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© Julia Bax

© gil tokio
n. 04 | junho | 2018

Dica de Artista
conheça o trabalho
de Laíssa Moreira

que tipo de artista


você quer ser?
mais um textão por
Marcelo Campos

composição
um passo a passo
com Gil Tokio

e muito mais...
boas vindas | artur fujita & olavo costa

C
hegamos à quarta edição da nossa chega a ser uma contradição, mas pra muita
revista digital! Neste número, a nossa gente é um bocado estranho.
querida ex-aluna Laíssa Moreira apre- E por que o Marcelo é assim? Simples: ele
senta seu trabalho cheio de poesia e é um artista! Um artista à moda antiga, que
experimentação, e nosso professor acredita que a arte deva falar pelo artista e
Gil Tokio mostra um passo a passo de uma não o contrário. Que fama é consequência,
ilustração fenomenal, falando bastante não objetivo. Que, na verdade, não odeia
sobre a questão da composição. Além disso, artistas, só não concorda com a visão do
ta
2
o diretor da escola Marcelo Campos descre- que ultimamente as pessoas creditam que vo
co
s
© ola
ve alguns tipos de artista, pra que a gente seja um. É bom lembrar que o artista pre-
possa questionar que tipo de arte queremos cisa conhecer o mercado, precisa conhecer
produzir, que tipo de artista queremos ser. o público a que o seu trabalho se destina QUANTA ACADEMIA DE ARTES
Três fatos curiosos sobre o Marcelo e não conversar só com o próprio umbigo. direção
Campos: primeiro, que ele adora filmes ruins; No entanto, também é bom lembrar que Marcelo Campos
segundo, que ele não tem olfato; e terceiro, o trabalho do artista não é apenas uma gestão financeira | jurídica
Alexandre Figueiredo
mas não menos importante, que ele odeia presença passiva nos produtos que existem coordenação administrativa
artistas. Talvez “ódio” seja uma palavra um nesses mercados. Nós, artistas, ilustradores Vanks Estevão | William Estevão
pouco pesada, escolhida para chocar, num etc., assim como os designers, os editores relacionamento com o cliente

golpe barato pra tentar prender a atenção do e diretores de arte etc., e também o público Daniel Clayton
coordenação didática
leitor. Mas até aí, a gente tá só escrevendo consumidor de maneira geral geral, desem- Olavo Costa | Tainan Rocha
um editorial, não tentando revolucionar este penhamos todos um papel importante na Silas Rocha | Helena Nascimento
espaço. Mas, voltando ao assunto, como é transformação constante desses mesmos assessoria de imprensa | comunicação

que alguém que tem pouca paciência com mercados! Carol Fernandez | Felipe Campos
secretaria | recepção
artistas poderia fundar a mais respeitada Para nós daqui da Quanta, Marcelo Cam- Vandreia Gonçalves | Stefany Berglin
escola de artes do país (na nossa humilde pos é, sem sombra de dúvida, um artista Thais Rodrigues | Lucy Silva | Sonia Rocha
opinião, é claro)? verdadeiro. Que devemos reverenciar, ouvir limpeza | manutenção

Marcelo Campos é um artista autodidata e, claro, discutir quando discordamos dele. Vania Toledo | Maria de Lurdes
Paulo César Toledo
e criou uma escola. Foi o primeiro brasileiro Porque, embora as pessoas possam ter
a trabalhar para o mercado americano de esquecido, arte serve para isso também! QUANTA DIGITAL
quadrinhos e hoje não desenha mais. Não E você: que tipo de artista você quer ser? editor-chefe
Marcelo Campos
conselho editorial
- Olavo Costa e Artur Fujita Ronaldo Barata
Olavo Costa | Tainan Rocha
projeto gráfico | diagramação
Olavo Costa | Helena Nascimento
colaboradores desta edição
Marcelo Campos | Gil Tokio| Olavo Costa
Laíssa Moreira | Artur Fujita
dica de artista | laíssa moreira

