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A Oração Intercessória do Apóstolo (Ef 1.

15-23) (7)

4.1.5.3. Manifestações do Senhorio Pastoral de Cristo


O senhorio de Deus sobre a Sua igreja é desde a eterni-
dade. A igreja sempre fez parte do plano divino. O propósito eterno de Deus envolve
os fins e os meios para atingir os fins propostos. Ele salvará todo o Seu povo, pre-
servará a Sua igreja até o fim. Dentro deste plano majestoso no qual vemos estam-
pada de forma especial a sabedoria de Deus no Seu governo providencial, fica evi-
dente, ainda que não entendamos todos os detalhes, a consecução dos meios por
Ele organizado na concretização de Sua santa e sábia vontade. Deste modo, pode-
mos perceber biblicamente alguns aspectos do senhorio pastoral de Cristo para com
a Sua igreja, da seguinte forma:

A. SALVOU-NOS CONFORME O DECRETO ETERNO


DE DEUS

Fomos destinados à salvação eterna em Cristo, nosso


Senhor. De eternidade à eternidade fazemos parte do propósito glorioso de Deus.
Paulo fala aos irmãos de Tessalônica a respeito de nossa eleição eterna: “Deus não
nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus
Cristo” (1Ts 5.9).

Dentro deste plano soberano e majestoso de Deus, várias etapas são cumpridas
na história.

B. CONCEDEU-NOS O DOM DA VIDA

As Escrituras nos ensinam que estávamos mortos co-


mo consequência dos nossos pecados (Rm 3.23; Ef 2.1). Devido ao pecado, éra-
mos, por natureza, inimigos de Deus e de Sua Palavra. Entretanto, o Nosso Senhor
veio para nos conceder vida em abundância que começa agora, mas, que se esten-
de por toda a eternidade: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito
de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23/Rm 6.11; Jo
10.10).

C. ABRE O NOSSO CORAÇÃO PARA ENTENDER


SALVADORAMENTE A MENSAGEM DO EVANGELHO

Paulo chegou a Filipos por volta do ano 49, em compa-


nhia de Silas, Timóteo e Lucas (At 16.1-3,10-12; 1Ts 1.1/2.2). Assim pôde pregar
naquela colônia romana, evangelizando a Lídia, a vendedora de púrpura, e a todos
os seus familiares (At 16.14,15). Poucos judeus residiam na cidade. O “lugar de ora-
ção” (At 16.13) indica a presença de alguns judeus, porém, em número inferior a dez
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homens, quantidade mínima considerada para se formar uma sinagoga. De acordo


com a lei da Mishná, era permitido que dez homens judeus formassem, em qualquer
1
lugar, uma sinagoga. Havia cidades, inclusive, que possuíam várias. Estima-se que
2
em Jerusalém houvesse cerca de 500 delas.

O auditório para o qual Paulo pregou era constituído de mulheres (At 16.11-13).
Narra Lucas:

“14 Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura,


temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coi-
sas que Paulo dizia. 15 Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou,
dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E
nos constrangeu a isso” (At 16.14-15).

Foi o Senhor Quem abriu o coração de Lídia para compreender salvadoramente a


mensagem do Evangelho. Sem esta ação de Deus a mensagem do Evangelho ja-
mais seria compreendida salvadoramente.

Este é o modo essencial do Senhor agir. Lídia, não foi uma exceção, antes, uma
demonstração do que Deus faz no processo de constituir a Sua igreja. Ele nos al-
cança pela graça que nos advém pela Palavra, nos fazendo entender a Sua mensa-
gem, e a confessar a Cristo como nosso Senhor.

Paulo trataria posteriormente deste assunto: “Se, com a tua boca, confessares
Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os
mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se con-
fessa a respeito da salvação” (Rm 10.9-10).

Quando o carcereiro de Filipos fez a pergunta mais significativa de toda a sua vi-
da: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30), ouviu a resposta de
alcance temporal e eterno: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At
16.31). Assim como Lídia, ele e sua família creram no Senhor. Isso, foi pela graça.

Nestes episódios constatamos o eco do que Pedro dissera no início do Concílio


de Jerusalém, afirmando a necessidade da graça do Senhor para a salvação tanto
de gentios como de judeus: “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus,
como também aqueles o foram” (At 15.11).

Ele não estava teorizando sobre teologia. Na realidade, apresentou a sua convic-
ção conforme o próprio Senhor lhe demonstrara ao levá-lo à casa de Cornélio (At
10.1-43; 11.1-18).

1
Veja-se: Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Pub-
lishers, 1996, v. 1, p. 456.
2
Broadus B. Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP., 1983, p. 17.
Variando as estimativas entre 394 e 480 (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody,
Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 457).
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D. MANIFESTA A SUA GRAÇA CONCEDENDO-NOS A


PAZ

Nós, inimigos de Deus, fomos declarados justos em


Cristo Jesus, nosso Senhor, encontrando, assim, a paz com Deus.

