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MATERIAL DIDÁTICO
TRANSTORNOS GLOBAIS DO
DESENVOLVIMENTO – TGD
Impressão
e
Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
comportamentos voltados para o ambiente exterior, tais como: agredir, faltar com a
verdade, roubar, gritar, falar ininterruptamente, locomover-se o tempo todo, entre
outros.
O grau de severidade desses comportamentos vai depender de variáveis,
tais como sua frequência, sua intensidade e sua duração (BRASIL, 2002, p. 8).
Bom, esperamos contribuir com seu processo de formação continuada e que
os conceitos e reflexões propostos ao longo da apostila sejam úteis no contexto de
sua ação pedagógica, que sirvam de estímulo para novos estudos e novas
realizações.
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se
fazem necessárias:
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados.
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo
1
original , pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância.
3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento
crítico.
4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que
1
Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou
similares.
5
2
Segundo a CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS, mais conhecida como CID-10,
ainda prevalece a nomenclatura Transtornos Globais do Desenvolvimento – TGD, mas ressalte-se
que está para entrar em vigor uma nova revisão em 2017/18.
No site da Organização Mundial de Saúde (OMS) estão todas as atualizações em língua inglesa
http://www.who.int/classifications/icd/icd10updates/en/
No site: http://apps.who.int/classifications/icd11/browse/l-m/en podemos encontrar (também em
inglês), o andamento da revisão da CID-11 que está sendo preparada para submissão à Assembleia
Mundial de Saúde em 2018.
3
No MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS que tem a pouco
tempo a versão 5, para os TGDs agora existe apenas um diagnóstico chamado de transtornos do
espectro do autismo – TEA, que engloba o que antes eram consideradas quatro doenças diferentes:
autismo, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância (ou síndrome de Heller) e
transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação, só que ainda há controvérsias. Em
inglês a sigla seria ASD – Autism Spectrum Disorder.
7
As mudanças são muitas e nessa nova edição, por exemplo, a comunicação e os domínios de
interação social serão combinadas em uma só, intitulado “déficits sociais / comunicação”.
8
que buscam estudar os critérios para potenciais futuras revisões e para auxiliar no
desenvolvimento de medicamentos e outras intervenções.
O DSM tem sido periodicamente analisado e revisto desde que foi publicado
pela primeira vez em 1952. A versão anterior do DSM foi concluída há quase duas
décadas, desde essa altura, tem havido uma riqueza de novas pesquisas e
conhecimentos sobre os transtornos mentais.
Muitas das mudanças no DSM-5 foram feitas para melhor caracterizar os
sintomas e comportamentos dos grupos de pessoas que atualmente procuram ajuda
clínica, mas cujos sintomas não são bem definidos pelo DSM-IV (o que significa que
eles são menos propensos a ter acesso ao tratamento).
Ressalte-se que o DSM-5 é um manual para a avaliação e diagnóstico de
transtornos mentais e não inclui informações ou orientações para o tratamento de
qualquer doença. Dito isto, determinar um diagnóstico preciso é o primeiro passo
para ser capaz de tratar adequadamente qualquer condição médica, e transtornos
mentais não são exceção. Ele também será útil para medir a eficácia do tratamento,
como avaliações dimensionais, e irá auxiliar os médicos na avaliação de mudanças
nos níveis de gravidade como uma resposta ao tratamento.
Ela inclui gritar, falar mal, usar linguagem abusiva, ameaçar, fazer
declarações autodestrutivas, bem como bater, beliscar, puxar os cabelos, restringir
fisicamente, esmurrar, dentre outros comportamentos.
Todas as pessoas podem, em algum momento ou fase de sua vida,
apresentar comportamentos de natureza agressiva, seja em sua verbalização, seja
fisicamente. Entretanto, esses comportamentos são esporádicos, focais e não
constituem um padrão que se estende no decorrer de um período mais longo de
tempo.
A agressividade passa a ser considerada conduta típica quando sua
intensidade, frequência e duração ultrapassam o esporádico, focal e passageiro. Ela
pode variar desde manifestações negativistas, mal humoradas, até atos de violência,
brutalidade, destruição, causando danos físicos a si próprio e/ou a outras pessoas
(STAINBACK; STAINBACK, 1999).
4
De acordo com a CID-10.
19
reconhecimento mais frequente, bem como das diferenças nos critérios diagnósticos
entre o DSM-III e o DSM-IV-R (SCHWARTZMAN, 2003; GADIA, et al., 2004).
Os TGD são mais comuns no sexo masculino e são acompanhados, em
cerca de 70% dos casos, de graus variados de deficiência mental. São comuns
comorbidades com inúmeras outras condições médicas e poderíamos citar, como
exemplo, a síndrome do X-frágil, a síndrome fetal alcoólica, a síndrome da rubéola
congênita, os prejuízos sensoriais (visuais e/ou auditivos), dentre outros.
Os TGD de uma maneira geral e o autismo em particular causam grande
impacto familiar e social. Muitas crianças e jovens com transtorno dessa natureza
são meramente reconhecidos como deficientes mentais, hiperativos ou com
distúrbios do comportamento.
Quanto ao aspecto comportamental, a criança com TGD apresenta
intolerância frente a alterações e mudanças de rotina, expressando-se com reações
de oposição. Seus comportamentos e interesses são limitados, tendendo a ser
repetitivos e estereotipados (MERCADANTE et al., 2006).
O custo social e o sofrimento determinado pelas dificuldades de adaptação
dessa população justificam um investimento de nossa sociedade para uma maior
compreensão desses estados e para o estabelecimento de práticas racionais de
diagnóstico e de intervenção. A avaliação sistematizada com o diagnóstico preciso e
o reconhecimento das habilidades existentes está na base das intervenções
possíveis (SCHWARTZMAN, 2003; MERCADANTE et al., 2006).
