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Nova Friburgo
2017
Ranulfo Martins Carneiro Neto
Nova Friburgo
2017
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CTC/E
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação, desde que citada a fonte.
______________________________________ _______________________
Ranulfo Martins Carneiro Neto Data
Ranulfo Martins Carneiro Neto
Banca examinadora:
____________________________________________
Prof. Dr. Joaquim Teixeira de Assis (Orientador)
Instituto Politécnico - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Martins Sampaio
Instituto Politécnico - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Mauro Carlos Lopes Souza
Universidade Estadual da Zona Oeste– UEZO-RJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Diego Campos Knupp
Instituto Politécnico - UERJ
Nova Friburgo
2017
DEDICATÓRIA
CARNEIRO NETO, Ranulfo Martins. Numerical and experimental bonded joints analysis in
two configurations: single lap joints and combined loading joint. 2017. 158 f. Dissertação
(Mestrado em Modelagem Computacional) – Instituto Politécnico, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, 2017.
The metallic materials union using structural adhesives has become an increasingly used
process and is preferable to other fastening methods such as screws and rivets in various
applications, due the advantages offered by their application. The main benefits of bonded joints
are the more uniform distribution of stresses, reduction of structure weight, greater resistance
to fatigue, besides being a cold work. This work made a numerical and experimental bonded
joints analysis with carbon steel substrates and ARC 858 adhesive in two configurations: single
lap joint and combined loading joint. The ARC 858 critical fracture energies (𝐺 e 𝐺 ) were
measured by the DCB (double cantilever beam) and ENF (end notch flexure) tests, respectively,
and the CBBM (compliance based beam method) method was used to measure the energies.
Knowing the critical fracture energies and other properties of the ARC 858, measured by
destructive tests, the numerical analysis of the bonded joints was done using the cohesive zone
models (CZM), which allow the damage growth simulation in structures, used together with the
finite element method through commercial software Abaqus. The experiments considered the
bonded area variation, both the joint length and width being modified, as well as the adhesive
layer thickness variation for the combined loading joints. In addition, specimens glued together
for about seven years ago were tested, and the results were compared in one of the
configurations with newly bonded specimens. The experiments were modeled using the finite
element method, obtaining good agreement with the experimental results. Considering joints
with the same bonded area, in general the analysis confirmed the preference for larger widths
in the single lap joints, and higher heights in the combined loading joint. The mechanical
strength of the combined loading joints glued about seven years ago was close to the newly
bonded joints, considering the same configuration.
Keywords: Bonded joints. Finite elements. Numerical modeling. Single lap joints. Combined
loading joint.
LISTA DE FIGURAS
Caracteres romanos
a Comprimento da fenda
𝑎 Comprimento da fenda equivalente
𝑎 Comprimento inicial da fenda
A Amplitude da onda nas juntas onduladas
B Largura dos corpos de prova dos ensaios DCB e ENF
C Flexibilidade inicial
C Flexibilidade
C Flexibilidade inicial corrigida
C Flexibilidade corrigida
df Distância entre a área colada e o ponto de aplicação da força
dS Elemento infinitesimal de área
dV Elemento infinitesimal de volume
D Variável de dano
E Módulo de Young
E Matriz rigidez
E Módulo de flexão equivalente
E Módulo de elasticidade (modo I)
E Módulo de elasticidade (modo II)
E Módulo de elasticidade (modo III)
F Força
F Vetor de cargas
G Módulo de elasticidade ao cisalhamento
𝐺 Energia crítica de fratura modo normal (modo I)
𝐺 Energia crítica de fratura em modo cisalhante (modo II)
𝐺 Energia crítica de fratura em modo cisalhante (modo III)
𝐺 Energia de fratura no modo normal (modo I)
𝐺 Energia de fratura no modo de cisalhamento (modo II)
𝐺 Energia de fratura no modo de cisalhamento (modo III)
𝐺 Energia crítica total liberada até a ruptura
H Altura da junta de cisalhamento combinado
I Momento de inércia de área
k Fator de momento fletor
K Matriz das constantes do material
𝐿 Comprimento de sobreposição
L Comprimento dos CP no ensaio DCB ou metade no ensaio ENF
m Parâmetro característico dos materiais da junta colada
m’ Constante adimensional do modelo PPR
M Momento fletor
n Constante adimensional do modelo PPR
P Carga aplicada durante os ensaios destrutivos
𝑃 Carga máxima registrada durante o ensaio
P Força por unidade de largura
𝑡 Espessura do adesivo
𝑡 Espessura do aderente
𝑡 Tensão normal máxima em modo puro (modo I)
𝑡 Tensão de cisalhamentomáxima em modo puro (modo II)
𝑡 Tensão máxima em modo misto (modo III)
t Tensão nominal normal (modo I)
t Tensão nominal cisalhante (modo II)
t Tensão nominal cisalhante (modo III)
t Vetor tensão nominal
𝑇 Vetor de tensões coesivas nas interfaces da trinca
𝑇 Componente normal do vetor de tensões coesivas
𝑇 Componente tangencial do vetor de tensões coesivas
𝑇 Vetor das forças externas
U Energia de deformação
w Largura da junta adesiva
Caracteres gregos
INTRODUÇÃO................................................................................................... 21
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................25
1.1 Adesivos estruturais............................................................................................. 25
1.1.1. Tipos de adesivos estruturais.................................................................................. 26
1.1.2. Determinação das propriedades dos adesivos........................................................ 27
1.2. Juntas coladas....................................................................................................... 28
1.2.1. Mecanismos de falha.............................................................................................. 31
1.2.2. Tipos de carregamento........................................................................................... 32
1.2.3. Configurações das juntas coladas........................................................................... 34
1.2.4. Principais fatores de influência na resistência de juntas coladas.......................... 36
1.2.4.1. Influência da geometria.......................................................................................... 37
1.2.4.1.1. Geometria dos substratos....................................................................................... 37
1.2.4.1.2. Espessura adesiva e comprimento de sobreposição............................................... 39
1.2.4.2. Filetes de adesivos.................................................................................................. 44
1.2.4.3. Tratamento superficial............................................................................................ 47
1.3. Métodos de previsão de resistência..................................................................... 48
1.3.1. Métodos analíticos.................................................................................................. 48
1.3.2. Métodos numéricos................................................................................................ 52
1.3.2.1. Descrição do método dos elementos finitos........................................................... 52
1.3.2.2. Abordagem da mecânica contínua......................................................................... 55
1.3.2.3. Abordagem da mecânica da fratura........................................................................ 56
1.3.2.4. Abordagem da mecânica do dano.......................................................................... 57
1.3.3. Modelos de dano coesivo ...................................................................................... 58
1.3.3.1. Início do dano......................................................................................................... 63
1.3.3.2. Evolução do dano................................................................................................... 64
1.3.3.2.1. Evolução baseada no deslocamento efetivo........................................................... 65
1.3.3.2.2. Evolução baseada em critérios energéticos............................................................ 65
1.4. Ensaios para determinação da tenacidade a fratura........................................ 66
1.4.1. Modo puro I............................................................................................................ 67
1.4.2. Modo puro II.......................................................................................................... 72
1.4.3. Modo misto (I + II)................................................................................................. 74
2 METODOLOGIA................................................................................................ 75
2.1. Trabalho experimental........................................................................................ 75
2.1.1. Adesivo ARC 858.................................................................................................. 75
2.1.1.1. Propriedades Macroscópicas.................................................................................. 76
2.1.1.2. Propriedades coesivas............................................................................................ 78
2.1.2. Juntas de cisalhamento simples.............................................................................. 82
2.1.3. Juntas com carregamento combinado.................................................................... 84
2.2. Simulação numérica............................................................................................. 88
3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS................................... 96
3.1. Experimentos........................................................................................................ 96
3.1.1. Adesivo ARC 858.................................................................................................. 96
3.1.2. Junta de cisalhamento simples............................................................................. 102
3.1.3. Junta com carregamento combinado.................................................................... 103
3.2. Simulação Numérica.......................................................................................... 108
3.2.1. Junta de cisalhamento simples............................................................................. 108
3.2.2. Junta de carregamento combinado....................................................................... 111
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS....................................................................... 115
4.1. Junta de cisalhamento simples ......................................................................... 115
4.2. Junta de carregamento combinado.................................................................. 117
4.2.1. Tipos de fraturas................................................................................................... 117
4.2.2. Juntas com mesma espessura e pontos de aplicação da força diferentes ............ 119
4.2.2.1. Espessura adesiva 0,4 mm.................................................................................... 119
4.2.2.2. Espessura adesiva 1,5 mm.................................................................................... 122
4.2.3. Juntas antigas versus juntas novas ...................................................................... 125
4.2.4. Juntas com espessuras diferentes e mesmos pontos de aplicação da força ......... 126
CONCLUSÕES.................................................................................................. 130
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................ 132
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 133
APÊNDICE A – Curvas R – Ensaios DCB ....................................................... 139
APÊNDICE B – Curvas R – Ensaios ENF ........................................................ 143
22
INTRODUÇÃO
Contextualização
A utilização de adesivos estruturais vem obtendo cada dia mais importância nas uniões
entre diferentes tipos de materiais. As juntas coladas, que são as uniões de materiais através de
adesivos, são projetadas para obtenção de elevada resistência ao cisalhamento, oferecendo
diversas vantagens em relação aos meios convencionais de uniões, tais como parafusos, rebites
e soldas (SAMPAIO, 1998). A distribuição mais uniforme das tensões, redução do peso da
estrutura e elevada resistência a fadiga são algumas das vantagens obtidas por esse meio de
ligação. Apesar de apresentar também algumas desvantagens, como a impossibilidade de
desmontagem e condições de temperaturas limitadas, as juntas coladas possuem áreas de
aplicações abrangentes, sendo utilizadas de maneira significativa na indústria aeronáutica,
construção civil, indústria petrolífera, etc.
A resistência das juntas coladas depende de diversos fatores: materiais e espessuras dos
adesivo e substratos, geometria da junta, comprimento de sobreposição, dentre outros. Devido
a essa complexidade associada às juntas coladas, a previsão do seu comportamento não é trivial,
dessa forma, obter modelos de previsão da resistência de juntas coladas não é uma tarefa
simples. Como resultado da falta de modelos que permitam prever com rigor a resistência das
juntas, diversos projetistas não confiam no seu desempenho, e assim, além das juntas coladas,
adicionam rebites ou parafusos nas estruturas. Consequentemente, a estrutura final, além de ter
um custo adicional, fica em muitos casos superdimensionada, além de ter o peso adicional dos
fixadores mecânicos e mais pontos de concentração de tensões.
