, a maioria (65%) são pessoas com mais de 60 anos.

 Profissões comuns
A profissão de destaque foi de agricultor, o que já era esperado por se tratar de uma
comunidade situada na zona rural e considerando que na comunidade não tem alternativas de
empregos. Outras profissões encontradas foram: professor (8%) e merendeira (5%) e ASGs (5%).
Constatou-se que, em sua grande maioria, 55%, da população sobrevivem da agricultura
principalmente na atividade de pecuária (venda de leite); 27% sobrevivem de suas aposentadorias,
levando em consideração que a comunidade concentra uma quantidade considerável de idosos.
Os professores, como citados, representam 8% da comunidade, que se torna um dado
extraordinário, analisando as dificuldades especialmente nos anos anteriores, para se estudar na
zona rural, principalmente, na infância e adolescência. Considerando que, na época que esses
profissionais da educação iniciaram o curso superior, há cerca de quatorze anos, não existia
transporte para levá-los até cidade mais próxima (Assú/RN), porém conseguiram encontrar
maneiras de se deslocarem para outros municípios e concluir seus estudos com sucesso. Servindo de
exemplo para outras pessoas da comunidade.
É importante citar que, em 2009, com a instalação de um Campus da Universidade Federal
Rural do Semi-Árido (UFERSA) no município de Angicos, oportunizou que muitos jovens tivessem
o ensejo de cursar o terceiro grau, a exemplo da autora desse trabalho. Pelo exposto, percebe-se a
importância da instituição não só no setor educacional, mas, também, social, fazendo a diferença na
vida destas pessoas.
No Brasil, segundo Silva (2008), 64,8% da população rural atuam na atividade agropecuária,
e os demais estão voltados para a construção, comércio, transporte, entre outros. De acordo com
Holanda e Barbosa (2006), através da expansão da política previdenciária, a partir de 1991 houve
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

um aumento no número de trabalhadores rurais aposentados. No ano de 2002, a Previdência Social


manteve cerca de 4,7 milhões de aposentadorias rurais ativas no país, o que corresponde ao valor
total dos benefícios na ordem de R$ 940 milhões.

 Satisfação dos moradores em relação à moradia


De acordo com os dados obtidos no que se refere à satisfação dos moradores quanto a
residirem na comunidade de Boa Vista, percebe-se que 84% da comunidade acham vantagem morar
na mesma; 16% dizem não gostar de morar na comunidade em virtude das dificuldades
encontradas, como o desemprego, a seca, a falta de assistência médica e de água potável. Os que
gostam, afirmam que é uma comunidade bastante tranquila e seus moradores são pessoas simples,
mas ao mesmo tempo muito felizes, apesar das dificuldades constantes, dando ênfase à pobreza.
Destacaram que a amizade, a vontade de vencer e, principalmente, a perseverança sobressaem.
Hoje, apesar de todas as mudanças climáticas, desmatamento e seca, a comunidade continua
tendo os seus encantos, suas belezas naturais e artificiais. Enfatizo ainda, como moradora do local
que, na época de inverno o lugar se transforma, as rosas brotam, a caatinga fica verde, os açudes e
os rios enchem, a terra fica fértil.

Em que tempo olhamos interiormente para o nosso lugar. Esse pedaço de chão chamado
Semi-Árido? E quando olhamos, o que esse olhar nos revela? Enxergamos o belo no nosso
cotidiano para além de um óleo sobre tela? A arte pode ser uma janela por onde olhemos e
nos vemos outros, a janela que nos permite sonhar com a humanidade e, apesar das
adversidades, desejar o céu, o paraíso, o eldorado, o nirvana, a terra sem males, a utopia.
[...] (PEREIRA, 2006, p. 149).

 Dificuldades mais frequentes apresentadas pelos moradores da comunidade de Boa


Vista/RN
A zona rural ainda hoje é um grande desafio para os gestores públicos, especialmente no que
diz respeito ao acesso à educação infantil e ao ensino médio que, mesmo depois de anos, continua
limitado. ―Embora o acesso ao ensino fundamental seja dado como universalizado em todo o Brasil,
a persistência das desigualdades educacionais entre as zonas rural e urbana faz lembrar os tempos
lentos da história.― afirma Fernandes (2011, p. 17) em um estudo sobre as desigualdades em campo
e destaca:

A aprovação da ampliação da obrigatoriedade do ensino para a população de 4 a 17 anos


remete a um grande desafio para os gestores públicos das áreas rurais, pois o acesso à
educação infantil e ao ensino médio é muito baixo. Das crianças da zona urbana, 20,5%
frequentaram a creche em 2008; na zona rural, essa taxa é quase três vezes menor: 7,2%.
Na pré-escola, o atendimento chega a 82,2% na zona urbana e a 69,6% no campo. Entre os
jovens de 15 a 17 anos da zona urbana, 59% frequentam o ensino médio, contra 33,3% na
zona rural. Em relação ao ensino superior, 18% da população de 18 a 24 anos cursa essa
etapa na zona urbana metropolitana. Na zona rural, a taxa é de apenas 3,4%.
Além do acesso, há a questão da aprendizagem. A distorção idade-série afeta três de cada
quatro pessoas de 9 a 16 anos (75%) na zona rural. Na zona urbana, o percentual, de 56%,
também é alto. Nos anos iniciais do ensino fundamental a distorção é de 38,9% no campo e
de 18,4% na zona urbana.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Esta realidade não é diferente da realidade da Comunidade Boa Vista/RN considerando o


número de analfabetos, e uma quantidade reduzida de jovens que almejam um futuro melhor que,
em sua maioria, terminam seus estudos, no máximo, ao concluírem o ensino médio. Mas,
infelizmente, percebe-se que esta não é a única dificuldade presente na Comunidade objeto de
estudo, conforme comentado anteriormente. Quando perguntado quais as principais dificuldades
enfrentada pelos moradores esses, em sua maioria (34%), responderam que o maior problema
enfrentado pela comunidade é a falta de água e, em seguida vem à seca com uma porcentagem de
(29%) e a falta de estrutura ou meios mais eficientes de captação de água.
Outras dificuldades enfrentadas são falta de água e emprego (21%), falta de água e comida
para os animais (8%) e o acesso à saúde 2%%, mesmo ela sendo fundamental na vida do cidadão. O
baixo percentual de preocupação dos moradores quanto ao aspecto saúde é devido à comunidade já
conviver com este problema ao longo dos anos.

 Qualidade da água
Considerando que água é um recurso essencial à sobrevivência de todos os seres vivos e o
seu fornecimento, em quantidade e qualidade, é fundamental para a perfeita manutenção da vida
humana, percebe-se a importância da água em nossas vidas. No meio rural, a água destinada ao
consumo humano pode não ter boa qualidade, em decorrência de problemas na sua captação e no
seu armazenamento, deixando a população rural a mercê de contaminações e de doenças de
veiculação hídrica.
Neste contexto, foi perguntado aos entrevistados se a água existente na comunidade era de
boa qualidade. Pôde-se destacar que 58% responderam que não, enquanto 42% responderam que a
mesma tinha uma qualidade boa. É necessário observar que essas respostas são referentes à
utilização de água de poços, uma vez que com a seca presente, não há água disponível nos açudes e
rios.

 Origem da água consumida


Com efeito, observou-se que 60% da população utilizam somente água da adutora; 16%
água da adutora e poço,13% poço e 11% da adutora e cacimba. Nenhuma das famílias responderam
que utilizam água dos açudes, pois nesta época os mesmos estão todos secos devido a falta de chuva
e por terém sido construidos de maneira inadequada, ou seja, açudes largos e pouco profundos.
Segundo Rocha, Araújo e Schistek (2011) esse formato inadequado dos açudes favorece o
assoreamento e o alto índice de evaporação, com consequente redução do volume de água.
Um sistema de abastecimento de água inicia-se pela captação da água bruta do meio
ambiente, depois há um tratamento adequado para torná-la potável e, por último, há a distribuição
até os consumidores, em quantidade suficiente para suprir suas necessidades de consumo. O sistema

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de abastecimento de água representa o conjunto de obras, equipamentos e serviços destinados ao


abastecimento de água potável de uma comunidade para fins de consumo doméstico, serviços
públicos, entre outras utilidades. Esse sistema pode ser dimensionado para pequenas populações ou
para grandes metrópoles, dependendo da necessidade da localidade. De acordo com Martins (2013),
apenas 30% da população rural tem acesso à água potável, contra 72% nas zonas urbanas.
A água contém, geralmente, diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente
natural ou foram introduzidos a partir de atividades humanas. É de fundamental importância o
conhecimento da população com relação à qualidade da água consumida pelos mesmos, verificar o
tipo de reservatório, as técnicas utilizadas para a sua melhor purificação, o armazenamento e as
condições que a água chega ate as suas casas.
A qualidade das águas é representada por um conjunto de características, geralmente
mensuráveis, de natureza química, física e biológica. Sendo um recurso comum a todos, foi
necessário, para a proteção dos corpos d'água, instituir restrições legais de uso. Desse modo, as
características físicas e químicas da água devem ser mantidas dentro de certos limites, os quais são
representados por padrões, valores orientadores da qualidade de água, dos sedimentos e da biota
(Resoluções CONAMA nº 357/2005, CONAMA nº 274/2000, CONAMA nº 344/2004, e Portaria
N° 2.914/11, do Ministério da Saúde).
Perguntou-se para os moradores da comunidade estudada, qual o tipo de água que os
mesmos consideravam mais adequada para a utilização, ou seja, no entendimento deles o que seria
água de qualidade, tendo em vistas as condições que as mesmas chegam até eles. O resultado
mostrou que 63% consideram que a água da chuva é a água de melhor qualidade para o consumo e
afazeres em geral.

 Armazenamento de água
Outro ponto levantado junto aos moradores da Boa Vista foi à questão do armazenamento de
água em suas residências. Verificou-se, de acordo com os relatos dos moradores, as diversas formas
de armazenamento da água: 18% dos entrevistados armazenam água em caixa de água e cisternas;
16% em pote, tanque, caixa de água e cisterna; 16% em pote e cisterna; 13% em pote, balde e
cisterna; 11% balde e cisterna; 5% tanque e cisterna; 5% em pote, tanque, balde e cisterna; 3% em
pote, tanque e cisterna, e armazenaram a partir de todas as opções apresentadas.
Como se pode observar, em todas alternativas, a cisterna está inclusa devido à comunidade
não ter água encanada. As cisternas são a solução mais adequada para o armazenamento da água,
seguido de potes, que é uma tradição bem antiga na comunidade, e caixa de água que começaram a
ser construídas na comunidade recentemente.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Dados do Censo Demográfico do Brasil (IBGE, 2010) revelam que, no Brasil, 72,2% da
população rural ainda acessa água apenas por meio de poços, cacimbas, açudes e barreiros. No
município de Teixeiras (MG), 85% da amostra utilizam recipientes de cimento como tampa para o
armazenamento de água, 6,1% utilizam recipientes de cimento sem tampa, 4,9% latão e nenhum
deles utilizam pote de barro (AZEREDO et al., 2007).
Levando em consideração que o ser humano desde antiguidade utiliza da natureza como
instrumento de recursos inesgotáveis para atender as suas necessidades, buscando subsídios nas
diversas fontes naturais existentes no planeta e, mesmo tendo dependência para com natureza, os
mesmos degradam o meio ambiente constantemente. Um exemplo disso é o descaso dos
governantes para com a zona rural, pois em pleno século XXI na comunidade de Boa Vista e em
seu entorno não há coleta de lixo, sem falar que os esgotos da comunidade correm a céu aberto. E
cerca de 52% da população queimam o lixo, devido à falta de opção e até mesmos de
conhecimento, levando em consideração que eles não têm nenhuma dimensão do quanto os resíduos
sólidos jogados no ambiente degradam, e 24% responderam que descartam o lixo no ambiente e os
demais praticam os dois atos. Barcellos et al. (2006) realizaram um levantamento na área rural do
município de Lavras (MG) e constataram que não é diferente, 68% do lixo é queimado, e apenas
20% é recolhido pelo poder público.
Ao contrário da zona rural que não há coleta de lixo, na zona urbana esse processo é
realizado cotidianamente, um exemplo disso é na cidade de Angicos/RN, de acordo com Costa et al.
(2011), a coleta de lixo é realizada por trinta e dois funcionários responsáveis por toda a limpeza
municipal, dez são garis e vinte e dois estão distribuídos nos cinco veículos de coletas, que circulam
diariamente em todos os bairros recolhendo os resíduos sólidos municipais.
A arborização é um elemento indispensável ao ambiente, considerando os benefícios como,
por exemplo, o melhoramento do clima, através da diminuição da sensação térmica, o aumento da
umidade relativa do ar, a proteção contra o sol, etc.
Conforme mencionado anteriormente, ao visitar a comunidade fica evidente que a
arborização é praticamente inexistente, devido à queima ilegal de madeira para a fabricação de
carvão e para a venda, pois embora seja ilegal, o que não é desconhecido por alguns, muitos adotam
essa prática como fonte de renda, por não terem outra alternativa.
Mesmo assim, a maioria dos moradores da comunidade, totalizando 53%, afirma que a
mesma é arborizada, devido à falta de conhecimento dos mesmos, quanto ao significado do termo
arborização. Ou ainda por considerarem que a presença de pereiros (Platycyamus regnellii.) e
algumas algarobas (Prosopis juliflora (Sw.) DC.) indicam que a mesma é arborizada, sem levar em
consideração a área desmatada. Outros 43%, relatam que a comunidade não é arborizada, pois tem
plena consciência dos atos de degradação provocados pelos moradores.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho pode-se perceber que os moradores da comunidade Boa Vista/RN
são pessoas humildes, mas ao mesmo tempo pessoas amorosas, que são felizes sem precisar
necessariamente ter uma boa condição financeira.
Apesar de todas as dificuldades existentes na comunidade, é gratificante fazer parte da
mesma, pois lá a união familiar prevalece, e juntos superamos todas as dificuldades. Porém, precisa-
se destacar que, por fazer parte dessa comunidade e sentir na pele todas as dificuldades de viver no
semiárido, torna-se angustiante a falta de iniciativa do poder público no aspecto de melhorar a
infraestrutura da zona rural, tanto na construção de poços, açudes, barragens subterrâneas, como no
saneamento básico.
Também deve haver uma sensibilização por partes dos moradores para que os mesmos não
degradem tanto o meio ambiente: evitando o descarte indevido de lixo, economizando água,
diminuindo (ou cessando) o corte de madeiras. Uma alternativa para minimizar o corte de madeira
seria o plantio de hortaliças orgânicas, tendo em vista que nas cidades próximas há uma grande
carência nesse aspecto. Para que haja melhorias na zona rural é necessário que os moradores se
organizem e lutem pelos seus diretos e não só esperar pelo poder público.
O índice de analfabetismos, principalmente dos mais velhos, é bem acentuado, levando em
consideração que alguns desconhecem sua própria idade. Mas, a maior dificuldade enfrentada é a
falta de água, em decorrência do período de estiagem, sem falar no desemprego e falta de alimentos
para os animais, diminuindo assim com a sua fonte de renda, considerando que é da pecuária que
alguns moradores sobrevivem.
Portanto, espera-se que os resultados obtidos por esta pesquisa sejam primordiais para o
incentivo à tomada de decisões, por parte dos governantes, dando ênfase ao municipal,
considerando todas as questões elencadas ao longo desse trabalho e que retrataram as dificuldades
dos moradores da zona rural objeto de estudo. O ideal é que os órgãos gestores não se limitem
apenas ao planejamento imediato ou unicamente à reparação de problemas, mas que tomem
iniciativas que permaneçam em longo prazo.

REFERÊNCIAS

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visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família. Ciênc. saúde coletiva [online].
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área rural de Lavras, Minas Gerais, Brasil, 1999-2000. Rio de Janeiro, 2006. 743 p.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MEIO AMBIENTE, HÁBITOS ALIMENTARES


SAUDÁVEIS, SAÚDE E CIDADANIA

Suzi de MATTOS
Mestre em Ensino de Ciências de Saúde e do Ambiente
demattos@globo.com

RESUMO
A solução dos problemas ambientais tem sido considerada cada vez mais urgente para o futuro da
humanidade e depende da relação sociedade/natureza, tanto na dimensão coletiva quanto na
individual. A escola é um dos locais privilegiados para o desenvolvimento dessa relação e muitas
iniciativas vêm sendo tomadas em torno dessa questão por educadores em todo o país. A Educação
Ambiental surge como estratégia de instrumento de recurso educacional que auxilia a compreensão
sobre a problemática que envolve o meio ambiente e a qualidade de vida. O presente trabalho é uma
proposta de domínio dos pressupostos inseridos na Educação Ambiental – meio ambiente e
qualidade de vida – relacionando-os à saúde e à cidadania. Objetiva difundir, junto ao corpo
docente do 1° segmento do ensino fundamental, informações, conhecimentos e práticas de como
trabalhar a questão ambiental (preservação/regeneração do solo) vinculando-a a alimentação
saudável. Pretende, ainda, como contribuição geográfica levar a criança de até 10 anos de idade,
através da Educação Ambiental, a perceber, dentre várias questões ambientais que: a alimentação
saudável está diretamente vinculada às questões ambientais – proteção e regeneração do meio
ambiente (solo) e este à produção de alimentos. Através de trabalhos educativos mostrar ser
possível reencontra-se o equilíbrio perdido entre a natureza e o homem, visto a acentuada queda da
qualidade de vida que ocorre a cada dia em seu cotidiano. Em paralelo transmitir à família as
informações e conceitos de uma alimentação saudável associada à preservação e à regeneração do
meio ambiente (solo). Assim, a família incorpora a mudança de comportamento e postura,
auxiliando a criança em sua reeducação alimentar. Desse modo, a Educação Ambiental deve ser
apoiada no tripé: processo de conscientização, prática política e compromisso democrático que a
sociedade civil deve assumir como princípio de cidadania já que são conteúdos previstos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Palavras Chaves: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Qualidade de vida, Saúde e Cidadania.
ABSTRACT
Solution to environmental problems has been considered urgent to humanity future and it depends
on nature/society relationship, both in collective and individual dimensions. School is one of the
best places to develop this relationship and nowadays many initiatives are being done by teachers
and scholars to approach those problems all over the country. Environmental Education rises as an
educational resources instrument which helps the comprehension of environmental problems and
quality of life. The present study is a proposal to Environmental Education domains –
environmental and quality of life – correlating them to health and citizenship. By allying
Environmental Education with health food (soil preservation/regeneration) the study aims to spread
information, knowledge and practices among teachers and educators of Elementary Education.
While using Environmental Education as a geographic contribution, the study also intends to show
children (under 10 years old) how to observe the health food directly bounded to environmental
(soil) preservation/protection and food production as one of the many multi environmental issues.
From these educational practices, it will be possible to show how to rebalance nature and men by
noticing the loss of quality of life day by day. Parallel to these educational practices, it is possible to
transmit information and concepts about health food combined with environmental (soil)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

presentation and regeneration to the family. With this approach, family can change their behavior
and attitude and can help children with food re-education. By that, Environmental Education should
be based on the tripod: awareness process, political practices and the society democratic
commitment assumed by citizenship principals as fixed by Brazilian Curricular Parameters.
Keywords: Environmental Education, Environmental, Quality of Life, Health and Citizenship.

INTRODUÇÃO

A natureza, no século XXI, vem ocupando cada vez mais lugar de destaque sobre os
destinos da sociedade. Contudo, assistimos que há grandes desafios da contemporaneidade junto à
harmonização dos projetos sociais e estilos de vida.
Para que se torne possível uma nova aliança entre a sociedade e a natureza, se faz necessário
investir na temática qualidade de vida, que está conectada com a qualidade do ambiente e a
satisfação das necessidades básicas, para que se obtenha um desenvolvimento equilibrado e
sustentado. O alcance disso requer desafios e esforços comuns visando a harmonizar o
desenvolvimento sócio-econômico com a conservação do meio ambiente, com ênfase para a
preservação dos ecossistemas naturais e da diversidade genética integrando a totalidade da vida.
A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – Rio-92 coloca a qualidade de vida no centro de seus objetivos, quando elabora a
Agenda 21 na forma de um documento estabelecendo ações a serem seguidas no século XXI rumo
ao desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 veio reiterar o Relatório da Comissão Mundial do
Meio Ambiente e Desenvolvimento – Relatório Brundtland (1987) – quando usou a definição para
apresentar a noção de desenvolvimento sustentável: ―a humanidade tem a capacidade de alcançar o
desenvolvimento sustentável – de atender às necessidade do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades‖.
Leff (2001) aponta que a qualidade de vida como finalidade última da realização do ser
humano implica um savoir vivre no qual os valores e os sentidos da existência definem as
necessidades vitais, as preferências culturais e a qualidade de vida do povo.
Em contrapartida, a globalização, fenômeno de transformação do mundo nas últimas
décadas, vem modificando e padronizando o consumo e as atitudes da sociedade.
Essa constatação de consumo vem-se refletindo na sociedade, a partir de padrões de status e
de modernidade, impostos como modelos de qualidade de vida estabelecidos pela economia
globalizada, principalmente na questão relacionada ao processo massificado de produção
econômica direcionada às práticas alimentares.
Contudo, Pardo Díaz (2002:43) propõem que:
―a necessidade de adotar um estilo de vida mais simples implicaria reconsiderar as
prioridades e valores pessoais, prescindindo em grande medida dos bens de consumo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

supérfluos aos quais alguns poucos no planeta estamos acostumados. Para isso seria
necessário adotar dois principais tipos de indicadores da mudança: qualitativo e
quantitativo‖.

Todavia, para abrir mão dessas prioridades e valores pessoais que fazem parte da sociedade
atual, faz-se necessário um processo educativo que permita um comprometimento com a qualidade
de vida e que possibilite ao homem se ver como parte da natureza.
Se há necessidade de um processo educativo para que o homem volte a se ver como parte da
natureza, esta conscientização tem de se iniciar na infância por ser essa faixa etária mais suscetível
a receber, assimilar e transmitir conhecimentos.
Assim, a escola torna-se fundamental para a abordagem de um sistema de educação para a
vida sustentável, envolvendo uma pedagogia cujo centro é a compreensão de o que é a vida.

METODOLOGIA

A pesquisa, por ser de cunho social, pauta-se, basicamente, na abordagem qualitativa.


Com relação aos fins, a pesquisa é descritiva e, quanto aos meios, a pesquisa é participante
por interagir o pesquisador com as pessoas envolvidas no estudo e ser bastante apropriada para a
produção de projetos em Educação Ambiental.
Quanto à pesquisa bibliográfica, o fato do tema escolhido relacionar a Educação Ambiental
como instrumento de resgate da saúde e da cidadania, a pesquisadora não teve acesso a uma
produção literária e/ou acadêmica direcionada especificamente para o tema e que servisse de
embasamento teórico para esse estudo. Para suprir esses fundamentos teóricos, buscou-se, como
opção, trabalhos de autores sobre Educação; Educação Ambiental; Filosofia; Meio Ambiente;
Nutrição e Saúde, além de sites e artigos via Internet abordando todos esses temas.
Como complemento para a elaboração do trabalho, a pesquisadora assistiu a uma jornada e a
um seminário nas áreas de nutrição e saúde onde profissionais abordaram temas relacionando meio
ambiente e alimentação. Também fez visitação à feira e hortas de produtos orgânicos.
Segundo Chizzotti (2003), ―o pesquisador é um ativo descobridor do significado das ações e
das relações que se ocultam nas estruturas sociais‖ (p.80).
Portanto, para a fase do diagnóstico da pesquisa, utilizou-se a técnica de trabalho de campo;
a técnica de investigação através de questionários com perguntas abertas e fechadas; a técnica de
observação direta ou participante; a técnica fotográfica; levantamento bibliográfico; sites e artigos
da Internet.
Outros procedimentos metodológicos utilizados foram: palestra por uma nutricionista;
trabalhos sobre alimentação elaborados por alunos e leitura de materiais didáticos para a confecção
de um livro.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Essa investigação desenvolveu-se na Escola Fundamental de Vila Isabel - 1o segmento, no


Município do Rio de Janeiro, Brasil. O universo da pesquisa delimitou, inicialmente, um total de 30
(trinta) pessoas, envolvendo 6 (seis) professores e 24 (vinte e quatro) famílias como complemento
do estudo.
Justifica-se a escolha do tema pela grande frequência com que a criança consome produtos
industrializados divulgados por campanhas publicitárias, impondo hábitos alimentares inadequados.
Isso ocorre nos lares, nas escolas e em áreas de alimentação de shoppings.

DISCUSSÃO

Para que a proposta de investigação se tornasse viável, considerou-se importante uma


caracterização (descrição das diversidades e particularidades da realidade da escola) constando de
conversas informais junto ao corpo dirigente, corpo docente e corpo discente. O primeiro grupo
trabalhado foi o corpo dirigente e o corpo docente. Em parceria com o corpo dirigente, estabeleceu-
se o universo que seria selecionado para a pesquisa do estudo. A partir da delimitação do universo a
ser investigado, foi feito um levantamento das áreas de atuação do corpo docente, seu grau de
escolaridade, tempo de magistério, matérias e classes que trabalham, incluindo as respectivas faixas
etárias dos alunos.
O segundo grupo trabalhado foi o corpo discente, que foi entrevistado informalmente sobre
o que entendia por Meio Ambiente e Educação Ambiental. Constatou-se que as primeiras noções da
temática ambiental são passadas sem o comprometimento de práticas ambientais.
De posse dessas informações, passou-se para a coleta de dados, a partir da caracterização
realizada na Escola Fundamental de Vila Isabel - 1o segmento do ensino fundamental.
Utilizou-se a técnica de observação direta durante a chegada e busca dos filhos na escola
com o objetivo de traçar o perfil dessas famílias. Para a aproximação da família com o estudo,
realizou-se, na escola, uma palestra com uma nutricionista sobre a importância, os benefícios, os
problemas e as consequências da alimentação da criança na faixa etária escolar de 5 a 10 anos.
Posteriormente, aplicou-se a técnica de investigação  questionários  direcionada ao corpo
docente e às famílias. Com os professores, objetivou-se sondar conhecimentos, conteúdos, práticas
e dificuldades de como tratar as questões ambientais e alimentares em sala de aula. Em relação à
família, buscou-se colher informações a respeito do comportamento familiar quanto à qualidade de
vida do filho (a) em seu cotidiano.
Os resultados dos dados coletados, tabulados e analisados dos questionários junto ao corpo
docente e às famílias, revelaram que: a temática ambiental ainda é tratada de forma tímida e
fragmentada em sala de aula e os hábitos alimentares estão incipientes como tema transversal no
ensino fundamental do 1o segmento pelos professores e que as famílias vivem, atualmente, um

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

padrão consumista de alimentos altamente calóricos e de baixos valores nutricionais sem a


preocupação com uma melhor qualidade de vida.
Assim, como produto final do estudo, elaborou-se um livro, com abordagem interdisciplinar,
como proposta de trabalho para os professores junto à criança da faixa etária escolar de até 10 anos
de idade.

Educação Ambiental: instrumento de resgate da saúde e da cidadania

Sabe-se que os hábitos salutares vêm sendo descaracterizados em função, principalmente, do


crescimento das redes fast-food em todo o mundo. No Brasil, essas redes vêm influenciando a
mudança de hábitos e atingindo cada vez mais um crescente número de crianças de até 10 anos de
idade que consomem produtos industrializados, divulgados por campanhas publicitárias, que
impõem hábitos alimentares inadequados. Isso ocorre nos lares, nas escolas e em áreas de
alimentação de shoppings.
E o que tem contribuído para essa opção alimentar da criança nas últimas décadas?
Dentre diversos fatores, um é o econômico. Esse, principalmente, em função da entrada da
mulher (mãe) no mercado de trabalho contribuindo para o orçamento familiar. Com isso, diminuiu-
se o tempo de permanência da mulher (dona de casa) no lar, deixando de preparar, muitas vezes, as
refeições diárias com produtos mais saudáveis, substituindo-os por refeições compradas em
supermercados ou lojas especializadas que fornecem comidas semiprontas e/ou prontas, congeladas
e de fácil preparo.
Outro fator é o mercado das indústrias alimentícias, que investem cada vez mais na venda de
seus produtos, apresentando-os em embalagens atrativas e com grande apelo em seus rótulos, o que
provoca a preferência dos pais no momento da compra.
Além disso, a participação da propaganda maciça, veiculada pela mídia, de oferta de brindes
junto aos produtos vendidos pelas redes fast-food, torna-se um permanente meio de atração para a
criança, levando-a ao consumo desses produtos de forma sistemática e compulsiva.
Concomitantemente, acresce o hábito, cada vez mais presente, da criança em permanecer
por horas/dia sentada em frente ao computador, videogame, televisão e uso de celular, muitas vezes
acompanhada do consumo de gulodices.
Mesmo assim, não adianta proibir a venda de produtos industrializados. Depois que os
hábitos alimentares são adquiridos, mudá-los é muito difícil, porém não impossível.
Segundo Bassoul, Bruno, Kritz (1998), o intenso processo de aprendizagem por que passa a
criança, inicialmente em casa com a família e posteriormente nas creches, escolas e junto aos
colegas, necessita de informações sobre alimentação.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Assim, para esses autores, o período ideal para se obter esses ensinamentos é na infância:
―aprender a comer é o primeiro passo para a criança saber cuidar da sua própria saúde‖ (p.54).
Essa mesma visão tem Angelis (2003) ―quanto mais cedo os hábitos saudáveis forem
ensinados, melhor será a manutenção futura, sem a sensação de ser um castigo‖ (p.67).
Por outro lado, a autora afirma que não se deve proibir a criança do consumo de certos
alimentos, mas, sim, ―reduzir o abuso de gulodices enfocando a necessidade de incluir alimentos de
origem vegetal para garantir o consumo de fibras‖ (p.71).
Diante dessas informações, a mudança alimentar deve ser iniciada na infância e a família
precisa cooperar e colaborar para a necessidade de rever seus hábitos alimentares, colocando em
prática a reeducação alimentar em casa.
Ante o exposto, a instituição escolar também pode cooperar e colaborar para minimizar o
excesso de consumo desses produtos industrializados pela criança de até 10 anos de idade.
Em artigo publicado no jornal O Globo - Caderno Opinião, de 23/04/2004, p.7, que tem
como título: ―Falta uma educação alimentar‖, Luiz Eduardo Rocha Lima argumenta que a escola,
quando vista como um espaço privilegiado de promoção da alimentação saudável e da atividade
física, pode contribuir com ações preventivas de combate à obesidade, ou seja, criar um programa
de educação alimentar que facilite a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Ações educativas de
promoção da alimentação saudável devem ser inseridas no projeto pedagógico e os professores
precisam ser sensibilizados da importância do tema, revendo sua própria relação com a alimentação,
numa dimensão histórica, cultural e emocional. Finaliza reforçando que é importante também que
essas ações e seus efeitos atravessem os muros escolares e alcancem a sociedade como um todo,
não se delegando somente às escolas a responsabilidade de proteção, apoio e estímulo às práticas
saudáveis na vida de nossas crianças e jovens.
Há um consumo desenfreado de produtos industrializados, artificiais e de baixos valores
nutricionais pela criança nessas instituições, substituindo, muitas vezes, o lanche e o almoço
caseiro.
Em paralelo, a criança utiliza-se de outras vias de consumo que são: os produtos oriundos de
seus domicílios; das redes de fast-food espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro e/ou o comércio
alimentício formal e/ou informal modelar que hoje cresce nas imediações dessas instituições de
ensino. A questão é cultural.
Dessa forma, é fundamental a participação da escola como o segundo agente socializador
junto à base da pirâmide etária através da educação formal, ou seja, através da Educação Ambiental.
E de que maneira a escola, como instituição educacional e os professores, como educadores,
podem reverter essa questão cultural que vem degradando, de forma compulsiva, a qualidade de
vida da sociedade atual?

