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Organização autora:
Membros do MEPCT/RJ:
Alexandre Campbell, Fabio de Almeida Cascardo, Graziela Contessoto Sereno,
Vera Lucia Alves, Patrícia de Oliveira e Renata V. Côrtes de Lira
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Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura
Rua Primeiro de Março, S/N. Sala 208. Centro. Rio de Janeiro-RJ. CEP: 20010-090
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Sumário
1. Apresentação…………………………………………………………………...…..04
2. O MEPCT/RJ……………………………………………………………………....05
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5. Considerações finais……………………………………………………………..…55
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1. Apresentação
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passar a cumprir pena em outros dez estabelecimentos penais do sistema prisional, tornando
pertinente apresentar as condições de detenção nos mesmos.
2. O MEPCT/RJ
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1
Protocolo Facultativo à Convenção da ONU contra a Tortura: manual de implementação. (p.73). San José,
Costa Rica: Associação para Prevenção à Tortura e Instituto Interamericano de Direitos Humanos, 2010.
2
Declaração do Subcomitê de Prevenção à Tortura da ONU ao apresentar o segundo relatório anual do SPT
ao Comitê contra a Tortura. Vide “Committee against Torture meets with Subcommittee on Prevention of
Torture”, Comunicado de imprensa de 2 de maio de 2009, disponível em:
www.unog.ch.http://www.unog.ch/80256EDD006B9C2E/(httpNewsByYear_en)/02A16C255B95E900C1257
5B40051FA5A?OpenDocument
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A confecção deste informe não teria sido possível sem a informação de relatórios produzidos por equipes
anteriores do MEPCT/RJ, a quem registra-se aqui os agradecimentos, para além das notas de referência.
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Todo esse item do presente informe é reprodução do conteúdo produzido pelo MEPCT/RJ em “Noções
Introdutórias ao Relatório: A Progressão de Regime no contexto do Grande Encarceramento”, in Análise da
Progressão de Regime no Cumprimento da Pena no Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro:
MEPCT/RJ, 2013).
5
ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Direito e Prática Histórica da Execução Penal no Brasil. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Ed. Revan, 2005, p. 125.
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No campo dos direitos do condenado, a Lei de Execução Penal, traz em seu art. 41,
um importante rol que reconhece juridicamente o apenado como sujeito de direitos,
reafirmando a progressão de regime insculpida no Código Penal, e trazendo importantes
disposições no que se refere ao trabalho, à educação e às saídas temporárias.
6
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal. 3ª edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 1996,
p. 7.
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Já a prevenção especial indica que o cumprimento da pena deve contribuir para que
o apenado não volte a cometer outros crimes. É ela a tão mencionada função
ressocializadora da pena.
A LEP (Lei 7.210/84), em seu artigo 1º dispõe sobre os objetivos da execução penal
no direito brasileiro, atribuindo-lhe o cumprimento da função de prevenção especial, além,
é claro, da efetivação do disposto na sentença condenatória, como podemos ver a seguir:
Art. 1º - A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado.
Deste modo, extrai-se que, se a função da pena exercida pela execução penal
refere-se à prevenção especial, a retribuição e a prevenção geral devem ocorrer em outra
fase, no momento da sentença, como bem afirma o artigo 59 do Código Penal:
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i. Direitos do Preso
7
ZAFFARONI, E. R. e PIERANGELI, . Manual de Direito Penal. (2004, p. 220)
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Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que lhe
impõe uma limitação de direitos previstos na Constituição Federal e na normatividade
infraconstitucional. Neste sentido, a LEP assim dispõe:
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Cada órgão da execução penal possui a sua atribuição bem definida pela LEP (artigo
61 e seguintes), mas todos têm em comum a função de monitorar e fiscalizar algum aspecto
do sistema prisional, cumprindo um papel fundamental para o cumprimento dos direitos
dos presos.
O art. 33 do Código Penal prevê três tipos de regime de cumprimento das penas:
fechado, semiaberto e aberto. Ainda no que tange ao disposto no artigo 33 do Código Penal,
é expressa a vedação de determinação do regime fechado inicial em caso de crime cuja
pena prevista seja de detenção. Cabe dizer que, ao contrário da detenção, a pena de reclusão
pode iniciar seu cumprimento em regime fechado.
A fixação do regime inicial fica a cargo do juiz da ação penal, devendo o mesmo
atender a todos os requisitos legais objetivos e subjetivos. Neste ponto, a doutrina aponta
como fatores que incidem na determinação inicial do regime: natureza da pena (detenção
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devendo constituir o alojamento em ambiente salubre, cela individual com pelo menos seis
metros quadrados, constando dormitório, aparelho sanitário e lavatório (art.88 da LEP).
v. Regime Semiaberto
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cursos e outras atividades autorizadas durante o dia e pela liberdade restringida durante a
noite e dias de folga.