Para a resolução de problemas complexos de engenharia, tais como a previsão da
resistência de juntas coladas, a modelagem computacional tem se tornado cada dia mais
importante. Sendo uma área de investigação científica interdisciplinar, a modelagem
computacional engloba pelo menos dois pressupostos para o estudo de determinados assuntos:
descrição dos problemas avaliados usando-se linguagem e modelos matemáticos, e que sejam
resolvidos numericamente com o auxílio de um computador (PLATT et al., 2010).
O método dos elementos finitos (MEF) é uma ferramenta computacional aplicável a
diversas áreas, que auxilia o engenheiro desde a fase de projeto. Trata-se de um método
23
Objetivos
Estrutura da dissertação
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O adesivo é um material que possui propriedades para unir a superfície de dois materiais
sólidos. Considerados polímeros termofixos rígidos ou elastoméricos, os adesivos estruturais
são formados pela reação química de dois componentes que apresentam elevada resistência
mecânica e química (QUINI, 2011). Portanto, para que aconteça a união, ocorrem dois tipos de
mecanismos de ligação: mecânico e químico. O mecânico é caracterizado por uma efetiva
penetração do adesivo no interior dos poros e fendas superficiais, ou seja, depende da
rugosidade da superfície. O mecanismo químico após a polimerização envolve forças
intermoleculares entre o adesivo e aderente, podendo ser forças covalentes ou de van der Waals.
Além de unir as superfícies, os adesivos também podem funcionar também como vedantes,
minimizando os efeitos corrosivos em montagens mecânicas. Fundamentalmente, um adesivo
deve distribuir as cargas e tensões sobre a área de sobreposição da junta, possibilitando uma
distribuição mais uniforme das tensões em comparação com outros métodos de fixação como
os rebites (CALLISTER, 2007).
Diante de um mercado cada vez mais competitivo, é essencial a utilização de estruturas
complexas formadas por diferentes materiais com objetivo de obter a combinação desejada de
propriedades para aplicações particulares. Os adesivos são utilizados na colagem de uma grande
variedade de materiais, incluindo madeira, metais e compósitos. Dentre suas vantagens frente
a outros processos de junção, se destacam a não ocorrência de furos (como ocorre com rebites
e parafusos), diminuição do peso da estrutura e a melhor distribuição de tensão sobre a estrutura.
Em processos de soldagem, por exemplo, as superfícies são permanentemente alteradas pelas
tensões térmicas, enquanto nas juntas adesivas as tensões são dissipadas sobre toda a estrutura
sem criar tensões locais (COGNARD, 2005).
Os adesivos, de maneira geral, podem ser classificados como sintéticos (feitos pelo
homem) ou naturais. A utilização das resinas sintéticas propiciou o desenvolvimento de
adesivos mais resistentes, duradouros e versáteis na colagem de superfícies (CALLISTER,
2007). Os adesivos estruturais se caracterizam pela utilização em aplicações permanentes, onde
há a necessidade de elevada resistência (DA SILVA, 2007). Os adesivos utilizados em
construção mecânica são da família dos polímeros, caracterizados por uma longa cadeia de
27
átomos ligados entre si por ligações covalentes. Portanto, os adesivos sintéticos são decorrentes
de reações de polimerização, intervendo nessas reações outros componentes como os agentes
de cura (endurecedores), os catalizadores e os solventes (MONTEIRO, 1995).
Um dos principais adesivos estruturais são os epóxis, os quais estão destacados nesse
trabalho, possuindo larga utilização em diversos ramos da engenharia, tais como na indústria
aeronáutica e automotiva. São considerados versáteis, pois aderem bem a diversos substratos,
além de possuírem boa resistência química e mecânica, formando ligações fortes e duráveis
com diversos materiais (AZEVEDO, 2014). Tipicamente, esses adesivos possuem diversos
componentes químicos, que são essenciais para que ocorram reações químicas com
catalizadores, diluentes reativos e solventes. Todos esses aditivos têm considerável efeito nas
propriedades do adesivo resultante antes, durante e depois do processo de cura (COGNARD,
2005).
Nos adesivos epóxis que possuem dois componentes, a reação de cura é exotérmica,
podendo ocorrer a 5ºC, com possibilidade de ser acelerada com a ação da temperatura. De
maneira geral, o aumento na temperatura conduz a menores tempos de cura. Não é necessária
aplicação de pressão no processo de cura, pois não há liberação de água ou outros produtos
voláteis durante a reação de cura (MONTEIRO, 1995). Caso necessário, suas propriedades
podem ser modificadas através da adição de outras resinas (poliamida, fenólicos, vinílicos, etc.),
ou elastômero (AZEVEDO, 2014) (DA SILVA, 2007).
Os adesivos fenólicos foram os primeiros disponibilizados para colagem de metais. Para
evitar o aparecimento de vazios na zona de colagem, esses adesivos exigem superfícies de
colagem porosas ou aplicação de elevada pressão, pois há liberação de água no processo de
28
cura. Em geral, possuem baixo custo, boa resistência mecânica e boa resistência a altas
temperaturas (DA SILVA, 2007).
Os adesivos uretânicos destacam-se pela alta aderência em diferentes tipos de
substratos, além de boas propriedades como baixa contração. É essencial realizar um tratamento
superficial adequado para o alcance de uma boa adesão (QUINI, 2011; PASSOS, 2016).
Outras classes de adesivos estruturais podem ser encontradas nas referências Cognard
(2005) e da Silva (2007).
𝐺= (1.1)
( )
Para realização dos ensaios de tração devem ser preparados corpos de prova (CP), cujas
dimensões são definidas pela norma EN ISO 527-2, ou ainda pela norma ASTM D 638-03. O
ensaio consiste em aplicar uma carga longitudinal ao CP até a ocorrência da fratura, registrando-
se os dados em uma curva tensão x deformação, onde a inclinação da curva define o módulo de
Young (E). A tensão normal máxima (ruptura) corresponderá ao ponto em que a força aplicada
atinge valor máximo. As deformações são medias utilizando-se transdutores conectados nos
CP, podendo ser utilizada a técnica de medição sem contato (AZEVEDO, 2014).
Para medição do coeficiente de Poisson, deve-se medir os deslocamentos transversais
(𝜀 ) e longitudinais (𝜀 ), sendo válida a seguinte equação:
29
𝜈=− (1.2)
Uma junta colada, também chamada de junta adesiva, ou ainda união adesiva, consiste
na união de duas superfícies, utilizando, para isso, um material que deve aderir as superfícies a
30
serem unidas. As superfícies são denominadas substratos, que podem ser ou não do mesmo
material. O material inserido entre os substratos, responsável por aderir suas superfícies, é
denominado adesivo. Da Silva (2007) define adesivo como um material polimérico que quando
aplicado em superfícies pode ligá-las e resistir à sua separação.
Queiroz (2013) investigou o comportamento das juntas de cisalhamento simples
submetidas a fluência. Os resultados mostraram que apenas o conhecimento das tensões médias
de ruptura das juntas coladas não são suficientes para garantir a confiabilidade da junta quando
submetidas a fluência. O autor concluiu que até mesmo juntas coladas a temperatura ambiente
(em torno de 20°) são susceptíveis a fluência. Adicionalmente, um modelo foi proposto para
juntas coladas submetidas a fluência, havendo necessidade de que cada adesivo seja ensaiado
em fluência e os dados experimentais sejam utilizados no ajuste das equações do modelo.
Um aspecto interessante das juntas coladas é a existência do fator forma, ou seja, áreas
iguais, porém com dimensões lineares diferentes conduzem a tensões de rupturas diferentes. Da
Silva (2015), estudou o fator forma de área em reparo com chapa colada em tubulações com
furo. O autor verificou a alta influência na resistência do reparo com o aumento da área da
chapa, porém não observou fator forma para esse caso específico. Já Da Silva (2010a) verificou
a existência do fator forma nas juntas de cisalhamento simples, concluindo através dos
experimentos que para uma mesma área colada, é preferível uma maior largura ao invés de
maior comprimento de sobreposição.
O efeito da temperatura na resistência das juntas de cisalhamento simples foi estudado
por Osanai (2011), que utilizou nos experimentos o adesivo estrutural ARC 858 trabalhando na
faixa de temperatura entre 21°C e 70°C. O autor concluiu que as maiores perdas de resistência
ao cisalhamento ocorreram na faixa de 30°C a 50°C, sendo que a partir de 40°C as perdas de
resistência são superiores a 50%.
A atração entre os substratos e adesivos é denominada de adesão. Esse conceito é
diferente da coesão, que envolve forças intermoleculares internas a uma mesma substância.
A descrição das propriedades dos adesivos e aderentes separadamente pode ser feita
através de ensaios mecânicos normalizados, sem maiores dificuldades. Porém, a junta colada
traz uma particularidade muito importante, a interfase (figura 2), conceito que difere da
interface. A interfase é a região entre o adesivo e o substrato (espessura finita), enquanto a
interface é apenas o plano de contato entre o substrato e o adesivo (espessura infinitesimal) (DA
SILVA, 2007). A resistência dos esforços mecânicos nas juntas coladas é resistida pela interfase
(SAMPAIO, 1998). Saber descrever a interfase de juntas adesivas é um dos grandes desafios
da ciência dos materiais, pois as propriedades desta são distintas das propriedades dos substratos
31
e dos adesivos. Diversas áreas do conhecimento estão inseridas nesse contexto, o que geram
algumas dificuldades no desenvolvimento de modelos para descrição das juntas coladas
(SAMPAIO, 1998).
Une materiais diferentes sem permitir contato entre eles. Em outros casos
poderia ocorrer corrosão galvânica;
Distribuem os esforços de maneira mais uniforme do que a junção com
fixadores mecânicos, reduzindo-se assim as concentrações de tensão;
Alta capacidade de amortecer vibrações devido à natureza visco elástico dos
adesivos;
Boa resistência a fadiga;
Boa resistência a corrosão;
Além de possuir boa vedação, impede a entrada de umidade e detritos;
Reduz o peso da estrutura;
32
As falhas nas juntas coladas podem ser classificadas como adesivas (ocorrem na
interface) ou coesivas, que são internas ao material, podendo ocorrer tanto no adesivo como no
aderente (SAMPAIO, 1998). Uma junta colada é considerada satisfatória quando a falha que
ocorre devido ao carregamento é predominantemente coesiva, o que indica uma junta com boa
união entre o substrato e adesivo.
por exemplo nas juntas de cisalhamento. Isso ocorre porque a tensão fica concentrada em uma
área muito pequena, enquanto na junta de cisalhamento há uma maior distribuição na área
colada (DA SILVA, 2007; SOARES, 2015).
