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SAUL A.

KRIPKE

O NOMEARE
A NECESSIDADE
i INTRODUçAO

RICARDO SANTOS

TRADUÇÃO
RICARDO SANTOSE TERESAFILIPE

gradiva
Introduçãoà ediçãoportuguesa

Saul Kripke nasceu em Nova Iorque em L940 e é


um dos mais criativos e influentes filósofos analíticos
do nosso têmpo. O Nomeare a Necessidade é a sua obra
mais conhecida.Juntamente com o artigo "Identity and
Necessity>l (uma apresentaçãomais resumida das
mesmas ideias), trata-se da sua obra de estreia como
filósofo. É baseadaem três palestras que proferiu na
Universidade de Princeton em Janeirode 1970.Kripke
tinha então 29 anos e já firmara uma reputação como
lógico brilhante, graças à publicação de trabalhos im-
portantes sobre lógica modal, lógica intuicionista e
teoria da recursão.

1 Originalmente publicado em ldentity and Indioiduation, ed.


por Milton K. Munitz, Nova lorque: New York University Press,
Reimpressocomo Capítulo 1 em: SaulA. Kripke,
1,97L,pp.1,35-1,64.
PhilosophicalTroubles:CollectedPapers,Volume1, Nova lorque:
Oxford University Press,2011,pp. 1,-26.Este artigo baseia-senuma
palestra dada por Kripke na Universidade de Nova Iorque cerca
de um mês depois das palestras de Princeton.
ONOM EARE ANECESSIDA D E IN TR o D U Ç Ão

Foi durante a sua adolescência,nos anos cinquenta, uma lógica modal madura, com um sistema dedutivo
que Kripke se interessoupela lógica modal - a lógica e uma semântica formal em harmonia entre si, e com
do necessárioe do possível,que procura formalizar o uma interpretação intuitivamente aceitável. Ele próprio
raciocínio correcto acercadas relaçõesentre a maneira trabalhava nesse sentido e, em artigos que publicou
como as coisassão,a maneira como elastêrndeser e as entre 1959 e1965, acabou por contribuir decisivamente
diferentes maneiras como poderiamser. Aos 18 anos, (em conjunto com Stig' Kangeq, Richard Montague e
era estudante de licenciatura na Universidade de Jaakko Hintikka) para a criação da chamada ,,semân-
Harvard quando conseguiu a proeza de publicar, no tica dos mundos possíveis>, que se impôs como a se-
prestigiado lournal of SymbolicLogic, um artigo com mântica canónica pata a lógica modal. Mas, por outro
uma demonstraçãode completudepara a lógica modal. lado, reconhecia a importância das objecções de Quine.
A época era ideal para um jovem talentoso alimentar O princípio invocado por Quine, geralmente conheci-
um interessepor lógica modal: tratava-sede um ramo do por princípio da indiscernibilidade dos idênticos
da lógica matemática moderna que estava naquele (ou de Leibnizrr), diz que se x e y são o mesmo
"lei
preciso momento a desenvolver-se,acompanhado de objecto, tudo o que for verdadeiro de r será também
uma discussãofilosófica muito acesaacercado possí- verdadeiro de y. Aparentemente, uma das coisas que
vel uso ou das possíveis interpretaçõesdos sistemas é verdadeira de qualquer x é ser necessariamente idên-
formais propostos. Os principais intervenientes eram tico a tr (pois todos os objectos são necessariamente
Rudolf Carnap, W. V. Quine e Ruth Barcan Marcus. idênticos a si próprios). Daqui segue-se que ser neces-
Carnap e Marcus foram os primeiros a publica{, nos sariamente idêntico a x é :urr:.apropriedade que y tam-
anos 1946-47,sistemasaxiomáticos de lógica modal bém tem, já que x e y são o mesmo. Ou seja, aquele
quantificada (quer dizer, sistemasque combinavam a princípio tem como consequência que todas as identi-
já bem conhecida lógica de predicados com a lógica dades são necessárias: qualquer afirmação de iden-
modal proposicional de C. I. Lewis). E Carnap tentou tidade, se for verdadeira, serâ necessariamente verda-
recuperar a ideia leibniziana de conceberas verdades deira. Ma's, ao que parece, muitas identidades são
necessáriascomo verdades em todosos mundospossí- contingentes. Um exemplo disso é o que foi celebre-
aeis, para lançar as bases de uma semântica formal mente dado por Gottlob Frege, da identidade entre
para esta nova lógica. Mas Quine, professor em Héspero e Fósforo. O facto de a primeira <<estrela"visí-
FIarvard, era muito crítico do empreendimentoe con- vel à tarde ser a mesma que a última ,.estrela> visível
siderava que o projecto de uma tal lógica pouco valor de manhã e o facto de ambas serem afinal o planeta
teria. SegundoQuine, alógica modal violava um prin- Vénus correspondem a descobertas empíricas feitas
cípio básicode raciocínioe, por isso,não seriapossível pelos astrónomos e, por isso, deve tratar-se de verda-
dar-lhe uma interpretaçãoque fizesserealmente sen- des contingentes, pois, como dizia Kant, a experiência
tido e que a tornasseuma teoria aplicável. ensina-nos que as coisas são de uma certa maneirá,
Neste debate, Kripke ocupava uma posição inter- mas não que não possam ser de maneira diferente. Um
média. Por um lado, como Carnap, Marcus e muitos segundo exemplo, dado por Quine, contrasta a iden-
outros, acreditava na possibilidade de desenvolver tidade ..9 = 5 + 4" (uma verdade necessária, conhecida

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O NO M EARE ANECESSI D A D E IN TR OD U çÃO