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Não cabe aqui se deter nos embasamentos teóricos visto que o público alvo selecionado
como sujeito a ser trabalhado e conscientizado é a criança de até 10 anos de idade, mas, sim, adotar
linguagem e práticas educacionais simples e objetivas. Contudo, falar sobre Educação Ambiental
para criança requer a abordagem de assuntos que produzam resultados ao alcance dela.
E de que forma essa abordagem pode ser concretizada pela escola e pelo corpo docente junto
à criança?

QUADRO 1 – ESCOLA – EDUCAÇÃO AMBIENTAL – QUALIDADE DE VIDA

AGENTE EDUCAÇÃO ALIMENTAÇÃO

SOCIALIZADOR AMBIENTAL SAUDÁVEL

TRANSMITIR MEIO SAÚDE E


CIDADANIA
CONHECIMENTOS AMBIENTE

Fonte: Suzi de Mattos

Ao se transmitir informações e se conscientizar a criança da importância de uma reeducação


alimentar, será possível sensibilizá-la para a busca de uma melhor qualidade de vida e um meio
ambiente sadio.
A educação e a saúde almejam a transformação das práticas individuais em práticas
coletivas, no sentido de mudar uma determinada realidade.

Síntese Para a Qualidade de Vida

Um passo importante a ser concretizado pela escola é implantar uma merenda saudável,
visando a melhorar os hábitos alimentares e, ao mesmo tempo, integrar a criança ao meio ambiente.
E qual a importância de se colocar para a criança a merenda saudável e inseri-la em seus
hábitos alimentares?

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na visão de Vilar et al. (2002), para se obter uma melhor qualidade de vida, devem-se tomar
medidas preventivas. É preciso que a população se conscientize de que o trabalho da educação
alimentar deve ser iniciado na infância e na adolescência, evitando-se que eles cheguem a sofrer
graves danos psicológicos e de saúde geral no presente e no futuro.
Por outro lado, é importante ressaltar que esta proposta não deve estar restrita apenas ao
espaço escolar. Mas, sim, presente em nosso cotidiano.
Nesse sentido, a cooperação e a colaboração dos responsáveis pela criança são fundamentais
tanto junto à escola como em casa.
Ainda de acordo com o artigo Falta uma educação alimentar, de Luiz Eduardo Rocha Lima,
publicado no jornal O Globo - Caderno Opinião, de 23/04/2004, p.7 a escola tem uma função
significativa no processo de educação, formação de hábitos e de respeito a valores, porém, o
objetivo que se deseja alcançar de uma população saudável só será conseguido com a firme
participação da família. Para o autor, faz-se imprescindível que a família se engaje e procure
também preparar os lanches que serão consumidos na escola, em acordo com o projeto alimentar
que a escola possa adotar junto à criança. Assim, estará contribuindo para o sucesso da medida
adotada, aumentando a proteção da criança e diminuindo sua exposição aos alimentos
industrializados. Sem isso, a criança, fora da escola, sempre cairá na tentação de alimentos nocivos
impostos por uma propaganda comercial maciça e eficaz.
Contudo, Vilar et al. (2002) argumentam que por ser difícil para os pais controlarem essa
situação, é muito importante o limite. Para esses autores, ―nenhum alimento é proibido ou engorda
mais do que outro; tudo depende da quantidade e da frequência com que os comemos‖ (p.57).
Se pesquisadores, profissionais de diferentes segmentos e mídia estão preocupados no que
diz respeito aos rumos do meio ambiente, da saúde, cidadania da população em geral e das futuras
gerações, por que a instituição escolar ainda está tão tímida nesse campo de discussão e trabalho?
A instituição escolar precisa olhar, se auto-avaliar e tomar conhecimento de que a questão
ambiental e alimentar não é para ser abordada apenas por especialistas da área de meio ambiente e
de nutrição, mas, ao contrário, tem que ser discutida e tratada pela escola e pelo corpo docente visto
ser a escola a segunda instituição socializadora do homem. Seria importante que se engajasse
efetivamente nesse tema a partir do processo de discussão e conscientização junto ao corpo docente,
ao corpo discente e à família.
Portanto, deve-se buscar o desenvolvimento de procedimentos que contemplem duas
dimensões: teorias e práticas.
A escola é, seguramente, capaz de fomentar esses procedimentos através da Educação
Ambiental se o sistema educacional adaptar-se às mudanças de postura e de comportamento tão
difíceis de serem colocados em prática dentro da instituição escolar.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1610


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Por ser um problema que vem afetando a todos, e mais recentemente à criança, não se pode
recuar diante das dificuldades, é preciso ousar e buscar soluções.
Como obra de colaboração aos professores do 1º segmento do ensino fundamental, foi
editada, pela autora do presente estudo, o livro Educação Ambiental: instrumento de resgate da
saúde e da cidadania para ser trabalhado pelos professores junto à criança da faixa etária escolar de
até 10 anos de idade.

E o porquê do livro?

Em primeiro lugar, é uma contribuição ao corpo docente como auxílio para tratar e
relacionar as questões ambientais e a alimentação saudável. Ao mesmo tempo, o livro é uma
semente a ser lançada pela Educação Ambiental junto à instituição escolar na busca da criança ver-
se como parte integrante da natureza e poder optar, quanto mais cedo possível, à aquisição de
hábitos alimentares saudáveis visando a uma melhor qualidade de vida com saúde e cidadania.
O objetivo não é impor novos hábitos alimentares, mas, sim, alertar a respeito da falta de
limite do homem com a natureza (solo) e com a saúde (alimentação).
O que se pretende é transmitir informação, conhecimento e conscientização à criança,
através de trabalhos educativos, mostrando ser possível reencontrar-se o equilíbrio perdido entre a
natureza e o homem, visto a acentuada queda da qualidade de vida que cresce a cada dia em seu
cotidiano.
Espera-se que o livro seja um começo de reflexão e prática para todos que buscam e querem
a construção de uma vida melhor de resgate da saúde e da cidadania.
Ajudar a criar um futuro melhor para as gerações vindouras é algo que está ao alcance de
todos e a escola é um dos meios de comunicação apropriada para se alcançar este objetivo.

CONCLUSÃO

Se saúde é qualidade de vida, a escola, por ser um espaço onde se constituem os cidadãos
desses direitos, em muito pode contribuir com essa qualidade através de práticas de ações realizadas
pela Educação Ambiental.
Contudo, passar informações e recomendações por si só não basta para provocar mudanças
de atitudes e comportamentos, porém, este é o papel mínimo que a escola deve desempenhar junto à
criança, visto a realização da Educação Ambiental ser possível com a premissa básica, o diálogo.
Sabe-se que é uma tarefa árdua concedida à Educação Ambiental para se revir conceitos,
valores e despertar nas pessoas a visão crítica da realidade vivenciada. Fazê-las repensarem os
hábitos de consumo, valores e atitudes de forma a promover mudanças cognitivas e
comportamentais em prol da qualidade de vida é difícil, mas não impossível.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1611


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Se alimentação inadequada e pouca atividade física estão fazendo com que a criança se torne
obesa, o mais apropriado é que a escola desempenhe um papel importante de implantação e
desenvolvimento de projetos direcionados à educação alimentar, já que esta é conteúdo previsto nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Deste modo, a criança aprende e transmite à família as informações e conceitos de uma
alimentação saudável associada à preservação e à regeneração do meio ambiente (solo). Assim, a
família incorpora a mudança de comportamento e postura, auxiliando a criança em sua reeducação
alimentar.
Ante ao exposto, a pesquisadora concluiu que não se pode, como educadora, cruzar os
braços e aceitar pacificamente que não há soluções para os problemas identificados pela pesquisa.
Diante disso, se não houver parcerias entre escola, corpo docente, corpo discente e família,
qualquer projeto que venha a ser desenvolvido dentro da Instituição Escolar, relacionando meio
ambiente e alimentação saudável, acrescentará a lista dos já existentes no processo educativo em
que a teoria sobrepuja a prática.
Sumarizando, a Educação Ambiental, por reunir as melhores condições de abordagem para
tratar a questão ambiental associada à educação alimentar como tema transversal em todas as
disciplinas, pode ser a solução que se busca para reverter à situação no processo educativo descrito
acima: prática sobrepujando a teoria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGELIS, Rebeca C. de. Riscos e Prevenção da Obesidade: fundamentos fisiológicos e


nutricionais para tratamento. São Paulo: Editora Atheneu, 2003.

BASSOUL, Elian; Bruno, Paulo; Kritz, Sonial. Nutrição & Dietetica. Rio de Janeiro, Ed. Senac
Nacional, 2ª ed. 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Meio


Ambiente/Saúde. Vol.9. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2003.

LEFF, Enrique. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 2ª ed.


Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis, RJ. Vozes, 2001.

LIMA, Luiz Eduardo Rocha. Falta uma educação alimentar. O Globo. Rio de Janeiro, 23 de abril
de 2004, Caderno Opinião, p.7.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1612


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

MATTOS, Suzi de. Educação Ambiental: instrumento de resgate da saúde e da cidadania. Rio de
Janeiro, Eds Multifoco/Publit, 2011/2006.

Educação Ambiental: caminho da alimentação saudável. Rio de Janeiro. Ed. Multifoco. 2012.

PARDO DÍAZ, Alberto. Educação Ambiental como projeto. 2a.ed.,Porto Alegre:Artmed, 2002.

RIO+20. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Nosso Futuro
Comum. Disponível em: http//www.onu.org.br/rio20/documentos/.

VILAR, Ana Paula Ferreira e et al. Uma medida de peso: manual de orientação para crianças e
adolescentes obesos e seus pais. São Paulo: Celebris, 2002.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Patrimônio Cultural
e o Saber Ambiental

© Claudia Neu

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

OS VAQUEIROS E AS PEGADAS /DERRUBADAS DE BOIS NO CARIRÍ


NORDESTINO

Maria de Lourdes SOARES


Professora Doutora UFPB - CCHLA
marialsc@terra.com.br

RESUMO
Nosso objeto são as práticas tradicionais locais, como as "pegas de gado" e "corridas de morão",
como forma de enfrentar os problemas de ordem sócio-ambientais, em ambiente adverso. Práticas
marcadas pelas incertezas e pelas necessidades e desejos. Para estudar e melhor entender os
vaqueiros e suas práticas das "pegas de gado" e as "corridas de morão", no Cariri paraibano, foram
utilizados materiais bibliográficos e documentais e pesquisa em empírica em loco, no Cariri
paraibano. Para melhor entender as "pegas de gado" e as "corridas de morão", foi feito um resgate
histórico das atividades dos vaqueiros nas fazendas de gado e seu desenrolar nas "festas de
apartação", nas pegadas de boi, nas ―corridas de morão" e nas "vaquejadas". Estes para
compreender como e porque estas atividades se desenvolveram e sobreviveram no Cariri paraibano
mesmo com a retração da criação bovina, conservando o bioma e não maltratando os animais e
contribuindo com a sobrevivência do homem de forma mais sustentável.
Palavras-Chave: Vaqueiros, pegadas, derrubadas, Cariri, Nordeste.

RESUMEN
Nuestro objetivo son los hombres frente las adversas y las incertidumbres ambientales pero con
prácticas tradicionales locales para hacer frente a los problemas sociales y ambientales. Con las
prácticas tradicionales tales como las "pegas de gado" y las "corridas de morão" que articulan las
necesidades y los deseos presentes y futuras. Para comprender mejor las "pegas de gado" y las
"corridas de morão", tenemos que hacer una revisión histórica de las actividades de los vaqueros en
los ranchos de ganado y su desarrollo en los partidos del apartation de las huellas de bueyes, las
"pegas de gado" y las "corridas de morão". Para entender cómo y por qué estas actividades han
evolucionado y sobrevivido en el Cariri de la Paraiba, en el Barsil, Con la retracción de la cría de
ganado, manteniendo el bioma y no maltratando a los animales y contribuyendo con la
supervivencia del hombre de una manera más sostenible.
Palabras Clave : Vaqueros , recoredo , abajada, Carirí , Nordeste

INTRODUÇÁO

A região Nordeste, vai desde a porção leste do Maranhão até o Norte de Minas Gerais, com
quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados, representando quase 20% das terras do Brasil onde
vivem aproximadamente 30% dos brasileiros, algo em torno de 45 milhões de habitantes.
Representa demograficamente uma área de repulsão populacional, aspecto que se observa desde o
início do século e que fornece migrantes para outras regiões do país (IBGE, 1991).
O Nordeste apresenta os mais elevados índices de pobreza do país, além dos problemas de
analfabetismo, de desnutrição, de mortalidade infantil, de subemprego, submoradia e falta de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

assistência. Com a economia regional controlada pelas oligarquias locais, do ponto de vista sócio-
econômico, apresenta os mais elevados índices de pobreza do país (Ibid., 1987:24).
Constituindo de diversas áreas naturais e econômicas: a zona da mata açucareira, cacaueira e
petroquímica, com importantes centros urbanos e grande concentração demográfica; a zona de
transição agrestina entre o Sertão e o Litoral marcada pela pecuária e policultura, o Meio Norte
maranhense, ou zona dos cocais de atividade extrativa; o Sertão semi-árido com o domínio da
Caatinga, marcado pela agricultura e pecuária extensiva e pela extensa área do ―polígono das secas‖
que se estende por mais 1.510 municípios da região.
O Semiárido representa 13,5% das terras brasileiras e mais de 74% da Região Nordeste
(Mendes, 1987:20), onde vivem aproximadamente 20 milhões de habitantes. Território
ecologicamente recheado de contradições e fragilidades, sendo as estiagens fenômenos que
desorganizam a economia local e tornam mais críticos os problemas sociais. As dificuldades de
acesso aos recursos naturais e econômicos, particularmente hídricos, relações sociais cristalizaram
uma cultura de enfrentamento as prolongadas estiagens e a falta de água que estabeleceram
diferentes costumes considerados vitais a sobrevivência.
Pois, desde o século XVII, as atividades ligadas à agropecuária e ao extrativismo se
expandiram pelo território, de forma extensiva e predatória, apoiadas na idéia colonial de ocupação
de forma global sem preocupações com os impactos que tais atividades pudessem causar a este
meio e as condições físicas da natureza (Mendes, 1987). Nesse contexto se encontra a área do Kariri
que na etimologia da palavra tem relação com as lendas dos povos indígenas que remete Kariri,
Cariri, cairiri ou quiriri, do tupi kiriri, "silencioso" ou ―originados de um lago encantado‖, e passou
a designar principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil, denominados
genericamente de tapuias e vinculados ao tronco linguístico macro-jê.
O berço da nação Kariri (diversas tribos). Os Ariú vindos do Sertão do Ceará e do Rio
Grande do Norte, os Sukurú vindos do Vale do Pajeú ao Sul de Pernambuco. Tribos que ocuparam
a região e em alguns trechos receberam o nome do grupo lingüístico dos Kariri. Habitavam as
margens do Rio São Francisco cultivando mandioca, milho, fumo e algodão e praticando a caça, a
pesca e a coleta. Para tanto, a terra constituía o celeiro natural e a própria razão de existência da
comunidade (EGLER & MOREIRA, 1985:16).
Com a intensificação das ocupações pelos conquistadores (colonos, bandeirantes e
sesmeiros) e a constituição das fazendas de gado, o aldeamento das nações indígenas Kariri e
Tarairiú (Sukurú, Ariú, Icó e Paiacú, Canaió) foram intensificadas a espaços próximos às bacias
hidrográficas e aos açudes das áreas de exceção dos Sertões e do Cariri, do Agreste e do Brejo
paraibano. E seguindo as margens do rio Piranhas (PB), as regiões chamadas dos Cariris Velhos, ou
do rio Jaguaribe (CE), os Cariris Novos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Microrregião do Cariri Oriental paraibano, identificada também como Médio Sertão dos
Cariris Velhos no Planalto da Borborema, constitui um setor cristalino do maciço da Borborema
demarcado pelo Curimataú, Cariris do Paraíba e Cariris de Princesa. Área conhecida nacionalmente
como triângulo mais seco do Brasil (Cabaceiras/Cariri, Barra de Santa Rosa/Curimataú e Seridó
riograndense).
Região marcada pela predominância do clima Bsh e Aw‘/Semi-árido (segundo W. Koppen )
quente seco e subúmido nas áreas de serras e depressões, com chuvas de verão e temperaturas
médias anuais superiores a 24ºC. Durante o período de 75 anos, as medições pluviométricas
registraram taxas mínimas de 138,0 mm e média de 391,2 mm e máximas de 1.035mm distribuídas
irregularmente, ocasionando estações secas que atingem 11(onze) meses.
Mendes (1987) afirma que a especificidade da caatinga é a vegetação de savanas e esterpes
que, nos períodos de secas prolongadas, entram em um estado de latência, ficando aparentemente
mortas: perdem as folhas e os galhos ficam como estivessem secos e estacionando o crescimento.
Mas, quando ocorre qualquer chuva, nota-se uma verdadeira explosão de vida, com as plantas
rapidamente renascendo, verdejantes e floridas.
A vegetação do tipo caatinga nos terrenos cristalinos apresenta aspectos distintos, de porte
arbóreo abustivo que se distribuem gradativamente ou caráter hiperxerófilo, típicas de terrenos com
escassez de água que se transformam em plantas secas, algumas sem folhagens, espinhosas, tipos
bromeliáceas e cactáceas. Variações determinadas por fatores vitais tais como: baixo índice
pluviométrico, temperaturas elevadas durante a estação seca, provocação de aridez e incapacitação
do solo. Pois, sendo o solo predominantemente raso e pedregoso ou com afloramentos cristalinos,
com processo de escorrência maior que a infiltração e desprovido de águas armazenadas no lençol
freático ou de superfície (rios e açudes) inviabilizam a absorção da água.
Um lugar onde as riquezas naturais e produzidas pelo trabalho humano estão concentradas
nas mãos de fazendeiros com relações sócio-econômicas profundamente estratificadas e muitos
vivem em ambiente recheado de incertezas, como em uma ―roda de fumaça‖ (ATLAN, 1992, p 9).
Onde a resistência do povo teima em viver onde a natureza exige um preço elevado para os que
ficam e no dizer e cantar de Luiz Gonzaga para os que ―só deixam o meu Cariri no último pau de
arara‖.
Um lugar com natureza castigada pelo calor, pela seca, pelos espinhos e solos pedregosos,
salinos e pouco úmidos, de raiz cultural indígena, onde o ―religare‖ dos homens com a natureza
continua muito forte. E enfrentando as adversidades da natureza e os problemas de ordem sócio-
ambientais cultuais desenvolveram e conservaram práticas de convivência com a Região Semiárida.
Costumes e tradições locais tradicionais e sustentáveis, vinculando o mundo natural e humano, uma
percepção e simbolização da ―natureza mãe‖ (BOFF, 1993, p 39) embebidas pelos ritmos

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

acelerados da modernização. Diante da retração da criação bovina, buscaram alternativas de


sobrevivência conservando o bioma e não maltratando os animais, como as "pegas de gado" e as
"corridas de morão".

METODOLOGIA

As Fazendas de Gado do Carirí, os Vaqueiros as "Pegas De Gado" e as "Corridas de Morão".

Nas fazendas Sertão do Nordeste, donos dos curais, geralmente viviam no litoral, longe de
seus domínios, usufruindo de suas imensas e distantes sesmarias. As fazendas ficavam com os
vaqueiros e outros trabalhadores do eito que, como servos submissos, eram responsáveis pela
criação e pelo pequeno cultivo. Nas grandes áreas de pastoreio os poucos vaqueiros cuidavam das
propriedades: da terra, das casas, do gado, dos cavalos e das culturas de alimento, sendo fieis aos
seus patrões. O trabalho era árduo, desenvolviam a pecuária extensiva e a agricultura para abastecer
a região açucareira e suas famílias.
Os vaqueiros, uma mistura de nativos e colonos do além mar, um tipo étnico que provinha
do contacto do branco colonizador com o indígena, de fenótipo predominantemente brancóide e
magro marcado pela cabeça chata enterrada nos ombros e espírito aventureiro e sentimento de
liberdade, não se adaptando ao sedentário e disciplinado labor agrícola, voltou-se para a dinâmica
do pastoreio nos sertões brasileiros, com o grande ciclo econômico da criação do gado.
Darci Ribeiro (1997, p 343), colocava estes como resultantes de uma miscigenação
continuada dos grupos indígenas dos sertões, vindo de cruzamentos possibilitados pelos roubos ou
acolhimentos de indígenas nos criatórios. Apesar de toda a hostilidade que se desenvolveu entre
vaqueiros e índios, submetidos a mais ignominiosa exploração, sem muitos meios para enfrentar a
aridez do lugar e o isolamento, transbordavam sentimentos de superexcitação, uma exacerbação de
sentimentos.

O sertanejo arcaico caracteriza-se por sua religiosidade singela tendente ao messianismo


fanático, por seu carrancismo de hábitos, por seu laconismo e rusticidade, por sua
predisposição ao sacrifício e à violência. E, ainda, pelas qualidades morais características
das formações pastoris do mundo inteiro, como o culto da honra pessoal, o brio e a
fidelidade as suas chefaturas.

Os vaqueiros mergulhados na natureza inclemente eram fundamentais nas fazendas de gado.


Auxiliados por outros moradores e ajudantes das redondezas das fazendas onde moravam,
desenvolviam trabalhos árduos e cotidianos. Estes costumavam percorrer as fazendas, fiscalizar as
pastagens, as cercas e as aguadas, cuidar dos rebanhos, abrir caminhos e bebedouros, conservar as
cercas, queimar os campos, matar as onças e cobras, extinguir onças, cobras e morcegos, abrir
bebedouros. E, como o gado vivia solto, conduzia os rebanhos pelas caatingas e recolhia às mangas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

para curar ―as bicheiras‖ /feridas e ―marcar/ferrar‖ os animais. O processo de ferrar era feito
utilizando um ferro em brasa para, em cada cabeça, colocar a marca dos donos.
Depois do inverno, quando os riscos de ―bicheiras‖ desapareciam
assinavam/ferravam/marcavam o gado com a marca do dono indicando a posse dos animais.
Inicialmente as marcas eras feitas somente com cortes nas orelhas, depois nestas foram adicionando
sinais de fero80 em brasa em contato com o couro, geralmente pás ou ancas, do animal, indicando a
fazenda e o criador.
Muito habilidosos os vaqueiros, quando necessitavam enfrentar os problemas da falta de
água, conduziam o gado, ida e volta, por dezenas de quilômetros até os bebedouros distantes.
Comumente mansos e altivos, desajeitados e recurvos, na sua calmária sabia apreciar a paisagem
horas a fio imóvel, olhando a vegetação cinzenta e monótona, enquanto os rebanhos pastavam
molemente a vegetação ressequida dos "gerais".
Os vaqueiros também davam ordens aos trabalhadores e aos agregados, recebendo como
recompensa pelo trabalho e pelo cumprimento fiel do contrato de parceria, à moradia e a
―quarteação‖ (quarto da produção de gado), com a prestação de conta tendo como garantia a
honestidade e seu crédito moral. Como percorriam a fazenda, fiscalizando as pastagens, as cercas e
as aguadas (fonte, rio, lagoa ou qualquer manancial existente numa propriedade agrícola), passavam
grande parte do tempo montados a cavalo
Como o gado multiplicando-se às gandaias, necessitava conduzir o gado de fazendas a
fazendas e quando acontecia um espantado, um encontro imprevisto com uma seriema assustada ou
um caititú descuidado que sorvia as últimas gotas de uma "ipueira" e uma rês transmalhava-se,
retesava-se rápido, o deselegante cavaleiro, curvava-se e disparava desenfreiadamente caatinga
adentro, levando a vencida: tal como as investidas brutais dos tapires ou as debandadas às cegas,
das emas fugazes. Deitado ante ao dorso da cavalgadura e protegido da cabeça aos pés, pela sua
roupagem de couro, lá se ia o bravo vaqueiro, quebrando e estalando secas contorcidas das galharias
na perseguição tenaz do animal desgarrado. E só cessava esta insensata perseguição, mas corajosa
disparada, ao trazer de novo a rês à sua tropa.
Os vaqueiros tentavam aprender o abc para conhecer os ferros ou as letras para tatuar os
animais das fazendas onde viviam, assim como as circunvizinhas. Quando não conseguiam estudar
ou aprender ler e escrever, simplesmente aprendiam de cor, tanto os ferros quanto as reses de que

80
Aderaldo Ferreira (1999: 17) apresenta os ferros ou ferretes como compostos por um corpo principal denominado
MESA ou CAIXÃO e por divisas. As MESAS são bases familiares dos ferros usados em todo o Brasil, individualizadas
ou fundamentadas em sinais de uso corrente, lineares ou curvas, na conceituação de uma heráldica ruralista, composta
por Gustavo Barroso e adotada por Ariano Suassuna, com o nome de haraldica sertaneja. As divisas são sinais
diferenciais acrescidos a mesa pelos ramos familiares e seus descendentes, geralmente orientados e organizados
segundo uma simbologia bem característica e bem definida pela tradição rural nordestina, fundamentadas em linhas
retas, em linhas curvas e na composição de retas e curvas.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

cuidavam, muitas vezes, pelos nomes, genealogias, idades e hábitos. Para quando surgir um animal
alheio reconhecer e devolver o bicho, prontamente, ao dono.
E quando não conseguiam localizar de imediato o dono, conservavam o intruso, tratando-o
ferando-o/marcando-o com sinal próprio, até aparecer alguém reclamando o bicho. Quando o dono
não aparecia, deixando-o morrer de velho. Se fosse uma fêmea, ferrava-a e seus descendentes com o
mesmo sinal desconhecido e, de cada três, marcados para o dono um bezerro era separando para si,
isto é, sua ¨paga¨. Estabelecendo com o patrão desconhecido o mesmo contrato que tinha com o
conhecido. Sucedia-se que, somente depois de muitos anos apaceria o dono, identificada a marca, o
patrão feliz recebia a cria e os produtos dela decorrente, que lhes eram de direito.
Probidades dos vaqueiros e dos demais matutos trabalhadores observadas pela fortaleza
física e moral que possibilitava os patrões ficarem muito tempo ausente. E voltar a terra somente
para ajuste de contas no final do inverno. Quando o gado era separado, a maioria dos animais com
impressão do sinal da fazenda e um quarto com gravação de sinal particular, a parte pertencente aos
vaqueiros.
O comum era os vaqueiros não venderem sua parte, mas a conservar como possibilidade de
acumular certo número de animais, para instalar em terras mais ermas um pequeno criatório. Terras
que poderiam ser compradas ou arrendadas, ou simplesmente ocupadas, quando ainda não eram
conhecidas nem alcançadas pelas sesmarias.
Nesta situação era costume os vaqueiros não matarem parte do gado, as vacas que
estivessem dando leite e os bois com capacidade reprodutiva. Somente se desfazia de um destes
animais quando estes não tinham mais serventia ou quando tinham grandes necessidades das carnes
para suprimentos. Considerando que a carne de um animal para consumo, acabava em poucos dias e
o leite era a maior garantia de sobrevivência na aridez do sertão.

