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Artigo recebido em Fotografia, imagem e

16/09/2014
Aprovado em
26/10/2014 criatividade: formas de expressão
CRISTIANE FONTINHA

e implicações político-sociais
MIRANDA
Universidade Federal de Santa
Catarina
Doutoranda em Engenharia e
Gestão do Conhecimento (EGC)
da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); mestre em
Design pela UFSC, graduada em Cristiane Fontinha Miranda, Luiz Roberto Carvalho, Alice T Cybis
Jornalismo pela UFSC. Bolsista
Fapesc pelo PPGEGC/UFSC, Pereira, Francisco Fialho e Maria José Baldessar
crisfontinha@gmail.com
LUIZ ROBERTO CARVALHO
Universidade Federal de Santa Resumo
Catarina
Doutorando em Design pelo
Diante de um mundo repleto de imagens, é difícil enxergá-las, muito menos compre-
Programa de Pós Graduação em endê-las. Para apreender algo é preciso dominar a informação e entender a intenção
Design e Expressão Gráfica da
Universidade Federal de Santa
do autor de determinada ideia. Assim é com a fotografia. O presente estudo objetiva
Catarina (UFSC); mestre em apontar uma reflexão sobre como acontece o processo criativo na fotografia – como
Design pela UFSC; investiga
o som em ambientes digitais
o fotógrafo se conecta com o mundo e como se comunica. Nesse contexto, há um
interativos, semprecarvalho@ grupo de relações político-sociais que devem ser considerados. Há, então, um ponto
gmail.com
ALICE T CYBIS PEREIRA
relevante a ser discutido: movimentos sociais e intervenções políticas interferem na
Universidade Federal de Santa representação imagética da realidade.
Catarina
Graduação em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul;
doutorado em Arquitetura pela
Palavras-chave
University of Sheffield e Pós- Fotografia, Criatividade, Repressão.
Doutorado na Monfort University,
na
Leicester/UK. Professora de
graduação e pós-graduação em
Design e Arquitetura, acybis@
gmail.com Abstract
FRANCISCO FIALHO
Universidade Federal de Santa
Faced with a world full of images, it is difficult to see them, much less understand
Catarina them. To grasp something it is necessary to master the information and understand
Graduação em Engenharia
Eletrônica pela
the author’s intent of a particular idea. That is what happens with photography. This
PontifíciaUniversidade study aims to point out a reflection on the creative process as it happens on the pho-
Católica do Riode Janeiro e
Psicologia pela UFSC; mestrado
tography – as the photographer connects with the world and how him communicate.
de Engenharia e Produção, In this context, there is a group of political and social relations that should be con-
Ergonomia pela UFSC;
Doutorado de Engenharia
sidered. There is, then, an important point to be discussed: social movements and
e Produção, Engenharia do political interventions interfere with the imagetic representation of reality.
Conhecimento pela UFSC.
Professor associado da UFSC,
fapfialho@gmail.com Keywords
MARIA JOSÉ BALDESSAR
Photography, Creativity, Repression.
Universidade Federal de Santa
Catarina
Doutora em Ciências da
Comunicação pela USP;
mestra em Sociologia Política
e graduada em Comunicação
Social - Jornalismo pela UFSC;
professora adjunta no Programa
de Pós-Graduação em Engenharia
e Gestão do Conhecimento e
de graduação em Jornalismo na
UFSC, mbaldessar@gmail.com

Estudos em Jornalismo e
Mídia
Vol. 11 Nº 2
Julho a Dezembro de 2014
ISSNe 1984-6924

DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n2p533 533


N
ão se pode afirmar com víduo, pois o ato criativo pressupõe o des-
precisão o que significa conhecido, o novo que quase sempre tem
criatividade, pois o ter- origem em um estado caótico de organi-
mo é explorado em vá- zação das emoções e informações. Sob o
rias áreas do saber sob ponto de vista pragmático, a criatividade
distintas abordagens – embora não discor- deve gerar um produto inovador que pos-
dantes. Por outro lado, pode-se recorrer à sa suprir uma necessidade já captada pelo
etimologia da palavra, que vem do verbo inconsciente coletivo ou por um grupo de
creare, que significa originar, gerar, formar. pessoas, mas deve, sobretudo, seguir dire-
Portanto, a palavra tem na sua raiz a di- trizes, apresentar soluções possíveis, úteis,
mensão de nascimento e transformação. funcionais e éticas para uma realidade em
A câmera e o repórter fotográfico são questão.
