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DEPOIS, A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
Resumo: Este artigo visa promover uma análise preliminar sobre a Marcha Contra a
Farsa da Abolição, que ocorreu em 1988, no Rio de Janeiro. O evento será tomado
como o ponto de partida para uma discussão mais aprofundada sobre o papel do
movimento negro durante o período de distensão democrática e sobre o papel dos
militares e suas agências de patrulhamento no imediato pós ditadura.
Palavras-Chave: Abolição / Centenário / Marcha / Ditadura / Transição.
Abstract: This article intents to promote a preliminary analysis on the March Against
the Farce of Abolition, occurred in 1988, in Rio de Janeiro. The event will be taken as
the starting point for further discussion of the role of the black movement during the
period of democratic distension and on the role of the military and their repressive
patrol agencies in the immediate post dictatorship.
Introdução
Foi no exercício da docência no ensino médio que o interesse pelo tema – o
Movimento Negro e o Centenário da Abolição – foi despertado. A Lei 10.639/03,
posteriormente modificada, pela Lei 11.645/08, tornou obrigatórios conteúdos
relativos à história e cultura africanas e afro-brasileiras nas escolas públicas e
particulares, abrindo uma série de polêmicas e debates. A percepção das dificuldades
de organizar ou estruturar cursos de história de acordo com as exigências da nova
legislação me conduziu ao curso de pós-graduação Lato Senso em História da África
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Mestrando do PPGH – UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ 1964-2014: 50 ANOS Ano 4, n° 5 | 2014, vol.1
DEPOIS, A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
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Sobre as definições do que seria o Movimento Negro contemporâneo ver: DOMINGUES, Petrônio.
Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo [online]. 2007, vol.12, n.23, pp.
101-102. ISSN 1413-7704. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77042007000200007.
Acesso em 15/02/2014.
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DEPOIS, A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
adversário. Um exército de pessoas negras sem armas, mas que grita e desafia com
uma disposição preocupante liderados por um gigante. Um dos comandantes militares
responsáveis pela segurança da cidade, percebe que para enfrentar a batalha seria
necessário não somente a utilização de táticas tradicionais mas também algo que fosse
páreo para aquele gigante jaga que agora jogava capoeira no meio da avenida
Presidente Vargas. Num gesto rápido o comandante aciona o botão de um mecanismo
que os militares ganharam e adaptaram, mexendo em algumas peças e engrenagens,
do presidente dos EUA, alguns anos antes, no auge da chamada Guerra Fria.
Igualmente estranho foi o que ocorreu. O habilidoso cavaleiro movimenta seu cavalo
que salta do Panteão para a avenida. Era o famoso Duque de Caxias, o Patrono, já
empunhando a sua espada pacificadora e se postando à frente da tropa.
A cena dessa batalha fantástica e metafórica, de certa forma, teve lugar no Rio
de Janeiro de 1988. No dia 11 de maio ocorreu uma das maiores demonstrações
públicas do Movimento Negro contemporâneo, a Marcha contra a Farsa da Abolição,
um protesto que reuniu mais de 5 mil pessoas no centro da cidade, cujo objetivo era
explicitar uma posição crítica acerca das comemorações do centenário da abolição da
escravidão. Utilizando carros de som, faixas e, fundamentalmente, os pulmões, os
militantes pretendiam ir da Candelária até o monumento de Zumbi dos Palmares, na
Praça Onze. Não conseguiram. Foram impedidos pelo Exército, em frente ao
Comando Militar do Leste, mais especificamente, um pouco antes do Panteão de
Caxias. Mais de 600 soldados, armaram barricadas e ostentaram armas pesadas,
impedindo a passagem da Marcha. Os militantes não puderam passar em frente ao
monumento de Caxias e por isso não chegaram, como pretendiam, ao monumento a
Zumbi. Zumbi e Caxias, numa batalha metafórica no meio da Avenida Presidente
Vargas. Se considerarmos que os monumentos vão muito além de seus suportes
materiais, notamos facilmente a importância do episódio.
