Вы находитесь на странице: 1из 17

A ARQUEOLOGIA NO ESTUDO DA EVOLUÇÃO HUMANA: A

CULTURA MATERIAL NO DESPERTAR DA HUMANIDADE

Alexandre Vasconcelos de Moura FARIAS FILHO1

Anderson Luiz Silva de OLIVEIRA1

Amanda de Lima COSTA1

Diego de Oliveira RODRIGUES1

Rodrigo Nunes de OLIVEIRA1

Sérgio Francisco Serafim MONTEIRO2

1 – Alunos do curso de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); 2 –


Professor Doutor em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

RESUMO

O presente artigo tem por finalidade apresentar algumas das principais


contribuições da Arqueologia no estudo da Evolução Humana, a luz do
desenvolvimento da Cultura Material, de acordo com a gênese de alguns dos
primeiros hominídeos até o Homo Sapiens, numa tentativa de estabelecer um
elo entre o desenrolar das espécies e o progresso cultural e material dos
nossos primeiros ancestrais.
Palavras-chave: Arqueologia, Artefatos, Cultura Material,
Desenvolvimento, Evolução Humana.

ABSTRACT

This article aims to present some of the major contributions of archeology in


the study of human evolution, the light of the development of material
culture, according to the genesis of some of the first hominids to the Homo
Sapiens in an attempt to establish a link between the conduct of species and
the cultural and material progress of our early ancestors.

Keywords: Archeology, Artifacts, Material Culture, Development, Human


Evolution.

Cultura Material

O estudo do modo pelo qual o homem se relaciona com os outros e


com o seu meio é temática indispensável para quem busca entender os
mecanismos histórico-culturais de representação do passado, por meio da
análise de documentos, indícios de comportamento e no caso da
Arqueologia, vestígios, artefatos, pinturas, dentre outros. Tratando a
informação como um “artefato”, procuramos demonstrar como o estudo da
cultura material pode contribuir para um melhor entendimento do passado
humano. Destacamos, porém, algumas restrições da documentação escrita
frente aos vestígios materiais da cultura, além de a relacionarmos com o
caráter de unicidade. Desta forma, pode-se estabelecer a relação da cultura
material como uma representação comportamental passada, que remete a

2
cotidianidade das culturas humanas, ou seja, aquilo que lhes dê uma
“identidade”, um “caráter” único.

Em relação aos interesses da Arqueologia, o arqueólogo deve se


interessar em eventos importantes, como os que foram registrados em
artefatos, que possam dar uma idéia das atividades dos caçadores-coletores
às atividades dos habitantes das cidades, de modo revelar vestígios
concretos, ficando mais à vontade no campo do material. A partir daí a
cultura material pode ser conceituada como a materialidade expressa de
maneira abstrata, designando não apenas o domínio das representações
mentais, do direito, do pensamento religioso e filosófico, da língua e das
artes, mas também das estruturas socioeconômicas, as relações sociais e as
relações de produção. A partir daí alguns autores atribuem quatro
características, sendo duas ligadas ao termo cultura e as outras ao caráter
material: como fenômeno cultural, a cultura material refere-se à coletividade
e a uma repetitividade que a aproxima da noção de cotidiano; o aspecto
material é relativo aos fenômenos infra-estruturais e à atenção aos objetos
concretos, relacionando-os com os homens. Com isso, a cultura material
pode ser visualizada nos vestígios e artefatos arqueológicos, por exemplo,
onde existem várias categorias de fontes, indo de pequenos artefatos (como
um alfinete) a estruturas maiores (como o Taj Mahal ou Stonehenge) em
conjunto com as paisagens onde foram encontradas ou sobrevivem. Dentro
aspecto da evolução humana, tema deste artigo, podemos encontrar vários
exemplos de artefatos, vestígios, traços de cultura material que foram
localizados e estudados ao longo dos anos, todos ligados a evolução humana.
Sendo assim, podemos afirmar que a Arqueologia é uma disciplina ligada à
compreensão da cultura material em amplo sentido – não somente ligada ao
produto de escavações –, mas de todos os elementos que a compõem.

