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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí

Departamento de Humanidades e Educação – DHE


Psicologia

Jéssica Carine Batista dos Santos

O PSICÓLOGO NO HOSPITAL

Ijuí (RS)
2015
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Jéssica Carine Batista dos Santos

O PSICÓLOGO NO HOSPITAL

Monografia apresentada ao curso de Graduação


em Psicologia da Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí
–, como requisito parcial para obtenção do título de
Psicóloga.

Orientadora: Ana Maria de Souza Dias

Ijuí (RS)
2015
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RESUMO

O presente trabalho de monografia visa a abordar a temática da psicologia hospitalar diante


de pacientes que estão em estado terminal. Para trabalhar tal questão será estudado sobre
a morte, pois se trata de um processo recorrente ao longo da nossa vida e é preciso
fundamentá-lo através da história, ou seja, desde a Idade Média até os dias atuais, para,
assim, poder compreender como se chegou à medicalização da morte atualmente.
Pensando nisso, em um segundo momento trabalha-se com a psicologia hospitalar e a
equipe de saúde que está inserida no hospital, visando os profissionais que estão diante de
tantas questões relacionadas ao paciente que apresenta uma doença terminal. Finaliza-se
com as possibilidades de intervenções do psicólogo no âmbito hospitalar com pacientes
terminais, posto que a principal ferramenta do profissional é sua escuta. Com relação a isso,
embasamos-nos, teoricamente, pelo referencial psicanalítico na realização deste trabalho.

Palavras-chave: Morte. Psicologia hospitalar. Equipe de saúde. Paciente.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1 – DA HISTÓRIA DA MORTE A MEDICALIZAÇÃO .......................... 7

CAPÍTULO 2 – A PSICOLOGIA E A EQUIPE DE SAÚDE NO HOSPITAL .......... 19

CAPÍTULO 3 – AS INTERVENÇÕES DO PSICÓLOGO NO HOSPITAL .............. 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 40
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INTRODUÇÃO

O presente estudo busca investigar o trabalho do psicólogo hospitalar ante as


questões da equipe perante um paciente terminal e as intervenções a serem
realizadas. Para isso, serão trabalhados três Capítulos. Em um primeiro momento
esta investigação propõe um percurso teórico acerca da morte desde a Idade Média
até os dias atuais com a inserção da medicalização neste contexto, para que, assim,
haja uma possibilidade de entendermos como este processo se deu até os dias de
hoje.

Dessa forma, poderemos pensar a morte como um processo que é natural a


todas as pessoas, considerando que para cada cultura existe um significado. É
possível perceber que, conforme a história da cultura de cada pessoa, se
estabelecia uma familiaridade com a morte, diferente do contexto que se observa
nos dias atuais, em que as pessoas procuram prolongar a vida daqueles que se
encontram doentes para que não tenham de se deparar com a morte.

Com relação a isso, podemos pensar o quanto as pessoas veem a ciência


como a solução para o prolongamento da vida, pois, por intermédio da medicação,
acreditam que se pode viver por mais tempo, prolongando a vida de um paciente
terminal que sofre com o seu estado. Por isso, no campo da medicina, com seus
avanços, o intuito é curar e salvar vidas investindo em pesquisas na busca por
solucionar esse problema que é ter de enfrentar uma morte. Vivemos em uma
sociedade na qual se crê que não pode haver sofrimento, e precisa existir uma cura
para tudo, ou para que, pelo menos, se possa tamponar este sofrimento por meio da
medicalização da morte.

No segundo Capítulo teremos como foco o psicólogo e a equipe de saúde no


hospital, pensando na forma como a equipe de profissionais do hospital lida com a
doença e a morte, posto que seu objetivo é aquilo que é do corpo. Como lidar,
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porém, com estas questões que vêm do profissional? Neste sentido, abre-se a
possibilidade de trabalho para o psicólogo que tem por objetivo aquilo que é do
sujeito, esclarecendo, assim, que é importante que exista o psicólogo dentro da
equipe de um hospital, pois ele mantém-se como um suporte para esta equipe que
se depara com questões referentes à doença e à morte.

O psicólogo pode ajudar a equipe de saúde a pensar que, embora o paciente


esteja adoentado ou em estado terminal, ele possui vontades e é importante dar voz
àquilo que é do seu desejo.

Para finalizar a pesquisa serão abordadas as intervenções do psicólogo no


hospital, mostrando, assim, que este profissional trabalha com aquilo que é do
sujeito em torno do adoecer do paciente, posto que, diante de uma doença, a
pessoa encontra-se em completo desamparo. Por isso, a importância do profissional
de psicologia em um ambiente hospitalar, quando seu instrumento de trabalho é a
palavra e a escuta.

Considera-se, deste modo, que o interesse do psicólogo é sobre o paciente e


sua doença, o que essa doença significa para o doente e o que ele faz em relação a
isso, visando a reposicionar o sujeito em relação a sua doença, uma vez que
somente é possível este reposicionamento por meio do trabalho do psicólogo.
Assim, o estudo será norteado por estes elementos significativos juntamente com
um referencial psicanalítico.

Conclui-se, apresentando-se as Considerações Finais referentes à esta


pesquisa realizada e as Referências Bibliográficas deste Trabalho de Conclusão de
Curso.
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CAPÍTULO 1

DA HISTÓRIA DA MORTE À MEDICALIZAÇÃO

“Se queres agüentar a vida, prepara-te para a morte” (FREUD, 1915, p. 182).

A morte é o resultado final necessário para a vida. É um processo natural e ao


mesmo tempo inevitável que faz parte da condição do ser humano, mas agimos
como se isso fosse diferente, deixando, muitas vezes, a morte em silêncio. Isso nos
parece estranho por não sabermos do que se trata exatamente a morte, uma vez
que é algo indecifrável que, mais cedo ou mais tarde, irá acontecer. Para a
psicologia, no entanto, está relacionada a uma dimensão simbólica cheia de
significados e valores, conforme a cultura que se apresenta, pois para cada cultura o
significado da morte é diferente no decorrer da História.

Ao longo da História a morte vem sendo apresentada conforme cada contexto


histórico e a cultura de cada pessoa, buscando uma forma de compreender aquilo
que não se conhece. Segundo Ariès (2012), no ano de 1874 as pessoas, quando
imaginavam que a morte estava perto, tomavam as devidas providências – não que
tinham pressa de morrer... –, mas preparavam tudo antes. Era algo considerado
simples, e se deixava tudo pronto somente esperando a hora.

Quando pressentia que a morte estava chegando a pessoa deitava-se no


chão e cruzava as mãos em seu peito, conforme os costumes, esquecendo-se do
mundo e pensando somente em Deus. Após uma última prece aguardava a morte,
sem prolongar o momento de prestar contas, esperando, agora, em seu próprio leito.
Toda a cerimônia era organizada pela pessoa que pressentiu a morte, e realizada de
forma pública em seu quarto, deixando suas coisas para aqueles que realmente
queria que com elas ficassem, fazendo em vida a divisão dos seus bens.
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Ariès (2012) nos mostra que no início da Idade Média a morte era
considerada um fato natural. Era normal despedir-se das pessoas mais próximas,
como se estivesse pressentindo a sua partida, manifestando suas últimas vontades.
Por isso, quando uma pessoa morria de forma repentina acreditava-se que era uma
espécie de castigo.

Nesta época havia certa familiaridade com a morte, mas em relação ao morto se
tinha medo, por isso eram mantidos distantes. “Um dos objetivos dos cultos funerários
era impedir que os defuntos voltassem para perturbar os vivos” (ARIÈS, 2012, p. 41). A
realização de todos os rituais era para que os mortos não voltassem para perturbar os
vivos. A ideia que se tinha era de que os vivos e os mortos deveriam viver
separadamente, por isso os cemitérios eram longe da cidade, afastados.

Aos poucos os mortos, ou seja, os cemitérios, começam a se estabelecer na


cidade, sem haver diferença entre igreja e cemitério. Os cadáveres considerados de
pessoas ricas eram enterrados no interior da igreja, na terra; já os pobres eram
largados em fossas largas comuns, onde os corpos eram amontoados. Quando se
enchia uma fossa abria-se outra mais antiga. A distinção dos ossos e o local para
onde iria esse corpo não importava. O que realmente interessava era que ficasse
perto da igreja, ou seja, perto dos santos com a proteção deles.

Aqueles que entregavam seus corpos para a igreja estavam salvos, mas os
que não o faziam não teriam a salvação e não conseguiriam despertar. Era como se
tivessem de garantir a sua ressurreição. Ariès (2012, p. 52) afirma que:
No século XIII, a inspiração apocalíptica, a evocação do grande retorno foi
quase apagada. A ideia do juízo prevaleceu, sendo representada uma corte
de justiça. O Cristo está sentado no trono do juiz, rodeado de sua corte (os
apóstolos). Duas ações tomam uma importância cada vez maior: a
avaliação das almas e a intercessão da Virgem e de são João, ajoelhados e
de mãos postas, ladeando o Cristo-juiz. Cada homem é julgado segundo o
“balanço da sua vida”, as boas e más ações são escrupulosamente
separadas nos dois pratos da balança [...].