a priori) com a identidade <<9= o número de planetas intermédia descrita no parágrafo anterior. E revela
do sistema solar>>(uma verdade obviamente contin- também um elemento novo: o seu interessepela su-
gente, já que o sistema solar poderia ter menos, ou gestãofeita por Quine de que, Para ultrapassar a sua
mais, planetas do que efectivamente tem)2.Um terceiro objecçãoe conseguir dar uma interPretaçãointuitiva
exemplo, sobre o qual Kripke se interessou especial- às fórmulas válidas do sistema, talvez o lógico modal
mente, é o da identidade, defendida pelos materialis- deva adoptar o essencialismo,isto é, a persPectivafi-
tas como identidade contingente,entre uma pessoae losófica tradicional segundo a qual as propriedades
o seu corpo/ ou entre os estadosmentais de uma pes- que um objecto tem se dividem em proPriedades es-
soa e os estadosfísicos do seu cérebro.Kripke consi- senciais(necessárias)e propriedades acidentais (con-
derava que exemplos como estes revelavam uma difi- tingentes)a.EmO Nomeare aNecessidade, a sugestão
culdade real, que precisava de ser respondida. será plenamente aceite.
Em Fevereiro de 1962,Ruth Marcus visitou Harvard Com este pano de fundo, Kripke dedicou-seinten-
e participou num encontroapresentandoo artigo<.Mo- samente,a partir do ano académico 1'963-64,às ques-
dalities and Intensional Language$). Quine leu um tões filosóficas suscitadaspelo problema de interpre-
comentário que veio a ser publicado com o título tar intuitivamente a lógica modal quantificada. O modo
"Reply to ProfessorMarcus>>. Seguiu-seuma discus- como resolveu o Problema de Quine, embora tenha
são em que também participaram Kripke, Follesdal e recolhido o contributo e a influência de muitos outros
McCarthy. Esta discussãofoi gravada,posteriormente investigadores (como Marcus, Prior, Smullyan, FoI-
transcrita, revista pelos diversos intervenientes e lesdal, Hintikka, Putnam e Kaplan), é extraordinaria-
publicada num volume da revista Synthese3. A partici- mente orifinal e muito rico em consequênciaspara
pação de Kripke nesta discussãorevela bem a posição diversas áreasdo pensamento filosófico. Kripke con-
cluiu que, apesar de todas 4s aparências,não existem
2 Em 2006, a União Astronómica Internacional estipulou identidades contingentes.Muitos objectospoderiam ser
uma
nova definição de <planeta>,de acordo com a qual Plutão deixou bastante diferentes do que realmente são,mas nenhum
de contar como planeta. Passouentão a considerar-seque o sistema objecto poderia não ser ele próprio. Aristóteles pode-
solar tem oito planetas. A causa próxima desta revisão da classi- ria não ter sido professor de Alexandrq o Grande,
ficação tradicional foi a descobertade Éris, um corpo,esférico que poderia não ter sido aluno de Platão, poderia até não
também orbita o Sol e que é maior do que Plutão. Éris e plutão
integram agora o grupo dos
ter sido filósofo - mas não poderia não serAristóteles.
anões>.
3Os textos de Marcus e de "planetas E isso em nada mudaria, caso Aristóteles tivessedois
Quine foram publicados em Synthese,
13 (1'961),pp. 303-322e 323-330. A transcrição da discussão foi
publicada em Synthese,14 (L962), pp. 1.32-143.Posteriormente, fo-
ram incluídos nas colectâneas:W. V. Quine, The Waysof paradox a Na discussão, Quine afirma: <I think essentialism, from the
and Other Essays,ed. rev., Cambridge, Massachusetts:Harvard point of view of the modal logician, is something that ought to be
University Press,1.97 6, pp. 177-I84, e R. B. Marcus, Modalities,N ov a welcomeo (em Marcus, Modalities,op. cit., p. 30). No entanto, ele
Iorque: Oxford University Press, 1993, pp. 3-23 e 24-35. Kripke próprio considerava que o essencialismoera uma perspectiva ina-
menciona a sua presença nesta discussão na última parte da se- ceitável, por razões que explicitos ernWord and Obiect,Cambridge,
gunda palestra (cf. pO. 162 e ss.). Massachusetts:MIT Press, 1960, pp. 199-200.

1.2 13
O NO M EARE ANECESSI D A D E
rNrnoouÇÃo

nomes diferentes,como aconteceu,por exemplo, com


mento. Na sua perspectiva,uma pessoapara quem o
Cícero,que também se chamava
ou seja,eles são a mesma pessoa"Túúor. Cícerò éTúlio, termo <<ummetro> se defina como o comprimento
- e não é possível daquela barra saberá a priori, por meio da própria
que fossempessoasdistintas. Do mesmo modó, defen_
definição, que a afirmação é verdadeira, apesar de
de Kripke, também não é possível uma situação em
expressaralgo que poderia ser diferente do que é (pois
que Héspero não fosse Fósforo. Muitas pessoas,no
é óbvio que aquela barra poderia ser mais comprida,
entanto,julgam que a identidade =
"Hésperó Fósforo>
é contingente. O que elas concebem,
ou menos comprida, do que realmenteé). Mais impor-
quando formu_ tantes, e mais numerosos,são os exemplos apresenta-
la.messejuízo, é,,por exemplo, uma situaçãoem que o
-(nas dos de verdades necessáriasque só podem ser conhe-
último corpo celeste visível de manhã épocas cidas por procedimentos empíricos: a âgua é HrO, o
apropriadas do ano) não é Héspero, mas sim uìgrrrn
ouro tem o número atómico 79, a luz é um feixe de
outro corpo. Mas isso, se pensarmosbem, não é úma
fotões,o calor é o movimento das moléculas,os relâm-
situação-emque Héspero não seria Fósforo.O que se
pagos são descargaseléctricas,as baleias são mamífe-
trata é de uma situação em que Héspero _ oú seja,
ros, etc. O modo como Kripke analisa estesexemplos
Fósforo - não seria visível dè manhâ na posição em
e justifica o seu caráctermetafisicamentenecessárioé
que costumamosobservá-la.
muito interessantee resulta numa maneira de encarar
Contudo, não foi a identidade <Héspero= Fósforo,
o conhecimento científico, que contrasta fortemente
uma descobertaempírica?Sim, foi; só que daí não se
com o que podemos encontrar num filósofo empirista
segue que seja contingente.Ao contrário do que toda
como Quirrp,para quem as teorias científicassão estru-
a gente parecepensar/pelo menos desdeKant, Kripke
turas linguísticassubdeterminadaspelos dados dispo-
afirma que a distinção empírico/a priori ,"-'pr"
^"* níveis, que nos ajudam a prever e a controlar <<estimu-
coincidecom a distinçãocontingente/necessário. Apri_ lações dos nossos receptoressensoriais>à luz das
meira é de natureza epistemológica,dizendo ,"rpôito
estimulaçõespassadas.Em clara oposição a qualquer
ao modo como podemos chegar ao conhecimentódas
forma de anti-realismo,Kripke consideraque a inves-
coisas,,enquanto a segunda é de natureza metafísica,
tigação científica é um empreendimento que, quando
dizendo respeitoao modo como as próprias coisassão,
é bem-sucedido, descobrea própria essênciadas coi-
às propriedades ou característicasque-fazemparte da
sas, sejam elas espécies,substâncias ou fenómenos
sua essência,por oposiçãoàquelasque são apônasaci_
naturais.
dentais ou^contingentes- ou seja,proprieáades que
Kripke recupera,portanto, o essencialismoda filo-
as coisastêm no mundo real (ou actual), mas não tãm
sofia tradicional, de matriz aristotélica. O próprio
noutros mundos possíveis.Fica assim aberta a porta
para a existênciade verdadesa priori contingentej e de Quine costumava caracterízar o essencialismo dizen-
do que consistia em considerar que os objectos têm
verdades a posteriorinecessárias.Como exãmplo das
algumas propriedades que são necessárias.Mas quan-
primeiras, Kripke dá a afirmação de que a bãrra de
do se tratava de esclarecera noção de necessidade, o
platina que está conservadaem paris, q,r" foi adop_
" de compri_ que Quine tinha para dízer era, invariavelmente, que
tada como metro-padrão, tem um metró
uma afirmação com a forma <necessariamente p>>serâ

