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Gestão de

fornecedores
na cadeia
da moda
1

Gestão de fornecedores no varejo de moda


São Paulo, Dezembro de 2015
Esta publicação “Gestão de Fornecedores no Varejo de Moda” foi financiada pelo Programa Valor em Cadeia - Desenvolvimento de um modelo de negócio
sustentável para o aprimoramento de micro, pequenas e médias empresas no Brasil (ANT/ME 14644/BR).
É permitida a reprodução parcial ou integral desta publicação, desde que citada a fonte e com autorização prévia do Uniethos e do Fundo Multilateral de
Investimentos (FUMIN).

execução
Uniethos
R. Dr. Fernandes Coelho, 85, 10º andar – Pinheiros – 05423-040 – São Paulo, SP
Tel.: (11) 3897 2439
Site: www.uniethos.org.br

financiamento
BID FUMIN

autores
Regi Magalhães - Uniethos
Raquel Carlesso - Uniethos
Fernanda Negrão - Consultora

fotografia
Bancos de imagens: Shutterstock

projeto gráfico
Casa36
2

Sumário

1. O problema 4
1.1 Os limites da certificação 7
1.2 Relação entre produtividade e problemas sociais 8

2. A estrutura da cadeia da moda 11


2.1. As confecções 13
2.2. As oficinas de costura 14
2.3. A gestão de fornecedores 15

3. A cadeia de fornecedores no modelo fast fashion 17

4. Inovações na gestão de fornecedores 23


4.1. Fabricado no Brasil 25
4.2. Produtividade nas oficinas 26
4.3. Fábrica modelo 27
4.4. Balanced scorecard de fornecedores 29
4.5. Gestão empresarial 31
4.6. Qualificação em gestão 31
4.7. Sustentabilidade na cadeia do jeans 32
4.8. Programa Crescendo Juntos 32
4.9. Novos relacionamentos entre confecções e oficinas 33

5. investidores na moda 34
3

6. Conclusões 42

7. Metodologia 45

8. Bibliografia 48
4

1. O problema
O mercado da moda encontra-
se num círculo vicioso. A maioria
das confecções e oficinas de cos-
tura opera com baixa produtivi-
dade e, ao mesmo tempo, apre-
senta dificuldades para cumprir a
legislação trabalhista e fiscal. Com
o objetivo de controlar os proble-
mas sociais, necessitam adotar
um sistema de certificação so-
cioambiental para serem aceitas
como fornecedoras das grandes
empresas, elevando ainda mais
seus custos. O resultado é um pro-
blema sistêmico que combina
baixo desempenho econômico e
precárias condições de trabalho.
5

O setor enfrenta um grave problema que põe em As condições precárias de trabalho, comuns na
risco o futuro dos negócios. Grande parte do mercado indústria da moda em quase todo o mundo, são
compete com a informalidade, o que ameaça a qua- consequência da baixa produtividade das pequenas
lidade da produção, do emprego e do desempenho e médias empresas. Entretanto, as políticas de con-
1
econômico das empresas . A confecção é a segunda trole ou compensação, como as auditorias e os
indústria no país em número de casos de trabalho programas de responsabilidade social, aumentam
2
escravo , mas nem as empresas, governos ou a so- os custos sem alterar as condições básicas de gestão
ciedade civil têm estratégias abrangentes para a que levam as empresas a um círculo vicioso de baixo
efetiva solução do problema. desempenho financeiro e social.

Baixa produtividade das pequenas


e médias empresas

Precarização das
Aumento condições de
dos custos trabalho

1. Segundo o relatório do BNDES, o alto grau de informalidade do


setor reduz a competitividade das empresas formais e deprecia as
condições de trabalho.
Maior controle Aumento da
da cadeia pressão social e 2. MTE, Cadastro de Empresas e Pessoas Autuadas por Explora-
(auditoriais) fiscalização ção do Trabalho Escravo, 2014.
6

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, consequências do problema. Em 2011, a associação do Indicadores de


21 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado setor de vestuário criou um sistema de certificação das desempenho
em todo o mundo, sendo que 1,8 milhão de pessoas confecções e oficinas (ver quadro O problema da cre- permitem adaptar
3
nessa condição estão na América Latina . No Brasil, dibilidade dos sistemas de certificação). O selo Abvtex os fornecedores ao
entre 1995 e 2013, o Ministério do Trabalho e o Mi- e os mecanismos de controle desenvolvidos por algumas modelo de negócio
nistério Público do Trabalho resgataram 46 mil pessoas empresas reduziram consideravelmente as ocorrências do varejo.
em condição de trabalho análoga a da escravidão. No de trabalho escravo e de descumprimento das leis
setor de confecções, foram resgatadas 2.324 pessoas trabalhistas na cadeia de fornecimento das grandes
nessa situação, o equivalente a 5% de todos os casos empresas de varejo. Entretanto, o alcance dos sistemas
no país. Até o final de 2014, o número de empresas de certificação é geralmente limitado e pode ter impactos
do setor têxtil e de confecções citadas no cadastro de sociais negativos que não seriam esperados
empresas e pessoas autuadas por exploração do tra- A maioria das empresas de varejo reduziu sensi-
balho escravo representava 2% do total das empresas velmente o número de fornecedores após a criação
no Brasil. Parte desses casos é resultado de atividades do sistema de certificação social. Os fornecedores com
criminosas, muitas vezes associadas ao tráfico nacional dificuldades para se adequar às novas regras foram
ou internacional de pessoas. excluídos das cadeias de produção. Eles podem ter se
Existem casos frequentes de descumprimento da integrado a outras redes de fornecedores sem padrões
legislação trabalhista em confecções e oficinas de mínimos de responsabilidade social, ou encerrado
costura. São funcionários sem registro em carteira, suas atividades, extinguindo grande número de em-
atrasos no pagamento de salários ou dos encargos pregos. Qualquer que tenha sido o destino dessas
trabalhistas, e excesso de horas extras, entre outras empresas, o impacto final pode ter sido negativo na
irregularidades. Em geral, essas situações são conse- qualidade das condições de trabalho no setor. Além
quência da combinação de gestão deficiente, problemas disso, o sistema de certificação e as auditorias obri-
nas relações comerciais entre as empresas da cadeia gatórias ampliaram os custos das confecções e oficinas
e a vulnerabilidade dos trabalhadores. de costura, que já se encontravam no limite financeiro
As empresas agem com rigor, mas apenas sobre as (ou, em alguns casos, acima dele). 3. ILO, ILO Data Initiative on Modern Slavery, 2015.
7

Baixa produtividade
1.1 Os limites da certificação latório da IDH, as auditorias não têm sido bem-sucedidas
é a principal causa
na prevenção de abusos, nem estão promovendo me-
das condições
As auditorias sociais para a verificação da confor- lhorias nas condições de trabalho. Suas limitações se
precárias de trabalho
midade dos fornecedores em relação aos códigos de devem à dificuldade de identificar violações subjetivas,
conduta das empresas compradoras é o principal como a discriminação ou barreiras à liberdade de asso-
instrumento utilizado por empresas globais para reduzir ciação, inconsistências geradas pela variabilidade na
os problemas sociais em suas cadeias. qualidade dos procedimentos de verificação, ou ainda a
4
Organizações sociais como a Oxfam , instituições facilidade com que fraudes podem ser realizadas mesmo
internacionais como o Banco Mundial, além de diversos por empresas auditadas. Além disso, existe o problema
estudos realizados por pesquisadores de renomadas da efetividade em relação aos altos custos dos procedi-
universidades americanas como o MIT, há mais de dez mentos de auditoria social, que se amplificam pela
anos reconhecem os limites dos sistemas de auditoria duplicação de esforços e falta de coordenação das em-
social. Assim, várias organizações e empresas passaram presas que contratam auditorias diferentes para avaliar
a desenvolver projetos conhecidos internacionalmente os mesmos problemas de um mesmo fornecedor.
6
como beyond audit, que buscam um conjunto integrado Um relatório do BSR , em parceria com o Banco
de soluções sociais, econômicas e políticas para me- Mundial, mostra que as auditorias sociais são frequen-
lhorar as condições de trabalho no setor. temente caracterizadas pela inconsistência, duplicação
5
O relatório da IDH (Dutch Sustainable Trade Initiative) e ineficiência. Três professores do MIT, em artigo de
7
mostra que as auditorias sociais são importantes, espe- 2006, analisaram as auditorias sociais da Nike , en-
4. OXFAM, “Steps Towards a Living Wage in Global Supply
cialmente por estabelecerem uma linha de base sobre fatizando o problema conhecido como monitoring
Chains”, Oxfam Issue Briefing, dez. 2014.
as condições de trabalho e um ponto de partida para a fatigue. Isso ocorre quando os fornecedores, para
5. IDH, Beyond Aauditing: Tapping the Full Potential of Labour
discussão entre empresas compradoras e seus fornece- seguir os códigos de conduta exigidos por seus clientes,
Standards Promotion, 2009.
dores, gerando indicadores de desempenho social con- cada um com critérios sociais e mecanismos de ve-
6. BSR, Beyond Monitoring: A New Vision for Sustainable Supply
fiáveis e mensuráveis, o que possibilita o monitoramento rificação específicos, acabam elevando os custos de
Chains, 2007.
ao longo do tempo. Por outro lado, apresentam uma série transação, que incluem os processos de gestão criados
7. R. Locke, F. Qin e A. Brause. “Does Monitoring Improve Labor
de limitações que são percebidas tanto pelas organizações unicamente para atender os padrões e auditorias de
Standards: Lessons from Nike”, Sloan School of Management, MIT,
sociais quanto pelas grandes empresas. Segundo o re- cada cliente da empresa. Working Paper, n. 24, jul. 2006.
8

