Вы находитесь на странице: 1из 41

Meu objetivo é transmitir o pouco conhecimento que acumulei

enquanto escrevia o livro Teia Negra. Por favor, não espere


aulas de gramática, pois não sou muito bom nisso :). Quero,
inclusive, aproveitar este gancho para dizer que você não
precisa ser bom em tudo. Ninguém é. Com um pouco de
talento e determinação você pode escrever, acredite. No meu
caso, por exemplo, tenho dificuldades com algumas regras
gramaticais e peço ajuda a outras pessoas para que revisem
meus textos neste sentido. O que vamos ver aqui nesta série
de artigos semanais, são dicas de como estruturar um texto.
Vou procurar responder algumas dúvidas mais comuns, como
por exemplo: "por onde começo?","devo descrever um local ou
personagem em detalhes ou dou apenas uma pincelada e
deixo o resto por conta da imaginação do leitor?", "como
escrevo um bom final?", "como mantenho o leitor interessado
no texto?", etc.

Espero, sinceramente, que goste da newsletter e indique


para seus amigos! Então vamos ao assunto desta semana:

Como Escrever um Bom Início

Você já reparou como um livro é analisado por um possível


comprador em uma livraria? Ele olha a capa, lê a sinopse no
verso e procura por informações nas orelhas. Além disso, na
maioria das vezes, o leitor lê as primeiras páginas e toma sua
decisão de ficar ou não com o livro com base no início da
história! O papel do primeiro capítulo ou prólogo é fazer com
que o leitor tenha vontade de continuar lendo. Mas como fazer
isso? Simples: o início deve conter elementos que despertem
curiosidade. Os primeiros parágrafos adiantam o que o leitor
deve esperar do restante do texto. Seja direto e comece com
um conflito ou outro ponto de tensão. Não perca tempo
descrevendo demais personagens ou locações. Veja, por
exemplo, o prólogo do meu livro Teia Negra:

"Assim que entraram no apartamento, Robert foi direto ao


escritório pegar alguns papéis e deixou seu convidado
aguardando na sala. Ao abrir a gaveta do pequeno arquivo de
madeira, sentiu um calafrio e virou-se repentinamente. Uma
pistola com silenciador estava apontada para sua cabeça. O
cano longo, a poucos centímetros de sua testa, exalava o
cheiro dos restos de pólvora das vezes anteriores em que a
arma fora usada. Sem que qualquer palavra fosse dita, o
gatilho foi puxado. A bala entrou um pouco acima dos olhos,
fazendo Robert cair, quase que instantaneamente."
Repare que neste único parágrafo coloquei na mente do
leitor diversos questionamentos: Quem é Robert? Quem o
matou? Por que ele foi morto? Se você der uma olhada nas
primeiras linhas de autores como Dan Brown, Frederick
Forsyth, entre outros, verá que eles fazem exatamente isso. É
claro que existem outras formas de se obter o mesmo efeito.
Leia os primeiros capítulos de livros dos autores que você
admira e aprenda com eles! Um macete para um bom início é
pegar uma parte do texto (seja um capítulo ou parágrafo) e
trazê-lo para o início. Este prólogo do Teia Negra era um
parágrafo que fazia parte do Capítulo 4!

Lembre-se: um bom início dá o tom do restante do texto e


faz com que o leitor tenha interesse em ler o resto!

Como Descrever Personagens, Locais e Objetos

Este costuma ser um ponto em que o escritor torna-se


superficial demais ou acaba exagerando nas descrições e
deixa o leitor cansado e desanimado com a leitura. Bom,
encontrar um meio termo nem sempre é fácil, mas temos
algumas coisas para levar em conta antes de descrever um
local, um objeto ou personagem. Vamos lá!

Se você está descrevendo alguma coisa corriqueira e


conhecida, deixe os detalhes de lado. Seja específico.
Exemplo: vamos supor que o herói de sua história encontrou
uma porteira de uma fazenda fechada e terá que dar um jeito
de abrí-la ou pular por cima. Neste caso, basta mencionar que
existe a porteira. Não é necessário dizer que a porteira é
formada por tábuas de cerejeira, pintada de branco, com uma
tranca do lado esquerdo, etc, etc, etc. Todo mundo sabe como
é uma porteira! É claro que existem situações em que torna-se
importante mencionar um detalhe ou outro, desde que este
detalhe interfira diretamente em uma ação. Se o herói pular a
porteira e ficar enganchado em um prego gigante, você pode
dizer que "a porteira possuía pregos gigantes apontados para
cima...".

Para descrever algum objeto que não é comum ou um


extraterrestre que veio roubar nossos tesouros, aí sim você
pode usar um pouco dos detalhes para gerar na mente do
leitor a imagem que você deseja. De qualquer forma, não
abuse. Deixe o leitor imaginar e criar sua própria versão do
personagem. No livro "Anjos e Demônios", Dan Brown faz uma
extensa descrição de um objeto: o tubo que guarda a "anti-
matéria". Aposto que você nunca viu um. Pois é, nem eu. Mas
agora já tenho uma idéia bastante exata de como ele é! Neste
caso específico, torna-se importante descrever em detalhes,
mas se você já leu este livro irá perceber que o objeto não foi
descrito de uma só tacada. Dan Brown tomou o cuidado de
espalhar os detalhes em meio a diálogos e narrativas de
ações. Desta forma, conseguiu o que queria e não cansou o
pobre do leitor.

Veja estes trechos de "Teia Negra":

"Vinte minutos depois, Michael passava pelo portão de ferro da


mansão Wong, onde viviam Bei Wong, sua esposa Lisa e a
filha, Samanta."

"Todas as vezes que ele entrava naquela casa, não deixava de


admirar a grandiosidade do lugar. O imenso lustre de cristal,
pendurado no centro do hall de entrada, dava um ar
aristocrático ao lar dos Wong. Alguns vasos orientais e
pequenos enfeites não escondiam as raízes da família. O
aroma de canela, proveniente do discreto altar em um dos
cantos da sala, completava a atmosfera de paz e serenidade."

No primeiro trecho, cito o portão de ferro da mansão e só.


Você já imaginou como é o portão? Preciso descrever? Já no
segundo trecho, procuro descrever a mansão e dar uma certa
personalidade ao lugar. Vamos ver se funcionou. Ao ler o
texto, você deve ter imaginado a mansão completa e não
somente os poucos detalhes que eu dei, correto? Será que na
"sua" mansão tem uma imensa escada de mármore que leva
para um segundo andar? Você colocou um lindo tapete oriental
bem no centro da sala? Você montou o restante da mansão
com a sua imaginação, mas as dicas que eu dei levaram você
na direção certa. É isso que o escritor deve fazer: guiar o leitor
e deixar que ele experimente e viva sua própria aventura.

Resumindo: escreva em detalhes apenas o que é


importante!

Como Estabelecer o Ponto de Vista - Parte I

Este é um tópico muito importante para quem escreve


romances ou textos que exigem a definição de um ponto de
referência através do qual a "cena" que está sendo narrada irá
ser filtrada. Ponto de vista, mais conhecido como POV (Point of
View), quando não usado corretamente pode deixar o leitor
confuso e tornar a leitura cansativa. Isto ocorre quando o POV
é trocado de um personagem para outro, sem que a troca
fique bastante clara para o leitor. Escritores experientes
conseguem fazer esta mudança de POV usando alguns
recursos como pular uma linha ou apenas inserindo algumas
dicas no próprio texto, fazendo com que o leitor realize a
transição sem maiores problemas. Já escritores que ainda não
dominem completamente esta técnica, devem utilizar recursos
mais claros, como o encerramento de um capítulo e início do
próximo em outro POV. Eu, particularmente, procuro me
manter o máximo possível dentro do POV que iniciou o
capítulo. Acho mais fácil de gerenciar e até mesmo de
escrever a cena.

Alguns escritores utilizam o ponto de vista neutro, ou seja, a


cena se passa como se estivesse sendo filmada por uma
câmera. Este recurso é raro nos livros de hoje, mas ainda é
utilizado em livros infanto-juvenis, como Harry Portter. De
qualquer forma, o ponto de vista neutro é difícil de ser usado e
somente o deve ser por aqueles que dominam a técnica.

Neste trecho de Teia Negra, faço a troca do POV utilizando o


recurso de pular uma linha:

"Kremer estava no aeroporto Internacional do Rio de Janeiro


por quatro horas consecutivas e já havia consumido quase um
maço inteiro de cigarros. O painel mostrava que o vôo do
americano ainda atrasaria meia hora. Ele lera o relatório sobre
o caso Wong três vezes. Uma coisa o intrigava: a Greenwood
estava licenciada para explorar petróleo em uma das áreas
disponibilizadas pelo governo brasileiro, porém, o contrato,
que deveria ter sido assinado há dois meses, aparentemente,
ainda estava em aberto. As outras três empresas que
receberam áreas de exploração, já iniciavam os trabalhos de
pesquisa. A única pista que pôde ser levantada foi a existência
de algum entrave burocrático que estava impedindo a
assinatura. Ao contrário do que geralmente ocorre neste tipo
de negociação, a exigência era da Greenwood e não do
governo. Que tipo de exigência a Greenwood poderia estar
fazendo? Segundo o relatório, a ANP - Agência Nacional de
Petróleo - órgão criado pelo governo para regulamentar e
fiscalizar o setor, não tinha nenhuma informação sobre o
assunto ou, simplesmente, não queria dar maiores
esclarecimentos."

"Quando finalmente chegou sua vez, depois de quase vinte


minutos de espera, Michael foi fotografado e deixou suas
digitais no formulário preenchido com seus dados pessoais. O
procedimento foi adotado pelas autoridades brasileiras, depois
que os Estados Unidos começaram a fazer o registro de todos
os estrangeiros que entravam em seu território. Como existe
um acordo de reciprocidade, os brasileiros decidiram dar o
troco. Agora, todos os americanos eram fichados da mesma
forma.
Assim que passou pela porta que separa a área de
desembarque do saguão do aeroporto, Michael deparou-se
com dezenas de pessoas segurando cartazes, com os mais
variados nomes. No meio deles estava o seu."

No primeiro bloco, Kremer detém o POV, já no segundo é


Michael quem filtra a cena. Eu queria mostrar o ponto de vista
de Kremer aguardando a chegada de Michael no aeroporto e
depois o de Michael desembarcando. Neste caso, decidi trocar
o POV dentro do mesmo capítulo.

