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INSTITUTO SÃO TOMÁS DE AQUINO

MAURÍCIO SANGALETTI

ESCOLÁSTICA: BREVES CONSIDERÇÕES

Trabalho apresentado à disciplina de História do


Cristianismo Medieval como requisito parcial para a
obtenção de nota para o segundo bimestre, sob a
orientação do Fr. Luiz Antônio Pinheiro.

BELO HORIZONTE

2017
1

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ESCOLÁTICA E SEU CONTEXTO

Dividiremos este subtítulo em duas partes: na primeira ponderaremos sobre alguns aspectos
da escolástica; na segunda versaremos acerca do contexto que propiciou seu desenvolvimento.

Originalmente intitulava-se escolástico o mestre que ensinava as sete artes liberais. A


denominação foi ampliada posteriormente também aos mestres de teologia. Finalmente, o termo
foi referido a todos que se ocupavam de uma ciência segundo uma escola.

A elite instruída na Idade Medieval estudava as sete artes liberais. A divisão em Trivium e
Quadrivium data provavelmente do período carolíngeo. Esta se prolongou até o século XII. O
Trivium consistia no estudo da gramática, dialética e retórica. O Quadrivium incluía a
aritmética, a geometria, a astronomia e a música.

A designação philosophia scholastica é outorgada pelos renascentistas à filosofia


ministrada na Idade Média.1 Esta possui um sentido depreciativo. Tal filosofia perdurou por
aproximadamente oito séculos. A escolástica almejava aplicar a filosofia nos mistérios da fé.
Estes eram sistematizados em um conjunto e em uma unidade. Buscava-se a resolução das
dificuldades e dos problemas que deles emanam.2 Na escolástica é basilar o intento da claridade
lógica do pensamento e a reunião de todo o saber em sumas.3

Em síntese, por escolástica podemos compreender três noções: primeira, o método didático
empregado nas escolas medievais e a consequente literatura filosófica e teológica dele
decorrente; segunda, a finalidade do ensino, ou seu conteúdo, ou o tempo em que vigorou;
terceira, a identificação indevida com o tomismo, em razão da síntese de Tomás de Aquino ser
abalizada como a de maior magnitude.4

Três aspectos estão associados ao desenvolvimento da escolástica: a tradução das obras de


Aristóteles; o advento das universidades; a fundação das ordens religiosas. Vejamos cada um
dos pontos aludidos.

No início do século XII apenas duas obras de Aristóteles eram conhecidas: Categorias e De
interpretatione. Estas foram traduzidas por Boécio. Ulteriormente outras traduções realizadas

1
LOGOS - ENCICLOPÉDIA luso-brasileira de filosofia. São Paulo: Verbo, 1989. art. Escolástica.
2
Ibidem.
3
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 148.
4
LOGOS - ENCICLOPÉDIA luso-brasileira de filosofia. São Paulo: Verbo, 1989. art. Escolástica.
2

por Boécio foram resgatadas. Elas discorriam sobre os “tratados de lógica”. Estes escritos
tiveram grande influência sobre a escolástica. Tais textos propiciaram o desenvolvimento de
uma teologia científica, contrastando com os escritos bíblicos do século XII. Na segunda
metade do século XII importantes textos filosóficos foram traduzidos do Árabe. Entre estes se
encontram as obras de Al-Kindi, Al-Ghazali, Ibne Gabirol e partes do Kitab al-Shifa (Avicena).
Foi de suma importância para o aristotelismo latino a tradução dos principais comentários de
Averróis. Esta tradução foi realizada por Muhael Scot, em 1220. Ora, no século XIII os filósofos
possuíam uma expressiva quantidade de textos e comentários da filosofia aristotélica.
Inicialmente a teologia medieval segue Agostinho, se movendo no horizonte neoplatônico. Não
obstante, paulatinamente essa filosofia cede lugar à Aristóteles. Daqui nascem novas sínteses.5
O pensamento de Aristóteles é predominante na alta escolástica; sem embargo, também nessa
ainda subsiste a influência das filosofias árabe, judia, agostiniana e patrística.

