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e a avaliação psicológica
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
A CIRURGIA BARIÁTRICA......................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
CIRURGIA BARIÁTRICA............................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
QUANDO A OBESIDADE É CASO CIRÚRGICO.......................................................................... 27
CAPÍTULO 3
CIRURGIA BARIÁTRICA: ACOMPANHAMENTO CLÍNICO............................................................. 37
UNIDADE II
O PAPEL DO PSICÓLOGO..................................................................................................................... 49
CAPÍTULO 1
O PSICÓLOGO....................................................................................................................... 49
CAPÍTULO 2
CONTRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO........................................................................................... 54
CAPÍTULO 3
A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: INSTRUMENTOS UTILIZADOS PELO PSICÓLOGO........................... 60
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 77
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
A sociedade contemporânea criou hábitos que propiciaram e acarretaram um aumento
considerável no predomínio da obesidade em todo o globo. A variedade e a quantidade
de alimentos postos no mercado, aliadas aos fatores causadores de tensões de natureza
variada, contribuíram para a existência de uma forma desgovernada de se alimentar,
que veio a fomentar uma verdadeira epidemia de obesidade.
Estamos, no Brasil, convivendo com essa crescente ocorrência que, ao associar-se com
outras comorbidades, preocupa imensamente os responsáveis pela gestão pública de saúde.
A obesidade pode ser considerada uma doença crônica resultante da interação entre
genótipo e ambiente, acarretando excesso de gordura corporal. Os fatores que levam
ao desenvolvimento dessa condição não estão totalmente esclarecidos, mas envolvem
questões genéticas, fisiológicas, metabólicas, psicológicas, comportamentais, sociais
e culturais. É considerada a segunda causa de mortes previníveis e está associada
a inúmeras comorbidades que acometem os mais diversos sistemas orgânicos.
Trata-se de doença de tratamento desafiante pela inexistência de tratamento clínico
eficaz em médio e longo prazo. Tal situação proporcionou o surgimento da intervenção
via cirurgia bariátrica cuja proposta é a perda e manutenção de peso por longo prazo.
Após esta breve introdução, esperamos que o conhecimento embutido neste Caderno
de Estudos, seja útil para todas as outras disciplinas relacionadas a esta e esperamos
que você, venha a contribuir com sua participação, com opiniões, práticas e vivências
em diferentes âmbitos, pessoal e profissional, seja em qual área atue, e contribuir neste
processo de ensino-aprendizagem.
Objetivos
»» Apresentar os conceitos e classificação da cirurgia bariátrica.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA UNIDADE I
CAPÍTULO 1
Cirurgia bariátrica
Conceitos e classificação
A palavra bariátrico é originária do grego “bari” cujo significado é peso e do latim
“iatria”, que refere-se ao tratamento médico. Uma vez que, durante um longo tempo,
a nomenclatura cirurgia bariátrica serviu para nomear as técnicas cirúrgicas utilizadas
para propiciar a redução do peso corporal. Todavia, a preferência pela nomenclatura
cirurgia bariátrica e metabólica se impôs, ao se constatar que algumas dessas técnicas não
tinham apenas, a finalidade de redução de peso, resultavam também, em modificações
metabólicas, entre as quais se podem citar a remissão da “diabetes mellitus tipo 2 e
a redução de níveis pressóricos, nome atribuído a fatores relacionados à taxas que
favorecem a análise de uma homeostasia do organismo, sendo o desajuste desses níveis,
um comprometimento da pressão arterial do indivíduo.
Segundo Diniz (2012, p. 13), os primeiros casos de derivações gástricas foram publicadas
por Mason, em 1967 e demonstravam que poderiam ser eficazes. A partir desta data, as
cirurgias restritivas foram ganhando importância e inúmeras variações foram surgindo,
combinando ressecções (retirada de um órgão ou parte dele) ou restrição gástrica com
derivações intestinais. Na década seguinte, ficaram popularizados os grampeadores
mecânicos, possibilitando uma evolução técnica com redução de complicações
cirúrgicas. Nesta mesma época, surgem os anéis restritivos (silastic, malhas, bandas).
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Procedimentos malabsortivos
São técnicas que reduzem a área de contato do alimento com a mucosa do intestino
delgado e com as enzimas pancreáticas, propiciam a minimização da absorção de
nutrientes o que resultará em perda de peso. Esta perda cessa ao ocorrer um equilíbrio
entre calorias absorvidas e gastas. Equilíbrio este que se encontra dependente do
processo de adaptação intestinal e da redução das calorias gastas pela menor massa
corporal alcançada após a cirurgia.
Derivação jejunoileal
No entanto, a perda ponderal satisfatória não era atingida por 10% dos pacientes, já que
havia o refluxo de nutrientes para o íleo. Foi proposta (Scott e Buchwald) o retorno à
ligação jejunoileal termino-terminal, com a alça jejunal drenando no cólon transverso.
Essa cirurgia preservava a válvula ileocecal, possibilitava a drenagem da alça excluída
no ceco ou no cólon transverso e, era seguida por uma apendicectomia.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Derivação biliopancreática
Apesar de prover menos complicações que a anterior, esta técnica está relacionada à diarreia,
flatulência, anemia e outros, sendo uma opção para apenas alguns pacientes superobesos.
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Duodenal switch
Posteriormente, houve uma modificação na derivação biliopancreática que por preservar
o piloro, reduziu o desenvolvimento da síndrome de dumping e de úlceras marginais.
Este também foi modificado por Marceau ao qual se credita a criação do duodenal
switch. Trata-se de uma gastrectomia vertical (sleeve) criando um tubo gástrico vertical
na curvatura gástrica menor, preservação do piloro, duodenotomia próximo ao piloro
e anastomose duodenojejunal formando a alça alimentar, em “Y de Roux”. A alça
duodenopancreática é anastomosada à alça alimentar.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Procedimentos mistos
Surgiram na década de 1960 e combinam componentes restritivos e malabsortivos. A
restrição é obtida a partir de um pequeno reservatório gástrico e um pequeno orifício de
saída. O grau de malabsorção é determinado pela extensão da derivação gastrojejunal.