Algumas regras básicas devem ser observadas para que o


POV seja mantido:

* O personagem que detém o POV não pode "ler" os


pensamentos dos outros (exceto, é claro, se ler pensamentos
seja uma característica do personagem);

* De onde está posicionado, o personagem não consegue


enxergar o que acontece através das paredes ou em um local
distante (exceto se o personagem for o Super-Homem ;) );

* O personagem com o POV pode apenas supor o que os


outros estão sentindo, seja com base na sua expressão
corporal ou no histórico conhecido pelo personagem;

Veja como fica uma cena com o POV "quebrado":

"René estava exausto após aquela fuga. Ele parou apenas


alguns minutos para descansar e foi aí que seu perseguidor o
encontrou. Seu coração disparou e ele imaginou a morte
chegando para levá-lo. O carrasco olhava para ele com ar
furioso e pensava: "vou matá-lo agora mesmo!". Ele olhou para
sua vítima que estava esprimida contra a parede e bradou sua
espada. A lâmina, afiada como uma navalha, passou rente ao
braço de René. Ele esquivou-se e conseguiu escapar mais uma
vez, porém sabia que aquela poderia ser sua última chance."

Repare que o POV muda de René para o Carrasco e volta


para René no meio da cena. Se você ler com calma e prestar
atenção, irá conseguir identificar a mudança de POV e
entender perfeitamente o que se passou entre René e o
Carrasco. Mas veja o texto apenas do ponto de vista de René e
tire suas conclusões:

"René estava exausto após aquela fuga. Ele parou apenas


alguns minutos para descansar e foi aí que seu perseguidor o
encontrou. Seu coração disparou e ele imaginou a morte
chegando para levá-lo. O carrasco olhava para ele com ar
furioso. Sua expressão indicava que iria matá-lo ali mesmo.
René estava esprimido contra a parede, uma vítima perfeita. O
carrasco bradou sua espada. A lâmina, afiada como uma
navalha, passou rente ao braço de René. Ele esquivou-se e
conseguiu escapar mais uma vez, porém sabia que aquela
poderia ser sua última chance."

Agora do POV do Carrasco:

"O carrasco perseguia sua vítima sem compaixão. Ele sabia


que René estava exausto e que a qualquer momento iria parar
para descansar. E foi assim que ele o encontrou. O carrasco
podia sentir a morte chegando para levar René de uma vez por
todas. Ele estava furioso e disse para si mesmo: "vou matá-lo
agora!". A vítima estava esprimida contra a parede. O carrasco
bradou sua espada. A lâmina, afiada como uma navalha,
passou rente ao braço de René. Sua presa esquivou-se e
conseguiu escapar mais uma vez, então o carrasco jurou que
aquela teria sido a última vez."

Como Escrever Diálogos - Parte I

Neste número, vamos iniciar um tópico muito importante:


diálogos.

Procure prestar atenção como as pessoas conversam na vida


real. Elas falam em sentenças curtas, cortam umas as outras e
executam ações enquanto falam. Para que seu diálogo seja
autêntico, você precisa usar estes mesmos artifícios. Só tome
cuidado para que não fique chato, pois muitas vezes, nossas
conversas cotidianas são chatas. Os diálogos devem sempre
fazer a história progredir e trazer algum nível de tensão ou
conflito. Evite "jogar conversa fora", com coisas do tipo:

" - Oi, tudo bem?


- Tudo bem. E você?
- Lindo dia não?
- Lindo mesmo.
..."

Não abuse dos dialetos e gírias. Usar apenas algumas


palavras no meio das falas é suficiente para indicar ao leitor
que aquele personagem fala de uma determinada maneira. Se
o personagem usar uma linguagem incomum, que possa
deixar o leitor confuso quanto ao siginificado de uma palavra,
você pode usar o outro personagem para esclarecer. Exemplo:

" - Te abanquetas aí homem, - disse o Gaúcho.


- Te abanquetas? Que diabo é isso? - Perguntou o Carioca.
- É pra sentar, tchê!"

Controle a velocidade e a entonação dos diálogos com a


pontuação. Se, por exemplo, uma pessoa fizer uma pausa um
tanto longa para "pensar" antes de continuar uma frase, use
três pontos para mostrar esta pausa no texto. Quando alguém
for interrompido no meio da frase, use um traço horizontal
para demonstrar isso.

Cada personagem deve ter sua personalidade e isso deve ser


refletido na forma de falar. Evite que dois personagens
conversando pareçam ser a mesma pessoa. Use o perfil dos
personagens, seu nível de educação, a regionalidade, a idade,
o humor e outros fatores que influenciam na forma como
falamos. Veja um diálogo entre Kremer e Guilherme extraído
do meu livro Teia Negra:

" - Bom, senhores, a situação é a seguinte, - disse Kremer,


enquanto pegava uma folha de papel em branco que estava
sobre a mesa e começava a desenhar. - Aqui fica o prédio da
Greenwood e nosso homem está no oitavo andar. Precisamos
tirá-lo de lá, o mais rápido possível.
- Mas o quê que esse cará tá fazendo lá, meu camarada? -
perguntou Guilherme.
- Infelizmente, não posso dizer. Faz parte de uma missão que
está em andamento, - disse Kremer, colocando um cigarro na
boca, mas sem acendê-lo.
- Porra, Kremer, você sabe que se descobrem que eu tô
agindo extra-oficialmente numa parada dessa, vai dar a maior
merda.
- Não se preocupe, ninguém vai ficar sabendo. Vai ser jogo
rápido e limpo.
- Tá certo. Só tô aqui porque você é meu amigo. Sabe disso.
- Bom, vamos ter-.
- Ah! Antes que eu esqueça, - gritou Guilherme, - vai ter que
pagar uma cerveja pros amigos aqui.
- Tá bom Guilherme, mas será que dá pra você calar essa
boca e prestar atenção na porra do plano? O cara tá lá no
ninho da cobras, cacete.
- Tá, tá, desculpa. Manda ver."

Você deve ter percebido que Kremer é mais centrado, mais


"elegante" ao falar do que Guilherme, embora não deixe de
lado algumas expressões que o coloca no mesmo "ambiente"
que o amigo. Já Guilherme é totalmente "esculhambado". Você
também deve ter percebido que o tom da voz de Guilherme é
mais alto, mesmo antes que o marcador "gritou Guilherme"
aparecesse no texto.

Peça a uma outra pessoa que leia os diálogos pra você em


voz alta. Se você conseguir que duas pessoas façam isso, uma
para cada personagem, será ainda melhor. Elas devem usar as
entonações de acordo com as dicas que você deixou no texto.
Se ao ouvir o diálogo você não sentir que está como você
esperava, refine e peça para que leiam novamente. Repita o
processo até conseguir o resultado que deseja.

Não coloque muito texto com pensamentos ou ações no meio


de um diálogo. Lembre-se que a conversa deve fluir
naturalmente, para que o leitor possa acompanhá-la. Imagine
se no meio de uma briga de marido e mulher, você começar a
descrever o objeto que está em cima da lareira. Isso irá
quebrar o ritmo do diálogo e o leitor perderá o interesse.
Como Escrever Diálogos - Parte II

Vamos continuar a falar sobre diálogos neste número.

Leia o trecho abaixo com atenção:

" - Ela estava doida para ir para o apartamento logo, - disse


eu, enquanto estávamos sentados na escada olhando ela
passar no corredor.
Ricardo apontou diretamente para ela, - é aquela?
- A própria.
- Tem certeza? - Disse ele. Eu concordei com a cabeça. - Não
pode ser!
- Gostosa, não?
..."

O que não está claro no diálogo acima? Consegue perceber?


Bom, na verdade existe um problema na linha "- Tem certeza?
- Disse ele. Eu concordei com a cabeça. - Não pode ser!". Fica
difícil identificar quem está com a palavra. Posso assumir que
quem disse " - Não pode ser!" foi o personagem que está
narrando em primeira pessoa, mas na verdade quem disse isso
foi o "Ricardo". Esta confusão foi criada por existir uma ação
de um personagem ("Eu concordei com a cabeça.") no meio da
fala do outro. Pode até ser que o leitor consiga interpretar o
texto corretamente e não se perca, mas se errar, todo o
diálogo ficará confuso. O trabalho do autor é evitar que isso
ocorra e eliminar todas as possíveis armadilhas. Veja agora o
texto corrigido e tire suas próprias conclusões:

" - Ela estava doida para ir para o apartamento logo, - disse


eu, enquanto estávamos sentados na escada olhando ela
passar no corredor.
Ricardo apontou diretamente para ela, - é aquela?
- A própria.
- Tem certeza? - Disse ele.
Eu concordei com a cabeça.
- Não pode ser! - Disse ele, deixando a boca aberta por mais
tempo que o necessário.
- Gostosa, não?
..."

Procure usar marcadores no diálogo sempre que possa


existir alguma dúvida de quem está falando o quê. Usar "ele
disse" ou "ela disse", sem muito exagero, não polui o texto e o
leitor nem nota a presença desses marcadores "invisíveis".
Leia alguns diálogos de autores famosos e repare que eles não
usam muitas variações nos marcadores, exceto em casos em
que realmente é necessário demonstrar uma alteração de tom
de voz. Não use, por exemplo, "ele falou" em uma linha, "ele
exclamou" em outra e na outra "ele disse". Mesmo nos casos
onde seja necessário mostrar a variação de volume na voz,
você pode utilizar outros recursos mais elegantes do que
simplesmente marcar com "ele gritou":

" - Vá para dentro, agora! - Gritou Carlos.


- Não, - disse Glória, com lágrimas nos olhos.
- Droga de menina teimosa! - Esbravejou Carlos.
"

Agora veja o mesmo texto sem os marcadores e diga qual


versão ficou mais interessante:

" - Vá para dentro, agora! - Carlos estava com os punhos


cerrados e chamando a atenção de toda a vizinhança.
- Não, - disse Glória, com lágrimas nos olhos.
- Droga de menina teimosa! - disse ele, com o rosto
vermelho como pimenta.
"

Como Construir Personagens - Parte I

Toda história tem ao menos um personagem. Pode ser uma


pessoa, um animal, uma planta ou um objeto qualquer, mas
ele sempre estará lá. É o personagem que trás vida para um
livro. Faz rir, chorar, amar, respirar... Se você quiser contar
uma boa história, terá que construir bons personagens. Se
você conseguir que seu leitor fique verdadeiramente
preocupado com o que acontece aos seus personagens, é por
que você acertou! Quando nós gostamos de uma história, na
maioria das vezes não é por que a trama é interessante ou por
causa dos diálogos bem escritos, mas sim por que nos
apaixonamos pelos personagens. É da natureza humana
querer se relacionar com outras pessoas e um bom livro nos
dá a oportunidade de conhecer "gente" nova. Podemos ficar
sabendo de detalhes da vida de um personagem que talvez
jamais saberíamos se este fosse uma pessoa do nosso círculo
de relacionamentos. Lendo uma história bem escrita, você
entende os motivos pelos quais aquele personagem age desta
ou daquela forma. Por que está triste ou feliz. Após alguns
anos, você provavelmente irá esquecer os detalhes da trama,
poderá até mesmo esquecer como o livro acaba, mas jamais
irá esquecer um personagem com quem você tenha se
identificado e vivido momentos emocionantes.