Na justificação, Deus, Senhor e Rei, perdoa todos os nossos pecados, os quais


foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há nenhuma condenação
sobre nós; estamos em paz com Deus resultante da justiça de Cristo imputada a
3
nós (Rm 8.1,31-33). Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos
de Cristo, os quais são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor, no legítimo uso de
Seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados
justos. Deus em Seu amor eterno e insondável, escolheu-nos em Cristo, transfor-
mando totalmente a nossa situação: de condenados passamos a filhos e herdeiros
de Deus e coerdeiros com Cristo: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros,
herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele
seremos glorificados” (Rm 8.17).

É neste sentido que Paulo escreve aos Romanos:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Se-
nhor Jesus Cristo; 2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela
fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de
Deus. (...) 11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação”
(Rm 5.1,2,11/Rm 1.7; 16.20,24; 1Co 1.3).

E. JUSTIFICOU E SANTIFICA OS SEUS

A justificação que trouxe a paz, traz também como im-


plicação necessária, a nossa santificação. O Senhor está comprometido também
com o nosso crescimento espiritual. Paulo relembra com os crentes coríntios, qual
era a vida deles antes de conhecerem a Cristo. Agora, lhes mostra que o mesmo
Deus que os declarou justos também os santifica. Deus cuida de Sua igreja também
desta maneira, nos fazendo progredir, crescer, amadurecer em nossa fé: “Tais fostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados
em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).

A justificação subjetiva marca o nosso novo itinerário de vida conforme o decreto


eterno de Deus. Este novo caminhar dirige-se à glorificação com o Senhor, vivendo

3
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). “ Que di-
31

remos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não
32

poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente
com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os
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justifica” (Rm 8. 31-33).


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4
conforme o propósito de Deus, para as boas obras, fruto da fé, preparadas pelo
próprio Deus para o Seu povo (Ef 2.10). A justificação é frutuosa.

A graça justificadora jamais é estéril. A justificação implica necessariamente em


santificação. A santificação pressupõe essencialmente a justificação. Não ousemos
dividir o indivisível. A separação destas duas verdades de nossa salvação, propicia
cair no danoso equívoco da anomia, declarando que já não há mais lei; portanto,
não precisamos de santificação visto que, considerados salvos, podemos fazer o
que bem entendermos. No entanto, a verdade bíblica é outra: somos declarados jus-
5
tos para vivermos em santidade.

Portanto, insisto, a nossa real justificação tem implicações éticas. A santificação é


a grande evidência de nossa nova relação com Deus. A nossa justificação (subjeti-
6
va) nos dá o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14). O desa-
fio para nós hoje é viver em harmonia com a nossa nova natureza e condição, an-
dando nas obras preparadas por Deus para nós (justificação demonstrativa)(Ef 2.8-
7
10).

A santificação é um processo que tem início no ato de Deus. Em outras palavras,


estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para cres-
cermos, progredirmos em nossa fé (santificação). O Espírito opera em nós a salva-
ção a qual se evidencia em santificação (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). O
mesmo Espírito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age
mediante esta mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que
somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque Ela foi inspirada pelo Es-
pírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito não somente testifica que somos filhos
de Deus, mas, também, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm

4
Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confissão Belga, Art. 24; Segunda Confissão Helvética,
XVI.2; Confissão de Westminster, XVI.2.
5
“.... nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificação e a santificação. (...) Você não
pode, você não deve tentar dividir Cristo. É falsa a doutrina que diz que você pode ser justi-
ficado sem ser santificado. É impossível; você é ‘santo’ antes de ser ‘fiel’. Você foi separado.
É por isso que você crê. Estas coisas estão entrelaçadas indissoluvelmente. Não permita Deus
que as separemos ou que as dividamos, jamais!” (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de
Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 33).
6
“ nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o benepláci-
5

to de sua vontade, (...) em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evange-
13

lho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;
o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”
14

(Ef 1.5,13-14).
7
“ Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de o-
8 9

bras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas o-
10

bras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).
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8
8.14), desenvolvendo em nós, ou seja, em todos os cristãos, o caráter de Cristo que
9
consiste no fruto do Espírito.

F. CONFIRMA-NOS

Deus em Sua graça chama eficazmente o Seu povo, o


congregando, constituindo assim, a Sua igreja. A estes, Deus confirma em sua fé, os
fazendo amadurecer, crescendo de forma progressiva até à consumação da Sua o-
bra em nós.

