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Introdução
Desde os primórdios da história, o homem tem buscado retratar de várias formas a sua
relação com o meio ambiente. O estudos nos mostram que tão logo o homem inicia registros de
suas ações na Terra, animais e vegetais são desenhados em cavernas. No entanto, nos dias
atuais, “ainda há muito pouca consciência da inter-relação existente entre todas as atividades
humanas e o meio ambiente, devido à insuficiência ou inexatidão da informação” (Agenda 21:
36.8).
Embora pareça evidente que o homem seja um ser em constante relação com o meio,
capaz de usar sua inteligência para modificá-lo com o objetivo de atender suas necessidades
básicas ou seus desejos, na verdade o próprio homem tem pouca consciência da real dimensão
dessa relação.
O que parece ser facilmente compreendido pelo homem alfabetizado na sociedade
globalizada, quando aprende que seu ancestral precisava da caça para sobreviver, nem sempre é
compreendido pelo mesmo homem que consome legumes contaminados por agrotóxicos.
O homem de hoje pode muitas vezes não compreender a verdadeira dimensão da crise
ambiental vivenciada em nosso planeta, no entanto, sente suas conseqüências. Como declara
Sorrentino (2002:17), “Questões como as mudanças climáticas e a redução da fertilidade
humana exemplificam a crise e insustentabilidade desse modelo civilizatório que se expandiu
por todo o planeta”.
Vivemos um tempo marcado pelas conseqüências do avanço tecnológico que tem
proporcionado ao homem o imediatismo na difusão da informação. No entanto, embora a
informação tenha se mostrado para muitos com uma velocidade quase instantânea ao
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acontecimento dos fatos, isso não nos assegura que a recepção destas mensagens possa ser
efetivada nem tão pouco compreendida. Podemos dizer que a não-compreensão está relacionada
com a sabedoria, “a capacidade de integrar, incorporar conhecimentos à vida cotidiana” (Morin,
2003:8).
O excesso de informação não garante ao indivíduo a compreensão, o conhecimento. Para
que isso aconteça, é preciso que antes o homem seja preparado e essa preparação se dá pela
educação. A comunicação pode, através da informação, ajudar o homem a compreender, mas
não compreender por ele. Morin (2003:12) reforça nosso pensamento quando afirma:
O fenômeno comunicacional não se esgota na presunção de eficácia
do emissor. Existe sempre um receptor dotado de inteligência na outra
ponta da relação comunicacional. A mídia permanece um meio. A
complexidade da comunicação continua a enfrentar o desafio da
compreensão.
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“Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade
de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.”
(Lei Federal n.° 9985/00)
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Metodologia
O ambiente da pesquisa
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anfíbios. Dentre as espécies vegetais se destacam gramíneas, arbustos e restinga entre as dunas
e, no mar, a riqueza das algas marinhas.
A APA do Estuário do Rio Curu está localizada na divisa dos municípios de Paracuru e
Paraipaba, tem uma extensão de 881,94 ha sendo a metade no município estudado. Além do Rio
Curu, que forma em sua foz uma enseada natural e um cabo, nela se encontram todas as
riquezas típicas de um mangue, berçário de várias espécies como crustáceos e peixes.
Resultados
Na análise de dados foram estabelecidas cinco categorias com base na observação e nas
entrevistas realizadas:
• a dimensão concreta da natureza e a exploração dos recursos naturais pelo homem;
• a dimensão abstrata da natureza presente na espiritualidade humana;
• gaia: o planeta vivo;
• a sustentabilidade como princípio, meio e fim; e
• valores humanos: a dimensão ética da natureza.
Foram ainda designadas três subcategorias sendo duas correspondentes a primeira
categoria citada acima: dimensão concreta positiva e dimensão concreta negativa e uma
correspondente a terceira categoria citada: lições de vida.
Com relação a dimensão concreta positiva da natureza e exploração dos recursos
naturais pelo homem, percebemos que populares e gestores apresentaram uma concepção de
meio ambiente fundamentada numa visão cartesiana, reducionista segundo a qual o meio é visto
de forma limitada, sendo quase sempre destacada a idéia de espaço físico, geográfico onde o
homem e outros seres vivem. Embora sendo visto apenas como parte, podemos considerar esta
concepção positiva na medida em que, atrelada a esta idéia, notamos a atenção dada a
importância de se preservar o meio ambiente.