O procedimento foi abandonado pelo surgimento de novas técnicas por conta das
complicações inerentes como vômitos, úlceras marginais, refluxo biliar, síndrome de
dumping etc. bem como pela sua associação a uma alta incidência de reaquisição de peso.
Em 1977, foi proposta uma derivação gástrica onde se dividia o estômago horizontalmente
a partir da confecção de um septo (parede de separação) utilizando-se um grampeador,
o que reduzia a ocorrência de reabertura espontânea (deiscência).
Posteriormente, essa técnica foi modificada com a criação de uma bolsa vertical na
curvatura gástrica menor, região menos sujeita a dilatações. Havia uma drenagem mais
vertical, mas não reduzia a dilatação do estoma de saída (abertura cirúrgica feita no
abdômen para esvaziamento dos intestinos).
Uma nova modificação foi proposta onde se aumentava o comprimento da alça alimentar
para incrementar o componente malabsortivo. Apesar dos avanços obtidos, o problema
com a dilatação da anastomose gastrintestinal permanecia um desafio. Foi utilizado
um anel de silicone em torno da junção de forma a manter o diâmetro, depois fascia
muscular (tecido conjuntivo constituído por fibras de colágeno) como banda. Mais a
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
frente, divulgou-se o uso com bandagem, onde uma pequena bolsa gástrica vertical era
formada e um anel de silicone colocado como elemento restritivo. Posteriormente, o
mesmo Fobi, interpôs a alça jejunal, futura alça alimentar, entre o pequeno reservatório
gástrico e a porção excluída do estômago, na tentativa de reduzir a formação de fístula
entre as duas porções desse órgão.
Segundo Diniz (2012), esta teria sido a maior inovação na área da cirurgia bariátrica.
Em 1994, Wittgrove, Clark e Tremblay divulgaram seus resultados na realização da
Derivação gástrica em “Y de Roux” (DGYR) com bandagem, na qual realizavam a
anastomose gastrointestinal utilizando um grampeador utilizado por via endoscópica.
Em 1999, Torres e Scott introduziram o grampeador intra-abdominal, reduzindo a taxa
de complicações esofágicas. Também em 1999, Higa e colaboradores descreveram a
técnica de anastomose gastrojejunal manual em vez do uso do grampeador.
Ainda segundo Diniz (2012), atualmente, a DGYR por via laparoscópica é o procedimento
bariátrico mais realizado nos Estados Unidos. Esse procedimento, quando comparado
à técnica aberta, permite perda de peso comparável, com a vantagem de menor
incidência de hematomas, infecção, hérnia, formação de aderências, além de menor
tempo de hospitalização e recuperação mais precoce. Apesar do exposto, trata-se de um
procedimento complexo, o qual deve ser realizado por cirurgiões com ampla experiência
na área.
Procedimentos restritivos
São procedimentos com a finalidade de prover perda ponderal por meio da redução do
volume gástrico cuja resultante é o consumo menor nas refeições. As mais utilizadas
são a gastroplastia, a bandagem gástrica e a gastrectomia vertical.
Gastroplastia
uma alteração reforçava o orifício com a utilização de malha de Dracon, mas que
resultou em excessiva fibrose e obstrução gástrica. A malha foi depois, substituída por
uma sutura com polipropileno que, por sua vez, causava erosão gástrica.
Uma última variante foi introduzida por Mason, a gastroplastia vertical com bandagem
(GVB) cujo orifício de saída estava próximo à curvatura gástrica menor, reforçado
com malha anelar de Marlex, posicionada através de uma janela gástrica por meio de
grampeador circular. Por uma década, esse foi o padrão.
Os resultados, por longo prazo, apontam para perdas em torno de 50% do EPC em
metade dos pacientes. As complicações relacionam-se a vômitos, obstrução por bezoar
(uma espécie de massa ou pedra encontrada no sistema gastrointestinal), quebra de
grampos na linha de sutura, erosão da banda e outras.
Bandagem gástrica
O menos invasivo dos procedimentos restritivos pelo fato de não seccionar o estômago,
grampear e não há anastomoses.
Aplica-se uma banda em volta da porção superior do estômago que fica dividido em
uma bolsa proximal pequena e uma outra distal e maior, separadas por um pequeno
óstio. Foram conduzidas outras intervenções com esse tipo de abordagem com as
seguintes variações: bandagem gástrica não ajustável por meio de cirurgia aberta,
bandagem gástrica ajustável, bandagem gástrica não ajustável por via laparoscópica,
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
bandagem gástrica ajustável por via laparoscópica e, em 1999, Cadiére introduziu o uso
da robótica na cirurgia bariátrica.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Vantagens e desvantagens
As vantagens são:
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Fonte: <http://www.multivu.com/players/English/7269351-enteromedics-fda-approval-vbloc-maestro-system-weight-loss-device/
gallery/image/fbc6ddcc-407d-47b4-8ea2-1609ce0e7830.jpg>
Procedimentos intraluminais
A inserção endoscópica de um balão intragástrico para o tratamento da obesidade
mórbida foi proposta por Evan e Scott como um método para a preparação de uma
cirurgia definitiva. As vantagens deste método estavam na ausência de incisões e a
reversibilidade. Como complicações citam-se a ruptura do balão, dor abdominal,
vômitos, ulceração e obstrução gástrica. A técnica tem efeito transitório, apenas um
quarto dos pacientes mantêm perdas acima de 90% do EPC perdido por ano. No reverso
da moeda, parece reduzir as taxas de conversão para cirurgia aberta e de complicações
se utilizado no pré-operatório de superobesos.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Um estudo experimental onde uma órtese circular com um orifício central era colocada
no estômago por endoscopia criando um reservatório proximal de 30 a 50 ml. Os
resultados carecem de estudos.
Cirurgia revisional
A obesidade apresenta-se como condição frequente nos consultórios de cirurgiões, o
que corrobora o resultado de estudos apontando o tratamento cirúrgico como mais
eficaz que o clínico.