Paulo, considerando a história da Igreja de Corinto, que ele mesmo iniciara, dá


graças a Deus pelo progresso dos fiéis em sua caminhada de fé, aguardando o re-
gresso glorioso de Cristo.

“4 Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça,
que vos foi dada em Cristo Jesus; 5 porque, em tudo, fostes enriquecidos nele,
em toda a palavra e em todo o conhecimento; 6 assim como o testemunho de
Cristo tem sido confirmado em vós, 7 de maneira que não vos falte nenhum dom,
aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, 8 o qual também vos
confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus
Cristo. 9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.4-9).

A certeza quanto à firmeza da igreja, repousava na sua convicção de que o Se-


nhor nos confirma até o fim. Os que creem são confiados ao Senhor, visto que Ele
mesmo começou a obra da salvação em nós, regenerando-nos, concedendo-nos o
arrependimento e a fé. O próprio Senhor concluirá a Sua obra salvadora em nós. (Fp
1.6).

Paulo dirigindo-se à igreja de Tessalônica que vivia sob pressão, a consola e es-
timula na certeza do cuidado preservador de Deus: “Todavia, o Senhor é fiel; ele vos
confirmará e guardará do Maligno” (2Ts 3.3).

G. FAZ CRESCER RECIPROCAMENTE O AMOR FRA-


TERNO DA IGREJA

Paulo orou ao Senhor no sentido de que a Igreja de


Tessalônica, tão evidente em seu amor, crescesse ainda mais: “12e o Senhor vos
faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como
também nós para convosco, 13 a fim de que seja o vosso coração confirmado em
santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso
Senhor Jesus, com todos os seus santos” (1Ts 3.12-13).

8
Veja-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de
las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoekema, Salvos
pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 37.
9
Veja-se: James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos,
Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 330-333.
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Aqui aprendemos também que devemos reservar um tempo para orar pelos nos-
sos irmãos e por nós mesmos. Nem sempre somos tão dignos de amor como imagi-
namos. Paulo ora no sentido de que o amor aumentasse reciprocamente. Este cres-
cimento no amor se manifestaria em santidade na presença de Deus.

H. ALIMENTA E CUIDA DA SUA IGREJA

A união de Cristo com a igreja, o Seu corpo, é vital e


real. O Senhor cuida de nós nos alimentando para que sejamos nutridos espiritual-
mente visando à nossa maturidade. Paulo se vale desta figura tomando como mode-
lo e fundamento, o cuidado que o marido deve ter para com a sua esposa: “Ninguém
10
jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta (e)ktre/fw) (nutrir, sustentar) e dela
11 12
cuida (qa/lpw) (aquecer, acalentar, cuidar com afeição e carinho, acariciar ), co-
13
mo também Cristo o faz com a igreja” (Ef 5.29).

Deus cuida de sua igreja de forma amorosa e terna. Ele nos conduz suavemente
em prol de uma vida mais rica na sua presença. A igreja é constituída de crentes
que ainda são pecadores, mas, que são amados e mantidos próximos de Deus, sen-
do assim guardados.

Hendriksen (1900-1982) comenta: “Não existe um momento sequer que Cris-


to deixe de cuidar ternamente de seu corpo – a igreja. Vivemos sob sua
constante vigilância. Seus olhos estão constantemente sobre nós, desde o i-
nício do ano até ao final do mesmo (cf. Dt 11.12). Portanto, lancemos sobre
Ele toda a nossa ansiedade, convencidos de que somos objetos de sua soli-
citude pessoal (1Pe 5.7), objetos de sua mui especial providência”.
14

I. LIVRA, FORTALECE E SUSTENTA OS SEUS

O livramento e sustento de Deus para com o Seu povo


nem sempre se refere ao aspecto físico ou, também, só se limita a isso. Como sa-
bemos, diversos servos de Deus, piedosos e íntegros passaram por grande tribula-
ção.

10
Ocorre apenas duas vezes no NT., unicamente em Efésios: 5.29 e 6.4. A palavra apresenta a ideia
de alimentar, sustentar, nutrir, educar. Calvino diz que este verbo “inquestionavelmente comunica
a ideia de gentileza e afabilidade” (João Calvino, Efésios, (Ef 6.4), p. 181).
11
Conferir, entre outros: William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich A Greek-English Lexicon of the New Tes-
tament, Chicago: The University of Chicago Press , 1957, p. 351
12
1Ts 2.7.
13
Aqui há uma variante textual que em nada modifica o sentido ou a teologia do texto. Em muitos
manuscritos aparece a palavra Ku/rioj.
14
William Hendriksen, Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 5.30), p. 317.
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Na narrativa da perseguição perpetrada por Herodes, Tiago foi morto. Pedro per-
maneceu preso sob forte vigilância. No entanto, dentro do sábio propósito de Deus,
Ele libertou miraculosamente a Pedro por meio de um anjo (At 12.6-10). Na sequên-
cia, lemos:

“11Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Se-
nhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do
povo judaico. 12 Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria,
mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas
e oravam. 13Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada
Rode, ver quem era; 14 reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem
o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão.
15
Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era.
Então, disseram: É o seu anjo. 16 Entretanto, Pedro continuava batendo; então,
eles abriram, viram-no e ficaram atônitos. 17 Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a
mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão e a-
crescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro
lugar” (At 12.11-17).

