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UNIVERSIDADE DO MINHO

ESCOLA DE DIREITO

MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO

AS FINALIDADES DE INTERESSE PÚBLICO DOS IMPOSTOS


ESPECIAIS SOBRE O CONSUMO: EVOLUÇÃO E ESTADO ATUAL

Diana Isabel Patrício Saraiva

Trabalho elaborado no âmbito da Unidade


Curricular de Impostos sobre o Consumo

Docente: Mestre Tiago Lopes de Azevedo

Janeiro de 2018

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ÍNDICE

ABREVIATURAS 3

INTRODUÇÃO 4

1. IMPOSTOS GERAIS SOBRE O CONSUMO - referência 5

2. FUNÇÕES DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO 8

2.1. Função fiscal 8

2.2. Função extra-fiscal 10

3. HISTÓRIA DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO 11

4. SISTEMA PORTUGUÊS VIGENTE DE IEC 14

4.1. IABA 14

4.2. ISP 15

4.3. IT 16

CONCLUSÕES 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20

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ABREVIATURAS

CIEC - Código dos Impostos Especiais de Consumo


CIVA - Código do Imposto Sobre o Valor Acrescentado
LGT - Lei Geral Tributária
CRP - Constituição da República Portuguesa
IEC - Impostos Especiais sobre o Consumo
OMS - Organização Mundial de Saúde
DGS - Direção-Geral da Saúde

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho, elaborado no âmbito da Unidade Curricular de Impostos sobre o


Consumo do 1.º Ano do Mestrado em Direito Tributário, visa analisar a evolução sofrida ao
nível das finalidades de interesse público dos impostos especiais sobre o consumo.
Como os cidadãos afetam o respetivo rendimento ao consumo ou ao investimento, os
impostos indiretos1 sobre o rendimento podem recair no emprego deste em consumo ou em
produção. Porém, o presente estudo visa analisar a tributação do consumo, a qual pode
assumir um caráter geral e especial.
Nos impostos gerais sobre o consumo - como é o caso do IVA -, a incidência é
universal, já que são tributadas todas as despesas do contribuinte, sejam em bens de consumo
corrente ou em bens de luxo.
No entanto, de acordo com José Joaquim Teixeira Ribeiro, estes impostos não são
gerais, “visto haver sempre consumos que, por um ou outro motivo, não são tributados (há
lugar, assim, a isenções) ou o são com taxas diferentes2”.
Nos impostos especiais sobre o consumo, não há uma universalidade mas uma
especialidade, já que só determinados bens e serviços é que são tributados. O CIEC
estabelece o atual regime dos impostos especiais de consumo, considerando como tais, no
artigo 1.º: o imposto sobre o álcool, as bebidas alcoólicas e as bebidas adicionadas de açúcar
ou outros edulcorantes (IABA); o imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP);
o imposto sobre o tabaco (IT).
Este tipo de impostos sobre o consumo obedece ao princípio da equivalência,
procurando onerar os contribuintes na medida dos custos que estes provocam nos domínios
do ambiente e da saúde pública, em concretização de uma regra geral de igualdade tributária
(artigo 2.º do CIEC).
No que concerne às finalidades prosseguidas tanto pelos impostos gerais como pelos
impostos especiais sobre o consumo, ambos visam a obtenção de receitas; contudo, estes
últimos, para além da finalidade financeira, visam alcançar objetivos de interesse público, já
que atuam, designadamente, a nível da saúde (ao tributar o açúcar, o sal e o tabaco) e a nível
ambiental (ao tributar os produtos petrolíferos).

1 Importa referir que os impostos indiretos incidem sobre a matéria coletável indiretamente demonstrada, ou seja, incidem
sobre o rendimento e o património utilizados.
2RIBEIRO, José Joaquim Teixeira, in “Lições de Finanças Públicas”, Coimbra, Coimbra Editora, 5.ª Edição, 2011, página
337.
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1. IMPOSTOS GERAIS SOBRE O CONSUMO - referência