Na dimensão concreta negativa e a exploração dos recursos naturais pelo homem, o
meio ambiente é considerado uma fonte de recursos a ser explorado e, ainda com base no
paradigama cartesiano, devido a uma relação marcada pela dicotomia dominador e dominado, o
meio tem sofrido constantemente com esta exploração, o que tem trazido para o mesmo
conseqüências irreparáveis.
Através da dimensão abstrata da natureza presente na espiritualidade humana,
observamos, em vários momentos, a forte expressão da religiosidade do cearense que faz parte
da cultura desse povo com bastante intensidade. Assim, o meio ambiente é considerado obra de
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Deus, o Criador e como tal a natureza é perfeita, devendo ser venerada e cultuada como a
religião.
De acordo com a terceira categoria estabelecida, Gaia: o planeta vivo, o meio ambiente
está vivo, tem sentimentos, sofre, e na medida em que é “molestado” pelo homem reage às
agressões através de fenômenos como enchentes e secas.
A sustentabilidade como princípio, meio e fim compreende a categoria marcada por
uma visão ecossistêmica de meio ambiente. Nesta categoria, percebemos a concepção de meio
ambiente fortemente embasada nos paradigmas sistêmico e da complexidade, onde o meio é
visto como um todo integrado que necessita desta integração entre suas partes para que seja
mantido o equilíbrio. Desta forma, todos os seres devem buscar viver em harmonia para
assegurar a existência da vida. E o homem precisa se assegurar de que suas relações com o meio
sirvam ao sustento de sua geração e de gerações futuras.
Os valores humanos presentes na dimensão ética da natureza, foram organizados numa
categoria em que a concepção de meio ambiente de populares e gestores é caracterizada por
uma consciência ecológica, que atribui a importância do reconhecimento de valores humanos
para a compreensão do próprio meio. Nesta dimensão, o amor, o respeito e a dignidade são
valores intrínsecos ao meio e ao homem, como parte integrante deste meio.
Conclusão
A visão de populares e gestores é marcada por certezas que quando postas em prova
muitas vezes apresentam fragilidade. Se considerarmos cada grupo, composto de pessoas como
um sistema e cada indivíduo, por sua vez, também como sistemas e observarmos todos os
sistemas organizados em forma de redes, podemos perceber momentos de harmonia e de
conflito em todos os sistemas, até mesmo em cada indivíduo. Tudo isso nos faz crer que a
relação homem – natureza é complexa, pois enfrenta o confronto de paradigmas manifestado na
própria visão do homem sobre o meio ambiente. Esse confronto de paradigmas pode ser visto de
forma clara quando, por exemplo, ouvimos uma pessoa declarar que os pescadores sabem que
não devem cortar as árvores da região pois estão em uma área de preservação, porém precisam
fazer isto para construir seus barcos e continuar pescando. Acreditamos que estas pessoas
enfrentam uma verdadeira crise de paradigmas e muitos fatores têm contribuído para isso.
Se buscarmos pela história veremos que até poucas décadas atrás, quase nada se falava
sobre as questões ambientais em nosso país. Hoje, embora toda a facilidade gerada pelos meios
de comunicação ao levar a informação a lugares mais distantes, observamos que a essência das
questões da relação do homem com o meio está diretamente ligada a cultura.
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Na região estudada vimos que o homem sabe que precisa da água para sobreviver, sabe
que precisa da terra para cultivar, no entanto, influenciado por uma cultura milenar continua a
plantar em áreas ribeirinhas e a provocar queimadas para “limpar” a terra antes de plantar.
Assim, entre certezas e dúvidas ouvimos este homem dizer que é preciso cuidar do meio
ambiente.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Senado Federal. Agenda 21. Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e
desenvolvimento. Brasília, Brasil: Subsecretaria de Edições Técnicas. 2003. 3.ed.
_______. Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental e institui a
Política Nacional de Educação Ambiental, regulamentada pelo Decreto 4281, de 25 de junho de
2002. Disponível em: <http://www.ibamapr.hpg.ig.com.br/EducAmb.htm>. Acesso em: 24 ago.
2002.
MORIN, Edgar. A comunicação pelo meio (teoria complexa da comunicação). In: Revista
Famecos: mídia, cultura e tecnologia. Abril 2003. ISSN 1415-0549. Porto Alegre, Brasil:
EDIPUCRS, 2003:07.
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