No século XIII houve uma grande “fermentação de ideias”. As causas foram as novas
universidades e ordens religiosas.6 Uma universidade medieval era constituída de quatro

faculdades: artes, teologia, direito e medicina. A ordem dos Franciscanos e Dominicanos

tiveram grande relevância na vida intelectual desse período. Em 1219 ambas já se encontravam
instaladas na universidade de Paris. Os grandes filósofos da Idade Média provêm dessas ordens.
Destacamos: Santo Alberto, São Tomás de Aquino, São Boaventura e Guilherme de Ockham.
Os dois primeiros são dominicanos e os últimos franciscanos.

Seguindo o Manual de Historia de la filosofia, fracionaremos a escolástica em: pré-


escolástica, primeira escolástica, alta escolástica e escolástica tardia. Os subtítulos subsecutivos
vão abordar cada uma dessas divisões. Nosso intento é explicitar os principais aspectos e
autores de cada período. Salientamos que alguns elementos que já apontamos nessa introdução
serão retomados e aprofundados nas seções subsequentes.

1.1 PRÉ-ESCOLÁSTICA: O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO

Após a turbulenta migração dos povos, o país dos francos cada vez mais foi se
constituindo como um centro catalizador da Europa em formação. Carlos Magno foi rei dos

5LIBANIO, J. B. e MURAD, Afonso. Introdução à Teologia: perfil, enfoque, tarefas. 8a ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2011. p. 111.
6
KENNY, Anthony. Filosofia Medieval: uma nova história da filosofia ocidental. São Paulo: Edições Loyola,
2008. p. 76.
3

francos (768-814) e imperador (800-814). Pepino, o Breve, fora seu pai. A este é que o título
real foi conferido, em 751. Ele legou aos seus sucessores um reino legítimo e garantido pela
autoridade papal. Carlos fora sagrado imperador pelo Papa Leão III, no dia de Natal do ano
800. Movido pela leitura do “Estado de Deus”, de Santo Agostinho, Carlos Magno, a parir de
sua interpretação, objetivou unir Igreja e Estado numa só e única sociedade. Foi assim que
apareceu a ideia de um “Império Ocidental Cristã”. Ora, devido a sua ampla visão política, ele
compreendeu que o império seria consistente se internamente estivesse afirmado por uma
elevada cultura. Carlos Magno ambicionou edificar uma “nova Atenas”. Para isso, foram
invitadas diversas pessoas. O imperador selecionava os professores entre os mais sábios e
famosos. Destacamos: Pedro de Pisa e Paulo de Aquiléia. Daqui despontou o “renascimento
carolíngio”7.

Alcuino é o principal nome desse período. Foi conselheiro do rei em todas as questões
relacionadas ao ensino. Este recomendou as “sete artes liberais” como as “sete colunas da
teologia”. João Scoto Erígena se destaca por seu talento especulativo na filosofia. A escola
superior edificada tornou-se o motor da vida intelectual para o mundo ocidental. Aqui as forças
foram utilizadas nas discussões teológicas. O iconoclasmo remete a esse momento.

Apesar dos abundantes trabalhos que aparecem, suas contribuições para a filosofia, por
exemplo, são modestas. A título de exemplificação destacamos dois nomes. Primeiro,
Fredegiso, que escreve a obra Sobre o nada e as trevas. Nesta o filosofo salienta que também
o nada deve ser algo positivo, pois algo deve corresponder a sua ideia; além disso, parece que
ele sustentava que o nada era aquela matéria prima da qual todas as coisas foram criadas.
Segundo, Godescalco. Este ensinava que, desde o dia de nosso nascimento, uma parte do
homem está destinada ao céu e a outra ao inferno.8

1.2 PRIMEIRA ESCOLÁSTICA: A DIALÉTICA E OS UNIVERSAIS

O século X é marcado por um baixo nível de cultura científica. O século XI assinala um


despertar para a ciência filosófica. Embora modesto no início, conduzido pela dialética, daqui
nasce os grandes sistemas do século XIII. A pugna da dialética e dos universais caracteriza este

7
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 149.