Além do disposto acima, a LEP prevê algumas condições gerais e obrigatórias para
a concessão do regime aberto, facultando ao juiz a determinação de outras que julgar
necessárias, como observa-se ao ler o artigo 115:
Art. 115. O juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto,
sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for
determinado.
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Importante destacarmos que este rol taxativo do artigo 117, por expressamente vetar
outras circunstâncias em que poderia ser aplicado o regime aberto domiciliar, pode
contribuir para a violação dos direitos dos presos, pois em caso de inexistência de casas de
albergado suficientes para atender a todos os que fizerem jus a este regime, resta aos
mesmos permanecerem em unidades prisionais inadequadas. Seria muito mais razoável
prever o regime aberto domiciliar em caso de inexistência de estabelecimento próprio, do
que submeter os presos atuais a condições precárias de cumprimento da pena.
Com a reforma promovida em 1984, com a provação da LEP, este sistema sofreu
profundas modificações, sofrendo novas alterações com a vigência da Lei Nº 10.792/2003,
como a exclusão da necessidade de um parecer da Comissão Técnica de Classificação, e do
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Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento
carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e
do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e
comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes.
8
O MEPCT/RJ costuma recomendar “À Vara de Execuções Penais e ao Ministério Público do Estado do Rio
de Janeiro – recomendar a não obrigatoriedade de realização do exame criminológico para progressão de
regime, visto que tal instituto não configura requisito imprescindível desde o advento da Lei Nº 10.792 /2003,
bem como para a concessão das autorizações de saída, prevista no art. 123 da Lei de Execução Penal”.
Recomendação feita no relatório Análise da Progressão de Regime no Cumprimento da Pena no Sistema
Penitenciário do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 2013).
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bom comportamento, será direito seu a progressão do regime. No entanto, a autoridade que
atesta o seu bom comportamento é a direção da unidade prisional em que cumpre a pena,
possibilitando assim uma discricionariedade indesejada, tornando-se um procedimento
eivado de questionamentos.
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A lei dos crimes hediondos (Lei n.º 8.072/90) proibia a progressão de regime para
estes tipos penais. O Superior Tribunal Federal decidiu pela inconstitucionalidade deste
dispositivo legal, por ofensa à individualização da pena e por ferir expressamente o sistema
progressivo instituído pelo código penal.
Após esta decisão do Supremo, o Congresso Nacional aprovou a Lei n.º 11.464/07
que alterou a lei de crimes hediondos no sentido de: determinar o cumprimento inicial da
pena em regime fechado; determinar que a progressão de regime nesses crimes se dê após o
cumprimento de dois quintos da pena, em caso de apenado primário, e em três quintos em
caso de reincidente.
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estatais e da sociedade civil que compõem o Comitê estadual para Prevenção e Combate à
Tortura do Rio de Janeiro.9
9
O Comitê estadual para Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro, órgão também criado pela Lei
estadual n.º 5.778/10, é composto de forma paritária entre o poder público e a sociedade civil, conforme o art.
3º da Lei.
10
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Plácido Sá Carvalho em 31 de janeiro
de 2012 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 22 de março de 2012), acervo institucional
11
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de dezembro
de 2011, (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 05 de Janeiro de 2012), acervo institucional
12
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de fevereiro de
2013 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 06 de fevereiro de 2013), acervo institucional
13
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Diomedes Vinhosa Muniz em 24 de maio de
2016, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 08 de julho de 2016), acervo institucional
14
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 16 de setembro
de 2015 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 16 de setembro de 2015), acervo institucional
15
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
16
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Penitenciária Moniz Sodré em 29 de abril de 2014
(Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 03 de junho de 2014), acervo institucional
17
Este relatório de visita ainda não foi concluído, de modo que as informações colhidas durante a inspeção
estão sendo expostas pela primeira vez no presente documento. A visita de monitoramento ao Instituto Penal
Ismael Pereira Sirieiro - SEAPIS se deu em 18 de abril de 2017.