A ideia que se tem é que o mistério do retorno foi quase apagado e que o
juízo se sobressaiu, posto que era representado por uma corte de justiça, que seria
Cristo sentado no trono como o juiz e a sua volta estaria a corte tomando como
importantes duas ações; uma seria avaliar as almas e, com isso, a Virgem e São
João fariam a intercessão e estariam ajoelhados de mãos postas acompanhados de
Cristo. Cada homem seria julgado conforme suas ações em vida, sendo elas boas
ou más, separadas em uma balança.
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Mediante isso surgiu a Bíblia, que pode ser considerada um inventário do


universo; um instrumento utilizado pela igreja e que nele estaria escrito que as
pessoas deveriam entregar a sua vida a Cristo e esse seria o juiz que a todos
julgaria. Segundo a Bíblia, com o juiz todos deveriam acertar suas contas no final da
vida ou no fim do mundo, e no dia do juízo final as pessoas não morreriam, mas
viveriam eternamente. Ou, então, no último dia a pessoa veria sua vida inteira
passar em sua mente, desesperando-se por aquilo que fez de errado, pedindo
perdão ao juiz.

O enfermo, no seu último dia de vida, poderia tomar a decisão de levar junto
para o além ou renunciar tudo aquilo que amou durante a vida. Sendo assim,
poderia decidir se queria ir para o céu ou para o inferno. Desde o fim da Idade
Média, e com o início da Idade Moderna, o ser humano prendeu-se às coisas da
vida, considerando que as pessoas não estavam mais seguras de sua salvação, por
isso o ser humano acabou se apegando à Igreja.

Ariès (2012) ressalta em seu livro que o testamento no século XIII era uma
forma de acordo entre as pessoas, uma espécie de passaporte para o céu. A
criatura dividia seus bens, adquiridos ao longo de sua vida, entre seus familiares e
amigos – e se tinha outra concepção em relação aos amigos diferente daquilo que
se tem hoje –, e após a morte do enfermo as pessoas agradeciam realizando missas
e preces, pois seria uma forma de homenageá-lo.

Ariès (2012) lembra que a partir do século XVII o testamento não era mais
realizado pelos padres, posto que não é mais uma garantia de salvação ou de
entrada no reino dos céus. Mesmo assim o testamento continuava sendo feito e
considerado uma ação religiosa, em que a pessoa expressava aquilo que sentia em
relação a sua fé e a sua salvação; portanto o testamento era realizado como se
fosse um contrato assinado pelo enfermo para que, assim, pudesse obter a sua
salvação.

Naquela época era preciso que as pessoas expressassem aquilo que queriam
para que houvesse a salvação da sua alma, fazendo isso por intermédio de um
testamento, para que se respeitasse o que desejavam. O ato para distribuir o que
ela iria deixar – sua herança –, junto com a divisão dos bens, expressava o que
sentia e os seus pensamentos acerca daqueles que com ela conviviam.
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Em relação à morte, cabe à igreja fazer a intermediação do indivíduo para o


acesso ao paraíso ou ao julgamento final, uma vez que se acreditava que seria para
o paraíso que a alma iria logo após a morte, ou então para o inferno, dependendo da
direção tomada pelo sujeito em sua vida enquanto estivesse na Terra. A confiança
em Deus começa a mudar quando as pessoas ficam receosas, acreditando que
serão abandonadas por Ele e então terão de ir para o inferno.

Mais para o fim da Idade Média, segundo Ariès (2012), os sentimentos das
pessoas começam a ficar mais aflorados em relação à morte, expressando sua
emoção de forma mais dramática, fato que, até então, não ocorria em virtude dos
vários rituais e celebrações realizados, visando a homenagear aquele que morria.
No decorrer do tempo modificações ocorreram, havendo outras representações e
formas de reagir diante da situação, pois o corpo passou a ser levado durante algum
tempo até o altar da igreja para que rezassem pela alma da pessoa. Antes o corpo
era levado diretamente para o enterro.

Consoante Ariès (2012), no século XVII começam os serviços funerários que


se reduzem somente à missa realizada para o morto no local do velório, antes de o
defunto ser enterrado. Os corpos não são mais levados para missas nas igrejas, e
passa-se a se realizar orações e missa com um padre no local do velório. Também
mais tarde são realizados cortejos, quando não somente familiares e parentes
participam, mas também amigos. Estes são realizados depois dos funerais, como
uma espécie de procissão até o túmulo da pessoa morta.

Os túmulos começam a aparecer com mais frequência no final da Idade


Média, como uma forma de manter o defunto na Terra e no céu ao mesmo tempo.
Havendo o túmulo, as pessoas visitam seus entes queridos, formando, assim, um
novo ritual, fazendo cultos, ou até mesmo missas após a sua morte, como uma
maneira de lembrar a sua partida. Ariès assevera,

No século XIII, as placas de inscrição simples tornaram-se cada vez mais


numerosas, ao menos nas cidades onde os artesãos, essa classe média da
época, empenhavam-se, por sua vez, em sair do anonimato e em conservar
sua identidade após a morte (2012, p. 64).
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As placas de inscrição eram um modo de representar e identificar aquele que


morreu. A intenção era fazer túmulos colocando placas com o nome para que
ninguém esquecesse, nem os familiares e tampouco a igreja, pois este representaria
a pessoa para além da morte.

Conforme Ariès (2012), até o século XII os corpos eram transportados em um


sarcófago e o rosto era descoberto. A partir do século XIII o escritor ressalta que o
rosto começa a ser coberto, e agora o defunto é colocado dentro de um caixão de
madeira, uma vez que este corpo precisava ser escondido dos olhares dos vivos e
deveria ficar somente na lembrança dos familiares e parentes.

Segundo Ariès (2012) a chegada dos séculos XVIII e XX trouxe algumas


mudanças, como os jazigos, chamados de sepulturas. Neles são enterradas até
quatro gerações de uma mesma família, que ficam reunidas sob um mesmo teto, o
túmulo correspondendo a uma família patriarcal.

A partir daí era exigido que as cidades tivessem os seus cemitérios, que antes
eram apenas um espaço de fé e agora dão lugar à morada daqueles que morreram,
sendo este lugar perto daqueles que ainda estavam vivos. Ariès (2012) acrescenta
que no século XX o testamento, que antes era considerado sagrado, não tem mais
importância. É como se o enfermo estivesse alienado, fosse uma criança, que não
tem responsabilidade nenhuma a respeito daquilo que escreveu sobre sua vontade.

Grandes modificações ocorrem em relação aos sentimentos, que estão mais


aflorados, com as pessoas os expressando mais. A morte ganha um novo sentido, e
passam a se preocupar menos com o que será feito em relação a sua morte,
priorizando agora a morte do outro.

Os familiares e amigos que viviam o luto da perda recebiam a visita das


pessoas logo após a morte do familiar, para que, assim, pudessem expressar sua
dor, não ultrapassando certo limite estabelecido pela convivência. Para Mannoni,

O culto aos mortos se modifica: no século XIX, recomenda-se o


embalsamento e tem-se a preocupação de devolver ao morto sua
dignidade. No começo do séc. XX, a morte de cada um ainda continua a ser
assunto de todos. É o grupo social que tem que ser consolado da perda de
um dos seus (1995, p. 44).
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Após a morte o corpo é preparado para os rituais que se seguem e as


pessoas choram, demonstrando a sua dor e o que sentem em relação ao falecido(a).
“No século XIX é a época dos lutos que o psicólogo de hoje chama de histéricos”
(ARIÈS, 2012, p. 73). Esses lutos, considerados exagerados, seriam referentes à
dificuldade que algumas pessoas têm em aceitar a morte de outra, geralmente de
um ente querido, e passam a sentir na pele a dor da perda, não acreditando e
tentando lutar contra os fatos, pois quem morreu tinha algo que era seu, uma parte
de si foi junto com ele e algum vínculo se rompeu.

A forma de celebrar o luto aparece como uma possibilidade de comunicar sua


dor em relação à pessoa que morreu e mostrar seu sofrimento. Esse processo, que
a cultura apresenta como uma referência à morte e ao luto, ajuda para que o sujeito
possa viver o sofrimento da perda, pois se este processo de rituais não acontecer
podem ocorrer outros sofrimentos que são até mais graves. Oliveira conclui:

A celebração da morte e os rituais de luto são processos culturais que


ajudam o homem a viver a dor da perda. Quando essas práticas deixam de
ocorrer, podem surgir distúrbios graves, e é em vista disso que psicólogos e
psicanalistas vêm estudando esse tema (2001, p. 42).

O que percebemos é que o social exige que aqueles que estão em processo
de luto controlem seus sentimentos e que se mantenham em silêncio, escondendo
suas emoções e aquilo que seria necessário falar e expor.

Refletindo sobre esse processo e tendo consciência daquilo que a morte


representa, o sujeito passa a ter conhecimento do que é a morte e, com isso, a
teme. Conforme os anos vão passando e o homem fica mais perto da morte,
sentindo a presença dela, mais ele precisa do apoio daqueles que estão ao seu
redor. No fim da Idade Média pensava-se que a morte era uma impotência, uma
derrota. Nos dias de hoje o homem pode até se ver como um fracasso, mas não o
associa à morte; em hipótese alguma pensa nela.

A sociedade espera que aquele que perdeu um ente querido e que está em
processo de luto volte a sua vida normal depois de algum tempo; tempo este
determinado por aquilo que é do costume ou da cultura de cada um. Isto vem a ser
um segundo momento significativo no processo de morte.
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Não se trata mais de despedir-se daquele que morreu, mas sim de apoiar a
pessoa que está viva, que não aceita a morte de um parente ou uma pessoa que
ama. Este apoio não vem a ser um ponto muito destacado na atualidade. Hoje,
quando mais as pessoas precisam de ajuda são deixadas sozinhas, pois se evita
aqueles que estão em luto pela comoção com a situação, escondendo sentimentos,
parecendo indiferentes em relação à perda.

