Вы находитесь на странице: 1из 16

:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 1 de 16

EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC


RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
REL. ACÓRDÃO : Des. Federal CELSO KIPPER
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. TRABALHADOR RURAL.


ELEVADOS RENDIMENTOS PERCEBIDOS PELO CÔNJUGE EM DECORRÊNCIA DO
EXERCÍCIO DE ATIVIDADE URBANA. DESCARACTERIZAÇÃO DO REGIME DE
ECONOMIA FAMILIAR. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE INDEFERIDA.
1. O trabalho agrícola em regime de economia familiar somente será
reconhecido enquanto tal se a atividade agrícola desempenhada pelos membros da família for
indispensável à própria subsistência.
2. A interpretação isolada do § 9º do inciso VII do art. 11 da Lei n. 8.213/91
(com renúncia, portanto, à interpretação sistemática e harmônica dos dispositivos que regem a
questão - art. 11, VII, §§ 1º e 9º, da Lei de Benefícios), implicaria entender possível a
concessão de aposentadoria rural por idade a segurado cujo cônjuge perceba renda de elevada
monta, o que iria de encontro à própria definição jurídica do segurado especial, em que a
subsistência depende da própria força de trabalho. Com efeito, a locução "não é segurado
especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte de rendimento" não implica
automaticamente a conclusão de que "são segurados especiais todos os outros membros do
grupo familiar que não possuírem outra fonte de rendimento".
3. Vigora no sistema previdenciário pátrio o princípio contributivo (CF/88, art.
201, caput), inclusive no âmbito do trabalho rural em regime de economia familiar (CF/88,
art. 195, §8º), que deve nortear a interpretação das normas infraconstitucionais, de forma a
não elastecer as hipóteses de reconhecimento da atividade rural sem contribuição para efeito
de concessão de benefício previdenciário.
4. Caso em que, ausente contribuição e demonstrado que o labor agrícola não
constituiu fonte de renda imprescindível à subsistência da família, resumindo-se a atividade
complementar, impõe-se afastar a condição de segurada especial da autora, restando
inviabilizada a outorga de aposentadoria por idade rural.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia 3ª Seção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade solveu
Questão de Ordem no sentido de indeferir o pedido de sobrestamento do feito e, por maioria,

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 2 de 16

vencido o Relator, negar provimento aos embargos infringentes, nos termos do


relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Ressalva de fundamentação apresentada pelo Des. Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira
e pela Juíza Federal (convocada) Vivian Josete Pantaleão Caminha.

Porto Alegre, 06 de setembro de 2012.

Des. Federal CELSO KIPPER


Relator para Acórdão

Documento eletrônico assinado por Des. Federal CELSO KIPPER, Relator para Acórdão, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região
nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no
endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do
código verificador 5325634v9 e, se solicitado, do código CRC 2232448B.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): Celso Kipper
Data e Hora: 11/09/2012 15:41

EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC


RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS

RELATÓRIO

Cuida-se de Embargos Infringentes interpostos pela autora em face de acórdão


da 5ª Turma deste Tribunal que, por maioria, deu provimento à apelação do INSS e à remessa
oficial, para julgar improcedente o pedido de aposentadoria por idade rural formulado pela
promovente, assim ementado:

APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADORA RURAL. DESCONFIGURAÇÃO


DO REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR.
Não tem direito à aposentadoria por idade a autoqualificada trabalhadora rural
quando restar desconfigurado o regime de economia familiar. Hipótese em que a
família não retirava sua subsistência exclusivamente do trabalho rural, mas do
trabalho urbano exercido pelo esposo da autora.

Requer a embargante/autora a prevalência do voto minoritário, que, com base


no exame dos autos, é pela procedência do pedido.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 3 de 16

Sem contrarrazões.

É relatório.

À revisão.

Desembargador Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA


Relator

Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal JOÃO BATISTA PINTO


SILVEIRA, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,
mediante o preenchimento do código verificador 4011473v6 e, se solicitado, do código CRC
7F8967FA.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): João Batista Pinto Silveira
Data e Hora: 04/05/2012 16:17

EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC


RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS

VOTO

Conforme relatado, trata-se de Embargos Infringentes interpostos por Irma


Simioni Redante, em face de acórdão da 5ª Turma deste Tribunal que, por maioria, deu
provimento parcial à apelação do INSS e à remessa oficial, para julgar improcedente o pedido
de aposentadoria por idade rural formulado pela ora embargante, ao argumento de que não
restara comprovado o regime de economia familiar.

Inicialmente, naquilo que pertine, permito-me transcrever o voto majoritário:

...................
Divirjo do relator quanto à concessão de aposentadoria por idade.

Para comprovar a atividade rural no período aquisitivo do direito, que vai de 1995 a
2007, a autora, nascida em 21-11-1952, trouxe aos autos certificados de cadastro de
imóvel rural relativos aos anos de 1996 e 1999 (fls. 19-20) e notas fiscais de
comercialização de produtos agrícolas emitidas em 1993, 1998, 1999 e 2001 a 2006
(fls. 22-60).

