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 seguir de tão perto, a ascultar-se a si mes- Sentiu-se visado? se define pela capacidade de tudo devo-
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU mo. Por outro lado, culturalmente, isto Não, não senti que fosse um dos alvos dele. rar. Por isso, também o autobiográfico
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 também nos mostra como, com a nossa O diagnóstico que ele fazia não acho que integra perfeitamente.
CSVOPHPODBMWFT!JPOMJOFQU autosuficiência provinciana, enquanto por me inclua. Aquilo que tenho escrito está Por outro lado, um dos seus princípios é
cá engolíamos as recomendações do que em diálogo com autores como Proust, ou a forma como faz uso da imaginação, e
Talvez nem praguejando se consiga ir lon- é nacional, Elietes e demais “Emmas des- seja, é uma literatura que tem um nível não vive sem a capacidade de criar
ge o suficiente, nem com a boca cheia das flaubertizadas”, do outro lado da frontei- autobiográfico, mas que não serve para algum grau de autonomia face à
asneiras mais grossas, como quem se exal- ra, ao invés de os leitores andarem “amo- partilhar agruras ou expor-me de forma realidade, criando personagens,
ta, perde a cabeça recomendando um livro lentados com soluços e choros”, de ficções dolorida. estabelecendo leis próprias, desligando-
e acaba às cabeçadas. Mas será pelo menos regulares, só para distrair a cuca, nuestros Sei que tem também uma admiração se até da vida do seu autor?
uma boa tentativa se quisermos ser leais hermanos ofereciam a pança, levavam em grande pela obra de [Karl Ove] A imaginação, a ficção pura é-lhe útil,
ao espanto que nos toma com o achamen- cheio este golpe no estômago. Agora, vamos Knausgård. mas a vida do autor também pode encher
to de “Em tudo havia beleza” (“Ordesa”, no ver que repercussão tem o livro por cá. Sim. É verdade que Javier Marías se ati- esse grande estômago. Para mim, o fim
original). A avançar por ela, com a carne rava ao Knausgård, mas creio que o fez último do romance é provocar o leitor,
enfurecida, esta obra de Manuel Vilas dá- Passou uma temporada nos EUA... injustamente. Parece-me que é o autor devorá-lo também a ele. Emocioná-lo. E
nos os motivos para se incomodar muita O que ensinava? de uma das grandes aventuras literárias a emoção tanto a ficção pura a trabalha
gente, acordar alguns ao estalo. Mas se de Escrita criativa, na Universidade de Iowa. que produziu o romance europeu [os seis como a autobiografia. Um bom leitor de
louvores a coisa já tem o saco cheio, está Foi só um ano. volumes de “A Minha Luta”]. Trata-se de romances não está muito preocupado
meio enfastiada até de tanto elogio, tente- E agora que voltou a Madrid, o que faz? um projecto literário de uma ambição com essas fronteiras a que a teoria lite-
mos situá-la um pouco melhor. Estava-se Vivo dedicado a isto. O livro foi um êxi- desmedida, e que abre caminhos – essa rária vai dando relevo. Este leitor abre o
em 2014, a colher em pleno os efeitos da to em Espanha, e foi publicado numa narração de uma vida comum… Eu gos- livro e, seja o que for que encontre, ser-
crise económica, em Espanha como por série de países. Estive na Colômbia, no to muito do que escreve Knausgård. Tam- ve-lhe, contando que, de algum modo,
cá; Vilas entrava pelos 50 anos ficando órfão. México, no Peru, a promovê-lo. Agora bém gosto do que escreve Marías. Não lhe diga respeito. Seja capaz de tratar
Dez anos depois do pai, morria-lhe a mãe, creio que na literatura com ele, puxá-lo para si. No meu enten-
e a pata que tinha em cima ainda o piso- tenhamos de eleger der, qualquer estratégia literária é váli-
teou, com um divórcio da mulher de quem i"OUFTEFTUFMJWSP FSBNBJT uma via. Podemos ir da se conseguir dominar o leitor.