23
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O mesmo pode se dizer dos outros cinco estabelecimentos penais que recebem
presos em regime semiaberto, que são a Colônia Agrícola Marco Aurélio Vergas Tavares
de Mattos - SEAPAM, o Instituto Penal Cândido Mendes - SEAPCM, o Instituto Penal
Edgard Costa - SEAPEC, Instituto Penal Benjamin de Moraes Filho - SEAPPBM e a
Penitenciária Inspetor Luis Fernandes Bandeira Duarte - SEAPBD. Apesar de não
apresentar, neste documento, informações detalhadas dessas últimas cinco unidades, o
MEPCT/RJ já esteve em todos os locais de cumprimento de pena em regime semiaberto da
Secretaria de estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, sejam eles para
pessoas do sexo masculino ou feminino. Diante da impossibilidade de que os internos do
Instituto Penal Plácido Sá Carvalho - SEAPPC sejam transferidos para estabelecimentos
24
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Tendo em vista que nem todas os estabelecimentos para regime semiaberto atendem
exclusivamente a essa etapa de cumprimento de pena (misturando regime fechado,
semiaberto, aberto, provisório e temporário), não é possível dizer ao certo, a partir das
tabelas confeccionadas pela SEAP, quantas vagas estão disponíveis para essa finalidade.19
Segue abaixo a tabela com os locais e datas das inspeções feitas pelo MEPCT/RJ,
seguidos da capacidade de lotação, efetivo na data da inspeção e o efetivo atual das
unidades para regime de semiaberto. Os dados são fruto tanto das inspeções quanto dos
números divulgados pela própria Secretaria em 06 de fevereiro de 2017:
18
No relatório Mulheres, Meninas e Privação de Liberdade no Rio de Janeiro, o MEPCT/RJ expõe a situação
das unidades para presas mulheres. Disponível em
<https://drive.google.com/file/d/0ByIgDzCTzaAEeGo3dDVhM0cxaU0/view>
19
Uma das principais recomendações feitas pelo MEPCT/RJ em seus diferentes relatórios tem sido, no âmbito
estadual, para que seja garantida a transparência e a produção de dados por parte dos órgãos do sistema de
Justiça, à luz da Lei de Acesso à Informação (Lei n.º 12.527/11), que obriga a produção e acesso a dados
relativos a violações de direitos humanos.
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Quando o Mecanismo inspecionou a unidade a capacidade declarada pela direção foi de 898 presos
21
Quando o Mecanismo inspecionou a unidade a capacidade declarada pela direção foi de 898 presos
22
Quando o Mecanismo inspecionou a unidade a capacidade declarada pela direção foi de 1.364 presos
23
Quando o Mecanismo inspecionou a unidade a capacidade declarada pela direção foi de 352 presos
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7. SEAPAM 140 63
Nota-se, portanto, que com exceção de três unidades, todas as demais encontram-se
superlotadas. Em alguns casos, essa chega a passar do dobro da capacidade, como no caso
do Instituto Penal Plácido Sá Carvalho - SEAPPC, o que não torna menos dramática,
necessariamente, a situação para as pessoas aprisionadas nas demais unidades, que também
funcionam muito acima do que permitiria a sua estrutura. Conforme se verá a seguir, as
condições de detenção nesses espaços são motivo de preocupação para o MEPCT/RJ.
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b. Condições de Detenção
Para tanto, o MEPCT/RJ não poderia se furtar de afirmar seu compromisso não
apenas com os parâmetros elencados em todo o corpus juris que compõe o Direito
Internacional dos Direitos Humanos, o qual ampara o MEPCT/RJ em sua atividade
cotidiana de prevenir e erradicar a tortura e os maus tratos. Nesse sentido, cumpre frisar a
importância das sentenças emitidas por esta Corte, estabelecendo parâmetros mínimos de
proteção da dignidade humana das pessoas privadas de liberdade, bem como dos
enunciados emitidos pelos demais mecanismos internacionais de salvaguarda dos direitos
humanos.
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1989), a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985, ratificada pelo
Brasil em 1989), a Constituição Federal de 1988, a Convenção da ONU sobre os Direitos
da Criança (1990), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969, ratificada pelo
Brasil em 1992), a Lei n.º 9.455 de 1995, que define a tortura como crime, o Protocolo
Facultativo à Convenção da ONU Contra a Tortura - OPCAT (2006), o Terceiro Plano
Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 (2009), a Lei n. 12.528 de 2011, que criou a
Comissão Nacional da Verdade (CNV) e, por fim, a Lei que Institui o Sistema Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura (Lei n.º 12.847 de 2013). É, portanto, com base nos
múltiplos instrumentos de proteção do ser humano, no sentido de proibir todas as formas de
dominação e de poder arbitrário24, que se organizou o presente documento.
Isto posto, deve-se enfatizar que quando o Estado priva de liberdade um indivíduo,
tal ato carrega consigo o compromisso concreto e específico de proteger a dignidade
humana do prisioneiro.25 Ou seja:
24
Antônio A. C. Trindade, Desafios e Conquistas do Direito Internacional dos Direitos Humanos no Início
do Século XXI, 411, acesso em 16 abr 2017,
https://www.oas.org/dil/esp/407-490%20cancado%20trindade%20OEA%20CJI%20%20.def.pdf
25
CIDH. “Menores Detenidos v. Honduras”, Caso 11.41, Relatório No41/99, CIDH, Relatório Anual 1998,
OEA/Ser.L/V/II.102 Doc. 6 rev. (1998), par 135.
