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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOENÇAS INFECCIOSAS

FERNANDO ANTONIO MARTINS BERMUDES

EFEITOS DO JEJUM AGUDO OU DO JEJUM INTERMITENTE NA


EVOLUÇÃO DA PERITONITE BACTERIANA INDUZIDA POR
LIGADURA E PUNÇÃO DO CECO OU POR INJEÇÃO INTRA-
PERITONIAL DE SUSPENSÃO FECAL EM CAMUNDONGOS.

VITÓRIA

2007
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FERNANDO ANTONIO MARTINS BERMUDES

EFEITOS DO JEJUM AGUDO OU DO JEJUM INTERMITENTE NA


EVOLUÇÃO DA PERITONITE BACTERIANA INDUZIDA POR
LIGADURA E PUNÇÃO DO CECO OU POR INJEÇÃO INTRA-
PERITONIAL DE SUSPENSÃO FECAL EM CAMUNDONGOS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Doenças Infecciosas do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito para obtenção do Grau de
Mestre em Medicina, Doenças Infecciosas.
Orientador: Prof. Fausto Edmundo Lima Pereira

VITÓRIA

2007
3

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Bermudes, Fernando Antonio Martins, 1968-


B516e Efeitos do jejum agudo ou jejum intermitente na evolução da
peritonite bacteriana induzida por ligadura e punção do ceco ou por
injeção intra-peritoneal de suspensão fecal em camundongos / Fernando
Antonio Martins Bermudes. – 2007.
101 f. : il.

Orientador: Fausto Edmundo Lima Pereira.


Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro de Ciências da Saúde.

1. Jejum. 2. Peritonite. I. Pereira, Fausto Edmundo Lima. II.


Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. III.
Título.

CDU: 61
4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM DOENÇAS INFECCIOSAS

PARECER ÚNICO DA COMISSÃO JULGADORA DE


DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O mestrando FERNANDO ANTONIO MARTINS BERMUDES, apresentou dissertação


intitulada: ''EFEITOS DO JEJUM AGUDO OU DO JEJUM INTERMITENTE NA EVOLUÇÃO
DA PERITONITE BACTERIANA INDUZIDA POR LIGADURA E PUNÇÃO DO CECO OU
POR INJEÇÃO INTRA-PERITONEAL DE SUSPENSÃO FECAL EM CAMUNDONGOS" em

sessão pública, como requisito final para obtenção do título de Mestre em Ciências - Patologia
Geral das Doenças Infecciosas, do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo.

Considerando a apresentação oral dos resultados, a qualidade e relevância dos mesmos, a


Comissão Examinadora da Dissertação decidiu, aprovar sem restrições, a dissertação e habilitar o
médico FERNANDO ANTONIO MARTINS BERMUDES, a obter o Grau de MESTRE EM
CIÊNCIAS - PATOLOGIA GERAL DAS DOENÇAS INFECCIOSAS.

Vitória-ES, 06 de julho de 2007

Mestrado em Doenças Infecciosas - Centro de Ciências da Saúde -


UFES Av. MarechatCampos, 1468 - Maruípe - Vitória - ES - CEP 29.040-
090. Telefax (27) 3335-7504
5

Este trabalho foi financiado pela Companhia Siderúrgica de Tubarão /


Hospital Cassiano Antônio Moraes – HUCAM / Fundação de Apoio ao
HUCAM – FAHUCAM.
6

Dedico esta dissertação, aos meus filhos, Fernando, Carolina e Gabriela, e a

minha esposa Patricia.


7

Agradeço,

A Deus, pela vida.

Aos meus pais, Hézio e Conceição, responsáveis pela minha formação moral,

assim como toda minha família, sempre presentes.

A minha esposa Patrícia, pelo apoio incondicional.

Aos meus filhos, além do agradecimento, desculpas pelos momentos de

ausência.

Aos colegas de mestrado, pela palavra amiga e companheirismo.

Ao Dr° Fausto, exemplo de capacidade intelectual, dedicação e inspiração.

Ao Dr° Reynaldo Dietze, por nos abrir as portas do Núcleo de Doenças

Infecciosas (NDI).

Aos professores do NDI, sempre dispostos a compartilhar seus

conhecimentos.

A Fátima, pela imensa vontade de ajudar e preocupação quase maternal.

Ao Dr° José Manoel Binda pelo apoio e incentivo.

Ao Dr° Luiz Antônio Pôncio de Andrade e ao Dr° Cláudio Piras exemplos e

amizade.

Aos colegas da Clínica Cirúrgica do HUCAM, em especial a Drª Izabel Cristina

Andreatta Lemos Paulo, ao Dr° Marcos Pavesi Lopes, ao Dr° Gustavo Peixoto

Soares Miguel e Pedro Cabral Filho, pelo companheirismo.

A Maria Zilma Rios, grande incentivadora.

E finalmente, ao Dr° Olívio Louro Costa, exemplo e inspiração desde os meus

tempos acadêmicos.
8

“Onde você vê um obstáculo,


Alguém vê o término de uma viagem.
O outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo para se irritar,


alguém vê a tragédia total.
E o outro vê a prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,


alguém vê o fim.
E o outro vê o começo de uma nova etapa...

Onde você vê a fortuna,


Alguém vê a riqueza material.
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a
miséria total.

Onde você vê a teimosia,


alguém vê a ignorância.
Um outro compreende as limitações do
companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio
passo.

E que é inútil apressar o passo do outro, a não ser


que ele deseje isso.
Porque sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura.”

Fernando Pessoa
9

RESUMO

Introdução. Jejum prolongado não é infrequente na prática médica e períodos


intermitentes de jejum vêm sendo estudados como intervenção terapêutica para
algumas doenças. Períodos intermitentes de jejum induzem aumento da longevidade
e da resistência ao estresse em roedores. No entanto, pouco se conhece sobre o
efeito dessas manipulações de dieta na evolução de infecções. Objetivos. Estudar a
evolução de peritonite fecal em camundongos após jejum de 72 horas ou após
períodos de jejuns intermitentes. Material e Métodos. Camundongos foram
submetidos a jejum de 72 h e em seguida à ligadura e punção do ceco ou à injeção
intra-peritoneal de fezes (diluídas a 1:6 ou a 1:9). Camundongos submetidos a jejum
intermitente de três dias a cada duas semanas ou em dias alternados, durante
quatro meses, foram submetidos a peritonite por injeção intra-peritoneal de fezes
com as mesmas diluições. Foi avaliada a mortalidade até duas semanas, quando os
animais foram sacrificados para contagem e mensuração dos abscessos intra-
peritoneais. Os abscessos recebiam os valores 1, 2 ou 3 conforme tivessem até 2,
de 2 a 5 ou acima de 5 mm de diâmetro, respectivamente. Um escore para cada
animal foi calculado pela soma dos valores obtidos da multiplicação do número de
abscessos pelo valor atribuído ao seu tamanho. Animais controle, mantidos em dieta
“ad libitum”, pareados por idade e sexo, foram submetidos aos mesmos
procedimentos. Resultados. Nos animais submetidos ao jejum agudo ou
intermitente, as manifestações do choque séptico foram sempre mais precoces e
mais graves, com maior mortalidade nas primeiras 48 h, embora nem sempre a
diferença na sobrevivência (Kaplan-Meyer) tenha sido significativa. Nos
sobreviventes, o escore dos abscessos era significativamente menor nos grupos
submetidos a jejum, especialmente quando a peritonite fecal era induzida por injeção
mais diluída de fezes (1:9), com menor mortalidade. Conclusões. Os resultados
mostram que o jejum agudo ou o jejum intermitente aumentam a susceptibilidade ao
choque endotóxico, mas aumenta resistência às bactérias, demonstrada pela menor
extensão dos abscessos peritoneais formados.

Palavras-chaves: jejum; jejum intermitente; peritonite fecal; choque endotóxico;


camundongo.
10

ABSTRACT

Background. Intermittent fasting is frequent in medical practice and this condition


has been studied as a therapeutic intervention for some diseases. Increased life
span and resistance to stress is observed in rodents submitted to intermittent fasting.
However there is not much information on the evolution of infections in animals
submitted to these diet manipulations. Objectives. To study the evolution of fecal
peritonitis in mice after 72 h fasting or after different time of intermittent fasting.
Methods. After 72 h of fasting mice were submitted to cecal ligature and puncture or
to an intraperitoneal injection of feces (1:6 or 1:9, weight/volume dilutions). Mice
submitted to intermittent fasting, three days for two weeks or the day after the other
day, during four months, received intraperitoneal injection of feces with the same
dilutions. Mortality was evaluated up to 14 days, when the animals were killed to
quantify the intraperitonel abscesses. The abscesses were classified with the values
one, two or three according they were respectively up two, between two and five or
higher than five millimeters in diameter. For each animal a score was obtained by the
sum of values originated from the product of the number attributed to the abscesses
versus the number of each abscess type. Control mice, paired by gender and age,
were submitted to the same procedures. Results. In mice submitted to 72 h fasting
or intermittent fasting the signs of septic shock appeared earlier and were more
severe, with higher mortality up to 24 h, although the global mortality evaluated by
Kaplan-Meyer method was not significant after two weeks. Among the survivors the
score of abscesses were significantly lower in mice submitted to fasting, mainly in
groups treated with feces 1:9 dilution, in which occurred less mortality. Conclusions.
Results demonstrate that acute or intermittent fasting increases the susceptibility to
endotoxic shock and induces increased resistance to bacteria, demonstrated by
reduction in number and volume of abscesses.

Key words: fasting, intermittent fasting, fecal peritonitis, endotoxic shock, mice.
11

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana


aguda em animais submetidos a jejum de 72 horas, induzida por ligadura e punção
do ceco. .....................................................................................................................55

FIGURA 2 – Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana


aguda em animais submetidos a jejum de 72 horas, induzida por inoculação de
suspensão fecal. ........................................................................................................56

FIGURA 3 – Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana


aguda em animais submetidos a jejum intermitente por 16 semanas, induzida por
inoculação de suspensão fecal a 1:6 ou 1:9. Jejum 3d/2s. .......................................57

FIGURA 4 – Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana


aguda em animais submetidos a jejum intermitente por 16 semanas, induzida por
inoculação de suspensão fecal a 1:6 ou 1:9. Jejum ds/dn. .......................................57

FIGURA 5 – Peso corporal de camundongos submetidos a três dias de jejum e de


um grupo controle, mantido com dieta “ad libitum”. ..................................................58

FIGURA 6 – Peso do timo (A), do baço (B) e do fígado (C) de camundongos


submetidos a jejum de três dias. ...............................................................................59

FIGURA 7 – A: Timo em animal do grupo controle. B: Timo com tamanho muito


reduzido em animal após 72 horas de jejum. C: Baço de animal após 72 horas de
jejum (à esquerda) e baço de animal controle. ..........................................................59

FIGURA 8 – Aspecto microscópico do timo em animal controle (A) e após 72 horas


de jejum (B). ..............................................................................................................60
12

FIGURA 9 – Evolução do peso corporal de dois grupos de animais submetidos a


jejum de três dias a cada duas semanas e um grupo controle, mostrando quatro
ciclos de jejum e o peso final aos 112 dias (16 semanas). .......................................61

FIGURA 10 – Curva de ganho de peso em um grupo de animais submetidos a jejum


em dias alternados e em um grupo controle, durante 16 semanas. .. ......................62

FIGURA 11 – Mortalidade após indução de peritonite por ligadura e punção do ceco


em camundongos submetidos a jejum de três dias, no terceiro dia do
jejum...........................................................................................................................63

FIGURA 12 – A- Mortalidade após injeção intra-peritoneal de suspensão de fezes


diluídas a 1:6 (peso/volume) em camundongos submetidos a três dias de jejum. B e
C- Número e escore dos abscessos intra-peritoneais observados duas semanas
após a inoculação. ....................................................................................................65

FIGURA 13 – A- Mortalidade após injeção intra-peritoneal de suspensão de fezes


diluídas a 1:9 (peso/volume) em camundongos submetidos a três dias de jejum. B e
C- Número e escore dos abscessos intra-peritoneais observados duas semanas
após a inoculação ......................................................................................................65

FIGURA 14 – A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum de


três dias a cada duas semanas (jejum 3d/2s) e inoculados com 4 ul/g peso corporal
de suspensão de fezes diluídas a 1:6 (peso/ volume). B- Número e escore de
tamanho de abscessos intra-peritoneais, observados nos sobreviventes, 14 dias
após o inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. .................................................67

FIGURA 15 – A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum de


três dias a cada duas semanas (jejum 3d/2s) e inoculados com 4 ul/g peso corporal
de suspensão de fezes diluídas a 1:9 (peso/ volume). B- Número e escore de
tamanho (média± DP) de abscessos intra-peritoneais, observados nos
sobreviventes, 14 dias após o inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. ..............68
13

FIGURA 16 – A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum em


dias alternados (jejum ds/dn) e inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão
de fezes diluídas a 1:6 (peso/volume). B- Número e escore de tamanho de
abscessos intra-peritoneais, observados nos sobreviventes, 14 dias após o inóculo
intra-peritoneal da suspensão fecal. ..........................................................................69

FIGURA 17 – A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum em


dias alternados (jejum ds/dn) e inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão
de fezes diluídas a 1:9 (peso/volume). B- Número e escore de tamanho (média± DP)
de abscessos intra-peritoneais observados nos sobreviventes, 14 dias após o
inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. .........................................................................70

FIGURA 18 – Evolução do peso corporal em camundongos submetidos a jejum de


3d/2s (A) ou em dias alternados (B) e seus respectivos controles. . ........................71

FIGURA 19 – Peso do baço e do fígado (em mg por grama de peso corporal) em


camundongos submetidos a jejum por três dias a cada duas semanas (J3d/2s) ou
em dias alternados (Jds/dn) e camundongos controles, alimentados “ad libitum”, nos
quais se induziu peritonite fecal por injeção intra-peritoneal de fezes diluídas
(peso/volume) a 1:6 (A e C) ou a 1:9 (B e D). ...........................................................72
14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACTH – Hormônio adrenocorticotrófico
AG – Ácido graxo
AL – Ad libitum
ALT – Alanina aminotransferase
Cal – Calorias
Células NK (NKC) – Células natural killer
ConA – Concanavalina A
CSF-GM – Fator de crerscimento para granulócitos e monócitos
DNFB – 2,4 dinitrofluorbenzeno
Ds/dn – Dia sim/ dia não
g – grama
G-6-PD – Glicose 6 fosfato desidrogenase
h – horas
HUCAM – Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes
IAb MHCII – molécula do MHCII do camundongo
IFN γ – Interferon γ
IGF-1 – Fator de crescimento semellhante a insulina 1
IκB – inibidor do NFkB
IL-1 – Interleucina 1
IL-2 – Interleucina 2
IL-4 – Interleucina 4
IL-6 – Interleucina 6
IL-10 – Interleucina 10
IL-12 – Interleucina 12
Ig A – Imunoglobulina A
Ig E – Imunoglobulina E
Ig G – Imunoglobulina G
LPS - Lipopolisacárides
mg – miligramas
mm – milímetros
15

NFκB – Fator de transcrição nuclear kappa-B


NO – Óxido nítrico
OMS – Organização Mundial da Saúde
PHA – Fitohemoaglutinina
PWM – Poke Weed Mitogen, lectina originada de leguminosa
RC – Restrição calórica
TLR – 2 – Toll like receptor 2
TLR – 4 – Toll like receptor 4
TNF α – Fator de necrose tumoral α
µl – microlitros
3d/2s – Três dias/ duas semanas
6-PG D – Fosfogluconato – 6 – desidrogenase

