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O PSICÓLOGO NO HOSPITAL
Ijuí (RS)
2015
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O PSICÓLOGO NO HOSPITAL
Ijuí (RS)
2015
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 40
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INTRODUÇÃO
porém, com estas questões que vêm do profissional? Neste sentido, abre-se a
possibilidade de trabalho para o psicólogo que tem por objetivo aquilo que é do
sujeito, esclarecendo, assim, que é importante que exista o psicólogo dentro da
equipe de um hospital, pois ele mantém-se como um suporte para esta equipe que
se depara com questões referentes à doença e à morte.
CAPÍTULO 1
“Se queres agüentar a vida, prepara-te para a morte” (FREUD, 1915, p. 182).
Ariès (2012) nos mostra que no início da Idade Média a morte era
considerada um fato natural. Era normal despedir-se das pessoas mais próximas,
como se estivesse pressentindo a sua partida, manifestando suas últimas vontades.
Por isso, quando uma pessoa morria de forma repentina acreditava-se que era uma
espécie de castigo.
Nesta época havia certa familiaridade com a morte, mas em relação ao morto se
tinha medo, por isso eram mantidos distantes. “Um dos objetivos dos cultos funerários
era impedir que os defuntos voltassem para perturbar os vivos” (ARIÈS, 2012, p. 41). A
realização de todos os rituais era para que os mortos não voltassem para perturbar os
vivos. A ideia que se tinha era de que os vivos e os mortos deveriam viver
separadamente, por isso os cemitérios eram longe da cidade, afastados.
Aqueles que entregavam seus corpos para a igreja estavam salvos, mas os
que não o faziam não teriam a salvação e não conseguiriam despertar. Era como se
tivessem de garantir a sua ressurreição. Ariès (2012, p. 52) afirma que:
No século XIII, a inspiração apocalíptica, a evocação do grande retorno foi
quase apagada. A ideia do juízo prevaleceu, sendo representada uma corte
de justiça. O Cristo está sentado no trono do juiz, rodeado de sua corte (os
apóstolos). Duas ações tomam uma importância cada vez maior: a
avaliação das almas e a intercessão da Virgem e de são João, ajoelhados e
de mãos postas, ladeando o Cristo-juiz. Cada homem é julgado segundo o
“balanço da sua vida”, as boas e más ações são escrupulosamente
separadas nos dois pratos da balança [...].
A ideia que se tem é que o mistério do retorno foi quase apagado e que o
juízo se sobressaiu, posto que era representado por uma corte de justiça, que seria
Cristo sentado no trono como o juiz e a sua volta estaria a corte tomando como
importantes duas ações; uma seria avaliar as almas e, com isso, a Virgem e São
João fariam a intercessão e estariam ajoelhados de mãos postas acompanhados de
Cristo. Cada homem seria julgado conforme suas ações em vida, sendo elas boas
ou más, separadas em uma balança.
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O enfermo, no seu último dia de vida, poderia tomar a decisão de levar junto
para o além ou renunciar tudo aquilo que amou durante a vida. Sendo assim,
poderia decidir se queria ir para o céu ou para o inferno. Desde o fim da Idade
Média, e com o início da Idade Moderna, o ser humano prendeu-se às coisas da
vida, considerando que as pessoas não estavam mais seguras de sua salvação, por
isso o ser humano acabou se apegando à Igreja.
Ariès (2012) ressalta em seu livro que o testamento no século XIII era uma
forma de acordo entre as pessoas, uma espécie de passaporte para o céu. A
criatura dividia seus bens, adquiridos ao longo de sua vida, entre seus familiares e
amigos – e se tinha outra concepção em relação aos amigos diferente daquilo que
se tem hoje –, e após a morte do enfermo as pessoas agradeciam realizando missas
e preces, pois seria uma forma de homenageá-lo.