tem dois filhos. Para ajudar o compor o buscar lições às dife- Foram saindo tantas críticas ao seu
desastre, nesse fim de linha tinha ainda de
DPOIFDJEPDPNPQPFUB NBTOÊPWPV rentes escolas. livro, mas lendo-as, se se percebe que
lidar com o alcoolismo, esse buraco por NVJUPOJTTPEPTHÌOFSPTMJUFSÅSJPTw Sente que “Ordesa” causou impacto, apesar de todo o
onde se metia saindo do outro lado numas  tem uma dívida para louvor, não me parece que entrem em
figuras de meter dó. E isto tudo é-nos con- com a obra de diálogo com o livro…
tado num lúcido canal que, desde logo, não
i/BMJUFSBUVSBPDJEFOUBM Knausgård? É um livro que convoca o íntimo, um livro
se põe a saltar à corda da auto-ficção para IÅVNBUFOEÍOEJBOPTFTDSJUPSFT Anda lá perto, mas não que toca questões como o divórcio, o alcoo-
justificar pretensões literárias. É um livro QBSBFTDSFWFSFNTPCSF penso que tenha sido lismo, a morte do pai e da mãe... Há um
assumidamente autobiográfico, uma obra uma influência. Acho retrato político de Espanha, a convocação
em que o que menos interessa é discutir BTTVBTQSÕQSJBTWJEBTw que foi uma coincidên- da sua História, e admito que o leitor se
questões de etiqueta literária. Aqui, esta-  cia. Li-o mas não foi o sinta como que golpeado. Acho que um
mos fora desses programas de incentivo, i0SPNBODFÌVNHÌOFSPPNOÐWPSP que me levou a escre- romance com esta carga de intensidade
há muito que os dentes de leite da escrita ver este livro. Na lite- remete o leitor para as suas experiências
foram cuspidos, os definitivos também caí- 6NEPTBTQFDUPTRVFMIF ratura ocidental há uma pessoais e talvez seja difícil falar sobre o
ram, e agora, se é preciso, morde-se com DPOGFSFHSBOEF[BÌDBCFSMÅUVEPw necessidade dos escri- livro sem discutir a relação que se teve
as gengivas, numa escrita que se sente tores refletirem sobre com os seus próprios pais. A família, a per-
como uma faca só lâmina, “qual uma faca as suas próprias vidas. da, são temas universais, mas que nos
íntima/ ou faca de uso interno,/ habitando estou aqui, na semana que vem vou a Repara que também “O Livro do Desas- tocam de forma íntima. É difícil discutir
num corpo/ como o próprio esqueleto” Itália… Ando nisto. sossego” é, em certo sentido, uma obra um romance que vive tanto da própria
(João Cabral de Melo Neto. De resto, foi Começou pela poesia... Mas deixou-a autobiográfica. Hoje, há uma série de vivência íntima do leitor.
como poeta que Manuel Vilas primeiro foi de lado? autores que escolhem esta abordagem, E a crítica? Não lhe desagrada esta
assinando as suas investidas, e obteve algum Sim, tenho-me dedicado mais ao roman- e parece-me que isto se liga ao próprio incapacidade de ir além do elogio ou,
reconhecimento. Nada que se compare, ce. Mas, antes deste livro, era mais conhe- momento que vivemos, uma espécie de então, ser indiferente a uma obra?
no entanto, ao sucesso que alcançou “Orde- cido como poeta. Na verdade não acredi- autópsia do ego, que diz muito sobre a (Ri-se) Em Espanha, o livro esteve nas lis-
sa” ao ser publicado no início do ano pas- to nessa coisa dos géneros literários. Acho atualidade. tas dos melhores do ano, foi o livro do ano
sado. E também assim retiramos uma com- que é mais útil por motivos pedagógicos, E de que modo lhe parece que tem para publicações como o “Babelia”, e gozou
paração que não nos é nada favorável, se mas quem trabalha com literatura livra- evoluído o romance entendido como de uma enorme fortuna crítica. Ainda
virmos que nas listas de livros do ano os se dessas definições. esse género omnívoro? estou à espera de uma crítica negativa
espanhóis eram instigados a meter-se com O que acha do Javier Marías? O romance é, de facto, um género omní- (risos). Acho que é difícil falar de um
uma obra que não quer nada com meias Gosto bastante. Acho que é um grande voro. Um dos aspetos que lhe confere livro que acima de tudo nos comove.
tintas, uma visão que balança entre a aci- escritor. grandeza é caber lá tudo. Tanto se ser- Um tema que encontra tradução
dez crítica mas demolidora (começando Recentemente, na crónica dele ve de uma reportagem jornalística, simu- imediata em Portugal é a questão
pela forma como o narrador passa o escal- no “El País”, lançou um vigoroso la uma conversa, tem margem para o da classe média-baixa, e disso ser uma
pelo pelo seu próprio caráter, os seus medos ataque à literatura autobiográfica, que vai por aí nas colunas de opinião, mistificação.
e fracassos), uma escrita mordida por tudo à auto-ficção, etc… pode integrar um poema, uma carta, A classe média é universal. Ao falar deste
o que há de pulgas, e que obriga o leitor a Sim, eu li-a. uma chamada telefónica – é esse ser que FRQWLQXDQDS¾JLQDVHJXLQWH !!

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