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ASSéDIO
ENSEMBLE
TNSJ
2006
11-02-2019/2
Ir e Vir
(Come and Go: A dramaticule, 1967 / Va-et-vient:
Dramaticule, 1966)
de Samuel Beckett
Personagens
FLO
VI
RU
(Idades indeterminadas)
11-02-2019/5
VI: Quando foi a última vez que nós as três nos juntámos?
RU: Não falemos.
(Silêncio.
VI sai pela esquerda.
Silêncio.)
FLO: Ru.
RU: Sim.
FLO: O que achas da Vi?
RU: Não mudou muito. (FLO desloca-se para o centro do
banco, ocupando o lugar deixado vazio por VI, e
sussurra ao ouvido de RU. Chocada.) Oh! (Olham uma
para a outra. FLO leva o dedo ao lábios.) E ela não
percebe?
FLO: Deus queira que não.
(VI entra. FLO e RU voltam-se para a frente, retomando
a postura inicial. VI senta-se à esquerda, no lugar antes
ocupado por FLO.
Silêncio.)
Vamos ficar sentadas, assim, as três, lado a lado, como
antigamente, no recreio do colégio das freiras.
RU: Sobre o tronco.
(Silêncio.
11-02-2019/6
Cortina.
11-02-2019/8
NOTAS
Posições sucessivas
1 FLO VI RU
2 FLO RU
FLO RU
3 VI FLO RU
4 VI RU
VI RU
5 VI RU FLO
6 VI FLO
VI FLO
7 RU VI FLO
Mãos
RU VI FLO
Luz
Suave, unicamente de cima e concentrada no espaço de representação. O resto
do palco o mais possível às escuras.
Figurinos
Três casacos compridos, abotoados em cima: violeta escuro (VI), vermelho
escuro (RU) e amarelo escuro (FLO). Três chapéus, com umas abas
suficientemente largas para garantir que os rostos permaneçam na sombra. As
três personagens o mais possível parecidas, diferenciadas unicamente pela cor
dos casacos. Sapatos ligeiros com solas de borracha. As mãos o mais visíveis
possível com a ajuda da maquilhagem. Ausência aparente de anéis.
Banco
Um banco estreito, sem costas, suficientemente longo para que as três
mulheres se possam sentar sem precisarem de se tocar. O menos visível
possível. Não deve ser claro em que é que elas estão sentadas.
11-02-2019/9
Saídas
Não se deve conseguir ver as saídas das figuras do palco. Devem desaparecer
a alguns passos da área iluminada. Se não estiver suficientemente escuro para
a realização deste efeito, pode recorrer-se à utilização de painéis ou de cortinas
o menos possível visíveis. Saídas e entradas lentas, sem se ouvir o som dos
passos.
Exclamações
Três sons muito diferentes.
Vozes
No limite da audibilidade. Sem qualquer timbre ou cor, à excepção das três
exclamações a seguir a cada uma das confidências sussurradas e das duas
réplicas seguintes.
11-02-2019/10
Um Fragmento de
Monólogo
(A Piece of Monologue, 1979 / Solo, 1982)
de Samuel Beckett
Cortina.
Luz fraca e difusa.
O RECITANTE encontra-se próximo da boca de cena, à
esquerda.
Cabelo branco, camisa de dormir branca, meias brancas.
Dois metros à sua esquerda, ao mesmo nível, à mesma
altura, um candeeiro a petróleo, com um globo branco, do
tamanho de um crânio, fracamente iluminado.
Completamente à direita, ao mesmo nível, a extremidade
branca de um catre.
Dez segundos antes do início do discurso.
Trinta segundos antes do final do discurso, a luz do
candeeiro começa a diminuir.
Candeeiro apagado. Silêncio. O RECITANTE, o globo, o pé
do catre, escassamente visíveis na luz difusa.
Dez segundos.
Cortina.
11-02-2019/13
Baloiço
(Rockaby, 1981 / Berceuse, 1982)
de Samuel Beckett
NOTAS
Luz: Moderada, unicamente sobre a cadeira. O resto do palco no
escuro.
Um foco igualmente moderado e constante sobre o rosto, ao longo
de toda a representação, indiferente às sucessivas alterações na
intensidade da luz. Ora suficientemente amplo para incluir os
limites estreitos do baloiçar da cadeira ora concentrado no rosto
em repouso ou durante o acto de baloiçar. Depois, durante o
discurso, o rosto ligeiramente oscilante, entrando e saindo da luz.