HMGB1 – Proteina High Mobility Group BOX 1


16

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................18

2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................23

2.1 FOME, DESNUTRIÇÃO AGUDA E INFECÇÃO .................................................23

2.2 IMPACTO DA DESNUTRIÇÃO AGUDA (JEJUM) NA RESPOSTA IMUNITÁRIA

INATA E ADAPTATIVA ............................................................................................27

2.3 RESTRIÇÃO CALÓRICA PROLONGADA, AUMENTO DE LONGEVIDADE E DE

RESISTÊNCIA A TUMORES ....................................................................................31

2.4 DIFERENTES MODALIDADES DE RESTRIÇÃO CALÓRICA UTILIZADAS NOS

TRABALHOS EXPERIMENTAIS ...............................................................................37

2.5 RESTRIÇÃO ALIMENTAR ATRAVÉS DA INTERRUPÇÃO FORÇADA (JEJUM)

DO FORNECIMENTO DO ALIMENTO EM DIFERENTES PERÍODOS....................37

2.6 EFEITOS DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR INTERMITENTE NO HOMEM ...........43

2.7 RESTRIÇÃO CALÓRICA PROLONGADA, SEM MÁ NUTRIÇÃO E RESPOSTA

IMUNITÁRIA INATA E ADAPTATIVA .......................................................................44

3. OBJETIVOS ..........................................................................................................50

4. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................50

4.1 ANIMAIS ..............................................................................................................50

4.2 JEJUM AGUDO DE CURTA DURAÇÃO ............................................................50

4.3 JEJUM INTERROMPIDO DE LONGA DURAÇÃO .............................................51

4.3.1 Jejum de três dias a cada duas semanas ou em dias alternados .............51

4.4 INDUÇÃO DA PERITONITE BACTERIANA .......................................................52

4.4.1 Ligadura e punção do ceco ...........................................................................52

4.4.2 Injeção intra-peritoneal de fezes ...................................................................53


17

4.5 NECRÓPSIA DOS ANIMAIS E AVALIAÇÃO DA PERITONITE ........................53

4.6 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL ...................................................................54

4.6.1 Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda

em animais submetidos a jejum de 72 horas .......................................................54

4.6.1.1 Peritonite bacteriana induzida por ligadura e punção do ceco ......................54

4.6.1.2 Peritonite induzida por inoculação de suspensão fecal .................................55

4.6.2 Experimentos para avaliação da evolução da peritonite fecal em animais

submetidos a jejum intermitente por 16 semanas ...............................................56

4.7 AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS ..............................................57

5. RESULTADOS ......................................................................................................58

5.1 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM AGUDO DE 72 H ..........58

5.2 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM INTERROMPIDO ..........60

5.2.1 Jejum de três dias a cada duas semanas ....................................................60

5.2.2 Jejum em dias alternados ..............................................................................62

5.3 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

AGUDO DE 72 HORAS .............................................................................................62

5.3.1 Peritonite fecal induzida por ligadura e punção do ceco ...........................63

5.3.2 Peritonite fecal induzida por injeção intra-peritoneal de suspensão de

fezes ..........................................................................................................................64

5.4 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

INTERMITENTE ........................................................................................................66

5.4.1 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum de três dias

a cada duas semanas ..............................................................................................66

5.4.2 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum em dias

alternados ................................................................................................................68
18

5.4.3 Peso corporal, peso do baço, do fígado e do timo após a indução da

peritonite por inoculação intra-peritoneal de suspensão fecal nos animais

submetidos aos regimes de jejum intermitente e nos respectivos grupos

controle ....................................................................................................................70

6. DISCUSSÃO .........................................................................................................73

6.1 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM AGUDO DE 72H ...........73

6.2 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM INTERROMPIDO ..........74

6.2.1 Jejum de três dias a cada duas semanas ....................................................74

6.2.2 Jejum em dias alternados ..............................................................................74

6.3 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL PRODUZIDA POR LIGADURA E

PUNÇÃO DO CECO OU POR INJEÇÃO INTRA-PERITONEAL DE SUSPENSÃO

DE FEZES .................................................................................................................76

6.4 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

AGUDO DE 72 HORAS .............................................................................................77

6.5 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

INTERMITENTE ........................................................................................................81

6.5.1 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum de três dias

a cada duas semanas ..............................................................................................81

7 CONCLUSÕES ......................................................................................................86

8 REFERÊNCIAS ......................................................................................................87
19

1- INTRODUÇÃO

Há alguns séculos, a fome e a desnutrição dominaram as preocupações de

governos e, no século XX, a Organização Mundial de Saúde (OMS), até a década de

70, preocupava-se quase que exclusivamente com os efeitos da fome e da

desnutrição crônica e suas consequências, especialmente agravamento de doenças

infecciosas (SCRIMSHAW, 2003; KEUSCH, 2003). Nos últimos 25 anos,

acumularam-se evidências de que a população mundial tendia ao sobrepeso e

obesidade, inclusive nos países mais pobres, com aumento acelerado de algumas

doenças, prevalecendo o diabetes do tipo II, a hipertensão arterial, o infarto do

miocárdio e os acidentes vasculares cerebrais. Estabeleceu-se o conceito de

síndrome metabólica, concluindo-se que na maioria dos casos, ela decorre de erros

alimentares, com excessiva ingestão de calorias (LISSNER et al., 2000; PRENTICE,

2006). Portanto, a desnutrição, quer por hiponutrição ou hipernutrição, vem sendo

sinônimo de doença. No entanto, o conceito de eunutrição ainda não está bem

estabelecido, ou seja, não se sabe com certeza qual a necessidade calórica diária

que deve ser ingerida para manutenção de um organismo saudável.

Embora os profissionais da área da saúde tenham como dogma que a

desnutrição aguda ou crônica seja causa de doenças ou as agrave, especialmente

as infecciosas, algumas poucas observações em humanos, em animais domésticos

e em modelos experimentais mostraram que, paradoxalmente, situações de

desnutrição grave eram acompanhadas de aumento da resistência a alguns agentes

infecciosos. Essa resistência desaparecia no período imediatamente após a

realimentação, quando havia aumento da susceptibilidade aos agentes infecciosos

(MURRAY et al., 1975; MURRAY et al., 1976; MURRAY e MURRAY, 1977 a e b).
20

Ao lado dos numerosos estudos sobre a desnutrição crônica, geralmente

proteico-calórica, com deficiência grave de micronutrientes, o que facilitaria as

infecções, alguns pesquisadores começaram, na primeira metade do século

passado, a demonstrar experimentalmente que roedores submetidos a restrição

calórica, com aporte normal de micronutrientes, tinham aumento significativo do

tempo de vida, em comparação com controles alimentados à vontade (MCCAY et al.,

1935 a e b). Essas observações iniciais passaram despercebidas, mas nos últimos

30 anos, vários pesquisadores repetiram e ampliaram as observações pioneiras de

McCay e colaboradores, demonstrando que a restrição calórica é um dos poucos

mecanismos que interfere diretamente nos processos de envelhecimento,

aumentando o tempo de vida e melhorando as condições biológicas do organismo

na senectude (revisão em: WEINDRUCH e SOHAL, 1997; MERRY, 2002;

HURSTING et al., 2003; MASORO, 2005; SINCLAIR, 2005). Estabeleceu-se o

conceito de desnutrição sem má nutrição, e os experimentos foram estendidos a

primatas não humanos. Nesses animais, embora não tenha havido tempo de avaliar

a extensão da vida, já foram observadas quase todas as manifestações metabólicas

benéficas da restrição calórica relatadas nos roedores (MATTISON et al., 2003). Isso

tem encorajado os pesquisadores a fazer observações no homem e as poucas

publicações já mostram efeitos benéficos semelhantes aos observados para

roedores e primatas não humanos (HEILBRONN e RAVUSSIN, 2003; DIRKIS e

LEEUWENBURGH, 2006; HEILBRONN et al., 2006).

Estudos de biologia molecular têm mostrado que a restrição calórica induz

profundas modificações na expressão de genes, fato possivelmente responsável

pelas modificações do organismo que favorecem a extensão da vida e a


21

manutenção de boas condições de adaptabilidade no envelhecimento (SPINDLER,

2005; MATHERS, 2006).

Uma forma de restrição alimentar intermitente, alternando períodos de jejum

com períodos de alimentação “ad libitum”, em roedores, mostrou ser também

eficiente no prolongamento da vida (CHENEY et al., 1980; GOODRICK et al., 1982).

Por outro lado, jejum de quatro dias a cada duas semanas foi capaz de modular a

resposta imunitária em camundongos NZB/NZW, retardando o aparecimento das

manifestações do lupus sistêmico e prolongando significativamente a vida desses

animais (SOGAWA e KUBO, 2000).

Situações de desnutrição grave, crônica ou aguda (restrição alimentar aguda

total ou jejum) não são raras na prática médica, e períodos variáveis de jejum vêm

sendo utilizados para tratamento de algumas doenças, especialmente de natureza

psicossomática (KOMAKI et al., 1997). Embora a impressão geral seja que as

infecções são sempre facilitadas nessas circunstâncias, na realidade pouco se

conhece sobre o impacto dos estados de desnutrição grave, aguda ou crônica, na

resistência a agentes infecciosos. Seria interessante estudar num modelo

experimental, o comportamento de um animal frente a um agente infeccioso, durante

o jejum.

Também, apesar de serem nítidos os efeitos benéficos da restrição calórica e

de períodos alternados de jejum na extensão da vida em roedores, poucas são as

investigações sobre o possível impacto desses tipos de manipulação dietética

(desnutrição sem má nutrição), no desenvolvimento de doenças infecciosas e na

resposta às vacinas. Esse aspecto é importante porque as modificações nas

expressões gênicas induzidas pela restrição calórica levam a redução na expressão

de alguns genes pró-inflamatórios (WEINDRUCH et al., 2002; SPINDLER, 2005;


22

MATHERS, 2006), o que pode comprometer a resposta imunitária inata e adaptativa.

Por outro lado, o jejum intermitente, outra forma de restrição alimentar, induziu

modulação da resposta imunitária em camundongos com doença auto-imune

(SOGAWA e KUBO, 2000) e aumentou a resistência a uma agressão tóxica ao

sistema nervoso central em camundongos (ANSON et al. 2003). Por essas razões, o

estudo experimental de infecções em animais submetidos a restrição calórica ou a

jejuns intermitentes por períodos prolongados é importante para que possamos

avaliar se esse tipo de restrição alimentar prolongada pode ou não interferir na

susceptibilidade às infecções.

Tendo em vista o acima exposto e na tentativa de contribuir para o

conhecimento do impacto de períodos de jejum agudo ou de jejuns intermitentes

sobre a evolução de infecções bacterianas que podem ser acompanhadas de sepse,

planeja-se neste trabalho estudar a evolução de peritonite bacteriana em

camundongos submetidos a jejum agudo de três dias ou a regimes de jejum

intermitente durante 16 semanas.

Em uma primeira parte desta dissertação será apresentada uma revisão da

literatura, com maior ênfase nas observações sobre os efeitos de desnutrição grave

(fome), sobre infecções humanas e experimentais e nas observações através da

utilização do método de jejum intermitente para produzir a restrição alimentar.

Embora não seja objetivo da investigação aqui proposta, será feita uma pequena

revisão sobre o impacto da restrição calórica na longevidade, com base em artigos

de revisão publicados nos últimos dez anos, já que os efeitos do jejum intermitente

mimetizam grande parte dos efeitos da restrição calórica.


23

Esta dissertação está redigida segundo as normas da ABNT, exceto as

referências bibliográficas que serão citadas como aparecem no PUBMED, com a

retirada do dia e mês na data da publicação.


24

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 FOME, DESNUTRIÇÃO AGUDA E INFECÇÃO

Algumas poucas observações experimentais e em humanos, desde dois

séculos atrás, têm mostrado que nem sempre a desnutrição, especialmente a aguda,

devido à fome aguda, favorece às doenças infecciosas, ao contrário do que sempre

pensaram os profissionais da área da saúde.

Na década de 70, um grupo de pesquisadores americanos da Universidade

de Minessota (MURRAY et al., 1975; MURRAY et al., 1976), trabalhando na

Somália, observando populações nômades que passaram por períodos de fome,

relataram que doenças infecciosas como malária e algumas viroses eram menos

graves no período de fome e se agravavam após a realimentação. Esses estudos

mostraram que crianças, apesar da fome e com desnutrição acentuada, quando

expostas ao sarampo, poliomielite e hepatite apresentavam, com menor frequência

e menor gravidade, as manifestações dessas doenças.

Intrigados com essas observações, esses estudiosos fizeram uma pesquisa

minuciosa da literatura e publicaram excelente revisão sobre o impacto da

desnutrição aguda e da realimentação sobre as doenças infecciosas (MURRAY e

MURRAY, 1977 a e b).

Esses autores, citando uma publicação da época dos Tudor, relataram a

informação de que uma epidemia de “English Sweat”, provável infecção aguda viral

que varreu a Inglaterra de maneira recorrente no século XVI, acometeu com maior

frequência as pessoas mais ricas do que as mais pobres. Relataram uma

observação de Thomas Sydenham, famoso médico inglês do século XVII, que


25

relatou ser a gravidade da varíola maior nos ricos do que nos pobres, os segundos

menos nutridos do que os primeiros.

Citam ainda observações de Chadwick, um dos precursores dos médicos

sanitaristas que em 1830, descreveu uma singular associação entre dieta e infecção

no sistema prisional inglês. Chadwick obteve dados do relatório anual sobre a

mortalidade e morbidade de 100.000 prisioneiros durante quatro anos, e dados de

quanto cada preso custava em comida por semana, e se surpreendeu com os

resultados: aquelas prisões que tinham menor investimento em comida (com gastos

de um shilling e dez pence por semana) apresentavam morbidade de 3% ao ano e

mortalidade de 0,16%. No entanto, aquelas com mais alimento, (com gastos de três

shilling e dois pence, por semana) apresentavam morbidade de 23% ao ano e

mortalidade de 0,4%. Ressaltou ainda que, as doenças eram mais frequentes nos

prisioneiros recém chegados e menos frequentes nos detentos mais antigos, que

recebiam menos comida. É interessante chamar a atenção para o fato de que a

publicação foi um dos mais antigos trabalhos epidemiológicos submetidos à análise

estatística por William Farr, um dos fundadores da vigilância epidemiológica.

Essas observações antigas ficaram esquecidas na literatura e só um século

depois, outras observações semelhantes começaram a ser relatadas.

Em suas revisões, Murray et al. (1977 b) se referem a relatos semelhantes

aos de Chadwick, feitos a partir de observações durante a segunda grande guerra.

Citam os trabalhos de Markowski (1945) e Aldesberger et al. (1946), os quais

relataram que os presos de guerra bem nutridos e os guardas eram mais

susceptíveis às manifestações graves do tifo do que os prisioneiros mal nutridos.

Também se referem a uma publicação de Braude-Heller et al. (1946) sobre a fome e

doenças nos guetos de Varsóvia, onde relataram índices de morbidade por sarampo
26

mais baixos ou médios em crianças mal nutridas, comparados com os índices de

crianças alemãs que, ao contrário das varsovienses, estavam bem nutridas.

Murray et al. (1977a) após observações na Somália, ficaram intrigados com o

fato de que a realimentação agravava as doenças infecciosas, menos frequentes e

mais benignas no período de fome. Comentam o relato de um veterinário sobre a

febre aftosa no gado, menos grave durante os períodos de seca, tornando-se mais

frequente e grave após as primeiras chuvas (realimentação do gado), corroborando

essas observações de que a realimentação agravava as infecções. Essa dúvida

sobre o real impacto da desnutrição na infecção é compartilhada por outras

observações em humanos. Philips e Wharton (1968) relatam que as infecções com

Salmonella, embora facilitadas pela desnutrição, são piores para tratamento com

antibióticos nos pacientes internados submetidos à reidratação e realimentação.

