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O paradoxo é o mesmo que hoje atormenta os executivos: à empresa moderna não bastam
Pegue no livro Na Senda da Excelência, de Tom Peters e Robert Watermann, e examine a
funcionários que só obedeçam passivamente. Apesar disso, não há uma alternativa que torne
lista das empresas consideradas excelentes em 1980. Parece que nem todas continuaram
viável a participação de todos nas decisões, sem distinção hierárquica. Os mais capazes
assim tão excelentes. Muitas passaram por torturantes infernos astrais de mercado e as que
continuam a ser os mais bem pagos, justamente por terem a responsabilidade de identificar o
conseguiram sair fizeram-no graças a um receituário clássico: a busca da eficiência no sentido
"one best way". Um bom "gestor científico" hoje continua a valer ouro.
mais puramente taylorista. Ou será que alguém imagina que as centenas de milhares de
A "empresa inteligente" continua a ser, em grande medida, um ícone retórico, bom para inspirar demissões nas "ex-excelentes" aconteceram por decisão de algum mecanismo de gestão
livros e seminários, mas sem correspondência no mundo real. Não por rejeição à ideia em si, participativa?
mas por absoluta falta de mecanismos práticos para a articular e implementar. Assim, com toda
Enquanto não resolvemos as nossas culpas, e com as decisões do dia-a-dia a pressionar-nos,
carga de rejeição que o paradigma taylorista inspira, o facto é que não conseguimos substituí-
acabamos por esquecer a qualidade total e a reengenharia e voltamos a dar ênfase a um
lo por algo melhor. Pelo menos, não por enquanto. Encaremos: o taylorismo, na sua essência,
processo muito mais antigo, e também essencialmente taylorista: o planeamento estratégico,
ainda dá resultado. Intuímos que é preciso superá-lo, mas faltam-nos ferramentas.
em que se usa a inteligência para reunir, processar e interpretar a informação e, em seguida,
Peter Drucker, numa entrevista à revista Wired, falou sobre a ideia, hoje popular, de se encarar definir os caminhos da empresa, voltou à moda.
a organização como uma banda de jazz, na qual todos escrevem a partitura enquanto tocam.
Essa inteligência não está na fábrica, apesar de poder passar por lá. O seu exercício continua
"Soa bem, mas ninguém descobriu uma maneira de fazer isso", diz Drucker. Esse é o
a ser, basicamente, um processo elitista da responsabilidade de poucos, que geralmente
problema.
transitam por ambientes mais alcatifados que o da fábrica. Não porque queiramos, mas porque
Repare-se na enxurrada de modas de gestão. Da década de 80 para cá são incontáveis as nada se revelou melhor. O executivo é pragmático: tem de gerar resultados.
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inteligência continua separada da execução. Essa é a nossa esquizofrenia, baptizada por marxista. Drucker atribui tudo isso explicitamente à influência de Taylor, que considera o mais
Kanigel de "enigma da eficiência". E já que não conseguimos superar as nossas culpas com as importante e mais injustiçado intelectual americano deste século.
demissões em massa que a reengenharia prescreve, lemos hoje livros sobre liderança, o
O taylorismo sempre teve uma componente paradoxal. Ninguém proporia, hoje, a aplicação
"novo" mantra competitivo das empresas realmente "feitas para durar".
literal dos seus princípios como solução para os impasses do mundo do fim do século xx.
Liderança é a capacidade que alguns gestores têm de fazer com que os seus subordinados se Todos sabemos que temos de superá-lo, só não sabemos o que colocar no seu lugar.
sintam felizes implementando as decisões que eles, gestores, tomam sozinhos. Taylor deve
estar a rir no túmulo. O gestor seria o cientista que disseca processos de trabalho para os
optimizar. Com todo o simplismo que isso implica (a ingénua visão científica do início do século
não se sustentaria por muito tempo), a obsessão de Taylor levou-o a colocar o sistema em
prática. Cronómetro e prancheta. Registo e análise de tempos e movimentos. Optimização de
processos.