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15
O NO M EARE ANECESSID A D E IN TR OD U Ç ÃO

verdadeira se e somente se o enunciado que ocupa o litação da metaÍísicacomo disciplina filosófica, de que
lugar d" ,rp>for analítico. E um enunciadõ será analí- Kripke foi um dos principais responsáveise que modi-
tico se for verdadeiro apenas em virtude do significa- ficou consideravelmente o panorama da filosofia con-
do dos termos que o compõem (havendo duas espé- temporânea.Tiata-se,nomeadamente,das páginas em
cies principais de tais enunciados:as verdadeslógiias que se defende que a origem de um objecto,ou a sua
e os enunciadosque se deixam reduzir a verdadeslógi- constituição material, é uma das suas propriedades
cas quando substituímoscertostermos por expressões essenciais.Além de analisar alguns exemplos (a rai-
sinónimas que os definem). Ora, um facto Àistórico nha Isabel II de Inglaterra não poderia ter sido filha do
muito significativo é que, até Kripke, todos os interve- presidente Truman, a mesa de madeira que tenho à
nientesno debateprovocado pela objecçãode euine à minha frente não poderia ter sido feita de água conge-
lógica modal entenderama necessidadecom basenesta lada do Tamisa),Kripke esboçaum argumento quase-
noção de analiticidade. Isso é muito claro no caso de -formal (cf. p. 178, nota 56) em defesa desta tese, o
Ruth Marcus: quando defende que todas as identida- qual se revelou especialmente controverso.
des são necessárias,Marcus vê-se na situaçãoinsólita Mas voltemos à necessidadeda identidade e ao
de ter de defender que .,Héspero é Fósforo> é uma exemplo <9 é o número de planetas" dado por Quine,
verdade analítica, determinada pelas regras semânti- que Kripke equipara a outros como <BenjaminFranklin
cas da linguagem, e que poderia ser conhecidaa priori é o homem que inventou as lentesbifocais>ou <Gôdel
pela simples consulta de um bom dicionário! Uma das é o homem que demonstrou a incompletude da arit-
principais inovações de Kripke foi precisamente ter mética>.Pprantecasostão flagrantes de contingência,
recuperadoo velho sentido metafísicoda necessidade, como se pode manter aquela tese?E importante obser-
de acordo com o qual quando afirmamos, por var que, nestes exemplos, a identidade é afirmada
plo, que as baleiassãonecessariamente mamiferos,"*"*-
não usando, de um lado, nomes próprios (.,9rr,,,Franklin",
estamosa querer dizer que basta compreendermosa <Gôdel") e, do outro, descriçõesdefinidas, isto é, ex-
frase ..as baleias são mamíferos> para sãbermos que é pressõescom a forma <o objecto (ou indivíduo) que é
verdadeira, nem sequer que uma baleia não-mamìfero (ou que fez) tal e tal>. De acordo com a teoria das
seria totalmente inconcebível,mas, mais literalmente, descriçõesdefinidas de Russells,nomes e descrições
que ser um mamífero é o que, entre outras coisas,ser são expressõesde categoriasmuito diferentes, de tal
uma baleiaé, de tal modo que, devido a essanatureza modo que um enunciado com a forma gramatical <a é
intrínseca, nenhum ser poderia ser uma baleia sem ser o indivíduo que f.ez F> não é realmente uma simples
um mamífero. Não se trata aqui de um essencialismo afirmação de identidade, mas antes uma afirmação
trivial, em que somentepropriedadesformais ou lógi- mais complexa cuja forma lógica pode ser indicada
cas/ como o ser idêntico a si próprio, seriam reconhe- através da seguinte paráfrase: <Existe um e um só
cidas como necessárias.Pois Kripke considera que
"pode muito bem descobrir-se a essênciaempirica- s Bertrand Russell, <On Denoting", Mínd, 14 (1905),pp. 479-
mente> (p. vD. Hâ pâginas de O Nomeare a Necessi_
-493. Reimpresso em Bertrand Russell, Logíc and Knowledge,Lon-
dade que ficarão por muito tempo associadasà reabi- dres: Routledge,1,992,pp. 4l-56.

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indivíduo que fez F e a é esse indivíduor6. Embora bilidade das descriçõestorna evidente que a necessi-
manifeste simpatia pela teoria das descrições de dade da identidade não se aplica em geral a afirma-
Russell, Kripke desvia-sedela ao tratar as descrições ções que usam descriçõescomo, por exemplo, ..o in-
como, designadores,isto é, como termos que teriam ventor das lentes bifocais é o inventor do pára-raios>).
sentido por si próprios e que serviriam para referir um Há obviamente mundos possíveis em que não foi a
objecto. No caso de uma descriçãodefinida como <o mesma pessoaa inventar as duas coisas.
inventor das lentes bifocais", se existe um e um só E que dizer dos nomes, isto é, dos nomes próprios
indivíduo que inventou as lentes bifocais, esseindiví- como,,Franklin>,<<Paris> ou "Grécia"?Paracadanome/
duo é o referente da descrição.euem inventou real- como é que se determina o objectopor ele referido, em
mente essaslentes foi Franklin e, por isso, no mundo cada situação ou mundo possível?Um dos principais
actual, é ele o referenteda descrição.Mas quando fa- objectivos de Kripke em O Nomear e a Necessidadeé
lamos de modalidades, consideramostam6ém situa- refutar a chamada <<teoriadescritivista dos nomes>>/
ções contrafactuais,que não acontecerammas pode- que dominava a filosofia da linguagem desde o início
riam ter acontecido- aquilo a que se tornou haËitual do século. Embora costume atribuir a teoria descriti-
chamar <outrosmundos possíveis>.Num mundo pos- vista aos seusfundadores,Fregee Russell,Kripke não
sível em que não foi Franklin, mas sim um dos ieus está aqui interessadoem fornecer uma interpretação
irmãos, que inventou as lentes bifocais, será esseir- exacta do pensamento de cada um destes autores e
mão o referenteda descrição.Portanto, o referentede das óbvias diferençasentre eles. O seu alvo preferen-
uma descriçãoé, em cada mundo possível, o objecto cíaI é uma ütodoxia, quer dizeq, uma teoria dos nomes
ou indivíduo (se existir algum) que, nesse mundo, que considera ser aceite pela generalidadedos filóso-
satisfazas condiçõesincluídas na descrição.Estaflexi- fos, a qual tem na sua base um conjunto de ideias
formuladas por Frege e por Russell, mas que também
6 A teoria de Russell prevê
que, quando um operador frásico
incorpora desenvolvimentosposteriores,como é, por
- como a negaçãoou o operador de necessidade_ é aplicado a uma exemplo,a chamada<teoriado feixe>.O elementocen-
frase do génerode <9 é o número de planetas>,o enunciadoresul_ tral da teoria descritivista é a ideia de que cada nome
tante é ambíguo, podendo expressardois pensamentosdiferentes, estáestreitamenteassociadoa uma descriçãodo objecto
em muitos casoscom valores de verdade distintos. Kripke refere_
nomeado.Isto é especialmenteplausível a respeitodos
-se a essasambiguídades de ômbito nas pp. 115-176(e nã nota 25),
dando como exemplo o contraste entre pensar, acercado homem nomes de figuras históricas. Visto que não conheci
que ensinou Alexandre (i.e., acercade Aristóteles), que ele poderia pessoalmenteAristóteles, a quem é que me refiro quan-
não ter ensinado Alexandre e pensar que poderia ter acontecido o do uso o nome "Aristótelesr? Os descritivistasrespon-
seguinte:o homem que ensinouAlexandrenão ensinouAlexandre; dem que me refiro, muito provavelmente,ao autor das
o primeiro pensamentoé verdadeiro, mas o segundo é logicamente obrasque compõemo CorpusAristotelicum.Domesmo
falso. Uma tentativa muito influente de .esollre. o paúdoxo de
modo, quando uso o nome "Manuel Arriaga>, devo
Quine com base nestasdistinções de âmbito e no princípio russel_
liano de que as descriçõessão símbolos incompletos (semreferente) estar a referir-me ao homemz eue não conheci, mas
que se definem em contexto foi a de Arthur F. bmulyan, .Modality que sei ter sido o primeiro presidente da República
and Descriptis >>,Iournal of SymbolicLogic, 1,3, O+A, pp. U-eí. Portuguesa.Russell dizía que, quando uso um destes