Alguém uma vez disse que para escrever uma boa história,
você precisa se concentrar em três pontos: personagens,
personagens e personagens. Se você conseguir criar pessoas
interessantes, tem ótimas chances de conseguir criar uma
história interessante. Tudo gira em torno de personagens,
portanto, antes de pensar em escrever, defina quem será o
personagem que dará vida à sua obra e dê à ele um passado,
um presente e um futuro. Olhe em sua volta, você está cheio
de exemplos. Pessoas que passam e interagem com você a
todo o instante. Passe a olhá-las com mais interesse. Analise
seu comportamento. Veja como falam, como gesticulam, como
reagem à determinadas situações. Lembre-se que pessoas
precisam ser amadas, sentem-se sozinhas, aflitas, alegres,
apaixonadas. Você precisa levar esta vida para o seu texto e
fazer com o leitor reconheça seus personagens quando elas
aparecerem na história, mesmo que seja o pior dos vilões.

Nas próximas semanas, estaremos falando sobre como


construir personagens memoráveis. Discutiremos técnicas
usadas pelos maiores escritores de todos os tempos, que nos
deixaram amigos fictícios que fazem parte de nossas vidas
desde nossa infância. Como exercício, leia um trecho de um
livro que você tenha gostado muito, onde o autor descreve o
principal personagem. Veja como ele lida com os sentimentos,
emoções e reações deste personagem. Descubra que traços
físicos ou psicológicos fizeram com que você fosse capaz de
identificar o personagem em vários pontos da trama, sem que
fosse preciso sequer mencionar o seu nome.

Como Construir Personagens - Parte II

Sua história pode ser muito bacana, ter viradas incríveis na


trama, um final memorável, etc, etc, etc. Porém, se você não
tiver ao menos um personagem forte, em que o leitor acredite
e se preocupe com ela, todo seu trabalho para desenvolver a
trama pode ir por água abaixo. O leitor precisa gostar dos
personagens, se preocupar com elas e, principalmente,
acreditar nelas. Portanto, o mais importante, é que seus
personagens tenham credibilidade. Mas como contruir esta
credibilidade? Vamos lá:
1. Seus personagens precisam de um passado. Nossa
personalidade é construída sobre uma série de acontecimentos
em nossas vidas. Quem somos hoje é resultado do lugar onde
moramos, da convivência com as pessoas que passaram por
nossas vidas, do colégio em que estudamos e por aí vaí. Seus
personagens têm que ter vivido tudo isso. Elas precisam de
uma história, mesmo que você não conte esta história para o
leitor. É com base nesta história, que pode ser construída
desde a infância, que você irá obter as reações, os
sentimentos, o jeito de falar, os medos, as angústias, as
alegrias, os prazeres e tudo mais que seu personagem irá
transmitir para o leitor. Uma forma prática de fazer isso, é
pegando uma folha de papel ou abrindo um novo documento
no computador e escrever este passado. Crie um perfil social,
psicológico e físico para cada personagem que desempenhe
algum papel importante em sua história.

2. As reações e decisões de um personagem devem estar em


linha com seu perfil. Exemplo: Uma pessoa forte e
determinada não pode ser colocada em uma situação onde
esteja amedrontada e totalmente indefesa. Qualquer situação
de risco, deve ser enfrentada por este personagem com força
e determinação. Isso não quer dizer que ele não possa estar
com um pouco de medo ou preocupado, mas sim que os traços
de força e determinação não podem simplesmente
desaparecer de uma hora para outra.

3. Quando estiver escrevendo, procure entrar na pele de seu


personagem. Veja com os olhos dele, sinta o que ele estiver
sentindo. Isso irá tornar o personagem mais verdadeiro, mais
lógico e mais "humano" para o leitor.

O leitor precisa identificar um padrão de comportamento em


seus personagens, mesmo que, de vez em quando, você o
surpreenda com alguma reação inesperada. Lembre-se que
esta "reação inesperada", também deve estar dentro do perfil
do personagem, a não ser que este personagem tenha algum
desvio de personalidade, o que, na prática, também faria parte
do perfil.

Ao terminar de ler um livro onde algum personagem tenha


conquistado você, procure ler novamente alguns trechos e
identifique quais foram as técnicas usadas pelo autor para
construir a credibilidade do personagem. Estou certo que você
irá identificar muito do que acabamos de falar aqui.
Como Construir Personagens - Parte III

Vamos continuar falando sobre personagens e métodos para


torná-los inesquecíveis para os leitores. Algumas coisas, além
do perfil que falamos na edição anterior, são muito
importantes na construção de seus personagens. Um ponto
fundamental é a identificação do personagem. O perfil irá
ajudar nisso, sem dúvida, mas outras coisas devem ser
levadas em consideração:

1. Seu personagem pode ter alguma característica que o


identifique claramente. Exemplos: a cor do cabelo, um
penteado diferente, uma marca de nascença, um defeito
genético ou causado por alguma doença ou acidente, uma
tatuagem, etc. Esta marca de identificação pode, inclusive,
reagir ao ambiente ou à situações. A marca de nascença pode
doer quando a heroína estiver em perigo, a tatuagem pode
mudar de cor quando uma tempestade se aproxima e assim
por diante. A marca também pode ter uma história. Quem não
se lembra da cicatriz de Harry Potter e como ela fica em brasa
quando Voldemort está por perto?

Quando escrevi "Teia Negra", dei a Michael, o personagem


principal, uma tatuagem que foi feita em cima de uma cicatriz.
A tatuagem teve direito à uma história e desempenhou um
papel importante durante a trama. Veja o trecho onde Michael
decide fazer a tatuagem: "...Michael decidiu fazer uma
tatuagem no ombro ferido. A figura, símbolo da justiça, ganhou
vida ao ter sua espada realçada em alto relevo. A cicatriz
tornou-se a lâmina da justiça e inspirou Michael a tornar-se um
dos mais experientes agentes...".

2. Não confunda seu leitor com nomes de personagens muito


parecidos uns com os outros. Imagine se em uma mesma
página os personagens Reinaldo, Ronaldo e Rinaldo se
encontram para um caloroso bate-papo? Uma dica é usar
nomes que comecem com letras diferentes, assim fica mais
fácil para o leitor identificá-los.

3. Procure usar nomes da mesma época em que sua história se


passa. De preferência, pesquise os nomes das gerações de
famílias que viveram nos mesmos anos em que seus
personagens vivem. Tirando os casos em que você queira
fazer humor, não coloque nomes que não estejam relacionados
ao povo ou à cultura que está sendo citada em sua trama.
Imagine um japonês chamado Manuel da Silva!

4. Use nomes que combinem com seus personagens. Uma


linda moça com um nome horrível não faz muito sentido e vai
deixar o leitor incomodado. É claro que se o nome foi dado por
causa de uma vingança ou se exerce algum outro papel
importante na trama, esta regra não se aplica.

Como Revisar seus Textos - Parte I

Tenho visto vários exemplos de pessoas que escrevem um


texto qualquer e logo em seguida o publicam, sem nenhuma
revisão. A qualidade do que você escreve é de extrema
importância para quem lê. Os leitores ficam incomodados se
percebem muitos erros no texto, principalmente se forem
erros ortográficos ou gramaticais. Ninguém é perfeito, portanto
alguns detalhes podem escapar, mas a impressão geral deve
ser de que você se preocupou em aparar as arestas. Vamos
ver quais são os principais pontos de revisão e como proceder
para garantir um mínimo de qualidade para seus trabalhos.

1. Gramática e Ortografia - A primeira providência é passar um


corretor ortográfico eletrônico, caso você disponha de um. Esta
funcionalidade está presente no MS-Word e é acessível através
da tecla F7. É importante ressaltar que o corretor ortográfico
vai apenas ajudá-lo a identificar possíveis pontos com
problemas. Não confie nele para fazer todo o trabalho sozinho!
Sempre que o corretor indicar algum erro, verifique se o erro
realmente existe e se as correções sugeridas são plausíveis.
Ultimamente, tenho lido muito material nas comunidades do
Orkut relacionadas à literatura e tenho encontrado erros
básicos imperdoáveis. A maioria deles está na grafia das
palavras, principalmente no uso do S e do Ç. É neste ponto que
o corretor pode ajudar bastante. De qualquer forma, dedique
um tempo para estudar as principais regras gramaticais e
tenha sempre um guia de consulta à mão. Leia muito, assim
você assimila regras e grafias de forma inconsciente e passa a
escrever com mais qualidade.

2. Incoerências - Sua história deve ser coerente. O herói não


pode quebrar a perna em um dia e no dia seguinte aparecer
correndo uma maratona. Fique atento a todos os detalhes que
possam gerar situações incompatíveis e procure identificar os
pontos onde isso acontece. Um método para manter o controle
é criar uma espécie de ficha com os principais acontecimentos
da história e um registro cronológico de quando as coisas
aconteceram. Quando meu livro Teia Negra estava passando
pela revisão final, um detalhe quase passa despercebido. Em
um capítulo eu digo que uma das personagens nasceu dois
anos depois do irmão. Alguns capítulos mais adiante eu dizia
que a diferença de idade entre os irmãos era de oito anos!

3. Erros Históricos e Geográficos - Se você utilizou algum fato


histórico ou as locações onde passam sua história são reais,
pesquise bastante para não errar. É claro que você pode
alterar alguns detalhes para ajudar a desenvolver sua trama,
mas nada que torne a narrativa absurda. Imagine se
colocarmos o morro do Pão de Açucar em São Paulo! Dan
Brown descreveu em detalhes diversas locações na Europa em
seu livro "O Código Da Vinci", mas para isso ele esteve lá
pessoalmente e pesquisou. Muitas das descrições no livro não
refletem fielmente a realidade, mas ele tem absoluto controle
do que está fazendo.

4. Estética - Não sabia que palavra usar exatamente para


descrever este tópico. Acabei escolhendo estética por
acreditar que esta é a palavra que mais se aproxima do que o
leitor percebe em um texto bem escrito. Seu objetivo principal
é que sua história seja lida e que seus leitores sintam-se
confortáveis com a leitura, a ponto de "entrar" na fantasia que
você criou. Para conseguir que o leitor atinja este estado de
concentração, você precisa eliminar do texto tudo que possa
causar "ruído" e distraí-lo. Abaixo uma lista destes ruídos que
devem ser evitados:

* Excesso de repetição de palavras: procure por palavras


repetidas, principalmente se estiverem muito próximas umas
das outras. Use sinônimos, mude a frase e torne a leitura mais
agradável;
* Sentenças começando com a mesma palavra: quando
iniciar um parágrafo, procure usar uma palavra diferente da
que foi usada nos parágrafos anteriores. Isso também vale
para o início de capítulos;
* Palavras incomuns - Evite o uso de palavras difíceis, que
possam exigir que o leitor médio tenha que recorrer a um
dicionário para entender o que você quis dizer;
* Documentário - Não interrompa uma cena de ação ou um
diálogo com uma aula de história ou geografia. Imagine seu
herói lutando contra seu principal inimigo e o leitor tendo que
aguardar entre um golpe e outro, enquanto você conta a
história da fundação da biblioteca onde a luta acontece.