De maneira geral, as cargas ocorrem através de combinações desses esforços. A figura
5 ilustra algumas possibilidades de suportes para tubulações, considerando a utilização de
outras formas de junção. Caso fosse utilizada juntas coladas verifica-se claramente a existência
de um carregamento complexo, existindo tensões de tração, além das tensões de cisalhamento.
A junta de cisalhamento simples (JCS) (single lap joint), também chamada de junta de
sobreposição simples, é a mais comum dentre os tipos de juntas coladas. A tensão de corte é
obtida através da razão entre a força aplicada (F) e a área colada. Na figura 6 também estão
representadas o comprimento de sobreposição (𝐿 ), a espessura do adesivo (𝑡 ), espessura do
substrato (𝑡 ), além da largura da junta (w).
35
Prever a resistência mecânica de uma junta colada não é uma tarefa simples, pois existem
diversos fatores de influência, alguns deles de difícil controle e inspeção. Adicionalmente, nas
juntas coladas existem regiões com altos gradientes de tensão, além de contornos com possíveis
singularidades. Da Silva (2007) destaca como principais fatores de influência as propriedades
mecânicas dos materiais envolvidos, as características geométricas da junta e os efeitos
térmicos. Soma-se a estes fatores o tratamento superficial (SAMPAIO, 1998), cuja avaliação é
dependente da rugosidade da superfície, além da compatibilidade química entre substrato e
adesivo. As propriedades mecânicas das juntas consideram tanto as propriedades dos adesivos,
como dos aderentes. Com relação a geometria, além dos exemplos de rasgos no substrato e
filetes nos adesivos já citados, se destacam a espessura do adesivo, além do comprimento de
sobreposição da junta. O efeito térmico está relacionado a diferença dos coeficientes de
expansão térmica dos materiais a serem unidos, além das mudanças nas propriedades dos
materiais com a variação de temperatura. O tratamento superficial visa obter uma interligação
mecânica mais resistente, além de maior compatibilidade química entre os materiais
(SAMPAIO, 1998), buscando propiciar na junta uma ruptura coesiva, no adesivo ou substrato
(CARBAS, 2008).
Diversos estudos têm sido feitos por pesquisadores em muitos países visando avaliar os
diversos fatores de influência na resistência das juntas coladas. Aqui são descritos com mais
detalhes os fatores relacionados as mudanças geométricas, filetes nos adesivos e a influência
do tratamento superficial.
A geometria das juntas coladas pode ser alterada de diversas formas, visando sempre
uma melhoria na resistência mecânica. Dentre as principais técnicas destacam-se a modificação
da própria geometria dos substratos, variação no comprimento de sobreposição, variação na
espessura adesiva e utilização de filetes nos adesivos.
38
Legenda: (a) - em chanfro externo; (b) - com chanfro interno; (c) - em degraus.
Fonte: DA SILVA, 2007.
O estudo de interfaces não planas (onduladas) foi realizado por (ÁVILA, 2004), que
descreveu as vantagens e desvantagens dessa configuração através de uma análise estatística.
Uma análise numérica utilizando elementos finitos também foi realizada para avaliar a
distribuição de tensões ao longo de comprimento de sobreposição da junta. Os resultados
mostraram uma média de crescimento da carga de falha de 41%, comparando-se a junta
ondulada com uma junta de cisalhamento simples. A análise com elementos finitos demonstrou
a existência de tensões cisalhantes e compressivas no centro da junta.
Esse tipo de geometria também foi estudado por (ASHRAFI et al., 2012), que avaliou
os resultados experimentais e numéricos de juntas onduladas em duas configurações,
comparando-as com a junta de cisalhamento simples. O resultado para uma das configurações
apresentou maior resistência ao cisalhamento, conforme figura 10, onde A é a amplitude da
onda, e 𝑡 é a espessura do substrato. Os resultados da simulação utilizando elementos finitos
sugere que a falha dos corpos de prova ocorre principalmente devido as tensões de
arrancamento.
39
A comparação entre os grupos com mesma área está apresentada na tabela 2, onde são
mostradas as diferenças da força de ruptura para grupos de mesma área. Os únicos grupos com
mesma área cujo estudo estatístico do autor mostrou que a mudança nas dimensões não tem
influência relevante na força de ruptura foram os grupos 4 e 8.
43
Na análise das juntas com carregamento combinado (figura 14), o autor considerou, além
dos resultados das juntas de cisalhamento simples, a aplicação da força na junta L em três pontos
distintos, considerados a partir da área colada: 25, 50 e 100mm, aqui descritos pela variável df.
Variações na área da junta L também foram investigadas, as quais estão mostradas na tabela 3,
onde a dimensão da seção do perfil é a própria área a ser colada.
O autor concluiu que a influência da altura da junta colada é mais significativa do que a
influência da largura na resistência final das juntas, diferentemente do estudo das JCS. Ou seja,
verificou-se que em juntas tipo L coladas com a mesma área, a resistência é maior quando a
altura (paralela aplicação da carga) era a grandeza maximizada, e não a largura. Os resultados
da força de ruptura para os diversos pontos de aplicação da força estão apresentados na tabela
4.
44
Os perfis das juntas L dos grupos 1 e 6 estão representados na figura 15. Apesar de serem
submetidos aos mesmos esforços e possuírem a mesma área colada, o arranjo do grupo 1 se
mostrou quase quatro vezes mais resistente que o grupo 6 para a força aplicada a 25 mm da área
colada, e 3 vezes mais resistente para os valores de df iguais a 50 mm e 100 mm.
45
Observa-se também na tabela 5, que nos grupos 6 a 10, cujas áreas foram variadas
através da largura, mantendo-se a altura constante, observa-se uma redução da força de ruptura
a medida que se aumenta o braço de aplicação do momento, ocorrendo essa redução a uma taxa
praticamente constante.
46
Diversos estudos relacionados aos filetes nos adesivos das juntas coladas mostraram que
os picos de tensão na extremidade da sobreposição no adesivo têm considerável melhoria, pois
permite que transferência da carga seja suavizada, reduzindo-se as tensões máximas. Essa
redução não depende apenas da presença do filete, mas também da sua forma e tamanho
(OSANAI, 2011). Mesmo estando sempre presente nas juntas, muitas vezes a presença do filete
não é considerado nas análises de tensão.
Esse assunto foi inicialmente estudado por Harris (1984), que concluiu que a
configuração de filete recomendada para diminuir as concentrações de tensões é de
aproximadamente 45°, conforme figura16.
Lang (1998) investigou como a geometria e tamanho dos filetes afeta os picos de tensões
em juntas de cisalhamento simples coladas. Foram estudadas as geometrias dos filetes
mostradas na figura 17. A tabela 6 mostra o percentual de redução entre as tensões máximas
nas juntas coladas comparadas com a junta sem filete de acabamento para as tensões ao longo
do adesivo (𝝈𝒙𝒙 ), tensões de descascamento (𝝈𝒚𝒚 ), e tensões máximas cisalhantes (𝝉𝒙𝒚 ), sendo
47
observado uma considerável redução nos picos de tensão, principalmente 𝝈𝒚𝒚 . A correlação dos
itens da tabela pode ser feita observando-se a figura 17.
Taibet al. (2008), através de experiências com dois compósitos de mesmo material, mas
com sequências de empilhamentos diferentes ([0/90°] e [± 45°]), unidos com adesivo epóxi,
concluiu que o filete é mais efetivo quando os adesivos são mais dúcteis do que os aderentes.
Os resultados mostraram que os compósitos [0/90°] sofreram falha coesiva na maioria dos
experimentos, e no compósito [± 45°] ocorreu falha na interface (adesiva), como menor carga
de falha. Em ambos casos o filete melhorou a tensão de ruptura, e melhorou ainda mais quando
os adesivos eram dúcteis.
A limpeza das superfícies dos substratos a serem unidos é uma etapa crítica do processo
colagem, pois a presença de contaminantes como óleos, graxas e poeiras interfere na vida útil
da junta e prejudica sua resistência (DOS SANTOS, 2007). Uma maneira de avaliar a qualidade
do tratamento superficial é realizar ensaios destrutivos e avaliar como ocorre a ruptura. Se
ocorrer ruptura coesiva, então assume-se que o tratamento superficial é adequado. Caso
contrário (ruptura adesiva), é necessário rever a preparação superficial.
A influência dos tratamentos superficiais na resistência das juntas coladas vem sendo
amplamente estudada. Para cada conjunto substrato e adesivo existe uma condição de
tratamento superficial que conduz a uma maior resistência, sendo, portanto, uma investigação
específica para cada junta, o que traz algumas dificuldades para a análise.
Da Silva et al. (2009a) realizou estudos experimentais em JCS de aço carbono para
investigar o efeito do tratamento superficial na resistência da junta. Foram utilizados três
adesivos: Sikaflex – 255 FC (muito dúctil), Araldite AV138/HV998 (muito frágil) e o Araldite
2015 (intermediário com dois componentes de adesivo epóxi). O autor concluiu que os
tratamentos superficiais realizados não resultaram em aumento da resistência das juntas. Já
Pereira (2010) realizou ensaios de tração com substratos de alumínio colados com adesivo epóxi
utilizando cinco tratamentos superficiais diferentes, concluindo que a resistência ao
cisalhamento dos corpos de prova aumentou com o decréscimo da rugosidade superficial.
49
A influência das ranhuras na preparação de superfícies coladas foi estudada por Da Silva
et al. (2010b). Os resultados mostram que o padrão de superfície tem influência na resistência
mecânica da junta, sendo esse efeito mais acentuado em corpos de prova sem tratamento
superficial. Os corpos de prova com ranhuras apresentaram rupturas mistas (coesivas e
adesivas), enquanto aqueles sem ranhuras apresentaram rupturas adesivas (na interface).
Passos (2016) realizou experimentos com substratos de material pultrudado, sendo
colados com adesivo MasterPur, na configuração de juntas de cisalhamento simples. As tensões
de ruptura média foram avaliadas para os seguintes tipos de tratamento: lixamento manual,
Primer de silano hidrolisado, Primer ALMASUPER, além de uma junta sem tratamento. Os
resultados, apesar da alteração do nível de rugosidade, não demonstraram aumento da
resistência mecânica nas juntas.
utilizado para adesivos não lineares com comportamento dúctil e substratos com alta resistência
(DA SILVA, 2010a).