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No entanto, não é isso que se observa nas unidades prisionais de regime semiaberto
no Rio de Janeiro. Abaixo serão apresentados fatos testemunhados pelo MEPCT/RJ e que
dizem respeito a aspectos fundamentais da vida das pessoas presas, demonstrando graves
violações dos direitos inerentes à pessoa humana contra os prisioneiros. Cumpre
esclarecer, mais uma vez, que o conteúdo exposto a seguir está disponível nos relatórios de
visitas de monitoramento do MEPCT/RJ publicados ao longo dos últimos seis anos, bem
como relatórios anuais e temáticos produzidos pelo órgão.
i. Alimentação
As refeições fornecidas aos presos pela SEAP é um serviço terceirizado e que segue
o modelo de quentinhas, entregues diretamente nas celas, onde almoçam e jantam os
prisioneiros. Atualmente a SEAP está inadimplente (estima-se um débito total superior a
200 milhões de reais) com todos os fornecedores, em muitos casos desde os primeiros
meses de 201627, agravando o que já era um problema crônico no sistema prisional: a má
qualidade nutricional - quantidade e qualidade -, somada recentemente ao atraso no horário
de entrega das refeições.
26
Claudia Martin & Diego Rodríguez-Pinzón; “As condições de detenção”, in A Proibição de Tortura e
Maus-tratos pelo Sistema Interamericano: um manual para vítimas e seus defensores (Suíça: OMCT, 2006),
120.
27
Ver MP pede liminar para garantir alimentação de presos no Rio, em
<https://oglobo.globo.com/rio/mp-pede-liminar-para-garantir-alimentacao-de-presos-no-rio-21297970>
30
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28
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Penitenciária Moniz Sodré em 29 de abril de 2014
(Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 03 de junho de 2014), acervo institucional
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Outro fator degradante é o precário fornecimento de água, sendo ligado o sistema de água a
cada três horas e por cerca de vinte minutos. À noite o fornecimento é interrompido. O calor
intenso e a grande quantidade de detentos tende a agravar tal situação. Em mais de uma
galeria o MEPCT/RJ ouviu relatos de que os presos tiveram que comprar de agentes um
barril para estocar água, no valor de R$ 100. Não há fornecimento de água potável aos
internos. Por vezes a água da torneira está barrenta.
Alguns presos destacaram que o simples fato de reivindicar fornecimento mais adequado de
água é motivo para aplicação de sanções.
No que tange ao kit de higiene pessoal e limpeza, os mesmos são oferecidos pelo Estado
uma vez por mês. A direção informou que o material fornecido não é suficiente e que já
solicitou o aumento da remessa de materiais. Este pedido, no entanto, ainda não foi
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atendido. Os presos corroboram com essa visão e se queixam que estes itens não são
fornecidos regularmente.
Os presos não têm acesso irrestrito à água e relataram que mesmo aquela disponível para
beber apresenta péssima qualidade. Segundo informou a Direção a caixa de água já deveria
ter sido limpa, mas ainda não tinha recebido resposta da empresa que efetua este serviço.
Ainda durante a visita do MEPCT o diretor recebeu a resposta marcando a limpeza da caixa
d’água para semana seguinte.30
Há uma carência muito grande de colchões, roupa de cama, de banho e materiais de higiene.
Como o Estado não fornece, as famílias tem sido autorizadas a entregar este tipo de material
na chamada custódia. O MEPCT teve notícias de que há dois meses não chegava kit
higiene.
30
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de dezembro
de 2011 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 05 de Janeiro de 2012), acervo institucional
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feito, pode-se concluir, sem ressalvas, que o acesso à higiene e a água é precário em todas
os locais inspecionados. De fato, não existe água potável para as pessoas presas que estão
cumprindo regime semiaberto na SEAP. A água para consumo, para o banho, para a
higiene pessoal e para a limpeza do ambiente e para a descarga nos sanitários é a mesma. É
comum também os presos terem dificuldade para armazenar a água em garrafas ou baldes,
possibilitando o uso quando o fornecimento é interrompido. A regularidade na limpeza das
caixas d’água é outra dificuldade encontrada.
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Penal brasileira (Lei n.º 7.210/84), bem como de modo a garantir acesso a cursos
profissionalizantes. Igualmente, pressupõe-se o acesso à educação formal para pessoas que
estão prestes a regressar ao convívio social, sem falar do direito, também garantido na Lei
de Execução Penal, de que detém o preso de remir parte do tempo de execução da pena por
estudo ou por trabalho.