© thomas destro
laíssa moreira 3
Laíssa Moreira é ilustradora e tam-
bém metida a escrever (quem sabe
vocês ainda não vão ver algum roteiro
dela por aí?).
Estudava arquitetura quando decidiu
se dedicar totalmente à ilustração
e veio correndo pra São Paulo pra
aprender mais. Ganhou a bolsa de es-
tudos do curso de ilustração da Quan-
ta em 2016. Hoje, além de estudar,
dedica grande parte do seu tempo a
tudo aquilo que pode lhe acrescentar
como artista.
Na maior parte de seus trabalhos,
procura dar preferência pelas técni-
cas analógicas (como a colagem, os
carimbos etc.) e explorar bastante a
expressividade característica de cada
material.
Para entrar em contato:
https://www.behance.net/la_moreira
@ lamoreira.art
textão | que tipo de artista você quer ser?

QUE TIPO DE artista


VOCÊ QUER SER? por
marcelo
4

1. DESENHistas, ILUsTRAdOres, ANIMAdores, E POR AÍ VAI campos

T
oda semana recebemos aqui na aqui de um tipo de artista que não de seus conhecimentos técnicos,
Quanta interessados em ingressar desenvolveu tanto o estudo técnico acabam não desenvolvendo um estilo
em nossos cursos de desenho, dos fundamentos de desenho, pintura, pessoal tão forte. Talvez Robert Crumb possa
ilustração ou história em quadri- teoria etc. Seu trabalho é intuitivo ou E existe o artista “completo” que ser considerado um legítimo
nhos. E uma das maiores dúvidas “visceral”, como dizem. Por isso, ele só conseguiu desenvolver seu talento artista autoral ou visceral.
apresentadas é sobre como entrar no sabe fazer o que sabe fazer, e assim, tanto no sentido autoral, instintivo,
mercado. Que editora procurar, com que muitas vezes, não se adapta ao mercado quanto no técnico. Se este artista
editor falar, como falar com um editor, que com facilidade. Ou o mercado não se conseguir gerenciar legal sua carrei-

© robert crumb
tipo de publicação se encaixa com meu adapta a ele com facilidade. Esse tipo ra, poderá ter sucesso em diversas
trabalho, como formatar um portfólio, de desenhista ou ilustrador possui um áreas do mercado.
e por aí vai... Para saber as respostas estilo absolutamente pessoal, mas, Escolher que tipo de artista se
a essas perguntas, o interessado deve algumas vezes, ele pode também ser quer ser é algo muito pessoal. E,
na verdade responder a outra pergunta influenciado demais por outro artista no caso de artistas que pretendem
um pouco mais complicada: que tipo de de quem gosta. E, dependendo do nível estruturar suas carreiras com base
artista você quer ser? dessa influência, seu trabalho pode não em um trabalho autoral, instintivo,
Existem, basicamente, três tipos de ser tão “autoral” assim. esta não é apenas uma “escolha” e
artistas (é claro que esta é uma defini- Temos também o artista técnico, que sim uma necessidade de expressão.
ção bastante simplista, mas a intenção estudou a fundo todos os fundamentos Ainda assim, como qualquer artista,
deste texto é ajudar os interessados a do desenho, pintura etc. Por dominarem a maioria deseja entrar no “mercado”,
criar um mapa sobre como eu vejo, mais essas técnicas, esses se adaptam com seja ele comercial (também chamado
ou menos, o mercado; e saber que tipo mais facilidade às necessidades do de “mainstream”) ou autoral, e se dar
de desenhista, ilustrador, animador, ou mercado, podendo trabalhar para um muito, muito bem. Todo artista deseja
artista gráfico se quer ser é apenas um leque muito mais amplo de editoras e obter sucesso com sua arte. Só que
dos aspectos da coisa toda): linhas editoriais. Alguns deles, por terem esse sucesso geralmente está ligado
Existe o artista autoral, com uma sofrido influências demais durante a à receptividade positiva do público
linha “apenas intuitiva”. Estou falando etapa de estudos para a estruturação para o qual seu trabalho é direcionado
textão | que tipo de artista você quer ser?

