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e análise do
material didático
na perspectiva
da diversidade
Mara Sueli Simão Moraes
Arlindo Rebechi Junior
(orgs.)
ISBN 978-85-XXXX-XXX-X
CDD: XXX
Boa leitura!
1. Primeiras Palavras.......................................................................11
1.1 Diversidade e diferença, qual a diferença?.................................13
1.2 S
ilêncios e sussurros: arquitetando as diferenças na escola.....16
1.3 Identidade e diferença...............................................................18
2. Problematizando o tema.............................................................21
2.1 Pedagogias de gênero...............................................................24
2.2 Ser no plural: intersecções de diferentes marcadores sociais....30
2.3 Do que se tem medo quando a sexualidade entra na escola?...32
2.4 Sexo na escola é bom?.............................................................37
2.5 Uma escola sem cor.................................................................39
2.6 Raça existe?..............................................................................41
2.7 Raça e etnia nos b(r)ancos escolares........................................45
3. Instrumentalizando o tema.........................................................50
3.1 Mídia e diferenças – provocando a sala de aula.........................54
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Índio, mulato, preto, branco
(...)
Riquezas são diferenças (Miséria - Titãs)
1. Primeiras Palavras
Educar para um convívio respeitoso com a diferença é uma tarefa
cheia de desafios. Talvez o primeiro deles seja vencer os próprios precon-
ceitos e, por que não, os receios diante daquele “outro” que parece estra-
nho, esquisito... diferente. Talvez isso aconteça porque, historicamente, a
diferença tem sido ensinada e aprendida mais como “problema” do que
como algo próprio da vivência humana, como elemento enriquecedor
para o aprendizado, capaz de colaborar para a constituição de sociedades
mais respeitosas e plurais.
Apesar de a escola ser um espaço de contatos constantes com as
diferenças, não se tem privilegiado em projetos político pedagógicos a
discussão crítica sobre elas. Até porque esse debate é bastante recente,
ainda que a escola tenha sido um lugar de contato cotidiano entre dife-
rentes. É só puxar um pouco pela memória para lembrar que desde que
se começa a freqüentar a escola, como alunas e alunos, são encontrados
comportamentos distintos daqueles que se percebe em casa; com outros
gestos, outros corpos, valores que contrastavam. E, também, ouvem-se
as piadas depreciativas, os apelidos jocosos; imitando atitudes prestigia-
das; reproduzindo valores comemorados pelas pessoas adultas, mas, ra-
ramente, convocados a pensar nessas elaborações, em como se permite
transformar diferenças em fatores de desigualdade.
Mas, o que assusta na diferença? Essa é uma pergunta que exige
uma pausa para pensar. Talvez esse receio de conviver com o “outro”,
com aquele/a que é diferente, seja tão desafiante porque obriga a ne-
gociar posições, a repensar valores, a forçar fronteiras, que pareciam
naturais e até mesmo seguras, entre as “minhas verdades” e aquelas que
o/a diferente traz. Mas é, justamente, essa fricção entre “minhas verda-
des” e as “verdades do outro” que possibilitam mudanças, que ajudam a
humanizar aquele/a que é tão distinto/a, num processo que enriquece.
“Riquezas são diferenças”!
Como já foi dito, o ambiente escolar é um espaço de diferenças. Por
isso é tão dinâmico e rico, mas também, problemático. Parte destes pro-
blemas, arrisca-se propor aqui, vêm justamente da maneira engessada
pela qual se tem lidado com essa riqueza que é a pluralidade do humano.
Quando se recusa a priori as diferenças de comportamentos, de visões de
mundo e de culturas, corre-se o risco de transformar diferenças em de-
sigualdades. Pior, podem-se reproduzir na escola, nas salas de aula, essas
hierarquizações que são estabelecidas muitas vezes sem muita reflexão.
E aí, como criticar consistentemente o bullying? Aliás, como evitá-lo,
se existe, mesmo que inconscientemente uma colaboração para manter
discriminações? Como falar em cidadania, em inclusão, em respeito à
diversidade se não se colocar em xeque valores hegemônicos que têm
colaborado para a manutenção de preconceitos?