3
Arqueologia, Cultura Material e Evolução Humana

Houve durante os séculos XIX, XX e ainda perdura no século XXI,


diversas interpretações, a respeito das rotas evolutivas dos tipos de ancestrais
existentes e o tipo de comportamento que tinham no passado e como se
processava a cultura material destes ancestrais do homem moderno. De
acordo com cada cientista, cada pesquisa, cada corrente de pensamento de
cada época, havia caminhos e interpretações diversas. Com o decorrer dos
estudos nos artefatos relacionados aos possíveis ancestrais humanos, os
primeiros pesquisadores procuravam identificar e interpretá-los; sendo que
cada material descoberto poderia “influenciar” cada pesquisador e com isso,
cada um formulou sua teoria: Lewis Binford, Richard, Mary, Louis e Meave
Leakey, Raymond Dart, dentre outros (FARAH, 2012).

Exemplos de artefatos, com várias


formas e formatos. Foto: Alexandre
Farias, 2015.

4
Estas pessoas, em cada área do conhecimento, procuraram pesquisar
o passado geocronológico, com a finalidade de buscar mais informações
sobre os ancestrais ou criaturas que fossem seus contemporâneos. Com o
passar do tempo, muitas mudanças ocorreram, graças ao grande número de
pesquisadores (acadêmicos ou não), pela grande quantidade de evidências
encontradas e laboratórios com aparato técnico para análise das mesmas; isso
fez com que vários trabalhos dos séculos anteriores fossem revistos, pois a
luz da época, devido à falta de informações e tecnologia, os achados eram
mal interpretados. A partir daí a cultura material passou a ter lugar de
destaque na pesquisa arqueológica, onde a variabilidade artefatual era
investigada por meio da coleta e descrição dos objetos e relacionando-os a
uma tipologia e classificação, fazendo uso de diferentes categorias teóricas
e analíticas: estilo e função, causas simbólicas e utilitárias, fatores
tecnológicos e culturais, etc. Para o estudo sobre o desenvolvimento da
ancestralidade e evolução humana, a Arqueologia pode fazer o uso da
paleoantropologia (paleo, derivando do grego Palaios que significa: antigo
e velho e Antropologia conceituada como: “o estudo cientifico da espécie
humana, dentro de sua origem, evolução, costume, instituições, etc.) e a
partir do seu uso, teria como ferramentas de trabalho, os estudos de primatas
e de fósseis de hominídeos e procurando entender quais eram os mecanismos
que condicionaram aos antigos ancestrais evoluírem, como se adaptaram,
como se relacionaram entre si e com o meio ambiente a sua volta. O grande
desafio da Arqueologia seria o de sugerir interpretações, respondendo a
seguinte questão: Como que algumas criaturas simiescas, adquiriam
características humanas? De que forma isso foi evoluindo ao longo dos anos?
Quais as relações da cultura material com esta evolução?

5
Réplicas de hominídeos, do Museu Natural do RJ. Foto: Alexandre
Farias, 2015.

Origem e Desenvolvimento da Cultura Material

A autoria das primeiras ferramentas fabricadas por hominídeos não é


um tema pacífico na arqueologia. A possibilidade dos australopitecíneos, que
surgiram no continente africano há aproximadamente quatro milhões de anos
atrás, terem produzido ou apenas utilizado ferramentas é bastante discutida
na doutrina arqueológica. Estas ferramentas tecnológicas são classificadas
em vários tipos diferentes, que foram sendo desenvolvidas através do tempo.
Um exemplo de técnica são as industrias líticas. Elas nos ajudam a datar os
sítios, inferir avanços tecnológicos e sociais. O seu desenvolvimento foi
muito lento e modificou a vida e os hábitos de seus usuários.

As indústrias líticas dos primeiros ancestrais são caracterizadas por


manter dois tipos de utensílios: os fragmentos clactorianos e os núcleos. Com

6
o aperfeiçoamento das técnicas, criou-se a possibilidade de fabricação de
artefatos em uma maior escala, maior precisão e melhor refinamento.
Podemos destacar cinco tipos de indústrias líticas ou modos: Acheuliense,
Musteriense, Olduvaiense, Paleolítico Superior e Neolítico.

Exemplos de indústria lítica. Museu de


Portugal. Foto: Alexandre Farias (2015).

