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Adaptação organizacional na indústria

farmacêutica de genéricos: em busca


de um novo futuro - um estudo
de caso no laboratório teuto brasileiro.
José Pedro Toschr

Resumo Abstract
Neste artigo pretende-se buscar a In this article we intends to look for the
compreensão sobre mudança estratégica e a understanding of strategic change and the
adaptação organizacional dela decorrente, por organizational adaptation caused by thes
meio de um estudo de caso na indústria far- change, through a case study in the national
macêutica nacional, produtora de pharmaceutical industry, producer of similar and
medicamentos similares e genéricos. São generic medications. Two periods are
evidenciados dois períodos para estudo de evidenced for the study of current strategic
mudanças estratégicas decorrentes de ações changes brought about by government actions.
governamentais: o primeiro caracteriza-se pela The first periodis characterized by change
mudança imposta pelo ambiente, e o segundo imposed by the environment, and the second,
pela escolha estratégica realizada pelos admi- by the strategic choice accomplished by the
nistradores. Esses dois períodos são analisados managers. Those two periods are analyzed in
em discussão com aproximação de teorias de- discussion of theories developed by several
senvolvidas por vários pesquisadores. Os researchers. The arguments developed in the
argumentos desenvolvidos na discussão e na discussion and in the narrative of the case,
narrativa do caso acenam para a possibilidade point to the possibility of use of using elaborated
de utilização do modelo elaborado por Miles by Miles & Snow, for the understanding of
e Snow (1978), para compreensão sobre strategic change and the organizacional
mudança estratégica e a adaptação adaptation.
organizacional decorrente.
Key Words
Palavras-Chave
Strategic change, strategic choice,
Mudança estratégica, escolha estratégica, organizational adaptation.
adaptação organizacional.

* Mestre em Engenharia de Produção da


Universidade Federal de Santa Catarina -
UFSC-
E-mail- toschi@genetic.com.br
REVISTA DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO, Florianópolis, v.4, n.6, p.51-59, jan./jum.2002 4111C.Afiji,
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1 Introdução ções de classe das indústrias farmacêuticas e


entrevistas realizadas com a direção do Labo-
A adaptação organizacional é um tema ratório Teuto-Brasileiro, organização âncora
que tem despertado grande interesse de pes- deste estudo de caso.
quisadores. Entretanto, segundo Miles e Snow
(1978), esse interesse vem recebendo um tra- 2 O cenário: A indústria farmacêutica
tamento basicamente teórico e fragmentado, no Brasil
traduzindo-se em diversas abordagens, nas A indústria farmacêutica no Brasil é com-
quais cada autor procura impor a sua versão, posta, em sua maioria, por empresas
passando a idéia que as suas perspectivas de multinacionais, e a minoria, portanto, de em-
análise são as mais coerentes. Poucos se utili- presas nacionais. As empresas vivenciam o
zaram de pesquisas empíricas, de forma a sa- mesmo ambiente caracterizado por uma forte
ber como realmente as organizações se adap- concorrência e um mercado distribuído segun-
tam às condições do macro-ambiente. do a concentração demográfica. Por ser uma
A proposta deste artigo é buscar a com- atividade de interesse social — a saúde da po-
preensão sobre mudança estratégica e a adap- pulação — a indústria sofre alto grau de regula-
tação organizacional dela decorrente, com fun- mentação por parte do governo, acerca do
damentos teóricos no modelo desenvolvido registro do medicamento e licença para sua
por Miles e Snow (1978), por meio de um comercialização e, principalmente, no contro-
estudo de caso em organização nacional, cuja le de preços. Entretanto, existem, entre essas
indústria enfrenta uma transição peculiar. empresas, fatos que as distinguem. As
No momento em que o mercado nacio- multinacionais têm como característica
nal de medicamentos sofre grandes transfor- marcante a participação percentual relativa-
mações, desde a entrada em vigor da lei dos mente pequena dos custos industriais no custo
genéricos (remédios que têm as mesmas ca- total (Wood, 1995); os valores principais de
racterísticas dos produtos de referência), a di- custeio são a Pesquisa e Desenvolvimento —
nâmica do ambiente tem provocado rápidas responsável pela maior parcela de custo — e o
mudanças estratégicas na indústria farmacêu- Marketing. Ao contrário, nas empresas naci-
tica nacional, produtora de medicamentos si- onais o custo industrial é a parcela mais im-
milares e genéricos. portante do custo total. Isto acontece porque
Além de informações básicas da indús- as empresas nacionais não realizam Pesquisa
tria farmacêutica no Brasil e outras que irão e Desenvolvimento, fabricando e vendendo
propiciar um melhor entendimento, serão produtos similares aos medicamentos de refe-
abordados dois momentos significativos de rência 3/4 originais 3/4 e mais recentemente, os
definição nessa indústria na construção do genéricos, ambos após a decorrência do pra-
cenário deste estudo de caso: o primeiro, no zo de proteção de patente, que é de dez anos.