Veremos a partir de agora, etiologia, patologia, genética, epidemiologia,
sintomas, diagnóstico, tratamento, intervenções terapêuticas, enfim, o que um
profissional da área da educação precisa se inteirar para proceder ao
encaminhamento legal quando se depara na escola com algum caso típico, afinal de
contas, ele é um dos primeiros profissionais a ter contato com os portadores dessas
síndromes com um olhar não filial, ou seja, muitos pais não têm conhecimento o
suficiente para percepção e muitas vezes não aceitam tais transtornos, portanto, é
uma grande responsabilidade do educador proceder com ética, discernimento e
comprometimento diante da realidade que se apresentar a ele.
20
3.2 Autismo
Evolução, história e definição
A expressão autismo foi utilizada pela primeira vez por Bleuler, em 1911, para
designar a perda do contato com a realidade, o que acarretava uma grande
dificuldade ou impossibilidade de comunicação (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004).
Kanner, em 1943, usou a mesma expressão para descrever 11 crianças que
tinham em comum comportamento bastante original. Sugeriu que se tratava de uma
inabilidade inata para estabelecer contato afetivo e interpessoal e que era uma
síndrome bastante rara, mas, provavelmente, mais frequente do que o esperado,
pelo pequeno número de casos diagnosticados.
Nesses 11 primeiros casos, havia uma “incapacidade de se relacionar” de
formas usuais com as pessoas desde o início da vida. Kanner também observou
respostas incomuns ao ambiente, que incluíam maneirismos motores
estereotipados, resistência à mudança ou insistência na monotonia, bem como
aspectos não usuais das habilidades de comunicação da criança, tais como a
inversão dos pronomes e a tendência ao eco na linguagem (ecolalia) (GADIA;
TUCHMAN; ROTTA, 2004).
Kanner foi cuidadoso ao fornecer um contexto de desenvolvimento para suas
observações, enfatizando a predominância dos déficits de relacionamento social,
assim como dos comportamentos incomuns na definição da condição. Durante os
anos 50 e 60 do século passado, houve muita confusão sobre a natureza do autismo
e sua etiologia, e a crença mais comum era a de que o autismo era causado por pais
não emocionalmente responsivos a seus filhos (a hipótese da “mãe geladeira”). Na
maior parte do mundo, tais noções foram abandonadas, ainda que possam ser
encontradas em partes da Europa e da América Latina. No início dos anos 60, um
crescente corpo de evidências começou a acumular-se, sugerindo que o autismo era
um transtorno cerebral presente desde a infância e encontrado em todos os países e
grupos socioeconômicos e étnico-raciais investigados (KLIN, 2006).
Um marco na classificação desse transtorno ocorreu em 1978, quando
Michael Rutter propôs uma definição do autismo com base em quatro critérios:
1. Atraso e desvio sociais não só como função de retardo mental.
2. Problemas de comunicação, novamente, não só em função de retardo mental
associado.
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Classificação
Autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento
complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e
graus variados de severidade. A apresentação fenotípica do autismo pode ser
influenciada por fatores associados que não necessariamente sejam parte das
características principais que definem esse distúrbio. Um fator muito importante é a
habilidade cognitiva (GADIA, TUCHMAN E ROTTA, 2004).
O autismo está classificado na subcategoria dos transtornos invasivos do
desenvolvimento e inclui prejuízos na interação social, na comunicação, padrões
restritos e repetitivos de comportamento, interesses, atividades e início antes dos 3
anos de idade (ELIAS e ASSUMPÇÃO, 2006).
O autismo é classificado pelo DSM-IV-TR (Associação Psiquiátrica Americana
[APA], 2002) como um transtorno global do desenvolvimento, que se caracteriza
pelo desenvolvimento acentuadamente atípico na interação social e comunicação e
pela presença de um repertório marcadamente restrito de atividades e interesses.
Os comprometimentos nessas áreas estão presentes antes dos três anos de idade,
quando os pais, em geral, já percebem e preocupam-se com as limitações
observadas, cada vez mais aparentes ao longo do desenvolvimento. Desse modo,
observa-se uma dificuldade qualitativa de relacionar-se e comunicar-se de maneira
usual com as pessoas, desde cedo na vida (BOSA; CALLIAS, 2000).
Epidemiologia
Segundo Klin (2006), o primeiro estudo epidemiológico sobre o autismo foi
realizado por Victor Lotter, em 1966. Nesse estudo, ele relatou um índice de
24
Características
As manifestações comportamentais que definem o autismo incluem déficits
qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento
repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. A
grande variabilidade no grau de habilidades sociais e de comunicação e nos padrões
de comportamento que ocorrem em autistas tornou mais apropriado o uso do termo
transtornos invasivos do desenvolvimento (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004).
A partir da descrição de Kanner, inúmeros aportes quanto à epidemiologia,
classificação e reconhecimento do autismo têm contribuído de forma significativa
para a compreensão dos aspectos biológicos dos TID/TGD.
As dificuldades na interação social em TID/TGD podem manifestar-se como
isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em
participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações
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Autismo infantil
O autismo infantil é um transtorno global do desenvolvimento caracterizado
por:
a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três
anos;
b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos
três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento
focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de
numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo, fobias, perturbações
de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (autoagressividade).
O autismo infantil é uma severa desordem da personalidade, que se
manifesta na infância precoce por um anormal desenvolvimento de linguagem e
relações com os outros (COSTA E NUNESMAIA, 1998).
Autismo atípico
O autismo atípico é um transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo
após a idade de três anos ou que não responde a todos os três grupos de critérios
diagnósticos do autismo infantil. Esta categoria deve ser utilizada para classificar um
desenvolvimento anormal ou alterado, aparecendo após a idade de três anos, e não
apresentando manifestações patológicas suficientes em um ou dois dos três
domínios psicopatológicos (interações sociais recíprocas, comunicação,
comportamentos limitados, estereotipados ou repetitivos) implicados no autismo
infantil; existem sempre anomalias características em um ou em vários destes
domínios. O autismo atípico ocorre habitualmente em crianças que apresentam um
retardo mental profundo ou um transtorno específico grave do desenvolvimento de
linguagem do tipo receptivo (TAFURI, 2006).