8
Idem, p. 150.
4

período. Vejamos brevemente o que são esses dois pontos citados. Encetemos pela dialética.
Esta se divide em: dialéticos e antidialéticos. Com a dialética desenvolve-se um conflito entre
o tradicional e o inovador. A dialética se consolida com a obra de Pedro Lombardo Livro das
sentenças. Esta obra reúne textos bíblicos e patrísticos, organizando-os em temas específicos,
a saber: Trindade, criação e queda, redenção em Cristo, sacramentos e escatologia. Das “sete
artes liberais”, a dialética granjeou esplendorosa afeição. Na Idade Média se dava mais valor às
conclusões lógicas da razão que as observações dos sentidos. Daí que seu forte foi a lógica, não
as ciências naturais. Nas disputas teológicas quem manejava melhor a dialética triunfava. A
razão se consagrava como o único campo que pode afirmar a verdade. Nesse momento os
conhecimentos filosóficos se restringiam praticamente a obra de Boécio, o que justifica a
relevância dada a dialética. Gradativamente a dialética é aplicada às questões da fé. Muitas
heresias despontam. Começa a se demonstrar, por exemplo, que a concepção tradicional sobre
a eucaristia é falsa, ou seja, que é impossível que a substância do pão mude para o corpo de
Cristo, enquanto as propriedades (acidentes) permaneçam; assim, o que ocorre é somente a
coexistência da forma do pão com a forma do Corpo de Cristo (Berengário de Tours). O modo
como os dialéticos debatiam sobre a fé acarretou vasto enjeitamento. Pedro Damião é o
antidialético mais extremo. Ele afirmava: que a filosofia era invenção do diabo que já, como
primeiro dialético, ensinou aos nossos pais no paraíso a pluralidade de Deus; para a salvação
da alma basta a fé, pois do contrário Deus não haveria mandado simples pescadores, mas
eruditos dialéticos; a filosofia deve ser sempre a serva da teologia; Deus não está ligado ou
obrigado a qualquer lei, nem natural e nem lógica.9

Em decorrência do demasiado uso da dialética, a mística se apresenta como uma


contracorrente. Esta é de cunho conservador. Bernardo de Claraval está associado a corrente
mística. Ele tece muitas críticas a Abelardo afirmando: que o que realmente tem valor é querer
saber para edificar; que Deus é conhecido à medida que é amado; que o caminho da verdadeira
sabedoria não nos ensina a inteligência, mas a bíblia. A mística aqui é entendida a partir de três
passos: primeiro, a meditação, onde a inteligência é posta a serviço do conhecimento de Deus;
segundo, a contemplação, que compreende a verdade eterna e nela repousa; terceiro, o êxtase,
que nos desprende da atividade de nossos sentidos e diviniza nosso ser.10 A mística se
desenvolveu também no mosteiro dos cônegos agostinianos de São Victor de Paris. Esta mística

9
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 152-153.

10
Idem, p. 163.
5

não é hostil a ciência. A partir dela se tenta dar a escolástica um firme fundamento. Nessa escola
nasce o primeiro trabalho de síntese entre o saber profano e religiosos. Hugo de São Vitor
concebe que o fim último da ciência é a união com Deus. Isto se dá em três etapas: o olho da
carne nos oferece a experiência exterior; o olho da razão nos leva a experiência interior; o olho
do espírito contempla finalmente o divino.11