Ao invés dos impostos indiretos especiais - que recaem apenas sobre certos produtos
ou sobre a prestação de determinados serviços -, os impostos gerais sobre o consumo,
incidem sobre a totalidade das despesas do sujeito passivo, independentemente de estas se
relacionarem com o consumo de bens essenciais ou de luxo. Porém, alguns autores, de entre
os quais José Joaquim Teixeira Ribeiro 3, consideram que não estão em causa impostos
verdadeiramente gerais, uma vez que certos consumos estão sujeitos a taxas díspares ou não
são tributados porque estão isentos.
Os impostos gerais sobre o consumo podem ser monofásicos ou plurifásicos. Os
impostos monofásicos atuam apenas sobre uma fase do circuito económico: sobre os
produtores, sobre os grossistas, sobre os retalhistas ou sobre os consumidores. Neste caso,
quando ocorre a transferência para a fase seguinte do circuito económico, o imposto já não
vai existir.
Por seu turno, os impostos plurifásicos atuam sobre todas as fases do circuito
económico. Existem dois tipos ou modelos de impostos plurifásicos: o imposto sobre as
transações e o imposto sobre o valor acrescentado. O imposto sobre as transações vai atuar
em cada fase do circuito económico (pelo que todos os agentes têm que liquidar e pagar
imposto), mas com uma particularidade: em qualquer fase em que ele atue, nenhum agente
económico se pode desonerar do pagamento, nem pode, até chegar ao consumidor, deduzir o
imposto pago. Assim, não é necessário um registo de produtores, grossistas ou retalhistas, o
que torna o imposto muito simples.
Desta forma, quando os produtores vendem aos grossistas, têm que repercutir, no
preço, o valor do imposto pago porque não o podem deduzir; o mesmo acontece quando os
grossistas vendem aos retalhistas e, posteriormente, quando estes vendem aos consumidores.
Considerando a configuração descrita, quando o produto chega ao consumidor, há
uma tributação em cascata, já que o valor de imposto se repercute no preço do bem que vai
ser transmitido (apesar de as taxas serem baixas, trata-se de um imposto dotado de uma
grande capacidade recoletora, já que a incidência é grande). A tributação em cascata é, assim,
sempre o grande risco dos impostos sobre o consumo.

3 RIBEIRO, José Joaquim Teixeira, op. cit., páginas 336 e seguintes.


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Outro problema é que, havendo este aumento exponencial dos preços porque a taxa de
imposto vai sendo sempre acumulada, para o valor de imposto a pagar ser mais baixo, tende a
haver fusão entre empresas, ou seja, o circuito económico tende a ser reduzido de uma forma
artificial. Como os EUA aplicam este sistema a alguns bens, verifica-se a junção dos agentes
económicos por uma questão fiscal e não para reduzir os custos de produção.
Este modelo origina, também, distorções da concorrência, uma vez que as empresas
com maior valor se unem e as empresas pequenas vendem os bens aos consumidores por um
preço muito elevado. Assim, a concorrência vai sendo cada vez menor, visto que as empresas
pequenas vão saindo do mercado porque não conseguem competir com preços tão baixos.
O último problema liga-se com as exportações, pois, face às regras da OMC, há
tributação, não na origem, mas no destino. Havendo tributação no destino, quem exporta não
paga o imposto, o qual fica suspenso, pelo que tem que se saber qual o valor que está
suspenso para o transmitir ao consumidor do país de destino. Como há muita suspensão ao
longo da cadeia económica, não é fácil saber o valor exato, motivo pelo qual o Estado recorre
a estimativas, esfumando o princípio da verdade material.
Por seu turno, o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) incide sobre o montante
líquido da transação e, exclusivamente sobre o valor acrescentado que o produto sofre entre
dois fornecimentos, distinguindo-se, assim, do imposto sobre as transações que incide sobre o
montante bruto de cada transação, incluindo os impostos pagos em fases anteriores da cadeia
produtiva, originando, por isso, um efeito de cascata.
Outro aspeto que distingue o IVA do imposto sobre as transações é o seu método de
crédito, o qual possibilita aos intervenientes na cadeia produtiva (sujeitos passivos4 - artigo
2.º do CIVA) a possibilidade de deduzirem ao montante de imposto que lhes foi cobrado, o
imposto que pagaram enquanto adquirentes de bens ou serviços necessários à realização
daquelas transações - por conseguinte, o IVA é desprovido de efeito cumulativo, já que o
preço do produto não é influenciado pelo número de transações ocorridas no seu processo
produtivo.
Uma vez delimitado o conceito de impostos gerais sobre o consumo, importa aludir às
suas vantagens, sendo que a primeira delas se liga com a grande receita que os mesmos são
capazes de gerar - são, assim, impostos reditícios. Apesar de as taxas serem baixas, a base