8
As iniciativas multistakeholders foram criadas Nos últimos dez anos, o grande volume de avaliações, Baixa produtividade
para reduzir o problema da ineficiência e da falta de críticas e intensos debates entre empresas e organizações é a principal causa
padrão nos sistemas de monitoramento. No setor têxtil sociais levam ao consenso de que a solução para as das condições
e de confecções, as mais importantes em nível inter- condições de trabalho precárias nas cadeias globais de precárias de trabalho
nacional são o Wrap (Worldwide Responsible Accre- fornecimento passa por uma série de ações integradas.
dited Production) e a Sustainable Apparel Coalition. Os mecanismos de auditoria são necessários, mas não
Uma condição fundamental para esses mecanismos suficientes. A combinação de soluções como o maior
é a credibilidade, por isso a ISEAL Alliance, associação rigor na legislação, maior capacidade de fiscalização
global formada pelas iniciativas multistakeholders de do Estado, fortalecimento da ação sindical e o monito-
sustentabilidade, que tem o objetivo de melhorar os ramento por parte das grandes empresas é fundamental.
impactos, a confiabilidade e a eficiência dos padrões, Porém, mais do que isso, os relatórios e artigos citados
9
desenvolveu os Princípios de Credibilidade da ISEAL , acima mostram que atuar sobre as causas fundamentais
estabelecendo as condições mínimas para que os dos problemas sociais é o principal caminho para uma
mecanismos de monitoramento garantam impactos mudança efetiva nas condições de trabalho.
positivos. Segundo esses princípios, os processos de
monitoramento e auditoria devem continuamente
buscar inovações para ampliar seus impactos; devem 1.2 Relação entre produtividade 8. Iniciativas multistakeholders são geralmente formadas por
empresas de um setor, instituições financeiras, organizações não
envolver um grupo representativo e equilibrado de e problemas sociais governamentais, associações setoriais e instituições acadêmicas.
partes interessadas, inclusive na governança, garantindo Foram criadas, principalmente, para a padronização de critérios
sociais e ambientais nos mercados globais de commodities. As
a imparcialidade; devem ter mecanismos de recebi- A maioria das confecções e oficinas de costura foi mais conhecidas são Forest Stewardship Council (madeiras e outros
mento de reclamações, devem ser transparentes e aberta entre o final da década de 1990 e o início dos produtos florestais) Roundtable on Sustainable Palm Oil (óleo de
10 palma), Better Cotton Initiative (algodão), Bonsucro (cana-de-
devem promover atividades contínuas de capacitação anos 2000 , após a reestruturação das grandes in- -açúcar), entre outros.

dos envolvidos. Apesar das melhoras substanciais que dústrias provocada pela abertura comercial. A con-
9. ISEAL Alliance, Principles for Credible and Effective Sustainabil-
proporcionaram aos processos de verificação dos pa- corrência com os produtos vindos da China, até então ity Standards Systems: ISEAL Credibility Principles, 2013.

drões sociais e ambientais nas cadeias globais, críticas bloqueados por uma política comercial protecionista,
10. Segundo os dados do Cadastro Central de Empresas, do IBGE,
aos mecanismos multistakeholders quanto ao impacto, serviu de estímulo para que vários operários das
o número de empresas do grupo de atividades de confecção de
eficiência e credibilidade ainda são recorrentes. grandes fábricas de roupas abrissem suas pequenas artigos do vestuário cresceu 53% entre 1996 e 2006.
9

empresas. Entretanto, a proteção do mercado interno, em mão de obra melhorem as condições de trabalho
de maneira geral, havia formado uma indústria pouco é aumentar a produtividade. Sem receitas suficientes
inovadora e de baixa produtividade. para cobrir os custos com a mão de obra, muitas
O círculo vicioso, descrito anteriormente, teve início empresas acabam caindo na informalidade. Por outro
a partir desse período. A indústria da moda no Brasil lado, as empresas que adotam processos de planeja-
depende de uma massa de pequenas empresas de mento bem executados, com organização mais eficiente
qualidade e produtividade limitadas, com gestão frágil e pequenas mudanças tecnológicas, podem ampliar
e sem estratégias comerciais eficientes. São empresas significativamente sua produção por trabalhador,
que não conseguem alcançar resultados econômicos alcançando resultados financeiros que permitem
suficientes para cobrir os gastos com obrigações melhorar as condições de trabalho.
trabalhistas e tributárias. Alguns projetos de desenvolvimento de fornece-
As pesquisas realizadas para esse relatório e os dores foram implantados por empresas globais para
diagnósticos sobre as cadeias de fornecedores do melhorar as condições de trabalho por meio do aumento
varejo realizados pelo Uniethos mostram que o prin- de produtividade. Um exemplo é o projeto Benefit for
11
cipal componente do custo das oficinas de costura Business and Workers , desenvolvido pela Impactt
corresponde à mão de obra. Muitas dessas empresas – com fornecedores das empresas Arcadia Group,
operam, durante longos períodos, com receitas que Marks & Spencer, Mothercare, New Look, Sainsbury’s,
não cobrem seus custos fixos. Considerando que a Tesco, Ralph Lauren e Varner Group – em Bangladesh
estrutura das cadeias não possibilita que elas ampliem e na Índia. O aumento de eficiência na produção foi
suas receitas por meio do aumento de preços, a única acompanhado pela redução tanto do absenteísmo
alternativa para chegar a um equilíbrio financeiro é o quanto da rotatividade, e pelo aumento de salários.
11. Impactt, Nicer Work? Impactt’s Benefits for Business and Work-
aumento da produtividade. Por isso não é possível Outro projeto semelhante, conduzido pela C&A Fou-
ers Programme 2011-2013. Better Jobs for Workers in Indian and
12
melhorar as condições sociais em uma empresa sem ndation em Bangladesh, China e Camboja, propor- Bangladeshi Garment Factories, 2013.

considerar seu desempenho econômico. cionou aumentos de produtividade, redução de horas


12. C&A Foundation, Frankly Speaking: C&A Foundation’s Sustain-
O único caminho para que empresas intensivas extras e da rotatividade, e o aumento de salários. able Supplier Programme, 2014.
10

Produtividade Condições de trabalho

Entregas no prazo + 8% Rotatividade - 24%

Taxa de defeitos - 44% Horas extras - 20%

Eficiência + 20% Salários + 15%

Fonte: C&A Foundation, 2014

Esses projetos mostram que o aumento de produ- nas condições de trabalho são processos mais longos.
tividade é uma condição necessária para a melhoria O relatório de avaliação do projeto da C&A Foun-
das condições de trabalho. Porém, apesar de na maioria dation mostra que o compromisso e o envolvimento
das empresas a correlação entre produtividade e de- efetivo dos proprietários e da alta gestão das empresas
senvolvimento das condições de trabalho ter sido são fundamentais para que os ganhos da produtividade
positiva e significante, a mudança nas condições de sejam compartilhados com os empregados. Trata-se
trabalho não é automática. de adotar uma visão de longo prazo, reconhecendo
Uma das principais dificuldades é o relativo descom- que a melhoria nas condições de trabalho contribui
passo entre o tempo de execução dos projetos e o tempo para o desempenho econômico da empresa.
necessário para que ocorram as mudanças na gestão Fatores externos, como o ambiente regulatório, o
das empresas. Modificações em processos produtivos enforcement das instituições públicas, o poder das O aumento de
que resultem em ganhos de produtividade, principalmente organizações sindicais e de associações da sociedade produtividade é uma
nas empresas intensivas em mão de obra, podem ser civil influenciam diretamente a visão das empresas, condição necessária
realizadas rapidamente e com ganhos imediatos. Por agindo como incentivos para que elas implementem para a melhoria das
outro lado, segundo os relatórios analisados, as mudanças as mudanças de gestão necessárias. condições de trabalho
11

2. A estrutura da
cadeia da moda

A produção de artigos de moda


geralmente está estruturada numa
cadeia global. No Brasil, porém,
devido à estrutura tributária e po-
lítica alfandegária, predominam
as empresas locais de varejo. O
modelo fast fashion também con-
tribui para a existência de uma
rede de fornecedores locais que,
mesmo com preços e qualidade
menos competitivos que os das
indústrias asiáticas, conseguem
produzir e entregar no prazo exi-
gido pelo varejo.
12

O Brasil é um dos poucos países que possui uma Cadeia da moda 74.643
1.124 empresas
cadeia completa de moda – desde a produção de fibras empresas
Confecção
e a indústria têxtil até as confecções e o varejo –, com
Tecelagem, de artigos do
um grande mercado consumidor. O Brasil é o quinto exceto malha vestuário e
maior produtor global de algodão e é o maior no he- acessórios
3.547
misfério sul. Também é o quinto maior produtor global 905
empresas
empresas
de têxteis e o quarto maior produtor de vestuário. A Oficinas
Acabamentos de costura
Preparação
produção brasileira é fortemente orientada para o em fios, tecidos
e fiação de
e artefatos
mercado interno, o quinto maior mercado de varejo fibras têxteis
têxteis 2.925
de moda do mundo. 883 empresas
Entretanto, a estrutura do mercado é uma das maiores empresas
Fabricação
dificuldades para a coordenação das cadeias de moda. Fabricação de artigos de
de tecidos malharia e
Na produção de fios e tecidos predominam grandes de malha tricotagem
empresas, mas no segmento das confecções a produção
se espalha numa imensa rede de pequenas empresas Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas, 2013.

