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lançado nos cinemas brasileiros no ano de 2004. Conta com a participação de falantes da língua
portuguesa que moram em Portugal, Moçambique, Índia, França, Japão e Brasil. Durante as
entrevistas, esses falantes expõem seu cotidiano e suas culturas. Além dessas personagens
anônimas, o filme conta com a participação especial de José Saramago (escritor português), João
Ubaldo Ribeiro (escritor brasileiro), Martinho da Vila (cantor e compositor), Teresa Salgueiro (do
grupo Madredeus) e Mia Couto (escritor moçambicano). O referido documentário é altamente
recomendado para todos os estudantes da história lingüística da língua portuguesa, pois mostra
com clareza a variação da língua “falada” em cada região onde as filmagens ocorreram.
Quando estudamos as variações lingüísticas que ocorrem no Brasil, observamos que no Sul
a pronúncia se difere, em algumas palavras, da utilizada no Norte. Porém, não visualizamos a
expressiva variação entre os falantes nativos da “nossa língua”, presentes nos quatro continentes.
Na exibição do documentário, essa diferença na pronúncia é tão forte que, se exibido sem a
legenda, o falante brasileiro acaba não entendendo ou tendo dificuldades para entender o
português falado, em alguns países, pelos personagens do filme, inclusive em Portugal. Essas
variações ocorrem em virtude das diferentes culturas, costumes e influências religiosas nos
diversos países.
O Brasil com os seus 170 milhões de falantes e Portugal com os seus 10 milhões são os
países com a maior quantidade de falantes nativos da língua portuguesa. Quando acrescentamos
os falantes de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, Goa, Macau, São Tomé e Príncipe, uma
pequena parcela na Índia e mais os imigrantes no Japão, a quantidade ultrapassa os 200 milhões
de falantes no mundo.
Fazendo uma conexão com as primeiras palavras de Marcos Bagno no livro “Preconceito
lingüístico, o que é, e como se faz”, onde ele escreve que só existe língua se houver seres
humanos que a falem, percebemos então a arbitrariedade da gramática normativa “européia” em
impor as regras da “língua” a todos os falantes nativos. Pois, somente uma pequena parcela dos
falantes (os cultos) utilizam corretamente na fala o que prescreve a gramática, na maioria das
vezes em situações formais ou em discursos. Já os mais de 200 milhões de falantes levam todos os
dias suas vidas em português, se comunicando, sobrevivendo e evoluindo de acordo com suas
necessidades e realidade de suas comunidades.
Diante de toda essa diversidade de expressão, o escritor português José Saramago fez uma
declaração interessante, para ele “não há língua portuguesa, há línguas em português”, em
virtude das variações apresentadas nos falantes de um país para o outro. Considerando apenas a
língua falada “entre todos os falantes nativos nos quatro continentes”, podemos utilizar os
estudos do Mário A. Perini no livro “A língua do Brasil amanhã e outros mistérios” e verificar que
não existem apenas dois mundos (escrita e fala em português). Em virtude das diferenças
supracitadas em cada região, essa divisão se torna muito mais complexa. A gramática normativa
dita as mesmas regras para a escrita nas diversas regiões, mas a expressão verbal, em cada uma
delas, sofrerá sempre inúmeras variações dentro de cada comunidade de falantes, dividindo-se
essa expressão em vários mundos, o que explica o não entendermos ou a dificuldade de
entendermos a pronúncia de alguns dos falantes da “nossa” língua portuguesa.
AURENIDE JOSÉ DOS SANTOS