Subgrupo Conceito
Mudança de uma técnica cirúrgica para outra.
Cirurgia de conversão
Exemplo: banda gástrica para bypass gástrico.
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Subgrupo Conceito
Indicações da
Possíveis causas
reabordagem
Perda insuficiente
Falha
Reganho de peso
Fístula gastrogástrica
Refluxo gastroesofágico severo
Úlcera marginal intratável
Complicações
Estenoses
Complicações do anel
Desnutrição
Por vezes, torna-se complexa a avaliação de pacientes com falha no resultado da perda
de peso, seja por perda insuficiente ou por reganho de peso. É necessário considerar-se
diversos aspectos pela intervenção de uma equipe multidisciplinar. Para que o resultado
seja adequado, a indicação de nova cirurgia obriga-se muito precisa. Desta forma,
defende-se que, uma vez a existente a falha, o primeiro aspecto a ser investigado é a
existência de uma causa anatômica para o fato.
Bolsa dilatada
Anastomose gastrojejunal dilatada
Bypass gástrico Perda do anel restritivo
Alça alimentar curta
Fístula gástrica
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Histórico no Brasil
Por anos seguidos, desnutrição e mortalidade infantil estiveram na pauta das autoridades
em detrimento do tratamento da obesidade e de suas consequências. Provavelmente
pela inexistência de dados estatísticos e estudos de implicações econômicas em saúde,
o país vê-se, repentinamente, com um avanço imenso no número de obesos e na
incidência de doenças a ela associadas.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Outro dado alarmante é relacionado à faixa etária dos pacientes com sobrepeso.
Neste grupo, os adultos jovens (18 - 25 anos) são os que apresentam maior crescimento
nos últimos anos, representando 66% dos indivíduos com sobrepeso e 0,4% dos obesos
mórbidos. Considerando-se os últimos 30 anos, houve um crescimento de 13 vezes
da população obesa é assustador. Seguindo esses passos, seremos em breve, um país
de obesos.
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Avaliação psicológica para cirurgia bariátrica: práticas atuais. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202014000600059&lng
=pt&tlng=pt>. Acesso em: 19 out. 2016.
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CAPÍTULO 2
Quando a obesidade é caso cirúrgico
Obesos podem ampliar o tempo de vida reduzindo seu peso. No entanto, se por um lado
a cirurgia bariátrica possa resultar em uma redução de peso por um longo período de
tempo é, essencialmente, um procedimento cirúrgico que trás consigo, todos os riscos
destas, durante e depois, da intervenção.
Então, nem todo obeso é um candidato certo para uma cirurgia. O tratamento cirúrgico é
indicado para aqueles pacientes classificados com obesidade mórbida (IMC > 35 kg/m²)
que tenham comorbidades ou aqueles com IMC > 40 kg/m², independentemente da
existência ou não de comorbidades.
Assim como do lado da avaliação clínica existem índices que corroboram para a
indicação bariátrica como tratamento que pode minimizar o risco de vida do obeso
mórbido, do lado da avaliação psicológica, também devem ser procurados parâmetros
subjetivos que contribuam para a indicação cirúrgica.
O comer para viver é capaz de se transformar em comer para morrer. Diversos estudos
são realizados nesta área e são diversas as posturas para a elucidação desse
comportamento. Realizam-se pesquisas preocupando-se com a casualidade deste e
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Matos (2006), por meio dessa postura teórica, faz uma análise funcional do
comportamento, estudando as condições antecedentes e consequentes que afetam
esse comportamento. O autor vê, no excesso alimentar, um problema de autocontrole,
mediado por estímulos negativos ou aversivos tardios, que nem sempre são
discriminados pelo indivíduo. Outros entendem que o que, o quanto e o modo como
o indivíduo come, dependem do que aprendeu na família e na sociedade e, outros
ainda, que o ato de comer vai além das necessidades biológicas de sobrevivência.
A comida e o afeto se combinam desde o primeiro momento em que a mãe alimenta
seu filho e com isso, sugerem que a origem do significado do comer encontra-se nas
experiências infantis.
A comida não se destina apenas, a suprir uma necessidade biológica, mas sim como
uma resposta às tensões emocionais. O alimento é considerado uma gratificação
substituta, um equivalente de afeto, compensação ou recompensa e, sua ausência pode
ser considerada uma punição, abandono ou rejeição.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Já o diagnóstico do TCAP, quando a frequência desses episódios é de, pelo menos, dois
dias por semana durante seis meses, quando há intensa angústia relativa aos episódios
e três ou mais dos critérios que seguem:
»» comer sozinho por conta da vergonha pela quantidade que ingere e sentir-se
aborrecido, culpado ou deprimido ao final.
Está diretamente relacionado a comer uma quantidade maior do que seria normal
ou em excesso e conduz, diretamente, ao aumento de peso. É o transtorno que mais
leva à condição de obesidade. Em adição, na esfera psíquica, apresentam-se várias
características da fobia social, do retraimento social, dos transtornos de ansiedade e
humor, com a depressão atípica e do transtorno dismórfico corporal. Este comportamento
alimentar, em casos radicais, pode levar a óbito.
A Síndrome do Comer Noturno – SCN (foi descrita por Stunkard, em 1955). Anorexia pela
manhã, hiperfagia durante a noite e insônia formam o triângulo originalmente descrito.
Inclui também, na descrição, a presença de estresse como característica central e
associou o transtorno à dificuldade dos pacientes obesos em perder peso.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
O estresse deixou de ser objeto de estudo em publicações seguintes até que Rand e
colaboradores propuseram que, além da alimentação excessiva à noite e falta de apetite
pela manhã e insônia, fosse incluído sentimento de tensão ou tristeza à noite como
critério diagnóstico. A SCN parece representar um novo transtorno a ser inserido nos
transtornos alimentares não especificados, ainda com critérios não bem definidos.