Concernente ao problema dos universais, este pode ser apresentado de quatro formas.
Primeira, são as ideias ou as coisas particulares o verdadeiro ser? (Platão). Segunda, são os
gêneros e espécies (universais) coisas reais ou somente instrumentos mentais de nosso espírito?
Se são coisas reais, são corpos ou espíritos? Se são corpos ou espíritos, existem nas coisas
particulares ou separadas das demais? (Porfirio). Terceira, são as categorias de Aristóteles uma
ciência de palavras ou de coisas? (Boécio). Quarta, são os gêneros e espécies (universais)
somente nomes (nomina) ou são coisas (res)? (Escolástica). Interessa para o nosso estudo a
última indagação. Nessa os primeiros (gêneros e espécies são nomes) são denominados
nominalistas e os segundos (gêneros e espécies são coisas) de realistas.12

O principal representante do nominalismo é Roscelino de Compiègne. De seus escritos


remanesce uma carta sobre “A Trindade”. Anselmo de Canterbury e Abelardo são seus
adversários. Estes evidenciam que Roscelino afirmava que somente existem coisas particulares:
“não há cor, mas somente coisas coloridas. Não há sabedoria, mas somente homens sábios”. O
que é comum a muitas coisas não é a existência de um universal, mas uma mesma palavra que
empregamos para compreender muitas coisas semelhantes. Aplicando essa doutrina à Trindade,
afirmará Roscelino que o único comum entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo é o nome Deus;
no demais são três deuses. Tal concepção foi interpretada como heresia. Em 1092, no Concílio
de Soissons, Roscelino teve que negá-la. Como consequência, o nominalismo só vai aparecer
novamente no século XIV, com Ockham.13 Abelardo também via nos universais apenas
palavras. Todavia, diferente de Roscelino, não concebia a palavra como um som, mas como
portadora de uma significação. Daí poder enunciar a mesma palavra de muitas coisas
particulares.14 Abelardo ficou conhecido pela sua obra Sic et Non (Sim e Não). Tal método

11
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 163-164.

12
Idem, p. 153-154.

13
Idem, p. 154.

14
Idem, p. 158.
6

consistia em levantar uma questão e depois citar autoridades que parecem oferecer uma solução
e autoridades que dizem o contrário, para daí se chegar a uma conclusão. Na conclusão, o
teólogo primeiramente evidenciava sua solução e depois explica porque ela não se contrapõe
as autoridades citadas.15

Anselmo foi responsável por conduzir a filosofia cristã a novos domínios. Ele elabora
uma síntese da teologia e da dialética. Daí que Anselmo pode ser considerado o pai da
escolástica. Este usava como lema Credo ut intelligam (Creio para entender). Em outras
palavras, nele a fé parte em busca da inteligência (fides quaerens intellectum). Segundo o
filósofo, o investigador deve partir da fé firme na verdade da revelação de Deus, que é o critério
último da verdade. Os resultados de qualquer investigação são verdadeiros quando de acordos
com a revelação. Seu propósito, por conseguinte, não é provar algo para depois crer nisso, senão
demonstrar que aquilo que ele aceita de antemão pela fé é eminentemente racional. Este método
vai subsistir no decorrer da escolástica. O Proslógio, uma de suas principais obras, segue esse
esquema. O raciocínio desenvolvido nela foi denominado ulteriormente de “argumento
ontológico para provar a existência de Deus”. Em síntese, a ideia é a seguinte: a resposta sobre
a existência de Deus já está implícita na pergunta. Isso porque perguntar sobre a existência de
Deus é indagar sobre a existência do Ser Supremo. Ora, na ideia do Ser Supremo, o qual possui
todas as perfeições, necessariamente se encontra a existência. Do contrário, o Ser Supremo seria
inferior a qualquer outro ser que existe. Seria uma contradição um ser Supremo inexistente, tal
como o é a de um triângulo de quatro lados. A ideia de triângulo implica três lados. Do mesmo
modo, a ideia de Ser Supremo inclui a existência. Quem nega a existência de Deus é insensato.16