testemunhas dos principais acontecimen- O processo criativo pressupõe (GIL,
tos históricos. Diante deles, o evento se 1999 apud CAVALCANTI, 2006, p. 93):
desenrola, cabendo a eles abster-se de pos-   · abertura para novas experiências
síveis interferências. Contudo, fotografar (extencionalidade);
não se trata de um singular ato mecânico · a capacidade de avaliar fatos;
de apertar o botão do obturador. O pro- · a capacidade de jogar com ele-
cesso criativo orienta o olhar do fotógrafo, mentos e conceitos da realidade;
que escolhe a melhor composição e enqua- · a capacidade de jogar espontane-
dramento para a cena. A compreensão do amente com ideias e relações entre coisas;
que é real, desta forma, é influenciada por · a capacidade de combinar par-
vários fatores: tículas da realidade de uma forma pouco
Entre o assunto e sua imagem ma- comum ou dando-lhes uma forma pouco
terializada ocorreu uma sucessão de usual.
interferências ao nível da expressão
que alteraram a informação primei- Como criaturas essencialmente emocio-
ra; tal fato é particularmente obser- nais, pode-se afirmar que o ato criativo é
vado no jornalismo impresso, cujas
originado partindo-se de uma premissa
imagens uma vez associadas ao sig-
no escrito, passam a “orientar” a lei- emocional, que é então balizada pelas vi-
tura do receptor com objetivos nem vências culturais do indivíduo que a ori-
sempre inocentes.
gina. O presente estudo objetiva expor
O documento visual testemunha a atu-
como o processo criativo é desencadeado
ação do fotógrafo enquanto filtro cultural.
na fotografia, através de contextos históri-
Os filtros se sucedem através de seus con-
cos específicos, buscando apontar como a
trastantes ao fazerem determinado uso da
realidade condiciona o olhar do fotógrafo,
imagem, o que redundará numa informa-
e como este “cria imagens” nestes ambien-
ção alterada do fato ocorrido.
tes.
Apesar da aparente neutralidade do
olho da câmera e de todo o verismo icono-
Fotografia e arte: a ruptura
gráfico, a fotografia será sempre uma in-
Anteriormente à Revolução Industrial,
terpretação (KOSSOY, 2009, p. 119-120).
a atividade produtiva era essencialmente
Os processos de criação demandam
artesanal, manual (daí a origem do ter-
uma postura de ousadia por parte do indi-
mo manufatura), e geralmente um mes-
534
mo artesão cuidava de todo o processo de mudar a propriedade dos meios de
produção (FABRIS, 2005, p. 105).
desenvolvimento de um artefato, desde a
Em 1924, a revista Lef publicou um
obtenção da matéria-prima até a comer- artigo para justificar o papel da fo-
cialização do produto final. A mudança tografia na vanguarda soviética: “a
combinação de instantâneos toma
nos meios de produção trouxe alterações
o lugar da composição numa repre-
substanciais nas relações de trabalho do sentação gráfica. Essa substituição
homem com a matéria e na maneira como significa que o instantâneo fotográ-
fico não é o esboço de um fato visual
este seria recompensado pelos seus esfor- (como na pintura), mas seu registro
ços. Com a Revolução Industrial, o pro- preciso” (FABRIS, 2005, p.103). Pre-
prietário dos meios de produção não é cisão esta que evoca o real e tem um
significativo de impacto no obser-
mais quem, de fato, produz – tem-se assim vador. “Derivada das características
o início das relações de classe. Esta mu- fundamentais da metrópole capita-
lista, tal experiência permite trans-
dança fez com que os primeiros anos do
por para o interior da obra a per-
século XX marcassem um intenso rompi- cepção de uma transformação cada
mento com a figura do artesão e seu traba- vez mais veloz, de uma comunicação
simultânea, de um hibridismo não
lho, o artesanato.
alheio à confusão entre real e artís-
Esta ruptura pode ser observada no tico” (FABRIS, 2005, p. 99).