O estudo realizado, em 1999, por Matos (2006) contribuiu para que o quadro
psicopatológico, presente na SCNH, fosse melhor sistematizado. Ele observou que o
início do comer noturno acontece após a última refeição do dia, o jantar e, sugeriu os
seguintes critérios diagnósticos para a SCN:
Os transtornos de alimentação vistos pela primeira vez durante a infância são: pica,
transtorno de ruminação e transtornos de alimentação da infância.
A expressão que se aplica para caracterizar crianças que se limitam a comer somente
uma gama muito restrita de alimentos e resistem intensamente a qualquer tentativa de
ampliar seu cardápio é Seletividade Alimentar. É uma dieta que, normalmente, abusa
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
A anorexia nervosa tem uma história antiga. As mulheres queimadas como bruxas, na
Idade Média, e as candidatas a santas do mesmo período, são algumas das primeiras
versões das anoréticas. Em comum, hereges e religiosas tinham o gosto pelo martírio
e pela autopunição para ganhar o reino dos céus ou obter alguma aprovação social.
A literatura médica registra a primeira descrição de anorexia nervosa como doença e,
desde o início, relacionada a conflitos emocionais e à dinâmica familiar.
O transtorno está, dessa forma, ligado ao comer uma quantidade mínima ou, em casos mais
sérios, a recusa total em comer. São diversas as condições médicas associadas à anorexia,
tais como: amenorreia, anemia, prejuízo da função renal, problemas cardiovasculares,
problemas dentários e osteoporose. Na área psíquica, existem várias características da
fobia social, do transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno dismórfico corporal.
Teixeira (2012) aponta ainda, que a obesidade mórbida é uma enfermidade crônica
e, ao mesmo tempo, uma enfermidade psíquica. Vários órgãos do corpo sofrem
conjuntamente ao excesso de peso. Mas o sujeito que tem obesidade mórbida também
sofre: sua autoestima pode estar comprometida, seu amor próprio pode estar anulado,
sua vida sexual pode estar limitada, sua capacidade laboral pode estar comprometida,
o que, na maioria das vezes, o exclui do mercado de trabalho. Invariavelmente, tomado
como objeto de gozação e de bullying, vive isolado e segregado do laço social. Por tudo
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
isso, ele pode experimentar a perda do sentido de viver e padecer de profunda tristeza
de matiz melancólico.
A cirurgia bariátrica é uma das modernas técnicas para o tratamento da obesidade com
fins de emagrecimento, em especial quando se trata da obesidade mórbida. Apesar dos
resultados obtidos com essas técnicas se mostrarem bastante eficazes na maioria dos
casos observados, em contrapartida, apresenta-se um novo tipo de problema para os
pacientes: o emagrecimento repentino trazendo consigo alterações psicológicas, após
a cirurgia. Quadros como depressão, ansiedade, alcoolismo entre outros, estão sendo
observados em muitos dos casos e, por representarem um agente novo, ainda não se
dispõem de instrumentos com os quais se possa mensurá-las.
Não é desconhecido que, por vezes, existe uma associação entre obesidade e alterações
psiquiátricas, chegando a representar 50% dos pacientes obesos mórbidos e estar
ligada a maior dificuldade nos relacionamentos interpessoais. Igualmente, já é de
conhecimento que entre as contraindicações à realização da cirurgia bariátrica estão a
psicose em atividade, o uso constante de álcool e drogas, uma rotina caótica e a falta de
habilidade em cooperar com o tratamento pós-cirúrgico.
ASA II Alteração sistêmica leve ou moderada relacionada com patologia cirúrgica ou enfermidade geral.
ASA III Alteração sistêmica intensa relacionada com patologia cirúrgica ou enfermidade geral.
ASA V Paciente moribundo que não é esperado que sobreviva sem a operação.
ASA VI Paciente com morte cerebral declarada, cujos órgãos estão sendo removidos com propósitos de doação.
Fonte: <http://clinicamedicarquivo.blogspot.com.br/2004/07/classificao-asa-american-society-of.html>
35
UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Assim como um sujeito neurótico pode, nos dias de hoje, servir-se da compulsão alimentar
que leva à obesidade mórbida para os propósitos de sua neurose, um indivíduo psicótico
também está sujeito a ter obesidade mórbida, dependendo de como a compulsão alimentar
e a deformação da imagem corporal se inscreveram no processo psicótico.
Estando o quadro psiquiátrico sob controle, ainda que esteja a psicose desencadeada,
esta não pode ser considerada uma contraindicação sumária ao tratamento da obesidade
pela cirurgia bariátrica. Assim, uma avaliação pormenorizada do quadro psíquico é
imprescindível para a decisão se o equilíbrio psíquico do sujeito será colocado em risco
pelos efeitos modificadores, na imagem corporal, causadas pela intervenção.
É possível se dizer que uma limitação intelectual significativa, em pacientes sem suporte
familiar adequado, quadros de toxicomania e psiquiátricos que tornem limitada a adesão
ao tratamento antiobesidade. Falou-se do ponto de vista psicológico e, como exemplo
pode-se apontar o caso em que a psicose iria contraindicar a cirurgia se a interferência
no real do corpo, necessariamente retirasse a defesa configurada pela obesidade.
Teixeira (2012) reforça que se a obesidade estiver funcionando como uma espécie de eu
ideal do sujeito psicótico, abortar a chance desse corpo seguir sendo obeso poderia, muito
provavelmente, causar perturbações ainda mais graves, como a perda da realidade, a
perda do sentimento de unidade corporal, a decomposição do eu e a desorganização
do pensamento. Nessas condições piores, o sujeito é invadido por um tormento que se
derrama por todo o corpo e desencadeia fenômenos de ideação delirante, delírios de
perseguição, vivências de estranhamento quanto ao próprio corpo que podem chegar
a automutilações e ao suicídio ou ainda, desencadear vivências de corpo fragmentado
típicas da esquizofrenia.