Tipo encapsulamento
A aparência externa destes autistas não difere das crianças normais. Corpo
bem formado, rostos agradáveis e bonitos, pele translúcida, corpo com movimentos
rápidos e cheios de harmonia. Fascinadas por mecanismos que não se atrevem a
tocar, preferem brinquedos compactos, duros, rejeitam objetos macios, caprichosos
com a comida, mudas ou silenciosas. Observadas pedagogicamente são pessoas
que não têm interesse em contatos com o mundo exterior (TAFURI, 2006).
Tipo confusional
Define as crianças psicóticas muito próximas dos aspectos da esquizofrenia
dos adultos.
São desajeitadas e sem coordenação, parecem desnorteadas e confusas.
Não olham diretamente para as pessoas, mas não têm a timidez excessiva e o
retraimento das encapsuladas (TAFURI, 2006).
Diagnóstico
Segundo Bordin (2006), não são todos os pais que percebem tão cedo que
seus filhos se apresentam com autismo, muitos não se dão conta disso. Alguns se
relacionam com os filhos de uma maneira diferente, outros não têm vivência com
criança pequena e julgam esses comportamentos como naturais. Então, a mãe (e/ou
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o pai) que vai até o médico tão precocemente se coloca diante desses fatos de uma
forma diferente. Muitas dessas mães sabem alguma coisa sobre autismo ou sobre
surdez infantil e por isso temem algo mais grave. Não raramente, são os próprios
pais que levantam a hipótese de autismo.
Estudos como o de Geissmann e Geissmann (1993), citados por Paravadini
(2002), preocupam-se em conhecer algumas das condutas dos profissionais da
Medicina relacionadas ao diagnóstico do autismo. São elas: tendência a minimizar
os sintomas, dando segurança aos pais e aconselhando-os a esperar; solicitação,
cada vez mais, de realização de exames mais completos e, por fim, suposição, feita
aos pais, de que a criança apresenta deficiência mental e que permanecerá para
sempre assim, sem esperanças de melhoras.
Há, também, um receio de se fazer um diagnóstico que posteriormente não
se confirme, criando uma situação absolutamente desfavorável tanto para a criança
como para a família. Esse risco pode existir quando ocorre uma supervalorização
dos indicadores da patologia, somado à desvalorização do contexto familiar
(BORDIN, 2006).
O Instituto de Salud Carlos III, da Espanha (2004), demonstrando essa
preocupação, juntamente com entidades que cuidam de autistas, faz uma
investigação epidemiológica do autismo, tentando alcançar uma visão integradora na
realização do diagnóstico, para reduzir os falsos positivos e aumentar os verdadeiros
(BORDIN, 2006).
Alguns trabalhos estão sendo realizados com os médicos da primeira
infância (pediatra, neurologista infantil, entre outros), objetivando aproximar e
familiarizar mais o olhar médico dos sinais precoces e indicadores de autismo
infantil. Um exemplo desse tipo de investigação é o da psicanalista Marie Christine
Laznik, na França (BORDIN, 2006).
Seguindo na mesma direção, o psicanalista brasileiro Paravidini (2002)
realizou, na região de Uberlândia (MG), a viabilização de dispositivos técnicos que
possibilitassem o diagnóstico precoce de sinais de risco de autismo infantil em
crianças com menos de três anos de idade conjugado com o serviço de puericultura.
Outras classificações também ampliam essa investigação clínica como, por
exemplo, o CHAT (Checklist de autismo com uma escala investigativa em bebês a
partir de 18 meses de idade) idealizado por Baron-Cohen, Allen e Gillberg, em 1992
(BORDIN, 2006).
31
A. Pelo menos seis dos 12 critérios abaixo, sendo dois de (1) e pelo menos um
de (2) e (3).
1) Déficits qualitativos na interação social, manifestados por:
a. dificuldades marcadas no uso de comunicação não verbal;
b. falhas do desenvolvimento de relações interpessoais apropriadas no nível
de desenvolvimento;
c. falha em procurar, espontaneamente, compartir interesses ou atividades
prazerosas com outros;
d. falta de reciprocidade social ou emocional.
B. Atrasos ou função anormal em pelo menos uma das áreas acima presente
antes dos 3 anos de idade.
C. Esse distúrbio não pode ser melhor explicado por um diagnóstico de
síndrome de Rett ou transtorno desintegrativo da infância.
Fonte: GADIA, TUCHMAN e RUTTA (2004).
Esses critérios têm evoluído com o passar dos anos, até 1980, autismo não
era considerado como uma entidade separada da esquizofrenia. Em 1987, o DSM-
III-R instituiu critérios diagnósticos com uma perspectiva de desenvolvimento, e
foram estabelecidos dois diagnósticos, encampados sob o termo transtorno invasivo
(ou global) do desenvolvimento: (1) autismo; e (2) transtorno invasivo (ou global) do
desenvolvimento não especificado (TID-NE). Na prática, os TID ou transtornos do
espectro autista (TEA) têm sido usados como categorias diagnósticas em indivíduos
com déficits na interação social, déficits em linguagem/comunicação e padrões
repetitivos do comportamento. Os critérios do DSM-IV para autismo têm um grau
elevado de especificidade e sensibilidade em grupos de diversas faixas etárias e
entre indivíduos com habilidades cognitivas e de linguagem distintas.
Não obstante, há uma necessidade de identificação de subgrupos
homogêneos de indivíduos autistas tanto para finalidades práticas quanto de
pesquisa. As subdivisões estabelecidas pelo DSM-IV, encampadas sob o termo
mais geral (TID), são uma tentativa de atender a necessidades científicas de
pesquisa, bem como permitir o desenvolvimento de serviços que supram as
necessidades de indivíduos com autismo e distúrbios relacionados (Tabelas 2 e 3).
Tabela 2 - Subgrupos do DSM-IV para transtornos invasivos de Desenvolvimento
Autismo.
Síndrome de Rett.
Transtorno desintegrativo da infância.
Transtorno invasivo de desenvolvimento não específico.
Síndrome de Asperger.
35
A. Déficits qualitativos na interação social, manifestados por, pelo menos, dois dos
seguintes:
1) Déficit marcado no uso de comportamentos não verbais, tais como contato visual,
expressão facial, postura corporal e gestos para regular a interação social.
2) Incapacidade de estabelecer relações com seus pares de acordo com o seu nível
de desenvolvimento.