Os enterros e os túmulos aparecem como uma forma de homenagear aqueles


que se foram. Algumas celebridades ganhavam túmulos que eram uma espécie de
monumento, com uma pedra e uma inscrição que dizia “aqui jaz”. A sociedade
realizava homenagens para os que partiram. “No século XIX e até a guerra de 1914
(uma grande revolução dos costumes), a diferença quase não se faz notar nem no
protocolo dos funerais nem nos hábitos de luto. Mas é nos cemitérios e na arte dos
túmulos que a constatamos” (ARIÈS, 2012, p. 80).

O que se percebe é que o cemitério é o espelho da própria sociedade, que


está dividida entre ricos e pobres, conforme a classe econômica de cada indivíduo.
Os túmulos feios e inacabados mostram que as pessoas ali enterradas não
possuíam condições para uma melhor estrutura; já aquelas de uma classe
econômica mais elevada tinham túmulos mais bem conservados.

A morte era presente e ao mesmo tempo familiar na Idade Média. Aos poucos
foi desaparecendo, passando a ser mais distante daquilo que consideramos
“familiar”. Os rituais se tornam cada vez mais simples e as pessoas doentes já não
sabem mais a sua situação, pois os familiares acabam por ocultar o seu estado.
“Segunda metade do século XIX: aqueles que cercam o moribundo tendem a poupá-
lo e a lhe ocultar-lhe a gravidade de seu estado” (ARIÈS, 2012, p. 85); concordam
que a pessoa tem o direito de saber o que está acontecendo com ela, mas não
possuem coragem para contar, por isso mentem, considerando que a mentira irá
poupar o ente querido, o que é uma característica da modernidade, quando as
pessoas acabam escondendo a verdade pensando proteger aqueles que amam.

A morte passa a ser um momento de interrupção, quando ocorre uma


separação entre a vida e o fim. Ariès (2012) relata que a partir do século XX a morte
começa a se tornar cada vez mais silenciosa e incompreensível. O autor ressalta,
também, que de 1930 a 1950 as pessoas passaram a morrer nos hospitais e
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sozinhos. O hospital torna-se o espaço para morrer, e onde se podem tomar os


devidos cuidados que o enfermo precisa. É, portanto, um lugar considerado
privilegiado.

Quando os médicos, porém, não conseguem realizar a cura, a pessoa morre


no hospital mesmo. Os médicos mais antigos possibilitavam a ida do enfermo nos
últimos dias de vida para casa, mas os mais modernos acreditam que é no hospital
que o paciente deve morrer, uma vez que ali se oferecem os cuidados necessários
para ele.

De acordo com Ariès:

A morte é um fenômeno técnico causado pela parada dos cuidados, ou


seja, de maneira mais ou menos declarada, por decisão do médico e da
equipe hospitalar. Inclusive, na maioria dos casos, há muito o moribundo
perdeu a consciência. A morte foi dividida, parcelada numa serie de
pequenas etapas dentre as quais, definitivamente, não se sabe qual a
verdadeira morte, aquela em que se perdeu a consciência ou aquela em
que se perdeu a respiração... (2012, p. 86).

A equipe do hospital, juntamente com o médico, é que decide sobre a vida do


paciente, pois há muito tempo a pessoa não diz mais sobre o seu corpo, e são estes
que cuidam ou decidem sobre a sua vida neste momento. Não se sabe mais quando
a morte chega de fato. Na realidade o que mais se faz nos dias de hoje é prolongar
a vida. Independentemente se a pessoa não tem mais consciência daquilo que é sua
vida, ela continua a sobreviver com a ajuda de aparelhos; por isso a dúvida do que
realmente é uma morte.

A morte acaba por se tornar silenciosa e as pessoas não conseguem mais ter
paciência de esperar. É como se tudo não fizesse mais sentido, pois é preciso
resolver e encontrar uma solução o mais rápido possível. Antigamente as pessoas
acreditavam que a pessoa não deveria ser privada da sua morte, igualmente quando
nasceu, em que todos souberam do seu nascimento, e agora, no momento da
morte, deveria ser igual, ser público, e todos estarem perto do enfermo.

Na atualidade a família e o enfermo não têm mais consciência do que estão


vivendo e quem acaba dizendo sobre o estado de saúde do enfermo, quem se
responsabiliza por sua condição, é a equipe e o médico do hospital. Evita-se que o
indivíduo com uma doença grave escute sobre a sua doença. Não se fala diante da
pessoa, pensando que se estará poupando ela desta triste notícia. É como se a
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verdade fosse um problema, pois os familiares também não sabem ou não


conseguem lidar com isso e acabam recebendo uma única assistência que é da
equipe do hospital.

No entendimento de Ariès (2012), durante o século XV os padres já queriam


fazer o que os médicos fazem hoje: deixar o enfermo sozinho. Eles acreditavam que
a pessoa deveria ter um momento com Deus para pedir perdão e agradecer, mas
isso não acontecia, pois familiares e amigos ficavam sempre perto do ente querido.
Nesta mesma obra Ariès (2012) continua trazendo elementos afirmando que nos
séculos XVIII e XIX os enfermos falavam daquilo que era seu último desejo, fazendo
recomendações e até mesmo dando ordens.

Nos dias atuais a primeira atitude é ocultar a gravidade do estado do enfermo.


O trabalho referente ao corpo é realizado por outras pessoas, cada um responsável
por uma parte específica, e o corpo é preparado por profissionais. Para que os
familiares não precisem se preocupar e aceitar a morte, é preciso tolerá-la, e pode
ser que a distância do ente querido, durante todo o processo, seja um dos fatores
que faz com que os sujeitos não consigam admitir a morte. Agora o corpo também é
uma forma de lucro e as pessoas recebem para fazer este serviço, “poupando” cada
vez mais os familiares.

Os funerais e as emoções durante o processo, se forem demonstradas,


precisam ser da forma mais discreta possível. As roupas pretas não são mais
usadas e, para que a pessoa possa chorar ou demonstrar aquilo que sente, somente
se for escondido, uma vez que este tipo de reação não é tolerado, pois a sociedade
exige que o familiar se recupere o mais rápido possível. Sabemos que quando a dor
da morte não está mais presente as visitas realizadas ao túmulo e as homenagens à
pessoa que faleceu se tornam inexistentes.

O cemitério deveria ser o lugar onde as pessoas vão para prolongar a


lembrança de um ente querido, para visitar aqueles que se foram e chorar sobre o
túmulo, expressando seus sentimentos. Esse seria o sentido do cemitério, mas isso
não acontece. Apenas um dia no ano é dedicado aos mortos, quando os cemitérios
são mais frequentados. A Igreja Católica destina como o dia de Finados o 2 de
novembro, quando as pessoas costumam limpar e florir o cemitério.
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Na modernidade a cremação torna-se frequente. É uma forma de romper com


a tradição e também esquecer aquilo que pode restar do corpo. Com a cremação
não há mais o corpo e as pessoas se veem livres de visitar os túmulos. Este fato,
porém, não é uma consequência da cremação, pois aqueles que possuem o
crematório não medem esforços para que os familiares estabeleçam um lugar para
deixar as cinzas para visitar, como, por exemplo, uma sala, onde possam rezar pela
pessoa que morreu.

As pessoas procuram esquecer e negar que a morte existe, buscando uma


forma de dar sentido a ela, para que tudo se torne mais simples, por meio das
religiões ou até mesmo da ciência, e atribuem que o saber científico resolverá tudo,
entregando a morte, então, à ciência. Conforme Oliveira (2001, p. 37):

O homem conheceu o significado da morte como término da vida e viu-se,


então, diante da exigência de buscar meios para garantir sua continuidade.
As religiões e as filosofias que falam de outra vida atendem a esse desejo,
pois a crença na sobrevivência pós-morte prolonga o intervalo entre o fim da
vida e a eternidade.

O significado da morte assusta as pessoas, que buscam na religião e até


mesmo na filosofia uma forma de sustentar a sua imortalidade, apegando-se em
crenças e acreditando em uma vida após a morte, que seria o que prolongaria o fim
da vida, buscando, assim, o que chamaríamos de eternidade.

A ciência é intitulada com muita força como aquilo que tem a solução para
todos os problemas. É por intermédio dela que as pessoas acreditam em uma
imortalidade. Oliveira (2001, p. 25) afirma: “Há um excesso de cuidados com a
saúde e grandes investimentos em pesquisas cujo principal objetivo é, certamente,
tornar o homem um ser imortal”. As pessoas cuidam da saúde e o social investe em
pesquisas para que haja um prolongamento da vida, o que chamamos de uma
busca pela imortalidade desejada pela sociedade.

A medicina se desenvolve cada dia mais com o intuito de prolongar a vida


curando as doenças. A indústria farmacêutica também tem avançado, e se investe
muito em pesquisas para que o ser humano fique vivo por mais tempo. A sociedade
exige que tudo seja muito rápido e que os problemas das pessoas que sofrem sejam
solucionados o mais breve possível.
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Muitas vezes atribui-se ao saber médico a responsabilidade da vida dos


pacientes. As pessoas não podem mais sofrer e nem expressar seus sentimentos,
por isso já são direcionadas a alguma patologia como se fossem uma máquina que
vem com manual de instruções e que não pode falhar.

Não se pensa mais naqueles que estão morrendo em uma completa


ignorância, que não sabem de si mesmos, naquilo que eles sentem, pois os médicos
se concentram cada vez mais em um corpo, deixando de lado aspectos muito
importantes, como o psicológico, o social e o que é do próprio sujeito.

Percebe-se que os médicos estão concentrados cada um em uma


especialidade. A partir disso o paciente fica mais distante e é visto pelos
profissionais como mais um. Eles esquecem de vê-lo como um ser humano. Os
profissionais da saúde lidam com a doença e a morte de uma forma bastante
técnica, encontrando dificuldades de trabalhar com um paciente que está para
morrer, pois não conseguem lidar com aquilo que é do sujeito.