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 4 de 16

Embora tais documentos, em tese, constituam início de prova material da atividade


rural, certo é que o marido da autora, Sr. Nilo José Redante, era funcionário do Banco
do Brasil desde 1973 (fl. 64), obtendo aposentadoria por tempo de contribuição como
bancário em 1997 (fl. 65), cujos proventos atualmente são de R$ 2.253,99, conforme
consulta ao PLENUS (doc. anexo). Além disso, entre 2005 e 2008, o Sr. Nilo iniciou
vínculo com a Prefeitura Municipal de Abdon Batista, recebendo remuneração
superior a dois salários-mínimos, conforme apurado em consulta ao CNIS (doc.
anexo).

Ora, considerada os altos rendimentos obtidos pelo marido da autora, fica claro que a
renda oriunda da agricultura não era indispensável à subsistência familiar, como
exigido pelo art. 11, § 1º, da Lei nº 8.213, de 1991, restando descaracterizado o regime
de economia familiar.

Aliás, considerando que o marido se dedicava a outra atividade, que a autora residia
na cidade, que as notas fiscais indicam que havia grande produção de fumo, nem
sequer é crível que a autora desempenhasse a atividade rural, sendo certo que havia
utilização de empregados.

Impõe-se, pois, julgar improcedente a demanda, condenando-se a autora ao


pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios arbitrados
equitativamente em R$ 510,00, observado o disposto no art. 12 da Lei nº 1.060, de
1950, por ser beneficiária da gratuidade da justiça (fl. 72).

Ante o exposto, voto por dar provimento à apelação do INSS e à remessa oficial."

Reproduzo, ainda, o voto minoritário:

'(...)
No caso vertente, o requisito etário restou cumprido, na medida em que à data do
requerimento administrativo (19/11/2007), a parte autora já contava com 55 anos, na
medida em que nascida em 21/11/1952, conforme documento da fl. 92.

Quanto ao período de carência, verifica-se que a autora implementou a idade mínima


para a concessão do benefício no ano de 2007, de modo que deve comprovar o
exercício de atividade rural no período de 156 meses anteriores ao requerimento
administrativo. Admite-se, por conta do disposto no art. 39, I, da Lei n. 8.213/91, a
demonstração do trabalho rural em relação a período descontínuo.

Tratando-se de trabalhador rural conhecido como bóia-fria, diarista ou volante,


considerando a informalidade da profissão no meio rural, dificultada é a comprovação
documental da atividade, de modo a ensejar o início de prova a que se refere a lei.
Seguindo a orientação adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, o entendimento
desta Corte é no sentido de que a exigência de início de prova material deve ser
abrandada. Nesse sentido, o julgamento do REsp 55.438/SP, Rel. Ministro LUIZ
VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA TURMA, julgado em 25/10/1994, DJ 03/04/1995,
p. 8158.

Apreciando a prova material coletada, verifico, dentre os documentos juntados aos


autos, que a parte autora juntou os seguintes: Certificado de cadastro do imóvel rural
de 1996/1999 (fl.101/102); Notas fiscais de venda de produtos agrícolas de 1993,
1998, 1999, 2001 a 2006 (fls. 103/137).

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 5 de 16

Note-se que, considerando precedente da Corte Superior, "é prescindível que o início
de prova material abranja necessariamente o número de meses idêntico à carência do
benefício no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, desde que
a prova testemunhal amplie a sua eficácia probatória ao tempo da carência, vale
dizer, desde que a prova oral permita a sua vinculação ao tempo de carência." (AgRg
no REsp 945.696/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe 7/4/2008).

Infiro que a apresentação desses respectivos documentos satisfaz a exigência prevista


no art. 55, §3º, da Lei n. 8.213/91, e não há prejuízo de os documentos estarem
somente no nome do cônjuge, representante da família, na medida em que se trata de
regime de economia familiar, que pressupõe o trabalho coletivo dos respectivos
membros para uma mesma finalidade.

Na audiência de instrução e julgamento, foram ouvidas as testemunhas Maria


Terezinha Mocelin (fl.157) que confirmou que a autora morou um tempo na cidade e
se deslocava até a propriedade rural para trabalhar, cuidando da lavoura e criando
animais, inicialmente nas terras de seus pais e sogro e posteriormente adquiriu imóvel
próprio. Já a testemunha Hugo Mocelin (fl.158), afirma que conhece a autora desde
pequena e que sempre trabalhou na agricultura, apesar de seu marido ter sido
bancário. Que inicialmente trabalhou na propriedade de seu pai e depois no de seu
sogro e posteriormente adquiriu imóvel próprio, onde cultivou milho, fumo e feijão.