18 1,9
ri
O NO M EARE ANECESS I D A D E IN TR OD U Ç AO

nomes, o pensamentoque estána minha mente só pode calmenteerrada, nos seustraços mais gerais e básicos,
ser expressode modo explícito se substifuirmos o nome independentementedo modo como sejadepois desen-
pela descriçãoassociada- pois julgava que um indiví- volvida. Ainda assim, distingue duas versões princi-
duo que não conhecidirectamentenão pode fazer parte pais do descritivismo - o descritivismo como teoria
do meu pensamento.Como é óbvio, isto levantãva a do significado dos nomes e o descritivismo como teo-
questãode saberse os diversos falantesde uma língua ria acerca do modo como é fixada a referência dos
entendemda mesmamaneira os nomes que usam, iìto nomes - e comenta que é sobretudo a primeira que
é, se as descriçõesque associama cada nome são as faz dele uma teoria poderosae elegante,e que explica
mesmasou se são diferentes.Outra dificuldade, tahez a atracção que exerceu durante tanto tempo. Num
ainda mais básica,é que o utilizador de um nome, se esforço para isolar o que seria o núcleo fundamental
lhe perguntarem qual é a descriçãoque associaa esse do descritivismo, partilhado por todas as suas varian-
nome, pode naturalmenteresponderque associavárias tes, Kripke formula um conjunto de teses caracterís-
descriçõese que não consegueescolheruma só. Devo ticas. As mais importantes são as seguintes: (i) cada
associar<Aristóteles) a <o autor das obras do corpusrr, nome tem uma colecção C de propriedades que lhe
a <o fundador do Liceu" ou a <<o criador da silogística>? corresponde,de tal modo que um utilizador do nome
Diversos filósofos respbnderam a isto dizendo que acredita que o seu referente tem as propriedades in-
associamosao nome não uma descrição única, mas cluídas em C; (ii) o utilizador do nome acredita que
um conjunto - ou algo mais vago: um feixe - de des- uma ou algumas das propriedades incluídas em C
crições,e que, para os diversos utilizadores do nome, seleccionarhum e um só objecto;(iii) se há um e um só
o seu referente é o objecto que satisfaz a maioria, ou objectoque tem a maioria, ou uma maioria ponderada,
uma maioria ponderada, dessasdescrições. das propriedades incluídas em C, então esseobjecto é
Na concepçãodescritivista há maneiras diferentes o referente do nome; (iv) se não há nenhum objecto
de caracterizar a relação entre o nome e a descrição único que tenha essamaioria (ponderada)de proprie-
(ou o feixe de descrições)que lhe está associada.Uma dades, então o nome não tem referente.As diversas
interpretação bastante frequente de Frege diz que o objecçõesque Kripke dirige a estas teses, e às suas
sentidode um nome (por oposição ao seu referente)é consequências,podem ser classificadasem três gru-
dado por uma descrição.Russell preferia dizer que o pos: argumentos modais, argumentos epistémicos e
nome abreaiauma descrição.Outros autoresdirão an- argumentos semânticos.O objectivo destesargumen-
tes que o nome é sinónimo da descriçãoou que o nome tos é mostrar que a teoria descritivista estáerrada desde
se define pela disjunçãodas descriçõesque fazem parte a sua base e que, por isso, nenhuma rectificaçãoou
do feixe que lhe está associado.Outros ainda coniide- aperfeiçoamentopoderá salvá-la, devendo antes pro-
ram que os nomes não têm significado linguístico, mas curar-se uma nova abordagem.
que o objecto por elesreferido é determinado pelo feixe Na sua versão mais forte, enquanto teoria do signi-
de descriçõesassociado.Kripke não está muito inte- ficado, o descritivismo considera que o significado de
ressadonos pormenores de cada uma destasversões, um nome próprio é dado Por uma descriçãodefinida.
pois consideraque a concepçãodescritivista estáradi- Esta ideia tem uma consequênciainaceitável, a qual

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foi apontadapor John Searlequando propôs o feixe de sofo. Quando usamos uma descrição para descrever
descriçõescomo aperfeiçoamentoda teoiiar. Efectiva- uma situaçãocontrafactual,referimo-nosao indivíduo,
mente, se o nome <Aristóteles> significasse<o autor sejaele qual fo{, que satisfaza descriçáonessasituação.
das Categoriase do De lnterpretationee dos primeiros Mas quando usamosum nome, o que se Passaé muito
Analíticos, etc.>, isso implicaria que uma afirmação diferente. Se dizemos que Aristóteles poderia não ser
como <Aristóteles escreveu as Categorias>seria uma filósofo, ou que poderia nunca ter saído de Estagira e
verdade analítica, exactamentedo mesmo modo que ter morrido muito jovem, é sempre de Aristótelesque
,.nenhum homem solteiro é casado, é uma verdáde
estamosa falar.Estamosa considerar situaçõespossí-
analítica,devido ao facto de o termo ,,solteiroosignifi- veis nas quais Aristóteles não tem as propriedades
car (que ainda não se casou>.Mas as verdadesanalíti- que tem no mundo actual, mas em todas elas "Aristó-
cas são verdades necessárias,enquanto ser autor das teles> refere-sea Aristóteles. Para caracterizar esta
Categorias é uma propriedade contingentede Aristóte- diferença,Kripke introduz a noçãoteóricade designador
les. Para evitar estaconsequência,Seãrlepropõe que o rígido:um designador rígido é um termo singular que
significado do nome é dado, não por uma, mas por um designa o mesmo objecto em todos os mundos Pos-
feixe de descrições.Nesta perspectivamodificjda não síveis.A tese de que os nomes próprios são designa-
tem de haver uma propriedade única que Aristóteles dores rígidoss é uma das principais teses positivas
possua necessariamente,mas há uma colecçãomais defendidas em O Nomeare a Necessidade. Ao contrário
ou menos vasta de propriedades tais que Aristóteles dos nomes, as descriçõesnão são designadoresrígi-
possui necessariamenteum número suficiente delas. dos; e o qde os argumentos modais fazem é explorar
Segundo Kripke, estamodificação deixa intacto o pro- esta diferença fundamental para mostrar que o signi-
blema, uma vez que Aristóteles poderia não tef ne- ficado dos nomes não pode ser dado por meio de
nhuma das propriedades que geralmente lhe atribuí- descrições.
mos. As propriedades que geralmente associamos a Os argumentos epistémicoscontra o descritivismo
Aristóteles são propriedades contingentes, por isso, têm por alvo principal a tese (ii), segundo a qual o
não podem ser elasque definem o significadoão nome
<Aristóteles>.Este argumento modal põe em relevo
uma diferença importante no comportamento semân- 8A questão de saber se um nome continua a designar o mesmo
tico de nomes próprios e descriçõesdefinidas. euan- objecto nos mundos possíveis em que esse objecto não existe é
do dizemos, por exemplo, (<oprofessorde Alexandre controversa.As declaraçõesde Kripke a esserespeitoparecemser
poderia não ser filósofo>, estamos a considerar uma divergentes:conÍronte-sea respostaafirmativa dada na nota 21 do
prefácio de 1980(nas pp. 64-65)com a resPostanegativa dada em
situaçãocontrafactualou um mundo possívelno qual Necessity" (in Kripke, Philosophical Troubles,op. cit.,
Alexandre foi ensinado por um e um só homem (ãue "Identity and
p. 10) e com a resposta neutra relatada por David Kaplan em
não tem de ser Aristóteles),o qual não seria um filó_ <Afterthoughts>(ín Themes from Kaplan,ed. por J. Almog, J. Perry
e H. Wettstein, Nova lorque: Oxford University Press, 1989,
7 pp. 569-570e nota 8). Veja-setambém, sobre esta questão, Nathan
]ohn R. Searle,"Proper Names>,Mind 67,195g,pp. 1,66_1,TA. and Essence,
Salmon, Reference Princeton: Princeton University Press,
Veja-sea citação de Searlena p. 115.
198L,pp.3't-41.

