SERVIDOR PÚBLICO INATIVO. INCORPORAÇÃO DE FUNÇÃO GRATIFICADA AOS PROVENTOS. NECESSIDADE DA ANÁLISE PRÉVIA DE LEGISLAÇÃO LOCAL E DO REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO CONSTANTE DOS AUTOS: IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 279 E 280 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.
Relatório
1. Agravo de instrumento contra decisão que não admitiu recurso
extraordinário, interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República.
2. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais julgou apelação em ação
ordinária, nos termos seguintes:
“Constitucional e Administrativo. Servidor público municipal.
Exercício de função gratificada. Vantagem pecuniária. Incorporação à remuneração para fins de aposentadoria e fixação dos proventos. Os proventos de aposentadoria do servidor público, nos termos do art. 40, § 2º, da Constituição Federal, na redação dada pela Emenda Constitucional n. 20/98, não estão limitados ao valor do vencimento básico do cargo efetivo, mas à remuneração, que corresponde a todas as parcelas obtidas, incluídas as vantagens pecuniárias legalmente incorporadas. Os arts. 3º. e 6º. da Lei n. 6.794/94, do Município de Belo Horizonte, além de assegurarem o recebimento da Gratificação por Exercício de Função de Gerente de Unidade de Saúde, determinam sua incorporação à remuneração do servidor, para fins de aposentadoria, até o limite de 10/10 (dez décimos), sendo 1/10 (um décimo) por ano de exercício da função. Recurso provido” (fl. 70).
3. A decisão agravada teve como fundamento para a inadmissibilidade
do recurso extraordinário a incidência das Súmulas 279, 280 e 283 do Supremo Tribunal Federal.
4. O Agravante argumenta que:
“Com efeito, preenchidos os pressupostos constitucionais para o
cabimento do Recurso Extraordinário em tela, (...), não poderia o douto prolator da r. decisão agravada negar-lhe seguimento, estado nas razões que apontou.
Isto porque, ao Tribunal a quo, quando exerce o juízo de
admissibilidade preliminar, compete, exclusivamente, verificar o preenchimento dos pressupostos do Recurso Extraordinário.
(...)
Assim, ante a notória infringência a dispositivos
constitucionais, claramente demonstrada no Recurso Extraordinário, não se afigura plausível a obstaculização do mesmo” (fls. 4-5).
No recurso extraordinário, alega que o Tribunal a quo teria afrontado
o art. 40, § 2º (com alteração da Emenda Constitucional n. 20/98), da Constituição.
Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.
5. Razão jurídica não assiste ao Agravante.
O Desembargador Relator consignou em seu voto condutor que:
“Extrai-se dos autos que a recorrente é servidora pública inativa do Município de Belo Horizonte, que foi aposentada no cargo de Técnico Superior de Saúde em 31.07.2008 (fl. 73-TJ). De acordo com a certidão de fl. 24-TJ e com as informações prestadas pela autoridade coatora, às fls. 145/149-TJ, a apelante exerceu a gerência de Unidade de Saúde no período de 25.01.1995 até a data de sua aposentadoria, tendo sido incorporados aos seus proventos somente 4/10 (quatro décimos) da gratificação pelo exercício da função. Os arts. 3º e 6º da Lei n. 6.794/94, do Município de Belo Horizonte, dispõem sobre a gratificação por exercício da função de Gerente de Unidade de Saúde e de sua incorporação aos proventos de aposentadoria, verbis: ‘Art. 3° - Fica criada a Gratificação por Exercício de Função de Gerente de Unidade de Saúde, que será paga ao servidor público sem prejuízo da remuneração atribuída ao seu cargo, emprego ou função pública de que seja titular, de acordo com os níveis de responsabilidades atribuídas à Gerência da Unidade de Saúde sob seu encargo, nos seguintes valores (...)’; ‘Art. 6° - O valor da Gratificação por Exercício de Função de Gerente de Unidade de Saúde somente será incorporado para fins de aposentadoria do servidor ou empregado público municipal, à razão de 1/10 (um décimo) do valor dessa gratificação por ano de efetivo exercício dessa função, até o limite de 10/10 (dez décimos)’. As normas transcritas, além de assegurarem o recebimento da gratificação para o cargo em comissão exercido pela recorrente, garantem sua incorporação à remuneração, para fins de aposentadoria, até o limite de 10/10 (dez décimos), sendo 1/10 (um décimo) por ano de exercício da função. A apelante provou o exercício do cargo por mais de dez anos, mas o Município de Belo Horizonte limitou a 4/10 a integração do valor da gratificação à sua remuneração, para efeito de fixação dos seus proventos de aposentadoria, ao argumento de que a redação do art. 40 da Constituição Federal, a partir da Emenda Constitucional n. 20/98, vedou a incorporação de parcelas estranhas à remuneração do cargo efetivo. (...) Portanto, à apelante é devida a inclusão nos seus proventos de aposentadoria de 10/10 (dez décimos) da gratificação por exercício do cargo em comissão de Gerente de Unidade de Saúde, tendo em vista o período de sua permanência no exercício daquela função. Dou provimento ao recurso para conceder a segurança postulada e determinar que sejam incluídos nos proventos de aposentadoria da impetrante os valores equivalentes a 10/10 (dez décimos) da Gratificação por Exercício de Função de Gerente de Unidade de Saúde, nos termos do art. 6º da Lei n. 6.794/94, do Município de Belo Horizonte” (fls. 72-73 e 76).
Conforme se verifica, concluir de forma diversa do que foi decidido
pelas instâncias originárias demandaria o reexame do conjunto probatório constante dos autos, procedimento incabível de ser adotado validamente no recurso extraordinário, a teor do que dispõe a Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal.
O reexame do acórdão impugnado demandaria, ainda, a análise prévia da
legislação local aplicada à espécie (Lei municipal n. 6.794/94). Assim, a alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que não viabiliza o processamento do recurso extraordinário. Incide na espécie a Súmula 280 do Supremo Tribunal.
Nesse sentido:
“SERVIDOR PÚBLICO INATIVO. GRATIFICAÇÃO. INCORPORAÇÃO AOS
PROVENTOS. NECESSIDADE DE EXAME DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. SÚMULA 280 DO STF. EXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO CONSTANTE DOS AUTOS. SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO IMPROVIDO. I - Para se chegar ao exame da alegada ofensa à Constituição, faz-se necessário analisar normas infraconstitucionais locais, bem como o conjunto fático-probatório constante dos autos, o que inviabiliza o extraordinário, a teor das Súmulas 279 e 280 do STF. Precedentes. II - Agravo regimental improvido” (AI 733.499- AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe 13.3.2009, trânsito em julgado em 14.4.2009 – grifei).
A decisão agravada, embasada nos dados constantes do acórdão
recorrido, está em harmonia com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, razão pela qual nada há a prover quanto às alegações da parte agravante.
6. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557,
caput, do Código de Processo Civil, e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).