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OLIVEIRA, Joevan.

Anne Bogart e procedimento de Encenação

Segundo o pesquisador italiano marco de Marinis, a perda da centralidade criativa que


caracteriza o diretor no século XX, tem sido o principal legado das experiências significativas
do teatro contemporâneo. Esse comentário é o ponto de partida para entender a poética da
encenadora estadunidense Anne Bogart e situá-la no contexto da cena teatral contemporânea.
Em seu trabalho, a experiência coletiva resulta de uma tomada de posição do sujeito
porque requer escolhas individuais, numa escala de horizontalidade que o dá um caráter auto
coordenado, dentro de um contexto compartilhado.
Nesse tipo de proposição, a manutenção de referencias estáveis se torna menos
importante do que o estabelecimento de um conjunto de negociações horizontalizadas entre os
sujeitos envolvidos.
É possível identificar algumas influências importantes em seu trabalho, a exemplo de
ideias e conceitos desenvolvidos pelo encenador polonês Jerzy Grotowski, os estudos
empreendidos pelo encenador estadunidense Richard Schechnner, no campo das
performances culturais e de algumas tradições orientais, com destaque para o taoísmo.
Essas influencias apontam para o entendimento de Bogart tem da arte teatral enquanto
ato de recriação de memória. Nessa perspectiva, seu teatro propõe que novas possibilidades
sejam criadas, ganhem visibilidade à medida que, ao criar novas ficções, seu teatro proponha
a invenção de novos paradigmas, porque o artista, enquanto articulador da transitoriedade da
experiência do homem, pelo viés da arte, viabiliza a invenção de futuros possíveis pela
apresentação de diferentes potencialidades de olhar para o mundo.
Seu teatro, pensado para ser um microcosmo singular, deve alterar o que está
previamente estabelecido e, por isso, requer de seus criadores a percepção de espaço tempo,
para serem capazes de mergulhar no desconhecido no momento certo.
Refletindo esse pensamento, Anne Bogart e seus colaboradores e parceiros na SITI
Company em Nova York vem desenvolvendo um trabalho criativo que se apoia em três
diferentes técnicas que se complementam e, cujos princípios comuns, é propiciar autonomia
na ação dos sujeitos num contexto onde as relações criativas se dão de modo horizontalizado.
São elas o Viewpoint, a Composição e o método Suzuki, desenvolvido pelo encenador
japonês Tadashi Suzuki. Viewpoint e método Suzuki voltados para o treinamento de ator e a
Composição, objeto de discussão desse texto, voltado para a prática da direção. Como destaca
a dramaturga estadunidense Tina Landau, também parceira de Bogart, a Composição funciona
como um método para o exercício da arte do encenador porque possibilita o vislumbre de uma
OLIVEIRA, Joevan.

prática de direção não vertical que confere ao ator e demais criadores, o poder de decisão
sobre o seu próprio trabalho. Ao mesmo tempo, engaja os artistas envolvidos no desafio de
justapor os elementos variados em cena. A Composição, nessa proposta de trabalho, funciona
como um ato de escritura em grupo, no tempo e no espaço, com o uso da linguagem teatral.
Sua finalidade é a criação de obras de caráter original, ou oriundas de uma obra referência.
Sua prática, resumidamente, compreende, a designação de tarefas relacionadas a temática a
ser abordada que devem ser resolvidas pelos artistas envolvidos. É importante destacar que as
tarefas funcionam como um problema que precisam de uma resolução. Essa metodologia de
criação possibilita a assimilação prática dos materiais e ideias surgidas nas sessões de
discussão e práticas dos Viewpoints. Simultaneamente, dá direcionamento artístico ao
processo de criação.
Enquanto conteúdo, a Composição trabalho com um conjunto de possibilidades a serem
estruturadas pelos atuantes, de modo a criação seja um processo coletivo, por isso, é um
espaço para esboçar ideias rapidamente e mostra-las cenicamente, enquanto ações concretas.
Enquanto premissa, a Composição encoraja o artista a tomar decisões, a realizar
escolhas sem muita elaboração prévia, ao mesmo tempo, acentua o risco de agir
impulsionado, principalmente, pela intuição. O objetivo é minimizar o compromisso com a
elaboração de um resultado artístico motivado pela necessidade de significação.
A experimentação das proposições cênicas elaboradas, tarefas/problemas, resulta na
estruturação do conjunto da obra, resultado alcançado por meio de relações horizontais que,
pela ausência de um referencial de poder centralizador, na mão do encenador, confere à
metodologia, um caráter auto coordenado e colaborativo. Contido, continua cabendo ao
diretor, a função de mesurar parâmetros para o trabalho dos atuantes, assim como as
condições em que esses artistas estabelecem suas relações, ou seja, o encenador é responsável
pela superestrutura onde os criadores irão agir e organizar o resultado final do conjunto de
ações.
Na prática, a Composição se dá a partir das soluções encontradas pelos participantes
para as tarefas ao longo do processo criativo. Soluções rápidas resultantes do conjunto de
negociações entre os diferentes pontos de vista singulares, cuja base é a ação prática e
intuitiva. O trabalho compositivo tem início com uma estrutura simples que vai ganhando em
complexidade, à medida que as colaborações acontecem e as soluções são encontradas. O
processo, ao mesmo tempo, sugere as questões e as maneiras de resolvê-la. Dinâmica que está
diretamente relacionada ao entendimento que os criadores têm do que está sendo proposto.
Esta deve ser encarada como provocação e o participante deve deixar-se sentir instigado pelo
OLIVEIRA, Joevan.

