Вы находитесь на странице: 1из 208

Unidade Olaria: Unidade Centro:

Rua Dr. Nunes, 1283 Rua Primeiro de Março, 125


Esquina com a Av. Brasil, passarela 14. Próximo ao 1ºDN e ao Túnel 450.
Tel.: 3885-0362 Tel.: 2263-0662

QOA-AA-AFN
2018/2019
CONHECIMENTOS GERAIS
MÓDULO – I
OUTUBRO - NOVEMBRO DE 2018

PORTUGUÊS E REDAÇÃO Prof. Rafael Dias; e


Profª. Bernadete Rocha
MATEMÁTICA Prof. César Loyola
GEOGRAFIA ECÔNOMICA Prof. Odilon Lugão;
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = == = = = = = = = = = = = = = = = =

MATERIAL INTERNO DE USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS


Proibida a reprodução total ou parcial

==================================================================
CURSO www.cursoadsumus.com.br – adsumus@cursoadsumus.com.br - ESTUDE COM QUEM APROVA!
P
O
R
T
U
G
U
Ê
S
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS

REDAÇÃO
Tipos de argumentos / parágrafos Ex: Ao se desesperar num congestionamento em São
Paulo, daqueles em que o automóvel não se move nem
1. Argumento de autoridade: ajuda a sustentar quando o sinal está verde, o indivíduo deve saber que,
o ponto de vista, pois lança mão da voz de um por trás de sua irritação crônica e cotidiana, está uma
especialista, uma pessoa respeitável (líder, artista, monumental ignorância histórica. São Paulo só chegou a
político) ou uma instituição de pesquisa considerada esse caos porque um seleto grupo de dirigentes decidiu,
autoridade no assunto em debate. no início do século, que não deveríamos ter metrô. Como
Ex: O cinema nacional conquistou, nos últimos anos, cresce dia a dia o número de veículos, a tendência é
qualidade e faturamento nunca vistos antes. “Uma piorar ainda mais o trânsito.
câmera na mão e uma ideia na cabeça” - a famosa frase-
conceito do diretor Gláuber Rocha virou uma fórmula EXEMPLOS: Tema: Televisão
eficiente para explicar os R$ 130 milhões que o cinema
brasileiro faturou no ano passado. (Adaptado de Época, 1. Argumentação por exemplificação
14/04/2004). Já foi criada até uma campanha – Quem financia a
2. Argumento por exemplificação: pretende-se baixaria é contra a cidadania – para que sejam divulgados
levar o leitor a admitir a tese ou a conclusão justificando- os nomes das empresas que anunciam nos programas que
a por meio de exemplos de um fato ocorrido, mostrando mais recebem denúncias de desrespeito aos direitos
que aquilo que se defende é válido. humanos. O mais importante nessa iniciativa é que a
Ex: Vejam os exemplos de muitas experiências positivas participação da sociedade pode fazê-la abandonar a
— Jundiaí (SP), Campinas (SP), São Caetano do Sul passividade e interferir na qualidade da programação que
(SP), Campina Grande (PB) — sistematicamente chega às casas dos brasileiros.
ignoradas pela grande imprensa. Tantos exemplos levam 2. Argumentação histórica
a acreditar que existe uma tendência predominante na Quem assiste à televisão hoje talvez nem imagine
grande imprensa do Brasil de só noticiar fatos negativos. que seu compromisso inicial, quando chegou ao país, há
3. Argumento por comparação: O pouco mais de meio século, fosse com educação,
argumentador pretende levar o leitor a aderir a sua tese informação e entretenimento. Não se pode negar que ela
de modo a mostrar diferenças e semelhanças entre dois evoluiu – transformou-se na maior representante da
ou mais lados. mídia, mas, em contrapartida, esqueceu-se de educar –,
Ex: A quebra de sigilo nas provas do Enem 2009, informa relativamente e entretém de maneira discutível.
denunciada pela imprensa, faz todos indagarem quem 3. Argumentação por constatação
seriam os responsáveis. O sigilo de uma prova de Para além daquilo que a televisão exibe, deve-se
concurso deve pertencer ao âmbito das autoridades levar em conta também seu papel social. Quem já não
educacionais e não da mídia. Assim como a imprensa é renunciou um encontro com amigou ou a um passeio com
responsável por seus próprios sigilos, as autoridades a família para não perder a novela ou a participação de
educacionais devem ser responsáveis pelo sigilo do algum artista num programa de auditório? Ao que tudo
Enem. indica, muitos têm elegido a televisão como companhia
4.Argumento de provas concretas ou de favorita.
princípio: comprova seus argumentos com 4. Argumentação por comparação
informações incontestáveis: dados estatísticos, fatos Enquanto países com Inglaterra e Canadá têm leis
históricos, acontecimentos notórios. que protegem as crianças da exposição ao sexo e à
Ex: De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de violência na televisão, no Brasil não há nenhum controle
Domicílio (PNAD) de 2008, o telefone, a televisão e o efetivo sobre a programação. Não é de surpreender que
computador estão entre os bens de consumo mais muitos brasileiros estejam a defender alguma forma de
adquiridos pelas famílias brasileiras. Esses dados censura sobre esse meio de comunicação.
mostram que boa parte desses bens de consumo é ligada 5. Argumentação por autoridade
ao desejo de se comunicar. A presença desses três meios Conforme citado pelo jornalista Nelson Hoineff, "o
de comunicação entre os bens mais adquiridos pelos que a televisão tem de mais fascinante para quem a faz é
brasileiros é uma evidência desse desejo. justamente o que ela tem de mais nocivo para quem a vê:
5.Argumentação por causa e consequência: a sua capacidade aparentemente infinita de massificação".
tese ou a conclusão é aceita justamente por ser uma causa De fato, mais de 80% da população brasileira tem esse
ou uma consequência dos fatos apresentados, ou seja, um veículo como principal fonte de informação e referência.
fato ocorre em decorrência de outro.

1
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
RECONHECIMENTO DA IDEIA Esses argumentos podem ser desenvolvidos em etapas:
PRINCIPAL E DO ARGUMENTO DE APOIO DE· frases que propõem a CONFIRMAÇÃO ou
UMA DISSERTAÇÃO JUSTIFICATIVAS do que foi proposto anteriormente;
Quando opinamos a respeito de alguma coisa, temos o· frases que propõem a CONTESTAÇÃO da mesma
objetivo de convencer nosso interlocutor ou leitor de que ideia central;
estamos corretos. Para atingir esse objetivo não basta· na conclusão, a RETOMADA DA IDEIA CENTRAL
emitir a opinião, é preciso argumentar, ou seja, proposta na DECLARAÇÃO INICIAL.
desenvolver raciocínios, apresentar provas, exemplificar
de forma a sustentar nosso ponto de vista.

EXEMPLO: “VIVER EM SOCIEDADE’’


“Sem a vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo,
necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo’’.
IDEIA PRINCIPAL =
_______________________________________________________________________________________________

ARGUMENTO DE APOIO=
_______________________________________________________________________________________________

A) “Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas
porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza’’.
IDEIA PRINCIPAL= ___________________________________________________________________________
ARGUMENTO DE APOIO= _____________________________________________________________________

B) “A televisão é prejudicial, pois torna os modos de pensar dos espectadores muito parecidos, uniformiza-os’’.
IDEIA PRINCIPAL= ____________________________________________________________________________
ARGUMENTO DE APOIO= _____________________________________________________________________

C) “A violência mostrada na televisão não tem o mesmo efeito em todos os países; por exemplo, a televisão japonesa é
de uma violência terrível e os índices de criminalidade são baixíssimos no Japão’’.
IDEIA PRINCIPAL = ____________________________________________________________________________
ARGUMENTO DE APOIO=______________________________________________________________________

Identificar a IDEIA PRINCIPAL (tese) e os b) As ditaduras militares foram uma infeliz realidade na
argumentos nos parágrafos América do Sul dos anos 1960 e 1970. Em todas elas
houve drástica repressão às oposições e dissidências, com
1) Nos parágrafos abaixo, sublinhe a tese e coloque os a adoção da tortura e da perseguição como política de
argumentos entre parênteses. governo. Ao fim desses regimes autoritários adotaram-se
formas semelhantes de transição com a aprovação das
a) As leis já existentes que limitam o direito de porte de chamadas leis de impunidade, as quais incluem as
arma e punem sua posse ilegal são os instrumentos que anistias a agentes públicos. (Eugênia Augusta Gonzaga e
efetivamente concorrem para o desarmamento, e foram Marlon Alberto Weichert, Carta capital. In:
as responsáveis pelo grande número de armas devolvidas http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-brasil-
por todos os cidadãos responsáveis e cumpridores da lei, promovera-justica)
independentemente de sua opinião a favor ou contra o
ambíguo e obscuro movimento denominado c) Todos os palestrantes concordaram que a participação
desarmamento. Os cidadãos de bem obedecem às leis da sociedade civil é fundamental para que qualquer
independentemente de resultados de plebiscito, enquanto debate sobre a comunicação avance no Congresso. “Se
os desonestos e irresponsáveis só agem de acordo com dependermos apenas do conservadorismo da Câmara e do
seus interesses desobedecendo a todos os princípios Senado, será muito difícil avançar”, discursou o deputado
legais e sociais, e somente podem ser contidos através da Ivan Valente. Ele destacou o fato de que existem
repressão. (Opinião, site o Globo. In: parlamentares no Congresso que tem fortes vínculos ou
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/04/12/a- até mesmo são proprietários de meios de comunicação.
quem-interessa-um-plebiscito-sobre-desarmamento- “Até os Estados Unidos, o país mais liberal do mundo,
924221689.asp) estabelece limites para evitar monopólios e define que
quem tem rádio não pode ter televisão, e vice-versa.

2
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
Precisamos pautar-nos em propostas como essas”. Agronegócio não garante segurança alimentar. Caros
(Ricardo Carvalho. Regulação da mídia é pela liberdade Amigos. In: http://carosamigos.terra.com.br/)
de expressão. Carta capital. In:
http://www.cartacapital.com.br/politica/regulacao-da- e) A leitura de jornais e revistas facilita a atualização
midia-e-pela-liberdade-de-expressao) sobre a dinâmica dos acontecimentos e promove o
enriquecimento do debate sobre temas atuais. A rapidez
d) Para a presidente do Conselho Federal de com que a notícia é veiculada por esses meios é clara,
Nutricionistas, Rosane Nascimento, não é necessário que garantindo a complementaridade da construção do
o Brasil lance mão de práticas baseadas no uso de conhecimento promovida pelas aulas e pelos livros
agrotóxicos e mudanças genéticas para alimentar a didáticos. O apoio didático representado pelo uso de
população. "Estamos cansados de saber que o Brasil jornais e revistas aproxima os alunos do mundo que os
produz alimento mais do que suficiente para alimentar a cerca. (Ana Regina Bastos - Revista Eletrônica UERG.
sua população e este tipo de artifício não é necessário. A Mundo vestibular. In:
lógica dessa utilização é a do capital em detrimento do http://www.mundovestibular.com.br/articles/4879/1/Com
respeito ao cidadão e do direito que ele tem de se o-se-preparar-para-o-vestibular-utilizando-jornais-e-
alimentar com qualidade", protesta. (Raquel Júnia. revistas/Paacutegina1.html)

OPINIÕES DIFERENTES SOBRE UM MESMO TEMA TEMA = TELEVISÃO


IDEIA DEFENDIDA (TESE)

1ª IDEIA (TESE) = A TELEVISÃO INFLUENCIA DE FORMA NEGATIVA A FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS,


POIS OS CONTEÚDOS DE SEUS PROGRAMAS SÃO ABUSIVOS.

2ª IDEIA (TESE) = A TELEVISÃO NÃO INFLUENCIA DE FORMA NEGATIVA A FORMAÇÃO DAS


CRIANÇAS, EMBORA ALGUNS PROGRAMAS DEVAM SER COMBATIDOS.

ARGUMENTOS
01.ACUSAR A TELEVISÃO DE SER PERNICIOSA É UMA ATITUDE SEMELHANTE AO QUE SE FAZIA NO
PASSADO EM RELAÇÃO A ALGUMAS PUBLICAÇÕES POLÊMICAS (DANDO A ENTENDER QUE ESSA
ATITUDE É NATURAL E PASSAGEIRA ).

02.AS CRIANÇAS TÊM IMITADO, NA VIDA REAL, OS ROTEIROS PRODUZIDOS PARA SEUS ÍDOLOS
TELEVISIVOS.

03.OS PERSONAGENS QUE PRATICAM CRIMES TÊM ESTIMULADO A VIOLÊNCIA ENTRE AS


CRIANÇAS E OS JOVENS.

04.MOSTRAR NA TELEVISÃO UM MUNDO TOTALMENTE HARMÔNICO SERIA TÃO ERRÔNEO


QUANTO O QUE SE TEM MOSTRADO DE FATO.

05.A TELEVISÃO NÃO PODE ABRIR MENTES OU FECHÁ-LAS PARA INCUTIR NAS CRIANÇAS
VALORES HORRENDOS.

06.AS CENAS DE SEXO, SEM ORIENTAÇÃO, FAZEM COM QUE OS JOVENS BUSQUEM O PRAZER DE
FORMA EQUIVOCADA.

TAREFA : SEPARE OS ARGUMENTOS QUE CONCORDAM E DISCORDAM DAS IDEIAS


APRESENTADAS SOBRE O TEMA PROPOSTO.
Objetivos: Desenvolver a habilidade de redação de parágrafos dissertativos com o emprego dos elementos de coesão
ou articuladores textuais próprios para a expressão de determinadas ideias. Proposta: 2 parágrafos Obs.:
Cada parágrafo pode conter, no mínimo, 3 períodos.

Proposta estrutural: 1º parágrafo: afirmativa / argumentação 1 (Isso ocorre porque) / argumentação 2 (Também)
/ argumentação 3 (Além disso)

3
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
2º parágrafo: conclusão (Portanto, logo, por isso)

Exemplo: Escapando das drogas


É muito importante que os jovens não comecem a fumar. Isso ocorre porque o cigarro faz muito mal à saúde,
o que pode causar até a morte. Também as pesquisas mostram que os gastos anuais com o vício equivalem ao que se
poderia juntar para uma viagem de férias. Além disso, ninguém para de fumar sem muito sofrimento, após um longo
período de abstinência.
Todos os meios de comunicação devem, portanto, intensificar as campanhas antidrogas. É preciso reforçar a
ideia de que fumo e álcool — as chamadas drogas lícitas — precisam ser evitadas a todo custo. O governo, então,
deve incentivar a mídia com alguns subsídios fiscais.

AS RELAÇÕES DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA NA DISSERTAÇÃO

Como encontrar a causa e a consequência? Causa: A nação que deixa depredar as construções
consideradas como patrimônios históricos destrói parte
tema: Constatamos que, no Brasil, existe um grande da história de seu país.
número de correntes migratórias que se deslocam do Consequência: Essa situação demonstra claramente o
campo para as pequenas ou grandes cidades. subdesenvolvimento de uma nação, pois, quando não se
causa ( POR QUÊ?) : A zona rural apresenta conhece o passado de um povo e não se valorizam suas
inúmeros problemas que dificultam a permanência do tradições, despreza-se a herança cultural deixada pelos
homem no campo. antepassados.
consequência (O QUE ACONTECE EM RAZÃO
DISSO?) :As cidades encontram-se despreparadas para 3.Tema: A maior parte da classe política não goza de
absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de muito prestígio e confiabilidade por parte da população.
subsistência e de trabalho. Causa: A maioria dos parlamentares preocupa-se muito
mais com a discussão dos mecanismos que os fazem
Alguns exemplos: chegar ao poder do que com os problemas reais da
1. Tema: Muitas pessoas mais velhas são analfabetas população.
eletrônicas, pois não conseguem operar nem mesmo um Consequência: Caos na saúde e na educação.
computador.
Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas 4.Tema: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em
são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos. diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada
Consequência: Elas se tornam desajustadas, pois vez mais em nossa sociedade.
dependem dos mais jovens até para ligar um forno Causa: Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na
micro-ondas, elas precisam acompanhar a evolução do tentativa de esquecer seus problemas.
mundo. Consequência: Formam-se dependentes dos psicóticos
dos quais se utilizam e, na maioria das vezes,
2.Tema: É de fundamental importância a preservação transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para
das construções que se constituem em patrimônios a comunidade.
históricos.
Exercícios: Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma consequência para cada
um deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima:
1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita eficiência
no atendimento a seus usuários.
Causa:_________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Consequência:___________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

2 Tema:A convivência familiar está muito difícil.


Causa:_________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

Consequência:___________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

4
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
3 Tema: As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da
maioria dos telespectadores.
Causa:_________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Consequência:___________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

4 Tema: As doenças infectocontagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população.


Causa:_________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Consequência:___________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

5 Tema: Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam a utilizar produtos agrotóxicos
indiscriminadamente.
Causa:_________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
Consequência:___________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

Frases de Apoio
Frases para parágrafos causas e consequências: Ao se examinarem alguns ..., verifica-se que ... Pode-se
mencionar, por exemplo, ...Em conseqüência disso, vê-se, a todo instante, ...

Frases para parágrafos prós e contras: Alguns argumentam que .... Além disso ...Outros, porém, ..... Há registros
históricos de ... que ....

Frases para parágrafos sobre trajetória histórica: Antigamente, quando ... , percebia-se que ...Atualmente,
observa-se que ...Em consequência disso, nota-se ...

Outras frases: Dentre os inúmeros motivos que levaram o ... é incontestável que ...A observação crítica de fatos
históricos revela o porquê de ...Ao fazer um estudo de ... , percebe-se, por meio de ......

Ligação entre os parágrafos do desenvolvimento: É muito importante que esses parágrafos de desenvolvimento
tenham ligação.
Segue, a seguir, uma série de frases para a ligação entre os parágrafos. Além disso ...Outro fator existente ...Outra
preocupação constante ... Ainda convém lembrar ...Por outro lado ...Porém, mas, contudo, todavia, no entanto,
entretanto ...

Elementos de coesão: Algumas palavras e expressões facilitam a ligação entre as ideias, estejam elas num mesmo
parágrafo ou não. Não é obrigatório, entretanto, o emprego destas expressões para que um texto tenha qualidade.
Seguem algumas sugestões e suas respectivas relações:
assim, desse modo - têm valor exemplificativo e complementar. A sequência introduzida por eles serve normalmente
para explicitar, confirmar e complementar o que se disse anteriormente.

ainda - serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão; ou para
incluir um elemento a mais dentro de um conjunto de ideias qualquer.

ademais, além do mais, além de tudo, além disso - introduzem um argumento decisivo, apresentado como
acréscimo.

mas, porém, todavia, contudo, entretanto... (conj. adversativas) - marcam oposição entre dois enunciados.

embora, ainda que, mesmo que - servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento,
diminuir sua importância. Trata-se de um recurso dissertativo muito bom, pois sem negar as possíveis objeções,
afirma-se um ponto de vista contrário.

5
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
Exercício de texto 1:
1. Gravidez Precoce
A gravidez precoce é considerada como um problema de saúde pública no Brasil e em outros países. No
Brasil, uma em cada quatro mulheres que dão à luz nas maternidades tem menos de 20 anos de idade. Essas meninas,
que não são mais crianças, nem tão pouco adultas, estão em processo de transformação e, ao mesmo tempo, prestes a
serem mães. O papel de criança que brinca de boneca e de mãe na vida real confunde-se. Na hora do parto é onde
tudo acontece. A fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade. É um momento muito delicado para essas
adolescentes, o qual gera medo, angústia, solidão e rejeição.
As adolescentes grávidas vivenciam dois tipos de problemas emocionais: um pela perda de seu corpo infantil,
e outro por um corpo adolescente recém-adquirido, que se está modificando novamente pela gravidez. Essas
transformações corporais, rapidamente ocorridas, de um corpo em formação para o de uma mulher grávida são vividas
muitas vezes com certo espanto pelas adolescentes. Por isso é muito importante a aceitação e o apoio quanto às
mudanças que estão ocorrendo, por parte do companheiro, dos familiares, dos amigos e, principalmente, pelos pais.
A escola muitas vezes não dispõe de estrutura adequada para acolher uma adolescente grávida. O resultado é
que a menina acaba abandonando os estudos durante a gestação, ou após o nascimento da criança, o que traz
consequências gravíssimas para o seu futuro profissional.
Os riscos de complicações para a mãe e a criança são consideráveis quando o atendimento médico pré-natal é
insatisfatório. Isso ocorre porque, normalmente, a adolescente costuma esconder a gravidez até a fase mais adiantada,
o que impede uma assistência pré-natal desde o início da gestação. É muito comum também o uso de bebidas
alcoólicas e cigarros, o que, consequentemente, aumenta os riscos de surgimento de problemas. ( Lúcia Helena
Salvetti De Cicco / Diretora de Conteúdo e Editora Chefe
Fonte: http://www.saudevidaonline.com.br/gravprec.htm )

FICHA DOCUMENTADA DA LEITURA ARGUMENTATIVA

01.Na sua opinião, o que o título da leitura está sugerindo ?


_______________________________________________________________________________________________

02.Qual é a tese ( ponto de vista ) apresentado pelo autor no texto ?


_______________________________________________________________________________________________

03. Qual é o tema apresentado no texto ?


_______________________________________________________________________________________________

04. Segundo os argumentos apresentados pela autora no 1º parágrafo, ela aprova ou critica a gravidez na adolescência?
Identifique os argumentos da autora, justificando a sua resposta.
_______________________________________________________________________________________________

05. A autora não cita exemplos, isso interfere na compreensão do leitor? Justifique sua resposta.
_______________________________________________________________________________________________

06. Qual é a sua posição sobre o assunto do texto? Concorda com a autora? Por quê? Escreva um parágrafo de 5 a 7
linhas, com 3 frases, no mínimo, na folha separada de redação do curso.

07. Marque, no texto, os elementos ( conectivos ) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto .
_______________________________________________________________________________________________

08. Observe que o texto foi escrito em quatro parágrafos e, em cada um deles foi apresentada uma ideia nova.
Reescreva com suas palavras a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo : __________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

2º parágrafo : _________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

3º parágrafo : __________________________________________________________________________________

6
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
_______________________________________________________________________________________________

4º parágrafo : __________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

Exercício de texto 2: Buscando esperanças em meio ao sofrimento


As principais consequências do desemprego no abrir. Junto com a miséria e a fome, surgem doenças,
Brasil se agravam a cada dia, principalmente nos grandes muitas vezes sem a possibilidade da cura, pois, se
centros urbanos, onde se pode observar o número conseguem atendimento médico gratuito, não têm como
excessivo de pessoas que vive na mais completa miséria, comprar os remédios.
a expansão de favelas nesses grandes centros e o Diante de todos esses problemas, pode-se
aumento da criminalidade. acrescentar mais um: o da criminalidade. Bastaria citar a
Movidas pela ideia de que, nos grandes centros, grave situação desencadeada nas favelas entre os
o ser humano conta com melhores condições para a sua denominados traficantes que lá se instalam e os policiais.
subsistência, populações inteiras imigram do interior. O Todavia esse é apenas um dos mais graves exemplos.
sonho termina logo que essas pessoas chegam e Além da conotação que se tem com relação a quem mora
começam a procurar emprego. São inúmeros os em uma favela - a de bandido -, há ainda o forte impulso
problemas com os quais se deparam e a resposta é da miséria que, com o desemprego, faz com que muitos
sempre a mesma: "Não há vaga", ou ainda "A vaga já foi roubem aqui e acolá, de pequenos a grandes roubos, de
preenchida". um simples furto a assaltos à mão armada, e provocam a
Sem terem para aonde ir, essas pessoas se alojam morte de inocentes.
em favelas, o que as aumenta em sua extensão territorial, Portanto pode-se confirmar a gravidade das
ou se formam outras que crescem do mesmo modo e consequências geradas pelo desemprego; consequências
vivem de maneira degradante. A luta agora é outra - com essas que tendem a aumentar diariamente, pois não há
a fome, a total miséria. O pouco que conseguem mal dá muito comprometimento por parte dos governantes e da
para a sua sobrevivência e a de suas crianças. Toda essa sociedade. Enquanto cada cidadão estiver preocupado
situação explica a existência de tantos meninos que apenas com seus direitos, a taxa de desemprego
tentam vender balas, chocolates e outras pequenas continuará a crescer, e também a miséria, as favelas e a
mercadorias aos motoristas que param à espera do sinal criminalidade.

FICHA DOCUMENTADA DA LEITURA ARGUMENTATIVA

01. Na sua opinião, o que o título da leitura está sugerindo ?


_______________________________________________________________________________________________

02.Qual é a tese ( ponto de vista ) apresentado pelo autor no texto ?


_______________________________________________________________________________________________

03. Qual é o tema apresentado no texto ?


_______________________________________________________________________________________________

04. Identifique os argumentos apresentados sobre o tema proposto da dissertação.


_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

05. Marque, no texto, os elementos ( conectivos ) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto .
_______________________________________________________________________________________________

06. Observe que o texto foi escrito em cinco parágrafos e , em cada um deles foi apresentada uma ideia nova.
Reescreva com suas palavras a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

7
MÓDULO 1 – 2018/2019 - Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha - CURSO ADSUMUS
2º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

3º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
4º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

5º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

Exercício de texto 3: Cidadania virtual


Assistimos hoje ao fenômeno da expansão das apresentar, é necessária a construção da criticidade, o
redes sociais no mundo virtual, um crescimento que bom senso entre os usuários da rede, uma verdadeira
ganha atenção por sua alta velocidade de propagação, o educação capaz de estabelecer um equilíbrio entre os dois
que traz como consequência, diferentes impactos para o mundos, o real e o virtual. É papel de educar tanto das
nosso cotidiano. Nesse sentido, faz-se necessário um famílias, dos professores como da sociedade como um
cuidado, uma cautelosa discussão a fim de encarar essa todo, só assim estaremos exercendo de forma plena nossa
nova realidade com uma postura crítica e cidadã para cidadania
então se desfrutar dos benefícios que a globalização dos
meios de comunicação pode oferecer.
A internet abre uma ampla porta de acesso aos
mais variados fatos, verbetes, imagens, sons, gráficos etc.
Um universo de informações de forma veloz e prática
permite que cada vez mais pessoas, de diferentes partes
do mundo, diversas idades e das mais variadas classes
sociais, possam conectar-se e fazer parte da grande rede
virtual que integra nossa sociedade globalizada. Dentro
desse contexto, as redes sociais simbolizam de forma
eficiente e sintética como é o conviver no século XXI,
como se estabelecem as relações sociais dentro da nossa
sociedade pós-industrial, fortemente integrada ao mundo
virtual.
Toda a comodidade que a rede virtual oferece é,
no entanto, acompanhada pelo desafio de ponderar aquilo
que se publica na internet, de modo que fica evidente a
instabilidade que existe na tênue linha entre o público e o
privado. Afinal, a internet se constitui também como um
ambiente social que, à primeira vista, pode trazer a falsa
ideia de assegurar o anonimato. A fragilidade dessa
suposição se dá na medida em que causas originadas no
meio virtual podem sim trazer consequências para o
mundo real. Crimes virtuais, processos jurídicos,
disseminação de ideias, organização de manifestações
são apenas alguns exemplos da integração que se faz
entre o real e o virtual.
Para um bom uso da internet, sem cair nas
armadilhas que esse meio pode eventualmente nos

8
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
FICHA DOCUMENTADA DA LEITURA ARGUMENTATIVA

01. Na sua opinião, o que o título da leitura está sugerindo ?


_______________________________________________________________________________________________

02.Qual é a tese ( ponto de vista ) apresentado pelo autor no texto ?


_______________________________________________________________________________________________
03. Qual é o tema apresentado no texto ?
_______________________________________________________________________________________________

04. Identifique os argumentos apresentados sobre o tema proposto da dissertação.


_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

05. Marque, no texto, os elementos ( conectivos ) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto .
_______________________________________________________________________________________________

06. Observe que o texto foi escrito em cinco parágrafos e , em cada um deles foi apresentada uma ideia nova.
Reescreva com suas palavras a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

2º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

3º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

4º parágrafo :
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

O TEXTO DISSERTATIVO
I. Assunto, tema e título
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, é necessário reconhecer a diferença que existe entre o
assunto, o tema e o título.

Assunto: é a definição da área sobre a qual versará o texto. É uma macroideia.


Ex: A violência (há diversos tipos)

Tema: é uma ideia menor, específica. É um recorte do assunto.


Ex: A violência urbana

Título: é uma referência ao tema que será abordado. Recomenda-se que seja curto e, se possível, demonstre
criatividade.
Ex: Dias de incerteza

9
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS

Observação
Há concursos que não exigem colocação de título. Ainda assim, recomenda-se que sempre seja colocado devido ao
seu caráter funcional de delimitação do tema.

II. A dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista. Ou, então, pelo
questionamento acerca de um determinado assunto. O autor do texto dissertativo trabalha com argumentos, com fatos,
com dados, utilizados por ele para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias.
Para se obter uma exposição clara e ordenada, a dissertação é geralmente organizada em três partes:

1. Introdução – constituída geralmente de um parágrafo, deve conter a ideia principal a ser desenvolvida, ou seja,
denotar os objetivos do texto, o ângulo da análise e hipótese ou a tese a ser defendida. Há diversas e flexíveis
maneiras de se começar uma dissertação. O importante é que o parágrafo da introdução seja sucinto e conciso e
que deixe claras as diretrizes do texto.

2. Desenvolvimento ou argumentação – exposição de elementos que vão fundamentar a ideia principal que pode vir
especificada através da argumentação, de pormenores, de causa e de consequência, definições, dados estatísticos,
ordenação cronológica etc.

3. Conclusão – é a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer de forma muito mais convincente, uma vez
que já foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação.

A dissertação objetiva
A dissertação objetiva caracteriza-se pelo texto escrito em terceira pessoa. Embora o autor esteja transmitindo
ao leitor sua visão pessoal a respeito do tema, ele jamais aparece para o leitor como uma pessoa definida.
Nas dissertações objetivas, o autor expõe os argumentos de forma impessoal e objetiva, não se incluindo na
exploração, o que confere ao texto um caráter imparcial, facilitando a aceitação, por parte do leitor, das ideias expostas
(prova da MB).

A dissertação subjetiva
A dissertação subjetiva caracteriza-se pelo texto escrito em primeira ou segunda pessoa. Com isso, o texto
perde seu caráter impessoal e assume, de forma explícita, um caráter pessoal.

III. Critérios básicos de avaliação


1. Abordagem do tema
2. Tipo textual
3. Coerência
4. Coesão
5. Modalidade escrita

IV. Modelos dissertativos


1) Expositivo: panorama imparcial de ideias, informações.
2) Argumentativa: defesa de um ponto de vista.
OBS: texto argumentativo ≠ texto opinativo → Sustentar opinião ≠ parafrasear opinião

V. Qualidades de um bom texto dissertativo-argumentativo


1. Objetividade
* Análises objetivas, mesmo nos temas abstratos.
* Análises científicas, sem tom emotivo.
* Análise racional, sem uso de argumentos religiosos.
* Análise universal, sem uso de experiências pessoais.
* Tom ponderado / seguro: evitar radicalismos.

Obs.: Evitar pontuação expressiva (exclamações, reticências) e expressões radicais (“é um absurdo” / “é ridículo”).

10
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
VI. Linguagem impessoal
Usar a terceira pessoa do singular (Sabe-se que...; Reconhece-se que..., É evidente que...)

VII. Uso de fatos e não de opiniões

Pessoal Impessoal

Fato x A Marinha é uma instituição secular

Eu acho a Marinha uma ótima instituição secular. A Marinha é uma ótima instituição
Opinião
secular.

Logo, escrever de forma impessoal é uma forma de expressar opiniões como se elas fossem fatos (impessoalidade ≠
imparcialidade)

* Imparcialidade ≠ impessoalidade
* Objetivo: evitar redundâncias + aumentar credibilidade.

VIII. Exigências da modalidade escrita - períodos longos ou curtos demais


* Padrão culto, com simplicidade e clareza
* Ausência de traços de oralidade IX. Estrutura na prova da MB
- gírias (“desde que o mundo é mundo”) * Mínimo: quatro parágrafos
- contrações (“pra”, “né”) * Máximo: cinco parágrafos
- “internetês” Cada parágrafo deverá conter o mínimo de dois
- vocabulário impreciso (“coisa”) períodos.
- abreviatura Um bom parágrafo deverá ter de cinco a nove linhas.

ESQUEMA BÁSICO TEXTO ARGUMENTATIVO

COMO COMEÇAR
Imagine que você possua um determinado tema sobre o qual deve redigir um texto argumentativo. A sua
primeira providência é reescrever o tema e perguntar POR QUÊ? Ao iniciar sua reflexão sobre o tema proposto e
sobre uma possível resposta para a questão, procure recordar-se do que já leu ou ouviu a respeito dele. É quase certo
que você tenha ao menos uma noção de qualquer tema que lhe vier apresentado. O ideal, para que seu texto explore
suficientemente o assunto, é que você obtenha duas ou três “respostas” para a questão formulada; estas respostas
chamam-se argumentos. Veremos um exemplo.

TEMA: Ao chegar ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a
todos.

Existem populações imersas em completa miséria


POR QUÊ? A paz é interrompida por conflitos internacionais
O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico

Repare que essas respostas são exaustivamente noticiadas pelos meios de comunicação, evidentemente você
encontrará mais respostas para sua pergunta, isso significa mais argumentos para seu texto, mas atente-se para o
tamanho do texto, dependendo do objetivo da redação, o texto não pode ser MUITO longo. Lembre-se também de que
cada argumento será desenvolvido e argumentos demais podem deixar seu texto complexo e extenso.

Uma vez que você estabeleceu o número de argumentos (baseado no número de respostas), você já dispõe do
necessário para iniciar ser texto. Um texto argumentativo (dissertação) deve constar de três partes: INTRODUÇÃO,
DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO. Com os dados acima, você já é capaz de escrever o primeiro parágrafo de
seu texto. Esse parágrafo traz uma visão geral do seu texto, apresenta o tema e os argumentos. Esse parágrafo é a
INTRODUÇÃO.

11
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS

Ao chegar ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a
todos, POIS existem populações imersas em completa miséria E, EM MUITOS PAÍSES, a paz é interrompida por
conflitos internacionais. ALÉM DISSO, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Note que o TEMA foi acrescido dos TRÊS argumentos com a utilização de CONECTIVOS. Esses conectivos
(geralmente conjunções) tornam o texto COESO. Aprender a utilizar conectivos é importante para a construção de
textos, já que o texto começou com frases isoladas que foram CONECTADAS de forma COESA.
Após a Introdução, você fará a argumentação propriamente dita, ou seja, você irá desenvolver seu texto, de
modo a expandir os argumentos apresentados na Introdução. Essa fase do seu texto é chamada de
DESENVOLVIMENTO. Logo o próximo parágrafo tratará sobre o seu primeiro argumento. Veja o exemplo:

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis, existem legiões de famintos em pontos específicos da
Terra. Nos países chamados subdesenvolvidos, sobretudo em certas regiões da África, há um numeroso contingente de
pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. No Brasil, tal questão é visível em diversas regiões, tanto em zonas
rurais do Nordeste quanto nas zonas urbanas em morros e favelas de grandes cidades. É preciso, por isso, que os
líderes mundiais busquem soluções para retroceder esse mal.

Depois disso, você deverá entrar com o segundo argumento. Lembre-se de que, como começará um novo
ARGUMENTO, você deve iniciar um novo parágrafo, mas não se esqueça da CONTINUIDADE do texto, então use
um conectivo para manter a COERÊNCIA do texto. A coerência é a relação lógica das ideias do texto, sem ela, os
argumentos pareceriam fragmentos soltos e sem sentido. Vejamos como ficaria a continuação do texto com a entrada
de um novo argumento.

Além disso, nas últimas décadas, têm sido frequentes os conflitos internacionais. Dois exemplos de tal
situação foram os atentados terroristas contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 e, mais recentemente, a
crise sociopolítica da Líbia e de outros países da África. Há também a crescente violência urbana que tem gerado
sentimentos de pânico e insegurança nos brasileiros, os quais são facilmente notados na ocupação das favelas
ocorridas no Rio de Janeiro.

Note que as ideias apresentadas são bastante atuais, ao utilizar dados da contemporaneidade, você mostra que
é uma pessoa bem informada e preocupada com as questões de seu tempo. Ademais, falar de fatos passados só vale a
pena se forem essenciais a sua argumentação. Repare também que o novo argumento foi iniciado com ALÉM DISSO,
que é uma expressão que dá uma ideia de adição e continuidade. Você deverá apresentar seu último argumento para
manter a continuidade, por isso utilize mais um parágrafo, mas não repita o ALÉM DISSO.

Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela utilização desenfreada dos recursos
não renováveis, o que tem causado o desmatamento de florestas e a poluição de rios e mananciais. Tais atitudes
contribuem para que o meio ambiente se desgaste mais rápido e diminua seu poder de autorrenovação.
Consequentemente, a natureza tem entrado em estado de desequilíbrio, o que afeta a qualidade de vida das pessoas e
dos animais e plantas.

Você incluiu mais um argumento e note que a expressão que inicia o parágrafo dá essa ideia. Após essa
argumentação, você escreverá a CONCLUSÃO, com base no que foi dito no DESENVOLVIMENTO.

Percebe-se, portanto, que, embora o terceiro milênio seja caracterizado como a época de avanços tecnológicos,
o homem está longe de solucionar os graves problemas que afligem grande parcela da humanidade. Novas tecnologias
são criadas para solucionar problemas novos, entretanto velhas questões como fome, guerras e devastação ambiental
continuam insolúveis. O ideal seria utilizar os avanços de hoje como ferramentas para salvar o planeta de seu declínio
para que as gerações futuras usufruam, pelo menos, de um local suficientemente habitável.

Na conclusão, você reafirmou o tema e deu sua opinião com base nos argumentos. Na maioria das vezes, é
importante construir perguntas e sugerir soluções para os problemas, pelo menos, de forma abrangente. É bom mostrar
preocupação com a persistência do problema e enfatizar que você é capaz de compreender a problemática e propor
soluções. A conclusão deve iniciar com palavras que deem ideia de que você está finalizando o texto como o
“portanto”.

12
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS

O passo a passo de um texto dissertativo-argumentativo

Primeiro passo: entender bem o tema do texto e retirando dele uma expressão central
Exemplo: TEMA: “O adolescente, hoje, precisa de limites?”

Segundo passo: a introdução do texto


Exemplo: Definindo a expressão “limite para os adolescentes” : O que é, ou o que significa dar limites aos
adolescentes?
A sociedade constitui-se de pessoas que se transformam ao longo do tempo, mudam a forma de pensar e
agir. Isso faz com que uma geração de adolescentes não seja, necessariamente, igual a uma anterior, assim
como são diferentes as regras e os valores sociais de cada geração. No entanto, independentemente da época,
sempre existirão regras e valores que moldarão o pensamento, o comportamento, as atitudes dos jovens na
sociedade – são os chamados limites, que podem apresentar-se de maneiras diversas, com maior ou menor
rigor.

Exemplo: Definindo a argumentação, através da expressão ‘’limite para os adolescentes’’:


Hoje, questiona-se se esses limites devem ser impostos aos adolescentes ou se estes devem ser mais livres para
estabelecerem seus próprios limites.

Terceiro passo: o desenvolvimento do texto


O objetivo é saber se os adolescentes precisam ou não de limites, argumentando de várias formas sobre os principais
argumentos e estabelecendo uma ligação entre esses parágrafos.

Exemplos:
OPÇÃO 1: defender a ideia de que os adolescentes precisam de limites e apresentar justificativas para isso:
Esquema: Os adolescentes precisam de limites porque, nessa fase da vida,

a) ainda se estão moldando valores que os farão indivíduos íntegros, com caráter.

13
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
b) eles ainda não têm total discernimento para distinguir tudo que é certo e errado, segundo um modelo de vida sadio e
com respeito à moral.

OPÇÃO 2: defender a ideia de que os adolescentes precisam de limites, apresentando exemplo(s) que
comprove(m) isso:
Sobre os exemplos: apresentar valores que se aprendem na adolescência e são levados para a vida inteira, sendo tais
valores passados por meio dos limites impostos. Apresentar exemplo(s) de atitudes de jovens que mostram a falta de
discernimento para distinguir certo e errado.

OPÇÃO 3: defender a ideia de que os adolescentes NÃO precisam de limites e apresentar justificativas para
isso:
Esquema: Os adolescentes não precisam de limites,
a) mas de carinho dos pais, que, em muitos casos, mostram-se ausentes. Os limites impostos afastam pais e filhos.
b) porque eles já são capazes de entender as regras sociais, e os limites serviriam apenas para inibir a criatividade, a
liberdade, a capacidade do adolescente de “amadurecer” sozinho, de encarar a realidade tal como ela é.

OPÇÃO 4: defender a ideia de que os adolescentes precisam de limites, mas estes não devem ser impostos com
muito rigor:
a)Os adolescentes precisam de limites porque todo ser humano deve saber lidar com regras, ter disciplina para
enfrentar todo tipo de situação, e isso se constrói ao longo da vida, principalmente, quando se é jovem.
b)Por outro lado, esses limites não precisam ser impostos com tanto rigor, porque pode tolher a criatividade do
adolescente.

Quarto passo: a conclusão

Exemplo: apresentar uma solução para o problema tratado ou uma sugestão relacionada à questão desenvolvida.

1) Uma sugestão para os pais: mostrar uma maneira de impor limites apropriada para a geração de adolescentes atual.
Assim, diante da dúvida se deve impor limites aos adolescentes hoje, pode-se afirmar que a sociedade precisa de
indivíduos de bom caráter e que tenham noção de disciplina. Para se ter isso, é preciso que os jovens saibam seguir
regras, internalizar valores e distinguir o melhor caminho a ser percorrido.

2) Uma sugestão para os próprios adolescentes: mostrar uma maneira de entender a imposição de limites como algo
positivo.
Portanto, os adolescentes não devem enxergar os limites impostos como uma forma de perseguição ou como uma
maneira de evitar que eles “vivam a vida", mas sim como uma autodefesa diante da liberdade exagerada, da falta de
humanidade, do modismo em detrimento do amor próprio e do excesso de suaves armadilhas que a realidade
apresenta.

O texto completo sobre o tema : “O adolescente, hoje, precisa de limites?”


A sociedade constitui-se de pessoas que se transformam ao longo do tempo, mudam a forma de pensar e
agir. Tal situação faz com que uma geração de adolescentes não seja, necessariamente, igual a uma anterior,
assim como são diferentes as regras e os valores sociais de cada geração. No entanto, independentemente da
época, sempre existirão regras e valores que moldarão o pensamento, o comportamento, as atitudes dos
jovens na sociedade – são os chamados limites, que podem apresentar-se de maneiras diversas, com maior ou
menor rigor. Hoje, questiona-se se esses limites devem ser impostos aos adolescentes ou se estes devem ser
mais livres para estabelecerem seus próprios limites.
Os jovens entre doze e dezoito anos vivem uma fase em que os valores morais e sociais ainda se
estão moldando. Trata-se de um período em que o adolescente encontra-se em meio às regras impostas pela
escola, pela família, pela sociedade em geral, e essas regras estabelecem limites que, mais tarde, ajudarão
esse adolescente de hoje a tornar-se um cidadão íntegro, com caráter e disciplinado. Logo é preciso que todos
esses agentes transformadores trabalhem em prol da juventude.
Ademais, nessa fase bem jovem da vida, não há total discernimento para distinguir tudo que é certo e
errado segundo um modelo de vida sadio e com respeito à moral. O adolescente vive cercado de bons e maus
exemplos, e estes últimos são bastante atraentes, tendo em vista o “glamour” da transgressão. Nessa

14
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
realidade, diferir o que é interessante momentaneamente e o que é correto e promissor não é uma tarefa fácil
para o adolescente, por isso é necessário impor limites para que ele aprenda estabelecer essa distinção.
Assim, diante da dúvida se deve impor limites aos adolescentes hoje, pode-se afirmar que a sociedade
precisa de indivíduos de bom caráter, que demonstrem noção de disciplina. Para haver essa ação, é preciso
que os jovens saibam seguir regras, internalizar valores e distinguir o melhor caminho a ser percorrido.
Portanto os adolescentes não devem enxergar os limites impostos como uma forma de perseguição ou como
uma maneira de evitar que eles vivam a vida, mas sim como uma autodefesa diante da liberdade exagerada,
da falta de humanidade, do modismo em detrimento do amor próprio e do excesso de suaves armadilhas que
a realidade apresenta.

GRAMÁTICA
Noções de Sintaxe
1. FRASE, PERÍODO E ORAÇÃO

1.1. Frase: enunciado de sentido completo (Que calor hoje! O calor está infernal hoje.)
1.2. Período: frase com verbo; pode ser simples ou composto. (O calor está infernal hoje e não tenho
vontade de demorar aqui.)
1.3. Oração: estrutura com verbo que expressa uma ideia, nem sempre de sentido completo. No exemplo
“Ele gostaria de que fôssemos ao cinema hoje”, há duas orações e nenhuma delas, separadamente, tem o
sentido completo. É necessária a leitura de ambas para obter-se o sentido desejado.

1. Separe as orações e indique quantas orações há nestes períodos:


a) Pedro saiu cedo, fez as compras, voltou para casa e foi dormir. ( )
b) As colinas ficavam distantes, e todos pareciam preocupados com isso; o professor resolveu, então,
procurar um lugar para o pernoite. ( )
c) Certa manhã, Joana observou as gaivotas na praia: constatou sua leveza, agilidade e formosura; eram,
sem dúvida, absolutamente livres. ( )
d) Os grevistas ocupavam as ruas agitados, davam ordens como comandantes, organizavam grupos e
distribuíam tarefas: eram os senhores da cidade naquele momento. ( )

2. ORAÇÃO
2.1. TERMOS ESSENCIAIS
2.1.1. SUJEITO

a) SIMPLES: um só núcleo (substantivo / pronome / numeral / palavra substantivada)


Ex.: Pedro foi ao cinema sozinho.
Resolvemos tudo logo. (sujeito simples / desinencial)

b) COMPOSTO: dois ou mais núcleos.


Ex.: Iremos meu tio e eu ao cinema.

c) INDETERMINADO: é aquele que existe, mas não se pode ou não se quer identificar. Isto ocorre em
duas situações:
1ª - oração iniciada por verbo na terceira pessoa do plural (sem referente, ou seja, sem sujeito expresso).
Ex.: Roubaram meu carro.

2ª - oração com verbo intransitivo, transitivo indireto ou verbo de ligação (sempre terceira pessoa do
singular), ligado à partícula se, indeterminador do sujeito.
Ex.: Vive-se bem no Rio de Janeiro.
Assiste-se a filmes ótimos nos cinemas da capital.
Era-se feliz naquele lugar.

15
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
OBSERVAÇÃO: no caso de voz passiva pronominal, há uma ideia de indeterminação, mas não um sujeito
indeterminado.
Ex.: Vendem-se duas casas. Duas casas são vendidas. (sujeito simples, paciente)

d) ORAÇÃO SEM SUJEITO: oração que apresenta verbo impessoal (esses verbos concordam no singular).
Podem ser
* verbos que expressam fenômenos da natureza: nevar, gear, trovejar.
Ex.: Choveu dias e dias. Está nevando durante as últimas semanas em Gramado.

OBSERVAÇÃO: quando estes verbos estiverem empregados no sentido figurado, eles admitem sujeito.
Ex.: Choveu canivete lá em casa. Choveram canivetes lá em casa.

* verbos fazer (quando se refere a tempo) e haver (quando se refere a tempo ou quando significa existir ou
acontecer); verbo ser (quando se refere a tempo ou lugar); verbo estar (quando significa tempo ou clima).
Ex.: Faz meses que não o vejo.
Havia muitos candidatos.
São oito horas agora.
Era aqui que morávamos.
Está quente.

OBSERVAÇÃO: o sujeito de uma oração pode ser expresso por uma outra oração (sujeito oracional); o
verbo da oração principal é empregado na 3ª pessoa do singular.
Ex.: É urgente que entreguem essa mercadoria. Convém que eles saiam agora.

1) Sublinhe o sujeito e identifique o(s) núcleo(s); depois diga se o sujeito é simples ou composto:
a) A batucada continuou madrugada afora. _____________________________________________
b) A animada orquestra volta de novo à cidade. _________________________________________
c) Patrões e empregados continuam as negociações. ______________________________________
d) Deixou rápido o palco o engraçado palhaço. __________________________________________
e) Greves e passeatas são formas de luta dos estudantes. ___________________________________
f) O longo desabafo trouxe-lhe a paz. _________________________________________________
g) A psicóloga, o professor e a diretora analisaram o caso. _________________________________
h) As duas meninas passeavam pela calçada. ____________________________________________
i) Todos os atletas foram homenageados. _______________________________________________
j) O prefeito e os vereadores se reuniram na Câmara. _____________________________________

2) Classifique o sujeito das orações abaixo em: determinado (oculto) ou indeterminado:


a) Quebraram a vidraça da Dona Maria. ________________________________________________
b) Vou ao cinema na sessão das dez. __________________________________________________
c) Amanhã, viajaremos bem cedo. ____________________________________________________
d) Roubaram meu talão de cheques. ___________________________________________________
e) Andam pichando os muros lá de casa. _______________________________________________
f) Cumprirei a promessa. ___________________________________________________________
g) Dizem que a Gracinha vai casar. ___________________________________________________
h) Esqueci a chave do carro em casa. __________________________________________________
i) Ficamos tristes com a notícia. ______________________________________________________

16
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
j) Contaram a história errada. ________________________________________________________
k) Que alegria! Fizeste a tarefa. ______________________________________________________
l) Procuraram você por todos os lugares. _______________________________________________
m) Levaram minha carteira. _________________________________________________________
n) Falarei com ele a respeito desta história. _____________________________________________
o) Resolveram o problema. __________________________________________________________
p) Instalaram novas máquinas na fábrica. _____________________________________________
3) Numere de acordo com o seguinte código:
( 1 ) Sujeito Simples
( 2 ) Sujeito Composto
( 3 ) Sujeito Oculto
( 4 ) Sujeito Indeterminado
( 5 ) Oração sem sujeito

( ) Vou viajar hoje.


( ) Faz muitos anos que ele partiu.
( ) A chuva impediu-lhe a saída.
( ) Estão aí fora o repórter e o fotógrafo.
( ) Assaltaram a loja da esquina.
( ) Precisamos de bons médicos.
( ) Há bons filmes em exibição.
( ) Aquele mecânico está procurando emprego.
( ) A velhinha e o fiscal fizeram um acordo.
( ) Tomaram a bicicleta do garoto.
( ) Ventou muito ontem à noite.

4) Os livros escolares devem ser tratados com carinho. Nesta oração o tipo de sujeito é:
a) composto c) simples
b) indeterminado d) oração sem sujeito

5) Meu amigo José estuda à noite. Nesta oração o tipo de sujeito é:


a) indeterminado c) simples
b) composto d) nenhuma das anteriores

6) Entusiasmo e disciplina caracterizaram o desfile. Nesta oração o tipo de sujeito é:


a) indeterminado c) oração sem sujeito
b) composto d) simples

7) A oração sem sujeito caracteriza-se por:


a) O sujeito está indeterminado. c) O sujeito está simplesmente oculto.
b) Não se atribui o fato a nenhum ser. d) O fato é atribuído a um ser determinado.

8) Defina o tipo de sujeito desta oração: Faz dez anos que cheguei aqui.
a) Sujeito oculto. c) Sujeito indeterminado.
b) Sujeito simples. d) Oração sem sujeito.

9) Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. Qual é o sujeito e o tipo de sujeito desta oração?
a) Nunca ninguém / composto. c) Ninguém /indeterminado.
b) Ninguém / simples. d) Nunca / simples.

10) Amanhecia silenciosamente. Nesta oração temos:


a) Sujeito simples
b) Oração sem sujeito.

17
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
c) Sujeito indeterminado.
d) Sujeito oculto.

2.2. PREDICADO
O predicado de uma oração pode ser nominal, verbal ou verbo-nominal. Para entender o tipo de
predicado, é preciso analisar o tipo de verbo e de estrutura. Para saber o tipo de predicado, é necessário
reconhecer o valor do verbo, isto é, identificar se é verbo de ação (intransitivo, transitivo direto, transitivo
indireto, transitivo direto e indireto) ou verbo de ligação (verbo que não expressa ação; liga o sujeito a uma
característica ou qualidade, termo chamado de predicativo do sujeito).
Exemplos: Pedro faleceu. Pedro mora neste bairro. Pedro trabalha muito. (intransitivos).
Pedro trabalha a madeira como ninguém. (transitivo direto)
Pedro precisa da madeira encomendada. (transitivo indireto).
Pedro pagou a madeira ao fornecedor. (transitivo direto e indireto).
Pedro é artesão. Pedro está embriagado. (verbos de ligação)
Resumo:
• Predicado nominal (verbo de ligação mais predicativo do sujeito)
Ex.: Pedro estava cansado.

• Predicado verbal ( verbo de ação com ou sem complemento)


Ex.: Pedro chegou ontem.

• Predicado verbo-nominal (verbo de ação com predicativo do sujeito ou do objeto).


Ex.: Pedro chegou cansado.

(Importante: os principais verbos de ligação são ser, estar, parecer, continuar, permanecer, tornar-se, ficar,
andar)

1) Classifique os termos grifados em: objeto direto, objeto indireto ou predicativo do sujeito:
a) Ponha o livro sobre a mesa. ( ) f) A prisão deles parecia inevitável. ( )
b) Não gostei desse filme. ( ) g) Eu não o encontrei na escola. ( )
c) Ana ficou furiosa com a brincadeira. ( ) h) A cidade resistiu ao ataque. ( )
d) Quero descobrir meu erro. ( ) i) Estas observações são úteis para nós. ( )
e) É preciso confiar em alguém. ( ) j) Desconfio de pessoas como ele. ( )
2) Separe o sujeito do predicado nas frases abaixo e classifique o predicado em: predicado verbal, predicado nominal
ou predicado verbo nominal.

a) O rapaz estava inquieto.

b) Nós precisamos de você aqui.

c) Muitas pessoas brasileiras veem essa desertificação irritadas.

18
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
d) A economia daquele país continua atrasada.

e) A menina abandonou a sala revoltada.

f) Renata olhava o mar pela janela.

g) Nós achamos o filme engraçado.

2.3. TERMOS INTEGRANTES

a) Predicativo do sujeito: termo que expressa um estado ou qualidade do sujeito.(com predicado nominal ou verbo-
nominal):
Ex.: Elas são belíssimas.

b) Objeto direto: complemento verbal sem preposição obrigatória (predicado verbal ou verbo-nominal). Ex.: Ele
comprou um carro novo. O chefe nomeou Pedro gerente geral.

c) Objeto indireto: complemento verbal com preposição obrigatória (predicado verbal ou verbo-nominal). Ex.: Maria
obedece à mãe sempre. João chamou a José de bobo.
d) Predicativo do objeto: termo que expressa um estado ou qualidade do objeto, atribuídos pela ação do verbo da
oração.
Ex.: O juiz julgou o réu inocente.

e) Complemento nominal: termo preposicionado que completa o sentido de nomes (adjetivos, substantivos e
advérbios).
Ex.: Não foi obediente a nós. Eu não tenho medo de escuro.

f) Agente da passiva: termo preposicionado que indica aquele que pratica a ação do verbo, quando este está
empregado na voz passiva.
Ex.: Esse trabalho foi feito por mim.
(IMPORTANTE: corresponde ao sujeito na voz ativa. Ex.: Eu fiz esse trabalho.)

2.4. TERMOS ACESSÓRIOS

a) Adjunto adverbial: termo que indica uma circunstância, modifica um verbo ou intensifica o sentido desse, de um
adjetivo ou de um outro advérbio.
Ex.: Ele caminha muito. Ele está muito triste. Ele mora muito longe.

Principais circunstâncias: modo, tempo, lugar, intensidade, dúvida, negação, afirmação, condição, concessão,
condição, finalidade, instrumento, companhia, matéria, assunto.

b) Vocativo: termo usado para chamamento (sempre entre vírgulas).


Ex.: Pedro, venha cá. (vocativo: Pedro; sujeito : você)

c) Aposto: termo que se junta a um nome para explicá-lo, ou para servir-lhe de resumo, equivalente ou identificação.

19
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
Ex.: Maria , líder da greve, foi demitida ontem. (aposto explicativo)
A cidade de Niterói é linda. (aposto especificativo)
Conhecemos várias cidades: Roma, Paris, Londres. (aposto enumerativo)
Eram dois bons atletas: um no futebol e o outro na natação (aposto distributivo)
Brinquedos, roupas novas, passeios, nada o fazia feliz.(aposto resumitivo)

d) Adjunto adnominal: termo de valor adjetivo que modifica um substantivo. Pode ser expresso por artigo, numeral,
adjetivo (Os dois livros didáticos eram bons.); por locução adjetiva (Comprava material de guerra .) ; por pronomes
(Este carro é bonito.) .

4) Os verbos das frases abaixo são verbos transitivos diretos e indiretos, logo, possuem dois objetos: um direto e outro
indireto. Identifique-os:
a) O pai emprestou o carro ao filho.
objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

b) A palavra do médico deu ao doente uma esperança de cura.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

c) Aos vencedores daremos prêmios valiosos.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

d) O garoto escreveu uma carta ao irmão.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

e) A avó contou histórias aos netinhos.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

f) Nós entregamos ao lojista o dinheiro.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

g) Meu tio enviou as cartas para mim.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

h) O pai dedicou o livro ao filho.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

i) O professor pediu-lhe o caderno.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

j) O mestre entregou-me um maço de provas.


objeto direto: ___________________________ objeto indireto: ____________________________

5) Classifique os verbos usando as indicações abaixo:


▪ VI = verbo intransitivo
▪ VTD = verbo transitivo direto
▪ VTI = verbo transitivo indireto
▪ VTDI = verbo transitivo direto e indireto
▪ VL = verbo de ligação
a) ( ) O local parece agradável.
b) ( ) A bomba destruiu a loja.
c) ( ) Crianças gostam de brinquedos.
d) ( ) Ele escreveu uma carta ao filho.
e) ( ) O telhado desabou de repente.
f) ( ) As negociações foram complicadas.

20
MÓDULO 1 – 2019 – Prof. Rafael Dias e Bernadete Rocha CURSO ADSUMUS
6) Classifique o predicado das orações do exercício anterior:
a) ___________________________________________________.
b) ___________________________________________________.
c) ___________________________________________________.
d) ___________________________________________________.
e) ___________________________________________________.
f) ___________________________________________________.

7. Utilize o seguinte código para indicar os adjuntos adverbiais das frases:

(1) assunto (6) conformidade (11) intensidade


(2) causa (7) dúvida (12) modo
(3) companhia (8) fim (13) tempo
(4) concessão (9) instrumento (14) negação
(5) condição (10) lugar
( ) Saiu às pressas . ( ) Jamais mentiu. ( ) Talvez melhore o tempo.
( ) Voltaram apesar do escuro. ( ) Chorou muito. ( ) Preparou-se para o concurso.
( ) Escreveu a carta com lápis. ( ) Conversamos sobre música. ( ) Veio dali.
( ) Sairá imediatamente. ( ) Morreu de fome. ( ) Não lerá sem os óculos.
( ) Fez a casa conforme a planta. ( ) Saía com os amigos. ( ) Com chuva, não iremos.
( ) Falou assim. ( ) Entrará com autorização.

8. Substitua a oração assinalada por uma estrutura nominal (ou nominalização):


a) Meu desejo é que ele seja aprovado. Ex.: Meu desejo é a aprovação dele.
b) Convém que aceites o projeto._____________________________________________________________
c) Ele pediu que resolvam os assuntos pendentes. ________________________________________________
d) Tinha a firma necessidade de que investíssemos . ________________________________________________
e) As meninas não gostariam de que as amigas chegassem naquele momento.
________________________________________________
f) É proibido que agrotóxicos sejam usados. ______________________________________________________
g) É urgente que os acionistas devolvam a cota. __________________________________________________
h) Seria necessário que encomendássemos a torta. __________________________________________________
i) É bom que enviem o documento solicitado. ____________________________________________________

9. Transforme os termos sublinhados em orações:


a) Começou a chorar no início da missa. _____________________________________________________________
b) Trabalhou muito por necessidade. _______________________________________________________________
c) Saiu para o vice assumir. _____________________________________________________________________
d) Fez tudo o que podia mesmo na doença. _________________________________________________________
e) Marcílio Dias, simples marinheiro, é considerado um herói. __________________________________________
f) Embora forte, João cambaleava aos socos do adversário. ______________________________________________
g) O leão, mamífero carnívoro, necessita de quilos de alimento por dia. ___________________________________

21
M
A
T
E
M
Á
T
I
C
A
CURSO ADSUMUS
Profº César Loyola

Matemática Básica - Módulo I – QOAM 2018-2019

1 - REGRA DOS SINAIS

a) Não envolvendo multiplicação ou divisão

Sinais iguais – Somam-se e dá-se o mesmo sinal.


Ex.: + 5 + 7 = + 12 e - 5 – 7 = - 12
Sinais diferentes – Subtraem-se e dá-se o sinal do maior módulo.
Ex.: - 5 + 7 = + 2 e +5–7=-2

b) Envolvendo multiplicação ou divisão

Sinais iguais – Após a operação o resultado será positivo (+).


Ex.: (+5).(+7) = + 35 e (- 5).(- 7) = + 35
Resumo: (+).(+) = (+) ( - ).( - ) = ( + )
(+):(+) = (+) ( - ):( - ) = ( + )

Sinais diferentes – Após a operação o resultado será negativo ( - ).


Ex.: (+ 5).(- 7) = - 35 e (- 5).(+ 7) = - 35
Resumo: (+).( - ) = ( - ) ( - ).(+) = ( - )
(+):( - ) = ( - ) ( - ):(+) = ( - )

2 - DECOMPOSIÇÃO EM FATORES PRIMOS


Todo número natural, maior que 1, pode ser decomposto num produto de dois ou mais
fatores.
Decomposição do número 24 num produto:
24 = 4 x 6
24 = 2 x 2 x 6
24 = 2 x 2 x 2 x 3 = 23 x 3
No produto 2 x 2 x 2 x 3 todos os fatores são primos.
Chamamos de fatoração de 24 a decomposição de 24 num produto de fatores primos.
Então a fatoração de 24 é 23 x 3.

De um modo geral, chamamos de fatoração de um número natural,


maior
que 1, a sua decomposição num produto de fatores primos.

• Regra prática para a fatoração

Existe um dispositivo prático para fatorar um número. Acompanhe, no exemplo, os passos


para montar esse dispositivo:

Matemática – Prof. César Loyola curso adsumus 1/78


1º) Dividimos o número pelo seu menor divisor
primo;
2º) a seguir, dividimos o quociente obtido pelo
menor divisor primo desse quociente e assim
sucessivamente até obter o quociente 1.
A figura ao lado mostra a fatoração do número
630.

Então 630 = 2 x 3 x 3 x 5 x 7.
630 = 2 x 32 x 5 x 7.

3 - FRAÇÕES

O símbolo significa a:b, sendo a e b números naturais e b diferente de zero.


Chamamos:

de fração;
a de numerador;
b de denominador.
Adição e subtração de números fracionários
Temos que analisar dois casos:
1º) denominadores iguais
Para somar frações com denominadores iguais, basta somar os numeradores e conservar o
denominador.
Para subtrair frações com denominadores iguais, basta subtrair os numeradores e
conservar o denominador.
Observe os exemplos:

2º) denominadores diferentes


Para somar frações com denominadores diferentes, uma solução é obter frações
equivalentes, de denominadores iguais ao mmc dos denominadores das frações. Exemplo: somar

as frações .
Obtendo o mmc dos denominadores temos mmc(5,2) = 10.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 2/78


(10:5).4 = 8 (10:2).5 = 25

Resumindo: utilizamos o mmc para obter as frações equivalentes e depois somamos


normalmente as frações, que já terão o mesmo denominador, ou seja, utilizamos o caso 1.

Multiplicação e divisão de números fracionários


Na multiplicação de números fracionários, devemos multiplicar numerador por numerador, e
denominador por denominador, assim como é mostrado nos exemplos abaixo:

Na divisão de números fracionários, devemos multiplicar a primeira fração pelo inverso da


segunda, como é mostrado no exemplo abaixo:

4 - NUMERAÇÃO DECIMAL
Introdução
A figura nos mostra um paralelepípedo com suas principais dimensões em centímetros.

Essas dimensões são apresentadas sob a forma de notação decimal, que corresponde a uma
outra forma de representação dos números racionais fracionários.
A representação dos números fracionária já era conhecida há quase 3.000 anos, enquanto a
forma decimal surgiu no século XVI com o matemático francês François Viète.
O uso dos números decimais é bem superior ao dos números fracionários. Observe que nos
computadores e nas máquinas calculadoras utilizamos unicamente a forma decimal.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 3/78


Frações Decimais
Observe as frações:

Os denominadores são potências de 10.


Assim:

Denominam-se frações decimais, todas as frações que apresentam


potências de 10 no denominador.

Numeração decimal
Números Decimais
O francês Viète (1540 - 1603) desenvolveu um método para escrever as frações decimais; no
lugar de frações, Viète escreveria números com vírgula. Esse método, modernizado, é utilizado
até hoje.
Observe no quando a representação de frações decimais através de números decimais:

Fração Decimal = Números Decimais

= 0,1

= 0,01

= 0,001

= 0,0001

Fração Decimal = Números Decimais

= 0,5

= 0,05

= 0,005

= 0,0005

Fração Decimal = Números Decimais

= 11,7

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 4/78


= 1,17

= 0,117

= 0,0117

Os números 0,1, 0,01, 0,001; 11,7, por exemplo, são números decimais.
Nessa representação, verificamos que a vírgula separa a parte inteira da parte decimal.

Leitura dos números decimais


No sistema de numeração decimal, cada algarismo, da parte inteira ou decimal, ocupa uma
posição ou ordem com as seguintes denominações:

Centésimos
Décimos
Centenas Dezenas Décimos Centésimos Milésimos milésimos Milionésimos
milésimos
Unidades

Partes inteiras Partes decimais

Leitura
Lemos a parte inteira, seguida da parte decimal, acompanhada das palavras:
décimos ........................................... : quando houver uma casa decimal;
centésimos....................................... : quando houver duas casas decimais;
milésimos......................................... : quando houver três casas decimais;
décimos milésimos ........................ : quando houver quatro casas decimais;
centésimos milésimos ................... : quando houver cinco casas decimais e, assim
sucessivamente.
Exemplos:
1,2: um inteiro e dois décimos;
2,34: dois inteiros e trinta e quatro centésimos
Quando a parte inteira do número decimal é zero, lemos apenas a parte decimal.
Exemplos:
0,1 : um décimo;
0,79 : setenta e nove centésimos
Observação:
1. Existem outras formas de efetuar a leitura de um número decimal. Observe a leitura do

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 5/78


número 5,53:
Leitura convencional: cinco inteiros e cinquenta e três centésimos;

Outras formas: quinhentos e cinquenta e três centésimos;


cinco inteiros, cinco décimos e três centésimos.

