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ESCOLA DE DIREITO
Janeiro de 2018
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ÍNDICE
ABREVIATURAS 3
INTRODUÇÃO 4
4.1. IABA 14
4.2. ISP 15
4.3. IT 16
CONCLUSÕES 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20
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ABREVIATURAS
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INTRODUÇÃO
1 Importa referir que os impostos indiretos incidem sobre a matéria coletável indiretamente demonstrada, ou seja, incidem
sobre o rendimento e o património utilizados.
2RIBEIRO, José Joaquim Teixeira, in “Lições de Finanças Públicas”, Coimbra, Coimbra Editora, 5.ª Edição, 2011, página
337.
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1. IMPOSTOS GERAIS SOBRE O CONSUMO - referência
Ao invés dos impostos indiretos especiais - que recaem apenas sobre certos produtos
ou sobre a prestação de determinados serviços -, os impostos gerais sobre o consumo,
incidem sobre a totalidade das despesas do sujeito passivo, independentemente de estas se
relacionarem com o consumo de bens essenciais ou de luxo. Porém, alguns autores, de entre
os quais José Joaquim Teixeira Ribeiro 3, consideram que não estão em causa impostos
verdadeiramente gerais, uma vez que certos consumos estão sujeitos a taxas díspares ou não
são tributados porque estão isentos.
Os impostos gerais sobre o consumo podem ser monofásicos ou plurifásicos. Os
impostos monofásicos atuam apenas sobre uma fase do circuito económico: sobre os
produtores, sobre os grossistas, sobre os retalhistas ou sobre os consumidores. Neste caso,
quando ocorre a transferência para a fase seguinte do circuito económico, o imposto já não
vai existir.
Por seu turno, os impostos plurifásicos atuam sobre todas as fases do circuito
económico. Existem dois tipos ou modelos de impostos plurifásicos: o imposto sobre as
transações e o imposto sobre o valor acrescentado. O imposto sobre as transações vai atuar
em cada fase do circuito económico (pelo que todos os agentes têm que liquidar e pagar
imposto), mas com uma particularidade: em qualquer fase em que ele atue, nenhum agente
económico se pode desonerar do pagamento, nem pode, até chegar ao consumidor, deduzir o
imposto pago. Assim, não é necessário um registo de produtores, grossistas ou retalhistas, o
que torna o imposto muito simples.
Desta forma, quando os produtores vendem aos grossistas, têm que repercutir, no
preço, o valor do imposto pago porque não o podem deduzir; o mesmo acontece quando os
grossistas vendem aos retalhistas e, posteriormente, quando estes vendem aos consumidores.
Considerando a configuração descrita, quando o produto chega ao consumidor, há
uma tributação em cascata, já que o valor de imposto se repercute no preço do bem que vai
ser transmitido (apesar de as taxas serem baixas, trata-se de um imposto dotado de uma
grande capacidade recoletora, já que a incidência é grande). A tributação em cascata é, assim,
sempre o grande risco dos impostos sobre o consumo.
4 Contudo, apesar de não ser sujeito passivo (artigo 18.º, n.º 4, alínea a) da LGT), quem suporta o imposto é o consumidor
final, já que é sobre ele que, por repercussão, recai o ónus do seu pagamento. O consumidor é, assim, contribuinte de facto e
não contribuinte de direito.
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tributável é bastante ampla, pelo que estes impostos conseguem ser geradores de uma
percentagem de receita considerável.
Contudo, esta ampla incidência não implica que sejam tributados os bens de consumo
essenciais, os quais podem ser desonerados sem que daí advenha uma quebra na receita
gerada, já que, em contrapartida, se tributam mais pesadamente os bens que não sejam
considerados de primeira necessidade - veja-se o que acontece com o IVA, o qual conhece
três taxas: uma normal (de 23%), uma intermédia (de 13%) e uma reduzida (de 6%)5.
Os impostos gerais sobre o consumo são, ainda, importantes instrumentos de luta
contra a inflação quando esta tem origem no excesso de procura: se o Estado aumenta a taxa
de imposto, a procura total reduz-se. Porém, para que os impostos gerais de consumo
prossigam este objetivo, o ente público tem que impedir a subida dos preços dos fatores de
produção, especialmente dos salários.