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CAPÍTULO 3
Cirurgia bariátrica:
acompanhamento clínico
Avaliação clínica
Para se avaliar um paciente obeso, é necessário que se compreenda o meio em
que o paciente se insere e como o processo de ganhar peso teve início. Por que o
paciente vem procurar ajuda? Quais as suas expectativas sobre o tratamento e seu
compromisso em comparecer às consultas? As respostas serão consideradas ao se
indicar o tratamento cirúrgico, pois se houver sinal que o comparecimento não poderá
se fazer adequadamente, implicará em uma contraindicação à cirurgia bariátrica.
desenvolvimento de alterações metabólicas são maior que 102 cm para homens e que
88 cm para mulheres. Para o quadril, toma-se o seu maior diâmetro na região glútea e
as medidas de corte são 0,9 para homens e 0,85 para mulheres.
O excesso de peso, o sexo masculino e a idade avançada são exemplos de fatores de risco
clássicos, embora outros venham sendo apontados. Evidências apontam que o sexo
masculino associa-se ao maior peso e altura, taxas mais elevadas de glicemia de jejum,
hemoglobina glicosilada e triglicerídeos e, já citados anteriormente, maior incidência
de hipertensão, diabetes mellitus e apneia do sono. Além disso, a frequência de doença
cardíaca é dez vezes maior em homens.
Por fim, os casos de fístula de anastomose ocorrem com maior frequência no sexo
masculino. Em relação à idade, sabe-se que pacientes obesos operados com 50 anos
ou mais, apresentam maiores taxas de complicações pós-operatórias e, os com idade
acima de 55 anos, maior mortalidade.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
foram IMC acima de 55 kg/m². Com o objetivo de reduzir esse risco, a perda de 10
a 15% do excesso de peso tem sido sugerida no pré-operatório de superobesos, com
internação ou utilização de balão gástrico.
Acrescenta ainda que, além da cirurgia, uma gama de fatores não cirúrgicos e psicológicos
pode influenciar na habilidade de o paciente se ajustar ao pós-operatório. Os melhores
resultados parecem ocorrer em pacientes jovens, do sexo feminino, com bom estado
mental, elevada autoestima, casamento satisfatório, alto nível socioeconômico,
autocrítica e cooperativa. Mesmo que a avaliação psicológica não funcione como
preditor de resultados, é importante que seja feita, para identificar pacientes de risco e
promover intervenções no pré e pós-operatório.
A avaliação pré-anestésica deve ser a mais detalhada possível, com ênfase no exame
das vias aéreas superiores, visando ao reconhecimento de pacientes de via aérea difícil.
A medicação pré-anestésica de pacientes obesos mórbidos deve ser realizada com
extremo cuidado, desde que não haja apneia obstrutiva do sono.
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Pontuação Mortalidade
0 < 1%
1-3 1 - 4%
4-5 5 - 9%
>6 10 - 15%
Avaliação endoscópica
Segundo Mendes (2012), procedimentos endoscópicos, minimamente invasivos, estão
sendo pesquisados. Os dados sobre abordagens cirúrgicas endoscópicas em humanos são
limitados. As abordagens atuais variam do uso de balões intragástricos ou intervenções
restritivas com o uso de sutura ou grampeadores endoscópicos, visando modificar o
volume do estômago.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Grupos %
0 - Exame normal 10,3
1 - Exames que não alteraram o procedimento cirúrgico ou o pós-operatório 28,2
2 - Exames que alteraram a abordagem cirúrgica ou adiaram a cirurgia 61,5
3 - Exames que contraindicaram a cirurgia 0
Grupos %
0 - Exame normal 70,7
1 - Exames que não alteraram o procedimento cirúrgico ou o pós-operatório 11,0
1a - Exames que alteraram a conduta clínica sem adiar ou alterar o procedimento cirúrgico 17,9
2 - Exames que alteraram a abordagem cirúrgica ou adiaram a cirurgia 3 - Exames que contraindicaram a cirurgia 0,4
3 - Exames que contraindicaram a cirurgia 0
Pacientes que comprovem sua capacidade em perder algum peso no pré-operatório são
mais prováveis de alcançar o sucesso após a cirurgia se comparados aos que não perdem.
Anamnese clínica
A anamnese com enfoque nutricional deve investigar os pontos que possam estar
associados ao ganho de peso, assim como detectar o grau de comprometimento do
organismo com as comorbidades.
Alguns transtornos alimentares são mais comuns nos pacientes obesos. A detecção
desses transtornos pode ajudar no controle do ganho de peso ou na perda de peso no
pré-operatório. Em adição, alguns transtornos podem ser minimizados pelo tratamento
medicamentoso, além do comportamental.
Os métodos mais comuns para atingir tais objetivos são o recordatório de 24 horas, registro
alimentar de 72 horas e o questionário de frequência alimentar. Todos eles apresentam
limitações, sendo as principais a falta de conhecimento do tamanho das porções pelo
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Quadro 7. Características de alguns transtornos compulsivos alimentares vistos em pacientes obesos graves.
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A CIRURGIA BARIÁTRICA │ UNIDADE I
Avaliação antropométrica
Após a obtenção dos dados de peso e altura, pode-se calcular o IMC (ou índice de
Quetelet), que é calculado pela razão entre o peso e o quadrado da altura, ou seja,
kg/m². O IMC apresenta a vantagem de ser um procedimento não invasivo, de fácil
obtenção e boa correspondência com a expansão do tecido adiposo. Sua importância
é tal que a própria classificação da obesidade é baseada nele. O conceito de sobrepeso
e de obesidade é baseado na correlação entre o aumento de IMC com maior risco de
mortalidade, independente do gênero e idade. Assim, para falar de obesos grau III é
necessário o conhecimento de seu IMC segundo a OMS.
Muitos estudos mostram que o IMC tem como limitação o fato de não diferenciar a
massa gordurosa da massa livre de gordura. Assim, um atleta pode ter IMC aumentado
em razão do aumento de massa magra. Além disso, o IMC não considera a distribuição
de gordura, hoje tido como fator importante na gênese das complicações da doença.
Porém, considerando a população-alvo da cirurgia bariátrica, obesos grau II e III,
dificilmente ocorrerá aumento de massa magra ou mesmo de edema, comum nesses
pacientes. As restrições feitas a atletas não são cabíveis para os pacientes em questão.