e ao sucesso “comercial” em termos comercial é voltado a um grande nú- Não existe exatamente uma fór- conteúdo e valor aos produtos dos
de vendagem. O que é mais ou menos mero de admiradores e consumidores mula para o sucesso. Por isso, apenas clientes que os contrataram. Posso
a mesma coisa, já que podemos dizer potenciais do trabalho apresentado, e “talento” não assegura esse resul- citar exemplos como Ziraldo, Laerte,
que sucesso comercial é justamente o o mercado autoral, nem tanto. tado. Artistas que trazem um estilo Angeli, Adão Iturrusgarai, Orlando,
resultado dessa receptividade positiva. Digo isso porque alguns daqueles que muito próprio, muito autoral, podem Caco Galhardo, Fernando Gonsales e
Boa vendagem significa verba para desejam direcionar seu trabalho para se tornar (e isso acontece realmente tantos outros. Ilustradores, desenhis-
produzir uma nova edição de seu ma- o público não comercial muitas vezes com muita frequência) extremamente tas, quadrinhistas com um trabalho
terial (no caso daqueles que financiam se decepcionam com os resultados de bem-sucedidos em suas carreiras. Não muito pessoal e que são chamados
e distribuem seus próprios materiais), vendagem ou de recepção. Então, uma só comercialmente (sendo requisitados para lançar linhas de sandálias deco-
por exemplo, ou interesse editorial em das principais tomadas de consciência o tempo todo para trabalhar nas mais radas com seu estilo único, ilustram e
dar continuidade à publicação de seus que o desenhista ou ilustrador, ou artista diversas áreas dentro do mercado), mas assinam coleções de capas de caderno, 5
materiais. Boa aceitação por parte dos em geral (músico, cineasta, ator, escritor também porque apresentam em seus justamente porque o cliente quer que
editores resulta em você sempre receber e por aí vai), deve ter em relação às ex- trabalhos propostas inovadoras em eles imprimam sua personalidade ao
ofertas de novos trabalhos. pectativas de sucesso da sua carreira, termos de estilo gráfico, narrativo e de trabalho. Eles aliaram com sucesso
Mas existem diferenças entre es- seria entender o que é e como funciona a composição. Artistas assim influenciam, seu trabalho autoral à sua utilização
ses mercados quando tratamos o que relação que existe entre o que podemos criam escola. comercial!
se considera sucesso. Uma dessas entender como trabalho apresentado e É justamente a personalidade gráfica Mas, de novo, só talento não as-
diferenças é o fato de que o mercado o público e o mercado. única desses artistas que irá agregar segura sucesso!

Roger Cruz é um grande artista, que consegue


©roger cruz

demonstrar bastante versatilidade. Além de


trabalhar para o mercado mainstream de
quadrinhos, consegue imprimir um estilo pes-
soal marcante em seu trabalho autoral.
textão | que tipo de artista você quer ser?

2. COMO É A RELAÇÃO ENTRE o mundo das artes


COM SEU PÚBLICO E O MERCADO DE TRABALHO?

M
uitos artistas que decidem se- é um tipo de relação artista/público
guir essa linha autoral podem visto como não comercial. 6
obter pouco “sucesso” comercial A diferença entre os artistas autorais
com seus trabalhos porque o que obtêm sucesso comercial e os que
estilo adotado por eles sim- não obtêm é simplesmente a possibili-
plesmente não criou empatia com um dade de seu estilo criar empatia com um
número “suficiente” de indivíduos de número maior ou menor de indivíduos