5 As taxas referidas vigoram em Portugal Continental, estando previstas taxas diferentes para as Regiões Autónomas dos
Açores (taxa normal de 18%, taxa intermédia de 9% e taxa reduzida de 4%) e da Madeira (taxa normal de 22%, taxa
intermédia de 12% e taxa reduzida de 5%).
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2. FUNÇÕES DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO
6 Para além do sal, o mesmo acontecia com os cereais, com o peixe e com as especiarias.
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No entanto, os IEC não são defensáveis apenas por permitirem a tributação dos
consumos mais produtivos: são-no, também, porque implicam custos de gestão diminutos
quando comparados com os demais impostos (em contraposição com os impostos sobre o
rendimento, não implicam tantas obrigações declarativas e, para a sua gestão, os agentes
económicos servem-se dos mesmos mecanismos que utilizam para o pagamento do IVA).
Porém, a diminuição dos custos de gestão só é possível porque a liquidação do
imposto é transferida para o topo do circuito económico (isto é, para os produtores), o que
implica uma redução do número de agentes produtivos. Desta forma, a tributação seletiva do
consumo não é neutra para o circuito económico, originando fusões artificiais que visam
apenas permitir uma cobrança mais cómoda dos IEC.
Como são cobrados junto de um número limitado de produtores, os IEC implicam
custos administrativos diminutos, os quais aumentam quando se fala na função de
fiscalização. Como os IEC são portadores de uma carga tributária considerável, são fortes os
estímulos à fraude e à evasão fiscais, aspeto que faz aumentar os custos associados à
fiscalização da produção e da circulação dos bens sujeitos a imposto.
A última virtude dos IEC a referir nesta sede consiste na sua insensibilidade ou
anestesia: em contraposição com outros impostos, como os que incidem sobre o rendimento,
os IEC despertam nos contribuintes uma oposição quase nula.
Esta característica justifica-se, antes de mais, pela invisibilidade dos IEC. Perante o
preço final de um bem ou serviço, o consumidor não consegue distinguir o valor pago ao
comerciante ou ao prestador de serviços do valor pago ao poder político central, a título de
IEC.
Por outro lado, como recaem sobre bens ou serviços selecionados e que contribuem
para a demarcação social, os consumidores estão dispostos a suportá-los em vista do estatuto
que pretendem alcançar na hierarquia societária. Daqui também decorre que, mesmo sendo
geradores de uma diminuta oposição por estas minorias, os IEC nunca são geradores de uma
oposição generalizada.
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2.2. Função extra-fiscal
O recurso aos IEC justifica-se cada vez menos pela busca de receita, já que este modo
de tributação indireta desempenha mais eficazmente objetivos de redistribuição da riqueza e
de repressão de certos consumos indesejados.
Relativamente à redistribuição da riqueza, os IEC são instrumentais face aos
princípios da capacidade contributiva e da justiça social, uma vez que oneram bens e serviços
que evidenciam uma riqueza que deve ser tributada - vai neste sentido o disposto no artigo
104.º, n.º 4 da CRP.
Contudo, a principal função extra-fiscal dos IEC é a repressão de determinados
consumos, assumindo-se, assim, como alternativa à sua total proibição. Como, na maior parte
dos casos, o custo social da produção ou do consumo de certos bens não coincide com o seu
custo privado, a repercussão do IEC no preço final faz com que seja o consumidor a suportar
aquele custo. Assim, os IEC obedecem ao princípio da equivalência, procurando onerar os
contribuintes na medida dos custos que estes provocam nos domínios do ambiente e da saúde
pública, em concretização de uma regra geral de igualdade tributária - artigo 2.º do CIEC.
Através da quantia que é entregue ao Estado, este visa a repressão de certos consumos
nocivos, pelo que, de acordo com Sérgio Vasques e Tânia Carvalhais Pereira, estão em causa
“impostos proibitórios”, de “contra-motivação de consumos” ou de “estrangulamento” 7.
