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ENSINO-APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA
Resumo
Introdução
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A lei nº 10639, de 09 de janeiro de 2003, altera a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e passa a vigorar
acrescida dos seguintes arts. 26-A 79-A e 79-B: "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
ISSN 2176-1396
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ensino básico brasileiro, ou seja, Ensino Fundamental e Médio inicia-se, uma série de
discussão e reflexão acerca do tema, possibilitando uma educação multicultural brasileira.
Embora essa área de pesquisa já tenha sido abordada por diversos pesquisadores na área de
humanas, as crianças e os adolescentes ainda não têm um contato com essa temática, como
coloca o doutor em história da educação da Universidade de São Paulo, José Ricardo Oriá
Fernandes:
Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. ß 1º O
conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluir· o estudo da História da África e dos
Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. ß
2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira ser„o ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras". Art. 79-B O
calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra. (PLANALTO DO
GOVERNO)
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O eurocentrismo é aqui pensado como ideologia e paradigma, cujo cerne é uma estrutura mental de caráter
provinciano, fundada na crença da superioridade do modo de vida e do desenvolvimento europeu-ocidental.
(BARBOSA, 2008, p. 2)
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Visentini, que o Brasil passou por uma africanização: “Como visto antes, durante a colônia e
a maior parte do império, milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, fazendo com que
a europeização das novas terras fosse acompanhada por uma africanização. A historiografia
destaca a contribuição africana para a formação da sociedade brasileira na cultura, arte e
religião [...]” (2014, p. 189).
Assim como demostra o historiador a cultura africana contribuiu para a construção da
cultura brasileira e, para melhor compreensão de nossa cultura, a partir do estudo de História
da África e dos africanos, podemos notar as semelhanças entre o nosso país e esse continente.
No que diz respeito à influência cultural foi expressiva, no caso da comunicação popular onde
nos aproximamos mais do negro do que do nosso indígena, como coloca a autora Castro,
baseando-se em Gladstone Chaves de Melo:
Temos que a influência africana no português popular do Brasil foi mais profunda
que a do Tupi embora menos extensa. Explico-me. O negro escravo terá atingido
mais facilmente e mais intensamente a fonética e a morfologia da língua que o índio,
que por sua vez legou um vocabulário muito mais considerável e numeroso. Eu diria
que a influência tupi foi mais horizontal ao passo que a africana foi mais vertical.
Simplesmente a África veio ao Brasil para se abrasileirar. O azeite de dênde (o
dendêm da Angola) temperou nossa comida; as palavras molambo, moleque, caçula,
quiabo e as próprias cacimbas com a mesma origem do cachimbo, o pequeno forno
de fumar que tem a mesma forma dos poços africanos, enriquecem a língua
portuguesa. (CASTRO, 1981, p. 196).
São exemplos como o que autora coloca que devemos passar aos nossos alunos para
que de forma prática e cotidiana, para que eles percebam a influência africana no seu dia-a-
dia.
Com isso em mente colocamos o uso da literatura africana como fonte histórica, sendo
a partir dessa apresentada as representações da África por autores africanos, demostrando a
visão do africano por sua terra, seu povo e sua cultura, cultura essa que é um mescla de outras
culturas é que por meio de sua literatura e seu discurso busca romper o seu colonialismo e
demostrar quem são e como é sua terra nas suas perspectivas:
Foi desta maneira que desenvolvemos o PIBIC3 da PUC-PR durante o ano de 2014,
onde buscamos nas representações literárias conceitos socioculturais apresentados pelos
autores em suas respectivas obras, apresentaremos os resultados de nossa pesquisa também
nesta comunicação e a empregabilidade dessa pesquisa na sala de aula, pois foi durante este
projeto que conseguimos observar a representação da África por africanos e fazer uma quebra
de paradigma4 e descobrir uma África que busca por sua identidade, que se difere da África
tribal que estamos habituados a conhecer.
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Projeto de Iniciação Cientifica
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Definido geralmente como modelo, exemplar ou padrão [...] (OUTHWIT, 1996, p. 554)
5
A interdisciplinaridade no campo da ciência corresponde à necessidade de superar a visão fragmentadora de
produção do conhecimento, como também de articular e produzir coerência entre os múltiplos fragmentos que
estão postos no acervo de conhecimentos da humanidade. “Trata-se de um reforço no sentido de promover a
elaboração de síntese que desenvolvam a continua recomposição da unidade entre as múltiplas representações
das unidades da realidade”. (LUCK, [s.d.], p.23)
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As questões apontadas pelo historiador á cima devem ser repassadas, pelo professor e
compreendidas pelos alunos, assim conseguiram fazer uma reflexão mais aprofundada em
relação aos textos e captar a relevância do contexto para os autores, tal como os indivíduos
são influenciados por seus contextos.