A Marcha figurou entre os grandes eventos programados pelo Movimento
Negro para aquele ano. O poder simbólico do contexto foi muito significativo para o
país e para todos os atores envolvidos na redemocratização, após o encerramento do
regime militar. Foi um ano de mobilização para a militância. Enquanto o centenário
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A análise sobre a mitificação de Zumbi dos Palmares é didaticamente demonstrada em: GOMES,
Flávio dos Santos. De Olho Em Zumbi dos Palmares: Histórias, Símbolos e Memória Social. São
Paulo, Ed. Claro Enigma, 2011.
4
Alberti, Verena e Pereira, Amílcar Araújo. Histórias do Movimento Negro no Brasil: Depoimentos ao
CPDOC., Rio de Janeiro, ed. Pallas; CPDOC-FGV, 2007. p. 263.
5
Ver: Castro, Celso. A Invenção do Exército Brasileiro, Coleção Descobrindo o Brasil. Rio de Janeiro,
ed. Zahar, 2002. pp. 13-38. Celso Castro explica a construção do mito ao redor do Patrono do Exército
através das instáveis décadas de 20, 30 e 40 do século passado, apontando o objetivo de manter a
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DEPOIS, A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
Mas tudo era uma forma de ver harmonia. E nós estávamos ali
exatamente para botar água nessa sopa. Era pra mostrar que não
havia harmonia. Nosso ímpeto era mostrar que havia o contrário,
havia o racismo, que a gente queria a harmonia, mas que isso tinha
que ser construido.7
E o Frei Davi tinha falado do Caxias. Ele não falou nada que ia
jogar coisas, só falou que o Caxias, o maior símbolo do Exército
Brasileiro (...) teria sido um escravagista, teria sido conivente com a
repressão aos escravos fugidos, e era importante mostrar isso. Tinha
que desmistificar a história toda. Então que o movimento negro, ao
passar pelo busto de Caxias, ia lembrar esse momento. Mas ele não
falou em agressão, não falou em nada disso. E se fosse realmente
para defender, bastava botar uma barreira de soldados ali. Nada
justifica o tamanho, o volume, a comoção que ficou perante aquele
monte de tropas que se colocou nas ruas: os tanques, armaram
casamata, aqueles sacos enormes, metralhadoras...Loucura. Isso está
documentado em todos os jornais. Nós temos vários vídeos. Foi
paranóia do Comando Militar do Leste.8
coesão da corporação. Destaca também o episódio da Marcha Contra a Farsa da Abolição, chamando a
atenção para a batalha entre os monumentos erguidos para homenagear Caxias e Zumbi.
6
Alberti, Verena e Pereira, Amílcar Araújo. Histórias do Movimento Negro no Brasil: Depoimentos ao
CPDOC., Rio de Janeiro, ed. Pallas; CPDOC-FGV, 2007. p. 264.
7
Ibid. p. 258.
8
Ibid. p. 263
6
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DEPOIS, A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
As falas dos militantes, apesar de não poderem ser tomadas como ilustrativas
de todo o chamado Movimento Negro contemporâneo, por conta da variedade de
organizações e posições desse movimento, e por se tratarem de militantes atuantes em
organizações do Rio de Janeiro, nos fornecem uma pista crucial para
compreendermos a postura dessa militância formada em fins do regime militar. Ao
contrário de organizações anteriores, que marcaram a trajetória do Movimento Negro
ao longo de todo o século XX, como a FNB (Frente Negra Brasileira) ou o TEN
(Teatro Experimental do Negro), para ficar apenas nas mais expressivas, o propósito
de mudar a sociedade ou denunciar o racismo, não seria mais perseguido através de
estratégias pacíficas. A ideia de organizações como o SINBA (Sociedade de
Intercâmbio Brasil – África) e o IPCN (Instituto para Pesquisa em Culturas Negras),
era a do enfrentamento explícito.