Complementando os modelos analíticos, surgiram os métodos numéricos. Adams
(1974) foi o primeiro a utilizar o MEF para prever a resistência mecânica das uniões adesivas.
Atualmente alguns programas de EF já fornecem módulos integrados com a mecânica da
fratura, além da mecânica do dano, que supera algumas dificuldades da mecânica da fratura,
como a necessidade da reconstrução da malha durante a propagação do dano (HARRIS, 1984;
RIBEIRO, 2012). Dessa forma, desenvolveu-se através da análise numérica os modelos de
danos coesivos (MDC).
O estudo dos métodos analíticos das juntas adesivas coladas teve início por volta de
1938, através de Volkersen, que utilizou uma aproximação da mecânica dos meios contínuos
para previsão da resistência (SEBASTIÃO, 2012). Em seu modelo, Volkersen considerou que
os adesivos e aderentes se comportam elasticamente, e que a camada adesiva sofria apenas
deformações de cisalhamento. Uma das limitações desse modelo é desconsiderar a
excentricidade do carregamento (figura 18), pois devido a geometria não simétrica da junta,
surgem momentos fletores, que induzem tensões de normais nos aderentes.
𝑀 = 𝑘𝑃 (1.3)
Essa análise permitiu a obtenção das tensões de arrancamento no adesivo, o que não era
possível calcular com o modelo de Volkersen.
Posteriormente, o modelo de Hart-Smith apresentou o significativo diferencial de
considerar a deformação plástica dos adesivos e substratos, além de estudar grandes
deslocamentos. Esse avanço é de grande importância, pois alguns adesivos estruturais
modernos, tais como os epóxis modificados com borracha, estão sujeitos a deformações
plásticas antes do rompimento (BANEA, 2011).
O modelo de Hart-Smith considerou que a influência do adesivo na resistência mecânica
da junta colada é determinada pela energia de deformação. Seus estudos mostraram que
adesivos que experimentam deformações plásticas tem maior resistência do que aqueles que
apresentam apenas deformação elástica. Assim, é preferível ter um adesivo dúctil, pois além de
ser mais resistente, é mais seguro devido a deformação plástica que ocorre antes de romper,
redistribuindo e reduzindo os picos de deformação de corte.
Em 1975, Renton e Vinson, impuseram o estado de tensão nula na extremidade do pico
(RENTON, 1975), melhorando dessa forma os modelos existentes que não consideravam a
tensão de cisalhamento nula da extremidade da sobreposição.
53
Na modelagem de juntas coladas, o primeiro que utilizou o MEF foi Adam (1974), cujo
trabalho considerou o filete triangular do adesivo, e deu atenção especial as tensões nas
extremidades da camada adesiva.
𝑲𝜹 = 𝑭 (1.4)
assim como para os aderentes em alguns casos. Para os substratos metálicos, o critério de falha
de Von Misses pode ser aplicado. Para substratos feitos de materiais compósitos, raramente os
critérios de falha são utilizados, sendo necessário algumas considerações da mecânica do dano,
conforme será visto no item 1.3.2.4.
Alguns pontos da estrutura das juntas possuem concentrações de tensões, especialmente
os cantos vivos, sendo necessário considerar malhas mais finas nesses pontos, para considerar
os gradientes de tensão com maior precisão. Tal refinamento pode levar a problemas na
convergência do modelo desde que as tensões tendam ao infinito nos elementos mais finos. As
análises elasto-plásticas ou os conceitos da mecânica da fratura são aconselháveis nesses casos.
Um pré-processador é usado para gerar a geometria e malha. As condições de contorno devem
simular a realidade o tanto quanto possível, assim como as cargas. A distribuição das malhas
pode ser facilmente modificada sem alterar os parâmetros já definidos.
As malhas dos modelos numéricos devem ser construídas considerando elementos
menores na sobreposição das bordas, pois essas são as regiões com maiores picos de tensão.
Normalmente os softwares comerciais de EF possuem a opção de refinamento crescente ao
longo de uma aresta do modelo, processo denominado bias ratio, que é a razão entre o elemento
maior e o menor (ABAQUS, 2014). A escolha do tipo de elementos e da distribuição dos
mesmos tem um importante efeito sobre os resultados finais. Os modelos mais refinados são
mais próximos dos modelos contínuos, porém exigem maior tempo e custo computacional. As
vantagens e desvantagens devem ser consideradas para a melhor escolha. Os elementos sólidos
contínuos são os mais utilizados na análise lineares de juntas coladas (DA SILVA, 2012).
As juntas coladas com adesivos podem ser modeladas tanto em duas dimensões (2D)
tanto em três dimensões (3D). O estado plano de tensões (2D) é utilizado quando uma das
dimensões do corpo é muito pequena em relação as outras, situação que ocorre em placas, onde
as tensões na direção da espessura são consideradas nulas. Já o estado plano de deformação é
usado quando a largura é muito maior do que a espessura, que é o caso a ser estudado nessa
dissertação. Tal situação ocorre na junta de cisalhamento simples, onde as deformações na
direção da espessura são consideradas nulas. A análise em três dimensões fornece resultados
mais exatos, porém o tempo e o esforço computacional da análise 3D é maior.
A análise por EF para juntas coladas iniciou-se utilizando a mecânica contínua, e evoluiu
para modelos mais exatos com a introdução dos conceitos da mecânica da fratura. Tais
conceitos, por sua vez, vem sendo cada dia mais aprimorados pela mecânica do dano, sendo
esta abordagem fundamental no estudo de juntas adesivas.
56
+ + =1 (1.5)
Quando ocorre deformação plástica dos materiais os conceitos da MFEL devem ser
estendidos para a mecânica da fratura elasto-plástica. Em 1968, Rice e Rosengren propuseram
o método da integral J, que é utilizada na previsão da resistência de juntas adesivas onde há
propagação de dano.
Apesar do avanço científico obtido com a mecânica da fratura, algumas limitações
motivaram a melhor descrição de alguns aspectos. Essas limitações são percebidas avaliando-
se as tensões em pontos muito próximos da ponta de uma trinca. Matematicamente, as tensões
nesses pontos tendem ao infinito, o que não ocorre na prática. Outra limitação é a não
representação do processo de degradação do material responsável pela formação da trinca
(BARBOZA, 2014).
Apesar da aplicação da MFEL aos métodos numéricos com bons resultados, esse
método considera que nas proximidades da trinca o comportamento é elástico. Adicionalmente,
há a dependência da existência de um defeito inicial, além do comprimento característico, cuja
medição não é simples (SOUZA, 2016). Uma análise com EF considerando apenas elementos
sólidos contínuos nas fases elástica e plástica tem como resultado a curva ‘abcd’ (figura 22)
devido a plastificação generalizada sem considerar a evolução do dano. Já o modelo que
considera a mecânica do dano, e consequentemente sua evolução, pode prever a curva real abcd
(figura 22) devido ao acompanhamento do dano desde o seu início (ponto c), até a falha
completa (ponto d).
As técnicas disponíveis para modelagem de danos são:
provas fraturados, comparando-os com o estado inicial. Para aplicação dessa abordagem, foram
utilizadas propriedades coesivas medidas anteriormente em outros trabalhos utilizando-se uma
metodologia inversa. Tal metodologia pode ser estudada no trabalho de Campilho (2009).
A geometria dos elementos coesivos é considerada como composta por duas faces
(figura 25), separadas por uma espessura. O movimento relativo das faces superior e inferior
medidas em relação a direção da espessura representam a abertura ou fechamento da interface.
Legenda: (a) - para simular espessura zero na interface - aproximação local; (b) - para simular uma
pequena camada de adesivo com espessura constante - abordagem contínua.
Fonte: ARAÚJO, 2016.
ruptura. Porém, em juntas adesivas essa tarefa é facilitada, pois a ruptura se restringe a poucos
planos possíveis de propagação do dano (CARVALHO, 2016). Também são necessários os
valores de liberação de energia em tração e corte (𝐺 e 𝐺 , respectivamente), e os valores
críticos da tenacidade a fratura também em tração e corte (𝐺 e𝐺 , respectivamente1). Os
valores das tensões de ruptura de tração e cisalhamento (𝜎 e𝜏 ) do adesivo, além dos módulos
de Young (E) e módulo de cisalhamento (G) também são requeridos. Se a modelagem for
tridimensional, é necessário mais um parâmetro para as energias e para as tensões de ruptura.
Diversos critérios podem ser aplicados utilizando tais grandezas, podendo ser baseados no
deslocamento efetivo ou em critérios energéticos. No capítulo 3 será detalhado como essas
informações devem ser inseridas no software ABAQUS.
As leis coesivas podem ser descritas por diferentes formas, sendo a triangular,
exponencial e trapezoidal as mais utilizadas (figura 26). A escolha dependerá do
comportamento do material e da interface a ser simulada. Campilho et al. (2013) estudou a
influência da forma das leis coesivas utilizadas para modelar finas camadas de adesivo em
juntas de cisalhamento simples na resistência da junta colada para diferentes comprimentos de
sobreposição, com adesivos dúcteis e frágeis. Os experimentos mostraram que as juntas coladas
com o adesivo dúctil (araldite 2015) obtiveram maior ganho de resistência com o aumento do
comprimento de sobreposição (Lo), sendo a forma trapezoidal a que mais se aproximava desse
resultado. A forma exponencial obteve valores da força de separação maiores que os
experimentos para baixos valores de Lo, e menores para maiores valores de Lo. Já a forma
triangular obteve valores de resistência cerca de 5,5% abaixo dos valores experimentais. Para o
adesivo AV 138, a lei triangular se mostrou como a mais adequada, apesar das outras leis
também terem obtido bons resultados.
O modelo triangular é representado graficamente através da relação entre as tensões e
deslocamentos relativos entre os nós emparelhados dos elementos coesivos (figura 27). A reta
crescente simula o comportamento elástico linear nos modos puros (𝑡 e 𝑡 ). O subsequente
amolecimento (reta decrescente) representa a degradação das propriedades dos materiais até a
fratura completa. Os valores de 𝐺 e 𝐺 representam a área sobre a curva de tração separação
nos carregamentos puros de tração e cisalhamento, respectivamente. A definição dos máximos
deslocamentos em tração e cisalhamento (𝛿 e 𝛿 , respectivamente) é realizada fazendo-se
O critério da máxima tensão nominal assume que o início do dano ocorre quando a
máxima razão da tensão nominal pela tensão do pico possui valor um (ABAQUS, 2014):
〈 〉
𝑚𝑎𝑥 , , =1 (1.7)
〈 〉
+ + =1 (1.8)
Em ambos critérios o símbolo 〈𝑠〉 representa o a função de Macaulay, que são usados
com o significado que somente tensões compressivas não são suficientes para iniciar o dano.