Keys et al. (1950), também citados por Murray et al. (1977a), em um livro sobre

jejum no homem, relatam que em 32 pessoas saudáveis submetidas a jejum

controlado por 24 semanas, com perda de 25% do peso, não houve aumento de

frequência ou agravamento de infecções respiratórias. Os mesmos autores

relataram que uma análise de casos de anorexia nervosa coletados até 1950

mostrou serem pouco frequentes as infecções respiratórias ou piogênicas nesses

pacientes.

Uma série de trabalhos experimentais descritos por Murray et al. reforçou

suas dúvidas, especialmente em relação às infecções viróticas experimentais.

Infecções viróticas em animais de laboratório foram mais benignas em animais

desnutridos, fato demonstrado em infecções com o vírus do sarcoma de Rous em

pintos (ROUS, 1911), com o vírus da vaccinia em coelhos (SPRUNT, 1942), com o

vírus da poliomielite em camundongos (FOSTER, 1944), com a pseudo-raiva em


27

camundongos (JOSE et al., 1971) e com o vírus da febre aftosa em diversos

pequenos animais (EDWARDS, 1937). Em todas essas observações, os animais

eram submetidos a desnutrição calórico-proteica por períodos variáveis, geralmente

sem se fazer referência à quantidade de micronutrientes.

Já em relação às bactérias, algumas observações experimentais mostraram

resultados contraditórios em animais desnutridos.

Smith e Dubos (1956) mostraram aumento de susceptibilidade a

Staphylococcus inoculados por via intravenosa em camundongos deixados em

jejum por 36 a 48 h. Schaedler e Dubos (1959) observaram que animais malnutridos

eram mais susceptíveis às infecções por Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus

aureus e M tuberculosis na fase de perda de peso. No entanto, esses autores

desnutriram os animais com dietas hipoproteicas mas não os submeteram a jejum.

Ao contrário das observações relatadas no parágrafo anterior, camundongos

submetidos a jejum de 24 a 72 h foram mais resistentes a uma dose letal de Listeria

monocytogenes (WING e YOUNG, 1980) e camundongos submetidos à restrição

calórica com aporte normal de proteínas e micronutrientes, durante 3 semanas,

foram também mais resistentes a Salmonella typhimurium (PECK et al., 1992).

Todos esses trabalhos experimentais se referem a pesquisas com animais

submetidos à desnutrição aguda, mas nenhum dos autores testou o efeito da

realimentação na susceptibilidade às infecções.

Murray e Murray (1977) discutem ainda os vários possíveis mecanismos

para explicar o fato de maior resistência a infecções em desnutridos graves, com

queda dessa resistência após a realimentação. Os autores admitem que a

desnutrição aguda leva à redução na oferta de nutrientes, provavelmente

micronutrientes, mais importantes para a sobrevivência do microorganismo


28

infectante do que para o hospedeiro. A realimentação, ao fornecer esses nutrientes,

favorece a proliferação e invasão do microorganismo.

A fome deve ter sido um importante fator de pressão seletiva na evolução da

espécie e pode ter sido importante na seleção de genes que favoreçam a resistência

contra as infecções nas circunstâncias de privação alimentar, o que ainda está para

ser confirmado (PRENTICE, 2005). As observações sobre a rápida influência de

restrição calórica na expressão gênica favorecem essa hipótese (SPINDLER, 2005).

2.2 IMPACTO DA DESNUTRIÇÃO AGUDA (JEJUM) NA RESPOSTA IMUNITÁRIA

INATA E ADAPTATIVA

As observações sobre o impacto de um período de jejum na resposta imunitária

têm sido estudadas principalmente em camundongos e ratos submetidos a jejum de

24 a 72 h, desafiados com agentes infecciosos durante o período de jejum ou

imunizados nesse período ou em animais com doenças auto-imunes, especialmente

camundongos com lupus eritematoso sistêmico. Como será visto a seguir, os

resultados são às vezes conflitantes.

Foram observadas, redução da resposta imunitária celular a uma hemocianina

de um molusco (keylimpet) e redução da produção de anticorpos contra toxóide

tetânico em ratos sensibilizados, submetidos a jejum de 72 h e observados até o

sétimo dia após o início da realimentação. No sétimo dia após a realimentação, os

animais ainda apresentavam redução da resposta celular e humoral aos antígenos

aos quais estavam sensibilizados, embora já tivessem recuperado o peso perdido

durante o jejum (NOHR et al.,1985).


29

Em camundongos submetidos a jejum de 48 a 72 h, demonstrou-se aumento

da capacidade de fagocitar e matar L. monocytogenes, bem como aumento do

número de monócitos circulantes e precursores de monócitos na medula óssea. Os

níveis séricos de CSF-GM diminuíram na fase do jejum e se restabeleceram

rapidamente após a realimentação (WING e BARCZYNSKI, 1984; WING,

BARCZYNSKI e SHERBONDY, 1986).

É interessante observar que, apesar do aumento da atividade fagocitária em

camundongos submetidos ao jejum, há redução do número de linfócitos T e redução

na capacidade de montar resposta imunitária celular a antígenos introduzidos no

período de jejum (WING, MAGEE e BARCZYNSKI, 1988).

Komori et al. (1996) contrariando as observações anteriores, não verificaram

alteração na resposta imunitária a eritrócitos de carneiro, avaliada pela medida de

células formadoras de placas de imuno-hemólise no baço de camundongos

submetidos ao jejum de 48 h.

Em ratos submetidos a jejum de um a nove dias, observou-se aumento da

capacidade fagocítica de macrófagos nas primeiras 72 h, que se tornava

progressivamente reduzida nos dias subsequentes (MORIGUCHI et al., 1989).

Nakamura et al. (2001) estudaram a dermatite de contato induzida pelo 2,4

dinitrofluorbenzeno (DNFB) em camundongos ICR. Os animais eram sensibilizados

no dia zero e a dose desencadeante era aplicada 120 h depois. Um grupo de

animais era mantido com dieta a vontade, um grupo, submetido a jejum de 24 h após

a dose desencadeante e outro grupo, a jejum de 48 h iniciado 96 h depois da dose

desencadeante. O grupo submetido a jejum de 24 ou 48 h apresentou acentuada

inibição da resposta inflamatória. Nakamura et al. (2001) admitiram que os

mecanismos dessa supressão de resposta inflamatória não são conhecidos, mas é


30

possível que as modificações hormonais agudas (elevação de corticóides, de ACTH,

de beta endorfinas, adrenalina e noradrenalina) induzidas pelo jejum, tenham sido

responsáveis pela supressão da inflamação.

Estudos experimentais mais recentes demonstraram que, o jejum de 48 h em

camundongos induz uma imunodepressão acentuada, especialmente da imunidade

celular e que essa imunodepressão está na dependência da redução dos níveis

séricos de leptina, podendo ser impedida pela administração de leptina exógena

(LORD et al., 1998). Essas observações foram realizadas empreendendo-se estudos

a respeito da leptina sobre a resposta de linfócitos em cultura mista (humanos e de

camundongos db/db e ob/ob) e observando-se o efeito da administração da leptina

em camundongos sensibilizados com 24 e 48 h de jejum. Demonstrou-se que a

leptina estimula a resposta de linfócitos T CD4 virgens (e não os de memória),

através da estimulação de produção de IL-2 por essas células. Demonstrou-se

ainda, que a leptina bloqueia a produção de IL-4, favorecendo assim uma resposta

TH1 ou de tipo inflamatório. A administração da leptina nos camundongos

sensibilizados durante o jejum reverteu a inibição da resposta à oxazolona, avaliada

quatro dias depois da sensibilização.

Outra observação recente sobre o impacto da leptina nas modificações da

resposta imunitária inata durante o jejum, demonstrou que camundongos submetidos

a jejum de 48 h têm maior mortalidade após injeção de LPS, efeito revertido pela

injeção de leptina (FAGGIONI et al., 2000).

Há observações sobre o efeito do jejum na resposta imunitária inata e

adaptativa também em humanos.

Uma circunstância onde ocorre jejum prolongado em humanos é a anorexia

nervosa. Os dados sobre o comportamento da resposta imunitária nos pacientes


31

com anorexia nervosa são conflitantes. Em 15 mulheres com anorexia nervosa,

observou-se resposta normal a vacina com vírus da influenza, com títulos

ligeiramente maiores 60 dias após a vacinação (ARMSTRONG-ESTHER et al.,

1978). No entanto, Cason et al. (1986) encontraram redução em testes intradérmicos

contra vários antígenos. Mais recentemente, Polack et al. (1993) estudando 30

pacientes com anorexia mostraram, em relação às respostas proliferativas de células

T, que 53% tinham respostas mais baixas, 20% mais exacerbadas e 27% tinham

respostas nos limites do grupo controle. A produção de IFN-γ foi mais baixa do que o

normal em 14 dentre os 14 pacientes avaliados. Esses autores não encontraram

uma explicação adequada para a redução na produção do IFN-γ nos anoréxicos já

que outras funções das células T e os monócitos estavam dentro da normalidade.

Outra observação em jejum prolongado foi feita em pacientes com doenças

psicossomáticas, submetidas a jejum como método terapêutico. Dez pacientes

submetidos a jejum de sete a dez dias apresentaram redução de linfócitos T,

aumento de células NKC, mas os níveis de IL-1, TNF-α, IFN-γ , IL-2 e CSF-GM

permaneceram inalterados. Os níveis de catecolaminas, cortisol e dehidro-

epiandosterona estavam elevados e se correlacionaram com a redução dos linfócitos

e aumento das NKC (KOMAKI et al., 1997).

Em um estudo de sete adultos jovens e oito idosos saudáveis, submetidos a

jejum de sete dias, Walrand et al. (2001) observaram redução no número de

linfócitos T e B circulantes e redução na capacidade quimiotática de neutrófilos,

embora estas células tenham aumentado a produção de superóxido após

estimulação. Observaram que a recuperação após a realimentação foi mais rápida

no grupo de adultos jovens.


32

Em resumo, o jejum agudo exerce efeito modulador sobre a resposta

imunitária inata e adaptativa, aparentemente aumentando a primeira e reduzindo os

efeitos da segunda, no que resulta um paradoxal aumento de resistência a algumas

infecções e redução de processos de auto-agressão.

2.3 RESTRIÇÃO CALÓRICA PROLONGADA, AUMENTO DE LONGEVIDADE E DE

RESISTÊNCIA A TUMORES

As observações feitas por Murray et al., não só nos artigos sobre a fome nas

populações nômades na Somália, como nas duas revisões que publicaram, tiveram

pouco impacto no meio médico na década de 70. Embora tenham surgido algumas

publicações sobre o impacto da fome no homem, esses estudos discutiram

principalmente, os possíveis efeitos da fome na seleção de genes que possibilitaram

a espécie humana adaptar o processo reprodutivo e a longevidade ao risco de

prolongados períodos de restrição alimentar (PRENTICE, 2005).

No entanto, observações sobre redução de oferta de alimentos e aumento

da longevidade em animais de laboratório já começavam a ser estudadas na década

de 30. Segundo Masoro (2005), a primeira observação sobre restrição calórica e

longevidade foi feita por Osborne e colaboradores em 1917, que mostraram maior

longevidade e menor massa corporal em ratos com restrição alimentar. No entanto,

foram os trabalhos de McCay et al. (1935 a e b) que demonstraram de modo mais

convincente, o impacto da restrição alimentar na longevidade de roedores.

Demonstraram que ratos ingerindo dietas com 40% a menos de calorias após o

desmame, viviam mais e tinham menor prevalência de neoplasias comuns nas

fases finais da vida. Essas observações foram seguidas de poucas discussões nas
33

duas décadas subsequentes. Foram as observações de Ross (1961) e Ross e Bras

(1965) em ratos, seguidas das publicações de Weindruch e Walford (1982) e

Weindruch et al. (1986) em camundongos, confirmando as observações de McCay

et al. (1935) sobre o impacto da restrição calórica na longevidade e na incidência de

tumores espontâneos nesses roedores, que fizeram retomar a discussão sobre o

impacto da nutrição na longevidade e na incidência de tumores.

O número de pesquisas sobre o impacto da restrição calórica na longevidade

e na melhoria das condições de saúde nas fases mais avançadas da vida aumentou

exponencialmente nos últimos 25 anos e numerosas revisões têm sido publicadas

nos últimos dez anos. Os comentários dos próximos parágrafos se baseiam em

algumas dessas revisões.

O conceito de restrição calórica se refere a uma condição na qual se retiram

calorias da dieta, em torno de 40% na maioria dos experimentos, mas se mantém

normal a oferta de micronutrientes. Essa condição é considerada um estado de

“subnutrição ou desnutrição, sem má nutrição”. Na maioria dos modelos

experimentais estudados, a restrição calórica é feita a partir de fases precoces da

vida (desmame em mamíferos), razão pela qual os animais têm menor massa

corporal, mas mantêm a massa do sistema nervoso e dos órgãos da reprodução,

similares aos da dieta “ad libitum”. De modo geral, os animais têm maior longevidade

e menor incidência de câncer espontâneo nas fases finais da vida. No entanto, o

impacto da restrição calórica aumentando a longevidade, também tem sido

observado em experimentos com roedores onde a restrição calórica começou na

vida adulta portanto, depois da fase de crescimento (WEINDRUCH e SOHAL, 1997;

MASORO, 2000; HURSTING et al., 2003).


34

Os experimentos iniciais com restrição calórica foram feitos com roedores

(ratos e camundongos), mas experimentos com diferentes espécies, desde

eucariotas unicelulares, como S cerevisae, até pluricelulares mais simples, como o

nematóide de vida livre Caernorhabditis elegans ou drosófilas, têm mostrado

resultados semelhantes em relação ao aumento da longevidade (HASTY, 2001;

WALKER et al., 2005; PARTRIDGE, PIPER E MAIR, 2005).

Os estudos experimentais com ratos e camundongos, os mais realizados,

têm mostrado de modo geral que a restrição calórica aumenta a longevidade, sendo

observadas nesses animais as seguintes modificações: (a) menor massa corporal,

com redução acentuada do tecido adiposo; (b) tendência a redução da temperatura

basal; (c) melhor rendimento energético, com melhor utilização do oxigênio; (d)

redução na produção de radicais livres e outros produtos ativos originados do

oxigênio; (e) aumento de resistência ao estresse; (f) aumento da sensibilidade

periférica à insulina, mantendo níveis euglicêmicos com menores taxas de insulina;

(g) aumento da mobilização da gordura; (h) aumento do cortisol circulante; (i)

redução nos níveis circulantes de IGF-1; (j) modificação na expressão de vários

genes relacionados ao metabolismo energético, a receptores e vias de transdução

de sinais de receptores para fatores de crescimento, do controle da proliferação

celular e da apoptose (HURSTING et al., 2003).

Apesar de abundantes informações sobre várias alterações nos mecanismos

de regulação das células induzidas pela restrição calórica, os mecanismos

envolvidos no aumento da longevidade, por essa modificação na dieta, são ainda

obscuros e várias hipóteses têm sido propostas: retardo do crescimento, redução da

gordura corporal, redução da taxa metabólica, atenuação do dano oxidativo,

alteração do sistema glicose-insulina, alteração do eixo hormônio do crescimento e


35

IGF-1 e de hormese. Cada uma delas tem dados favoráveis e contrários e é possível

ainda, que esses dados sejam complementares (MERRY, 2002; HEILBRONN e

RAVUSSIN, 2003; SINCLAIR, 2005; MASORO, 2005; MARTIN, MATTSON e

MAUDSLEY, 2006).

