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José Paulo

Notas de aulas Introdução a Lukács.


14.10.2002

Porque Lukács, ao sistematizar suas concepções estéticas, se vê lançado no rumo daquilo que
ele iria chamar de ONTOLOGIA ? Ou seja, qual a preocupação que emerge da ESTÉTICA I ? (Ele
projetaria, mas não chegaria a escrever dois outros livros sobre ESTÉTICA). Na ESTÉTICA I ele
tematizara a peculiaridade do estético. E ao fazê-lo, ao contrapor o ESTÉTICO ao TRABALHO como
forma de objetivação, e também ao contrapor o reflexo estético ao reflexo científico, indo buscar sua
gênese naquele magma heteróclito que era a MAGIA, Lukács se vê diante da OBJETIVIDADE DO
PRODUTO ESTÉTICO. A obra de arte possui uma objetividade tal que a pesquisa de sua estrutura, na
ótica de Lukács, não depende da pesquisa do seu criador.
Já aí está um PROBLEMA CENTRAL que Lukács não pode resolver no domínio da estática,
qual seja, a RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO.
Para Lukács o objeto estético não se reduz à expressão de um eu singular do artista. Temos aqui
a tese de F.Engels que Lukács retoma da história do realismo que aponta a diferença entre o “eu
empírico” e o “eu criador” do artista. O exemplo disto está em BALZAC que enquanto cidadão era
monarquista, legitimista e católico. Entretanto, ninguém melhor do que ele fez uma rigorosa crítica da
Monarquia instaurada em julho de 1830.
Ou seja, foi a partir da discussão da peculiaridade e da objetividade do estético que Lukács teve
se de defrontar com aquilo que aparentemente eram problemas ANTROPOLÓGICOS. Repita-se: com
aquilo que aparentemente eram problemas antropológicos. Posta assim a questão, tinha ele de discutir
o que era peculiar ao HOMEM, até porque o segundo passo que ele pretendia dar (e sabemos que ele
teve tempo de realizar tal pretensão) seria no sentido da elaboração da ÉTICA(referimo-nos ao assim
denominado “projeto de maturidade de Lukács”. Mas essa estória das fases de Lukács é um negócio
complicadíssimo, pelo que melhor seria denominá-lo “projeto do último Lukács”).
Portanto, Lukács estava posto perante um problema que era aparentemente antropológico. Pois
bem, o que ele vai fazer é deslizae para um âmbito distinto, vai discutir A PECULIARIDADE DO SER
SOCIAL. E para isso ele não podia deixar de lado as questões relativas à estrutura ôntica, à estrutura
do ser a partir do qual dito ser emergia, onde se inseria. Portanto, ele se viu claramente às voltas com
uma discussão que não era de natureza antropolígica, que era muito mais ampla, muito mais
abrangente, muito mais inclusiva que uma discussão estritamente antropológica.
1ª questão: porque Lukács resolver nominar o seu tipo de pesquisa como ONTOLOGIA ?
Lembremos que a Filosofia Clássica (aí entendida a filosofia dos gregos e os desdobramentos dela na
Idade Média . Pense-se em Aristóteles e o aristotelismo da Idade Média, atentando sempre para o fato
de que não se chega a Aristóteles na Idade Média por uma relação direta com os gregos mas sim
através da mediação dos árabes) sempre reservou um espaço para a Ontologia. Lá nos clássicos
ONTOLOGIA era aquela parte constitutiva da reflexão filosófica que cuidava do SER (retire-se daí
qualquer caráter de natureza religiosa). Era a DOUTRINA DO SER. Um jogo de assertivas acerca do
SER se inscreve no coração da reflexão clássica como a ONTOLOGIA.
Entretanto, esta parte da obra aristotélica, que vai servir domo referência (Sabemos que
Aristóteles viveu num tempo em que não havia editoras. Os materiais de Aristóteles foram parar em
Alexandria e de lá foram trazidos pelos árabes), esta parte ficou além dos Livros que na compilação
aristotélica trataram da FISIS, da FÍSICA, pelo que esta parte entrou na METAFÍSICA.
Pois bem, o que se segue dirige-se especialmente aos marxistas. Metafísica não é nenhum
palavrão, nenhum xingamento. Metafísica é aquela parte da Filosofia que pelo caminho acima
apontado, a partir da Idade Média, passou a ser o equivalente da Ontologia lá dos clássicos. Mas, como
é sabido, a partir de uma leitura muito simplista da tradição ilustrada, equalizada à via escolástica,
passou a ser sinônimo de ESPECULAÇÃO. Daí para o desbordamento pejorativo o passo foi mínimo:
pensador especulativo = pensador metafísico.
Na tradição marxista isto ensejará um grande imbróglio. É que Engels, através de uma
exposição que se tornou extremamente popular, veio a distinguir dois modos de considerar o mundo:
(1º) o modo que pensa o mundo como um sistema estático e compartimentalizado: (2º) o que considera
o mundo levando em conta o movimento, a contradição e a totalidade. Ao primeiro desses modos
nosso querido Engels chamou de tradição METAFÍSICA, ao segundo, tradição DIALÉTICA. E a partir
daí o estrago estava consumado.
Isso é tão forte, mas tão forte, que num pequeno livro de extraordinário sucesso, que foi vendido
mais que sanduíche do Mac Donald , que vendeu 25 edições, um livro intitulado O QUE É
DIALÉTICA, do meu queridíssimo amigo LEANDRO KONDER, o esquema de Engels acima
mencionado vem reproduzido. Ainda hoje, há professores nas várias áreas do conhecimento que
reproduzem essa classificação aos alunos tão logo ingressam eles na Faculdade. Isso é uma
BARBARIDADE ! Um simplismo absurdo!
O estrago maior qual foi ? Foi o que se operou na tradição Marxista. Isto a que me refiro
remonta ao tempo em que eu travava polêmicas com meus amigos da AP (Ação Popular) que vinham
da JUC (Juventude Universitária Católica). Naquele tempo, a maneira mais simples de desqualificar
uma pessoa não era chamar a mão de “senhora de vida fácil”, era sim dizer: “Você é um metafísico! ”.
E mais: na tradição Marxista o problema persiste até os dias atuais. É evidente que nas
conjunturas políticas dificílimas nas quais L. viveu, até final dos anos 40, princípio dos anos 50, ele
equalizou a ONTOLOGIA à METAFÍSICA. Quando aparece na obra de L., até os anos 50, qualquer
referência à ONTOLOGIA ela é desqualificadora.