( )
𝐷= (1.9)
⎧ ⎫
⎪ ⎪
𝐷 =1− 1− ( )
(1.10)
⎨ ⎬
⎪ ⎪
⎩ ⎭
+ + =1 (1.11)
𝐺 = 𝐺 + (𝐺 −𝐺 ) (1.12)
68
Os ensaios para o modo I são definidos pela norma ASTM D3433-99, além da ISO
25217. O ensaio DCB (double cantilever beam) é um dos mais utilizados devido a sua
simplicidade, além da possibilidade de utilizar a teoria das vigas para calcular 𝐺 (DA SILVA,
2012). Nesse ensaio, duas vigas são unidas por um adesivo, sendo criada uma pré-fenda (figura
30). O crescimento da fenda é induzido através de forças com direção perpendicular ao corpo
de prova. A aplicação da carga deve ocorrer a uma velocidade entre 0,5 e 3 mm/min. Durante
o ensaio devem ser registrados os valores da carga aplicada (P) e deslocamento (δ), além do
comprimento da fenda (a) a depender do critério adotado para cálculo da energia.
As dimensões requeridas pela norma ASTM D3433-99 estão apresentadas na figura 31.
No mínimo doze corpos de prova (CP) devem ser testados conforme a ASTM D3433-99, e um
mínimo de quatro CP conforme ISO 25217.
70
𝐺 = (1.13)
𝐺 = (1.14)
𝛿= = + (1.15)
O comprimento da trinca (ou fenda) equivalente pode ser obtido substituindo na equação
2.15 ‘a’ por ‘𝑎 ’, resultando numa equação de terceiro grau, que pode ser escrita da seguinte
maneira:
72
𝛼𝑎 + 𝛽𝑎 +𝛾 =0 (1.16)
A solução dessa equação pode ser obtida através do software Matlab (Fernandes, 2013),
resultando em:
𝑎 = − (1.17)
onde
𝑇= −108𝛾 + 12 3 𝛼 (1.18)
( | |) ( | |)
𝐸 𝐶 − (1.19)
onde ∆ é o fator de correção do tamanho da trinca (figura 32). Esse valor pode ser calculado
⁄
através de uma regressão linear de 𝐶 = f(𝑎 ), utilizando para isso diferentes valores de 𝑎 ,
conforme figuras 33 e 34. Uma forma alternativa para calcular o Δ é utilizar o parâmetro Δ no
lugar do mesmo, proposto por Wang e Willians (1992):
𝛥 =𝑡 3−2 (1.20)
Onde 𝛤 = 1,18 .
73
𝐺 = + (1.21)
São também utilizados os ensaios TDCB (tapered double cantilever beam), também
definido pela norma ASTM D3433-99. Sua principal vantagem é que a energia 𝐺 pode ser
obtida independente do comprimento da fenda (a). Em comparação com o ensaio DCB, a maior
74
dificuldade do ensaio TDCB é a fabricação dos corpos de prova, principalmente para materiais
compósitos (DA SILVA, 2007).
As dimensões dos corpos de prova para o ensaio, bem como o arranjo dos substratos e
adesivo estão mostrados na figura 35.
𝐺 = (1.22)
𝑚= + (1.23)
Apesar dos ensaios para obtenção de 𝐺 não estarem normalizados, a literatura fornece
alguns arranjos com resultados satisfatórios. Devido a sua simplicidade, o método mais
utilizado é o ENF (end notched flexure). O ensaio 4ENF (four point end notched flexure) requer
um dispositivo de ensaio mais sofisticado, tendo a dificuldade adicional de apresentar
75
problemas que tem relação com o atrito na região da pré-fenda (DA SILVA, 2007). Ambos
ensaios estão mostrados na figura 36.
O ensaio ENF também possui alguns métodos para determinação de 𝐺 . Para aplicação
do método CCM (baseado na equação de Irwin Kies), é válida a seguinte relação (, 2007):
𝐺 = (1.24)
𝐺 = ( )
(1.25)
𝐶= + (1.26)
76
𝐸 = (1.27)
𝐶 =𝐶 − (1.28)
𝑎 = 𝑎 + ∆𝑎 = 𝑎 + −1 𝐿 (1.29)
onde 𝐶 é dado pela equação 2.27, considerando nesse caso o valor de C (e não 𝐶 ).
Finalmente, pode-se calcular a energia de fratura em modo II:
𝐺 = (1.30)
Outro ensaio é o ADCB (asymmetric DCB), cuja diferença para o DCB é a diferença na
espessura dos CP, consequentemente gerando uma combinação de solicitações normais e
cisalhamento.
2. METODOLOGIA
O adesivo estrutural ARC 858é um adesivo epóxi de alta resistência com diversas
aplicações industriais. Alguns dados do adesivo fornecidos pelo fabricante (Chesterton) estão
mostrados na tabela 7. Como algumas propriedades requeridas para a simulação em elementos
finitos não foram fornecidas, foi solicitada a empresa fornecedora do adesivo uma amostra do
produto para que essas propriedades fossem medidas através de experimentos.
O tempo de cura recomendado pelo fabricante para o adesivo ARC 858 é de 24 horas.
Foram fabricados os corpos de prova do adesivo ARC 858 conforme com as dimensões
da norma ASTM D638 (figura 39).
80
Figura 41 - Processo de mistura dos componentes do ARC 858 e fabricação dos corpos de
prova
Figura 42– Ensaio de tração com corpo de prova do adesivo ARC 858 com extensômetro
biaxial
Foram realizados os ensaios DCB e ENF para medição das energias de fratura nos
modos normal e de cisalhamento, respectivamente. O esboço dos CP utilizados em ambos
ensaios está representado na figura 43. As espessuras das camadas adesivas utilizadas foram de
0,4 mm e 1,5 mm para cada tipo de ensaio.
mesma espessura adesiva), para que o comprimento inicial da trinca fosse considerado. O duplo
bisel foi utilizado para forçar uma ruptura coesiva no adesivo. A chapa inserida tem um excesso
de comprimento para auxiliar na sua retirada após a cura do adesivo (figura 44). O adesivo ARC
858 foi aplicado com uma espátula nas duas faces das chapas, tendo cuidado para que não
ocorressem bolhas. As chapas foram então coladas, sendo retirado o excesso de adesivo que sai
pelas bordas durante o aperto, resultando assim a camada adesiva requerida. O tempo de cura
médio foi de 24 horas.
Para possibilitar o carregamento do corpo de prova na máquina de ensaio, foram feitos
dois furos próximos a extremidade, sendo fabricados dois dispositivos para permitir a
transmissão dos esforços da máquina de ensaio para os corpos de prova, conforme mostrado na
figura 45.
A tabela 8 mostra os quantitativos dos corpos de prova fabricados, além das dimensões
utilizadas.
85
Para o ensaio ENF, foram utilizadas as mesmas dimensões dos corpos de prova
utilizados nos ensaios DCB, sendo também a fabricação feita da mesma maneira.
A tabela 9 mostra os quantitativos dos corpos de prova fabricados, além das dimensões
dos mesmos para o ensaio ENF.
A JCS com substratos de aço carbono e adesivo ARC 858 foi estudada por Da Silva
(2010a), sendo avaliado o efeito das variações nas dimensões dos CP, mantendo-se a mesma
87
espessura adesiva (0,4 mm). A norma ASTM D1002 define as dimensões do CP padrão (figura
50), que serviu como base para o estudo de Da Silva (2010a).
Para as alterações geométricas foram definidos 8 grupos de juntas, além do grupo padrão
da ASTM D1002.Quatro grupos consideraram a largura da junta (w) constante, variando-se
apenas o comprimento de sobreposição (L). Outros quatro grupos consideraram a variação de
w, mantendo-se L constante.
Para comparação com os corpos de provas antigos, foram fabricados mais 10 corpos de
prova com as mesmas dimensões do grupo 1.A colagem ocorreu através de um molde
apropriado desenvolvido no LAA (figura 55), que também foi utilizado em trabalhos anteriores.
92
Como o objetivo era comparar a força de ruptura dos novos CP fabricados com aqueles
fabricados há 7 anos, foi considerada a mesma espessura da camada adesiva (1,5 mm). Foram
ensaiados 5 CP com a força aplicada a 50 mm da junta colada, e 5 a uma distância de 100 mm.
Para os ensaios de ruptura foi utilizada a máquina de ensaio universal Shimadzu modelo
Autography AG-X Plus 100 kN, localizada na IPRJ (Nova Friburgo). Os ensaios foram
conduzidos de acordo com a norma ASTM D1002, com velocidade de deslocamento das garras
de 0.5 mm/min e célula de carga com capacidade máxima de 5 kN. A temperatura ambiente e
umidade foram aferidas, com valores médios de 22 °C e 62 %, respectivamente. Para exercer a
força capaz de gerar momento sobre a viga colada, utilizou-se um punção triangular típico de
ensaios de flexão, como mostra a figura 56. Os corpos de prova foram fixados na base da
máquina a partir de uma mossa mecânica aparafusada na base do equipamento.
93
𝛥 𝑚′ 𝛥
𝜓(𝛥 , 𝛥 ) = min(𝐺 , 𝐺 ) + 𝛤 1− + + 〈𝐺 − 𝐺 〉
𝛿 𝛼′ 𝛿
| | | |
𝛤 1− + + 〈𝐺 −𝐺 〉 (2.2)
𝑇 =− (2.3)
𝑇 =− (2.4)
𝛤 𝛥 𝑚 𝛥 𝛥 𝑚′ 𝛥
𝑇 (𝛥 , 𝛥 ) = 𝑚′ 1 − + − 𝛼′ 1 − +
𝛿 𝛿 𝛼 𝛿 𝛿 𝛼′ 𝛿
| | | |
𝛤 1− − + 〈𝐺 −𝐺 〉 (2.5)
95
𝛤 |𝛥 | 𝑛 |𝛥 | |𝛥 | 𝑛 |𝛥 |
𝑇 (𝛥 , 𝛥 ) = 𝑛 1− + − 𝛽′ 1 − +
𝛿 𝛿 𝛽′ 𝛿 𝛿 𝛽′ 𝛿
𝛤 1− + + 〈𝐺 −𝐺 〉 (2.6)
( )
𝑚′ = (2.7)
( )
𝑛= (2.8)
𝜆 = (2.9)
𝜆 = (2.10)
𝛿 = 𝛼′𝜆 (1 − 𝜆 ) +1 𝜆 +1 (2.11)
𝛿 = 𝛽′𝜆 (1 − 𝜆 ) +1 𝜆 +1 (2.12)
〈 〉
𝛤 = −𝐺 (2.13)
〈 〉
𝛤 = −𝐺 (2.14)
𝛤 = −𝐺 (2.15)
𝛤 = −𝐺 (2.16)
I. MÓDULO PART
Nesse módulo a junta adesiva é desenhada. Inicialmente decide-se se será feita uma
análise 2D ou 3D. Há diversas maneiras de desenhar uma junta adesiva: pode-se desenhar dois
substratos e modelar a interação entre as superfícies com elementos coesivos; pode-se, além de
desenhar os dois substratos, desenhar uma camada para o adesivo, principalmente se deseja-se
estudar a influência da espessura da camada adesiva; e por fim, pode-se desenhar apenas uma
peça (part), e dividi-la em três partições (dois substratos e um adesivo), sendo utilizado nesse
trabalho o desenho com peça única com partições.