período que antecede a primeira tentativa go-
vernamental para regulamentar os medica- 2.1 Conceitos esclarecedores
mentos genéricos, em 1993, com o decreto Para melhor compreensão, é oportuno
793, promulgado pelo governo do então pre- relacionar os principais conceitos relativos aos
sidente Itamar Franco; o segundo, período novos medicamentos e os termos normalmen-
posterior a 1993, desde a derrubada do de- te utilizados na indústria:
creto 793 pelas multinacionais da indústria far-
macêutica, até os dias atuais. • Genérico: Medicamento com a mesma
As informações utilizadas foram obtidas fórmula, quantidade, dosagem, condições de
em publicações especializadas, nas associa- uso e ação terapêutica das de um produto
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original. A sua eficácia e a segurança são as- quando a intensidade da rivalidade
seguradas pelos testes de bio-disponibilidade
e bioequivalência, pelo registro às matérias- entre os concorrentes é ocasionada
primas utilizadas e pela comprovação de boas pela ausência de diferenciação do
práticas de fabricação. produto, a escolha do comprador se
Medicamento de referência: É o me-
dicamento inovador, em geral desenvolvido por afirma no preço e no serviço, resul-
grandes laboratórios farmacêuticos após lon- tando em pressões no sentido de uma
gas e caras pesquisas, com eficácia, seguran-
ça e qualidade comprovadas por ocasião do concorrência intensa com relação a
registro junto ao órgão federal competente. preços e serviços.
Similares: Têm o mesmo princípio ativo
dos medicamentos de referência, mas não são De fato, o preço dos produtos e a
obrigados a fazer os testes de bio-disponibili- bonificação em espécie, conhecida como B2
dade e bioequivalência exigidos aos genéricos. — criada para diferenciar descontos para cli-
entes - constituíam-se no ponto central de ne-
3 A organização gociação. O marketing da empresa era ori-
entado para o balconista de farmácia e não
O Laboratório Teuto Brasileiro é uma in- para os médicos, como nas indústrias farma-
dústria farmacêutica fundada em 1947. Em cêuticas multinacionais. Os canais de distri-
1986, o empresário Walterci de Melo assu- buição eram compostos de vários pequenos
miu o controle do mesmo, do qual era o seu distribuidores, que pulverizavam os produtos
representante comercial na região hoje forma- em venda farmácia a farmácia.
da pelos Estado de Tocantins, Goiás e partes As estratégias adotadas pela empresa
do Pará e Maranhão. antes de 1993 orientavam as ações da organi-
Depois de funcionar por quase cinco zação para um público periférico, de baixa ren-
décadas em Minas Gerais, a empresa se da e em nível nacional. Assim, considerando
transferiu para o Distrito Agro-industrial de que os produtos em seu ambiente competitivo
Anápolis em 1993, atraída pelos incentivos não são diferenciados, o enfoque no segmen-
fiscais e benefícios oferecidos pelo programa to de mercado apresenta, então, a maior rele-
Fomentar estabelecido pelo Governo do Es- vância como estratégia genérica. Porter, ao se
tado de Goiás. Hoje é o líder de mercado referir à essa estratégia genérica, observa que:
em seu segmento.