Como Revisar seus Textos - Parte II

O ideal é somente começar o processo de revisão, depois


que você terminar o texto. Se você ficar revisando cada
pedaço do que acabou de escrever, corre o risco de não
conseguir terminar sua história.

Quanto mais tempo você deixar o que escreveu de lado


antes de iniciar a revisão, melhor. Fique pelo menos uma
semana sem tocar no texto e quando você voltar a ler, terá
uma visão mais clara dos erros que cometeu.

Não caia na tentação de ficar revisando seu texto


eternamente. Para que sua história possa ficar pronta e com
uma qualidade aceitável, vou sugerir um processo que aprendi
enquanto escrevia o Teia Negra. O processo de revisão possui
quatro etapas, que são:

1. Estrutura - Nesta primeira leitura, procure verificar a


estrutura geral da história. Existe um início, um meio e um fim
bem definidos? Você colocou "ganchos" no final dos capítulos
para que seu leitor mantenha-se interessado no que você está
contando? Existem surpresas e viradas na trama suficientes
para que a história não fique monótona? Todas as "sub-
tramas" estão bem amarradas à trama principal? Seus
personagens são interessantes, verdadeiros e evoluem com o
passar do tempo?

2. Detalhes - Na segunda leitura você deve procurar por


palavras repetidas muitas vezes no texto, frases fora de
contexto, etc. Verifique se as palavras escolhidas representam
o que você realmente quis dizer. Procure também por
inconsistências do tipo: no primeiro capítulo o herói tem olhos
verdes e no quinto você diz que ele tem olhos azuis.

3. Leitura em Voz Alta - Desta vez, você irá ler o texto em voz
alta. O resultado será ainda melhor se você tiver alguém que
possa ler pra você. Ao ouvir o que escreveu, você vai perceber
que muitos detalhes "escaparam" nas etapas anteriores. Outro
ponto interessante nesta técnica é o fato dos diálogos
tomarem vida e, com isso, você poderá torná-los ainda mais
interessantes.
4. Revisão Geral - Fique no lugar do seu leitor e procure ler sua
história do ponto de vista dele. Nesta etapa é que você irá
perceber que deixou algum personagem sem um final ou que
usou o mesmo nome para mais de um personagem
coadjuvante.

Como Escrever as Primeiras Linhas

É muito bom quando sentamos em frente ao teclado e


começamos a escrever imediatamente. As idéias parecem
surgir como mágica em nossa mente e conseguimos progredir
bastante em um curto espaço de tempo. Pena que isso não
acontece todos os dias, pelo menos para a maioria de nós. E
quando a inspiração não aparece, o que fazer? Vou tentar dar
algumas dicas que podem ajudar:

1. Jogue por alguns minutos - Antes de começar a escrever,


precisamos nos desligar do mundo exterior. Jogar paciência ou
algum outro jogo que permita distanciar nossos pensamentos
dos problemas da vida, fará com que nossa mente "desperte"
e esteja mais preparada para criar.

2. Escreva sobre outras coisas - No lugar de trabalhar logo de


cara em seu projeto principal, escreva sobre algum outro
assunto. Descreva o cômodo onde você está ou escreva um
conto sobre o que ocorreu com você na noite anterior. Depois
de alguns minutos fazendo isso, você verá que ao voltar para
seu projeto principal, as idéias irão fluir com mais facilidade.

3. Escreva um e-mail - Escolha uma pessoa que goste de ler


seus textos e escreva uma breve história para ela. Pode ser
um poema, um conto, uma piada ou qualquer outra coisa. O
simples fato de estar escrevendo, irá energizar sua mente e
permitir que você produza como nunca!

Se nada disso funcionar... bom, talvez seja melhor você ir


dar um passeio e tentar novamente em outra hora!

Como Trabalhar os Sentidos


Ao ler uma história bem escrita, você não apenas vê o que
está sendo contado, mas ouve sons, sente cheiros e
experimenta sensações de frio ou calor. É isso que nos faz
entrar de corpo e alma naquele mundo criado pelo autor. É
isso que nos faz sentir parte da história, compartilhar
experiências com os personagens e "estar" nos lugares por
onde eles passam. Mas como fazer nosso texto ter esta
mágica? O mais importante é você, como autor, entrar na pele
dos seus personagens e tentar responder algumas perguntas,
como por exemplo:

Quais os tipos de odores podem estar presentes neste lugar


e/ou situação em que o personagem se encontra?

Quais os sons que podem estar sendo emitidos no ambiente?

Qual a temperatura? Se o personagem está na água, esta está


fria ou quente? Se alguém toca no personagem, a mão do
outro está quente ou fria?

O objeto que está sendo manipulado pelo personagem é


macio? Duro? Flexível?

Continue fazendo perguntas como estas e as respostas irão


criar uma atmosfera bastante realista. Aí vão alguns pontos
que podem ajudar a estimular os sentidos dos seus leitores:

Cheiros - Se o personagem principal encontrou com sua


amada, ele deve ter sentido seu perfume. Se ele entrou em um
restaurante, certamente sentiu o cheiro da comida sendo
preparada na cozinha. Se alguém está preparando um café, o
ar ficará tomado por aquele aroma delicioso.

Sons - Uma arma caiu da mão do mocinho e isso faz com que o
barulho seja ouvido pelo vilão. Perdido na floresta, o menino
escuta o ruído de uma corredeira. O trânsito na grande
metrópole faz com que o personagem leve as mãos aos
ouvidos para tentar livrar-se daquele barulho ensurdecedor.

Temperatura - A chuva deixa a roupa de seu personagem


totalmente molhada e quando o vento sopra um pouco mais
forte, ele procura abrigo para fugir do frio. Ao segurar em um
cano de metal, o menino se assusta e tira a mão rapidamente,
mas as bolhas começam a aparecer e demonstrar a gravidade
da queimadura. Ao mergulhar, sentiu a água gelada
envolvendo seu corpo.
Nem sempre é preciso descrever diretamente o cheiro, som
ou a temperatura. Você precisa tomar o cuidado de deixar que
o leitor "viva" a experiência. Como exemplo prático, vou
mostrar abaixo um trecho de "Teia Negra" onde uso esta
técnica:
"Kremer e Guilherme passaram pela casa andando do lado
oposto da rua, tentando não chamar atenção. Estavam
abaixados atrás de uma picape quando o Mercedes prata
apareceu na curva, a menos de vinte metros de onde estavam.
Guilherme fez o sinal combinado para Camargo, que ligou a
sirene azul e subiu a rua em disparada, atravessando o carro
na frente do Mercedes, que freou bruscamente, deixando um
forte cheiro de borracha queimada. Ao mesmo tempo ele e
Guilherme colocavam uma tábua, com grandes pregos, por
trás dos pneus traseiros do carro e apontavam suas armas
para as portas. O motorista e o segurança desceram com as
mãos para cima, pareciam não estar dispostos a reagir. Logo
em seguida, Vicente abriu a porta traseira e saiu, segurando
uma maleta na mão direita."

Repare que não descrevi o barulho da freada, mas tenho


certeza que você ouviu claramente, não foi? Muito
provavelmente, você também escutou o som da porta do carro
sendo aberta. Procurei neste trecho dar a sensação visual da
sirene azul sendo refletida nos carros e casas ao redor e deixar
o ar carregado com o cheiro da borracha queimada. Será que
funcionou? Espero que sim.

Como Publicar Seus Trabalhos - Parte I

Recebi dezenas de e-mails solicitando dicas de como


encontrar uma editora e publicar um livro. Estava deixando
este assunto um pouco mais pra frente, mas dado o grande
interesse, aí vai.

Encontrar uma editora que esteja disposta a avaliar seu


trabalho é difícil. Conseguir ser publicado é mil vezes mais
difícil. As editoras buscam o lucro, o que não deixa de ser
justo, já que dependem dele para sobreviver. O problema de
um autor novo dentro deste contexto é que irá exigir um forte
investimento em marketing para que sua obra seja viável
comercialmente. Por outro lado, investir na publicação de
autores já consagrados e importar os bestsellers lá de fora tem
retorno garantido. É uma luta desigual e quase sempre perdida
para quem deseja ver seu primeiro trabalho nas estantes das
livrarias. Mas, como tudo na vida, existe sempre uma maneira
de contornar os obstáculos e vencer a guerra, mesmo tendo
que perder algumas batalhas no início.
Apesar de difícil, não é impossível encontrar uma editora que
tope bancar a publicação de seu livro, principalmente se for
um texto com qualidade e conteúdo interessante. Mas como
encontrar as editoras para onde devo enviar minha obra? Essa
é fácil: vá até uma livraria e encontre livros do mesmo gênero
e estilo que o seu. São estas editoras que poderão ter algum
interesse no seu trabalho. Não adianta mandar um texto de
ficção científica para uma editora que só publica livros
didáticos. Anote os dados da editora (telefone, endereço, site
na web, etc.) e volte para casa. Se a editora possuir um site na
Internet, vá até lá e veja se eles informam as regras para envio
de originais. Se você não conseguir encontrar as regras, faça
da seguinte forma:

1 - Evite "embelezar" o texto com fontes de letras diferentes,


figuras, ícones, etc;

2 - Não envie sugestão de capa. A primeira folha do seu


original deve trazer apenas o título e os dados do autor;

3 - Imprima seu texto em folhas A4 brancas, fonte Times New


Roman ou Arial tamanho 12, em preto e com espaçamento de
1,5 linhas;

4 - Faça uma boa revisão do seu texto antes de enviá-lo;

5 - Deixe as folhas soltas. Não grampeie ou encaderne, mas


lembre-se que as folhas devem estar todas numeradas.
Imprima também seu nome e telefone no topo de todas as
páginas;

6 - Escreva uma carta de apresentação de apenas 1 página.


Esta carta deve conter informações sobre o livro que você
considere relevantes;

7 - Coloque em um envelope e despache. Comece a rezar! As


editoras podem levar até 1 ano para dar uma resposta ou até
mesmo não dar resposta alguma. Não desanime. Somente os
que persistem conseguem um lugar ao sol!

Lembre-se de registrar o texto na Biblioteca Nacional antes


de enviá-lo para as editoras. O registro pode ser feito pelo
correio. Você encontra maiores informações em
http://www.bn.br.