Mais que respostas para as questões acima, o que se propõe aqui é
fazer outras perguntas, quer dizer, mudar as perguntas, de modo que
elas provoquem torções na forma reta pela qual fomos ensinadas e en-
sinados a pensar temas polêmicos. Afinal, para questões complexas não
existem respostas simples.
Inicialmente, serão trabalhados alguns conceitos fundamentais
para o debate sobre diferença e diversidade, começando pelo próprio
conceito de diferença. Em seguida, essa discussão será levada para mais
perto da escola, a fim de oferecer ferramentas que possam ajudá-las/os na
desafiante tarefa de construir uma escola verdadeiramente inclusiva, na
Michel Foucault, filósofo francês com uma vasta obra sobre cons-
trução do conhecimento, da sexualidade, assim como das formas de se
educar corpos e subjetividade, escreve que os silêncios são discursos
poderosos. Pois quando se cala, se inviabiliza determinados sujeitos e
2. Problematizando o tema
Charge: Laerte
Essencialista Construcionista
• Naturaliza os gêneros vincu- • Propõem que os gêneros são
lando-os a um determinante produto de relações históricas
biológico; e sociais;
• É, portanto, determinista e bio- • Sendo assim, são simbolica-
logizante; mente constituídos;
• O que faz que tenha um enfo- • O que faz com que tenham di-
que a-histórico e transcultural mensões culturais.
O que pode ser mais parecido com uma mulher do que um homem?
Homens são de Marte e mulheres são de Vênus? Como se trabalha a fim
de acentuar ou de atenuar essas diferenças? A anatomia é destino? A
biologia explica essas diferenças? Explica também as semelhanças? Estas
são perguntas provocativas. Já foi dito que não se trará respostas pron-
tas. Essas interrogações servem, acima de tudo, para provocar reflexões.
Sendo assim, há que se pensar nas próprias atitudes no espaço escolar e
como se lida com as relações de gênero no dia a dia. Ao se fazer este exer-
cício percebe-se que o desafio de pensar as diferenças vai se tornando
mais profundo, pois isso obriga a rever valores que alicerçam e orientam
os procedimentos e práticas; mexem com as convicções e adentram o
terreno das moralidades e dos segredos.
Mas educar é também estar abertas e abertos para esses constantes
processos de aprendizado. Então, agora se emenda mais uma pergunta a
esse rol de questões: como se tem educado no campo do gênero?
Folheando o material didático disponibilizado para subsidiar um
processo de capacitação, uma professora se deparou com o seguinte
exercício voltado para crianças do 5º ano do Ensino Fundamental:
saiba mais…
A Matriz Heteronormativa – cadeia linear entre genitá-
lia, comportamento de gênero e desejo sexual.
Uma das propostas mais ousadas de Judith Butler é mostrar
que o sexo, quer dizer, a própria genitália, não é um dado mera-
mente biológico e natural. O sexo genital seria, ele mesmo, pro-
duto de um olhar cultural. Como seres simbólicos, o que se vê é
interpretado a partir de uma gramática oferecida pela cultura em
que se está imersa/o, sendo assim, aprende-se a ver e a classificar
pela linguagem, pelos discursos. Para esta filósofa, portanto, não
existem corpos pré-discursivos. “Os corpos na verdade carregam
discursos como parte de seu próprio sangue”, afirma ela. Assim, o
próprio sexo seria ele produto cultural, tanto quanto o é o gênero.
Outra ousadia teórica de Butler é a de mostrar que as socieda-
des de matriz ocidental têm estabelecido uma estreita e persistente
relação entre genitália, supostamente natural, e os papéis de gênero,
como se estes derivassem automaticamente desse dado biológico (o
pênis ou a vagina) e não fossem aprendidos. Essa forma de se pen-
sar a relação entre sexo e gênero traz implicações, insuspeitas a um
primeiro olhar, para a vida de todos/a, uma vez que estabelece uma
linearidade rígida entre genitália e comportamento socialmente es-
perado, incluindo aí nossas práticas mais íntimas. Mesmo os dese-
jos sexuais secretos não estão fora do alcance da norma, pois, como
seres sociais, a consciência carrega as marcas morais que orientam
os valores coletivos. Quando não se é exatamente o tipo de pessoa
que a genitália parecia anunciar, o indivíduo é “ininteligível” so-
cialmente. Gêneros ‘inteligíveis’ são aqueles que, em certo sentido,
instituem e mantêm relações de coerência e continuidades entre
sexo, gênero, prática sexual e desejo” (BUTLER, 2003, p. 38).
