Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
RESUMO
Este artigo apresenta a noção de circunstância de discur-
so, como abordada por Charaudeau (2010), e a concep-
ção de leitura interativa, com o objetivo de analisar os
mecanismos empregados para a interpretação de efeitos
humorísticos em anúncios publicitários. Para tanto, se
buscará um respaldo teórico interdisciplinar, recorrendo
a conceitos que versam sobre a leitura, sobre a publici-
dade e sobre o humor.
O
leitor de uma revista, em geral, procura nela alguma informação. Às
vezes, uma informação específica – os acontecimentos políticos da
semana, os comentários sobre as celebridades da TV, a reportagem
especial sobre um determinado assunto, as previsões sobre seu signo, as no-
tícias do futebol etc. Outras vezes, apenas uma informação qualquer que lhe
1
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 12ª. Ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
124 Silva, Conceição Almeida da. Leitura do dia: publicidades bem humoradas
desperte algum interesse – seja qual for o tema, sua atenção se disponibiliza a
ser captada. E assim, enquanto as mãos folheiam a revista, os olhos passeiam
pelas páginas, distraídos: editorial, entrevista, reportagem, artigo de opinião...
e o leitor encontra, enfim, uma leitura interessante: um anúncio publicitário.
Em geral, os anúncios que aparecem nas revistas não despertam o inte-
resse pela leitura – na verdade poucos precisam ser de fato “lidos”, visto que,
não são elaborados para “informar” o leitor sobre um determinado produto,
mas para não deixá-lo esquecer sua existência. Por este motivo, procuram não
ser cansativos, explorando mais as imagens que, por sua relação analógica com
o mundo, são de fácil captação. Além disso, a informação verbal é reduzida
ao mínimo necessário, mantendo com a linguagem icônica uma função de
fixação dos sentidos da imagem, que por sua natureza é necessariamente “po-
lissêmica” (Barthes, 1990, p. 32)2. Os anúncios se apresentam nas revistas
como uma forma de dizer um “Oi, tudo bem?” que vai manter viva a imagem
do produto, mesmo que o leitor não se tenha detido no anúncio. Na verdade,
da mesma forma que ninguém liga a televisão com o objetivo de assistir aos
intervalos comerciais, também não se compra uma revista com o objetivo de
ler os anúncios, mas ao vê-los sempre ali, dando um “Oi!”, o leitor acaba se
recordando deles depois, quando assume seu posto de consumidores.
Mas, eis que de repente um anúncio faz com que o leitor pare de folhear
e o observe. Os olhos, antes distraídos, agora se detêm, atentos, e até sorriem.
Inicia-se, então, a leitura. E, no final, os lábios se movem num sorriso espon-
tâneo. Quando isso acontece, o anúncio disse muito mais que um “Oi, tudo
bem?”. Certamente, o anúncio fez uma graça que chamou a atenção, captan-
do, então, o interesse do leitor. E é quando isso acontece que a leitura de um
anúncio pode dar um certo prazer, o mesmo que se encontraria ao se ouvir
uma piada, ou ao se ler um poema, ou mesmo ao se encontrar uma notícia
cujo tema interesse. Eis o desafio de uma publicidade bem humorada: chamar
a atenção do leitor, captar-lhe o interesse, diverti-lo e, dessa forma, cumprir
sua função principal que é a de anunciar o produto.
No entanto, não será qualquer “gracinha” que o anúncio trouxer que vai
despertar a atenção do leitor: o humor precisa ser bem elaborado, bem estru-
2
BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1990.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Palavra e imagem no 44, p. 123-141, 2012 125
5
DELL’ISOLA, Regina L. Peret. A construção do sentido durante a leitura em Português –
LE. In: Júdice, N. (Org.) Português/língua estrangeira: leitura, produção e avaliação de
textos. Niterói: Intertexto, 2000, p. 37- 44.
128 Silva, Conceição Almeida da. Leitura do dia: publicidades bem humoradas
6
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
130 Silva, Conceição Almeida da. Leitura do dia: publicidades bem humoradas
9
MONNERAT, Rosane Mauro. A publicidade pelo avesso: propaganda e publicidade, ideologias e
mitos e a expressão da ideia – o processo de criação da palavra publicitária. Niterói: EdUFF, 2003.
10
CHARAUDEAU, Patrick. O discurso propagandista: uma tipologia. 2010. Disponível em: http://
www.patrick-charaudeau.com/O-discurso-propagandista-uma.html. Acesso em: 18/01/2011.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Palavra e imagem no 44, p. 123-141, 2012 133
11
ALMEIDA, Fernando Afonso de. Desvios e efeitos na produção de enunciados. In: SOARES,
Maria Elias (org.). Boletim da ABRALIN – número especial. II Congresso Internacional da
ABRALIM, Fortaleza, março de 2001 – Anais Vol. II.
12
BERGSON, Henri. O riso – ensaio sobre a significação do cômico. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1987.
134 Silva, Conceição Almeida da. Leitura do dia: publicidades bem humoradas
Ainda, com base neste autor, pode-se dizer que o cômico resulta de certa
insociabilidade, e que o riso é uma forma de correção desta insociabilidade. O
autor considera que o social remete a padrões tomados de forma naturalizada, e
que quando tais padrões “naturais” (porque sociais) são rompidos, tem-se uma
mecanização do natural, uma fuga ao que é social, tornando-se, portanto, arti-
ficial, “insocial”, de onde resultaria o cômico e, consequentemente, o riso. As-
sim, uma cena em que alguém tropeça e cai na rua torna-se cômica. primeiro,
porque quem ri se reveste de insensibilidade, tornando-se indiferente ao fato de
tratar-se de um semelhante. Segundo, essa indiferença é possível graças a uma
visão mecanizada da situação, ou seja, a situação foge ao que seria naturalmente
esperado do ponto de vista social e o riso surge como uma forma de expressar
esse rompimento com os padrões, como um reconhecimento do desvio.
Pode-se, no entanto, considerar que alguns recursos cômicos, de tão re-
petidos, se naturalizam, se tornam sociais e, ainda assim, provocam o riso
porque não perdem sua artificialidade. São recursos como estes que são ex-
plorados pela publicidade e apresentam-se antes como um elemento de iden-
tificação social. É por que faz parte de um contexto específico que o humor
expresso por um anúncio publicitário, por exemplo, será percebido. E o riso
será aflorado como uma forma de cumplicidade entre os interlocutores que
se reconhecerão como pertencentes a um mesmo contexto comunicativo. É,
pois, por sua sociabilidade, por que se identifica como membro de uma socie-
dade, porque compartilha determinados conhecimentos, que o leitor rirá de
um efeito cômico expresso em uma publicidade.
No entanto, os efeitos de um texto humorístico não chegarão da mesma
forma a todos os leitores, já que, como visto anteriormente, um dos elementos
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Palavra e imagem no 44, p. 123-141, 2012 135
RESUMEN
Este artículo presenta la noción de circunstancia de dis-
curso, como abordada por Charaudeau (2010), además
de la concepción de lectura interactiva, con el objetivo
de analizar los mecanismos empleados para la interpre-
tación de efectos humorísticos en anuncios publicita-
rios. Para ello, se buscará un respaldo teórico interdisci-
plinar, recorriendo a conceptos que tratan de la lectura,
de la publicidad y del humor.
Anexo