3) Falta de um desejo espontâneo de compartilhar situações agradáveis ou
interesses (como, por exemplo, mostrando ou apontando para objetos de interesse).
4) Falta de reciprocidade emocional ou social.
para identificação, por exemplo, das faces, das vozes, das imagens visuais, da
musicalidade (LURIA, 1983).
Muitas vezes, o autismo é confundido com outras síndromes ou com outros
transtornos globais do desenvolvimento, pelo fato de não ser diagnosticado através
de exames laboratoriais ou de imagem, por não haver marcador biológico que o
caracterize, nem necessariamente aspectos sindrômicos morfológicos específicos;
seu processo de reconhecimento é dificultado, o que posterga a sua identificação.
Segundo Gauderer (1997), um diagnóstico preciso deve ser realizado, por
um profissional qualificado, baseado no comportamento, anamnese e observação
clínica do indivíduo.
O autismo pode ocorrer isoladamente, ser secundário ou apresentar
condições associadas, razão pela qual é extremamente importante a identificação de
co-morbidades bioquímicas, genéticas, neurológicas, psiquiátricas, entre outras.
Condições que podem estar associadas ao autismo: acessos de raiva;
agitação; agressividade; autoagressão; autolesão (bater a cabeça, morder os dedos,
as mãos ou os pulsos); ausência de medo em resposta a perigos reais; catatonia;
complicações pré, peri e pós-natais; comportamentos autodestrutivos; déficits de
atenção; déficits auditivos; déficits na percepção e controle motor; déficits visuais;
epilepsia (Síndrome de West); esquizofrenia; hidrocefalia hiperatividade;
impulsividade; irritabilidade; macrocefalia; microcefalia; mutismo seletivo; paralisia
cerebral; respostas alteradas a estímulos sensoriais (alto limiar doloroso,
hipersensibilidade aos sons ou ao toque, reações exageradas à luz ou a odores,
fascinação com certos estímulos); retardo mental; temor excessivo em resposta a
objetos inofensivos; transtornos de alimentação (limitação a comer poucos
alimentos); transtornos de ansiedade; transtornos de linguagem; transtorno de
movimento estereotipado; transtornos de tique; transtornos do humor/afetivos
(risadinhas ou choro imotivados, uma aparente ausência de reação emocional);
transtornos do sono (despertares noturnos com balanço do corpo).
Síndromes cromossômicas ou genéticas: acidose láctica; albinismo
oculocutâneo; amaurose de leber; desordem marfan-like; distrofia muscular de
Duchenne; esclerose tuberosa fenilcetonúria; dalactosemia hipomelanose de Ito;
histidinemia; neurofibromatose tipo I; sequência de Moebius; síndrome de
Angelman; síndrome de Bourneville; síndrome da Cornélia de Lange; síndrome de
Down; síndrome fetal alcóolica; síndrome de Goldenhar; síndrome de Hurler;
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Exame
Os principais exames solicitados para o diagnóstico são:
1. Sorologias.
2. ECG – eletrocardiograma.
3. Avaliação oftalmológica.
4. Neuropsicológico.
5. Pesquisa do X-frágil/ Cariótipo.
6. RNM.
7. EEG – crianças autistas apresentam de 13 a 83% de
eletroencefalogramas (EEG) anormais. A variabilidade nas porcentagens entre
esses estudos provavelmente pode ser explicada pelos diferentes critérios usados
para o diagnóstico clínico de autismo, pelas patologias associadas e por métodos
distintos de obtenção e interpretação dos exames. EEGs de duração prolongada têm
uma probabilidade significativamente maior de identificar anormalidades do que
estudos de rotina.
8. Erros inatos do metabolismo/teste do pezinho.
9. Avaliação audiológica.
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Tratamento
O autismo é um comprometimento permanente e a maioria dos indivíduos
afetados por esta condição permanece incapaz de viver de forma independente, e
requer o apoio familiar ou da comunidade ou a institucionalização. No entanto, a
maioria das crianças com autismo apresenta melhora nos relacionamentos sociais,
na comunicação e nas habilidades de autocuidado quando crescem. Pensa-se em
vários fatores como preditores do curso e do desfecho de longo prazo,
particularmente a presença de alguma linguagem de comunicação ao redor dos
cinco ou seis anos, nível intelectual não verbal, gravidade da condição e a resposta
à intervenção educacional (KLIN, 2006).
Crianças mais jovens mais frequentemente apresentam uma falta “global” de
relacionamentos interpessoais, que costumava ser incluída em sistemas
diagnósticos mais antigos.
Ainda que algumas evidências de responsividade diferenciada aos pais
possa ser observada quando a criança ingressa na escola primária, os padrões de
interação social permanecem bastante desviados da normalidade. Apesar disso, os
ganhos em obediência e comunicação são conseguidos geralmente durante os anos
em que ela cursa a escola primária, especialmente se são feitas intervenções
estruturadas, individualizadas e intensivas. Durante a adolescência, algumas
crianças autistas podem apresentar deterioração comportamental; numa minoria
delas, o declínio nas habilidades de linguagem e sociais pode ser associado ao
início de um transtorno convulsivo (BOSA, 2006).
Vários estilos de interação podem ser observados, variando de arredio a
passivo e a excêntrico (crianças que realizam tentativas de iniciar o contato com os
demais, mas que o fazem de uma forma muito desajeitada ou rígida); esses estilos
estão relacionados ao nível de desenvolvimento. Sintomas depressivos e ansiosos
podem aparecer em adolescentes com grau mais elevado de funcionamento, que se
tornam dolorosamente conscientes de sua incapacidade de estabelecer amizades,
apesar de assim o desejarem, e que começam a sofrer do efeito cumulativo de anos
41
de contato frustrado com os demais, e de serem alvo da gozação dos colegas (KLIN,
2006).
Vários estudos sobre o desfecho no longo prazo sugerem que
aproximadamente dois terços das crianças autistas têm um desfecho pobre
(incapazes de viver independentemente) e que talvez somente um terço é capaz de
atingir algum grau de independência pessoal e de autossuficiência como adultos;
entre estes, a maioria pode ter um desfecho razoável (ganhos sociais, educacionais
ou vocacionais a despeito de dificuldades comportamentais e de outra ordem), ao
passo que uma minoria (cerca de um décimo de todos os indivíduos com autismo)
pode ter um bom desfecho (ter capacidade de exercer atividade profissional com
eficiência e ter vida independente) (FÁVERO; SANTOS, 2005).