Ariès (2012) lembra que a partir do século XVII o testamento não era mais
realizado pelos padres, posto que não é mais uma garantia de salvação ou de
entrada no reino dos céus. Mesmo assim o testamento continuava sendo feito e
considerado uma ação religiosa, em que a pessoa expressava aquilo que sentia em
relação a sua fé e a sua salvação; portanto o testamento era realizado como se
fosse um contrato assinado pelo enfermo para que, assim, pudesse obter a sua
salvação.
Naquela época era preciso que as pessoas expressassem aquilo que queriam
para que houvesse a salvação da sua alma, fazendo isso por intermédio de um
testamento, para que se respeitasse o que desejavam. O ato para distribuir o que
ela iria deixar – sua herança –, junto com a divisão dos bens, expressava o que
sentia e os seus pensamentos acerca daqueles que com ela conviviam.
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Mais para o fim da Idade Média, segundo Ariès (2012), os sentimentos das
pessoas começam a ficar mais aflorados em relação à morte, expressando sua
emoção de forma mais dramática, fato que, até então, não ocorria em virtude dos
vários rituais e celebrações realizados, visando a homenagear aquele que morria.
No decorrer do tempo modificações ocorreram, havendo outras representações e
formas de reagir diante da situação, pois o corpo passou a ser levado durante algum
tempo até o altar da igreja para que rezassem pela alma da pessoa. Antes o corpo
era levado diretamente para o enterro.
A partir daí era exigido que as cidades tivessem os seus cemitérios, que antes
eram apenas um espaço de fé e agora dão lugar à morada daqueles que morreram,
sendo este lugar perto daqueles que ainda estavam vivos. Ariès (2012) acrescenta
que no século XX o testamento, que antes era considerado sagrado, não tem mais
importância. É como se o enfermo estivesse alienado, fosse uma criança, que não
tem responsabilidade nenhuma a respeito daquilo que escreveu sobre sua vontade.
O que percebemos é que o social exige que aqueles que estão em processo
de luto controlem seus sentimentos e que se mantenham em silêncio, escondendo
suas emoções e aquilo que seria necessário falar e expor.
A sociedade espera que aquele que perdeu um ente querido e que está em
processo de luto volte a sua vida normal depois de algum tempo; tempo este
determinado por aquilo que é do costume ou da cultura de cada um. Isto vem a ser
um segundo momento significativo no processo de morte.
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Não se trata mais de despedir-se daquele que morreu, mas sim de apoiar a
pessoa que está viva, que não aceita a morte de um parente ou uma pessoa que
ama. Este apoio não vem a ser um ponto muito destacado na atualidade. Hoje,
quando mais as pessoas precisam de ajuda são deixadas sozinhas, pois se evita
aqueles que estão em luto pela comoção com a situação, escondendo sentimentos,
parecendo indiferentes em relação à perda.
A morte era presente e ao mesmo tempo familiar na Idade Média. Aos poucos
foi desaparecendo, passando a ser mais distante daquilo que consideramos
“familiar”. Os rituais se tornam cada vez mais simples e as pessoas doentes já não
sabem mais a sua situação, pois os familiares acabam por ocultar o seu estado.
“Segunda metade do século XIX: aqueles que cercam o moribundo tendem a poupá-
lo e a lhe ocultar-lhe a gravidade de seu estado” (ARIÈS, 2012, p. 85); concordam
que a pessoa tem o direito de saber o que está acontecendo com ela, mas não
possuem coragem para contar, por isso mentem, considerando que a mentira irá
poupar o ente querido, o que é uma característica da modernidade, quando as
pessoas acabam escondendo a verdade pensando proteger aqueles que amam.
A morte acaba por se tornar silenciosa e as pessoas não conseguem mais ter
paciência de esperar. É como se tudo não fizesse mais sentido, pois é preciso
resolver e encontrar uma solução o mais rápido possível. Antigamente as pessoas
acreditavam que a pessoa não deveria ser privada da sua morte, igualmente quando
nasceu, em que todos souberam do seu nascimento, e agora, no momento da
morte, deveria ser igual, ser público, e todos estarem perto do enfermo.