O fato do marido da demandante ser trabalhador urbano, não constitui óbice ao


enquadramento da autora como segurada especial, uma vez que o art. 11, VII, da Lei
nº 8.213/91, conferiu ao produtor rural que exerça atividade agrícola individualmente
o status de segurado especial.
Em face disso, constato que a parte autora faz jus ao benefício de aposentadoria rural
por idade de valor mínimo, porquanto satisfaz os requisitos para a concessão do
aludido benefício, quais sejam: idade mínima (55 anos) e exercício de atividade
laborativa rural no período equivalente a 156 meses imediatamente anteriores ao
pedido administrativo.

Consectários legais:
...................

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação e dar parcial provimento à
remessa oficial.

..........................................................................................................

A divergência, assim, cinge-se acerca do direito ou não da parte autora à


concessão de APOSENTADORIA POR IDADE RURAL.

A Lei nº 8.213/91 em seu artigo 11, inciso VII, assim dispõe acerca dos
segurados especiais:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(omissis)
VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o
garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades,
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de
terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14
(quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo
familiar respectivo.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 6 de 16

§ 1º - Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos


membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados.

Lembro, ainda, que pela redação conferida pela Lei 11.718/08, não há
impedimento para que o segurado não resida no local do trabalho bastando que more próximo
dele, como ocorre no caso dos autos, onde a distância percorrida de sua residência até suas
terras era de poucos quilômetros.

A Lei 8.213/91, alterada pela nova Lei 11.718/08, conceitua o segurado especia,, em seu
artigo 12, inciso VII, como: A pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na condição de:

A concessão de aposentadoria por idade rural, devida a partir da DER, deve


observar os artigos 11, VII; 15; 48, § 1º; 142 (redação alterada pela Lei 9.032/95) e 145 da
Lei 8.213/91 para quem, mantendo a condição de segurado especial em 05-04-1991,
comprovar a satisfação da idade mínima - 60 anos, se homem e 55, se mulher - e do exercício
de atividade agrícola, mesmo que exercida de forma descontínua, pelo interregno exigível
quando do implemento do requisito etário ou, se nesta ocasião não tiver sido ele
implementado, por um dos subseqüentes previstos na tabela anexa ao artigo 142 antes citado,
não importando que após preenchidos tais pressupostos, sobrevenha a perda daquela
condição, a teor do art. 102, § 1º da Lei de Benefícios."

No caso em que o requerimento administrativo e o implemento da idade mínima


tenham ocorrido antes de 31-08-1994 (data da publicação da Medida Provisória n. 598, que
introduziu alterações na redação original do art. 143 da Lei de Benefícios, sucessivamente
reeditada e posteriormente convertida na Lei n. 9.063/95), o segurado deve comprovar o
exercício de atividade rural, anterior ao requerimento, por um período de 5 anos (60 meses),
não se aplicando a tabela do art. 142 da Lei nº 8.213/91.

Quanto à demonstração do exercício da atividade rural, encontra-se averbado no


parágrafo 3º do art. 55 da Lei de Benefícios da Previdência que a comprovação do tempo de
serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial,
conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova
material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de
motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento.

Complementando a matéria, cuidou o legislador de elencar no art. 106 do


mesmo Diploma os meios destinados à demonstração do exercício da atividade rural e, ainda
que se entenda o referido rol meramente enunciativo, à evidência, alguma prova material há
de ser produzida.

Registra-se que o início de prova material, consoante interpretação sistemática


da lei, será feito mediante documentos que comprovem o exercício da atividade rural,
devendo ser contemporâneos ao período de carência, ainda que parcialmente.

De outro modo, não há impedimento a que sejam considerados os documentos


emitidos em período próximo ao controverso, desde que indiquem a continuidade dessa
atividade.

Tenho ainda que para a hipótese dos autos não há porque ser dispensado
tratamento distinto do que aquele dispensado aos boías-frias, no que tange ao exame da

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 7 de 16

condição de segurado especial, cujo cônjuge desempenha outra atividade,


justamente em razão desta característica do trabalho desempenhado dar-se de forma
individual (e o auxílio aos fins de semana não descaracteriza tal condição).

Não é por outra razão que a questão restou sumulada (Súmula 41):
A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não
implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como segurado especial, condição
que deve ser analisada no caso concreto.

