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01 textos Álvaro Siza

A obra completa de Álvaro Siza Vieira atravessa um período revolucionário.


Interiorizando e reagindo à alteração das condições das sociedades, Siza evita a
elaboração de uma teoria que cristalize o seu pensamento. Por isso, prefere falar por e
através de “exemplos”.
É disso que se trata este livro, de exemplos do seu percurso de vida, ou de outros.
Baseia-se numa explicação de como é que as ideias vão surgindo e quais os motivos que
as suscitam. É um pedido de observação para a tradição e as influências.
Os seus ideais provêm da sua educação, das vivências, da sua história e da história
dos seus ídolos. Ele descreve as sensações e compreensões do espaço como se voltasse
atrás no tempo. Percorre todo um crescimento na aprendizagem da arquitetura. Desde
um momento de descoberta, até ao momento do grande arquiteto que se tornou.
Tudo o que Siza escreve neste livro é aprofundado, não deixando nenhum pormenor
para trás. Ele mostra que tudo o que o que vemos, ouvimos e vivemos faz parte e é uma
influencia para aquilo que criamos e para a cultura que temos. Juntamente com a sua
tamanha curiosidade e memória, este livro torna-se uma biografia com uma cronologia
acentuada.

Palavras-chave: Desenho, viagens, influências, tradição, observação

Mariana da Silva Ribeiro / Teoria 3 / 2017.2018


“A apresentação, arquitetura, arte, bibliotecas, casas, cidades, desenhos, design
discurso, diversos, ensino, exposições, família, homenagem, móveis, museus, outros
arquitetos, pedagogia, poética, reflexão e viagens.”
Em todos os textos Siza Vieira se define. Não são sumários, mas sim textos
detalhados. Entre todas as artes, a Arquitetura é a que mais diretamente participa na
vida das pessoas. Por isso, acaba por influenciar na maneira de pensar e de agir do
autor, mesmo quando não se toma consciência desse facto. Por essa mesma razão, falar
de arquitetura é falar das pessoas, das vivências, das memórias, das épocas, das
influências, do urbanismo. E, evidentemente, das referências, da alma e do olhar de
quem faz. A arquitetura é um reflexo daquilo que vivemos. Tudo o que faz parte do
arquiteto, tem influencia obrigatória naquilo que ele cria. E este arquiteto sentiu
necessidade de explicar o porquê de ele ser um inventor, um transformador.
O facto de Siza recorrer a exemplos torna a sua moral mais clara, o livro mais
cativante e torna-se evidente o investimento do que é real. Este é o grande
compromisso de Siza com a arquitetura: através da ação, do fazer, do reconhecer, da
seriedade, da perseverança que se reconhece em todo o seu percurso, sobressai a
importância desta identidade que é feita de gentes e de lugares.
Os valores e as ideias universais são a base sobre a qual Siza Vieira desenvolve uma
linguagem pessoal, que se acrescenta ao que já foi feito, de acordo com as
características únicas do espaço e do tempo em cada projeto. A adaptação às condições
de trabalho.
Para Siza Vieira, encontrar um meio cultural diferente é essencialmente um estímulo,
nem sempre uma dificuldade. No entanto, os conflitos são uma constante no seu
percurso. “Movo-me entre conflitos, conflitos, mestiçagem, transformação.”1
É de conhecimento geral que Siza trabalhou em muitos países. Desta forma ele
aprendeu a respeitar o sítio como aquele sítio e não outro. Existe muita informação que
é necessária organizar, visto que as decisões dele são baseadas no que ele observa e
absorve. Ele trabalha numa teoria para obter uma prática, mas essa teoria não limita o
seu trabalho, mas sim, tudo o que o rodeia. “O mundo inteiro e a memória inteira do
mundo continuamente desenham a cidade”2
Conta histórias de quando esteve aqui ou ali, de diversos lugares no mundo para
atender às diferentes condições climáticas, diferentes exigências de trabalho, diferentes
respostas, diferentes materiais, histórias, culturas etc… É necessário averiguar se, no
âmbito de uma ideia de projeto, determinado desenho se pode executar e, em que
medida, o próprio projeto tem que mudar por causa disso. Menciona as viagens a toda
a hora como sinónimo de felicidade.