De acordo com Oliveira (2001, p. 24), “A medicalização da morte, no entanto,


iniciada no século passado como conseqüência dos avanços da ciência moderna,
destituiu o enfermo do seu lugar, qual seja, o de sujeito ativo no processo de
morrer”. Com o avanço da ciência se iniciou a medicalização da morte, e se privou o
doente de ser um sujeito que exerce ação na sua morte, que seja uma pessoa ativa
na sua morte, que consiga falar sobre aquilo que lhe incomoda, o que se passa
consigo mesmo, aliviando seu sofrimento.

Com isso o investimento na indústria farmacêutica se torna muito grande com


o intuito de resolver todos os “problemas” e com a promessa de acabar com o
sofrimento, eliminando tudo o que lhe faz mal de forma rápida e eficaz, para que a
pessoa possa seguir a sua vida da maneira que imagina, sem problemas, buscando
de modo mais rápido o alivio que, muitas vezes, acaba por depender de
determinado medicamento, pois falar do próprio sofrimento perdeu lugar agora para
a medicação. Não se pode mais assumir aquilo que é seu, seu sofrimento, fica mais
fácil mascarar e esquecer.

Na verdade quando se descobre a doença as pessoas pensam que


conseguem lidar com ela, mas descobrem que não estão preparadas,
desesperando-se, e o que muitas vezes acontece é a automedicação, o que é um
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perigo para a vida do paciente. A indústria farmacêutica está aí para ajudar a


amenizar os sintomas, pois a cura nem sempre existe, para que, assim, haja
possibilidade de o paciente falar sobre aquilo que é dele, da sua subjetividade,
elaborando suas questões. Aquilo que é seu não pode ser trabalhado conforme a
sociedade deseja ou impõe; é preciso que os profissionais percebam que o sujeito
não pode ser tratado como um objeto, sem desejos ou escolhas.

O problema na atualidade é que se tem pressa e não se pode perder tempo.


Tudo precisa ser feito da forma mais rápida possível, por isso a sociedade preocupa-
se em investir em uma cultura de medicalização, que é basicamente fixada no corpo,
sem pensar no que se passa com o sujeito.

Consoante a isso, a psicanálise com a ferramenta da escuta acredita ser


importante que o paciente se posicione e que fale de si mesmo para trabalhar com
isso que é seu. Sabe-se, portanto, que medicalizar é diferente de medicar, pois
medicar um paciente seria indicar os medicamentos que são apropriados para o seu
sintoma1 de forma que o ajude e que não o prejudique.

O médico trabalha com o que é do corpo do paciente, utilizando a química


(medicação) para ajudá-lo naquilo que não funciona de acordo com o esperado.

No próximo Capítulo trataremos sobre a questão da psicologia na equipe de


saúde e nos hospitais. A importância do profissional de psicologia estar inserido na
equipe de profissionais que compõem o hospital.

1
Sintoma na medicina seria o meio pelo qual a doença faz a sua manifestação; já o sintoma, segundo
a psicanálise, seria aquilo que identifica o paciente em sua singularidade. É uma mensagem que
precisa ser decifrada pelo psicólogo, mas também uma forma que o sujeito encontra de gozar, uma
vez que vem a ser aquilo que escapa do desejo inconsciente do sujeito.
19

CAPÍTULO 2

A PSICOLOGIA E A EQUIPE DE SAÚDE NO HOSPITAL

Qual a importância do trabalho do psicólogo na área da saúde junto a outros


profissionais? Como conceber um suporte para as questões que se colocam dentro
do hospital? A especificidade do lugar do psicólogo se delineia como suporte para a
equipe que se depara cotidianamente com a morte, quando reconhecemos que não
há saber suficiente nesse momento; somente há impotência.

Com relação a isso, Freud (1915) afirma que ninguém acredita na sua própria
morte e que, no inconsciente, seria o mesmo que crer em sua imortalidade. Para o
inconsciente é como se não existisse essa representação da morte, porém, quando
se trata da morte do outro, só se consegue admitir quando se trabalha com algo
relacionado a isso, como no caso de uma equipe de profissionais diante de um
paciente terminal. Ou seja, quando se trabalha com algo relacionado à morte as
pessoas conseguem fala a respeito.

A morte não é mais algo tão distante, e a dor relacionada à pessoa falecida se
mostra nítida, embora não se queira admitir. Com as modificações vindas junto com
a morte o ser humano passa a dividir a pessoa em um corpo e uma alma, dando
uma ideia de que outra vida existe. Por isso, se reza para essa alma como se a
oração fosse uma espécie de passagem para essa outra vida. Acreditando que
assim exista uma possibilidade de apagar aquilo que é a morte.

No inconsciente somos imortais, mas, por intermédio dele, matamos por muito
pouco. É como se o castigo para os nossos inimigos fosse a morte; castigo esse que
se daria para aqueles que nos atrapalham. Ainda que nossos desejos não tenham
essa força, trata-se de algo que desejamos inconscientemente. A partir disso,
podemos pensar que o inconsciente, ao mesmo tempo em que apaga aquilo que é
da sua própria morte, admite a existência da morte do outro.
20

No ambiente hospitalar, aquele paciente que se encontra em estado terminal


consegue observar os profissionais à distância, pois à sua volta existem apenas
aparelhos. Os profissionais que estão trabalhando com este paciente visam o seu
bem-estar, mas, para que suas dores cessem, a solução são os medicamentos, que
aliviam aquilo faz padecer o corpo. Simonetti, acrescenta ao trazer a questão do
sintoma para a medicina, que: “A medicina não tem dúvidas: quer eliminá-lo, destruí-
lo, e tem mesmo de proceder assim – ou alguém defenderia posição contrária?
Creio que não. Esta é a natureza da medicina: o tratamento e a cura” (2011, p. 22).

Como explica o autor, o trabalho da medicina é eliminar aquilo que é da dor,


pois lida com a questão de um corpo que, ao primeiro sinal de que algo não está
conforme deveria, procura identificar quais são as causas, para, após, estabelecer
um tratamento adequado e tomados os devidos cuidados. O principal objetivo é o
paciente ficar bem e ser curado dos sintomas que expressam os sinais da sua
doença. Para a ciência não faz sentido que uma pessoa sofra, uma vez que existem
medicamentos que podem administrar suas dores.

O paciente espera que a equipe lhe diga do seu diagnóstico e que entenda
daquilo que se trata nos termos complexos que a área de saúde utiliza, e que possa
ser tratado como um sujeito e não apenas como um objeto. Deve ser dito ao
paciente, de forma clara, sobre a realização do trabalho da equipe e como este será
feito, para que ele possa entender o que acontecerá com o seu corpo.

O médico seria aquele que tem a cura para todos os males e somente ele
pode reconhecer se a pessoa realmente morreu. Ao mesmo tempo, porém, em que
a prática médica pode curar, pode fracassar. Em casos como os das doenças
terminais, o médico tem um poder limitado. Todo saber que o sujeito atribui a ele de
nada serve, pois, em relação à morte, nada pode fazer.

Não se pode curar alguém que está à beira da morte, mas pode-se dominar e
aliviar os sintomas que são da ordem de um corpo, permitindo que a pessoa viva por
mais tempo juntamente com seus familiares e amigos. Nasio destaca: “Quando
estamos preparados para vê-lo partir, porque está condenado pela doença, por
exemplo, vivemos a sua morte com uma dor infinita, mas representável.” (2007, p.
77). Sofremos com a possibilidade de ver que alguém que gostamos irá morrer.
Embora, porém, a morte de outra pessoa seja vivida de maneira dolorosa,
assistimos a ela como um espectador, pois agora nada mais se pode fazer.
21

Conforme Áries:

Primeiramente, o morto foi privado de seus direitos – era tutelado como uma
criança menor de idade ou como se houvesse perdido a razão. Não tem
mais o direito de saber que vai morrer, os que o cercam escondem-lhe a
verdade até o fim, e dele dispõe – para seu próprio bem (2012, p. 209).

O autor afirma que o paciente doente não possui mais direitos, e aqueles ao
seu redor agem como se ninguém fosse morrer e como se nada estivesse
acontecendo, como se o enfermo fosse uma criança e não precisasse saber daquilo
que tem a ver com o seu estado de saúde. Isso vai até o dia em que o paciente
perde a consciência, não tendo mais noção daquilo que se passa com ele, que
somente respira com a ajuda de aparelhos para poder continuar vivendo. É só,
então, que aqueles que o cercam não precisam mais fingir sobre o seu estado de
saúde.

Segundo Mannoni (1995), o ser humano não acredita na sua morte; está
alienado diante do seu processo de morrer. É como se tentasse excluir uma parte
que é constitutiva da sua vida, pois a morte nada mais é do que parte da vida. O
indivíduo não sabe do que trata a morte e também evita o assunto, não se tornando
ativo naquilo que é um processo natural da vida.

A autora ressalta aquilo que Freud já afirmava – que o sujeito acredita ser
imortal e por isso no seu desejo inconsciente não existe e não há uma relação
daquilo que é a morte.

Com a morte próxima, o sujeito2 adoentado continua sendo um sujeito


desejante, considerando-se que, ao final da vida, tem o direito de ter seus últimos
dias e seu enterro da forma que deseja. Não se trata, então, apenas daquilo que é o
protocolo da equipe em relação ao paciente que está à beira da morte, mas, sim, de
que a morte do outro é representável e podemos ter conhecimento pelo fato de se
dar em uma realidade da qual a equipe está habituada a presenciar. É possível
pensar, junto com a equipe, que este paciente, embora adoentado, tenha desejos.