O representante mais extremado do realismo é Guillermo de Champeaux. Este enfatiza


que todas as coisas particulares pertencentes a uma mesma espécie possuem somente uma
substância. A diferença entre elas está nos acidentes. Foi Abelardo que mostrou que tal modo
de pensar leva a contradições insolúveis (a mesma substância deveria ser grande e pequena, boa
e mal, viva e morta) e ao panteísmo (pois as coisas particulares do mundo são meros acidentes
da substância Divina).17

15
GONZÁLEZ, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,
1981. p. 136.

16
Idem, p. 141-142.

17
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 155.
7

1.3 ALTA ESCOLÁSTICA: ARISTÓTELES, AS UNIVERSIDADES E AS ORDENS


MENDICANTES

Na introdução deste trabalho já apresentamos alguns aspectos daquilo que aqui


abordaremos. Sem embargo, aprofundaremos um pouco mais o que já foi mencionado. Antes,
porém, evidenciamos que é dificultoso delimitar a alta escolástica. Mesmo assim,
distinguiremos três correntes: o augustinismo, o aristotelismo e o platonismo.18 Estas servirão
de fio condutor para guiar nossa pesquisa nesta seção.

No século XIII há um desenvolvimento científico sem precedentes. Ora, desde o século


II a filosofia cristã havia estabelecido uma aliança com a filosofia platônica. Esta ocorreu
através da obra de São Justino. Por muito tempo, sobretudo na Igreja latina, a filosofia de Platão
e de seus seguidores foi concebida como a verdadeira filosofia e a que oferecia o melhor aparato
intelectual para entender a fé cristã. É na filosofia neoplatônica que Santo Agostinho encontra
as respostas para muitas dúvidas que possuía. Com a imposição da teologia de Agostinho se
deu a da filosofia platônica. Todavia, na Europa Ocidental, gradualmente começa a aparecer
uma filosofia que difere da platônica em vários pontos. Esta era a filosofia aristotélica. 19 Aqui
se dá a renascença aristotélica. Ora, O Organon, obra de Aristóteles, foi completamente
traduzido no século XII. Até 1150 trabalhava uma grande oficina de tradutores em Toledo.
Estes tinham como intento traduzir do árabe para o latim as obras de Aristóteles, dos filósofos
árabes e judeus. Tomás de Aquino e Alberto Magno aproveitaram essas traduções. Mais valioso
ainda foram as traduções feitas do grego, iniciadas no século XII e continuadas no século
seguinte. Com tão grande material florescia um “renascimento medieval”. Essas novas ideias
produziram um conflito na Igreja. Aristóteles aparecia como o responsável pelo panteísmo que
se impunha na França. A consequência foi a proibição dos escritos científico-naturais
aristotélicos pelo Concílio de Paris (1210). Cinco anos após, a proibição se estendeu aos livros
da Metafísica. No ano de 1231 todos os escritos de Aristóteles foram proibidos até que as partes
errôneas fossem corrigidas. Em 1245 a proibição se estendeu para Toulouse. A filosofia
aristotélica se apresentava como uma ameaça a teologia construída com a ajuda do platonismo.
Os escritos de Aristóteles, entretanto, viveram uma verdadeira marcha triunfal. Esta avançava
decididamente. No ano de 1255, já eram ensinados nas universidades. Alberto Magno declarara

18
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 173.

19
GONZÁLEZ, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,
1981. p. 141-142.
8

Aristóteles como precursor de Cristo na sabedoria natural.20 Durante o século XIII discutiu-se
muito sobre qual seria a atitude dos cristãos diante da nova filosofia. Muitos teólogos
responderam ou rejeitando completamente Aristóteles ou aceitando alguns elementos
secundários em sua doutrina. Poucos aplicaram à teologia cristã a filosofia aristotélica. Entre
eles destacamos Alberto Magno e Tomás de Aquino.21 Embora no século XIII e XIV
permaneçam resquícios do platonismo, essencialmente é um debate em torno de diversas
formas de aristotelismos.

