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4ºº COLÓQUIO MARX E EMGELS

Proposta de Comunicação

Grupo Temático MARCISMO E CIÊNCIAS HUMANAS

Título: A CRÍTICA GRAMSCIANA AO REVISIONISMO DE MARX


NA LEITURA DO ENSAIO POPULAR DE BUKHARIN

Autor: Dra. Anita Helena Schlesener - Profa. de Ética e Filosofia Política da UFPR
(aposentada) e Profa. do Mestrado em Educação da UTP.

Resumo:

O objetivo desse trabalho é analisar aspectos da teoria política de Antonio Gramsci


contida no Caderno 11 e examinar a concepção de materialismo histórico na crítica ao livro
de Bukharin. - A Teoria do Materialismo Histórico – Manual Popular de Sociologia
Marxista. Publicado pela primeira vez em 1921, o Manual tornou-se um texto muito
utilizado na formação dos trabalhadores na Itália, transformando-se numa fonte de
divulgação do marxismo no país. A crítica de Gramsci é perpassada de ponta a ponta pelo
esforço em esclarecer a relação entre filosofia, política e história, fato que se deve
precisamente à necessidade de enfrentar, no contexto da política italiana, tanto as
interpretações economicistas (Loria e outros) quanto as vertentes idealistas (Croce, Gentile)
as quais mutilavam a filosofia da praxis.
Para entender o significado de tal crítica é necessário ter em conta que o caderno
monográfico 11 foi escrito no momento em que Bukharin tinha ainda um papel relevante na
política soviética e representava a linha de interpretação teórica dos dirigentes russos.
Também coincide com o período em que Gramsci redigiu o Caderno 10, dedicado à crítica
de Croce, ou seja, ambos são a expressão de duas polêmicas em frentes opostas que
2

visavam explicitar o sentido da dialética e do materialismo histórico no contexto da


filosofia da praxis. No bojo das polêmicas com Croce e Bukharin, Gramsci combateu as
duas grandes revisões do marxismo: ressaltou tanto os problemas da assimilação de Marx
pela filosofia burguesa quanto os limites decorrentes das interpretações que prevaleciam no
âmbito da política marxista da década de 30, particularmente na Itália onde o pensamento
socialista se mesclava com uma determinada sociologia positivista que Gramsci não cessou
de combater.
A partir das circunstâncias históricas em que foi publicado, o texto de Antonio
Gramsci foi interpretado no confronto com a cultura croceana. Palmiro Togliatti, então
dirigente do PCI e depositário da herança literária e política que Gramsci legou ao Partido,
tornou-se também o primeiro intérprete dos escritos carcerários, buscando na teoria política
e na figura de Gramsci elementos para a elaboração de uma história do partido. Nesse
esforço, fez da crítica à filosofia de Croce “o coroamento de todas as pesquisas conduzidas
por Gramsci nos anos do cárcere”. 1 Essa interpretação norteou as leituras de Gramsci por
um longo período da história, sendo revista por leituras mais recentes no sentido da
compreensão do Caderno sobre Croce no contexto mais amplo de crítica ao duplo
revisionismo de Marx.
Tais leituras salientaram ragmentos dos Cadernos do Cárcere que mostram que, ante
a política da Internacional Comunista, Gramsci tentou manter posições que, conforme as
circunstâncias históricas, foram corajosas e autônomas: havia aspectos básicos da revolução
bolchevique com os quais Gramsci concordava (e que se referiam à política de Lenin) e
outros, que criticava com firmeza; considerava alguns aspectos fundamentais para a
realização do projeto socialista e entendia que a ausência ou mudança desses pontos
poderia levar ao fracasso da revolução. A sua crítica se fez mais radical entre 1930-1934,
momento em que se pode identificar um processo de revolução passiva que redimensionou
o projeto político soviético. A crítica ao Manual Popular de Bukharin apresenta-se como
uma rigorosa demonstração dos limites das posições mecanicistas e dogmáticas que
estariam presentes tanto na base da política soviética quanto na postura de determinados
intelectuais da social-democracia italiana.