Paulo, já no final de seu ministério, encoraja a Timóteo. Relembra as persegui-


ções que enfrentou, destacando a sua Primeira Viagem Missionária, pontuando,
contudo, como o Senhor o tem preservado:

“10Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito,


fé, longanimidade, amor, perseverança, 11 as minhas perseguições e os meus so-
frimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, -- que variadas
perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor” (2Tm
3.10-11).

À frente, fala como o Deus que o vocacionou o tem assistido em meio ao seu pro-
cesso e julgamento. Ao mesmo tempo, dá um tom escatológico à sua fé, mostrando
que Deus o guardará seguro até à eternidade:

“17Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu inter-
médio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e
fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra malig-
na e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos sé-
culos. Amém!” (2Tm 4.17-18). (Vejam-se também: Rm 14.4; Ef 6.10; 2Pe 2.9).

Nos momentos mais difíceis, Deus tem preservado a sua igreja; Ele jamais a a-
bandona. O seu alvo final é escatológico conforme bem percebe o Apóstolo Paulo.

É maravilhoso para nós saber que não acasos em nossa existência, mas, tudo o
que nos ocorre está de alguma forma envolvido no grande propósito de Deus e, que
15
a nossa vida está nas mãos do Senhor. Ninguém será deixado para trás. Deus, o
Senhor nos preservará até o fim.

15
D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,
2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 17; D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Pu-
blicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 35.
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J. ENCORAJA E ESTIMULA OS SEUS SERVOS

Paulo quando pregou em Corinto vinha de uma jornada


intensa e difícil. Estivera preso em Filipos (At 16). Em Tessalônica após um trabalho
bem sucedido teve de fugir devido à perseguição movida pelos judeus (At 17.1-10).
Em Beréia, quando encontra um auditório interessado em conferir o que ele pregava
partindo das Escrituras, os judeus de Tessalônica foram lá “excitar e perturbar o po-
vo” (At 17.13). Ele corria risco de morte. Os crentes de Beréia o conduziram em se-
gurança até Atenas. Paulo está preocupado com a jovem igreja de Tessalônica de-
vido às perseguições. Então envia Silas e Timóteo para verificar como a igreja esta-
va reagindo à situação adversa. Ele quer ter notícias (At 17.15). Observando a in-
tensa idolatria em Atenas, prega o Evangelho, onde é ofendido e humilhado. Foi pa-
ra Corinto onde anunciou o Evangelho tendo mais tranquilidade espiritual quando Si-
las e Timóteo regressaram de Tessalônica com notícias positivas a respeito da igreja
(At 18.5). No entanto, encontrando reação por parte dos judeus incrédulos (At 18.5-
7), proclama o Evangelho aos gentios. Ao que parece, ele deseja partir logo de Co-
rinto, cidade populosa, rica e imoral. Todavia, o Senhor tem outro propósito para ele,
considerando que em Corinto Deus tem o Seu povo escolhido que seria vocaciona-
do por meio da pregação do Apóstolo. Diz o texto sagrado: “9Teve Paulo durante a
noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te
cales; 10 porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho
muito povo nesta cidade” (At 18.9-10).

Paulo atendeu à missão divina. Permaneceu em Corinto 18 meses anunciando o


Evangelho (At 18.11). Deus o fortaleceu naquele difícil trabalho. Mais tarde Paulo
pôde escrever pelo menos 4 cartas àquela igreja das quais temos, provavelmente a
2ª e a 4ª, que trazem tantos ensinamentos e exortações úteis à vida cristã.

Mais tarde, Paulo preso em Jerusalém desejava pregar o Evangelho em Roma,


contudo, sabia da dificuldade de chegar vivo àquela cidade. Então, na cela, com o
rosto inchado, o Senhor lhe conforta e estimula: “Na noite seguinte, o Senhor, pon-
do-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu
respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (At 23.11).

Calvino, comenta que “se nos convencêssemos de que Deus é o guardião


de nossas vidas, asseguradamente nenhuma ameaça, nenhum terror, ne-
nhuma morte nos impediria de continuarmos em nossos deveres”.
16

Posteriormente, preso em Roma, Paulo testemunha como a sua prisão era esti-
mulante a diversos irmãos: “A maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por mi-
nhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1.14).