Diversos historiadores vêm se debruçando sobre essa mudança no sentido de
decifrá-la 9 . Suas conclusões têm apontado para a mesma direção. É preciso
contextualizar o Movimento Negro contemporâneo e explorar algumas de suas
peculiaridades, para entender essa mudança. O início dessa nova fase coincide com
dois marcos importantes do regime militar: o início do processo de descompressão,
chamado de abertura política, e o desmonte do “milagre econômico”. Foi durante a
chamada “abertura” que ocorreu a retomada dos movimentos sociais, como o
movimento estudantil e o movimento sindical. No caso do Movimento Negro, é
inegável que seus militantes iniciaram sua formação justamente no bojo desses
movimentos maiores e mais mobilizadores. A militância desenvolveu-se, em vários
estados brasileiros, no interior dos grupos estudantis e dos partidos políticos ligados
9
Ver: DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos. Revista TEMPO,
vol.12, n. 23, julho, 2007, pp. 100-122. Rio de Janeiro, EDUFF, 2007; PEREIRA, Amilcar Araújo. O
Mundo Negro: A Constiuição do Movimento Negro Contemporâneo no Brasil (1970-1995), 2010. 268
f. Tese de Doutorado – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia,
Departamento de História, Niterói, Rio de Janeiro, 2010; e ALBERTO, Paulina Laura. Terms of
Inclusion: Black Intellectuals in twentieth-century Brazil. North Carolina (USA), North Carolina Press,
2011.
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COUTINHO, Carlos Nelson. A Democracia Como Valor Universal. Separata de SILVEIRA, Ênio,
et al. Encontros Com a Civilização Brasileira, v. 9. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. pp. 33-47.
13
Ver CARVALHO, Maria Alice de. Breve História do “Comunismo Democrático” no Brasil.
In: FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão (org.). Revolução e Democracia: 1964... –
Coleção: As Esquerdas no Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 2007. pp 263-
281.
14
COUTINHO, Carlos Nelson. Op. cit. p.40.
9
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15
PEREIRA, Amilcar Araújo (2010). Op. cit. p. 106-127.
16
ALBERTO, Paulina Laura (2011). Op. cit. p. 258-259.
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Os Militares e a Marcha
Pelo que foi exposto até aqui procurei apresentar algumas análises para a
compreensão da atuação do Movimento Negro nessa fase contemporânea. O que
poderia ser discutido acerca da atuação do Exército? É possível confrontar a fala de
Amauri de que “(...) Nada justifica o tamanho, o volume, a comoção que ficou perante
aquele monte de tropas que se colocou nas ruas: os tanques, armaram casamata,
aqueles sacos enormes, metralhadoras(...)” ? Foi paranóia e até loucura do Comando
Militar do Leste? Acredito que não. A postura do Exército no episódio possui raízes
bem mais profundas, algumas até desconhecidas ou pouco exploradas.
José Murilo de Carvalho destaca a importância do Exército na história
republicana e o preconceito, acadêmico fundamentalmente, que pesa sobre essa
constatação 17 . Está muito claro, em análises abrangentes, que construiu-se uma
espécie de cultura política na República brasileira, e porque não dizer em boa parte
das repúblicas da América Latina, onde na ausência das soluções, arranjos ou
equilíbrios, às FFAA caberia o papel de intervenção. Desde a introdução do regime
em 1889, contamos pelo menos quatro intervenções responsáveis por significativas
mudanças de rumo para o país18. Nessa perspectiva o golpe de 1964 e a Ditadura são
tributários de uma longa tradição de intervenções, onde as FFAA e o Exército em
particular se tornaram responsáveis pela manutenção da ordem e pela estabilização.
Da mesma forma é possível, assim como faz Celso Castro19 compreender os
valores sobre os quais se assentam os ideiais nacionais do Exército brasileiro. A
mitificação do Duque de Caxias foi brilhantemente analisada pelo antropólogo, que
demonstrou como “O Patrono” passou a simbolizar os ideiais de pacificação e união
da nação, desde os tempos do Império até nossos dias. São incontáveis às referências
17
CARVALHO, José Murilo de. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ED.,
2006.
18
Refiro-me às datas: 1930, 1937, 1945 e 1964.
19
Ver: CASTRO, Celso. Exército e Nação: Estudos Sobre a História do Exército Brasileiro. Rio de
Janeiro: FGV, 2012. Ver também: ________. A Invenção do Exército Brasileiro, Coleção Descobrindo
o Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 2002.
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20
Ver: NOVARO, Marcos e PALERMO, Vicente. A Ditadura Militar na Argentina 1976 – 1983. São
Paulo: EDUSP, 2007.