campo das artes plásticas, em especial, na
pintura de quadro de cavalete. Seguindo Ossip Brik (União Soviética, 1910) res-
os pressupostos da industrialização, as salta a diferença entre a tarefa do fotógra-
representações geradas através da pintu- fo, moldado para documentar o real, e a
ra deveriam ceder espaço para um novo do pintor, que tem a característica de re-
processo de produção de imagens, como criar o objeto a partir de leis estritamente
a fotografia e os cartazes tipográficos, que pictóricas. Ao destacar as funcionalidades
podiam ser impressos rapidamente e em da fotografia, Brik pontua: “O fotógrafo
larga escala. Sob a ótica mecanicista pro- registra a vida e os acontecimentos de um
posta pela Revolução Industrial, de pro- modo mais barato, mais rápido e mais pre-
dução e reprodutibilidade contínua, a arte ciso que o pintor. Nisso residem sua força
de cavalete, que não podia ser reproduzida e sua grande significação para a sociedade”
em massa, havia chegado ao seu fim: (BRICK, 1989 apud FABRIS, 2005, p. 109).
Bois (1988 apud FABRIS, 2005, p. 114)
Em meados da década de 1910, os
dadaístas de Berlim, ao aderirem aos questiona este momento com a seguinte
processos de montagem – combina- indagação: “que papel desempenha a arte
ção de imagens fotográficas de dife-
rentes proveniências –, proclamam
na nova sociedade, na qual o campo da
de uma só vez a morte da arte (tra- atividade criadora se torna propriedade
dicional) e a realidade do caos do comum?”. Em resposta, os artistas deixam
mundo moderno, introduzindo em
suas obras a experiência do choque claro que a imagem fotográfica é manei-
(p. 99). (…) A condenação do qua- ra de satisfazer as necessidades da massa,
dro de cavalete não é apenas uma considerada semi-analfabeta pelos mes-
tomada de posição contra uma for-
ma de arte considerada ultrapassada mos. Em contraponto, o Estado observa
e inadequada a representar a nova que a imagem fotográfica possui dimensão
realidade revolucionária. O quadro
e profundidade social, sendo capaz de di-
de cavalete é atacado por uma razão
bem mais precisa: a necessidade de fundir ideias e prospectar mensagens.
535
Fotografia e Estado: O Controle dística soviética, Gustav Klutsis tornou-se
“Se a revolução é um precioso auxiliar uma das vítimas da política de repressão
da arte, esta, por sua vez, deve ajudar o instaurada por Stalin. Acusado de perten-
Estado a difundir o gênero revolucionário cer a um grupo nacionalista da Letônia,
de ideias, de sentimentos e de ações” (FA- fora preso e executado em 1938.
BRIS, 2005, p. 107) – o que significa que
a arte deve converter-se em propaganda.
Com base nestes pressupostos, a Associa-
ção dos Artistas da Rússia Revolucionária
propôs a representação de uma sociedade
com foco em classes específicas: o Exérci-
to Vermelho, os operários, os camponeses,
os heróis do trabalho e os grandes líderes
revolucionários, ícones maiores e símbo- Figura 1: Obra “O velho mundo e o mundo que
los de uma nova ordem social. Porém, a está sendo construído agora”; 1920, Gustav Klutsis
(Fonte: FABRIS, 2005, p.102).
realidade do operariado não condizia com
a imagem de união e felicidade divulgada.
No período após a Segunda Guerra
Os operários e suas famílias passavam por
Mundial, em função da grande procura de
muitas dificuldades e não tinham acesso
imagens pela imprensa, surgiram as prin-
aos bens de consumo (FABRIS, 2005, p.
cipais agências fotográficas na Europa.
117).
Este período consagrou grandes fotógra-
Para garantir legibilidade e assegurar
fos como Henri-Cartier Bresson e Robert
que somente mensagens propagandísti-
Capa, David Seymour e George Rodger,
cas, que conquistassem a opinião pública
fundadores da agência Magnum, criada
e a comunicação direta com as massas, o
em 1947.
Estado passa a ser único intermediário
A Guerra do Vietnã (1965-1973) foi
entre os artistas e o público, tendo desta
1- A fotomontagem é o a primeira e última cobertura, fotogra-
forma controle absoluto sobre a produção
processo (e resultado) fada e televisada (ROUILLÉ 2009), feita
da criação de uma artística (FABRIS, 2005, p. 117). Em 1932,
composição fotográfi- livremente sem a interferência política.