Contudo, uma rotina ativa e produtiva dentro dos estabelecimentos penais é exceção
nos presídios de Rio de Janeiro, inclusive nas unidades para regime semiaberto. A regra do
confinamento absoluto se vê minimamente relativizada nas unidades destinadas
exclusivamente aos presos em regime semiaberto, onde o diferencial é basicamente o
acesso permanente ao pátio, onde permanecem durante o dia, entre 9h e 17h, interrompidas
pelo almoço na cela. Portanto, nessas unidades o ócio físico e intelectual é também a regra.
Há uma escola na unidade, mas de longe não supre a demanda dos internos. Atividades
laborativas são desempenhadas apenas por presos na condição de seguro.
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de dezembro
de 2011, (MEPCT/RJ: Rio de Janeiro,05 de Janeiro de 2012), acervo institucional
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presos. Considerando o total de 850 presos, a realidade se mostra semelhante a das demais
unidades:
Os banhos de sol ocorrem duas vezes por semana. Não foram mencionadas atividades
recreativas.
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No dia da visita foi informado pela direção da unidade que existem 110 presos trabalhando
como “faxinas” e em outros serviços administrativos. O trabalho é remunerado, o
pagamento é feito pela Fundação Santa Cabrini. Há ainda fábrica de pipa, administrado pela
Fundação Santa Cabrini; cursos de Hidráulica e Elétrica que duram de 3 a 6 meses, onde
matriculam 64 presos e é ministrado pelo Senai. Aos que trabalham é concedida remição da
pena.
Há escola na unidade, José Lewgoy. A equipe foi recebida pela coordenadora Sra. Denise
Jorge Reis, que informou que são ofertados ensino fundamental e médio, nos turnos da
manhã e tarde, ministrados por 24 professores. São 248 matriculados, com uma frequência
de 80%. Há uma fila de espera para a escola, já que há remição da pena.
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iv. Saúde
A saúde, física e psíquica, das pessoas presas está condicionada a diversos fatores,
podendo-se considerar, para tanto, o somatório de todos os itens em destaque no presente
documento. No entanto, ao evidenciar o tema da saúde, o MEPCT/RJ chama atenção para
os serviços de saúde oferecidos para as pessoas privadas de liberdade, como equipes
médicas, medicamentos e, quando necessário, hospitais e o transporte adequado até esses
hospitais; além do risco de contrair doenças nesses ambientes.
O relatório de visita de monitoramento do Instituto Penal Plácido Sá Carvalho -
SEAPPC ressalta a dificuldade de obter medicação, a inadequação do espaço para pessoas
enfermas e portadoras de deficiências físicas, além do risco de contrair doenças:
Um dos fatores que mais vilipendia a situação dos internos na unidade visitada é a péssima
condição material. Umidade, precário fornecimento de água, fiação exposta, presença de
insetos, camas de alvenaria com estrutura desgastada, comida apresentando má qualidade,
ausência/precariedade dos colchões podem exemplificar o cenário do cotidiano dessas
pessoas privadas de liberdade bem como dos profissionais que lá atuam, sendo o risco de
contrair doenças perceptíveis.
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Na ampla maioria das celas as instalações sanitárias são precárias e escorre água das
galerias para o corredor, formando poças de água e um ambiente altamente comprometido.
O MEPCT/RJ foi ao ambulatório médico e realizou entrevista com o médico – Sr. Pedro
Potássio – e a enfermeira que se encontravam presentes ao local. Foi relatada a total falta de
estrutura para o atendimento aos internos. A enfermaria está com pisos, paredes, teto e
mobiliário totalmente destruído e em condições inaceitáveis, assim como o local para
armazenamento dos remédios. Um dos maiores problemas apontados pelo médico é o tempo
dispensado na realização de exames de admissão, que, segundo ele, são feitos em média de
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70 por mês. Apontou, ainda, que desde 2008 a unidade tem 1000 presos a mais, o que
intensificou a celeridade na realização dos exames.
Ainda assim é necessário destacar que a política de ampliação de vagas não resolve
problemas de extrema gravidade observados no sistema prisional, tais como: violência
institucional, tortura e maus tratos, deficiência de assistência material, dentre outros. Como
constatado no IPVP [SEAPVP], a arquitetura dos pavilhões está em péssimo estado, o que,
por si só viola direitos humanos. A condição do ambiente é insalubre: precária de
iluminação e ventilação, má conservação da rede de esgoto, das fiações elétricas, acúmulo
de lixo e a condição degradada das celas. É nítida a existência de maus tratos em virtude do
difícil acesso das pessoas doentes aos serviços de saúde, a não disponibilização de água
filtrada para o consumo dos detidos, a falta de camas, colchões, roupa de cama, uniformes,
materiais de higiene e remédios. O quadro encontrado nessa unidade evidencia o necessário
desenvolvimento de uma política criminal pautada na contraposição ao
superencarceramento e da ausência de alternativas – que representa o sistema prisional.32
32
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de dezembro
de 2011 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 05 de Janeiro de 2012), acervo institucional
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Entre os presos, houve reclamações sobre o mal atendimento prestado pelo serviço de
enfermagem e sobre a falta de remédios na enfermaria da unidade. Como não há psiquiatra
nos quadros da unidade, presos que demandam este tipo de atendimento são encaminhados
para o Hospital Penal Psiquiátrico Roberto de Medeiros, em Gericinó - Rio de Janeiro.