21
Ver: COMBLIN, Joseph. Ideologia de Segurança Nacional. Rio de Janeiro, Paz e Terra 1979.
22
ESG. Segurança Nacional – Conceituação da Escola Superior de Guerra. Separata de: A Defesa
Nacional. Rio de Janeiro: BIBLIEX, n. 681 – 682, p. 13-22, janeiro/fevereiro, 1979.
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23
ALBERTO, Paulina Laura (2011). Op. Cit. p. 245 – 296.
24
Alguns exemplos: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APERJ) –
Arquivo: Polícias Políticas /DGIE pastas: 258 ff. 622-629/ 259 ff. 40-46.
25
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (APERJ) – Arquivo: Polícias Políticas
/DGIE pasta 258 ff. 624 e 625.
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inspiração, como no caso das lutas de libertação levadas à cabo pelo MPLA, pela
FRELIMO e pelo PAIGC26, na África Portuguesa. Em segundo lugar, assim como faz
Alberto27, podemos verificar um fato igualmente importante: a Ditadura projetou a
ideia da democracia racial como característica e valor da nação, assumindo sua defesa
intransigente e fazendo propaganda em eventos internacionais, como no FESTAC de
1977, na Nigéria28. Uma comprovação disso é o Decreto-Lei n. 510, de 20 de março
de 1969 que considera crime contra a Segurança Nacional a alusão ao racismo. No
artigo 33 aparece: ART. 33 / VI - “incitar ao ódio ou discriminação racial” (pena de 1
a 3 anos de reclusão). Em nenhum outro momento de nossa história republicana as
ideias sobre a harmonia das relações sócio-raciais brasileiras adquiriram tanta
importância. A defesa desse “bem”, desse valor, passou a ser também uma
preocupação da DSN.
26
MPLA - Movimento pela Libertação de Angola; FRELIMO. - Frente Para a Libertação de
Moçambique ; PAIGC -Partido Africano Para a Independência da Guiné-Bissau e do Cabo Verde.
27
ALBERTO, Paulina Laura (2011). Op. cit. p. 245-296.
28
Ibid. p. 245-296.
29
CISA - Centro de Informações da Aeronáutica.
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30
ARQUIVO NACIONAL (BRASIL). VAZ. 125 A. 53, de 20 de outubro de 1976, Rio de Janeiro. 7
folhas.
31
ARQUIVO NACIONAL (BRASIL). VAZ. 93.54, de 04 de dezembro de 1986, Rio de Janeiro. 4
folhas.
15
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32
CIEX - Centro de Inteligência do Exército ; CENIMAR - Centro de Inteligência da Marinha.
33
DOPS - Destacamento de Ordem Política e Social, posteriormente renomeado DGIE - Divisão Geral
de Investigações Especiais.
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34
D'ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon e CASTRO, Celso. S. A Volta aos
Quartéis – a memória militar sobre a abertura. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995. p. 7 – 44.
35
FILHO, Daniel Aarão Reis. As Conexões Civis. O Globo, Rio de Janeiro, 15 de Fev. , 2014, Caderno
Prosa, p. 3. Entrevista concedida a Leonardo Cazes.
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Ver: AVRITZER, Leonardo. Cultura Política, Atores Sociais e Democratização - Uma Crítica às
Teorias da Transição Para a Democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS). São Paulo,
v.10, n.28, junho, 1995. Disponivel em:
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm - acesso em 15/02/2014). Ver
também: DAGNINO, Evelina; OLVERA, Alberto J., PANFICHI, Aldo (orgs.). A Disputa pela
Construção Democrática na América Latina. São Paulo, Paz e Terra; Campinas, UNICAMP, 2006.
37
OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de. De Geisel a Collor: Forças Armadas, Transição e Democracia.
Campinas: Papirus, 1994.