Como Publicar Seus Trabalhos - Parte II

A impressão sob demanda vem ganhando terreno e


tornando-se uma alternativa bastante viável para aqueles que
querem ver seus livros publicados. Neste sistema, o autor
paga pela publicação, mas o custo é muito inferior aos custos
de uma edição normal (via editora comercial). Inicialmente,
são cobrados do autor a diagramação e outros serviços como
capa, obtenção de ISBN, etc. Os exemplares são impressos
apenas depois de vendidos ou por solicitação do autor. É
possível imprimir apenas 1 exemplar por vez e é isso que torna
o sistema sob demanda diferente.

Veja algumas vantagens deste sistema:


1 - A publicação do livro é realizada em um curto espaço de
tempo. Na maioria das vezes, em menos de 30 dias os
primeiros exemplares já estão prontos;

2 - O autor não depende de ser selecionado por uma editora e


ter que esperar para ser publicado;

3 - Os direitos autorais são muito maiores do que os oferecidos


pelas editoras tradicionais;

4 - É o autor quem determina o que será ou não publicado,


como fotos, imagem da capa, etc.

Agora, algumas desvantagens:

1 - Ao contrário de uma editora convencional, o autor é quem


irá pagar a conta;

2 - Na maioria dos casos, o autor é quem terá que vender seus


livros, pois neste sistema, com algumas excessões, não irá
existir apoio de marketing ou distribuição dos livros para
livrarias;

3 - O trabalho de revisão e acompanhamento do processo de


publicação é muito maior, já que a qualidade final irá depender
muito mais do autor do que da editora.
Abaixo, listo alguns sites de editoras que trabalham com
impressão sob demanda. Nestes sites você encontrará muitas
informações sobre o processo. Só quero deixar claro que não
estou recomendando nenhuma delas, apenas são algumas que
pesquisei ou conheço de nome. Antes de tomar sua decisão,
analise a proposta de cada uma e, se possível, pegue
referências com os autores já publicados. Existem dezenas de
outras, utilize o Google ou outro mecanismo de busca para
encontrá-las e boa sorte!

http://www.publit.com.br
http://www.corifeu.com.br
http://www.publiqueseulivro.com.br/
http://www.gizeditorial.com.br/
http://www.writers.com.br

Como Manter o Leitor Interessado

Um dos grandes desafios de quem escreve é manter o leitor


interessado o suficiente para que este chegue até o final da
história. De vez em quando, pegamos um livro para ler e não
conseguimos mais desgrudar dele até chegarmos na última
página. Eu estava um pouco receoso de falar sobre isso, pois
não sabia se já teria assimilado bem esta técnica. Agora,
depois de receber dezenas de e-mails de leitores dizendo ser
exatamente esta uma das principais características de Teia
Negra, estou um pouco mais confortável para tratar deste
assunto. Sem dúvida, um dos melhores elogios que um autor
pode receber é quando um leitor diz não conseguir mais parar
de ler a história. Mas como atingir este objetivo?

A primeira coisa que você deve ter em mente é que qualquer


leitor é movido pela curiosidade. Você, como autor, é
responsável por manter o leitor curioso sobre o que virá a
seguir, portanto deve tomar alguns cuidados para que sua
trama não se torne monótona e previsível. Vou relacionar
abaixo alguns pontos para ajudá-lo nesta tarefa:
1 - Não conte tudo de uma vez. Deixe sempre alguns detalhes
da trama para serem revelados aos poucos, assim o leitor irá
esperar por mais informações sobre um determinado
personagem ou uma situação que tenha ocorrido
anteriormente;

2 - Apesar de seus personagens terem que se comportar de


forma lógica, nada impede que eles tenham atitudes
imprevisíveis de vez em quando. Isso faz com que o leitor fique
em dúvida de como o personagem irá sair de determinada
situação;

3 - No final de cada capítulo deixe um "gancho". Esta técnica é


muito usada pelos principais autores. Para criar um "gancho"
você deve deixar alguma situação sem solução no final do
capítulo. Como exemplo, o herói pode estar em uma situação
de perigo e você encerra o capítulo naquele exato momento
em que parece não haver mais saída. A continuação da "cena"
pode ser já no próximo capítulo ou você pode até mudar de
assunto, voltando no capítulo seguinte. Só tome cuidado para
não deixar passar muito "tempo" entre o gancho e o restante
da ação, isso pode deixar o leitor frustrado. Outro ótimo
exemplo desta técnica é o final do capítulo de uma novela na
TV, repare que você sempre tem que esperar pelo dia seguinte
para saber o que vai acontecer.

Embora os "ganchos" sejam extremamente eficientes em


marter os leitores interessados, eles são apenas uma parte da
obra. Não irá adiantar ter excelentes "ganchos" no final de
seus capítulos se, por exemplo, seus personagens não forem
interessantes.

Para encerrar, vou deixar o trecho final do capítulo 30 de


Teia Negra. Aqui uma pergunta fica no ar e eu "convido" o
leitor para juntar-se a Michael na busca pela verdade.

"Voltando para seus papéis, ele começou a ler sobre as regras


estabelecidas pelo governo brasileiro para a exploração de
petróleo. Não achou nada interessante. Passou a pensar na
morte de Robert. Tudo o que eles haviam descoberto até
agora, mostrava que muitos interesses estavam em jogo, mas
nada que justificasse um assassinato. Robert deve ter
descoberto alguma outra coisa que o tornou uma ameaça
maior. Isto era o que Michael precisava descobrir. O que
Robert sabia?"

Como Fazer seu Leitor Chorar

Você já ficou, alguma vez, com lágrimas nos olhos enquanto


lia um livro? Creio que a maioria de nós já experimentou essa
sensação de sofrimento diante de acontecimentos que
envolvem os personagens de uma história. E você já parou
para perguntar como isso é possível? Como podemos nos
derreter em lágrimas apenas lendo um livro? Esta é uma
técnica usada com frequência por grandes autores e uma das
mais importantes para tornar sua história inesquecível.

O conceito é muito simples e para entendê-lo basta olhar um


pouco para a vida real. Se você está vendo TV e o jornal das
oito mostra um acidente com vítimas, você fica curioso e
começa a prestar atenção. Até aí, trata-se apenas de mais um
acidente. Conforme a reportagem avança, você percebe que o
acidente aconteceu com uma família que mora em uma rua ao
lado da sua. Uma das crianças veio a falecer e quando
mostram o rosto da menina na tela, você começa a chorar.
Aquela criança brincava com seus filhos e você conhecia sua
família, seus sonhos e o sorriso inocente de quem ainda teria
uma vida inteira pela frente. Agora a linda menina de cabelos
claros e bochechas rosadas estava no meio daquelas ferragens
retorcidas e você sabe que jamais irá vê-la novamente. Pronto.
Seu mundo desabou.

Qual foi o motivo principal de você ter ficado emocionado


com a reportagem? Certamente, o fato de você conhecer a
vítima e gostar dela! Nós nos importamos com aqueles que
conhecemos e nos preocupamos com eles. Da mesma forma,
para que um leitor fique emocionado com uma passagem de
um livro, é importante que ele conheça e se importe com o
personagem que está passando por dificuldades. Antes de
colocar seu personagem em uma fria e tentar arrancar
lágrimas dos seus leitores, você precisa criar uma conexão
emocional entre leitor e personagem primeiro. Faça com que
seu leitor conheça o personagem, seu passado, seus sonhos,
suas habilidades e o que mais você achar que possa ajudar a
criar um relacionamento entre eles.

Agora é só descer o machado! Não tenha pena do leitor!


Faça com que seu personagem sofra e leve o leitor junto com
ele! Se lágrimas aparecerem no canto dos olhos do leitor, você
conseguiu, parabéns. Não pense nisso como uma coisa cruel,
mas sim como um excelente ingrediente para tornar sua trama
interessante e cativante. Além do mais, sempre será possível
reverter a situação e fazer seu leitor sorrir! Mas isso é assunto
para uma outra hora.

Como Criar uma Conexão Emocional Entre Leitor e


Personagem

Na semana passada, falamos sobre como fazer o leitor se


emocionar com sua história. O principal motivo que leva o
leitor a derramar lágrimas com o que está lendo é o seu
vínculo com o personagem. Como criar este vínculo? Como
fazer com que o leitor "apaixone-se" e fique completamente
envolvido com o personagem a ponto de "sentir" as
consequências do que acontece na história? É sobre isso que
vamos falar um pouco hoje.

Seu principal objetivo como escritor é colocar o leitor na pele


do personagem. O leitor precisa tornar-se o personagem que
detêm o ponto de vista - POV (falamos sobre este assunto nas
dicas 3 e 4). Para que isso funcione, você terá que levar o
leitor para dentro da mente do personagem. Mostre quais são
os medos, as crenças, os objetivos e o passado do
personagem. Só tome cuidado para não exagerar, apenas
algumas dicas são suficientes. Deixe que eles conheçam um
ao outro, fiquem íntimos e sejam cúmplices nas decisões.

Nós somos seres emocionais e reagimos aos acontecimentos


desta forma. Se você quer causar impacto ao descrever uma
cena de terrorismo, por exemplo, ao invés de mostrar a
explosão e um monte de corpos mutilados logo de cara,
mostre primeiro as vítimas felizes antes do atentado. Isto irá
criar uma conexão emocional com o leitor e fará com que ele
fique realmente sentido com a morte daquelas pessoas. Para
demonstrar a diferença na prática, vamos analisar dois textos
e compará-los quanto ao grau de envolvimento emocional
leitor x personagens:

1. "Janaína brincava na calçada com sua bola de borracha. A


brincadeira consistia em arremessar contra um muro de
concreto e tentar agarrar o objeto arisco, que mudava
completamente de trajetória a cada vez que tocava em
alguma superfície. No quarto arremesso, a pequena esfera
azul passou por cima da cabeça da criança que,
instintivamente, virou o corpo e correu para o meio da rua. O
barulho estridente de uma freada precedeu o baque surdo e
sombrio. A bolinha bateu no meio-fio e voltou, parando ao lado
do corpo inerte da menina."

2. "Desde a morte de Catarina, Marcelo mudara seus hábitos.


Ele chegava todos os dias antes das seis e não fazia mais
horas extras nos finais de semana. Estava decidido a criar
Daniela como um pai presente e responsável. A mudança não
foi nada fácil. Acostumado a passar dias e noites em
operações policiais perigosas, ainda tentava se adaptar à
monotonia do serviço burocrático da delegacia.

De manhã, antes de sair para o trabalho, Marcelo passava no


quarto de Daniela e ficava, pelo menos, cinco minutos
acariciando os cabelos dourados e cacheados da filha. Nossa,
como o tempo passava rápido. Outro dia era apenas um bebê
e agora estava para completar cinco anos. Já falava coisas
incríveis, parecia mais inteligente que muitos adultos que
conhecia.

Depois que a babá ia embora e os dois ficavam a sós, eles


sentavam-se à mesa para jantar. Este era um dos maiores
prazeres do pai coruja. Daniela conversava sobre o que havia
acontecido naquele dia na escola e contava das dificuldades
da babá em dar banho no seu cachorro. Eles riam e se
divertiam. Apesar de sentirem a falta de Catarina, eram
felizes, pois sabiam que era assim que a mãe desejaria que
fosse.