4 Contudo, apesar de não ser sujeito passivo (artigo 18.º, n.º 4, alínea a) da LGT), quem suporta o imposto é o consumidor
final, já que é sobre ele que, por repercussão, recai o ónus do seu pagamento. O consumidor é, assim, contribuinte de facto e
não contribuinte de direito.
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tributável é bastante ampla, pelo que estes impostos conseguem ser geradores de uma
percentagem de receita considerável.
Contudo, esta ampla incidência não implica que sejam tributados os bens de consumo
essenciais, os quais podem ser desonerados sem que daí advenha uma quebra na receita
gerada, já que, em contrapartida, se tributam mais pesadamente os bens que não sejam
considerados de primeira necessidade - veja-se o que acontece com o IVA, o qual conhece
três taxas: uma normal (de 23%), uma intermédia (de 13%) e uma reduzida (de 6%)5.
Os impostos gerais sobre o consumo são, ainda, importantes instrumentos de luta
contra a inflação quando esta tem origem no excesso de procura: se o Estado aumenta a taxa
de imposto, a procura total reduz-se. Porém, para que os impostos gerais de consumo
prossigam este objetivo, o ente público tem que impedir a subida dos preços dos fatores de
produção, especialmente dos salários.

5 As taxas referidas vigoram em Portugal Continental, estando previstas taxas diferentes para as Regiões Autónomas dos
Açores (taxa normal de 18%, taxa intermédia de 9% e taxa reduzida de 4%) e da Madeira (taxa normal de 22%, taxa
intermédia de 12% e taxa reduzida de 5%).
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2. FUNÇÕES DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO

Os impostos especiais que incidem sobre o consumo apresentam uma dualidade de


funções:
• Função de angariação de receita ou função fiscal - porque recaem sobre bens e
serviços com grande potencial financeiro, os impostos especiais de consumo são
capazes de angariar uma avultada receita para os cofres do Estado;
• Função extra-fiscal ou função de interesse público - os impostos especiais de
consumo apresentam, essencialmente, uma função para-fiscal, onerando os
consumos que, por razões de interesse público, se pretende desencorajar.

2.1. Função fiscal

Em termos fiscais, os impostos especiais de consumo apresentam uma produtividade


considerável, uma vez que recaem sobre os produtos de procura rígida, ao mesmo tempo que
implicam custos administrativos diminutos e são dotados de um importante efeito anestésico.
No que diz respeito à elasticidade na procura, os IEC incidem sobre bens ou serviços
de procura rígida, sendo que a procura se diz rígida quando o aumento do preço provoca uma
quebra diminuta na quantidade procurada. Desta forma, qualquer aumento de preço
provocado pela incidência de um IEC gera um aumento de receita.
O primeiro IEC dos Estados-Membros incidiu sobre o sal, produto de procura rígida,
já que as populações não podiam prescindir dele para conservar os alimentos. Contudo,
embora a rigidez seja, na maior parte dos casos, justificada pela essencialidade do bem6, as
tendências da moda também contribuem para este efeito, pelo que muitos Estados europeus
lançaram mão de IEC sobre as aguardentes, o tabaco e os panos.
Mais recentemente, a harmonização europeia dos IEC procurou tributar consumos de
larga escala e cuja procura se apresenta rígida. Assim, foram introduzidos IEC sobre o tabaco,
sobre as bebidas alcoólicas, sobre os automóveis e sobre os combustíveis, já que estes são
consumos de grande escala e cuja procura se apresenta rígida, visto que os consumidores
estão mais permeáveis a suportar uma maior carga fiscal.

6 Para além do sal, o mesmo acontecia com os cereais, com o peixe e com as especiarias.
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No entanto, os IEC não são defensáveis apenas por permitirem a tributação dos
consumos mais produtivos: são-no, também, porque implicam custos de gestão diminutos
quando comparados com os demais impostos (em contraposição com os impostos sobre o
rendimento, não implicam tantas obrigações declarativas e, para a sua gestão, os agentes
económicos servem-se dos mesmos mecanismos que utilizam para o pagamento do IVA).
Porém, a diminuição dos custos de gestão só é possível porque a liquidação do
imposto é transferida para o topo do circuito económico (isto é, para os produtores), o que
implica uma redução do número de agentes produtivos. Desta forma, a tributação seletiva do
consumo não é neutra para o circuito económico, originando fusões artificiais que visam
apenas permitir uma cobrança mais cómoda dos IEC.
Como são cobrados junto de um número limitado de produtores, os IEC implicam
custos administrativos diminutos, os quais aumentam quando se fala na função de
fiscalização. Como os IEC são portadores de uma carga tributária considerável, são fortes os
estímulos à fraude e à evasão fiscais, aspeto que faz aumentar os custos associados à
fiscalização da produção e da circulação dos bens sujeitos a imposto.
A última virtude dos IEC a referir nesta sede consiste na sua insensibilidade ou
anestesia: em contraposição com outros impostos, como os que incidem sobre o rendimento,
os IEC despertam nos contribuintes uma oposição quase nula.
Esta característica justifica-se, antes de mais, pela invisibilidade dos IEC. Perante o
preço final de um bem ou serviço, o consumidor não consegue distinguir o valor pago ao
comerciante ou ao prestador de serviços do valor pago ao poder político central, a título de
IEC.
Por outro lado, como recaem sobre bens ou serviços selecionados e que contribuem
para a demarcação social, os consumidores estão dispostos a suportá-los em vista do estatuto
que pretendem alcançar na hierarquia societária. Daqui também decorre que, mesmo sendo
geradores de uma diminuta oposição por estas minorias, os IEC nunca são geradores de uma
oposição generalizada.