2.3 D
o que se tem medo quando a sexualidade entra
na escola?
Fonte: http://despreconceituando-despreconcei-
tuar.blogspot.pt/2012_11_01_archive.html
Fonte: http://papodehomem.com.br/vamos-nos-livrar-da-
normalidade-racismo-e-normalidade-parte-3
Fonte: <www.xaxado.com.br>
[...] teríamos que supor que esse conceito é plural, ou seja, have-
ria conceitos de feminino e masculino, social e historicamente di-
versos. A idéia de pluralidade implicaria admitir não apenas que
sociedades diferentes teriam diferentes concepções de homem e
de mulher, como também que no interior de uma sociedade tais
concepções seriam diversificadas, conforme a classe, a religião, a
raça, a idade etc.; além disso, implicaria admitir que os conceitos de
masculino e feminino se transformam ao longo do tempo. (LOU-
RO, 1996, p. 10)
saiba mais…
Aqui são apresentadas sugestões de dinâmicas de grupo,
além de documentários e filmes e sugestões de livros e textos
que podem subsidiar o trabalho docente e fomentar o trabalho
crítico por uma escola verdadeiramente inclusiva.
As dicas não são exaustivas, há muito mais material dispo-
nível e acessível que cada um pode encontrar a partir de busca
em sites como Google ou Youtube.
É importante que antes de ver os filmes e documentários
vocês busquem mais informações sobre eles, estas estão dis-
poníveis em páginas da Wikepédia, por exemplo, e trazem de
forma concisa dados gerais sobre o material audiovisual.
Dinâmicas de grupo
• Gênero
Gênero Fora da Caixa.
Livro produzido pelo Instituto Sou da Paz. Acesse: http://www.sou-
dapaz.org/upload/pdf/genero_fora_da_caixa_web.pdf.
• Sexualidade
Educar para a Diversidade: um guia para professores sobre orien-
tação sexual e identidade de gênero. Livro produzido em Portugal para
professores da rede pública daquele país, mas bastante afinado com a
realidade brasileira. Acesse: https://www.rea.pt/arquivo/professores.pdf.
Documentários
Gênero
Raça e etnia
Sexualidade
Mistérios da Sexualidade
Da série de documentários do canal National Geographic, exce-
lente para você, professora/professor saber mais sobre o tema. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=GFy5GqOt53w.
Filmes ficcionais
Sexualidade
C.R.A.Z.Y
Filme canadense que traz a história de Zac, o quarto filho de uma fa-
mília de 5 meninos e seus conflitos com a própria sexualidade. É tocante,
divertido, sensível, mas não é o material mais adequado para trabalhar com
crianças. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=NRYKnQFtWic.
Gênero
Raça e etnia
Cores e Botas
Curta metragem situado nos anos 80 e que mostra o desejo de uma
menina negra da, então, novíssima classe média negra e seu sonho de ser
Paquita. É interessante mostrar as estratégias que a criança aciona quan-
do é rejeitada na seleção da escola para o papel de Paquita, voltando seu
olhar para outra realidade, sem abandonar seus sonhos. Acesse: https://
www.youtube.com/watch?v=Ll8EYEygU0o.
Gênero e Sexualidade
A Educação dos Corpos, dos Gêneros e das Sexualidades e o Re-
conhecimento da Diversidade de Silvana Goellner. Acesse: http://www.
rbceonline.org.br/revista/index.php/cadernos/article/view/984/556.
Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas, de Guacira Lo-
pes Louro. Acesse: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf.
Gênero e mídia
Pedagogia cultural, gênero e sexualidade, de Ruth Sabat. Acesse:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n1/8601.pdf.