A medicina avança em direção a tratamentos específicos que possuem o


objetivo de prolongar a vida, impossibilitando que a pessoa venha a morrer. Os
tratamentos são tão avançados que existe a possibilidade de uma pessoa ficar

2
Sujeito, para a psicanálise, é o do inconsciente, aquele que podemos dizer do desejo inconsciente.
22

acamada por anos, por mais que a sua doença seja bem avançada. Essa
possibilidade, quando existe, geralmente é aprovada pelos familiares com o objetivo
de ter por mais tempo seus entes queridos por perto, não consultando aqueles que
são acometidos pela doença.

O processo de um adoecimento é difícil, mas, para que os profissionais e


familiares aceitem a doença, é preciso falar sobre o que é de fato do seu sofrimento
diante deste processo. A psicologia hospitalar trabalha com aquilo que é do âmbito
do hospital, tanto da equipe quanto do paciente.

A respeito disso, Simonetti assevera que “a psicologia hospitalar define como


objeto de trabalho não só a dor do paciente, mas também a angústia declarada da
família, a angústia disfarçada da equipe e a angústia geralmente negada dos
médicos” (2011, p. 18). Aqueles que estão envolvidos com uma doença, tanto o
doente quanto seus familiares e a equipe de profissionais, sofrem, pois se trata de
um momento delicado para todos, que exige cuidados e atenção. São muitos os
envolvidos neste adoecimento, por isso que para todos estabeleçam um bom
relacionamento precisa existir uma comunicação, pois todos têm interesse em
alguma coisa. O paciente tem naquilo que é do seu sintoma, a família no prognóstico
e a equipe de profissionais tem no diagnóstico do paciente. A psicologia hospitalar
trabalhará de forma que irá dirigir essas formas de interesse.

A dor acomete a todos, pois a família está prestes a perder um ente querido e
não encontra solução para o momento presente. Muitas vezes a única resposta que
encontra é a utilização de medicamentos fortes para prolongar a vida do seu familiar.
Quando a doença se agrava e não se vê mais saída, porém, entra o trabalho da
psicologia para que os familiares possam falar daquilo que é do seu sofrimento e
dos seus sentimentos relacionados a esse processo.

O profissional também se angustia, pois a sua luta é sempre para manter o


paciente vivo. Quando as medicações não fazem mais efeito e o paciente vem à
óbito, o profissional da saúde se depara com a morte e, por mais que a rotina da
medicina, cansativa, conviva quase de maneira corriqueira com a doença, quando
um paciente morre é difícil para o profissional lidar com a situação.
23

No hospital o psicólogo pode vir a ser solicitado tanto pelo paciente quanto
por seus familiares e a equipe que o acompanha. Dependerá de como cada um se
questionará em relação ao adoecimento ou à morte.

Quanto a isso, Simonetti (2011) destaca que a psicologia hospitalar tem o


intuito de facilitar relacionamentos dentro de um hospital entre a equipe de
profissionais. Afinal, trabalhar com aquilo que é da morte ou tem alguma relação
com ela não é um trabalho fácil. Por isso, a psicologia hospitalar procura facilitar
os relacionamentos para que as pessoas consigam lidar, de uma forma mais
tranquila, com os pacientes em fase terminal. Destaca-se que é fundamental para
o paciente o trabalho em equipe, pois trabalhando assim pode-se melhor atender
seus pacientes.

Para que melhor atendam os pacientes, os profissionais deveriam pensar


que aquele que está acamado precisa de atenção e cuidados. Mesmo que o
profissional seja eficiente em sua função, também deve prestar atenção ao sujeito
adoentado e às suas perguntas, para tomar os devidos cuidados com ele.
Segundo Ross:

É provável também que devêssemos dar mais atenção ao paciente sob os


lençóis e cobertores, pôr talvez um ponto final em nossa bem intencionada
eficiência e correr para segurar a mão do paciente, sorrir ou prestar atenção
numa pergunta (1996, p. 20).

Estas palavras são necessárias, pois é como se para o doente não existisse a
possibilidade de opinar e de ser amparado pelo profissional da saúde. Desse modo,
se o profissional se dispuser a atender de forma que preste atenção em uma
pergunta do paciente, que não seja do seu campo profissional, talvez esteja
colaborando para que a equipe trabalhe de uma melhor forma, visando sempre o
bom atendimento ao paciente.

Como já mencionado anteriormente, a medicina trabalha com aquilo que é do


diagnóstico do paciente, expresso por meio de um sintoma. Quando os profissionais
não encontram a solução para esse diagnóstico há um mal-estar. É a ciência que
busca acabar com a doença, realizando pesquisas e tentando encontrar respostas,
em uma tentativa contínua de visar à cura.
24

O ser humano não lida bem com a morte, por isso deseja que a ciência
descubra uma solução para todas as doenças, uma vez que é impossível que o
paciente aceite esta nova condição que a vida lhe impôs de uma doença que está no
real3. O real é aquilo que existe, mas somente existe uma possibilidade: a de sermos
mortos e não de morrer.

Ross ressalta que “A negação, ou pelo menos a negação parcial, é usada por
quase todos os pacientes, ou nos primeiros estágios da doença ou logo após a
constatação, ou, às vezes, numa fase posterior” (1996, p. 56). O paciente, no início
de sua doença, passará por momentos difíceis, vindo, por vezes, a negá-la. A
negação é o meio que ele encontra para se defender. Após essa defesa, começa a
aceitar de forma parcial, pois precisa continuar lutando pela sua própria vida, que
ainda segue. Com relação a isso, Ross (1996) destaca que não significa que este
paciente não queira sentar com alguém e falar sobre a sua morte, ou sobre aquilo
que, de fato, é do seu estado. Esse diálogo deverá acontecer conforme ele desejar,
quando achar que deve falar.

Ao se deparar com a doença, o paciente reage como se nada estivesse


acontecendo, adiando, assim, os cuidados que deve ter com a sua doença. Por isso,
a equipe sente muita dificuldade de trabalhar com estes pacientes. Por mais que o
paciente aparente ter uma resistência4 de início, todavia, logo irá demonstrar
confiança se aquele profissional insistir nele, pois alguém estará se mostrando
disponível.

Em um segundo momento, o paciente pode demonstrar estar em uma


posição de revolta, o que complica para aqueles que trabalham diariamente com o
doente. Os familiares também sofrem, pois estão sempre à disposição e, muitas
vezes, o paciente retribui descontando naqueles que o cuidam. Ross afirma que
“Deve-se isso ao fato de esta raiva se propagar em todas as direções e projetar-se
no ambiente, muitas vezes sem razão plausível” (1996, p. 64). Todos são alvos de
sua constante raiva, que, na maioria das vezes, não tem razão de ser, pois essas
pessoas estão dispostas a ajudá-lo e cuidá-lo da melhor forma possível. A raiva,

3
Real – É um registro que junto com outros dois, o registro imaginário e simbólico forma uma
estrutura. O real é algo que é impossível de simbolizar, ou seja, difícil de transmitir.
4
Resistência – “Termo empregado em psicanálise para designar o conjunto das reações de um
analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da
análise” (Roudinesco, 1998, p. 659).
25

porém, é tanta, que acaba atingindo a todos em sua volta, podendo ser dirigida para
qualquer pessoa, tanto os profissionais da saúde quanto seus familiares. O que, na
verdade, é apenas uma forma que ele encontra de se defender.

Quando se está doente é difícil dizer qual dor é a mais forte. Trata-se apenas
de afirmar que essa pessoa sofre ou que sente dor. Dói estar doente, uma vez que
muitas coisas foram deixadas para trás com a chegada da doença. O paciente deixa
de ter autonomia sobre a sua própria vida, pois agora são os médicos, os
enfermeiros e seus familiares que tomam conta dela, por isso expressa o sentimento
de raiva, e é difícil seus cuidadores tomarem consciência disso.

Ross ressalta:

O problema aqui é que poucos se colocam no lugar do paciente e se


perguntam de onde pode vir essa raiva. Talvez ficássemos também com
raiva se fossem interrompidas tão prematuramente as atividades de nossa
vida; se todas as construções que começamos tivessem de ficar
inacabadas, esperando que outros a terminassem (1996, p. 64).

É um momento delicado, em que tanto os profissionais quanto os familiares


deveriam colocar-se diante da situação que o paciente vive e perceber o que ele
sente em relação a sua doença. Talvez, assim, iriam se sentir da mesma forma que
o paciente, pois uma vida está sendo interrompida, muitas coisas estão sendo
deixadas para trás para que outras pessoas possam terminar. A raiva, portanto,
pode ser uma forma de extravasar aquilo que se sente e as emoções contidas.

Lidar com os pacientes quando estão com raiva não é fácil, principalmente para
aqueles que convivem com eles diariamente. Simonetti afirma que “Na doença, como
na vida, raivosos despertam medo e afastamento” (2011, p. 47). No hospital o que pode
ocorrer é que estes pacientes sejam esquecidos pelos profissionais ou, até mesmo,
rejeitados. Para os profissionais é difícil entender que isso não tem nada de pessoal,
que é uma posição na qual o paciente se encontra em razão do seu diagnóstico. Por
isso, a psicologia também irá trabalhar com este grupo, pois todos que estão envolvidos
com o paciente possuem o mesmo objetivo em comum: a sua cura.

Não se trata de um momento fácil para o paciente e a equipe, por isso a


importância de os profissionais, os familiares, o hospital e o psicólogo estabelecerem
um vínculo transferencial com ele. O paciente espera algo dos profissionais no
sentido de que ele esteja em algum lugar para eles, uma vez que, estando em um
hospital, supõe-se que exista um saber nestes profissionais.
26

O psicólogo hospitalar é convocado a cada vez mais trabalhar não somente


com o paciente, mas com a equipe também; por isso a sua transferência5 tem de
estar estabelecida com todos do seu meio de trabalho. Ao estabelecer a
transferência com a equipe, abre a possibilidade de ação com o paciente.