A indústria lítica Acheuliense foi utilizada pelo Homo Erectus e


possivelmente utilizada pelo Homo Ergaster, após o término da glaciação
Mindel, no continente africano, europeu e grande parte do asiático. Ao
contrário da indústria Olduvaiense, apresenta uma série de lascamentos
bifaciais em sentido diagonal, onde o utensílio ganha uma maior sofisticação
e qualidade de uso por possuir fios cortantes largos e resistentes. Também
podemos associa-la a produção de machados de mão que, naquela época,
possuía diversas funções. Estudos dirigidos por Lawrence Keeley pela
Universidade de Illinois chegaram à conclusão de que tais machados eram
utilizados em diversos materiais, como por exemplo madeira, osso, carne e
couro. O arqueólogo da Universidade de Indiana, Nicholas Toth também
7
chegou à conclusão de que os machados eram utilizados para corte de couro;
entretanto, sua conclusão se deu por meio de estudos experimentais, onde
propunha que o peso do artefato juntamente com suas laterais afiadas cortaria
couros mais resistentes. Embora pertencentes a mesma indústria, certos
materiais apresentam particularidades em sua fabricação de acordo com a
região em que é produzido. Como por exemplo, na região sul-africana
prevalece a técnica Victoria-West com a finalidade de obter grandes lascas
e no Norte da África a técnica Tablebala-Tachenghit é utilizada para
fabricação de machados de mão. Segundo Leroi-Gourhan, tais variações
ocorrem não apenas por questões raciais como também por questões de
qualidade do sílex. Estas particularidades nos talhamentos das rochas
aparecem em uma maior escala quando próximo a fonte de matéria-prima.

Outra questão interessante ocorre quando mapeamos as ferramentas


utilizadas por esta indústria percebendo que no continente africano, europeu
e oeste do asiático há fabricação de utensílios bifaciais enquanto que no leste
e no sul asiático há fabricação de utensílios não bifaciais (também chamados
de “chopping”). Para muitos pesquisadores essa ausência é resultado da falta
de matéria-prima e, para Geoffrey Pope, arqueólogo da Universidade de
Illinois, os habitantes da região utilizavam bambu ao invés de lítico devido
primeiramente a escassez de um material de qualidade na região e também
pela versatilidade característica do bambu que é extremamente abundante na
região. Embora haja uma hipótese de que a origem desta indústria se deu na
África, onde a ferramenta com datação mais antiga conhecida até hoje
registra cerca de 1,4 milhão de anos e foi localizada em Konso-Gardula, na
Etiópia. Enquanto que o registro mais antigo fora da África foi localizado
em Ubeidiya, em Israel. Seu uso cessa entre 300000 e 200000 anos atrás,
fazendo com que essa indústria apresente uma duração de quase 1 milhão de
anos.

8
A cultura Perigordiense marca o início do Paleolítico Superior. Ele é
dividido em três fases: a primeira fase (ou inicial) chamada
Châtelperroniense; A segunda fase ou evoluído, chamado Gravetense; e a
terceira fase ou Perigordiense Superior. Originou-se na cultura Musteriense,
mais conhecida como Paleolítico Médio. Ele foi desenvolvido
principalmente na França e na metade norte da Espanha na fase final e
também na Bélgica e na Espanha. É uma indústria em transição entre o
Mousteriense e do Paleolítico Superior. Realizou-se entre 36.000 e 32.000
A.P., aproximadamente, ao fim de uma fase de clima quente. O nome desse
período vem a partir do sitío de nome do Grotte des Fées, Châtelperron, na
França. Ficou caracterizado pelo Homo Neanderthal e se desenvolveu em
um período frio, dominado por espécies como o rinoceronte e as renas,
aliadas a uma vegetação extensa de pinheiros e carvalhos. A deterioração do
clima ocasionou a substituição de florestas por uma cobertura vegetal e
arbustos. O achado lítico mais importante encontrado nesse período é a faca
de Châtelperron.

