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CAPA TRANSFORMAÇÕES

DIGITAIS E O ENSINO
MÉDIO QUE FAZ SENTIDO
Luciano Meira
PÁTIO ENSINO MÉDIO ANO 10 Nº 39 DEZEMBRO 2018/FEVEREIRO 2019

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Este é um tempo de hackear os sistemas de ensino,
incentivar a participação autoral dos agentes
de mudança na escola e montar ecossistemas de
inovação baseados em competências diversificadas

É
fato que estamos todos mergulhados em mun- como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
dos diversos, de transformações digitais rápi- (Ideb) ou o Programa Internacional de Avaliação de Es-
das e intensas, inclusive na escola e na aca- tudantes (Pisa), que são muito insatisfatórios, inclusive
demia, ainda que desigualmente distribuídas. nos sistemas privados de ensino. Em uma outra pers-
Artefatos digitais não são apenas “mais um” instrumen- pectiva, a do engajamento dos estudantes na escola,
to de aprendizagem, como às vezes se diz. Seu alcance a partir de sua própria percepção, o Instituto Gallup
vai muito além de seu papel mais óbvio na produção (2016) mostra, em pesquisa anual com centenas de
e na circulação de informações e na comunicação para milhares de estudantes nos Estados Unidos, que, se no
permitir a criação de mundos fantásticos e responsivos, 5º ano do ensino fundamental cerca de 75% dos estu-
com alta densidade de feedback e monitoramento in- dantes ainda se sentem muito engajados na escola, nos
tensivo de dados de uso.  últimos anos do ensino médio essa taxa já é apenas de
No entanto, algoritmos computacionais e computa- cerca de 30% (disponível em bit.ly/2iFulnI).
dores, incluindo smartphones, requerem uma arquitetura A fim de potencializar o engajamento de estudan-
pedagógica inovadora, que dê sustentação às suas aplica- tes e professores na escola, precisamos de uma reenge-

Foto: SpeedKingz/Shutterstock.com
ções educacionais. Essa arquitetura de inovação educa- nharia didática, com foco na oferta de experiências sig-
cional depende fundamentalmente da reengenharia nificativas de aprendizagem: atividades autênticas, que
dos ambientes de aprendizagem, da oferta de ofereçam a estudantes e professores um senso
experiências significativas de aprendiza- de propósito, como na abordagem orien-
gem, da formação inovadora de pro- tada ao desenvolvimento de projetos,
fessores e da emergência de um nas práticas de aprendizagem ba-
ecossistema que dê sustentabili- seada em problemas (PBL, do in-
dade e escala à mudança. Na glês problem based learning) ou
oferta de espaços de fabrica- Precisamos nos ambientes digitais gamifi-

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ção digital (maker spaces),
por exemplo, é menos impor-
melhorar radicalmente cados que empregam mecâni-
cas e estratégias de videoga-
tante o investimento na aqui- as experiências mes para o engajamento e a
sição de impressoras 3D do melhoria do desempenho.
que um esforço no redesenho de aprendizagem No Porto Digital, em
didático das aulas e na inclu- Recife (PE), desenvolvemos e
são dos professores das disci-
oferecidas na escola operamos a Olimpíada de Jogos
plinas regulares, de modo que os Digitais e Educação (OJE) (www.
artefatos fabricados resolvam pro- joystreet.com.br), que usa gamifi-
blemas relevantes e emprestem mate- cação e jogos digitais para envolver
rialidade e significado aos conceitos da ma- os estudantes na resolução de problemas.
temática, da língua, das ciências, etc. A OJE foi desenhada com base em quatro caracte-
Precisamos melhorar radicalmente as experiên- rísticas fundamentais das salas de aula que operam com
cias de aprendizagem oferecidas na escola, a fim de alto engajamento, máxima performance e baixo custo,
tratar o desengajamento crônico e o desempenho pí- segundo a Education Endowment Foundation (EEF):
fio dos estudantes no ensino básico, particularmente
em seus anos finais. É desnecessário reproduzir aqui os 1. Os estudantes se organizam em times colaborativos
dados históricos ou mais recentes dos testes nacionais para realizar conquistas e vencer desafios que tema-
e internacionais das escolas e dos jovens brasileiros, tizam competências acadêmicas.
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CAPA