Acerca do tema me permito transcrever resumo do julgamento do Processo nº


2008.70.54.00.1696-3, julgado pela Turma Nacional de Uniformização:

A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não


implica, por si só, na descaracterizaçãodo trabalhador rural como segurado especial. Nesse
sentido decidiu a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU)
reunida em Aracaju (SE) nos dias 8 e 9 de fevereiro. Na ocasião, a Turma aprovou a Súmula
41 disciplinando o tema.
A decisão responde à ação apresentada por um trabalhador que teve seu pedido de
aposentadoria por invalidez rural negado em primeiro grau e pela 2ª Turma Recursal do
Paraná. O entendimento foi de que o regime de economia familiar teria sido descaracterizado
pelo fato da esposa do requerente ter trabalhado como professora no período de carência a
ser considerado para concessão do benefício, embora as provas trouxessem indícios de que o
autor efetivamente trabalhou no campo no mesmo período.
Para chegar a entendimento diferente, a TNU levou em consideração que o artigo 11,VII, da
Lei de Benefícios da Previdência Social (Lei 8.213/1991) define como segurado especial, entre
outras categorias, o produtor rural que exerça suas atividades, individualmente ou em regime
de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros.
Dessa forma, a Turma entendeu que a lei não excluiu da condição de segurado especial a
pessoa que se dedica individualmente à produção rural, mesmo que um outro membro do
grupo familiar exerça atividade de outra natureza.
Assim, segundo o relator do processo na TNU, juiz federal José Antonio Savaris, quando o
segurado especial exerce suas atividades em regime individual, não importa o fato de outro
membro de sua família exercer atividade remunerada (e se de natureza urbana ou rural).
"Como nesse caso não se trata de regime de economia familiar, o vínculo de cooperação do
grupo familiar para subsistência pela via do trabalho rural é dispensável", concluiu o
magistrado. Com a decisão, o processo foi devolvido à turma recursal de origem para que, a
partir da premissa de que o exercício de atividade urbana por outro membro do grupo familiar
não descaracteriza, por si só, a condição de segurado especial do produtor rural que exerce
sua atividade individualmente, seja feita a análise das provas apresentadas a fim de se
caracterizar ou não a prática de atividade rural pelo requerente no período de carência e, em
caso afirmativo, seja reconhecida sua condição de segurado especial.

E, mesmo que se sustente tratar-se de benefício com caráter assistencial, não se


pode olvidar que visa essencialmente garantir segurança àquele que embora tenha
desempenhado o labor para sua manutenção própria, paralelamente, cumpriu o papel de
assegurar o desenvolvimento socioeconômico do país. Logo, não é pelo caráter meramente
assistencial que se buscou privilegiar os trabalhares rurais com esta garantia, seria simplista
este raciocínio. Aliás, o dito "caráter assistencial" nem de perto se assemelha ao daquele
benefício meramente assistencial.

São outros inúmeros os fatores que demandam um cuidado com a fixação do


homem ao campo que, não deve ser menor do que aquele que dispensamos, por exemplo, a
outros setores da economia e que, aliás, não está imune a ajuda governamental e, nem por
isso, quando isso ocorre, se sustenta o caráter assistencial da medida. Tampouco se deve

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 8 de 16

alegar o caráter meramente assistencial quanto à legislação referente aos


segurados especiais posto que os interesses envolvidos não são meramente assistencialistas,
mas, essencialmente, de outra ordem, condizentes com a função estatal de distribuição de
renda. São tantos os motivos elencáveis de natureza econômica, sociológica, social que
perpassam pelo estudo de migrações indesejadas à riqueza derivada da produção de
alimentos, dentro de uma visão não exclusivamente de comercialização que, mesmo que se
admita esta natureza, não seria ela a preponderante dentro do planejamento estratégico do
bem estar social assegurado pelos avanços da legislação previdenciária no tocante aos
rurícolas.

Ademais, também não se pode desconsiderar que quando ocorre


comercialização, como no caso dos autos, há a contrapartida contributiva. Logo, o caráter
assistencial tão invocado como motivo autorizador da conceituação de benefício que encerra
uma natureza preponderante de "favor/benesse" nem de perto corresponde ao seu intento
fundamental.

Assim, cuidando-se de valorizar este trabalho que se desenvolve de forma


individual, até mesmo para assegurar para aquele que dedicou a vida ao trabalho no campo
alguma retribuição, não seria o tratamento mais justo alijarmos estes trabalhadores do
benefício, sob o argumento de que seu cônjuge poderia mantê-lo, mesmo porque esta
condição pode ser transitória. Não posso deixar de consignar que, por vezes, verifico uma
tendência a se admitir que - e não pensem que confortavelmente me excluo dela -, quando o
trabalho urbano é desempenhado pelo cônjuge, que ao homem se reconheça a atividade rural
sem tanta restrição, até mesmo porque se construiu ao longo dos tempos a idéia de
independência econômica masculina, de provedor do casal, o que não pode mais prevalecer
diante das igualdades constitucionalmente asseguradas em face da própria modificação da
realidade vivida pelos indivíduos.

Logo, embora os rendimentos do (a) cônjuge sejam um fator preponderante para


considerarmos o trabalho em regime de economia familiar, tomam outros contornos quando
se esta a tratar de trabalho desenvolvido de forma individual, sem esquecer também que é
necessário primar pela harmonia das decisões quanto a parâmetros invocados para aferição de
necessidade.

