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Análise do poema “O guardador de rebanhos”, de Alberto Caeiro

Este poema começa assim:


“Eu nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse”,
mas a seguir, Alberto Caeiro explica-se melhor, dizendo-se “pastor por metáfora”:
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Logo neste primeiro poema, O Guardador de Rebanhos, Caeiro dá o tom: ele é um ser
natural, que vive no seio da natureza (assim se explica a sua imagística e vocabulário simples,
do campo semântico da natureza – rebanhos, pastor, vento, sol, pôr de sol, como uma
borboleta, ruído de chocalhos); que tem “pensamentos contentes”, mas tem pena de saber
que são contentes, porque “pensar incomoda como andar à chuva”.
Acrescenta que não tem ambições, nem a de ser poeta – “Ser poeta / é a minha
maneira de estar sozinho”; saúda os que o lerem e deseja-lhes sol e chuva, “quando a chuva é
precisa”; que tenham, em suas casas uma janela aberta e uma cadeira onde se sentem a ler
os seus versos e que, ao lê-los, “pensem que (é) / sou qualquer coisa natural”.
O sujeito lírico afirma nunca ter guardado rebanhos, “Eu nunca guardei rebanhos”, mas
todo o poema nos sugere que ele se comporta como se efetivamente os guardasse e que
procede, mesmo, se bem que ficticiamente, por artes do fingimento, como um guardador de
rebanhos (“é como se os guardasse”). Não é, então, um pastor verdadeiro, real, pois ele
afirma-nos convicto “Eu nunca guardei rebanhos”, mas comporta-se como se o fosse, “Mas é
como se os guardasse”.
Há realmente uma parte de si, a alma, que age como um pastor e é, no poema,
caracterizada como sendo profundamente íntima da natureza, pois “Conhece o vento e o sol”,
“E anda pela mão das Estações / a seguir”, marcada pela sedução da viagem, “e a olhar”,
preocupada sobretudo com o que vai observando – de notar a personificação. Por causa da sua
alma, o sujeito poético tem acesso a “Toda a paz da Natureza sem gente” que vai sentar-se a
seu lado.
“Mas eu fico triste” diz o sujeito lírico, explicando que a sua tristeza acontece quando
um bem, por exemplo, o sol que ao pôr-se, desaparece, e se converte num mal, “E se sente a
noite entrada“, como se se tratasse de uma desilusão que chega impercetivelmente, “Como
uma borboleta pela janela”. De salientar as aliterações e jogos de sons para exprimir o modo
como o pôr-do-sol acontece à entrada da noite, entristecendo o sujeito poético. Este pôr do sol
é “Para a nossa imaginação” sempre mais excessivo, bem pior do que é na realidade. Esta
tristeza do sujeito lírico é natural e justa, por isso ele conforma-se, não se excede, “Mas a minha
tristeza é sossego” “E é o que deve estar na alma” quando a alma se ocupa em pensar,
“Quando já pensa que existe”, não dando pela natureza, pelas flores que as mãos colhem, “E
as mãos colhem flores sem ela dar por isso”.

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A alma do sujeito poético encontra-se dividida, por uma lado, está devotada à
simplicidade, à paz, à natureza, à sensibilidade, por outro lado, vota-se à tristeza, ao
pensamento. Merece-se ser triste, confessa o sujeito lírico, quando o pensamento invade a
alma. É que os seus pensamentos aparecem “com um ruído de chocalhos”, isto é de forma
ruidosa, destituídos de simplicidade e “para além da curva da estrada” são contentes,
obstinados. Ele não lamenta que os seus pensamentos sejam contentes, eles sê-lo-iam de
qualquer modo, “Em vez de serem contentes... / Seriam... contentes. O que ele lamenta é “Só
tenho pena de saber que eles são contentes / Porque, se o não soubesse, / Em vez de serem...
tristes, / Seriam alegres”. Tudo isto, porque pensar incomoda, incomoda tanto como “andar à
chuva / Quando o vento cresce e parece que chove mais”., logo é o pensamento que gera a
infelicidade e não a tristeza.
O sujeito poético confessa “Não tenho ambições nem desejos / Ser poeta não é uma
ambição minha”. Ser poeta “é a minha maneira de estar sozinho”, acrescenta. “Às vezes”, tem
um desejo: “ser cordeirinho” (simbolizando um ser pacífico, natural, ingénuo, que não pensa),
ou ser o rebanho todo” para melhor sentir a felicidade:
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
E justifica-o com a necessidade de ultrapassar a tristeza que por vezes o assola, representada
simbolicamente pelo pôr-do-sol (o pôr do sol do verso 36 está relacionado com o pôr-do-sol do
verso 9), da nuvem que “passa a mão por cima da luz” (personificação) ofuscando-lhe a
felicidade, do silêncio que “corre... pela erva fora.
O sujeito lírico prossegue a sua caracterização enquanto pastor: ele é pastor quando
escreve versos na realidade e escreve versos no pensamento quando é pastor. Sente “um
cajado nas mãos”, símbolo do pastor, mas também da sua segurança, da sua estabilidade, e
vê-se no cimo de um outeiro olhando o rebanho (rebanho = ideias -> metáfora) e exigindo
ingenuidade.
“E vejo um recorte de mim” é mais uma manifestação da dispersão que aflige o sujeito
poético, ele não é tudo aquilo que quer ser, ele sente-se dividido. E é nessa condição de
pastor/poeta, sem outra ambição que não seja a de tentar ultrapassar a tristeza, a nuvem, o
silêncio, que ele, ingénuo e simples, deseja saudar todos os que lerem os seus versos. Ele é
um mestre muito procurado por todos os que se interessam pela sua doutrina, pela sua
filosofia, saudando-os e brindando-os com tudo o que é simples e objetivo, pacífico e suave,
ingénuo e natural: o sol, a chuva, a casa, a janela aberta, a cadeira predileta, a árvore antiga,
a criança despreocupada...
E o que ele deseja, unicamente, é fazer-se passar por qualquer coisa natural,
completamente alheia ao ato de pensar:
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural

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