(quase 80 mil empresas, considerando apenas as for-


mais). A estrutura se afunila novamente no varejo,
devido ao forte processo de crescimento orgânico e
Grandes
grande número de aquisições que provocou nos últimos Médias empresas
anos a concentração em grandes empresas. empresas 1% A estrutura da cadeia
9%
é pulverizada, baseada
em grande número de
Pequenas
pequenas empresas.
empresas
30% No segmento das
Microempresas confecções, 60% das
60% empresas têm menos de
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas, 2013. cinco pessoas ocupadas.
13

As confecções Quando a demanda está acima da capacidade insta- As confecções têm


lada, é comum que as pequenas empresas recorram limitada capacidade de
As confecções são indústrias de vestuário, nas quais à quarteirização, ao trabalho familiar ou informal. Nos resposta ao mercado
são realizados pesquisas e desenvolvimento de produtos, períodos de baixa produção, o atraso nos pagamentos
pilotagem e mostruário, modelagem, corte, costura e dos salários e impostos é frequente em empresas com
embalagem. Algumas confecções realizam também maior dificuldade financeira. Um dos principais motivos
serviços complementares, como estamparia, aplicação é a limitada capacidade de resposta ao mercado. As
de termocolantes, bordados, entre outros tipos de aca- preferências dos consumidores mudam em ritmo
bamento. A maioria das confecções terceirizam as ope- acelerado e são cada vez mais diversificadas. As con-
rações que utilizam mão de obra intensiva, principalmente fecções não têm acesso direto a essas informações
no serviço de costura, que é realizado por pequenas sobre o mercado e não conseguem se antecipar às
empresas chamadas de oficinas ou facções. mudanças, por isso demoram para adaptar os processos
Um problema crônico apresentado pelas confec- de desenvolvimento de produto.
ções é a baixa competitividade. Segundo estudo do Essas empresas apresentam também uma série
13
BNDES , essa situação é consequência de baixos de problemas de gestão, como dificuldades para fazer
investimentos em modernização tecnológica, infor- o planejamento financeiro e o controle de custos.
malidade, baixa eficiência produtiva e limitada capa- Ocorre o mesmo na gestão de pessoas, principalmente
cidade de investimento. para encontrar mão de obra qualificada e reduzir os
A maioria das confecções é especializada em apenas gastos causados pela alta rotatividade dos empregados.
um tipo de produto (como malharia para o público Os processos de produção, por não utilizarem técnicas
feminino, por exemplo) e possui reduzido número de básicas de planejamento, são igualmente falhos, o que
clientes, o que deixa as empresas vulneráveis às os- prejudica a eficiência e cria dificuldades para se cum-
cilações do varejo. prirem os prazos de entrega.
Além disso, as empresas não possuem estratégia Os custos da logística são altos nas confecções, e
comercial nem um sistema de gestão que se adapte é difícil gerir as cadeias de fornecedores, porque al-
13. Ana Cristina R. da Costa e Érico Rial P. da Rocha, “Panorama da
a essas oscilações. A situação se agrava tanto nos gumas contam com um grande número de oficinas
Cadeia Produtiva Têxtil e de Confecções e a Questão da Inovação”,
momentos de alta quanto nos de baixa produção. de costura, muitas vezes dispersas geograficamente. BNDES Setorial, n. 29, pp. 159-202, mar. 2009.
14

Além disso, as confecções não utilizam indicadores 2.2 As oficinas de costura


para avaliar a produtividade nem a qualidade do serviço
das oficinas, o que dificulta a distribuição das tarefas. As oficinas de costura são fruto do processo de
Assim, com frequência há serviços que precisam ser terceirização das confecções. São na maioria pequenas
refeitos ou atrasos nas entregas. empresas, com até trinta empregados, muitas vezes
Nos últimos anos, está ocorrendo uma expressiva criadas por costureiras que trabalhavam na indústria
reestruturação nas cadeias de fornecedores das grandes ou em pequenas empresas informais. Também podem Oficinas de costura
varejistas de moda. As estratégias de gestão de risco, a ter iniciado como negócios individuais, geralmente possuem baixo
implantação do sistema Abvtex de certificação, assim instalados na própria residência. nível tecnológico
como a busca pela redução de custos na gestão de for- Até 2010, a maioria dessas pequenas e microem- e operam com
necedores, fazem com que um número cada vez menor presas operava informalmente. As oficinas que fazem precário planejamento
de confecções esteja apto a integrar essas cadeias. parte da cadeia das grandes varejistas tiveram que de produção
15

Reduzir os preços ao
formalizar seus negócios, regularizar a contratação nas cadeias de moda. As empresas programam as cole-
máximo na negociação
dos empregados e adotar todos os procedimentos ções para apresentar aos clientes combinações integradas
com fornecedores
exigidos pelos sistemas de certificação social. de peças – os chamados outfits –, e atrasos de apenas
provoca seleção adversa e
Muitas das oficinas de costura, que se especializaram um ou dois dias podem provocar grandes prejuízos.
elevação dos custos totais
apenas nesse tipo de serviço, são fornecedoras de Uma alternativa encontrada por algumas confec-
poucas confecções, e em alguns casos possuem apenas ções para reduzir esses riscos é a reintegração vertical
um cliente. Desse modo, grande parte dos problemas das atividades de costura. Apesar de elevar os custos
de instabilidade do mercado das confecções é absorvido fixos, há redução dos custos de transação e das in-
pelas pequenas e microempresas. Estas, por sua vez, certezas no gerenciamento das cadeias de produção,
apresentam baixo nível tecnológico e operam com por isso a reintegração tem sido uma estratégia van-
máquinas de costura manuais, muitas vezes ultrapas- tajosa para algumas empresas e um processo cada
14
sadas, com baixa produtividade e baixa qualidade, que vez mais adotado nesse mercado .
provocam frequentes interrupções para manutenção.
Um dos problemas mais críticos das facções é a
carência de conhecimentos administrativos para o pla- 2.3 A gestão de fornecedores
nejamento da produção. A técnica de tempos e métodos
é o procedimento mais adotado nas oficinas para definir A maioria das empresas de varejo seleciona seus
o número de pessoas envolvidas e o tempo necessário fornecedores em função do preço, e não dos indica-
para a execução dos serviços de costura em um dado dores de produtividade e qualidade. O resultado é que
lote. Como as peças de roupas apresentam características o valor inicialmente baixo tem efeito contrário e eleva
muito variadas, esse procedimento é fundamental. Sem os custos em toda a cadeia. Ocorre uma seleção ad-
ele, as oficinas correm o risco de atrasar a entrega ou versa, porque as confecções e oficinas que cobram 14. Estamos vendo um processo semelhante ao modelo da double
helix – ciclos de horizontalização e verticalização de cadeias -
alocar seus empregados de maneira pouco eficiente. preços mais baixos para prazos muito curtos são
descrito por Charles H. Fine no livro Clockspeed: Winning Industry
O atraso na entrega de lotes é outro grave problema muitas vezes as menos produtivas. Control in the Age of Temporary Advantage, Perseus Books, 1998.
16

Fim da estrada locam para regiões distantes dos grandes centros de


consumo, em municípios que recebem incentivos
De acordo com o relatório do Boston Consulting fiscais das prefeituras e onde há oferta de mão de obra
Group – Apparel at a Crossroads: The End of Low- disposta a trabalhar por salários baixos. A contrapartida
-Cost-Country Sourcing – o processo contínuo de é a diminuição da qualidade dos produtos, o aumento
migração das empresas intensivas em mão de obra dos custos com a logística, e os problemas com atrasos
para países mais pobres provoca perdas de eficiência: nas entregas. Além disso, as empresas dispersas em
os custos com a logística crescem, a produtividade regiões distantes, fora do alcance de sindicatos e outras
cai e aumentam os custos decorrentes da infraestrutura organizações, também têm gastos mais elevados para
precária, que causam quedas do fornecimento de realizar as auditorias.
energia e até situações trágicas, como incêndios ou Geralmente, as empresas não fazem o cálculo
desabamento de prédios. dos custos totais. Assim, os compradores são incen-
O relatório demonstra que, antes que as empresas tivados a negociar por preços menores, mas a elevação
percebam as desvantagens dessa corrida pelo trabalho direta ou indireta dos custos não é percebida, porque
de baixo custo, as fontes de mão de obra barata irão incide no orçamento de outros departamentos. Esse
se tornar escassas. Será o fim da estrada. é um problema comum em muitas empresas, dos mais
Para produzir a baixo custo, as empresas se des- variados setores.
17

3. A cadeia de
fornecedores
no modelo
fast fashion
O modelo fast fashion se tornou cada
vez mais importante para as grandes
marcas e redes varejistas de moda,
além de apresentar uma série de
vantagens para os consumidores.
Em primeiro lugar, torna a moda
mais acessível, porque oferece pro-
dutos de design moderno a preços
baixos. Em segundo lugar, incorpora
a participação dos consumidores no
processo de desenvolvimento de
produtos, gerando uma moda com
caraterísticas que são próprias dos
consumidores de cada região, refle-
tindo estilos locais.
18

O fast fashion define o fast fashion é a capacidade de identificar e


interpretar tendências de mercado. A loja tem um
Para alguns críticos, o fast fashion estimula o con- papel estratégico, porque é onde acontece a interação
sumismo e o desperdício de recursos. O documentário entre o cliente e a empresa, gerando informações para
True Cost, do diretor Andrew Morgan, disseminou em o desenvolvimento das novas coleções. O consumidor
todo o mundo a indignação contra um mercado da participa da criação de valor, e a criatividade não fica
moda baseado na exploração de pessoas e na conta- mais centralizada na figura do estilista, mas se difunde
minação do meio ambiente. Para outros, o fast fashion na cadeia. Cada minicoleção é desenvolvida para
é considerado uma revolução que permitiu a demo- responder rapidamente, em cada mercado local, às
cratização da moda, oferecendo a possibilidade de se demandas dos consumidores.
vestir bem a preços baixos. É por isso que, no Brasil, o varejo importa produtos
O livro A Revolução do Fast Fashion, de Enrico básicos e compra no país produtos de moda. O fast
Cietta, apresenta uma das melhores descrições e fashion é, portanto, uma oportunidade para fortalecer
análises desse modelo. Segundo Cietta, o que melhor o patrimônio criativo e dinamizar as indústrias locais.
19

