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Ababelado Mundo
May 28, 2017
Andy Backet para o The Guardian — traduzido por
Materialismos
C elebrar a velocidade e a
De certa forma,
entidade, em pleno
funcionamento, por menos de
cinco anos. Parte desse tempo,
teve como base num um único
escritório nos corredores
apertados do departamento de
filosofia de Warwick, do qual era uma parte extra-oficial. Mais tarde, o
quartel general da unidade foi transferido para uma sala alugada no centro
de Georgian, próximo ao Leamington Spa, sobre uma franquia da Body
Shop.
Por décadas, referências atordoantes ao CCRU têm pipocado em diferentes
websites, músicas e jornais políticos e culturais, e nas seções mais cerebrais
da imprensa do gênero. “Tinham grupos de estudantes na faixa dos 20 anos
que reencenavam nossas práticas”, diz Robin Mackay. Desde 2007, ele tem
tocado uma respeitada editora de livros de filosofia, a Urbanomic, com
edições limitadas das velhas publicações do CCRU e de novas coletâneas de
textos proeminentes entre seus produtos.
O CCRU sempre teve consciência da importância da própria imagem. Seu
nome era deliberadamente duro, com uma pitada de militarismo ou
robótica, especialmente quando seus membros começaram a escrever se
referindo a si mesmos como um coletivo, sem um artigo definido, como
“Ccru”. Em 1999, eles resumiram sua história para um jornalista de música
simpatizante, Simon Reynolds no estilo conciso e descarnado que era sua
marca registrada: “Ccru… teve início em outubro de 1995, quando usava
Sadie Plant como tela e a Universidade de Warwick como habitat… o Ccru se
alimenta de estudantes de graduação + acadêmicos com problemas de
funcionamento + Nick Land + pesquisadores independentes…”
Ex-membros do CCRU ainda usam essa linguagem, e se mantém ferozmente
apegados à ideia de que ele se tornou uma espécie de mente coletiva. Land
me disse num email: “Ccru era uma entidade… irredutível a agendas ou
biografias de suas sub-agencias componentes… Total submissão À Entidade
era o segredo.”
Hoje em dia, Iain Hamilton Grant é um afável professor de meia idade que
usa colete com uma caneta no bolso de cima. Mas quando eu pedi a ele para
descrever o CCRU, ele disse com repentina intensidade: “Nós éramos uma
flecha! Praticamente não tinha desarmonia. Não tinha ociosidade.
Tentávamos não ficar distantes uns dos outros. Ninguém se atrevia a deixar
um parceiro na mão. Quando todo mundo acompanhava o ritmo de todo
mundo, o elemento coletivo aumentava sua velocidade.”
A gangue do CCRU criava grupos de leitura e organizava conferências e
publicações. Eles se espremiam na salinha apertada do CCRU no
departamento de filosofia e davam seminários improvisados uns pros
outros. Mackay lembra de Steve Goodman, um membro do CCRU que era
particularmente interessado em tecnologia militar e em como isso estava
transformando a vida civil, “desenhando o yin/yang no quadro negro e
falando de helicópteros. Não era a pontuação acadêmica que contava — era
disso que todos estavam cansados antes do CCRU. O que importava era a
construção de referências comuns.”
Grant explicou: “Alguma coisa seria introduzida ao grupo. Neuromancer [a
novel de William Gibson de 1984 sobre internet e inteligência artificial]
chegou ao departamento de filosofia e se espalhou como um vírus. Você
encontraria exemplares espalhados por toda sala.”
Os escritórios de Land e Plant no
departamento também se tornaram núcleos
do CCRU. “Eles eram generosos com seu
tempo”, disse Grant. “E ele tinha boas
drogas — skunk. Embora tenha ficado meio
sinistro aparecer por lá quando que ele
começou a viver no escritório. Tinha uma
torre de potes de Cup Noodles e cuecas, que
ele lavava no banheiro dos funcionários,
secando no aquecedor.”
O campus de Warwick ficava aberto até tarde.
Quando o departamento de filosofia fechava, à
noite, o CCRU partia para o bar da
organização estudandil do outro lado da rua,
onde Land pagava drinks pra todo mundo, e
dali para as casas uns dos outros, onde a mente coletiva continuava a
trabalhar. “Era como a Fábrica de Andy Warhol”, disse Grant. “trabalho e
produção o tempo todo.”
Em 1996, o CCRU listava seus interesses como “cinema, complexidade,
moeda, música, dinheiro digital, encriptação, feminismo, ficção, imagens,
vida inorgânica, jungle music, mercados, matrizes, microbióticos,
multimídia, redes, números, percepção, replicação, sexo, simulação, som,
telecomunicações, têxteis, textos, comércio, vídeo, virtualidade, guerra”.
Hoje, muitos desses tópicos são populares na mídia e se tornaram fixações
políticas. Duas décadas atrás, diz Grant, “Nós sentíamos que éramos as
únicas pessoas no planeta que estavam levando essas coisas a sério”. A meta
do CCRU era fundir suas preocupações numa matéria intelectual inovadora
e infinitamente flexível — como o ciborgue que podia assumir qualquer forma
no filme O Exterminador do Futuro 2, de 1991, a referência favorita — que
pudesse de alguma forma unir o passado e o futuro.
