Вы находитесь на странице: 1из 12

UFSM - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CESNORS – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RIO GRANDE DO SUL


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – CURSO DE JORNALISMO

A comunicação e seus reflexos no mundo moderno

Clomar Toledo

Resumo:

INTRODUÇÃO
1 COMUNICAÇÃO, MODERNIDADE E O “CASO ISABELLA”

A sociedade contemporânea não apenas assistiu ao advento da mídia, como


passou a vivenciar um mundo mediado. Da utilização dos primeiros meios, arcaicos e
até mesmo ineficientes, até a poderosa incursão da rede mundial de computadores na
vida de milhares de pessoas mundo afora, um aspecto fica bastante claro: a sociedade
absorveu novas formas de se vivenciar a realidade, mostrando-se suscetível – algumas
comunidades mais maleáveis, outras menos – aos contornos da mídia. As relações
humanas, não se processam da mesma maneira que no passado. Novas formas de
interação surgiram ao longo do tempo, em um cenário no qual contracenam no mesmo
palco o homem e os meios de comunicação, ora um contrapondo-se ao outro, ora
somando-se, ora simplesmente caminhando lado a lado.

No livro “A mídia e a modernidade”, John Thompson nos traz uma leitura


histórica perspicaz e fundamentada desse novo mundo criado pelo próprio homem, mas
absolutamente influenciado pela mídia. O autor discorre a partir de conceitos básicos
sobre informação e comunicação de massa, por exemplo, para desvencilhar a mídia de
uma ideia estática, separada e distanciada das relações humanas. Thompson ratifica
alguns pontos desses conceitos, mas aborta outros, incitando seu contraponto, que é
aquele que defende a informação como pertencente a um contexto social, desde sua
produção, armazenamento e circulação, com destaque para os estímulos simbólicos
provocados em seus receptores.

Dentro desse histórico da mídia mundial temos, inicialmente, uma relação


homem X meios comunicacionais vista quase que praticamente de mão única. Autores
inclusive defendiam a ideia de uma emissora de rádio, por exemplo, transmitindo
informações, mediando uma realidade factual para um receptor estático, sem voz, que
apenas recebe as informações e não recria sobre ela. Essa ideia, no entanto, se mostrou
equivocada ao longo do tempo, já que um receptor dificilmente não esboçará alguma
reação diante das informações que lhe são transmitidas.

Inevitavelmente este receptor irá absorver tais informações de uma maneira


particular, desenhada de acordo com seu resgate simbólico, relacionando aquilo que
apreende com valores e conceitos pré-existentes em suas vivências, além de realizar
uma intersecção entre o que é recebido e as outras informações que lhe rodeiam,
oriundas de seu contexto histórico, social, enfim, do meio em que está inserido. Essas
relações podem se dar em frações de segundos, como dito antes, através de correlações
simbólicas entre a informação recebida e as informações pré-existentes. Mas mesmo
rápida essa troca configura um receptor capaz de agir e criar sobre o que é recebido.

Um exemplo que pode ajudar a compreender o fato de que cada indivíduo capta
e assimila informações mediadas de acordo com seu contexto enquanto ser humano é o
famoso “Caso Isabela”. Ocorrido em março de 2008, em São Paulo, o dramático caso
dos pais Alexandre Nardoni e Ana Carollina Jatobá, acusados de jogar Isabella Nardoni,
6 anos, do sexto andar do prédio no qual moravam, causando-lhe uma queda fatal, foi
largamente explorada pela mídia nacional. Após os primeiros exaustivos meses em que
redes de televisão, jornais impressos, emissoras de rádio e sites da internet tentavam
destacar os diferentes ângulos do fato, o fato foi se desenrolando, até culminar no
julgamento dos acusados, em março de 2010.

Na época do julgamento a mídia foi promotora de diversas especulações


inclusive sobre a formação do júri. Pela lógica deveriam se evitar mulheres –
especialmente mães - no corpo de jurados, já que as mesmas poderiam comover-se,
utilizando-se mais da emoção do que da razão, no momento do veredicto. A imprensa
destacou que a presença de quatro mulheres, entre os sete jurados escolhidos para dar o
veredicto seria uma desvantagem para o casal acusado.