Naquela noite, porém, ele sentiu seu coração bater mais forte
quando abriu a porta da sala. Daniela não veio a seu encontro
como sempre fazia. A casa estava silenciosa e ele sabia que
havia alguma coisa errada. Correu para o quarto da filha, mas
não a encontrou. Gritou pelo seu nome, mas não obteve
resposta. Ao entrar no banheiro, viu Joice, a babá, com as
mãos e pés amarrados e com os lábios tapados. Ele sentiu um
calafrio. Cuidadosamente removeu a fita que impedia Joice de
falar.

- Eles a levaram, Dr. Marcelo, eles a levaram, - disse Joice, com


lágrimas correndo pelo rosto e a voz embargada.
- Quem a levou, Joice?

Antes que a babá pudesse responder, o celular de Marcelo


tocou. Ele pegou o aparelho e quase o deixou cair.

- Alô?
- Dr. Marcelo, quanto prazer em falar com o senhor, - disse a
voz forte do outro lado da linha.
- Desculpe, mas não-
- Sua filhinha é uma graça, está aqui ao meu lado, chorando.
Gotas de suor brotavam da testa de Marcelo.
- Quem é você, o que está fazendo com minha filha?
- Agora, doutor, finalmente terei minha vingança.

Ele ainda pôde ouvir Daniela gritando, antes de perder a


ligação."

Se você analisar o primeiro texto, verá que trata-se de uma


tragédia. Uma criança vai para o meio da rua e é atropelada.
Você se emocionou? Pouco provável. Talvez tenha ficado um
pouco chocado, afinal uma criança atropelada não é uma coisa
muito fácil de se assimilar. E no segundo texto, alguma
emoção? Garanto que, no mínimo, você sentiu seu coração
apertado quando Marcelo ficou sem a filha. Repare que neste
caso, existe até a possibilidade de não acontecer nada com
Daniela e os dois voltarem a ficar juntos sem maiores
consequências. A diferença aqui é que você "conheceu" um
pouco mais Daniela e estabeleceu um relacionamento
emocional com Marcelo. O que está se passando com ele afeta
você diretamente.

A melhor maneira de criar personagens com quem seus


leitores se importem é você, como autor, entrar no
personagem e viver as situações. Coloque-se no lugar do
personagem quando ele estiver em uma situação de perigo. O
que ele sente? O que ele vê? O que ele pensa? Fazendo isso
você irá criar personagens mais humanos e reais, dando à eles
a credibilidade necessária para que seus leitores estabeleçam
um relacionamento. É isso que torna a leitura de um livro
agradável, afinal, você não está sempre querendo saber o que
acontece na vida de seus amigos? Pois então, faça o leitor ser
o melhor amigo dos seus personagens!

Como Escrever o Miolo de uma História Interessante

Já vimos como escrever inícios e mais para frente veremos


como escrever finais, mas e o meio do livro? Como conseguir
um recheio que mantenha o leitor interessado até o final da
história? O que fazer se sua trama está "patinando" e não
chega a lugar algum? Vou tentar ajudá-lo com estas questões.

Quando comecei a escrever "Teia Negra", já sabia como


seria o início e, principalmente, o final da história. O que eu
não sabia, ainda, era o que colocar entre os dois. Acredito que
esta seja uma das maiores dificuldades para um escritor:
escrever o meio do livro. Para ser interessante, o livro precisa
ter conteúdo interessante. Vou listar abaixo algumas dicas que
recebi ao longo do processo e que me ajudaram bastante
nesta tarefa:

1. Tenha controle sobre a trama. Saiba exatamente para onde


você está indo e que o caminho tomado leve ao final desejado.
Isso não significa que você deva ser previsível. Tenha na
manga algumas viradas na trama, assim o leitor estará sempre
na dúvida sobre o que irá acontecer. Pode ser um personagem
que é bonzinho e, de uma hora para outra, mostre seu lado
obscuro e cruel ou um fato novo que mude completamente os
rumos de uma investigação. O importante é que o leitor tenha
algumas surpresas pela frente.

2. Crie tramas paralelas, mas sempre relacionadas de alguma


forma com a trama principal. Não exagere para não perder o
controle e tenha o cuidado de fechar todas elas até o final do
livro. Deixar uma sub-trama em aberto é um erro, já que o
leitor ficará frustrado de não saber o desfecho da situação.

3. Você, provavelmente, não irá conseguir manter o mesmo


ritmo o tempo todo. É natural e até desejável, que a história
tenha seus altos e baixos. Depois de uma cena tensa, você
pode relaxar um pouco e deixar o leitor respirar por alguns
instantes. Só não esqueça de manter sempre a "ação", caso
contrário o livro poderá ficar chato.

4. Se você estiver enfrentando um bloqueio e não consegue


avançar, escreva sem se preocupar muito com a qualidade.
Tente pensar no que levaria a trama adiante e escreva.
Depois, durante as revisões, você terá oportunidade de lapidar
o texto e torná-lo mais interessante. O importante aqui é
quebrar o bloqueio e ir em frente.

Espero que isso ajude. No meu caso, ajudou muito. Consegui


criar uma trama em "Teia Negra" que mantém o leitor grudado
no livro até a última página. No final das contas, o que importa
é divertir e surpreender o leitor!

Como Escrever Finais

Falamos sobre como escrever inícios e meios, então agora


vamos aos finais. Sua maior preocupação com o início e o meio
de seu texto deve ser manter o leitor interessado o suficiente
para que ele leia tudo até a última linha. Mas o que adianta
fazer isso se o final não estiver à altura das expectativas
criadas? Se o final não convencer, ninguém vai querer perder
tempo lendo o que você escreve, pois sempre irá pensar na
experiência anterior de não ter tido um bom desfecho da
história. Vou relacionar abaixo algumas dicas para que o
encerramento seja com chave de ouro:

1. Durante a trama, você deve ter criado uma série de


situações envolvendo seus personagens. Não deixe para
resolver tudo no último capítulo. Algumas coisas devem ser
fechadas no decorrer da história, principalmente as sub-tramas
que não estejam diretamente relacionadas com o "grand
finale" planejado por você. O final propriamente dito deve ser
para o fechamento da trama principal e para que os
personagens que conduzem a história resolvam seus conflitos.

2. É muito importante que tudo fique resolvido. Não deixe


situações pendentes, mesmo as criadas para personagens
secundários. Lembre-se que o leitor sempre vai querer saber o
que aconteceu com a filha do porteiro que apareceu caindo da
escada no meio da história, mesmo que a personagem não
tenha qualquer peso na sua trama. Para ajudá-lo nesta tarefa
você pode manter uma lista com o nome de todos os
personagens que apareceram durante a história. Quando
estiver escrevendo os últimos capítulos, confira se você
resolveu todas as pendências. Não deixe absolutamente nada
para trás, caso contrário você terá um leitor frustrado.

3. Quanto maior o peso do personagem na história, maior a


atenção que você deverá dedicar ao final. O leitor deve ficar
satisfeito com o que leu, mas não necessariamente feliz! Não
tem problema se você decidir matar o mocinho e surpreender
todo mundo, afinal é você quem decide o que irá acontecer
com cada um dos personagens. O importante é que a história
termine de forma coerente e com todas as suas pontas
amarradas.

4. O final não se escreve apenas no último capítulo! O grande


momento em que tudo se resolve vem sendo preparado no
decorrer da história. Enquanto escreve, você deve ir plantando
as sementes que levarão ao clímax da trama. Você precisa
saber, desde o início, para onde está indo, mesmo que ainda
não tenha um mapa detalhado do caminho. Hoje estou
escrevendo um novo livro e, da mesma forma que aconteceu
quando escrevi "Teia Negra", eu já sei qual será o final. Só não
sei ainda, exatamente, "como" será o final. O "como" irá surgir
aos poucos, conforme a trama tomar mais corpo e todos os
personagens começarem a ter vida própria. O importante é
saber, o quanto antes, qual será o final. Um final convincente
só será construído se tiver uma base sólida. Emoções,
surpresas e conflitos somente terão efeito sobre o leitor se
forem transmitidas com credibilidade. A credibilidade você
constrói ao longo do processo e não apenas nas últimas linhas.
É por isso que antes do final, existe um início e um meio!

Muitas pessoas me escrevem elogiando meu trabalho com


Teia Negra e todas, sem exceção, disseram ter adorado o final.
Isso não é por acaso. Desde o momento em que escrevi a
primeira linha, eu já sabia que o final deveria ser
surpreendente e deixar um sorriso na face de cada um dos
leitores. Se você também conseguir isso, terá atingido seu
objetivo.

Como Filtrar as Descrições Através dos Personagens

Alguns fatores nos levam a filtrar, de formas diferentes, o


que vemos e sentimos quando estamos em uma determinada
situação. Esta afirmação também é válida para nossos
personagens. Os fatores mais relevantes são:

Experiências anteriores. Se uma pessoa é pobre e nunca teve


a oportunidade de ir a um restaurante classe A, por exemplo,
ela irá reparar em detalhes que uma pessoa rica e acostumada
a este tipo de lugar não repararia. O assoalho de madeira
envernizada, a arrumação das mesas com toalhas de linho e
taças de cristal, a forma como os garçons abordam os clientes
e por aí vai. Em uma situação como esta, a pessoa rica iria
reclamar da sua mesa que estava demorando, apesar de ter
sido feita uma reserva! Nesta mesma linha, imagine alguém
que nunca tenha pescado na vida e decidiu participar de uma
pescaria com os amigos pescadores veteranos. Quando esta
pessoa pegar um peixe, será uma experiência completamente
nova! A tentativa de segurar o peixe que escorrega pelas mãos
como sabão, o incômodo de ser espetado por uma barbatana,
a falta de habilidade para retirar o anzol, etc. Tudo isso para os
veteranos já não é mais um problema. A forma de lidar com as
situações e os sentidos é completamente diferente. Pense
nisso. Quando for colocar seus personagens em situações que
são naturais para eles, eles devem reagir de acordo. Da
mesma forma, a reação deve ser oposta em ambientes não
naturais. Conheça seus personagens e respeite o passado e as
experiências deles.

Reagir através dos sentidos. Nossas reações são motivadas


pelos nossos sentidos. Nem sempre devemos descrever o que
o personagem está vendo. Em algumas situações, outros
sentidos podem estar mais em evidência do que outros.
Imagine um personagem entrando em uma sala escura. Nesta
situação, o tato e a audição serão os sentidos pelos quais
devemos descrever a cena. Se entramos em uma tubulação de
esgoto, o cheiro é a primeira coisa que nos impacta. Se
estamos molhados depois de pegar uma chuva e é inverno,
estaremos sentindo frio. Determine qual sentido está mais em
evidência e use-o para determinar como o personagem reage.