1
Pg 28
2
Pg 116
Fala dos seus interesses e, por isso, o desenho está sempre presente na sua teoria.
Utiliza o desenho como o escultor que nunca chegou a ser. Sente que antes da
tridimensionalidade está a imaginação, e no desenho pode explorar tudo.
Alguns dos desenhos chegam a ser quase enigmáticos e indecifráveis para outros
que não o próprio. Daí que faça parte de um pensamento, e não de um desenho
fingido. São resultado das várias leituras que tem do assunto que está a desenhar.
Esboços rápidos, sem preocupação, como faz um viajante que tira notas para depois
escrever. Ele considera que “tudo deverá surgir inevitavelmente evidente. O inesperado
e surpreendente depressa se transforma em banal”3.
Siza é um viajante, faz esboços não para escrever, mas para construir. No trabalho de
um arquiteto, desenho é uma ferramenta que ensina mais que simplesmente olhar.
Ensina a ver. Faz com que a ideia fique registada na memória, e volte quando for
necessária, no momento exato. Pois para Siza “o exercício de observação é prioritário
para um arquiteto. Quanto mais observarmos, tanto mais clara surgirá a essência do
objeto.” 4 Sendo, portanto, a leitura destes desenhos, por vezes, ambígua, o conceito de
espaço e o próprio objeto arquitetónico representados, assumem várias identidades.
Todos estes pequenos registos desenhados começam a dar corpo aos projetos, e mais
tarde aparecem as referências históricas, as interpretações que faz do lugar, e as
opções.
Siza admite que o desenho é um instrumento, como é o computador, o desenho por
computador, como é simplesmente pensar em abstrato. Pode-se fazer um projeto sem
fazer desenho nenhum. Mas a mão ajuda, há uma complementaridade. A mão, e o que
ela tem de intuitivo, de gestual, é também um instrumento que utilizamos. É intuitivo, é
“uma espécie de barco ao sabor das ondas que inexplicavelmente nem sempre
naufraga”5, mas é evidente que por trás dessas intuições estão experiências, viagens,
contactos, estudos que são tão extensos que passam a ser material do subconsciente,
que aflora quando é necessário.
Estes desenhos de Siza são a sua perceção da arquitetura. São um corpo autónomo
pela quantidade e qualidade gráfica. Informam as suas obras, mas informam sobretudo
o arquiteto por trás e à frente da obra. Mostra-nos a sensibilidade da mão que
acompanha o olhar. O esboço é em Siza uma maneira de ser. Ele não lhe serve para
representar o projeto, serve-lhe de olhar; é o desenho que contempla o espaço para
mostrar ao seu autor o que deve ser.
“Todos os gestos – também o gesto de desenhar – estão carregados de história, de
inconsciente memória, de incalculável, anónima sabedoria.”6
As possibilidades de experiencia espacial das suas obras de arquitetura são resultado
da sua antecipação através do desenho. Ultrapassa o momento de cada desenho, para

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pg 329
4
Pg 86
5
Pg 28
6
pg 37
se fixar na continuidade gráfica dos esquiços que acompanham diferentes obras. A
unidade reclama a identidade. Uma plasticidade física que é marca do autor. As marcas
visíveis da direção e da geometria do seu pensamento.
Com alguma distância em relação à tecnologia digital e aos novos média, Álvaro Siza
permanece com o caderno e a esferográfica, sem alterar a identidade do seu processo
visual e de ideação. A única tecnologia de que não prescinde é o desenho.
Siza Vieira usa o desenho com fins práticos, como elemento de exploração de uma
ideia, ou mesmo como ajuda em situações pontuais de cada projeto. Serve igualmente
como elemento explicativo das suas ideias. O desenho é um elemento presente no
decorrer de todo o seu trabalho, quer na procura de intenção, quer na resolução de um
problema, quer num simples e pequeno registo para gravação de uma memória. O
projeto está para o arquiteto como a personagem de uma novela está para o autor:
ultrapassa-o constantemente. É preciso não o perder. O desenho persegue-o. O projeto
é uma personagem com muitos autores, e torna-se inteligente só quando é assumido
como tal, caso contrário é obsessivo e impertinente.
Ele apresenta uma caraterística única que assume o verdadeiro sentido de cada
projeto, o de só poder existir exatamente ali, e não noutro lugar. Não deixando, no
entanto, de ter, seja qual for o projeto, a sua especificidade própria.
Descreve todos os lugares, tudo o que vê e não vê. “Aprender a ver é fundamental
para um arquiteto, existe uma bagagem de conhecimentos aos quais inevitavelmente
recorremos, de modo que nada de quanto façamos é absolutamente novo”7
Carateriza todo o tipo de edifícios e de lugares considerando o cheiro, o tempo e
tudo o que o rodeia do dia em que o visitou. “Ouvem-se as vozes de habitantes e de
turistas(…). O mar é azul. A luz intensa. Nenhum filtro a amacia”.8
Faz referência à família através de pequenas recordações que o marcaram de certa
forma. Siza, ao falar do seu processo de formação, considera-se afortunado porque
entrou na Escola de Arquitetura do Porto. A sua família, e especialmente o pai, não o
apoiava por completo pela pouca valorização que se dava na altura às artes em Portugal
em que a arquitetura era uma profissão muito pouco conhecida e praticada, no
entanto, ele não quis saber das consequências e entrou com uma atitude positiva. O
seu percurso, por não ter sido fácil, tornou-se uma enorme relevância para os seus
feitos.
Siza fala sempre com muita convicção, mas pouco alarido. As suas mãos desenham e
falam ao mesmo tempo. E tem vontade de aprender, é curioso em tudo o que lhe passa
à frente. É esta natureza que o faz abordar cada projeto como se fosse a primeira vez.
Há sempre novas solicitações, novas abordagens, até do mesmo tema, novas
perspetivas e novas ideias. Não sendo verdadeiramente outra coisa, nunca é igual.