O IMC é uma ferramenta simples, básica e confiável na avaliação do obeso.
Avaliação laboratorial
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
O pós-operatório
Dieta
Soroterapia
Oxigenoterapia
Fisioterapia
A falta de cuidado na seleção e preparo desses pacientes irá levar a pacientes mal
selecionados e mal preparados submetendo-se a uma cirurgia potencialmente perigosa
e com consequências permanentes. O tratamento do paciente bariátrico é, portanto,
complexo e presta-se para uma abordagem com equipe multidisciplinar.
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UNIDADE I │ A CIRURGIA BARIÁTRICA
Componentes obrigatórios:
A equipe
O objetivo da abordagem com equipe multidisciplinar é que cada membro utilize sua
respectiva perícia e combine coletivamente seus esforços para selecionar, educar e
conduzir o paciente da melhor forma possível.
»» 3 instrumentadores;
»» 6 secretárias administrativas;
»» 2 psicólogos;
»» 1 enfermeiro;
»» 1 fisioterapeuta;
»» 1 endocrinologista;
»» 6 nutricionistas.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO UNIDADE II
CAPÍTULO 1
O psicólogo
Como você pode ver, a participação do psicólogo na equipe disciplinar foi enfatizada
muito depois do nascimento da cirurgia bariátrica e, por certo, os resultados iniciais
foram comprometidos devido a esse fato. A presença obrigatória dos psicólogos em
equipes de cirurgia bariátrica foi, oficialmente, instituída por meio da Resolução do
Conselho Federal de Medicina sob o número 1.766/2005, publicada no Diário Oficial
da União de 11 de julho de 2005, Seção I, p.114. Em seu anexo, estabelece normas
seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações,
procedimentos aceitos e equipes. O inciso 3 define a constituição de equipe que precisa
ser capacitada para cuidar do paciente nos períodos pré e transoperatório.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
No entanto, relata-se que essa atuação pós-operatória rende frutos. Existem exemplos
de pessoas que reorganizaram suas vidas, retomaram uma atuação profissional e
passaram a viver relacionamentos amorosos, antes impensáveis para elas. É possível
que os psicólogos que atuam nesse tratamento cirúrgico para obesos, por vezes se
sintam frustrados e outras devido às ausências e evitamentos, momentos de intensa
busca nas ocasiões de sofrimento, retornos, sintam-se gratificados, emocionados e
estimulados enquanto aguardam que o paciente afine, não apenas o corpo, mas também,
seu funcionamento psíquico e isso colabore para seu viver.
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CAPÍTULO 2
Contribuições do psicólogo
O psicodiagnóstico
O psicodiagnóstico, no Brasil, é uma das únicas funções que a lei garante como função
exclusiva do psicólogo.
Ocampo (1981) cita que durante muito tempo o psicólogo desenvolveu seu trabalho
baseado em um modelo similar ao dos médicos. A vida emocional, nesse modelo de
psicodiagnóstico, é tratada como um objeto doente que precisa ser examinado. Neste caso,
a conduta do psicólogo é a de se despersonalizar, como ocorre com os médicos, em
função dos problemas do atendimento público ou mesmo, da formação ou como defesa
de forma a se manter afastado do possível envolvimento com a “dor” do paciente.
Por vezes, esse afastamento é benéfico para poder atuar e ajudar (ex.: em grandes
cirurgias), no entanto, não pode ser aplicada a outras situações no serviço à saúde e não
tem relacionamento com a identidade profissional do psicólogo clínico: clínica tem a
ver com leito, o que significa que o clínico é aquele que se aproxima da pessoa que sofre.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
elaborado detalhadamente, teste por teste, por vezes incluindo o protocolo de testes e,
muitas das vezes, quem o recebia não tinha formação para entendê-lo. Atualmente, com
os conhecimentos adquiridos, nota-se esses informes como uma enumeração de dados,
traços, fórmulas em que falta uma “gestalt” (para se compreender as partes, é preciso,
antes, compreender o todo), que apreenda o essencial da personalidade do paciente e
sua família, no caso de crianças.
Faz-se necessário acrescentar a importância dos fatores orgânicos que, muitas vezes,
justificam as dificuldades vivenciadas pelos pacientes. É obrigatório que se considere
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
A principal tarefa do psicólogo consiste em integrar todos esses dados que só parecem
divididos por uma questão da forma como se trabalha. Deve-se explicar a dinâmica,
buscando relações e a compreensão dos aspectos adaptativos e patológicos da pessoa
vista como um indivíduo, inserida num grupo. Baseado nessas conclusões pode-se
propor indicações que pareçam ser mais adequadas com a psicoterapia e a necessidade
de algum tratamento paralelo.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
É da experiência de muitos psicólogos que dizem que muitos dos pacientes obesos
não se enxergam como excessivamente gordos e só “caem na real” por meio de fotos e
olhares alheios. Outros, apesar de terem essa percepção, não conseguem abrir mão de
sua forma e a proteção que esse escudo de gordura fornece enquanto defesa.
A interdependência mente-corpo
Texto de autoria do Dr. Leandro Motta extraído no site do Instituto de Hipnose e Psicanálise
<http://hipnose-psicanalise.com.br/>.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
Fatores psicológicos
Refúgio e solidão
Fatores familiares
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Realidade virtual
Tratamento multidisciplinar
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CAPÍTULO 3
A avaliação psicológica: instrumentos
utilizados pelo psicólogo
Entrevistas
A respeito dessa técnica, há diferentes enfoques teóricos e finalidades.
No psicodiagnóstico é utilizada como técnica de investigação. Faz-se necessário citar
aqui a importância dos conceitos, mencionados anteriormente, de transferência e
contratransferência, articulando a entrevista psicológica e, que devem ser entendidos,
até mesmo como indicadores. Em se tratando de adolescentes, essa técnica requer
considerações especiais.
Em relação a testes psicológicos, não se sugere uma bateria padrão, de forma que a
escolha dos instrumentos obedeça a alguns aspectos como quem formula o pedido, a
idade cronológica, o nível sociocultural e o grupo étnico do paciente, casos com déficit
sensorial ou comunicacional; o momento vital, o contexto espaço-temporal em que se
realiza (TARDIVO, 2006).