A hipótese do retardo do crescimento foi proposta já nos trabalhos de McCay

et al. na década de 30, mas o efeito da restrição calórica iniciada após a fase de

crescimento, prolongando a vida, derruba em parte essa hipótese. No entanto, há

uma observação que demonstra que a massa corporal de camundongos aos dois

meses de idade é preditora, inversamente proporcional, da longevidade (MASORO,

2005).

A hipótese de redução da gordura corporal tem sido reforçada pelas

evidências recentes do papel endócrino do tecido adiposo, influenciando uma série

de processos fisiológicos, inclusive os efeitos da insulina. No entanto, a restrição

calórica em camundongos obesos aumentou a longevidade sem alteração

significativa na massa de tecido adiposo (MASORO, 2005).

A hipótese de redução na taxa metabólica é reforçada pela observação de

que existe uma relação inversa entre taxa metabólica e longevidade entre muitas

espécies. No entanto, há controvérsias se de fato a restrição calórica reduz a taxa

metabólica: há redução inicial, mas estudos experimentais mostram que a taxa

metabólica em relação a massa corporal dos animais se mantém a mesma.

A hipótese de atenuação do dano oxidativo é reforçada pela demonstração

de certa relação entre acúmulo de radicais livres e envelhecimento. Nos modelos

experimentais de restrição calórica, demonstra-se, com frequência, menor produção

de radicais livres ou de moléculas que possam gerá-los e aumento da capacidade

antioxidante, sem evidências para indicar qual das modificações é mais importante
36

na extensão da vida induzida pela restrição calórica (WEINDRUCH e SOHAL, 1997;

MASORO, 2005).

A hipótese da alteração do eixo glicose-insulina se sustenta pela

demonstração de que nos diferentes modelos de restrição calórica, especialmente

em roedores e primatas não humanos, há manutenção de níveis mais baixos de

glicemia e de taxas menores de insulina. É interessante observar que, mutações que

levam a perda de função no sistema de sinalização da insulina em camundongos e

de sinalização homóloga em drosófilas e no C. elegans, estão associadas com o

aumento da longevidade (MASORO, 2005).

A hipótese da alteração do eixo do hormônio do crescimento e do IGF-1 tem

como base o fato de a restrição calórica reduzir os níveis plasmáticos de IGF-1 e

essa hipótese encontra reforço pela demonstração de extensão da vida em

camundongos anões, por mutação com perda de função do gene do hormônio do

crescimento.

A hipótese da hormese admite que, a restrição calórica representa uma

agressão que induz respostas que tornam o organismo mais resistente a outros

agressores, devido à sua ação repetitiva. O conceito de hormese implica na idéia de

que um estresse induz resistência a uma agressão subsequente. Pequenas

agressões repetidas induziriam aumento da resistência a agressões subsequentes

(MASORO, 2005).

Recentemente, foram iniciados experimentos de restrição calórica em

primatas não humanos e os primeiros resultados têm confirmado as observações

feitas nos camundongos e ratos, especialmente em relação à temperatura corporal,

consumo de oxigênio, produção de radicais livres, secreção de insulina,

sensibilidade a insulina e níveis de cortisol. Ainda não há tempo para avaliar a


37

longevidade, mas o primeiro estudo de mortalidade espontânea nos experimentos

tem mostrado menor mortalidade no grupo com restrição calórica. (MATTISON,

LANE e ROTH, 2003; BODKIN et al., 2003).

Os relatos de pesquisas sobre restrição calórica em humanos estão

começando a aparecer, estimulados pelas observações realizadas em primatas não

humanos. Alguns trabalhos têm sido publicados especialmente sobre restrição

calórica em pessoas com sobrepeso e obesidade. As observações nos curtos

períodos de restrição calórica, até agora utilizados, confirmam observações nos

roedores e primatas, com alterações semelhantes nos parâmetros metabólicos

(DIRKS e LEEUWENBURGH, 2006).

Ainda que existam diversas teorias para explicar os efeitos da restrição

calórica, sem má-nutrição, na longevidade e na incidência de tumores, os

mecanismos desses efeitos estão longe de serem totalmente compreendidos.

Conforme demonstrado anteriormente, há algum tempo os pesquisadores têm

procurado investigar os efeitos da restrição calórica na expressão gênica e, nesse

sentido, tem sido demonstrado que vários genes são reprimidos ao lado de outros

vários que são ativados. Geralmente, são ativados os genes que favorecem as

adaptações metabólicas à menor ingestão de calorias e os genes de mecanismos

antioxidantes, e são inibidos alguns genes pró-inflamatórios (WEINDRUCH et al.,

2002; SPINDLER, 2005; MATHERS, 2006). Além dessa mudança da expressão

gênica, há um aumento da estabilidade do genoma, demonstrado pela menor

frequência de mutações (MATHERS, 2006).

Observações recentes têm mostrado que a modulação genética induzida

pela restrição calórica é rápida, começando a aparecer em ratos a partir da segunda

semana de restrição, de modo tal que, com oito semanas, o efeito modulador é
38

semelhante ao conseguido com restrição prolongada iniciada após o desmame.

Observou-se também que, a modulação genética imposta pela restrição calórica tem

curta duração, desaparecendo após oito semanas de retorno à dieta “ad libitum”

(SPINDLER, 2005).

2.4 DIFERENTES MODALIDADES DE RESTRIÇÃO CALÓRICA UTILIZADAS NOS

TRABALHOS EXPERIMENTAIS

Várias modalidades de restrição calórica têm sido testadas em diferentes

modelos experimentais, com resultados semelhantes em relação ao aumento da

longevidade. Os mais utilizados são: (a) diminuição das calorias por redução na

oferta de carboidratos, lípides e proteínas (geralmente 40% a menos de calorias do

que a dieta controle), mantendo normal a oferta de micronutrientes; (b) diminuição

da quantidade de calorias na dieta por redução na oferta de carboidratos, lipídeos e

proteínas, mas mantendo o volume ingerido semelhante ao da dieta controle, o que

é conseguido pela adição de celulose na dieta; e, por fim, (c) restrição alimentar

através da interrupção forçada (jejum) do fornecimento do alimento em diferentes

períodos, método que será detalhado a seguir.

2.5 RESTRIÇÃO ALIMENTAR ATRAVÉS DA INTERRUPÇÃO FORÇADA (JEJUM)

DO FORNECIMENTO DO ALIMENTO EM DIFERENTES PERÍODOS

A restrição alimentar a que denominamos de interrupção forçada (jejum)

pode ser conseguida através de: (a) redução do fornecimento da dieta por

introdução de jejum forçado em dias alternados, (b) jejum forçado em maior número
39

de dias a intervalos regulares e (c) oferecimento da dieta apenas em curtos períodos

de tempo diariamente. Todas essa formas de restrição alimentar periódica podem

ser denominadas de jejum intermitente ou jejum interrompido.

Um dos primeiros trabalhos sobre restrição alimentar por interrupção do

fornecimento de alimento (jejum interrompido) foi publicado por Robertson, Marstson

e Walters em 1934. Curiosamente esses autores, estudando camundongos

submetidos a jejum de dois dias a cada sete dias (24 machos e 24 fêmeas),

verificaram que a sobrevivência média foi de 745 e 819 dias respectivamente nos

machos e fêmeas, contra 712 e 773 dias nos respectivos controles. Entretanto, as

diferenças observadas não tiveram significância estatística.

Relatos subsequentes de experimentos submetendo roedores a jejum

intermitente de diferentes formas, demonstraram efeitos semelhantes aos da

restrição calórica por redução de calorias na dieta.

Carlson e Hoezel (1946) submeteram ratos desmamados aos 35 dias de vida

(60 machos e 77 fêmeas) a jejum de um dia com diferentes intervalos. Utilizaram

três dietas, além da dieta habitual: uma dieta padrão com proteína animal (35%),

outra dieta era a anterior acrescida de 10% de alfafa; uma terceira era formada pela

primeira acrescida de farelo de casca de cereais e 5% de fibra semelhante à de

algodão (paina). A quarta dieta, vegetariana, era formada por farinha de trigo (50%),

10% de farinha de amendoim, 10% de farinha de feijão, 7% de glúten, 7% de

linhaça, 7% de milho, 5% de levedo de cerveja, 5% de alfafa e 2% de cloreto de

sódio. A proteína total constituía 30% desta dieta vegetariana. Durante sete dias,

todos os ratos receberam a mesma dieta e aos 42 dias de idade, foram distribuídos

em grupos submetidos a jejum interrompido de um dia em cada quatro dias (1:4), um

dia em cada três dias (1:3) e um dia em cada dois dias (1:2; dia sim/dia não – ds/dn).
40

Os grupos controle receberam as respectivas dietas diariamente. Os resultados

mostraram que os machos controle sobreviveram em média 599 dias, enquanto a

sobrevivência média nos machos submetidos a jejum foi de 768, 667 e 666 dias,

respectivamente nos grupos jejum 1:4, 1:3 e 1:2 dias. A duração média da vida nos

grupos submetidos ao jejum foi de 706 dias. Em relação às fêmeas, o resultado foi

semelhante: o grupo controle sobreviveu 696 dias, enquanto os grupos jejum

sobreviveram 685 (1:4), 814 (1:3) e 768 (1:2) dias, com média de 748. Houve

redução do peso corporal, em torno de 10%, em todos os grupos, tanto nos machos

como nas fêmeas. Os autores discutem fatores que podem ter aumentado a

sobrevida dos ratos submetidos ao jejum interrompido, inclusive uma maior atividade

física, segundo ele, nos animais submetidos a esse jejum. Embora sem dados

precisos, mostrou que a prevalência de tumores foi menor nos grupos que se

submeteram ao jejum interrompido.

Leveille (1972) utilizou um método diferente de jejum forçado, submetendo

ratos à alimentação com dieta padrão apenas no período entre 8:00 e 10:00 horas

da manhã. Em um experimento, utilizou 120 ratos em dois grupos, um mantido com

dieta “ad libitum” e outro com alimentação restrita a duas horas/dia para avaliar

ganho de peso e longevidade. Em outro experimento utilizou o mesmo número de

animais, com o mesmo delineamento, só que para avaliar a lipogênese e a

adaptação enzimática, sacrificando os animais em grupos de cinco, mensalmente

durante seis meses e a cada três meses até o fim do experimento (18 meses).

Observou que o consumo de ração pelos animais com alimentação restrita foi 75 a

80% do ingerido pelos animais com dieta “ad libitum”. O peso final foi menor no

grupo com restrição na dieta, mas a curva de ganho de peso foi semelhante. A maior

diferença ocorreu pela perda de peso nas duas primeiras semanas de restrição, ou
41

seja, na fase de adaptação, a mortalidade cumulativa não teve diferença

significativa, porém a expectativa de vida no grupo de dieta normal foi de 587 ± 24

dias, enquanto no grupo com restrição alimentar foi de 688 ± 24 dias. Diferença

significativa, representando aumento de 17% na longevidade.

No experimento para avaliar as adaptações metabólicas dos ratos

submetidos à restrição calórica, Leveille (1972) estudou a atividade da glicose 6

fosfato desidrogenase (G-6-PD) e da fosfogluconato-6-desidrogenase (6-PGD) e da

enzima málica no fígado e tecido adiposo. A síntese de ácidos graxos (AG) foi

estudada “in vitro”, em fragmentos de tecido adiposo, incubados em meio nutriente

com glicose marcada com carbono radioativo e estimulado com insulina. Ele avaliou

a quantidade de AG após seu isolamento e a medida da radioatividade. Demonstrou

que houve aumento da lipogênese, da atividade da G-6-PD e da 6-PGD no tecido

adiposo, ao longo de todo o experimento, ainda que os valores observados nos

grupos controle e com restrição diminuíssem progressivamente com o passar do

tempo. O autor admite que a adaptação metabólica imposta pela restrição alimentar,

demonstrada pelo aumento da lipogênese, persiste além da fase inicial ou aguda da

restrição, mas não discute a relação entre essa lipogênese aumentada e a

longevidade.

Gerbase-DeLima et al. (1975) submeteram camundongos a jejum ds/dn,

após o desmame ou iniciado ainda na amamentação após uma semana de idade,

para observar a sobrevivência, resposta de linfócitos a mitogênicos, produção de

anticorpos anti-eritrócito de carneiro e rejeição de enxertos alogênicos de pele.

Mostraram que houve aumento significativo da sobrevida no grupo submetido ao

jejum (27% estavam vivos quando todos da dieta controle haviam morrido), embora

a mortalidade nos primeiros meses tenha sido maior. O peso do baço em relação ao
42

peso corporal era significativamente menor no grupo jejum, nos diferentes períodos

do experimento. A produção de anticorpos anti-eritrócito de carneiro foi maior

quando testada entre 52 e 55 semanas, e semelhante ao controle quando testada

entre 18 e 20 e entre 108 e 118 semanas de vida. A resposta mitogênica a PHA,

ConA e PWM apresentou curva diferente no grupo submetido ao jejum: a

estimulação era menor quando testada nos mais jovens, mas era maior ou igual ao

controle, quando testada nos animais acima de 52 semanas de idade. A rejeição do

enxerto alogênico de pele foi retardada nos animais sob restrição alimentar, quando

testada entre 18 e 20 semanas, mas era igual ao controle quando testada nos

animais com 68 semanas de idade. Esses resultados mostraram que a restrição

calórica imposta aos animais alterou a resposta imunitária, com um estado de certa

imunossupressão nas primeiras 20 semanas de vida, resposta aumentada ou igual

à do controle nos animais mais velhos.

Cheney et al. (1980) estudaram a longevidade e a prevalência de tumores

em camundongos C57/BL/6J, uma linhagem que tem expectativa de vida longa. Os

animais sofreram restrição de alimento ou antes ou depois do desmame e a restrição

foi imposta pela oferta da ração na mesma porção do grupo controle, quatro vezes

em cada semana, o que corresponde a oferecer a ração ds/dn. Eles não observaram

diferenças significativas na longevidade, exceto para a longevidade máxima, mas a

prevalência de linfomas foi significativamente menor no grupo com restrição

alimentar.

Goodrick et al. (1982) submeteram ratos Wistar a jejum intermitente após o

desmame e verificaram um aumento significativo na sobrevivência média (cerca de

83%) em relação ao grupo alimentado “ad libitum”. Os ratos submetidos ao jejum


43

apresentaram uma redução na massa corporal em relação aos alimentados “ad

libitum”.

Beauchene et al. (1986) utilizaram a restrição alimentar fornecendo a dieta

ao animal durante 15 horas (das cinco da tarde às oito da manhã) em dias

alternados, durante o primeiro ano de vida (RA) ou durante o segundo ano de vida

(AR) ou durante toda a vida (R). Os grupos controle recebiam a mesma ração “ad

libitum” (A). Os ratos com restrição ingeriam 55% e 67% do alimento em relação ao

grupo “ad libitum”, respectivamente após dois, cinco e 12 meses de idade. O ritmo

de crescimento foi menor nos animais com restrição alimentar. O peso úmido, o

peso seco (cinzas) e a quantidade de gordura e proteínas foram significativamente

menores nos grupos com restrição alimentar. Observaram, ainda, que nos grupos

com restrição alimentar houve um significativo aumento da longevidade, maior para

o grupo com restrição durante toda a vida. Demonstraram correlação positiva

significativa entre o peso corporal máximo e a longevidade no grupo “ad libitum”,

enquanto que essa correlação foi negativa, mas não significativa, no grupo com

restrição alimentar durante toda a vida. Portanto, o ganho na longevidade dos

grupos com restrição não se relaciona com o ganho de peso corporal ou com a

composição corporal nesses animais. Houve portanto, uma relação entre peso

corporal e longevidade, mas de modo diferente (oposto) entre os animais “ad libitum”

e os com restrição alimentar.

Aumento de longevidade através de restrição calórica por jejum interrompido,

tem sido também demonstrado em animais geneticamente susceptíveis a doenças

auto-imunes que limitam a expectativa de vida.