Se é correta a idéia anteriormente defendida que vê já no L. da década de 30 como um pensador
que já tinha uma empostação, uma postura ontológica (lembremo-nos que nessa altura Lukács toma
contato na Rússia com ao MANUSCRITOS FILOSÓFICOS e com A IDEOLOGIA ALEMÃ de Marx),
sua desqualificação da ONTOLOGIA se afigura como paradoxal. Esse paradoxo se explica não apenas
por esse peso dessa infeliz tradição. É que no século XX o eixo principal do pensamento filosófico,
especialmente no Ocidente, foi a contrapelo de todas as preocupações ontológicas. Foi um eixo que
privilegiou a EPISTEMOLOGIA, que tratou de reduzir a FILOSOFIA À EPISTEMOLOGIA (Vide
Escolas desde o neo-positivismo lógico até as filosofias da linguagem). Curioso é que no século XX
quem revela preocupações ontológicas ? Os EXISTENCIALISTAS. No séc. XX o segmento da
filosofia que resistiu ao enorme imperialismo epistemológico foi representado pelos pensadores
existencialistas, os existencialistas alemães (vide HEIDEGGER – O SER E O TEMPO) e franceses
(vide SARTRE – O SER E O NADA). Ora, por outros motivos, Lukács se opunha a essas
interpretações ontológicas. Então havia todo um quadro, seja de natureza semântica, seja de natureza
objetiva para indispor, para contrapor, para colocar Lukács numa posição de desqualificação da
Ontologia, ainda que as suas preocupações no campo marxista, desde a viragem do seu pensamento
quando ele conhece lá em Moscou os MANUSCRITOS e a IDEOLOGIA ALEMÃ. Desde aquele
momento Lukács tem uma empostação ontológica, mas ele sequer a designa em função desse quadro
extrememente comlicado.
O que mudará nos anos 60 ? No marco das suas preocupações, transitando da ESTÉTICA para a
ÉTICA, L. tem de dar um combate àqueles que utilizavam a ontologia no seu viés existencialista. A
referência principal é claramente HEIDEGGER. L. faz uma revisão dos contemporâneos alemães de
Heidegger. E encontra um filósofo – NICOLAI HARTMANN, que tem uma posição extremamente
singular no universo filosófico alemão da primeira metade do século XX. Ele é um filósofo
estritamente acadêmico, um filósofo no sentido mais profissional da palavra, que se propôs fazer uma
sistematização filosófica alheia à tradição marxista mas que explicitamente partia de preocupações
ontológicas e em claro contraponto com a tradição existencialista.
Tudo indica que foi a partir do diálogo – aliás tardio, com a obra de Hartmann, e sobretudo a
partir das mudanças no âmbito do espectro ideológico onde Lukács se situa (lembre-se que nós estamos
tratando aqui daquele Lukács que volta à Hungria, faz um pacto formal com o governo que lhe confere
“ocium cum dignitatem”, que acorda não se envolver em política - muito embora saibamos que ele se
envolveria, e que goza de mais liberdade de movimentos), isso em meio a um debate marxista imerso
em uma fortíssima onda neo-positivista (não é casual que a vaga do estruturalismo marxista francês
coincida claramente com os anos de elaboração da ONTOLOGIA. Lembremo-nos que é na primeira
metade dos anos 60 que Luis Althusser consegue a grande ressonância, a grande audiência das suas
proposições). Portanto, Lukács tem mais condições de expressar suas idéias, por uma parte, e por outra
parte, ele passa a ter como adversários neo-positivistas não aqueles que estavam fora do espectro
marxista mas no próprio interior dele.
Assim, Lukács, sistematizando suas concepções que desde os anos 30 já tinham uma clara
direção ontológica, perde qualquer escrúpulo semântico, e recupera essa palavra, porque ela é aquela
que melhor designa – enquanto constitutiva do léxico filosófico, a sua preocupação com uma não
doutrina mas, digamos, uma teoria do SER. Nisso a gente já desarma o porquê da novidade ontológica.
De fato na obra de L. não havia uma novidade. Vai haver é uma sistematização e uma reposição de
problemas, com os quais ele já vinha lidando desde os anos 30. Mas há efetivamente um giro
terminológico, com o qual L. resgata a clássica nominação filosófica.
Feita essa observação prévia examinemos qual o caminho metodológico de Lukács. Ele vai
escrever, insisto, aquilo que ele supunha ser a INTRODUÇÃO À SUA ÉTICA. Ele autonomiza o
projeto, e surgirão a GRANDE e a PEQUENA ONTOLOGIA. Qual o pressuposto metodológico de
Lukács ? São as geniais descobertas marxianas registradas nos Grundrisse, ou seja, naquele conjunto
de Manuscritos elaborados em 1857/8, sem prejuízo do conhecimento exaustivo da obra marxiana até
então publicada. L. vai valorizar 2 elementos chave: 1857/8 e O CAPITAL. Esse é o ponto de partida
metodológico. Vai aceitar como chave heurística de todo o seu procedimento a formulação que
aparece na Introdução de 1857 segundo a qual são as estruturas mais complexas que permitem a
compreensão das menos complexas. Vide o parágrafo da Introdução de 1857/8, na verdade redigida em
57, onde Marx afirma, depois de fazer esse caminho questionando inclusive os procedimentos
hegelianos, afirma que aquilo que nas espécies superiores representa um avanço é precisamente a chave
para compreender aquilo que parece ininteligível nos estágios inferiores. A afirmação é canônica: não é
a anatomia do símio que explica a anatomia humana, mas sim o contrário. Ora, é evidente que Marx
em nenhum momento está propondo procedimentos anacrônicos, nem está indicando que se deva
abandonar a pesquisa da gênese das formas complexas atuais. O que Marx afirma, e Lukács reafirma, é
que a compreensão genética-estrutural da ...... histórico-sistemática de qualquer complexo mais
complexo (e isto não é uma tautologia, não é uma pleonasmo) permite não o conhecimento da gênese,
posto que este (o conhecimento da gênese) opera do passado para o presente. Mas é o conhecimento da
estrutura mais complexa desenvolvida que permite compreender o movimento da estrutura menos
complexa. Lukács fará disso seu pressuposto metodológico.
Conseqüência: L., ao pensar o ser social, partirá do PRESENTE, isto é, do padrão de
sociabilidade alcançado na sociedade tardia capitalista. É o homem de hoje, é a humanidade de hoje, o
ser social de hoje que lhe serve como ponto arquimédio para pensar a constituição do ser social. L. vai
utilizar como ponto de partida, como instrumento teórico metodológico central para compreender
social, um tipo de consideração marxiana que se origina em 1844, atravessa a década de 50 e encontra
inúmeros desdobramentos nos Manuscritos de 57/8, e que finalmente encontra sua formulação mais
enxuta, mais econômica, em O CAPITAL. Estamos falando da concepção marxiana do TRABALHO.