A ciência é intitulada com muita força como aquilo que tem a solução para
todos os problemas. É por intermédio dela que as pessoas acreditam em uma
imortalidade. Oliveira (2001, p. 25) afirma: “Há um excesso de cuidados com a
saúde e grandes investimentos em pesquisas cujo principal objetivo é, certamente,
tornar o homem um ser imortal”. As pessoas cuidam da saúde e o social investe em
pesquisas para que haja um prolongamento da vida, o que chamamos de uma
busca pela imortalidade desejada pela sociedade.
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Sintoma na medicina seria o meio pelo qual a doença faz a sua manifestação; já o sintoma, segundo
a psicanálise, seria aquilo que identifica o paciente em sua singularidade. É uma mensagem que
precisa ser decifrada pelo psicólogo, mas também uma forma que o sujeito encontra de gozar, uma
vez que vem a ser aquilo que escapa do desejo inconsciente do sujeito.
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CAPÍTULO 2
Com relação a isso, Freud (1915) afirma que ninguém acredita na sua própria
morte e que, no inconsciente, seria o mesmo que crer em sua imortalidade. Para o
inconsciente é como se não existisse essa representação da morte, porém, quando
se trata da morte do outro, só se consegue admitir quando se trabalha com algo
relacionado a isso, como no caso de uma equipe de profissionais diante de um
paciente terminal. Ou seja, quando se trabalha com algo relacionado à morte as
pessoas conseguem fala a respeito.
A morte não é mais algo tão distante, e a dor relacionada à pessoa falecida se
mostra nítida, embora não se queira admitir. Com as modificações vindas junto com
a morte o ser humano passa a dividir a pessoa em um corpo e uma alma, dando
uma ideia de que outra vida existe. Por isso, se reza para essa alma como se a
oração fosse uma espécie de passagem para essa outra vida. Acreditando que
assim exista uma possibilidade de apagar aquilo que é a morte.
No inconsciente somos imortais, mas, por intermédio dele, matamos por muito
pouco. É como se o castigo para os nossos inimigos fosse a morte; castigo esse que
se daria para aqueles que nos atrapalham. Ainda que nossos desejos não tenham
essa força, trata-se de algo que desejamos inconscientemente. A partir disso,
podemos pensar que o inconsciente, ao mesmo tempo em que apaga aquilo que é
da sua própria morte, admite a existência da morte do outro.
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O paciente espera que a equipe lhe diga do seu diagnóstico e que entenda
daquilo que se trata nos termos complexos que a área de saúde utiliza, e que possa
ser tratado como um sujeito e não apenas como um objeto. Deve ser dito ao
paciente, de forma clara, sobre a realização do trabalho da equipe e como este será
feito, para que ele possa entender o que acontecerá com o seu corpo.
O médico seria aquele que tem a cura para todos os males e somente ele
pode reconhecer se a pessoa realmente morreu. Ao mesmo tempo, porém, em que
a prática médica pode curar, pode fracassar. Em casos como os das doenças
terminais, o médico tem um poder limitado. Todo saber que o sujeito atribui a ele de
nada serve, pois, em relação à morte, nada pode fazer.
Não se pode curar alguém que está à beira da morte, mas pode-se dominar e
aliviar os sintomas que são da ordem de um corpo, permitindo que a pessoa viva por
mais tempo juntamente com seus familiares e amigos. Nasio destaca: “Quando
estamos preparados para vê-lo partir, porque está condenado pela doença, por
exemplo, vivemos a sua morte com uma dor infinita, mas representável.” (2007, p.
77). Sofremos com a possibilidade de ver que alguém que gostamos irá morrer.
Embora, porém, a morte de outra pessoa seja vivida de maneira dolorosa,
assistimos a ela como um espectador, pois agora nada mais se pode fazer.
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Conforme Áries:
Primeiramente, o morto foi privado de seus direitos – era tutelado como uma
criança menor de idade ou como se houvesse perdido a razão. Não tem
mais o direito de saber que vai morrer, os que o cercam escondem-lhe a
verdade até o fim, e dele dispõe – para seu próprio bem (2012, p. 209).