A vitalidade da Igreja depende do Senhor. O que muitas vezes pode parecer um


motivo a mais para o nosso desânimo, constitui-se num instrumento útil usado por
Deus para despertar e estimular a Sua igreja. Paulo esteve preso e, isto, longe de
desanimá-lo e também a Igreja, serviu de alerta para os filipenses e outros irmãos,
16
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.28), p. 227.
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os estimulando a proclamarem com maior intrepidez a Palavra. (Veja-se: também: At


4.23-31).

K. FAZ A IGREJA CRESCER ABENÇOANDO PROVI-


DENCIALMENTE O NOSSO TRABALHO

Lucas descrevendo a vida cotidiana da Igreja Primitiva


em Jerusalém, resume: “Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o po-
vo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor (ku/rioj), dia a dia, os que iam sen-
do salvos” (At 2.47/At 9.31/1Ts 3.11-13).

O Senhor cuida de Sua igreja de modo surpreendente. Por vezes o nosso aparen-
te fracasso se manifesta em grandes vitórias sob o cuidado soberano e pastoral de
Deus. Outras vezes, o nosso trabalho e testemunho cotidianos, que parecem ser tão
rotineiros, se mostram, por graça, poderosos no crescimento e amadurecimento da
igreja.

O contexto de Atos nos diz que enquanto a igreja pregava a Palavra, vivia em
comunhão, participava publicamente do culto, da Ceia, orava e louvava a Deus, “a-
crescentava-lhes (prosti/qhmi) o Senhor (ku/rioj), dia a dia, os que iam sendo sal-
vos” (At 2.47). O verbo, no modo imperfeito ativo apresenta a ideia de que a obra de
Deus vinha sendo feita e continuava pelo poder de Deus (Vejam-se: At 2.41; 5.14;
11.24).

É o Senhor Quem faz a Sua igreja crescer por meio das conversões que Ele
mesmo opera. Todavia Ele o faz, ordinariamente, por intermédio da pregação da Pa-
lavra dos que foram transformados e congregados à igreja evidenciando os frutos do
Espírito tão presentes na vida destes cristãos descritos em Atos.

Destaco um acontecimento e seu desdobramento:

Após o eloquente e desafiante sermão de Estevão e, a sua consequente morte


por apedrejamento (At 7.1-60) – a forma judaica de executar os culpados de blasfê-
mia (Lv 24.16; Jo 10.33) – o grupo inquisidor estimulado por esta atitude assassina,
promoveu “.... grande perseguição contra a igreja de Jerusalém” (At 8.1), com a per-
missão do sumo sacerdote (At 8.3; 9.1,2).

Consequentemente, narra Lucas, “....e todos, exceto os apóstolos, foram disper-


sos pelas regiões da Judéia e Samaria” (At 8.1).

O termo usado em At 8.1 para descrever a “perseguição” apresenta a ideia de


17
uma caça violenta e sem trégua. Lucas, inspirado por Deus, pinta este quadro de

17
O substantivo “perseguição” (Diwgmo/j = “caça”, “pôr em fuga”) dá a entender a figura simbólica de
um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia. Esta
palavra denota mais especificamente as perseguições promovidas pelos inimigos do Evangelho; ela
se refere sempre à perseguição por motivos religiosos (Vejam-se: Mc 4.17; At 8.1; 13.50; Rm 8.35;
2Tm 3.11). O verbo Diw/kw é utilizado sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os
discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc 21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 10

forma mais forte, adjetivando “grande”, indicando assim, a severidade da persegui-


ção. Saulo foi o grande líder desta ação contra os cristãos (At 8.1; 9.1,2; 22.4,5;
26.9-12).

O verbo usado para descrever a “dispersão” – diaspei/rw – (At 8.1,4), está ligado
à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Tes-
tamento e somente para descrever este episódio (*At 8.1,4; 11.19). Assim, por meio
da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do E-
vangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).

Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converte-
ram (At 8.5-8), posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At
8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse seme-
lhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa –, que se con-
verteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “.... Filipe veio a
achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a
Cesaréia” (At 8.40).

Outro fato que evidencia a ação providencial de Deus na perseguição de Jerusa-


lém, está registrado em At 11.19-21, onde lemos no verso 19: “.... Os que foram dis-
persos, por causa da tribulação que sobreveio a Estevão, se espalharam até à Fení-
cia, Chipre e Antioquia....”. Nos versos 20 e 21 temos ainda a proclamação expan-
dindo-se: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, e que foram até
Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Je-
sus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Se-
nhor”. Vemos, desta forma, que o Evangelho do Senhor estava sendo disseminado,
tendo como elemento gerador uma perseguição que parecia ser fatal para a igreja
de Cristo; entretanto Deus a redundou em bênçãos para o Seu povo (Gn 50.20/Rm
8.28).