2. Dentro de cada time, os estudantes desenvolvem es- Entretanto, no documento da BNCC, competências
tratégias de tutoria recíproca (peer tutoring), redis- são apenas abstrações. Um de nossos grandes desafios
tribuindo os fluxos de aprendizagem na escola. para a educação nos próximos anos será construir uma
3. Os estudantes convidam os educadores para parti- realidade escolar (e de aprendizagem ao longo da vida)
cipar como professores aliados, os quais apoiam os que responda de maneira eficiente e produtiva a pa-
jovens no desenvolvimento de habilidades metacog- radigmas de aprendizagem associados ao pensamento
nitivas — por exemplo, ser capaz de monitorar o an- crítico, à criatividade, à argumentação e à cidadania,
damento de sua própria aprendizagem. entre outras competências gerais previstas na docu-
4. A plataforma digital, assim como os bons videoga- mentação originalmente aprovada na BNCC (http://bit.
mes, oferece alta densidade de feedback, que orien- ly/2PxevtO).
ta estudantes e professores em diferentes trilhas de Existem, claro, muitos desenhos instrucionais pos-
aprendizagem, além de oferecer aos gesto- síveis no espectro das inovações educacionais
res da rede de ensino uma inteligência necessárias, com vistas a uma aprendiza-
educacional que facilita a tomada gem para a construção de significados,
de decisões sobre, por exemplo, voltada para as transformações di-
a formação de professores em Existem gitais do mundo e que dê máxima
conteúdos específicos. visibilidade a estudantes e pro-
muitos desenhos fessores acerca de seu progres-
so na escola. A experiência
Agora, temos no Brasil instrucionais possíveis relatada a seguir foi observa-
um novo instrumento, que
pretende orientar a oferta de no espectro da por mim em uma de um
experiências significativas de conjunto de 11 escolas públi-
aprendizagem, a Base Nacio- das inovações cas conhecidas como Summit
Public Schools, que operam
nal Comum Curricular (BNCC). educacionais em áreas habitadas por famílias
A BNCC apresenta os direitos
de aprendizagem das crianças e necessárias de baixa renda nos estados da
dos jovens, assim como dez com- Califórnia e de Washington, nos
petências gerais do ensino básico que Estados Unidos (www.summitps.org).
“explicitam o compromisso da educação A escola que visitei localizava-se
brasileira com a formação humana integral na cidade de San Jose, na Califórnia, cora-
e com a construção de uma sociedade justa, democrá- ção do Vale do Silício, berço de algumas das maiores
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tica e inclusiva” (Porvir, 2017, disponível em https://bit. empresas de tecnologia do mundo. À época com foco
ly/2rHCGwN). no ensino médio e funcionando em amplos galpões de
Destaco três dessas competências gerais, tendo madeira muito simples, sua principal missão era elevar
em vista a formação do jovem para uma participação a aceitação de seus estudantes em cursos de nível su-
autoral na transformação de suas comunidades e na pro- perior. Missão posta, essa unidade conseguiu superar
dução de novas formas de vida em nossa sociedade: a média nacional para alunos oriundos de famílias de
baixa renda (46% aceitos em universidades) e alcançar
C2. Pensamento científico, crítico e criativo: inves- a incrível marca de 99% de aceitação entre seus estu-
tigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular dantes. Qualquer transformação dessa magnitude está
e resolver problemas e criar soluções. associada a uma série articulada de medidas e proces-
sos de gestão, porém a reengenharia didática imple-
C7. Argumentação: formular, negociar e defender mentada nessa escola foi particularmente interessante
ideias, pontos de vista e decisões comuns, por duas razões: o foco em uma experiência relativa-
com base em direitos humanos, consciência so- mente simples, com imersão dos alunos na resolução
cioambiental, consumo responsável e ética. de problemas, e a ênfase nas quatro características
fundamentais das salas de aula com alto engajamento
C10. Responsabilidade e cidadania: tomar decisões e máxima performance da Education Endowment Fou-
com base em princípios éticos, democráticos, in- ndation, em particular a oferta de feedback para alu-
clusivos, sustentáveis e solidários. nos e professores.