Essas são as duas âncoras que vão fazer com que Lukács construa a sua ONTOLOGIA. Sua
tese básica: o que Marx elaborou nas suas pesquisas posteriores a 1844 é todo um conjunto de
afirmações concernentes ao ser. Para L. isso não significa que a obra marxiana não possa ser
desconstruída (Atenção! L. não usa esta expressão. Ela é minha) em âmbitos constitutivos diversos.
Ele não nega em absoluto que Marx teve uma forte contribuição da Lógica hegeliana, das categorias
lógicas hegelianas para fazer a análise do seu tempo e do seu mundo. Há em Marx um nível de
elaboração especificamente lógico. Para L. todavia, sempre foi absolutamente fundamental reconhecer
que as elaborações lógicas sempre estiveram suportando afirmações concernentes ao SER. Neste
sentido, para L. há em Marx uma preocupação expressa, clara, inequívoca, uma expressa impostação,
uma expressa perspectiva de análise que privilegia o ser. Ou seja, as concepções de Marx dizem
respeito à realidade histórico-social e não primariamente aos instrumentos para conhece-la. L. quanto a
isso é de uma dureza, de uma contundência assustadora.
Polemizando contra as formulações althusserianas, cujo suposto, é o corte epistemológico entre
o Jovem Marx e o Marx da Maturidade, afirma que esse tipo de postulação expressa apenas
IGNORÂNCIA HISTORIOGRÁFICA (e, ponto). ... aí uma leitura que ele chama de
“despreconceituosa” de Marx e indicadora de que as assertivas marxianas têm pertinência ao ser da
realidade. Em função disso, MARX É UM ONTÓLOGO. Dirá Lukács: a preocupação marxiana de
oferecer as bases de uma pesquisa ontológica do ser social não foram por ele inteiramente explicitadas,
ele não tinha essa preocupação. É preciso agora, diz L., quando a tradição marxista se encontra
profundamente ameaçada (De se notar que L. se dispõe a contribuir para promover o renascimento do
Marxismo, para o rompimento com a esclerose estalinista de um lado, com as influências neo-
positivistas de outro lado. É preciso, enfim, voltar a Marx, regressar a Marx, não para repeti-lo mas
para escreves O CAPITAL do século XX).
Neste sentido, para ele, uma sistematização ontológica levando em conta os desdobramentos
que Marx não conheceu, essa sistematização deveria constituir a pedra angular do renascimento do
marxismo. E ele empenhou nisso todas as suas energias no final da sua vida. Ele está dizendo que isso
é importante, e está sempre olhando para o projeto da ÉTICA. O resultado de tudo isso são a
PEQUENA e a GRANDE ONTOLOGIA que não o satisfizeram. A ÉTICA não chegou a ser escrita.
Assim, a preocupação de L. se dirige ao SER. O ponto de partida dele é o PRESENTE em sua
dimensão histórico-universal, como visto anteriormente. Pois bem, vamos agora abstrair esse
PRESENTE (mais adiante veremos como o PRESENTE reaparece). Vamos retomar a démarche de L,
não na sua elaboração formal mas no seu processamento.
Segundo Lukács ..... é preciso uma concepção rigorosamente.r IMANENTISTA e MONISTA
desse SER. Para ser conseqüente, sua teoria é rigorosamente materialista. É mais fácil o Lula realizar o
seu programa de governo que o Vaticano aceitar a ONTOLOGIA de L. O ponto de partida é o
seguinte: nenhuma concessão a qualquer concepção idealista de qualquer espécie. É que
freqüentemente, ao longo da história contemporânea, se fizeram tentativas de incorporar os mais
diferentes referenciais, quase sempre a partir de interesses de conjuntura e de necessidades políticas.
Nos anos 60, na Alemanha, mas especialmente na França e na Itália, como decorrência de mudanças
políticas que afetaram o mundo inteiro, mudou o padrão de relação historicamente estabelecido entre
cristãos, mas nomeadamente católicos, e comunistas. Se passarmos os olhos na crônica político-
cultural dos anos 60, veremos que a partir da Convocação do Vaticano por João XXIII mudam as
relações das esquerdas com a Igreja. Lembremos que é João XXIII o responsável pela primeira
Encíclica – a MATER ET MAGISTER, onde o Papa não se dirige apenas aos católicos. Eu sou de um
tempo em que nas missas terminavam com o padre fazendo uma prece pedindo que Deus iluminasse o
Papa, os Cardeais, os Bispos e além disso que olhasse “ para os nossos irmãos que sofrem nos países
totalitários”. Pois bem, João XXIII é o primeiro Papa que ao promulgar uma Encíclica não se dirige
apenas aos cordeiros do rebanho de Cristo mas “a todos os homens de boa vontade”. Isto significou
muito. Significou uma conjuntura inovadora na União Soviética. Ocorriam mudanças interessantes nos
EEUU. A conjuntura política mundial se desanuviava. É o período do denominado “diálogo entre
cristãos e marxistas”. Toda uma série de pensadores protestantes, e sobretudo católicos, e pensadores
comunistas se estendem as mãos. A demanda política .......... em face de situações de opressão, de
exploração, de violência, católicos, comunistas, espíritas, ateus, evangélicos constituíam um bloco de
ação comum. .... ....a opressão, a exploração, não atingem a comunistas e depois a católicos, a ateus e
depois a religiosos. ... Isso foi muito importante nos anos 60, em função daquele clima de estabelecer
um profundo diálogo do ponto de vista político, e não apenas do ponto de vista político prático, para
cooperações de natureza eleitoral, mas do ponto de vista estratégico, uma vez que há amplos
segmentos de variadas expressões do cristianismo que propunham uma sociedade mais justa, mais
decente, e por aí afora.
Nos anos 60 isso foi muito forte. Em face disso L. foi muito claro. Afirmava ele:frentes políticas
são fundamentais, mas não há que fazê-las ao custo de concessões teóricas. É preciso que os
pensadores cristãos ao entrarem nessas frentes continuem sendo reconhecidos como cristãos e não
sejam penalizados por isso, e que pensadores comunistas, marxistas, continuem sendo marxistas,em se
enganarem uns aos outros.