Deste modo, devemos aprender a confiar em Deus, realizando a obra que Ele nos
confiou a fazer, deixando o resultado com Deus. Ele é o Senhor da Igreja. Ele aben-
çoa o nosso trabalho feito em Seu nome. No Senhor, o nosso trabalho nunca será
em vão (1Co 15.58).

L. CONCEDE-NOS DONS PARA SERVI-LO POR MEIO


DA IGREJA

“Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo.


5
E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6E há diversida-
de nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. 7 A manifes-
tação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1Co 12.4-7).

A igreja é uma, porque há um só Espírito, um só Senhor, um só Deus. Deus como


Senhor da Igreja, por meio do Espírito, concede talentos aos Seus servos para servi-

descrever a perseguição que Paulo efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp
3.6), sendo também a palavra utilizada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de sua
perseguição (At 9.4-5/At 22.7-8/At 26.14-15). Paulo diz que antes perseguia a igreja (Fp 3.6), mas,
agora, prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 11

rem à igreja. Todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja.
A concessão graciosa de talentos, não elimina nem diminui a nossa responsabilida-
18
de de agir como servos (escravos) de Cristo.

Por sua vez, os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais
nascemos, mas que na realidade, foram dadas também por Deus.

“No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo
e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter di-
ante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, a-
19
centua Karl Barth (1886-1968).

No capítulo 4 da Epístola aos Efésios, Paulo está tratando de modo especial da


unidade da Igreja dentro da variedade de funções. Assim, está implícita a figura tão
cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom
funcionamento do corpo é a utilização de todas as suas partes. Organicamente, ca-
da membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante
a desempenhar dentro do equilíbrio do todo. Certamente, existem diferenças de be-
leza e elegância entre nossos órgãos, todavia, todos são essenciais. Do mesmo
modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenças entre nós, e não sejamos con-
siderados pelos homens como dignos de algum valor, o fato é que todos somos es-
senciais no serviço do Reino: Devemos frisar no entanto, que não somos ontologi-
camente essenciais; antes, Deus, por graça nos tornou essenciais no Seu Reino e,
por isso, agora o somos.

Assim, é Deus mesmo e não outro, Quem nos concede talentos para servi-Lo (Ef
4.7,11/1Co 12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humildade (1Co
4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o serviço do Reino:
“A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso”
(1Co 12.7).

Paulo continua: “Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os
20
membros, com igual cuidado (merimna/w = “preocupação”), em favor uns dos ou-
tros” (1Co 12.25).
18
Quanto à questão bíblica de que todos nós somos escravos de Cristo, veja-se o excelente livro:
John MacArthur, Escravo: A verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo, São José dos
Campos, SP.: Fiel, 2012.
19
Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s
Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.
20
A palavra tem o sentido de solicitude, preocupação e inquietação. Ela ocorre 18 vezes no NT. O
seu uso no Novo Testamento não tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega positivamente,
como por exemplo no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se refere a Timóteo: “Por-
que a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide (Merimnh/sei) dos vossos interes-
ses” (Fp 2.20) e, também quando descreve as suas lutas em favor da Igreja: “Além das cousas exte-
riores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação (Me/rimna) com todas as Igrejas” (2Co
11.28).
O termo também é usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido: “Não an-
deis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida...” (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e di-
ante da aparente inércia de Maria, diz: “Marta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com
muitas coisas” (Lc 10.41).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 12

“O Senhor nos colocou juntos na Igreja, e destinou cada um ao seu pos-


to, de tal maneira que, sob a única Cabeça, venhamos a nos auxiliar uns
aos outros. Lembremo-nos também de que tão diferentes dons nos têm si-
do concedidos para podermos servir ao Senhor humilde e despretensio-
samente, e aplicar-nos ao avanço da glória daquele que nos tem dado
tudo quanto temos”.
21

Deste modo, os talentos recebidos, foram-nos concedidos para que os usásse-


mos para a edificação da Igreja, não para a disseminação de discórdias, ou para u-
sar de nossa influência para dividir, denegrir, solapar ou mesmo para a nossa proje-
ção pessoal: Deus não desperdiça os dons “por nada e nem os destina para
que sirvam de espetáculo”. Mas, para a edificação. O objetivo é claro: “Com vis-
22
23
tas ao aperfeiçoamento (katartismo/j = “preparar”, “equipar para o serviço”) dos
santos” (Ef 4.12). Ainda que de passagem, deve ser acentuado que, “sempre que
os homens são chamados por Deus, os dons são necessariamente conecta-
dos com os ofícios. Pois Deus não veste homens com máscara ao designá-los
apóstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais não têm eles
como desincumbir-se adequadamente de seu ofício”.
24