A estratégia (enfoque) repousa na
4 Primeiro momento: da fundação
até 1993 premissa de que a empresa é capaz
O Laboratório Teuto produz, desde a sua de atender seu alvo estratégico es-
fundação, medicamentos denominados simila- treito mais efetiva ou eficientemen-
res, conhecidos no mercado como sendo de te do que os concorrentes que estão
segunda linha. A competição a que se expu-
nha no mercado, era apenas com outros labo- competindo de forma mais ampla.
ratórios nacionais que, também, fabricavam Consequentemente, a empresa atin-
similares. Os produtos são vistos como de
quase primeira necessidade, sem diferencia- ge a diferenciação por satisfazer
ção entre os mesmos das várias firmas da in- melhor as necessidade de seu alvo
dústria. Porter (1991; p. 36) considera que particular, ou custos mais baixos na
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obtenção deste alvo, ou ambos farmacêutica, de que a venda dos medicamen-


tos fosse realizada pelo nome das substâncias
(Porter, 1991; p. 52). ativas. Entretanto, temendo ver o seu merca-
Desta forma, o enfoque dado pela empre- do reduzido, as indústrias farmacêuticas
sa ganha mais importância, pois a diferenciação multinacionais se lançaram numa cruzada judi-
pode ser obtida junto aos clientes nos serviços cial contra o decreto, conseguindo derrubá-
prestados e no fornecimento. E esta era a for- lo. Embora com êxito em seu intento, as
ma de competição entre as firmas nacionais da multinacionais não conseguiram evitar que o
indústria farmacêutica Havia um "limite de cres- fato estimulasse as indústrias farmacêuticas
cimento" para essas firmas: a limitação de linha nacionais a se prepararem para aproveitar a
de produtos passíveis de fabricação de similar oportunidade que havia sido sinalizada pela
— de patente vencida e disponibilidade de ma- atuação reguladora do governo, de uma qua-
téria-prima — e a qualidade percebida pelo se certa mudança no mercado.
mercado dos laboratórios multinacionais. 6 Segundo momento: após 1993 até a atu-
A aplicação estratégica bem definida, alidade
entretanto, não exigia uma administração fun-
cional diferenciada. A estrutura organizacional No início desse período, os laboratórios
da empresa era tipicamente de uma empresa multinacionais não demonstravam preocupa-
pequena, de um só proprietário, que repre- ção com a indústria farmacêutica de similares,
sentava a decisão estratégica, visão, valores e devido à modesta participação da mesma no
orientação da estrutura organizacional. mercado e por isso não representavam amea-
Segundo informação da direção da em- ça ao seu ambiente competitivo.
presa âncora, não existe nenhum estudo com- Entretanto, no tempo que se seguiu, a in-
pleto acerca do comportamento do mercado dústria nacional se preparou efetivamente para
farmacêutico no Brasil, e a participação do competir e garantir seu nicho de mercado, na
Laboratório Teuto- Brasileiro no mercado até certeza de que se o espaço não fosse ocupa-
meados da década de 90 era irrisória. A pró- do por ela, sem dúvida alguma, seria ocupado
pria indústria farmacêutica de similares tinha por uma multinacional do ramo, com capital e
uma participação total estimada ao redor de experiência para suprir rapidamente o merca-
1% do mercado brasileiro. do. Segundo se apurou em entrevista, havia
uma interpretação coletiva na indústria nacio-
5 0 divisor de águas: decreto lei 793 nal: a indústria multinacional iria lutar o quanto
O governo brasileiro sempre demonstrou pudesse para manter o status-quo, e se por
a preocupação no que se refere aos preços acaso, a ação reguladora do governo patroci-
dos medicamentos que são vendidos à popu- nasse, em curto prazo, a entrada no mercado
lação. Atrás do interesse político havia efeti- de medicamentos genéricos, apenas a indús-
vamente um problema de ordem contábil, que tria multinacional reunia condições de respon-
tornava interminável e improdutiva a discus- der rapidamente à exigência. Claro que para a
são sobre os custos dos medicamentos e a indústrias multinacionais, pelas barreiras à en-
forma de custeio dos investimentos em plane- trada que mantinham, a preferência se daria
jamento e desenvolvimento. sempre pela não mudança. O governo tinha
Em abril de 1993, por meio do decreto uma posição interessante: se de um lado ofe-
presidencial n° 793, ocorreu a primeira tenta- recia segurança às indústrias multinacionais
tiva do governo brasileiro de impor uma con- regulando os padrões para teste do produto,
dição às empresas multinacionais da indústria por outro lado, sinalizava com mudanças nas
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regulamentações. Porém, o papel do governo Em 1996, quando já terminava a sua pri-
é determinado mais por fatores políticos do meira ampliação física, a alta administração,
que por circunstâncias econômicas. Deste fato, representada pelo proprietário do Laborató-
a indústria nacional tinha conhecimento e acre- rio Teuto Brasileiro, optou por transformar a
ditava que passaria um período de alguns anos empresa, até então familiar, em uma empresa
para que alguma mudança legal pudesse ocor- profissionalizada. Entendia seu proprietário
rer, mesmo porque, se a ação regulatória do que com o incremento de trabalho e de ges-
governo é um ato político, a análise dos fatos tão, haveria necessidade de repartir a respon-
que precipitam essa mudança também o é. sabilidade pela administração da empresa.