Esse fato comprova que em uma situação delicada como o julgamento de um


caso, o cuidado com a escolha de quem terá poder de julgamento se mostra importante,
mostrando que a capacidade e a forma de recepção de informações de cada indivíduo é
variável, tanto pelo seu grau de instrução, sexo, posição social, enfim, por um conjunto
contextual que define os valores e conceitos do ser humano, e que, por ser variável, o
produto, pensamento ou ação – nesse caso a decisão no julgamento – será fruto de toda
essa rede interligada de interações. E essa variação sofre também influência do material
simbólico que a mídia produz e que se torna acessível à sociedade.

A ideia dos responsáveis pelo transcorrer do caso era buscar a supremacia da


razão em um caso tão delicado. Mulheres poderiam se identificar com a mãe que perdeu
sua filha, permeada certamente não pela vivência do caso, já que não estavam no
momento em que os fatos ocorreram, mas uma bagagem simbólica alimentada pela
leitura do processo judicial, caracterizando uma interação mediada, como definiria
Thompson, e de veículos de comunicação como a televisão, através de uma interação
quase-mediada. O advogado de defesa dos réus, em artigo para o site Consultor jurídico
destacou sua preocupação com a influência da mídia sobre a decisão dos jurados

Como esperar neutralidade de jurados que passaram dois anos sob cobertura
jornalística pouco técnica, embora legítima e cada vez mais profissional?
Como convencer os jurados a relevar o bombardeio de emoções a que foram
submetidos no período? (Podval, Roberto, disponível em
www.conjur.com.br)

Vale lembrar inclusive, que a repercussão do fato foi tão explorado pela mídia,
que existe um link especial, no site de notícias G1 (www.g1.globo.com), pertencente a
maior rede de televisão brasileira, através do qual se pode acessar um “especial”, ou
seja, uma variedade de matérias que comportam um conteúdo vasto de informações
sobre o acontecimento, desde sua ocorrência, até seu desfecho. Nisso, o caso também
pode incorrer na questão que Thompson dá uma leve pincelada: a sociedade do
espetáculo criada pela mídia.

Segundo Thompson, a teoria da sociedade do espetáculo já existia em outras


épocas da história, por exemplo, quando se transformava uma decapitação, na Idade
Média, em um acontecimento que reunia os moradores de um povoado europeu ávidos
por assistir à cena. Outro autor fundamenta mais aprofundadamente a teoria. Guy
Debord, desenvolveu na década de 60, sua teoria sobre sociedade do espetáculo e
discorre sobre a massacrante espetacularização de fatos sociais que influenciam no
curso tomado pelos cidadãos:

Toda a vida nas quais reinam condições modernas de produção se anuncia


como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente
vivido se afastou numa representação. (Debord, Guy. 1967.)

Debord discorre, assim como Thompson, sobre uma nova forma de interação
dentro da sociedade, criada através do crescimento do poder midiático, frente aos rumos
da humanidade. Um pouco radical, Debord afirma que o homem deixou de vivenciar a
realidade com seus próprios olhos, usando hoje as lentes da mídia para construir seu
próprio mundo de maneira alienada e idealizada.
2 INTERAÇÕES REFORMULADAS E FORMAÇAO DE CONGLOMERADOS

Da mesma maneira que cada indivíduo recebe informações de maneira


diferenciada e de forma a estar sempre se modificando devido aos valores e conceitos
que vão sendo adquiridos dia a dia, vivência após vivência, também a comunicação foi
evoluindo no transcorrer de décadas. Entram aí, de forma impactante a evolução dos
meios técnicos, através dos quais a produção dos objetos simbólicos, o grau de
reprodução das informações e a habilidade, as competências e formas de conhecimento
exigidas pelo uso desses meios vão construindo uma nova maneira de comunicar.
Chegamos inclusive em um ponto marcante da comunicação, o uso exaustivo do
termo “comunicação de massa”. A comunicação de massa concebeu um olhar deveras
equivocado sobre o que passou a ser conhecido como “quarto poder”. Com a
comunicação de massa passou-se de certa forma a se desenhar uma ligação entre a vida
cotidiana dos indivíduos e a produção midiática. Porém, a concepção dessa ligação foi
bastante negativa: considera-se comunicação de massa aquela que dá lugar a uma
massiva transmissão de informações, geralmente desprovidas de conteúdo relevante,
mas substancialmente carregada de significados simbólicos para a população. O ponto
negativo seria a valorização de simbologias alienadoras, simplórias, incapazes de
produzir conhecimento. Debord, como já destacado no primeiro capítulo, também
observava essas características em sua teoria da sociedade do espetáculo:

A alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é o


resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto
mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas
imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria
existência e o seu próprio desejo. A exterioridade do espetáculo em relação
ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus,
mas de um outro que Ihos apresenta. (Debord,...

Outra questão trabalhada no conceito de comunicação de massa seria a


banalização da informação, a desvalorização do produto comunicacional diante da
realidade de sua vasta oferta. Diz Thompson:

“A ampliação da disponibilidade das formas simbólicas se tornou tão


pronunciada e rotineira, que todos a supõem como uma característica
corriqueira da vida social” (Thompson, pg.. )

Termo utilizado por um bom tempo, a comunicação de massa é até hoje


facilmente identificada por muitas pessoas, especialmente quando se fala em televisão
ou jornais impressos de largo alcance. Thompson, devido a esse reconhecimento, não se
desapropria do termo, porém o descortina com nuances diferenciadas. Destaca, por
exemplo, a mercantilização da informação como um ponto crucial desse fenômeno
comunicacional. Além disso, conjectura sobre a modificação da relação entre tempo e
espaço e a modernidade mediada, aspecto que também reconfigura as relações humanas.
Temos, cada vez mais, indivíduos que encontram através da mídia o conhecimento de
seu passado histórico, a sua compreensão de mundo, enfim, que tem na mídia a
construção de uma realidade da qual se apropriam como verdade e a inserem em sua
vivência cotidiana.

Esse processo evolutivo da mídia a princípio parece ter ocorrido a pouco tempo e
de maneira devastadoramente acelerada. No entanto, de acordo com o levante histórico
realizado por Thompson, percebe-se que a comunicação origina-se de tempos remotos e
teve, ao longo do tempo, diferentes configurações e variadas ligações institucionais.

No sistema feudal, por exemplo, por volta do século XIV, a comunicação era
desenhada pelas características da sociedade da época. Nesse tempo, a Igreja constituía-
se na mãe de todas as instituições, sobrepondo-se muitas vezes ao próprio Estado. A
comunicação, dentro desse contexto enfrentava a censura como maior inimiga. Além
disso, a comunicação escrita era privilégio dos raros cidadãos que sabiam ler, quase que
totalmente pertencentes à classe eclesiástica. Talvez por isso, tenha se difundido, por um
tempo, algumas formas inusitadas de se transmitir a comunicação escrita, como a leitura
em voz alta do material produzido. Cabe salientar, ainda, que esse material, por ser
controlado pela Igreja versava quase exclusivamente sobre textos sagrados e de cunho
religioso.

Aos poucos, porém, o cenário começou a mudar. A rede de comunicação da


Igreja foi dando espaço à formação de outras, como a rede de comunicação política, da
classe burguesa e até mesmo de comerciantes, contadores de histórias e ambulantes.
Essas novas redes acabaram por diversificar a maneira como a comunicação era
produzida, transmitida e recebida. As publicações periódicas de eventos e informações
de caráter político e comercial não tardaram a aparecer e se proliferaram rapidamente.
No século XVII a Alemanha já contava com diversos jornais impressos que tiveram
crescimento facilitado em especial pela evolução dos equipamentos utilizados em sua
produção, desde a evolução do papel e da tipografia, até o uso de sistemas
desenvolvidos de impressão em larga escala.