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2.2. Função extra-fiscal

O recurso aos IEC justifica-se cada vez menos pela busca de receita, já que este modo
de tributação indireta desempenha mais eficazmente objetivos de redistribuição da riqueza e
de repressão de certos consumos indesejados.
Relativamente à redistribuição da riqueza, os IEC são instrumentais face aos
princípios da capacidade contributiva e da justiça social, uma vez que oneram bens e serviços
que evidenciam uma riqueza que deve ser tributada - vai neste sentido o disposto no artigo
104.º, n.º 4 da CRP.
Contudo, a principal função extra-fiscal dos IEC é a repressão de determinados
consumos, assumindo-se, assim, como alternativa à sua total proibição. Como, na maior parte
dos casos, o custo social da produção ou do consumo de certos bens não coincide com o seu
custo privado, a repercussão do IEC no preço final faz com que seja o consumidor a suportar
aquele custo. Assim, os IEC obedecem ao princípio da equivalência, procurando onerar os
contribuintes na medida dos custos que estes provocam nos domínios do ambiente e da saúde
pública, em concretização de uma regra geral de igualdade tributária - artigo 2.º do CIEC.
Através da quantia que é entregue ao Estado, este visa a repressão de certos consumos
nocivos, pelo que, de acordo com Sérgio Vasques e Tânia Carvalhais Pereira, estão em causa
“impostos proibitórios”, de “contra-motivação de consumos” ou de “estrangulamento” 7.

7VASQUES, Sérgio; PEREIRA, Tânia Carvalhais, “Os Impostos Especiais de Consumo”, Coimbra, Edições Almedina,
2016, página 72.
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3. HISTÓRIA DOS IMPOSTOS ESPECIAIS DE CONSUMO

Na Idade Média, os impostos, tal como concebidos nos dias de hoje, não existiam,
sendo que a vida em comunidade assentava em prestações de outra natureza:

“com base em costumes e convenções imemoriais, camponeses e artesãos


entregavam, ao Príncipe (e não a uma entidade pública de que este fosse
representante), parte da colheita e criação, participavam na reparação de estradas e
muralhas, ofereciam-lhe estalagem e comida em momentos certos e determinados.”
Em troca, recebiam o uso da terra que não lhes pertencia, a utilização de moinhos,
lagares ou mercados e - mais do que tudo isso - recebiam do Príncipe a segurança
do lar e ao longo das estradas.”

Excecionalmente, em momentos de crise, designadamente de guerra, o Príncipe exigia


rendas adicionais aos súbditos. Porém, a criação de engenhos de guerra mais eficientes e a
constituição de exércitos permanentes originaram despesas elevadas e que se reiteravam no
tempo, pelo que, através da invocação, desta vez, do interesse público, era exigido que todos
contribuíssem para os encargos por meio do pagamento de prestações periódicas.
Foi assim que nasceu o Estado Fiscal, o qual procurava arrecadar o máximo de
receita, em face da menor oposição popular, o que só era possível por meio de mecanismos
de tributação indireta - os impostos sobre o património e sobre o rendimento assumiam uma
importância diminuta porque eram poucos aqueles que possuíam património ou rendimentos
passíveis de tributação.
Ao mesmo tempo, os impostos indiretos sobre o consumo transmitiam a ideia de que
todos contribuíam para os encargos públicos, qualquer que fosse o seu estatuto na hierarquia
social. Estes recaíam sobre os consumos comuns de pobres e ricos, designadamente sobre os
“pequenos luxos do grande povo, produtos de consumo volumoso e valor comercial elevado”,
como “o tabaco, o chá, o gim e o rum, o café e o chocolate, os tecidos, o açúcar e as
especiarias”8 - surgiram, pela primeira vez, os IEC.

