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1.

PROBLEMA
A palavra problema provém do grego próblema (πρόβλημα), substantivo derivado
do verbo proballein (pro = adiante, em frente; ballein = lançar, atirar).1 O significado
literal da palavra é ato ou efeito de lançar em frente, mas tem vários sentidos figurados:
tarefa, questão, muro protetor, obstáculo, desculpa.
Assim como entre os gregos, os significados com que hoje se usa a palavra
problema são inúmeros. Essa multiplicidade de significados aparentemente não
constitui dificuldade na linguagem coloquial, como o comprova o verbete num
dicionário geral:
“PROBLEMA Sm 1 questão matemática cuja solução depende de cálculos:
Parecia um ginasiano perplexo diante de um problema de matemática. 2 tema que pode
ser objeto de discussão e que pede solução; questão não satisfatoriamente resolvida;
assunto controverso: Estamos resolvendo grandes problemas de psicologia. 3 situação
difícil; conflito: Mas você não sabe que aquela criança virou um problema sério? 4
dificuldade; obstáculo; contratempo: O problema da turma era não entender francês. 5
questão que envolve dúvida ou incerteza; caso com algum grau de complicação: Tinha
interesses muito imediatos para se ocupar com problemas como o da dívida externa do
país.”2
Dicionários especializados não fazem melhor. Num dicionário de Filosofia lê-se
que problema é “qualquer situação que inclua a possibilidade de uma alternativa.” Mais
adiante, esse mesmo dicionário informa que “no pensamento moderno a noção de
problema foi e continua sendo das mais negligenciadas. Embora falem o tempo todo em
problema e achem que é sua função solucionar certo número deles, especialmente dos
definidos como ‘máximos’, os filósofos não se preocuparam muito em analisar a noção
correspondente. Na maioria das vezes o problema foi considerado como condição ou
situação subjetiva e confundido com a dúvida.”3
Essa lacuna filosófica é um espaço que autores de diferentes áreas de
conhecimentos especializados exploram de acordo com o objetivo do assunto de que
vão se ocupar.4 Ou então contornam a questão.5
Uma noção geral é considerar problema como algo que estimula a necessidade de
escolher uma dentre várias ações possíveis diante de uma situação.6
Como envolve escolher e escolher é uma decisão inerentemente humana, essa
noção implica que problema é algo subjetivo.
Mas, o que é esse algo que suscita em alguém a necessidade de escolher uma
dentre várias ações possíveis diante de uma situação?
É a situação que estimula essa necessidade? Como?
O que são ações possíveis diante de uma situação?
Já que o problema surge em decorrência de uma situação, importa então esclarecer
o que seja uma situação.
Uma situação é um fato, um estado de coisas.
A referência a uma situação é feita descritivamente. Por exemplo:
 Lendo um livro, a pessoa encontra uma palavra cujo significado
desconhece.
 Um estudante do interior procura um lugar para morar na capital, onde vai
passar os próximos cinco anos freqventando a Escola Politécnica da USP.
 Dano em um dos pneus do automóvel interrompe a viagem de um
funcionário que se dirigia para o trabalho.
 Na sala de aula um aluno pergunta ao professor se existe diferença entre a
concepção de materialismo dialético de Plekhanov (1856-1918) e a
concepção de materialismo histórico de Engels (1820-1895).
 Um cavalheiro entra numa igreja imersa em silêncio, toma assento num
dos bancos, fecha os olhos e pergunta a si mesmo se viver até aquele
momento valeu a pena e se vale a pena continuar vivendo.
 Um estudante enfrenta dificuldades com a elaboração da tese de doutorado
e tem dúvidas sobre como discuti-las com o professor orientador.7
 Um pai é surpreendido pelo filho de sete anos que lhe pergunta por que as
bolhas de sabão estouram e desaparecem.
 Um pesquisador realizou um experimento complexo para testar uma
hipótese sobre a influência da alcalinidade da solução nutritiva na
velocidade de crescimento da colônia de determinada espécie de bactéria
causadora de fermentação láctica. Os dados do experimento não
confirmam a hipótese que orientou o planejamento e execução do
experimento.
Considere-se a primeira situação: Lendo um livro, a pessoa encontra uma palavra
cujo significado desconhece.
Se a pessoa tiver interesse em dissipar essa ignorância, ela vai propor um
problema para si mesma: “O que devo fazer para descobrir o significado dessa
palavra?”
Existem várias maneiras de responder a essa pergunta:
 Interromper a leitura e
o Consultar um dicionário;
o Pesquisar na Internet;
o Perguntar a alguém;
o ...
 Anotar a palavra num caderno de notas para buscar seu significado mais
tarde por meio de
o Consultar um dicionário;
o Pesquisar na Internet;
o Perguntar a alguém;
o ...
 Continuar a leitura na expectativa de deduzir um possível significado da
palavra a partir do contexto do que está lendo;
 ...
Considere-se a última situação: Os dados do experimento não confirmam a
hipótese que orientou o planejamento e execução do experimento cuja finalidade era
determinar a influência da alcalinidade da solução nutritiva na velocidade de
crescimento da colônia de determinada espécie de bactéria causadora de fermentação
láctica.
O pesquisador decidiu realizar o experimento inspirado por um artigo de revista
científica que apresentava resultados de um experimento realizado algures com
bactérias de determinada espécie. O pesquisador teve a ideia de realizar experimento
similar com bactérias de outra espécie, também causadoras de fermentação láctica,
supondo que, apesar de serem de espécies diferentes, ambas as bactérias apresentariam
comportamento similar sob condições similares, uma vez que ambas são causadoras de
fermentação láctica.
Depois de muito trabalho planejando o experimento, levando-o a cabo e
analisando os resultados, o pesquisador vê que estes não confirmam a hipótese que
orientou o experimento A expectativa que o pesquisador nutria em relação aos
resultados do experimento está em conflito com os resultados efetivamente obtidos.8
O problema que se propõe para o pesquisador é: O que fazer para dirimir esse
conflito?
A pessoa que sente necessidade de dissipar a ignorância do significado de uma
palavra enfrenta um problema, assim como o pesquisador que se interessa em dirimir o
conflito entre expectativa e realidade. Mas o problema da pessoa em relação ao
significado da palavra difere do problema do pesquisador num ponto importante, a
busca de resposta. Para encontrar o significado da palavra a pessoa tem pelo três opções
bem definidas; o pesquisador, contudo, não dispõe de nenhuma opção (pelo menos no
momento em que a questão se lhe põe). A diferença entre ambos os problemas é que a
pessoa que busca o significado da palavra enfrenta um problema estruturado, enquanto
o pesquisador se confronta com um problema não-estruturado.

