FRANÇOZI,N.; VASATA,P.B.F.; CERVO,A.L.

Complicações Nutricionais de Pacientes com Doença Renal Crônica Submetidos a

Hemodiálise: uma Revisão de Literatura

Nutritional complications of Chronic Renal Failure Disease Patients subjected to

Hemodialysis: a Literature Review

Natiane Françozia; Patrícia Bisato Ferreira Vasatab*; Ana Luísa Cervoa

a
Universidade Paranaense, Curso de Nutrição.
b
Universidade Paranaense, Pos-Graduação Lato Sensu em Nutrição Clínica. PR.
*E-mail: patriciabisato@hotmail.com

Resumo
A Doença Renal Crônica - DRC é definida pela perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais exócrinas (filtração, reabsorção e
secreção de substâncias na urina) e endócrinas (redução na produção de eritropoietina e 1,25-diidroxicolecalciferol). Pacientes portadores de
DRC apresentam alterações no seu estado nutricional como miocardiopatia, neuropatia, desnutrição, hipertensão arterial. Esse artigo tem como
objetivo encontrar as principais complicações, que acometem pacientes submetidos a hemodiálise devido a IRC, e os cuidados que se deve ter
com a alimentação. Foram encontradas alterações nutricionais como a anemia, deficiência de vitamina D, cálcio, elevação da pressão arterial,
concluindo que a hemodiálise realmente traz alterações no estado nutricional do indivíduo.
Palavras-chave: Insuficiência Renal Crônica. Diálise Renal. Estado Nutricional.

Abstract
Chronic Kidney Disease - CKD is defined by the slow, progressive and irreversible loss of exocrine kidney function (filtration, reabsorption
and secretion of substances in the urine) and endocrine (reduced production of erythropoietin and 1, 25- dihydroxycholecalciferol). CKD
patients have changes in their nutritional status such as cardiomyopathy, neuropathy, malnutrition, high blood pressure. This article aims
to find the main complications affecting patients undergoing hemodialysis due to IRC, and the cares that should be taken with food. It was
found nutritional disorders such as anemia, vitamin D deficiency, calcium, elevated blood pressure, concluding that hemodialysis really brings
changes in the nutritional status of the individual.
Keywords: Renal Insufficiency. Chronic. Renal Dialysis. Nutritional Status.

1 Introdução Para o paciente com doença renal crônica, há várias

O rim é um órgão que regula alguns hormônios, tem
como função a manutenção do volume e composição iônica
dos líquidos corporais, excreção dos produtos de degradação
metabólica fixos (Creatinina, Uréia, Ácido úrico), regulação
da homeostase hidroeletrolítica, regulação da pressão arterial,
degradação de peptídeos circulantes (CUPPARI, 2005).
A Doença Renal Crônica - DRC - é definida pela perda
lenta, progressiva e irreversível das funções renais exócrinas
(filtração, reabsorção e secreção de substâncias na urina)
e endócrinas (redução na produção de eritropoietina e
1,25-diidroxicolecalciferol) (SANTOS et al., 2013). O início
da hemodiálise leva em conta alguns fatores como taxa de
avaliação glomerular, hiperpotassemia ou hipervolemia
(ALVES, 2014).
A taxa de filtração glomerular – TFG - é utilizada para
medir a função renal. Sendo definida como a capacidade dos
rins de eliminar uma substância no sangue. Normalmente, o
sangue é filtrado pelos rins e elimina os produtos finais do
metabolismo, enquanto preserva alguns solutos específicos.
Na maioria das doenças renais, a TFG diminui com o tempo
como resultado da diminuição do número de néfrons ou
redução da TFG por néfron (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011).
modalidades dialíticas disponíveis, dentre elas: diálise
peritoneal intermitente, diálise peritoneal automática
noturna, diálise peritoneal ambulatorial contínua - CAPD
e a hemodiálise, acrescentando-se que as duas últimas
modalidades são as mais empregadas (ZAMBA; HGUTH,
2010).
O procedimento de hemodiálise é efetuado a partir de um
acesso venoso, que permite um fluxo sanguíneo elevado. O
sangue é transportado por meio de um sistema de circulação
extracorpórea até um filtro capilar, em que é depurado e depois
devolvido para o corpo (SOUSA et al., 2013)6.
Além das complicações causadas pela insuficiência
renal, como miocardiopatia, neuropatia, desnutrição,
hipertensão arterial, o tratamento com a hemodiálise contribui
significativamente para diminuição da capacidade física.
A piora da condição física é multifatorial e está relacionada
à restrição promovida pelo tratamento hemodialítico,
depressão e outras alterações psicológicas e comportamentais
relacionadas a essa rotina (ABREU, 2016).
A desnutrição proteico-calórica é um dos distúrbios
nutricionais mais prevalentes em pacientes em hemodiálise,
estando relacionada com o aumento das taxas de morbidade