7
Pg 240
8
Pg 321
As pedras-de-toque na primeira abordagem de Siza relativa a qualquer projeto se
prendem com dois dos seus temas eleitos: topografia e geografia. A leitura do terreno
onde se vai inserir o projeto e o espaço que o envolve, isto é: como vai passar a coexistir
o já existente com aquilo que vai passar a existir. Esta atitude resulta na aceitação de
determinados trabalhos, e na recusa de outros, e está não só relacionada com as
condições que considera necessárias à boa concretização da obra como também com as
opções que o levam a escolher projetos de ínfima visibilidade em detrimento de outros
de grande prestígio.
Muitos desses projetos – e poderíamos mesmo defender que em certa medida isto é
verdadeiro para toda a sua obra no campo da arquitetura, que escolheu como profissão
– têm origem no desenho. Refiro-me aqui não tanto a esse modo do desenho
relativamente tipificado e convencional que se reconhece como o chamado desenho da
arquitetura, como antes do desenho no seu sentido mais livre, mais espontâneo, mas
também mais filosófico.
É natural que se possa estabelecer muitas reflexões sobre história tão rica como a de
Portugal e não resta dúvida de que Siza não é um fenômeno isolado no seu país. Siza
entende que a sua obra e a história da cultura portuguesa não seriam as mesmas não
fossem nomes como Fernando Távora, ou Nuno Portas. Desta forma, ele faz referência
ao que em tempos o ajudou a crescer. Da mesma forma, acontecimentos da
importância do Inquérito à Arquitetura Popular Portuguesa ou do programa SAAL são
fundamentais para se entender tanto a arquitetura de Siza quanto a de seu país. Estes
são aspetos fundamentais da sua história. Através disto, ele considera que “a tradição é
um desafio à inovação”9
Para quem prefere os sentimentos vagos que não comportam definição, Siza
contrapõe a secura da expressão e a nitidez do raciocínio e sentimentos perfeitamente
definidos, de tal modo que é difícil a emoção neles. Mas não há dúvida que a
experiência participativa é algo que fica, embora esse conhecimento direto possa ser
eventualmente obtido de outras maneiras. Mas perdeu-se a intensidade da relação
entre o que estamos a fazer, para quem fazemos e o que devemos esperar disso.
Os arquitetos trabalham sobre referências que vão aprendendo, não estão
simplesmente a inventar coisas novas. A formação de um arquiteto significa, antes de
mais, informação do conhecimento. Há quem pense que a história da arquitetura é
inútil porque existe a crença de que é tudo novo, mas não é o caso do nosso autor que
acredita que a história da arquitetura sempre foi o instrumento central na formação e
na prática do arquiteto. No caso dele, essa encomenda deu-lhe outras condições, que
refletem as mudanças no contexto português. Cada projeto é único, e tendo em conta
as complicações de cada um, sejam a morfologia do terreno, o programa e a sua
funcionalidade, o peso da memória e da história, etc.,

9
Pg 28
“Nenhuma inovação abandona a antiquíssima razão. Não há inovação. Há o reencontrar
da inocência, uma conquista do estado de graça, para que não se perca a memória.”10
O objetivo dele é conseguir unir o vazio à arquitetura, à paisagem, ao património, às
pessoas, às ruas, às árvores, aos largos e todos estes à democratização do espaço
público. “Desenvolver um projeto consiste em ultrapassar a perene oposição entre
natureza e criação humana”11
Sem papas na língua, Álvaro Siza Vieira consegue ser autocrítico e crítico com os
ideais dos outros.

10
Pg 147, 148
11
Pg 329

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