O autor afirma que o paciente doente não possui mais direitos, e aqueles ao
seu redor agem como se ninguém fosse morrer e como se nada estivesse
acontecendo, como se o enfermo fosse uma criança e não precisasse saber daquilo
que tem a ver com o seu estado de saúde. Isso vai até o dia em que o paciente
perde a consciência, não tendo mais noção daquilo que se passa com ele, que
somente respira com a ajuda de aparelhos para poder continuar vivendo. É só,
então, que aqueles que o cercam não precisam mais fingir sobre o seu estado de
saúde.
Segundo Mannoni (1995), o ser humano não acredita na sua morte; está
alienado diante do seu processo de morrer. É como se tentasse excluir uma parte
que é constitutiva da sua vida, pois a morte nada mais é do que parte da vida. O
indivíduo não sabe do que trata a morte e também evita o assunto, não se tornando
ativo naquilo que é um processo natural da vida.
A autora ressalta aquilo que Freud já afirmava – que o sujeito acredita ser
imortal e por isso no seu desejo inconsciente não existe e não há uma relação
daquilo que é a morte.
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Sujeito, para a psicanálise, é o do inconsciente, aquele que podemos dizer do desejo inconsciente.
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acamada por anos, por mais que a sua doença seja bem avançada. Essa
possibilidade, quando existe, geralmente é aprovada pelos familiares com o objetivo
de ter por mais tempo seus entes queridos por perto, não consultando aqueles que
são acometidos pela doença.
A dor acomete a todos, pois a família está prestes a perder um ente querido e
não encontra solução para o momento presente. Muitas vezes a única resposta que
encontra é a utilização de medicamentos fortes para prolongar a vida do seu familiar.
Quando a doença se agrava e não se vê mais saída, porém, entra o trabalho da
psicologia para que os familiares possam falar daquilo que é do seu sofrimento e
dos seus sentimentos relacionados a esse processo.
No hospital o psicólogo pode vir a ser solicitado tanto pelo paciente quanto
por seus familiares e a equipe que o acompanha. Dependerá de como cada um se
questionará em relação ao adoecimento ou à morte.
Estas palavras são necessárias, pois é como se para o doente não existisse a
possibilidade de opinar e de ser amparado pelo profissional da saúde. Desse modo,
se o profissional se dispuser a atender de forma que preste atenção em uma
pergunta do paciente, que não seja do seu campo profissional, talvez esteja
colaborando para que a equipe trabalhe de uma melhor forma, visando sempre o
bom atendimento ao paciente.
O ser humano não lida bem com a morte, por isso deseja que a ciência
descubra uma solução para todas as doenças, uma vez que é impossível que o
paciente aceite esta nova condição que a vida lhe impôs de uma doença que está no
real3. O real é aquilo que existe, mas somente existe uma possibilidade: a de sermos
mortos e não de morrer.
Ross ressalta que “A negação, ou pelo menos a negação parcial, é usada por
quase todos os pacientes, ou nos primeiros estágios da doença ou logo após a
constatação, ou, às vezes, numa fase posterior” (1996, p. 56). O paciente, no início
de sua doença, passará por momentos difíceis, vindo, por vezes, a negá-la. A
negação é o meio que ele encontra para se defender. Após essa defesa, começa a
aceitar de forma parcial, pois precisa continuar lutando pela sua própria vida, que
ainda segue. Com relação a isso, Ross (1996) destaca que não significa que este
paciente não queira sentar com alguém e falar sobre a sua morte, ou sobre aquilo
que, de fato, é do seu estado. Esse diálogo deverá acontecer conforme ele desejar,
quando achar que deve falar.
3
Real – É um registro que junto com outros dois, o registro imaginário e simbólico forma uma
estrutura. O real é algo que é impossível de simbolizar, ou seja, difícil de transmitir.