2. Todo números natural pode ser escrito na forma decimal, bastando colocar a vírgula após o
último algarismo e acrescentar zero(s). Exemplos:
4 = 4,0 = 4,00 75 = 75,0 = 75,00

Transformação de números decimais em frações decimais


Observe os seguintes números decimais:

• 0,8 (lê-se "oito décimos"), ou seja, .

• 0,65 (lê-se "sessenta e cinco centésimos"), ou seja, .

• 5,36 (lê-se "quinhentos e trinta e seis centésimos"), ou seja, .

• 0,047 (lê-se "quarenta e sete milésimos"), ou seja,


Verifique então que:

Assim:

Um número decimal é igual à fração que se obtém escrevendo para numerador o


número sem vírgula e dando para denominador a unidade seguida de tantos zeros
quantas forem as casas decimais.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 6/78


Transformação de fração decimal em número decimal
Observe as igualdades entre frações decimais e números decimais a seguir:

Podemos concluir, então, que:

Para se transformar uma fração decimal em número decimal, basta


dar ao numerador tantas casas decimais quantos forem os zeros do
denominador.

Decimais equivalentes
As figuras foram divididas em 10 e 100 pares, respectivamente. A seguir foram coloridas de
verde escuro 4 e 40 destas parte, respectivamente. Observe:

Verificamos que 0,4 representa o mesmo que 0,40, ou seja, são decimais equivalentes.
Logo, decimais equivalentes são aqueles que representam a mesma quantidade.
Exemplos:

0,4 = 0,40 = 0,400 = 0,4000 8 = 8,0 = 8,00 = 8,000

2,5 = 2,50 = 2,500 = 2,5000 95,4 = 95,40 = 95,400 = 95,4000

Dos exemplos acima, podemos concluir que:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 7/78


Um número não se altera quando se acrescenta ou se suprime um
ou mais zeros à direita de sua parte decimal.

Comparação de números decimais


Comparar dois números decimais significa estabelecer uma relação de igualdade ou de
desigualdade entre eles. Consideremos dois casos:
1º Caso: As partes inteiras

O maior é aquele que tem a maior parte inteira.

Exemplos:
3,4 > 2,943, pois 3 >2. 10,6 > 9,2342, pois 10 > 9.

2º Caso: As partes inteiras são iguais

O maior é aquele que tem a maior parte decimal. É necessário


igualar inicialmente o número de casas decimais acrescentando
zeros.

Exemplos:
• 0,75 > 0,7 ou 0,75 > 0,70 (igualando as casas decimais), pois 75 > 70.
8,3 > 8,03 ou 8,30 > 8,03 (igualando as casas decimais ), pois 30 > 3.

5 - NÚMEROS RACIONAIS

Racionais Positivos e Racionais Negativos


O quociente de muitas divisões entre números naturais é um número racional absoluto.

Números racionais positivos e números racionais negativos que sejam quocientes de dois
negativos que sejam quocientes de dois números inteiros, com divisor diferente de zero.
Por exemplo:
(+17) : (-4) =

é um número racional negativo

Números Racionais Positivos


Esses números são quocientes de dois números inteiros com sinais iguais.

(+8) : (+5)

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 8/78


(-3) : (-5)

Números Racionais Negativos


São quocientes de dois números inteiros com sinais diferentes.
(-8) : (+5)

(-3) : (-5)

Números Racionais: Escrita Fracionária


têm valor igual a e representam o número racional .

Obs.: Todo número inteiro é um número racional, pois pode ser escrito na forma fracionária:

Denominamos número racional o quociente de dois números inteiros (divisor diferente de zero),
ou seja, todo número que pode ser colocado na forma fracionária, em que o numerador e
denominador são números inteiros.

Conjunto dos números racionais


O conjunto dos números racionais é uma ampliação do conjunto dos números inteiros.
O conjunto formado pelos números racionais positivos, os números racionais negativos e o
zero são um novo conjunto que chamamos de conjunto dos números racionais e é
representado por Q.
Exemplos:

Observe o desenho abaixo:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 9/78


O conjunto de Q é uma ampliação do conjunto Z.
Outros subconjuntos de Q:
• Q* é o conjunto dos números racionais diferentes de zero;
• Q+ é o conjunto dos números racionais positivos e o zero;
• Q- é o conjunto dos números racionais, negativos e o zero;
• Q+* é o conjunto dos números racionais e positivos;
• Q-* é o conjunto dos números racionais negativos.

Operações com números racionais


Adição e Subtração
Para simplificar a escrita, transformamos a adição e subtração em somas algébricas.
Eliminamos os parenteses e escrevemos os números um ao lado do outro, da mesma forma
como fazemos com os números inteiros.
Exemplo 1: Qual é a soma:

Exemplo 2: Calcule o valor da expressão

Multiplicação e divisão
Na multiplicação de números racionais, devemos multiplicar numerador por numerador, e
denominador por denominador, assim como é mostrado nos exemplos abaixo:

Na divisão de números racionais, devemos multiplicar a primeira fração pelo inverso da


segunda, como é mostrado no exemplo abaixo:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 10/78


Potenciação e radiciação
Na potenciação, quando elevamos um número racional a um determinado expoente, estamos
elevando o numerador e o denominador a esse expoente, conforme os exemplos abaixo:

Na radiciação, quando aplicamos a raiz quadrada a um número racional, estamos aplicando


essa raiz ao numerador e ao denominador, conforme o exemplo abaixo:

6 - OPERAÇÕES COM NÚMEROS RACIONAIS DECIMAIS


Adição
Considere a seguinte adição:
1,28 + 2,6 + 0,038
Transformando em frações decimais, temos:

Método prático
1º) Igualamos o números de casas decimais, com o acréscimo de zeros;
2º) Colocamos vírgula debaixo de vírgula;
3º) Efetuamos a adição, colocando a vírgula na soma alinhada com as demais.
Exemplos:
1,28 + 2,6 + 0,038 35,4 + 0,75 + 47 6,14 + 1,8 + 0,007

Subtração

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 11/78


Considere a seguinte subtração:
3,97 - 2,013
Transformando em fração decimal, temos:

Método prático
1º) Igualamos o números de casas decimais, com o acréscimo de zeros;
2º) Colocamos vírgula debaixo de vírgula;
3º) Efetuamos a subtração, colocando a vírgula na diferença, alinhada com as
demais.
Exemplos:
3,97 - 2,013 17,2 - 5,146 9 - 0,987

Multiplicação
Considere a seguinte multiplicação: 3,49 · 2,5

Transformando em fração decimais, temos:


Método prático
Multiplicamos os dois números decimais como se fossem naturais. Colocamos a
vírgula no resultado de modo que o número de casas decimais do produto seja igual
à soma dos números de casas decimais do fatores.

Exemplos:
3,49 · 2,5

1,842 · 0,013

Observação:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 12/78


1. Na multiplicação de um número natural por um número decimal, utilizamos o método
prático da multiplicação. Nesse caso o número de casas decimais do produto é igual ao número
de casas decimais do fator decimal. Exemplo:
5 · 0,423 = 2,115
2. Para se multiplicar um número decimal por 10, 100, 1.000, ..., basta deslocar a vírgula para a
direita uma, duas, três, ..., casas decimais. Exemplos:

3. Os números decimais podem ser transformados em porcentagens. Exemplos

0,05 = = 5% 1,17 = = 117% 5,8 = 5,80 = = 580%

Divisão
1º: Divisão exata
Considere a seguinte divisão: 1,4 : 0,05

Transformando em frações decimais, temos:


Método prático
1º) Igualamos o números de casas decimais, com o acréscimo de zeros;
2º) Suprimimos as vírgulas;
3º) Efetuamos a divisão.
Exemplos:
• 1,4 : 0,05

Efetuado a divisão
Igualamos as
1,40 : 0,05
casa
decimais:

Suprimindo 140 : 5
as vírgulas:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 13/78


Logo, o quociente de 1,4 por 0,05 é 28.

• 6 : 0,015
Efetuando a divisão
Igualamos as casas
6,000 : 0,015
decimais
Suprimindo as vírgulas 6.000 : 15
Logo, o quociente de 6 por 0,015 é 400.

Efetuando a divisão
• 4,096 : 1,6

Igualamos as casas decimais 4,096 : 1,600


Suprimindo as vírgulas 4.096 : 1.600

Observe que na divisão acima o quociente inteiro é 2 e o resto corresponde a 896 unidades.
Podemos prosseguir a divisão determinando a parte decimal do quociente. Para a determinação
dos décimos, colocamos uma vírgula no quociente e acrescentamos um zero resto, uma vez que
896 unidades corresponde a 8.960 décimos.

Continuamos a divisão para determinar os centésimos acrescentando outro zero ao novo resto,
uma vez que 960 décimos correspondem a 9600 centésimos.

O quociente 2,56 é exato, pois o resto é nulo.


Logo, o quociente de 4,096 por 1,6 é 2,56.

• 0,73 : 5 Efetuando a divisão

Igualamos as casas decimais 0,73 : 5,00


Suprimindo as vírgulas 73 : 500

Podemos prosseguir a divisão, colocando uma vírgula no quociente e acrescentamos um zero à


direita do três. Assim:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 14/78


Continuamos a divisão, obtemos:

Logo, o quociente de 0,73 por 5 é 0,146.

Em algumas divisões, o acréscimo de um zero ao resto ainda não torna possível a divisão.
Nesse caso, devemos colocar um zero no quociente e acrescentar mais um zero ao resto.
Exemplos:
• 2,346 : 2,3
Verifique 460 (décimos) é inferior ao divisor
(2.300). Colocamos, então, um zero no
quociente e acrescentamos mais um zero ao
resto.

Logo, o quociente de 2,346 por 2,3 é 1,02.

Observação:
Para se dividir um número decimal por 10, 100, 1.000, ..., basta deslocar a vírgula para a
esquerda uma, duas, três, ..., casas decimais. Exemplos:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 15/78


2º : Divisão não exata
No caso de uma divisão não exata determinamos o quociente aproximado por falta ou por
excesso.
Seja, por exemplo, a divisão de 66 por 21:

Tomando o quociente 3 (por falta), ou 4 (por excesso), estamos cometendo um erro que uma
unidade, pois o quociente real encontra-se entre 3 e 4.
Logo:

Assim, na divisão de 66 por 21, temos: afirmar que:


3 é o quociente aproximado por falta, a menos de uma unidade.
4 é o quociente aproximado por excesso, a menos de uma unidade.
Prosseguindo a divisão de 66 por 21, temos:

Podemos afirmar que:


3,1 é o quociente aproximado por falta, a menos de um décimo.
3,2 é o quociente aproximado por excesso, a menos de um décimo.
Dando mais um passo, nessa mesma divisão, temos:
Podemos afirmar que:
3,14 é o quociente aproximado por falta, a menos de um centésimo.
3,15 é o quociente aproximado por excesso, a menos de um centésimo.
Observação:
1. As expressões têm o mesmo significado:
- Aproximação por falta com erro menor que 0,1 ou aproximação de décimos.
- Aproximação por falta com erro menor que 0,01 ou aproximação de centésimos e, assim,
sucessivamente.
2. Determinar um quociente com aproximação de décimos, centésimos ou milésimos
significa interromper a divisão ao atingir a primeira, segunda ou terceira casa decimal do
quociente, respectivamente. Exemplos:
13 : 7 = 1,8 (aproximação de décimos)
13 : 7 = 1,85 (aproximação de centésimos)
13 : 7 = 1,857 (aproximação de milésimo)
Cuidado!
No caso de ser pedido um quociente com aproximação de uma divisão exata, devemos

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 16/78


completar com zero(s), se preciso, a(s) casa(s) do quociente necessária(s) para atingir tal
aproximação. Exemplo:
O quociente com aproximação de milésimos de 8 de 3,2 é
2º : Divisão não-exata
No caso de uma divisão não-exata determinamos o quociente aproximado por falta ou por
excesso.
Seja, por exemplo, a divisão de 66 por 21:

Tomando o quociente 3 (por falta), ou 4 (por excesso), estamos cometendo um erro que uma
unidade, pois o quociente real encontra-se entre 3 e 4.
Logo:

Assim, na divisão de 66 por 21, temos: afirmar que:


3 é o quociente aproximado por falta, a menos de uma unidade.
4 é o quociente aproximado por excesso, a menos de uma unidade.
Prosseguindo a divisão de 66 por 21, temos:

Podemos afirmar que:


3,1 é o quociente aproximado por falta, a menos de um décimo.
3,2 é o quociente aproximado por excesso, a menos de um décimo.
Dando mais um passo, nessa mesma divisão, temos:
Podemos afirmar que:
3,14 é o quociente aproximado por falta, a menos de um centésimo.
3,15 é o quociente aproximado por excesso, a menos de um centésimo.
Observação:
1. As expressões têm o mesmo significado:
- Aproximação por falta com erro menor que 0,1 ou aproximação de décimos.
- Aproximação por falta com erro menor que 0,01 ou aproximação de centésimos e, assim,
sucessivamente.
2. Determinar um quociente com aproximação de décimos, centésimos ou milésimos
significa interromper a divisão ao atingir a primeira, segunda ou terceira casa decimal do
quociente, respectivamente. Exemplos:
13 : 7 = 1,8 (aproximação de décimos)
13 : 7 = 1,85 (aproximação de centésimos)

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 17/78


13 : 7 = 1,857 (aproximação de milésimo)
Cuidado!
No caso de ser pedido um quociente com aproximação de uma divisão exata, devemos
completar com zero(s), se preciso, a(s) casa(s) do quociente necessária(s) para atingir tal
aproximação. Exemplo:
O quociente com aproximação de milésimos de 8 de 3,2 é

Representação Decimal de uma Fração Ordinária


Podemos transformar qualquer fração ordinária em número decimal, devendo para isso dividir o
numerador pelo denominador da mesma. Exemplos:

• Converta em número decimal.

Logo, é igual a 0,75 que é um decimal exato.

• Converta em número decimal.

Logo, é igual a 0,333... que é uma dízima periódica simples.

• Converta em número decimal.

Logo, é igual a 0,8333... que é uma dízima periódica composta.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 18/78


Dízima Periódicas
Há frações que não possuem representação decimal exata. Por exemplo:

= 0,333... = 0,8333...
Aos numerais decimais em que há repetição periódica e infinita de um ou mais algarismos, dá-
se o nome de numerais decimais periódicos ou dízimas periódicas. Em uma dízima periódica, o
algarismo ou algarismo que se repetem infinitamente, constituem o período dessa dízima. As
dízimas classificam-se em dízimas periódicas simples e dízimas periódicas compostas.
Exemplos:

= 0,555... (Período: 5) = 2,333... (Período: 3) = 0,1212... (Período: 12)


São dízimas periódicas simples, uma vez que o período apresenta-se logo após a vírgula.

= 0,0222... = 1,15444... = 0,1232323...


Período: 2 Período: 4 Período: 23
Parte não periódica: 0 Parte não periódica: 15 Parte não periódica: 1

São dízima periódicas compostas, uma vez que entre o período e a vírgula existe uma parte não
periódica.
Observações

1. Consideramos parte não periódica de uma dízima o termo situado entre a vírgula e o
período. Excluímos portanto da parte não periódica o inteiro.
2. Podemos representar uma dízima periódica das seguintes maneiras:

0,555... ou ou 0,0222... ou ou
2,333... ou ou 1,15444... ou ou
0,121212... ou 0,1232323... ou

Geratriz de uma Dízima Periódica


É possível determinar a fração (número racional) que deu origem a uma dízima periódica.
Denominamos esta fração de geratriz da dízima periódica.
Procedimentos para determinação de uma dízima:
Dízima simples
A geratriz de uma dízima simples é uma fração que tem para numerador o
período e para denominador tantos noves quantos forem os algarismos do
período.
Exemplos:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 19/78


Dízima composta

A geratriz de uma dízima composta é uma fração da forma , onde:

n parte não-periódica seguida do período, menos a parte não-periódica.


d tantos noves quantos forem os algarismos do período seguidos de
tantos zeros quantos forem os algarismos da parte não-periódica.
Exemplo:

12,53262626... = 12 + 0,53262626... =
Potenciação
As potências nas quais a base é um número decimal e o expoente um número natural seguem
as mesmas regras desta operação, já definidas. Assim:
(3,5)2 = 3,5 · 3,5 = 12,25 (0,64)1 = 0,64
(0,4)3 = 0,4 · 0,4 · 0,4 = 0,064 (0,18)0 = 1
Raiz Quadrada
A raiz quadrada de um número decimal pode ser determinada com facilidade, transformando o
mesmo numa fração decimal. Assim:

Expressões Numéricas
No cálculo de expressões numérico envolvendo números decimais seguimos as mesmas regras
aplicadas às expressões com números fracionários.
Em expressões contendo frações e números decimais, devemos trabalhar transformando todos
os termos em um só tipo de número racional. Exemplo:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 20/78


= 0,05 + 0,2 · 0,16 : 0,4 + 0,25
= 0,05 + 0,032 : 0,4 + 0,25
= 0,05 + 0,08 + 0,25 = 0,38
Em expressões contendo dízimas, devemos determinar imediatamente suas geratrizes.
Exemplos:

7 - RAZÕES - INTRODUÇÃO
Vamos considerar um carro de corrida com 4m de comprimento e um kart com 2m de
comprimento. Para compararmos as medidas dos carros, basta dividir o comprimento de um
deles pelo outro. Assim:

(o tamanho do carro de corrida é duas vezes o tamanho do kart).

Podemos afirmar também que o kart tem a metade do comprimento do carro de corrida.
A comparação entre dois números racionais, através de uma divisão, chama-se razão.

A razão pode também ser representada por 1:2 e significa que cada metro do kart
corresponde a 2m do carro de corrida.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 21/78


Denominamos de razão entre dois números a e b (b diferente de zero)

o quociente ou a:b.

A palavra razão, vem do latim ratio, e significa "divisão". Como no exemplo anterior, são
diversas as situações em que utilizamos o conceito de razão. Exemplos:
• Dos 1200 inscritos num concurso, passaram 240 candidatos.
Razão dos candidatos aprovados nesse concurso:

(de cada 5 candidatos inscritos, 1 foi aprovado).


• Para cada 100 convidados, 75 eram mulheres.
Razão entre o número de mulheres e o número de convidados:

(de cada 4 convidados, 3 eram mulheres).

Observações:
1) A razão entre dois números racionais pode ser apresentada de três formas. Exemplo:

Razão entre 1 e 4: 1:4 ou ou 0,25.


2) A razão entre dois números racionais pode ser expressa com sinal negativo, desde que
seus termos tenham sinais contrários. Exemplos:

A razão entre 1 e -8 é .

A razão entre é .

- TERMOS DE UMA RAZÃO


Observe a razão:

(lê-se "a está para b" ou "a para b").

Na razão a:b ou , o número a é denominado antecedente e o número b é


denominado consequente. Veja o exemplo:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 22/78


3:5 =
Leitura da razão: 3 está para 5 ou 3 para 5.

Razões inversas

Considere as razões .

Observe que o produto dessas duas razões é igual a 1, ou seja, .

Nesse caso, podemos afirmar que são razões inversas.

Duas razões são inversas entre si quando o produto delas é igual a 1.

Exemplo:

são razões inversas, pois .


Verifique que nas razões inversas o antecedente de uma é o consequente da outra, e vice-
versa.

Observações:
1) Uma razão de antecedente zero não possui inversa.
2) Para determinar a razão inversa de uma razão dada, devemos permutar (trocar) os seus
termos.

Exemplo: O inverso de .

Razões equivalentes
Dada uma razão entre dois números, obtemos uma razão equivalente da seguinte maneira:

Multiplicando-se ou dividindo-se os termos de uma razão por um


mesmo número racional (diferente de zero), obtemos uma razão
equivalente.

Exemplos:

são razões equivalentes.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 23/78


são razões equivalentes.

Razões entre grandezas da mesma espécie


O conceito é o seguinte:

Denomina-se razão entre grandezas de mesma espécie o quociente entre os


números que expressam as medidas dessas grandezas numa mesma unidade.

Exemplos:
1) Calcular a razão entre a altura de dois anões, sabendo que o primeiro possui uma altura
h1= 1,20m e o segundo possui uma altura h2= 1,50m. A razão entre as alturas h1 e h2 é dada por:

2) Determinar a razão entre as áreas das superfícies das quadras de vôlei e basquete,
sabendo que a quadra de vôlei possui uma área de 162m 2 e a de basquete possui uma área de
240m2.

Razão entre as área da quadra de vôlei e basquete: .

Razões entre grandezas de espécies diferentes


O conceito é o seguinte:

Para determinar a razão entre duas grandezas de espécies diferentes,


determina-se o quociente entre as medidas dessas grandezas. Essa razão deve
ser acompanhada da notação que relaciona as grandezas envolvidas.

Exemplos:
1) Consumo médio:
• Beatriz foi de São Paulo a Campinas (92Km) no seu carro. Foram gastos nesse percurso 8
litros de combustível. Qual a razão entre a distância e o combustível consumido? O que
significa essa razão? Solução:

Razão =

Razão = (lê-se "11,5 quilômetros por litro").


Essa razão significa que a cada litro consumido foram percorridos em média 11,5 km.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 24/78


2) Velocidade média:
• Moacir fez o percurso Rio-São Paulo (450Km) em 5 horas. Qual a razão entre a medida
dessas grandezas? O que significa essa razão?
Solução:

Razão =
Razão = 90 km/h (lê-se "90 quilômetros por hora").
Essa razão significa que a cada hora foram percorridos em média 90 km.

3) Densidade demográfica:
• O estado do Ceará no último censo teve uma população avaliada em 6.701.924 habitantes.
Sua área é de 145.694 km2. Determine a razão entre o número de habitantes e a área
desse estado. O que significa essa razão?
Solução:

Razão =
Razão = 46 hab/km2 (lê-se "46 habitantes por quilômetro quadrado").
Essa razão significa que em cada quilômetro quadrado existem em média 46 habitantes.

4) Densidade absoluta ou massa específica:


• Um cubo de ferro de 1cm de aresta tem massa igual a 7,8g. Determine a razão entre a
massa e o volume desse corpo. O que significa essa razão?
Solução:
Volume = 1cm . 1cm . 1cm = 1cm3

Razão =
Razão = 7,8 g/cm3 (lê-se "7,8 gramas por centímetro cúbico").
Essa razão significa que 1cm3 de ferro pesa 7,8g.

8 - PROPORÇÕES - INTRODUÇÃO
Rogerião e Claudinho passeiam com seus cachorros. Rogerião pesa 120kg, e seu cão, 40kg.
Claudinho, por sua vez, pesa 48kg, e seu cão, 16kg.
Observe a razão entre o peso dos dois rapazes:

Observe, agora, a razão entre o peso dos cachorros:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 25/78


Verificamos que as duas razões são iguais. Nesse caso, podemos afirmar que a igualdade

é uma proporção. Assim:

Proporção é uma igualdade entre duas razões.

Elementos de uma proporção


Dados quatro números racionais a, b, c, d, não-nulos, nessa ordem, dizemos que eles formam
uma proporção quando a razão do 1º para o 2º for igual à razão do 3º para o 4º. Assim:

ou a:b=c:d

(lê-se "a está para b assim como c está para d")


Os números a, b, c e d são os termos da proporção, sendo:

• b e c os meios da proporção.
• a e d os extremos da proporção.

Exemplo:

Dada a proporção , temos:


Leitura: 3 está para 4 assim como 27 está para 36.
Meios: 4 e 27 Extremos: 3 e 36

Propriedade fundamental das proporções


Observe as seguintes proporções:

Produto dos meios = 4.30 = 120


Produto dos extremos = 3.40 = 120

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 26/78


Produto dos meios = 9.20 = 180
Produto dos extremos = 4.45 = 180

Produto dos meios = 8.45 = 360


Produto dos extremos = 5.72 = 360

De modo geral, temos que:

Daí podemos enunciar a propriedade fundamental das proporções:

Em toda proporção, o produto dos meios é igual ao produto dos extremos.

Aplicações da propriedade fundamental


Determinação do termo desconhecido de uma proporção
Exemplos:

• Determine o valor de x na proporção:

Solução:
5 . x = 8 . 15 (aplicando a propriedade fundamental)
5 . x = 120

x = 24
Logo, o valor de x é 24.

• Determine o valor de x na proporção:

Solução:
5 . (x-3) = 4 . (2x+1) (aplicando a propriedade fundamental)
5x - 15 = 8x + 4
5x - 8x = 4 + 15
-3x = 19
3x = -19

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 27/78


x=

Logo, o valor de x é .
Os números 5, 8, 35 e x formam, nessa ordem, uma proporção. Determine o valor de x.
Solução:

(aplicando a propriedade fundamental)


5 . x = 8 . 35
5x = 280

x = 56
Logo, o valor de x é 56.

Resolução de problemas envolvendo proporções


Exemplo:

• Numa salina, de cada metro cúbico (m3) de água salgada, são retirados 40 dm3 de sal.
Para obtermos 2 m3 de sal, quantos metros cúbicos de água salgada são necessários?

Solução:
A quantidade de sal retirada é proporcional ao volume de água salgada.
Indicamos por x a quantidade de água salgada a ser determinada e armamos a
proporção:

Lembre-se que 40dm3 = 0,04m3.

(aplicando a propriedade fundamental)


1 . 2 = 0,04 . x
0,04x = 2

x = 50 m3
Logo, são necessários 50 m3 de água salgada.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 28/78


9 - GRANDEZAS – INTRODUÇÃO
Entendemos por grandeza tudo aquilo que pode ser medido, contado. As grandezas podem
ter suas medidas aumentadas ou diminuídas.
Alguns exemplos de grandeza: o volume, a massa, a superfície, o comprimento, a
capacidade, a velocidade, o tempo, o custo e a produção.
É comum ao nosso dia-a-dia situações em que relacionamos duas ou mais grandezas. Por
exemplo:
Em uma corrida de "quilômetros contra o relógio", quanto maior for a velocidade, menor será
o tempo gasto nessa prova. Aqui as grandezas são a velocidade e o tempo.
Num forno utilizado para a produção de ferro fundido comum, quanto maior for o tempo de
uso, maior será a produção de ferro. Nesse caso, as grandezas são o tempo e a produção.

Grandezas diretamente proporcionais


Um forno tem sua produção de ferro fundido de acordo com a tabela abaixo:

Tempo (minutos) Produção (Kg)


5 100
10 200
15 300
20 400

Observe que uma grandeza varia de acordo com a outra. Essas grandezas são variáveis
dependentes. Observe que:
Quando duplicamos o tempo, a produção também duplica.
5 min ----> 100Kg
10 min ----> 200Kg
Quando triplicamos o tempo, a produção também triplica.
5 min ----> 100Kg
15 min ----> 300Kg
Assim:

Duas grandezas variáveis dependentes são diretamente proporcionais quando a


razão entre os valores da 1ª grandeza é igual a razão entre os valores
correspondentes da 2ª

Verifique na tabela que a razão entre dois valores de uma grandeza é igual a razão entre os dois
valores correspondentes da outra grandeza.

Grandezas inversamente proporcionais


Um ciclista faz um treino para a prova de "1000 metros contra o relógio", mantendo em cada
volta uma velocidade constante e obtendo, assim, um tempo correspondente, conforme a tabela
abaixo

Velocidade (m/s) Tempo (s)


5 200

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 29/78


8 125
10 100
16 62,5
20 50

Observe que uma grandeza varia de acordo com a outra. Essas grandezas são variáveis
dependentes. Observe que:
Quando duplicamos a velocidade, o tempo fica reduzido à metade.
5 m/s ----> 200s
10 m/s ----> 100s
Quando quadriplicamos a velocidade, o tempo fica reduzido à quarta parte.
5 m/s ----> 200s
20 m/s ----> 50s
Assim:

Duas grandezas variáveis dependentes são inversamente proporcionais


quando
a razão entre os valores da 1ª grandeza é igual ao inverso da razão entre os
valores correspondentes da 2ª.

Verifique na tabela que a razão entre dois valores de uma grandeza é igual ao inverso da razão
entre os dois valores correspondentes da outra grandeza.

10 - REGRA DE TRÊS SIMPLES

Regra de três simples é um processo prático para resolver problemas que envolvam quatro
valores dos quais conhecemos três deles. Devemos, portanto, determinar um valor a partir dos
três já conhecidos.
Passos utilizados numa regra de três simples:
1º) Construir uma tabela, agrupando as grandezas da mesma espécie em colunas e
mantendo na mesma linha as grandezas de espécies diferentes em correspondência.
2º) Identificar se as grandezas são diretamente ou inversamente proporcionais.
3º) Montar a proporção e resolver a equação.
Exemplos:
1) Com uma área de absorção de raios solares de 1,2m 2, uma lancha com motor movido a
energia solar consegue produzir 400 watts por hora de energia. Aumentando-se essa área para
1,5m2, qual será a energia produzida?
Solução: montando a tabela:
Área (m2) Energia (Wh)
1,2 400
1,5 x

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 30/78


Identificação do tipo de relação:

Inicialmente colocamos uma seta para baixo na coluna que contém o x (2ª coluna).
Observe que: Aumentando a área de absorção, a energia solar aumenta.
Como as palavras correspondem (aumentando - aumenta), podemos afirmar que as
grandezas são diretamente proporcionais. Assim sendo, colocamos uma outra seta no mesmo
sentido (para baixo) na 1ª coluna. Montando a proporção e resolvendo a equação temos:

Logo, a energia produzida será de 500 watts por hora.

2) Um trem, deslocando-se a uma velocidade média de 400Km/h, faz um determinado


percurso em 3 horas. Em quanto tempo faria esse mesmo percurso, se a velocidade utilizada
fosse de 480km/h?
Solução: montando a tabela:
Velocidade (Km/h) Tempo (h)
400 3
480 x
Identificação do tipo de relação:

Inicialmente colocamos uma seta para baixo na coluna que contém o x (2ª coluna).
Observe que: Aumentando a velocidade, o tempo do percurso diminui.
Como as palavras são contrárias (aumentando - diminui), podemos afirmar que as
grandezas são inversamente proporcionais. Assim sendo, colocamos uma outra seta no
sentido contrário (para cima) na 1ª coluna. Montando a proporção e resolvendo a equação temos:

Logo, o tempo desse percurso seria de 2,5 horas ou 2 horas e 30 minutos.


3) Bianca comprou 3 camisetas e pagou R$120,00. Quanto ela pagaria se comprasse 5
camisetas do mesmo tipo e preço?

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 31/78


Solução: montando a tabela:
Camisetas Preço (R$)
3 120
5 x
Observe que: Aumentando o número de camisetas, o preço aumenta.
Como as palavras correspondem (aumentando - aumenta), podemos afirmar que as
grandezas são diretamente proporcionais. Montando a proporção e resolvendo a equação
temos:

Logo, a Bianca pagaria R$200,00 pelas 5 camisetas.

4) Uma equipe de operários, trabalhando 8 horas por dia, realizou determinada obra em 20
dias. Se o número de horas de serviço for reduzido para 5 horas, em que prazo essa equipe fará
o mesmo trabalho?
Solução: montando a tabela:
Horas por dia Prazo para término (dias)
8 20
5 x
Observe que: Diminuindo o número de horas trabalhadas por dia, o prazo para término
aumenta.
Como as palavras são contrárias (diminuindo - aumenta), podemos afirmar que as
grandezas são inversamente proporcionais. Montando a proporção e resolvendo a equação
temos:

11 - DÍZIMAS PERIÓDICAS

Há frações que não possuem representações decimal exata. Por exemplo:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 32/78


Aos numerais decimais em que há repetição periódica e infinita de um ou mais algarismos, dá-
se o nome de numerais decimais periódicos ou dízimas periódicas.
Numa dízima periódica, o algarismo ou algarismos que se repetem infinitamente, constituem o
período dessa dízima.
As dízimas classificam-se em dízimas periódicas simples e dízimas periódicas compostas.
Exemplos:

(período: 3) (período: 12)


(período: 5)

São dízimas periódicas simples, uma vez que o período apresenta-se logo após a vírgula.

Período: 2 Período: 4 Período: 23


Parte não periódica: 0 Período não periódica: 15 Parte não periódica: 1

São dízimas periódicas compostas, uma vez que entre o período e a vírgula existe uma parte
não periódica.
Observações:
Consideramos parte não periódica de uma dízima o termo situado entre vírgulas e o período.
Excluímos portanto da parte não periódica o inteiro.
Podemos representar uma dízima periódica das seguintes maneiras:

Geratriz de uma dízima periódica


É possível determinar a fração (número racional) que deu origem a uma dízima periódica.
Denominamos esta fração de geratriz da dízima periódica.
Procedimentos para determinação da geratriz de uma dízima:
Dízima simples
A geratriz de uma dízima simples é uma fração que tem para numerador o período e para
denominador tantos noves quantos forem os algarismos do período.
Exemplos:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 33/78


Dízima Composta:

A geratriz de uma dízima composta é uma fração da forma , onde

n é a parte não periódica seguida do período, menos a parte não periódica.


D tantos noves quantos forem os algarismos do período seguidos de tantos zeros
quantos forem os algarismos da parte não periódica.

Exemplos:

12 - RESOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DO 1º GRAU


Resolver uma equação consiste em realizar uma espécie de operações de operações que
nos conduzem a equações equivalentes cada vez mais simples e que nos permitem, finalmente,
determinar os elementos do conjunto verdade ou as raízes da equação. Resumindo:

Resolver uma equação significa determinar o seu conjunto verdade,


dentro do conjunto universo considerado.

Na resolução de uma equação do 1º grau com uma incógnita, devemos aplicar os princípios de
equivalência das igualdades (aditivo e multiplicativo). Exemplos:

• Sendo , resolva a equação


.
MMC (4, 6) = 12

-9x = 10 => Multiplicador por (-1)

9x = -10

Como , então .

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 34/78


• Sendo , resolva a equação
2 . (x - 2) - 3 . (1 - x) = 2 . (x - 4).

Iniciamos aplicando a propriedade distributiva da multiplicação:

2x - 4 - 3 + 3x = 2x - 8
2x + 3x -2
x=-8+4+3
3x = -1

Como , então

13 - SISTEMAS DE EQUAÇÕES DO 1º GRAU


Considere o seguinte problema:
Pipoca, em sua última partida, acertou x arremessos de 2 pontos e y arremessos de 3 pontos.
Ele acertou 25 arremessos e marcou 55 pontos. Quantos arremessos de 3 pontos ele acertou?
Podemos traduzir essa situação através de duas equações, a saber:
x + y = 25 (total de arremessos certo)
2x + 3y = 55 (total de pontos obtidos)

Essas equações contém um sistema de equações.


Costuma-se indicar o sistema usando chave.

O par ordenado (20, 5), que torna ambas as sentenças verdadeiras, é chamado solução do
sistema. Um sistema de duas equações com duas variáveis possui uma única solução.

- RESOLUÇÃO DE SISTEMAS DO 1º GRAU


A resolução de um sistema de duas equações com duas variáveis consiste em determinar um
par ordenado que torne verdadeiras, ao mesmo tempo, essas equações.
Estudaremos a seguir alguns métodos:
Método de substituição

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 35/78


Solução
• determinamos o valor de x na 1ª equação.
x=4-y

• Substituímos esse valor na 2ª equação.

2 . (4 - y) -3y = 3

• Resolvemos a equação formada.

8 - 2y -3y = 3
8 - 2y -3y = 3
-5y = -5 => Multiplicamos por -1
5y = 5

y=1

• Substituímos o valor encontrado de y, em qualquer das equações, determinando x.

x +1= 4
x= 4-1
x=3

• A solução do sistema é o par ordenado (3, 1).

V = {(3, 1)}
Método da adição
Sendo U = , observe a solução de cada um dos sistemas a seguir, pelo método da adição.
Resolva o sistema abaixo:

Solução
• Adicionamos membros a membros as equações:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 36/78


2x = 16

x=8
Substituímos o valor encontrado de x, em qualquer das equações, determinado y:
8 + y = 10
y = 10 - 8
y=2
A solução do sistema é o par ordenado (8, 2)
V = {(8, 2)}
14 - RADICIAÇÃO
Potenciação de Radicais
Observando as potencias, temos que:

De modo geral, para se elevar um radical a um dado expoente, basta elevar o radicando
àquele expoente. Exemplos:

Divisão de Radicais
Segundo as propriedades dos radicais, temos que:

De um modo geral, na divisão de radicais de mesmo índice, mantemos o índice e dividimos os


radicais: Exemplos:

: =

Se os radicais forem diferentes, devemos reduzi-los ao mesmo índice e depois efetue a


operação. Exemplos:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 37/78


15 - MEDIDAS DE COMPRIMENTO
Sistema Métrico Decimal
Desde a Antiguidade os povos foram criando suas unidades de medida. Cada um deles
possuía suas próprias unidades-padrão. Com o desenvolvimento do comércio ficavam cada vez
mais difíceis a troca de informações e as negociações com tantas medidas diferentes. Era
necessário que se adotasse um padrão de medida único para cada grandeza.
Foi assim que, em 1791, época da Revolução francesa, um grupo de representantes de vários
países reuniu-se para discutir a adoção de um sistema único de medidas. Surgia o sistema
métrico decimal.

Metro
A palavra metro vem do gegro métron e significa "o que mede". Foi estabelecido inicialmente
que a medida do metro seria a décima milionésima parte da distância do Pólo Norte ao Equador,
no meridiano que passa por Paris. No Brasil o metro foi adotado oficialmente em 1928.

Múltiplos e Submúltiplos do Metro


Além da unidade fundamental de comprimento, o metro, existem ainda os seus múltiplos e
submúltiplos, cujos nomes são formados com o uso dos prefixos: quilo, hecto, deca, deci, centi e
mili. Observe o quadro:

Unidade
Múltiplos Submúltiplos
Fundamental

quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro


km hm dam m dm cm mm
1.000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m
Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos,
para pequenas distâncias.
Leitura das Medidas de Comprimento
A leitura das medidas de comprimentos pode ser efetuada com o auxílio do quadro de
unidades. Exemplos: Leia a seguinte medida: 15,048 m.
Seqüência prática
1º) Escrever o quadro de unidades:
km hm dam m dm cm mm

2º) Colocar o número no quadro de unidades, localizando o último algarismo da parte inteira
sob a sua respectiva.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 38/78


km hm dam m dm cm mm

1 5, 0 4 8
3º) Ler a parte inteira acompanhada da unidade de medida do seu último algarismo e a parte
decimal acompanhada da unidade de medida do último algarismo da mesma.
15 metros e 48 milímetros
Outros exemplos:
6,07 km lê-se "seis quilômetros e sete decâmetros"
lê-se "oitenta e dois decâmetros e cento e sete
82,107 dam
centímetros".
0,003 m lê-se "três milímetros".

Transformação de Unidades

Observe as seguintes transformações:


• Transforme 16,584hm em m.

km hm dam m dm cm mm

Para transformar hm em m (duas posições à direita) devemos multiplicar por 100 (10 x
10).
16,584 x 100 = 1.658,4
Ou seja:
16,584hm = 1.658,4m

• Transforme 1,463 dam em cm.

km hm dam m dm cm mm

Para transformar dam em cm (três posições à direita) devemos multiplicar por 1.000 (10
x 10 x 10).
1,463 x 1.000 = 1,463
Ou seja:
1,463dam = 1.463cm.

• Transforme 176,9m em dam.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 39/78


km hm dam m dm cm mm

Para transformar m em dam (uma posição à esquerda) devemos dividir por 10.
176,9 : 10 = 17,69
Ou seja:
176,9m = 17,69dam

• Transforme 978m em km.

km hm dam m dm cm mm

Para transformar m em km (três posições à esquerda) devemos dividir por 1.000.


978 : 1.000 = 0,978
Ou seja:
978m = 0,978km.
Observação:
Para resolver uma expressão formada por termos com diferentes unidades, devemos
inicialmente transformar todos eles numa mesma unidade, para a seguir efetuar as operações.

Perímetro de um Polígono

Perímetro de um polígono é a soma das medidas dos seus lados.

Perímetro do retângulo

b - base ou comprimento
h - altura ou largura
Perímetro = 2b + 2h = 2(b + h)

Perímetro dos polígonos regulares

Triângulo equilátero Quadrado


P = l+ l + l P = l + l + l+ l
P=3·l P=4·l

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 40/78


Comprimento da Circunferência
Um pneu tem 40cm de diâmetro, conforme a figura. Pergunta-se:
Cada volta completa deste pneu corresponde na horizontal a quantos centímetros?

Envolva a roda com um barbante. Marque o início e o fim desta volta no barbante.
Estique o bastante e meça o comprimento da circunferência correspondente à roda.

Medindo essa dimensão você encontrará aproximadamente 125,6cm, que é um valor um


pouco superior a 3 vezes o seu diâmetro. Vamos ver como determinar este comprimento por um
processo não experimental.
Você provavelmente já ouviu falar de uma antiga descoberta matemática:

Dividindo o comprimento de uma circunferência (C) pela medida do seu


diâmetro (D), encontramos sempre um valor aproximadamente igual a 3,14.

Assim:
O número 3,141592... corresponde em matemática à letra grega (lê-se "pi"), que é a primeira
lera da palavra grega perímetro. Costuma-se considera = 3,14.

Logo:
Utilizando essa fórmula,
podemos determinar o
comprimento de qualquer
circunferência.
Podemos agora conferir com
auxílio da fórmula o comprimento
da toda obtido experimentalmente.
3,141592...
C=2 r C = 2 3,14 · 20 ·
C = 125,6 cm

16 - MEDIDAS DE ÁREA (SUPERFÍCIE)


Introdução
As medidas de superfície fazem parte de nosso dia a dia e respondem a nossas perguntas
mais corriqueiras do cotidiano:
• Qual a área desta sala?

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 41/78


• Qual a área desse apartamento?
• Quantos metros quadrados de azulejos são necessários para revestir essa piscina?
• Qual a área dessa quadra de futebol de salão?
• Qual a área pintada dessa parede?
Superfície e área
Superfície é uma grandeza com duas dimensòes, enquanto área é a medida dessa grandeza,
portanto, um número.
Metro Quadrado
A unidade fundamental de superfície chama-se metro quadrado.
O metro quadrado (m2) é a medida correspondente à superfície de um quadrado com 1 metro de
lado.
Unidade
Múltiplos Submúltiplos
Fundamental
quilômetros hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro
quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado quadrado
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
1.000.000m2 10.000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

O dam2, o hm2 e km2 são utilizados para medir grandes superfícies, enquanto o dm 2, o cm2 e o
mm2 são utilizados para pequenas superfícies.
Exemplos:
1) Leia a seguinte medida: 12,56m2
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
12, 56
Lê-se “12 metros quadrados e 56 decímetros quadrados”. Cada coluna dessa tabela
corresponde a uma unidade de área.
2) Leia a seguinte medida: 178,3 m2
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
1 78, 30
Lê-se “178 metros quadrados e 30 decímetros quadrados”
3) Leia a seguinte medida: 0,917 dam2
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
0, 91 70
Lê-se 9.170 decímetros quadrados.

Medidas Agrárias
As medidas agrárias são utilizadas parea medir superfícies de campo, plantações, pastos,
fazendas, etc. A principal unidade destas medidas é o are (a). Possui um múltiplo, o hectare (ha),
e um submúltiplo, o centiare (ca).

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 42/78


Unidade
hectare (ha) are (a) centiare (ca)
agrária
Equivalência
100a 1a 0,01a
de valor
Lembre-se:
1 ha = 1hm2
1a = 1 dam2
1ca = 1m2
Transformação de unidades
No sistema métrico decimal, devemos lembrar que, na transformação de unidades de
superfície, cada unidade de superfície é 100 vezes maior que a unidade imediatamente
inferior:

Observe as seguintes transformações:


• transformar 2,36 m2 em mm2.
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
Para transformar m2 em mm2 (três posições à direita) devemos multiplicar por 1.000.000
(100x100x100).
2,36 x 1.000.000 = 2.360.000 mm2

• transformar 580,2 dam2 em km2.


km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
Para transformar dam2 em km2 (duas posições à esquerda) devemos dividir por 10.000
(100x100).
580,2 : 10.000 = 0,05802 km2

Pratique! Tente resolver esses exercícios:


1) Transforme 8,37 dm2 em mm2 (R: 83.700 mm2)
2) Transforme 3,1416 m2 em cm2 (R: 31.416 cm2)
3) Transforme 2,14 m2 em dam2 (R: 0,0214 dam2)
4) Calcule 40m x 25m (R: 1.000 m2)

17 - MEDIDAS DE VOLUME
Introdução
Frequentemente nos deparamos com problemas que envolvem o uso de três dimensões:
comprimento, largura e altura. De posse de tais medidas tridimensionais, poderemos calcular
medidas de metros cúbicos e volume.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 43/78


Metro cúbico
A unidade fundamental de volume chama-se metro cúbico. O metro cúbico (m3) é medida
correspondente ao espaço ocupado por um cubo com 1 m de aresta.
Múltiplos e submúltiplos do metro cúbico

Unidade
Múltiplos Submúltiplos
Fundamental

quilômetro hectômetro decâmetro decímetro centímetro milímetro


metro cúbico
cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico cúbico

km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3

1.000.000 0,000000001
1.000.000.000m3 1.000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3
m3 m3

Leitura das medidas de volume


A leitura das medidas de volume segue o mesmo procedimento do aplicado às medidas
lineares. Devemos utilizar porem, tres algarismo em cada unidade no quadro. No caso de alguma
casa ficar incompleta, completa-se com zero(s). Exemplos.
• Leia a seguinte medida: 75,84m3
km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
75, 840
Lê-se "75 metros cúbicos e 840 decímetros cúbicos".

• Leia a medida: 0,0064dm3


km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
0, 006 400
Lê-se "6400 centímetros cúbicos".
Transformação de unidades
Na transformação de unidades de volume, no sistema métrico decimal, devemos lembrar que
cada unidade de volume é 1.000 vezes maior que a unidade imediatamente inferior.

Observe a seguinte transformação:


• transformar 2,45 m3 para dm3.
km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
Para transformar m3 em dm3 (uma posição à direita) devemos multiplicar por 1.000.
2,45 x 1.000 = 2.450 dm3

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 44/78


Pratique! Tente resolver esses exercícios:
1) Transforme 8,132 km3 em hm3 (R: 8.132 hm3)
2) Transforme 180 hm3 em km3 (R: 0,18 km3)
3) Transforme 1 dm3 em dam3 (R: 0,000001 dam3)
4) Expresse em metros cúbicos o valor da expressão: 3.540dm3 + 340.000cm3 (R: 3,88
3
m)

18 - MEDIDAS DE CAPACIDADE
A quantidade de líquido é igual ao volume interno de um recipiente, afinal quando enchemos
este recipiente, o líquido assume a forma do mesmo. Capacidade é o volume interno de um
recipiente.
A unidade fundamental de capacidade chama-se litro.
Litro é a capacidade de um cubo que tem 1dm de aresta.
1l = 1dm3

Múltiplos e submúltiplos do litro

Múltiplos Unidade Fundamental Submúltiplos

quilolitro hectolitro decalitro litro decilitro centilitro mililitro

kl hl dal l dl cl ml

1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

Cada unidade é 10 vezes maior que a unidade imediatamente inferior.


Relações
1l = 1dm3
1ml = 1cm3
1kl = 1m3

Leitura das medidas de capacidade


• Exemplo: leia a seguinte medida: 2,478 dal
kl hl dal l dl cl ml
2, 4 7 8
Lê-se "2 decalitros e 478 centilitros".
Transformação de unidades
Na transformação de unidades de capacidade, no sistema métrico decimal, devemos lembrar
que cada unidade de capacidade é 10 vezes maior que a unidade imediatamente inferior.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 45/78


Observe a seguinte transformação:
• transformar 3,19 l para ml.
kl hl dal l dl cl ml
Para transformar l para ml (três posições à direita) devemos multiplicar por 1.000 (10x10x10).
3,19 x 1.000 = 3.190 ml

Pratique! Tente resolver esses exercícios:


1) Transforme 7,15 kl em dl (R: 71.500 dl)
2) Transforme 6,5 hl em l (R: 650 l)
3) Transforme 90,6 ml em l (R: 0,0906 l)
4) Expresse em litros o valor da expressão: 0,6m3 + 10 dal + 1hl (R: 800 l)

19 - EQUAÇÕES DO 2º GRAU
Definições
Denomina-se equação do 2º grau na incógnita x, toda equação da forma:

ax2 + bx + c = 0; a, b, c IR e

Exemplo:
• x2 - 5x + 6 = 0 é um equação do 2º grau com a = 1, b = -5 e c = 6.
• 6x2 - x - 1 = 0 é um equação do 2º grau com a = 6, b = -1 e c = -1.
• 7x2 - x = 0 é um equação do 2º grau com a = 7, b = -1 e c = 0.
• x2 - 36 = 0 é um equação do 2º grau com a = 1, b = 0 e c = -36.
Nas equações escritas na forma ax² + bx + c = 0 (forma normal ou forma reduzida de uma
equação do 2º grau na incógnita x) chamamos a, b e c de coeficientes.
a é sempre o coeficiente de x²;
b é sempre o coeficiente de x,
c é o coeficiente ou termo independente.
Equações completas e Incompletas
Uma equação do 2º grau é completa quando b e c são diferentes de zero. Exemplos:
x² - 9x + 20 = 0 e -x² + 10x - 16 = 0 são equações completas.
Uma equação do 2º grau é incompleta quando b ou c é igual a zero, ou ainda quando ambos
são iguais a zero. Exemplos:
• x² - 36 = 0 • x² - 10x = 0 • 4x² = 0

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 46/78


(b = 0) (c = 0) (b = c = 0)

Raízes de uma equação do 2º grau


Resolver uma equação do 2º grau significa determinar suas raízes.
Raiz é o número real que, ao substituir a incógnita de uma equação,
transforma-a numa sentença verdadeira.
O conjunto formado pelas raízes de uma equação denomina-se conjunto verdade ou
conjunto solução. Exemplos:

• Dentre os elementos do conjuntos A= {-1, 0, 1, 2}, quais são raízes da equação


x² - x - 2 = 0 ?

Solução
Substituímos a incógnita x da equação por cada um dos elementos do conjunto e
verificamos quais as sentenças verdadeiras.
(-1)² - (-1) - 2 = 0
Para x = -1 1+1-2=0 (V)
0=0
0² - 0 - 2 = 0
Para x = 0 0 - 0 -2 = 0 (F)
-2 = 0
1² - 1 - 2 = 0
Para x = 1 1-1-2=0 (F)
-2 = 0
2² - 2 - 2 = 0
Para x = 2 4-2-2=0 (V)
0=0
Logo, -1 e 2 são raízes da equação.

• Determine p sabendo que 2 é raiz da equação (2p - 1) x² - 2px - 2 = 0.

Solução
Substituindo a incógnita x por 2, determinamos o valor de p.

• Logo, o valor de p é .

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 47/78


Resolução de equações incompletas
Resolver uma equação significa determinar o seu conjunto verdade.
Utilizamos na resolução de uma equação incompleta as técnicas da fatoração e duas
importantes propriedades dos números reais:

1ª Propriedade:

2ª Propriedade:

1º Caso: Equação do tipo .


Exemplo:

• Determine as raízes da equação , sendo .

Solução
Inicialmente, colocamos x em evidência:

Para o produto ser igual a zero, basta que um dos fatores também o seja. Assim:

Obtemos dessa maneira duas raízes que formam o conjunto verdade:

De modo geral, a equação do tipo tem para soluções e .

2º Caso: Equação do tipo


Exemplos:

• Determine as raízes da equação , sendo U = IR.


Solução

De modo geral, a equação do tipo possui duas raízes reais se for um

número positivo, não tendo raiz real caso seja um número negativo.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 48/78


Resolução de equações completas
Para solucionar equações completas do 2º grau utilizaremos a fórmula de Bhaskara.
A partir da equação , em que a, b, c IR e , desenvolveremos passo
a passo a dedução da fórmula de Bhaskara (ou fórmula resolutiva).

1º passo: multiplicaremos ambos os membros por 4a.

2º passo: passar 4ac par o 2º membro.

3º passo: adicionar aos dois membros.

4º passo: fatorar o 1º elemento.

5º passo: extrair a raiz quadrada dois membros.

6º passo: passar b para o 2º membro.

7º passo: dividir os dois membros por .

Assim, encontramos a fórmula resolutiva da equação do 2º grau:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 49/78


Podemos representar as duas raízes reais por x' e x", assim:

Exemplos:

• resolução a equação:

Temos

Discriminante
Denominamos discriminante o radical b2 - 4ac que é representado pela letra grega (delta).

Podemos agora escrever deste modo a fórmula de Bhaskara:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 50/78


De acordo com o discriminante, temos três casos a considerar:

1º Caso: O discriminante é positivo .


O valor de é real e a equação tem duas raízes reais diferentes, assim representadas:

Exemplo:
• Para quais valores de k a equação x² - 2x + k- 2 = 0 admite raízes reais e desiguais?

Solução

Para que a equação admita raízes reais e desiguais, devemos ter

Logo, os valores de k devem ser menores que 3.

2º Caso: O discriminante é nulo


O valor de é nulo e a equação tem duas raízes reais e iguais, assim representadas:

Exemplo:
• Determine o valor de p, para que a equação x² - (p - 1) x + p-2 = 0 possua raízes iguais.
Solução

Para que a equação admita raízes iguais é necessário que .

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 51/78


Logo, o valor de p é 3.

3º Caso: O discriminante é negativo .


O valor de não existe em IR, não existindo, portanto, raízes reais. As raízes da equação
são número complexos.

Exemplo:
• Para quais valores de m a equação 3x² + 6x +m = 0 não admite nenhuma raiz real?

Solução
Para que a equação não tenha raiz real devemos ter

Logo, os valores de m devem ser maiores que 3.

Resumindo
Dada a equação ax² + bx + c = 0, temos:

Para , a equação tem duas raízes reais diferentes.


Para , a equação tem duas raízes reais iguais.
Para , a equação não tem raízes reais.

EQUAÇÕES LITERAIS
As equações do 2º grau na variável x que possuem alguns coeficientes ou alguns termos
independentes indicados por outras letras são denominadas equações literais.
As letras que aparecem numa equação literal, excluindo a incógnita, são denominadas
parâmetros.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 52/78


Exemplos:
ax2+ bx + c = 0 incógnita: x
parâmetro: a, b, c
ax2 - (2a + 1) x + 5 = 0 incógnita: x
parâmetro: a

Equações literais incompletas


A resolução de equações literais incompletas segue o mesmo processo das equações
numéricas.
Observe os exemplos:
• Resolva a equação literal incompleta 3x2 - 12m2=0, sendo x a variável.
Solução
3x2 - 12m2 = 0
3x2 = 12m2
x2 = 4m2

x=

Logo, temos:
• Resolva a equação literal incompleta my2- 2aby=0,com m 0, sendo y a variável.
Solução
my2 - 2aby = 0
y(my - 2ab)=0
Temos, portanto, duas soluções:
y=0
ou

my - 2ab = 0 my = 2ab y=
Assim:

Na solução do último exemplo, teríamos cometido um erro grave se tivéssemos assim


resolvido:
my2 - 2aby= 0
my2 = 2aby

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 53/78


my = 2ab

Desta maneira, obteríamos apenas a solução .


O zero da outra solução foi "perdido" quando dividimos ambos os termos por y.
Esta é uma boa razão para termos muito cuidado com os cancelamentos, evitando desta maneira
a divisão por zero, que é um absurdo.

Equações literais completas


As equações literais completas podem ser também resolvidas pela fórmula de Bhaskara:
Exemplo:
Resolva a equação: x2 - 2abx - 3a2b2, sendo x a variável.
Solução
Temos a=1, b = -2ab e c=-3a2b2

Portanto:

Assim, temos: V= { - ab, 3ab}.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 54/78


RELAÇÕES ENTRE OS COEFICIENTES E AS RAÍZES
Considere a equação ax2 + bx + c = 0, com a 0 e sejam x'e x'' as raízes reais dessa equação.

Logo:

Observe as seguintes relações:


• Soma das raízes (S)

• Produto das raízes (P)

Como ,temos:

Denominamos essas relações de relações de Girard. Verifique alguns exemplos de


aplicação dessas relações.
• Determine a soma e o produto das raízes da equação 10x2 + x - 2 = 0.
Solução
Nesta equação, temos: a=10, b=1 e c=-2.

A soma das raízes é igual a . O produto das raízes é igual a

Assim: Assim:

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 55/78


• Determine o valor de k na equação x2 + ( 2k - 3)x + 2 = 0, de modo que a soma de suas
raízes seja igual a 7.
Solução
Nesta equação, temos: a=1, b=2k e c=2.
S= x1 + x2 = 7

Logo, o valor de k é -2.

• Determine o valor de m na equação 4x2 - 7x + 3m = 0, para que o produto das raízes seja
igual a -2.
Solução
Nesta equação, temos: a=4, b=-7 e c=3m.
P= x1. x2= -2

Logo, o valor de m é .
• Determine o valor de k na equação 15x2 + kx + 1 = 0, para que a soma dos inversos de
suas raízes seja igual a 8.

Solução
Considere x1 e x2 as raízes da equação.

A soma dos inversos das raízes corresponde a .


Assim:

Logo, o valor de k é -8.


• Determine os valores de m para os quais a equação ( 2m - 1) x2 + ( 3m - 2) x + m + 2 = 0
admita:
a) raízes simétricas;

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 56/78


b) raízes inversas.
Solução
Se as raízes são simétricas, então S=0.

Se as raízes são inversas, então P=1.

COMPOSIÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DO 2º GRAU, CONHECIDAS AS RAÍZES


Considere a equação do 2º grau ax2 + bx + c = 0.

Dividindo todos os termos por a , obtemos:

Como , podemos escrever a equação desta maneira.

x2 - Sx + P= 0

Exemplos:
• Componha a equação do 2º grau cujas raízes são -2 e 7.
Solução
A soma das raízes corresponde a:
S= x1 + x2 = -2 + 7 = 5
O produto das raízes corresponde a:
P= x1 . x2 = ( -2) . 7 = -14
A equação do 2º grau é dada por x2 - Sx + P = 0, onde S=5 e P= -14.
Logo, x2 - 5x - 14 = 0 é a equação procurada.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 57/78


• Formar a equação do 2º grau, de coeficientes racionais, sabendo-se que uma das raízes é

.
Solução

Se uma equação do 2º grau, de coeficientes racionais, tem uma raiz , a outra raíz será

Assim:

Logo, x2 - 2x - 2 = 0 é a equação procurada.

20 - INEQUAÇÕES DE 1º GRAU

Introdução

Denominamos inequação toda sentença matemática aberta por uma


desigualdade.

As inequações do 1º grau com uma variável podem ser escritas numa das seguintes formas:

, , , , como a e b reais .

Exemplos:

21 - PORCENTAGEM
É frequente o uso de expressões que refletem acréscimos ou reduções em preços, números ou
quantidades, sempre tomando por base 100 unidades. Alguns exemplos:
• A gasolina teve um aumento de 15%
Significa que em cada R$100 houve um acréscimo de R$15,00
• O cliente recebeu um desconto de 10% em todas as mercadorias.
Significa que em cada R$100 foi dado um desconto de R$10,00

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 58/78


• Dos jogadores que jogam no Grêmio, 90% são craques.
Significa que em cada 100 jogadores que jogam no Grêmio, 90 são craques.

Razão centesimal
Toda a razão que tem para consequente o número 100 denomina-se razão centesimal.
Alguns exemplos:

Podemos representar uma razão centesimal de outras formas:

As expressões 7%, 16% e 125% são chamadas taxas centesimais ou taxas percentuais.
Considere o seguinte problema:
João vendeu 50% dos seus 50 cavalos. Quantos cavalos ele vendeu?
Para solucionar esse problema devemos aplicar a taxa percentual (50%) sobre o total de
cavalos.

Logo, ele vendeu 25 cavalos, que representa a porcentagem procurada.


Portanto, chegamos a seguinte definição:

Porcentagem é o valor obtido ao aplicarmos uma taxa percentual a um determinado


valor.

Exemplos:
• Calcular 10% de 300.

• Calcular 25% de 200kg.

Logo, 50kg é o valor correspondente à porcentagem procurada.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 59/78


EXERCÍCIOS:
1) Um jogador de futebol, ao longo de um campeonato, cobrou 75 faltas, transformando em
gols 8% dessas faltas. Quantos gols de falta esse jogador fez?

Portanto o jogador fez 6 gols de falta.


2) Se eu comprei uma ação de um clube por R$250,00 e a revendi por R$300,00, qual a taxa
percentual de lucro obtida?
Montamos uma equação, onde somando os R$250,00 iniciais com a porcentagem que
aumentou em relação a esses R$250,00, resulte nos R$300,00.

Portanto, a taxa percentual de lucro foi de 20%.

Uma dica importante: o FATOR DE MULTIPLICAÇÃO.


Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um determinado valor, podemos calcular o novo
valor apenas multiplicando esse valor por 1,10, que é o fator de multiplicação. Se o acréscimo for
de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim por diante. Veja a tabela abaixo:
Fator de
Acréscimo ou Lucro
Multiplicação
10% 1,10
15% 1,15
20% 1,20
47% 1,47
67% 1,67
Exemplo: Aumentando 10% no valor de R$10,00 temos: 10 * 1,10 = R$ 11,00
No caso de haver um decréscimo, o fator de multiplicação será:
Fator de Multiplicação = 1 - taxa de desconto (na forma decimal)
Veja a tabela abaixo:
Fator de
Desconto
Multiplicação
10% 0,90
25% 0,75
34% 0,66
60% 0,40
90% 0,10
Exemplo: Descontando 10% no valor de R$10,00 temos: 10 * 0,90 = R$ 9,00

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 60/78


22 – PRODUTOS NOTÁVEIS E FATORAÇÃO

São produtos que aparecem com muita frequência na resolução de equações ou no


desenvolvimento de expressões.

Os três produtos notáveis principais são:

(a + b) = a 2 + 2ab + b 2
2

( a − b) = a 2 − 2ab + b 2
2

( a + b ) . ( a − b ) = a 2 − b2

Fatoração – Fatorar uma expressão algébrica é transformá-la em produto. Vejamos alguns


casos:

1º Caso – Fator comum em evidência:


6 x 2 + 12 x3 z − 10 x 4 a = 2 x 2 ( 3 + 6 xz − 5 x 2 a )

2º Caso – Agrupamento:
xy + xz + ay + az = x( y + z) + a( y + z) = ( y + z)( x + a)
3º Caso – Diferença de dois quadrados:
x 2 − y 2 = ( x + y )( x − y )
4º Caso – Trinômio quadrado perfeito
a) x 2 + 2 xy + y 2 = ( x + y )2
b) x 2 − 2 xy + y 2 = ( x − y)2
5º Caso – Trinômio do 2º Grau
São expressões de forma x² + Sx + P, em que S e P representam, respectivamente, a soma e o
produto de dois números a e b tal que se pode escrever:
x² + Sx + P = ( x + a)( x + b)
Exemplos:
a) x² + 7x + 12 = (x + 3)(x + 4)
b) x² – 6x + 8 = (x – 2)(x – 4)
c) x² + 2x – 8 = (x – 2)(x + 4)

23 – EQUAÇÕES EXPONENCIAIS

Chamamos de equações exponenciais toda equação na qual a incógnita aparece em expoente.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 61/78


Exemplos de equações exponenciais:
1) 3x =81 (a solução é x=4)
2) 2x-5=16 (a solução é x=9)
3) 16x-42x-1-10=22x-1 (a solução é x=1)
4) 32x-1-3x-3x-1+1=0 (as soluções são x’=0 e x’’=1)

Para resolver equações exponenciais, devemos realizar dois passos importantes:


1º) redução dos dois membros da equação a potências de mesma base;
2º) aplicação da propriedade:
a m = a n  m = n (a  1 e a  0)

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS:

1) 3x=81
Resolução: Como 81=34, podemos escrever 3x = 34
E daí, x=4.

2) 9x = 1
Resolução: 9x = 1  9x = 90 ; logo x=0.

3) 23x-1 = 322x
Resolução: 23x-1 = 322x  23x-1 = (25)2x  23x-1 = 210x ; daí 3x-1=10,
de onde x=-1/7.

4) Resolva a equação 32x–6.3x–27=0.


Resolução: vamos resolver esta equação através de uma transformação:
32x–6.3x–27=0  (3x)2-6.3x–27=0
Fazendo 3x=y, obtemos:
y2-6y–27=0 ; aplicando Bhaskara encontramos  y’=-3 e y’’=9
Para achar o x, devemos voltar os valores para a equação auxiliar 3x=y:

y’=-3  3x’ = -3  não existe x’, pois potência de base positiva é positiva
y’’=9  3x’’ = 9  3x’’ = 32  x’’=2

Portanto a solução é x=2

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 62/78


QUESTÕES EM GERAL

1 1
1−  − 
1) O valor da expressão  6 3  é:
2
1 1 3
 +  +
6 2 2
a) 1/2
b) 3/2
c) 3/5
d) 4/5
e) 1/3

1 2 
2) O resultado de 0,333... + −  : 2  é:
2 3 
a) 2/3
b) 1/2
c) 1/3
d) 3/2
e) 1

0, 081x0,32 x0, 008


3) Determine o valor da expressão .
1, 28 x0, 004 x 2, 7
a) 0,015
b) 0,025
c) 0,08
d) 0,16
e) 0,4

0, 00001x0, 012 x1000


4) Simplificando a expressão :
0, 001
a) 10³
b) 10²
c) (0,1)³
d) (0,1)²
e) 1

3, 2 x 4000 x0, 0008


5) Determine o valor da expressão .
25, 6 x0, 02
a) 5
b) 8
c) 16
d) 18
e) 20

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 63/78


1
6) Qual o valor da expressão 1 + − (0,333...)2 :
3
a) 2/3
b) 3/5
c) 7/5
d) 4/7
e) 11/9

3 4
7) O valor de (0, 01) .(0, 001)
5
é
(0, 0001)
a) 1000
b) 100
c) 10
d) 1
e) 0,1

7 − 1, 25 x0, 2
8) Calcule a expressão abaixo e marque a opção correta.
3,6 :1,8 + ( 0,5)
2

a) 3
b) 5,5
c) 5,75
d) 6
e) 9

9) O inverso do número 3,333... é


a) 0,2
b) 0,222...
c) 0,25
d) 0,3
e) 0,333...