1
TOGLIATTI, Palmiro. Prefazione. In: GRAMSCI, A. Il Materialismo Storico e la
filosofia di Benedetto Croce. Torino : Einaudi, 1949.
3

A crítica gramsciana pode ainda ser lida como o desdobramento de uma postura
política já presente nos escritos pré-carcerários, no sentido de concretizar uma atuação
partidária pautada por uma dialética efetiva, ou seja, uma política em que os antagonismos
pudessem se manifestar num equilíbrio de forças contrastantes, no sentido de construir um
consenso ativo e operante. Para tanto, era preciso esclarecer que o determinismo inviabiliza
qualquer ação efetiva das massas e as reduz à passividade ante a política soviética, era o
modo de Gramsci colocar-se em situação de distanciamento em relação ao stalinismo; na
política italiana, era a forma de enfrentar as interpretações que orientavam a política
socialista e tornavam difícil o processo de organização política das classes trabalhadoras.
A retomada da interpretação de conceitos fundamentais para a compreensão do
materialismo histórico completa-se no objetivo básico do trabalho gramsciano, que é
restabelecer o significado da dialética marxista e esclarecer o sentido da filosofia da praxis
como “uma filosofia integral e original que inicia uma nova fase na história e no
desenvolvimento mundial do pensamento enquanto supera (e, superando, integra em si os
seus elementos vitais) tanto o idealismo quanto o materialismo tradicionais, expressões das
velhas sociedades. Se a filosofia da praxis não é pensada senão como sendo subordinada a
uma outra filosofia, é impossível conceber a nova dialética na qual aquela superação se
efetua e expressa”. 2
Ao realizar tal crítica, Gramsci parece mostrar a ferida aberta pelo stalinismo no
corpo do movimento revolucionário: a “redução da filosofia da praxis a uma sociologia
representou a cristalização da tendência vulgar, já criticada por Engels (cartas publicadas
no Sozial Akademiker) e que consiste em reduzir uma concepção de mundo a um
formulário mecânico, que dá a impressão de poder colocar toda a história no bolso”. 3 Esta
referência é endereçada diretamente ao stalinismo em uma carta escrita ao filho Délio, na
qual Gramsci manifesta-se a propósito do ensino escolar na União Soviética, sugerindo que
alguns professores tratam a teoria de forma dogmática, dando a impressão de carregar toda
a história no bolso. 4

2
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere (Edizione critica dell Istituto Gramsci, a cura
di Valentino Gerratana). 2a. ed., Torino : Einaudi, 1977, p. 1425.
3
Q. p. 1428, p.1445 e p.1418.
4
GRAMSCI, A. Cartas do Cárcere, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, p. 375.
4

A citação de Engels em vários momentos dos Cadernos, retomadono contexto do


embate contra o materialismo mecanicista que, conforme leituras mais comuns parece uma
derivação do seu pensamento, mostra-nos a dimensão da crítica gramsciana no sentido de
evidenciar o fascínio das ciências naturais e a redução do marxismo a seus métodos, atitude
que produziu formas bizarras de interpretação da realidade social e humana que
comprometeram, no curso da história, a própria definição de filosofia da praxis. Gramsci
acentua que, além das dificuldades inerentes ao estudo de uma teoria não sistemática e
indissoluvelmente entrelaçada com a atividade prática, não se podia “subestimar a
contribuição de Engels”, mas também “não era necessário identificar Engels com Marx e
nem pensar que tudo o que Engels atribui a Marx fosse autêntico em sentido absoluto”, fato
que, muitas vezes, levou Engels a ser considerado numa “posição subalterna em confronto
com Marx”. 5
Gramsci procurou mostrar como Engels se tornou um dos pontos de sustentação do
marxismo-leninismo, principalmente com a obra sistemática O Anti-Düring, assumido
como fonte autêntica de interpretação de Marx. Em Engels estão as origens de algumas
interpretações do materialismo que aparecem no Ensaio Popular, escrito por Bukharin.
Um exemplo é a idéia de objetividade do mundo exterior, bem como as questões a respeito
da cientificidade e da ideologia. Para Gramsci, a noção de ciência natural e seu papel no
contexto da ordem social, contida no Ensaio, deveria ser precisada. Salientando a
necessidade de considerar as questões de um ponto de vista histórico em que a objetividade
só pode ser entendida na sua relação com a subjetividade, Gramsci acentua que, muitas
vezes, se “esqueceu que Engels, embora tenha trabalhado por muito tempo, deixou escassos
materiais sobre a obra prometida para demonstrar a dialética lei cósmica e se exagera ao
afirmar a identidade de pensamento entre os dois fundadores da filosofia da práxis”. 6
No curso da crítica podemos identificar a preocupação em explicitar a noção de
filosofia que permeia o texto de Bukharin, bem como a oposição entre o pensamento
original das massas populares e a filosofia dos intelectuais e da religião do alto clero.
Embora a maioria das pessoas desconheça os grandes sistemas filosóficos, eles exercem
influência sobre a sua forma de pensar “como força política externa, como elemento de