é promulgado um decreto oficial que ex-
ca ao cortar e reunir Correndo risco de vida, fotojornalistas
outras fotografias. Tem tingue os grupos artísticos e literários na
sua origem datada juntaram-se aos soldados em combate e
União soviética. Para garantir a liberdade
de aproximadamente fotografaram cada conflito à exaustão:
1910, com o surgimen- criativa, no caso da fotografia, fotomon-
to e a expansão da tagem1 e das artes plásticas, é fundado o A ajuda material direta que o Exérci-
fotografia comercial
Sindicato dos Artistas Criadores. Quando to americano fornecera a inúmeros
e militar. Um méto-
do similar, mas que repórteres – Larry Burrows, Donald
toma conhecimento da fundação dessas McCullin, David Douglas Duncan,
não emprega filme, é
realizado atualmente organizações, o partido se volta aos estilos, Philip Jones Griffiths – coloca-os em
através de softwares passando a controlar os temas das obras de uma verdadeira situação mimética
de edição de imagem. em face dos militares. Muitas vezes
Esta nova técnica é arte, com o objetivo de assegurar a eficácia vestidos com os mesmos trajes de
denominada “com- propagandística de imagens, cartazes e de- combate dos GI, os repórteres ata-
positing”, e também cam com eles, sobem nos helicópte-
conhecida informal- mais veículos de comunicação. Mesmo fi-
ros, e transmitem seus filmes a partir
mente como “pho- gurando entre os mais célebres apoiadores do front por intermédio dos malotes
toshopping”.
e desenvolvedores da fotografia propagan- do Exército (ROUILLÉ, p140).
536
Após a exposição à mídia da Guerra reclamavam”3. Os fotógrafos então eram
do Vietnã, militares e governantes obrigados a se ausentarem das redações
mudaram de estratégia, não mais
oferecendo acesso livre ao campo por mais de uma semana. Apesar das di-
de batalha. A nova estratégia tinha ficuldades que a falta de liberdade provo-
por objetivo controlar a circulação cava, Teixeira considera ter sido esta uma
da informação. Restrições à impren-
época gloriosa para a fotografia brasileira.
sa foram impostas na cobertura dos
conflitos seguintes, a exemplo da No fotojornalismo, o processo criativo
Guerra das Malvinas (1982), que ocorre num curto espaço de tempo, sem
marca o início de uma política res- planejamento, quando a ação acontece,
tritiva da imagem. “Enquanto mili-
tares americanos haviam favorecido muitas vezes, em situações adversas e de
amplamente a ação e a presença dos extrema pressão. O repórter fotográfi-
fotorrepórteres no Vietnã, somen- co não é capaz de controlar o rumo dos
te dois são autorizados a seguir as
acontecimentos. Trata-se de um processo
tropas britânicas” (ROUILLE, 2009,
p.141). distinto do que é comumente tido como
processo artístico. Segundo Sanders (2003,
Fotografia e Repressão: O Protesto p. 57-58), a criatividade exige que empre-
Em alguns momentos da história do guemos muitos níveis de abstração para
Brasil, como na ditadura militar, a fotogra- atingirmos nossos objetivos.
fia – historicamente coadjuvante ao texto Um artista pode oscilar entre executar
escrito –, era o principal instrumento de ações, como fazer esboços ou modelos,
informação da época. A atuação dos cen- ou “pensar” a respeito destas, realizan-
sores nas redações dos jornais brasileiros do atividades de cunho cognitivo, como
se restringia basicamente aos conteúdos a visualização, avaliação e crítica de seu
escritos. O Jornal do Brasil, por exemplo, material, seguindo neste círculo de ação e
operou com censores instalados na reda- reflexão sucessivamente. No fotojornalis-
ção neste período. Para driblar a censura, mo, a “arte” pode estar contida num único
o periódico buscava dar a dimensão dos momento, no registro de um fragmento da
acontecimentos na sua seção de meteoro- história, que pode se materializar em ân-
logia, com chamadas jornalísticas como gulos que não podem ser antecipados ou
“Previsão do tempo: Tempo negro; Tem- previstos.