0, 2929... − 0, 222...
10) O valor exato de é:
0,555... + 0,333...
3
a)
25
3
b)
28
4
c)
34
6
d)
58
7
e)
88

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 64/78


13 2 5
11) Ordenando os números racionais p = , q = e r = , conclui-se que:
24 3 9
a) prq
b) q pr
c) r pq
d) qr p
e) rq p

3 13 1
12) Calcule a média aritmética dos números , e e assinale a opção correta.
5 4 2
a) 1,25
b) 1,45
c) 2,95
d) 3,65
e) 4,25

1
13) Dada a dízima x = 0,222... , então o valor numérico da expressão x+ −1 é representado por
x
1
x + +1
x
a) 67/103
b) 65/103
c) 67/105
d) 65/104
e) 67/104
14 ) O valor de 1,936.10 é
a) 4,8
b) 4,7
c) 4,6
d) 4,5
e) 4,4

15) Dada a expressão algébrica mn – m², determinar o ser valor numérico quando m = 1,1 e n =
0,8.
a) – 0,33
b) – 0,12
c) – 1
d) 0,16
e) 0,24

16) Qual é o valor numérico da expressão (x + y).(x – y), quando x = 2/3 e y = - 1?


a) 2/3
b) 1/3
c) 1
d) – 2/3
e) – 5/9

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 65/78


3 x + y = 1
17) Se (x , y) é solução de  então o valor de x + y é:
2 x − 2 y = 1
1
a) −
4
1
b) −
2
1
c)
4
3
d)
4
e) 1

18) Dada a inequação x/3 - (x+1)/2 < (1 - x) / 4, para que valores em será possível:
a) x >2
b) x <2
c) x >3
d) x <9
e) x >9

19) Resolva a seguinte inequação em :


3(1 - 2x) < 2(x + 1) + x – 7
a) x < 8/9
b) x > 8/9
c) x < 2/3
d) x > 2/3
e) x < ¼

x2 x
20) Quais são as raízes da equação − − +1 = 0 :
6 6
a) – 3 e 2
b) – 2 e 3
c) – 3 e - 2
d) 2 e 3
e) 3 e 2

5 3
21) Resolvendo a equação x 2 + x − = 0 , quais as raízes que satisfazem a sua resolução.
2 2
a) – 2 e 3
b) – 3 e - 2
c) – 3 e 1/2
d) 1/2 e 3
e) 2 e 5

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 66/78


2 3
22) Quais são as raízes da equação x 2 − x − = 0 :
5 5
a) – 3 e 2
b) 1/2 e 5
c) – 1 e 4
d) – 3/5 e 1
e) 2 e 3

23) De um recipiente cheio de água tiram-se 2/3 de seu conteúdo. Recolocando-se 30 litros de
água, o conteúdo passa a ocupar a metade do volume inicial. Qual a capacidade do recipiente?
a) 160 l
b) 180 l
c) 200 l
d) 210 l
e) 230 l

24) Uma piscina de 12 m de comprimento por 6 m de largura e 3m de profundidade está cheia até
os 5/8 de sua capacidade. Quantos metros cúbicos de água ainda cabem na piscina?
a) 78 m³
b) 80 m³
c) 81 m³
d) 82 m³
e) 85 m³

25) Numa piscina retangular com 10 m de comprimento e 5 m de largura, para elevar o nível da
água em 10 cm, são necessários (litros de água):
a) 3.500 l
b) 4.000 l
c) 4.500 l
d) 5.000 l
e) 5.500 l

26) As dimensões internas de um reservatório de água com forma de paralelepípedo são: 1,2 m,
80 cm e 60 cm. Qual a quantidade de água, em litros, que cabe nesse reservatório?
a) 0,576
b) 5,676
c) 57,66
d) 576,0
e) 5,760

27) As raízes da equação 0,25 x² − x + 0,25 = 0 são


a) 1 e 4
b) 2e 3
c) 3 − 2e3 + 2
d) 2 − 3e2 + 3
e) 1 e 1/4
Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 67/78
28) Sejam a e b as raízes da equação x² + x − 3 = 0 . O valor de a³ + b³ é
a) - 10
b) 10
c) – 9
d) 9
e) – 7

29) Um triângulo tem base medindo (6 − 6) cm e altura no valor de (6 + 6) cm. Sua área é igual
a:
a) 9 cm²
b) 12 cm²
c) 15 cm²
d) 18 cm²
e) 21 cm²

30) Um retângulo tem lados medindo (3 − 3) cm e (3 + 3) cm. Sua área é igual a


a) 3 cm²
b) 6 cm²
c) 9 cm²
d) 12 cm²
e) 15 cm²

31) Simplificando a expressão E = ( )(


2+ 3 . )
2 − 3 que valor obtém-se para E?
a) 4
b) 3
c) 2
d) 1
e) 0

32) O valor da expressão 13 + 3 25 + 8 − 3 64 é:


a) 4
b) 6
c) 8
d) 12
e) 18

33) O produto ( 3− 2 .)( )


3 + 2 é igual a:
a) 6
b) 1
c) 0
d) – 1
e) – 6

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 68/78


34) Aumentando o lado de um quadrado de 20% de sua medida, sua área aumentará de:
a) 20%
b) 25%
c) 30%
d) 40%
e) 44%

35) Uma mercadoria custava X real e seu preço sofreu um aumento de 12%. Se ao novo preço
for dado um desconto de 12% ele passará a custar:
a) 88% de X
b) X
c) 88,88% de X
d) 98,56% de X
e) 92,12 de X
36) Quando aumentamos cada lado de um triângulo eqüilátero em 20% de seu comprimento sua:
a) área aumenta em 40%
b) área aumenta em 44%
c) altura aumenta em 10%
d) altura não se altera
e) área não se altera

37) A rede “Lojas BBB”, numa promoção relâmpago, estava oferecendo um desconto de 20% em
todas as suas mercadorias. Ilda se interessou por um sofá e pagou pelo mesmo o valor de
R$400,00. O valor original do sofá, sem o desconto de 20%, era de:
a) R$480,00
b) R$500,00
c) R$520,00
d) R$540,00
e) R$560,00

38) Sabendo que ab =10, a + c = 15 , e c = 5 , então o valor da expressão (a²b + abc)/c² é


a) 4
b) 6
c) 8
d) 10
e) 12

( a + b)
−a −b
2
a
39) Na equação = 3 , sendo a e b números reais não nulos, o valor de é:
a + ab − a
2
b
a) 0,8
b) 0,7
c) 0,5
d) 0,4
e) 0,3

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 69/78


40) Resolva as seguintes equações fracionárias:
3 1 11
a) + = ( x  0)
4 x 22

x+3 1 − 3x
b) = 1+ ( x  0)
x 2x

1 3 x −1
c) + = ( x  0)
6x 2x 4x2

x −3 3
d) = ( x  −3)
x+3 5

2 5  1 
e) =  x  , x  −1
2x −1 x +1  2 

41) Efetue as operações com expressões algébricas, reduzindo os resultados à forma mais
simples:
a)(3x² − 2x + 9) − (3x −1)( x + 4)

4a − 6b + 2
b)a(a − b + 1) +
2

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 70/78


c)( x − 4)² + 2( x + 3)² − ( x − 5)²

d )( x + 6)( x − 2) + ( x + 4)( x − 4)

6( x − 1)( x + 2)
e)
(2 x − 5) − 2( x − 1)

42) Fatore as expressões algébricas:


a) 30x² - 12x + 18xy

b) 25x² - 4y²

c) x² - 5x + xy – 5y

d) x² - 16x + 64

e) x 4 − y 4

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 71/78


43) Fatore completamente:
a) 2x + bx + x²

b) ax + bx + ay + by

c) 4x² - y²

d) 4 – m²

e) x² + 2xy + y²

f) a² -4a + 4

g) (a + b)x + a + b

h) ax + 2x + ab + 2b

i) 4b² - 1

j) z² - 8z + 16

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 72/78


44) Simplifique as frações algébricas:
6x2 − 9x
a)
15 x

x 2 − 25
b) 2
x + 10 x + 25

20 x3 yz 2
c)
35 xy ² z ²

x 2 + 2 xy + y 2
d) 2
x + xy − 3x − 3 y

5 x − 10
e)
x2 − 2 x

x+6
f)
x3 − 36 x

45) Desenvolva e simplifique:


a) (x – 3)²

b) (2x – 1/4)²

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 73/78


c) (x²a² + y²b²)(x²a² - y²b²)

d) (2x + 3y)² - (2x + 3y)(2x – 3y)

e) (a + b)² - (a + b)(a – b)

f) (x – y)(x + y)(x² + y²)

g) (x + y)² - (x – y)²

46) Resolva as equações do 1º Grau:


a)5(3x −1) − 4(2 − 4x) = 2( x − 4)

b)2x² + x( x + 2) − ( x + 3)( x − 3) = 2( x +1)²

x x x
c) + + = 2( x − 1)
3 2 4

1 2x −1 x + 2
d) − =
4 2 3

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 74/78


2x − 3 4x −1 1 − x
e) − =
3 2 4

5 1 4− x
f) + − =0
x x + 1 x² + x

47) Determine o conjunto solução das equações de 2º grau:


a(x – 6)(x + 5) + x = 51

b) x² + 3x(x – 12) = 0

x 8 x
c) = + ( x  −1)( x  1)
x +1 3 1− x

x −3 1
d) +1 = ( x  −2)( x  2)
x −4
2
x−2

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 75/78


2 1− x 5 1
e) + 2 = + 2 ( x  0)
x x 8 x

9
f ) x + 10 = − ( x  0)
x

3x + 5
g )6 x + 5 = ( x  1)
x −1

1 3 1
h) = − ( x  0)( x  1)
x 2 x −1

x 3 3
i) − = ( x  1)( x  2)
x − 2 x − 1 ( x − 2 )( x − 1)

1 1 1
j) − = ( x  2)( x  3)
x −3 2 x −2

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 76/78


48) Resolva as equação exponencial 4x+1 = 32 .
a) 1/2
b) 3/2
c) 2/3
d) 1
e) 2

x −2
1
( )
x
49) A solução da equação   = 27 pertence ao intervalo:
 81 
a) 0,1
b) 1, 2
c) 2,3
d) 3, 4
e) −3, 4

50) Resolva a seguinte equação exponencial:


a) – 1
b) 0
c) 1
d) 2
e) 4

51) Qual o valor de x para a seguinte equação exponencial:

a) 3
b) 2
c) 1
d) 0
e) – 1

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 77/78


GABARITO

1 – c; 2 – b; 3 – a; 4 – c; 5 – e; 6 – e; 7 – b; 8 – a; 9 – d; 10 – e; 11 – a; 12 –
b; 13 – a; 14 – e; 15 – a; 16 – e; 17 – c; 18 – d; 19 – b; 20 – a; 21 – c; 22 – d;
23 – b; 24 – c; 25 – d; 26 – d;
27 – d; 28 – a; 29 – c; 30 – b; 31 – d; 32 – a; 33 – b; 34 – e; 35 – d; 36 – b; 37 –
b; 38 – b; 39 – c; 40 – a) - 4 b) – 5/3 c) – 3/17 d) 12 e) 7/8 ; 41 – a) 13 – 13x b) a² -
ab + 3a - 3b + 1 c) 2x² + 14x + 9 d) 2x² + 4x – 28 e) – 2x² - 2x + 4; 42 – a) 6x(5x – 2 + 3y)
b) (5x – 2y)(5x + 2y) c) (x + y)(x – 5) d) (x – 8)² e) (x – y)(x + y)(x² + y²); 43 – a) x(2 + b + x)
b) (x + y)(a + b) c) (2x + y)(2x – y) d) (2 – m)(2 + m) e) (x + y)2 f) (a – 2)² g) (a + b)(x + 1)
h) (x + b)(a + 2) i) (2b + 1)(2b – 1) j) (z – 4)²; 44 – a) 2x – 3/5 b) (x – 5)/(x + 5) c) 4x²/7y d)
(x + y)/(x – 3) e) 5/x f) 1/x(x – 6); 45 – a) x² - 6x + 9 b) 4x² - x + 1/16 c) x4 a 4 − y 4b4 d) 12xy +
18y² e) 2ab + 2b² f) x 4 − y 4 g) 4xy; 46 – a) 5/29 b) 7/2 c) 24/11 d) 1/16 e) – 9/13 f) – 1/7;
47 – a) (-9, 9) b) (0, 9) c) (-2, 2) d) (- 3, 3) e) 8/5 f) (- 9, - 1) g) (- 1, 5/3) h) (1/3, 2) i) 3 j)
(1, 4); 48 – b; 49 – b; 50 – a; 51 – e.

Matemática – Prof. César Loyola Curso Adsumus 78/78


G
E
O
G
R
A
F
I
A
GEOGRAFIA ECONÔMICA - MÓDULO I – PROF. ODILON LUGÃO
SUMÁRIO
1. Revisão de alguns conceitos básicos em Geografia ....................................................................... 02
1.1 - Argumentos para a revisão conceitual
1.2 - Localização: Pontos cardeais e colaterais, visualização dos continentes
1.2.1 - Regionalização do continentes: Europa, Américas, África, Ásia e Oceania
1.3 - Há outras formas de regionalização e que todos conhecem
1.4 - Conteúdo político-ideológicos dos mapas: projeções de Mercator e Peters
2. Repensando as Visões de Mundo..................................................................................................... 10
2.1 - Metrópole e colônia
2.2 - Primeiro Mundo Segundo Mundo e Terceiro Mundo
2.3 - Países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento
2.4 - Países do Norte e do Sul
2.5 - Países centrais, periféricos e emergentes
2.6 - O problema das classificações
2.7 - As contradições das classificações nas instituições especializadas
2.7.1 - Distribuição da pobreza
2.7.2 - Índice de desenvolvimento humano (IDH)
2.7.3 - Entre os motivos da pobreza
2.7.4 - Paraísos fiscais
2.7.5 - A violência e a pobreza
2.7.6 - Objetivos de desenvolvimento do milênio
3. O processo de desenvolvimento do capitalismo .......................................................................... 18
3.1 - Breve caracterização
3.2 - O capitalismo comercial
3.2.1 - Doutrina Mercantilista
3.3 - O capitalismo industrial
3.3.1 - Primeira Revolução Industrial
3.3.2 - Doutrina: Liberalismo
3.4 - O início do capitalismo financeiro
3.4.1 - Formas de organização das empresas
3.4.2 - Segunda Revolução Industrial
3.4.3 - Imperialismo
3.4.4 - Formas de organização do trabalho: Taylorismo e Fordismo
3.4.5 - Doutrina Keynesiana
3.5 - O capitalismo informacional - A revolução informacional
3.5.1 - Forma de organização do trabalho: Toyotismo/produção flexível
3.5.2 - Doutrina: Neoliberalismo
4. Globalização e Fragmentação do Mundo Contemporâneo
4.1 - Do pós - guerra aos dias atuais (Da velha ordem à nova ordem mundial) ......................... 27
4.1.1 -A Segunda Guerra Mundial
4.1.2 - A Guerra fria - a velha ordem mundial
4.1.3 - Alianças militares dos EUA
4.1.4 - Divisão da Alemanha – socialista e capitalista
4.1.5 - Aliança militar da URSS: Pacto de Varsóvia
4.1.6 - A ordem econômica da Guerra Fria - Instituições internacionais criadas no período
4.1.7 - Pós - Guerra Fria: a nova ordem mundial
5. Exercícios ........................................................................................................................................ 39

1
1. REVISÃO DE ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS EM GEOGRAFIA
1.1 - Argumentos para a revisão conceitual: a abordagem é elementar, isto porque refere-se a conceitos do
atual ensino fundamental e muitos alunos não se lembram ou ainda têm dúvidas. É necessário muita atenção
na leitura dos textos e, principalmente, nas questões durante as provas. Pois, o eixo da questão pode estar na
localização do fenômeno contextualizado.
Estes conceitos não serão comentados individualmente ao longo das aulas, salvo quando manifestado pelo(s)
aluno(s). Logo, não deve(m) deixar passar quaisquer dúvidas durante as aulas. Isto porque a(s) mesma(s)
pode(m) se transformar em dívida(s) na hora da prova!!!!!
Qual será a reação do candidato ????

1.2 - Localização: preferencialmente consultar mapas, quando estudar em casa, principalmente para aqueles
que não estudam Geografia por muito tempo ou não tem interesse com atualidades. Qual é o objetivo: saber
onde está localizado o fato ou fenômeno estudado (no país ou no continente citado) e maior facilidade na
fixação/compreensão do assunto.

PONTOS CARDEAIS E COLATERAIS – EXPRESSÕES SINÔNIMAS PARA AS PRIMEIRAS

VISUALIZAÇÃO DOS CONTINENTES: QUANTO AOS HEMISFÉRIOS GEOGRÁFICOS

2
DIVISÃO DOS CONTINENTES: AMÉRICAS, EUROPA, ÁFRICA, ÁSIA E OCEANIA

1.2.1 - Regionalização dos continentes: EUROPA

Mesmo tendo a segunda menor extensão territorial do mundo, o continente europeu possui grandes
diversidades espaciais ao longo da sua área. Formada por muitos países de espaços territoriais pequenos e
médios, com exceção da Rússia (maior país do mundo), a Europa é palco de várias regionalizações
caracterizadas pelas diferenças físicas e socioeconômicas. Com uma grande história sobre as sociedades
3
geradas neste continente, analisar cada nação europeia requer sempre um trabalho complexo, pois
necessitamos conhecer o seu passado para compreender suas questões atuais. Dessa forma, divide-se a
Europa em seis regiões: Europa Nórdica, Europa Central, Península Ibérica, Leste Europeu, Península dos
Bálcãs e Países Bálticos.

Europa Nórdica - Situada no extremo norte da Europa, os países Nórdicos são caracterizados por serem de
alto padrão de vida social e economias estáveis. Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia fazem
parte desta região, o que demonstra que problemas sociais não são temas desses países. Com índices de
renda per capta entre US$ 19.000 (o valor mais baixo) até US$ 28.000, essas nações estão a anos-luz da
realidade mundial. Particularmente, a Noruega que, segundo o IDH (ONU) tem sido classificado entre os
cinco maiores nos últimos 15 anos. O padrão de vida nórdico chega a diferenciar-se do padrão europeu. Com
pouca população e muito dinheiro circulando em seus territórios, esses países distribuem muito bem suas
riquezas. No campo físico, a região é muito conhecida pelos fiordes noruegueses que estão na península
Escandinava (Noruega e Suécia), enquanto que a ilha da Islândia, que situa-se bem afastada da massa
continental europeia, possui grandes processos vulcânicos por estar num falha tectônica. Outro fato
interessante da Europa Nórdica, é o acontecimento do “sol da meia-noite” (no verão) e da aurora boreal (no
inverno). Isto é possível em virtude da região estar localizada na proximidade do Polo Norte (países
setentrionais).

Europa Central - Conhecida também como centro geoeconômico da Europa, por agrupar os países mais
ricos e influentes em questões mundiais, essa região é na verdade o coração europeu em todos os sentidos.
Esta área é formada por doze nações que são difundidas em todo o mundo como governantes da União
Europeia (UE), pois nesta região está localizada a sede da UE em Bruxelas, capital da Bélgica. Países como:
Alemanha, Reino Unido, França e Itália, são grandes potências econômicas e também participam como
membros do G-7, e Áustria, Bélgica, Irlanda (Eire), Holanda, Luxemburgo, Liechtenstein, Suíça, Mônaco,
San Marino e Vaticano dão suporte econômico para a União Europeia. Os países dessa região possuem
economias estáveis e bons níveis de vida. O território da Europa Central é caracterizado por diferentes
formas de relevo, podemos encontrar desde extensas planícies (como na região dos Países Baixos –
Holanda) até grandes montanhas, onde está localizado o Mont Blanc (Monte Branco) com 4.810 metros de
altitude (ponto mais alto da Europa), situado na região dos Alpes, entre a França e a Itália.

Península Ibérica - São três nações que compõem esta região: Andorra, Espanha e Portugal. Mas nem por
isso deixa de ter significativa importância para a Europa. Esses países (Espanha e Portugal) foram grandes
potências na época da colonização das Américas, sendo que atualmente suas influências estão mais
relacionadas com o continente europeu. Participam da União Europeia desde a sua criação e são grandes
produtores agrícolas na Europa por terem suas terras em latitude mais baixa, o que condiciona um clima
mais quente do que outros países do continente. São grandes os atrativos turísticos da região, tanto suas
famosas praias mediterrâneas, como pelas questões históricas. O relevo da região é muito peculiar, pois se
tem áreas de montanhas (Serra Nevada) e extensas planícies e planaltos. O nome Ibérica provém da
península em que se localizam essas nações.

Leste Europeu - Com a maior extensão territorial das divisões regionais da Europa, o Leste Europeu é
composto por países originados com o fim da Guerra Fria e com nações que faziam parte do bloco socialista
da Europa. Em consequência deste fato, a inserção na EU dependeu de muitos investimentos dos vizinhos
ocidentais e rigorosos ajustes na economia, que geraram crises, principalmente na década atual. Alguns deles
também se uniram para reunir forças e formaram a CEI (ex-URSS). Esta região é “liderada” pela Rússia,
mas possui outras nações importantes e conhecidas: Polônia, Romênia, Hungria, República Tcheca, Ucrânia,
Eslováquia, Moldávia, Belarus, Geórgia, Armênia e Azerbaidjão. No que se refere ao relevo local podemos
citar os montes Urais, que fazem a divisão da Europa com a Ásia, e extensas planícies que são áreas
agrícolas de suma importância para estes países.

Península dos Balcãs ou Balcânica - Conhecida nos últimos anos como palco da Guerra da Iugoslávia, essa
região está mergulhada em diversos problemas de ordem sociais e econômicos, onde Iugoslávia, Croácia,
4
Bosnia-Herzegovina e Macedônia levarão anos para se reestruturar internamente. Porém, Grécia, Bulgária,
Eslovênia, Albânia e Turquia (parte europeia), antes da crise econômica e imigratória atual não se
encontravam em situação tão precária, vale destacar que a Grécia é um país-membro da União Europeia
desde a sua criação. Em consequência da guerra nos Balcãs, a região necessitou de ajuda financeira
internacional pois teve sérios problemas em sua infraestrutura. Por outro lado, observamos o turismo grego
se destacando no panorama mundial. Caracterizado por regiões montanhosas, as Balcãs possuem um relevo
peculiar ao longo de sua extensão, encontrando planícies somente no norte desta região.

Países Bálticos - Tendo o menor território de todas as regiões da Europa, os Países Bálticos são formados
por três nações provindas do extinto mundo socialista: Estônia, Letônia e Lituânia. Vale lembrar que esta
região possui este nome em razão do mar que banha essas três nações, o Mar Báltico. Estes países
conseguiram sua independência com o fim da URSS e este fato se explica o atraso dos mesmos em relação
aos vizinhos ocidentais. As empresas de celulose e pesqueiras têm investido muito na modernização. Desde
o fim da URSS se manifestaram a favor da inserção na UE. As três nações se uniram de tal forma que é
muito difícil relacionar uma delas sem pensar na outra, isto pode ser explicado pela proximidade geográfica,
cultural e religiosa que elas possuem. A região é caracterizada por extensas planícies, mas também é
composta por montanhas em seu interior.

AMÉRICAS

5
ÁFRICA

Regionalização do continente africano - Quem tem alguma noção do processo histórico de ocupação e
partilha da África entre as potências europeias, bem como de sua descolonização, regionalizar o continente
africano não é uma tarefa nada fácil, tendo em vista a coexistência de fronteiras artificiais herdadas pela
partilha de seu território. As formas de regionalização mais usuais de dividir a África são baseadas na
divisão regional política e/ou na divisão regional étnica.

1. Divisão Regional Política - De acordo com a sua divisão político-administrativa e a localização dos
países, o continente africano se apresenta dividido em 5 regiões. Alguns autores consideram 6 regiões, pois
consideram a “África do oceano Índico” (ou África Indo-Oceânica) como uma região distinta,
desarticulando-a da “África Oriental”.
Outras divisões regionais políticas, no entanto, não conferem as mesmas áreas das regiões.

A divisão, aqui, apresentada foi extraída do material didático do curso sobre o Continente Africano oferecido
pelo CEDERJ. E, de acordo com este, politicamente, o continente apresenta-se dividido nas seguintes
6
regiões:
I. África Setentrional ou do Norte: distribuídos sob 2 sub-regiões: o Machrsch (leste) e o Magreb (oeste);
II. África Ocidental;
III. África Central;
IV. África Oriental: disposta em duas sub-regiões, a Norte-Oriental (Chifre da África) e a Centro-Oriental;
V. África Meridional ou Austral.

2. Divisão Regional Étnica - Esta divisão se baseia na grande diversidade étnico-cultural do continente
africano. E, em linhas gerais, o continente é dividido em dois grandes complexos regionais, a saber:
I. África Branca ou Setentrional (Norte): constituída por 5 países e o território de Saara Ocidental. Alguns
autores, no entanto, incluem Mauritânia nesta região, que se caracteriza pelo predomínio da população
branca, de influência árabe e islâmica. Alguns autores denominam-na com “África do Norte ou Islâmica”.
Embora todos sejam subdesenvolvidos, mas comparados com os demais países africanos, apresentam
melhores indicadores sociais e econômicos.
O deserto do Saara representa um obstáculo natural da África Branca, se constituindo em uma área
anecúmena, ou seja, de baixa densidade demográfica.
Áreas de difícil acesso e fixação do homem.
II. África Negra ou Subsaariana: esta região é formada por 48 países, sendo predominantemente de
população negra.
Esta região é caracterizada por uma grande diversidade étnico-cultural (povos, línguas, religiões etc.),
correspondendo a área do continente africano marcada pelo subdesenvolvimento crônico, pelos conflitos
armados, epidemias, Aids, miséria, desnutrição, fome, entre outros problemas socioeconômicos.

ÁSIA - A Ásia está localizada


a leste do meridiano de
Greenwich, ou seja, no Oriente,
o continente está situado no
hemisfério norte. De todos os
continentes existentes, a Ásia é
o maior, sua área é de 44
milhões de quilômetros
quadrados.
Os limites de fronteira que
existem no continente asiático
são: ao norte, Oceano Glacial
Ártico; ao sul, Oceano Índico;
a leste, Oceano Pacífico; a
oeste, Mar Vermelho, que o
separa do continente africano, o
Mar Mediterrâneo e os Montes
Urais que o separa da Europa.
Além de ser o maior continente
do mundo, abriga cinco dos dez
países mais populosos do
planeta, são eles:
- China (1,3 bilhões habitantes), Índia (1,1 bilhão), Indonésia (234 milhões), Paquistão (169 milhões),
Bangladesh (150 milhões), Japão (127 milhões).
O produto da soma de todos os países citados representa, aproximadamente, 60% do total da população do
planeta.

7
OCEANIA -

A Oceania tem 8.923.000 Km², dos quais 85% correspondem à Austrália. É um conjunto de ilhas situadas no
Oceano Pacífico. Dividido em três grupos de ilhas: Melanésia ou ”ilhas negras”; de Micronésia, as
”pequenas ilhas”; e Polinésia, compreende o maior número de ilhas.
A Austrália e a Nova Zelândia localizam-se na Oceania ou Novíssimo Continente, são países desenvolvidos
do continente. Os demais são economicamente dependentes. São os únicos países do chamado Norte
industrializado ou mundo desenvolvido que se situam ao sul do Equador.
A Nova Zelândia é um arquipélago constituído por duas ilhas principais e outras menores, localizadas ao sul
da Oceania.
Alguns de seus países procuram desenvolver o turismo ou atrair investimentos estrangeiros com isenção de
impostos e garantia de anonimato, o que os caracteriza como "paraísos fiscais".

1.3 - Há outras formas de regionalização


que todos conhecem –

8
1.4 - Conteúdo político-ideológicos dos mapas: projeções de Mercator e Peters

A primeira vista você pode estranhar o mapa-múndi apresentado, que pode dar a impressão de estar
9
“invertido” e “distorcido”. Isso acontece porque estamos acostumados a observar os mapas “normais”
centrados na Europa, com o hemisfério norte acima do sul, e, em geral, com as terras do hemisfério norte
desproporcionalmente maiores. Como o nosso planeta é esférico, podemos representá-lo tendo qualquer
ponto como centro. A opção entre diferentes representações cartográficas não é simplesmente técnica mas,
também, política ou geopolítica. Na verdade, qualquer mapa contém uma visão de mundo e um conteúdo
político-ideológico.

Projeções de Mercator e Peters: Diferentes maneiras de ver o Mundo


Projeção de Mercator:
- Nesta projeção os meridianos e os paralelos
são linhas retas que se cortam em ângulos
retos.
- Manteve as formas dos continentes mas não
respeitou as proporções reais.
- Nela as regiões polares aparecem muito
exageradas.
- Favorece as desigualdades econômicas, pois
amplia de maneira desigual, e aumenta mais o
Hemisfério Norte.
- Excelente para a navegação.
- Perfeita nos ângulos e formas.

- Coloca a Europa no centro do mapa (Eurocentrismo).

Projeção de Peters:
- Alterou as formas em para manter as reais
proporções dos continentes.
- Apesar de deformar a forma dos continentes, esta
projeção mantém a área proporcional dos
continentes, mais próxima do tamanho real.
- Destaque ao continente Africano no centro do
mapa.
- Propostas de Peters: Valorização do mundo
subdesenvolvido, mostrando sua área real.

Lembre-se:
"por trás de cada mapa, sempre existe um
conteúdo Político-Ideológico".

2. REPENSANDO AS VISÕES DE MUNDO


Vamos estudar a origem e as principais características das diferentes classificações dos países Os
países ao longo da história passou por diferentes formas de classificação ou regionalização que segue
critérios segundo: o índice de desenvolvimento humano, social, econômico e tecnológico.

2.1 - Metrópole e colônia


A primeira forma de classificar e regionalizar o mundo dividiu os países em dois grupos de chamados
de metrópoles e colônias. Desde o descobrimento até o começo do século XX, o mundo estava dividido
nessas duas áreas distintas: metrópoles e colônias. As metrópoles eram os países da Europa e dos Estados
Unidos que exploravam as colônias e retiravam suas riquezas. As colônias eram países da América, África e
Ásia.
O colonialismo ocorreu entre o século XVI e início do século XIX com a exploração da América. As
10
principais metrópoles eram Portugal, Espanha e Inglaterra.
A partir do século XIX com o processo de independência da América teve início o imperialismo ou
neocolonialismo. Foi quando houve uma busca das metrópoles por novas colônias e o alvo passou a ser a
África, a Ásia e a Oceania.
Durante a Segunda Guerra Mundial, desencadeou-se o processo de independência política das colônias
(África e Ásia) que até então viviam sob o controle das potências europeias. Esse processo histórico ficou
conhecido como descolonização. Entre as décadas de 1940 e 1960 várias guerras e guerrilhas de libertação
nacional eclodiram na África e na Ásia e houve um generalizado processo de descolonização nesses
continentes.
Nessa época surgiram vários novos países independentes todos marcados por profundos problemas
socioeconômicos: altas taxas de natalidade e mortalidade, baixa expectativa de vida, subnutrição,
analfabetismo e muitos outros problemas associados à pobreza extrema. No pós segunda guerra, com vários
países independentes, aumentou a visibilidade desses problemas e levou o mundo a ter maior consciência
das desigualdades entre os países e por isso foram criados novas classificações.
Os países que foram colônias no passado, hoje, possuem na maioria da sua população, um padrão de
vida muito inferior ao considerado mínimo para atendimento das necessidades básicas de alimentação,
moradia, saneamento básico, saúde, educação e trabalho, segundo estatísticas e avaliações de organismos
internacionais, como a ONU e suas agências e o Banco Mundial. Esses países que foram colônias e que hoje
são chamados de países em desenvolvimento ou subdesenvolvido, apresentam profundas desigualdades
sociais e regionais e baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Muitos dos Estados africanos e
asiáticos (que conquistaram sua independência na segunda metade do século XX) e das nações latino-
americanas (independentes desde o século XIX) têm, além de diversos problemas em sua estrutura social e
política, economias frágeis e dependentes. Grande parte deles não conseguiu diversificar sua economia e
continua exportando produtos primários de origem agropecuária e mineral, como na época do colonialismo.
Com o fim da Segunda Guerra mundial, se consolida, em termos geopolíticos, um mundo bipolar, ou
seja, um mundo dividido em países: capitalistas e socialistas. Os países capitalistas eram influenciados pelos
EUA e os socialistas eram influenciados pela URSS. Com essa nova organização geopolítica do mundo, que
recebeu no nome de Guerra Fria, dar se início a uma nova forma de regionalizar o mundo que classifica os
países em Primeiro, Segundo e Terceiro mundo.

2.2 - Primeiro, Segundo e Terceiro mundo.


No período da Guerra Fria (1947-1989) era comum classificar os Estados nacionais em um dos "três
mundos": o Primeiro formado por países capitalistas desenvolvidos e industrializados, são os países ricos,
que no período colonial eram as metrópoles e por isso se transformaram em economias mais diversificadas;
o Segundo composto pelos países socialistas sob a liderança da União Soviética, com economia estatal e
planificada e o Terceiro integrado pelos países subdesenvolvidos capitalistas, na sua maioria, mas também
por alguns socialistas não alinhados com a então superpotência socialista, no período colonial e neocolonial
eram as colônias e por isso menos desenvolvidos.
As nações do Terceiro Mundo localizavam-se na Ásia, na África, a maioria recém independente
naquele momento, e na América Latina. As exceções de países que foram colônias e na nova geopolítica da
Guerra Fria eram classificados como primeiro mundo foram os EUA e a Austrália. Ambos colônia de
povoamento e não de exploração. A expressão "Terceiro Mundo" foi criada pelo economista francês Alfred
Sauvy (1898-1990), em 1952, para se referir às nações pobres que estavam à margem do cenário político-
econômico internacional naquele momento histórico.

Conferência de Bandung
Em 1955, foi realizada em Bandung na Indonésia, uma conferência que reuniu as nações recém
independentes da Ásia e da África. Nesse encontro, o termo Terceiro Mundo passou a ser identificado como
uma terceira via de desenvolvimento, uma alternativa ao capitalismo norte-americano e ao socialismo
soviético. Com isso a Conferência de Bandung lançou as bases do movimento dos países não alinhados
com a URSS e com os EUA.
O objetivo era estabelecer o futuro de uma nova força política global constituída de países do Terceiro
Mundo, visando a promoção da cooperação econômica e cultural afro-asiática, como forma de oposição ao
11
que era considerado colonialismo ou neocolonialismo, por parte dos Estados Unidos e da União Soviética.
Após a Segunda Guerra mundial, o fato de pertencer ao Terceiro Mundo tinha um significado
geopolítico e socioeconômico e expressava alguma identidade entre os países que pertenciam a esse grupo
por isso da organização da conferência. Essa conferência foi a primeira forma de união entre os países
pobres em busca de fortalecimento de seus interesses. Hoje, com alguns objetivos similares e funcionando de
forma mais forte no cenário mundial existe os BRICS, o G-20 o IBAS, organizações que estudaremos
adiante.

Essa classificação do mundo é datada historicamente e pertence ao contexto da Guerra Fria. A


regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo foi amplamente
utilizada durante a Guerra Fria, período em que prevaleceu a rivalidade entre as duas superpotências EUA e
URSS. Assim, embora eventualmente ainda seja usada, essa classificação, atualmente não faz sentido
empregar essas expressões por que:
- No começo da década de 1990, com a extinção da União Soviética e o enfraquecimento do socialismo, o
termo Segundo Mundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo como realidade político-
econômica global. Ou seja, com o com o fim da União Soviética e, portanto, da Guerra Fria, o países
classificados como de segundo mundo deixaram de existir.
A partir de então, as preocupações mundiais voltaram-se muito mais para as desigualdades existentes
entre os diversos países no que diz respeito ao acesso às tecnologias, à distribuição de renda e ao nível de
vida das populações. Nesse contexto, foram mais utilizadas novas regionalizações, com o objetivo de
expressar com mais exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo. Entre elas, cabe destacar a
divisão do mundo em países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento e a em países
centrais, periféricos e emergentes.

2.3 - Países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento


É outro critério de regionalização que leva em conta os aspectos relacionados às desigualdades
socioeconômicas entre as nações e o nível de desenvolvimento socioeconômico. Ou seja, considera o
patamar em que se encontra a economia do país e o padrão de vida de sua população em relação aos demais
países do mundo. De acordo com o critério utilizado para essa regionalização, podemos considerar os:
Países desenvolvidos são aqueles com alto nível de industrialização, diversificado mercado de consumo de
bens e de serviços e cuja população usufrui de um elevado padrão de vida. De maneira geral, a economia dos
países desenvolvidos é vigorosa, e seu crescimento depende, basicamente, de suas forças produtivas internas.
Possuem altos investimentos em tecnologia e pesquisa o que permite exportar produtos com alto valor
agregado e ter uma balança comercial favorável. As características principais são:
Elevada escolaridade e expectativa de vida, exporta tecnologia, baixo crescimento natural da população,
baixa concentração de renda, industrializado e população predominantemente urbana, renda per capita alta,
PIB Alto e são países que são sede das Multinacionais.

Países subdesenvolvidos possuem um nível de industrialização muito baixo ou com economia baseada
predominantemente no setor primário (agropecuária e atividade extrativa), dependentes tecnológica e
financeiramente dos países ricos e cuja população, em sua maioria, apresenta baixo padrão de vida. As
principais características desses países são: baixo escolaridade e expectativa de vida, alto crescimento
populacional, alta concentração de renda, dependente dos países ricos, país exportador de produtos
primários, a população rural é predominante, renda per capita baixa, PIB baixo e voltado predominantemente
para produtos primário, poucas multinacionais se instalam nesses países por causa da falta de infra estrutura.

Países em desenvolvimento países que tem características dos países pobres e dos países ricos.
Características que são dos países pobres são: a população na maioria possuem péssimas condições de vida
com muita desigualdade, corrupção e pobreza, a escolaridade e expectativa de vida em transição, exporta
tecnologia e matéria prima, crescimento da população em transição( redução), alta concentração de renda,
dependente dos países ricos, renda per capita em transição, PIB voltado para produtos primários e o fato de
ser nesses países que predomina a localização do processo produtivo das multinacionais. Contudo esses
países possuem reduzidas empresas que podem ser consideradas multinacionais. Já em relação as
12
características que são dos países ricos podemos mencionar a industrialização e o predomínio da população
urbana. Contudo a industrialização é resultado de investimentos externos, pois esses países não investem em
desenvolvimento tecnológico.
Os conceitos de desenvolvimento e de subdesenvolvimento passaram a ser usados com mais
frequência a partir da década de 1950, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a divulgar
periodicamente dados estatísticos de diferentes nações do mundo, como taxa de mortalidade infantil,
expectativa de vida, analfabetismo, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e renda per capita. Esses
dados revelaram a existência de grandes contrastes entre as nações desenvolvidas e as menos desenvolvidas
economicamente: nos dias atuais, sabe-se que cerca de 50,5% da população mundial vive em países cuja
renda per capita anual é igual ou inferior a mil dólares, o que caracteriza uma situação de
subdesenvolvimento; já uma parcela restrita da população do planeta vive em países considerados
desenvolvidos, nos quais a renda per capita anual é igualou superior a 30 mil dólares.

2.4 - Países do Norte e do Sul


As nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas também são chamadas, respectivamente, de países do
Norte e países do Sul. Essa denominação leva em conta, basicamente, a posição geográfica dessas nações,
pois, com exceção da Austrália e da Nova Zelândia, os países desenvolvidos encontram-se na porção
setentrional do hemisfério Norte, enquanto os subdesenvolvidos situam-se, de maneira geral, ao sul das
nações desenvolvidas.

2.5 - Países centrais, periféricos e emergentes


Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações, com o objetivo de expressar com mais exatidão
a organização do espaço mundial contemporâneo. Entre elas, cabe destacar os:
- Países ricos ou centrais - grupo formado pelas nações mais ricas e industrializadas (como Estados Unidos,
Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia e países da União Europeia), que se encontram no centro do
sistema capitalista, exercendo forte domínio econômico e tecnológico sobre as nações mais pobres.
- Países pobres ou periféricos - grupo formado pelo restante das nações do mundo, que apresentam
desenvolvimento tecnológico e econômico menor, assim como forte dependência financeira em relação aos
países ditos centrais,
estando, por isso, na periferia do sistema capitalista onde a maioria da população apresenta más condições de
vida.
- Países emergentes grupo formado por países que se encontram em transição e com industrialização
recente. Possui características dos países ricos e características dos países pobres. Contudo o que predomina
são as características dos países pobres como desigualdade social elevada, carência dos serviços públicos,
infra estrutura precária, exportação, em sua maioria, de produtos primários. Dentre as características dos
13
países ricos esta a exportação de produtos industrializados, apesar de predominar produtos primários, e
população urbana.
2.6 - O problema das classificações
Essas classificações são utilizados por instituições internacionais, como a ONU e o Banco Mundial em
seus relatórios. Contudo há divergências entre a lista dos países emergentes das instituições internacionais e
até mesmo nas listas que são recorrentes na mídia internacional. Isso ocorre por que na atualidade é inviável
qualquer tentativa de agrupar os mais de duzentos países do mundo em apenas duas ou três categorias, pois
há uma grande heterogeneidade entre esses países do ponto de vista social e econômico, especialmente
no interior do grupo considerado países em desenvolvimento ou também chamados de emergentes. Com o
surgimento dos países de industrialização recente, denominados emergentes, o grupo de países então
classificados de terceiro mundo ficou muito heterogêneo.
Mesmo no interior dos países desenvolvidos têm aumentado as diferenças econômicas e sociais, pois
tem países ricos que os índices de desigualdade social, marginalização e pobreza tem aumentado mais do
que em outros países também ricos. Isso especialmente a partir do início da crise financeira nos Estados
Unidos em 2008/2009 que posteriormente atingiu vários países europeus.
A ONU criou os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e usa a expressão "combate à pobreza", e
não "ao subdesenvolvimento". O termo “em desenvolvimento” transmite a ideia de que em algum momento
futuro o país irá atingir o desenvolvimento. Isso é reforçado quando os países pobres são chamados de
"países em desenvolvimento" ou de "países menos desenvolvidos" pelos organismos internacionais.
Entretanto, os países desenvolvidos de hoje não foram considerados subdesenvolvidos no passado.
Desenvolvimento e "subdesenvolvimento" são realidades opostas, porém inseparáveis, resultantes do
processo de mundialização do capitalismo e das formas de explorações. Tanto o subdesenvolvimento quanto
o desenvolvimento são resultados das do período colonial e neocolonial quando houve uma grande
transferência de riqueza das colônias para as metrópoles, fruto da exploração colonialista e imperialista,
criando as condições para o desenvolvimento econômico, que com o tempo elevaria as condições de vida da
população.
A diferença de renda no mundo não era muito pronunciada no início das Grandes Navegações, mas foi
aumentando ao longo do desenvolvimento desigual do capitalismo e tornou-se muito profunda no período
contemporâneo. O desenvolvimento econômico foi maior no novo mundo, sobretudo nos Estados Unidos, no
Japão e na Europa ocidental, onde se encontram os países desenvolvidos. O desenvolvimento foi muito
baixo na América Latina, na Ásia (excetuando o Japão) e principalmente na África, o continente que mais
sofreu com o imperialismo europeu e que menos se desenvolveu economicamente.
Essa situação vem modificando lentamente a partir da década de 1990 com o rápido crescimento
econômico que vem ocorrendo em diversos países em desenvolvimento. Países emergentes como China,
Brasil, Rússia, Índia e México, entre outros são em muitos aspectos como PIB, produção industrial, recursos
naturais e potencial do mercado interno são mais ricos que muitos países classificados como desenvolvidos.
Porém, apesar de as elites desses países terem alto padrão de vida o IDH da maioria da população é inferior
ao dos países desenvolvidos o que significa um baixo desenvolvimento social. Além disso, a infraestrutura
produtiva (energia, telecomunicações, portos, rodovias, etc.) muitas vezes apresenta problemas. Exemplos
dessa dinâmica são:
- Os países do golfo Pérsico produtores de petróleo como Arábia Saudita e Kuwait, estão no grupo dos
países de alta renda per capita. Entretanto como a riqueza desses países se concentra nas mãos de uma
pequena minoria eles não podem ser considerados desenvolvidos.
- O Brasil país de renda média - alta tem uma das piores distribuições de renda do mundo de acordo com
pesquisa do Banco Mundial. A riqueza está distribuída de forma muito mais desigual nos países em
desenvolvimento.

2.7 - As contradições das classificações nas instituições especializadas


Não há uma classificação consensual sobre quais são os países incluídos na categoria "emergente".
De acordo com o glossário do G-20 (Grupo dos 20), "países emergentes" são aqueles que estão em
rápido processo de crescimento econômico e industrialização; são considerados em transição entre a situação
de "países em desenvolvimento" para a de "países desenvolvidos".
Segundo a Unctad, há os "países emergentes" e os "países menos desenvolvidos". A Unctad lista
14
apenas dez países como economias emergentes. Para a Unctad, os "países menos desenvolvidos", aqueles
que apresentam graves problemas socioeconômicos e os piores índices de desenvolvimento humano, são os
mais vulneráveis e os países mais pobres do mundo. Estão nessa categoria 49 países: 34 localizados na
África, 14 na Ásia/Pacífico e um na América (Haiti). São os países que despertam mais atenção por parte
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Essa organização classifica também alguns dos antigos
países socialistas de "economias em transição". A Unctad reconhece que é difícil classificar os países e faz
a seguinte ressalva:
"As designações 'desenvolvido', 'em transição' e 'em desenvolvimento' foram adotadas por
conveniência estatística e não necessariamente expressam um julgamento sobre o estágio alcançado por um
país em particular no processo de desenvolvimento".
Já na mídia especializada em negócios, é comum países como China, Rússia, Índia, Indonésia,
Turquia, África do Sul, Marrocos e Colômbia, entre outros, também serem apontados como economias
emergentes.
Entre os diversos exemplos da dificuldade de classificar os países e suas consequentes inconsistências,
podemos destacar:
- a Coréia do Sul, país com um índice de desenvolvimento humano bastante elevado e uma das economias
mais modernas e competitivas do mundo, ainda aparece no grupo das economias emergentes da Unctad,
embora a própria ONU já a classifique como país desenvolvido;
- a Romênia, país do antigo bloco socialista que, embora tenha um Índice de Desenvolvimento Humano
elevado, é um dos mais atrasados da Europa. Por ser membro da União Europeia está no grupo das
economias desenvolvidas.
Contudo há divergências entre a lista dos países emergentes da Unctad e a denominação recorrente na
mídia internacional. Os países que eram socialistas, mas que entraram na União Europeia, como o exemplo
citado, não foram classificados como "economias em transição', mas sim como "desenvolvidos". A Rússia,
por sua vez, herdeira da União Soviética, é considerada uma "economia em transição".
No Atlas do desenvolvimento global 2011, o Banco Mundial faz o seguinte comentário: "Economias
de baixa e média renda são muitas vezes definidas como economias em desenvolvimento.” Não se pretende
com isso concluir que todas as economias deste grupo estão vivenciando desenvolvimento similar ou que as
outras economias são superiores ou atingiram o estágio final de desenvolvimento'. Por sua vez, os países de
alta renda são em geral definidos como economias desenvolvidas. Mas há várias exceções, como a Arábia
Saudita, um país de alta renda que não é considerado desenvolvido.
Segundo o Banco Mundial mesmo nos países por ele designados "em desenvolvimento" há um elevado
percentual de pobres na população, sobretudo nos do Sul da Ásia e nos da África subsaariana onde está a
maioria dos "países menos desenvolvidos". São pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia portanto
abaixo da linha de pobreza internacional (sobrevivem na pobreza extrema aquelas que têm renda inferior a
1,25 dólar/dia).

2.7.1 - Distribuição da pobreza


A maioria dos países que apresentam elevados percentuais de pobreza em sua população se localiza na
África subsaariana, entretanto o maior contingente de pobres ainda se encontra no Sul da Ásia e sobretudo
na Índia: em 2008 eram 862 milhões de indianos vivendo com menos de 2 dólares por dia. Os africanos
nessa situação perfaziam 562 milhões de indivíduos, mas espalhados por 47 países da região ao sul do Saara.
A China ainda possuía 399 milhões de pobres, mas foi o país que mais reduziu a pobreza desde o
início da década de 1980 quando começou seu acelerado crescimento econômico.
Em 2008 apenas três regiões - Leste da Ásia/ Pacífico, Sul da Ásia e África subsaariana -
concentravam 95% das pessoas que vivem com menos de 2 dólares/dia.
Entre 1981 e 2008 houve uma redução da pobreza no mundo e quem mais contribuiu para isso foi o
Leste da Ásia e sobretudo a China. A pobreza é muito desigual entre os países, mesmo nas regiões onde há
mais concentração de pessoas pobres.

2.7.2 - Índice de desenvolvimento humano (IDH)


O IDH é uma medida sumária do desenvolvimento humano, que mede as realizações médias de um
país em três dimensões básicas do desenvolvimento: uma vida longa e saudável, o acesso ao conhecimento e
15
um padrão de vida digno. Por isso o IDH permite analisar as condições de vida de uma população, para além
dos indicadores econômicos tradicionais (como renda per capita e PIB), pois são considerados os sociais
(expectativa de vida, mortalidade infantil e analfabetismo)
Analisar o desenvolvimento de um país apenas do ponto de vista macroeconômico significa obter uma
visão parcial e limitada da realidade devem ser considerados os aspectos políticos (respeito aos direitos
humanos, participação política da população, entre outros) e a sustentabilidade ambiental.
O economista indiano Amartya Sen, um dos criadores do IDH, define o desenvolvimento como um
processo de expansão das liberdades reais dos seres humanos, o que inclui o acesso a bons serviços de
educação e saúde, garantias de direitos civis, etc. Segundo ele, não podemos encarar o desenvolvimento
apenas do prisma dos indicadores econômicos.
Desde 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) calcula e divulga o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de quase todos os países. Esse índice fornece um retrato mais
preciso das condições de vida das populações.
As tradicionais explicações que enfatizam as relações econômicas entre os países ao longo da História,
embora não sejam falsas, consideram apenas uma faceta desse complexo problema. Ao darem destaque à
relação Norte-Sul e aos antagonismos entre os países ricos e os pobres (e muitos nem são tão pobres) como
responsáveis pelas desigualdades sociais, encobrem as contradições internas tanto dos países em
desenvolvimento quanto dos países desenvolvidos.

2.7.3 - Entre os motivos da pobreza


Com poucas exceções, os países em desenvolvimento, principalmente os "países menos
desenvolvidos", são, ou foram por longo período, governados por ditaduras ou regimes democráticos pouco
consolidados, sob o comando de elites em geral indiferentes ao bem-estar social do restante da população.
Por isso, o Estado deixa de cumprir muitas de suas atribuições básicas e dedica-se a satisfazer aos interesses
da classe social ou do grupo étnico que detém o poder. Essa apropriação do Estado por um setor da
sociedade (clã ou etnia, por exemplo) é mais comum nos países menos desenvolvidos, sobretudo na África
subsaariana, e denominada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells de "Estado predatório". Em casos
extremos, uma pessoa ou uma família chega a comandar um país.
Em países em desenvolvimento que atingiram certo grau de industrialização, como muitos dos
emergentes, é frequente um grupo social ou partido político se apropriar do aparelho de Estado. Nesse caso,
é comum a concessão de subsídios e de generosos incentivos fiscais a diversos grupos econômicos ligados
ao poder instituído, muitas vezes em detrimento de investimentos sociais que poderiam beneficiar a maioria
pobre da população. O desvio das funções do governo, a relação entre o Estado e o capital, o governo e o
partido político, a impunidade e o desrespeito à cidadania acabaram intensificando nos países em
desenvolvimento, especialmente nos menos desenvolvidos, outro fenômeno: a corrupção.
Embora não seja exclusividade desses países, este problema está fortemente arraigado na maioria
deles, devido à falta de transparência e à impunidade, e consome vultosos recursos, que poderiam ser
investidos na solução dos graves problemas sociais que enfrentam. A corrupção é um problema que aparece
em todos os países: desenvolvidos, emergentes e menos desenvolvidos. Entretanto, ela é muito mais séria
nos países em desenvolvimento, especialmente nos menos desenvolvidos, onde o sistema jurídico é frágil e a
cidadania, pouco consolidada.

2.7.4 - Paraísos fiscais


Estreitamente ligada ao problema da corrupção está a questão dos "paraísos fiscais". Muitas vezes o
dinheiro obtido em esquemas ilícitos é transferido para paraísos fiscais no exterior, muitos deles localizados
em países desenvolvidos ou em territórios ultramarinos desses países.
É importante salientar que o IPC avalia apenas a corrupção no setor público, portanto, não leva em
consideração que muitos países na lista dos menos corruptos dão suporte financeiro aos criminosos que
atuam no mundo, principalmente nos países mais pobres. Ou seja, alguns países ricos e "altamente limpos"
são coniventes com a corrupção. Por exemplo: a Suíça, um dos países menos corruptos do mundo (IPC 8,8),
tem um histórico de abrigar em seu sistema bancário - em contas secretas - dinheiro oriundo de esquemas de
corrupção de países em desenvolvimento. Por isso vem crescendo a pressão sobre os paraísos fiscais para
que seus sistemas financeiros sejam mais transparentes e menos coniventes com a corrupção internacional.
16
2.7.5 - A violência e a pobreza
Outro sério problema que várias das nações menos desenvolvidas enfrentam, sobretudo as africanas e
asiáticas, são as guerras civis que as arruínam social e economicamente. De acordo com a publicação lhe
State ofthe WorldAtlas 2012, das trinta guerras em andamento em 2010, dezessete ocorriam na Ásia (sendo
cinco no Oriente Médio), nove na África (sete na região subsaariana), três na América Latina e uma na
Europa. Essas guerras atingiam principalmente os chamados "Estados falidos", aqueles países em que a
sociedade está em maior ou menor grau mais vulnerável aos conflitos violentos e à desagregação social e
econômica.
Dos quinze Estados com maior índice de falência, dez são da África subsaariana, quatro da Ásia e um
do Caribe.
Alguns dos países mais pobres do mundo, muitos dos quais na lista dos "Estados falidos", têm mais
despesas públicas com as forças armadas do que com saúde e educação. É exatamente o oposto do que
ocorre nos países mais desenvolvidos. Entretanto, deve ser lembrado que o percentual gasto com armas nas
maiores potências econômicas mundiais, embora pequeno em termos percentuais, representa muito dinheiro
devido ao tamanho de seus PIBs.
Em 2010, os Estados Unidos foram o país que mais gastou, em termos absolutos, com armamentos no
mundo. Em termos relativos está longe da Arábia Saudita, mas como o PIB norte-americano era de 14.587
bilhões de dólares naquele ano, os 4,8% do orçamento de suas forças armadas corresponderam a 700 bilhões
de dólares. Os sauditas comprometeram 10,4% de um PIB de 435 bilhões de dólares, o que correspondeu a
um gasto total de 45 bilhões de dólares. O valor dos gastos norte-americanos com armas é quinze vezes
maior do que o dos sauditas e corresponde a uma vez e meia o PIB desse país do Oriente Médio, que é a 23ª
economia mundial (os dispêndios armamentistas da maior potência militar do planeta superam o PIB de mais
de 90% dos países-membros da ONU). Note como a situação dos países mais pobres é perversa: têm um PIB
pequeno e gastam proporcionalmente mais com armas, sobrando menos para investimentos sociais.
É importante lembrar também que os países "menos desenvolvidos" não são produtores de
armamentos, por isso importam dos países desenvolvidos (e de alguns "emergentes"), principalmente das
grandes potências militares, os maiores exportadores mundiais de material bélico. Apenas os Estados Unidos
são responsáveis por 30% do comércio internacional de armas.
Enquanto bilhões de dólares são gastos em armas no mundo todo, milhões de pessoas não têm o que
comer. Nos países pobres, principalmente na África subsaariana há adultos, jovens e crianças morrendo em
guerras, nas quais se usam armamentos caros importados dos países ricos, e de fome, porque não têm como
produzir alimentos nem comprar comida.
Em muitos "países menos desenvolvidos" e com graves problemas institucionais a falta de perspectivas
socioeconômicas faz com que muitos jovens principalmente do sexo masculino sejam aliciados por grupos
armados. A superação da falta de perspectivas socioeconômicas, do desalento que impera nos países pobres,
passa antes de tudo por romper o círculo vicioso pobreza-guerra-pobreza, principalmente nos chamados
"Estados falidos". Contudo, essa não é uma tarefa fácil, por causa dos interesses envolvidos tanto dos grupos
que detêm o poder nesses países quanto dos exportadores de armas. Mas a tomada de consciência
internacional da importância de combater a pobreza e a desesperança mobilizou os países do mundo em
torno dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

2.7.6 - Objetivos de desenvolvimento do milênio


Na Cúpula do Milênio, realizada em 2000 na sede da ONU, em Nova York, foi lançada uma ambiciosa
proposta para reduzir a pobreza mundial e melhorar os indicadores de desenvolvimento humano dos países
da África, da Ásia e da América Latina, onde se encontra a maioria dos pobres do mundo. Os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) constam da Declaração do Milênio das Nações Unidas, documento
assinado pelos países-membros da ONU (na ocasião eram 189). Todos os países-membros da organização
assumiram oito compromissos, a serem postos em prática até o ano de 2015. 1º Erradicar a extrema pobreza
e a fome, 2º Atingir o ensino básico universal, 3º Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das
mulheres, 4º reduzir a mortalidade infantil, 5º Melhorar a saúde materna, 6º Combater o HIV, a Malária e
outras doenças, 7º Garantir a sustentabilidade ambiental, 8º Estabelecer uma parceria mundial para o
desenvolvimento.
17
3. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO
3.1 - Breve caracterização
Sistema econômico que se desenvolveu na Europa com a crise do feudalismo e se expandiu econômica
e territorialmente pelo mundo a partir do século XVI e sobrepôs-se a outros sistemas de produção, até se
tornar hegemônico. No capitalismo é caracterizado por um sistema econômico em que os meios de
produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos; decisões
sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investimentos devem ser equilibrada pelo mercado e não pelo
governo como ocorre no socialismo, os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em
empresas e pagam salários aos trabalhadores com interesse sempre no lucro.
Desde o século XVI vem se transformando e passou por diversas etapas marcadas por características
diferentes no que tange às relações de produção e de trabalho (1ª, 2ª e 3º R.I.) , às tecnologias empregadas e
às doutrinas que orientam seu funcionamento (mercantilismo, liberalismo, keynesianismo e neoliberalismo).
O capitalismo é também chamado de economia de mercado tem como base o lucro, a propriedade
privada e o pluripartidarismo. Considerando seu processo de desenvolvimento, costuma- se dividir o
capitalismo em quatro etapas: comercial, industrial, financeira e informacional.
Quais são as características mais importantes de cada uma das etapas do processo de desenvolvimento
do capitalismo?
O que diferencia o capitalismo em seu atual momento de expansão das etapas precedentes?
Como as mudanças nesse sistema econômico levam a transformações no espaço geográfico?
É o que veremos a seguir.

3.2 - O capitalismo comercial - Séc. XVI até a primeira metade do séc. XVIII
O capitalismo comercial estendeu-se do fim do século XV até o século XVIII. Durante esse período a
produção de mercadorias era essencialmente artesanal e a maior fonte de riquezas era o comércio. Tudo o
que pudesse ser vendido com muito lucro, como perfumes, sedas tapetes, especiarias e até mesmo seres
humanos escravos, transformava-se em mercadoria nas mãos dos comerciantes europeus.
Essas transações comerciais se intensificaram com a expansão marítima das potências econômicas da
Europa ocidental na época (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Países Baixos) em busca de novas rotas
de comércio, sobretudo para as Índias. Foi o período das Grandes Navegações, descobrimentos de novas
terras e povos, das conquistas territoriais e também da escravização e genocídio de milhões de nativos da
América e da África. Com as Grandes Navegações, as trocas comerciais proporcionaram grande acúmulo de
capitais por parte dos Estados europeus por isso a primeira etapa desse sistema econômico é chamada
capitalismo comercial. Ou seja, quase todo o lucro acumulado pelos capitalistas era oriundo do
comércio. Tem início o processo de globalização.
Nesse período a riqueza e o poder de um país eram medidos pela quantidade de metais preciosos
acumulados, prática conhecido como Metalismo. Para garantir a acumulação de metais os países europeus,
as metrópoles, colonizaram vários territórios em outros continentes, sendo que no início nas Américas, e o
mundo foi dividido entre as potências europeias da época. O objetivo das metrópoles eram explorar os
metais preciosos presentes nas colônias período conhecido como Colonialismo. As regiões colonizadas no
início da expansão marítima formaram o chamado "comércio triangular": produtos europeus para a África,
escravos africanos para as colônias americanas e produtos tropicais americanos para a Europa.
Os metais preciosos eram explorados das colônias e proporcionou grande acúmulo de riquezas nos
países europeus, principalmente à Inglaterra, que emerge como principal potência no final desse período.
Esse acúmulo inicial de capitais foi fundamental para a eclosão da Revolução Industrial, que marcou o
começo de uma nova etapa do capitalismo chamado de Capitalismo industrial, já no século XVIII.

3.2.1 - Doutrina: Mercantilismo


A economia, nessa fase inicial de expansão do capitalismo, funcionava segundo a doutrina
18
mercantilista, que defendia a intervenção governamental nas relações comerciais, a fim de promover a
prosperidade nacional e aumentar o poder dos Estados. O poder político estava centralizado nas mãos dos
monarcas, ou seja do governo.

3.3 - O capitalismo industrial - Segunda metade do séc. XVIII até a segunda metade do séc. XIX
O comércio não era mais a essência do sistema, embora continuasse importante para fechar o ciclo
produção-consumo. Nessa nova fase, o lucro provinha principalmente da produção de mercadorias com
auxílio de máquinas, que tornaram a produção mais rápida, realizada por trabalhadores assalariados que
sofria e ainda sofre com a mais-valia. O lucro se dava com a produção em quantidade de tecidos, máquinas,
ferramentas e armas. E com os rápidos avanços nos transportes, com o surgimento dos trens e dos barcos a
vapor, aumentavam os ganhos dos capitalistas.
É com o capitalismo industrial que se consolida um mecanismo da exploração capitalista, definindo
como mais-valia. A mais valia é resultado da grande diferença da remuneração que o trabalhador ganha
com o que ele produz. Toda jornada de trabalho corresponde a uma remuneração, que garantirá a
subsistência do trabalhador. No entanto, o trabalhador produz um valor maior de produtos do que aquele que
recebe como salário. Essa quantidade produtos, produzidas pelo trabalho e que não é pago ao trabalhador, é
o lucro que fica com os proprietários das fábricas, fazendas, minas, lojas e outros empreendimentos. Dessa
forma, em todo produto ou serviço está embutido esse valor, que é apropriado pelo dono desses meios de
produção e permite o acúmulo de lucro pela burguesia (a classe dos capitalistas do período).
O regime assalariado é, portanto, a relação de trabalho mais adequada ao capitalismo e se disseminou à
medida que o capital se acumulava em grande escala nas mãos dos donos dos meios de produção. O aumento
da produção desse período motivado pelas máquinas provocou uma crescente necessidade de expansão dos
mercados consumidores para consumir a produção em larga escala. Ao mesmo tempo o trabalhador
assalariado, além de apresentar maior produtividade que o escravo, tem renda disponível para o consumo.
Por isso a escravidão entrou em decadência e o trabalho assalariado passou a predominar, embora ainda hoje
exista escravidão no mundo, até mesmo no Brasil. A Inglaterra foi o país que mais incentivou o fim da
escravidão com interesse em ampliar o mercado consumidor dos seus produtos industrializados.

3.3.1 - Primeira Revolução Industrial


Nas primeiras décadas do século XVIII, o Reino Unido da Grã-Bretanha (formado em 1707 com a
unificação entre a Inglaterra e a Escócia) comandou a primeira Revolução Industrial que deu início a uma
nova fase do capitalismo, o capitalismo industrial. A revolução motivada principalmente pela inclusão de
máquinas nas fábricas, que antes só funcionavam de forma manual, gerou uma grande transformação no
sistema de produção de mercadorias, na organização das cidades e do campo e nas condições de
trabalho.
Essa fase deu início a um grande aumento da capacidade de transformação da natureza, por meio da
utilização de máquinas hidráulicas e a vapor, o que provocou grande aumento no volume de mercadorias
produzidas e a consequente necessidade de ampliação do mercado consumidor em escala mundial. Esse
período também foi marcado por uma crescente aceleração da circulação de pessoas e mercadorias, graças à
expansão das redes de transporte terrestre, com o trem (a locomotiva a vapor foi criada em 1805), e
marítimo, com o barco a vapor (criado em 1814), intensificando o processo de globalização.

3.3.2 - Doutrina: Liberalismo


Ao contrário da doutrina mercantilista, presente no capitalismo comercial, em que o estado interferia
na economia, na nova etapa do capitalismo, industrial, era conveniente para a burguesia que a economia
funcionasse segundo a lógica do mercado, com o Estado interferindo cada vez menos diretamente na
produção e no comércio. Essa nova fase do estado interferindo menos na economia é denominada
Liberalismo. A partir de então, caberia ao Estado, nos limites de seu território, garantir a livre-iniciativa, a
concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, e, no comércio internacional, o apoio às
empresas nacionais na concorrência com as de outros países e a proteção do mercado interno contra a
concorrência desleal.
Consolidou-se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo. Essa doutrina afirma que cada

19
um, ao buscar seu próprio interesse econômico, contribuiria para o interesse coletivo de modo mais eficiente.
Por isso é contrário à intervenção do Estado na economia e defende a "mão invisível" do mercado. Os
princípios liberais aplicados às trocas comerciais internacionais redundaram na defesa do livre-comércio, ou
seja, a defesa da redução, e até abolição, das barreiras tarifárias para a livre circulação de mercadorias, o que
servia perfeitamente aos interesses do Reino Unido, país mais industrializado - a potência da época e
interessado em abrir mercados para seus produtos em todo o mundo.
Portanto, o liberalismo permanecia muito mais como ideologia capitalista, porque, na prática, a livre
concorrência, característica da etapa industrial do capitalismo, era bastante limitada. O Reino Unido que
estava com sua industrialização consolidada, enquanto que os outros países europeus, que ainda estavam na
fase principiante da industrialização, permaneciam com práticas protecionistas. O Estado, por sua vez,
passou a intervir na economia como agente produtor ou empresário, mas, sobretudo, como planejador e
coordenador. Essa atuação intensificou-se, principalmente, após a crise econômica de 1929 que resultou em
acentuada queda da produção industrial e do comércio e aumento do desemprego em todo o planeta.