Este período se caracteriza também pela importância das cidades. Por isso que os
estudos teológicos passaram a residir nos centros urbanos, não mais nos mosteiros, geralmente
situados longe dos centros de população. Nesses centros de início surgiram as escolas
catedralícias: estavam a cargo do bispo e do capítulo da catedral. Sucessivamente novas escolas
nascem. Estas se unificaram em cada cidade no que ficou conhecido como estudo geral. Daqui
surgiram as principais universidades da Europa. Os mestres e discípulos da escola de Paris se
organizavam até 1200 desse modo.22 Nos cinquenta anos seguinte foram aparecendo novas
universidades, pelo menos 15, entre elas: Oxford e Coimbra, Toulouse e Salamanca.
Inicialmente as universidades não eram instituições de ensino superior, mas corporações de
professores e alunos. Haviam quatro Faculdades na Universidade de Paris. 1) A facultas artium
(artes): se ensinava as sete artes liberais, sobretudo a dialética. Após a tradução dos textos
aristotélicos essa escola passou a ser a de filosofia, que incluía também as ciências naturais. 2)
A facultas theologorum (teologia): gozo de grande prestigio e autoridade. Os maiores filósofos
eram teólogos. Só era admitido nessa faculdade os que haviam realizado a precedente. O estudo
se estendia por oito anos. Após, sobre a direção de um mestre, em dois anos, se devia comentar
a bíblia, durante outros dois anos o Livro das sentenças. Somente depois desse processo era
permitido lecionar. 3) A facultas decretistarum (Direito): se consagro sobretudo ao direito
canônico, devido ao desejo dos papas. 4) A facultas medicorum (medicina): não teve a mesma
importância que as anteriores. Contudo, mesmo antes de sua fundação em Paris, já havia um
centro de estudo em Salerno.23 Universitas significando “instituição autônoma”.24 A primeira

20
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 170.

21
Idem, p. 180.

22
GONZÁLEZ, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1981. p.
138-139.
23
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 171-172.

24
LOYN, Henry (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. art. Universidade.
9

Universidade erigida em corporação foi a de Bolonha. Esta era uma faculdade de Direito. A
faculdade de Paris foi a mais importante das faculdades teológico-filosóficas. Os Papas foram
grandes protetores e promotores das Universidades, sobretudo Inocêncio III e Gregório IX.

Nesse contexto surgiram novas ordens religiosas. Destas destacamos as ordens dos
franciscanos e dominicanos. No ano de 1229 e 1231 os dominicanos receberam cátedras na
universidade de Paris. Em 1231 os franciscanos também ganharam uma cátedra nessa
universidade. Aos poucos ambas as ordens começaram a se desafiar. Cada uma escolheu um
mestre que os demais membros deveriam seguir.25 Os franciscanos optaram por Santo
Agostinho e os Dominicanos por Aristóteles.26

Nesse período entre os franciscanos aparece a figura de Grosseteste e Boaventura.


Aquele desenvolveu a metafísica da luz de Agostinho a partir do sentido científico-natural. A
luz, segundo o filósofo, é mediadora entre o mundo e Deus: mais fina que a matéria, mas mais
grossa que o espírito. A luz é forma de todos os corpos e causa de suas atividades. A partir da
luz se explica também a origem do mundo: a luz criada na matéria aspira irradiar em todas as
direções, daí se produz a extensão e o espaço cósmico. Boaventura concebia, como Santo
Agostinho, dentre outros aspectos de sua filosofia, que a fé e a ciência não podiam se separar.
Este foi o motivo que o levou a rechaçar Aristóteles, que buscou compreender o mundo se
valendo unicamente da razão. 27

Alberto Magno e Tomás de Aquino estão associados ao aristotelismo. Aquele concebe


a alma como uma tábula rasa na qual a experiência escreve. Ele descartou a teoria da iluminação
interior de Santo Agostinho. Mesmo o conhecimento de Deus possui sua origem nos sentidos.
A passagem do sentido para o entendimento ocorre pela abstração. Referente a alma, o filósofo
se nega a compreendê-la como forma do corpo. Entende que tal compreensão pode colocar em
risco a sua imortalidade. Assim, aqui não segue Aristóteles, mas Agostinho.28 Alberto
estabelece uma importante distinção entre filosofia e teologia. Segundo ele, a filosofia parte de
princípios autônomos. Através desses princípios ela busca a verdade, se valendo de um método
estritamente racional. Os princípios da filosofia não necessitam da revelação para serem

25
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 172-173.