Sogawa e Kubo (2000), utilizando jejum de quatro dias a cada duas semanas,

em camundongos NZB x NZW, que desenvolvem doença auto-imune espontânea


44

(lupus eritematoso sistêmico), demonstraram que apesar da perda de peso durante

os períodos de jejum, os animais apresentavam peso final 10% maior que os do

grupo com dieta controle. O peso do timo, rim e adrenais eram maiores, enquanto o

baço era menor do que no grupo controle. Quanto à doença auto-imune, o grupo em

jejum intermitente desenvolveu proteinúria (uma das manifestações do lupus),

significativamente mais tardia e em menor número de animais do que o grupo com

dieta controle. Apresentaram ainda maior sobrevida, sendo que metade das mortes

ocorreram por volta da 46ª semana de vida no grupo controle e após 67ª semana no

grupo submetido ao jejum intermitente. Embora os resultados apontem para um

efeito imunomodulador da restrição alimentar, não encontraram resultados diferentes

quanto à atividade citotóxica de células NK, à resposta mitogênica a PHA e ConA e

LPS e à reatividade de linfócitos na cultura mista.

2.6 EFEITOS DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR INTERMITENTE NO HOMEM

Há 50 anos, na Espanha, efeitos de restrição alimentar intermitente foram

estudados no ser humano. Essas observações foram recentemente reavaliadas por

Johnson, Laub e John. (2006), que reinterpretaram os estudos do médico Eduardo

Arias Vallejo, publicados em 1956 na Revista Clinica Española, considerado o único

exemplo na literatura de redução intermitente de oferta alimentar em humanos com

boa nutrição. O estudo foi realizado em 120 homens e mulheres acima de 65 anos

de idade e com boa saúde, internados em clínicas de repouso para idosos. Metade

deles recebia dieta com 2300 cal (50 g de proteínas e 40 g de lipídios) e no dia

seguinte recebiam um litro de leite e 500 g de frutas (totalizando 900 cal). Os

resultados demonstraram, três anos depois, que o grupo submetido à redução da


45

oferta alimentar permaneceu significativamente menos tempo nas enfermarias do

que o grupo com dieta normal. No entanto, os índices de mortalidade, embora

menores no grupo com restrição alimentar, não foram significativamente diferentes.

Essa observação em humanos, associada às observações experimentais, tem

encorajado alguns pesquisadores a administrar dietas com restrição calórica

intermitente como terapêutica adjuvante para doenças de natureza imunitária

(JOHNSON, LAUB e JOHN, 2006).

2.7 RESTRIÇÃO CALÓRICA PROLONGADA, SEM MÁ NUTRIÇÃO E RESPOSTA

IMUNITÁRIA INATA E ADAPTATIVA

Há bastante informação sobre o impacto da restrição calórica prolongada sobre

a resposta imunitária inata e adaptativa, mas a maioria se refere a experimentos que

visaram estudar o impacto da restrição calórica na qualidade da resposta imunitária

nas fases mais tardias da vida, tendo em vista que a restrição calórica reduz a

velocidade do envelhecimento. De modo geral, demonstrou-se nos diferentes

modelos estudados, especialmente em roedores, que a restrição calórica prolongada

induz, nos períodos mais tardios da vida, uma reversão dos fenômenos de redução

da imunidade que acompanham o envelhecimento: (a) manutenção do número de

linfócitos T “naive”, (b) redução nos níveis de citocinas inflamatórias (IFN-γ, IL-6,

TNF-α) no plasma, (c) manutenção da resposta proliferativa de células T e (d)

diminuição da incidência de auto-agressão. Essas observações estão sendo

confirmadas em estudos em primatas não humanos, exceto a redução da auto-

agressão, sobre a qual não existem ainda observações (NIKOLICH-ZUGICH e

MESSAOUDI, 2005).
46

Existem poucas observações sobre a restrição calórica prolongada, sem má-

nutrição, modificando a imunidade inata ou adquirida, desde os períodos iniciais da

vida. Dong et al. (1998) mostraram que ratos submetidos a 25% de restrição

alimentar (em relação ao grupo controle), durante três semanas, apresentaram

aumento da atividade fagocitária e microbicida contra Strepptococcus pyogenes dos

macrófagos alveolares, que apresentavam redução na produção de TNF-α e IL-1 e

óxido nítrico (NO), após estímulo com LPS. O mesmo grupo, Dong et al. (2000),

sensibilizou ratos Brown Norway, por via intratraqueal, com antígeno de

Dermatophagoides (ácaros domésticos), três semanas após restrição de 25% na

dieta, em relação à dieta controle. Fizeram o desafio duas semanas depois com o

mesmo antígeno e avaliaram: IgE, IgG e IgA no soro, e desidrogenase lática,

peroxidase do eosinófilo, proteínas totais, IL-2, IL-4, IL-6, IL-10, TNF-α e IFN-γ no

lavado bronco-alveolar. Essas avaliações foram realizadas em grupos de animais

sete e 14 dias após a sensibilização e dois e sete dias após a dose desencadeante.

Observaram aumento significativo de IgE dois e sete dias após o desafio, mas as

outras imunoglobulinas não diferenciaram do controle. Os resultados mostraram que

os animais com restrição na dieta apresentaram menor sensibilização aos

dermatofagóides e menor resposta após a dose desencadeante do mesmo antígeno,

bem demonstrados pelo menor nível sérico de IgE, menor número de eosinófilos no

lavado bronco-alveolar e menor reatividade de linfócitos dos linfonodos pulmonares

aos antígenos sensibilizantes. Os autores concluíram que a restrição alimentar reduz

drasticamente uma resposta alérgica a antígenos de ácaros domésticos, resposta

acompanhada na produção de citocinas pró-inflamatórias.

Em relação ao impacto da restrição calórica, na forma de desnutrição sem

má-nutrição sobre infecções, poucas observações existem e alguns resultados são


47

contraditórios. Há observações mostrando que camundongos na fase tardia da vida,

submetidos a restrição calórica, ficaram mais resistentes ao vírus da influenza do

que controles com dieta normal, da mesma idade (EFFROS et al., 1991). No

entanto, observações recentes mostraram o inverso: camundongos submetidos à

restrição calórica foram mais susceptíveis a doses letais do vírus da influenza,

embora eles tenham apresentado resposta proliferativa de células T a estímulos

inespecíficos, maior do que os animais alimentados “ad libitum” (GARDNER, 2005).

Não existe uma explicação para essa discrepância, mas as rotas de infecção foram

diferentes nos dois estudos: o primeiro usou inóculo intra-peritoneal e o segundo a

inoculação do vírus foi intra-nasal.

Em primatas não humanos, há uma observação sobre a resposta à vacina para

influenza em macacos Rhesus, submetidos à restrição calórica, mostrando uma

redução dos anticorpos neutralizadores do vírus. No entanto, esse resultado ainda

precisa ser confirmado, pois a observação foi feita em macacos adultos, não

envelhecidos, e com número pequeno de animais (ROECKER et al., 1996). Há

necessidade de investigação mais detalhada para se avaliar o real impacto da

restrição calórica na modulação da resposta a infecções e aos antígenos utilizados

nas diferentes vacinas.

Várias observações existem sobre o impacto da restrição calórica prolongada

na resposta inflamatória induzida pelo LPS em diferentes animais de laboratório,

incluindo primatas não humanos. Os resultados são conflitantes, mas geralmente

mostram que há tendência de redução na resposta induzida pelo LPS em

camundongos envelhecidos, submetidos à restrição alimentar (SPAULDING,

WALFORD e EFFROS, 1997; VEGA et al., 2004).


48

Há uma observação sobre o impacto de uma dieta com restrição calórica

durante três semanas, demonstrando aumento da resistência à Salmonella

tiphymurium, inoculada por via intra-peritoneal (PECK, BABCOCK e ALEXANDER,

1992).

Sun et al. (2001), contrariamente, demonstraram que camundongos com

restrição calórica morreram mais precocemente e apresentaram níveis mais

elevados de IL-6 e TNF-α e maior ativação do NFkB e da IL-6 em esplenócitos,

quando submetidos a peritonite por ligadura e punção do ceco. Esses autores

demonstraram ainda que há redução na capacidade fagocitária de macrófagos

peritoneais, redução da expressão dos receptores CD16, TLR-2 e TLR-4 e ainda

redução da expressão do IAb (MHC2) nestas células. Trataram os animais com

paraquat e os animais com restrição calórica mostraram maior resistência ao

toxicante.

Recentemente, Tsuchia et al. (2005) submeteram ratos desmamados a seis

meses de restrição calórica e estudaram a resposta sistêmica aguda após injeção de

LPS. Avaliaram TNF-α, IL-6, IFN-γ, NO. Verificaram que há um aumento significativo

precoce de TNF-α, que retornou a níveis basais quatro horas após, no grupo com

restrição calórica. As demais citocinas e o NO não mostraram diferenças entre os

grupos, com ou sem restrição calórica. A lesão hepática, avaliada pelos níveis

plasmáticos de ALT, foi menor no grupo com restrição calórica. Avaliaram a

expressão dos genes do NFkB, IkB, do TNF-α e da IL-6, observando diferença

somente para o TNF-α. Discutiram os resultados admitindo que a restrição calórica

atenua a lesão hepática pelo LPS, com aumento transitório de TNF-α, confirmando

observação anterior de Neyrink, Alexiou e Delzenne (2004) estudando ratos tratados

com oligofrutose, procedimento que mimetiza restrição calórica. Concluíram que os


49

efeitos protetores da restrição calórica sobre a lesão hepática induzida pelo LPS são

realizados por mecanismos ainda não elucidados.

Como pode ser observado nos dados da literatura, a restrição calórica tem

impacto sobre a resposta imunitária mantendo, especialmente, a atividade do

sistema imunitário nas fases mais tardias da vida, por mecanismos ainda não

esclarecidos. É possível que a modulação genética imposta pela restrição calórica

seja, pelo menos em parte, responsável por esses efeitos e não a redução do aporte

energético, como demonstraram em observações experimentais, Anson et al. (2003),

descritas a seguir.

Anson et al. (2003) submeteram camundongos C57BL/6 durante 16 semanas,

a diferentes regimes alimentares: um grupo controle, com dieta “ad libitum” (AL),

outro grupo submetido a jejum intermitente ds/dn e um terceiro grupo, que recebia

60% da dieta do primeiro grupo (LDF) e um quarto grupo, que serviu de controle

para o jejum intermitente, recebia diariamente a mesma quantidade média de

alimento ingerida por esse grupo (foi denominado de grupo pareado ao jejum

intermitente, PF).

Por meio desse estudo, os pesquisadores observaram que o peso dos animais

era 49% menor no grupo com 40% de redução na dieta (grupo LDF), mas nos

grupos IF e PF o peso era apenas ligeiramente menor do que os controles

alimentados “ad libitum” (grupo AL). A medida da quantidade de comida ingerida

mostrou que os grupos do jejum intermitente e o grupo alimentado “ad libitum” foi

aproximadamente a mesma em quantidade de calorias durante o experimento. As

concentrações de glicose e insulina ficaram reduzidas no plasma de maneira

semelhante entre os grupos do jejum intermitente e no grupo com 4% de restrição

alimentar. Níveis de IGF-1 estiveram diminuídos neste último grupo, porém, eram
50

aumentados no grupo jejum intermitente. Os animais submetidos ao jejum

intermitente apresentaram o dobro do aumento de betahidroxibutirato em relação ao

grupo controle (AL), enquanto os animais do grupo com 40% de redução da dieta

apresentaram taxas menores desse metabólito.

Para verificar o comportamento dos animais submetidos aos diferentes regimes

alimentares após uma agressão, injetaram ácido “kainico” no hipocampo e avaliaram

a instalação de crises convulsivas e a destruição neuronal. Todos os grupos tiveram

crises convulsivas com semelhante intensidade e duração. Na avaliação histológica,

o grupo do jejum intermitente apresentou redução na necrose, em relação ao grupo

controle alimentado “ad libitum”. No grupo com 40% de redução na dieta, houve

proteção significativa, porém, em menor intensidade do que no grupo do jejum

interrompido. Concluíram os autores que, o jejum intermitente ofereceu proteção

maior contra os efeitos lesivos da agressão química do que a restrição de 40% de

calorias, mas reduziu de modo semelhante a glicemia. Isso demonstra que o efeito

protetor contra a agressão é independente da redução no aporte de calorias, já que

o grupo do jejum intermitente ingeriu calorias em quantidade semelhante ao do

grupo alimentado “ad libitum”.


51

3. OBJETIVOS

a- Induzir peritonite fecal em camundongos no terceiro dia, de um período de

jejum de três dias, avaliando a evolução e a mortalidade.

b- Induzir peritonite fecal em camundongos após jejum intermitente (três dias

de jejum a cada duas semanas ou jejum em dias alternados) durante 16 semanas,

avaliando a evolução e a mortalidade.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 ANIMAIS

Foram utilizados camundongos albinos suíços, não isogênicos, com trinta e

seis dias de idade, acondicionados em gaiolas de plástico, com cobertura de grade

metálica, com fundo de tela com buracos suficientes para deixar passar o material

fecal e fragmentos da ração ou fundo anticoprofágico, fabricado pela FABRIMAR

(São Paulo). Cada gaiola albergava de seis a dez animais. Foi utilizada ração

comercial balanceada para camundongos e água de torneira sem aditivos. O número

de animais utilizados em cada experimento está detalhado na descrição do

delineamento experimental.

4.2 JEJUM AGUDO DE CURTA DURAÇÃO

Os camundongos, pareados por sexo, idade e peso colocados em gaiolas

com fundo de tela ou com fundo anticoprofágico FABRIMAR, eram submetidos a


52

jejum de três dias, recebendo apenas água à vontade. Os grupos controle eram

colocados nas mesmas condições, recebendo ração comercial à vontade. Os

animais eram pesados diariamente. Para cada experimento eram utilizados seis a

dez animais em cada grupo.

4.3 JEJUM INTERROMPIDO DE LONGA DURAÇÃO

Camundongos foram submetidos a períodos de jejum, com interrupções nas

quais eram alimentados à vontade. Os períodos de jejum eram de três dias a cada

duas semanas (3d/2s) ou eram períodos de jejum em dias alternados (ds/dn),

conforme detalhamento nos parágrafos a seguir.

4.3.1 Jejum de três dias a cada duas semanas ou em dias alternados

Os animais, agrupados por sexo, idade e peso, eram mantidos em gaiolas

com o fundo de tela ou fundo anticoprofágico FABRIMAR, de modo a permitir a

passagem das fezes para um recipiente situado dois centímetros abaixo, impedindo

assim a coprofagia, ou alimentação dos restos de ração que acumulam no fundo da

gaiola. Desse modo, os animais não tinham contato direto com a maravalha. Após

aclimatação durante pelo menos uma semana, os animais eram submetidos a um

regime de jejum durante três dias consecutivos a cada duas semanas (jejum 3d/2s),

ou em dias alternados (jejum ds/dn), durante quatro meses. O alimento era retirado e

recolocado no mesmo horário, pela manhã, e a água era sempre fornecida à

vontade.
53

Os grupos controle eram mantidos no mesmo tipo de gaiola com fundo de

tela anticoprofágico e recebiam a dieta comercial à vontade.

Um dos grupos de animais submetidos a jejum (3d/2s) era pesado

diariamente no período do jejum e de dois em dois dias até o novo jejum, durante

oito ciclos do jejum.

Os animais do grupo jejum (ds/dn), eram pesados de duas em duas

semanas, sempre no dia em que estavam se alimentando.

Os animais de cada grupo controle eram pesados no mesmo dia em que se

avaliava o peso dos respectivos grupos jejum.