Faço essa menção porque a partir daí, em nome do diálogo e da ação comum começou-se a
querer combinar Marx com Jesus Cristo. Esse resultado quase sempre, do ponto de vista teórico,foi um
desastre, por mais generoso que ele seja do ponto de vista político. Atenção ! O problema não está na
Política, o problema está no domínio teórico. E parece que boa parte desses dilemas .... de maneira
muito intensa na América Latina pela chamada Teologia da Libertação, onde seus pensadores mais
avançados quase todos eles comprometidos com transformações sociais substantivas, alguns teólogos
que conheço, por exemplo, que são no fundo, do ponto de vista teórico, comunistas (vide o
extraordinário Gustavo .......... e outros). Desse ponto de vista essa interação foi fecunda, quebrou
preconceitos de todos os lados. Mas isso no domínio da Teologia da Libertação foi muito complicado
porque no domínio da sócio-análise os teólogos da Libertação ............ não se transformaram em
marxistas, até porque para a Teologia da Libertação a categoria histórica fundamental de análise é a
categoria de “opressão”, enquanto que para Marx é a categoria da “exploração”. Mas toda uma série de
interfaces foi aí estabelecida. A pergunta: como combinar ...... uma concepção transcedentalista ? O
Vaticano quanto a isso nunca teve dúvida. Sempre teve clareza (Atenção! Eu não estou aqui fazendo –
longe de mim, a defesa da hierarquia vaticana), mas ela sempre teve clareza de que quando você
começa a corroer os princípios de uma perspectiva que não é imanentista no domínio da teoria política
ela acaba invandindo o conjunto de concepção teológica e erodindo, as concepções que no domínio
da ... sustentam a noção cristã do Deus Criador.
Lukács sempre teve muita clareza de sua concepção ontológica como imanentista e monista.
Ao falar de concepção monista, L. põe o SER que é unitário. Atenção! Ao afirmar a unitariedade do
SER Lukács está ao mesmo tempo afirmando a sua enorme diferenciação. Unidade é unidade de
diversos, não é unidade de iguais. Unidade de iguais é identidade. Para L. o SER é unitário, uma
estrutura histórica. Mas cuidado com a noção de “histórico”, ela quer dizer aqui apenas o seguinte: que
apenas trata-se de uma estrura movente e mutável. .......Para L. esse SER é eterno. A sua estrutura é
plenamente mutável, mas esse SER é eterno. Como é que ele muda, como é que ele pode mudar
substantivamente as suas estruturas é um problema que não cabe à Filosofia, cabe à Ciência. Para L.
fazer a abstração do SER tal como ele existe é cair na especulação absoluta. É da maior importância
para podermos incorporar as concepções ontológicas de Lukács pensar esse “histórico” aqui apenas no
seguinte sentido: é uma estrutura eterna enquanto existente mas ela é movente e mutável, é só isso que
significa “histórico” aqui. Dirá ele: num processo histórico entendido dessa maneira, de largíssimo
curso, mas de larguíssimo curso, que se mede numa escala que vai muito além dos bilhões de anos, este
SER, o SER INORGÂNICO, apresentou uma diferenciação que se nos revela, hoje, com altíssima
complexidade e diferenciação. ................ só o primeiro nível, somente o nível daquelas estruturas que
não dispõem da possibilidade de se reproduzirem. Trata-se de estruturas moventes através de um
sistema de forças que em absoluto lhes é controlado, que lhes escapa. Essas estruturas se movem sem
nenhum controle de sua parte , .......... uma reflexidade ........... porque não há uma nenhuma
possibilidade de autoreprodução. Dirá Lukács: hoje nós conhecemos esse nível de SER revelando uma
enorme complexidade, no fundo da qual está o esquema de estrutura atômica da matéria . Não é
preciso fazer grande esforço, ser conhecedor profundo de química e física, para se ter em conta a
extrema complexidade dessas estruturas. Mesmo depois das pesquisas de Rutherford, das pesquisas
relativas à fusão e à fissão atômicas havidas lá pela década de 30 do século passado, mesmo assim nós
ainda não conhecemos essa estrutura elementar, ela nos escapa. Esse aqui é um dos níveis do SER.
Sua peculiaridade: não é capaz de autoreproduzir-se. O que não quer dizer que ele, lembrem-se nossa
anterior caracterização, não seja nem movente nem mutável. Ele não dispõe de nenhum mecanismo de
reflexividade que lhe permita controlar ou direcionar suas mudanças.
Dirá Lukács: é a partir desse nível, através de um processo de mutações que nós desconhecemos
até hoje, que emergirá um segundo nível do SER, o SER ORGÂNICO. Mas, atenção! O SER é
unitário, é uma unidade de diferenças. O que é, à partida, algo indiferenciado, num processo que
sequer se mede por escala de milhões e milhões de anos, vai progressivamente apresentando uma
diferenciação. Este segundo nível é impensável sem o primeiro. Mas a recíproca não é verdadeira. ....
As estruturas orgânicas emergem das estruturas inorgânicas, mas passam a configurar estruturas
substantivamente distintas das anteriores, porque têm a capacidade .............................
Do SER ORGÂNICO PARA O SER SOCIAL. Se já havia na passagem da natureza inorgânica
para a orgânica uma exponencial complexidade, mais exatamente, um aumento exponencial da
complexidade estrutural, agora, esse exponencial se exponencializa. Assim, L. vai-se referir ao SER
SOCIAL como o complexo de complexos. Se trata de um complexo constituído de complexos.
Duas outras observações:
(1ª) Há cinco anos estava eu com amigos na PUC de S.P. e abri um convite para um Seminário
cujo tema era O PENSAMENTO COMPLEXO, fundamentalmente retomando as obras do pensador
francês ................. As pessoas estavam fascinadas com a idéia de PENSAMENTO COMPLEXO, isso
fazia furor. .............A idéia era desenvolver a questão da complexidade contra o que seria O
SIMPLISMO DA TRADIÇÃO MARXISTA. !!!!!!!!!!!.
(2ª) Mas do que em qualquer outro nível L. reafirma aqui a absoluta impossibilidade de redução do
SER SOCIAL aos seus necessários suportes orgânicos e inorgânicos. Se o SER ORGÂNICO é
irredutível ao SER INORGÂNICO, por razões ainda mais fortes essa irredutibilidade passa aqui.
Passemos à questão da peculiaridade do SER SOCIAL. Aqui eu tenho a máxima complexidade. É um
complexo de complexos, resultado de uma evolução histórica, naquele sentido original – estrutura
movente e mutável, de alguns bilhões de anos. Com mecanismos e passagens que ainda não elucidamos
e que talvez nunca venham a ser elucidados. Esse complexo de complexos interdita qualquer tipo de
concepção de totalidade à base da relação sistêmico-funcionalista, onde você tem um conjunto de
partes que se integram num todo. Aqui não há parte. A noção de complexo de complexos leva à noção
de uma totalidade constituída de totalidades. O que distingue as totalidades é a sua maior ou menor
complexidade, mas todas elas ignoram o simples. Para L. só no limite da gênese do SER
INORGÂNICO se pode encontrar o simples. A partir desse movimento não há simplicidade. .... são
estruturas crescentemente complexas e diferenciadas, até que se chegue ao complexo de
complexos. ...........