O fast fashion
A produção também é beneficiada por esse modelo.
é, atualmente,
Pela necessidade de reduzir o tempo de resposta às
o principal fator
novas tendências, as empresas de varejo precisam
de sobrevivência
acelerar a produção, o que torna vantajoso adquirir
das confecções
produtos das indústrias locais, mais próximas do con-
brasileiras
sumidor final. O fast fashion é, atualmente, o principal
fator de sobrevivência das confecções brasileiras.
Por outro lado, o modelo exige uma nova estratégia
para a rede de fornecedores, e um processo adaptativo
nas confecções e oficinas de costura. A maioria dos
fornecedores organizou a produção de forma que era
possível fazer o planejamento com vários meses
de antecedência, produzindo grandes volumes de
peças por longos períodos. Com o fast fashion, as
empresas precisam se adaptar a um sistema que exige
agilidade e flexibilidade na produção. As confecções
e oficinas que já passaram por essas mudanças pro-
duzem quantidades menores, mas com grande va-
riedade de produtos, em prazos mais curtos e para
um número maior de clientes.
20

Características de uma cadeia de fornecedores


adaptada ao fast fashion
Confecção fast fashion
Segundo o relatório do Boston Consulting Group
– Fast, Flexible, and Lean: Rethinking the Fashion Conformidade com a lei
Supply Chain –, as cadeias de fornecedores se tornaram trabalhista e fiscal
peças estratégicas cada vez mais importantes para o
sucesso dos negócios no modelo fast fashion. Capacidade de respostas
Empresas varejistas de moda estão conquistando às mudanças no consumo

vantagem competitiva por meio da reestruturação das


cadeias de fornecedores, de forma a adaptá-las às Flexibilidade na produção
de novos modelos
suas estratégias individuais.
Segundo o BCG, as melhores cadeias de fornece-
Agilidade para produção
dores apresentam três características:
em prazos curtos
São rápidas: têm capacidade para responder com
velocidade às demandas dos consumidores e se adaptar
Produção com alto padrão
rapidamente a mudanças. de qualidade
São flexíveis: possuem processos eficientes que
ampliam a flexibilidade em toda a cadeia de valor.
Baixo custo de produção
São enxutas: contam com processos de produ- com alta produtividade
ção de baixo custo.
21

Uma das principais mudanças provocadas pelo fast dência como era feito no modelo anterior. O efeito
fashion em relação ao antigo modelo é a instabilidade disso sobre os fornecedores é o aumento da incerteza.
na cadeia de fornecedores. As cadeias de produção Mudanças no consumo provocam alterações repentinas
que antes eram empurradas pela indústria (push) no desenho dos produtos, o que exige das indústrias
mudaram para um novo formato em que a cadeia é adaptações em sua linha de produção. Se um forne-
puxada pela demanda (pull). Enquanto que no modelo cedor for incapaz de fabricar o desenho de determinado
antigo, em 1970, o ciclo completo de produção – da produto que está sendo procurado pelos consumidores
criação à venda do produto para o consumidor, levava – porque é necessário, por exemplo, um tipo de aca-
em média seis meses, com o fast fashion esse ciclo se bamento que exige uma tecnologia indisponível em
15. Pankaj Ghemawat e José Luis Nueno, “ZARA: Fast Fashion”,
15
reduziu, no ano de 2000, para seis semanas . sua fábrica –, esse fornecedor será substituído. Harvard Business School, 21 dez. 2006.

Como o desenvolvimento de produtos é orientado As incertezas, assim como os impactos, são maiores
por avaliações diárias da sua venda nas lojas, não é quanto mais distante o fornecedor estiver do consu-
16. Charles H. Fine., Clockspeed: Winning Industry Control in the
16
possível planejar a produção com meses de antece- midor. É o chamado bullwhip effect (efeito chicote). Age of Temporary Advantage, Perseus Books, 1998.

Bullwhip effect (efeito chicote)

INCERTEZA

CLIENTE FORNECEDORES
22

Assim, quanto mais níveis de subcontratação na gestão e processos de produção às necessidades dos
cadeia, maior também será a incerteza. Conforme o fluxo clientes. Em artigo sobre o relacionamento entre
17
de informações entre as empresas for menos fluente, manufaturas e varejistas, de Dawar e Stornelli , os
maiores serão os custos de transação e a intensidade dos autores defendem que os fornecedores poderiam se
impactos. E quanto menor for a empresa subcontratada, tornar mais competitivos e inovadores se entendessem
menor a sua capacidade para enfrentar as incertezas. os modelos de negócios dos seus clientes, caso lhes
As rápidas mudanças nas tendências de consumo fosse fornecido acesso a informações sobre o com-
afetam mais as oficinas de costura do que as confecções. portamento dos consumidores.
De qualquer modo, a capacidade de organizar um Essa capacidade de adaptação precisa considerar
sistema de produção flexível e de se inserir no maior também as condições específicas do varejo em cada
número de cadeias de produção – ou seja, ter o maior região. Ainda que o modelo de negócios seja o mesmo,
número de clientes (marcas e varejistas) – é condição o comportamento do consumidor e, portanto, as ca-
essencial para viabilizar as confecções e oficinas. racterísticas dos produtos que eles procuram, podem
Os fornecedores podem ampliar a capacidade de ser diferentes. Desse modo, os fornecedores precisam
adaptação e fortalecer a sua posição nas cadeias em igualmente estruturar a sua produção com foco nas
17. Niraj Dawar e Jason Stornelli, “Rebuilding Relationship between
que participam se conseguirem alinhar sua estratégia, condições regionais de consumo. Manufacturers and Retailers”, MIT Sloan Management Review, 2013.
23

4. Inovações
na gestão de
fornecedores

O aumento da pressão social por


condições de trabalho adequadas,
assim como a necessidade de am-
pliar a eficiência e de adaptar as
cadeias de fornecedores ao modelo
fast fashion, fizeram algumas mar-
cas e empresas varejistas de moda
adotarem medidas inovadoras na
gestão de fornecedores.
24

Estratégias de gestão de fornecedores podem seguir Estratégias de gestão de fornecedores


18
diferentes caminhos . Para as empresas líderes nas
cadeias de varejo de moda, predomina o controle da Progressão
conformidade, por meio da certificação e da realização Criação de
de auditorias nas empresas fornecedoras. É uma estratégia novos Diferenciação
padrões de Formação
que não modifica as condições fundamentais que mantém mercado de uma
o círculo vicioso, e em algumas situações pode amplifi- cadeia de
cá-lo, especialmente quando os custos de monitoramento fornecedores
Restruturação única
são relativamente altos para as pequenas empresas.
Adaptação da
Quando as varejistas não utilizam sistemas para medir cadeia ao
o desempenho dos fornecedores, os mecanismos de modelo de Eficiência
negócio Aumento da
conformidade podem fazer uma seleção adversa, esco-
produtividade
lhendo aqueles que se adaptam aos padrões exigidos, e da qualidade
mas que podem não ser os mais eficientes. Para reduzir Conformidade
essas falhas, algumas empresas buscam aperfeiçoar os Certificação/
auditoriais
mecanismos de conformidade, como é o caso do projeto
Fabricado no Brasil, desenvolvido pela Zara.
Estratégias para ampliar a produtividade e a quali-
dade dos produtos, serviços e processos melhoram a nas cadeias de fornecimento, ampliando em número
eficiência nas cadeias de fornecedores, como indicam e qualidade os empregos, ao mesmo tempo em que
alguns recentes projetos de grandes empresas do setor, melhoram seus resultados financeiros.
como os da Zara, Farm e Animale, Hering e Renner. É A reestruturação da cadeia de produção no setor
um tipo de estratégia que quebra parcialmente o círculo da moda é geralmente orientada para mudar o perfil
vicioso, porque promove a redução de custos pelo dos fornecedores, de modo a adequá-los às inovações
aumento da produtividade. Num mercado caracterizado nos produtos ou modelos de negócio das empresas
pela baixa produtividade, as empresas que se tornarem líderes. Quase todas as empresas estão promovendo
18. Balkan Cetinkaya et al., Sustainable Supply Chain Management:
mais eficientes tendem a aumentar sua participação um lento processo de reestruturação na cadeia, nem Practical Ideas for Moving Towards Best Practice, Springer, 2011.
25

sempre por meio de estratégias explícitas e planejadas. Esse sistema está integrado com as auditorias, reforçando
Algumas empresas – a C&A e a Hering, por exemplo o controle sobre a conformidade dos fornecedores se-
–, possuem sistemas de indicadores de desempenho gundo os critérios sociais e ambientais da marca.
(balanced scorecard) para avaliar os fornecedores em O programa Fabricado no Brasil é uma iniciativa que
aspectos como qualidade, agilidade, flexibilidade, promove a transparência no gerenciamento de forne-
desempenho comercial dos produtos, entre outros. O cedores da Zara, contribui para fortalecer a credibilidade
resultado desse processo é a redução no número de do sistema de gestão de riscos e facilita a participação
fornecedores e a reestruturação da cadeia, para que dos outros stakeholders no controle da cadeia.
predominem aqueles mais adaptados ao mercado.