26
Idem, p. 181

27
Idem, p. 174.

28
Idem, p. 182-183.
10

reconhecidos. O teólogo parte de verdades reveladas. Tais verdades não podem ser alcançadas
somente pela razão. As verdades da teologia são mais seguras que as filosóficas, dado que a
razão pode cometer equívocos. O filósofo deve permanecer nos limites da razão em suas
averiguações. Quem tenta provar a eternidade do mundo ou a sua criação do nada são maus
filósofos.29

Tomás de Aquino desenvolveu uma produção muito extensa. Suas obras mais
conhecidas são: Suma contra gentios e Suma Teológica. Ele estava convencido da possibilidade
de reconciliar os escritos aristotélicos com a fé cristãs.30 Do aquinate destacamos as cinco vias
e sua compreensão de fé e razão. As cinco vias se colocam contra o argumento ontológico de
Santo Anselmo. Este desconfiava dos sentidos. Daí que parte da ideia do “Supremo Bem”. Para
Tomás de Aquino, somente por meio das coisas visíveis podemos chegar ao criador invisível.
As cinco vias partem do mundo que conhecemos por meio dos sentidos, e deste levam à
existência de Deus. As cinco vias salientam respectivamente: primeiro, o movimento do mundo
exige um primeiro motor imóvel; segundo, as causas eficientes exigem uma causa não causada;
terceiro, a contingência das criaturas exige uma causa necessária; quarto, os graus de perfeição
exigem um Deus perfeitíssimo; quinto, a ordem do mundo exige um ordenador.31 Quanto a fé
e a razão, Tomás enfatiza que existem verdades que estão ao alcance da razão, ao passo que
outras estão acima. As primeiras são ocupação da filosofia. Sem embargo, a teologia não se
limita tão somente as últimas. Isto porque há verdades necessárias para a salvação e que a razão
pode demonstrar. Mesmo essas verdades são reveladas. A elas a filosofia e a teologia podem se
debruçar. A investigação racional possibilita que compreendamos ainda melhor o que
aceitamos pela fé32

A filosofia tomista ocasionou acaloradas discussões. De modo especial, as seguintes


teses eram questionadas: todo o ser, mesmo o homem, possui uma forma substancial única; não
existe matéria espiritual; a matéria é princípio de individuação; é filosoficamente possível

29
GONZÁLEZ, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1981. p.
145-146.
30
LOYN, Henry (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. art. Aquino, Santo
Tomás de.

31
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 191.

32
GONZÁLEZ, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1981. p.
147.
11

conceber a eternidade do mundo; a essência e a existência se distinguem; todo o conhecimento


começa pelos sentidos; o entendimento possui primazia sobre à vontade.33

As críticas mais severas asseveradas ao tomismo foram levadas a cabo por Duns
Escotus. Ao contrário de Tomás de Aquino, para Duns Escoto ciência e fé são independentes.
O fim da primeira é o conhecimento do ser, enquanto da segunda o conhecimento de Deus.
Mesmo que a razão chegue a um primeiro motor, este é algo diverso do Deus vivo. Questões
relacionadas a criação ou a imortalidade da alma não temos como conhecer, senão que devemos
aceitar por meio de nossa fé.34 O pensamento scotiano é mais conservador que inovador. Ele se
preservou com grande força e influência, sobretudo entre os franciscanos. 35 As universidades
se dividiram em dois campos nos debates: tomistas e scotistas.36