O período Gravetense (30.000 a.C.) é uma fase da cultura


Perigordiense de Homo Sapiens no Paleolítico Superior. Desenvolveu-se
durante uma fase climática fria, que foi dominado por renas e mamutes.
Estendeu-se pela Península Ibérica, França, Bélgica, Itália, Europa Central,
Ucrânia e partes da Rússia. Há uma grande unidade cultural na indústria
lítica, nas estruturas habitacionais e esculturas. As ferramentas construídas
com ossos são menos abundantes do que no Aurignacense, embora os
primeiros objetos decorados com ossos apareceram nessa época. Estruturas
das habitações são frequentemente muito complexas, circular ou oval.
Existem também poços cavados no solo, delimitados por ossos de mamute.
Esta fase é caracterizada pela abundância de buris, incluindo raspadores,
brocas ou serradores. Nessa fase há menos raspadores e são geralmente
planos. Já o período Aurignacense é caracterizado por uma indústria de
9
laminar de dois modos: Uma indústria lascas grandes (algumas pesadas), e
outras de formato menor. Não é raro de ser acompanhada por uma indústria
de “choppers” (machados) de matérias-primas de espessura menor qualidade
como "breve" ferramenta. Tipologicamente, destacam-se as carenagens
raspadeiras, cinzéis e buris, além de ferramentas de osso. Ela se espalhou
sobre a França, a Bélgica, a região da Catalunha, a região cantábrica da
Península Ibérica e Inglaterra.

No início do século XX, Raymond Dart, antropólogo australiano,


célebre por ter identificado a espécie de australopitecíneos que batizou como
Autralopithecus Africanus, a partir do fóssil do também célebre “Garoto de
Taung”, propôs que os Australopithecus teriam utilizado ossos de animais
como armas e utensílios, mas não recebeu a atenção da comunidade
científica.

Foto de exemplar de Australopithecus.


Museu Natural do RJ. Foto: Alexandre
Farias, 2015.

10
Posteriormente, na década de 1950, Robert Broom e seu então
ajudante John T. Robinson realizaram diversas escavações na África do Sul,
mais precisamente nas cavernas Sterkfontein, Kromdraai e Swartkrans.
Durante suas pesquisas, encontraram diversos indícios de que os
australopitecíneos produziram cultura material. Em 1957 puderam defender
esta hipótese com segurança, pois acharam artefatos líticos e remanescentes
de Australopithecus no mesmo estrato. Em 1996, na Etiópia, foram
encontrados remanescentes de um hominídeo que foi posteriormente
batizado de Australopithecus Garhi. Esta nova espécie de australopitecíneos
teria habitado o continente africano há 2,5 milhões de anos atrás e sua
anatomia sugere que foi um ancestral direto do gênero Homo. Próximo aos
remanescentes do Australopithecus Garhi foram encontradas lascas de
pedras e ossos de animais apresentando marcas de corte e percussão.
Nenhuma outra espécie de hominídeo foi encontrada próxima a estes
achados, mas ainda assim a autoria dos artefatos é questionada. Para os que
defendem que os australopitecíneos não produziram e nem utilizaram
ferramentas, os primeiros hominídeos a desenvolverem cultura material
teriam sido os Homo Habilis. Estes, que também são considerados os
primeiros integrantes do gênero Homo, povoaram o continente africano há
aproximadamente 2,4 milhões de anos. Anatomicamente, se diferenciavam
dos australopitecíneos por possuírem uma caixa craniana maior, dentes
molares menores e uma face menor e menos projetada para frente. A alcunha
recebida, que significa “homem habilidoso”, remete exatamente à sua
habilidade em produzir ferramentas. Alguns remanescentes de Homo Habilis
foram encontrados pela primeira vez pelo casal Louis Leakey e Mary Leakey
em escavações realizadas na Garganta de Olduvai, norte da Tanzânia. No
mesmo local foram encontradas uma grande quantidade e variedade de
artefatos líticos. Esta intensa produção de ferramentas atribuídas aos Homo
Habilis ficou conhecida como indústria olduvaiense, em referência a
11
localidade. A referida indústria é um marco nos estudos acerca da cultura
material dos ancestrais humanos. Os artefatos da indústria olduvaiense,
constituídos principalmente de basalto e quartzito, possuem uma
variabilidade razoável de formas, tamanhos e funções, chegando a receber
uma extensa classificação nos anos 1970. Por terem sido achados
acompanhados de grande quantidade de restos faunísticos que apresentavam
marcas de corte, pode-se inferir que uma de suas principais atribuições era o
esquartejamento de carcaças de animais. Dessa forma, é possível deduzir que
o Homo Habilis consumiu carne de maneira regular. A cultura material
desenvolvida pelo Homo Habilis permite que se compreenda não só seus
hábitos alimentares, mas diversos aspectos de seu estilo de vida e até
relacionamentos sociais. Steven Mithen aponta que “as descobertas de
blocos de pedras em lugares afastados das fontes de matéria-prima e as séries
incompletas de estilhaço de lascamento em sítios arqueológicos são
consideradas evidência de que o Homo Habilis podia prever a distribuição
de recursos”. Com isso, defende que ele realizava um mapeamento mental
da distribuição de matérias-primas, sendo capaz de prever a utilização de
artefatos nas suas atividades de subsistência.