3.4 - O início do capitalismo financeiro - (2ª metade do séc. XIX até a 2ª metade do séc. XX)
Nessa etapa do capitalismo, os bancos assumiram um papel mais importante como financiadores da
produção. Incorporaram indústrias, que, por sua vez, incorporaram ou criaram bancos para lhes dar suporte
financeiro. Por esse motivo tornou-se cada vez mais difícil distinguir o capital industrial (também o agrícola,
comercial e de serviços) do capital bancário. Uma melhor denominação para essa nova organização
econômica, bancos fortemente vinculados às industrias, passou a ser o capitalismo financeiro.
Uma das características mais importantes do crescimento acelerado da economia capitalista, na
segunda metade do século XIX, foi a formação de grandes empresas industriais e comerciais e o acelerado
aumento do número de bancos e outras empresas financeiras. A concorrência acirrada favoreceu as grandes
empresas, levando a fusões e incorporações que resultaram na formação de monopólios ou oligopólios em
muitos setores da economia. Monopólio é quando uma única empresa domina o mercado e oligopólio é
quando um grupo de empresas controla o mercado controlando a oferta de determinado bem ou serviço. O
monopólio é ruim para o mercado, pois acaba com a concorrência. É bom lembrar que, por ser intrínseco à
economia capitalista, esse processo continua acontecendo, e grandes corporações da atualidade foram
fundadas nessa época.
Esse capitalismo foi se consolidando, inicialmente nos Estados Unidos, com um vigoroso mercado de
capitais. As empresas deixaram de ser familiares e se transformaram em sociedades anônimas de capital
aberto, isto é, empresas que negociam suas ações em Bolsas de Valores e os sócios (sociedade) são
anônimos em sua maioria. Isso permitiu a formação das grandes corporações da atualidade, cujas ações
estão, em parte, distribuídas entre milhares de acionistas. Em geral, essas grandes empresas têm um acionista
majoritário, que pode ser uma pessoa, uma família, uma fundação, um banco ou uma holding, ao passo que
os pequenos investidores são proprietários do restante, muitas vezes milhões de ações. A Petrobrás é um
exemplo desse tipo de empresa sendo que o maior acionista é o governo. A expansão do mercado de
capitais é uma das marcas do capitalismo financeiro. É nas Bolsas de Valores que se negociam as ações de
empresas de capital aberto. O mercado passou a ser dominado por grandes corporações através de diferentes
formas de organizações das indústrias e empresas.

3.4.1 - Formas de organização das empresas - Trustes, Cartéis e Conglomerados


Foi no capitalismo financeiro que as empresas começaram a se organizar de forma que pudessem aumentar
seus lucros. As principais formas de organização são os Trustes, Cartéis e Conglomerados.
Trustes - empresa que costumam controlar todas as etapas da produção, desde a extração da matéria-
prima da natureza e sua transformação em produtos até a distribuição das mercadorias. Desde o final
do século XIX, em cada setor da economia - petrolífero, elétrico, siderúrgico, têxtil, ferroviário, etc. -
passaram a predominar algumas grandes empresas, que ficaram conhecidas como trustes. O truste resulta
de fusões e incorporações ocorridas em determinado setor de atividade, como aconteceu, sobretudo, com
empresas petrolíferas e automobilísticas, que se tornaram gigantescas. Sendo assim o truste é quando várias
empresas (transporte, extração, produção, logística, mercado) se unem, perdem autonomia e viram uma
única empresa.
20
Conglomerados - vários trustes constituídos no final do século XIX e início do século XX transformaram-se
em conglomerados, ou seja, uma única empresa que atua em diferentes setores da economia (produz
desde caneta, computador e carros). Resultando em uma ampliado processo de concentração de capitais e
de uma crescente diversificação dos negócios. Os conglomerados, também chamados grupos ou corporações,
visam dominar a oferta de determinados produtos ou serviços no mercado e são o exemplo mais bem-
acabado de empresas do capitalismo monopolista. Por exemplo: o grupo General Electric, sediado nos
Estados Unidos, atua em diversos ramos industriais. Fabrica uma grande variedade de produtos - lâmpadas
elétricas, fogões, geladeiras, equipamentos médicos, motores de avião, turbinas para hidrelétricas, etc. - e
atua nos setores financeiro e de comunicações.
Há, especialmente nos países desenvolvidos, variados exemplos de conglomerados que atuam em
diversos setores da economia: Daimler (Alemanha), Sony (Japão), Fiat (Itália), Nestlé (Suíça), Unilever
(Reino Unido e Países Baixos), mas já há também importantes conglomerados em países emergentes:
Sinopec (China), Hyundai (Coreia do Sul), Tata (Índia), Pemex (México), etc.
No Brasil também há conglomerados importantes, como a Petrobras, maior empresa brasileira, que
atua na distribuição de derivados de petróleo e gás natural, biocombustíveis e energia elétrica e funciona
como um truste no ramo energético, pois realiza desde a exploração, a produção, o refino e a
comercialização de petróleo. O exemplo da Petrobras nos faz entender que uma única empresa pode ser: um
conglomerado, um truste e um monopólio. A Itaúsa, o Bradesco, a Vale, a Ultrapar e a Votorantim também
são importantes conglomerados brasileiros.
Ao se transformar em conglomerados, as grandes corporações diversificaram os setores e os
mercados de atuação. Expandindo-se pelo mundo, principalmente após a Segunda Guerra, transformaram-se
em empresas transnacionais. Surgidas da tendência expansionista do capitalismo, essas empresas se
caracterizam por desenvolver uma estratégia de atuação internacional a partir de uma base nacional, onde
está sua sede e o controle das filiais espalhadas por outros países.

Cartel - ocorre quando vários trustes, ou mesmo empresas de menor porte, fazem acordos entre si
estabelecendo um preço comum, dividindo os mercados potenciais e, portanto, inviabilizando a livre
concorrência em determinado setor da economia. Formam um oligopólio. Diferentemente do que acontece
no truste, no cartel não há a perda de autonomia das empresas envolvidas, nem tampouco participação
acionária entre os participantes. O cartel é consequência de acordos entre empresas, em geral grandes, com o
intuito de compartilhar determinados setores da economia, controlar os preços dos produtos no mercado e
combinar preços em licitações públicas. Esses acordos abusivos entre empresas inibem a competição no
setor em que ocorrem - elevando o preço dos produtos e prejudicando os consumidores - e a concorrência
em obras públicas - elevando seu preço e prejudicando os contribuintes - cidadãos. Por isso na maioria dos
países foram criadas leis que proíbem a cartelização. No Brasil, a lei 12.529, de 30 de novembro de 2011,
sobretudo em seu artigo 116, define esse abuso de poder das empresas como crime contra a ordem
econômica.
Holding - Empresas que são controladas por uma outra empresa. Tem como objetivo a manutenção da
estabilidade da empresa controladora, garantindo uma lucratividade média, já que pode haver rentabilidades
diferentes em cada setor e, consequentemente, em cada empresa do grupo. A Petrobras é uma Sociedade
Anônima, isto é, uma companhia de capital aberto cujas ações são negociadas em Bolsa de Valores. O
governo brasileiro é seu principal acionista: em 2012 a União Federal era proprietária de 50% das ações
ordinárias. O conglomerado é composto de diversas empresas comandadas diretamente pela holding
Petrobras.

3.4.2 - Segunda Revolução Industrial


No fim do século XIX, e ainda na fase do capitalismo financeiro, mudanças importantes estavam
acontecendo dentro das fábricas: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam rapidamente,
devido à introdução de novas máquinas e fontes de energia mais eficientes, como o petróleo e a eletricidade;
aprofundava-se a especialização do trabalhador em uma única etapa da produção; e crescia a fabricação em
série.
Nessa fase a industrialização foi se expandindo para outros países europeus, como a Bélgica, a França,
a Alemanha, a Itália e até para fora da Europa, alcançando os Estados Unidos e, de forma incipiente, o Japão
21
e o Canadá. Esses países que se industrializaram só na segunda revolução, praticaram medidas protecionistas
à sua indústria nascente. Mesmo os Estados Unidos, país que hoje tem forte tradição liberal, só passou a
defender o liberalismo no comércio internacional quando já tinham estruturado uma indústria competitiva.
Na Segunda Revolução Industrial ocorre a introdução de novas tecnologias e novas fontes de energia
no processo produtivo e a criação dos primeiros laboratórios de pesquisa das atuais grandes corporações
industriais. Tendo como pioneiros os Estados Unidos e a Alemanha, a ciência passou a ser cada vez mais
apropriada pelo capital, ou seja, posta a serviço das empresas para o desenvolvimento de novos produtos e a
melhora de produtos já existentes.
A siderurgia avançou significativamente, assim como a indústria mecânica, graças ao aperfeiçoamento
da fabricação do aço. Na indústria química, com a descoberta de novos elementos e materiais, ampliaram-se
as possibilidades para novos setores, como o petroquímico. A descoberta da eletricidade beneficiou as
indústrias e a sociedade como um todo, pois proporcionou o aumento da produtividade, a melhora nas
condições de vida e maior autonomia das indústrias com relação a definição de suas localizações frente aos
demais que influenciam nos custos da produção. O desenvolvimento do motor a combustão interna e a
consequente utilização de combustíveis derivados de petróleo abriram novos horizontes para as indústrias
automobilísticas e aeronáuticas, possibilitando sua expansão e a dinamização dos transportes. Com o
crescente aumento da produção e a industrialização expandindo-se para outros países, acirrou-se a
concorrência entre as empresas.
Era cada vez maior a necessidade de garantir novos mercados consumidores e melhores oportunidades
de investimentos lucrativos, além de acesso a novas fontes de energia e de matérias-primas era o início de
muitas das atuais grandes corporações e pela expansão imperialista.

3.4.3 - Imperialismo
Foi nesse contexto do capitalismo que ocorreu a expansão imperialista europeia na África e na Ásia.
As potências imperialistas buscavam ampliar seus territórios, e os empresários, seus lucros na busca por
matéria prima e mercado consumidor. O capitalismo, desde sua origem na Europa, foi ampliando sua área de
atuação no planeta. A expansão imperialista disseminou o sistema para outras partes do mundo.
No Congresso de Berlin (1884-1885), as potências industriais da europeias partilharam o continente
africano entre elas. Na Ásia, extensas áreas também foram partilhadas, como a Índia que passou a ser o
território colonial britânico mais importante.
A partilha imperialista estabelecida pelas potências industriais consolidou a divisão internacional do
trabalho (DIT), pela qual as colônias, sobretudo as africanas, especializaram-se em fornecer matérias-
primas, especialmente minérios como o ferro, chumbo e cobre, além de produtos de origem agrícola, como
algodão, aos países que então se industrializavam e exportavam produtos industrializados.
Essa divisão, inicialmente delineada no capitalismo comercial, consolidou-se na etapa do capitalismo
industrial. Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências
imperialistas. No fim do século XIX também emergiram potências industriais fora da Europa, com destaque
para o Japão, na Ásia, e principalmente os Estados Unidos, na América.
A expansão imperialista japonesa, como a europeia, foi marcada pela ocupação e anexação de
territórios. Iniciou-se com a tomada de Formosa (China), após a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-
1895), seguida pela ocupação da península da Coreia (anexada em 1910) e da Manchúria (China), em 1931,
entre outros territórios. O imperialismo norte-americano sobre a América Latina foi um pouco diferente do
europeu sobre a África e a Ásia e do japonês, também sobre a Ásia.
Enquanto nas colônias africanas e asiáticas as potências imperialistas mantinham controle político e
militar direto, os norte-americanos exerciam controle indireto, patrocinando golpes de Estado,
principalmente na América Central e no Caribe, e apoiando a ascensão de ditadores nacionais, alinhados
com os interesses dos EUA. As intervenções militares eram localizadas e temporárias, como o controle
exercido sobre Cuba (1899-1902) e em seguida as intervenções seguiram para diversos países da região.
Com o fim da Segunda Guerra, já em 1945, agravou-se o processo de decadência das antigas potências
europeias, que já vinha ocorrendo desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram
perdendo seus domínios coloniais na Ásia e na África e, com a destruição provocada pela Grande Guerra, as
colônias conquistaram sua independência num processo que ficou conhecido como descolonização.
Outra característica específica desse período foi o surgimento de duas forma de organização do
22
trabalho conhecidas como Taylorismo e Fordismo.

3.4.4 - Formas de organização do trabalho: Taylorismo e Fordismo


Foi nesse contexto de Segunda Revolução Industrial e consolidação de capitalismo financeiro é que
surge as primeiras formas de organização de trabalho padronizadas com o objetivo de aumentar a
produtividade através da racionalização do trabalho. Essas organizações foram criadas nos EUA pais que se
destacou nessa fase da industrialização.

Taylorismo - foi a primeira e consistia basicamente em controlar os tempos e os movimentos dos


trabalhadores e fracionar as etapas do processo produtivo de forma que o operário desenvolvesse tarefas
ultra especializadas e repetitivas com o objetivo de aumentar a produtividade no interior das fábricas. Eram
novos procedimentos organizacionais aplicados à indústria. O criador dessa nova forma de trabalho o
engenheiro Americano Frederick W. Taylor desenvolveu essa teoria a partir da observação dos
trabalhadores nas indústrias e concluiu que para dinamizar a produção era necessário hierarquizar e
sistematizar o trabalhador, monitorar o tempo de trabalho e premiar os que realizam uma tarefa em menor
tempo.

Fordismo - é conhecido como uma evolução nos procedimentos de Taylor. O industrial norte-americano
Henry Ford inovou os métodos de produção de Taylor ao introduzir esteiras rolantes na sua linha de
montagem de automóveis: as peças chegavam até os operários que, parados, executavam sempre as mesmas
tarefas referentes à produção de cada parte do carro. O fordismo distingue-se do taylorismo por apresentar
uma visão abrangente da economia, não fica restrito as mudanças organizacionais no interior das fábricas.
Ford percebeu que a produção em grande escala exigia consumo em massa, o que pressupunha produtos
mais baratos e salários mais altos para os trabalhadores. Com isso havia uma economia em crescimento com
salários em ascensão, trabalhadores consumindo, os empresários com grandes lucros e o estado arrecadando
mais impostos.
Contudo, a superprodução nas indústrias devido a linha de produção fordista gerou um grande
estoque de produtos que não estavam sendo absorvidos pelos consumidores. A consequência disso foi a
Crise de 1929.

3.4.5 - Doutrina: Keynesianismo


A doutrina que surgiu nessa fase do capitalismo financeiro foi a Keyneziana que criticava o
pensamento econômico clássico e o princípio da "mão invisível", ou seja, criticava o liberalismo e o suposto
equilíbrio espontâneo do mercado.
O keynesianismo, que passa a ser valorizada, após a crise de 1929, defendia a intervenção do Estado
na economia para evitar crises de superprodução, como a de 1929. Propunha o aumento dos gastos públicos
como mecanismo para estimular o crescimento econômico e a geração de empregos. Essa crise ocorreu por
causa da quebra da Bolsa de Nova York. A quebra da bolsa ocorreu por causa do excesso de produção das
indústrias devido a linha de produção fordista e a falta de controle sobre a especulação sobre as ações das
empresas, principalmente industriais.
Em 1933, Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, pôs em prática um plano de
combate à crise que se estendeu até 1939. Chamado New Deal ('novo plano' ou 'novo acordo), foi um clássico
exemplo de intervenção do Estado na economia. Baseado em um audacioso plano de construção de obras
públicas e de estímulos à produção, visando reduzir o desemprego, o New Deal foi fundamental para a
recuperação da economia norte-americana e, posteriormente, do restante do mundo. Essa política de
intervenção estatal numa economia fortemente oligopolizada ficou conhecida como keynesianismo, por ter
sido o economista John Maynard Keynes seu principal teórico e defensor. Representou claramente uma
contraposição ao liberalismo clássico, que até então permanecia como ideologia capitalista dominante.
Superada a crise, com a retomada do crescimento da economia, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), começam a se consolidar os grandes conglomerados capitalistas. Ou seja, do ponto de
vista econômico, o pós-Segunda Guerra foi marcado por acentuada mundialização da economia capitalista,
sob o comando das transnacionais. Foi a época de gestação das profundas transformações econômicas pelas
quais o mundo vem passando, sobretudo a partir do fim dos anos 1970, como a Terceira Revolução
23
Industrial e o processo de globalização da economia.

3.5 - O capitalismo informacional - A revolução informacional


Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-
Científica ou Revolução Informacional, o capitalismo, como propõe o sociólogo espanhol Manuel
Castells, atingiu seu período informacional. Essa nova etapa começou a se gestar no pós-Segunda Guerra,
mas se desenvolveu, sobretudo a partir dos anos 1970 e 1980.
A partir daí, empresas, instituições e diversas tecnologias foram responsáveis pelo crescente aumento
da produtividade econômica e pela aceleração dos fluxos materiais e imateriais - de capitais, mercadorias,
informações e pessoas. Nessa etapa do capitalismo, os avanços tecnológicos potencializaram a produção
industrial e o sistema financeiro.
As novas tecnologias empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, permitiram grande
aumento da produtividade industrial e da diversificação dos produtos. Além disso, os avanços tecnológicos
na informática permitiram que os fluxos de capitais ocorressem sem a necessidade física do dinheiro,
possibilitando um enorme crescimento do setor financeiro globalizado.
Entretanto, a característica fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a crescente
importância do conhecimento. Os produtos e serviços têm um conjunto cada vez maior de conhecimentos
a eles agregados, valorizando-os. A fabricação de um televisor ou um automóvel, por exemplo, envolve,
além do material e da mão de obra (também cada vez mais qualificada), uma série de conhecimentos
específicos. Produtos e serviços têm, portanto, uma nova característica - seu crescente teor informacional.
Mas o conhecimento também vai se incorporando ao território, constituindo o que o geógrafo Milton
Santos chamou de meio técnico-científico-informacional, que aparece predominantemente nos países
desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes, e é a base para os fluxos da globalização.
Os países na vanguarda da Revolução Informacional são aqueles que lideram a Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) com destaque para os EUA, país que mais investe em P&D em termos absolutos, que possui o maior
número de pesquisadores, que mais publica artigos técnicos e científicos em revistas especializadas e que
obtém as maiores receitas de royalties e taxas de licenciamento sobre novas tecnologias de produtos e
serviços.
As duas revoluções industriais anteriores foram impulsionadas pelo desenvolvimento de novas fontes
de energia a primeira, por carvão, e a segunda, por petróleo e eletricidade. A revolução ora em curso é
impulsionada pelo conhecimento, embora, evidentemente, a energia continue sendo crucial (um computador
de última geração não funciona sem energia elétrica ou bateria).
Durante a expansão imperialista era imprescindível para as indústrias o acesso a fontes de matérias-
primas e de energia para a manutenção do processo produtivo. Hoje, na época da globalização embora o
acesso a recursos naturais continue sendo muito importante, é imprescindível o acesso ao conhecimento,
fruto de investimentos em P&D.
Desde os primórdios da espécie humana, as sociedades produzem conhecimentos diversos: uma
ferramenta, como um arado puxado por algum animal, por exemplo, que produziu avanços na agricultura,
implica algum conhecimento para produzi-lo e utilizá-lo.
O que mudou hoje, então?
Atualmente o conhecimento é o principal responsável pelo desenvolvimento, pela produção e pela
utilização dos produtos e serviços. Por isso, quanto mais avançados forem, mais incorporam conhecimentos,
que são a base da atual Revolução Técnico-Científica e Terceira Revolução Industrial
As primeiras indústrias, da era das chaminés, desenvolveram-se em torno das bacias carboníferas.
Atualmente, as empresas de alta tecnologia estão próximas a universidades e outras instituições de pesquisa,
onde se desenvolvem os parques tecnológicos ou tecnopolos. Nesses centros industriais, há grande
concentração de indústrias de informática (hardware e software), telecomunicações, robótica e
biotecnologia, entre outras de alta tecnologia. Os parques tecnológicos são um exemplo evidente do meio
técnico-científico-informacional. Nos países emergentes há pouco investimentos em pesquisa científica e
tecnológica e as que tem são desenvolvidas em sua maioria por instituições governamentais e universidades.
Exemplo no Brasil: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Instituto Tecnológico de
Aeronáutica – (ITA), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre outros. Já nos países desenvolvidos as pesquisas
24
tecnológicas são desenvolvidas principalmente pelo setor privado. A falta de grandes investimentos nos
países emergentes ocorre devido a falta de interesse, corrupção e graves problemas sociais para serem
resolvidos como fome, miséria e desemprego.
Desde a década de 1970, está havendo uma grande revolução nas unidades de produção, nos serviços e
nas residências. Grande parte dessa revolução deve-se a uma aos novos materiais como uma pequena peça
de silício chamada chip, que possibilitou a construção de computadores cada vez mais rápidos, precisos e
baratos. O desenvolvimento de satélites e de cabos de fibra óptica, entre outras tecnologias, tem permitido
grandes avanços nas telecomunicações. As tecnologias da informação e comunicação têm facilitado o
gerenciamento de dados e acelerado o fluxo de capitais, mercadorias e informações em escala mundial por
diversos meios, entre os quais se destaca a internet.
Com a aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de
globalização. Estrutura-se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transportes e
telecomunicações. Por isso podemos dizer que vivemos em um capitalismo informacional-global.
Entretanto, como veremos no próximo capítulo, a globalização e seus fluxos abarcam o espaço geográfico de
forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados que outros, e os "comandantes"
desse processo estão concentrados em poucos lugares.

3.5.1 - Forma de organização do trabalho: Toyotismo/produção flexível


Com o avanço para a Terceira Revolução Industrial e um capitalismo informacional ocorre também um
avanço para novos métodos de organização de produção chamados de Toyotismo ou produção flexível. O
fordismo começa a perder espaço. Essas novos métodos de organização do trabalho começaram a ser
desenvolvidas na fábrica da Toyota Motor Company, em Toyota City no Japão, após a Segunda Guerra. As
principais mudanças foram:
- as grandes fábricas que possibilitavam a produção em série e escala, foram substituídas ou
complementadas pela economia de escopo, desenvolvida em plantas menores e flexíveis, que podem mudar
a organização interna;
- substituiu a linha de produção, típica da fábrica fordista, por equipes de trabalho ou células de produção,
nas quais cada equipe fica encarregada de todo o processo produtivo. Essa inovação ficou conhecida como
círculos de controle de qualidade (CCQ) e reduziu significativamente os defeitos de fabricação, pois tal
controle passou a ser feito pela própria equipe ao longo do processo produtivo, e não apenas no final, como
na produção fordista;
- o just-in-time ("no momento certo", em inglês) procura estabelecer uma sintonia fina entre a fábrica, seus
fornecedores e consumidores. A organização da produção pressupõe um abastecimento contínuo dos
insumos (peças e matérias-primas) necessários para a fabricação de determinado produto. Dessa forma,
eliminam-se ou reduzem-se drasticamente os estoques. O escoamento da produção também é planejado
para ocorrer "no momento certo".
Junto com essa nova organização do trabalho foram surgindo no processo produtivo máquinas cada
vez mais sofisticadas e, finalmente, robôs. No início, eles desempenhavam as tarefas repetitivas ou as mais
perigosas e insalubres, mas, com o passar do tempo, substituíram mais e mais operários. Com a crescente
automação das fábricas, muitos operários passaram a trabalhar em outros setores, particularmente nos
serviços. Já outros perderam seus postos de trabalho, que desapareceram definitivamente, caracterizando o
desemprego estrutural. Com essas mudanças, o mercado de trabalho tem exigido trabalhadores mais
qualificados, mais versáteis, com capacidade de aprendizagem permanente e mais envolvidos com a sua
profissão.
Essas inovações implantadas no sistema produtivo, particularmente nos países desenvolvidos, ficaram
conhecidas como produção flexível, em contraposição à rigidez do fordismo, e permitiram nova fase de
expansão para muitas empresas. Entretanto, enquanto o toyotismo ficou mais associado aos métodos
organizacionais no interior das fábricas, a produção flexível se refere ao contexto mais amplo no qual se
insere, contemplando, além das formas de organização produtiva, também as relações de trabalho e as
políticas econômicas. O desenvolvimento dessa nova organização da produção tem gerado novas relações de
trabalho, como a terceirização, novos processos de fabricação e novos produtos. As novas relações de
trabalho são caracterizadas pela terceirização, salários mais baixos e direitos trabalhistas mais restritos ou
inexistentes e profissionais com cada vez mais poder de adaptação e estudo. A maior parte desses empregos
25
tem sido criada nos países em desenvolvimento, onde ainda em grande parte se mantém o método de
produção fordista, baseado na superexploração dos trabalhadores. A terceirização consiste em repassar para
outras empresas atividades de suporte, como limpeza, segurança, manutenção, alimentação etc. A palavra de
ordem passa a ser competitividade e, para aumenta-la, as empresas buscam incessantemente racionalizar a
produção, cortando custos e implantando novos processos produtivos nas indústrias. Tudo isso visando a
aumentar seus lucros. Nesta, a produção passa a se descentralizar em escala nacional e mundial.

3.5.2 - Doutrina: Neoliberalismo


Doutrina que valoriza a redução da intervenção do estado na economia, baseia-se no liberalismo
clássico e acrescenta novas normas. Se desenvolveu desde o final dos anos 1930, mas só foi colocada em
prática já no capitalismo informacional com os EUA, sob a presidência de Ronald Reagan (1981-1988), e no
Reino Unido, sob o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990). Na década de 1990, as
políticas neoliberais se disseminaram para os países em desenvolvimento através de organismos como o
Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial através do Consenso de Washington que ocorreu
em 1989 nos EUA. Nessa reunião os EUA “sugeriram” que os esses países aderissem ao neoliberalismo.
Ao assumir a Presidência dos EUA, Ronald Reagan (Partido Republicano), em seu discurso de posse
proferido em 20 de janeiro de 1981, afirmou: "Na atual crise, o governo não é a solução de nossos
problemas; o governo é o problema’’. Ele se referia à crise capitalista dos anos 1970, que evidenciava
certo esgotamento das políticas keynesianas e era agravada pelos choques do petróleo (elevação dos preços
do barril em 1973 e 1979). O governo Reagan, baseado na doutrina neoliberal, foi marcado por redução do
papel regulador do Estado na economia, por cortes de impostos - beneficiando especialmente os mais
ricos -, supostamente para estimular o investimento e a produção, e por imposição da doutrina
neoliberal aos países em desenvolvimento, que estavam enormemente necessitados do apoio do FMI para
obterem novos empréstimos externos para minimizarem a crise na balança de pagamentos.
O Brasil, que aderiu a política neoliberal a partir da década de 1990, o Estado funciona como um
fiscalizador e regulador dos serviços prestados pelas empresas privatizadas, através de agências reguladoras.
Por exemplo a ANAEL, ANATEL, ANAC, ANTT entre outras. Houve uma grande quantidade de
privatizações de empresas privadas para reduzir o papel do estado na economia, além da flexibilização das
leis trabalhistas com medidas que reduziram os direitos dos trabalhadores através de novas relações de
trabalho como a terceirização e contratos.
O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras aos fluxos globais de
mercadorias e capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiou principalmente os países
desenvolvidos e suas corporações transnacionais.
Entretanto, alguns países emergentes, como a China, a Índia, os Tigres Asiáticos, o México e o Brasil,
também se beneficiaram ao receber muitos investimentos produtivos e ampliar sua participação no comércio
mundial. Contudo, há entre os emergentes, aqueles que continuam dependendo muito da exportação de
produtos primários o que faz com que sua balança comercial não seja favorável.
A ampliação dos fluxos de capitais, principalmente o financeiro, e a falta de controle estatal sobre o
mercado - sobretudo nos Estados Unidos, país de forte tradição liberal - acabou levando o capitalismo a uma
grave crise econômica em 2008/2009.

Consequências do Neoliberalismo para os EUA


Nos EUA, a crise teve seu auge em setembro de 2008 com a falência do Lehman Brothers, centenário
banco de investimento norte-americano. A mais grave crise, desde 1929, originou-se no sistema financeiro
norte-americano e em pouco tempo se espalhou pelo mundo, atingindo também a economia real dos países.
Dessa forma, o neoliberalismo foi posto em xeque, como fica evidente no discurso de posse do presidente
dos Estados Unidos Barack Obama (Partido Democrata), proferido no dia 20 de janeiro de 2009:
"Tampouco a pergunta diante de nós é se o mercado é uma força do bem ou do mal. Seu poder para
gerar riqueza e expandir a liberdade não tem igual, mas esta crise nos fez lembrar que, sem um olhar
atento, o mercado pode sair do controle - e que uma nação não pode prosperar por muito tempo se
favorece apenas os prósperos". Trata-se de um discurso muito diferente do feito por Ronald Reagan 28
anos antes.
Como admitiu o então presidente dos Estados Unidos, o principal motivo da crise econômica foi a
26
fiscalização deficiente do mercado, principalmente financeiro, por parte do Estado. Com o propósito de
corrigir essa falha, em junho de 2009 o governo norte-americano lançou um plano de regulação, considerado
a maior intervenção do Estado na economia desde os anos 1930 (pós-crise de 1929). Entre outras medidas,
esse plano assegurou amplos poderes ao Federal Reserve (ou Fed, o Banco Central dos EUA) para regular e
supervisionar todo o sistema financeiro do país. Para isso foi criada uma agência com o intuito de
supervisionar os bancos. O governo poderá intervir em empresas "grandes demais para quebrar", evitando,
assim, que possam contaminar o mercado. Também foi criada a Agência de Proteção dos Consumidores,
cujo objetivo é coibir práticas abusivas do setor financeiro, como ocorreu no caso das hipotecas. Num país
de forte tradição liberal, é natural que esse plano encontrasse resistência por parte da oposição, do Partido
Republicano e, especialmente, das empresas financeiras, que não teriam mais total liberdade de atuação no
mercado. Um dia antes do lançamento do plano, Obama já alertava para esse fato: "Vamos ouvir muita
conversa de que não precisamos de mais regulação e de que não queremos as mãos do governo sobre o
mercado. Mas não podemos esquecer o desastre em que nos metemos exatamente pela falta dessa
regulamentação mais rigorosa, o que levou a um comportamento irresponsável de alguns".

4. GLOBALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO


4.1 - Do pós - guerra aos dias atuais (Da velha ordem à nova ordem mundial)
Para entender as transformações desse período é necessário estudar a ordem internacional, ou seja, o
arranjo geopolítico e econômico que regula as relações entre as nações do mundo nesse momento histórico
que vai desde o fim da Segunda Guerra até os dias de hoje.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo vem passando por importantes mudanças
geopolíticas e econômicas. Com o fim da Segunda Guerra Mundial teve início a Guerra Fria (1947-1991)
período marcado pelo antagonismo geopolítico-ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética, pela
bipolarização de poder entre as duas superpotências e pelo medo da eclosão de uma guerra nuclear. Para
compreender esse período vamos entender a Segunda Guerra Mundial.

4.1.1 -A Segunda Guerra Mundial


Durante a Segunda Guerra Mundial a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), criada em
1922, o Reino Unido, França e os EUA, grupo dos Aliados, lutaram do mesmo lado, visando derrotar as
forças do Eixo (Alemanha, Japão e Itália).
A União Soviética sofreu grandes perdas humanas (mais de 20 milhões de pessoas morreram, a
maioria civis) e prejuízos materiais (grande parte das indústrias, cidades e fazendas foi destruída) por causa
da guerra, por isso estabeleceu como metas a reconstrução do país e a busca do equilíbrio bélico com o rival
ocidental.
Diferentemente, os EUA, que ingressaram no conflito somente em 1941, além de perderem
relativamente poucos combatentes, conseguiram manter intactas suas cidades, indústrias e propriedades
agrícolas, e ainda aumentaram a produtividade industrial e acumularam vultosas reservas. Emergiam,
portanto, duas superpotências no cenário mundial: a URSS e os EUA.
No final da guerra, em 1945, a derrota dos países do Eixo e, ao mesmo tempo, o enfraquecimento
econômico, militar e político do Reino Unido e da França, levaram o mundo a um período de grandes
transformações econômicas e geopolíticas. As
potencias europeias perderam importância
geopolítica, já que o poder passou para as novas
potencias que emergiram. Essas novas
transformações deram início a um período
conhecido como Guerra Fria causando uma
divisão política e econômica da Europa,
principalmente, de acordo com os interesses das
duas grandes potencias.

4.1.2 - Guerra Fria - A Velha Ordem Mundial


A divergência ideológica entre Estados
27
Unidos, que defendia a expansão do capitalismo pelo mundo, e a União Soviética, que defendia o
socialismo, seguiam linhas político-econômicas diferentes. O capitalismo é um sistema que defende a
economia de mercado, o pluripartidarismo e uma sociedade dividida em classes sociais. Já o socialismo é um
sistema que organiza o território a partir de uma economia planificada, sem divisão de classes sócias, do
ponto de vista teórico, e unipartidária. O mundo era bipolar, ou seja, havia duas superpotências que
comandavam o mundo e essas duas potencias dividiram a Europa em zonas de influências como mostra o
mapa ao lado, a Europa Ocidental também conhecida como países do oeste e Europa Oriental como países
do leste.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial a relação se transformou num confronto indireto. Um
confronto indireto porque como definiu bem o cientista político francês Raymond Aron: "Guerra Fria, paz
impossível, guerra improvável". A paz era impossível porque as superpotências apresentavam, em vários
aspectos, um antagonismo insuperável. A guerra era improvável porque, se ocorresse e culminasse num
enfrentamento nuclear, não haveria vencedores, podendo mesmo levar ao fim da humanidade ou ao menos a
barbárie. Isso porque as armas de destruição em massa - mísseis carregados com bombas nucleares - eram
construídas pelas duas superpotências.
Como cada uma das superpotências tentava disseminar seus respectivos sistemas econômicos e seus
valores político - ideológicos, a divisão do mundo em dois blocos rivais e a emergência do conflito Leste-
Oeste foram marcadas pelo antagonismo geopolítico-militar e pela propaganda ideológica. Cada uma delas,
ao mesmo tempo que fazia esforços para ampliar sua área de influência, tentava conter a expansão da outra,
numa época marcada pela bipolarização de poder entre os EUA e a URSS, que ficou conhecida como
Guerra Fria.
Nesse período as duas superpotências, buscando manter o equilíbrio bélico e a paridade nuclear,
mantiveram uma acirrada corrida armamentista em que as armas eram construídas não para serem usadas,
sobretudo os letais mísseis nucleares, e sim para servir de instrumento para demonstração de força. Nenhum
dos lados admitia ficar em posição de inferioridade. Em suma, o que garantiu a paz durante esse período foi
a premissa de que o conflito bélico asseguraria a mútua destruição por isso imperou uma "paz armada".

Que fato marcou o início da Guerra Fria?


A Guerra Fria teve início a partir do final da Segunda Guerra mundial. Contudo, em 1947, quando os
Estados Unidos lançaram as bases da Doutrina Truman e do Plano Marshall, é considerado um dos
marcos do início desse período histórico.
Nesse ano o presidente Harry S. Truman (que governou o país de 1945 a 1953) incentivou a
concessão de créditos para a Grécia e a Turquia com o objetivo de sustentar governos pró-ocidentais
naqueles países. O objetivo geopolítico fundamental da Doutrina Truman era a contenção do socialismo,
isolar a União Soviética e impedir a expansão de sua área de influência.
Complementando a Doutrina Truman, o então secretário de Estado norte-americano, George C.
Marshall, idealizou o Plano Marshal de ajuda econômica para acelerar a recuperação econômica dos
países da Europa Ocidental. Esse plano tinha como objetivo, além dos já citados acima, o de recuperar
mercados para produtos e capitais norte americanos.
Além do Plano Marshall, direcionado à Europa no início da década de 1950, foi elaborado o Plano
Colombo, voltado para estimular o desenvolvimento de países do Sul e Sudeste da Ásia através de ajuda
financeira. O Japão foi beneficiado por um programa de ajuda bilateral e, entre 1947 e 1950, recebeu
US$2,5 bilhões (em valores da época) diretamente do Tesouro dos Estados Unidos.
Todos esses planos de ajuda econômica possibilitaram o fluxo de produtos e capitais norte-americanos
e, junto com a Doutrina Truman, a contenção do expansionismo soviético. Para administrar e distribuir os
recursos do Plano Marshall, em 1948 foi constituída a Organização Europeia de Cooperação Econômica
(OECE) que depois passou a se chamar Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE).

4.1.3 - Alianças militares dos EUA


Com o mesmo objetivo de conter o socialismo, além das ajudas econômicas foram feitas também
alianças militares. No início da Guerra Fria, muitos setores da sociedade norte-americana acreditavam que,
se a União Soviética estendesse sua influência a outros países além do Leste Europeu e da China (que aderiu
28
ao socialismo em 1949), todos os países, sucessivamente, acabariam caindo nas "garras" do inimigo. Esse
pressuposto geopolítico ficou conhecido como efeito dominó. Para contê-lo, os Estados Unidos criaram
várias alianças militares: na Europa Ocidental a Organização do tratado do Atlântico Norte - Otan, no
Sudeste Asiático a Organização do Tratado do Sudeste da Ásia - Otase) e no Oriente Médio o Pacto de
Bagdá. Além de acordos bilaterais com alguns países como o Japão e a Coreia do Sul, estabelecendo um
cinturão de isolamento em torno da superpotência rival, que ficou conhecido como cordão sanitário. A mais
importante dessas organizações militares foi a Otan.
Aliança militar Norte Americana - OTAN
A Otan, criada em 1949 e com sede em Bruxelas
(Bélgica), para defender a Europa Ocidental da ameaça
soviética. Com a criação da Otan, os EUA delimitaram sua zona
de influência na Europa Ocidental por meio da construção de
uma série de bases militares e da constituição de um gigantesco
mercado de armamentos convencionais e nucleares para seu
complexo industrial-militar e também de seus aliados.
A Otan foi uma criação norte-americana em represália ao
bloqueio, por terra, feito a Berlim Ocidental pelos soviéticos.
Para furar o bloqueio os aliados capitalistas abasteceram Berlim
Ocidental pelo ar, por meio de uma "ponte aérea", furando o
bloqueio terrestre imposto pela URSS, entre junho de 1948 e
maio de 1949, foi uma reação à implantação do marco, moeda
que circulava na parte ocidental da Alemanha. Depois de onze
meses, o bloqueio foi suspenso, mas esse acontecimento foi a primeira grave crise da Guerra Fria.
Outra consequência importante do bloqueio a Berlim feito pelos soviéticos foi a criação da República
Federal da Alemanha (RFA) ou Alemanha Ocidental, em maio de 1949, nas zonas ocupadas pelos
Estados Unidos, Reino Unido e França. A resposta soviética veio em outubro daquele mesmo ano com a
criação da República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha Oriental em sua respectiva zona e
ocupação.
Atualmente, entre as novas funções constam garantir a paz na Europa e dar apoio em intervenções
internacionais, como no Afeganistão. Ao ampliar sua atuação: fixou-se nas trocas militares de técnicas de
segurança com a Europa, nas intervenções de conflitos e até no combate ao narcotráfico.
Além disso, vem ganhando novos países-membros: em 1999 entraram na organização a Hungria, a
Polônia e a República Tcheca. Durante as negociações para a incorporação de países do Leste na
organização, a Rússia posicionou-se contra essa política expansionista, alegando que isso poria em risco a
sua segurança, mas acabou aceitando-a em troca de sua entrada no G-7, rebatizado de G-8. Finalmente, no
início de 2002, com a criação do Conselho Otan-Rússia, esse país passou a ser considerado um aliado
estratégico, encerrando mais um capítulo da história da Guerra Fria. Em 2004, mais sete países do antigo
bloco oriental ingressaram na Otan, e, em 2009, mais dois, elevando para 28 o número de países-membros.
O ingresso de ex-integrantes do Pacto de Varsóvia demonstra como o mundo mudou do ponto de vista
geopolítico desde o fim da Guerra Fria.

4.1.4 - Divisão da Alemanha - socialista e capitalista


A divisão da Alemanha foi uma das consequências do período da Guerra Fria onde o mundo era
dividido entre capitalismo e socialismo. Com o fim da Segunda Guerra a Alemanha foi dividida entre os
vencedores: americanos, britânicos, franceses que ficaram com a Alemanha ocidental e a URSS com a
Alemanha oriental. O mesmo aconteceu com Berlim, sua antiga capital que ficou dividida entre a parte
oriental socialista e a ocidental capitalista.

29
Até a década de 1960 muitos berlinenses deixaram o setor oriental em busca de melhores
oportunidades de trabalho no setor ocidental. Para acabar com esse êxodo de trabalhadores e reafirmar a
soberania sobre seu setor da cidade, as autoridades orientais construíram em 1961 o Muro de Berlim, com
extensão de 159 km, um dos símbolos mais significativos do mundo bipolar e das tensões da Guerra Fria. Ao
dividir Berlim, com um muro de concreto, materializava-se no território de uma cidade todo o antagonismo
dessa época: o conflito Leste-Oeste, ou socialismo versus capitalismo.

4.1.5 - Aliança militar da URSS: Pacto de Varsóvia


Quando a Alemanha Ocidental ingressou na Otan, em
1955, a resposta soviética veio com a criação de uma aliança
militar sob seu comando: o Pacto de Varsóvia. O Pacto de
Varsóvia é uma aliança militar assinada na capital da Polônia. A
União Soviética delimitava, assim, sua própria zona de
influência e seu principal mercado de armas com a Alemanha
Oriental, o que consolidou a divisão da Europa pela "cortina de
ferro" [expressão criada em 1946 por Winston Churchill, então
primeiro-ministro inglês). Os países europeus orientais eram
também conhecidos como "países da cortina de ferro".
Com o fim da Guerra Fria, a importância das alianças
militares tem diminuído, e aquelas que não foram extintas
sofreram reestruturação. A mais importante delas, a OTAN,
reduziu seu arsenal militar, ganhou mais mobilidade,
flexibilidade e novas atribuições.

4.1.6 - A Ordem Econômica da Guerra Fria - Instituições internacionais criadas no período


A seguir faremos uma breve descrição sobre as principais instituições ou organismos internacionais
criadas no período da Velha ordem mundial (Guerra Fria) e que ainda estão em funcionamento. Contudo
muitas delas ampliaram suas funções e mudaram de nomes. Vamos entender o funcionamento dessas
instituições antes e após a Guerra fria. Essas instituições permanecem com grande importância no mundo
contemporâneo.

Conferência de Bretton Woods - No últimos meses antes do final da Segunda Guerra, norte-americanos e
britânicos, preocupados com a recuperação econômica de um mundo devastado pelo conflito bélico,
convocaram a Conferência de Bretton Woods, em 1944. Os representantes dos 44 países participantes
temiam a ocorrência de uma crise econômica, como a dos anos 1930, e lançaram um plano que visava
garantir a reconstrução e a estabilidade da economia mundial após o término da guerra. Nessa reunião, foi
estabelecido um novo padrão monetário - o dólar-ouro, em substituição ao ouro, padrão vigente até então.
Apesar da participação de várias nações, incluindo a União Soviética e o Brasil, quem definia as regras do
plano eram os Estados Unidos e, em menor grau, o Reino Unido.
Durante a Conferência de Bretton Woods foram constituídos dois organismos que até hoje são muito
30
atuantes no cenário político, econômico e financeiro mundial:
- o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), a instituição mais conhecida do
Banco Mundial, e
- o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ambos com sede em Washington, capital dos EUA, já nasceram controladas pela potência
hegemônica. Ao Bird coube, inicialmente o financiamento da reconstrução dos países devastados pela
guerra e, atualmente, o financiamento a longo prazo de projetos visando o desenvolvimento dos países-
membros (188 em 2012). Em 1960 foi criada a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), que
hoje concede empréstimos sem juros e assistência técnica aos 81 países mais pobres do mundo (39 dos quais
na África subsaariana).
A AID, o Bird e mais três instituições compõem o Grupo Banco Mundial. Originalmente chamado
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BIRD, atualmente é mais conhecido como
Banco Mundial. A principal atividade do Banco Mundial é fornecer empréstimos para os países em
desenvolvimento em diversos programas de capital.
O que primeiro foi uma motivação para financiar a reconstrução dos países mais prejudicados pela
segunda guerra, quando era mais conhecido como BIRD, com o passar do tempo, se tornou uma
possibilidade para dar espaço aos países mais desfavorecidos em cooperação ao desenvolvimento da sua
economia e capacidade produtiva com a constituição do AID. Através das suas iniciativas como o AID, o
Banco Mundial executa programas de redução da pobreza nas regiões mais críticas a nível mundial, dá apoio
a programas de capital, promove iniciativas no âmbito da melhora do meio ambiente apoiando soluções
inovadoras, entre outras.
O Banco Mundial oferece empréstimos para dar impulso a diversas iniciativas destinadas a projetos de
melhoria em áreas como saúde, energia, saneamento, infra-estrutura e, a partir deste século, mitigação dos
impactos no meio ambiente, decorrentes dos projetos sócio-econômicos.
O FMI foi criado para zelar pela estabilidade financeira mundial através de duas atribuições básicas:
garantir empréstimos aos países que tenham dificuldade para fechar seu balanço de pagamentos e assegurar a
estabilidade nas taxas de câmbio, sempre tendo o dólar como padrão de referência.
Constituído no ano 1944, o Fundo Monetário Internacional é a organização encarregada do controle e
monitoramento do sistema financeiro mundial através da regulação de taxa cambial e balança de pagamentos
dos países membros, prestando assistência técnica e financeira nos casos que for necessário. Objetiva evitar
acontecimentos críticos se repetirem, como a crise do ano 1929 nos Estados Unidos. O FMI concede
empréstimos a países credenciados com problemas financeiros e estabelece rigorosas regras que os países
deverão cumprir para atingir as metas impostas pelo organismo.

Conferência Econômica de Havana - Para complementar as medidas econômicas idealizadas em Bretton


Woods, foi constituído, em 1947, na Conferência Econômica de Havana, o Acordo Geral de Tarifas e
Comércio (Gatt, do inglês General Agreement on Tariffs and Trade). Com sede em Genebra (Suíça), seu
objetivo principal era combater medidas protecionistas e estimular o comércio mundial. O Gatt, assim como
o Bird e o FMI, sempre atuou em cooperação com a ONU. Desde 1995, quando passou a denominar-se
Organização Mundial do Comércio (OMC), tem procurado aumentar sua influência nas questões
comerciais mundiais. Durante o GATT foram realizadas sete rodadas de negociações para estimular o
comércio entre seus países membros. Quando se diz estimular o comércio entre os países significa reduzir ou
acabar com as tarifas alfandegárias e estimular o livre comércio, acabar com medidas conhecidas como
dumping, reduzir a presença de medidas não tarifárias como as restrições impostas a produtos através de
requisitos sanitários, ambiental e trabalhistas e hoje se discute muito dos subsídios agrícolas.
As 5 primeiras foram para discutir a redução das tarifas: 1ª Rodada de Genebra em 1947, 2º Rodada
Annecy em 1949, 3º Rodada Torquay em 1951, 4º Rodada Genebra em 1956 e a 5º Rodada Dillon em
1960/1961. A sexta Rodada Kennedy e a sétima Rodada Tóquio além de permanecerem discutindo formas
de diminuir as tarifas começou a discutir também medidas antidumping.
A sétima rodada é tida como a mais importante por ter ampliado ainda mais as discussões e incluído
medidas não protecionistas aos produtos agrícolas, têxtil, serviços. Até então as rodadas se limitavam a
privilegiar a liberdade comercial de produtos industriais, ou seja, produtos dominados pelos países ricos.
A oitava rodada recebeu o nome de Rodada Uruguai, durou até 1994 e foi quando o GATT passou a
31
denominar-se Organização Mundial do Comércio (OMC). O GATT era apenas um conjunto de acordos,
no que se transformou, em OMC passou a ter o mesmo status do BIRD e do FMI. Por isso teve mais força
para fiscalizar o comércio mundial e fortalecer o multilateralismo.

ONU - A Organização das Nações Unidas foi criada ao final da Segunda Guerra Mundial com o objetivo
de preservar a paz e a segurança no mundo, além de promover a cooperação internacional para resolver
questões econômicas, sociais, culturais e humanitárias. O principal objetivo era evitar a eclosão de uma
nova guerra. Sediada em Nova York, a ONU substituiu a Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra.
Em 1945, representantes de 51 países, reunidos na Conferência de São Francisco (Estados Unidos),
aprovaram uma Carta de Princípios que deveria orientar as ações da entidade no mundo após a Segunda
Guerra. Contudo, durante a Guerra Fria, num mundo bipolar, a ONU tinha sua capacidade de ação bastante
limitada, pois suas decisões ora contrariavam interesses norte-americanos, ora soviéticos. O lado que se
sentia prejudicado vetava a resolução que lhe contrariasse.
A ONU e sua organização - Atualmente, a ONU conta com diversas agências e vários órgãos, dos
quais os mais importantes são a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança (CS).
A Assembleia Geral congrega as delegações dos países membros (193 em 2012). Faz uma reunião por ano
(pode haver, entretanto, sessões de emergência), mas não decide sobre questões de segurança e cooperação
internacional, limitando-se a fazer recomendações.
O Conselho de Segurança é o órgão de maior poder da ONU. É composto de delegados de quinze
países-membros, dos quais cinco são permanentes e dez eleitos a cada dois anos. O poder desse órgão está
concentrado nas mãos dos cinco membros permanentes, que têm poder de veto: qualquer decisão só é posta
em prática se houver consenso entre Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia (que substituiu a
extinta União Soviética).
O CS pode investigar disputas e conflitos internacionais ou no interior de um país, propor soluções
visando a acordos de paz e adotar sanções que vão desde o corte das comunicações ou das relações
diplomáticas até o bloqueio econômico. Em último caso, pode autorizar o uso da força militar, como ocorreu
em intervenções na Somália (1993), na Guerra de Kosovo (1999) e na ocupação do Afeganistão (2001),
todas sob a liderança dos Estados Unidos.
A alocação das forças de paz da ONU, como a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
(Minustah), enviadas àquele país em 2004, sob o comando do Brasil, também passa por aprovação do CS.

A ONU e sua força de decisão ameaçada - Um episódio que pôs a ONU em xeque: na guerra contra
o Iraque (2003), os Estados Unidos, com apoio solitário do Reino Unido, optaram por invadir o território
iraquiano sem a autorização do CS, com o intuito de derrubar o ditador Saddam Hussein (ele foi condenado
à morte e executado em 2006). Sabendo que não teria o apoio necessário dos membros do CS, o governo
norte-americano, sob a Presidência de George W Bush (2001-2009), resolveu apostar no unilateralismo e
ignorou o órgão. Tal atitude desgastou a ONU e, por extensão, o multilateralismo construído desde sua
criação, porque fez com que a ONU perdesse a prerrogativa de decidir sobre intervenções militares. O fato
de a ONU estar sediada em Nova York é uma das evidências da influência que os Estados Unidos tinham
quando ela foi criada.
Conselho de segurança da ONU na atualidade - O Conselho de Segurança da ONU continua sendo
o órgão mais importante da ONU. Contudo a sua composição não expressa a correlação de forças do mundo
atual, e sim a de quando a ONU foi criada, resultante do desfecho da Segunda Guerra. Por isso, em 2004, o
Brasil, a Alemanha, o Japão e a Índia formaram um grupo para tentar acelerar sua reforma. Em 2005 esse
grupo apresentou à Assembleia Geral um projeto que previa a expansão do número de membros
permanentes. Diante da falta de consenso, o projeto não foi acatado, mas o Brasil não desistiu de seu
propósito. Por ser o maior da América Latina em termos territorial, populacional e econômico, o país é um
candidato natural a uma vaga permanente caso o CS seja ampliado. O governo brasileiro tem feito
articulações diplomáticas no sentido de conquistar um assentos permanentes no Conselho de segurança. É
importante um Conselho mais representativo e democrático que contemple uma expansão dos assentos
permanentes e não permanentes, com países em desenvolvimento da África, da Ásia e da América Latina. É
inaceitável a perpetuação de desequilíbrios contrários ao espírito do multilateralismo.
Portanto, mesmo os EUA, que têm procurado se manter neutros nesse debate, e os outros membros
32
permanentes vierem a concordar em ampliar o CS, os postulantes ainda enfrentarão problemas, já que a
entrada no CS depende da aprovação de dois terços dos Estados-membros da ONU.
Na América Latina, o México e possivelmente a Argentina, apesar da parceria no Mercosul, poderiam
questionar a entrada do Brasil. Na África, também há outros pretendentes, como o Egito e a Nigéria, que
podem concorrer com a África do Sul. Na Ásia o conflito indo-paquistanês poderia se acirrar porque o
Paquistão não se conformaria com a entrada da Índia, seu inimigo histórico. Ainda na Ásia, a China tende a
vetar a entrada do Japão por não querer vê-lo fortalecido política e militarmente na região. Na Europa a
situação da Alemanha não é confortável porque os italianos também são pretendentes a uma vaga no
Conselho e não querem ser preteridos. Cada pretendente terá de angariar o máximo de apoios para conseguir
seu objetivo, principalmente na região em que se localiza. O Brasil já obteve apoio de quase todos os
membros permanentes do CS, com exceção dos EUA, que até 2012 não tinham se posicionado. O apoio da
China e da Rússia foi formalizado no primeiro encontro do Brics.

Da OECE a OCDE - Para administrar e distribuir os recursos do Plano Marshall, em 1948 foi constituída a
Organização Europeia de Cooperação Econômica (Oece). Entre 1948 e 1952 foram transferidos recursos
da ordem de US$13 bilhões a dezoito países europeus ocidentais. Os principais beneficiados pelo programa
de recuperação foram: Reino Unido (24%), França (20%), Alemanha Ocidental (11%) e Itália (10%).
Grande parte desse dinheiro foi usada para comprar máquinas e equipamentos, matérias-primas, fertilizantes
e alimentos, entre outros bens, que ajudaram a recuperar a economia europeia, mas também a estimular a
indústria e a agricultura norte-americanas. A maioria dos produtos era adquirida dos Estados Unidos porque
parte desse dinheiro era doação, vinculada à compra de produtos de empresas do país, e outra parte era
empréstimo.

OCDE - Em 1961 a OECE passou a se chamar Organização de Cooperação e Desenvolvimento


Econômico (OCDE), porque nações não europeias foram admitidas e novos objetivos foram traçados. Os
novos países não europeus desenvolvidos admitidos foram: Japão (1964), Finlândia (1969), Austrália (1971)
e Nova Zelândia (1973). Está sediada em Paris e seus fundadores foram os 18 países beneficiados pelo plano
Marshal mais os EUA e o Canadá. Durante décadas a OCDE foi conhecida como o "clube dos ricos",
congregando alguns' dos países mais ricos e industrializados do mundo.
De acordo com a Convenção assinada pelos vinte países fundadores, seus objetivos são:
- alcançar um crescimento econômico vigoroso e sustentável, gerando empregos e melhorando o padrão de
vida da população dos países-membros, enquanto mantém a estabilidade financeira;
- contribuir para a expansão econômica sustentada dos países-membros e não membros e para o
desenvolvimento da economia mundial e
- contribuir para a expansão do comércio mundial com base em acordos multilaterais.

OCDE na atualidade - A partir da década de 1990, com a entrada de México, República Tcheca, Hungria,
Polônia, Coreia do Sul, Eslováquia, Chile, Eslovênia, Estônia e Israel, a OCDE não é mais composta apenas
de países desenvolvidos, como no início. Entre os 34 países que hoje compõem a organização há economias
emergentes e países do antigo bloco socialista.
Em contrapartida, Brasil e China, por exemplo, ainda não fazem parte da OCDE, apesar de maiores e
mais industrializados do que muitos membros da organização. Desde 1998 o Brasil vem mantendo um
programa de cooperação com a OCDE em diversas áreas. Por exemplo, tem participado do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês). Em maio de 2007, o Conselho de Ministros
da OCDE adotou uma resolução que iniciou tentativas com o governo brasileiro visando à sua entrada na
organização. Negociações semelhantes foram iniciadas com os governos da Rússia, China, Índia, Indonésia e
África do Sul. Portanto, há forte tendência de a OCDE ampliar o número de seus membros.

OMC - começou a funcionar em 1995 e em 2008 eram 153 membros. A China entrou em 2001. A função
dela é servir de conciliadora em relação a problemas ligados ao comércio mundial. Quando um país se sente
prejudicado no comércio internacional tem o direito de apresentar a OMC um pedido de sanção contra esta
nação que esta transgredindo as regras da organização. Cabe o OMC chegar a uma decisão consensual.
Liderada pela OMC aconteceram 4 rodadas chamadas de Conferências Ministeriais da OMC. A
33
primeira em 1996 foi em Cingapura, a segunda em 1998 em Genebra, a terceira em Seattle no EUA, a quarta
em 2001 em Doha no Catar e a quinta em 2003 em Cancún. Nessas reuniões lideradas pela OMC as
discussões tinham como objetivo conquistar a total liberalização do comércio mundial. Contudo, há
divergências de interesses entre os países emergentes e os países centrais. Os países centrais se recusam a
diminuir os subsídios agrícolas na sua agricultura e essa política protecionista prejudica os países emergentes
e periféricos.
Foi nesse contexto que foi criado o G-20 comercial que é uma união entre países emergentes para
pressionar os países ricos a abolir as políticas protecionistas. Mesmo com a articulação desses países
emergentes que tem grande legitimidade por sua capacidade de traduzir os interesses dos países emergentes
em propostas concretas e consistentes a intransigência dos países ricos faz com que o impasse permaneça até
os dias de hoje.

O FIM DA GUERRA FRIA


O fim desse período marcante no pós-guerra deve ser entendido como um processo que teve início
com a adoção das políticas da perestroika e glasnot, com a chegada de Mikhail Gorbatchev ao poder na
URSS. Nesse primeiro momento o governo soviético definia que a sua política para o seu exterior próximo,
o leste europeu, seria de não intervenção nas respectivas políticas domésticas – era o início do
enfraquecimento do Pacto de Varsóvia. Na sequência, foi dado início a política de flexibilização que
possibilitaria o surgimento de novos partidos e a realização de eleições aos parlamentos das repúblicas
soviéticas - logo o fim da política de partido único.
O segundo momento foi a retomada da liberdade política no leste europeu, com a realização de
eleições livres e novos partidos políticos. O fato mais marcante foi a queda do Muro de Berlim em 1989,
derrubado por seus cidadãos,
O último advento foi a dissolução da União Soviética em 1991, dando origem a quinze novos países.
Com isso chegou ao fim o arranjo geopolítico e econômico que vigorou no pós-guerra. Com o término da
Guerra fria o sistema que prevaleceu em grande parte dos países foi o capitalismo.
Entretanto, mesmo com o fim da Guerra Fria ainda há resquícios daquele período histórico, como o
bloqueio imposto a Cuba, que desde 2014 vem diminuindo com ações do atual presidente Barack Obama, e
a divisão da península da Coréia. Ambos os países ainda são socialistas.

Países que permaneceram socialistas pós Guerra Fria: Cuba e Coreia do Norte
Cuba - os EUA mantêm um embargo econômico a Cuba desde 1962, ano em que o país caribenho foi expulso da OEA.
O embargo e a expulsão se deram em retaliação ao alinhamento de Cuba com a URSS, após a vitória da revolução de
1959, sob o comando de Fidel Castro, que depôs o ditador Fulgêncio Batista, então aliado dos EUA. Em 2012, Fidel
Castro ainda continuava no poder, mas o Poder Executivo era exercido efetivamente por seu irmão, Raul Castro. Apesar
de algumas concessões do regime, como a permissão de viagens de cidadãos cubanos ao exterior, o embargo norte-
americano vem sofrendo uma redução gradual.

Coreia do Sul e do Norte


Com a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, a Coreia, que havia sido dominada pelo Japão nesse
período, foi dividida entre norte-americanos e soviéticos, com o intuito de provocar a rendição e a desocupação
japonesa. Mesmo depois de terminada a Grande Guerra, a península permaneceu dividida de um lado, a Coreia do Norte,
socialista, aliada da URSS (hoje da China), e, de outro, a Coreia do Sul, capitalista, aliada dos EUA - e foi palco de uma
guerra regional no período 1950-1953.
Ampliando o foco de tensão que vem desde o final dessa guerra, a Coreia do Norte tem investido no
desenvolvimento de armas nucleares e se transformou em um dos principais focos de instabilidade do mundo atual. Em
2006, o país fez seu primeiro teste nuclear subterrâneo e, apesar das sanções internacionais impostas pelo CS da ONU,
em 2009 fez uma segunda explosão em local de grande profundidade, com uma bomba mais potente.
Em 2003, o governo do Japão estimava que as Forças Armadas norte-coreanas dispunham de cerca de cem
mísseis com alcance de 1300 quilômetros, portanto capazes de atingir qualquer ponto do território japonês. Atualmente,
a Coreia do Norte já possui mísseis de maior alcance, que podem atingir 3 mil quilômetros. Esses mísseis foram
exibidos numa parada militar na capital do país em 2010.

34
Com o fim do mundo bipolar da Guerra Fria, a tendência era que a ordem internacional fosse
multipolar porque o Japão e a Alemanha se recuperaram da destruição sofrida na Segunda Guerra e
despontaram como potências econômicas e tecnológicas.
A recuperação japonesa foi tão consistente que nos anos 1980 muitos analistas creditavam que o país
alcançaria os EUA e talvez até se transformasse na maior potência econômica do mundo. Paralelamente a
isso, a Alemanha e a França lideraram a formação da União Europeia (integração iniciada na década de
1950, com o objetivo principal de recuperar e fortalecer as economias de seus membros). Entretanto, com o
passar do tempo nenhum deles se mostrou à altura de desafiar a hegemonia norte-americana e consolidar um
mundo multipolar. O mundo multipolar só começou a se consolidar no século XXI, 10 anos após o fim da
Guerra Fria.

4.1.8 - Pós - Guerra Fria: a nova ordem mundial


A Ordem Unipolar - alguns especialistas afirmam que com o fim da Guerra Fria o mundo mudou a ordem
geopolítica de bipolar para unipolar. A unipolaridade ocorre pelo fato de que nenhum país conseguiu superar
ou se igualar a superpotência norte americana. Veja os motivos abaixo:
1 - O Japão, mesmo no auge de seu poder econômico, era uma potência com limitações geopolíticas. Por
causa da derrota na Segunda Guerra e da constituição elaborada no período de ocupação norte-
americana, renunciou à posse de armas nucleares e mesmo de forças armadas com capacidade de
intervenção externa. O país possui apenas forças de autodefesa, e parte de sua segurança está a cargo
dos EUA. Além disso, desde meados da década de 1990, o Japão entrou num período de baixo
crescimento econômico alternado com anos de recessão. Em 1985, o PIB japonês correspondia a 32%
do PIB norte-americano; em 1995, essa relação atingiu 71% (maior aproximação); mas, em 2005, caiu
para 36%, voltando aos níveis dos anos 1980.
2 - A Alemanha, embora seja uma grande potência econômica e tecnológica, recuperado sua plena soberania
e se fortalecido economicamente após a reunificação de 1990, também tem limitações geopolíticas: suas
forças armadas estão sob o controle da Otan, organização sempre comandada por um general norte-
americano.
3 - A Rússia, apesar de herdeira do poderoso arsenal nuclear soviético, mergulhou em profunda crise
econômica nos anos 1990, da qual começou a se recuperar somente na década passada. Porém, tem sido
fortemente atingida com a queda das commodities energéticas no mercado internacional e da forte
redução de investimentos externos, em decorrência da pressão dos governos das potências ocidentais
contrários ao envolvimento do governo Putin nos movimentos separatistas na Ucrânia.
4 - A China, nos anos 1990, apesar de vir crescendo a taxas elevadas desde o início dos anos 1980, antes de
almejar se alçar a potência mundial tinha muitos problemas internos a resolver, como garantir o
crescimento econômico sustentado e gerar empregos para sua enorme população. Na metade da década
atual tem mostrado dificuldade em manter as elevadas taxas de crescimento econômico.
Em razão disso, na década de 1990 muitos especialistas em relações internacionais argumentavam que
o mundo bipolar da Guerra Fria tinha sido substituído por um mundo unipolar, onde reinava apenas uma
superpotência com poder geopolítico e militar incontestável e enorme superioridade no campo econômico e
tecnológico: os Estados Unidos. A tese da unipolaridade se fortaleceu com a reafirmação do poder militar
norte-americano após a eleição de George W. Bush em janeiro de 2001 e, sobretudo, após os ataques de 11
de setembro daquele ano.
Esse atentado terrorista levou os Estados Unidos à guerra no Afeganistão, cujo objetivo era capturar
Osama bin Laden e destruir as bases da organização Al Qaeda naquele país. Dois anos depois, à guerra
contra o Iraque, cujo intento era depor Saddam Hussein, que supostamente armazenava armas de destruição
em massa. Essa última guerra, na realidade uma invasão nos moldes do antigo imperialismo, ocorreu sem a
legitimação de urna resolução aprovada no CS da ONU, reforçando o unilateralismo norte-americano.
Essas medidas refletiam a chamada Doutrina Bush, que consistia em desencadear ataques preventivos
contra países que, segundo o Pentágono, poderiam abrigar ou apoiar terroristas e ameaçar a segurança dos
Estados Unidos. Além do Afeganistão e do Iraque, já atacados, desde o governo de George W. Bush
35
constam da lista do Pentágono como ameaças à segurança dos Estados Unidos o Irã e a Coreia do Norte,
países situados, de acordo com o então presidente norte-americano, em seu linguajar maniqueísta, no
chamado eixo do mal. Num de seus discursos, Bush chegou a ameaçar: "Cada nação e cada religião têm
de tomar uma decisão agora. Ou estão conosco ou estão com os terroristas". A unipolaridade só começa
a dar sinais de declínio com a crise dos EUA em 2008. Com a eclosão da crise mundial em 2008, houve
mudanças significativas - políticas, econômicas e consequentemente geopolíticas - no cenário descrito
anteriormente. Com essa crise houve um enfraquecimento da economia norte-americana, embora deva ser
lembrado que ela já vinha dando sinais de que não estava bem desde o início dos anos 2000.