Paulo, também trata dessa questão, dizendo aos filipenses: “Não andeis ansiosos (Merimna/w) de
cousa alguma....” (Fp 4.6). No entanto, esta exortação pode parecer inócua sem a indicação de um
caminho eficaz para a canalização de nossas ansiedades existentes... Paulo então, propõe a solução
para o problema: “... Em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela o-
ração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6). A oração oferece-nos um abrigo onde podemos
nos ocultar das preocupações mundanas, um lugar onde ficamos a sós com Deus, um refúgio onde
renovamos a esperança, onde nossos cuidados com as coisas deste século ficam amortecidas. A o-
ração é o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro; é o meio fornecido por Deus
para que possamos combater a ansiedade: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade
(Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7). (Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansieda-
de, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, especialmente, p. 27-38).
21
João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134.
22
João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.7), p. 376.
23
A ideia da palavra é de preparar de forma adequada e própria (espiritual, intelectual e moral) para a
execução de determinada tarefa. O seu sentido é mais funcional do que qualitativo (Cf. R. Schippers,
R. Retidão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamen-
to, v. 4, p. 215). O verbo katarti/zw tem um amplo sentido de restauração: consertar as redes (Mt
4.21; Mc 1.19); boa instrução (Lc 6.40); perfeita união (1Co 1.10); aperfeiçoar/equipar [2Co 13.11; Hb
13.21; 1Pe 5.10; 2Co 13.9 (kata/rtisij)]; correção (Gl 6.1); reparo (1Ts 3.10), formar (Hb 10.5; 11.3).
O termo grego utilizado por Paulo, no campo cirúrgico, era usado para “consertar um osso quebra-
do”. “Ajustar em conjunto num só corpo” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 172). “A ideia fundamental do termo é de pôr
nas condições em que devem estar já uma coisa ou uma pessoa” (William Barclay, Efésios,
Buenos Aires: La Aurora, 1973, p.156). Calvino diz que o termo grego “significa literalmente a mú-
tua adaptação [= coaptitionem] de coisas que devem ter simetria e proporção; assim co-
mo, no corpo humano, há uma combinação apropriada e regular dos membros; de modo
que o termo é também usado para ‘perfeição’. Mas como a intenção de Paulo aqui é ex-
pressar um arranjo simétrico e metódico, prefiro o termo constituição [= constitutio]. Pois, es-
tritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou província, como constituí-
da, quando a confusão dá lugar ao estado regular e legítimo” (João Calvino, Efésios, São
Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 124).
24
João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 119.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 13

Observemos que estes ofícios (Ef 4.11), foram instituídos para o aperfeiçoamento
dos santos a fim de que estes cumpram o seu serviço na Igreja; ou seja: o trabalho
não é apenas pastoral ou dos Presbíteros Regentes e Diáconos, é também e fun-
damentalmente comunitário. Toda a Igreja é responsável: Lutero falou do Sacerdó-
cio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do ministério universal dos
crentes. O carisma traz implicações de responsabilidade com a edificação de nossos
irmãos. Na Igreja de Cristo não pode haver a divisão entre aqueles que trabalham e
os que apenas ouvem comodamente... Todos somos chamados e capacitados ao
25
trabalho cristão.

Notemos também, que Paulo está dizendo que todos os membros da Igreja são
santos. Isso aponta para o nosso privilégio (somos santificados em Cristo Jesus) e
nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja so-
fre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de santida-
de (separação) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo: na sua for-
ma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer... Ao invés desse comporta-
mento aprendido por osmose sugerir maturidade, é, na verdade, um sintoma de in-
fantilidade crônica: temos de modo demasiado, falado, sentido e pensado como
meninos; enquanto que o propósito de Deus para o Seu povo é o inverso: que pen-
semos, sintamos e falemos como pessoas maduras na fé (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb
26
5.11-14; 2Pe 3.18). Paulo contrasta aqui os “meninos” (nh/pioj = “bebê”, “imaturo”,
“criança pequena”) (Ef 4.14) com a “perfeição” (te/leioj = “maduro”) (Ef 4.13). Cal-
vino comenta: “Crianças são aqueles que ainda não deram um passo no ca-
minho do Senhor, senão que hesitam, que não determinaram ainda que ru-
mo devem tomar, mas que se movem às vezes numa direção e às vezes
noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueando”.
27

As crianças devido a sua ingenuidade, são mais influenciáveis, dadas à instabili-


dade. Os pagãos apresentam este comportamento, sendo conduzidos por qualquer
28
nova doutrina. Em Listra, conduzidos por suas lendas, pensaram que Paulo e
Barnabé fossem Júpiter e Mercúrio, querendo a todo custo oferecer-lhes sacrifícios.
Pouco depois, influenciados pelos judaizantes, apedrejaram a Paulo, deixando-o