4.1 Fabricado no Brasil

As peças produzidas no país e vendidas em lojas


da Zara possuem uma etiqueta com a marca Fabricado
no Brasil e a indicação de um QR Code, que permite
ao consumidor, por meio de um aplicativo, verificar
em qual confecção e oficina de costura a peça foi
fabricada. No aplicativo também estão disponíveis
informações sobre o número de funcionários, os con-
tatos, a data de realização da última auditoria e a
classificação que receberam da Zara sobre as condições
de trabalho nas oficinas.
O programa conta com um sistema global de rastrea-
mento da produção, o Manufacturer Management System,
que monitora os fornecedores e subcontratados em que
está sendo realizada cada etapa de produção das peças. Tela do aplicativo Fabricado no Brasil
26

4.2 Produtividade nas oficinas Zara, a consultoria tratou sobre o relacionamento entre
compradores e fornecedores, propondo um sistema de
Entre 2012 e 2014, a Zara desenvolveu um projeto indicadores para avaliar a cadeia de produção.
em sua cadeia de fornecedores para ampliar a produ- As consultorias tiveram resultados importantes nas
tividade nas oficinas de costura. Na primeira etapa do empresas, principalmente por melhorarem a capacidade
projeto, um diagnóstico, realizado em 105 empresas de planejamento da produção nas oficinas. A produtivi-
(o que corresponde a quase 60% dos seus fornecedo- dade aumentou em até 104%, o que ­proporcionou au-
res), identificou que o aumento da produtividade nas mento do faturamento, dos lucros e, em algumas em-
oficinas seria a principal estratégia para melhorar o presas, dos salários (acima do dissídio). As empresas não
desempenho econômico e, ao mesmo tempo, garantir precisaram mais recorrer a empréstimos para o fluxo de
a conformidade social. caixa, ampliaram seu conhecimento técnico sobre custos
Com esse objetivo, entre 2013 e 2014 foi realizado e reduziram os prazos de execução dos serviços.
um projeto com 28 fornecedores da Zara na região de Nas oficinas, as consultorias foram realizadas por
Blumenau, envolvendo ações específicas para cada elo especialistas, sempre acompanhados pelos funcionários
da cadeia. Nas oficinas, houve a consultoria individua- das confecções responsáveis por controlar a qualidade
lizada sobre gestão de pessoas, tempos e métodos, nas oficinas (chamados de “anjos” no projeto). Graças A reestruturação muda
planejamento da produção, ficha técnica e controle de aos anjos, a capacidade de avaliação das oficinas foi o perfil dos fornecedores
custos. Nas confecções, foi realizado um programa de ampliada pelas confecções. Eles estreitaram o relacio- de modo a adequá-los aos
capacitação em tendências de moda, mercados e mo- namento entre as empresas e se tornaram aptos para modelos de negócio das
delos de negócios de moda, e planos de negócio. Na replicar o trabalho com outros fornecedores. empresas líderes.
27

4.3 Fábrica modelo

Supplier Sustainability Programme O grupo Soma, que controla as marcas Farm e


Animale, adotou uma nova abordagem para a redução
Em 2011, a Fundação C&A criou o Supplier Sus- de custos dos fornecedores. Como são marcas de alto
tainability Programme para melhorar as condições de padrão, em vez de selecionar os produtores que ven-
trabalho e a produtividade nas fábricas dos fornece- dem a preços mais baixos, optou-se pelos fornecedores
dores da rede. com produção de melhor qualidade.
A primeira fase do programa aconteceu em fábricas Para aumentar a produtividade, o grupo Soma
que forneciam à C&A e a outras redes varejistas, e teve decidiu investir na qualidade e reduzir os custos da
duração de dois anos. Dezoito fábricas e quase 22 mil cadeia. Para isso, em parceria com um dos fornece-
trabalhadores de Bangladesh, China, Camboja, Índia dores, contratou uma consultoria em engenharia de
e Indonésia foram beneficiados. produção para montar uma fábrica modelo. Essa
O programa trouxe mudanças nos processos in- confecção, de alta produtividade e qualidade, passou
ternos das fábricas, introduziu técnicas de lean ma- a ser utilizada para o treinamento dos demais forne-
nagement, estabeleceu canais de comunicação e cedores, que contam ainda com a possibilidade de
sistemas de avaliação dos colaboradores. Gerentes de financiar parte da operação pelo próprio grupo.
produção e de RH, assim como os funcionários, rece-
beram treinamento sobre segurança, produtividade e
gestão de qualidade.
Os resultados foram positivos. O programa aumen-
tou em 20% a eficiência e a produtividade das fábricas,
em 15% o salário médio dos trabalhadores, e reduziu
em 24% a rotatividade dos funcionários.
28

Better Business and Work Ao todo, o programa atingiu 102.110 trabalhadores.


Em Bangladesh, o programa trouxe melhoras para o
Desde 2001 a Impactt, consultoria sediada em negócio e para a qualidade do trabalho: a eficiência
19
Londres, trabalha com diversos varejistas, fábricas e e o cut-to-ship aumentaram em 18,28% e 1,14%,
marcas para melhorar as condições de trabalho nas respectivamente. Em média, as fábricas foram capazes
confecções. Na Índia e em Bangladesh, durante dois de economizar £40.293,00 (R$ 187.959,00) durante
anos, o projeto foi realizado em 73 fábricas de forne- o período do curso, recuperando assim todo o inves-
cedores das empresas Arcadia, Mothercare, M&S, New timento inicial. O nível de abstenção e a rotatividade
Look, Ralph Lauren, Sainsbury, Tesco e Varner Group. dos funcionários diminuíram em média 33,67% e
O treinamento consistia em três módulos, que abran- 52,16%. Além disso, o salário dos funcionários au-
giam recursos humanos, produção, aumento de eficiência mentou em média 7,64%, e houve redução no número
e qualidade. Os fornecedores foram divididos em doze de funcionários que trabalhavam mais de sessenta
grupos de seis fábricas, considerando a localização e o horas por semana.
tipo de produto. O treinamento de três semanas acontecia, Na Índia, resultados positivos foram observados em
sempre que possível, na própria fábrica, assegurando todas as áreas: a eficiência e o cut-to-ratio aumentaram
maior interação entre os trabalhadores. Também foi em média 26,25% e 1,38%, resultando em uma economia
solicitado que cada fornecedora garantisse que ao menos de £24.919,00 (R$ 116.600,00) durante o período de
seis gerentes (das áreas de recursos humanos, produção, treinamento. Os índices de abstenção e rotatividade
engenharia industrial, qualidade, segurança e linhas de diminuíram 26,73% e 26,08%, respectivamente.
teste) participassem das sessões de treinamento. Ao final
do programa, cada fábrica participante também recebeu
19. Capacidade das fábricas enviarem peças usando a mesma
um acompanhamento individual de três dias. quantidade de insumo.
29

4.4 Balanced scorecard de fornecedores jetos piloto apresentados pelo fornecedor e aprovados
pela C&A. O terceiro critério é a flexibilidade da produção,
A C&A Modas criou um conjunto de indicadores medida pela habilidade do fornecedor em produzir pe-
para avaliar e monitorar o desempenho dos fornece- quenas quantidades e fazer alterações nos modelos,
dores. O balanced scorecard da cadeia de fornecedores mesmo após o início do cronograma e da linha de pro-
se baseia em cinco critérios. dução. O quarto critério é a qualidade, segundo as es-
O primeiro é a flexibilidade para acompanhar tendên- pecificações da C&A, nos prazos determinados para a
cias e o suporte ao design. Nele é avaliada a capacidade produção. Por fim, a qualificação dos atendimentos e o
de o cliente apresentar produtos inovadores e adequados envio de informações durante o processo de produção
ao estilo dos consumidores da C&A. Esse indicador avalia são o último critério de avaliação dos fornecedores.
os recursos do fornecedor para pesquisar e analisar ten- Esses indicadores permitem que a C&A ajuste os
dências, e se possui uma equipe de design própria. seus fornecedores ao tipo de produto, ao preço, ao
O segundo critério é a habilidade de executar o design perfil de seus consumidores e às estratégias de varejo,
na produção, avaliada de acordo com o número de pro- isto é, ao modelo de negócios da empresa.
30

Serviços financeiros para fornecedores programa Global Trade Supplier Finance. O programa
Para a Levi Strauss & Co., a indústria de confecção dispõe de US$ 500 milhões em moedas locais para
recebe críticas por promover uma race to the bottom, financiamentos de curto prazo, com a garantia dos
que resulta em precárias condições de trabalho na contratos de recebíveis para melhorar o fluxo de caixa
fabricação de roupas. Em resposta a esse problema, de fornecedores de pequeno e médio porte em mercados
as empresas criaram códigos de conduta para garantir emergentes. Os financiamentos são de baixo custo
que os fornecedores respeitem os padrões de susten- devido ao baixo risco de crédito do comprador.
tabilidade e os de saúde e segurança no trabalho. Serão realizados ainda programas de treinamento
Entretanto, a marca buscava mudanças mais sig- com parceiros locais para assegurar a maximização dos
nificativas e, para isso, precisava criar incentivos para resultados da gestão financeira. Além disso, a IFC ajudará
que os fornecedores adotassem as melhores práticas outros bancos a ampliar os serviços financeiros para as
do setor. Uma das iniciativas foi a criação de um pro- cadeias de fornecedores nos mercados emergentes.
grama de incentivos financeiros para os fornecedores O objetivo da Levi Strauss & Co. é que esse tipo de
que demonstrassem bom desempenho em sustenta- programa seja criado em todo o setor da moda, inver-
bilidade. Assim, a empresa firmou uma parceria com tendo a estratégia da indústria de confecção para uma
a International Finance Corporation (IFC), por meio do race to the top.
31

