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Resumo. As doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa mortis populacional, aliado a
incompatibilidade entre oferta e demanda de órgãos para a realização de transplante cardíaco, os dispositivos
de assistência ventriculares (DAVs) vem sendo utilizados como alternativa de terapia em pacientes com
insuficiência cardíaca (IC). No entanto diversos desafios ainda precisam ser vencidos no uso desses
dispositivos, sejam eles intrínsecos a suas características eletromecânicas, das quais permeiam o campo da
engenharia, ou mesmo desafios relacionados as deficiências de informações adequadas em tempo hábil para
tomada de decisões médicas. Além do modo como são ajustados esses dispositivos, frente as exigências físicas e
diferentes características fisiológicas dos pacientes. Com a presença cada vez mais marcante de mudanças
tecnológicas, incluindo as observadas na indústria 4.0. Este artigo propõe o uso dessas tecnologias; para a
formulação de um ambiente inteligente com interação preditiva nas decisões médicas em pacientes com DAV.
1. INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2012 divulgou que as doenças crônicas não
transmissíveis (DCNTs) são responsáveis por cerca de 38 milhões de mortes por ano,
representando 68% de todas as mortes em todo o mundo. A doença cardiovascular (DCV) é
líder nas causas dessas mortes. Segundo o DATASUS, as doenças cardiovasculares são a
terceira causa de internações hospitalares e a Insuficiência Cardíaca (IC) é a principal causa
de internação cardiovascular no Brasil (DATASUS, 2012). Além disso, com o
envelhecimento populacional e o aumento da sobrevida de pacientes cardiopatas, espera-se
um aumento progressivo dos casos de IC (OWAN e REDFIELD, 2005).
Como solução encontrada para estas patologias, o transplante é a indicação terapêutica1
eficaz nas alterações irreversíveis do coração e outros órgãos como: rim, fígado, pulmões e
pâncreas. Os pacientes em estados terminais da função renal e endócrina do pâncreas, por
exemplo, possuem alternativa terapêutica ao transplante, como: diálise e administração
exógena2 de insulina, respectivamente. Ao passo que os pacientes em estados terminais da
função cardíaca, hepática ou pulmonar têm como única opção a substituição do órgão doente.
A saber, o primeiro transplante cardíaco foi realizado em 1968 na África do Sul. Desde então
progressos no âmbito da técnica cirúrgica, no cuidado perioperatório3 e na medicação
1
Terapêutica: significa o tratamento para uma determinada doença pela medicina. Terapia: prestar cuidados
médicos, tratar.
2
Exógeno: aquilo que é de origem externa. Produzido por fatores externos a um objeto, processo ou fenômeno.
3
Perioperatório: é o termo usado em medicina para o período de tempo que vai desde o momento em que
cirurgião decide indicar a operação e comunica ao paciente, até que este último retorne, depois da alta hospitalar,
às atividades normais.
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Esses casos ocorrem quando existe perspectiva de melhora da IC, como por
Ponte para recuperação exemplo: disfunção ventricular pós-Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Takotsubo
e miocardite.
Uma das vantagens desses dispositivos relativamente ao coração artificial é que preserva
a existência dos ventrículos, do qual, e eventualmente, podem se recuperar, uma vez que
deixam de estar consecutivamente em sobrecarga.
Já para os DCAM de longa permanência observa-se uma evolução nos modelos dos
equipamentos, baseada em avanços tecnológicos, principalmente em seus princípios de
propulsão e tipo de fluxo, com significativa redução de suas dimensões. Na indicação de
DACM de longa duração, alguns fatores são relevantes na tomada de decisão. No caso de
ponte para transplante, a expectativa de tempo de espera em fila deve ser considerada, vide
Quadro 2.
4
Imunossupressora: é o ato de reduzir a atividade ou eficiência do sistema imunológico.
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O DAV pode ser implantado para assistência ao ventrículo esquerdo (DAVE) (Fig. 1-A)
situação mais comum, com canulação5 do ápice do ventrículo esquerdo (LV apex) para a aorta
(Ao), ou para assistência do ventrículo
direito (DAVD) (Fig. 1-B), com Figura 1: Desenho esquemático apresentando DAVs.
canulação do átrio direito (RA) para a
artéria pulmonar (PA). Ou ainda, ser A B
biventricular promovendo assistência a
ambos os ventrículos
(KRISHNAMANI, 2010).
Um dos tipos de dispositivos de
DAV é o de fluxo contínuo,
diferentemente das precursoras bombas
de sangue pulsáteis. Isto porque o
coração natural possui o
comportamento de uma bomba pulsátil.
Por esta razão, as primeiras bombas
que começaram a ser desenvolvidas
também eram pulsáteis, acreditando-se
que o sistema vascular era todo
adaptado para este pulso. A vantagem Fonte: Adaptado de KRISHNAMANI, 2010
da bomba de fluxo contínuo está nos A: DAVE - Dispositivo de assistência ventricular
seus componentes e na sua construção, esquerda.
que são mais simples e de menor B: DAVD - Dispositivo de assistência ventricular direita.
dimensão, do ponto de vista da
engenharia.