Continuando com o desenvolvimento da cultura material pelos


hominídeos, os Neandertais desenvolveram uma rica cultura material, tanto
na produção de ferramentas de caça e coleta quanto na atribuição de
significados múltiplos aos materiais usados em cerimônias ritualísticas. A
tradição industrial Neandertal deriva do estágio mais recente da tradição
Acheuliense. Essa técnica de elaboração de ferramentas de pedra é oriunda
do Paleolítico Inferior, datada entre 1,5 milhões e 200.000 anos atrás e é
caracterizada por instrumentos líticos de formato triangular, maiores, mais
refinados e simétricos, quando grandes lascas são transformadas em
raspadores, e, principalmente, os machados manuais lascados bifacialmente,
os bifaces, já indicando uma preocupação na concepção do produto final.
12
O desenvolvimento da técnica Levallois, que recebeu esse nome por
causa do local onde, no século XIX, primeiro foi encontrado esse material
diferenciado, a cidade francesa Levallois-Perret, marca o fim da tradição
Acheuliense, quando se nota o aperfeiçoamento dos utensílios, bem como a
diminuição do tamanho dos objetos e o cuidado com as formas estéticas. O
seu processo produtivo consistia em talhas a partir da preparação de um
núcleo de pedra antes da retirada das lascas de um bloco, conseguindo uma
superfície convexa e permitindo determinar a forma e o tamanho da lasca,
antes de sua extração, obtendo ferramentas mais especializadas, com melhor
controle do formato do objeto, originando um planejamento processual. A
ferramenta final poderia ser usada para raspagem ou, mais finas, como seta
ou faca. Além de uma otimização no uso da matéria prima, pela capacidade
variativa da produção instrumental com um único bloco de pedra, nota-se a
instauração de um estilo artesanal na produção das ferramentas líticas. As
variações da técnica Levallois ocorriam conforme a intenção da forma e uso
do objeto, com processos de retirada diferenciados para lascas (método
clássico ou extração centrípeta) ou pontas e lâminas (método de obtenção de
nervo longitudinal e método reiterativo).

A partir da retirada das lascas de um bloco, produziam-se variados


tipos de ferramentas, como machados manuais, perfuradores, lascas,
lâminas, lanças e raspadeiras, sendo comuns as lanças para finco nas presas,
um ataque presencial, continuidade dos métodos estabelecidos no paleolítico
inferior. Também eram comuns, embora menos numerosos, os materiais
feitos de conchas, chifres e grandes ossos. Nesse período ocorre o apogeu da
tradição industrial Neandertal, sendo o estabelecimento da cultura
Musteriense, que foi um conjunto de práticas e materiais surgidos na Europa
Ocidental aproximadamente 120.000 a.C - 7000 a.C, estendida por toda a
Europa e parte da Ásia, o marco da inauguração do período do Paleolítico
Médio. O seu nome se origina da caverna de Le Moustier (na região da
13
Dordogne, França), onde Gabriel de Mortillet descobriu em 1860 uma
indústria lítica pré-histórica, associada com os fósseis de Homo
Neanderthalensis encontrados em 1907.

Réplica de crânio de Neanderthalensis –


LABIFOR/UFPE. Foto: Anderson Luiz
(2015).