4.4 INDUÇÃO DA PERITONITE BACTERIANA

Foram usados os métodos de ligadura e punção do ceco e de injeção intra-

peritoneal de suspensão fecal.

4.4.1 Ligadura e punção do ceco

Foi utilizada a técnica correntemente descrita na literatura (OTERO-ANTON et

al., 2001). Os animais eram anestesiados com éter, a pele abdominal depilada e a

anti-sepsia feita com álcool iodado. Após pequena incisão (1cm) longitudinal

mediana infra-umbilical, o ceco era exposto e ligado com fio nylon (4.0), abaixo da

entrada do íleo, deixando livre o trânsito para o intestino grosso. Em seguida, eram

feitas duas perfurações com agulha 45 x 12, fazendo-se ligeira compressão do ceco

para certificar-se da saída do conteúdo cecal, confirmando assim as perfurações. O

ceco era reintroduzido na cavidade e a parede abdominal suturada com fios de


54

algodão. Os animais recebiam 1 ml de soro fisiológico no subcutâneo, na região

dorsal.

4.4.2 Injeção intra-peritoneal de fezes

Conteúdo fecal do ceco de um ou dois animais era pesado e diluído a 1:6 em

solução salina (peso/volume). Cada camundongo recebia um inóculo intra-peritoneal

de 4 µl por grama de peso corporal. A inoculação intra-peritoneal era feita com

seringa de 1 ml armada com agulha 45 x12. Como a mortalidade era muito alta com

essa suspensão utilizada nos experimentos de jejum agudo, foram testadas

diferentes diluições, tendo sido verificado que a diluição da suspensão de fezes a

1:9 induzia mortalidade menor na fase aguda da infecção. Por essa razão, nos

experimentos foi utilizada também a suspensão de fezes a 1:9, sendo inoculada no

mesmo volume de 4ul/g de peso corporal.

4.5 NECRÓPSIA DOS ANIMAIS E AVALIAÇÃO DA PERITONITE

Os animais sobreviventes do estado de choque imediato após a indução da

peritonite eram sacrificados após duas semanas, sendo realizada a necrópsia

completa para avaliação da cavidade peritoneal. A peritonite geralmente persistia

sob a forma de abscessos, distribuídos na cavidade peritoneal. Os abscessos eram

contados e medidos, sendo classificados em abscessos pequenos (até 2 mm),

médios (entre 2 e 5 mm) e grandes (acima de 5 mm). Foi obtido um escore para os

abscessos multiplicando-se o número de abscessos por um, dois ou três, conforme

tivessem tamanho pequeno, médio ou grande, respectivamente.


55

O fígado, o baço e o timo eram retirados e pesados com precisão de

miligramas, calculando-se o peso de cada órgão em relação ao peso corporal, com

resultado em miligrama/grama de peso corporal.

4.6 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Serão descritos a seguir os experimentos realizados para avaliar a evolução

da peritonite bacteriana nos animais submetidos a um jejum agudo de 72 h e nos

animais submetidos a jejuns periódicos durante quatro meses.

4.6.1 Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda

em animais submetidos a jejum de 72 horas.

4.6.1.1 Peritonite bacteriana induzida por ligadura e punção do ceco

Foram utilizados vinte animais, submetidos a peritonite bacteriana por

ligadura e punção do ceco como já descrito. Em um grupo, os camundongos foram

mantidos em jejum por três dias, operados para indução da peritonite e alimentados

a seguir. Um grupo controle formado por dez animais sem jejum, foi operado na

mesma técnica e permaneceu com dieta liberada (figura 1). Os animais foram

acompanhados para avaliação da mortalidade. Nos experimentos com ligadura e

punção do ceco, o número de animais sobreviventes foi muito pequeno e não foi

feita a avaliação quantitativa do estado do peritônio.


56

1° 3°
dia dia

Dieta ad libtum
Jejum Grupo
ja 3°d
Peritonite

Figura 1
Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda em animais submetidos
a jejum de 72 horas, induzida por ligadura e punção do ceco.

4.6.1.2 Peritonite induzida por inoculação de suspensão fecal

Os experimentos eram realizados com grupos de animais pareados por idade

e sexo, separados de seis a nove animais por gaiola. Um grupo de camundongos

submetidos a jejum e seu grupo controle receberam inóculo de fezes diluídas a 1:6 e

outros dois grupos também, jejum e seu respectivo controle, receberam inóculo intra-

peritoneal de fezes diluídas a 1:9 (figura 2). O número de animais em cada grupo

variou de 13 a 22, e está indicado nos gráficos que representam os resultados de

cada experimento.

Os dois experimentos foram realizados em tempos diferentes.

Os animais foram acompanhados para observação da evolução do choque

nas primeiras 24 h e os sobreviventes necropsiados após duas semanas para

avaliação da peritonite.
57

Peritonite
Grupo
Dieta ad libtum ja 1:6
Jejum
1° 3°
dia dia
Jejum Dieta ad libtum Grupo
ja 1:9
Peritonite

Figura 2
Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda em animais submetidos
a jejum de 72 horas, induzida por inoculação de suspensão fecal.

4.6.2 Experimentos para avaliação da evolução da peritonite fecal em animais

submetidos a jejum intermitente por 16 semanas

Animais foram submetidos ao jejum interrompido durante quatro meses

(trinta em jejum de três dias a cada duas semanas e quarenta em jejum em dias

alternados) e animais de mesmo sexo e idade permaneceram em dieta normal para

controle. No fim dos quatro meses, os animais do jejum e os do grupo controle foram

submetidos à inoculação intra-peritoneal de solução fecal a 1:6 ou 1:9

(peso/volume), conforme já descrito (figuras 3 e 4).

Cada grupo jejum intermitente era pareado com um grupo controle, tendo

entre 13 a 23 animais. O número exato de animais por grupo está indicado nas

representações gráficas dos resultados.

A evolução foi acompanhada de modo semelhante à dos grupos anteriores.


58

16 semanas

2 semanas = 1 ciclo
+ 5 ciclos
jejum 3° realimentação jejum 3° realimentação jejum 3° realimentação
dia dia dia

Grupo
J3d/2 Peritonite
s

Figura 3
Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda em animais submetidos a
jejum intermitente por 16 semanas, induzida por inoculação de suspensão fecal a 1:6 ou 1:9. Jejum
3d/2s.

16 semanas

j r j r j r j r j r j r j r j realimentação

Grupo
Jds/dn Peritonite

Figura 4
Experimentos para avaliação da evolução da peritonite bacteriana aguda em animais submetidos a
jejum intermitente por 16 semanas, induzida por inoculação de suspensão fecal a 1:6 ou 1:9. Jejum
ds/dn.

4.7 AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS

Foi utilizado o programa SPSS 9.0 para Windows. Quando necessário a

comparação de médias, utilizou-se o teste de Wilcoxon ou Mann-Whitney. A

avaliação de mortalidade foi feita com a análise de sobrevivência de Kaplan-Meyer,

com comparação entre os grupos pelo teste “log rank”. Foram considerados

significativos os valores de p menores do que 0,05, considerando todos os testes

como bicaudais.
59

5. RESULTADOS

5.1 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM AGUDO DE 72 H

Os animais submetidos a jejum de 72 h apresentavam perda de peso que

chegava a 30% do peso corporal no terceiro dia do jejum (figura 5).

30

25

20

jejum
peso corporal (g)

15

controle
10

0
0 2 4 6 8 10 12 14

dias

Figura 5
Peso corporal de camundongos submetidos a três dias de jejum e de um grupo controle, pareado por
idade e sexo, mantido com dieta “ad libitum”. A barra indica o período do jejum.
60

A recuperação era rápida após a realimentação: geralmente no fim de três

dias após o jejum, o peso corporal era recuperado e os animais passavam a ter o

mesmo peso dos animais do grupo controle.

No terceiro dia de jejum, o peso do timo, do baço e do fígado estavam

significativamente diminuídos, mas havia recuperação no fim da segunda semana

após o início do jejum (Figuras 6 e 7).

4,5 A 7 B C
mg/g peso corporal

mg/g peso corporal

70

mg/g peso corporal


4
3,5 6 60
3 5 50
2,5 4 40
2 3 controle
30
1,5 controle controle jejum
2 20
1 jejum jejum
0,5 1 10
0 0 0
0 3 10 14 0 3 10 14 0 3 7 14
dias dias dias

Figura 6
Peso do timo (A), do baço (B) e do fígado (C) de camundongos submetidos a jejum de três dias. As
barras indicam o período do jejum. Os pontos representam a média do peso observada em quatro
animais.

A B C
Figura 7
A: Timo em animal do grupo controle. B: Timo com tamanho muito reduzido em animal após 72 horas
de jejum. C: Baço de animal após 72 horas de jejum (à esquerda) e baço de animal controle.
61

Os exames histológicos do baço e timo confirmaram a acentuada depleção

linfocitária nesses órgãos. No timo, há quase o desaparecimento da cortical, que se

mostra extremamente rarefeita nos animais no terceiro dia do jejum (Figura 8). No

fígado, observou-se depleção do glicogênio e discreta esteatose microvesicular

centrolobular.

C C

M M
A B

Figura 8
Aspecto microscópico do timo em animal controle (B) e após 72 horas de jejum (A). Observar a
acentuada depleção de linfócitos da cortical no animal submetido ao jejum. A letra C, no retângulo ,
indica a cortical e M a região medular.

5.2 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM INTERROMPIDO

5.2.1 Jejum de três dias a cada duas semanas

Os animais submetidos a jejum 3d/2s mostravam perda de peso nos dias de

jejum (até 22% no terceiro dia), com recuperação total do peso nos três dias

subseqüentes ao início da realimentação. Esse ciclo se repetia e progressivamente a

curva de ganho de peso dos animais do grupo jejum era ligeiramente superior a do
62

grupo controle, embora a diferença no fim das 16 semanas não tenha sido

significativa. Os animais do grupo jejum ganharam cerca de 8% do peso corporal

acima do peso dos animais do grupo controle (figura 9).

50
40 jejum
Peso corporal (g)

35
30
controle
25
20
15
10
03 14 17 27 30 40 43 112
dias
Figura 9.
Evolução do peso corporal de dois grupos de animais submetidos a jejum de três dias a cada duas
semanas e um grupo controle, mostrando quatro ciclos de jejum e o peso final aos 112 dias (16
semanas). Cada ponto representa a média (± DP) do peso corporal de cinco animas por grupo.

O peso dos órgãos linfáticos tomados em cinco animais de cada grupo, ao fim

de 16 semanas, não mostrou diferença significativa entre os grupos de jejum 3d/2s e

os do grupo controle (dados não mostrados).


63

5.2.2 Jejum em dias alternados

Os animais submetidos a jejum em dias alternados ganharam mais peso do

que os do grupo controle, embora sem diferença significativa. A curva de ganho

ponderal foi semelhante nos dois grupos (figura 10).

35 jejum
30 controle
peso corporal (g)

25
20
15
10
5
0
0 4 10 16
semanas

Figura 10.
Curva de ganho de peso em um grupo de animais submetidos a jejum em dias alternados e em um
grupo controle, durante 16 semanas. Cada ponto representa a média do peso corporal de 14 animais
por grupo.

5.3 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

AGUDO DE 72 HORAS

A peritonite fecal nos experimentos com jejum agudo foi induzida pela

ligadura e punção do ceco no terceiro dia de jejum e pela injeção intra-peritoneal de

suspensão de fezes no terceiro dia do jejum. A evolução foi avaliada pela

mortalidade em um período de duas semanas.

Nas primeiras 48 h após a indução da peritonite fecal, tanto por ligadura e

punção do ceco como por injeção intra-peritoneal de fezes, os animais


64

apresentavam redução na atividade, eriçamento dos pêlos, hipotermia, facilmente

identificada pela sensação manual da temperatura da cauda, e diarréia. Os animais

mais hipoativos geralmente ficavam imóveis e evoluíam para óbito.

5.3.1 Peritonite fecal induzida por ligadura e punção do ceco

A mortalidade dos animais submetidos à ligadura e punção do ceco no

primeiro ou no terceiro dia de jejum não foi significativamente diferente em relação

aos respectivos grupos controle (Figura 11).

100
Controle (n=10)
( 80 Jejum 3d (n=10)
%
en
te 60
s
S 40
o
br Log Rank: p=0,638
20
ev
0
0 2 4 6 8 1
dia 0
s
Figura 11
Mortalidade após indução de peritonite por ligadura e punção do ceco em camundongos submetidos
a jejum de três dias, no terceiro dia do jejum.

A necrópsia dos poucos animais sobreviventes mostrava a presença de

pequenos abscessos em região de aderências peritoneais encarcerando o ceco, não

permitindo comparação entre os grupos.


65

5.3.2 Peritonite fecal induzida por injeção intra-peritoneal de suspensão de

fezes

A observação da evolução da peritonite após inoculação intra-peritoneal de

fezes onde a mortalidade imediata pelo choque era menor, permitiu detectar

diferenças entre os grupos jejum e controle.

Os animais do grupo jejum, após inoculação da suspensão fecal,

apresentavam o quadro de choque sempre mais grave em todos os animais em

relação aos grupos controle.

A mortalidade no final das duas semanas não diferia significativamente entre

os grupos, mas a mortalidade nas primeiras 48 h era sempre significativamente

maior nos grupos jejum (figuras 12, A e 13, A).

O número e o escore dos abscessos intra-peritoneais nos animais inoculados

com suspensão fecal diluída a 1:6 ou 1:9 foi sempre menor nos grupos jejum, sendo

a maior diferença em relação aos escores que relacionam o número com o tamanho

dos abscessos (Fig 12, B e C e Fig 13, B e C).


66

A
100

Controle (N=22)
B C
SOBREVIVENTES (%)

80
Jejum 3d (N=18)
20 25

escore abscessos/animal
N abscessos /animal
60
20
P=0,047 0,012
40 15
10
10
20
P=0,047 P=0,096 5
0,0 0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 controle jejum 3d controle jejum 3d
DIAS

Figura 12

A- Mortalidade após injeção intra-peritoneal de suspensão de fezes diluídas a 1:6 (peso/volume) em


camundongos submetidos a três dias de jejum. B e C- Número e escore dos abscessos intra-
peritoneais observados duas semanas após a inoculação .

100 A
SOBREVIVENTES (%)

80

20
B 20 C
60
N de abscessos/animal

escore dos abscessos

P=0,004
P=0,008
Controle (N=13)
40 P=0,051
10 10
Jejum 3d (N=17)
20
P=0,230
0,0 0 0
0 2 4 6 8 10 12 14
14 controlejejum 3d controlejejum 3d

DIAS

Figura 13

A- Mortalidade após injeção intra-peritoneal de suspensão de fezes diluídas a 1:9 (peso/volume) em


camundongos submetidos a três dias de jejum. B e C- Número e escore dos abscessos intra-
peritoneais observados duas semanas após a inoculação .
67

5.4 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

INTERMITENTE

Nos animais submetidos a jejum intermitente, a peritonite fecal foi induzida

somente pela injeção intra-peritoneal de fezes. Foram utilizadas as duas

concentrações diferentes para permitir a observação da evolução da peritonite nos

animais inoculados com diluição menor das fezes, nos quais a mortalidade imediata

é sempre menor.