Abro aqui um pequeno parênteses apenas para referir que também para os casos
de labor em regime de economia familiar, o critério objetivo de importância percebida que
segue ao patamar aproximado de dois salários mínimos, tampouco deve ser absoluto, na
medida em que é temerário se afirmar a dispensabilidade do labor rural, diante de um
parâmetro que não se pode afirmar que, sem sombra de dúvida, garanta minimamente uma
sobrevivência digna. Sem olvidar que, como regra, as famílias de trabalhadores rurais são
bem mais numerosas do que as do meio urbano. Assim, tal importância pode não dispensar o
esforço no campo para a garantia da subsistência da família.

Lembraria, ainda, que até mesmo para a aferição de critério de pobreza quando
se examina a possibilidade de concessão de AJG o limite de aferição pela simples presunção é
bem mais elástico.

A propósito das exigências para a caracterização da condição de segurada


especial, como já se viu, existe início razoável de prova material e inquirição em audiência
das testemunhas advertidas, compromissadas e não impugnadas pelo Instituto Previdenciário.
Tais testemunhas confirmaram, de forma unânime, que a parte autora trabalhou no labor rural

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 9 de 16

no período de carência. Tais depoimentos não apresentam qualquer dissonância


e o fato de terem sido colhidos de forma genérica -como poderiam alguns alegar-, não
autoriza sua desconstituição. Relevante a sua primazia, porquanto cuida-se de prova
judicializada. Assim, não vejo nenhum motivo convincente para que se refute toda prova
colhida regularmente.

De outra parte, tampouco é possível afirmar que a quantidade de produção é


incompatível com o trabalho da autora, uma vez que a produtividade de cada propriedade é
variável e os números apresentados nas Notas Fiscais, embora pareçam significativos, para
quem teve contacto direto com o trabalho no campo, é possível afirmar que não se trata de
produção de grande monta. Ao contrário, perfeitamente compatível, tendo em conta a
informação acerca de auxílio, nos períodos de colheita.

Considere-se ainda que os valores apontados em tais documentos representam


valores brutos, decorrentes de operações que, como regra, garantem um lucro que não
desborda em muito de 20% na maioria das culturas (isso quando não amargam prejuízo,
decorrentes das flutuações de mercado e das condições climáticas) o que os alçam a condição
de perfeitamente compatíveis com a produção obtida por pequeno produtor.

Assim, preenchidos os requisitos - idade exigida e carência -, a parte autora faz


jus ao benefício de aposentadoria por idade rural.

Por fim, concluo que é possível a formação de uma convicção plena, após a
análise do conjunto probatório, no sentido de que, efetivamente, houve o exercício da
atividade laborativa rurícola no período de carência pela ora embargante, e por isso deve
prevalecer o voto que manteve em parte a sentença que julgou procedente o pedido de
aposentadoria por idade rural.

Em igual sentido os precedentes desta Seção:


PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. APOSENTADORIA POR IDADE
RURAL. BOIA-FRIA.
1. Cuidando-se de trabalhador rural que desenvolve atividade na qualidade de boia-fria, deve
o pedido ser analisado e interpretado de maneira "sui generis", uma vez que a jurisprudência
tem se manifestado no sentido de acolher, em tal situação, a prova exclusivamente testemunhal
(art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil). 2. O fato de o marido da autora ter tido
vínculos urbanos e se aposentado nessa condição não afasta a condição de segurada especial
da autora, uma vez que se tratando de hipótese de trabalhadora individual (boia-fria), não
enseja análise a atividade desenvolvida por seu cônjuge. 3. Preenchidos os requisitos exigidos
- idade (completou 55 anos em 1996) e carência (no caso 90 meses), a parte autora faz jus ao
benefício de aposentadoria por idade rural, nos termos do voto vencido.
(EIAC 2008.70.9900350-7)

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. APOSENTADORIA RURAL POR


IDADE. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. CORROBORADO POR PROVA
TESTEMUNHAL.
1. Para a concessão de aposentadoria rural por idade, necessário o preenchimento do
requisito de idade mínima (55 anos para a mulher) e a prova do exercício da atividade
rural no período de carência, de acordo com a tabela constante do art. 142 da Lei nº
8.213/91. 2. O fato de o irmão da parte autora ter exercido atividades urbanas não se
presta, por si só, para descaracterizar sua condição de segurada especial, até porque
não logrou o INSS demonstrar que tal labor urbano constituísse fonte de renda capaz
de tornar incompatível com o desempenho da sua atividade rural. Ademais, o próprio
INSS aposentou o seu irmão por velhice, uma vez que trabalhador rural. 3.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 10 de 16

Demonstrado o desenvolvimento da atividade rural, através de início razoável de


prova material, complementada por testemunhos idôneos colhidos em juízo, a parte
autora faz jus ao benefício pleiteado.
- EINF nº 2005.04.01.040091-4, Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, D.E.
18/11/2009.

Ante o exposto, voto por dar provimento aos embargos infringentes.