Além das três partições principais, podem ser feitas partições auxiliares que servirão na
fase de refinamento das malhas. A figura 57 mostra as partições realizadas em uma JCS. As
cores diferentes indicam materiais diferentes (substratos e adesivos).
𝐺 (shear mode fracture energy first direction) e 𝐺 (shear mode fracture energy second
direction) podem ser inseridos no programa. No caso do arranjo considerado 𝐺 =𝐺 .
III. ASSEMBLY
Como foi considerada apenas uma peça (part), esse módulo não se aplica. Caso a junta
fosse desenhada a partir de três partes, aqui deveria ocorrer o arranjo de montagem.
IV. STEP
Esse módulo fornece um caminho conveniente para estudar mudanças nos esforços da
junta. Normalmente utiliza-se uma análise estática para a análise das juntas coladas, porém,
quando são encontrados problemas de convergência, um dos caminhos é considerar uma análise
dinâmica quase estática.
Os parâmetros de computação são definidos, em especial o número máximo de
incrementos, além dos tamanhos desses incrementos, conforme figura 61.
100
V. INTERACTION
Novamente, no caso de uma peça com partições esse módulo também não se aplica
considerando a interação do adesivo e aderente. No caso de três partes desenhadas, aqui deve
ser definido o tipo de interação entre o substrato e adesivo. Pode ser utilizado restrição do tipo
“tie-constraint”, que considera uma colagem perfeita, ou ainda, “surface-to-surface”, que exige
algumas propriedades relativas a interação.
No entanto, pode-se utilizar uma ferramenta disponível nesse módulo para melhor
obtenção do resultado de força de ruptura. Desenha-se um ponto externo a estrutura (reference
point), interligando o mesmo a alguma parte da peça desenhada através da criação da restrição
(contraints) tipo acoplamento (coupling). No caso da junta L esse ponto foi interligado a base
engastada. Dessa forma, se considerarmos qualquer por exemplo que o ponto está engastado, o
programa entende que a base (acoplada a ele) está submetida a esse tipo de reação.
101
VI. LOAD
A aplicação das cargas pertinentes, além das condições de contorno ocorrem nesse
módulo. Como deseja-se simular os experimentos, onde a carga é crescente, optou-se em impor
deslocamentos ao invés de impor cargas. Com a imposição dos deslocamentos as tensões
crescem com o aumento do deslocamento, assim como ocorre nos ensaios.
As condições de contorno para a junta de cisalhamento simples (bidimensional) podem
ser consideradas conforme representado na figura 63, ou seja, uma das extremidades engastada
(esquerda), e a outra extremidade com deslocamento nulo no eixo y, sendo imposto um
deslocamento na direção x.
Considerou-se, no caso da junta L, que a base estava engastada (figura 64), assim como
ocorreu no ensaio. O deslocamento foi imposto em duas situações: uma a 50 mm da camada
adesiva (mostrada na figura 64), e outra na extremidade da junta L (não mostrada).
VII.MESH
Uma boa definição das malhas é caracterizada pelo refinamento nos locais onde ocorrem
os gradientes de tensões. Tanto na junta de cisalhamento simples, como na junta L, as maiores
tensões ocorrem nas extremidades das juntas, o que justifica o refinamento das malhas nessa
região.
O Abaqus possui a ferramenta bias-ratio, que permite refinar a malha de maneira
crescente em um sentido (single) tendo uma aresta como referência, ou ainda em dois sentidos
(double) a partir do centro da aresta, conforme figura 65. No caso das juntas coladas, deseja-se
que os elementos finitos sejam menores a medida que extremidades da junta colada se
aproxima, fornecendo assim resultados mais precisos. A figura 66 mostra a distribuição de
malhas para uma JCS.
103
VIII.JOB
IX.RESULTS
Nesse capítulo serão apresentados os resultados dos experimentos para medição das
propriedades do adesivo ARC 858, dos experimentos com as juntas de cisalhamento simples e
carregamento combinado, além da modelagem dessas juntas no Abaqus.
3.1. Experimentos
Foram testados três corpos de prova para o ensaio de tração, sendo obtidos o módulo de
Poisson (ν), módulo de Young (E) e tensão normal máxima (𝜎 á ). Para o cálculo da 𝜎 á os
dados obtidos através do terceiro corpo de prova foi desconsiderado, devido ao aparecimento
de bolha no corpo de prova (figura 68). As curvas tensão versus deformação para os três CP
testados apresentaram boa concordância (figura 69), principalmente no início do carregamento,
podendo ser observado o comportamento frágil do adesivo ARC 858.
Calcular o fator de
Determinar as
Ensaio DCB - Dados correção teórico (Δ)
flexibilidades iniciais
necessários: Força (P) através da curva
para cada corpo de
x deslocamento (δ) Co^(1/3) versus 'ao' ou
prova (CP): Co = δ/F
método alternativo
Repetir o
Gerar a curva R (GIc
procedimento para
versus aeq) e
cada CP, e obter o
determinar GIc através
valor final de GIc
da identificação do
através de uma média
patamar da curva
aritmética
Calcular o
Calcular a energia de Gerar a curva R (GIc
comprimento de
fratura em modo II versus aeq) e determinar
trinca equivalente
(GIIc) para cada GIIc através da
(aeq) para cada
conjunto de dados P identificação do patamar
conjunto de dados P
xδ da curva
xδ
Repetir o procedimento
para cada CP, e obter o
valor final de GIIc
através de uma média
aritmética
Para o ensaio DCB com espessura adesiva de 0,4 mm, foi observada falha
predominantemente coesiva, sendo adesiva em alguns pontos, principalmente no CP 2. Já no
caso da espessura de 1,5 mm, toda a fratura foi coesiva, conforme a figura 72. A figura 73
mostra o gráfico obtido no experimento (força x deslocamento). As curvas R foram geradas
para cada corpo de prova, porém nem todas apresentaram um patamar bem definido. Uma das
curvas está mostrada na figura 74, e as demais no Apêndice A. Os valores de 𝐺 para ambas
espessuras estão mostrados na tabela 14.
Pode-se observar na tabela 14um desvio padrão muito elevado para ambas espessuras
adesivas, devido principalmente a um item de cada espessura, destacados em vermelho. Diante
desse quadro, decidiu-se por excluir os valores de 𝐺 do corpo de prova 2 para a espessura de
0,4 mm, e o valor do corpo de prova 1 para espessura adesiva de 1,5 mm, resultando nos valores
listados na tabela 15.
1 0,15 0,22
2 0,18 0,26
3 0,075 0,15
MÉDIA 0,135 0,21
DESVIO
0,05 (40%) 0,06 (27%)
PADRÃO
Fonte: O autor, 2017.
Os valores de 𝐺 obtidos estão próximos aos obtidos por Campilho (2013), com o
adesivo AV 138 (também epóxi), cujo valor de 𝐺 foi 0,2 N/mm.
111
No ensaio ENF não há total separação do corpo, o que dificulta a visualização do tipo
de fratura. As figuras 75 e 76 mostram o gráfico obtido nos experimentos (força x
deslocamento) e uma das curvas R geradas (as demais se encontram no Apêndice B), que assim
como no ensaio DCB, nem todas apresentaram um patamar bem definido.
Para a junta com carregamento combinado (junta L), foram feitos experimentos com
duas espessuras da camada adesiva: 0,4 mm (10 grupos) e 1,5 mm (6 grupos).
Os resultados para a espessura de 0,4 mm foram também obtidos por Da Silva (2010a)
e foram apresentados na revisão bibliográfica (1.2.4.1.2). Os resultados para os pontos de
aplicação da força (df) iguais a 50 e 100 mm serão utilizados nessa dissertação para comparação
com a modelagem computacional.
113
Os resultados da força de ruptura para a junta L com espessura adesiva de 1,5 mm para
as juntas coladas há cerca de 7 anos, a partir de agora representadas por junta L7, estão
apresentados na tabela 17.O grupo 3 é considerado como padrão (ASTM) devido a sua área
colada ser a mesma daquelas citadas para a JCS.
Tabela 17 – Força de ruptura das juntas L7 coladas há cerca de sete anos. Espessura adesiva
de 1,5 mm.
Figura 77–Gráfico força versus deslocamento. Junta L7, grupo 1, braço da força 50 mm,
espessura adesiva 1,5 mm
Figura 78–Gráfico força versus deslocamento. Junta L7, grupo 4, braço da força 50 mm,
espessura adesiva 1,5 mm
Com o objetivo de validar os dados obtidos com as juntas L7, ou seja, demonstrar que
mesmo após o tempo de colagem de sete anos não houve perda da resistência mecânica da junta,
procedeu-se com uma nova colagem em condições idênticas as das juntas L7, sendo escolhido
apenas o grupo 1.
Foram testados 10 corpos de prova recentemente colados com ARC 858, mantendo-se
os substratos de aço carbono, sendo cinco deles com a força aplicada a 50 mm da camada
adesiva, e outros cinco a 100 mm.
Os resultados para o G1-F50 mostraram boa repetição, sendo obtido um desvio padrão
17,42%. Os resultados para o G1-F100 também mostraram boa repetibilidade dos resultados,
com exceção do primeiro corpo de prova testado, cuja tensão de ruptura ficou muito abaixo das
demais (figura 79). Verificando o corpo de prova rompido, observou-se uma área bastante
enrugada (figura 80), com potencial formação de bolhas de ar, o que certamente influenciou o
resultado do ensaio. Devido ao exposto, esse corpo de prova foi excluído da análise, sendo
aproveitado todos os demais.