No próximo capítulo trabalharemos as intervenções do psicólogo no hospital


com pacientes em fase terminal. O acompanhamento psicológico tem o objetivo de
oferecer uma melhor qualidade de vida para o paciente e também auxiliar na
possibilidade de humanizar os atendimentos.

5
Transferência – É um processo do tratamento psicanalítico que pode se colocar no desejo
inconsciente de duas formas em relação ao analista, ou seja, pela transferência positiva que são
sentimentos ternos ou pela transferência negativa que são sentimentos hostis.
27

CAPÍTULO 3

AS INTERVENÇÕES DO PSICÓLOGO NO HOSPITAL

O psicólogo hospitalar trabalha em torno do adoecimento, considerando o


desamparo em que o paciente se encontra no padecimento com a doença. Para
isso, o psicólogo trabalha com a palavra e a escuta. Essa é a sua ferramenta de
trabalho. No hospital, o que interessa à psicologia é a relação que o paciente tem
com aquilo que é da sua doença; aquilo que ele faz com ela; o significado que esta
doença tem para ele. Isso somente será possível por intermédio da palavra do
paciente e da escuta do psicólogo.

Este profissional é aquele que dá lugar à palavra do paciente. É o único que


está treinado para trabalhar com a palavra. Conforme Nasio, “O psicanalista é um
intermediário que acolhe a dor inassimilável do paciente e a transforma em uma dor
simbolizada” (2007, p. 19). O psicólogo é aquele que pode trabalhar com a dor de
um paciente em adoecimento e conduzir um tratamento para que essa dor seja
simbolizada, e isso é possível somente por meio da fala do paciente.

Ao tratarmos daquilo que é de um corpo físico, nos referimos ao campo da


medicina e dos profissionais da saúde. Quando chegamos à questão do
adoecimento, este paciente deixa de ser do campo somente da medicina e passa a
ser da psicologia, pois falamos de um adoecimento referente ao sofrimento psíquico.
É neste lugar que o profissional de psicologia é convocado a trabalhar.

Para o psicólogo, portanto, não se trata somente daquilo que é do diagnóstico


da doença do corpo do paciente. O que visamos é dar importância a sua escuta; por
28

isso se abre caminho para a psicologia trabalhar com a subjetividade6 do paciente;


com aquilo que é seu, com o seu sofrimento ante a sua doença.

Simonetti, ao falar do paciente doente, enfatiza: “Toda doença apresenta


aspectos psicológicos, toda doença encontra-se repleta de subjetividade, e por isso
pode se beneficiar do trabalho da psicologia hospitalar” (2011, p. 15). A doença é um
acontecimento que ocorre na vida do sujeito. É um momento bastante complicado, e
traz consigo elementos interligados que vêm do meio social em que a pessoa está
inserida, da sua cultura e daquilo que é da sua estrutura biológica, que se refere à
forma como o seu corpo responderá à doença. São estes aspectos com os quais a
psicologia trabalha. Uma possibilidade de trabalho que faz com que o paciente
compreenda sobre aquilo que pode estar ligado ao sintoma que está inserido para
que assim se reposicione em frente a doença e ao seu corpo.

O psicólogo trabalha com aquilo que é da parte psíquica, mas também não
deixa as outras questões do sujeito de fora, pois tudo o que está relacionado à
pessoa em estado de adoecimento o interessa, de modo que precisa saber de que
forma os outros fatores interferem na maneira como o sujeito reage diante da sua
doença. O psicólogo ajudará o paciente a passar pelo seu adoecimento, mas não
dirá como se deve passar e nem até onde vai este sofrimento.

Estes pacientes, diagnosticados com uma doença em fase terminal, precisam


ser sujeitos de sua própria história. Simonetti (2011) explica que enquanto a
medicina visa a curar e a salvar a vida de pessoas, a psicologia, no âmbito
hospitalar, procura reposicionar o sujeito em relação a sua doença. Lembra, ainda,
que o psicólogo trabalha diferente do médico que aborda o corpo físico, observando,
então, um corpo que é simbólico,7 tentando pela palavra que o sujeito possa
simbolizar a sua doença e se esvaziar. Assim, o autor ressalta que este
adoecimento está no registro simbólico; já a medicina trata daquilo que está no real.
Com relação à doença, o psicólogo não tem muito o que fazer, pois deste campo, do

6
Subjetividade – É aquilo que é singular de cada pessoa, pois é isso que nos diferencia das outras
pessoas, nos faz ser único, mas ao mesmo tempo igual devido a elemento que vamos
compartilhando com o meio social e cultural no qual vivemos.
7
Simbólico – “Um sistema de representação baseado na linguagem, isto é, em signos e significações
que determinam o sujeito à sua revelia, permitindo-lhe referir-se a ele, consciente e
inconscientemente, ao exercer sua faculdade de simbolização” (Roudinesco, 1998, p. 714).
29

corpo, é o profissional da medicina quem cuida. A respeito do paciente com o seu


sintoma, no entanto, o psicólogo tem muito trabalho a fazer.

Cada um possui uma forma de trabalhar, e pode contribuir com o que é do


seu campo em relação àquilo que a doença deixa como marca. A escuta possibilita
que o paciente possa viabilizar aquilo que é seu e não somente deste corpo doente.
Simonetti (2011) ressalta, portanto, que é importante a realização dos diagnósticos
para auxiliar da melhor forma o tratamento do paciente, para que se saiba qual
terapêutica utilizar. A partir do diagnóstico já se estabelece um tratamento, o que
não deixa de ser uma intervenção, pois, nesse momento, se recolhem dados do
paciente para se pensar aquilo que será utilizado, ou seja, a forma de trabalho.
Simonetti afirma que:

Quando um psicólogo entrevista um paciente pela primeira vez, procurando


diagnosticar sua forma de reação à doença, ao mesmo tempo já está
oferecendo ao paciente uma escuta que permite ao paciente elaborar sua
doença por meio da fala, o que por si só produz efeitos terapêuticos. Não
existe um ato que seja exclusivamente diagnóstico, e todo encontro
comporta possibilidades terapêuticas (2011, p. 36).

O paciente, em uma primeira entrevista, é analisado pelo psicólogo sobre a


maneira como está reagindo diante da sua doença, em que condição se encontra,
como está a sua vida no geral e como se relaciona com todos. Nesse instante o
psicólogo já está oferecendo a sua escuta, que é a sua ferramenta de trabalho,
permitindo que o paciente possa comunicar e elaborar sua doença por meio da fala
como uma terapia.

Na psicologia hospitalar o seu objetivo é a subjetividade do paciente para que


ele consiga elaborar isso que é do seu adoecimento e se reposicionar diante da sua
doença. Então o que interessa é dar voz à subjetividade deste paciente, e a única
forma possível é mediante a palavra. É o profissional da psicologia que tem a escuta
para trabalhar com este paciente e com o andamento dos acontecimentos. É ele
quem tem o conhecimento da situação existencial relacionada ao adoecimento.
Segundo Simonetti: “Ao escutar, o psicólogo „sustenta‟ a angústia do paciente o
tempo suficiente para que ele, o paciente, possa submetê-la ao trabalho de
30

elaboração simbólica” (2011, p. 24). Ao ficar em silêncio, o psicólogo permite que o


paciente também faça uma elaboração8.

Aqueles que convivem com o paciente, tanto a equipe quanto seus familiares,
não conseguem suportar que ele passe por um momento de angústia, tentando,
muitas vezes, ocultar o que é da angústia. Ela, porém, somente irá se resolver
quando o paciente se permitir falar. É pela sua fala que o paciente vai simbolizar
aquilo que é da sua angústia e, assim, dissolver aquilo que se passa.

O profissional de psicologia trabalha com a escuta analítica, que seriam as


intervenções relacionadas à clínica. A única diferença é que agora estas
intervenções são feitas no hospital. A outra técnica é a do manejo situacional, que
seriam as intervenções relacionadas ao adoecimento, saindo um pouco da atitude
mais neutra que se encontra dentro de um consultório. Esta mudança do psicólogo,
que vai do consultório para o hospital continua sendo clínico e possibilitando
questionamentos. Trata-se de um ambiente onde o trabalho se dará no leito,
diferente do consultório; um ambiente distinto do qual os psicólogos estão
acostumados, que, de certa forma, permite um conforto.

O hospital permite que o psicólogo tenha uma visão mais ampla daquilo que é
este paciente e dá possibilidades de interação com outras áreas de conhecimento.
Permite, também, conhecer as doenças, mostrando que cada uma é diferente, e que
entende sobre elas de forma parcial, pois não é possível conhecê-las como um todo.

Quando a pessoa recebe o diagnóstico de que está doente, esta doença se


instala de uma forma central na sua vida. O restante perde importância, de maneira
que, a partir daquele momento, é somente a doença que lhe interessa. Sua vida gira
em torno dela. Por isso, Simonetti (2011), relendo Ross, autora já citada
anteriormente, ressalta que a pessoa doente entra em órbita, pois, ao ser
diagnosticado, a doença se torna o eixo central da sua vida. Essa órbita se
apresenta de quatro formas e a primeira seria a da negação, seguido da raiva,
depressão e enfrentamento. Depois de entrar em órbita, o doente pode mudar a sua
posição e alterá-la de um dia para o outro.