5.4.1 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum de três dias

a cada duas semanas

Nos animais inoculados com a suspensão a 1:6 a mortalidade foi maior no

grupo jejum 3d/2s, nas primeiras 48 h. A diferença é nítida quando se analisa a

curva de sobrevivência (Kaplan-Meyer), ainda que o teste de “log-rank” tenha dado

um valor de p no nível crítico de significância (Figura 14 A). Nos poucos

sobreviventes, todos apresentavam abscessos intra-peritoneais com frequência e

tamanho sem diferença significativa em relação aos sobreviventes do grupo controle

(Figura 14 B).
68

100 A B
Controle (n=13) 10 20

escore do tamanho dos abscessos


Jejum 3d/2s (n=13)
80

número de abscessos
sobreviventes (%)

60

5 10
40

20
Log rank p=0,055 P=0,276 P=0,102
0 0 0
J 1: 6 Cont 1: 6 J 1: 6 Cont 1: 6
0 2 4 6 8 10 12 14
dias

Figura 14.
A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum de três dias a cada duas semanas
(jejum 3d/2s) e inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão de fezes diluídas a 1:6 (peso/
volume). B- Número e escore de tamanho de abscessos intra-peritoneais, observados nos
sobreviventes, 14 dias após o inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. As linhas horizontais
representam os valores das medianas. Os valores de p foram obtidos com o teste de Wilcoxon.

Já no grupo que recebeu uma diluição 50% maior da suspensão fecal (1:9

peso/volume) a mortalidade não diferiu significativamente entre os grupos jejum

3d/2s e controle (Figura 15 A). Nos sobreviventes, haviam abscessos intra-

peritoneais em oito de nove animais do grupo jejum e em todos os 14 animais do

grupo controle. O número e o tamanho dos abscessos foi menor no grupo jejum

3d/2s sendo a diferença significativa (Figura 15 B).


69

100 A
B
80
sobreviventes (%)

Log rank p=0,923


10.0 15

escore do tamanho dos abscessos


p=0,014 p=0,020
60

número de abscessos
7.5
Controle (n=20) 10
40
Jejum 3d/2s (n=15) 5.0

5
20 2.5

0 0.0 0
J 1:9 Cont 1: 9 J 1: 9 Cont 1: 9
0 2 4 6 8 10 12 14
dias
Figura 15
A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum de três dias a cada duas semanas
(jejum 3d/2s) e inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão de fezes diluídas a 1:9 (peso/
volume). B- Número e escore de tamanho (média± DP) de abscessos intra-peritoneais, observados
nos sobreviventes, 14 dias após o inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. As linhas horizontais
representam os valores das medianas. Os valores de p foram obtidos com o teste de Wilcoxon.

5.4.2 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum em dias

alternados

A mortalidade dos animais submetidos a jejum em dias alternados e que

receberam a injeção intra-peritoneal de fezes diluídas a 1:6 foi maior do que no

grupo controle, sendo a diferença significativa (Figura 16 A). Nos animais

sobreviventes, sacrificados 14 dias depois da indução da peritonite fecal, todos

apresentavam abscessos intra-peritoneais. O número e o escore do tamanho dos

abscessos foi menor no grupo jejum, porém a diferença não teve significância

estatística (Figura 16 B).


70

A B
100

15 20

escore do tamanho dos abscessos


80
Controle (n=14)

número de abscessos
sobreviventes (%)

60 15
Jejum ds/dn (n=14) 10

40 10

5
20 5

Log rank p=0,005 P=0,276 P=0,245


0
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 J 1: 6 Cont 1: 6 J 1: 6 Cont 1: 6
dias

Figura 16
A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum em dias alternados (jejum ds/dn) e
inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão de fezes diluídas a 1:6 (peso/volume). B- Número
e escore de tamanho de abscessos intra-peritoneais, observados nos sobreviventes, 14 dias após o
inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. As linhas horizontais representam os valores das
medianas. Os valores de p foram obtidos com o teste de Wilcoxon.

No grupo que recebeu a suspensão fecal com diluição 50% maior (1:9,

peso/volume), a mortalidade não mostrou diferença estatisticamente significativa

entre os dois grupos (Figura 17 A), embora tenha sido maior nas primeiras 48 h. Dos

sobreviventes, 12 de 13 animais do grupo jejum e 15 dos 16 do grupo controle

apresentavam abscessos intra-peritoneais. O número e o tamanho dos abscessos

foi maior nesse grupo, sendo a diferença significativa para o número de abscessos

(Figura 17 B).
71

A B

100

15 20

escore do tamanho dos abscessos


80

P=0,041 P=0,051

número de abscessos
sobreviventes (%)

Log rank p=0,242 15


60
10

Controle (n=24) 10
40
Jejum ds/dn (n=23)
5
20 5

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
0 0
J 1: 9 Cont 1: 9 J 1:9 Cont 1:9
dias

Figura 17
A- Curvas de sobrevivência de animais submetidos ou não a jejum em dias alternados (jejum ds/dn) e
inoculados com 4 ul/g peso corporal de suspensão de fezes diluídas a 1:9 (peso/volume). B- Número
e escore de tamanho (média± DP) de abscessos intra-peritoneais observados nos sobreviventes, 14
dias após o inóculo intra-peritoneal da suspensão fecal. As linhas horizontais representam os valores
das medianas. Os valores de p foram obtidos com o teste de Wilcoxon.

5.4.3 Peso corporal, peso do baço, do fígado e do timo após a indução da

peritonite por inoculação intra-peritoneal de suspensão fecal nos animais

submetidos aos regimes de jejum intermitente e nos respectivos grupos

controle

Todos os animais nos quais se induziu a peritonite por injeção intra-peritoneal

de suspensão de fezes, perderam peso nas duas semanas de observação. A perda

de peso foi mais acentuada nos animais inoculados com a suspensão fecal na

diluição 1:6, tanto nos animais submetidos aos dois regimes de jejum como nos

controles. De modo geral, a perda de peso foi maior nos grupos submetidos ao jejum

(Figura 18 A - jejum 3d/2s e B - jejum ds/dn). Nos animais inoculados com a


72

suspensão fecal em diluição 50% maior (1:9, peso/volume) a perda de peso corporal

foi menor e muito semelhante nos grupos jejum em relação aos respectivos grupos

controle (Figura 18 A e B).

A B
0 5 10 15
dias 5 dias
0 5 10 15
0 0

% de perad de peso corporal


% de perda do peso corporal

-5 -5

-10 -10

-15 -15

-20
-20

-25
-25
-30

J-1:6 Controle 1:6 J-1:9 Controle 1:9

Figura 18.
Evolução do peso corporal em camundongos submetidos a jejum de 3d/2s (A) ou em dias alternados
(B) e seus respectivos controles. As figuras mostram o percentual de redução do peso corporal em
relação ao peso do dia da indução da peritonite fecal por inoculação intra-peritoneal de 4ul de
suspensão fecal/g peso corporal, nas diluições de 1:6 ou 1:9. Os pontos representam a média das
avaliações em pelo menos três animais para cada grupo.

Havia hepatoesplenomegalia em todos os animais submetidos à peritonite

fecal por inoculação intra-peritoneal de suspensão de fezes, sem diferenças

significativas entre os grupos. O peso do timo era semelhante nos grupos jejum em

relação aos seus respectivos controles, mas como o timo sofre involução com a

idade, com aumento variável do tecido adiposo entre os lobos, a avaliação não foi

muito precisa, razão pela qual os dados não estão apresentados (Figura 19).
73

100 100 100 100


- - -C -D
- A - B - -
- - - -
- - - -
mg/g peso corporal

mg/g peso corporal

mg/g peso corporal


-- -- -- --

mg/g peso corporal


75 75 75 75
- -  J3d/2s - -
-  J3d/2s - -  Jds/dn - Jds/dn
- - - -
50 - 50 - 50 - 50 -
-  controle - controle -  controle -
-  -  -  - controle
- - - -
25
- 25
- 25
- 25
-
- - - -
- - - -
- - - -
- - - -
0 - Baço Fígado
0 - Baço Fígado
0 - 0 -
Baço Fígado Baço Fígado

Figura 19.
Peso do baço e do fígado (em mg por grama de peso corporal) em camundongos submetidos a jejum
por três dias a cada duas semanas (J3d/2s) ou em dias alternados (Jds/dn) e camundongos
controles, alimentados “ad libitum”, nos quais se induziu peritonite fecal por injeção intra-peritoneal de
fezes diluídas (peso/volume) a 1:6 (A e C) ou a 1:9 (B e D). O retângulo cinza representa a faixa de
variação do peso do órgão em animais controle, sem qualquer tratamento.
74

6. DISCUSSÃO

6.1 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM AGUDO DE 72H

A evolução dos animais submetidos a jejum de 72 h mostrou rápida redução

de peso do timo e do baço, semelhante ao descrito na literatura pelos autores que

fizeram observações experimentais em camundongos submetidos a jejum de 48 h

(MARTINEZ et al., 1975; HOWARD et al.,1999) e ao observado em crianças com

desnutrição proteico-calórica (CHEVALIER, 1997). Essa redução no peso desses

órgãos se recuperou rapidamente após a realimentação, de modo semelhante ao

observado após involução desses órgãos, induzida por estresses físicos,

principalmente estresse de contenção em camundongos (DOMÍNGUEZ-GERPE e

REY-MÉNDEZ, 1997). No entanto, como pode ser observado na figura 6, após um

período de jejum de 72 h a recuperação do timo, evidente sete dias após o início da

realimentação, foi mais rápida do que a do baço.

Admite-se que essa redução nas células dos órgãos linfáticos seja

consequência do estresse induzido pelo jejum, com ativação do eixo hipotálamo-

hipófise-adrenal, do que resultam níveis elevados de ACTH e liberação de

corticóides pela supra-renal (revisão em BESEDOVSKI e REY, 1996; TARCIC et al.,

1998). No entanto, esse mecanismo parece mais complexo, tendo sido demonstrado

que no jejum agudo, os níveis de leptina são muito reduzidos e que a reposição da

leptina aborta a involução do timo, reduz a ativação do eixo hipotálamo-hipófise e,

consecutivamente, os níveis plasmáticos de corticosterona. Também reduz, “in vitro”,

a apoptose de timócitos induzida por corticóides (AHIMA et al., 1996; LORD et al.,

1998; HOWARD et al., 1999; FAGGIONI, FEINGOLD e GRUNFELD, 2001).


75

6.2 EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM INTERROMPIDO

6.2.1 Jejum de três dias a cada duas semanas

Observa-se na figura 9, que os animais submetidos a jejum de três dias a

cada duas semanas, apesar da perda intermitente de peso, chegaram ao fim de 16

semanas com o peso ligeiramente superior ao do grupo controle, ainda que a

diferença não tenha sido significativa. Essa observação demonstra que os animais

nos onze dias de alimentação “ad libitum” ingerem uma maior quantidade de

alimento, compensando assim o peso perdido a cada ciclo de jejum. Resultado

semelhante foi observado por Sogawa e Kubo (2000), em camundongos NZB/NZW

submetidos a jejum de quatro dias a cada duas semanas. Portanto, podemos

concluir que nessa forma de restrição alimentar não há restrição calórica total, mas

apenas nos períodos de jejum, já que a curva de ganho de peso dos animais

submetidos ao jejum é semelhante ao grupo alimentado “ad libitum”.

6.2.2 Jejum em dias alternados

Da mesma forma que os animais do grupo jejum 3d/2s, o grupo submetido a

jejum em dias alternados não teve comprometimento do ganho de peso em relação

ao grupo controle. Esse resultado difere em parte do observado por outros autores,

que submeteram camundongos ou ratos a jejum ds/dn, observando redução do peso

corporal no fim dos experimentos (CARLSON e HOEZEL, 1946; LEVEILLE et al.,

1972; GOODRICK et al., 1982 e 1983; BEAUCHENNE et al., 1986). No entanto,

esses autores começaram o jejum logo após o desmame, com redução na curva
76

ponderal nas primeiras semanas de adaptação ao novo regime alimentar, mas com

ganho de peso semelhante ao controle após esse período (GOODRICK et al., 1983).

Além do fator tempo de início da restrição alimentar interrompida, o fator genético

interfere na evolução ponderal dos animais submetidos a jejum interrompido. De

fato, ratos submetidos a essa manipulação alimentar, de modo geral, perdem peso

(GOODRICK et al., 1983) e camundongos de cepas diferentes têm comportamentos

diferentes. Goodrick et al. (1990) mostraram que camundongos A/J submetidos a

jejum ds/dn, apresentaram curva ponderal idêntica a dos controles mas,

camundongos C57 BL ganharam mais peso e os híbridos F1 ganharam mais peso

ainda em relação aos alimentados “ad libitum”. Já Anson et al. (2003) fizeram

observação semelhante a aqui relatada, ao submeterem camundongos a jejum em

dias alternados. Esses autores, calculando a ingestão alimentar do grupo jejum em

dias alternados, com um grupo controle, verificaram que a ingestão calórica foi

semelhante ao do grupo controle alimentado “ad libitum”.

Em resumo, os camundongos suíços utilizados no experimento, quando

submetidos ao jejum ds/dn, apresentaram uma curva ponderal semelhante à curva

do grupo controle alimentado “ad libitum”, podendo-se admitir que não tenham

apresentado redução da ingestão alimentar, não tendo sido submetidos, portanto, à

restrição calórica.
77

6.3 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL PRODUZIDA POR LIGADURA E

PUNÇÃO DO CECO OU POR INJEÇÃO INTRA-PERITONEAL DE SUSPENSÃO

DE FEZES

O modelo de ligadura e punção do ceco é muito utilizado como modelo de

choque endotóxico e de peritonite, tanto em ratos como em camundongos, pois é

acompanhado de um quadro grave de choque, dentro das primeiras horas, após a

intervenção cirúrgica. A gravidade do quadro de choque séptico varia de acordo com

o número de perfurações e o calibre da agulha utilizado (PARKER e WATKINS,

2001; ECHTENACHER et al., 1990). A liberação do conteúdo do ceco para a

cavidade peritoneal leva uma grande quantidade de endotoxinas que são

rapidamente absorvidas. Nesse modelo, não se utiliza uma reposição líquida pela

injeção subcutânea de soro fisiológico e a mortalidade é quase total nas primeiras 24

h. Os resultados observados nos animais controle foram semelhantes aos descritos

na literatura, com grande mortalidade nas primeiras 48 a 72 h após a ligadura e

punção do ceco, com os animais apresentando o quadro clássico do choque

endotóxico.

A injeção intra-peritoneal de fezes é outro modelo de choque endotóxico e

peritonite muito utilizado, com mortalidade elevada após inoculação de 4 a 5 µl de

suspensão fecal com diluições abaixo de 1:6 (peso/volume). A utilização de fezes do

ceco é importante porque se faz melhor a diluição, pois o conteúdo fecal é pastoso.

Os autores que têm utilizado esse modelo sempre avaliam a mortalidade nos

primeiros dias, não fazendo avaliações dos animais depois de uma semana

(SHADOMY e PULASKI, 1966).


78

Nos experimentos com inoculação intra-peritoneal de suspensão fecal,

observou-se que com a suspensão a 1:6, a mortalidade por choque endotóxico foi

alta e todos os sobreviventes desenvolveram abscessos intra-peritoneais, de fácil

observação.

Quando foi utilizada suspensão de fezes diluídas a 1:9, a mortalidade foi

bem menor e a maioria dos animais desenvolveu abscessos intra-peritoneais (acima

de 90% dos animais), que eram facilmente observados, podendo ser avaliados

quanto ao número e tamanho. Esse modelo de formação de abscessos peritoneais

foi bastante reproduzível e é muito simples de ser executado, podendo ser utilizado

para, por exemplo, avaliar efeito de antibióticos. Os modelos de abscessos intra-

peritoneais, descritos na literatura, são os que utilizam bactérias, isoladas ou em

associação, imersas ou em fibrina, ou em ágar ou dentro de cápsulas de gelatina,

introduzidas na cavidade peritoneal de ratos ou camundongos (SHADOMY e

PULASKI, 1966; NICHOLS, SMITH e BALTHAZAR, 1978; CHEADLE et al., 1989;

PARKER e WATKINS, 2001).