25
“Não há crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais
membros são espectadores. Sempre existe progresso e multiplicação em igrejas cujos mem-
bros são vibrantes e intentam servir a Cristo” (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé
para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 20).
26
“Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças
em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo.
Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais” (1Co 3.1-2). “A esse respeito temos muitas coi-
sas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efei-
12

to, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de
alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim,
vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimen-
13

ta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os
14

adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não so-
mente o bem, mas também o mal” (Hb 5.11-14/2Pe 3.18).
27
João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 127.
28
Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, São Paulo: Parakletos, 2002, p. 250-251.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 14

quase morto (At 14.8-20). Por sua vez, “o progresso da igreja é marcado por
um crescimento da infância até a maturidade, na medida em que ela as-
sume o caráter de sua cabeça, Cristo”.
29

Paulo para descrever esta inconstância infantil, usa um termo náutico que se refe-
re a uma pequena embarcação que, em mar aberto não consegue manter o curso
certo (kludwni/zomai = “ser arrastado, levado pelas ondas”)(Ef 4.14). Metaforica-
mente tem o sentido de “ser agitado mentalmente”. A ideia é a de andar em círcu-
los, diante da variedade de ensinamentos. “Ele os compara com as palhas ou
outros elementos leves, os quais são rodopiados pela força do vento a soprar
em círculo ou em direções opostas”.
30

Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a criança gosta de
entretenimento, novidade e indisciplina; se não tivermos firmeza doutrinária, se não
estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e sem
direção. Este exemplo negativo temos nos gálatas, aos quais, Paulo escreve: “Admi-
ra-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de
Cristo, para outro evangelho” (Gl 1.6). “Vós corríeis bem; quem vos impediu
31
(e)gko/ptw) de continuardes a obedecer à verdade?” (Gl 5.7). Este impedimento
pode ser proveniente do diabo por meio de seus agentes (1Ts 2.14-18) ou do próprio
32
coração humano, onde reside a raiz de nossos pecados.

Calvino comentando a facilidade com que quase todos se curvaram diante do de-
creto idólatra de Nabucodonosor (Dn 3.2-7), sustenta que a base de nossa firmeza
doutrinária está no apego irrestrito à Palavra:

“..... nada é firme, nada é estável entre os gentios; indivíduos que não
foram instruídos na escola de Deus o que significa a verdadeira religião.
Pois oscilam a todo instante ao sabor de qualquer brisa. Assim como as fo-
lhas se movem quando o vento sopra por entre as árvores, assim também
todos os que não estão enraizados na verdade de Deus oscilarão e serão
lançados para frente e para trás quando algum vento começa a soprar.
O decreto régio não constitui uma brisa leve, e, sim, uma violenta tempes-

29
Ralph P. Martin, Efésios: In: Comentário Bíblico Broadman, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, v. 11, p.
190.
30
João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 128.
31
No seu emprego militar esta palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedi-
mento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra
tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”, “cansar”, “sobrecarregar”. (Vejam-se:
G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testa-
ment, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 3, p. 855-860; C.H. Peisker, Impedir:
In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São
Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 417-418; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexi-
con of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago, University Press, 1957, p.
215; F.F. Bruce, Hechos de los Apóstoles: Introcucción, comentarios y notas, Michigan: Libros De-
safío, 2007, (At 24.4), p. 513-514).
32
Cf. G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Tes-
tament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 3, p. 856-857.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 15

tade. Pois ninguém pode opor-se impunemente aos reis e a seus editos.
Por isso, sucede que os que não se acham plantados na Palavra de Deus,
e não entendem absolutamente nada do que é verdadeira piedade, são
arrastados pela investida de tal pé-de-vento”.
33

Em nossa imaturidade espiritual, já não separamos as coisas; antes dizíamos que


tudo era sagrado, agora vivemos como se tudo fosse profano... e o pior é que esta-
mos perfeitamente acomodados a isso, estamos bem à vontade, estamos em casa.
A acomodação no pecado não indica a paz de Deus, antes, a morte de uma consci-
ência supostamente cristã! A maturidade cristã impede-nos de cometer “macaqui-
ces espirituais”, de ficar pulando de um lado para o outro.

Retornando ao nosso objetivo, devemos enfatizar que a Igreja é uma comunidade


carismática porque é constituída pelo povo redimido pela graça de Deus e, também,
porque atua comunitariamente com os carismas concedidos pelo Senhor para a edi-
ficação do Corpo de Cristo. (Vejam-se: Ef 4.13-16).

São Paulo, 30 de janeiro de 2016.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Hermisten@terra.com.br

33
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 190.

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