5
Q., p. 420.
6
Q., p. 1449.
5

força coesiva das classes dirigentes, como elemento de subordinação a uma hegemonia
exterior, que limita negativamente o pensamento das massas populares”. É na medida em
que são ignorados enquanto sistemas bem ordenados que tais filosofias possuem uma
eficácia direta no modo de pensar e de agir das multidões. O Ensaio Popular parte da
crítica à filosofia sistemática quando deveria partir da crítica ao senso comum e, dessa
forma, confirma seus pressupostos e preconceitos. 7
Ao acentuar a concepção da filosofia da praxis como historicidade, como interrelação
entre filosofia, política e história, os fragmentos gramscianos se encaminham no sentido de
demonstrar que a atitude do autor do ensaio é dogmática e, por isso, se apresenta como uma
forma ingênua de metafísica, o que se identifica já na colocação do problema, no esforço
em “construir uma sociologia sistemática da filosofia da praxis”.8 Ora, a historicidade
dessa filosofia torna paradoxal qualquer tentativa de sistematização, assim como a sua
proposição em forma de manual de orientação política, que é precisamente o objetivo do
escrito de Bukharin. “Nos mais recentes desenvolvimentos da filosofia da praxis o
aprofundamento da unidade” e da relação entre teoria e prática está em fase inicial:
“permanecem resíduos de mecanicismo”; a teoria é entendida como “’complemento’,
‘acessório’ da prática, a teoria é serva da prática”. Tal processo transforma
quantitativamente o contexto geral da estrutura e mantém a reflexão política no âmbito
econômico-corporativo. 9
Esta situação, no texto de Bukharin, se apresenta na aplicação de determinadas
categorias aristotélicas como causalidade, uniformidade, regularidade, normalidade, que
substituem a dialética histórica. A relação causal implica uma anterioridade de um
elemento sobre o outro e não se pode colocar a superação ou a inversão da práxis. A
filosofia da praxis é reduzida, assim, a um conjunto de leis fixas, regulares que, de certo
modo, alcançam uma eficácia prática no sentido do direcionamento político imediato, mas
empobrecem e descaracterizam a grande contribuição da teoria de Marx quanto à
compreensão do processo histórico. 10

7
Q., p. 1396-7.
8
Q., p.1402.
9
Q., p. 1386-7.
10
Q., p. 1403
6

Essa leitura completa-se com reflexões do Caderno 13 sobre Análise de situações:


