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A ética do resultado

Tom Coelho
“Fins éticos exigem meios éticos.” (Marilena Chauí)
A geração Y possivelmente nunca ouviu falar de Gérson de Oliveira
Nunes, jogador de futebol que integrou a equipe campeã mundial em
1970. Seu nome ficou eternizado quando, em 1976, protagonizou uma
propaganda de cigarros na qual, após desfilar os diferenciais do
produto, proclamava: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve
vantagem você também”. Assim nasceu a “lei de Gérson”,
amplamente estudada por sociólogos e antropólogos, utilizada para
designar a natureza utilitarista do brasileiro. A estabilidade econômica
advinda com o sucesso do Plano Real (1994), associada às políticas
de transferência de renda da última década, conduziram-nos ao
mercado de consumo. Experimentamos com uma defasagem de 50
anos o que norte-americanos vivenciaram em meados do século
passado. O controle da inflação e a expansão do crédito fizeram-nos
descobrir o prazer de comprar. E isso modificou nossos padrões
éticos.
Em ano de eleições esta constatação é cristalina. Não importam os
escândalos e desmandos de governos, em todos os seus níveis,
revelados pela imprensa. Pouco importa a biografia dos candidatos.
Torna-se insignificante a história dos partidos e os conchavos entre as
legendas. A sociedade está anestesiada, porque foi entorpecida pela
ética do resultado. Nas escolas privadas, estudantes deixaram de ser
aprendizes para se tornarem clientes. Assim, pagam uma
mensalidade como quem compra um diploma em suaves prestações,
exigindo não a qualidade de ensino, mas sim as facilidades para
serem aprovados. Vale a pretensa inclusão no mercado de trabalho.
Nas empresas, fala-se em sustentabilidade e responsabilidade social,
mas o caixa-dois e a sonegação fiscal são ostentados como
imperativos para a competitividade. Vale a manutenção do lucro na
voraz economia de mercado. Os cidadãos criticam e queixam-se dos
abusos praticados pelos políticos e pelo serviço público, mas não
hesitam em trafegar pelo acostamento, pedir desconto ao dentista
para realizar um tratamento sem emissão de recibo ou mesmo obter
uma carteirinha de estudante forjada para garantir desconto em
eventos culturais. Vale a garantia de um benefício pessoal.
Dentro deste contexto, ressurge o princípio maquiavélico de que os
fins justificam os meios. Isso explica nossos comportamentos e
nossas escolhas. Mas também denota nossos valores e nossa
omissão – ou conivência. Todo processo eleitoral é emblemático para
aflorar discussões desta estirpe, porque independentemente da
retórica dos candidatos, do tempo de exposição na mídia ou dos
recursos financeiros envolvidos em uma campanha, a decisão final é
do cidadão que, solitária e sigilosamente, sentencia seu futuro e o da
nação diante da urna. Muito valor é dado às eleições majoritárias, ou
seja, aquelas que elegem presidente, governadores, prefeitos e
senadores. Mas é importante alertar para a relevância extrema das
eleições proporcionais, isto é, a que seleciona deputados e
vereadores, pois são estes os que mais próximos estarão do eleitor. A
“lei de Gérson” não sucumbiu, mas apenas ganhou nova roupagem.
Precisamos resgatar a ética da intenção em contraposição a esta ética
do resultado. Urgentemente.

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