Assim, pode-se concluir que o governo tam- Iniciado esse processo de profissionalização,
bém tinha certeza que se mudasse o equilíbrio foram criadas Superintendência e Diretorias
do mercado com uma exigência de fabricação para, inicialmente, seguir o pensamento es-
de genéricos, só poderia fazê-lo se contasse tratégico do proprietário.
com apoio de indústria de produtos substitu- Com os profissionais, desenvolveu-se um
tos. Dessa interpretação coletiva feita pela in- foco de análise baseado nas seguintes ques-
dústria nacional, o Laboratório Teuto Brasilei- tões estratégicas: 1) Como vender mais e me-
ro também corroborava. lhor nossos produtos? 2) Como garantir uma
participação consistente que possa, também,
7 Da mudança imposta pelo ambiente à es- garantir a "reserva" de espaço no mercado e a
colha estratégica: o rumo da sobrevivência sobrevivência da empresa?
O ponto nevrálgico dessas questões pas-
Nessas condições ambientais, o que res- sava pela análise do mercado consumidor e
tava ao Laboratório Teuto-Brasileiro para ga- de como ele era atingido. O mercado consu-
rantir sobrevivência no setor e longevidade mia produtos que possuíam uma qualidade
como empresa lucrativa? A alta administra- percebida pelos consumidores, ancorada na
ção, então representada pelo proprietário, tradição e na marca dos laboratórios
assumiu uma mudança nos rumos, segundo o multinacionais. Era necessário, então, estabe-
que o ambiente determinava naquele momen- lecer uma meta que pudesse colocar o Labo-
to. Era necessário sobressair-se no mercado ratório Teuto Brasileiro em condições de com-
assumindo um crescimento, e, juntamente com petir com os laboratórios multinacionais. Era
outras indústrias nacionais, ocupar os espa- necessário colocar a qualidade em evidência e
ços de consumo em potencial. A decisão foi realmente estabelecer condição mercadológica
a de assumir um crescimento que determinou para que ela fosse percebida pelo mercado.
as providências iniciais: realizar novos inves- Foi, então, estabelecido um programa de
timentos visando aumentar a produção e a sua qualidade, visando a certificação ISO como uma
participação no mercado por meio de incre- forma de divulgação da qualidade dos produ-
mento na linha de produtos. tos. Paralelamente, trabalhos com a força de
A primeira atenção estratégica baseava- vendas e canais de distribuição, alavancaram as
se em recursos financeiros necessários para a vendas da empresa, mesmo sendo ainda pro-
ampliação da linha de produtos e de produ- dutos similares ou semelhantes.
ção, e foi atendida pelo proprietário com
aporte de capital para os investimentos neces- 8 A regulamentação: Lei 9.787 — " Lei dos
sários. Mas nada disso teria valor se não hou- genéricos".