© adão iturrusgarai
um determinado perfil. Obviamente, dentro de um determinado público. Não
o conceito de sucesso está ligado à há como saber se um estilo vai ou não
expectativa que temos de sucesso, ao cair no gosto das pessoas. Isso não é
que consideramos sucesso. uma ciência exata. E também não é só
A grande maioria dos artistas con- uma questão de qualidade do trabalho.
sidera sucesso alcançar um público Não dá pra falar que alguns trabalhos
que entenda o que ele quer dizer (e não autorais sejam ruins e por isso não
necessariamente o sucesso comercial vendam bem. Isso é uma visão simplista
da sua obra). Mas alguns esperam sim demais, na minha opinião.
por esse sucesso comercial! Ele está Estamos falando aqui dos casos
ligado a uma grande venda e interesse realmente autorais, puros, no sen-
de uma parcela bem grande de público. tido de como foram criados. Muitos
Quando isso não dá muito certo, o que se consideram autorais e não são.
muitas vezes acaba acontecendo é que: Muitos se dizem influenciados por um
ou o autor desiste e parte para outra tipo de linha autoral e não são. Isso,
atividade, ou fica limitado a um número para qualquer editor bem formado e
de “consumidores” que não é capaz de informado, transparece com clareza ao
lhe dar um sustento financeiro razoável. bater os olhos no trabalho. Discursos
Coloquei aspas na palavra consumido- de artistas dizendo que são autorais só
res porque geralmente pessoas que podem ser validados pela qualidade ou
compram esse tipo de material não se veracidade do próprio trabalho. E isso
consideram um consumidor, já que este se mostra na prática. É muito fácil dizer
textão | que tipo de artista você quer ser?

que tem influências undergrounds, al- em grandes números de venda e aces-


ternativas. Mas basta dar uma olhada sibilidade a muitos mercados e perfis
mais atenta (às vezes nem precisa ser de clientes e públicos. Para outros é
tão atenta assim) para saber quais as conseguir se expressar exatamente 7
verdadeiras influências desses artistas. o que se quer e como se quer e só. E
Alguns tentaram ser comerciais e não também, é claro, à felicidade de alguém
conseguiram. Assim, fica fácil fazer o se conectar a você, como artista, e seu
que se sabe fazer e dizer que sempre modo de pensar, de ver o mundo e a vida.
foi underground, alternativo. É óbvio Os artistas técnicos, por sua vez,
que estou generalizando. Mas esses conseguem desenvolver uma série de
casos existem. estilos gráficos em desenho, ilustração e
Para esses artistas ditos autorais, o animação, entre outros. Recebem muitas
cuidado não deve ser apenas com o olhar vezes um título pejorativo de “peão de
atento e crítico do editor, mas também prancheta” (ou de computador). Eles
com o do público. Esse tipo de material estão sempre entulhados de trabalho em
é muito carregado de alma, e, se está épocas específicas do ano, e em outras
© laerte

direcionado para um público alternativo se preocupam demais pela falta de um


(de verdade), não vai conseguir alcançá volume mínimo de trabalho que lhes
-lo, já que o público, fatalmente, não vai possibilitem um equilíbrio financeiro.
se conectar a uma coisa que não cheira Isso acontece porque eles seguem os
muito a verdade. Ele vai, sim, alcançar ritmos sazonais das editoras. Ou seja,
um público ainda em formação, ou que as épocas de fechamento e produção
segue uma “moda” ou algo do tipo, mas, de livros dentro de planejamentos
para os verdadeiros alternativos, seu editoriais específicos.
material sempre soará estranho. Assim, alguns, por seguirem esse
Mas vamos deixar claro: todo este ritmo, procuram outras áreas de tra-
raciocínio está ligado ao que se considera balho em períodos de baixa. Se você,
sucesso em termos comerciais. De novo, durante a maior parte do ano, direciona
cada um tem seu próprio ponto de vista, sua atividade para livros didáticos, por
sua expectativa do que seja sucesso. exemplo, pode pegar trabalhos em
Para alguns é o reconhecimento por um animação, publicidade, etc. Pensando
número enorme de pessoas, revertido assim (e este é um pensamento bastante
textão | que tipo de artista você quer ser?