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O NO M EARE ANECES S I D A D E I NTRoDUcÃo

utilizador de um nome acreditaque um certo conjunto é óbvio que coisascomo ter escrito as Categorias ou ter
de propriedades associadasao nome é tal que óxiste sido professorde Alexandre não são coisasque possa-
um e um só objectoque as possui. Contra isto, Kripke mos sabera priori acercade Aristóteles,nem são coisas
aponta exemplos em que muitas pessoasusam um a respeito das quais não seja possível virmos um dia
nome N sem que consigam realmente responder à a descobrir que estamosenganados.
pergunta "Quem é (ou foi) N?" fornecendo uma des- As teses(iii) e (iv) são os alvos principais dos argu-
crição que só o referente do nome satisfaria. Assim, mentos semânticoscontra o descritivismo. A primeira
muita gente usa o nome <<Cíceron ou o nome <Feyn- diz que se um conjunto de condiçõescontempladasno
man) sabendo muito pouco a respeito dos seus rófe-
"feixe de descrições" é satisfeito por um e um só
rentes. No máximo, serão capazesde dizer algo como: objecto, então esse objecto é o referente do nome. A
<Foi um famoso orador romano), ou: ,.Acho que é um segunda acrescentaque, se não há nenhum objecto
físico>, sem que julguem que isso é suficiente para único desses(que satisfaçaum conjunto de condições
identificar o homem a que se reÍerem.Outro exemplo contempladasno "feixe de descrições>>), então o nome
explorado por Kripke é o daquelaspessoasque falãm não tem referente. Kripke apresenta contra-exemplos
de Einstein, que o identificam como oo homem que para ambas.Um deles é um exemplo imaginário, con-
descobriu a teoria da relatividade' e que a única colsa cebido por Kripke e que se tornou muito conhecido.O
que sabem acerca da teoria da relátividade é que exemplo é acerca de Gôdel, o lógico que se tornou
foi descobertapor Einstein. Isto é também um còn- especialmentefamoso por ter demonstrado (em 1931)
tra-exemplo à tese (ii), porque realmente a descrição a incompláude da aritmética. Em geral, as pessoas
que estas pessoas estão a fornecer para identificar que usam o nome conhecem-nocomo o ho-
Einstein mais não é do que ,.o homem que descobriu "Godel"
mem que demonstrou a incompletude da aritmética.
a teoria que descobriurre,o que estálonge de ser exclu- Kripke imagina então que não foi realmente Gôdel,
sivo dele. mas sim um outro indivíduo, Schmidt, quem demons-
Além disso, tal como sabemosa priori que um indi- trou a incompletude. Sem que ninguém até hoje tenha
víduo solteiro não é casado,também deveríamossaber descoberto,Godel apoderou-sedo manuscrito e publi-
a priori, se o descritivismo estivessecerto, que Aris- cou-o como se fosse seu. De acordo com a tese (iii),
tóteles escreveuas Categorias.E, em geral, senão p uma quando usamos o nome oGõdel>>, deveríamos então
das propriedades que definem um nome N, deveria estar a referir-nos a Schmidt, pois é afinal Schmidt o
ser inconcebívelque um utilizador competentede N homem que demonstrou a incompletude. Mas, de fac-
viessea descobrir que, afinal, ao contrário do que jul- to, mesmo que a fraude imaginada por Kripke tivesse
gava, o referente aõ ru não tem a propriedade p. Mas ocorrido, é a Gõdel que nos referimos quando usamos
o seu nome. Podemos estar enganadosna nossa atri-
e Veja-setambém a condição buição do teorema e, no entanto, usar correctamenteo
de não-circularidadeformulada
nas pp. 123-124e 1,28,e o seu uso para criticar a teoria segundo a nome para nos referirmos a Godel. Por outro
"Gôdel"
qual a propriedade que define e fixa a referência de um nome N lado, também há casosem que usamosum nome acre-
é a propriedade de ser o indivíduo chamado N (nas pp. 129-1,20). ditando que o seu referente é o único indivíduo que

24 25

',,)
O NO M EARE ANECES S I D A D E IN TR OD U Ç AO

fez uma certa coisa,quando, na verdade/ essacoisafoi (com um nome). Em vez disso, apresentaalguns ele-
feita por várias outras pessoas.Kripke dá como exem- mentos do que considera ser <uma imagem melhor>
plo o facto de muitas pessoasfalarem de Einstein pen- da prática real de nomear pessoase coisas.IJma vez
sando que ele inventou a bomba atómica. IJma vez que esta "imagem melhor> assentanuma noção cen-
que a bomba atómica foi obra de uma equipa (a que tral de cadeiacausal,a proposta positiva de Kripke
Einsteinnão pertencia),a tese(iv) prevê que essesuôos ficou conhecida e é mencionada na literatura como
de <Einstein>'não teriam referente. Vaà e claro que (ou teoria) causalda referência>.Estanova
isso não é assim. As pessoasque julgam erradamente "abordagem
abordagemcomeçapor sublinhar que, enquanto falan-
que Einstein foi o inventor da bomba atómica não tes, somos membros de uma comunidade. A genera-
deixam, por isso, de se referir a Einstein quando usam lidade dos nomes que usamosnão foram criaçõesnos-
o seu nome. sas: eles têm uma história mais ou menos longa e
Kripke considera que o conjunto de argumentos que chegaramaté nós por via da nossainteracçãocomuni-
apresentoué suficientepara mostra{,de forma conclu- cativa com outros falantes; essahistória anterior que
siva, que a teoria descritivista dos nomes, em qualquer cada nome - ou que cada uso de um nome - tem
das suasversões,estáradicalmente errada. Nãó se tiata contribui decisivamente para lhe conferir uma refe-
apenasde defender que há erros localizadosou insu= rência. O descritivista erra ao supor que a explicação
ficiências diversas na teoria descritivista. O que se para a referênciados nomes queeu usose deve encon-
passa/na perspectiva de Kripke, é antes que (a con- trar exclusipamente em mim próprio, nos meus estados
cepçãode conjunto que esta teoria nos dá sobre como ou processosinternos e privados. Os argumentos de
se determina a referência ldos nomes] parece estar Kripke mostraram, pelo contrário, que muitas vezes o
errada desde as suas bases>(p. 154). euando tenta utilizador de um nome sabe muito pouco, ou pode
caracterizaro que seria o <erro fundamental>>do descri- estar bastante equivocado, a respeito do objecto que
tivismo, Kripke descrevepor vezes uma situação em refere - e, no entanto, refere-sea esseobjecto.Não é
que uma pessoaestá sozinha num quarto, completa_ nenhum mistério que o falante consiga referir-se a
mente isolada de todas as outras, e determina pãra si pessoase coisasque nunca viu e de que sabetão pou-
própria que o referente de um nome N é um indivíduo co, se tivermos em conta que ele o faz em virtude da
distante (no espaço e no tempo), com o qual nunca sua pertença a uma comunidade no seio da qual o
teve contactoperceptivo - numa tal situação,parece- nome foi transmitido, com a referência que tem, de
ria natural o recurso a uma descrição definidã, ou a falante para falante, ,.de elo em elor, ao longo de uma
uma multiplicidade de descrições,para determinar o cadeia causal que se estende desde o "primeiro uso)
referentedo nome. Mas se não é assim que os nomes - aquilo a que Kripke chama <o baptismo inicial" -
que usamosadquirem uma referência,como é que isso até ao uso presente,aqui e agora.
acontece?Kripke afirma que não tem uma teoria alter- O que Kripke diz acercado baptismo inicial e acer-
nativa para apresentar.Em particular, declaraque não ca da transmissãodo nome na cadeia de comunicação
dispõe de um conjunto de condições necessãriase é assumidamente muito esquemático e insuficiente
suficientes capazesde analisar o que é referir um obiecto enquanto teoria da referência.Os casosmais simples