Os Vaqueiros, as Pagas, Apartações, Derrubadas, de Bois

Entre as muitas tarefas dos vaqueiros destacam-se: reunir e contar as cabeças de gado,
aparelhá-las e separá-las por fazenda ao findar do dia ou do mês, reunir os bezerros à tarde para
dormirem presos para garantir a ordenha das vacas pela manhã e curar os animais doentes das
moléstias. As bicheiras eram feridas atacadas por larvas da mosca varejeira, quando um animal
tinha o mau, isto é, os vermes da bicheira. Quando era localizado um animal com ―bicheira‖, isto é,
quando um animal doente era localizado, um remédio usado nas curas eram as ervas e as rezas,
também era usado o pó de café.
Quando os vaqueiros não conseguiam localizarem ou verem o animal doente (boi, torro ou
rês) curava ―pelo rastro¨, pelo cabelo ou com a ‖embira,― pelo rumo. Bastava apenas voltar-se na
direção possível do animal e tracejar, no chão, inextricáveis linhas cabalísticas, rezando e passando

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

um ramo verde sobre o rasto do animal ou cobrindo o rasto com uma pedra ou, ainda, batendo com
uma pedra em três rastos do animal rezando. Getúlio César registra uma oração:
No Sertão do Nordeste, na labuta com o gado a mais difícil e ariscada tarefa dos vaqueiros
era pegar/campear o gado, em campo aberto, espalhado na caatinga, principalmente. Quando fugia
algum boi ou quando simplesmente necessitavam verificar, juntar ou procurar animais soltos para
prender com a finalidade de vender, trocar, apartar, marcar, etc.
Pois, a pega/junta de animais desaparecidos exigia grande habilidade dos vaqueiros e dos
cavalos para levarem avante as arremetidas na caatinga adentro, no encalço das reses fugitivas, ou
varando-a freqüentemente em viagem. Tarefa que, quando os vaqueiros percebiam que não
poderiam conseguir sozinho desempenhar a tarefa, pediam campo. Ajuda dos companheiros mais
próximos, geralmente vizinhos que, aos dez ou aos vinte, escanchados em cavalos ou em burros,
campeavam os bichos soltos, isto é, juntavam e guiavam o rebanho. Para reunirem maior número de
bois de diferentes fazendas convizinhas, em um compáscuo único e enorme, complanada e limpa,
sem cercas e sem valas, os vaqueiros necessitam de jornadas e de quantidades maiores de vaqueiros.
Comumente os lugares escolhido para o ajuntamento, para a congregação da
vaqueirama/gadaria das fazendas ou das circunvizinhas, para identificação, para a marcação, para
apartação do gado, eram comumente chamados de rodeadores. Onde o gado de cada vaqueiro
presente era divididos em lotes e distribuídas as funções que cabia a cada um na lida.
Quando os bois eram mais arredios eram amarrados a um mourão da porteira, geralmente
feita com paus corridos, e depois solto, acompanhado por vaqueiros que corriam em toda extensão
do pátio aberto, de forma que jogava pelas veredas tiradas de fogo, para agarrá-los e derrubá-los
pela cauda, dominá-los, mascará-los e peá-los.
O habitual era que somente um, dos touros, dos bois e dos novilhos, fosse tangidos do curral
para fora da porteira para que, um par de vaqueiros corresse ao seu lado, um fazendo ―esteira‖ para
manter a direção do animal e o outro buscando apanhá-lo pela cauda (bassora), para envolvê-lo na
mão e puxá-lo, bruscamente, para desequilibrar e derrubar o animal. Muitas vezes ao ponto do
―mocotó virar‖ (das patas virarem para o ar).
Cada touro/boi botado no chão merecia palmas, vivas, gritarias e até toque de músicas e
estouros de foguetes, além de um laço de fita amarrado no braço do vaqueiro e a fama que
imortalizava a façanha. Mas, quando o vaqueiro não conseguia derrubar o boi e este fugia
espavorido pela gritaria, era tomado pela vaia da multidão que dizia que ―botou o boi no mato‖.
Na vida isolada e solitária e diante da ausência de divertimento e do isolamento, a reunião de
tantos homens, concorria para o aproveitamento máximo do momento. Uma espécie de festa de
derrubada/pega do boi. Atividade que crescia e se expandia, acompanhada de jantares fartos e

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pesados, de bebidas de vinhos tintos, de genebras, de aguardentes e de ―cachimbos‖ (aguardente


com mel de abelha).
Dos momentos de exibição das proezas dos vaqueiros as derrubadas eram as que mais
legitimavam as habilidades e as forças dos vaqueiros. A partir dos anos vinte estes eventos se
modificaram marcadamente com o uso da cercas de pedras, de varas ou de pau-a-pique e, no
decorrer do tempo, resultou em um evento competitivo que originou as vaquejadas/pegadas.
Câmara Cascudo (1984), investigando a origem das derrubadas pelas caudas, constatou que
estas foram originárias da Espanha, onde eram ligadas unicamente aos serviços do campo e jamais a
exibição lúdica. Mas como divertimento com assistência entusiasta era própria da América Latina.
O curioso para ele era que a vaquejada, com esse processo de derrubar, fixou-se
preferencialmente no Nordeste e não nos Estados do sul, abertos à intercomunicação castelhana
com o Uruguai, com a Argentina e com o Paraguai. E a Venezuela, a Colômbia e o Peru
dificilmente poderiam transmitir o colleo para a região Amazonas, com outra natureza e outra
espécie de trabalho, alheia à pecuária; como a Bolívia, o Mato Grosso e outros Estados do Sul e
central.
Câmara Cascudo (1984) também constatou que as derrubadas eram praticadas nas primeiras
décadas do século XIX no Chile sob O‘Higgins e entrou no Brasil pelo Nordeste nos locais onde as
condições ambientais próprias possibilitaram sua manutenção. Primeiro como ato de agilidade para
derrubar rapidamente o touro fugitivo, aproveitando-lhe a queda para passar-lhe a peia e/ou
máscará-lhe. Para depois conduzindo-lo ao curral. Processo prático que impossibilitava o emprego
do laço, devido a existência de vegetação espinhenta ou cerrada. Terminada a faina, cheia de
peripécias, lá se iam às boiadas a caminho das fazendas, acalentadas por cantos monótonos,
saudoso, tristes e distantes do "aboiado".
Desse modo, a derrubada pela cauda influenciou o imigrante nordestino nos locais dos
carrascais e dos tabuleiros, mas pouco foi empregado nos Estados de maior tradição pastoril, como
Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde a derrubada pela cauda não fez parte do processo de
trabalho de campo com o gado, as ―apartações‖.
Nos pampas gaúchos foram empregados os laços, influenciados pelos Alentejos, que
exigiam condições especiais, no qual o gado era conduzido pelos campinos – ―topar o touro‖ –
esbarrando-lhe a marrada com a ponta aguda de ferrão, em meia-lua, enfiado em grandes varapaus –
o pampilho – que corresponde ao ―garrocha‖ castelhana.
Os vaqueiros para a lida com o gado na caatinga, cheia de galhos e espinhos, para melhor
desempenho das funções as habilidades e coragens na caatinga, cheia e espinhos, necessitava
proteger-se dos espinhos e dos galhos acerados dos arbustos, dos cardos e das demais pontas
agressivas da vegetação inextricável.

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Na lida com o gado os vaqueiros usavam uma verdadeira armadura cor de couro, de um
vermelho pardo, isto é, vestes encouradas e semelhantes a uma armadura de guerreiro antigo, uma
indumentária própria para correr no mato. ‖Parecendo uma forma grosseira de um campeador
medieval desgarrado em nosso tempo¨. De cor de vermelho pardo como se fosse de bronze flexível,
sem cintilações para que não rebrilhasse quando ferida pelo sol, que Euclides da Cunha comparou a
um campeador medieval desgarrado do tempo e do lugar.[...]"guerreiro antigo exausto da refrega".
Sua roupa, o gibão, seria uma espécie de armadura. "É uma forma grosseira de um
campeador medieval desgarrado em nosso tempo". Para proteger o vaqueiro dos galhos e dos
espinhos das árvores da caatinga e contra queimaduras do sol, o vaqueiro usava indumentária
própria, feita de couro. Vestimenta constituída por uma couraça ou armadura, caracterizada pela
predominância do couro, cru e curtido, geralmente, da cor de ferrugem, mas flexível e macio (por
retira-se todo o pelo). Antigamente era usado o couro de veado catingueiro e depois passara a usar o
couro de carneiro e de bode.
A indumentária clássica do vaqueiro consistia nos equipamentos do cavalo, como a sela de
montaria imitando o lombolho riograndense sendo, porém mais curta e cavada e com menos
apetrechos luxuosos. Acompanhada esta dos seguintes acessórios: um couro resistente para cobrir
as ancas do animal, uma rabichola para fixar a cela, uma manta de pele de bode para colocar por
cima e os peitorais para resguardar o peito do animal.

Figura Nº 01 Sela, peitorais, arreios e estribos e focinheiras.

E, ainda, as máscaras e as joelheiras, apresilhadas às juntas, os estribos de ferro e aos


arreios. E, de cada lado da sela, as broacas, bolsa feita de couro cru, retangular ou quadrada,
costurada nas laterais com tiras de couro, pendidas. Quando estas eram menores eram utilizadas
para conduzir alimentos secos, como: farinha, carne assada e rapadura, além do isqueiro de pedra,
das folhas que servem de mecha, do fumo e do cachimbo.
Quando maiores são atadas duas bruacas, uma de cada lado do lombo do burro ou da mula,
formando um cargueiro, animal de tração animal. Estas endumentarias muito utilizadas pelos
tropeiros, quando ainda não havia estradas. Junto as jaqueiras era comum carregarem uma pistola de
cano longo, descendo pela coxa esquerda. Trajes também verificados em Minas Gerais e São Paulo.
Para os vaqueiros se protegerem dos espinhos nas matas fechadas, usavam trajes/
vestimentas, denominado de gibão, composto por uma jaqueta, também feita de couro, um gibão

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(dolmâ ou jaqueta de couro, sobretudo) Uma espécie um casacão de couro curtido pespontado e
fechado com cordões de couro, confeccionado utilizando-se processos primitivos que davam nome
a todo o traje. Geralmente quando não estava na lida ficava atirada num dos ombros.
E por baixo do gibão e sobre a camisa, os vaqueiros utilizavam um colete apertado (avental
de couro) chamado de jaleco, guarda-peito ou peitoral, feito de couro de carneiro ou de cabrito com
duas frentes, ligado por detrás por quatro tiras. Uma para o frio da noite, conservada a lã, e outra
para o calor do dia, de couro liso, sustentado por uma alça que passa pelo pescoço para fixação
segura. Paramente aparecia um colete de pele de gato do mato ou de suçuarana com pêlo
mosqueado, virado para fora.
Para a proteção das pernas dos afiados espinhos da caatinga, do pé até a virilha as perneiras,
polainas de couro, era uma espécie de calça de couro, amarrada na cintura deixando o corpo livre
para cavalgar. Para cobrir e, por baixo, onde o couro não protegia, as ceroulas, calções de algodão.
E as joelheiras, todas de couro curtido, de bode ou de vaqueta. E dos golpes nas mãos, as luvas que
cobriam apenas as suas costas, deixando os dedos livres. Para proteger e resguardar os pés os
vaqueiros usavam um par de alpercatas ou botinas (botas) e os guarda-pés de pele de veado.

Figura nº 02 Indumentária do vaqueiro (gibão, perneiras, luvas, chapéu de couro, etc).

Para proteger a cabeça do sol e o rosto o vaqueiro dos golpes dos espinhos e dos galhos da
caatinga, na cabeça era usado um chapéu de couro redondo, com copa de formas baixas e abas
curtas ou largas dobradas no meio, preso ao queixo por um barbicaxo, espécie de jugular, o
―barbicaxo‖. E, para agraciá-lo comumente, podiam fincar uma bromélia rubra e álacre. O chapéu
de couro era também usado para beber água ou comer no sol. Alguns vaqueiros, para manter o
estilo, usavam o couro forjado em vestes, produzido para agüentar o peso da lida, com ares de
cavaleiro medieval para se proteger das lanças de guerras. Calçados da mesma cor e na boca um
cachimbo curto e sujo.
Complementando a indumentária do vaqueiro, para incitar o cavalo na hora da corrida e
adquirir mais velocidade, os vaqueiros empunhavam na mão direita uma chibata de couro ou um
chicote e um par de esporas de ferro sustidas nos pés nus por umas correias que prendiam os
chinelos e as esporas, para indicar que se não estava montado, podia fazê-lo a qualquer momento.

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E para assegurar a proteção, num dos lados do cinto, uma faca ou facão, metido num boldrié
que lhe descia da espádua. Na parte posterior da sela um pedaço de fazenda vermelha amarrado,
enrolado em forma de manto, habitualmente continha a rede e uma muda de roupa, isto é, uma
camisa, ceroulas e, às vezes, umas calças de nanquim.
De cada lado da sela os vaqueiros condiziam boroacas geralmente para conduzirem farinha e
carne assada no outro lado, e o isqueiro de pedra (as folhas servem de mecha), fumo e outro
cachimbo sobressalente.
Considerando as diferenças expressivas entre um Estado e outro, como no Maranhão e no
Piauí, os vaqueiros geralmente não usavam botas, mas um chinelo fechado, geralmente de couro de
veado, preso ao calcanhar, para se livrarem dos tombos, caso o sapato se enganchasse com algum
espinho. Outras peculiaridades dessa região são os pontilhados que contornam o gibão, que variam
de região para região, em Pernambuco e no Ceará são contornados com fitas coloridas.
Equipamento dos vaqueiros e dos cavalos que ajudavam no arremete na caatinga até
desaparecerem no matagal circundante, deixando o rodeio deserto por algum tempo até que
estrugisse ao lado um estrídulo tropel de cascos sobre pedras, um intrépido de galhos estalando nos
ares como uma nuvem de pó rompesse com uma ponta de gado. E logo após, sobre o cavalo o
vaqueiro teso nos estribos, trazendo exígua parte do rebanho e entregando-a aos companheiros que
ali ficavam de esteira. E, ao entregar, logo volta em galopes, enquanto repontavam outros,
sucessivamente.
Nos momentos de apartação, alguns bois, chamados de "marueiros" ou "barbatões", fugiam
do rebanho e resistiam ao chamado do vaqueiro sendo perseguidos e derrubados pela cauda. Prática
conhecida como "pegada de boi", conferia aos vaqueiros respeito e fama para vaqueiros e seus
cavalos. Na década de 1940, vaqueiros da Bahia e do Ceará para divulgar suas habilidades na lida
com o rebanho, na atividade conhecida como "corrida de morão" ou "mourão", diferente da pegada
de boi por realizarem-se no pátio das fazendas. Os vaqueiros desafiavam-se correndo, um de cada
vez, atrás do boi em espaço do pátio. Ganhava aquele que mais se destacasse na puxada do boi.

DISCUSSÃO

Na pecuária bovina extensiva, mais ou menos no mês de junho, quando passava a estação
chuvosa, os fazendeiros realizavam as chamadas "festas de apartação", reunindo vaqueiros para
buscar os bois dispersos no mato e misturados com os dos vizinhos. Necessitava, então, separar os
rebanhos para comercialização, serem ferrados ou castrados. Rodeios que animava a platéia,
particularmente quando os bois surgiam em marradas ou escavavam o chão ou quando marruás
afundavam na caatinga. Estes eram seguidos, nos rastros, pelo vaqueiro em disparada, caído para o
lado da sela e suspenso nos estribos. Com uma das mãos presa às crimas do cavalo, em disparada

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até aproxima-se e agarra-lhes a cauda, derrubá-los. E depois, por-lhes a peia ou a máscara de couro
levando-os para o rodeador, onde o vaqueiro encontra os companheiros e conta-lhes a façanha
trocando impressões.
As lides das "vaquejadas", das "pegadas" de boi; das "arrancadas", das "arribadas" ou dos
¨estouros das boiadas"; resultavam os raros folguedos, com estalos das alpercatas dos vaqueiros
dançando o sapateado; os desafios de viola, dando largas aos gênios de poetas repentistas, como
instantes únicos de movimentos, de vibrações, de festas, para quebrar a existência paupérrima e
monótona do Sertão.
Pouco a pouco, as vaquejadas e as corridas de cavalos foram aumentando em tamanho e em
número e se transformando em evento recreativo-competitivo com características de esporte. As
vaquejadas na condição de festa de destreza, realizadas em parques apropriados, com campos
fechados com cercas e do emprego de premiação. Nestas um boi e dois cavaleiros montados partiam
de um estreito, o jiquí, com a carreira se desenrolando em pista limitada dos lados e no percurso,
com regras definidas, até o puxão brusco do boi pela cauda e sua derrubada. Nestas dois vaqueiros a
cavalo alinhavam o animal (boi) até emparelhá-lo entre os cavalos e conduzi-lo ao objetivo (duas
últimas faixas de cal do parque de vaquejada), onde o animal deveria ser derrubado. O vaqueiro que
derrubava o boi, além da fama, recebia um prêmio, que poderia ser o próprio animal vencido ou
uma recompensa em dinheiro.
Muito popular na segunda metade do século XX, foram transformando a apartação em
esporte oficial, com pagamento de taxas de inscrição, distribuição de prêmios e classificação das
melhores parelhas, com músicas, foguetes e forrós, famosas e rentáveis. Quando fazendeiros de
várias partes do Nordeste passaram a promover a vaquejada ou o"bolão". Evento em que os
vaqueiros pagavam inscrições em dinheiro, para ter direito a participar da disputa. O dinheiro era
usado para a organização do evento e para premiar os vencedores.
As montarias, de cavalos nativos da região, foram sendo substituídas por animais de melhor
linhagem. O chão de terra batida e de cascalho, que os peões estavam acostumados a enfrentar, deu
lugar a uma superfície de areia, com limites definidos e regulamento. Cada dupla tinha direito a
correr três bois. O primeiro boi valia 8 (oito) pontos, o segundo valia 9 (nove) e o terceiro boi
correspondia a 10 (dez) pontos. Esses pontos eram somados e no final da vaquejada era feita a
contagem de pontos, a dupla que somasse mais pontos era campeã, e recebia um valor em dinheiro.
Evento que passou a ser questionada a partir da década de 2010 por ativistas dos direitos dos
animais em virtude dos maus tratos aos bois, que poderiam ter o rabo arrancado ou sofrer fraturas
na queda.

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REFERÊNCIAS

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caatinga do sertão pernambucano, sob intensidades de uso por caprinos. [Em linha].Documentos
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BRASIL.. Nordeste: uma estratégia de desenvolvimento sustentável. Brasília (BR): Secretaria de


Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República, 1994, 217 p.

CÂMARA CASCUDO, L da. Civilização e Cultura.São Paulo: Itatiaia, 1983, 741p

COHEN, M. As práticas sócio-ecológicas frente à seca: limites e contradições no exemplo do Cariri


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GUEDES, P. H. M. Q.. A colonização do sertão da Paraíba: agentes produtores do espaço e


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VIEIRA, F. L. R.. Sudene e Desenvolvimento Sustentável. Planejamento Regional na Década


Neoliberal. João Pessoa (BR): Ed. Universitária da UFPB, 2004, 292 p.

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O POLO CULTURAL DA ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CARUARU COMO


MODELO DE PROTEÇÃO DAS ATIVIDADES CULTURAIS TRADICIONAIS

Janduir João dos SANTOS


Mestre em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste (MGP) da UFPE.
janduirturismo1@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo conhecer a produção regular dos produtores culturais como
proteção das atividades culturais existente no polo cultural da antiga Estação Ferroviária de
Caruaru. Esta pesquisa foi realizada em quatro etapas: na primeira, foram consultadas as obras
literárias que pudessem reforçar e consolidar a compreensão dos conceitos chaves. Na segunda
etapa buscou-se preparar uma base cartográfica fichas e questionários tratando da estação
ferroviária. A terceira etapa consistiu no processamento dos dados que permitisse chegar a tabelas e
quadros. E na quarta e última etapa foi realizada a análise dos dados resultantes das etapas
anteriores e viu-se de que forma a conclusão poderá ser considerada uma proposição científica.
Palavras-chave: Cultura Popular, Polo Cultural, Produtores Culturais.
ABSTRACT
This work aims to know the regular production of cultural producers as protection of cultural
activities existing in the cultural center of the old railway station of Caruaru. This research was
carried out in four stages: in the first one, the literary works that could reinforce and consolidate the
understanding of the key concepts were consulted. In the second stage, we attempted to prepare a
cartographic database for questionnaires dealing with the railway station. The third step consisted in
processing the data that allowed to arrive at tables and tables. And in the fourth and last stage the
analysis of the data resulting from the previous stages was carried out and it was seen how the
conclusion could be considered a scientific proposition.
Key-words: Popular Culture, Cultural Pole, Cultural Producers.

INTRODUÇÃO

Esta proposta teve como objetivo conhecer a produção regular dos produtores culturais
como proteção das atividades culturais existente no polo cultural da antiga Estação Ferroviária de
Caruaru Pernambuco.
O polo cultural, situado no município de Caruaru, no Agreste pernambucano, que constitui o
objeto deste estudo, possui uma particularidade: o advento da atividade cultural que permanece em
pleno funcionamento através dos mestres e fazedores de cultura que desenvolvem uma série de
atividades culturais durante todo o ano. Sendo um espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e
formação nas áreas da Literatura de Cordel, Banda de Pífanos, Capoeira, Mamulengo, Boi de
Bandeira, Afoxé, e Bacamarteiros, representando as diversas manifestações da cultura popular do
município de Caruaru.

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Os produtores tradicionais da região têm seu cotidiano muitas vezes impactado por práticas
espaciais que parecem levar em conta apenas a dimensão econômica. Por outro lado, os produtores
culturais, em particular buscam a valorização da região de Caruaru com vistas aos ganhos de
proteção das atividades culturais.
As transformações efetuadas pelos produtores na antiga Estação Ferroviária são de aumento
do espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação nas diversas linguagens culturais inseridas
no polo cultural, proteção do espaço público pela expansão das atividades culturais tradicionais.
Demonstrando desta forma, um local de manutenção e disseminação da cultura popular, que têm
sido efetuadas na Estação por parte dos produtores.
Nesse contexto, os atributos mais fortes que qualifica a Estação Ferroviária como uma área a
ser preservada do ponto de vista dos recursos físicos e identitários são os vários espaços em formato
de pequenas casas (mas que, na verdade, são pequenos galpões). A recomendação é que o espaço
seja utilizado de maneira adequada e para salvaguardar a memória ferroviária brasileira. E as
identidades estão relacionadas aos aspectos imateriais como as manifestações da cultura local dos
Bacamarteiros que se apresentam no local e os costumes como a própria forma de proteção das
atividades por parte dos produtores que naquele ambiente dão seguimentos as atividades culturais.
Portanto, a pesquisa buscou conhecer a produção regular dos produtores culturais como
proteção das atividades culturais existente no polo cultural que justificam a necessidade de sua
conservação. O foco de análise foi posto na relação entre produtores culturais e o espaço estudado,
especialmente no que diz respeito ao significado que essa área passa a ter para eles. A área objeto
de estudo tem como recorte espacial o polo cultural da antiga Estação Ferroviária, no município de
Caruaru, no Estado de Pernambuco enquanto o recorte temporal abrange desde o ano de 2012 até o
presente.

DESENVOLVIMENTO

Este capítulo aborda sobre os aspectos gerais do município de Caruaru Pernambuco e a


cultura popular. Também aborda sobre um breve histórico do polo cultural da antiga estação
ferroviária, além da gestão do polo cultural - os atores envolvidos.

ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO DE CARUARU PERNAMBUCO

A cidade de Caruaru chama a atenção por suas singularidades. Localizada mais


precisamente no Vale do Ipojuca e conhecida também como ―Princesa do Agreste‖, ―Capital do
Agreste‖ e ―Capital do Forró‖, é o quarto município mais populoso do Estado de Pernambuco, com
338 mil habitantes, área territorial de 921 km², e situada a 135 km do Recife (PREFEITURA DE
CARUARU; GASPAR, 2011; COELHO, 2014). Além disso, a cidade representa o 7º maior PIB do

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Estado e, de acordo com Coelho (2014), recebeu o título de maior centro de artes figurativas da
América Latina. Este título, entretanto, nunca foi devidamente comprovado, existindo, ainda hoje,
dúvidas sobre sua existência concreta, apesar de sua ampla menção pelos caruaruenses.
Em Caruaru, o aspecto comercial é bastante forte, conforme destaca Barbosa Filho (2010),
especialmente as feiras (da sulanca, de gado, de artesanato, e outras), pois foi a partir delas que a
cidade se tornou conhecida nacionalmente, inclusive através da música A Feira de
Caruaru, de autoria de Onildo Almeida e cantada por Luiz Gonzaga. Existentes desde o século
XVII no Agreste pernambucano, as feiras eram o espaço onde a população se reunia em torno de
suas necessidades de organização política, social e econômica (XAVIER, 2006). Hoje, pessoas de
vários lugares do País se dirigem a essas feiras, que acontecem em Caruaru, fazendo dessa cidade
um centro comercial.
Além disso, a cidade se destaca em termos turísticos, principalmente em função das
festividades juninas, típicas dessa região (BARBOSA FILHO, 2010). No mês de junho ocorre a
festa de São João na cidade, promovida por órgãos públicos municipais e estaduais e por empresas
privadas. É desses festejos que advém a denominação ―Capital do Forró‖ e é nesse período que a
cidade atrai inúmeros turistas, com o chamado ―Maior São João do Mundo‖, adquirindo uma
dinâmica singular de trocas, de mobilidade urbana e de festividades que ocorrem em diferentes
polos (SANTOS et al., 2014). É também no âmbito dessas festividades juninas que é possível
observar coexistências e tensões entre elementos modernos e tradicionais, principalmente na
tentativa de manter tradições culturais como a do pífano, da arte feita em barro, do forró pé de serra
frente à tendência dos grandes shows e eventos realizados muitas vezes para promover grandes
marcas.
Explicados esses aspectos, buscamos mostrar, neste trabalho, o papel da cultura popular do
polo cultural na proteção das atividades culturais tradicionais, representado por meio de outras
manifestações de caráter popular como: Banda de Pífanos, Capoeira, Mamulengo, Boi de Bandeira,
Afoxé, Literatura de Cordel e Bacamarteiros.

A CULTURA POPULAR

Cultura popular é um ―conjunto disperso de práticas, representações e formas de


consciência‖ que possuem uma lógica própria, o que ela chama de ―jogo interno do conformismo,
do inconformismo e da resistência‖, que se distingue da cultura dominante justamente por essa
lógica de práticas, representações e formas de consciência (CHAUI, 1989, p. 25).
Para Canclini (1995), a cultura popular não pode ser entendida como a ―expressão‖ da
personalidade de um povo, à maneira do idealismo, porque tal personalidade não existe como uma
entidade a priori, metafísica, e sim como um produto de interações sociais.

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Tampouco a cultura popular é um conjunto de tradições ou de essências ideais,


preservadas de modo etéreo.
Canclini (1995), afirma que tanto a abordagem da cultura popular que tenta preservar e
conservar a independência das formas tradicionais e autóctones, quanto a visão que busca a
tecnificação da produção da cultura popular e a absorção pelo mercado capitalista incorrem em erro,
principalmente por separar o econômico e o simbólico. Tal separação é incompatível com a
realidade dos artesãos que, por exemplo, trabalham com a cultura popular tanto no sentido de
manter suas tradições étnicas quanto para completar seus baixos rendimentos.
Chaui (1989), entende a cultura popular como prática local e temporalmente determinada,
como atividade dispersa no interior da cultura dominante, como mescla de conformismo e
resistência, possuindo alguns aspectos, como a imprevisibilidade da ação, invenção da
comunicação, transferência de um conhecimento teórico para uma prática distante dele, resistência à
legalidade arbitrária, obtenção do resultado almejado graças a uma astúcia prática.

BREVE HISTÓRICO DO POLO CULTURAL DA ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

A Estação Ferroviária (Figura 01) construída em 1895, com o nome da companhia inglesa
dos trens, Great Western, serviu por muito tempo de entreposto comercial e ponto de parada para
quem se locomovia do Litoral para o Sertão do Estado, já que se situa no centro da cidade. Serviu
nas décadas de 80 a 2000 como local de desembarque das pessoas e grupos que vinham para o São
João de Caruaru, no mês de junho, trafegando no ―Trem do Forró‖. Um descarrilamento da
composição, ocorrido, ao que parece, em 2000, cancelou esta promoção turística. Hoje, o ―Trem do
Forró‖ carrega passageiros até o município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana
do Recife.
Figura 01: Estação Ferroviária de Caruaru

Fonte: www.jornalextra.com.br

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Atualmente, é memória do passado e tem uma parte utilizada como polo cultural, onde são
realizadas oficinas, apresentações musicais, teatrais e populares. Também conta com espaço
gastronômico, com bares e restaurantes para os que visitam o local. Todos esses serviços vêm sendo
prestados, graças a parcerias entre a sociedade civil e a Fundação de Cultura.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) decidiu entrar com uma
ação judicial contra a Prefeitura de Caruaru para interromper a utilização da Estação Ferroviária da
cidade, no Agreste de Pernambuco, como polo cultural ao longo do ano. A recomendação é que o
espaço só seja liberado para os festejos juninos. A explicação do órgão é que a gestão municipal
tem aproveitado o local de maneira inadequada.
Almeida (2014) diz que, o problema é que o espaço está sendo explorado sem salvaguardar
a memória ferroviária brasileira. E que a liberação para uso da área pela Prefeitura tinha caráter
temporário, mas a cidade cenográfica (Figura 02) se consolidou na estação através de uma estrutura
definitiva de um casario que prejudica a preservação do local.

Figura 02: Cidade cenográfica montada na área da estação funciona o ano todo e atrai turistas para a
cidade

Fonte: Lima (2014)

Segundo Vasconselos (2014), a estação estava completamente ociosa até 2012, quando foi
decidido fazer dela um local de manutenção e disseminação da cultura popular. Nesse sentido, a
gestão municipal decidiu explorar a estação ferroviária como polo cultural depois de constatar que o
local estava servindo de ponto para prostituição, violência, tráfico e consumo de drogas em larga
escala. Atualmente, esse cenário não existe mais, pois a estação virou um reduto familiar.
O polo cultural da Estação Ferroviária permanece em plena atividade através dos mestres e
fazedores de cultura que desenvolvem uma série de atividades culturais durante todo o ano. Sendo
um espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação nas áreas da Literatura de Cordel, Banda
de Pífanos, Capoeira, Mamulengo, Boi de Bandeira, Afoxé, e Bacamarteiros, representando as
diversas manifestações da cultura popular do município de Caruaru.