Com a disseminação e a inserção da imprensa no cotidiano das grandes cidades


européias, também começaram a proliferar as ideias liberais alavancadas pela pujante
classe burguesa, com destaque para a construção dos ideais de liberdade de imprensa e
de opinião, que influenciaram na constituição do Estado Moderno. Habermas, inclusive,
descreveu a concepção de uma esfera pública burguesa, formada por uma elite letrada
de ricos comerciantes que incitavam um debate na linha crítica-racional do poder
público, religioso e social. Essa “esfera”, no entanto, logo se mostrou inconsistente,
assim como sua teorização por parte de Habermas, que cometeu algumas falhas em seu
conceito, no momento em que passou a analisar apenas a expressão midiática que lhe
aprouvera, ignorou a influência da formação dos movimentos sociopopulares, que
também tiveram relevante importância na construção e principalmente nas modificações
da sociedade da época e também não destacou a presença feminina nesses contextos.

Com um mundo em ebulição diante de expressivas novas formas de


conhecimento, de interação social e descobertas cada vez mais decisivas para a
constituição de uma nova sociedade, as Indústrias de Mídia se fixam no cenário de
então. As intituições midiáticas entram em consenso com o regime capitalista, passando
a valorizar interesses comerciais de grande escala, a comunicação começa a globalizar-
se e novas formas de comunicação eletronicamente mediadas passam a surgir, frente a
um mercado leitor e consumidor em crescente expansão.

O resultado disso é a transformação das empresas midiáticas em grandes


conglomerados de comunicação e mudanças importantes na forma como essa
comunicação é produzida, transmitida e absorvida por seus receptores. A velocidade da
produção e da transmissão de uma notícia transpõe o tempo e o espaço. Um dos meios
de comunicação mais expressivos do último século e que trouxe variadas conseqüências
ao mundo moderno é a televisão. Com a televisão temos ao que Thompson chama de
“interação quase mediada”, uma relação instituída por produtores que constroem um
material destinado a milhares de receptores indefinidos e que é transmitido
monológicamente. A televisão estabeleceu uma valorização importante da visão, diz
Thompson, mas podemos dizer que é antes também a valorização da imagem.
Destacamos a valorização da imagem, porque é ela, que nas últimas décadas reformulou
a maneira como indivíduos interagem com os meios e entre si, provocando algumas
novas nuances de comportamento, um comportamento acostumado com a profusão de
imagens do mundo moderno.

Em destaque também a globalização da comunicação que estabelece novos


parâmetros ligados ao tempo e ao espaço. Hoje conseguimos vivenciar a instantaneidade
de acontecimentos que ocorrem do outro lado do mundo. Talvez em lugares que jamais
estaremos presentes pessoalmente, mas que se tornam nossos conhecidos através da
mídia. Esse talvez seja um dos fatores mais interessantes da comunicação atual. A
capacidade de nos transportar pelo tempo e espaço e especialmente de recriar através de
imagens, textos, falas um mundo que nos é acessível somente pelas telas da TV, pelos
jornais ou por estações radiofônicas, sem falar nas tecnologias digitais que invadiram as
últimas décadas transformando e acelerando ainda mais os processos comunicacionais
de produção e recepção.

Ao mesmo tempo que as novas tecnologias e o avanço da comunicação facilitou


o acesso de milhares de pessoas à informação e entretenimento, com a formação de uma
sociedade global, também é necessário destacar alguns pontos negativos como as
influências de uma cultura de massa. Como a comunicação passou a fazer parte da
rotina dos cidadãos, os elementos simbólicos transmitidos pelos meios também foram
sendo absorvidos, em especial com o advento da televisão.