1
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua
portuguesa. 2a. ed., 7a. impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
2
BORBA, Francisco S. (Org.). Dicionário UNESP do português contemporâneo.
São Paulo: UNESP, 2004.
3
ABBAGNANO (2003), p. 796-797. Ver, adicionalmente, FERRATER MORA (2004),
Tomo III, p. 2377.
4
Ver GIL (2002), pág. 23.
5
No prefácio (pág. ix) DAVIDSON & STERNBERG (2003) consideram conhecida a
noção de problema (na verdade deixam a questão por conta do leitor). Por outro lado,
por meio de nota de rodapé na pág. 1, BROWN & WALTER (1990) encaminham a
questão para AGRE (1982).
6
ABRAMCZUK (2009), pág. 1-2.
7
Notar que são duas situações: (1) dificuldades com a elaboração da tese de doutorado e
(2) dúvidas sobre como discutir essas dificuldades com o professor orientador.
8
Esse é um exemplo fictício de frustração da expectativa teórica pela evidência
experimental. Provavelmente tendo em mente fatos da tal frustração é que Paul
Feyerabend (1924-1994) escreveu que “problema é o resultado de um conflito entre
uma expectativa e uma observação que, por sua vez, se constitui da expectativa”
(FEYERABEND, 1977; pág. 272). Fatos exemplares que dão suporte a essa noção de
problema são o experimento de Michelson-Morley e o experimento de Rutherford.
Existe outro caso de frustração da expectativa teórica pela evidência experimental, a
catástrofe do ultravioleta (ou catástrofe de Rayleigh-Jeans). Há, contudo, uma
diferença entre os experimentos de Michelson-Morley e de Rutherford e a catástrofe
do ultravioleta. Naqueles, a expectativa teórica foi elaborada antes dos experimentos
(os experimentos foram elaborados para submeter previsões teóricas a teste); na
catástrofe do ultravioleta a análise teórica foi posterior aos experimentos; ela não
orientou nenhum experimento, seu objetivo era explicar dados experimentais já
existentes, obtidos por Otto Richard Lummer (1860-1925) e Ernst Pringsheim (1859-
1917). O trabalho experimental de Lummer e Pringsheim faz parte de uma lista de
experimentos esquecidos pelos autores de livros didáticos de Física.

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