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A GESTÃO DO POLO CULTURAL - OS ATORES ENVOLVIDOS

A cultura não é apenas um bem coletivo, uma tradição a se preservar. Em sua dimensão
antropológica ela é uma produção coletiva, constante incorporação do novo. Quando falamos em
propiciar o acesso a ela, estamos falando de algo complexo, que envolve o que vem mais de perto (a
produção local) e o que vem mais de longe (a produção nacional e internacional) no espaço e no
tempo, na geografia e na história. No limite, está em jogo o patrimônio cultural até agora produzido
pela humanidade, repertório do qual extraímos nossas escolhas e que nos propicia o
desenvolvimento da vida cultural e o exercício contínuo da criação. Essa herança, ao mesmo tempo
que nos enriquece, reelabora esse mesmo patrimônio que é aberto, sempre incorporando as novas
criações. A grande aposta é conseguir uma interação com esse patrimônio, trazendo a contribuição a
partir do que tem raízes locais em constante diálogo com aquilo que é mais ou menos distante. E
então chegamos a um aspecto importante de gestão cultural (BOTELHO, 2016, p. 43).
Para Botelho (2016), como pensar a articulação do perto e do longe? Como pensar a gestão
aberta e ciente do valor da tradição no âmbito de municípios que têm, em sua vida cultural, uma
intensa rede de manifestações da cultura popular? Para pensar uma política e uma gestão de cultura
que sejam eficazes, é preciso conhecer o que acontece em seu entorno e traçar metas de
desenvolvimento do repertório de informação cultural de determinada comunidade sem
preconceitos elitistas ou populistas. Nessas duas direções, ou seja, naquela que vai da cultura
popular à sua expansão no cenário nacional e internacional, e naquela que vai do repertório
universal à sua incorporação por contingentes maiores da população, está em pauta a questão da
democracia cultural e do exercício da cidadania.
A gestão do polo cultural da antiga Estação Ferroviária do município de Caruaru é
demonstrado no organograma abaixo (Figura 3).

Figura 03: Organograma da gestão do polo cultural

Fonte: O autor, 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

De acordo com as observações feitas em campo sobre a gestão do Polo Cultural no


município de Caruaru, observou-se que, a fiscalização sobre a preservação do local é do IPHAN. A
Prefeitura também tem o papel fiscalizador e de fazer do local a disseminação da cultura popular
explorando a estação ferroviária como polo cultural.
A Prefeitura e o IPHAM possuem interesses parecidos no sentido de, somarem esforços para
a fiscalização do local. Já os produtores culturais são dedicados a fazer o local de manutenção da
cultura popular e de proteção das atividades culturais tradicionais que podem ser caracterizada por:
Banda de Pífanos: no pífano, as bandas se apresentam, em geral, em locais fixos, eventos e
shows. As bandas são compostas tradicionalmente por um zabumbeiro, um tocador de caixa de
guerra, um tocador de contrassurdo e um ou dois pifeiros. A existência de dois pifeiros em
determinadas apresentações se justifica pelo fato de as bandas de pífanos, em sua origem, imitarem
as apresentações de músicos na igreja católica, nos quais existiam duetos, um com a voz fixa, e
outro cantando (a exemplo do canto gregoriano)
Capoeira: a criação da casa da capoeira no polo cultural da Estação Ferroviária. Soma-se ao
pífano e a outras culturas de matrizes africanas, como a capoeira e o bumba meu boi, expressões de
forte presença na cidade.
Mamulengo: conta com uma casa denominada Teatro de Mamulengos Mamu Sebá, que faz
parte do polo cultural da Estação Ferroviária. Além dos espetáculos, o espaço abriga um cenário de
bonecos que se movimentam e representam figuras populares da cultura nordestina. A perfeição dos
personagens, feitos pelo artesão Mestre Zé Gomes, da Paraíba, encanta os visitantes.
Boi de Bandeira/Tira Teima: em Caruaru, a tradição do Boi remonta aos carnavais de rua da
cidade, chamados ―festejos de momo‖, principal festejo do interior de Pernambuco na época
(FOLIAS EM BAIRROS DE CARUARU RESISTEM AO TEMPO, 2016). Como explica o folheto
informativo do Boi Tira Teima, nos anos 1920, década de fundação desse Boi, existiam bailes,
clubes de frevo e escolas de samba dos quais somente a elite participava. Em contrapartida,
existiam agremiações voltadas para a população em geral, cujas apresentações costumavam
acontecer na Rua da Igreja da Matriz. Entre essas agremiações, havia os Bois que brigavam entre si
em disputas chamadas ―teimas‖, que divertiam a população. É dessas teimas que vem o nome do
Boi Tira Teima, que tinha o propósito de vencer todas as teimas e que há cerca de 40 anos é
comandado pela família Gercino.
Afoxé: danças da cultura afrodescendente e explanação sobre as lendas dos orixás. De
origem iorubá, o afoxé é um ritmo semelhante ao maracatu que se traduzido significa ―o enunciado
que faz acontecer‖. Sendo mais uma manifestação contempladas no polo cultural.
Literatura de Cordel: conta com a Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC),
no polo cultural da Estação Ferroviária, para fomentar o ambiente artístico e literário da cidade.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Bacamarteiros: se junta às demais manifestações do polo cultural, nesse sentido, Neto


(2004) diz que, existem atualmente, na região agreste de Pernambuco, cerca de 1.000 Bacamarteiros
espelhados pelas fazendas, brejos férteis, pelas vilas e Municípios limítrofes, organizados em cerca
de 60 batalhões, constituídos de 14 a 50 homens cada um. Somente em Caruaru na época junina,
desfilam mais de 1.000 Bacamarteiros. Como maior centro do agreste pernambucano, com a fama
de sua riqueza comercial, catalisa todas as personalidades mais atuantes dentre os atiradores das
redondezas, inclusive de outros Municípios como São Caetano, Bezerros, Riacho das Almas,
Tacaimbó, Vertentes, Altinho, Gravatá, Cachoeirinha, Bonito, Belo Jardim, Brejo da Madre de
Deus, etc. Veem nela a diversão prestigiada, com os grupos que ganham aplausos e a proteção das
autoridades.
Conforme Santos (2016), a antiga Estação Ferroviária da cidade de Caruaru, existem vários
espaços em formato de pequenas casas (mas que, na verdade, são pequenos galpões) e uma pequena
igreja. Tudo organizado como se fosse uma pequena vila. Em cada uma dessas ―casas‖, funciona a
sede de um grupo de cultura popular, havendo, a Casa do Pife, a Casa do Mamulengo, a Casa do
Boi e a Casa dos Artistas.

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi realizada em quatro etapas: na primeira foram consultados textos para se
consolidar a compreensão dos conceitos chave, o que permitiu trabalhar com mais segurança, quais
sejam: Banda de Pífanos, Capoeira, Mamulengo, Boi de Bandeira, Afoxé, Literatura de Cordel e
Bacamarteiros. Além disso, recorreu-se à leitura de documentos que tratam dos conceitos chave que
são documentos, obras de autores pertinentes ao assunto estudado e relatórios.
A segunda etapa necessária para realização da pesquisa foi preparar uma base cartográfica,
fichas e questionários. Ir a campo, fotografar, entrevistar, ter avaliações, levantamentos, imagens de
antes e depois para perceber as transformações. Essa etapa constituiu uma fase de coleta. Foi
realizada também a análise de plantas e mapas tratando da estação Ferroviária, uma vez que muitas
das explicações da dinâmica atual vêm sendo construídas ao longo de vários anos.
A terceira etapa foi o processamento dos dados que permitiu chegar a tabelas e quadros. Isso
foi baseado na experiência de autores que já trabalharam sobre o assunto. Como também, foi
chamado estudo de caso para esse trabalho. Conforme escreve Goldenberg (2003), o estudo de caso
reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com
o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso
concreto através de um mergulho em um objeto delimitado.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Na quarta e última etapa foram sistematizadas lições das etapas anteriores e viu-se de que
forma o resultado do estudo poderá se tornar uma proposição científica. O estudo resultou também
num conjunto de análises e de avaliações, sobre os produtores de cultura popular.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo identificou as melhorias na proteção das manifestações culturais proporcionadas


pelos produtores a partir da produção cultural, considerando, sobretudo, a valorização da cultura
popular. Os dados também mostraram que a proteção das atividades culturais tradicionais é
representada por diversas outras manifestações de caráter popular somando-se com as de caráter
permanente como: Banda de Pífanos, Capoeira, Mamulengo, Boi de Bandeira, Afoxé, Literatura de
Cordel e Bacamarteiros.
O estudo demonstrou que a inserção do polo cultural trouxe para a Estação Ferroviária uma
alteração do local. Nesse contexto, a vinda dessa nova dinâmica, por um lado, redesenha o espaço,
modificando o patrimônio da Estação, por outro redefine o lugar com a implantação de uma
estrutura definitiva de um casario que prejudica a preservação do local.
Também se observou a falta de uma política pública eficaz do poder público quanto a
programas contínuos de educação patrimonial, em especial a ausência de compartilhamento na
gestão entre os diferentes responsáveis pelo polo.
Desta forma, deve-se fazer do polo cultural um local de manutenção e disseminação da
cultura popular E ao mesmo tempo recomendamos que seja praticada de forma que minimize ou,
até mesmo, sane os impactos negativos e seja meta buscada tanto pelos produtores culturais, quanto
pelo IPHAN e Prefeitura, pois uma troca só pode ser qualificada como equitativa se os custos e os
benefícios forem repartidos de forma mais ou menos equivalente entre as duas partes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2014/11/19/uso-de-estacao-
ferroviaria-gera-polemica-em-caruaru-156697.php/> Acesso em: 13 mar. 2017;

BARBOSA FILHO, B. L. Agreste Central de Pernambuco: uma visão sobre a viabilidade de sua
metropolização. Dissertação (Mestrado em Administração Pública). Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2010;

BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura: políticas culturais e seus desafios. São Paulo: Edições
Sesc São Paulo, 2016;

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1636


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CANCLINI, N. G. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1995;

CHAUI, M. Conformismo e resistência: Aspectos da cultura popular no Brasil. 4. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1989;

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FOLIAS EM BAIRROS DE CARUARU RESISTEM AO TEMPO. Programa AB TV 1ª Edição.


TV Asa Branca, 2016 Disponível em: <http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/abtv-
1edicao/videos/t/edicoes/v/folia-em-bairros-de-caruaru-resistem-ao-tempo/4799149/> Acesso
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GASPAR, L. São João em Caruaru, Pernambuco. Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2011.
Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 11 mar. 2017;

GOLDENBERG, Mirian. A Arte de Pesquisar. Ed. Record, São Paulo, edição 9, 2003;

NETO, Olimpio Bonald. Bacamarte, Pólvora e Povo. Recife: Bagaço, 2004;

SANTOS, E. C.; ALMEIDA, M. F.; HELAL, D. H. Representações como práticas organizativas da


cidade de Caruaru/PE. In: II Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais (II CBEO).
Uberlândia, 2014;

SANTOS, Elisabeth Cavalcante dos. Práticas e relações de trabalho da cultura popular no agreste
pernambucano: entre o moderno e o tradicional. 250f. João Pessoa: Tese (Doutorado) Programa
de Pós-graduação em Administração – Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Universidade
Federal da Paraíba, 2016;
XAVIER, M. G. P. O processo de produção do espaço urbano em Economia Retardatária: a
aglomeração produtiva de Santa Cruz do Capibaribe. Tese (Doutorado em Desenvolvimento
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VASCONCELOS, Djair. Uso de estação ferroviária gera polêmica em Caruaru, 2014. Disponível em:
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ferroviaria-gera-polemica-em-caruaru-156697.php/> Acesso em: 13 mar. 2017.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O CONHECIMENTO E PERCEPÇÃO DO


AMBIENTE NO ÂMBITO DA UFMA - CAMPUS DE PINHEIRO

Arkley Marques BANDEIRA


Docente do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas. Doutor em Arqueologia
arkley.bandeira@ufma.br
Leonardo Silva SOARES
Docente do Curso de Engenharia de Pesca. Doutor em Desenvolvimento Sustentável
leonardoufma85@gmail.com

RESUMO
A pesquisa surgiu da necessidade de propiciar aos discentes do Curso de Licenciatura em Ciências
Humanas – UFMA – Campus de Pinheiro, vivências patrimoniais em atividades extraclasse nas
regiões da APA da Baixada Maranhense e das Reentrâncias Maranhenses, complementando os
conteúdos trabalhados em sala de aula. Para tanto, foram desenvolvidas estratégias didático-
pedagógicas para extroversão do patrimônio histórico e cultural, com a participação dos alunos
desde o planejamento, perpassando pela pesquisa de campo e divulgação dos resultados. Neste
trabalho serão apresentados dois estudos de casos aplicados nas disciplinas Patrimônio Histórico
Brasileiro e Folclore e Cultura Popular, cujo foco foi apresentar suportes de memórias e histórias
em laboratórios vivos, a exemplo do Centro Histórico de Pinheiro, e a Comunidade Quilombola de
Itamatatiua, em Alcântara. Os resultados obtidos até o momento vêm demonstrando que as
vivências patrimoniais, quando agregadas a um problema de pesquisa são ferramentas didático-
pedagógicas poderosas para percepção, sensibilização e empoderamento dos alunos em relação ao
seu território, suas histórias e memórias, contribuindo para a multiplicação das ações de extroversão
e proteção dos bens históricos e culturais.
Palavras-chave: Vivências patrimoniais. Extroversão. Patrimônio Histórico-Cultural. Baixada
Maranhense. Reentrâncias Maranhenses.
ABSTRACT
Patrimonial education as a strategy for the extroversion of historical and cultural assets in the
Degree in Human Sciences - UFMA - Campus de Pinheiro – MA
Abstract: The research came from the need to provide students of the Undergraduate Program in
Human Sciences - UFMA - Pinheiro Campus, heritage experiences in extraclass activities in the
regions of Baixada Maranhense and Reentrâncias Maranhenses, complementing the contents
worked in the classroom. For that, didactic-pedagogical strategies were developed for the
extroversion of the historical and cultural patrimony, with the participation of the students from the
planning, through the field research and dissemination of the results. In this paper, two case studies
will be presented in the Brazilian Historical Patrimony, Folklore and Popular Culture, whose focus
was to present memories and stories in living laboratories, such as the Historical Center of Pinheiro
and the Quilombola Community of Itamatatiua, in Alcântara. The results obtained so far have
demonstrated that heritage experiences, when added to a research problem, are powerful didactic-
pedagogical tools for students' perception, sensitization and empowerment in relation to their
territory, their histories and memories, contributing to the multiplication of actions of extroversion
and protection of historical and cultural assets.
Keywords: Heritage experiences; Extroversion; Cultural heritage; Baixada Maranhense;
Reentrâncias Maranhenses.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta os resultados obtidos no Projeto Vivências Patrimoniais, vinculado ao


Grupo de Pesquisa Arqueologia e estudos do patrimônio na da Baixada e Reentrâncias
Maranhenses, ambos coordenados pelo autor.
A pesquisa surgiu da necessidade de propiciar aos discentes do Curso de Licenciatura em
Ciências Humanas – UFMA – Campus de Pinheiro percepções sobre o meio ambiente, a cultura e a
sociedade, onde a instituição está inserida, com ênfase nos suportes de memórias e histórias, a
exemplo dos centros históricos antigos, as manifestações artísticas, expressões, modos de fazer,
celebrações, sítios arqueológicos, lugares, dentre outras categorias.
Neste contexto, as vivências patrimoniais objetivaram oferecer conteúdos e experiências em
atividades extraclasse nas regiões da Baixada Maranhense e Reentrâncias Maranhenses,
complementando o conhecimento teórico trabalhado em sala de aula, no âmbito das disciplinas
ministradas pelo autor.
Em um primeiro momento, serão apresentados os pressupostos teórico-metodológicos que
embasaram os estudos de caso. Em seguida, serão abordadas duas ações já realizadas no âmbito do
Projeto e aplicadas às disciplinas Patrimônio Histórico Brasileiro e Folclore e Cultura Popular.
No Brasil, a organização do patrimônio cultural brasileiro é regida pela Constituição
Brasileira de e outras normativas, sobretudo, portaria, normas, leis complementares, instruções,
dentre outras, ressalvando as especificidades do tema. Não obstante, o artigo 216 da Constituição
Brasileira 1988 (BRASIL, 1988, p. 1) é o dispositivo mais abrangente e considera como patrimônio
os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
sendo constituído pelas:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
Neste contexto, a Educação Patrimonial foi a metodologia utilizada como estratégia
didático-pedagógicas para propiciar aos discentes do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas –
UFMA – Campus de Pinheiro, vivências patrimoniais em atividades extraclasse nas regiões da
Baixada Maranhense e Reentrâncias Maranhenses, complementando os conteúdos trabalhados em
sala de aula.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A Educação Patrimonial, doravante EP a partir deste momento no texto, é uma proposta


multidisciplinar de ensino, voltada para questões pertinentes ao patrimônio cultural que deve ser
compreendida como um meio de inclusão de temáticas relativas ao mesmo, levando em conta que o
conhecimento propiciará a apropriação e valorização das referências culturais (COSTA et al, 2007,
s.p.).
Ela deve ser encarada como um processo sistemático centrado no patrimônio cultural e
voltado para diferentes públicos, agindo como um instrumento de afirmação da cidadania, de forma
que permita o enriquecimento cultural individual e coletivo e o fortalecimento dos sentimentos de
identidade e pertencimento a uma etnia, município, região ou nação.
A área de estudo é ilustrada na Figura 1, que compreende a Amazônia Legal Maranhense,
aglutinando as Áreas de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense e Reentrâncias Maranhenses,
cujo meio ambiente é caraterizado por um ambiente lacustre, semelhante ao Pantanal; e pelo litoral
ocidental amazônico, respectivamente. Esta porção do Maranhão apresenta potenciais de estudos
significativos, no que concernem a biodiversidade e sociodiversidade.

Figura 1 –Amazônia Legal do Maranhão, que compreende a região de estudo na Baixada Maranhense e
Reentrâncias Maranhenses. Fonte: (SOARES, 2017).

Independentemente das atividades e do objeto trabalhado na vivência patrimonial, o foco


foi inventariar, conhecer e divulgar os suportes de memória e história da região de estudo. Ressalta-
se que as ações são contínuas e já perpassaram o tempo regimental da disciplina, ou seja, elas estão
em diferentes estágios de desenvolvimento e aplicação, configurando-se, atualmente, como
atividades de pesquisa e extensão, que estão congregando alunos de diferentes períodos.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Mapeamento dos bens edificados de interesse histórico no município de Pinheiro – MA

Esta estratégia foi desenvolvida na disciplina Patrimônio Histórico Brasileiro (6T1234),


ministrada em 2016.1, com um total de 17 alunos matriculados. O objetivo central foi identificar em
Pinheiro – MA, os suportes que pudessem representar a história, a cultura e a memória da cidade na
visão dos alunos e seus familiares. Neste sentido, foram debatidas em sala de aula as possíveis
categoriais a serem abordadas no desenvolvimento de uma ação de pesquisa e extroversão.

Figura 2 – Rua principal de Pinheiro com casarões Figura 3 – Igreja Matriz de Santo Inácio de Loiola. Fonte:
antigos. Fonte: Autor desconhecido. Autor desconhecido.

O objeto mais factível escolhido para um trabalho inicial foi o patrimônio edificado, em
especial as edificações que representam diferentes estilos arquitetônicos e diferentes tempos da
cidade. Neste contexto, foi realizado um Inventário de Conhecimento, com a utilização das Fichas
do Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG)81, elaboradas pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.
Um Inventário de Conhecimento (ou de varredura) é qualquer estudo que vise conhecer o
universo de bens culturais de determinada região ou relacionados com determinado tema,
identificando e mapeando as ocorrências materiais ainda existentes e apontando a necessidade de
estudos mais detalhados.

81
O Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão – SICG é um instrumento desenvolvido para integrar os dados sobre
o patrimônio cultural, com foco nos bens de natureza material, reunindo informações sobre cidades históricas, bens
móveis e integrados, edificações, paisagens, arqueologia, patrimônio ferroviário e outras ocorrências do patrimônio
cultural do Brasil. Uma das aplicações fundamentais do SICG é o desenvolvimento de Inventários de Conhecimento,
para formar uma base de informações aplicada à construção de ―Redes de Patrimônio‖ em todos os estados e
municípios.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 4 – Zoneamento do centro de Pinheiro em áreas a serem pesquisas. Fonte: (BANDEIRA, 2016).

Nas atividades de campo foram mapeados e registrados os principais eixos de crescimento


da cidade, desde o período da fundação, ainda no século XIX. Desta época, quase não restam
exemplares arquitetônicos, sendo que o acervo edificado da cidade é, atualmente composto por
edificações do final do século XIX e início do século XX.

Figura 5 – Vista aérea do núcleo fundacional de Pinheiro, com foco na praça da Matriz. Fonte:
(SOARES, 2017).

A extroversão dos resultados foi alcançada com a organização de uma exposição itinerante
Pinheiro: passado, presente...e futuro???, que foi lançada na I Semana Interdisciplinar em Ciências

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Humanas e remontada na Semana de Luta e Consciência Negra e na Feira das Profissões. Além
disso, a exposição foi montada em escolas de Pinheiro e está agendada para Câmara dos Vereadores
de Pinheiro.

Figura 6 – Setor 1 - Casarão onde funcionou a Figura 7 – Setor 1 – Vista da Igreja Matriz de
Farmácia da Paz, de Paulo Allim, fundada em 1940. Pinheiro, Catedral Diocesana Santo Inácio de
Fonte: (Bandeira, 2016). Loiola. Foto: Leonardo Soares, 2017. Fonte:
(BANDEIRA, 2016).

A avaliação dos resultados desta extroversão foi extremamente positiva, com


desdobramentos internos e externos, visto que o mapeamento está servindo para subsidiar
apresentações em congressos, publicações e divulgações sobre os bens edificados de interesse
histórico e cultural da cidade, fomentando a mobilização e o debate com a Câmara dos Vereadores,
em torno da construção de instrumentos legais para proteção do patrimônio histórico e cultural
pinheirense.

Figura 8 – Montagem da exposição usando o Figura 9 – Exposição Pinheiro: passado,


método de ―cama de gato‖ ou ―teia de aranha‖. presente...e futuro???, já montada. Autor:
Autor: Arkley Bandeira, 2016. Arkley Bandeira, 2016

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Registro do ofício de ceramista no povoado de Itamatatiua – Alcântara – MA

A segunda estratégia foi desenvolvida na disciplina Folclore e Cultura Popular (4N1234),


ministrada em 2016.2, com um total de 25 alunos matriculados. A ideia central foi aproximar os
estudantes a um ofício tradicional e a um modo de vida específico e diferenciado em relação ao seu
universo social e cultural. Neste contexto, foram apresentadas algumas opções em sala de aula,
visando a reflexão e o debate acerca dos possíveis objetos a serem pesquisados, a exemplo do
Tambor de Crioula do Zé Macaco, em Pinheiro, a pesca tradicional na Baixada Maranhense, o
modo de vida ribeirinho e o ofício tradicional da cerâmica e o modo de vida quilombola.
Conforme já mencionado, a opção escolhida foi o ofício de manufatura cerâmica na
comunidade quilombola de Itamatatiua, em Alcântara – Maranhão82, cuja peculiaridade é a
elaboração de cerâmica com tecnologia que remete às características indígenas, cabe ressaltar, que o
próprio nome da comunidade remente à língua Tupi.
Itamatatiua tem cerca de 315 anos e, segundo Oosterbeek e Reis (2012), sua fundação ainda
é discutida na comunidade, contudo, a documentação informa que as origens do povoamento
rementem a existência de uma fazenda da Ordem Carmelitana na região, que, após o declínio do
período escravocrata, foi extinta e as terras remanescentes foram deixadas para a população
afrodescendente, que iniciaram a ocupação da área. Para a região foram trazidos africanos das etnias
Banto e Mina-Jeje.
A territorialidade e o modo de vida quilombola são as características mais marcantes de
Itamatatiua, com a existência de festas de santo, rodas de tambor, agricultura de subsistência com a
roça de coivara e a organização espacial da vila, com a igreja e o cemitério ocupando a porção
central e mais alta da localidade e as casas dispostas em linha, ao longo de um caminho, além do
importante festejo anual para sua padroeira, Santa Tereza de Ávila ou Santa Tereza de Jesus.
Contudo, o traço mais marcante e ressaltado por muitos autores que já trabalharam no
município é o ofício tradicional da olaria e o seu papel identitário e mediador das relações sociais,
culturais e econômicas (GRIJÓ, BERARDO, MENDONÇA, 2009; PEREIRA, 2011; JUNIOR,
2011, 2012; OOSTERBEEK, REIS, 2012; FERREIRA, 2012; CESTARIA, SANTOS, CARACAS,
2016).
Neste âmbito, foi proposta uma estratégia para envolver os alunos em torno do ofício da
olaria, e a partir deste elemento, irradiar a vivência patrimonial para outros aspectos do universo
observado. Para tanto, a estratégia metodológica foi inspirada nos trabalhos de Cestaria, Santos,
Caracas (2016), que aplicaram em Itamatatitua as cinco dimensões de sustentabilidade de Serrão,
Almeida e Carestiato (2012).

82
Itamatatiua está inserida na Baixada Maranhense e localiza-se entre as cidades de Pinheiro e Alcântara, distando cerca
90 km de São Luís e 70 km de Alcântara, sendo formada por 113 famílias e 450 habitantes.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As cinco dimensões da sustentabilidade, segundo os autores, aglutinam as dimensões


Ecológica, Social, Cultural, Econômica e Política. A equipe de pesquisa decidiu a inclusão de mais
dois eixos para observação: a dimensão Histórica e a dimensão Tecnológica.
A partir destes aspectos, foram desenvolvidos temas geradores abertos, que atuaram como
um roteiro para obtenção de informações junto as ceramistas. Os temas foram divididos entre as
equipes de pesquisa, que também ficaram responsáveis pela elaboração e aplicação das perguntas.
A primeira etapa da atividade de campo foi realizada em 25 de janeiro de 2017, sendo
entrevistadas sete ceramistas. Neste momento foi debatida todas as dimensões da sustentabilidade.
Além disso, foi registrado o modo de manufaturar os potes cerâmicos, com a coleta de depoimentos
das artesãs.
A segunda etapa está prevista para ocorrer em outubro de 2017 e o foco será a dimensão
tecnológica e social, com o acompanhamento dos homens da comunidade na obtenção da argila
para fabricação da cerâmica e o registro da secagem e queima dos objetos. A dimensão cultural
também será abordada, com a observação do início dos preparativos do festejo de Santa Tereza
D‘ávila. A terceira etapa consistirá na organização de uma exposição itinerante, com a participação
efetiva dos estudantes e ceramistas na elaboração do discurso expositivo e na escolha das peças
cerâmicas que serão apresentadas.

Figura 10 – Aplicação dos questionários às Figura 11 – Manufatura da cerâmica pela técnica do


ceramistas, versando sobre os eixos da rolete. Foto: Arkley Bandeira, 2017.
sustentabilidade e a manufatura cerâmica. Foto:
Arkley Bandeira, 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As três atividades que ilustram este o trabalho são apenas alguns dos muitos exemplos que o
docente tem a sua disposição para aproximar os estudantes dos bens de natureza histórica e cultural.
Neste contexto, as vivências patrimoniais, quando agregadas a um problema de pesquisa e ao
desenvolvimento de uma disciplina são ferramentas didático-pedagógicas poderosas para

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

percepção, sensibilização e empoderamento dos alunos em relação ao seu território, suas histórias e
memórias.
Além das ricas experiências vivenciadas pelos participantes nas ações listadas neste artigo,
foi possível realizar um rápido diagnóstico acerca dos bens culturais e históricos, sobretudo,
relacionados as edificações mais antigas de Pinheiro, os modos de fazer da cerâmica em Itamatatiua
e a sua vinculação com a perpetuação deste legado cultural e identitário e as experimentações e
construções de referências de memórias nos objetos e a cultura material presentes nos museus e
centros de pesquisa em São Luís – MA.
Para cada ação listada, artigos específicos estão sendo preparados para divulgação das
atividades didáticos-pedagógicas, especialmente os procedimentos metodológicos e os resultados da
documentação realizada pelos discentes.
Sobre o Mapeamento dos bens edificados de interesse histórico no município de Pinheiro –
MA foi possível realizar um levantamento de todos os edifícios de interesse histórico e/ou
arquitetônico, que resultou em um péssimo estado de preservação de exemplares dos séculos XIX e
XX. O crescimento da cidade vem trazendo sérios prejuízos para o legado histórico e cultural
materializados nas casas, ruas, praças, igrejas, cemitérios, etc.
A inexistência de leis municipais para proteção e tombamento dos bens arquitetônicos vem
contribuindo para o agravamento deste quadro, inclusive, com a identificação de alguns casos de
destruição intencional de edifícios pelos proprietários, com receio de que o bem seja protegido.
Neste contexto, uma das alternativas é promover um amplo debate com a sociedade, tendo
como foco a sensibilização dos gestores públicos para criação de leis de proteção do legado
histórico e arquitetônico da cidade. Além disso, o exercício de documentação e registro devem ser
uma constante, aliados com iniciativas de educação patrimonial, a exemplo da Exposição Pinheiro:
passado, presente...e futuro???
Em relação ao Registro do ofício de ceramista no povoado de Itamatatiua – Alcântara – MA,
a ação objetivou investigar a cadeia operatória da produção artesanal ceramista, encarando-a como
um modo de fazer que carrega consigo aspectos intangíveis extremamente relevantes para
compreender a história, memória e a cultura deste grupo quilombola, tratando-se, portanto de uma
referência cultural de caráter imaterial a ser melhor investigada.
Neste contexto, também foram mapeados os lugares e espaços sagrados (cemitério, igreja,
casas de farinha, Fonte do Chora, Pedra de Encantaria e outros), além do ofício artesanal da
cerâmica, objeto de pesquisa deste projeto. Como também, destacam-se as celebrações, festas de
santo, tambores.
Atualmente, o principal desafio das ceramistas é o de permanecer produzindo cerâmica e
repassar o ofício para as novas gerações do presente. A este respeito, as dificuldades são de ordem

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1646


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

estrutural, visto que não existem escolas de Ensino Médio em Itamatatiua. Logo, todos os jovens da
comunidade deixam a cidade entre 12 e 14 anos em busca de melhores condições de ensino,
migrando para São Luís, Pinheiro e a sede de Alcântara.
Esta situação está causando uma ruptura do modo de vida quilombola e, o consequente
ofício ceramista, visto que os jovens não demonstram interesse em permanecer participando de uma
atividade que requer muito esforço físico e não resulta em um ganho financeiro satisfatório.
Em todos os exemplos citados acima, convém destacar um aspecto que apenas recentemente
foi diagnosticado, que é a multiplicação das ações de extroversão para um público que está distante
das redes de ensino, principalmente os familiares e amigos dos estudantes que estão envolvidos com
as vivências patrimoniais. A este respeito, a retomada das memórias individuais e coletivas dos
envolvidos direta ou indiretamente com as ações é um aspecto que deverá ser avaliado nas próximas
atividades.
No âmbito acadêmico, a complementação dos conteúdos das disciplinas com vivências
patrimoniais está se mostrando de extrema relevância para construção de uma visão crítica,
investigativa e narrativa, estimulando ―um olha para dentro‖, ―para si‖ e ―para os outros‖,
contribuindo também para a compressão de aspectos outrora esquecidos sobre a realidade da
Baixada Maranhense e Reentrâncias Maranhenses.