Lukács está aqui perante uma dupla determinação: lº quer determinar como se dá esse salto, 2º
o que neste salto permanece como elemento estrutural desse complexo de complexos. Se ele conseguir
fazer isso ele vai ter a condição de falar da peculidades do ser social, ou seja, daquilo que peculiariza a
estrutura antropolótica e por conseqüência vai poder pensar a ÉTICA como uma dimensão específica
do SER SOCIAL. E assim remeto vocês à nossa discussão inicial. Que caminho ! Para trilhá-lo foram
gastas milhares de páginas, alguns anos, e nem por isso há uma solução final. Só trilhando esse
caminho se poderá dizer porque a ÉTICA é uma dimensão exclusiva do SER SOCIAL. Adiante
buscaremos caracterizar esse SALTO.
Anteriormente eu esquematizei o pano de fundo sobre o qual L. vai discutir o ser social.. Ele tem
clareza que lhe faltam conhecimentos específicos, que o estoque de conhecimentos necessários para
fundar em detalhes as passagens do mundo inorgânico ao orgânico ainda são muito insuficientes. Ele
se vai deter substancialmente na passagem do mundo orgânico ao social. E mais: ele além de insistir na
irredutibilidade do social ao orgânico ele chama atenção para o fato de que essas distinções se dão no
marco de uma unidade substantiva.

Indagações:
1) Sobre se Leandro Konder e a visão a respeito da Metafísica antes criticada.
Eu mencionei apenas apenas como um exemplo um livro de divulgação. Leandro é um profundo
conhecedor da obra Lukács e produziu livros reconhecido na cultura brasileira. Utilizei o exemplo
apenas para mostrar que, tendo o livro vendido mais de 100 mil exemplares, o livro e o que ele
veicula já fez inúmeras cabeças. Mas Leandro é um pensador que não pode ser avaliado por esse
livro. Mas eu não conheço nenhuma obra dele onde ele tematize especificamente isso. Mas você
encontra uma série de outros autores que escapam dessa visão que, aliás, não é do Leandro. Na
verdade ele retomou a visão de um clássico, que é Engels, mas que é, penso eu, muito infeliz.

2) Sobre funcionalismo
Toda a concepção funcionalista é sistêmica, mas nem toda concepção sistêmica é funcionalista.
Essa é uma questão importante. O pensamento social da modernidade todo ele pode ser concebido
como um pensamento sistêmico. Se você entender como pensamento sistêmico a concepção de
que a sociedade é uma rede de relações que constituem um sistema. Marx é sob esse aspecto um
pensador rigorosamente sistêmico. E mais: há em Marx análises funcionais. É preciso distinguir
funcionalismo de emprego de análise funcional e distinguir concepção da sociedade como um
sistema de funcionalismo. Em Durkheim você tem uma concepção sistêmico-funcionalística que
vai inaugurar, na sociologia e na antropologia, toda uma enorme tradição, a tradição da sociologia
francesa, da sociologia estrutural funcionalista (pensem em Parsons nos EEUU) . Aí você tem uma
concepção sistêmico-funcionalista. Mas eu diria que uma das conquistas do pensamento social da
modernidade é a concepção de sistema social. Só isto de per si não qualifica uma perspectiva como
funcionalista ou não. Importante: as pessoas costumam identificar funcionalismo com posturas
conservadoras. O que é um equívoco. A tradição norteamericana estrutural-funcionalista registra
pensadores extremamente conservadores, por ex. Parsons, mas registra funcionalistas, do ponto de
vista político e ideológico, extremamente avançados. Só para lembrar ?????...., importante
sociólogo e jornalista norteamericano e um progressista político. Quem não faz essas distinções
freqüentemente acaba incorporando um funcionalismo de esquerda como se fosse tradição
marxista. É preciso insistir que houve uma contaminação radicalmente funcionalista dentro da
tradição marxista. Quem quiser discutir isso com mais vagar, há um interessante livro do
ALVIN ????, “A crise da sociologia ocidental”, onde ele vai mostrar como a sociologia
desenvolvida nos anos 60 na URSS (estamos falando sobre uma sociologia que reivindica o
marxismo) como ela é radicalmente funcionalista. É preciso caminhar com cuidado nisso para não
colocar o carimbo de sistêmico a qualquer funcionalista. Quem lê Marx com cuidado sabe que
Marx faz inúmeras análises funcionais, e nem isso caracteriza funcionalismo. E nem
funcionalismo é imanentemente, do ponto de vista político, conservador. Há uma imagem, um
esteriótipo segundo o qual os funcionalistas são conservadores. Isso é uma tolice monumental.
Quando ao marxismo: você conhece obra teórica como concepção sistêmica mais clara do que O
CAPITAL ? Mas ( atenção !) isto não significa funcionalismo. Chamo atenção do seguinte: o que
é próprio do pensamento social da modernidade – e isso vale para Marx, vale para Durkheim, é a
compreensão da sociedade como um sistema articulado de relações. Isso é uma conquista. Eu não
penso que haja nenhum sociólogo sério que questione essa idéia. O problema está no tipo de
análise que se faz das condições de determinação, sobredeterminação, infradeterminação dessas
relações. É uma conquista do pensamento social da modernidade a compreensão de que a
sociedade é um sistema de relações. Mas essa idéia que “parece” estar muito desenvolvida por
aquele membro do Partido Socialista Francês e Espanhol, Manuel Castels, é vista como uma
novidade nas Ciências Sociais. Eu não sei se está no 20 º ou 25º volume a edição A SOCIEDADE
EM REDE. Quem acha isso uma novidade desconhece inteiramente o pensamento social moderno.
Em matéria de teoria social, antes da ONTOLOGIA, a última novidade é de 1920. É a morte do
Weber. Porque 99% das coisas que são apresentadas como o “dernier cri” nas Ciências Sociais não
tem menos do que 120 anos. Em qualquer caso, isso faz sempre o sucesso de um verão acadêmico.
Porque os estudantes – para não falar dos professores, são profundamente ignorantes da tradição
sociológica, e tomam essas coisas como uma novidade. Há dez anos a Teoria das Representações
Sociais começou a fazer furor. Hoje, acho, ninguém mais fala nisso. ´Por tudo isso, eu cheguei
num estágio da minha vida em que a mim me é mais útil, aprendo com Hegel, lendo-o pela
centésima vez, do que lendo a última tese da Academia Francesa. Então eu parei de ler esses caras.
Vou reler primeiro a Divina Comédia de Dante para depois cuidar. Por exemplo, o primeiro cara
que tentou substituir a Teoria das Ideologias por uma Teoria das Representações Sociais foi
Durkheim, que tem um ensaio a respeito de 1897. Vocês já observaram, por exemplo, que ninguém
mais fala de Ideologia ? Essa é um conceito do século XIX. E por aí afora. Aqueles que realmente
querem levar a sério a empreitada do conhecimento têm de se vacinar contra essa monumental
picaretagem em que se transformou o terreno das Ciências Sociais. Um detalhe: eu sempre brinco
que eu gosto de começar minhas aulas na Graduação, no primeiro dia (aliás é na Graduação que a
gente deve primeiro aplicar a vacina), me apresento assim: Sugiro que vocês leiam em alemão.