18
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É notório, por exemplo, que no período em que ocorreu a Marcha que analiso,
o governo de um presidente civil, considerado o símbolo da volta da democracia,
comprometeu-se de forma profunda com os interesses dos militares, agindo inclusive
de forma violenta no combate a movimentos sociais. Se considerarmos os vínculos
históricos de Sarney com os militares e suas formas de ação em muitas questões que
se apresentaram em seu governo, no mínimo abrimos a possibilidade para
entendermos que a democracia brasileira, na década de 1980 deve ser considerada de
um ponto de vista complexo. O termo democracia incompleta talvez tenha alguma
utilidade para as análises do processo político brasileiro, desde os anos 80 até os dias
atuais.
Além disso, o progressivo afastamento de setores civis e militares por conta
das divergências iniciadas nos anos 60 e aprofundadas nos anos 70, influenciou
sobremaneira o senso comum e a produção historiográfica, levando a interpretações
duvidosas sobre o regime militar brasileiro. A historiografia já sinaliza para uma
guinada interpretativa, onde destacam-se os papéis de lideranças civis, empresários,
imprensa, intelectuais, estudantes, associações, entre outros, na implantação e
sustentação do regime. Isso pode auxiliar análises sobre a permanência de uma cultura
autoritária no próprio meio civil. A recorrência às FFAA continua figurando como
garantia e segurança da ordem democrática, exatamente como afirmavam os militares
que tomaram o poder em 1964. Apesar da memória que aponta para uma forte
oposição entre militares e civis ao longo do regime militar , o conjunto dos valores
nacionais a ser protegido pelas FFAA, naquele contexto, continuou quase sem
alterações até nossos dias. Observa-se inclusive um certo ressentimento dos meios
militares quanto ao não reconhecimento desse papel nos anos 60, como se tivesse
havido, no período, uma espécie de desvio. Compreende-se assim que a ditadura
passou a ser exclusivamente militar pela construção de uma memória muito mais
recente do que se pensava.
A defesa da ideia da harmonia racial como um bem simbólico já está
configurada como uma linha de atuação do regime e das FFAA, mesmo após 1985.
Interessante é também perceber como existiram campanhas governamentais, peças de
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Refiro-me aos diversos eventos do centenário da abolição, especialmente à Campanha do Axé,
veiculada pela Rede Globo de Televisão e à Campanha da Fraternidade que possuía como lema: " Ouvi
o Clamor Desse Povo".
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Por tudo isso é que a Marcha contra a Farsa da Abolição é mais um dos muitos
objetos de análise que vêm surgindo no horizonte historiográfico que podem lançar
novas luzes sobre aspectos da Ditadura e da transição ainda pouco explorados. É um
desses momentos privilegiados para o historiador no qual entram em disputa direta,
nas ruas, os valores, as memórias as representações que marcaram e ainda marcam
nossa história recente. Se os monumentos em questão realmente ganhassem vida e se
encontrassem teriam muito a dizer.
39
BENTO, Cláudio Moreira. O Exército e a Abolição (Pensamento e Ação). Separata de: A Defesa
Nacional. Rio de Janeiro: BIBLIEX, n.738, , p. 7-16, julho/agosto 1988.
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Bibliografia:
Arquivos consultados:
APERJ – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
AHEX – Arquivo do Exército
Fontes consultadas:
Revista: A Defesa Nacional (1964 – 1988)
Arquivo de Polícias Políticas (POLPOL)
Livros e artigos:
ABREU, Alzira Alves. A midia na transição democrática brasileira. Revista
Sociologia, problemas e práticas, n.º 48, 2005, pp. 53-65. Disponível em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n48/n48a05.pdf
__________________(org.). A Democratização no Brasil: Atores e Contextos. Rio de
Janeiro, ed. FGV, 2006.
ABREU, Marta e SOIHET, Rachel. Ensino de História; conceitos temáticas e
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Brasil: Depoimentos ao CPDOC. Rio de Janeiro , Ed. Pallas; CPDOC-FGV,
2007.
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AVRITZER, Leonardo. Cultura Política, Atores Sociais e Democratização - Uma
Crítica às Teorias da Transição Para a Democracia. Revista Brasileira de
Ciências Sociais (RBCS). São Paulo, v.10, n.28, junho, 1995. Disponivel em:
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acesso em 15/02/2014).
AZEVEDO, Célia Maria de. Onda Negra, Medo Branco; o negro no imaginário das
elites século XIX. São Paulo, Ed. Annablume, 2004.
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