4
Resistência – “Termo empregado em psicanálise para designar o conjunto das reações de um
analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da
análise” (Roudinesco, 1998, p. 659).
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porém, é tanta, que acaba atingindo a todos em sua volta, podendo ser dirigida para
qualquer pessoa, tanto os profissionais da saúde quanto seus familiares. O que, na
verdade, é apenas uma forma que ele encontra de se defender.
Quando se está doente é difícil dizer qual dor é a mais forte. Trata-se apenas
de afirmar que essa pessoa sofre ou que sente dor. Dói estar doente, uma vez que
muitas coisas foram deixadas para trás com a chegada da doença. O paciente deixa
de ter autonomia sobre a sua própria vida, pois agora são os médicos, os
enfermeiros e seus familiares que tomam conta dela, por isso expressa o sentimento
de raiva, e é difícil seus cuidadores tomarem consciência disso.
Ross ressalta:
Lidar com os pacientes quando estão com raiva não é fácil, principalmente para
aqueles que convivem com eles diariamente. Simonetti afirma que “Na doença, como
na vida, raivosos despertam medo e afastamento” (2011, p. 47). No hospital o que pode
ocorrer é que estes pacientes sejam esquecidos pelos profissionais ou, até mesmo,
rejeitados. Para os profissionais é difícil entender que isso não tem nada de pessoal,
que é uma posição na qual o paciente se encontra em razão do seu diagnóstico. Por
isso, a psicologia também irá trabalhar com este grupo, pois todos que estão envolvidos
com o paciente possuem o mesmo objetivo em comum: a sua cura.
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Transferência – É um processo do tratamento psicanalítico que pode se colocar no desejo
inconsciente de duas formas em relação ao analista, ou seja, pela transferência positiva que são
sentimentos ternos ou pela transferência negativa que são sentimentos hostis.
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CAPÍTULO 3
O psicólogo trabalha com aquilo que é da parte psíquica, mas também não
deixa as outras questões do sujeito de fora, pois tudo o que está relacionado à
pessoa em estado de adoecimento o interessa, de modo que precisa saber de que
forma os outros fatores interferem na maneira como o sujeito reage diante da sua
doença. O psicólogo ajudará o paciente a passar pelo seu adoecimento, mas não
dirá como se deve passar e nem até onde vai este sofrimento.
6
Subjetividade – É aquilo que é singular de cada pessoa, pois é isso que nos diferencia das outras
pessoas, nos faz ser único, mas ao mesmo tempo igual devido a elemento que vamos
compartilhando com o meio social e cultural no qual vivemos.
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Simbólico – “Um sistema de representação baseado na linguagem, isto é, em signos e significações
que determinam o sujeito à sua revelia, permitindo-lhe referir-se a ele, consciente e
inconscientemente, ao exercer sua faculdade de simbolização” (Roudinesco, 1998, p. 714).
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Aqueles que convivem com o paciente, tanto a equipe quanto seus familiares,
não conseguem suportar que ele passe por um momento de angústia, tentando,
muitas vezes, ocultar o que é da angústia. Ela, porém, somente irá se resolver
quando o paciente se permitir falar. É pela sua fala que o paciente vai simbolizar
aquilo que é da sua angústia e, assim, dissolver aquilo que se passa.
O hospital permite que o psicólogo tenha uma visão mais ampla daquilo que é
este paciente e dá possibilidades de interação com outras áreas de conhecimento.
Permite, também, conhecer as doenças, mostrando que cada uma é diferente, e que
entende sobre elas de forma parcial, pois não é possível conhecê-las como um todo.
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Elaboração – Conforme Roudinesco é um “Termo introduzido em 1967 por Jean Laplanche e Jean-
Bertrand Pontalis, para designar um trabalho inconsciente que é próprio do tratamento
psicanalítico.” (1998, p.174).