Vou dar um curso para que vocês sejam capazes de na interface das interveniências dos domínios
do cultural, do ético e do político, percebam como a crise paradigmática é algo hoje transversal
a ...” Aí eu paro e pergunto: “Vocês entenderam ?” Não entenderam ? Mas não era para entender
mesmo, isso é parlapatice. Agora se eu entro numa sala de aula e digo que a raiz quadrada de 49 é
8, os alunos me botam para fora. Mas se eu entro numa sala e digo que “ há uma especificidade noo
olhar científico, na mirada, na visada teórica” , os alunos não fazem nada. Por isso eu estou
fazendo o meu retiro em Simão Pereira todo o final de semana porque é muito complicado brigar
com isso. Mas isto que eu estou caricaturando aqui passa para além da crise paradigmática. O que
é que a gente vai fazer ?
Nós temos casos em que mesmo intelectuais contemporâneos sérios (não estou falando de
picaretas) são capazes de barbaridades. Todos conhecem a estória do REI NU. Um mdos
intelectuais dos mais sérios da Europa Ocidental, com ampla passagem , tão ampla que um dia
antes da eleição publicou um artigo dizendo que se fosse brasileiro votaria no Lula, o
BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS. Pois bem, ele escreve um livro que é respeitadíssimo –
INTRODUÇÃO Á CIÊNCIA PÓS-MODERNA, onde Gramsci não é citado nem uma vez, em que
o eixo da tese é o seguinte: é necessário, na concepção científica pós-moderna, não mais apenas o
primeiro corte epistemológico, aquele através do qual você corta com o senso-comum. Segundo
ele é preciso um novo, um segundo corte epistemológico, aquele através do qual você rompe com a
ciência para ingressar no senso-comum” !!!!!!! Essa é a tese do livro, além de dois outros capítulos
imcompreensíveis, sobre hermenêutica. Você lê, não entende nada, mas faz questão de dizer que
entendeu. Pois bem, essa tese é a velha gramsciana de que cabe à Filosofia voltar ao senso comum,
criar um novo senso comum. Ora, Gramsci disse isso há 50 anos. O livro do Boaventura de 80.
Essa é uma das razões porque Lukács está FORA DE MODA. E ele vai continuar fora de
moda. Porque ele tem a coragem de referir-se a tudo isso como pura especulação. Essas modas do
“olhar” não acrescem nada, mas fazem um enorme sucesso, ensejam teses acadêmicas, projetos do
CNPQ, Congressos no exterior. E ainda se pergunta porque as Ciências Sociais passam por essa
enorme crise de DESLEGITIMAÇÃO. É claro que passam. Não se estuda mais o sistema de
causalidades que gera a pauperização. Sociólogos, antropólogos, cientistas sociais estão estudando
as representações da pobreza. Ao diabo com isso !
Eu venho de uma discussão teórica onde eu ouvi uma das maiores autoridades da
Academia Brasileira dizer que a categoria IMPERIALISMO está inteiramente superada. Disse isso
e recebeu aplausos, encômios vários. Nós temos um limite para brigar com a realidade ! Essa
gente se estapeia com a realidade. Na verdade não se estapeia porque a realidade não existe para
eles. O que fazer ?
Eu achei curioso, quando lá atrás eu disse que para Lukács as assertivas marxianas se
referem à realidade, achei curioso que ninguém aqui me houvesse perguntado : “Mas o que é o
real ?”. O real hoje virou um problema. Uma das características mais importantes da cultura
contemporânea é essa hiper semiologização do real. Para quem tem esse tipo de dúvida
recomenda-se, nesses dias, que guarde reais, não compre dólares, é só representação isso que se vê
hoje no mercado financeiro. Trata-se de uma questão de visada, de olhar. Você atravessa a rua e cai
um tijolo na sua cabeça e talvez você pergunte o que é a realidade.
Eu fico muito honrada de ver a demanda com relação a esse curso que nós estamos
oferecendo, e disse isso ao Carlos Nelson. Mas isso é inteiramente atípico. Essa discussão não
passa pela Universidade. Lukács é hoje um pensador morto na universidade brasileira, morto ! A
universidade brasileira se interessa pelo jovem Lukács. Fazem-se teses sobre a TEORIA DO
ROMANCE, sobre A ALMA E A FORMA. Mas o último Lukács, que fala o que vimos ... Mais
atrás, eu brincando dizia na minha exposição: “Parece que o Lukács discursa do Himalaia da
abstração”. Não ! Ele está falando do mundo contemporâneo. Só que ele deixa para você o
trabalho de processar a realidade contemporânea. Exemplo: a questão quanto a impossibilidade de
se extrapolar de um nível para o outro do ser. L. está preocupado é com o Nazismo, com o
Fascismo, com o Racismo, que são realidades candentes no mundo contemporâneo. Não é só a
experiência de janeiro de 33 na Alemanha, não. Esse tipo de elaboração hoje na Universidade não
tem lugar, não tem espaço. O que são as teses hoje ? O que é que se pede de uma tese ? Que ela
tenha uma ideiazinha que seja repetida ao longo de no máximo 150 páginas. Escrever uma tese de
300 páginas é uma escândalo, uma barbaridade. O ideal hoje são certas teses com um “olhar
antropológico”. Assim: além daquela apresentação em que você agradece ao orientador, sem o que
não haveria a tese, agradece à Bolsa do CNPQ ou da CAPES, aos companheiros de departamento
“que me liberaram para essa tão importante aventura científica. O primeiro capítulo é uma
Introdução que normalmente se faz mal: o estado das artes, uma revisão bibliográfica. Primeiro
capítulo: As angústias do sujeito em face do objeto. Ronaldo Sacramento Coutinho formaliza isso
com um brilhantismo a toda prova, com uma ironia cortante dele. O segundo capítulo é O Diário de
Campo. E o terceiro, segundo o Ronaldo: Sugestões para novas pesquisas.
Isso é sinal de que a intelectualidade está cortada dos problemas fundamentais da vida
do seu povo. Alguém dá um arroto lingüístico na margem esquerda do Sena, e seis meses depois
isso é objeto de Seminário no Brasil. De repente esse alguém é assaltado na Linha Amarela. E ele
descobre que existe violência aqui. Oh ! Pobre não é uma categoria . Pobre armado e com
desrespeito ao direito de propriedade ! Oh! Que horror ! E o pior é que essas especulações são
feitas com o dinheiro público, com o meu dinheiro.