A Ordem Multipolar - com a eleição do democrata Barack Obama, em 2008 (assumiu em janeiro de 2009),
em grande parte ajudado pela crise de 2008, houve uma importante mudança de rumo na política externa
norte-americana. Com o novo governo, os EUA abandonaram o unilateralismo da Doutrina Bush e vêm
apostando no multilateralismo, que representa a valorização da negociação e do diálogo, até mesmo com
países antes inseridos no chamado eixo do mal. Também se reaproximaram de tradicionais aliados, como a
França e a Alemanha, cujas relações estavam estremecidas desde a intervenção no Iraque, ação que esses
países não apoiaram. Com a reeleição de Obama, em novembro de 2012, para mais um mandato de quatro
anos, essa política externa teve continuidade.
A tese da unipolaridade foi totalmente superada diante de vários motivos entre eles: a nova postura
política e econômica norte-americana, o fortalecimento econômico da China, considerada à segunda
economia mundial (em 2010) e principal credora dos EUA, à emergência do G-20 financeiro e comercial e
do grupo conhecido como Brics. Outro importante indicador das mudanças na correlação de poder
econômico entre as potências atuais é o fato de os Estados Unidos serem o país mais endividado do mundo e
ser justamente a China seu maior credor, superando recentemente o Japão.
Embora os Estados Unidos continuem com mais poder do que os outros países, as relações entre as
potências consolidadas e emergentes caminham para uma situação de maior equilíbrio, de maior simetria e
até mesmo de maior interdependência; enfim, para um mundo multipolar. Previsões são sempre sujeitas à
prova de realidade, mas apontam um cenário de mudanças na correlação de forças em futuro próximo,
indicando a emergência de novas potências no mundo.

Mundo multipolar: novas potências - Vários governos de países em desenvolvimento têm se empenhado
no aprofundamento da cooperação entre si e na busca por um mundo mais representativo. Essa cooperação,
segundo alguns especialistas, chamam de cooperação Sul-Sul. Com isso visam aumentar a aproximação
tecnológica e econômica entre eles e o poder de negociação com os países desenvolvidos - muitas vezes
chamados de países do Norte. Abaixo veremos grupos que realizam fóruns de discussão para aumentar o
poder político e ter maior participação e decisão no cenário mundial.
Os principais grupos são: BRICS, IBAS e o G20. Todos esses grupos são compostos na maioria por
países emergentes ou periféricos o que demonstra uma maior
organização desses países para lutarem por maior participação política e
decidirem seus destinos.
O grupo Brics não é um bloco econômico, não é uma aliança
política nem militar. Brics é um acrônimo que define um grupo formado
por cinco importantes países emergentes no cenário internacional -
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (que se juntou ao grupo em
2011). Esse grupo começa a se destacar no cenário mundial por causa
de coleta de dados feita por especialistas que previram que esses quatro
países estarão entre as seis maiores potências econômicas do mundo em
2050. Os dados coletados que mostram um futuro promissor foram: tamanho do PlB, taxa de crescimento
econômico, renda per capita; tamanho da população, participação no consumo global e movimentação
financeira . O Brasil e Rússia possuem abundância de recursos naturais, enquanto China e Índia, de mão de
obra mercado consumidor é isso que lhes dá esse potencial de crescimento.
Os países do Brics, principalmente a China, são os que têm maior potencial para ocupar uma vaga
entre as grandes potências de um mundo multipolar em construção. Dois membros do Brics - Brasil e Rússia
estão entre os maiores compradores de títulos públicos do governo norte-americano e consequentemente
36
passa a ser credores o que significa uma interdependência.
Fóruns de discussões do BRICS
Há, contudo, apesar de muitas diferenças internas, pontos em comum e interesses convergentes entre seus
membros, e por isso esse grupo acabou realizando fórum de discussões.
Em 16 de junho de 2009, aconteceu na Rússia a primeira reunião dos chefes de Estado e de governo dos
quatro países do grupo (antes do ingresso da África do Sul, que só viria a ocorrer em 2011), e desde então
eles se reuniram outras vezes.
O objetivo deles é, antes de tudo:
a) mostrar unidade diante das potências já estabelecidas,
b) discutir estratégias para terem maior participação nas decisões políticas e econômicas que afetam o
mundo e
c) obter maior projeção internacional.
Durante a III Cúpula do Bric, realizada em Sanya (China) em 2011, a África do Sul foi convidada a
fazer parte do grupo, que assim ganhou o "S" de South Africa. Apesar de ser a maior economia africana, a
África do Sul tem um PlB pequeno comparado aos outros quatro. No entanto, tem um peso político
importante como representante desse continente.

IBAS - O Fórum de Diálogo da Índia-Brasil-África do Sul (lBAS) reúne três grandes sociedades pluralistas,
multiculturais e multirraciais de três continentes, isto é, Ásia, América do Sul e África, como um
agrupamento puramente Sul-Sul de países com ideais compartilhados e comprometidos com o
desenvolvimento sustentável inclusivo, na busca de bem-estar para seus povos. O que tem de comum entre
essas nações que realizam o fórum esta: são potências intermediarias, com forte influencia nas regionais,
democracias consolidadas e economias em ascensão. Os problemas em comum são a alta desigualdade
interna o que permite encontrar soluções juntas já que possuem o mesmo desafio.
O grupo tem como objetivo reformas nos mecanismos de tomada de decisões em nível global como
exemplo: reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e são contra os subsídios dos países ricos
aos produtos agrícolas locais. Ou seja, buscam em suas reuniões estratégias de conseguirem uma ordem
multipolar com maior atenção as opiniões dos países emergentes. O grupo busca atuar de forma coordenada
nos fóruns internacionais para aumentar o poder de negociação de seus membros e, como candidatos a
membro permanente do CS da ONU, defendem a reforma desse órgão.

G-20 Financeiro - Com as sucessivas crises que atingiram as economias emergentes no final da década de
1990, tornou-se necessária a criação de um novo fórum para discutir formas de regulação do sistema
financeiro internacional. O G-20, criado em 1999, é composto pelos países do G-8, pela Austrália, pelos dez
países emergentes com maior peso econômico no mundo e, ainda, a União Europeia. Trata-se do
reconhecimento da crescente importância econômica dos países emergentes, principalmente China, Brasil e
Índia, e também da aceitação de que até então eles não tinham uma participação adequada nos destinos da
economia mundial.
A Europa já está super representada pois além de abrigar quatro países como representantes
individuais - Alemanha, França, Reino Unido e Itália -, ainda tem a própria União Europeia, que representa
os 27 países do bloco.
Atualmente, o fórum que tem ganhado projeção,
especialmente depois da crise de 2008/2009. É o G-20 (Grupo
dos 20), que congrega também as principais economias
emergentes.
O G-20 congrega cerca de dois terços da população do planeta,
90% do PIB mundial e 80% do comércio internacional.
A reunião inaugural do fórum aconteceu em dezembro de
1999, em Berlim (Alemanha) e desde então vêm ocorrendo
reuniões anuais.
A décima reunião regular do G-20 realizou-se em
novembro de 2008 em São Paulo, alguns dias depois ocorreu
37
uma nova reunião em Washington. Só que nessa reunião extraordinária, convocada para buscar saídas para a
crise financeira, os países do G-20 estiveram pela primeira vez representados por seus chefes de Estado e de
governo. Foi mais uma demonstração da crescente importância das economias emergentes as menos
atingidas pela crise mundial.
Dando continuidade às negociações os chefes de Estado e de governo do G-20 reuniram-se novamente
em abril de 2009 em Londres quando foi lançado um plano com medidas visando à superação da crise
financeira global. Em razão do agravamento da crise houve outra reunião do G-20 ainda em setembro
daquele ano em Pittsburgh (Estados Unidos) e mais duas em 2010: Toronto (Canadá) e Seul (Coreia do Sul).
Em 2012 realizou-se a sétima cúpula do G-20 em Los Cabos (México). Nela foi acordado o "Plano de
Ação de Los Cabos" com medidas voltadas à estabilização financeira e à recuperação da demanda do
mercado consumidor para assegurar a continuidade do crescimento econômico e a recuperação do emprego.
Para contribuir para atingir esses objetivos foi acertado entre os líderes do grupo um aumento da capacidade
de empréstimo do FMI com um aporte de novos recursos da ordem de 456 bilhões de dólares (os Brics se
comprometeram com 83 bilhões de dólares).

G 20 comercial - Outro exemplo do fortalecimento dos países


em desenvolvimento ocorreu na 5ª Conferência Ministerial da
OMC, realizada em Cancún (México), em setembro de 2003.
Nela foi constituído, mais uma vez sob a iniciativa da
diplomacia brasileira e dos aliados do IBAS, um grupo de países
que ficou conhecido como G-20 (Grupo dos 20) comercial. O
G-20 comercial busca defender os interesses dos países em
desenvolvimento nas negociações comerciais com os países
desenvolvidos - outro exemplo de cooperação Sul-Sul. O
objetivo é pressionar os países ricos a reverem suas medidas
protecionistas no setor agrícola.
O G-20 comercial (do qual faziam parte, em 2012, 23
membros) é composto apenas de países em desenvolvimento: doze da América Latina, seis da Ásia e cinco
da África a Rússia não faz parte do grupo. Representam 60 % dos habitantes do planeta e 70% de sua
população rural. São responsáveis por 26% das exportações agrícolas. Seu principal objetivo é pressionar os
países desenvolvidos a reduzirem os subsídios no setor agrícola. Esses subsídios são responsáveis pela
menor exportação de produtos dos países pobres para os países ricos.

G-7 / G-8 X G-20 - Ainda no período da Guerra Fria, além das organizações econômicas criadas em
Bretton Woods e em Havana, os países mais ricos constituíram um fórum de debates sobre a conjuntura
econômica e política mundial, conhecido durante muito tempo como G-7. Esse grupo é composto por países
ricos que organizavam a política econômica de acordo com seus interesses muitas vezes não levando em
consideração os países emergentes e periféricos. Por se caracterizar como um fórum, o grupo não tem uma
sede fixa, e a cada ano o encontro acontece num país-membro, quando são debatidas as questões mundiais
de interesse do grupo.
O G-7 (Grupo dos 7) teve sua origem em um encontro realizado em 1975, no qual se reuniram
representantes das principais potências capitalistas da época: França (o país anfitrião), Estados Unidos,
Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão. Nasceu, portanto, como G-6.
Em 1977, o Canadá passou a fazer parte do grupo, que se transformou em G-7. Durante anos esse
fórum aglutinou as sete maiores economias do mundo.
Em 1997, num encontro realizado em Denver (Estados Unidos), a Rússia foi admitida como membro
do grupo, que passou a ser chamado de G-8. A entrada da Rússia no grupo dos países mais ricos do mundo é
contraditória porque o país é classificado como emergente. Mas como durante as negociações para a
incorporação de países do Leste na OTAN a Rússia posicionou-se contra, alegando que isso poria em risco a
sua segurança, o Grupo do G 7 ofereceu a participação da Rússia no grupo. A Rússia acabou concordando
com a entrada de países do leste europeu na OTAN em troca de sua entrada no G-7, rebatizado de G-8.
O G-8 está descaracterizado porque não reúne mais as maiores economias do planeta e o cenário
econômico mundial está muito mais complexo do que na época em que foi criado. O grupo não dispõe mais
38
de condições para continuar a ser o diretor da economia mundial. Muitas de suas atribuições foram
transferidas para o G20 financeiro que congrega países emergentes países centrais na busca do
fortalecimento da economia mundial, proporcionando uma estabilidade financeira no mercado global,
garantindo um futuro sustentado para todos os países. Diante disso os emergentes adquiriram um peso maior
nas decisões mundiais.

EXERCÍCIOS

01. 27) QOAM 2003 O termo “subdesenvolvimento” surgiu após a Segunda Guerra Mundial,
principalmente nos documentos dos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), sendo depois usado com frequência pela imprensa.
Assinale a opção correta sobre o “subdesenvolvimento”.
(A) Para superarem o atraso sócio- econômico, os países ditos subdesenvolvidos devem seguir o modelo dos
países desenvolvidos.
(B) Os países ditos subdesenvolvidos compõem um conjunto homogêneo, já que os contrastes que existem
entre eles e os países ditos subdesenvolvidos são traços comuns.
(C) Os países ditos subdesenvolvidos resultaram da expansão do capitalismo a partir da Europa ocidental, o
qual interligou e dividiu o mundo em países centrais e países periféricos.
(D) As culturas tradicionais são as grandes responsáveis pelos problemas dos países ditos subdesenvolvidos,
pois não permitem à introdução de investimentos produtivos
(E) O índice que melhor classifica a condição de subdesenvolvimento é renda per capital, já que ela é
fundamental para a medida de acumulação de capital de um Estado.

02. 31) QOAM 2003 Como resposta à crise do modelo de produção em massa, consumo em massa
(fordismo), as empresas passaram a introduzir equipamentos tecnológicos cada vez mais sofisticados,
implementando mudanças nas relações de produção e trabalho que passaram a constituir a política do
neoliberalismo, que propõe o:
(A) estado mínimo, ou seja, que deve atuar o mínimo possível, de preferência como regulador da economia e
não como empresário.
(B) combater à privatização das empresas estatais, fortalecendo o papel do Estado na economia.
(C) Fortalecimento de medidas nacionais frente à concorrência global.
(D) Aumento dos direitos trabalhistas e do poder dos sindicados.
(E) Estímulo à competitividade através do fortalecimento da economia de escala, fim da terceirização dos
serviços e incentivo à política de subsídio fiscais.

03. 27) QOAM 2004 “Durante a Guerra Fria, era comum classificar os países do globo em um dos três
mundos: o primeiro era composto pelos países capitalistas desenvolvidos e era liderado pelos Estados
Unidos; o segundo, formado pelos países socialistas, sob a liderança da União Soviética; e o terceiro,
integrado pelos países subdesenvolvidos, capitalistas em sua maioria e localizados na América Latina, na
África e na Ásia”.
(MOREIRA, João C. & SENE, Eustáquio de. Geografia para o Ensino Médio, 2002)
Sobre o Terceiro Mundo, pode-se afirmar que:
(A) A luta anticolonial gerou novas nações independentes na Ásia e África que procuravam alterar as regras
do comércio mundial, as quais estavam fundadas nos preços aviltados dos produtos industrializados que
exportavam e nos altos preços dos produtos agrícolas que importavam.
(B) A Conferência de Bandung, de 1955, lançou os princípios políticos do “não-alinhamento”, ou seja, uma
39
posição diplomática e geopolítica de afastamento das principais superpotências, fortalecendo a partir daí
o conceito de conflito Norte-Sul.
(C) A convergência político-ideológica entre os participantes da Conferência de Bandung, estimulou
posições importantes quanto aos problemas da economia mundial, fato que permitiu o aumento dos
preços dos produtos que aqueles países exportavam.
(D) A Conferência de Bandung consolidou a posição “terceiro-mundista” que procurou definir uma “terceira
via” de desenvolvimento, a qual deveria estar atrelada ao capitalismo norte-americano.
(E) O conceito de Terceiro Mundo está relacionado principalmente ao fator pobreza, o qual é exclusivo da
América Latina, da África e da Ásia.

04. 20) QOAM 2005 O capitalismo passou a ser dominante no mundo ocidental a partir do século XVI,
ocorrendo de forma desigual no espaço e no tempo. Em sua fase industrial, impôs-se como forma de
produção hegemônica a outros sistemas.
Assinale a opção correta em relação ao processo de desenvolvimento do capitalismo.
(A) A relação social é baseada no interesse coletivo com ausência de conflitos entre as classes.
(B) Na economia, não há a intervenção estatal e seu funcionamento é oligopolizado por grandes empresas
transnacionais.
(C) A acumulação primitiva baseou-se exclusivamente em fatores internos, como a exploração agrícola e
mineral.
(D) A expansão imperialista na África e Ásia consolidou a divisão internacional do trabalho, fortalecendo a
relação centro-periferia na economia mundial.
(E) A aceleração econômica favoreceu a descentralização de capitais, evitando acirrada concorrência entre as
empresas.

05. 21) QOAM 2005 A expansão capitalista vem tornando cada vez mais complexa, principalmente a partir da
intensificação do meio científico-informacional que integrou as regiões do planeta num único sistema.
Sobre esse período, pode-se afirmar que:
(A) ocorreu uma descentralização geográfica dos centros de poder político e econômico, proporcionando
maior participação da sociedade na gestão do sistema-mundo.
(B) os fluxos de capitais produtivos deslocam-se democraticamente entre as regiões do mundo, privilegiando
principalmente as regiões ditas “subdesenvolvidas”.
(C) as empresas transnacionais não mantêm mais vínculos com os seus Estados de origem, permitindo que
acionistas estrangeiros tenham maior participação nas decisões estratégicas
(D) a intensificação da conectividade permitiu a expansão dos fluxos de capitais especulativos, os quais
deixaram a economia mundial mais vulnerável.
(E) os capitais de curto prazo detiveram as crises financeiras nos países emergentes, contribuindo para a
recuperação destes no final dos anos 90.

06. 23) QOAM 2006 Ao analisarem-se os indicadores econômicos e sociais entre países, verificam-se
disparidades entre os mesmos. Assinale a opção que explica as desigualdades mundiais.
(A) A capacidade para a produção e trabalho é determinada pelo clima temperado, característica
predominante nos países do Norte.
(B) A superação do Subdesenvolvimento é uma questão de tempo, pois os países ditos desenvolvidos
passaram pela mesma situação no passado.
(C) A economia capitalista é marcada pelas fortes desigualdades sócio-econômicas entre as regiões do
mundo, apresentando um desenvolvimento desigual e combinado.
(D) As relações comerciais estão baseadas na deterioração dos termos de trocas, onde os países do Sul
especializaram-se em bens de capital e os do Norte em bens primários.
(E) A fragilidade dos países do Sul deve-se a ausência de blocos econômicos entre eles, fato que impede
maior articulação frente às pressões impostas pelos países do Norte.

40
07. 19) QOAM 2008 Em 1990, nos Estados Unidos da América, houve uma difusão de ideias que
defendiam a adoção de práticas neoliberais, junto aos países da América Latina, como forma de recuperação
econômica deste subcontinente. Tais recomendações ficaram conhecidas como:
(A) Plano Colombo.
(B) Consenso de Washington.
(C) Acordo Geral de Tarifas e Comércio.
(D) Área de Livre Comércio Latino Americano.
(E) Pacto Econômico para as Américas.

08. 20) QOAM 2008 Em seu livro o capitalismo tardio, o economista belga Ernest Mandel afirma que a
Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica teve início a partir da Segunda Guerra Mundial, junto aos
países mais desenvolvidos, ficando os países periféricos do capitalismo, como o Brasil, um tanto distante
desta realidade, ainda sendo esta revolução um processo em curso e que caracteriza a atual fase do
capitalismo.
Assinale a opção correta sobre a realidade em questão.
(A) Os avanços científicos e tecnológicos, observados nessa fase do capitalismo, só encontraram condições
de desenvolvimento a partir do fim da Guerra Fria, quando então a globalização econômica propiciou
avanços nas áreas de informática, robótica, transporte e comunicação, ficando o Brasil sem condições de
acompanhar esse processo.
(B) No Brasil a pesquisa científica e tecnológica é realizada, principalmente, por instituições governamentais
ou universidades, enquanto nos países mais desenvolvidos isto ocorre principalmente junto as
instituições ligadas a empresas de caráter particular, estimulando tanto os investimentos financeiros
quanto o seu retorno sob forma de lucro.
(C) Na década de 1970, com as políticas neoliberais adotadas no Brasil, somadas ao incremento das
importações tecnológicas e da política governamental de apoio à pesquisa, surge no território nacional
vários polos tecnológicos, contribuindo para deslocar o país de uma posição de importador de tecnologia
de ponta para um exportador neste setor.
(D) o período atual, técnico-científico informacional, em que o conhecimento ou o saber se torna o grande
diferencial na economia, melhorou a distribuição dos conhecimentos e das riquezas entre as diversas
nações do globo, uniformizando os chamados padrões de consumo a nível mundial.
(E) No caso de nações periféricas da economia global, como o Brasil, as fracas poupanças internas acabam
gerando dificuldades para os grandes investimentos em P&D, o que acarreta um total desestímulo por
parte das nações centrais do capitalismo em transferir qualquer segmento produtivo para aqueles países.

09. 22) QOAM 2008 No final da 2ª Guerra Mundial, a derrota das forças do Eixo e, ao mesmo tempo, o
enfraquecimento econômico, milita e político do Reino Unido e da França levaram o mundo a um período de
grandes transformações econômicas e geopolíticas, denominado Guerra Fria. Assinale a opção correta sobre
as instituições que tiveram importância nas articulações geopolíticas no período da Guerra Fria.
(A) Para administrar e distribuir os recursos do Plano Marshall entre os países europeus ocidentais, em 1948
foi constituída a Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), que em 1961 passou a se
chamar OCDE, com a finalidade de incentivar o crescimento econômico, o desenvolvimento em geral e
o comércio multilateral entre os países-membros.
(B) Na década de 1940, durante a Conferência de Bretton Woods, nos EUA, foi criado o BIRD, conhecido
como Banco Mundial, ao qual caberia, especificamente, o financiamento da reconstrução econômica dos
países latino-americanos afetados pelo período da guerra, como também, zelar pela estabilidade
financeira da região.
(C) No início da década de 1950 foi criado o Plano Colombo, similar ao Plano Marshall, que apesar de ser
menos ambicioso estimulou o desenvolvimento de vários países africanos e do SE da Ásia,
possibilitando entre outros objetivos a reconstrução japonesa e uma maior aproximação dos EUA com o
Egito.
(D) Em 1947, com a intenção de complementar as medidas econômicas idealizadas pelo grande capital, foi

41
criada na Conferência Econômica de Havana, o Gatt, possuindo como objetivos centrais estimular o
comércio mundial, combater medidas protecionistas e desincompatibilizar as grandes desigualdades
socioeconômicas entre os países centrais e periféricos.
(E) A criação do FMI, em 1944, definiu um novo padrão monetário, o dólar-ouro, fato que acabou
favorecendo a maioria das nações periféricas da América Latina, Ásia e África, uma vez que nestes
continentes se encontram as maiores reservas de ouro do planeta, possibilitando assim a conversão deste
metal em dólar.

10. 19) QOAM 2009 “Com o fim da Guerra Fria, falou-se muito sobre uma “nova ordem mundial”, na qual
teria ocorrido a vitória do capitalismo e da democracia. Em 1989, Francis Fukuyama, filósofo e ideólogo do
Departamento de Estado dos Estados Unidos, escreveu um ensaio, transformado no livro O fim da história e
o último homem, decretando o “fim da história”. Fukuyama argumentava que, com a vitória do capitalismo,
o modelo político e econômico norte-americano se tornaria dominante e, por isso, não haveria mais
conflitos. Que houve uma vitória dos EUA sobre a URSS, numa disputa de Estados rivais com sistemas
político-econômicos diferentes, parece não restar dúvida. Entretanto, os ditos vencedores enfrentam uma
série de problemas socioeconômicos”. Sobre esta questão, assinale a opção correta.
(A) Com déficits comercial e orçamentário, alto endividamento interno e externo, que em parte se devem aos
elevados gastos bélicos, os EUA, a partir da Guerra Fria, vem atravessando sérios problemas
socioeconômicos, tendo se agravado recentemente com a crise dos seu setor imobiliário.
(B) O capitalismo, por ser um sistema muito mais dinâmico, produtivo e competitivo do que o socialismo,
não presenciou um aprofundamento das suas desigualdades sociais junto aos seus integrantes, ao
contrário do que ocorreu com os países adeptos ao socialismo.
(C) No sistema capitalista, a sua estrutura produtiva é muito menos vulnerável em relação ao sistema
socialista, no qual seus adeptos se recuperam rapidamente após uma crise ou recessão, tanto em termos
econômicos quanto em relação ao número de empregos gerados, especialmente os ditos formais.
(D) A fase informacional do capitalismo possibilitou um rompimento histórico dentro do sistema, ou seja, o
fim das distâncias econômicas existentes entre os ditos desenvolvidos e subdesenvolvidos, fato que
acabou se estendendo aos países que antes faziam parte do sistema socialista.
(E) Com o fim do conflito Leste X Oeste, de natureza essencialmente econômica, os EUA passaram a liderar
uma outra forma de conflito, o Norte X Sul, de natureza especificamente geopolítica, credenciando,
assim, esse país como o grande líder econômico dentro do cenário global.

11. 23) QOAM 2009 Pouco antes do término da Segunda Guerra Mundial, com a criação da Conferência de
Bretton Woods, os EUA já se articulavam para estabelecer novas políticas econômicas, que agilizassem a
dinâmica comercial global, fato que acabaria por condicionar toda uma reorganização da conjuntura
internacional inerente aos interesses do capital. A partir dessa conferência, assinale a opção que apresenta a
criação de uma nova articulação nesse sentido.
(A) O padrão-ouro, utilizado para definir o valor das moedas a partir do peso do ouro ou equivalente, foi
substituído pelo padrão dólar-ouro, tornando a moeda norte-americana a nova referência monetária
internacional, ao mesmo tempo em que os EUA se comprometiam a trocar, sempre que necessário,
dólares por ouro.
(B) O FMI, com a função de garantir a estabilidade e a recuperação do sistema financeiro global, acabou
tornando-se o maior articulador da recuperação socioeconômica dos países mais pobres, uma vez que os
capitais produtivos investidos nesses territórios são oriundos dessa instituição.
(C) O Banco Mundial, criado em 1950, com a finalidade de financiar a reconstrução dos aliados asiáticos
especialmente o Japão, tornou-se a instituição mais importante para os anseios comerciais dos EUA
regionalmente, além de coordenar e fiscalizar os empréstimos destinados aos investimentos de
infraestrutura aos países endividados.
(D) O Gatt, de 1959, cuja finalidade básica foi integrar as tarifas comerciais entre todos os países latino-
americanos, exceção feita a Cuba, acabou sendo estendido a todo o bloco capitalista durante a Guerra
Fria, no entanto, com o fim da bipolarização, acabou sendo substituído pela OMC.
(E) A OCDE, criada na década de 1940, surgiu como um órgão de consulta e coordenação de políticas
econômicas e sociais, cuja finalidade básica foi aproximar a relações comerciais entre os países pobres e
42
ricos, contribuindo, assim, para a circulação de pessoas, bens e serviços em seus territórios.

12. 17) QOAM 2014 Analise as afirmativas abaixo.


Da segunda metade do século XVIII até o final do XIX, o capitalismo concorrencial ou liberal, comandou a
ordem mundial. No final do século XIX, após a consolidação das relações assalariadas de produção,
começou a ganhar terreno o capitalismo monopolista. Com relação ao capitalismo monopolista e seus
desdobramentos, pode-se dizer que:
I - baseou-se na concentração de capitais e da produção em grandes empresas. No caso brasileiro, isso se
deu quando sua economia já gravitava em torno, principalmente, da cafeicultura.
II - esse período foi marcado por uma livre concorrência em qualidade e preço dos produtos. Nesse sentido,
vale considerar a não intervenção do Estado nos negócios ou na economia.
III - no século XX, os oligopólios ganham força. Esses são formados por um pequeno número de empresas,
as quais dominam a maior parte da produção e da distribuição de determinado bem ou serviço.
IV - o truste, organização financeira típica da fase monopolista, caracteriza-se por acordos comerciais entre
empresas autônomas entre si, as quais se associam para dominar o mercado.
Assinale a opção correta.
(A) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
(B) Apenas as afirmativas II e IV são verdadeiras.
(C) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
(D) Apenas a afirmativa IV é verdadeira.
(E) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.

13. 18) QOAM 2014 Leia o texto abaixo.


"[...] A análise econômica limita-se a expor friamente a realidade. Sabemos que o desenvolvimento de que
tanto nos orgulhamos, ocorrido nos últimos decênios, em nada modificou as condições de vida de três
quartas partes da população do país. Sua característica principal tem sido uma crescente concentração social
e geográfica da renda." (Celso Furtado. A pré-revolução brasileira. SP; Moderna, 2007 p.14.)
Ainda que a fala do autor esboce uma realidade vivenciada pela evolução social, espacial e industrial
brasileira, também é fato que, na atualidade, mudanças estão ocorrendo nesse sentido. Sendo assim, é correto
afirmar que essa evolução:
(A) nos séculos XVIII e XIX, possibilitou que o Brasil reduzisse a sua dependência aos interesses da
metrópole, o que não só eliminou barreiras ao nosso desenvolvimento industrial mas também gerou
forte concentração da renda no país.
(B) somente a partir dos anos 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder e os incentivos dados à
imigração por seu governo, permitiu que o país tivesse condições de promover a criação de um mercado
consumidor capaz de impulsionar a industrialização nacional.
(C) entre a segunda metade dos anos 1950 e início dos anos 1960, vivenciou grande aporte de recursos
financeiros aos setores energéticos e de transportes, o que contribuiu para o adensamento populacional e
industrial na região Sudeste.
(D) nos anos 1980, impulsionou o crescimento industrial nacional, aproveitando-se dos juros baixos no
mercado externo, estimulou o revigoramento das indústrias de base no Centro-Sul, atraindo grandes
contingentes populacionais para essa área.
(E) somente no século XXI, em função do desenvolvimento dos transportes, da comunicação e de
informática, possibilitou a transferência das sedes administrativas das grandes empresas para as
pequenas e médias cidades do interior do país.

14. 22) QOAM 2014 O Sistema capitalista se desenvolveu na Europa com a crise do feudalismo e se
expandiu econômica e territorialmente pelo mundo a partir do século XVI. Desde então, veio passando por
diversas características diferentes no que se refere às relações de produção e de trabalho, às ideologias e às
tecnologias empregadas. Com relação ao capitalismo financeiro, assinale a opção correta.
(A) No final do século XIX, houve a introdução de nova fonte de energia no processo produtivo através do
predomínio do carvão mineral sobre o petróleo, levando países carboníferos, como Alemanha e
Inglaterra, a direcionarem a economia no século seguinte.
43
(B) O crescente aumento da produção e da industrialização iniciado pela Europa expandiu-se por todo o
planeta, permitindo que a desigualdade econômica entre países centrais e periféricos na Divisão
Internacional do Trabalho fosse reduzida drasticamente.
(C) A economia capitalista foi marcada pela doutrina mercantilista com elevado número de empresas
concorrendo entre si e com forte intervenção do Estado na produção e no comércio. A partir de então,
consolidou-se o keynesianismo no final do século XIX e início do XX.
(D) Nesse período, os avanços tecnológicos potencializaram a produção industrial e o sistema financeiro. As
novas tecnologias, como robótica, informática, engenharia genética, entre outros, projetaram os Estados
Unidos na vanguarda da economia mundial.
(E) No final do século XIX, os bancos assumiram um papel mais importante como financiadores da
produção e promoção de indústrias. Para complementar, a Conferência de Berlim definiu a expansão
imperialista europeia sobre a África e a Ásia e consolidou a Divisão Internacional do Trabalho.

15. Nas últimas décadas, muitos países que tinham uma economia voltada basicamente para o setor primário
têm recebido em seus territórios filiais ou subsidiárias de multinacionais, fato que vem modificando
profundamente seus perfis econômicos e suas funções dentro da atual divisão internacional do trabalho.
(BOLIGIAN; BOLIGIAN, 2004, p. 276).
Com base nas informações do texto e nos conhecimentos sobre a DIT e suas implicações, é correto afirmar:
(A) A implantação das multinacionais, nos países periféricos, geraram grandes lucros, porque o lucro era
reinvestido no seu território, diversificando o processo produtivo.
(B) A nova DIT não alterou as desigualdades no processo produtivo, mas possibilitou o dinamismo da
economia de todos os países do Terceiro Mundo, devido à interferência estatal.
(C) Os países de industrialização clássica, como o Brasil, o México e a Argentina, saíram mais fortalecidos
que os demais países periféricos, porque os investimentos externos produtivos priorizam esses
mercados.
(D) Essa nova Distribuição Internacional do Trabalho caracteriza-se pela mudança do perfil econômico das
nações periféricas e pela diminuição da dependência econômica dessas nações.
(E) Os países centrais, na nova Distribuição Internacional do Trabalho, fornecem produtos e serviços com
alto conteúdo tecnológico e os países periféricos, produtos de primeira e segunda geração industrial.

16. As duas grandes marcas do século XX foram as guerras mundiais e o socialismo, ocasiões que geraram
um terceiro grande fenômeno: a Guerra Fria, em que a moldura de uma ordem mundial bipolar se baseava na
rivalidade entre os EUA e a União Soviética. Analise as proposições seguintes sobre as grandes
transformações do século XX:
I - A partir de 1945, o mundo esteve dividido, predominantemente, em blocos de países sob influência dos
EUA e da União Soviética, que entraram em confronto de forma direta, o que levou o mundo a temer o
deflagrar de uma guerra nuclear iminente.
II - No Plano Marshall encontra-se a origem da Guerra Fria. Esse Plano representou a resposta americana à
crise europeia, por meio do financiamento americano da reconstrução da Europa.
III - O zênite da Guerra Fria aconteceu no momento em que duas graves crises colocaram à prova a
resolução das duas superpotências e comprovaram o perigo de uma guerra total. Trata-se da crise de
Berlim, em 1961, e a crise dos mísseis em Cuba, em 1962.
IV - Por consequência do fim da Guerra Fria e da queda o muro de Berlim, o socialismo definitivamente
deixou de existir e de orientar a política de diversos países.
V - Pode-se concluir que, para o quadro histórico do final do século XX e início deste século, tanto o
socialismo quanto o capitalismo conseguiram consolidar diretrizes para os graves problemas
socioeconômicos e políticos que afligem a humanidade.
Após a análise das proposições, assinale a alternativa verdadeira:
(A ) Apenas o item III é correto.
(B) Os itens II e III estão errados.
(C) Apenas o item V é correto.
(D) Os itens II e III estão corretos.
(E) Os itens I, II e III estão corretos.
44
17. A “queda do muro de Berlim”, ocorrida no final de 1989, é um dos marcos do surgimento de uma “nova
ordem mundial”, que pode ser compreendida a partir de duas dimensões: a geopolítica e a econômica.
Quais as mudanças geopolíticas e econômicas decorrentes dessa “nova ordem mundial”.
Marque a opção INCORRETA:
(A) Do ponto de vista geopolítico, a principal mudança foi o fim do período denominado de Guerra Fria e,
por conseguinte, da bipolaridade de poder das superpotências mundiais (União Soviética e Estados
Unidos) e dos blocos mundiais por elas comandados.
(B) Na “nova ordem geopolítica mundial”, denominada “ordem multipolar”, as superpotências se impõem
mais em face do seu poderio econômico do que bélico.
(C) A “nova ordem mundial” é o processo de globalização da economia, com a formação de blocos
econômicos regionais, tais como a União Europeia e o Nafta.
(D) Na “nova ordem”, o poder está vinculado diretamente ao avanço tecnológico, a níveis de produtividade,
à disponibilidade de capitais, à competitividade e à qualificação da mão- de-obra.
(E) Na “nova ordem mundial” ocorreram as maiores guerras e crises econômicas que colocou em
questionamento a funcionalidade e eficiência do capitalismo

18. O avanço tecnológico das últimas décadas deu origem a setores muito sofisticados do ponto de vista
técnico, tais como a microeletrônica, a biotecnologia, a robótica etc. Eles integram a chamada fábrica global,
determinando uma nova distribuição espacial das indústrias, cujas características atendem, em última
análise, à lógica do lucro.
Com relação aos fatores determinantes da teoria de localização industrial identifique a alternativa que
explica de forma INCORRETA os fatores que foram fundamentais para a localização industrial na primeira
e na terceira Revolução Industrial.
(A) A Primeira Revolução Industrial de um lado depende de capital acumulado, existência de minérios em
abundância como o ferro e o manganês (custo do transporte, distâncias e quantidade) e fontes de
energia.
(B) Um mercado consumidor com poder aquisitivo e mão de obra abundante foram importantes na Primeira
revolução industrial
(C) A Terceira Revolução Industrial ocorre sobre novas bases como a energia elétrica, informatização,
integração pesquisa – tecnologia, terceirização, Toyotismo (just in time), automação e robotização.
(D) Os avanços tecnológicos ocorrem em áreas como microeletrônica, nanotecnologia, biotecnologia,
química fina entre outras.
(E) Na Primeira Revolução Industrial houve o desenvolvimento de mecanismos que favoreceram a produção
flexível com desconcentração espacial.

19. O Poder do FMI


O voto do representante dos Estados Unidos na diretoria executiva do FMI vale 16,79% dos votos totais.
Japão, Alemanha, Grã-Bretanha e França ocupam as posições seguintes: somados, seus votos equivalem a
21,62% do total. A China ingressou na instituição com direito de voto equivalente a 3,66% do total, mais
que o da Rússia, que vale 2,7% do total. O voto do Brasil vale 1,38% do total.
MAGNOLI, D. Geografia para o Ensino Médio. São Paulo: Atual, 2008. p.383-385
De acordo com o texto, podemos afirmar que a ordem de poder nas tomadas de decisões pelo FMI:
(A) respeita as relações históricas de poder, o que enuncia o seu caráter eminentemente democrático.
(B) resulta, basicamente, de um consenso entre os seus membros fundadores, aqueles citados no texto.
(C) obedece à ordem econômica internacional, uma vez que o peso dos votos é distribuído conforme o
poderio econômico de cada nação.
(D) é resultante da relevância militar de cada país no contexto político mundial.
(E) é calcada na atribuição de força àquelas nações cuja dívida externa é mais elevada.

GABARITO DA BATERIA DE EXERCÍCIOS DE GECON

MÓDULO I - QOAM/2019
45
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

C A B D D C B B A A A E C E E B A E C

46
H
I
S
T
Ó
R
I
A
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

APRESENTAÇÃO

Caro Aluno,

Este Módulo faz parte de um conjunto de elementos didáticos que por ocasião de sua produção
visava dois objetivos: o primeiro deles é oferecer um material de fácil leitura, que possa lhe ajudar a elucidar
e compreender os fatos da história, contribuindo com isso para a aquisição de informações que ajudam não só
na busca dos seus ideais, mas também para toda sua vida. O segundo foi de elaborar um material que
seja resumido sem deixar de descrever todos os dados imprescindíveis para o fim que se destina.

Buscamos elaborar um manual de história centrado na própria história, trazendo à tona informações dos
fatos dentro de uma ótica precisa, a partir do acúmulo de conhecimentos descritos pelas obras citadas pela
Bibliografia do Edital do Concurso para o QOAA/AFN em 2018. No entanto, como prevê os editais dos
concursos anteriores, a bibliografia sugerida serve apenas como base para o estudo da matéria, sem excluir
outras publicações de natureza histórica, fato este que ocorreu, eventualmente, nos últimos anos do concurso,
onde foram utilizadas várias citações de revistas e autores de história não contidos na bibliografia sugerida.
Portanto, este Módulo serve como base de estudo sem excluir para o Candidato a leitura dos livros sugeridos pela
MB e nem outras fontes de História.

O Módulo 1 é o primeiro de um conjunto de unidades teóricas, sempre revistas e corrigidas com base
no Edital e na Bibliografia do concurso de 2018, sendo, portanto, um material aprimorado e atualizado. No
entanto, como nosso período letivo inicia-se antes da publicação do Edital 2019, caso haja alguma alteração
no edital do concurso, será fornecido material complementar para estudo.

O concurso anterior para o QOA, e outros concursos internos e externos recentes que tiveram a matéria
de História Militar Naval, teve como característica principal o modelo de questões acadêmicas para as perguntas
propostas. Esse modelo, hora apresenta a pergunta especificamente “presa” a uma publicação ou autor, hora
apresenta a questão buscando a junção ou “acúmulo” de informações diversas, que de modo composto fornece a
solução da questão. Por tais motivos, buscaremos, também, apresentar aos nossos alunos essas características,
adequando-se ao novo modelo do Concurso.

Como sempre afirmamos, não existem fórmulas mirabolantes em educação, o que há é dedicação
contínua, tanto por parte de quem leciona quanto por parte dos alunos. A conjunção destes esforços é, no
mínimo, razão suficiente para a construção de um saber, para aquisição de cultura e para uma melhor
qualidade de vida social, tanto para você quanto para seus familiares.

O sucesso em concursos sempre é traduzido em números, mas o sucesso pessoal, este sim, é
medido pela satisfação plena do dever cumprido e da busca incessante pelos ideais de cada um.

Um abraço,

Prof. Vagner P. de Souza


Curso Adsumus

Módulo 1 -1- QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

INTRODUÇÃO
1) Conceituando História:

O estudo de História permite ao homem o conhecimento necessário para compreender sua trajetória,
facilitando entender de que forma ele alcançou o estágio atual, onde errou e acertou, possibilitando um
melhor planejamento de suas ações, contribuindo para melhores resultados em seus objetivos.
A História abrange todas as faces da ação humana. Podemos “contar” histórias de cunho social,
político, religioso ou militar, e, independente de “qual” história estivermos falando, ela nunca será isolada
no tempo ou no espaço e sempre terá uma íntima relação de causa e consequência com outro(s) fato(s) que
pode anteceder ou suceder a ele. Tudo o que ocorreu com o homem, e este pôde registrar ou deixar ser
registrado, é parte integrante de sua história.
Nenhuma sociedade chegou a qualquer patamar sem contato com outro grupo social, e o fruto dessas
relações é que fazem parte do estudo que será demonstrado em nossos módulos.

2) Datando a História:

De uma forma geral, a História é dividida em Pré-História e História. O advento da escrita permitiu
grandes avanços aos grupos sociais humanos e é o marco divisório entre uma e outra fase deste
desenvolvimento primário. A partir da escrita o homem pôde descrever por si só sua trajetória.
Em relação à Pré-História, cabe aos estudiosos desvendar os segredos a partir de vestígios deixados
por estas comunidades/sociedades, o que é genericamente denominado de Documento Histórico.
Dividimos a História Ocidental, e por influência cultural e econômica também a Oriental, em antes
e depois do nascimento de Cristo. Apesar desta figura – Jesus Cristo – ser representativa apenas para a Fé
Cristã, o domínio exercido pelos povos seguidores desta filosofia religiosa a outros povos como judeus e
mulçumanos, acabou por influenciar suas culturas. A essa classificação descrevemos como antes de Cristo
(aC ou AC) e depois de Cristo (dC ou DC). Há também a inscrição AD (Anno Domini – “Ano do Senhor”)
para o período compreendido apenas após o nascimento de Cristo. Só é obrigatório escrever a referência se
ela for antes do nascimento de Cristo, como exemplo, podemos utilizar a Batalha Naval de Salamina, entre
gregos e persas, ocorrida no ano de 480aC.
Os judeus se encontram em um calendário que está 3761 anos à frente do calendário cristão e os
mulçumanos começaram a contar seu tempo no ano 622 da era cristã. Assim, quando nossas aulas
começaram neste ano de 2017, no dia 02 de janeiro, os judeus estavam no ano de 5777, e 1439 para os
povos islâmicos. Os calendários judaicos e islâmicos são fortemente marcados pelos dogmas religiosos
dessas sociedades, o que determina, por exemplo, que o calendário islâmico seja lunar e não solar. Essas
características fazem com que os anos não sejam de 365 dias.
Existem e existiram também outros calendários que servem e serviram para a contagem do tempo
por diversos povos, mas nenhum de interesse para nosso concurso.
O marco histórico “Cristo” permitiu ao homem ocidental datar um calendário que regride do infinito
(∞) até o ano 0 (zero) e progride do ano 0 até os dias atuais. Essa datação é marcada por dia, mês e ano (não
necessariamente nesta ordem para todas as sociedades cristãs) em números arábicos e os séculos em
números romanos. Para comparação entre uma data e seu século basta escrever o número do ano sempre
com quatro dígitos. Caso os dois últimos números da direita terminem em 00 (zero zero), será o número
formado pelos dois dígitos da esquerda. Exemplo: nascimento de Cristo – 0000 – século 0, ou
descobrimento do Brasil – 1500 – século XV (quinze). Caso os dois números da direita terminem diferente
de zero, será o da esquerda mais um (+1). Exemplo: Proclamação da Independência do Brasil – 1822 –
século XIX (dezenove), Primeira Guerra Mundial – 1914 a 1918 – século XX (vinte).
Nosso atual calendário é denominado Gregoriano por ter sido instituído pelo papa Gregório XIII em
1582. O calendário gregoriano foi instituído a partir do calendário de Dionísio, um abade de Roma, que o
fez no ano 525, a partir do calendário romano. Portanto, pode haver algumas discrepâncias em relação à
datação de alguns fatos, principalmente os encontrados na época aC, não comprometendo a história.
Os números romanos são representados pelas letras latinas I, V, X, L, C, D e M, relacionando-os
aos números arábicos são: 1, 5, 10, 50, 100, 500 e 1000. Os conjuntos numéricos se somam caso estejam à
Módulo 1 -2- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
direita de uma unidade numérica e subtraem caso estejam à esquerda. Portanto a data de proclamação da
independência do Brasil, em números romanos foi: VII – IX – MDCCCXXII (7-9-1822).
Há diversos marcos históricos. Eles servem para delimitar determinados fatos, épocas ou períodos
sem, no entanto, resumi-los. Conforme já demonstrado, a história não é estática e sim dinâmica e, mesmo
sendo relativa a fatos passados, ela encontra-se em constante evolução devido a novas fontes históricas que
possam surgir ou a uma nova verdade construída a partir de uma nova visão de algum historiador. Mas os
fatos são os fatos e estes não podem ser, e não serão, mudados jamais.

Módulo 1 -3- QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

CAPÍTULO I

A IDADE ANTIGA

Compreende-se como História Antiga o período que vai do início da História, a partir da invenção
da escrita, aproximadamente 4000aC, até 476dC, ano da queda de Roma Ocidental, como capital do Império
Romano do Ocidente. A queda de Roma finaliza a Idade Antiga e inicia o período conhecido como Idade
Média.

1) A Relação Entre as Primeiras Civilizações e o Mar:

Os aspectos geográficos são os mais importantes para a determinação de um povo como sendo de
caráter terrestre ou não. Terras férteis e abundância de matérias-primas que suprissem um povo
obrigatoriamente o fixariam em sua posição geográfica, no entanto, a escassez de alimentos, ou de produtos,
forçosamente o impeliria a sair de suas terras em busca de suas necessidades.
Notadamente, as vias de comércio e transporte fluvial ou marítimo sempre foram – e são – as mais
fáceis e baratas de serem exercidas.
Ao longo da história temos exemplos de povos que saíram de suas terras em busca de áreas mais
férteis e promissoras, e até mesmo de povos denominados nômades, que nunca tiveram uma localidade
fixa. Na maioria das vezes, o que ocorreu para que um povo deixasse seu território foi a busca pelos
produtos que lhes faltavam, o entanto, a ganância econômica, a vontade política ou a influência religiosa (e
cultural) também foram determinantes.
Essa busca ocorreu através da guerra e da dominação física, passando a controlar as áreas produtoras
e seus habitantes, ou através do comércio, principalmente pela troca dos excedentes de produção 1 entre
povos ou regiões, e da influência cultural ou política.
Mas o comércio, ou a necessidade de busca por produtos, não explica por si só a opção de um povo
pelo mar. Temos vários exemplos de que esta opção se deu de modo forçado, pelas próprias necessidades
naturais advindas do progresso social de seus habitantes, pela agressão de outros povos ou pelo contínuo
contato com sociedades de características marítimas.

1.1) As Profissões Marítimas:

A figura do armador, ou seja, do homem que prepara navios para viagens, dotando-o de equipamento
e de tripulação, é muito antiga na História. O armador nem sempre foi o comerciante marítimo ou
proprietário do navio, no entanto, na Antiguidade o mais comum era ser as três coisas ao mesmo tempo.
O comandante do navio, vulgarmente chamado de capitão, era geralmente um experimentado
marinheiro.
O marinheiro, muitas vezes iniciado na profissão à força (costume que chegou até o século XX em
muitos países), era geralmente um homem inculto que só conhecia bem a sua profissão (também isso chegou
até o século XX). A bordo cuidava das velas, dos cabos e fazia um sem-número de funções variadas.
O mestre era um experimentado marinheiro cuja atribuição principal era a manobra do velame e a
supervisão geral do convés.
Havia ainda a figura do piloto, que às vezes era o próprio capitão; seu mister era a navegação e, para
isso, tinha conhecimentos técnicos acima da maioria do pessoal.

1.2) Comparação entre o Navio Mercante e o Navio de Guerra Antigo:

Se compararmos os dois tipos básicos de navios na Antiguidade, vemos que o primeiro era lento e
bojudo, ao passo que o segundo era rápido e esguio, o que se explica pelas suas finalidades. Enquanto o
mercante pretendia transportar o máximo possível de carga com um mínimo de custo operacional, o navio

1
Entende-se como excedente de produção produtos agrícolas ou fabris que, não tendo mercado interno ou sendo produzido
exclusivamente para o mercado externo, passam a ser dispostos para trocas comerciais.
Módulo 1 -4- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
de guerra queria chegar o mais rapidamente junto do inimigo para combatê-lo, pouco importando quanto
custasse isso em termos de dinheiro. Sim, porque, enquanto um navio mercante tinha uma tripulação
pequena, um navio de combate levava, em média, 200 homens, mesmo considerando que os remadores não
eram pagos pelo seu trabalho (a maioria era formada de escravos,
prisioneiros e condenados), a necessidade de alimentá-los e mais a despesa com todos os guerreiros e
tripulantes fazia com que o navio de guerra fosse caro, que só os governos podiam permanentemente
manter.
O transporte de riquezas pelo mar deu ensejo ao surgimento da pirataria, tão antiga quanto o próprio
comércio marítimo. Isso suscitou a necessidade de os navios mercantes se defenderem, para o quê se
embarcaram guarnições aguerridas, aptas para o combate de abordagem2. A crescente ameaça ao comércio
marítimo, contudo, só pôde efetivamente ser controlada pela criação de navios especiais, com
grande capacidade de manobra, cujo fim era a defesa dos poucos “navios redondos”. Assim surgiu o navio
de guerra, a serviço dos navios mercantes e, portanto, da economia de cada nação ou império.
O navio de guerra egípcio, do qual temos a melhor descrição entre os mais remotos, tinha pouca
boca, o que lhe valeu ser chamado de “navio comprido”, pois, ao contrário do mercante, era bem mais
estreito. Tinha o fundo chato, o que, juntamente com a característica anterior, fazia com que oferecesse
pouca resistência à água. Sua propulsão principal era o remo. Havia uma longa fileira de remos de ambos
os bordos, manejados pelos remadores que eram acorrentados aos bancos para que não tentassem fugir na
hora do combate; obviamente morriam quando o navio afundava.
Os navios de guerra possuíam também velas, cujos mastros eram arriados na hora da batalha para
evitar que sua queda atingisse os ocupantes do navio. Típico navio de guerra da Antiguidade
As velas eram usadas nas travessias longas, longe do inimigo, a fim de poupar os remadores, e no
caso de haver necessidade de bater em retirada para aumentar a velocidade de fuga; de fato, “içar as velas”
era, no combate, sinônimo de “fugir”.
Por causa do seu fundo chato e de sua pouca resistência aos temporais, os navios de guerra não
fundeavam como os mercantes; eram puxados para terra, ficando em seco. Essa circunstância ocasionou
algumas “batalhas navais” travadas em terra, quando acontecia de um inimigo atacar a esquadra antes que
os navios pudessem ser postos a flutuar. Os principais eventos ocorreram na Batalha de Micale (479aC), na
qual os gregos venceram os persas, e na Batalha de Egos-Pótamos (405aC) em que os espartanos venceram
os atenienses.
Quanto às suas dimensões, sabemos que uma trirreme grega tinha geralmente 25 metros de
comprimento por apenas seis metros de boca. O navio de guerra conduzia a bordo, além do pessoal marítimo
como qualquer navio, os guerreiros e os remadores. Os guerreiros eram soldados terrestres que
simplesmente embarcavam e seus comandantes lideravam a batalha naval.
Mais tarde, porém, o combatente do mar foi se distinguindo do combatente de terra, e o ateniense
Formion3 será o primeiro “general do mar”, ou seja, o primeiro almirante. A arma principal do navio de
guerra não era o soldado que ia a bordo, mas uma protuberância colocada na proa à linha d’água chamada
esporão, aríete ou rostrum, destinada a penetrar profundamente na nave inimiga e, assim, pô-la a pique;
acontecia, porém, muitas vezes, que o esporão se quebrava com o choque e o navio atacante, com um rombo
na proa, também ia a pique. Foram os fenícios os grandes aperfeiçoadores do esporão, que passou a ser
revestido de bronze, o que o tornou ainda mais temível.

2) Os Povos da Antiguidade:

Vários povos participaram do início de nossa jornada na terra. A região compreendida pelo Mar
Mediterrâneo, abrangendo o continente Africano, Asiático e Europeu, foi o cenário para o florescimento
das principais nações que compreenderam este período. A presença do homem é comprovada neste mesmo
período no continente Americano e na Oceania, mas infelizmente não fazem parte de nosso estudo povos

2
A abordagem era a principal técnica utilizada nos combates navais na Antiguidade.
3
Vencedor dos espartanos e seus aliados em vários combates, principalmente na batalha do golfo de Corinto (429 aC), quando
fez inteligente manobra antes de atacar. É considerado o pai da tática naval, que, depois dele, passou a ser feita pela combinação
de choque e movimento; só no século XIV surgiu o terceiro elemento, o fogo, isto é, o canhão.
Módulo 1 -5- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
como os astecas e os aborígines, bem como os povos asiáticos da face leste do continente, banhados pelo
oceano Pacífico e dos africanos voltados ao oceano Atlântico Sul ou ao Índico.
O Mediterrâneo (terra do meio) foi a principal via de formação das culturas ocidentais e de várias
asiáticas e africanas. As primeiras civilizações4 surgiram nesse cenário até a região compreendida pela
Mesopotâmia (“Terra entre Rios” – Tigre e Eufrates) denominada de Oriente Próximo.
Portanto, a Antiguidade é dividida em Antiguidade Oriental, a Leste ou ao Oriente, compreendendo
os povos fenícios, hebreus, persas, egípcios e a Mesopotâmia, e Antiguidade Ocidental ou Clássica, a Oeste,
participando povos como os gregos e romanos.

2.1) A Civilização Egípcia:

A natureza especial do solo e do sistema hidrográfico característico do Egito fez das margens do rio
Nilo uma terra fértil. Desde sua remota origem até a queda da antiga monarquia, o povo egípcio se dedicou,
sobretudo, à agricultura e teve poucos contatos com os povos vizinhos.
Fatores diversos, porém, fizeram com que, ao lado da agricultura, conseguisse também a indústria5
alcançar nível elevado, e por volta do ano 3.300aC, a fabricação de tecidos, motivada em grande parte pela
esplêndida qualidade do linho daquelas regiões, já alcançava importância.
Instalada no extremo nordeste da África, em região desértica, a civilização egípcia floresceu as
margens do rio Nilo, se beneficiando de seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante
certos meses do ano na nascente do rio, ao sul, nas terras altas do interior do continente africano, provocam
o transbordamento de suas águas e o consequente depósito de húmus, fertilizando suas estreitas margens.
Ao final do período de cheias, o rio volta ao seu leito normal e as margens, naturalmente fertilizadas, tornam
possível uma rica agricultura.
Contudo, diante do aumento populacional que aconteceu durante a época neolítica, faziam-se
necessárias obras hidráulicas, como a construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudos e
pesquisas arqueológicas e históricas apuraram que a organização do trabalho às margens do Nilo, a
construção de diques e outras obras hidráulicas coube inicialmente às coletividades locais e regionais,
conhecidas como nomos, que mais tarde foram articuladas a uma estrutura governamental central mais
complexa.
Ao longo da história egípcia, a organização político-social se estruturou em torno da terra e dos
canais de irrigação, tendo o Estado despótico6 o controle de toda a estrutura econômica, social e
administrativa. Por meio de suas instituições burocráticas, militares, culturais e religiosas, o Estado
subordinava toda a população e garantia a realização das obras de irrigação.
Juntamente com seus cereais, que em período de escassez eram solicitados pelos países vizinhos,
fornecia o Egito uma série de produtos artísticos, dando com isso potente estímulo ao comércio. Como o
Nilo era navegável, mesmo no período de seca, e os canais que sulcavam o país contribuíam para
intensificar o tráfego, se explica a existência de um animado tráfego interior cujo centro foi Pelusio, cidade
solidamente fortificada que ficava perto da fronteira oriental. O tráfego marítimo teve, em compensação,
escassa importância durante a época dos faraós. As costas desprovidas de abrigos e perigosas para a
navegação, a falta de madeiras e os preceitos sacerdotais que predicavam a aversão ao mar, serviram de
estímulo para a repulsa que esse povo de agricultores sentia pela água.
Entretanto, o governo interveio por diversas vezes no comércio por meio de expedições navais em
que o faraó tomava a iniciativa, com o fim de estabelecer relações diretas de troca com os países do Ponto
(Ponto Euxino ou Mar Negro), situados na Arábia Meridional e fornecedoras de incenso, produto então
muito procurado.
Semelhantes expedições, determinadas pelos faraós e organizadas pelo Estado, foram, sobretudo,
frequentes durante as XII e XIII dinastias. Depois da instalação da Nova Monarquia, o tráfego pelo mar
Vermelho, quase completamente interrompido sob a dominação dos Icsos, retornou, graças ao poder real,

4
Civilização: Termo empregado a partir da Revolução Francesa por estudiosos iluministas para classificar uma sociedade pelo
seu estágio de desenvolvimento.
5
A concepção de indústria não pode ser vista aos olhos da atualidade no sentido de fábrica mecanizada. Os produtos eram
rudimentares e o sistema de produção, ou transformação, era primário.
6
Déspota: governo tirano, opressivo ou dominador onde não há liberdade plena para os cidadãos.
Módulo 1 -6- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
com uma força e um arrojo até então desconhecidos. As expedições marítimas se multiplicaram, sobretudo
devido à iniciativa dos faraós da XVIII dinastia, ao mesmo tempo em que aumentavam as trocas com a
Núbia. Esse período foi conhecido como Renascimento Saíta, devido a transferência da capital para a cidade
de Saís. Após as conquistas realizadas nas costas asiáticas, o centro político do Egito se transportou, com
Ramsés II, para o Norte, ou mais exatamente para o delta Oriental. O Egito se abriu então largamente ao
contato com os povos navegadores do Mediterrâneo.
Os últimos faraós se esforçavam por completar e aperfeiçoar a obra de organização do comércio
egípcio realizado por seus predecessores. Psamético fundou numerosos centros de negócios e uma grande
frota mercante. Necao, mais empreendedor ainda, deu forte impulso ao comércio arábico com o fim de
colocar nas mãos dos egípcios o monopólio do tráfego das especiarias7. A expedição naval mais importante
foi favorecida pelo Faraó Necao, onde navegadores fenícios fizeram o périplo africano, ou seja,
contornaram todo o continente africano, feito este só repetido vinte séculos mais tarde por Vasco da Gama,
navegador português, em 1498, partindo de Lisboa. Esse feito fez dos fenícios os primeiros a circum-
navegar a África.
Os eventos relacionados com a era de Necao foram descritos pelo historiador grego Heródoto. Este
historiador, segundo texto do livro “Atlântico, a história de um oceano”, organizado pelo Historiador
Francisco Teixeira, visitou o Egito “por volta de 450 aC, apenas um século depois dos eventos do fim da
XXVI Dinastia”, e o monarca referido no texto, Necau (ou Necao), reinou entre 610 e 595 aC. Essa dinastia,
chamada saíta, foi marcada, entre outras coisas, pela ampliação do comércio marítimo, majoritariamente
tocado por marinheiros gregos contratados. Logo, financiamento estatal para uma expedição naval não seria
algo absurdo nesses tempos.
Embora os fenícios tenham sido os principais navegadores da Antiguidade, a melhor descrição que
temos de um navio mercante provém dos egípcios. O navio mercante, de um modo geral, apresentava forte
calado e tinha boca relativamente larga; por esta última característica era chamado “navio redondo”, o que
evidentemente era força de expressão. Seu meio de propulsão era a vela, embora possuísse alguns remos
para auxiliar a manobra de entrada e saída dos portos, assim como para o caso de completa calmaria. Essa
evolução veio junto com o desenvolvimento egípcio apoiado no comércio marítimo fenício.
Conquistado através dos séculos8, pelos assírios, persas, e por fim pelos gregos, sob Alexandre “O
Grande”, o Egito não perdeu a importância comercial. Bem pelo contrário, com um gesto de vidente, o
conquistador macedônio Alexandre fundou a cidade de Alexandria numa situação incomparável, na costa
vasta e sem refúgios de um país interior, incomensuravelmente rico, na desembocadura do seu único rio de
grande porte, no limite de duas partes do mundo asiático e africano e unido com a Europa pelo mar
Mediterrâneo. Desenvolveu-se Alexandria com inesperada rapidez, se convertendo não só em magnífico
centro de arte e de ciência como também na praça comercial mais grandiosa do mundo antigo. Ela
concentrava ao mesmo tempo os gêneros e os produtos manufaturados do vale do Nilo, os gêneros e as
matérias-primas vindas da Etiópia, da África Oriental, da Arábia e da Índia, os quais, por seu intermédio,
se espalhavam em todo o mundo grego até o Ocidente. Sua população, onde se misturavam gregos, egípcios
e judeus orientais, já se distinguia pela fisionomia cosmopolita que caracteriza hoje os grandes portos do
Levante9.
Não obstante, convém observar que, no Nilo como no Eufrates, o centro de gravidade da vida
econômica era constituído pela agricultura e que a indústria e o comércio só secundariamente ocupavam a
vida dos moradores. A principal atividade do povo egípcio foi sempre a cultura dos campos e a criação de
animais, sendo os principais produtos o trigo, o algodão, o linho e o papiro, porquanto o comércio em
Alexandria era exercido em grande parte por judeus e gregos, e o emprego nas construções públicas de

7
Compreende-se por especiarias todos os produtos que alcançavam grande valor econômico, seja para uso culinário, cosmético,
farmacológico ou de ornamentação. Os produtos de cunho religioso geralmente alcançavam os mais elevados preços, tornando-
se os principais nas relações de troca.
8
As invasões constantes tiveram grande efeito sob a cultura egípcia, sobretudo o domínio macedônio de Alexandre que permitiu
a penetração da ideias gregas na sociedade egípcia. Esse domínio instaurou uma dinastia de origem macedônica chamada
ptolomaica ou álgida, à qual pertenceu Cleópatra. Seu filho com o imperador romano Júlio César foi o último faraó ptolomaico,
tendo todo o Egito caído nas mãos dos romanos de modo definitivo. Até o fim da dinastia ptolomaica a dominação romana se
restringia a retirar do Egito apenas os grãos necessários para a subsistência do povo romano em todo o Império.
9
Levante: lado onde o sol nasce, a leste, também chamado de Nascente em contraposição de Poente (onde o sol se põe).
Módulo 1 -7- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
obras hidráulicas, palácios ou tumbas era feito durante o período de cheia do rio, onde não se podia trabalhar
a terra.
As referências feitas por Plutarco, um pensador e filósofo grego, e por outros historiadores ao
número de navios queimados pelos soldados de Júlio César em Alexandria, durante a conquista romana, e
às forças navais de Antônio, na guerra contra Augusto10, mostram não terem sido pequenos os recursos do
Egito no mar, malgrado o caráter terrestre de seu povo.
Em suma, o Egito antigo se caracteriza, sob o ponto de vista marítimo, como uma nação continental
que se desenvolveu inicialmente livre da influência das rotas oceânicas e que, por força do próprio
progresso, foi levada a participar cada vez mais das atividades nos mares. A evolução egípcia exemplifica
também a tendência de povos interiores buscarem a saída livre das rotas marítimas, como decorrência
inevitável do seu desenvolvimento.

2.2) A Civilização Mesopotâmica:

A Mesopotâmia se situa no Oriente Médio entre os rios Tigre e Eufrates, que ficam no atual Iraque,
na região conhecida como Crescente Fértil. Seu nome vem do grego (meso = meio e potamos = água) e
significa "terra entre rios", mostrando a causa da fertilidade dessa região, embora esteja localizada em meio
a montanhas e desertos.
No que se refere à organização socioeconômica, existem grandes semelhanças entre a civilização
egípcia e mesopotâmica. No entanto, algumas diferenças de caráter físico-geográfico podem ser destacadas.
Enquanto o Egito apresentava grande isolamento geográfico, o que lhe possibilitou longos períodos de
estabilidade política, a Mesopotâmia é, ainda hoje, uma planície aberta a invasões por todos os lados. Além
disso, o regime de cheias do Tigre e do Eufrates não é tão regular como o do Nilo, não sendo raras violentas
inundações e até períodos de seca na região banhada por eles.
Em termos políticos, o Egito se caracterizou por ter na instituição monárquica, personificada no
faraó, o seu principal fator de unidade, enquanto na Mesopotâmia esse fator era a cidade. Logo, enquanto
os egípcios entendiam-se como parte de algo maior, que incluía aldeias, nomos e o faraó acima de tudo, na
Mesopotâmia a identidade era dada pela cidade à qual os indivíduos pertenciam.
Os primeiros vestígios de sedentarismo humano na Mesopotâmia datam de aproximadamente
10.000aC. O crescimento dos primeiros núcleos urbanos da região se fez acompanhar do desenvolvimento
de um complexo sistema hidráulico, que tornou possível a drenagem de pântanos, a construção de diques e
barragens, para evitar inundações e armazenar água para épocas de seca.
O sucesso dos empreendimentos feitos nas atividades produtivas levou à formação de grandes
cidades com mais de mil habitantes já por volta de 4.000aC, como Uruk. Tais cidades tinham
principalmente função militar, protegendo a população e a riqueza gerada pela agricultura, e tornando
possível o controle político.
Participaram da história dessa região principalmente os povos sumérios e acádios. Ao final do
Período Neolítico, diversas cidades já haviam sido criadas na região, todas elas autônomas e habitadas por
sumérios, povo oriundo do vizinho planalto do Irã. Ur, Nipur, Lagash, além da já citada Uruk, foram os
principais cidades desses centros urbanos. Eram governados por patesís, mistura de chefe militar e
sacerdote. Eles controlavam a população, cobrando impostos e administrando as obras hidráulicas junto
com numerosos auxiliares. As terras eram consideradas propriedade dos deuses, cabendo ao homem servi-
los, não só com o trabalho agrícola, mas também com a construção de templos - os zigurates.
Os sumérios chegaram a estabelecer relações comerciais com povos vizinhos, tanto na direção
Oeste, para o mar Mediterrâneo, como na direção Leste, rumo à Índia. Desenvolveram a escrita cuneiforme,
composta de símbolos fonéticos em forma de cunha, fundamentais para registrar as complexas transações
econômicas características desses povos.
Por volta de 2.400aC, o povo acádio, que há algum tempo vinha se introduzindo na região,
estabeleceu sua hegemonia na Mesopotâmia. O rei acádio Sargão I unificou o centro e o sul do vale,
submetendo os sumérios ao mesmo tempo em que incorporava sua cultura, porém, contínuas invasões
estrangeiras inviabilizaram a permanência do Império Acádio, que acabou desaparecendo por volta de
2.100aC.