8 VASQUES, Sérgio; PEREIRA, Tânia Carvalhais, op. cit., página 27.


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No início do Estado Fiscal, os IEC prosseguiam, assim, finalidades de arrecadação de
receita, já que recaiam sobre produtos com o valor comercial elevado e que eram consumidos
tanto por pobres, como por ricos.
Na época liberal, na obra “A Riqueza das Nações”, Adam Smith definiu as orientações
liberais em matéria tributária: eram elas a igualdade, segundo a qual os súbditos deviam
contribuir para as despesas públicas em função do rendimento que auferiam; a certeza, de
acordo com a qual o imposto a pagar deixou de ser arbitrário; a comodidade no pagamento,
que implicava que o imposto fosse pago da forma e no momento mais convenientes para o
contribuinte; e, por fim, a economia na cobrança, pelo que o custo de angariação do imposto
deveria ser baixo, não desencorajando o sujeito passivo a dedicar-se a qualquer atividade
profissional.
Como a tributação do consumo se apresentava universal (designadamente através dos
impostos gerais sobre o consumo), os impostos indiretos eram os mais recomendados por esta
conceção, já que prosseguiam os objetivos de justiça e de igualdade tributárias.
Posteriormente, os ideais socialistas não defendiam, em geral, a tributação seletiva
dos consumos, admitindo apenas a tributação dos produtos de luxo, através dos IEC, de
forma a incentivar a contenção das elites: posto isto, tanto na época liberal como com o
eclodir dos ideais socialistas, os impostos sobre o consumo eram importantes instrumentos
políticos, contribuindo para a afirmação do ideário que, então, ia surgindo.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, as receitas estatais assentavam,
essencialmente, nos impostos sobre o rendimento das pessoas singulares e coletivas, sendo
que os impostos gerais e especiais sobre o consumo surgiam num lugar subalterno,
assumindo um peso diminuto. Com a Depressão e com o eclodir da Segunda Guerra Mundial,
este estado de coisas manteve-se e alastrou-se por todo o mundo industrializado.
Porém, nos anos noventa, atenta a complexidade que os impostos sobre o rendimento
alcançaram, era urgente que o sistema fiscal se torna-se mais neutro, mais simples e,
consequentemente, mais eficaz, diminuindo os fenómenos de fraude e de evasão fiscais. Por
isso, deixou de se afirmar o caráter subsidiário da tributação indireta, designadamente do
imposto sobre o valor acrescentado, face aos impostos sobre o rendimento e sobre o
património.
Em contraposição com o IVA, que manteve o seu caráter reditício, os IEC deixaram
de ser um instrumento de angariação de receita, assumindo um peso cada vez maior enquanto
mecanismos de prossecução de objetivos extra-fiscais.
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“Com a entrada nos anos noventa, (…) assiste-se à defesa e introdução de novos
impostos sobre o consumo, dirigidos à prossecução de objetivos extra-fiscais:
impostos sobre as pilhas de relógio ou sobre os sacos plásticos, por modo a proteger
o ambiente; impostos sobre as transações financeiras, por modo a prevenir a
especulação; impostos sobre a fast-food, por modo a promover a saúde pública.”9

Assim, os novos IEC deixaram de assumir uma função de regulação da economia para
passarem a prosseguir, sobretudo, uma importante função extra-fiscal, desencorajando o
consumo de bens nocivos para a saúde e para o ambiente.
Foram estes motivos que, no caso português, conduziram à reforma da tributação
automóvel, aumentando a taxa de imposto em função das emissões poluentes e à consagração
do imposto sobre o álcool, as bebidas alcoólicas e as bebidas adicionadas de açúcar ou outros
edulcorantes, bem como do imposto sobre o tabaco.
Em suma, é possível concluir que, ao longo dos vários períodos descritos, as
considerações de interesse público estiveram sempre presentes nos impostos (especiais) sobre
o consumo, no entanto, foram assumindo uma configuração distinta. Se, no Estado Fiscal, a
tributação visava essencialmente a arrecadação da maior receita possível face à menor
oposição popular, rapidamente, nas épocas liberal e socialista, os impostos sobre o consumo
prosseguiram importantes objetivos políticos. E, apesar de no período entre as duas Grandes
Guerras Mundiais terem perdido importância, nos anos noventa surgiu o paradigma que ainda
hoje se mantém: que os IEC visam a repressão de comportamentos nocivos, em detrimento da
arrecadação de receita.