7VASQUES, Sérgio; PEREIRA, Tânia Carvalhais, “Os Impostos Especiais de Consumo”, Coimbra, Edições Almedina,
2016, página 72.
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3. HISTÓRIA DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO
Na Idade Média, os impostos, tal como concebidos nos dias de hoje, não existiam,
sendo que a vida em comunidade assentava em prestações de outra natureza:
Assim, os novos IEC deixaram de assumir uma função de regulação da economia para
passarem a prosseguir, sobretudo, uma importante função extra-fiscal, desencorajando o
consumo de bens nocivos para a saúde e para o ambiente.
Foram estes motivos que, no caso português, conduziram à reforma da tributação
automóvel, aumentando a taxa de imposto em função das emissões poluentes e à consagração
do imposto sobre o álcool, as bebidas alcoólicas e as bebidas adicionadas de açúcar ou outros
edulcorantes, bem como do imposto sobre o tabaco.
Em suma, é possível concluir que, ao longo dos vários períodos descritos, as
considerações de interesse público estiveram sempre presentes nos impostos (especiais) sobre
o consumo, no entanto, foram assumindo uma configuração distinta. Se, no Estado Fiscal, a
tributação visava essencialmente a arrecadação da maior receita possível face à menor
oposição popular, rapidamente, nas épocas liberal e socialista, os impostos sobre o consumo
prosseguiram importantes objetivos políticos. E, apesar de no período entre as duas Grandes
Guerras Mundiais terem perdido importância, nos anos noventa surgiu o paradigma que ainda
hoje se mantém: que os IEC visam a repressão de comportamentos nocivos, em detrimento da
arrecadação de receita.
4.1. IABA
10 FUSCO, Gabriela Rute Avó, “Impostos Especiais sobre o Consumo em Portugal: a extrafiscalidade e a saúde”,
Dissertação apresentada no ISG para a obtenção do Grau de Mestre em Gestão Fiscal, páginas 43 e 44.
11A Nomenclatura Combinada (NC) é a nomenclatura das mercadorias da União Europeia que satisfaz as exigências das
estatísticas do comércio internacional (intra e extra-comunitário) e da pauta aduaneira, nos termos do artigo 9.º do Tratado
que institui a Comunidade Económica Europeia.
A NC baseia-se no SH (Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias do Conselho de Cooperação
Aduaneira), retomando-o na íntegra e só o subdividindo quando tal é necessário para as estatísticas do comércio externo, a
regulamentação agrícola ou a pauta aduaneira. Porém, a NC contém também Notas Complementares dos Capítulos (isto é,
notas relativas às subdivisões NC das sub-posições SH), as taxas dos direitos aduaneiros e unidades suplementares - in
“Nomenclatura Combinada 2018”, Lisboa, INE, IP, 2018.
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Porém, o IABA não incide apenas sobre as bebidas alcoólicas, recaindo também sobre
as bebidas adicionadas de açúcar ou outros edulcorantes, nos termos dos artigos 1.º, alínea a),
in fine e 87.º-A e seguintes do CIEC.
A taxa de mortalidade de pessoas portadoras de diabetes, em Portugal, é quase o
dobro da média da União Europeia, pelo que, tendo por base as experiências de outros países
que tentam solucionar este problema através da tributação dos produtos com excesso de
açúcar, nomeadamente os refrigerantes, o ordenamento jurídico nacional estendeu o IABA às
bebidas não alcoólicas referidas no artigo 87.º-A do CIEC.
Do mesmo modo, os números associados à obesidade vertidos no relatório “Portugal:
Alimentação Saudável em Números 2014” elaborado pela DGS exigem a adoção medidas
ainda mais abrangentes que, ao nível da tributação, inibam o consumo de açúcar, já que: a
obesidade atinge 1 milhão de adultos em Portugal e 3.5 milhões são pré-obesos.
Relativamente às crianças entre os 6 e os 9 anos, 15% são obesas e, mais de 35% sofre de
excesso de peso. Já nos adolescentes com mais de 15 anos, regista-se que 31% dos rapazes e
18% das raparigas têm excesso de peso e que 24% e 17%, respectivamente, são obesos.