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Complicações Nutricionais de Pacientes com Doença Renal Crônica Submetidos a Hemodiálise: uma Revisão de Literatura
e mortalidade. Sua etiologia é multifatorial e inclui aspectos
relacionados tanto ao consumo alimentar insuficiente,
acidose metabólica, distúrbios hormonais e gastrointestinais,
medicamentos que influenciam na absorção de alimentos,
doenças intercorrentes e perda de nutrientes durante o
tratamento dialítico (OLIVEIRA et al., 2010).
No desenvolvimento desta revisão da literatura objetivou-
se encontrar as principais complicações que acometem
pacientes submetidos a hemodiálise devido a IRC, e os
cuidados que se deve ter com a alimentação. Foram procurados
artigos no Scielo, jornal brasileiro de nefrologia a partir do ano
de 2011, usando como palavras-chave: insuficiência renal,
hemodiálise, avaliação nutricional, estado nutricional, sendo
selecionados artigos que relatassem, em seu estudo, o estado
nutricional e as complicações que a hemodiálise pode trazer.
2 Desenvolvimento
O controle de fósforo tem uma grande importância no
indivíduo renal crônico. Na insuficiência renal ocorre a
diminuição da taxa de filtração glomerular, a reabsorção de
fósforo pelo rim diminui, elevando os níveis séricos de fósforo.
A diálise não é um método de grande eficiência em reduzir
o fósforo sérico, sendo que em média 250mg de fósforo em
cada sessão, o que depende dos níveis séricos na pré-diálise,
muitas vezes, não suficientes para manter os níveis séricos
abaixo de 5,4mg/dl1.
Na DRC ocorre um acúmulo de fosfato e a uma estimulação
maior da produção de PTH (paratormônio). Esse hormônio é
responsável pela retirada do cálcio dos ossos, aumentando a
eliminação renal do fósforo, pois estimula a produção renal de
vitamina D na forma ativa. Porém, na DRC, o fósforo não é
excretado na urina e nem há a produção de vitamina D, assim
o hormônio irá apenas retirar cálcio dos ossos causando uma
lesão óssea, pois diminuirá também a absorção de cálcio no
intestino. Com isso, pode-se observar que em pacientes que
seguem corretamente as restrições alimentares para controle
de fósforo tem níveis de PTH regulados (COSTA et al., 2013).
A síndrome urêmica se manifesta, quando o rim perde
mais da metade da sua função, causando sinais e sintomas
para o paciente (irritabilidade, tremores, anemia, sonolência).
Essas manifestações são consequências da retenção de solutos
tóxicos ou do excesso da ação de mecanismos reguladores
da concentração plasmática de solutos vitais ao organismo
(SHILLS et al., 2003).
Estudos mostram que 80% dos pacientes internados
diagnosticados com DRC em hemodiálise estavam com
desnutrição. Geralmente esta situação é causada pela uremia,
que ocorre devido a perda da função exócrina, provocando um
estado inflamatório constante que predispõe a esta condição.
Além disso, restrições alimentares, perda de aminoácidos
no período intradialítico, distúrbios gastrointestinais,
administração de certos medicamentos. No mesmo estudo
foi encontrada a ingestão energética proteica abaixo do
16
recomendado para o estado nutricional atual (SANTOS et al.,
2013).
Durante a hemodiálise ocorrem percas proteicas, sendo
que a ingestão diária deve ser aumentada para compensar isso.
A recomendação de proteínas para um paciente submetido
a hemodiálise é de 1,2g/kg de peso corporal (MAHAN;
ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2005).
Oliveira et al. (2010) mostram que de uma amostra
composta por 585 pacientes, o estado nutricional dessa
população foi caracterizado por 80,5% de indivíduos nutridos,
17% com suspeita de desnutrição ou moderadamente
desnutridos e 2,5% de desnutridos graves. A prevalência de
desnutrição foi significativamente maior nos pacientes mais
idosos, sendo que a renda e a escolaridade destes indivíduos
desnutridos eram inferiores aos indivíduos nutridos.
Em relação ao IMC, de 113 pacientes avaliados, a idade
média entre eles foi de 56 anos. Com isso, 8% dos pacientes