No caso do autismo, segundo Klein e Slomkowski (1993, apud FÁVERO;
SANTOS, 2005), algumas medicações – tais como neurolépticos (haloperidol,
clorpromazina, tioridazina) – oferecem marcada melhora na agitação psicomotora e
nos comportamentos descontrolados de crianças autistas. Estas medicações não
revertem a falta de responsividade (sensibilidade) social e comunicação,
características-chave do autismo, mas podem facilitar a permanência dessas
crianças em casa sob os cuidados da família. A perspectiva de melhorar a qualidade
de vida destas crianças pode ser alcançada em muitas instâncias com o tratamento
conjunto dos pais e da criança.
Estudos de Fávero e Santos (2005) mostraram que sobre as medicações
usadas pelas crianças portadoras do transtorno autista, a presença ou ausência de
linguagem, irritabilidade, idade mental, tamanho da família e estresse familiar foram
consideradas por Konstantareas e cols. como variáveis que poderiam estar
relacionadas ao fato de os pais darem ou não medicamentos aos filhos portadores
do transtorno autista. Fatores como o estresse familiar, a capacidade de fala da
criança e a irritabilidade foram bons potenciais discriminadores para diferenciar a
opção dos pais pela medicação de seus filhos, mas não a gravidade da
sintomatologia. As variáveis que demonstraram maior poder preditivo para a opção
dos pais pela medicação relacionam-se à capacidade para manejar a criança com
transtorno autista. No exame do estresse parental como uma função da variedade
de características da criança, encontramos que a irritabilidade pôde predizer
estresse parental com maior probabilidade do que outras características, como a
gravidade dos sintomas de transtorno autista.
42
Intervenções terapêuticas
Estudos de Bosa (2006) inferem que o planejamento do tratamento deve ser
estruturado de acordo com as etapas de vida do paciente. Portanto, com crianças
pequenas, a prioridade deveria ser terapia da fala, da interação social/linguagem,
educação especial e suporte familiar. Já com adolescentes, os alvos seriam os
grupos de habilidades sociais, terapia ocupacional e sexualidade. Com adultos,
questões como as opções de moradia e tutela deveriam ser focadas. Infelizmente,
há poucas opções de moradia em nosso país – uma área que tem sido grandemente
negligenciada, causando preocupações para os pais.
Bosa (2006) também chama a atenção para a variedade de serviços
disponíveis, desde aqueles com abordagens individuais realizadas por profissionais
intensamente treinados em uma área específica, até aqueles compostos por clínicas
multidisciplinares. Ela enfatiza que a eficácia do tratamento depende da experiência
e do conhecimento dos profissionais sobre o autismo e, principalmente, de sua
habilidade de trabalhar em equipe e com a família. Uma das situações mais
estressantes para os pais, ao lidarem com os profissionais, é a controvérsia que
envolve o processo diagnóstico. Há autores como Lord; Rutter (2002, apud BOSA,
2006) que chamam a atenção para as contradições dentro da equipe, tanto em
relação ao diagnóstico em si quanto ao encaminhamento para tratamento. Esses
autores também salientam quatro alvos básicos de qualquer tratamento:
1) Estimular o desenvolvimento social e comunicativo.
2) Aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas.
3) Diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com o
acesso às oportunidades de experiências do cotidiano.
4) Ajudar as famílias a lidarem com o autismo.
Parece haver uma relação direta entre o tempo gasto em uma sala de aula
trabalhando em uma matéria escolar específica e a melhora naquela matéria. Essa
melhora é significativamente associada à inteligência verbal, ainda que o
desempenho esteja abaixo da idade cronológica da criança (BOSA, 2006).
Uma pergunta comum tem sido se uma criança autista deve frequentar uma
escola especial para crianças com autismo, que aborda dificuldades amplas de
aprendizado, ou ser integrada na escola tradicional. Até agora, não há uma resposta
final a esta pergunta, já que não há estudos comparativos metodologicamente bem
44
controlados em relação aos níveis de integração nesses sistemas. Parece que cada
caso deve ser tratado individualmente, focando nas necessidades e potencialidades
da criança.
É importante ter em mente as vantagens de se expor a criança com autismo
à convivência com aquelas sem comprometimento e de aprender com elas por meio
da imitação, mas também não esquecer o risco de que ela seja vítima da gozação
dos colegas. De toda forma, alguns estudos sugerem que, com educação
apropriada, mais crianças autistas são capazes de utilizar as habilidades intelectuais
que possuem para avançar em níveis acadêmicos.
5
De origem grega, a palavra epônimo significa “dar ou emprestar seu nome próprio a uma coisa,
pessoa, regime, corrente, invento, etc.”
45
Quadro clínico
A doença evolui de forma previsível, em estágios, que foram nomeados por
Hagberg e Witt-Engerström (1986 apud SCHWARTZMAN, 2003b) da seguinte
forma: o primeiro deles, denominado estagnação precoce, inicia-se entre seis e 18
meses e caracteriza-se por uma parada no desenvolvimento, desaceleração do
crescimento do perímetro craniano, diminuição da interação social com consequente
isolamento. Esse estágio tem a duração de alguns meses.
O segundo estágio, rapidamente destrutivo, inicia-se entre um e três anos de
idade e tem a duração de semanas ou meses. Uma rápida regressão psicomotora
domina o quadro, com a presença de choro imotivado e períodos de extrema
irritabilidade, comportamento tipo autista, perda da fala e aparecimento dos
movimentos estereotipados das mãos, com subsequente perda da sua função
prática; disfunções respiratórias (apneias em vigília, episódios de hiperventilação e
outras) e crises convulsivas começam a se manifestar. Em algumas crianças há
perda da fala que já estava eventualmente presente. Distúrbios do sono são comuns
(SCHWARTZMAN, 2003b).