prático e que pode ser acusado de não em estúdios de arte, agências de pu-
ser muito artístico), é interessante ao blicidade ou dentro de setores de arte
profissional das artes gráficas que nas editoras.
tenha uma formação técnica para não Artistas que conseguem administrar
correr o risco de passar por dificuldades bem suas carreiras trafegando entre seus
financeiras. trabalhos mais autorais e também os
Esses artistas, além de serem verda- encomendados, executados de acordo
deiros camaleões em estilos, também com exigências editoriais específicas,
precisam desenvolver um tino comercial acabam sendo muito bem-sucedidos
forte para se tornarem bons vendedores também em termos de valorização
de seus talentos. Eles devem ser muito criativa. Isto é, todos os editores os 8
versáteis também, ficando o tempo respeitam porque possuem um traba-
todo atentos e se adaptando rápido lho gráfico único, uma personalidade
a novas tendências, estilos, traços, gráfica forte, bem estruturada, aliada à
© ziraldo

exigências editoriais, evoluções técni- técnica, e isso confere a eles um status


cas de processos de trabalho. Alguns que acaba extrapolando os parâmetros
desses artistas, sejam eles técnicos normais da profissão.
ou autorais, não conseguem pensar Cito novamente os mesmos exemplos
de maneira tão empresarial. Não são de antes: Ziraldo, Laerte, Angeli, entre
tão bons vendedores de seus talentos. tantos outros...
Estão preocupados na maior parte do
tempo com o aprendizado e a evolução As digressões de Marcelo
técnica ou intuitiva de seus trabalhos. Campos neste ensaio sobre a
relação entre os tipos de artista
Por esse motivo, alguns deles acabam e os diferentes mercados
continuam na próxima edição.
© Angeli

Marcelo Campos é diretor da Quanta


Academia de Artes. Começou como desenhis-
ta fazendo HQs e, apesar de ter feito muito
mais coisas por aí, a grande maioria dos seus
trabalhos são nesse segmento de mercado.
Trabalhou para editoras como DC, Marvel, Dark
Horse, Image e Disney, entre muitas outras. É o
criador do personagem Quebra-Queixo e autor
do álbum “Talvez Isso...”. Em 2004 decidiu parar
de desenhar, arte-finalizar, ilustrar e tudo mais
e foi fazer outras coisas. Em 2006, resolveu
assumir e cuidar só da escola e do estúdio de
artes, o Quanta Estúdio. Onde está até hoje.
Aos ciquenta e poucos anos, com a quilometra-
gem bem alta, sua banda preferida ainda é The
Clash, o que parece ser bom sinal.
passo a passo | composição

passo a
passo:
a composição no por
gil tokio
9
processo de ilustração

O
pa. Oi, pessoal. Aqui começa mais donzela sem mãos’ (Das Mädchen ohne
um tutorial da Quanta. Desta vez, Hände). É um conto dos irmãos Grimm.
vamos conversar sobre Ilustração Público alvo é adolescentes e adultos.
e, mais especificamente, sobre Apesar dos contos dos Grimm serem
composição de cena. Antes de infantis, esse conto, assim como outros
mais nada, importante lembrar que deles, é bastante sombrio e soturno.
ilustração, como o nome nos diz, é um O estilo pode ser um pouco mais
desenho feito para ilustrar algo, ou realista, mas você pode “viajar”, colo-
seja, é uma arte aplicada, e assim sen- car um pouco de fantasia. Acho legal
do, sempre tem um objetivo. O nosso, representar de alguma forma que a Como vocês viram, o briefing é um
hoje, é fazer uma ilustração para uma personagem principal, a rainha, perde texto. Cabe a nós, ilustradores,
transformar essa ideia em
capa de livro. as mãos.
imagem. O rascunho é uma etapa
Vamos trabalhar com um briefing O prazo é 15 dias, você pode man- fundamental para isso, não só para
hipotético, que inventamos só para o dar o rascunho daqui a uma semana. o cliente ver como vai ficar, mas
tutorial. Um briefing nada mais é do O tamanho é 20,5x27,5cm, preciso da para nós mesmos visualizarmos
o que estamos fazendo. Fiz aqui
que instruções que o cliente nos passa ilustra em 300dpi.
várias ideias em rabiscos bem
para fazermos nossa ilustração. Por Se você quiser ler o texto, ele não é pequenos, para pensar algumas
exemplo, como no texto fictício abaixo, muito grande, vale a pena. Pode tirar opções. Em destaque, com uma
que poderia vir em um e-mail: outras ideias de lá também. seta, o rascunho escolhido.
Vai ficar animal, confio em você. Não
“Fala, Gil. Beleza? nos decepcione pelamordedeus.
Estamos precisando de uma ilustra- Abraço!
ção para a capa de um livro chamado ‘A Marc Fields - Quanta Editora”
passo a passo | composição © julia bax