26 27
_)
O NO M EARE ANECES S I D A D E IN TR OD U Ç AO

e frequentes de baptismo inicial são aqueles em que A respeito da transmissão do nome ao longo da
um objectoé nomeado por ostensão:na presençade um cadeia causal que liga os seus diversos usos por dife-
objecto, e apontando possivelmente para ele, um certo rentes falantes,Kripke observa que ela tem de obede-
nome é-lhe atribuído, nome esseque depois se espa- cer a certascondiçõesPara que sejatambém uma trans-
lhará e chegará a ser usado por outros falantes que missãoda referência. Como ele diz, <(nemtodo o género
não participaram no baptismo. Mas Kripke também de cadeias causais que se estendem de mim até um
considera casosde baptismo sem ostensão.O melhor certo homem conseguirão fazerrne referir esse ho-
exemplo que dá é o da descobertade Neptuno. Este mem>)(pp. 153-154).Uma condiçãonecessáriaParaque
planeta Íoibaptizado tendo por base, não uma obser- a cadeia de comunicaçãotransmita adequadamentea
vação empírica directa, mas uma conjectura astro- referência é que cada falante, quando aprende ou re-
nómica: a existênciade um planeta numa certa posi- cebe um nome de outro falante, tenha a intenção de
ção parecia a melhor explicaçãopara as perturbações usar o nome para se referir ao mesmo objecto que o
observadas na órbita de Urano. Aqui, a concepção outro falante referia quando usava o nome. E isso que
descritivista pareceter aplicação,pois a referênciado não acontece,por exemplo, quando adopto <Napoleão"
nome <Neptuno> foi inicialmente fixada pela descri- como nome para o meu cão.
ção <o plarreta que causa tais e tais perturbações na As últimas páginas de O Nomeare a Necessidade, no
órbita de lJranoo. No entanto, Kripke insiste em que a final da terceira palestra, ilustram bem aquilo que
sua caracterizaçãodestesbaptismos por descriçãose Kripke anu.nciano início da primeira palestra: embora
distingue claramente,em diversos aspectos,da teoria os temascentraisda obra sejamtemasmuito circunscri-
descritivista dos nomes. Desde logô, porque estes tos de filosofia da lógica e de filosofia da linguagem
baptismos por descriçãosão relativamente raros, en- - como a necessidadeda identidade, a tese da desig-
quanto o descritivismo pretende ser uma teoria geral nação rígida e a crítica à teoria descritivista dos no-
dos nomes. Depois, porque o nome <Neptuno>>e a rÌì€s as suas implicações estendem-sea muitas
-,
descrição que lhe fixou inicialmente a referência con- outras áreas e problemas da filosofia. Mencionei já
tinuam a ter comportamentos semânticosmuito dis- consequênciasrelevantespara a filosofia da ciência e
tintos, uma vez que o nome designa rigidamente para a metafísica.Nas últimas páginas,Kripke ocuPa-
Neptuno em todas as situaçõespossíveis,enquanto a -se da filosofia da mente. Nesta âtea,os filósofos con-
descriçãonão é rígida. Pois há, sem dúvida, situações temporâneos são predominantemente materialistas (ou
contrafactuaisem que seria verdade dizer que Neptuno muitos preferem dizet) e rejeitam o
"fisicistas", como
está tão distante que em nada perturba a órbita de dualismo cartesiano segundo o qual a alma e o corpo
Urano. Além disso,na perspectivade Kripke, a descri- seriam duas substânciasdistintas.Nos anos cinquenta,
ção fixou a referência dos usos de <Neptuno> na fase Ullin Place,Herbert Feigl e I. I.C.Smart formularam,
do baptismo, mas não é ela que fixa a referênciados como alternativa ao behaviorismo lógico de Gilbert
usos posteriores do nome. Um utilizador competente Ryle, a chamada <teoria identitativa da mente>/ que
do nome não tem hoje de conhecera condição descri- tem como tese central a afirmação de que os estados
tiva por meio da qual se Íez o baptismo. mentais mais não são do que estadosfísicos do cérebro.