A utilização de um inóculo intra-peritoneal de fezes diluídas a 1:9 parece ser

um bom modelo de peritonite fecal, já que é acompanhado de mortalidade mínima

na fase inicial de choque e leva à formação de abscessos intra-peritoneais

facilmente observáveis.

6.4 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

AGUDO DE 72 HORAS

Os resultados mostram que a mortalidade global, duas semanas após

indução da peritonite fecal em animais submetidos a jejum de 72 h, não foi alterada.


79

No modelo de ligadura e punção do ceco, a mortalidade precoce foi muito

grande nas primeiras 48 h e não mostrou diferença entre os grupos jejum e controle.

Como a mortalidade nesse modelo experimental se refere ao choque endotóxico,

essa observação difere em parte do observado por Faggioni et al. (2000) que

mostraram aumento da mortalidade de camundongos submetidos a jejum de 48

horas e inoculados com LPS. Os animais apresentavam aumento da produção de

TNF, principal responsável pelo aumento da mortalidade.

A peritonite fecal por ligadura e punção do ceco ou por injeção intra-

peritoneal de fezes tem uma fase inicial do choque endotóxico, induzido pela grande

quantidade de LPS originado da flora intestinal existente nas fezes. O fato de não

termos observado diferença significativa da mortalidade entre o grupo controle e o

jejum de 72 h estaria relacionado a dois possíveis fatores: (a) diferenças genéticas

entre os camundongos utilizados por Faggioni et al. que utilizaram cepa C57Bl-6, e

os utilizados nessa pesquisa, camundongos suíços não isogênicos; (b) a intensidade

da agressão representada pela ligadura e punção do ceco, com extravasamento ou

inoculação de fezes na cavidade peritoneal, com liberação de grande quantidade de

endotoxinas (LPS), o que não permitiu discriminar a maior resistência dos animais

alimentados “ad libitum”. Godshall et al. (2002) mostraram que camundongos suíços

são mais resistentes do que camundongos BALB/c, aos efeitos da ligadura e punção

do ceco, com respostas diferentes em relação à IL-12. É possível portanto que, a

resposta dos camundongos suíços, após jejum prolongado, frente à peritonite

bacteriana por ligadura e punção do ceco, na qual existe endotoxemia, seja diferente

dos camundongos C57BL, após injeção de LPS, nas mesmas circunstâncias. A

intensidade da agressão no modelo de ligadura e punção do ceco é muito grande

pois além da peritonite, existe a agressão representada pelo ato cirúrgico. Dessa
80

forma, a letalidade foi muito alta nos dois grupos, não permitindo discriminação. É

possível que o mesmo experimento em um grande número de animais possa

mostrar alguma diferença.

Nos experimentos com inoculação de suspensão fecal foi possível observar

algumas diferenças em relação à evolução da peritonite. Embora a mortalidade

global não tenha sido diferente, a mortalidade precoce, nas primeiras 48 h foi

sempre menor. Portanto, com esse modelo ficou demonstrado que choque

endotóxico é agravado pelo jejum, confirmando assim as observações de Faggioni et

al. (2000). A maior gravidade do choque foi evidente também pela maior frequência

e intensidade de suas manifestações nos animais submetidos a jejum de 72 h.

Já os sobreviventes do inóculo da suspensão de fezes, diluídas a 1:6 ou a

1:9, mostraram abscessos intra-peritoneais em menor número e com tamanho

significativamente menor no grupo jejum, mostrando que o jejum, embora aumente a

sensibilidade ao choque endotóxico, melhora a resistência à peritonite (portanto à

infecção bacteriana). Outro dado que mostrou a maior resistência à infecção foi a

mortalidade mais tardia, que só ocorreu nos grupos controle.

Como já descrito anteriormente, existem poucas observações sobre o

impacto do jejum agudo na resposta imunitária inata ou adaptativa, tanto em animais

de laboratório como em humanos, com resultados às vezes conflitantes.

Demonstrou-se redução da resposta T dependente em camundongos sensibilizados

com oxazolona (LORD et al., 1998; NAKAMURA et al., 2001 ), menor resposta T

dependente em camundongos infectados com L. monocytogenes (WING, MAGEE e

BARCZYNSKI, 1988). Em humanos submetidos a jejum com fins terapêuticos,

observou-se redução transitória de linfócitos T circulantes (KOMAKI et al., 1997) e

nos pacientes com anorexia nervosa há observações mostrando aumento, redução


81

ou nenhuma alteração nas respostas T dependentes (POLACK et al., 1993). Em

relação à resposta inata, há aumento da capacidade fagocitária e microbicida de

macrófagos, demonstradas em modelos de infecção de camundongos com Listeria

monocytogenes (WING e BARCZYNSKI, 1984; WING, BARCZYNSKI e

SHERBONDY, 1986). Demonstrou-se também que a redução da leptina, induzida

pelo jejum, está diretamente relacionada com a imunossupressão e que a injeção da

leptina exógena reverte a imunodeficiência (LORD et al., 1998). Aparentemente, o

aumento da atividade de macrófagos seria responsável pelo aumento da produção

de TNF-α e outras citocinas, do que resultaria, de um lado, em aumento da atividade

microbicida e, de outro lado, o aumento à susceptibilidade ao choque endotóxico.

Os resultados dos experimentos com inoculação intra-peritoneal de fezes

indicam que deve estar realmente ocorrendo nos animais submetidos a jejum, uma

grande ativação de macrófagos, com explosiva produção de citocinas envolvidas no

agravamento do choque. A grande ativação dos macrófagos aumentaria a

capacidade microbicida o que reduziria a infecção nos sobreviventes. De outro lado,

citocinas pró-inflamatórias aumentam a produção da leptina (SARRAF et al.,1997;

JANIK et al., 1997) o que poderia estar acontecendo nos sobreviventes ao choque.

A restauração dos níveis de leptina melhoraria não só a resistência ao choque mas a

resposta imunitária e manteria o aumento da capacidade microbicida dos

macrófagos peritoneais, contribuindo assim para a menor gravidade da peritonite

que se instala.

Resumindo, as observações sobre o comportamento da peritonite fecal em

camundongos submetidos a jejum agudo durante 72 h, confirmam um aumento da

susceptibilidade ao choque endotóxico que foi mais intenso nas suas manifestações,

com maior mortalidade precoce e mostram aumento da resistência à infecção


82

bacteriana, demonstrada pelo menor número e tamanho dos abscessos intra-

peritoneais formados nos sobreviventes do choque.

6.5 EVOLUÇÃO DA PERITONITE FECAL NOS ANIMAIS SUBMETIDOS A JEJUM

INTERMITENTE

6.5.1 Evolução da peritonite fecal nos animais submetidos a jejum de três dias

a cada duas semanas

A evolução da peritonite nos animais submetidos à jejum intermitente, quer

3d/2s ou ds/dn, foi semelhante. Nos animais inoculados com a suspensão fecal

diluída a 1:6, a mortalidade geral foi maior nos grupos jejum após o inóculo intra-

peritoneal da suspensão fecal, período no qual se manifesta o choque séptico. No

entanto, os sobreviventes apresentaram abscessos intra-peritoneais em número e

tamanho semelhantes nos dois grupos, comparação prejudicada pelo fato do

número de sobreviventes ter sido muito pequeno nos grupos submetidos ao jejum.

Acreditamos que o inóculo fecal mais concentrado tenha representado uma

agressão muito intensa, não permitindo discriminar bem o comportamento dos dois

grupos.

Nos grupos inoculados com a suspensão fecal com diluição 50% maior, (1:9),

a mortalidade foi mais elevada nos grupos jejum, mas sem significância estatística.

No entanto, observa-se que as manifestações do choque foram mais intensas nos

grupos jejum. Já os sobreviventes apresentaram abscessos intra-peritoneais em

número e tamanho significativamente menores do que os grupos controle. Com esse


83

inóculo, o número de sobreviventes foi maior nos grupos jejum, permitindo a

expressão de diferenças.

Essas observações mostram que o jejum intermitente, quer em períodos

maiores intercalados com alimentação “ad libitum”, quer em dias alternados, torna os

animais mais susceptíveis ao choque endotóxico, mas os torna mais resistentes à

infecção bacteriana, que leva à formação dos abscessos intra-peritoneais.

A única observação sobre mortalidade em peritonite fecal induzida em

camundongos, submetidos à manipulação dietética, foi relatada por Sun et al. (2001)

que mostraram maior mortalidade após ligadura e punção do ceco em camundongos

submetidos à restrição calórica (redução de 40% das calorias da dieta, iniciada após

o desmame). Embora nos modelos de jejum intermitente a restrição calórica exista

nos dias de jejum, o total de calorias ingeridas é semelhante ao dos animais com

dieta livre. Desse modo, não sabemos se os mecanismos que alteram a resistência

ao choque endotóxico, observados por Sun et al. (2001) em camundongos que

tiveram restrição de 40% das calorias, são os mesmos que alteraram aquela

resistência em camundongos submetidos ao jejum interrompido. Admitindo-se que

os dois tipos de manipulação de dieta aumentem a longevidade e reduzam a

incidência de neoplasias, é possível também que produzam as mesmas alterações

nos mecanismos de defesa contra o choque endotóxico. De fato, Sun et al. (2001)

observaram aumento significativo dos níveis de TNF após a indução da peritonite em

camundongos com restrição calórica, o que estaria relacionado com a maior

mortalidade após a peritonite (agravamento do choque endotóxico). Aumento da

produção de TNF-α após injeção de LPS foi também relatada por Tsuchia et al.

(2005) em ratos submetidos à restrição calórica por seis meses. Assim, é possível
84

que em animais submetidos a jejum intermitente, haja também aumento da produção

de TNF-α após estímulo com endotoxina, fato que necessita ser investigado.

Por outro lado, há evidências de que alguns efeitos do jejum intermitente

sejam semelhantes aos da restrição calórica: ambos reduzem a glicemia e os níveis

de insulina e aumentam os níveis plasmáticos de corticosterona. Existem, no

entanto, algumas diferenças: os níveis de corpos cetônicos são aumentados no

jejum intermitente, mas mantêm-se normais na restrição calórica e os níveis do fator

de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), são reduzidos na restrição calórica e

normais no jejum intermitente.

Todas formas de restrição calórica, em todas as espécies testadas,

aumentam a resistência ao estresse (MASORO, 2005). No jejum intermitente, há

observações em ratos e camundongos demonstrando o aumento da resistência às

agressões químicas e à hipóxia no sistema nervoso e coração (ANSON et al., 2003).

Entretanto, os mecanismos dessa resistência aumentada às agressões não tem uma

explicação satisfatória.

Wan, Camandola e Mattson (2003) observaram que ratos submetidos a jejum

intermitente apresentavam aumento dos níveis basais de ACTH e corticosterona, os

quais no fim de seis meses estavam reduzidos em relação aos valores observados

naqueles com três meses de jejum e os níveis de corticosterona, e não dos de

ACTH, eram menores em relação aos animais alimentados “ad libitum”. Os

camundongos desse grupo, submetidos a estresse de contenção, não aumentavam

os níveis plasmáticos de corticosterona e os níveis de epinefrina e norepinefrina

estavam diminuídos (epinefrina) ou semelhantes aos do grupo alimentado “ad

libitum” (norepinefrina), submetidos ao mesmo estresse. No entanto, os níveis de

corticosterona estavam aumentados em relação aos níveis basais, antes do


85

estresse. Ao serem submetidos a estresse de contenção repetidamente, os níveis de

ACTH e corticosterona encontravam-se diminuídos em relação ao grupo “ad libitum”

submetido ao mesmo estresse, os níveis de epinefrina estavam menores e os de

norepinefrina não se alteraram. Se submetidos ao estresse do frio (nadar em água

fria), os níveis de ACTH se elevavam, mas os de corticosterona não se alteravam e

a norepinefrina plasmática era significativamente elevada. Esses resultados mostram

que o jejum intermitente induz um estado de ativação permanente do eixo

hipotálamo-hipófise-adrenal, mas com resposta alterada a outros estresses. A

adaptação simpática a estresses repetidos (contenção repetida) está aumentada,

fato indicado pelos menores níveis de epinefrina e não alteração nos de

norepinefrina. Por outro lado, não compromete a resposta simpática a um novo

estresse, já que a resposta ao frio aumenta significativamente os níveis de

norepinefrina. Fica também evidente que não há impedimento para o animal dar as

primeiras respostas ao estresse, já que os níveis de ACTH e norepinefrina estão

aumentados após o estresse induzido pelo frio. Há uma redução da sensibilidade da

supra-renal ao ACTH, pois apesar da elevação deste hormônio, os níveis de

corticosterona não se alteram.

Os resultados das observações de Wan, Camandola e Mattson (2003)

mostram o quanto são complexas as modificações na resposta ao estresse

induzidas pelo jejum intermitente, não havendo ainda uma explicação satisfatória

dos mecanismos moleculares envolvidos nesse processo.

Como no jejum agudo há redução acentuada dos níveis de leptina, no jejum

intermitente haveria essa variação na produção da leptina, nos períodos de jejum?

Se ocorrer, a repetição do jejum estaria modulando essa resposta? Como no jejum

agudo a leptina interfere na resposta ao estresse, estaria este peptídeo envolvido


86

nas alterações da resposta ao estresse induzidas pelo jejum intermitente? As

modificações das respostas ao estresse, induzidas pelo jejum intermitente,

induziriam alterações na resposta imunitária inata e adaptativa? Não encontramos

na literatura respostas para essa perguntas. Há necessidade de investigar como se

comporta a leptina ao longo dos períodos de jejum intermitente e como está a

resposta imunitária dos animais ao longo desse período.

A observação de menor gravidade dos abscessos intra-peritoneais, após

inoculação de suspensão fecal diluída a 1:9, é uma evidência de que o jejum

intermitente aumentou a resistência à infecção pelas bactérias fecais. Isso

demonstra que há uma dissociação dos efeitos do jejum na resposta à injeção intra-

peritoneal de solução fecal: de um lado, há maior susceptibilidade ao choque

endotóxico, evidenciada pela maior mortalidade precoce, e de outro lado, aumento

da resistência ao desenvolvimento da infecção bacteriana, mostrada pela menor

gravidade dos abscessos intra-peritoneais. Embora aparentemente paradoxal, essa

observação pode se explicada pelo fato de que os mecanismos alterados pela

manipulação da dieta, levariam a ativação de células de defesa, mais provavelmente

macrófagos, com aumento da produção de citocinas, responsáveis pelo choque

endotóxico, mas que resultariam em maior atividade microbicida dos fagócitos,

aumentando assim a resistência às bactérias invasoras, nos sobreviventes.


87

7- CONCLUSÕES

As observações sobre o efeito de jejum agudo ou interrompido sobre a

evolução de peritonite fecal em camundongos mostraram que, o jejum agudo de 3

dias em 2 semanas não alterou a mortalidade após indução de peritonite seja por

ligadura e punção do ceco, ou após inoculação intra-peritoneal de fezes, mas

aumentou a susceptibilidade ao choque endotóxico, evidenciado por maior

intensidade das manifestações do choque e maior mortalidade nas primeiras 48 h.

Esse mesmo regime aumentou a resistência à peritonite induzida pela inoculação

intra-peritoneal de fezes, evidenciada pelo menor número e menor tamanho dos

abscessos observados após duas semanas de evolução.

O jejum intermitente, quer dia sim/dia não ou de três dias a cada duas

semanas, aumentou a susceptibilidade ao choque endotóxico após inoculação intra-

peritoneal de fezes, evidenciada ou por maior mortalidade ou por maior intensidade

das manifestações do choque nas primeiras 48 h. Esse mesmo regime aumentou a

resistência à peritonite induzida pela inoculação intra-peritoneal de fezes,

demonstrada pelo menor número e menor tamanho dos abscessos após duas

semanas de evolução.
88

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