10
O fato mais importante foi a Batalha Naval de Ácio ou Actium, na guerra contra o triunvirato romano.
Módulo 1 -8- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Logo após foi a vez dos babilônios. Os amoritas vindos do sul do deserto árabe derrubaram os
acádios. Seu principal líder foi Hamurabi, responsável por uma gama de normas sociais conhecidas como
Código de Hamurabi ou Leis de Talião, que determinavam a pena imposta para as transgressões, geralmente
de forma violenta como por mutilações e morte.
Os amoritas foram seguidos por hititas, cassitas e por fim assírios. Foram os assírios que
organizaram militarmente a região, usando carros de guerra e armas de ferro, muito superiores as de cobre
utilizadas pelos seus vizinhos. Após estes, vieram os caldeus e os medos. Estes foram tão importantes nas
guerras organizadas entre os persas e os gregos, que por tal motivo foram chamadas de Guerras Medas.
Ciro I (559 - 529 aC), rei persa, foi quem dominou a região do Império Babilônico em 539 aC,
submetendo seus vizinhos medos. Com a prática expansionista, os persas logo invadiram a Mesopotâmia,
a Palestina e a Fenícia, chegando ao Ocidente à Ásia Menor e, no Oriente, à Índia.
Ciro, o principal conquistador, foi bastante hábil em se aliar às elites locais dos territórios
conquistados em vez de simplesmente submetê-las, garantindo relativa estabilidade a um vasto império.
Seu filho e sucessor, Cambises, atacou o Egito, conquistando o vale do Nilo após a vitória na batalha de
Pelusa (525 aC). Contrariando as regras de tolerância de seu pai, deu início a um período de centralização
autoritária e de submissão dos povos conquistados.
O período de maior florescimento persa ocorreu no reinado de Dario I (524 - 484 aC), que dividiu
o império em províncias, as satrápias. Os sátrapas eram encarregados da cobrança e do pagamento de
impostos ao imperador. Foi Xerxes I, sucessor de Dario I, que deu prosseguimento às invasões a Grécia
que acabaram resultando na decadência do Império Persa e o início do apogeu do povo grego nas Guerras
Medas.
Os hebreus foram um caso à parte da história da região. Voltados diretamente para o Mediterrâneo
tiveram vários episódios de contato com os demais povos mesopotâmicos, ora sendo invadidos por esses
ora sendo os dominadores. Estão os hebreus e os judeus11 diretamente relacionados às culturas religiosas
mais influentes do mundo atual, concentrando mais de 90% da população mundial entre cristãos, judeus e
mulçumanos.

2.3) A Civilização Cretense:

O povo mais antigo que se constituiu como uma talassocracia12 é o cretense, que habitava a ilha de
Creta, hoje pertencente à Grécia. Suas origens remontam a 3400aC. Desde cedo, os minoanos (cretenses)
se entregaram a um ativo intercâmbio comercial com os povos da região do Levante; por volta de 2000aC,
suas relações mercantis com o Egito eram intensas. Os cretenses dominaram todo o Mediterrâneo Oriental,
mas, em 1750aC, um grande cataclismo arruinou o poderio de Creta e favoreceu a invasão de um povo
continental vindo da Grécia. O poderio cretense não existia mais em 1400aC. A herança dos cretenses foi
recolhida pelos fenícios, que vieram a dominar não apenas o Mediterrâneo Oriental, mas todo o referido
mar até o estreito de Gibraltar (as “Colunas de Hércules” na denominação grega).

2.4) A Civilização Fenícia:

O povo mais antigo que achou na indústria e no comércio seu principal interesse econômico foi o
fenício. A Geografia provê a explicação para esse interesse. A Fenícia, na época mais brilhante de sua
história, não era mais que uma região estreita que, desde Arad até o Monte Carmelo, entendia-se num
comprimento de 50 léguas do 35º ao 33º grau de latitude norte e numa largura, entre o Mediterrâneo e as
escarpas rochosas do Líbano, de 3 a 10 quilômetros. Tal território não podia sustentar seus habitantes, pois
a agricultura oferecia um rendimento mísero pela escassa fecundidade do solo. O país se compunha de
ravinas por onde desciam torrentes de neve fundida.
Compreende-se porque os habitantes consideravam, desde época muito remota, o mar como fonte
de seu sustento. O Monte Líbano não lhes permitia ir para o interior das terras, no entanto fornecia-lhes

11
Os judeus são parte do povo hebreu, sendo resultado de uma divisão que ficou conhecida como diáspora, ficando os hebreus
com a capital em Samaria e os judeus na Judéia.
12
Talassos = mar e cratos = governo, ou seja, literalmente, “governo do mar”; diz-se do governo que é dominado por homens
ligados ao mar, como os do comércio marítimo, da pesca, da marinha de guerra etc.
Módulo 1 -9- QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
madeira de construção naval, como pinheiros, ciprestes e cedros. A costa, por sua vez, oferecia uma série
de portos naturais, nos quais os fenícios construíram as cidades onde se instalou uma população de
pescadores e marinheiros com uma aristocracia13 (talassocracia) de comerciantes.
Depois de terem buscado na pesca a subsistência que a terra não lhes podia oferecer, eles se fizeram
mercadores e piratas, favorecidos pela posição geográfica de seu território em frente aos países fecundos
da Bacia Mediterrânea, ao lado dos estados antigos de maior desenvolvimento cultural e industrial e
colhendo, por meio do comércio, as riquezas do Levante e distribuindo-as pelas regiões do Oeste. Foram
os fenícios os primeiros a romperem com a tradição do comércio terrestre.
Organizavam-se em cidades-estados interdependentes chefiadas pela elite mercantil. Beirute, Aca,
Jaffa e, sobre todas elas, Biblos, Tiro e Sidon, se tornaram os pontos de apoio de uma atividade mercantil
que enlaçava os círculos culturais asiáticos e egípcios, tornando os fenícios depositários de uma vasta
cultura mediterrânea que influenciou a cultura dos gregos e, mais tardiamente, dos romanos.
Os fenícios exploraram sucessivamente as costas do Mediterrâneo e as ilhas dos arquipélagos,
oferecendo aos gregos, ainda bárbaros, os produtos da indústria egípcia ou asiática. Quando podiam
aprisionavam mulheres e crianças para as venderem como escravos noutro lugar. Com intuição feliz,
andavam e procuravam, nos vários centros, a matéria-prima que escasseava, não só no próprio país, mas
nas regiões e nos estados vizinhos. Souberam se tornar indispensáveis a tal ponto, que obtiveram dos faraós
egípcios o monopólio da grande e pequena cabotagem14 entre os portos daquele Império.
Unindo a audácia aventureira do marinheiro à habilidade do mercador, eles conseguiram
rapidamente estabelecer entre os povos disseminados ao longo do Mediterrâneo e além das Colunas de
Hércules (estreito de Gibraltar) um sistema de trocas intensas.
As invasões egípcias efetuadas sob as dinastias XVII, XIX e XX não parecem ter afetado o
desenvolvimento comercial dos fenícios. Aceitando o domínio dos faraós, em troca obtiveram o monopólio
do comércio egípcio e puderam estender suas relações ao mesmo tempo sobre o Mediterrâneo e o mar
Vermelho. É nessa época que se situa a fundação das primeiras colônias fenícias na costa da Cária e da
Kilídia, em Chipre, em Creta, em várias ilhas dos arquipélagos e do norte da África. Sidon que não tinha
sido na origem senão uma cidade de pescadores herdou a supremacia antes exercida pelas cidades de Arad
e Biblos, tornando-se a metrópole de um vasto império marítimo.
Forçados mais tarde pelos progressos da Marinha grega a se retirarem, pouco a pouco, das ilhas dos
arquipélagos do mar Egeu, os fenícios estabeleceram numerosos empórios na parte ocidental do
Mediterrâneo, na Espanha, Gália, Itália, Sicília, Malta, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares. Entre os séculos
XI e IX aC, depois da fundação da Utica (na Tunísia) e de Cádiz, antes de Cartago, os fenícios
desenvolveram as trocas comerciais na parte ocidental do Mediterrâneo. Para proteger a rota mercantil de
Gades (Cádiz) e de Malaca (Málaga), criaram estações marítimas na Sicília da mesma forma que na Tunísia,
nos pontos do litoral onde havia os melhores portos naturais. As ilhas vizinhas, Malta, Gozo, Pantelaria e
Lampedusa, foram transformadas em estações marítimas.
Na Sicília, o avanço dos colonos gregos no começo do século VIII aC, provocou a retirada gradual
dos fenícios para o noroeste da ilha onde eles conservaram as cidades de Panormium (mais tarde Palermo),
Motya e Solans, que estavam bem colocadas para curtas travessias à vela em direção a Cartago, esta já uma
cidade florescente.
Provavelmente, os fenícios estabeleceram também ponto de apoio no local onde hoje se situa Lisboa.
Alguns historiadores admitem mesmo que os fenícios tenham estendido suas expedições marítimas até as
ilhas Canárias, em pleno Atlântico, e talvez ainda mais ao sul, às ilhas do Cabo Verde. Outros historiadores
admitem apenas que navegantes isolados talvez tenham chegado às costas do mar Vermelho, às ilhas
Canárias e às Scilly (Inglaterra); em compensação, a hipótese de uma influência mercante fenícia na África
Meridional e de uma navegação em caráter regular pelo mar Vermelho e pelo oceano Índico, ou de
verdadeiras expedições à Grã-Bretanha e às costas nórdicas, são hoje consideradas como desprovidas de

13
Aristocracia: tipo de organização social e política em que o governo é monopolizado por um número reduzido de pessoas
privilegiadas, não raro por herança como fidalguia, nobreza. Grupo de indivíduos que se distinguem pelo saber.
14
Cabotagem: termo utilizado para fazer referência às navegações de Cabotto, navegador italiano que percorria a costa de ponto
em ponto para demarcá-la. A navegação de cabotagem é aquela feita de porto em porto de pequena distância, em contraponto a
navegação de longo curso.

Módulo 1 - 10 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
fundamento. Gades (Cádiz), na parte meridional da península Ibérica, é a colônia fenícia mais avançada
que se conhece com segurança.
Um dos registros de viagens atlânticas mais fascinante que sobreviveram é o Périplo de Hano, o
navegador e um dos reis de Cartago, empreendido por volta de 500 aC. As fontes para o conhecimento
dessa expedição são fragmentadas: imortalizada em placas expostas num templo em Cartago, foi
posteriormente citada por autores gregos e latinos em seus textos sobre geografia e história. Até nós, chegou
um único relato do Périplo, compilado já na Idade Média.
As cidades fenícias não se comunicavam facilmente uma com as outras, a não ser por mar, e
conservaram entre si uma autonomia, constituindo mesmo cada centro urbano uma unidade política
independente. Compreende-se que entre elas tenham nascido rivalidades ferozes, chegando algumas a
emprestar esquadras às potências estrangeiras para abater a rival. Ao que consta, Tiro foi obrigada certa
vez a enfrentar navios de Sidon cedidos aos assírios.
Naturalmente as dissensões internas facilitaram a agressividade das nações próximas e, além dos
egípcios, os fenícios sofreram o domínio de vários outros povos no decorrer de sua história. A opressão de
estados mais poderosos talvez tenha concorrido para incrementar a expansão marítima fenícia. A própria
Cartago, ao que parece, foi fundada por imigrantes que fugiam ao domínio estrangeiro ou a lutas internas.
Muitas vezes, porém, favorecidas pela posição de suas cidades, geralmente construídas em ilhas ou em
penínsulas de fácil defesa, os fenícios resistiram ferozmente às invasões. Provavelmente, a posse livre do
mar garantiu o suprimento das cidades sitiadas, pois de outra forma é difícil explicar como Tiro, por
exemplo, só tenha caído em poder dos assírios após cinco anos de assédio, ou tenha resistido por treze anos
ao cerco dos babilônios sob o comando de Nabucodonosor.
Através dos séculos e apesar das múltiplas vicissitudes15, o comércio marítimo ficou sendo sempre
a principal atividade do povo fenício. Por causa dele, tiveram os fenícios que conquistar e conservar o
domínio absoluto do mar, o que conseguiram, graças a instituições particulares. Para conservar o monopólio
do tráfego marítimo, as comunidades fenícias guardavam rigorosamente secretos seus itinerários
comerciais. Aos artigos trazidos de países longínquos associavam lendas de serpentes aladas e gigantescos
pássaros venenosos. Quando preciso, assaltavam os navios de outros povos que ousassem concorrer aos
mesmos mercados e indicavam derrotas16 erradas com o fito de causar a perda dos rivais. Para estenderem
as suas navegações tornaram-se exímios construtores navais. Os seus navios eram quase redondos e de
pouco calado, a fim de poderem navegar junto à praia. Venciam o vento contrário por meio de velas largas
e grandes remos. Para a guerra construíam navios longos e afilados. Ainda foram os fenícios os primeiros
a aproveitarem no mar as observações astronômicas de que os outros povos se serviam para adivinhações.
A superioridade dos fenícios no setor marítimo era reconhecida por todos os demais povos que, ou
recorriam diretamente à utilização de sua Marinha, ou encomendavam a construção de suas frotas nos
estaleiros de Tiro e Sidon. Ao que consta, a frota de Salomão bem como a de Semiramis e a de Sesóstris
foram construídas nos estaleiros daquelas cidades; Assurbanipal valeu-se de uma esquadra fenícia para o
transporte de seus exércitos, Nilo acima, na conquista do Egito e os babilônios recorriam aos navios de
Sidon para o deslocamento de tropas ao longo do rio Eufrates. Também foram em navios fenícios que os
persas procuraram disputar aos gregos o domínio do mar Egeu no decorrer das Guerras Medas.
Embora recente investigação tenha reduzido as exageradas ideias que prevaleciam a respeito da
indústria, do comércio e do tráfego dos fenícios, não pode haver dúvida alguma de que, como mestres na
navegação, deram grande impulso ao tráfego marítimo no Mediterrâneo onde foram os primeiros portadores
da cultura, difundindo as invenções feitas pelo Egito e pela Ásia. Concentraram igualmente em suas mãos
todo o comércio mundial daquela época. Na história dos grandes monopólios mercantis, o procedimento
dos fenícios foi considerado como exemplar pelo espaço de vários séculos.
A potência econômica fenícia foi arruinada pela conquista macedônica e pela fundação de
Alexandria cerca de 332aC. Cartago, a mais importante de suas colônias, que já possuía o comércio do
Mediterrâneo Ocidental, herdou o comércio fenício. Foi, assim, a Fenícia a primeira nação no mundo antigo
a se constituir e evoluir sob a influência contínua e direta do mar.

15
s.f. Mudança das coisas que se sucedem, alternativa, alternância, eventualidade, acaso, azar, revés, instabilidade.
16
Derrota: termo utilizado na marinharia significando rota, caminho ou direção tomada pelos navios.
Módulo 1 - 11 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
2.5) A Civilização (Fenícia) Cartaginesa:

A fundação de Cartago é posterior, cerca de três séculos, ao começo da colonização fenícia no


Oriente. Pode-se datá-la, sem medo de errar, dos fins do século IX aC.
Graças à sua situação geográfica favorável, no norte da África, do lado ocidental do Mediterrâneo
e de frente à península17 Itálica, e à intensa atividade comercial exercida por seus habitantes, Cartago se
tornou a mais poderosa das colônias fenícias do Ocidente. Ela era o único grande centro africano ao qual
afluíam as caravanas do interior do Continente Negro, de modo que o tráfego incessante a enriqueceu com
singular rapidez.
Depois que Tiro perdeu a primazia comercial e política em consequência do desastroso domínio
assírio, Cartago a substituiu na proteção das colônias fenícias e se converteu no centro de um verdadeiro
império marítimo e comercial. No começo do século V aC, sua preponderância era reconhecida pelas
comunidades que Tiro e Sidon haviam fundado ao longo da costa do Mediterrâneo Ocidental, até além das
“Colunas de Hércules” (Estreito de Gibraltar). Cartago exercia hegemonia na Sicília Ocidental, na
Sardenha, nas ilhas Baleares, nas costas meridionais da Espanha e em toda África do Norte até a Cirenaica.
Tanta riqueza fácil ensoberbeceu a classe dirigente que cedeu à tentação de uma política imperialista, com
dano das terras vizinhas, para usufruir em proveito próprio e monopolizar em sua exclusiva vantagem os
recursos do mundo Mediterrâneo Ocidental. Os territórios submetidos passaram a constituir não somente
pontos de apoio para o imperialismo marítimo cartaginês, mas também zonas de ocupação e barreiras que
abrangiam a Bacia Ocidental do Mediterrâneo. Esse mar formava assim uma espécie de mar fechado,
submetido ao domínio ilimitado e ao controle rigoroso dos cartagineses. Os cartagineses tinham por norma
atacar e afundar os navios estrangeiros surpreendidos nas zonas marítimas reservadas ao seu tráfego.
Para atingirem o império absoluto do comércio do Mediterrâneo, os cartagineses fizeram de sua
cidade um porto privilegiado. Para ele afluíam todos os produtos transportados dos empórios, colônias e
portos estrangeiros. Assim, o porto de Cartago se tornou o grande mercado do Mediterrâneo Ocidental e o
ponto de cruzamento de todas as vias marítimas pelas quais refluíam em seguida para a periferia as
mercadorias importadas. Cartago tomou, por outro lado, medidas enérgicas para guardar no Atlântico, e ao
longo de toda a costa mediterrânea da África do Norte, o monopólio do comércio. Se no mar Tirreno, nos
golfos de Gênova e de Lião e ao longo da Espanha Oriental ela não pôde afastar os gregos, conseguiu lhes
interditar o acesso a todas as regiões sobre as quais exercia autoridade política ou hegemonia econômica.
Pode-se dizer que a política cartaginesa do monopólio do mar deu resultados surpreendentes,
considerando que os gregos no século V aC não se aventuravam no Mediterrâneo Ocidental.
Toda essa série de medidas e o empenho com que foram mantidas demonstram que a política geral
de Cartago parece ter sido, sobretudo, inspirada por preocupações comerciais. Ao contrário da Roma
Republicana, negociar para o cartaginês era uma grande honra. A aristocracia não se considerava diminuída,
consagrando seus recursos e atividades aos afazeres comerciais. Muitos nobres eram armadores ou
banqueiros. Cartago foi uma das cidades antigas onde o comércio foi mais poderoso e onde pesou mais
pelos destinos da nação. Aníbal, depois da derrota de Zama, parece ter compreendido isso. Ele se esforçou
por medidas enérgicas para tirar o Estado da tirania dos magnatas financeiros.
Contudo, a intervenção do Estado se mostrou muito eficaz na organização de expedições de fins
comerciais através dos mares ainda inexplorados. A esse respeito, convém notar a viagem marítima
realizada por Hannon ao longo da costa ocidental da África. Os novos itinerários marítimos descobertos
pelos exploradores cartagineses eram mantidos secretos e cuidadosamente guardados nos arquivos do
Estado (protecionismo)18. A tendência dos cartagineses a reforçarem constantemente seu domínio
comercial, a combaterem toda concorrência estrangeira e a dominarem as rotas marítimas também é
constatada pelo fato de o Estado Púnico possuir uma frota mercante e militar inteiramente nacionais, ao
contrário das forças de terra, que eram constituídas por mercenários. Com isso eles queriam evitar que um
dia surgissem cidades rivais de Cartago, mesmo entre as cidades fenícias confederadas.

17
Península: Porção de terra cercada de água por três lados e mantendo sua ligação com uma porção de terra maior.
18
Protecionismo: Prática ou doutrina de proteção aos produtores de um país ou região, em geral pela imposição de obstáculos à
importação de produtos concorrentes, por meio de tarifas alfandegárias, etc.
Módulo 1 - 12 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
19
Nas vésperas das Guerras Púnicas , o domínio comercial de Cartago, tanto no Mediterrâneo como
no Atlântico, era considerável. Para explorar esse domínio, Cartago dispunha de um aparelhamento do qual
se conhecem certos elementos. A frota mercante era conhecida pelas dimensões de suas unidades, grandes
galeras que navegavam a vela e, na falta de vento, a remo, pela habilidade das guarnições e dos comandantes
que não se contentavam em seguir o litoral, mas enfrentavam o alto-mar, observando os astros. Essa frota
encontrava escalas, refúgios, pontos de apoio habilmente escolhidos e bem aparelhados. As construções
navais tinham lá lugar importante, empreendidas e dirigidas algumas por armadores e outras pelo próprio
Estado. Políbio, um Geógrafo e Historiador grego, registrou na sua obra Histórias que os cartagineses eram
hábeis nessa indústria. A África lhes fornecia as madeiras e a Espanha o esparto20 para o aparelho. O
aparelhamento dos portos e a organização dos estaleiros e oficinas especiais progrediram juntamente com
a navegação. Para conservar as comunicações livres e manter as colônias na dependência absoluta, grandes
frotas de guerra impediram o desembarque de rivais ou inimigos.
As forças de Cartago aumentaram mais ainda nas sucessivas lutas com os etruscos, gregos, massílios
e finalmente com os romanos, e era espantosa a rapidez com que suas perdas eram substituídas, graças à
padronização dos meios navais. A sua base principal era a própria Cartago.
No começo, a frota de guerra era constituída apenas por trirremes21, cujo tamanho foi aumentado
no tempo de Alexandre.
Por ocasião das guerras púnicas, Cartago construiu navios de cinco (quinquirremes) e de sete
(septirremes) fileiras de remos os quais podiam transportar cento e vinte soldados e trezentos marinheiros.
Contra Siracusa, Cartago armou cento e cinquenta e dois navios, e contra Roma muitos mais. Para Xerxes
consta que Cartago forneceu dois mil grandes navios de transporte por ocasião das guerras medas.
A política comercial cartaginesa, se foi nociva para os povos marítimos rivais, como os gregos e
romanos, não o foi menos nociva para as comunidades fenícias confederadas cujos interesses foram
sacrificados aos fins particulares exclusivistas da cidade que as dominava. É fácil compreender como o
princípio do mar livre (mare nostrum), pregado pelos romanos durante a luta com o estado cartaginês
(Guerras Púnicas), atraiu bem cedo o favor e o apoio das populações
submetidas ao jugo marítimo de Cartago, com grande dano para esta.
Assim, Roma, ao destruir o domínio cartaginês sobre os mares, não somente livrou a classe
comerciante italiana de um longo pesadelo, mas abriu as rotas marítimas do Mediterrâneo a todos os povos
que por muito tempo haviam sido oprimidos.
Qualquer que sejam as lacunas de nosso conhecimento sobre o comércio púnico, não é menos certo
que o tráfego, sobretudo marítimo, foi o elemento mais importante da economia cartaginesa. Foi graças ao
intercâmbio que Cartago teve prosperidade; foi pelo comércio que desempenhou papel proeminente na
história do Mediterrâneo Ocidental, foi o comércio que lhe deu, entre as grandes cidades do Mundo Antigo,
sua fisionomia original.

2.6) A Civilização Grega:

Uma das características físicas fundamentais da Grécia é a íntima penetração entre o mar e a terra.
Enquanto pelos golfos sumamente ramificados que oferecem admiráveis ancoradouros o mar penetra
profundamente no país montanhoso, a terra firme, por sua vez, em incontáveis ilhas e penínsulas, avança
no elemento líquido. Por outro lado, a Grécia sempre foi um país de escassa extensão, com solo pobre e
difícil à comunicação interna.
A civilização grega se concentrou no sul da península Balcânica, nas ilhas do mar Egeu e no litoral
da Ásia Menor. A origem da civilização grega está intimamente ligada à ilha de Creta, no sul do mar Egeu.
O relevo e o isolamento das localidades facilitaram a organização de cidades-estados autônomas.

19
Púnico: relativo ou pertencente aos cartagineses ou a Cartago, cidade-estado fundada pelos fenícios em 814 aC, na região
próxima à atual Túnis (Tunísia, N. da África), e que foi destruída pelos romanos em 146 aC e pelos árabes em 698 dC.
20
Esparto: planta medicinal, da família das gramíneas (Stipa tenacissima), cujas folhas se empregam no fabrico de cestas, cordas,
esteiras, etc...
21
Trirremes: embarcações com três ordens de remo de cada lado do costado, armados em três pavimentos e eventualmente com
uma vela redonda. O máximo que se conseguiu produzir foram as embarcações de sete ordens de remo sendo que as mais
utilizadas foram as trirremes e as quinquirremes.
Módulo 1 - 13 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
No século XV aC ocorreu uma onda invasora formada pelos aqueus e, posteriormente, pelos dórios,
eólios e jônios, habitantes do norte da península Balcânica. Esses povos fazem parte do grupo linguístico
indo-europeu que formam esta sociedade. As invasões dórias impuseram um violento domínio, forçando a
população a um processo que ficou conhecido como Primeira Diáspora Grega, retirando grande parte da
população grega do continente para as ilhas, favorecendo o contato marítimo destas comunidades e levando
ao atraso as comunidades continentais, obrigando a deixarem a vida urbana e comercial, dedicando-se às
atividades rurais. A consequência desse fato foi o desenvolvimento marítimo das comunidades insulares e
o atraso para as comunidades peninsulares ou continentais.
O baixo rendimento da agricultura grega tornou na antiguidade a importação de grãos,
principalmente trigo, em muitas cidades, particularmente em Atenas, uma necessidade de primeira ordem.
A produção de cereais do território ateniense representava anualmente cerca de um terço das necessidades
de sua população. Nos anos de má colheita, ela nem isso atingia. O que faltava era importado quase
exclusivamente por via marítima e provinha do Ponto (Ponto Euxino ou mar Negro), do Egito, da Sicília e
da Líbia.
A continuidade da expansão demográfica e a permanente escassez de terras na Grécia fizeram com
que os excedentes populacionais balcânicos e insulares buscassem outras áreas para sua sobrevivência, em
um processo de colonização grega na península balcânica e no mar Negro, saindo das ilhas e passando para
o continente, sendo chamado esse processo de Segunda Diáspora Grega. A consequência desse fato foi a
difusão da cultura grega (helenismo) por todas as áreas do entorno da península e dos conhecimentos
náuticos das populações marítimas que viviam nas ilhas gregas.
Para atender a esse suprimento indispensável, os atenienses trocavam o azeite da Ática pelos cereais
da Cítia. Para colocar o seu azeite no mercado cita, tiveram de envasilhá-lo em ânforas22 e embarcá-lo para
o além-mar. Essas atividades é que deram origem às olarias e à Marinha Mercante da Ática. Face à pobreza
do solo, se compreende também que a pesca tenha assumido um papel importante na vida grega. Ela se
tornou a ocupação habitual de numerosas populações marítimas, não somente na Grécia propriamente dita,
mas no golfo de Taranto e nas costas da Sicília, a Oeste, e nos Dardanelos, na Propôntida e no Bósforo, a
Nordeste.
Ao lado dos alimentos vegetais e das carnes fornecidas pelo pastoreio, o peixe fresco, salgado ou
seco se tornou um dos pratos frequentes e preferidos dos gregos. A insuficiência dos recursos naturais do
solo e as possibilidades agrícolas muito limitadas compeliram o povo ateniense a procurar na indústria e no
comércio marítimo seus principais recursos econômicos. A par da pobreza do solo, outras causas, sem
dúvida, devem ter concorrido para a expansão grega no Mediterrâneo. Tudo indica, porém, ter sido essa a
razão preponderante.
Aproveitando a experiência adquirida na pesca e no tráfego marítimo, do século IX mais ou menos
até o fim do século VII aC, os gregos se espalharam em todos os sentidos no Mediterrâneo. Fundaram
numerosas colônias no Mediterrâneo Oriental e no Mediterrâneo Central; pelos Dardanelos e o Bósforo,
atingiram o Ponto Euxino (mar Negro); penetraram além do estreito de Messina no Mediterrâneo Ocidental.
A Grécia propriamente dita, antes confinada na parte meridional da península dos Bálcãs, foi acrescentada,
entre outros territórios, a Grécia asiática que se ocupava do litoral ocidental da Ásia Menor, e a Grande
Grécia, cujas cidades se agrupavam no sul da Itália e na maior parte na Sicília. O mar Egeu e o mar Jônio
foram incluídos ao mundo helênico23. Se a penúria da terra, resultado de circunstâncias diversas,
determinou as primeiras partidas de colonos gregos, mais tarde, progressivamente, outros fatores tiveram
papel importante no progresso da expansão helênica. A necessidade no começo, depois a experiência e o
gosto da navegação, encorajaram os gregos para a vida marítima. Então, a função do mar na vida nacional
dos gregos adquiriu toda a sua importância. Era pelo mar, e só por ele, que as colônias se comunicavam
com a mãe pátria. Sua independência, ao mesmo tempo política e econômica, a salvaguarda mesmo de sua
existência, exigiu uma marinha poderosa. Corinto, Cádiz de Eubra, Mileto, Fócida, Rodes, Siracusa,

22
são vasos antigos de origem grega de forma geralmente ovóide, confeccionados em barro ou terracota e possuidoras de duas
alças, geralmente terminado em sua parte inferior por uma ponta ou um pé estreito, e que servia sobre tudo para o transporte e
armazenamento de gêneros de consumo, sobretudo líquidos, especialmente o vinho. Servia também para conter azeite, frutos
secos, mel, derivados do vinho, cereais ou mesmo água.
23
Em referência a Helena, uma divindade mãe, protetora e geradora de todos os indivíduos dessa sociedade de características
nítidas matriarcais.
Módulo 1 - 14 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Taranto e Marselha armavam frotas numerosas de comércio e guerra, bem antes que Atenas se tornasse a
rainha dos mares helênicos.
Assim, os helenos, ao mesmo tempo em que ocupavam fora de seu país de origem, novas terras,
quase todas ricas, criavam em muitas paragens longínquas centros de influência e de negócios e tomavam
posse do mar que separava e ligava simultaneamente todas as partes do mundo grego. Essa supremacia das
esquadras nas rotas marítimas teve por efeito transformar a economia grega superando a sociedade fenícia.
Se antes, nas baías gregas, os fenícios desembarcavam suas mercadorias, que eram trocadas pelos produtos
locais, ao que parece mais seguidamente por gado, depois foram os próprios marinheiros gregos que
levaram ao Egito, à Síria, à Ásia Menor, e aos povos da Europa, alguns civilizados como os etruscos, outros
ainda atrasados como os citas, os gauleses e os iberos, os objetos manufaturados, as obras de arte, tecidos,
armas, joias e vasos pintados que os bárbaros tinham ânsia de possuir. Paulatinamente, os fenícios, antigos
senhores do tráfego marítimo do Oriente para o Ocidente, foram repelidos pelos gregos para fora do mar
Egeu, do Ponto Euxino e do mar Jônio, não guardando a supremacia naval a não ser na costa da África e
oeste do Grande Syrte e nas paragens das Colunas de Hércules (Cartago).
O mar Tirreno assistiu a luta dos gregos contra os cartagineses e etruscos. A ardente rivalidade das
potências marítimas e coloniais deu então um vivo desenvolvimento à navegação. Depois que os fenícios
foram afastados pelos gregos dos mares e dos mercados do Mediterrâneo, as indústrias helênicas
encontraram saída e clientela. Para se aproveitarem de alguns e satisfazerem a outros, os gregos tiveram
que se desenvolver. Produzia-se então entre a indústria e o comércio, sobretudo marítimo, um duplo efeito
de ação: o comércio tendo necessidade de suprimentos fornecidos pela indústria; a indústria devendo sua
prosperidade ao comércio.
O desenvolvimento do tráfego marítimo acarretou, logicamente, a prosperidade das cidades
portuárias. No século V aC, a cidade e porto de Pireu havia se transformado no centro de um sistema de
vias marítimas, podendo-se dizer quase de linhas de navegação regular. Para o Nordeste seguiam as linhas
de cabotagem que serviam as colônias da Macedônia, da Calcídia, da costa da Trácia e à grande rota dos
estreitos do Ponto Euxino, de importância capital para Atenas, pois assegurava em grande parte seu
abastecimento de cereais e de peixe seco. Para leste, através do mar Egeu e das Cícladas os navios que
saíam do Pireu ganhavam as ilhas e os principais portos da Ásia Menor. Em direção ao sudeste, os gregos
saíam do mar Egeu entre Creta e Rodes, iam a Chipre, aos portos fenícios e ao empório ativo e próspero de
Neucrates. O mar Jônio e o Mediterrâneo Central não formavam uma bacia menos propícia à expansão
comercial. Depois de dobrarem os pontos meridionais do Peloponeso, os navegantes podiam rumar direto
para oeste em direção à Sicília, ou aproar a Noroeste para atingirem a Grande Grécia, ou penetrarem no
Adriático e avançarem até Hadria e o país das Bocas do Pó24. Mais longe que a Grande Grécia, Marselha e
seus vizinhos, escalonados entre Nice e Rosas, marcavam os pontos extremos do comércio helênico a Oeste.
Tal atividade marítima não se explicaria se a arte de navegar e a organização material dos portos não
tivessem atingido certo desenvolvimento. Os navios gregos dessa época já podiam carregar cerca de 250
toneladas25 e navegavam geralmente à vela, recorrendo aos remos apenas em circunstâncias excepcionais.
A utilização da vela subordinou a navegação ao regime dos ventos, principalmente no mar Egeu.
Para uma frota mercante numerosa e composta de unidades relativamente importantes eram precisos
portos especialmente aparelhados. Docas foram cavadas e molhes construídos a fim de protegerem os
navios ancorados das vagas de alto-mar e facilitar a descarga de mercadorias. Pouco se sabe acerca das
frotas de guerra gregas antes das Guerras Medas. Elas não deveriam ser desprezíveis, pois de outra forma
é difícil explicar a expulsão dos fenícios de regiões importantes do Mediterrâneo e a expansão marítima
helênica numa época de pirataria generalizada. É provável também que a Marinha de Guerra grega não
estivesse em bom estado por ocasião da 1ª Guerra Meda. Com efeito, não se sabe de nenhum engajamento
naval nessa primeira fase da luta, que foi travada em terra, tendo os gregos deixado o exército persa cruzar
impunemente os mares. Entre as duas primeiras Guerras Medas também a Grécia muito sofreu com os
ataques dos piratas eginetas, o que parece indicar a sua fraqueza nos mares. Têm-se referências mais
concretas acerca das frotas de guerra helenas a partir desse período.

24
Rio Pó, principal rio da parte oriental da Itália onde floresceu uma das principais comunidades pertencentes a este povo,
fundando a cidade de Veneza, conhecida como La Sereníssima.
25
Tonelada em referência a tonel, indicando a quantidade de barris que um navio podia transportar e não a medida de peso
atualmente registrada para 1000Kg.
Módulo 1 - 15 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
A primeira das grandes guerras dos gregos contra os persas – conhecidas como Guerras Médicas ou
Medas, devido ao nome de um dos povos constituintes do Império Persa, os medos – ocorreu em 492aC e
constou do envio de um exército, através do Helesponto (Dardanelos atual) e da Trácia, em direção ao
interior da Grécia, acompanhado por uma esquadra, que o seguiria pelo litoral do mar Egeu, a fim de
garantir-lhe o flanco esquerdo e o apoio logístico26, no entanto, uma boa parte da esquadra persa foi
destruída por mau tempo quando contornava o monte Atos, junto à costa. Sem o apoio naval, essa tentativa
de invasão não chegou a se concretizar.
Em 490aC, os persas liderados por Dario I partiram novamente na tentativa de conquistar os povos
gregos, e chegaram a desembarcar em suas terras, mas foram surpreendidos pelo exército ateniense na
planície de Maratona e, apesar de sua superioridade numérica, foram derrotados pelos gregos. O prestígio
ateniense cresceu tremendamente após essa vitória, e a cidade começou a se destacar entre as demais pólis
gregas. Precavendo-se contra um possível novo ataque persa, após a primeira Guerra Médica, os atenienses
procuraram fortalecer sua marinha de guerra, já que o cenário das lutas seria o mar Egeu.
A terceira ofensiva persa iniciou-se em 480aC, quando o imperador Xerxes I partiu com
aproximadamente 100 mil homens em direção à Grécia. Os gregos se uniram contra os invasores, mas,
apesar do sucesso espartano em retardar o avanço do inimigo no desfiladeiro de Termópilas, os persas
conseguiram invadir e saquear Atenas.
Apesar de vitoriosa, a campanha persa acabou se enfraquecendo na medida em que suas tropas não
eram facilmente guarnecidas por suprimentos e reforços (logística).
A derrota na grande Batalha Naval de Salamina, diante de Atenas, selou o destino dos persas, que,
mais uma vez, se retiraram sem terem conseguido tomar a Grécia. Esta Batalha foi a primeira batalha naval
de larga envergadura registrada na história humana.
E provável que a pressão militar exercida pelos persas estimulou a sociedade helênica a forjar para
sua própria defesa o poderoso instrumento militar que foi a marinha ateniense. Um vulto histórico,
Temístocles, se distinguiu então no estabelecimento da supremacia naval ateniense. Assim se refere
Plutarco (Filósofo e Prosador grego) à época mais decisiva da história grega: Os atenienses encaravam a
derrota dos bárbaros em Maratona como o fim da guerra, mas Temístocles pensava, ao contrário, que ela
era apenas o prelúdio de maiores combates. Prevendo de longe os acontecimentos, ele se preparava para
assegurar, desde então, a salvação da Grécia, com o apoio de seus concidadãos. Com esse fito, seu primeiro
cuidado foi ousar propor aos atenienses efetuar a construção de galeras com três ordens de remos,
aproveitando as rendas provenientes das minas de prata de Laurium. Esta nova frota deveria fornecer os
meios de resistir aos eginetas que, senhores dos mares, o cobriam com seus numerosos navios e faziam à
Grécia a guerra mais terrível que ela então sustentara. Construíram-se, com a prata das minas, 100 galeras
que combateram posteriormente contra Xerxes. Desde esse momento, ele fixou a vista dos atenienses sobre
o mar e soube induzi-los a formar uma considerável marinha, lhes mostrando que em terra não estavam em
condições de resistir nem mesmo aos seus vizinhos, mas que, ao contrário, com forças navais poderiam
repelir os bárbaros e governar o resto da Grécia.
Quando, dez anos depois da batalha de Maratona, os persas novamente intentaram a invasão da
Grécia, os navios, por cuja construção Temístocles havia pugnado, saíram a dar combate à numerosa frota
inimiga. Os gregos obtiveram um primeiro sucesso na batalha naval de Artemisium, porém a batalha
decisiva foi o grande encontro naval de Salamina (480aC), que testemunhou a total destruição da
gigantesca, mas heterogênea27 armada de Xerxes pela frota dos atenienses e de seus aliados admiravelmente
bem coordenados, embora inferiores em número a menos de um terço de seus adversários.
Foi então que a Grécia se salvou graças ao mar, e seus navios contribuíram para reconstruir Atenas
que havia sido inteiramente destruída.
Apesar de terem vencido a Leônidas, rei de Esparta, a ameaça de perder a segurança de suas
comunicações marítimas obrigou os persas, depois da batalha de Salamina, a baterem em retirada apesar
da enorme superioridade de forças de que dispunham.

26
Apoio logístico é o apoio que se dá a uma força militar em operações suprindo-a de materiais, pessoal, conforto etc. para
garantir-lhe os meios necessários ao desempenho de sua missão.
27
A Armada de Xerxes era composta pelos navios pertencentes às diversas nações que eles haviam conquistado, como das
cidades-estados fenícias e de localidades gregas da Ásia Menor.
Módulo 1 - 16 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Após o término das Guerras Medas, Temístocles fez fortificar o Pireu porque havia reconhecido a
comodidade de seu porto. Nisso seguiu uma política inteiramente oposta à dos antigos reis de Atenas, os
quais tinham tido a intenção de afastarem seus súditos do comércio marítimo e de fazê-los abandonar a
navegação para se dedicarem à agricultura. A história da Grécia foi em seguida grandemente decidida por
seus marinheiros. Sob o comando de Cimon, a frota grega foi primeiramente dirigida contra Chipre e
Bizâncio a fim se perseguir os persas. Chipre foi libertada e Bizâncio tomada. Por fim, todas as colônias
gregas da Ásia Menor recobraram a liberdade. Como Temístocles previra, o império do mar acarretara o da
terra, e os gregos, se bem que divididos e minados por discórdias internas, conservaram sua independência
durante séculos, graças ao poderio marítimo que souberam manter no Mediterrâneo Oriental.
Durante a guerra, as pólis gregas formalizaram uma aliança conhecida como Liga de Delos.
Tratava-se basicamente de uma união militar contra os persas e adquiriu esse nome porque as cidades
membros da Liga pagavam tributos e impostos que eram depositados na ilha de Delos, a fim de sustentar a
frota e os exércitos conjuntos de todas as cidades-estados. Atenas, com seu prestígio e poderio econômico,
logo passou a administrar os recursos de Delos, se tornando líder da Liga.
Dispersa a frota inimiga, obtiveram os gregos a superioridade no mar. Sem possibilidade de receber
o apoio logístico de que precisava, o exército persa viu-se forçado à retirada. Permaneceu no território
helênico apenas uma força terrestre de cerca de 50 mil homens, que foi batida em Platéia, cerca de 60
quilômetros a noroeste de Atenas, em 479aC. Na mesma ocasião, em Micale, nas costas da Ásia Menor, os
gregos destruíram o resto da esquadra persa, numa “batalha naval” em terra28.
Após a expulsão dos persas, os gregos perseguiram-nos até a Ásia Menor, libertando diversas
cidades gregas da região, impondo-lhes um tratado de paz (Paz de Cimon, 449aC) e consolidando o domínio
grego sobre todo o Mediterrâneo oriental.
Ao final das guerras contra os persas, os atenienses insistiram na manutenção da Liga de Delos e,
portanto, na cobrança de tributos. Tal iniciativa gerou a insatisfação das demais cidades gregas, que,
todavia, poucos podiam fazer contra o poderio militar ateniense. Chegava ao apogeu o imperialismo
ateniense, ou seja, o período em que Atenas passou a dominar a Grécia Antiga, subordinando a maior parte
das cidades-estado.
Os atenienses passaram a interferir na vida política e social das outras pólis, transferindo o tesouro
de Delos para Atenas e frequentemente utilizando a força para manter a Grécia subjugada. O controle dos
recursos de outras cidades abriu caminho para o apogeu ateniense, e o século V aC, particularmente entre
os anos de 461aC e 429aC, ficou conhecido como a Idade de Ouro de Atenas, quando a cidade era dirigida
por Péricles.
A insatisfação contra o domínio ateniense existia não apenas nas cidades da Liga de Delos, mas
também entre as cidades aristocráticas que não se alinhavam com Atenas, tendo Esparta à frente delas.
Estas logo se organizaram em aliança, formando a Liga do Peloponeso ou Liga Espartana.
O fim primitivo da Liga de Delos era a proteção de uma posterior agressão persa. Como a ameaça
persa se desvaneceu, a Liga tendeu a se dissolver, mas Atenas impediu sua desaparição e gradualmente
converteu a confederação num Império Marítimo, império esse mantido em sujeição pelo poderio naval.
Essa transformação conduziu, por fim, à chamada Guerra do Peloponeso entre Atenas, império marítimo,
e Esparta, potência terrestre, cada uma com os respectivos aliados. Enquanto os atenienses conservaram o
domínio do mar, permaneceram invencíveis. Em 431aC, Atenas e Esparta entraram em guerra, arrastando
as demais pólis para o conflito. Atenas tinha o poderio marítimo, enquanto os exércitos de Esparta detinham
o domínio terrestre, devastando os campos da Ática e cercando Atenas. Durante anos espartanos e
atenienses se enfrentaram, encerrando o conflito em 404aC, quando Esparta venceu.
Dois grandes desastres: o primeiro foi a perda nas batalhas em Siracusa (413aC) e o segundo em
Egos-Potamos (405aC) – uma batalha naval travada em terra firme – causaram a desgraça, e o curto império
de Atenas pereceu. Vitoriosos, os espartanos conduziram seus navios ao Pireu e conquistaram Atenas,
assumindo a hegemonia da Grécia. Esparta foi, assim, a primeira potência nitidamente terrestre cujos
guerreiros bem aquilataram29 a importância da Marinha na luta contra o inimigo cuja principal fonte de
recursos residia no mar.

28
Quando navios de guerra guardados em terra firme são destruídos antes de serem postos a flutuar.
29
Apreciar, avaliar, apurar, aperfeiçoar. Aperfeiçoar-se: aquilatar-se na virtude.
Módulo 1 - 17 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Entre os séculos III e II aC, a Grécia esteve sob domínio da Macedônia, caracterizando o que ficou
conhecido como período helenístico.
Inicialmente governados por Felipe II, vencedor de Queronéia, os macedônios não se limitaram à
conquista da Grécia, logo partindo para o Oriente. O principal responsável por essas grandiosas conquistas
foi Alexandre, o Grande, filho de Felipe II.
Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou valores da cultura grega e, após sufocar revoltas
internas, partiu para a expansão territorial, tomando a Ásia Menor, a Pérsia e chegando até as margens do
rio Indo, na Índia. Morreu precocemente, aos 33 anos de idade (323aC), e o grande império que conquistara
não sobreviveu ao seu desaparecimento. As divisões políticas e as constantes lutas internas levaram ao
enfraquecimento do Império Macedônico e à posterior ocupação pelos romanos.
Assim como a ruptura das linhas de comunicações marítimas pode implicar a derrota de forças
terrestres, como exposto acima, pode-se neutralizar ou eliminar a ação marítima por operações terrestres
bem orientadas. Claríssimo exemplo disso é a campanha de Alexandre, o Grande, quando saiu para a Ásia
Menor, por via terrestre, para conquistar o império persa. Partindo a princípio diretamente contra os persas,
Alexandre cruzou o Helesponto em 334aC com cerca de 35 mil homens, atingindo vitoriosamente a cidade
de Sardis, na Ásia Menor, que tomou.
Sentindo, entretanto, que os persas ameaçavam sua retaguarda com o poder naval de que dispunham,
Alexandre decidiu voltar-se para o litoral antes de prosseguir pelo interior. É que os persas ameaçavam
desembarcar na Grécia, empregando sua ainda vasta esquadra, ao mesmo tempo que ameaçavam as
comunicações de Alexandre com a Macedônia e impediam os portos, que se submeteram aos gregos, de
exercerem o comércio marítimo.
A estratégia de Alexandre aí foi inversa da de Temístocles em Salamina. Avançou sobre o litoral
persa e dominou as bases da marinha inimiga, impedindo-a de dispor dos recursos que só nesses pontos
encontraria. Afastado esse perigo, pôde Alexandre completar a conquista da Ásia persa, dirigindo-se para
a Mesopotâmia e o planalto do Irã, chegando a atingir a Índia. Veem-se assim dois tipos de ação claramente
distintos com um mesmo fim. Em um deles, o mar usado para desarticular atividades militares terrestres;
noutro, a ação em terra neutralizando o uso do mar. Ambos são aspectos marítimos da defesa nacional.
A grande obra de Alexandre da Macedônia no plano cultural sobreviveu ao esfacelamento de seu
império territorial. O movimento expansionista promovido por Alexandre foi responsável pela difusão da
cultura grega pelo Oriente, fundando cidades (várias delas batizadas com o nome de Alexandria) que se
tornaram verdadeiros centros de difusão da cultura grega no Oriente. Entre estas cidades a mais notável e a
que mais se destacou foi Alexandria no Egito, cidade importante para as culturas egípcia, grega e romana,
entre outras. Nesse contexto, elementos gregos acabaram-se fundindo com as culturas locais. Esse processo
foi chamado de helenismo e a cultura grega mesclada a elementos orientais deu origem à cultura helenística,
numa referência ao nome como os gregos chamavam a si mesmos - helenos.
Pelos séculos afora, sob o domínio romano ou constituindo parte do Império Bizantino, os gregos
jamais deixaram seus hábitos marítimo-comerciais. Rodes, Delos e Corinto foram, depois de Atenas,
verdadeiros centros do comércio mundial numa época em que o domínio romano já se estendia por todas
as praias do Mediterrâneo.
Tal como a Fenícia, toda a história grega se acha intimamente ligada aos acontecimentos que se
desenrolaram nas águas do Mediterrâneo.

2.7) A civilização Romana:


Na segunda metade do século V aC, Roma era ainda uma república aristocrática de camponeses. A
maior parte das famílias possuía um pequeno campo. Toda a família habitava pequenas cabanas e
cultivavam os campos inteiramente com trigais, deixando uma pequena parte para fazê-lo com parreiras e
oliveiras. Suas habitações eram pequenas e de aspecto pobre, sua alimentação era frugal, as vestimentas
muito simples. Possuíam poucos metais preciosos e faziam quase tudo em casa, inclusive o pão e as
vestimentas para os escravos e as mulheres. Assim, o que Roma comprava no exterior era pouco. Exportava
poucas mercadorias: madeira para a construção de navios e sal.
Reunindo ao seu redor, numa confederação, as pequenas repúblicas rurais nas quais o povo falava
a mesma língua latina, Roma pôde elevar-se pouco a pouco acima das outras repúblicas da península Itálica.
Na segunda metade do quinto século e nas primeiras décadas do quarto século aC, Roma combateu,
à cabeça da confederação latina, os ossos, volscos e etruscos numa série de guerras que lhe permitiram
Módulo 1 - 18 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
estabelecer quatro novas tribos no seu território aumentado. Fortificada por esses primeiros sucessos, Roma
foi em seguida levada a guerrear durante o fim do quarto século e a primeira metade do terceiro os sanitas,
os etruscos, os sabinos, os membros rebeldes da confederação latina, os gauleses da costa do Adriático e as
milícias gregas de Pirro vindas de Taranto. Roma adquiriu, em suma, nessas guerras a alta soberania sobre
toda a Itália. Mais importante, porém, que as consequências políticas foram as consequências econômicas
e sociais dessas guerras.
A posse de uma linha da costa, desenvolvida como a que circunda a península, desde a foz do Arno,
no mar Tirreno, até o litoral de Úmbria, passando pelo estreito de Messina, dobrou a importância do Estado
romano como potência marítima que substituiu os etruscos e os gregos, e que deveria bem cedo entrar em
luta com o Estado de Cartago. Os romanos, a partir de então, passaram a participar do comércio do mundo
e a procurar os refinamentos da civilização helênica melhor conhecida por causa das trocas mais frequentes
com as colônias gregas da Itália meridional.
Os contatos com o mar e a posse de vários portos trouxeram para Roma a necessidade de possuir
uma frota mercante. Datam dessa época vários tratados firmados entre Roma e Cartago e as colônias gregas
acerca das zonas de navegação para os respectivos navios. Os navios romanos já singravam, portanto, o
mar Tirreno e cruzavam o estreito de Messina. Mas esse enriquecimento não enfraqueceu absolutamente as
tradições e não foi seguido imediatamente de uma mudança de costumes. Submetida à proteção de uma
nobreza que defendia os antigos costumes rústicos, a plebe guardou também os hábitos ancestrais,
permanecendo uma plebe valente e fecunda de camponeses.
Por essa época, s embarcações romanas tinham somente uma função comercial e havia vários tipos
de navios de acordo com os carregamentos e com o trajeto da navegação. A construção ficava a cargo das
elites, que, com os magister navis, responsáveis pela manutenção das embarcações e pelos contratos
relativos às viagens e à carga, ficavam encarregados do suprimento das diferentes regiões imperiais,
particularmente de Roma. Ademais, havia uma série de profissionais especializados nas funções de
navegação. Nos portos existiam trabalhadores especializados no armazenamento e no transporte das
mercadorias para os locais de consumo.
A preocupação com os mares esteve sempre presente na política expansionista romana desde o início
do período republicano, possivelmente como herança das atividades dos etruscos pelo mar Tirreno. Em 311
aC foram criados dois grupos navais comandados por duoviri navalles, e já nessa época se registra a
fundação de colônias marítimas. Ademais, foram as batalhas navais durante as duas primeiras Guerras
Púnicas (264-241/218-202 aC) que concederam à República o domínio do Mediterrâneo.
No quarto e no terceiro séculos aC, Roma pôde espalhar na Itália não somente sua influência e suas
leis, mas também sua raça e sua língua. A criação de colônias reafirmou o caráter agrícola da política de
Roma. No decorrer desse período o Estado esforçou-se por criar uma base econômica essencialmente
terrestre, fundada na pequena propriedade rural, com o fito de assegurar a existência de uma massa
demográfica de tendências conservadoras das quais, ao mesmo tempo, as necessidades mais imediatas
fossem satisfeitas. A massa camponesa prestava-se tanto às fadigas da vida do campo como às dos deveres
militares. O soldo de guerra e os donativos dos generais após a vitória era para eles um lucro ajuntado ao
da terra, e a guerra, uma indústria complementar da agricultura. Foi com esses camponeses, que eram ao
mesmo tempo soldados, que a nobreza romana pôde vencer uma primeira vez Cartago, a grande potência
mercantil, cuja expansão comercial acabou por vir chocar-se com a expansão militar e agrícola de Roma.
Entretanto, as lutas sociais ganhariam nova dimensão no contexto da expansão territorial,
provocando transformações econômicas profundas, a ponto de abalar de forma decisiva a estabilidade
republicana. De fato, a República romana era agressiva, ou seja, colocava em prática ampla política de
expansão territorial. Entre os séculos V e III aC, Roma conquistou toda a península Itálica. O apogeu dessas
conquistas ocorreu com as Guerras Púnicas, contra Cartago.
O oceano Atlântico representou para Roma uma fronteira destinada a ser ultrapassada, pois o
Império Romano, foi, sobretudo, um império marítimo, visto que para o controle das suas partes o mar
Mediterrâneo e o oceano Atlântico eram os espaços estratégicos fundamentais de comunicação. O Próprio
Império Romano surgiu a partir da Primeira Guerra Púnica, guerra esta exclusivamente marítima. Portanto,
podemos afirmar que o Estado romano, diante de finalidades bélicas e comerciais relacionadas às
necessidades de defesa, de obtenção de riqueza mineral e de garantia do abastecimento de Roma e dos
exércitos, se interessou pelo controle das rotas comerciais atlânticas e se empenhou em debelar as
dificuldades.
Módulo 1 - 19 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Sobre as Guerras Púnicas entre Roma e Cartago, a bibliografia estabelece que a cidade de Cartago
foi fundada pelos fenícios, desde a decadência grega controlava praticamente todo o comércio na bacia do
Mediterrâneo. Sua situação geográfica privilegiada, uma vez que estava situada no norte da África e
dominava a ilha da Sicília, contribuiu para o monopólio da ligação do Mediterrâneo ocidental com o oriental
pelos cartagineses.
Já os romanos viam a Sicília como um prolongamento da península e tinham interesse em suas terras
férteis. Dessa forma, o choque de imperialismos entre Roma e Cartago acabou por desencadear a guerra.
Entre 264 e 146aC, ocorreram três grandes guerras, que culminaram com a destruição de Cartago e o
controle romano de vastos territórios espalhados por todo o Mediterrâneo.
Vendo a expansão romana, Cartago logo pressionou os gregos da Sicília, produtores de trigo, a fim
de manter essa ilha sob sua tutela, antes que Roma se apoderasse dela. A ameaça cartaginesa, entretanto,
gerou a grande crise que se iniciou em 264aC.
Cartago, rica por seu comércio, dispondo de uma frota poderosa e dona das três grandes ilhas
itálicas, foi o inimigo mais terrível que Roma teve em toda a sua história. A primeira guerra Púnica durou
cerca de vinte e três anos (264-241aC) e se desenrolou quase toda na Sicília. Os romanos alcançaram em
terra sucessivos êxitos nos anos iniciais do conflito, ocupando uma série de praças fortes inimigas, como
os cartagineses, donos do mar, reconquistavam facilmente as cidades costeiras, bem cedo os romanos
compreenderam que era impossível conquistar e conservar a Sicília, a costa e as cidades contra a frota
cartaginesa, sem terem navios para se opor.
Sendo uma ilha o pivô da disputa, a guerra a se travar tinha que ser marítima; e Cartago tinha a
vantagem. Com sua poderosa e adestrada marinha, os cartagineses punham sua capital a salvo das investidas
romanas, enquanto interditavam o comércio marítimo de Roma e pilhavam suas costas. Não restava aos
romanos outra alternativa. A serem fragorosamente derrotados por Cartago, tinham que se transformar em
nação marítima! Era o grande e grave desafio que a guerra trazia aos latinos.
Uma galera cartaginesa naufragada na costa romana serviu de modelo a copiar30, e as encostas dos
montes Apeninos forneceram a madeira necessária. Sessenta dias foram suficientes para serem construído
cento e trinta navios de madeira verde e as guarnições serem treinadas na manobra.
A fim de neutralizar a habilidade superior dos adversários, foram inventados os "corvos", espécie
de pontes com grampos que prendiam um navio ao outro, os quais reduziam a luta a combates corpo a corpo
como em terra firme.
Assim se conta a história miraculosa, mas é mais provável que os romanos também tenham recebido
uma esquadra de Hieron, poderoso no mar e desejoso de conservar seus domínios na Sicília. Seja como for,
o Cônsul Duílio alcançou perto de Lipari a primeira vitória marítima. Feriram-se nos anos seguintes várias
batalhas navais, tais como as de Mile, Cnemo, Trepano e Egatas, em que a vitória favoreceu em geral aos
romanos. Segundo os historiadores antigos, em alguns desses encontros havia mais de trezentos navios
combatendo de cada lado e ambas as facções sofreram perdas prodigiosas. Durante a Primeira Guerra
Púnica – só do lado romano, não menos de setecentas quinquirremes teriam sido afundadas, quer em
batalhas, quer em tempestades.
Foi assim que, realizando talvez a melhor obra de toda a sua grandiosa história, o povo romano,
eminentemente ligado a terra, dedicado à agricultura e à vida pastoril, criou uma forca naval, tão bem
organizada, armada e comandada, que conquistou, em pouco tempo, o domínio do mar da Sicília e obrigou
Aníbal (na Segunda Guerra Púnica) a dar a longa volta pela Espanha e pela Gália para chegar à Itália.
No fim da Primeira Guerra Púnica, Roma procurou instalar-se por sua vez no além-mar. A política
econômica do Estado romano afastou-se do seu fim tradicional e adotou novas diretrizes. Com essa guerra
começou uma nova história de Roma e do mundo, sobretudo porque acarretou na Itália o aparecimento da
era mercantil na antiga sociedade agrícola, aristocrática e guerreira. Com a conquista da Sicília, o comércio
dessa ilha, pelo qual muito azeite e cereais eram exportados, passou dos cartagineses para os mercadores
italianos e romanos, lhes aumentado o número e a riqueza.
A aristocracia romana, que não tinha até então desejado possuir senão terras, começou também a
imitar a nobreza cartaginesa que ela havia vencido e que se compunha de negociantes.

30
Os navios da Antiguidade eram feitos de peças únicas, como quebra-cabeças. Isso trazia vantagens, como a facilidade em se
padronizar formas e tamanhos, mas também a desvantagem da fragilidade das embarcações e a possibilidade de serem copiadas
pelos inimigos.
Módulo 1 - 20 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Também ela começou a tentar especulações, a colocar no mar pequenas flotilhas, a fazer negócios
com as exportações da Sicília e a viver no luxo. Muitos romanos que tinham visitado os países estrangeiros
como soldados ou fornecedores dos exércitos e que tinham avaliado suas possibilidades, foram induzidos
ao comércio pela abundância de capital, pelo consumo crescente de produtos asiáticos na Itália e pelo poder
de Roma no Mediterrâneo. Muitos deles venderam os campos de seus pais e compraram um navio.
Construíram-se muitos pequenos estaleiros na costa italiana, e as florestas públicas da Sila, de onde se
retirava a resina para os navios, foram alugadas por grandes somas. Não houve membro da nobreza
senatorial que não participasse dos ganhos do comércio marítimo, emprestando aos cidadãos romanos ou
aos libertos os capitais necessários às suas empresas; à expansão militar sucedeu a expansão mercantil.
Roma cessou de ser a capital de um povo essencialmente agrícola em que a riqueza era fundada
principalmente na propriedade rural e nos recursos agrícolas. Tornou-se a aglomeração tumultuosa onde a
indústria, o comércio, o tráfico e o dinheiro adquiriram uma importância antes desconhecida. Dessa lenta
decomposição de uma sociedade guerreira, agrícola e aristocrática, que havia começado quando Roma já
tinha conquistado a hegemonia militar no Mediterrâneo, nasceu o que se pode chamar o verdadeiro
imperialismo romano. Essa política foi inaugurada pela terceira declaração de guerra a Cartago (149aC) e
pela conquista da Macedônia e da Grécia. Após uma pérfida declaração de guerra, depois de vergonhosas
derrotas, depois de muitos esforços e de três anos de guerra, Cartago foi incendiada por Cipião Emiliano, e
seu comércio passou para as mãos dos mercadores romanos.
A vitória sobre Cartago fez Roma senhora do Mediterrâneo Ocidental. A conquista da Grécia, a
derrota dos soberanos orientais Antíocus, Mitridate e mais tarde Cleópatra asseguraram sua hegemonia nos
mares orientais. Entrementes, a profunda mudança operada na estrutura social e econômica da Itália colocou
a população na dependência estreita das comunicações marítimas.
Roma, entretanto, não encontrou logo a paz em seus domínios crescentes. O período de 133-131aC.
foi acidentado pela guerra civil, que agitou a República com problemas gerados pela sua própria expansão.
As estruturas romanas não resistiam mais às novas condições da imensidão de suas terras e da
multiplicidade de seus habitantes.
A cultura de cereais, a qual durante tanto tempo se tinham, sobretudo, consagrado os camponeses
italianos, caiu cada vez mais em decadência. Não sendo a produção local bastante copiosa para atender a
todas as exigências, foi necessário procurar fora do Lácio 31 o suprimento de farinha indispensável à
alimentação das cidades. A anexação ao Estado romano da Sicília, da Sardenha e, mais tarde, dos territórios
de Cartago, da Ásia Menor, e enfim do Egito favoreceu uma importação considerável de cereais feita
através dos portos da foz do rio Tibre. Calcula-se que nessa época Roma importasse 20 milhões de bushels32
de trigo do Egito e de outras partes da África.
Considerando que a viagem de Alexandria a Óstia levava em média 25 dias e que cada libúrnia
transportava no máximo 250 toneladas, bem se pode avaliar o número elevado de navios para atender a tal
importação. Após a destruição de Cartago Roma pôde acreditar estar senhora incontestável de toda a
extensão do mar Interior e foi apenas a grande república móvel dos piratas que pôs em atividade os
estaleiros navais. O surgimento do poderio dos piratas prova a que ponto Roma julgava-se segura em todas
as áreas do Mediterrâneo. Exagerando sua quietude, não vendo nenhum Estado cuja Marinha a pudesse
ameaçar, não tendo a considerar senão os corsários habituais, o Governo Senatorial de Roma tinha, por
incúria, deixado suas frotas ao abandono. Então os bandidos da Cilícia e da Fenícia entraram em ação,
pondo a saque numerosas cidades costeiras, aproveitando as ocasiões propiciadas por qualquer grave
conflito, como o da guerra contra Mitridate. Os piratas dispunham de arsenais, portos, vigias, remadores e
pilotos hábeis, além de navios de todas as espécies, tão bons quanto temíveis.
O comércio romano experimentou dificuldades crescentes. Em particular, os comboios de trigo, tão
indispensáveis à Itália, foram quase paralisados pela ação dos piratas. Face ao perigo, a Marinha romana
foi restaurada em regime de urgência, e Pompeu teve à sua disposição 500 navios, 120.000 homens, todos
os recursos do tesouro nacional, conforme sua solicitação, e até o Comando de todas as margens até 70 km
para o interior, a fim de combater os piratas nas suas bases. Uma guerra curta, mas violenta, libertou o
Mediterrâneo da ameaça pirata, permanecendo apenas remanescentes dos antigos ladrões dos mares em
regiões afastadas.