Não que a TV determine de forma definitiva como um cidadão irá se comportar,


o que irá vestir ou consumir, essa é uma teoria um tanto radical conhecida como
“Imperialismo cultural”, desenvolvida especialmente pelo domínio econômico, social e
cultural dos Estados Unidos no século XX. Mas certamente os meios colaboram de
forma ativa nos processos sociais, influenciando alguns comportamentos sim. Porém
essa influência não pode ser tida como um processo fechado que ocorre igualmente em
todas a s tribos sociais. Pelo contrário, estudos ao longo do tempo mostram que cada
grupo, cada região do globo, recebe o produto midiático a sua maneira. Wolf, destaca
esse jogo de interações – processo que desenrola de forma individualizada - entre mídias
e seres humanos, enfatizando que a análise do mundo moderno se processa diante de
uma relação entre os meios de comunicação de massa e quadros sociais complexos:
Os efeitos do mass media não podem ser compreendidos senão a partir da
análise das interacções recíprocas que se estabelecem entre os destinatários:
os efeitos do mass media são parte de um processo mais complexo que é o
da influência pessoal. (...) baseia-se e faz parte de um ambiente social
totalmente sulcado por interacções e processos de influência pessoal em que
a personalidade do destinatário se configura também a partir dos seus grupos
de referência (familiares, de amigos, profissionais, religiosos, etc.). (Wolf,
Mauro. Pg 46)

Voltamos ao que defendemos no início do artigo: o processo de recepção se dá


através de várias interações, a interação do que é recebido com valores e conceitos pré-
existentes de cada indivíduo, o meio em que está inserido, a sua capacidade de absorver
as informações transmitidas, bem como de relacionar com sua rotina diária e até mesmo
as condições estruturais em que a mensagem é recebida.

3 COMUNICAÇÃO E NOVO OLHAR SOBRE PÚBLICO E PRIVADO

Anteriormente comentamos rapidamente sobre a questão da valorização da


imagem nas indústrias da mídia, em especial, obviamente na televisão. É importante
ressaltar, e Thompson descreve bem essa questão, as interessantes formas de
visibilidade que se sobrepuseram com o advento da tevê, especialmente a ligada ao
campo político. Não que a visibilidade política seja algo novo, afinal, já em séculos
remotos, como a Idade Média, por exemplo, já se explorava a visibilidade de seus
governantes, inclusive com uma aura de “pompa e circunstância” em torno de reis,
rainhas e até mesmo da classe eclesiástica. Mas o que temos hoje muda um pouco. Hoje
a visibilidade dá acesso não só ao glamour de ser alguém público, mas também mantém
uma linha tênue entre vida pública e privada. Governantes, no mundo atual, precisam
vivenciar constantemente a administração de sua visibilidade. Uma entrevista de um
presidente pode tanto conquistar a empatia de milhares de cidadãos, como marcar gafes
que podem manchar sua imagem. Como destaca Jacks, a comunicação não é apenas um
meio de levar algo a público:
A essência da comunicação passou a ser algo mais: é elemento decisivo na
cosntrução da dimensão pública da sociedade contemporânea. Cada vez
mais a atividade política transita e é exercida na dimensão pública da
sociedade por meio do trabalho mediador da moderna comunicação.
(JACKS, Milda Etal. Pg. 49)

A linha tênue entre público e privado e o acesso quase ilimitado de milhares de


indivíduos ao que é tido como público torna a administração da visibilidade
imprescindível aos agentes públicos. Por isso, governantes hoje se cercam de
profissionais de Relações Públicas e de campanhas maciças de publicidade, porque
sabem que sua imagem é capaz de levá-los ao mais alto cargo do poder, ou ao fundo do
poço. Bastam imagens, palavras ou ações mal colocadas, mal editadas para se definir os
rumos de um processo eleitoral, por exemplo. A mídia mostra-se por um lado em um
forte aliado da transparência política, mas por outro, sabemos que muitas vezes ela é
apenas mais um instrumento de manipulação de interesses e jogos de poder da
sociedade moderna.

Um exemplo de como a imagem é fator de extrema importância no campo


político, bem como a recepção dessa imagem de acordo com seu uso pela mídia, é a
“transformação” pela qual passou o atual presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da
Silva. Nesse caso, a própria mídia nos oferece um “antes e depois” de uma imagem,
uma visão dicotômica da imagem pública do presidente. Em sua primeira eleição, em
1989, Lula se apresentava como um candidato forte, no entanto, sua imagem
intrinsecamente ligada ao povo, não o tornava, aos olhos desse mesmo povo, alguém
capaz de liderar com competência um país. Essa visão de um homem “sem cultura, sem
conhecimento, incapaz”, era uma inferência ao próprio povo brasileiro de então, sofrido,
humilde, que acreditava em colarinhos brancos para comandar o poder.