apresentavam baixo peso, 37% excesso de peso e 55%
estavam eutróficos. Entre os avaliados, as porcentagens de
adequação da CMB e da DCT se apresentaram, em média,
dentro dos limites de normalidade de 90 a 110%.. A média
de idade encontrada foi de 56,1 anos (DETREGIACHI et al.,
2013).
Bueno et al.13 realizaram um estudo com 45 indivíduos
em hemodiálise, mostrando que a maioria apresentou anemia
logo após o início do processo de hemodiálise (97,8%), a
anemia esteve presente em 44 pacientes (97,8%) no primeiro
exame, após o início da hemodiálise e após nove meses de
tratamento 41 (91,1%) apresentavam a mesma, sendo que a
média de idade encontrada foi de 61 anos de idade, sendo
a maioria homens. O que mostra no estudo de Lopes et al.
(2014), em que foi encontrada uma média de 32,78% nos
níveis de hematócrito, sendo o valor de referência utilizado
de 33%.
A eritropoietina - EPO é sintetizada nos rins, e tem
como função controlar a produção de eritrócitos. Na DRC,
a produção de EPO é comprometida devido a incapacidade
de funcionamento do rim. Quando a eritropoiese é estimulada
pela produção de EPO, a quantidade de ferro na medula óssea
aumenta, desempenhando assim, um papel importante na
absorção e utilização do ferro, pois a necessidade de ferro
adicional implica em um aumento na absorção intestinal de
ferro, bem como um aumento na mobilização de ferro a partir
das reservas. A prevalência de anemia na DRC aumenta na
medida que a doença se agrava, isso devido a deficiência da
produção de EPO (ALMEIDA, 2014).
Estudo realizado por Nerbals (2013), com 109
participantes, mostra que a média da ingestão de sal diária
foi elevada (8,6 ± 5,4 g/dia). Para pacientes em hemodiálise
é necessário controlar o consumo de sódio, pois este é o
principal desencadeador da sede osmométrica, que ocorre
quando o aumento da osmolaridade extracelular estimula
os osmoreceptores hipotalâmicos, desencadeadores da
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sensação da sede e da consequente ingestão de líquidos,
sendo que em indivíduos saudáveis o aumento do volume de
líquidos extracelular é compensado pela excreção renal de
sódio e líquidos para o restabelecimento do estado normal
de hidratação. Portanto, em indivíduos em hemodiálise
quanto maior a ingestão de sódio, maior será a de líquidos e,
aumentado o peso entre uma diálise e outra, o chamado ganho
de peso interdialítico (GPID), que gera complicações como
hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e até morte,
sendo que a recomendação de sal deve ser de 5 a 6g ao dia.
Para os pacientes que conseguem urinar, a recomendação
hídrica deve ser calculada conforme o seu volume urinário,
assim o paciente deve consumir o equivalente ao volume
urinário mais 500 ml. Os pacientes que não conseguem
urinar o consumo de água deve ser em média 500-600 ml/dia
(PINHEIRO, 2014).
Sobre o estado depressivo e ansiedade dos pacientes foi
feito uma investigação na Santa Casa de Misericórdia de
Ponta Grossa, PR, abordando 128 no grupo dos pacientes em
hemodiálise. A média de pacientes em hemodiálise foi 54,96
anos. Depressão de qualquer intensidade foi encontrada em 29
(22,6%) pacientes no inventário de depressão de Beck (BDI) e
em 12 (9,3%) na Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão
(EHAD). Ansiedade de qualquer intensidade foi encontrada
em 33 (25,7%) pacientes no inventário de ansiedade de Beck
(BAI) e em 15 (11,7%) na EHAD (STASIAK, 2014).
3 Conclusão
A insuficiência renal crônica traz muitos danos para a
saúde do indivíduo. Um dos principais é a anemia. Além disso,
alterações de concentrações séricas de vitamina D, deficiência
de cálcio, elevação da pressão arterial, acúmulo de fósforo e
potássio no organismo. O paciente necessita de hemodiálise
para se manter vivo, e em constante dieta, fazendo com
que o convívio social fique mais limitado, podendo levar a
depressão do mesmo.
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