31
Em italiano Lazio, a região em torno da cidade de Roma.
32
Cerca de oito galões de medida para produtos secos, como grãos.
Módulo 1 - 21 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Na medida em que a expansão territorial prosseguia jovens generais se destacavam, tanto na arena
política quanto na militar. Em 60aC, o Senado elegeu uma verdadeira junta militar. O primeiro triunvirato
era formado pelos generais Júlio César, Pompeu e Crasso, que dividiram entre si os territórios controlados
por Roma. A morte de Crasso rompeu o equilíbrio, levando Pompeu e Júlio César ao choque armado na
disputa pelo poder, que resultou na vitória de César.
Nos anos que se seguiram, a Marinha romana desempenhou papel saliente nos acontecimentos. Em
todas as guerras civis do fim da República, a vitória pertenceu aos que se deslocavam mais facilmente e
mais rapidamente de um extremo ao outro do Mediterrâneo. Foi essa uma das grandes vantagens com que
contou César. A posse de forças navais importantes permitiu ao Sexto Pompeu realizar operações perigosas
contra o Triunvirato, mesmo próximo à Itália, as quais só não foram decisivas devido à perseverança de
Otávio e aos talentos de Agripa.
Proclamando-se ditador vitalício, centralizando todo o poder político em suas mãos e, portanto,
enfraquecendo o Senado, Júlio César acabou sendo vítima de uma conspiração da elite e foi assassinado
nas escadarias do próprio edifício do Senado. Sua morte causou profunda comoção popular e o retorno das
lutas civis, que só foram acalmadas com o surgimento de um segundo triunvirato. Seus membros, Marco
Antônio, Otávio e Lépido, oficiais do exército, logo também entraram em conflito entre si.
Enfim, a luta suprema que presidiu e fundou o regime imperial foi decidida em uma batalha no mar,
a que se realizou em Ácio ou Actium, entre as esquadras de Otávio, comandadas por Agripa, e de Antônio,
que contava com a participação de Cleópatra e de navios egípcios. Em 31 aC. Otávio conseguiu derrotar
seus rivais, recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão) e Imperator (o supremo),
arrogando para si o título de Augustus (divino). Concentrando os poderes em suas mãos e realizando uma
série de reformas. Otávio inaugurou o Império Romano.
O período que se estende da fundação da República, em 509 aC, ao estabelecimento do Principado,
em 27 aC, presenciou a transformação do Estado romano em um império, ou seja, a passagem de Roma de
uma pólis clássica para uma cosmópolis. O mundo romano ao longo desses processos vivenciou uma série
de mudanças relacionadas aos processos de contato com as comunidades vizinhas, com a expansão da
intervenção romana nas distintas comunidades, revoltas, guerras de conquista e, por fim, a anexação
territorial. Em temporalidades distintas e ao longo dessas etapas, a Itália e as terras banhadas pelo mar
Mediterrâneo e pelo oceano Atlântico foram dominadas e anexadas.
Augusto não fechou os olhos às lições dos acontecimentos. Logo que outros cuidados o permitiram,
estabeleceu esquadras permanentes, tanto para consolidar seu poder como para garantir os comboios de
trigo necessários à alimentação da Itália. Na época de Augusto, as principais esquadras romanas tinham
base em Ravenna e Misenum. Havia, além do mais, espalhados pelo Império, esquadrões em Fórum Julei,
Bocas do Orontes, Alexandria, Parpathus (entre Creta e Rodes), Aquiléia (mar Adriático), no mar Negro e
na Grã-Bretanha. Flotilhas fluviais estacionavam no Reno, no Danúbio e até no Eufrates. Devido aos
duradouros distúrbios civis, a pirataria tornou-se uma atividade esporádica; muitos desses bandidos,
dálmatas ou sicilianos, alistaram-se no serviço do Império, e a segurança do mar foi restabelecida e não foi
perturbada durante dois séculos, salvo em certas partes do Euxino (mar Negro), onde Roma tinha poucos
interesses.
O controle do Mediterrâneo (Mare Nostrum, como passou a ser chamado pelos romanos após a
abertura feita a partir da destituição de Cartago) permitiu a Roma dispor durante séculos de uma grande
rota central entre suas províncias e, transportando suas legiões por essa via, realizar concentrações de forças,
rápidas para a época, nos pontos mais importantes. As rotas marítimas favoreceram os deslocamentos
estratégicos, que por seu turno asseguravam a grandeza e o poderio de Roma. Foi o período da Pax Romana,
um período onde Roma realmente esteve acima das outras nações.
Os estudos da área atlântica do Império Romano têm crescido nos últimos anos em decorrência das
abordagens interdisciplinares marcadas pelo diálogo entre a história e a arqueologia. Especificamente para
o tema deste artigo, deve ser ressaltada a contribuição da arqueologia náutica e subaquática.
No tocante à península Ibérica, a conquista romana começou com a Segunda Guerra Púnica (218-
202 aC). Em 206 o exército cartaginês na Ibéria é vencido por Cipião e Gadir (Cádis), principal port-of-
trade cartaginês, e forçado a capitular. Ressaltamos que esse porto, fundado pelos fenícios em 1100 aC, foi
uma das áreas de contato mais significativas da história da Europa, diante de sua posição estratégica para o
escoamento da produção agrícola e piscícola do vale do Guadalquivir e para o controle do estreito de
Gibraltar. Atuava como um centro de conexão marítima do Sul e do noroeste peninsular com as rotas
Módulo 1 - 22 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
comerciais mediterrâneas e atlânticas. Esse porto estava diretamente conectado com o suprimento da
Britânia, por meio do oceano Atlântico e do mar Mediterrâneo, com o abastecimento de Roma.
O primeiro choque entre romanos e lusitanos foi em 194 aC, na região da Beira interior, cujo
acirramento é representado pelas campanhas, entre 147 e 140, contra Viriato, líder de um exército formado
talvez por uma confederação de tribos. Na guerra contra Viriato os romanos usaram duas táticas, uma por
terra, através da região das atuais províncias de Badajós e Cáceres, e outra por mar, pela costa do Algarve.
Foi a primeira vez que os romanos se aventuraram pelo Atlântico.21 Em 140 aC foi negociada uma trégua
e o próprio Viriato, para garantir a independência das suas terras, assinou um tratado de paz com os romanos
e passou a ser considerado amicus populi romani. Isso não impediu que um ano depois o governador da
Hispania Ulterior, Q. Servílio Cepião, rompesse a paz e Viriato fosse assassinado. Após Viriato, a
capacidade de resistência armada dos lusitanos foi bastante reduzida e o seu território foi anexado à
província da Hispania Ulterior. Logo após houve um longo período de relativa paz, até que, a região da
Lusitânia foi incluída nas questões dos conflitos civis de Roma à época do Primeiro Triunvirato devido ao
domínio de Júlio César na Península Ibérica e de ser a região grande produtora de azeite e vinho que era
facilmente comercializada a partir dos rios da região, como o Tejo e Guadalquivir. Essa junção fluvial com
o mar permitiu a conexão dos dois sistemas, o atlântico e o continental que tinha estradas ligando as
principais cidades.
A partir do século III da era cristã, a civilização romana entra em crise, caracterizando assim o Baixo
Império. A expansão territorial, base de toda a riqueza e estabilidade política e social do império, foi-se
esgotando. Esse esgotamento ocorreu em virtude, entre outras coisas, da própria dimensão territorial
alcançada, da pressão dos povos dominados e vizinhos, e da distância, custos e inviabilidade de novas
anexações, na medida em que surgiam obstáculos naturais detendo os romanos, desde os desertos da África
e do Oriente Médio até as florestas do Europa Central.
A interrupção da expansão territorial para a manutenção e o fortalecimento das fronteiras levou à
escassez de mão-de-obra. Na medida em que novos escravos não eram capturados, entrou em crise a
economia escravista romana. Ao mesmo tempo os custos das estruturas imperiais, como as militares e
administrativas, continuavam exaurindo o poderio romano, reativando disputas entre chefes militares e
acelerando a crise imperial. Paralelamente, crescia em meio à população cativa a adesão a uma nova crença:
o cristianismo, que surgira durante o governo de Otávio Augusto e logo passou a se expandir dentro das
fronteiras do império.
O espiritualismo cristão, isto é, a crença na vida após a morte, chocava-se com a tradicional religião
romana - inspirada na grega -, essencialmente prática e ligada à obtenção de vantagens concretas e
imediatas.
Para os escravos, o espiritualismo cristão e seu caráter ético era consolador e carregado de
esperanças: para os bons cristãos, uma vida melhor após a morte (no paraíso) e, para os maus ou para os
pagãos, o contrário (uma vida eterna no inferno). Em última análise, o cristianismo oferecia para os escravos
uma alternativa, ainda que após a morte. Sendo universal, contrária à violência, rejeitando a divindade do
imperador, bem como a estrutura hierarquizada e militarizada do império, a nova religião passou a ter um
caráter subversivo para a estrutura política romana. Na medida em que o colapso econômico rondava o
império criando miséria, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo, que era a única religião
a oferecer vantagens após a morte, diante da falta de perspectivas.
Em meio à decadência, o Estado romano passou a intervir cada vez mais na vida econômica e social,
tratava-se de salvar o Império, e, nesse processo, destacam-se os imperadores:
Diocleciano (284-305): criou o Édito Máximo, fixando os preços das mercadorias e salários, numa
tentativa de combater a crescente inflação. Não teve sucesso, tendo gerado apenas problemas de
abastecimento. Do ponto de vista administrativo, criou a tetrarquia, dividindo o império entre quatro
generais.
Constantino (313-337): por meio do Édito de Milão, declarou a liberdade de culto aos cristãos,
encerrando a violenta perseguição que lhes era impingida. Estabeleceu também uma segunda capital para
o império, em Constantinopla, a leste e junto ao mar Negro, numa parte do império menos atingida pela
crise do escravismo.
Teodósio (378-395): transformou o cristianismo em religião oficial do império (Édito de
Tessalônica), nomeando-se chefe da religião organizada. Dividiu o Império Romano em duas partes: do
Ocidente (com capital em Roma) e do Oriente (com capital em Constantinopla).
Módulo 1 - 23 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
No governo de Teodósio, um novo problema agravou a situação já caótica de Roma: a intensificação
da penetração dos bárbaros. Inicialmente recebidos no império como trabalhadores agrícolas, muitas vezes
arrendando vastas extensões de terras antes cultivadas por escravos, a entrada dos bárbaros no império logo
se transformou em invasão. De fato, no ano de 476, os hérulos invadiram e saquearam a cidade de Roma,
derrubando o último imperador, Rômulo Augusto, e decretando o fim do Império Romano, ao menos em
sua parte ocidental.
As invasões bárbaras, contudo, longe de serem a causa única da queda do império, foram mais um
sintoma de sua crescente debilidade. Na realidade, o império, enfraquecido economicamente pela crise do
escravismo, por sua vez acelerada pela expansão do cristianismo, não teve condições de se defender de
ataques externos.
Durante todo o decurso das guerras da República e do Império, a possibilidade de apoio marítimo
constituiu um fator de segurança e de recursos importantes, enquanto as dificuldades eram maiores nas
regiões periféricas afastadas das costas, onde as comunicações eram mais penosas e vulneráveis.
A evolução de Roma tal como a do Egito, mostra a importância crescente do Mediterrâneo na
história de um povo que se desenvolveu originalmente longe dos mares, mas que por fim ficou na estreita
dependência, sob o ponto de vista econômico, militar e político, das rotas marítimas.

Linha do Tempo (principais fatos da Antiguidade):


Batalha Naval de
Artemisium e de Salamina
Invenção do Corvo Início da
Idade Média

~4000aC 490-480aC 413 e 405aC 264 a 146aC 31aC 476


∞]------│------------------------│------------------│------------------│--------------------│--------------------│---->
Escrita Guerras Guerra do Guerras Instauração do Queda de
Início da história Medas Peloponeso Púnicas Império Romano Roma Oc.

Batalha Naval
Eventos de Siracusa de Ácio ou Actium
e Egos Potamus

Módulo 1 - 24 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

CAPÍTULO II

A IDADE MÉDIA

1) O que é Idade Média:

Médio é uma palavra que usamos para designar algo que está no meio, que exprime uma posição
intermediária entre um ponto e outro. Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, a Idade
Média estaria no meio da história, entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. Assim, o período de
aproximadamente mil anos que vai convencionalmente da queda de Roma (Império Romano do Ocidente),
após a ocupação pelos hérulos em 476, até a tomada de Constantinopla (Império Romano do Oriente) pelos
turco-otomanos em 1453, foi chamado de Idade Média.
Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e
científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período anterior e a recuperação de outros
inspirados na Grécia e Roma antigas. Estes movimentos receberam o nome de Renascimento, exibindo a
ideia embutida de que na Idade Média a ciência e as artes haviam praticamente sucumbido sob a força do
dogmatismo religioso.
Os renascentistas foram geralmente vistos como continuadores dos ideais científicos, artísticos e
estéticos das civilizações clássicas. Era como se houvesse um grande intervalo entre os antigos gregos e
romanos e os renascentistas de então. Esse intervalo, esse "meio", sob o prisma de um único processo de
avanço da humanidade, acabou recebendo o nome de Idade Média.
Da mesma maneira que não se pode considerar aceitável a ideia de que entre 476 e 1453 o mundo
ficou coberto por um manto de trevas culturais, também é distorcida a ideia de que todo o mundo teria
passado pelas mesmas situações que a Europa. É preciso lembrar que a Idade Média é uma periodização
que está circunscrita ao continente europeu e não a toda humanidade.

2) O Império Bizantino:

O colapso do Império Romano do Ocidente não foi acompanhado no Oriente. Pelo contrário, o
império estabelecido em Constantinopla sobreviveu às invasões bárbaras e perduraria por todo o período
medieval. A partir da cidade de Constantinopla (a antiga Bizâncio dos gregos, hoje Istambul na Turquia) o
império Romano do Oriente desenvolveu um amplo comércio e detinha uma rica agricultura, obtinha lucros
nas suas relações com o Ocidente e foi menos atingido pela crise do escravismo.
Em termos políticos, a autoridade máxima do Império Bizantino era o imperador, ao mesmo tempo
chefe do exército e da Igreja. Era auxiliado por vasta burocracia, elemento central das estruturas políticas
imperiais.
O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565dC), responsável pela temporária
reconquista de grande parte do Império Romano do Ocidente, incluindo a própria cidade de Roma. Seu
maior legado, na verdade, foi a compilação das leis romanas do século II, o Corpus Júris Civilis (Corpo do
Módulo 1 - 25 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Direito Civil), uma revisão e atualização do direito romano que serviu de base para os códigos civis de
diversas nações na atualidade. O Codex Justinianus foi redigido por uma comissão de dez juristas e era
composto das constituições imperiais, da compilação de normas jurídicas (chamada Digesto ou Pandectas),
de um resumo para os estudantes de direito (chamado Institutas) e de novas leis para solucionar
controvérsias jurídicas (chamadas Novelas ou Autênticas).
Além disso, Justiniano procedeu à construção da catedral de Santa Sofia, monumento arquitetônico
no estilo bizantino, voltado para a expressão da fé cristã, com suas abóbadas e mosaicos.
No auge do governo Justiniano, no século VI, seguiu-se um longo período de decadência, com
alguns poucos intervalos de recuperação, culminando, no final, na queda definitiva do Império Bizantino
em 1453, quando os turco-otomanos tomaram Constantinopla. Dos séculos VI ao VIII, sucederam-se
crescentes pressões nas fronteiras orientais do Império Bizantino, bem como sobre seus domínios no
Ocidente, acentuando os gastos com guerras e as dificuldades econômicas e administrativas, num
progressivo encolhimento do território imperial.
Durante a Baixa Idade Média (séculos X ao XV), além das pressões de povos e impérios nas suas
fronteiras orientais e perdas de territórios, o Império Bizantino foi alvo da retomada expansionista ocidental,
a exemplo das Cruzadas (especialmente da quarta cruzada, como veremos). O predomínio econômico das
cidades italianas naquele momento de avanço ocidental ampliou o enfraquecimento bizantino. Com a
expansão dos turco-otomanos no século XIV, tomando os Bálcãs e a Ásia Menor, o império acabou
reduzido à cidade de Constantinopla. Com a queda em 1453, os turcos transformaram-na em sua capital,
passando a chamá-la Istambul, como é conhecida até hoje.
O cristianismo predominou na parte oriental do império, embora tenha se desenvolvido de forma
peculiar em comparação ao Ocidente. Em Istambul, manteve-se muito da estrutura governamental herdada
de Roma e, pouco a pouco, o imperador passou a ser considerado também o principal chefe da Igreja.
Enquanto isso, no Ocidente, em meio à crise final do Baixo Império, o bispo de Roma, com apoio do
imperador, era elevado à chefia de toda a Igreja (455), tornando-se o primeiro papa da cristandade com o
nome de Leão I.
Contudo, apesar de preservar as tradições jurídicas e administrativas romanas, os bizantinos
sofreram clara influência helênica. Adotaram o grego como idioma oficial no século III, mantiveram
contato constante com povos asiáticos, além de vivenciarem a invasão persa e o posterior assédio árabe.
Esses elementos imprimiram-lhes certas características, como o desprezo por imagens - de Cristo,
da Virgem ou de santos, denominados ícones -, que levaria os bizantinos a um movimento de destruição
conhecido por iconoclastia. Questionando os dogmas cristãos pregados pelo clero que seguia o papa de
Roma, deram origem a algumas heresias (correntes doutrinárias discordantes da interpretação cristã
tradicional).
Tal panorama de tensões, alimentadas pelas diferenças entre Oriente e Ocidente, e as inevitáveis
disputas pelo poder entre o papa e o imperador culminaram na divisão da igreja, em 1054, criando uma
cristandade oriental, chefiada pelo imperador e sediada em Constantinopla (Igreja Ortodoxa), e uma
ocidental, sob o comando do papa, sediada em Roma (Igreja Católica Apostólica). Esse episódio recebeu o
nome de Cisma do Oriente e consolidou as diferenças entre tradições e forma de organização do culto de
cada uma das igrejas.

3) O Império Árabe:

A península Arábica apresenta-se com o uma região desértica e com poucas áreas propícias ao
estabelecimento de núcleos de povoamento permanente (oásis e partes litorâneas). Seus primeiros
habitantes foram tribos de nômades do deserto, os beduínos.
Por volta do século VI, mais de 300 tribos de origem semita habitavam a região, incluindo as tribos
urbanas, que ocupavam a faixa costeira do mar Vermelho e do sul da península, de melhores condições
climáticas e maior fertilidade do solo. Concentravam-se principalmente em Meca, sua principal cidade, e
na cidade de Iatreb.
A importância de Meca era decorrente de seu valor comercial e religioso, uma vez que lá se encontra
a Caaba, santuário em que se depositavam as imagens dos diversos ídolos representando os deuses das

Módulo 1 - 26 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
tribos árabes (hoje a Caaba tem outra representação). A tribo dos coraixitas possuía grande poder e prestígio
e controlava a cidade de Meca.
Nascido em 570 e membro da tribo coraixita, apesar de oriundo de família humilde, Maomé passou
a pregar uma nova fé após anos de meditação e peregrinação. Reunindo elementos judaicos e cristãos no
Corão, livro sagrado escrito após a morte do profeta, o islamismo pregava a existência de um deus único,
Alá (aos mesmos moldes do Cristianismo – Deus – e do Judaísmo – Javé).
Maomé condenava a peregrinação das tribos até Meca para idolatrar os vários deuses (politeísmo)
representados na Caaba (tenda central usada como uma espécie de santuário ou altar). Sentindo-se
ameaçados, os coraixitas repudiaram a nova religião e expulsaram Maomé e seus seguidores para a cidade
vizinha de Iatreb (que teve seu nome mudado para Medina, que quer dizer “a cidade do profeta"). Essa fuga
caracterizou a Hégira, em 622, que deu início ao calendário muçulmano.
Bem recebido em Iatreb, o profeta conseguiu o apoio dos comerciantes locais e a ajuda dos beduínos
como soldados para conquistar Meca. Em pouco tempo, todos os povos árabes da península converteram-
se ao islamismo, o que os unificou.
Após a morte do profeta, em 632, a expansão religiosa prosseguiu, agora no contexto da djihad
(guerra santa), visando a conversão dos infiéis, ou seja, daqueles que não seguem o islamismo (corrente
filosófica do Islã). Nesse momento o poder passou para as mãos dos califas, herdeiros de Maomé, agora
chefes religiosos e políticos.
O Império Islâmico que se formava avançou primeiramente sobre os vizinhos territórios bizantinos
e persas. Durante a dinastia Omíada (661-750), contudo, os árabes avançaram também para o Ocidente,
tomando o norte da África e chegando à península Ibérica. O avanço árabe em direção à Europa Ocidental
só foi barrado na batalha de Poitiers (732), quando árabes e francos enfrentaram-se.
Contidos a oeste, não desistiram os árabes de tentar o prosseguimento de sua expansão a leste, onde
um grande obstáculo se opunha a seus propósitos: a cidade de Constantinopla, baluarte do Império Romano
do Oriente. Nas lutas pela conquista de Constantinopla, são vistas grandes campanhas navais decisivas na
sorte da Europa Oriental. Diversas investidas fizeram os maometanos por mar e por terra, até que a invenção
do fogo grego33, aparecido em 677, no quarto ano de sítio que sofria a capital oriental, permitiu ao
Imperador Constantino IV, conhecendo as possibilidades da nova arma, empregá-la com pleno êxito contra
seus inimigos, destruindo a esquadra árabe junto ao mar de Mármara.
Sitiada ainda diversas vezes no correr dos séculos seguintes por árabes e turcos, Constantinopla
sustentou a luta e permaneceu fora do alcance dos estrangeiros que pretendiam dominá-la.
Ela, contudo, que salvara a civilização cristã do Ocidente, obstando o avanço de seus inimigos, veio
a ser, por ironia da História, pilhada barbaramente pela quarta cruzada (cristã), de 1204. Finalmente, fraca
em terra e no mar, Constantinopla caiu em mãos dos turcos, em 1453.
A unidade do império foi quebrada sob a dinastia Abássida, que substituiu a Omíada em 750,
possibilitando o advento de califados independentes, sediados em grandes cidades como Bagdá (Iraque),
Córdoba (Espanha) e Cairo (Egito).
A perda da unidade política foi acompanhada da desagregação religiosa, com o surgimento de duas
seitas principais: a dos sunitas e a dos xiitas. Os primeiros fundavam sua crença no Suna, livro que continha
os ditos e feitos de Maomé; acreditavam na livre escolha dos chefes políticos pela comunidade de crentes.
Os xiitas, por sua vez, defendiam que o poder político e religioso deveria concentrar-se nas mãos de uma
única pessoa, que descendesse do profeta Maomé, tornando absoluto o poder do Estado.
As ações dos povos árabes tiveram consequências muito além de seu próprio império. A expansão
pela bacia do Mediterrâneo, o controle que obtiveram sobre a região e as constantes incursões realizadas
no litoral sul da Europa intensificou na Europa Ocidental a decadência comercial e a ruralização.

33
O fogo grego era mistura altamente inflamável, que resistia até mesmo à ação da água e que aderia fortemente à madeira
das embarcações em que caía. Sua composição é desconhecida até hoje, mas parece que alcatrão e enxofre dela faziam parte,
assim como salitre, o que agregava oxigênio a mistura, fazendo-a arder até embaixo d’água.

Módulo 1 - 27 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
4) Os Reinos Bárbaros:

A queda de Roma em 476 marcou o fim do Império Romano do Ocidente e, para muitos
historiadores europeus e ocidentais, inaugurou a Idade Média. Na Europa Ocidental esse período foi
marcado pela consolidação do modo feudal de produção, em substituição ao escravismo greco-romano.
As invasões bárbaras, que marcaram o final do Império Romano, não se encerraram em 476, pelo
contrário, continuaram ocorrendo durante boa parte da Alta Idade Média. Desde o século VII, foram
seguidas pelas invasões dos árabes no sul e sudoeste, pelos vikings no Norte e outros povos vindos do Leste.
São as invasões e o estado de guerra constante na Europa que nos permitem compreender a estrutura
econômica e social do feudalismo.
O contato da Europa Ocidental com os povos invasores não só foi responsável pela derrubada do
Império Romano como também substituiu a unidade pela diversidade cultural. A fragmentação político-
cultural nos antigos domínios romanos acarretou o surgimento de vários reinos bárbaros, além da
substituição do latim pela mescla com outras línguas.
A ruralização passou a caracterizar a Europa medieval. De fato, desde o final do Império Romano,
as cidades vinham sendo abandonadas devido a invasões e saques. Por outro lado, a falta de mão-de-obra
escrava atraía vastos contingentes de trabalhadores para o campo. Sob a condição de servos nas terras que
lhes eram arrendadas, o movimento dessa população marcava a volta para uma economia rural de
subsistência.
Devido à instabilidade causada pelas guerras, com a concentração da população em comunidades
rurais isoladas, o comércio entrou em franca decadência, assim como a utilização de moedas. Com o intuito
de se protegerem da agressão externa, construíram-se residências fortificadas dos senhores e castelos, tendo
nas proximidades as comunidades rurais.
Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento do cristianismo, pouco a pouco se impondo à nova
sociedade em formação. Vários reinos bárbaros converteram-se à doutrina cristã, destacando-se entre eles
o dos francos.

5) O Reino Cristão dos Francos:

Desde o século II os francos vinham pressionando as fronteiras do Império Romano, até se


estabelecerem na região da Gália, atual França. O domínio sobre toda a Gália foi possível graças à
conversão ao cristianismo de Clóvis, neto do herói franco Meroveu, em 496. Contando com o apoio da
Igreja, Clóvis organizou o reino franco e consolidou a dinastia merovíngia.
A ideia de Estado e bem público desapareceu junto com o Império Romano, passando a terra a ser
distribuída entre o clero e a nobreza, como recompensa por serviços prestados. A figura do rei tornava-se,
assim, bastante frágil entre os francos, submetida ao poder dos proprietários de terra.
A pouca autoridade dos reis do período valeu-lhes o título de "reis indolentes", que tinham suas
funções normalmente delegadas ao “major domus”, espécie de primeiro-ministro. O mais importante deles
foi Carlos Martel, que comandou os francos na batalha de Poitiers (732), derrotando os árabes e
interrompendo sua expansão em direção ao centro do continente.
Em 751, o filho de Carlos Martel, Pepino “o Breve”, contando com o apoio papal, depôs o último
soberano merovíngio. Iniciou-se uma nova dinastia, a Carolíngia. Pelo apoio recebido, Pepino cedeu ao
papa grande extensão de terra no centro da península Itálica. Passando para a administração direta da Igreja,
sob o nome de Patrimônio de São Pedro, esse território constituiu o embrião do atual Estado do Vaticano.
Carlos Magno, filho de Pepino, assumiu o trono em 768, fundando o Império Carolíngio, período
de maior poder dos francos na Alta Idade Média. Além de doar as terras adquiridas nas guerras de conquista
à nobreza e ao clero, em troca de lealdade, dividiu o território sob seu controle em condados e marcas34.
Os administradores dessas áreas eram nomeados pelo imperador e fiscalizados por um corpo de
funcionários chamados missi dominici (emissários do senhor). Dessa forma, Carlos Magno podia controlar

34
É desse período que surge os títulos nobiliárquicos de marquês e conde, referentes aos nobres responsáveis pelos territórios
mais extremos do reino, os marcos do território, ou aos condados, regiões politicamente administradas pelo rei.
Módulo 1 - 28 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
um vasto território, fazendo valer as suas leis, as chamadas Capitulares, primeiras leis escritas do ocidente
medieval.
O título de imperador do novo Império Romano do Ocidente foi concedido a Carlos Magno pelo
papa Leão III no ano 800. O mandatário da Igreja via na ampliação do reino franco uma possibilidade de
expansão do cristianismo e o retorno à própria concepção de império, desaparecida desde a queda de Roma,
no qual o poder imperial seria o anteparo da Igreja. Carlos Magno foi responsável, portanto, por uma
experiência centralizadora durante a conturbada Alta Idade Média.
O êxito administrativo de Carlos Magno foi acompanhado por significativo desenvolvimento
cultural, estimulado pelo próprio imperador. O latim caíra em desuso com os povos germanos, e a língua
escrita entrara em decadência (Pepino era analfabeto e o próprio Carlos Magno limitava-se a rabiscar seu
nome).
Entretanto, o chamado Renascimento Carolíngio mudou esse quadro, ainda que temporariamente.
Escolas foram fundadas, o ensino estimulado e várias obras da Antiguidade greco-romana preservadas,
graças principalmente à atuação da Igreja, que logo teria quase o monopólio da cultura no continente
europeu.
O Império Carolíngio, porém, não sobreviveu à morte de Carlos Magno, em 814. Hordas invasoras
- vikings da Escandinávia, magiares do Leste europeu e novas incursões árabes a partir do Mediterrâneo,
aliadas às disputas sucessórias - levaram ao fim a efêmera unidade territorial.
Luís, o Piedoso, filho de Carlos Magno, herdou o império e o governou até 841. Seus filhos, pelo
tratado de Verdun (843), fizeram a partilha do império e aceleraram sua derrocada. Condes, marqueses e
outros nobres passaram a ter crescente importância, fortalecendo a tendência à descentralização.
Consolidava-se, nesse contexto, o feudalismo.

6) O Navio de Guerra Medieval:


Todas as lutas no mar durante a Idade Média eram realizadas a bordo de navios a remo. Na Alta
Idade Média35 um tipo de navio comumente empregado foi o drômon, palavra significando “navio rápido”
ou “navio corredor”. Tinha duas ordens de remos, conduzindo uma tripulação de cerca de 300 homens; “no
meio desse navio elevava-se um grande castelo construído com traves e com seteiras para os arqueiros. No
castelo de proa elevava-se uma espécie de pequena torre, talvez giratória, da qual, desde a invenção do fogo
grego, certos tubos, que eram uma espécie de canhões primitivos, lançavam uma substância inflamada sobre
os conveses do adversário. O drômon tinha dois mastros de velas latinas36 e 30 a 40 remos em cada bordo”.
Tanto os cristãos como os árabes combatiam com esse tipo de navio.
O navio a remos ainda foi amplamente usado no mar Mediterrâneo para fins militares. Depois da
invenção do canhão, este foi adaptado à proa das galeras, de modo a atingir o inimigo pela frente, durante
a aproximação das esquadras. De outra forma não podia ser, aliás, já que os bordos eram tomados pelos
remos, que compunham o aparelho propulsor dos navios.
Por ocasião das disputas entre a cristandade e os mouros, durante o século XVI, no mar
Mediterrâneo, deu-se a última grande ação entre navios de remos na história naval. Foi a Batalha de
Lepanto, travada em 1571, junto à península Helênica, que resultou em vitória para os cristãos, sem,
contudo, grande significação estratégica, já que não foi explorada devidamente. Embora reduzidos em sua
ameaça contra a Europa, os muçulmanos, ainda por muitos anos, mantiveram atividades predatórias que
fustigavam o comércio marítimo mediterrâneo.
O aparecimento da pólvora veio dar novas dimensões à guerra e criou na mente dos homens
pacíficos um grande temor, muito semelhante, guardada as devidas proporções, com o que hoje se observa
em relação às armas nucleares.
A pólvora já era conhecida dos chineses talvez desde a época em que viveu Cristo. Marco Polo
conta que viu belos fogos de artifício na China. Mas sabe-se que, pelo menos uma vez, os chineses
empregaram a pólvora na guerra, sob a forma de foguetes. Foram os árabes que transmitiram aos europeus
a fórmula da pólvora. As primeiras armas chamadas de fogo foram os canhões; só muito depois é que

35
Período que vai do século V ao X, onde todos os meios que caracterizam a Idade Média foram crescentes, como a fragmentação
territorial, social, cultural e econômica, levando ao surgimento de vários pequenos reinos rurais.
36
Velas Latinas, triangulares, diferentes das velas redondas que eram quadrangulares.
Módulo 1 - 29 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
surgiram as armas portáteis. Os foguetes que, como já vimos, foram anteriores aos canhões, só voltaram a
ter importância no século XX.
A invenção do canhão determinou profundas alterações na História e não apenas de caráter militar.
Contribuiu para o fim do feudalismo, já enfraquecido pelas cruzadas, em benefício do poder dos reis, porque
estes, apoiados pela burguesia, tinham mais recursos financeiros para comprar a nova arma. A arma de fogo
portátil, então, contribuiu sensivelmente para diminuir a desigualdade social, porque permitia que “qualquer
miserável plebeu abatesse o mais nobre dos cavaleiros”, como disse, horrorizado, um cronista da época. De
fato, o plebeu era o homem que lutava a pé e que pouca chance tinha no combate contra o nobre
pesadamente armado a cavalo, até então.
Na marinha, o canhão forçou lentamente o abandono do navio a remos que, embora mais manobreiro
que o navio a vela, não podia conduzir o mesmo número de canhões que este.

7) Guerra e Comércio na Idade Média:


Durante toda a Idade Média, o comércio marítimo intensificou-se no Mediterrâneo, tendo como
principais intermediários as cidades italianas, verdadeiras potências mercantis e financeiras da Europa. Elas
mantinham grandes frotas comerciais, realizando as trocas através de entendimentos com os árabes, já que
as mercadorias orientais, de grande aceitação na Europa, antes de chegarem às margens mediterrâneas
passavam pelas terras do Oriente. Mesmo após a descoberta da rota marítima para o Oriente, contornando
o continente africano, o comércio mediterrâneo se manteve, embora em declínio, constituindo grande
preocupação para Veneza e outras cidades italianas que o monopolizavam.
No Atlântico, os empreendimentos náuticos foram de caráter diverso. Durante a Idade Média já se
realizavam viagens costeiras entre o mar Mediterrâneo e o norte da Europa, com fins comerciais. A Guerra
dos Cem Anos ativou particularmente esse comércio marítimo, em face da conflagração nos territórios
continentais. A Inglaterra, sempre notável pela maneira de resolver seus problemas, apresentou um sistema
interessante para o emprego dos navios. Havia um acordo entre o rei e os armadores, pelo qual estes cediam
seus navios ao governo em caso de necessidade, para que servissem como navios de guerra. Para isso, os
navios mercantes sofriam uma pequena alteração. Na proa e na popa construíam-se armações de madeira,
no formato de torres, destinadas a abrigar os soldados embarcados caso o navio fosse abordado, para que
dali pudessem prosseguir no combate. Isso porque a tática naval da Idade Média, mesmo para navios a
pano, como era o caso dos que navegavam no Atlântico, era a abordagem. As manobras eram no sentido
de aproximar os navios para permitir essa abordagem.
O pouco poder ofensivo dos primitivos canhões impunha que essa arma fosse empregada contra o
homem e não contra o material, já que neste não faria dano considerável. Geralmente, a tripulação vencida
era jogada pela borda. Sendo fracos em seu poder ofensivo, esses canhões navais primitivos eram chamados
de mens killers, por só causarem dano forte nos homens. Só mais tarde, aperfeiçoando-se os canhões navais
e aumentando-se seus tamanho e poder, eles foram chamados de ship killers, porque danificavam os navios
fortemente. Com o tempo, verificou-se que as tais armações construídas na proa e na popa dos navios
mercantes, para abrigar soldados no caso de abordagem, eram úteis mesmo em tempo de paz, pois
facilitavam a defesa do navio contra piratas. Com isso, os navios mercantes passaram a manter essa
adaptação em caráter permanente. O que deu origem aos castelos de proa e de popa dos navios, que ainda
hoje se veem na arquitetura naval.
Essa integração entre marinha de guerra e marinha mercante foi significativa, pois não podemos
compreendê-las isoladamente. E a Inglaterra, que mais tarde dominou os mares, só organizou sua marinha
de guerra como força militar independente e regular no reinado de Henrique VIII (1509-1547), já no século
XVI. Daí em diante, sempre no interesse da expansão de seu comércio marítimo e de suas atividades
coloniais, os ingleses fizeram crescer proporcionalmente sua Royal Navy, até vê-la a maior e a mais
poderosa do mundo.

Módulo 1 - 30 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
8) A Civilização Viking:

Embora viking signifique guerreiro, os vikings eram povos das enseadas abundantes tanto
na Dinamarca, país de planícies arenosas, através das quais se desenhavam tortuosos canais marítimos,
como na Noruega, pátria dos “fiordes” (gargantas escarpadas que levam as ondas até o coração dos montes,
em alguns pontos por centenas de milhas).
Ao longo do curso sinuoso desses fiordes, um pedaço de terra fértil entre o precipício e o estuário
dava lugar a campos de trigo e a um grupo de casinhas de madeira. Próximo, uma encosta alcantilada trazia
a espessa floresta até a borda da água, atraindo o lenhador e o construtor de barcos.
Ao cimo de tudo, os cordões nus das montanhas erguiam-se até os campos gelados e os cumes
glaciais, dividindo os povoados dos fiordes uns dos outros, como pequeninos reinos, atrasando por séculos
a união política da Noruega e lançando os habitantes, intrépidos para o mar, em busca de alimento e de
fortuna.
Traficantes de peles, caçadores de baleias, pescadores, mercadores, piratas e ao mesmo tempo
assíduos cultivadores do solo, os escandinavos sempre foram um povo anfíbio. Desde a ocupação de sua
terra, em data indeterminada da Idade da Pedra, o mar fora sempre o seu caminho de povoado para povoado
e o único meio de comunicação com o mundo exterior. Até o fim do século VIII, a área da pirataria dos
vikings confinara-se principalmente às costas do mar Báltico. Tinham-se contentado eles em se saquearem
reciprocamente e aos vizinhos mais próximos, mas no tempo dos romanos já infestavam as costas da Gália
Belga (Bélgica) e da Bretanha (Inglaterra). Ao que consta, só na época de Carlos Magno começaram a
atravessar o oceano e a atacar os países cristãos do Ocidente. Foram necessários séculos de experiências e
sem dúvida inúmeros naufrágios para que os vikings aprendessem a conhecer as etapas e as épocas mais
favoráveis para a navegação. Pouco a pouco eles aprenderam a passar de ilha em ilha aproveitando o bom
tempo e a construir navios maiores.
Desde o fim do século VIII ou começo do IX, quando seus exércitos e suas frotas aumentaram em
número e em importância, as expedições vikings alongaram-se. Essas expedições regularizaram-se em
seguida, cada burgo fornecendo um número determinado de navios. O sucesso das primeiras expedições de
grande envergadura e o superpovoamento relativo do Norte contribuiu, assim, em grande medida, para
arrancar homens de seus lares, particularmente em certas regiões, como as Ilhas dinamarquesas, onde, por
força de lei, uma parte do povo devia emigrar desde que o superpovoamento se acentuasse.
A fome, depois de uma má colheita nesses climas inóspitos, por vezes, lançava povoados inteiros
em busca de novas terras, pois os homens do Norte sentiam a falta de águas piscosas e de terras abundantes
em caça. O “Caminho dos Cisnes”, como cantavam em suas canções, fornecia-lhes o que recusava a terra
mal cultivada ou estéril ou a pesca insuficiente para remediar a fome. Tornando-se mais audaciosos nas
suas navegações, empreenderam viagens que, mesmo depois da agulha magnética, foram apenas renovadas.
Foram três as rotas básicas escandinavas de imigração durante a era viking:
- Primeiro, a rota Oriental que penetrou no coração dos territórios eslavos foi seguida principalmente
pelos suecos, até Novgorod e Kiew, fundando o primeiro Estado russo e daí descendo pelo rio Dnieper
abaixo para atravessar o mar Negro e importunar as muralhas de Constantinopla.
As outras duas rotas desenhavam-se ao Ocidente:
- Havia a rota seguida principalmente pelos noruegueses, a qual poderemos chamar de linha exterior
ou Ocidental Externa: levava às mais aventurosas viagens marítimas, ao povoamento da Islândia e da
Groenlândia, à descoberta da América do Norte; conduzia às Orkneys, Caithness, Ross, Galloway e
Dunfries, onde grandes colônias escandinavas trouxeram o primeiro elemento nórdico à vida das Higlands
e do sudoeste da Escócia. Foram ainda os noruegueses que conquistaram as Hébridas, a oeste da Escócia,
e descobriram trinta e cinco ilhas que chamaram de Faroe. O Mainland e as quarenta e cinco ilhas que a
cercaram, ilhas famosas pela pesca do arenque, foram também descobertas pelos vikings. Por essa linha
exterior, vieram se estabelecer importantes colônias norueguesas em Cumberland, Westmoreland,
Lancashire, Cheshire e na costa da Gales do Sul. A Irlanda foi durante algum tempo invadida, e Dublin,
Cork, Limerick, Wicklow e Waterford foram fundadas como cidades dinamarquesas. Enquanto os suecos
dirigiam-se para a Rússia e para a Ásia, os noruegueses descobriam a rota para a Irlanda pelo norte da
Escócia e, mesmo fazendo escala na Groenlândia, foram até a América procurar peles.
- Os dinamarqueses tinham escolhida rota interior ou Ocidental Interna que, mais próxima de seu
país, conduzia às costas da Escócia, da Northumbria e da Neustria.
Módulo 1 - 31 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
É em 787 que pela primeira vez a crônica anglo-saxônica descreve a chegada à Inglaterra de três
navios de homens do Norte, vindos do país dos ladrões. A partir do ano de 793, as curtas notas anuais das
crônicas contêm, quase todas, referências a alguma incursão dos pagãos. Ora eles pilhavam um convento e
massacravam os monges, ora as hordas pagãs espalhavam a devastação entre os Northumbrios. Pouco a
pouco a importância das frotas inimigas cresceu. Em 851, pela primeira vez os pagãos passaram o inverno
na ilha de Thanet; no mesmo ano, trezentos de seus barcos vieram à embocadura do Tamisa, e suas
guarnições tomaram de assalto Cantuária e Londres.
Lentamente, durante cinquenta anos ou mais, antes que o movimento atinja seu zênite, toda a
Noruega e toda a Dinamarca despertam para a verdade de que não havia poder marítimo a defender as Ilhas
Britânicas ou o famoso Império Carolíngio, que os anglo-saxões e os francos eram gente terrestre e que os
irlandeses utilizavam pequenos barcos de couro. O mundo estava assim exposto ao poder marítimo viking.
Nos anos seguintes, os pagãos foram chamados por seu nome real, dinamarqueses, e as crônicas
referem-se aos movimentos dos exércitos, fortes, às vezes de dez mil homens. Bem equipados, bem
armados, muito hábeis em construir campos fortificados, obedecendo cegamente aos reis do mar, seus
chefes, os vikings, guarneciam, em grupos de sessenta a setenta homens, os seus navios de guerra de sólida
construção, as drakkas37, e desembarcavam em locais de onde pudessem enfrentar com êxito a reação dos
habitantes do país invadido. Foi assim que Noirmontiers tornou-se sua base no litoral da França, Thanet no
da Inglaterra e a ilha de Man no mar da Irlanda. Os que operavam na França vinham, sobretudo, da
Dinamarca, reunidos em pequenas flotilhas que perlongavam a costa. Subiam os rios, saqueavam as igrejas
e destruíam as cidades, ou para poupar o país, faziam-se pagar um resgate calculado em libras de prata. Os
primeiros bandos haviam aparecido antes dos fins do reinado de Carlos Magno, mas, depois dos meados
do século IX, esses invasores estabeleceram-se com suas famílias em campos entrincheirados junto à
embocadura dos rios, de onde em todas as primaveras partiam para agir no interior. Além da ilha
Noirmontiers, os normandos instalaram-se na foz do rio Sena e subiram o rio Garona, saqueando as cidades.
Até cerca de 860, entretanto, ocuparam na França apenas em pontos da costa e algumas ilhas, fazendo
ocasionalmente expedições de saque pelo interior. Depois, as expedições transformaram-se em verdadeiras
migrações. Nos anos seguintes, os normandos embrenharam-se pelo interior da França, devastando uma
enorme região e chegando mesmo a sitiar Paris em 886.
Os vikings que seguiam a linha exterior e os que seguiam a linha interior muitas vezes se cruzavam
no caminho. Encontravam-se dinamarqueses e noruegueses na Normandia, no sul da Irlanda e no norte da
Inglaterra, e ambos penetravam indiferentemente na Hispânia, no Mediterrâneo e no Levante.
Toda essa espantosa exploração, que tocou a costa norte-americana cinco séculos antes de Colombo,
esse habitual e quase diário desafio das tempestades da Costa Wratch e das Hébridas, foi levado a cabo em
longos barcos descobertos, impelidos a remos e manobrados pelos próprios guerreiros com o auxílio de
uma única vela.
A coragem e a perícia naval de marinheiros, que se aventuraram em tais barcos a empreender tais
viagens, nunca foram ultrapassadas na história marítima. Muitas vezes pagaram pela sua ousadia. O
Wessex, no tempo do rei Alfredo, salvou-se uma vez graças ao naufrágio de uma esquadra inteira, quando
uma tempestade lançou cento e vinte galés dinamarquesas contra os penhascos de Swanage.
Em quase todas as regiões em que dominaram pelas armas, os vikings acabaram assimilados pelas
populações vencidas. Na Grã-Bretanha, os dinamarqueses e noruegueses ou foram repelidos ou fundiram-
se com os anglo-saxões com o decorrer dos anos. Na Franca, não são bem conhecidas as circunstâncias
segundo as quais o rei dinamarquês Rollon obteve o território que veio a constituir o Ducado da Normandia.
Estabelecidos nos férteis campos da Franca, pouco a pouco os normandos perderam os hábitos violentos é
adotaram a língua e a cultura francesa.
Nos séculos que se seguiram, o espírito aventureiro dos descendentes dos vikings os levou a
participarem de muitas empresas guerreiras, tais como a conquista da Inglaterra em 1066 por Guilherme “o
Conquistador”, a expulsão dos árabes do sul da Itália e da Sicília, e as Cruzadas.

37
As embarcações vikings de comércio eram conhecidas como Knnors. Durante a história desse povo eles desenvolveram várias
embarcações, com características diferentes e próprias ao emprego a que se destinavam, no entanto, as embarcações clássicas,
as Drakkas ou Drakars, é que foram demonstradas nos épicos difundidos pelos cinemas no mundo.
Módulo 1 - 32 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Em poucas gerações, contudo, os normandos mudaram radicalmente seus hábitos antigos, e a
Normandia converteu-se numa região conhecida tanto pela excelência de seus rebanhos e de seus pomares
quanto pela fama de seus marinheiros e pescadores.
Em síntese, a história dos nórdicos é um flagrante exemplo da influência da geografia na evolução
de um povo. Talvez mais ainda que nas histórias grega e fenícia, a natureza especial das regiões
escandinavas explique a epopeia viking.

9) A Crise da Idade Média:

A estrutura econômica, social, política e cultural que predominou na Europa Ocidental durante a
Idade Média, em substituição ao escravismo greco-romano, foi chamada de feudalismo e caracterizou o
modo de produção do período. Lembrando que, dentro de certa visão de história (o materialismo histórico),
modo de produção significa a forma como se organiza a produção de riquezas numa sociedade, o que
implica um conjunto de relações econômicas, mas também sociais, políticas e culturais, intimamente
ligadas entre si e interferindo umas nas outras. Permite também, em linhas gerais, caracterizar um
determinado período histórico em uma dada região.
As transformações ocorridas no Império Romano do Ocidente, como o êxodo urbano e a ruralização
causados pela crise escravista, foram aceleradas com as invasões bárbaras, resultando na queda do império
em 476. A partir daí, e estendendo-se até o século X, sucedeu, então, um período marcado pelo predomínio
da vida rural e ausência ou severa redução do comércio no continente europeu, denominado Alta Idade
Média.
Só a partir do século XI, quando se iniciaram diversas mudanças significativas para a economia
feudal, é que as atividades baseadas no comércio e na vida em cidades, pouco a pouco, ganharam impulso.
Essas mudanças deram início ao período que chamamos de Baixa idade Média, o qual se estendeu até o
século XV. Ele é chamado de Baixa Idade Média por ter sido marcado pelo surgimento dos elementos que
desencadeariam a decadência do feudalismo.
As origens de tais mudanças encontram-se no esgotamento do sistema feudal, progressivamente
abalado pelas transformações em curso na Europa, sendo a principal delas o surto demográfico verificado
a partir dos séculos X e XI. De fato, a diminuição progressiva no ritmo das invasões, que caracterizaram
praticamente toda a Alta Idade Média, ofereceu a contrapartida de condições mais estáveis de vida, o que
provocou gradativo, mas significativo, aumento de população. Por volta do século X, estima-se que os
índices de natalidade superassem os de mortalidade em toda a Europa.
A expansão demográfica chocava-se com o imobilismo do sistema feudal, baseado em unidades
produtivas autossuficientes, comumente chamadas de feudos. Cada feudo produzia o bastante para o seu
próprio consumo e, devido às limitações técnicas predominantes, não ocorria o aumento de produtividade
necessário para satisfazer à crescente população.
Além da insegurança e das guerras, entre outros fatores, a servidão feudal não era motivadora de
intensa inovação tecnológica, já que aumentar a produção não implicava participar dos frutos (lucros). Na
estrutura feudal o aumento da produtividade quase sempre significava acréscimo na tributação, inibindo o
empenho por uma produtividade maior. Finalmente, o próprio isolamento de cada feudo fazia com que
eventuais progressos técnicos tivessem maior dificuldade de transpor sua própria região.
Alguns setores artesanais, entretanto, sustentaram-se e desenvolveram-se no período, trabalhando
para a nobreza e o alto clero: armeiros, que serviam aos nobres guerreiros, ourives, pintores e construtores,
que trabalhavam na edificação de catedrais e castelos, etc.
Algumas inovações técnicas aplicadas aos trabalhos agrícolas, ainda assim, foram observadas no
período, como a utilização dos arados de ferro no lugar dos de madeira, mais fracos e menos eficientes, e o
aperfeiçoamento de moinhos hidráulicos. Buscou-se ainda expandir as terras cultivadas com o aterramento
de pântanos e a derrubada de florestas. A população, no entanto, continuava a crescer em ritmo mais
acelerado que o da produção.
Na medida em que o sistema como um todo não podia mais sustentar o excedente populacional,
muitos acabaram sendo marginalizados e expulsos dos feudos. A marginalização social atingiu não apenas
servos como também senhores. Nobres sem-terra, vítimas do direito de primogenitura, que dava apenas ao

Módulo 1 - 33 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
filho mais velho as terras e os títulos paternos, vagavam pela Europa, como cavaleiros andantes 38.
Ofereciam seus préstimos militares a outros senhores em troca de terras ou de rendas, derivadas da cobrança
de pedágios em estradas e pontes, por exemplo.
Muito mais numerosos e igualmente excluídos, os servos buscavam sobreviver ocultando-se em
bosques e reocupando antigos centros urbanos abandonados. Quando encontrados, eram perseguidos pelos
nobres, que não os admitiam em suas terras saturadas.
Nesse contexto, assiste-se na Baixa Idade Média (período que vai do século X ao século XV) a um
crescente expansionismo: o chamado “Drang Nach Osten”, isto é, a expansão germânica em que cavaleiros
alemães (teutônicos), sob o pretexto da propagação do cristianismo, dirigiram-se para o Oriente, para a
atual Rússia, subjugando a região báltica, a reconquista cristã dos territórios tomados pelos árabes na
península Ibérica e o movimento cruzadista, que contou com a participação de inúmeros cavaleiros de toda
a Europa. Era a conquista de novas terras e riquezas para fazer frente ao quadro de dificuldades que marcava
os primeiros séculos da Baixa Idade Média.

10) O Movimento Cruzadista:

As cruzadas foram expedições principalmente militares, organizadas pela Igreja Católica de Roma,
com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano. Houve também
interesses econômicos de cidades-estados como Gênova e Veneza na obtenção de mercados fornecedores
e consumidores dos produtos comercializados pela oligarquia e interesses espirituais de uma imensa massa
de pessoas que realmente acreditavam estar cumprindo as ordens de Deus.
Esse avanço já era desejado pelos imperadores bizantinos, que esperavam o auxílio do Ocidente no
combate a vários povos vizinhos orientais, especialmente os turcos seljúcidas.
Esse povo, organizado pela dinastia turca seljúcida (do fundador Seldjuk), nos séculos XI-XIII,
tinha no islamismo e na união das tribos sua força expansionista. De Bagdá, conquistada em 1055, dirigia-
se para a Ásia Menor, ameaçando o reduto cristão bizantino. No século XIII, ganhou força a nova dinastia
turca dos otomanos que no século XIV lideraria novo processo expansionista na região.
A Igreja católica passou a organizar as expedições militares, com o objetivo, inclusive, de projetar
sua influência no território bizantino, dominado pela Igreja ortodoxa, que era a Igreja bizantina criada com
o Cisma do Oriente, em 1054, e independente do papa de Roma.
Os milhares de indivíduos de alguma maneira excluídos da estrutura social feudal foram
fundamentais na montagem dessas expedições. A espinha dorsal dos exércitos cruzados era formada por
cavaleiros sem-terra, enquanto o grosso das tropas a pé era constituído por antigos servos. Além disso,
milhares de pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, dispunham-se a seguir os cruzados e fazer a
peregrinação aos locais sagrados quando fossem libertados.
Outros interesses em jogo envolviam o comércio, atividade até então secundária, mas crescente em
importância em meio ao surto demográfico a que a Europa assistia. Negociantes italianos passaram a se
interessar por entrepostos e vantagens na busca de produtos orientais e pela possibilidade de abertura do
mar Mediterrâneo ao comércio.
Em 1095, o papa Urbano II pronunciou um inflamado discurso no Concílio de Clermont,
conclamando os cristãos a ingressarem nas expedições cruzadistas rumo ao Oriente. Do século XI ao XIII,
partiram da Europa cristã oito expedições39:
- Primeira cruzada (1096-1099): chamada de Cruzada dos Nobres, chegou a conquistar Jerusalém e
a organizar na região um reino em moldes feudais (Houve uma cruzada anterior a esta que, enquanto os
exércitos se preparam para a jornada, uma horda de pessoas humildes partiu na frente, sendo conhecidos
como cruzada dos mendigos ou dos fiéis, em alusão a crença que a pobreza levaria o crente ao reino dos
céus).

38
O mito desses cavaleiros é que gerou histórias como de Dom Quixote de La Mancha e Robin Hood, nobres de origem,
mantendo atitudes nobres e puras, mas marginalizados no crime ou na mendicância.
39
O número de expedições e a classificação muda conforme o contexto em que são analisadas por um historiador, podendo variar
conforme o foco em que é estudada.
Módulo 1 - 34 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
- Segunda cruzada (1147-1149): foi organizada após a reconquista turca de Jerusalém, mas
fracassou.
- Terceira cruzada (1189-1192): chamada Cruzada dos Reis, devido à participação dos monarcas da
Inglaterra (Ricardo Coração de Leão), da França (Filipe Augusto) e do Sacro Império Romano-Germânico
(Frederico Barba-Roxa). Não tendo atingido seus objetivos militares, resultou no estabelecimento de
acordos diplomáticos com os turcos que possibilitaram as peregrinações.
- Quarta cruzada (1202-1204): chamada de Cruzada Comercial por ter sido liderada por
comerciantes de Veneza, potência mediterrânea em grande ascensão. Foi desviada de Jerusalém, alvo
religioso da investida cruzadista, para Constantinopla, que acabou sendo saqueada.
- Quinta, sexta, sétima e oitava cruzadas (1218-1270): secundárias sob todos os aspectos, não
tiveram sucesso.
As expedições cruzadistas não conseguiram resolver as dificuldades europeias decorrentes do
aumento populacional, dos entraves feudais e da ambição por novas terras, e no campo foi preciso aprimorar
a produtividade agrícola para alimentar a crescente população. Algumas cidades, que nunca deixaram de
fazer comércio durante os primeiros séculos da Idade Média, e outras que emergiram ou ganharam impulso
com os fluxos rurais daqueles que eram marginalizados nos feudos tiveram amplas vantagens com as
cruzadas.
Os exemplos mais marcantes são de Gênova e Veneza, porque seus comerciantes enriqueceram
alugando barcos e financiando os cruzados.
O misticismo e a espiritualidade que impregnavam a época medieval são plenamente visíveis na
Cruzada das Crianças (1212), organizada a partir da crença de que somente os “puros" e "inocentes"
poderiam libertar Jerusalém (as crianças foram colocadas nas frentes de batalha como escudos, já que
somente como criança é que o cristão herda o reino dos céus). O mesmo aconteceu no início do movimento
cruzadista, na chamada Cruzada dos Mendigos, organizada em 1096. Ambas foram dizimadas,
principalmente no percurso europeu.
Não foram somente essas expedições, ocorridas ao longo de quase 200 anos, que levaram ao
renascimento comercial da Europa, mas elas, certamente, contribuíram para sua dinamização. Não
propiciaram, também, enriquecimento aos europeus: pelo contrário, empobreceram-nos, especialmente aos
cavaleiros. Além disso, em vez de unir a cristandade, criaram oportunidade para divergências entre
interesses de algumas regiões (como entre os governantes da terceira cruzada, rivalizando-se por domínios),
enquanto propiciaram muitas violências contra os não cristãos.
As cruzadas tiveram, contudo, um papel significativo na mentalidade europeia. O espírito delas seria
importante na motivação, por exemplo, da reconquista cristã da península Ibérica aos árabes muçulmanos
e das grandes navegações que levaram à descoberta da América.

11) A Retomada do Comércio:

Paralelamente, desde o século XII, organizavam-se no norte da Europa as asas (nome em teutônico
ou alemão) ou associações de mercadores, Na Inglaterra destacava-se a Merchant of the Staple, associação
que controlava a venda de lã (seu mais forte produto) e a importação de produtos oriundos da região
flamenga (Flandres, futura Holanda).
Logo aconteceria a reunião de diversas hansas no norte da atual Alemanha, dando origem à forte
Liga Hanseática, cujas poderosas cidades (Hamburgo, Bremen, Lübeck, Rostock) passaram a controlar todo
o comércio dos mares do Norte e Báltico. Seus comerciantes traziam trigo e pescado, importantes para a
população que continuava a crescer, e madeiras, fundamentais para os crescentes empreendimentos de
construção naval, além de outros produtos.
Dessa forma, consolidavam-se dois polos comerciais na Europa da Baixa Idade Média: um italiano
e outro germânico. A ligação desses dois polos se fazia por rotas terrestres que convergiam para as planícies
da Champanhe, região no centro da França. Lá se realizavam grandes feiras, onde os comerciantes do Norte
encontravam os do Sul, e que funcionavam como verdadeiros centros de articulação do crescente comércio
europeu.

Módulo 1 - 35 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
A rota terrestre das feiras apresentava graves inconvenientes como a insegurança. De fato, durante
quase todo o século XIV, a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra praticamente impossibilitou a
utilização desses caminhos, levando ao declínio das feiras. A partir daí surgiram rotas alternativas. A
primeira delas, marítima, contornava a península Ibérica, dinamizando a atividade mercantil em Portugal e
Espanha. A segunda era fluvial e incluía a difícil travessia dos Alpes, seguida da navegação pelo rio Reno
até Flandres, no norte da Europa.
O crescente comércio e as transações financeiras tornaram necessário o retorno da utilização em
larga escala de moedas, o que gerou a introdução de letras de câmbio e o desenvolvimento de atividades
bancárias em geral. A terra deixou de ser a única fonte de riqueza e, nesse contexto, surgiu um novo grupo
social, o dos mercadores, que trabalhavam diretamente no comércio e a dos burgueses, detentores de capital.
O dinheiro, e a acumulação dele, passam a reger as economias, fazendo surgir um novo contexto
econômico em contrapartida do escambo, o Capitalismo.

12) As Repúblicas Marítimas da Península Itálica:

12.1) Pisa:

A posição natural muito propícia, na foz do rio Arno, então navegável até sob os muros da cidade,
fez de Pisa importante centro comercial desde o primeiro século da Idade Média. O estuário do Arno
oferecia então bom abrigo e espaço suficiente, ao passo que a correnteza forte do rio se opunha ao
assoreamento da saída para o mar.
Do lado de terra, não contando com barreira protetora de montanhas como Gênova e limitando-se
com os territórios de Lucas, em fase de expansão, Pisa não possuía possibilidades de engrandecimento. A
cidade voltou assim os olhos para o mar e no século X teve boas ocasiões de satisfazer suas ambições
marítimas. Era o único porto sobre o Tirreno, no interior da Itália Lombarda, e além do mais, nessa ocasião,
Gênova não podia oferecer concorrência, pois toda costa lígure estava presa das devastações sarracenas
(mouras ou islâmicas) que ameaçavam controlar o mar Tirreno, desde as costas da Tunísia e da Espanha.
Perante a ameaça muçulmana, Pisa e Gênova coligaram-se e realizaram esforços vigorosos e constantes
para expulsarem os infiéis do mar que tinham como próprio.
No fim do século XI, as duas cidades lançaram repetidos ataques contra as principais cidadelas do
poderio árabe. Os árabes foram assim expulsos da Sardenha, onde pisa reservou-se privilégios comerciais.
Na Sicília, a própria Palermo, que era então um grande porto de mar e uma cidade de 300 mil habitantes,
foi atacada pelos pisanos, o que contribuiu para a reconquista da Ilha. Na Tunísia, os pisanos e genoveses
puseram a saque Mehedia, que era sem dúvida a cidade mais poderosa da costa da África e que se havia
convertido num ninho de piratas.
Afastados assim do mar Tirreno, os inimigos dos cristãos, as duas novas repúblicas viram prosperar
seu comércio. Suas frotas, crescentes em força e em número de navios, empreenderam viagens mais longas
e abriram novas rotas.
A expansão marítima e comercial da República Pisana era então guiada pelo governo, que intervinha
mesmo no domínio das atividades particulares, procurando, de uma parte, afastar os obstáculos e entraves
que se opunham ao livre trânsito das mercadorias, e de outra, levar gradualmente a conquista ao Oriente,
principal fonte de lucros.
Do século XI ao século XIII, os núcleos urbanos da península Italiana, e em particular as cidades
marítimas, entraram em rivalidade para a conquista da primazia política e comercial sob a influência de
dois fatores preponderantes: as cruzadas e a criação do Império Latino do Oriente. Ao começarem as
cruzadas, as Repúblicas Italianas não viram apenas uma continuação da luta tantas vezes empreendida
contra os infiéis, mas também uma oportunidade única para obter vantagens econômicas. Pisa, como as
outras grandes repúblicas marítimas italianas, não só participou diretamente da guerra contra os
muçulmanos estabelecidos na Palestina, como também soube cobrar bom preço pelo transporte dos
exércitos cristãos do Oriente. Ao mesmo tempo, a comuna procurou estabelecer nos países recém-
conquistados pelos cruzados proeminência comercial, obtendo concessões especiais para os mercadores
pisanos.

Módulo 1 - 36 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
A Primeira Cruzada valeu a Pisa privilégios e feitorias ao longo da costa Síria e da Palestina. A
Segunda favoreceu-lhe o comércio ao longo das costas italianas e sicilianas. Em 1108, tendo ajudado com
uma frota a conquista de Laodicéia, obteve em compensação um quarteirão naquela cidade e outro em
Antioquia. Entre 1108 e 1124, Pisa conseguiu quarteirões em Trípoli, em Tiro e em Jerusalém. Ainda nesse
período, ela se fez outorgar um quarteirão em Constantinopla e um cais no Corno de Ouro e, mais tarde,
para contrabalançar a influência genovesa no Tirreno e na costa da Espanha, fez um tratado de comércio
com o Emir de Valência (1150).
A atividade dos pisanos na costa asiática não os impediu de olhar mais adiante, para o Egito, onde
os atraíam dois grandes centros: Alexandria e Cairo. No fim de 1154, um tratado de comércio com o Califa
Fatimita40 abriu aquela região ao comércio pisano, mas em 1157 a captura de uma nave pisana, a venda dos
marinheiros como escravos na Tunísia, a ruptura do tratado, levou Pisa a favorecer o jovem e valoroso rei
de Jerusalém, Almarico, que, nos anos de 1163
a 1169, por cinco vezes levou a guerra ao vacilante califado. O assédio de Alexandria pela frota pisana em
1167, contudo, terminou em insucesso. Quando em 1171 Saladino assenhoreou-se do Egito, não restou aos
pisanos outro recurso senão negociar com o grande conquistador muçulmano.
Na Terceira Cruzada (1189-1192), os navios pisanos transportaram um exército toscano, sendo
aproveitado o ensejo para a venda, por preço caro, de vitualhas41 e roupas aos companheiros de armas.
A par da expansão longínqua nos mares da África e do Levante, a Comuna Pisana procedia com
igual vigor para concentrar no seu porto o comércio do mar Tirreno, da costa toscana à Sicília. Desde 1137,
ajudada por Lactário e Spplimburgo, Pisa dera o golpe de graça na rival, Amálfi, apoderando-se da Ischia
e de Sorrento.
O sucesso de Pisa valeu-lhe a animosidade das cidades vizinhas, em particular Gênova, que visava
à supremacia no mar Tirreno, e das cidades do interior como Lucas e Florença, ciumentas de a verem
exercer controle sobre o único escoadouro marítimo da Toscana. Em 1194, Messina foi tomada, e os pisanos
destruíram o empório genovês da cidade. A vitória, porém, foi paga a preço caro: o favor imperial aos
genoveses contribuiu para a perda de treze navios da frota pisana. Dessa época começa a decadência da
potência pisana, sendo no começo quase imperceptível devido às manobras políticas e estratégicas feitas
por Gênova que aguardou o momento certo para atacar e destruir Pisa.
Na longa série de lutas que se seguiu, Pisa se viu atacada por terra e por mar, ressentindo-se de sua
pequena base territorial e da falta de uma fronteira facilmente defensável. Por fim, Gênova conseguiu
destruir o porto e o comércio de Pisa, em 1284, jogando na embocadura do rio Arno enormes blocos de
pedra retirados da ilha vizinha de Capri. Foi construído assim um molhe que, se opondo à obra de limpeza
da corrente, permitiu o acúmulo de sedimentos. A derrota naval de Melória, poucos anos depois, selou a
decadência de Pisa. Na paz estipulada em Gênova em 1299, Pisa teve de ceder uma parte da Sardenha, a
região de São Bonifácio, na Córsega, e obrigou-se a não armar galeras durante quinze anos.