4.5 Gestão empresarial do o ­diagnóstico dos fornecedores e os desafios Os fornecedores


atuais da C&A, com uma metodologia baseada nas necessitam conhecer
Um diagnóstico realizado pela C&A com seus ­dinâmicas  vivenciais. melhor os mercados
fornecedores identificou uma série de desafios na onde atuam e as
estratégia de mercado, planejamento, gestão ­financeira, tendências do varejo.
gestão da produção, gestão de pessoas e na gestão 4.6 Qualificação em gestão
das cadeias de suprimento. Na área de gestão de
pessoas, foi considerado importante o entendimen- A produção da Cia. Hering em Goiás é baseada na
to do seu impacto no negócio e na produtividade, confecção própria e na contratação de serviços de
além de que é preciso reduzir a rotatividade dos costura das oficinas locais. Como a região não era um
­profissionais. O diagnóstico apontou também a ne- polo de produção, foi necessário abrir novas oficinas,
cessidade de os fornecedores conhecerem melhor os com pessoas sem experiência no ramo.
mercados onde atuam e as tendências do varejo de Para contornar esse problema, desde 2012 uma
moda. Outro desafio identificado é o planejamento
­
parceria com o Sebrae Goiás promove a realização
20
estruturado de curto, médio e longo prazo, inclusive do projeto Encadeamento Produtivo , que visa au-
do planejamento financeiro. Seria necessária também mentar o nível de competitividade das pequenas
a gestão da qualidade em todas as etapas da cadeia empresas por meio da capacitação em empreende-
produtiva, implantando uma gestão de fornecedores dorismo, qualidade, controle financeiro e a gestão de
para reduzir custos, reduzir o tempo de processo negócios, pessoas e produção. Além dos treinamentos,
e melhorar a qualidade. em 2014 foram realizadas consultorias sobre saúde
A partir desse diagnóstico foi criado um programa e segurança no trabalho.
de gestão empresarial para capacitar os fornecedores Para atender a trezentas oficinas, em 2014 a Fun-
da C&A. Realizado durante sete meses, os módulos dação Hermann Hering investiu R$ 430.800,00. Em
do programa abordam mercado, planejamento, 2015, o projeto foi ampliado com a realização de trei-
q ualidade e produtividade, gestão financeira
­ namentos, consultoria em gestão e a aplicação do
20. Para informações sobre o programa, veja: www.sebrae.com.br/
e ­tributária, gestão de pessoas e cadeia de suprimen- Empretec (uma reconhecida metodologia do Sebrae
sites/PortalSebrae/Programas/Programa-Nacional-de-Encadeam-
tos. Todo o c
­ onteúdo foi estruturado consideran- para formar empreendedores). As oficinas são estimu- ento-Produtivo
32

ladas a utilizar indicadores de gestão sobre o aumento Com base nesse diagnóstico, foram definidas as
da eficiência produtiva e do faturamento, assim como diretrizes para uma produção sustentável, estabelecendo
sobre a perspectiva de ampliação dos clientes. padrões ideais de atuação e a identificação de pontos
O principal resultado para a Cia. Hering é a con- a ser trabalhados, segundo o índice de sustentabilidade
solidação de uma rede de fornecedores confiável, de cada fornecedor. A partir disso, foram desenvolvidos
capaz de oferecer produtos e serviços de alta qualidade, planos de ação, executados pelos fornecedores com
além de fortalecer a economia de Goiás, o que gera acompanhamento e apoio da empresa.
empregos formais indiretos. Esse conjunto de ações
beneficia o negócio como um todo, e também contribui
para elevar os padrões de relacionamento com a 4.8 Programa Crescendo Juntos
cadeia de fornecedores do setor da moda.
A Renner realiza um programa de desenvolvi-
mento de fornecedores. O chamado Programa Cres-
4.7 Sustentabilidade na cadeia do jeans cendo Juntos, que envolve uma série de eventos,
oficinas de capacitação e debates com fornecedores
No setor de vestuário, a produção de jeans é a que sobre práticas responsáveis no setor e para a troca
apresenta um dos mais altos impactos ambientais. de experiências.
Por isso, a Renner conduziu um projeto para o ma- No programa, a empresa avalia o desempenho de
peamento e a gestão de riscos socioambientais na seus fornecedores estratégicos por meio do Indicador
cadeia de produção do jeans. O projeto começou com de Desempenho Global de Fornecedores, composto
um diagnóstico, por meio de entrevistas e visitas por indicadores relacionados a questões técnicas,
técnicas, para identificar os pontos críticos da cadeia, comerciais, qualidade, entregas e de responsabilidade
como gestão de resíduos sólidos, consumo de água, social. A partir dos resultados, são eleitos os fornece-
geração e tratamento de efluentes, saúde e segurança doras que participarão do Programa de Melhoria
no trabalho, economia ambiental e a definição Contínua, com o objetivo de apoiá-los e capacitá-los
dos ­critérios de compra. para o desenvolvimento de seus processos.
33

4.9 Novos relacionamentos entre confecções mento dos pagamentos, e empréstimo de máquinas.
e oficinas A Ufo Way, por exemplo, confecção localizada em
Criciúma, Santa Catarina, fornecedora de várias marcas
Com a implantação da Abvtex, houve uma expres- e empresas de varejo, possuía 39 subcontratados para
siva redução no número de oficinas de costura habi- os serviços de costura. Com o aumento do rigor na fis-
litadas a participar das cadeias de fornecimento das calização das condições de trabalho, dezenove subcon-
grandes empresas de varejo. Esse processo fez com tratados foram fechados. Como não seria fácil para a
que muitas confecções adotassem planos de fidelização empresa integrar novas oficinas de costura à sua cadeia,
e qualificação de fornecedores. As estratégias são as preferiu investir na qualificação dos fornecedores que já
mais variadas, porém nem sempre bem planejadas, estavam em conformidade com os critérios sociais.
mas de alguma forma contribuem para que as em- Assim, em setembro de 2015, a Ufo Way, em par-
presas tenham uma integração mais coesa, melhorando ceria com o Sebrae, iniciou um projeto com duração
o desempenho da cadeia em termos de qualidade, de dezoito meses para a capacitação dos fornecedores Houve uma expressiva
produtividade e tempo de entrega, assim como na em gestão de negócios, segurança e qualidade do redução no número
redução dos riscos da não conformidade legal. trabalho, redução de custos, controles administrativos, de oficinas de costura
As formas mais comuns de relacionamento entre acesso à informação sobre linhas de crédito e eficiência habilitadas a participar
confecções e oficinas, quando não se limitam às enco- produtiva. O projeto tem um objetivo específico para das cadeias de
mendas de serviços e auditorias, são as iniciativas de cada caso, ajustado às dificuldades de cada fornecedor, fornecimento das grandes
capacitação, assistência técnica, consultoria, adianta- de modo a ampliar a produtividade da cadeia. empresas de varejo
34

5. Investidores
na moda

O desenvolvimento do mercado
da moda no Brasil chamou a aten-
ção de grandes investidores, prin-
cipalmente pelo potencial de cres-
cimento das marcas e empresas
varejistas de médio porte. Nos
últimos anos, ocorreu uma série
de fusões e aquisições, com a par-
ticipação ativa de instituições fi-
nanceiras globais, o que é uma
mudança importante na indústria
da moda brasileira.
35

Considerando as características dos principais A maioria dos investidores avalia os riscos e oportunidades socioambientais

investidores no setor, as perspectivas são de fortale-


Investidor Empresas Políticas de investimento responsável
cimento da gestão das marcas e das empresas varejistas,
da gestão de risco e da visão estratégica de longo prazo, Environment Política de Padrões de
Social and responsabilidade desempenho/
assim como o da identificação das oportunidades Governance socioambiental Princípios do Equador
relacionadas a questões sociais e ambientais.
Advent Restoque x
A maior parte dos investidores do setor da moda
Warburg Pincus Restoque x
recorre à avaliação dos fatores sociais, ambientais e de
Marisa e
governança (ESG) para tomar suas decisões financeiras. Tarpon
Morena Rosa
Por levar em consideração esses fatores, a análise in- Artesia Restoque
21
tegrada é o método mais consistente e utilizado. Se- Ri Happy, PBKids
Carlyle
e Scalina
x
gundo a Principles for Responsible Investment (PRI),
a análise integrada oferece a estimativa mais precisa Gávea Colombo e Hering x
sobre os efeitos das questões ASG no retorno de capital. Vinci Partners InBrands x
Após a avaliação dos riscos e oportunidades do país e BTG Pactual Renner e Leader x x
do setor, os investidores analisam a estratégia das Dynamo Reserva e Renner
empresas, os potenciais impactos no desempenho fi- IFC Dafiti e Netshoes x
nanceiro e a influência das questões ESG sobre o valor Coronation Hering e Marisa x
das empresas em curto, médio e longo prazo. Templeton Asset
Management
Hering x
21. PRI, Integrated Analysis. Disponível em: www.unpri.org/
First State
viewer/?file=wp-content/uploads/Integrated_Analysis_2013.pdf.
Investments
Hering x

T. Rowe Price Renner x


Aberdeen Asset
Management
Renner x
J.P. Morgan Asset
Por meio de pesquisa na imprensa e nos sites das grandes Management
Renner e Dafiti x x
empresas, foram identificados os dezessete grandes investidores
TP Partners Marisa
no setor. A maioria tem políticas de investimento responsável.
36

Advent e Warburg foram acionistas controladores inovadoras para a solução dos problemas. Mesmo temas O ponto crítico para os
da Restoque, a maior empresa de moda de alto padrão críticos da cadeia da moda, como relações de trabalho investidores no setor é a
no Brasil (dona das marcas Le Lis Blanc, John John, e gestão da cadeia de fornecedores, são considerados avaliação das condições
Bô.Bô, Rosa Chá e Dudalina). Advent é um investidor pela Advent em suas análises de investimento. Warburg de trabalho nas cadeias
global especializado em private equity, participa ativa- Pincus é um gestor de investimentos global, cujas de fornecedores.
mente dos conselhos e colabora com a gestão das análises das questões sociais e ambientais se baseiam
empresas. Com profundo conhecimento sobre os setores em due diligences e processos de monitoramento de
em que investe, orienta-se para o retorno em longo portfólio. Além disso, assessora as empresas para que
prazo e encoraja as empresas a seguirem abordagens adotem planos de sustentabilidade.
37