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4.2. ISP
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Já no âmbito da legislação consolidada, o ISP foi o imposto especial sobre o consumo
que conheceu uma evolução mais significativa em termos de incidência objetiva. Assim, o
CIEC de 1999 excluía do âmbito de aplicação deste imposto outros hidrocarbonetos sólidos,
como o gás natural, o carvão e a lenhite, exclusão não consagrada no CIEC de 2010. Este
diploma consagra o ISP no artigo 1.º, alínea b) e disciplina-o nos artigos 88.º e seguintes. No
artigo 88.º, n.º 1, delimita a incidência objetiva, pelo que, estão sujeitos ao ISP:
a) Os produtos petrolíferos e energéticos;
b) Quaisquer outros produtos destinados a serem utilizados, colocados à venda ou a
serem consumidos em uso como carburante;
c) Os outros hidrocarbonetos, com exceção da turfa, destinados a serem utilizados,
colocados à venda ou a serem consumidos em uso como combustível;
d) A eletricidade abrangida pelo código NC 2716 (neste caso, o legislador recorre à
Nomenclatura Combinada para delimitar a base de incidência do ISP).
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4.3. IT
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CONCLUSÕES
Os impostos especiais sobre o consumo, como impostos que são, embora também
prossigam finalidades de arrecadação de receita, há muito que esta deixou de ser a sua
finalidade prioritária, assumindo-se como instrumentos de repressão e de alteração de
comportamentos.
Partindo de uma análise histórica, facilmente se constata que os impostos especiais de
consumo, em contraposição com os impostos gerais sobre o consumo, têm vindo a prosseguir
uma importante função para-fiscal, onerando os consumos que, por razões de interesse
público, se pretende desencorajar. Assim, ao longo dos períodos históricos descritos no
presente trabalho, conclui-se que as considerações de interesse público estiveram sempre
presentes nos impostos (especiais) sobre o consumo, no entanto, foram assumindo uma
configuração distinta.
Se, no início Estado Fiscal, a tributação visava essencialmente a arrecadação da maior
receita possível face à menor oposição popular, rapidamente, nas épocas liberal e socialista,
os impostos sobre o consumo prosseguiram importantes objetivos políticos. E, apesar de no
período entre as duas Grandes Guerras Mundiais terem perdido importância, nos anos
noventa surgiu o paradigma que ainda hoje se mantém: que os IEC visam a repressão de
comportamentos nocivos, em detrimento da arrecadação de receita.
Atualmente, fruto da influência da legislação Europeia, os Estados-Membros
desenvolveram esforços de uniformização e de unificação das legislações nacionais. Disso
não foi exceção Portugal, primeiro por meio do CIEC de 1999 e, depois, através do CIEC de
2010, ainda vigente mas alvo de sucessivas alterações. Se, desde a legislação de primeira
geração, sempre estiveram consagrados o IABA, o ISP e o IT, estes conheceram um
alargamento da sua base de incidência objetiva, sujeitando-se a tributação cada vez mais
produtos, considerando os estudos efetuados a nível internacional, pela OMS e, a nível
interno, pela DGS.
Apesar deste alargamento, o sistema português parece ainda apresentar uma lacuna no
que concerne ao consumo de açúcares, não prevendo um IEC que incida unicamente sobre
eles. Realidade que, aliás, nos parece estranha, já que, como foi referido, a taxa de
mortalidade de pessoas portadoras de diabetes, em Portugal, é quase o dobro da média da
União Europeia. Para reforçar a nossa opinião, contamos também com os dados sobre a
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obesidade vertidos no relatório “Portugal: Alimentação Saudável em Números 2014”,
elaborado pela DGS.
Posto isto, o alargamento do IABA às bebidas adicionadas de açúcar e outros
edulcorantes não é suficiente e, parece-nos que os dados mencionados exigem a introdução
de um novo IEC que se dedique exclusivamente à tributação dos produtos dotados de uma
percentagem de açúcares refinados nociva para a saúde pública.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• “A Introdução das Fat Taxes em Portugal: Algumas Considerações Estudos 1”, http://
www.cedipre.fd.uc.pt/observatorio, Coimbra, maio de 2016.
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