Além de estar a mais de 320 km da unidade prisional, os presos são levados para o hospital
pelo Serviço de Operações Especiais (SOE) da SEAP, alvo de sistemáticas denúncias de
tortura.
33
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 16 de setembro
de 2015 Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 16 de setembro de 2015), acervo institucional
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arejado e úmido.37
Os presos doentes estão todos localizados na cela B3, sejam eles tuberculosos, soropositivos
ou cadeirantes, este local também possui todas as precárias condições das demais celas, o
que torna o tratamento aos enfermos ainda mais aviltante. Nesta cela não há rampa de
acesso para os cadeirantes.
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MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 16 de setembro
de 2015 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 16 de setembro de 2015), acervo institucional
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Outro relato que se destaca entre os internos diz respeito ao tratamento extremante violento
desferido pelo SOE no transporte de presos para o atendimento médico externo. Os presos
relataram que são deixados por muito tempo trancados no carro e que por vezes são
espancados pelos agentes do SOE. Em decorrência destas agressões, muitos preferem não
ser transferidos para atendimento médico.
Os serviços de saúde no Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro - SEAPIS, por sua
vez, se mostra totalmente dependente dos medicamentos trazidos pelos familiares dos
presos, tendo em vista a falta de fornecimento por parte do Estado. A situação dificulta o
acesso à remédios que exigem prescrição médica, visto que as receitas assinadas pelo
médico da unidade tem que ser entregue às famílias para que comprem em farmácias e,
enfim, possam levar o remédio no dia determinado pela direção da unidade prisional. Se
isso acarreta a demora no início da medicação de todos os presos, aqueles que não contam
com o apoio de familiares são obrigado a depender da assistência da SEAP, o que é ainda
mais incerto atualmente.
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Dependendo da situação, o preso pode cumprir sua sanção sozinho ou acompanhado. Essa
também é a realidade dos presídios destinados ao cumprimento de pena em regime
semiaberto.
Vale destacar que os presos ainda relatam que os agentes da própria Unidade costumam
fazer uso de armas de fogo como forma de intimidação dos privados de liberdade. O
relatório da visita ao Plácido de Sá Carvalho realizada pelo Núcleo do Sistema Penitenciário
da Defensoria Pública descreve que “a unidade possui 02 revólveres calibre 38, 02
escopetas calibre 12 com munição não-letal e 01 fuzil de repetição”.
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Além disso, foi observada como uma situação vulnerável à tortura, a alocação de presos
ex-servidores em galerias muito próximas àquelas denominadas de “Terceiro Comando”
cuja separação é um pequeno alambrado, sendo de fácil acesso à passagem. Segundo relato
dos ex-servidores, por estes serem de número bastante minoritário em relação à facção
mencionada, a situação de estresse e ameaça é constante. Um deles que se identificou como
ex-policial relatou que foi reconhecido por um dos detentos da referida facção. Além disso,
foram relatadas situações de constante ameaça, como, por exemplo, uma intimidação com a
utilização de faca que foi contornada através de uma conversa entre os envolvidos no
conflito.
Segundo relatos dos presos, não há fornecimento de água no isolamento. Relatam, ainda,
que ocorrem agressões com cacetete quando os presos são para lá encaminhados.
Há ainda relatos de agressões físicas por parte de agentes. Segundo informado por alguns
internos, dias antes da visita do MEPCT/RJ um preso solicitou atendimento médico e foi
agredido por agentes por tal razão.
Um fator recorrente no relato dos detentos, no entanto, é uso contínuo e excessivo da força
por parte dos agentes do Serviço de Operações Externas – SOE –, tanto nas situações
ocorridas dentro da unidade quanto nas transferências realizadas pelo órgão. Um preso
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relatou que o SOE “esculacha muito” e que enquanto batem afirmam que “nós quebra e o
médico conserta”.38
A unidade possui celas de isolamento e, neste local, haviam muitos presos. Tais celas
servem tanto para o cumprimento de sanções disciplinares quanto para isolar presos que
estariam em situação de risco se mantidos junto ao coletivo de presos. Nas celas de
isolamento encontramos superlotação, denúncias de que as sanções disciplinares já
superavam os 30 dias, presos sem colchão dormindo “na pedra”, presos sem cobertores e
cobrindo todo o corpo com a blusa durante a noite.