Desembargador Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA


Relator

Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal JOÃO BATISTA PINTO


SILVEIRA, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e
Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,
mediante o preenchimento do código verificador 4011474v15 e, se solicitado, do código CRC
37366A87.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): João Batista Pinto Silveira
Data e Hora: 04/05/2012 16:17

EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC


RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS

VOTO REVISÃO

Des. Federal Celso Kipper


Trata-se de embargos infringentes opostos pela autora de acórdão da Quinta
Turma desta Corte, em composição anterior, que, por maioria, deu provimento ao apelo do
INSS e à remessa oficial, julgando improcedente o pedido de aposentadoria rural por idade.
O e. Relator, Des. Federal João Batista Pinto Silveira, votou pelo provimento
dos embargos infringentes, para conceder à autora o benefício de aposentadoria rural por
idade, entendendo comprovado o exercício de atividades agrícolas em regime de economia
familiar.
Ouso divergir do e. Relator.
A autora implementou o requisito etário em 21-11-2007, uma vez que nascida
em 21-11-1952 (fl. 92), e requereu o benefício na via administrativa em 19-11-2007 (fl. 11).
Assim, deve comprovar o efetivo exercício de atividades agrícolas nos 156 meses anteriores
ao implemento etário, isto é, de novembro de 1994 a novembro de 2007.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 11 de 16

Para comprovar a atividade rural no período equivalente à carência a autora


trouxe aos autos certificados de cadastro de imóvel rural relativos aos anos de 1996 e 1999
(fls. 19-20) e notas fiscais de comercialização de produtos agrícolas emitidas em 1993, 1998,
1999 e 2001 a 2006 (fls. 22-60), hábeis a constituir início de prova material do labor agrícola.
E as testemunhas (fls. 157 e 158) corroboram a documentação juntada, dizendo que a ora
Embargante se dedicava à agricultura, ainda que com a ajuda eventual de terceiros, e do
marido, nas horas de folga deste.
Ocorre que o marido da autora, Sr. Nilo José Redante, era funcionário do Banco
do Brasil desde 1973 (fl. 64), e, segundo extratos do CNIS, no período de 1994 a 1997,
percebeu remuneração mensal média superior a 15 salários mínimos (R$ 1.264,86 em
junho/1994; R$ 1.612,37 em outubro de 1995; R$ 1.574,50 em setembro de 1996 e R$
1.744,12 em janeiro de 1997).
Em janeiro de 1997 obteve o benefício de aposentadoria por tempo de
contribuição como bancário com RMI de R$ 942,30, correspondente a 8,4 salários mínimos
(extrato do PLENUS em anexo), valor esse que, reajustado, correspondia, em novembro de
2007, a 5,0 salários mínimos (R$ 1.909,45). Na data do julgamento da apelação pela Turma,
em junho de 2010 (fl. 194), percebia a título de aposentadoria o valor de R$ 2.253,99, (4,4
salários mínimos), e, por ocasião de seu óbito, em 19-09-2010, o valor de R$ 2.287,55,
(igualmente correspondente a 4,4 salários mínimos). Deixou para a autora, ora Embargante, o
benefício de pensão por morte no valor de R$ 2.583,63, equivalente a 4,1 salários mínimos na
competência de abril de 2012, tudo conforme extratos do PLENUS cuja juntada ora
determino.
Além disso, de fevereiro de 2005 a dezembro de 2008, o Sr. Nilo José Redante,
marido da autora, manteve vínculo laboral com a Prefeitura Municipal de Abdon Batista/SC,
recebendo remuneração superior a dois salários-mínimos, conforme apurado em consulta ao
CNIS (fls. 190-193).
Mas não é só. Como funcionário do Banco do Brasil, o marido da autora,
enquanto aposentado (1997 a 2010), isto é, na maior parte do período equivalente à carência
(1994 a 2007) do benefício pretendido pela ora Embargante, muito provavelmente tinha seus
proventos complementados pela PREVI, como é de conhecimento geral. Que o marido da
autora estabelecera vínculo com a PREVI não há qualquer dúvida, tanto que em buscas feitas
na rede mundial de computadores* se descobriu que o de cujus litigava com a PREVI - Caixa
de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, por meio da ação n. 014.09.004972-55
(0004972-16-2009.8.24.0014), oriundo da Comarca de Campos Novos, ora em grau de
recurso perante o Tribunal de Justiça de SC, conforme acesso feito em 29-04-2012.
*http://esaj.tjsc.jus.br/cpo/pg/show.do?
localPesquisa.cdLocal="14&processo.codigo="0E0001DCR0000&processo.foro="14,"""
Ora, considerando que em janeiro de 1997 o marido da autora percebia do
INSS, a título de aposentadoria, mais de 8 (oito) salários mínimos (SM de R$ 112,00;
proventos de aposentadoria de R$ 942,30), e que no período de 2005 a 2008 o núcleo familiar
teve a renda acrescida de mais dois salários mínimos, em face da atividade desenvolvida pelo
cônjuge varão à Prefeitura Municipal de Abdon Batista/SC, resta evidenciado que os
rendimentos obtidos na agricultura não eram indispensáveis à subsistência familiar, como
exigido pelo art. 11, § 1º, da Lei nº 8.213, de 1991, restando, pois, descaracterizado o regime
de economia familiar.
É de ser referido, ainda, que o regime de economia familiar restaria
descaracterizado ainda que se considerasse somente o valor atualmente percebido pela autora
a título de pensão (R$ 2.583,63), equivalente a 4,1 salários mínimos, hoje em R$ 622,00, na
linha de precedentes desta Terceira Seção, v.g. EIAC n. 2008.70.99.005425-2, Rel. Des.
Federal Luís Alberto D"Azevedo Aurvalle, D.E. de 11-05-2011 e EIAC n.
2005.72.13.003086-0, Rel. Des. Federal Celso Kipper, D.E. 13-05-2011.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 12 de 16