Outro exemplo: eu fui convidado a participar de uma banca de defesa de tese na ECA,
da Universidade de São Paulo. Eu não estou falando da Veiga de Almeida, observem. Uma moça,
naturalmente muito bonita, fez uma tese sobre os incidentes de Leme, ocorridos em 1986 , em
plena campanha eleitoral, há um movimento dos sem- terra, um confronto com a polícia e morre
um sem-terra. Imediatamente instaura-se um rigoroso inquérito que provou que o sem-terra foi
morto por outro sem-terra e que a Polícia de São Paulo nada tinha a ver com aquilo.
Posteriormente houve um longo processo, que percorreu várias instâncias, e se chegou à conclusão
de que a vítima morrera sim por força de um tiro dado pela Polícia. Isso demorou anos. Pois bem:
a moça estudou durante 4 anos, desde o evento até a solução jurídica, os Jornais Estado de São
Paulo e a Folha de São Paulo. Ela pesquisou todas as matérias sobre esse assunto. E fez uma
análise de 400 páginas. A conclusão: a imprensa burguesa mente sobre o MST.
Intervenção de aluna: O senhor vai ficar ainda mais triste com o caso adiante, revelador da
falência da apologia da economia política burguesa: o Prêmio Nobel de Economia foi conferido a
alguém que, após um experimento em laboratório, cristalizado naturalmente numa fórmula
matemática, provou que investimentos que dão menos rentabilidade, mas são seguros, são
preferidos pelos investidores aos que, embora de maior rentabilidade, oferecem mais riscos. Essa
foi a tese que mereceu o Prêmio Nobel de Economia !!!!!
Retorno ao professor:
Mas nisso se revela o mesmo procedimento. Atenção ! Com isso eu não quero dizer que os
resultados da pesquisa científica têm de necessariamente contrariar a experiência histórica. Não é
essa a crítica que eu estou fazendo. O que eu estou afirmando é que entre l987 a 1991 alguém se
dedicou a provar, novamente, que a imprensa burguesa mente sobre o MST. Lembro que quando se
comentava sobre isso eu disse:”Pelo menos chegou-se a uma conclusão real”. Só que foram 48
meses de bolsa, caramba !
Intervenção de aluna: (pouco audível) A aluna relata sua experiência como jornalista e se
insurge de certa forma contra a intervenção do professor, sublinhando a coragem da moça e a
necessidade de valorizá-la.
Retorno ao professor:
O exemplo da administração .... ???? O exemplo antes trazido do Prêmio Nobel é um pouco a
radiografia de como anda o mundo intelectual hoje.
(Aluna protesta quanto ao que seria, na intervenção do professor, a responsabilização dessa
situação aos alunos).
Professor retorna dizendo que também os professores são responsáveis por isso.E continua:
Se começamos a pegar essas pequenas banalidades que são infladas por vocabulário no mais
das vezes incompreensível, aliás feito para ser incompreensível, você cria uma pseudo-ciência, uma
pseudo-filosofia, uma pseudo-sociologia, uma pseudo teorização a partir do Serviço Social e o
resultado é esse: A DESLEGITIMAÇÃO DA INTELIGÊNCIA. A inteligência deixou de procurar
pesquisar o real e passou a se AUTOLEGITIMAR. É um desastre.
Aluna (pouco audível) : Sobre a Metafísica.
Professor: Há uma ontologia idealista e uma ontologia materialista. Durkheim, por exemplo,
desenvolve uma crítica a Comte. Comte lançou as bases para que pensemos cientificamente a
sociedade, mas ele, tendo se proposto a isso, não foi capaz de realizar o seu programa, precisamente
porque ele era um metafísico. Há nele uma metafísica positivista . Ou seja: essa colocação
pejorativa da Metafísica, que tem um peso particular na tradição marxista, não está apenas na
tradição marxista. Encontraremos entre os neo-positivistas a concepção de que Marx é um
metafísico. O mesmo Durkheim com a mesma crítica, com a mesma crítica pensa Marx, não apenas
Comte. Qualquer dimensão ontológico-filosófica passa a ser, para a tradição (não para a Escola)
positivista e neo-positivistas, formas metafísicas . É que a partir do séc. XVIII a palavra Metafísica
deixou de recobrir o que vem lá da filosofia clássica e passou a recobrir também qualquer forma de
pensamento que a juízo do leitor fosse especulativa. Embora os neo-positivistas travem um
sistemático combate contra qualquer concepção ontológica, e o fazem conscientemente, ou seja,
sabem porque o fazem.

Aluno: Pede indicação bibliográfica sobre História da Filosofia.


(O professor se compromete a trazer materiais, insistindo para os seguintes fatos:)
Existem boas Histórias. Não servem as tradicionais Histórias Marxistas posto que todas elas
central o fogo nessa senhora pobre coitada que é a Senhora Metafísica que, coitada, não tem culpa
nenhuma da estória.
Aluna:
Moral da história é a necessidade do rigor das palavras. Lênin tem um texto em que discute essa
questão. Afirma-se que há excesso de discussões que se prendem ao uso das palavras. Ele diz da
importância do uso preciso das palavras, uma vez que há sutilezas no emprego das palavras que
devem ser resolvidas com precisão. Em defesa do Engels diria que é necessário fazer a análise da
categoria inserida no hic nunc em que ela é utilizada. Se é bem verdade que a categoria é originária
de Aristóteles, e tinha um determinado significado, é preciso também ter em conta que os
“discípulos”, os epígonos de Aristóteles que dela fizeram uso na Idade Média acrescentara a ela um
plus, no caso um plus negativo que a ela se incorpora. Aliás, Lukács chama atenção, na
ONTOLOGIA, para o fato de que não se pode confundir o pensamento de Aristóteles com o
pensamento dos aristotélicos da Idade Média. Portanto o Engels quando se refere à palavra
Metafísica ele está se referindo à corruptela dessa Metafísica na Idade Média.
Professor: Você está fazendo uma defesa de Engels e é claro que ele não pode ser reduzido a
isso.
Aluna:
Mas a moral da estória é essa. A necessidade de o cientista de trabalhar com categorias
rigorosas. E isso também um dos grandes problemas da Ciência na atualidade. Não dispomos de
uma unidade metodológica e não temos uma uniformidade categorial, de tal maneira de que o que
um chama de mesa o outro chama de cadeira. De tal sorte que nesse espaço vive-se uma verdadeira
Babel, onde todos se falam mas poucos se entendem, porque as categorias não estão minimamente
unificadas, chamando a atenção para o fato de que o que unifica as categorias não uma combinação
prévia, uma simples convenção, mas é extraí-las do referente REAL (“As categorias são formas de
ser, determinações da existência”).
Professor: È precisamente isso que está em questão hoje. Vejamos o Habermann: é o consenso
que determina ...