REFERÊNCIAS

BRASIL. República Federativa do Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil: texto


promulgado em de 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

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comunidade negra de Itamatatiua sob a perspectiva dos estudos pós-coloniais. Anais do V
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preservação da memória na Comunidade Quilombola Alcantarense de Itamatatiua. Dissertação
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Maranhense. Dissertação de Mestrado. PROGRAMA DE Pós-Graduação em Antropologia –
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todos nós. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2012.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1648


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

SABERES AMBIENTAIS DEMOCRATIZADOS: UMA PROPOSTA DE AULA


INTEGRADORA E INCLUSIVA

Lucas Viegas FRANCISCO83


Bacharel em Ciências Biológicas da UFPE
viegasfranco@me.com

RESUMO
O artigo trata, através de uma proposta de intervenção, como a sala de aula é ambiente propício a
troca de diferentes saberes. Aborda-se a questão das diferenças do aluno da zona rural e do centro
urbano. Especificamente como o preconceito pode ser desconstruído a partir da valorização da
história do homem do campo e os conhecimentos da natureza. Empregando a Educação Ambiental,
o professor é peça fundamental na mediação de contribuições, ao combinar conhecimentos
tradicionais, do aluno do campo, e perspectivações ecológicas, da turma em geral. Dessa
intervenção interdisciplinar e sobre diferentes sujeitos, surge a criação de saberes resultantes da
escuta e acolhimento às diferenças perspectivas, rurais e urbanas. Partindo-se do conhecimento do
local geográfico e biológico, o professor aborda clima e agricultura local, tecendo considerações
que permitam a correlação desses fatores. Através da articulação da escuta acolhedora e da fala
desinibida, estudantes respondem questionamentos sobre sua realidade – uma abordagem
problematizadora. O diálogo democrático, promove a inclusão dos diferentes pontos de vista, maior
integração da turma, reconhecimento e aumento de auto-estima utilizando a fala, pela valorização
dos conhecimentos culturais e científicos. A construção de um senso de interdependência dos
saberes e sujeitos. No fim das contas apresenta-se uma proposta criativa e prática de intervenção em
sala, que tem como principal aspecto entender a realidade local do aluno ao promover um senso de
integração do mesmo à grupalidade.
Palavras chave: Educação Ambiental, Democracia, Ecologia, Inclusão e aluno do Campo.
ABSTRACT
The paper discusses, by an intervention proposal, how school‘s classroom is a friendly place to the
interchange of several viewpoints. It's placed that there are natural differences of rural students and
urban students. Specifically, how the prejudgment can be deconstructed from the valuation of crop
field‘s history and the knowledge of Nature. Utilizing Environmental Education, the teacher is a key
player in the mediation of student‘s contributions, combining traditional information and ecological
perspectives. From the interdisciplinary intervention and connecting different subjects, emerges the
creation of knowledge resulting from the listening and welcoming of the rural and urban
perspectives. Based on geographic and biological‘s disciplines, the teacher approaches local climate
and agriculture, making considerations which allows the correlation of both factors. Through the
articulation of welcoming listening and uninhibited speech, students answer questions about their
reality. The democratic dialogue promotes the inclusion of different points of view, greater
integration of the class, recognition and increase of self-esteem using speech, the valorization of
cultural and scientific information. The construction of a sense of interdependence of knowledge
and subjects. Finally, it is demonstrated a creative and practical proposal of classroom‘s
intervention, whose mainly to understand the local reality of the student by promoting a sense of
integration of the each one to the class group.
Key-words: Environmental Education, Democracy, Ecology, Inclusion and rural student.

83
Estudante de Especialização em Gestão Educacional e Coordenação Pedagógica da UFPE, Coordenador Pedagógico
– Colégio e Curso Projeção, Vitória de Santo Antão/PE e Mestre em Ecologia da UFRN.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO
A sala de aula é um ambiente oportuno para interações, ao reunir diversas origens e histórias
num mesmo espaço-tempo, estudantes e professor(es) convivem sob diferentes bagagens de vida,
interesses e motivações. Parte da responsabilidade de interação positiva entre os alunos vem dos
profissionais pedagógicos, os professores e gestores, devendo ter a sensibilidade de perceber a
realidade, planejar ações, articular procedimentos e acompanhar planejamentos além do ensino e
aprendizagem, ou seja, assumindo o papel social da escola.
O primeiro passo do professor é identificar e reconhecer o que está a sua volta, o aspecto
social, o ambiente onde atua e a realidade de seus integrantes, em especial os estudantes. A função
social da educação escolar pode ser vista no sentido de um instrumento de diminuição das
discriminações (Cury, 2007).
As cidades de médio porte (com população entre 100 mil e 500 mil habitantes – segundo
IBGE, 2017), em especial, costumam compreender uma maior proporção de alunos da zona rural
em relação às grandes cidades. Esta presença de alunos da zona rural aumenta a diversidade de
pontos de vista no ambiente de sala de aula e pode ser encarada como desafio. Afinal, diferenças
nos olhares e histórias podem gerar conflitos, atitudes discriminatórias e reforçar antigos
preconceitos históricos, que minam a oportunidade de somar com as diferenças, promover uma
sociedade mais acolhedora e participativa. Os valores que defendam a igualdade, a pluralidade e a
diversidade se tornam justos porque por eles é que se reconhece a complexidade da realidade e seu
aspecto diversificado (Cury, 207).
Dentro do ambiente de sala de aula é fundamental que se construa o processo democrático à
medida que se desenvolve a noção de si, do outro e das diferenças. Segundo Bobbio (1984):

―O principio inspirador do pensamento democrático sempre foi a liberdade entendida como


autonomia, isto é, como capacidade de dar leis a si própria, conforme a famosa definição de
Rousseau, que deveria ter como consequência a perfeita identificação entre quem dá e
quem recebe uma regra de conduta e, portanto, a eliminação da tradicional distinção entre
governados e governantes sobre a qual fundou-se todo o pensamento político.‖

Ou seja, é o aspecto fundamental da democracia promover a autonomia e participação dos


seus integrantes. Como produtos históricos, ambientais, sociais e econômicos o ser humano vê e
interage com o mundo de acordo com sua perspectiva. Inclusive, estando de acordo com o art. 205
da nossa Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) é evidente:
―A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.‖
Sendo providencial, numa escola democrática (ou que buscar ser), a elaboração, pelo corpo
docente ou equipe pedagógica, de planejar oportunidades que promovam e orientem a fala e a

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

escuta dos estudantes – incluindo suas diferentes formas de ver e relacionar com o mundo.
Uma destas formas de atuações, ao identificar uma problemática e elaborar uma solução
exequível, chama-se proposta de intervenção. Desse modo, este texto aborda, através de uma
proposta de intervenção, como os saberes do aluno da zona rural podem vir a enriquecer a Educação
Ambiental e a democracia no ambiente escolar. Assim, o professor deverá estabelecer um processo
de participação na construção do saber e articular uma integração de saberes com autonomia junto
aos demais colegas de turma.
Refletindo sobre a existência de preconceitos a respeito do homem da zona rural, apontamos
o esquecimento e inferiorizarão desses aos olhos das classes dominantes. Desse modo, como coloca
Stubs (2014):

―É preciso levar os educandos a realizarem uma reflexão acerca da cultura, da identidade


dos povos e das comunidades do campo, valorizando sua história, seu jeito de ser, seus
conhecimentos e retratando suas diversidades socioculturais, visando a melhoria na
autoestima desses sujeitos e buscando desconstruir preconceitos‖.

Esta proposta, tem como peça fundamental a promoção e mediação do professor, ao


apresentar conceitos básicos de Ciências (Geografia e Biologia) e combiná-lo aos conhecimentos
campo (Agronomia e Ecologia) e do mercado (Economia). A partir desta combinação de saberes
promove-se o acolhimento às diferenças entre os alunos da zonal rural e urbana, articulando os
saberes numa proposta integradora e inclusiva.
Articulando os saberes em prol da inclusão dos diferentes pontos de vista, propõe-se uma
maior integração da turma, com o reconhecimento e aumento de auto-estima através da fala,
valorização dos conhecimentos culturais e científicos.
A proposta considerou às disciplinas Biologia e Geografia para serem aplicadas em turmas
do Ensino Fundamental II, assim como do Ensino Médio. Cabendo ao(s) professor(es) os devidos
ajustes no aprofundamento dos conteúdos iniciais e discussões subsequentes.
Apresenta-se aqui, uma proposta criativa e prática de intervenção em sala de aula que pode
ser melhor explorada por professores de Biologia e Geografia, mas que tem como seu principal
aspecto entender a realidade de cada aluno e da turma ao promover um senso de integração do
aluno na grupalidade pela participação orientada do docente. Na sequência desse texto se explanará
a proposta de inclusão a partir de intervenção democrática em Educação Ambiental.

INICIANDO A AULA
Para o início da aula, tomou-se como base dois fatores ecológico-ambientais. O clima e a
agricultura.
Para o clima considerou-se as curvas anuais de temperatura e precipitação ou chuvas (ver
Figura 1). Desse modo, os dados climáticos de Vitória de Santo Antão foram colhidos através do

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

link climate-data.org (link acessado em Agosto de 2017). Considerado é tropical. Chovendo muito
menos no inverno que no verão. O clima é classificado como Aw segundo a Köppen e Geiger. A
temperatura média anual é de 24,1 °C e a pluviosidade média anual, 1014 mm. Outubro é o mês
mais seco com 24 mm. O mês de maior precipitação é Junho, com uma média de 158 mm. Janeiro é
o mês mais quente do ano, com média de 25,4 °C. Julho é o mês com temperatura mais baixa, 22,2
°C.

Figura 1. Gráfico Climático Vitória De Santo Antão (Climate Data, 2017).

Dos saberes agrícolas, apontou-se o período de algumas das safras agrícolas da região, tendo
como subsídio primário o calendário agrícola da região (ver Tabela 1). Desse modo, foram
escolhidas para aula apenas três cultivares. Sendo com fins meramente didático, sem interesse de
representar a realidade técnica agrícola, procurou-se obter informações do abacaxi, da banana e do
chuchu através do Calendário Comercial da CEASA/PE (site CEASA, 2017) e do livreto Cultivares
Recomendadas pelo IPA para Zona da Mata de Pernambuco, 2009. Sendo explicitados à turma o
período de plantio, safra e comercialização das três cultivares (Tabela 1).

CULTURAS PLANTIO SAFRAS COMERCIALIZAÇÃO


Abacaxi Fev-Mar Set-Fev Set-Fev
Banana Abr-Jun Jan-Dez Jan-Dez
Chuchu Fev-Mai Jan-Dez Jan-Dez
Tabela1 :Inspirado pelo Calendário Comercial Agrícola da CEASA/PE (CEASA, 2017) e informações do
livreto Cultivares Recomendadas pelo IPA para Zona da Mata de Pernambuco, 2009.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

RELACIONANDO AS SAFRAS E O CLIMA


A partir da exposição da tabela Agrícola e do gráfico de chuvas e temperatura, caberá ao
professor incentivar os estudantes a produção de uma nova figura.
Inicialmente obtém-se do calendário agrícola (Tabela 1) as informações das safras das
frutas. Em seguida, os alunos (em especial os do campo) expõem seus conhecimentos sobre a safra
dos frutos selecionados para a atividade. A partir dessas informações é plotado no gráfico climático
(Figura 1) as conclusões sobre a safra dos frutos (Figura 2).

Figura 2. Safras de abacaxi, banana e chuchu – com fins meramente didáticos – sobrepostas ao gráfico
Climático do município de Vitória de Santo Antão (Climate-Data, 2017). Informações inspiradas pelo
Calendário Comercial da CEASA/PE (site CEASA, 2017) e do livreto Cultivares Recomendadas pelo IPA
para Zona da Mata de Pernambuco, 2009.

CRIANDO HIPÓTESES PRIMÁRIAS: A MEDIAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES.

Tomando-se por base que as características das safras dos frutos escolhidos e a figura
construída (Figura 2), lançamos a seguinte pergunta aos estudantes: O que deve influenciar nas
diferentes safras estudadas?
Hipóteses da safra do abacaxi: maior produção em meses quentes e secos.
Hipóteses da safra da banana: constante produção durante o ano todo.
Hipóteses da safra do chuchu: maior produção nos meses mais úmidos e frios.

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ENTRESSAFRAS: A CONFRONTAÇÃO ENTRE HIPÓTESES E EXPERIÊNCIAS.

Tomando-se por base que as características dos frutos eventualmente produzidos fora de
safra devem variar dos frutos produzidos em período de safra, lançamos uma nova pergunta: O que
deve diferenciar dos frutos de safra vs. entressafra em cada cultura? Cabe frisar que a expressão
―entressafra‖ é utilizada neste texto apenas para designar o período diferente da safra (ver Tabela 1)
ou principal colheita anual.
A partir desse momento promove-se a maior participação pelo relato de experiências dos
alunos do campo ou zona rural e pela proposição de hipóteses de toda a turma. A proposta é que as
diferentes ideias e experiências sejam articuladas pelo professor. Apresentando uma construção
inédita e inesperada para todos os participantes, professor(es) e estudantes.
A seguir temos possíveis contribuições sobre a entressafra das cultivares escolhidas com
base nas experiências em sala de aula. Vale destacar os fins meramente didáticos desta proposição,
não sendo do interesse deste trabalho retratar fidedignamente a realidade técnico-agrícola.
Hipóteses do abacaxi de entressafra: o fruto não deve ter bom sabor entre os meses de março
e agosto (ver Figura 3), possivelmente devido as chuvas de março a junho que atrapalhariam seu
crescimento e talvez deixem o fruto menos doce (aguado). É provável que a maior quantidade de
chuvas propicia o crescimento de pragas, sendo necessário que as plantas produzidas neste período
recebam maior carga de agrotóxicos, tornando-se nocivas à saúde tanto do homem do campo (que a
maneja) quanto do consumidor. Apesar dos frutos mais aguados e com mais agrotóxicos é provável
que os preços aumentem em função da menor oferta do produto no mercado e dos gastos maiores
com agrotóxicos para sua produção.
Hipóteses da banana de entressafra: a fruta, ao contrário das outras não apresenta entressafra
(ver Figura 3). O que nos remete a ideia de que sua fácil produção pode ter relação com a expressão
―preço de banana‖, ou seja, sempre ―barata‖. E, talvez, o que pode mudar seja o sabor da fruta de
acordo com períodos mais ou menos chuvosos do ano, concentrando maios ou menos os açúcares
no fruto.
Hipóteses do chuchu de entressafra: devido a cultura do chuchu necessitar de muita água
para sua produção, a colheita nos meses mais secos – de outubro a maio – devem render frutos
menores e em menor quantidade devido ao estresse hídrico (Figura 3). Apesar de frutos menores, é
provável que o preço aumente em função da menor oferta do produto no mercado. Ou seja,
tomando-se por base o mecanismo de oferta e procura do mercado, frutos menores e em menor
quantidade, podem ser mais caros devido aos custos do produtor com maior irrigação, fazendo com
que o preço se eleve ao consumidor final na entressafra.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figura 3. Safras (ícones coloridos) e entressafra (ícones em preto e branco) de abacaxi, banana
e chuchu – com fins meramente didáticos – sobrepostas ao gráfico Climático do município de
Vitória de Santo Antão (Climate-Data, 2017). Informações inspiradas pelo Calendário
Comercial da CEASA/PE (site CEASA, 2017) e do livreto Cultivares Recomendadas pelo IPA
para Zona da Mata de Pernambuco, 2009. As entressafras plotadas acima foram criadas a
partir das considerações de experiência dos alunos do campo em sala de aula com o professor.
Destaca-se a ausência de entressafra para a banana.

DISCUSSÃO

A valorização da realidade local pode ser observada nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), que dá ênfase à história local, a partir de criações de problematizações, coletas de
realidades de diferentes indivíduos, além de situações que nunca foram vistas como conhecimento,
de fato, o que favorece a interação dos alunos a partir do questionamento e exposição de suas
experiências e perspectivas, que podem contribuir para o desenvolvimento de sua consciência
histórica (Schimidt e Cainelli, 2004).
Desse modo, incentivando, integrando a turma e motivando a participação de todos,
considerou-se a potencial predominância do conhecimento experiencial do aluno do campo, sem
deixar a contribuição dos demais.
Considerando que frutos são alimentos e todos nós nos alimentamos, a proposta de aula
sobre os fatores que influenciam sua produção e consumo tem relação direta a realidade dos
participantes. Promovendo não só significado do ser e seu espaço, mas sua relação com os sujeitos e
o objeto de conhecimento.
Com isso, desperta-se a criatividade, ao tornar a voz ouvida do estudante, através do senso
crítico e participação democrática em aula. Incentiva-o até ele se automotivar, ou seja, ao construir

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

valor em suas proposições e perceber que pelo diálogo é possível construir algo maior do que suas
ideias iniciais. Descontroem-se preconceitos.
Ao aluno do campo, cada vez mais motivado a participar, sentindo-se incluído no grupo.
Aos demais, motivados por uma metodologia mais ativa de aprendizagem. De maneira geral, o
processo pretende-se colocar como uma retroalimentação positiva, pelo polinômio cíclico incentivo-
participação-integração-inclusão-autoestima-motivação. De modo mais simples, expresso pelo
crescendo: incentivo docente – automotivação discente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O planejamento pedagógico integrador entre alunos do campo e do centro urbano é
fundamental para a redução do preconceito histórico. Naturalmente, sua efetividade somente
ocorrerá com a mobilização da comunidade em geral. Entretanto, cabe a escola ficar atenta ao
currículo escolar, em conteúdos como cidadania, ecologia e democracia. Atentos as ocorrências
preconceituosas ou discriminatórias em geral, tais como questões de raça, gênero, religião, sociais,
econômicas, etc. Ou seja, percebe-se a possibilidade de criar outras propostas de intervenção ao
identificarmos estes problemas na realidade escolar. A fim de construirmos uma sociedade mais
democrática (transformação social e cidadania) e menos individualista (desenvolvimento do ser),
promove-se o respeito às diferenças (como através da escuta acolhedora e da fala desinibida) e
articulação de conhecimentos significativos a realidade comum a todos. Sendo fundamental que os
alunos compreendam a zona rural e o centro urbano como espaços interdependentes da humanidade.
Desse modo, do incentivo à fala até a participação automotivada, retroalimenta-se o ciclo virtuoso
do conhecimento útil a todos.

REFERÊNCIAS

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Tradução Marco Aurélio Nogueira. Título original: II futuro delia democrazia. Una difesa delle
regole dei gioco. Rio de Janeiro, RJ: Editora PAZ E TERRA, 1984. 171 p.

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CEASA – Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco. Calendário de Comercialização


Agrícola. Link: http://www.ceasape.org.br/assets/repositorio/calendario/15012197151037-
calendario2017.pdf, em agosto de 2017.

CLIMATE-DATA. Link: www.climate-date.org, acessado em agosto de 2017.

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CURY, CARLOS ROBERTO JAMIL. A gestão democrática na escola e o direito à educação.


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STUBS, LENIRA SAMPAIO. A valorização do homem do campo e sua cultura. Livro: Os


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PDE, Produções Didático-Pedagógicas. Maringá-PR: UEM – Universidade Estadual de Maringá,
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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1657


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

PERCEPÇÃO DE JOVENS ESCOLARES SOBRE A ATIVIDADE CERAMISTA


TRADICIONAL E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE
UNIÃO DOS PALMARES, ALAGOAS

Maria Madalena Soares da SILVA


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Energia de Biomassa da UFAL
madalenasoaresbio@gmail.com
Rafael Ricardo Vasconcelos da SILVA
Orientador no Programa de Pós-Graduação em Energia de Biomassa da UFAL
rafael.vasconcelos@ceca.ufal.br

RESUMO
Neste trabalho apresentamos as experiências resultantes de oficinas participativas que buscaram
avaliar as percepções de um grupo de escolares do povoado de Muquém, em União dos Palmares,
Alagoas, sobre a atividade ceramista e seus impactos socioambientais. Neste contexto, assumimos
que o ambiente escolar representa um espaço estratégico para ações que buscam uma interação
entre os saberes científicos e tradicionais. As atividades desenvolvidas ocorreram em três etapas: 1)
aplicação de questões geradoras e sistematização de um Discurso do Sujeito Coletivo (DSC); 2)
Oficina de planejamento estratégico com a técnica FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e
Ameaças); e, 3) Ações de Retorno, envolvendo os jovens e os ceramistas artesanais do Povoado
Muquém. Verificamos que os jovens apresentaram uma profunda compreensão da importância
econômica e cultural da atividade ceramista para a comunidade. Porém, também demonstraram
preocupação em relação aos impactos ambientais relacionados à atividade, em especial o uso de
lenha – um recurso cada vez mais escasso na região, em virtude do processo de histórico de
diminuição das áreas de florestas. Com base nos resultados foi possível desenvolver ações junto aos
atores sociais envolvidos, de modo a contribuir com a reflexão e o enfrentamento das problemáticas
socioambientais destacadas pelos participantes.
Palavras-chave: Conservação, percepção ambiental, comunidades tradicionais, métodos
participativos, mata atlântica.
ABSTRACT
In this work we present the experiences of a participatory approach that sought to evaluate the
perceptions of a group of schoolchildren from the village of Muquém, in União dos Palmares,
Alagoas, about pottery activity and its socioenvironmental impacts. In this context, we assume that
the school environment represents a strategic place for actions that seek an interaction between
scientific and traditional knowledge. The activities were developed in three stages: 1) application of
generating questions and systematization of a Collective Subject Discourse (CSD); 2) Strategic
planning with the SWOT technique (Strengths, Opportunities, Weaknesses and Threats); and, 3)
Return Actions, involving the schoolchildren, as well as the artisanal potters of the Muquem
Village. We verified that the young people presented a deep understanding of the economic and
cultural importance of the ceramist activity to the community. However, they also showed concern
about the environmental impacts related to the activity, especially the use of firewood - an
increasingly scarce resource in the region, due to the historical process of deforestation. Based on
the results, it was possible to develop actions with the social actors involved, in order to contribute
to the reflection and the confrontation of the social and environmental problems highlighted by the
participants.
Key words: Conservation, environmental perception, traditional communities, participatory
methods, atlantic forest.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

INTRODUÇÃO

Compreender o funcionamento das comunidades tradicionais é importante quando se busca


por soluções para os temas e problemas pertinentes aos locais onde estão inseridas. Neste sentido,
as unidades locais de ensino formal podem representar ambientes apropriados para associar os
conhecimentos locais aos científicos sobre os recursos naturais. Pressupomos que a valorização do
conhecimento empírico no processo educativo resulta em uma melhor aprendizagem em sala de
aula, especialmente em comunidades que se relacionam com ambientes naturais, como as florestas
(SILVA, MARANGON, ALVES, 2014; BAPTISTA, 2007).
Entre as comunidades tradicionais que apresentam um grande potencial para o
desenvolvimento de práticas de ensino integradoras do saber local com o científico, destacam-se as
comunidades quilombolas. Salienta-se, neste sentido, que as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Escolar Quilombola segue as mesmas orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para Educação Básica, ao afirmar que na estruturação e funcionamento das escolas
quilombolas, bem como nas demais, a diversidade cultural devem ser reconhecidas e valorizadas
(BRASIL, 2013).
Neste contexto, as escolas representam uma importante instituição social, capaz de
disseminar a educação ambiental. Assume-se, neste sentido, que esses espaços educativos são
capazes de se transformar em comunidades atuantes para o enfrentamento das problemáticas
socioambientais cotidianas. Desse modo, as escolas podem ser espaços de referência para as
comunidades na transmissão de valores culturais, valorização dos saberes tradicionais e produção
do conhecimento científico rumo à sustentabilidade socioambiental, orientando as presentes e
futuras gerações sobre as mudanças que permeiam a sociedade e o meio em que vive na atualidade
(ZANON, 2015).
Neste trabalho, são apresentados os resultados de uma pesquisa realizada com os jovens
escolares da comunidade Muquém, com o objetivo de avaliar a percepção deles sobre a atividade
ceramista e seus impactos socioambientais. Além disso, apresentamos as experiências de
compartilhamento dos principais resultados da pesquisa junto aos moradores de Muquém.
Essas experiências traduzem um esforço na busca por soluções participativas para as
problemáticas identificadas ao longo da pesquisa. Buscou-se, dessa forma, provocar em todos os
envolvidos uma inquietação, que permitiu a elaboração e execução de ações de retorno. Espera-se
que tais ações tenham contribuído com a manutenção da atividade ceramista, de forma integrada
com os conhecimentos e práticas locais.

MÉTODOS

Área do Estudo

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

A pesquisa ocorreu na Escola Municipal Pedro Pereira da Silva, localizada na comunidade


de Muquém, inserida no município de União dos Palmares, Alagoas. Esta escola foi selecionada
pelo fato de que, em etapas anteriores do estudo, verificou-se que nesta comunidade a atividade
ceramista apresenta relevante importância econômica e cultural, porém vem sendo ameaçada pela
escassez de um recurso natural básico para sua produção, a lenha.
A escola atende a 77 (setenta e sete) crianças matriculadas na Educação Infantil, 169 (cento
e sessenta e nove) crianças de 1º ao 5º Ano do Ensino Fundamental, e 80 (oitenta) estudantes do 6º
ao 9º Ano do Ensino Fundamental. Dos 326 (trezentos e vinte e seis) estudantes, 265 (duzentos e
sessenta e cinco) residem da própria comunidade, outros 61 (sessenta e um) moram nas regiões
próximas a comunidade, em áreas rurais nas quais funcionam as unidades escolares anexas à escola
sede. Estas unidades anexas estão localizadas nas proximidades da Serra da Barriga, região da qual
também faz parte a comunidade do Muquém.

Coleta e Análise dos Dados

A coleta e analise dos dados ocorreram em três momentos distintos, que consistiram em
duas oficinas participativas, e em ações de compartilhamento dos resultados (ações de retorno).
a) Primeira etapa: aplicação de questões geradoras e análise do Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC)
Para coleta dos dados, foi empregada a técnica baseada da Metodologia Geradora de Dados
(POSEY, 1986). Dessa forma, os alunos foram convidados a redigir textos com base em questões
abertas com três temas geradores: 1) A cerâmica de Muquém; 2) A floresta em Muquém e; 3) Se a
cerâmica de Muquém falasse o que ela diria para a floresta? Para cada tema gerador os participantes
tiveram um tempo de 15 minutos para redigir um texto, totalizando 45 minutos.
O material produzido a partir das perguntas geradoras foi analisado, buscando identificar em
cada um dos textos as questões correspondentes entre si, seguindo os procedimentos de análise da
técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) (SOUZA, ALVES, ALVES, 2006). O DSC é uma
técnica de análise qualitativa que busca reunir em um único texto, redigido na primeira pessoa do
singular, conteúdos de depoimentos coletivos, obtidos em pesquisas empíricas, fazendo com que
essas expressões, com sentidos semelhantes apareçam de forma incorporada em um único texto
(LEFEVRE, LEFEVRE E MARQUES, 2009).
Neste sentido, os dados obtidos através dos textos dos alunos, foram avaliados um a um e
retirados das redações dos participantes as expressões-chaves a partir de cada tema gerador. Através
das Expressões-chaves semelhantes, extraíram-se as Ideias Centrais e a Ancoragem. Com os
resultados obtidos a partir das Expressões-chaves, Ideias Centrais e Ancoragens semelhantes, foram
compostos os discursos sintetizados, se configurando o Discurso do Sujeito Coletivo
(FIGUEIREDO, CHIARI, GOULART, 2013).
b) Segunda etapa: oficina de diagnóstico rápido participativo (DRP)

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Após a primeira etapa concluída, foi realizada uma oficina participativa com a aplicação da
ferramenta ―Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças - FOFA‖ (KUMMER, 2007), que
pode ser utilizada com a finalidade de formulação de estratégias onde se identifica nas
organizações, tais como: associações, cooperativas e empresas.
As Forças e Fraquezas se referem a atributos do ambiente interno e que contribuem para
melhorar e influenciar negativamente respectivamente a atividade desenvolvida. As Oportunidades
e Ameaças são referentes ao ambiente externo, que influenciam positiva e negativamente o
desenvolvimento organizativo da atividade. Portanto, as oportunidades devem ser aproveitadas,
enquanto as Ameaças devem ser neutralizadas de modo que não se transformem em problemas
internos.
c) Terceira etapa: ações de compartilhamento ou ações de ―retorno‖
O conceito de retorno, adotado no campo da pesquisa etnoecológica, designa uma prática
transformadora, que se consolida através da troca de saberes científicos e locais. Esse intercâmbio
de saberes visa à construção de novos conhecimentos e soluções, que se tornem instrumentos de
mudança social e possibilitem o cumprimento das funções sociais da pesquisa científica. As ações
de retorno consistiram nas seguintes atividades: a) ―roda de diálogo‖ com a comunidade; b)
palestras; c) plantio de mudas; d) oficinas de cerâmica.