A atuação de investidores em Bangladesh Morgan Stanley, fez uma viagem a Bangladesh para
verificar o cumprimento do acordo e o andamento
Em 2013, um edifício com quatro fábricas de roupas dos programas realizados pelas empresas, e para
em Savar, Bangladesh, desabou matando 1.138 pes- aperfeiçoar as análises da cadeia de valor nas decisões
soas. O desastre do edifício Rana Plaza provocou de investimento.
manifestações em todo o mundo, e as grandes em- O grupo encontrou várias iniciativas para a melhoria
presas buscaram reforçar os controles sobre as con- das condições de trabalho e constatou aumentos sig-
dições de trabalho nas cadeias de fornecedores. nificativos dos salários, mas identificou a necessidade
Um grupo de 134 investidores globais lançou um de mudanças nas práticas de compras. A recomendação
manifesto, dirigido às grandes marcas e varejistas, pe- é que os analistas de investimento comecem a distinguir
dindo que elas utilizassem sua influência no mercado as práticas de compras das marcas nas cadeias globais,
para promover o respeito e a proteção aos direitos hu- diferenciando aquelas que conduzem auditorias me-
manos nas cadeias globais de produção de vestuário. ramente burocráticas e que negociam somente sobre
Esse grupo de investidores continua cobrando as os preços, daquelas que compreendem os riscos e
empresas para que participem do Accord on Fire and oportunidades nas cadeias de fornecedores.
Building Safety in Bangladesh (Acordo sobre Incêndios Segundo os investidores, as práticas de compras
e Segurança nos Prédios em Bangladesh) para fortalecer responsáveis podem proporcionar margens de lucro
sindicatos e assegurar salários mínimos, divulgar todos justas para os proprietários das fábricas, permitindo que
os fornecedores e programas, assegurar a saúde e invistam na saúde e na produtividade dos trabalhadores,
22
segurança dos trabalhadores, e estabelecer mecanismos criando um modelo de negócios sustentável .
de reclamação adequados, assim como de remediação
e compensação para as famílias das vítimas. 22. Neil Brown. “The Investor Trip to Bangladesh Is a Race to
the Top Underway? And if so, Who Will Win?” Alliance Trust, jul.
Um ano após o acidente, um grupo de oito inves-
2014. Disponível em: www.alliancetrustinvestments.com/sri-hub/
tidores, liderado pelo Alliance Trust Investments e a posts/51638/July/Bangladesh-Investor-Trip#sthash.a1sOuLdP.dpuf.
38

O Grupo Carlyle controla as varejistas de brinquedos Investimentos gerencia o risco socioambiental das
e moda infantil Ri Happy e PBKids. Também controla, atividades e operações do grupo.
junto com o Grupo Boticário, a maior empresa de Outro importante investidor no setor é a gestora
moda íntima do Brasil, a Scalina, dona das marcas de recursos Dynamo, com 30% de participação na
Trifil e Scala. O Carlyle utiliza o método integrado para Reserva e 5% na Renner. Apesar de não possuir uma
analisar o portfólio de investimentos e identificar política socioambiental, seu conhecimento sobre a
oportunidades de criação de valor usando estratégias empresa e a presença ativa na gestão fazem dela uma
de sustentabilidade. Na avaliação das questões ASG, parceira importante. Em um texto institucional que
24
a equipe de sustentabilidade do grupo apoia os ges- trata sobre a aquisição de ações da Renner , a Dynamo
tores das empresas sob a orientação de seu guia de destaca a importância do investimento e da relação
23
investimento responsável . de longo prazo com os fornecedores, visando princi-
O BTG Pactual, banco de investimento brasileiro, palmente a redução do lead time e o aperfeiçoamento
possui 5% das ações da Renner e 70% das ações da da cadeia para se adequar ao modelo fast fashion.
rede Leader. O banco publicou sua Política de Risco A International Finance Corporation (IFC) é um
Socioambiental e de Governança Corporativa e criou, dos investidores da Dafiti e do Netshoes. Tornou-se
alinhado à Resolução do Banco Central 4.327/2014, referência em sustentabilidade para o sistema finan-
um departamento responsável por integrar as análises ceiro, e seus padrões de desempenho socioambiental
de risco ESG nos negócios. O foco principal da análise são a base dos Princípios do Equador, utilizados para
é no risco de relações de trabalho em condições avaliação de riscos sociais e ambientais por oitenta
análogas à de escravo, principalmente na terceirização bancos em todo o mundo.
e quarteirização dos serviços. No processo de avaliação das empresas, a IFC leva
A Gávea Investimentos adquiriu 30% da varejista em consideração o sistema de gestão, as condições de
Camisaria Colombo em 2013, além de possuir parti- trabalho, o controle da poluição, a saúde e segurança 23. Carlyle Group. Guidelines for Responsible Investment. Disponível
em: www.carlyle.com/sites/default/files/imports/Guidelines_for_
cipação acionária na Hering. A instituição possui uma das comunidades e populações indígenas, os reassen- Responsible_Investment.pdf.
política de responsabilidade socioambiental, adotada tamentos e aquisições de terras, a proteção da biodiver-
24. Dynamo. “Renner: O Percurso do Palíndromo”, Carta Dyna-
em julho de 2015 para se adequar à resolução 4.327 sidade além da gestão dos recursos naturais, populações
mo 84, jan. 2015. Disponível em: www.dynamo.com.br/uploads/
do Banco Central. Nos termos dessa política, a Gávea indígenas e herança cultural. O plano de ação desenvol- d95b6a2efb83066fa6ea9aba6ba16d33fe9d43ac.pdf.
39

vido para que a empresa adapte os seus negócios aos


padrões de desempenho faz parte das condições e
contratos de suas transações financeiras.
Além desses critérios, a IFC publica uma série de
documentos de referência de melhores práticas. O
Environmental and Social Management System Im- “Soluções capitalistas para falhas
25
plementation Handbook , por exemplo, é um guia do capitalismo”
prático para o desenvolvimento e execução de sistemas
de gestão social e ambiental. É dessa forma que a Tau Investment Management,
uma firma de private equity sediada em Nova York,
apresenta sua filosofia de investimentos. Seus inves-
timentos visam a transformação das cadeias de for-
necedores, ampliando o desempenho operacional e
a escala das manufaturas, para que sejam priorizadas
as condições de trabalho e a proteção ambiental, com
maior retorno para os investidores.
A Tau Investment e a Gap, em 2014, formaram uma
parceria com o objetivo de promover inovações e
investimentos para desenvolver redes de fornecedores
mais sustentáveis e eficientes no sudeste asiático.

25. IFC. Environmental and Social Management System Implemen-


tation Handbook: Textile and Apparel, 2014. Disponível em: www.ifc.
org/wps/wcm/connect/ee639880452910e680e78cc66d9c728b/
ESMS+Handbook+Textiles%26Apparel-v8.pdf?MOD=AJPERES.
40

A presença de
O Coronation, gestor de fundos da África do Sul, ad- A gestora de investimentos T. Rowe Price Associates,
investidores globais
quiriu 15% das ações da Hering e 9% das ações da Marisa, que possui 15% das ações da Renner, analisa as questões
que utilizam métodos
numa estratégia de investimento que busca retorno de ESG buscando compreender a sustentabilidade no
de análise ASG faz com
longo prazo. Nos processos de investimento, a Coronation modelo de negócios da empresa e os fatores que possam
que o acesso ao capital
faz uma estimativa dos impactos sociais e ambientais causar mudanças de longo prazo, como a regulação,
dependa da gestão de
sobre os resultados do negócio para aplicar uma taxa de a disponibilidade e custo de recursos naturais, a estrutura
riscos sociais
desconto na avaliação do fluxo de caixa das empresas. de incentivos da empresa, e os riscos na cadeia de
e ambientais
A Templeton Asset Management, joint venture da fornecedores – especialmente os relacionados às con-
Franklin Templeton e do Banco Bradesco, atua no dições de trabalho, à qualidade e diversidade do con-
mercado brasileiro e possui 5% das ações da Hering. selho, à credibilidade das informações divulgadas pelas
A Franklin Templeton, uma gestora de investimentos empresas e ao relacionamento com os stakeholders.
global, é signatária do PRI e possui uma política de A Aberdeen Asset Management é uma gestora
cidadania corporativa que considera os riscos e as global de ativos, detentora de 14% das ações da Renner.
oportunidades relacionadas às questões ambientais, No seu processo de gestão de riscos socioambientais,
sociais e de governança. a Aberdeen define metas para a mitigação de riscos
O First State Investments, um gestor de ativos em que estão ligadas a remuneração de seus executivos
nível global, possui 5% das ações da Hering. Todo o e conselheiros. Também encoraja as empresas nas
seu portfólio de investimentos é submetido à análise quais tem investimentos a serem transparentes na
das questões sociais, ambientais e de governança por divulgação dos objetivos, operações e resultados.
uma equipe de investimento responsável, avaliada por A J.P. Morgan Asset Management possui 7% das
um comitê global de investimento responsável, que ações da Renner e uma participação minoritária na
monitora e direciona as práticas dos negócios. Um Dafiti. As suas análises ASG verificam se as questões
dos focos do comitê é a identificação de melhores sociais, ambientais e de governança afetam a repu-
práticas de integração dos direitos humanos nas de- tação, as operações e a viabilidade econômica dos
cisões de investimento. Para isso, utiliza o relatório clientes, considerando as comunidades e a região 26. OXFAM. Banking on Shaky Ground: Australia’s Big Four Banks
26 and Land Grabs. 2014. Disponível em: www.oxfam.org.au/wp-
Banking on Shaky Ground , da Oxfam, como uma de onde atuam. Preocupada com as condições de trabalho,
-content/uploads/site-media/pdf/2014-47%20australia’s%20big%20
suas principais referências. a J.P. Morgan faz uma análise específica sobre direitos 4%20banks%20and%20land%20grabs_fa_web.pdf.
41

humanos e condições de trabalho, e suas normas sença dos investidores globais com métodos integrados
proíbem transações com empresas que utilizem tra- de análise ASG no setor da moda mostra que o acesso
balho forçado ou infantil. Antes dos investimentos, a ao capital depende da adoção de práticas de gestão
J.P. Morgan busca evidências de que as empresas dos riscos sociais e ambientais, principalmente nas
possuem procedimentos de auditoria e políticas sobre relações com os fornecedores. Os casos mais avan-
conformidade legal nas cadeias de fornecedores. çados mostram ainda uma nova tendência: a de iden-
O número de investidores que adotam políticas de tificação de oportunidades de gerar valor nas cadeias
investimento responsável aumentou de modo signi- de produção que tenham maior eficiência e produti-
ficativo, fazendo com que os processos de análise de vidade, com resultados financeiros ampliados, mas
riscos e oportunidades sociais, ambientais e de go- que ao mesmo tempo contribuam para melhorar as
vernança se desenvolvessem continuamente. A pre- condições sociais e ambientais.
42