E se fosse você? Coloque-se no lugar do personagem e pense


no que você estaria sentindo em determinada situação. O que
você vê? Está frio? Quente? Algum som que chame a sua
atenção? Algum cheiro? Só não esqueça que seu personagem
tem um passado diferente do seu e, provavelmente, irá reagir
de modo diferente. A não ser que você esteja escrevendo
sobre si mesmo.

Mostre apenas o que é importante. Quando estiver


descrevendo algum objeto, lugar ou situação, lembre-se de só
mencionar o que for relevante para a ação. Não caia na
tentação de descrever todos os objetos de uma sala,
minuciosamente, se isso não fizer diferença para a trama.
Descrições detalhadas fazem com que você fique longe da
ação e isso deixará o leitor entediado. Seja coerente. Se
alguém estiver fugindo da polícia em uma perseguição nas
ruas de Paris, não dá tempo de parar para admirar a beleza e
os detalhes arquitetônicos do Arco do Triunfo!

Ao escrever Teia Negra, procurei usar os ensinamentos que


transmito agora nesta newsletter e acho que o resultado ficou
bom. Disponibilizei os 20 primeiros capítulos no meu site para
que você possa conferir a aplicação das dicas em um trabalho
real. Repare que no "Prólogo" o que mais impressiona o
personagem é o "cheiro da pólvora". Já o primeiro capítulo é
pontuado por um rodízio de sentidos, apesar da maior parte
ser visual. Pegue qualquer obra de um grande autor e veja
como ele trata o assunto. Você irá aprender muito fazendo
este exercício.
Como Transmitir Energia Através das Palavras

Escrever é uma arte. Como todo artista, você deve trabalhar


com paixão, caso contrário o resultado final será apenas mais
um texto entre tantos. O correto seria dizer que é preciso
escrever com o coração. O que fará seu estilo único e original
será o que ficar nas entrelinhas. Você já reparou que algumas
pessoas quando chegam em um evento parecem mudar a
energia do lugar e iluminar todo o ambiente? Pois é, é disso
que estou falando. Seu trabalho precisa transmitir esta energia
e iluminar as vidas de seus leitores. Mas como conseguir este
efeito? Como transmitir energia através das palavras?

Se você está esperando que eu vá dar uma "receita de bolo",


esqueça, não é possível. O que posso fazer é garantir que esta
energia existe e pode ser passada adiante através do seu
texto. A única forma de fazer isso é escrevendo com o coração.
Em primeiro lugar, você precisa gostar do que escreve. Se
você gosta de ficção científica, escreva ficção científica, se
gosta de romances épicos, escreva romances épicos. Antes de
escrever, é claro, você precisa ler. Leia muito, mas muito
mesmo, livros do seu gênero preferido. Leia diversos autores,
assim você não corre o risco de virar um clone de um escritor
famoso. De vez em quando, aventure-se em outros gêneros,
afinal é sempre bom sair um pouco para dar uma volta e
respirar novos ares, isto irá estimular sua criatividade.

Você só vai conseguir arrancar um sorriso de satisfação de


um leitor, se você for capaz de ler o seu próprio trabalho e
dizer: "Nossa! Ficou ótimo!" Enquanto não atingir este ponto,
acredite, o texto não está pronto.

Aproveito o assunto para tocar em um ponto importante, que


está diretamente relacionado ao tema desta dica. Você
escreve apenas por hobby ou profissionalmente? Quando digo
profissionalmente, isso inclui aqueles que pretendem publicar
um trabalho algum dia, mesmo que ainda não ganhem
dinheiro com a profissão. Bom, o que quero dizer aqui é para
aqueles que são, ou pretendem ser, escritores profissionais. É
necessário ter disciplina e escrever regularmente, mesmo
quando não estiver se sentindo inspirado. Contraditório? Afinal,
você deve estar pensando: "como posso escrever com o
coração se não estiver inspirado?". O problema é que se você
ficar esperando a inspiração aparecer, pode ser que demore
muito e você morra de fome! Mesmo sem estar inspirado,
escreva algumas linhas todos os dias. Desta forma, você
estará estimulando sua inspiração e, de uma hora para outra,
ela aparece e você será capaz de revisar o que tiver escrito
"mecanicamente" e, aí sim, colocar a sua energia que irá
iluminar a vida de muitos leitores.

Como Escrever Lutas e Combates

Como recebi muitos pedidos para falar sobre este assunto, aí


vai!

Leia a cena de luta abaixo:

Antônio ainda estava sentado na mesa do bar quando recebeu


o primeiro soco. Ele virou repentinamente e viu Ricardo em pé
ao seu lado, chamando para uma briga. Antes mesmo de
levantar, ele deu um chute na perna de Ricardo, fazendo com
que seu oponente perdesse o equilíbrio e quase caísse.

Ricardo não demorou a desferir um outro golpe, desta vez


abrindo um talho nos lábios de Antônio. O grandalhão, agora
ferido, jogou seu corpo sobre Ricardo, que caiu batendo com a
cabeça no chão e ficando desacordado. A luta estava
encerrada.

O texto acima narra uma luta entre Antônio e Ricardo. Isto já


é um problema, pois o ideal é mostrar e não narrar. Outro
ponto que torna a cena fraca e desprovida de emoção é o fato
de não existir um personagem com o ponto de vista (POV, vide
"Como Estabelecer o Ponto de Vista", partes I e II). A cena é
vista "de longe" pelo leitor, que não fica emocionalmente
envolvido. Os nomes dos personagens são repetidos muitas
vezes, o que também afasta o leitor da cena.

Agora vejamos a mesma cena escrita de forma diferente:

Antônio estava distraído, sentado, saboreando sua cerveja


gelada quando sentiu um forte impacto atingir seu queixo.
Levou alguns instantes para que ele percebesse o que
acontecia. Tentando ignorar a dor que sentia, girou a perna
por baixo da mesa e atingiu seu oponente, que cambaleou e
quase caiu.

Na noite anterior, ele dormira em um motel, acompanhado da


mulher de Ricardo, que agora olhava para ele furiosamente.
Gotas de suor desciam pelo rosto do marido traído e Antônio
começou a sentir uma ponta de culpa.

- Seu safado! Vou acabar com você! - Gritou Ricardo,


mantendo os olhos fixos em seu alvo.
- Deixa disso, gente boa. Vai pra casa, cuidar da sua esposa, -
disse Antônio, enquanto se preparava para receber o próximo
golpe.

Ele nunca havia saído com mulher de ninguém, pois sempre


teve medo de estar em uma situação como a que se
apresentava agora. Mas, Lindalva era irresistível e ele acabou
seduzido pela moça.

O ataque seguinte foi tão rápido que, mesmo estando alerta,


ele não conseguiu impedir que seu lábio inferior fosse atingido.
O gosto de sangue veio logo a seguir e foi neste momento que
ele decidiu acabar logo com aquilo, antes que coisa pior
pudesse acontecer.

O infeliz, certamente, não estava preparado para o que ele


faria a seguir. Antônio atirou-se em direção ao corpo de seu
rival, fazendo com que os dois caíssem. A cabeça de Ricardo
bateu no chão de ladrilho e ele ouviu um barulho abafado. A
luta chegara ao fim. Ele apenas certificou-se que o pobre
coitado ainda respirava e saiu, deixando sua cerveja pela
metade.

- Lindalva nunca mais, - disse baixinho.

E então? Melhorou? O texto não é lá essas coisas, mas serve


de exemplo. O mais importante aqui é o fato de Antônio ter o
ponto de vista e o leitor ver a cena através de seus olhos. A
aproximação é total e o leitor entra na briga!

Ao escrever uma cena de luta, faça com que o leitor conheça


o personagem que detém o ponto de vista. Mostre seus
pensamentos, suas emoções e os motivos que o levaram a
estar naquela situação. Isso irá gerar identificação com o
personagem e trará mais vida para a cena. Este conceito vale
para qualquer tipo de confronto, seja uma briga de bar ou um
duelo com espadas.

Nos últimos capítulos de "Anjos e Demônios" de Dan Brown,


existe uma cena de luta entre Langdon (o herói) e o "Assassin"
(o vilão). O experiente escritor coloca o ponto de vista em
Langdon e faz o leitor entrar na pele do herói. Os apuros
vividos pelo personagem nesta cena deixam nossos nervos à
flor da pele! Se você já leu o livro, volte nesta parte e
identifique as técnicas usadas por Dan Brown. Se ainda não
leu, eis um bom motivo!

Como Fazer seu Leitor Rir

Fazer rir não é fácil, portanto não espere que eu vá colocar


aqui uma receita milagrosa e infalível.

Muitas vezes, é mais importante a forma como a piada é


contada do que seu conteúdo. Já aconteceu de você ouvir uma
mesma piada diversas vezes e só conseguir rir depois que
aquele seu amigo maluco colocou alguns ingredientes novos
na história? Pois é, para escrever comédia é preciso lançar
mão de alguns ingredientes:

1. Surpresa - Para arrancar sorrisos dos leitores, você deve


surpreendê-los. Situações inusitadas são muito usadas em
comédias do tipo pastelão. É o balde que cai na cabeça do
noivo que está pronto para sair para a igreja ou o bebê que faz
xixi na cara da avó enquanto a fralda é trocada. A surpresa
também pode ser usada de formas mais sutis, como aquele
cara que acorda ao lado de uma mulher que ele nem lembra
ter conhecido na noite anterior.

2. Sarcasmo - Diálogos carregados de ironia podem ser bem


eficientes. Um bom laboratório são os debates políticos,
normalmente as falas dos candidatos estão recheadas de
sarcasmo em relação aos adversários. Outro exemplo muito
comum, é o da sogra falando sobre a nora, ou vice-versa.

3. Aparência Física - Gordo, magro, corcunda, com uma


verruga enorme na testa, anão, gigante, etc. Muitos
humoristas usam a aparência dos personagens de forma a
torná-los cômicos.

4. Exagero - Algumas situações ficam engraçadas quando


exageramos em algum ponto. Um personagem muito gordo,
por exemplo, pode fazer com que um carro vire quando ele se
senta no banco do carona.
5. Fala - A forma como alguns personagens se expressam pode
ajudar a tornar o texto engraçado. Você pode usar um sotaque
específico, fazer com que o personagem seja gago ou fanho e
usar outros artifícios nesta mesma linha.

Talvez a melhor forma de aprender seja com quem faz. Leia


algumas comédias de autores que você goste e veja como eles
usam os recursos que fazem rir.

Como Escrever Pensando em Cenas

Quando você escreve uma história, constrói, na verdade,


uma seqüência de cenas que serão projetadas na mente do
leitor. Como diz o ditado: "uma imagem vale mais do que mil
palavras", portanto você irá precisar de muitas palavras para
conseguir construir a visão de uma cena na cabeça de quem
estiver lendo seu texto.