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A próxima etapa é fazer um rascunho Ok, respirei fundo e comecei do zero de novo. Uma vez aprovado o rascunho, a gente
mais detalhado, para isso gosto de buscar Decidi que a mão decepada da personagem começa a finalização. Aqui fiz o traço primeiro,
referências de fotos. Costumo usar bancos de seria algo mais sutil, tipo uma “mão com um brush do photoshop, que tem um
fotos em domínio público ou royalty free. fantasma”. Mudei também o enquadramento pouco de textura, mas o mais importante acho
Normalmente envio esse rascunho mais e o ângulo entre outras coisas. Aqui, nesta que é a configuração do transfer, como vemos
detalhado para o cliente aprovar, mas... nesse etapa de rascunho, decidi várias questões de na imagem. Coloquei a opacidade a mais ou
caso não gostei da composição e do desenho! composição que comentarei mais no final do menos 40%, regulada pela pressão da caneta
Achei que faltou impacto visual e as mãos tutorial. da tablet. Assim o traço parece um pouco com
de ferro da personagem ficaram sem graça. o do lápis, que fica mais escuro conforme a
Como eu disse, o rascunho serve para nós gente faz um pouco mais de pressão. No estilo
mesmos muitas vezes. do traço, quis que a hachura fosse sutilmente
ornamental, com grafismos rabiscados e
gestuais.
passo a passo | composição

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Quanto à aplicação de cores, nessa ilustração, No traço e no fundo, apliquei algumas Por último, fiz os detalhes em vermelho. Tomei Terminada a ilustração, vamos falar de
eu optei por uma abordagem simples. As texturas de manchas de tinta. Eu tenho uma cuidado para eles ficarem sutis, de modo que alguns conceitos de composição, pensados
cores são quase todas chapadas, sem muitos biblioteca de manchas de tinta nanquim o leitor demore um pouco para perceber que lá no começo, desde o rascunho. Veja como
efeitos. Coloquei depois só um leve gradiente (espirros, respingos, pinceladas etc.) e de eles representam sangue. Não me preocupei a personagem é um elemento central, com a
no fundo e duas variações de tons na pele tinta spray que fiz e escaneei. Apliquei essas em deixar as manchas verossímeis, ou seja, silhueta bem definida e clara (destacada em
da personagem. A paleta de cores é bem manchas tanto em preto, junto com o traço elas escorrem sem fazer muito sentido preto na imagem). A gente costuma chamar de
reduzida, com poucos tons de cinza bem do desenho, quanto em branco, no fundo do mesmo e, inclusive, aproveitei uma mancha e “ponto focal” o elemento de mais destaque na
desaturados variando entre um pouco mais desenho. No fundo, coloquei também alguns coloquei um diabo ali, que é o vilão do conto. composição. Aqui buscamos chamar a atenção
“quente” e “frio”. Dessa maneira o vermelho círculos brancos desfocados, imitando um Confesso que gastei um bom tempo pensando para ela.
que apliquei depois ganha mais contraste, efeito de bokeh da fotografia; e algumas onde colocar a assinatura e, mesmo assim, Se pensarmos em uma “hierarquia”, ou seja,
sendo a única cor mais saturada. A “mão estrelas de muitas pontas, feitas no Adobe nunca fico satisfeito. uma ordem importância dos elementos da
fantasma” da personagem ficou sem contorno Illustrator. composição, depois da personagem temos
para ficar diferente do resto do corpo dela. alguns elementos secundários, por exemplo
os destacados em branco: a mão fantasma e
a floresta, aqui representada alegoricamente
por uma única árvore.
passo a passo | composição