No caso do Agostinho Neto em suas obras: “Á reconquista”, “Do povo buscamos a
força” e “Ninguém nos fara calar Ninguém nos poderá impedir” (NETO, 1985, p. 58), que o
autor representa o racismo6, nacionalismo, a negritude e pôr fim a identidade africana que
neste contexto eles tentavam desenvolver. Por serem poemas curtos, em média seis estrofes
por poema facilita o uso em sala de aula e coloca o aluno a vivenciar a análise de fonte
primária, já mantendo contato a produção histórica. Deve-se destacar que a literatura poética
foi o que prevaleceu durante o período e também o que se destacou pela busca da identidade:
“No que diz respeito à produção literária, prevalece o trabalho poético, no período que
antecedeu à independência das colônias africanas, cuja temática estava voltada à busca da
identidade, às raízes africanas. É uma poesia engajada, acusatória e de caráter social.”
(BARRETO, 2005, p. 62-63).
Dentro da análise de Agostinho Neto também poderemos trabalhar sua relevância
histórica, já que o autor, foi o primeiro presidente da Angola, fazendo um paralelo em como a
população via esses guerrilheiros, levando em consideração que o primeiro presidente da
Angola livre foi um guerrilheiro, e trabalhar também a tentativa de um marxismo na África.
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RACISMO (in. Racialism. fr. Racisme. ai. Rcissisnws; it. Rnzzismo). Doutrina segundo a qual todas as
manifestações histórico-sociais do homem e os seus valores (ou desvalores) dependem da raça; também segundo
essa doutrina existe uma raça superior ("ariana" ou "nórdica") que se destina a dirigir o gênero humano.
(ABBAGNANO, 2007, p. 822)
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Os poemas de Agostinho Neto podem ser discutidos em sala de aula em relação à paz:
o autor deixa claro em um dos seus poemas que a paz, em “A reconquista” tem a aspiração
pela paz, no fechamento do poema: “Vamos com toda humanidade conquistar o nosso mundo
e a nossa paz” (NETO, 1985, p.58), esses versos podem ser a tentativa de transmissão da paz
aos seus leitores.
O autor Pepetela desenvolve em “A geração a Utopia” representações sobre a
guerrilha, o que torna mais fácil direcionar esse livro ao Ensino Médio, levando em
consideração o seu conteúdo mais adulto e apresentar conteúdo do tipo sexual. No entanto seu
romance transmite todos os aspectos presentes nos poemas de Agostinho Neto, porém por
distanciamento do fato, já que Pepetela publica 10 anos mais tarde seu livro. Portanto,
podemos notar uma maior reflexão acerca do tema desenvolvido: Descolonização e
Independência da Angola.
Os dois autores foram guerrilheiros da luta pela independência e com o uso de suas
literaturas o professor pode também abordar suas bibliografias para melhor compreensão da
representação que eles abordam, ou em outra possibilidade elaborar uma pesquisa na turma,
onde os estudantes iram buscar as biografias dos autores, podendo essa pesquisa ser
individual ou em grupo e para finalizar exposta aos colegas e ao professor em uma aula
dialogada.
Os dois autores são angolanos e fazem parte da escola literária angolana denominada
de Negritude:
Como abordado por Barradas, à escola literária nasce na busca de uma identidade
nacional e cultural, o interessante é mostrar ao aluno a proximidade da Angola com o Brasil,
não só por compartilharem o mesmo colonizador ou a mesma língua, mas sim uma cultura
muito próxima: como destacamos, anteriormente.
A literatura da negritude se baseou no modernismo brasileiro, para quebrar com o
colonialismo e, buscar uma interlocução que encontraram no modernismo brasileiro: “Em
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razão disso, tornou-se necessário estabelecer o diálogo com outro universo cultural, que não o
estreito mundo colonial e salazarista e a interlocução escolhida foram à produção cultural
brasileira, o que, última instância, propiciou a dinamização das reflexões sobre os caminhos
da sua própria produção literária.” (MACEDO, 2009, p.17-18). Portanto, apresentando esses
aspectos de semelhanças para os alunos na tentativa de aguçar a curiosidade em relação à
História da África e à literatura africana.