8
Elaboração – Conforme Roudinesco é um “Termo introduzido em 1967 por Jean Laplanche e Jean-
Bertrand Pontalis, para designar um trabalho inconsciente que é próprio do tratamento
psicanalítico.” (1998, p.174).
31

Estas reações que o paciente apresenta ao descobrir que está com


determinada doença apontam para um estado de choque, pois jamais imaginava se
deparar com uma doença. O medo da doença, então, se encontra reprimido, e o que
surge em relação a isso é uma angústia muito grande. Ao se deparar com a doença
o paciente está de frente com uma realidade cruel e absurda. É algo do real que o
paciente não tem como nomear, uma vez que o desorganiza completamente.
Acometido pela doença, o paciente acaba por se deparar com uma realidade
bem cruel, que é impossível de ser representada, pois, para a realidade psíquica, a
nossa própria morte não existe. Por isso, a única reação diante da sua doença é
negar. Neste momento há somente a negação, que é a sua defesa, a única maneira
que encontrou de enfrentá-la. É importante respeitar essa travessia que o paciente
faz sem o confrontar.

O paciente nega de várias formas a sua doença, e uma delas é quando afirma
que somente outra pessoa está doente, ou quando age como se nada estivesse
acontecendo. Diante dessa atitude, o paciente demora a tomar as providências
necessárias em relação à doença e até mesmo de começar os cuidados que se
deve ter com ela. Ele pensa que sua vida está protegida de tudo e não precisa se
preocupar, pois não acontecerá nada de ruim. Outras vezes acredita que algo irá
acontecer e irá se curar da doença. Simonetti assevera que:

Apesar de todas as dificuldades originadas pela doença, a pessoa, na


posição de negação, pode apresentar como emoção predominante uma
certa alegria que para um observador geralmente parece falsa – se é que
existe tal coisa. Trata-se da alegria e entusiasmo que não contagiam quem
está próximo e, ao contrário, podem até despertar uma reação de irritação
(2011, p. 40).

Esta emoção que o paciente demonstra pode ser um medo de morrer. Este
medo encontra-se reprimido e ele pode demonstrar de várias formas, como estando
irritado, angustiado e, por vezes, se isolar, pois a doença traz um pouco disso, um
isolamento em relação ao social. O sono também pode ser um deles, mas quando o
paciente está em fase terminal talvez haja uma dosagem alta de medicamentos,
então não se sabe se o seu sono é em razão dessa alta dosagem ou se é por estar
negando a sua doença.

O momento em que o paciente nega é quando os sinais da doença começam


a aparecer. Por isso a irritação em relação a esta mudança. Pode ocorrer de o
32

paciente ter consciência da sua doença, mas esconder de seus familiares e


daquelas pessoas queridas, acreditando que possa ser uma tentativa de resguardar
aqueles que tanto gosta.

O paciente encontra-se em estado de choque, mas, após um tempo, irá se


recuperar. Nesse primeiro momento questiona-se acerca de isso estar acontecendo
e, aos poucos, vai se desligando desse processo. É importante o auxílio da equipe
de saúde que visa o seu bem-estar e cuida daquilo que é do seu corpo, e também o
trabalho do psicólogo hospitalar com a subjetividade do paciente. Conforme Nasio
(2007), o psicanalista precisa ser um bailarino que, diante do tropeço de seu
paciente, evita que ele caia. Ele deve possibilitar que o paciente retorne ao ritmo
inicial, dando um sentido àquilo que sente, para que a transferência possa ser
instaurada. O paciente, às vezes, preenche este momento de atendimento com o
psicólogo por intermédio de lágrimas e palavras.

Todos os acontecimentos surgem deste adoecer do paciente, quando se


encontra diante de um turbilhão de sentimentos e se percebe perdendo algo que não
sabe do que se trata. Pelo fato de não ser representável essa doença que é a cara
do real que invade esse corpo. Pode acontecer de os familiares negarem que o
paciente esteja doente. Isso pode ocorre por não haver condições psicológicas
naquele momento para entender a travessia que o paciente precisará percorrer.

Qualquer pessoa pode ser alvo de sua raiva, pois se trata de um momento
difícil. Segundo Simonetti:

Em primeiro lugar, frustra o princípio do prazer, pelo qual funciona o nosso


inconsciente, ao introduzir a dor e o desprazer. Frustra também nossa
onipotência infantil, na qual a vida acontece segundo nosso desejo. Nesse
sentido, a doença é mais uma força de castração a que o ser humano é
submetido em sua jornada. Também no sentido prático a doença é muito
frustrante. Ela frustra nossa liberdade e nossa rotina (2011, p. 45).

Quando a doença acomete a pessoa é mais um momento em que ela é


submetida à castração9 e se depara com o corte no real, pois perde a liberdade,
posto que tudo que precisa fazer tem relação com a doença. No momento de raiva a

9
Castração – Roudinesco afirma que “Sigmund Freud denominou complexo de castração o
sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança quando ela constata a diferença
anatômica entre os sexos.” (1998, p.105).
33

pessoa encontra-se frustrada, e a doença põe fim a qualquer futuro, pois são várias
as limitações que se colocam diante do paciente.

Toda a sua vida se volta para a doença, pois são vários tratamentos, os quais,
em determinada circunstância, são bastante agressivos e, com isso, acabam
gerando mudanças tanto no corpo quanto na vida. O ser humano é muito ligado às
questões do corpo, pois é o que nos une desde a nossa constituição; este corpo no
qual é investido desde pequeno. Neste processo é que o sujeito vai se constituindo
psiquicamente, pois recebe uma série de informações, cuidados e investimentos que
vem do Outro.

Sendo assim, a função materna é que irá permitir a sobrevivência do bebê


proporcionando todos os cuidados básicos que este bebê necessita. Inscrevendo
este sujeito na linguagem e assim erotizando este corpo de maneira que só será
possível através do desejo do Outro. Ao ser retirado do seio materno o bebê depara
se com uma falta, então para que se estruture como sujeito é preciso que a falta
exista. Mas não é somente isso que esta criança necessita, irá precisar de um
terceiro nesta relação no caso aquele que exerça a função paterna com o corte para
que assim o sujeito seja inserido no social.

A primeira perda do sujeito é a do objeto amado, depois no decorrer da vida


ocorrem muitas outras perdas que precisamos enfrentar em nossa vida, realizando
um luto em cada uma delas. Para Nasio:

A separação é erradicação e perda de um objeto ao qual estamos tão


intimamente ligados – a pessoa amada, uma coisa material, um valor, ou a
integridade do nosso corpo – que é laço constitutivo de nós próprios. Isso
diz como o nosso inconsciente é o fio que liga as diversas separações da
nossa existência (2007, p. 20-21).

É pelo inconsciente10 que se ligam todas as perdas recorrentes na vida de um


sujeito que ocorrem desde o momento em que se constitui. É este corpo do qual o
ser humano possui tanta dificuldade de se desligar, pois é ele que diz a respeito da
pessoa, de como ela se encontra – doente ou com uma saúde plena.

10
Em relação ao inconsciente Roudinesco afirma que “É um lugar desconhecido pela consciência:
uma “outra cena”. Na primeira tópica elaborada por Sigmund Freud, trata-se de uma instância ou
um sistema (Ics) constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o pré-
consciente (Pcs-Cs). Na segunda tópica, deixa de ser uma instância, passando a servir para
qualificar o isso e, em grande parte, o eu e o supereu.” (1998, p. 375).
34

Estando doente não é somente o corpo que se encontra debilitado ou


limitado, pois não falamos somente disso, mas sim de uma dor. Nasio (2007)
ressalta que para o trabalho do psicólogo com o referencial psicanalítico não existe
uma diferença entre aquilo que é de uma dor física e aquilo que é de uma dor
psíquica, uma vez que, por exemplo, o paciente sente emoção quando algo acomete
seu corpo.

Quando o paciente é escutado não visamos somente àquele corpo adoentado,


mas o seu estado psicológico. Seus sentimentos são reconhecidos em uma conversa
que é desarmada, fazendo com que melhore o seu relacionamento com as outras
pessoas. Quando está revoltado, com sentimento de raiva, o paciente possui
pensamentos de injustiça, pois acredita que a doença ataca as pessoas que nunca
fizeram mal a ninguém, porém as boas e as más podem passar por esse sofrimento e
acabam por adoecer. Por isso, no hospital, o psicólogo ouve as queixas do paciente
sem a intenção de reprimi-lo, escutando somente em um lugar de testemunha.

O paciente demonstra essa raiva, pois está lutando pela vida. É normal esse
tipo de sentimento, mas quando demonstra elevar esta raiva cada vez mais
precisamos nos preocupar. Como profissionais, então, devemos auxiliar para que o
paciente consiga expressar suas emoções. De acordo com Simonetti:

Conselhos do tipo “solte-se”, expresse suas emoções podem até ajudar,


mas um silêncio genuíno por parte do psicólogo é um convite muito mais
poderoso, tem quase a força de um vácuo, que puxa, sem forçar, aquilo que
está reprimido. Esse é o segredo da psicanálise: fazer silêncio, um silêncio
para ser preenchido pela fala do paciente, e não pela do psicólogo (2011, p.
50).

O silêncio será preenchido pela fala do paciente. Quando ele se permitir e


mostrar a sua emoção não se deve intervir, pois o mais importante foi feito: ele
conseguiu falar. Se demonstrar que irá chorar, o melhor é deixar que o paciente se
expresse. O trabalho do psicólogo não é ser muito direto.

O que pode acontecer em um momento de revolta é que o paciente


demonstre certa resistência em relação àqueles que estão a sua volta e desconta a
sua raiva contra os que representam o sistema. Para a equipe que o atende, ele
demonstra estar vivendo uma situação complicada, pois é extremamente difícil
entender que não se trata de algo pessoal, por isso o psicólogo precisa entrar como
35

alguém que está ali com sua escuta, disposto a mediar essas dificuldades
encontradas entre a equipe e o paciente.