RESULTADOS

Agrupadas as ideias-centrais, foi desenvolvido um Discurso do Sujeito Coletivo – DSC, a


partir das respostas dos estudantes para as questões geradoras. No quadro 1, destacamos alguns
trechos do discursos.

Quadro 1. Trechos dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) elaborado a partir das respostas dos alunos para
as questões geradoras. Escola Municipal Pedro Pereira da Silva, Muquém, União dos Palmares, Alagoas.
Tema (questão geradora) Discurso coletivo
―A cerâmica de Muquém é uma arte feita do barro, uma cultura
popular famosa, muito legal de conhecer por que tem várias
A Cerâmica de Muquém coisas para se aprender. É uma grande felicidade para me
saber que eu faço parte dessa cultura, reconhecida em várias
partes do nosso Brasil‖.
―A floresta do Muquém é muito bonita e muito importante para
as árvores, os animais e os moradores da comunidade de
Muquém. Nós podemos visitar a mata para estudar, fazer
A Floresta do Muquém trilhas e tirar algumas fotos‖.
―Porém, quase nem se encontra mais as florestas daqui, as
pessoas estão desmatando o pouco que existe de mata. Se
continuar assim não vai ter mais nada. Muitas vezes nem tem
lenha para as pessoas procurarem‖.
Se a Cerâmica de Muquém ―Eu não queria que as pessoas me produzissem pra desmatar
falasse o que ela diria a você. Nunca deixe ninguém lhe desmatar e nem lhe queimar,

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Floresta? porque eu dependo muito de você. Sem você eu acho que não
teria outra maneira de queimar os artesanatos‖.

Por meio da técnica Fortalezas, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (FOFA), as


percepções dos participantes sobre a atividade ceramista foram sistematizadas em uma matriz e
discutidas conjuntamente, numa referência aos itens fortalezas, fraquezas, oportunidades e ameaças.
Entre as fortalezas indicadas pelos participantes destacaram-se aspectos relacionados à
possibilidade de realização pessoal, por meio de aprendizado, ganhos econômicos, e de
fortalecimento social, através da valorização e manutenção de uma atividade de importância
cultural. Entre as fraquezas, os alunos indicaram os aspectos considerados por eles negativos, como
a relação competitiva entre os ceramistas (ambição, inveja), a falta de interesse dos jovens da
comunidade e a escassez de áreas florestais. Entre as oportunidades, os alunos ressaltaram o
potencial das peças de ceramista conhecidas em outras partes do país e do mundo, e,
consequentemente, um maior interesse de visitantes, que ajudam a movimentar a economia local
com a atividade turística. Já entre as ameaças, os participantes destacaram aspectos relacionados ao
risco de exaustão dos recursos naturais necessários para produção ceramista, como a lenha, a argila
e consequentemente a biodiversidade.
Na ação de retorno ―roda de diálogo‖, fizeram-se presentes cerca de 100 participantes. Entre
os presentes estavam ceramistas locais, pais e responsáveis de alunos, representantes das
associações local, técnicos de meio ambiente, agricultura, educação, e estudantes universitários. A
fim de apresentar a todos o diagnóstico da pesquisa, e juntos encontrar soluções para as
problemáticas identificadas com relação à atividade ceramista.
As palestras realizadas resultaram em ações de conscientização e sensibilização
socioambiental, abordando a importância do Bioma Mata Atlântica para as populações humanas
locais na região do estudo, com objetivo de sensibilizar e provocar a reflexão sobre as relações entre
a conservação das florestas e a manutenção dos modos de vida e produção das populações humanas
locais.
Como forma de contribuir para minimizar os problemas identificados (escassez de áreas
florestais), foi realizado o plantio de mudas em áreas degradadas. Cerca de 130 pessoas
participaram da atividade, em um mutirão para o plantio de 290 mudas (até o momento deste
trabalho), entre as espécies plantadas, foram priorizadas as espécies citadas como utilizadas no
passado para o processo de produção de cerâmica, e que ocorrem na Mata Atlântica. Inicialmente a
área destinada ao reflorestamento corresponde a seis hectares, e foi cedida por um dos ceramistas
envolvidos na pesquisa (Figura 1).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Figuras 1 - Plantio de mudas de árvores nativas em áreas degradadas na comunidade quilombola. Fonte:
Autor, 2017.

Com a oficina para produção de cerâmica artesanal, realizada na escola da comunidade, foi
possível promover a troca de experiências e difusão dos conhecimentos entre os ceramistas e os
jovens da comunidade de Muquém. Os ceramistas locais convidados puderam ensinar as técnicas de
produção de cerâmica artesanal aos mais jovens, se configurando em uma excelente oportunidade
para promoção e valorização da cultura local.

DISCUSSÃO

A partir das respostas dos alunos, verificamos que em relação ao primeiro tema gerador ―A
Cerâmica de Muquém‖, os jovens participantes demonstraram um reconhecimento da valorização à
arte ceramista na própria comunidade, por ser reconhecida no Brasil e no mundo. Eles sentem
orgulho dos seus ancestrais que desenvolvem a atividade e demonstram saber que entre eles e a arte
existe uma relação de afeto.
Ao serem estimulados a refletir sobre a atividade ceramista, os jovens revelam reconhecer o
valor cultural atribuído as peças de barro. Por meio dessas atividades torna-se possível despertar nos
participantes a importância da apropriação de uma cultura específica de sua região, assegurando
assim, a sustentabilidade de seu território tradicional. Como orienta a educação escolar quilombola,
atendendo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica para a Educação Escolar
Quilombola (BRASIL, 2013).
Quando estimulados a escrever sobre a floresta, com a seguinte questão aberta ―A floresta
em Muquém‖, os participantes demonstram perceber claramente a importância da floresta para a
comunidade Muquém, reconhecendo alguns aspectos ecológicos como uma grande diversidade de
árvores e animais. Todos indicaram perceber os benefícios dos bens e serviços que as matas
proporcionam, assim como relataram o uso dos recursos florestais, em especial a lenha, para atender
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

as necessidades diárias. Uma pequena parte dos entrevistados atribui à degradação ambiental ao uso
indevido da lenha. Entretanto, os alunos sugeriram soluções para esse problema, quando relataram
―As pessoas que queimam a cerâmica estão matando o que Deus construiu de mais lindo no
mundo, a natureza. Para ser queimada, a mata não precisa ser destruída, só basta que a árvore
estivesse seca‖.
Em relação à última questão, que realça a relação entre a cerâmica e a floresta - ―Se a
cerâmica de Muquém falasse o que ela diria para a floresta?‖, os participantes ressaltaram a
necessidade de utilizar as plantas como lenha para queimar as peças de artesanato, entretanto,
apresentaram como solução coletar lenha seca, não derrubar nenhuma árvore e realizar o
plantio/reflorestamento. Portanto, demonstraram uma ampla visão na busca de alternativas para
solucionar os problemas ambientais relacionados ao uso indevido da lenha na produção de
cerâmica, assim como outros usos da floresta. Os jovens participantes perceberam na arte ceramista
uma importante ferramenta que possibilita oportunidades e assegura a economia local, garantindo o
sustento econômico dos artesãos. Na expressão ―valorizar o que faz‖ eles indicou reconhecer o
valor agregado às peças de cerâmica.
Em relação às fraquezas, foi citada a escassez das florestas como agravante para a atividade
ceramista, uma vez que a atividade demanda madeira para a queima das peças. A falta de interesse
dos jovens na atividade também aparece como fraqueza. Entretanto, quando perguntado quem
gostaria de aprender a arte, 19 dos 21 participantes revelaram que tinham bastante interesse e alguns
disseram que já tinha habilidade. Atualmente os jovens se mostram desinteressados pela
modelagem de barro, essa falta de interesse gera certo queda na atividade ceramista. Alguns estudos
sugerem que para as novas gerações aprenderem seria interessante que o governo oferecesse alguns
incentivos (REIS, 2015).
De acordo com os relatos dos estudantes a escola representa um espaço apropriado para se
desenvolver oficinas de cerâmica, bem como outras estratégias de ações mitigadoras para as
problemáticas encontradas como, por exemplo, a arborização e reflorestamento local. Pesquisas
indicam que a contextualização do ensino das ciências com os aspectos vivenciados no cotidiano,
proporciona motivação e pode facilitar o aprendizado significativo dos alunos (BAPTISTA, 2007).
As perspectivas com a cerâmica a partir das oportunidades demonstram uma promissora
visão para o futuro, eles percebem que através da arte ceramista podem divulgar sua cultura e
explorar o turismo, veem nessa atividade grandes oportunidades econômicas, através do
desenvolvimento na produção. Como ameaças, os participantes perceberam notoriamente o
agravante do desmatamento para a manutenção da lenha. Relataram que as florestas vêm se
acabando ao longo dos anos e que a lenha é essencial para manter a atividade ceramista. Segundo
eles, a floresta atende a outras formas de uso. Além de fornecer a lenha para a atividade ceramista e

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

para cozinhar alimentos, a floresta representa uma fonte de ervas medicinais, local para a caça de
alguns animais, coleta de frutos, etc. De acordo com a ONU, mais de um bilhão e meio de pessoas,
dependem diretamente das florestas para sua subsistência, entre elas povos tradicionais, mas a cada
ano, aproximadamente 13 milhões de hectares de floresta são destruídos (ONUBR, 2016).
Visto que, a conservação dos ecossistemas é extremamente importante quando se almeja o
desenvolvimento sustentável e a garantia da qualidade de vida, essas áreas podem ser utilizadas
para atender as atividades desenvolvidas pelas populações tradicionais, as quais são imprescindíveis
para sua sobrevivência e da sua família. Para isso, é indispensável que respeitem as Áreas de
Proteção Permanentes (APP) e as áreas de Reserva Legal (Brasil, 2010).
Nesse caso, a partir das informações trabalhadas, podem ser gerados resultados satisfatórios
para o planejamento de ações de conservação da biodiversidade, uma vez que as populações
humanas locais são participantes ativas nos processos de modificação sofridos pelo ambiente
florestal ao longo dos tempos. Desse modo, essas populações podem participar também do processo
de minimização dos problemas envolvendo esses ambientes (SILVA, 2010).
Poucos jovens participam da atividade ceramista, que se restringe basicamente aos mais
experientes, diante da necessidade da inserção dos jovens na atividade ceramista, foi organizada
uma mobilização envolvendo os ceramistas locais e os estudantes, para a realização de oficinas de
cerâmicas. Esse evento pode contar também com a participação de autoridades, estudantes,
pesquisadores, professores universitários, etc. interessados com as questões socioculturais e
ambientais da comunidade Muquém.
Através dessas iniciativas a escola é o meio pelo qual se aprende a valorizar as riquezas das
raízes culturais específicas da região. Dessa forma, se reconstrói a cada dia suas identidades
culturais, a partir do processo ensino/aprendizagem sendo possível uma apreciação com olhar
diferenciado para as riquezas naturais próprias de região (BRASIL, 2013). A partir dessas
iniciativas um grupo de estudantes e componentes da comunidade se mobilizou. Eles são
considerados os articuladores da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola –
Com-vida, denominada de ―Ecologia Quilombola‖, promovendo diversos espaços participativos
para a realização de pesquisas e ações, bem como a exposição de suas vivências em diferentes
modalidades, como rodas de diálogo, palestras e oficinas.
Assim, o referido coletivo de meio ambiente vem consolidando um lugar onde todos têm vez
e voz lê e escreve o mundo em que vivem. Pensando e definindo ações socioambientais em Círculos
de Aprendizagem e Cultura, os quais se unem a outros âmbitos do Povoado Quilombola Muquém,
que se caracterizam como Comunidades de Aprendizagem para Qualidade Ambiental e de Vida.
(BRASIL, 2012).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da linguagem escrita os participantes expressaram suas impressões individuais e


experiências cotidianas. Desse modo, os respondentes demonstraram uma ampla compreensão do
valor cultural e da importância socioeconômica da atividade ceramista. Demonstraram ainda um
reconhecimento do cenário de escassez de áreas florestais na região do estudo, bem como as
influências negativas deste cenário sobre os modos de produção ceramista e conservação da
biodiversidade local.
Através das ações de retorno foram possíveis iniciativas imediatas proposta pelos
envolvidos, provocando em toda comunidade uma inquietação para as problemáticas
socioambientais, a partir de realização de ações, como atividades de educação ambiental,
recuperação de áreas degradadas, arborização, oficinas de cerâmicas, etc. Buscando assim,
minimizar os impactos ambientais na região, na busca da sustentabilidade econômica, cultural e
ambiental na comunidade.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, G. C. S. A Contribuição da Etnobiologia para o Ensino e a Aprendizagem de


Ciências: Estudo de Caso em uma Escola Pública do Estado da Bahia. 2007. Dissertação
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Universidade Estadual de Feira de Santana, Salvador.

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Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola


na Educação Básica. RESOLUÇÃO Nº8, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2012. Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE). Brasília. Resolução CNE/CEB
8/2012.

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MMA/SBF, 2010.

FIGUEIREDO, M.Z.A.; CHIARI, B.M.; GOULART, B.N.G. Discurso do Sujeito Coletivo: uma
breve introdução à ferramenta de pesquisa qualiquantitativa. Distúrbios da Comunicação. 2013.

Kummer, L. Metodologia participativa no meio rural: Uma visão interdisciplinar, conceitos


ferramentas e vivencias. Salvador: GTZ, 2007, 155p.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1666


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A.M.C.; MARQUES, M.C.C. Discurso do Sujeito Coletivo,


complexidade e auto-organização. Ciências e Saúde Coletiva. 2009.

MOURA, Flavia de Barros Prado. Conversando sobre ciências em Alagoas: (Org.). A Mata
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POSEY, D. Etnobiologia: teoria e prática. In: RIBEIRO, B. (coord.) Suma Etnológica Brasileira, v.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

HEROÍNAS DO TEJUCUPAPO: EM BUSCA DO RECONHECIMENTO


E DE PLENA AUTONOMIA SOCIAL

Ramon Maciel FERREIRA


Arquivista Centro de Tecnologia da UFPB
ramonferreirajf@gmail.com
Gilberto Gonçalves RODRIGUES
Professor Adjunto Doutor. Centro de Biociências da UFPE
gilbertorodrigues.ufpe@gmail.com

RESUMO
A proposta deste artigo é a construção, o planejamento e o desenvolvimento temático de pesquisa,
utilizando e resgatando aspectos históricos, ambientais, culturais e patrimoniais, buscando de forma
introdutória apresentar a realidade da comunidade, de seu patrimônio cultural e o planejamento de
ação em busca da autonomia social. A figura central do projeto é a encenação da Batalha das
Heroínas do Tejucupapo, distrito do município de Goiana, Pernambuco. Sendo esta um bem
patrimonial social, mas sem o devido reconhecimento público de sua importância, que retrata a data
de 24 de abril de 1646 onde a região, no período da dominação holandesa, sofreu uma tentativa de
invasão a qual é frustrada pelas mulheres da região.
Palavras-chaves: Heroínas do Tejucupapo, Patrimônio Cultural, e Afrodescendente.
ABSTRACT
The proposal of this article is a construction, thematic planning and development of research, using
and describing historical, environmental, cultural and patrimonial resources, seeking in an
introductory way to present the reality of the community, of its cultural patrimony and planning of
action in search of autonomy social. A central figure of the project is a staging of the Battle of the
Heroines of Tejucupapo, district of the municipality of Goiana, Pernambuco. This is a social
patrimonial property, but without due recognition of its importance, which depicts the date of April
24, 1646 where the region, during the period of Dutch domination, suffered an invasion attempt
which is frustrated by the women of the region.
Keywords: Tejucupapo heroines, Cultural patrimony, and Afrodescendant.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Esta proposta de trabalho terá como base de estudos as mulheres do distrito de Tejucupapo,
localizado na cidade de Goiana no estado de Pernambuco, relacionando com os aspectos
identitários, patrimoniais, econômicos, potencialidades de desenvolvimento sustentável e
características naturais. A comunidade é integrada à unidade de conservação (UC) de uso
sustentável componente da Reserva Extrativista (RESEX) Marinha Acaú-Goiana, criada pelo
Diploma Legal de Criação, Decreto s/nº de 26 de setembro de 2007, do Ministério do Meio
Ambiente, com aspectos e vestígios arqueológicos, documentais e sociais da Batalha do Tejucupapo
(1646), protagonizada por heroínas brasileiras e hoje representada em uma encenação pelas ―filhas

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

de outros tempos‖, mas ainda com a mesma importância, em meio aos atores sociais existentes na
manutenção socioeconômica.
A região é evidenciada durante o século XVII (1624-1654), conhecido como período das
invasões holandesas no Brasil, iniciada poucos anos após a criação da Companhia das Índias
Ocidentais (1621) e historicamente finalizada com a chamada Insurreição Pernambucana (1654), ao
decorrer deste corte temporal ocorre a Batalha do Tejucupapo, embora seja documentada esta é
pouco explorada em meios educacionais e ainda não reflete ganhos condizentes com a grandeza e
importância histórica da comunidade.
As heroínas do Tejucupapo, como são conhecidas pelos aspectos históricos e de educação
patrimonial, eram formadas por mulheres que batalharam em defesa de sua aldeia com pioneirismo
bélico feminino em território nacional, feito repleto de característica de um levante social autônomo
e independente, que em 24 de abril de 1646, em meio à ausência da população masculina, se
organizaram rapidamente, após a chegada da notícia sobre a movimentação das tropas holandesas
em sua direção, por estarem estrategicamente imersos a uma importante rota de escoamento
comercial do período e com intuito de promoverem um saque aos produtos e alimentos da
comunidade.
Hoje a grandeza desta ação vem sido pouco valorizada e a comunidade encontra-se em
dificuldades de captação de recursos, além de sofrerem com constantes tentativas de coerção
cultural, além da resistente e indissociável tentativa de apagamento histórico de grupos minoritários,
em meio aos materiais didáticos, formais ou não convencionais.
A Encenação da Batalha do Tejucupapo, iniciada no ano de 1993, realizada no último
domingo do mês de abril, é interpretada pela comunidade, exaltando as subjetividades coletivas
preponderantemente transparentes para si mesmos, com força organizacional e contribuindo para o
fortalecimento do processo de identidade social, construindo a ponte de educação não formal, pelo
método da história falada, a fim de engrandecer o patrimônio imaterial da cidade, embora este,
ainda, não esteja legalmente reconhecido como objeto de caráter e interesse público e social.
Este panorama ressalta a necessidade de atuação objetivando um reposicionamento histórico
da representatividade das Heroínas de Tejucupapo, garantindo meios e mais ferramentas de
captação de recursos financeiros futuros, apoiadas no Programa Nacional de Patrimônio Imaterial e
Plano Nacional de Política Cultural, do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) do
Ministério da Cultura, legislações oriundas do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e
considerando o Decreto nº. 3.551, de 04 de agosto de 2000, que institui o Registro de Bens
Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI),
consolidando o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Para tal serão utilizados como fontes: depoimentos orais, livros, artigos acadêmicos,
dissertações e teses, depoimentos e correspondências já publicadas, crônicas de jornais de época e
eventuais instrumentos públicos referentes ao episódio histórico e à encenação do mesmo ao longo
do tempo. Se, por um lado, pretendo me valer dos instrumentais da micro-história para compor o
estudo, minhas análises serão, por outro lado, realizadas sob uma perspectiva baseada na
interpretação. Ao analisar o material levantado, tentarei compreender e interpretar a dinâmica da
relação da comunidade com os demais atores sociais de importância comunitária, levantados
durante o estudo, buscando meios de desenvolvimento e legitimação do espetáculo como
patrimônio imaterial da localidade.

PROBLEMATIZAÇÃO

Na contemporaneidade é perceptível que determinadas ciências constroem por meios de


estudos e técnicas, um conjunto de possibilidades para o melhoramento contínuo na utilização e
valorização da educação, de bens sociais, da cultura e do patrimônio de forma plena e harmônica às
modernidades, suas implicações ao comportamento e meios de interação ao ambiente, compondo-se
de esforços para o desenvolvimento de novos caminhos e formas educativas de integração com a
comunidade.
Neste panorama, entendemos que a pedagogia social é libertadora, no entanto, na prática,
esta caracterização não é comum a todos os grupos sociais, bem como não tem atingido todas as
instâncias socioculturais, construídas para possibilitar a emancipação do sujeito à sua cidadania,
com pleno acesso e concretização de direitos sociais, cultura política, projetos sociopolíticos, pleno
acesso à educação e garantias constitucionais e fundamentais necessárias para o fortalecimento de
movimentos sociais em prol de suas diversidades e construção de identidade. ―O conceito de
pedagogia social mais generalizado é o que faz referência à ciência da educação social das pessoas e
grupos, por um lado, e, por outro, como ajuda, a partir de uma vertente educativa, às necessidades
humanas que convocam o trabalho social, assim como ao estudo da inadaptação social‖ (SORIANO
DÍAZ, 2006, p. 92) [Tradução original de Manuela Barreto Nunes].
Habermas (2010) aponta o ambiente público como um espaço de debate ancorado na
capacidade de argumentação racional, estando o público dependente das garantias provenientes e
proporcionadas pelo Estado no exercício de sua libertação comunicativa. Devemos também indagar
qual o papel da educação neste cenário, especialmente da educação não formal, referente a
processos de ensino/aprendizagem social e identitários, fora das estruturas escolares convencionais,
para a preservação do patrimônio imaterial.
Destaco, assim, a problemática central da pesquisa como sendo um intercâmbio de três
bases. A fortificação e o entendimento de uma identidade social no âmbito da comunidade; A

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

construção de meios e planejamentos para uma integração plena em aspectos sociais, ambientais e
de sustentabilidade, integrando-os com os programas e projetos já existentes e em desenvolvimento
na região; e O processo de ensino pelo método da história falada, através da encenação da Batalha
de Tejucupapo, referência central deste projeto. Assim, coloco a seguinte questão norteadora:
―Como garantir, perpetuar e fortificar a construção da identidade comunitária, através do processo
de educação não formal e da percepção de imagem histórico-social representada pela Encenação da
Batalha das Heroínas de Tejucupapo?‖.

HIPÓTESE

Como hipótese que orientam o estudo proposto, tem-se que, apesar da existência da
representação histórica, ocorrida anualmente no último domingo do mês de abril, bem como da
resistência cultural e econômica da comunidade do Tejucupapo, esta, vem sendo extirpada de sua
região de origem, não tendo condições de apuramento de suas tradições nem tão pouco apoio em
intensidade necessária para seu desenvolvimento pleno, o que acarreta a fragmentação e dissociação
dos aspectos identitários, impossibilitando o processo contínuo de educação social através da
encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo.

OBJETIVOS

O objetivo geral da pesquisa será a construção estratégica de minutas e instrumentos que


possibilitem a legitimação pública da Encenação das Heroínas da Batalha do Tejucupapo e
fomentar a integração das ações de Educação social e patrimonial, com os demais programas e
projetos em desenvolvimento na região, oportunizando um crescimento pleno, contínuo e
sustentável para a população originária da comunidade do Tejucupapo.
Como objetivos específicos, indicam-se os seguintes:

 Possibilitar, através do desenvolvimento de uma minuta de decreto municipal, promovido


por ação popular, com o propósito de declarar a Encenação das Heroínas da Batalha do
Tejucupapo como patrimônio imaterial de interesse público.
 Desenvolver, através da tese, base teórica para a integração cultural, turística sustentável e
para a fortificação das subjetividades sociais, buscando através de ações de extensão
educacional a inserção deste período histórico dentre as temáticas a serem abordadas durante
o período escolar, através da Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o
estudo da luta dos povos afro-brasileiros, resgatando a contribuição do povo negro na área
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

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JUSTIFICATIVA

No que concerne às inter-relações temporais e o enfrentamento entre a modernidade e o


comportamento tradicional, é importante construir um contexto e ressaltar as generalidades
resultantes deste choque cultural coercitivo à população e seus eventuais polos de resistência social
e cultural. A região, localizada em uma unidade de conservação e uso sustentável, traz em sua
composição comunitária uma necessidade de ações de preservação e conservação social e
ambiental, aspectos os quais são de suma importância no estudo sobre pessoas, populações e
culturas minoritárias fora dos grandes centros de urbanização.
Dessa maneira, ao enfocar em possíveis alianças e colaborações, creio que esta pesquisa
possa oxigenar novas e velhas discussões trazendo, assim espero, acréscimos acadêmicos e
melhorias para a constituição social, política e econômica da comunidade.
Os aspectos educacionais inertes à encenação, realizada anualmente, possibilitam através da
história falada o encorajamento e a revitalização do senso de subjetividade social e pelo modo
operante de não formalização do meio educacional utilizado, este consegue assim abarcar toda a
comunidade sem restrições de grau de instrução ou envolvimento acadêmico.
É importante salientar que, por se tratar de uma comunidade afro-brasileira descendente
quilombola, com um marco histórico de vultosa importância regional, a Batalha do Tejucupapo e a
sua atuação cênica ecoam naturalmente, os aspectos necessários para serem incluídos como parte
das disciplinas sobre história da África, afro-brasileiros, seus descendentes e suas lutas e conquistas
no Brasil. Além disso, o pensamento social e racial brasileiro tende a se centrar apenas na
intelectualidade e no ―falar sobre‖, deixando em segundo plano o ―local de fala‖ do atuante,
situação não imposta no espetáculo, que segue sendo dirigido e interpretado pelos próprios cidadãos
de Tejucupapo, já que as personagens e os cenários estão intimamente ligados a essa localidade.
A construção de uma minuta, visando o enquadramento da encenação da Batalha das
Heroínas do Tejucupapo, é um método com características discricionárias sociais, que resultaram no
apoio, baseado em dever e cumprimento da legalidade, por parte do poder público, o qual, após
reconhecê-la como parte do patrimônio imaterial municipal, atesta também, a necessidade de
preservação, manutenção e apoio à manifestação sociocultural.
Além dos dispositivos legais municipais é de interesse empresarial privado, a possibilidade
de investir em eventos e manifestações culturais, educacionais e sociais, três características já
essencialmente existentes nesta manifestação histórica. Através de ações de responsabilidade social,
por incentivo fiscal, na qual a lei brasileira possibilita que empresas solicitem e redirecionem parte
do valor recolhido pelo Imposto de Renda – IR, para ações específicas, atrelando sua imagem
institucional com atividades que buscam o bem-estar social, agregando valor ao produto ou serviço
oferecido em reflexo destas aplicações dirigidas aos projetos.
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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

As prerrogativas para que os projetos possam ser enquadrados como eletivos a captação de
recursos, fica atrelada aos que tenham por prioridade a utilização para necessidades legítimas da
sociedade, situação futuramente possibilitada pela proposta de declaração da encenação como
patrimônio imaterial, tendo como percentuais do imposto destinado para projetos certificados da
área de cultura (4%), esporte (1%) e infância e adolescência (1%) sendo cumulativos, permitindo
que a empresa destine até o limite de 6% do imposto devido aos fundos relacionados. Estando a
situação de acúmulo pertinente à Encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo, possibilitando
à comunidade um desenvolvimento sustentável com características educacionais, culturais e com
potencialidades de autossuficiência, se gerencialmente bem orientados.

METODOLOGIA

A proposta de pesquisa será conduzida por procedimentos qualitativos, buscando como


fonte principal de dados o ambiente natural onde ocorreu a Batalha do Tejucupapo e onde, hoje, são
encenadas as apresentações anuais, com análise social do objeto, baseado na história oral e
exaltando o local de fala das descendentes das heroínas do Tejucupapo. Para tal, intenciona-se o
contato direto, durante o período de composição do trabalho, com as atrizes, intérpretes das
heroínas, bem como sua comunidade e o ambiente onde o enredo é desenvolvido, sendo
investigada, via trabalho de campo com análise e interpretação da fala dos atores sociais e de suas
subjetividades.
Também são esperados marcos etnográficos, em meio à investigação baseado na história
falada, construção de narrativa por relatos, coletivos e individuais, composição da memória humana
regional e aspectos e elementos documentais, integrando os resultados às características sociais,
culturais, econômicas e educacionais, convencionais ou não, da região. Sendo problematizada, a
representação do fenômeno estudado para a sociedade, foco central da pesquisa, dedicando à análise
sociocultural e sua relevância comunitária. ―Portanto, parece consensual que a etnografia descreve a
cultura de um grupo de pessoas, interessada no ponto de vista dos sujeitos pesquisados. Aí começa
sua problemática. A questão da representação – em que medida os achados da pesquisa
correspondem à realidade do grupo pesquisado – revolve discussões epistemológicas acerca do
binômio verdadeiro/falso‖ (WIELEWICKI, 2008. p. 28).
Dentre os aspectos a serem observados durante a pesquisa de campo têm-se o processo de
análise discursiva, na qual se pretende interpelar os diferentes sentidos e formas da produção,
buscando a autorrepresentação das mulheres enquanto intérpretes das heroínas, aceitando produções
de comunicação verbais e não verbais, entendendo como válidas desde construções textuais (orais
ou escritas), imagens (fotografias) ou linguagem corporal (dança), desde que tenham ligação com a
encenação, com a subjetividade social ou aspectos comunitários.