9 VASQUES, Sérgio; PEREIRA, Tânia Carvalhais, op. cit., páginas 51 e 52.


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4. SISTEMA PORTUGUÊS VIGENTE DE IEC

4.1. IABA

O consumo de bebidas alcoólicas e as doenças que lhe estão associadas são


acompanhados tanto a nível internacional, pela OMS, como a nível interno, pela DGS. Assim,
considerando os dados fornecidos pela OMS, anualmente, 5.9% das mortes estão associadas
ao consumo de bebidas alcoólicas e, só no grupo etário dos 20 aos 39 anos, 25% das mortes
advêm deste fenómeno. Para além da influência direta que exerce na taxa de mortalidade,
grande parte das mortes em acidentes de viação ou de trabalho estão também intimamente
relacionadas com o consumo de bebidas alcoólicas10.
Em 1985 foi introduzido em Portugal o imposto sobre o consumo de bebidas
alcoólicas e o imposto sobre a cerveja: porém, neste momento, estes IEC ainda não tinham
subjacentes finalidades extra-fiscais, visando apenas compensar a perda de receita que adveio
da abolição do antigo imposto de transações (abolição que se justificou pelo esforço de
adaptação em virtude da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia), que
tributava as bebidas alcoólicas com taxas entre os 75 e os 90%.
Atualmente, o imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas está consagrado no
artigo 1.º, alínea a) do CIEC e é disciplinado nos artigos 66.º e seguintes do mesmo diploma
legal. Trata-se de um IEC que incide, em termos objetivos, sobre a cerveja, os vinhos, outras
bebidas fermentadas, os produtos intermédios e as bebidas espirituosas, genericamente
designadas por bebidas alcoólicas, e sobre o álcool etílico, genericamente designado por
álcool.
A taxa de imposto varia em função do título alcoométrico e, de acordo com o código
2202 da NC11, as bebidas cujo teor alcoólico não exceda os 0.5% condiram-se como bebidas
não alcoólicas e, assim, não sujeitas a IABA - nota n.º 3 do capítulo 22 da NC.

10 FUSCO, Gabriela Rute Avó, “Impostos Especiais sobre o Consumo em Portugal: a extrafiscalidade e a saúde”,
Dissertação apresentada no ISG para a obtenção do Grau de Mestre em Gestão Fiscal, páginas 43 e 44.
11A Nomenclatura Combinada (NC) é a nomenclatura das mercadorias da União Europeia que satisfaz as exigências das
estatísticas do comércio internacional (intra e extra-comunitário) e da pauta aduaneira, nos termos do artigo 9.º do Tratado
que institui a Comunidade Económica Europeia.
A NC baseia-se no SH (Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias do Conselho de Cooperação
Aduaneira), retomando-o na íntegra e só o subdividindo quando tal é necessário para as estatísticas do comércio externo, a
regulamentação agrícola ou a pauta aduaneira. Porém, a NC contém também Notas Complementares dos Capítulos (isto é,
notas relativas às subdivisões NC das sub-posições SH), as taxas dos direitos aduaneiros e unidades suplementares - in
“Nomenclatura Combinada 2018”, Lisboa, INE, IP, 2018.
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Porém, o IABA não incide apenas sobre as bebidas alcoólicas, recaindo também sobre
as bebidas adicionadas de açúcar ou outros edulcorantes, nos termos dos artigos 1.º, alínea a),
in fine e 87.º-A e seguintes do CIEC.
A taxa de mortalidade de pessoas portadoras de diabetes, em Portugal, é quase o
dobro da média da União Europeia, pelo que, tendo por base as experiências de outros países
que tentam solucionar este problema através da tributação dos produtos com excesso de
açúcar, nomeadamente os refrigerantes, o ordenamento jurídico nacional estendeu o IABA às
bebidas não alcoólicas referidas no artigo 87.º-A do CIEC.
Do mesmo modo, os números associados à obesidade vertidos no relatório “Portugal:
Alimentação Saudável em Números 2014” elaborado pela DGS exigem a adoção medidas
ainda mais abrangentes que, ao nível da tributação, inibam o consumo de açúcar, já que: a
obesidade atinge 1 milhão de adultos em Portugal e 3.5 milhões são pré-obesos.
Relativamente às crianças entre os 6 e os 9 anos, 15% são obesas e, mais de 35% sofre de
excesso de peso. Já nos adolescentes com mais de 15 anos, regista-se que 31% dos rapazes e
18% das raparigas têm excesso de peso e que 24% e 17%, respectivamente, são obesos.