Em outro momento, seguindo a órbita da doença, o paciente pode se


encontrar na posição da depressão. Nesta posição o paciente se entrega à sua
doença, podendo negar a se envolver em seu tratamento. Este momento seria
aquele em que a pessoa se encontra sem esperança, não acreditando em sua cura,
e, por isso, não tem medo do que possa a vir acontecer se não seguir com o
tratamento. Ela não tem medo da morte, mas tem tristeza e sofre bastante. O
deprimido elabora a sua perda, que pode levar um tempo, e o intuito do psicólogo
não é apressá-lo, pois cada paciente tem o seu próprio tempo para pensar a sua
perda.

O psicólogo deve lembrar, ao atender um paciente deprimido, que nesta


posição a libido11, que antes era direcionada ao objeto, foi recolhida, para que, após,
seja reinvestida em outro objeto. Para Simonetti:

Diferentemente das outras três posições, quando diagnosticamos que um


paciente se encontra na posição de depressão, o trabalho ainda não está
completo, é preciso ir mais adiante e especificar o tipo, se depressão
reacional (luto) ou depressão melancólica. Mas por quê? Porque cada tipo
exige uma conduta terapêutica diferente (2011, p. 55).

Como explica o autor, se o paciente estiver em um processo de luto pode-se


esperar uma recuperação mais favorável. Se estiver em uma depressão melancólica
a melhora é mais complicada; é preciso mais detalhes, como o seu histórico. O luto
é necessário no processo de adoecimento do paciente para que consiga fazer um
trabalho psíquico, que é de enfrentar a sua doença.

É preciso que o psicólogo suporte durante algum tempo esta posição do


paciente, que é diferente da doença da depressão, embora apresente sintomas que
estejam também na doença. Na posição de depressão o paciente passa pelo que é
a órbita reacional, que seria mais uma reação em torno da doença, quando se
encontra triste, o que é um fato normal, pois está em um processo de perda.

11
Conforme afirma Roudinesco a libido é um termo que “Designa a manifestação da pulsão sexual na
vida psíquica e, por extensão, a sexualidade humana em geral e a infantil em particular, entendida
como causalidade psíquica (neurose), disposição polimorfa (perversão), amor-próprio (narcisismo)
e sublimação. (1998, p. 471).
36

Em relação ao atendimento, a proposta de trabalho levará em conta a


diferença de cada paciente, ou seja, a sua singularidade, pois é diferente a forma
como será feita as intervenções com cada paciente. Por isso, em um tratamento
psicológico o paciente consegue descobrir que a sua palavra pode mudar muita
coisa, mas desde que seja a sua palavra e não a dos outros.

Na posição de enfrentamento, que seria a última na órbita da doença, o


paciente se depara com aquilo que é do real, posto que já passou pelas outras
posições, tendo de dar conta de enfrentar a sua doença. Seu posicionamento passa
a alterar entre a luta e o luto. Ao mesmo tempo em tenta modificar, também tenta
suportar o que não é específico da doença, pois o ser humano reage assim ao lidar
com mudanças. Conforme Simonetti:

O pensamento na posição de enfrentamento se caracteriza pela amplitude,


é bastante inclusivo e não nega aspectos positivos ou negativos da
realidade e da doença. Tal aceitação da doença não é prematura nem
passiva, e nisso se diferencia da aceitação existente na posição depressão.
Outra característica do pensamento na posição de enfrentamento é que o
paciente não está mais em busca de sentido, de uma explicação para a má
sorte (2011, p. 63).

Neste momento de enfrentar a doença o paciente descobrirá que não está


livre dela, mas que poderá se posicionar diante dela, pois se trata agora de saber o
que fazer com a doença. É como se tivesse conseguido esgotar tudo aquilo que é a
doença. A sua aceitação em relação à doença não é antecipada e nem passiva, e é
isso que diferencia da aceitação que existe na posição de depressão.

Na posição de enfrentamento o paciente, agora, sabe o que tem de fazer com


a sua doença. Isso demanda um posicionamento em relação à doença e não a
busca de um sentido. Faz aquilo que precisa ser feito, considerando que neste
processo todas as emoções se fazem presentes.

O paciente tem consciência do que está passando, mas, em todas as


posições, mantém a esperança. Por isso não importa o tipo de esperança que seja;
ela deve ser mantida. A doença nada mais é que algo incerto que chega à vida da
pessoa e, com isso, revela o quanto o ser humano é frágil.

O psicólogo precisará distinguir se o pedido feito para o atendimento de


algum paciente no hospital é uma solicitação ou uma demanda. A solicitação é uma
ação que pode ser feita por parte da equipe do hospital e até mesmo do paciente; já
37

a demanda é um estado que vem por um questionamento daquele que está em


processo de adoecimento.

O paciente passa por todas essas posições diante da doença e, em todas


elas, o psicólogo hospitalar se faz presente com seu trabalho. Procuramos destacar,
ao longo do capítulo, a importância das intervenções que o profissional de psicologia
no âmbito hospitalar realiza. E assim assinalar como fundamental sua presença na
equipe da área da saúde como um suporte para todas as questões que se colocam
neste ambiente.
38

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo trouxe considerações importantes acerca do trabalho do


psicólogo no hospital com os pacientes acometidos por alguma doença e a equipe
de saúde. Abordou, de início, a questão da morte para que pudéssemos entender o
quanto mudou durante o percurso histórico. Na atualidade, a morte é temida e, para
que exista um prolongamento da vida, medica-se as pessoas de forma que se acaba
privando o sujeito de exercer aquilo que é de sua vontade, ou privando-o de falar
sobre aquilo que pensa a respeito deste processo.

Com relação a isso, no decorrer do trabalho percebeu-se o quanto a


medicalização vem como uma possibilidade de acabar com o sofrimento e eliminar
aquilo que é uma manifestação do corpo. A medicação, diante de uma doença
terminal, tem a possibilidade de aliviar de forma rápida aquilo que é da dor física,
embora a dor psíquica esteja entrelaçada com o corpo, mas o intuito do trabalho era
de responder em que lugar está a voz do paciente neste processo, posto que se
busca aliviar aquilo que é de seu sofrimento.

Constatou-se a importância do psicólogo e da equipe de saúde que trabalha


no hospital diante de um paciente que está enfrentando uma doença grave.
Verificou-se que, perante tal situação, o paciente enfrenta dificuldades em que, às
vezes, acaba por descontar nos profissionais que o auxiliam neste processo, e o
psicólogo entra nesta relação como um suporte, uma vez que no processo de morrer
nada pode ser feito.

Para que todos consigam aceitar que este é um processo natural da vida,
porém, é preciso que a equipe, os familiares e o paciente falem a respeito do seu
sofrimento diante deste adoecer, por isso o psicólogo, no ambiente hospitalar, tem a
função de dirigir as questões trazidas em relação à doença. Percebe-se que o
psicólogo é um auxílio neste processo, podendo facilitar o relacionamento da equipe
39

de saúde com o paciente, para que, assim, diante da mediação do profissional de


psicologia, a equipe de saúde consiga melhor atender o paciente.

O trabalho também visou a trazer considerações acerca das intervenções do


psicólogo neste contexto hospitalar que é em torno do paciente acometido por uma
doença terminal. Diante deste processo de adoecer, o trabalho da psicologia visa o
paciente na sua relação com a doença, possibilitando que este espaço, que é o
hospital, seja terapêutico.

Durante a escrita deste trabalho podemos esclarecer que o psicólogo no


hospital conduz o tratamento de forma que o paciente possa simbolizar aquilo que é
da sua dor diante da doença. O único que pode trabalhar com a palavra e a escuta
de forma terapêutica é o psicólogo. Esta é a sua intervenção neste ambiente de
trabalho.

Sendo assim, percebe-se que o objetivo do profissional de psicologia é


reposicionar o sujeito diante da sua doença para que consiga compreender sobre
aquilo que se passa com o seu corpo. Diante de todas as questões apresentadas e
questionadas durante a presente pesquisa, o que se destaca é que o psicólogo
hospitalar não deixa as questões do sujeito de lado, pois trabalha com tudo aquilo
que envolve o paciente e o seu adoecimento, ou seja, a parte psíquica e aquilo que
se manifesta no seu corpo.
40

REFERÊNCIAS

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Tradução Priscila Viana de Siqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. (Ed.
Especial).

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologia: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. reform. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 23.

DRÜGG, Angela Maria Schneider; FREIRE, Kenia Spolti; CAMPOS, Iris Fátima
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ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Tradução Vera Ribeiro, Lucy


Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p.105,174,375,471, 645-646, 659. 714-715,
742-743, 766-767.

FREUD, Sigmund. Considerações atuais sobre a guerra e a morte. Obras completas


vol. 12. Introdução ao Narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros textos [1914-
1916]. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Editora Companhia das Letras,
1915. p. 156-184.

MANNONI, Maud. O nomeável e o inominável: a última palavra da vida. Tradução


Dulce Duque Estrada. Revisão e apresentação Betty Bernardo Fucks. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.

NASIO, J.-D. A dor de amar. Tradução André Telles e Lucy Magalhães. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

OLIVEIRA, Tereza Marques de. O psicanalista diante da morte: intervenção


psicoterapêutica na preparação para a morte e elaboração do luto. São Paulo:
Editora Mackenzie, 2001.

ROSS, Elisabeth Kübler. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para
ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos, e aos seus próprios parentes. Tradução
Paulo Menezes. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. São


Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

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