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REFERENCIAL TEÓRICO

A encenação abordada ao longo do texto remete ao período histórico de 1630 a 1654, na


região da zona da mata de Pernambuco, durante a ocupação holandesa. No ano de 1646, onde hoje,
geograficamente, está estabelecido o povoado do Tejucupapo, distrito do município de Goiana
ocorreu protagonizado primordialmente por mulheres um auto de defesa social e consequentemente
regional, conhecida como Batalha do Tejucupapo. Assim como exalta a autora Armelle Enders
(2000) ―As brasileiras célebres provam que, finalmente, existiram amazonas no Brasil. Essas
guerreiras pegaram em armas contra os holandeses em Tejucupapo, que dom Pedro visitou em
memória da coragem que patentearam naquela localidade as senhoras brasileiras‖.
Ao abordar o fato histórico de Tejucupapo, é importante contextualizar a situação dos
holandeses no país, onde já haviam sido derrotados em quase metade dos territórios ocupados na
região do estado de Pernambuco, impossibilitando o escoamento e a entrada comercial resultado da
perda de rotas mercantis. A região do Tejucupapo na época era baseada tradicionalmente pelo
plantio e manufatura da mandioca e sua farinha, cana-de-açúcar, limões e laranjas, produtos base de
sua subsistência, e na circunstância histórica um atrativo de real significância e capaz de eliminar as
mazelas da fome, enfrentadas pelos holandeses e por grande parte da população de Recife e de
Maurícia.
Relatos históricos apontam que a empreitada contra Tejucupapo, foi planejada para ser
simples e sem confronto, buscando o momento no qual a região estivesse com o menor número de
homens possível. Este momento escolhido coincide com a execução da venda e escambo de seus
produtos, onde a população masculina se deslocava para fora da comunidade, diminuindo assim as
chances de se protegerem. Segundo a história falada, a informação do ataque é captada por
mensageiros e de conhecimento desta notícia, quatro mulheres, Maria Camarão, Maria Quitéria,
Maria Clara e Joaquina, incitam à população e as lideram em defesa da comunidade, de suas vidas e
famílias.
A história, encenada e passada como tradição local, relata que os poucos homens munidos
com a escarça quantidade de armamento se deslocaram tentando conter a invasão da comunidade,
sabendo da possível ineficiência, por questões bélicas e numéricas as mulheres iniciaram a
construção de suas ―armas‖ de defesa. Utilizando-se de água fervente e pimentas, formando um
caldo ardente, as mulheres se esconderam em trincheiras e utilizando do ataque surpresa atingem
seus inimigos, a contagem de mortos, como relatam, foi de cerca de 300 pessoas, que depois de
horas luta e resistência as heroínas do Tejucupapo se lograriam vitoriosas contra a tentativa de
invasão e saque de sua comunidade e, mesmo sem a intenção, contribuíram para a luta portuguesa
contra a invasão holandesa.

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Hoje a encenação é uma importante e essencial forma de manter sua pujante história viva
para a comunidade, a formação do espetáculo, A Batalha das Heroínas, ocorrida no último domingo
do mês de abril desde o ano de 1993 é uma importante ferramenta educacional e social. Recrutando
para as protagonistas as filhas de uma comunidade de heroínas, trazendo à tona sua perspectiva,
suas indagações, como pertencentes a um grupo identitário e a subjetividade social, necessária e de
imprescindível para a exaltação de suas cidadanias. ―As mulheres que caracterizam as figuras
centrais e decisivas no combate contra o holandês, como Maria Camarão dizem que no momento de
entrar em cena são envolvidas de tanta emoção que sentem como se fossem as figuras em pessoa,
suas antepassadas. Sentem como se incorporassem‖ (FREIRE, 2000, p.22).
Este processo pedagógico social de identificação com suas antepassadas e seus feitos
históricos aborda uma necessidade de atuação, preservação e fortificação do espetáculo, visto a real
importância para a população e as potencialidades educacionais, sociais e econômicas.

A pedagogia social é uma ciência pedagógica, de carácter teórico-prático, que se refere à


socialização do sujeito, tanto a partir de uma perspectiva normalizada como de situações
especiais (inadaptação social), assim como aos aspectos educativos do trabalho social.
Implica o conhecimento e a ação sobre os seres humanos, em situação normalizada como
em situação de conflito ou necessidade. (SORIANO DÍAZ, 2006, p. 92) [Tradução original
de Manuela Barreto Nunes].

Entende-se como educação não formal, através da conceituação de La Belle (1982), ―toda
atividade educacional organizada, sistemática, executada fora do quadro do sistema formal para
oferecer tipos selecionados de ensino a determinados subgrupos da população‖. Sendo um método
mais difuso, menos rígido e ou regido por aspectos burocráticos, com características como a
flexibilidade no uso de tempo e do espaço, para o processo de formação para a cidadania, associada
à educação popular e à educação comunitária, incluindo-se assim atividades de construção
subjetivas sociais e de educação patrimonial.
A necessidade de reflexão quanto à elaboração de projetos e ações voltados para o
engrandecimento, preservação de tradições, acesso e difusão das informações sobre o patrimônio,
devem ser elaboradas vislumbrando o acolhimento e com ares de atratividade para as gerações
futuras, sobretudo, caracterizado por um projeto de formação de indivíduos livres, com autonomia
crítica e plenos saberes sobre seus direitos enquanto cidadão, estando a Educação Patrimonial
incumbida de atuar como um agente de cunho político, cultural e social, construindo ferramentas as
quais o indivíduo terá como apoiar-se em busca de sua plena cidadania e na construção subjetiva
social, do grupo no qual está inserido, ―é essa dimensão coletiva, conquistada e reafirmada, que
permite ao indivíduo resignificar termos como cidadania, participação, responsabilidade e
pertencimento. A educação pode ser um dos meios através dos quais se desvende o rosto digno da
diversidade brasileira‖ (CASCO, 2013. p. 4).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Assim, a concepção e construção de ações de cunho educativo e patrimonial estarão dentro


da sociedade do Tejucupapo, influenciando a preservação e a consolidação do lugar de fala na
construção histórica, tendo as falas e a encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo como um
importante legado social. Sendo assim aponto parte das características das ações desenvolvidas pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, responsável, que tem como missão
―promover e coordenar o processo de preservação do patrimônio cultural brasileiro para fortalecer
identidades, garantir o direito à memória e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do
país.‖ (IPHAN, 2012. p. 1).

É importante, por fim, compreender que a educação permeia, de um modo inseparável a ação
do Iphan em suas várias e diversificadas frentes de atuação. Neste sentido, ela se encontra
embutida, de maneira subjetiva ou explícita, nas diretrizes setoriais da instituição, algumas
das quais, a título de exemplo e para torná-las públicas, listo a seguir: 1. Valorizar a
diversidade da base social na qual o patrimônio é constituído e reconhecido; 2. Reconhecer,
preservar e difundir as referências culturais brasileiras em sua heterogeneidade e
complexidade e considerando os valores singulares, sentidos atribuídos e modos de
transmissão elaborados pela sociedade; 3. Permitir o acesso de todos aos direitos e benefícios
gerados por uma política compartilhada e participativa de preservação do patrimônio cultural;
4. Promover a apropriação simbólica e o uso sustentável dos recursos patrimoniais com o
objetivo de contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural; 5. Valorizar os
acervos documentais como fonte de conhecimento para o desenvolvimento das ações de
preservação; 6. Atualizar e desenvolver em parceria com a sociedade, as políticas,
mecanismos e procedimentos de preservação do patrimônio cultural com vistas a
democratizar e ampliar o conhecimento sobre a diversidade cultural do país; e 7. Promover e
estimular a transmissão do patrimônio cultural e da memória social às gerações futuras
(CASCO, 2013. p. 5).

Atrelado aos aspectos patrimoniais a encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo,


também apresenta em sua formação histórica cultural a presença e a atuação protagonista de
mulheres de descendência indígena e afro-brasileiras, naturais da região e que tem em seu passado
um marco da história, tanto das mulheres, quanto da história de afrodescendentes, característica
primordial para o incentivo à elaboração de uma cartilha educacional, quanto, também, serve de
base legal, política e educacional para buscar perante as instituições públicas regionais a inserção do
fato histórico durante a apresentação dos conteúdos do ensino da história da África e de
afrodescendentes.
A necessidade de repensar o currículo escolar da disciplina História, para o ciclo de
Educação Básica, trouxe à tona a busca por conceber uma estrutura baseada no conhecimento e na
prática social. Após a aprovação da lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003, que torna obrigatória a
abordagem e propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira e
africana.

Trata-se, evidentemente, de debate necessário e até tardio. Ao mesmo tempo, é preciso


evitar sua redução a tópico temático isolado, sem reflexão crítica nem articulações com
outros universos de etnia e problemáticas de conhecimento. Pensar em africanos e
indígenas na formação do Brasil significa também indagar sobre ligações desses grupos
com outras etnias, formação de novas culturas híbridas, sociabilidades que, longe de

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

idealizações, possuem caracteres muito diferentes daqueles observados noutras partes do


mundo (ausência de impedimentos legais para casamentos, modalidades de racismo sutis,
mas de grande violência, redução daqueles grupos à pobreza etc.). Africanos e indígenas
não são realidades humanas do passado, estão no presente do Brasil como ação de grupos e
de seus descendentes, e se renovam através de outras ondas de imigração e dinâmicas de
sobrevivência dos ameríndios, sem esquecer a grande importância da África no cenário
mundial do presente e de diferentes passados. E um perturbador silêncio ainda se manifesta:
os descendentes de diferentes etnias e nacionalidades asiáticas no Brasil e os múltiplos
significados do continente asiático e de seus povos na História mundial do passado e do
presente. E mais os imigrantes latino-americanos e também europeus do antigo bloco
soviético no Brasil. Não se trata apenas, portanto, de ―matrizes indígena, africana e
europeia na formação do povo brasileiro‖: as identidades nacionais e outras são História em
aberto, elas continuam seu permanente fazer-se e exigem explicações críticas
(HERNANDEZ; HERNANDEZ, 2005 p. 22).

Embora aprovada e com caráter de obrigatoriedade a disciplina em inúmeros casos não leva
em consideração aspectos regionais e de caráter sócio agregador. As publicações de materiais
didáticos ainda são produzidas pelos mesmos grupos de antes, não conseguindo por vez alcançar os
anseios de movimentos sociais e comunidades. A construção de uma cartilha voltada para a
educação e com aspectos históricos e turísticos tem a potencialidade de construir meios de, através
da educação social, repensar regionalmente a disciplina possibilitando, assim, a inserção da história
local, já representada pela Encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo.
A interlocução entre educação e cultura é um dos aspectos a ser trabalhado na pesquisa, a
fim de redirecionar esforços em busca da legitimação pública para a Encenação das Heroínas do
Tejucupapo. A Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) aponta para a defesa da
diversidade cultural como parte indissociável à dignidade humana, sendo parte dos compromissos
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais das pessoas, principalmente tratando-se de
grupos minoritários, os quais, em muitas situações, têm dificuldades de preservar e expressar suas
construções sociais e culturais, como é apontado pelo Preâmbulo da Constituição da UNESCO
(1945), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization), afirmando ―que a ampla difusão da cultura e da
educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis para a dignidade do
homem e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com um espírito de
responsabilidade e de ajuda mútua‖. Corroborando a este ideal, a Declaração Universal sobre a
Diversidade Cultural, em seu artigo primeiro, propõe ―os acordos internacionais que se façam
necessários para facilitar a livre circulação das idéias por meio da palavra e da imagem‖
reafirmando o conceito de cultura como

―conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que


caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras,
os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as
crenças (UNESCO, 2002. p.07).

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Em mesma via de pensamento e apoiada nestes ideais de liberdade e diversidade, a


Constituição Federal Brasileira (1988), elenca a relevância de necessidade de atuação protetiva
sobre a preservação da singularidade do ser humano e na diversidade dos povos, trazendo e
estabelecendo o direito à cultura, em seu Art. 215, estando o Estado incumbido de garantir o pleno
exercício de direitos e acesso a bens e fontes culturais, integrando ações de proteção e promoção de
manifestações de cultura popular. Baseando-se nos preceitos constitucionais, podemos afirmar que
há uma preocupação dos dispositivos legais a garantia plena e universal aos cidadãos brasileiros do
efetivo acesso aos direitos e fontes culturais, exercício pleno e de livres manifestações, sendo dever
do Estado a garantia para a exercício pleno dos direitos culturais, financiando atividades culturais
que possam garantir a preservação da diversidade em manifestações culturais.
Nos dias atuais existem mecanismos e meios governamentais visando garantias culturais,
como o Fundo Nacional de Cultura, os Fundos de Investimento Cultural e Artístico, Mecenato
Federal, Conselho Nacional de Cultura, Programa Nacional de Apoio à Cultura, a Lei Rouanet, bem
como dispositivos e instrumentos estaduais e municipais. O Ministério da Cultura – MinC define,
também, que o acesso seja baseado nos preceitos de acessibilidade, com o objetivo de proporcionar
garantias a pessoas com deficiências, condições de acesso seguro e autônomo durante as atividades
culturais. Em se tratando de democratização do acesso de acesso as ações buscam a promoção a fim
de oportunizar acesso e desfrute de produtos, bens e serviços culturais, buscando dentre os grupos
sociais mais carentes financeiramente um meio operante de resgate cultural, onde baseado na Lei
8.313 de 23 de dezembro de 1991, em seu art. primeiro consolida dentre as finalidades do Programa
nacional de Apoio à Cultura, sendo de ―contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre
acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais‖.
Além dos dispositivos oriundos das esferas governamentais, está em desenvolvimento o
Plano Nacional de Cultura, que conta com a participação da população, eleitos para diferentes
colegiados setoriais no Conselho Nacional de Política Cultura – CNPC, nos quais o plano foi
subdividido e, ainda, durante o desenvolvimento do plano, este é exposto a consulta popular
visando melhorias e o pleno debate com os mais diversos grupos e movimentos sociais. O MinC
aponta que a finalidade do Plano Nacional de Cultura é de planejar e implementar políticas
públicas, visando a garantia de diversidade, a proteção, o exercício de cidadania e o
desenvolvimento socioeconômico brasileiro, contendo as diretrizes para a cultura nacional, com
destaque para a efetivação municipal, integrando ações educacionais, de saúde e demais instâncias,
garantindo acesso às populações menos favorecidas.
Hoje o CNPC conta com representantes do Poder Público e membros da sociedade civil,
com cargos eletivos e subdivididos em 17 Colegiados Setoriais tratam de forma mais aprofundadas
suas temáticas. São elas: Arquivos, Arquitetura e Urbanismo, Artesanato, Arte Digital, Artes

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Visuais, Culturas Afro-brasileiras, Cultura Indígena, Cultura Popular, Circo, Dança, Design, Livro,
Leitura e Literatura, Moda, Música, Patrimônio Imaterial, Patrimônio Material e Teatro. Com a
finalidade de formulação de políticas públicas, articulando debates entre a sociedade civil e as
esferas governamentais, visando o desenvolvimento e fomento de atividades culturais de âmbito
nacional, estando o plano setorial de Patrimônio Imaterial em desenvolvimento.
A designação da Encenação da Batalha das Heroínas do Tejucupapo, como patrimônio
imaterial pode assegurar sua preservação enquanto bem de interesse público, baseado nos preceitos
e artigos constitucionais, como o Art. nº 215, supracitado, e o Art. nº 220, caput e parágrafo único,
―A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão nenhuma restrição, observado o disposto nesta Constituição‖
como também sendo parte de significância e respaldo aos direitos culturais, expressão do gênero de
direitos difusos à população, tutelado por ações de cunho popular e com pleno acesso e
acessibilidade.
Das competências abordadas constitucionalmente é preciso notabilizar o texto referente ao
Art. nº 24, das competências da União, dos Estados e do Distrito Federal, em destaque a três de seus
incisos: VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII –
responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico; e IX – educação, cultura, ensino e desporto ciência,
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Este comportamento legal pode trazer garantias
às representações artísticas, educacionais e de cunho formativo das subjetividades sociais em sua
absoluta diversidade, incluindo indubitavelmente neste conglomerado cultural, a Encenação da
Batalha das Heroínas do Tejucupapo e possibilitando ao poder legislativo de todas as esferas
preconiza, sob os aspectos e características locais, normas de proteção, incentivo e acesso ao
patrimônio cultural.
Tradando-se especificamente de patrimônio imaterial, o Decreto nº 5.753, de 12 de abril de
2006, apontada pelo Plano Nacional de Cultura aponta responsabilidades estatais, sendo, também,
responsabilidade de cada estado estabelecer inventariar patrimônio cultural imaterial existente em
suas divisas, em congruência com seus respectivos sistemas de proteção e salvaguarda do
patrimônio, agindo com medidas que visem a salvaguarda, identificação do patrimônio cultural
imaterial presente em nosso território, em ações conjuntas e de participação da sociedade civil
organizada.
Conclui-se que trabalhar a proposta de inclusão da Encenação da Batalha das Heróinas do
Tejucupapo é algo viável, necessário e potencializador social, e vislumbrando, também as
prerrogativas estabelecidas pelo Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, podemos futuramente
estabelecer nacionalmente a importância do espetáculo, como disposto em seu artigo primeiro:

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Art.1o Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro. §1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros: I - Livro
de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados
no cotidiano das comunidades; II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos
rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do
entretenimento e de outras práticas da vida social; III - Livro de Registro das Formas de
Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e
lúdicas; IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras,
santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais
coletivas.

Estando esta ação diretamente relacionada com os potenciais turístico, sustentável,


educacional e social do espetáculo, garantindo maior visibilidade do fato histórico, atrelando-o a
métodos educativos e possiblitando ao grupo teatral a captação de recursos públicos e privados,
necessários para o desenvolvimento sociofinanceiro da comunidade e integrado às ações e
programas já existentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

__________. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de


1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ―História e Cultura Afro-Brasileira‖ e dá outras
providências.

__________. Presidência da República. Decreto nº 5.753, de 12 de abril de 2006. Promulga a


Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada em Paris, em 17 de
outubro de 2003, e assinada em 03 de novembro de 2003.

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A Economia Solidária nos


Arranjos Produtivos Locais

© Giovanni Seabra

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SISTEMA DE REPRODUÇÃO E CRIAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS COM


MATERIAIS ALTERNATIVOS

Ana Paula Vilela CARVALHO


Docente do IF Sudeste MG- Campus Muriaé
ana.vilela@ifsudestemg.edu.br
Darlan Silva do PRADO
Técnico em Agroecologia; Graduando em Medicina- UFJF
darlansilvadoprado@hotmail.com
Giovana Guimarães SOARES
Técnica em Agroecologia; Graduanda em Ciências Biológicas-FASM
guimaraesgii@outlook.com
Viviane Modesto ARRUDA
Docente do IF Sudeste MG- Campus Muriaé
Viviane.arruda@ifsudestemg.edu.br

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo desenvolver um sistema de criação e reprodução de peixes
ornamentais utilizando materiais alternativos. O sistema consiste em três tanques (A, B e C)
construídos com bambu, papelão, lona e moirão, ligados entre si. Também foi instalado no sistema
um filtro mecânico e ultravioleta. Foram feitas análises de reprodução e sobrevivência de duas
espécies de peixes, Guppy (Poecilia reticulata) e Colisa Sunset Gold (Trichogaster chuna). Além
disso, foram feitas análises da qualidade da água avaliando o pH e turbidez. Verificou-se alta
mortandade do Trichogaster chuna, desta forma as análises foram realizadas com o Poecilia
reticulata. Nos tanques A, B e C observou-se uma média a cada duas semanas de monitoramento
de 9,76; 16 e 12 alevinos, respectivamente. Nas avaliações 1ª, 2ª, 3ª e 4ª, observou-se um total de
alevinos nos tanques A, B e C de 277, 340, 355 e 390, respectivamente. Verificou-se no sistema
alternativo com o uso do filtro ultravioleta uma variação do pH da água dos tanques de 7,30 a 7,78
atingindo os valores estabelecidos pela legislação. Observou-se valores de turbidez menores que 1
NTU no período de avaliação, para o sistema alternativo com o filtro ultravioleta. Em todas as
avaliações verificou-se um ganho no número total de alevinos, indicando o sistema alternativo de
criação e reprodução de peixes ornamentais ser viável para a produção da espécie Poecilia
reticulata. Com o sistema de filtragem instalado no sistema alternativo, a qualidade da água em
relação ao pH e turbidez indicou valores com padrões adequados para a criação da espécie Poecilia
reticulata.
Palavras-chave: piscicultura, qualidade de água, agricultura familiar

ABSTRACT
This work aimed to develop a system of creation and reproduction of ornamental fish using
alternative materials. The system consists of three tanks (A, B and C) built with bamboo, cardboard,
tarpaulin and fence post, linked together. A mechanical and ultraviolet filter was also installed in
the system. Breeding and survival analyzes of two species of fish, Guppy (Poecilia reticulata) and
Colisa Sunset Gold (Trichogaster chuna) were performed. In addition, water quality analyzes were
carried out to evaluate pH and turbidity. There was a high mortality of Trichogaster chuna, in this
way the analyzes were carried out with Poecilia reticulata. In the tanks A, B and C an average was
observed every two weeks of monitoring of 9.76; 16 and 12 fingerlings, respectively. In the 1st,

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2nd, 3rd and 4th evaluations, a total of fingerlings were found in tanks A, B and C of 277, 340, 355
and 390, respectively. In the alternative system with the use of the ultraviolet filter a variation of the
water pH of the tanks from 7.30 to 7.78 was reached, reaching the values established by the
legislation. Turbidity values of less than 1 NTU were observed in the evaluation period for the
alternative system with the ultraviolet filter. In all evaluations there was a gain in the total number
of fingerlings, indicating that the alternative system of breeding and reproduction of ornamental fish
is viable for the production of the species Poecilia reticulata. With the filtration system installed in
the alternative system, the water quality in relation to pH and turbidity indicated values with
adequate standards for the creation of the species Poecilia reticulata.
Key words: fish farming, water quality, family farming

1. INTRODUÇÃO

Assim como os homens aprenderam a domesticar e criar aves, suínos e bovinos, a criação de
peixes já é praticada a milhares de anos como forma de assegurar produtos para o consumo com
mais controle e regularidade. Existem registros que contam que os chineses já tinham
conhecimentos sobre essa técnica muito antes da nossa geração e ainda que os egípcios criavam
tilápia (Sarotherodon niloticus) no rio Nilo a mais de 4000 anos (ABRUNHOSA, 2011).
A aquicultura pode ser definida como o cultivo de espécies cujo ciclo de vida se passa total
ou parcialmente em ambientes aquáticos tais como peixes, moluscos e plantas, quer seja de água
doce quer seja de água salgada (FARIA et al., 2013). A aquicultura, atualmente, está dividida em
cinco ramos básicos: piscicultura (criação de peixes, água doce e água marinha), malacocultra
(criação de moluscos como ostras, mexilhões, caramujos e vieiras), carcinicultura (criação de
camarão em viveiros), algicultura (cultivo de macro ou microalgas) e ranicultura (criação de rãs).
A piscicultura, ainda se divide em dois segmentos: a criação de espécies cujo fim comercial
é direcionado para alimentação humana e animal (piscicultura de corte) e a criação de espécies para
fins ornamentais (piscicultura ornamental), (FARIA et al., 2013).
No Brasil, a criação de peixes de águas continentais para comércio ornamental teve início na
década de 20 com seu maior impulso no final da década de 70 quando houve um grande aumento do
número de piscicultores, concentrados principalmente na região Sudeste (Minas Gerais, São Paulo e
Rio de Janeiro) que é hoje a região que apresenta a melhor estrutura de cultivo do país. São
exemplos de microrregiões: Muriaé, localizada em Minas Gerais e Ribeirão Preto e Mogi das
Cruzes, ambas localizadas em São Paulo (SEBRAE, 2015).
Em Minas Gerais, a grande produção de peixes ornamentais está localizada na Zona da Mata
Mineira, havendo cultivo em oito municípios (Barão do Monte Alto, Eugenópolis, Miradouro,
Muriaé, Patrocínio do Muriaé, Rosário da Limeira, São Francisco do Glória e Vieiras). Contendo
nessa região o cultivo de mais de 50 variedades e/ou espécies em diferentes sistemas de produção.

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A mão-de-obra utilizada é a familiar, sendo a principal e única fonte de renda da grande maioria das
propriedades (CARDOSO, 2011).
Algumas propostas de criação alternativa de peixes ornamentais já estão sendo postas em
prática como é o caso do Vale do São Francisco onde a proposta da região é ensinar a produção
alternativa de espécies nativas com intuito ecológico e ambiental (BARBOSA, 2015). Alguns
sistemas ainda usam garrafas plásticas como incubadoras para larvicultura de peixes a fim de ser
uma alternativa de baixo custo (CALADO, 2008).

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Desenvolver um sistema de criação e reprodução de peixes ornamentais utilizando materiais


alternativos.

2.2 Objetivos Específicos

 Analisar a taxa de reprodução e a adaptação por meio da sobrevivência das espécies dentro
do sistema alternativo de criação.
 Observar a qualidade da água do sistema alternativo levando em consideração o uso de um
sistema de filtragem.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Sistema Alternativo de Criação e Reprodução de Peixes Ornamentais

O sistema alternativo de criação e reprodução de peixes ornamentais foi desenvolvido na


unidade Rural do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, localizada no município de Muriaé.
Levando em consideração o crescente desenvolvimento da prática de criação de peixes
ornamentais nos últimos anos e principalmente na região da Zona da Mata Mineira, o sistema com o
uso de materiais alternativos além de viabilizar ainda mais o custo de produção uma vez que são
materiais facilmente encontrados em propriedades rurais, também apresenta o enfoque ecológico.
Foi construído um tanque de 3,5 m de comprimento; 1,2 m de largura e altura de 0,7 m. Seu
interior foi subdividido em três tanques com dimensões internas de 1 m de largura por 1 metro de
comprimento mantendo a altura de 0,7 m, sendo os três ligados internamente por canos que
permitem a comunicação entre eles. Para a estrutura principal foram usados 8 moirões de 1,1 m de
comprimento que foram enterrados deixando 0,7 m na superfície.
Para fazer as laterais do tanque foram utilizados bambus de 3,5 e 1,2 m de comprimento,
sendo gastos no total 20 unidades do primeiro e 64 do segundo. Os bambus foram postos de forma
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alternada entre os maiores em uma direção e os menores, em seguida, perpendiculares à direção dos
primeiros e foram amarrados com arame e cobertos com papelão (Figura 1).

Figura 1: A- Laterais dos tanques com bambu; B- Laterais dos tanques revestidas com papelão. Muriaé-MG,
2016

Um das etapas mais importantes para o bom funcionamento do sistema é o encanamento


hidráulico. Para realizar essa etapa foram utilizadas peças de 1‖. Após a conclusão do sistema de
encanamento foram gastos aproximadamente 9 m de tubo soldável, 2 adaptadores soldáveis com
anel para caixa d‘água, 1 adaptador soldável curto com bolsa e rosca para registro, 1 caps soldável,
11 joelhos de 90° soldável, 7 luvas de correr para tubo soldável, 3 tês soldável, 1 registro esfera VS
soldável. Nas junções das peças que conduz a água à bomba foi inserida uma tela fina para impedir
que os alevinos e matrizes fossem sugados.
Além das peças hidráulicas foi utilizado um balde de 20 litros para a confecção de um filtro
de retenção de materiais sólidos. Para esse filtro foi usado apenas sacos de estopa para retenção das
partículas sólidas.
A última etapa para concluir a construção do sistema foi a inserção da lona, principal
componente. Para cobrir o tanque com essas dimensão foi utilizado uma lona grossa, transparente,
medindo 8 m por 5 m. É importante levar em consideração as curvas do tanque no momento de
calcular o tamanho da lona, utilizando sempre medidas ligeiramente maiores para não correr riscos
dela não se adaptar ao tanque quando for cheio d‘água. Todo o processo de construção do sistema
ocorreu entre os meses de abril a agosto de 2016.

3.3 Espécies Utilizadas e sua Adaptação

Para a escolha das espécies a serem utilizadas no sistema foram estabelecidos alguns
critérios preliminares, entre eles a resistência da espécie, a forma de reprodução, a aplicação já em
prática da criação da espécie na região, a adaptação da espécie ao clima da região, as características
físico-químicas ideais da água e as particularidades de cada espécie.
As espécies Guppy (Poecilia reticulata) e Colisa Sunset Gold (Trichogaster chuna) foram
escolhidas para serem avaliadas no sistema de criação e reprodução alternativo. Os peixes da
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espécie Poecilia reticulata são teleósteos, ciprinodontídeos ovovivíparos. São originários da


América Central, das regiões estuarinas da Venezuela, Guiana, Suriname e de várias pequenas ilhas.
De acordo com Shoji, 2006 a procura dessa espécie no ramo da aquarofilia se dá por sua beleza e
cores.
Os peixes da espécie Trichogaster chuna, são membros da subfamília Luciocephalinae e da
família Osphronemidae. São originários da Ásia e bem comum no mercado de aquarofila do Brasil
por sua beleza. Esses peixes são classificados dentro do gênero Colisa e, portanto, adquiriram esse
nome popular (RÜBER et al., 2006).
As matrizes das espécies foram distribuídas igualmente e de forma aleatória entre os três
tanques, assim, cada tanque ficou com um total de 2 Guppys macho, 6 Guppys fêmea, 4 Colisas
macho e 6 Colisas fêmea.
As matrizes de Colisa foram inseridas no sistema alternativo no dia 12 de agosto de 2016 e
as matrizes de Guppy no dia 16 do mesmo mês.
A partir da inserção das espécies no sistema foi contabilizado o número de mortes. Foi
considerado como morto o peixe que não apresentasse reações a estímulos mecânicos e também os
peixes que foram retirados do sistema por apresentarem sintomas de doenças que poderiam ser
transmitidas aos outros peixes saudáveis.
No dia 14 de setembro, os alevinos que haviam nascido foram retirados do sistema e a partir
de então as matrizes ficaram em observação durante três semanas até que deu início a contagem dos
alevinos.
Para avaliação de reprodução foi calculado a média entre a variação do número de alevinos a
cada duas semanas por espécie, por tanque num período de seis semanas, do dia 21 de outubro ao
dia 2 de dezembro.