O Mecanismo não presenciou relatos sistemáticos de tortura e maus tratos. Porém, alguns
presos que estavam nas celas de isolamento denunciaram agressões físicas e verbais por
parte de inspetores.
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Há na unidade uma pequena galeria com 8 celas designada para receber os presos em
isolamento. As condições destas celas é ainda pior, há água no chão de todo ambiente,
tornando o local bastante insalubre.
Segundo informações relatadas pelos presos, não há registros de uso de violência física por
parte dos agentes na Unidade. Contudo, conforme já foi explicitado, não diferente de outras
unidades já visitadas pelo Mecanismo, diversos relatos descrevem o reiterado uso
indiscriminado da violência por parte dos agentes do SOE no traslado para a Unidade, para
audiências ou para realização de atendimento médico externo.
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vi. Superlotação
A superlotação das celas é um fator que salta aos olhos na unidade. Embora na ocasião da
visita muitos presos se encontrassem na parte externa da unidade gozando de banho de sol
ou praticando futebol, pôde-se observar nas instalações um amontoado de seres humanos
disputando pequenos espaços para se alojarem. A título de exemplo, vale fazer menção à
cela B5, a qual possui 86 presos, dos quais apenas 38 dormem nas camas de alvenaria, os
demais no chão. Devido às intensas infiltrações, em dias de chuva o chão fica repleto de
água e os presos não dormem.
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O número de presos nas celas chama muita atenção: em uma delas encontramos 60 presos
para 38 camas, 22 deles dormiam no chão. Em um corredor pequeno estes 22 dividiam os
colchões ou pedaços de colchão. Em outras galerias também pudemos testemunhar o
número muito alto de presos, como em uma delas que dos 70 presos, 24 dormiam sem
colchão.
O Instituto Penal Vicente Piragibe tem capacidade para 1.444 presos, mas tem superado o
número de 2.000 custodiados. A situação de superpopulação deste Instituto é muito grave.40
A superlotação faz com que muitos presos sejam obrigado a dormir no chão. O Mecanismo
presenciou celas com 56 comarcas abrigando 86 internos.
A Penitenciária tem capacidade para 898 e conta atualmente com 1.555 presos (174% da
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A Penitenciária tem capacidade para 898 e conta atualmente com 1.500 presos (167% da
capacidade). Há, portanto, superlotação. O número de agentes é insuficiente, com a rotina
de seis agentes por turma. Nesta unidade, acontece um regime diferenciado de trabalho,
com plantões de 48/144 horas.42
A Penitenciária Moniz Sodré - SEAPMS, por sua vez, chegava a custodiar quase o
dobro do que o permitido por sua capacidade de lotação:
Segundo informações da direção a Penitenciária Moniz Sodré tem capacidade para abrigar
1.364 presos, contudo abrigava no dia da visita quase o dobro de sua capacidade, 2.396
presos. Muito embora as celas somente possuam até 62 comarcas, no dia da visita estas
chegavam a abrigar mais de 110 presos. Em muitas celas foi possível constatar que presos
dormem no chão. A direção acrescentou que em função do mutirão realizado pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), há meses atrás, 150 presos progrediram de regime, sendo
enviados ao Instituto Penal Vicente Piragibe.
41
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 23 de maio de
2016 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 23 de maio de 2016), acervo institucional
42
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca em 16 de setembro
de 2015 Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 16 de setembro de 2015), acervo institucional
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5. Considerações finais
43
Lori Berenson-Mejía v. Peru, sentença de 25 de novembro de 2004, Corte IDH, (ser C) No 119, par.
100;Caesar v. Trinidad e Tobago, sentença de 11 de março de 2005, Corte IDH, (Ser. C) No 123, par. 70.