Mais uma diferença na produção cultural Neandertal passa-se a notar,


com o uso, em enterramentos perto das cavernas, de adornos e ornamentos
sem ligação com a caça, além de posições específicas para a posição dos
corpos, denotando uma preocupação e interesse místico-espiritual de vida e
morte, uma primazia do conceito artístico-religioso. Sepulturas neandertais
encontradas na Europa e Ásia continham peculiaridades que acompanhavam
os corpos como ossos de boi, mamute, ovelha; seixos, talismãs;
sepultamentos com flores ou ainda restos de comida. Era comum também
modificação nos ossos do corpo, mais ligado a rituais canibais. Tudo isso
indica uma complexidade social, onde as técnicas produtivas avançadas e a
necessidade de caça coletiva (pelo tamanho dos animais e o pouco alcance
das ferramentas), terminaram por suscitar entre os pesquisadores a dúvida se

14
seria possível tal grau de desenvolvimento e cooperação sem o
acompanhamento de uma linguagem também sofisticada.

Os variados grupos espalhados no continente sofriam as influências


do clima e das fontes de matéria prima, o que culminava na singularização
da produção de ferramentas, ampliados pela ausência de transporte ou
comércio das mesmas. A fauna também moldava a intenção de tipo de
ferramenta para fabricação: observa-se a repetida presença de sítios
Musterienses em lugares com predomínio de um único tipo de espécie para
caça. A transição da cultura Musteriense Neandertal marca também a
mudança do Paleolítico Médio para o Superior.

Nesse momento ocorrem os primeiros contatos sociais com os homens


modernos (Homo Sapiens) e com a sofisticação tecnológica e influência
cultural.

Réplica de crânio de Homo Sapiens –


LABIFOR/UFPE. Foto: Anderson Luiz
(2015).

15
Esta superação tecnológica dos primeiros homens modernos seria uma
das razões apontadas para a gradual extinção do homem de Neandertal, mas
pairam dúvidas em relação ao advento da indústria chatelperronense
(aproximadamente 35.000 A.C), no que diz respeito a autoria dos seus
artefatos. Quando se compara as ferramentas e adornos feitos pelos
Neandertais e pelos Homo Sapiens, pesquisadores puderam constatar um
grau semelhante de desenvolvimento. A inteligência e o desenvolvimento da
competência técnica dos Neandertais originaram questionamentos sobre a
fabricação dos artefatos: se os Neandertais seriam os autores isolados dos
materiais simbólicos da cultura chatelperronense ou se seria uma produção
influenciada pelo contato cultural com os primeiros homens modernos que
apareceram no Oriente Médio e, posteriormente, na Europa.

Conclusão

Levando-se em conta o que foi observado neste artigo, pode-se


acompanhar um pouco da contribuição da Arqueologia no estudo da
Evolução Humana, com enfoque no desenvolvimento da cultura material,
pois entende-se que não se pode dissociar o fato da ligação entre o
desenvolver da espécie humana e o avanço nas técnicas produtivas culturais
e materiais, de modo a tentar apontar o porquê de a humanidade estar
presente nos quatro cantos do planeta e como o seu processo de
desenvolvimento cultural foi importante para tal difusão.

16
Bibliografia

ARSUAGA, Juan Luis de; MARTÍNEZ, Ignacio. La especie elegida: la


larga marcha da la evolución humana. Madrid: Temas de Hoy, 2006. 438 p.

BRODRICK, A. Houghton. El hombre prehistorico. Mexico; Buenos Aires:


Fondo de Cultura Económica, 1955. 422p.

FARAH, Leonardo de Castro. Acaso Humano: História dos Caminhos e


Descaminhos da Evolução. Minas Gerais: UNI-BH. [2013]. 151p.

FERNÁNDEZ MARTÍNEZ, Víctor M. Arqueología prehistórica de


África. Madrid: Síntesis, [1996]. 271 p. (Historia universal. Prehistoria; v.
9).

LEROI-GOURHAN, André. Os caçadores da pré-história. [Lisboa]:


Edições 70, 2001. 154 p. (Perspectivas do homem. As culturas, as
sociedades).

MITHEN, Steven J. A pré-história da mente: uma busca das origens da arte,


da religião e da ciência. São Paulo: UNESP, 2002. 425 p.

17

Вам также может понравиться