12.2) Gênova:

A origem de Gênova não é menos remota que a pisana e data certamente dos primeiros tempos da
vida marítima no mar Tirreno. O porto de Gênova não era nem o maior nem o melhor dos portos da costa
Lígure, mas era sem dúvida o melhor situado. Gênova ocupa o ponto mais setentrional dessa costa. Os
montes Apeninos, na verdade, elevam-se imediatamente atrás da cidade e a separam do vale do rio Pó, mas
ao mesmo tempo protegem-na muito eficazmente do lado de terra. Embora fossem possíveis culturas
variadas, como trigo, oliveira, vinhas e laranjeiras, o território restrito da República de Gênova, que se
estendia ao longo da costa Lígure, era incapaz de produzir a quantidade suficiente de gêneros alimentícios
para a população e matérias-primas para a indústria.
A pesca, em compensação, era abundante na costa e as florestas dos Apeninos dispunham de boas
madeiras para a construção naval. Foi, portanto, no mar que Gênova procurou suas possibilidades
econômicas. Dessa forma Gênova conseguiu reerguer-se nas vezes em que sofreu as destruições das
invasões sarracenas

40
Fatimita: uma das ordens dos mulçumanos, como os sunitas e os xiitas. Seguem a Fátima, uma das filhas de Maomé.
41
Vitualhas: conjunto de materiais e equipamentos necessários a manutenção de tropas em ação longe de suas bases.
Módulo 1 - 37 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Na primeira metade do século X, Gênova, ao conseguir sacudir o jugo feudal do Marquês de
Obertenghi, conquistou ao mesmo tempo sua unidade comercial e um lugar elevado entre as cidades
marítimas da Península. Não muitos anos depois, Gênova, unida a Pisa, na célebre campanha da Sardenha
contra Mogahid, em 1015-16, iniciou naquela ilha o comércio do sal, e na Córsega uma tenaz penetração,
sem temer suas futuras relações com a aliada daqueles dias. Os navios das duas Comunas42 chegaram unidos
à costa da Síria em 1065, depois a Caffa. Em 1087, combateram juntos os árabes de Mehedia, e desse modo,
na segunda metade do século XI a comuna genovesa firmou seu poderio marítimo no sul do Mediterrâneo.
Lá, como em Pisa, os armadores e os navegantes prevalecendo na vida citadina criaram a administração
consular e, ao mesmo tempo, a Campagna. As riquezas acumuladas, o crédito assegurado, uma sucessão de
governos com a mesma orientação, acabaram por constituir uma nobreza de origem mercantil, diferente da
feudal. A nobreza em Gênova não tinha, assim, por base a propriedade imobiliária, mas os estabelecimentos
comerciais e a navegação. Essa nobreza fornecia os governadores das ilhas conquistadas no Levante e os
comandos das forças navais.
A participação de Gênova na Primeira Cruzada (1096-99) permitiu-lhe fundar uma linha de
empórios ao longo da costa da Síria e da Palestina, fato de uma importância comercial considerável, tendo
em conta que esses países eram relativamente povoados e produtivos naquela época. Os bons resultados
alcançados estimulariam os empreendimentos posteriores. As expedições multiplicaram-se, os braços e o
capital da cidade não foram suficientes. No princípio do século XIII (1206) uma nova instituição, o
Consolato del Mare, foi criada. Ocupava-se exclusivamente da parte financeira dos empreendimentos
marítimos, permanecendo dependente do poder central.
O incremento da atividade marítima de Gênova acarretou inevitavelmente a rivalidade das outras
cidades italianas com interesses idênticos, e, a partir do começo do século XIII, os três principais centros
marítimos comerciais da Itália sustentaram entre si diferentes lutas que abarcaram quase duzentos anos.
A fim de promover sua expansão marítimo-comercial, os cidadãos de Gênova criaram, na primeira
metade do século XIII, uma associação de caráter militar que tomou o nome de Maona. Era ela constituída
por um núcleo de cidadãos que, com seus navios, procediam às despesas de qualquer expedição naval
empreendida no interesse e sob a direção da Comuna.
A Comuna nomeava o Almirante que comandaria os navios armados por conta dos componentes. O
lucro da empresa e a administração dos lugares eventualmente conquistados revertiam para a Comuna,
depois das despesas da Maona terem sido ressarcidas. A primeira Maona, por ordem cronológica, parece
ter sido a de Ceuta em 1234, quando um grupo de cidadãos armou por conta própria mais de cem navios,
entre galeras e navios de comércio. Outras Maonas importantes foram a de Chios, em 1346, da qual resultou
a captura daquela ilha no mar Egeu, e a de Chipre em 1374, onde foi fundada importante colônia.
Ao começar o século XIV, Gênova estava no apogeu de sua atividade marítimo-comercial. A ajuda
prestada na restauração do Império Romano do Oriente valera-lhe vários empórios estabelecidos em
quarteirões de Constantinopla, Pera e Gaiata. Pera tornou-se o centro da administração colonial genovesa
no Estado Grego, e Caffa o das colônias do mar Negro. Por cerca de 1300, Gênova foi a primeira cidade
mediterrânea a começar a organizar viagens para os portos de Bruges e de Londres.
Na segunda metade do século XIV, as grandes operações de comércio ficaram circunscritas a
Veneza e a Gênova, pois Pisa não mais se ergueu depois da derrota de Melória e da perda da Sardenha. A
Grécia havia perecido sob a cimitarra turca e os navios do Norte apareciam raramente nos portos do Sul.
Os genoveses tinham o comércio de toda a costa Lígure e dominavam desde o Corvo até o Mônaco.
Aprovisionavam de sal a Luquia, frequentavam Civita Vecchia e Corneto, foram sempre em grande número
em Messina e em Palermo. No Adriático, visitavam frequentemente Manfredônia, Ancona e mesmo
Veneza, nos intervalos de paz. Faziam comércio importante com Marselha, Aigues Mortes, Saint Epidius
e Montpelier. Na África, os navegantes genoveses tinham privilégios assegurados pelos maometanos. O
Egito era mais frequentado pelos venezianos. Os genoveses não deixaram, contudo, de aparecer nos
mercados de Alexandria, de Roseta e Damieta e de se estabelecer mesmo no Grande Cairo e de concluir
tratados vantajosos com os sultões. Todavia, a área principal das operações comerciais de Gênova
permaneceu sempre no Levante, isto é, nos países da Ásia e da Europa, submetida aos príncipes gregos,
tártaros, búlgaros e turcos. Seu comércio com o Levante se fazia por meio de uma série de escalas que
atingiam a China de uma parte e as Índias de outra, seguindo as costas do Golfo Arábico.

42
Comuna: associação de mercadores italianos, principalmente de Gênova, podendo ser comparada às cooperativas modernas.
Módulo 1 - 38 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Havia ainda outros centros em toda a Romênia, na Macedônia e no Arquipélago Grego. Na Anatólia,
Gênova possuía Smirna e as duas Fócidas, ricas em alúmen43. De Chipre retirava madeiras de construção,
cedro, ferro, cereais, açúcar, algodão e azeite, além dos produtos que vinham do Oriente. Outras companhias
genovesas haviam-se estabelecido no litoral do Oceano, nos Países Baixos e na Inglaterra. Além do mais,
Gênova dominava a ilhas da Córsega, Sardenha, Malta e Sicília. Gênova tinha, em resumo, além de uma
parte considerável do comércio europeu, as três grandes vias de comércio da Ásia Central e da Índia: a
primeira, pelo mar Negro, pelo Cáspio e o Volga; a segunda, a Pagolat e a Laiazzo, pelo Golfo Pérsico,
Alepo e a Armênia; e a terceira, a Alexandria, pelo mar Vermelho e o Egito.
Apesar da posição privilegiada alcançada como potência marítimo-comercial na segunda metade do
século XIV, já cinquenta anos depois se notavam os primeiros sinais de decadência de Gênova. As vitórias
navais de Melória e de Curzola haviam constituído o ápice da potência marítima de Gênova, porém haviam
exigido um esforço imenso e produzido um grande consumo de forças. As perdas em vidas nas guerras
eram desastrosas para os genoveses, porque eles não empregavam tropas mercenárias, mas cidadãos, dos
quais dois mil morreram na jornada de Loiera e três mil prisioneiros morreram nos ergástulos (prisões). O
desenvolvimento da Marinha catalã, as dissensões internas cada vez mais graves, a alternância do domínio
estrangeiro, a luta persistente contra Veneza, o desastre da Guerra de Chioggia (1378-81), e a dominação
francesa do rei Carlos VI (1396-1409) são as várias etapas de uma gradual decadência. Não conseguiram
impedi-la a administração de Simão Boccanegra nem os triunfos que por vezes a Marinha genovesa
alcançou, perpetuando com honra suas tradições bélicas.

12.3) Veneza:

Durante a era Longobarda, nas ilhas da Laguna Adriática, surgiu a cidade destinada a liderar, na
Idade Média, todas as demais, por riqueza econômica e poderio marítimo: Veneza. A ilha da Laguna,
habitada na Idade Antiga por famílias de pescadores, tornou-se no último século do Império Romano o
lugar de refúgio das populações de terra firme, fugitivos das hordas bárbaras de Alarico, de Átila, de
Ricimero e etc.
As lagunas situadas no interior do Adriático não ofereciam senão magros recursos aos seus
habitantes, apenas pequenas superfícies permaneciam acima das águas, havia poucas terras cultiváveis e
estas eram mal drenadas; a água potável era escassa. Por outro lado, as lagunas ocupavam uma excelente
posição geográfica, considerando que elas se encontravam perto da região plana mais vasta da Itália e num
ponto onde as rotas marítimas do Mediterrâneo penetravam mais profundamente no continente europeu.
As primeiras atividades dos habitantes das lagunas foram condicionadas pelo caráter de seu habitat.
Eles tiveram em primeiro lugar que adaptar as terras às suas necessidades, consolidando o solo, cavando
canais, construindo diques e preparando bacias para os navios, enfim, começaram a cultivar o trigo, a vinha
e a recolher água de chuva em cisternas. É um fato significativo que desde 536 os habitantes das lagunas
sejam descritos como salineiros e piratas marítimos. Veneza chegou a conseguir no norte da Itália o
monopólio virtual do comércio do sal, passando as cidades continentais a depender de Veneza para seu
aprovisionamento. Não havendo possibilidade de outra indústria a não ser a do sal, que era com a pesca e
com os proventos da pirataria o usual nos povos marítimos daquele tempo os únicos artigos de comércio,
os venezianos abriram novos horizontes a ideais mais vastos, de tal modo que, no início do século VI, os
navios dos insulares sulcavam ao largo e ao longo do Adriático, fazendo o tráfego de gêneros diversos com
Bizâncio (Constantinopla) e com as terras do Oriente.
Assim, Veneza, à medida que progredia, tornou-se uma guarda avançada fronteiriça do mercado
grego até aproximadamente o ano 1.000, se bem que usufruindo uma grande independência, permanecendo
como parte do Império Bizantino, situação política que favoreceu sensivelmente seu progresso. Por outro
lado, sua situação e sua superioridade marítimas, que a tornaram de acesso difícil, colocaram as lagunas ao
abrigo da conquista lombarda. Carlos Magno apoderou-se da maioria das ilhas, mas essa conquista foi
efêmera. Também pôde Veneza escapar quase completamente às rivalidades e complicações da Península.
Sob esse prisma, Veneza foi mais favorecida que Gênova. Enfim, pela mesma razão, a situação geográfica

43
Alúmen é o sulfato duplo de alumínio e potássio, podendo também ser de sódio. É comumente conhecido como predra-ume ou
pedra de alúmem. Tem várias aplicações hoje em dia, mas na Antiguidade era muito comum o uso como desodorante,
adstringente (pós-barba), para curtir couros, para o preparo de pão e purificação de água.
Módulo 1 - 39 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
das lagunas estimulou o desenvolvimento de uma comunidade de interesse que encontrou sua expressão na
administração centralizada do Doge. Segundo a tradição, o Ducado de Veneza Marítima constituiu-se em
697 (O Primeiro Duque ou Doge foi Paolucio Anafesto), concentrando numa só mão a atividade múltipla
e dividida dos insulares,
A decadência de outras cidades deixou Veneza livre para explorar o potencial comercial de sua
excelente posição geográfica. Entretanto, a nascente República não estava em condições de alcançar
projeção mundial, por ter ficado ocupada em contínuas lutas contra os piratas eslavos e sarracenos que
infestavam o mar Adriático. Até o fim do século VIII, o Império Bizantino controlou a entrada do Adriático
desde as cidades costeiras de Durazzo e de Brindisi, mas as devastações dos árabes na Itália Meridional
ameaçaram bloquear essa passagem. Ao mesmo tempo, a costa Dálmata, com suas numerosas baías
abrigadas, seus inúmeros canais e suas ilhas, constituía a base da pirataria eslava. Pouco a pouco Veneza
conquistou a supremacia no mar, infligindo derrotas aos árabes. Fundou, cerca do ano 1000, uma série de
empórios ao longo da costa Dálmata, em Zara, Veglia, Arbe, Tran e Spalato.
Desimpedido o mar Adriático da ameaça dos piratas, pôde Veneza enfim beneficiar-se das
vantagens de sua posição, face às correntes mercantis da Idade Média. Com efeito, para o Adriático
convergem cerca de três rotas naturais: uma, a vereda adriática; a segunda, formada pelo vale do Pó; e a
terceira, o escoadouro para o sul dos diversos caminhos alpinos de acesso fácil, ligando o Adriático à
Alemanha, à França e aos Países Baixos. Noutras palavras, colocada geograficamente quase a meio
caminho das duas extremidades da bacia Mediterrânea e ligada politicamente à grande cidade comercial de
Constantinopla, Veneza tinha toda facilidade para atuar como agente de distribuição em todo esse mar.
Os sucessos no Adriático deram a Veneza não somente acesso às grandes quantidades de madeira
de construção que eram trazidas aos portos da Dalmácia dos altos planaltos da Hinterlândia, mas também
ao trigo e aos vinhos da Itália do Sul. Além do mais, teve acesso livre a campos comerciais de maior
envergadura. Seja como vassalo, aliado ou inimigo vitorioso do Império Bizantino, Veneza jamais perdeu
de vista seus interesses mercantis. Já no século X ela havia adquirido em Constantinopla prioridade sobre
suas concorrentes italianas, Amálfi e Bari. Em 1082, se fez outorgar o direito de comerciar sem pagar
nenhum direito em toda a extensão do Império Bizantino.
Na época da Primeira Cruzada (1096), Veneza, já uma importante potência naval, pôde colocar à
disposição das cruzadas a frota necessária ao transporte de homens, cavalos e víveres para a Terra Santa.
Ao mesmo tempo, mantinha relações comerciais com Alexandria, em poder dos infiéis. Um século depois
(1204), fazendo a Quarta Cruzada servir a seus próprios fins, Veneza se apoderou de Zara, na costa da
Dalmácia, e possibilitou a tomada de Constantinopla pelos cruzados, com a consequente criação do efêmero
Império Latino do Oriente. A Quarta Cruzada acabou totalmente com o predomínio da metrópole do
Bósforo e converteu Veneza em potência normativa. O Império Grego ruiu e na partilha recebeu Veneza
territórios tão vastos que o Doge pôde chamar-se com orgulho Senhor de uma quarta parte e de um oitavo
de todo o Império Romano. A cidade das lagunas, todavia, visava assegurar o
predomínio mercantil de modo incondicional e não ocupar uma extensão territorial de difícil defesa.
Na busca de suas ambições comerciais, Veneza edificou um vasto Império que se compunha,
sobretudo, de territórios úteis ao comércio e que pudessem ser vigiados por sua Marinha. Como colônia de
fato, os venezianos só mantiveram a Ilha de Creta, que era um lugar de repouso e de refúgio no cruzamento
das linhas de navegação mais importantes do que nas culturas do arroz, do algodão e da cana-de-açúcar que
havia lá. Fora disso, Veneza só teve a posse de alguns pequenos portos na costa, vantajosamente colocados
no ponto de vista comercial e de fácil defesa. Mesmo o domínio veneziano na Dalmácia exercia-se apenas
no litoral, onde ela conservava vários portos principais.
Tal como em Pisa e Gênova, a ação do governo fazia-se sentir fortemente em todos os setores
ligados ao comércio marítimo da cidade. No começo da primavera, o Estado procedia à abertura do mar,
pondo em atividade o que se chamava as esquadras do tráfego, que eram formadas por frotas mercantes de
importância diversa e que, por todo o período da navegação, eram alugadas à sociedade de mercadores e
especuladores. Cada ano armavam-se, por conta do Estado, seis esquadras de tráfego compostas de 3.300
navios com cerca de 36 mil homens de guarnição. O tráfego se orientava em três direções principais: para
o Norte da África, para o Leste do Mediterrâneo e pelo sul da Europa, do lado ocidental. Uma das rotas
mercantis conduzia ao Egito; em Alexandria e no Cairo, eram recebidas as mercadorias pelos árabes que
as levavam para o outro lado do mar Vermelho. Para a costa da Síria dirigiam-se suas frotas, para levar
peregrinos aos Santos Lugares e tomar a bordo gêneros do Oriente para a viagem de volta. Também no
Módulo 1 - 40 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
noroeste do Mediterrâneo apareciam frequentemente as naves de Veneza e entabulavam benéficas relações
mercantis, apesar dos sangrentos encontros que tiveram com os barcos genoveses. Em Tana, nas
proximidades da desembocadura do rio Don, estabeleceram os venezianos uma colônia onde trocavam peles
russas e mercadorias índias, embora o principal objetivo fosse negociar no mercado de escravos que existia
nessa localidade. Para o oeste, estendeu paulatinamente os venezianos sua influência com os sarracenos da
África Setentrional, da Espanha e com os habitantes do sul da França que estiveram em estreitas relações
mercantis.
Dada a enorme importância da marinha para Veneza e se bem que os estaleiros fossem dirigidos por
empresas privadas, o Estado regulava e dirigia a produção, seguindo leis rigorosas concernentes aos
processos de fabricação dos navios, suas dimensões, seu aparelhamento, enfim, o trabalho dos operários.
Nenhum veneziano podia construir nos limites da República navios que não tivessem as medidas
rigorosamente previstas. Os interesses da defesa militar exigiam, com efeito, que, em caso de necessidade,
os navios mercantes pudessem ser facilmente transformados em navios de guerra. Eis a explicação da
prodigiosa rapidez com que aquela República renovava sua frota,
A primeira metade do século XV viu o apogeu do poderio marítimo-comercial veneziano. No ano
de 1423, o Doge Tomaz Mocenigo, em relatório apresentado aos conselheiros, estimava serem 3.300 os
mercadores navegantes. Por essa época, nem só no Mediterrâneo e no Oriente aplicava-se a atividade
veneziana. Na França, na Alemanha, no Flandres e na longínqua Inglaterra, durante o último século da
Idade Média, penetraram também os comerciantes e os navegantes da Sereníssima. Com Portugal, a
República teve relações diretas e de alguma intensidade pelo fim do século XV, devido ao tráfego de cana-
de-açúcar que a ilha da Madeira produzia em grande abundância. Cada ano, navios portugueses carregados
de açúcar chegavam a Veneza, porém a amizade entre os dois Estados não durou muito. Em 1498, um navio
português saqueou uma nave veneziana que se dirigia a Salônica e se apoderou de outra de Creta, carregada
de vinho, ao passo que o avanço lusitano, ao longo da costa africana em busca do caminho marítimo para
as Índias, suscitava o receio justo dos dirigentes do Estado.

13) As Grandes Invenções:


O fim da Idade Média é marcado por importantes invenções. Na arte da
navegação, deu-se um acontecimento de grande importância no século XIII, que foi
a introdução da bússola na Europa; esse instrumento já era conhecido pelos
chineses, parecendo mesmo que os mongóis já se orientavam por ela em suas
incursões pela Europa. Coube aos árabes servirem de ligação entre o Oriente e a
Europa, apesar de suas contínuas lutas com os cristãos; na época das cruzadas, os
europeus devem ter tomado conhecimento dessa invenção, que, a princípio, foi
considerada coisa de feiticeiro.

Nos fins do século XIII, no entanto, o uso da bússola já


estava generalizado na Europa, para a navegação. Juntamente
com outros instrumentos da época, o astrolábio e a balhestilha
davam ao navegador um seguro conhecimento de sua latitude.
Quanto à longitude, porém, o único meio de conhecimento era
pelo caminho percorrido, o que se obtinha, com grande margem
de erro, navegando-se até o paralelo desejado e daí rumando para
leste ou oeste até o ponto desejado.

Módulo 1 - 41 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

Coube aos portugueses o papel principal do


grande espetáculo dos descobrimentos marítimos.
Suas primeiras navegações foram feitas empregando-
se navios como a Barcha ou Barca e o Barinel.

A partir de 1440, aproximadamente, os


portugueses inventaram, ou melhor, aperfeiçoaram
um novo tipo de navio, que viria a ser o mais
característico dessa época: a caravela, navio mais
alongado que seus antecessores a vela, de borda alta,
empregando velas latinas (triangulares), o que o
tornava apto a navegar quase
contra o vento, a orçar.

A Caravela:
De origem mourisca, de
armação latina, com
porte aproximadamente
de 50 a 100 tonéis:
“Navio capaz de afrontar
mares tempestuosos e de
lutar contra uma
condição de tempo
atmosférico difícil, a
caravela portuguesa foi,
até os fins do século XV,
triunfalmente, o navio
dos descobrimentos”.

A Nau:
Depois de explorada toda a costa africana do Atlântico,
os portugueses adotaram novo tipo de navio, a nau, bem maior
do que a caravela e capaz de navegar muito longe do litoral,
mesmo com tempo hostil. Foi com esse tipo de navio que
Vasco da Gama fez sua viagem às Índias.

O galeão:

Quando Portugal descobriu o caminho para as Índias,


acabou por desviar a maior parte do comércio europeu,
prejudicando as cidades marítimas italianas. Ao chegar as
Índias, e dominar o comércio local, os portugueses
prejudicaram os dominadores antecessores de Portugal: os
árabes.
Assim, ao concretizar as Grandes Navegações, os
portugueses criaram como inimigos no Atlântico os italianos,
e no Índico, os árabes, passando, portanto, a necessitar de um
navio especificamente para a guerra: o Galeão.

Tanto as caravelas, quanto as naus e os galeões eram artilhados, sendo que as caravelas se utilizavam
apenas de canhões de pequeno calibre, enquanto o Galeão, além de portar canhões de maior calibre,
carregava uma quantidade maior de unidades e dos apetrechos necessários ao seu emprego.
Módulo 1 - 42 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza

CAPÍTULO III

IDADE MODERNA

1) A Grande Crise dos Séculos XIV e XV:

A Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra marcou toda a Europa do século XIV. As rotas
comerciais terrestres que cruzavam a França, importantes para a articulação do comercio continental,
ficaram comprometidas pela guerra, tornando necessário o estabelecimento de caminhos alternativos.
Ao mesmo tempo, a peste negra trazida nos porões dos navios que circulavam entre o Oriente e
Ocidente, dentro da bacia do Mediterrâneo, devastou a população europeia em muitas áreas, levando à
violenta retração dos mercados consumidores e, portanto, da atividade comercial. Cerca de um terço da
população europeia foi vitimado pela Peste.
Finalmente, a fome generalizada, provocada pela escassez de víveres no cenário de destruição da
guerra e abandono das cidades afetadas pela doença, completou o contexto do que ficou conhecido como a
crise do século XIV.
A epidemia de peste negra começou a declinar por volta de 1350. As ocorrências de fome, porém,
continuariam ocorrendo esporadicamente até o final do século e a paz entre França e Inglaterra só seria
estabelecida em meados do século seguinte. Entretanto, a entrada do novo século significou o surgimento
de novos problemas.
A diminuição da população europeia criou uma situação na qual a retomada da atividade comercial
se faria de forma lenta, na mesma medida da própria expansão demográfica. O desvio de metais preciosos
para o Oriente, na compra das especiarias e outros artigos de luxo, e o esgotamento das minas destes metais
preciosos, principalmente ouro e prata, no continente europeu, tornavam limitada a oferta de moeda,
estrangulando o comércio.
E, finalmente, o monopólio da lucrativa rota mediterrânea das especiarias, exercido pelas cidades
italianas, notadamente Gênova e Veneza, restringia a possibilidade de lucros de outras cidades europeias.
Foram esses fatores que acabaram por forçar a burguesia europeia a buscar novas alternativas para
expandir o comércio, e a saída evidente era a navegação atlântica. Teve origem aí o processo de expansão
marítima europeia.
A empreitada de enfrentar a desconhecida navegação no oceano Atlântico exigia investimentos de
vulto, que estavam muito além das possibilidades de qualquer cidade europeia isoladamente. Em outras
palavras, era necessária a mobilização ampla de recursos, o que foi feito em escala nacional, tornando a
centralização monárquica um verdadeiro pré-requisito para a expansão marítima.
Pelo fervilhante porto de Gênova passavam mercadorias das regiões mais longínquas do Oriente.
Como vimos, França e Inglaterra estiveram envolvidas na Guerra dos Cem Anos até o século XV,
o que retardou o processo de centralização monárquica nos dois países. A Espanha ainda enfrentava os
muçulmanos, somente expulsos completamente da península Ibérica em 1492. Outros territórios europeus
também se apresentavam fragmentados, inclusive os vastos territórios que faziam parte do Sacro Império
Romano-Germânico. Assim, a unificação precoce de Portugal (em relação às demais monarquias do
continente) contribuiu decisivamente para as primeiras iniciativas na expansão marítima europeia.

2) A Revolução Comercial e o Mercantilismo:

O Antigo Regime dominante em quase toda a Europa durante a Idade Moderna caracterizava-se
pela combinação de elementos tipicamente feudais com outros surgidos do desenvolvimento comercial.
Assim, as seculares tradições políticas, sociais e econômicas remanescentes da velha ordem feudal foram-
se mesclando aos interesses de uma burguesia cada vez mais atuante e promovendo modificações nas
antigas relações.
Nesse período, os reis tentaram preservar o “status” político da nobreza, ao mesmo tempo em que
acomodavam, na estrutura de poder vigente, os interesses da burguesia comercial, cujas finanças se
Módulo 1 - 43 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
mostravam cada vez mais necessárias aos negócios do Estado. Em decorrência, essas mudanças, antes de
significarem uma profunda ruptura com o passado, representaram a permanência das antigas hierarquias,
que mantinham vastos setores da população europeia à margem do poder.

3) A Transição para a Idade Moderna:

Assim como as cruzadas dinamizaram o renascimento das atividades comerciais na Europa, a


expansão marítima provocou uma verdadeira revolução comercial, na medida em que a atividade mercantil
passou a ser exercida em escala mundial. Em meio a esse processo, muitas instituições feudais já não
atendiam às novas necessidades econômicas e à estruturação do poder centralizado, resultando, ao longo
do tempo, em sua decadência enquanto se estruturava uma nova ordem socioeconômica, que alguns
estudiosos denominam capitalismo comercial, chamado por outros de capitalismo mercantil.
Contudo, tal ordem carregava ainda vários elementos sobreviventes do feudalismo, a exemplo do
poder e prestígio advindos de questões hereditárias (títulos de nobreza e clericais) e não do sucesso
econômico. De outro lado, os grupos sociais mais dinâmicos, como aqueles atrelados aos negócios
comerciais e financeiros, aceleravam a acumulação progressiva de riquezas (acumulação primitiva de
capitais), forjando as condições que desembocariam na industrialização dos séculos XVIII e XIX, quando
a ordem capitalista burguesa atingiria sua maturidade e completaria sua formação como sistema
hegemônico e poderoso.
Entre os séculos XV e XVIII, período denominado Idade Moderna ou época do Antigo Regime, o
capitalismo comercial foi se consolidando, abrindo espaços políticos para comerciantes e banqueiros. Entre
as aspirações desses indivíduos constavam, contraditoriamente, os títulos e privilégios da nobreza, a fim de
assegurarem sua supremacia, de resto já garantida pelo poder econômico.
Quanto aos nobres, os novos tempos desafiavam a manutenção dos seus privilégios, adquiridos há
séculos, exigindo-lhes esforços para se adaptarem à nova ordem e garantirem alguns dos seus privilégios e
poderes. Somente no final da Idade Moderna os burgueses romperiam definitivamente com as antigas
tradições e resquícios estamentais, sendo já suficientemente fortes para criar uma estrutura econômica,
social e política à sua própria imagem, de fato capitalista, eliminando os últimos vestígios feudais. Mas
para chegar a isso, predominaram durante o período moderno o rompimento e a combinação de interesses
dos herdeiros da velha ordem e dos nascidos do desenvolvimento comercial e urbano, consistindo na
transição do capitalismo comercial.
A formação dos Estados Centralizados iniciada na Baixa Idade Média e a dinamização comercial e
urbana, tiveram importância fundamental para a expansão mercantil. Em cidades onde já ocorriam as trocas
monetárias e a produção manufatureira, passou a vigorar maior controle da arrecadação de tributos e da
circulação de mercadorias e de dinheiro por parte do rei e seus auxiliares. A produção manufatureira que
ganhava impulso era, então, realizada por trabalhadores assalariados, contratados pelo proprietário que
também era patrão. Consolidavam-se novas relações sociais e produtivas, rompendo barreiras feudais
tradicionais.
No campo, muitas das antigas obrigações feudais que caracterizavam a servidão foram sendo
abolidas ao longo dos séculos, concomitantemente à introdução do trabalho assalariado e à expropriação
das terras comunais.
Durante a Idade Moderna, a sociedade continuava dividida em ordens: clero, nobreza e povo. Tal
divisão refletia ainda a persistência de valores medievais que separavam as pessoas entre "os que rezavam",
"os que combatiam" e "os que trabalhavam". Porém, à medida que se acumulavam riquezas nas mãos de
parcelas desiguais da população, esboçava-se uma sociedade mais dinâmica em que se destacavam classes
de proprietários de terra (clero e nobreza), de burgueses (comerciantes e artesãos) e de trabalhadores
(assalariados, camponeses livres e servos).

Módulo 1 - 44 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
4) Os Estados Modernos e o Mercantilismo:

Os Estados modernos europeus surgiram, a princípio, do processo de aproximação entre monarquia


e burguesia, em busca de crescentes quantidades de recursos monetários. Para tanto, muitos reis europeus
protegeram e estimularam os negócios burgueses, quer desmontando as estruturas feudais que entravavam
o comércio, promovendo e gerenciando a expansão comercial com as grandes navegações (Portugal,
Espanha, França) ou, ainda, incentivando a criação e a manutenção de colônias na América (França,
Inglaterra, Países Baixos).
A atenção dos reis aos negócios mercantis exigia-lhes o fortalecimento de seu poder, imprimindo
um caráter absolutista às monarquias. Modificava-se, assim, o sistema político feudal em que cada vassalo
reinava soberanamente sobre seu feudo. Estimulando a atividade mercantil, o monarca garantia seu próprio
fortalecimento, na medida em que ampliava a base de arrecadação de impostos. Com tais recursos,
sustentava uma poderosa administração estatal com vasta burocracia, verdadeira base de seu poder,
constituída, essencialmente, por membros da nobreza.
Ao convocá-los para exercer novos papéis na sociedade, os reis possibilitavam aos nobres a
manutenção de seus privilégios, contrabalançando a expansão burguesa. Dessa forma, tanto nobres como
burgueses permaneciam dependentes do rei. Juntos e articulados na estrutura do Estado moderno, monarcas,
burgueses e nobres combinavam poderes que garantiam a ordem, a sujeição popular, a dinâmica comercial
e os privilégios, constituindo o chamado Antigo Regime.
Dentre as diversas medidas adotadas pelos reis absolutistas europeus para promover o
fortalecimento financeiro do Estado, encontra-se a adoção de um conjunto de diferentes práticas
econômicas conhecidas como mercantilismo. Embora não tivessem constituído uma teoria econômica, nem
tenham sido aplicadas de maneira homogênea na Europa, as práticas mercantilistas possuíam alguns
elementos comuns.
Elas partiam do ideal metalista44, ou seja, baseavam-se na concepção de que a riqueza de um Estado
dependia da quantidade de metais preciosos existente dentro de suas fronteiras. O metal poderia ser obtido
de forma direta, pela exploração de minas (aliás, como já dito, esgotadas na Europa desde o século XV),
ou do comércio, que possibilitava atrair e acumular moedas. Assim, surgiu o princípio da balança comercial
favorável, que associava a riqueza de uma nação à sua capacidade de exportar mais que importar.
Deste entendimento sobre a formação da riqueza nacional, muitos reis adotaram uma série de
medidas favoráveis à ampliação das exportações. Por meio do estímulo à produção manufatureira e
diminuição das importações, impunham barreiras tarifárias aos produtos estrangeiros, principalmente às
manufaturas que pudessem ser fabricadas dentro das fronteiras de seu Estado (protecionismo). Tais
orientações, revelando um alto grau de intromissão do Estado nas atividades produtivas, caracterizaram o
mercantilismo como uma política econômica fortemente intervencionista.
A adoção das práticas mercantilistas pelos diversos Estados europeus acabou por gerar um impasse
econômico: como realizar o comércio quando todos querem vender (exportar) e ninguém quer comprar
(importar)? Em outras palavras: como tornar a balança comercial mais favorável aos interesses do reino?
Muito desse impasse foi resolvido pelas armas, acreditando-se que o aumento da riqueza de um reino só
seria possível no confronto direto com Estados vizinhos.
A saída foi o estabelecimento de colônias nas terras descobertas na América, em meio à expansão
marítima. Assim, cada nação europeia, na medida do possível, buscou tornar-se metrópole de uma ou mais
colônias, disputando e desbancando Estados rivais no expansionismo. As colônias deveriam se converter
em áreas com as quais as metrópoles iriam estabelecer um comércio desigual, isto é, desequilibrado em
benefício de um dos lados, o que garantiria sua balança comercial favorável (Pacto Colonial). Ao mesmo
tempo, seriam extraídos das colônias os metais preciosos que estavam esgotados na Europa, alcançando-se
assim, por quaisquer vias, os objetivos mercantilistas e o fortalecimento do poder do Estado.
Devido às maiores possibilidades de acumulo de riqueza, a colonização passou a ser o principal
meio pelo qual os Estados europeus tentaram atingir seus objetivos mercantilistas. Portugal e Espanha,
precoces na expansão marítima e na partilha do mundo que se seguiu, usufruíram de significativos meios
para se enriquecerem: Portugal pôde explorar o mercado de especiarias, ao ter estabelecido rotas

44
No caso específico espanhol é utilizado o termo Bulhonismo, em referência ao nome da moeda espanhola. A Espanha foi a
nação que mais empregou o metalismo em toda a história.
Módulo 1 - 45 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
alternativas para as Índias Orientais. A Espanha apoderou-se de imensa riqueza em ouro e prata ao iniciar
o processo de exploração das minas americanas, na primeira metade do século XVI.
As demais nações europeias não reconheceram a partilha do mundo entre as nações ibéricas, e, ao
longo do século XVI, cobiçaram ferozmente a riqueza acumulada pelos reinos ibéricos, dedicando-se
frequentemente a ataques a suas colônias. Países como França e Inglaterra, retardatários no processo de
expansão marítima, pobres em colônias, foram obrigados a enfatizar outros aspectos do mercantilismo,
como o industrialismo.
De certa forma, é irônico observar que a base manufatureira da França e principalmente da Inglaterra
seria fundamental para a futura expansão capitalista desses dois países. Por outro lado, Espanha e Portugal,
com vastas colônias de onde eram capazes de extrair grande volume de metais preciosos, acabaram se
estagnando economicamente, tornaram-se cada vez mais dependentes de suas possessões na América e,
não raro, passaram por violentos surtos inflacionários provocados pelo excesso de metais preciosos. Além
disso, a manutenção de estruturas políticas que beneficiavam a nobreza e o clero foi fundamental para que
as nações ibéricas ficassem aquém do processo de desenvolvimento capitalista que se anunciava.

5) A Expansão Comercial:

Até época relativamente recente a ausência de boas estradas, as vastas extensões desabitadas, as
montanhas e demais acidentes geográficos constituíam empecilhos sérios ao desenvolvimento das trocas
comerciais. O intercâmbio de artigo de pequeno volume e peso ainda era viável nas caravanas de muares
ou camelos, ou em carroças, mas jamais as transações de vulto destinadas a abastecer de gêneros
alimentícios populações numerosas, ou a suprir de matérias-primas indústrias avançadas. Dessa forma, a
vantagem oferecida pela superfície ilimitada do mar para o transporte longínquo e o frete reduzido para os
produtos do solo ou da indústria evidenciaram-se desde a remota Antiguidade.
Na realidade, não foi senão no dia em que a navegação permitiu a países distantes e diferentes entre
si em civilização comunicarem-se, que o comércio propriamente dito nasceu. Por mar, o caminho está feito,
ou antes, não há necessidade de estradas; o elemento líquido suporta indiferentemente qualquer peso e sua
superfície permite o deslocamento livre em qualquer direção. A força motriz mais fraca, força gratuita, se
é empregado o vento, é suficiente para pôr em movimento massas enormes.
Não é, portanto, de ser admirar que o mar tenha sido por todos os tempos o grande caminho do
comércio e que povos separados por mil léguas de mar encontrem-se na realidade mais vizinhos que outros
separados por cem léguas de terra firme. Mesmo agora, com os progressos do transporte por via terrestre,
o transporte pelo mar é ainda menos oneroso, o que significa trabalho e custo menor. O preço do transporte
da tonelada quilométrica não ultrapassa quase nunca de um quinto a um décimo do preço do transporte por
via férrea. Em Marselha, o preço do carvão, que vem por mar da Inglaterra, passando pelo estreito de
Gibraltar e que percorre 3.500 quilômetros, é menor do que o do carvão transportado por estrada de ferro
procedente das minas de La Grande Combe, situadas a 177 quilômetros. Mares de livre navegação, lagos,
rios ou canais navegáveis constituem dádivas da natureza a determinadas regiões.
As vias aquáticas e a posição relativa das grandes regiões produtoras e consumidoras têm orientado
os fluxos comerciais do mundo. Por muitos séculos o Mediterrâneo foi o centro de cruzamento, no Mundo
Ocidental, das mais importantes linhas comercial-marítimas. Hoje é o Atlântico Norte.
Em outras épocas, alguns países beneficiaram-se da situação de proximidade das principais linhas
de deslocamento de mercadorias e das facilidades de acesso ao mar, propiciadas pelos seus litorais, para
assumirem a função lucrativa de intermediários do comércio mundial. A grande importância adquirida na
História Econômica pelo comércio fenício, púnico, holandês, genovês, veneziano ou inglês originou-se
justamente do fato de ter abarcado uma área extensíssima, servindo não apenas a algumas nações ou mesmo
a algum império, mas a vários continentes. As mercadorias que os navios fenícios deixavam ou apanhavam
nos portos desde a Espanha até o mar Negro, não eram, na sua maioria, nem destinadas às cidades sírias
nem delas procedentes. Mais provavelmente os artigos egípcios e babilônicos constituíam maior parte da
carga. Nas viagens de ida e nas viagens de volta, os artigos trazidos eram desembarcados nos portos de
onde pudessem atingir, depois, os países mais povoados e adiantados da época, sobretudo o Egito, a Assíria
ou a Babilônia.

Módulo 1 - 46 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
Também na Idade Média não era o sal, nem as sedas, nem os espelhos produzidos na Cidade dos
Doges que enchiam os milhares de navios venezianos nas viagens de ida para os extremos do Mediterrâneo,
nem ao consumo dos habitantes da cidade, ou da indústria, se destinavam na sua maioria as mercadorias
carregadas no regresso. Chegada a Veneza, parte substancial da carga tomava o caminho da França, da
Alemanha ou da Holanda pelas estradas alpinas. Mais tarde, ainda não foram o queijo, o arenque seco ou
os tecidos holandeses que bastaram para encher os porões dos navios batavos. Era necessário aí acrescentar
os vinhos franceses, as manufaturas e o carvão da Inglaterra, as madeiras dos países do Báltico, as peles
russas, as especiarias orientais e etc.
A prosperidade e a riqueza da Fenícia, de Gênova, de Veneza, da Holanda e mesmo de Portugal
achavam-se de tal modo na dependência dos lucros provenientes dos fretes e da revenda de mercadorias
levadas por seus navios de um ponto para outro das respectivas áreas de atividade mercantil, que aquelas
nações entraram em decadência quando perderam a posição privilegiada de intermediárias comerciais.
Tão grandes e evidentes são as vantagens advindas da exploração das rotas marítimo-comerciais,
que desde a antiguidade observa-se a tendência das nações procurarem obter a exclusividade de sua
utilização sempre que as circunstâncias o permitiam. Se o monopólio dos caminhos marítimos por uma
única potência, nos moldes almejados pelos fenícios e cartagineses ou mesmo pelos genoveses,
venezianos e holandeses, não é hoje viável, nem por isso deixou de existir uma desenfreada competição
internacional pela preponderância nas linhas de navegação mais lucrativas.
A superabundância de produtos agrícolas, manufaturados ou do subsolo, constitui uma segunda
circunstância favorável à criação e ao desenvolvimento do comércio marítimo, pois o extravasamento dos
excessos naturalmente se encaminha pela rota mais fácil, em busca dos mercados deles sequiosos
(necessitados). Sem dúvida alguma, nos Estados Unidos, a prosperidade de grande número de cidades da
costa do Atlântico, do Pacífico e do golfo do México, bem como o desenvolvimento da Marinha Mercante,
têm sido devidos ao volumoso comércio exportador e importador do país. Outro tanto se pode afirmar do
progresso de Hamburgo e de Bremen, cidades que a partir da segunda metade do século passado mais se
têm beneficiado do extraordinário surto do comércio exterior alemão. Nesses dois centros, os estaleiros e
as instalações portuárias e a tonelagem de navios mercantes neles registrados acompanharam o incremento
das transações comerciais da Alemanha. De uma maneira geral, as cidades portuárias que servem de
escoadouro a regiões produtivas, convertem-se em centros de intensa atividade comercial, tendendo ligar
mesmo os países de características continentais aos empreendimentos marítimos.
Algumas cidades como Londres, Nova York e Rotterdam, na atualidade, e Alexandria, na
Antiguidade, situadas sobre rios, no ponto de encontro das navegações marítimas e fluviais, beneficiaram-
se, mais do que quaisquer outras, do movimento mercantil nascido em consequência da situação vantajosa
por elas ocupadas. Por um lado, toda a produção do interior desce pelo caminho natural das águas até
encontrar o grande centro de distribuição representado pelas cidades da foz. Em contrapartida, também é
nesses centros que os produtos importados desembarcam antes de ganhar em sentido inverso os mercados
interiores. Foi assim que Alexandria, recebendo pelo Nilo os artigos agrícolas e industriais produzidos no
Egito, então um dos países mais ricos e adiantados, em contato pelo Mediterrâneo com a maior parte das
nações bárbaras e civilizadas da época, converteu-se numa das principais cidades da Antiguidade.
Rotterdam, na foz do Reno e do Escalda, que permitem a livre passagem de barcaças até bem o
interior da Europa, passando em zonas ricas da Bélgica, Alemanha e França, é o exemplo moderno, dos
mais eloquentes, de um centro de comércio que se beneficia, sobretudo, da posição geográfica. Anualmente,
muitas toneladas são movimentadas nos vinte e poucos quilômetros de cais daquela cidade. Não apenas o
comércio exportador e importador dos Países Baixos, mas também o comércio das nações circunvizinhas
encontra ali um ponto intermediário imprescindível. A fome de matérias-primas do Ruhr é saciada em
grande parte por Rotterdam, mais próxima que os portos alemães do Norte. A gigantesca produção da parte
mais industrial da Alemanha também se serve do seu porto quando destinada aos países do Sul da Europa,
ou de outros continentes.
Na América do Norte, nenhum centro comercial beneficia-se tanto da situação geográfica quanto
Nova York. Já um dos centros comerciais mais importantes desde os tempos coloniais, graças a seu porto
na foz do rio Hudson, servindo a uma área rica, Nova York agigantou-se com a abertura do canal Eriê em
1818, o qual permitiu a comunicação fácil com toda a vasta e rica região dos Grandes Lagos. Seu
desenvolvimento foi depois acelerado pela prosperidade da indústria americana localizada, em grande parte,

Módulo 1 - 47 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
dentro do raio de absorção do seu porto. É hoje Nova York o porto de maior movimento no mundo,
ultrapassando mesmo Londres.
Bem outra era a situação de Lisboa e Sevilha. Não sendo os rios Tejo e Guadalquivir navegáveis
acima daquelas cidades, nem constituindo o interior de Portugal e Espanha importantes regiões produtoras
ou consumidoras, permaneceram os dois portos ibéricos apenas como portos de escala para os produtos
asiáticos e americanos, mas não como verdadeiros centros distribuidores. Coube à Marinha holandesa a
tarefa, negligenciada pelos portugueses, de embarcar em Lisboa os produtos ali acumulados e encaminhá-
los para os mercados do norte da Europa, via Amsterdã ou Rotterdam. Com o fim do Império Colonial
Português nas Índias, os navios batavos passaram a fazer o percurso direto sem mais irem a Lisboa.
Assim, a prosperidade comercial promove a formação de cidades portuárias, de características
semelhantes, tanto nos países marítimos como nos continentais. Até um país eminentemente agrícola, como
a China, viu crescer Xangai desmedidamente por força da intensa atividade comercial ali desenvolvida, no
cruzamento de rotas marítimas e fluviais. Mesmo não levando o resto do país a se ligar aos
empreendimentos oceânicos, não há dúvida de que o nascimento de cidades portuárias importantes, fruto
da expansão comercial, marca um passo decisivo no sentido do desenvolvimento marítimo, pois nelas,
paulatinamente, congregam-se os elementos materiais e humanos indispensáveis à conquista dos caminhos
sobre as ondas e nelas passam a habitar as classes de prestígio com interesses permanentes e vultosos nas
atividades náuticas.
Graças ao florescente comércio e graças às condições geográficas que possibilitaram o
desenvolvimento de alguns de seus portos, nações eminentemente continentais, como o Egito antigo, os
Estados Unidos, a Alemanha e a Rússia foram levadas a participar da História Marítima.
É fato notório que o desenvolvimento econômico impõe, tacitamente, maior entrelaçamento
mercantil entre as nações e, consequentemente, uma maior dependência as comunicações marítimas. Tal
fato é observado desde a Antiguidade, adquirindo ainda maior realce com a Revolução Industrial. No caso
dos Estados Unidos, por exemplo, as cifras são concludentes. Segundo o relatório apresentado em 1952
pela Materiais Policy Comission, a produção americana em 1900 foi superior ao consumo em 15%. Em
1950 o consumo ultrapassou em 9% a produção. A estimativa da época para 1975, considerando o aumento
da população e do padrão de vida, previa um déficit de 20%. Em tais condições, na dependência crescente
de fontes externas, a antiga política isolacionista do agrado dos primeiros estadistas americanos, como
Washington e Jefferson, e ainda sustentada em certas regiões do país, tornou-se impossível. Uma lei de
embargo ao comércio exterior, como a decretada pelo Presidente Jefferson, em 1807, seria hoje rejeitada
como absurda antes de qualquer discussão.
A dependência progressiva da economia germânica às fontes externas é também facilmente
constatada. Basta um rápido confronto entre as situações econômicas enfrentadas pela Alemanha durante
as sucessivas guerras que enfrentou desde o fim do século XIX. Com efeito, durante os conflitos externos
de envergadura, o esforço total exigido coloca à prova não só a estrutura social e política da nação, mas
também põe à mostra todas as suas possibilidades e limitações econômicas. Sem depender grandemente do
exterior, a Alemanha venceu a França em 1870. O armamento de superior qualidade produzido pelo seu
parque industrial em rápida ascensão não necessitava então de matérias-primas procedentes do ultramar ou
mesmo de outros países europeus. Já na guerra de 1914-18, o esforço de guerra alemão foi seriamente
afetado pela dificuldade em conseguir determinados artigos essenciais no exterior. No Segundo Conflito
Mundial, mais uma vez privada das comunicações marítimas com a maior parte do mundo, a economia de
guerra alemã exigiu decisões estratégicas de alta relevância. A Campanha da Noruega, em 1940, assegurou
o suprimento de minério de ferro, cuja interrupção teria feito cair a produção siderúrgica germânica em
50%. Entretanto, a falta de petróleo constituiu sempre um pesadelo para a Alemanha, que, em 1942, foi
obrigada a orientar sua ofensiva de verão na Rússia em busca dos poços do Cáucaso, abandonando objetivos
de elevada significação como Moscou e Leningrado.
Na verdade, os alemães, e muito menos os americanos, não se dedicam aos afazeres náuticos com
o mesmo vigor e a mesma eficiência dos povos que procuram o mar compelidos pelo ambiente geográfico.
A participação americana no transporte marítimo de suas próprias exportações e importações, por várias
vezes no século XX desceu a percentagens bem baixas. Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, a
Marinha Mercante dos Estados Unidos não tem enfrentado vantajosamente a concorrência inglesa,
norueguesa ou holandesa. Entretanto, o vulto do comércio americano, por si só, é capaz de absorver toda a

Módulo 1 - 48 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
capacidade de transporte da frota mercante do país. Mediante algumas poucas leis protecionistas, a frota de
comércio dos Estados Unidos tem podido desenvolver-se, visto estar garantida a demanda de seus serviços.
A expansão comercial, mesmo sem incutir nos povos continentais a noção de dependência
econômica do mar, cria um jogo de interesses que obriga os governos a travarem contato com uma série de
problemas, entre os quais o do desenvolvimento marítimo é fundamental. Tanto na Alemanha como nos
Estados Unidos, bem antes das duas guerras mundiais, a ação estatal se fez sentir na esfera marítima,
visando à salvaguarda de interesses nacionais de primeira magnitude. Com o surto do comércio alemão,
Bismarck, em 1885, iniciou as subvenções a companhias de navegação germânica e posteriormente veio a
interessar-se por colônias. De forma semelhante à política exterior americana, coincidindo com a expansão
mercantil do país, adquiriu caráter até então inédito, assumindo, inclusive, aspecto imperialista no fim do
século XIX e começo do XX. Em ambos os países, essa mudança foi seguida de aumento considerável das
respectivas marinhas de guerra.
A influência do comércio no desenvolvimento das atividades oceânicas implicitamente estabelece
identidade entre os povos de espírito mercantilista e os de espírito marítimo. Essa identificação é flagrante
entre as diversas nações de características marítimas. Com exceção dos vikings, que permaneceram mais
ligados à pesca e à pirataria, os demais povos de acentuadas tendências marinheiras descambaram também
com vigor para a exploração marítimo-comercial. Duas ordens de razões explicam o fato: primeiro, nos
países de solo pobre ou limitado, como acontece na maioria das nações marítimas, uma fração importante
dos habitantes é forçosamente desviada do trabalho da terra para as atividades comerciais e industriais, em
busca de amparo econômico; o comércio assume assim uma relevância dificilmente atingível nas nações
de economia agrária. Segundo, só pela importação podem ser obtidos certos produtos indispensáveis à
alimentação do povo e ao funcionamento da indústria, o que implica, em contrapartida, um esforço para
desenvolver o comércio exportador que equilibre o sistema de trocas.
Viu-se que na Grécia antiga a população de Atenas dependia do suprimento de trigo das regiões do
mar Negro. O azeite, os artigos de cerâmica e os produtos espículas constituíam os elementos com que os
gregos efetuavam as trocas indispensáveis. De forma idêntica, os venezianos, muitos séculos depois, foram
encaminhados para o comércio, visto não haver possibilidade de encontrar no solo da República recursos
suficientes ao abastecimento dos habitantes. O sal, primeiro, e depois os vidros e as sedas permitiram o
desenvolvimento de um comércio capaz de contrabalançar as importações. Também o reconhecido espírito
mercantil do povo holandês provavelmente nasceu da necessidade de comprar fora das fronteiras produtos
agrícolas para a população adensada num território de escassa área.
Dos países do Báltico, da Alemanha e da França procediam grande parte dos alimentos com que,
quotidianamente, cada holandês completava suas refeições de peixe, e da Grã-Bretanha chegava a lã
indispensável ao funcionamento das indústrias têxteis. O arenque seco e o queijo serviram de base inicial à
prosperidade mercantil dos Países Baixos, possibilitando a importação dos variados produtos de que
careciam. Tal vulto atingiu o comércio holandês depois que se converteu na principal preocupação do
Estado.
Semelhantemente, a expansão comercial da Inglaterra, a partir do século XVIII, estabeleceu um
sistema de troca, cuja preservação tem sido até os dias atuais o propósito número um dos estadistas
britânicos. Não tanto para atender aos reclamos básicos da população de um país marítimo, mas
principalmente visando consolidar a posse da fonte de seu poderio, o vasto Império ultramarino, o povo
inglês tem-se dedicado com ardor inigualável aos empreendimentos oceânicos.
Chega-se aqui ao ponto em que a expansão comercial, o colonialismo e o desenvolvimento marítimo
entrelaçam-se. De uma maneira geral, os povos marítimos são também os povos colonizadores. As mesmas
causas que os fazem procurar o mar, os propelem também a emigrar em busca de amparo econômico noutras
plagas.
O colonialismo, entretanto, nem sempre apresenta a mesma feição. Alguns movimentos
colonizadores foram espontâneos, obedecendo a condições naturais, nascendo da ânsia de conseguir terras
férteis ou as riquezas fáceis representadas pelos minérios nobres. A expansão grega nos séculos IX e X aC
constitui um exemplo típico de uma obra colonial nascida da penúria das terras. As invasões vikings, parte
da obra colonial portuguesa, inglesa, espanhola e mesmo holandesa constituem outros exemplos nos quais
populações se transladaram em massa para outros continentes, levando o sangue, a língua e os costumes,
fundando, em suma, novas pátrias em novos ambientes. Mais comumente, porém, o movimento colonial

Módulo 1 - 49 - QOA-AA-AFN 2018/2019


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
tem possuído raízes comerciais. É a ânsia de assegurar o controle das fontes de matéria-prima e de mercados
consumidores que tem determinado a maioria delas.
O caráter comercial da colonização fenícia, cartaginesa, veneziana, genovesa, pisana e holandesa, e
algumas vezes o da inglesa e da lusitana, já foi acentuado. Sobretudo na Ásia e na África, os povos europeus
visaram, antes de tudo, o estabelecimento de pontos de apoio onde pudessem efetuar as trocas mercantis.
Também na América as potências colonizadoras não viram prolongamentos da Mãe-Pátria, mas campos a
serem explorados comercialmente, do que resultou, por fim, a revolta dos habitantes. Tanto a Inglaterra
como a Espanha e Portugal, seguindo o espírito da época, cercearam, com as leis odiosas, o
desenvolvimento econômico das colônias, desde que o mesmo pudesse por alguma forma ferir seus
interesses.
O colonialismo, baseado na posse de mercados produtores de matérias-primas e consumidores de
produtos manufaturados, levou mesmo alguns países continentais, como a França, a Alemanha e a Rússia,
a dele participarem. A obra colonial foi aí mais resultante da ação estatal, tendo sido mínima a participação
direta do povo, com pouca disposição para se deslocar em massa, em caráter definitivo, para ambientes
geográficos inteiramente adversos. Todavia, qualquer que seja sua feição, os impérios coloniais têm
dependido sempre da interligação marítima, impondo, consequentemente, o desenvolvimento dos
empreendimentos oceânicos para sua preservação e para atender ao intenso sistema de trocas.
Com a expansão comercial nos mares e com o colonialismo, devemos considerar outro aspecto da
história do desenvolvimento marítimo: o que se prende às contendas pela supremacia nas rotas oceânicas,
lutas essas que têm condicionado os destinos de muitos povos.
Conforme se verificou, a maioria das evoluções marítimas processou-se sob o império da força.
Raros países lograram atingir preponderância nos negócios marítimos sem terem apelado para a guerra.
Quase nenhuma nação entrou em decadência nos mares que não fosse em consequência de luta armada. Na
antiguidade os fenícios procuraram eliminar todos os possíveis concorrentes nas rotas oceânicas, não
poupando meios para alcançar esse fim. Eles foram suplantados pelos gregos, na porção oriental do
Mediterrâneo, depois de uma luta secular. Na parte ocidental do Mediterrâneo, os cartagineses, que também
eram fenícios de origem, suplantaram os etruscos e rechaçaram as investidas gregas, mas foram, por sua
vez, derrotados pelos romanos nas guerras surgidas em disputa das colônias na Sicília. Durante todo o fim
da Idade Antiga, Roma exerceu um benevolente domínio sobre o Mediterrâneo, no qual foi possível, aos
povos de suas praias comerciarem dentro dos limites que convinham. Ela era Senhora do Mundo Antigo.
Na Idade Média, as cidades marítimas da Itália, tendo provocado a ruína comercial de Bizâncio e
vencedoras dos sarracenos no Mediterrâneo, entraram em luta entre si, quando seus interesses foram
idênticos nas colônias do Oriente. No século XVI Portugal aniquilou a tiros de canhão o comércio egípcio
e árabe na Índia, sendo depois espoliado de suas conquistas pelos ingleses e holandeses. Esses povos do
Norte da Europa já antes se dedicavam com afinco ao assalto do transporte espanhol e por fim se
defrontaram em luta em disputa do bocado todo. No século XVII, a França procurou ascender à categoria
de potência colonial e comercial, ganhando, em consequência, a inimizade da Holanda e, sobretudo, da
Inglaterra, com quem guerreou desde os tempos de Richelieu até Napoleão. Ainda no fim do século XIX a
Inglaterra e a França eram nações rivais, com interesses coloniais antagônicos bem acentuados. Surgiu,
porém, ameaça maior obrigando os dirigentes da França e da Grã-Bretanha a fazerem uma revisão
fundamental na política exterior. O desenvolvimento marítimo-comercial germânico preocupou não apenas
a Inglaterra, mas também os Estados Unidos, que já haviam eliminado a Espanha como nação influente nas
Antilhas. Duas guerras mundiais aniquilaram as pretensões alemãs nas rotas marítimas.
Os russos chegaram ao mar Báltico lutando contra os suecos e os germânicos, e ao mar Negro,
guerreando contra os turcos. Suas ambições na Manchúria e na Coréia provocaram a agressão japonesa de
1904. O Japão, convertendo-se em importante potência comercial marítima, passou a ser no Oriente o
inimigo potencial da Inglaterra, da Holanda e dos Estados Unidos. A Segunda Guerra Mundial pôs fim às
aspirações nipônicas de domínio naquela parte do mundo.
Não se pode atribuir apenas à rivalidade marítimo-comercial colonial a causa de desencadeamento
de tantas guerras que tão decisivamente influíram nos destinos dos novos, mas, sem dúvida alguma, sua
contribuição não foi pequena, e a repercussão dessas lutas na esfera marítima foi imensa.
Às margens dos conflitos internacionais, desde a remota Antiguidade até pelo menos o século
passado, foram os mares teatro de lutas quase permanentes, pois populações numerosas viveram
consagradas ao assalto das riquezas transportadas pelos navios. Todos os povos do Mediterrâneo, de uma
Módulo 1 - 50 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
forma ou de outra, mesmo os mais civilizados, dedicaram-se, com bastante intensidade, à prática do roubo
em alto-mar.
Os habitantes das ilhas do mar Egeu, em particular, faziam da pirataria a indústria nacional por
excelência. Eles já preocupavam os Atenienses na época de Temístocles, cinco séculos aC, sendo
combatidos por César, Pompeu e Augusto, muitas gerações depois, e durante toda a Idade Média, italianos,
bizantinos e sarracenos sofreram seus ataques de rapina.
Os comerciantes pisanos, genoveses e venezianos, por seu turno, também eram corsários quando a
oportunidade surgia. Amálfi, Gênova, Pisa e Veneza eram centros de pirataria organizada. Elas deveram à
pirataria uma boa parte de suas riquezas. Tão normal eram considerados os ataques aos navios de outras
nacionalidades que o termo corsário, empregado nos atos genoveses, nada tinha de reprovável ou
pejorativo. Numerosos foram os mercadores italianos que, tendo dívidas a cobrar de algum grego e não o
podendo fazer, se tornaram corsários a fim de arrancar pela força o que não obteriam de outra forma.
Ainda nos séculos XVI e XVII as companhias inglesas e holandesas, destinadas à exploração
comercial na América e no Oriente, usavam métodos de rapina que mais se assemelhavam aos utilizados
por verdadeiros piratas. Algumas nações, a exemplo dos Estados berberes do Norte da África, tinham
mesmo na pirataria a principal fonte de renda. Até meados do século XIX a concessão de cartas de corso
foi de uso corrente em todos os países envolvidos em guerra, constituindo um meio para bandidos
internacionais ou aventureiros sequiosos de riquezas se aproveitarem das hostilidades. Os corsários foram
alguns dos melhores marinheiros da Grã-Bretanha, como Drake, Hawkin e Releigh, e da França, como Jean
Bart, Duguay-Trouin e Surcout.
A necessidade de proteger o tráfego marítimo dos assaltos das potências inimigas ou dos piratas e a
conveniência em privar o adversário das vantagens das rotas sobre as águas, conduziram à formação, desde
épocas bem remotas, das marinhas de guerra. A necessidade de marinha de guerra, no sentido restritivo da
palavra, surge, portanto, da existência do transporte marítimo e desaparece com ele, exceto no caso de a
nação ter tendências agressivas e manter a marinha mercante como um ramo da organização militar. A
ligação da marinha de guerra ao transporte marítimo é tão íntima que por muito tempo não houve nítida
distinção entre o navio de combate e o navio mercante. Principalmente na Antiguidade, os traficantes
cuidavam, eles próprios, da proteção de suas frotas mercantes, armando os navios, e também dos ataques
ao transporte dos rivais. O comerciante era ao mesmo tempo marinheiro e guerreiro, adotando o
procedimento mais conveniente conforme as circunstâncias.
Assim agiam os fenícios, os cartagineses, os gregos e os italianos cujas Maonas não eram mais do
que expedições marítimo-comerciais apoiadas na força militar. Ainda nos séculos XVI e XVII, os
traficantes portugueses, ingleses, franceses e holandeses resolviam muitas de suas disputas a tiros de
canhão, malgrado a paz reinante entre seus países. Foi da amálgama de corsários, aventureiros,
comerciantes, navios de comércio, navios particulares ou armados pelo Estado, que nasceram as Marinhas
de Guerra inglesa e holandesa. Desde que se constituíram definitivamente as marinhas de guerra sob a égide
do Estado, o apoio das forças navais ao comércio passou a ser reflexo da política adotada pelo governo. Foi
apoiado nos canhões das marinhas de guerra que as potências europeias, do século XVII ao século XIX,
alargaram seus domínios coloniais e comerciais na Ásia, África e Oceania. Foi devido à presença da
esquadra do Comodoro Perry que o Japão se viu constrangido a reatar relações com o resto do mundo.
Sem dúvida alguma, a interligação das histórias do comércio, da expansão colonial e do poderio
marítimo remonta aos fenícios. Sem o apoio de marinha de guerra, própria ou de potência aliada, nenhuma
nação logrou beneficiar-se por muito tempo do transporte oceânico. O lento trabalho do estabelecimento
de uma rede comercial e a formação de uma frota mercante, devidamente apoiada em terra, servidora dessa
rede mercantil, são obras de alento que exigem décadas de labor continuado em setores múltiplos, por parte
de milhares de indivíduos.
Em caso de guerra, a falta de poder no mar tem representado o fim de toda essa obra em pouco
tempo. Como a eventualidade de um conflito armado nunca pôde ser afastada do espírito de dirigentes
responsáveis, pois a História mostra que os ciclos guerreiros se repetem num intervalo menor do que o
tempo exigido pelo completo desenvolvimento marítimo-comercial de um país, resulta que, quase sempre,
as marinhas militares expandem-se à medida que a esfera do comércio marítimo da nação se amplia. Muitas
vezes, porém, a exiguidade de recursos materiais impede o desenvolvimento da Marinha de Guerra de
acordo com suas responsabilidades, e o país é obrigado a confiar a proteção de seus interesses marítimos a
potências estrangeiras, valendo-se de alianças. Foi para a proteção recíproca do comércio marítimo que as
Módulo 1 - 51 - QOA-AA-AFN 2018/2019
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. Vagner Souza
cidades gregas fundaram as chamadas Ligas Délicas. Foi procurando o apoio do poderio naval britânico,
necessário à preservação de seu Império, que Portugal, enfraquecido no mar, renovou constantemente sua
aliança com a Inglaterra.
Durante as duas guerras mundiais, sem a proteção da Royal Navy e da US Navy, as frotas mercantes,
o comercio e a maior parte das colônias dos demais países aliados teriam sido destruídos ou capturados.
Enquanto a marinha de comércio e as atividades mercantis de países poderosos como a Alemanha, a Itália
e o Japão eram quase totalmente eliminadas dos mares, nações de pequeno poderio naval como a Noruega,
a Holanda e a Grécia encontraram na aliança com as potências anglo-saxônicas a relativa segurança que
preservou de catástrofe total seus interesses marítimos e coloniais.
A expansão do comércio marítimo de uma nação tem o efeito paradoxal de estimular o
desenvolvimento das marinhas de guerra dos inimigos eventuais, pois no exercício do poder marítimo as
potências não visam apenas utilizar a rota oceânica, mas também negar seu uso ao inimigo. Desde que se
torna evidente a dependência de um país às rotas marítimas, é quase certo procurarem as potências rivais
dispor dos meios para, em caso de guerra, atacarem esse elo vital. Foi por essa razão que no século XVII a
Marinha Real inglesa se desenvolveu até ultrapassar a Marinha de Guerra batava, numa época em que os
Países Baixos tinham uma frota mercante quatro vezes superior à britânica, dominando o comércio mundial.
Com as derrotas de sua esquadra e consequente paralisação do comércio, a Holanda se viu obrigada a pedir
a paz, embora nenhum exército inglês ameaçasse seu território metropolitano.
Substituindo a Holanda no tráfego mundial, daí em diante a situação se inverteu para a Grã-Bretanha
e, em todos os conflitos seguintes de que participou, o seu comércio marítimo foi o alvo predileto dos
ataques navais inimigos. Não podendo atacar o território da própria Inglaterra, protegida por poderosa
Marinha de Guerra, os esforços navais das potências que contra ela guerreavam voltaram-se sempre com
fúria para as ligações marítimas na esperança de obter o seu estrangulamento econômico. O assalto ao
comércio marítimo inglês incentivou por quase três séculos os corsários franceses, holandeses e
americanos. Empresas e estaleiros foram fundados com o único fim de proporcionarem recursos a tais
ataques.
Na Primeira Guerra Mundial, a partir de 1917, grande parte do esforço bélico alemão foi orientado
no sentido de eliminar o comércio marítimo aliado, principalmente britânico, última esperança de alcançar
a vitória. Centenas de submarinos foram construídos em série, com a máxima rapidez, na tentativa
desesperada de obter a solução. Antes da Segunda Guerra Mundial a Marinha de Guerra germânica foi
planejada, tendo ainda como fim principal o ataque ao sistema de transportes marítimos dos inimigos
eventuais. Também é a dependência ao comércio marítimo por parte das potências anglo-saxônias que
determinou a ascensão da Marinha de Guerra russa no século XX.
Pelas razões acima expostas, pode-se afirmar que a expansão comercial foi um estímulo dos mais
decisivos para o desenvolvimento marítimo, pois hoje como nos últimos três mil anos o transporte sobre as
águas é o mais barato e muitas vezes o único viável. Todavia, enquanto nas evoluções marítimas de
determinados povos o desenvolvimento comercial apareceu como elemento derivado do ambiente
geográfico ao qual ele se somou incrementando ainda mais os empreendimentos oceânicos, nas evoluções
do Egito, Alemanha etc., foi a expansão comercial fator inicial e decisivo da marcha dessas nações para as
aventuras sobre as superfícies líquidas. Não se pode dizer, com efeito, que foi o hábito da navegação que
levou os egípcios antigos, os alemães ou os americanos a se transformarem em traficantes nos mares, mas
sim a necessidade de comerciar que os compeliu a cuidarem das empresas marítimas.
Paralelamente, verifica-se constituir a capacidade de utilizar as vias marítimas em quaisquer
circunstâncias, negando ao mesmo tempo sua utilização às potências inimigas, a expressão última e
almejada do desenvolvimento de uma nação nos oceanos.

Módulo 1 - 52 - QOA-AA-AFN 2018/2019

Вам также может понравиться