desejo de investigar pela ação. Por isso, não deve haver muito tempo para elaborações
mentais, o objetivo é resolver o problema na prática.
Alguns procedimentos podem ser destacados no processo de composição que orientam a
elaboração das ações no espaço tempo:
Montagem é o procedimento que se relaciona ao modo articulação dos elementos a
serem explorados, ou seja, se por justaposição, sobreposição, contraste, ritmo, alteração da
linha de ação, seja ela linear ou não, por exemplo.
Interpretação que pode ser descritiva ou expressiva e trata da perspectiva de abordagem
do material. Se a interpretação for descritiva, é reforçado o caráter figurativo, se for
expressivo é minimizado o caráter figurativo. Por exemplo, se o tema a ser trabalhado for um
casal que se separa, na perspectiva descritiva, um dos atores poderia pegar a sua mala e dar
adeus a quem ficou. Na perspectiva expressiva, os atores poderiam explorar uma caminhada
de costas em câmera lenta.
Jo-Há-Kyu, é um padrão rítmico advindo da tradição Zeami, pelo qual começo, meio e
fim podem ser explorados segundo o padrão, resistência - ruptura - aceleração em diferentes
níveis de complexidade. Ele é utilizado na estruturação da ação, do gesto, dos movimentos, da
intenção da cena, do roteiro como um todo.
No processo de composição, é importante que os criadores levem o público em
consideração, à medida que o espetáculo deve funcionar como uma grande viagem. Nessa
perspectiva o processo de composição pode ser entendido como a forma de relacionamento do
diretor com o público. Anne Bogart inicia o processo de criação com a busca de ideias que
ajudem a identificar o tema. Este último, durante todo o processo vai sendo analisado,
problematizado, criticado, refinado e melhor definido, de acordo com as soluções práticas que
forem sendo encontradas a cada nova questão surgida. Porque esse material, enquanto esboço,
pode ou não, ser levado para o espetáculo, criando uma relação dinâmica e processual de auto
gerencia. Do material e ideias pesquisadas deve surgir a questão inicial e motivadora do
processo, essa deve ser potente o suficiente para seduzir e contaminar toda a equipe. Nesse
momento, deve-se identificar o que Bogart chama de âncora, pessoa ou evento que servira de
veículo para a questão, assim como para a elaboração da estrutura inicial. Essa estrutura será o
esqueleto onde as tarefas serão propostas e solucionadas, aumentando assim, seu grau de
complexidade. As discussões sobre os materiais iniciais são feitas por meio de criação de
pontes entre eles. A sugestão é que eles sejam apresentados numa lista do que se sabe e do
que não se sabe sobre o projeto seja feita a identificar os pontos de problematização. Nesses
pontos, Bogart aplica o que ela chama de pensamento lateral, onde todos os criadores
OLIVEIRA, Joevan.

realizam um processo de livre associação de ideias a partir do material existente criando


outras associações a partir do contexto proposto. Ou seja, trata-se de um processo coletivo que
busca por soluções a partir da aplicação do olhar por diferentes ângulos, buscando a lógica
para diferentes percepções, ou por meio de uma abordagem do corpo e para o corpo.
A etapa seguinte configura o momento do mostrar. Onde as ideias tornam-se ações por
meio da composição dos atores. As tarefas são elaboradas funcionando como um quebra
cabeça que deve ser resolvido em conjunto. Um exemplo de tarefa desenvolvido pela Bogart é
a “Perdas e Encontros.”
Ela deve ser realizada por um grupo de 4 a 7 participantes, podendo, ou não, ter um
líder. A tarefa consiste em os participantes escolherem um lugar diferente do utilizado para
ensaio, devem criar uma situação estruturada em um encontro, algo acontecendo, uma perda e
um reencontro. Nessa situação que deve acontecer em um local escolhido, deve acontecer: a
revelação do espaço, de um objeto, do caráter dos atuantes, a repetição de um gesto 15x, um
momento sustentado em que todos olhem para cima, 30 segundos de silencio, utilização em
excesso de um elemento (água, terra, ar, fogo). Essas instruções não tem uma ordem
determinada e, apesar de parecer um excesso de informação se trata apenas da utilização de
elementos já trabalhados nos 9 viewpoints, só que, agora, enquanto gramática teatral. Em
seguida a tarefa deve ser resolvida num limite curto de tempo para que seja encorajado o uso
da intuição sem medo de falhar. Realizada a tarefa, esta é apresentada e discutida a parir das
premissa: Como criar um universo com suas próprias leis de tempo, espaço e lógica. Caso o
processo parta de um referencial literário, o processo se inicia pelo entendimento das leis que
regem a peça para determinar alguns temas a serem trabalhados na composição que pode ser
individual, de 3 min e apresentando a natureza da peça. A partir dos temas escolhidos das
problematizações no período de entendimento do referencial, pode-se propor composições do
mundo ficcional da peça, de personagens, da relação entre personagens, a partir de temas
específicos da peça. Com e/ou sem referencial inicial, a dinâmica de orientação cênica do
trabalho de composição será: proposta, apresentação, estímulo.
Bogart parte do pressuposto que a busca por novos modelos é impulsionado pelas
dúvidas e incertezas. Ao procurar traduzir experiência em expressão é necessário articular,
fazer escolhas entre diferentes possibilidades dando vazão a uma nova organização e
expressão do pensamento, posicionamento, frente aos contextos propostos. Por isso se teatro
não é lugar de explicação de algo para o público, mas uma arena que convida ao engajamento.
Se as tendências culturais são forjadas pelos acontecimentos sociais, políticos e históricos
OLIVEIRA, Joevan.

empreendidos por pessoas que tiveram coragem de fazer escolhas, o teatro de Anne Bogart
chama a tomada de posição num mundo sem referencias estáveis.

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