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Como funcionava? Os estudantes recebiam uma essa missão representava muito, e foi realizada de for-
lista de desafios em uma plataforma digital, na ma inclusiva para praticamente todos os alunos da esco-
qual podiam incluir a visualização de vídeos da Khan la. Em particular, abriu para os estudantes a chance de
Academy (a versão em português está disponível em mergulhar em desafios que lhes ofereceram um senso
pt.khanacademy.org) e a resolução de desafios online de propósito significativo e escalável.
em áreas diversas do conhecimento, tudo distribuído De fato, os grandes desafios da educação reque-
em uma playlist, referência às experiências dos estu- rem respostas escaláveis, multidisciplinares, desenha-
dantes nos aplicativos de música. das com o esforço orquestrado de gestores públicos,
A playlist era resolvida em pequenos grupos, com designers, tecnólogos, educadores, pedagogos e tan-
ênfase no desenvolvimento de competências sociais e tos quantos se interessarem pela criação de uma so-
colaborativas, tais como o tutoramento recíproco en- ciedade mais justa e igualitária. Além disso, acredito
tre pares. À medida que os estudantes percor- que as respostas mais significativas e perenes
riam suas playlists na plataforma digital, serão construídas pela via da inovação,
um poderoso algoritmo registrava to- em uma arquitetura que inclui as se-
das as suas ações: o tempo de vi- guintes ações:
sualização dos vídeos ou como
erravam os problemas apresen- Transformar os espaços físi-
tados, por exemplo. A plata- cos de aprendizagem e incen-
forma, então, sinalizava aos As respostas mais tivar o uso de uma grande di-
estudantes que poderiam ne- significativas e perenes versidade de artefatos digi-
cessitar de ajuda do profes- tais e analógicos.
sor, oferecida na forma de serão construídas Desenhar novas experiên-
mentoria em sessões de reso-
lução conjunta de problemas, pela via da inovação cias imersivas de aprendiza-
gem e práticas didáticas inova-
aberta para todos os alunos,
doras em todos os campos de
mas mandatórias para os alunos
conhecimento.
que não atingiram a performance
desejada. Telões indicavam os tópicos Construir relações entre os agen-
de conhecimento trabalhados pelo pro- tes que pensam e operam os ambientes
fessor nas sessões de resolução de problemas, educacionais, principalmente relações afe-
e os alunos recebiam uma notificação em seus note- tivas e intelectuais entre professores e alunos.

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books acerca das sessões das quais deveriam participar. Promover o compartilhamento em rede de soluções
Os professores também podiam assessorar direta- baseadas em evidências e políticas públicas fundadas
mente qualquer um dos grupos em um grande salão, na democracia.
fora das sessões especiais, mesmo aqueles com estu-
dantes de alta performance, que recebiam menos noti- Este é um tempo de hackear os sistemas de en-
ficações, garantindo que todos tivessem momentos sino, incentivar a participação autoral dos agentes de
de interação face a face com seus professores. Assim, de mudança na escola (famílias, estudantes, educadores,
certa forma, temos aí o exemplo de um sistema de gestores, outros colaboradores), montar ecossistemas
aprendizagem adaptativo híbrido, no qual um algoritmo de inovação baseados em competências diversificadas,
computacional identifica, monitora e torna visíveis as no acolhimento da diversidade, no diálogo e na demo-
dificuldades de aprendizagem dos alunos, mas sua su- cracia como instrumento de transformação social em
peração se dá a partir da construção de relações pro- um mundo de profundas transformações digitais.
fessor-aluno durante a tutoria em sessões conjuntas de
resolução de problemas.
Além das razões já mencionadas, acredito que
esse exemplo é poderoso, pois mostra como a inovação
é possível, mesmo quando a missão é mais ou menos Luciano Meira é Ph.D. em Educação Matemática,
restrita, como talvez seja a de entrar para a faculdade. professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
No entanto, para aqueles jovens e suas comunidades, e sócio-fundador da Joy Street. luciano@meira.com

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