Comentários finais
Conversamos neste tutorial sobre
questões de composição, que era o
nosso tema. Mas poderíamos falar de
muitas outras coisas com a mesma
ilustração, claro.
Acho importante perceber como
recebemos um briefing em forma texto
do cliente e precisamos “traduzir” isso
para imagens. E para isso é preciso
trabalhar vários conceitos e ideias.
O tamanho de cada elemento na 12
página, o destaque que cada um deles
terá, o tipo de acabamento, a posição,
o enquadramento, o ângulo de visão,
entre tantas outras coisas, são todos
definidos por decisão do ilustrador, ou
seja, nós.
E se o ponto focal nessa ilustração
fosse a floresta? E se o ponto focal
fosse uma mão decepada cheia de
sangue e ossos aparecendo (urgh)? E
O nosso olhar está acostumado a seguir um se o ponto focal fosse o diabo? E se o
caminho, o da ordem de leitura de texto. No briefing pedisse uma capa com humor?
ocidente a gente costuma ver qualquer coisa E se fosse o público alvo fosse crianças
de cima para baixo e da esquerda para direita
porque fomos educados assim. Com desenhos
menores de 8 anos? Decidir a melhor
não é muito diferente e podemos usar isso maneira de organizar e produzir a ilus-
a nosso favor. Na ilustração imaginei o tração, a melhor maneira de comunicar
espaço do topo (onde está a bola vermelha) com imagens, é pensar a composição.
reservado para o título ou logotipo do livro,
assim o leitor provavelmente vai ver esse E você? Como faria a capa desse livro?
título primeiro, depois vai ver o rosto da
mulher (seres humanos gostam de ver rostos)
e só depois, surpresa!, a mão fantasma. As
coisas que estão na esquerda e mais abaixo
da capa estarão mais “escondidas” ainda Gil Tokio é quadrinhista, cartunista e
na composição. Assim sendo, o sangue e
ilustrador, formado em arquitetura pela FAU
o pequeno diabo (destacados na imagem)
e mestrado em desenho – tese com a qual ga-
provavelmente serão vistos bem depois.
nhou o troféu HQMix 2007. Ilustra para livros
A ideia aqui foi dar um pouco de surpresa na
didáticos, paradidáticos e revistas. Também é
ilustração. Ou seja, o leitor vai precisar olhar
com mais calma a imagem para perceber os um dos integrantes do estúdio Pingado e pro-
elementos secundários. fessor de desenho 2 e ilustração na Quanta
Academia de Artes.

http://giltokio.com/
agenda | junho

indicação de aluno:

na próxima edição:
em junho e

© malu rigon
marília marz
julho na mostra o seu
quanta*... 16/06 portfólio!
sábado
lançamento, exposição
© lita hay

Textão:
e bate-papo com as a segunda parte das
at

autoras da HQ “melaço”!
a

digressões de 13
marcelo campos
sobre “que tipo de artista
20/06 você quer ser”
quarta
anilha
bate-papo “tungstênio” passo a passo:
u in t
com heitor dhalia q

como organizar seu trabalho


lo

gratuito!
el

digital no Photoshop CC,


rc

a
m
©

com malu rigon!


22/06 e 27/06 e muito mais!
sexta e quarta
© olavo c

jogos do brasil *
Por se tratar de uma ciência
inexata esta arte de previsão do futuro,
na copa do mundo as informações com a programação
os
ta

mensal, contidas nesta página, podem


na quanta! sofrer alterações sem prévio aviso. O
calendário do mês encontra-se dispo-
nível em nosso blog. Além disso, todos

14/07 a 27/07
os eventos são devidamente divulgados
em nossas redes sociais. Acompanhe a
Quanta no facebook, no instagram, no
semanas twitter, onde quer que seja, e fique por
do vieira

dentro das novidades, dos eventos, e


de cursos e oficinas das dicas, que recheiam o nosso úniver-
ua r

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quanta!!!
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