Taylor montou o seu sistema mediante a aprendizagem na prática. Foi trabalhar como operário
para aprender. Elaborou-o durante décadas, antes de publicá-lo. Ficou nacionalmente famoso
em 1910 quando um grupo de caminhos-de-ferro solicitou licença ao governo federal
americano para aumentar os preços das passagens, mas viu o pedido negado. A resposta foi:
"Podem economizar mais que o que vão ganhar com o aumento se usarem os métodos de um
génio de Filadélfia chamado Frederick Taylor." O New York Times fez a sua manchete de 10 de
Novembro de 1910 com: "Caminhos-de-ferro podem economizar um milhão de dólares por dia.
A gestão científica permite-o. Aumento de preços é desnecessário."
Seja como for, o facto permanece: o taylorismo é uma ideia central da nossa época, um dos
pilares do poderio americano no século xx. O pragmatismo das relações económicas legitimou-
o na prática e deixou as discussões mais intelectualizadas para segundo plano. A
produtividade aumentou, a qualidade de vida do trabalhador médio — que passou realmente a
participar do resultado do que produzia — hoje não tem comparação com os padrões que
vigoravam no início do século. A "alienação" do trabalhador diminuiu, contradizendo o veredicto
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continuam tayloristas de coração". Apesar das críticas hoje dirigidas ao seu pensamento, a
originalidade e importância do pensamento de Taylor continuam inegáveis. "Poucas pessoas
Os princípios da gestão científica
tinham observado o trabalho humano de forma sistemática até que Taylor o fez", reconhece
A história das modernas práticas de gestão tem a sua origem numa teoria apresentada por Peter Drucker em The Practice of Management.
Frederick Winslow Taylor (1856-1915) no dealbar do século xx. Nascido no seio de uma Isabel Canha
que o problema residia mais nas práticas de gestão do que na força de trabalho. Insistia em
que os gestores deviam analisar, planear e controlar "a melhor forma de operar" ("the one best
way"), determinada por estudos científicos — daí o epíteto "gestão científica".Como explica
Robert Heller em A Gestão de A a Z, "gestão científica significava para Taylor, primeiro, utilizar
a análise e a experiência, tal como um cientista, para descobrir o melhor método de trabalho
numa actividade industrial; segundo, escolher e educar os trabalhadores para utilizarem os
métodos óptimos desenvolvidos; terceiro, alcançar a cooperação entre a direcção e os
trabalhadores, de modo que sejam utilizados os melhores métodos para se obterem os
melhores resultados para todas as partes", empregadores e empregados. Peter Drucker foi dos
primeiros a levantar a voz contra a injustiça de considerar que Taylor reduzia o homem ao nível
da máquina. O que aconteceu é que o terceiro aspecto acabou por ser descurado. A
abordagem taylorista é explicada pela descarga de ferro e carregamento dos produtos finais
produzidos pela Bethlehem Steel em 1898. Taylor calculou que com as ferramentas,
movimentos e sequências correctas, cada trabalhador seria capaz de carregar 47,5 toneladas
por dia, em vez das habituais 12,5 toneladas. Elaborou também um sistema de incentivos que
atribuía a cada trabalhador e desta forma conseguiu aumentar a produtividade da fábrica do dia
para a noite.Consultor de várias empresas, Taylor encorajava a aplicação das suas ideias. Mas
só depois do Eastern Railroad Rate Case, em que o advogado dos expedidores arguiu com
sucesso pela aplicação das técnicas da gestão científica, o seu trabalho granjeou o
reconhecimento público. A imprensa divulgou o termo que se tornou sinónimo da via para a
prosperidade da indústria norte-americana. A gestão científica acabaria por ter impacte em
todo o mundo. Chegou a Detroit em 1910, quando Henry Ford levou o seu conceito mais longe.
Com a linha de montagem, o tempo para produzir um Ford-T baixou para menos de duas
horas. Na véspera da I Guerra Mundial, o taylorismo tornou-se a primeira moda de gestão. Um
engenheiro japonês traduziu para a sua língua a bíblia de Taylor, The Principles of Scientific
Management, que se tornou um best-seller nesse país.Aos olhos de um gestor contemporâneo
ressalta que Taylor visava mais a eficiência do que a satisfação no trabalho. Mas Robert
Waterman, co-autor de Na Senda da Excelência, adverte que "a maioria dos gestores
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