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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS – ILUFBA


DISCIPLINA: Literatura Portuguesa e o Imaginário Brasileiro – LET A22
DOCENTE: Profa Dra Maria de Fátima Ribeiro
DISCENTE: Jeferson Romão Oliveira

FICHAMENTO

LOURENÇO, Eduardo. Nós e o Brasil: ressentimento e delírio. In: A nau de Ícaro seguido de
Imagem e Miragem da Lusofonia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999. p.135-144.

“[...] o Brasil é um país para quem Portugal é um ponto vago num mapa maior chamado Europa,
ou vaga reminiscência escolar do sítio donde há séculos chegou um Álvares Cabral. Claro que
essa espessa [...] rasura da nossa existência e da nossa importância na consciência do brasileiro
comum se presta [...] a um banal fenómeno de recalcamento do elo fundador da mesma
realidade brasileira.” (p.135)

“[...] o Brasil não celebra, nem nunca celebrou, a data da sua descoberta, como os Americanos
festejam o Colombo, que nem os <<descobriu>>.” (p.135)

“[...] o conceito de <<descoberta>> não tem o mesmo sujeito para quem, do seu ponto de vista,
<<descobriu>> e para quem, do ponto de vista oposto, foi <<descoberto>>.” (p.136)

“O Brasil [...] é apenas uma invenção portuguesa, prolongada e modificada em seguida por uma
emigração europeia, asiática, de fecundo dinamismo. Salvo para uma consciência índia que só
hoje acorda para uma memória que não lhe assegurava permanência, nem identidade, o Brasil
parece assim cometer parricídio, mesmo inconsciente, vivendo-se [...] nos seus textos, nos seus
sonhos, nas suas ambições planetárias, como uma nação sem pai.” (p.136)

“[...] os Brasileiros [...] têm razão para se imaginarem, se viverem e se comportarem como se
fossem filhos de si mesmos. [...] Já nos princípios do século XVII os portugueses de lá [...] se
consideravam outros (e superiores...) aos portugueses de cá.” (p.136)
“[...] esse discurso, com seu ressentimento latente, [...] não é nada comparado com o discurso
português sobre o Brasil, discurso onírico e criador do permanente quid pro quo das nossas
relações com a famosa cultura brasileira a que chamamos de irmã por não ousarmos chamar-
lhe filial, designações com alguma verdade afectiva, mas, no fundo, inadequadas.” (p.137)

“O discurso português sobre o Brasil [...] é uma pura alucinação nossa, que o Brasil [...] nem
ouve nem entende. Já é tempo de sabermos ao mesmo tempo das excelentes razões que os
Brasileiros têm para não ouvir, não entender, tal discurso e das ilusões patéticas, mas exteriores,
que cultivamos por não abdicar desse diálogo de surdos institucional que é [...] o
pseudodiscurso [...] que estruturava essa invenção mítica da outrora chamada comunidade luso-
brasileira.” (p. 137)

[...] o Brasil [...] nunca foi uma colônia, se se supõe com isso um colonizador e um colonizado,
situação que foi a de Angola, Moçambique, São Tomé, etc.” (p.137)

“Assimilados, dizimados, rechaçados, os índios [...] nem a esse título podem ser considerados
sujeitos de um processo clássico de colonização. [...] Foram só quase [...] objeto de um dos
genocídios mais monstruosos da história humana.” (p.137)

“Deste genocídio são os portugueses do Brasil [...] os agentes. Sob o nome de <<bandeirantes>>
[...], se encontram esculpidos em pedra na grande metrópole paulista, seu lugar de origem.”
(p.137,138)

“O colonizado absoluto dessa época [...] é, naturalmente, o negro, o africano, esse mesmo que,
mais tarde [...] será herói quando chegar o século XX e a consciência social brasileira se afinar,
invertendo [...] a famosa dialética do senhor e do escravo.” (p.138)

“A classe dirigente do novo Brasil [...] não podia fazer o processo da sua própria dominação
[...] que nela se perpetua sem se diminuir, sem destruir as bases e as referências que fundavam
a sua superioridade económica, política e cultural. A sua estratégia [...] foi a de se ir esquecendo
do seu natural passado, de deslocar a sua atenção cultural para novas fontes de cultura (França,
Inglaterra, mais tarde os Estados), reflexo do século XIX que não os afastava assim tanto de
nós, que [...] nos comportávamos da mesma maneira em relação à Europa.” (p.139)
“O Brasil continua a alimentar-nos economicamente e é de lá que os nossos literatos célebres
recebem as patacas que o pobre pai, sempre arruinado, não lhes fornece. [...] O Brasil
especializa-se mesmo num certo culto do bom português e classiciza [...] à célebre semana da
arte moderna.” (p.139, 140)

“A autonegação ou denegação que a cultura brasileira faz de si mesma, ocultando,


menosprezando ou [...] ignorando o seu nódulo irredutível e indissolúvel português [...] é tão
absurda e delirante quanto [...] o amor imaginário que devotamos a um Brasil, não por ser o que
ele é, e o merecer naquilo que é, mas por julgarmos que os Brasileiros se vivem como
continuação, ampliação ou metamorfose nossa.” (p.140, 141)

“[...] os Portugueses devem saber, perceber e até compreender que nós não somos um problema
para o Brasil. Ou só o somos, negativamente, quando, em momentos de profundo ressentimento
de imaginários pais mal amados ou ignorados, cedemos à tentação de nos enervar com a
desatenção brasileira a nosso respeito.” (p.141)

“O povo brasileiro é um povo cheio de humor. Não é culpa dele se é um povo demasiado grande
para a memória que tem [...]. Não é com acordos ortográficos [...] que recuperamos o espaço
imaginário do império sempre demasiado largo para as nossas posses[...]. É com a força pura
do nosso imaginário[...]. E do que é <<português>> por tê-lo sido e continuar sendo-o na
imprevisível dimensão de filhos pródigos ou irmãos distraídos, ingratos ou simplesmente
adultos e conscientes da sua presença conquistadora no mundo tal como é, lhe estão
comunicando.” (p.142, 143)

“O que nos separa do Brasil não é a língua que amamos nas suas diversas músicas (sobretudo
nós, consumidores opiados de telenovelas), mas um contencioso de ordem cultural
extremamente denso e durável, tanto mais grave que nunca foi escancarado de frente, em
particular por nós, portugueses, imaginariamente complexados [...] pelo <<nosso>> (deles
também) papel colonizador-colonialista.” (p.143, 144)

“O Brasil será cada vez mais <<brasileiro>> no sentido de mais autônomo como sujeito da sua
história e da sua cultura, mas desse <<brasileirismo>> faz parte a diferença inscrita na sua
origem portuguesa [...].” (p.144)
[...] o esforço desse brasileirismo implica fatalmente uma consciência cada vez mais vasta e
necessária dessa origem. O esforço que uma parte da inteligentsia brasileira faz para ocultar ou
travestir é já de si um sintoma mais do que falante. Mas isso é problema dele ou de um futuro
que a ultrapassa. Para o nosso mútuo presente o que seria urgente rever, de cabo a rabo, toda
essa teia imaginária, hipócrita e nula nos seus efeitos, que se acoberta sobre o rótulo de relações
culturais entre Portugal e Brasil.” (p. 144)

“Quanto a nós, o que cabe é estruturar, reforçar, conhecer cada vez melhor a nossa imagem, a
maneira como somos vistos e percebidos, os limites do que somos e podemos esperar de nós
mesmos e dos outros [...].

PALAVRAS-CHAVE: Nacionalidade. Cultura. Brasil. Portugal.

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