Aí vão algumas dicas para uma boa cena:

1. Posição da Câmera: em um texto, a posição da câmera é


determinada pelo personagem que detêm o ponto de vista
(POV - Point Of View - ver dicas "Como Estabelecer o Ponto de
Vista - Partes I e II"). Imagine a cena sendo "filmada" através
dos olhos do personagem. O que ele está vendo? Quem mais
está por perto? Quais ações estão sendo desenvolvidas? É
claro que você pode ter visões diferentes, principalmente
quando o texto está sendo narrado. Neste caso, você pode ter
a câmera posicionada por cima, por baixo ou pelas laterais,
"filmando" os personagens como se fosse a "platéia".

2. Ambiente: pense em como o ambiente deve ser retratado


para o leitor. Está escuro ou claro? Está quente ou frio? Qual o
cheiro? O lugar causa medo ou transmite tranqüilidade? É
barulhento ou silencioso?

3. Cenário: você precisa de um fundo para sua cena. O lugar


onde o personagem está é uma casa moderna? Antiga? Um
escritório? Uma praça? Como está decorado? Existem móveis?
Plantas? Monumentos? Obras de arte? Monte seu cenário
mentalmente como se estivesse construindo uma maquete.

4. Objetos de Cena: já reparou que, assim como fazemos na


vida real, nos filmes, novelas ou séries de TV os personagens
interagem com o ambiente e com os objetos próximos? Pois é,
você precisa fazer com que seus personagens aproveitem os
objetos que estejam ao redor. Pode ser um interruptor que
acende uma lâmpada, um maço de cigarros que é amassado
em um momento de raiva, um objeto sobre a mesa que é
trocado de lugar diversas vezes durante uma conversa e por aí
vai.

5. Marcação: esta é uma terminologia usada por diretores de


teatro e TV para posicionar os atores no cenário ou no palco e
marcar os pontos de reação. Você pode usar esta mesma
técnica para seus textos. Quando, por exemplo, um
personagem estiver empunhando uma arma para atirar em um
outro, pense em como serão as marcações para esta cena. A
arma está na altura dos olhos? Qual a distância entre o
personagem e seu oponente? O oponente reage? Se sim, em
que momento? Antes de atirar o personagem faz algum gesto?
Muda de posição?

Estas dicas são válidas para roteiros, peças teatrais e podem


ser usadas com bastante sucesso em literatura de um modo
geral.

Como Escrever Cenas de Sexo

Se você pensa que vou explicar como escrever uma cena de


um filme pornô, pode esquecer. O objetivo desta dica é
apresentar os fundamentos para uma boa cena de sexo que se
encaixe em um romance, mistério, policial, drama, terror,
fantasia, etc. Repare que usei a palavra "encaixar" e este é o
ponto fundamental a ser considerado quando você decide
inserir uma relação sexual no meio do seu texto. A cena deve,
obrigatoriamente, acrescentar alguma coisa à trama, seja um
novo elemento que ajude a esclarecer um mistério ou uma
característica de um personagem que, até então, não havia se
manifestado. O importante aqui é que ela faça parte do todo e
não seja apenas um relato pornográfico gratuito, sem qualquer
função no desenrolar da história. O que você quer, na maioria
das vezes, é uma cena de amor com conteúdo sexual e não o
ato sexual puro e simples.

Normalmente, uma cena de sexo serve para mostrar:

- Aquisição: como a conquista de um novo amor.


- Retenção: o momento em que o casal reforça seus laços e a
união fica ainda mais forte na trama.

- Perda: um adeus, uma despedida desejada ou não.

A cena pode, e deve, mostrar a intimidade entre os


personagens, assim como usar elementos como o fingimento
ou insatisfação para estabelecer o clima da relação como um
todo.

Para ajudá-lo a decidir como a cena deve ser escrita, vou


deixar algumas perguntas para reflexão:

- Qual o real objetivo da cena?

- Que tipo de conflito ou harmonia entre os personagens você


deseja mostrar?

- Quão explícita deve ser a cena?

- Qual será a influência desta cena nos capítulos seguintes?

Lembre-se que, como na vida real, nem sempre uma relação


sexual é perfeita. Pode acontecer de um dos parceiros falhar, o
ato ser interrompido por algum fator externo ou um dos dois
pode se arrepender e desistir. Não esqueça do ambiente. Um
dos personagens pode estar "desligado" do momento, por
estar preocupado que o bebê comece a chorar. Um quadro
com a foto do pai da moça pode deixar o rapaz incapaz de
seguir adiante e por aí vai.

Aqui valem as mesmas regras de "Como escrever lutas e


combates": é preciso estabelecer claramente qual é o
personagem que detém o ponto de vista (POV - vide dicas
anteriores sobre o assunto) e mostrar a cena através deste
personagem. O que o personagem está vendo, sentindo,
pensando? Se você se colocar no lugar deste personagem,
ficará muito mais fácil escrever a cena.

Cuidado com o tom da cena. Você deve definir antes, se a


cena será engraçada, séria, romântica ou erótica e usar as
palavras adequadas. Compare duas versões de um mesmo
trecho de cena e entenda o que quero dizer:

Versão 1:
Clarisse sentiu o corpo estremecer quando Lauro tocou seus
seios, enquanto a beijava suavemente. Ela só conseguia
pensar o quão feliz seria sua vida dali para frente. Agora que
havia conquistado o homem da sua vida, nada mais importava.
Ele começou a desabotoar sua blusa e ela soltou um suspiro
quando aquela mão quente e forte apertou suavemente seu
seio esquerdo...

Versão 2:
Clarisse quase teve um treco quando Lauro meteu a mão em
seus peitos, enquanto tacava-lhe um baita beijo na boca. Ela
só conseguia pensar na idiota da Sheila, que deixara escapar
um pedaço de homem daquele. Ele começou a arrancar sua
blusa e ela quase gozou quando aquela baita mão quente e
forte espremeu uma de suas tetas...

Diálogos durante cenas de sexo são importantes para dar


vida e realismo, mas atenção: eles devem ser interessantes e
não apenas "Eu te amo... eu te amo...".

Evite interromper uma seqüência de cenas de ação com uma


cena de sexo. Isso pode levar seu leitor a ficar se perguntando:
"Quem é esse cara que tem tempo para namorar enquanto
está sendo perseguido por bandidos?" Em alguns casos, é
melhor deixar registrado para o leitor que uma cena de sexo
aconteceu, do que descrever a cena em detalhes. Fiz isso em
Teia Negra e funcionou muito bem.

Como Escrever Cenas de Suspense

Recebi alguns e-mails solicitando técnicas para escrever


cenas de suspense. Só quero deixar claro que existe uma
diferença muito grande entre suspense e terror. Digo isso, pois
alguns e-mails pareciam confundir um pouco os dois conceitos.
É claro que você pode usar suspense e terror na mesma
narrativa. Aliás, histórias de terror sempre são acompanhadas
de muito suspense.

Para simplificar:

- Terror ocorre quando a cena é forte, onde coisas ruins


acontecem e reagimos com sentimentos de medo e repulsa.

- Suspense acontece quando ficamos ansiosos para saber o


que virá a seguir.
Nosso objetivo aqui é falar sobre como fazer suspense, seja
para romances, comédias, terror ou qualquer outro gênero.

Vamos começar com as premissas básicas para uma boa


cena de suspense:

1 - Os personagens envolvidos devem ser verdadeiros e


inspirar confiança para o leitor (vide dicas "Como Construir
Personagens Partes I, II e III");

2 - Você deve escolher o melhor ponto de vista para a cena


(vide dicas "Como Estabelecer o Ponto de Vista - Partes I e II");

3 - O leitor deve ter estabelecido algum envolvimento


emocional com o(s) personagem(ns) principal(is) (vide dica
"Como Criar uma Conexão Emocional Entre Leitor e
Personagem");

Agora vamos aos ingredientes:

- Objetivo. O personagem deve ter um objetivo claro a ser


conquistado e que justifique o esforço para alcança-lo.

- Contagem regressiva. O personagem deve cumprir seu


objetivo em um determinado período de tempo, caso contrário,
irá fracassar e as consequências serão dramáticas.

- Obstáculos. O personagem deve encontrar obstáculos


imprevisíveis e difíceis de superar.

Muito bem, considerando que as premissas foram atendidas


e os ingredientes são conhecidos, vamos exercitar. Partimos
de uma situação comum:

"Renato sai de casa para ir ao museu."

Nada demais, correto? Então vamos melhorar acrescentando


um objetivo claro.

"Renato precisa raspar um pedaço de osso do Tiranossauro


Rex, ingrediente fundamental para a poção que irá salvar a
vida de Lila."

Agora adicionamos o ingrediente "Tempo".

"São quatro e meia da tarde e Renato precisa chegar ao


museu antes das cinco, quando os portões são fechados. Mas
o prazo para salvar Lila é o que mais preocupa. Hoje à noite, a
lua completa seu ciclo e quando aparecer, exatamente às
vinte e uma horas, será o fim de Lila. A única salvação é a
poção, que reverterá o processo de envelhecimento e fará com
que Lila volte a ser saudável."

E, finalmente, os obstáculos. Primeiro um que irá tornar-se


uma preocupação para o personagem e, consequentemente,
para o leitor.

"Ao entrar no carro, Renato olha para o ponteiro da gasolina.


Está na reserva. Ele não terá tempo de reabastecer, pois o
tempo de deslocamento até o museu, em condições normais é
de quarenta minutos. Ele terá que correr e rezar para que o
combustível não acabe no meio do caminho."

Um imprevisível.

"Já na estrada, Renato não consegue tirar os olhos do painel. A


luz que indica falta de combustível pisca insistente e ele
precisa de gasolina por mais cinco quilômetros. Ele vê a saida
que dá acesso à avenida principal e pega a pista da direita.
Desce a rampa e é surpreendido por um gigantesco
engarrafamento. Vários carros bloqueiam seu caminho. Sem
ter como voltar para a estrada ou pegar outro desvio, Renato
se desespera. Restam apenas 10 minutos para o fechamento
do museu. Ele precisa encontrar uma saída."

O que mais pode ser usado nesta história para gerar


suspense? Eu diria que o céu é o limite! Tudo vai depender da
imaginação do escritor. Podemos, por exemplo, parar o
capítulo nesta última sentença, deixando o leitor sem saber se
Renato irá ou não conseguir encontrar um meio de chegar ao
museu a tempo. Então dedicamos o próximo capítulo à Lila,
vivendo o drama do ponto de vista dela! Imagine se criarmos
uma situação onde o prazo de Lila para ficar viva se torne
ainda menor? E, pior, Renato só fique sabendo disso depois
que voltar do museu com o ingrediente para a fórmula?

Como você pode ver, a receita é simples, mas o cozinheiro


deve saber usar os ingredientes de forma inteligente!

Вам также может понравиться