***

4.2. ISP

A OMS distingue a poluição do ambiente externo (quem advém da utilização de


combustíveis e de biomassa em viaturas e em outros equipamentos que os utilizam como
fonte de energia), da poluição doméstica (a qual é originada por partículas finas provenientes
de combustíveis utilizados em ambiente doméstico ou industrial) e, relativamente àquela,
aponta que cerca de 3.7 milhões das mortes nos países de baixos ou médios rendimentos têm
como causa a poluição atmosférica. Por seu turno, as partículas finas são responsáveis por
doenças relacionadas com os pulmões e com o sistema cardiovascular.
O imposto sobre os produtos petrolíferos (e energéticos - isto na configuração atual do
CIEC) inicialmente era disciplinado pelo Decreto-Lei n.º 123/94, de 18 de maio (fixava a
matéria tributável e as respetivas isenções) e pelo Decreto-Lei n.º 124/94, de 18 de maio (que
estabelecia as taxas aplicáveis).

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Já no âmbito da legislação consolidada, o ISP foi o imposto especial sobre o consumo
que conheceu uma evolução mais significativa em termos de incidência objetiva. Assim, o
CIEC de 1999 excluía do âmbito de aplicação deste imposto outros hidrocarbonetos sólidos,
como o gás natural, o carvão e a lenhite, exclusão não consagrada no CIEC de 2010. Este
diploma consagra o ISP no artigo 1.º, alínea b) e disciplina-o nos artigos 88.º e seguintes. No
artigo 88.º, n.º 1, delimita a incidência objetiva, pelo que, estão sujeitos ao ISP:
a) Os produtos petrolíferos e energéticos;
b) Quaisquer outros produtos destinados a serem utilizados, colocados à venda ou a
serem consumidos em uso como carburante;
c) Os outros hidrocarbonetos, com exceção da turfa, destinados a serem utilizados,
colocados à venda ou a serem consumidos em uso como combustível;
d) A eletricidade abrangida pelo código NC 2716 (neste caso, o legislador recorre à
Nomenclatura Combinada para delimitar a base de incidência do ISP).

***

4.3. IT

A principal medida proposta pela OMS consiste na aplicação de taxas pesadas de


impostos sobre o tabaco, de forma a condicionar e a reprimir o consumo de tabaco, já que,
segundo estudos do mesmo organismo, o tabagismo é responsável pela morte de cerca de
metade dos seus utilizadores (tanto diretos como indiretos, neste caso, contudo, em menor
escala: 5 000 000 consumidores morrem em resultado direto do uso do tabaco e cerca de 600
000 das mortes são relativas a não fumadores expostos ao fumo do tabaco) 12.
Porém, a legislação portuguesa de primeira geração respeitante ao IT não refletia
considerações de interesse público, já que o Decreto-Lei n.º 325/93, de 25 de setembro era o
diploma, de entre os respeitantes aos impostos sobre o consumo, que maiores preocupações
demonstrava com a angariação de receita para o erário público.
Em 1999, considerando o crescimento do impacto dos efeitos nocivos do tabaco para
a saúde pública, a OMS aprovou a Convenção Quadro para o Controlo do Tabaco, a qual
adotou medidas destinadas a desincentivar e a monitorizar o consumo do mesmo. Esta

12 FUSCO, Gabriela Rute Avó, op. cit., páginas 54 e 55.


Página 1! 6
Convenção foi transposta para o ordenamento jurídico português através da Lei n.º 37/2007,
de 14 de agosto.
Atualmente, o IT está consagrado no CIEC, nos artigos 1.º, alínea c) e 101.º e
seguintes, preceitos em que é usada uma técnica legislativa diferente: ao passo que nos
restantes impostos consagrados no CIEC a incidência é delimitada com recurso à
Nomenclatura Combinada, neste caso, o legislador descreve as características dos produtos
sujeitos a tributação.
Atendendo ao impacto que tem para a saúde pública, tanto para os consumidores
ativos como passivos, a incidência objetiva do IT tem sido alargada progressivamente, já não
incidindo apenas sobre os tradicionais cigarros, charutos e cigarrilhas. Assim, nos termos do
artigo 101.º, n.º 1 do CIEC, o imposto incide sobre o tabaco manufacturado, considerando
como tal os seguintes produtos:
a) Os charutos e as cigarrilhas (artigo 104.º do CIEC);
b) Os cigarros (artigo 103.º do CIEC);
c) Os tabacos de fumar (artigo 104.º-A do CIEC), compreendendo o tabaco de corte
fino destinado a cigarros de enrolar e os restantes tabacos de fumar, com exclusão
do tabaco para cachimbo de água;
d) O tabaco para cachimbo de água (artigo 104.º-B do CIEC);
e) O rapé (artigo 104.º-A do CIEC);
f) O tabaco de mascar (artigo 104.º-A do CIEC);
g) O tabaco aquecido (artigo 104.º-A do CIEC);
h) O líquido contendo nicotina (artigo 104.º-C do CIEC), em recipientes utilizados
para a carga e recarga de cigarros eletrónicos.

