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A boa-fé, enquanto norma de conduta (boa-fé objectiva, Treu und Glauben), exprime, em cada situação
concreta, os valores fundamentais do ordenamento. Ela actua, por vezes, com recurso a princípios
mediantes – tutela da confiança e primazia da materialidade subjacente.
Ao longo da História, a boa-fé tem tido um papel fundamental no alargamento do sistema. Questões
exteriores são, num primeiro tempo, acolhidas e juridificadas através da boa-fé. Subsequentemente,
elas institucionalizam-se, ganhando um tratamento explícito. A boa-fé prossegue, em novas áreas, a sua
função de alargar o Direito e a sua Ciência.
No campo do cumprimento, a boa-fé está sempre presente, dispondo o n.º 2 do art.º 762.º do Código
Civil:
“No cumprimento da obrigação, assim como no exercício do direito correspondente, devem as partes proceder
de boa-fé.”
Este preceito é visto, fundamentalmente, como base jurídico-positiva para os deveres acessórios. No
entanto, Menezes Cordeiro considera que a boa-fé tem, na área do cumprimento, um papel mais
alargado, tendo as seguintes funções:
1. Na determinação da prestação principal;
2. Na fixação dos deveres acessórios;
3. Na delimitação do esforço exigível ao devedor;
4. Na integração da relação obrigacional.
A prestação principal tem a configuração que resulta da sua fonte, sendo que o Código Civil não
reporta, contrariamente ao §157 do BGB, a boa-fé a propósito da interpretação negocial, tratando-se,
todavia, de uma realidade sempre presente e muito necessária. De acordo com as circunstâncias, assim
a tutela da confiança e a primazia da materialidade subjacente irão ditar a precisa configuração da
prestação principal. Esse papel é extensivo aos deveres secundários, i.e., aos deveres pactuados pelas
partes, com uma função instrumental, de modo a melhor precisar os valores que queiram incrementar
ou defender.