Figura 79 - Gráfico força versus deslocamento. Junta L, grupo 1, braço da força 100 mm,
espessura adesiva 1,5 mm
Conforme descrito na metodologia, não foi possível realizar o ensaio para medição da
tensão de ruptura ao cisalhamento (𝜏 ) do ARC 858. Dessa forma, optou-se por considerar o
ajuste desse valor de acordo com o valor de um dos experimentos realizados, no caso, G3-F50,
com espessura 0,4 mm. O valor de 𝜏 que fornecia valores condizentes com o experimento foi
18 MPa, sendo, portanto, esse valor considerado nas modelagens das JCS e JCC.
Para os substratos foram utilizados elementos sólidos de 4 nós com integração reduzida
(CPE4R), que são elementos bidimensionais quadriláteros com estado plano de deformação. Já
para a camada adesiva foram utilizados elementos coesivos (COH2D4 do Abaqus), também
com 4 nós.
Foi realizado o teste de dependência de malha para uma configuração da JCC (grupo 1),
o qual não resultou em mudanças significativas na força de ruptura.
Para as JCS foram analisadas apenas a espessura de 0,4 mm, sendo avaliada a resistência
mecânica da junta quando há variação na área colada. Diversos grupos apresentaram problemas
de convergência no Abaqus, sendo então realizados refinamentos nas malhas, ou mudança dos
deslocamentos impostos em uma das extremidades.
Foram consideradas duas condições de contorno (boundary conditions): um
engastamento em uma extremidade, e uma imposição de deslocamento na outra, incluindo a
limitação do deslocamento vertical.
118
Tabela 19 - Forças de ruptura numérica nas JCS com espessura adesiva de 0,4 mm
ELEMENTO
FORÇA DE RUPTURA
GRUPOS COMPRIMENTO LARGURA ÁREA S DA
ABAQUS (kN) - Fa
MALHA
1 2L w 2A 7,9 5320
2 1,5L w 1,5A 6,4 2860
3 (ASTM) L w A 4,8 2860
4 0,75L w 0,75A 3,7 2690
5 0,5L w 0,5A 2,5 2430
6 L 2w 2A 8,9 2700
7 L 1,5w 1,5A 7,2 3700
8 L 0,75w 0,75A 3,3 3700
9 L 0,5w 0,5A 2,4 3700
Fonte: O autor, 2017.
Pode-se observar que a força de ruptura decresce com a diminuição da área. Também é
notável que mesmo aqueles grupos com áreas iguais possuem resistências diferentes.
Nota-se também que assim como ocorre nos ensaios, a força simulada cresce
linearmente, consequência da imposição do deslocamento no Abaqus em uma das extremidades
da junta. A figura 82 mostra um gráfico extraído do Abaqus, relacionando força e deslocamento.
O momento de início do decréscimo da força no gráfico indica o início do processo de ruptura
na junta.
119
Quando ocorre a total separação das partes a força se anula. Dessa forma, o
deslocamento imposto na JCS do grupo 7 (figura 82) poderia ter sido menor. De qualquer forma,
maiores deslocamentos impostos não influenciam os resultados, porém há maior custo
computacional.
As partes da JCS submetidas aos maiores esforços são identificadas através da cor
vermelha (ou outra cor pré-determinada), conforme legenda mostrada na figura 83. Conforme
previsto nas literaturas, as maiores tensões estão localizadas nas bordas das juntas, ou seja, onde
há mudanças abruptas na geometria, ocorrendo nesses pontos o início da ruptura.
Foram simuladas as juntas L com espessuras de 0,4 mm e 1,5 mm. Para a primeira
espessura foram considerados os grupos de 1 a 9, e para a segunda espessura foram
considerados os grupos de 1 a 6. Para cada grupo analisado foi considerado a aplicação da força
em dois pontos (F50 e F100). Diferentemente das JCS, não houve problemas de convergência
nessas simulações.
Foram aplicadas duas condições de contorno, assim como nas JCS. A base vertical foi
engastada, e o deslocamento foi imposto conforme ocorreu no ensaio (F50 ou F100).
121
Tabela 20 - Valores da força de ruptura obtidos no Abaqus para juntas L com espessura
adesiva de 0,4 mm. Braço da força: 50 mm (F50)
ÁREA DO
FORÇA DE RUPTURA ELEMENTOS DA
GRUPO ALTURA LARGURA PERFIL CHATO COMERCIAL PERFIL pol²
EM kN (ABAQUS) MALHA
(mm²)
Tabela 21 - Valores da força de ruptura obtidos no Abaqus para juntas L com espessura
adesiva de 1,5 mm. Braço da força: 50 mm (F50)
ÁREA DO FORÇA DE
ALTUR LARGUR PERFIL CHATO ELEMENTOS DA
GRUPO PERFIL pol² RUPTURA EM kN
A A COMERCIAL MALHA
(mm²) (ABAQUS)
1 2H w 1 x 1 pol (25,4 x 25,4 mm) 1 (645,2) 1,77 4270
2 1,5H w ¾ x 1 pol (19,1 x 25,4 mm) ¾ (485,14) 1,04 4270
3 (ASTM) H w ½ x 1 pol (12,7 x 25,4 mm) ½ (322,6) 0,43 4270
4 0,75H w 3/8 x 1 pol (9,5 x 25,4 mm) 3/8 (241,3) 0,26 2690
5 0,5H w ¼ x 1 pol (6,4 x 25,4 mm) ¼ (162,6) 0,12 2295
6 H 2w ½ x 2 pol (12,7 x 50,8 mm) 1 (645,2) 0,93 4270
Fonte: O autor, 2017.
Tabela 23 - Valores da força de ruptura obtidos no Abaqus para juntas L com espessura
adesiva de 0,4 mm. Braço da força: 100 mm (F100)
ÁREA DO
FORÇA DE RUPTURA ELEMENTOS DA
GRUPO ALTURA LARGURA PERFIL CHATO COMERCIAL PERFIL pol²
EM kN (ABAQUS) MALHA
(mm²)
Tabela 24 - Valores da força de ruptura obtidos no Abaqus para juntas L com espessura
adesiva de 1,5 mm. Braço da força: 100 mm (F100)
ÁREA DO
FORÇA DE RUPTURA ELEMENTOS DA
GRUPO ALTURA LARGURA PERFIL CHATO COMERCIAL PERFIL pol²
EM kN (ABAQUS) MALHA
(mm²)
Novamente verifica-se o fator forma associado aos grupos com mesma área.
Considerando os grupos 1 e 6 por exemplo, verifica-se que a força de ruptura do G1-F100 com
espessura adesiva de 1,5 kN foi de 1,03 kN, mais do que o dobro daquela do grupo 6 (0,54kN),
que possui mesma área.
124
Tabela 26 – Diferenças experimentais e numéricas de grupos com mesma área colada nas JCS
PARES DE GRUPOS COM DIFERENÇA % EXPERIMENTAL DOS DIFERENÇA % NUMÉRICA DOS
MESMA ÁREA VALORES DA FORÇA DE VALORES DA FORÇA DE
COLADA RUPTURA RUPTURA
G1 E G6 13% 13%
G2 E G7 18% 13%
G4 E G8 -6% -11%
G5 E G9 -24% -4%
Fonte: O autor, 2017.
Os dados experimentais mostraram que as JCS com a mesma área, porém com
dimensões diferentes, possuem de maneira geral resistências distintas, conforme estudo de Da
Silva (2010a). Os resultados numéricos também apresentaram esse comportamento. Por
exemplo, para os grupos 1 e 5, ambos com mesma área colada, a força de ruptura numérica do
grupo 1 foi de 7,9 kN, cerca de 13% maior que a força da JCS do grupo 2 (8,9 kN), ou seja,
para essa configuração de JCS com mesma área, é preferível ter uma maior largura ao invés do
comprimento da junta colada. Esse mesmo aumento percentual (13%) foi observado nos valores
experimentais. Esse perfil de aumento da resistência para larguras maiores também ocorre para
os grupos 2 e 7. Para o par de grupos 4 e 8 a diferença experimental foi de apenas 6%, não
caracterizando o fator forma devido a pequena variação obtida, conforme análise estatística
realizada por Da Silva (2010a). Já o par de grupos 5 e 9 apresentaram experimentalmente um
significativo decréscimo de 24%, ou seja, a força de ruptura da JCS do grupo 9 é 24% menor
do que a do grupo 1, tendo a análise numérica obtido um decréscimo de 4%, existindo nesse
caso uma preferência por juntas com maior comprimento de sobreposição ao invés da largura.
Dos nove grupos estudados, seis deles apresentaram diferenças de até 20% entre os
resultados numéricos e experimentais, sendo que quatro deles estão situados dentro do desvio
padrão obtido nos ensaios experimentais (grupos 2, 4, 8 e 9).
A maior diferença percentual encontrada entre os valores numéricos e experimentais
ocorreu para os grupos 1 e 6, sendo de cerca de 28% em ambos casos. A figura 88 mostra
através de gráficos em colunas os valores absolutos experimentais e numéricos das forças de
ruptura, podendo-se observar também a tendência de aumento ou diminuição concordante de
ambas análises.
127
Um dos fatores que pode ter contribuído para algumas diferenças encontradas nos
valores experimentais e numéricos é o resultado da energia crítica de fratura em modo II.O
ensaio ENF apresenta algumas dificuldades experimentais intrínsecas ao ensaio, como os
mecanismos de dano complexos que ocorrem na extremidade da fenda durante o ensaio, além
dos efeitos de atrito entre os substratos na zona sem adesivo. Esteves (2010), também utilizando
o método CBBM, calculou a energia crítica em modo II (𝐺 ) para o adesivo Araldite 2015,
obtendo o valor 2,1 N/mm, enquanto que outros trabalhos citados pelo autor obtiveram valores
diferentes, como por exemplo 4,7 N/mm. Ou seja, mesmo sendo o ensaio ENF realizado em
conformidade com os procedimentos previstos na literatura utilizando o método CBBM, é
possível que o valor de 𝐺 obtido através de outros métodos seja diferente, havendo dessa
forma a possibilidade de obtenção de resultados numéricos mais próximos dos experimentais.
O método CBBM considera um carregamento linear dos corpos de prova (força versus
deslocamento), o que não ocorreu com exatidão nos ensaios ENF, o que pode ter gerado algum
erro associado no valor calculado de 𝐺 .
O valor da energia crítica de fratura em modo I (𝐺 ) não foi predominante para os
resultados, já que os esforços são muito mais cisalhantes do que normais para esse tipo de
carregamento.