Aluna:
Retornando à sua crítica a respeito da forma como as teses são elaboradas na Universidade, e à
intervenção da colega que protesta uma vez que o senhor estaria atribuindo esses desvios aos
alunos, eu gostaria também de atribuir essa responsabilidade à instituição e aos pseudo-mestres,
Considero eu que no século XXI, vivendo nós uma realidade exonencialmente complexa, onde
o real é exponencialmente complexo, ainda se fazem teses individuais como eram feitas no século
XIX. Os tesistas abrem uma pequena gavetinha da realidade, e tematizam sobre questões
parcialíssimas, o senhor mesmo trouxe exemplos nesse sentido tratando das teses que falam dos
“olhares”. Cada indivíduo que se propõe a elaborar uma tese abre uma pequena gavetinha para
descobrir a legalidade daquele pequeno objeto. Resultado: fantástica fragmentação, gastos enormes
para financiar tais estudos. E é uma verdadeira Babel. Como é possível em face da complexidade
do mundo tenha chegado a esse nível exponencial, para usar as suas palavras, sem que, pelo menos
se se pretende constituir uma universidade séria, se adote o procedimento da produção científica
coletiva ? Só coletivamente. E como ? Selecionando um objeto comum cientistas de diversos
campos, portadores de conhecimento acumulados em seus campos específicos – o economista, o
historiador, o psicólogo, etc. se debruçam sobre o mesmo, cabendo ao Mestre, na verdade um
Maestro, assume a função de afinal o método, as categorias, as vozes, e produzir a síntese, que o
que a Grande Arte faz quando um Maestro dirige uma grande Sinfônica.
Professor: Mas essa instituição não tem essa pretensão. Ela é feita para produzir um trabalho
microscópico, individual, fragmentado.
Aluna:
Então o que há é que nós fazemos de conta que estamos fazendo Ciência. O Estado faz de conta
que o trabalho produzido foi científico. Ou seja, a gente vive de faz-de-conta. A gente vive
realmente num mundo que é irreal. É por isso que o pós-moderno tem tanto espaço. É porque nós
realmente vivemos e reprozimos esse irrealismo nesse faz-de-conta,
Professor:
A universidade não é uma instituição feita para produzir coletivamente, definitivamente não é.

Aluno: Pede aclaramento sobre o salto inorgânico-orgânico


Há uma passagem que sem impedir a existência de vínculos de continuidade - que são tantos
mais intensos quanto mais reificada é a dependência ontológica do orgânico ao inorgânico, há um
SALTO entre um sistema categorial que inexiste antes, o da AUTOREPRODUÇÃO. Os seres
orgânicos se reproduzem. Eles têm princípio vital. Isso altera completamente a constelação do
orgânico. O orgânico tem a faculdade, a propriedade de se reproduzir. Como se deu esse salto ?
Esse é um problema exclusivo da Ciência. Já há hipóteses, inclusive algumas bastante plausíveis
Aqui o domínio é o da plausividade. A possibilidade de verificação é discutível. No nosso estoque
contemporâneo o que temos são hipóteses, algumas plausíveis, como disse. Esse é um campo onde
o conhecimento vai avançar sempre mas o aumento da margem de
conhecimento ..............?????????

.. L. dirá. Em que implicará essa atividade ? Vai implicar uma legalidade que não é
orgânica. ....... que o exercício desta atividade supõe que o seu agente, antes de se por a executa-la,
exercita-la, ele prefigura a finalidade. Se há uma finalidade posta é evidente que o agente que a
realizará antecipa essa finalidade. Sartre chamava isto de PROJETO. L. chamará isto pré-ideação.
Significa de qualquer maneira uma antecipação. Isso implica mais: uma crescente rede de mediações
entre o agente e o objeto sobre o qual ele vai atuar, na medida em que não se obedece mais a um
conjunto de condicionalismos orgânicos. Grosseiramente: entre o João-de- barro e a casa que ele faz
(porque o fazer essa casa é uma programação genética) não há nenhuma mediação. É uma forma de
intervenção, uma forma de modificação de expressões fenomênicas do ser que não de manda do João-
de-barro nenhuma mediação sobre a matéria em que ele incide (e essa afirmação se aplica a todas as
espécies orgânicas). Mas aqui, no ser social, não. Resultante disso: .. que em sendo constituído de
matéria orgânico-natural não é um dado orgânico, logo não é uma extensão do agente, é outra coisa. O
que está em jogo aqui é que quanto o agente atua ele está escolhendo, está priorizando. Quando ele se
vale de uma mediação e não de outra ele está valorando. P. L. escolher entre alternativas chama-se
LIBERDADE. Liberdade é a possibilidade de escolher entre alternativas concretas. Estou falando de
valor e liberdade. Esse dado que não é nem orgânico nem inorgânico, mas é de outra ordem, ele não é
um prolongamento do sujeito, do agente. Atenção! Subsiste ao agente, dispõe de uma
OBJETIVIDADE que é independente do agente. É por isso que o produto dessa atuação não é o valor .
O produto pode sim ser valorado, mas não é o valor. A esta atividade que envolve estas categorias L.
chamará SALTO DO ORGÃNICO PARA O SOCIAL. Aí L. vê o PROCESSO DE TRABALHO. É
aqui que ele está ancorado.
Quais as implicações disso ? L. dirá: quanto mais se afirma este nível do ser para aquela
espécie orgânica que permanecerá ineliminavelmente orgânica, o efeito desse processo será o de
reduzir cada vez mais o peso das determinações inorgânicas-orgânicas, ou seja, o peso das
determinações naturais. L. tematizará o insigth marxiano segundo o qual o desenvolvimento do ser
social implica um contínuo RECUO DAS BARREIRAS NATURAIS. Esse empurrar as determinações
naturais é perene mas jamais chegará a suprimir as determinações naturais. Nos estamos aqui no
momento de emergência do SER SOCIAL.

Quando L. estudar a autonomia desse produto em face do sujeito, ou seja, vai insistir na
OBJETIVIDADE DO OBJETO , é aí que ele vai fundar a possibilidade da subjetividade. Diz-se: “ Eu
posso dar muito porque eu sou interiormente rico”. Remeto a um livro chamado ALFABETO que li
esses dias. A ótica do livro é justamente a acima apontada. A ótica adequada é inversa: “Eu só posso
ser muito rico interiormente se eu for capaz de, ou melhor, se eu puder incorporar a riqueza produzida
pelo meu grupo” (e grupo aqui chama-se Humanidade). Aqui, a riqueza dos agentes, dos sujeitos ,
depende da riqueza das objetivações. Só pode ser subjetivamente rico quem puder se apropriar das
múltiplas objetivações. “Puder” porque L. aqui não está trabalhando em sociedades onde há igualdade,
ele está trabalhando com sociedades por antagonismos e conflitos de classe. Pergunto: Quantas vezes
vocês foram este ano ao Municipal assistir a uma Ópera ? Muito possivelmente não foram, e uma das
razões é o alto preço das entradas.

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