Ademais, sequer se pode cogitar de exercício, pela autora, de trabalho agrícola


de forma individual, uma vez que os documentos juntados aos autos (v.g., as notas fiscais das
fls. 118 a 132) foram emitidos em nome da autora e de seu esposo (Nilo José Redante).
Por fim, refiro que não impressiona a argumentação no sentido de que o fato de
o marido da autora ter exercido atividades urbanas não afasta a condição de segurada especial
desta, ainda mais tendo em conta a superveniência da Lei n. 11.718/2008, a qual inseriu o § 9º
no inciso VII do art. 11 da Lei n. 8.213/91 [Com tal acréscimo, restaria descaracterizada a
condição de segurado especial apenas do membro do grupo familiar que possua outra fonte de
renda - limitando os efeitos da atividade urbana exclusivamente àquele que a exerce], verbis:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993)
(...) VII - como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda
que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de
2008)
(...) § 9o Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte de
rendimento, exceto se decorrente de: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

Penso que a inovação legislativa não tem, salvo melhor juízo, o alcance
desejado. A locução "não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra
fonte de rendimento" não implica automaticamente a conclusão de que "são segurados
especiais todos os outros membros do grupo familiar que não possuírem outra fonte de
rendimento". Isso porque se deve, a meu ver, interpretar o parágrafo 9º mencionado
juntamente com o parágrafo 1º do mesmo artigo 11, que, atualmente [a redação vigente à
época dos fatos não era muito diferente], possui a seguinte redação:

"§ 1.º - Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento
socieconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e
colaboração, sem a utilização de empregados permanentes."

Ou seja, o regime de economia familiar somente será reconhecido enquanto tal


se a atividade agrícola desempenhada pelos membros da família for indispensável à própria
subsistência. Pensar de modo contrário, a meu sentir, seria renunciar a uma interpretação
sistemática e harmônica dos dispositivos que regem a questão. (uma vez que a interpretação
dos dispositivos legais não pode ser excludente, tampouco conduzir ao absurdo).
Veja-se, por exemplo, que, se interpretado isoladamente o disposto no parágrafo
9º do inciso VII do art. 11 da Lei n. 8.213/91, poder-se-ia concluir ser possível a concessão de
aposentadoria por idade rural à segurada cujo cônjuge perceba renda de elevada monta, o que
iria de encontro à própria definição jurídica do segurado especial, em que a subsistência
depende da própria força de trabalho.
Ressalte-se que em nosso sistema previdenciário vigora o princípio contributivo
(Constituição Federal, art. 201, caput), inclusive no âmbito do trabalho rural em regime de
economia familiar (Constituição Federal, art. 195, §8º). Tal princípio deve nortear a
interpretação das normas infraconstitucionais, de forma a não elastecer as hipóteses de
reconhecimento da atividade rural sem contribuição para efeito de concessão de benefício
previdenciário.
Desse modo, nas hipóteses como a dos autos, em que ausente contribuição e
demonstrado que o labor agrícola não constituiu fonte de renda imprescindível à subsistência
da família, resumindo-se a atividade complementar, resta afastada a condição de segurado
especial, sendo inviável a outorga de aposentadoria por idade rural.
Com essas breves considerações, entendo que deve prevalecer o voto

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 13 de 16

majoritário, que julgou improcedente a demanda, em face da descaracterização


do regime de economia familiar.
Ante o exposto, voto por negar provimento aos embargos infringentes.