Encontra-se aí, a resistência de muitos em fazê-lo, a tentativa de escapar, uma vez que
se já se manifestaram a favor da cirurgia, significa que não precisam do psicólogo, como
se a inserção deste no processo, tivesse o cunho de convencer o paciente a submeter-se
ao processo cirúrgico. Neste ponto, o médico pode auxiliar explicando ao paciente, a
função do psicólogo e qual a necessidade da intervenção deste.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
É comum que no primeiro contato com um psicólogo, o paciente chegue com uma
bagagem de expectativas e ideias fantasiosas oriundas de distorção e desinformação.
Nosso papel é envolver esse paciente com informações sobre o que é e como será
feita a avaliação e o preparo psicológico. Vamos conhecê-lo, trabalhar com ele e suas
dificuldades e orientá-lo para que siga para o procedimento com segurança, mais cônscio
e melhor preparado para lidar com todas as alterações decorrentes deste, tanto físicas
quanto emocionais que acompanharão o emagrecimento. É opinião de alguns autores
que, mais do que as técnicas ou métodos científicos, a empatia, autenticidade, calor
humano e cordialidade, respeito e consideração positiva, são de maior importância
nesta hora. Obviamente que, uma vez que existam esses atributos não implicam em um
bom desempenho profissional. No entanto, se aplicados de forma correta, facilitarão
muito a relação psicólogo-paciente.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
Uma vez ser o tempo disponível um limitador para o atendimento deste paciente
candidato, é necessário colher dados e informações sobre ele, visando o psicodiagnóstico
e o seu preparo e orientação, deve-se utilizar a entrevista semidirigida, na qual o
paciente tem espaço para colocar-se, falar sobre o que escolher, embora havendo a
intervenção do profissional em busca de maiores esclarecimentos, elucidar pontos
“cinzentos” ou confusos. Parte desse tempo deve ser dedicada à entrevista e outra na
complementação dos dados necessários à anamnese, preocupando-se em que esta não
vire um interrogatório.
Dados de identificação: nome, idade, estado civil, número de filhos, profissão, religião.
»» História da obesidade:
»» Hábitos alimentares:
»» Doenças associadas:
»» Desenvolvimento (relacionamentos):
›› sexualidade;
›› filhos;
›› trabalho/ocupação;
›› social.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
Torna-se importante se considerar que esse trabalho só fará sentido se o objetivo final
do psicólogo for o de organizar os elementos de que dispõe no estudo psicológico para
obter um maior entendimento do paciente, de forma a ajudá-lo.
O indivíduo que não consegue se reconhecer como é ou está agora, consequência de anos
de uma doença crônica e sem cura, muito provavelmente não conseguirá incorporar,
de forma adequada, sua imagem magra e bonita. Esta passagem de um corpo obeso
e sem forma para uma aparência agradável e normal deve, antes de tudo, passar pelo
emocional e pelo consciente. A mente procura pelo equilíbrio, um psiquismo obeso
não pode habitar em um corpo magro. Essa combinação é o passaporte para o risco de
caídas e insucesso.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Ainda que não conscientemente, o indivíduo estimula o corpo a alinhar-se com a mente
engordando. É necessário que, na avaliação psicológica, o profissional trabalhe de
forma a capacitar o paciente a se olhar, interna e externamente, e enxergar o que os
demais enxergam, sem distorções.
Segundo Gleiser (2006), partindo dessa premissa, esse fato deveria ser a base de
todo o trabalho pré e pós-operatório de pacientes obesos mórbidos, uma vez que são
indivíduos que sofrerão modificações reais em seus corpos e, o sucesso da cirurgia estará
intimamente ligado à capacidade de que estes percebam a sua imagem verdadeira como
também, aquela de buscar outros pontos de prazer libidinais.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
De posse da visão teórica, as técnicas projetivas dão ao psicólogo clínico uma amplitude
de visão dos motivos que conduziram o indivíduo a determinada situação e ao
atendimento. É um trabalho carregado de importância e que implica nas indicações da
terapêutica a ser conduzida e na indispensável orientação a ser passada ao paciente.
Neste ponto, torno a convidar você, desta vez para acompanharmos um relato de caso
clínico abordado por Tardivo (2006).
Ana(?) é uma jovem de 18 anos que vem para avaliação por estar sendo
indicada à cirurgia bariátrica (IMC 41).
Ela traz, como muito importante em sua vida, a morte do pai que
ocorreu em sua infância. Lembra-se dele e anda sente muita falta. Ela
ainda não era obesa na época. Fala também, que se dá bem com a mãe,
dando muita importância a ela em sua vida. Tem mais problemas com
um ex-marido da mãe.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Instrumentos projetivos
›› Bruno, 19 anos, ele não está fazendo nada; só está sorrindo, parece
feliz. Deve estudar e talvez trabalhar. Sabe o que quer, se vai dar certo,
eu não sei. Se tiver determinação, vai dar certo.
›› Associação: “Manuela, 19 anos, ela ainda não sabe o que quer, mas é
muito segura de si. Talvez se olhando no espelho, achando que é bonita.
Ela é bonita. Acho que pode acontecer com ela o que quiser, tem garra,
tem força, só não sabe o que quer ainda.”
Procedimento de desenhos-estórias:
primeira unidade de produção
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
Procedimento de desenhos-estórias:
segunda unidade de produção
No desenho, identifica-se uma casa com porta e janela e beiral. Fora estão duas figuras,
masculina e feminina.
História: “Eu detesto verde, mas tudo tem que ser verde. Acho mais natural. Não é a
relação distante que passa na cidade. Eu quero um dia voltar a ser feliz, como quando
meu pai era vivo. Ter meu marido, ter filhos, num lugar mais tranquilo. Eu, marido
e filhos. Depois de oito anos da morte do meu pai, eu entrei novamente na casa que
morava. Lá era tudo meu pai... à noite eu ia e dormia no meio.”