3.4 Tratamento da Água e Análise de Qualidade

Dois dos principais aspectos físico-químicos da água foram analisados (pH e turbidez) a fim
de se obter um padrão da qualidade da água no sistema alternativo em comparação com outro
tanque posto no mesmo ambiente, mesmo período e água de mesma origem.
Um dos principais problemas que afetam a qualidade da água de forma direta é a
multiplicação desordenada de algas verdes unicelulares ou cianofíceas, na qual a proliferação se dá
quando encontram ambiente propício para tal, ou seja, luz, excesso de nutrientes e oxigênio. A fim
de combater essa proliferação foi instalado um filtro ultravioleta que por meio da luz mata essas
microalgas.
Para montagem do filtro e adaptação ao sistema foram necessários 10 cm de tubo soldável
1‖, 1 nípel roscável, 2 tês roscáveis, 2 joelhos soldáveis, 2 adaptadores soldáveis com bolsa e rosca,

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todos com 1‖, 2 buchas de redução roscáveis de 1‖ para ¾, 2 prensas cabo ¾, uma lâmpada tubular
Uv de 8W, 2 soquetes para lâmpada, 1 reator automático, 1 veda rosca, 1 plug e fio paralelo. No
sistema desenvolvido foram necessários 5 m de fio até a fonte de energia.
Para a análise da qualidade da água foram coletados semanalmente 500 ml de água do
sistema alternativo e 500 ml do tanque testemunha, sendo essa água levada ao Laboratório de
Química do IF Sudeste MG, Campus Muriaé para análise do pH e turbidez.
Foi considerado como semana zero o dia 14 de setembro, com a análise da água recém
colocada no sistema, e a partir de então as amostras foram sendo retiradas até a semana três no dia 5
de outubro.
O pH foi analisado semanalmente e definido pela média de três repetições. As amostras
foram medidas em um phmetro modelo Even PHS-3E-BI.
A turbidez também foi analisada semanalmente e determinada pela média de três repetições.
As amostras foram avaliadas utilizando-se um turbidímetro modelo PoliControl AP2000.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Sistema Alternativo

A construção do sistema de criação e reprodução de peixes ornamentais teve como principal


enfoque a utilização de materiais alternativos, sendo que essa escolha foi feita por dois motivos, o
primeiro se diz respeito ao menor impacto ao meio ambiente e o segundo por minimizar o custo na
montagem da instalação de um sistema.
Parte do material utilizado na construção do sistema é natural, moirões e bambus, com isso
degradam de maneira rápida no ambiente, sem trazer riscos de qualquer tipo de contaminação, além
de poder ser usado na produção de composto a partir da sua trituração. O papelão que separa a lona
do bambu, apesar de não ser um produto natural, tem um tempo de degradação relativamente curto,
cerca de 6 meses (MAGALHÃES, 2001).
A lona e os materiais hidráulicos apresentam os maiores riscos de contaminação do
ambiente caso seja feito seu descarte, entretanto, ambos os materiais podem ser reutilizados com a
mesma finalidade, ou não, já que não se desgastam devido ao uso no sistema.
Utilizar esses materiais para desenvolvimento da atividade ainda auxilia na independência
do produtor em relação ao mercado, ou seja, boa parte do material que foi utilizado na construção
do sistema alternativo o produtor pode se dispor dentro da sua própria propriedade, sem a
necessidade de adquiri-los por meio da compra.

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Se tratando de uma alternativa voltada para o pequeno agricultor, quanto menor o valor de
investimento mais fácil será de colocar a atividade em prática, ideal para quem não planeja iniciar
um negócio com altos investimentos.
A construção do sistema no modelo de vasos comunicantes foi o maior problema enfrentado
na construção do sistema. Além da dificuldade em adaptar a lona àquele formato, aumento o
número de ligamentos entre os canos de PVC e a lona, aumentando o grau de dificuldade da
conclusão do sistema.
A instalação de tanques individuais além de facilitar a construção do sistema, facilita o
tratamento ideal de cada peixe uma vez que muitos peixes exigem características específicas da
água, com a comunicação entre os tanques não fica possível criar espécies de água de caráter ácido
e de caráter alcalino no mesmo ambiente, por exemplo.
A utilização de lona transparente sobre uma superfície clara e em um ambiente com bastante
iluminação solar também favoreceu o desenvolvimento de algas em curto prazo, aumentando o
trabalho referente à manutenção dos tanques. Assim o uso de uma lona ou um fundo escuro diminui
a reflexão solar, alterando a realização da fotossíntese pelas algas e consequentemente reduzindo
sua taxa de proliferação.

4.2 Reprodução e Desenvolvimento das Espécies

No dia 14 de setembro todos os alevinos foram retirados do tanque e as matrizes ficaram em


fase de reprodução até o dia 21 de outubro onde foi feita a primeira contagem dos alevinos. A
contagem se repetiu a cada duas semanas até o dia da última contagem realizada em 2 de dezembro,
totalizando quatro avaliações.
Durante todo o período foi contabilizada a morte de matrizes e com base nisso o sistema já
mostrou impossibilidade quanto à criação da espécie Colisa Sunset Gold em que ocorreu a morte de
todas as matrizes fêmeas e boa parte dos machos. Antes da mortandade, os peixes apresentaram
barriga inchada e escamas eriçadas, sintomas comuns de hidropsia, (FRANÇA, 2007), problema
causado por bactérias e de difícil cura. Após a morte de todas as fêmeas da espécie Colisa Sunset
Gold, os machos restantes foram retirados do sistema para evitar possíveis contaminações dos
outros peixes por ter sido identificado a causa exata do problema.
A morte de matrizes de Guppy foi muito menos relevante, sendo essas causadas de forma
aleatória e sem sintomas ou sinais de problemas patológicos.
O resultado da contagem dos alevinos do Guppy obteve como média total o nascimento de
37,67 alevinos a cada duas semanas, isso totalizando 2,35 alevinos por fêmea por período avaliado.
No sistema foi disponibilizado uma média de 1 macho para cada 3,2 fêmeas ao final do projeto.

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Nos tanques A, B e C observou-se uma média a cada duas semanas de monitoramento de


9,76; 16 e 12 alevinos, respectivamente. A média total entre a variação do número de alevinos nos
três tanques foi de 12,6 alevinos a cada duas semanas.
No sistema não utilizou-se uma rede de separação, causando uma redução do número de
alevinos pelo fato das matrizes de Guppy, assim como de outros peixes, terem o costume de comer
os alevinos após o nascimento. A escolha de desenvolver o sistema dessa forma foi simplificar o
sistema já que a inicial tentativa de separação apresentou problemas além de não prejudicar de
forma relevante o número de alevinos.
Nas avaliações 1ª, 2ª, 3ª e 4ª, observou-se um total de alevinos nos tanques A, B e C de, 277,
340, 355 e 390, respectivamente. Verificou-se um aumento do número de alevinos na 2ª contagem
em relação à anterior de 63 alevinos. Na 3ª e 4ª avaliação houve aumento de 15 alevinos e 35
alevinos, respectivamente, em relação avaliação anterior e de 78 alevinos 113 alevinos,
respectivamente, em relação à primeira avaliação.
No término do período de avaliação observou-se um total 390 alevinos, que partiram de um
total de 6 matrizes machos e 18 matrizes fêmeas, sendo assim, cada matriz fêmea gerou uma média
de 21,6 alevinos em um período de 80 dias de avaliação.

4.3 Qualidade da Água

A água é um dos componentes principais para a piscicultura, e ao mesmo tempo é o maior


problema enfrentado, uma vez que seu consumo é exigido em larga escala. Se tratando de um
sistema alternativo, o que não poderia faltar é uma forma de aproveitar esse bem por um tempo
maior. A qualidade da água influencia, além do crescimento dos peixes, a própria sobrevivência dos
mesmos (SILVA, 2001).
De acordo com a legislação em relação à qualidade de agua para a criação de peixes, o pH
da água deve apresentar um valor de potencial higrogeniônico entre 6,5 e 7,5 (FRANÇA, 2007).
Verificou-se no sistema sem filtragem um valor de pH variando de 7,41 até 9,02,
ultrapassando a faixa ideal de pH. Já no sistema com filtragem os valores observados tiveram uma
variação de 7,30 a 7,78 atingindo os valores estabelecidos pela legislação, excedendo apenas na 3ª
semana de avaliação, mas com um valor menor que 0,5 (Tabela 1).
Mudanças bruscas no pH podem provocar mortalidade nos peixes principalmente de
espécies que apresentam maior dificuldade de estabelecer o equilíbrio osmótico ao nível das
brânquias, como é o caso da maioria dos peixes ornamentais, determinando grandes dificuldades
respiratórias (SILVA, 2001).

Valores de pH

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Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Avaliação Sem filtro Com filtro


A1 7,41 7,41
A2 7,43 7,40
A3 7,81 7,78
A4 9,02 7,30
Tabela 11: Valores de pH obtidos nas avaliações do sistema sem filtro e do sistema alternativo com filtro

A turvação da água impede a penetração dos raios solares na coluna de água sendo que a luz
solar é fonte de energia para o processo de fotossíntese realizado pelas algas que além de
produzirem substâncias orgânicas, aumentam a oxigenação da água (SILVA, 2001).
Verificou-se valores de turbidez menores que 1 NTU em todo o período de avaliação, 3
semanas, para o sistema alternativo com filtro, enquanto o sistema sem filtro começou a apresentar
valores altos de turbidez já na segunda semana (Tabela 2).

Valores de Turbidez
(NTU)
Avaliação Sem filtro Com filtro
A1 <1 <1
A2 <1 <1
A3 18,50 <1
A4 75,90 <1
Tabela 12: Valores de Turbidez em NTU obtidos nas avaliações do sistema sem filtro e do sistema
alternativo com filtro

Com base nos resultados das análises físico-químicas das amostras de água dos dois
sistemas, observou-se uma relevante manutenção da qualidade da água a partir do sistema de
filtragem e recirculação de água.

5. CONCLUSÕES

Em todas as avaliações verificou-se um ganho no número total de alevinos, indicando o


sistema alternativo de criação e reprodução de peixes ornamentais ser viável para a produção da
espécie Poecilia reticulata.
Com o sistema de filtragem instalado no sistema alternativo, a qualidade da água em relação
ao pH e turbidez indicou valores com padrões adequados para a criação da espécie Poecilia
reticulata.

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ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1692


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA: PERFIL DOS CONSUMIDORES DA FEIRA DE


PRODUTOS ORGÂNICOS DE AREIA, PB

Joana Gomes de MOURA


Doutoranda do PPGA UFPB84
joanagomes1963@hotmail.com
Maria de Fátima Queiroz LOPES
Mestranda do PPGA UFPB
fatimaqueiroz0@gmail.com
Ronimeire Torres da SILVA
Doutoranda do PPGA UFPB
ronimeiretorres@hotmail.com
Lucas Kennedy Silva LIMA
lucas18kennedy@gmail.com
Doutorando do PPGA UFRB

RESUMO
Na sociedade atual as pessoas cada vez mais se preocupam com a saúde, alimentação saudável, bem
estar e para alcançar esses objetivos estão buscando as feiras orgânicas para obtenção de alimentos
mais saudáveis e livres de agrotóxicos. Com o objetivo de traçar o perfil dos consumidores de
produtos orgânicos de Areia, PB, foi realizada uma pesquisa exploratória através de questionário
estruturado entrevistando-se 20 consumidores. As variáveis investigadas estão associadas às
características do consumidor e da compra de alimentos orgânicos, utilizadas para fundamentar essa
pesquisa como: idade, sexo, residência, renda, escolaridade e acesso a internet, valor mensal gasto
na feira, onde fazia compras antes de existir a feira orgânica, principais produtos comprados,
frequência de compra, tempo que frequenta a feira, satisfação com os preços, qualidade dos
produtos, fonte de conhecimento da existência da feira, por que compra na feira orgânica, qual a
importância e o que poderia melhorar na feira. Os dados coletados foram analisados por meio de em
planilhas no Microsoft Office Excel® versão 2013, e então foram feitas as análises de distribuição
de frequência das variáveis com a divisão por tabelas. Com isso, concluiu-se que os consumidores
tem em sua maioria mulheres com idade de 20 a 50 anos, com renda mensal de até dois salários
mínimos, frequentando a feira toda semana, comprando principalmente hortaliças, verduras e frutas.
Palavras-chave: Agricultura orgânica; Alimentação saudável; Feira agroecológica

ABSTRACT
In today's society people increasingly care about health, healthy eating, well being and to achieve
these goals are seeking the organic fairs to obtain healthier and pesticide-free foods. With the
objective of outlining the profile of consumers of organic products from Areia, PB, an exploratory
research was conducted through a structured questionnaire interviewing 20 consumers. The
variables investigated are associated with the characteristics of the consumer and the purchase of
organic foods, used to base this research as: age, sex, residence, income, schooling and internet
access, monthly value spent at the fair, where organic products, source of knowledge about the
existence of the fair, why it buys at the organic fair, what is the importance and what could be
improved in the organic fair, the main products bought, frequency of purchase, time attending the

84
Programa de Pós-graduação em Agronomia da Universidade Federal da Paraíba.

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1693


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fair, satisfaction with prices market. The collected data were analyzed through spreadsheets in
Microsoft Office Excel® version 2013, and then the frequency distribution analyzes of the variables
were done with the division by tables. With this, it was concluded that consumers have mostly
women between the ages of 20 and 50, with a monthly income of up to two minimum wages,
attending the fair every week, buying mainly vegetables, vegetables and fruits.
Key-words: Organic agriculture; Healthy eating; Agroecological Fair

INTRODUÇÃO

Diante da busca por alimentos mais saudáveis existe uma crescente procura por produtos
hortícolas sem o uso de defensivos químicos. Dessa forma os alimentos orgânicos provenientes de
feiras livres seguem uma expansão gradual, em razão de seu processo produtivo não gerar danos ao
meio ambiente e a saúde humana, além de ter garantia de maior qualidade (ROCHA et al., 2012)
por serem produzidos de forma mais natural, utilizando compostos orgânicos no processo
produtivo.
A ideia de agricultura alternativa começou a surgir nos anos 70, hoje essa forma de produzir
alimentos é bastante ampla e envolve várias correntes como a permacultura, agricultura natural,
biodinâmica, ecológica e orgânica (CAMPANHOLA; VALARINI, 2001). A agricultura orgânica
gera uma série de vantagens para o ambiente, evitando o desgaste e poluição do solo, garantindo a
conservação ambiental e gerando sustentabilidade, já em relação às vantagens para os seres
humanos observa-se uma redução nos teores de nitrato em produtos orgânicos (SILVA;
OLIVEIRA, 2013).
Entende-se por produtos orgânicos aqueles cuja produção não utiliza insumos oferecidos por
pacotes tecnológicos, e não inserem em sua produção organismos geneticamente modificados
(OGM). Os produtos orgânicos são geralmente comercializados em feiras livres sendo considerado
o local mais tradicional para quem deseja adquirir produtos frescos e de maior qualidade,
geralmente frequentado em grande parte, por uma parcela da população que tem o hábito de ir para
a feira em dias fixos da semana (GOMES et al., 2012). Nesses locais percebe-se uma maior
valorização dos produtos orgânicos, pois a maioria dos consumidores está disposta a pagar mais por
eles em troca de melhor qualidade dos produtos adquiridos, bem estar e saúde, embora muitos
produtos não sejam certificados (MORAIS et al.,2012).
A certificação é um fator essencial para garantia de qualidade e sanidade dos produtos que
são comercializados, pois com isso gera-se uma padronização e classificação dos mesmos e há um
acompanhamento efetivo em todas as fases do processo de produção por meio de auditorias, além
de ser uma maneira de assegurar a veracidade dos dados que constam no selo (CÉSAR et al., 2008).
Nas feiras livres verifica-se uma interação entre produtor e consumidor que é fortalecida
pelo fato que muitos consumidores frequentam semanalmente a feira e assim desenvolvem uma

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relação de confiança com o produtor, estes por sua vez conhecem as preferências e gostos dos
consumidores. Para os feirantes a opiniões dos consumidores, é muito importante para que possam
melhorar aspectos relacionados à produção e comercialização. De acordo com Brandão et al. (2015)
estudos sobre o perfil dos consumidores são fundamentais para adequação pelos produtores às
necessidades do freguês.
São poucas as informações referentes à opinião dos consumidores sobre as feiras e os
produtos comercializados e a importância das feiras para o cotidiano da população que frequenta
esse ambiente. Diante do exposto o objetivo do trabalho foi avaliar o perfil dos consumidores de
produtos orgânicos da feira municipal de Areia, PB.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no município de Areia, localizada na microrregião do Brejo


Paraibano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2016 a
população da cidade era de aproximadamente 22.940 habitantes e sua área territorial é de 269,424
km². O local de pesquisa foi a feira ecológica da cidade, criada no ano de 2007 com apenas um
grupo de 10 pessoas que faziam parte da Associação de agricultores do município, instigados pela
necessidade de ter um local para vender seus produtos, hoje a feira conta com 57 feirantes.

Figura 1. Estrutura das barracas onde é realizada a feira de produtos orgânicos.

Durante as sextas feiras no local são comercializados diversos produtos hortifrútis, vindos
diretamente do campo sem a interceptação de atravessadores. Para realização da pesquisa, foi
aplicado um questionário semiestruturado de abordagem direta com cerca de 20 consumidores de
forma aleatória cujo perfil foi determinado por meio de um estudo exploratório, onde os mesmo
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responderam um questionário amplo com respostas objetivas, de escolha única e múltipla no horário
de maior movimento da feira das 06:00 às 09:00 horas, de modo a representar fielmente a amostra.
Foram investigadas variáveis associadas às características do consumidor e de compra de alimentos
orgânicos.

Figura 2. Consumidores percorrendo o corredor principal de acesso as barracas.

O questionário abordou os seguintes aspectos:


a) Identificação do comprador (idade, sexo, residência, renda, escolaridade e acesso à
internet);
b) Informações sobre os produtos orgânicos (valor mensal gasto na feira, onde fazia compras
antes de existir a feira orgânica, principais produtos comprados, frequência de compra, tempo que
frequenta a feira, satisfação com os preços, qualidade dos produtos, fonte de conhecimento da
existência da feira, por que compra na feira orgânica, qual a importância e o que ser melhorado no
local).
Os dados foram organizados em planilhas no Microsoft Office Excel® versão 2013, e então
foram feitas as análises de distribuição de frequência das variáveis com a divisão por tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A idade dos entrevistados variou de 20 a mais de 50 anos, sendo observada maior presença
de pessoas acima dos 50 anos, 35% dos entrevistados (Tabela 1). Diferindo dos resultados
observados por Pontes et al. (2016) na qual avaliando o perfil dos consumidores de produtos
orgânicos da cidade de Botucatu, SP perceberam que grande parte dos entrevistados está entre 12 a
36 anos. Essa ampla faixa etária observada realizando compras na feira orgânica, revela uma
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preocupação geral da população com uma alimentação mais saudável, e aquisição de alimentos
livres de agrotóxicos, como foi relatado por vários dos entrevistados, quando foi abordado pelos
motivos pelos quais compram os produtos orgânicos. Cuenca et al. (2007) concluíram que a
motivação ao consumo de produtos orgânicos no Rio Grande do Norte se dar pela melhor qualidade
e segurança alimentar. Resaltando a importância de se promover a saúde em todas as fases da vida,
pois a nutrição está intimamente ligada à longevidade e ao envelhecimento saudável (BARBOSA,
2012), quando atrelada a outros hábitos saudáveis, como a realização de exercícios físicos, estado
emocional, repouso, ingestão de água, entre outros (GUIMARÃES & OLIVEIRA, 2014).

Tabela 1. Perfil socioeconômico dos consumidores da feira orgânica de Areia, PB.


Idade (%)
Ate 20 0
20 - 30 20
30 - 40 30
40 - 50 15
Acima 50 35
Sexo (%)
Feminino 85
Masculino 15
Endereço (%)
Zona Rural 10
Zona Urbana 90
Renda (%)
Até 1 salário 40
De 1 a 2 salários 40
Mais de 2 salários 20
Escolaridade (%)
Ens. Fundamental 40
Ens. Médio 30
Ens. Superior 5
Pós Graduação 25
Acesso a internet (%)
Sim 75
Não 25

Através dos dados apresentados é possível verificar uma grande diferença na participação do
homem e da mulher na realização de compras na feira, com maior participação da mulher,
representando 85% dos entrevistados e homem representando apenas 15% (Tabela 1). Esses
resultados certamente estão relacionados às questões culturais, pois mesmo nos dias atuais com a
maior participação da mulher nas mais diversas atividades, e conquista da independência através do

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trabalho fora de casa, na grande maioria das famílias a mulher é a responsável pela compra e
preparo dos alimentos. Isso pode ser comprovado através dos diversos trabalhos de pesquisa que
mostram a presença da mulher na realização da compra de alimentos (BRANDÃO et al., 2015;
DOS SANTOS, 2015; DE MORAIS et al., 2013; SILVA; COSTA, 2011); NEUTZLING et al.,
2010; CASEMIRO; TREVIZAN, 2009).
Dos entrevistados 90% residem na zona urbana e 10% residem na zona rural. Corroborando
como os dados de Oliveira (2004) que avaliou a produção de alimentos orgânicos pela rede de
pequenas agroindústrias familiares da AGRECO em Santa Rosa de Lima e Rio Fortuna, SC e
destaca que os clientes dos produtos orgânicos, normalmente residem em áreas urbanas. Quando
questionados sobre a renda mensal 40% dos entrevistados responderam que recebem até um salário
mínimo (R$ 937,00), 40% recebem entre um e dois salários mínimos e apenas 20% recebem acima
de dois salários mínimos (Tabela 1). Diferindo dos resultados observados por Padilha et al. (2016)
onde os consumidores que frequentam a feira da Agricultura Familiar no município de Tupanciretã
– RS possuem renda mensal, na sua maioria entre dois a quatro salários mínimos. Apesar dos
produtos orgânicos serem um pouco mais caro e a renda mensal ser fator determinante para a
decisão de compra, observa-se a presença de consumidores com salários mais altos até
consumidores com salário mais baixo frequentando a feira orgânica.
Com relação à escolaridade 40% dos entrevistados possuem apenas ensino fundamental,
30% ensino médio, 5% ensino superior, diferindo dos resultados obtidos por Cuenca et al, (2007) na
qual estudo realizado no estado do Rio Grande do Norte perceberam que 50,1% dos entrevistados
possuem curso superior; 22,7% curso superior incompleto; 13,6%, curso secundário (ensino médio);
e 13,6%, curso secundário incompleto (ensino fundamental). No presente estudo 25% dos
entrevistados estão fazendo pós-graduação, fato explicado pelo fato Campus II da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
75% dos entrevistados tem acesso a internet, e relataram que os produtos orgânicos são
preferidos por serem mais saudáveis,e não poluírem o meio ambiente (Tabela 1). Cuenca et al.
(2007) analisando a influencia da mídia na escolha dos produtos orgânico, concluíram que a
televisão influenciou 54,5% dos consumidores; os jornais, 45,5%; palestras e revistas, 27,3%; o
rádio, 9,1%; e outras formas de comunicação tiveram influência sobre 36,4 % dos entrevistados.
Antes da criação da feira orgânica 60% dos entrevistados compravam na feira convencional
da cidade que acontece aos sábados. E 40% disseram que preferiam os supermercados (Tabela 2).

Tabela 2. Aspectos de obtenção de produtos pelos consumidores da feira orgânica de Areia, PB.
Antes da feira onde compravam (%)
Feira convencional 60
Supermercado 40

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Frequência de compra (%)


1 vez por mês 5
2 vezes ao mês 0
Toda semana 95
Tempo de compra na feira (%)
6 meses 30
1 ano 5
Mais de 1 ano 65
Produtos comprados (%)
Frutas 31,37
Verduras 33,33
Hortaliças 27,45
Ervas 3,92
Outros* 3,29
Valor gasto na feira semanalmente (%)
10 a 20 5
20 a 40 35
40 a 60 10
Acima de 60 50
Satisfação com o preço (%)
Sim 80
Não 20
*feijão e ovos

Quanto às características do consumo, 95% costumam ir à feira orgânica semanalmente para


a aquisição de alimentos, pois o consumo deles é diário e 5% costuram ir apenas uma vez por mês
(Tabela 2), esses resultados mostram o caráter de fidelidade à feira em questão. Resultados
semelhantes foram observados por Netzling et al. (2010) estudando o comportamento dos
consumidores de alimentos orgânicos um estudo na Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) de
Porto Alegre, notam a fidelidade por parte dos clientes. Também em pesquisa do Instituto de
Promoção do Desenvolvimento – IPD, (2011) foi relatada a característica de fidelização do produto
e também a garantia de frequência de compras o que beneficia o pequeno produtor.
65% dos entrevistados frequentam a feira a mais de 1 ano, e 30% a 6 meses, esses novatos
relatam que ficaram sabendo da feira através de vizinhos e colegas de trabalhos.
Entre os produtos comercializados por parte dos consumidores as verduras aparecem com
33,33% da preferência dos entrevistados, sendo cenoura, tomate, cebola e batata as mais
procuradas. Seguido das frutas com 31,27% (banana, manga, e melancia). Os consumidores que
frequentam a feira da Agricultura Familiar do município de Tupanciretã – RS, também apresentam
preferência por frutas, verduras e hortaliças (PADILHA et al. 2016).

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O valor médio por consumidor com a compra de produtos na feira varia entre R$10,00 a
R$60,00 semanalmente, sendo que 50% gastam 60 reias (Tabela 2). Esses resultados diferem dos
observados por Netzling et al. (2010) na qual os consumidores da Feira dos Agricultores
Ecologistas (FAE) de Porto Alegre, gastam por mês em média 100 reias.
80% dos entrevistados se sentem satisfeito com o preço dos produtos, enquanto que 20%
dizem que os produtos estão caros. Os consumidores de produtos orgânicos da feira da cidade de
Chapecó – SC, consideram o preço dos produtos é semelhante aos do supermercado, com uma
diferença nos supermercados existem promoções VERONA et al. (2009).
Quando perguntado sobre a qualidade dos produtos ofertados na feira, 85% dos
entrevistados disseram achar bom e 15% que é regular. Nenhum dos entrevistados disse que os
produtos são ruins (Tabela 3).
A limpeza do local da feira foi a principal reclamação por parte dos consumidores (25,71%).
Os consumidores de produtos orgânicos da feira agroecológica do mercado municipal de Goiânia-
GO, consideram que a higiene e a limpeza da feira se assemelham aos dos supermercados
(MORAIS et al., 2009). Outro ponto levantado pelos entrevistados foi a questão da infraestrutura
(20%) da feira, na qual conta apenas de uma barraca em que são colocados os produtos, em que em
dia de chuva os produtos ficam todos molhados. Segundo 14,29% dos entrevistados a oferta de
produtos na feira é um ponto negativo, produtos como couve flor, abacates entre outros. No estudo
realizado por Cuenca et al. (2007) com os consumidores dos produtos orgânicos no Rio Grande do
Norte, observaram que 36,6% acharam que não há muita diversidade de produtos; 35,7% disseram
que os poucos produtos ofertados não atendem à demanda; e 27,7% afirmaram que oferta é boa. O
local que a feira funciona também foi citado por 11,43% dos consumidores como uma questão a ser
melhorada. A segurança apareceu como um item a ser melhorado, visto que a comercialização dos
produtos começa as 4 horas da manhã e os consumidores não se sentem seguros se irem nesse
horário fazer as compras.

Tabela 3. Avaliação do local de vendas pelos consumidores da feira orgânica de Areia, PB.
Qualidade dos produtos (%)
Bom 85
Regular 15
Ruim 0
O que pode melhorar na feira (%)
Local 11,43
Limpeza 25,71
Infraestrutura 20
Segurança 8,57
Horário de funcionamento 5,71
Oferta de produtos 14,29

ISBN: 978-85-68066-55-3 Página 1700


Educação ambiental: natureza, biodiversidade e sociedade

Nada 11,43
Outros* 2,86
*Presença de animais

CONSIDERÇÃO FINAIS

O perfil dos consumidores da feira ecológica do município de Areia- PB, tem idade variável
de 20 a 50 anos, 85% dos consumidores é do sexo feminino, 90% deles moram na zona urbana da
cidade, a renda média mensal é de até dois salários mínimos, 40% dos entrevistados possuem
ensino fundamental completo seguido de 30% com ensino médio e 25% fazem pós-graduação.
Com relação a inclusão digital 75% tem acesso a internet em casa, isso mostra que o acesso
ao conhecimento é primordial para que as pessoas busquem uma alimentação mais saudável.
Antes de comprar na feira ecológica eles adquiriam produtos na feira convencional, a
frequência de compra é uma vez por semana, e compra a mais de um ano no local. As hortaliças,
verduras e frutas são os produtos mais comprados pelos consumidores, que gastam acima de 60
reais por semana. 80% consideram os preços dos produtos bons, assim como a qualidade dos
produtos é aprovada.
A limpeza do local e a infraestrutura são os principais problemas relatados pelos
entrevistados.

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