Entre os dois e dez anos de idade, instala-se o terceiro estágio: o pseudo-
estacionário, no qual ocorre certa melhora de alguns dos sinais e sintomas, inclusive
do contato social. Os distúrbios motores são evidentes, com presença de ataxia 6 e
apraxia, espasticidade, escoliose e bruxismo. Os trabalhos estrangeiros referem que
nessa fase é muito comum ocorrer perda de peso, apesar de ingesta normal.
Todavia, em pesquisa conduzida no Brasil, Schwartzman (2003b) não encontrou
desnutrição entre as crianças examinadas. Ao contrário do que se poderia esperar,
várias das pacientes apresentavam sobrepeso. Crises de perda de fôlego, aerofagia
e expulsão forçada de ar e saliva ocorriam com frequência.
O quarto estágio, que se inicia por volta dos dez anos de idade, é o da
deterioração motora tardia, ocorrendo lenta progressão dos déficits motores, com
presença de escoliose e severa deficiência mental. Epilepsia pode se tornar menos
6
Significa a perda de coordenação dos movimentos musculares voluntários.
47
parietais. No estágio III podem surgir descargas com o padrão espícula-onda lenta,
mais facilmente observada durante o sono. No estágio IV pode haver uma certa
melhora no traçado com diminuição dos elementos epileptiformes. As espículas
centrais tendem a diminuir após os dez anos de idade e podem ser bloqueadas pela
movimentação passiva dos dedos da mão contralateral (SCHWARTZMAN, 2003b).
A sobrevida na SR pode ser limitada, sobrevindo a morte, em geral, em
decorrência de um quadro infeccioso ou durante o sono (morte súbita). Outro fator
que pode limitar, tanto a qualidade de vida como o tempo de sobrevida, consiste nos
problemas respiratórios crônicos decorrentes de problemas secundários à escoliose,
que pode chegar a comprometer seriamente a expansão pulmonar.
No quadro clínico da SR, podemos observar algumas alterações que
permitem supor algum tipo de disfunção autonômica. Julu et al. (1997 apud
SCHWARTZMAN, 2003b) estudaram, sob este ponto de vista, 17 meninas com a
SR. Demonstraram que o tono vagal cardíaco era 65% inferior ao de meninas
controles. Esses valores são similares aos observados em recém-nascidos normais.
Cada uma das meninas Rett apresentou, pelo menos, seis alterações no ritmo
respiratório. O tono vagal cardíaco era suprimido no ápice da atividade simpática,
tanto durante os períodos de hiperventilação, quanto nos de perda de fôlego,
levando a um desequilíbrio com risco de arritmias cardíacas e possivelmente morte
súbita.
Genética
A grande maioria dos casos de SR é composta de casos isolados dentro de
uma família, exceção feita à ocorrência em irmãs gêmeas; porém, casos familiares
têm sido observados. Costumava-se considerar a SR como uma desordem
dominante ligada ao cromossomo X, em que cada caso representaria uma mutação
fresca, com letalidade no sexo masculino. Foram observados casos nos quais
meninos, irmãos de meninas com a SR, nasciam com uma doença encefalopática
com óbito precoce.
Nessa perspectiva, alguns poucos casos foram descritos, nos quais um
fenótipo similar ao da SR foi observado em meninos. Em geral, constituíam apenas
um sugestivo do diagnóstico, com sinais e sintomas presentes de forma bastante
atípica e parcial (SCHWARTZMAN, 2003b).
49
Vale lembrar:
Transtorno descrito até o momento unicamente em meninas.
Caracterizado por um desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido
de uma perda parcial ou completa de linguagem, da marcha e do uso das
mãos.
Associado a um retardo do desenvolvimento craniano e ocorrendo
habitualmente entre 7 e 24 meses.
A perda dos movimentos propositais das mãos, a torção estereotipada das
mãos e a hiperventilação são características deste transtorno.
O desenvolvimento social e o desenvolvimento lúdico estão detidos enquanto
o interesse social continua em geral conservado.
A partir da idade de quatro anos manifesta-se uma ataxia do tronco e uma
apraxia, seguidas frequentemente por movimentos coreoatetósicos.
O transtorno leva quase sempre a um retardo mental grave.
7
É a parte da medicina ou o ramo da patologia que trata das enfermidades em geral e as classifica
do ponto de vista explicativo.
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Epidemiologia
Os melhores estudos que têm sido conduzidos até agora sugerem que SA é
consideravelmente mais comum que o Autismo clássico. Enquanto que o Autismo
tem tradicionalmente sido encontrado à taxa de 4 a cada 10.000 crianças, estima-se
que a Síndrome de Asperger esteja na faixa de 20 a 25 por 10.000. Isto significa que
para cada caso de Autismo, as escolas devem esperar encontrar diversas crianças
com o quadro SA (BAUER, 1995 apud TEIXEIRA, 2005).
Todos os estudos concordam que a Síndrome de Asperger é muito mais
comum em rapazes que em moças. A razão para isso é desconhecida. SA é muito
comumente associada com outros tipos de diagnóstico, novamente por razões
desconhecidas, incluindo: “tics” como a desordem de Tourette, problemas de
atenção e de humor como a depressão e ansiedade. Em alguns casos há um claro
componente genético, onde um dos pais (normalmente o pai) mostra o quadro SA
completo ou pelo menos alguns traços associados ao SA; fatores genéticos parecem
ser mais comuns em SA do que no Autismo clássico.
Algumas das características peculiares mais frequentemente apresentadas
pelos portadores da Síndrome de Asperger são:
1. Atraso na fala, mas com desenvolvimento fluente da linguagem verbal antes
dos 5 anos e geralmente com:
- dificuldades na linguagem;
- linguagem pedante e rebuscada;
- ecolalia ou repetição de palavras ou frases ouvidas de outros;
- voz pouco emotiva e sem entonação.
2. Interesses restritos: escolhem um assunto de interesse, que pode ser seu
único interesse por muito tempo. Costumam apegar-se mais às questões
factuais do que ao significado. Casos comuns possuem interesses
exacerbados por coleções (dinossauros, carros, entre outros) e cálculos. A
atenção ao assunto escolhido existe em detrimento a assuntos sociais ou
cotidianos.