Porém, a natureza contínua dessas bombas foi apontada como possível causa de
insuficiência na válvula aórtica6 (IVA) (ou regurgitação aórtica) em mais de 30% dos
pacientes estudados com DAV por mais de um ano (SOLEIMANI, et al., 2012). A
5
Canulação ou Cateterização: inserção de um dispositivo tubular em um ducto, vaso sanguíneo, cavidade de um
órgão ou cavidade corporal pela injeção ou retirada de fluidos para fins diagnósticos ou terapêuticos.
6
A valva aórtica é uma estrutura tricúspide responsável por controlar a passagem de sangue do ventrículo
esquerdo (VE) para a aorta. A IVA é um transtorno da válvula aórtica caracterizado pelo retorno do sangue da
aorta para o VE do coração durante a diástole ventricular. O fluxo sanguíneo ineficiente causa inicialmente fatiga
e fraqueza. O ventrículo se hipertrofia (cresce) para compensar e faz cada vez mais força para expulsar o sangue.
Eventualmente o excesso de hipertrofia torna o ventrículo enorme e menos eficiente gerando insuficiência
cardíaca.
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insuficiência aórtica significativa gera recirculação do fluxo (ciclo fútil) e diminui o débito
cardíaco7 promovido pelo DAV.
Desta forma é necessário o controle8 adequado da velocidade do motor (Fig. 2) e, em
consequência, o controle da vazão da bomba e respectivo fluxo sanguíneo. Há ainda,
relacionado a velocidade de funcionamento do dispositivo (motor), casos em que uma
velocidade muito baixa, pode ocorrer fluxo reverso, ou se a rotação estiver muito alta pode
haver esvaziamento completo do ventrículo, ou seja, duas características que podem
prejudicar a saúde do assistido.
Figura 2: Dispositivo de assistência ventricular esquerdo Outra questão a ser observada
(DAVE) de fluxo contínuo. é que o funcionamento natural dos
órgãos humanos tem diversos
processos fisiológicos que realizam
o controle das suas funções. Muitos
processos são desconhecidos,
inclusive. A frequência cardíaca,
por exemplo, depende da pressão
arterial, das atividades físicas, da
postura e até das emoções. E existe
uma relação entre a frequência
cardíaca e a demanda corporal
(OHUCHI, et al., 2001), esta
relação pode vir a ser considerada
para o ajuste da velocidade do
motor. Há ainda, outro fator
importante a ser considerado no
controle destes dispositivos, que é o
princípio da individualidade da
fisiologia do paciente. Conceito que
explica que as pessoas respondem
de maneira diferente aos estímulos
(HOFFMAN, 2014). Os pacientes
Fonte: Thoratec - Heart MATE II
que utilizam DAVs são indivíduos
diferentes entre si. Por esta razão, o
ajuste da velocidade do DAV deveria considerar uma forma inteligente que aprenda as
diversidades dos pacientes e suas respectivas exigências de fluxo sanguíneo; e para cada
situação identificar qual a melhor configuração, da velocidade por exemplo, para a exigência
física do paciente assistido.
2. Objetivo
7
Débito cardíaco: é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração em um minuto.
8
Controle: o termo controle destes dispositivos está relacionado ao ajuste da velocidade do motor.
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3. Método Proposto
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artificial (IA) selecione controles adequados para diferentes exigências físicas daquele perfil
de usuário. O termo adaptativo quer dizer que em função da fisiologia e anatomia humana do
paciente com relação aos seus hábitos e costumes de vida, o sistema se auto calibra, mantendo
a homeostase9 do sistema cardiovascular, na medida em que o paciente faz exigências
distintas de seu sistema cardíaco.
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
9
Homeostase ou homeostasia: está associada à noção de autorregulação que significa a tendência que
organismos vivos têm em manter ou retornar ao estado de equilíbrio sempre que este for alterado por condições
adversas (perturbações), externas ou mesmo internas ao seu funcionamento. Este conceito foi definido
primeiramente por Walter Bradford Cannon em “The wisdomofthebody”, publicado em 1932, no Brasil
publicado sob o título de: “A sabedoria do corpo”. São Paulo/Nova York, Cia Editora Nacional/Norton. 1946,
pp. 12-13.
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Soleimani, B., Haouzi, A., Manoskey, A., Stephenson, E., El-Banayosy, A., Pae, W.: Development of Aortic
Insufficiency in Patients Supported With Continuous Flow Left Ventricular Assist Devices. ASAIO Journal
(2012).
Stehlik JEL, Kucheryavaya AY, Aurora P, et al. The Registry of the International Society for Heart and Lung
Transplantation: twenty-seventh official adult heart transplant.
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