O principal resultado da frenética e promíscua pesquisa do CCRU era uma
linha de produção de artigos crípticos, atulhados de termos inventados,
especulativos a ponto de se tornarem ficção. Uma peça típica de 1996,
“Swarmachines”, incluía uma sessão sobre música jungle, a música dance
eletrônica mais intensa da época: “O jungle funciona como um acelerador de
partículas, baixo de frequências císmicas que engendra um drone celular
com imensos corpos… retrocede e recarrega o tempo convencional em
velozes bips de silício… não é apenas música. O jungle é o diagrama do devir
inumano planetário”. [Nota do tradutor: sou incapaz de traduzir a frase
decentemente, pra quem quiser conferir o original: “Jungle functions as a
particle accelerator, seismic bass frequencies engineering a cellular drone
which immerses the body … rewinds and reloads conventional time into
silicon blips of speed … It’s not just music. Jungle is the abstract diagram of
planetary inhuman becoming.”].
Os aceleracionistas de Warwick viam a si mesmos como participantes, não
como tradicionais observadores acadêmicos. Eles compravam discos
de jungle, frequentavam, clubes e arrumavam DJs para tocar em
conferências públicas, que promoviam na universidade para popularizar as
ideias aceleracionistas e atrair mentes afins. Grant lembra que esses
encontros, que ocorreram em 1994, 1995 e 1996 sob o nome de Futuros
Virtuais [Virtual Futures] atraiam “todo tipo de nerd sob o sol: fãs de ficção
científica, gente de ciências naturais, cientistas políticos, filósofos de outras
universidades”, mas também caçadores de tendências culturais. “Alguém da
[revista de moda] Face compareceu à primeira.”
Mesmo dentro do permissivo departamento de Filosofia de Warwick, o
desdém cada vez mais gritante demonstrado pelo CCRU em relação aos
padrões da prática acadêmica se tornaram um problema. Ray Brassier viu
isso acontecer. Hoje um internacionalmente conhecido filósofo da
Universidade Americana em Beirut, entre 1995 e 2001 era um estudante
maduro de meio período em Warwick.
“Eu estava interessado no CCRU, mas cético”, Brassier diz. “Era um pouco
mais velho que a maioria deles. O CCRU achava que estava mergulhando em
algo maior do que a academia, e eles, de fato, colocaram o dedo em muita
coisa que estava apenas começando a acontecer no mundo. Mas o trabalho
deles era frustrante também. Eles reconheceriam tranquilamente as
debilidades de suas pesquisas. ‘Não é sobre conhecimento’. Mas se pensar
fosse apenas conectar coisas, é claro que é empolgante, como tomar
anfetaminas. Mas pensar também é desconectar coisas”.
Brassier diz que o CCRU se tornou uma presença “muito divisora” no
departamento de filosofia. “A maioria do departamento realmente odiava e
desprezava Nick — e esse ódio se estendia aos seus estudantes.” Havia
discussões e disputas burocráticas cada vez mais agressivas em torno da
pesquisa do CCRU, e sobre como — e se — ela deveria ser regulada e avaliada.
Em 1997, Plant pediu demissão da universidade. “A cobrança pessoal,
política e filosófica da dinâmica do CCRU era irresistível para muitos, mas
eu me sentia sufocada e tive que sair”, ela me disse. Ela se tornou escritora
em tempo integral, e, por alguns anos, foi a principal acadêmica da mídia
digital na imprensa britânica, uma “Garota de TI para o Século XXI”, como
o Independent decretou empolgado em outubro de 1997.
Em 1998, Land pediu demissão de Warwick também. Ele e meia dúzia de
membros do CCRU se refugiaram na sala que ficava em cima do Leamington
Spa Body Shop. Lá, eles
derivaram do aceleracionismo
para um vórtice de ideias mais
esotéricas e antiquadas, tiradas
do ocultismo, da numerologia,
de romances obscuros do
escritor de horror americano,
PH Lovecraft, e, da vida do
escritor inglês Aleister Crowley,
que tinha nascido em
Leamington, uma casa
cavernosa para a qual muitos
membros do CRRU se mudaram.
“O CCRU se tornou um quase-culto, uma quase-religião”, diz Mackay. “Eu
saí antes dele terminar em loucura completa.” Dois textos chave para a
Unidade sempre foram o romance Coração das Trevas, de Joseph Conrad, e
sua adaptação para o cinema, Apocalypse Now, que tornava a conquista de
seguidores para se retirar do mundo e da sanidade convencional parecer
mortalmente glamorosa. Em sua sala no último andar, Land e seus
estudantes desenhavam diagramas ocultos nas paredes. Grant diz que um
“regime punitivo” de muito pensamento e bebida levou muitos membros a
crises mentais e físicas. Land mesmo, depois do que, mais tarde, ele
descreveria como “talvez um ano de abuso fanático” da “sagrada substância
da anfetamina”, e “insônia artificial prolongada”… dedicada a práticas fúteis
de ‘escrita’”, sofreu um colapso no final de 2000, e sumiu da vista do
público.
“O CCRU simplesmente evaporou”, diz Brassier. “E muitas pessoas — não me
inclua nessa — pensaram, ‘melhor assim’”.