3. Presença de habilidades incomuns como cálculos de calendário,
memorização de grandes sequências como mapas de cidades, cálculos
matemáticos complexos, ouvido musical apurado, entre outros.
4. Interpretação literal, incapacidade para interpretar mentiras, metáforas,
ironias, frases com duplo sentido, entre outros.
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Tratamento
Devido ao fato de a Síndrome de Asperger ser relativamente recente no
desenvolvimento da Psicologia e Psiquiatria, muitas das abordagens ainda estão em
fase inicial e muito trabalho ainda necessita de ser feito nesta área.
É óbvio para todos, que quanto mais cedo o tratamento começar, melhor
será a sua recuperação. Isto implica tratamento a nível psicoterapêutico, a nível
educacional e social.
O Treino de Competências Sociais é um dos mais importantes componentes
do programa de tratamento. Crianças com esta síndrome podem ser ajudadas na
aprendizagem social através de psicólogos preparados. A linguagem corporal e a
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comunicação não verbal podem ser ensinadas da mesma maneira que se ensina
uma língua estrangeira (TEIXEIRA, 2005).
As crianças conseguem aprender a como interpretar expressões não
verbais, emoções e interações sociais. Este procedimento assiste-as nas interações
sociais e aproximações com as pessoas, prevenindo assim o isolamento e
depressão que geralmente ocorre assim que entram na adolescência. Os
adolescentes podem, algumas vezes, receber benefícios através do grupo
terapêutico e podem ser ensinados a usar a mesma linguagem que as pessoas da
sua idade.
As crianças com SA podem-se diferenciar em termos de Q.I. e níveis de
habilidades, portanto, as escolas deveriam ter programas individualizados para
essas crianças. Os professores devem estar atentos às necessidades especiais que
estas crianças precisam, o que geralmente não acontece, pois elas precisam de
maior apoio que as demais crianças.
Existem alguns princípios que devem ser seguidos para crianças com este
tipo de desordem, tais como:
as rotinas de classe devem ser mantidas tão consistentes, estruturadas e
previsíveis quanto possível. Crianças com SA não gostam de surpresas.
Devem ser preparadas previamente para mudanças e transições, inclusive as
relacionadas a paragens de agenda, dias de férias, entre outras;
as regras devem ser aplicadas cuidadosamente. Muitas dessas crianças
podem ser nitidamente rígidas quanto a seguir regras quase que literalmente.
É útil expressar as regras e linhas mestre claramente, de preferência por
escrito, embora devam ser aplicadas com alguma flexibilidade;
a criança aprenderá melhor quando a área de alto interesse pessoal estiver
na agenda. Os professores podem conectar criativamente as áreas de
interesse como recompensa para a criança por completar com sucesso outras
tarefas em aderência a regras e comportamentos esperados;
muitas crianças respondem bem a estímulos visuais – esquemas, mapas,
listas, figuras, entre outros. Sob esse aspecto são muito parecidas com
crianças com autismo;
tentar ensinar baseado no concreto. Evitar linguagem que possa ser
interpretada erroneamente por crianças com SA, como sarcasmo, linguagem
figurada confusa, entre outras;
54
Mendes (1995) e Jannuzzi (1992) são alguns dos vários pesquisadores que
estudaram a educação especial em diferentes países, inclusive no Brasil, e
assinalaram períodos mais ou menos distintos uns dos outros que demarcam
mudanças na concepção de deficiência.
Na Antiguidade, os deficientes eram abandonados, perseguidos e eliminados
devido às suas condições atípicas. Na Idade Média, o tratamento variava segundo
as concepções de caridade ou castigo predominantes na comunidade em que o
deficiente estava inserido, o que era uma forma de exclusão (MIRANDA, 2008).
A Idade Moderna, associada ao surgimento do capitalismo, presencia o início
do interesse da ciência, especificamente da medicina, no que diz respeito à pessoa
com deficiência. Apesar da manutenção da institucionalização, passa a existir uma
preocupação com a socialização e a educação. No entanto, persistia uma visão
patológica do indivíduo que apresentava deficiência, o que trazia como
consequência o menosprezo da sociedade.
No final do século XIX e meados do século XX, surge o desenvolvimento de
escolas e/ou classes especiais em escolas públicas, visando oferecer à pessoa
deficiente uma educação à parte. Por volta da década de 1970, observa-se um
movimento de integração social dos indivíduos que apresentavam deficiência, cujo
objetivo era integrá-los em ambientes escolares, o mais próximo possível daqueles
oferecidos à pessoa normal (MAZZOTTA, 1996; MIRANDA, 2008).
O período atual é marcado pelo movimento da inclusão que ocorre em âmbito
mundial e refere-se a uma nova maneira de ver a criança, de excludente da
diferença para a de contemplar a diversidade. Pode-se constatar que as diversas
formas de lidar com as pessoas que apresentavam deficiência refletem a estrutura
econômica, social e política do momento.
Voltando nossos olhares para a história da Educação Especial no Brasil,
verificamos que a evolução do atendimento educacional especial ocorre com
características diferentes daquelas observadas nos países europeus e norte-
americanos.
A fase da negligência ou omissão que, pode ser observada em outros países
até o século XVII, no Brasil, pode ser estendida até meados do século XX, mais
56
dessa vertente, por um lado, usavam recursos pedagógicos alternativos e por outro
desenvolviam e adaptavam Escalas de Inteligência que eram utilizadas para a
identificação dos diferentes níveis intelectuais das crianças ou jovens. Esta última
prevaleceu sobre a primeira e a tendência diagnóstica, além disso, teve como
resultado a implementação de medidas segregadoras, pois deram origem às classes
especiais para deficientes mentais (JANNUZZI, 1992; DECHICHI, 2001).
No Brasil, na década de 1920, foram realizadas várias reformas na educação
brasileira, influenciadas pelo ideário da Escola-Nova. Para isso, vários professores e
psicólogos europeus foram trazidos para oferecer cursos aos educadores brasileiros,
influenciando os rumos da Educação Especial no nosso País. Em 1929, chegou a
Minas Gerais a psicóloga russa Helena Antipoff, responsável pela criação de
serviços de diagnóstico, classes e escolas especiais. Fundou, em 1932, a Sociedade
Pestalozzi de Minas Gerais para atender os deficientes. Essa psicóloga contribuiu
para a formação de um número significativo de profissionais que, mais tarde, foram
trabalhar na área da Educação Especial pelo país (JANNUZZI, 1992; MENDES,
1995).