ves se suficiente e adequada estrutura Durante 1997, a pressão da opinião pú-
organizacional para implementar e administrar blica pelos preços dos remédios e no rastro
os novos rumos estratégicos. de seguidas falsificações de medicamentos e
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da ineficiência do órgão governamental de fis- para o consumidor de baixa renda, admitia


calização em reprimir as fraudes, o governo que não reunia condições para competir com
federal identificou na adoção dos medicamen- as multinacionais, produzia com limitações
tos genéricos uma forma de reformular o ex- de variedade, e havia um conformismo em
plosivo mercado de medicamentos no país. A relação ao futuro. O ambiente competitivo,
versão final da lei dos genéricos foi votada em em sua dimensão, era limitado aos produto-
dezembro de 1998. res nacionais. O ambiente onde se inseria
Com essa nova regulamentação governa- parecia ser diferente do ambiente onde se
mental, o mercado de medicamentos genéricos inseriam as multinacionais, pois que, as
e, por extensão, o de semelhantes, entrou em interações e as práticas tinham uma dinâmi-
efervescência. Os preços desse tipo de medica- ca diferente. Nesse sentido, Miles e Snow
mento chegam a ser até seis vezes menor do que (1978, p.18), argumentam que
o da marca de referência. Embora com denomi-
nações diferentes - genéricos e de marca de re- É verdade, mas não uma verdade pro-
ferência - o produto é o mesmo e, portanto, os funda, afirmar que toda organização
genéricos passaram a liderar pelo custo. Por ou-
tro lado, o produto passou a gozar de referência está embutida em uma rede de influ-
de excelência pela certificação ISO 9002. Por ências externas e relações que podem
conseqüência, segundo informação da direção,
nos últimos três anos o Laboratório Teuto Brasi- ser rotuladas como ambiente. Contu-
leiro quadruplicou sua capacidade de produção do, (...) o ambiente não é uma entida-
e lançou duzentas novas apresentações. Novos de homogênea, mas composta de uma
investimentos em construções e tecnologia tive-
ram que ser realizados, criação de níveis em sua combinação complexa de fatores
estrutura organizacional, bem como programas como produto, mercado, costumes e
de qualificação de mão de obra. O número de
práticas industriais, regulamentações
empregados triplicou nesse período.
governamentais e relações com
8 Discussão
financiadores e fornecedores de ma-
O aumento da velocidade das mudanças téria prima. Cada um desses fatores
ambientais tem ressaltado, de um modo uni-
versal, a importância da compreensão das tende a influenciar a organização de
mudanças organizacionais. Porém, entender a uma maneira única e própria ...
mudança organizacional do Laboratório Teuto
Brasileiro ganha importância à medida que se De fato, o ambiente vivenciado pela La-
trata da maior produtora nacional dentro da boratório Teuto Brasileiro apresentava, real-
indústria farmacêutica e que, seu comporta- mente, uma dinâmica diferenciada em relação
mento adaptativo provavelmente está ao ambiente das multinacionais. No entanto,
norteando comportamentos análogos na mai- independente do tamanho da organização ou
oria das outras firmas da indústria. de sua representatividade na indústria, se in-
fluenciada por qualquer fator ambiental, uma
9 Analisando o período até 1993 adaptação decorrente deveria ocorrer pelo
Nesse período, do que foi conhecido, alinhamento da organização a seu ambiente.
havia uma inércia relativa a produtos e mer- Os mesmos autores, ao se referirem à adapta-
cado. A empresa em estudo orientava—se ção organizacional, sugerem que
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a alta direção possui a dupla respon- a estrutura de poder de decisão e a formação


de uma nova cultura organizacional, em substi-
sabilidade de alinhara organização e tuição à anterior. A profissionalização da em-
seu ambiente e de gerenciar as presa, com a admissão de profissionais para
ocupar os cargos de direção, marca o início de
interdependências internas que são cri-
uma nova fase, caracterizada pelo desprendi-
adas. A sobrevivência organizacional mento do proprietário em dividir o poder de
se baseia na qualidade do 'encaixe' decisão e abandono dos paradigmas culturais
já existentes. Child, citado por Miles e Snow (
entre as principais variáveis do domí- 1978, p.20) afirma que a maneira mais precisa
nio produto - mercado de uma organi- de se conceituar esse processo é a abordagem
zação, suas tecnologias para servir esse da Escolha Estratégica. Nessa abordagem, se-
gundo os mesmo autores, considera-se que
domínio e as estruturas e processos
organizacionais desenvolvidos para (...) administradores estão em uma
coordenar e controlar a tecnologia posição para não somente ajustar a
(Miles e Snow, 1978, p.18). estrutura e processos organizacionais,
mas também para tentar manipular
No caso em estudo, para aquela oca-
sião, a citação feita distingue perfeitamente a o próprio ambiente para trazê-lo em
empresa: empresa familiar pequena, de um só conformidade com o que a organiza-
proprietário, que representava a decisão es-
ção realiza.