No entanto, é essa mesma co-relação Lula-povo, que o levou ao cargo mais alto
do pa´s

Porém, não é apenas para agentes públicos que o avanço da comunicação trouxe
novas formas de vivenciar o mundo e suas intensas relações. Cidadãos comuns também
experimentam novas realidades. Teóricos chegaram inclusive a levantar a hipótese de
que esse avanço apagaria a presença da tradição na sociedade moderna. No entanto,
como todo o resto, a tradição não foi aniquilada, mas sim reinventada, vista de formas
novas, absorvida e utilizada com novos vieses. Afinal, os aspectos mais importantes da
tradição, a sua capacidade de trazer ao indivíduo a possibilidade de encontrar um
sentido para sua vida, através de ações ou informações do passado, ela também traz o
que podemos considerar o fator mais importante: o sentido de pertencimento a um grupo
ou a sociedade.

Podemos citar como exemplo bastante próximo o cultivo das tradições gaúchas,
na região sul do Brasil. Para os cidadãos do estado do Rio Grande do Sul a chamada
“tradição gaúcha” - conjunto de valores oriundas dos antepassados que povoaram a
região-, é passada de geração em geração, e mesmo que não seja seguida com
frequência por alguns, em muitos momentos ela aflora nos indivíduos que exaltam sua
origem e se orgulham por pertencer a um grupo determinado de brasileiros. A tradição e
outros aspectos sociais dos grupos e indivíduos representam a busca pela formação de
sua própria identidade, processo que apresenta hoje um contexto inovador. Hoje se
experimenta um mundo mediado. Ao mesmo tempo em que temos muito mais
conhecimento de mundo e de outras culturas, podendo aprimorar o processo de
formação de nosso “self”, essa mesma oferta de produtos simbólicos podem muitas
vezes se transformar em uma avalanche de informações que nos desorienta.

Podemos destacar aqui o crescente número de jovens que diante de uma vasta
oferta de cursos de graduação, de estágios, de viagens, enfim, acabam não sabendo o
que realmente querem. Em um momento em que se esperava que o acesso facilitado a
um mundo cheio de possibilidades pudesse criar uma sociedade com indivíduos
realizados, nos deparamos com milhares de pessoas insatisfeitas e cada vez mais
dependentes dos produtos simbólicos mediados para construírem uma identidade para si
mesmos. Isso também, porque, no mundo moderno muito se experimenta, mas pouco se
vivencia pessoalmente. Indivíduos se relacionam através da rede mundial de
computadores (Internet), criam laços de amizade, de amor, criam intimidade com quem
nunca puderam vivenciar uma interação face a face.

A mídia, portanto, trouxe grandes e importantes avanços e transformações nas


formas de relação entre indivíduos, o mundo que vivenciam e as realidades mediadas.
Mas como tudo, possui pontos positivos e pontos negativos. Como podemos então,
aprimorar os pontos positivos e atenuar os negativos? Uma indicação oferecida por
Thmpson seria a valorização de um “Princípio do Pluralismo Regulado”, ou seja,
valorizar uma oferta plural de produtos simbólicos mediados, juntamente com a
aplicação de uma legislação - sem ligação com o Estado, para que não seja afetada pelas
influências de quem está no poder – que efetive o cuidado com os abusos de
conglomerados de comunicação, permitindo uma descentralização de recursos, e uma
regularização do exercício comunicacional.

Em outras palavras, que a democracia se sobreponha a outros aspectos do


processo de construção da comunicação social. Afinal, como diria Thompson “...a mídia
tem papel importante no momento em que fornece informações e pontos de vista
diferentes para que os indivíduos formem juízos de valor sobre assuntos de seus
interesses” (THOMPSON, pg...). Que esse papel seja exercido com a responsabilidade
de oferecer aos cidadãos produtos simbólicos mediados sem distorções e da forma mais
qualificada possível, já que não é pouco provável controlar as formas de apropriação das
mensagens que os receptores desencadeiam, e muito menos o que fazem com elas, então
que se cuide da produção de uma comunicação rica e plural.

Вам также может понравиться