A corrente filosófica adotada por Antipoff valorizava muito a organização do
ambiente de trabalho, a metodologia usada pelo professor e a psicologia infantil.
Entretanto, o conteúdo e o conhecimento ministrados ficavam relegados a segundo
plano. De todo modo, foi propiciado às crianças, sem lesões graves, mas com
dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, como hiperatividade, dispersão,
problemas emocionais, dentre outros, a possibilidade de frequentar a escola. Com
isso, o ensino regular destinado aos “anormais” ficou isento da incômoda presença
de alunos com deficiência mental que, segundo os preceitos da época,
atrapalhavam o rendimento dos outros alunos. Ainda hoje é possível presenciar esse
discurso por parte de alguns pais e até mesmo de professores de nossas escolas.
Helena Antipoff teve ainda uma participação ativa no movimento que resultou na
criação da primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em
1954 (MIRANDA, 2008).
Em cada época, as concepções de deficiência mental refletiam as
expectativas sociais daquele momento histórico. Nesse contexto, a concepção de
deficiência mental, de acordo com Jannuzzi (1992), passou a englobar diversos tipos
de crianças que tinham em comum o fato de apresentarem comportamentos que
divergiam daqueles esperados pela sociedade e consequentemente pela escola.
58
população nas relações do sujeito com seu entorno, tanto no que se referia à
etiologia quanto às propostas intervencionistas, de caráter terapêutico e sócio-
educacional. Esse modelo foi perdendo espaço com o progressivo desenvolvimento
das neurociências, modificando, assim, o modo de pensar e de tratar esse grupo de
pessoas especiais. Essa transição tem impacto expressivo em todos os segmentos
sociais, desde o direcionamento dos investimentos nas pesquisas, até na
disponibilização de recursos e equipamentos sociais.
Segundo D`Antino (2008), experiências de países desenvolvidos vêm
apontando um determinado caminho a ser seguido por médicos, educadores,
psicólogos e demais profissionais afins, especialmente a partir das duas últimas
décadas do século XX. Caminho esse que busca na relação dialógica interáreas a
possibilidade de avançar na compreensão do fenômeno que cerca o sujeito com
transtorno do desenvolvimento, quer no âmbito individual quer no social, numa
perspectiva interdisciplinar.
Entretanto, sabe-se que o espaço de reflexão, de estudos e de pesquisas e,
consequentemente de produção científica na área dos transtornos globais do
desenvolvimento, no Brasil, é ainda incipiente, especialmente no trato interdisciplinar
das questões que envolvem novas tecnologias de diagnóstico e de intervenções,
quer no âmbito clínico e/ou terapêutico, quer educacional desse expressivo
contingente da população.
Proporcionar às crianças com autismo oportunidades de conviver com outras
da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas capacidades interativas,
impedindo o isolamento contínuo (CAMARGO; BOSA, 2009).
Além disso, subjacente ao conceito de competência social está a noção de
que as habilidades sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que
acontecem no processo de aprendizagem social. Entretanto, esse processo requer
respeito às singularidades de cada criança. Diante dessas considerações, fica
evidente que crianças com desenvolvimento típico fornecem, entre outros aspectos,
modelos de interação para as crianças com autismo, ainda que a compreensão
social destas últimas seja difícil. A oportunidade de interação com pares é a base
para o seu desenvolvimento, como para o de qualquer outra criança (D`ANTINO,
2008).
Desse modo, acredita-se que a convivência compartilhada da criança com
autismo na escola, a partir da sua inclusão no ensino comum, possa oportunizar os
60
REFERÊNCIAS
BÁSICAS
MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNO. DSM-5 / American
Psychiatric Association. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Revisão
técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, OMS. CID 10 – Classificação De
Transtornos Mentais e de Comportamento: Descrições Clínicas e Diretrizes
Diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993.
COMPLEMENTARES
AMA. Associação de Amigos de Autista. Síndrome de Asperger. Disponível em:
http://www.ama.org.br/html/info_sind.php
BORDIN, Sonia Maria Sellin. Fale com ele: um estudo neurolinguístico do autismo.
Campinas: Unicamp, 2006 (Dissertação de Mestrado).
COSTA, Maria Ione Ferreira da; NUNESMAIA, Henrique Gil da Silva. Diagnóstico
genético e clínico do autismo infantil. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 1998, vol.56, n.1,
pp. 24-31. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anp/v56n1/1860.pdf>
DI NUBILA, H.B.V & BUCHALLA, C.M. O papel das Classificações da OMS - CID e
CIF nas definições de deficiência e incapacidade. Rev Bras Epidemiol 2008; 11(2):
324-35. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v11n2/14.pdf
DSM-IV. Pervasive Developmental Disorders. In: Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders. 4 ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1994.
FAVERO, Maria Ângela Bravo; SANTOS, Manoel Antônio dos. Autismo infantil e
estresse familiar: uma revisão sistemática da literatura. Psicol. Reflex. Crit. [online].
2005, vol.18, n.3, pp. 358-369.
GUSDORF, G.: Professores para quê? Para uma pedagogia da pedagogia. 3 ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.
KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev. Bras. Psiquiatr.
[online]. 2006, vol.28, suppl.1, pp. s3-s11. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s1/a02v28s1.pdf>
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Tradução: Laura
Teixeira Motta. São Paulo, Companhia das letras, 1998.
ANEXO 1
Exclui:
Psicopatia autista (F84.5).
com uma encefalopatia; o diagnóstico, contudo, deve tomar por base as evidências
de anomalias do comportamento.
Demência infantil.
Psicose: desintegrativa; simbiótica; Síndrome de Heller.
Usar código adicional, se necessário, para identificar a afecção neurológica
associada.
Exclui:
Síndrome de Rett (F84.2).
Psicopatia autística.
Transtorno esquizóide da infância.
ANEXO 2