Adicionalmente, fatores como impossibilidade de saber-se com precisão o valor da
tensão máxima de cisalhamento, além da existência de filetes no adesivo na realização dos
experimentos, o que não foi considerado na análise computacional, também podem ter
contribuído para algumas divergências encontradas.
128
A aplicação da força nos pontos analisados nas juntas L provoca, além das tensões
de cisalhamento já ocorrentes nas juntas de cisalhamento simples, tensões normais, causadas
pelo momento fletor na viga. A partir do eixo neutro, localizado na metade da altura da junta
colada (figura 89), as tensões são compressivas abaixo do eixo neutro, e de tração acima do
eixo neutro, sendo seus módulos máximos nas extremidades. Como as tensões de tração são as
responsáveis pela propagação das trincas, o início da ruptura tende a ocorrer no ponto mais
afastado do eixo neutro, onde a tensão de tração é máxima, se propagando no sentido
descendente, conforme indicado na análise numérica.
Considerando a espessura adesiva de 1,5 mm, de maneira geral, as JCC dos grupos
1 e 2 com força aplicada a 50 mm da camada adesiva apresentaram rupturas mistas, ocorrendo
falhas coesivas nos pontos acima do eixo neutro, o que mostra uma boa qualidade da junta.
Após o início da ruptura na parte superior do eixo neutro, a trinca se propagou em sentido
descendente chegando na região com tensões compressivas, onde ocorreram rupturas adesivas
em pontos mais afastados do eixo neutro e mais próximos da extremidade inferior da junta.
129
Figura 90 - Base dos corpos de prova rompidos para os grupos 1 e 2 (F50). Espessura
adesiva: 1,5 mm
4.2.2. Juntas com mesma espessura adesiva e pontos de aplicação da força diferentes
Figura 91 - Comparação entre os valores numéricos e experimentais das juntas L - F50 com
espessura 0,4 mm
É válido observar que para dois pares de grupos de mesma área (1 e 6; 2 e 7) a maior
força de ruptura diminuiu do primeiro para o segundo grupo, já para os outros dois pares de
grupos com mesma área (4 e 8; 5 e 9) a força de ruptura aumentou do primeiro para o segundo
grupo, estando esses resultados em concordância numérica e experimental. Portanto, conforme
descrito no trabalho de Da Silva (2010a), os experimentos demonstram que a para juntas com
mesma área colada é preferível uma maior altura, dimensão paralela a aplicação da força, o que
foi também confirmado para a análise experimental.
Para as juntas com momento aplicado a 100 mm da área colada (F100), foram
obtidos os dados da tabela 28.
Apesar dos bons resultados na maioria dos grupos avaliados, algumas divergências de
valores absolutos numéricos e experimentais sugerem algum erro associado as medições das
energias críticas de fratura, seja pela complexidade do ensaio, ou também por conta do método
adotado (CBBM), que não mede efetivamente o comprimento da trinca, sendo feito ao invés
disso cálculo do comprimento de trinca equivalente. Esse cálculo é dificultado quando adesivos
frágeis são utilizados, como é o caso do ARC 858, pois ocorrem mudanças abruptas dos valores
de força e deslocamento, e consequentemente das energias críticas, dificultando a obtenção de
valores exatos de 𝐺 e 𝐺 .
133
Assim como os resultados das juntas L com espessura adesiva de 0,4 mm obtidos por
Da Silva (2010a), as juntas L com espessura adesiva de 1,5 mm também mostraram maior
resistência para maiores áreas coladas, considerando os grupos de 1 a 5. Os dados numéricos e
experimentais se encontram na tabela 30.
Para o G6-F50 a resistência foi 47,5% menor do que aquela do G1-F50, que possui
mesma área colada, novamente indicando que para juntas L com mesma área colada é desejável
maior altura do que largura para obter-se maior resistência. Todos os resultados numéricos
nessa análise estão inferiores aqueles experimentais, sendo que três grupos estão com diferenças
entre as análises menores que 20%.
CBBM prever um comportamento linear no carregamento do corpo de prova pode ter sido uma
fonte de erro, pois de maneira geral as curvas força versus deslocamento apresentaram
curvaturas (mesmo que suaves), conforme apresentado na descrição do ensaio DCB, item 4.1.1.
Para as juntas com momento aplicado a 100 mm da área colada (F100), foram obtidos
os dados da tabela 31. Diferentemente da análise com espessura adesiva 0,4 mm, as análises
numéricas com espessura 1,5 mm obtiveram todos os resultados da força de ruptura menores
do que os resultados experimentais.
A figura 94 mostra esses resultados de maneira gráfica. Novamente, para os grupos com
maior altura (G1 e G2) ocorrem as maiores divergências entre os resultados numéricos e
135
Também é notória a preferência pelas juntas com maior altura, considerando aquelas
com mesma área colada. Considerando novamente o par de grupos 1 e 6, a força de ruptura do
grupo 1 foi de 1,77kN, mais que três vezes maior que a do grupo 6 (0,53kN), considerando a
análise experimental. Na análise numérica o aumento foi de 89%.
Comparando-se os valores da força de ruptura para F50 e F100, também se observa uma
considerável redução da resistência da junta quando o braço de momento é aumentado, o que
já era esperado devido a existência de tensões normais maiores para maiores momentos fletores
aplicados. A tabela 32 compara, separadamente, as reduções ocorridas considerando os dados
experimentais e numéricos.
136
Tanto nos dados experimentais como nos dados numéricos, a diminuição da força de
ruptura do carregamento F50 para F100 foi próximo de 50%, o que demonstra uma boa relação
entre os resultados numéricos e experimentais nesse aspecto.
Para as juntas com mesmas dimensões, porém com espessuras adesivas diferentes, os
resultados experimentais analisados tanto para F50 e F100 mostraram que a camada adesiva
com maior espessura possui maior resistência.
Considerando inicialmente a análise para F50, a figura 95 mostra graficamente um
comparativo entre os valores experimentais para ambas espessuras adesivas. Em todos os
grupos houve aumento da resistência para a espessura maior (1,5 mm).
A tabela 34 mostra o aumento percentual da força de ruptura das juntas L – F50, com
espessura adesiva de 1,5 mm comparadas com aquelas com 0,4 mm. Os resultados mostram
que quando o corpo está submetido a tensões de arrancamento, é desejável uma maior espessura
adesiva, pois assim obtém-se maiores resistências, diferentemente do que ocorre nas juntas de
cisalhamento simples, onde a resistência da junta diminui com o aumento da espessura. O maior
aumento percentual foi de 37 %, ocorrendo nas juntas do grupo 1. O G4-F50 foi o que
apresentou menor aumento percentual, sendo de 17%.
FORÇA DE FORÇA DE
DESVIO DESVIO
RUPTURA RUPTURA AUMENTO %
GRUPO PADRÃO PADRÃO
(kN) – F1 (kN) – F2 (F2/F1 – 1)
Espessura: 0.4 mm Espessura: 1.5 mm
G1-2H 2,64 0,46 3,622 0,542 37%
G2-1.5H 1,47 0,31 1,882 0,214 28%
G3-H 0,51 0,085 0,646 0,112 27%
G4-0.75H 0,27 0,062 0,315 0,044 17%
G5-0.5H 0,11 0,029 0,146 0,015 33%
G6-H (2w) 0,88 0,14 1,076 0,103 22%
Fonte: O autor, 2017.
A análise numérica, apesar de boa concordância com alguns grupos estudados, não
forneceu resultados maiores da força de ruptura para espessuras maiores, conforme dados da
tabela 35. Isso ocorreu porque os valores de 𝐺 para espessura 1,5 mm (0,21 N/mm), apesar de
maior do que aquele obtido para espessura 0,4 mm (0,135 N/mm), é um valor relativamente
baixo, tendo essa variação de uma espessura para outra pouca influência nos resultados da força
de ruptura. Ou seja, um aumento de 𝐺 de 0,135 N/mm para 0,21 N/mm, não resulta em
diferenças consideráveis da força de ruptura no Abaqus. Adicionalmente, a energia crítica em
modo II (𝐺 ) obtida para espessura de 1,5 mm (2,02 N/mm) foi menor do que aquela obtida
para espessura 0,4 mm (1,25 N/mm), o que teve como consequência os resultados apresentados.
A tabela 36 mostra o aumento percentual da força de ruptura das juntas L – F100, com
espessura adesiva de 1,5 mm comparadas com aquelas com 0,4 mm, considerando os resultados
dos experimentos. Nesse caso o maior aumento percentual foi de 49%, ocorrendo nas juntas
dos grupos 1 e 2, sendo o G4-F100 o que apresentou menor aumento percentual, sendo de 12%.
Assim como ocorrido com as juntas com momento aplicado a 50 mm da camada adesiva
(F50), a análise numérica das juntas F100 não forneceu resultados maiores da força de ruptura
para espessuras maiores, conforme dados da tabela 37. Isso ocorreu pelas mesmas razões
citadas nas juntas F50, ou seja, é possível que o valor de 𝐺 calculado pelo método CBBM
esteja subestimado.
140
FORÇA DE FORÇA DE
DESVIO DESVIO
RUPTURA (kN) RUPTURA (kN) – AUMENTO %
GRUPO PADRÃO PADRÃO
– F1 F2 (F2/F1 – 1)
CONCLUSÕES
I, 𝐺 , pode ter sido subestimado no ensaio DCB, pois, quanto maior a altura, maior é a
influência dessa energia na análise. Isso pode ter ocorrido pela dificuldade da realização do
ensaio com o adesivo frágil (ARC 858), onde em algumas curvas o patamar da energia não fica
bem definido, dificultando a obtenção mais exata de 𝐺 . Adicionalmente, o método CBBM
não mede efetivamente o comprimento da trinca, sendo calculado um comprimento equivalente
através de equações que consideram a linearidade nos carregamentos dos corpos de prova (força
versus deslocamento). As curvas força versus deslocamento dos ensaios DCB não foram
totalmente lineares, podendo ser esse um fator gerador de algum erro no valor de 𝐺 .
Em ambas espessuras adesivas avaliadas, ambas análises (numérica e experimental)
mostraram que para qualquer grupo, quanto maior o braço do momento, menor é a força de
ruptura. Essa redução em todos os grupos ficou próximo de 50%, tanto na análise numérica
como na experimental, atestando também a consistência das análises.
Os resultados da força de ruptura das juntas L coladas há sete anos, comparadas com
juntas L coladas recentemente, se mostraram sem significativas variações, mostrando uma boa
qualidade do adesivo estrutural ARC 858.
143
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