Nos séculos que sucedem a morte de Tomás de Aquino, sua reputação sofreu
instabilidade. No ano de 1277, em Paris, o bispo Tempier mandou redigir um syllabus, onde
condenava duzentos e dezenove artigos de Tomás de Aquino. No mesmo ano o bispo de Oxford
com o bispo de Canterbury, Kilwardby, confirmaram a condenação. Já no ano de 1316 o Papa
João XXII iniciou o seu processo de canonização. Em 1323 o mesmo Papa declarou a sua
santidade. Atesta-se que o Papa havia afirmado: “Há tantos milagres quanto artigos da Suma”.
Durante as deliberações do Concílio de Trento, a Suma Teológica foi colocada ao lado da bíblia,
em posição de honra. Com a encíclica Aeterni Patris, de Leão XIV, em 1879, Tomás de Aquino
foi declarado teólogo oficial da Igreja.

1.4 ESCOLÁSTICA TARDIA:

Se Tomás de Aquino havia ensinado que só havia ciência dos universais, Guilherme de
Ockham intenta desenvolver uma ciência dos particulares. Esta tendência é classificada de
“moderna”, ao passo que as demais são entendidas como “antigas”. A mística mais uma vez vai
se levantar como uma contracorrente às disputas escolásticas de ambas as tendências. Em

33
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 198-199.

34
Idem, p. 201-202.

35
LOYN, Henry (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. art. Duns Escotus.

36
LOYN, Henry (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. art. Aquino, Santo
Tomás de.
12

síntese, nesse momento podemos distinguir três correntes: os modernos, os antigos e os


místicos.37

Dentro do seio das escolas religiosas nasce as tendências modernas. Dentre todos os
nomes situados nessa corrente, o de maior relevância é o de Guilherme de Ockham. Sua
doutrina é uma radical resposta ao universal real. Sobre esta temática ele salienta que das coisas
particulares não podemos abstrair um universal, pois não existem dentro delas. O autentico
conhecimento é das coisas particulares. Num primeiro momento o conhecimento é uma visão
intuitiva e posteriormente um juízo da experiência. É da experiência que na alma formamos
imagens (cópias) que são nossos conceitos. Estas imagens não são uma realidade. Elas
pertencem a lógica, não a metafísica. Os conceitos e palavras são somente signos que
representam as coisas particulares reais. Conceitos e palavras se tornam algo universal pela
comparação que fazemos entre as semelhanças existentes. Não sabemos o que as coisas são em
si mesmas, isto é, fora de nosso conhecimento.38 Em razão do nominalismo, o anterior esplendor
das “antigas” escolas se empalidece. Vamos encontrar nessa corrente somente uma preocupação
em relação a defesa do tomismo.

Concernente a mística, destacamos dois personagens: Mestre Eckhart e Nicolás de Cusa.


Aqui discorreremos sobre Mestre Eckhart. Sua mística é fortemente ligada com o
neoplatonismo. Eckhart coloca no princípio aquela divindade que é totalmente inapreensível.
Esta não podemos alcançar por categorias humanas. A Divindade, porém, se converteu em Deus
vivo ao se conhecer e pronunciar sua palavra. Neste falar Deus emana seu Filho unigênito e, ao
amar-se no seu Filho, brota o Espírito Santo. A alma do homem é a mais perfeita de todas as
criaturas. A alma foi criada no mesmo ato pelo qual o Pai engendro a seu Filho. Nossa alma
somente existe porque participa do ser da ideia de alma em Deus. Para o homem chegar até
Deus, primeira deve libertar-se do “aqui” e “agora”, pois enquanto busca honra e riqueza
permanece no nada. Toda a autentica moralidade possui seu fim no nascimento para Deus.39

37
FISCHL, Johann. Manual de Historia de la Filosofía. Barcelona: Herder, 1967. p. 204.

38
Idem, p. 206-207.

39
Idem, p. 212-213.

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