Já no que diz respeito ao conteúdo das obras literárias, destacaremos algumas
abordagens pertinentes à sala de aula. No caso de Agostinho Neto a exposição dos poemas
pode ser feita em sala de aula visando uma reflexão sobre a questão do negro, a quebra com o
eurocentrismo e a busca da identidade como o autor coloca: “Vem comigo África dos palcos
ocidentais descobrir o mundo real onde milhões se irmanam da mesma miséria atrás das
fachadas de democracia [cristianismo de igualdade]” (NETO, 1985, p. 58). A busca de
liberdade também é representada na obra do escritor: “Ninguém nos fara calar Ninguém nos
poderá impedir” (NETO, 1985, p. 58), a partir desse trecho podemos trabalhar com os
estudantes a importância de se posicionarem e lutarem por seus direitos. Por fim um trecho de
representação do racismo para Agostinho Neto: “Não chores África dos que partiram olhemos
com claro para os ombros encurvados do [povo que desce a calçada negro negro de miséria
negro de frustação negro de ânsia]” (NETO, 1985. p. 58), a questão racial pode ser abordada
com base nos direitos humanos e legislações a cerca de preconceito racial, o ideal é sempre
mostrar a proximidade do contexto com o nosso, elucidando com exemplos práticas, para
melhor compreensão do aluno.
O escritor Pepetela, por sua vez, em seu livro utiliza um viés bem interessante a ser
abordado por professores da área de humanas, ele retrata o racismo não somente como um
carácter pertinente ao negro, mas também ao branco africano durante o período de
descolonização e século XX: O autor elabora um casal inter-racial Sara (africana, estudante de
medicina, de classe alta que reside em Lisboa) e Malongo (africano, negro, residente de
Lisboa e tem como profissão jogador de futebol), e representa a dificuldade de um casal inter-
racial se relacionar na Lisboa que o escrito representa:
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[...] Caminharam até a paragem de autocarro. Estava uma grande bicha e as pessoas
olhavam sorrateiramente para eles. Sara leu reprovação nos olhos das mulheres.
Também já estou a entrar na paranoia, só nos miram por curiosidade.
Irresistivelmente fez uma coisa que geralmente evitava, por não ser comum em
Lisboa. Deu um rápido beijo na boca de Malongo. Ele admirou-se, mas
correspondeu. Beijo breve, um roçar de lábios apenas. Era impressão dela ou facto
houve um movimento de rejeição na bicha de espera? Um velho olhou agora
ostensivamente para os dois, parecia ia dizer alguma coisa. Sara convenceu-se, não
era paranoia dela, o velho não escondia a reprovação muda. (PEPETELA, 2000,
p.70)
A personagem Sara não sofre somente racismo por seu relacionamento, mas por sua
cor, sendo ela branca mesmo nascida e criada na África ainda sofre pela desconfiança de seus
conterrâneos:
Outra passagem ideal para trabalhar eurocentrismo com os alunos, é o inicio do livro
de Pepetela, o autor se coloca em primeira pessoa se mostrando ao leitor e descrevendo como
foi sua entrada na Faculdade de Letras em Lisboa, por meio de uma entrevista onde o autor
sofreu diretamente o eurocentrismo português:
Este foi o único momento em que o escritor relata uma experiência sua durante o livro,
no entanto, é um aspecto á ser mencionado pelo docente aos seus discentes.
Com a leitura do livro e a percepção do racismo descrito pelo autor, há a possibilidade
de fazer uma discussão com os alunos sobre o racismo, destacar e elucidar sobre pontos de
vistas diferentes, acerca do mesmo tema podendo também fazer um paralelo com as obras de
Agostinho Neto.
O choque cultural, é um aspecto que o estudo e exposição da História africana
permitem, sendo o choque entre os negros e brancos no Brasil, ou dos europeus aos
subsaarianos durante o século XIV, o autor Pepetela traduz um pouco desse choque cultural
em sua obra, representando o choque com a personagem Sara em Lisboa, quando começa a
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conhecer a cultura africana em debates em uma casa de estudantes, que em sua maioria são
africanos:
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Doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia.
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Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
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Na discussão de suas próprias histórias que vão sustentar essa crítica. Tendo
vivenciado a experiência colonial e os processos brutais que ela impõe: a
dominação, a desumanização, a realocação, a perda de identidade, a diáspora, o
preconceito racial, a tortura, a banalização da vida, enfim, toda a insensatez que a
natureza humana em desequilíbrio pode acionar, eles se tornam porta-vozes
legítimos do pós-colonial. (PEZZODIPANE, 2013, p. 89).
Além dos autores citados durante esta pesquisa, podemos utilizar outros autores como
Alda Lara, Costa Andrade, Eduardo Boavena, Armando Artur, Luís Carlos Patraquim,
Eduardo White, Jorge Barbosa, Corsino Fortes, Vasco Cabral, Hélder Proença, entre outros.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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Norprint, SA, 2005.
BARRETO, Eneida M.W.M. Literatura Africana em sala de aula. Cad. Cedes, Campinas,
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2015.
MACEDO, Tânia. A presença da literatura brasileira na formação dos sistemas literários dos
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de 2015.
PEPETELA, Arthur Pestana. Geração da Utopia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
PEZZODIPANE, Rosane Vieira. Pós-colonial: a ruptura com a história única. UFES: 2013.
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SANTOS, Josimari Viturino. A literatura como fonte histórica para a História: Breves
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