peratura sufocante; O ar está irrespirável; Durante o período de ditadura mili-
O país está sendo varrido por fortes ven- tar, Evandro Teixeira por inúmeras vezes
tos; Máx.: 38º em Brasília, Mín.: 5º nas La- driblou a censura com criatividade e ir-
ranjeiras”. reverência. Durante a cobertura da visita
Textos eram cortados, páginas saíam da Rainha Elizabeth ao Brasil, em 1965, o
com espaços em branco, como forma de fotógrafo flagrou a queda de um motoci-
protesto pela ação da censura militar. No clista da FAB, que escoltava a comitiva da
entanto, grande parte das fotos saíam in- monarca. Naquele contexto histórico, a
cólumes à ação dos censores. De acordo queda do motociclista representava mais
com Evandro Teixeira2, um dos principais do que um instantâneo ou um flagrante
fotógrafos do Jornal do Brasil neste perí- de um momento, adquirindo outra cono-
odo, “os militares não sabiam fazer uma tação. Em 1968, a fotografia foi escolhida
leitura visual das imagens e a fotografia para participar da Bienal de Paris, mas foi
conseguia mostrar o que o texto não con- censurada pelo governo. No ano seguinte,
seguia. No dia seguinte esbravejavam, e em 1969, ganhou o Prêmio Fotóptica.

537
Diante de um mundo imagético, é difícil
ler imagens e compreender as histórias que
existem por trás de cada fotografia. En-
tender o discurso fotográfico que conduz
determinada informação é um importante
aspecto para o domínio da linguagem vi-
sual orientada à construção de sentido. A
fotografia, em sua essência, lida com todos
os sentidos:
Estar no universo fotográfico implica
viver, conhecer, valorar e agir em função
de fotografias. Isto é: existir em mundo-
Figura 2: Queda Outra imagem de Teixeira que desagra- -mosaico. Vivenciar passa a ser recombi-
do batedor da FAB dou o governo militar e suscitou a imagina- nar constantemente experiências vividas
(Fonte: Evandro ção dos leitores mostra libélulas desafian-
Teixeira, 1965). através de fotografias. Conhecer passa a
do a ponta de baionetas, numa exposição
ser elaborar colagens fotográficas para se
de armas de guerra do Paraguai, no Rio de
Janeiro, em 1966. O caráter simbólico das ter “visão de mundo” (FLUSSER, 1985, p.
imagens do fotógrafo denota a importân- 37).
cia de todos os elementos cuidadosamente Desta forma, se torna incontestável a
ordenados pelo profissional na construção vivência sociocultural no processo criati-
do processo criativo. Uma possível leitura vo. No fotojornalismo, o profissional está
seria a alusão à liberdade do povo brasi- sempre trabalhando sob pressão, seja do
leiro, que estava “no fio da navalha” com
tempo ou dos riscos inerentes à profis-
a ditadura militar. A foto, capa do Jornal
são. A repressão da ditadura militar recaiu
do Brasil, teria irritado o então presidente
Arthur da Costa e Silva. sobre a imprensa como um todo, mas a
expressão criativa do fotojornalista asse-
gurou o acesso à informação e garantiu a
liberdade cerceada naquele contexto histó-
rico no Brasil.

Considerações finais
O ato criativo está relacionado ao olhar.
É preciso estar atendo e saber observar
para abstrair-se do mundo sem perder o
Figura 3: Libélulas vínculo com a realidade subjacente. Sendo
pousadas em baione-
tas durante exposição uma das atividades mais caracterizadoras
de armas de guerra do ser humano, a criatividade é tema para
do Paraguai (Fonte:
Evandro Teixeira, cientistas que investigam a inteligência e
1966). reforçam o papel de destaque da ativida-
de criativa na produção do pensamento.
Processo este de reflexão e análise da re-
alidade, que tem a criação como elemento
estabilizador entre razão e emoção.
538
Refletir acerca dos processos criativos e controlar o resultado dos processos criati-
suas implicações no modo como as rela- vos, o presente estudo pôde evidenciar um
ções sociais são estabelecidas se torna im- apontamento significativo: a criatividade é
portante. O presente estudo visa associar um dos elementos-chave para a mudança e
o processo criativo no ato fotográfico com a transformação. O processo criativo ocor-
as relações históricas estabelecidas. A rea- re quando estamos, de forma espontânea,
lidade e o contexto histórico podem levar abertos às novas experiências, sejam estas
ao condicionamento da rotina profissional positivas ou negativas, como os períodos
e da forma como observa o mundo. Con- históricos de repressão ou de eventos trau-
tudo, pode servir de estímulo ao processo máticos.
criativo, lapidando o olhar do fotógrafo.
Apesar da dificuldade em mensurar ou

Referências bibliográficas
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