relações de força, no qual são consideradas as forçcas que atuam na história de um
determinado período e que se definem nas relações entre estrutura e superestrutura. Pode-se
notar nesse fragmento dois elementos que distinguem a leitura de Gramsci: a preocupação
em esclarecer o que se deve entender por dialética e o novo sentido atribuído aos dois
princípios de Marx apresentados no Prefácio à Crítica da economia política, aqui redigidos
inversamente e substituindo os conceitos “ condições materiais” e “forças produtivas”, que
poderiam gerar uma interpretação determinista, por expressões como “condições
necessárias e suficientes” e “formas de vida”, noções que repetem a uma interrelação entre
econômico, político e cultural no âmbito das relações históricas. 11
Nossas referências são artigos da Revista Crítica Marxista publicadas na década de
oitenta, escritos de Gianni Francioni, 12 que compara fragmentos do Caderno 4 com o
Caderno 11 para mostrar que a dupla revisão do marxismo apontada por Gramsci ocorreu,
por um lado, pela combinação do pensamento de Marx com “algumas correntes idealistas”
e de outro, pelo viéz dos “marxistas ‘oficiais’ preocupados em encontrar uma ‘filosofia’
que contivesse o marxismo”. Eles a encontraram “nas derivações modernas do
materialismo filosófico vulgar e também em correntes idealistas como o kantismo”. 13
Outras leituras importantes para a elaboração desse trabalho foram as de Fiori 14 ,
Spriano 15 , Vacca, 16 Paggi 17 e de Benvenutti e Pons, 18 além de Togliatti.
A vertente reducionista do pensamento de Marx que, na leitura gramsciana,
desdobra-se em “correntes idealistas como o kantismo”, mereceram a atenção especial de

11
Q. 13, p. 1590.
12
FRANCIONI, Gianni. Gramsci tra Croce e Bucharin: sulla Strutura dei Quaderni 10 e 11.
In: Critica Marxista, 1987, n. 6, p. 19-45. Também ______. Interpretazione di Gramsci.
Pavia (Ensaio publicado sem data pelo Instituto de Filosofia de Pavia) Arquivo da
Biblioteca da Fundação Feltrinelli, Milano.
13
GRAMSCI, Q., p. 421-22.
14
FIORI, G., Gramsci, Togliatti, Stalin. Bari-Roma: Laterza, 1991.
15
SPRIANO, P., Gramsci in carcere e il partito. Roma : L' Unità, 1988. Também:
SPRIANO, P., L’ultima ricerca di Paolo Spriano (i documenti segreti dagli archivi
dell’Urss sui tentativi per salvare Antonio Gramsci). Roma : L’Unità, 1988.
16
VACCA, G., L’Urss staliniana nell ‘analisi dei “Quaderni del carcere”.
17
PAGGI, L.,Le strategie del potere in Gramsci – Tra fascismo e socialismoin un
solo paese. Roma : Riuniti, 1984..
7

intelectuais principalmente na consideração da importância e influ|ência do pensamento de


Croce na formação de Gramsci. Por outro lado, a leitura da crítica a Bukharin esteve
voltada ao reconhecimento dos limites da política socialista italiana. Vislumbrar seus elos
com a situação soviética permite elucidar o texto visto que a crítica ao stalinismo assume
novas proporções e maior abrangência no texto gramsciano à medida que se procura a
relação entre os escritos contra Bukharin e as várias notas sobre economia que encontramos
dispersas no corpo dos Cadernos, passando por fragmentos que tratam do Americanismo,
da formação do Estado moderno e também da política fascista liderada por Mussolini. Tais
fragmentos corroboram a perspectiva de Francioni sobre a possibilidade de se encontrar um
“quase-livro” que poderia ser denominado “Anti-Bukharin” e que deu lugar, na leitura de
Togliatti, a um “Anti-Croce”. A leitura de Togliatti circunscreve-se na nova situação
histórica de pós-guerra e na inserção do PCI no processo de construção da República
italiana, momento em que era mais importante o contraponto com a filosofia de um grande
intelectual italiano ‘tradicional’ como Benedetto Croce que a perspectiva política e
econômica delineada na crítica a Bukharin. 19

18
BENVENUTI, F. e PONS, S., L’Unione Sovietica nei Quaderni del carcere. In: VV. AA.
Gramsci e il Novecento. Roma : Carocci, 1999, p. 93-124.
19
FRANCIONI, Gianni. In: Critica Marxista, 1987, n. 6, p. 45.

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