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O paciente nega de várias formas a sua doença, e uma delas é quando afirma
que somente outra pessoa está doente, ou quando age como se nada estivesse
acontecendo. Diante dessa atitude, o paciente demora a tomar as providências
necessárias em relação à doença e até mesmo de começar os cuidados que se
deve ter com ela. Ele pensa que sua vida está protegida de tudo e não precisa se
preocupar, pois não acontecerá nada de ruim. Outras vezes acredita que algo irá
acontecer e irá se curar da doença. Simonetti assevera que:
Esta emoção que o paciente demonstra pode ser um medo de morrer. Este
medo encontra-se reprimido e ele pode demonstrar de várias formas, como estando
irritado, angustiado e, por vezes, se isolar, pois a doença traz um pouco disso, um
isolamento em relação ao social. O sono também pode ser um deles, mas quando o
paciente está em fase terminal talvez haja uma dosagem alta de medicamentos,
então não se sabe se o seu sono é em razão dessa alta dosagem ou se é por estar
negando a sua doença.
Qualquer pessoa pode ser alvo de sua raiva, pois se trata de um momento
difícil. Segundo Simonetti:
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Castração – Roudinesco afirma que “Sigmund Freud denominou complexo de castração o
sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança quando ela constata a diferença
anatômica entre os sexos.” (1998, p.105).
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pessoa encontra-se frustrada, e a doença põe fim a qualquer futuro, pois são várias
as limitações que se colocam diante do paciente.
Toda a sua vida se volta para a doença, pois são vários tratamentos, os quais,
em determinada circunstância, são bastante agressivos e, com isso, acabam
gerando mudanças tanto no corpo quanto na vida. O ser humano é muito ligado às
questões do corpo, pois é o que nos une desde a nossa constituição; este corpo no
qual é investido desde pequeno. Neste processo é que o sujeito vai se constituindo
psiquicamente, pois recebe uma série de informações, cuidados e investimentos que
vem do Outro.
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Em relação ao inconsciente Roudinesco afirma que “É um lugar desconhecido pela consciência:
uma “outra cena”. Na primeira tópica elaborada por Sigmund Freud, trata-se de uma instância ou
um sistema (Ics) constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o pré-
consciente (Pcs-Cs). Na segunda tópica, deixa de ser uma instância, passando a servir para
qualificar o isso e, em grande parte, o eu e o supereu.” (1998, p. 375).
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O paciente demonstra essa raiva, pois está lutando pela vida. É normal esse
tipo de sentimento, mas quando demonstra elevar esta raiva cada vez mais
precisamos nos preocupar. Como profissionais, então, devemos auxiliar para que o
paciente consiga expressar suas emoções. De acordo com Simonetti:
alguém que está ali com sua escuta, disposto a mediar essas dificuldades
encontradas entre a equipe e o paciente.
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Conforme afirma Roudinesco a libido é um termo que “Designa a manifestação da pulsão sexual na
vida psíquica e, por extensão, a sexualidade humana em geral e a infantil em particular, entendida
como causalidade psíquica (neurose), disposição polimorfa (perversão), amor-próprio (narcisismo)
e sublimação. (1998, p. 471).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que todos consigam aceitar que este é um processo natural da vida,
porém, é preciso que a equipe, os familiares e o paciente falem a respeito do seu
sofrimento diante deste adoecer, por isso o psicólogo, no ambiente hospitalar, tem a
função de dirigir as questões trazidas em relação à doença. Percebe-se que o
psicólogo é um auxílio neste processo, podendo facilitar o relacionamento da equipe
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias.
Tradução Priscila Viana de Siqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. (Ed.
Especial).
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologia: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. reform. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 23.
DRÜGG, Angela Maria Schneider; FREIRE, Kenia Spolti; CAMPOS, Iris Fátima
Alves (Orgs.) Escritos da Clínica. Ijuí: Ed: Unijuí, 2010. p. 42-46.
NASIO, J.-D. A dor de amar. Tradução André Telles e Lucy Magalhães. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
ROSS, Elisabeth Kübler. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para
ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos, e aos seus próprios parentes. Tradução
Paulo Menezes. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.