Subida lenta da luz, na abertura: primeiro, foco apenas sobre o
rosto, pausa longa, depois luz sobre a cadeira.
Descida lenta da luz, no final: primeiro, a cadeira, pausa longa com
foco apenas sobre o rosto, a cabeça inclinando-se ligeiramente até
parar, desaparecimento da luz.
11-02-2019/23
M: Mais.
(Pausa. Baloiçar e voz juntos.)
V: até que por fim
chegou o dia
por fim chegou
no final de um longo dia
em que ela disse
para si própria
para quem mais
tempo de parar
tempo de parar
de andar
para a frente e para trás
toda ela olhos
por todos os lados
em cima e em baixo
em busca de uma outra
uma outra como ela
uma outra criatura como ela
um pouco como ela
para a frente e para trás
toda ela olhos
por todos os lados
em cima e em baixo
em busca de uma outra
até que por fim
no final de um longo dia
para si própria
para quem mais
tempo de parar
11-02-2019/25
tempo de parar
de andar
para a frente e para trás
toda ela olhos
por todos os lados
em cima e em baixo
em busca de uma outra
uma outra alma viva
para a frente e para trás
toda olhos como ela
por todos os lados
em cima e em baixo
em busca de uma outra
uma outra como ela
um pouco como ela
de andar
para a frente e para trás
até que por fim
no final de um longo dia
para si própria
para quem mais
tempo de parar
de andar
para a frente e para trás
tempo de parar
tempo de parar
(Juntas: eco de “tempo de parar”, coincidindo com a
interrupção do baloiçar, descida ligeira da iluminação.
Pausa longa.)
M: Mais.
11-02-2019/26
M: Mais.
(Pausa. Baloiçar e voz juntos.)
V: até que por fim
chegou o dia
por fim chegou
no final de um longo dia
sentada à sua janela
tranquila à sua janela
única janela
voltada para outras janelas
outras únicas janelas
os estores todos para baixo
nunca um subido
apenas o seu subido
até que chegou o dia
por fim chegou
no final de um longo dia
sentada à sua janela
tranquila à sua janela
toda ela olhos
por todos os lados
em cima e em baixo
em busca de um estore subido
um só estore subido
não mais do que isso
nem pensar num rosto
por detrás da vidraça
olhos famintos
como os seus
de ver
11-02-2019/29
de serem vistos
não
um estore subido
como o seu
um pouco como o seu
um estore subido não mais
uma outra criatura ali
algures ali
por detrás da vidraça
uma outra alma viva
até que chegou o dia
por fim chegou
no final de um longo dia
em que ela disse
para si própria
para quem mais
tempo de parar
tempo de parar
sentada à sua janela
tranquila à sua janela
única janela
voltada para outras janelas
outras únicas janelas
toda ela olhos
por todos os lados
em cima e em baixo
tempo de parar
tempo de parar
(Juntas: eco de “tempo de parar”, coincidindo com a
interrupção do baloiçar, descida ligeira da iluminação.
Pausa longa.)
11-02-2019/30
M: Mais.
(Pausa. Baloiçar e voz juntos.)
V: de modo que por fim
no final de um longo dia
ela desceu
por fim desceu
a escada íngreme
baixou o estore e desceu
mesmo até lá abaixo
e sentou-se
na velha cadeira de baloiço
a cadeira da sua mãe
em que a sua mãe baloiçava
todos os dias de todos os anos
toda de preto vestida
no seu melhor preto
sentava-se e baloiçava
baloiçava
até o seu fim chegar
por fim chegar
enlouquecida diziam
enlouquecida
mas inofensiva
enlouquecida e inofensiva
morta um dia
não
uma noite
morta uma noite
na cadeira de baloiço
no seu melhor preto
11-02-2019/31
a cabeça tombada
e a cadeira baloiçando
continuando a baloiçar
de modo que por fim
no final de um longo dia
ela desceu
por fim desceu
a escada íngreme
baixou o estore e desceu
mesmo até lá abaixo
e sentou-se
na velha cadeira de baloiço
aqueles braços por fim
e baloiçou
baloiçou
de olhos fechados
fechando os olhos
ela durante tanto tempo
toda olhos
olhos famintos
por todos os lados
em cima e em baixo
para a frente e para trás
sentada à sua janela
para ver
ser vista
até que por fim
no final de um longo dia
para si própria
para quem mais
tempo de parar
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Não Eu
(Not I, 1973 / Pas moi, 1975)
de Samuel Beckett