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44
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Plácido Sá Carvalho em 31 de janeiro
de 2012 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 22 de março de 2012), acervo institucional
45
MEPCT/RJ. Relatório de visita de monitoramento ao Instituto Penal Vicente Piragibe em 05 de fevereiro de
2013 (Rio de Janeiro: MEPCT/RJ, 06 de fevereiro de 2013), acervo institucional
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O MEPCT/RJ costuma recomendar “ao Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro: Promova em
caráter de urgência a descentralização da única Vara de Execuções Penais no estado, localizada na capital, de
modo a garantir que os processos de execução penal tramitem no foro da comarca onde se dá o cumprimento
da pena, como medida imperiosa à garantia do acesso à justiça e à celeridade processual”. Recomendação
feita no relatório Quando à Liberdade é Exceção: a situação das pessoas presas sem condenação no Rio de
Janeiro (Rio de Janeiro: Justiça Global e MEPCT/RJ, 2016), 78, disponível em
https://drive.google.com/file/d/0ByIgDzCTzaAEUkZGT2V1alZvZTA/view
47
O MEPCT/RJ costuma recomendar “à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, ao Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro e à Fundação Santa Cabrini, recomenda-se que: Garanta a todos os presos, inclusive
os provisórios, o direito à realização de atividades laborativas, esportivas, recreativas e educacionais, como
dispõe, respectivamente, a Seção I do Cap. III.e a Seção V do Cap. II do Título II da Lei de Execuções Penais
(Lei n.o 7.210/84) bem como a Medida n.o 210 do Plano Nacional de Política Criminal e Carcerária do
Ministério da Justiça”. Recomendação feita no relatório Quando à Liberdade é Exceção: a situação das
pessoas presas sem condenação no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Justiça Global e MEPCT/RJ, 2016), 79,
disponível em https://drive.google.com/file/d/0ByIgDzCTzaAEUkZGT2V1alZvZTA/view
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ONU. Report of the Special Rapporteur on torture and other cruel, inhuman or degrading treatment or
punishment on his mission to Brazil. Human Rights Council. A/HRC/31/57/Add.4. Geneva, 2016, pár. 17.
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É importante esclarecer que, embora muitos presos permaneçam custodiados em unidades prisionais
destinadas para uma determinada facção, nem sempre isso significa que existia o vínculo do preso com tais
organizações criminosas antes do momento da prisão. Contudo, dependendo da facção que domina o território
onde reside o preso ou sua família, ele (ou a própria SEAP) entende que só estará em segurança no sistema
prisional se escolher entre ir para uma unidade destinada a essa facção ou para uma das chamadas unidades de
seguro. Em regra, como as unidades de seguro oferecem condições de detenção muito duras, como, por
exemplo, altíssima superlotação, distância dos serviços prisionais do Complexo Gericinó e isolamento
territorial, os presos tendem a escolher cumprir sua prisão em unidades destinadas à facções. A partir desse
momento, mesmo quem não tinha contato com tais organizações do crime passa a ter, como passam também a
ser identificados como pessoas pertencentes à facção pelo sistema prisional fluminense. Nesse sentido, vale
lembrar que muitas vezes a SEAP pede que as pessoas presas assinem um termo de responsabilidade
indicando onde “escolhem” cumprir pena/prisão provisória dentro do sistema prisional. Apesar deste cenário,
muitos desses presos não desejam ter, não possuem e não possuirão papéis relevantes na estrutura dessas
organizações.
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conforme obrigam separar as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de
Presos, em sua regra n.º 11.
La Corte Europea de Derechos Humanos ha sostenido que para que un trato sea
considerado como inhumano o degradante y, en grado extremo, como tortura, debe alcanzar
un mínimo nivel de severidad. La evaluación de este nivel mínimo es relativa y depende de
las circunstancias de cada caso, tales como la duración del trato y de sus consecuencias
físicas y mentales.50
50
Corte IDH. Caesar v. Trinidad e Tobago, sentença de 11 de março de 2005, Corte IDH, (ser. C) No. 123,
par 67. apud Cfr. Corte Europeia de Direitos Humanos, Irlanda v. Reino Unido, No. 25 (1979-1980),
Julgamento de 19 de Janeiro de 1978, párrs. 162-163.
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expressou em nota a Pastoral Carcerária Nacional sobre as condições das prisões no Brasil,
o MEPCT/RJ entende que vem acontecendo no sistema prisional brasileiro não é fruto de
uma crise, mas de um projeto.51
Não obstante todo esse cenário, já apontado como perpetrador de tratamento cruel,
desumano e degradante em face das pessoas presas, cumpre salientar os sistemáticos
episódios em que se constata uso excessivo da força e agressões contra prisioneiros
51
Ver nota em <http://www.a12.com/files/media/originals/nota_massacres.pdf>
52
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Janeiro: Justiça Global e MEPCT/RJ, 2016), 78, disponível em
https://drive.google.com/file/d/0ByIgDzCTzaAEUkZGT2V1alZvZTA/view
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custodiados pela SEAP, inclusive nas cadeias para cumprimento de pena em regime
semiaberto. Tais fatos se enquadram no que proíbe a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir a Tortura, ao pressupor, em seu art. 2º, que haja a intenção do agente do
Estado, bem como a finalidade de intimidar, de castigar e de prevenir atos de terceiros,
dentre outras, para configurar a prática de tortura.
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dos mesmos nos demais estabelecimentos para cumprimento de pena em regime semiaberto
do Rio de Janeiro.
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