6. Conclusões

Apesar de ser um dos principais


setores da economia criativa,
são raras as estratégias de ino-
vação na gestão de fornecedores
das empresas de moda, em par-
ticular no Brasil. A moda é um
setor que depende da forte inte-
gração entre sua parte criativa
com a parte industrial e adminis-
trativa. Para ser capaz de desen-
volver produtos de moda com
rapidez, flexibilidade e inovação,
os fornecedores precisam res-
ponder com competência às no-
vas demandas dos mercados.
43

Além disso, aumenta a pressão da sociedade por marcas e empresas de varejo de moda é a criação de
negócios que se sustentem em relações éticas e ga- sistemas de controle de riscos na cadeia de fornece-
rantam padrões mínimos de qualidade nas relações dores. A certificação das condições de trabalho dos
de trabalho, ao mesmo tempo em que estão se redu- fornecedores de moda, por exemplo, rapidamente
zindo as possibilidades de migração das empresas tornou-se um padrão no mercado, e por meio desses
em busca por mão de obra mais barata. critérios as empresas selecionam e monitoram seus
Um número importante de grandes investidores fornecedores. As instituições públicas e organizações
começa a participar da cadeia de valor da moda com da sociedade fiscalizam com rigor o cumprimento
uma nova perspectiva, influenciando as empresas dessas regras pelas grandes empresas, que por sua
a adotar processos de gestão de riscos socioambien- vez buscam se tornar mais eficientes e com maior
tais e, ao mesmo tempo, incentivando o desenvolvi- credibilidade, como no caso do rastreamento e divul-
mento de negócios mais inovadores e competitivos. gação da origem da produção da Zara.
Esses investidores, ao trazerem para as empresas Porém, os sistemas de controle de riscos represen-
uma visão de sustentabilidade de longo prazo, con- tam altos custos, tanto para as grandes empresas
tribuem para agregar valor. quanto para os fornecedores. Para as pequenas em-
Tem-se, portanto, por um lado, negócios que de- presas, além dos investimentos necessários para ade-
mandam fornecedores com melhores padrões de quação aos requerimentos legais, o tempo que os
qualidade e um ambiente econômico e social que gestores das empresas precisam dedicar para responder
pressiona as empresas a agir segundo padrões éticos aos processos de seleção, avaliação e auditoria ampliam
e com uma visão estratégica de sustentabilidade. A consideravelmente os custos e tornam as empresas
adaptação das grandes empresas a esses novos padrões ainda mais vulneráveis, caso não tenham uma gestão
de mercado deve ser feita junto com o desenvolvimento adequada, gerando um círculo vicioso. Ou seja, os A combinação de gestão
das cadeias de fornecedores, buscando ao mesmo mecanismos de gestão de riscos nas cadeias de for- de risco, desenvolvimento
tempo aumentar a produtividade, a qualidade e garantir necedores são necessários, mas causam impactos e mudanças na gestão de
o respeito às leis e aos padrões de sustentabilidade. involuntários não intencionais, que podem comprometer fornecedores é a melhor
Existem três formas para se construir esse novo o desempenho econômico, que por sua vez podem forma de promover
modelo de negócios. A mais utilizada pelas grandes ampliar os riscos de não conformidade social. mudanças nas cadeias.
44

O segundo caminho para a adequação das cadeias e, dessa forma, ampliar a produtividade, a flexibilidade,
de fornecedores às mudanças nos mercados é o desen- a agilidade e a capacidade de responder ao mercado.
volvimento dos fornecedores. A necessidade de rees- Nessa mesma direção, a Levi’s and Co. foi mais à
truturar os negócios para que tenham maior flexibilidade, frente e criou um mecanismo de incentivo financeiro
agilidade, qualidade e produtividade está além da ca- para os fornecedores que atendem aos critérios de
pacidade individual da maioria das pequenas e médias sustentabilidade. A empresa contribui, assim, para que
empresas. Iniciativas no Brasil, como a da Zara, Hering, os custos do investimento em sustentabilidade sejam
Renner e Grupo Soma, ou como as da C&A, Levi’s, Gap compensados pelo acesso a crédito com juros menores,
e Impactt, na Ásia, visando a melhoria da qualidade e colaborando para alinhar a cadeia ao modelo de ne-
da produtividade nas confecções, são fundamentais. O gócios da marca, sem comprometer o desempenho
projeto da Zara em Santa Catarina demostra como o econômico do conjunto.
investimento na cadeia de fornecedores gera retornos A análise dos casos de inovação apresentados neste
positivos para todas as empresas da cadeia. relatório mostra que a combinação das três abordagens
O terceiro caminho é a mudança na gestão de for- é a forma mais rápida, eficiente e duradoura para
necedores. Mas inverter os incentivos que orientam as promover mudanças nas cadeias de fornecedores.
áreas comerciais das grandes empresas a conduzir Mas é fundamental que esse seja um processo ade-
processos de negociação sempre para a redução de quado aos modelos de negócios e às configurações
preços é um grande desafio. A criação de indicadores específicas de cada empresa e de cada cadeia de
de desempenho de fornecedores, como o balanced produção. Não existe um caminho único.
scorecard da C&A, é uma das formas de reestruturar e A combinação das estratégias de controle, de de-
conduzir a cadeia de fornecedores para um maior senvolvimento de fornecedores e de mudanças na
alinhamento com o modelo de negócios da empresa. gestão de fornecedores poderá fazer com que um dos
Fornecedores que queiram manter os negócios com a setores que mais gera empregos no mundo possa,
C&A possuem indicações claras para reorganizar sua enfim, se basear em negócios que sejam, ao mesmo
produção de modo a atender os critérios de avaliação tempo, criativos, lucrativos e sustentáveis.
45

7. Metodologia

O Programa Valor em Cadeia


utiliza uma metodologia de análise
das cadeias e da gestão de forne-
cedores a partir do conhecimento
sobre as principais tendências do
setor e dos modelos de negócios
das empresas, ou seja, sobre as
formas como estão organizados
os processos de criação de valor,
tanto econômico quanto social,
nas empresas e ao longo das ca-
deias de produção.
46

O passo seguinte é a análise das condições que No planejamento de programas de gestão e de


afetam o desempenho das empresas, no curto e no desenvolvimento dos fornecedores, o objetivo principal
longo prazo, principalmente as pequenas e médias é encontrar os caminhos para integrar as empresas e
que compõem a cadeia de fornecedores, e quais são seus fornecedores numa estratégia comum, que reduza
as condições para que elas se adaptem aos modelos riscos e aumente oportunidades, gerando valor eco-
de negócios que predominam no setor. nômico, social e ambiental.

Metodologia de análise dos modelos A empresa tem uma cadeia de fornecedores


de negócios e cadeias de fornecedores adaptada ao seu modelo de negócios?

Análise do setor
Se é um modelo de
Qual o nível de
Características econômicas e institucionais do negócios que se baseia
produtividade da cadeia
setor, principais tendências e inovações em produtos e serviços
de fornecedores?
de baixo preço

Estratégia da empresa Qual o nível de


Se é um modelo que
qualidade dos produtos
Modelo de negócios, características do profuto e se baseia em produtos
e serviços da cadeia de
gestão da cadeia de fornecedores e serviços premium
fornecedores?

Estrutura da cadeia Se é um modelo de negócios Qual o nível de


que busca respostas flexibilidade e
Características da cadeia, produtos e serviços, rápidas às demandas agilidade da cadeia de
principais formas de relacionamento dos consumidores fornecedores?

Se é um modelo de
Desempenho do fornecedor Qual a capacidade de
negócios que se
baseia em produtos inovação da cadeia de
Análise da gestão e do desempenho econômico e
diferenciados fornecedores?
socioambiental das empresas
47

Tendo essa perspectiva, este relatório se baseia dades para se adaptar ao novo modelo de negócios
nos quatro anos de experiência do Uniethos condu- do varejo, como a capacidade de responder a mudanças
zindo projetos de gestão da cadeia de fornecedores, no consumo, novas estratégias de mercado, processos
amparados em entrevistas, diagnósticos, programas de desenvolvimento de produtos, organização da
de capacitação e de consultoria envolvendo 173 em- produção, sistemas de manufatura e estruturação das
presas (oito empresas de varejo, 29 confecções e 136 cadeias de fornecedores. Nas oficinas de costura, o
oficinas de costura), localizadas em diferentes regiões foco da análise foi a capacidade de planejamento,
do Brasil, mas principalmente na região do Vale do gestão financeira e de serviços, considerando seus
Itajaí, em Santa Catarina. impactos sobre as condições de trabalho.
Foram realizadas entrevistas com C&A, Renner, Hering, As análises sobre desempenho e competitividade
Zara e Farm e Animale. Com essas empresas foram tiveram uma perspectiva integrada, observando as
discutidas as principais tendências do varejo de moda, conexões entre as empresas e as consequências sobre
as dificuldades e as políticas adotadas por elas para a a competitividade nas cadeias como um todo. Por
adaptação dos fornecedores aos seus modelos de negó- outro lado, as análises sobre as empresas individuais
cios, à legislação e aos padrões sociais e ambientais. buscaram a abordagem integrada dos desempenhos
Nas confecções, foram analisadas as suas dificul- financeiro e social.
48

Best Practice. Springer Heidelberg Dordrecht, Londres/


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