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Num conhecido e influente livro publicado em 1968, ciênciaempírica, confirmarão a tesefilosófica da iden-
com o título A Materialist Theoryof the Mindr\, D. M. tidade - são contingentes.Kripke usa como exemplo
Armstrong caracterízaa teoria identitativa como uma a hipótese materialista de que a dor é a estimulação
perspectiva que/ à pergunta: ..O que é um homem?>, das fibras C12.Mesmo para os que defendem estahipó-
responde que é um objecto material com propriedades tese (ou outras do mesmo género), Parece evidente
exclusivamentefísicas;e que, à objecção:.,Mas o ho- que a estimulaçãodas fibras C poderia ocorrer no corpo
mem pensa,sentee deseja,isto é, tem uma mente, que de uma pessoasem que essa Pessoativesse dores -
é algo que não existeno mundo físico>,respondemuito por exemplo, os seres humanos poderiam ter uma
simplesmenteque a mente á o cérebro. O Nomeare a constituição diferente da que têm, devido à qual essa
Necessidade termina com uma surpreendente crítica a estimulaçãolhes provocassecócegasem vez de dores.
estateoriali, na qual Kripke aplica à alegadaidentida- Mas o reconhecimentodo carácter contingente desta
de mente-cérebro as ideias que antes desenvolveu a correspondênciaentre um estado físico e um estado
respeito da identidade, da necessidadee da contin- mental não é consistente,insiste Kripke, com a afirma-
gência, dos designadoresrígidos e não-rígidos e das ção materialista de que essa correspondênciaé uma
identificaçõesteóricas descobertaspela ciência. identidade. E o materialista não pode querer asseme-
Nos seustraçosmais gerais,o argumento antimate- lhar as supostas identidades entre estados mentais e
rialista de Kripke é do seguinte género:se a mente é o físicos com identidades como a que se verifica entre o
cérebro,então elessão necessariamente idênticos;mas inventor das lentesbifocais e o inventor do pára-raios,
o cérebro poderia existir sem a mente; logo, a mente porque *dor> e <estimulaçãodas fibras C" (ou o termo
não é o cérebro.A primeira premissa é uma aplicação científico que a investigação vier a colocar no lugar
do princípio da necessidadeda identidade.E a segunda deste) são designadoresrígidos.
premissacorrespondea uma intuição muito forte, que Kripke demora-sea considerare a afastaruma pos-
é reconhecidae partilhada pela generalidadedos filó- sível objecção ao seu argumento, que exploraria uma
sofos, tanto dualistas como materialistas.De facto, o analogia entre a identificação materialista e as identi-
materialismo visado por Kripke afirma que as correla- ficaçõesteóricas que discutiu antes, como/ Por exem-
çõesou correspondênciasentre estadosmentais e esta- plo, a identificação entre a âg:uae HrO, ou entre o
dos físicosdo cérebro- gü€, uma vez descobertaspela calor e o movimento molecular.A objecçãoconsistiria
em dizer que em ambos os casosas identidades des-
10Londres: Routledge and Kegan cobertassão necessárias(e, por isso, o argumento de
Paul.
rr Existem diferentes versões
da teoria identitativa. Uma distin- Kripke teria uma premissa Íalsa), mas há uma ilusão
ção habitual é entre (i) a teoria que afirma que cada tipo de estado de contingência que se pode explicar (e que seria res-
mental é idêntico a algum tipo de estado físico (a chamada teoria ponsável pela nossa tendência natural para aceitar a
da identidade tipo-tipo), e (ii) a teoria que defende que cada estado
ou acontecimento mental particular é idêntico a algum estado fí-
sico particular (a teoria da identidade espécime-espécime).Kripke 12As fibras C são um dos tipos de fibras nervosas que ligam os
argumenta contra estas duas versões da teoria, embora dê mais receptoresda dor - os nociceptores,existentesem diversos teci-
atenção à primeira. dos do corpo humano - ao sistema nervoso central.

l
30 3"1
O NO M EARE ANECES S I D A D E IN TR o D U çÃO

premissa como verdadeira). Quando antes analisou o rência do primeiro foi fixada por uma propriedade
caso do calo4,Kripke teve o cuidado de distinguir o acidental do fenómeno (a saber,a propriedade de cau-
calor enquanto fenómeno exterior da sensaçãoatravés sar em nós a sensaçãode calor), enquanto a referência
da qual o percepcionamos,e a que chamamosprecisa- do segundo foi fixada por uma ProPriedadeessencial
mente .<sensação de calor'r.As pessoasque julgam que do fenómeno (a saber, a propriedade de ser sentido
o calor poderia não ser movimento molecula{, e que como dor). O calor não tem necessariamentede ser
acham imaginável uma situaçãoem que calor e movi- sentido como calor, tal como a âgua não tem necessa-
mento molecular fossem coisas distintas, estão iludi- riamente de ter o aspectoou as qualidadessuperficiais
das. Efectivamente,estãoa imaginar uma situaçãoem que tem. Mas a sensaçãode dor é uma propriedade
que não houvessecorrespondênciaentre, por um lado, eìsencial de toda a dor. Por conseguinte,se a correlação
o movimento das moléculas, ou seja, o caloq,e/ por entre a dor e a estimulaçãodas fibras C é meramente
outro, a nossa sensaçãode calor; por exemplo, uma contingente,elasnão são o mesmo fenómeno. O mesmo
situaçãoem que, em virtude de diferençasno sistema se poderia dizer de outras correlaçõesentre aconteci-
nervoso, a sensaçãode calor fosse antes causadapor mentos mentais e processosfísicos.
feixes de fotões (ou seja, pela luz) e em que o movi- Este argumento de Kripke contra a teoria identita-
mento das moléculas (ou seja,o calor) fosseantes per- tiva da mente está longe de ter convencido a genera-
cepcionadopor sensaçõesde outro tipo. E é claro que, lidade dos filósofos. Pelo contrário, gerou um imenso
numa tal situação,o calo4,apesar de não ser sentido debate que-se prolonga até hoje e do qual resultorr
como caloq,seriamovimento das moléculas.Não pode- uma extènia bibliografia. Numa interessantenota de
ria então passar-seo mesmo no casoda dor? Não po- rodapé no final da discussão,Kripke afirma precisa-
deríamos imaginar uma situaçãoem que a do4,sendo mente que considera que a relação entre a mente e o
idêntica à estimulação das fibras C, não fosse no en- corpo é um problema "completamente em abertoo e
tanto sentida por nós como dor? Kripke defende que confessaa sua <<extrema perplexidadeo a seu respeito
não, e que/ por isso, os casosnão são análogos.Uma (p.229,n.77). Aíf.aztambém notar que a críticaà teo-
situação em que a estimulação de fibras C não fosse ria identitativa não faz de si um adepto do dualismo car-
sentida como dor é uma situaçãoem que ela não çeria tesiano,até porque o dualismo não parececompatível
do1 ou seja, em que essa estimulação existiria sem com a teseda essencialidadeda origem (segundoa qual
dor. A distinção que fizemos no casodo calor - entre <uma pessoanão poderia ter vindo de um espermato-
o calor como fenómenoexternoe a sensaçãointerna de zóide ã de um óvulo diferentes daqueles em que efec-
calor - não pode fazevse a respeito da dor. Se (em tivamente teve origem") que defendeu antes.Por fim,
qualquer mundo possível) um certo fenómeno não é declara que <não temos uma concepçãoclara de alma
sentido como uma dor, então (nessemundo) essefenó- ou de eu> e manifesta simpatia pela "crítica de Hume
meno nãoé uma dor; e se ele é sentido como dor, então à noção de um eu cartesianoo.
é :umador. Kripke também explica isto dizendo que os
termos ,,caloroe ,,doro,apesarde seremambos desig- Esta sinopse dos principais temas e problemas tra-
nadoresrígidos, têm uma diferençaimpo{ante: a refe- tados em O Nomear e a Necessidaderevela a grande