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CONCLUSÕES

Os impostos especiais sobre o consumo, como impostos que são, embora também
prossigam finalidades de arrecadação de receita, há muito que esta deixou de ser a sua
finalidade prioritária, assumindo-se como instrumentos de repressão e de alteração de
comportamentos.
Partindo de uma análise histórica, facilmente se constata que os impostos especiais de
consumo, em contraposição com os impostos gerais sobre o consumo, têm vindo a prosseguir
uma importante função para-fiscal, onerando os consumos que, por razões de interesse
público, se pretende desencorajar. Assim, ao longo dos períodos históricos descritos no
presente trabalho, conclui-se que as considerações de interesse público estiveram sempre
presentes nos impostos (especiais) sobre o consumo, no entanto, foram assumindo uma
configuração distinta.
Se, no início Estado Fiscal, a tributação visava essencialmente a arrecadação da maior
receita possível face à menor oposição popular, rapidamente, nas épocas liberal e socialista,
os impostos sobre o consumo prosseguiram importantes objetivos políticos. E, apesar de no
período entre as duas Grandes Guerras Mundiais terem perdido importância, nos anos
noventa surgiu o paradigma que ainda hoje se mantém: que os IEC visam a repressão de
comportamentos nocivos, em detrimento da arrecadação de receita.
Atualmente, fruto da influência da legislação Europeia, os Estados-Membros
desenvolveram esforços de uniformização e de unificação das legislações nacionais. Disso
não foi exceção Portugal, primeiro por meio do CIEC de 1999 e, depois, através do CIEC de
2010, ainda vigente mas alvo de sucessivas alterações. Se, desde a legislação de primeira
geração, sempre estiveram consagrados o IABA, o ISP e o IT, estes conheceram um
alargamento da sua base de incidência objetiva, sujeitando-se a tributação cada vez mais
produtos, considerando os estudos efetuados a nível internacional, pela OMS e, a nível
interno, pela DGS.
Apesar deste alargamento, o sistema português parece ainda apresentar uma lacuna no
que concerne ao consumo de açúcares, não prevendo um IEC que incida unicamente sobre
eles. Realidade que, aliás, nos parece estranha, já que, como foi referido, a taxa de
mortalidade de pessoas portadoras de diabetes, em Portugal, é quase o dobro da média da
União Europeia. Para reforçar a nossa opinião, contamos também com os dados sobre a

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obesidade vertidos no relatório “Portugal: Alimentação Saudável em Números 2014”,
elaborado pela DGS.
Posto isto, o alargamento do IABA às bebidas adicionadas de açúcar e outros
edulcorantes não é suficiente e, parece-nos que os dados mencionados exigem a introdução
de um novo IEC que se dedique exclusivamente à tributação dos produtos dotados de uma
percentagem de açúcares refinados nociva para a saúde pública.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• “A Introdução das Fat Taxes em Portugal: Algumas Considerações Estudos 1”, http://
www.cedipre.fd.uc.pt/observatorio, Coimbra, maio de 2016.

• FUSCO, Gabriela Rute Avó, “Impostos Especiais sobre o Consumo em Portugal: a


extrafiscalidade e a saúde”, Dissertação apresentada no ISG para a obtenção do Grau de
Mestre em Gestão Fiscal.

• INE, IP, “Nomenclatura Combinada 2018”, Lisboa, 2018.

• RIBEIRO, José Joaquim Teixeira, “Lições de Finanças Públicas”, Coimbra, Coimbra


Editora, 5.ª Edição, 2011.

• VASQUES, Sérgio; PEREIRA, Tânia Carvalhais, “Os Impostos Especiais de Consumo”,


Coimbra, Edições Almedina, 2016.

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