Des. Federal CELSO KIPPER


Revisor

Documento eletrônico assinado por Des. Federal CELSO KIPPER, Revisor, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de
março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
verificador 4983391v37 e, se solicitado, do código CRC 6053B29C.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): Celso Kipper
Data e Hora: 11/09/2012 15:41

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 24/10/2011


EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC
ORIGEM: SC 3080003128
RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
PRESIDENTE : Des. Federal Luiz Carlos de Castro Lugon
PROCURADOR : Dr. Sérgio Cruz Arenhart
REVISOR : Des. Federal CELSO KIPPER
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 24/10/2011, na
seqüência 9, disponibilizada no DE de 06/10/2011, da qual foi intimado(a) INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e as
demais PROCURADORIAS FEDERAIS. Certifico, também, que os autos foram
encaminhados ao revisor em 07/02/2011.
Certifico que o(a) 3ª SEÇÃO, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
RETIRADO DE PAUTA POR INDICAÇÃO DO RELATOR.

Maria Alice Schiavon


Diretora de Secretaria

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 14 de 16

Documento eletrônico assinado por Maria Alice Schiavon, Diretora de Secretaria, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de
26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
verificador 4622363v1 e, se solicitado, do código CRC DA4202E9.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): Maria Alice Schiavon
Data e Hora: 25/10/2011 12:14

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 03/05/2012


EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC
ORIGEM: SC 3080003128
RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
PRESIDENTE : Des. Federal Luiz Carlos de Castro Lugon
PROCURADOR : Dr. Eduardo Kurtz Lorenzoni
REVISOR : Des. Federal CELSO KIPPER
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 03/05/2012, na
seqüência 7, disponibilizada no DE de 18/04/2012, da qual foi intimado(a) INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e as
demais PROCURADORIAS FEDERAIS. Certifico, também, que os autos foram
encaminhados ao revisor em 16/11/2011.
Certifico que o(a) 3ª SEÇÃO, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
INICIADO O JULGAMENTO, APÓS O VOTO DO DES. FEDERAL JOÃO
BATISTA PINTO SILVEIRA, RELATOR, DANDO PROVIMENTO AOS EMBARGOS
INFRINGENTES, PEDIU VISTA O DES. FEDERAL CELSO KIPPER. AGUARDAM OS
DESEMBARGADORES FEDERAIS RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA,
ROGERIO FAVRETO E OS JUIZES FEDERAIS CANDIDO ALFREDO SILVA LEAL
JUNIOR E VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA.
PEDIDO DE VISTA : Des. Federal CELSO KIPPER
VOTANTE(S) : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA

Maria Alice Schiavon


Diretora de Secretaria

Documento eletrônico assinado por Maria Alice Schiavon, Diretora de Secretaria, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de
26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
verificador 4990300v1 e, se solicitado, do código CRC 6B66EEF2.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 15 de 16

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): Maria Alice Schiavon
Data e Hora: 04/05/2012 11:38

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 06/09/2012


EMBARGOS INFRINGENTES Nº 2008.72.99.002504-9/SC
ORIGEM: SC 3080003128
RELATOR : Des. Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA
PRESIDENTE : Des. Federal Luiz Carlos de Castro Lugon
PROCURADOR : Dra. Maria Hilda Marsiaj Pinto
EMBARGANTE : IRMA SIMIONI REDANTE
ADVOGADO : Evandro Carlos dos Santos
EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
ADVOGADO : Procuradoria Regional da PFE-INSS

Certifico que o(a) 3ª SEÇÃO, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em


sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
PROSSEGUINDO O JULGAMENTO, FOI SOLVIDA A QUESTÃO DE
ORDEM PARA PROSSEGUIR O JULGAMENTO E, APÓS O VOTO-VISTA DO DES.
FEDERAL CELSO KIPPER, NEGANDO PROVIMENTO AOS EMBARGOS
INFRINGENTES, NO QUE FOI ACOMPANHANDO PELOS DESEMBARGADORES
FEDERAIS RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, NÉFI CORDEIRO E PELOS
JUIZES FEDERAIS ROGER RAUPP RIOS E VIVIAN JOSETE PANTALEÃO
CAMINHA, A SEÇÃO, POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR, DECIDIU NEGAR
PROVIMENTO AOS EMBARGOS INFRINGENTES, COM RESSALVA DE
FUNDAMENTAÇÃO DO DES. FEDERAL RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA
E DA JUIZA FEDERAL VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA. LAVRARÁ O
ACÓRDÃO O DES. FEDERAL CELSO KIPPER.
RELATOR : Des. Federal CELSO KIPPER
ACÓRDÃO
VOTO VISTA : Des. Federal CELSO KIPPER
VOTANTE(S) : Des. Federal RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA
: Juiz Federal ROGER RAUPP RIOS
: Juiza Federal VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA
: Des. Federal NÉFI CORDEIRO

Maria Alice Schiavon


Diretora de Secretaria

Documento eletrônico assinado por Maria Alice Schiavon, Diretora de Secretaria, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de
26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
verificador 5327446v1 e, se solicitado, do código CRC CB19369.

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012
:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: Página 16 de 16

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): Maria Alice Schiavon
Data e Hora: 10/09/2012 14:37

http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=5325634... 24/09/2012

Вам также может понравиться