32 33
O NO M EARE ANECE S S I D A D E
IN TR OD U Ç AO

originalidade e a riqueza do pensamento filosófico do


estar interessadoem construir um sistema filosófico.
jovem Kripke, que até aí se tornara conhecido sobre_
O seu modo de Íazer filosofia é mais localizado:
tudo como um brilhante e precocelógico matemático.
encontra um problema que o deixa perplexo e dedi-
Desencadeadaspelo trabalho inicial óm lógica mpdal
ca-se a ele intensamente, procurando esclarecê-loe,
(que levou à criação da semânticados ,r,.rido, possí-
se possível,resolvê-lo.Se o trabalho num problema de
veis) e pela reflexão subsequentesobre a objecçãode
uma área o leva muitas vezes a apreciar as conse-
Qu-inee sobre o problema de encontrar uma interpre- quências que poderâ ter para outras âreas,isso acon-
tação intuitivamente aceitávelpara os sistemasaó tO_
tece não em virtude de uma vontade de sistema,mas
gica modal quantificada, estas ideias foram sendo
como resultado da própria concentraçãoe da deter-
desenvolvidas ao longo da década de 1960,sem que
minação com que segue cada ideia até onde ela o
no entanto daí resultassequalquer publicaçao. Finãl_
levar.
mente, em Janeiro de '1.970, Kripke deu três palestras As reacçõesà publicação de <O Nomear e a Neces-
em Princeton, que foram gravadas e posteriormente
sidade" foram várias e imediatas. Muitos consideram
transcritas.A transcrição,revista pelo autor e enrique_
que esta obra revolucionou a filosofia. De modo mais
cida com notas de rodapé, foi publicada em 1972,Ãttm
cauteloso,talvez possamosdizer que a renovou. Teve
volume colectivo organizado por Donald Davidson e
a audácia de questionar <<certezas" antigas e o mérito
Gilbert Harman. Apesar do trabalho de revis ão, a
de abrir direcçõesnovas. No final da década de 1970,
publicaçãopreservaas marcasda oralidade que esteve
eram já celtenas as publicaçõesque de um modo ou
na sua origem. O leitor quase pode assim <<ouvir>
de outro se the referiam, discutindo as suas teses e
Kripke desenvolver o seu pensamento,livremente, sem
argumentosou explorando as suasconsequências.Em
o apoio de um texto ou sequer de notas escritas,se-
1980,surgiu O Nomeare a Necessidade corno livro, com
guindo apenasum plano muito rudimentar dos assun_
um novo prefácio em que o autor explica um pouco a
t9s gue pretendia abordar (e de alguns que tinha
origem das ideias nele contidas e esclarecealguns
decidido não abordarçcomo, por exemplo, o problema
pontos, procurando desfazer incompreensõese dissi-
da existência).Uma decisão a que Kripke pãrrnu*".e
par equívocosque julga ter detectadonalguns leitores.
fiel durante todo o trabalho é a ãe manter a exposição
De então para câ,o número de artigos, livros e disser-
isenta de qualquer aparato técnico.E é, de facto,admi_
tações escritos sobre aspectosdesta obra, ou por ela
rável_a capacidadeque demonstra de explicar ques_
influenciados, cresceuexponencialmente.Muitas das
tões difíceis, que envolvem distinções bas[ante ,u]bds,
questõesaqui levantadas continuam a ser debatidas,
maneira que parece acessívela qualquer um. sem que os participantes tenham chegado a acordo.
9: _"*l
Além de um pensador criativo e profunào, Kripke é
Entretanto, o pensamento de Kripke continuou a de-
um óptimo comunicador.A clarezada sua expos4ao é
senvolver-se em diversas áreas. Vários artigos seus
exemplar. Para isso também contribui o recurso cons_
surgiram, desde os anos setentaaté hoje, em revistas
tante a exemplos,muitos dos quais se tornaqam clás_
e volumes de filosofia. Em 1,982,publicou um livro
sicos da filosofia contemporânea.Embora \eia um
influente, e também muito discutido, sobre o famoso
pensador com interessesvastos, Kripke par"ce <argumento da linguagem privada" apresentadonas
-*#
34
35
ONOM EARE ANECES S ID A D E rNrnoouçÃo

Inz;estigaçõesF ilosóficasde Wittgensteinl3. Recentemen- BEnrneruoRussnrl (1972), Os Problemasda Filosofia, ttad'


te, foi publicado o primeiro volume dos seus Collected Desidério Murcho, Lisboa: Edições70,2008,cap' 5: "Co-
Papersla.Enquanto se aguardam os próximos volumes, nhecimentopor contactoe conhecimentopor descrição",
sabe-se que muitos trabalhos seus continuam inéditos. pp.107-118.
E ainda muito cedo para dizer qual será o lugar de P. F. SrnewsoN(1959),Indiaiduals,Londres: Routledge,1996,
cap. 6: "Subject and predicate (2): logical subjectsand
Kripke na história da filosofia. Mas, à distância de
particular objectsr,PP. 180-213.
quarenta anos, parece-me seguro dizer que O Nomear
JosN R. Ss.lnls (1969),Os Actos de FaIa, trad. Maria Stela
e a Necessidadetem lugar reservado entre as principais Gonçalves,Coimbra:Almedina, 7987,cap' 7: "Problemas
obras da filosofia do século xx. de Referênciar,pp. 207-229.
Apesar da já referida clareza de exposição, o leitor Kstru Dotitlrlr-eN (1966), "Reference and Definite Descri-
que pretenda Íazer um estudo mais aprofundado de ptions,, PhilosophicalReaiew,75, Pp. 281'-304
O Nomear e a Necessidadedeve ter em conta que é uma W. V QurNE(7953/1961),,,Referenceand Modality", in
obra que dialoga e se confronta com teses, teorias e Quine,Froma LogicalPoint of View, 2.ued.rev.,Cambridge,
concepções filosóficas anteriores. Poderá, por isso, Massachusetts:Harvard University Press,7980,pp' 1'39-
querer preparar-se para esse estudo, ou acompanhá- -1,59.
-1o, com a leitura de algumas obras através das quais AnrHun F. SrturrvnN (1948), "Modality and Description>,
possa obter um conhecimento independente dessas lournal ot' SymbolicLogic,1'3,pp. 31'-37.
RurH BancervMancus (7961), "Modalities and Intensional
perspectivas anteriores. Eis então uma sugestão
Languagfts,,,in Marcus, Modalities,Nova Iorque: Oxford
económica de leituras preparatórias básicas:
University Press,7993,PP.5-23.
HIranv PurNelr,t(7970),<Is Semantics Possible?', in Putnam,
Gorrron Fnncr (1891), "Funktion und Begriff", in Kleine
Mind, Languageand Reality, Cambridge: Cambridge
Schriften,ed. I. Angelelli, Hildesheim: Georg Olms,1967,
University Press, 7975, pp. 139-1'52.
pp.725-742.Tiadução inglesa de Peter Geach:<Function
D. M. AnusrRoNG(1968),A Materialist Theoryof the Mind,
and Concept",inThe FregeReader,ed. M. Beaney,Oxford: Londres: Routledge and Kegan Paul.
Blackwell, 7997,pp...1.30-148.
Gorrl-osFnncr(1892),*lJber Sinn und Bedeutung",in Kleine Rtcenoo SeNros
Schriften,op. cit., pp. 743-762.Traduçãoinglesa de Max
Llniaersidadede Éaora
Black, in TheFregeReader,op. cit., pp. 757-777.
Outubro de 2012
BpnrReNoRusspr-r-(7979), Introdução à Filosofia Matemd-
tica, trad. Adriana Silva Graça, Lisboa: Fundação Ca-
louste Culbenkian, 2007,cap. XVI: <Descrições >, pp. 243-
-267.

" S""l A Kripke, Wittgensteinon Rulesand Príoatetorg*-à,


Oxford: Basil Blackwell,1982. ,/
raSaulA. Kripke, Philosophical
Tioubles:
Collected
Papers,Volume
1, Nova Iorque:Oxford University Press,2011.

36 ó/

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