tratégica, visão, valores e orientação da estru-
tura organizacional. As respostas aos eventos De fato, os profissionais vieram compor
ambientais, via de regra eram reativas, porém, um grupo de decisores de grande influência
um mérito importante que se faz necessário sobre o sistema, identificados no estudo de
creditar ao proprietário: a sua capacidade pró- Child como sendo a coalizão dominante.
ativa demonstrada na interpretação das infor- Nesse aspecto, essa coalizão dominante tem
mações implícitas no ambiente competitivo da como características de atuação, dentre ou-
indústria farmacêutica. A leitura do provável tras, ter a responsabilidade de encontrar e re-
cenário de fabricação de medicamentos gené- solver os problemas e representar ou criar o
ricos a médio prazo, sinalizada pelo decreto- ambiente mais relevante da organização. A atu-
lei 793, outorgado pelo Presidente Itamar Fran- ação dessa coalizão dominante levou a em-
co, o levou, também, a uma decisão estratégi- presa a adotar um programa de qualidade
ca significativa no período subsequente para a como estratégia básica para conquista do con-
sobrevivência e sucesso da organização. sumidor e da confiança dos médicos e outros
10 0 período depois de 1993 profissionais da saúde em relação à qualidade
dos produtos semelhantes. A eficácia dessa
A partir do decreto-lei 793, há por parte decisão logo apareceu nas vendas e no inte-
do proprietário do Laboratório Teuto-Brasilei- resse dos canais de distribuição mais significa-
ro uma percepção de futuro, e a decisão singu- tivos e importantes do ramo. Nesse sentido,
lar de investimento demonstra a sua escolha Miles e Snow ( 1978, p.21) afirmam que
estratégica para a empresa. No período que se
segue, realiza outra escolha estratégica que irá "a abordagem da escolha
determinar, no futuro, a estrutura organizacional, estratégica argumenta que a
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eficácia organizacional depende das O ciclo adaptativo no Laboratório


Teuto-Brasileiro seguiu essas premissas. O
percepções da coalizão dominante problema empresarial foi equacionado inici-
sobre condições ambientais, e das almente pelo proprietário ao escolher o do-
mínio produto-mercado; o problema de en-
decisões que ela toma relacionadas
genharia, equacionado parcialmente pelo pro-
à maneira pela qual a organização prietário mas principalmente pela coalizão
enfrentará essas condições", dominante na escolha das tecnologias para a
produção e distribuição; o problema admi-
e que esse processo é dividido em três proble- nistrativo determinado pela coalizão domi-
mas que a administração da empresa deve so- nante, na conformação da estrutura e proces-
lucionar: o problema empresarial, o problema sos, na busca da certificação da qualidade e
na condução capaz de realizar manobras para
de engenharia e o problema administrativo. O permitir a expansão de domínio.
conjunto desses problemas obedece uma se-
qüência, no denominado ciclo adaptativo. 11 O governoincentivador—aregulamentação
Afirmam os mesmos autores, que "o ciclo Com a regulamentação dos medicamen-
adaptativo é mais visível em organizações tos genéricos pela Lei 9.787, o mercado deu
novas ou que crescem rapidamente", o que um salto quantitativo de demanda, porém, o
se verifica inteiramente no caso em estudo. Não Laboratório Teuto-Brasileiro já caminhava
obstante a adaptação organizacional seja um para os ajustamentos tecnológicos e admi-
processo dinâmico e complexo, ela pode ser nistrativos necessários para salvaguardar o seu
conceituada como sendo um ciclo de ajusta- domínio e espaço. Preparando-se, externa-
mente e internamente, para a competição no
mento que requer a solução simultânea dos três
mercado com a percepção do ambiente, a
problemas principais: definição de domínio (em- administração desenvolveu uma imagem pro-
presarial), tecnologia (de engenharia) e estrutu- duto/mercado, da mesma forma em que arti-
ra- processo e inovação (administrativo). Miles culou uma imagem organizacional interna,
e Snow (1978, p.27-8) declinam as caracterís- redesenhando e moldando a sua estrutura
ticas importantes do ciclo adaptativo, dentre elas: organizacional, adaptando-a ao ambiente.