Título: “Felicidade”.
Procedimento de desenhos-estórias:
terceira unidade de produção
No desenho, um avião em voo.
Procedimento de desenhos-estórias:
quarta unidade de produção
No desenho, um rosto com detalhe para os olhos, nariz e um largo sorriso mostrando
todos os dentes.
História: “Quero ser feliz, ser Ana. Eu tô gostando de mim, tô feliz, tô me aceitando.
Não vai importar o que os outros vão fazer, pois não quero mais elogio, ou consolo.”
Título: “Eu”.
História: “Acho que é o que vai acontecer. Esse eu quero que minha mãe seja feliz,
alguém goste dela. Que nós sejamos felizes por nós mesmos e não se lamentando porque
estamos em casa.” Título: “Realidade”.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Comentários da autora:
Ana fala o tempo todo de si. Usa a primeira pessoa, aproveitando o D-E para expressar seus
desejos, seus sonhos, suas angústias e suas dificuldades. Não se pode dizer que houve uma
identificação projetiva, no sentido patológico, seguindo uma interpretação tradicional das
técnicas projetivas, na verdade, houve um encontro verdadeiro entre psicóloga e ela.
Ana traz seu desejo de ser médica, de poder ajudar as pessoas, da mesma forma como
pede ajuda nesse momento de sua vida. Embora diga que não foi ajudada, está lá
diante de uma psicóloga que a escuta e tende, pedindo e sendo ajudada. Pode-se pensar
em tendências reparadoras e de integração que ela pode usar em relação a si mesma
(amparada por um processo psicoterápico) e em relação aos outros.
O D-E como instrumento favorece esse aprofundar-se na vida mental de forma que
as tendências vão emergindo, quando há um espaço de escuta e continência (como foi
o caso). No entanto, há ainda um desejo de mudar, não se constituindo um quadro
depressivo muito intenso e que a paralise. Ao contrário, Ana parece muito motivada a
sair da situação depressiva mobilizando impulsos reparadores. Estes se mostram nas
últimas unidades.
Na quarta unidade desenha a si mesma (não faz o corpo, mas um grande rosto que
ocupa toda a folha), refletindo a busca de sua identidade, de fato (esse momento parece
decisivo em sua vida). Nesse caso, a autoimagem é mais compatível com ela. Na última,
sai do sonho da segunda unidade, trazendo uma realidade que é possível. Ser feliz em
sua própria casa, ou seja, em seu próprio corpo e sua própria mente. Evidencia aí a forte
relação de afeto que tem com a mãe e a busca de realização para ambas.
Questionário desiderativo
Positivas
1. “Cachorro, porque eu gosto, por causa da relação com as pessoas. Ele tem
uma relação mais próxima, mais carinhosa, tem o sentido de guardar.”
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
3. “Lua, porque é o maior consolo que a gente tem. Ela é sempre bonita,
sempre brilhando.”
Negativas
Comentários:
Seu QD tem outros indicadores de depressão (respostas lua e chuva), com ênfase
nas relações com os outros, na busca de afeto e valorização. Evidencia-se a falta de
valorização que sente; porém, pela primeira escolha positiva, o mais importante está na
relação afetiva e nos impulsos reparadores.
Conclusão da autora:
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Na ótica da psicologia, não há trabalhos que tenham relação com obesidade, em número
significativo e, os resultados apresentados nem sempre encontram partidários, embora
se concorde com a existência de fatores diversos que possam estar ligados a ela.
Não há consenso, mas estudos relatam a existência de sucesso com relação ao quadro
emocional, evidenciada nos meses iniciais após a cirurgia que se estendem por até
dois anos.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Acontece se dado ao paciente a acomodação suficiente para que relate seus sentimentos
com relação ao comer, embora estes resistam bastante, podem surgir declarações de
que o ato de comer ultrapassa em muito a esfera do prazer: “é escravo do comer... sente-se
coagido a comer, apesar de já satisfeito”.
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UNIDADE II │ O PAPEL DO PSICÓLOGO
De maneira geral, esses pacientes não fazem uma mastigação correta, deixam de
fazer uma das refeições principais, normalmente, no momento da alimentação estão
entretidos com estímulos vindo de uma televisão, um jornal ou outros. Isto demanda
a solicitação de um diário alimentar, utilizando no trabalho com eles, técnicas da
psicologia comportamental. Isto deve ser feito em período anterior à cirurgia, uma
vez que a mudança de hábitos não ocorre durante as tentativas iniciais. Os caminhos
de construção e de solidificação para a obesidade fornecem conteúdo produtivo para
serem abordados para a conclusão do relatório psicológico.
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O PAPEL DO PSICÓLOGO │ UNIDADE II
Tratar o obeso mórbido, o obeso não mórbido (obesidade grau I e grau II)
ou qualquer grau de obesidade é dar conta de um continente que não se
contém, tanto isso é verdadeiro, que se deixarmos, progride à sua morbidade
até o fim mais catastrófico. E, como alguém pode “se explodir” numa doença
de complicações tão variadas que caberiam muitas e longas observações por
vocês psicólogos?
José O. Cervantes-Loli
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Para não finalizar
Caro aluno,
Este material foi elaborado para que você, interessado no assunto, compreendesse
os principais conceitos relacionados às diversas técnicas de cirurgia bariátrica e as
contribuições do psicólogo no processo de preparação do paciente para a operação e o
acompanhamento durante e posterior à cirurgia.
Que este material possa fornecer subsídios importantes para sua formação e
aperfeiçoamento. O conteúdo não foi esgotado, o objetivo foi aguçar sua curiosidade
instigando-o a prosseguir no domínio de uma área tão rica e de tão pouca bibliografia.
Bons Estudos!
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Referências
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REFERÊNCIAS
TAYLOR, G.J.; RYAN, D.; BAQBY, R.M. Toward the development of a new
self-report alexithymia scale. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/3837277>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Site
<http://livrozilla.com/doc/1301199/toronto-alexithymia-scale-tas--precis%C3%A3o-
e-validade-da>
78