Referindo-se ao papel da alta administração
Os três problemas adaptativos — empre- na estrutura organizacional, Child, citado por
Miles e Snow (1978, p.20), observa que "...
sarial, de engenharia e administrativo
a estrutura organizacional é somente pré-
—são intrinsecamente interligados.(...) ordenada parcialmente pelas condições
A adaptação ocorre freqüentemente ambientais, e ela coloca uma forte ênfase
no papel dos altos decisores, os quais ser-
através de modelos seqüenciais ao lon- vem como elo primário entre a organiza-
go da fase empreendedora, de engenha- ção e seu ambiente". Desta forma, a
interação organização — ambiente passa pela
ria e administrativa, mas o ciclo pode compreensão dos fatores ambientais e as
ser iniciado em qualquer um desses pon- decorrentes adaptações necessárias desen-
tos. (...) As decisões adaptativas toma- volvidas e articuladas pela coalizão dominan-
te. Por outro lado, pode-se admitir que as
das hoje tendem a tornar-se aspectos crenças, os valores e a visão empresarial fo-
da estrutura de amanhã. ram construídas a partir das percepções e do
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direcionamento dado à organização pela mes- NOTAS
ma coalizão dominante.
Pôde-se notar que o processo de adap- 1 Num sentido pejorativo, irônico, a sigla BO
tação organizacional é governado pelas esco- tem sido caracterizada como " Bom para
lhas estratégicas, inicialmente pela administra- Otário" numa alusão à intenção do vendedor
ção do proprietário e, na nova estrutura da em fazer o cliente adquirir o medicamento.
empresa, pela coalizão dominante. Embora
essas escolhas sejam numerosas, elas podem Referências
ser categorizadas segundo aquele modelo. JAVIDAN, Mansour et al. Strategic change:
Para melhor identificação, as principais esco- the search for new equilibria. Journal of
lhas são apresentadas no Quadro n°1. Organizational Change Management, v.3,
n.3, p. 59-76, 1990.
Quadro 1: Escolhas estratégicas no laborató- LABORATÓRIO Teuto-Brasileiro: Entrevis-
rio teuto-Brasileiro ta com a direção da empresa, áudio gravada.
PERÍODO DEPOIS DE 1993 PROCESSO DE MUDANÇAS
LACERDA, André. A melhor alternativa;
PERÍODO ATÉ 1993
-Ênfase no mercado de -Ênfase no mercado geral; -Novos processos e equipamentos
entrevista com Gonzalo Vecina, presidente da
-Ênfase na qualidade; de produção;
baixa renda;
-limitação de variedade; -Ampliação da linha; -Ênfase na formação qualitativa Agência Nacional de Vigilância Sanitária
-Conformismo, inércia;
Decisão centralizada no
-Percepção do futuro;
-Abandono de antigos
dos RH;
-Nova estrutura - novos níveis; (ANVS) In: Medicamentos Genéricos —
proprietário; paradigmas culturais;
-Profissionalização diretiva.
-Novo direcionamento diretivo
— coalizão dominante.
encarte Especial do Jornal do Brasil. Rio de
Janeiro, 20/08/2000.
Fonte: Pesquisa do autor. MILES, Raymond E. e SNOW, Charles C.
Organizational Strategy, structure, and
process. New York: Mc Graw-Hill, 1978.
PORTER, Michael E. Estratégia competiti-
va: Técnicas para análise de indústrias e da
12 Conclusão concorrência. Rio de Janeiro: Campus,1991.
Retomando o objetivo inicial deste arti- WOOD, Jr., Thomaz et al. Vencendo a crise:
go, verifica-se que os argumentos desenvolvi- mudança organizacional na Rhodia Farma.
dos na discussão e na narrativa do caso ace- In: WOOD, Jr. Thomaz ( coord). Mudança
nam para a possibilidade de utilização do mo- organizacional. São Paulo: Atlas e Coopers
delo elaborado por Miles e Snow para a com- & Lybrand, 1995.
preensão sobre mudança estratégica e a adap-
tação organizacional decorrente.
O caso mostra que a trajetória segui-
da pela organização logrou sucesso nos ob-
jetivos de sobrevivência e de ampliação de
espaço de mercado, por meio de escolhas
estratégicas, estabelecidas inicialmente pelo
proprietário, e posteriormente pela coali-
zão dominante. Nota-se, também, que hou-
ve uma interpretação contínua do ambien-
te, para, numa postura pró-ativa, realizar
novas escolhas estratégicas e promover
mudanças internas decorrentes.
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